TRABALHADORES BRASILEIROS NO EXTERIOR
Transcrição
TRABALHADORES BRASILEIROS NO EXTERIOR
TRABALHADORES BRASILEIROS NO EXTERIOR: O CASO DO JAPÃO AKIHIRO IKEDA Em agosto de 2002 realizou-se em São Paulo e Londrina o “Simpósio Internacional de Direito Comparado: Trabalhadores Brasileiros no Japão”. Na realidade não foi a primeira vez que o assunto “dekassegui” foi objeto de preocupação.. O que distinguiu esse simpósio, em particular, foi a ampla discussão dos problemas angustiantes dos nossos trabalhadores: o jurídico, o econômico, o educacional, o da assistência médica, o da previdência, o das condições de trabalho e o do aumento da criminalidade. Contou com a participação expressiva de professores de conceituadas universidades japonesas: Tokyo, Keio, Chiba, Niigata e TSU City College. Participaram também autoridades do governo japonês que cuidam do dia a dia dessas questões. Confirmou-se que os trabalhadores brasileiros enfrentam um sem número de problemas de natureza familiar, de direitos trabalhistas, de assistencia à saúde, de entendimento da língua japonesa.etc. Ficou ainda evidente que, apesar dos esforços realizados nos últimos anos e que certamente trouxeram um grande avanço, a questão da dificuldade do acesso das crianças à educação é uma das que requer um rápido equacionamento.sob pena de causar os mais profundos desajustes no prazo longo. Além disto não se pode desprezar as suas consequências sobre o aumento da criminalidade dos jovens que vem ocorrendo. É claro que simpósios e seminários são realizados para levantar um determinado problema, analisá-lo e alertar as autoridades e pessoas que têm alguma responsabilidade, e eventualmente sugerir providências que podem servir como subsídio. As medidas para a solução dependem principalmente de vontade política. Não é intenção relembrar esses problemas. No momento em que o Centenário da Imigração vem chegando, deseja-se apenas esclarecer as origens e as perspectivas do movimento “dekassegui”. Este constitui, de certa maneira, o trajeto inverso dos imigrantes japoneses que aportaram em terras brasileiras com a idéia de retornar algum dia à Pátria. É claro que as condições eram muito diferentes no começo do século passado e nos anos oitenta. Por exemplo, a quantidade e a qualidade de informações sobre os dois países, o meio de transporte, o nível de instrução, de conhecimento e de padrão vida dos imigrantes quando comparado ao dos trabalhadores ”dekasseguis”. Mas também ocorreu algo em comum. Os primeiros imigrantes chegaram ao Brasil no final de junho para ajudar na safra do café, pouco informados de que nessa época a sua apanha estava praticamente encerrada. Foi a primeira frustração, pois ganhava-se por saca colhida. Fatos mais graves iriam acontecer, como a frequencia de mortes em virtude da maleita por não terem recebido um mínimo de orientação sobre esta doença tropical. Parece que os primeiros “dekasseguis” também estavam pouco informados sobre os detalhes da contratação através de empreiteiras, sem avaliar os efeitos negativos de longo prazo sobre a remuneração, a previdência e a assistência à saúde. Os imigrantes japoneses vieram com o pensamento de que algum dia retornariam; apenas um pequeno número voltou ao Japão. Os trabalhadores brasileiros também foram com esta idéia; muitos voltaram, mas um elevado percentual permanece por lá fincando as suas raizes. 1 Apesar de semelhanças e diferenças entre os dois movimentos, a causa fundamental do fenômeno é uma só: a procura de melhores rendimentos e de padrão de vida, já que as condições locais eram desfavoráveis. A economia brasileira encontra-se estagnada a partir da segunda metade da década de oitenta, época inicial do movimento. A produção total de bens e serviços ( designada tecnicamente como produto interno bruto real) vem crescendo lentamente, oferecendo poucas oportunidades de emprego e de negócios (gráfico). Quando se divide o produto pela população, que é crescente, constata-se que a produção por pessoa e, portanto, a disponibilidade de bens e serviços não tem crescido ao longo de todo esse período, o que é uma situação muito ruim.. A taxa de desemprego tem oscilado em torno de 10%, que é altíssima no caso de países emergentes que não têm um mecanismo eficiente de proteção ao desempregado. Alguns países ricos apresentam desemprego elevado, mas os que não encontram trabalho possuem um mínimo de amparo oficial. A falta de emprego e de perspectiva é o fator que provoca o desejo de procurar algo melhor em outro lugar. Mas não basta o desejo do lado de cá; é preciso que tenha escassez de mão de obra do lado de lá. É necessário encontrar um país que esteja oferecendo condições atrativas e que não imponha restrições de acesso. O Japão exerce uma atração grande para os descendentes. É a terra dos antepassados, seus costumes e sua língua são mais ou menos familiares, é um país rico sem problemas de segurança e que tem pouca rejeição aos estrangeiros. Apresentava uma condição essencial – a existência de empregos convidativos em termos de remuneração, embora fossem trabalhos cansativos. E, assim, o fluxo de trabalhadores foi se avolumando. A crise bancária e de imóveis de 1989, embora tenha refreado um pouco o movimento e reduzido a remuneração, não impediu o aumento de trabalhadores brasileiros que atualmente somam um pouco mais de 300 mil Quais são as perspectivas? A economia brasileira melhorou um pouco nos últimos três anos, com chances de continuar nesta ligeira evolução uma vez que as condições gerais como inflação e balanço de pagamentos encontram-se favoráveis no momento. Mas deve-se notar que ainda a taxa de desemprego é de 10%, os políticos nunca estiveram tão desprestigiados, a onda de crimes e de violência é altíssima, o nível de tributação nunca foi tão pesado, sendo um dos mais elevados do mundo, os juros bancários são elevadíssimos e a burocracia continua lenta e pouco eficiente. Ainda assim a situação econômica vai melhorando aos poucos, mas não ao ponto de reduzir o movimento dos trabalhadores para o exterior, desde que exista oferta de emprego lá fora. É o caso do Japão. Sua economia vem dando sinais de recuperação, a taxa de desemprego vem caindo, a população economicamente ativa (aquela que deseja trabalhar) tem uma tendência a decrescer nos próximos anos, e o número de idosos que requerem cuidados vai aumentar. Nestas condições esse país necessita de mais mão de obra estrangeira. O trabalhador brasileiro, melhor conceituado em relação aos concorrentes mais próximos, pode ter boas oportunidades. Não é desejo deste texto estimular a trabalhar no exterior; melhor é ficar aqui desde que se encontre uma ocupação condizente Mas esta é a conjuntura no momento. (texto publicado no Jornal Nippo-Brasil na semana de 18-24 de julho de 2007) 2 Brasil: Crescimento Anual do PIB 15 14 13 12 11 10 9 8 7 6 5 4 3 2 1 0 -1 -2 -3 -4 -5 Média = 6,5% (1950-85 ) Média = 2,3% (1986-1994 ) Previsão = 4,5% (2007) Média = 3,4% (2003-06) 2007 2004 2001 1998 1995 1992 1989 1986 1983 1980 1977 1974 1971 1968 1965 1962 1959 1956 1953 Média = 2,4% (1995-2002 ) 1950 % ao ano (1950 - 2006) 3
Documentos relacionados
Ex-dekassegui deve Aproveitar Experiência Japonesa no Brasil
vendas do massageador manual. Este último c comprado principalmente por lojas de materiais hospitalares. A fabricação dos produtos de madeira, idéia trazida do Japão, ajuda no orçamento da casa. Es...
Leia maisrompendo o silêncio dos dekasseguis: contribuições da
Conforme este fluxo foi se massificando e se consolidando criou-se um aparato de segurança e de confiança de estar em uma terra estrangeira. Assim, em meados dos anos 90 há uma alteração deste perf...
Leia mais