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CENTRO HISTÓRICO EMBRAER
Entrevista: Emílio Tadeu Rossi de Almeida
São José dos Campos – SP
Março de 2012
Apresentação e Formação Acadêmica
Meu nome é Emílio Tadeu Rossi de Almeida, eu nasci aqui mesmo em São
José dos Campos, hoje estou com cinquenta e nove anos. Praticamente, eu
só trabalhei aqui na Embraer, trabalhei na Tecnasa assim que eu me formei
na ETEP (Escola Técnica Professor Everardo Passos), fiz curso de eletrônica,
técnico, e depois, logo em seguida, eu vim aqui para a Embraer. Eu tenho
esposa, Sandra, eu tenho três filhos: o Emílio César, o Arthur e a Ana
Raquel. Eu sou conhecido aqui por ser bastante corintiano, então meu
hobby é futebol, o preferido é futebol.
Características, assim, que eu tenho... eu sou um pouco perfeccionista – se
que é que se pode ser “pouco perfeccionista” -, mas eu gosto de cumprir as
regras, as normas e não gosto de coisas mal feitas, talvez por isso eu vim
prá cá e grande parte do meu trabalho aqui seja voltado... - tenha sido ou é
voltado - para a parte de processos e normas.
Ingresso na Embraer
Eu vim..., após o curso técnico eu fiz engenharia civil aqui na Fundação
Valeparaibana de Ensino e em 1993 eu iniciei minha carreira aqui na
Embraer trabalhando na área de projeto, de sistema elétrico. Na época, eu
fui contratado, eu fui entrevistado pelo Maurício Valadares e o Balata (José
Fredy Balata), que eram gerentes, dirigentes aqui na Empresa. Nessa época
eu trabalhei com Satoshi (Satoshi Yokota), o Masao (Masao Hashizume),
foram meus gerentes, o Pierre, o Marra que era companheiro de trabalho do
dia-a-dia. Logo após a contratação, num curto período, eu fui supervisor da
mesma forma que o Marra – a gente sempre foi muito amigo – aliás, foi ele
que me trouxe aqui para a Embraer e nesse período eu fiquei uns quatro
anos na área de projetos – três, quatro anos na área de projetos – e assim
que eu me formei na engenharia, fui convidado para trabalhar na área de
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informática, para trabalhar na Organização e Métodos que quem era lá, na
época, o gerente, era o Sérgio Luiz de Oliveira, meu chefe direto era o Dudu
da Peteca, o Eduardo Teixeira; eu também trabalhei posteriormente com o
Quizo, tive grandes companheiros lá, o Carlos Roberto, até hoje está na
Embraer, trabalha comigo atualmente.
Nesse trabalho lá, a gente trabalhava especificamente, basicamente com
engenharia, no meu caso - eu era da engenharia - na racionalização de
processos, e a gente definiu muita coisa, o que a Embraer tem hoje em
termos de base de dados, de remessa de materiais, como é que se fazia
uma cascata de engenharia, partes de desenho, as modificações de projeto,
ordem de engenharia. Na época a gente tinha as famosas IT’s que eram as
Instruções de Trabalho. No caso da engenharia, chamava PGE, e em função
desse trabalho que tive na área de TI (Tecnologia da Informação), de O&M
(Organização, Sistemas e Métodos) chamava Techs Showm, muita gente eu
acho que se lembra dessa época.
Depois, num período, eu comecei a fazer coordenação de trabalho de uma
equipe de engenharia e em 82 eu fui convidado para trabalhar, ficar um
período na Itália, porque a gente estava começando o programa AMX, e eu
fui com uma turma grande para lá – que eu acho que foi a maior equipe
que foi para lá até hoje, porque hoje já acabou o programa praticamente -,
mas com os italianos. Nós chegamos lá e era uma coisa interessante, no
meu caso, era a primeira viagem internacional, num país novo, levando
família (já tinha dois filhos), um inverno terrível quando nós chegamos.
Nessa equipe que foi para lá, muitos estão aqui hoje ainda, o Emílio Matsuo,
o Horácio (Horácio Forjaz) - que acabou de sair – tinha o Paulo Junqueira, o
Paulo César, o chefe direto lá era o Bartels (Walter Bartels), então eu fiquei
um ano lá fazendo a interface de normas técnicas, a parte de troca de
dados, os protocolos de troca de dados basicamente da engenharia voltada
para a TI, como é que a gente trocava os dados, quais eram os sistemas
que
tinham
que
ser
trocados,
as
informações...
Basicamente
nós
desenvolvemos todo o sistema de normas do programa, os Standard
Manuals, os Draft Standard Manuals também, que era como a gente ia
desenhar, fazer os desenhos dos produtos, todas as normas de materiais,
processos especiais, então foi uma época de muito aprendizado. Chegando
lá também a gente sentiu, no começo era como se a gente fosse meio que
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índio lá, os caras não botavam muita fé na nossa qualidade técnica, mas
rapidamente
isso
foi
desfeito
e
tivemos
uma
parceria
muito
boa,
aprendemos muito com eles, certamente eles aprenderam muito com a
gente também, foi um programa muito útil para a Embraer, independente
do lado financeiro.
Mas, a minha motivação para vir trabalhar na Embraer foi pelo fato de ter
nascido em São José, isso já é uma grande motivação, meu pai era
funcionário do CTA (Centro Técnico Aeroespacial), então sempre tive muito
contato com o CTA, meu pai morou lá também e eu sempre tive o gosto
grande pela aviação, apesar de nunca ter tentado ser piloto, porque eu sei
das minhas limitações com senso de direção. Aliás, quando cheguei aqui
hoje, você viu que eu estava meio perdido – então essa é uma limitação
que eu tenho de senso de direção, é muito complicado. Mas eu sempre
gostei de aviação, sempre gostei de eletrônica, como eu disse aí no início,
eu sempre gostei de processos, trabalhar com processos, simplificar as
coisas, me considero bem organizado.
E, logo cedo, na minha carreira, na época em 83, quando eu voltei da Itália,
eu fui designado a ser gerente área de normas técnicas. Era uma equipe
grande na época. Hoje a gente tem uma equipe pequena, mas na época era
muito grande, em torno de vinte e cinco pessoas, grande por ser só
normas. Naquela época era tudo em papel, a gente datilografava as
normas, mandava para a gráfica para imprimir, depois fazer distribuições
pela fábrica inteira. Eram umas pastas azuis – quem é mais antigo vai se
lembrar: você chegava na Embraer e você ganhava o kit, as ITs (Instruções
de Trabalho) e as Normas Técnicas para quem trabalhava na engenharia,
no projeto. Com o aparecimento dos computadores nós fomos, obviamente,
acompanhando a mídia, e hoje é tudo no computador, tudo eletrônico, a
gente começou cedo procurando eliminar o papel para fazer tudo eletrônico
e hoje é tudo assim, a aprovação, os pedidos de modificação, as consultas
na web e com parceiros e tudo mais. Então, foi um sistema bem
interessante que a gente desenvolveu.
Em 1997 eu assumi, foi agregado à área de Normas, a parte de Engenharia
de Materiais de Controle e Engenharia de Configuração, e aí eu fiquei
praticamente até hoje nessas funções, exceto Engenharia de Materiais,
posteriormente foi para a área de Estruturas. Mas, nessa época, com
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Materiais, Normas e Configuração, eu passei praticamente por todos os
programas da Empresa, o 145 (ERJ 145), o 170 (EMBRAER 170),
posteriormente, os programas..., o CBA (CBA 123 Vector) e também na
época do projeto eu trabalhei mais foi o 110 (EMB 110 Bandeirante), o
Tucano (EMB 312 Tucano) e o Brasilia (EMB 120 Brasilia).
Nessa função na área de Materiais e gerente de Configuração, trabalhei com
Luis Carlos Affonso, com o Zé Renato (José Renato de Melo), com o
Cecchini (Marcos Cecchini), o Waldir Gonçalves, o Humberto (Humberto
Pereira) e o Alcindo (Alcindo Rogério Amarante de Oliveira), que na parte,
nessa área de Configuração, foi um grande mestre aqui na Embraer; Paulo
Gomes (Paulo Gomes D’Oliveira), grandes nomes, pessoas que eu tive a
oportunidade de trabalhar com muito gosto. No ano 2000, adicionalmente
passei a ser um dos RCEs aqui da Empresa – Representante Credenciado de
Engenharia – pelo CTA, na época do CTA/IFI (Instituto de Fomento e
Coordenação Industrial), e que a gente fazia todas as interfaces com a
parte de certificação, homologação o que era refrente aos processos e
ferramentas na parte de configuração.
O RCE é um algo a mais que você faz, é um cargo de... – não sei se é um
cargo – é um representante do órgão homologador, então você tem que ter
alguns requisitos - na época eram dez anos na função, você tinha que
conhecer pessoalmente o pessoal do CTA, que trabalhava na certificação, ou
seja, era um cargo de confiança, você era representante do órgão
homologador daqui, você falava por eles aqui dentro da Empresa, então era
um reconhecimento que você tinha, competência e a confiança deles para
representá-los aqui na empresa.
Trajetória na Embraer
Atualmente eu sou gerente da área de Engenharia de Configuração e
Normas, alocado na Diretoria de Estratégias de Engenharia e sou na VicePresidência do Mauro Kern, que é de Engenharia e Tecnologia. Eu sou
responsável, minha equipe é responsável, pela harmonização dos processos
de
engenharia,
principalmente
as
coisas
corporativas,
os
assuntos
corporativos, os processos corporativos atuando como um centro de
competência para as demais configurações, engenharias de configurações
que são distribuídas nos programas. E também somos responsáveis pela
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elaboração de todas as normas e atendimento às unidades de negócio,
produção, engenharia, normas técnicas, voltadas para isso.
Temos vários projetos importantes em andamento, mas eu destaco dois:
um é o PLM (Product Lifecycle Management), que estamos trabalhando
fortemente para a implantação desse novo PLM, que certamente vai trazer
maior flexibilidade, maior integração dos processos e vamos conseguir
ganhar e muito em ciclo e em produtividade. No meu modo de ver, a
palavra de ordem do novo PLM é colaboração, então eu acho que nós
vamos ter mais facilidade de conversar com os fornecedores, parceiros e
obviamente, internamente também. É um projeto de longa duração, a
tentativa é que ele englobe, consiga casar a implantação desse projeto com
o programa novo, o EV (Evolution), para que o EV possa ter um grande
benefício desse projeto. Obviamente, nós estamos vivendo dificuldades para
que isso ocorra, estamos vivendo de dificuldades de recursos, de alocação
de recursos, todo mundo está atarefado com outras atividades, mas como
isso aqui é história, estamos passando por uma fase bem difícil,
provavelmente temos que inverter a prioridade hoje. O EV é um programa
que está puxando o PLM, nós estamos correndo com o PLM para atender o
EV, possivelmente a coisa vai se inverter, nos vamos fazer um road map
para um planejamento do PLM e dos programas, o EV, no caso, o KC (KC390), outros programas vão aproveitar os benefícios desse projeto do PLM
na medida do que for possível. O PLM não pode atrapalhar nenhum
programa da empresa, pelo contrário, tem que ajudar, mas isso vamos ver
proximamente.
Embraer e Futuro
Comparando o tempo que eu entrei aqui na Empresa, o que eu vivi aqui e
os dias de hoje, a grande mudança é a velocidade da informação e a
tecnologia de informática. É uma coisa... na minha época, eu comecei a
trabalhar, eram umas pranchetas grandes, com um plástico verde, uma
régua T, régua de cálculo para fazer as contas, não tinha nem essas
calculadoras básicas, não tinha nada disso, então a gente desenhava tudo a
mão, com nanquim, aquela canetinha que entupia, você tinha que ficar
batendo, tinha carga na canetinha, todos os gabaritos para você fazer
elipse, círculo, concordância era uma coisa artesanal mesmo. Logo depois,
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aqui na Embraer, entrou o Gerber que foi o primeiro computador para se
desenhar, então já foi uma coisa..., uma evolução assustadora, você sentar
no computador e poder desenhar. Então, a evolução, tudo o que nós
passamos até chegar no CATIA (Computer Aided Three-dimensional
Interactive Application), hoje V5. Se você olhar o desenho de 2D, hoje tudo
sólidos, 3D, as montagens sendo feitas a partir das peças automaticamente,
é uma coisa que parece ficção mesmo, Centro de Realidade Virtual você
cosegue ver um avião em 3D, consegue ver os interiores diferentes,
configurações diferentes. Então, isso é uma coisa impensável quando eu
entrei aqui na Empresa, a evolução nesse negócio não para mais.
Então, a diferença básica de hoje para antigamente é essa, a tecnologia e a
velocidade da informação, antes você fazia um memorando para uma área,
passava o menino do correio, levava para a caixinha do correio da outra
pessoa, aí ficava ali um dia, dois dias, era uma fila, então o tempo passava
muito devagar, você tinha... a desculpa “Pô, o memorando sumiu...”, hoje
não tem como..., você recebe um email, hoje não tem como falar que não
recebeu... Levando para o lado mais... brincadeira, a coisa era mais
demorada, hoje o ano passa e você praticamente não vê, eu acho que isso
foi fruto do volume da informação que a gente tem.
Então, eu vejo o futuro, assim, como cada vez mais essa velocidade
aumentando, a tecnologia para você poder desenhar, projetar e fabricar
todos os aparatos de fabricação. É até difícil falar onde nós vamos chegar,
mas eu acho que o automatismo vai tomar conta, a ponto de você projetar
e todo o histórico que nós já temos acumulado e isso aí colocado de uma
forma inteligente, com ferramentas inteligentes dentro de computadores
possantes, vai ser difícil errar, eu acredito, desenhar, projetar com tantas
informações disponíveis e de fácil utilização, cada vez vai ficar mais fácil
projetar, mais fácil você fazer a coisa acontecer sem muito erro. O reuso da
informação dentro de máquinas possantes, dentro de computadores
possantes vai facilitar muito a nossa vida, os novos materiais que vão
surgir, estão surgindo já, vão revolucionar tudo e as empresas que tiverem
um centro de pesquisa e puderem desenvolver, que tiver um governo que
apoie esse trabalho, que dê incentivo, essas empresas vão permanecer,
aquelas que não tiverem isso, acho que naturalmente vão ser compradas e
absorvidas por outras empresas ou vão fechar. Aqui no Brasil, a gente está
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metido a rico, mas não é, precisa esse..., precisa que o governo olhe... Uma
empresa igual a Embraer, que precisa ter tecnologia desenvolvida para que
a gente possa preservar, perpetuar. Uma empresa como essa, nós não
podemos deixar de forma alguma acabar.
Eu digo o seguinte... a Embraer é uma escola, se você vier para cá a fim de
se dedicar, de ter amor por essa Empresa, preservar pelos seus valores,
respeitar as pessoas e se esforçar, estudar, procurar se desenvolver aqui,
você tem todo o campo do mundo para crescer. Eu acho que..., eu trabalhei
numa empresa só fora daqui, mas aqui eu tive todo o apoio que eu precisei,
tudo o que eu consegui da minha vida eu consegui aqui e tendo em mente
isso que eu estou dizendo aqui, agora, você tem que se dedicar, você tem
que respeitar as pessoas, respeitar os valores, não esquecer do seu
autodesenvolvimento, que aqui é uma empresa, que você está numa cidade
que é ótima para se viver, perto de São Paulo, do sul de Minas, da praia, do
Rio de Janeiro, nós temos todas as facilidades aqui, então, não tem porquê
a pessoa que vem para cá para São José, vem aqui principalmente na
Embraer, não fazer seu futuro aqui nessa Empresa e nessa cidade, que eu
acho que aqui é o lugar, é o melhor lugar.
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