O Amor não pode esperar! 1

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O Amor não pode esperar! 1
O Amor não pode esperar!
1
Rede Shalom e Relatório da ONG/NU para o 23º Capítulo Geral
Eileen Reilly, IENS e Roxanne Schares, IENS
26 de setembro, 2012
Introdução
“O Amor não pode esperar.” Essa mesma urgência que levou Madre Teresa a responder
às necessidades de seu tempo também nos leva a fazer o mesmo.
O mundo em que nos achamos é muito mais complexo e interconectado do que jamais
foi anteriormente. Vivemos nossa vida e missão no meio de um mundo de mudança e
rápida expansão. Apenas no último ano, em 2011, a população do mundo alcançou sete
bilhões. Em 1960, a população era de três bilhões. Isto significa que a população do
mundo mais do que dobrou no período de vida da maioria das pessoas nesta sala.
Por um momento, imaginemos que o mundo é uma vila de 100 pessoas. 2 Se esse fosse
o caso:
61 habitantes seriam asiáticos 14 africanos, 11 seriam europeus, 09 seriam
latino-americanos, e 05 seriam norte-americanos.
 Um teria educação universitária; pelo menos 18 incapacitados de ler ou escrever,
mas 33 teriam telefone celular e 16 estariam on-line na internet.
 50 estariam subnutridos e um estaria morrendo de fome; 33 não teriam acesso à
água potável. Cinco controlariam 32% da riqueza de todo o mundo.
 27 estariam abaixo de 15 anos de idade e sete estariam acima dos 64 . No fim do
ano um teria morrido e dois novos habitantes teriam nascido de forma que a
população cresceria para 101.
Voltando ao palco do mundo, observamos os extraordinários ganhos e urgentes crises
provocadas pelos avanços na Ciência e Tecnologia e o fenômeno da globalização.

Conectados para além das fronteiras e continentes como nunca antes, experienciamos os
mais e os menos da globalização. Esta realidade alterou radicalmente algumas nações
árabes e ao mesmo tempo contribui para o tráfico humano. Ela possibilita uma resposta
quase instantânea às crises globais e permite que transações financeiras ilegais
aconteçam em segundos.
Testemunhamos profundas divisões no nosso mundo e na Igreja; a distribuição desigual
da riqueza e oportunidades continua a resultar em conflitos violentos e uma sucessão de
guerras intermináveis. Relatórios sobre crises da família e da sociedade e a perda do
sentido da vida, seu objetivo e significado são abundantes. A mudança de clima e a
redução da biodiversidade ameaçam nosso planeta como nunca anteriormente. Na nossa
Igreja, muitos estão experimentando uma crise de credibilidade - e alguns diriam
irrelevância - provocada pela crise de abuso, a má administração financeira, e questões
sobre a participação e uso do poder.
E, contudo, sabemos que é dentro deste mundo fragmentado que somos chamadas e
enviadas para testemunhar a unidade. “Partilhamos da missão de Cristo proclamando a
boa nova do Reino de Deus”. (VSE, C2) O teólogo Pe. John Fuellenbach, SVD diz que o
“Reino de Deus significa a transformação desta terra na plenitude do Reino por vir no
futuro”.3 E ele cita o que ele chama de uma definição do Reino, conforme Romanos: “O
Reino de Deus é questão de justiça, paz e alegria no Espírito Santo.” (Rom.14:17)
Em VÓS SOIS ENVIADAS dizemos que “A construção de uma sociedade justa é uma
preocupação especial em todos os ministérios”. (VSE,DG,33) Refletindo sobre estas
realidades mundiais à luz do Evangelho, Vós Sois Enviadas, as palavras de Madre
Teresa, os resultados sobre o diálogo congregacional e as inspirações dos nossos
ministérios, gostaríamos agora de oferecer três elementos de desafio.
Reacender o Espírito Profético
Nossa Igreja e nosso mundo sofrem de muitas doenças, e nós escutamos o sofrimento e
sentimos a urgência de uma resposta mais dinâmica e ousada. Experienciamos a
necessidade e o desafio de reacender o espírito profético das nossas vidas. Isso não
significa classificar a nós mesmos, ou um indivíduo como profeta ou profético. Porém,
é estar aberto e viver nossa vocação profética para a missão de Deus.
Há um sentimento de que o carisma profético na Igreja tenha enfraquecido durante os
séculos, de que ele foi domesticado. Recentemente, um teólogo afirmou que
Hoje, mais uma vez, corremos o risco de ir para o futuro privados do
espírito profético de que precisamos para abrir novas formas/maneiras
para o reino de Deus. Ainda mais, corremos o risco de organizar-nos de
uma forma antiprofética, que nos deixa cegos para discernir os sinais dos
tempos e surdos para ouvir o que o Espírito de Jesus está dizendo a nós
seus seguidores.”4
Considerando o impacto dessa afirmação sobre a vida religiosa, existe uma preocupação
de que “a vida consagrada está vazia do seu caráter específico como um dom
carismático e uma voz profética na Igreja,” minando a relevância da vida religiosa.5 O
Papa João Paul II, em Vita Consecrata, escreveu sobre a crescente necessidade de um
testemunho profético no nosso mundo por parte dos religiosos. Ele descreveu a
verdadeira profecia como nascida de Deus, da amizade com Deus e da atenta escuta da
palavra em diferentes circunstâncias da história. Ele continua dizendo que os profetas
proclamam essa palavra nas suas vidas, com seus lábios e seus atos. Os religiosos
devem “dar testemunho em toda parte com a ousadia de um profeta que não teme
arriscar, até mesmo a sua vida.”6
Nisso, onde está o desafio para nós? “Somos chamadas ao discipulado radical na
palavra e ação.” (VSE, C 34) Sentimos o convite para aprofundar pessoal e
comunitariamente nosso relacionamento com o Deus Trino e viver autenticamente como
religiosa apostólica das IENS no século XXI.7 Estes chamados nos urgem a viver uma
autêntica profecia que flui da experiência mística.
Ninguém pode “conhecer Deus” se não estiver aberto para a presença Dele no mundo,
particularmente no mundo vulnerável e desvantajoso. A consciência desta presença leva
inevitavelmente à alegria da comunhão, ao sofrimento dos feridos e à ação para a
transformação. No cerne da experiência de Jesus estão sua paixão por Deus e Seu Reino
e sua compaixão pelos marginalizados.
Ouvir o chamado “para abraçar corajosa e criticamente as realidades do mundo e da
Igreja como o contexto para a missão,”8 requer que entendamos e trabalhemos as causas
principais da injustiça e as fontes reais da divisão e respondamos com imaginação de
um olhar para o futuro e com uma ação audaciosa. Assim como Jesus, começamos com
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a experiência viva do sofrimento e somos tocadas pelo grito dos fragilizados e pelos
gemidos da criação.
Entramos na reflexão, diálogo e análise com aqueles que sofrem em saber do que é
errado e examinam as estruturas do poder que cria e apoia formas de discriminação e
exclusão, materialismo e militarismo, medo e ameaça, destruição e morte. Juntas como
pessoas individuais e como comunidades, imaginemos e concretizemos alternativas para
estruturas mais justas.
A tarefa do ministério profético, de acordo com Walter Brueggemann, é unir-se
criticando o que é injusto com uma visão cheia de esperança para o que é novo e o que é
de Deus. É "nutrir, alimentar e evocar uma consciência e uma alternativa de percepção
para a consciência e percepção da cultura dominante ao nosso redor.”9 A leitura
contínua dos sinais dos tempos à luz da visão alternativa do Evangelho, nos leva sempre
a procurar a vontade e o desejo de Deus e discernir novas formas de ser e viver em
relacionamentos certos. Estamos prontas para surpreender, chocar, até mesmo
escandalizar, para que os cegos vejam, os poucos pães alimentem multidões, os últimos
sejam os primeiros e todos sejam convidados à mesa da vida?
Devemos ousar para forjar novos caminhos, achar novas abordagens, e “trabalhar
ativamente, de modo especial, em nossas situações locais, a fim de eliminar as causas
fundamentais da injustiça e, assim, construir um mundo de paz, justiça e amor”. (VSE, C
17) A vida e as palavras de Madre Teresa nos inspiram a sermos ousadas e incansáveis
em nossos esforços. “É preciso lutar por tudo o que é bom, mas é precisamente através
desta luta que é preciso provar ser obra de Deus.”10
Vamos realizar o chamado “para reavivar uma maior consciência e responsabilidade da
nossa internacionalidade como congregação e como cidadãs do mundo.”11 Vivamos
nossa responsabilidade pessoal e corporativa, formemos relacionamentos mais
profundos de apoio e colaboração, e utilizemos a voz corporativa para defender e
contribuir para uma mudança sistemática positiva na sociedade. Vamos comprometernos com uma participação ativa na nossa Rede Shalom & ministério ONG/NU,12 que
são avenidas através das quais nossa Congregação pode usar sua voz profética
corporativa.
Existe uma urgência para reafirmar a identidade profética da nossa vida religiosa e:





Viver com mais indignação em relação ao sofrimento no mundo;
Estar radicalmente à disposição para responder a urgentes necessidades;
Viver a compaixão de Deus às margens ou onde quer que seja;
Confrontar a injustiça criticamente;
Promover modelos alternativos para uma economia justa, paz verdadeira e vida
sustentável.
Para as exigências da vocação místico-profética, precisaremos estar abertas para uma
formação contínua e conversão do coração a vida toda. “Consagradas pelo Deus Trino
para a missão, vivemos de modo tal que o reino se torne mais claramente visível em
nosso mundo redimido, contudo ainda pecador. Profeticamente proclamamos a primazia
de Reino de Deus, já presente e ainda por vir.” (VSE,C,12) Reacendamos o espírito
profético em nossas vidas, testemunhando a esperança e respondendo com amor, porque
Deus nos amou por primeiro, e o amor não pode esperar.
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Testemunhar Preocupação por Toda Criação
Cinco anos atrás, abraçamos um momento novo na nossa história como congregação
internacional, reconhecendo que somos “chamadas à solidariedade com toda Criação.”13
Respondemos a esse chamado de muitas maneiras – grandes e pequenas.
Ao mesmo tempo, a saúde deste planeta que chamamos de lar continuou a ser
ameaçado por formas diferentes de ações. Secas e fome, extremos de temperaturas, e
exemplos óbvios de degradação ambiental, todos aparecem como gritos da própria
criação em nossos tempos. Neste momento somos desafiadas a continuar a encontrar
novas maneiras de viver simples, sustentável e responsavelmente neste planeta Terra.
Ouvimos este desafio da nossa Igreja e do nosso mundo.
O teólogo Pe. Denis Edwards nos lembra que
A compaixão divina é dirigida a todo o mundo e se estende para além da
comunidade humana para abraçar “todas as coisas” na reconciliação de
Cristo (Col 1:15-20). Através dos tempos, santos cristãos e sábios
reconheceram que esta compaixão divina não se estende apenas aos seres
humanos. Paulo contou para a primeira comunidade cristã em Roma que
toda a Criação espera sua redenção em Cristo. (Rom 8:19-24). . . Francisco
de Assis mostrou a compaixão divina incorporada em Jesus, ajudando a
abraçar animais individuais e passarinhos como nossos irmãos e irmãs
diante de Deus. No início do século XX, Teilhard de Chardin chegou a ver
o total da história evolucionária como potencializada pelo Cristo
ressuscitado, o Ômega que é a fonte e meta de todo processo emergente.14
Na sua Mensagem do Dia da Paz Mundial para 2010, o Papa Bento XVI lembrou-nos
que “o meio-ambiente deve ser visto como um dom de Deus para todo o povo, e o uso
que fazemos dele requer uma responsabilidade partilhada por toda a humanidade,
especialmente os pobres e as futuras gerações.15
Ao se encontrar no Rio de Janeiro, na Conferência das Nações Unidas, em junho
passado, os Chefes de Estado de todo o globo se reuniram para renovar o “compromisso
para um desenvolvimento sustentável e assegurar a promoção de um futuro econômico,
social e ambientalmente sustentável para o nosso planeta e para as gerações do presente
e do futuro.”16
Qual será a nossa resposta?
Ao viver nossa vida de votos, Vós Sois Enviadas oferece sugestões para testemunhar
preocupação por toda a criação. Sobre a pobreza apostólica dizemos que “somos
reverentes, Justas e sóbrias no uso das coisas criadas, preocupadas com as necessidades
da geração presente e futura.” (VSE, DG 19a)
Através do nosso voto de obediência apostólica nós nos comprometemos a estar atentas
ao chamado de Deus. Esse chamado nos é revelado na “sua palavra, através de pessoas,
através de situações da vida, da igreja, e do mundo; e por suas moções em nossos
corações.”(VSE,C 19) Como vimos acima, todos esses recursos nos lembram sobre a
necessidade de comprometer-nos e estarmos mais atentas às necessidades das gerações
do presente e do futuro.
O nosso voto de virgindade consagrada, que nos “liberta para amar mais radicalmente
… e oferecer-nos para que o reino possa vir na sua plenitude” (YAS, C 13-14) pode ser um
lembrete que esta plenitude do reino de Deus, é vista como que incluindo toda criação,
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quando lemos em Romanos “a criação toda geme e sofre dores de parto até agora.” (Rom
8:22)
Temos mais consciência de que “somos chamadas e enviadas a viver simples e
responsáveis no planeta Terra.”17 Neste mundo globalizado e interconectado devemos
perceber cada vez mais o impacto das nossa decisões em todo o planeta. As formas que
escolhemos para viajar e o uso da eletricidade, as maneiras como compramos e
comemos, a maneira de fazer limpeza e mantemos nossas casas, tudo tem impacto sobre
a Terra. Que ajustes faremos para reduzir esse impacto, o assim chamado ”pegadas de
carbono” que deixamos para trás?
“Para nós, Educação significa tornar as pessoas capazes de alcançar a plenitude do seu
potencial como seres criados à imagem de Deus e ajudá-las a colocar os seus dons à
disposição para humanizar a terra.” (VSE, C 22) Enquanto juntas, levamos nosso
ministério de educação para o futuro, podemos prever novas maneiras de modelar uma
vida sustentável, incluindo sustentabilidade em todos os nossos esforços educacionais?
Neste momento da nossa congregação também podemos olhar para a nossa diminuição
como um convite. Como envelhecemos, nossos números decrescem e nossos recursos
financeiros diminuem, experienciamos cada vez mais a interdependência e somos
chamadas a mais trabalho em rede, colaboração e ter vida e ministério internacional e
incultural. Espera-se que vivendo mais simples e valorizando a convivência mútua fluirá
desta diminuição uma forma que beneficiará o presente e o futuro.
Enquanto a nossa preocupação por toda criação cresce e continuamos a aprender como
viver mutuamente, de forma melhor neste planeta, percebemos que a nossa preocupação
pelo futuro deve levar-nos a agir no presente. O Amor não pode esperar.
Viver a visão Corajosa do Pentecostes
Nossos tempos parecem convocar para uma nova abertura ao Espírito. No nosso mundo
e na Igreja, ameaçados com múltiplas crises e profundas divisões, somos desafiadas a
viver a visão corajosa do Pentecostes.
O Pentecostes nos lembra a presença e força do Espírito Santo agindo no mundo.
Através deste poder, a mensagem universal do amor de Deus em Jesus é expressa na
singularidade e diversidade dos povos e nações e forma uma comunidade de fiéis. A
visão do Pentecostes revela o desígnio de Deus para a toda humanidade e toda a criação
-----união, a verdade da nossa unidade inerente.
Como experienciamos o desafio desta visão? Como filhas de Madre Teresa, partilhamos
seu desejo pela unidade de todos em Deus e continuamos a lutar por unidade na nossa
vida e ministérios. Reconhecemos o chamado “de aprofundar a vivência do nosso
Carisma da unidade, respeitando a diversidade, aceitando diferenças, expressando
perdão e promovendo reconciliação”. 18
Em Vós Sois Enviadas, reconhecemos que é através do poder do Espírito que
continuamos a missão de Cristo através dos nossos esforços pela unidade (VSE, Prólogo) e
que “ a nossa internacionalidade nos desafia a testemunhar a unidade num mundo
dividido.”(VSE,C26) O verdadeiro valor da internacionalidade, de acordo com um teólogo
é
O testemunho que ela dá para a universalidade e abertura para a
diversidade do Reino de Deus. Este testemunho é particularmente urgente
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no contexto da globalização que tende, de um lado, excluir e, de outro
lado, eliminar todas as diferenças. Em vista disso, existe hoje uma
necessidade especial de testemunhar o Reino de Deus como um reino de
amor que inclui absolutamente a todos e, ao mesmo tempo, está aberto à
particularidade de cada pessoa e de cada povo.19
Isto nos convida a explorar e viver novas profundezas do sentido de diversidade,
diferença, unidade e de expandir nosso pensar, agir, e viver como um – uma
congregação, um mundo, uma comunidade-Terra. A Diferença ou diversidade não é
para ser vista como absoluta, mas também não pode ser ignorada. É uma fonte de
enriquecimento e só se torna uma fonte de divisão se, ou quando percebido como tal, ou
manipulado para ser uma ameaça. Entendemos sempre mais plenamente que diferença e
diversidade são essenciais para a vida, para nossas identidades e para relacionamentos
com outros. Quando há relacionamento, pode haver unidade – comunhão.
Somos chamadas a abraçar a diversidade, a valorizar a diferença e a expandir nossa
própria compreensão, a dos povos e culturas, e de toda a criação - como tudo conectado
vital, física e espiritualmente. Descobrimos nova liberdade de ver além das nossas
identidades nacionais, culturas e fronteiras, e alargar nosso senso de lealdade. Não
significa desistir da identidade pessoal e comunitária, línguas e culturas, lares e
histórias. Pelo contrário, é para expandir e criar novos espaços para receber o outro e
crescer na identidade e relacionamentos que Deus tinha em vista para nós, que Deus
pretende para toda criação.
Parece que cada vez mais somos chamadas a estar abertas e escolher relacionamentos
interculturais, viver e trabalhar para o bem da missão de Deus. Vós Sois Enviadas nos
lembra que, o fato de sermos membros de nossa comunidade internacional, “alarga os
horizontes de nossas preocupações e fortalece em nós a disposição para viver com
pessoas de culturas diferentes e servi-las em nossa própria pátria ou em outro país. Pela
nossa unidade, especialmente em evidência onde vivemos e trabalhamos juntas
internacionalmente, testemunhamos que é possível vencer barreiras nacionais e
culturais.” (VSE, DG, 36)
A nossa realidade atual parece chamar-nos para uma colaboração maior dentro da nossa
congregação e com outras congregações, organizações e leigos a fim de melhorar
responder às necessidades globais e partilhar com mais autenticidade na missão de
Deus. “Colaboração … é uma característica essencial da missão. Colaboramos
mutuamente, não apenas porque queremos ser mais eficazes na missão, mas
colaboramos porque a missão é de Deus, em primeiro lugar, e o agente primeiro da
missão é o Espírito de Deus.20
Um exemplo da força de tal colaboração é a Solidariedade no Sudão do sul, uma
iniciativa da União dos Superiores Gerais, respondendo a um pedido dos Bispos do
Sudão. No momento, mais que 200 congregações religiosas masculinas e femininas
(nós entre elas) partilham pessoal, finanças e experiências para projetos que
acompanham, apoiam e constroem a capacidade Profissional de professores,
enfermeiras, parteiras e líderes pastorais do sul do Sudão. Em junho deste ano havia 30
religiosos masculinos e femininos de 20 congregações diferentes e 2 leigos voluntários
no Sudão; estas 32 pessoas eram de 12 nacionalidades diferentes morando juntos em 5
comunidades. Imaginem o poder de tal presença e diversidade de carismas!
Uma verdadeira comunidade intercultural—seja comunidade local ou congregacional,
uma nação ou o mundo - precisa ser criada conscientemente, apoiada com estruturas e
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enraizada numa espiritualidade que seja pascal e cheia do Espírito. A tarefa para esta
maneira de ser e viver, colaborativa e interculturalmente, é muito exigente. Ela requer
reflexão e autoanálise de atitudes e medos; um coração de escuta e discernimento; e
aprender maneiras sobre como interagir inculturalmente e novas habilidades para os
relacionamentos.
A Fidelidade de viver nosso Carisma da unidade nestes tempos de profundas divisões e
fragmentação nos convida a refletir sobre o nosso chamado para o ministério da
reconciliação (2 Cor 5:18) e considerar formas de integrar o trabalho de reconciliação na
nossa vida e ministérios. Parece importante para nós incorporar na nossa Formação e
programas educacionais em todas as nossas comunidades e ministérios o que segue:




Fomentar valores e atitudes para relacionamentos qualitativos e vida
comunitária;
Desenvolver habilidades para diálogo, resolução de conflitos e construção de
paz;
Promover processos e oportunidades para cura, perdão e reconciliação;
Testemunhar isso na nossa vida pessoal e comunitária.
Somos chamadas para além-fronteiras de todas as maneiras: geográfica, internacional,
cultural e aquelas de inclusão, privilégio e segurança—muitas vezes fronteiras
invisíveis—e vão muito além das nossas zonas de conforto de nossa vida como fez
Jesus. Somos desafiadas “a sermos fiéis à ascese de permanecer à mesa do diálogo”21
e sermos instrumentos de inclusão radical para os estranhos, os excluídos e
marginalizados—tornar o amor de Deus visível para todos. O amor de Cristo nos impele
a viver a visão corajosa do Pentecostes, porque o amor não pode esperar.
Conclusão
Para ser fiel ao nosso chamado de testemunhar a unidade num mundo dividido,
devemos estar profundamente inseridas no nosso mundo, assumir os sinais dos tempos,
ir ao encontro de suas necessidades básicas e dar a vida para que outros possam viver.
(VSE, Prefácio) Nosso mundo é marcado pela profunda divisão e fragmentação, evidente
no escândalo da pobreza mundial, a ameaça do desastre ecológico cósmico, a destruição
dos relacionamentos da família e da sociedade e sistemas político-econômicos e a perda
do sentido da vida para muitos.
O privilégio dos nossos tempos é responder com esperança para a Igreja e o mundo em
crise. Nossa vida em missão como Irmãs Escolares de Nossa Senhora tem feito a
diferença. Com o profundo senso de urgência experienciada nestes tempos, se torna
claro que somos chamadas para mais, para novas formas de ser. Somos chamadas a:



Reascender o espírito profético nas nossas vidas;
Testemunhar preocupação para com toda a criação, agora e no futuro;
Viver a corajosa visão do Pentecostes.
Há apenas uma questão, escreve a poeta Mary Oliver, “como amar este mundo.”22 Deus
amou tanto o mundo que enviou seu Filho. (Jo 3:16) Nós também somos chamadas e
enviadas, e o amor não pode esperar.
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____________________________
1.
Mary Theresa Gerhardinger, Letters of Mary Theresa of Jesus Gerhardinger “All the Works of
God…” Volume 1 Sowing the Seed 1822-1840, (Elm Grove: School Sisters of Notre Dame, 2010), #
1, 1.
2.
Several websites offer similar statistics which are all averages and change constantly. Here are two
examples: http://www.familycare.org/special-interest/if-the-world-were-a-village-of-100-people/ or
http://www.youtube.com/watch?v=jNnbO8x4JAY.
3.
John Fuellenbach, SVD, “Some Thoughts on the Justice and Peace Ministry of the Church in the
Setting of the Kingdom of God,” (Rome, Italy: JPIC Promoters Meeting, 15 February 2012), 2.
4.
José Antonio Pagola, “Jesus the Prophet of God’s Kingdom,” (Rome, Italy: USG/UISG JPIC
Commission, May 26, 2012), 15. Pagola cited: Hans von Balthasar afirma que, a finales del siglo II,
el profetismo comienza a decaer y «cae sobre el espíritu de la Iglesia una escarcha que no ha vuelto a
quitarse del todo» (Citado por N. Füglister en Conceptos Fundamentales de Teología, Madrid,
Ediciones Cristiandad, 1966), Artículo Profeta III, 525; and Karl Rahner, Cambio estructural de la
Iglesia, (Madrid, Cristiandad, 1974), 102-110.
5.
Antonio M. Pernia, SVD, “Challenges to and Opportunities for Religious Life from the World and the
Church of Today,” (Rome, Italy: USG/UISG Seminario Teologico, 2011), 5.
6.
Pope John Paul II, Vita Consecrata, Apostolic Exhortation on the Consecrated Life, March 25, 1996,
#84-85.
7.
Synthesis of Congregation-wide Dialogue, “To witness to unity in a divided world we are called and
sent,” (Rome, Italy: prepared by the SSND Preparatory Commission, 4 December 2011), #1, 3.
8.
Synthesis, #4
9.
Wa lter Brueggemann, The Prophetic Imagination, (Minneapolis: Augsburg Fortress Press, 2011), 13.
10.
Mary Theresa Gerhardinger, Letters of Mary Theresa of Jesus Gerhardinger “All the Works of
God…” Volume 4 Vigorous Growth 1853-1858, (Elm Grove: School Sisters of Notre Dame, 2010),
#1754, 133.
11.
Synthesis, #6.
12.
Synthesis, #9.
13. 1
Call to Solidarity, Directional Statement of the 22nd General Chapter of the School Sisters of Notre
Dame, (São Leopoldo, Brazil, October 23, 2007).
14.
Denis Edwards, “Ecological Commitment and the Following of Christ,” SEDOS Bulletin 2009, Vol.
41, No. 7/8, July-August, 160.
15. 1
Pope Benedict XVI, “If You Want to Cultivate Peace, Protect Creation,” January 1, 2010, #2.
16.
“The Future We Want,” UN Earth Summit Outcome Document, June 22, 2012.
17.
Synthesis, #10.
18.
Synthesis, #2.
19.
Pernia, 10.
20. 1
Pernia, 11.
21.
Synthesis, #8.
22.
Mary Oliver, “Spring,” New and Selected Poems, Vol. 1.
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