Publico – 20

Transcrição

Publico – 20
Público – 20.07.2016
Clara Barata
Jornalista de investigação assassinado à bomba em Kiev
У Києві бомбою вбили журналіста
Павло Шеремет, який народився в Білорусі і мав російське громадянство, останні
роки проживав і працював в Україні, переїхавши туди через переслідування в Росії
та Білорусі. Він загинув у Києві в результаті вибуху машини, по дорозі на роботу.
Вибух прогримів в центрі міста в той час, коли журналіст знаходився за кермом
машини, що належала керівникову «Української правди» Олені Притулі. Її самої в
автомобілі не було. За фактом смерті журналіста порушено справу за статтею
«умисне вбивство». За даними МВС України, в машині спрацював саморобний
вибуховий пристрій, можливо з дистанційним управлінням, потужністю від 400 до
600 грамів в тротиловому еквіваленті. За словами представника поліції, буде
зроблено все можливе, щоб зібрати всі доступні докази з місця злочину, а вході
розслідування будуть розглянуті всі версії.
https://www.publico.pt/mundo/noticia/jornalista-de-investigacao-assassinado-a-bomba
-em-kiev-1738891
Pavel Sheremet, nascido na Bielorrússia e de nacionalidade russa, trabalhava para um site de
jornalismo de investigação ucraniano, e incomodou muita gente nestes três países.
A bomba explodiu pouco depois de Pavel Sheremet, um conhecido jornalista de investigação
de 44 anos que incomodava políticos e milionários poderosos na Rússia, Ucrânia e Bielorrúsia ter
ligado o motor, no centro de Kiev. Eram 7h45 (hora local), ia para a Rádio Vesti, onde tinha um
programa matinal, para além de trabalhar no site de jornalismo de investigação Ukrainska Pravda. A
detonação foi tão forte que partes do carro foram atiradas ao ar.
“Tiraram-no do carro e ele não conseguia respirar. Se se pode chamar àquilo estar vivo”, disse
ao jornal Kiyv Post o motorista de táxi Anatoli Vitter, que estava a fumar um cigarro na esquina do
outro lado da rua.
Sheremet era bielorrusso, mas há muito tempo que estava fora do seu país natal –
habitualmente designado como “a última ditadura da Europa”. Tornou-se bem conhecido pelas críticas
abertas ao Presidente Alexander Lukashenko – foi porta-voz da organização Charter 97, que produziu
uma declaração em 1997 apelando ao respeito da democracia e direitos humanos n Bielorrússia.
Face à pressão cada vez maior do Governo de Lukashenko, mudou-se para Moscovo em
1998, e obteve nacionalidade russa. Ali trabalhou como jornalista de investigação durante 12 anos,
produzindo documentários sobre questões incómodas, como a guerra na Tchechénia, a queda da
União Soviética, ou a morte do general Alexander Lebed, que em 1996 ficou em terceiro lugar nas
eleições presidenciais russas.
Em 2002, ganhou o prémio de jornalismo da Organização para a Segurança e Cooperação na
Europa (OSCE) pelas suas reportagens sobre violações de direitos humanos na Bielorrússia, incluindo
desaparecimentos de políticos da oposição e jornalistas.
Era amigo do russo Boris Nemtsov – assassinado a tiro numa rua de Moscovo em 2015 –, o
político que se tornou dissidente e crítico de Vladimir Putin, cuja última tarefa era a denúncia da
intervenção russa na Ucrânia, e a falta de reconhecimento de Moscovo de que os seus soldados estão
a lutar no país vizinho. Foi Sheremet quem dirigiu as cerimónias fúnebres de Nemtsov. Em Outubro,
tinha dito à Reuters que já não se sentia confortável em Moscovo. “Recebo ameaças e dão-me avisos.
Sempre que vou lá, sinto que estou num campo minado.”
Tinha também dito que a Ucrânia precisa de media fortes e independentes para resistir aos
poderosos milionários do país. “A liberdade de expressão e o jornalismo objectivo está outra vez a
tornar-se um problema muito sério”, disse à Reuters. “Os oligarcas estão a fazer os seus jogos outra
vez, operações de relações públicas ‘negras’, a usar os media para ajustar contas e resolver problemas
políticos.” A OSCE apelou a que se aja para garantir a segurança dos jornalistas na Ucrânia. Há cinco
anos tinha-se mudado para Kiev, e a sua ocupação principal era o Ukrainska Pravda.
O Presidente ucraniano Petro Poroshenko classificou este como um “assassínio cínico”.
“Parece ter tido um único objectivo – desestabilizar a situação no país, possivelmente antes de outros
acontecimentos”, afirmou, num discurso na televisão. O Presidente pediu auxílio ao FBI
norte-americano para investigar o caso, “para haver o máximo de transparência”.
De Moscovo, o porta-voz de Vladimir Putin, Dmitri Peskov, afirmou que “o assassino de um
cidadão e jornalista russo na Ucrânia é um motivo muito sério de preocupação para o Kremlin”.
O fundador do Ukrainska Pravda, Georgiy Gongadze, foi um assassinado há 16 anos. O seu
corpo decapitado foi encontrado numa floresta nos arredores de Kiev. Este homicídio ajudou a
precipitar a Revolução Laranja de 2004/05, que resultou na repetição das eleições que levou à vitória
de Viktor Iushenko sobre Viktor Ianukovich.