a influência da família na escolha profissional do sujeito adolescente
Transcrição
a influência da família na escolha profissional do sujeito adolescente
15 A INFLUÊNCIA DA FAMÍLIA NA ESCOLHA PROFISSIONAL DO SUJEITO ADOLESCENTE Ana Cláudia Leal de Freitas1 Robson Rocha de Sousa2 César Rota Júnior3 RESUMO: Sendo a família como um dos principais fatores que ajudam ou dificultam no momento da escolha profissional do jovem, o presente artigo teve como objetivo identificar a influência da família na escolha profissional do sujeito adolescente. Participaram da pesquisa dez alunos, sendo seis do sexo feminino e quatro do sexo masculino, ambos com 17 anos de idade e que cursavam o 3º Ano do Ensino Médio em uma Escola particular no Município de Bocaiúva - MG. A metodologia utilizada baseou-se na pesquisa qualitativa, lançando mão do instrumento Grupo Focal, em cuja condução foi utilizado um roteiro semi-estruturado, contendo seis perguntas. A técnica foi filmada, posteriormente transcrita e analisada através da Análise do Discurso. Os resultados indicaram que explícita e diretamente e/ou implícita e indiretamente, seja de maneira positiva ou negativa, a família exerce influência na escolha profissional dos adolescentes, ainda que estes não reconheçam o fato e tem importância considerável quando se trata de projeto de vida na vida desses adolescentes. Palavras-Chave: Família; Escolha profissional; Adolescente. ABSTRACT: Being the family one of the main factors that help or hinder at the moment of career choice of the adolescents, this article aims to identify the influence of family on career choice of adolescent. Ten students participated in the research, six 1 Acadêmica do 10º período do curso de Graduação em Psicologia das Faculdades Unidas do Norte de Minas FUNORTE. 2 Acadêmico do 10º período do curso de Graduação em Psicologia das Faculdades Unidas do Norte de Minas FUNORTE. 3 Psicólogo, especialista em Psicologia Educacional e mestre em Desenvolvimento Social pela Universidade Estadual de Montes Claros – UNIMONTES, professor das Faculdades Unidas do Norte de Minas - FUNORTE. 15 females and four males, both 17 years old and attending the 3rd year of high school in a private school in the city of Bocaiúva - MG. The methodology used was based on qualitative research, making use of the instrument Focus Group, whose conduct was using a semi-structured interview, containing six questions. The technique was filmed, transcribed and analyzed through discourse analysis. The results indicated that explicitly and directly and/or implicitly and indirectly, positively or negatively, the family influence on career choice of the adolescents, even if they don’t recognize the fact and has considerable importance when it comes to life in the project life of these adolescents. Key words: Family, Career choice; Adolescents. Introdução O presente artigo teve como objetivo descrever os resultados de uma pesquisa que buscou identificar a influência da família no processo da escolha profissional do adolescente. Para tanto, fez-se necessário discutir o processo da escolha profissional na adolescência, sabendo que essa escolha poderá ser influenciada por alguns fatores tais como: mercado de trabalho, família, aptidão, mídia, etc. Macedo (2000, apud LISBOA e SOARES, 2000, p.204) considera que “esse mesmo indivíduo é influenciado: por valores pessoais, pela família, pelas instituições, pelos meios de comunicação, pela sociedade, pela economia, por modismos e propagandas”. Compreendemos que esse estudo fez-se importante em função da necessidade de se perceber as influências que o indivíduo recebe de seu contexto familiar ao escolher uma profissão. Considera-se, portanto, que a adolescência é por si só, uma fase de incertezas e, diante de escolhas como a da profissão a dúvida é uma constante. Nesse contexto, com a chegada do 3º ano do Ensino Médio, a família do adolescente espera que ele já tenha feito sua escolha profissional, e aqui cabe o seguinte questionamento: como a família influência o sujeito no processo de escolha profissional? Em um processo de escolha profissional, o adolescente é, muitas vezes, pressionado a fazer uma escolha para a qual nem sempre está preparado, surgindo conflitos, dúvidas e incertezas. Escolher o que fazer, é escolher sua vida, o seu futuro. Mansão (2000, apud 15 LISBOA e SOARES, 2000, p.87) diz que “o momento da escolha da profissão coincide com a fase do desenvolvimento na qual o jovem está se descobrindo novamente. É quando ele está definindo sua identidade: quem ele quer ser e quem ele não quer ser”. Em meio às transformações pelas quais passam, os adolescentes são surpreendidos por várias indagações, uma delas referente à escolha profissional. A Adolescência A adolescência é definida como “uma fase do ciclo de vida em que o indivíduo passa por transições. O adolescente se torna, para o senso comum, ‘o aborrecente’, aquele que sabe apenas questionar e desafiar” (SANTOS, 2005, p.57), ou como coloca Filomeno (1997, p.35), “a adolescência é caracterizada como um período de crise, transição, adaptação e ajustamento”, ou ainda como “a fase de definir que tipo de adulto se quer ser. É a época da vida para checar valores, definir gostos e preferências, descobrir habilidades e incompetências” (ROSSET, 2009, p. 264). A decisão profissional, destarte, se entrelaça com todas as áreas de vida do indivíduo, seja familiar, social, pessoal ou emocional. Nessa perspectiva, Filomeno, (1997, p. 16) diz que faz-se necessário “entender o ser humano como um ser em inter-relação e integração, cujas decisões interferem umas nas outras. É pensar num ser sistêmico, integrado e totalizado”. Também Gabel e Soares (2006, p.58) afirmam que “a escolha de uma profissão pode ser entendida como o modo que o sujeito escolhe para se inserir no mundo e, através do trabalho escolhido, modificá-lo”. Sendo a adolescência uma fase onde várias mudanças ocorrem, sejam elas no nível fisiológico e psicológico, esta, por si só, já é geradora de conflitos e ansiedade. De acordo com Lara et al (2005, p. 57) “entende-se por adolescência o estágio intermediário do desenvolvimento, que se encontra entre a infância e a fase adulta”. Para Mansão (2000, apud LISBOA E SOARES,2000 p.87) “a adolescência é a fase do desenvolvimento em que um novo mundo é iniciado.Transformações físicas e psicológicas são evidentes. São dados os primeiros passos para a individuação e o amadurecimento”. 15 Segundo Santos (2005, apud ALMEIDA e PINHO, 2008, p. 2) “a adolescência é um estádio do ciclo de vida no qual o indivíduo passa por transições que acarretam mudanças em sua vida. É nessa fase que o jovem se depara com uma série de escolhas que definirão o seu futuro, dentre elas a escolha profissional”. Para Oliveira (2000, apud LISBOA e SOARES, 2000, p. 99) a adolescência é “o momento da opção do curso superior ocorre no período da adolescência, quando os jovens estão vivenciando diversos conflitos inerentes a faixa etária, plenos de inconstância, insegurança e angústia”. Tal como lembra Canedo (2000, apud LISBOA e SOARES, 2000,p.214) “é a passagem do “quem eu sou” para “quem eu quero ser”. Na transição da adolescência para a idade adulta, nem sempre o adolescente está preparado para essas escolhas, é o que relata Macedo (2000, apud LISBOA e SOARES, 2000, p. 212) (...) na transição da adolescência para a idade adulta, existe a necessidade de o indivíduo fazer uma escolha profissional, o que , na maioria das vezes, torna-se motivo de muita dúvida e insegurança devido principalmente, ao despreparo em que ele se encontra. Neste sentido, Pelletier, Bujold e Noiseux (1985, apud SARTORI et al., 2010, p. 217), diz que “quando a identidade não está estruturada, os interesses tendem a se diversificar e a escolha por uma profissão se torna mais angustiante”. Para Soares (2002, apud FILOMENO, 1997, p.37) “seis fatores são determinantes na escolha sendo eles: fatores políticos; econômicos; sociais; educacionais; familiares e psicológicos”. Santos (1997, apud SARTORI et al., 2010, p.217) assinala que “na base dos interesses encontram-se diversos fatores, tais como necessidade de realização, reconhecimento social, motivos econômicos, autoestima, sugestões e valores do grupo social e familiar,dentre outros”. Ainda, Filomeno, (1997, p.35) relata que “a escolha também pode ocorrer por identificações que o indivíduo estabelece ao longo da vida. Quem escolhe é um adolescente que está em busca da sua identidade, está em fase de transição”. Com a chegada do Ensino Médio, as cobranças pela escolha profissional dos adolescentes aumentam. De um lado a família quer saber qual a decisão e de outro o próprio adolescente pode-se sentir confrontado em responder algo que ele realmente não pensou. 15 É quando surge à pergunta: o que eu vou ser quando crescer? Nessa perspectiva, Filomeno (1997, p.32) traz a seguinte colocação, “a escolha profissional não é uma escolha isolada, mas um processo contínuo, composto por uma série de decisões tomadas ao longo de vários anos de vida”. Aspecto Familiar Segundo, Filomeno (1997,p. 48) “a família é a base do ser humano. A criança, desde que nasce, é lançada em um meio familiar, no qual se identifica, se estrutura, se constitui e se constrói como indivíduo”. Miermont (1994, apud FILOMENO, 1997, p. 44) assinala que “o sistema familiar, é um conjunto de pessoas com características comuns e ligadas por interações específicas, com laços de consanguinidade”. Santos (2005, p.58) afirma que “muitos fatores influem na escolha de uma profissão, de características individuais e convicções políticas e religiosas, valores e crenças, situação político-econômica do país, a família e os pares”. Sendo assim, “a literatura aponta a família como um dos principais fatores que ajudam ou dificultam no momento da escolha e na decisão do jovem como um dos fatores de transformação da própria família”. Neste sentido, Filomeno (1997, p.17-18) diz que “pode-se perceber claramente essa influência quando, algumas vezes, um dos pais verbaliza o desejo de que seu filho siga sua profissão ou que escolha uma profissão que ele próprio gostaria de ter realizado e não teve oportunidade”. Este mesmo autor (1997, p.50) diz que “o indivíduo vai-se construindo dentro de um sistema familiar, com conceitos sobre determinadas profissões, interiorizadas sutilmente por todos os membros”. Segundo Almeida e Pinho (2008, p.2) “quando um adolescente se depara com a escolha de uma profissão, não estão apenas em jogo seus interesses e aptidões, mas também a maneira como ele vê o mundo, como ele próprio se vê, as informações que possui acerca das profissões, as influências externas advindas do meio social, dos pares e, principalmente, da família”. Filomeno (1997, p.18) afirma que é preciso “estar atento à influência da família no momento em que o jovem escolhe a profissão é de extrema importância, pois a 15 família é a base de desenvolvimento psicossocial do ser humano”. Este mesmo autor (1997, p.37) também defende que “as influências existem, sejam elas implícitas ou sutis, de identificações ou não, e devem ser consideradas. É importante que sejam conscientes, pois conhecendo-as, o indivíduo pode utilizá-las de forma positiva e construtiva, selecionando-as e adequando-as aos seus próprios desejos e valores”. Enfim, a literatura demonstra, que positiva ou negativamente, a influência dos pais é um fator considerável na definição profissional dos filhos, ainda que nem sempre eles reconheçam. Como relata Santos (2005, p.63), “a família é um entre os vários facilitadores ou dificultadores do processo de escolha, mas antes de tudo tem um papel importante na realidade do adolescente e deve ser levada em consideração quando se trata de projeto de vida”. Tal como lembra este mesmo autor “não é um momento fácil, pois o adolescente ainda não é adulto e não deixou de ser criança” (p.58). Metodologia O objetivo geral da pesquisa foi identificar a influência da família na escolha profissional do sujeito adolescente e emergir, a partir da análise do discurso dos adolescentes as influências destas nas suas escolhas. Para tanto, optou-se por uma metodologia de pesquisa qualitativa, crendo ser esta mais apropriada às metas vislumbradas a princípio. Para tanto, empregou-se a técnica dos grupos focais, – sobre a qual abordar-se-á adiante - partindo do pressuposto de que a partir da livre discussão, chegar-se-ia mais especificamente às falas representativas a respeito do tema proposto. A pesquisa de campo, para tanto, foi amparada em específica e consistente pesquisa bibliográfica, justamente a fim de servir como sustentáculo de referência aos dados empíricos. Para melhor compreensão, faz-se necessária uma mais profunda descrição e conseqüente justificativa a respeito da escolha da técnica de grupos focais. Segundo Morgan apud Oliveira e Werba (2002, p. 113), “a finalidade mais comum dos grupos focais é conduzir uma discussão em grupo que se assemelhe a uma conversação normal e viva entre amigos e vizinhos...”. Neste sentido, é essencial que o clima do grupo seja mais informal. Desta forma, vê-se que o grupo focal possibilita o estabelecimento de uma 15 discussão em um nível sem maiores elaborações teóricas a respeito do tema proposto, ou seja, dá margem à emergência de um saber em nível de senso comum, ou melhor, um saber próprio do Universo Consensual. É princípio da presente pesquisa, também, tomar os sujeitos da pesquisa enquanto sujeitos sociais, entendendo que seu discurso expressa o discurso de muitos sujeitos individuais (SIMIONI, LEFÈVRE e PEREIRA, 1996). A técnica foi filmada, posteriormente transcrita e analisada através da Análise do Discurso proposta por Pêcheux (1969, apud MINAYO, 2004). Como metodologia de análise dos dados, seguiu-se a proposta de Oliveira e Werba (2002), ocorrendo da seguinte forma: 1. Gravação, em fita cassete, da discussão nos grupos focais; 2. Transcrição integral do material gravado; 3. Leitura flutuante do material obtido, em conjunto com a escuta do material gravado, a fim de obter dados a respeito do caráter afetivo das falas; 4. Releitura do material, a fim de que sejam separadas as falas significativas relacionadas aos objetivos da pesquisa. A partir do momento em que se dá a releitura do material transcrito, a separação das falas significativas é feita por afinidade ou proximidade de idéias por elas expressas, e a partir de então se pode fixar algumas categorias, que servirão como base para a interpretação e análise dos dados. Esclarecemos que os princípios éticos foram utilizados na nossa pesquisa. Sendo, o Projeto analisado pelo Comitê de Ética em Pesquisa das Faculdades Integradas do Norte de Minas - FUNORTE/SOEBRAS, com número de protocolo 01672/11. Sendo assim, após a apreciação do Comitê de Ética, foram apresentados a direção da Escola e aos alunos, os termos de Consentimento livre e esclarecidos para a participação na pesquisa. Vale ressaltar que por se tratar de menores de idade, fez-se necessário a autorização dos pais e ou responsáveis para a participação na pesquisa. Os alunos foram ainda informados da confidencialidade das informações. Diante disso, para a discussão dos resultados, determinamos um código para identificação de cada adolescente: A1, A2, 15 A3, A4, A5, A6, A7, A8, A9, A10. A pesquisa foi realizada, como visto, com 10 adolescentes, sendo seis do sexo feminino e quatro do sexo masculino, todos com idades de 17 anos e devidamente matriculados e cursando o 3º Ano do Ensino Médio de uma Escola particular no Município de Bocaiúva-MG. A escola participante da pesquisa possui os três diferentes ensinos sendo o Ensino Infantil (Maternal, 1º e 2º Período), Ensino Fundamental (1ª ao 9ª Ano) e o Ensino Médio (1º ao 3º Ano). A escolha pelo foco no 3º Ano do Ensino Médio deu-se pela forte tendência de que considerando que com a chegada do 3º Ano do Ensino Médio espera-se que essa escolha profissional já tenha sido feita por se tratar do último ano escolar e a entrada para a vida acadêmica. Cabe aqui ressaltar que apesar de haver, a princípio, certo direcionamento da discussão, ou melhor, certo tema a redor do qual pretendia-se que circulasse a discussão, as intervenções foram sempre as menores possíveis, ocorrendo apenas com vistas à não mudança do tema ou dispersão do grupo. A pesquisa aconteceu na própria escola onde os alunos estudam e durou cerca de uma hora. Discussão dos Resultados Como descrito, após análise dos dados levantados e selecionadas as falas mais significativas e direcionadas à temática da pesquisa, se estabeleceram quatro categorias, sob as quais ir-se-á discutir as causas e implicações das influências obtidas. Serão colocadas, ao longo da explanação, as falas que mais especificamente refletem a categoria na qual foram enquadradas. Categoria 1: Fontes de Informação. No decorrer da construção do grupo pudemos observar na fala dos adolescentes algumas fontes de informação sobre as profissões existentes. Os meios de comunicação como à televisão e computador foram os mais citados. Sobre isso Macedo (2000, apud LISBOA e SOARES, 2000, p. 205) diz que “a propaganda veiculada nos meios de comunicação, em qualquer instância, afetará as opções dos indivíduos no processo de 15 escolha.” As famílias são citadas pelos adolescentes ao falarem sobre a profissão dos pais e identificação com a mesma. Filomeno (1997, p. 35-36) diz que “vínculos positivos com pessoas que desempenham determinados papéis profissionais levam o adolescente a querer ser como elas (...).É muito comum o filho, identificado com o pai, querer seguir a mesma profissão”. A seguir algumas falas significativas acerca de como obtiveram informações sobre a profissão escolhida: “Eu tive mais pelo fato deu ter ido muito na empresa do meu pai conhecer o dia-a-dia da Empresa,mas, também a internet, a televisão estão sempre mostrando como é o dia-a-dia da profissão”. (A6) A escola, fortemente citada pelos alunos, aparece na opinião dos adolescentes como isenta de qualquer responsabilidade sobre as escolhas profissionais de seus alunos, não apoiando neste momento tão decisivo na vida destes. “Nesse aspecto eu acho que a escola carece um pouco. Porque eu acho difícil a gente ter acesso aos cursos, às profissões através da escola. Eu acho que principalmente pela internet e através dos meios de comunicação, televisão, os documentários que passam, mas, realmente, principalmente pela internet”. (A10) A influência de primos e amigos deve ser considerada, uma vez que os adolescentes em questão relataram vivências com pessoas que fizeram o curso que escolheram seguir, obtendo uma fonte de informação a mais para tal escolha. “Acredito que foi pela internet, pela televisão e pelos meus primos que falaram de algumas profissões para mim, para eu escolher”. (A5) 15 Categoria 2: O lugar da família – Influência explícita. Pudemos perceber nas falas dos adolescentes influências explícitas referentes à família para tal escolha. Os adolescentes inicialmente citaram a aptidão, identificação para com a profissão, área escolhida e no decorrer da condução grupal, a família aparece como uma forte influência direta e explícita para com a escolha profissional dos filhos. A família aparece como uma forte influenciadora na escolha profissional na vida desses adolescentes. Positiva ou negativa as famílias em questão como se pode observar nas falas que se seguem é determinante nesse processo de escolha profissional. “(...) o meu pai tem uma empresa que mexe com essa área, então ele já até receitou para mim deu já ter um começo, terminando o meu curso eu já sei onde eu posso entrar no mercado de trabalho”.(A6) Moreira (2000, apud LISBOA e SOARES, 2000,p.134) diz que “da mesma forma, os pais preocupados com o futuro dos filhos, acabam influenciando fortemente na escolha profissional, priorizando, todavia, as “profissões de status” e “profissões nobres” (...)”. Sobre isso, Filomeno (1997,p.50) descreve que Dessa forma, a estrutura familiar cria também impedimentos à livre escolha, quer de forma explícita - quando é verbalizado o desejo dos pais para que o filho escolha a mesma profissão ou realize um sonho que eles não conseguiram realizar -, quer de forma mais sutil, por meio de autoconceitos e opiniões expressas, pelos membros familiares, ou seja, o que é falado a respeito de um curso, de uma profissão e de uma carreira. “(...) quando eu decidi por Engenharia Química, eles não me apoiaram. Eles querem que eu faça Medicina mesmo e não aprovam minha escolha”. (A3) “Meus pais me influenciaram de uma maneira positiva, não 15 falaram para me não fazer o curso, mas no que eles mexiam”. (A7) “Quando eu falei que ia fazer Engenharia Agrônoma, meu pai apoiou, porque, ele até almejava ver eu mexendo na mesma área que ele”. (A7) Fatores como o aspecto financeiro e o mercado de trabalho, foram citados pelos adolescentes quando perguntados sobre o que achavam que seus pais consideravam mais importante na escolha da profissão. “No meu caso quando eu falei para os meus pais que eu ia fazer Psicologia, eles não aceitaram, pois, eles acham que a gente deve escolher um curso que dê dinheiro. Aí eles ficaram perguntando, se esse curso que eu escolhi se dar dinheiro, essas coisas. Eles não me apoiaram muito (...)”.(A8) “Meus pais quando eu falei do curso, eles me perguntaram do mercado de trabalho, se a área era boa para trabalhar, porque aí eles não vão poder me ajudar se eu for morar fora”. (A5) “Meus pais olharam a questão financeira. Eles queriam o curso bom assim, que desse dinheiro tipo Engenharia, Medicina, essas coisas. Só que quando eu falei que eu queria fazer Psicologia eles não me apoiaram muito, falaram que o curso não era bom, falaram do mercado de trabalho, essas coisas (...)”. (A8) “Meus pais, por exemplo, falavam que arte não dá dinheiro, que para eu fazer artes eu não preciso fazer faculdade (...)”. (A9) Categoria 3: O sentimento gerado pela opinião dos pais. 15 Pudemos perceber no relato dos adolescentes que é de extrema importância à opinião dos pais neste momento tão importante na vida dos adolescentes. Os adolescentes em geral se sentiram orgulhosos e felizes com a opinião dos pais diante de tal escolha, porém, ainda assim, segundo fala dos adolescentes a positividade,o apoio dos pais em relação a tal escolha gera uma certa pressão, pois, se “cobram” ainda mais para passar no vestibular. “(...) Apesar de ser o que eu realmente gosto e sentir orgulho pelos meus pais terem aceitado a escolha da minha profissão, eu acho que eu me sinto um pouco pressionada porque se eu não passar eu acho que eu vou magoar eles e a mim também, porque, a ampla aceitação acaba te pressionando para que você der o melhor de você para passar no vestibular”. (A10) “(...) Eles não me apoiaram muito, eu insisti e aí eles falaram se era isso mesmo que eu queria mesmo fazer. Eu não gostei muito, porque era o que eu queria fazer e no início eles não me apoiaram muito”. (A8) Enquanto que, o não apoio é visto por alguns como incerteza e dúvidas diante de tal escolha. Apesar do não apoio de alguns familiares, os adolescentes em questão se sentem motivados para fazer o curso que escolheram, porém, não descartam o medo de fracassarem. Sobre isso Bohoslavsky (1998 apud FILOMENO, 1997 p.35) afirma que “há medo também de escolher o que gosta por sentir que isso implica um abandono das expectativas dos pais”. “(...) A gente fica com medo de ir contra o que os nossos pais falam. A gente fica com esse receio de fazer o que a gente quer e não dar certo (...)” (A3) 15 “(...) Eu fiquei sem certeza, com dúvida, com muita dúvida se eu tentaria ou não. Eu queria o apoio deles, fiquei triste, decepcionada, porque eu queria o apoio deles. Porque tudo o que a gente quer é o apoio de quem a gente gosta, aí a gente fica assim indecisa”. (A3) Categoria 4: A Influência Implícita da Família na Escolha Profissional. A influência implícita e indireta pode ser percebida na fala dos adolescentes. Segundo Filomeno (1997,p.18) “existe uma influência implícita e indireta, pois é no ambiente familiar que a criança vai se formando e interiorizando conceitos e valores que a família possui e, de geração para geração, repassa a seus integrantes”. A seguir algumas falas significativas acerca da influência implícita da família: “(...) A empresa do meu pai mexe com o curso que é a área que eu me interesso. Então eu conheço como é o dia-a-dia da empresa, como é que funciona tudo lá dentro (...)”. (A6) “(...) Como eu fui criado naquilo, meu pai é dono de terreno (...)”. (A7) Enfim como se pode perceber aqui nas quatro categorias abordadas, a família positiva ou negativamente é presença marcante na vida desses adolescentes e não pode deixar de ser considerada quando se trata de projeto de vida. Explícita e direta e ou implícita e indireta as famílias foram representativas para tais escolhas. Considerações Finais Sendo assim, esse artigo buscou analisar a influência da família na escolha profissional do sujeito adolescente, bem como seu processo de escolha profissional, demonstrando a sua importância. Ainda, pretendeu-se, através deste artigo, demonstrar 15 como a influência da família se apresenta para os adolescentes, uma vez que com a chegada do 3º Ano do Ensino Médio espera-se que essa escolha já tenha sido feita. Vemos, portanto, que esta proposta de pesquisa se justificou por analisar as vantagens e desvantagens da influência da família na escolha da profissão de seus descendentes, uma vez que se trata de um momento difícil e decisivo na vida dos adolescentes. Pode-se dizer que para as escolhas profissionais realizadas ou em realização pelos adolescentes devem ser levadas em consideração o momento de vida do quais estes estão passando. Geralmente tem-se uma opção e com a chegada do Ensino Médio, mais precisamente no 3º Ano, que esta escolha será realizada. Escolhas por identificação e aptidão foram relatadas pelos adolescentes. Uns pela facilidade com determinadas disciplinas ou até mesmo pela identificação com o professor da disciplina. Fato citado pelos adolescentes durante a pesquisa, subentende-se que o adolescente pode escolher o curso pela proximidade com a área. O meio que foram criados como se pôde perceber na opinião dos adolescentes foi um fator decisivo para tais escolhas.Em contrapartida na infância faz-se escolhas profissionais o que não quer dizer que estas permanecerão, fato citado pelos adolescentes. A expectativa dos pais para que os filhos façam determinados cursos estabelecidos por eles, são tendenciosos na escolha profissional podendo tornar-se esta insegura e plena de inconstância, acarretando inclusive na própria desistência do curso superior durante esse processo de formação ou na formação frustrante de um profissional. Observamos a influência de amigos e primos também durante esse processo. Os meios de comunicação como internet, televisão foram os mais citados como fontes de informação relacionadas às profissões. A escola fortemente citada pelos adolescentes aparece como uma carência nesse aspecto, carecendo de informações e apoio neste momento tão difícil e decisivo na vida dos adolescentes. A escola não dar o apoio necessário. Enfim, concluímos que há influência familiar na escolha profissional desses adolescentes pois, considerando as influências que poderão ser diretas e explícitas e indiretas e implícitas, as opiniões dos pais dos adolescentes positivas ou negativas fora determinantes para as escolhas profissionais e o sentimento destes frente às opiniões dos 15 pais, foram fatores decisivos para as suas escolhas. Vale ressaltar que positiva ou negativamente, as famílias em questão têm lugar importante e considerável quando se trata de projeto de vida na vida desses adolescentes. Enfim, positiva ou negativamente, a influência dos pais foi um fator considerável na definição profissional dos filhos, ainda que nem sempre eles reconheçam. REFERÊNCIAS ALMEIDA, M.E.G. de; PINHO, L. V. de. Adolescência, família e escolhas: implicações na orientação profissional. Psicologia Clínica. Rio de Janeiro, v.20,n.2, 2008.Disponível em: < www.scielo.br/scielo > Acesso em: 20 abr. 2011. CANEDO, I.R. Reorientação Profissional na Aposentadoria. In: LISBOA, M. D.; SOARES, D. H. P. (orgs.). Orientação Profissional em Ação. São Paulo: Summus, 2000. p. 183-215. FILOMENO,K. Mitos Familiares e escolha profissional: uma visão sistêmica. São Paulo: Vetor, 1997. GABEL,C.L.M; SOARES, D.H. P. Contribuições da Terapia Familiar Sistêmica para a Escolha Profissional. Revista Brasileira de Orientação Profissional. Santa Catarina: Blumenau, 7(1), 2006. p.57-64. LARA,L.D.de et al.O Adolescente e a Escolha Profissional: Compreendendo o processo de decisão. Arq.Ciênc.Saúde Unipar. Umuarama,v.9(1), ,jan./abr. 2005. p. 57-61. MACEDO, E.C.de. O rádio informa para o futuro. In: LISBOA,M.D.;SOARES,D.H.P. (orgs.). Orientação Profissional em Ação. São Paulo: Summus, 2000. p. 201-214. MANSÃO,C.S.M.Ampliando os rumos da Orientação profissional no novo século. In: LISBOA,M.D.;SOARES,D.H.P. (orgs.). Orientação Profissional em Ação. São Paulo: Summus, 2000. p.85-97. MINAYO,M.C.de S.Fase de Trabalho de Campo. In: MINAYO, M.C.de S. O desafio do conhecimento: pesquisa qualitativa em saúde. São Paulo: Hucitec, 2004. p. 105-196. MOREIRA,F.C.da S.Orientação Profissional: Uma visão Multidisciplinar. In: LISBOA, M. D.; SOARES, D. H. P. (orgs.). Orientação Profissional em Ação. São Paulo: Summus, 2000. p. 134-143. 15 OLIVEIRA, O. B. A. Orientação Vocacional e Profissional no Ensino Médio. In: LISBOA, M. D.; SOARES, D. H. P. (orgs.). Orientação Profissional em Ação. São Paulo: Summus, 2000. p. 98-110. OLIVEIRA, F. O; WERBA, G. C. Representações Sociais. In: STREY, M. N. (et al.) Psicologia Social Contemporânea: livro-texto. 7ª edição. Petrópolis, RJ: Vozes, 2002. ROSSET,S.M. Famílias com Adolescentes. In: OSÓRIO,L.C.; PASCUAL DO VALLE,M.E. (org.). Manual de Terapia Familiar. Porto Alegre: Artmed, 2009. p. 263-272. SANTOS,L.M.M.dos. O Papel da Família e dos Pares na Escolha Profissional. Psicologia em Estudo, Maringá, v.10, n.1, jan./abr.2005. p. 57-66 SARTORI,F.A. et al. Interesses profissionais de jovens de ensino médio: estudo correlacional entre a escala de aconselhamento profissional e o self-directed search carrier explorer. Estudos de psicologia. Campinas, v.27,n.2, abr./jun. 2010. p. 215-225. SIMIONI, A. M. C.; LEFÈVRE, F. e PEREIRA, I. M. T. B. Metodologia qualitativa nas pesquisas em saúde coletiva: considerações teóricas e instrumentais. São Paulo: USP. Série Monográfica, no 2, 1996.