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ACIB-Asociação Cultural Israelita de Brasilia
Carta do Oriente-Médio
n. 4/2014
A Carta visa transmitir notícias e
comentários sobre o Oriente-Médio - e
Israel em particular - que usualmente
não chegam ao seu conhecimento.
Observações dos leitores são bem-vindas
e sua privacidade será preservada.
Incidentes em Jerusalem
(Ynet News, 5.11.14)
Ainda durante o conflito em Gaza, o Hamas incitou publicamente os palestinos da Margem Ocidental do Jordão a
criar incidentes com Israel. Pouco depois começaram efetivamente as provocações e, em outubro, três árabes
residentes em Jerusalém destruíram dezenas de lápides do cemitério judaico do Monte das Oliveiras.
Mais graves tem sido as tentativas de jovens militantes palestinos de impedir cristãos e judeus de visitar o Monte
do Templo, atacando os visitantes e a polícia com pedras, fogos de artifício, barras de ferro e até coquetéis
Molotov. Esses jovens depositam esses materiais (trazidos por mulheres, que não são revistadas) na Mesquita de
Al-Aqsa, onde às vezes passam a noite. Essas ações premeditadas coincidem com uma campanha de propaganda
que parte também do Presidente da Autoridade Palestina, Mahmud Abbas, anunciando que “todos os meios devem
ser usados para impedir os judeus de subir ao Monte do Templo”.
No dia 13, quinta-feira, houve uma reunião entre o Primeiro-Ministro Netaniahu, o Rei Abdulla II da Jordânia e o
Secretário de Estado John Kerry, que apelaram para que fossem suspendidos a incitação e os atos de violência,
mas menos de um dia depois a mídia oficial da Autoridade Palestina convocou a população árabe para um “dia de
fúria contra a suposta “profanação” do monte. No dia 18, dois palestinos invadiram uma sinagoga em Jerusalém
matando 5 pessoas, sendo três rabinos e um policial druso, e ferindo a várias outras.
Notas da Redação:
- Para incitar a população, espalha-se na mídia e nas redes sociais islâmicas a acusação de que Israel planeja
destruir Al-Aqsa, a terceira mesquita mais importante para os muçulmanos. Essa campanha é recorrente há
décadas, sendo que foi utilizada em 1929, durante o domínio britânico, para incitar os árabes, que nessa ocasião
massacraram de mais de 130 habitantes judeus da então chamada Palestina.
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- Na guerra de 1967 Israel conquistou a parte de Jerusalém onde se encontra o Monte do Templo e assumiu o
compromisso de respeitar o acesso seguro a todos os lugares santos de todas as religiões, o que vem sendo
estritamente cumprido. Especificamente no caso do Monte do Templo, no acordo de paz assinado com a Jordânia,
Israel garantiu ainda que a administração do local continuaria a cargo da Waqf Islâmica, uma entidade
subordinada àquele país. O governo de Israel mantém o Rei da Jordânia sempre informado sobre os seus
procedimentos para manter a paz no Monte e os policiais israelenses apenas lá permanecem quando há ameaças
à integridade física dos visitantes e turistas, como está ocorrendo atualmente.
- Obedecendo às regras da Waqf islâmica, israelenses e turistas não-muçulmanos estão autorizados a visitar o
Monte do Templo em certos dias e horários, mas não podem entrar na Mesquita de Al-Aqsa e apenas passeiam na
vasta área não edificada. Por decisão da Waqf, os não-muçulmanos estão proibidos de rezar no Monte (e até os
seus movimentos de lábios são monitorados), não podem portar objetos religiosos aparentes, fazer bênçãos,
inclinar-se ou ajoelhar-se.
- Considerando as políticas e os comportamentos vigentes na maioria dos países muçulmanos, que variam da
proibição de construir igrejas e templos até a expulsão e assassinato de membros de outras religiões (sem falar
nos massacres entre sunitas e xiitas), somente Israel pode assegurar a liberdade de culto em Jerusalém, tal como
faz no resto do país.
Rússia vai construir usinas nucleares no Irã
(Andrew E. Kramer, New York Times, 12.11.14)
A Rússia concordou em construir duas novas usinas nucleares no Irã, com a possibilidade de ampliar
posteriormente o acordo para fornecer mais seis. As usinas serão operadas sob monitoramento internacional, sendo
que todo o combustível nuclear usado será fornecido e reprocessado por empresas russas. Ao exigir que o
combustível seja importado e, depois de usado, reexportado, a Rússia está impedindo que o Irã utilize o projeto
para justificar a sua necessidade de enriquecer urânio no país.
N. da R.:
- Nada indica, até agora, que as negociações em curso entre o Grupo dos 5 + 1 (Estados Unidos, China, Rússia,
França e Reino Unido, acrescido da Alemanha) e o Irã, cuja mais recente data-limite era o dia 24 de novembro, e
que foi postergada para 1º de julho de 2015, cheguem a bom termo, isto é, permitam ao Irã desenvolver e utilizar
a energia nuclear para fins estritamente pacíficos mas impedindo-o de fabricar a bomba atômica. Em troca, o
Grupo removeria o restante das restrições econômicas que haviam sido aplicadas ao Irã para convencê-lo a
negociar.
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- Os países sunitas árabes da região, liderados pela Arábia Saudita, além de Israel, têm manifestado sua grave
preocupação com a possibilidade do Irã obter armas nucleares, tendo em vista que já desenvolveu mísseis de
longo alcance, fomenta ações militares ou terroristas por meio de organizações como o Hezbollah, controlando
partes do Iraque, do Líbano e do Iêmen. O risco militar existiria mesmo sem a disponibilidade de mísseis
adaptados àquele uso, pois uma bomba nuclear pode ser transportada em contêineres de aparência inofensiva
para explodir em algum porto.
- Os reiterados pronunciamentos iranianos, inclusive do próprio Aiatolá Khamenei, preconizando a destruição de
Israel e a circunstância de que a ideologia religiosa xiita favorece uma catástrofe de grande proporções para
propiciar a aparição do seu messias (“o Imame escondido”), tem levado a reiterados pronunciamentos do
governo israelense de que, caso fracassem as negociações a cargo do Grupo 5+1, não permitirá que o Irã
obtenha a bomba nuclear. Os Estados Unidos fizeram igualmente manifestações dessa natureza, que implicam
uma ameaça de bombardeio das instalações nucleares iranianas, mas é impossivel aos observadores saber se há
mesmo tal intenção e se ela é militarmente viável.
- As advertências de Israel sobre as negociações com o Irã são essencialmente duas: a) Foi precipitado atenuar
as sanções econômicas que pesavam sobre o Irã apenas para que ele aceitasse participar de um processo
negociador. Como o Irã passou anos ludibriando os seus interlocutores ocidentais e a Agência Internacional de
Energia Atômica enquanto construía as instalações de possível uso militar (número excessivo de centrífugas,
água pesada, mísseis) e só concordou em iniciar negociações por causa das sanções, teria sido mais prudente
mantê-las integralmente em vigor até a conclusão de um acordo, mais exatamente até que a boa-fé iraniana possa
ser comprovada; e b) Caberia decidir sobre o “limiar” (“threshold” no jargão dos negociadores), isto é, em que
estágio do desenvolvimento do seu programa nuclear o Irã seria capaz de produzir rapidamente uma ou mais
bombas nucleares e - a partir daí - formular uma contagem regressiva para que detenha essa marcha e só possa
atingir o “threshold” num período mais longo (1 ano, 2 anos ?) para dar tempo aos países interessados ou
ameaçados de se precaver. Israel sustenta que, se esse período for curto, o Irã poderia fazer um “sprint” e obter
a bomba antes que os serviços de inteligência de outros países o detectassem. Por comentários na mídia,
pareceria que Estados Unidos e Israel mantêm consultas sobre o tema, mas isso estaria longe de significar que
têm uma posição comum.
- Na hipótese do Irã obter a bomba, repetir-se-ia a situação de “equilíbrio do terror” que ocorreu entre a URSS
e as potênciais ocidentais durante a Guerra Fria. A diferença é que o Irã (tal como a Coréia do Norte – e, em
menor grau, o Paquistão) pode não comportar-se tão racionalmente como o fêz a União Soviética. Ademais,
existirá sempre o risco de uma guerra acidental, que os EEUU e a URSS souberam cuidadosamente evitar, se, por
exemplo, houver uma movimentação suspeita em torno de um míssil apontado para Israel. Por essa razão, o
Primeiro-Ministro Netaniahu tem reiterado aos Estados Unidos o perigo de adotar-se a política de
“containment” (contenção), utilizada no relacionamento com a URSS, quando não havia mesmo alternativa, em
vez de simplesmente impedir que o Irã construa a bomba.
Israel ajuda a África a combater o ebola
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(Reuters-Jerusalem Post, 11.11.14)
No dia 14 de novembro Israel enviou 6 contêineres com equipamentos para montar clínicas de campanha em Serra
Leoa, Libéria e Guiné para apoiar o combate ao ebola. Cada unidade terá 20 leitos, equipamento médicohospitalar, oxigênio, certos medicamentos e material para proteção, sendo que serão enviados a esses países
técnicos para a montagem das clínicas. Cooperação adicional com o mesmo objetivo será também prestada aos
Camarões e à Costa do Marfim.
Atendendo a pedido da Autoridade Palestina, Israel cedeu-lhe instrumentos médicos para ajudar a diagnosticar o
vírus entre viajantes procedentes da Jordânia e aqueles entrando em Gaza vindos do Egito. O equipamento
consiste em termômetros para medir a temperatura sem contato físico e dezenas de kits laboratoriais para testes de
sangue, bem como roupas de proteção.
Inovação tecnológica para combate à fome
(David Shamah, Times of Israel, 31.10.14)
A empresa israelense Pimi Agro desenvolveu um produto à base de peróxido de hidrogênio e “alguns aditivos”
que permite conservar frutas e verduras frescas por até 10 semanas, o que reduzirá substancialmente as perdas por
apodrecimento e deterioração, sobretudo durante o transporte. Para os países africanos, a Índia e a China esta é
uma inovação de grande potencial, dado que o transporte nas suas regiões agrícolas é lento e a refrigeração
precária. Estima-se que entre um terço e a metade da produção agrícola no mundo se perde por diversos motivos.
As autoridades dos Estados Unidos, Reino Unido, Alemanha, Austrália, China e de muitos outros países já
aprovaram o uso desse método de preservação que, mesmo não sendo orgânico, é saudável porque permite aos
agricultores reduzir significativamente o uso de fungicidas. O desenvolvimento do produto pelo Technion e pela
Universidade Hebraica levou 15 anos de pesquisas.
Uganda envia 200 estudantes agrícolas a Israel
(Daily Alert, JCPA, 19.09.14)
O Presidente de Uganda, Yowere Museveni, participou da cerimônia de despedida de cerca de 200 estudantes que
participarão de um programa de treinamento agrícola em Israel. Pelo menos 1.100 estudantes de 17 países foram
treinados até hoje nas modernas técnicas agrícolas israelenses.
N. da R.:
- Tendo em vista o interesse do Brasil em ajudar os países africanos, malgrado a sua atual falta de recursos
orçamentários para sustentar programas de cooperação internacional, poderia ser do seu interesse associar-se a
Israel em projetos para o desenvolvimento da África. Além disso, como também pretende desempenhar um papel
construtivo no Oriente-Médio, poderia gestionar para que um ou mais países árabes se juntem a tais iniciativas,
contribuindo assim para aproximar árabes e israelenses.
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O caso das baixas de civis no conflito de Gaza
(David Alexander, Reuters; Michael Wilner, The Jerusalem Post, 7.11.14)
A propósito do suposto “uso excessivo da força” no mais recente conflito com o Hamas, o Chefe do Estado-Maior
do Exército dos Estados Unidos, General Martin Dempsey, declarou à imprensa no dia 6 de novembro que “Israel
fez esforços extraordinários para limitar danos colaterais e baixas civis” dos palestinos em Gaza. “Eles fizeram
algumas coisas extraordinárias... [avisando previamente] que iriam destruir uma determinada estrutura... Além de
jogar folhetos alertando [os moradores dos prédios], desenvolveram uma técnica denominada “bater no teto”,
soltando um explosivo de baixo teor ou um objeto não-explosivo no teto para alertar os residentes a retirar-se do
local que planejavam atacar”.
Disse ainda Dempsey que as perdas de civis foram trág icas, “mas eu penso que as
Forças de Defesa de Israel fizeram o que podiam” para evitá-las. “As FDI não estão interessadas em produzir
baixas de civis. Elas estão interessadas em deter os disparos de foguetes e mísseis de Gaza direcionados a Israel”.
O general informou que enviou uma equipe de oficiais e sub-oficiais a Israel para estudar esse tipo de atuação.
A respeito das críticas feitas pelos palestinos e outros ao desempenho das FDI, declarou o General Dempsey que
“nesse tipo de conflito, em que exigem de você um padrão de comportamento que não exigem do seu inimigo,
você será criticado por mortes de civis”.
N. da R.:
- Essas declarações do Chefe do Estado-Maior do Exército chamaram a atenção especialmente porque
contradizem várias manifestações do Presidente Obama e do Secretário de Estado Kerry, que criticam igualmente
o Hamas, por ter iniciado o conflito, e Israel por ter reagido - conforme o clichê - com “uso excessivo da força”.
Dempsey, que comanda as operações militares americanas contra o Estado Islâmico no Iraque, entre outras, sabe
que as FDI causaram baixas civis em Gaza numa proporção aproximada de 1 por 1 em relação às baixas de
combatentes, enquanto o “escore” usual de americanos ou ingleses é de, no mínimo, de 3 civis para cada
combatente inimigo ferido ou morto.
Hezbollah atua no Brasil. Manifestação da ACIB.
“O Globo” publicou este mês que a Agência Brasileira de Inteligência e a Polícia Federal descobriram que a
organização terrorista Hezbollah estava envolvida em contrabando de drogas e armas para o Brasil e nesse
contexto se havia associado à organização criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC) desde 2006.
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A ACIB divulgou nota sobre o assunto em 11 de novembro, na qual “reitera a sua confiança nas autoridades no
sentido de combater com o máximo rigor as atividades dessa organização, procurando assim evitar que se
reproduzam no Brasil as pregações fundamentalistas, as incitações à violência e os atentados que ocorrem em
outros países”.
N. da R. :
- Os últimos governos brasileiros há anos vêm negando oficialmente a existência de atividades do Hezbollah na
região da “tríplice fronteira” que o Brasil compartilha com a Argentina e o Paraguai e onde se instalaram
imigrantes recentes do Oriente-Médio. Apenas países como Venezuela e Cuba mostram simpatias com as
atividades dos fundamentalistas islâmicos, enquanto os governos de vários países árabes as encaram como graves
ameaças à sua estabilidade e soberania.
A Autoridade Palestina e seus protetores israelenses
(Steven J. Rosen, Gatestone Institue; Elhanan Miller, Times of Israel, 21.10.14)
Após a morte de Yasser Arafat e a eleição do novo Presidente da Autoridade Nacional Palestina (ANP), Mahmoud
Abbas, em 11.11.2004, o governo americano aumentou a ajuda para as atividades de segurança do governo
palestino e estimulou a cooperação nessa matéria entre Israel e a ANP. Os recursos assim disponíveis permitem
que 31 mil dos 83 mil funcionários da ANP exerçam funções ligadas à segurança.
Em abril de 2010 Israel apresentou relatório ao grupo de países que fazem anualmente as doações ao orçamento da
ANP indicando que a cooperação entre as duas partes foi aperfeiçoada e que pedidos prioritários dos palestinos em
matéria de segurança passaram a ser atendidos por Israel em poucos minutos, sendo que no ano de 2009 houve
1.297 operações coordenadas. No relatório de 2011 citam-se 764 reuniões entre autoridades de segurança
israelenses e palestinas.
Nos últimos meses, o Presidente Abbas fez declarações ameaçando terminar a cooperação securitária com Israel se
as suas demandas políticas não fossem aceitas. Referia-se à proposta de que as tropas israelenses se retirassem
progressivamente da Cisjordânia, ao longo de 3 anos, para serem substituídas por contingentes da OTAN, que lá
permaneceriam por certo tempo.
Os analistas de inteligência de Israel estimam que a retirada de Israel causaria a rápida derrubada de Abbas e do
governo da ANP, que seriam substituídos pelo Hamas e que outros grupos, como a Jihad Islâmica, Al-Qaeda e
Estado Islâmico passariam a ter condições de atuar livremente na Margem Ocidental do Jordão. O Major-General
da reserva de Israel, Yaakov Amidror, antigo assessor para a segurança nacional, observou que 90% das prisões de
agentes do Hamas na Margem Ocidental são feitas por Israel e que o Hamas derrotou Abbas nas eleições de 2006
e ocupou Gaza pela força em 2007, o que prova o pouco apoio de que dispõe a ANP no terreno. Segundo Amidror,
Abbas pretende continuar a ser protegido por Israel, “mas êle não pode revelar os seus verdadeiros interesses
porque isso causaria dano ao seu status e à sua honra”.
N. da R.:
- Abbas e o parlamento da AP não se submetem a eleições desde 2006 porque as pesquisas de opinião indicam
que pelo menos dois terços do eleitorado é favorável ao Hamas. A AP é vista pelos palestinos como corrupta e
incompetente, desperdiçando os recursos que recebe dos países doadores, sendo que estes sempre elogiam Abbas
pela sua “moderação” e se abstêm de classificar o regime como uma ditadura. O apoio que recebe, inclusive de
Israel, reflete a necessidade de evitar que seja substituído por fundamentalistas e terroristas.
- A única forma do governo da AP preservar alguma aceitação entre os palestinos e no mundo árabe é espicaçar
Israel continuamente no plano político, frequentemente na Assembléia-Geral da ONU, mas também por meio de
seus agentes e aliados na mídia e nas redes sociais. Nisso, aliás, tem obtido bastante sucesso, pois a “causa
palestina”, apresentada desvirtuadamente como uma “vitimização” dos palestinos pela ocupação militar
israelense da Cisjordânia, sem considerar que a criação do Estado da Palestina requer um prévio acordo que
resolva as divergências entre eles (fronteiras, refugiados, etc), está tendo ampla aceitação.

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