Uma palavra sobre armas no Aikido
Transcrição
Uma palavra sobre armas no Aikido
Uma palavra sobre armas no Aikido Por Stanley Pranin (Aikido Journal #108) A discussão sobre a inclusão ou não do treinamento com armas dentro da prática do Aikido é bem grande e com frequência temos oferecido no Aikido Journal um espaço para quem apóia ou não sua existência. Tenho observado e também participado destas discussões e neste momento desejo propor alguns pontos os quais não me recordo de serem mencionados anteriormente. Como primeiro ponto, penso que um bom começo seria revisar o que Morihei Ueshiba mencionou a respeito das armas. Sem necessidade de cair em uma grande argumentação histórica a respeito, vou ressaltar alguns pontos. Como temos documentado de forma exaustiva nos últimos dez anos, a maior influência técnica no Aikido é o Daito-ryu Aiki Ju-jutsu. O mestre de Ueshiba, Sokaku Takeda, era um grande esgrimista e um expert no manejo de armas, e passou muitos de seus anos de formação estudando uma grande variedade de armas. Takeda tomou o Ju-jutsu como fundamento essencial na instrução de suas técnicas, especialmente nos anos nos quais portar espadas estava proibido por lei. O Bu-jutsu de Takeda era inclusivo por natureza e de nenhuma maneira se pode considerar limitado exclusivamente às técnicas de Ju-jutsu. As técnicas do Daitoryu estão concebidas sobre os princípios da espada. Outro fato: de 1942 pelo menos até o final dos anos 50, Morihei Ueshiba passou uma grande quantidade de tempo em seu dojo campestre de Iwama experimentando com o Aiki Ken e o Aiki Jo. Um dos seus principais alunos desta época, Morihiro Saito, foi uma testemunha de primeira mão neste processo e o corpo que alberga o conhecimento que surgiu deste esforço nesta parte da vida de O-Sensei pode ser visto hoje em dia no Aikido de Saito Sensei. Uma das críticas contra esta afirmação diz algo assim: “O-Sensei simplesmente experimentava com as armas; na realidade nunca desenvolveu este aspecto do treinamento como uma disciplina completa como o seu Tai Jutsu”. O problema deste ponto de vista é que o período referido é de cerca de 20 anos. Isto seria suficiente para um artista marcial qualificado como Ueshiba para integrar este conhecimento em seu treinamento. Recorde, também, que em 1937 o Fundador tomou ações para ingressar nas artes clássicas baseadas em armas como o Kashima Shinto-ryu, em seu dojo na Kobukan. Inclusive, seu juramento de sangue encontra-se nos arquivos desta escola. Posteriormente, ressaltarei que muitos dos termos técnicos do Aikido se derivam do Kenjutsu. Palavras como Tegatana, Shomen-uchi, Yokomen-uchi, e Shiho-nage claramente refletem um conhecimento da esgrima. Assim mesmo, uma grande quantidade das técnicas que caracterizam o Aikido, como Irimi-nage, se baseiam em movimentos de entradas claras com a espada. De fato, o conceito de Irimi, ou entrar, provém do manejo do sabre. Para ser claro, o estudo e a prática de armas foi uma paixão de muitos anos do Fundador. Aqueles que sugerirem o contrário são ignorantes da história do Aikido ou têm algum outro interesse para suas afirmações. De toda forma, é um fato histórico que o Fundador do Aikido proibiu a prática do Ken e do Jo no Aikikai Hombu Dojo, com exceção das aulas do Saito Sensei. Mais que um fator revelador, poderei perguntar-me: deveria ser surpreendente que o Hombu Dojo de hoje tem afirmado publicamente – refiro-me às afirmações públicas do Sandai Doshu, Moriteru Ueshiba, e o 8º dan Masatake Fujita - nas quais se diz que o treinamento com armas não é parte do Aikido? A resposta à pergunta sobre se o Aikido inclui ou não o treinamento de armas depende da definição da autoridade a quem você consulte. Não existe um acordo universalmente aceito sobre o que o Aikido é, técnica ou filosoficamente. Entretanto, o praticante médio observa a seu instrutor imediato como a autoridade final com respeito à arte. Inclusive, uma organização não pode impor seu ponto de vista no conteúdo e nível de treinamento de um dojo a não ser que se adote um rígido esquema de regulamento. Esta aproximação inibe de maneira séria o crescimento e influência do grupo como já se demonstraram várias vezes. Como exemplo, dentro da organização do Aikikai – cuja posição oficial, como vimos, exclui o treinamento de armas – professores de renome como Shoji Nishio, Nobuyoshi Tamura, Kazuo Chiba, e Mitsunari Kanai, entre muitos outros, incorporam Iaido em seu currículo. Nenhuma ação foi tomada para prevenir-lhes de fazer isto. Na minha opinião, o debate se concentra em um elemento semântico. Não haverá uma resposta satisfatória para a pergunta que relaciona Aikido e armas que convença todo mundo. Todas as argumentações no mundo acerca das virtudes e vícios neste tipo de treinamento, não mudaram este fator. Aqueles em quem seus professores promovam o treinamento, ou quem, de maneira independente chega a concluir que as armas são um complemento importante ao treinamento de Tai Jutsu, procederão de acordo com suas convicções. Aqueles que foram persuadidos sobre o perigo do treinamento de armas e como isso é inadequado frente ao progresso no Tai Jutsu, rechaçaram as armas e herdaram um grupo de prejuízos que lhes servirão para justificar suas posições. É esta a última palavra sobre o assunto? Duvido, porém, espero haver contribuído com novas perspectivas no que diz respeito ao debate. Tradução: Nelson Wagner