Telitromicina (Ketek®): outra restrição terapêutica
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Telitromicina (Ketek®): outra restrição terapêutica
Rev Panam Infectol 2007;9(1):50-51 PUNTO DE VISTA/PONTO DE VISTA Telitromicina (Ketek ): outra restrição terapêutica ® Telithromycin (Ketek®): other therapeutic limitation Hélio Vasconcellos Lopes* * Professor Titular da Faculdade de Medicina da Fundação do ABC. Chefe da Enfermaria de Doenças Infecciosas do Hospital Mario Covas. Rev Panam Infectol 2007:9(1):50-51 Recibido en 14/2/2007. Aceptado para publicación en 28/2/2007. 50 Telitromicina é um novo antibiótico que foi originalmente aprovado pelo FDA, nos EUA, em 2004, e manufaturado pelo laboratório Sanofi Aventis. É um antibiótico derivado da classe dos macrolídeos, pela inclusão de um radical keto em sua estrutura química, transformando-o em uma outra classe (ou subclasse), a dos ketolídeos. Assim, este antibiótico veio concorrer com os demais macrolídeos (azitromicina, claritromicina e roxitromicina) devido à similaridade dos espectros de ação. Contudo, após pouco mais de dois anos de utilização plena, a droga acaba de sofrer sério abalo; no dia 12 de fevereiro deste ano, devido ao FDA ter estabelecido sérias restrições a uso, a saber: 1. O laboratório é obrigado a inserir um guia da medicação (semelhante à bula), informando os pacientes sobre os riscos a serem evitados com esta medicação. 2. O FDA suspende duas das indicações formais de Ketek®, contra-indicando seu uso no tratamento de exacerbação aguda de bronquite crônica (causada pelo pneumococo, pelo Haemophilus influenzae ou pela Moraxella catarrhalis). Também contra-indica seu uso no tratamento de rinossinusite aguda bacteriana (causada pelo pneumococo, H. influenzae, M. catarrhalis ou Staphylococcus aureus. 3. A única indicação que permanece mantida é para o tratamento de pneumonia adquirida na comunidade (de leve a moderada gravidade), causada pelo pneumococo – inclusive contra os isolados multirresistentes –, pelo H. influenzae, pela M. catarrhalis, e, ainda, pelas atípicas Chlamydophila pneumoniae e Mycoplasma pneumoniae, para pacientes com ou mais de 18 anos de idade. 4. O Comitê do FDA que avaliou a droga, em 14 e 15 de dezembro de 2006, adverte que os benefícios da droga superam os riscos em pacientes com pneumonia adquirida na comunidade, mas não naqueles pacientes com rinossinusite aguda bacteriana ou com exacerbação aguda de bronquite crônica. Lopes HV • Telitromicina (Keek®): outra restrição terapêutica Antibiótico Tratamento para 5 dias2 Tratamento para 7 dias2 R$ 140,81 R$ 197,14 Klaricid UD R$ 95,96 R$ 133,04 Zitromax® R$ 39,58 ----------- Azitromicina genérico R$ 17,91 ----------- Roxitromicina genérico R$ 48,74 R$ 73,11 Ketek ® ® 5. Inclui, na bula, a contra-indicação de Ketek® para pacientes com miastenia gravis e reforça a advertência relativa aos potenciais efeitos adversos do antibiótico: distúrbios visuais e perda da consciência. Anteriormente já havia sido efetuado um alerta sobre a ocorrência de hepatite tóxica que, embora de ocorrência rara, exterioriza-se com sintomatologia grave de doença hepática. Com relação à hepatotoxicidade, tem sido detectada a ocorrência de insuficiência hepática aguda e doença hepática grave - e em alguns casos, fatal – em pacientes tratados com Ketek®. Casos de hepatite fulminante e necrose hepática chegaram a exigir a realização de transplante. Estes casos ocorreram durante ou imediatamente após o tratamento com a droga. Outra recomendação é que o antibiótico deve ser contra-indicado em paciente com história de hepatite prévia e/ou icterícia associada com o uso de Ketek® ou qualquer antibiótico da classe dos macrolídeos. Esse antibiótico é disponível e usado extensivamente em muitas outras regiões – além dos EUA – incluindo Europa e Japão. Quanto ao Brasil, creio que esse produto perderá mais uma grande parcela de seu receituário, já altamente prejudicado pelo seu preço de venda comparado com o de seus concorrentes diretos, como é apresentado acima. De qualquer modo, está ocorrendo uma inversão na disponibilidade de antibióticos: nos últimos anos tivemos de novo a linezolida e, mais recentemente, a tigeciclina. Perdemos duas fluorquinolonas (trovafloxacino e grepafloxacino) há alguns anos e, em 2006, o gatifloxacino. Agora, parcialmente, a telitromicina. Vamos indo mal! Referências 1. FDA-US Food and Drug Administration, February 12, 2007. 2. Kairos, dezembro de 2006. Correspondência: Dr. Hélio Vasconcelos Lopes Av. Brigadeiro Luís Antonio, 4.178 CEP 01402-002 - São Paulo - SP - Brasil. e-mail: [email protected] 51