Metodologia da Educação Global e Métodos Interactivos
Transcrição
Metodologia da Educação Global e Métodos Interactivos
Educação Global e Metodologias participativas para educadores Adaptado por Jaan Tonisson Institute / IMVF , de: Conselho da Europa, Global E ducation Guidelines - A Handbook for educators to understand and implement Global Education , Centro Norte-Sul, Lisboa, 2008. Cyrs, Thomas E.,, Essential Skills for College Teaching : An Instructional Systems Approach, 3rd ed. Center for Educational Development, New Mexico State University, Las Cruces, 1994. Introdução: Mais do que como ensinar, ou como desenvolver actividades de aprendizagem, a metodologia inclui todas as dimensões educativas para ser mais eficaz, apelando à participação e à interacção. Na educação global, a metodologia tem de estar relacionada com as diversas realidades existentes no mundo . Quer isto dizer que deve basear-se na realidade, contextos e necessidades dos nossos alunos; em seguida, na realidade da sociedade que os rodeia, e, finalmente, na realidade da sociedade global que influencia as nossas realidades locais, bem como as interligações entre estas dimensões. A educação global pode inspirar as pessoas para a construção de um mundo com mais justiça, igualdade e direitos humanos para todos. A discussão de conceitos fundamentais de justiça, igualdade e direitos humanos exige métodos participativos que conduzam ao pensamento e análise críticos – métodos de investigação, actividades com base na investigação, estudo, exploração e inquéritos. Para além disso, o conteúdo das actividades de aprendizagem tem de estar relacionado com a vida das pessoas, situações reais e experiências humanas para que o aluno tome consciência real da injustiça e da desigualdade a vários níveis - que podemos chamar de dimensão ‘glocal’. É também importante identificar e estudar os actos da justiça, as condições de igualdade e respeito pelos direitos humanos na vida diária das pessoas, de modo a reflectir sobre o contexto em que estes valores são gerados nas nossas sociedades. É necessário um verdadeiro diálogo democrático entre todos os envolvidos no processo de aprendizagem para se manter um processo contínuo de exploração crítica e criativa do mundo, de modo a facilitar a construção de um conhecimento colectivo e uma compreensão comum do mundo em que vivemos. Uma abordagem holística procura compreender as relações directas e indirectas entre formas de poder, violência e injustiça a todos os níveis, bem como os valores, práticas e condições necessárias para as ultrapassar. A passagem da ignorância e indiferença para o conhecimento e consciência das questões globais pode ser o resultado de um processo de aprendizagem que associa o contexto individual ao colectivo e o local ao global. É igualmente importante ligar o conhecimento teórico às realidades sociais do passado e presente, compreender os princípios fundamentais do processo histórico para compreender como e por que é que a humanidade chegou à situações tão complexas como as presentes ao nível local e global, desenvolvendo uma visão positiva do futuro. 1 www.escolamundo.org Abordagens Metodológicas na educação global Aprendizagem baseada na cooperação Na aprendizagem cooperativa há uma interdependência positiva entre os esforços dos participantes para aprender. Eles empenham-se no apoio mútuo para que todos os elementos do grupo beneficiem com os esforços uns dos outros. Há uma interdependência positiva entre os participantes que se empenham em trabalhar juntos. Estas metodologias permitem aprender através da interacção, melhorar as competências de comunicação e fortalecer a auto-estima. Aprendizagem baseada na resolução de problemas As metodologias baseadas na resolução de problemas encorajam as pessoas a fazerem perguntas e a darem respostas, recorrendo à sua curiosidade natural sobre eventos ou temas específicos. Os participantes são convidados a reflectir sobre questões que não têm respostas absolutas nem desenvolvimentos simples e que reflectem a complexidade de situações do mundo real. A aprendizagem baseada na resolução de problemas abre caminho a uma abordagem activa do processo de aprendizagem. Aprendizagem baseada no diálogo O diálogo cria interacções orais entre os participantes e procura estimular a troca de ideias. Funciona como uma ponte entre as pessoas e cria um espaço propício para o desenvolvimento de ideias, reflexões e propostas, mesmo que sejam opostas ou diferentes. O diálogo ajuda a desenvolver competências de comunicação e audição, logo, promove a compreensão de diferentes questões e pontos de vista. É um dos métodos mais importantes da educação global. Aspectos importantes da metodologia da educação global: Escolher o ambiente de aprendizagem apropriado: Um ambiente centrado no indivíduo baseia-se nos princípios da aprendizagem democrática, participativa, cooperativa e experiencial. Desenvolver o pensamento crítico: O pensamento crítico desenvolve-se nas diferentes fases e níveis de aprendizagem. Em primeiro lugar os indivíduos precisam de reconhecer a realidade de forma a terem consciência da sociedade global e desenvolverem valores referentes ao direito de todos a uma vida digna. Fazer a ponte do global para a realidade de cada um e para o seu dia-a-dia é essencial para a compreensão dos fenómenos e acontecimentos internacionais. Estimular a curiosidade Estimular a curiosidade é um pressuposto muito importante para o desenvolvimento do pensamento crítico. Isto pode ser feito principalmente através de pesquisa mais orientada para as questões certas do que para as respostas correctas, as quais podem não existir num mundo incerto de questões complexas. Estimular a criatividade Estimular a criatividade é também um pressuposto muito importante para o desenvolvimento de perspectivas e possibilidades para estabelecer relações de paz e sustentabilidade do mundo. 2 www.escolamundo.org A abordagem micro-macro Do local para o global, por exemplo, partindo da poluição ou pobreza na nossa região somos conduzidos para a dimensão global destes problemas e de volta ao nível local (glocalização). Do pessoal para o colectivo; por exemplo, de histórias e experiências vivenciadas pelos participantes num programa de educação multicultural e global, somos levados a confrontar o problema da imigração numa base colectiva. Do emocional para o racional; por exemplo, das emoções suscitadas ao nível individual após as histórias mencionadas acima, somos levados a explorar os aspectos gerais do problema da imigração. As três dimensões do tempo: Lidar com todas as três dimensões é muito importante na abordagem das questões globais. Por exemplo, inicialmente concentramo-nos em como o problema se apresenta no presente. Contudo, também é necessário ver o seu passado e explorar possibilidades para o futuro. Até para conseguir encontrar pistas e alternativas positivas – é importante fornecer uma perspectiva positiva para as questões abordadas. Historicidade do conhecimento: Além disso, é importante reconhecer a historicidade e os limites dos processos individuais e sociais, as diferentes fases do desenvolvimento dos fenómenos, a génese e a deterioração, os limites e a possível exaustão e destruição dos sistemas (ecológico, social, económico, político) para chegar a uma compreensão das situações. Lidar com a controvérsia: Espera-se que as questões globais sejam controversas. Por isso, ao lidar com tais questões, a controvérsia não deve ser evitada mas confrontada de uma forma equilibrada, tendo como objectivo a síntese de pontos de vista. Esta síntese nem sempre é possível. Por exemplo, as questões ligadas à religião podem ser muito controversas e as conclusões talvez não sejam possíveis num debate democrático. Contudo, tal debate tem mérito em si próprio. O foco no respeito pelas diferentes culturas será necessariamente tomado em conta no exemplo acima. E todos no grupo perceberão que vivemos num mundo em mudança acelerada, em que temos de repensar crenças já existentes, valores e atitudes. Confrontar as questões da identidade nacional ou cultural: Estas questões estão geralmente associadas à migração, xenofobia, estereótipos e direitos humanos podendo, por isso, ser muito controversas e terem de ser tratadas com grande delicadeza. Embora a educação global signifique resistência ao status quo, nunca deve ser considerada uma ameaça, mas sempre um desafio importante para enriquecer e alargar a identidade nacional e cultural. Introduzir o elemento de mudança: A mudança constante e, logo, a incerteza e instabilidade são a realidade do nosso mundo. A educação global deve preparar os indivíduos para enfrentar esta realidade e adaptar-se de uma forma positiva e construtiva. Isto significa procurar maneiras de atingir um equilíbrio entre a estabilidade e a mudança. Para isto é necessária uma abordagem holística que associe as diferentes dimensões do ser humano (físico, intelectual, emocional e espiritual) com as diferentes dimensões do ambiente (natural, social, cultural, económico e político). 3 www.escolamundo.org Inspirar optimismo e prazer: A educação global é optimista e traz esperança. Há muitos “profetas” modernos que, parecem profetizar o fim do mundo. Como se lida com o pessimismo? Uma maneira positiva é dando ênfase à esperança na natureza humana. Voltando atrás na história, e veja-se o progresso que foi feito, por exemplo, na segurança social ou no acesso à educação ou mesmo ainda nas conquistas em termos de igualdade de género, de forma a abrir perspectivas positivas. A educação global também tem de ser agradável – um elemento relacionado com o seu optimismo. O humor também ajuda a criar um ambiente agradável. Utilizar métodos activos e agradáveis que possam ter um efeito drástico no desenvolvimento de competências e valores globais e que conduzam à acção. Partir de experiências pessoais ou simulações: As experiências pessoais ou simulações são formas de aprendizagem experiencial. As teorias pedagógicas afirmam que “as pessoas aprendem de uma forma mais efectiva através da sua própria experiência, em situações que envolvem o conhecimento, emoção e acção”. As actividades de simulação na educação global podem provocar fortes emoções com as quais pode não ser fácil lidar. É por isso que o educador deve estar preparado para lidar com emoções fortes e precisa de conhecer e compreender cada pessoa no grupo. As actividades emocionais devem também ser usadas com cuidado, num horário específico, quer como pontos de partida, quer como parte de um programa completo. Doutra forma, demasiadas emoções podem afastar o trabalho do grupo da racionalidade e da reflexão. Os métodos que permitem tanto a experiência e reflexão como o equilíbrio ao nível cognitivo, emocional e de acção são os mais eficazes para a aprendizagem na educação global. Estimular a participação activa Estimular a participação activa é muito importante para uma mudança de valores e atitudes. As actividades podem ser concebidas pelos alunos, para um grupo de alunos ou para a comunidade local escolar, baseadas numa avaliação das suas realidades e necessidades. Os participantes podem tentar propor soluções ou mesmo assumir acções colectivas para promover a transformação do seu ambiente ao nível local (sala de aula, escola, comunidade, aldeia, etc.), ligando, por exemplo, a educação formal às organizações não-governamentais (ONG). Através deste processo, os indivíduos podem reconhecer em que medida a participação e capacidade de dar resposta a necessidades reais melhoram a qualidade de vida da comunidade e podem conduzir desejavelmente à ética ao longo da vida e à participação cívica. Trabalho em rede: Na prática da educação global, a criação de ligações com outros países, culturas e sociedades é muito importante. Estas ligações significam a solidariedade de grupos que trabalham em conjunto de forma visível e concreta. Eles podem, por exemplo, ajudar as pessoas nos países desenvolvidos a apreciar a vida na aldeia por oposição à vida na cidade, bem como as pessoas em países menos desenvolvidos a compreender que nem todas as pessoas nos países desenvolvidos nasceram em ‘berço de ouro’. Por outro lado, a imigração é um fenómeno global, e migrantes de vários países existem em toda a parte. Ao envolvê-los no processo educativo e de aprendizagem, juntamos vozes diferentes, mostrando activamente a nossa interdependência e a necessidade de solidariedade. Usar recursos variados: Os educadores que praticam a educação global devem recorrer a uma grande variedade de recursos (jogos, materiais, actividades), de acordo com o contexto e conteúdo de aprendizagem (onde, quando, quem, o quê). Muitas vezes há dificuldades objectivas que impedem a escolha de recursos. Os educadores globais devem ser flexíveis e adaptar as suas actividades aos recursos existentes. O mais importante na educação global não é a ferramenta, mas sim a forma como se usa. 4 www.escolamundo.org Usar os meios de comunicação social: Receber informação dos media (imprensa, televisão, internet) faz parte das nossas vidas quotidianas. A educação global através dos media, é ao mesmo tempo um meio e um fim – um meio, devido à enorme quantidade e diversidade de informação que nos chega de várias fontes complementares, e um fim, porque aprender acerca do mundo através das fontes dos meios de comunicação social é a melhor maneira de desenvolver a consciência acerca dos média, o que é absolutamente necessário para os cidadãos globais de hoje. Usar os media é uma forma estimulante não só de receber mas também de divulgar informação. Os media podem ser usados para consciencializar as pessoas e dar visibilidade aos indivíduos ou a acções de interesse geral (por exemplo, acções de solidariedade ou cooperação para o bem-estar da comunidade protestos contra violações de direitos humanos, eventos multiculturais, actividades a favor da sustentabilidade). Acrescenta-se ainda, a necessidade de desenvolver um espírito crítico, uma ‘literacia mediática’, face ao manancial de informação que qualquer pessoa recebe hoje em dia – sabendo interpretar, decifrar, desmistificar estereótipos e analisar factos à luz de contextos globais e locais. E por fim, uma fulcral abordagem interdisciplinar: As questões globais podem ser desenvolvidas através de qualquer disciplina dos currículos, formal ou não-formal. Associar o conhecimento específico ao geral, ligar diferentes dados oriundos de várias ciências permite-nos uma abordagem multi-disciplinar, necessária à compreensão do indíviduo, bem como aos outros, num mundo complexo e interdependente, onde a realidade das nossas vidas pode ser complementar mas também contraditória. A mudança de uma cultura de individualismo para uma cultura de parceria pressupõe a transformação de critérios pessoais de uma verdade única para os critérios colectivos das múltiplas realidades. Metolodogias participativas para a prática da Educação Global As aulas expositivas clássicas são necessárias para um sistema regido por avaliações de competências face a planos curriculares extensos – mas são mais pobres se comparadas com os métodos alternativos no que respeita ao estímulo das ideias e da maturação de atitudes. Deste modo, se o nosso objectivo é educar os jovens para que se tornem profissionalmente competentes, activos e comprometidos com a cidadania global, teremos de usar metodologias participativas e inter-activas, mais eficazes na consecução desse objectivo. Com esta finalidade tudo o que seja interactivo e/ou participativo é bem-vindo: actividades destinadas a “quebrar o gelo“ ou energizadoras, actividades de simulação e jogos cooperativos, dramatizações e brainstorming, exercícios de resolução de problemas e debates, discussões de grupo, painéis ou mesas redondas, trabalho em grupo e partilha de experiências, investigação ou apresentações, visitas de estudo e estudos de caso, actividades artísticas incluindo música e/dança e actividades baseadas em histórias e contos ou artes visuais/iconografia (fotografias, filmes, colagens, banda desenhada, desenho, etc.). Em todas elas, a mensagem principal deve de ser uma: que a prática da educação global deve metaforicamente assemelhar-se a uma colmeia, em que as abelhas têm um papel a desempenhar com vista a uma finalidade comum, sendo a única diferença que o educador não é um tipo de rainha autocrática! 5 www.escolamundo.org Formas de estimular a discussão: QUEBRA GELO Técnicas usadas no início da aula para reduzir o stress, apresentar as pessoas, concentrar a atenção nos objectivos de aprendizagem, chamando a atenção para um ponto importante. Podem ser em forma de uma anedota, uma história, um artefacto, uma demonstração, um título de jornal, um jogo rápido ou o visionamento de um videoclip. ENTREVISTAS DE ALUNOS Pedir aos alunos que formem pares e que se entrevistem uns aos outros sobre um tópico préseleccionado – na escolha do tema, ter em atenção uma aproximação às realidades dos alunos. Esta é uma boa técnica para explorar valores e atitudes. Podem-se fornecer perguntas para a entrevista aos alunos ou deixá-los colocar as suas próprias perguntas. Os resultados são reportados em percentagem das respostas do grupo: por exemplo, 60% do grupo concorda e a partir daí é feita uma análise e discussão em grupo, com o formador/professor como moderador. PERGUNTAS ELABORADAS PELOS ALUNOS Explicar os níveis de exigência das perguntas (para reconhecer, para compreender, aplicar, analisar ou avaliar) e pedir aos alunos que escrevam uma série de perguntas sobre o tópico em discussão. Depois pedir aos alunos para responder às perguntas em pares, grupos, ou em plenário de turma. PERGUNTAS Dar à turma um texto para ler e pedir a cada aluno que escreva duas perguntas que exijam respostas sobre informação factual ou respostas concisas. Pedir aos alunos para partilharem as suas perguntas com a turma e pedir à turma que responda à pergunta. Perguntar à turma se fica satisfeita com a resposta. QUESTÕES Após uma apresentação sobre um tema, os alunos, em pares, fazem-se mutuamente perguntas que se relacionam com as apresentações. Estas perguntas baseiam-se nos objectivos de aprendizagem dados aos alunos no início da aula. FRASES INCOMPLETAS O animador/professor propõe frases incompletas sobre temas polémicos que seja importante abordar, tais como: “A minha opinião sobre a crise económica/o machismo/a violência é...“. O aluno tem de completar a frase numa folha que lhe é fornecida e depois partilhar as suas ideias com o seu grupo ou com toda a turma. TRABALHO DE GRUPO É dado a toda a turma um problema ou situação específicos para resolver em 10-20 minutos. Todas as instruções e regras estão escritas numa folha que lhes pode ser entregue, projectada num retroprojector ou powerpoint, ou escrever as instruções e regras no quadro (explicadas pelo formador/professor). 6 www.escolamundo.org SESSÕES EM GRUPO Dividir os alunos em pequenos grupos (3 a 5 alunos) para trabalharem dentro de um certo limite de tempo e sem líder, para responder a uma questão ou resolver um problema, com o objectivo de chegar a alguma conclusão. Pedir a cada grupo que apresente os seus resultados/conclusões à turma acerca da pequena discussão. Pode-se também pedir a todos os alunos para produzir um pequeno texto sobre a discussão. CENÁRIO ESCRITO Dar aos alunos uma breve descrição (1-2 parágrafos) de uma situação real ou ficcionada . Dividir os alunos em pequenos grupos para analisar o tópico por fases. Pedir aos alunos que seleccionem um porta-voz para apresentar a análise feita pelo grupo após um dado tempo. Pode-se fornecer todos os dados ou apenas uma parte. Se se optar pelo último, está-se a pedir aos alunos que façam suposições que afectarão o resultado final ou as recomendações. A mesma técnica pode ser usada com um cenário visual, onde analisarão uma fotografia, um pequeno vídeo, uma ilustração ou cartoon. DRAMATIZAÇÃO Esta é uma excelente técnica para desenvolver competências e dá aos alunos feedback sobre o seu próprio comportamento. Dá-se aos alunos uma visão geral ou uma descrição detalhada de uma situação de conflito. São atribuidos papéis aos personagens no cenário. Explicar que devem representar os eventos da situação tal como eles acham que o personagem que eles retratam agiria. Esta actividade é improvisada e sem treino prévio: necessita de um olhar atento e o acompanhamento do desenrolar da situação por parte do formador/professor (pode, por exemplo, designar discretamente um aluno para assumir uma personagem coadjuvante, se a situação ficar muito tensa ou bloquear). SIMULAÇÃO Apresentam-se casos, problemas, ou cenários que os alunos têm de dramatizar. O grupo debate e analisa uma situação crítica e depois discute como resolver a situação. Esta técnica ajuda os alunos a desenvolver competências sociais de construção de equipa. A estratégia pode ser escolher fazer uma simulação de uma só pessoa, em que o aluno responde a cartas, a anotações ou chamadas telefónicas retiradas da vida real. SIMPÓSIO Duas ou três apresentações de 5-10m sobre diferentes aspectos do mesmo assunto. Estes são, então, discutidos brevemente e seguidos de uma sessão de pergunta-resposta. Cada aluno escreve um pequeno relatório sobre o seu tópico. É fornecida uma cópia de cada texto/apresentação a cada aluno. PAINEL Um grupo de 4-6 alunos senta-se a uma mesa à frente da turma – um painel. Distribuir ou pedir aos participantes que escolham um tópico para uma discussão com limite de tempo. Cada participante do painel escolhe representar um diferente ponto de vista e participa numa discussão. O resto da turma ouve. A turma faz então perguntas ao painel, com o professor a fazer de moderador. 7 www.escolamundo.org PAINEL DE FOGO CRUZADO Uma discussão argumentativa, acalorada, monitorizada de perto, sobre uma questão controversa prédeterminada. O tópico é dado a quatro ou cinco alunos que constituem o painel. O tópico é-lhes dado antes da aula para que o possam preparar. Os alunos em plenário fazem perguntas ao painel. No fim da actividade, é feito um inquérito aos alunos da turma e os resultados são dados aos alunos do painel para o seu resumo comentado. DISCUSSÃO ESTRUTURADA Discussão em plenário focalizada em determinados objectivos de aprendizagem que são dados a conhecer aos alunos. Diferentes grupos podem tratar de diferentes objectivos ou toda a turma pode tratar um único objectivo de cada vez. CÉLULAS DE APRENDIZAGEM Dividir os alunos em pares para trabalharem numa dada tarefa a executar na aula, ou uma variedade de tarefas à sua escolha. Cada aluno prepara uma série de perguntas derivadas da tarefa de leitura e, à vez, respondem a perguntas. O professor recolhe e corrige as perguntas depois da aula. PERGUNTA SILENCIOSA Nos últimos 5 minutos da aula, o professor pede aos alunos para completar a frase: "Uma dúvida que eu ainda tenho sobre (tópico da aula), mas que hesitei em perguntar é..." O professor responde às perguntas (ou às perguntas mais comuns) no início da aula seguinte. CAIXA DE PERGUNTAS Encorajar os alunos a escrever sobre qualquer tópico do programa e depositar as perguntas num local central. Dedicar uma aula ou parte de uma sessão a responder às suas perguntas. Se se escolher responder individualmente às perguntas dos alunos, deve-se dizer-lhes que se responderá dentro de 24 horas. Guardar cópias das perguntas escritas para referência futura, quando nas revisões da matéria. FEEDBACK RÁPIDO (UM MINUTO – RECOMENDADO COMO FINALIZAÇÃO DE QUALQUER AULA/SESSÃO) Nos últimos minutos da aula, pedir aos alunos para responder a um dos seguintes tipos de perguntas. Rever o feedback dos alunos depois da aula e responder-lhe na sessão seguinte. - Qual foi o ponto mais confuso da aula de hoje? - Quais foram os dois pontos mais importantes aprendidos hoje? - De que gostou mais na aula de hoje? 8 www.escolamundo.org Práticas recomendadas: O método do projecto Trabalhar à volta de um tema global comum, ou aspectos dele, é uma tarefa muito criativa para os alunos, quer no ensino formal como não-formal. O trabalho pode incluir certos elementos, como textos informativos, poemas, fotografias, desenhos, gráficos, banda desenhada, cartoons, extractos de jornais ou revistas, colagens, um jornal de turma, música, dramatizações e até a produção de audiovisuais ou CD-Roms. O professor pode mostrar brevemente várias ideias originais para estimular a criatividade e o desafio, mas nunca dar um exemplo como perfeito, para não limitar. Mesmo que o projecto seja feito individualmente, deve ter uma dimensão colectiva que inclua uma apresentação final, discussão e avaliação pela turma. Contudo, é melhor se for o resultado do trabalho de uma equipa em que os participantes possam contribuir com alguns dos elementos mencionados acima, de acordo com os seus interesses e talentos, com a recolha de elementos como entrevistas, inquéritos, levantamento de actividades económicas ou artísticas ou outras. O trabalho de campo também é bem-vindo, começando, se for possível, em situações locais. O resultado final pode ser uma exposição de todo o projecto no local onde foi criado ou ao nível da comunidade. Quando se concebe um projecto deve-se considerar o seguinte: Incorporar na discussão questões locais, nacionais e internacionais, particularmente aquelas que os jovens consideram mais importantes para as suas vidas. Conceber e implementar programas que dêem aos alunos a oportunidade de aplicar o que aprendem. Por exemplo, prestando serviço comunitário que esteja relacionado com o currículo formal e a aprendizagem em sala de aula; ou apresentando os resultados à comunidade ou ainda destinando o resultado do projecto a um fim específico como a utilização pela Câmara Municipal/turismo locais ou instituições de solidariedade social. Proporcionar e incentivar actividades extra-curriculares para dar oportunidade aos jovens de se envolverem na sua escola ou comunidade. Encorajar a participação dos alunos na gestão da escola. Uma longa tradição de investigação sugere que dar aos alunos mais oportunidades de participar na gestão das suas próprias salas de aula e escolas forma competências e atitudes cívicas. Desta forma, dar voz aos alunos na gestão da escola é uma maneira promissora de encorajar os jovens a comprometerem-se civicamente. Mesmo começando com questões muito simples, como a pintura de uma parede degradada ou chegando à implementação de reciclagem, são muitas as formas de facilitar a participação. Encorajar a participação dos alunos em simulações de processos e procedimentos democráticos. Investigações recentes indicam que as simulações de voto, julgamentos, deliberações legislativas e diplomacia nas escolas podem levar a um maior conhecimento e interesse político. A ligação da escola ao mundo Este método pode consubstanciar o anterior. Como já acima referido, trazer a realidade global para dentro da sala de aula (ou qualquer espaço de aprendizagem) para uma cooperação activa é de vital importância nos programas de educação global, quer se trate do sector formal ou do não-formal. Pode ser feito de muitas formas: trazer pessoas de outros países para dentro do processo de aprendizagem; criar ligações e redes com pessoas de diferentes partes do mundo através de e-mail ou correspondência postal; acolher visitantes de diferentes culturas (por exemplo, migrantes que vivam no país), na sala de aula, na escola ou no local do programa de educação global informal; organizar eventos interculturais, festas, exposições ou outras actividades nas escolas ou locais públicos e envolver pessoas de diferentes culturas em tais actividades, incluindo diferentes tipos de comida, música, dança e até mesmo dramatizações; levar os alunos a zonas/instituições onde vivem pessoas necessitadas, para que 9 www.escolamundo.org experienciem a situação e, se possível, cooperem com elas na solução dos problemas locais; envolver os alunos em actividades destinadas a ajudar populações carenciadas através de trabalho voluntário iniciado por organizações não-governamentais (ONG), especialmente na educação formal; organizar encontros de professores, alunos e encarregados de educação para levar a cabo sessões de aprendizagem sobre temas interculturais. Parcerias internacionais entre escolas Esta prática completa a anterior. Há centenas de ligações bilaterais entre escolas do Norte e do Sul, do Leste e do Ocidente. Várias organizações internacionais dedicadas à associação de escolas estabelecem redes de ligações entre escolas que, por sua vez, produzem websites, ideias, experiências escritas e relatórios. Estas parcerias permitem: Melhor compreensão da interdependência global através de contactos directos entre os alunos e professores nas escolas e países parceiros; identificação de estereótipos e preconceitos mútuos, e aumento da motivação de alunos e professores; uma nova cultura de ensino e aprendizagem, por exemplo, através de um ensino de ligação/sobreposição temática; desenvolvimento de importantes competências-chave para todos os envolvidos, por exemplo, as modernas tecnologias da comunicação, gestão de projectos, competência em línguas estrangeiras, comunicação internacional entre alunos e professores. Do ponto de vista metodológico, as parcerias Norte-Sul oferecem muitas potencialidades para actividades concretas na sala de aula: Troca de correspondência (cartas, emails) Concepção e operacionalização de websites ou blogues interactivos (incluindo fóruns de discussão e chat rooms- como www.escolamundo.pt) Troca de resultados de trabalho e projectos com as escolas parceiras Convite a um perito do país da escola parceira que pode (ou não) viver no seu país/cidade, para ir à sala de aula dar informação sobre temas específicos do país da escola parceira – como os ‘Embaixadores do Sul’ do projecto Escola Mundo. Planificação de visitas mútuas entre as escolas parceiras Capacidade de debate e argumentação O debate e argumentação são um método muito interessante através do qual os alunos no sistema formal ou não-formal podem tomar consciência de questões globais contemporâneas. Podem ser organizadas ao nível de um grupo, escola, local, nacional ou internacional, conforme o financiamento disponível. Os objectivos da competição são desenvolver competências de diálogo e argumentação baseadas no pensamento crítico; sensibilizar os alunos para matérias contemporâneas e levá-los a colocar questões através da exploração destas matérias; cultivar um espírito crítico e levá-los a ser receptores críticos de mensagens; desenvolver resistência crítica à manipulação; respeito pela diversidade; técnicas de comunicação etc. Artes Participativas As artes participativas (AP) têm o papel de um interface onde os facilitadores (artistas e/ou outros formadores com um background específico) e não-artistas interagem usando regras e instrumentos especificamente concebidos para a dramatização. Esta experiência de educação colectiva leva os participantes a outro tipo de auto-aperfeiçoamento ao promover princípios que criam um espaço comum, seguro, de conforto físico e mental. Neste espaço, os educadores (formadores, professores, psicólogos, artistas) e alunos trabalham juntos, numa parceria baseada no respeito e igualdade. Este tipo de actividade artístico-formativa surge como resposta à necessidade de intervenções específicas. 10 www.escolamundo.org Relacionar o objectivo educativo com o processo é tão importante como o resultado final (a dramatização, um evento, um graffiti, o teatro-fórum ou teatro do oprimido etc.). O forum-teatro, como AP, é um método que confronta diferentes grupos com diferentes interesses, oriundos de diferentes categorias sócio-profissionais, em diferentes contextos e para solução de diferentes problemas. Os formadores usam as AP como uma maneira eficaz de estimular o activismo e o envolvimento ao nível social, político e educativo. O método baseia-se na linguagem do teatro e no espaço estético para estimular a interactividade de todos os participantes. Eles tornam-se espectadores e actores (espect-actores), assumindo papéis e decidindo finais alternativos para a narrativa dramática, unidos a explorar, analisar e reconsiderar a maior parte dos problemas do grupo a que pertencem. A simulação de um fórum é uma solução válida para a vida real. Aprendizagem Comunitária Esta técnica envolve serviço comunitário e reflexão sobre essa prática. Promove a responsabilidade social e a participação numa realidade mais próxima. A aprendizagem comunitária também pode ser usada para aplicar conhecimentos e competências a matérias específicas ou em situações específicas. Está relacionada com a ideia de acções práticas ligadas ao processo de construção de conhecimento. Os conteúdos são aprendidos não apenas através de uma abordagem teórica, mas também de um valor acrescido vindo de uma nova componente – o trabalho de campo e práticas que aprofundam os conceitos aprendidos na teoria através de noções fortes experienciadas na realidade. A aprendizagem comunitária é uma excelente prática na aprendizagem da educação global, fornecendo informação e desenvolvendo competências para a formação em “situações reais” da vida quotidiana e da sociedade. Desporto O desporto pode promover a igualdade, a participação e a inclusão, bem como valores e objectivos sociais dos indivíduos, tais como o trabalho árduo, fair play, desenvolvimento da personalidade e trabalho de equipa. A participação no desporto provou criar um empenhamento acrescido em relação à comunidade, melhores relações interpessoais e maior tendência para assumir papéis de liderança. Dado que o desporto também promove a coesão social e a compreensão e respeito mútuos, pode também ser usado para comunicar mensagens de compreensão na diversidade e ajudar a encontrar meios nãoviolentos quando se enfrentam situações difíceis. A educação global também tem de juntar actividades desportivas como um importante recurso baseado no interesse e entusiasmo que existe nas crianças e jovens e potenciar as possibilidades que este interesse abre para a criação de espaços abertos de diálogo, investigação e estudo entre grupos de origens cultural religiosa e étnica diversas e que são características de um mundo globalizado. Outras hipóteses a explorar: uso criativo das redes sociais para criar comunidades virtuais; a associação a causas ou campanhas; etc. 11 www.escolamundo.org