4. análise do programa globo esporte

Transcrição

4. análise do programa globo esporte
CENTRO UNIVERSITÁRIO UNISEB
TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO
MUDANÇA DE LINGUAGEM: UMA ANÁLISE DO PROGRAMA GLOBO
ESPORTE
Bárbara Urbinati Balieiro
Orientador Profº Ms. Geraldo José Santiago
RIBEIRÃO PRETO
2011
B171m
Balieiro, Bárbara Urbinati.
Mudança de Linguagem: Uma análise do Programa Globo
Esporte. Bárbara Urbinati Balieiro. - Ribeirão Preto, 2011.
51 f., il..
Orientador: Prof. Me.Geraldo José Santiago.
Trabalho de conclusão de curso apresentado
ao Centro Universitário UNISEB de Ribeirão Preto,
como parte dos requisitos para obtenção do Grau de
Bacharel em Comunicação Social - Habilitação em
Jornalismo sob a orientação Prof. Ms. Geraldo José
Santiago.
1. Jornalismo. 2. Esporte. 3. Globo Esporte.
4. Tiago Lefeirt. I. Título. II. Santiago, Geraldo
José.
CDD – 070.9
BÁRBARA URBINATI BALIEIRO
MUDANÇA DE LINGUAGEM: UMA ANÁLISE DO PROGRAMA GLOBO
ESPORTE
Trabalho
de
conclusão
de
curso
apresentado ao Centro Universitário
UNISEB de Ribeirão Preto, como parte
dos requisitos para obtenção do grau do
Curso
de
Comunicação
Social
–
Habilitação em Jornalismo
Orientador: Profº Ms Geraldo José Santiago
Co – orientador: Profº Ms. Marília Valente
Ribeirão Preto
2011
TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO
Aluno: Bárbara Urbinati Balieiro
Código: 5874
Curso: Comunicação Social – Habilitação em Jornalismo
Semestre / Ano: 8º/ 2011
Tema: Mudança de Linguagem: Uma análise do programa Globo Esporte
Objetivos Pretendidos: Esta pesquisa tem o propósito, através de um estudo de análise
comparativa identificar as mudanças ocorridas na edição paulista do programa Globo
Esporte (GE), da TV Globo, após o jornalista Tiago Leifert assumir os cargos de
apresentador e editor – chefe; analisar a mudança de linguagem no Jornalismo
Esportivo, consequência da prática de fusão das técnicas de jornalismo com elementos
de entretenimento.
___/____/___
_______________________
Geraldo José Santiago
Professor Orientador
_____/___/_____
_________________________
Bárbara Urbinati Balieiro
Aluna
_____/___/_____
________________________
Candida Lemos França Mariz
Coordenadora do Curso
_____/___/_____
________________________
Prof.Reginaldo Arthus
Vice - Reitor
TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO
FORMULÁRIO DE AVALIAÇÃO
Tema do trabalho: Mudança de Linguagem: Uma análise do programa Globo Esporte
Data da apresentação: 01/12/2011
Horário: 19h15
Local: UnisebCoc
Comissão Julgadora:
1) Professor Orientador: Profº Ms Geraldo José Santiago
2) Professor da Área: Profº Ms. Marília Valente
3) Convidado: Guilherme Campos
FOLHA DE PONTUAÇÃO
Fatores de Avaliação
Pontuação (0.0 a 2.0)
1. Atualidade e relevância do tema
proposto
2. Linguagem Técnica utilizada em
relação ao tema e objetivos, e
competência linguística.
3. Aspectos metodológicos e formais da
editoração do trabalho escrito
4. Revisão Bibliográfica realizada em
relação ao tema pesquisado
5. Apresentação oral – segurança e
coerência em relação ao trabalho
escrito
Média : _____________ (________________________________________)
Assinaturas dos membros da Comissão Julgadora:
1) _____/_____/_____
___________________________________
2) _____/_____/_____
___________________________________
3) _____/_____/_____
___________________________________
Aos meus pais e minha irmã
pelo crédito e apoio.
RESUMO
Este estudo analisa os aspectos comunicativos contidos em vinhetas da Rede
Globo de televisão. As vinhetas são linguagens que operam por meio de imagem e de
som, utilizando elementos pertencentes ao imaginário cultural coletivo, com função
persuasiva. Enquanto forma de expressão, as vinhetas são produtos de uma sociedade de
consumo equipada científica e tecnologicamente para obter resultados materiais. Pela
natureza cultural e pelo poder de manipulação do inconsciente, resultam em sentido
simbólico e ideológico. O objetivo é buscar identificar os sinais de comunicação e os
efeitos que as vinhetas podem transmitir ao telespectador, a fim de melhor compreender
quais ideias estão contidas ou associadas a esse complexo imagético e sonoro
amplamente empregado pelos atuais meios de comunicação de massa e utilizado
excessivamente pela Rede Globo.
Palavras Chaves: televisão, Rede Globo, vinheta, linguagem, ideologia.
RESUMEN
Este estudio examina los aspectos comunicativos que figuran en la televisión Globo
viñetas. Las viñetas son lenguajes que operan por medio de imagen y sonido, utilizando
elementos que pertenecen al imaginario cultural colectivo, con la función persuasiva.
Como una forma de expresión, las pegatinas son producto de una sociedad de consumo,
científica y tecnológicamente equipado para obtener resultados materiales. El manejo
cultural y el poder de el resultado inconsciente, en el sentido ideológico y simbólico. O
objetivo é buscar identificar os sinais de comunicação e os efeitos que as viñetas poden
transmitir a telespectador, a fin de Melchor comprender quías ideas esto contadas o
asociadas a ese complexo magnético e sonoro ampliamente empegado pelos actuáis
medios de comunicación de masa e utilizado excesivamente pela Rede Globo.
Palavra clive: TV Globo, viñeta, el lenguaje, la ideología.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO .................................................................................................1
2. JORNALISMO ESPORTIVO ........................................................................5
2.1 – Surgimento da imprensa esportiva ..................................................... 5
2.2 – Jornalismo Esportivo na TV ............................................................ 9
2.3 – Jornalismo Esportivo na Globo ........................................................ 12
3. CRIAÇÃO E EVOLUÇÃO DO PROGRAMA GLOBO ESPORTE............... 17
3.1 – Globo Esporte: Surgimento e Características ..................................... 17
3.2 – Tiago Leifert assume o Globo Esporte ...............................................20
4. ANÁLISE DO PROGRAMA GLOBO ESPORTE ..........................................24
4.1 – O Globo Esporte com Glenda Kozlowiski e Tino Marcos ......................24
4.2 – O Globo Esporte com Tiago Leifert ..................................................... 27
CONSIDERAÇÕES FINAIS .............................................................................. 31
ANEXOS .......................................................................................................... 34
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .............................................................. 47
1
1. INTRODUÇÃO
O esporte, por suas características, é um tem que perpassa interesses cotidianos,
sentimentos, anseios e expectativas de vários campos sociais. Nesse caso, pode – se
dizer que a editoria de esportes é a que mais investe nos recursos de explicar, tematizar
o esporte, que pedagogia o jornalismo, o que não aparece nas outras editorias como
economia, educação, internacional.
O esporte começou a conquistar espaço na televisão em 1954 com o programa o
Mesa Rodonda. A consolidação do gênero ocorreu em 1982 com programas como
Terceiro Tempo. Deste então evolui a cada ano e hoje é destaque nas grades das
principais redes televisivas brasileiras e um de seus principais produtos comercial. Entre
os vários programas de televisão brasileira, dedicados à cobertura de eventos esportivos,
principalmente o futebol, o programa Globo Esporte, apresentado de segunda a sábado,
no horário das 12h50 a 13h20, pela TV Globo, se destaca pela ousadia e descontração,
entre várias outras razões, que abordamos ao longo desta pesquisa.
Esta pesquisa tem o propósito, através de um estudo de análise comparativa,
identificar as mudanças ocorridas na edição paulista do programa Globo Esporte (GE),
da TV Globo, após o jornalista Tiago Leifert assumir s cargos de apresentador e editor –
chefe; analisar a mudança de linguagem no Jornalismo Esportivo, consequência da
prática de fusão das técnicas de jornalismo com elementos do entretenimento. Neste
sentido está delimitada ao mês de janeiro de 2009, quando o Globo Esporte seguia o
padrão jornalístico de apresentação, com bancada, fundo com o slogan do programa e o
apresentador lendo o teleprompter (TP) 1, e 2011, quando Tiago Leifert completou dois
anos no comando do programa, comemorando a boa fase em ibope, conforme registrou
Keila Jimenez, no “Outro Canal”, coluna de TV do caderno Ilustrada, do jornal Folha de
São Paulo.
Nos dez primeiros dias de janeiro, o “Globo Esporte” registrou média de 14
pontos de audiência e 37% de share (participação entre TVs ligadas) (Cada
ponto equivale a 60 mil domicílios na Grande SP). No ano passado, a média
1
Teleprompter é um equipamento que fica acoplado à câmera de televisão e exibe o texto a ser lido pelo
apresentador. Bancada é a mesa onde fica o apresentador. Fundo é a parede localizada às costas do
apresentador, onde, neste caso, é estampado o slogan do programa. Slogan é uma frase de fácil
memorização que resume as características do programa.
2
de audiência de atração foi de 12 pontos. Sem Tiago em 2008, o noticiário,
esportivo registrou média de 11 pontos e 31% de share. 2
Inevitavelmente, ao estudar a estrutura e a linguagem do programa Globo
Esporte, debatemos a relação entre o jornalismo esportivo e o entretenimento.
Com Tiago Leifert como editor- chefe, o jornalismo esportivo incorporou novos
elementos e o espirito do entretenimento. Além da espontaneidade do apresentador, que
se transformariam em marca registrada do programa, novas atrações, como o videogame
passou a dividir espaço com o futebol, a principal atração do Globo Esporte. O
apresentador, em algumas edições do programa, desfia ou então é desafiado por alguém
para jogar uma partida de videogame. Desse modo, o Globo Esporte contraria as regras
básicas do jornalismo e deixa – se envolver com o entretenimento e o espetáculo do
esporte nos meios eletrônicos. Outras inovações foram introduzidas no programa pelo
editor – chefe, entre as quais o uso sistemático da opinião e forma de fazer uma matéria,
muitas vezes substituindo as técnicas do jornalismo pela conversa cotidiana.
A transformação da notícia em espetáculo, com adequação do jornalismo
esportivo a um produto de entretenimento se tornaram presentes no programa Globo
Esporte, através de matérias que tratam de tudo, cortes de cabelo, cores de chuteira,
música preferida, criteriosamente inserido no universo do futebol, com foco no jogador,
a principal estrela do esporte mais popular do país.
Esse formato de programa tem recebido muitas críticas, à medida que ocorre a
exploração dos bens culturais para se tornarem comerciais, com os próprios seres
humanos transformados em produtos de consumo. Mas, muito além das concepções de
Adorno e Horkheimer, há ainda uma preocupação de agradar o telespectador, com
concurso de garotas e a escolha dos jogadores mais bonitos.
Para José Arbex Jr (ARBEX, 1957, p.51) a televisão, lembra ECO, não é um
gênero artístico, um fato artisticamente unitário como o cinema ou teatro. O autor,
jornalista e escritor, destaca que:
O fim da fronteira entre informação e entretimento obrigou o
telejornalismo a se adaptar ao ritmo das mensagens publicitárias (...). As
noticias são apresentadas por belas mulheres, ou por “âncoras” que
funcionam como showmem não tendo importância o fato de eles saberem ou
não de que trata a noticia lida no teleprompter (ARBEX, 1957, P.51 – 52)
Ainda, segundo Arbex (ARBEX,1957 p.52), hoje em dia nos atuais programas
de telejornalismo, o grande impacto é a imagem, assim como as transmissões.
2
Disponível em: <http://outrocanal.folha.blog.uol.com.br/arch2011-01-09_2011-01-15.html>Acesso em:
02 mar.2011
3
Por outro lado, se faz necessário registrar que há uma corrente de pesquisadores
que entende ser fundamental para a renovação da linguagem televisiva a entrada de
jovens jornalistas e esse novo jeito de fazer jornalismo esportivo. Em uma palestra na
Semana de Comunicação da UFC, Universidade Federal do Ceará, sobre a preparação
para a Copa do Mundo de 2014, no dia 5 de abril, o jornalista Rafael Luis, editor do
Jornal O POVO, destacou “que a entrada de jornalistas mais jovens contribuiu para uma
mudança de pauta na cobertura esportiva”. “Já o jornalista Fábio Pizzato, repórter da
TV Jangadeiro, ressaltou “que o jornalista de esporte deve procurar sair do lugar –
comum” e afirmou que” na televisão pode brincar mais com a linguagem, do que ocorre
no impresso”. Pizzato conclui dizendo que “antes, o jornalismo esportivo era
informação com entretenimento. Hoje, é entretenimento com informação.”.
Para o professor Nilson Lage (2001), existe a tematização do esporte, uma
grande conversação, seja na televisão com os variados programas de mesa redonda
debates empreendidos entre especialistas, atletas técnicos, dirigentes, antes, durante e
depois das transmissões de jogos, quando é estabelecida uma extensão “falação”. Desta
forma, o jornalista leva em conta fatores de diversas ordens, que não apenas relativas.
A partir destes elementos, o estudo procura dimensionar, conforme já
explicitado, as mudanças ocorridas na edição paulista do programa Globo Esporte (GE),
a partir de 2009, com o editor – chefe e apresentador jornalista Tiago Leifert. Para que
esse objetivo pudesse ser alcançado recorremos á pesquisa bibliográfica e documental,
com a aplicação do método comparativo. Para o desenvolvimento a mesma encontra –
se estruturada em três capítulos.
No primeiro Capítulo – Jornalismo Esportivo – através da Documentação
Indireta resumimos elementos que nos possibilita apresentar um registro histórico da
cobertura esportiva na televisão, dos primeiros programas, até o momento atual. A
pesquisa bibliográfica e a pesquisa documental possibilitaram identificar, também, as
emissoras, os principais jornalistas e apresentadores e o desenvolvimento da TV Globo
no segmento.
No Capítulo II – Criação e evolução do programa Globo Esporte, mostramos
como foi criado o programa Globo Esporte suas características e os profissionais
envolvidos na sua produção. Utilizando, também, a Documentação Direta, reunimos
depoimentos e entrevistas dos idealizadores e profissionais que atuam no programa.
No terceiro Capítulo – Análise do programa Globo Esporte, utilizarmos os
registros de dois programas (veiculados nos 29/01/2009 e 29/08/2011), como objeto da
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análise comparativa, base para o estudo Analítico – Descritivo Comparativo. Abrimos o
diálogo com os pesquisadores, José Marques de Melo, Valter Bracht, José Arbex, que
estudaram a linguagem, estrutura e modo de comunicação empregada no telejornalismo
esportivo, e apresentamos o referencial teórico que possibilita a análise comparativa do
programa Globo Esporte de 2009 e o programa apresentado em 2011. Recorremos a
teóricos que estudaram o universo da televisão e do telejornalismo e ouvimos outros
jornalistas que nos ajudaram a avaliar o perfil do programa e as transformações mais
significantes registradas.
Por fim, nas considerações finais, apresentamos uma reflexão acerca das
transformações no modo de produzir e apresentar um programa de telejornalismo
esportivo, as mudanças na linguagem e as consequências deste novo formato, que
explora as técnicas de jornalismo e os elementos do entretenimento.
O registro de um dos principais programas de esportes da TV brasileira e seu
estratégico reposicionamento, mais voltado ao entretenimento do que para a informação.
Consideramos que o trabalho não se encerra em si mesmo, mas abre uma porta
para outros estudos do gênero, principalmente em razão da carência de publicações
cientificas com foco no telejornalismo esportivo.
5
2. – JORNALISMO ESPORTIVO
2.1 – SURGIMENTO DA IMPRENSA ESPORTIVA
Na busca pelas especializações, novas áreas buscaram coberturas no jornalismo.
Além das existentes, como a política, economia e cultura, o jornalismo esportivo ganha
força. É ai que o futebol ingressa no espaço nobre da imprensa. Os jornalistas Heródoto
Barbeiro e Patrícia Rangel definem o jornalismo esportivo como:
Um profissional que se confunde frequentemente, com puro
entretenimento. Isto, por seu lado, proporciona o aparecimento de alguns
poucos “coroados” e o envolvimento com outras atividades incompatíveis
com a prática do jornalismo, como agendamento de publicidade, marketing e
política privada dos clubes, federações, confederações e empresas.”.
(BARBEIRO & RANGEL, 2006, p. 13).
Para ajudar nesse crescimento os veículos de comunicação, como impresso e
rádio, criam concursos literários, musicais, teatrais, esportivos para atrair leitores.
Jornal
As primeiras notícias esportivas aparecem na imprensa apenas em resenhas de
casos curiosos de pessoas que assistiam lutas entre o cozinheiro de Lord Smith e o
pasteleiro do Duque de Bridge, numa modalidade que se chamava boxeo. Aos poucos as
notas de esportes foram se ampliando para artigos de esportes mais praticados. Graças a
isso, nasce em Paris, em 1828, o primeiro jornal esportivo, Journals des Haras. Em
1858, nasce na Inglaterra, o primeiro diário esportivo, Sportmam. Já na Espanha , em
1856 , nasce à revista El Cazador (SILVEIRA, 2009, p.20)
Relata Fonseca (1997), que a história do jornalismo esportivo no mundo tem
mais de cem anos. Os primeiros registros que se tem é do Le Sport (1854), que
publicava crônicas sobre haras, turfe e caça, além de sessões de canoagem, natação,
pesca boxe, bilhar e outros esportes.
A primeira área esportiva a receber uma cobertura mais elaborada dos
veículos impressos foi o hipismo, em meados do século XIX, na França. A
grande imprensa só abriu espaço em 1875, num momento de mudanças
sociais e decrescimento de esportes populares, pois, até então, só se
registravam notas sobre o boxe, iatismo e esgrima. Por isso, os pioneiros do
jornalismo esportivo surgiram nos jornais populares. (FONSECA, 1997, p.
25)
No início a imprensa esportiva oferecia informações e explicações sobre como
praticar os mais variados esportes.
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Antes de 1939, havia a crônica esportiva e não um jornalismo organizado de
cobertura de eventos. O primeiro órgão esportivo teria sido Bell´s Life,
inglês, depois chamado de Sporting Life. E, nos Estados Unidos, a imprensa
esportiva só começou a destacar-se nos anos20 deste século. (FONSECA,
1997, p.25 - 26)
De acordo com o pesquisador Juarez Bahia, o jornalismo esportivo iniciou em
1856, com o jornal O Atleta, que difundia ensinamentos para o aprimoramento físico
dos habitantes do Rio de Janeiro. “Só em 1922 é que os grandes abrem sua primeira
página às fotos de 4 e 5 colunas com lances de futebol sem deixar de atacar o
profissionalismo que ameaça o amadorismo”. (BAHIA, 1990, p. 152)
No Brasil, a importância dos veículos que se dedicavam ao esporte começou no
início do século passado. Relata o jornalista esportivo Paulo Vinicius Coelho (2003),
que em São Paulo, na década de 1910 já haviam páginas de divulgação esportiva no
jornal Fanfulla.
Não se tratava de periódico voltado para as elites, não formava opinião, mas
atingia um público cada vez mais numeroso na São Paulo da época: os
italianos. Um aviso não muito pretensioso de uma das edições chamava-os a
fundar um clube de futebol. Foi assim que nasceu o Palestra Itália, que se
tornaria Palmeiras décadas mais tarde, no meio da Segunda Guerra Mundial.
Nesse tempo, as poucas páginas dedicadas a esporte nos diários paulistanos
falavam sobre outra guerra. A travada entre os são-paulinos, que sonhavam
tomar à força o estádio Parque Antártica dos palestrinos. (COELHO, 2003,
p.8)
De acordo com Paulo Vinicius, “A Fanfulla” é até hoje a grande fonte de
consulta dos arquivos do Palmeiras sobre as primeiras décadas do futebol brasileiro.
O jornal trazia relatos de página inteira num tempo em que esse esporte ainda
não cativava multidões. E informava as fichas de todos os jogos do clube dos
italianos. Até mesmo dos que incluíam times de aspirantes palestinos contra
os segundos quadros de equipes do interior. Não existia o que se pode chamar
hoje jornalismo esportivo. Mas não fossem aqueles relatos e ninguém jamais
saberia, por exemplo, quando e qual foi o primeiro jogo do velho Palestra.
(COELHO, 2003, p.8)
Em 1927, o futebol já era um esporte que reunia grandes multidões. No entanto,
os jornais dedicavam espaços mínimos para o que já parecia ser a grande paixão
popular. Evidentemente, explica Paulo Vinicius Coelho (2003) que não havia na época a
cultura dos grandes jornais de hoje, com cadernos inteiros dedicados aos esportes.
“Havia pequenas colunas, mais por questão de espaço do que por falta de interesse. O
Correio Paulistano, por exemplo, liberava apenas uma coluna para as matérias que
incluíam futebol. E duas colunas para o turfe”. (COELHO, 2003, p. 11)
O Rio de Janeiro era nos anos de 1930, o centro esportivo do país e foi neste ano
que nasceu o Jornal dos Sports. “A rigor, foi o primeiro diário exclusivamente dedicado
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aos esportes no país. O primeiro a lutar ferozmente contra a realidade que tomou conta
de todos os diários esportivos a partir dai (COELHO, 2003, p. 11).
Assim, nas décadas seguintes, jornais e revistas de esportes foram surgindo e
desaparecendo com o passar dos anos.
No final dessa década, o jornalista paulistano Roberto Petri lançou seu próprio
diário esportivo: O Jornal. Não durou. Petri voltou a trabalhar m emissoras de rádio
como Gazeta, Difusora, Bandeirantes, até concentrar – se nos comentários sobre o
futebol argentino na ESPN Brasil, no final dos anos 90.
Só no fim da década de 1960, os grandes cadernos de esportes tomaram conta
dos jornais. Em São Paulo, surgiu o Caderno de Esportes, que originou o
Jornal da Tarde, uma das mais importantes experiências de grandes
reportagens do jornalismo brasileiro. Dessa época para cá, os principais
jornais de São Paulo e do Rio lançaram cadernos esportivos e deles se
desfizeram como se tratasse de objeto supérfluo. Gastar papel com gols,
cestas, cortadas e bandeiradas nunca foi prioridade. (COELHO, 2003, p.10)
A partir da segunda metade dos anos 60, com cadernos esportivos mais presentes
e de maior volume, o Brasil entrou na lista da imprensa esportiva de larga extensão.
Rádio
Com êxito na mídia impressa, a mídia falada começa a entrar no mundo
esportivo. No início, os radialistas eram proibidos de transmitir os acontecimentos
esportivos dos próprios locais.
A Copa do Mundo de 1938, na França, teve a primeira partida transmitida pelo
rádio em Copas do Mundo, com o jogo Brasil 6 x Polônia 5.
O jornalismo esportivo é considerado um dos primeiros gêneros a se firmar no
rádio. Mas no começo, o amadorismo ocupava grande espaço na programação das
principais emissoras do país. O jornalismo esportivo não era tratado de forma diferente.
O historiador, Antônio Pedro Tota, descreveu como foi esse início do noticiário de
futebol nas emissoras paulistas:
Pela primeira vez, numa tarde de domingo em abril de 1925, a rádio
Educadora transmitiu os resultados de jogos de futebol da capital, interior e
estrangeiro, mas não se tratava de transmissão direta dos jogos, mas sim de
telegramas que eram lidos com os respectivos resultados dos jogos mais
importantes. (TOTA, 1990, p.44)
Já a historiadora Lia Calebre, afirma que a primeira transmissão de uma partida
de futebol pelo rádio aconteceu em 1927, do Rio de Janeiro para São Paulo, pela Rádio
Educadora Paulista, numa partida do campeonato brasileiro entre paulistas e cariocas.
Para possibilitar a audiência, nesta época o rádio ainda era um meio elitista. A Rádio
Educadora instalou altos falantes em lugares públicos, assim reunindo um grande
8
número de ouvintes. E foi o que aconteceu nesta transmissão. De acordo com Lia
Calebre foram instalados alto – falantes na Sorveteria Meia. “No dia seguinte os jornais
publicavam fotos e comentários das multidões que se reuniram nos três locais para ouvir
a transmissão. Era uma forma de atrair a atenção da população para as potencialidades
do rádio”. (CALABRE, 2002, p.16)
Outra referência histórica para o rádio esportivo é o ano de 1931, quando teria
acontecido efetivamente a primeira transmissão de futebol, realizada pelo locutor
Nicolau Tuma, da Rádio Sociedade Educadora Paulista. De acordo com a pesquisadora
Edileuza Soares (1994) “anteriormente, o rádio limitava – se á repetição das notícias dos
jornais ou á transmissão de informação sobre os jogos após a sua realização.” Ela ainda
declara que:
O rádio esportivo foi essencial para a transformação do futebol em esporte de
massa e um importante complemento na definição do rádio como meio de
comunicação de massa. O ponto de partida deste processo é a primeira
narração detalhada de um jogo de futebol (SOARES, 1994, p.17)
Com a crescente popularização do rádio, surgiram as primeiras agências de
publicidade, impulsionadas pelas crescentes audiências das jornadas esportivas. O
locutor Nicolau Tuma, chamado de “speaker metralhadora”, pela quantidade de palavras
que falava por minuto, já era um grandes negociador de anúncios.
Reynaldo Tavares (1999, p. 4) relata que primeira transmissão esportiva em rede
nacional foi realizada pelas rádios Cruzeiro do Sul do Rio de Janeiro – PRD – 2,
Cruzeiro do Sul de São Paulo – PRB – 6 e Clube de Santos - PRB – 4, que comandada
pela rádio Clube do Brasil do Rio de Janeiro – PRA – 3, fizeram a cobertura do
Campeonato Mundial de 1938, realizada em Marselha, na França.
Já em 1946, o empresário Paulo Machado de Carvalho, comprou a emissora
Panamerica e a incorporou á Rede das Emissoras Unidas do Grupo Machado de
Carvalho, formada pelas rádios Record, Bandeirantes, São Paulo e Excelsior. Como
Machado era apaixonado por futebol, transformou a Rádio Panemericana na “Emissora
de Esportes”, assim como o primeiro departamento esportivo do rádio brasileiro.
(SOARES, 1994, p.46)
A presença do radialista na cobertura esportiva foi tão forte que as transmissões
foram e são até hoje influenciadas por esses profissionais. Reynaldo Tavares (1999,
p.4), lembra que os mesmos jornalistas e locutores que eram do rádio foram para a
televisão, levando consigo o mesmo estilo de narração e que no início, era comum
encontrar telespectadores assistindo televisão e ouvindo a partida pelo rádio.
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O predomínio do rádio vai até os anos 60, quando ocorre o declínio da rádio
Pan- Americana, considerada A Emissora dos Esportes, seguido pelo declínio de outras
rádio, em razão televisão, que ficou com as principais cotas de publicidade, forçando o
rádio a buscar alternativas, entre as quais a redução do investimento nos departamentos
esportivos.
Revista
O Brasil, já conhecido como o país do futebol, ganhou a primeira revista
esportiva com vida regular nos anos 70 a Placar·, até hoje uma das principais revistas
sobre esporte do Brasil. Seu primeiro número data de 20 de março de 1970, é líder de
mercado nesse segmento, apesar de ser voltada exclusivamente para o futebol.
Pertencente ao Grupo Abril e originalmente de periodicidade semanal, hoje a revista é
mensal. Atualmente, é comandada pelo diretor de redação Sérgio Xavier Filho.
A revista Gool é uma revista esportiva brasileira com sede em Porto Alegre,
capital do Rio Grande do Sul primeira edição foi lançada em maio de 1983. Esta revista
obtém destaque por cobrir o futebol gaúcho, principalmente a dupla Grenal e suas
conquistas.
A Revista ESPN é uma publicação brasileira sobre esporte cuja primeira edição
saiu em novembro de 2009.
A revista começou a ser criada com parte da equipe que editava a Trivela, cuja
última edição saíra em setembro de 2009, já com um aviso de que seria substituída por
outra publicação, embora sem citar nome ou datas. A tiragem inicial foi de 50 mil
exemplares.
2.2 JORNALISMO ESPORTIVO NA TV
De acordo com as pesquisas de Edileuza Soares (1994), as primeiras transmissões
esportivas televisivas aconteceram na década de 30, em diversos países. Nos Estados
Unidos uma partida de beisebol em 1935; na Alemanha , em 1936, os Jogos Olímpicos
de Berlim incentivado por Hitler; na Inglaterra, em 1937, a BBC exibiu a primeira
jornada de Wimbledon, para o público britânico; em 1937; na França, 1948, aconteceu a
primeira transmissão da Copa Mundial de Futebol, na íntegra.
Na Copa de 1958, na Suécia, com a invenção do videoteipe, era possível assistir
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aos jogos no cinema, cerce de três dias após a partida. Na Copa do Chile, 1962, já era
possível assistir ao videoteipe um dia após a partida e os jornais começaram a sofrer
com a forte concorrência da televisão.
Para alguns dos principais pesquisadores do jornalismo e da televisão, entre os
quais Juarez Bahia (1990), Waldenyr Caldas (1990) e Reynaldo Tavares (1999), a
primeira reportagem filmada para a televisão foi realizada pela TV Tupi, de São Paulo,
em 15 de outubro de 1950, no jogo entre Portuguesa de Desportos e São Paulo,
considerada o marco das transmissões esportivas na televisão brasileira.
Já o radialista Mario Fanucchi (1996, p.43) afirma que primeira transmissão de
futebol pela televisão brasileira data do dia 10 de dezembro de 1950, no jogo
Portuguesa de Deportos x Palmeiras, realizada pela PRF3 – TV.
Faz-se necessário ressaltar que as transmissões esportivas na TV, neste início,
enfrentavam as limitações impostas por uma tecnologia ainda incipiente e complexa.
De acordo com Edileuza Soares, “inicialmente, a entrada era livre das
TV nos estádios para a transmissão direta dos jogos”. A tecnologia da época
obrigava o uso de grandes e pesadas câmeras com baixa modalidade, que
nem sempre conseguiam acompanhar os movimentos da bola (SOARES,
1994, p.106)
Outro detalhe que marcou este início das transmissões e programas esportivos na
televisão brasileira diz respeito aos longos intervalos e o desafio de preenche – lós e ao
mesmo tempo manter o telespectador sintonizado.
Em 1951, foi introduzido na televisão o teletexto, ou texto rotativo,
como forma de amenizar a longa espera dos intervalos entre os
programas que eram feitos ao vivo. O texto pode ser lido pelos
telespectadores enquanto aguardavam o início dos famosos programas
da época (BETTI, 1998, p.32).
No ano de 1950, com o boom no jornalismo, a TV começou a investir no
segmento
esportivo,
principalmente
no
futebol,
objetivando
a
audiência
e
consequentemente conquistar os grandes anunciantes.
“Para enfrentar esse boom, os radialistas desenvolveram a linguagem e
aceleraram a incorporação das novas tecnologias do som”. (SOARES, 1994, p.106)
Para Mauro Betti (1998, p.65) “a partir dos anos 60, esporte e televisão passaram
a partilhar uma relação simbiótica”, que vem se intensificando e aprimorando a cada
ano que passa. Televisão e esporte se apoiam mutuamente e dependem um do outro,
especialmente no plano econômico. A relação televisão e futebol é ponto crucial desta
simbiose e envolvendo valores maiores a cada ano que passa. A estimativa é que a TV
11
Globo gaste por volta de R$ 600 milhões nas negociações pelos direitos de jogos dos 20
principais times que disputarão o Campeonato Brasileiro de 2012.
A caríssima guerra pela exclusividade da transmissão do futebol brasileiro
vai deixar marcas na contabilidade da Globo. Dirigentes da emissora estimam
que, para essa guerra ter valido a pena, o departamento comercial da Globo
terá de faturar no próximo ano ao menos R$ 840 milhões somente com o
produto "futebol”. É o valor mínimo que a TV Globo precisará arrecadar
com, merchans, placas em estádios, vendas no pay-per-view etc, para
compensar os enormes gastos que a TV vem fazendo na corrida pela
exclusividade do campeonato Brasileiro até 2014. Como essa conta vai
fechar, é uma incógnita. R$ 840 milhões equivale a mais que o dobro do
faturamento previsto pela Globo com o futebol este ano: cerca de R$ 350
milhões (embora só com a TV aberta). (FELTRIN, 2011, p36 - 37)
Um processo que envolve milhões e que torna os jornalistas, como os jogadores,
protagonistas. Ao mesmo tempo o jornalismo adquire características de espetáculo.
O contrato de exclusividade para a transmissão dos jogos dos principais
campeonatos de futebol rende à Rede Globo grandes índices de audiência e
consequentemente os melhores contratos publicitários, além de negócios que envolvem
todas as plataformas digitais, como internet, tablets e smartphones.
Por isso cada vez mais existe a preocupação com a iluminação, cor, definição,
enquadramento, movimento e colocação das câmeras, cortes, edição, replay e
equipamentos de última geração. Nas transmissões esportivas vemos placas, faixas e
painéis, estrategicamente colocados no ângulo de visão da TV. As camisetas dos atletas
esportivos também têm espaços reservados para o nome dos patrocinadores. Tudo é
pensando como forma de espetáculo e faz parte da indústria que o esporte movimenta.
Por sua vez, tratados como artistas é comum os jornalistas esportivos
influenciarem as ações dos atletas e espectadores mediante o uso de linguagem e muitas
vezes do sensacionalismo.
FRANCO JUNIOR apud SILVEIRA e ROCHA DA SILVA (2010) destaca a
capacidade do futebol – assim como da televisão – em desenvolver um enredo original
apesar da estrutura aparentemente fechada, o que o fez aproxima – se do teatro grego. A
comparação expressa elementos essenciais para desenvolver o futebol enquanto
comunicação, assegurar a emoção, arrebatando grandes audiências
Na origem o teatro, criação da Grécia antiga, era representado em espaço
aberto próximo ao público, como nos atuais estádios de futebol. Os gregos
que se dirigiam a seus anfiteatros já conheciam as grandes linhas do roteiro
da peça, baseada em mitos que circulavam de diversas formas na sua cultura.
Os torcedores atuais vão aos estádios ignorando o resultado final da partida,
mas as características individuais e coletivas dos protagonistas a que vão
assistir não lhe são desconhecidas, seja por observação direta anterior, seja
por meio de informações e comentários da imprensa. Mesmo sendo familiar a
história a que assistiam os gregos antigos não deixavam de se comover com o
12
destino dos heróis. Mesmo estando habituados a acompanhar seu time, os
torcedores modernos continuam a se emocionar com seus heróis. Tanto o
teatro grego quanto o futebol criam forte identificação entre espectadores e
heróis. A função do teatro era pedagógica, ensinava o espectador a relativizar
todos os personagens, inclusive os heróis da sua cidade, do seu clã. O futebol
faz isso à sua maneira, mostrando como o personagem exaltado hoje pode ser
denegrido amanhã, e vice-versa. (...) Nos anfiteatros modernos dos estádios
de futebol assiste-se a espetáculos cujos grandes temas – embora
esquematizados e metaforizados de outra forma – são os mesmos da época
clássica: valentia, habilidade, lealdade, amizade, amor, sorte (FRANCO
JÚNIOR, 2007, p. 38 - 45).
Em relação à audiência, levantamento realizado no mês junho de 2011, com base
pesquisa Ibope, revelam que dos 20 programas mais assistidos na TV por assinatura, 16
foram jogos de futebol. A mesma pesquisa do Ibope mostra que o canal esportivo
Sportv segue como líder de audiência no horário nobre no segmento.
Na média/dia (7h à meia-noite), o canal infantil Discovery Kids segue na
liderança. Foi o mais visto em junho, seguido por Sportv, Disney Channel,
TNT, Cartoon, Nickelodeon, Globo News, Warner, Fox e Telecine Pipoca.
(JIMENEZ, 2011)
De acordo com a pesquisa, em junho, 22 milhões de assinantes passaram pelos canais
Sportv.
2.3 JORNALISMO ESPORTIVO NA GLOBO
A TV Globo do Rio de Janeiro (Canal 4) foi inaugurada em 26 de abril de 1965, às
11 horas, com a exibição do infantil Uni – Duni – Tê. É o que registra a Memória
Globo, site mantido pela emissora, onde é mantida a sua memória.
Com uma hora de duração, o programa Uni duni tê era apresentado
pela professora Fernanda Barbosa Teixeira, a Tia Fernanda. O formato
da atração infantil que estreou no dia da inauguração da TV Globo foi
inspirado no programa infantil norte-americano Romper Room.
- Com caráter didático, o cenário de Uni duni tê reproduzia uma sala
de aula, com quadro negro, giz e carteiras escolares de madeira. Ali,
Tia Fernanda e seus alunos estudavam, brincavam e rezavam. Antes,
porém, nunca deixavam de tomar seus copos de leite.
(MEMORIAGLOBO, 2011)
De acordo com o Museu da TV, foi o jornalista Teixeira Heizer quem organizou
a primeira transmissão esportiva da TV Globo, em 1965, que foi um jogo de Brasil x
Rússia, no Maracanã (MUSEUDATV, 2011)
Na análise de Maria Rita Kehl (apud BARACHO, 2007), a grande virada da TV
Globo ocorreu a partir do ano 1996, quando a empresa deixou de ser comandada por
pessoas do meio – artístico e sua direção foi entregue a Walter Clark, que idealiza uma
televisão fundamentada nos termos da indústria da propaganda.
13
A partir daí, a televisão passou a ser [...] pensada prioritariamente
como um empreendimento comercial, e só em conseqüência disso
como um veículo divulgador de arte, cultura, entretenimento,
informação. A programação passou a ser pensada em função das
estratégias de comercialização da televisão. Mudaram também as
relações com os anunciantes e as táticas da concorrência para garantir
audiência (MUSEUDATV, 2011).
Em outra ação, a Globo iniciou o operação em rede no Brasil em 1969 com o
Jornal Nacional. A emissora também foi pioneira na implantação da TV em cores no
Brasil, quando em 31 de março de 1972 transmitiu a Festa da Uva, de Caxias do Sul. “A
primeira transmissão de TV colorida no Brasil, em escala restrita, coincidiu com os
jogos de futebol, as finais da Copa do Mundo, do México.” (COSTELLA, 1978, p. 198)
Em 1998, a TV Globo comprou os direitos de transmissões da Copa do Mundo
por 220 milhões de dólares. Pagou o preço para não corre o risco de ser ultrapassada
pelas concorrentes. Mas o que vale, é que até hoje ninguém poderá mostrar lances da
Copa do Mundo.
Isso tudo não faz parte do repertório de jornalistas, que têm como
missão informar ao maior número de pessoas o que se passa em situações de
interesse geral. Como quem dita às normas nem sempre é o jornalista – e
muitas vezes mesmo sendo jornalista é alguém que já perdeu de vista onde
termina negócio e onde começa o interesse. (COELHO, 2003, p.67)
Com os direitos das transmissões dos Jogos da Copa do Mundo de 1982, a TV
Globo investiu 14 milhões de dólares na cobertura do evento, já que seria a primeira
Copa atingir todas as regiões do Brasil. A emissora transforma o esporte em show.
Quase nada anda errado. Quase não se nota que os estádios, cenário do
evento, andam as moscas. Não se fala em gramado, do nível, de nada. Tudo é
absolutamente lindo. Muitas vezes se dá exatamente o oposto nas emissoras
concorrentes.Tudo é péssimo, o que também não é verdade.Parte do show
está lá ( COELHO, 2003, p.64)
Televisão e futebol, como já foi dito, um dá sustentação às aspirações dos outros
dois, o que explica o sucesso das transmissões de futebol, especialmente em épocas de
Copa do Mundo. A transformação do esporte em mercadoria representou
principalmente à Globo, segundo Ramos (1984), um estrondoso sucesso financeiro com
a comercialização de contas publicitárias durante a Copa de 82: Nas Copas seguintes,
novos saldos altamente positivos. A partir daí, o futebol se tornaria, definitivamente, um
grande negocio para a televisão brasileira.
Para Paulo Vinicius Coelho (2008, p. 64) apresenta elementos que
comprovam a transformação do futebol em mercadoria, por meio de uma
linguagem de espetáculo. De acordo com o jornalista esportivo, nas
transmissões da TV Globo, por exemplo, nada sai errado. Se existem
14
problemas no gramado, na estrutura do estádio ou se o público do jogo é
pequeno, a emissora procura amenizá-los. “(COELHO, 2003, p. 64)
O que importa é atingir as metas de audiência e faturamento. Observa – se que a
tendência da televisão, é mesclar conteúdos informativos, jornalísticos e de
entretenimento com a finalidade de conquistar e manter o público.
Na programação atual da TV Globo há quatro programas esportivos, todos com
formatos diferenciados: o “Globo Esporte (GE)”, transmitido de segunda a sábado, das
12h50 até 13h15, aproximadamente; o “Esporte Espetacular” veicula aos domingos, no
período da manhã, o Corujão do Esporte e o Central da Copa.
O programa Globo Esporte apresenta estrutura mais próxima ao formato de
telejornal, com cobertura dos principais clubes, entradas ao vivo e comentários e o
“Esporte Espetacular” mais próximo de uma revista semanal, embora tenha sempre na
pauta a transmissão de um evento esportivo, vôlei, natação, corrida de rua e esportes
radicais.
As informações o programa “Globo Esporte”, objeto da presente pesquisa, estão
concentradas no Capítulo II – Criação e evolução do programa Globo Esporte.
Já “Esporte Espetacular” é o mais antigo programa TV Globo no ar. Estreou
com objetivo de abrir espaço para o esporte amador na televisão, numa época em que o
futebol predominava nos noticiários. O programa acompanhava as principais
modalidades esportivas, a história dos atletas e os recordes mundiais conquistados em
diferentes competições no exterior.
A primeira equipe do Esporte espetacular reuniu profissionais como Léo
Batista, Waldir Mendes, José Luiz Furtado, Luciano do Valle, Ciro José, Juarez
Soares, Tércio de Lima, Teti Alfonso, Miriam Delamare e Milton Collen. A
coordenação do programa era de Fernando Villela e a direção, de Moacyr
Masson. Nessa época, a direção da divisão de Esportes da TV Globo ficava a
cargo de Rui Viotti. (MEMORIAGLOBO, 2011)
O Esporte Espetacular nem sempre adotou a informalidade de que o
caracterizaria mais tarde. Nos primeiros anos, o apresentador usava sempre terno e
gravata, e se expressa numa linguagem bastante forma.
Registra o MEMORIALGLOBO (2011) que no ano de 1976, ainda sob a direção
de Moacyr Masson o Esporte Espetacular passou a ser exibido aos domingos à tarde,
horário antes ocupado pelo Programa Silvio Santos. Além das transmissões esportivas,
reportagens exclusivas sobre diferentes temas que estivessem em destaque no momento
passaram a fazer parte do programa.
15
Em agosto de 1977, o Esporte Espetacular mudou novamente seu horário de
exibição, passando a ser transmitido, aos domingos, a partir das 11h. Nessa época, o
programa adotou o formato de revista eletrônica, as reportagens receberam um tom mais
criativo e leve, com brincadeiras e clipes de imagens acompanhado textos em off.
O “Corujão Do Esporte” é um programa esportivo exibido nas madrugadas das
sexta – feira, por volta de 02h, na Rede Globo e apresentado pelo ex- jogador de vôlei
Tande.
O programa começou a ser exibido durante o Mundial de Vôlei em setembro de
2010, numa fase de testes. Foi aprovado em janeiro de 2011 e estreou oficialmente em
11 de fevereiro de 2011. A estratégia é reunir atletas e famosos para comentar as últimas
do mundo esportivo e todas as modalidades esportivas.
O programa “Central das Copas” foi criado para abertura da Copa do Mundo
2010, da África do Sul e México, e sua última edição durante a Copa do Mundo foi ao
ar 11 de julho de 2010 após o jogo final entre Espanha e Holanda. Após o fim da copa o
programa começou a ser exibido nos dias dos jogos da Seleção Brasileira, a primeira
exibição foi no dia 10 de agosto de 2010, dia do jogo entre Brasil x Estados Unidos.
Desde o dia 23 de fevereiro de 2011, o esporte da Rede Globo vive nova fase
com a inauguração do novo estúdio que atende a todos os programas de esportes da
emissora: Esporte Espetacular, Globo Esporte, Corujão do Esporte e Central da Copa
passaram a mesma identidade visual.
A estreia do novo espaço aconteceu durante a exibição do Esporte Espetacular
especial, que aconteceu a transmissão do amistoso da Seleção Brasileira contra a
Escócia.
Para a inauguração, foi reunido todo o time do esporte da Rede Globo. Luís
Ernesto Lacombe, Glenda Kozlowski e Luciana Ávilla, do Esporte Espetacular
convidaram Alex Escobar, Cristiane Dias, Tiago Leifert e Léo Batista do Globo
Esporte, Caio Ribeiro do Central da Copa e Tande do Corujão para dividir a
apresentação do programa. Juntos, eles fizeram a ponte para a transmissão do jogo da
seleção, que teve narração de Galvão Bueno e comentários de Falcão e Arnaldo Cézar
Coelho. Depois do jogo, o comando passou para Tiago Leifert que contou com a ajuda
dos outros apresentadores, para fazer o Central da Copa especial.
O projeto do novo cenário foi desenhado para enfatizar a
interatividade e a mobilidade em todos os cantos. Seu design tem tons
cromados, que ressaltam a tecnologia e remetem à ideia de
16
modernidade. As linhas são neutras e lembram silhuetas de estádios e
instalações esportivas. O cenário se adapta a qualquer tipo de
transmissão e, apesar de ter a mesma identidade visual, cada programa
tem a sua característica. O Esporte Espetacular possui uma mesa
holográfica, onde imagens 3D “saltam” da mesa e interagem com os
apresentadores. No Globo Esporte, o destaque é para uma grande tela
3x5m com tecnologia touch screen, interativa. A mesma tela é
utilizada pelo Central da Copa, que também conta com um espaço
para plateia e um púlpito sensível ao toque. (OLIVER, 2011)
O novo cenário, a tecnologia e os recursos digitais são moldurações, na
concepção de Suzana Kilpp (2003, p.33), “procedimentos de ordem técnica e estética
que realizam certas montagens no interior das molduras”. São as ferramentas utilizadas
pela televisão para criar essa identidade televisiva. São opções, escolhas, contingências,
formas de (re) apresentar o mundo real. Neste sentido, observa Kilpp (2003, p. 160) a
televisão age como “uma indústria peculiar, de reciclagem de restos culturais”, que
segundo ela “seriam coletados na cultura mesma ou nos confins dos campos sociais”.
Estes restos culturais são processados e “transformados pela TV em produtos
televisivos”. Para a autora, o discurso televisivo, que apenas finge veicular mundo real,
oculta sua verdadeira aparência, “construída por procedimentos de ordem técnica e
estética”.
No jornalismo esportivo televisivo a representação próxima e ao mesmo tempo
muito distante do real e para tanto, não apenas características intrinsecamente
esportivas, que por si só já ajudam a explicar muito do sucesso televisivo do futebol,
mas principalmente os recursos tecnológicos, as estratégias de comunicação e
comerciais empregadas pela televisão. São elementos que fazem a diferença na
cobertura esportiva e que fazem da Rede Globo referência em todo mundo. A Globo,
como poucas televisões, vem demonstrando competência na cobertura esportiva,
principalmente no futebol, uma capacidade de abordar a realidade e a transforma numa
ficção audiovisual.
17
3. CRIAÇÃO E EVOLUÇÃO DO PROGRAMA GLOBO
ESPORTE
3.1 – GLOBO ESPORTE: SURGIMENTO E CARACTERÍSTICAS
O Globo Esporte (GE) é um dos quatro programas segmentados no esporte que a
TV Globo mantém, atualmente, na sua grade. O programa estreou na televisão em 14 de
agosto de 1978, para todo o Brasil. Já começou reunindo um núcleo de jornalistas
experientes de renome na televisão.
Nas décadas de 1970 e inicio de 1980, a equipe do programa era formada
pelos jornalistas Hedyl Valle Junior, Luiz Nascimento, Michel Laurence e
Armando Augusto Nogueira. Nessa época, a divisão de esportes estava sob o
comando do jornalista Ciro José. (MEMORIALGLOBO, 2011)
Fernando Vanucci e Léo Batista foram os primeiros apresentadores do
programa. Eles ficavam em uma bancada com um fundo verde, representando as cores
de um gramado.
Em meados de 1999, Fernando Vanucci foi afastado da apresentação do Globo
Esporte. Em seu lugar entrou Mauricio Torre, que já apresentava as noticias esportivas
no telejornal Bom Dia Brasil, e passou a ser revezar no comando do Globo Esporte
com Mylena Ceribelli.
Inicialmente, o programa Globo Esporte era apresentado de segunda a sexta –
feira. Só a partir de 1983 começou a ser exibido também aos sábados. Seu conteúdo
era dedicado quase exclusivamente á cobertura dos campeonatos estaduais e nacionais
de futebol. Aos poucos, Globo Esporte foi abrindo espaço para outras modalidades
esportivas, inclusive as amadoras.
De acordo com Coelho, o primeiro grande evento esportivo acompanhado
diariamente pelo Globo Esporte foram os Jogos Olímpicos de Moscou de 1980. “A
TV Globo e a TV Cultura foram ás únicas emissoras brasileiras que cobriram os
jogos” (COELHO, 2003, p.64).
Grandes coberturas, muitas vezes ininterruptas, transformaram a Globo em um
celeiro de grande profissionais. Observa, Renata Cuppen (CUPPEN apud Rangel,
2009), atual editora de texto do Globo Esporte, que o jornalismo esportivo da Globo
possibilitou a ascensão de profissionais como Isabela Scalabrini, Luiz Fernando Lima,
18
Tino Marcos, Mauro Naves e Marcos Uchoa. Uns dedicaram suas carreiras no
jornalismo esportivo, outros optaram em seguir em outras editorias.
Durante a cobertura da Copa do Mundo da Espanha (1982), o Globo Esporte
deixou de ser transmitido, sendo substituído por um bloco dedicado exclusivamente ao
futebol exibido dentro do Jornal Hoje, programa de jornalismo da Rede Globo,
transmitido das 13h15 às 14hs. Um jornal que discuti grandes temas do dia. Além disso,
o repórter tem autonomia para acrescentar análise e observação pessoal a noticia. Outras
matérias também ganham destaque nesse jornal, como, comportamento, dirigidas aos
adolescentes e às mulheres, o grande público do programa.
Em 1991, ingressou no Globo Esporte outro rosto conhecido dos telespectadores
brasileiros, o da apresentadora Renata Ceribelli.
Em 2001, a Rede Globo promoveu uma série de mudanças e a Divisão de
Esportes conseguiu avançar com as suas propostas.
As noticias esportivas ganharam espaço nos diferentes telejornais, inclusive no
Globo Esporte. A área recebeu mais recursos e novos profissionais. As
matérias no programa se tornaram mais elaboradas, passaram a apresentar mais
a entrevistas e buscavam explorar a trajetória pessoal dos atletas, mostrando
obstáculos e desafios. (CUPPEN apud RANGEL, 2010, p 42).
E em 2001 o jornalista Sidney Garambone assumiu o cargo de editor chefe do
Globo Esporte e promoveu várias mudanças, a começar pelo cenário.
Ele foi modificado para atualizar a linguagem visual e ganhar mais agilidade.
Quarenta quadros eletrônicos, criados pela Editora de Arte da Central Globo de
jornalismo, passaram a ser utilizados de acordo com o assunto abordado pelo
apresentador. O estúdio ganhou também painéis e iluminação especial. Outra
novidade foi á movimentação da logomarca do Globo Esporte, que deixou de
ter lugar fixo na tela, passando a aparecer em diferentes posições. O figurino
dos apresentadores também passou por reformulações. A página do GE na
internet também foi uma novidade. No mesmo ano, foi lançado um dos quadros
de maior destaque do programa: O gol de placa, que permitia aos usuários da
internet escolher o gol mais bonito da rodada. Novos quadros e séries foram
criados, seguindo a proposta de unir informação ao entretenimento. (CUPPEN
apud RANGEL, 2010, p.44 – 45).
Com a nova estrutura, o Globo Esporte começou a ter dois blocos exibidos em
rede, com reportagens de interesse nacional e um bloco com o noticiário local produzido
pelas praças. “A nova equipe deu um estilo mais dinâmico ao programa. Foram criados
quadros novos, entre eles: Gente e Agenda, que informavam sobre eventos e
personalidades esportivas nacionais e internacionais.” (CUPPEN apud RANGEL, 2010,
p 46).
Outra inovação favoreceu as emissoras afiliadas: a abertura para as
características próprias de cada estado, para a cultura local, como por exemplo, a
19
despadronização da apresentação com referência no Rio de Janeiro. A cada região do
país foi dada a liberdade para escolher apresentadores com sotaques próprios e adotar
uma linguagem mais solta, deixando de lado o formalismo que marca o jornalismo.
Por outro lado, os procedimentos em relação às emissoras concorrentes ficaram
mais rígidos. A emissora deu a entender que utilizaria de todas as suas armas para
manter a hegemonia na audiência, inclusive a lógica de que quem tem mais dinheiro
pode sufocar as demais emissoras.
Com o monopólio global, a emissora carioca procura sempre liberar as
imagens mais importantes depois de seu programa jornalístico Globo
Esporte. De tempos pra cá, a TV Globo tem tentado mudar um pouco o
quadro. Primeiro, proíbe qualquer profissional de TV que não presença ao
quadro da emissora carioca de entrar nos estádios. O segundo passo é dizer
que só libera as imagens de gols, por exemplo, depois do Globo Esporte.
(COELHO, 2003, p. 67 - 68)
Nos jogos Pan – Americanos do Rio de Janeiro, em 2007, a TV Globo mobilizou
uma equipe de 700 profissionais para acompanhar todos os detalhes das competições. O
GE mostrou as apresentações dos ginastas brasileiros, o ouro de Diego Hipólito e a
revelação Jade Barbosa; o ouro das seleções masculina e feminina de handebol; a
conquista inédita das meninas do futebol, no Maracanã na final contra a equipe dos
Estados Unidos.
Em agosto de 2007, o repórter Tino Marcos assumiu o cargo de editor chefe do
Globo Esporte. No mesmo ano, o GE completou 30 anos. “E para comemorar, o
programa ganhou um cenário novo com cores fortes que simbolizaram as diversas
modalidades esportivas”. (CUPPEN apud RANGEL, 2010, p 43).
Pela primeira vez, o programa passou a ter no comando uma dupla de
apresentadores: Tinos Marcos e Glenda Kozlowski. “Ele também ganhou uma série de
recursos virtuais. No novo formato, o apresentador poderia andar pelo cenário para
mostrar gráficos e tabelas na parede virtual”. (CUPPEN apud RANGEL, 2010, p 43).
O programa manteve a sua proposta de acompanhar o cotidiano e o trabalho de
atletas, destacar exemplos e treinadores que superam as dificuldades do dia – a – dia,
mostrar projetos que utilizam o esporte como ferramenta de inclusão social e trazer para
perto do telespectador o espetáculo e a emoção do esporte.
20
3.2– TIAGO LEIFERT ASSUME O GLOBO ESPORTE
O jornalista Tiago Leifert assumiu em janeiro de 2009 os cargos de editor –
chefe e apresentador da edição paulista do Globo Esporte e deu o início a uma série de
mudanças no programa.
O noticiário esportivo da capital paulista e das emissoras retransmissora do
interior do estado conquistaram novamente o seu espaço no programa. É ai
que aparece o grande trunfo da Globo. Um novo apresentador surge. Tiago
Leifert, até então do Sportv, um canal dedicado somente ao esporte, que
pertence a TV Globo. (MEMORIALGLOBO, 2011)
A contratação de Tiago Leifert se deu em decorrência da necessidade de
reformulação do programa Globo Esporte, buscando ampliar a audiência, que na época
(2008), registrava em média de 11 pontos e 31% de share. (OUTRO CANAL, 2011) e
de um projeto que havia apresentado à direção paulista da Rede Globo.
Entrevistado no programa Jô Soares (2009), Tiago sobre a nova etapa do
programa Globo Esporte:
Eu acho que o esporte é. A gente tem vários times nas mesmas
cidades, então a gente tem que tratar com jornalismo, pela
imparcialidade do jornalismo, só que é um risco também porque
você acaba ás vezes tirando um pouco da paixão, da emoção do
esporte. O que eu tentei fazer desde o começo foi tentar falar um
pouco mais a linguagem do torcedor. Conversar com ele, trazer
a matéria pra ele. A gente faz muita, muita brincadeira, a gente
tentar levar as coisas um pouco mais light, isso tem gente que
critica, tem gente que está acostumado com o jornalismo mais
serio, com a noticia mais séria. Eu acho assim, foi o que eu
achei desde o começo, e já conversei com os meus chefes a
respeito: O cara que leva o esporte muito á sério, é o cara que
briga no estádio.
Jô Soares ainda o questiona, em relação, a ele apresentador um programa sério,
mas com uma grande leveza: "Mas sabe o que é Tiago, ás vezes as pessoas confundem
sério com grave. Você continua fazendo um programa sério mais não com aquela
gravidade”.
21
E ele responde como conduz o programa, e porque conduz dessa maneira:
Isso Jô, tem que ter espírito esportivo, então assim, o técnico foi
demitido, ok, a torcida ta brava, beleza, mais bater no jogador,
quebrar o ônibus eu já acho um exagero. Isso é levar as coisas
sérias de mais, isso é muito grave, eu até estava conversando
com o nosso diretor, é que o legal do esporte é que você tem
uma chance nova todo ano, então não adianta tratar como vida
ou morte, porque o campeonato brasileiro tem hoje, depois tem
ano que vem, depois vai ter no outro ano, então tudo bem, se
seu time cair hoje, ano que vem ele sobe, fica tranquilo, é
esporte e não jogo, no final das contas é um jogo. Por isso
estamos tratando como jogo, com muito espírito esportivo,
fazendo muita graça quando dá, quando é grave a gente trata
com mais seriedade, mas a gente está levando as coisas mais
light, com mais espírito esportivo.
Uma das mudanças que o apresentador promoveu no Programa Globo Esporte
está diretamente relacionada à naturalidade com que se fala de futebol. Ao dispensar o
TP (teleprompter - equipamento que fica acoplado às câmeras da TV e exibe o texto a
ser lido pelo apresentador), seu objetivo era a aproximação com o telespectador, criar
um clima de conversa. O apresentador fica mais próximo do torcedor, que por sua vez
responde se identifica com o apresentador e leva esta manifestação consigo, para a mesa
do bar, no trabalho ou na escola com os amigos.
Exagerar nos detalhes é outra característica marcante do apresentador. A
abordagem evidencia o mix entre entretenimento e o esporte. Trata-se de uma estratégia
que também está presente no rádio, onde narradores, repórteres e comentaristas tentam
falar sobre o esporte mais popular do país da maneira que o torcedor está acostumado a
falar.
Tiago Leifert falou à revista Época, em agosto de 2010, sobre o “espírito do
programa” e os questionamentos em descontração da apresentação, se não é
incompatível com o noticiário, o que pode tornar o apresentador mais importante que a
notícia:
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Notícia grave ou séria não foi nem nunca será tratada com
descontração. Nunca deixamos de dar uma notícia importante.
Fora isso, encaro esporte como entretenimento. Diversão.
Saúde. Alegria. Emoção. A gente tem de cobrar seriedade nas
eleições, na segurança pública, no governo. O Globo Esporte é
um programa que tem espírito esportivo, no sentido mais puro
da expressão. Quem não tem espírito briga em estádio, bate em
jogador na saída do treino. Essa não é nossa praia.
O apresentador respondeu, também, sobre a sua preparação antes de cada edição
do Globo Esporte e como funciona o trabalha junto com os editores, os critérios da
escolha das músicas, imagens e piadas:
Sou editor – chefe, então tenho a palavra final em tudo e
escrevo a maioria das reportagens feitas na redação. Conto,
para minha sorte, com uma equipe de gênios. Gênios! Cada um
do seu jeito, cada um com uma pegada diferente. Minha rotina é
assim: chego às 7 horas da manhã, leio tudo que os repórteres
fizeram e escolho os assuntos. Depois, passo as missões para os
editores. Tenho quatro duplas de edição.O jornal fica pronto
sempre em cima da hora, por volta das 12h45.Depois do jornal
tem reunião de pauta, almoço na sequência e continuo
trabalhando à tarde para pensar o programa do dia seguinte.À
noite, quando tem evento esportivo(vôlei, futebol, basquete)eu
assisto a tudo.
Mas, muitos jornalistas atribuem às inovações incorporadas ao Globo Esporte a
outros programas esportivos exibidos na TV brasileira. No mesmo formato, há anos, o
canal ESPN mantém em sua grade o programa “Bate – Bola”, com estrutura leve e
linguagem descontraída, sob o comando de João Carlos Albuquerque (primeira edição)
e de Edu Elias (atualmente na MTV Brasil, no renovado “Rockgol”).
23
A trajetória do jornalista e apresentador
Tiago Rodrigues de Leifert nasceu em São Paulo, no dia 22 de maio de 1980. É
filho de Gilberto Leifert, diretor de Relações com o Mercado da Rede Globo.
Tiago Leifert começou a trabalhar na televisão na década de 1980, ainda
adolescente, na função de repórter do programa "Desafio ao Galo”, na TV Record, em
São Paulo. "Esse programa é praticamente um programa de futebol amador, de várzea",
disse ele em uma entrevista no "Programa do Jô", em 2009.
Depois, Tiago foi para os Estados Unidos, e lá formou - se em Jornalismo e
Psicologia, pela Universidade de Miami. "Lá nos Estados Unidos você é obrigado
escolher outra carreira, além da comunicação. Lá, nunca teve obrigatoriedade do
diploma, pra eles não basta ser jornalista, você precisa saber outra coisa", disse a Jô
Soares (2009).
Nos Estados Unidos, foi trainee no Jornalismo da rede norte-americana NBC.
De volta ao Brasil, trabalhou como apresentador e editor do Vanguarda Mix,
programa de entretenimento da TV Vanguarda, afiliada da Rede Globo no interior de
São Paulo. No Vanguarda Mix, Tiago Leifert dividia a apresentação com Geovanna
Tominaga, apresentadora do Vídeo Show.
Começou a trabalhar na Rede Globo apresentado o “Pro Rad”, o programa era
transmitido ao vivo pela TV Globo e Sportv, em maio de 2006. Foi grande marco na
história dos esportes radicais. O esporte em destaque era o skate. Depois foi repórter da
Sportv, o canal pago de esportes da Globo Sat, pertencente às Organizações Globo. Foi
onde Tiago se destacou como um dos principais repórteres esportivos da emissora,
apresentando matérias relacionadas a videogame no Esporte Espetacular, fazendo as
principais matérias e reportagens da rodada do futebol brasileiro em 2008.
24
4. ANÁLISE DO PROGRAMA GLOBO ESPORTE
4.1 – O GLOBO ESPORTE COM GLENDA KOZLOWISKI E TINO
MARCOS
Neste capítulo, vamos analisar dois programas do Globo Esporte, o objeto da
análise comparativa proposta. O primeiro, veiculado pela Rede Globo dia 12 de junho
de 2008, no horário das 12h45 às 13h15 horas, com a apresentação dos jornalistas Tino
Marcos e Glenda Kozlowiski. O segundo veiculado dia 29 de agosto de 2011, no
horário das 12h50 às 13h20 horas, apresentado pelo jornalista Tiago Leifert, que
também é o editor chefe. Utilizaremos o estudo Analítico-Descritivo Comparativo para
identificar e explicar as diferenças de cada um, considerando elementos como cenário,
modo de comunicação, interatividade, apresentação, entre outros.
No programa analisado, do dia 12 de junho de 2008, o primeiro elemento
marcante é a presença de um casal (Glenda Kozlowiski e Tino Marcos) na apresentação
do programa, o tradicional “casal”, estratégia muito utilizada no jornal televisivo. De
acordo com Heródoto Barbeiro, esse detalhe proporciona um equilíbrio “O ideal é que
se tenha um equilíbrio dessas duas vertentes: emoção e descrição dos fatos”.
(BARBEIRO, 2006, p. 55)
Outro detalhe é a postura dos apresentadores, sentados em uma bancada,
igualmente uma estratégia do jornal tradicional. O clima de alegria, característico do
futebol se faz presente no cenário, com um fundo verde, onde é exibida imagens de
campo de futebol e de várias modalidades esportivas. E à frente, o teleprompter, com o
texto que deve ser interpretado. Neste cenário, os dois apresentadores tentam em todo
momento transmitir a alegria do futebol, através de uma locução alegre, com uma boa
dose do emocional.
Toda essa estrutura e postura dos apresentadores remetem ao pensamento de um
segmento do jornalismo, aqui representado na concepção de Paulo Vinicius Coelho.
Para ele não existe um jornalista especifico para esporte. Mas aquele que se dedica a
reproduzir o real, o fato.
Não existe jornalista de esportes. Existe o jornalista, aquele se dedica
a transmitir informações de maneira geral, o especialista em
generalidade. Que se torna muitas vezes melhor quando é de fato,
conhecedor do assunto específico (COELHO, 2003, p.37).
25
As reportagens do GE nesta fase seguem a estrutura do jornalismo tradicional,
com a estrutura off, sonora, passagem, off.
O programa segue os padrões do telejornalismo, o texto casado com a imagem.
Nas matérias exibidas no jornal, a imagem é fundamental, pois o texto dos repórteres
são exatamente aquilo que é mostrado.
O programa transmitido ao vivo pela Globo, era apresentado pelo jornalista Tino
Marcos e Glenda Kozlowiski. Era transmitido de segunda a sexta das 12h45 às 13h15. E
começa com uma boa tarde normal do Tino Marcos. Logo em seguida segue o programa
Primeiro Bloco – Tino Marcos chama primeiro VT da bancada do lado
da Glenda.
Tino: O Sport está de volta a Taça Libertadores da América.
Glenda: E a vaga Tino, foi garantida com título e uma festa do tamanho
da alegria dos rubro-negros de Pernambuco.
Entra VT
Glenda chama VT em pé em frente ao Chroma Key.
Glenda: E a torcida do Sport não se cansa de comemorar o título. A
cidade do Recife amanheceu rubro-negra.
Entra VT
Acaba primeiro bloco
Segundo bloco
Glenda: Pois é, tristeza no Corinthians, e muita, mais muita alegria no
Sport.
Tino: Foi uma noite histórica e muito comemorada.
O programa segue normalmente o tp. Uma troca de conversas entre os
apresentadores.
Vera Paternostro (1999, p. 72) destaca que o telespectador liga a televisão para
assistir ao telejornal, para saber as noticias, tomar conhecimento dos fatos através das
imagens dos tais fatos. E o mais importante “a preocupação é fazer com que texto e
imagem caminhem juntos, sem um competir com outro.” (PATERNOSTRO, 1999,
p.72)
No entanto, os próprios diretores do Globo Esporte questionavam se a
linguagem padrão, característica do telejornalismo, aplicada ao jornal diário é o mais
adequado ao programa esportivo.
26
“A linguagem era muita dura, apenas uma troca de câmera o que deixava o
apresentador muito estático com o Chroma key3 no fundo servindo de cenário,” ressalta
segundo Renata Cuppen, editora de texto do Globo Esporte.
Em 2008, a direção da TV Globo resolveu levar todo o telejornal para a rede
nacional, gerado do Rio de Janeiro, apresentador por Tino Marcos e Glenda Kozlowski,
numa tentativa de globalizar a notícia esportiva, torna – lá nacional. A revelação é de
Renata Cuppen, explicando que a ideia era dar ao programa “um caráter de Jornal
Nacional para o assunto esporte”. (CUPPEN apud Rangel, 2010, p. 43).
Com a mudança também veio um cenário novo. “Os apresentadores andavam,
com opções no cenário de TV de plasma, telão, Chroma key, e outras variações
estéticas” destaca Renata (CUPPEN, apud Rangel, 2010, p. 43).
No entanto, Alfredo Vazeu, chama a atenção para a heterogeneidade de sentidos:
Como intérprete primário da realidade, o jornalista transmite um
conjunto de saberes, converte, em notícia, os fatos ocorridos no
mundo, informa sua audiência aquilo que relevante aconteceu, mas
não controla a heterogeneidade de sentidos que essas transmissões e
esses saberes adquirem por parte dos seus interlocutores, não lhe
comunica um sentido, não integra esses sentidos num mundo
mutuamente partilhado. (VIZEU, 2005, p.45 – 46)
Já para José Arbex Jr (2001, p.114), “o grande desafio enfrentado diariamente, é
na elaboração de estratégias de sedução do telespectador”, isso significa que, no
jornalismo esportivo o grande desafio tem sido transformar a linguagem mais parecida
com o público, no caso o torcedor.
“““ O linguista italiano Humberto Eco chama atenção para as diferentes leituras
que o esporte permite, ao se referir ao “esporte quadrado” (espetáculo esportivo) e, a
partir deste, o” esporte cubo”, definido como discurso sobre o esporte que é assistido”.
Ou seja, “o esporte não é apenas o que existe dentro de campos, mas o que passa por
inúmeras construções – das mídias e da opinião pública.” (ECO, 1984, p.223).
3
Chroma Key – é uma técnica de efeito visual que consiste em colocar uma imagem sobre uma outra
através do anulamento de uma cor padrão, como por exemplo, verde ou azul.
27
4.2. O Globo Esporte com Tiago Leifert
O segundo programa, edição paulista do Globo Esporte, objeto deste estudo de
análise comparativa, foi veiculado dia 29 de agosto de 2011, no horário das 12h50 às
13h20. O programa é apresentado por Tiago Leifert, que também é o responsável pela
edição. uma vez que responde pelo cargo de editor-chefe. e apresentador da edição
paulista do Globo Esporte.
A direção da Rede Globo, ao contratar o jornalista Tiago Leifert, como editorchefe e apresentador, aposta em um formato de programa mais próximo do espetáculo,
que é uma das principais características do futebol (hoje), sem, no entanto, perder a
essência do jornalismo, que é a informação.
Uma das principais mudanças técnicas foi à retirada da bancada o
que permite ao apresentador andar de um lado a outro do estúdio,
chamar as matérias num monitor ou no outro, olhar para a câmera
aumentando a mobilidade. Mas, a mudança mais aparente é realmente
a linguagem. (CUPPEN apud Rangel, 2010 p. 46).
Com liberdade de movimentação no estúdio, o apresentador deixou de utilizar o
telepromter para a leitura dos textos, o que tornou o Globo Esporte mais dinâmico, a
apresentação valorizando o improviso e transmitindo ao público a sensação de uma
conversa.
Uma das mudanças mais comentadas entre os profissionais da televisão,
incorporada por Tiago Leifert, foi o apresentador não se prender ao teleprompter. Foi
uma estratégia do apresentador, com base em experiências que teve nos Estados Unidos,
para deixar o Globo Esporte mais jovem e próximo do torcedor. Foi também uma
exigência do apresentador, que não queria ficar preso ao aparelho.
Hoje, a linguagem jornalística esportiva está bem caracterizada de
veículo para veículo. É preciso “viver” aquela emoção para o
telespectador. O repórter faz papel , escala montanhas, mergulha,
desce corredeiras, luta, chora, sofre e vive até a última gota a emoção
do esporte. Ele é tão protagonista como o atleta( BARBEIRO, 2006,
p.55)
O cenário mais alegre, sempre com um fundo verde, conduz ao campo de futebol
e a todos os esportes. E claro, o tradicional teleprompter e totalmente usado.
Com a orientação de Tiago Laifert, as matérias passaram a ser mais “informais”.
Os editores passaram a ter liberdade para “brincar” com as imagens, complementando
com musica e efeitos. Na concepção de José Arbex (2001, p.53), “o telejornalismo é um
28
videoclipe, pois possui uma sucessão de imagens, o repórter costura a imagem com o
seu off”.
As diferentes maneiras de fazer a matéria não agradam a todos. Para Heródoto
Barbeiro, por exemplo, o jornalista precisa saber até que ponto ele pode usar
trocadilhos, brincar com o texto.
“Na televisão há um exagero das matérias esportivas engraçadinhas, o que passa
aspecto de falta de seriedade do repórter e também da emissora” é que opina Heródoto
(BARBEIRO, 2006, p. 37).
Quanto às notícias, ficaram mais leves, trazendo mais objetividade e humor,
explorando a linguagem do torcedor.
Para construir esse texto, o repórter tem a necessidade de ser um torcedor, ver
quais seriam as perguntas que os próprios torcedores fariam.
O jornalista esportivo deve ter a consciência de que no momento da
entrevista ele faz o papel de milhares de torcedores que gostariam de
fazer aquela pergunta ao técnico do time, ou gostaria de saber, por
exemplo, por que aquele atleta não conseguiu seguir adiante num
evento (BARBEIRO, 2006, p.. 36).
Com as matérias totalmente modificadas, fora dos padrões jornalísticos formais,
o futebol, passou a ser tratado como um grande espetáculo.
Uma linguagem descontraída, mais informal, que mexe na linguagem tradicional
do jornalismo.
O discurso jornalístico adotado por um veículo de comunicação
pode colocar a ética em xeque- mate. Se o tom da redação é ser mais
humanista, pode ocorrer de o repórter tomar participação na vida de
um clube, de um atleta deixar o distanciamento na linguagem. Hoje,
a linguagem jornalística esportiva está bem caracterizada de veículo
para veículo. Algumas TVs adotam o estilo do jornalista –
personagem, em que a função não é só passar a informação, relatar o
fato. É preciso “viver” aquela emoção para o telespectador.
(BARBEIRO, 2006, p. 55)
A opinião recebeu mais espaço, passou a fazer parte da programação diária,
também com tom agradável e muitas vezes descontraído. Sem espaço para a crítica forte
e pesada.
José Arbex Jr.(2001, p.56) destaca isso como um mecanismo de fabricação de
opinião. Para ele, o jornalista simula a democracia: aparentemente, a opinião, divulgada
no curso dos acontecimentos, dando a ilusão de que o público foi levado em
consideração.
O Globo Esporte apostou em um ex-jogador para o cargo e função de
comentarista no estúdio, dividindo espaço com o apresentador. Caio Ribeiro, ex –
29
jogador do São Paulo, Flamengo, Santos, Fluminense, Grêmio, Inter de Milão e
Botafogo – RJ foi o escolhido.
Heródoto Barbeiro (2006, p. 78) vê o comentarista como uma pessoa que tem a
função nobre de explicar e permitir ao torcedor que acompanha o jogo de forma
diferenciada.
O comentarista tem que ter uma noção do público – alvo, como
qualquer outro jornalista esportivo. Deve saber com clareza o que ele
está falando, para poder calibrar o nível técnico e o vocabulário que
vai usar. “Em um veículo aberto precisa ser mais didático, dinâmico e
sintético”. (BARBEIRO, 2006, p.79).
A edição mais ágil do conteúdo imprimiu ao programa Globo Esporte um ritmo
mais próximo do futebol, tornando-o mais identificado com o torcedor, principalmente
os mais jovens.
No programa apresentado por Tiago Leifert, de segunda a sexta das 12h50 às
13h20, podemos ver uma apresentação mais descontraída.
Tiago: Boa tarde, não é um boaa tarde. Estamos todos preocupados com
Ricardo Gomes. Você deve lembrar bem no que aconteceu no ano passado. Em
fevereiro ele passou mal, também teve um AVC quando era treinador do São
Paulo e teve outro ontem. Amo ver como estão às coisas com Ricardo Gomes e
tudo que aconteceu ontem.
(isso não estaca escrito no tp. Ver nos anexo).
Entra VT
Depois do t – Tiago comenta o VT com o Caio Ribeiro.
Tiago: Vamos seguir nossa vida aqui. Mostrando como foi o clássico
sansão de ontem, duelo entre Neymar e Pires. Olha só.
Entra VT
Volta VT
Chama link
Pode – se dizer que existem dois esportes: o esporte tal, que é um jogado dentro
de campo, por seus atores, e nos bastidores, por atletas, técnicos, dirigentes, médicos, e
o outro esporte construído pela mídia, que passa por procedimentos de elaboração.
enquadramento, por uma grande produção.
Paulo Vinicius Coelho (2008, p. 64) descreve o jornalismo do programa como
“show” em campo.
30
O jornalismo articula – se, portanto, em função de dois núcleos de
interesse: a informação (saber o que pensa) e a opinião (saber o que se
pensa sobre o que passa). Daí o relato jornalístico haver assumido
duas modalidades: a descrição e a versão dos fatos (MELO 2003, p.
63).
Além disso, para Heródoto (BARBEIRO, 2006 p. 93 - 94) o jornalista esportivos
é diferente. A cobertura alegre, descontraída, animada não deveria nunca se confundir
com programa humorístico. É um trabalho que é sério sem ser sisudo e respeita as
regras do jornalismo como acurácia.
Acredita - se que mesmo com essas mudanças, com esses diferenciais, quem tem
a ganhar é o telespectador, não se esquecendo do principal, como destaca Paternostro
(1999, p. 37) “a mensagem que vai atingir as pessoas depende da razão e da emoção do
jornalista que a escreve”.
31
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O esporte pode ser uma notícia, um produto ou uma marca associada a um
produto para vender mais. É muito mais do que uma paixão nacional, como costumam
dizer os narradores esportivos. Afirma o professor José Marques de Melo, que o
Jornalismo Esportivo, “além de ocupar espaço privilegiado nos veículos de informação
geral (jornal, rádio ou televisão), constitui um dos ramos importantes da segmentação
da indústria jornalística, ensejando publicações especializadas no campo da mídia
impressa ou programas específicos no interior da mídia audiovisual. O esporte se faz
propaganda, gerando mensagens publicitárias dos espetáculos ou dos produtos
associados às práticas esportivas. Nesse sentido, a Publicidade Esportiva assume um
papel fundamental na engrenagem do esporte midiático, financiando seus agentes e
gerando divisas que dão sustentação econômica às instituições esportivas”.
(MARQUES DE MELO, 2003, p. 87).
O programa Globo Esporte representa este universo gerado pelos interesses
inerentes ao esporte. O programa estreou na grade da Rede Globo de Televisão em
agosto de 1978, com o objetivo de cobrir exclusivamente o futebol. Mas não demorou
muito tempo para o programa estender a cobertura para todos os esportes. Com o
avanço das tecnologias e do jornalismo esportivo, várias mudanças ocorreram no
programa, como a troca do cenário, troca de vinheta, troca de editor e troca de
apresentadores. A mais significativa, ocorreu em 2009, ano, em que a Globo decidiu
dividir o programa para as principais regiões do país, com liberdade para adaptá-lo à sua
realidade. Foi quando a TV Globo São Paulo investiu no jornalista Tiago Leifert,
aprovando um projeto que apresentou, de um novo Globo Esporte. Contratado o
jornalista assumiu os cargos de editor chefe e apresentador e mexeu no programa
incluindo estratégias utilizadas em programas da TV americana, onde estagiou.
Tiago Leifert promoveu mudanças simples e ao mesmo tempo profundas,
identificadas nesta pesquisa através da análise comparativa descritivo de dois programas
Globo Esporte, veiculados antes e depois de sua presença.
Ao assumir o cargo de apresentador, Leifert concentrou em si as atenções antes
divididas entre dois apresentadores (Tinos Marcos e Glenda Kozlowski). Aboliu a
“bancada”, onde os dois, sentados, apresentavam notícias e chamavam reportagens e
passou a apresentar de pé, se movimentando pelo estúdio, sempre exibindo roupas de
32
grifes da moda. Um estilo mais para Luciano Huck do que Galvão Bueno (que apresenta
“Bem Amigos” no canal Sporttv). Adotou a linguagem do “futebolês”, a linguagem que
é falada por jogadores e torcedores, inclusive dispensou o teleprompter (equipamento
que exibe o texto para o apresentador) para ficar “mais à vontade”, não só para
informar, mas também para comentar. Aliás, foi outro elemento introduzido pelo editor,
o comentário, a todo o momento e com a participação de um ex-jogador (Caio Ribeiro)
jovem e admirado. Com isso se aproximou do telespectador que acompanha o futebol,
principalmente os jovens.
A opinião é uma das estratégias do programa. O apresentador expressa
diretamente com o telespectador a evolução dos acontecimentos, expressa também sua
opinião tornando o programa mais jovial e utilizando a linguagem do dia-a-dia. Como
ressalta o professor Marques de Melo (2003), “a expressão opinativa ocorre através do
mecanismo de projeção”, a notícia ou reportagem que é destaque no programa prende a
atenção do público provocando maior impacto.
E para estabelecer uma relação com os jovens, incorporou o twitter, vídeos no
youtube e o vídeo game. É comum desafiar os jogadores ícones da nova geração para
uma partida no PS3. O programa que enfrentou e perdeu para Ney mar no PS3 foi por
muito tempo um dos mais acessados do youtube (link: http://bit.ly/uzpUL3). O
resultado foi tão bom que Tiago desafiou novamente Neymar (A revanche) e perdeu
novamente. Os jovens torcedores ganharam espaço para torcer pelo seu time. Um
torcedor de cada time é convidado para acompanhar os grandes clássicos. As suas
reações são filmadas e depois de uma edição com todos os recursos imagináveis que
possibilita o digital, são exibidas no programa. Desta forma, a imagem toma vida,
começa a adquirir significado e representações.
As notícias e reportagens ganharam mais agilidade e elementos do espetáculo,
gírias, comentários hilários e um pouco de humor, transmitidos muitas vezes com a
participação do repórter ao vivo, edição de imagens rápidas, uso de efeitos e trilhas
musicais jovens.
É possível afirmar que o programa jornalístico diário apresentado na televisão
brasileira é outro, após Tiago Leifert. A presença de um apresentador, em pé, circulando
pelo estúdio, apresentando notícias e comentando ao mesmo tempo é uma realidade.
Aqui mesmo, em Ribeirão Preto, os apresentadores deixaram a “bancada” e passaram a
caminhar pelo estúdio transmitindo as notícias, chamando reportagens, recebendo e
entrevistando convidados. É assim o EPTV Esporte (EPTV Ribeirão), o Esporte Record
33
(TV Record) e o Sport Show (Canal 20).
A tendência é alimentar o espetáculo, sem perder a referência do jornalismo,
esportivo, um “show”. “O que não é novidade, Heródoto Barbeiro (2006, p.93) já
afirmava que, os “veículos eletrônicos estimulam a transformação de locutores,
comentaristas, repórteres, narradores em” artistas” e estes se julgam parte do show e por
isso têm o direito e o dever de participar como um personagem”.
Para José Arbex Jr.(2001, p. 98), o que o Tiago conseguiu fazer no mundo
esportivo, diz exatamente ao que “efeito mercado”, pra ele a televisão é um polo ativo
do processo de seleção e divulgação das noticias e também dos comentários e
interpretação que delas são feitas.
As mudanças ocorridas na edição paulista do programa Globo Esporte (GE), da
TV Globo, após o jornalista Tiago Leifert assumir os cargos de editor-chefe e
apresentador, são significativas na estrutura e na linguagem do programa, consequência
da fusão das técnicas de jornalismo com elementos do entretenimento.
A emissora, que além de ganhar mais adeptos, construiu uma nova geração de
telespectadores, que jovens, não se identificavam com o formato tradicional de
jornalismo esportivo, com apresentadores sentados atrás de uma mesa lendo notícias.
Por outro lado, o jornalista Tiago Leifert em pouco tempo conseguiu o status de
ídolo, principalmente entre os jovens. Um dos jornalistas esportivos com o maior
número de seguidores no twiter, requisitado para palestras, eventos e exemplo de
apresentador de sucesso.
Tiago Leifert soube, através do poder de suscitar emoções que a televisão
proporciona explorar o imaginário e a paixão dos aficionados pelo futebol. Utilizando
uma linguagem jovem e específica do futebol, imagens dos eventos esportivos, do diaa-dia dos atletas, elementos que vão de encontro às expectativas do receptor,
transformaram um simples programa em espetáculo televiso. Este processo representa a
espetacularização, que, segundo (Debord, 2002), ao ser apropriado pela televisão, tem
função mercadológica, ou seja, são mercadorias que se sobrepõem a qualquer opção e o
consumo torna-se o objetivo principal.
34
ANEXOS
35
Espelho do Programa Globo Esporte - 17 /11 /2007
36
Script (Cabeça que o apresentador lê) do Programa Globo Esporte - 17 /11 /2007
37
Script (Cabeça que o apresentador lê) do Programa Globo Esporte - 17 /11 /2007
38
Espelho do Programa Globo Esporte apresentado pelo jornalista Tiago Leifert 29/08/2011
39
Script do Programa Globo Esporte apresentado pelo jornalista Tiago Leifert 29/08/2011
40
Script do Programa Globo Esporte apresentado pelo jornalista Tiago Leifert 29/08/2011
41
Script do Programa Globo Esporte apresentado pelo jornalista Tiago Leifert 29/08/2011
42
Segundo
Logo
Programa
do
Globo
Esporte
Primeiro Logo do Programa
Globo Esporte
Atual
Programa
Esporte
logo
do
Globo
43
Fernando
Vanucchi
-
1990
Léo Batista - 1989
Mylena Ceribelli - 1991
44
Tino Marcos e Glenda Kozlowski - 2008
Tiago Leifert - 2009
45
Tiago Leifert - 2010
Tiago Leifert e o comentarista Caio Ribeiro – Dia do Hallowen 2011
46
Equipe do Esporte da Globo - Novos Estúdios do Esporte 2011
47
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