volume 11 - número 1 - 2014

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ISSN impresso: 1807-3980 | ISSN on-line: 2447-0864
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Faculdade de Tecnologia de Taquaritinga
ISSN impresso: 1807-3980
ISSN on-line: 2447-0864
Interface Tecnológica
2014 – Faculdade de Tecnologia de Taquaritinga
ISSN impresso: 1807-3980 | ISSN on-line: 2447-0864
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de Taquaritinga.-- v. 11, n.1(2014).-Taquaritinga : Faculdade de Tecnologia, 2014.
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6Os
e da Interação Humano-Computador no desenvolvimento do software Catalóg
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aplicações web ricas (RIA) com aparência de
19Criando
desktop utilizando o framework AJAX Ext JS
Gleydson Lucínio
Eder Carlos Salazar Sotto
pelo uso da água no estado de São Paulo e
30Asuacobrança
contribuição para a gestão dos recursos hídricos
Mario Marcos Lopes
Fernando Frachone Neves
inovação
40Aagrícola:
a
tecnológica na pequena propriedade
produção de celulose a partir do
engaço da bananeira.
Andreza Renata Zambelli
Guilherme Augusto Malagolli
José Eduardo Freire
promoção da saúde e qualidade de vida nas organi56Azações
como parte da política gerencial de inovação
Mirian Damáris Benaglia
estudo sobre as mudanças causadas pelo uso de
67Um
tecnologia de informação na estrutura organizacional
de empresas
Bruno José Franzini Silva
Guilherme Augusto Malagolli
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familiar: uma alternativa ao capitalismo –
79Agricultura
análise ao sistema Mandala
Fabio Alexandre Cavichioli
Aline Machado Dos Santos
Manuela Gomes Prodóximo
Relação folha-colmo de Brachiaria brizantha
91
fertirrigada com efluente de esgoto tratado
Gilmar O. Santos
Rogério T. de Faria
Gilberto A. Rodrigues
Anderson de Souza
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II Semana da Melhor Idade da Fatec Taquaritinga:
106relato
de atividades
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Daniela Gibertoni
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120
Desvendando os Porquês
Luiz Roberto Wagner
Djenane Sichieri Wagner Cunha
OS BENEFÍCIOS DA INTEGRAÇÃO DA ENGENHARIA DE
SOFTWARE E DA INTERAÇÃO HUMANO-COMPUTADOR NO
DESENVOLVIMENTO DO SOFTWARE CATALÓG
THE BENEFITS OF INTEGRATION OF SOFTWARE ENGINEERING AND HUMAN-COMPUTER INTERACTION IN SOFTWARE DEVELOPMENT CATALÓG
Daniela Gibertoni1
Thaís Cristina Casagrande2
RESUMO
O objetivo deste artigo é relatar os benefícios da integração da Engenharia de
Software (ES) com as práticas de Interação Humano-Computador (IHC) para a
construção de um software denominado CatalóG (Catálogo de Revistas de Gêneros), que foi desenvolvido pelo Grupo de Pesquisa em Engenharia Software
– GPES – da Faculdade de Tecnologia de Taquaritinga. O trabalho traz as fundamentações teóricas acerca das metodologias e processos de software tanto
da área de ES quanto de IHC bem como apresenta a contribuição do design
participativo para que essas práticas possam ser fundidas a fim de produzir um
software que atenda ambas as áreas.
Palavras-chave: Modelos de processos de software. Engenharia de software.
Interação humano-computador. Design participativo.
ABSTRACT
This paper aims to report the benefits of the integration of Software Engineering
(SE) and the practices of Human-Computer Interaction (HCI) for the construction
of a software called CatalóG (Catálogo de Revistas de Gêneros), which was developed by Grupo de Pesquisa em Engenharia Software, at Faculdade de Tec1. Docente da Faculdade de Tecnologia de Taquaritinga e Coordenadora do Grupo de Pesquisa
em Engenharia de Software – GPES. E-mail: [email protected]
2. Discente da Faculdade de Tecnologia de Taquaritinga. E-mail: [email protected]
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nologia de Taquaritinga. The work presents the theoretical foundations related to
the methodologies and processes of SE and HCI , it also shows the contribution
of participatory design for the merge of these practices in order to produce a helpful software for both the fields.
Keywords: Software processes models. Software engineering. Human-computer
interaction. Participatory design.
INTRODUÇÃO
Duas áreas da Ciência da Computação se destacam no desenvolvimento
de sistemas interativos: a Engenharia de Software (ES) e a Interação Humano-Computador (IHC). Entretanto, essas áreas divergem quanto ao foco dado
durante o desenvolvimento de tais sistemas. Segundo Brown (1996), enquanto
o foco da ES está mais voltado para as funcionalidades, o de IHC está voltado
para os aspectos da interação entre o ser humano e a máquina.
Apesar dessas duas áreas divergirem quanto ao foco, ambas propõem o desenvolvimento de sistemas interativos de forma sistemática, definindo modelos
de processo, métodos e técnicas. Pode-se citar como modelos de processo propostos pela ES: o Cascata (SOMMERVILLE, 2007), o Incremental, a Prototipação, o Espiral, o Rapid Application Development – RAD - (PRESSMAN, 2011),
o Rational Unified Process – RUP – (KRUCHTEN, 2000) e os métodos ágeis
como o Extreme Programming (XP). Como modelos de processo propostos pela
IHC: o Projeto Centrado no Usuário (PCU) (PREECE et al, 2005), o Estrela (HIX
e HARTSON, 1993), a Engenharia de Usabilidade (NIELSEN, 1993) e o Design
Participativo (DP) (DIX, 1998).
Embora os modelos de processo, métodos e técnicas expressem o foco da
área que a propõe, percebe-se que é possível desenvolver sistemas interativos considerando práticas de ambas as áreas através da consideração dos aspectos relevantes à ES em conjunto aos considerados pela IHC, objetivando o
desenvolvimento de sistemas de forma mais abrangente. Logo, considerando
os aspectos dessas duas áreas durante o desenvolvimento, é possível construir sistemas que não somente sejam de fácil manutenção, e que satisfaçam o
usuário quanto ao prazo de entrega e ao custo, mas que também o tornam mais
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confiável e de fácil utilização pelo usuário. Esses resultados são desejáveis, pois
o mercado está se tornando cada vez mais competitivo, sendo a interface com o
usuário um diferencial de produto (FERRÉ, 2003).
Baseado neste raciocínio, este artigo tem como objetivo relatar os benefícios
da integração dos processos oriundos da ES com os modelos de processo de
software da área de IHC para o desenvolvimento do software CatalóG (Catálogo
de Revistas de Gênero), bem como os processos e atividades desenvolvidas
ao longo do projeto. Este software foi desenvolvido pelo Grupo de Pesquisa em
Engenharia de Software – GPES – da Fatec de Taquaritinga. Como um dos grandes desafios da área de desenvolvimento é trabalhar e realizar um produto ou
software que atenda a todas as especificações dos usuários e ao mesmo tempo
tenha um bom design, este artigo mostra o caminho para superar esse desafio,
através da metodologia do design participativo.
1. Modelos de Processos em Engenharia de Software
A ES é uma disciplina de engenharia relacionada com todos os aspectos da
produção de software, desde os estágios iniciais de especificação do sistema até
sua manutenção, depois que este entrar em operação. A ES, juntamente com a
Engenharia de Requisitos, tem o objetivo de utilizar as melhores técnicas e métodos para a construção de um software confiável que esteja compatível com as
necessidades dos usuários (SOMMERVILLE, 2007).
Portanto, produzir um software é oferecer uma solução viável para um problema existente de forma planejada e válida e que resulte em um produto final
satisfatório e de qualidade.
Para que o desenvolvimento de um software seja possível, é necessário que
seja planejado (modelagem e projeto de software), executado (geração de código) e avaliado (testes e garantia de qualidade). O planejamento de software
envolve modelos de processos de software a serem seguidos para que seja
desenvolvido evitando-se custos desnecessários e tempo de desenvolvimento
maior que planejado.
Um processo de software é composto por modelos que, por sua vez, envolvem
um conjunto de tarefas que tem função de nortear o processo de desenvolvimento.
Os objetivos de um processo de software incluem redução de custos e aumento de
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qualidade e de produção, portanto um processo de software que não atenda esses
objetivos de forma satisfatória, não é um processo viável (MEDEIROS, 2013).
Apesar de os métodos ágeis ganharem cada vez mais repercursão, os modelos prescritivos ainda estruturam vários projetos. Responsáveis por definir um
fluxo de trabalho de processo previsível, são denomidados assim por prescreverem um conjunto de elementos de processo (atividades metodológicas, ações
de ES, tarefas, produtos de trabalho, garantias de qualidade e mecanismos de
controle de mudanças para cada projeto). Todos os modelos de processo de
software podem acomodar atividades metodológicas com ênfase em pontos diferentes e definir fluxo de processos e ações de ES (PRESSMAN, 2011).
Os modelos prescritivos contemplam desde o modelo cascata até o modelo
evolucionário (prototipação e espiral). Neste artigo é abordado de forma mais
precisa os modelos prototipação e incremental, pois juntamente com modelos de
ciclo de vida em IHC, que serão analisados mais a frente, proporcionaram a base
para o modelo utilizado na construção do software CatalóG.
1.1. Prototipação
Segundo Sommerville (2007), um protótipo é uma versão inicial de um sistema de software usada para experimentar opções de projeto e descobrir mais
sobre o problema e suas possíveis soluções.
As fases que compõem a prototipação vão desde a definição dos objetivos do
protótipo até sua avaliação, passando pela definição das suas funcionalidades e
seu desenvolvimento.
Embora a prototipação possa ser utilizada como modelo de processo isolado,
é mais comumente utilizada como uma técnica passível de ser implementada no
contexto de qualquer um dos modelos de processo (PRESSMAN, 2011).
A prototipação pode ser utilizada como aliada no processo de desenvolvimento pelo fato dos desenvolvedores poderem usá-la como parâmetro para produzir
uma versão final de alta fidelidade com os requisitos levantados, além de proporcionar aos usuários um nível de experiência com o uso do software, podendo, ao
mesmo tempo, avaliar as experiências dos usuários e contribuir para a construção de um sistema interativo.
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1.2. Entrega incremental
Na iteração de processos de ES, existe a entrega incremental, onde o projeto
é dividido em etapas e elas são desenvolvidas uma por vez. Os usuários definem
as atividades a serem entregues de acordo com o grau de necessidade. Para
Pressman (2011), as atividades que compõem esse modelo são: a comunicação, o planejamento, modelagem (análise e projeto), construção (codificação e
testes) e o emprego (entrega, realimentação ou feedback).
A entrega incremental do desenvolvimento de software foi formulada por Watts Humphrey como um conjunto de regras para as equipes de gestão do software seguirem
durante as fases de especificação de requisitos de projeto de um processo de software
(PETER & PEDRYCZ, 2001). É uma abordagem intermediária que combina as vantagens dos modelos evolucionário (prototipação) e o cascata (SOMMERVILLE, 2007).
Segundo o mesmo autor, o processo incremental possui uma série de vantagens:
1. Os usuários não precisam esperar até a entrega do sistema inteiro para se
beneficiarem dele.
2. Os incrementos iniciais podem ser usados como protótipos e servirem
para que os usuários ganhem experiência e assim dar informações sobre
os próximos requisitos a serem incrementados no sistema.
3. Menor risco de falha geral no projeto.
4. Os serviços mais importantes do sistema recebem mais testes, portanto a
possibilidade de encontrar falhas no produto final é menor.
Ao se observar a segunda vantagem apresentada, pode-se dizer que a prototipação e o modelo incremental em determinado momento se fundem, trazendo
à equipe de desenvolvimento melhores condições de se apropriar dos reais requisitos que os usuários requerem, bem como aproximá-los por meio do modelo
de processo Estrela, apresentado na sequencia.
2. Modelos de processos em Interação Humano-Computador
Segundo Rocha e Baranauskas (2003), a IHC tem foco no projeto, avaliação
e implementação de um sistema interativo para o uso humano, além de se preoGIBERTONI; CASAGRANDE. Os benefícios... (p.6-18)
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cupar com o estudo dos principais fenômenos ao redor dele, como a área de
aplicação e o contexto de uso do usuário.
Dentro da área de IHC, existe o design de interação, que segundo Cybis
(1999) pode ser descrito como o design de produtos interativos que fornecem
suporte às atividades cotidianas das pessoas, seja no lar ou no trabalho. Uma
parte do processo de entender as necessidades do usuário, no que diz respeito
a projetar um sistema interativo que as atenda, consiste em ser claro quanto
ao objetivo principal. Existem duas metas a serem seguidas para que se possa
construir um sistema interativo com alto grau de fidelidade: as metas de usabilidade e as metas decorrentes da experiência do usuário (PREECE et. al, 2005).
No que tange às metas de usabilidade, pode-se defini-la como a característica de um sistema ser fácil de usar, além de serem eficientes, seguros, fáceis
de serem aprendidos e esteticamente agradáveis. Com relação às metas de
experiência do usuário, os sistemas devem ser úteis, motivadores, e atender as
necessidades dos usuários de forma satisfatória.
A partir dessas metas, surge a necessidade de se definir a forma de trabalho, os
processos e modelos sobre os quais o software será desenvolvido. A escolha de um
modelo de desenvolvimento afeta a forma como o software irá trabalhar, bem como
o tempo de desenvolvimento, forma como será documentado e recursos disponíveis.
No modelo de design, o software sempre começa a ser desenvolvido de acordo com as necessidades e requisitos levantados pelo usuário, a partir desse
ponto ocorre a validação dos mesmos, e logo após ocorre o processo de design,
que têm o objetivo de construir designs interativos de acordo com os requisitos
levantados. Caso o software não tenha saído de acordo com os requisitos, ou
não tenha atendido satisfatoriamente as necessidades dos usuários, ele pode
passar por um processo de re-design até atingir seu objetivo. Uma versão interativa é capaz de suprir as necessidades dos usuários e apoiá-los nas atividades
rotineiras, facilitando o uso do software. O produto final deve ser proveniente
dessas atividades e ao final, passar sempre pela avaliação.
Assim como na ES, o campo da IHC possui seus modelos de ciclo de vida. O
modelo Estrela (Star) derivou do trabalho empírico de entender como os designers lidavam com problemas de design em IHC. Por outro lado, o ciclo de vida da
Engenharia de Usabilidade apresenta uma abordagem mais estruturada e descende da tradição da própria Engenharia de Usabilidade (PREECE et .al., 2005).
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2.1. Modelo estrela
Composto pelas fases de implementação, análise das tarefas/análise funcional, requisitos/especificação, projeto conceitual/ representação formal do design
e prototipação, este modelo foi proposto por Hix e Hartson (HIX e HARTSON,
1993). O ciclo de vida Estrela não especifica ordenamento algum das atividades,
elas são altamente interconectadas, pode-se passar de uma atividade a outra
qualquer desde que se passe primeiro pela atividade de avaliação. No que diz
respeito a esse modelo, a avaliação é central, sempre que uma atividade for
completada, seu resultado deverá ser avaliado (PREECE et al, 2005).
Para Rocha e Baranauskas (2003) as atividades do modelo estrela são semelhantes às atividades do modelo cascata, porém a avaliação é central e o início
do processo pode acontecer em qualquer uma das demais atividades.
2.2. Ciclo de vida da Engenharia de Usabilidade
Para Rocha e Baranauskas (2003), Engenharia de Usabilidade é o termo que
se usa para definir o processo de design de sistemas computacionais que objetivam a facilidade de aprendizado, de uso, e que sejam agradáveis para as
pessoas. Para as mesmas autoras, o ciclo de vida da Engenharia de Usabilidade
é composto por quatro fases que incluem o pré-design, o design inicial, desenvolvimento iterativo e pós-design.
Para Mayhew (1999) apud Preece (2005), a Engenharia de Usabilidade compreende três fases: análise de requisitos, projeto/teste/desenvolvimento e instalação desdobrando-se em estágios de identificação de requisitos, projeto, avaliação e construção de protótipos.
2.3. Design participativo no processo de desenvolvimento e
levantamento de requisitos
O Design Participativo (DP) foi desenvolvido inicialmente na Escandinávia e
provê uma série de técnicas para conduzir o design com os usuários e não para
o usuário. A abordagem proposta no DP enfatiza a importância da democracia
no ambiente de trabalho para aprimorar os métodos de trabalho, a eficiência no
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processo de design (através da experiência e comentários dos usuários), aprimoramento da qualidade do sistema, e a condução das atividades formativas.
Em DP estes objetivos são atingidos através da interação direta dos usuários
com designers durante todo o ciclo de desenvolvimento, e pelo controle do usuário sobre as decisões de design.
As atividades conduzidas durante o DP visam o desenvolvimento de uma visão compartilhada da tecnologia e da organização, explorando novas estruturas
organizacionais, requisitos dos sistemas e protótipos de novos sistemas.
A colaboração dos usuários durante todo o processo de design provê as informações necessárias para os designers. Além disso, as atividades de DP aprimoram a qualidade do sistema resultante por compreender melhor o trabalho desenvolvido pelo usuário e combinar diferentes conhecimentos dos participantes
durante o processo de design (BRAA, 1996).
No design participativo, diferente do design contextual, os usuários são ativamente envolvidos no desenvolvimento (PREECE et. al., 2005). A intenção consiste em fazer com que se tornem um parceiro como os outros na equipe de
design, projetando o produto em cooperação com os designers.
Esta colocação é muito importante dado que, para o desenvolvimento do software CatalóG foi utilizado os princípios do DP, ou seja, a equipe responsável pelo
software foi composta por três usuários do sistema, um analista de sistemas, um
administrador de banco de dados, dois programadores e um designer. Está descrito no próximo item como ocorreu a integração bem como o trabalho foi realizado.
3. Integração de Engenharia de Software e Interação Humano-Computador para o Software CatalóG
O CatalóG tem como base uma pesquisa científica para auxiliar sua professora pesquisadora em seu projeto. Por se tratar de um tema de pesquisa na área
de estudos de gênero é que o Grupo de Pesquisa em Engenharia de Software
– GPES - da Faculdade de Tecnologia de Taquaritinga desenvolveu e nomeou o
software em CatalóG: Catálogo Digital de Revistas de Gênero.
Desta forma, o software CatalóG tem como objetivo mapear os diferentes
estudos realizados pela comunidade científica nacional na área de estudos de
gênero e feministas nos últimos 20 anos.
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O software CatalóG foi construído com base no modelo evolucionário, especificamente a prototipação, – segundo Pressman (2011), essa técnica pode ser
implementada em qualquer modelo de processo - utilizando do desenvolvimento
exploratório, que tem o objetivo de explorar os requisitos e assim contribuir com
a evolução do sistema até chegar a uma versão final. O uso desse modelo foi
fundamental para que a equipe técnica pudesse entender mais claramente os
requisitos propostos pelos usuários, uma vez que a área estudada foi Ciências
Sociais, em Estudos de Gênero. Desta forma, a prototipação aliada ao DP promoveu uma maior facilidade para a obtenção de requisitos.
A partir desse modelo de processo, o GPES pôde se adaptar e construir seu
próprio processo de desenvolvimento, de acordo com as características dos
usuários e dos desenvolvedores. Pode-se dizer então, que o CatalóG se beneficiou de práticas da ES e da IHC no seu processo de definição de escopo e
desenvolvimento.
Esse modelo de processo foi escolhido de acordo com a necessidade de entregar um software que proporcionasse uma experiência inicial aos usuários, que
até então faziam suas pesquisas sem uso de software, de forma manual. Através
da utilização da versão inicial, mais requisitos foram levantados e validados e
depois implementados e testados novamente pelos usuários.
A entrega das funcionalidades foi feita de forma incremental, assim os usuários não precisavam esperar que o sistema estivesse terminado para testar os
incrementos adicionados (SOMMERVILLE, 2007), isso contribuiu para a fase de
testes, pois a cada novo incremento disponibilizado, novos testes de uso eram
feitos pelos próprios usuários, e os erros reportados e sanados antes desse incremento partir para a versão final.
Além dos modelos de processos de ES, o sistema foi desenvolvido com base no
modelo de design de interação proposto por Preece (2005) para garantir que o software fosse interativo e auxiliasse as atividades da pesquisadora de forma eficiente.
Como pode ser observado na Figura 1, o CatalóG começou a ser construído
a partir da identificação dos requisitos propostos pelos usuários. O levantamento
de requisitos aconteceu por meio de reuniões, onde os mesmos expunham suas
atividades e o que esperavam de um software que contribuísse para automatização dos processos de trabalho.
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Figura 1. Processo de construção do Software CatalóG.
Fonte: Elaborado pelos autores.
Após o levantamento, os requisitos passavam por um processo de validação.
O objetivo principal da validação é avaliar até que ponto o requisito proposto é
viável e como deve ser implementado.
No momento em que os requisitos são validados, eles passam para o processo de design, onde o software é desenhado de forma interativa, com a participação dos usuários no processo de testes. Se um requisito não foi bem compreendido ou foi implementado de maneira errada, é nessa etapa que os erros são
corrigidos por meio de um processo de re-design e possivelmente um requisito
novo é levantado ou a especificação de um existente é avaliado e compreendido
com a ajuda dos usuários.
Desta forma, percebe-se que os usuários se mantiveram ativos durante todo
o processo de levantamento de requisitos e de avaliação das funcionalidades.
A participação deles foi fundamental para que o software fosse construído com
base em suas reais necessidades e pudesse oferecer informações confiáveis
baseadas nos dados cadastrados. Isto foi possível em decorrência do design
participativo, pois consiste em envolver o usuário e trabalhar com ele como parceiro ao longo de todo ciclo de design e desenvolvimento do projeto a fim de se
obter um software usável e de acordo com as especificações do usuário.
Essa metodologia foi escolhida com base nas áreas envolvidas no projeto,
pois havia necessidade de abstrair conhecimentos de sociologia para a área
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de ES para que o desenvolvimento fosse possível. Foram utilizadas técnicas
como brainstorming para o levantamento de requisitos e reuniões para manter
os usuários do software ativos durante o processo de desenvolvimento.
Depois de seguidas essas etapas começaram-se a codificação e documentação do software. Esse processo foi seguido pelos desenvolvedores do CatalóG,
para oferecer como resultado final além das funcionalidades requeridas, um software interativo e margem de erros próxima ao zero.
CONCLUSÃO
Este artigo expôs os benefícios da integração dos modelos de processos de
software oriundos da ES e os processos de IHC no desenvolvimento do software
CatalóG. Um dos aspectos que deve ser ressaltado é que esta integração não
é uma tarefa fácil embora traga benefícios ao processo de desenvolvimento,
principalmente devido às divergências de focos e de formação dos profissionais.
Para transpor essa dificuldade, é necessário que ocorra uma identificação mais
detalhada das tarefas a serem realizadas durante o processo de desenvolvimento, não se limitando somente a responsabilizar o engenheiro de software
pela parte tecnológica e o especialista em IHC pela interação e interface com o
usuário. Essa divisão não é suficiente, pois aspectos de interação e tecnologia
se influenciam mutuamente.
Outra questão a ser considerada na integração entre a ES e a IHC é a necessidade de uma boa comunicação entre os especialistas das duas áreas durante
o desenvolvimento do sistema. A falta de comunicação influencia no produto
construído, como por exemplo, a adição de funcionalidades não necessárias,
código de difícil compreensão e manutenção.
A utilização do modelo de prototipação atrelado à prática de design participativo trouxe benefícios tanto para os usuários do software quanto para os desenvolvedores. Em relação aos usuários, essas práticas proporcionaram maior grau
de envolvimento no processo de desenvolvimento do software, possibilitando
assim a construção de um software de acordo com suas necessidades. Com
relação ao desenvolvimento, essas práticas possibilitaram maior compreensão
dos requisitos por parte dos desenvolvedores, além de permitir testes constantes
sempre que uma funcionalidade é disponibilizada. As entregas foram feitas de
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forma incremental, disponibilizando para uso as funcionalidades mais importantes em primeiro lugar, e assim sucessivamente até se chegar a uma versão final
com todas as funcionalidades constantes nos requisitos.
Conclui-se, portanto, que apesar de serem tratadas como áreas diferentes, a
Engenharia de Software e a Interação Humano–computador se trabalhadas em
conjunto podem trazer vários benefícios como ganho de tempo, produtividade,
maior grau de abstração de requisitos como constatado durante o desenvolvimento do CatalóG.
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Interface Tecnológica – volume 11 - número 1 - 2014
MEDEIROS, H. Introdução aos Processos de Software e o Modelo Incremental e Evolucionário. Disponível em: <http://www.devmedia.com.br/introducao-aos-processos-de-software-e-o-modelo-incremental-e-evolucionario/29839>.
Acesso em: Acesso em: 17 ago. 2014.
NIELSEN, J. Usability Engineering. California: Academic Press, 1993, p. 362.
PETER, J. F., PEDRYCZ, W. Engenharia de Software Teoria e Prática. Rio de
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PREECE, J., ROGERS, Y., SHARP, H. Design de Interação: além da interação
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PRESSMAN, R. S. Engenharia de Software: uma Abordagem Profissional. Porto Alegre: AMGH Editora Ltda, 2011.
ROCHA H.V., BARANAUSKAS. C. Design e Avaliação de Interfaces Humano-Computador. São Paulo: Unicamp, 2003.
SOMMERVILLE, I. Engenharia de software. Addison Wesley, 2007.
GIBERTONI; CASAGRANDE. Os benefícios... (p.6-18)
18
CRIANDO APLICAÇÕES WEB RICAS (RIA) COM APARÊNCIA
DE DESKTOP UTILIZANDO O FRAMEWORK AJAX EXT JS
CREATING RICH INTERNET APPLICATIONS WITH DESKTOP
APPEARANCE USING THE FRAMEWORK AJAX EXT JS
Gleydson Lucínio1
Eder Carlos Salazar Sotto2
RESUMO
Este artigo tem como objetivo apresentar o framework Ext JS como alternativa
para o desenvolvimento de RIAs3 (aplicações ricas para a internet), aproveitando
seus excelentes recursos, que permitem a criação de aplicações com usabilidade e aparência de desktop. O Ext JS é um framework client-side (executado no
navegador do usuário) escrito em JavaScript. Sua execução é cross-browser
(compatível com vários navegadores). Também possui suporte à orientação a
objeto, e é compatível com o padrão MVC (modelo-visão-controle).
Palavras-chave: AJAX. EXT JS. JavaScript. RIA. Aplicações Web Ricas.
ABSTRACT
This article aims to present the Ext JS framework as an alternative for the developing rich Internet applications (RIA), taking advantage of its great features,
which enable the creation of applications with desktop usability and appearance.
The Ext JS is a client-side framework (executed in the user’s browser) written in
JavaScript, its execution is cross-browser (compatible with multiple browsers),
it presents support for object orientation, and is compatible compatible with the
MVC standard (model-vision-control).
1. Graduando do curso de Sistemas para Internet da Fatec Taquaritinga. E-mail: [email protected].
2. Docente da Fatec Taquaritinga. E-mail: [email protected].
3. RIA: Rich Internet Application.
Interface Tecnológica – volume 11 - número 1 - 2014
Keywords: AJAX. EXT JS. JavaScript. RIA. Rich Web Applications.
INTRODUÇÃO
O movimento de tornar a Web mais amigável ao usuário com a criação de
RIAs foi nomeado “Web 2.0” e sua existência foi possível, em grande parte, graças a um conjunto de tecnologias denominado AJAX.1Uma aplicação avançada
de Internet (RIA) combina a usabilidade de uma aplicação desktop com a flexibilidade de implantação baseada na Web. Existem duas abordagens principais
de RIAs. A primeira utiliza plug-in2 no navegador para criação do ambiente de
execução, como o Flash, Silverlight e o Java. A segunda utiliza frameworks de
extensão baseados no JavaScript como Dojo, Ext JS, jQuery, Prototype, entre
outros. Cada uma das abordagens tem suas vantagens e desvantagens.
A utilização de frameworks JavaScript é uma opção muito utilizada para criação de RIAs, pois o JavaScript é suportado pelos principais navegadores desktop
e mobile, não sendo necessária a instalação de plug-ins adicionais. Os frameworks JavaScript rodam diretamente no navegador do usuário e utilizam AJAX
para comunicação com o servidor.
1. Apresentando o Ajax
O termo AJAX é um acrônimo em língua inglesa de Asynchronous JavaScript
and XML,criado em 2005 por Jesse James Garrett para nomear o uso conjunto
das tecnologias, as quais já eram utilizadas e passaram a ser referenciadas
como AJAX a partir de então.
Para Garcia (2001), o AJAX surgiu da necessidade dos desenvolvedores em
criar aplicações interativas que pudessem ser disponibilizadas na Web. Com o
AJAX, é possível criar aplicações Web Ricas (RIAs), nas quais o conteúdo é carregado em segundo plano enquanto o usuário navega pela página, sem que seja
necessário interromper a navegação para que uma nova página seja carregada.
O AJAX utiliza a linguagem JavaScript para modificar diretamente a UI,3 utilizando o
1. AJAX: Asynchronous JavaScript and XML.
2. Plug-in: Programa instalado no navegador do usuário que permite a execução de código compatível.
3. UI: User Interface.
LUCÍNIO; SOTTO. Criando aplicações... (p.19-29)
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Interface Tecnológica – volume 11 - número 1 - 2014
objeto XMLHttpRequest para se comunicar com o servidor em segundo plano, tornando-se transparente ao usuário. A aplicação, dessa forma, usa a informação retornada
do servidor, normalmente em XML1 ou JSON2 para atualizar a UI (GARCIA, 2011).
As figuras 1 e 2 mostram a diferença entre uma aplicação Web típica e uma
aplicação Web AJAX, na qual é possível verificar que, enquanto no primeiro modelo a navegação é interrompida durante o carregamento da página pelo navegador, no segundo (que utiliza AJAX) verificamos que isso não ocorre, visto
que o carregamento das informações do servidor passa a ser assíncrono e em
segundo plano, sem interromper a interação do usuário com a aplicação.
Figura 1. Modelo de interação de uma aplicação Web típica.
Fonte: Adaptado de Deitel (2008).
Figura 2. Modelo de interação de uma aplicação AJAX.
Fonte: Adaptado de Deitel (2008).
1. XML: Extensible Markup Language.
2. JSON: JavaScript Object Notation.
LUCÍNIO; SOTTO. Criando aplicações... (p.19-29)
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Interface Tecnológica – volume 11 - número 1 - 2014
2. O framework Ext JS
Criado em 2006 por Jack Slocum para ser uma extensão do framework YUI1
e, inicialmente batizado de YUI-ext, o Ext JS teve, com o passar do tempo, um
grande crescimento de seus recursos e componentes de interface, o que permitiu ser reconhecido por muitos desenvolvedores e colaboradores pelo mundo,
influenciando no surgimento de novas versões em um ciclo reduzido de tempo,
até a chegada da versão atual (versão 5.0) (SUNDERARAMAN, 2013).
O Ext JS é um framework cross-browser (suporta múltiplos navegadores) escrito em JavaScript para o desenvolvimento em RIA, que permite desenvolver aplicações complexas para a Web com aparência e recursos comumente encontrados
apenas em aplicações desktop (FREDERICK, 2010). Atualmente, o Ext JS é suportado oficialmente pelos navegadores Internet Explorer 6+, Firefox 1.5+, Safari
3+ e Opera 9+, além de possuir dois tipos de licença: comercial e open source.
A licença open source é distribuída através da GPL2 v3, também conhecida
como GNU, ou seja, esta licença é válida apenas se a aplicação desenvolvida
com a tecnologia também for licenciada sobre os termos da GNU.
Segundo Groner (2013), por ser um framework frontend, o Ext JS se enquadra
perfeitamente na camada de visão do padrão MVC,3 na qual o desenvolvimento
da aplicação Web é dividido em três camadas (visão, modelo e controle). Sua
execução é client-side (roda no navegador do usuário), o que proporciona uma
boa velocidade de execução e menor consumo de banda, uma vez que a aplicação, após carregada, passa a se comunicar com o servidor Web apenas para
envio e recuperação de informações solicitadas pela aplicação.
O Ext JS permite ao desenvolvedor criar aplicações Web com múltiplas janelas de forma simplificada, sem a necessidade de um Web designer, já que toda
estrutura visual é descrita por código, utilizando os componentes já existentes no
framework, tornando a interface da aplicação muito semelhante à uma aplicação
desktop (FREDERICK, 2010).
A aplicação escrita no framework Ext JS pode ser executada juntamente a
qualquer linguagem de programação Web server-side, como por exemplo PHP,
1. YUI: Yahoo! User Interface.
2. GPL: General Public Licence.
3. MVC: Model-view-controller.
LUCÍNIO; SOTTO. Criando aplicações... (p.19-29)
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Interface Tecnológica – volume 11 - número 1 - 2014
Python, Ruby, Java, ASP.NET, ou qualquer outra linguagem que tenha suporte
para comunicação em JSON ou XML, formatos suportados pelo Ext JS (SUNDERARAMAN, 2013).
3. Frameworks para a camada de visão
Segundo Sunderaraman (2013), desenvolver uma aplicação RIA sem o uso de
um framework pode ser um trabalho muito repetitivo e complexo, pois exige uma
grande quantidade de código e validações para diferentes recursos como formulários, envio de requisições AJAX, manipulação do DOM,1 layout, etc. Esta é a principal
razão da criação da grande quantidade de frameworks JavaScript que se tem hoje.
Abaixo são apresentados outros frameworks JavaScript muito utilizados atualmente (SUNDERARAMAN, 2013).
• Prototype: um dos marcos iniciais da linguagem JavaScript que fornece
um conjunto de utilitários para trabalhar com o DOM e AJAX. Não oferece componentes de interface prontos, como o Ext JS. Pode ser utilizado
para tarefas simples como validações de formulários, envio de requisições
AJAX e operações DOM.
• jQuery: biblioteca muito popular e que fornece uma API2 fácil de usar.
O jQuery UI, que é construído sobre o núcleo do jQuery, oferece vários
controles de interface do usuário. É possível estendê-lo às necessidades
através do uso de plug-ins.
• DOJO: Dojo Toolkit traz muitos recursos de orientação a objetos em JavaScript. É um conjunto de ferramentas completo com controles de interface de usuário e pode ser facilmente utilizado na construção de aplicativos
empresariais. DOJO, no entanto, é criticado por sua falta de coerência na
documentação e por problemas de desempenho.
• GWT: Google Web Toolkit é uma biblioteca Java compilada para JavaScript. A GWT API permite produzir código JavaScript altamente otimizado
que pode ser implantado em um servidor Web. Naturalmente, esta biblioteca é voltada para desenvolvedores Java.
1. DOM: Document Object Model.
2. API: Application Programming Interface.
LUCÍNIO; SOTTO. Criando aplicações... (p.19-29)
23
Interface Tecnológica – volume 11 - número 1 - 2014
• JS angular: é uma biblioteca de código aberto do Google. É popular com
o uso de MVC devido a esta capacidade de integração. Sua principal desvantagem é a dificuldade de aprendizagem, em grande parte devido a sua
pobre documentação e exemplos de código.
4. Principais vantagens do uso do framework Ext JS no desenvolvimento de RIAs
Para Ashworth (2012), as principais vantagens do uso do framework Ext JS são:
•
•
•
•
•
•
•
Grande quantidade de componentes visuais;
Desenvolvimento Cross-browser (independente de navegador);
Componentes prontos para integração com servidor através de AJAX;
Suporte nativo à MVC e acesso nativo ao DOM;
Suporte para criação de layout responsivo;
Orientação a objetos;
Por ser escrito em JavaScript, não necessita a instalação de plug-in adicional;
5. Exemplos de uso dos principais recursos do Ext JS
Abaixo serão apresentados exemplos de uso dos principais componentes do
Ext JS. Os códigos utilizados foram escritos na versão 3.2 do framework, com o
objetivo de mostrar a facilidade de sua utilização; então contemplam o código a
ser utilizado no lado do servidor. Exemplos mais detalhados poderão ser encontrados na documentação disponibilizada no site do desenvolvedor, bem como
nas obras referenciadas ao final deste artigo.
O download de todas as versões do framework Ext JS poderá ser realizado no site
da SENCHA através do endereço http://www.sencha.com/products/extjs/download/.
5.1. Inicialização do frameworkExt JS
Para utilização do framework Ext JS é necessário importar os arquivos necessários para sua inicialização no documento HTML,1 conforme apresentado
1. HTML: HyperText Markup Language.
LUCÍNIO; SOTTO. Criando aplicações... (p.19-29)
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Interface Tecnológica – volume 11 - número 1 - 2014
na listagem 1. Para todos os demais exemplos, é necessário antes repetir este
processo para que o framework seja inicializado.
<!-- IMPORTA OS ARQUIVOS CSS NECESSÁRIOS PARA FUNCIONAMENTO -->
<link rel=”stylesheet” type=”text/css” href=”../extjs/resources/
css/ext-all.css”>
<script src=”../extjs/adapter/ext/ext-base.js”></script>
<script src=”../extjs/ext-all.js”></script>
<script src=”../extjs/src/locale/ext-lang-pt_BR.js” ></script>
<!-- INICIA O CÓDIGO JAVASCRIPT -->
<script language=”text/javascript”>
// MÉTODO onReady EXECUTARÁ O CÓDIGO APENAS QUANDO O FRAMEWORK
ESTIVER TOTALMENTE CARREGADO
Ext.onReady(function(){
});
// NESTE PONTO DEVE SER INSERIDO O CÓDIGO
</script>
Listagem 1. Código-fonte para inicialização do framework Ext JS
5.2. Caixa de diálogo com botão e ícone utilizando o método
MessageBox.Show
De acordo com Garcia (2011), o método MessageBox.Show fornece uma interface para exibir a mensagem usando qualquer combinação das opções disponíveis. Na janela é mostrada a mensagem, a qual pode conter formatação HTML
e texto de múltiplas linhas, além de um ícone e botões com texto configurável,
conforme apresentado na figura 3.
Figura 3. Caixa de diálogo com ícone.
Fonte: Elaborado pelo autor.
LUCÍNIO; SOTTO. Criando aplicações... (p.19-29)
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Interface Tecnológica – volume 11 - número 1 - 2014
5.3. Formulário com validação utilizando componente formPanel
O formPanel permite criar um formulário em um local específico, o qual pode
ser uma DIV, janela, painel, etc.
Segundo Ashoworth (2012), os campos do formulário são especificados nos
itens do painel. Definir “defaultType: ‘textField’” nos poupa de ter que especificar
em cada item o tipo que possui.
Em cada campo pode ser configurado o atributo “allowBlank: false”, que faz
com que o preenchimento do campo seja obrigatório.
Na figura 4, é apresentado um formulário contendo tipos de campos diferentes
com preenchimento definido como obrigatório.
Figura 4. Formulário com validação
Fonte: Elaborado pelo autor
5.4. Janela com menu e submenus
No Ext JS, menus podem conter um ou mais itens de menu, e cada item de
menu criado pode possuir uma nova hierarquia de submenus, e assim sucessivamente. Tal como no Desktop, menus EXT JS podem ser apresentados de
várias maneiras.
Para cada item de menu, é possível associar o método handler, o qual permite
definir a ação que será realizada quando o item for acionado com o clique.
A figura 5 apresenta uma janela contendo itens de menu e submenu.
LUCÍNIO; SOTTO. Criando aplicações... (p.19-29)
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Interface Tecnológica – volume 11 - número 1 - 2014
Figura 5. Janela contendo menu e submenu
Fonte: Elaborado pelo autor
5.5. Janela com GridPanel com consulta AJAX ao servidor PHP
Segundo Garcia (2011), desde a primeira versão do Ext JS, o GridPanel tem
sido seu item fundamental. Ele pode exibir dados como uma tabela, mas é muito
mais robusto.
O GridPanel inclui recursos de gerenciamento de colunas como classificação,
redimensionamento, reordenação, mostrar e esconder colunas. Também permite monitorar eventos do mouse, permitindo destacar uma linha ao passar com o
mouse e até mesmo selecionar linhas existentes.
Cada GridPanel é associado a um item chamado JsonStore, o qual faz consultas AJAX a um servidor para buscar as informações que preencherão a grid.
A figura 6 apresenta um simples exemplo de uso dos componentes GridPanel
e JsonStore.
Figura 6. Janela contendo grid com consulta à servidor PHP
Fonte: Elaborado pelo autor
LUCÍNIO; SOTTO. Criando aplicações... (p.19-29)
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Interface Tecnológica – volume 11 - número 1 - 2014
5.6. Layout completo com janelas contendo Grid, CRUD, paginação e filtro
O exemplo apresentado na figura 7 utiliza todos os itens apresentados anteriormente em uma só página.
Uma das grandes vantagens do Ext JS é a facilidade em se encaixar itens diferentes em uma única tela, criando a aparência semelhante a um sistema desktop.
Figura 7. Layout completo com menu e múltiplas janelas
Fonte: Elaborado pelo autor
O código-fonte dos exemplos apresentados nas figuras de 3 a 7 poderão ser
obtidos através do endereço http://dev.sencha.com/deploy/ext-4.0.1/examples/
portal/portal.html.
CONCLUSÃO
As tecnologias de desenvolvimento para a Web estão em contínua evolução e
a criação de frameworks client-side tem contribuído e reforçado ainda mais esta
tendência, pois permite ao desenvolvedor utilizar componentes prontos e de fácil
customização, que facilitam o trabalho de desenvolvimento.
A migração de aplicações anteriormente exclusivas de desktop para a Web é
uma tendência impulsionada principalmente pela facilidade em executar a aplicação diretamente no navegador, sem que o usuário necessite instalar qualquer
programa em seu computador ou mesmo que seu sistema operacional seja compatível com a aplicação.
LUCÍNIO; SOTTO. Criando aplicações... (p.19-29)
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Interface Tecnológica – volume 11 - número 1 - 2014
O framework EXT JS é uma excelente alternativa para o desenvolvimento
client-side de RIAs, pois, além de reduzir o tempo de desenvolvimento, oferece
ferramentas poderosas para a criação de interfaces elegantes, eficientes e funcionais, além ser uma plataforma cross-browser JavaScript, o que permite que a
mesma aplicação possa ser utilizada em diferentes navegadores e dispositivos.
REFERÊNCIAS
ASHWORTH, S.; DUNCAN, A. Ext JS 4 Web Application Development
Cookbook.Birmingham: Packt Publishing, 2012.
DEITEL, P.; DEITEL, H. AJAX, Rich Internet Applications and Web Development for Programmers. Boston: Pearson, 2008.
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FREDERICK, S. et al. Learning Ext JS 3.2. Birmingham: Packt Publishing, 2010.
GARCIA, J. Ext JS in action. Stanford: Manning, 2011.
GRONER, L. Ext JS 4 First Look. Birmingham: Packt Publishing, 2011.
GRONER, L. Mastering Ext JS. Birmingham: Packt Publishing, 2013.
RAMON, J. Ext JS 3.0 Cookbook. Birmingham: Packt Publishing, 2009.
SENCHA EXT JS. Disponível em: <http://www.sencha.com/products/extjs/>.
Acesso em: 11 jun. 2014.
SUNDERARAMAN, P. Practical Ext JS 4. New York: Apress, 2013.
LUCÍNIO; SOTTO. Criando aplicações... (p.19-29)
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A COBRANÇA PELO USO DA ÁGUA NO ESTADO DE SÃO
PAULO E SUA CONTRIBUIÇÃO PARA A GESTÃO DOS
RECURSOS HÍDRICOS
THE CHARGING FOR THE USE OF WATER IN THE STATE OF SÃO PAULO
AND ITS CONTRIBUTION TO THE MANAGEMENT OF WATER RESOURCES
Mario Marcos Lopes1
Fernando Frachone Neves2
RESUMO
A legislação estabelece uma nova estrutura para a Gestão dos Recursos Hídricos. Entretanto, mesmo havendo a destinação legal de recursos aos comitês,
cada qual apresenta sua própria trajetória, especialmente no tocante a cobrança
pelo uso da água. Diante disso, esse trabalho objetiva apresentar a evolução da
cobrança pelo uso da água no Estado de São Paulo e sua contribuição para a
Gestão dos Recursos Hídricos. Para tanto se utilizou de pesquisa bibliográfica
junto ao Sistema de Informações para o Gerenciamento de Recursos Hídricos
do Estado de São Paulo. Por fim, a cobrança deve contribuir para que a sociedade utilize os recursos hídricos de forma racional, atendendo aos princípios do
desenvolvimento sustentável.
Palavras-chave: Cobrança. Água. Uso sustentável. Bacia hidrográfica.
ABSTRACT
The legislation establishes a new structure for the management of water resources. However, even with the legal disposal of resources to committees, each
presents its own trajectory, especially with regard to charging for the use of water. Given this, this work aims to present the evolution of charging for the use of
1. Docente da Faculdade de Educação São Luis. Jaboticabal (SP).
2. Endereço Fatec Sertãozinho (SP): Rua Jordão Borghetti, 480. Bairro São João. E-mail: [email protected].
Interface Tecnológica – volume 11 - número 1 - 2014
water in the State of São Paulo and its contribution to the management of water
resources. It was used bibliographical research by the information system for
water resources management of the State of São Paulo in Brazil. Finally, the
recoveryshould contribute to society to use water resources rationally, taking into
account the principle of sustainable development.
Keywords: Collection. Water. Sustainable Use. Hydrographic Basin.
INTRODUÇÃO
A partir da promulgação da Constituição de 1988, diversos Estados aprovaram leis que reorganizaram o Sistema de Gestão dos Recursos Hídricos. O novo
modelo adotado no país enfatiza a gestão integrada dos usos múltiplos da água,
tendo por base a bacia hidrográfica. O processo de formação desses colegiados
foi desenvolvido nos Estados, ao longo dos anos 90.
No Estado de São Paulo, a Política Estadual de Recursos Hídricos (Lei n.º
7.663/91) em consonância com a Política Nacional de Recursos Hídricos (Lei
9.433/97) estabelece quatro instrumentos para implantação desse arcabouço
legal: a) a outorga de direitos de uso dos recursos hídricos; b) o estabelecimento
de infrações e as respectivas penalidades; c) a cobrança pelo uso dos recursos
hídricos d) e o rateio de custos das obras de uso múltiplo, ou, de interesse comum ou coletivo.
A cobrança pelo uso dos recursos hídricos, abordada no artigo 14 da lei Paulista, é um instrumento de gestão de recursos hídricos, principalmente em bacias
hidrográficas em situação de escassez quantitativa ou qualitativa. A exemplo do
quanto destacado, na França, milhões de euros arrecadados pela cobrança pelo
uso dos recursos hídricos são investidos anualmente para tratamento de esgotos
domésticos e industriais, por intermédio das agências de bacias hidrográficas.
A cobrança apresenta vantagens ao sistema de gerenciamento, uma vez que
proporciona a arrecadação de recursos financeiros para investimentos em ações
de recuperação da bacia e custeio do sistema, assim como incentiva a eficiência
do uso da água (SÃO PAULO, 2011).
Muito embora a legislação estabeleça a estrutura para a Gestão dos Recursos
Hídricos nas bacias hidrográficas, as especificidades socioeconômicas e polítiLOPES; NEVES. A cobrança... (p.30-39)
31
Interface Tecnológica – volume 11 - número 1 - 2014
cas regionais são determinantes no processo de formação e consolidação dos
respectivos comitês de bacias hidrográficas. Portanto, mesmo ante as diretrizes
legais, cada comitêapresenta sua própria trajetória.
Diante disso, esse trabalho tem por objetivo apresentar a situação dos Comitês de Bacias Hidrográficas no Estado de São Paulo, quanto à implementação da
cobrança pelo uso da água e sua contribuição na gestão dos recursos hídricos.
Para tanto, utilizou-se levantamento bibliográfico nos acervos impressos e digitais da Secretaria do Meio Ambiente, da Coordenadoria de Recursos Hídricos
e do Sistema de Informações para o Gerenciamento de Recursos Hídricos no
Estado de São Paulo. A pesquisa também recorreu a textos subsidiários, como a
coletânea da Legislação sobre os Recursos Hídricos, os Planos de Bacias e os
Relatórios da Situação dos Recursos Hídricos, entre outros.
1. Material e métodos
O levantamento bibliográfico realizou-se através de pesquisa e coleta de documentos nos acervos do Sistema de Informações para o Gerenciamento de
Recursos Hídricos no Estado de São Paulo, contando também com pesquisas
na página eletrônica da Secretaria do Meio Ambiente na seção Cobrança pelo
uso dos Recursos Hídricos e documentos emanados da Coordenadoria de Recursos Hídricos.
A pesquisa também recorreu a textos subsidiários como os documentos oficiais do Governo do Estado de São Paulo e emanados dos Comitês de bacia
hidrográficas Paulistas, a coletânea da Legislação sobre os Recursos Hídricos,
os Planos de Bacias, os Relatórios da situação dos recursoshídricos, e outras
publicações específicas.
2. Resultados e discussão
A cobrança pela utilização dos recursos hídricos nas Unidades de Gerencialmente de Recursos Hídricos,apresenta grande suporte do arcabouço legal, sendo respaldada: i) primeiramentepelo Código Civil, que prevê a remuneração pela
utilização dos bens públicos de uso comum; ii) pelo Código de Águas, ao dispor
que o uso comum das águas pode ser gratuito ou retribuído; iii) pela Política NaLOPES; NEVES. A cobrança... (p.30-39)
32
Interface Tecnológica – volume 11 - número 1 - 2014
cional de Meio Ambiente, que adota o princípio do usuário-pagador aplicado aos
recursos naturais.
Especificamente, no Estado de São Paulo, a Lei nº 12.183, de 29 de dezembro de 2005, regulamentada pelo Decreto nº 50.667, de 30 de março de 2006
“dispõe sobre a cobrança pela utilização dos recursos hídricos do domínio do
Estado de São Paulo e sobre os procedimentos para a fixação dos seus limites,
condicionantes e valores e dá outras providências”.
Nesse sentido, a cobrança pelo uso dos recursos hídricos é uma ferramenta
de gestão ambiental para controle e manejo dos recursos hídricos superficiais e
subterrâneos nas Bacias Hidrográficas tendo por objetivos: a) reconhecer a água
como bem público de valor econômico; b) incentivar o uso racional e sustentável da água; c) obter recursos financeiros para o financiamento dos programas
e intervenções contemplados nos planos de recursos hídricos e saneamento;
d) distribuir o custo sócio-ambiental pelo uso degradador e indiscriminado da
água; e) utilizar a cobrança da água como instrumento de planejamento, gestão
integrada e descentralizada do uso da água e seus conflitos (CBH-MOGI, 2010).
Destaca-se que a cobrança pelo uso dos recursos hídricos do domínio do Estado de São Paulo não é considerada um tributo, mas sim pagamento pelo uso
de um bem público (a água), caracterizando-se como um dos instrumentos de
gestão das Políticas Estadual e Nacional de Recursos Hídricos. O valor cobrado é
pactuado pelos membros do comitê de bacia e aprovado em sua reunião plenária.
Entretanto, se os membros do comitê decidirem não efetuar a cobrança, devem estar cientes do impacto desta decisão sobre a quantidade e a qualidade da
água de sua bacia (ANA, 2007).
Até o momento, só estão sujeitos à cobrança os usos urbanos e industriais,
cuja regulamentação se deu pelo Decreto Estadual 50.667/2006. Estarão sujeitos
à cobrança todos os usuários que utilizam os recursos hídricos superficiais e subterrâneos, seja captando-os diretamente de um curso d’água ou nele dispondo
efluentes, e que dependam de outorga para o direito de uso (SÃO PAULO, 2011).
A cobrança pelo uso dos recursos hídricos deve ser realizada pelas Agências de Bacias Hidrográficas (instituições de apoio técnico e administrativo aos
Comitês de Bacias) regularmente implantadas, ou pela entidade responsável
pela outorga de direito de uso, nas bacias hidrográficas em que as Agências
não existirem.
LOPES; NEVES. A cobrança... (p.30-39)
33
Interface Tecnológica – volume 11 - número 1 - 2014
No panorama geral da cobrança, no Estado de São Paulo o Comitê das Bacias Hidrográficas dos rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí e o Comitê da Bacia
Hidrográfica do Paraíba do Sul têm a cobrança implantada desde 2007, o Comitê
das Bacias Hidrográficas dos rios Sorocaba e Médio Tietê desde 2010, o Comitê
da Baixada Santista em 2012 e por fim o Comitê do Baixo Tietê em 2013. Os
outros CBHs estão em franco processo de implantação da Cobrança. A previsão
era que este instrumento de gestão fosse implantado em todas as Unidades de
Gestão de Recursos Hídricos - UGRHIS paulistas a partir de 2012. Entretanto,
tal processo não ocorreu conforme demonstra-se no Quadro 1, o qual resume a
situação dos Comitês de Bacias Hidrográficas – CBHs, quanto à implementação
de algumas etapas necessárias à cobrança, assim como a data prevista para a
implementação deste importante instrumento de gestão.
INÍCIO
(Emissão
dos Boletos)
UGRHI
Aprovação da
proposta de Cobrança
no CBH
Aprovação
da proposta
de cobrança
no CRH
Decreto
Estadual
02
Paraíba do
Sul
Deliberações CBH-PS
05 de 18.10.06 e 07
“Ad Referendum”, de
30.11.06
Deliberação
CRH 67, de
06.12.06
51.450, de
29.12.06
2007
Deliberação
CRH 68, de
06.12.06
51.449, de
29.12.06
2010
Deliberação
CRH 94, de
28.04.09
55.008, de
10.12.09
2012
Deliberações CBHDeliberação
07 – Baixa- -BS-15 de 10.09.09, 158
56.501, de
CRH 108, de
da Santista
de 17.11.09 e 163 ad
09.12.10
10.12.09
referendum de 14.12.09
2012
05
Deliberações Conjuntas
Piracicaba
PCJ 48 de 28.09.06 e
/ Capivari / 053 “Ad Referendum” de
Jundiaí
21.11.06
10
Sorocaba
/ Médio
Tietê
19 – Baixo
Tietê
Deliberações CBH-SMT 218 de 08.04.09,
220 Ad Referendum,
de 24.04.09 e 221 de
07.05.09
Deliberação CBH-BT
090 de 14.08.09 e 093
de 17.11.09 e 096 de
15.12.09
Deliberação
56.504, de
CRH 109, de
09.12.10
10.12.09
LOPES; NEVES. A cobrança... (p.30-39)
Ato
Convocatório
Junho de
2013
34
Interface Tecnológica – volume 11 - número 1 - 2014
Aprovação
da proposta
de cobrança
no CRH
UGRHI
06 – Alto
Tietê
Deliberações CBH-AT
12 de 07.10.09, 14
de 18.11.09 e 18 de
18.12.09
Deliberação
56.503, de
CRH 107, de
09.12.10
10.12.09
maio de
2012
16 – Tietê
Batalha
Deliberações CBH-TB
006 de 26.08.09 e 002
de 26.04.10
Deliberação
56.502, de
CRH 116, de
09.12.10
08.06.10
novembro
de 2013
13 – Tietê /
Jacaré
Deliberações CBH-TJ
09 de 28.06.10
Deliberação
56.505, de
CRH 110, de
09.12.10
10.12.09
–
Deliberação
Deliberação CBH- Pardo
58.771, de
CRH 127, de
nº 016, de 03.12.10
20.12.12
19.04.11
–
04 - Pardo
Decreto
Estadual
Ato
Convocatório
INÍCIO
(Emissão
dos Boletos)
Aprovação da
proposta de Cobrança
no CBH
08 – Sapucaí Mirim /
Grande
Deliberação CBH-SMG
183, de 02.12.10 COM
RESSALVA
Deliberação
58.772, de
CRH 128, de
20.12.12
19.04.11
–
09 – Mogi-Guaçu
Deliberação CBH-Mogi
110, de 19.11.10
Deliberação
58.791, de
CRH 126, de
21.12.12
19.04.11
–
01 – Serra
da Mantiqueira
Deliberação CBH-SM
03, de 31.03.11 COM
RESSALVA
Deliberação
58.804, de
CRH 131, de
26.12.12
19.04.11
–
12 – Baixo
Pardo /
Grande
Deliberação CBH-BPG
111, de 29.11.10 COM
RESSALVA
Deliberação
58.813, de
CRH 129, de
27.12.12
19.04.11
–
11 – Ribeira de
Iguape /
Litoral Sul
Deliberação CBH-RB
135, de 11.12.10 COM
RESSALVA
Deliberação
58.814, de
CRH 130, de
27.12.12
19.04.11
–
15 – Turvo
Grande
Deliberação CBH-TG
203, de 04.12.12
Deliberação
CRH 150, de
30.04.13
–
03 – Litoral
Norte
Deliberação CBH-LN
115, de 22.10.10
–
14 – Alto
Paranapanema
Deliberação CBH-ALPA
111, de 31.10.12
–
22 – Pontal
do Paranapanema
Deliberação CBH-PP
133, de 30.03.12
–
LOPES; NEVES. A cobrança... (p.30-39)
35
Interface Tecnológica – volume 11 - número 1 - 2014
Aprovação
da proposta
de cobrança
no CRH
UGRHI
17 – Médio
Paranapanema
Deliberação CBH-MP
149, de 13.12.12,
complementada pela
Delib. CBH-MP 160, de
26.09.13
–
20/21 –
Aguapeí/
Peixe
Deliberação CBH-AP
166, de 12.12.12,
complementada pela
Delib. CBH-AP 177, de
25.09.13
–
Decreto
Estadual
Ato
Convocatório
INÍCIO
(Emissão
dos Boletos)
Aprovação da
proposta de Cobrança
no CBH
18 – São
José dos
Dourados
Implementado
–
Em andamento
Etapa não realizada
Quadro 1. Panorama geral da cobrança pelo uso da água no Estado de São Paulo.
Fonte: São Paulo (2014).
É importante ressaltar, que o produto da cobrança estará vinculado às bacias
hidrográficas em que for arrecadado, e será aplicado em financiamentos, empréstimos, ou a fundo perdido, para a implementação de programas, projetos,
serviços e obras, de interesse público, da iniciativa pública ou privada, definidos
nos Planos de Recursos Hídricos, em conformidade com o aprovado pelo respectivo Comitê de Bacia (SÃO PAULO, 2011).
A legislação ainda determina que parte dos recursos arrecadados deverá ser
aplicada na conservação do solo e na preservação da água em zona rural da
bacia hidrográfica, respeitando-se o estabelecido no respectivo Plano de Bacias,
obedecidas as características de cada uma delas.
Conforme balanço da implantação da cobrança nos CBHs, os Comitês dos
rios Piracicaba/Capivari/ Jundiaí e Paraíba do Sul foram os primeiros a iniciar a
cobrança pelo uso da água, com boletos emitidos no exercício de 2007. A Tabela
1 apresenta os montantes arrecadados e financiados nos três primeiros anos de
cobrança nestes Comitês
LOPES; NEVES. A cobrança... (p.30-39)
36
Interface Tecnológica – volume 11 - número 1 - 2014
Quadro 2. Valores arrecadados e financiados com recurso proveniente da cobrança pelo uso da água no período de 2007 a 2009.
Fonte: São Paulo (2014).
Observa-se que de acordo com os dados apresentados, nos três primeiros
anos de implantação, foram arrecadados R$ 43.918.128,58, sendo que o CBH-PCJ responde por 84% desse total. Do total arrecadado, foram financiados R$
30.502.910,89 em projetos até o final de 2009, distribuídos em 54 projetos. Além
dos projetos já contratados, encontram-se em análise para contratação mais 19
projetos, os quais agregarão mais R$ 10.619.324,73 aos valores financiados
com recursos da Cobrança. O Quadro 3 apresenta a distribuição dos recursos,
por tipo de empreendimento financiado.
Quadro 3. Distribuição dos recursos por tipo de empreendimento.
Fonte: São Paulo (2014).
LOPES; NEVES. A cobrança... (p.30-39)
37
Interface Tecnológica – volume 11 - número 1 - 2014
Os valores arrecadados e os empreendimentos financiados colaboram, e muito, para a Gestão dos Recursos Hídricos, especialmente nos Comitês exemplificados neste artigo, conforme dados de Qualidade Ambiental emitidos pela
CETESB. Apenas o montante distribuído pelo Fehidro aos Comitês de Bacias
Hidrográficas não conseguiria atender toda a demanda que projetos e empreendimentos provenientes das instâncias ligadas a cada Comitê.
Entretanto, tem-se conhecimento que a cobrança pela utilização dos recursos hídricos em outros países, tem recebido críticas por diversos juristas, entre
eles, Bartolomé Navarro e Gacés Sanagustín que mencionam: “O sistema está
configurado de tal forma que o consumidor de água, mais do que um usuário
de um hipotético serviço público, comporta-se como um “beneficiário” de um
serviço assistencial. Neste contexto, o aumento do nível de renda dos consumidores finais e o baixo significado das tarifas de água conjugam-se para provocar
o desperdício, pois não existe uma repercussão real do custo sobre o usuário,
sobretudo quando este realiza um consumo desmedido ou improdutivo”. (SILVA;
PUSKI, 2005, 197).
Apesar de tais polêmicas, a experiência brasileira tem-se mostrada produtiva
na medida em que vai ao encontro do que prevê a legislação vigente, bem como,
contribuído para uma gestão dos recursos hídricos, na medida em que tais valores são repassados para sanar problemas diagnosticados na Bacia Hidrográfica
pelo Relatório de Situação dos Recursos Hídricos, em contrapartida é necessário estudos mais aprofundados para avaliar sua efetiva e real eficiência.
CONCLUSÃO
A Política Estadual de Recursos Hídricos consolidou os Comitês de Bacias Hidrográficas como órgãos gestores dos recursos hídricos, tendo ainda o grande desafio da implantação da cobrança pelo uso da água; apesar de tal processo ter se
iniciado em alguns comitês, em outros,alguns passos ainda são necessários, cabendo aos órgãos responsáveis um melhor acompanhamento de todo processo.
Acrescenta-se que com o advento da cobrança pelo uso da água, os recursos
arrecadados capacitarão financeiramente os comitês para a realização de novas
ações. Entretanto, é de suma importância metodologias de acompanhamento e
de análise da eficiência das ações dos comitês de bacias hidrográficas, frente
LOPES; NEVES. A cobrança... (p.30-39)
38
Interface Tecnológica – volume 11 - número 1 - 2014
aos desafios do processo de gestão. Além do mais, a cobrança deve contribuir
para que a sociedade utilize os recursos hídricos de forma racional, atendendo
aos princípios do desenvolvimento sustentável.
Espera-se ainda que, com os recursos arrecadados, possa ser acelerado o
processo de recuperação das Unidades de Gerenciamento de Recursos Hídricos,
para que os problemas já diagnosticados nos Planos de Bacias, não se intensifiquem, inviabilizando o desenvolvimento da região em que o Comitê está inserido.
Por fim, é importante destacar que a cobrança pelo uso da água, nos moldes
propostos em nosso país, só obterá êxito caso obtenha de fato a adesão da
sociedade e uma ampla divulgação, com trabalho de convencimento quanto à
importância da cobrança como instrumento de uso racional da água.
REFERÊNCIAS
ANA - Agência Nacional de Águas (Brasil). A implementação da cobrança pelo
uso de recursos hídricos e Agência de Água das Bacias dos Rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí. Brasília: ANA, SAG, 2007.
CBH-MOGI - COMITÊ DA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO MOGI GUAÇU.
Fundamentos da cobrança pelo uso dos recursos hídricos de usuários urbanos e industriais. Pirassununga: Câmara Técnica Cobrança, 2010.
SÃO PAULO (Estado). Cobrança pelo uso dos recursos hídricos. Disponível em:
<http://www.sigrh.sp.gov.br/sigrh/cobranca/index.html>. Acesso em: 1 abr. 2014.
SILVA, D. D.;PUSKI, F. F. Gestão de recursos hídricos. Aspectos legais, econômicos, administrativos e sociais. Brasília: Universidade Federal de Viçosa
e Associação Brasileira de Recursos Hídricos, 2005.
LOPES; NEVES. A cobrança... (p.30-39)
39
A INOVAÇÃO TECNOLÓGICA NA PEQUENA PROPRIEDADE AGRÍCOLA: A PRODUÇÃO DE CELULOSE A PARTIR DO
ENGAÇO DA BANANEIRA.
TECHNOLOGICAL INNOVATION IN SMALL AGRICULTURAL PROPERTY:
PULP PRODUCTION FROM THE STALK OF THE BANANA
Andreza Renata Zambelli1
Guilherme Augusto Malagolli2
José Eduardo Freire3
RESUMO
O objetivo principal deste trabalho é mostrar que o engaço da bananeira pode
ser reaproveitado pelo pequeno produtor rural para a fabricação de celulose,
reduzindo o descarte e diversificando a produção através da adoção de uma
inovação tecnológica. Metodologicamente, foi realizado um roteiro de entrevistas
com produtores, entidades de classe e instituições de apoio ao agricultor, bem
como com profissionais técnicos que desenvolvem o processo de fabricação. A
pequena produção agrícola é uma atividade capaz de impulsionar o desenvolvimento local por meio da geração direta e indireta de novos postos de trabalho e
renda para os agricultores familiares, melhorando sua qualidade de vida. Para
isso, a incorporação de inovações no processo produtivo deve impulsionar os
benefícios da pequena propriedade agrícola através da diversificação da produção e do reaproveitamento de resíduos. É o caso da cultura da banana, que representa uma importante fonte de renda em algumas regiões do Estado de São
Paulo. A bananicultura, porém, apresenta um volume relativamente elevado de
resíduos. O reaproveitamento destes resíduos permitiria uma redução de custos
e a diversificação da produção através da adoção de uma inovação tecnológica.
Neste sentido, a utilização do engaço da bananeira para a fabricação de celulose
1. Tecnóloga em Produção Industrial – Fatec Taquaritinga.
2. Doutor em Engenharia de Produção. Professor Associado II – Fatec Taquaritinga. E-mail:
[email protected].
3. Mestre em Engenharia de Produção. Professor da Universidade de Ribeirão Preto. E-mail:
[email protected].
Interface Tecnológica – volume 11 - número 1 - 2014
se configura como uma alternativa interessante, especialmente para o pequeno
agricultor rural.
Palavras-chave: Inovação. Bananicultura. Resíduo. Reaproveitamento.
ABSTRACT
The main objective of this work is to show that the stalk of the banana can be
reused by small farmers for the production of cellulose, reduces waste and diversifying production through the adoption of a technological innovation. Methodologically, a set of interviews with producers, associations and farmer support
institutions was conducted, as well as technical professionals who develop the
manufacturing process. The small farming is an activity that can stimulate local
development through direct and indirect generation of new jobs and income for
small farmers, improving their quality of life. For this, the incorporation of innovations in the production process should boost the benefits of small farms through
diversification of production and reuse of waste. This is the case of bananas, which represents an important source of income in some regions of the state of São
Paulo. The banana crop, however, has a relatively high volume of waste. The
reuse of this waste could reduce costs and diversify production through the adoption of a technological innovation. In this sense, the use of stem of the banana
plant for the manufacture of cellulose is configured as an interesting alternative,
especially for small rural farmers.
Keywords: Innovation. Bananicultur. Residue. Reuse.
INTRODUÇÃO
Uma das características mais marcantes do ambiente empresarial durante as
últimas décadas foi o aumento da competição entre as empresas. Cada vez mais
as empresas são obrigadas a se adaptarem e reagirem aos novos anseios do
mercado que, por sua vez, mudam frequentemente. O aumento da competitividade passa a ser uma preocupação constante dos administradores, que buscam
revisar as práticas de produção e comercialização de produtos ou serviços e adoZAMBELLI; MALAGOLLI; FREIRE. A inovação... (p.40-55)
41
Interface Tecnológica – volume 11 - número 1 - 2014
tar novas estratégias para adaptarem-se ao mercado cada vez mais competitivo.
Segundo Freire et al. (2003), a globalização da economia e mudanças nos
hábitos, seja de caráter cultural, social, político, econômico/financeiro ou demográfico, faz com que cresça a concorrência, forçando as empresas e pessoas a
assumirem novas posturas, diferenciando-se das antigas estruturas de poder,
níveis hierárquicos e tipo de liderança.
Neste contexto, a inovação passa a ser uma estratégia fundamental para a
permanência da empresa no mercado. A inovação aplicada ao ambiente produtivo e concorrencial se configura como uma inovação tecnológica focada na
diferenciação em relação às práticas anteriores de fabricação e em relação aos
concorrentes.
Especificamente no setor agrícola, a competição requer crescentes mobilizações em pesquisa, em volumes muito superiores à capacidade do setor público dos países de nível médio de desenvolvimento, como o Brasil (CASTELO
BRANCO; VIEIRA, 2008).
Hall (2007) afirma que existe uma ideia consistente sobre os fatores necessários para ocorrer à inovação na agricultura. O ambiente para proporcionar mudanças tecnológicas deve conter dois aspectos. Em primeiro lugar, os conhecimentos devem ser provenientes de múltiplas origens, englobando os saberes
utilizados pelos próprios agricultores. Outro aspecto são as interações dessas
diferentes fontes de conhecimento; a adaptação dessas interações e dos processos resultantes para cada contexto particular; bem como a repercussão dessas adaptações particulares nas rotinas e tradições históricas de cada realidade
cultural e política.
No contexto da fruticultura brasileira, a bananicultura é um exemplo de
como o conhecimento acerca do material cultivado pode proporcionar inovação
tecnológica. O pequeno produtor agrícola tende a descartar um volume relativamente grande de material que poderia ser utilizado como matéria-prima para a fabricação de subprodutos através da adoção de uma inovação tecnológica, como
se percebe no caso do engaço da bananeira. De acordo com Soffner (2001), o
engaço da bananeira é o pedúnculo da inflorescência do cacho de bananas, que
tem início no ápice do pseudocaule e termina na inserção da penca e que, geralmente, é descartado quando as bananas do cacho são desmembradas para
serem comercializadas, conforme ilustrado na figura 1.
ZAMBELLI; MALAGOLLI; FREIRE. A inovação... (p.40-55)
42
Interface Tecnológica – volume 11 - número 1 - 2014
Gerenciar esse resíduo é uma das formas para agregar mais valor a essa
cultura, pois seu descarte atualmente é feito na própria lavoura ou em lixões
dependo da logística adotada em sua comercialização. Além disso, o engaço
possui em sua composição química cerca de 93% de umidade, o que torna sua
decomposição relativamente rápida, porem com a proliferação de insetos e microrganismos biodegradadores, tornando-o um problema sócio ambiental, tendo
em vista que podem ser agentes causadores de doenças (GODOY, 2010).
Figura 1. Morfologia da bananeira.
Fonte: SOFNER (2001).
Com o exposto, o objetivo principal deste trabalho é mostrar que o engaço da
bananeira pode ser reaproveitado pelo pequeno produtor rural para a fabricação
de celulose, reduzindo o descarte e diversificando a produção através da adoção
de uma inovação tecnológica. Como objetivo secundário, o artigo mostra que a
utilização do engaço da bananeira para a fabricação de celulose é uma opção de
modernização sustentável para as pequenas propriedades agrícolas.
A metodologia utilizada para este estudo está dividida em duas partes. Primeiramente foi realizada uma revisão teórica acerca do conceito de inovação
no contexto agrícola, com o objetivo de compreender como o reaproveitamento
ZAMBELLI; MALAGOLLI; FREIRE. A inovação... (p.40-55)
43
Interface Tecnológica – volume 11 - número 1 - 2014
do engaço da bananeira pode contribuir com o melhor desempenho da pequena
empresa rural. Em seguida, foi realizada uma pesquisa empírica junto a cinco
produtores rurais, a Casa da Agricultura e ao Sindicato Rural da cidade de Taquaritinga, interior do estado de São Paulo, com o objetivo de verificar como o
processo de fabricação de celulose a partir do engaço da bananeira pode ser
feito e se este processo é viável para o pequeno produtor agrícola.
1. A abordagem teórica de inovação
Ao longo da história econômica observa-se que as grandes mudanças tecnológicas são acompanhadas de transformações econômicas, sociais e institucionais. E, por outro lado, para que os avanços tecnológicos ocorram, é necessário
um ambiente econômico, social e institucional adequados. Esta inter-relação entre a tecnologia e a sociedade evidencia o quanto o conceito de inovação tecnológica é essencial para a compreensão do desenvolvimento social.
A literatura aponta a inovação tecnológica como o elemento principal para a
criação e sustentação de vantagens competitivas bem como elemento fundamental para o entendimento de muitos dos problemas básicos da sociedade
(HAGE, 1999).
Para Davis et al. (2001), a maneira com que a inovação tecnológica impacta na
competitividade das organizações é empregando a otimização da produtividade,
a melhoria da comunicação, da qualidade dos produtos, assim como nos métodos
de controle e planejamento, possibilitando a diferenciação ou redução de custos.
O conceito inovação tecnológica não possui um significado singular, ao contrário, muitas são as definições encontradas e cada autor à ela dedica uma característica. Acredita-se que isso ocorra devido à ampla aplicabilidade do conceito de inovação tecnológica em diferentes esferas do conhecimento.
Para Schumpeter (1982), se presume que, a princípio, as firmas seguem regras de maximização de lucros. Dessa forma, a produção é caracterizada como
uma função contínua, com níveis fixos de produção e com algumas restrições
quanto à frequente substituição dos fatores de produção.
Para o autor, inovação tecnológica é a abertura de um novo mercado. O desenvolvimento surge de uma situação em que não houve desenvolvimento, portanto
a poupança somente se constituirá em fundos que são, eles próprios, resultado
ZAMBELLI; MALAGOLLI; FREIRE. A inovação... (p.40-55)
44
Interface Tecnológica – volume 11 - número 1 - 2014
de inovação bem-sucedida, onde se reconhece futuramente o lucro empresarial
e mudanças na economia, assim como gera o desenvolvimento de um país.
No entanto, Schumpeter (1982) ressalva que as inovações somente ocorrem
porque existe um agente denominado entrepreneur. O entrepreneur é aquele
que realiza combinações novas, é o agente das inovações e deve ter capacidade
de ação empreendedora, de previsão, de iniciativa e liderança.
Freeman (1982) observa que um dos problemas na gestão da inovação é a
ampla variedade de entendimentos que as pessoas têm desse termo, frequentemente confundido com invenção. Inovação tecnológica trata-se, para o autor,
do processo de incluir técnica, design, fabricação, gerenciamento e atividades
comerciais pertinentes ao marketing de um produto novo (ou incrementado) ou o
do primeiro uso comercial de um processo ou equipamento novo (ou incrementado), ou seja, inovação tecnológica é o processo de tornar oportunidades em
novas ideias e colocá-las em prática de uso extensivo.
Porter (1990) acredita que é por meio de ações inovadoras que as empresas
alcançam vantagem competitiva. O autor aborda inovação como sendo a inclusão
tanto das novas tecnologias quanto das novas formas de fazer as coisas. Assim,
a empresa que consegue uma inovação tecnológica para executar uma atividade
melhor do que seus concorrentes ganha, portanto, vantagem competitiva.
Vale a ressalva que, para o autor, a tecnologia também pode afetar a vantagem competitiva desde que execute um papel expressivo na diferenciação ou na
redução de custos, sendo que a mesma torna-se importante para a concorrência
somente se atingir de forma significativa sua vantagem competitiva.
Como forma de alimentar a inovação tecnológica, para Gonçalves et al. (2006)
é necessário alinhar-se à teoria de progresso tecnológico constante que compreende a busca contínua por melhores recursos físicos e humanos, bem como
por novas tecnologias produtivas.
Assim, os autores afirmam que a organização que conseguir acompanhar
esse ritmo de melhorias será recompensada com uma sólida vantagem competitiva, baseada em alguma característica operacional ou em flexibilidade nas
técnicas de produção.
Para Gonçalves et al. (2006), as inovações tecnológicas empregadas nas organizações impactam decisivamente a competitividade do negócio e modificam
fortemente as relações de trabalho dentro das mesmas. Desse modo, cabe a
ZAMBELLI; MALAGOLLI; FREIRE. A inovação... (p.40-55)
45
Interface Tecnológica – volume 11 - número 1 - 2014
elas lidar com novas tecnologias da melhor forma possível, com visão ao aumento de sua competitividade e mantendo boas relações de trabalho com seus
colaboradores, de forma que eles possam fazer a diferença entre o sucesso e o
fracasso para alcançar o quociente organizacional.
Masiero (2007) relata que as maneiras de inovar consistem na introdução de
um novo modelo de produção, inovação de um produto, no emprego de diferentes fontes de matérias-primas, de fatores de produção e de produtos semi-industrializados, no reconhecimento de oportunidades novas no mercado, assim
como no desenvolvimento de novos modelos de organização e gestão.
Considerando o mesmo autor, assim como um processo, a inovação tecnológica é formada por um conjunto de ações realizadas em determinado tempo,
que acaba por inserir no mercado um conceito em forma de novos produtos, pela
primeira e com sucesso.
De acordo Simantob e Lippi (2003), o objetivo das companhias é gerar riqueza
contínua em meio a cenários extremamente competitivos. Desse modo, a inovação torna-se a principal arma e quem a fizer mais rápido, melhor ou com maior
frequência pode conseguir estar à frente das demais.
A inovação pode ser classificada em quatro quadrantes, de acordo com a Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas
(FGV-EAESP, 1984): inovação de produto e serviços, de processo, de negócios
e em gestão.
• Inovação de produtos e serviços: desenvolvimento e comercialização de
um bem ou serviço novo ou significativamente melhorado em relação as
suas características ou funções de uso previsto, fundamentados em novas tecnologias e vinculados à satisfação das necessidades dos clientes.
Incluem-se melhoramentos nas especificações técnicas, componentes e
materiais, softwares incorporados, maior facilidade de uso assim como outras características funcionais. Como exemplo tem-se o automóvel com
cambio automático quando comparado ao convencional;
• Inovação de processo: desenvolvimento de novos meios de fabricação de
produtos ou de novas formas de relacionamento para a prestação de serviços ou significativamente melhorados, ou seja, trata-se de mudanças no
processo de produção do produto ou serviço, não necessariamente de
ZAMBELLI; MALAGOLLI; FREIRE. A inovação... (p.40-55)
46
Interface Tecnológica – volume 11 - número 1 - 2014
forma a gerar impacto no produto final, mas sim de modo a produzir benefícios no processo de produção, geralmente com aumentos de produtividade e redução de custos. Incluem-se mudanças significativas em técnicas,
equipamentos e/ou softwares. Para exemplificar, automóvel produzido por
robôs quando comparados ao produzido por colaboradores humanos;
• Inovação no modelo de negócios: desenvolvimento de maneiras, novas
ou significativamente melhoradas, de oferecer o produto ao mercado, ou
seja, novos negócios que forneçam uma vantagem competitiva sustentável. Não necessariamente implica em mudanças no produto ou mesmo no
processo de produção, mas no método com que ele é levado ao mercado.
Por exemplo, automóveis de aluguel, onde o consumidor passa a pagar
um valor periódico pelo uso do veículo, com direito a seguro, manutenção
e troca pelo modelo mais novo a cada ano; quando comparado ao modelo
de negócio tradicional, onde o consumidor necessita comprar o veículo;
• Inovação em gestão: desenvolvimento de novas estruturas de poder e liderança ou significativamente melhoras, por meio da implantação de um
novo método organizacional nas práticas de negócios da empresa, na organização do seu local de trabalho ou em suas relações externas. Como
exemplo tem-se os sistemas os sistemas integrados de gestão que canalizam as informações de uma organização, quando comparado aos MRPs
(Material Requirement Planning ou Planejamento das Requisições de Materiais), onde as informações eram departamentais.
Para Tidd, Bessant e Pavitt (2008) a inovação pode ser classificada de acordo
com o grau de novidade percebido, havendo diferentes graus de novidade desde
melhorias menores até mudanças que transformam a forma com que se vê ou
usa o produto. Assim sendo, a inovação é classificada em: Inovação Incremental, Intermediária e Radical.
• Inovação Incremental: é melhorar aquilo que já se faz. Trata-se de melhorias
moderadas nos produtos e processos, sendo a forma predominante de inovação da maioria das empresas. Por meio dela é possível extrair o máximo de valor de produtos e serviços existentes sem a necessidade de fazer significativas
mudanças ou grandes investimentos, sendo fundamental para as empresas.
ZAMBELLI; MALAGOLLI; FREIRE. A inovação... (p.40-55)
47
Interface Tecnológica – volume 11 - número 1 - 2014
• Inovação Intermediária: relacionada a algo novo para a empresa. Trata-se
de mudanças significativas no modelo de negócios ou na tecnologia de
uma organização, obtendo mudanças e resultados que seriam inviáveis
por meio da inovação incremental. Esse tipo de inovação pode contribuir
para novas oportunidades de mudanças em outras áreas.
• Inovação Radical: relacionada a algo novo para o mundo. Trata-se do
conjunto de novos produtos e/ou serviços fornecidos de forma totalmente
nova. É representada por uma mudança significativa que afeta tanto o modelo de negócio quanto a tecnologia de uma empresa de forma a acarretar
mudanças fundamentais no cenário competitivo de um setor de atividade,
podendo alterar significativamente as posições de liderança de determinado segmento.
No presente trabalho será considerada a definição apresentada por Schumpeter (1982) por melhor se identificar com a temática abordada. Para o autor, o
desenvolvimento surge de uma situação em que não houve desenvolvimento,
resultado de inovação bem-sucedida, onde se reconhece futuramente o lucro
empresarial e mudanças na economia, assim como gera o desenvolvimento de
um país.
2. O processo de fabricação de celulose a partir do engaço da
bananeira
Segundo Mussatoatal (2007), existe um interesse mundial no potencial de comercialização do uso de celulases em meios alimentícios e também na conversão química e biológica de materiais lignocelulolíticos. A celulose é o carboidrato
mais abundante atualmente, proveniente da biomassa terrestre e marítima, com
uma taxa de síntese aproximadamente 4 x 1010 toneladas por ano. Pesquisas
voltadas para os mecanismos enzimáticos da celulose e os problemas envolvidos na conversão da biomassa em produtos úteis, por meio de enzimas isoladas ou de microrganismos lignocelulolíticos, têm sido desenvolvidas nos últimos
anos. A produção e o uso de enzimas, em diferentes áreas da agroindústria vêm
demonstrando perspectivas promissoras e seu mercado supera US$ 2,3 bilhão
por ano (MUSSATTO et al., 2007).
ZAMBELLI; MALAGOLLI; FREIRE. A inovação... (p.40-55)
48
Interface Tecnológica – volume 11 - número 1 - 2014
Neste contexto, a determinação da composição química da bananeira foi
realizada por Shedden (1978) e Torres (1981) em um estudo que constatou a
presença de lignina em um valor aproximado de 11,73%. Seguido da hemicelulose, composto polissacarídeo heterogêneo, presente em vegetais fibroso com
a função de ligar a celulose à lignina, apresenta 15% da composição. Porem a
holocelulose detém 53,5% da composição tornando esse material extremamente
viável para a produção de polpas celulósica. A celulose é um polímero natural de
condensação, e é constituído por fibra linear, considerada um esqueleto básico
das células vegetais é o composto orgânico mais comum na natureza.
Porém, para aproveitar estes compostos para a produção de celulose, o bananicultor deve adotar alguns cuidados no manejo do cacho. É indicado que o
processo de despencamento no local onde é realizada a colheita ou conduzir os
cachos para galpões (packinghouse). Esses por sua vez dispõem de tanques
contendo água e solução de detergente 1%, essa mistura tem por finalidade remover o látex liberado no desmembramento do cacho.
Em seguida as pencas são acondicionadas em caixas plásticas, de madeira ou
papelão, revestidas com plásticos de polietileno de baixa densidade e proporcionando maior proteção ao fruto. Posteriormente, este material pode ser armazenado em câmara climatizada o que garante sua qualidade. Outra forma muito adotada é destinar os cachos inteiros para os grandes centros de distribuição comercial,
sendo que nesse caso o despencamento ocorre de forma menos criteriosa.
A polpação pode ser mecânica, química ou misto. Para o processamento do
engaço o mais indicado é a polpação mista, onde essa apresenta um melhor resultado. Porém o rendimento depende do consumo térmico, mecânico, produtos
químicos e no grau de deslignificação.
A extração da polpa celulósica consiste no desfibramento do material, esse,
por sua vez, passa por um desfibrador com o propósito de obter um material com
dimensões menores, especificadas de acordo com o tipo de equipamento usado.
Esta etapa é importante, pois facilita a ação química dos reagentes usados. A mistura do material com a solução alcalina ou ácida resulta no chamado “licor branco”.
Posteriormente o material é submetido ao cozimento, em uma combinação
de tempo, temperatura e pressão com solução alcalina ou ácida nas devidas
proporções. A função da solução é reagir com a lignina solubilizando-a, obtendo
assim o “licor negro”. Esta coloração é proporcionada pela lignina dissolvida.
ZAMBELLI; MALAGOLLI; FREIRE. A inovação... (p.40-55)
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Interface Tecnológica – volume 11 - número 1 - 2014
O processo seguinte é a depuração da massa marrom, também conhecido
como brown stock, e o seu branqueamento. Esse processo envolve um grande
consumo de água, pois a mistura massa-licor é submetido a várias etapas de lavagem, onde a água usada na última etapa serve para alimentar o equipamento
na primeira etapa, conforme ilustrado na figura 2.
Figura 2. Fluxograma sugerido de unidade de produção de celulose a partir do
engaço da bananeira.
Fonte: SOFFNER (2001).
No processo de deslignificação é usado oxigênio puro em meio alcalino com
a finalidade de manter o pH alto. Podendo haver a adição de (MgSO4) sulfato de
magnésio, que manterá a integridade da massa obtida, nesse caso especifico o
mais indicado é o cal, por ser um álcali mais fraco que o hidróxido de sódio. O
resíduo orgânico gerado nessa etapa passa por tratamento diminuindo os impactos nos efluentes.
O processo de branqueamento consiste na eliminação dos compostos não
celulósicos, melhorando o aspecto do material, tornando-o mais claro. Devido a
lignina estar fortemente ligada as fibras esse processo passa por vários estágios
ácidos ou alcalinos com o propósito da degradação mínima da polpa. Diversos reagentes podem ser usados nessa etapa tais como: hipoclorito de sódio
(NaClO), dióxido de cloro (ClO2), oxigênio (O2) e ozônio (O3), conferindo uma
ZAMBELLI; MALAGOLLI; FREIRE. A inovação... (p.40-55)
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Interface Tecnológica – volume 11 - número 1 - 2014
tonalidade bem clara, porem nessa etapa é gerado resíduo de grande impacto
ambiental, no final é obtido a chamada polpa branqueada. Os fatores determinantes para a escolha do reagente usado nessa etapa dependem do custo, e
eficiência apresentada. Outra opção para o branqueamento é a combinação de
hipoclorito de sódio e sulfato de sódio, esses reagentes por sua vez apresentam
uma eficácia muito boa, quanto ao branqueamento. A cal por sua vez também é
considerada uma boa opção neste processo devido sua eficácia e o seu custo.
A etapa seguinte é a secagem da polpa celulósica, onde o material obtido
pelos processos descritos acima é submetido à uma prensa cilíndrica, com a
finalidade da retirada máxima da umidade.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A bananicultura apresenta um volume relativamente elevado de material de
descarte. Isso constitui um problema para o produtor, especialmente o pequeno
agricultor familiar pelo fato de parte dos custos de produção, como o consumo
de agroquímicos, por exemplo, serem utilizados para a produção de um material
que posteriormente não será utilizado e ainda constitui um risco em potencial ao
meio ambiente. Assim, a exploração desta matéria orgânica é de grande importância para o pequeno produtor rural.
Foi demonstrado que o processo de transformação do engaço em polpa celulósica é relativamente simples e não exige um volume considerável de investimentos, configurando-se, portanto, como uma opção para o pequeno produtor
individual. Embora haja a necessidade de um acompanhamento técnico, os custos de produção não seriam elevados.
A produção da celulose neste caso configura-se como uma inovação incremental, pois é uma atividade que não afetaria a produção tradicional da banana
in natura. Entretanto, esta inovação amenizaria tanto o problema do descarte de
material ambientalmente nocivo quanto poderia aumentar a renda do pequeno
produtor rural. O aumento de renda poderia ser proveniente da redução do custo
de embalagem, aproveitando o material fabricado para embalar as frutas, quanto
da possível comercialização da celulose.
A alternativa de comercialização da celulose, porém, seria mais rentável quanto maior a escala de produção. Assim, a produção conjunta de celulose por peZAMBELLI; MALAGOLLI; FREIRE. A inovação... (p.40-55)
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quenos bananicultores através de um sistema cooperativista tenderia a reduzir
o custo individual e a incentivar a agroindústria em locais com aglomerados de
pequenos bananicultores, tornando o processo ainda menos oneroso individualmente para os produtores.
A polpa celulósica poderia ser encaminhada para a indústria de papel ou ainda servir de matéria prima para a confecção de embalagens para a distribuição
e comercialização da própria banana. Isto reduziria as perdas no transporte e
criaria uma nova atuação dos pequenos produtores no mercado.
Por fim, outra contribuição seria a geração de emprego e renda no local, aproveitando trabalhadores com baixa qualificação uma vez que o processo de produção da polpa celulósica não é complexo bem como a geração de emprego
nas áreas de apoios técnicos contribuiriam para o aumento da renda na região,
estimulando o desenvolvimento local.
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A PROMOÇÃO DA SAÚDE E QUALIDADE DE VIDA NAS ORGANIZAÇÕES COMO PARTE DA POLÍTICA GERENCIAL DE
INOVAÇÃO
THE PROMOTION OF HEALTH AND QUALITY OF LIFE IN ORGANIZATIONS
AS PART OF MANAGEMENT INNOVATION POLICY
Mirian Damáris Benaglia1
RESUMO
Considerando a íntima relação entre saúde e trabalho, podemos dizer que o
bem-estar dos colaboradores não é independente de sua atividade laboral. Mas
para que o colaborador de saúde é necessário compreender os fatores determinantes dos riscos ocupacionais no ambiente de trabalho bem como aqueles
decorrentes de sua organização para desenvolver ações corretivas e preventivas. Como a qualidade de vida no trabalho tem relação direta com as finanças e
produtividade da empresa, intervir e agir nesse ambiente de forma a desenvolver
programas orientados à melhoria das condições laborais e da saúde do colaborador, além de fazer parte de uma política gerencial de inovação, contribui, de
forma estratégica, para maximizar os resultados nas organizações.
Palavras-chave: Promoção da Saúde. Qualidade de Vida no Trabalho. Inovação e Estratégia.
ABSTRACT
Considering the close relationship between health and work, we can say that
the well-being of workers is not independent of their work activities. But the worker can enjoy health it is necessary to understand the determinants of occupational hazards in the workplace as well as those arising from the organization to
develop corrective and preventive actions. As the quality of work life is directly
1. Docente do Curso Superior de Administração – UNIESP, campus Taquaritinga/SP. Docente do
Curso Técnico em Administração – CEETEPS – Jaboticabal/SP. E-mail: [email protected].
Interface Tecnológica – volume 11 - número 1 - 2014
related to financialissuese and business productivity, to intervene and act in order to develop programs for improving working conditions and employee health,
contributes strategically to maximize results in organizations. In addition it is part
of innovation policy.
Keywords: Health Promotion. Quality of Work Life. Innovation and Strategy.
INTRODUÇÃO
A década de 1980 presenciou, nos países de capitalismo avançado, profundas
transformações no mundo do trabalho, nas suas formas de inserção na estrutura
produtiva, nas formas de representação sindical e política. Foram tão intensas as
modificações, que a classe que vive do trabalho sofreu a mais aguda crise deste
século, atingindo não só a materialidade, mas com repercussões profundas na
sua subjetividade e por fim, a sua forma de ser (ANTUNES, 2010).
A expansão da capacidade produtiva, com altas escalas de produção, desenvolveu um processo de “coisificação” dos indivíduos e das relações humanas,
com a perda da dimensão do indivíduo/subjetividade ou com a instrumentalização da subjetividade, no sentido de uma sociedade laboriosa e ‘racional’, movida
pela lógica do lucro, da acumulação e retorno do capital investido e do domínio
da natureza a qualquer preço (FRANCO; DRUCK, 1998).
É neste cenário, que grande parcela dos trabalhadores, tem sofrido com as
constantes mudanças tecnológicas e científicas da atualidade; que trazem consigo uma maior exploração de sua força de trabalho (HELOANI; CAPITÃO, 2003).
As exigências de qualificação especial, mesmo que seja para apertar um simples botão, têm sido intensas e a ameaça do desemprego funcional faz com que
milhares de pessoas entrem em estado de alerta, pois a única ferramenta de
que dispõem - sua força de trabalho - pode ser dispensada a qualquer momento.
Encontram-se ainda, nesse mesmo contexto, problemas relacionados à precarização do trabalho, informalização do emprego, bem como, problemas de saúde,
de ordem física e psíquica; ocasionados, em muitos casos, por procedimentos
durante a execução da atividade e pela falta de “adaptação” socio-psico-biofisicamente às máquinas (posturas, gestos repetitivos, velocidade) e às tarefas
cada vez mais parceladas e fragmentadas.
BENAGLIA. A promoção... (p.56-66)
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O Ministério da Saúde (2001), comenta que as condições de trabalho (sejam
elas físicas, químicas e biológicas) vinculadas à execução do trabalho e a sua
organização (estruturação, hierarquia, divisão de tarefa, jornada, ritmo, trabalho
em turno, intensidade, monotonia, repetitividade e responsabilidade excessiva)
favorecem o aparecimento das doenças ocupacionais.
Para não contribuir com tais circunstâncias, o ambiente de trabalho deve oferecer condições adequadas para as atividades laborais, evitando dessa forma
o processo de adoecimento e preservando a qualidade de vida do trabalhador;
pois o estado de saúde precário significa não somente fracasso para conseguir
a produtividade máxima, como também sangria de riquezas e recursos.
A Figura 1 ilustra os fatores que colaboram para que ocorra o processo de
adoecimento do trabalhador, no ambiente de trabalho.
Figura 1. Fatores do processo de adoecimento
Fonte: Elaborado pela autora
Dados do anuário estatístico do Ministério da Previdência Social, em 2010,
demonstram que houve um aumento considerável nas concessões de afastamentos por problemas de saúde. Constatou-se 154.500 (cento e cinquenta e
quatro mil e quinhentos) afastamentos por transtornos mentais e comportamentais, 254.677 (duzentos e cinquenta e quatro mil, seiscentos e setenta e sete)
afastamentos por doenças do sistema osteomuscular e tecido conjuntivo, 71.893
(setenta e um mil, oitocentos e noventa e três) afastamentos por doenças do
aparelho circulatório e 27.194 (vinte e sete mil, cento e noventa e quatro) por
neoplasias (cânceres); número que cresce vertiginosamente se comparado ao
ano anterior (2009), onde foram concedidos 122.032 (cento e vinte e dois mil e
trinta e dois) afastamentos por transtornos mentais e comportamentais, 200.548
(duzentos mil, quinhentos e quarenta e oito) afastamentos por doenças do sisteBENAGLIA. A promoção... (p.56-66)
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Interface Tecnológica – volume 11 - número 1 - 2014
ma osteomuscular e tecido conjuntivo, 59.812 (cinquenta e nova mil, oitocentos
e doze) afastamentos por doenças do aparelho circulatório e 21.306 (vinte e um
mil, trezentos e seis) por neoplasias (cânceres); num custo aproximado de R$
1.276.814,00 (Um milhão, duzentos e setenta e seis mil, oitocentos e quatorze
reais), direcionados para estas espécies de benefício (auxílio-doença).
Em função deste quadro nada promissor, onde o efeito do trabalho sob o trabalhador tem proporcionado diminuição na sua qualidade de vida e interferido
diretamente na sua produtividade; é fundamental compreender por que o processo trabalho-doença ocorre, quais os mecanismos de prevenção existentes,
que tipos de políticas de saúde ocupacional as empresas adotam e como os
trabalhadores podem minimizar as consequências dessa nova realidade.
Nesse sentido, o presente estudo teve por objetivo, investigar com base na
revisão da literatura, como o investimento na promoção da saúde e qualidade
de vida no trabalho, além de fazer parte de uma política gerencial de inovação,
contribui, de forma estratégica, com os resultados nas organizações.
1. A relação existente entre o trabalho e a saúde
O trabalho sempre fez parte da vida do homem, desde os primórdios de sua
existência. Da criação, como contam os relatos bíblicos, passando pelo desenvolvimento das civilizações durante a história antiga, o trabalho foi fator de progresso, pois gerou conhecimentos, riquezas materiais e desenvolvimento econômico. Por isso, ele é e sempre foi muito valorizado em todas as sociedades.
No entanto, nos últimos anos, o universo do trabalho sofreu grandes mutações, trazendo consigo além das reestruturações e a inserção de novas tecnologias produtivas, novas relações de competitividade entre as empresas, que
passaram a ser globalizadas.
Neste novo contexto, surgiram a “precarização das relações de trabalho, a
intensificação do ritmo, a diminuição de postos, a sobrecarga das exigências
de polivalência dos que permanecem trabalhando, a perda de importância de
determinadas profissões e setores, a flexibilização dos contratos de trabalho, a
terceirização de serviços, a oferta de trabalho autônomo, os postos de trabalho
temporário e a perda do poder de barganha de quem procura emprego” (LACMAN; SZNELMAN, 2004, p.26).
BENAGLIA. A promoção... (p.56-66)
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Para Sivieri (1995), o trabalho é compreendido como todo esforço que o homem faz, no exercício de sua capacidade física e mental, para executar e atingir
seus objetivos. Sua má estruturação, tanto em termos técnicos como organizacionais tende a interferir diretamente sobre a saúde de quem o executa, podendo levar o indivíduo a uma variedade de doenças e afecções; e o excesso de
horas-extras ou jornadas muito exaustivas podem ter sérias consequências para
a saúde, podendo levar até a morte, como no caso do estudante alemão de 21
anos, Moritz Erhart, que era intercambista na Universidade de Michigan e estagiário no Bank of America, em Londres. De acordo com reportagem veiculada
na Revista Exame, no dia 20 de agosto de 2013, o estagiário teria trabalhado
até 06 horas da manhã durante 03 dias seguidos. Recentemente, os meios de
comunicação também noticiaram a morte de uma jovem publicitária na Indonésia
que teria trabalhado por 30 horas seguidas.
Na figura 2, a contextualização dos resultados do desequilíbrio entre as condições e a organização do trabalho.
Figura 2. Resultados das condições a organização do trabalho
Fonte: Elaborado pela autora
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Dados fornecidos pela OIT (Organização Internacional do Trabalho), apontam
para um gasto de 4% (quatro) do PIB mundial relacionado às doenças profissionais, seus tratamentos, suas incapacitações e pensões; além dos absenteísmos
provocados. (OIT, 2002).
Por esta razão, a Organização Internacional do Trabalho (OIT), convencionou
legislação específica para a melhoria do trabalho com foco especial direcionado
à saúde, higiene, satisfação e segurança do trabalhador.
Neste sentido, a compreensão das condições do trabalho, bem como, do
modo como ele está organizado é fundamental para evitar o processo de adoecimento e favorecer melhores condições à saúde do trabalhador.
Atualmente, a legislação de vários países reconhece que existe uma
relação dos agentes físicos, químicos ou biológicos como produtores
de doenças ocupacionais (FRANÇA e RODRIGUES, 2011).
Segundo Verdussen (1978), um local de trabalho, seja um escritório ou uma
oficina, deve ser sadio e agradável. O homem precisa encontrar aí condições
capazes de lhe proporcionar um máximo de proteção e, ao mesmo tempo, de
satisfação pelo que faz.
Numa perspectiva mais subjetiva, pode-se dizer que ter um ambiente saudável para se trabalhar é ter um espaço que proporcione qualidade de vida ao trabalhador, pois a relação que existe entre a saúde, qualidade de vida no trabalho
e a produtividade traduz uma latente realidade: a de que empresas deixam de lucrar, gastam em excesso e têm grande custo social, devido a sua má gestão dos
processos nos quais os trabalhadores estão envolvidos (GALEANO et. al, 2010).
Para Arantes (2012), as questões relativas à saúde, à segurança e ao meio
ambiente serão vitais para a perpetuidade dos negócios empresariais. Mas a
saúde, em particular, passará a ser vista como elemento diferenciador nas políticas empresariais e adquire ênfase estratégica, podendo ser identificada como a
última fronteira em que se podem explorar novas vantagens competitivas.
Visando evitar afastamentos e incapacidades laborais, minimizar os custos
com saúde e os associados com a alta rotatividade, além de aumentar a produtividade a longo prazo bem como a qualidade dos produtos e serviços, a Organização Mundial da Saúde – OMS, incentiva as organizações a aderirem aos
princípios dos ambientes de trabalho saudáveis.
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Na Figura 3, a estrutura de um modelo de ambiente de trabalho saudável
sugerido pela OMS, para as organizações que alinham política inovadora em
saúde e qualidade de vida no ambiente de trabalho.
Figura 3. Modelo de um ambiente de trabalho saudável adotado pela OMS
Fonte: ABQV, 2013 – Adaptado da Organização Mundial da Saúde (2010)
O modelo do ambiente corporativo saudável abrange: o ambiente físico (minimizando os riscos ocupacionais específicos), o ambiente psicossocial (incluindo
organização do trabalho e a cultura organizacional), os recursos e suporte à
saúde nos locais de trabalho (incluindo programas de prevenção, gerenciamento
de doenças e de retorno ao trabalho após afastamento por doença) e a participação da comunidade dessa organização (trabalhadores, seus familiares e todas
as demais pessoas que serão impactadas pelas operações de empresa), como
fatores estruturais para serem vistos e revistos durante o processo de melhoria
contínua da organização, fazendo parte da política gerencial de inovação.
2. A importância da promoção da saúde nas organizações como
parte da política gerencial de inovação
No início do século XX, a palavra-chave era eficiência. No final do mesmo
século, a palavra-chave era competitividade. A eficiência continua sendo uma
preocupação dominante, como nos tempos de Taylor e Ford, mas por razões
diferentes. Ainda é preciso fazer mais, com menos recursos, em função das exigências do mercado. (BENAGLIA, 2006).
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Diante dessa difícil realidade e pelas inúmeras transformações no ambiente
corporativo, a inovação se faz necessária, já que por meio dela é possível reinventar seu negócio de modo a torná-lo mais competitivo e atraente para os clientes.
O termo inovar está caracterizado em fazer coisas novas, seja na transformação de uma ideia em produto, serviço ou processo novo ou melhorado. Mas, para
que uma inovação realmente seja completa, é necessário que ela gere valor.
Uma das maneiras de inovar como parte de uma política empresarial diferenciada e que traga um retorno financeiro certo é a preocupação em gerenciar a saúde
e a qualidade de vida no trabalho, em vez de gerenciar apenas os custos. Isso por
que a boa gestão da saúde acaba se transformando em benefício para todos.
Os programas de qualidade de vida e promoção da saúde, quando
bem estruturados, com comunicação, atividades em grupo, avaliações
integradas e ambiente de suporte podem trazer, no prazo de três a
cinco anos, um retorno sobre o investimento entre US$2,15 a US$5,64
para cada dólar investido (OGATA, 2012).
Para Arantes (2012), a promoção da saúde, como vem sendo entendida nos
últimos 20 a 25 anos, representa uma estratégia promissora para enfrentar os
múltiplos problemas de saúde que afetam as populações.
Nesse sentido, tais ações ganham maior peso, pois os resultados positivos
dessa política gerencial inovadora reduzem custos e maximiza o capital; além
de melhorar o clima organizacional, melhorar o desempenho da capacidade produtiva do colaborador, incentivar um maior engajamento e comprometimento do
trabalhador em relação as suas atividades na organização e a diminuir os absenteísmos, presenteísmos, turn over e acidentes de trabalho.
Outra questão de relevância para a promoção da saúde e qualidade de vida no
trabalho como parte da política gerencial de inovação é considerar o FAP – Fator
Acidentário Previdenciário e o NTEP – Nexo Técnico Epimideológico Previdenciário. Esses 02 (dois) indicadores, criados pelo Ministério da Previdência Social, permitirão aumentar ou diminuir o valor das alíquotas de contribuição das empresas
ao seguro de acidente de trabalho, de acordo com as suas ocorrências. Os valores
poderão ser reduzidos pela metade ou até mesmo dobrados. O impacto que esses
indicadores poderão provocar nas finanças das empresas será grande; podendo
até comprometer futuros investimentos ou mesmo inviabilizar alguns negócios.
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Portanto, é preciso que a liderança compreenda o assunto e o insira como prioridade em sua pauta estratégica, como parte de uma política gerencial de inovação; considerando que uma organização diferenciada terá a promoção da saúde
e da qualidade de vida no trabalho como meta associada a critérios de sucesso.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Considerando a íntima relação entre saúde e trabalho, podemos dizer que o
bem-estar dos trabalhadores não é independente de sua atividade laboral. Mas
para que o trabalhador possa gozar de saúde é necessário compreender os fatores determinantes dos riscos ocupacionais no ambiente de trabalho bem como
aqueles decorrentes de sua organização para desenvolver ações corretivas e
preventivas. Como a qualidade de vida no trabalho tem relação direta com as
finanças e produtividade da empresa, intervir e agir nesse ambiente de forma a
desenvolver programas orientados à melhoria das condições laborais e da saúde do colaborador, além de fazer parte de uma política gerencial de inovação,
contribui, de forma estratégica, para maximizar os resultados em organizações
que associam o sucesso dos negócios a saúde dos seus colaboradores.
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UM ESTUDO SOBRE AS MUDANÇAS CAUSADAS PELO USO
DE TECNOLOGIA DE INFORMAÇÃO NA ESTRUTURA ORGANIZACIONAL DE EMPRESAS
A STUDY ON THE CHANGES CAUSED BY THE USE OF INFORMATION
TECHNOLOGY IN THE STRUCTURE OF COMPANIES
Bruno José Franzini Silva1
Guilherme Augusto Malagolli2
RESUMO
A Tecnologia de Informação (TI) cria vasta expectativa no ambiente organizacional, proporcionando variada gama de estudos. A presente pesquisa tem o intuito
de identificar os benefícios do uso e da aplicação da “Tecnologia da Informação”
como ferramenta de auxílio administrativo, focalizando os diferentes tipos de
departamentalizações, os quais são responsáveis por modificar profundamente a estrutura de uma empresa e a maneira de administrar os processos de
negócios desta. Levando em consideração as afirmações feitas anteriormente,
pressupõe-se que a “Tecnologia da Informação” há de possuir forte alinhamento
estratégico com os objetivos organizacionais.
Palavras-chave: Tecnologia da Informação. Estrutura organizacional. Departamentalização.
ABSTRACT
The Information Technology (IT) creates wide expectation in the organizational
environment, providing wide range of studies. This research aims to identify the
benefits of the use and application of the “Information Technology” as an administrative support tool, focusing on the different types of departmentalization, which
1. Dados não disponíveis
2. Doutor em Engenharia de Produção. Professor Associado II – Fatec Taquaritinga. E-mail:
[email protected].
Interface Tecnológica – volume 11 - número 1 - 2014
are responsible for major changes to the structure of a company and how to manage its business processes. Taking into account the statements made above, it
is assumed that the “Information Technology” has strong strategic alignment with
organizational goals.
Keywords: Information Technology. Organizational structure. Departmentalization.
INTRODUÇÃO
Na última década a sociedade, valorizando amplamente a informação, incorporou uma nova visão sobre a Tecnologia da Informação, devido a sua importância em situações de tomadas de decisões e planejamento estratégico para
as organizações. Com isso, foi definido o marco para a transição de um período
histórico entre a Sociedade Industrial e a Sociedade da Informação e alguns autores até citam Sociedade do Conhecimento (ALBERTIN, 2002).
Graeml (2000) e Albertin (2009) ratificam que a área de Tecnologia da Informação (TI) tem ganhado grande destaque nos últimos anos, devido à velocidade
de desenvolvimento de novas tecnologias e suas aplicações nos diversos níveis
de utilização dentro das organizações, dinamizando os processos de negócio e
alterando as formas as quais as empresas passaram a desenvolver suas atividades internas e externas.
As consequências diretas resultam em expansão do campo de atuação e
abrangência de uso da TI nas organizações brasileiras, presente nos níveis estratégico, tático e inclusive operacional, sendo os dois primeiros níveis responsáveis por adotar políticas internas e externas, planejamento estratégico e obtenção dos objetivos tangíveis ou intangíveis (GRAEML, 2000).
A necessidade de controlar grande quantidade de informações e a seguir processá-las e disponibilizá-las com precisão têm exigido mais das organizações sejam elas comerciais ou científicas. A manipulação de tais informações possui quatro requisitos básicos a serem estudados para definir a importância da TI e seus
benefícios: desafios administrativos, nível de utilização, os benefícios recorrentes
de seu uso e finalmente quais contribuições serão geradas (ALBERTIN, 2002).
Os benefícios da utilização do recurso tecnológico às organizações tem relação direta à precisão, velocidade e facilidade de cumprir um conjunto de atiSILVA; MALAGOLLI. Um estudo... (p.67-78)
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vidades características às mesmas. A ideia de organização elaborada por Stair
(2011, p.39) defende a ideia de um “conjunto formal de pessoas e outros recursos estabelecidos para atingir um conjunto de objetivos”.
À análise de tais benefícios devem-se levar em consideração seis objetivos
organizacionais: “excelência operacional; novos produtos, serviços e modelos
de negócios; relacionamento mais estreito com clientes e fornecedores; melhor
tomada de decisão; vantagem competitiva e sobrevivência [...]” (LAUDON; LAUDON, 2011, p.22). Ademais deve-se levar em consideração a importância das
informações, por delimitarem as estratégias de mercado e o uso de inovações
tecnológicas (ALBERTIN, 2009).
A TI representa uma parcela dos recursos que impactam na estrutura organizacional de diversas empresas, as formas de administrar tais recursos remetem-se ao
conceito de departamentalização e consequentemente à capacidade de alterar a
gestão de negócios (OLIVEIRA, 2011a). Com isso, deve-se levar em consideração
a avaliação dos benefícios, investimentos e suporte ao desenvolvimento de atividades para obtenção de excelência e competitividade diante aos concorrentes.
Outra justificativa da escolha da TI aplicada à organização é o contato com
um sistema ERP (Enterprise Resource Planning – planejamento de recursos
empresariais), que impacta diretamente na gestão dos negócios, exigindo maior
flexibilidade e adaptação da estrutura organizacional à nova gestão.
1. Fundamentação teórica sobre TI
Segundo Mooney, Gurbaxani e Kraemer (1995, p.7) “o valor obtido pela TI
é um fenômeno que conjuga tecnologia e organização; assim, uma investigação desse fenômeno requer perspectivas teóricas tanto da tecnologia como da
organização, e sua interação”. E para Graeml (2000, p.68) “A TI melhora os
processos utilizados pela empresa para obter seus produtos ou serviços”, seja
por redução de tempo, adequação de repostas melhoradas quanto às variadas
situações. Será discutido a seguir o papel da informação assim como seu uso
nas organizações, e a seguir os benefícios para quem busca apoiar-se na TI.
A TI deve ter como base a sua aplicação o alinhamento estratégico, segundo Fernandes e Abreu (2008, p.36) “é o processo de transformar a estratégia do negócio em
estratégias e ações de TI que garantam que os objetivos de negócios sejam apoiados”.
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1.1. Dados, Informações e Conhecimento
A visão de Stair e Reynolds (2011) sobre as informações é sobre sua propriedade elementar, que na ideia mais básica diz que informações são recursos
organizacionais de extrema importância e valor.
Diversos autores consideram os dados a partir do modelo computacional, os
componentes brutos (fatos e números) que somente possuem valor se devidamente tratados e utilizados para agregar valor a processos ou produtos (remete
a ideia de processamentos de dados e sistema de informação); este adicional
pode ser preços reduzidos, melhor qualidade e até inovação.
Para Laudon e Laudon (2011) os dados representam eventos que podem descrever características de objetos presentes nas organizações (inclusive matéria
prima para produção de um produto, assim como descrições de um processo ou
serviço a ser desenvolvido).
De acordo com Stair (2011) os dados processados geram informações úteis à
organização por possuírem organização e serem aproveitados para tomadas de
decisões importantes. Já Davenport (1998) considera que as informações são
números e fatos descontextualizados (apesar de serem processados e já terem
um grau de organização) que são inseridos em um contexto da organização para
o grande diferencial que a TI traz em sua utilização, a tomada de decisão.
O conhecimento é considerado a contextualização de informações a um ambiente externo (DAVENPORT; PRUSAK, 1998).
A tomada de decisão é responsável por indicar e redirecionar as políticas de
atuação e planejamento estratégico a fim de atingir o foco de mercado das organizações de maneira mais eficiente (ALBERTIN, 2009).
Para a realizar tomadas de decisões é necessário aplicar a gestão de conhecimento, segundo Knowledge Management Glossary (1997) é o processo que
busca, seleciona, organiza, analisa e disponibiliza informação para ser utilizada
como diferencial competitivo, neste caso o conhecimento.
1.2. Sistemas de Informação
A definição de Sistema, segundo Oliveira (2011a, p.6) corresponde “a um conjunto de partes interagentes e interdependentes que, conjuntamente, formam um
SILVA; MALAGOLLI. Um estudo... (p.67-78)
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todo unitário com determinado objetivo e efetuam função específica.” No total
são seis componentes de um sistema (OLIVEIRA, 2011a):
• Objetivos – estes incluem dos usuários e o sistema em si, explicando o
motivo pelo qual existe e deve ser utilizado.
• Entradas (Inputs) – nesse caso são os dados que devem produzir as informações (saídas ou Outputs).
• Processo de transformação – é o processo que define o processamento
dos dados e a sua mudança de estado bruto para informação. E deve
considerar o desgaste de elementos utilizados neste componente, mas
também a adição de tecnologia para acabar com tal desgaste.
• Saídas (Outputs) – As saídas devem ter coerência com os objetivos, não
podendo haver qualquer falta de alinhamento, pois afetarão diretamente
os direcionadores estratégicos.
• Controles e avaliações – necessita indicador de padrão para monitorar a
qualidade da saída principalmente, por afetar os rumos das decisões.
• Retroalimentação (feedback) – pode ser considerado como reinserção de
uma saída (informação), seja por esta não atender requisitos exigidos,
seja por transformação incompleta ou desalinhamento total com objetivos
do sistema e da organização.
Oliveira (2011b) destaca que o sistema de informação nada mais é que, o
processo responsável por transformar dados em informações, posteriormente
utilizadas nas tomadas de decisões dos diversos níveis na organização.
Laurindo (2002) diz que a eficácia de um SI está nos resultados expressos e disponíveis à organização, por fornecer direcionamento de estratégias e operações.
1.3. TI
Porter (1999, p.83) considera a TI como aglomerado de diversas tecnologias capazes de satisfazerem o ciclo de um sistema através de entrada, processamento,
armazenamento e saída com uso de computação e tecnologia. “Assim envolve, além
de computadores, equipamentos de reconhecimento de dados, tecnologias de comunicação, automação de fábricas e outras modalidades de hardware e de serviços”.
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Rezende (2013) ratifica a ideia de TI expressa por Porter (1999) e adiciona a
ideia que a utilização de recursos tecnológicos e computacionais para a criação
e uso de informação, tendo foco em quatro componentes básicos; hardware e
dispositivos periféricos, software e seus recursos, sistemas de telecomunicações
e gestão de dados e informações que atuam em conjunto de um componente
essencial, além do último componente o recurso humano (também chamado de
“peopleware”), mas que não integra a TI por si própria.
“A tecnologia não é uma aplicação pura da ciência, uma vez que é influenciada por relacionamentos sociais, culturais, econômicos e técnicos” (ALBERTIN,
2009, p.16).
A tecnologia na visão de Hamel e Prahalad (1995) compõe a chamada competência essencial, composto por três elementos: conhecimento, habilidade e
tecnologia (inclusive a própria TI).
1.4. Estrutura Organizacional
“A estrutura organizacional deve ser delineada de acordo com os objetivos e
as estratégias estabelecidas [...]” (OLIVEIRA, 2011a, p.63).
“A estrutura organizacional é o instrumento básico para a concretização do
processo organizacional nas empresas.” (OLIVEIRA, 2011a, p.63).
Cury (2005) e Oliveira (2011b) estão de acordo que para atingir a organização
em uma empresa há necessidade do desenvolvimento de planejamento e estabelecer objetivos assim como seus resultados e métodos aliados de estratégias
para tornar estes tangíveis. Direcionando corretamente recursos essenciais como
recursos humanos, tecnológicos, financeiros e equipamentos (OLIVEIRA, 2011b).
Os tipos de estruturas organizacionais baseiam-se nas diversas formas de
departamentalização, entre as mais comuns citadas são: funcional, territorial,
produto, cliente e por projeto, sendo estas formalmente apresentadas via organograma, tendo uma definição formal de sua estrutura. O objetivo da departamentalização é aglomerar diversos recursos (humanos, financeiros, tecnológicos e equipamentos) a partir de critérios preestabelecidos (OLIVEIRA, 2011a).
Departamentalização funcional – As atividades empresariais são segregadas
pelas suas funções, este tipo é a clássica divisão por departamentos ou áreas
de conhecimento (Financeiro, Marketing, RH, Produção, Qualidade, etc.), sendo
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departamentos especializados (recursos), estáveis, mas gera isolamento (ideia
de maior importância de um departamento a outro), comunicação deficiente e
centralização de responsabilidade, decisões e integração à empresa como um
todo (OLIVEIRA, 2011a).
Departamentalização territorial – O princípio é a divisão parcial ou total da
empresa em diversas localidades para obtenção de vantagens como baixo custo
operacional em outras regiões, ações mais específicas e dinâmicas para corrigir
problemas de operações e influências locais. O lado negativo é duplicar os recursos organizacionais caso o planejamento seja falho ou ainda não ter grau de
liberdade para decisões mais específicas, por ter que seguir o planejamento e
decisões da matriz ou outro filial.
Departamentalização por produto (ou serviços) – divide a empresa em departamentos específicos por produtos ou serviços fornecidos tem como pontos
fortes a facilidade de obtenção de resultados planejados devido à atuação da
empresa, ser segmentada e totalmente específica para os diferentes produtos
ou serviços. Aloca melhor os recursos exigidos para cada grupo e os aproveita
melhor, assim como há flexibilidade para coordenar relações interdepartamentais por não afetar diretamente a maneira como os demais departamentos estão
estruturados. Em contrapartida há grande dificuldade em gerenciar políticas específicas, podendo torna-las contraditórias quanto às políticas gerais da organização e duplicidade de atividades e custo dispendioso (OLIVEIRA, 2011a).
Departamentalização por cliente – as atividades sofrem segmentação para atender necessidades diferenciadas de clientes, desta forma interage com grupos de
clientes definidos e garante a continuidade e agilidade do fornecimento do produto/
serviço ofertado. Mas pode existir a possibilidade dos clientes desta departamentalização requisitarem tratamento especial o qual a organização não pode oferecer e
realoca incorretamente recursos humanos e equipamentos para atender um grupo
de clientes diferenciados e ao mesmo tempo afetando a empresa como um todo.
Departamentalização por projeto – responsabiliza a equipe de execução do
projeto por sua eventual falha ou realização, proporciona aos colaboradores do
projeto melhor visão dos processos cabíveis na sua idealização em geral, possui
versatilidade e adaptabilidade, atendimento ao cliente é mais preciso projetando
os reais requisitos para desenvolver a solução ideal em prazos adequados e
relativos ao planejamento orçamentário.
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Em Torres (1996) departamentalização é chamado de unidade de negócios,
que significa um “conjunto relacionado de produtos e/ou serviços, utilizando as
mesmas tecnologias e/ou atingindo os mesmos mercados que podem ser tratados, ordenadamente, com estratégias comuns [...]” (TORRES, 1996, p.110).
2. Método de Pesquisa Adotado
A metodologia adotada neste artigo é de revisão bibliográfica, seguindo a ideia
e organização contida em Cervo e Bervian (1996). Além de pesquisa exploratória
(familiarizar sobre o tema para desenvolver, explicar e modificar ideias) sobre as
mudanças e os impactos gerados nas organizações quanto as suas atividades,
e o beneficiamento destas com a utilização de TI, como fator determinante de
expansão até sobrevivência no mercado.
O objetivo deste artigo consiste em introduzir os conceitos de TI e estrutura
organizacional e como estes estão relacionados, de modo a identificar a real necessidade das organizações aderirem TI como investimento e suporte ideal ao
desenvolvimento de suas atividades.
3. Aplicações para TI – uma visão geral
As aplicações de TI devem conter o posicionamento estratégico adequado em
relação ao alinhamento dos objetivos da organização. A TI possui alguns princípios que devem ser atendidos com objetividade e foco no caso da organização
desejar embutir valor extra aos negócios por meio da TI (WEILL, 2006).
Alguns desses princípios são padronizar processos e tecnologias que implica
em maior eficiência nas operações, restrição de custos e atendimento de requisitos do negócio mais precisamente. Tais princípios implicam em outro conjunto de
princípios desta vez para a TI: infraestrutura que condiz com situação operacional
atual e tenha flexibilidade para eventuais mudanças e adaptações mais rápidas.
Em relação à arquitetura de TI é preciso organização lógica para os dados,
obtida através da padronização dos dados. A padronização gera capacidade de
previsão e aumenta a eficiência de todos os processos e atividades empresariais, mas requer muito planejamento, por não é uma situação ocasional muito
menos aleatória.
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“As mudanças podem ser provocadas por fatores internos e externos. Dentre
os fatores internos temos as atividades iniciadas pelos funcionários em todos os
níveis [...]” (STAIR, 2011, p.45).
E os fatores externos “temos atividades desenvolvidas por competidores,
acionistas, leis federais e estaduais, regulamento da comunidade, desastres naturais e condições econômicas em geral” (STAIR, 2011, p.45).
Segundo Laudon e Laudon (2011, p.256), para minimizar problemas ocasionados por todos os fatores internos e externos tem-se a solução o uso de sistemas
integrados (ou sistemas ERP) que corresponde ao sistema de informação com fins
de padronização e coordenação processos de negócios, ou seja, é o sistema que
incorpora e administra plenamente as atividades de cada área da empresa, seja para
“controlar a receita por linha de produto, unidade geográfica ou canal de distribuição”.
Tais sistemas colaboram na toma de decisão dando visão mais ampla e detalhada da empresa, facilitando planejamento mais adequado para cada área.
Além de impor padrões, os sistemas integrados permitem a departamentalização
funcional, por produto/serviço e por projeto plenamente, mas deve-se visar quais
módulos (ou funcionalidades) tem mais importância no momento de sua implementação (STAIR, 2011) para manter dar continuidade e adaptação a seu uso.
A telecomunicação está inclusa na TI e uma aplicação indispensável desta é a
conexão realizada entre um computador no ambiente de trabalho, ou não, desde
que tenha permissão através de validações de segurança, acesse outro computador na rede (mainframe) para obter dados para fluidez dos processos, pode
ser utilizado em todos os tipos de departamentalização citados baseando-se na
definição de departamentalização de Oliveira (2011a), uma vez que exigirá autenticação de usuário e requisição de dados por rede (seja local, ou não).
A distribuição eletrônica de software e documentos é o uso de um software
aplicativo instalado em servidor de arquivos que fornece outros softwares ou
documentos aos usuários requerentes, alterando diretamente a área de TI, uma
vez que não necessita de administrador de rede para constante atualização e
suporte a todos os computadores, já que este serviço torna-se centralizado.
4. Tendências para utilização de TI em organizações
Em Weill (2006) as novas tecnologias são apresentadas rapidamente ao merSILVA; MALAGOLLI. Um estudo... (p.67-78)
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cado e dinamizam o mesmo, sendo necessário a adaptação em tempo real e
essencialmente flexibilização da área de TI, para eventuais mudanças, requerendo a disposição de ferramentas e métodos de atuação específicos para a
organização e que realmente agreguem valores as atividades empresariais (diferenciação de produtos/ serviços disponíveis).
Tecnologias móveis, para serviços Web e sistemas empresariais (ERP) contribuem significativamente neste cenário.
Laudon e Laudon (2011), por exemplo, acredita em um futuro alternativo para
televisão tradicional, as redes de televisão NBC Universal, Fox e CNN aceitaram
a crescente popularidade da internet e sua capacidade de propagação de conteúdo e forneceram acesso ao conteúdo programático em seus próprios sites, assim
deixam de limitar o acesso somente a assinantes deste serviço e podem cobrar o
valor parcial referente ao programa. As empresas de televisão também modificam
suas operações e estruturação de processos de negócios a partir desta ideia de
permitir acesso online, pois envolve uma nova modalidade de serviço, online.
Outra vantagem inerente é a disponibilização ao usuário o seu conteúdo favorito
de maneira mais objetiva que se deve a verificar o perfil da conta do usuário e sua localização, oferecendo propagandas e serviços diferenciados em relação a este fator.
CONCLUSÕES
Não há dúvidas dos benefícios da implementação e uso de TI no contexto organizacional, porque a TI permite integração e comunicação dos componentes de
um sistema (organização) de maneira mais eficiente e precisa (OLIVEIRA, 2011a).
As boas práticas de administração devem incorporar efetivamente a TI pelos fatores determinantes de clareza e foco no planejamento estratégico e objetivar decisões de risco referentes às departamentalizações sempre visando suas vantagens e
desvantagens quanto às novas tecnologias. A departamentalização por si mesma é
agrupamento de recursos comuns e necessários para dar continuidade às operações
empresariais e melhor adaptação ao alinhamento estratégico (ALBERTIN, 2009).
As tendências podem se concretizarem ou não, por serem primeiramente teorias sobre futuro das tecnologias e produtos/serviços ofertados e por se tratarem
de análises comportamentais das tecnologias quanto ao alinhamento estratégico
e influências geradas no ambiente organizacional (LAUDON; LAUDON, 2011).
SILVA; MALAGOLLI. Um estudo... (p.67-78)
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AGRICULTURA FAMILIAR: UMA ALTERNATIVA AO CAPITALISMO –
ANÁLISE AO SISTEMA MANDALA
FAMILY AGRICULTURE: AN ALTERNATIVE TO CAPITALISM – ANALYSIS
OF MANDALA SYSTEM
Fabio Alexandre Cavichioli1
Aline Machado Dos Santos2
Manuela Gomes Prodóximo3
RESUMO
A sociedade atual demanda maior quantidade de alimentos, contudo a questão corrente é de que forma produzir alimentos saudáveis que não agridam o
meio ambiente. Dessa forma a agricultura familiar vem auxiliar os pequenos produtores a se manterem no mercado utilizando métodos orgânicos com uma plantação inovadora que permite produzir sem prejudicar o meio ambiente, como o
Sistema Mandala.
Palavras-chave: Agronegócio. Orgânicos. Sistema Mandala. Sociedade.
ABSTRACT
Nowadays, society demands more food, however the most important question
is how to produce healthy foods that do not harm the environment. Thus, family
farming has been supporting small farmers to keep on business using organic
methods with innovative techniques of planting to produce food without harming
the environment, this method is called Mandala System.
Keywords: Agribusiness. Mandala System.Organic.Society
1. Professor do Curso de Agronegócio da Fatec Taquaritinga. E-mail: [email protected].
2. Formanda do curso de Agronegócio da Fatec Taquaritinga. E-mail: [email protected].
3. Formanda do curso de Agronegócio da Fatec Taquaritinga. E-mail: [email protected].
Interface Tecnológica – volume 11 - número 1 - 2014
INTRODUÇÃO
A população mundial está sofrendo enormes transformações que futuramente
gerarão consequências econômicas e sociais (Carvalho, 2004). A existência de
países com alto poder econômico faz com que a as pessoas de todo o mundo
possam ter maior acesso aos alimentos, no entanto, países em desenvolvimento
são marcados por disparidades sociais incomuns (Conway, 1998).
A população mundial só tende a aumentar, considerando-se que juntamente
ao crescimento populacional deverá vir o aumento na geração de alimentos, no
entanto este acréscimo dependerá das condições das terras (Santana, Contini,
Martha, 2011). Por um lado o aumento populacional estimula o agronegócio,
apesar disso se o crescimento habitacional gerar maior erosão do solo ele vai
causar um decréscimo na distribuição de alimentos (Conway, 1998). A Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura, destaca a importância
da agricultura familiar na redução da pobreza, uma vez que ela é uma ferramenta eficaz que protege a segurança alimentar das futuras gerações.
O crescimento populacional é o principal dilema do futuro da humanidade, tentando entender de que maneira atingir as perspectivas alimentares de 9,2 bilhões
de pessoas até o ano de 2050 (ABROMOVAY, 2008). Produzir alimentos aliados à
agroecologia é o desafio atual. Juntamente a isso a agricultura familiar tem ganhado
espaço dentro do panorama atual uma vez que trata-se de um cultivo baseado no
núcleo familiar onde a mão de obra é toda oriunda da família podendo diversificar
portanto a produção e tendo maior lucro devido a variedade da produção (MARTINS,
2012). A diversificação existente pode ter maior valor agregado quando a produção
está voltada ao modo orgânico, pequenas propriedades obtém mais facilidade de
produzir alimentos livres de agroquímicos, pois a produção é mais bem controlada
quanto feita em menor escala (PADUA; SCHLINDWEIN, GOMES, 2013). O Sistema
Mandala é uma forma de produção de alimentos orgânicos, onde é feito o plantio de
maneira circular. Sua produção é sortida, já que cada círculo pode obter uma cultivar
diferente além de ser aliada com os animais (MARTINS, 2012).
Esse trabalho por sua vez teve por objetivo apresentar a importância da agricultura familiar no Agronegócio brasileiro, destacando a maneira como o plantio
de orgânicos por meio do Sistema Mandala, pode influenciar na agregação de
valor ao pequeno produtor familiar.
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1. Desenvolvimento
A agricultura familiar inclui todas as atividades agrícolas de base familiar e
está ligada a diversas áreas do desenvolvimento rural. O setor consiste em um
meio de organização das produções agrícola, florestal, pesqueira, pastoril e
aquícola que são gerenciadas e operadas por uma família e predominantemente
dependente de mão-de-obra familiar, tanto de mulheres quanto de homens.
O Brasil é marcado por agricultores familiares desde seu descobrimento, os
índios, escravos africanos, mestiços, brancos não herdeiros e imigrantes europeus, deram início a produção dos alimentos. Mesmo tendo características diferentes, o cinco integrantes do grupo que iniciaram a agricultura no país, todos
eles têm um aspecto em comum, obtinham posição secundária dentro do modelo
de desenvolvimento no Brasil desde sua origem. Os estímulos governamentais
eram dados às monoculturas de exportação enquanto que os pequenos produtores estavam à mercê das políticas públicas, o que gerou um setor bloqueado,
inapto ao desenvolvimento de suas potencialidades. (ALTAFIN, 2007).
O passar dos anos demonstrou a importância da agricultura familiar e isso
foi sentido diretamente nos incentivos governamentais, pois verificaram que os
problemas enfrentados pela agricultura familiar no Brasil e os detalhes do setor demandam políticas públicas constantes, que proporcionem aos pequenos
produtores competitividade, estimulando a permanência do homem no campo e
auxiliando no desenvolvimento regional (JUNQUEIRA; LIMA, 2008).
A agricultura familiar tem visão diferente de produção comparado ao modelo
patronal, nesse primeiro trata-se de uma organização produtiva onde os critérios
que são adotados para a exploração agrícola, não estão embasados somente
na ideia da rentabilidade econômica e da produção, é levado em consideração
as necessidades e os objetivos da família. Nesse ramo não há separação entre
a administração e o trabalho, todos estão ligados em um elo comum (TINOCO,
2006). Algumas características se destacam nas diferenças entre o produtor familiar e o empresário capitalista, o primeiro de certa forma, necessita produzir
de qualquer modo, independentemente da maneira em que o mercado age, uma
vez que essa atividade é sua principal fonte de renda, contudo o segundo tem
mais liberdade em decidir onde fazer seu investimento de capital. Outra característica trata-se da lógica de que o empresário capitalista pode “despedir” funCAVICHIOLI; SANTOS; PRODÓXIMO. Agricultura... (p.79-90)
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cionários desde que os mesmos estejam dispendiosos demais, todavia na agricultura familiar isso não é possível, pois os seus trabalhadores são os próprios
membros da família (FINATTO; SALAMONI, 2008). A agricultura familiar vem
ganhando espaço no cenário agrícola, e pode ser definida segundo o Ministério
do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, como uma forma de produção
onde predomina a interação entre gestão e trabalho; são os agricultores familiares que dirigem o processo produtivo, dando ênfase na diversificação e utilizando o trabalho familiar, eventualmente complementado pelo trabalho assalariado.
A agricultura familiar cria, inova, produz e também alimenta o País. São mais de
quatro milhões de unidades familiares distribuídos entre os 26 estados e o Distrito Federal que alimentam a população nacional, contribuindo com a economia
brasileira em 33% do Produto Interno Bruto (PIB) Agropecuário e com 74% da
mão de obra empregada no campo.
Segundo Almeida, Jesus e Vieira (2013) apontam, no Brasil a agricultura familiar é responsável pela produção de 87% da produção nacional de mandioca,
70% da produção de feijão, 46% do milho, 38% do café, 34% do arroz, 21% do
trigo e, na pecuária, 60% do leite, 59% do plantel de suínos, 50% das aves e
30% dos bovinos.
Dentro das atividades desenvolvidas pela agricultura familiar, podemos citar
que as especificidades dela também a qualificam a dar contribuições singulares
no campo ambiental. Dentre essas formas de contribuição podem ser destacadas a adoção de sistemas produtivos energeticamente mais eficientes; o uso de
sistemas que respeitam a harmonia ambiental e as espécies; modos de produção orgânica e agroecológica; e, ainda, maior contribuição para manutenção dos
chamados “serviços” prestados para a natureza.
Tamanha a importância desse tipo de agricultura, que a ONU (Organização
das Nações Unidas), na Assembleia Geral, em dezembro de 2011, instituiu o
AIAF 2014 (Ano Internacional da Agricultura Familiar), para expandir e tornar
esse segmento conhecido em todo mundo (BONTEMPO, 2014).
Projetos que estimulem a implantação da agricultura familiar estão sendo encorajados por todo o país por meio das políticas públicas, que por sua vez, são
conhecidas como as atitudes tomadas pelo governo para analisar uma ação ou
até mesmo fomentar algo e se necessário determinar mudanças no rumo dessas
ações, objetivando uma resolução pacífica de conflitos (SOUZA, 2008). Junqueira
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e Lima (2008) atestam que as políticas públicas que envolvem gastos públicos capazes de diminuir os custos de produção e garantir viabilidade ao setor produtivo
melhoram as condições estruturais de crescimento e desenvolvimento do mercado local. Desta forma, a existência de políticas públicas que incentivam a agricultura familiar geram desenvolvimento ao setor como diminuição na capitalização,
decréscimo de empecilhos no acesso ao crédito e acesso às novas tecnologias.
Nas últimas quatro décadas a agricultura familiar foi beneficiada com políticas
públicas direcionadas para públicos específicos que possuem características diferentes que beneficiaram centenas de famílias, como o PRONAF (Programa
Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar), o programa mais popular
da agricultura familiar que disponibiliza crédito permitindo acesso aos recursos
financeiros do agricultor. A ATER (Assistência Técnica e Extensão Rural), compreende na assistência técnica às pequenas propriedades rurais. O PAA (Programa de Aquisição de Alimentos) permite que a população que vive em situação
de insegurança alimentar possa ter acesso aos alimentos de origem da agricultura familiar, fomentando-a, portanto (BRASIL, 2013).
O encorajamento dado ao pequeno agricultor por meio de auxílios do governo, vai além do que a subsistência, agrega também a preocupação com o meio
ambiente, a maneira que se deve interagir com o meio que está inserido. E isso é
notado por meio do programa PAIS (Programa Agroecológica Integrada e Sustentável), que por sua vez destaca uma produção livre de agrotóxicos, respeitando a
sustentabilidade e direcionada apenas aos agricultores familiares (BRASIL, 2008).
2. Agricultura familiar e alimentos orgânicos
A agroecologia trata-se de uma ciência em modificação, onde é incorporado
o conhecimento tradicional com o conhecimento de outras ciências, a sustentabilidade por sua vez, busca demonstrar que há como produzir gerando efeitos
mínimos ao meio ambiente e sem liberar substâncias tóxicas e nocivas à atmosfera, além de conservar e respeitar a diversidade biológica compreende também
o uso de maneira correta da água (FEIDEN, 2005).
O surgimento desses novos termos vem trazendo novas perspectivas à agricultura, com visões positivas que respeitam o meio ambiente, direcionando a
produção de alimentos, ao caminho da sustentabilidade. Assim demonstrando,
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que de fato é possível a existência de uma agricultura sustentável desde que ela
seja aliada a agricultura orgânica (PADUA; SCHLINDWEIN; GOMES, 2013).
A produção orgânica tem se tornado ainda mais comum dentro da agricultura familiar. Os alimentos orgânicos são os que estão livres de substâncias que
coloquem em risco a saúde humana e o meio ambiente, como por exemplo,
agrotóxicos, fertilizantes sintéticos solúveis e transgênicos (BRASIL, 2014). Ramos (2013), destaca a importância e os benefícios causados pelo consumo de
alimentos livre de agroquímicos: proteção à saúde; maior valor nutricional; sabor
e aroma mais intensos; certificação de origem, o tornando sempre um produto
confiável; proteção às futuras gerações de contaminações químicas; elimina a
probabilidade de erosão do solo; proteção da qualidade da água; restauração
da biodiversidade, protegendo a vida animal e vegetal; e por fim o auxílio aos
pequenos produtores.
Na maioria das vezes, a produção de alimentos orgânicos provém de pequenos agricultores, uma vez que o controle permanece mais fácil porque é produzido em menor escala, além de trazer uma renda extra ao trabalhador, pois o
alimento quando orgânico tem valor agregado frente aos outros. O aumento do
consumo de alimentos livres de agroquímicos, aliado ao valor agregado embutido neles, gera expansão e criação de renda aos agricultores familiares.
A produção orgânica por meio de pequenos agricultores é vantajosa, conforme destaca Campanhola e Valarini (2001), alguns argumentos são utilizados
afim de sustentar a afirmação.
O primeiro argumento baseia-se na ideia de que as commodities agrícolas requerem maior escala de produção para que o preço seja compensatório, o que não
é visto em pequenas propriedades, contudo a produção orgânica requer menor
dimensão, mesmo demandando um número maior de mão de obra e apresentando
um número menor de produtividade, a produção orgânica, atinge um nicho de mercado que está disposto a pagar o preço para conquistar o produto, e obtém custos
de produção menores devido a redução no consumo de insumos, que é associada
a maior facilidade de manejo dos sistemas produtivos devido a menor área cultivada, maiores relações benefício-custo e, portanto maiores rendas efetivas.
O segundo argumento trata-se do segmento de mercado que os alimentos
orgânicos vêm atender. Trata-se de um nicho restrito e seleto que se dispõe a
pagar um sobrepreço sobre esses produtos. Beneficiando os pequenos produCAVICHIOLI; SANTOS; PRODÓXIMO. Agricultura... (p.79-90)
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tores que podem disponibilizar seus produtos em pequenos comércios locais o
que facilita a integração entre o produtor e o consumidor, gerando uma relação
de confiança e credibilidade entre ambas as partes.
O terceiro argumento por sua vez, aborda a possível inserção dos agricultores
familiares nas redes nacionais, que pode se tornar mais forte quando aliada à
outros produtores, que juntos por meio de uma cooperativa, por exemplo, podem
facilitar ações de marketing, implantação de selos de qualidade, negociação nas
operações de venda e de gestão das atividades produtivas.
O quarto argumento refere-se à oferta de produtos especializados, normalmente produzidos por pequenos produtores, como é o caso das plantas medicinais e as hortaliças.
O quinto argumento diz respeito à vantagem imposta ao pequeno agricultor quando comparado aos demais grupos de produção, devido à diversificação
existente na produção orgânica e a diminuição da dependência de insumos externos ao estabelecimento, condições essas que geram barreiras aos grandes
produtores orgânicos. A diversificação existente em pequenas propriedades gera
ao agricultor familiar a vantagem de se estabilizar durante todo o ano, já que sua
sazonalidade é diminuída e ao mesmo tempo é aumentada a sua segurança,
porque há redução nos riscos de quebras de renda devido à flutuação de preços.
3. Agricultura familiar e o sistema de plantio Mandala
Várias formas de plantio foram criadas, afim de que fossem aliadas à sustentabilidade, tentando de certa forma produzir de forma mais coerente com
o meio em que está inserido. Os novos métodos de plantio veem em busca
do auxílio ao meio ambiente aliado à pratica de agricultores familiares, como
é o plantio Mandala.
Mandala é uma palavra de origem indiana, que consiste em um desenho composto por figuras geométricas concêntricas. Muitos acreditam ser um sistema
semelhante ao sistema solar com nove círculos ao redor representando os planetas. Do ponto, de vista religioso, é uma representação do ser humano e do
universo e seu desenho pode ser empregado em outras funções
A tecnologia adquirida nesse método encaixa-se dentro da tecnologia ambiental, onde os conhecimentos, técnicas, métodos, processos, experiências e
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equipamentos, são utilizados dentro dos recursos naturais de forma sustentável,
permitindo dessa maneira a disposição adequada dos dejetos industriais não
degradando o meio ambiente (LUSTOSA, 2002).
Magalhães, Falcão e Sobrinho (2012), apresentam o sistema Mandala como um
dos mais importantes modelos que utilizam os métodos tecnológicos apropriados
para a aplicação em pequenas propriedades rurais, a estratégia permite que o produtor tenha diversificação de produção além de produzir alimentos para sua família.
O Sistema Mandala consiste em uma forma de produção de alimentos de
maneira circular, diferentes dos desenvolvidos pela agricultura convencional,
permitem às plantas se ajudarem mutuamente, trabalhando os conceitos de
cortinas quebra ventos, de plantas repelentes a insetos, e o controle ecológico
de insetos pragas assim como de doenças e plantas invasoras. (MARTINS,
2012). A produção pode ser feita até mesmo em uma área de 50x50 metros,
e tudo é em formato de anéis. No centro um reservatório de água com uma
planta circular em formato de funil, além do fornecimento de água, esse reservatório pode ser utilizado para a produção de animais como peixes, patos e
marrecos, o que enriquece organicamente a água do reservatório (BARROS &
MORAES, 2009). Trata-se de um processo modular, onde é necessário que o
primeiro círculo esteja produzindo para que os demais possam continuar com
o processo. A água presente no reservatório, servirá para irrigação das culturas
por meio de gotejamento ou aspersão, métodos esses que podem ser menos
dispendiosos se for utilizado garrafas pets ou aspersores feitos com hastes de
cotonetes (MARTINS, 2012).
Os demais círculos são destinados a plantação de culturas juntamente com a
criação de alguns animais que gerarão estercos que podem ser utilizados para
a adubação do solo. Barros e Moraes (2009), atestam que os três primeiros
círculos destinam-se a produção de plantas medicinais e hortaliças, que vem a
atender às necessidades da família. Os cinco anéis seguintes, podem ser designados à produção de culturas complementares, como o milho, feijão verde, abóbora e frutíferas, cuja venda pode gerar maior agregação à renda do produtor. O
último anel é destinado à proteção do sistema com cercas vivas e quebra-ventos, que são utilizados como forma de melhorar a produtividade e prover parte da
alimentação animal, e também oferece os nutrientes necessários à recuperação
do solo (MARTINS, 2012).
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A introdução de toda a família no campo é permitida através dessa técnica,
pelo processo educativo impulsionando o desenvolvimento de práticas conservacionistas, como a permanência do homem no campo, melhorando, portanto
a convivência do ser humano com o campo (PINHEIRO, et al 2013).A renda
aumentada por meio da diversificação da produção obtida no sistema, permite
que o agricultor possa ter uma melhor oportunidade de vida em seu habitat,
melhorando dessa forma o trabalho, a alimentação e a renda. O meio ambiente
por sua vez é beneficiado juntamente com as pessoas, o que geram juntos um
empreendimento produtivo, que diminui o êxodo rural, desmatamento e degradação, facilitando consequentemente a reestruturação econômica, social e ambiental dessas regiões (MAGALHÃES, 2012).
Magalhães (2012), apresenta o sistema Mandala como uma pedra quando
atirada na água, uma vez que assim que isso é feito, são formados círculos
concêntricos, em um movimento crescente e equilibrado, da mesma forma que
deseja-se que o Mandala seja, um desenvolvimento harmônico das comunidades e de seus habitantes, onde a sustentabilidade deve estar integrada aos agricultores familiares, iniciando-se no campo, em pequenas propriedades e dessa
forma alcançados cidades, os estados e por fim, todo o país.
CONCLUSÃO
O presente trabalho buscou demonstrar a importância da agricultura familiar
no agronegócio brasileiro e de que forma ele pode obter maior espaço no mercado se aliado com a plantação orgânica, juntamente com o sistema Mandala
devido a agregação de valor nesse nicho. Analisando por sua vez o Sistema
Mandala apresentando que a sua produção pode ser uma estratégia para o desenvolvimento da agricultura familiar em todo o território brasileiro.
Percebeu-se que ainda são escassas as literaturas que tratem a cerca do Sistema Mandala, contudo a sua implementação é de fácil manejo e de baixo custo,
necessitando de uma pequena propriedade, sendo que dessa forma percebe-se
o dever de se obter mais artigos relacionados sobre o assunto, além de demonstrar de que forma a união da agricultura familiar com o Sistema Mandala pode
ser benéfico ao pequeno agricultor.
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RELAÇÃO FOLHA-COLMO DE BRACHIARIA BRIZANTHA
FERTIRRIGADA COM EFLUENTE DE ESGOTO TRATADO
LEAF/STEM RATIO BRACHIARIA BRIZANTA FERTIGATION WITH TREATED
SEWAGE EFFLUENT
Gilmar O. Santos1
Rogério T. de Faria2
Gilberto A. Rodrigues3
Anderson de Souza4
Alexandre B. Dalri5
RESUMO
No sistema de pastejo, as folhas de forrageiras constituem a principal fonte de
nutrientes para os ruminantes e seu crescimento ocorre em função do estado
nutricional da planta. Neste trabalho, avaliaram-se a relação folha-colmo (F/C) da
Braquiária brizanta cultivada com doses de efluente de esgoto tratado (EET), no
ano de 2013, em Jaboticabal, SP. Utilizou-se um sistema de aspersão em linha
tripla com lâmina uniforme de irrigação, mas gradual de EET, em cinco tratamentos, quatro repetições, com as seguintes frações do efluente em água: E1=0,11;
E2=0,31; E3=0,6; E4=0,87 e E5=1,0. A aplicação de EET visou suprir a necessidade de nitrogênio durante os ciclos de corte (28 dias). Foram aplicadas, durante
o experimento, 1.843 mm de EET, proporcionais às seguintes quantidades de
nutrientes (kg ha-1), no tratamento E5: N=931, P=27, K=315, Ca=258, Mg=92,
Na=894, SO=369, Fe=7, Mn=1 e Zn=11. Os demais tratamentos receberam
quantidades proporcionais às frações de aplicação definida em cada tratamento.
Houve adubação complementar em todos os tratamentos para P e K de 128 e 554
1. Doutor em Agronomia, Depto. Engenharia Rural, Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias (FCAV-UNESP), Jaboticabal-SP. E-mail: [email protected].
2. Doutor no Depto. Engenharia Rural, Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias
(FCAV-UNESP), Jaboticabal-SP. E-mail: [email protected].
3. Docente na Faculdade de Tecnologia de Taquaritinga. E-mail: [email protected].
4. Gestor em Agronegócios, FATEC Taquaritinga-SP. E-mail: [email protected].
5. Doutor no Depto. Engenharia Rural, Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias
(FCAV-UNESP), Jaboticabal-SP. E-mail: [email protected].
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kg ha-1 ano-1, respectivamente. A relação F/C média foi maior no outono-inverno
(17,4:1) em relação à primavera (14,1:1) e verão (4,9:1), embora tenha ocorrido
resposta quadrática de F/C às doses de EET, com valores mais elevados de
F/C na dose E3 no outono-inverno e E2 e E3 na primavera e verão. Doses de
nitrogênio com maior relação F/C foram obtidos com 130, 170 e 140 kg ha-1 de N
correspondendo a relação F/C de 5,8:1, 26,0:1 e 17,5:1 no verão, outono-inverno
e primavera, respectivamente. Através do modelo proposto, a altura de planta
obtida em função da adubação nitrogenada reduziria a amplitude da relação F/C
para 5,5:1, 22,9:1 e 14,9:1 no verão, outono-inverno e primavera, respectivamente. Dentre os manejos de pastagem que proporcionam melhor relação F/C, resta
ao gestor à escolha da forma que mais se adequa a sua situação.
Palavras-chave: Água residuária. Produção de forragem. Relação folha-colmo.
Gestão agropecuária.
ABSTRACT
In grazing systems, forage leaves are the main source of nutrients for ruminants
and their growth is a function of plant nutritional status. This study evaluated whether the leaf-stem ratio (L/S) of Brachiaria brizanta cultivated with doses of treated sewage effluent (TSE) in 2013, Jaboticabal, SP. We used a sprinkler system
in line with triple blade uniform irrigation , but gradual TSE in five treatments, four
replications, with the following fractions of the effluent water: E1=0,11; E2=0,31;
E3=0,6; E4=0,87 and E5=1,0. Applying TSE aimed to meet the need of nitrogen during cutting cycles (28 days). During the experiment 1,843 mm TSE were
applied, applying the following amounts of nutrients (kg ha-1), in the treatment
E5: N=931, P=27, K=315, Ca=258, Mg=92, Na=894, SO=369, Fe=7, Mn=1 and
Zn=11. The other treatments received quantities proportional to the fractions of
application defined to each treatment. There were additional fertilizers in all treatments for P and K of 128 and 554 kg ha-1 year-1, respectively. The average L/S
ratio was higher in fall-winter (17,4:1) compared to spring (14,1:1) and summer
(4,9:1). Although there was a quadratic response of L/S at doses of TSE, with
higher values of L/S at the dose fall-winter E3 and E2 and E3 in the spring and
summer. Nitrogen with higher L/S ratio were obtained with 130, 170 and 140 kg
SANTOS; FARIA; RODRIGUES; SOUZA; DALRI. Relação... (p.91-105)
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ha-1 of N corresponding to the L/S ratio of 5.8:1, 26,0:1 and 17.5:1 in summer,
fall-winter and spring, respectively. Through the proposed model, the plant height
obtained as a function of nitrogen fertilization would reduce the amplitude of L/S
ratio to 5.5:1, 22,9:1 and 14,9:1 in summer, fall-winter and spring, respectively.
Among the management practices that lead to improved pasture L/S ratio, remains the manager to choose the form that most suits his/her situation.
Keywords: Wastewater. Forage production. Leaf-stem ratio. Agricultural management.
INTRODUÇÃO
O uso das águas residuárias na agricultura vem se tornando uma prática comum devido aos benefícios sociais, econômico, ambiental e agronômico que a
atividade oferece. A fertirrigação proporciona melhor desenvolvimento da forrageira devido à disponibilidade de nutrientes à planta, possibilitando produção de
material de melhor qualidade (SANTOS et al., 2014b).
O custo nutricional da alimentação dos ruminantes pode chegar a 60% do seu
custo total, o que torna justificável o manejo de pastagens visando à maximização de produção de forragem e melhor valor nutritivo (DUTRA e CARVALHO,
2009). O uso de efluente de esgoto tratado (EET) como fertirrigação na Brachiaria brizantha cv. Marandu apresentou redução de custos com fertilizantes
químicos em até R$ 786,00 aplicando 600 kg ha-1 ano-1 (SANTOS et al., 2013).
Além da redução de custos, doses graduais de EET tem proporcionado aumento de produção de biomassa seca. Santos et al. (2014a) utilizando EET na
produção de Brachiaria brizantha aplicou 931, 817, 564, 287 e 102 kg ha-1 ano-1
de nitrogênio e obteve produções de biomassa seca de 47,4, 45,2, 36,9, 33,8 e
31,3 t ha-1 ano-1, respectivamente.
O uso de fertilizante nitrogenado em forrageiras favorece o pleno desenvolvimento vegetativo, além de influenciar positivamente o seu perfilhamento. Forrageiras quando cultivadas sob doses crescentes de adubação nitrogenada
apresentam maior altura de planta e, consequentemente, maior produtividade
de biomassa (CARARD et al., 2008). Valores elevados da relação folha-colmo
resultam em maior valor proteico da forragem, melhor digestibilidade e consumo,
além de favorecer a gramínea com melhor adaptação ao corte (RODRIGUES et
SANTOS; FARIA; RODRIGUES; SOUZA; DALRI. Relação... (p.91-105)
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al., 2008). De acordo com Pinto et al. (1994), considera-se como limite crítico a relação folha-colmo igual a 1,0, com vistas na quantidade e qualidade da forragem.
No manejo de pastagem, além do aumento da massa seca da forragem, deve-se
obter maior relação folha-colmo, pois as folhas consistem na principal fonte de nutrientes
aos ruminantes. O propósito é que a maior proporção de volumoso na dieta animal seja
provida por folhas em vez de colmo e material morto (DUTRA e CARVALHO, 2009).
O aumento da relação folha-colmo (F/C) pode ser obtido pela menor altura
da forragem, ocasionando menor fração colmo e maior alongamento das folhas
(DUTRA e CARVALHO, 2009). Para Pinto et al. (1994) com o avanço do desenvolvimento da planta forrageira, ocorre o alongamento do caule e a fração folha
é reduzida progressivamente, havendo maior aporte de assimilados na parte
reprodutiva da planta que na vegetativa, resultado na redução da relação F/C.
Rodrigues et al. (2008) explica que culturas de hábito de crescimento ereto,
assim como a Brachiaria, tem alongamento do colmo, resultando no aumento de
produção de biomassa, porém com baixa relação F/C, comprometendo a qualidade da forragem e reduzindo o ganho de peso animal.
Neste trabalho, avaliou-se a relação F/C da Brachiaria brizantha cv. Marandu
cultivada com fertirrigação através de EET, no ano de 2013, em Jaboticabal, SP,
como ferramenta de auxílio na gestão agropecuária.
1. Material e métodos
O experimento foi conduzido na Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias (FCAV-UNESP), em Jaboticabal, SP (latitude 21°14’41,9”S e longitude
48°16’25.2”O). Utilizou-se efluente proveniente da Estação de Tratamento de Esgoto (ETE) Dr. Adelson Taroco, localizada próxima à área experimental. Essa ETE
coleta esgoto da cidade de Jaboticabal, cujo município possui 71.662 habitantes,
área territorial de 707 km2 e densidade demográfica de 101,4 hab km-2 (IBGE, 2010).
De acordo com a classificação climática de Köppen, Jaboticabal apresenta clima subtropical úmido, Aw, com inverno seco e ameno e verão quente e chuvoso
(ROLIM et al., 2007) com temperatura média anual de 22,2°C, precipitação média de 1.425 mm ano-1 e deficiência e excedente hídrico de 56 e 400 mm ano-1,
respectivamente. As condições climáticas durante o período experimental são
apresentadas no quadro 1.
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Estações do ano
Temperatura do ar
Umidade
do ar (%)
Radiação
global
(MJ m-2)
Precipitação
(mm)
ETo
(mm)
mín
máx
med
Verão
14,6
35,0
23,8
76,9
2.195
748
487
Outono-Inverno
4,6
31,3
20,0
69,2
1.935
221
388
Primavera
5,4
35,9
22,8
63,6
2.130
424
523
Quadro 1. Características climáticas médias do município de Jaboticabal, SP.
Fonte: Santos et al. (2013).
O solo da área experimental é Latossolo Vermelho eutroférrico típico, com textura muito argilosa, A moderado, caulinítico, relevo suave ondulado e ondulado
(ANDRIOLI e CENTURION, 1999).
O experimento foi conduzido em área útil de 288 m2, constituídas de 20 parcelas de 14,4 m2, com 2,4 m de largura e 6 m de comprimento. Distribuição
uniforme da lâmina de irrigação e gradual de EET foi obtida com um sistema
de aspersão em linha tripla, possibilitando definir cinco tratamentos, em quatro
repetições, com as seguintes frações do efluente em água: E1=0,11; E2=0,31;
E3=0,6; E4=0,87 e E5=1,0 (Figura 1).
Figura 1. Esquema experimental com as linhas de distribuição gradual de EET em água.
Fonte: Santos et al. (2013).
SANTOS; FARIA; RODRIGUES; SOUZA; DALRI. Relação... (p.91-105)
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As lâminas de irrigação foram de 678, 500 e 665 mm no verão, outono-inverno
e primavera, respectivamente, aplicando os respectivos nutrientes (quadro 2) no
tratamento E5 via EET.
Estações do ano
N
P
K
Ca
Mg
Na
SO
Fe
Mn
Zn
(kg ha-1)
Verão
308
15
107
89
30
341
134
3
0
3
Outono-Inverno
258
5
83
68
24
242
98
2
0
2
Primavera
365
7
125
101
38
311
137
2
1
7
Total
931
27
315
258
92
894
369
7
1
11
Quadro 2. Nutrientes aplicados via efluente de esgoto tratado no ano de 2013.
Fonte: Santos et al. (2013).
Os demais tratamentos receberam quantidades proporcionais às frações de
aplicação definida em cada tratamento. Houve adubação complementar em todos os tratamentos por P e K de 128 e 554 kg ha-1 ano-1, respectivamente.
A produção de biomassa foi determinada a partir de colheitas realizadas a
cada 28 dias, com 4 colheitas no verão, 5 no outono-inverno e 4 na primavera.
Colheram-se amostras de forragem a 15 cm de altura com auxilio de um gabarito
(0,25 m2) lançado aleatoriamente em três repetições na parcela, com quatro por
tratamento. Da forragem colhida foram retiradas amostras para determinação de
umidade, após a pesagem do material em estufa com circulação de ar forçada,
determinando-se a biomassa a 65°C até peso constante.
Separou-se a folha do colmo na bainha e obteve a relação F/C, como segue:
F/C =
Bf
Bc
em que, F/C: Relação folha-colmo (F:C); Bf: Biomassa total em folha (%) e Bc:
Biomassa total em colmo (%).
A altura de planta foi determinada semanalmente através do lançamento de
folhas de acetato ao acaso com seis repetições por parcela (14,4 m2).
A espacialização dos dados de altura de planta em função dos tratamentos foi
realizada a partir do software Surfer v.8.
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2. Resultados e discussão
A biomassa média anual de folhas dos tratamentos representou 88 a 92% da
biomassa total, indicando ser inferior a 12% a contribuição de colmos. A biomassa média de folhas dos tratamentos por estação do ano representou 79 a 87% da
biomassa total no verão, 92% a 96% no outono-inverno e 90 a 95% na primavera
da massa seca de forragem manejada com altura mínima de 15 cm.
No verão, a proporção de massa de folhas foi mais elevada no tratamento E2
(87,2%) em relação ao demais (79 a 83%). No outono inverno, houve comportamento semelhante, porém nos tratamentos E5 e E3 (95,1 e 96,3%), em relação
aos demais (92 a 93,9%). Na primavera os valores foram ligeiramente inferiores
para E5 (90,3 %) e similares entre os demais (92,2 a 94,6%). Consequentemente,
a relação F/C foi similar para os tratamentos em ambas as estações (Figuras 2 e 3).
Figura 2. Frações médias de biomassa de folhas e colmos em relação à biomassa total e relação F/C de Brachiaria brizantha no verão (a), outono-inverno (b),
primavera (c) e média anual (d).
Fonte: Santos et al. (2014a).
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Figura 3. Relação folha-colmo da Brachiaria brizanthafertirrigado com doses de
nitrogênio via EET no ano de 2013.
Fonte: Santos et al. (2014b).
SANTOS; FARIA; RODRIGUES; SOUZA; DALRI. Relação... (p.91-105)
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Períodos de crescimento vegetativo das forrageiras se caracterizaram com
menor relação folha-colmo em função do maior alongamento do colmo. A redução das atividades metabólicas das plantas proporcionou maior relação folha-colmo em função da maior produção de biomassa de folhas (Figura 4).
Figura 4. Relação F/C em função das doses de nitrogênio via EET aplicado no
ano de 2013.
Fonte: Santos et al. (2014b).
O verão caracterizou-se como a estação com maior proporção de biomassa
em colmo. As condições climáticas favoráveis para o crescimento vegetativo proporcionou maior altura de planta no período, consequentemente maior alongamento do caule e menor relação F/C.
O outono-inverno caracterizou-se com a maior produção de biomassa em folhas e menor em colmo. A melhor relação F/C no tratamento referência (E3).
O menor crescimento da forragem neste período, ocasionada pelas condições
climáticas (baixas temperaturas e redução na radiação solar), tem como consequência a redução no alongamento do colmo, resultando em maior relação F/C.
Na primavera, doses acima de 170 kg ha-1 de nitrogênio favoreceram no
crescimento da planta, causando menor relação F/C em função do aumento da
quantidade de colmo. A redução nas doses de EET nos tratamentos E2 e E1 no
mesmo período resultaram em menor desenvolvimento reprodutivo da forrageiSANTOS; FARIA; RODRIGUES; SOUZA; DALRI. Relação... (p.91-105)
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ra, elevando a relação F/C. Doses superiores de EET nos tratamentos E4 e E5
favoreceram no crescimento da forrageira, alongando o colmo e consequentemente reduzindo a relação F/C.
Neste período, as altas temperaturas promoveram maior crescimento da planta e, consequentemente, maior alongamento do colmo em função da competição
por radiação solar, resultando em aumento médio de produção de biomassa de
até 84% em relação ao outono-inverno. O rápido alongamento do colmo ocasionado pelas altas temperaturas reduz a digestibilidade da biomassa pelos bovinos. Apesar de menor produção de biomassa no outono-inverno em relação
ao verão e a primavera (SANTOS et al., 2014b), este fato foi compensado pela
maior relação F/C, favorecendo a maior concentração de nutrientes destinados
a alimentação em sistema de pastejo.
Assim, as doses de nitrogênio com maior relação F/C foram obtidas com 130,
170 e 140 kg ha-1 de N correspondendo a relação F/C de 5,8,:1,26,0:1 e 17,5:1
no verão, outono-inverno e primavera, respectivamente.
Rodrigues et al. (2008) avaliando a relação F/C em função de doses crescentes de nitrogênio (0 a 225 mg dm-3) e potássio (50 e 100 mg dm-3) da Brachiaria
brizantha cv. Xaraés em vaso, com altura de corte as 10 cm com intervalo médio
de 28 dias, obteve equação quadrática positiva em ambos os manejos adotados,
com valores decrescentes até a dose de 150 mg dm-3de nitrogênio aplicado,
independente da dose de potássio aplicada. Os autores explicam que maiores
doses de nitrogênio favoreceram ao maior crescimento da planta e alongamento
dos colmos, reduzindo a relação F/C de 20:1 para 5:1.
No outono-inverno, há uma altura de forragem ideal para que se atinja maior
relação F/C, sendo que no verão e na primavera, o aumento na altura da forragem reduziu a relação F/C (Figura 5).
Para o manejo de pastagem, a melhor relação F/C é obtida no outono-inverno quando a forrageira atingir 26 cm e 24 cm na primavera, sendo que maiores
alturas de corte promovem menor relação F/C. No verão, a crescente altura da
forragem, ocasiona a redução da relação F/C. No entanto, altura de 26 cm, favorece no manejo da pastagem e proporciona relação F/C de 18:1, no verão.
Resultados semelhantes foram obtidos por Dutra e Carvalho (2009).
SANTOS; FARIA; RODRIGUES; SOUZA; DALRI. Relação... (p.91-105)
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Figura 5. Correlação entre a altura de planta e a relação F/C no ano de 2013.
Fonte: Santos et al. (2014b).
No verão, doses de EET proporcionaram efeitos similares entre os tratamentos na relação F/C, sendo o tratamento E2 com melhor produção de biomassa
em folha em relação ao colmo.
No outono-inverno, a forrageira cessa o crescimento reprodutivo, favorecendo
na expansão foliar e consequentemente maior relação F/C. O uso de EET concentrado (E5) proporcionou maior relação F/C em relação aos demais tratamentos, exceto para o E3 que foi significativamente superior em até 34% em relação
tratamento E5 no mesmo período.
Na primavera, período de crescimento reprodutivo e vegetativo, além da expansão foliar, o crescimento do caule é acentuado, reduzindo a relação F/C,
principalmente nos tratamentos E5 e E4.
Resultados semelhantes foram obtidos por Dutra e Carvalho (2009) avaliando
a relação F/C do capim mulato em diferentes alturas de corte (10, 20, 30 e 40
cm), irrigado e adubado com 350 kg ha-1 de nitrogênio mineral, obteve alturas
de corte de 19,1, 29,1, 41,8 e 50,4 cm e relação F/C de 2,37, 1,61, 1,20 e 1,03.
Rodrigues et al. (2012) avaliando a produção e a morfologia do capim Brachiaria brizantha cv. Xaraés sob doses de nitrogênio (0, 75, 150 e 225 mg dm-3)
e fósforo (0, 140 e 280 mg dm-3) em casa de vegetação, com cortes a cada 25
dias não obteve influencia significativa em função das doses de fertilizantes em
SANTOS; FARIA; RODRIGUES; SOUZA; DALRI. Relação... (p.91-105)
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nenhum corte, atribuindo o fato ao curto intervalo entre cortes possivelmente
tenha sido curto.
No entanto, Abreu et al. (2004) avaliando a relação folha-colmo da Brachiaria
humidícula submetida à diferentes idades de rebrota e doses de nitrogênio e potássio, obtiveram melhor relação folha-colmo aos 28 dias, considerando a planta
inteira (cortes rente ao solo) de 0,9:1.
A relação entre doses de nitrogênio e altura de planta apresentou crescimento
contínuo em função das doses aplicadas, porém como já citado, há doses ideais
que possibilita melhor relação F/C (Figura 6).
Figura 6. Correlação entre as doses de nitrogênio e a altura de planta no ano de 2013.
Fonte: Santos et al. (2014b).
Com a aplicação de 130, 170 e 140 kg ha-1 de nitrogênio espera-se a altura
de planta média de 37,5, 25,3 e 33,5 cm no verão (R2=0,9839), outono-inverno
(R2=0,9982) e primavera (R2=0,9971), respectivamente. O manejo adotado superestimaria a dose ideal de adubação nitrogenada em forrageiras proposta por
Costa et al. (2006) que é de 350 kg ha-1 ano-1.
Através do modelo proposto, a altura de planta obtida em função da adubação
nitrogenada reduziria a amplitude da relação F/C de 5,8, 26,0 e 17,5 para 5,5,
22,9 e 14,9 no verão, outono-inverno e primavera, respectivamente.
SANTOS; FARIA; RODRIGUES; SOUZA; DALRI. Relação... (p.91-105)
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Interface Tecnológica – volume 11 - número 1 - 2014
O crescimento médio diário da Brachiaria brizantha foi de 0,9, 0,4 e 0,7 cm,
no verão, outono-inverno e na primavera, respectivamente, desconsiderando a
vegetação remanescente de 15 cm, sendo que os tratamentos com maior disponibilidade de nitrogênio apresentaram tendência positiva, chegando a 1,0 cm
dia-1 no verão (E5).
Assim, o uso de EET na Brachiaria brizantha tem-se mostrado eficiente na
relação F/C, gerando uma importante informação no meio agronômico como ferramenta de auxílio no manejo da pastagem fertirrigada.
CONCLUSÕES
Níveis graduais de EET proporcionaram maior relação F/C (>3,9:1), portanto
o manejo da reposição da demanda hídrica e nutricional da forrageira via EET
apresentou maior relação F/C.
O tratamento E3 (EET=0,6) proporcionou as melhores relações F/C nas estações outono-inverno e verão.
Os constantes cortes e o manejo adotado com cortes a 15 cm proporcionaram
alta relação F/C, sendo uma alternativa de manejo agrícola adequada.
AGRADECIMENTOS
À Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo - FAPESP pela
ajuda financeira e ao Serviço Autônomo de Água e Esgoto de Jaboticabal SAAEJ pela disponibilidade do efluente
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II SEMANA DA MELHOR IDADE DA FATEC TAQUARITINGA:
RELATO DE ATIVIDADES
II BEST AGE WEEK OF FATEC TAQUARITINGA: ANALYSIS AND RESULTS
Patrícia Gonçalves Primo Lourençano1
Daniela Gibertoni2
Ana Teresa Colenci Trevelin3
RESUMO
Dados da Organização Mundial da Saúde (2005) apontam que o Brasil terá uma
população de aproximadamente trinta milhões de pessoas com sessenta anos
ou mais em pouco tempo. Estas pessoas merecerem atenção especial, de forma a gozar de boa saúde, ter alegria de viver, e um máximo de vida ativa. As
Instituições Públicas exercem papel fundamental na tarefa de auxiliar o acesso
à saúde a essa faixa da população, além de serviços, voltados ao lazer, cultura,
atividades físicas, permitindo que a esperança e autoestima permeiem a vida
de quem já deu muito de si, ao longo dos anos, à comunidade e à sua família. A
Faculdade de Tecnologia de Taquaritinga, através de um grupo de professores
apoiados pela direção e pela prefeitura da cidade teve por objetivo cumprir esse
papel. O trabalho que ora se apresenta teve como objetivo realizar uma semana
dinâmica envolvendo faculdade e sociedade, ou seja, o corpo docente e funcionários da Fatec e também o público inscrito, além de convidados como médicos,
dentistas, nutricionistas da cidade visando uma integração entre a FatecTQ e
sociedade taquaritinguense. Por meio de cursos e palestras buscou-se orientar
com relação à educação financeira e propiciar cursos de artesanato, bonsai e
horta em casa que pudessem servir como fonte de renda e recreação; curso de
informática no intuito de inserir o idoso no meio tecnológico. O referido trabalho
1. Docente da Faculdade de Tecnologia de Taquaritinga e Coordenadora do Curso Superior de Tecnologia em Análise e Desenvolvimento de Sistemas. E-mail: [email protected].
2. Docente da Faculdade de Tecnologia de Taquaritinga e Coordenadora do Grupo de Pesquisa
em Engenharia de Software – GPES. E-mail: [email protected].
3. Docente da Faculdade de Tecnologia de São Carlos e Coordenadora do Grupo de Pesquisa
em Educação Tecnológica – GPET. E-mail: [email protected].
Interface Tecnológica – volume 11 - número 1 - 2014
ofereceu palestras educativas e instrutivas que incentivaram a autonomia e independência das pessoas na terceira idade, a prevenção do câncer de colo de
útero, orientou sobre a alimentação do idoso, e informou sobre os problemas articulares e de saúde dos pés. Os resultados apresentados apontam uma grande
satisfação dos participantes que pediram novos eventos.
Palavras-chave: Qualidade de Vida. Saúde. Envelhecimento. Recreação.
ABSTRACT
Data from the World Health Organization (2005) indicate that Brazil will have a
population of approximately thirty million people aged sixty or more in a short
time. These people deserve special attention in order to enjoy good health, have
joy of living, and a maximum of active life. Public institutions play a fundamental
role in the task of assisting access to health care to this population group, and
services aimed at the leisure, culture, physical activities, allowing hope and self-esteem permeate the lives of those who have given much of themselves, over
the years, the community and his family. The Faculty of Technology Taquaritinga,
through a group of teachers supported by management and by the city aimed to
fulfill this role. The work presented here aims to perform a dynamic week involving college and society, ie, the faculty and staff of Fatec and also entered the
public as well as guests such as doctors, dentists, nutritionists city seeking an
integration between FatecTQ and taquaritinguense society. Through courses and
workshops we sought to orient with respect to providing financial education and
craft courses, bonsai garden and home that could serve as a source of income
and recreation; computer course in order to insert the elderly in the technological environment. Such work has offered educational and instructive lectures that
encouraged autonomy and independence of the people in the third age, the prevention of cervical cancer, guided about feeding the elderly, and reported on the
joint and health problems of the feet. The results suggest a great satisfaction of
participants who asked new events.
Keywords: Quality of Life. Health. Aging. Recreation.
LOURENÇANO; GIBERTONI; TREVELIN. II Semana... (p.106-119)
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INTRODUÇÃO
Qualidade de vida é um termo amplamente abordado, tanto nos meios científicos quanto na vida cotidiana. A OMS (2005) define qualidade de vida como:
A percepção que o indivíduo tem de sua posição na vida dentro do contexto de sua cultura e do sistema de valores de onde vive, e em relação
a seus objetivos, expectativas, padrões e preocupações. É um conceito muito amplo que incorpora de uma maneira complexa a saúde física
de uma pessoa, seu estado psicológico, seu nível de dependência,
suas relações sociais, suas crenças e sua relação com características
proeminentes no ambiente (OMS, 1994).
Portanto, a saúde e a qualidade de vida dos idosos, mais que em outros grupos etários, sofrem a influência de múltiplos fatores físicos, psicológicos, sociais
e culturais. Assim, promover a saúde do idoso significa considerar variáveis de
distintos campos do saber, numa atuação interdisciplinar.
Segundo Santos et al (2002), qualidade de vida pode estar relacionada a autoestima e ao bem estar pessoal e abrange uma série de aspectos como a capacidade funcional, o nível sócio econômico, o estado emocional, a interação
social, a atividade intelectual, o autocuidado, o suporte familiar, o próprio estado
de saúde, os valores culturais, éticos e a religiosidade.
O foco do presente relato é descrever um programa, desenvolvido na Faculdade de Tecnologia de Taquaritinga (FatecTQ), voltada para o idoso. Pretende-se contribuir com isso para uma melhor compreensão da lógica de promoção
da saúde do idoso e compartilhar com o público leitor os marcos desse trabalho.
O presente trabalho tratou de desenvolver ao longo de uma semana, cursos e palestras destinados ao público acima de 60 anos da cidade de Taquaritinga-SP, sendo
ministrado nas próprias instalações da FatecTQ, entre 13 de janeiro a 17 de janeiro
de 2014, intitulada “II Semana da Melhor Idade – Alegria de Viver a Terceira Idade”.
Dados divulgados pelo IBGE mostram que a expectativa de vida do brasileiro
nos últimos trinta anos aumentou dez anos. Diante desses dados o presente
trabalho propôs afazeres diversos que envolveram as pessoas da terceira idade,
criando práticas de recreação, saúde, bem como atividades que lhes possibilitem outras rendas. De forma a mostrar-lhes que é possível envelhecer com
qualidade de vida. Mas o que é envelhecer?
LOURENÇANO; GIBERTONI; TREVELIN. II Semana... (p.106-119)
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1. O processo de envelhecimento e longevidade
O envelhecimento humano é um processo universal, progressivo e gradual.
Trata-se deuma experiência diversificada entre os indivíduos, para a qual concorre uma multiplicidade de fatores de ordem genética, biológica, social, ambiental, psicológica e cultural. Não há uma correspondência linear entre idade
cronológica e idade biológica. A variabilidade individual e os ritmos diferenciados
de envelhecimento tendem a acentuar-se conforme as oportunidades e constrangimentos vigentes sob dadas condições sociais (FERRARI, 1999).
Para que o envelhecimento seja uma experiência positiva, uma vida mais longa deve ser acompanhada de oportunidades contínuas de saúde, participação
e segurança. A Organização Mundial da Saúde (OMS) adotou o termo “envelhecimento ativo” para expressar esse significado, ou seja, a OMS (2005, p.13),
definiu envelhecimento ativo como sendo “o processo de otimização das oportunidades de saúde, participação e segurança, com o objetivo de melhorar a
qualidade de vida à medida que as pessoas ficam mais velhas”.
Segundo a mesma Organização, a palavra “ativo” refere-se à participação
contínua nas questões sociais, econômicas, culturais, espirituais e civis, e não
somente à capacidade de estar fisicamente ativo ou de fazer parte da força de
trabalho. As pessoas mais velhas que se aposentam e aquelas que apresentam
alguma doença ou vivem com alguma necessidade especial podem continuar a
contribuir ativamente para seus familiares, companheiros, comunidades e países. O objetivo do envelhecimento ativo é aumentar a expectativa de uma vida
saudável e a qualidade de vida para todas as pessoas que estão envelhecendo,
inclusive as que são frágeis, fisicamente incapacitadas e que requerem cuidados.
A manutenção da saúde e autonomia na velhice, identificada como boa qualidade de vida física, mental e social, é o horizonte desejável para se preservar
o potencial de realização e desenvolvimento nesta fase da vida. É também a
perspectiva necessária para reduzir o impacto social que cerca as questões extremamente complexas e delicadas relativas ao cuidado ao idoso dependente.
Os hábitos saudáveis incluem: alimentação balanceada, prática regular de
exercícios físicos, convivência social estimulante, atividade ocupacional prazerosa e mecanismos de atenuação do estresse. Tabagismo, alcoolismo, automedicação são os hábitos nocivos a serem desestimulados. É ressaltada a
LOURENÇANO; GIBERTONI; TREVELIN. II Semana... (p.106-119)
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importância de processos informativos e educativos continuados para estimular
comportamentos saudáveis. Imbuídos deste raciocínio é que foi realizada a II
Semana da Melhor Idade.
2. A Semana da Melhor Idade
A II Semana da Melhor Idade teve uma duração de vinte horas e contou com
a presença de 22 (vinte e dois) idosos nas dependências da FatecTQ, sendo que
a média da idade desses idosos é de 70 anos. Os profissionais participantes e
atuantes nas atividades foi um total de 15 (quinze), entre docentes da Instituição
bem como profissionais liberais convidados para palestrarem aos idosos.
A semana foi dividida em cursos-oficinas e palestras, que tiveram por objetivo
apresentar uma perspectiva de maior qualidade de vida para o público-alvo através de informação sobre o autocuidado com a saúde, de atividades lúdicas envolvendo afeto e recreação, de atividades manuais, dança e alimentação. Para
tal, foram ministrados cinco cursos, seis palestras além das atividades envolvendo estética e beleza bem como atividade física, por meio da dança. Todas essas
atividades estão descritas nos próximos itens.
2.1. Cursos-oficinas
2.1.1. Curso de Educação Financeira
Segundo dados da Defensoria Pública do Estado de São Paulo (2014), os
maiores entraves financeiros vividos pelos idosos estão relacionados aos empréstimos consignados (para os pensionistas do INSS) e também quando os
mesmos aceitam ser fiador – principalmente para ajudar parentes. Neste sentido, a própria Defensoria criou uma cartilha de orientação aos idosos, na expectativa de esclarecer, orientar e diminuir o número de idosos com problemas
financeiros. Imbuídos deste raciocínio, este curso buscou orientar os idosos da
comunidade da cidade de Taquaritinga a respeito das “armadilhas” criadas pelos
empréstimos pessoais consignados e usar o cartão de crédito com consciência.
Três professores da FatecTQ conduziram as atividades de orientação financeira junto aos participantes. Por meio da apresentação de exemplos, foi possível
LOURENÇANO; GIBERTONI; TREVELIN. II Semana... (p.106-119)
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estabelecer uma dinâmica onde o relato por parte dos idosos acerca das suas
experiências positivas e negativas a respeito de sua vida financeira foi intensa,
de tal modo que muitos deles tiraram suas dúvidas. Os professores falaram a
respeito das taxas de juros embutidas nas compras a prazo, nos financiamentos,
nos empréstimos pessoais, e em tudo que envolva dinheiro e tempo. Um dos objetivos do curso foi procurar alertar ao idoso, que por ter uma renda fixa e certa,
se tornam um público alvo das grandes instituições financeiras.
Com isso, constatou-se nos participantes uma “espécie de alerta” ao entenderem que ao verem propagandas de empréstimo, não acreditar tão cegamente
nas promessas feitas pelas instituições financeiras e também de como procurar
ajuda jurídica para negociar suas dívidas.
2.1.2. Curso de Artesanato
O curso de artesanato foi pensado em desenvolver um trabalho manual para
os participantes com vistas a ajuda-los a manter a mente ativa e ainda a possibilidade de garantir ofício às pessoas que desejam aprender novas técnicas.
Durante a manhã em que o curso foi ministrado, houve uma grande euforia
por parte dos cursistas, diante da coruja feita de tecido, um peso de porta, que foi
trazida pela professora como proposta para o desenvolvimento desse trabalho.
Portanto, para a confecção deste produto foi utilizado linha, agulha, tecido
com estampa de corujinhas, cola de tecido, manta acrílica, olhinhos de plástico
e saquinho com areia dentro.
Cada aluno recebeu um kit do material preparado com tecido cortado e moldado na forma da corujinha. A professora orientou cada passo da confecção,
desde a colocação do saco de areia dentro da corujinha até o acabamento com
a colagem dos olhinhos e do biquinho, enquanto vários monitores ajudavam na
montagem das mesmas.
O curso atingiu o seu propósito de ocupar o tempo e manter a mente ativade
maneira instrutiva e divertida.Também houve a orientação de que a produção da
coruja, ou de qualquer trabalho artesanal, poderia servir como uma forma de ganhar dinheiro, de presentear uma pessoa amiga e atémesmo enfeitar a sua própria
casa. Ao término do curso, cada aluno levou para casa a sua própria coruja, gerando assim um grande sentimento de realização e alegria pelo presente tão mimoso.
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A Figura 1 traz os idosos juntamente com os professores e suas corujas totalmente prontas feitas por eles.
Figura 1. Os idosos com as corujas.
Fonte: Assessoria da Fatec Taquaritinga.
2.1.3. Curso de Bonsai
Por meio deste curso, os idosos aprenderam como fazer, cuidar e podar um
bonsai. O professor explicou que a palavra “Bon-sai” é um termo japonês que,
traduzido literalmente, significa “plantado em uma bandeja”, e consiste em uma
representação miniaturizada, porém realista da natureza, na forma de uma árvore. Após a contextualização histórica e fundamentação teórica, o professor
passou para a parte prática fazendo com que cada um colocasse a mão na terra
e cultivasse o seu próprio bonsai de Érica.
A explicação sobre o bonsai de Érica aos idosos é que é um arbusto ereto e
florífero, além de delicado e gracioso. Pelo pequeno porte, esta planta é ideal para
ser cultivada em jardineiras, bordaduras, canteiros, floreiras ou entre pedras. O solo
deve ser fértil, bem drenado (com a terra sempre úmida) e adubado (o que pode ser
feito com a adição de matéria orgânica no solo). Como preferem climas quentes, as
Éricas devem ficar a meia sombra ou recebendo luz solar direta (pleno sol).
Estas plantas não exigem nenhum grau de dificuldade com relação ao seu
plantio, mas precisam de algumas atenções como: não tolera o clima frio mais
LOURENÇANO; GIBERTONI; TREVELIN. II Semana... (p.106-119)
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rigoroso, regar regularmente e não podá-las (elas não resistem bem a podas).
Desta forma, foi ensinada a técnica de poda e de cultivo, que pode ser visualizada na Figura 2. E ao final cada um levou sua muda para casa, mostrando ser
uma boa ocupação física e mental, e permitindo rendimentos financeiros.
Figura 2. A participação dos idosos na plantação do bonsai.
Fonte: Assessoria da Fatec Taquaritinga.
2.1.4. Curso de Horta em casa
Foram utilizadas garrafas pet de dois litros cortadas no sentido longitudinal
como vaso, terra vegetal para colocação da mudas de alface, almeirão, rúcula
e cheiro verde, criando assim uma disposição de horta vertical. Os professores
apresentaram a proposta por meio de slides e entregaram para cada aluno uma
cartilha que explicava como desenvolver essa estrutura. Depois passaram para
o desenvolvimento dos trabalhos, cortando as garrafas, preparando as armações, colocando a terra e por fim, as mudas (Figura 3). Ao final, todos foram
embora se sentindo satisfeitoscom seus trabalhos em mãos.
O referido trabalho surtiu efeitos positivos, pois além de uma boa opção de
renda para o idoso, apresenta ainda um custo de produção muito baixo, por ser
feito com material reciclado.
Buscou-se ainda mostrar a este público que a realização deste trabalho
pode ser uma ótima ocupação além de servir comoconscientização no uso
de material reciclado.
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Figura 3. Interação dos idosos no cultivo da horta em casa.
Fonte: Assessoria da Fatec Taquaritinga.
2.1.5. Curso de Informática
Os alunos estavam numa expectativa, com muito medo do novo, de não serem capazes de realizar a atividade proposta pelos professores. Portanto, antes
de irem para o laboratório de informática, os professores fizeram um trabalho de
convencimento tentando persuadir os alunos, de que mesmo sendo uma tecnologia recente eles seriam capazes de desempenhá-la.
Há que se ressaltar que os professores foram muito cuidadosos e pacientes
durante a aula, através de uma conversa e slides, mostraram como é dividido
um computador, suas partes físicas, como manuseá-lo. Depois, foi apresentada
a eles a Internet, o que foi um grande desafio, além da falta de destreza física, a
grande maioria nunca teve qualquer contato com um computador.
Ao término do curso os alunos estavam satisfeitos, realizados em conseguir finalizar a atividade proposta, que consistia na busca de uma receita num site de pesquisa.
Por meio desta aula, todos puderam entender como usar a Internet e seus
mecanismos de busca, assim como explorar os sites de mídia social.
2.2. Palestras
2.2.1. Autonomia e Independência na Terceira Idade
Esta palestra teve o objetivo de mostrar ao idoso, que mesmo vivenciando a
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terceira idade, tem autonomia e independência em suas atividades. Buscou dessa forma valorizar a autoestima de cada cursista, mostrando que eles são pessoas privilegiadas, pois possuem os dois, tendo isso ao seu favor. Eles possuem
mobilidade física, podendo realizar atividades sem restrições, também podem
fazer escolhas, pois apresentam capacidade intelectual para tal.
2.2.2. Mitos e crendices, na prevenção do câncer de mama e
no câncer de colo de útero
Esta palestra foi ministrada por um médico ginecologista da cidade, e foi voltada para o público feminino (exames) e também para o masculino. Teve como
objetivo conscientizar a respeito da importância da realização dos exames preventivos para detecção do vírus do papiloma humano, mas conhecido com HPV
(Human papiloma virus). O médico disse que se diagnosticado precocemente,
tem-se como tratar e em alguns casos como curar, visto que, é uma doença sofrível para toda família.
O presente profissional fez um alerta com relação à cidade de Taquaritinga, ao
mostrar que 60% da população feminina não procura realizar o exame, que compromete a eficácia do tratamento. Outro ponto importante consiste no fato que tal
público alvo funciona como multiplicadores desse alerta, pois eles tem filhos e netos.
2.2.3. Dez passos para Alimentação Saudável do Idoso
Para proferir essa palestra, uma nutricionista da cidade de Taquaritinga foi
convidada. Esta nutricionista orientou os idosos, de maneira clara, didática e
interativa sobre os fundamentos de uma alimentação saudável nessa fase, visto
ser uma época em que os idosos têm debilidades físicas e motoras, necessitando realizar algumas trocas alimentares.
A palestrante citou dez passos, que segundo ela, levariam a uma alimentação saudável. Dentre os quais: fazer pelo menos três refeições ao longo do dia;
incluir diariamente nas refeições alimentos do grupo dos cereais; consumir diariamente legumes e verduras como parte das refeições e frutas nas sobremesas
e lanches; ingerir leite e derivados todos os dias; dar preferência às carnes magras; optar por óleos vegetais e consumi-los com moderação; evitar refrigerantes
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e sucos artificiais, biscoitos doces e recheados, sobremesas doces e outras guloseimas; diminuir a quantidade de sal nas refeições; ingerir no mínimo dois litros
de água por dia e praticar pelo menos trinta minutos de atividade física todos os
dias, evitando as bebidas alcoólicas e o fumo.
2.2.4. Prevenção de Doenças Bucais
Um dentista foi convidado e ministrou uma palestra apontando os principais
fatores de risco relacionados ao câncer bucal, tais como o etilismo e o tabagismo.
Por meio de slides com fotos, apresentava cada estágio das doenças. Alguns
participantes reagiram com espanto e outros com preocupação, tornando-se mais
conscientes e cuidadosos com sua própria higiene bucal e de sua família.
2.2.5. Problemas Articulares e Tratamentos Alternativos
Um profissional farmacêutico apresentou os problemas relacionados com as
articulações, que afligem em especial as pessoas da terceira idade, como os
reumatismos e as artrites. Por meio de slides mostrou fotos de casos simples até
o mais graves das doenças citadas.
Em seguida, mostrou as formas de tratamentos fitoterápicos, isto é, através
de plantas, na forma de chás, emplastos e cremes. Foi dado a cada participante
uma amostra grátis de um creme para passar nos locais onde cada um sentia dor.
2.2.6. O que é podologia?
Uma podóloga descreveu as funções da sua profissão. Ela mostrou a necessidade de observar os pés, como indicativo das anormalidades do funcionamento
do organismo.
Exibiu slides com fotos de unhas encravadas e de tipos de calosidades. Além
disso, apresentou um tratamento de uma unha encravada, demostrando a importância desse procedimento ser realizado por um profissional qualificado.
Por fim, foi citada a necessidade do acompanhamento de um profissional dos
pés, para as pessoas portadoras de diabetes e com problemas de coagulação.
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2.3. Atendimento da Beleza
Simultaneamente as palestras e aos cursos, houve na semana a presença de
um cabelereiro e de duas esteticistas que ficaram a disposição para realização
de agendamentos para corte de cabelo, penteado, massagem facial, maquiagem e manicure. Por meio deste trabalho o público da terceira idade teve a autoestima melhorada, saindo contentes e satisfeitos com os resultados.
Na Figura 4 pode ser visto o atendimento da beleza com o cabelereiro e uma
participante da II Semana da Melhor Idade.
Figura 4. O corte de cabelo no atendimento da beleza.
Fonte: Assessoria da Fatec Taquaritinga.
2.4. Oficina de Zumba
Na quarta-feira dia 15, dois educadores físicos ofereceram uma oficina de
Zumba, apresentando esse estilo da dança, com exercícios adaptados ao público da terceira idade, sem deixar de lado o seu dinamismo.
Na sexta-feira dia 17, uma banda foi convidada a vir prestigiar o evento bem
como tocar e cantar músicas. O Trio Soprano Cordas (nome da banda), ofereceu
durante o almoço de encerramento do evento um repertório diversificado, entre
os quais se destacaram a bossa nova e MPB (Música Popular Brasileira).
Neste mesmo dia, houve a entrega dos certificados de participação aos idosos na II Semana da Melhor Idade, com a presença dos professores, como pode
ser visto na Figura 5.
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Figura 5. Momento da entrega dos certificados de participação.
Fonte: Assessoria da Fatec Taquaritinga.
CONCLUSÃO
Conforme aponta a Organização Mundial da Saúde (2005), daqui a alguns
anos, o Brasil terá uma população de aproximadamente 30 milhões de pessoas
com 60 anos ou mais. Estas pessoas merecerem atenção especial, de forma a
gozar de boa saúde, ter alegria de viver, e um máximo de vida ativa.
As Instituições Públicas exercem papel fundamental na tarefa de proporcionar
boas condições de acesso à saúde a essa faixa da população, além de serviços,
voltados ao lazer, cultura, atividades físicas, permitindo que a esperança e autoestimapermeiem a vida de quem já deu muito de si, ao longo dos anos, à comunidade e à sua família. A Faculdade de Tecnologia de Taquaritinga, através de um
grupo de professores apoiados pela direção e pela Prefeitura da cidade teve por
objetivo cumprir esse papel, proporcionando, para esta faixa etária uma programação especial com cursos, palestras e atividades no mês de Janeiro de 2014.
O carinho com os idosos tem uma razão muito forte. Há um grande contingente
de pessoas na terceira idade na cidade, fato este observado nos dados do IBGE.
O trabalho desenvolvido atingiu os objetivos esperados, propondo afazeres
diversos envolvendo as pessoas da terceira idade, criando práticas de recreação, saúde, bem como atividades que lhes possibilitassem outras rendas, de
forma a mostrar-lhes que é possível envelhecer com qualidade de vida. Além disso, ofereceu uma intensa convivência, através dos bate papos nos corredores,
durante os cafés. Os resultados foram bastante positivos. O público-alvo afirmou
que gostaria que o evento se repetisse e ficaram muito satisfeitos em participar.
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Em decorrência dos resultados obtidos, tem-se como perspectiva futura, continuar o oferecimento desta semana para a população idosa da cidade de Taquaritinga, por meio de ações educativas orientados por princípios da Educação Popular
em Saúde, promovendo situações e ampliando espaços de debate que estimulem
os idosos a pensar a relação corpo/vida e a atuar na direção de integrar o fazer individual e coletivo que envolve a saúde. Acredita-se, assim, que tal ótica possa operar com uma visão integradora da promoção da saúde, e que articule a abordagem
do auto-cuidado às necessidades sociais e ao fomento da participação popular na
viabilização dos direitos de cidadania, conforme recomenda Assis (ASSIS, 2002).
REFERÊNCIAS
ASSIS, M. (Org.). Promoção da saúde e envelhecimento: orientações para o
desenvolvimento de saúde com idosos. Rio de Janeiro: UERJ/UnATI, 2002.
Disponível em: <http://bit.ly/1GfpNwH> Acesso em: 10 jun. 2014.
DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DE SÃO PAULO. Idoso: conheça seus
direitos: Empréstimo e Finanças. Disponível em <http://bit.ly/1QNvjHb> Acesso
em: 04 jun. 2014.
FERRARI, M. A. C. O envelhecer no Brasil. O mundo da saúde, São Paulo,
v.23, n.4, p.197-203, 1999.
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICAS. Observações sobre a evolução da mortalidade no Brasil: o passado, o presente e perspectivas,IBGE, Rio de Janeiro, 2010. Disponível em <http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/tabuadevida/2009/notastecnicas.pdf> Acesso em: 02 jun. 2014.
ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE. Envelhecimento ativo: uma política
de saúde. Brasília, 2005. Disponível em <http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/envelhecimento_ativo.pdf> Acesso em 02 jun 2014.
SANTOS, S. R. et al. Elderly qualaty of life in the community: aplication of the
Flanagan’s Scale. Rev. Latino Am Enfermagem, 2002.
LOURENÇANO; GIBERTONI; TREVELIN. II Semana... (p.106-119)
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DESVENDANDO OS PORQUÊS
REVEALING THE WHYS
Luiz Roberto Wagner1
Djenane Sichieri Wagner Cunha2
RESUMO
Em qualquer gênero textual a ser desenvolvido, empregam-se os porquês. Todas
as gramáticas normativas da língua portuguesa apresentam, sistematizadas, as
quatro formas desse vocábulo. Como as pessoas encontram dificuldades para
aplicar esses termos, procuraremos expô-los, de forma sucinta e exemplificada,
a fim de que todos os indivíduos possam produzir textos de acordo com o padrão
culto da língua portuguesa.
Palavras-chave: Classe Gramatical. Sintaxe. Conectivo. Conjunção. Idioma.
ABSTRACT
In any textual genre developed it is used the whys. All normative grammars of the
Portuguese language feature, systematized, the four forms of the term. How do
people find it difficult to apply these terms, we will try to expose them succinctly
and exemplified, so that all individuals can produce texts according to the standard service of the Portuguese language.
Keywords: Grammatical class. Syntax. Connective. Idiom or Language.
INTRODUÇÃO
A coleção especial de vídeos, em seu vol.1, FILOSOFIA & PSICANÁLISE,
apresenta a capa Por quê? Tudo começa por essa simples pergunta. Os autores
1. Pós-doutor em Linguística pela Unesp de Araraquara-SP. Professor da Uniesp-Taquaritinga.
2. Doutora em Língua Portuguesa pela PUC-SP.
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inscrevem corretamente esse porquê, visando a desvendar o que essas duas
ciências têm em comum.
Toda vez que se trata de grafia de palavras ou de dúvidas de língua portuguesa, logo vem à tona o emprego dos porquês. Há quatro formas, cada qual
com um uso específico. O mais importante é não se deixar enganar pela solução
tradicional e superficial de saber “qual é o da pergunta e qual é o da resposta”.
Figura 1. Os quatro “porquês” em uma só tirinha.
Fonte: https://www.facebook.com/linguaportuguesa07/posts/726069677407006.
Vale notar que, atualmente, os autores de histórias em quadrinhos preocupam-se com vários aspectos gramaticais. Na tira acima, com correção, criatividade e perspicácia, o autor empregou as quatro formas dos porquês.
Vamos descriminar todas essas formas, procurando orientar o leitor para as
classes gramaticais que as formam.
1. Por que (em duas palavras)
Por que = pelo qual (ou variações)
Neste caso, há sempre um substantivo anteposto (claro ou subentendido);
pode ser simplesmente a preposição POR ao lado do pronome relativo QUE.
A transportadora por que os livros serão enviados definiu sua rota de entrega.
(Por que = pela qual)
Não há por que reclamar. (= não há motivo pelo qual reclamar.)
Por que (= por que motivo)
WAGNER; CUNHA. Desvendando... (p.120-125)
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A forma POR QUE pode ser identificada substituindo-a por “por qual motivo,
por qual razão”.
“Por que construí Brasília”: esse é o título do livro. (Por que = por que motivo)
“Vim nu à terra e nu irei para debaixo dela. / Por que canseiras vãs se o fim é
só nudez?” (Palavras de Alexandria, poeta grego, séc. IV)
“Estavam cavando um túnel subterrâneo e usando ripas das camas para escorá-lo.
A prensa de lagar, disse o carpinteiro, iria explicar para qualquer alemão desconfiado
por que estavam desaparecendo ripas de todas as camas.” (Don e Petie Kladstrup)
Nesse caso, pode vir em final de frase ou, então, antes de pausa forte. Sendo
assim o quê é tônico; por isso recebe acento circunflexo.
Você não veio mais cedo, por quê?
Antes de entender por quê, queria que não houvesse um porquê.
Por que (= por qual)
Você sabe por que estrada eles foram? (por que = por qual)
Eles substituíram a professora por que pessoa? (por que = por qual)
Em Memórias de um Sargento de Milícias, Manuel Antônio de Almeida emprega corretamente essa locução: “Leonardo havia pois chegado à época em que
os rapazes começam a notar que o seu coração palpita mais forte e mais apressado, em certas ocasiões, quando se encontra uma certa pessoa, com quem,
sem saber por que, se sonha umas poucas de noites seguidas, e cujo nome se
acode continuamente a fazer cócegas nos lábios.”
Muitas vezes, renomados autores também se enganam ao empregar...
“Nunca é tarde para aprender alguma coisa a respeito dos outros e de si mesmo.
WAGNER; CUNHA. Desvendando... (p.120-125)
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Sempre impliquei com o fato de existirem pobres e milionários, e muitas vezes me
perguntei porque (sic) não era milionário.” (Carlos Heitor Cony, Folha de S. Paulo).
2. Porque (em uma só palavra)
A forma PORQUE pode ser substituída por algum termo que denote explicação
ou causa, como pois, uma vez que, já que. Independe se aparecer em uma pergunta ou resposta. Nesse caso, pode ser conjunção ou palavra denotativa de realce.
Venha, porque fazemos questão de sua presença! (conjunção)
Ainda temos bastantes dúvidas porque faltou aprendizado em uma fase mais
madura da vida. (conjunção)
Porque ele chegou tarde você também acha que pode chegar?
“Quando todos pensam da mesma forma, é porque nenhum pensa grande
coisa.” (faz parte da locução denotativa de realce)
“O fim da vida é a morte, mas o homem não vive por causa da morte. Ele vive
porque é uma essência vital; e ele não pensa por causa de um resultado qualquer, mas porque é uma essência pensante, isto é, meditativa.” (Hannah Arendt,
filósofa norte-americana nascida na Alemanha.)
Observe as duas frases a seguir:
a) Sabemos porque fomos informados.
b) Sabemos por que fomos informados.
No primeiro caso, o sentido é “Sabemos, pois alguém nos informou.” Está-se
apresentando a causa de se saber.
No segundo caso, o sentido é: “Sabemos por qual razão nos escolheram para receber a informação.” Está-se dizendo o que se sabe, o complemento do verbo saber.
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3. Porquê (= substantivo, significa o motivo, a razão)
Aprendendo um porquê, podemos aprender todos os porquês.
Em breve entenderemos o porquê de termos tantas dúvidas.
(o porquê = o motivo)
Em entrevista ao Papa Francisco (Revista Época, 23 dez. 2013), questionado
sobre crianças seriamente doentes, o líder da Igreja Católica respondeu: “Quando passo por uma criança que está sofrendo, a única oração que me ocorre é a
oração do ‘porquê’. Por que, Deus? Ele não me explica, mas posso sentir Seu
olhar para mim.”
“Madame Maria Hugel, contudo, tinha preocupações mais imediatas. Três semanas após a anexação, ela recebeu ordens para se apresentar ao quartel-general alemão. Ninguém sabia ao certo o porquê, embora não fosse segredo que
as autoridades estavam contrariadas com a recusa de Monsieur Hugel a ingressar no Partido Nazista.” (Don e Petie Kladstrup)
4. Outros idiomas
Será que a língua portuguesa complica um pouco mais o emprego dos porquês?
Se tomarmos como exemplos o inglês e o francês, teremos apenas dois termos para a sua aplicação. O inglês traz WHY para as perguntas e BECAUSE
para as respostas:
— Why do you want eat meat?
— Because I’m hungry.
Se for usar o substantivo porquê, a língua inglesa o substitui naturalmente por
motivo ou razão.
O francês, de origem neolatina como o português, oferece também POURQUOI para as perguntas e PARCE QUE para as respostas. Utilizando o mesmo
conteúdo do diálogo acima, teremos em francês:
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— Pourquoi tu veux manger de la viande?
— Parce que j’ai faim.
Haveria necessidade de uma pesquisa profunda, para analisar se essa simplificação ocorre também em outros idiomas, ou são mais complexos.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Vale ressaltar que os sinais de pontuação estão inter-relacionados à sintaxe,
notadamente a vírgula.
Segundo Wagner (2007), a vírgula separa orações coordenadas sindéticas,
com a conjunção no início da oração: “Não bota o meu nome no meio, porque
vai dar grilo.” (Carlos Drummond de Andrade). A oração subordinada adverbial é
separada por vírgula, principalmente quando anteposta à oração principal: Porque não choveu, todos ficaram frustrados.
Em toda situação de escrita, qualquer pessoa precisa saber empregar corretamente os porquês, necessidade premente da norma culta da língua portuguesa.
Quer expresse relação de causa (A menina chorou porque apanhou da mãe.),
quer expresse explicação (A menina chorou, porque seus olhos estão vermelhos.), esse elemento linguístico sempre é muito importante como fator coesivo,
não somente para a produção de textos literários e jornalísticos, como também
para os artigos científicos.
REFERÊNCIAS
CEGALLA, D. P. Novíssima Gramática da Língua Portuguesa. São Paulo:
IBEP/Nacional. 2010.
KLADSTRUP, D. e P. Vinho & Guerra. São Paulo: Jorge Zahar, 2002.
SACCONI, L. A. Nossa Gramática – teoria e prática. São Paulo: Atual, 1999.
WAGNER, L. R. Pontuação!? Uma vírgula! São Paulo: All Print, 2007.
WAGNER; CUNHA. Desvendando... (p.120-125)
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