Revista Torga36 - alperce, serviços web
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1 2 Nota do Director “O sucesso não é um fim em si mesmo.” Este juízo moral, ainda que subtilmente presente nesta afirmação, tem amiúde subjacente a inveja. Aqueles que o desprezam ou desvalorizam, não percebem ou não querem perceber que é a ambição que dá um sentido e uma direcção ao tempo. O sucesso, sendo o corolário da ambição, é a consequência natural do desejo de imortalidade do homem. Podemos condenar a ideia de sucesso, se imaginarmos Hitler a exaltar a superioridade da raça ariana perante milhões de alemães que o idolatram, ou se lermos a revista cor-de-rosa que tem como capa o vencedor do Big Brother. Mas, ao pensarmos em Da Vinci ou Einstein, constatamos o progresso da humanidade, naquilo que ela possui de mais nobre e elevado e, se calhar, aqueles que desejam sem desejar, num momento de franqueza, reconhecerão que o sucesso é um conceito equívoco e, logo, impossível de classificar num quadro moral absoluto: mau ou bom. A equipa da TORGA partiu de uma premissa: ele é o reconhecimento do mérito, da criatividade, da persistência e de uma ambição única. O sucesso discrimina positivamente e foi isso que quisemos sublinhar nesta edição. Henrique Amaral Dias 3 Editorial Não sei bem o que definir por sucesso. Sei que cada um o tem à sua medida, dentro da sua vida, nas relações pessoais e profissionais. Basicamente, o nascimento já é um sucesso. Nascer saudável preenche de alegria os corações dos pais, libertando-os para a avalanche de sucessos que se precipitam - o primeiro sorriso, o primeiro dente, a primeira palavra. Estas são as premissas para qualquer ser humano vingar no mundo, mais ou menos colorido, para que está destinado. Desejar ser bem sucedido é um sentimento legítimo de quem não deixa que a vida passe ao lado sem ambições, sem projectos, sem metas para atingir. Deve viver-se essa ambição de preferência dentro dos cânones normais da decência, sem atropelar os outros, sem ignorar que também eles têm desejos. Esta parte é a mais difícil de conseguir, a dos valores: ou se têm ou não se têm. Mas, certos estamos- há quem os tenha. Broadway Boogie Woogie é o título do quadro da capa da Torga. Insere-se na fase posterior do Neoplasticismo de Piet Mondrian. Caracteriza-se por blocos segmentados de linhas rectas de cores primárias. Um estilo reducionista que revolucionou a arte, a moda e a publicidade. Fica-nos, nesta edição, o testemunho de um homem com sucesso, (na nossa acepção, não na dele), neurocirurgião de profissão, que nos deu uma lição de humildade e de humanidade pelo modo como se apresenta na actividade profissional e na vida. E citando o próprio “ Há gente muito mais capaz do que eu. Sou certamente um neurocirurgião competente, se quiser, muito competente e muito crítico de si próprio, sabendo dos seus limites.” – João Lobo Antunes. Convidados de renome, gentilmente, escrevem para a Torga - Miguel Beleza oferece-nos a sua visão sobre a independência e a legitimidade dos órgãos de poder e Carlos Magno apresenta um artigo como se de um novelo de lã se tratasse, desfiando a história de Portugal ao mesmo tempo que nos caracteriza enquanto Pátria. O sucesso jovem na Torga passa também, pelo reconhecimento daqueles que nasceram ou trabalham na cidade de Coimbra, Joana Mota, Administradora de Empresas, Matthieu Garcia, Tenista. Joana Côrte-Real, Jornalista da RTP e Ricardo Duarte, Jornalista da TSF, dois jovens de sucesso, destacam-se pela sua passagem no ISMT enquanto alunos do Curso de Ciências da Informação. Em Busca de um Sonho é o título da Grande Reportagem realizada sobre o Casino do Estoril, o espaço mágico onde se perde e ganha o sucesso. Ana Cristina Abreu 01 FICHA TÉCNICA Henrique Amaral Dias Director Henrique Amaral Dias 02 04 Redacção Andrea Marques 17 Paginação C. Damas Impressão FIG - Fotocomp. e Ind. Gráficas Tiragem 3000 exemplares Propriedade Instituto Superior Miguel Torga Coimbra ISSN 1646-2866 4 Legal 232550/05 Depósito As opiniões expressas nos artigos publicados nesta revista são da inteira responsabilidade dos seus autores. Aconteceu Noticias do ISMT Coordenação de Informação Ana Cristina Abreu Design ID3A Editorial Ana Cristina Abreu Editor Fernando Teófilo Fotografia Filipe Casaleiro Nota do Director Succes D’estime Filipe Nunes Vicente Capa: Mondrian “Broadway Boggie Woggie” Sumário 30 46 João Lobo Antunes Poderes não Eleitos Grande Entrevista Miguel Beleza 18 42 Jovens de Sucesso Mathieu Garcia Joana Mota Tiago Monteiro Ricardo Duarte Joana Côrte-Real Redução de Danos e Reinserção Social Teresa Nunes Vicente 44 Redes Sociais em Portugal Vasco Almeida 24 Grande Reportagem Casino Estoril 57 Temerário René Tápia 26 Relendo o Sucesso e o Insucesso pela nossa História 60 Carlos Amaral Dias 40 Psicopátria Carlos Magno Absolut Henrique Amaral Dias 74 AE - ISMT Notícias / Reportagens 5 Aconteceu Carlos Amaral Dias, Alberto Costa (Ministro da Justiça) e Luis Marinho NOTÍCIAS DO ISMT Construção Europeia e Futuro do Tratado Constitucional O Ministro da Justiça, Alberto Costa, esteve presente no Seminário de Encerramento do Curso de PósGraduação em Administração Pública. O evento decorreu nos dias 8 e 9 de Julho, nas instalações do Instituto Superior Miguel Torga. “O Alargamento e as Novas Missões da Comissão Europeia” foi o primeiro tema a ser lançado para debate. Fernando Frutuoso de Melo, Chefe de Gabinete Adjunto da Comissão Europeia, fez um breve resumo da votaram “sim” no referendo. As pessoas mais informadas são as mais No dia 9, o Ministro da Justiça apresentou a comunicação “A história da União Europeia, “A União Europeia está, pela sua natureza, favoráveis à Constituição Europeia.” Em relação ao que as pessoas Constituição Europeia e o Futuro da União”. Alberto Costa explicou que a destinada a crescer. Com o alargamento, desapareceu o conflito existente entre a esperam por parte da União Europeia, Margarida Marques afirmou que “O mudança de método na realização dos referendos de ratificação da Constituição Europa Ocidental e a Europa Oriental durante os anos da Guerra Fria”. eurobarómetro mostra que o desemprego, a exclusão e a pobreza são Europeia é essencial para não destruir o projecto. O orador explicou ainda os critérios de adesão estabelecidos na Cimeira dos os principais problemas que as pessoas querem ver resolvidos pela UE”. “Este processo deve ser retomado, no futuro, com melhor método senão Líderes da União Europeia, realizada em Junho de 1993, e enunciou as próximas Acrescentou ainda, que é necessário criar um espaço público europeu onde pode ser sepultado”, afirmou. A solução seria “fazer referendos numa negociações de adesão à EU. Margarida Marques, representante se possam debater estas questões e deu como exemplo o programa mesma data para evitar retirar aos estados seguintes o direito que os em Portugal da Comissão Europeia, apresentou a “Constituição Europeia Erasmus como espaço de análise, “Os alunos deste programa são os outros já exerceram”. O Ministro da Justiça considerou que na Perspectiva da Comissão Europeia”. Os referendos sobre a Constituição principais embaixadores da EU”. Para concluir, Margarida Marques a França e a Holanda votaram “não” por razões internas e referiu que o Europeia e os resultados negativos da França e Holanda marcaram o debate. realçou a importância da Constituição Europeia que”torna a Europa mais processo até agora desenvolvido deveria ter sido “mais europeu e menos A conferencista começou por afirmar que “foram as pessoas menos democrática, mais transparente”. A última intervenção, “A Constituição nacional. Não se pode responder a questões europeias tendo em conta informadas que votaram contra a Constituição. O “não” decorre de Europeia na Perspectiva do Parlamento Europeu”, ficou a cargo de Paulo questões nacionais. Fomos vítimas de vários factores, como do próprio problemas internos. Em França, os jovens com estudos, com formação, Sande, Director do Gabinete em Portugal do Parlamento Europeu. método que usámos e do alinhamento que os Estados acabaram por ter. Faria 6 torga Aconteceu sentido uma pausa acompanhada de uma visão de futuro”. Ibero-americana”. O ISMT torna-se, a partir deste momento, membro de pleno Afirmando sempre que as ideias que defendeu foram apresentadas a título direito do referido Conselho Iberoamericano. Recordamos que o ISMT há pessoal, Alberto Costa considera importante a ratificação da Constituição muito que trabalha em parceria com diversas universidades da América do Europeia. “As leis europeias, na sua maior parte, Sul através de protocolos que servem os nossos alunos das licencia-turas, não são discutidas em votadas em público. O que quer dizer que a origem pós-graduações, doutoramentos. legislativa propicia uma crise de legitimidade, há uma sensação de distanciamento e obscuridade em relação à origem da legislação europeia” considerando “uma pequena revolução” o facto de a Constituição Europeia mestrados e O Conselho Ibero-americano tem como missão promover e conduzir os sistemas educativos à mudança através da promoção e do intercâmbio de experiências de êxito, em busca da “avançar com a ideia de o Conselho Europeu discutir em público as medidas qualidade educativa e do reconhecimento. legislativas”, concluiu o Ministro. Alberto Costa terminou a sua Os principais patrocina-dores do intervenção com um desejo para o referendo em Portugal, “Oxalá os portugueses digam sim”. O Director do ISMT, Carlos Amaral Dias, terminou a sessão afirmando que “A Constituição Europeia nunca deveria ser referenciada”. Andrea Marques Excelentísima Diputación Provincial de León – España; CERADAI – Solidaritat Informativa de Catalunya – España; Asociación Latinoamericana de Integración – Uruguay; MAE – Multimedios Ambiente Ecologico – Argentina; Associacao dos Supervisores de Educacao do Rio Grande do Sul – Brasil; Universidad Nacional del Callao – Peru; Universidad Simón Bolivar – Bolivia; F.C.E. – Universidad Nacional de Asunción – Paraguay. Fernando Teófilo Conselho Ibero-americano são instituições no campo do ensino, em diversos países: Secretaría de Estado de Educación de R e p u b l i c a Dominicana; Presidencia de la República del U r u g u a y ; Universidad de Cundinamarca – C o l o m b i a ; Secretaria de Educación Pública – Sub-Secretaria de Instituto Superior Miguel Torga recebe Certificado Internacional de Excelência Educativa O ISMT acaba de ver reconhecida a qualidade do seu ensino além fronteiras. O Conselho Ibero-americano em Honra da Qualidade Educativa (http:// www.consejoiberoamericano.org/) atribuiu o Certificado Internacional de Excelência Educativa ao Instituto Superior Miguel Torga “pela sua trajectória ao serviço da Educação Estudio Superior e Investigación Científica, Coordinación General de Universidades Tecnológicas – México; CELADE – Centro Latinoameri-cano de Desarrollo – Uruguay; Universidad Tecnológica Nacional – Facultad Regional Buenos Aires – Argentina; torga 7 Aconteceu BOLSAS - POCI 2010 Estágios de Serviço Social com Financiamento POCI 2010 2005/2006 O Programa Operacional Ciência e Inovação 2010 (POCI-2010), integrado Apresentação da “Nova” Revista no III QCA, visa assegurar o apoio e estímulo à mobilidade de recursos No dia 20 de Julho de 2005, foi apresentada ao público a nova imagem do Boletim Informativo do Instituto Superior Miguel Torga. humanos entre o sistema de ensino superior, o sistema científico e o tecido Na ocasião, estiveram presentes diversos órgãos de comunicação social, escrita e falada, a quem queremos agora agradecer a divulgação do evento. Todos organizacional, no sentido de promover a empregabilidade. ajudaram a levar longe a “nova” revista Torga, não só a nível regional, como a nível nacional, nomeadamente através da entrevista efectuada, em directo, pela Com o objectivo de apoiar os alunos finalistas de Serviço Social que irão Rádio Renascença a Henrique Amaral Dias, Director da revista. Aqui ficam alguns dos recortes do dia seguinte no Diário de Coimbra e As realizar um estágio curricular em contexto de trabalho, o Instituto Beiras. Superior Miguel Torga apresentou uma candidatura ao Programa POCI 2010 – Fernando Teófilo Medida IV.7 Mobilidade e Empregabilidade Acção IV.7.1 / Sub-acção IV.7.1.2 – “Estágios” para o ano 2005/2006. O ISMT já foi formalmente informado sobre o número de estágios aprovados para financiamento de Bolsas de Formação. Serão apoiados 169 estagiários que receberão uma bolsa no valor do Salário Mínimo Mensal garantida por lei (s.m.m.) durante seis meses. O ISMT foi ainda informado pelo Gabinete de Sua Excelência o Ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior e a Direcção Geral do Ensino Superior, que como o citado concurso excedeu a programação financeira prevista para esta acção, foi aplicado um critério de forma equitativa a todas as candidaturas de todas as 8 torga Aconteceu instituições, um factor de rateio de aproximadamente 19%. Neste sentido a aplicação da metodologia de análise feita à candidatura apresentada pelo ISMT que envolveu 209 formandos, teve como resultado o corte de 40 formandos. A elegibilidade dos Estágios pressupõe que: - O aluno terá que estar inscrito no ISMT e ser aluno finalista; - Os Estágios só serão elegíveis se Convenção de Docentes do ISMT correspondência entre a nossa oferta formativa e as reais necessidades do No dia 21 de Setembro de 2005, realizou-se a I Convenção de Docentes mercado. Após um dia de trabalho, em grupos do Instituto Superior Miguel Torga. Subordinada ao tema “Novas Estratégias de 8 a 10 elementos, os docentes escolheram os seus porta-vozes e e Linhas de Desenvolvimento do ISMT”, a convenção contou, na sessão de apresentaram à Convenção diversos caminhos de inovação e desenvolvi- abertura, com a presença do Prof. Doutor Carlos Amaral Dias, Director do mento para o ISMT: novos cursos, novos eventos, novos processos de ISMT, que no seu discurso sublinhou a importância da participação dos relacionamento interno. Estas foram algumas das linhas de futuro ouvidas docentes no futuro da instituição, lançando a todos o desafio para que no pela Direcção do ISMT que agradeceu e valorizou. final do dia apresentassem propostas de futuro, com especial ênfase na Reconhecendo a importância e a eficácia desta iniciativa, todos aposta que deve ser feita na preparação de formação, nomeadamente pós- propuseram que a Convenção de Docentes se tornasse a realizar. graduada, em parceria com outros agentes da sociedade, de forma a tornar cada vez mais perfeita a Fernando Teófilo forem realizados em contexto de trabalho em empresas ou serviços externos ao ISMT, sob a orientação de um orientador pertencente à empresa/ organização e de um Supervisor pertencente ao ISMT; - Os estágios deverão ter uma duração no mínimo de 6 meses. Para qualquer informação complementar os interessados deverão contactar o NUFIC. Eduardo Marques (NUFIC) torga 9 Aconteceu Psicologia no Futebol A Psicologia no Futebol foi o tema de uma conferência promovida pelo núcleo de Estudantes de Psicologia, do Instituto Superior Miguel Torga (ISMT), que decorreu no passado mês de Junho, nas instalações do Estádio Cidade de Coimbra. Victor Silva, aluno do curso de Psicologia e Carlos Amaral Dias, Director do ISMT, iniciaram a jornada enfatizando as questões: “O que é que a Psicologia pode fazer pelo desporto? Que papel tem a Psicologia no desporto?” No âmbito específico do futebol, o psicanalista sublinhou que “o discurso futebolístico está cheio de termos psicológicos. A capacidade de lidar com a adversidade, com a frustração, de manter a confiança e a coesão da equipa são exemplos disso.” Jorge Silvério, docente na Universidade do Minho, realçou a necessidade de um treino mental para combater a ansiedade e estimular os níveis de confiança: “Em alguns atletas são os joelhos, os ombros ou as costas, mas o mais negligenciado seja talvez a cabeça”, sintetizou. Na perspectiva de José Neto, docente no Instituto Superior da Maia, há um dado revelador: “87 % das lesões mais graves foram de atletas que tiveram problemas emocionais anteriores. O treino deve ser uma simbiose entre o físico e o mental”, conclui. O actual treinador da Académica de Coimbra confessou “vou beber muito à Psicologia para melhorar o meu comportamento com os jogadores”. Pedro Roma, actual pupilo de Nelo Vingada corroborou desta opinião “a componente psicológica é uma mais valia para gerir diferentes mentalidades, culturas e origens que 10 torga compõem habitualmente as equipas de futebol”. caracteriza os atletas, “eles têm um grande protagonismo demasiado Miguel Rocha, ex-jogador da Briosa, especificou “na equipa da Académica cedo e não têm as tais competências de comunicação. É através da havia três grupos: os coímbrinhas, os brasileiros e os estrangeiros. Era comunicação que se consegue melhorar e optimizar as competências necessário estreitar laços e promover o diálogo entre todos com vista a uma dos atletas”. Jorge Sequeira é psicólogo e integra a actual equipa maior unidade do grupo”. “Sou um treinador do psíquico”. Foi técnica do Sporting de Braga, que se tem vindo a afirmar como uma das assim que José Alves, do Instituto Politécnico de Santarém, se definiu e melhores equipas do campeonato português. começou a enumerar as diversas técnicas psicológicas que se À questão “o que é preciso para ganhar?”, Jorge Sequeira empregam no futebol de alto rendimento “tal como as habili-dades responde: “competências físicas, técnicas, tácticas e naturalmente físicas, o treino das habili-dades psicológicas, de visua-lização mental, mentais. É a cabeça que comanda o corpo e não o contrário”, concluiu. requer uma prática sistemáti-ca para ser eficaz”, explicou. Hugo Anes O Director do jornal A Bola, Victor Serpa, apontou a vertente psicológica como uma solução “há que preparar, treinar os grandes atletas para lidar com as pressões, com a imprensa, com o facto de serem figuras públicas”. A falta de cultura dos desportistas referida por Victor Serpa foi também enunciada por Jorge Sequeira, assim como, a causa da falta de competências comunicativas que Aconteceu PROTOCOLO DE COOPERAÇÃO INSTITUTO DE REINSERÇÃO SOCIAL E INSTITUTO SUPERIOR MIGUEL TORGA Realizado em Lisboa, a 18 de Janeiro de 2005, o protocolo visa definir os princípios da cooperação técnica entre as duas instituições promovendo, Informática de Gestão, promovendo a formação e a prestação de serviços. científicas e técnicas dos seus docentes e alunos, bem como a valorização profissional e a formação contínua dos seus licenciados, ou de licenciados por ACORDO DE PARCERIA CÁRITAS DIOCESANA DE COIMBRA E INSTITUTO SUPERIOR MIGUEL TORGA outras instituições universitárias. O protocolo foi assinado em 15 de As duas instituições assumiram um PROTOCOLO DE COOPERAÇÃO MILCONTEÚDOS FORMAÇÃO PROFISSIONAL E INFORMÁTICA, LDA E INSTITUTO SUPERIOR MIGUEL TORGA nomeadamente: -definição de projectos e estudos de acordo de parceria no qual se comprometem em dinamizar a investigação científica na concepção de instrumentos de avaliação da eficácia da execução do projecto “ GERAÇÕES DO PLANALTO”. intervenção do IRS, no âmbito da execução de medidas judicias ou de O acordo foi assinado em Coimbra, em 24 de Maio de 2005. programas desenvolvidos para esse fim; -realização de estágios de Serviço Junho de 2005. As duas instituições celebraram o protocolo em 13 de Julho de 2005, tendo acordado instituir um sistema de colaboração relativo a estágios e -definição de processos de formação e supervisão técnica e científica de ACORDO DE COOPERAÇÃO APELO - ASSOCIAÇÃO DO APOIO À PESSOA EM LUTO E INSTITUTO SUPERIOR MIGUEL TORGA projectos e/ou desenvolvidos pelo IRS; programas Foi celebrado um Acordo de Cooperação entre a APELO e o Instituto serviços. -permuta de informação bibliográfica e /ou sobre projectos em curso, na Superior Miguel Torga, no dia 8 de Junho de 2005. prospecção de áreas científicas relevantes para a formação contínua As duas instituições comprometem-se a promover a recíproca colaboração no dos profissionais de cada uma das partes; que diz respeito à realização de: -estágios dos cursos de Serviço Social -publicação de trabalhos das duas instituições. e Psicologia; -cursos, conferências, seminários e Social (ramo de Justiça e Reinserção Social); -actualização científica de profissionais do IRS; outros eventos similares; -formação e prestação de serviços. PROTOCOLO DE COOPERAÇÃO EMPRESA RAMALDA II, CAMIÕES E AUTOCARROS, SA E INSTITUTO SUPERIOR MIGUEL TORGA projectos curriculares do curso de Licenciatura em Informática de Gestão e também promover a cooperação a nível da formação e da prestação de PROTOCOLO DE COOPERAÇÃO SUB-REGIÃO DE SAÚDE DE AVEIRO DA ARS CENTRO E INSTITUTO SUPERIOR MIGUEL TORGA Em 5 de Agosto de 2005, foi celebrado um protocolo de cooperação, no qual as duas instituições se comprometem em promover: -a organização de um sistema de cooperação relativamente a visitas de estudo, visitas de observação A 16 de Maio de 2005, foi celebrado um PROTOCOLO DE COOPERAÇÃO UNIVERSIDADE MODERNA DE LISBOA E INSTITUTO SUPERIOR MIGUEL TORGA protocolo de cooperação visando instituir um sistema de colaboração As instituições comprometem-se a promover o intercâmbio académico e a académica graduada e pós-graduada, formação profissional e prestação de relativo a estágios e projectos curriculares do curso de Licenciatura em realizar acções conjuntas que visem potenciar as valências culturais, serviços de saúde. prolongada e estágios de estudantes de cursos de Licenciatura em Serviço Social; -a investigação científica, formação Ana Cristina Abreu torga 11 Aconteceu Gabinete de Relações Internacionai Duplas Licenciaturas Candidatura à Carta Universitária Erasmus PROGRAMA DE MOBILIDADE ACADÉMICA O Instituto Superior Miguel Torga vai O Relações O Gabinete de Relações Internacionais Internacionais do Instituto Superior Miguel Torga submeteu à aprovação da informa que a Universidade Federal da Paraíba (UFP), Instituição Brasileira de Comissão Europeia, no passado dia 26 de Outubro, a Carta Universitária Ensino Superior que mantém protocolo de colaboração com o Instituto Superior Erasmus (CUE), para o ano lectivo 2006/2007. Miguel Torga, tem abertas as candidaturas para alunos estrangeiros A CUE estabelece os princípios fundamentais de qualquer actividade interessados em frequentar o seu programa de mobilidade académica, de intercâmbio académico-científico no quadro do programa Sócrates/ até 31 de Março de 2006. Assim, todos os alunos de licenciatura Erasmus e, assim sendo, uma vez aprovada, autoriza o ISMT a do ISMT que pretendam inscrever-se nas disciplinas de uma das licenciaturas apresentar a candidatura a propostas de mobilidade de estudantes, ou bacharelatos da UFP, bem como alunos interessados em realizar estágio docentes e funcionários. Estagiários no Gabinete de curricular no próximo ano lectivo 20062007, deverão apresentar a sua Relações Internacionais No ano lectivo de 2005/2006, o candidatura à UFP, preenchendo o Formulário para Estudantes Gabinete de Relações Internacionais recebe dois estagiários do 3º ano da Estrangeiros. O Formulário deverá ser enviado ao licenciatura em Psicologia do ISMT. A oportunidade de desenvolver um cuidado do Dr. Félix Augusto Rodrigues, Assessor para Assuntos estágio de observação-acção proporcionará aos alunos a inserção Internacionais da UFP, via e-mail para [email protected]. num contexto real de trabalho institucional. Todas as informações sobre a Universidade Federal da Paraíba e sobre São objectivos do estágio favorecer a apreensão das dinâmicas institucionais os estudos graduados aí existentes poderão ser consultados através do implicadas nos processos de intercâmbio académico e científico website: www.ufpb.br Contactos: internacionais, assim como colaborar em protocolos de investigação Felix Augusto Rodrigues Assessor para Assuntos psicológica e psicossociológica sobre algumas dimensões significativas nos Internacionais Universidade Federal da Paraíba processos de relação interpessoal, no quadro do intercâmbio académico Prédio da Reitoria, 1º Andar - Sala 14 Cidade Universitária - Campus I internacional. Castelo Branco - 58.059-900 João Pessoa - Paraíba – Brasil Gabinete de GRI Tel.:/Fax: +55 83 3216 7156 ou +55 83 4009 7156 Web site: www.ufpb.br E-mail: [email protected] GRI 12 torga proporcionar aos alunos licenciados pela instituição, a obtenção de outra licenciatura ministrada em apenas dois a três semestres de aulas, consoante as situações. Isto só será possível nos cursos onde se podem estabelecer sinergias. Assim, a título de exemplo, um licenciado em Serviço Social poderá, a partir de 2006, obter a licenciatura em Psicologia, com apenas mais dois a três semestres de aulas. Para isso terá que se candidatar através de um concurso especial. Estas relações de sinergia podem ser estabelecidas também nos cursos de Serviço Social e Psicologia, Ciências da Informação e Multimédia; Informática de Gestão e Multimédia. Para obter mais informações contacte o ISMT através do telefone: 239 488 030 Andrea Marques Aconteceu É um dos objectivos principais da revista Torga ser um espelho do trabalho desenvolvido por aqueles que são a razão de existência do Instituto Superior Miguel Torga. É neste contexto que se inserem os textos seguintes da autoria de duas alunas da licenciatura em Ciências da Informação (4º Ano), um sobre o jornal A Cabra e outro sobre a comemoração do Dia Mundial da Criança. Aproveitamos a oportunidade para, mais uma vez, renovarmos o convite à participação de todos os alunos através da publicação de textos, reportagens, entrevistas e outras sugestões. A Cabra Já se tornou um hábito. De quinze em quinze dias, os estudantes da Universidade de Coimbra contam com o seu jornal. Por trás das 24 páginas que são o corpo do jornal A CABRA, está uma equipa de futuros profissionais que dão tudo por tudo para superar as expectativas de cada leitor. Joana Matias Inserido na secção de jornalismo da Associação Académica de Coimbra (AAC), o jornal A CABRA surgiu em Janeiro de 1991, com o objectivo de servir os membros da Academia de Coimbra. O corpo do Jornal é constituído pelo Director, Chefe e Secretária de Redacção, Colaboradores, Redactores e Fotógrafos. Está dividido em vários editoriais, Ensino Superior, Cidade, Nacional e Internacional, Ciência, Cultura, Desporto e Fotografia. Sendo um órgão de comunicação social académico, A CABRA reconhece como seu público alvo os membros da Academia de Coimbra. Qualquer estudante, de qualquer licenciatura pode escrever para A CABRA. Existe sempre à disposição de todos os colaboradores uma formação garantida por profissionais da área da comunicação social. Mas, sem dúvida, que os alunos de Jornalismo são os mais favorecidos. Com cursos bastante teóricos, é na redacção d’ A CABRA que todos têm a oportunidade de pôr em prática o que aprendem nas aulas. “É aqui que tenho a oportunidade de conhecer a prática jornalística e de trabalhar num jornal”, explica João Campos, aluno do 2º ano de Jornalismo e editor de Cidade do jornal. Para além da preparação que a experiência de ser colaborador d’ A CABRA proporciona a nível profissional, o convívio e as amizades que se criam saltam à vista de qualquer um que entre na Redacção. Para que tudo corra bem é necessária a disponibilidade e a dedicação de todos. Há sempre alturas mais complicadas, fases da vida académica mais preenchidas, restando assim menos tempo para colaborar, mas sempre se conse-guem superar as dificuldades. “É fácil conciliar os estudos com A CABRA, na época de exames alivia-se um pouco o tra-balho”, desabafa João Campos. Geralmente, o jornal é composto por 24 páginas, nas épocas de exames são torga 13 Aconteceu reduzidas para 20 e os artigos são mais simples “para se evitar passar tanto tempo na redacção”. O funcionamento da Redacção De quinze em quinze dias, à TerçaFeira, é feita uma reunião de editores onde são propostos os temas da próxima edição e é estabelecido o contacto com os redactores. No dia seguinte, é dia de plenário, isto é, em reunião, os editores revelam os temas da próxima edição e os redactores oferecem-se para fazer os artigos. Cada redactor tem uma semana e dois dias para fazer o trabalho que lhe foi destinado, pois Sexta-Feira é a entrega dos artigos. Nessa altura, “nada pode falhar, pois há prazos a cumprir”, explica Margarida Matos, Editora da secção de Ensino Superior do jornal. Apenas a secção de Desporto pode entregar os traba-lhos mais tarde, uma vez que “os jogos da Académica, geralmente, são ao fim-desemana.” O Fecho A maior dificuldade é no fecho, estamos cá todo o fim-de-semana pela noite dentro”, refere João Campos, Editor da secção Cidade d’ A Cabra. A distribuição imaginativo na sua permanente comunicação com os leitores. O jornal chega entre Segunda-Feira à noite e Terça-Feira de manhã e saem 4 A CABRA estabelece as suas opções mil cópias. Terça-Feira, logo depois das nove da editoriais sem hierarquias prévias entre os diversos sectores de actividade, manhã, é distribuído gratuitamente por vários pontos estratégicos da cidade, numa constante disponibilidade para o estímulo dos acontecimentos e zona da Alta, pólos, Faculdade de Economia, cantinas, AAC e cafés. situações que quinzenalmente, são noticiados e comentados. É nesta altura que os “jornalistas” A CABRA considera que a existência sentem o verdadeiro orgulho do trabalho, do esforço e da dedicação a de uma opinião pública informada, activa e interveniente é condição mais uma edição do jornal. O sentimento de missão cumprida é fundamental da democracia e da dinâmica de uma sociedade aberta, geral, mas não dura muito, há que preparar agora o próximo número d’ A que não fixa fronteiras regionais, nacionais e culturais aos movimentos CABRA. de comunicação e opinião. A CABRA participa no debate das Estatuto editorial grandes questões que se colocam à sociedade portuguesa, não só através A CABRA é um jornal quinzenal de grande informação, orientado por da sua vertente informativa, mas também mediante os seus editoriais e critérios de rigor e criatividade editorial, sem qualquer dependência de ordem artigos de opinião. ideológica, política e económica ou de qualquer outra espécie. A CABRA é responsável apenas perante os leitores, numa relação A CABRA é um órgão de comunicação rigorosa e transparente, autónoma do poder político e independente de social académico e, desse modo, reconhece como seu público-alvo os poderes particulares. membros da Academia de Coimbra. A CABRA reconhece como seu único limite o espaço privado dos cidadãos Entre Sexta e Domingo, é feita a paginação e escolhem-se as melhores fotografias, Domingo à noite, o resultado desta equipa de estudantes, é entregue à gráfica que fica em Oliveira de Azeméis. É no fecho do jornal que é dado o tudo por tudo. Os textos são lidos e A CABRA inscreve-se numa tradição de jornalismo exigente e de qualidade, e tem como limiar de existência a sua credibilidade pública. recusando o sensacionalismo e a exploração mercantil da matéria Aprovado em 2002 relidos para que nada falhe. “É obvio que não é com o mesmo variados campos de actividade e correspondendo às motivações e stress de um jornal profissional, mas já nos dá bastante experiência e interesses de um público plural. bastante bagagem”, desabafa João. Geralmente, o fecho termina por volta A CABRA entende que as novas realidades sociais implicam um das quatro/ cinco da manhã. jornalismo rigoroso, eficaz, atractivo e 14 torga informativa. A CABRA aposta numa informação diversificada abrangendo os mais Aconteceu O Teatro e as Crianças Dia Mundial Da Criança “ Hoje é o meu dia, o nosso dia” Mais do que um dia de receber prendas, o Dia Mundial da Criança serve para pensar naquelas crianças que tanto precisam de ajuda. Crianças que são vítimas de exploração infantil, de maus-tratos, de abusos sexuais, chegando mesmo a existir crianças que não comem durante dias e nunca foram à escola porque os pais não deixam. Este é um quadro negro sobre a situação das crianças no mundo, incluindo o nosso país. Sabrina Couceiro uma história cujos factos foram narrados há muito tempo. Eram três da tarde, do dia um de Junho de 2005, o Teatro Académico Gil As Crianças na Comunidade Vicente estava repleto de crianças cheias de sonhos. Meninos e meninas As crianças da Comunidade Juvenil S. da Comunidade de S. Francisco de Assis, uma casa, em Coimbra, que Francisco de Assis são exemplo de meninos que muito precisam de ajuda. recebe crianças sem pais, ou de famílias em risco. Estes vivem na Comunidade pelos mais variados motivos, tais como, a falta de Faltavam poucos minutos para o teatro começar quando as luzes da sala condições financeiras por parte dos pais; problemas de alcoolismo, droga, se apagaram, ficando apenas as de presença que permitiam ver o cenário. entre outros. São crianças e jovens habituados a No palco, uma casa de banho aguardava a entrada em cena da peça lutar pelo que querem sozinhos, sem o apoio dos pais, podendo apenas “Vinte Mil Léguas Submarinas”. contar com o apoio de psicólogas e assistentes sociais. Lutam pela “Vinte Mil Léguas Submarinas” sobrevivência na nossa sociedade. Desde de cedo são preparados para o Conta-se a história de duas crianças que, numa casa de banho, brincam mundo que os espera. A Comunidade Juvenil S. Francisco com uma lâmpada e que acreditam na magia da electricidade. Ao mesmo de Assis é composta por inúmeras casinhas, nas quais vivem cerca de seis tempo que acreditam nesta magia, imaginam, também, estar no crianças e jovens. E são os mais velhos que “tomam conta dos mais novos”, no submarino Nautilus, que fora inventado pelo capitão Nemo. E, num rápido sentido em que os orientam em alguns aspectos, “Temos o papel de apagar e acender de luzes, as crianças entram na história criada por Júlio orientadores”, disse o André ( 18 anos), nome fictício. Verne. Encontram o capitão Nemo desesperado, pois queria mudar o final Ao contrário dos mais pequenos, alguns dos mais velhos não gostam de trágico da história. É, precisamente, Algumas das Crianças que esperavam para entrar no teatro este final trágico que a sociedade pretende mudar, no que diz respeito à vida das crianças em risco. Percebendo a vontade que o capitão tinha em mudar a história, as crianças querem ajudá-lo, mas vêem-se incapacitadas de o fazer, porque era impossível mudar torga 15 Aconteceu viver na Comunidade, não pela Comunidade em si, mas por estarem “Ana,” nome fictício, foi logo trocar de roupa, “ A Ana foi trocar de roupa mas também pelos sonhos que flutuavam naquelas pequenas afastados dos pais e porque aspiram a uma vida melhor. porque estava mal vestida para ir ao teatro”, justificou a “Rita”. cabecinhas que ao mesmo tempo aspiravam a um futuro mais risonho. O “André “ é um dos jovens que não gosta de viver naquele local e que A alegria de “Rita” contrastava com a tristeza de um outro amigo, o deseja uma vida melhor, “ Sábado voume embora daqui, vou para a tropa, “António”. Este quando soube do teatro, não se mostrou muito contente, quero ser paraquedista”, afirmou durante o pequeno diálogo que pois preferia ficar na Comunidade. Dentro dos vários meninos que consegui estabelecer com ele. Apesar de estarem longe de casa, estavam na Comunidade, a “Rita” foi a que mais se evidenciou, devido à sua alguns destes jovens e crianças mantêm contacto com os pais. Durante vivacidade e ao carinho que nutria pelas outras crianças. o fim-de-semana, as crianças podem ficar em casa dos pais e quando os pais A Caminho do teatro não podem ficar com eles, passam na Comunidade a visitá-los. Depois do Animador Social ter A Comunidade Juvenil S. Francisco verificado se todas as crianças estavam presentes, seguiram rumo ao teatro. O de Assis percurso foi feito de muitas perguntas e risadas. No dia Mundial da Criança, a Comunidade Juvenil S. Francisco de O momento tão esperado estava prestes a acontecer. Assis estava rodeada de alegria e entusiasmo por parte dos mais Apesar da agitação do momento entraram ordeiramente na sala e pequenos. Sentimentos que eram visíveis na cara de cada uma das esperaram pelo início da peça. Assim que a peça subiu ao palco, fez- crianças, num dia que, sabiam, lhes era dedicado. se silêncio que durou uma hora, o tempo da representação. No final da Após o almoço, o Animador Social estabeleceu o programa da tarde, uma peça, todos os actores do elenco subiram ao palco, para deixar umas ida ao Teatro. Depressa a alegria se misturou com ansiedade. Para muitos palavras de agradecimento às crianças e para lhes dizerem que na entrada o teatro, o palco, os actores eram uma realidade distante, pois nunca tinham esperavam por eles CD‘S com as músicas da peça. Assim que o núcleo assistido, ao vivo, a nenhuma peça. do teatro termina de falar, a agitação e a correria começam de novo, mas Dia 1 de Junho é o meu dia, o nosso dia” desta vez para não perderem os presentes. Foi assim que “Rita”, de oito anos, O olhar com que saíram era mais brilhante do que quando entraram, até nome fictício de uma das meninas que vive na Comunidade, radiante, o olhar de “António”, que ao início não queria ir. descreveu o dia da Criança. Assim que soube que ia ao teatro apressou-se a O pano desceu, o silêncio que durou algum tempo, transformou-se numa chamar as suas amigas, porque não se podiam atrasar. Uma das amigas, a imensa correria e a sala voltou a estar iluminada, não apenas pelas luzes, 16 torga Aconteceu COMEMORAÇÕES DOS 70 ANOS DO EDIFÍCIO DA ESCOLA JOSÉ FALCÃO/ LICEU D. JOÃO III Ao longo da sua reconhecida e prestigiosa actividade que já decorre por 3 séculos, vários edifícios serviram de casa ao Liceu de Coimbra, ao Liceu José Falcão, ao Liceu Júlio Henriques, ao Liceu Normal D. João III e à Escola Secundária José Falcão. Qualquer que seja a designação, cabe agora a todos os actuais actores lembrar que o edifício da Avenida Dom Afonso Henriques serve de instalação a esta instituição desde 1936, e portanto, em 2006, completará 70 anos. Os órgãos de gestão e a administração da Escola Secundária José Falcão tomaram a decisão de comemorar esta data. A Escola Sec. José Falcão, sucessora do Liceu D. João III, substituiu em Setembro de 1936,os anteriores liceus Júlio Henriques e José Falcão, entretanto extintos pelo Estado Novo. A primeira iniciativa das comemorações ocorreu no passado dia 30 de Setembro, com a presença do Dr. António Almeida Santos, Ex. Presidente da Assembleia da República e antigo aluno do Liceu D. João III, onde concluiu o curso complementar dos liceus em 1945, com brilhante classificação, tendo sido considerado o melhor aluno do Liceu. O ilustre antigo aluno aceitou o convite para se integrar nas comemorações e proferiu decorrer durante todo o presente ano lectivo e terá o seu apogeu em Outubro uma brilhante conferência subordinada ao tema “ ESCOLA, LIBERDADE E do 2006. Entre as iniciativas a concretizar, irão VALORES” que entusiasmou alunos, funcionários e professores que lotaram realizar-se palestras, exposições organizadas pelos diferentes grupos a capacidade do Auditório da Escola. A comissão responsável pelo evento disciplinares, conferências temáticas, edição de um volume comemorativo e está a preparar o programa das comemorações, estando previsto um outras actividades especialmente preparadas para aglutinar actuais e antigos alunos, professores. funcionários e Jorge Carvalho Coordenador da Comissão das Comemorações dos 70 anos do Edifício do Liceu D. João III/ Esc. Sec. José Falcão. conjunto de iniciativas que irão torga 17 18 torga Sucesso SUCCÈS D’ESTIME: O título deste texto era uma expressão corrente na Inglaterra do século XIX, usada para descrever a recepção, mais cordial do que entusiástica, dada a uma obra literária. Julgo que as linhas que se seguem não merecem uma coisa, nem são a outra. É deveras interessante ser convidado para escrever sobre algo que desconheço em absoluto. O sucesso como expressão civilizacional é-me totalmente estranho. Já o sucesso literal – succedere – ou seja, “o que vem depois”, é outra história. No primeiro caso, o sucesso é admiração pública e riqueza. Julgo ser difícil conseguir ambas as coisas sem atropelar a lei e enganar a consciência, no caso de se possuir uma, naturalmente. Para virmos a ostentar uma inimaginável riqueza ou conhecemos de cor os oráculos de Ântio, onde Fortuna fala, ou roubamos alguém. Dir-me-ão que exagero: pois claro, ou não falasse eu de uma riqueza inimaginável. A admiração pública, que Herberto Hélder tanto despreza em vida mas terá em morte, é um assunto algo diferente. Não se trata tanto de saber como alcançá-la, mas porquê. Provavelmente, quem a persegue nunca se sentiu verdadeiramente amado. Isso aconteceu a Ájax, está escrito há muito tempo. Por ironia da Fortuna (novamente ela), o homem ou mulher verdadeiramente famosos preocupam-se com outras coisas. A Fama, literalmente, fala, rumor, é decerto perseguida por aqueles que adoram o sucesso. Talvez distraídos com os seus feitos, se esqueçam por vezes que a fama, sendo apenas palavra, leva-a o vento. Assim, este excurso se despede do sucesso contemporâneo. O outro sucesso, o que sucede, já me diz qualquer coisa. Julgo que ninguém ainda conseguiu fazer melhor que Horácio: despede-te do dia que passou e não esperes nada do dia de amanhã. Um pouco antes do bom do Horácio escrever as suas Odes, do outro lado do mundo os taoístas alinhavam pela mesma bitola. Significa isto, tão só, que a nossa vida se mede em unidades destacadas, tanto quanto a noite sucede ao dia. O meu sucesso, hoje, no dia em que escrevo estas linhas, será aprender mais qualquer coisa, ter sido justo, beijar os meus filhos e deitar-me sossegado. É pouco, dirão vocês. Talvez seja, para quem espera tudo do dia de amanhã. Não é o meu caso. Filipe Nunes Vicente torga 19 Sucesso duas lesões e ao aceitar este emprego tive que deixar de fazer fisioterapia.” Embora já não treinasse há um mês foi ainda disputar o Campeonato Nacional pela Nazaré. “Fomos campeões nacionais por equipas, mas o corpo já não reage da mesma maneira. A classificação que eu tenho neste momento, é dos torneios que eu fiz no ano passado, ou seja, apesar de estar a estagiar e a trabalhar, foi dos anos que me correram melhor. Talvez por satisfação profissional…” • Campeão Regional Absoluto de Coimbra por 6 vezes: 1996, 1998, 1999, 2002, 2003 e 2004 • Campeão Nacional de Inter-clubes “O meu objectivo foi sempre atingir o máximo” Matthieu Garcia começou aos 8 anos a jogar ténis. Tem hoje 24, é número 7 no ranking nacional. Licenciou-se em Ciências do Desporto e Educação Física com média de 16 valores. Seniores da 3ª Divisão em 2001 (T.C. Figueira da Foz) em Vale do Lobo • 2º Classificado no Campeonato Nacional de Inter-clubes Seniores da 2ª Divisão em 2002 (T.C. Figueira da Foz), na Figueira da Foz • 3º Classificado no Campeonato Nacional de Inter-clubes Seniores da 1ª Divisão em 2003 (T.C. Figueira da Foz), no Jamor. “Nunca achei complicado conciliar o estudo com o ténis. Acho que com força Durante o tempo que esteve a estudar não teve dificuldades em conciliar o de vontade se consegue tudo.” Foi com esta determinação que Matthieu se estudo e a carreira desportiva. O mesmo já não se passa agora com o trabalho, Melhores classificações Nacionais Seniores na variante de singulares entregou, desde sempre, ao ténis. Considerado um desporto de elite “é as exigências são outras. Matthieu está colocado como professor de Educação também um desporto muito individual e com muito poucos apoios. Gasta-se Física no Instituto Educativo de Souselas. “Neste momento, nem sequer muito dinheiro e não há o devido retorno. O meu pai foi o meu principal estou a jogar. Infelizmente, em Portugal, não dá para viver do ténis. Tive que • 12º • 10º • 12º • 8º • 7º - patrocinador”. A falta de patrocínios é um dos optar pelo trabalho. Estou a trabalhar e a dar treinos ao mesmo tempo, o que maiores entraves na sua carreira desportiva. “Mesmo sendo o 7º nacional me deixa com tempo nulo para mim e para competir. A carreira desportiva, não se ganha quase nada. Gasta-se mais do que aquilo que se ganha. É agora, está em stand by. Não gosto da palavra desistir.” mais por amor à camisola. O meu objectivo foi sempre atingir o máximo Matthieu não prevê que no próximo ano possa competir nem que tão cedo das minhas potencialidades. Acho que apesar de ter feito muito, o máximo não melhore a sua classificação. “É muito difícil. É preciso treinar, sobretudo estar pude atingir porque também não houve dinheiro para isso. Para atingir o máximo dedicado a isso e eu, neste momento, não estou. Também não estou nas teria que ir jogar lá fora…” melhores condições físicas. Estava com 20 torga 1999 2000 2003 2004 2005 Andrea Marques Sucesso actualmente na posição em que estou. Sinto-me realizada”. Quando se fala em sucesso sente alguma dificuldade em defini-lo. “Essa expressão tem muito de pessoal. Eu considero-me uma pessoa de sorte e de sucesso na medida em que faço aquilo que gosto e tenho algum reconhecimento nisso.” Confessou ser ambiciosa e um dos seus sonhos é “um dia poder gerir um grande hospital. Se conseguir conciliar tudo isso com a advocacia então serei 100 por cento realizada. Estou a trabalhar para isso.” Tem como projectos a curto prazo, “Sinto-me realizada” por exemplo a especialização na área de Gestão. A longo prazo “tenho Em criança sonhava ser bailarina ou artista de televisão. Hoje, é uma Advogada e Administradora de sucesso. Joana Mota tem 28 anos, é determinada e a sua maior ambição é um dia poder gerir um grande hospital. Aos 7 anos começou a ter aulas de te teórico e muito trabalhoso. Ao longo piano, praticava natação e equitação. O gosto pela leitura surgiu aos 11. A do curso aprendi a apaixonar-me por ele.” No entanto, e apesar dos estudos música e a pintura são também duas paixões. “Eu não era nada reguila. Era lhe ocuparem muito tempo conseguiu sempre “compatibilizar as exigências uma miúda muito introvertida. Era considerada pelos professores como que o meu curso tinha para comigo e nunca descurar a vertente lúdica da «bem comportada». Não era nenhum génio, mas era boa aluna. Nunca tive passagem pela Universidade, que é fascinante. Criei laços de amizade dificuldades.” Sempre se imaginou na área de profundíssimos que perduram hoje em dia.” Humanidades “eu tinha muito mais apetência para Letras, gostava muito de Licenciou-se em 2001 e, neste momento, assume vários cargos: ler e escrever”. No Secundário, Jornalismo e Inglês-Alemão eram duas Directora Jurídica/ Administradora Executiva/Advogada na Sanfil – Casa de áreas que, na altura, pensava seguir. A decisão de cursar Direito só a tomou no Saúde de Santa Filomena, S.A; Advogada na Sociedade de Avogados 12º ano. “O meu pai teve muita influência na minha escolha”, confessa. António Arnaut e Associados e Gerente/ Advogada na Si Vales – Saúde e Vida Nunca se sentiu pressionada mas “aconselharam-me a tentar encontrar SGPS; Ld.ª. O segredo é simples “eu penso que a minha determinação, a um equilíbrio entre aquilo que seria a minha profissão um dia mais tarde, o vontade de fazer sempre mais, ser sempre melhor e também uma pontinha meu gosto por ela e poder executá-la na prática, ter emprego…” de sorte pesou na minha situação actual e nas perspectivas que eu tenho. Foram Entrou para Direito em 1995 um curso, como Joana Mota afirma “extremamen- factores imprescindíveis para eu estar também uma vontade oculta, digamos assim, de poder seguir uma carreira académica. Dar aulas, fazer um mestrado, doutoramento. Tenho esse projecto, ainda que, neste momento, esteja um pouco latente porque tenho outras prioridades. Gostava de sedimentar mais os meus conhecimentos e a aplicação deles a nível prático e, então, um dia mais tarde, seguir a fundo a carreira académica”. Livro – A Morgadinha dos Canaviais – Júlio Dinis Música – Smiths Filme – Closer Viagem – Marcou-me muito uma viagem que fiz com os meus pais e o meu irmão a Nova Iorque e Orlando, em 1997. E, adorava ir ao Egipto. Ópera – Aida, da primeira vez que esteve em Portugal Figura que admira – Paula Rego Sonho – Olhar para trás e sentir-me realizada por ter conseguido compatibilizar o trabalho com o papel de mãe. É um receio que tenho: um dia vir a constituir família e não ser capaz de cumprir o meu papel de mãe. Andrea Marques Filipe Casaleiro (Foto) torga 21 Sucesso T – Qual (ou quem) é o seu modelo de sucesso? TM – Modelos de sucesso no automobilismo tenho vários, o Ayrton Senna, Alain Prost, e claro, M. Schumacher que também vai deixar sua marca. T – O que pensa sobre poder estar a ser um “modelo” de sucesso para muitos jovens? TM – É uma enorme responsabilidade. Apesar de não estar certo de ser um modelo de sucesso. Acho que para alguns sou uma referência apenas. E isso não me desagrada de todo, pois olho para o meu passado e o meu presente e Tiago Monteiro - Sucesso a alta velocidade apesar de também ser uma pessoa que tem defeitos, acho que o meu percurso Quando começámos a pensar em jovens portugueses que pudéssemos associar e a minha atitude profissional são bastante positivas. a exemplos de sucesso, o nome de Tiago Monteiro veio imediatamente no topo da memória. Para a maior parte dos portugueses este era, até há um ano atrás, um nome completamente desconhecido. Hoje, faz parte do imaginário de muitos jovens que sonham vencer num tabuleiro mundial com grande visibilidade mediática. Ainda antes de terminar o campeonato de F1, enviámos um e-mail a Tiago Monteiro com 6 perguntas. Em menos de 6 dias vieram as respostas que se seguem. T – O que sentiu quando subiu ao podium? TM – Foi uma sensação única. Era algo que não esperava que pudesse acontecer no meu ano de estreia na F1. Tenho consciência que aquele pódio foi conseguido em condições especiais. Mas, para mim, foi uma corrida normal, pois em pista estavam os meus mais directos adversários. Torga (T) – O que é o sucesso para um corredor de F1? A vitória? O TM – Existem várias etapas, depende um pouco por onde se começa. Há vencimento? A fama? Tiago Monteiro (TM) – A vitória com pilotos que começam muito novos no karting, o que não foi o meu caso. T – Como reage ao insucesso? TM – Sei lidar muito bem com os certeza. Para mim, inicialmente, o meu Comecei com 20 anos, na Porsche Francesa. Passei por vários períodos menos bons. Procuro sempre tirar deles o melhor ensinamento sucesso era poder constar da lista de 20 pilotos que fazem parte deste campeonatos, entre a F3, a F3000, a Champ Car, a World Series by Nissan. possível e procurar corrigir algo que não tenha feito bem e procurar restrito mundo. Depois, era conseguir terminar corridas, mais tarde foi Em todos, procurei sempre aprender ao máximo, ser o mais profissional melhorar. Não dou grande importância a críticas sem fundamento e procuro pontuar e, neste momento, o meu sucesso será um dia vencer! É para possível, ser dedicado ao meu trabalho, ser humilde e lutar sempre ser sempre o mais humilde possível. isso que luto e trabalho. pelo melhor resultado. A F1 foi consequência disso tudo. Há sempre T – Que etapas se tem de percorrer para chegar até à Formula 1? um longo caminho a percorrer. Não podemos achar que tudo é fácil. 22 torga Fernando Teófilo Sucesso “Tudo o que se passa… passa na TSF”, então passou a ser um sonho trabalhar na TSF. T – Como foi o percurso na escola? RD – Foi um percurso muito regular. Sinceramente, até chegar ao Ensino Superior nunca me preocupei muito com a escola. Fazia o estritamente essencial para conseguir obter resultados “aceitáveis”, nunca tirei negativas, era um aluno de 14... sobretudo, pouco esforçado. Sempre vivi um dia de cada vez e não me preocupava muito com o futuro. Os meus pais é que não gostavam muito dessa atitude... Sempre lhes disse que quando fosse preciso trabalhar a sério o faria. O tempo acabou por dar-me razão... Mas admito que podia ter sido diferente. Na faculdade as coisas mudaram muito, ir às aulas era um prazer, “Quero chegar o mais alto que puder” Licenciou-se em Ciências da Informação no Instituto Superior Miguel Torga. Tem apenas 23 anos e é Jornalista na TSF. Ricardo Duarte admite estar a viver um sonho, e afirma que a licenciatura foi decisiva para o seu sucesso. Torga (T) - Como surgiu a paixão interesse pelo jornalismo. Conseguiu pelo Jornalismo? Sonho de infância? Ricardo Duarte (RD) – Não posso despertar em mim a paixão por esta profissão. dizer que sempre sonhei ser jornalista... O que gostava era de ouvir e ler O Joaquim era Jornalista na RTP e eu durante algum tempo já só sonhava histórias. Se pensarmos que o jornalista é um contador de histórias, em ir para a televisão mas depois, no último ano, surgiu outra pessoa então esse aspecto é algo que desde muito cedo me cativou. Agora, o decisiva no meu percurso, o Artur Carvalho (Jornalista da TSF). Jornalismo, a sério, ou a hipótese de ser jornalista, foi algo que só surgiu Foi meu professor de Jornalismo Radiofónico e exerceu sobre mim uma muito mais tarde, já durante a licenciatura. O principal “culpado” pelo influência incrível. Foi através dele que comecei a descobrir a Rádio. Sempre despertar dessa paixão foi o Joaquim Fernandes. Ele foi meu professor de ouvi muito a TSF, mas desde que o tive como professor... passei a “devorar” a Teorias e Técnicas de Produção Informativa e foi decisivo para o meu Rádio! Queria saber tudo, perceber como é que tudo se passava, ora, se gostava daquilo que estudava, adorava a relação com os professores, falar com eles, saber sempre mais... T – Qual é a sua definição de sucesso? RD – Atingirmos algo que ambicionamos muito, sermos reconhecidos pelo nosso trabalho e sentir todos os dias que estamos a viver um sonho... Isso é ter sucesso! T – A licenciatura contribuiu para esse sucesso? RD – De forma decisiva. Muitas vezes, as pessoas são um pouco injustas para com o ISMT. A minha opinião é que apesar de as condições físicas não serem as melhores, em termos humanos as razões de queixa são muito poucas. Claro que não é perfeito, como tudo, há professores melhores e piores, mas, no geral, a qualidade é muito boa e isso é torga 23 Sucesso fundamental para a formação de bons jornalistas. Jornalismo, hoje podemos ir entrevistar o Figo e amanhã o José Sócrates. Há No meu caso, a licenciatura veio abrir-me portas que de outra forma sempre um grau de imprevisibilidade muito grande, é uma das coisas que ainda hoje estariam fechadas. adoro na profissão. T – Quando e como começou a trabalhar na TSF? Logo após a T – Qual é a sua maior ambição? RD – Ser sempre melhor, em tudo! licenciatura? RD – Tinha terminado o curso em T – E, projectos para o futuro? Julho, tirei umas férias, que depois acabaram por ser mais prolongadas do RD – Alguém disse um dia que “o futuro não existe sem o passado”, por que gostaria. Um dia, no fim de Novembro, o João isso, espero continuar na TSF por muito tempo, a construir um bom Paulo Meneses, director da TSF no Porto, ligou-me a perguntar se queria passado para poder ter um futuro promissor. vir fazer um estágio pós-curricular. Era só por um mês e não ia receber nada Não escondo que sou ambicioso e, como tal, quero chegar o mais alto que mas disse logo que sim. Acabei por ficar mais 15 dias, depois acabou. puder. Surgiu então um convite para outra rádio, em Lisboa, e fui. Passado um mês o José Fragoso, director da TSF, ligou-me a propor um estágio de 2 meses, de novo no Porto e eu, mais uma vez aceitei. As coisas correram bem e desde esse dia que estou na TSF. T – Como está correr o trabalho na TSF? RD – Pode parecer um pouco exagerado, mas, todos os dias me apetece dar um beliscão a mim próprio para me certificar de que não estou a sonhar. Adoro o que faço e todas as pessoas têm sido fantásticas comigo. Incentivam-me, corrigem-me, ajudamme a crescer enquanto profissional. O ambiente é único. Neste momento, não estou ligado a nenhuma editoria em particular, tanto faço reportagem de pista nos relatos de futebol, como estou numa equipa de edição, faço directos ou reportagens, tudo o que é preciso. A versatilidade é muito importante no 24 torga Andrea Marques “Aprendi muito no ISMT” Joana Côrte-Real licenciou-se em Ciências da Informação no Instituto Superior Miguel Torga. Tem 26 anos e é jornalista na RTP. Esteve ligada ao programa 2010,do canal 2. Neste momento, está de partida para Cabo Verde para abraçar um novo projecto da RTP África. Torga (T) - Como surgiu a paixão pelo Jornalismo? Sonho de infância? Joana Corte-Real (JCR) - Sonho de infância? Não. Nunca pensei em ser jornalista. Quando era pequena, sonhava talvez ser cabeleireira ou professora... Acho que todas as crianças sonham ser alguma coisa que nada tem a ver com o que realmente escolhem no futuro. Mas desde sempre tive a mania que a razão está do meu lado. Não será isto que todos os jornalistas pensam? T – Como foi o seu percurso na escola? Foi sempre boa aluna? JCR – Não, nunca fui boa aluna. Sempre fui preguiçosa e nunca tive muita vontade de estudar. Sempre “fui fazendo”! Os meus pais bem que me alertavam, mas para mim bastavam notas médias para passar de ano. Na faculdade só estudava o que realmente me interessava e isso reflectia-se, como é óbvio, nas notas. Aliás, em tudo na minha vida só “agarro” o que me dá motivação, e aí dedico-me a sério. Sucesso oportunidade de fazer este Magazine de Ciência e Tecnologia. Ao princípio, Suely Costa, Joana Côrte-Real e Vasco Matos Trigo fiquei assustadíssima porque não percebia nada do assunto. Fazer jornalismo científico não é nada fácil, os temas são complexos e as pessoas que entrevistamos são de um grau académico elevado. Mas tudo se aprende, há que ser humilde! Por outras palavras, quando vou fazer alguma reportagem cujo tema não é muito acessível, peço para explicarem como se fosse para uma criança, assim torna-se mais fácil a explicação. Para além desta “estratégia”, a equipa que trabalha no 2010 ajuda-me em tudo o que preciso...afinal, ninguém nasce ensinado, nem mesmo os jornalistas... T – Disse-me que vai para Cabo T – A licenciatura contribuiu para o seu sucesso? frente e muita coisa para aprender. Daqui a uns anos....falamos! JCR – Sim, sem dúvida. Quando fui estagiar para a TVI pensava que não T – Quando e como começou a tinha prática nenhuma, mas o que é certo é que aprendi o essencial. Graças trabalhar em televisão? Logo após a licenciatura? a alguns professores, colegas e claro ao Sr. Filipe Casaleiro (responsável JCR – Eu fui estagiar no quinto ano para a TVI , em Lisboa. Foi fantástico! pelo estúdio de televisão e de rádio), cheguei à estação de televisão de Aprendi imenso. Tive sorte de ter encontrado pessoas que me ajudaram Queluz e sabia como é que as coisas se faziam. Em conversas que tive com a conhecer melhor o mundo da televisão, pessoas que fazem alguns estagiários, que encontrei durante este período, cheguei à jornalismo com paixão. Ao contrário do que dizem desta estação de TV, há conclusão que aprendi muito no ISMT. Era das poucas que tinha alguma muito bons profissionais a fazer BOM jornalismo. Durante o meu estágio fiz prática em televisão e, por isso, saí em reportagem ao fim de uma semana de de tudo. Trabalhei para todos os telejornais e realizei reportagens de lá estar. Morri de medo, mas correu tudo muito bem. toda a espécie. Foi uma mais- valia para a minha realização profissional. T – Qual é a sua definição de Sucesso? T – Como está correr a sua vida JCR – Sucesso? Acho que ainda não cheguei lá! Para mim o SUCESSO só profissional? Qual a sua função no programa 2010? se atinge com EXPERIÊNCIA. É necessário viver, trabalhar e aprender JCR – Depois de ter a certeza que era jornalismo que queria seguir, e eu ainda tenho muitos anos pela nomeadamente em televisão, tive a Verde. Como surgiu esse convite? JCR – Não sei muito bem. Surgiu o projecto e convidaram-me. Talvez gostem do meu trabalho...?! T – Em que consiste o trabalho que vai fazer em Cabo Verde? JCR – Vamos iniciar um programa semanal para a RTP África e para a estação de televisão caboverdiana. Eu vou fazer reportagens para esses programas sobre a cultura, o povo e as tradições. Ainda está tudo muito “verde”, quando chegar lá, é que vou saber realmente mais pormenores, pois para além da nossa equipa vamos trabalhar também com pessoas de lá. T – Qual é a sua maior ambição? JCR – Ter SUCESSO em tudo o que faço...e ser (re) compensada por isso. T – Projectos para o futuro? JCR – Essa é uma boa pergunta. Projectos para o futuro...?...a “PRÓXIMA” reportagem. Andrea Marques torga 25 Sucesso GRANDE REPORTAGEM Em busca de um sonho A passadeira vermelha, à entrada, é o passaporte para o mundo mágico do Casino do Estoril, apenas comparável ao ambiente dos grandes casinos de Las Vegas. O tilintar das fichas, as luzes coloridas, os ecrãs multimédia e a música ambiente fundem-se com as emoções que só ali se vivem. A Torga fez uma viagem ao interior do maior casino da Europa e descobriu um ambiente único. “O casino está sempre associado ao sonho, a um golpe de sorte que pode mudar a nossa vida”, afirmou Manuel Anok – Director do Serviço de Jogos do Casino do Estoril. A maior parte das vezes, quem entra num casino procura, consciente ou inconscientemente, ser bafejado pela sorte. Nem sempre isso acontece, mas há histórias surpreendentes. É o caso de um frequentador de 91 anos que ganhou o maior Jackpot de sempre no Casino do Estoril. “Foi em Agosto de 2001. Ganhou um milhão de euros, uma enormidade de dinheiro para uma pessoa de 91 anos, que era viúvo. Alterou a sua vida toda. Posteriormente, viemos a saber que se casou com a pessoa com quem estava a viver nos últimos 20 anos”, contou Manuel Anok. Os casinos têm esta magia, quando menos se espera o som da trombeta anuncia mais um milionário. Situado a 18 kms do centro de Lisboa, o Casino do Estoril é o maior e mais diversificado complexo de animação e lazer de Portugal. A Sala de Jogos Tradicionais está equipada com sistemas informáticos 26 torga que mantêm o jogador a par da evolução de cada mesa de jogo. O Pano prémio”, explicou o Director do Serviço de Jogos. Verde é um ex-libris do Casino do Estoril. É neste salão que se disputa a sorte e Hoje em dia, entrar num casino somente para jogar não é uma ideia real. exercita a estratégia. Há uma diversificada oferta de jogos A democratização do jogo e a diversificação da oferta convidam a uma tradicionais: Ponto e Banca, Bancas Francesas (mesa de jogo que só existe visita para desfrutar de espaços requintados, onde se passam em Portugal), Roleta Americana, Black Jack e Caribbean Stud Poker. momentos agradáveis de convívio e lazer. A Sala das Máquinas é o maior espaço de máquinas automáticas da O Salão Preto e Prata é considerado a verdadeira “catedral do espectáculo” Europa. Cerca de 1200 slot machines que compõe um ambiente único bem em Portugal. Tem 1200 lugares e está equipado com tecnologias de som, ao estilo de Las Vegas. Na Sala Mista há uma interactividade iluminação e efeitos especiais. É o palco de grandes galas com regular entre os jogos bancados e centenas de máquinas automáticas. Integra várias periodicidade e que contam com os maiores nomes do music-hall mesas onde se pode jogar Caribbean Stud Poker, Black Jack, Roletas internacional. Por ali já passaram Liza Minelli, Ray Charles, Júlio Iglésias, Americanas. Noutro piso, perto da Galeria de Arte, situa-se uma outra zona, Natalie Cole, B.B.King, Dionne Warwick, James Taylor, Chris de Burgh, com um ambiente mais tranquilo, o Casablanca – Piano Bar, com 97 slot Manhattan Transfer, Art Garfunkel, Shirley Bassey e os maiores nomes do machines. “Os casinos estão sempre associados panorama musical português. O Du Arte Garden é um local ao desejo de passar uma noite de sonho e, eventualmente, ganhar um grande privilegiado no centro do Casino do Estoril. Diariamente, os visitantes podem Sucesso desfrutar de música ao vivo, ao mesmo tempo tomar uma bebida e passar umas Gentes fashion ou com uma blusa mais in. Mesmo que venham de um dia de horas de descontração. Na diversidade de espaços, destaca- A sensação já não é a mesma. Dissipouse no ar aquele toque solene da sala trabalho, sempre podem relaxar um pouco nos jardins interiores e tomar um se a Galeria de Arte que é, neste momento, uma das mais repre- de jogo onde damas e cavalheiros se passeavam nos vestidos de festa. café. Para os mais “glamorosos”, a Noite sentativas no nosso país, expondo o melhor que se faz em Portugal. Ontem, a luz baça dos lustres desfigurava as cores das faces. O jogo continua a ser o prémio, o espectáculo da vida. Vestem-se a rigor numa Neste centro polivalente de entretenimento e lazer há, também, um era só para alguns endinheirados que podiam fazer da riqueza o que lhes passerelle de gente mais e menos conhecida. Teatro Auditório com 400 lugares que apresenta, regularmente, peças de desse na real gana. Havia quem apostasse tudo na Roleta O casino é o centro de cultura e lazer onde o jogo já não é mero pretexto para teatro, designadamente, a chamada stand-up comedy, além de recitais, e nada ganhasse. Havia, também os que sabiam jogar e a sorte os um momento bem passado. Sente-se ainda a presença de Gente espectáculos de ballet e de magia. É um mundo à parte onde se vivem acompanhava sempre. Não entrava no casino quem não dominava os círculos solitária a deambular pelas salas, na observação silenciosa de uma caçada. emoções únicas, se passam noites inesquecíveis, se desfruta do melhor da Society. As belas exibiam Gente que pressente a hora do fascínio embrulhada nas histórias dos outros que a cultura pode oferecer. É um convite ao sonho, ao desejo de mudar esmeraldas nos peitos ilustres, faziam do jogo a ambição máxima das suas bafejados pelo Sucesso. O tilintar das moedas a cair das a vida quando se coloca uma moeda numa slot machine. pequenas vidas. Os seus maridos mecânicos, perplexos com as posses máquinas invade o ambiente que se vive. Olhares ávidos cruzam o ar, no desejo Andrea Marques dos adversários apressavam-se desvairados a arriscar tudo. Alguns de que um golpe de Sorte mude as suas vidas para sempre. A esperança conseguiam. Hoje, eles convivem em perfeita dança agarrada ao Vício. Ama-se o dinheiro fácil que venha recuperar harmonia com o espaço do Casino. Os jeans até ficam bem com uns sapatos outras perdas. Muitos jogam por prazer, saudavel- madonas mente cientes das suas capacidades de Aposta. A ansiedade que poderá existir nestes corações que lançam a sorte é tão dissimulada que quase leva a crer que não existe. Jogam porque jogam, não esperam nem mais nem menos do que eu espero, ao colocar uma moeda na caixa reluzente. Pode ser um hábito, um desejo, mas a consequência deste gesto, na maioria das vezes, é ver, no ecrã, uma sequência de ícones diferentes da qual não resulta Prémio. Os jogos do pano verde reúnem grandes grupos que, acomodando-se em bancos ou simplesmente de pé, vão confundindo os Sonhos com os dados. A sorte agarra-se ali e perde-se também. Ana Cristina Abreu torga 27 Sucesso assi era comuu a todos. Porem dello me nom curava, mês tanto me carregou, que filhei por grande pena nom poder no coraçom sentir alguu dereito sentimento de boa folgança. E com esto tristeza me começou de crecer, nom com certo fundamento, mês de qual quer cousa que aazo se desse, ou d’alguas fantezias sem razom. E, quanto mais cuidados me dava, tanto com maiores sentidos me seguia, nom podendo entender que dalli me viinha, RELENDO O SUCESSO E O INSUCESSO PELA NOSSA HISTÓRIA Carlos Amaral Dias por que eu trabalhava em aquelles carregos por as razões suso dictas tam de boa mente, que nom podia pensar que mal me vehesse por obrar no que me prazia e tam contente era de o fazer. Em aquesta pena vivi acerca de dez Iniciemos o nosso texto, com uma longa citação da obra Leal Conselheiro de D. carregos, aos quaaes me pus assi fora de boa descliçom, que na primeira meses, a tempos e mais, e menos. E por que o dicto Rei, meu senhor, se veo Duarte. Rei de Portugal, terceiro filho de D. João I, nascido em Viseu em 31 de Quaresma, que logo veeo, fazia tal vida: Os mais dos dias bem cedo era acerca da cidade de Lixboa, onde tal pestellença era de poucos dias Outubro de 1391. levantado, e, missas ouvidas, era na rollaçom atta meo dia, ou acerca, e passavam que me nom fallassem em pessoas conhecidas que de tramas “Quando eu era de XXII, Elrei, meu senhor e padre, comprido de muitas viinha comer. E, sobre mesa dava odiencias per boo spaço. E retraía-me adoeciam e morriam, por esto a tristeza, que de tanto tempo em mim se criava, virtudes, cuja alma deos aja, despoendo-se pêra filhar a cidade de aa camera e logo aas duas pós meo dia os do conselho e veedores da fazenda mais se dobrou. E huu dia me deu grande sentimento em hua perna e me Cepta, mando-me que tevesse carrego do conselho, justiça e da fazenda que erom com migo. E aturava com elles ataa IX oras da noite. E, dês que partiom, fez tal door com queetura, que me pos em grande alteraçom. E fui logo em sa sorte se trautava, por que tanto haveria de traba-lhar nos feitos que com os oficiaaes de minha casa estava ataa XI oras. Monte, caça, mui pouco remediado, que per graça de nosso senhor em breve spaço recobrei saúde, perteenciam pêra sua hida, que doutros sem grande necessidade se nom husava. E o paaço do dicto senhor vesitava poucas vezes, e aquellas por mas filhei huu tão rijo pensamento com receo de morte, que nom soomente temi entendia curar. Eu, nom consiirando minha nova veer o que el fazia e de mim lhe dar conta. aquella, mês a que todos scusar nom podemos, pensandoi na breveza da hidade e pouco saber, com dereita odediencia, como per mercee de deos Esta vida continuei atta páscoa, quebrando tanto minha vontade, que já vida presente. E aquel pensamento entrou em meu sempre em todo lhe guardei, e dês i por grande voontade que avia de se nom sentia alguu prazer me chegar ao coraçom daquelle sentido que ante coraçom, que per seis meses huu pequeno spaço nunca o del pude proceder per o dicto-feito, recebi sem outro reguardo de todollos dictos fazia. E pensava que aquello da mudança da hidade me viinha, e que afastar, tirando-me todo prazer e acrescentando-me a maior tristeza, 28 torga Sucesso segundo meu juíza, que aver podia. Este me trazia tantas novas penas, qe seria Este texto constitui pois a descrição pelo próprio Rei de uma neurose de ella, leixei de sentir a mim…” O que faz então o insucesso, de D. largo descrever, e comparar nom as poderia, por que todallas doores pêra insucesso. Contra a descrição de Júlio Dantas (1914), que pensava de D. Duarte, ou de qualquer outro: • O temor ao êxito esta me pareceria saúde, da qual nom avia sperança de guarecer. E, se com Duarte, ser este um retrato de “um descalabro nervoso”, concordamos • fe e conciencia me queria confortar, per o demudamento corpo me derribava. E com Rodrigues Lafra (1934), que “a soberania da razão” fracassou no • Uma “malformação” na passagem por tal temor se pode bem dizer o dicto do Gatom: ‘Quem teme a morte perde monarca, mas não lhe “sagacidade introspectiva”. retirou O sentimento inconsciente de culpa do mundo infantil ao mundo adulto. E o sucesso? quanto vive’. E em outro logar: ‘Quem teme a morte, perde o prazer da vida’. Mas o que faz um Rei deprimir-se, • O não ter medo do desejo, já que este remete-nos sempre para o E de feito nom ouvera conselho, remédio nem esforço que vallera, quando, “seu senhor e pai”, lhe confia o destino de um país, de um Povo? medo, a culpa, e a interdição. A reconciliação com a infância, segundo o entendo, por que com físicos, confessores e amigos fallava e Passando por cima de algumas controvérsias científicas, é justamente com o amor de infância, através do adulto. Como D. Duarte afirma nom prestava cousa. Ca dos remedios, das curas, nom sentia vantagem. E a dificuldade da relação com o sucesso que marca a depressão de D. Duarte. “porque sentindo ella, leixei de sentir a mim” confortos recebia tam poucos como aquel que, per enfermidade mortal dos Obsessivo, rigoroso, metódico, como se vê no seu próprio texto, falta-lhe o físicos desperados, recebe das pallavras que lhe dizem, ou que per espelho onde se poderia rever narcisicamente. Mas porquê? Porque, Espírito que o próprio Freud afirmava ter, por uma razão justiça he julgado que logo moira, ca nom menos aquel temor, segundo como de sabe desde Fenichel (1945), “certas experiências que para uma simples. Não precisava de conquistar o amor da Mãe, estava entendia, era pêra mim sempre lembrado e sentido (…). pessoa normal significariam um aumento da auto-estima, podem garantido desde a infância. O resto do seu tempo de vida, foi dedicado Em esta grande doença durei o tempo suso scripto, callando-me com ella, por precipitar uma depressão se o doente teme o êxito, como uma ameaça de ao sucesso da escrita de uma obra, da fama que a sua que a poucos e pessoas certas d’outoridade fallava. E de fora, em toda castigo ou represália”. genialidade merecia. Ou seja, garantindo o amor de infância, a minha maneira de viver, fazia pequena mudança, nem mostramento do que Mas substituir o Pai como Regente, sugere no fantasma da culpa vida, pode ser prenhe de acontecimentos fantásticos. sentia. E, estanto em tal estado, a mui virtuosa Rainha, minha senhora e inconsciente, substitui-lo. Em termos psicanalíticos ocupar o Pai, junto da Mãe. madre, que deos aja, de pestellencia se finou, do que eu filhei assim grande D. Duarte, como é sabido “cura-se”. Quando e como? Quando sentimento, que perdi todo receo – a ella em as infirmidades sempre me cheguei significativamente, sua mãe, o recebe no leito de morte. Na época, o Rei, preso e a servi sem alguu empacho, como se tal door nom sentisse. E aquesto foi de temores fóbicos e hipocondríacos, é capaz de se aproximar dela. começo de minha cura, por que, sentindo ella, leixei de sentir a mim (…)”. Ingenuamente afirma: “E aquesto foi começo da minha cura, porque sentido • • Finalmente, o espírito do “descobridor”, do “conquistador”. torga 29 Sucesso O Sucesso nos cartoons Espelho dos valores da sociedade em que vivemos e da crítica social dos seus autores, o “cartoonismo” é terreno fértil para a observação do conceito de sucesso. Uma breve pesquisa pela Internet revelou diversos artistas que dedicaram a sua ironia a este tema. Pelo caminho directo que estabelece com a nossa temática, decidimos destacar o caso de Randy Glasbergen (www.glasbergen.com) que, com uma alusão directa ao preço a pagar pelo sucesso, nomeadamente através da indumentária, nos coloca um sorriso nos lábios. Fernando Teófilo 30 torga CANDIDATURAS ABERTAS 31 32 JOÃO LOBO ANTUNES GRANDE ENTREVISTA Licenciou-se em Medicina em 1967, com a média mais elevada registada nos anais da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa. Ganhou o Prémio Pfizer, prémio para a investigação médica de maior prestígio entre nós, com a sua tese de licenciatura. Em 1971, parte para os Estados Unidos, como bolseiro Fulbright, onde se especializa. Regressa a Portugal, em 1984, como Professor Catedrático da Faculdade de Medicina de Lisboa e Director do Serviço de Neurocirurgia do Hospital de Santa Maria. Publicou três livros: Um Modo de Ser, Numa Cidade Feliz, Memória de Nova Iorque e Outros Ensaios. Em 1996, é-lhe reconhecido o mérito e foi agraciado com o Prémio Pessoa. Em entrevista à Torga, João Lobo Antunes fala da sua vida, dos seus interesses e das suas paixões. 33 Grande Entrevista “O Sucesso é um juízo que não faço de mim próprio” Torga - Nasceu em Lisboa no seio de uma família tradicional portuguesa. que era um liceu onde era imposta uma disciplina muito férrea. Mas, olhando Torga – Todos os seus irmãos são pessoas bem sucedidas. Havia Como foi a sua infância? João Lobo Antunes (J.L.A.) – Nós retrospectivamente, foi, de facto, um excelente liceu. Tivemos muito bons competição nos estudos? J.L.A. – Não. Isso não houve. De facto, vivíamos em Benfica. Naquela altura, Benfica era uma das áreas mais professores. Não que todos o fossem mas, em educação basta por vezes é verdade que todos nós, em áreas diferentes, em escalas diferentes, periféricas da cidade de Lisboa. Era uma das entradas na cidade e por isso duas ou três figuras que nos marcam. Acho que nos deu uma preparação atingimos posições de certa notoriedade. De alguma forma fizemos aí havia as chamadas Portas de Benfica. Era uma família burguesa, sólida. Depois, entrei para a Faculdade de Medicina de Lisboa, uma decisão de render os talentos que herdámos. Nunca houve competição entre nós. tradicional. O meu pai era médico neurologista, foi também Professor da última hora que surpreendeu muitos. Nós somos muito diferentes, embora, sob certos aspectos, sejamos muito Faculdade de Medicina. Nós éramos seis rapazes, os quatro primeiros muito Torga – É verdade que em criança trocava os brinquedos por livros? parecidos. Havia, de facto, um que era um aluno muito premiado, que era eu, chegados em idade. Ainda hoje, continuamos muito próximos no J.L.A. – Isso foi uma expressão que eu encontrei. Há de facto um grande provavelmente porque estudava mais. Mas nunca houve o sentimento de convívio. A vantagem de viver em Benfica, para todos nós, foi o contraste com o que nós vemos hoje em dia; basta comparar o que nós competição entre nós e nem hoje em dia há. Acho que é uma coisa que não isolamento em relação ao grande turbilhão que era a vida citadina. tínhamos e o que têm os meus netos. Nós tínhamos, no escritório do meu pai, existe. Estávamos muito periféricos, o que fazia com que nos tivéssemos que um espaço no armário dele que, certamente, não era maior do que uma Torga – O seu irmão António já andava na Universidade quando entreter com coisas que, provavelmente não atraíam quem vivia no grande caixa de cartão, onde estavam todos os brinquedos. Mas havia muito entrou, no entanto, as coisas não lhe estavam a correr muito bem… centro da cidade. Vivíamos numa moradia que ainda lá está, e onde mais imaginação. Hoje a imaginação não está nas crianças mas, nas J.L.A. – É verdade. O meu irmão António é dotado, entre outros talentos, ainda vive a minha mãe. É certamente uma das casas mais antigas de pessoas que fabricam os brinquedos. Há um desvio da imaginação. O que de uma, memória excepcional. E, de facto, eu acho que se pode dizer que a Benfica. Tinha um pequeno jardim, mas dava para jogar vólei. Era uma vida eu quis dizer nessa altura, e mantenho hoje em dia, é que muito do nosso Medicina não era propriamente do interesse dele. Ele depois acabou por muito pacata. Nós fomos para um colégio local, o Externato D. João da entretenimento passava pela leitura. Não havia televisão, aliás a televisão se refugiar na Psiquiatria e fez muito bem. Foi uma óptima escolha para Câmara. Não era uma escola modelar e certamente não era como nenhum entrou em casa dos meus pais já eu estava no fim da faculdade, e na altura aquilo que era a personalidade dele e as suas aptidões. Eu tinha uma maneira daqueles colégios burgueses... Depois, frequentámos o Liceu Camões do célebre campeonato do mundo de futebol em Inglaterra. de estudar muito particular, ou seja, lia tudo. Tinha uma preparação muito 34 torga Grande Entrevista estruturada, depois punha tudo em forma de escrita. Eu estudava através de “pequenos tratados” que eu próprio elaborava, tirava uma coisa de um lado, uma coisa de outro, seleccionava informação, constituindo um corpo de informação muito sólido. Acabei por passar um ano à frente do António, e ele tinha agora ao dispor um “tratado personalizado”. Ele limitava-se então a ler aquilo que eu preparara, a memorizar muito bem o que lá estava e, a partir daí, nunca mais chumbou a nenhuma cadeira, fazia todas as cadeiras na primeira época, e navegou rápida e calmamente o resto do curso. Torga – Ainda antes de entrar na Universidade, aos 15 anos foi apresentador de televisão. Como foi essa experiência? J.L .A. – Comecei a trabalhar em televisão aos 15 anos, mas não gostava, porque sou fundamentalmente um tímido. Estou muito mais à vontade a falar para uma audiência grande ou para uma ou duas pessoas. Ainda hoje não vou a programas de televisão em que haja três ou quatro pessoas a falar. Não gosto, não é o meu estilo. Esse trabalho deu-me, foi de facto, um treino muito importante na capacidade de improvisar, de falar em público, porque naquela altura os programas eram em directo, não havia gravação. A luz vermelha acendia e começávamos a falar. Às vezes tínhamos que resolver no ar situações, todas elas imprevistas e algumas difíceis. Portanto deu-me uma capacidade de, como dizem os americanos, “to think on your feet”, ou seja, “pensar de pé”, o que foi muito importante. Muitos dos meus exames orais na faculdade eram quase controlados por mim próprio, ou seja, eu como que induzia as perguntas que me iam fazer a seguir, por um treino que tinha adquirido. “Fui um seguidor de oportunidades.” torga 35 Grande Entrevista Prémio Pessoa 96: “Foi um sentimento de uma desconfortável humildade.” Torga – Era um programa de que para Engenharia Física Nuclear, área como médico. Gostava certamente de género? J.L.A. – Era um programa para jovens. que naquela altura tinha um grande prestígio. Depois, à última hora, para ir para uma área das Humanidades, da Filosofia ou da Literatura. Chamava-se “Programa Juvenil”. Eu embirrava com o título, e ainda hoje surpresa de todos, começando pelo meu próprio pai, inscrevi-me em Torga – Logo que entra para a embirro com a expressão “jovem”. Enfim, alguma coisa tinha que se Medicina. faculdade torna-se um brilhante aluno. Adaptou-se bem aos métodos chamar àquele grupo do qual eu também fazia parte. Era um programa Torga – Houve alguma influência familiar na sua escolha? de estudo… J.L.A. – Eu acho que descobri o composto, tinha pequenos documentários, concursos, coisas pedagógicas J.L.A. – Houve com toda a certeza. Aliás no meu próximo livro que vai sair, “verdadeiro método de estudar” para mim próprio. Havia uma coisa que me como aeromodelismo, como construir papagaios, como jogar xadrez… espero que em Novembro, tenho um pequeno ensaio sobre isso, sobre quais afligia então e que ainda hoje me persegue, que não é uma virtude, mas Torga – Disse há pouco que a decisão foram as influências paternas e, de um modo geral, as influências da escolha uma maldição, que era o desejo quase compulsivo de saber tudo (isto tem que de entrar para Medicina foi tardia… J.L.A. – Foi uma decisão no final do 7º de uma profissão, e sobre o modo como a profissão é exercida. Mas, de facto, ser tomado com um grão de sal). Isto mantém-se até hoje, pois continuo a ler ano do liceu, que agora é o 12º ano. Aparentemente toda a gente pensava retrospectivamente, acho que foi uma boa escolha. Foi a escolha certa para muito sobre Medicina, particularmente na minha área. que eu iria para a área de engenharia porque eu tinha algum talento, ou pelo as minhas capacidades emocionais e intelectuais. Foi a opção correcta. Se Torga – Não seria também uma menos alguma inclinação para as ciências exactas, Física, Química, vivesse outra vida, sendo eu próprio, provavelmente gostaria de ser outra obsessão pela perfeição? J.L.A. – Isso era, certamente um factor. Matemática. Eu próprio dizia que ia coisa usando a experiência que ganhei Os psiquiatras e os psicanalistas terão 36 torga Grande Entrevista em definir sucesso. Em segundo lugar, na especialidade que eu escolhi, o e ele disse-me: “Você não quer ir comigo para Nova Iorque?” e eu fui. sucesso é muito ilusório, quer dizer, nós fazemos intervenções tecnica- Torga – Esse doente não era por mente bem executadas, bem planeadas e os resultados são desoladores. acaso o Dr. Salazar? J.L .A. – Não. Era o embaixador Portanto, Teotónio Pereira. são constantemente Sou fundamentalmente um tímido uma explicação mais razoável. Mas teve repercussões em mim próprio, e nunca me libertei disso até hoje. Torga – Licenciou-se em 1967 com a média mais alta registada nos anais da Faculdade de Medicina até hoje… J.L.A. – Foi o que me disse o chefe da secretaria… Torga – Ganhou o Prémio Pfizer de investigação médica… J.L.A. – O Prémio Pfizer era um prémio que ainda hoje tem um grande prestígio, o maior na Medicina Científica. Eu concorri a esse prémio e ganhei-o com o trabalho que tinha feito como a tese de licenciatura. Torga – Nesta altura já previa uma vida recheada de sucesso? J.L.A. – Não. Isso foi uma coisa que nunca me preocupou. Em primeiro lugar, tenho uma enorme dificuldade despejados em cima de nós baldes de humildade. O sucesso é um juízo que Torga – A sua ida para Nova Iorque não teve também uma ligação com o não faço de mim próprio. médico que veio ver o Dr. Salazar? J.L.A. – Isso foi outra história, foi Torga – Não entende o sucesso como realização profissional? depois. O neurologista que veio cá ver o Dr. Salazar, Houston Merritt, J.L.A. – Nesse sentido é verdade, ou seja, o sucesso no sentido da trabalhava no Instituto Neurológico de Nova Iorque para onde fui e tornou-se harmonização entre aquilo daquilo que planeei e o que consegui, embora eu um amigo e um protector para mim. O médico que me convidou para ir para nunca planeie muitas as coisas. Fui muito mais um cumpridor de Nova Iorque era discípulo do Dr. Merritt, era o Dr. Melvin Yahr. Era um homem oportunidades do que um planeador. Acho que quase tudo o que me muito influente na Neurologia americana. Ele convenceu-se sempre aconteceu na minha vida profissional resultou de coincidências, foram coisas que eu não iria para neurocirurgia, que iria converter-me à neurologia. Essa que me aconteceram por acaso e que eu agarrei. Houve uma adequação conversão não se deu. entre o meu desejo de procurar a perfeição inatingível e aquilo que Torga – Em 1971 parte para os Estados Unidos como bolseiro realmente consegui. Nesse sentido, eu diria que tive algum sucesso, pelo Fulbright. Era muito novo, como imaginava que iria ser a sua vida em menos alguma tranquilidade e, se o sucesso é tranquilidade (e a Nova Iorque? J.L.A. – Eu não tinha ideia nenhuma. tranquilidade é um estado de espírito muito precário), acho que fui bem Devo dizer que fui para os Estados Unidos com aquela inocência com que sucedido. nos entregamos às paixões. Eu sempre tivera o ideal de ir para os Estados Torga – Falando no acaso, no seu livro Memória de Nova Iorque e Unidos. Era o “el Dorado”, para mim. Para mim os E.U.A. são uma nação outros ensaios conta que a sua ida para Nova Iorque foi um acaso para admirável. Fui recebido como são recebidos os emigrantes, com uma o qual a sorte o preparava. Como foi esse encontro com a sorte? enorme abertura. Depois, à medida que as minhas capacidades de alguma J.L.A. – O acaso foi eu ter conhecido um eminente neurologista americano, forma se iam expondo, eu comecei a ser tratado como um deles. Comecei através de um doente que nós tratávamos, ele nos Estados Unidos e devagarinho, que acho que é uma boa maneira de começar nos Estados eu em Portugal. Eu era muito novinho Unidos. Eles julgam-nos pelas provas, torga 37 Grande Entrevista julgam-nos por aquilo que fazemos. Lá ninguém me conhecia, não tinha nome. urbano. A própria Lisboa de hoje não tem nada a ver com Lisboa de há cinco começou a acompanhar este estudo? Naquela altura, quer o meu tio-avô, Pedro Almeida Lima que era professor anos atrás, muito menos há dez anos ou há trinta, quando eu parti. Mas em J.L.A. – Eu comecei a trabalhar nisso porque o projecto estava instalado na de Neurologia e foi o primeiro neurocirurgião português, quer meu Nova Iorque sente-se um pulsar que eu não conheço em mais nenhuma cidade minha Universidade. Eram precisos dois neurocirurgiões que fizessem o pai eram figuras reconhecidas da Neurologia nacional. Mas eu fiz a minha Torga – Porque é que decidiu voltar procedimento e foi a partir daí que eu participei. carreira toda fora da órbita destas duas personalidades. Fui para lá e não foi para Portugal? J.L.A. – Porque era a altura de voltar. Torga – Foi um dos primeiros fácil. Quando as pessoas dizem, acerca de mim e de outros, “eles tiveram a Uma combinação de circunstâncias, umas de ordem pessoal e familiar, médicos do mundo a fazer esse implante. Como se sentiu ao sorte de ter ido para os Estados Unidos”, eu respondo que é preciso ter outras de ordem profissional. Eu podia ter lá ficado. Se circunstâncias da minha devolver a um invisual oportunidade de voltar a ver? coragem, porque é uma competição muito feroz, muito rigorosa e depois é vida pessoal tivessem sido ligeiramente diferentes, eu provavelmente já não J.L.A. – Éramos três médicos. Eu fui um deles. Aquilo tem que ser tomado preciso trabalhar muito. voltava. Naquela altura a Medicina americana estava a sofrer uma viragem com uma grande reserva. Não é ainda a solução para a cegueira. Tivemos Torga – Nesses anos dedicou-se inteiramente à investigação? em que, pessoalmente, não me fazia resultados iniciais excelentes mas J.L.A. – Dediquei-me à investigação e à clínica. Estive dois anos e meio em “full time” no laboratório. Aprendi o meu ofício. Depois, nos últimos 5/6 anos tive a Em Nova Iorque sente-se o pulsar que eu não conheço em mais nenhuma cidade uma clínica privada, já muito boa em Nova Iorque. muito confortável. Se eu sou americano em muitas coisas, sou também muito depois começaram a declinar. Há ainda muita investigação a fazer Torga – Foram anos importantes na europeu noutras. A medicina do risco, dos processos judiciais, e este termo sobretudo na área dos biomateriais, ou seja, na compatibilização do sua carreira… J.L.A. – Foram decisivos. Mudaram tem de ser entendido com alguma reserva e com alguma circunspecção, sistema nervoso com o material. Há muitas questões para resolver mas, muitos aspectos do que sou do ponto de vista profissional, técnico, e ético. o “negócio” da medicina eram realidades agudas. nós pensamos que aquela é a via, aquele é o modelo. Torga – No seu livro cita Corbusier Torga – Está a falar de ética? Torga para definir Nova Iorque como uma cidade inconcluída… J.L.A. – Sim. Da ética do negócio próprio que é a medicina. Um negócio começamos a chegar ao princípio do J.L.A. – É de facto uma cidade que se está constantemente a reconstruir-se, que tem que ser entendido com alguma cautela porque o termo, à primeira vista, J.L.A. – Não me parece. constantemente a modificar-se. Há uma enorme plasticidade e a plasticidade de parece repugnante. Há hoje uma economia da medicina que é muito Nova Iorque é conferida sobretudo pelas pessoas. É uma cidade de gente complexa. As coisas estavam a mudar de uma forma que eu pessoalmente não nova, com uma enorme mistura étnica. Chamaram-lhe o melting pot, o caldeirão me sentia confortável. em que tudo é fundido, digamos assim. Oportunidades que aparecem e que Torga – Ainda em Nova Iorque conheceu Dobelle, a pessoa morrem… Há um fervilhar… Não se vê conclusão em praticamente nada. Em responsável pela pesquisa e investigação do, vulgarmente de facto, não é correcta. O nosso todas as cidades há um renovamento chamado, olho electrónico. Como autonomização das pessoas. 38 torga – Pode dizer-se que fim da cegueira? Torga – As pessoas que nascem invisuais não podem fazer o implante? J.L.A. – Provavelmente não. É preciso que o cérebro visual esteja a funcionar, portanto, há aí uma limitação. A ideia que se restitui a visão é uma ideia que, objectivo passa sobretudo pela Grande Entrevista Torga – Ou seja, as pessoas começam a ver sombras... manuscrito antecipadamente. Quando me pedem os tópicos eu não dou. Acho J.L.A. – Sombras, superfícies. Hoje em dia há muitas tecnologias de leitura. que é muito importante o efeito surpresa. A maior parte das coisas que Torga – Neste momento como estão escrevo é para serem ditas ou lidas perante audiências muito diversas, a decorrer esses implantes? JLA – Nós fizemos o último implante há umas mais especializadas do que outras. Também escrevo por achar que cerca de dois anos, creio eu. Neste momento, há um processo de análise. devo. Por exemplo, o que escrevi sobre conflitos de interesses ou sobre o erro Entretanto, o fundador morreu e isso criou algumas dificuldades que estamos foram coisas sobre que me apeteceu escrever. Quando começo a escrever, a tentar ultrapassar. sou, de um modo geral, muito metódico. Reconstruo o manuscrito na minha Torga – Publicou três livros. Em 1996 ganhou o Prémio Pessoa. Como foi cabeça, muitas vezes, vou aperfeiçoando-o mentalmente, e depois quase que recebido esse prémio? J.L.A. – Publiquei três livros e em breve o escrevo num jacto. Depois entro num processo de revisão dos manuscritos, sairá o próximo. Esse prémio deixoume muito perplexo. Em primeiro lugar o que está a ser cada vez mais penoso e, tento disfarçar a minha “mortalidade porque não contava e, em segundo lugar porque me obrigou a questionar literária” e corrigir os erros gramaticais e, sobretudo, a pontuação, porque eu o meu próprio mérito. Foi um sentimento de uma desconfortável humildade. A ponho vírgulas como quem põe sal na comida. É uma vergonha. única coisa que depois me deixou mais tranquilo, foi pensar que ele fora Torga – Os livros e a escrita são uma atribuído por um júri de pessoas muito ilustres, pessoas que eu respeitava paixão? Disse-me há pouco que se vivesse outra vida… muito e que de alguma forma acharam que eu tinha o mérito necessário para J.L.A. – Com certeza que são. É, de facto, aquilo que me ocupa mais o receber o prémio... Eu hoje faço parte dos juízes, naquela altura fui julgado. tempo. A escrita ocupa-me até o tempo que eu não tenho. “É preciso fabricar médicos.” Torga – O que é que o leva a escrever? Torga – Actualmente é reconhecido doentes e a tristeza quando as coisas É um impulso? J.L.A. – O meu irmão António, disse pela comunidade científica como um dos melhores neurocirurgiões do não correm bem, estão ainda mais vivas que quando eu era novo. No dia em que uma vez numa entrevista, em que lhe perguntaram porque é que escrevia: mundo, senão o melhor… J.L.A. – Isso não sou com certeza. Nem eu não me preocupar com o meu doente, deixo de ter o direito de ser “Escrevo porque não sei dançar como o Fred Astaire”. Eu escrevo, pensar. Nem vale a pena escrever isso. médico. basicamente, porque me apetece. É preciso definir este apetite. A maior parte Torga – Não será um bocadinho de modéstia? Torga – A medicina é isso mesmo… J.L.A. – A medicina é isso mesmo mas, das coisas que eu escrevo, quase todas, é por solicitação. Eu recebo muitos J.L.A. – Não. Há gente muito mais capaz do que eu. Sou certamente um de facto, viver com uma nuvem negra é quase insuportável. Há pessoas que são pedidos para falar, e a maior parte deles não posso aceitar. Mas quando me neurocirurgião competente, se quiser, competente e crítico de si próprio, capazes de metabolizar isto de uma forma diferente. Eu não sou. Isto não é pedem para falar e eu aceito, escolho aquilo que quero falar a forma de o fazer. sabendo dos seus limites. Ainda há tempos, eu dizia à minha mulher, que a mérito, não tem valor nenhum moral intrínseco, é apenas a maneira como Recuso-me sempre a dar o meu preocupação que eu tenho com os somos feitos. torga 39 Grande Entrevista Torga – Ainda lhe falta fazer alguma coisa na sua carreira? Torga – Há realmente diferenças entre o cérebro masculino e o tempo de guerra fabricavam-se tanques ou aviões, agora é tempo de J.L.A. – Que eu saiba não. Quer dizer, se me pergunta se há qualquer coisa cérebro feminino? J.L.A. – Há diferenças morfológicas guerra e é preciso fabricar médicos. Seria muito mais fácil ensinar cem mais que eu gostaria de fazer, com toda a verdade, não há mais nada que me com certeza. São certamente mais subtis do que julgamos. Eu estive há alunos, como já foi há dez anos atrás, do que trezentos como são agora. Isto faça correr. anos num doutoramento na Universidade do Porto, onde uma traz dificuldades. Está bem, mas os tempos são muito difíceis. Torga – Mas, continua a achar que nunca se deve perder a oportunidade investigadora brilhante falou sobre as diferenças sexuais em vários animais Torga – Como é que os recém- de ver mais um doente? J.L.A. – Se aparecer alguma coisa em e eu acabei a argumentação dizendo a famosa frase francesa vive la licenciados se têm inserido no mercado de trabalho? relação à qual eu possa ser útil, ou que eu sinta que possa ser útil, que é um diference. Acho que uma das nossas preocupações deve ser reconhecer as J.L.A. – Eu fui Presidente do Conselho da Faculdade durante muitos anos e desafio, que é uma coisa nova, diferenças, estimular as diferenças e ao os nossos estudantes que, no âmbito do Programa Erasmus, foram para hospitais estrangeiros, ficaram altamente classificados. O ensino tem No dia em que eu não me preocupar com o meu doente, deixo de ter o direito de ser médico harmonizar as doente desde o início… Eu acho que eles saem razoavelmente bem provavelmente pensaria duas vezes mesmo antes de dizer não. diferenças. Do ponto de vista psicológico há diferenças que eu acho preparados. Torga – O cérebro humano ainda é um mistério? fundamentais e têm repercussões muito interessantes, como por exemplo Torga – Falando no nosso país. Pensa vir a ter alguma participação política J.L.A. – Eu acho que é um mistério e, se Deus quiser, será sempre. Espero as que se referem ao facto de a Medicina ser hoje cada vez mais uma no futuro? J.L.A. – Desde há muitos anos que que Deus queira porque seria uma enorme maçada chegar ao fim sabendo profissão feminina. colaborado nas áreas da ciência, da educação, da saúde. Colaborei tudo. O problema da consciência, provavelmente, não poderá ser Torga – Como está o ensino da Medicina em Portugal? indiferentemente com qualquer governo, sempre no espírito de uma resolvido. Poder-se-á cercar através da Biologia, ou através de ramos J.L.A. – Eu acho que o ensino da Medicina em Portugal está bem. Isto é grande abertura cívica. Já fui convidado para ser membro de um particulares da Filosofia, da Neurofilosofia… Na minha perspectiva uma afirmação, provavelmente, discutível e injustificadamente governo, nas áreas que me diziam respeito e, naquela altura não aceitei de um utilizador das neurociências, o que nós temos é instrumentos que são optimista. Quando digo que está bem significa apenas que a Medicina porque seria o meu fim como médico. Tive alguma pena. Não me estou a ver cada vez mais rigorosos. Temos armas cada vez mais aperfeiçoadas. Do ponto reflecte sobre o seu próprio modo de ensinar e tento aperfeiçoar o modo numa intervenção de outra natureza, ou através de um partido político. Eu sou de vista operativo são extremamente úteis, permitem-nos definir os como se ensina e mais ainda, para usar a linguagem dos pedagogos que eu um independente e, como dizia no outro dia o Prof. Marçal Grilo “Sou caminhos que queremos seguir com muito mais rigor. Eu acabei o meu não aprecio particularmente, como se aprende. É claro, nada será perfeito, independente mas não sou neutro”. Portanto, eu escolho na altura aquilo treino como especialista antes de haver TAC e, agora veja o que se passou nos como compete a qualquer processo educativo. Há, neste momento, a que me parece ser a forma mais adequada de colaboração. Sou últimos anos… as ressonâncias magnéticas, as técnicas de imagem necessidade de fornecer ao país uma produção maciça de médicos, eu diria perfeitamente livre. cada vez mais aperfeiçoadas… quase uma produção de guerra. No 40 torga tempo hoje um sentido mais prático, mais aplicado, e uma envolvente com o Andrea Marques / Filipe Casaleiro (Fotos) 41 Reflexão poetas são os filósofos deste país com um passado maior que o seu futuro. Somos assim nesta Psicopatria de brandos costumes e duras passagens das Tormentas à Boa Esperança. Há um cabo onde passamos do Bojador além da dor e sofremos sempre de saudade. Só, Só saudade, Só diria o Nobre António que se escrevesse «apenas» seria talvez um pouco plebeu. Nobre Povo diz o hino dos heróis do mar, mesmo quando a Nação fica ainda mais valente e o seu humor mortal. Nem Camilo com o amor de perdição foi capaz de se livrar do final trágicomarítimo. A Teresa do romance fica em terra, fechada a morrer no convento de Monchique, mas Mariana vai ao fundo quando os marinheiros atiram aos peixes o corpo de Simão Botelho. PSICOPÁTRIA Vale, por isso sempre a pena perguntar para que longes terras Carlos Magno Portugal é um paradoxo porque os portugueses fizeram da Pátria o seu telejornais e chegou mesmo a deixar Egas Moniz pendurado na corda. Tinha próprio lugar de exílio. Ficar ou partir, eis a eterna questão pecados que o próprio Papa não lhe queria perdoar, mas a verdade é que deste País que teve um rei que nunca mais voltou e outro que se armou a si tudo isto é fado (eu sei que tudo isto é triste) mas foi assim que Portugal próprio cavaleiro. Cavaleiro King Sise, diz a lenda do Desejado Encoberto que nasceu freudianamente contra a mãe. Este País nunca matou o pai, mas ficou trouxe Ninguém como figura central de uma peça de teatro que termina quando com a marquesa de psicanalista neste jardim à beira mágoa e fez-se ao mar se lhe pergunta: «Quem és tu, Romeiro? Quem és tu, afinal?» para fugir da única fronteira que haveria de lhe fazer das Tordesilhas o primeiro Sente-se sempre o nevoeiro da tragédia, tanto na saga do deserto de tratado global. Tanto mar, salgado, a nos separar, «Alcácer Que Há-de Vir» como na história dos fidalgos fundadores que sem lágrimas da Inês que só depois de morta foi rainha. Mas antes disso já entre Douro e Minho souberam bem cavalgar toda a sela. Leonor, descalça, ia para fonte formosa e não segura. Isabel essa dizia são rosas Era uma vez um país que se lembrou de nascer. Dom Afonso o príncipe senhor são rosas enquanto Dinis que fez tudo quanto quis, plantava no pinhal primeiro que ainda não era perfeito nem tinha psicanalista foi um português de Leiria as naus a haver. «Ai flores, ai flores do verde pinho, se sabedes novas pouco suave e sem filtro a fazer fronteiras ao sul. Conquistou Lisboa do meu amigo…» Ela foi santa, a rainha e ele lavrador, o rei. Grande poeta é o porque nesse tempo não havia povo, diz-se, mas a verdade é que 42 torga levaram a Menina e Moça de Bernardim que apesar de andarilho nunca foi tão criativo como Fernão Mentes? Pinto. Não minto mas pinto a manta porque longa é a Peregrinação diria o velho de Montemor entre a China e o Japão. De qualquer forma, estamos sempre a regressar ao Restelo do velho que profetizou todas as desgraças da selecção nacional. Abra-se aqui um parêntesis para dizer que muito pior do que os velhos são os novos do Restelo. Somos hoje grandes descobridores do caminho marítimo para casa sobretudo quando a Índia tira o Vasco da cama e o achamento do Brasil vira telenovela para o jantar da família. Elas tão lindas com suas vergonhas à mostra, as tais vergonhas que Pêro Vaz dizia encher de vergonha as nossas se ousassem compará-las com as suas numa altura em que não existia pecado do lado de baixo do equador. Agora «aqui na terra estão jogando futebol, há muito samba, muito choro e rock and roll». Voltámos aos reality shows com Reflexão conselheiros Acácio travestidos de colunistas sociais no parque Eduardo pela alma. Mas prognósticos só no fim para lembrar finalmente a célebre frase e sem saber ocidentar-se. Pergunto o que é esta pátria de VII. Ai que saudades dos versos de O‘Neill, «Alexandre, meu projecto, de Churchil antes do fim da guerra, sempre citado, abusivamente, por João paradoxos parada na história. Se uma jangada de pedra perdida no tempo ou moreno português, cabelo asa de corvo», o O‘Neil do País Relativo, Pinto antes do fim do jogo. Fico, por isso, neste canto da uma Nau Catrineta já sem muito mais que contar. «Portugal, questão que eu tenho comigo mesmo», País por conhecer, por ler. País Península a ver a primeira geração global de portugueses que é a vossa. A Pergunto, finalmente: Será Portugal solúvel nos portugueses. Ponto de do medo que vai ter tudo. «País tunante que diz que passa a vida a meter entre geração que viveu Timor independência massacrante na da Interrogação. E de espantação como diria o O‘Neill que um dia me citou parêntesis a cedilha». O tal «País engravatado todo o ano a assoar-se á iniciação à juventude contemporânea quando Portugal se descolonizava da Carlos Drumond de Andrade para lembrar que «escrever é cortar gravata por engano». Desculpem ter trocado tudo. Portugal sua própria história numa espécie de adolescência tardia. Lembro-me de ter palavras». Aqui me corto, por isso. E aqui deixo este aviso como tem hoje um Zé Povinho de telemóvel em punho e um galo de Barcelos visto, de fugida, numa manifestação contra a Indonésia uma jovem recomendação de escrita porque ler é sobretudo somar letras e falar é quase congelado à espera do milagre da rainha que já foi santa ou da outra que lindíssima com um tshirt branca onde ela própria tinha escrito com a sua sempre fazer uma linha recta com palavras que gostam de dar umas era feia mas levou o chá para Inglaterra e deu nome ao chique bairro de Queens própria mão em letra de sangue uma palavra nova: «Timor-te». Assim mesmo. curvas. Vou, finalmente, directo ao assunto; em Nova York. Agora que já vejo praias de Espanha Timor tracinho te. Num neologismo reflexo de amor e morte. Digam-me se Portugal se reflecte neste texto. Espelho meu, haverá País mais percebo o que foi feito das areias de Portugal. Caiu a ponte de Entre os Rios, Por isso eu importo-me sempre no regresso ao meu Porto de partida e bipolar que eu? E, já agora, expliquemme porque é que os portugueses ficam ruiu a euforia da Expo Barra 98 e percebeu-se que tínhamos uma casa exportugalo-me quando é preciso olhar cá para dentro com aquela acidez lúcida eufóricos por tudo e deprimidos por nada. pouco Pia. Mas o hino pede que levantemos hoje de novo o esplendor da mais amarga paixão. Lembro-me de o professor Agostinho da Silva me dizer de Portugal. Foi o esplendor da relva em 2004 com Fé Futebol e Fado vadio quando estávamos a entrar na então CEE: «Pois é, Carlos, temos que aderir quando se julgou que bastava chamarlhe um figo para marchar contra o à Europa porque a Europa foi o único sítio do Mundo onde nós, os canhões e chutar contra a crise, chutar, chutar… portugueses, nunca estivemos. Foi o mesmo velho sábio que me ensinou, Scolari é mais argentino do que Brasileiro e julga-se Peron querendo aliás, o significado da palavra ocidentar precisamente para fazer agora o que fazer passar o guarda-redes pela sua Evita. Nem parece que estamos na antigamente se chamava orientar-se. E lembro-me também de ele me dizer que Europa ao misturar o candomblé com a senhora de Caravagio. Mas pergunto: há muito Norte a sul do equador que nos passa pela cabeça. Quem era afinal mais arrogante no ano do Euro embandeirado pela pátria de Reencontrado assim o rumo, pergunto para que servem as capas chuteiras no asfalto e o patriotismo todo à flor da relva, Mourinho ou Scolari? Nós negras da fita da queima das propinas quando passamos de bestiais a bestas que importamos Scolaris e exportamos Mourinhos merecemos este saldo. ou da euforia à depressão. Pergunto ao vento que passa o que será Portugal Talvez, como diria Abrunhosa, porque não temos calma e trocamos o corpo sem cafeína, pedaço de terra sem sal, ao sol, sem sul, nem norte, desorientado torga 43 Reflexão na família e no trabalho, para uma sociedade de exclusão de mudança e de divisão, mais caótica, com processos de desagregação quer a nível social, quer a nível do trabalho, em que coexistem e se confrontam diferentes lógicas (do indivíduo, dos grupos de pertença e das instituições). O aumento do individualismo, com a criação da própria identidade e a transformação dos mercados de trabalho emergentes no post – Fordismo, são responsáveis por este processo. Coexistem níveis de aspiração individuais muito elevados e precariedade do mercado de trabalho, com aumento do desemprego de longa duração. Consequentemente, o Redução de Danos e Reinserção Social Teresa Nunes Vicente O tratamento do abuso e da dependência de substâncias já não se A actividade em Redução de Danos e Reinserção, embora visando encontra limitado ao setting clínico clássico do ambulatório e do objectivos diferentes, tem em comum a intervenção centrada no sujeito, internamento, devido à necessidade de implementação de respostas mais procurando a aquisição de competências pessoais e sociais adequadas e eficazes. Foram assim desenvolvidas as adequadas que facilitem o contacto com os sistemas e instituições sociais. Para políticas de Redução de Danos e de Reinserção Social, cujo registo de a prossecução deste propósito, os técnicos promovem a articulação com intervenção integra, mas ultrapassa o setting clássico referido, em direcção outras organizações sociais, de molde a facilitar a captação do sujeito nas aos indivíduos e às instituições sociais numa orientação pro-activa. redes de sociabilidade primária. O constructo teórico-prático, de uma Esta mudança exige uma reflexão ética e sociológica, para além do intervenção nas áreas consideradas, deve ter em conta o processo de enquadramento jurídico e administrativo que a suportou, a fim de disponibilizar mudança das instituições da modernidade, em direcção a um novo aos técnicos um conjunto de normas e procedimentos baseados numa tipo de ordem social. Para J. Young (1), nos anos 80 e 90, perspectiva compreensiva. Propomonos analisar alguns conceitos e assiste-se a um movimento de uma sociedade de inclusão, caracterizada contribuições que auxiliem a um melhor entendimento. pela homogeneidade e estabilidade com interiorização de valores centrados 44 torga indivíduo é estimulado a consumir mas encontra dificuldade em se incluir no mercado de trabalho. A pobreza e a revolta conduzem ao desvio e ao crime, gera a intolerância dos que têm uma melhor situação e temem a precariedade desta. Emerge “o paradoxo do novo individualismo” com pluralidade de estilos de vida, opções políticas, religiosas e culturais mas que também acabam por se limitarem, muitas vezes, mutuamente. No universo caótico do consumo e da multiplicidade de escolhas, o indivíduo constrói a sua identidade cada vez mais num registo desviante, devido à frustração e privação da segurança económica. Para Giddens (2), o que caracteriza o dinamismo da modernidade é a “descontextualização (ou “desinserção”) das relações sociais dos contextos locais de interacção” (família, local), operando descontinuidades por um reordenamento através de sistemas abstractos, como as garantias simbólicas e os sistemas periciais. Os primeiros consistem nos meios que circulam independentemente dos indivíduos ou grupos, como por Reflexão exemplo o dinheiro. Os segundos consistem nos sistemas de realização pode ser qualquer um dado que “as culturas não são apenas plurais como técnica ou pericialidade profissional. As pessoas confiam nestes sistemas se esbatem, sobrepõem e se cruzam” Young (1). Por outro lado, o sentimento abstractos, (na correcção dos princípios que ignoram, fornecimento de identidade pessoal é permanentemente ameaçado pela de energia, sistema bancário), no registo da fé, por um compromisso não rarefacção da continuidade biográfica, devido ao relativismo dos valores e à presencial. O próprio dinamismo da modernidade conduz à fixação das pluralidade de escolhas e mundos alternativos, fazendo bascular a relações sociais descontextualizadas, a condições de espaço e de tempo, ainda capacidade de confiança. O uso de substâncias psicotrópicas que parcial e transitoriamente, num compromisso presencial pautado pela contribui para “fabricar o indivíduo,” para usar a expressão de Alan confiança no agente ou perito do ponto de acesso. Ehrenberg, citada por Alain Morel (3), porque acentua a exclusão social e O técnico de Redução de Danos ou de Reinserção é o representante dum torna mais precária a capacidade de relação. sistema pericial abstracto que estabelece um compromisso presencial Coloca-se, neste contexto, a legitimidade de uma intervenção: como com o sujeito consumidor de drogas. Este compromisso é baseado na intervir face a um utilizador de drogas sem manipular o sentimento de confiança pessoal e terá de ser construído com envolvimento de ambas identidade pessoal ou mecanizar os comportamentos para o tornar uma as partes. A contradição com a confiança que se estabelece nos pessoa menos ameaçadora para a sociedade exclusiva cada vez mais sistemas abstractos, que apenas produz segurança sem reciprocidade, é, intolerante, apesar de qualquer um ser um “potencial desviante” (Richard somente, aparente, na medida em que na modernidade “ a vida pessoal e os Senhet, citado por Young (1)). Phillippe Lecorps (4) admite que “se laços sociais que ela envolve, estão profundamente entrosados com os pode pensar na autonomia do sujeito numa sociedade pluralista como a mais extensos dos sistemas abstractos” Giddens (2). Por esta razão, os agentes procura ética da negociação de conflitos”, ou seja “encontrar uma que estão nos pontos de acesso ao sistema pericial “se esforçam imenso alternativa ao conflito que não seja a força nem a persuasão manipuladora”. para mostrar que são de confiança”... e “eles garantem a ligação entre a No trabalho em Redução de Danos, esta postura é fundamental na medida confiança pessoal e a confiança no sistema”. em que se visa reduzir o prejuízo causado pelas substâncias Os técnicos deparam-se, no momento actual, com dificuldades psicotrópicas sem um compromisso de abstinência. A postura ética exige “uma acrescidas no seu trabalho de estabelecimento de confiança pessoal presença, um acto, um compromisso para assumir o risco do encontro com e identificação do seu público- alvo. Por um lado, como consequência da o outro” P. Lecorps (4). Bibliografia 1 – Young, Jack – “The Exclusive Society” 1999 Sage Publications Ltd, London 2 – Giddens, Anthony – “The Consequences of Modernity” 1990 Board of Trustees of the Leland Stanford Junior University 3 – Morel, Alain et al – “Cuidados ao Toxicodependente” 1997 Dunod, Paris 4 – Lecorps, Philippe – “Ethique et Politique de Prévention” Comunicação no Séminaire Européen, 26 de Setembro de 2002 Copenhague sociedade de exclusão, o desviante torga 45 Reflexão e económico. Por sua vez, o capital social diz respeito ao conjunto de normas, valores e relacionamentos compartilhados que permitem a cooperação dentro ou entre diferentes grupos sociais. As principais características do capital social são a confiança mútua, a reciprocidade e um senso partilhado de futuro. Como o capital social pressupõe a existência de interacções entre os indivíduos, tornase claro que tem que haver uma estrutura de redes sociais por detrás do capital social. Entende-se, assim, a relação entre os dois conceitos. Há, no entanto, uma aspecto multidimensional no capital social que, até há pouco tempo, tem sido O Lado Perverso do Capital Social Vasco Almeida (Docente do ISMT) No último número da Torga, num interessante artigo intitulado “Redes discussões académicas que envolveram várias disciplinas na área Sociais e Actividade Económica”, Henrique Amaral Dias chamava a das ciências sociais. Como se irá ver, o conceito de capital social não deverá atenção para um paradoxo evidente na sociedade portuguesa. Se, no nosso ser visto como substituto do conceito de “rede social”, mas sim como o seu país, existe uma rede social densa e coesa, como explicar “uma perversão suplemento. O uso moderno do termo está associado a autores como Jane tão grosseira dos princípios que gera um free-riding transversal e maciço, Jacobs, Pierre Bourdieu e James Coleman, entre outros. Nos últimos uma cultura generalizada de corrupção (…) uma reduzida mobilidade social e anos da década de 90, o termo entra definitivamente na moda com o Banco profissional e uma baixa produtividade?”. Sem pretender dar uma Mundial a dedicar-lhe um programa de investigação e um site na Internet. No resposta completa à questão lançada por HAD, gostaria, no entanto, de entanto, foi com a obra Bowling Alone, de Robert Putnam1, cientista político de acrescentar alguns elementos de reflexão que talvez possam lançar Harvard, que o conceito alcança o domínio público. alguma luz sobre o assunto. Entre outras razões, o interesse pelo O capital social não pode ser confundido com o capital humano. estudo das redes sociais está associado ao crescente número de Este refere-se às habilidades e conhecimentos dos agentes investigações sobre o conceito de capital social que, nas duas últimas económicos que, combinados com o dispêndio de energia, permitem décadas, deu origem a uma série de aumentar o bem-estar individual, social 46 torga ignorado, mas que é crucial para percebermos que os seus efeitos nem sempre podem ser positivos. Por exemplo, Putnam, em Bowling Alone, distingue o capital social de ligação (bonding social capital) e o capital social de ponte (bridging social capital). O capital social de ligação resulta dos valores embutidos nas redes sociais entre grupos homogéneos, nomeadamente, entre amigos e parentes. Porém, o processo de intensificação deste tipo de capital tende, muitas vezes, a reforçar situações de exclusividade, criando aquilo que os economistas designam por externalidades negativas ou, no dizer de alguns sociólogos, sociedades fragmentadas. São exemplos extremos deste tipo de capital o Ku Klux Klan nos Estados Unidos ou a Máfia no sul de Itália. O capital social de ponte emerge das redes sociais compostas por grupos heterogéneos. Atravessando as clivagens sociais entre os grupos, este tipo de capital é inclusivo e gera efeitos positivos na comunidade. É o caso de algumas Associações Recreativas e Culturais, em Portugal, ou os clubes de Reflexão bowling nos Estados Unidos que Putnam lamenta estarem em declínio. bens, serviços e demais “favores” fazse em circuito fechado e, assim sendo, Daí o título escolhido para a sua obra. O capital social de ponte pode actuar as redes, embora densas, não permitem uma conexão com os mais como um lubrificador para a cooperação entre indivíduos, diversos grupos sociais criando nichos de favoritismo e, por consequência, aumentado a confiança e diminuindo os custos de transacção. Assim, as processos de exclusão. Isto é muito evidente ao nível dos comunidades baseadas em práticas de associativismo e de envolvimento aparelhos de poder central e local, onde os conluios e a troca de favores cívico com normas transparentes e redes horizontais de solidariedade levam a situações extremas, como os mais variados casos de corrupção que tendem a conhecer níveis mais elevados de democracia, boas recentemente têm vindo a público e que, parecem situar-se, quase sempre, perfomances económicas e, consequentemente, maior estabilidade acima da justiça. Tudo isto contribui para um mal estar generalizado, para social2. O problema económico coloca-se um aumento do descrédito e desconfiança no funcionamento das quando o equilíbrio óptimo entre capital social de ligação e capital social instituições públicas. As reservas de capital social de ponte vão sendo de ponte é afectado por um excesso do primeiro. Espalhando-se como um destruídas pelo próprio Estado e pelos circuitos de poder que se movem à sua cancro, o capital social de ligação começa a destruir os stocks do capital volta, quando o seu papel deveria ser precisamente o contrário. Na verdade, social de ponte com evidentes efeitos no aumento da desconfiança, na estudos recentes mostram que a existência de uma estrutura política subida dos custos de transacção e na perca de bem estar económico e descentralizada e de uma elite capaz de levar por diante as reformas social. Assim, uma primeira explicação para necessárias com políticas definidas através de normas transparentes e o paradoxo apresentado por HAD é que, em Portugal, há um excesso de rigorosas, podem constituir um terreno fértil para um maior envolvimento capital social de ligação e um défice de capital social de ponte. De facto, cívico, para níveis mais elevados de confiança e, por consequência, para a num país com tradições corporativistas, como é o caso do nosso, o criação de capital social, no sentido inclusivo do termo. estabelecimento de redes sociais fazse sobretudo entre grupos homogéneos que, acima de tudo, visam defender os seus interesses, 1 Putnam, Robert (2000). Bowling Alone, New York: Simon Schuester. 2 Há um evidente paralelismo entre os tipos de capital que Putnam distingue e os laços fortes e fracos de que fala Granovetter e que HAD refere no seu artigo. Os laços fortes ocorrem dentro de redes familiares, formando grupos exclusivos à semelhança do capital social de ligação . Os laços fracos que ocorrem, por exemplo, entre parentes mais afastados ou amigos distantes possibilitam o estabelecimento de ligações entre grupos exclusivos, tal como o capital social de ponte. muitas vezes, em prejuízo dos interesses de outros. Podem-se referir, como exemplos, os sindicatos, as confederações patronais, os clubes de futebol, os meios religiosos, os partidos políticos e, não menos importante, o próprio Estado. De uma forma geral, a circulação de informação, a troca de torga 47 Reflexão Sector Energético (ERSE) e a Autoridade Nacional de Comunicações (ANACOM), e até certo ponto a Autoridade da Concorrência, são exemplos bem vindos. É pena que o Governo pareça, para já no caso da ERSE, querer recuar e regovernamentalizar decisões que ficavam melhor entregues ao regulador independente. Foi a reflexão sobre a independência dos Bancos Centrais, e em particular sobre o estatuto do Banco Central Europeu, que me levou a ousar escrever estas linhas. Uma discussão profunda, rigorosa e imparcial do tema da independência e legitimidade de orgãos soberanos não eleitos não está de todo ao meu alcance. O meu objectivo é mais Poderes não Eleitos* modesto, e a minha metodologia assaz pedestre. Vou procurar identificar os Luís Miguel Beleza O tema da independência e da legitimidade, ou, mais precisamente, da existe, dentro do quadro da democracia representativa, um número limitado de legitimidade da independência de orgãos com poder soberano não eleitos orgãos que não estão sujeitos ao calendário eleitoral normal e que não é uma questão de princípio fundamental numa sociedade democrática moderna. obstante são indiscutivelmente soberanos. O exemplo mais frequente O termo “poder soberano” não se refere neste contexto apenas aos poderes são os Tribunais, claro. Nas últimas décadas, e em particular nos países da exercidos pelos tradicionalmente denominados orgãos de soberania. União Europeia, os Bancos Centrais têm vindo a ser dotados de autonomia em Com o adjectivo “soberano”, que utilizo por não ter encontrado outro melhor ou matéria de política monetária, em termos tais que cabem no conceito de mais preciso, quero significar que, além de não subordinado a outro, se trata de orgão soberano que enunciei. Há, evidentemente, muitos países democrá- um poder que afecta potencialmente e de modo significativo a generalidade ticos, onde os direitos, liberdades e garantias são respeitados e em que o dos cidadãos. Por exemplo, o poder de criar moeda é nesta acepção um poder poder de criar moeda não é prerrogativa do Banco Central, mas antes do soberano. Governo. Mas há também casos de países com idênticas credenciais em A única fonte de legitimidade da soberania numa sociedade democrática que existem juízes eleitos. Por exemplo, os Estados Unidos. No passado recente é a vontade dos cidadãos, em regra manifestada através de eleições foram, e bem, criados orgãos com poderes soberanos na acepção que regulares. Como excepção a esta regra aqui utilizo. A Entidade Reguladora do 48 torga pontos daquela reflexão que mais me impressionaram, à luz do que juristas meus amigos me procuraram ensinar. O meu ponto de partida é, creio, uma evidência, ou melhor, um axioma. Os banqueiros centrais - tenho obrigação de o saber por experiência - não são infalíveis, nem são ungidos com nenhuma substância especial que lhes dê direito à independência. Da mesma forma, penso que a independência dos magistrados não resulta do Direito Natural. A excepção à regra de sujeição a eleições regulares só é justificada, em meu entender, por razões de eficiência. Ou, atrevo-me a dizê-lo, por razões de ordem pragmática. O poder soberano que os Tribunais alguns Bancos Centrais e os chamados reguladores exercem é-lhes delegado porque os (representantes dos) cidadãos entendem, correctamente do meu ponto de vista, que é a melhor maneira de exercerem as suas funções. Ou seja, porque se entende que os seus Reflexão objectivos - a Justiça, na minha opinião a estabilidade monetária, preços merecedor de uma parte substancial do crédito pela prosperidade alemã do pós Isto é, os cidadãos devem poder avaliar, devem poder julgar se o exercício desse correctos da electricidade e das telecomunicações- serão atingidos com guerra. Como exemplo oposto, recordo a destituição da Presidente do Supremo poder que delegaram corresponde de facto aos seus interesses essenciais. mais elevada probabilidade se aqueles orgãos não estiverem sujeitos ao ciclo Tribunal (Chief Justice) do Estado da Califórnia, Rose Bird, há cerca de trinta Esse julgamento é mais fácil no caso de orgãos eleitos de acordo com o e ao calendário político-eleitoral normais. anos, através de um referendo suscitado por uma petição da iniciativa de um calendário normal. É mais complexo quando exercido por titulares com É seguramente inútil e pretencioso grupo de cidadãos eleitores. A razão invocada foi a sua oposição à pena de mandatos mais longos, e em particular, claro, se o mandato não tiver duração elaborar neste forum sobre as razões porque os Tribunais devem ser morte, prevista na lei do Estado da Califórnia mas a que a Chief Justice se definida. Penso que daqui se retira que a regra deve ser a existência de independentes e os juízes não devem estar sujeitos a eleições como, por opunha (correctamente, penso) contra a grande maioria da opinião pública. mandatos efectivamente limitados no tempo (oito anos, dez anos, no exemplo, os membros do Parlamento ou os membros do Governo. Peço aos Em poucas palavras, e na minha máximo?). Acrescento eu próprio uma excepção importante. O pouco que leitores que admitam como hipótese de trabalho a minha interpretação de que opinião, a independência de um orgão requer um mandato longo - em regra penso saber sobre a carreira de magistrado faz-me acreditar que o a análise económica moderna, teórica e empírica, aconselha a que um estatuto mais longo do que consta do calendário eleitoral normal - para os seus titulares, regime previsto na Lei portuguesa não deve ser alterado neste domínio semelhante, e por razões semelhantes, seja concedido aos Bancos Centrais. requer que não se trate de uma hierarquia - os vogais do Conselho de particular. Não defendo juízes temporários como regra, o que poderá Isto é, os seus responsáveis devem exercer uma espécie de magistratura Governadores do Banco Central Europeu não são subordinados do seu tornar mais complexa mas não menos necessária a responsabilização monetária, e não devem estar sujeitos ao calendário eleitoral normal. Presidente, nem os Juízes de Primeira Instância o são dos Tribunais Superiores democrática a que me refiro. Um orgão soberano não eleito exerce - e requer o que em tempos aprendi denominar-se a “irresponsabilidade dos O Banco Central Europeu foi dotado de total independência. O seu Conselho o poder de acordo com a consciência dos seus titulares, naturalmente à luz da juízes”. Este último requisito conduz, inter alia, à impossibilidade de um titular de Governadores não pode solicitar nem receber ordens ou instruções de interpretação que faz do que são os interesses mais profundos dos cidadãos ver o seu mandato interrompido excepto em circunstâncias graves e qualquer autoridade nacional ou comunitária. Os membros do seu que nele delegam o poder. Para além de um princípio indiscutível, a excepcionais bem definidas. Em particular, e por exemplo, o Conselho Conselho são os Governadores dos Bancos Centrais - independentes - dos consonância com os interesses mais profundos dos cidadãos é também uma de Administração do Banco de Portugal não pode ser afastado pelo Governo por países que integram a União Económica e Monetária, e uma Comissão Executiva necessidade prática. Numa sociedade moderna nenhum orgão soberano, por discordância sobre decisões de política monetária. Creio que o termo cujos titulares têm um mandato de oito anos, não renovável. A responsa- mais formal e solene que seja a sua independência, consegue exercer o “irresponsabilidade” é infeliz. De facto, a questão mais interessante e bilização democrática é procurada através da definição de objectivos muito poder contra o sentimento profundo dos cidadãos. O Banco Central alemão, o seguramente uma das mais importantes nesta matéria é como conciliar a claros e limitados para o banco estatutariamente, a estabilidade de Bundesbank, era justamente considerado um paradigma de Banco independência com a responsabilização de orgãos soberanos não eleitos. preços - e do estabelecimento de regras de transparência e informação. Central independente. Este estatuto, para além da letra da lei, foi-lhe O poder é exercido em nome e por delegação dos cidadãos. A Nomeada-mente, o Banco deve prestar contas perante o Parlamento Europeu, concedido pelos cidadãos alemães que, justamente, creio, o consideram independência deve ser acompanhada pela responsabilização democrática. deve publicar relatórios pelo menos trimestrais sobre a sua actividade e, de torga 49 Reflexão um modo geral, deve publicar e explicar detalhadamente todas as suas decisões recorrendo a um processo formal que responsabiliza solenemente o em matéria de política monetária. Na sua curta existência o Banco Central Governo. Europeu tem procurado ir além das suas obrigações estatutárias. O Conselho de O tempo dirá se o Banco Central Europeu será capaz de conquistar a Governadores deliberou concretizar o objectivo da estabilidade de preços da confiança e a independência junto dos cidadãos europeus. Seria, maneira mais precisa possível - inflação não superior a 2 por cento por ano evidentemente, ridículo da minha parte pretender apontar os neófitos segundo o denominado Índice de Preços no Consumidor Harmonizado - magistrados monetários europeus como exemplo. É óbvio que algumas e os próprios indicadores em que são baseadas as suas decisões foram das suas práticas não são transponíveis. Mas ouso pensar que a tornados públicos de forma explícita. Além disso, o Banco comprometeu-se indispensável e profunda reflexão que está em curso sobre a Justiça em a publicar um relatório mensal pormenorizado, a explicar Portugal poderia ser enriquecida com alguma reflexão de alguns detalhadamente todas as suas decisões de política monetária e o seu Presidente economistas. assumiu o compromisso de se submeter a uma conferência de imprensa pelo menos uma vez por mês. O Parlamento Europeu tem, felizmente, considerado adequado ouvir o Presidente com frequência, e além disso os membros da Comissão Executiva têm multiplicado as intervenções públicas em que explicam detalhadamente a actuação do Banco Central Europeu. Por outro lado, e em sentido contrário, não são publicadas as actas das reunião do Conselho. Admito que sobretudo numa fase inicial de consolidação do Banco seja esta a opção correcta. Uma alternativa que parece funcionar bem é a seguida nos Estados Unidos e no Reino Unido, em que as actas dos orgãos correspondentes são publicadas algumas semanas depois das reuniões a que dizem respeito. Não está previsto nos estatutos do Banco Central Europeu nenhum mecanismo de suspensão ou revogação das suas decisões. Em alguns Bancos Centrais considerados independentes, 50 torga tal é possível * Baseado num artigo com o mesmo nome publicado no Boletim da Ordem dos Advogados em Março de 1999. 51 Entrevista “Os nossos accionistas são os pobres” Ainda enquanto provedora da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, Maria ou da solidariedade social estamos a falar de políticas públicas, por um lado Os jogos sociais nascem exactamente porque “o jogo é José Nogueira Pinto concedeu uma entrevista à Torga, que agora e, de parceiros privados que, juntamente com o Estado, prosseguem considerado uma actividade ilícita. Uma actividade má que, se existe, é concluímos. Os temas de conversa foram: a política de parcerias e de essas políticas públicas do combate à exclusão e à pobreza.” melhor que seja permitida de forma a que não seja aditiva e que as suas abertura da Santa Casa ao exterior, o sucesso dos jogos sociais, e A ex-provedora defende um sistema se Segurança Social que não seja receitas tenham uma finalidade social que, de alguma forma, lave ou purifique finalmente, os problemas relacionados com os menores e a adopção. assistencialista, “não interessa dar dinheiro às pessoas, interessa dar o acto de entrevistada. “Durante 30 anos tivemos políticas serviços, acesso à formação profissional e a centros de certificação Pela primeira vez na história da Misericórdia de Lisboa foi feita uma sociais muito erráticas” de validação de competências, para que as pessoas se possam tornar campanha de imagem dos jogos sociais. “A primeira campanha de A abertura ao exterior e a política de parcerias foram dois aspectos que autónomas.” Maria José Nogueira Pinto faz uma imagem que nós fizemos dos jogos cobriu o país todo. Uma campanha Maria José Nogueira Pinto, enquanto Provedora da Santa Casa, defendeu apreciação negativa das políticas aplicadas no sistema social, bem como muito falada porque foi muito inovadora. Associou claramente o acto acerrimamente. É importante que “as competências e os saberes se tornem da cultura da imagem que está, cada vez mais, presente na nossa de jogar aos seus resultados. A segunda campanha foi dirigida a quem transversais”, explicou. A ex-provedora criticou as políticas sociais sociedade. “São outra forma de analfabetismo, jogou e ganhou, a quem jogou e não ganhou mas ajudou, e a quem foi prosseguidas nos últimos anos e afirmou que foram a consequência do de iliteracia num mundo moderno. (…) As pessoas vivem hoje de imagens, os ajudado para ter a ideia de que foi bom, foi positivo.” Passaram a chamar-se actual estado do país. “O problema é que durante 30 anos tivemos políticas novos analfabetos das imagens... Nesse sentido, eu acho que a classe Jogos Santa Casa. Os resultados líquidos são distribuídos por diferentes sociais muito erráticas que foram sendo abandonadas, retomadas, política, também se tornou bastante analfabeta porque a agenda política é beneficiários. A Misericórdia tem cerca de 24%, mas os outros 76% vão para a modificadas. Eu acho que essa segmentação e esse percurso errático muito marcada pela agenda mediática. E, a agenda mediática é, por definição, Segurança Social, outras Misericórdias, Sida, IPSS, Desporto Escolar, entre têm grandes consequências no estado em que está o país, nomeadamente, efémera. Portanto, as políticas efémeras não conduzem a nada”, outros. Antes de Maria José Nogueira Pinto no que diz respeito ao combate à pobreza e à exclusão que não foi tão concluiu. chegar à Misericórdia de Lisboa os jogos da Santa Casa representavam bem sucedido como poderia ter sido.” Maria José Nogueira Pinto refere “Vender jogo social é como vender outra coisa qualquer” menos de 1/3 do jogo em Portugal, a ex-provedora explica porquê: “Os também a confusão que existe na definição de solidariedade “as pessoas Os jogos, em Portugal, dividem-se jogos estavam mal por uma razão muito simples: marketing não existia. confundem a solidariedade social, tal como nós estamos a falar dela, com em jogos sociais e jogos de fortuna e azar. Os primeiros são jogos com Vender jogo social é como vender outra coisa qualquer. Sendo esta Casa, gestos espontâneos de fraternidade, solidariedade, caridade, como lhe características especiais, são jogos não aditivos e cuja receita é afecta a fins talvez, a mais importante instituição de Economia Social, ela tem que se queira chamar. Não é nada disso. Quando nós falamos do sector social sociais. A Misericórdia de Lisboa é a concessionária única dos jogos sociais habituar a viver com duas mãos: uma mão que faz dinheiro, que tem que ser desde a Rainha D. Maria. 52 torga jogar”, explicou a Entrevista muito competitiva a fazer dinheiro porque os nossos accionistas são os que os casais querem uma coisa que nós não temos não estou a culpabilizar que tenho». Há muitos casais com filhos que vêm adoptar. É uma pobres; e uma mão que cria a despesa virtuosa. A receita nesta Casa é os casais. Estes casais querem aquilo para que se sentem preparados e é paternidade e uma maternidade, não é uma boa acção. As boas acções instrumental. A despesa é o fim em si mesma. Nós estamos aqui para criar isso que nós aqui aconselhamos. Ninguém deve fazer um esforço. O todas fora da adopção.” despesa virtuosa, mas não podemos alavancá-la sem receita. Portanto, a casal que vem adoptar não é um casal bonzinho, não é um casal que vem aqui receita é o meu instrumento principal.” fazer uma boa acção. Se vem aqui com o espírito de fazer uma boa acção então “As boas acções todas fora da adopção” que seja voluntário. O casal que vem adoptar é um casal que diz: «eu vou A adopção foi também tema de ser pai e mãe de uma criança como do meu filho natural, se o tivesse tido, ou Andrea Marques / Henrique Amaral Dias Filipe Casaleiro (Fotos) conversa com Maria José Nogueira Pinto que é peremptória em relação a este assunto. “O interesse da criança é a única coisa que deve nortear todas as pessoas aqui dentro, não é o casal. O que nós temos que encontrar é o casal mais adequado para aquela criança, e não a criança mais adequada para aquele casal. A perspectiva é esta e tem que ser dita aos casais com clareza.” Existem muitas crianças com problemas de saúde que simplesmente não são adoptadas em Portugal. São levadas para o estrangeiro. Maria José Nogueira Pinto explica porquê: “Muitas dessas crianças são levadas para a adopção internacional porque nos outros países há apoios. A criança que é adoptada por um casal francês, dinamarquês ou luxemburguês chega ao seu país e tem uma rede de apoios estruturada. Por exemplo, a mãe pode ficar em casa só para tomar conta dessa criança. Há centros de dia, fisioterapia, saúde mental e a criança pode usufruir de tudo isso. Portugal é um país sem apoios. Portanto, estas crianças não são adoptadas e isto não é culpa dos casais. Eu quando digo torga 53 Foreign Affairs O Brasil é, sem dúvida, uma das potências económicas emergentes. O estudo da Goldman Sachs, que projecta a evolução das economias nos próximos 50 anos, coloca-o entre as quatro novas potências mundiais, atrás dos EUA, os BRIC (Brasil, Rússia, China e Índia). Essa simulação tem como base dados de partida objectivos e reais. Adicionalmente, o Brasil tem demonstrado uma vontade política firme ao assumir-se como país central no concerto das nações, designadamente ao reclamar um assento no Conselho de Segurança da ONU. Os números impressionam: • 8,5 milhões de Km2 • 8.000 Km de costa atlântica • 174 milhões de habitantes • 3º construtor mundial de aeronaves • 17% das reservas aquíferas mundiais • 2º património mundial de floresta • 1ª jazida mundial de ferro • PIB de 452.387 milhões de $ Apesar do crescente protagonismo do Brasil nos palcos diplomático e financeiro internacionais, persiste ainda uma coleira estranguladora do seu crescimento económico: 50-55 milhões de brasileiros passam fome, 20% sofrem de mal-nutrição e 10% da população detém 47,5% da riqueza. As desigualdades profundas manifestam-se também a nível territorial: no sul do país estão concentrados 76% do PIB, mais de 70% do VAB (Valor Acrescentado Bruto) da indústria e 57% da população, em apenas 18% do território nacional, enquanto no nordeste, 20 milhões de pessoas situam-se abaixo do limiar de pobreza, vivendo sem água potável e electricidade. Se o desenvolvimento económico se tornar demográfica e geograficamente transversal, então o crescimento será explosivo e sustentável, a taxas anuais superiores a 6%, e o Brasil será então por direito próprio um actor mundial. Neste contexto, a estratégia de internacionalização da economia portuguesa deve continuar a apostar no mercado interno brasileiro, sobretudo, e por antecipação, nos estados que a médio prazo poderão exibir taxas de crescimento económico mais elevadas. Ora, estes são aqueles que actualmente se encontram num patamar relativamente inferior de desenvolvimento, pelo que as empresas portuguesas devem expandir-se para além do triângulo industrial, onde pontificam São Paulo e Rio de Janeiro, se desejarem aumentar a sua quota de mercado neste país. Henrique Amaral Dias 54 torga Alma Nostra Como já aconteceu nas duas edições anteriores, a revista Torga faz questão de destacar o programa ALMA NOSTRA transmitido aos sábados, pelas 11h00, na Antena 1. Para além de ser um programa realizado e apresentado por uma dupla que o país há muito se habituou a escutar e que dizem muito ao Instituto Superior Miguel Torga, o Prof. Carlos Amaral Dias, Director do ISMT, e o Dr. Carlos Magno, docente no curso de Ciências da Informação, é um dos programas semanais com maior audiência em Portugal. Para esta edição, destacamos as frases e ideias que ficaram no ouvido ao escutarmos o programa emitido a 22 de Outubro de 2005. Fernando Teófilo ESPANHA PORTUGAL “O ditado «De Espanha nem bons entrevistados diziam. Por exemplo, no caso da gripe das aves e no caso de PRESIDENCIAIS “Não marques o segundo golo antes do ventos nem bons casamentos» vem de um ditado espanhol que diz « De Madrid um estudo apresentado pelo Prof. Sobrinho Simões sobre o impacto do primeiro.”- Carlos Magno nem bons ventos nem bons casamentos.»” – Carlos Magno sal na probabilidade de cancro do cólon. Esta tendência para exagerar e “A escolha do Grémio Literário foi notável para o almoço com Cavaco.”- semear o pânico pode vir a colher tempestades”. - Carlos Amaral Dias Carlos Amaral Dias “No nome de Miguel Torga, o Miguel, podemos entender como sendo hispânico, imperial, e o Torga como LONGO ALCANCE CASO RONALDO “Uma menina de 18 anos que aceita ir sendo português, inferior ou rasteiro como a urze.” - Carlos Amaral Dias “Somos ouvidos em Espanha.” - Carlos Magno à noite para um hotel com um rapaz, vai fazer o quê? Jogar Dominó?” - “Sabia que somos ouvidos em Princeton e Oxford?” - Carlos Amaral Dias Carlos Amaral Dias A PROPÓSITO DE PANDEMIAS “Os Media têm uma tendência para a tragédia, para a catástrofe.” – Carlos FUTEBOL “Ronaldo é um mártir dos media. Na Idade Média, mártir queria dizer Magno “O jogador de futebol é parecido com um gato. Os gatos são individualistas, testemunho de amor. Agora é um testemunho da voragem e da inveja “A simplificação é um dos problemas graves do jornalismo actual.” – Carlos não se pastoreiam, às vezes são vadios, fora e dentro do campo. Os gatos não colectiva inconsciente em relação àqueles que atingiram a distinção.” - Magno se pastoreiam, têm de ser liderados e a liderança não depende da idade.”- Carlos Amaral Dias “Devia haver um controle de qualidade nos jornais.” – Carlos Magno Carlos Amaral Dias AINDA AS AUTÁRQUICAS “Estas eleições autárquicas “Vi recentemente vários exemplos, na “ Disse-me um amigo do F. C. Porto que os jogos ganham-se ao ataque, os demonstraram que a democracia existe para além dos partidos.” – Carlos televisão e na imprensa, de notícias que não transmitiam o que os próprios campeonatos ganham-se à defesa.” Carlos Magno Amaral Dias. torga 55 Lance Livre flickr Neste espaço, a revista Torga pretende Chama-se Flickr e já se tornou num da licença Creative Commons, muitas dar a conhecer aos seus leitores, nomeadamente a alunos e professores, caso sério de popularidade mundial. Obra de dois fundadores visionários, existem também com permissões mais restritas. produtos e serviços que, sendo gratuitos, não deixam de ser uma o Flickr é o local onde pode colocar as suas fotos, para partilhar com os A popularidade de Flickr atraiu uma das maiores empresas da Internet, a opção de qualidade para certos trabalhos. outros, e naturalmente para encontrar uma foto para ilustrar algum trabalho YAHOO! que adquiriu o site, mantendo o seu carácter gratuito. que necessite de uma imagem. Depois de, na edição anterior, termos Queremos, com este “lance livre”, destacado as licenças “Creative Commons”, que trouxeram para a O nível de qualidade varia, podendo encontrar desde as fotos mais tremidas despertar a sua atenção e sugerir uma visita para melhor verificar como o site Internet um grande número de conteúdos prontos a serem copiados às imagens mais espectaculares colocadas por verdadeiros profissionais lhe pode ser útil. livremente, porque já têm a prévia autorização do seu autor, vimos hoje da fotografia mais altruístas. Apesar de estar ainda, oficialmente, numa versão beta do seu apresentar um dos locais onde pode aceder a milhares de fotos com essas Antes de descarregar e copiar alguma imagem, verifique o tipo de desenvolvimento (versão que antecede a versão final), vai verificar que se trata características. licença que foi atribuída para a foto em questão. Apesar de a grande maioria de uma plataforma já muito robusta com milhões de utilizadores. ser colocada para uso livre, ao abrigo Fernando Teófilo Adicionar aos favoritos: http://www.flickr.com/ 56 torga Publicações DESTAQUE O autor analisa alguns dos artigos que considera fundamentais para o estudo da psicanálise: “nunca é demais analisar a obra de Freud que nos primórdios de um novo paradigma revolucionou toda a visão do homem, graças à inclusão de um novo vértice – o vértice do inconsciente e do negativo. Se ele é assim considerado por muitos dos grandes contemporâneos, creio que nós, psicanalistas, deveríamos, ser os primeiros e os principais a aprofundar as questões que ele suscitou ainda que num momento histórico inicial dos actuais paradigmas.” Ao longo desta obra, o leitor terá acesso a um outro “olhar e ver”, simultaneamente amplo e profundo, quer sobre Freud, quer sobre psicanálise, quer sobre os conhecimentos científicos actuais, quer sobre a humanidade. DIAS, Carlos Amaral Freud Para Além de Freud II Climepsi 14.40 euros Michio Kaku Nas palavras de Brian Greene, autor de O Universo Elegante, «O Cosmos de O Cosmos de Einstein 14,00 euros Einstein conduz-nos numa visita guiada e quase fotográfica ao impressionante legado de Einstein [...] com uma prosa de mestre e uma clareza irresistível». Gradiva Uma obra fundamental para perceber como a visão de Einstein transformou a nossa concepção do espaço e do tempo. George Gamow e Russell Depois de inspirar, conquistar e ensinar várias gerações em “As Aventuras do Sr. Tompkins”, editado pela Gradiva, o Sr. Tompkins está de volta para encantar Stannard O Novo Mundo do Sr. Tompkins Gradiva novos leitores através dos caminhos da Física do Século XXI. O novo texto é revisto, actualizado e ampliado por Russell Stannard. 16,50 euros Luis Bigotte de Almeida Do Cérebro de Lenine à Proteína Suicida Heróis e vilões sistema nervoso Gradiva 17,00 euros do A evolução das Neurociências confunde-se com a história das preocupações essenciais do Homem. Esta é uma história breve de vários séculos e de centenas de heróis que ao longo de gerações foram investigando os meandros do sistema nervoso, até conseguirem desmascarar as suas entidades patológicas, como se de verdadeiros vilões se tratassem. Ana Cristina Abreu torga 57 Publicações Algumas das publicações que deram entrada na Biblioteca do ISMT “Nos últimos anos, a imigração tem ocupado um lugar central no debate político nas sociedades ocidentais. Esta situação é o resultado de vários factores, entre os quais podemos assinalar o aumento da pressão imigratória e o aumento do período de permanência dos imigrantes nos países de acolhimento. […] O objectivo deste trabalho é examinar o modo como as medidas adoptadas em Portugal, em matéria de política de imigração, se reflectiram no estatuto dos imigrantes e as mudanças que implicaram no conceito de cidadania.” COSTA, Paulo Manuel Políticas de Imigração e as Novas Dinâmicas da Cidadania em Portugal Instituto Piaget, 2004 “ Esta muito actual nova edição também apresenta melhoramentos de carácter pedagógico (objectivos dos capítulos, questionários de revisão, entre outros) e discussões actualizadas e alargadas sobre tratamento de dados, wizards reguladores de bases de dados, apoio à decisão, recuperação de informação, segurança na Internet, bases de dados específicas, processamento de transferências e gestão de dados XML. A cobertura dos assuntos foi revista e alargada em todos os sectores de modo a reflectir o novo padrão SQL:1999.” RAMAKRISHNAN, Raghu GEHRKE, Johannes Database Management Systems 3rd. ed. McGraw-Hill, 2003 “ Esta segunda edição revela os próximos tempos da Segurança Social capitalista como sistema e mostra como o Serviço Social convencional falhou na resposta aos problemas sociais sistémicos. Mullaly apresenta uma teoria coerente e consistente para um serviço social progressivo, centrado na opressão, e examina elementos da sua prática política. Mostra-se como esta prática é exercida nos agentes sociais, fora deles, e nas vidas pessoais de assistentes sociais estruturais. A nova edição foi amplamente revista e actualizada, e inclui um capítulo novo sobre a opressão e a justiça social.” MULLALY, Bob Structural Social work: ideology, theory, and practice 2nd ed. Oxford University Press, 1997 58 torga Ana Cristina Abreu Conto TEMERÁRIO René Tápia “Se eu pudesse, um dia voltava à Europa e estudava Sociologia”, diz com o prestígio de anos como dirigente sindical, fora eleito para presidente da de 73. Ele estava no estrangeiro quando o seu pai fora detido, graças a um erro Pedro a Carlos, enquanto aguar-davam, contando o tempo ao segundo, que câmara nas municipais de Abril de 71. Se os partidários do presidente Allende de segurança e desaparecera. Passaram dez anos. Ele voltou da sua aparecesse o próximo guarda que patrulhava a estação retransmissora do obtiveram quase metade dos votos a nível nacional, o seu pai ultrapassara os preparação militar e criou a facção dos “autónomos”. “Os velhos não sabem canal de televisão. “Gostava de compreender o que é que se passa, 90 por cento. Uma dor silenciosa acompanhava nada”, dizia-lhe a sua irmã que dirigia um movimento para o esclarecimento porque se passou isto e não aquilo. Não sei, ler Lenine talvez”. ainda Pedro, nos seus olhos negros e tristes, no seu humor de sorrisos curtos. sobre os “desapareci-dos”, “Continuam na mesma”. “Como tu”, respondeu, “Eu quero estudar Psicologia”, respondeu Carlos. “Sim!”, acres- A lembrança do papagaio de papel nas mãos distantes do seu pai, “Puxa agora, voltando as costas e saindo para não regressar. centou, perante a cara surpresa de Pedro. “E escrevia uma tese sobre Marx filho!”, e ele a segurar o fio, que se esticava com a brisa marinha, acordava- A ideia fora inspirada na acção de Lagos. “Tem tomates!”, diziam os seus e Freud, podia ser aqui, até na Católica, os curas são bons, os jesuítas”. o ainda, para encontrar, não as cores do papagaio, mas a escuridão de um camaradas, ao desaparecer do ecrã a figura de quem denunciou um quarto E a conversa ficou por ali por motivos de segurança porque ambos quarto vazio, em que a insónia e a solidão conviviam. de século antes a concentração do poder económico no Chile e agora vinha compreendiam que começavam a acordar os fantasmas. Carlos era de Santiago. Tinha vivido na capital toda a sua vida. O seu pai era levantar um dedo acusador na televisão e desafiava, alto e bom som: “Você, Pedro tinha oito anos quando foi levado, junto com muitos outros funcionário do Comité Central e passou a dirigir o partido na clandestinidade, General Pinochet, tem que responder”. “Essa é velha”, respondeu Carlos, moradores da vila, a presenciar o fuzilamento do seu pai. A vila era dos quando o anterior caiu nas mãos dos serviços de inteligência de Pinochet, no “Vem dos tempos de Lincoln, usou-a Alessandri”. mineiros do carvão, no Sul, e o seu pai, início do golpe de Estado, em Setembro torga 59 Conto “Já estás tu armado em ultra”, retorquiram os outros. “Uma coisa é um autóctones de criação popular, regressaram do exílio e ofereceram um súbito, descendo, iluminando e disparando contra o grupo que ficara papel colado numa parede, e outra é chamar as coisas pelo seu nome “Recital Pelo Não”, no Parque Cousinho. à espera de Carlos verificando o carro. Separados pela metralha, Carlos e o sabendo que podes desaparecer”. Carlos encolheu os ombros, “Vamos é Carlos conhecia-os, desde a adolescência, como estudantes numa seu companheiro encostaram-se ao muro, enquanto procuravam as suas ao nosso”. Pedro tinha experiência neste tipo de pacata cidade de província, onde ele passara férias. armas. Nesse momento, da esquina da operações e já colocara os engenhos explosivos na antena transmissora da Originalmente um conjunto de rock, os “High and Bass”, apelidados de transversal surgiu, em marcha lenta, um Volvo azul escuro de vidros rádio nacional numa celebração do Onze. Mas agora, tratava-se de dar a “meninos bem”, tinham aderido à investigação e elaboração de folclore, fumados, acelerando ao mesmo tempo que descia o vidro traseiro, para deixar conhecer o movimento ao país pela televisão. acomodando foneticamente o nome, deturpado pelos chilenismos. sair o cano curto de um Smith & Wesson que disparou oito vezes, com A acção teve o impacto desejado. Ninguém pôde deixar de conhecer a Bonitão, gozando de um certo charme entre as meninas, Carlos precisão e rapidez, deixando os corpos de Carlos e do seu acompanhante existência do “Movimento Manuel Rodrigues”, mas, que fossem preparou-se para ir ao muito esperado concerto. estendidos junto ao muro de tábuas, enquanto a mãe, atónita, ficava colada autónomos, poucos se aperceberam. Aliás, como os jornais não podiam Saiu de sua casa, numa rua tranquila, dum calmo bairro de classe média, na ao chão da porta que acabava de abrir ao seu filho. deixar de informar ou comentar o facto, a maioria, controlada pela ditadura, popular Ñuñoa, entre as avenidas de Macul e da Grécia, rodeado pelos seus omitiu esse pormenor, manipulando a confusão do retorno do comunismo quatro guarda-costas, enquanto outros dois preparavam o carro. Mas este não aos velhos métodos do tresloucado “Plano Z”. funcionou. Olharam-se rápida e significativamente e Carlos, de Do mesmo modo, quase todo o país viu o rosto barbado de Carlos, que, reacções rápidas, disse: “Vejam com cuidado do que se trata, talvez seja só num acto verdadeiramente autónomo, imprevisível e imprevisto, tirou, no o carburador, estes Toyotas montados no México vêm com falhas eléctricas. último minuto, a máscara que lhe ocultava a verdadeira identidade. Eu vou pedir o carro à minha mãe”. Esta vivia separada apenas por três “Temerário!”, disseram-lhe os seus camaradas, ainda que poucos casas, num desses chalets construídos nos anos cinquenta, com jardim à explicitassem a crítica que a palavra encerrava, pois ocultava um misto de entrada e cercas de madeira junto ao passeio. Um dos guarda-costas admiração e sã inveja. Carlos sentiu orgulho de si próprio e pensou “Ah, se acompanhou-o a dois metros de distância. Era a hora do lusco-fusco, o o Velho estivesse a ver!” O plebiscito à recondução de concerto seria pelas dez da noite outro acontecimento importante da Pinochet como presidente do país obrigou o ditador a uma certa abertura. “abertura”, sem recolher obrigatório. Três helicópteros patrulhavam as Foi assim que “Os Jaibas”, como tantos outros conjuntos musicais que tinham ruas da populosa cidade. Quando Carlos estava junto da porta da casa recuperado as variadas formas da sua mãe, um deles apareceu de 60 torga CANDIDATURAS ABERTAS 61 Conto ABSOLUT Henrique Amaral Dias O QUARTO contudo, falhara rotundamente. Não porque tivesse tentado, dominado que nele irradiavam. Lembrava-se sobretudo de uma, cuja voz rouca assolara os seus O dia anunciava-se solarengo. H. permanecera no seu quarto? fora por uma absoluta e total inacção. No sonho, brincava com despreocu- tímpanos. Conhecera-a em final de festa. Da janela vislumbrava-se uma ínfima parte da cidade: uns quantos prédios, pação com os filhos desse homem, divertia-se em sua casa. No final, E ela fora ele? Amara-a numa casa rosa, pontuada uns quantos carros... Alguém descia as escadas e abriria a porta com estrondo. apercebeu-se de que ele tinha um filho bastardo. somente por um divã de camurça. Sem janelas, o desejo eclodia: reverberando, O calor da cama, num enroscar de pés, fazia-o temer o tempo em que dela teria Alguém que ele jamais reconhecera? Tremendo, acordou e olhou para o preso entre os muros e os corpos entrelaçados. Ocasionalmente um de sair, num parto doloroso. Alguém decerto viria chamá-lo, perguntando-lhe espelho... O martelar incessante dos seus remorsos, a culpa que o cigarro pálido iluminava-os. E essa reflexão fora um fim se queria tomar o pequeno-almoço. Ele aguardaria o instante para bater asas atordoava, espreitavam. Por ora, deixaria as horas escoarem-se, num anunciado? Mas ainda que as memórias de um dali e instalar-se no sofá, onde encontraria refúgio para os restos da desespero silente. Sem se mexer, latejava suavemente no colchão: uma passado perturbassem esse torpor, o velho medo se instalasse, barafus- manhã. Mas, mesmo esse acto, nesse dia particular, seria adiado: enrodilhado prazenteira onda envolvia-o, desmanchando-se pela mão direita, que tassem ruidosamente, a sombra da luz toldasse o seu olhar, não sairia daquela em lençóis tépidos, raiados pela luz que se escapava, mau grado a sua desnudada e tímida procurava acolhêla. Massajando o ventre, permitia que cama. Soubera bem de um mundo repleto preguiçosa vontade, mortificava-se. Deles nunca se apartara? um prazer feminino descentrado o dissolvesse. Já tolhido, via perante si as de dias perdidos, de almas perdidas? Estar vivo era agora por vezes uma Sonhou que enganara o Director de Informações Pessoais: tivera de pequenas odaliscas que um dia cortejara, em soturnos bares e maçada. Uma rotina que se lhe impunha. Um correr biológico executar uma missão delicada e, discotecas. Esses vasos de prazer ainda inoportuno. A previsibilidade, até ao 62 torga Conto momento em que nada mais importaria. Até lá, teria de fazer coisas, fazer coisas, se se teria cometido algum erro grave. Por via das dúvidas, verificou de forma seriam apenas para executar futuramente ou se calhar nunca. Afinal, como um rio que se lança para a foz. Sem pressentir que se perdera no sistemática os últimos dossiês: nada de errado, portanto... Num assomo de o trabalho era insolúvel. Tomou finalmente a decisão de escrever ao mar? No dia seguinte teria de visitar o inspiração, escrutinou o cartão de ponto, tendo concluído que tinha dado Director, pedindo esclarecimentos: “Venho por este meio solicitar a V. Exª. escritório. Como sempre, encontraria memórias, cobrindo a secretária. Há no último mês duas horas a mais. Passou a mão pelo rosto e constatou que se digne a especificar a ordem n.º (...). Afirmando o meu total anos que era assim. A sua profissão consistia em solucionar. Mas, como um barbeado impecável. Finalmente, olhou para o vinco recto de suas calças empenhamento em cumprir esta missão. Com os meus melhores sempre, sabia de antemão que se limitaria diligentemente a arquivar com satisfação. Contudo, algo tinha corrido mal. Alguém tinha invadido o cumprimentos.” Menos aborrecido e ainda obsequioso, olhou de soslaio esses processos. Fora um amanuense disfarçado, um mundo de páginas dactilografadas com precisão, essa ordem que lhe para o relógio, tendo compreendido que a hora de almoço estava perdida. inventariador? parecera desde sempre estabelecida: com que objectivo? Ter-se-ia limitado Mesmo assim, retirou da pasta uma lancheira: nela acomodadas estavam O ESCRITÓRIO essa pessoa a deixar esse envelope ou remexido nos seus casos perdidos? uma maçã cozida e uma malga de sopa de feijão. Principiava a comer Às nove horas subiu as escadas esconsas que o levariam ao seu A sua atenção derivou lentamente para o conteúdo da missiva. apressadamente, quando o telefone tocou. Era a primeira vez que tal gabinete, iluminadas apenas pelas luzes de emergência, em verde e Sentou-se e esperou pacientemente que o coração abrandasse. Inspirou sucedia. Estarrecido, hesitou um momento em levantar o auscultador. O branco, que reclamavam saída. Na antecâmara do seu local de trabalho, fundo. Concentrou-se e leu a carta. Eram apenas novas directivas: teria daí som do telefone ecoava naquele espaço lúgubre. Mastigando alguns reparou, como sempre o fizera, nas estantes compridas de arquivos, que em diante de organizar os ficheiros por um critério distinto do anterior. Mas a pedaços de feijão, que teimavam em encher-lhe os molares, atendeu. se esborrachavam contra o pilar. Esse acordeão monótono, que todos os dias despedida era sombria: “Entretanto somos”, depois uma assinatura ilegível — Sr. H.? — inquiriu formalmente uma voz metálica e distante — Daqui tocava uma melodia de silêncio a preto e branco, embalou-o. e, em baixo, O Director de Informações Pessoais. Seria aquele remate uma fala o Director de Informações Pessoais. Queira comparecer nos Sentou-se e esperou pacientemente que a campainha zunisse. Abriu a porta ameaça velada? Releu com zelo a carta, mas o texto afigurava-se-lhe serviços centrais pelas 15h00 de hoje. — De que se trata, Sr. Director? e encontrou, como sempre tinha encontrado, um caixote. Lá dentro, os agora menos claro: “Informamos o funcionário H. que terá de organizar em — Algo de insólito ocorreu — informou gravemente. ficheiros dispostos de forma caótica, aguardavam-no. Arrumou-os cuida- tempo útil os ficheiros de acordo com a nova ordem estabelecida.” O que H. ficou apreensivo. Nem sequer se dosamente por ordem alfabética, ao longo das prateleiras que fabricavam significaria “em tempo útil”? Teria de organizar todos os ficheiros ou só recordava já onde se localizavam. Apenas lá tinha ido uma vez, para nomes e códigos. Sentou-se uma vez mais e reparou que em cima do tampo aqueles que passaria a receber? Permaneceu sentado até à hora de cumprir aspectos burocráticos. No entanto, estava a par da gravidade da de secretária jazia um sobrescrito que tinha o seu nome impresso. Perante almoço, estático, deixando apenas que entredentes se escapasse ininterrupta- convocatória. Os jornais relatavam com destaque este género de essa súbita visão, inquietou-se. Alguém tinha entrado no seu escritório. Era a mente uma ladainha ora enfurecida, ora dubitativa. Não era possível acontecimentos e, com frequência, os resultados revelavam-se pouco primeira vez que tal sucedia de modo tão ostensivo. Um calafrio percorreu- organizar os ficheiros antigos, estes apenas tinham uma etiqueta com o animadores: “Lamentamos reportar que o Sr. (...) ficou retido na secção (...), para lhe a espinha. Sentiu-se observado. Ergueu-se e deambulando, perguntou- nome do sujeito em causa, mesmo os daquele dia. Pensou que as instruções futuras averiguações.” ou “Cumpre-nos informar o público que é vital conhecer torga 63 Conto pormenores sobre (...), pelo que este indivíduo ficará detido preventiva- O pórtico de entrada era gigantesco, com uma grade de ferro forjado, e você é o único inspector que gere estes assuntos. mente.” Raramente vinham notícias a lume sobre processos em curso, encimada por uma inscrição: “Aqui jaz Ícaro”. — Que informações temos acerca deste homem? apenas um lacónico e vago anúncio: “As autoridades continuam a investigar Um porteiro perguntou-lhe: — É o Sr. H.? — numa voz esganiçada — Tem à sua disposição este ficheiro. Analise-o e inicie a investigação. Ela é — Queira deslocar-se à Ala D, ao departamento número FA-124 581. prioritária sobre todas as outras obrigações decorrentes da sua função. — Onde fica isso? — É espantoso... Um cidadão e não Tem uma semana para o capturar, caso contrário um processo será aberto A hora aproximava-se. H. vestiu o sabe onde fica? Por acaso não lê os jornais? Sabe que horas são? Sabe que contra si. — Mas... Sr. Director, que fiz eu de casaco de tweed puído e saiu. Antes de prosseguir, tinha ainda tempo de tomar horas são?! — Três menos dez — respondeu H. errado? Sempre cumpri as minhas obrigações. um café e consultar um mapa da cidade: os serviços centrais ocupavam um ansioso — Estou a perder tempo consigo. Diga-me por favor onde fica — Quantos casos resolveu? Que fez durante toda a manhã? Começou a décimo de todo o espaço urbano, eram o centro de uma circunferência, que lhe a Ala D. Como se o homem não respondesse cumprir as novas directivas? Ao longo de vinte anos, tolerámo-lo porque não pareceu uma fronteira geográfica natural. Estudou o mapa com atenção de imediato, H. olhou outra vez para o relógio. Com surpresa, este tinha dispúnhamos de mais ninguém para o seu lugar. A verdade é que não temos e concluiu que estava afinal a algumas centenas de metros do local. Bastar-lhe- parado de funcionar: o ponteiro dos segundos fixo, encarava-o com ironia. ninguém disposto a ocupar-se com tão pobres e inúteis tarefas. Aqueles que ia percorrer três quarteirões, cinco minutos a pé no máximo. — Três menos dez! São três e meia. Por acaso não ouviu os sinos? Bem, desaparecem, devem permanecer desaparecidos. Por alguma razão As ruas àquela hora eram calcorreadas apenas por domésticas acompanhe-me, o Director espera-o... Entrou num imenso espaço desapareceram... Poder-se-á perguntar: Então por que motivo criámos uma atarefadas, com rebentos ao colo ou em carrinhos. A meio do percurso envidraçado. No centro, o Director, sentado numa ampla mesa oval de secção de desaparecidos, com um inspector adstrito? A resposta é simples, começou a chuviscar. A princípio mal notou, para logo de seguida abrir um reuniões. — Queira sentar-se — ordenou numa terá de existir sempre uma, para quem se interrogue, e note que tal nunca guarda-chuva que providencialmente trazia consigo. Infelizmente, a chuva voz melíflua. — Sr. Director, é com imenso agrado ocorreu: o nosso inspector H. está a investigar diligentemente o caso. A caía agora abundantemente, luzindo os passeios e o vento errático vergastava- que aqui estou. Espero que perdoe o atraso, mas o meu relógio parou... verdade é que não existe verdade. E você sabe-lo há vinte anos. Há vinte o com lâminas finas de água. Resmungando, a humilhação das — A verdade é que o Sr. H. se atrasa com frequência: parou para tomar um anos que todos os dias se limita a arrumar papéis, sem nunca ter saído do roupas molhadas e do ar desalinhado foi crescendo, até que a chuva oxidou café, onde esteve durante meia hora sem trabalhar, não verificou se a sua seu gabinete para investigar o que quer que fosse. o seu relógio falso. Os edifícios iam adquirindo cebola funcionava, não sabia onde era a Ala D. Mas, também é verdade que — Devo protestar, Sr. Director: os ficheiros são classificados como contornos mais definidos, tornando-se esguios e angulosos. Cor de cimento, ocorreu algo de bizarro: hoje de manhã, desapareceu oficialmente um irresolúveis. Devo portanto presumi-lo. Que diriam de mim se contestasse essa entremeados de aço, afunilavam a avenida, até esta se perder, numa funcionário do Departamento de Estado. Esse indivíduo é um traidor e ilação? Estaria a desconfiar de um processo aberto e levado a cabo pelo amálgama de construções concêntricas, quase que provindas de um lego levou consigo documentos comprometedores da segurança do nosso Estado. Quem sou eu para o fazer? Você bem que afirmou “Aqueles que infantil, contudo insolentemente ordenado. espaço. Trata-se de um caso que pertence à jurisdição deste organismo desaparecem, devem permanecer desaparecidos.” — retorquiu H. os eventos ocorridos.” A REUNIÃO 64 torga Conto — Você tem um problema: deixa-se levar pela aparência da substância em abandonando uma a uma as causas que a tinham celebrizado. Na realidade, A noite estava então só. O televisor propagava-se pela sala de estar. H. detrimento da forma. O nosso Estado rege-se por esta última. O que H. retivera apenas que a grande causa era a ausência de causas. Um niilismo saboreava um charuto, enquanto a língua túrgida explorava o interior da realmente interessa é o decorrer das investigações, não o seu fim último. feroz era a seiva desta outrora anátema. Na universidade, não tinha feito M. boca, absorvendo uns derradeiros resquícios do seu conhaque favorito. Há Você, como alguns, poucos, está imbuído de uma lógica, sempre à parte desta organização? Não tinha esta preconizado a destruição do estado, muito que o comprara no mercado negro, numa estação de comboios em espreita de uma síntese. Esse arremedo de raciocínio ser-lhe-á fatal. denunciando-o como uma entidade vazia e absurdamente servil? H. ruínas: um écran gigante anunciava um jovem, abandonando uma superfície A verdade é que nunca existiu um fim, apenas um simulacro, um jogo de lembrava-se de facto de uns panfletos a picarem a cidade. Na altura, os media comercial num descapotável vermelho, rumando ao deserto; uma figura sombras... nada mais. entraram em pânico. Houve investigações: os membros desta indistinta, especada junto às portas envidraçadas, acenava nostalgica- organização desconheciam-se e mais tarde veio mesmo a apurar-se que mente, enquanto a poeira se tornava nuvem e o carro nada mais era do que H. regressou ao exíguo apartamento. nunca existiram contactos entre eles. Este fenómeno provocou uma reacção ela. Homens carregavam colchões e computadores, num ziguezague Levava consigo um invulgarmente sintético dossiê sobre M.: “M. 44 anos. dura do regime, embora a desorientação fosse visível: uma constante entre mesinhas e sofás. Clientes aglomeravam-se em torno das Solteiro. Licenciado em Ciências Políticas. Doutorado em História organização anárquica no seu estado puro — como era possível? bancas e um pregador clamava “Pechincha!”. Junto ao muro, uma Contemporânea. Professor Auxiliar e funcionário do Departamento de H. começou no seu caderno preto a tomar notas sobre os passos a seguir: mulher vendia o corpo sorrateiro, quase tão gasto como as planícies de cromos Estado, na secção de estratégia e geopolítica. Nascido na Ala Z, vistoriar a residência de M.; recolher todas as informações jornalísticas sobre em segunda mão. Crianças despencavam-se dos saiotes, caindo departamento número MB-14 546. Promovido há dois meses a Director de a sua actividade; interrogar os seus familiares, amigos, os colegas de com os narizes enfiados em sorvetes. Tudo girava e no meio dessa algazarra, Estudos Geo-Estratégicos. Notas: residia na altura do seu profissão e, com reserva, os políticos com quem tinha contracenado. um carrossel mágico, pregado com unicórnios, centrifugava o dia em desaparecimento no local onde nasceu. Esperava-se que ascendesse ao Jantou tarde, já passava das dez. Na pequena mesa da cozinha, deglutiu um algodão doce. Num canto abrigado por tendas de índios, homens ébrios Conselho Nacional, nas próximas eleições. Político brilhante, dado todavia arroz de tomate com sardinhas em lata, acompanhando a refeição com um empunhavam garrafas como ramos de flores, numa dança circense, a leituras heterodoxas. Socialmente saudável, com conhecimentos nas copo de vinho tinto. Langorosamente sentou-se frente ao televisor e bocejou. aspergindo o ar à sua volta: cascos de carvalho fumado, cheiros aveludados, diversas áreas políticas.” H. reconheceu as fotografias deste As notícias da meia-noite saltitavam entre o desporto e as curiosidades frutos exóticos e malte. Um sacerdote seminu encabeçava a cerimónia, homem. Era de facto alguém em vertiginosa ascensão. Aparecia bizarras, quando o apresentador relatou maquinalmente que M., cidadão montando um touro embalsamado. Os olhos vítreos do animal vigiavam os fiéis regularmente nos jornais e nas televisões, de aspecto sensato e prestigiado, tinha desaparecido: “Esta tarde a agência de notícias e sua cauda erecta chicoteava-os. Impelido para a multidão, H. avistou um moderado e voz pausada. M. tinha promovido nos bastidores a última governamental enviou um telex que comunicava o desaparecimento de M. machado de guerra, goteando sangue, que ao esbracejar freneticamente, coligação partidária com os radicais. Esta facção, em tempos de extrema 44 anos. Solteiro...” H. ficou boquiaberto, o conteúdo da notícia coincidia exclamava conhaque Henessy X.O. Diabos o levassem se não iria comprá- violência, progredira contranatura para o centro do espectro político, palavra a palavra com o do dossiê. Que sentido faria tudo isto? lo! Um sobretudo pelo de camelo, encimado por um chapéu de coco A NOITE torga 65 Conto preto, roubou-lhe o objecto cobiçado. H. descontrolado decidiu perseguir o sabia que ela não voltaria a insurgir-se contra a televisão ou contra ele – tinha sobressalto, uma leve suspeita de desejo, uma antecipação consciente de inimigo fantástico. Por entre ruas estreitas, engarrafadas em muralhas de desistido. Após o desaparecimento dela, teve de um acto trágico de conhecimento. Foi até à cozinha, acendeu um cigarro casas geminadas e pontuadas de mulheres lânguidas, que lhe estendiam construir o seu mundo, impenetrável, alheio aos outros, abrigado na para a cidade feérica: “A cidade à noite está em festa, árvores de Natal distantes, as mãos ávidas de réplica, farejou o rasto almiscarado de sua presa: intimidade de um silêncio inviolado. Quase nada recordava desses anos de miragens do outro. Onde estás tu, minha feiticeira?” Da janela da cozinha, gemidos em águas-furtadas, dejectos folclóricos e pernas ebúrneas matrimónio. Sofrera com certeza uma amnésia traumática parcial, pelo menos numa noite de Inverno, está-se verdadeiramente. Desse ponto de baloiçantes semeavam o caminho. O sol crepuscular incendiava as fachadas. H. fora esse o diagnóstico do médico. Todavia, blocos de episódios observação clivado do quotidiano, do ramerrão dos dias curtos e apressados, perlado de suor marcava um ritmo apressado. Os pulmões mirrados, as desconexos piscavam na sua mente, rompendo-lhe amiúde a concentração. para onde as gentes anémicas confluem, curvadas perante as trevas cãibras descompassadas e uma dor aguda no fígado começavam a minar a Em contraste, o epílogo da sua infância: onde tudo aparecia nítido, o entrecortados de pontos luminosos, quebrando noite após noite o feitiço dos sua resolução. Prestes a desistir, turbilhonando entre esquinas e guarda- sol brilhava, tisnando a pele da face virgem, libertando-a para um sorriso tempos. Com as mãos escancaradas, alinhou sóis de esplanadas atravancadas, desembocou num armazém fácil, um passo de humor ágil, de imaginação vivida: com os vizinhos o cabelo para trás, reclinou-se e adormeceu. abandonado e, finalmente, encurralouo. Lutando, prevaleceu sobre essa cheia brincava aos super-heróis, “Eu sou o HomemAranha, tu és o Super-Homem fluvial. Meteu-a no cós das calças e triunfante, regressou a casa. Mais tarde, e tu, tu és uma feiticeira.” Sim ela foi a primeira: de olhos negros, lábios A DOMÉSTICA no quarto, sentado na cama, sentado à beira da cama, quase escorraçado, apoiados num flexível fio de saliva, a beijaram-se clandestinamente, encos- Apartamento de M. Nove horas da manhã. H. perplexo. Quatro quase vencido pelo sono, desrolhou a garrafa. Um corpo mole em cambalho- tados a um pneu de um carro branco enferrujado, à sombra de um prédio em assoalhadas assépticas: não há vestígios de que aquele espaço tenha tas desajeitadas empurrava-o para uma extremidade angulosa, para fora de um construção, por debaixo de uns velhos cedros da rua onde moravam, no quarto alguma vez sido habitado. H. tenta em vão obter impressões digitais, um rasto mundo que fora talvez só dela e dele. A televisão zombava, reflectia vagamente dela, no calor da tarde, sem que a impetuosidade da paixão os obrigasse orgânico. Metodicamente explora paredes, tectos e chão em busca de a sua imagem: olhos semicerrados, testa franzida, imersa num qualquer a esperar um futuro, um compromisso, uma leve ideia sequer das regras do esconderijos, batendo com os nódulos dos dedos em toda a área. Nada. A programa de variedades. “Põe o som mais baixo! Não consigo dormir”. Que jogo. O fim desse feitiço não teve fim, porque o que nunca se começa nunca sensação de desconforto acentua-se. De repente, lembra-se de um tapete queria ela? Quando tinha chegado ao quarto, a primeira coisa que fez foi pegar o tem? Livre de qualquer noção de princípio, ele não concebia, não verde plástico na soleira da porta de entrada. Levanta-o e, por debaixo dele, no comando e diminuir o volume do som. Como era então possível que ela reflectia, não criticava. Os seus beijos não perderam o sabor morno de uma acha um papel queimado. Guarda-o na algibeira. Decide inquirir os vizinhos: agora se queixasse? As mulheres, por vezes, eram pintadas assim: seres que chiclete de morango, nem as mãos delicadas da feiticeira esgotaram o jeito quer obter respostas para a situação desconcertante com que se depara, a custo o admitiam no seu mundo, cobrando palavras zangadas e táctil com que o envolviam, nem o olhar desmesurado as áleas de sombra mas ninguém responde. Meio-dia. Por fim, uma mulher entra. incompreensíveis, obrigando-o a mendigar espaço e afectos. húmida que sobre ele lançava. Simplesmente deixaram de se ver. A Traz um balde, uma esfregona e um detergente lava tudo. Concentrava-se no programa de variedades, já mais confortável, pois vida continuou imperturbável: a escola, os colegas, as traquinices... nem um — Boa tarde. Sou o inspector H. do Departamento de Informações Pessoais 66 torga Conto e desejava fazer-lhe umas perguntas — H. exibe o crachá perante a mulher. faltou um botão. Nem um! — enquanto mirava H. de alto a abaixo — Bem, o Sr. Ligou a telefonia. Era Schöenberg: vozes tenebrosas clamavam por A princípio estupefacta, para que logo um esgar de terror deforme os músculos Inspector sabe, eu tenho horas fixas. Não posso responder por tudo o que alguém, órfãos imersos no sangue de seus pais suplicavam piedade e uma faciais — Conhece o Professor M.? — Sim... Embora muito raramente o aqui se passou. Hoje em dia há muitos sem-vergonha. É vê-los por aí, a saraivada de tambores anunciava a morte. De repente, o silêncio e do tenha visto. — Notou algo de estranho nas últimas pavonearem-se. As aparências enganam. Não que o professor fosse silêncio, uma voz surgia, meiga e triste, de uma mulher de ventre vazio, semanas? — Eh... Não. Quero dizer, talvez. Penso desse género. Não gostava era daquela barba, escondia-lhe o rosto. Tão começando a secar. Nela a tristeza era. Um piano errático ia esvoaçando o que o Professor M. deixou de cá vir. — Como sabe? comprida... e vinha até cá cima, aos olhos. Depois aqueles óculos grossos poema que a mulher entoava. Depois um violino angustiado, partido por um — Era o único morador e tinha o hábito que denunciei há seis meses ao feios. Sinceramente, parecia um mascarado. E olhe, até me lembrava baixo persecutório, e o violino a fugir, saltitando por entre pequenas pausas, seu Director de nunca fechar a porta da rua. Há cerca de três semanas que ela aquele actor. Sabe aquele... que era o mau da fita — a mulher olhou cada vez mais curtas: ora correndo, ora descansando à sombra de uma está sempre fechada, mais precisamente há vinte dias — afirmou expectante H. — Aquilo é que era um regalo. Não perdia um episódio. O meu esquina, olhando para trás. H. saiu abrupto. Lá fora uma neblina com um certo autocontentamento a mulher. marido ficava todo zangado e até dizia “Oh mulher! Deixa de ver isso. Faz-te cinzenta envolvia a cidade e os transeuntes caminhavam esquematica- — Alguma vez o viu acompanhado? Sentiu a presença de outros indivíduos mal à vista.” Eu queria lá saber disso. A vida já é tão dura. mente para os seus destinos, perfurando a neblina como pontos no seu apartamento? — Não. Era um homem muito Empanturrado, H. despediu-se com um aceno. Era óbvio que essa mulher pretos a emergir da pele de um velho rabi. Um som eléctrico penetrava-lhe os sossegado, caseiro. O único barulho que se ouvia era o ranger do pavimento. não faria avançar a investigação. Em passo estugado, dirigiu-se para o tímpanos e todo ele começou a girar naquele deserto de gelo sujo. Muito irritante. Sabe, isto é antigo. As novas casas têm outro isolamento. É escritório. Deambulou por aquelas ruas encobertas, a gorgolejar a música outra loiça. — Há quanto tempo trabalha? A TRANSFORMAÇÃO daquele fim de manhã. De súbito, fora algemado e, no meio da multidão que — Aqui? Há oito meses. No início estava convencida que havia outros Iluminado pela forte luz branca do seu rapidamente o tinha cercado, ria javardamente a sopeira, enquanto ao pé inquilinos... Tanto trabalho, para uma só pessoa. Francamente! — a mulher de candeeiro de secretária, desdobrou o papel recolhido. No canto superior de si, o Director esfregava as mãos, como um padre satisfeito após a seguida desata numa algaraviada — Não veja isto como desagrado da minha direito, leu uns números garatujados: 87415673. Telefonou para as prédica. parte. Mas francamente, um prédio destes: enorme, 36 apartamentos, 18 informações, pois poder-se-ia tratar de um número de telefone. Mas não, não lances de escadas. Além do mais, o professor quase nunca cá estava. Era existia nenhum atribuído. Desalentado, principiou a construir fórmulas vê-lo na televisão. Um homem importante... sem dúvida! Muito mal absurdas: os primeiros quatro números somavam vinte, dividindo o total pelo vestido, o coitado. Sem uma mulher, nada... Um homem assim não se orienta quinto, obtinha-se quatro, somando com o sexto dava dez, que com dez, a nesta vida. Claro que o meu nunca por aí andou maltrapilho. Mesmo as meias, soma dos dois últimos dígitos, perfazia vinte. Há vinte anos que trabalhava bem cosidas, e reforçadas nos calcanhares. Às camisas nunca lhes como inspector e há vinte dias que M. teria desaparecido. Coincidências... Não queria mais voltar, era agora M. torga 67 Mestrados CONCLUÍDOS DEPRESSÃO NA ADOLESCÊNCIA E O SUCESSO E INSUCESSO ESCOLAR Em 18 de Maio de 2005, Sofia Margarida Pinto da Cunha Neto Pereira concluiu o Mestrado em Aconselhamento Dinâmico. O Júri, constituído pelos Professores Doutores António Proença da Cunha (ISMT), Rui Aragão Oliveira (ISPA), Susana Ramos (ISMT), Carlos Amaral Dias (ISMT) e pelo Mestre José Mário Horta (ISMT), classificou a prova com Bom. DOENTES HEMODIALISADOS SANTOMENSES Em 6 de Junho de 2005, Maria Alice Marques da Silva Violante concluiu o Mestrado em Serviço Social. O Júri, constituído pelos Professores Doutores René Tápia Ormazabal (ISMT), Maria Carmelita Yasbek (PUC -São Paulo) e Fernanda Rodrigues (ISSSP), classificou a prova com Bom. DAS MÃOS À MÁQUINA: ESTUDO HISTORIOGRÁFICO DE UMA EMPRESA FAMILIAR Em 3 de Junho de 2005, António José da Silva Alves concluiu o Mestrado em Família e Sistemas Sociais. O Júri, constituído pelos Professores Doutores René Tápia Ormazabal (ISMT), Fernando de Almeida Cavaco (U. Lusófona) e José Henriques Dias (ISMT), classificou a prova com Muito Bom. UMA TRAJECTÓRIA: DA FAMÍLIA AOS SISTEMAS SOCIAIS Em 27 de Julho de 2005, Ana Maria Franco Marques Lito concluiu o Mestrado em Família e Sistemas Sociais. O Júri, constituído pelos Professores Doutores René Tápia Ormazabal (ISMT), Ana Maria Neto (ESEP) e Carlos Amaral Dias (ISMT), classificou a prova com Muito Bom. O CUIDAR DO DOENTE COM PERTURBAÇÕES MENTAIS: EXPERIÊNCIAS EMOCIONAIS DOS ESTUDANTES DE ENFERMAGEM Em 25 de Junho de 2005, Maria Emília Sousa Ferreira concluiu o Mestrado em Família e Sistemas Sociais. O Júri, constituído pelos Professores Doutores António Proença da Cunha (ISMT), Maria de Fátima Dias (ESEBB) e José Henrique Dias (ISMT), classificou a prova com Muito Bom. PRÁTICA CLÍNICA E PRÁTICA EPISTEMOLÓGICA NA CARDIOPNEUMOLOGIA HOSPITALAR Em 1 de Julho de 2005, João Paulo Figueiredo concluiu o Mestrado em Sociopsicologia da Saúde. O Júri, constituído pelos Professores Doutores Maria João Costa Pereira (ISCE), Susana Vicente Ramos (ISMT), Carlos Alberto Afonso (ISMT) e Jorge dos Santos (ESTSC), classificou a prova com Bom. UNIÃO DE FACTO: EXPECTATIVAS DIFERENCIADAS SEGUNDO O GÉNERO Em 30 de Junho de 2005, Susana Baptista de Oliveira concluiu o Mestrado em Família e Sistemas Sociais. O Júri, constituído pelos Professores Doutores Antónia Silva (U. Paraíba) e Maria João Costa Pereira (ISMT), René Tápia Ormazabal (ISMT) classificou a prova com Muito Bom. BURNOUT, VULNERABILIDADE DO STRESSE E HOSTILIDADE NAS ALTERAÇÕES CARDIOVASCULARES – ESTUDO EM BANCÁRIOS Em 21 de Junho de 2005, Joaquim Alberto Ferreira concluiu o Mestrado em Sociopsicologia da Saúde. O Júri, constituído pelos Professores Doutores René Tápia Ormazabal (ISMT), Adriano Vaz Serra (UC) e Pedro Zany Cadeira (U. Lusíada), classificou a prova com Muito Bom. OS CUIDADOS INFORMAIS DE DOENTES COM ACIDENTE VASCULAR CEREBRAL Em 27 de Julho de 2005, Sónia Catarina Lopes Marques concluiu o Mestrado em Sociopsicologia da Saúde. O Júri, constituído pelos Professores Doutores Águeda Marques (ESEAF), Susana Vicente Ramos (ISMT), René Tápia Ormazabal (ISMT), Carlos Amaral Dias (ISMT) e Sandra Oliveira (ISMT), classificou a prova com Muito Bom. EXPRESSÃO DA DOR ONCOLÓGICA Em 27 de Julho de 2005, Carolina Miguel Graça Henriques concluiu o Mestrado em Sociopsicologia da Saúde. O Júri, constituído pelos Professores Doutores Dulce Galvão (ESEBB), Susana Vicente Ramos (ISMT), René Tápia Ormazabal (ISMT), Carlos Amaral Dias (ISMT) e Sandra Oliveira (ISMT), classificou a prova com Muito Bom. SATISFAÇÃO E DESEMPENHO DO DOCENTE EM ENFERMAGEM Em 15 de Junho de 2005, Maria Justina Calixto de Almeida concluiu o Mestrado em Sociopsicologia da Saúde. O Júri, constituído pelos Professores Doutores António Proença da Cunha (ISMT), Susana Vicente Ramos (ISMT), Eurico de Figueiredo (ISMT), Carlos Amaral Dias (ISMT) e Mestre Margarida Pocinho (ISMT), classificou a prova com Bom. O SENTIMENTO DE CULPA E AS SUAS IMPLICAÇÕES NO PROCESSO PSICOTERAPÊUTICO Em 13 de Julho de 2005, Liliana Filipa Gonçalves Moreira Pinto concluiu o Mestrado em Aconselhamento Dinâmico. O Júri, constituído pelos Professores Doutores René Tápia Ormazabal (ISMT), Rui Aragão Oliveira (ISPA) e Carlos Farate (ISMT), classificou a prova com Muito Bom. Ana Cristina Abreu 68 torga CANDIDATURAS ABERTAS 69 Mestrados EM PREPARAÇÃO continuidades, interrupções, revisões e previsões). Coping em Famílias com Crianças Autistas”. Mestrado em Toxicodependência e Patologias Psicossociais, de Sandra La Salete Campos Abrantes, intitulado “(Tóxico) Dependência: à descoberta do impacto da heroínodependência no stress parental”. Mestrado em Toxicodependência e Patologias Psicossociais, de Paula Monteiro Nunes, versando sobre o tema da prevenção da gravidez na adolescência no distrito da Guarda. Mestrado em Família e Sistemas Sociais, de Ana Cristina da Silva Costa, versando sobre o tema da relação entre a hiperactividade e a (im)possibiblidade de brincar. Mestrado em Toxicodependência e Patologias Psicossociais, de Tânia Ribeiro, versando sobre o tema da rede social dos agentes da PSP. Mestrado em Família e Sistemas Sociais, de Ana Luísa E. C. Nogueira dos Santos, versando sobre o tema da prestação de cuidados a crianças: diferenciação segundo o género do progenitor. Mestrado em Toxicodependência e Patologias Psicossociais, de Maria Telma da Cruz Duarte, versando sobre o tema do stress ocupacional e estilo de vida dos enfermeiros. Mestrado em Toxicodependência e Patologias Psicossociais, de Rui Filipe Lopes Gonçalves, versando sobre o tema do investimento corporal em doentes com paramiloidose. Mestrado em Toxicodependência e Patologias Psicossociais, de Carlos Lopes Cardoso, versando sobre o tema da imagem corporal e depressão na infância e o contributo para a validação de uma escala de avaliação da imagem. Mestrado em Toxicodependência e Patologias Psicossociais, de António Manuel dos Santos Pereira, versando sobre o tema da qualidade de vida do doente deprimido. Mestrado em Toxicodependência e Patologias Psicossociais, de Cristóvão Margarido, versando sobre o tema da reinserção sócio-profissional de toxicodependentes e auto-conceito. Mestrado em Toxicodependência e Patologias Psicossociais, de Ana Cristina Almeida Santos, versando sobre o tema do arquivo morte social e idosos institucionalizados. Mestrado em Toxicodependência e Patologias Psicossociais, de Lúcia Nunes Dias, versando sobre o tema da política das drogas em Portugal 1970/ 2004 (perspectiva histórica global, suas 70 torga Mestrado em Aconselhamento Dinâmico, de Paula Sofia Coelho Paiva, intitulado “Dificuldades de Aprendizagem e o Período de Latência”. Mestrado em Aconselhamento Dinâmico, de Anabela Ponces Ferret de Almeida Correia, intitulado “Avaliação do Serviço do Centro de Atendimento a Jovens de Coimbra – CAJ”. Mestrado em Aconselhamento Dinâmico, de Ana Sofia Noronha, versando sobre o tema da baixa satisfação profissional ao burnout em trabalhadores autárquicos. Mestrado em Família e Sistemas Sociais, de Maria do Céu Ferreira dos Santos, versando sobre o tema da educação de adultos / ensino recorrente (um subsistema do nosso sistema educativo). Mestrado em Família e Sistemas Sociais, de Generosa Augusta Morais, versando sobre o tema da violênica e institucionalização (trajectos e resocialização). Mestrado em Família e Sistemas Sociais, de Teresa Pechincha, versando sobre o tema dos emigrantes de Leste e a percepção do apoio social em Portugal. Mestrado em Acompanhamento Dinâmico, de Cláudia Maria de Jesus Margaça, versando sobre o tema do impacto das situações de doença grave, crónica e incapacitante nos profissionais de saúde. Mestrado em Família e Sistemas Sociais, de Ana Cristina da Silva Costa, versando sobre o tema da relação entre a hiperactividade e a (im)possibiblidade de brincar. Mestrado em Acompanhamento Dinâmico, de Natália Alves Pestana, versando sobre o tema da ansiedade face à morte. Mestrado em Família e Sistemas Sociais, de Lília Matias, versando sobre o tema da violência entre pares de adolescentesBulling. Mestrado em Acompanhamento Dinâmico, de Elisabete de Jesus Ramos, versando sobre o tema da simbolização e espaço potencial na prova projectiva de Zulliger. Mestrado em Família e Sistemas Sociais, de Anabela Silveira, versando sobre o tema das patologias sazonais. Mestrado em Família e Sistemas Sociais, de Cristina Maria Rodrigues Silva Ventura, intitulado “Estratégias de Mestrado em Família e Sistemas Sociais, de Carla Borges, versando sobre o tema da análise comparativa entre a primeira e segunda gravidez na adolescência. Mestrados Mestrado em Família e Sistemas Sociais, de Paulo Maranhão, versando sobre o tema da actividade turística na praia de Mira e perspectivas de desenvolvimento. Mestrado em Família e Sistemas Sociais, de Marta Ferreira, versando sobre o tema das famílias migrantes (os pais que vão e os filhos que ficam e as implicações ao nível da organização e estrutura familiar). Mestrado em Família e Sistemas Sociais, de Susana de Oliveira, versando sobre o tema da união de facto e expectativas diferenciadas segundo o género. Mestrado em Família e Sistemas Sociais, de Paulo Peralta, versando sobre o tema da rede escolar (uma construção dinâmica). Mestrado em Família e Sistemas Sociais, de Ana Catarina Fernandes, versando sobre o tema da qualidade conjugal no casal homossexual. Mestrado em Família e Sistemas Sociais, de Ana Cristina Góis, versando sobre o tema das representações sociais de pobreza. Mestrado em Família e Sistemas Sociais, de Susana Aleixo, versando sobre o tema da reabilitação e amputação (impor-tância da intervenção do serviço social hospitalar). Mestrado em Família e Sistemas Sociais, de Cláudia Pereira da Silva, versando sobre o tema da adopção e a construção da identidade parental nas famílias adoptivas. Mestrado em Família e Sistemas Sociais, de Miguel Pratas, versando sobre o tema da institucionalização de crianças e jovens e representações das famílias. Mestrado em Família e Sistemas Sociais, de Berta Pereira Jacinto, versando sobre o tema das representações sociais dos alunos surdos do ensino básico de Leiria Mestrado em Família e Sistemas Sociais, de Brito Largo, versando sobre o tema do impacto das construções pessoais na intervenção clínica dos profissionais que lidam com doenças neurológicas. Mestrado em Sociopsicologia da Saúde, de Helena Maria Abrantes Mendes Belo, intitulado “Competências maternas auto-percebidas no cuidar do recém-nascido de termo”. Mestrado em Sociopsicologia da Saúde, de Sara Cunha, versando sobre o tema da resiliência familiar e as vivências dos familiares de doentes oncológicos em fase terminal de vida. Mestrado em Sociopsicologia da Saúde, de Maria Manuela António, intitulado “Vivência da mãe toxicodependente no período de privação do bebé durante o internamento na Unidade de Cuidados Intensivos”. Mestrado em Sociopsicologia da Saúde, de Ana Paula Favas, versando sobre o tema da contracepção e adolescência. Mestrado em Sociopsicologia da Saúde, de Fernanda Maria Lucas dos Santos, versando sobre o tema da “check-list” no processo de cuidados em bloco operatório de neurocirurgia. Mestrado em Sociopsicologia da Saúde, de Margarida Santos, versando sobre o tema da enfermagem de família (análise sistémica construtivista de necessidades de famílias com insuficiência cardíaca). Mestrado em Sociopsicologia da Saúde, de Helena Maria Martins Norinha Gomes Sobral, versando sobre o tema do sofrimento do doente oncológico. Mestrado em Sociopsicologia da Saúde, de Cecília Pinto, versando sobre o tema da violência de género e psicopatologia em jovens adultos. Mestrado em Sociopsicologia da Saúde, de Susana Romão, versando sobre o tema das representações sociais da toxicodependência. Mestrado em Família e Sistemas Sociais, de Paula Sofia Carvalho, versando sobre o tema do apoio social e o stress dos enfermeiros. Mestrado em Sociopsicologia da Saúde, de Ricardo Jorge de Oliveira Ferreira, versando sobre o tema das vivências da amputação do membro inferior por etiologia vascular em homens na idade adulta: abordagem fenomenológica da corporeidade. Mestrado em Família e Sistemas Sociais, de Maria de Fátima Fonseca, versando sobre o tema do Rendimento Social de Inserção. Mestrado em Sociopsicologia da Saúde, de Ana Isabel Casca Jesus Carlos Ferreira, versando sobre o tema da paramiloidose. Mestrado em Sociopsicologia da Saúde, de Hélder Simões, versando sobre o tema da cultura e clima organizacional em escolas pro-fissionais. Mestrado em Sociopsicologia da Saúde, de Marta Albuquerque, versando sobre o tema da vulnerabilidade ao stress dos cuidadores da pessoa portadora de deficiência mental. Mestrado em Sociopsicologia da Saúde, de Rita Pelote, versando sobre o tema das representações sociais dos politraumatizados condutores de ciclomotores, vítimas de acidentes de viação. torga 71 Mestrados Mestrado em Sociopsicologia da Saúde, de Teresa Tinoco Duro, versando sobre o tema da qualidade de vida na hemodiálise versus diálise peritoneal. Mestrado em Sociopsicologia da Saúde, de Cláudia Oliveira, versando sobre o tema do nível de ansiedade da mulher grávida em relação ao parto no pré-parto imediato. Mestrado em Sociopsicologia da Saúde, de Maria Otília Queirós, versando sobre o tema da implantação de endopróteses metálicas por via cutânea (estudo rectrospectivo do tratamento de oclusões das vias bibliares). Mestrado em Sociopsicologia da Saúde, de Paula Cristina Parente, versando sobre o tema do burnout em enfermagem. Mestrado em Sociopsicologia da Saúde, de Cláudia Alves Cardoso, versando sobre o tema do síndrome de burnout em enfermeiros. Mestrado em Sociopsicologia da Saúde, de Tânia Leite, versando sobre o tema do acompanhamento da família ao hemodializado. Mestrado em Sociopsicologia da Saúde, de Pedro Miguel Dias Sequeira, intitulado “Educação Para a Saúde da Família do Doente com AVC”. Mestrado em Sociopsicologia da Saúde, de Isabel Fernandes, versando sobre o tema dos factores influenciadores da percepção do comportamento de cuidar na enfermagem. Mestrado em Serviço Social, de Paula Manuela Almeida Marques Henriques, versando sobre o tema do Serviço Social nos municípios do distrito de Viseu. Ana Cristina Abreu 72 torga MESTRADO EM TOXICODEPENDÊNCIA E PATOLOGIAS PSICOSSOCIAIS NOME: Eugénia Maria Fonseca Ribeiro IDADE: 28 anos FORMAÇÃO ACADÉMICA: Licenciatura em Serviço Social pelo ISMT (2002) PROFISSÃO / FUNÇÕES: Assistente Social a exercer funções de Técnica Superior de Serviço Social no Centro Social Bonitos de Amorim, em Póvoa de Varzim Torga – Qual a razão que a levou a escolher este Mestrado? Eugénia Ribeiro (E.R.) – Escolhi este mestrado porque ao longo de toda a minha formação tentei diversificar os meus conhecimentos, e também por existir lacunas nesta área. Torga – A que se deve a escolha da temática “Ocupação / Espaço / Tempo, do Idoso em Contexto Rural e Urbano” para a Tese? E.R. – A escolha desta temática baseiase, essencialmente, na minha experiência profissional, visto que parte do meu dia-a-dia é passado com idosos e com todos os problemas que com eles se relacionam. Tentei encontrar uma área que me elucidasse sobre as diferentes dúvidas que me surgem. A principal questão da minha tese tenta responder ao seguinte: como é que o idoso não institucionalizado, de duas realidades distintas (rural e urbana), no concelho de Coimbra, ocupa o seu tempo. Torga – Qual o impacto do Mestrado na sua carreira profissional? E.R. – A curto prazo não espero grandes mudanças a nível profissional, no entanto, creio que este esforço será recompensado de qualquer modo. Não tomo este trabalho em vão porque o meu principal intuito ao frequentar o Mestrado foi sentir vontade de construir um documento que me ajude a crescer enquanto técnica e enquanto ser humano que se preocupa com a qualidade de vida dos idosos. Ana Cristina Abreu Andrea Marques (Fotos) CANDIDATURAS ABERTAS 73 Viagem O Estoril é uma sui generis cidade banhada pelo Atlântico. Com clima mediterrânico de doces temperaturas todo o ano, constitui um lugar aprazível de grande procura turística. Quem tem preferências culturais pode deliciar-se a visitar vários espaços arquitectónicos de muito valor. Entre os monumentos de maior interesse contam-se o Palácio dos Marqueses de Pombal do século XVII, situado no centro histórico. O Museu Municipal (Palácio dos Condes Castro Guimarães) vale a pena ser visitado não apenas pela sua arquitectura, mas também pela sua riqueza artística e arqueológica. Ao longo das salas, pode-se desfrutar de obras de artistas nacionais e internacionais, louça indo-portuguesa e peças pré-históricas. A biblioteca contém mais de 2.500 livros, muitos deles do século XVII. A não perder, no exterior, os jardins do Palácio decorados com bonitos azulejos e onde também se poderá ver um pequeno Zoo. No Museu do Mar, o visitante é levado a conhecer diversas áreas ESTORIL COAST desde a etnologia de Cascais, a arqueologia subaquática, histórias de naufrágios e uma biblioteca especializada em assuntos do mar. O oceano e a praia são um convite forte ao lazer. A bicicleta é o veículo ideal para passeios refrescantes ao longo dos 5 km que dista de Cascais até ao Guincho. A praia do Guincho oferece uma beleza natural, ladeada pelas suas grandes dunas de areia que o vento teima em despentear. Com a Serra de Sintra ao fundo, sente-se para almoçar num dos vários restaurantes à beira-mar, desfrutando um saboroso prato de peixe ou de marisco. A oferta hoteleira é rica e para todos os gostos. Um dos hotéis de eleição será o FarolDesignHotel pela sua peculiar organização dos espaços, tendo sido cada quarto decorado por estilistas portugueses, destacando-se Ana Salazar, José António Tenente e Fátima Lopes. Ali, pode respirar-se um ambiente sedutor e relaxante e assistir ao incrível pôr-do-sol, na companhia de uma onda azul. Ana Cristina Abreu 74 CANDIDATURAS ABERTAS 75 AE MENSAGEM DE BOAS VINDAS DO PRESIDENTE DA DIRECÇÃO DA AEISMT Caros colegas, professores e funcionários, Quero saudar-vos a todos, neste regresso para mais um ano lectivo, que espero, cheio de conquistas e sucessos. De uma forma especial, quero felicitar os caloiros que iniciam esta nova etapa com a entrada no Ensino Superior e neste Instituto. Cabe-me a mim, em nome da equipa que forma a Associação de Estudantes, abrirvos a porta da Associação e dizer que nós queremos auxiliar-vos nos problemas que vos poderão surgir ou na realização dos vossos projectos. Queremos que a Associação seja o vosso espaço. Queremos que participem, que decidam, que nos ajudem a melhorar as nossas actuações. Queremos ouvir a vossa voz, porque depositamos em vós toda a confiança. Este é o nosso compromisso para convosco. Como “slogan”, para início deste ano lectivo a AEISMT escolheu a frase “Uma Associação em Movimento” e pretendemo-lo ser de facto. Queremos ser dinâmicos, criativos, originais e acima de tudo mostrar trabalho. Devem saber que uma associação não é só constituída pelos elementos que foram eleitos, estes são uma pequena parte que só se torna completa convosco. Espero que este ano vos corra como desejam e que no fim do ano lectivo possam olhar para trás e alegrarem-se com o vosso trabalho. Para os momentos menos bons, deixo-vos uma frase de Miguel Torga: “ Que nem o céu nem a terra te domem, nem nenhuma dor te impeça de viver”. Saudações Académicas. Bruno Cordeiro 76 torga AE RECEPÇÃO AO CALOIRO 2005 Foi num grande espírito de festa e alegria que decorreu a Recepção Ao Caloiro 2005, entre os dias 26 de Setembro e 4 de Outubro, organizada pela AEISMT, pelo ISMT e pelo Conselho de Veteranos do ISMT. Tentámos ser muito originais e criativos e, pelo feedback que obtivemos, o resultado foi muito positivo. Procurou-se, igualmente, que esta recepção não ficasse unicamente marcada pela diversão, mas também por um contacto directo dos caloiros com os elementos que constituem os corpos directivos da AEISMT e do ISMT, tendo havido neste sentido uma apresentação formal aos caloiros. De todas as iniciativas, gostávamos de destacar as seguintes: o acolhimento, onde foram realizados muitos jogos e brincadeiras; o já famoso Peddy Tascas, onde os caloiros e doutores puderam percorrer as tascas de Coimbra, em busca do “tão precioso elixir”, à medida que tinham uma série de pistas e jogos por desvendar; o porco no espeto oferecido pela AEISMT, que consistiu num momento de convívio entre discentes, docentes e funcionários; a Missa do Caloiro; a eleição da Miss e do Mister Caloiro, que se tornou bastante disputada e renhida, cujos vencedores foram a Patrícia, de Psicologia, e o Aurélio, de Multimédia. O momento alto do evento foi o Mega Jantar na Liga dos Combatentes, onde estiveram presentes 300 alunos, trajados a rigor, tendo a festa terminado já de madrugada. Para o ano há mais. torga 77 AE SUBSÍDIO ORDINÁRIO DO IPJ • Realizar projectos de cariz social; • Apelar à cooperação, solidariedade Voluntariado, informações concretas sobre as mesmas. A Direcção da AEISMT candidatou-se e responsabilização de todos os actores sociais; Para que todos estes projectos possam ser concretizados, o GIVS ao Subsídio Anual Ordinário 2005 designado pelo Ministério da Ciência, • Tecnologia e Ensino Superior e foi-lhe atribuída a quantia de 16.500 euros. Combater a exclusão social e a pobreza; necessita da colaboração de todos os alunos, professores e funcionários • Desenvolver metodologias de pesquisa-acção; deste Instituto. Apelamos em especial aos novos • Racionalizar os recursos existentes; • Promover a participação e criar alunos que se dirijam à Associação de Estudantes e se informem sobre os Este subsídio foi bem acolhido pela Associação, uma vez que já não era recebido desde o ano lectivo 2002/2003. Para além de permitir que a Associação de Estudantes possa respirar um pouco financeiramente, vai possibilitar investir em projectos, actividades e equipamentos que possam apoiar os alunos do ISMT e dignificar a Instituição da qual orgulhosamente fazemos parte. Creio que devemos, todos sem excepção, ficar muito contentes com esta notícia, pois a candidatura que fizemos, com muito empenho e trabalho, foi assim reconhecida. parcerias com instituições de Solidariedade Social; • Representar a AEISMT e o ISMT, Gisa Barata e colaborar com os mesmos em projectos e campanhas. Os Estatutos deste Grupo foram lidos, discutidos e aprovados na Reunião Geral de Alunos no dia, 26 de Setembro de 2005. O GIVS já calendarizou o plano de actividades que desenvolverá ao longo do corrente ano lectivo. Este será: 1) Parceria com as Instituições de Solidariedade de Coimbra que desenvolvem acções com os Semabrigo, que culminará em campanhas Formação do GIVS para colmatar as necessidades sentidas por essas instituições; O antigo Núcleo de Projectos e 2) Seminário abordando a temática das Doenças e Infecções Sexualmente Voluntariado Social formou uma organização interna à Associação de Transmissíveis, com os objectivos de prevenção, alerta e sensibilização do Estudantes do Instituto Superior Miguel Torga, denominada de Grupo de cidadão estudante; 3) Animação infanto-juvenil em Intervenção e Voluntariado Social (GIVS), de modo a dar continuidade ao instituições de solidariedade; 4) Publicação “Limiar da indiferença” trabalho realizado até então, do qual são exemplos: a Marcha em prol das que se prende com a realidade multifacetada da exclusão e vítimas dos maremotos da Ásia, através da qual se angariou 1001 €, em três preconceito social; 5) Contactos directos/ entrevistas horas de caminhada e recolha pela cidade de Coimbra, e o Seminário entre os membros do GIVS e os representantes das várias associações “Para lá da inocência” que abordou a temática dos maus-tratos infantis, e instituições de Coimbra, com a finalidade de se conhecer a sua prática especificamente tipologias, formas de intervenção e visões multidisciplinares. e as suas necessidades, tentar colmatar, se possível, algumas dessas São objectivos do GIVS: • Promover e incentivar a cidadania; necessidades e fornecer aos alunos do ISMT, para efeitos de Estágio ou 78 torga nossos projectos. Contamos convosco! CONSELHO VETERANOS É com enorme alegria que a AEISMT tem seguido e apoiado o trabalho do CV do ISMT. O CV já criou o Código da Praxe do ISMT, o qual já se encontra disponível na home page do Conselho de Veteranos (www.durapraxismt.com.sapo.pt). Brevemente, estará disponível em livro, para que possa ser uma mais valia na vivência e no respeito pela vida académica de Coimbra e em especial do ISMT. AE CARTÃO DA AEISMT A AEISMT criou, a pensar em ti, um cartão que te permitirá usufruir de descontos em várias instituições. Este cartão tem um valor único de 2 € e pode ser adquirido nas nossas instalações, sendo a sua validade comprovada pelo Cartão de Estudante. Para consultares os descontos a que tens direito, deves visitar a nossa página on-line (www.aeismt.com). Neste momento, já elaborámos diversos protocolos, partindo do princípio que te serão muito úteis, no entanto, estamos abertos às tuas sugestões para fazermos muitos mais. AQUISIÇÃO DE MATERIAL INFORMÁTICO REUNIÃO GERAL DE ALUNOS A AEISMT investiu 3000 € em material informático para fazer face às Decorreu, no dia 26 de Outubro de 2005, uma Reunião Geral de Alunos Esta reunião revelou-se ainda um importante espaço de discussão e necessidades e aos pedidos dos alunos para a concretização dos seus projectos. que teve como ordem de trabalhos: 1. Informações; debate, ficando no final um grande grupo de sugestões e críticas Este material consiste numa impressora A3, três computadores novos 2. Esclarecimentos de dúvidas da última RGA; construtivas as quais vão ser apresentadas aos órgãos do ISMT para e reparação e formatação de dois computadores. 3. Estatutos do GIVS; 4. Estatutos da Tuna; serem atendidas. Queremos ainda dizer a todos os O investimento permite disponibilizar equipamentos mais rápidos e mais 5. Apresentação do Conselho de Veteranos; alunos que não precisam de esperar por uma RGA, para sugerir, discutir actualizados. Neste momento, a AEISMT dispõe de 6. Aprovação do Código de Praxe do ISMT ; assuntos, dar ideias e fazer críticas, pois a AEISMT está todos os dias sete computadores e uma impressora, para que os alunos possam realizar os 7. Outros assuntos. É de referir que tanto os Estatutos da aberta e todos os dias estamos disponíveis para aquilo que nos seus trabalhos e fazer as suas pesquisas na Internet, nas instalações da Tuna Real Torga, como do Grupo de Intervenção e Voluntariado Social, Associação. foram aprovados por unanimidade. queiram dizer. torga 79 AE AEISMT ON-LINE A Associação de Estudantes do Instituto Superior Miguel Torga cumpriu uma promessa que tinha para com os alunos do ISMT ao lançar a sua página on-line, que pretende ser um importante elo de ligação entre todos os estudantes do ISMT e a AEISMT. Aqui poderão saber quem somos, o que queremos fazer, o que fizemos, ter sempre as notícias actualizadas das nossas actividades e uma galeria das melhores fotos. Criámos, igualmente, um blog para que nos possam fazer as vossas sugestões. É ainda de referir que tudo isto foi feito gratuitamente por um aluno do 1º ano de Multimédia do ISMT, o João Proença Simões. Aqui ficam os nossos contactos para que possam chegar até nós quando e onde quiserem. Associação de Estudantes do Instituto Superior sendo o montante distribuído, consoante o caso de cada um, após análise por parte dos corpos sociais da AEISMT. Para os alunos usufruírem desta Este guia pretende ser um veículo informativo e de consulta, junto dos alunos do ISMT e de uma forma especial junto dos caloiros, sendo para eles, também uma ajuda e integração na vida verba, só terão de se deslocar às nossas instalações para nos porem ao corrente académica e social. Este Guia foi dividido em quatro da sua situação. A AEISMT vai ainda colaborar com a partes distintas: Coimbra (Universidade, Alta da Cidade, Baixa da Cidade, uma Direcção do ISMT, para em conjunto, dar respostas às necessidades apresen- nova urbe, história); AEISMT (história, projectos, órgãos, núcleos, Praxe, tadas. Para além da ajuda financeira, Tuna); ISMT (história, Miguel Torga, licenciaturas, publicações, centros e também pretendemos apoiar os discentes a nível logístico/material, serviços, órgãos de gestão); Informações úteis (calendário escolar, horário, fazendo uso dos protocolos da AE. A AE garante e assegura o anonimato dicas, contactos úteis). Para poderes adquirir este guia, tens de todos aqueles que o desejarem. A Direcção da AEISMT disponibilizou, de te dirigir à tua Associação de Estudantes, mas não te atrases muito para o ano 2005/2006, a quantia de 1000 € para auxiliar os alunos mais porque a edição é limitada a 300 exemplares. Largo da Cruz de Celas, N.º 1 3000-132 Coimbra Telefone: 239 483116 Fax: 239 488031 Home page: www.aeismt.com Blog: http://aeismt.blogs.sapo.pt E-mail: [email protected] [email protected] APOIO AOS ALUNOS carenciados do ISMT. Temos consciência que este montante é baixo, contudo é uma ajuda que a Associação quer dar aos que tenham GUIA DO CALOIRO AEISMT´05 maiores dificuldades económicas. O dinheiro será distribuído pelos A AEISMT retomou a criação o Guia do Caloiro, dado que já não se fazia desde alunos que provem a sua necessidade, o ano lectivo 2000/2001. 80 torga AE I BAILE DE GALA DA AEISMT Realizou-se, no dia 15 de Junho de 2005, no camarote presidencial do Estádio Cidade de Coimbra o Primeiro Baile de Gala do Instituto Superior Miguel Torga. Este Baile já vinha há muito tempo a ser pedido pelo Director e pelos alunos do ISMT. Neste sentido, a AEISMT criou um núcleo de apoio à organização do Baile de Gala, ao qual se juntaram a Dra. Cristina Quintas, o Dr. João Filipe Machado e o Sr. Olímpio Carreiras que, em conjunto com outros elementos da AE, tornou este sonho uma realidade. É de referir a excelente coordenação entre a AEISMT, o ISMT e a BReventos na organização do Baile, em tempo recorde. O evento foi preparado minuciosamente para que tudo estivesse a um nível bastante elevado, como se constatou na decoração do espaço e Para finalizar a entrega de prémios, foi distinguida a Tuna Real Torga, com o Prémio de Mérito, pelo seu percurso. Bruno Cordeiro, Carlos Amaral Dias e Henrique Fernandes O Baile prosseguiu com a Actuação da Tuna Real Torga à qual se seguiu um Grupo de Baile, e quando já era noite dentro, o NevituxDJ. Ao longo de toda a noite, houve a preocupação de saber junto dos presentes como estava a correr a festa e foi com muita satisfação que se verificou que todos estavam a gostar. O que parecia impossível tornou-se num desejo realizado. O que parecia ser um acontecimento de “só para o ano” aconteceu, de facto, no ano de 2005. Esperemos que a iniciativa se transforme numa tradição e que a tradição se transforme numa bela recordação académica do ISMT. Bruno Cordeiro no requinte do jantar que deu início à noite de gala. Depois do jantar, houve uma entrega de prémios, onde foram agraciadas as pessoas que mais se distinguiram no ano lectivo 2004/2005 no ISMT. Foi entregue igualmente o Prémio Personalidade, que pretendia distinguir uma individualidade da nossa sociedade e o Prémio Melhor Instituição, que pretendia distinguir uma instituição colaboradora do ISMT. Premiados: Funcionário do ano: Dª Cristina Fernandes Docente do ano: Dr. Vasco Almeida Aluno do ano: Bruno Cordeiro Caloiro do ano: João Pinto Melhor Núcleo da AEISMT: Núcleo de Projectos e Voluntariado Instituição do ano: BCP Personalidade do ano: Dr. Fernanda Umbelino, Bruno Cordeiro, Andreia Rigueiro e João Pinto Henrique Fernandes torga 81 Música Uma das grandes tendências musicais da primeira metade do século XX está Barba-Azul recusa porque há lugares presente no método de composição de Béla Bartók: a utilização de elementos privados, onde ninguém pode penetrar. Ela insiste e, finalmente, Barba-Azul das linguagens populares nacionais. De facto, Bartók inspirou-se em inúmeras acede ao seu pedido. canções do folclore húngaro, romeno, servo-croata, entre outros, tratando A primeira revela uma câmara de tortura, manchada de sangue. frequentemente o piano como um instrumento de percussão ao ignorá-lo como um meio de melodias cantabile e acordes harpejados. A música de Bartók A quarta, um jardim secreto de inexcedível beleza. é essencialmente tonal, embora possa ser disfarçada por períodos relativamen- A quinta, uma janela para o vasto reino de Barba-Azul. te longos por meios modais, cromáticos ou ambos. A harmonia da sua música O CASTELO DO BARBA-AZUL Béla Bartók (1881-1945) Por fim algo verdadeiramente novo. 2 No conto original, a chave mágica que 1 quase provoca a morte da mulher de Barba-Azul simboliza a traição e a perda da virgindade irreparável. A sexta, um lago de lágrimas. E depois, vem a sétima. é, secundariamente, um efeito do movimento contrapontístico, i.e. as sua Barba-Azul resiste, mas Judite inabalável vence a disputa. No interior melodias tanto se baseiam em escalas pentatónicas, de tons inteiros, modais estão as suas três anteriores esposas, que ela julgava mortas, mas afinal estão ou irregulares – músicas populares, como nas escalas regulares, diatónica somente enclausuradas. Judite fundese com elas e segue o mesmo destino. e cromática.. A ópera em um acto O Castelo do A ópera termina na mais absoluta Barba-Azul composta em 1911 é marcada pela politonalidade e escuridão. As duas primeiras e as duas últimas dissonância, fundindo as influências díspares do folclore húngaro e da portas simbolizam simetricamente os aspectos negativos do self, enquanto as música erudita ocidental, numa nova e prometedora linguagem musical. centrais são demonstrativas das facetas positivas da alma humana, embora se “Endlich etwas wirklich neues. 1” – Ferruccio Busoni encontrem também maculadas pelo sangue. O cenário é um castelo enorme, dominado por um ambiente lúgubre, O interior das portas é o de Barba- onde estão dispostas sete portas trancadas. Judite, a mulher de Barba- Azul, os recessos da sua mente, capaz de realizar o mais belo, mas também o Azul, exige a abertura de todas elas, para que a luz entre e ilumine o interior. que há de mais horrível. Barba-Azul anuncia o trilho da humanidade ao (Todavia, o que a move é a curiosidade sobre Barba-Azul. Quem é longo do século XX, a sua filogénese matricial: Eros e Thanatos. ele? O que tem dentro dele? Deste modo, coloca-se desde o início a A ópera é profética: Judite não podia descoberta do outro. Mas a que custo? Julgo também poder interpretar-se este senão seguir o seu terrível destino, uma vez aberta a caixa de Pandora, a última desejo como a revelação da sexualidade do novo casal que se porta... constrói com a intimidade a um metanível: as chaves que abrem as portas do outro2.) 82 torga A segunda, um arsenal bélico. A terceira, riquezas incontáveis. Henrique Amaral Dias Livro Ler Steiner é reter impressões fatalmente mas gloriosamente humanas. É recordar uma melodia esquecida da nossa infância ou uma É como se a Europa tivesse intuído que um dia ruiria sob o peso paradoxal aula grata no liceu ou na universidade. Há algo de profundamente musical na dos seus feitos e da riqueza e complexidade sem par da sua História. sua prosa que nos e(n)leva, de verdadeiro que nos comove e faz A IDEIA DE EUROPA George Steiner 1 Por que será que cada vez mais ouço essa expressão lamentável “isso para mim é grego”? Nunca a suportei: “A quem faltar a capacidade de colocar antolhos a si mesmo (...) de se convencer de que o destino da sua alma depende da correcção ou não da sua interpretação de determinada passagem de um manuscrito, será sempre um estranho à ciência e ao estudo.” 2 “Só somos originais, porque não sabemos nada.” Shelley: “somos todos gregos.1” Com que direito deveríamos pensar, de exemplarmente justo nas suas metáforas que nos inspira: sobreviver à nossa própria humanidade suicida? Com o fascismo da vulgaridade o conhecimento cultural e a reflexão A Europa esquece-se de si própria filosófico-cultural estão a desaparecer. O confronto entre a corrupção quando se esquece de que nasceu da ideia da razão e do espírito da filosofia. intelectual e uma ética melhor: convidar os outros para o significado. O perigo é um grande cansaço. Desenhe-se o mapa das cafetarias e A dignidade do homo sapiens é a percepção da sabedoria, a demanda do obter-se-á um dos marcadores essenciais da ideia de Europa. conhecimento desinteressado, a criação de beleza. Ninguém escreve tomos fenomenológicos num bar americano. Fazer dinheiro e inundar as nossas A Europa foi percorrida a pé e os vidas de bens materiais cada vez mais trivializados é uma paixão profun- homens percorrem a pé os seus mapas. Os componentes integrais do damente vulgar e inane. pensamento e da sensibilidade europeus são, no sentido radical da Não é a censura política que mata: é o despotismo do mercado de massas e palavra, pedestres. as recompensas comercializado. do estrelato Amiúde, a placa toponímica não regista apenas o nome ilustre ou Regressar à convicção de que a vida especializado, mas também as datas relevantes e uma descrição sumária. não reflectida não é efectivamente digna de ser vivida. A Europa como lieu de la mémoire. É impossível escrever o que quer que Ser europeu é tentar negociar, moralmente, intelectualmente e seja sobre este livro. Reproduzir o que de mais memorável em nós se inscreveu existencialmente, os ideais, afirmações, praxis rivais da cidade de Sócrates e da é já uma audácia: “Wir sind nur Original, weil wir nichts cidade de Isaías. wissen.2” – Hölderlin A ideia de Europa é um conto de duas cidades. Henrique Amaral Dias Este mamífero desgraçado e perigoso gerou três ocupações: a música, a matemática e o pensamento especulativo. torga 83 Teatro Nove seres humanos e um alienígena: um Polícia, um Talhante, um Galã, um pensar está dominado e já não sabemos amar.” Soldado, um Professor, a Mulher de um Soldado Morto, uma Rapariga, um Esta peça é agridoce. Vemos a Modelo, uma Amante e Phoebe Zeitgeist. miséria, a dor e a incapacidade de nos entregarmos sem reservas. Vemos a Entra um estranho num mundo morte que está presente sem estar e o mistério que aguardamos que um dia normal, habitado por pessoas normais, tentando, em vão, entender e emular a se nos revele, quando afinal a solução sempre esteve lá, tão simples e banal, sua linguagem. no meio de nós. A estrangeira, apesar do esforços infrutíferos, não desiste e papagueia Lembro-me do filme A Palavra de Carl Dreyer. Nele a palavra é a fé, a fé no frases desconexas como: “A tua mãe é uma cabra.” Os outros entreolham-se outro, a fé no amor do outro, o amor da fé no amor do outro. Só essa palavra e não percebem. Finalmente, torna-se vampiro e mordendo, suga o sangue a ressuscita os mortos, só essa palavra nos ressuscita. SANGUE NO PESCOÇO DO GATO cada um deles. Eles morrem(?) e Phoebe Zeitgeist permanece fora Rainer Werner Fassbinder desse mundo, sem nada captar, erigindo perante nós um discurso Teatro da Cornucópia Encenação de Luís Miguel Cintra abstracto sobre o que é a compreensão da comunicação humana. As personagens funcionam como espelho do público. São humanas? Demasiado humanas? Estarão verdadeiramente vivas ou aguardam apenas que o sangue se escoe? O que estrutura a humanidade é a palavra. É ela que define em grandes traços as nossas relações e a vida. Mas uma palavra vazia corresponderá à nossa morte? Tenho para mim que os protagonistas já tinham morrido: encontravam-se suspensos no Céu, aguardando uma morte formal, o beijo frio e vampiresco de Phoebe. Como afirma Luís Miguel Cintra: “a própria linguagem está contaminada (...) porque o nosso viver, em vez de a inventar, a torna regra, que a linguagem é a nossa maneira de pensar, e o nosso 84 torga Henrique Amaral Dias Cinema Uma história linear: um homem desterrado e sem escrúpulos chega a referências são afastadas e o que resta é apenas a etiqueta do preço, símbolo Miami, vindo de Cuba. Matando, traindo e manipulando, passa de lava- de um status que todos podem alcançar pela amoralidade sem pratos a barão da droga. Nada de especial, portanto... tergiversações. Um filme kitsch: espelhos e mais Scarface de Brian de Palma é, sem dúvida, pós-moderno, convocando espelhos, néons em rosa e azul, mármores negros, câmaras vídeo Lyotard, Guattari, Deleuze e Baudrillard, para uma sinfonia num omnipresentes e paranóicas e um crepúsculo que é tanto real num ensemble de diversas escalas ancoradas numa estética comum. billboard, como numa t-shirt ou na linha do horizonte de Miami. Este último aspecto é aliás uma das características mais interessantes de Scarface: não SCARFACE Brian de Palma Henrique Amaral Dias sabemos se a realidade está mais nos objectos que a representam ou na realidade em si. Em pano de fundo, a música pop dos anos 80, Push it to the Limit de Giorgio Moroder. Um sistema de poder, ganância, violência, capital e cocaína: cocaína é capital e capital é cocaína. Ambos apresentam-se-nos sempre plenos de poder, consumo, prazer e desejo insaciável. Tony (Al Pacino) expressa o seu desejo “for the world and everything in it”: “first you got to get Notas: a) Como é que uma senhora de 71 anos e um jovem de 29 se the money; when you get the money, you get the power; then when you get dispunham a estar acordados até às cinco da madrugada para o the power, you get the women.” visionar? Não pude resistir a este mistério e fui a correr alugá-lo ao “Nothing exceeds like excess”: a afirmação é de Elvira (Michelle Pfeiffer), a mulher de Tony, e traduz a diluição absoluta do conceito de classe social, b) o fato, o carro ou a jóia ou a quantidade de cocaína que se snifa. Todas as me senti o pó aos livros e, insidiosamente, a poeira entrar-nos nas narinas e diferenciadores. De facto, independentemente das raízes sociais poder e dinheiro. Ao fim e ao cabo, apenas importa quanto dinheiro custou clube de vídeo; Depois sempre incomodado. Há uma decadência viscosa nesta obra. É como limpar eliminado a educação e a nobilitas literaria como elementos ou da educação que tiveram, todos partilham de um desejo conspícuo de Vi pela primeira vez este filme há dez anos. Fi-lo deliberadamente. c) começarmos a espirrar; O final: Tony Montana crivado de balas no cimo das escadas e no hall da mansão uma mensagem piscando “The World is Yours.” torga 85 Página Literária Num período de pouca confiança no futuro que sentem os portugueses, porque não ir beber a inspiração, o louvor, a fama, o estímulo e o sucesso ao grande poeta Camões, o maior “cantador” dos feitos de Portugal e dos portugueses, e com ele alimentar o nosso ego para nos sentirmos mais donos do mundo e mais donos de nós mesmos. O Autor As armas e os barões assinalados Luís Vaz de Camões nasceu, provavelmente, em Lisboa em 1524 ou Que, da Ocidental praia Lusitana Por mares nunca de antes navegados 1525. Iria para Coimbra e lá estudaria as culturas e as línguas clássicas. Passaram ainda além da Taprobana, E em perigos e guerras esforçados Sendo cavaleiro-fidalgo teve de trocar a vida da Corte pelo serviço militar no Mais do que prometia a força humana, E entre gente remota edificaram Norte de África onde, lutando perdeu um olho. Anos mais tarde, iria para a Novo Reino que tanto sublimaram; Canto I, est. 1 Índia desembarcando em 1553. Continuou a viajar pela Ásia até E também as memórias gloriosas regressar a Lisboa completamente pobre. Daqueles reis que foram dilatando A fé, o Império, e as terras viciosas em 1570, Dois anos mais tarde, após consentimento do censor Fr. De África e de Ásia andaram devastando, E aqueles que por obras valerosas Bartolomeu Ferreira, publicou Os Lusíadas. Se vão da lei da Morte libertando: Cantando espalharei por toda a parte, Morreu a 10 de Junho de 1580, em Lisboa. Se a tanto me ajudar o engenho e arte. Canto I, est. 2 A Obra Inserção temporal - Século XVI Época literária - Renascimento Cessem do sábio Grego e do Troiano As navegações grandes que fizerem; (Maneirismo) Género literário - Epopeia Cale-se de Alexandre e de Trajano A fama das vitórias que tiveram; Os Cantos apresentam o elogio da Que eu canto o peito ilustre Lusitano, A quem Neptuno e Marte obedeceram. história dos portugueses, dos seus feitos, da sua coragem e do seu espírito Cesse tudo que a Musa antiga canta, Que outro valor mais alto se alevanta. empreendedor. Canto I,est. 3 Ana Cristina Abreu 86 torga Agenda COIMBRA FIGUEIRA DA FOZ LISBOA PASSEIOS DE COIMBRA NAS FRE- Centro de Artes e Espectáculos CONFERÊNCIA IASL 2006 LER, SABER, FAZER: AS MÚLTIPLAS FACES DA LITERACIA International Association of School Librarianship Gabinete da Rede de Bibliotecas Escolares 3 a 7 de Julho GUESIAS Postos municipais de turismo de Janeiro a Dezembro no 4º Domingo de cada mês EXPOSIÇÃO DA FUNDAÇÃO DE SERRALVES “O PLANO ATRAVESSADO” Até 15 de Janeiro BASÓFIAS - PASSEIOS DE BARCO NO RIO MONDEGO Aberto todo o ano H2O- FOTOBIOGRAFIA DA ÁGUA Fotografia de Paulo Magalhães Até 2 de Janeiro FUN(TASTIC)ª COIMBRA Viagem panorâmica Aberto todo o ano CAMINHOS DO ALGARVE ROMANO Exposição permanente TEATRO CASTELO BRANCO É SAUDADE Pelo Teatro Nacional S. João Teatro Municipal da Guarda 24 de Fevereiro ORQUESTRA CASINO ESTORIL COM PEDRO MALAGUETA Todas as noites Casa Museu João Soares SÉCULO XX PORTUGUÊS: OS CAMINHOS DA DEMOCRACIA JOÃO Museu Municipal de Faro ESPELHO DA IDENTIDADE CULTU- DANÇA COM LETRAS - UM ESPECTÁCULO DE A a Z Salão Preto e Prata GUARDA FARO Casino do Estoril LEIRIA SOARES/MÁRIO SOARES Exposição Permanente RAL: USOS E COSTUMES Exposição permanente Museu Regional do Algarve 6º CONGRESSO NACIONAL DE PSICOLOGIA “Saúde, Bem-Estar e Qualidade de Vida” Universidade do Algarve 2 a 4 de Fevereiro 2006 EXPOSIÇÃO “HABITANTES E HABITATS: PRÉ E PROTO-HISTÓRIA NA BACIA DO LIS Castelo de Leiria Até Março de 2006 CICLO DE CONFERÊNCIAS EM EVOLUÇÃO HUMANA “ O NEANDERTAL” Janeiro Centro Cultural de Belém EXPOSIÇÃO CÂMARA DE ECOS Adriana Varejão Galeria 1 Até 15 de Janeiro www.sp.ps.com torga 87 Agenda MADEIRA VIANA DO CASTELO CONCERTO PARA MOZART/DON GIOVANI Centro de Congressos da Madeira 27 de Janeiro EXPOSIÇÃO PERMANENTE “A LÃ E O LINHO NO TRAJE DO ALTO MINHO” Museu do Traje FEIRA DE ANTIGUIDADES E VELHARIAS Jardim D. Fernando PORTO Todos os meses, no 1º sábado EXPOSIÇÃO DE PINTURA De Rui Anahory DOMINGOS GASTRONÓMICOS (Bacalhau à Gil Eanes e Meias Luas) 12 e 13 de Fevereiro Esteta 7 Até 7 de Janeiro EXPOSIÇÃO DE PINTURA “TEMPORAL-PE” Galeria Por Amor à Arte Até 6 de Janeiro VI LETHES- FESTIVAL INTERNACIONAL DE TUNAS 16 de Abril X FESTEIXO- FESTIVAL DE TEATRO DO EIXO ATLÂNTICO 27 de Maio a 10 de Junho Fundação de Serralves EXPOSIÇÃO TABLEAUX VIVANTS Até 31 de Janeiro ESPAÇO PRÁTICA CRIATIVA Até 30 de Junho LABORATÓRIO DAS ARTES Até 1 de Julho EXPOSIÇÃO “FORA!” De Rui Chafes e Pedro Costa Até 15 de Janeiro EXPOSIÇÃO “RINGBAHN” De Filipa César Até 15 de Janeiro 88 torga Ana Cristina Abreu 89 90