Um Salão que acelera motores e corações
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Um Salão que acelera motores e corações
# 12 – novembro 2012 Mão na roda Um Salão que acelera motores e corações C om mais de meio século nos trilhos, o Salão Internacional do Automóvel de São Paulo é o maior e mais importante evento automotivo da América Latina. Entre 24 de outubro e 4 de novembro no Pavilhão de Exposições do Anhembi, todos os apaixonados por carros puderam desfrutar das grandes tendências do setor e o que há de mais moderno no mundo dos automóveis, sem sair do Brasil. Daquela 1º edição, em 1960, que reuniu 12 montadoras existentes na época, muito se avançou. Em 1978 se celebrou a marca de 2 milhões de veículos fabricados no Brasil e a presença maciça de fabricantes de autopeças. Nos anos de 1990 o evento se internacionalizou, mostrando uma indústria nacional apta para a concorrência mundial. Esta 27º Salão foi uma edição pródiga em novidades de todos os segmentos, em design, estilo e motorizações. Mostrou o amadurecimento da engenharia brasileira e a maioridade da indústria no que diz respeito à criatividade, eficiência dos modernos motores, menores índices de emissões de poluentes e rapidez de adaptação às novas e mutantes necessidades mercadológicas. Sejam pelos quase 750.000 visitantes, seja pelo aumento no número de marcas (este ano foram 49 contra 42 na última edição) ou pela quantidade de carros expostos (500 veículos; 10% a mais do que em 2010), o evento mostra como a indústria mundial está com foco no Brasil. Os holofotes na indústria automobilística no Brasil têm justificativa. Pesquisa realizada pela Reed Exhibitions Alcântara Machado, organizadora do evento, junto ao público visitante, por exemplo, apontou que 55% dos visitantes do Salão pretendem trocar de carro nos próximos seis meses. Outros indicativos da relevância do evento foram lançamentos mundiais feitos por montadoras, entre eles: Taigun (Volkswagen), Onix (General Motors) e HB20 (Hyundai). Foi alto também o volume de carros elétricos e híbridos apresentados. A importância hoje do Salão Internacional do Automóvel de São Paulo para o mercado é incontestável. Se antes as novidades eram prioridades para Europa e EUA, hoje o fluxo se inverteu e o Brasil virou porta de entrada e vitrine de lançamentos globais. JornalDaCasa é uma publicação de CasaDoBrasil. www.casadobrasil.com.uy Editor: Leonardo Moreira. Mail: [email protected] # 12 – novembro 2012 Boca no trombone Sem palavras performance original e surpreendente. E o filme permite que o espectador se entregue inteiramente à música. Profunda conhecedora do material de arquivo de seu avô, Dora Jobim fez um levantamento extenso dos arquivos, e seu ouvido musical foi importante instrumento na hora da montagem. C ontinuando com o ciclo “Brasil no mundo”, CasaDoBrasil exibiu “A música segundo Tom Jobim”, um filme para ver com os ouvidos e escutar com os olhos. O extraordinário universo da música de Antônio Carlos Jobim não cabe em palavras. Foi com essa idéia em mente e a sensibilidade aguçada que o diretor Nelson Pereira dos Santos (ver JornalDaCasa #5), ao lado de Dora Jobim, se dispôs a encarar o desafio de desvendar em filme a trajetória musical do grande compositor brasileiro, autor de uma obra eterna, de alcance internacional. Nelson Pereira dos Santos, que sempre teve grande admiração pelo Jobim, já tinha dirigido, em 1985, um programa especial sobre ele para a televisão brasileira. Quando decidiu fazer este documentário percebeu que o acervo de fotos e filmes da família do compositor e os arquivos obtidos pela pesquisa de Antonio Venâncio eram tão ricos que o próprio material podia, por si só, contar a história de Tom. “Vi que em cada imagem havia uma outra história”, diz Nelson. “E mais outra. Era uma história dentro da outra, contando tudo através da música”. Assim, a espinha dorsal do filme foi construída com base na música e nas imagens em movimento e fotográficas. Dessa forma, a atenção se concentra em cada foto, em cada A roteirista Miúcha Buarque de Holanda levou para o filme a visão artística e pessoal do compositor. Ela foi grande amiga de Tom, que conheceu quando os dois freqüentavam o ipanemense bar Veloso, popular entre artistas na década de 70, e onde foi composta a famosa “Garota de Ipanema”, com Vinicius de Moraes. Miúcha teve convívio musical intenso com Tom Jobim, organizou a pesquisa e desenvolveu a base da história de Tom: sua personalidade, seu humor, sua sagacidade, seu talento, a sofisticação da sua música. A direção musical de Paulo Jobim, músico e filho de Tom, também foi imprescindível. Paulo foi o ouvido musical do filme e cuidou da qualidade do áudio de cada arquivo. Seguindo então a emblemática frase de Tom de que "a linguagem musical basta", Nelson Pereira escolheu o caminho sensorial da imagem e do som para exibir o trabalho do Jobim. Não há uma palavra sequer no filme. E nem é preciso. Uma sucessão de imagens de grandes intérpretes brasileiros e internacionais em performances inesquecíveis, e do próprio Tom, em diferentes momentos, alinha sua trajetória musical. Está tudo lá: a força e a beleza da sua música, as diferentes fases do artista, o alcance e a poesia das suas canções, sua personalidade musical, a importância da sua obra. Tudo conduzido de forma vigorosa e poética, sem necessidade de maiores explicações. Apenas o prazer e a emoção de ouvir o "maestro soberano". # 12 – novembro 2012 Ao pé da letra As rosas não falam V endo o jardim de sua pequena casa no morro da Mangueira cheio de rosas pela primeira vez, Eusébia Silva do Nascimento, a dona Zica, não conseguiu conter a surpresa e chamou o marido: “Cartola, vem ver! Por que é que nasceu tanta rosa assim?” A resposta foi simples: “Não sei, Zica. As rosas não falam...” Estava criada ali a ideia para aquela que se tornaria a música mais famosa de Angenor de Oliveira, o Cartola (1908-1980). Nascido de uma família operária no bairro carioca do Catete, Cartola se mudou para a Mangueira aos 11 anos. No morro, seria um dos fundadores da Estação Primeira da Mangueira, segunda escola de samba do Rio de Janeiro, e comporia sambas cujo lirismo e cuja elaboração harmônica garantiriam ao franzino Angenor, uma das posições mais altas entre os grandes compositores brasileiros. Bate outra vez Com esperanças o meu coração Pois já vai terminando o verão Enfim Volto ao jardim Com a certeza de que devo chorar Pois bem sei que não queres voltar Para mim Queixo-me às rosas, mas que bobagem As rosas não falam Simplesmente as rosas exalam O perfume que roubam de ti Devias vir Para ver os meus olhos tristonhos E, quem sabe, sonhavas meus sonhos Por fim Tinha só o terceiro ano primário e fez de tudo um pouco em seus 72 anos de vida, sem nunca ter deixado o violão. Foi pintor de paredes, lavador de carros, estivador, camelô, gráfico, vigia e pedreiro. Desta última, uma de suas primeiras profissões, herdou o apelido com o qual ficaria conhecido na música por usar um chapéucoco para se proteger do pó de cimento nas construções onde trabalhava. Mesmo reverenciado por nomes como VillaLobos e Carlos Drummond de Andrade e cantado por Francisco Alves, Carmen Miranda e Elis Regina, Cartola só conseguiu realizar o sonho de gravar o próprio disco às vésperas de seu aniversário de 66 anos. “As rosas não falam” só apareceria dois anos depois, no seu segundo álbum, onde foi acompanhado de alguns dos melhores músicos de sua época, como o cavaquinista Canhoto e o flautista Altamiro Carrilho, e apresentava outras inéditas, como a também obra-prima “O mundo é um moinho”. Discos onde ouvir Cartola – Cartola II (1976) Beth Carvalho – Mundo melhor (1976) Fagner – Eu canto – Quem viver chorará (1978) Léo Gandelman – Pérolas negras (1996) Paulinho da Viola – Bebadachama (1997) É. Medeiros e Márcia – Cartola 90 anos (1998) Ney Matogrosso – Interpreta Cartola (2002) Alcione – Ao vivo 2 (2003) # 12 – novembro 2012 Presentes Paula e Jaques Morelenbaum, novembro no Teatro Solis Carlos dos Santos, 1 de novembro no Auditorio Nacional del Sodre C arlos dos Santos é bailarino, coreógrafo, modelo, ator e professor. No começo deste mês, foi convidado pelo Ballet Nacional Sodre (BNS) para dar uma aula magistral no Auditorio Nacional. Nascido em Salvador (BA) em 1970, Carlos que mora em Nova York faz duas décadastem sido primeira figura em muitas das principais companhias dos Estados Unidos, entre as quais, Alvin Ailey Repertory Ensemble, Complexions, Cleo Parker, Robinson e Dance Ensemble. Também há trabalhado em instituições de referência no Brasil, tais como Balé Folclórico da Bahia, Balé Teatro Castro Alves e Dance Brazil. Autor de numerosas coreografias, ele gosta de misturar diferentes estilos. “Os bailarinos têm que ter maior repertório de linguagens. Os coreógrafos procuram bailarinos que façam de tudo, porque as companhias clássicas hoje incluem contemporâneo, moderno e peças teatrais, muito corporais.” Enquanto sua experiência em Montevidéu, desabafou: "Gostei muito de trabalhar com o BNS; os bailarinos são muito fortes; eu exigia e eles pediam mais ainda. Tomara que eu possa voltar em breve com o projeto pessoal.” 8 de Jaques Morelenbaum é violoncelista, arranjador, maestro, produtor musical e compositor. Integrou o grupo A Barca do Sol e participou por dez anos na Nova Banda de Antônio Carlos Jobim, atuando em espetáculos e gravações que os levaram a vencedores do Prêmio Grammy com o cd “Antônio Brasileiro” (1994). Desde 1995 integra o Quarteto Jobim Morelenbaum, junto a Paulo Jobim (violão e voz), Daniel Jobim (piano e voz), e Paula Morelenbaum (voz). Com Paula e o renomado pianista e compositor japonês Ryuichi Sakamoto também formou o grupo M2S, gravando projetos memoráveis, como “Casa” (2001) e “A day in New York” (2003). Arranjou discos de Tom Jobim, Caetano Veloso, Gal Costa, Paula Morelenbaum, Ivan Lins, Barão Vermelho, Skank, Marisa Monte, Beto Guedes, Carlinhos Brown, Titãs, os portugueses Madredeus, Dulce Pontes e Mariza, o angolano Paulo Flores, o norteamericano David Byrne, a cabo-verdiana Cesária Évora e a mexicana Julieta Venegas. Jaques já esteve em Montevidéu, sendo violoncelista e arranjador musical dos shows de Caetano: “Circuladô vivo” (1994), “Fina estampa ao vivo” (1996) e “Prenda minha” (1999). Retornou, desta vez com sua mulher Paula, numa homenagem a Vinicius de Moraes, no começo do ano em que se comemora o centenário do nascimento do “poetinha”. # 12 – novembro 2012 Telinhas e telonas Destino São Paulo: de olho em imigrantes escola (Dia de Independência), de um jovem nigeriano que luta para ser respeitado pelo irmão mais velho, envolvido em negócios ilícitos (Sereno), ou de um coreano que tenta realizar o sonho do avô (O banquete do avô). Ou ainda de um rapaz judeu e homossexual que enfrenta a família tradicional (O noivo do filho), de um jovem casal chinês, que busca a felicidade num mundo novo (O par perdido), e de três amigos, dois chilenos e um argentino, que fazem malabarismos para sobreviver (Pão e circo). U ma nova produção brasileira está sendo exibida em toda a América Latina através do canal a cabo HBO (domingos, 23 horas). Produzida pela O2 Filmes, “Destino SP” retrata as frustrações e alegrias que fazem parte da vida de imigrantes que chegam à cidade de São Paulo diariamente, em busca de oportunidades. Em cada um dos seis episódios, os costumes e as tradições de um grupo diferente ganham a cena, apresentados em histórias comoventes que trazem à tona os conflitos diários e o choque de culturas. Os coreanos, no Bom Retiro, os africanos, no Centro, os latinos artistas de rua, os chineses, na Liberdade, os judeus ortodoxos, nos Jardins e os bolivianos, na Zona Norte representam aqueles que chegam a um novo destino, buscando uma nova vida. A partir dessas comunidades, “Destino SP” faz um recorte intimista e retrata os bastidores da vida de imigrantes, dentro de suas casas e guetos, revelando cenários incomuns da cidade de São Paulo. Falada na língua natal de cada grupo de estrangeiros, a produção aposta em um elenco de novos talentos, grande parte deles imigrantes, para dar vida a personagens encantadores e inusitados. É o caso de um menino boliviano que enfrenta todos os dias a violência (bullying) dos colegas de sua A direção é de Fábio Mendonça e Alex Gabassi, com direção de fotografia de Marcelo Trotta e o uruguaio César Charlone. A direção de arte é de Cássio Amarante e a montagem é de Deo Teixeira, Lucas Gonzaga e Marcinho Hashimoto. As filmagens ocorreram em 17 locações de Sampa, com um elenco de 12 atores e 160 figurantes. Um dos destaques fica por conta da participação do estilista Alexandre Herchcovitch e seu pai, Benjamin Herchcovitch (foto), repetindo na ficção os papéis de pai e filho. “Destino SP” expõe uma realidade ainda pouco conhecida da maior metrópole da América Latina, mostrando não apenas as diferenças entre as diversas etnias, mas principalmente o que há de universal nas relações humanas. Uma produção única que mistura drama, comédia e romance e traz um novo olhar sobre a cidade. # 12 – novembro 2012 Estilos musicais Rock Brasil – 1986-2000 A boa fase do Rock Brasil entraria por 1987, com a explosão de Lobão (“Vida Bandida”) e mais um punhado de LP, como “A Revolta dos Dândis” (a obra-prima dos Engenheiros do Hawaii), “Jesus Não Tem Dentes no País dos Banguelas” (Titãs), “Que País É Este – 1978/1987” (Legião Urbana) e “Sexo!” (Ultraje a Rigor). Surpresa foi o aparecimento do carioca Fausto Fawcett e seus Robôs Efêmeros, com o rap “Kátia Flávia - a Godiva do Irajá”, e o selo Plug, da gravadora RCA, que apostou em novíssimos nomes, como os cariocas Picassos Falsos e Hojerizah, os gaúchos Defalla e TNT, o paulistano Violeta de Outono, entre outros. Apesar das reconhecidas qualidade e inovação, poucas bandas do Plug passaram do segundo LP, sendo uma rara exceção a banda gaúcha Nenhum de Nós. De 1988 em diante, o Rock Brasil experimenta um refluxo, com uma dificuldade cada vez maior das bandas de recuperar os níveis de vendagem e execução. Cazuza, já infectado pela Aids, começa a refletir sobre sua própria condição (“Ideologia”) e sobre o país (“Brasil”). Também em 88, com 16 anos, Ed Motta chegou com pinta de veterano, injetando funk e soul no disco de estréia com a banda Conexão Japeri. A Legião Urbana atinge um sucesso estrondoso com a música “Faroeste Caboclo” e finaliza seu quarto e mais bem-sucedido LP (“As Quatro Estações”), dando início de uma fase onde se misturam nas letras de Renato Russo a busca da afirmação da homossexualidade e as preocupações religiosas. No show carioca deste disco, em 7 de julho de 1989, o clima foi de luto: Cazuza havia morrido. Meses depois, morreria Raul Seixas, pobre, doente e sem reconhecimento. O Rock Brasil encerrava mais uma era. No começo dos 90, ao mesmo tempo em que a crise econômica levava Paralamas e Titãs a vendagens decepcionantes, uma banda mineira gestada no circuito subterrâneo do Rock Brasil, tornava-se uma potência mundial do heavy metal: o Sepultura lançou os bemsucedidos “Beneath The Remains” (1989) e “Arise” (1991). A banda foi atração do segundo Rock In Rio, realizado no Maracanã, que teve como estrelas Prince, Guns’n’Roses, George Michael, Faith No More e Judas Priest, e um escrete nacional do qual fizeram parte Titãs, Engenheiros, Lobão, Paulo Ricardo, Hanoi Hanoi, Sergei, Vid & Sangue Azul, Nenhum de Nós, Capital Inicial, Ed Motta e astros da MPB. No mesmo ano, surgiram, com a música “Falar a Verdade”, os cariocas do Cidade Negra: uma banda de reggae, o ritmo antecipado por Gil e pelos Paralamas, que daria o tom do pop. Em 1990, a MTV estreava no Brasil com fartura de videoclipes internacionais e aumentava significativamente a circulação de informações sobre música. O começo da década coincide com a febre dos grupos cover e dos que, em busca de uma chance no exterior, se limitam a cantar em inglês músicas de gêneros cristalizados no exterior, como o heavy metal. Exceção nessa seara foram os Ratos de Porão, cada vez mais populares no mercado underground cantando em (incompreensível) português. Mas nem mesmo eles resistiram à tentação, gravando em 1994 o LP “Another Crime In Massacreland”, recheado de músicas em inglês. Numa época em que as produções independentes primavam pelo amadorismo, a banda mineira de reggae Skank gravou, às próprias custas, o seu primeiro disco, com alto grau de profissionalismo e apelo pop, chamando a atenção da gravadora Sony, que o relançou sem mexer em nada da gravação. Enquanto isso, em Recife, começava a se destacar uma cena, chamada de mangue beat, de bandas como Chico Science & Nação Zumbi e Mundo Livre S/A, que misturavam ritmos tradicionais como o maracatu com a música pop de vanguarda. Ainda em 1993, aparecia no Rio de Janeiro, com a música “Tô Feliz, Matei o Presidente” # 12 – novembro 2012 (dirigida a Fernando Collor), Gabriel o Pensador, garoto que transformaria o rap brasileiro em um gênero comercial. Na mesma época, os Titãs vieram com a idéia de um selo, dentro da gravadora WEA, para gravar discos de bandas novas. Era o Banguela, que lançou o primeiro disco do Mundo Livre e o de uma banda de Brasília, que parecia a mistura do punk-rock dos americanos Ramones: Raimundos bateu respeitáveis níveis de vendagem (mais de 100 mil cópias) e abriu o caminho para aquela que seria a mais popular banda de rock brasileiro dos anos 90. Outro peso pesado do rock que apareceu nesse meio da década foi a banda carioca Planet Hemp, liderada por dois rappers (Marcelo D2 e BNegão), com o disco “Usuário”, polêmico por sua defesa da maconha. Junto com os Raimundos, eles forçaram a abertura das rádios para o rock mais pesado, com letras sobre sexo e drogas, repletas de palavrões. Na área do pop, porém, quem mostrou sua força comercial foi o Skank, que entrou 1995 com seu segundo disco, “Calango”, batendo a marca de 1,2 milhão de cópias vendidas. O recorde comercial dessa fase do Rock Brasil, porém, foi a do disco de estréia de uma banda formada por irreverentes e humildes jovens da cidade de Guarulhos, em São Paulo. Eram os Mamonas Assassinas, que lembravam as sátiras de bandas como o Língua de Trapo e o cantor Falcão, e cresciam no palco e na TV graças ao histrionismo e o carisma do vocalista Dinho. Lançado em 1995, “Mamonas Assassinas” logo ganhou o amor do público infantil (e o ódio dos pais), terminando por vender 2,6 milhões de discos. Mas os Mamonas também se tornaram recordistas em brevidade de carreira quando em 1996 os cinco integrantes da banda morreram num acidente de avião. As perdas continuariam: em 1994 a persistente rádio rock Fluminense encerraria suas atividades, em 1996 Renato Russo morreria de Aids, o Circo Voador seria fechado, o vocalista e guitarrista do Sepultura, Max Cavalera, deixaria a banda em seu auge e, no Carnaval de 1997, chegaria a vez de Chico Science morrer num acidente de carro, em Recife. Meses antes, a Nação Zumbi havia lançado sua obra-prima (“Afrociberdelia”) e tinha feito até uma turnê européia ao lado dos Paralamas do Sucesso. Os (a essa altura) veteranos nomes do Rock Brasil brilharam com mais ou menos intensidade. Lulu Santos voltou ao grande sucesso, na fase dance do LP “Assim Caminha a Humanidade” (1994), Fernanda Abreu ressurgiu como uma espécie de primeira dama do funk-disco com “Da Lata” (1995), e quem também engatilhou uma bem-sucedida (mais artística do que comercialmente) carreira solo foi o ex-Titãs Arnaldo Antunes, que estreou com o LP “Nomes” (1994). A revisão acústica dos sucessos de carreira foi um expediente que rendeu aos Titãs e Paralamas. Kid Abelha e Barão Vermelho também experimentaram uma volta às boas vendagens, respectivamente com os discos “Meu Mundo Gira em Torno de Você” e “Álbum”, ambos lançados em 1996. Artistas na fronteira entre o pop-rock (a novidade sonora) e a MPB (a tradição, a qualidade das letras) chegaram à mídia: vieram os cariocas Paulinho Moska (exInimigos do Rei) e Pedro Luís (com sua banda A Parede), o pernambucano Lenine, o paraibano Chico César e o maranhense Zeca Baleiro. Minas Gerais, por sua vez, reforçava o pop com duas bandas de sucesso: Jota Quest e Pato Fu, da doce vocalista Fernanda Takai. Mas as grandes surpresas vieram dos cariocas Rappa (de fusão rock-reggae-funksamba) e do rap de denúncia social dos paulistanos Racionais MCs. Os anos 90 terminaram com a ressurgimento do rock, provocado pelo sucesso de bandas novatas, como Los Hermanos, Penélope, Autoramas, e dos veteranos Charlie Brown Jr., Ultraje a Rigor, Capital Inicial e Plebe Rude. Enquanto isso, Lobão corria por fora, lançando por seu próprio selo, Universo Paralelo, o elogiado disco “A Vida é Doce”, num esquema inédito de venda em bancas e na Internet. # 12 – novembro 2012 Conversafiada Mónica Zanocchi: Uruguaios sabem mais de moda mas ainda não é massivo e não está tão presente na rua, nem na televisão, como no Brasil. Muitas vezes a "moda" que se vê não é nem muito sofisticada, nem muito moderna, mas com a democratização da moda e da informação as novas gerações estão super antenadas. V ocê nasceu no Rio de Janeiro mas morou os primeiros anos de sua vida no Nordeste. Que influências daqueles lugares reconhece em você mesma? - Minha família se mudou para Fortaleza quando eu tinha apenas 6 meses, assim que eu me considero cearense e, sem dúvidas, minha forma espontânea e extrovertida de ser tem muito do nordeste brasileiro. Admiro a cultura nordestina: a música, a dança, o artesanato, as comidas e frutas da região (sou apaixonada por caranguejo, tapioca, lagosta, coco, manga, acerola etc.), as cores, o calor, a praia, a temperatura do mar, são todas coisas que me fazem muito bem. - Por que você decidiu morar em Montevidéu? - Depois de morar 8 anos nos Estados Unidos era hora de voltar a estar perto da minha família e grande parte dela está aqui, no Uruguai, porque eu sou filha de uruguaios. Vim provar um tempo e deu certo. Cheguei em 2005 quando o auge da moda estava começando, primeiro fiz um curso técnico de Diseño de Indumentaria, rapidamente comecei a trabalhar no sector e fundei o BlogCouture, primero blog de moda uruguaio. Hoje sou casada com um uruguaio e tenho um estúdio pioneiro de comunicação de moda, junto com minha sócia Natalia Jinchuk, chamado Estudio Couture. - O uruguaio entende de moda? - A moda no Uruguai está crescendo muito, - O que é que a São Paulo Fashion Week tem, e só ela tem? O nível de profissionalização depois de 15 anos de experiência é realmente referente. O portal ffw.com.br dá a melhor cobertura de todas as semanas de moda que eu conheço, dá pra ver tudo em vivo, é completíssima e imediata. O nível de sofisticação das marcas que se apresentam ali é algo a destacar, basta ver o trabalho de Gloria Coelho, Ronaldo Fraga, Reinaldo Lourenço, Osklen, Maria Bonita e Alexandre Herchcovitch. - Como evolucionou a MoWeek e o que representa hoje para a moda local? - MoWeek, que é uma iniciativa da empresaria publicitária Carina Martinez, há crescido e melhorado em suas cinco edições. No começo o mercado não estava muito receptivo, mas o evento criou uma plataforma de comunicação realmente eficaz para marcas que buscam se posicionar no mundo da moda aqui no Uruguai. Hoje MoWeek é o principal evento de moda do Uruguai e também é um grande impulsor da profissionalização do setor no país. - Que você gostaria que Uruguai tivesse de Brasil e vice-versa? - Eu adoraria que o Uruguai tivesse mais opções culinárias, nesse sentido está realmente muito limitado; o Brasil tem de tudo e para todos e é uma maravilha. Do Uruguai para o Brasil eu levaria o estilo de vida daqui que considero é privilegiado. O campo uruguaio também é incrível, tem uma energia especial e única no mundo. Mas em geral, eu amo os dois e adoraria que a relação de cooperação entre o Brasil e o Uruguai fosse mais profunda em geral.