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OPERAÇÃO E MANUTENÇÃO DA BACIA HIDROGRÁFICA
EXPERIMENTAL DO RIACHO GUARAÍRA: DESAFIOS E DIFICULDADES
ENFRENTADOS AO LONGO DE 12 ANOS
Cristiano das Neves Almeida 1*, Luís Romero Barbosa2, Emerson da Silva Freitas3 & Alain Marie
Bernard Passerat de Silans4
Resumo – Este artigo apresenta alguns pontos sobre operação e manutenção da bacia hidrográfica
experimental do riacho Guaraíra, a partir da experiência de 12 anos de seu monitoramento
hidroclimatológico. A bacia hidrográfica experimental do riacho Guaraíra, localizada na região
litorânea sul do Estado da Paraíba, foi instalada em 2003, a partir do empenho da Rede de
Hidrologia do Semiárido (REHISA). Ela vem sendo mantida em operação até os dias atuais,
possibilitando a realização de diversos estudos científicos. O principal objetivo deste artigo é
apresentar as experiências positivas e negativas do grupo de Recursos Hídricos da Universidade
Federal da Paraíba no condução desse programa de monitoramento. Essas experiências podem
servir como base para a operação e manutenção de outras bacias experimentais.
Palavras-Chave – monitoramento, bacia experimental, dados hidrológicos.
OPERATION AND MAINTENANCE OF THE RIACHO GUARAÍRA
EXPERIMENTAL BASIN: CHALLENGES AND DIFFICULTIES FACING
DURING THE LAST 12 YEARS
Abstract – This paper presents some issues about the operating and maintenance of Riacho do
Guaraíra experimental basin, based on 12 years of experience on the hydroclimatic monitoring. The
Riacho do Guaraíra experimental basin, located in the south coastal region of the Paraíba state, was
installed in 2003, from the commitment of the Semiarid Hydrology Network (REHISA, in
Portuguese). It has been kept in operation until the present day, enabling the performance of several
scientific studies. The aim of this paper is to present the positive and negative experiences of the
Water Resources Group of the Federal University of Paraiba in conducting this monitoring
program. These experiences can be used as a basis for the operation and maintenance of other
experimental basins.
Keywords – monitoring, experimental basin, dados hidrológicos.
INTRODUÇÃO
A bacia hidrográfica foi definida pela Política Nacional de Recursos Hídricos (Lei Federal
núm. 9.433 de 1997) como a unidade de gestão e planejamento de recursos hídricos. É nela que se
desenvolvem os processos hidrológicos que resultam na vazão de seu exutório. Neste contexto, as
bacias experimentais, devido às suas dimensões, são verdadeiros laboratórios para investigação das
diversas etapas do ciclo hidrológico (precipitação, infiltração, armazenamento d'água, geração do
escoamento superficial, etc.). De acordo com Toebes & Ouryvaev (1970) bacias experimentais são
1
Prof. Dr. Adjunto da Universidade Federal da Paraíba. Email: [email protected]
Mestre em Recursos Hídricos pela Universidade Federal da Paraíba. Email: [email protected]
3
Graduando em Engenharia Civil pela Universidade Federal da Paraíba. Email: [email protected]
4
Prof. Dr. Aposentado da Universidade Federal da Paraíba. Email: [email protected]
2
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áreas relativamente homogêneas do ponto de vista de solo e vegetação, e que apresentam
características físicas uniformes. Ainda de acordo com esses pesquisadores, as pesquisas em bacias
experimentais tratam normalmente do estudo comparativo, sendo portanto necessária operação de
bacias hidrográficas em grupo de duas ou mais bacias.
O estudo em rede de bacias hidrográficas experimentais é uma forma sistemática de se
realizar comparação entre sistemas com características hidroclimáticas distintas ou semelhantes. Na
Europa, por exemplo, há a rede ERB (Euromediterranean Network of Experimental and
Representative Basins) que aglutina 22 países, que desenvolvem estudos em bacias experimentais,
tanto na Europa como fora dela. A rede ERB realiza encontro bianuais para troca de experiência
sobre esta temática (Schumann et al., 2010), o que é muito produtivo para manutenção de redes de
bacias experimentais.
Já no Brasil, a iniciativa mais recente, e talvez mais duradoura, para o estudo de processos
hidrológicos em bacias experimentais foi conduzido por professores, pesquisados e estudantes no
Nordeste Brasil, quando em maio de 2001 criaram a REHISA - Rede de Hidrologia do Semiárido
(IBESA, 2004). A REHISA naquele ano foi formada por grupos pesquisas em recursos hídricos das
seguintes universidades: UFBA, UFPE, UFRPE, UFPB, UFCG, UFRN, UFAL, UFC; e pela
FUNCEME (Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos). Essa rede, através do
projeto de pesquisa IBESA (Instalação de Bacias Experimentais no Semi-árido), instalou sete redes
de monitoramento hidroclimatológico em bacias experimentais na região semi-árida. A única
exceção foi a bacia experimental do riacho Guaraíra, que foi instalada na região de clima tropical
chuvoso. O objetivo principal da REHISA foi instalar essas bacias experimentais, para avaliar o
balanço hídrico em diferentes escala de tempo e espaço, empregando para tanto modelos
hidrológicos distribuídos, e técnicas experimentais e de avaliação da incerteza (IBESA, 2004).
No caso da bacia experimental do riacho Guaraíra, o monitoramento hidroclimatológico
iniciado em 2003 continua até os dias atuais. A rede de equipamentos de monitoramento sofreu
pouquíssimas modificações ao longo desses ano. O monitoramento realizado nessa bacia
experimental tem sido importante para o desenvolvimento de estudos de conclusão de cursos de
graduação e de mestrado. Alguns dos estudos desenvolvidos nos últimos anos são: análise de suas
condições hidromorfológicas (Silva & Almeida, 2015); análise das relações entre precipitação,
umidade do solo e vazão (Barbosa, 2015); comparação das precipitações observadas em campo com
o sensor TRMM (Barbosa et al., 2015); análise das característica da precipitação em escala subdiária e sub-horária (Coutinho et al., 2014); caracterização hidrodinâmica de seus solos (Santos et
al., 2012); estuda da desagregação da precipitação diária (Cavalcante & Silans, 2012). Há ainda um
conjunto de trabalho em andamento e não publicados, a saber: calibração das sondas de umidade do
solo com dados de campo; análise espaço-temporal dos dados de umidade do solo; estimativa da
precipitação com base na umidade do solo; além de outras análise dos dados de precipitação.
Neste contexto, o presente artigo objetiva apresentar e compartilhar as experiências e desafios
na operação e manutenção da bacia hidrográfica experimental do riacho Guaraíra, a fim de facilitar
a manutenção, evitar perdas de dados com possíveis problemas que venham a ocorrer, e propiciar a
coleta de dados com qualidade. Para tanto, são apresentados os métodos aplicados por diferentes
pesquisadores em diferentes períodos, desde sua instalação em 2003 até os dias atuais. Apresenta-se
ainda um panorama geral da situação dos dados coletados ao longo de 12 anos de operação. Desta
forma, este artigo não segue o padrão dos artigos científicos, mas objetiva trazer contribuições para
a área de hidrologia de base.
MATERIAIS E MÉTODOS
Área de estudo
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Este artigo trata da bacia hidrográfica experimental do riacho Guaraíra (BERG), pertencente à
Rede de Hidrologia do Semiárido (REHISA). Sua área de drenagem é de 5,84 km² e é composta por
três afluentes perenes. Localiza-se entre os latitudes 9.190.400 m e 9.195.200 m (Sul) e as
longitudes 274.700 m e 276.800 m (Oeste) (Erro! Fonte de referência não encontrada.a). Essa bacia
experimental encontra-se localizada na bacia hidrográfica representativa do rio Gramame, e ambas
estão localizadas na região litorânea sul do Estado da Paraíba.
Figura 1 - Localização da bacia hidrográfica experimental do riacho Guaraíra (a) e atual rede de
monitoramento (b)
Do ponto de vista climatológico, a quadra chuvosa da bacia experimental vai de abril a julho,
com uma precipitação anual média de aproximadamente 1.700 mm. Segundo a classificação de
Köppen, a região de estudo localiza-se em clima tropical chuvoso. A evaporação, medida em tanque
classe A na estação climatológica de Marés, apresenta um valor médio de 1.300 mm/ano.
Rede de monitoramento
Em 2003, a partir do suporte financeiro da FINEP dado ao projeto de pesquisa IBESA,
diversas variáveis do ciclo hidrológico da bacia hidrográfica experimental vêm sendo monitoradas.
A rede de monitoramento hidroclimatológico, apresentada na Figura 1a, é composta atualmente de:
 Estações Pluviográficas - Há 4 estações desse tipo em funcionamento, compostas por
um sensor de básculas com resolução de 0,254 mm (modelo TB4) e uma sonda TDR
(Time Domain Reflectometry) (modelo CS 616), utilizada para medir o conteúdo
volumétrico de água no solo. Os dados precipitação medidos são armazenados de
forma instantânea a cada minuto de sua ocorrência e acumulados a cada 6 horas,
enquanto que os de umidade do solo são armazenados a cada hora. As sondas TDRs
foram inseridas verticalmente no solo, representando assim o conteúdo volumétrica de
água no solo na camada superior de 30 cm;
 Estação Climatológica - Há 1 estação em funcionamento, composta dos mesmos
sensores das estações pluviográficas, além de, sensores de temperatura e umidade do
ar, radiação solar, temperatura do solo (em 3 profundidades), velocidade e direção do
vento, pressão barométrica. Porém, os sensores de pressão barométrica, temperatura
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do ar e radiação solar estão com problemas desde 2013. No caso dessa estação, a
precipitação é armazenada instantaneamente, já todas as outras variáveis são
armazenadas a cada 15 minutos;
 Estações Fluviográficas - Há 3 estações em funcionamento, compostas por um sensor
de pressão, a partir do qual se mede o nível d'água nos riachos monitorados. Essas
informações são armazenadas a cada 15 minutos.
Todas as estações pluviográficas e climatológica são equipadas com sensores da Campell
Scientific, e são compostas também por datalogger, abrigo, bateria e painel solar. As estações
fluviográficas compostas por sensores da Ampeq têm quase essa mesma configuração, com exceção
do painel solar, que não é necessário.
Situação histórica do monitoramento e dos dados coletados
Nos primeiros meses de 2015 todos os dados coletados desde o início do projeto foram
analisados, a fim de verificar quais os períodos com dados, sem dados, assim como a qualidade dos
dados existentes. As tabelas a seguir mostram a situação dos dados de precipitação e umidade do
solo.
Tabela 1 - Análise quali-quantitiva dos dados de precipitação e umidade do solo das estações pluviográficas.
Da tabela anterior, pode-se ver que, embora todo um esforço tenha sido feito para manter o
monitoramento dessa bacia experimental, há uma grande quantidade de anos sem dados. Pode-se
ver também que no ano de 2012 o monitoramento foi praticamente descontinuado, sendo quase
impossível recuperar, por exemplo, os dados de precipitação nas escalas sub-diária e sub-horária.
Em 2013, novos esforços foram feitos para recuperar a rede de monitoramento para
desenvolvimento de duas dissertações de mestrado. Mesmo assim, os anos de 2013 e 2014
apresentam falhas na maioria das estações pluviográficas, com exceção da estação 04.
A figura apresentada a seguir mostram o comportamento da precipitação acumulada para cada
estações pluviográfica, para os anos de 2004 e 2007. Pode-se ver nesta figura que o comportamento
temporal da precipitação é semelhante nas estações. No ano de 2004 a partir da segunda quinzena
de abril, pode-se ver que as curvas das estações 1,2 e 3 têm comportamento semelhante, há uma
defasagem na precipitação acumulada da estação 1, por conta do período de falhas indicado nessa
figura. Para o ano de 2007 (lado direito da figura seguinte) pode-se ver também o comportamento
semelhante das 4 curvas de precipitação acumulada, com uma defasagem maior para os dados da
estação 4, por conta do período com falhas também apresentado na figura 2, gráfico do lado direito.
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Apesar de não apresentados os gráficos dos demais anos para o período de monitoramento, esse
comportamento semelhante é notado entre todas as estações, em todos os anos.
Figura 2 - Gráficos com precipitação acumulada (anos 2004 e 2007) utilizados para comporação da
precipitação entre estações de monitoramento
Desta forma, sabendo-se que o comportamento espacial da precipitação não varia muito nesta
bacia experimental, pode-se definir então uma série de precipitação de 10 anos, quando se
consideram as estações 1 (anos 2004, 2005, 2006, 2007 e 2008), 2 (anos 2009, 2010 e 2011) e 4
(ano 2013 e 2014). Com relação à umidade do solo, a série atual é de 9 anos, quando se consideram
as estações 1 (anos 2004, 2005, 2006, 2007 e 2008), 2 (anos 2009 e 2010) e 4 (anos 2013 e 2014).
Com relação aos dados de nível das 3 seções fluviográficas, a situação da rede de
monitoramento é:
 A primeira estação instalada em 2003 foi operada até 2005, e apresenta níveis com
relativa qualidade, pois poucas medições de vazão foram realizadas. Além disso, a
seção transversal modificou muito ano a ano, devido aos processos de sedimentação e
erosão, assim dificilmente esses dados podem resultar numa série de vazão confiável;
 A partir 2013, devido ao trabalho de dissertação de Barbosa (2015), que objetivava
analisar as relações entre vazão, precipitação e umidade do solo, foram instaladas 3
novas seções fluviográficas. Nos primeiros testes, as placas dos dataloggers
queimaram, devido à forma como eles foram abrigados das precipitações e umidade
do ar. Posteriormente, a partir de 2014 um novo obrigo para os dataloggers foi
desenvolvido, e desde então os dados são medidos continuamente. No ano de 2013 e
2014 foram realizadas medições de vazão nas 3 seções, de forma que todas 3 seções
contam com curvas-chave.
Com relação à estação climatológica, os dados coletados até então foram analisados para
verificar apenas a extensão da série de dados. Nessa análise inicial, verificou-se que não há um só
ano com a série completa. Isso deve-se principalmente à quantidade de dados armazenados no
datalogger e ao passo de tempo de armazenamento (15 minutos), o que faz com que a memória do
datalogger seja preenchida a rapidamente. Então, os dados mais antigos armazenados no datalogger
são perdidos, pois os dados mais novos são escritos no início da memória, ou seja, por cima dos
dados mais antigos.
Operação & Manutenção
A operação e manutenção da bacia experimental do riacho Guaraíra vêm sendo melhorada ao
longo do tempo, pois algumas práticas adotadas no início do projeto foram descartadas, enquanto
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que outras foram adotadas por se mostrarem mais adequadas. Algumas dessas técnicas e métodos
são apresentadas a seguir para operação das estações de monitoramento em campo:
 A adoção de uma caderneta de campo - Esta prática adotada no início do projeto (em
2003) permanece até hoje. A caderneta de campo é item essencial das visitas de campo
e é nela que são anotadas as datas e hora de alguma medição, de recuperação de dados
das estações de monitoramento, se os dados foram recuperados ou não, problemas
encontrados nas estações durante a visita, e o que foi feito para solucionar o problema.
Essas anotações são importantes no momento da importação dos dados para o banco
de dados e na análise desses dados;
 A inclusão de um identificador para cada estação no arquivo do datalogger é
importante, pois assim um arquivo não poderá ser confundido com outro, pois através
desse identificador identifica-se a que estação o arquivo pertence. No caso da bacia
experimental do riacho Guaraíra, o identificador é o segundo número do array 10 das
estações pluviográficas, e o primeiro número do arquivo das estações fluviográficas;
 No momento da coleta dos arquivos dos dataloggers em campo, deve-se colocar o
nome da estação e a data de coleta no nome do arquivo, por exemplo:
“EstPluv01(fev.19.2015).dat”. Nesta caso, sabe-se que o arquivo é da estação
pluviográfica 01 e que foi coletado no dia 19 de fevereiro de 2015. Desta forma, não
se faz necessário abrir o arquivo para saber qual a data de coleta do arquivo, e não há
possibilidade de misturar os arquivos de uma estação com outra, nem de uma data com
outra. Anteriormente, os arquivos eram coletados e não havia um padrão para
nomeação dos arquivos, o que acarretou na superposição de arquivos e, consequente,
perda de dados;
 Visitas às estações com frequência de 15 a 20 dias - Esse procedimento foi adotado
desde o início do projeto em 2003. Embora em alguns períodos as visitas não tenham
ocorrido com essa frequência devido à falta de recursos, elas são importantes para a
obtenção de uma série de dados sem falhas. Nas visitas às estações há procedimentos
que são realizados rotineiramente, primeiro é verificada a situação do funil do
pluviógrafo para ver se ele está entupido. Em seguida, é feita a conexão do notebook
ao datalogger e recuperados os dados da estação. O arquivo recuperado é então aberto
e verificadas as últimas linhas registradas, para ver se os dados atuais condizem com a
data atual, é ainda verificada a voltagem da bateria na noite e madrugada anteriores, a
fim de verificar se ela não está abaixo de 12 Volts. Por fim, são feitas anotações na
caderneta de campo.
Já no laboratório, os arquivos coletados originalmente nas estações devem ser mantidos da
forma como foram recuperados, qualquer modificação ou correção de dados é realizada noutro
arquivo, de forma a manter sempre os arquivos originais. Desde 2013, os arquivos originais
coletados em campo são armazenados num diretório do Dropbox, ordenados em diretórios por ano,
e depois por data de visita, de forma a facilitar a recuperação de dados de uma determinada visita de
campo. Uma ou duas vezes por ano todos os dados coletados até então são inseridos num banco de
dados criado apenas para armazenar esses dados. Após a inserção dos dados no banco de dados, é
gerado um arquivo de backup do banco de dados, e este arquivo é também guardado num diretório
do Dropbox.
Para se trabalhar posteriormente com os dados da bacia experimental, são utilizados os dados
armazenados no banco de dados, pois os dados são recuperados de maneira simples através de
linguagem SQL, própria para realização de consultas em bancos de dados. Desta forma, vem sendo
garantida a integridade dos dados coletados em campo. O grupo de Recursos Hídricos da UFPB tem
trabalhado com o sistema gerenciador de banco de dados PostgreSQL, que é livre.
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Desafios
No que diz respeito ao desafios sobre o trabalho com bacias experimentais, os seguintes são
elencados:
1. Manutenção da rede de monitoramento da bacia experimental do riacho Guaraíra por
pelo menos mais uma década - Além de estender a série histórica de dados, procurarse-á realizar o monitoramento de todas as estações concomitantemente;
2. Inserção da bacia experimental do riacho Guaraíra numa rede internacional de bacias
experimentais - A associação a uma rede internacional poderá facilitar a captação de
recursos financeiros para sua manutenção, além de permitir o desenvolvimento de
pesquisas com parceiros internacionais, principalmente no que diz respeito à
comparação dos fenômenos entre bacias;
3. Reposição de parte dos equipamentos de monitoramento - Como boa parte das
estações de monitoramento atuais já têm mais de 10 anos, procurar-se-á substituir
essas estações para a continuação do monitoramento. Essa reposição só não será
necessária para as 3 estações fluviográficas, que foram instaladas recentemente;
4. Continuação com o desenvolvimento e testes de equipamentos de monitoramento Através da parceria com a empresa Ampeq, o teste das sondas de medição de nível
continuará. Serão feitos também testes num pluviógrafo recém-desenvolvido, que
utiliza a medição do nível d'água para determinar a precipitação;
Porém, talvez o maior desafio do trabalho com bacias experimentais será a reativação da
Rede de Hidrologia do Semiárido (REHISA), para dar continuidade dos trabalhos de
monitoramento hidroclimatológico em bacias experimentais em localidades diferentes, o que
permitirá o desenvolvimento de pesquisas conjuntas com outros grupos de pesquisa do Brasil.
CONCLUSÕES
Ao longo destes 12 anos de operação e manutenção da bacia hidrográfica experimental do
riacho Guaraíra algumas conclusões sobre seu monitoramento podem ser elencadas:
1. Apesar de todo esforço para obtenção de séries contínuas de dados hidrológicos com
qualidade, é evidente que esta é uma tarefa difícil. Porém, como são monitoradas as
mesmas variáveis em diferentes pontos da bacia experimental, pode-se admitir (para
determinadas variáveis) que a substituição dos dados não cause prejuízos aos trabalhos
de pesquisa;
2. As visitas à bacia experimental realizadas com frequência de 15 a 20 dias são um
ponto fundamental para o sucesso do monitoramento hidroclimatológico, um vez que
desta forma, alguns problemas podem ser detectados e rapidamente resolvidos,
evitando assim a perda de dados ou geração dados incorretos;
3. Apesar desta bacia experimental não contar com o monitoramento remoto de suas
estações, é pensamento comum dos pesquisadores que esse tipo de solução
tecnológica não será utilizada. O monitoramento remoto não permitiria, por exemplo,
indicar se não está chovendo ou se o funil do pluviógrafo está entupido, como já
ocorrido algumas vezes, não permitiria também a detecção de problemas só vistos nas
visitas de campo;
4. É necessário o mínimo de recursos financeiros para a continuidade do monitoramento
hidroclimatológico. Porém, o sucesso do monitoramento é mais dependente do
engajamento dos professores e alunos, o que muitas vezes independe de fontes de
financiamento;
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5. É necessária a reativação da Rede de Hidrologia do Semiárido (REHISA) ou criação
de uma nova rede, de abrangência nacional, para as informações em passo de tempo
sub-horário e nessa resolução especial possam ser comparadas através de estudos. A
partir de uma rede consolidada é possível avançar no melhor entendimento do ciclo
hidrológico das diferentes regiões do Brasil;
6. Uma bacia hidrográfica experimental com esses tipos de equipamentos de
monitoramento é importante para a formação técnica e científica dos alunos de
graduação e mestrado, pois os permitem o conhecimento, operação e manutenção de
equipamentos dessa natureza.
AGRADECIMENTOS
Os autores deste artigo agradecem ao CNPq (pelas bolsas de produtividade em pesquisa,
mestrado, iniciação científica e apoio técnico, e pelos recursos de editais universais), à FINEP,
pelos recursos financeiros cedidos aos projetos IBESA e BEER, que possibilitaram a aquisição dos
equipamentos de monitoramento.
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