Schumpeter e as raízes históricas do imperialismo

Transcrição

Schumpeter e as raízes históricas do imperialismo
Schumpeter e as raízes históricas do
imperialismo1
Ligia Maria Osorio Silvai
Milena Fernandes de Oliveiraii
Resumo
Elaborada no imediato pós Primeira Guerra Mundial, a teoria do imperialismo de
Joseph Schumpeter pretende ser uma alternativa à teoria econômica do imperialismo,
do século XIX fosse resultado de mudanças ocorridas no capitalismo, inaugurando
sua fase monopolista, Schumpeter explica o imperialismo pela presença de
elementos atávicos e práticas feudais ainda atuantes no Estado Moderno. Adepto
da teoria econômica liberal, Schumpeter levou em consideração certos aspectos do
argutas observações de Schumpeter sobre as práticas burguesas do século XIX, uma
referência obrigatória nesse campo de estudos.
Palavras chaves: imperialismo, capitalismo, absolutismo, nacionalismo, militarismo.
: B 10; F 02.
Introdução
Reconhecido pelas suas contribuições originais à análise
econômica, Joseph Schumpeter (1883-1950) é lembrado, sobretudo,
pela relação que estabeleceu entre crescimento econômico e inovação
i Departamento de Política e História Econômica do Instituto de Economia da
Unicamp. Livre Docente em História Econômica. Correios eletrônicos: losorioeco@
yahoo.com.br ou [email protected].
ii Departamento de Política e História Econômica do Instituto de Economia da
Unicamp. Professora Doutora. Correio eletrônico: [email protected].
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tecnológica. Mas é também autor de dois estudos sociológicos escritos
classes sociais num meio etnicamente homogêneo”2 –, aos quais atribuía
um lugar de destaque na sua vasta obra.3 Existe consenso entre os
sociológicos, esses artigos não devem ser compreendidos à parte da sua
teoria econômica do capitalismo (VON BECKERATH, 1997, pp.15-28;
TAYLOR, 1997, pp.525-55).
No primeiro desses ensaios, “Sociologia dos imperialismos”,
publicado em 1919, Schumpeter expôs, pela primeira vez de modo
consistente, a sua teoria do imperialismo. Dentre os aspectos que mais
chamam a atenção nesse artigo, está o seu conceito de imperialismo
que, lastreado numa visão evolutiva do processo histórico, assentase sobre a lenta e incompleta dissolução do feudalismo. Incompleta
porque alguns de seus elementos, dentre os quais se encontram os
impulsos imperialistas, sobrevivem no interior da sociedade moderna e
do capitalismo. Lenta porque, devido à sobrevivência de tais elementos,
a formação do capitalismo se dilui no tempo, até que suas forças
consigam superar os traços primitivos que subsistem em seu interior.
Outra peculiaridade notável da teoria do imperialismo é o fato de negar
qualquer nexo causal ou estrutural entre imperialismo e capitalismo enquanto
sistema econômico. Apesar de ser adepto da “interpretação econômica da
história”, que considerava a maior contribuição de Marx à teoria da história,
essa negação causal se esclarece quando se compreende que seu objetivo
principal era o de fornecer uma explicação alternativa à teoria econômica do
imperialismo formulada pelos marxistas dos começos do século XX.
Nesses autores, o imperialismo estava associado às transformações
estruturais que teriam alterado a natureza do capitalismo, que passa de
O
Capital de Marx, essa escola de pensamento não apenas levou às últimas
consequências a lei da tendência à queda da taxa de lucro, mas também
relacionou seus efeitos aos acontecimentos políticos e econômicos do
período que passou a ser designado de imperialista. Um dos expoentes
dessa escola de pensamento foi Rudolph Hilferding.4
Para Schumpeter, o próprio Marx não dera muito destaque
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à “tendência às restrições monopolísticas da produção” e às suas
conseqüências, pois “era um economista competente demais para
como Hilferding, fundamentaram sua tese em tal argumento, o que
Schumpeter considerava “uma fonte de complicações imperialistas” e,
“como subproduto, uma teoria de um fenômeno que, em si mesmo,
não é necessariamente imperialismo – o protecionismo moderno”
(SCHUMPETER, 1961c, p.66).5
Para o entendimento do capitalismo dos começos do século XX,
Hilferding ofereceu uma contribuição central à História Econômica:
formulou com clareza uma explicação coerente para as mudanças
que se operavam no funcionamento do sistema capitalista a partir da
generalização da industrialização na Europa e sua extensão aos Estados
Unidos e Japão. Deu especial destaque ao novo papel desempenhado pelo
protecionismo e suas relações com a expansão das conquistas territoriais
na busca de novos mercados consumidores. Quando o capitalismo estava
nos seus primórdios, as tarifas alfandegárias tiveram o objetivo de proteger
as indústrias nascentes da competição com a indústria estrangeira,
mas, segundo Hilferding, com a generalização da industrialização e o
acirramento da competição na época da Segunda Revolução Industrial, as
tarifas passaram a ser objeto da política dos cartéis para manter elevados
os preços internos. O aumento dos preços no interior de uma nação tendia
a diminuir a demanda de mercadorias,6 gerando efeitos negativos sobre
a escala de produção. Para Hilferding, esse fato foi compensado de duas
maneiras: pela ampliação do poder do cartel, mediante a destruição das
empresas mais débeis, e pela exportação, inclusive a preços inferiores
aos do mercado mundial (1985, p.290). Daí as políticas expansionistas
nacionais que levaram o nacionalismo e a competição entre os Estados
No âmbito da teoria marxista, Hilferding foi o primeiro a
explicar como a expansão da industrialização multiplicou as sociedades
por ações e generalizou a intervenção dos bancos na indústria. Isso
passagem do domínio do capital do investidor privado para os bancos de
investimentos dando origem ao
, um de seus conceitos
centrais (HILFERDING, 1985, p.219; ARRIGHI, 1996, pp.166-7).
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Determinado sobretudo a desmentir as conclusões de Hilferding
e de outros marxistas, segundo os quais, o imperialismo era uma
consequência inevitável das mudanças estruturais por que passava o
capitalismo, Schumpeter baseia sua teoria imperialista em uma análise
histórica que buscava as raízes do fenômeno na Antiguidade. Detémse particularmente na passagem do feudalismo para o capitalismo para
concluir que a continuidade do comportamento dos agentes históricos é a
base para o entendimento do imperialismo, e não, as mudanças ocorridas
se encontravam as forças produtivas e a civilização no capitalismo era
incompatível com um fenômeno tão primevo como o imperialismo.
Segundo o autor, este somente podia ser explicado pela sobrevivência
de disposições agressivas, engendradas no feudalismo e transferidas
para o plano estatal durante o processo de consolidação das monarquias
absolutistas. A força da tese está na sugestão da sobrevivência de
elementos oriundos do Antigo Regime na estrutura social da sociedade
capitalista, ideia retomada posteriormente por Arno Mayer. Em razão
sua teoria do imperialismo reside na sua permanente contradição com a
evidência histórica, que, por vezes, é vítima do combate ideológico que
travou com a corrente marxista.
Economia de Mercado e Imperialismo
A análise de situações concretas nas quais houve ação imperialista
ao longo de diversas épocas históricas levou Schumpeter a três
conclusões. Em primeiro lugar, o imperialismo seria uma inclinação
irracional e puramente instintiva à guerra e à conquista. A grande
maioria das guerras ocorridas na história não teria interesse concreto
Em segundo lugar, essa pulsão belicosa não derivaria apenas de uma
pulsão instintiva: explicar-se-ia também pelas necessidades sociais
geradas por uma determinada situação histórica. É preciso constatar
que as estruturas mentais e sociais formadas no passado remoto
sobrevivem muito tempo depois do desaparecimento da função que
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lhes dava sentido. Em terceiro lugar, a análise deve levar em conta os
elementos secundários que facilitam a persistência dessas inclinações e
dessas estruturas: os interesses das classes dominantes que estimulam
suscetíveis de lucrarem (social ou economicamente) com as guerras.
Esses dois tipos de interesses são, em geral, dissimulados por trás da
fraseologia política e das motivações psicológicas.
Por outro lado, o capitalismo só começou a modelar a sociedade
a partir da segunda metade do século XVIII. Foi preciso a Revolução
Industrial para ver a massa de trabalhadores e de empresários se
destacar do modo de vida tradicional encarnado no campesinato, nas
corporações e na aristocracia. Uma série de transformações econômicas
criou as condições para que a produção de mercadorias se tornasse a
função central de uma nova indústria (a indústria fabril), que produzia
para um mercado de consumidores anônimos guiada pelo princípio do
máximo lucro.
A nova forma de produção – economia de mercado de iniciativa
privada - produziu um novo espectro de classes e categorias sociais.
Além do trabalhador de indústria, submetido à concorrência e obrigado
vivia de capital aplicado, a do intelectual burocrata, além do empresário
inovador. Houve uma ruptura com a ordem antiga, ao mesmo tempo
racionalismo e no espírito democrático.
O racionalismo colocou em cheque verdades estabelecidas, seja a
respeito da estrutura social, do Estado ou do poderio da classe dirigente.
Como consequência dessa evolução, os elementos instintivos da cultura
harmonia com a nova organização social. Assim como as formas da
antiga organização econômica só poderiam se perpetuar na medida
em que fossem readaptadas e reinterpretadas, as pulsões instintivas só
poderiam sobreviver às condições que as engendraram se elas pudessem
adquirir, em consonância com a mudança do contexto, funções novas.
Segundo Schumpeter, no mundo dominado pelos valores
capitalistas, aquilo que antigamente era energia combatente transformouse em dedicação ao trabalho. Nesse contexto, as guerras de conquista
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e de rapina, ou qualquer política externa ligeiramente aventureira só
podiam ser entendidas como grave perturbação da vida quotidiana.
Parecia-lhe evidente que as sociedades do seu tempo não queriam fazer
a guerra, fato atestado pela existência de um número cada vez maior
nas suas declarações públicas, diziam-se sempre contrários à guerra
impossível assumir publicamente a defesa das guerras de conquista.
defensiva. O imperialismo, que no passado podia aparecer sem disfarce,
que tornava cada vez mais difícil a adoção de uma política imperialista.
Por outro lado, a classe operária, classe que apresentava um
como a Liga das Nações, a Corte de Haia etc.
Finalmente, no país mais capitalista do mundo, os Estados Unidos,
onde não existiam sobrevivências feudais, a política imperialista não
vicejava. Assim, em princípio, uma sociedade capitalista não oferecia
um terreno favorável ao desenvolvimento de tendências imperialistas.
Mas, argumenta o autor, não se deve inferir disso que nenhum interesse
na expansão imperialista exista na sociedade capitalista.
Schumpeter acreditava que as únicas classes com algum interesse
na política imperialista eram os proprietários de terras e os empresários
das indústrias de armamentos, grupos poderosos, porém restritos. As
outras classes da sociedade capitalista eram grandemente prejudicadas
pelas guerras que causavam danos à economia e aos bens dos cidadãos
comuns. Essas conclusões decorriam de uma questão de princípio: onde
quer que dominasse o livre-comércio, nenhuma classe social teria interesse
na expansão militar. Nas circunstâncias do livre-comércio, colônias não
eram necessárias para fornecer matérias primas a bom preço para as
metrópoles porque todos os produtos estariam disponíveis no comércio
as taxas de lucro fossem mais elevadas, em um movimento totalmente
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Schumpeter argumenta que o desenvolvimento do expediente
protecionista (seja para restringir mercados, seja para manter preços) não
era necessário. Se os empresários apoiavam o protecionismo era porque
cada um esperava obter vantagens individuais nesse tipo de política
e porque a superstição popular rezava que os produtos estrangeiros
chegariam ao mercado interno a preços reduzidos em razão da mão de
obra ser mais barata nos outros países.
ao protecionismo, pareciam-lhe falsas. De fato, a política protecionista
os interesses em cena. Hobson e Hilferding não estavam errados em
chamar a atenção para as vantagens auferidas pelos industriais com os
preços de monopólio (SCHUMPETER, 1961, p.103). A aliança entre as
– a prática do dumping, de preços de monopólio, formulação e adoção de
políticas protecionistas, a ameaça de guerra, etc. No entanto, tal política
servia somente na aparência à economia capitalista, e os únicos a obterem
reais vantagens com a política protecionista eram os proprietários de
terras e os comerciantes de armas. Estes grupos tinham interesse numa
política agressiva em relação a países estrangeiros e na realização de
guerras, inclusive guerras de conquista de tipo imperialista, bem como,
na conquista de colônias para obterem matérias primas e alimentos.
Também usavam o imperialismo como estratégia diversionista para
diminuir as tensões internas. O fato de haverem aqueles que tentavam
que aquela fosse fruto de uma determinada etapa do capitalismo, como
preconizavam “certas interpretações econômicas” da história.
Operários e empresários, ao contrário, nada tinham a ganhar com
as políticas dos monopólios. Essas classes capitalistas, procuravam
frear a atitude agressiva e belicosa do Estado dominado pelos interesses
monopolistas7. Às vezes, os políticos da era capitalista tratavam o
assunto de modo demagógico, mas, para Schumpeter, mesmo isso
era prova de que os elementos e as forças que se opunham à política
dos monopólios não exprimiam uma forma de anticapitalismo ou os
sobressaltos de uma ordem econômica moribunda, pronta para ceder
seu lugar a uma nova forma da evolução capitalista. Ao contrário,
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correspondia à racionalidade essencialmente capitalista. Se essas forças
representassem, frente aos cartéis, o mesmo que as indústrias artesanais
representaram face à indústria fabril, então teríamos uma realidade
diferente. Mas não era o que ocorria e a política dos monopólios não
derivava de uma lei imanente da evolução capitalista.
irredutível entre capitalismo e imperialismo porque a dinâmica do
sistema capitalista baseava-se na livre concorrência e nos princípios
da racionalidade sobre a irracionalidade; seria um contrassenso que
preconizasse a guerra8. O imperialismo não era, portanto, uma etapa
do capitalismo, mas um fenômeno encontrado em todos os momentos
históricos, independentemente da organização econômica vigente,
já que era “a disposição, sem objetivo, da parte de um Estado de se
expandir ilimitadamente pela força” (SCHUMPETER, 1961b, p.26).
No entanto, o imperialismo, assim como não emanava de
condições puramente objetivas, também não se reduzia a um fenômeno
puramente ideológico, como uma leitura desatenta poderia concluir:
A explicação está, ao invés disso, nas necessidades vitais de situações
que levaram povos e classes a serem guerreiros – para evitar sua extinção – e
no fato de que disposições psicológicas e estruturas sociais formadas, em
tendem a se manter e a continuar em efeito muito depois de terem perdido
seu sentido de preservadoras da vida (...). O imperialismo tem, portanto,
um
. Enquadra-se num grande grupo de características que
sobrevivem de eras remotas, e que desempenham um papel importante em
toda situação social concreta (SCHUMPETER, 1961b, p.86).
Visto em perspectiva histórica, o imperialismo era também uma
forma de dominação e persistiria na medida em que pudesse se adaptar a
diferentes estruturas sociais de diferentes contextos históricos, não podendo
ser reduzido à necessidade ou ao instinto. Esse é um dos aspectos do problema
e explica, em parte, por que motivo o imperialismo pode existir no interior do
capitalismo e até mesmo ser confundido com ele. Contudo, para compreender
agressiva, que caracteriza o imperialismo schumpeteriano de forma geral.
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A hierarquia social das sociedades industrializadas não se
formou a partir de uma substância única, nem emanou apenas das
leis que regem o capitalismo; ela justapôs e, numa certa medida,
combinou a “substância” social de duas épocas diferentes, obedecendo
simultaneamente e, às vezes, contraditoriamente, às leis de dois sistemas
de organização social.
“substância” feudal sobre a vida, a ideologia e a política das nações
modernas contemporâneas a Schumpeter. A burguesia tinha condições
de impor seus interesses se desejasse, mas, raramente, tomava as rédeas
do governo diretamente nas mãos. Enquanto classe, tinha uma posição
dos intelectuais, elementos desenraizados, personagens ideologicamente
vacilantes e emocionalmente instáveis.
Em contraste, os elementos que emanavam do passado feudal
se caracterizavam pela solidez e pela segurança. A burguesia,
particularmente sensível à qualidade carismática desses atributos,
estava inclinada a se aliar com aqueles elementos em detrimento de
seus próprios interesses. Existia aí uma dicotomia inerente ao espírito
burguês que explicava, pelo menos parcialmente, as fraquezas da
burguesia nos domínios da política, da cultura e do estilo de vida. Aí
se encontrava a chave do desprezo que lhe devotavam igualmente a
extrema direita e a esquerda.
Em conclusão, o modo de vida implantado pelo sistema capitalista
sociedades industrializadas das primeiras décadas do século XX deviam
ser atribuídas à sobrevivência de elementos pré-capitalistas naquela
sociedade. Por isso mesmo, no entendimento de Schumpeter, estariam
em vias de desaparecer. Suas manifestações já estavam diminuindo. O
imperialismo era um elemento que provinha das condições vivas do
passado e não do presente, ou, “em, termos de interpretação econômica da
História, que (provinha) antes das relações de produção predominantes no
passado do que das que hoje existem”9 (SCHUMPETER, 1961b, p.86).
Nesse sentido, o imperialismo representa a continuidade em relação
ao passado que, durante o processo de consolidação do capitalismo, será,
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necessariamente, rompida. Por outro lado, é essa continuidade com o passado
explica sua presença neste modo de produção. Perpetuado pela autocracia
real, o imperialismo atingiu seu apogeu antes que todas as conseqüências
superá-lo. Para compreender o imperialismo em sua plenitude, Schumpeter
o remete às suas raízes históricas, mais precisamente, ao século XVIII, no
contexto da consolidação das monarquias absolutas.
Imperialismo e monarquias absolutistas
Enquanto a expansão colonial foi um fato capital da economia
mundial da Época Moderna, o absolutismo marcou similarmente a vida
política, sem contudo extravasar os limites das sociedades européias. Foi
uma resposta, no plano político, à crise do feudalismo. O Estado que
veio a se formar tinha características únicas, sendo objeto de debate
entre muitos analistas. Há, entretanto, alguma discordância em torno
da questão da natureza do Estado da época moderna. Para alguns, o
feudal, condizente com a predominância do feudalismo e a nobreza como
classe dominante. Para outros, o Estado absolutista centralizado, sem ser
ainda um Estado burguês, correspondia, no plano político, à dominância
do capital mercantil no plano econômico. Era um Estado de transição,
feudais. Enquanto a estrutura estamental, fundada nos privilégios jurídicos
oriundos do feudalismo em processo de desintegração, mantinha-se
intocada, os interesses da classe burguesa já marcavam presença em certas
das duas posições relativas à natureza do Estado Absolutista. Os marxistas
ingleses HOBSBAWM (1954, p.33) e ANDERSON (1984, p.13), entre
predominam os aspectos capitalistas.
Existe ainda uma terceira tese sobre a natureza do Estado
absolutista. ELIAS (1985, p.155 e 1993, p.145), autor cuja interpretação
histórica se aproxima em muitos aspectos da de Schumpeter, em uma
análise complexa sobre a época do absolutismo monárquico, aponta
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para um equilíbrio de poderes. A classe dos burgueses abastados, sendo
consciente do valor que representava para a sociedade, opunha uma
forte resistência às reivindicações de dominação da nobreza, mas, ao
mesmo tempo, era incapaz de expulsá-la e se apropriar do poder. De
as camadas burguesas ascendentes, mas fraca demais, principalmente
do ponto de vista econômico, para sozinha ocupar o poder. O fator
decisivo para que a situação evoluísse para esse quadro era o fato de
que a nobreza perdera as funções administrativas e judiciárias que
exercera outrora e que, para desempenhar essas funções em nome do rei,
surgira uma espécie de camada superior da burguesia. Consolidavam-se
assim novas hierarquias sociais. Ambos os grupos dependiam do rei: a
pressão das ricas camadas burguesas; e os grupos burgueses precisavam
do rei para protegê-los das ameaças e da arrogância de uma nobreza
tradicionalista. Existia assim, um equilíbrio de tensões que concedia
aos dois grupos direitos quase iguais e impedia qualquer um deles de
derrotar o outro; oferecia-se ao rei legítimo, aparentemente equidistante,
Na verdade, Elias elabora o conceito de “mecanismo régio”
para explicar todo tipo de governo autocrático: quando um forte poder
central se acopla a uma sociedade com alto nível de diferenciação, e na
qual há uma sensível ambivalência nos interesses dos grupos funcionais
mais importantes, os centros de gravidade dos grupos dominantes se
dividem igualmente entre eles, tornando impossível qualquer tipo de
compromisso, combate ou vitória decisiva (1993, p.148). O autocrata
– seja ele indivíduo ou grupo – assenta seu poder sobre a tensão entre
os grupos de importância variável que se anulam reciprocamente como
adversários ou parceiros interdependentes. Assim como Schumpeter,
Elias faz uma análise sociológica e histórica ao mesmo tempo, dando
aos seus conceitos um alcance bem mais amplo que historiadores como
MOUSNIER (1957, pp.104-135), que retomaram a noção de “estado de
equilíbrio” para caracterizar as monarquias absolutistas10.
A interpretação de Schumpeter sobre a natureza do Estado
Absolutista, apesar de original, tem concordâncias e discordâncias com
todas as correntes citadas. No campo das concordâncias está o fato de
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considerar o Estado absolutista um Estado feudal, assim como o faz a
corrente marxista representada por Perry Anderson e Eric Hobsbawm.
capitalismo nascente, a classe dominante continuava sendo a nobreza
graças à permanência da estrutura agrária herdada:
de seus mecanismos automáticos, e em parte das tendências políticas que
engendrou – abolição da escravatura, libertação do solo dos compromissos
feudais, e assim por diante – mas inicialmente não alterou as linhas básicas
da estrutura social do campo (SCHUMPETER, 1961, p.117).
A continuidade entre capitalismo e feudalismo baseava-se
na permanência da nobreza como classe política central durante o
Antigo Regime, consequência do alto grau de coesão ideológica que
apresentava e que a capacitava para intervir na economia. No campo
da política tarifária, por exemplo, a defesa bem sucedida que a nobreza
fazia do protecionismo serviu, em primeiro lugar, para que conservasse
seu modo de vida ostentatório. Amparada pelo aparelho estatal, a
nobreza impedia a burguesia de desenvolver uma mentalidade própria,
desvinculada da mentalidade do prestígio feudal, ou uma política
própria, baseada no mérito e não no privilégio.
No campo das discordâncias estava a questão colonial. Schumpeter
divergia da interpretação que concedia às colônias um papel primordial
no fortalecimento do Estado absolutista e da burguesia nascente. Embora
também visse uma correlação entre as conquistas e a acumulação de
poder dos monarcas, diferencia o impulso imperialista de colonialismo.
O fenômeno da formação do Estado absolutista seria um fenômeno
resultante de forças internas que se chocavam e de um vetor externo
que era a projeção da violência em razão da necessidade da nobreza
extravasar sua agressividade, mas não um fenômeno alimentado pelo
desejo de criar colônias ou pela busca de riquezas:
Na verdade, o rei demonstrava indiferença pelos empreendimentos
comerciais e coloniais, parecendo preferir pequenas ações militares,
destituídas de proveito, ali mesmo na Europa, desde que parecessem fáceis
e prometessem sucesso. (...) É tempo que se reduzam às suas verdadeiras
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proporções a participação que o mercantilismo teve nas empresas da época
(SCHUMPETER, 1961b, p.81).
O imperialismo, segundo Schumpeter, teria se consolidado como
política do Antigo Regime, quando o Estado absolutista direcionou a
belicosidade, antes difundida no interior da sociedade, para o exterior,
o que pressupõe que o Estado soberano seja o detentor do monopólio
da força. Para tanto, foi necessário retirar da nobreza sua autonomia
guerreira, conservando-a, porém, como camada superior e dirigente
das forças armadas. Manteve-se assim parte das suas prerrogativas e
se redirecionaram seus impulsos expansionistas para fora do território
presidido pelo monarca absolutista: “Para evitar a guerra civil, eram
necessárias guerras externas” (SCHUMPETER, 1961b, p.80). Guerra e
Apesar de contemporâneo das políticas imperialistas do Antigo
Regime, o colonialismo distinguia-se delas por não ser uma política
de Estado mas, ao contrário, ser fruto de empreendimentos individuais
isolados. Schumpeter considerava um exagero atribuir ao mercantilismo
a responsabilidade pelos empreendimentos militares da época, como
por exemplo as expedições coloniais, já que os lucros proporcionados
conquistas. O comércio era incipiente, assim como a mentalidade que o
animava, porque ainda não havia uma industrialização consolidada: “a
indústria era antes serva do Estado do que sua mentora”. O imperialismo
praticado pelo Estado autocrático era uma reinvenção da nobreza,
que continuava a ser a classe dominante e mantinha o seu ethos: “a
beligerância e a política guerreira do Estado autocrático explicam-se
pelas necessidades de sua estrutura social, das disposições herdadas
pela classe dominante e não pelas vantagens imediatas obtidas com a
conquista” (SCHUMPETER, 1961b, pp.80-82).
Em outros termos, opunha-se ao conceito de “acumulação
primitiva”, formulado por MARX (1977). Para Marx, na trajetória
lógico-histórica do capital, a “acumulação primitiva” – a “acumulação
prévia” de Adam Smith – era uma acumulação que não resultava do modo
de produção capitalista, mas era seu ponto de partida. Os mecanismos
extra-econômicos foram importantes nessa fase de constituição do
sistema capitalista (1977, pp.667-724). Na interpretação marxista, a
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conquista de colônias era um dos aspectos da política mercantilista
praticada pelos Estados Absolutistas, tendo como objetivo último
o fortalecimento do Estado, mas também, as burguesias mercantis
metropolitanas (NOVAIS, 1986, pp.57-116). Desse modo, os interesses
econômicos estavam subordinados aos objetivos políticos.
Nesse mesmo sentido, Arrighi distingue a lógica territorialista
de acumulação (a obtenção de territórios, de súditos e de riquezas
incrementa a acumulação de capital) da lógica capitalista de
acumulação (o processo de acumulação de capital incrementa o poder
do Estado)11. Já Hecksher, no seu livro clássico sobre a economia da
Época Moderna, defende que o Estado era, ao mesmo tempo, sujeito
e objeto do mercantilismo (HECKSHER, 1943). Todos esses autores
concordam em que a política colonial fomentada pela vontade de poder
dos monarcas e da nobreza teve como resultado o fortalecimento da
Em contraposição às teses marxistas e às explicações que ressaltam
o interesse econômico das monarquias absolutistas na subjugação de
novos territórios, Schumpeter redimensionava o papel do mercantilismo
mercantis no impulso imperialista era muito menor do que aquele
atribuído até então pelos historiadores. O imperialismo das monarquias
absolutistas não fora impulsionado pela economia mercantil da época
dimensão econômica do colonialismo e sublinhando no imperialismo da
Época Moderna mais o impulso do que a conquista - e, na sua origem,
mais a estrutura social do que as motivações individuais isoladas -,
do capitalismo não pelo interesse na conquista e exploração das colônias,
mas pela belicosidade de uma classe particular.
Para Arno Mayer, que não poupa elogios ao insight criativo de
Schumpeter, a originalidade da tese está sobretudo no fato de insistir em
que, até 1914, as sociedades civis dos países europeus estavam longe de
ser industrial-capitalistas ou burguesas:
Como Schumpeter viu com tanta clareza, os reis, exceto na França,
continuaram a ser, por ordem divina, as “peças centrais” dos sistemas de
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autoridade da Europa. Sua posição era feudal em ambos “os sentidos, histórico e
sociológico”, em grande parte porque “o material humano da sociedade feudal”
continuava a “ocupar os cargos do Estado, comandar o exército e elaborar
as políticas”. Embora os processos capitalistas, nacionais e internacionais,
gerassem parcelas cada vez maiores das receitas do governo – para o “Estado
coletor de impostos” -, o elemento feudal se mantinha como classe dirigente que
se conduzia “segundo moldes pré-capitalistas”. Embora as classes superiores
entrincheiradas cuidassem dos “interesses burgueses” e se aproveitassem das
“possibilidades econômicas oferecidas pelo capitalismo”, tinham o cuidado de
“se distanciar da burguesia”. Esse arranjo não era um “atavismo [...] mas uma
simbiose ativa entre dois estratos sociais”, onde as antigas elites mantinham sua
dinheiro e pagasse impostos. Segundo a avaliação de Schumpeter, mesmo na
Inglaterra “o elemento aristocrático continuou a ser o chefe da casa
período do capitalismo intacto e vital”. (MAYER, 1987, p.21).
Mayer reforça ainda mais a fraqueza relativa da burguesia frente à
do capitalismo provocou efeitos nocivos, “a contração setorial prolongada
lembrou brutalmente à burguesia nascente que ela, em grande medida, era
o componente mais fraco daquilo que Schumpeter chamou de a ‘simbiose
ativa entre os dois estratos sociais’” (MAYER, 1987, pp.41-42).
A simbiose ativa12, expressão usada por Schumpeter para entender
as relações entre burguesia e nobreza, é mais notada, usualmente, a partir
do aburguesamento da nobreza, pois é claro que, se os elementos feudais
da sociedade civil e política e os magnatas fundiários perpetuaram seu
adaptar e se renovar.
Mayer concorda com Schumpeter que a burguesia não produziu
seu próprio estrato político e que a nobreza era seu arquétipo. Para Arno
Mayer, a mercantilização da terra não quebrou a homogeneidade classista
dos proprietários de terras13. Ao ser preservada a base material, na qual
se assentava tal classe, foi também preservado o seu ethos, o que, por sua
vez, impediu a constituição de um ethos burguês propriamente dito.
O que se escondia por trás do “sempiterno processo de ascensão
da burguesia” era a incapacidade congênita dos grandes negociantes e
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Como observou Schumpeter, embora a burguesia gerasse indivíduos
que obtinham sucesso na liderança política ao ingressarem numa classe
política de origem não-burguesa, não produziu seu próprio estrato político
bem-sucedido.14
Especialmente no período entre guerras, alguns resultados
trágicos parecem ilustrar convincentemente essa “subserviência”
ideológica dos elementos burgueses à ideologia aristocrática. Na
Áustria e na Hungria, a classe dos empresários e banqueiros (isto é, “os
capitalistas”) era composta majoritariamente por judeus e estrangeiros
(no caso particular da Hungria, por alemães e austríacos). Embora seja
até mais compreensível que esses burgueses sentissem a necessidade
de adotar os códigos sociais da aristocracia - queriam ser aceitos num
ambiente mais ou menos hostil e queriam, também, alcançar os mesmos
privilégios que a aristocracia - essa busca pela aceitação foi em alguns
coniventes com o antissemitismo da aristocracia (MAYER, 1987, p.119
e ARENDT, 1989).
Imperialismo e Nacionalismo
Ainda resta explicar como a política imperialista, típica das
sociedades pré-capitalistas, foi posta em exercício em plena era industrial
a contrapelo da “tendência natural” das classes “industriais”15, cujos
interesses e ideologia eram contrários ao imperialismo e à guerra. Como
tais classes foram levadas às práticas imperialistas agressivas do último
quartel do século XIX? A resposta parece estar no desenvolvimento do
nacionalismo. A análise do debate em torno do nacionalismo constitui
uma oportunidade para Schumpeter se distinguir dos demais teóricos,
tanto em relação às suas ideias, quanto, mais particularmente, quanto à
sua visão da História.
Foi na época do absolutismo que a Coroa forjou e prestigiou o
Ao mesmo tempo, produziu um modo de pensar que, apesar de
80.
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essencialmente não capitalista, foi incorporado pela burguesia. Diz
Schumpeter:
explica sua fraqueza na política, na cultura e na vida em geral, atrai para ela
o desprezo da Esquerda e da Direita, e mostra o acerto de nosso diagnóstico
– que encontra seu melhor exemplo em dois fenômenos muito próximos do
nosso tema: o nacionalismo e o militarismo atuais (SCHUMPETER, 1961b,
p.120).
adaptação de uma prática feudal orientada para os interesses burgueses,
o que consistiu na colocação, a serviço do Estado, da disposição
guerreira do cavaleiro medieval. A não compreensão da verdadeira
raiz do nacionalismo levou a que os conservadores censurassem os
burgueses pela sua falta de nacionalismo, e os socialistas rejeitassem o
nacionalismo por ser sinônimo de ideologia burguesa.
Do ponto de vista de Schumpeter, as duas posições são
efetivamente correntes hostis ao nacionalismo tanto na burguesia,
quanto nas classes médias. Na sociedade capitalista, não é a grande
burguesia o suporte preferencial do nacionalismo, mas a intelligentsia,
cuja ideologia não se vincula a interesses de classe estáveis, mas varia
ao azar da conjuntura. Por outro lado, a submissão da burguesia ao
econômica que este exerceu e exerce sobre ela, tendem a infundir o
nacionalismo no espírito burguês de diversas maneiras. Essa tendência
se expressa particularmente no interior dos grupos burgueses ligados à
exportação monopolista.
A relação entre o militarismo e a burguesia também não é sem
ambiguidades. Em primeiro lugar, é preciso dizer que não basta uma
considerá-la uma nação militarista. Somente quando os círculos
dirigentes do exército estão em condições de exercer o poder político
é que se pode empregar o termo militarismo. O militarismo se mede
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públicos em relação aos chefes militares, como por exemplo, na
sociedade japonesa do início do século XX.
Nesse caso também, a burguesia, se fosse seguir o modo de vida
disso, para Schumpeter, era o caso da Inglaterra (com sua recusa de
militares no Parlamento, etc.). No Continente, a situação era diferente:
as tropas faziam parte da paisagem. A burguesia que não teve, em lugar
nenhum, o poder de abolir o exército, resolveu torná-lo útil aos seus
propósitos. Novamente, é sua antiga submissão ao poder monárquico
e o papel atribuído aos intelectuais que explicam sua atração pelo
militarismo.
Encontramos uma dicotomia de atitudes e interesses em todas
as dimensões do mundo moderno burguês, o que explica porque
o “nacionalismo e o militarismo, embora não sendo criaturas do
capitalismo suas melhores energias” (SCHUMPETER, 1961b, p.122).
Logo, para Schumpeter, notava-se, claramente, a coexistência de
duas eras históricas diferentes nas sociedades do início do século XX.
Tal era a base social do imperialismo contemporâneo. O imperialismo
moderno, tanto quanto o nacionalismo e o militarismo, era uma herança
da época absolutista. Nele sobrevivem, não sem transposições, elementos
moderno constitui o ponto de chegada de forças pré-capitalistas que
o Estado absolutista reorganizou, em parte, graças ao capitalismo
nascente. Fica absolutamente claro que o imperialismo não poderia
jamais nascer da lógica interna do capitalismo. O mesmo pode ser dito
da exportação monopolista, herdeira direta da política da monarquia
absolutista e dos hábitos comerciais de um meio fundamentalmente
pré-capitalista.
Para Schumpeter, o afã imperialista das últimas décadas do
século XIX e primeiras do XX tinha por base elementos de estruturas
ultrapassadas que se perpetuavam em razão do poder político de classes
tradicionais. Se o imperialismo ainda ocupava espaço no mundo
moderno (pós Primeira Guerra Mundial) era porque a herança do passado
82.
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compreendia um aparelho militar “dotado de atitudes e disposições
agressivas”, e porque uma classe social orientada à agressão continuava
a ser politicamente dominante. Essa classe, cujos interesses estavam
ligados à guerra, aliou-se a grupos burgueses que também tinham
interesses nas guerras, perpetuando os instintos guerreiros assim como
a ideia de dominação pela força, de supremacia viril e de glória militar,
que teriam desaparecido há muito tempo se não fosse por isso. Tal aliança
repousava sobre condições sociais que podiam até se explicar, em última
análise, pelas relações de produção, mas não se tratava de relações de
produção próprias ao capitalismo. Esse diagnóstico sugere a Schumpeter
um prognóstico: por mais que os elementos pré-capitalistas, inseridos na
sociedade europeia do pós-guerra, demonstrem forte aptidão à sobrevida,
a evolução do mundo moderno tenderá a aniquilá-los a longo prazo
(SCHUMPETER, 1961b, p.124) 16.
Assim como Schumpeter, Elias considera que as relações entre os
Estados das sociedades industriais tiveram sua origem no Estado absolutista
e introduz algumas percepções a respeito das relações entre a burguesia e o
nacionalismo, que ajudam a nuançar a interpretação.
A guerra entre Estados naquele período era uma extensão das guerras
entre famílias que terminaram por selecionar a dinastia a que pertencia o
monarca absolutista. O comportamento pessoal e o comportamento político
Tudo muda com a ascensão das classes médias europeias à direção do Estado.
Num certo sentido, eles [os Estados] adotaram simplesmente o código
dos príncipes, o código maquiavélico da política de poder. A continuidade é
inconfundível. Entretanto, ao tornar-se um código de classe média, o código
original, era um código de conduta primordialmente talhado sob medida
para um príncipe em suas relações com outros príncipes. Agora, tornava-se
um código para ser primordialmente aplicado à conduta dos negócios de uma
nação-Estado em suas relações com outras nações-Estados. O desenvolvimento
envolveu mudança, assim como continuidade (ELIAS, 1997, p.137).
Para o autor, o antigo código maquiavélico foi transformado,
no século XIX, em um sistema de crenças nacionalistas: operou-se a
substituição “das ligações emocionais com príncipes viventes para os
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símbolos impessoais de uma consagrada coletividade” (Idem). O que,
na era absolutista, era uma política pessoal de governantes portadores de
uma tradição guerreira, passou a constituir uma política de Estado que
fundamentava o recrutamento no serviço militar obrigatório. No contexto
anterior não havia contradição entre a moralidade privada e moralidade
pública, porque o código das relações interestatais era um prolongamento
do código pelo qual se pautavam os príncipes na vida privada.
O que fora outrora o princípio de uma estratégia prática e, poderse-ia dizer, razoavelmente realista para a conduta dos príncipes nos negócios
entre Estados mudou seu tom emocional quando se converteu numa
Os aspectos realistas do código guerreiro tradicional [...] fundiram-se com a
mística de um credo nacionalista em que milhares puderam acreditar como
algo absoluto, sem fazer perguntas. (ELIAS, 1997, p.140)
ideologia de origem não-burguesa, Elias defendeu a transformação
ideológica da própria burguesia. Portadora de ideais universalistas no
momento em que lutava contra a nobreza e o absolutismo, abandonaos em favor de ideologias nacionais, assim que começa a dominar
o aparelho de Estado. Nesse contexto, o código guerreiro adquiriu
as características de uma moralidade paroquial, nacionalista, nãoigualitária, em substituição da moralidade universal, igualitária e
humanista do momento de ascensão da burguesia (ELIAS, 1997, p.151).
Imperialismo e livre comércio
Para explicar as práticas imperialistas das potências europeias na
virada do oitocentos para o novecentos, Schumpeter partiu da análise
do Estado absolutista e das políticas imperialistas do Antigo Regime,
caracterizadas pelo direcionamento do afã guerreiro da classe feudal,
ainda dominante, para as conquistas coloniais. A permanência desse afã
guerreiro se explica pela “simbiose ativa” entre a burguesia e a nobreza.
A burguesia, pela sua fraqueza ideológica e cultural, abandonava as
práticas concorrenciais e livre-cambistas do capitalismo, adotando o
84.
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ethos da nobreza feudal. Na visão de Schumpeter, era isso que explicava
o imperialismo e não uma necessidade do capitalismo de se expandir
para além dos limites dados pelo comércio internacional.
a política do Império Britânico na época analisada. Sua abordagem
para o caso é, no mínimo, surpreendente. O autor considera que o mais
vasto império colonial do século XIX teria se constituído por uma
série de acasos “engraçados e aleatórios”, na contramão dos interesses
anti-imperialistas da metrópole e da política dos seus dirigentes. Cita,
como exceção à regra, alguns irresponsáveis, como Chamberlain, que
amargou uma derrota eleitoral por ter levado o imperialismo a sério.
Pode-se pensar, seguindo PASSERON (1984, p.4)17, que essas páginas,
com o objetivo de escandalizar seus conterrâneos austríacos logo após a
derrota de 1918. O imperialismo é visto como uma “anedota histórica”
na qual “o título de imperatriz da Índia era uma brincadeira”, a guerra
contra os Zulus, uma “iniciativa local”, e a conquista do Egito ocorrera
à revelia de Gladstone 18.
Segundo Schumpeter, Disraeli introduziu o imperialismo como
slogan político, discursando no Palácio de Cristal em 1872 (já em
campanha para as eleições de 1874). A partir daí, o bordão foi encampado
pelos intelectuais de Oxford e Cambridge e pelos “observadores
de desviar a atenção dos problemas quotidianos internos, apelando ao
sentimento nacional.
Ignorando deliberadamente os casos gritantes de interferência
colonialista da Grã-Bretanha no restante do mundo,19 Schumpeter
tomava ao pé da letra a “tradição política” inglesa de defesa do direito de
autodeterminação dos povos. Para ele, a vaga imperialista não exprimia as
tendências mais profundas da evolução da sociedade britânica; constituía
interesses estavam ameaçados. Na verdade, Schumpeter precisa desacreditar
a política imperialista da Grã-Bretanha no século XIX, retomando, à sua
maneira, os argumentos dos “Little Englanders”, porque sua tese sobre o
imperialismo se baseava fundamentalmente na noção de que o capitalismo
e o laissez-faire prescindiam do imperialismo para funcionar.
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.85
É verdade que os adeptos de uma Inglaterra sem colônias – daí seu
radicais, às vezes descrevendo as colônias como uma “pedra em torno do
pescoço dos ingleses”. Mas, segundo Galbraith, existem poucas evidências
ou o Gabinete do Primeiro Ministro. Isto porque nem seus mais ardorosos
defensores, como Richard Cobden, expoente da “Escola de Manchester”,
tinham ideias consistentes sobre o Império. Para Galbraith, o mito da
“Pequena Inglaterra” nasceu da preocupação com o Império num sentido
estritamente político, isto é, relacionava-se às despesas que a manutenção
do império formal implicava. As relações privilegiadas de comércio e de
investimento que a Inglaterra estabelecia com resto do mundo – aquilo
que se convencionou chamar de império informal – era unanimemente
defendido. A doutrina dos “Little Englanders” se desenvolveu ao mesmo
tempo em que o Império se expandiu principalmente na Ásia. O aparente
paradoxo, segundo Galbraith, praticamente desaparece quando se percebe
que a maioria dos críticos da política colonial excluía a Índia da equação
(GALBRAITH, 1961, p.35)
A incompatibilidade entre livre comércio e imperialismo foi
sobretudo questionada no clássico artigo de Gallagher e Robinson, que
sustentaram que a época considerada de predomínio do livre comércio
foi também a época de maior expansão do Império. É interessante
observar que a análise que fazem do imperialismo tem alguns pontos
em comum com a problemática schumpeteriana. Em primeiro lugar,
porque ressaltam a existência de uma continuidade entre o imperialismo
porque também têm o objetivo de “corrigir” a teoria econômica do
imperialismo (marxista). Mas as similitudes terminam aí, pois um
dos objetivos centrais do artigo é justamente argumentar que, no auge
da política do livre-comércio, a Inglaterra teve uma política externa
imperialista.
Os autores argumentam que, em plena era do laissez-faire –
de 1841 a 1871 -, a Grã Bretanha ocupou ou anexou extensas regiões
localizadas em distintos recantos do globo, contradizendo a tese de que,
nessa época, houve “indiferença” das autoridades do Império no que se
refere à obtenção de colônias (GALLAGHER e ROBINSON, 1953, p.1).
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Para esses autores, a política em relação à Índia também reforça
o desmentido à tese de que a Grã Bretanha deixou de se interessar pela
dominação (formal ou informal) de territórios na era do livre comércio.
Nessa região, a expansão imperialista começou bem antes de 1880
e não esperou o início da fase da política imperialista dos cartéis e
monopólios. O governo britânico usou todos os métodos de controle
político direto: difundia as mercadorias britânicas para vantagem da
inglesas; construía estradas de ferro a preços elevados e com garantias
de juros etc. No período supostamente de domínio do laissez-faire, a
Índia, ao invés de ser evacuada, foi transformada em uma típica colônia
mercantilista, sendo obrigada a pagar taxas sobre produtos como o
ópio e o sal (GALLAGHER & ROBINSON, 1953, p.2). O caso da
Índia consistia em uma exceção reconhecida na época (como assinala
Galbraith), ideia que foi retomada pelos autores que sublinharam a
distinção entre o novo e o velho imperialismo (HOBSBAWM, 1986,
p.137-138).
Outra originalidade de Gallagher e Robinson está no fato de
compreenderem o imperialismo tanto em função de objetivos econômicos
como estratégicos. Somente quando as condições de organização política
de certas regiões não fossem favoráveis para a integração comercial
ou estratégica, a ocupação formal se fazia presente. A força só era
utilizada como último recurso, o que distinguia o imperialismo de livre
comércio britânico – o que Schumpeter consideraria uma “contradição
em termos” – do imperialismo mercantilista.
Contudo, a alternância entre o uso da força e dos instrumentos
de livre comércio não segue uma ordem cronológica. As técnicas
mercantilistas foram utilizadas em parte do Império formal,
especialmente na Índia, em meados da era vitoriana, ao mesmo tempo
em que técnicas de livre-comércio estavam sendo empregadas na
América Latina. O imperialismo inglês formaria, portanto, um todo do
qual faziam parte tanto o império formal quanto o informal, não sendo
possível uma correspondência entre fases do imperialismo e fases de
crescimento econômico na metrópole.
Para os propósitos desse artigo, o que merece destaque é o fato de
que, mesmo partindo de pontos de vista semelhantes – a continuidade do
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imperialismo britânico entre o século XVIII e o XIX, e a discordância
com a caracterização estritamente econômica do imperialismo –,
Gallagher e Robinson chegaram a conclusões opostas às de Schumpeter:
o imperialismo caracterizou a política externa britânica do século XVIII
ao XX, em plena era do laissez-faire.
Considerações Finais
Com o passar do tempo, mesmo mantendo suas objeções à “doutrina
marxista”, Schumpeter reavaliou sua opinião sobre alguns aspectos da
teoria do imperialismo. No verbete “capitalism” que escreveu para a
Enciclopédia Britânica em 1946 (1960, p.804), discutindo a conexão
entre capitalismo e imperialismo, reconheceu a importância de três
aspectos da teoria marxista sobre o imperialismo. Em primeiro lugar,
a teoria marxista foi a primeira a elaborar, a partir de um esquema
em segundo lugar, alguns dos fatos mais importantes dessa época,
quaisquer que fossem os erros fatuais e teóricos nela contidos, seu ponto
de partida era inquestionável: a problemática da integração industrial e
das escalas de produção. Embora cartéis e trustes existissem antes desse
período, o papel do chamado big business aumentou tanto que passou
a constituir uma das características econômicas mais marcantes dessa
era do capitalismo.
Apesar disso, Schumpeter continuava a avaliar de modo diferente
as consequências das mudanças que caracterizaram a Segunda
Revolução Industrial. Era uma premissa do seu modo de ver considerar
o capitalismo como o produto mais bem acabado da racionalidade
econômica. Não acreditava que o surgimento dos monopólios e do big
business
menos ainda na existência de um soi disant
Por isso não podia concordar com as críticas que os marxistas e outros
economistas faziam ao capitalismo monopolista. Para ele, o capitalismo
do big business era superior ao chamado capitalismo concorrencial, até
porque a competição não desaparecera; ela comandava as inovações
88.
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responsáveis pelas vantagens quantitativas e qualitativas que vieram
com as novidades no que se refere a tecnologias, mercados, fontes
de suprimento, métodos de organização industrial e novos produtos.
Para Schumpeter, a “destruição criativa” era melhor administrada
no capitalismo do big business do que no capitalismo da competição
tradicional (O’DONNELL, 1997, pp.63-64).
Essa visão positiva do capitalismo leva Schumpeter a explicar
as práticas imperialistas pela sobrevivência de políticas absolutistas
e a negar sua existência na Grã-Bretanha e nos Estados Unidos,
onde o capitalismo se encontrava mais avançado20. Enquanto liberal,
Schumpeter via o desenvolvimento econômico somente a partir da
no processo de acumulação capitalista. Tal uso seria incidental quando
presente na política externa das grandes potências.
Mas, por outro lado, Schumpeter foi um crítico do comportamento da
burguesia enquanto classe, ao mesmo tempo em que grande admirador do
“empreendedor capitalista” introdutor de inovações no sistema econômico.
Schumpeter destacou o panegírico da burguesia contido no Manifesto
Comunista de Marx & Engels, ressaltando o aspecto criativo da classe dos
capitalistas (business class), uma novidade em relação à visão de Adam
Smith e de John Stuart Mill. (SCHUMPETER, 1949, p.210).
As críticas que produziu sobre o comportamento da burguesia
foram retomadas por autores que, sem se preocuparem com suas
conclusões sobre o imperialismo, seguiram a senda aberta pela
expressão “simbiose ativa”. Arno Mayer considerou que essa expressão
“proporciona(va) um arcabouço excepcionalmente útil” para o
entendimento das sociedades europeias da “belle époque”.
(Schumpeter) Foi além de Marx no esclarecimento da
interpenetração dos interesses agrários e burgueses e das elites; além de
de dominação; e além de Veblen na delimitação do aparelho de Estado como
um centro aglutinador e operacional vital para a classe ociosa refratária
(MAYER, 1987, p.136).
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.89
O caráter da visão retrospectiva schumpeteriana, necessária para
compreender as crenças e os ideais da classe média europeia entre
os séculos XVIII e XX, lançou uma luz original sobre a época do
absolutismo, rica em sugestões analíticas. Já a sua noção de “simbiose
ativa” entre a burguesia e as classes do Antigo Regime ajudou a tornar
mais claro o comportamento político da burguesia européia.
A história política dos séculos XIX e XX forneceu numerosos
exemplos disso. Por vezes, a classe que substituiu a nobreza como
esteio do Estado moderno assumiu uma postura assustadoramente
retrógrada, o que reforça a posição de Schumpeter. Como nota Passeron,
as análises de Schumpeter propõem uma teoria das formações sociais
como compósitos históricos, ao apontar para a coexistência, em uma
mesma sociedade, de aparelhos e de relações de produção de diferentes
épocas. Essa análise ultrapassa tanto a concepção evolucionista da
“sobrevivência” de elementos do passado, como a concepção positivista
da justaposição de partes que não guardam relação entre si.
Entretanto, para Schumpeter existe uma contradição entre o
nacionalismo, combustível do imperialismo, e a ideologia “espontânea”
etc.), que emana de sua prática individualista. Na sua visão, os burgueses
capitalistas não podiam ser nacionalistas porque esta ideologia era, por
Abstract
Written in the aftermath of the First World War, Joseph Schumpeter’s theory
of imperialism presents itself as an alternative to the economic theory of
imperialism, especially the Marxist view. Schumpeter does not consider the
imperialism of the last quarter of the nineteenth century as a result of structural
changes in the capitalist mode of production, instead he views it as a result
of atavistic elements combined with feudal reminiscent still at work in the
Modern State. As a classic liberal economist, Schumpeter considers certain
and technological innovation, separating them from violent practices and
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interference in foreign markets, viewed as incidental. But Schumpeter was
also a shrewd observer and critic of bourgeois behavior and his ideas remain
: imperialism, Modern State, Absolutism, Militarism, Nationalism
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Brasileiro de História Econômica e 7ª Conferência Internacional de História das Empresas, em
Conservatória, RJ, em 2005, sob o título “Capitalismo e Imperialismo em Schumpeter”.
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Trabalhamos com a edição francesa, Imperialisme et classes sociales (1984), com a edição
americana de 1955, republicada em 1961, Imperialism and Social Classes, e com a tradução
brasileira dessa versão, Imperialismo e classes sociais (1961).
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O artigo sobre as classes sociais, na verdade, começou a ser esboçado em 1910, com base em
uma conferência tendo como tema “O Estado e a sociedade”. Uma versão mais elaborada foi
publicada em 1927, incorporando dessa vez a experiência da guerra, com o título “Liderança e
Formação de Classes”.
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Em 1905, em Viena, Schumpeter freqüentou, junto com Rudolph Hilferding (1877-1941) e
Otto Bauer (1881-1938), um seminário sobre Marx dirigido por Böhm-Bawerk, (MCCRAW,
2009, p.45). No ensaio de 1919, Schumpeter não cita os livros ou artigos que comenta. A
obra principal de HILFERDING (1985), O Capital Financeiro, foi publicada na Áustria e na
Alemanha em 1910.
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Paul SWEEZY, em introdução à edição brasileira de Imperialismo e classes sociais
Schumpeter mudou de posição no que se refere ao conceito de imperialismo: “Há [...]indícios
claros de que Schumpeter mudou de opinião, embora seja impossível precisar até que ponto.
[...] Na verdade, a teoria do imperialismo contida no ensaio de 1919 é bem menos monolítica
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do que presumiram os seus críticos. Um leitor cuidadoso poderá encontrar facilmente várias
teorias do imperialismo [...]”. (SCHUMPETER, 1961b, pp.14-16).
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O pioneiro nos estudos do imperialismo, John Hobson, acreditava que a principal razão
econômica do imperialismo era a desigualdade na distribuição da renda que levava parte da
população ao subconsumo, enquanto outra parte acumulava riquezas excessivas, para as quais
buscavam novas inversões lucrativas (HOBSON, 1981, pp.86-104; para um resumo ver SILVA,
2003).
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imperialismo lhe trazia benefícios e criticava os marxistas ortodoxos e vulgares por aceitarem
essa tese, em determinada medida. Não é possível estabelecer se, ao escrever este ensaio, já
conhecia a obra de Lênin,
(1916). Nessa obra, Lênin
(1974) refere-se à aristocracia operária.
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É interessante notar o contraste com Werner SOMBART (1946) a propósito da relação
entre guerra e capitalismo. Para este, a guerra e o luxo, estão na origem do capitalismo, pois
expandem mercados. Para Schumpeter, por se assentarem em motivos irracionais, guerra e luxo
não poderiam estar na origem do capitalismo. Sua teoria do imperialismo está fundamentada
nessa incompatibilidade entre a racionalidade capitalista e a irracionalidade contida nos motivos
imperialistas. Logo, a transição para o capitalismo se estende no tempo até que todas as práticas
irracionais, a guerra, por exemplo, sejam superadas.
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Na tradução francesa a referência à teoria marxista da história é explícita (SCHUMPETER,
1984, p.110).
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O primeiro a elaborar sobre um Estado de equilíbrio foi F. Engels: “Entretanto, por exceção
há períodos em que as classes em luta se equilibram de tal modo que o poder do Estado, como
mediador aparente, adquire certa independência momentânea em face das classes. Nesta
situação, achava-se a monarquia absoluta dos séculos XVII e XVIII, que controlava a balança
entre a nobreza e os cidadãos; de igual maneira, o bonapartismo do primeiro império francês, e
principalmente do segundo, que jogava com os proletários contra a burguesia e com esta contra
aqueles.” (ENGELS, 1963, p.137).
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A propósito desse assunto, Arrighi critica a tese de Schumpeter sobre o imperialismo quando
sem propósitos claros,
inclinações puramente instintivas, insensatas e irracionais para a guerra e a conquista”. Diz
Arrighi, “Com o devido respeito a Schumpeter, uma lógica estritamente territorialista de poder,
moderna, não é mais nem menos racional do que uma lógica de poder estritamente capitalista.
Trata-se, antes, de uma lógica diferente, na qual o controle do território e da população é, em
si mesmo, o objetivo das atividades de gestão do Estado e da guerra, e não um simples meio
na busca do lucro pecuniária” (ARRIGHI, 1996, PP.33 e 35). As citações de Schumpeter em
Arrighi são da edição de 1955, pp.64-65.
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Embora a idéia esteja presente em Imperialismo..., a expressão simbiose ativa só aparece em
Capitalismo, Socialismo e Democracia (1961c, p.171)
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precisou ser regulado nos primórdios do capitalismo (POLANYI, 1980, p.81).
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Mayer cita também Gabriel Tarde, para quem a “propensão para macaquear o seu superior”
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Designação que, em Schumpeter, indica burguesia industrial e proletariado.
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16 Note-se que os porta-vozes intelectuais da burguesia também profetizaram a mesma coisa.
militar na relação entre Estados. (ELIAS, 1997, p.136).
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Autor de uma alentada introdução da tradução francesa da obra de Schumpeter.
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O mesmo viés encontra-se na análise sobre os Estados Unidos, que teria se abstido de anexar
completamente o México e o Canadá, apesar das oportunidades e do interesse evidentes
(Schumpeter, 1984, pp.51-53).
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China (1839-1842) e a declaração Balfour (1917) sobre a Palestina.
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incluí-la na discussão.
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