Um Salão que acelera motores e corações

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Um Salão que acelera motores e corações
# 12 – novembro 2012
Mão na roda
Um Salão que acelera motores e corações
C
om mais de meio século nos trilhos, o
Salão Internacional do Automóvel de
São Paulo é o maior e mais importante
evento automotivo da América Latina. Entre
24 de outubro e 4 de novembro no Pavilhão
de Exposições do Anhembi, todos os
apaixonados por carros puderam desfrutar
das grandes tendências do setor e o que há
de mais moderno no mundo dos automóveis,
sem sair do Brasil.
Daquela 1º edição, em 1960, que reuniu 12
montadoras existentes na época, muito se
avançou. Em 1978 se celebrou a marca de 2
milhões de veículos fabricados no Brasil e a
presença maciça de fabricantes de
autopeças. Nos anos de 1990 o evento se
internacionalizou, mostrando uma indústria
nacional apta para a concorrência mundial.
Esta 27º Salão foi uma edição pródiga em
novidades de todos os segmentos, em
design, estilo e motorizações. Mostrou o
amadurecimento da engenharia brasileira e a
maioridade da indústria no que diz respeito à
criatividade, eficiência dos modernos
motores, menores índices de emissões de
poluentes e rapidez de adaptação às novas e
mutantes necessidades mercadológicas.
Sejam pelos quase 750.000 visitantes, seja
pelo aumento no número de marcas (este
ano foram 49 contra 42 na última edição) ou
pela quantidade de carros expostos (500
veículos; 10% a mais do que em 2010), o
evento mostra como a indústria mundial está
com foco no Brasil. Os holofotes na indústria
automobilística no Brasil têm justificativa.
Pesquisa realizada pela Reed Exhibitions
Alcântara Machado, organizadora do evento,
junto ao público visitante, por exemplo,
apontou que 55% dos visitantes do Salão
pretendem trocar de carro nos próximos seis
meses.
Outros indicativos da relevância do evento
foram lançamentos mundiais feitos por
montadoras, entre eles: Taigun (Volkswagen),
Onix (General Motors) e HB20 (Hyundai). Foi
alto também o volume de carros elétricos e
híbridos apresentados. A importância hoje do
Salão Internacional do Automóvel de São
Paulo para o mercado é incontestável. Se
antes as novidades eram prioridades para
Europa e EUA, hoje o fluxo se inverteu e o
Brasil virou porta de entrada e vitrine de
lançamentos globais.
JornalDaCasa é uma publicação de CasaDoBrasil. www.casadobrasil.com.uy
Editor: Leonardo Moreira. Mail: [email protected]
# 12 – novembro 2012
Boca no trombone
Sem palavras
performance original e surpreendente. E o
filme permite que o espectador se entregue
inteiramente à música.
Profunda conhecedora do material de arquivo
de seu avô, Dora Jobim fez um levantamento
extenso dos arquivos, e seu ouvido musical
foi importante instrumento na hora da
montagem.
C
ontinuando com o ciclo “Brasil no
mundo”, CasaDoBrasil exibiu “A música
segundo Tom Jobim”, um filme para ver
com os ouvidos e escutar com os olhos. O
extraordinário universo da música de Antônio
Carlos Jobim não cabe em palavras. Foi com
essa idéia em mente e a sensibilidade
aguçada que o diretor Nelson Pereira dos
Santos (ver JornalDaCasa #5), ao lado de
Dora Jobim, se dispôs a encarar o desafio de
desvendar em filme a trajetória musical do
grande compositor brasileiro, autor de uma
obra eterna, de alcance internacional.
Nelson Pereira dos Santos, que sempre teve
grande admiração pelo Jobim, já tinha
dirigido, em 1985, um programa especial
sobre ele para a televisão brasileira. Quando
decidiu fazer este documentário percebeu
que o acervo de fotos e filmes da família do
compositor e os arquivos obtidos pela
pesquisa de Antonio Venâncio eram tão ricos
que o próprio material podia, por si só, contar
a história de Tom. “Vi que em cada imagem
havia uma outra história”, diz Nelson. “E mais
outra. Era uma história dentro da outra,
contando tudo através da música”. Assim, a
espinha dorsal do filme foi construída com
base na música e nas imagens em
movimento e fotográficas. Dessa forma, a
atenção se concentra em cada foto, em cada
A roteirista Miúcha Buarque de Holanda levou
para o filme a visão artística e pessoal do
compositor. Ela foi grande amiga de Tom, que
conheceu quando os dois freqüentavam o
ipanemense bar Veloso, popular entre
artistas na década de 70, e onde foi
composta a famosa “Garota de Ipanema”,
com Vinicius de Moraes. Miúcha teve convívio
musical intenso com Tom Jobim, organizou a
pesquisa e desenvolveu a base da história de
Tom: sua personalidade, seu humor, sua
sagacidade, seu talento, a sofisticação da
sua música.
A direção musical de Paulo Jobim, músico e
filho de Tom, também foi imprescindível.
Paulo foi o ouvido musical do filme e cuidou
da qualidade do áudio de cada arquivo.
Seguindo então a emblemática frase de Tom
de que "a linguagem musical basta", Nelson
Pereira escolheu o caminho sensorial da
imagem e do som para exibir o trabalho do
Jobim. Não há uma palavra sequer no filme. E
nem é preciso.
Uma sucessão de imagens de grandes
intérpretes brasileiros e internacionais em
performances inesquecíveis, e do próprio
Tom, em diferentes momentos, alinha sua
trajetória musical. Está tudo lá: a força e a
beleza da sua música, as diferentes fases do
artista, o alcance e a poesia das suas
canções, sua personalidade musical, a
importância da sua obra. Tudo conduzido de
forma vigorosa e poética, sem necessidade
de maiores explicações. Apenas o prazer e a
emoção de ouvir o "maestro soberano".
# 12 – novembro 2012
Ao pé da letra
As rosas não falam
V
endo o jardim de sua pequena casa no
morro da Mangueira cheio de rosas
pela primeira vez, Eusébia Silva do
Nascimento, a dona Zica, não conseguiu
conter a surpresa e chamou o marido:
“Cartola, vem ver! Por que é que nasceu
tanta rosa assim?” A resposta foi simples:
“Não sei, Zica. As rosas não falam...” Estava
criada ali a ideia para aquela que se tornaria
a música mais famosa de Angenor de
Oliveira, o Cartola (1908-1980).
Nascido de uma família operária no bairro
carioca do Catete, Cartola se mudou para a
Mangueira aos 11 anos. No morro, seria um
dos fundadores da Estação Primeira da
Mangueira, segunda escola de samba do Rio
de Janeiro, e comporia sambas cujo lirismo e
cuja elaboração harmônica garantiriam ao
franzino Angenor, uma das posições mais
altas entre os grandes compositores
brasileiros.
Bate outra vez
Com esperanças o meu coração
Pois já vai terminando o verão
Enfim
Volto ao jardim
Com a certeza de que devo chorar
Pois bem sei que não queres voltar
Para mim
Queixo-me às rosas, mas que bobagem
As rosas não falam
Simplesmente as rosas exalam
O perfume que roubam de ti
Devias vir
Para ver os meus olhos tristonhos
E, quem sabe, sonhavas meus sonhos
Por fim
Tinha só o terceiro ano primário e fez de tudo
um pouco em seus 72 anos de vida, sem
nunca ter deixado o violão. Foi pintor de
paredes, lavador de carros, estivador,
camelô, gráfico, vigia e pedreiro. Desta
última, uma de suas primeiras profissões,
herdou o apelido com o qual ficaria
conhecido na música por usar um chapéucoco para se proteger do pó de cimento nas
construções onde trabalhava.
Mesmo reverenciado por nomes como VillaLobos e Carlos Drummond de Andrade e
cantado por Francisco Alves, Carmen
Miranda e Elis Regina, Cartola só conseguiu
realizar o sonho de gravar o próprio disco às
vésperas de seu aniversário de 66 anos.
“As rosas não falam” só apareceria dois anos
depois, no seu segundo álbum, onde foi
acompanhado de alguns dos melhores
músicos de sua época, como o cavaquinista
Canhoto e o flautista Altamiro Carrilho, e
apresentava outras inéditas, como a também
obra-prima “O mundo é um moinho”.
Discos onde ouvir
Cartola – Cartola II (1976)
Beth Carvalho – Mundo melhor (1976)
Fagner – Eu canto – Quem viver chorará (1978)
Léo Gandelman – Pérolas negras (1996)
Paulinho da Viola – Bebadachama (1997)
É. Medeiros e Márcia – Cartola 90 anos (1998)
Ney Matogrosso – Interpreta Cartola (2002)
Alcione – Ao vivo 2 (2003)
# 12 – novembro 2012
Presentes
Paula e Jaques Morelenbaum,
novembro no Teatro Solis
Carlos dos Santos, 1 de novembro no
Auditorio Nacional del Sodre
C
arlos dos Santos é bailarino,
coreógrafo, modelo, ator e professor.
No começo deste mês, foi convidado
pelo Ballet Nacional Sodre (BNS) para dar
uma aula magistral no Auditorio Nacional.
Nascido em Salvador (BA) em 1970, Carlos que mora em Nova York faz duas décadastem sido primeira figura em muitas das
principais companhias dos Estados Unidos,
entre as quais, Alvin Ailey Repertory
Ensemble,
Complexions,
Cleo
Parker,
Robinson e Dance Ensemble. Também há
trabalhado em instituições de referência no
Brasil, tais como Balé Folclórico da Bahia,
Balé Teatro Castro Alves e Dance Brazil.
Autor de numerosas coreografias, ele gosta
de misturar diferentes estilos. “Os bailarinos
têm que ter maior repertório de linguagens.
Os coreógrafos procuram bailarinos que
façam de tudo, porque as companhias
clássicas hoje incluem contemporâneo,
moderno e peças teatrais, muito corporais.”
Enquanto sua experiência em Montevidéu,
desabafou: "Gostei muito de trabalhar com o
BNS; os bailarinos são muito fortes; eu exigia
e eles pediam mais ainda. Tomara que eu
possa voltar em breve com o projeto
pessoal.”
8
de
Jaques Morelenbaum é
violoncelista,
arranjador, maestro, produtor musical e
compositor. Integrou o grupo A Barca do Sol e
participou por dez anos na Nova Banda de
Antônio Carlos Jobim, atuando em
espetáculos e gravações que os levaram a
vencedores do Prêmio Grammy com o cd
“Antônio Brasileiro” (1994). Desde 1995
integra o Quarteto Jobim Morelenbaum, junto
a Paulo Jobim (violão e voz), Daniel Jobim
(piano e voz), e Paula Morelenbaum (voz).
Com Paula e o renomado pianista e
compositor japonês Ryuichi Sakamoto
também formou o grupo M2S, gravando
projetos memoráveis, como “Casa” (2001) e
“A day in New York” (2003).
Arranjou discos de Tom Jobim, Caetano
Veloso, Gal Costa, Paula Morelenbaum, Ivan
Lins, Barão Vermelho, Skank, Marisa Monte,
Beto Guedes, Carlinhos Brown, Titãs, os
portugueses Madredeus, Dulce Pontes e
Mariza, o angolano Paulo Flores, o norteamericano David Byrne, a cabo-verdiana
Cesária Évora e a mexicana Julieta Venegas.
Jaques já esteve em Montevidéu, sendo
violoncelista e arranjador musical dos shows
de Caetano: “Circuladô vivo” (1994), “Fina
estampa ao vivo” (1996) e “Prenda minha”
(1999). Retornou, desta vez com sua mulher
Paula, numa homenagem a Vinicius de
Moraes, no começo do ano em que se
comemora o centenário do nascimento do
“poetinha”.
# 12 – novembro 2012
Telinhas e telonas
Destino São Paulo: de olho em imigrantes
escola (Dia de Independência), de um jovem
nigeriano que luta para ser respeitado pelo
irmão mais velho, envolvido em negócios
ilícitos (Sereno), ou de um coreano que tenta
realizar o sonho do avô (O banquete do avô).
Ou ainda de um rapaz judeu e homossexual
que enfrenta a família tradicional (O noivo do
filho), de um jovem casal chinês, que busca a
felicidade num mundo novo (O par perdido),
e de três amigos, dois chilenos e um
argentino, que fazem malabarismos para
sobreviver (Pão e circo).
U
ma nova produção brasileira está
sendo exibida em toda a América
Latina através do canal a cabo HBO
(domingos, 23 horas). Produzida pela O2
Filmes, “Destino SP” retrata as frustrações e
alegrias que fazem parte da vida de
imigrantes que chegam à cidade de São
Paulo
diariamente,
em
busca
de
oportunidades. Em cada um dos seis
episódios, os costumes e as tradições de um
grupo
diferente
ganham
a
cena,
apresentados em histórias comoventes que
trazem à tona os conflitos diários e o choque
de culturas.
Os coreanos, no Bom Retiro, os africanos, no
Centro, os latinos artistas de rua, os
chineses, na Liberdade, os judeus ortodoxos,
nos Jardins e os bolivianos, na Zona Norte
representam aqueles que chegam a um novo
destino, buscando uma nova vida. A partir
dessas comunidades, “Destino SP” faz um
recorte intimista e retrata os bastidores da
vida de imigrantes, dentro de suas casas e
guetos, revelando cenários incomuns da
cidade de São Paulo.
Falada na língua natal de cada grupo de
estrangeiros, a produção aposta em um
elenco de novos talentos, grande parte deles
imigrantes, para dar vida a personagens
encantadores e inusitados. É o caso de um
menino boliviano que enfrenta todos os dias
a violência (bullying) dos colegas de sua
A direção é de Fábio Mendonça e Alex
Gabassi, com direção de fotografia de
Marcelo Trotta e o uruguaio César Charlone.
A direção de arte é de Cássio Amarante e a
montagem é de Deo Teixeira, Lucas Gonzaga
e Marcinho Hashimoto. As filmagens
ocorreram em 17 locações de Sampa, com
um elenco de 12 atores e 160 figurantes. Um
dos destaques fica por conta da participação
do estilista Alexandre Herchcovitch e seu pai,
Benjamin Herchcovitch (foto), repetindo na
ficção os papéis de pai e filho.
“Destino SP” expõe uma realidade ainda
pouco conhecida da maior metrópole da
América Latina, mostrando não apenas as
diferenças entre as diversas etnias, mas
principalmente o que há de universal nas
relações humanas. Uma produção única que
mistura drama, comédia e romance e traz um
novo olhar sobre a cidade.
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Estilos musicais
Rock Brasil – 1986-2000
A
boa fase do Rock Brasil entraria por
1987, com a explosão de Lobão (“Vida
Bandida”) e mais um punhado de LP,
como “A Revolta dos Dândis” (a obra-prima
dos Engenheiros do Hawaii), “Jesus Não Tem
Dentes no País dos Banguelas” (Titãs), “Que
País É Este – 1978/1987” (Legião Urbana) e
“Sexo!” (Ultraje a Rigor). Surpresa foi o
aparecimento do carioca Fausto Fawcett e
seus Robôs Efêmeros, com o rap “Kátia
Flávia - a Godiva do Irajá”, e o selo Plug, da
gravadora RCA, que apostou em novíssimos
nomes, como os cariocas Picassos Falsos e
Hojerizah, os gaúchos Defalla e TNT, o
paulistano Violeta de Outono, entre outros.
Apesar das reconhecidas qualidade e
inovação, poucas bandas do Plug passaram
do segundo LP, sendo uma rara exceção a
banda gaúcha Nenhum de Nós.
De 1988 em diante, o Rock Brasil
experimenta um refluxo, com uma dificuldade
cada vez maior das bandas de recuperar os
níveis de vendagem e execução. Cazuza, já
infectado pela Aids, começa a refletir sobre
sua própria condição (“Ideologia”) e sobre o
país (“Brasil”). Também em 88, com 16 anos,
Ed Motta chegou com pinta de veterano,
injetando funk e soul no disco de estréia com
a banda Conexão Japeri. A Legião Urbana
atinge um sucesso estrondoso com a música
“Faroeste Caboclo” e finaliza seu quarto e
mais bem-sucedido LP (“As Quatro
Estações”), dando início de uma fase onde se
misturam nas letras de Renato Russo a
busca da afirmação da homossexualidade e
as preocupações religiosas. No show carioca
deste disco, em 7 de julho de 1989, o clima
foi de luto: Cazuza havia morrido. Meses
depois, morreria Raul Seixas, pobre, doente e
sem reconhecimento. O Rock Brasil
encerrava mais uma era.
No começo dos 90, ao mesmo tempo em que
a crise econômica levava Paralamas e Titãs a
vendagens decepcionantes, uma banda
mineira gestada no circuito subterrâneo do
Rock Brasil, tornava-se uma potência mundial
do heavy metal: o Sepultura lançou os bemsucedidos “Beneath The Remains” (1989) e
“Arise” (1991). A banda foi atração do
segundo Rock In Rio, realizado no Maracanã,
que teve como estrelas Prince, Guns’n’Roses,
George Michael, Faith No More e Judas
Priest, e um escrete nacional do qual fizeram
parte Titãs, Engenheiros, Lobão, Paulo
Ricardo, Hanoi Hanoi, Sergei, Vid & Sangue
Azul, Nenhum de Nós, Capital Inicial, Ed
Motta e astros da MPB. No mesmo ano,
surgiram, com a música “Falar a Verdade”, os
cariocas do Cidade Negra: uma banda de
reggae, o ritmo antecipado por Gil e pelos
Paralamas, que daria o tom do pop.
Em 1990, a MTV estreava no Brasil com
fartura de videoclipes internacionais e
aumentava significativamente a circulação de
informações sobre música. O começo da
década coincide com a febre dos grupos
cover e dos que, em busca de uma chance no
exterior, se limitam a cantar em inglês
músicas de gêneros cristalizados no exterior,
como o heavy metal. Exceção nessa seara
foram os Ratos de Porão, cada vez mais
populares
no
mercado
underground
cantando em (incompreensível) português.
Mas nem mesmo eles resistiram à tentação,
gravando em 1994 o LP “Another Crime In
Massacreland”, recheado de músicas em
inglês.
Numa época em que as produções
independentes primavam pelo amadorismo, a
banda mineira de reggae Skank gravou, às
próprias custas, o seu primeiro disco, com
alto grau de profissionalismo e apelo pop,
chamando a atenção da gravadora Sony, que
o relançou sem mexer em nada da gravação.
Enquanto isso, em Recife, começava a se
destacar uma cena, chamada de mangue
beat, de bandas como Chico Science &
Nação Zumbi e Mundo Livre S/A, que
misturavam ritmos tradicionais como o
maracatu com a música pop de vanguarda.
Ainda em 1993, aparecia no Rio de Janeiro,
com a música “Tô Feliz, Matei o Presidente”
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(dirigida a Fernando Collor), Gabriel o
Pensador, garoto que transformaria o rap
brasileiro em um gênero comercial.
Na mesma época, os Titãs vieram com a
idéia de um selo, dentro da gravadora WEA,
para gravar discos de bandas novas. Era o
Banguela, que lançou o primeiro disco do
Mundo Livre e o de uma banda de Brasília,
que parecia a mistura do punk-rock dos
americanos Ramones: Raimundos bateu
respeitáveis níveis de vendagem (mais de
100 mil cópias) e abriu o caminho para
aquela que seria a mais popular banda de
rock brasileiro dos anos 90. Outro peso
pesado do rock que apareceu nesse meio da
década foi a banda carioca Planet Hemp,
liderada por dois rappers (Marcelo D2 e
BNegão), com o disco “Usuário”, polêmico
por sua defesa da maconha. Junto com os
Raimundos, eles forçaram a abertura das
rádios para o rock mais pesado, com letras
sobre sexo e drogas, repletas de palavrões.
Na área do pop, porém, quem mostrou sua
força comercial foi o Skank, que entrou 1995
com seu segundo disco, “Calango”, batendo a
marca de 1,2 milhão de cópias vendidas. O
recorde comercial dessa fase do Rock Brasil,
porém, foi a do disco de estréia de uma
banda formada por irreverentes e humildes
jovens da cidade de Guarulhos, em São
Paulo. Eram os Mamonas Assassinas, que
lembravam as sátiras de bandas como o
Língua de Trapo e o cantor Falcão, e cresciam
no palco e na TV graças ao histrionismo e o
carisma do vocalista Dinho. Lançado em
1995, “Mamonas Assassinas” logo ganhou o
amor do público infantil (e o ódio dos pais),
terminando por vender 2,6 milhões de discos.
Mas os Mamonas também se tornaram
recordistas em brevidade de carreira quando
em 1996 os cinco integrantes da banda
morreram num acidente de avião.
As perdas continuariam: em 1994 a
persistente rádio rock Fluminense encerraria
suas atividades, em 1996 Renato Russo
morreria de Aids, o Circo Voador seria
fechado, o vocalista e guitarrista do
Sepultura, Max Cavalera, deixaria a banda
em seu auge e, no Carnaval de 1997,
chegaria a vez de Chico Science morrer num
acidente de carro, em Recife. Meses antes, a
Nação Zumbi havia lançado sua obra-prima
(“Afrociberdelia”) e tinha feito até uma turnê
européia ao lado dos Paralamas do Sucesso.
Os (a essa altura) veteranos nomes do Rock
Brasil brilharam com mais ou menos
intensidade. Lulu Santos voltou ao grande
sucesso, na fase dance do LP “Assim
Caminha a Humanidade” (1994), Fernanda
Abreu ressurgiu como uma espécie de
primeira dama do funk-disco com “Da Lata”
(1995), e quem também engatilhou uma
bem-sucedida (mais artística do que
comercialmente) carreira solo foi o ex-Titãs
Arnaldo Antunes, que estreou com o LP
“Nomes” (1994).
A revisão acústica dos sucessos de carreira
foi um expediente que rendeu aos Titãs e
Paralamas. Kid Abelha e Barão Vermelho
também experimentaram uma volta às boas
vendagens, respectivamente com os discos
“Meu Mundo Gira em Torno de Você” e
“Álbum”, ambos lançados em 1996.
Artistas na fronteira entre o pop-rock (a
novidade sonora) e a MPB (a tradição, a
qualidade das letras) chegaram à mídia:
vieram os cariocas Paulinho Moska (exInimigos do Rei) e Pedro Luís (com sua banda
A Parede), o pernambucano Lenine, o
paraibano Chico César e o maranhense Zeca
Baleiro. Minas Gerais, por sua vez, reforçava
o pop com duas bandas de sucesso: Jota
Quest e Pato Fu, da doce vocalista Fernanda
Takai. Mas as grandes surpresas vieram dos
cariocas Rappa (de fusão rock-reggae-funksamba) e do rap de denúncia social dos
paulistanos Racionais MCs.
Os anos 90 terminaram com a ressurgimento
do rock, provocado pelo sucesso de bandas
novatas, como Los Hermanos, Penélope,
Autoramas, e dos veteranos Charlie Brown Jr.,
Ultraje a Rigor, Capital Inicial e Plebe Rude.
Enquanto isso, Lobão corria por fora,
lançando por seu próprio selo, Universo
Paralelo, o elogiado disco “A Vida é Doce”,
num esquema inédito de venda em bancas e
na Internet.
# 12 – novembro 2012
Conversafiada
Mónica Zanocchi: Uruguaios sabem mais de moda
mas ainda não é massivo e não está tão
presente na rua, nem na televisão, como no
Brasil. Muitas vezes a "moda" que se vê não é
nem muito sofisticada, nem muito moderna,
mas com a democratização da moda e da
informação as novas gerações estão super
antenadas.
V
ocê nasceu no Rio de Janeiro mas
morou os primeiros anos de sua vida no
Nordeste. Que influências daqueles
lugares reconhece em você mesma?
- Minha família se mudou para Fortaleza
quando eu tinha apenas 6 meses, assim que
eu me considero cearense e, sem dúvidas,
minha forma espontânea e extrovertida de
ser tem muito do nordeste brasileiro. Admiro
a cultura nordestina: a música, a dança, o
artesanato, as comidas e frutas da região
(sou apaixonada por caranguejo, tapioca,
lagosta, coco, manga, acerola etc.), as cores,
o calor, a praia, a temperatura do mar, são
todas coisas que me fazem muito bem.
- Por que você decidiu morar em Montevidéu?
- Depois de morar 8 anos nos Estados Unidos
era hora de voltar a estar perto da minha
família e grande parte dela está aqui, no
Uruguai, porque eu sou filha de uruguaios.
Vim provar um tempo e deu certo. Cheguei
em 2005 quando o auge da moda estava
começando, primeiro fiz um curso técnico de
Diseño de Indumentaria, rapidamente
comecei a trabalhar no sector e fundei o
BlogCouture, primero blog de moda uruguaio.
Hoje sou casada com um uruguaio e tenho
um estúdio pioneiro de comunicação de
moda, junto com minha sócia Natalia
Jinchuk, chamado Estudio Couture.
- O uruguaio entende de moda?
- A moda no Uruguai está crescendo muito,
- O que é que a São Paulo Fashion Week tem,
e só ela tem?
O nível de profissionalização depois de 15
anos de experiência é realmente referente. O
portal ffw.com.br dá a melhor cobertura de
todas as semanas de moda que eu conheço,
dá pra ver tudo em vivo, é completíssima e
imediata. O nível de sofisticação das marcas
que se apresentam ali é algo a destacar,
basta ver o trabalho de Gloria Coelho,
Ronaldo Fraga, Reinaldo Lourenço, Osklen,
Maria Bonita e Alexandre Herchcovitch.
- Como evolucionou a MoWeek e o que
representa hoje para a moda local?
- MoWeek, que é uma iniciativa da
empresaria publicitária Carina Martinez, há
crescido e melhorado em suas cinco edições.
No começo o mercado não estava muito
receptivo, mas o evento criou uma plataforma
de comunicação realmente eficaz para
marcas que buscam se posicionar no mundo
da moda aqui no Uruguai. Hoje MoWeek é o
principal evento de moda do Uruguai e
também é um grande impulsor da
profissionalização do setor no país.
- Que você gostaria que Uruguai tivesse de
Brasil e vice-versa?
- Eu adoraria que o Uruguai tivesse mais
opções culinárias, nesse sentido está
realmente muito limitado; o Brasil tem de
tudo e para todos e é uma maravilha. Do
Uruguai para o Brasil eu levaria o estilo de
vida daqui que considero é privilegiado. O
campo uruguaio também é incrível, tem uma
energia especial e única no mundo. Mas em
geral, eu amo os dois e adoraria que a
relação de cooperação entre o Brasil e o
Uruguai fosse mais profunda em geral.

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