Leia a entrevista aqui
Transcrição
Leia a entrevista aqui
(...) – Conversas paralelas sobre outro assunto ou de outras pessoas. (?) – Um ponto de interrogação: uma palavra não compreendida. (???) – Três pontos de interrogação: Uma frase ou mais não compreendidas. Arquivo 01 Édio – Acredito que muito provavelmente alguma coisa na tua história pessoal, e na história do NuTE, provocou esse encontro. O que foi isso, o que acontecia na vida do Nassau, e o que acontecia no NuTE, que aproximou esses dois corpos aí. Nassau – É, eu tenho o meu primeiro contato com o NuTE... acredito que tenha sido em 1987, na época em que eu desenvolvia um trabalho com um grupo de poetas lá de Itajaí, chamado Grupo de Poetas e Escritores Mário Quintana. Esse era um trabalho de divulgação da poesia, e o nosso QG era dentro da Casa da Cultura Didi Brandão, na época o diretor de cultura, um deles foi o Tony até, grande amigo nosso, o Silvestre também. E nessa época nós desenvolvíamos alguns trabalhos de intervenção na rua e numa das minhas vindas a Blumenau, eu vi um trabalho do NuTE, o Apocalypsis Cum Figuris, e convidei eles pra participar de um desses nossos eventos de rua. E eles se apresentaram com a gente lá em Itajaí, numa praça. Foi muito interessante. É um trabalho bem forte, com a direção do Alexandre Venera, do elenco, os cabeças mesmo, do Giba de Oliveira, do Pépe Sedrez, do Álvaro Andrade, do Dennis Radünz, do Marcos Suchara, e... talvez eu esteja me esquecendo de alguém aí, mas é porque faz muito tempo. E a partir desse momento eu comecei a estreitar a relação com o NuTE. Eu achei muito interessante o trabalho do NuTE, e coincidentemente, em 1989, eu venho morar em Blumenau, e aí, já com esses primeiros contatos, aí sim, nós estreitamos relações, principalmente com o Alexandre Venera e o Dennis Radünz. E o Tadeu, ele desenvolvia também já um trabalho paralelo com o NuTE, e aí que eu começo a conhecer melhor o Tadeu Bittencourt. E com a minha vinda pra cá, em 1989, eu fiquei sabendo dos Jogos de Teatro, JOTE-Titac, e participei, no mesmo ano, do meu primeiro JOTE, e tive até o prazer de ser premiado com o melhor texto dramatúrgico... Édio – Na primeira vez? Nassau – Na primeira vez. Foi bem bacana. E a partir daí o NuTE virou um ponto de referência, de encontros de artistas, onde assim, vale citar que... Ah, na mesma época havia um outro movimento aqui, que era o dos Poetas Independentes, que também orbitava ali junto com o NuTE, e é aí que eu conheço também a Tânia Rodrigues e esse pessoal todo. E o mais interessante é que quem me incentiva a vir pra Blumenau, pra conhecer o pessoal todo aqui, eu venho através da poesia, foi a Rosane Magali Martins. Eu conheci a Rosane em Florianópolis, eu morava lá na época, a Rosane me faz o convite, venho pra cá, pro lançamento do livro dos Independentes, e nesse dia conheço Lindolf Bell, conheço (?) Krieger, todos os poetas independentes. Todas essas pessoas participavam do NuTE. Os poetas, escritores, eles participavam escrevendo textos, na área da dramaturgia, eles que alimentavam esse banco de textos do NuTE para os Jogos de Teatro. Édio – Nesse dia que tu vai no lançamento do livro da Magali, teve uma performance do NuTE também, não teve? Tu lembra de alguma coisa que tua assistiu ou não? Nassau – Olha, o NuTE fazia diversas performances, e eu acredito que nesse dia... Édio – Era alguma coisa com Fel e... Eu sei que tem uma ligação disso com a última fase, com aquela fase do Cio das Feras, acho que é Fel do Cio, do livro da Magali... Nassau – Livro da Rosane Magali Martins, Fel do Cio... mas... Édio – E tem alguma coisa que o NuTE cria, nessa noite de lançamento, e que me parece, que de alguma forma, isso se transforma, dez anos depois, pro Cio das Feras... Nassau – Realmente eu não consigo lembrar... Édio – E não tem esse registro, ele realmente não aparece, o que foi feito, o que foi criado naquela noite, quem criou... Nassau – É, eu acredito que a Rosane Magali Martins vai te trazer essa relação, porque a obra, o livro é dela, é... Acontecia muita coisa ao mesmo tempo, era um momento muito fértil do teatro, da performance... Lembro de produções do Roberto Murphy, trabalhos bem interessantes, a atriz eu não lembro, mas era em cima de textos da Rosane Magali Martins. Talvez seja isso até. A atriz era a Mari, o sobrenome da Mari eu não lembro, a Rosane vai te dizer quem é a Mari. Com direção do Roberto Murphy. A Mari saia de dentro de uma caixa, com o corpo nu, envolta por um véu, era algo muito belo, ao mesmo tempo sensual, bem bacana. Édio – E do Apocalypsis, Nassau, o que tu lembra de sensação, o que essa peça provocou no teu corpo, quais as imagens soltas que aparecem pra ti quando a gente fala dessa peça? Nassau – É, o Apocalypsis Cum Figuris foi o que eu vi de diferente na época. Eu já tinha uma ligação com o teatro de Itajaí, mas nada que fosse tão impactante como o trabalho do Alexandre Venera na época. Primeiro porque ele tava na contra-mão do que se produzia, o Alexandre optou pelo teatro pobre de Grotowski pra montar o Apocalypsis Cum Figuris. E mesmo negando, na época, uma pergunta que eu fiz pra ele num debate pós a apresentação, tem muita coisa baseada na Bíblia, a grande fonte de inspiração do texto dramatúrgico do Apocalypsis tá na Bíblia, tá na vida de Jesus Cristo. E sendo um teatro pobre... aqueles atores encenando personagens com figurinos que mais pareciam trapos, que lá pelas tantas faziam o ritual do lava-pés, que a Maria Madalena fez em Jesus, realmente criavam um momento de suspensão muito interessante. E era um teatro pra qualquer espaço. Era um teatro de arena, super inovador pra época, fazia-se muito pouco isso, pelo menos aqui na nossa região, e mesmo quando eles iam pra praça, o público que assistia ficava totalmente envolvido pela proposta que eles levavam. Era um trabalho lindo. O Dennis Radünz foi um dos atores que fez um personagem muito forte, até porque pela magreza dele na época, e pelo vozeirão que ele conseguia emitir, então era um trabalho belíssimo. Acho que ali o Alexandre começa a traçar essa linha, dessa apuração da arte, dessa sensibilidade muito grande que ele tem, dessa visão visionária que ele tem em relação à arte. Édio – Então em 1989 você vem pra Blumenau, e então JOTE-Titac, a partir de um texto, é uma entrada como escritor. Quantos textos teus foram acabar em JOTEs, ou premiados... Nassau – Premiados foram dois, Jogo Louco, do primeiro JOTE que eu participei, foi esse o texto premiado. Na época quem montou, quem fez a direção foi o Pépe Sedrez, e teve até mais algumas apresentações, o Marcelo se Souza estava no elenco também. Foi bem interessante. Além de eu ganhar como texto do JOTE, se eu não me engano, o Pépe também foi melhor diretor. Depois houve uma seqüência de participações minhas, e lá pelas tantas eu escrevi (?). Quem montou (?) foi o Silvio da Luz, nome importante também dentro do NuTE e nos Jogos de Teatro. O (?), eu escrevi ele na virada do milênio, que tava aquela coisa do fim do mundo, então eu escrevi, para os Jogos de Teatro, a minha visão de como seria o fim do mundo. Tipo Hollywood, onde a cena acontece em Manhattan, totalmente vazia, somente um casal fazendo a noite da virada de ano, e eles vão recebendo visitas que já morreram, até que aparece A Morte, é mais ou menos assim. Édio – Mas tem mais textos não é Nassau? Nassau – Tem, eu escrevi também Bye Bye Paraíso, que o Silvio da Luz montou, e outros textos que não foram montados. Até porque os Jogos eles tinham essa coisa do sorteio, colocava o texto lá e se ele fosse sorteado... Édio – Se tu fosse somar, foram o quê, uns cinco? Nassau – Uns dez pelo menos. Édio – Tu nunca tentaste fazer uma publicação com todo esse material? Nassau – É, é que na época a gente escrevia esses textos nessas máquinas, as mais simples possíveis, o computador era um luxo incrível na época. Então o processo de arquivamento sabe... acabou se... eu não tinha essa preocupação. Eu até acreditava que deixando no NuTE esses textos sobreviveriam de alguma forma. Eu sei que na época da edição do livro dos Jogos de Teatro, a gente montou algumas coisas... deixa eu ver se eu acho esse livro. Deve estar em algum lugar aqui. A gente levantou alguns textos, mas somente os dois premiados é que fizeram parte. Édio – E os outros se perderam? Nassau – Os outros eram textos que iam pro NuTE e ficavam lá no arquivo. Édio – Isso é coisa que não tem mais hoje. Nassau – Não, não tem. Édio – O Nira me contou que ele fez um dele mesmo, caseiro, e ele também não tem mais, mas parece que está na FURB pelo menos. Umas oito ou dez peças que ele escreveu. Nassau – É, ele teve bastante cuidado com isso. Talvez... eu acredito que na época eu tenha arquivado nesses disquetes, e nunca mais utilizado. Édio – Deve te ido pro... Nassau – Foi, tá numa outra dimensão, risos. Édio – Tu já sabe da nossa proposta pro JOTE desse ano? Nassau – Não. Édio – Tá aí um convite pra tu escrever uma peça, talvez amalgamando todos esses textos, e mais alguma experimentação no NuTE. A idéia é... Antes, o argumento do livro, o argumento desse trabalho... (Édio explica para Nassau o argumento do livro, e a relação deste com a proposta do JOTE-Titac – Experimentando NuTE). Nassau – Que legal. Eu acho que a grande dificuldade em levantar essa história do NuTE, até porque se perdeu parte da história gravada, filmada e escrita, é reproduzindo um laboratório que viva a mesma situação, e a partir daí fazer um registro. Eu acho que é super acertado, a sacada é bem legal, é fantástica. É por aí assim... Édio – Legal. E o convite pra escrever um texto Nassau? Nassau – Na época do JOTE era uma página frente e verso... Édio – É a mesma idéia. Nassau – A mesma idéia? Olha que beleza. Eu ficava pensando como é que a gente conseguia escrever página frente e verso, e ter trinta minutos de duração em cima do palco, risos. Tinha algumas passagens ali, algumas coisas que a gente tinha que antever pra dar essa possibilidade pro diretor. Mas eu com certeza quero participar. Édio – Ah, maravilha! Nassau – Escrever um texto aí... Édio – A gente tá convidando pessoas, como Nassau que escreve, Nira, o pessoal que participou, e isso vai ficar aberto a quem não participou também. (Édio explica a idéia dos disparadores, que funcionarão como dispositivos auxiliares para quem deseja escrever sobre o NuTE sem ter participado do mesmo anteriormente.) Nassau – Bacana, bem legal. Édio – Maravilha, tá feito o convite aí, agora teremos um texto do Nassau. Nassau – Pode contar comigo, estarei lá. Édio – E voltando aos teus experimentos, tuas história com o NuTE. O que tu acha que fazia colar no grupo, o que acontecia e que foi um lugar de interesse pra ti, que tu acabou ficando, e pra outras pessoas também? Eu tenho uma sensação de que... o pessoal sempre fala muito, que a havia muita energia, que havia algo de muita intensidade. Mas eu não tenho um fato muito claro do que acontecia realmente, o que provocava nas pessoas, o que era esse acontecimentos NuTE, porque tanto se agrupavam em torno desse núcleo. Pra ti, pessoalmente, o que te alimentava, o que te fazia voltar lá na semana seguinte, e para as outras pessoas, tu tens idéia do que provocava, do que colava? Nassau – O NuTE tinha uma característica forte que era essa questão colaborativa. As pessoas se doavam realmente às idéias que de repente alguém lançava, todo mundo acreditava e acabava se realizando. Nesse ponto eu vejo o NuTE como uma fonte. Édio – Fonte? Nassau – Uma fonte de inspiração, fonte de aprendizado, e que um grupo de pessoas bebeu dessa fonte, que foram as pessoas que participaram na época. E a outra coisa era... primeiro que o NuTE era anárquico, era uma gente que se relacionava a tapas e beijos, era amor e ódio. A gente saia tudo junto, fazia uma festa, daqui a pouco tinha discussão. Hoje tu vê isso muito claro no Tadeu Bittencourt, daqui a pouco ele briga contigo e daqui a pouco ele te abraça. O NuTE tinha muito disso. E eu não sei se era um misto de ingenuidade, se acreditava nas coisas mais... era coisas que dariam muito trabalho, que hoje se pensaria duas vezes em fazer, por causa disso, mas a gente se dedicava. Então nós tínhamos a ingenuidade de acreditar em algo que era muito difícil de fazer, e mesmo assim se deseja fazer, e ir lá e acreditar, sabe. E essa questão colaborativa era muito forte. Cada um trazia um punhado de coisas. Uma coisa muito clara entre as pessoas que participavam do NuTE era que a gente sabia que cada um tinha alguma coisa a acrescentar, sabe. Desde como se produzir determinada coisa, desde como se criar os elementos pra isso, até a hora de estar atuando, levando isso pra cima do palco. E era, talvez uma coisa que nos auxiliasse muito, era a capacidade que nós tínhamos de cada um saber do seu lugar. Então assim, eu tive participação como ator, mas a minha participação como ator dentro do NuTE foi no sentido de compreender a necessidade dos atores na hora de receber o texto. Eu queria fazer uma pesquisa de dramaturgia, então eu fui ser ator do NuTE. Incrivelmente consegui ser ator revelação de um dos Jogos de Teatro, risos... coisa que hoje me auxilia bastante quando eu preciso escrever alguma dramaturgia. Eu também sempre tive uma boa noção de produção, eu pegava muitos filmes... é daí que nasce o meu desejo de ser produtor, hoje eu sou produtor profissional e o NuTE me ajudou a fazer isso. E uma coisa muito clara entre nós era assim: eu te respeito porque tu é artista e eu respeito o teu trabalho. Mas eu não preciso gostar de ti como ser humano e eu posso gostar de ti como ser humano também. Então, mesmo com todas as brigas que havia na época, com todos os desentendimentos. Nós conseguíamos erguer grandes coisas. Por exemplo, num dos Jogos de Teatro, o grupo que nós montamos, que era eu, Tânia Rodrigues, Tadeu Bittencourt, Pépe, Margareth Diniz, alguns nomes que eu não consigo lembrar, o Jairo Jung, que era arquiteto... Nós produzimos, nós fundimos dois textos e a partir dos dois nasceu um texto que chamava Poesias Latinas, e O Afogado Afunda Novamente. Daí nós, foi uma idéia do Tadeu, da gente pegar todo material de sobra de construção que estava lá nos fundos do Teatro Carlos Gomes, e construímos uma árvore, primeiro construímos em cima do palco essa árvore, e ela era, tinha cinco metros de altura, algo fantástico. Ficou de pé mesmo, com ajuda do Jaime Jung, que era arquiteto, e ele trouxe um outro engenheiro pra gente poder construir essa obra. Aí também participou o Tchelo de Barros, o Cesar Otacílio... foi um grupo bem grande que participou desse trabalho. E depois essa árvore foi pra frente do Teatro Carlos Gomes, e ficou no jardim do Teatro, um pouco antes do Natal, e aí nós fizemos... Por que teve um concurso de árvores de natal em Blumenau, e nós construímos essa árvore, que tinha mais de cinco metros de altura, e encenamos Autos de Natal em frente a essa árvore, com o pessoal do NuTE. Foi bem interessante. Fizemos o nascimento de Jesus Cristo, ele nasceu de dentro de um orelhão, risos... Fizemos também a luta de anjos e demônios. Essa luta era travada na Praça da Moellman, antiga Moellman ali. Era o grupo todo, metade anjos, metade demônios, e travamos essa luta no meio (???). Foi bem interessante. Claro que não ganhamos o concurso de árvores de natal de Blumenau. Uma coisa bem interessante que aconteceu, foi na crucificação de Jesus Cristo, que quem encenou foi o Silvio da Luz, na época ele tinha uma barba, e lembrava bastante Jesus. Então nós fomos à pé, mais ou menos até ali, caracterizamos ele, e de lá ele veio puxando a cruz, pra crucificação acontecer na frente da árvore viva, o nome era árvore viva, que ficava em frente ao Carlos Gomes. Édio – Vocês misturaram o nascimento e morte dele. Nassau – Exatamente. O nosso Auto de Natal contava tudo. E o mais interessante é que o Silvio começou a puxar essa cruz de lá e começou a se formar uma procissão atrás dele, gente com vela na mão, sabe... carolas, donas de casa, foi algo muito impressionante, muito... E ali a crucificação na frente da árvore viva, bailarinos participaram... Teve momentos fantásticos, mais ou menos vinte pessoas subiram em cima dessa árvore, atores, bailarinos, e incrivelmente a árvore não caiu, ficou ali de pé, foi muito mágico isso. Édio – Que legal... Nassau – É, esse foi um dos momentos muito interessantes do NuTE. Édio – E no JOTE como eram Nassau, as montagens. Três dias que vocês tinham pra fazer... Deve ter histórias muito intensas dessas montagens. Nassau – É... O processo dos Jogos de Teatro era... Primeiro que a gente se reunia de maneira informal no Teatro Carlos Gomes, lá no bar, era o bar da Nina na época, então a gente estava sempre lá. E quando estava assim há umas duas semanas pra começar os Jogos, já começava uns desafios e brincadeiras entre as pessoas. Eu e o Giba de Oliveira nós tínhamos uma cumplicidade muito grande nesse sentido, de ficar se desafiando o tempo inteiro pra ver quem escreveria o melhor texto do JOTE. Necessariamente não ganhávamos, mas era uma coisa que chegava à produção. E dependendo com quem tu tivesses mais afinidade naquela ocasião, isso por causa dessa relação de amor e ódio, num ano os teus melhores amigos era uns, no outro viravam outros, risos... Édio – Viravam inimigos, risos... Nassau – Então era assim que a gente ia formando esses grupos e criando essa positividade. Realmente era algo que tu tinhas que estar muito envolvido pra entender que existia essa malícia dentro dos Jogos. Então uma semana antes começavam esses desafios entre as pessoas, e a partir de um momento alguém tomava a frente e começava a formar seu grupo. E isso acontecia de forma simultânea, por que... quando tu via que começava... Se tu tentasses formar grupos muito cedo as pessoas não queriam, falavam que queriam pensar. Mas na hora que os grupos começavam a se formar tu tinha que correr atrás pra formar o teu ou pra participar de algum grupo, pra tu poder estar dentro dos Jogos... Édio – Os grupos então se formavam antes do sorteio do texto? Nassau – Antes do sorteio do texto tu já tinhas um grupo mais ou menos alinhavado. Édio – Isso nos botecos, nos espaços informais... Nassau – É. Na hora que acontecia o sorteio, que o diretor, que era eleito diretor do grupo naquele momento, para aquela edição dos Jogos, ele participava do sorteio, e na hora que ele pegava o texto, ele que escolhia o texto, ele já saia com o grupo dele todo pra determinado lugar, pra fazer uma leitura e a partir dali começar a concepção da peça, de como seria essa montagem, os figurinos, a sonoplastia, que adereços usaria, quem seriam os atores, quais papéis cada ator iria se encaixar. E é claro que tinha aquelas situações que era o engraçado, porque, por haver essa malícia dentro dos Jogos, várias vezes essa malícia vira lenda. Então, uma das regras dos Jogos de Teatro, era que a montagem passaria a ser concebida a partir do momento da escolha do texto. E então, o Giba de Oliveira, na surdina, ele escreve um texto, e monta um grupo que já estava ensaiando há mais de uma semana do início dos Jogos. E para ele conseguir pegar o texto dele próprio, pra conseguir justificar isso, o que ele faz: ele escreve o texto e modifica frases, e considera como sendo um texto diferente, e vai mudando os títulos do texto. Então ele coloca lá um texto com dez versões, pra que ele pudesse pegar, pra que esse grupo dele pronto e ensaiado, ganhasse os Jogos de Teatro, risos... O que acontece: no sorteio ele não consegue pegar o texto dele, risos... Mas já que ele estava com tudo pronto, ele apresenta da mesma forma. E a comissão julgadora dos textos, quando pega os textos na mão, identifica que o Giba (?). Então o que acontece: quando começa a peça do Giba, que todo mundo começa a assistir, ela é uma peça super bem ensaiada, onde tem sapateado, onde tem interpretação, tem figurinos maravilhosos, um trabalho de direção fantástica do Giba... E todo mundo quando viu aquilo... “não pode!”, né... risos... E quem levanta essa leve (?) é o Marcelo Steil, que vira toda uma discussão na época. E eu fazia parte do júri de espetáculos teatrais, eu estava julgando. Então com essa atitude do Giba nós tivemos que desclassificá-lo, porque ele não cumpriu com uma das regras dos Jogos. E quem teve a missão de informar que ele teria sido desclassificado fui eu. E na época, eu me lembro muito bem da situação, nós todos dentro do grande auditório, eu chamei o Giba, a comissão... depois dessa briga toda formada, porque todo mundo queria a cabeça do Giba, risos... Eu chamei o Giba na frente, o Giba veio, encenando algum coitado, com as mãos pra trás, cabisbaixo... Édio – Risos... Nassau – Parou na frente da comissão julgadora do espetáculo, e eu falei: “Giba, todos nós sabemos que você não é um medíocre, que você é um grande diretor, mas saiba que você está desclassificado!”. E ele não levantou a cabeça pra receber essa desclassificação, simplesmente deu meia volta e saiu a baixo de vaias. Édio – Nossa... Nassau – Foi um fato assim... É claro que no ano seguinte... Édio – E o grupo do Giba, como é que lidou com isso? Nassau – Ah, o grupo do Giba... A maior revolta foi de um dos pais de quem participou, porque teve gente da dança do Teatro Carlos Gomes, que queriam... colocavam que o que valia era o que tinha sido posto em cima do palco, e que tinha que ser julgado a partir dali, e não a partir de qualquer outra regra que houvesse antes. Édio – Ah, os pais não entendiam que havia uma regra nos Jogos... Nassau – Exatamente. Então a polêmica se deu ali. No ano seguinte o Giba montou um grupo, como era o nome? Cia... Ah, não lembro o nome, mas eles tinham um slogan que dizia assim: “Nós sabemos o que vocês fizeram no ano passado”. Risos... Édio – Risos!!! Que massa... Nassau – Nesse ano o Giba ganhou todos os prêmios dos Jogos de Teatro. Édio – Olha... Nassau – No ano anterior ele tinha sido desclassificado e nesse ano, o ano do “Nós sabemos o que vocês fizeram no ano passado”, ele e o grupo dele levaram tudo... Édio – Mas aí ele fez certinho... Nassau – Aí ele foi certinho... É, esse é um fato muito interessante. Uma outra coisa, um outro momento bem interessante dos Jogos de Teatro foi uma produção de um grupo que nós montamos, que era o (?). Nesse grupo participava eu, o Dennis Radünz, e outras pessoas, que nós introduzimos o vídeo, mas nós introduzimos o vídeo não enquanto elemento da peça teatral, e sim enquanto elemento da produção. Nós fizemos um vídeo promocional, dentro desses dois dias nós produzimos um vídeo, que fosse promocional do nosso grupo. Nós saímos pra rua, pra Rua XV, de Blumenau, entrevistando as pessoas, perguntando pra elas... Primeiro nós dizíamos pra elas que em Blumenau tinha chegado há pouco tempo um artista muito famoso, chamado Ningres e Ningres, ele era um artista internacional, que finalmente tinha chegado à Blumenau, e que Blumenau poderia assistir ele. E nós queríamos saber o que as pessoas pensavam do Ningres e Ningres. Então tinha gente que conhecia o Ningres e Ningres, risos... tinha visto ele, sabe, uns gostavam da música, outros gostavam da dança, mas o Ningres e Ningres era uma invenção nossa, risos... e é claro que tinha pessoas que não caíam nessa... Édio – Risos... Nassau – Que diziam que não, esse cara não existe, nunca ouvi falar, se esse cara é famoso como é que eu não conheço? E esse foi o nosso vídeo promocional, de um dos nossos grupos. Édio – Aí vocês montaram o espetáculo e ia no fundo, num telão... Nassau – Não. Nós usamos pra divulgação. Na hora em que as pessoas entravam pra assistir o espetáculo, na porta da sala do Teatro, tava lá uma televisão, com um vídeo, rodando essa matéria do Ningres. Édio – Legal... Nassau – É, foi assim que foi. O vídeo, ele é realmente recebido como mais um elemento cênico no NuTE, eu acredito que tenha sido, no Cio das Feras. Aí ele entra como um elemento cênico, não só informativo, ou decorativo, ele passa a ser um dos elementos cênicos, ele dialoga com a cena o tempo inteiro. O Alexandre coloca uma pilha de televisores, onde o Afonso de Souza, conhece o Afonso? Ele estava com uma câmera na mão, e de forma aleatória ele filmava o que acontecia na cena, ora ele filmava a platéia, e em tempo real passava nas telas. Édio – Do Cio das Feras a gente tem sorte de ter esse registro. Porque, claro, a câmera estava ali na mão do Alexandre e do Afonso e isso ficou. Aí isso que tu tá falando, quando tu falas eu vejo a imagem realmente acontecendo, é um espetáculo que tá registrado em virtude da própria técnica que foi utilizada pra montar ele. Os outros são raros. E a última montagem, baseada n’A Morta, tu acompanhou, tu assistiu? Nassau – A Morta? Édio – A Morta, do Mário de Andrade. Nassau – Não. Nessa... O que acontece: a minha última participação no NuTE, com o NuTE, foi no Cio das Feras. Mas o que acontece, o que já vinha... qual era o processo que já vinha acontecendo dentro do NuTE: os Jogos de Teatro, eles possibilitaram às pessoas que participaram, adquirir conhecimento de produção de teatro, de direção, de técnicas de teatro, de dramaturgia... E essas pessoas elas começaram a montar seus próprios grupos, facilitar os próprios caminhos. E isso foi provocando um esvaziamento do NuTE lá pelas tantas, eu acho que isso meio que explica o fim do NuTE, porque ele foi berço pra muita gente que tá hoje aqui em Blumenau, cada um com seu grupo, ou com sua produtora, então assim... No Cio das Feras, é nesse momento que eu me despeço do NuTE, e assumo meu trabalho de produtor e dramaturgo, e começo a fazer as minhas produções independentes do NuTE. E até perco contato com eles nesse momento. Então a minha última vivência foi no Cio das Feras, onde o Alexandre, como direção geral, ele pega um texto, uma poesia da Rosane Magali Martins, e cria, eu posso chamar, de três esquetes, onde cada uma dessas esquetes tem um diretor. Numa delas é o próprio Alexandre, no outro é o Carlos Crescêncio, e no outro, esse rapaz... ele até não está mais em Blumenau, não me lembro o nome dele... Édio – Paulo Camargo. Nassau – O Paulo Camargo. Depois que ele se formou, na FURB, ele foi pra Minas, não sei o que ele faz agora, perdi contato com ele. Então, existem esses três diretores, e fora esses diretores, uma banda, onde tá o Blênio, o Fernando Alex, o Charles e eu. Na época ainda eu tinha meu violão de doze cordas, eu tocava, eu nunca me considerei músico, o violão sempre foi instrumento pra acrescentar às performances que a gente fazia, então tinham duas canções que eu cantava, que eram de minha autoria, que era Nostra, uma da músicas, e a outra O Executor. Então eu tinha essas duas canções, outras composições eram do Blênio, e talvez alguma coisa era do Charles, eu não tenho certeza. Nós fizemos algumas apresentações aqui em Blumenau, em Ibirama e em Lages. E depois, aí sim, eu sigo um caminho paralelo nas coisas que eu venho fazendo até hoje. Édio – Na apresentação de Lages, acho que tá o Charles sozinho, numa faculdade lá... acho que tá só ele com o violão... Aí vocês também faziam... às vezes acontecia com um, às vezes acontecia com todo mundo... Nassau – Exatamente. Às vezes oscilava, mas em Lages eu estava. Édio – Então eu acho que teve mais de uma apresentação lá... Nassau – Deve ter sido. Édio – De lá tem dois registros, um que está só o Charles tocando e outro em que tá a banda, tem mais instrumentos. Nassau – Então eu devia estar nesse que tinha mais instrumentos. Édio – Legal... Nassau – Foi esse o momento da separação, foi bem... Mas realmente, hoje eu acredito que muito do conhecimento que eu tenho do teatro vem do NuTE, principalmente a capacidade de escrever rápido, fazer dramaturgias concisas, bem rápidas, de fazer montagens rápidas, de saber como criar algo que tenha um formato que tenha alcance, mas que seja rápido, e conseguir ver todos os detalhes de uma produção de uma forma mais rápida. Eu consigo montar uma peça teatral em uma semana, e os próprios alunos da universidade (???). É claro que pelo fato de eu fazer a dramaturgia fica muito mais fácil eu passar pro ator a questão da intenção do texto, que realmente esse texto tem (???). A universidade já envolve todo um processo, envolve toda uma pesquisa. E o NuTE nos deu essa capacidade. Édio – A tua interpretação desse “finalmente”, desse esvaziamento do NuTE então é a partir dessa organização dos grupos, onde cada um vai procurar arrumar sua vida, ganhar dinheiro, construir sua própria história, e vão procurando sei lá, o seu próprio caminho... Nassau – exatamente. Se tu pegar o começo da história do NuTE, o NuTE era... O Pépe Sedrez, por exemplo, ele era um ator do NuTE, mas lá pelas tantas, pelo NuTE ser uma escola também, o Pépe Sedrez já começa a vislumbrar a possibilidade de formar um grupo. O Piquenique no Campo, do Arrabal, ele monta dentro do NuTE, ele cria já um grupo, com os alunos dele, um dos alunos dele é o Tchelo de Barros até, e logo depois nasce a Cia Irmão Sol, Irmã Lua – Cia Carona, que depois vem chamar somente Cia Carona. O Roberto (?) foi aluno do Pépe no NuTE. Então aí dá pra ver o que acontece... Até então, acho que final dos anos 80, até final dos 90, tu não conseguia ganhar dinheiro com teatro, aqui em Blumenau. O pessoal do NuTE, que era professor, aí pega Pépe, Giba de Oliveira, Alexandre Venera e Carlos Crescêncio, esses ganhavam algum dinheiro da mensalidade, mas era muito pouco, e seguia ainda a arte assim como... “ah, o artista vai apresentar, paga uma janta pro grupo que tá de bom tamanho já”. Mas aí, começa a haver um processo de profissionalização, e os grupos começam a encontrar seus caminhos, começam a surgir as leis incentivo, as empresas começam a patrocinar, começam a acreditar, e aí cada uma dessas pessoas que já tinha uma vivência, que tinha uma história, que tinha um talento, principalmente entre os diretores, começa a formar seus grupos. O Roberto Murphy, ele cria a Cia dele, que é Os Elementos em Cena, o Pépe, a Cia Carona, o Giba de Oliveira... O Giba ele foi um dos últimos malotes do NuTE, ele tinha uma Cia, que não lembro o nome também... Édio – Arte Atroz... Nassau – Arte Atroz, é. Então já começa a haver essa separação. A vivência que o NuTE... Existe uma vivência na área da dramaturgia e na área da produção, porque nos Jogos de Teatro todo mundo mexia nessas duas áreas. E a partir dali eu começo a desenvolver um trabalho de teatro voltado pra empresa, recebendo patrocínio de empresas, e começo a viver disso. E a partir do momento que isso começa a acontecer os compromissos são outros, cada um começa a seguir seus caminhos. Por último no NuTE tava Alexandre Venera e Carlos Crescêncio, e o Tadeu também. Mas chega uma hora que esse esvaziamento... o Alexandre possibilitar também a realização de um outro JOTE... e a partir daí acho que começa a contagem regressiva pra vida do NuTE. Édio – Eu acho que tu traz um traço novo, que apareceu hoje aqui, que é esse novo momento, com as leis de incentivo à cultura, que não era uma coisa da décadas de 80, que não era uma coisa dos primeiros anos da década de 90, é uma coisa que vai acontecer e realmente se consolidar de 95 em diante, 94 talvez, não sei precisar, mas é da metade da década de 90 que isso começa a se consolidar. Tu acha que isso pode ter enfraquecido, não só o NuTE, mas outros grupos que aconteciam muito a partir de uma espontaneidade, apareceu hoje também a idéia da ingenuidade, ou de um traço anárquico, de uma coisa despretensiosa da sobrevivência, muito mais envolvida a partir de uma... não sei se... não é ideológica... O que alimentava o NuTE, as pessoas não estavam ali necessariamente... elas não visualizavam ficar ricas fazendo teatro, a coisa não era a grana... Nassau – Era paixão... Édio – Era paixão... Nassau – Eram aquelas pessoas que faziam vivências... vivendo da arte, e que por terem desenvolvido um talento em algum momento... seria muito por amor à arte. Talvez até acho que fosse algo... fosse um templo sagrado pra essas pessoas. E cada pessoa na época, por não haver a possibilidade dessas pessoas viverem da arte plenamente, cada uma tinha seu trabalho, cada um vivia de... tinha isso como um hobby. Aí o que acontece: na hora que começou a haver a possibilidade, essas mesmas pessoas fizeram a escolha, quero viver como artista, quero viver da minha criação. Mas isso é claro pra todos nós que (???), e que o NuTE e os homens do teatro já tinham dado seus ensinamentos, sabe, pra cada um seguir o seu caminho. Eu acho que a grande característica das pessoas que se reuniam ali, eram pessoas que tinham a arte como algo muito importante em suas vidas. Nós acreditávamos que nós éramos artistas, todos nós já nos posicionávamos como artistas, diferente de hoje, dos atores que a gente vê na universidade, que ele pensam como alunos e tem uma dificuldade muito grande de se posicionar como artistas, sabe, dizer “eu sou artista e a minha arte é essa, mesmo que eu tenha que aprender no caminho, aprimorar, melhorar”. Mas o aluno da universidade ele tem essa questão que é muito diferente daquele grupo do NuTE na época. Todos nós acreditávamos que éramos artistas, cada um com a sua opinião, cada um com a sua visão, que num determinado momento nós brigávamos pelo que a gente acreditava, nós contribuíamos com o que cada um sabia, com o talento que cada um tinha, um ensinava pro outro. Então eu acho que a grande questão era essa. E quando acontece a possibilidade, quando a gente começa a vislumbrar um mercado onde vai ter espaço pra esse artista, que ele vai poder viver à arte, mas que ele vai ter que se dedicar a isso, cada um fez a sua escolha. E aí que os grupos começam a tomar seus rumos e buscar incentivos de leis, etc., a se estruturar. É assim que a coisa acontece. Édio – E esse querer que tá implícito aí, que a gente denominou como paixão, o que reunia essas pessoas era uma coisa de... uma paixão pela arte. Mas alguma coisa elas queriam também. Tu consegue achar algo mais específico, qual era a meta, o objetivo, desse pessoal todo que tava entregue a essas experimentações, a esses jogos do JOTE, que se dedicaram a estar no NuTE durante todo esse tempo, dezoito anos né... O que se queria com isso... Nassau – Na época, em algumas das nossas discussões, algumas coisas eram claras pra todos nós, e talvez até (?), no sentido de que nós não víamos o nosso trabalho como algo que tivesse o objetivo de educar as pessoas, mas sim algo que, a partir do momento que as pessoas tivessem contato com aquilo, elas deixariam de ser o que elas eram, e passariam a ser algo diferente através dessa experiência que nós propúnhamos na época. Então, o nosso objetivo mesmo era fazer arte, fazer com que as pessoas se questionassem, criar confusão, polêmicas, surpreender... Eu acho que as coisas eram mais ou menos por aí... Agora, os objetivos, realmente eram os mais variados. Existia um ponto onde todo mundo se desentendia, que era a crença individual de cada um, que a gente fazia o possível pra não cair ali, mas volta e meia tava ali. O que acontecia é que, especialmente nos Jogos de Teatro, nós nos reuníamos com aquele grupo que era... as pessoas com quem éramos afins naquele ano, se o nosso grupo fosse um grupo vitorioso, a nossa amizade saia fortalecida, se não fosse todo mundo brigava, a gente ficava um tempo sem se falar, até reencontrar novamente e reatar esses laços. E houve até, num dos Jogos de Teatro, que o nome do nosso grupo foi: Por Nós Não Desatados... Édio – Risos... Nassau – Que tinha amplos sentidos, pra não desatar mais os laços que a gente deixava desatar, e até pelo nó que nós queríamos dar pra que ele permanecesse forte sempre. Então tinha dessas coisas... Édio – Legal... Cara, é meio dia e quinze já, pra gente ir encerrando, uma imagem, uma sensação que passa pelo teu corpo aí com relação ao NuTE, alguma coisa que a gente não conversou e que tu acha importante registrar... Nassau – Eu acho que na hora que eu penso no trabalho que eu desenvolvo hoje, eu vejo que a nascente dele tá lá, sabe, nessa vivência que eu tive com o NuTE, principalmente nos Jogos de Teatro. Pelas pessoas que eu conheci ali dentro, pelas amizades que eu fiz, por grande talentos que eu conheci lá dentro, o Alexandre Venera, o Tadeu Bittencourt, o Silvio da Luz, Dennis Radünz, Giba de oliveira, Aparecido, Marcelo de Souza, Margareth Diniz, Rosane Magali Martins, Tânia Rodrigues, e muitas outras pessoas que participaram. Cada uma dessas pessoas contribuíram muito pra que eu construísse o artista que sou hoje, pra que possibilitasse hoje eu viver da arte que produzo, das idéias... hoje eu me vejo como um vendedor de idéia também, porque eu consegui viver disso, viver bem, consegui produzir um material, que tenho certeza que conta parte dessa história toda. Então na hora que eu penso no NuTE, eu penso num lugar onde tinha uma fonte, e que um grupo de pessoas foi lá e bebeu dessa água, e a partir daí, cada uma dessas pessoas, teve a força de poder seguir seu caminho... Édio – Essa fonte seria uma fonte de... Nassau – Seria uma fonte de inspiração, uma fonte de conhecimento, e uma fonte de fé. Porque pra tu te manter nessa área da arte, e fazer até hoje, é porque, realmente tu tem que acreditar, acreditar que é possível ainda tocar as pessoas, transformar as pessoas, transformar o mundo que nós vivemos num lugar melhor, se aprimorar nesse conhecer o mundo. Eu acho que tudo isso vem de lá. É claro que somado com as outras vivências que eu já possuía, e com as que eu vim a adquirir depois também... Édio – Jóia... Então é isso Nassau... Nassau – Eu também queria te agradecer, pela tua proposta, pela tua iniciativa, até porque me fez fazer um passeio por essa época que foi uma época muito legal da minha vida, foi muito importante, e tava lá, guardada em algum lugar, que hoje eu pude ver de novo... Édio – A idéia é que esse passeio continue, e que tu mantenha contato com a gente pela internet. Essa idéia do livro de work in progress... então ele vai estar em movimento, a gente vai jogar todas as coisas na internet, e tu pode acompanhar, semana que vem te outra entrevista, vai estar ali, daqui a pouco a tua vai estar lá também, e se alguma coisa aparece tu pode fazer comentários, no Blog, vai lá e escreve alguma coisa... E o livro também vai ser produzido assim, cada nova idéia que a gente tiver, cada capítulo que for sendo escrito, tudo vai sendo jogado na net. E a idéia é que as pessoas possam ver e opinar, criticar, e tal, e construir coletivamente essa produção. (Nassau reafirma que deseja manter contato e participar do processo. Édio desliga o gravador.) Arquivo 02 Édio – Ele era promotor de eventos, não é? Nassau – Isso. E quando eles se conheceram o Faleiro gostou muito do Alexandre, ficou muito impressionado com o Alexandre. Édio – Tem uma entrevista tua, que tu faz com o Faleiro, e ele cita o Alexandre com uma certa genialidade, que ele encontrou no Alexandre o trabalho que ele via na Europa. Isso foi publicado no Santa... não, no Jornal A Notícia. Nassau – No jornal A Notícia, é. Édio – Quando eu converso com o Faleiro ele repete isso, num tom muito próximo do que ele te deu na entrevista. Nassau – É, com certeza. Eu lembrei agora que o JOTE é o irmão pobre do Festival Universitário de Teatro, é da mesma época. Tu sabe disso? Édio – Não sei se é a mesma história, eu tenho uma versão... Nassau – O Alexandre ajudou a fazer o regulamento do Festival Universitário, por isso até essa aproximação com o Faleiro, pegou o mesmo regulamento e criou os Jogos de Teatro. Tu sabia dessa? Édio – Sim. Nassau – É algo mais ou menos assim. Eu estou falando de algo que eu ouvi falar, que eu não vivenciei. Édio – A história que o Venera conta é assim: ele foi chamado pra fazer esse regulamento, foi pra casa, pensou, pensou, pensou e montou. (Édio desliga o gravador, mas a história contada é a mesma que consta em outras entrevistas.) Arquivo 03 Nassau – Mas aí é assim: têm imagens, eu já editei esse material, eu tenho ele, mas eu não consigo ver porque minha câmera é digital. Eu gravei com uma câmera digital e agora minhas câmeras MINIDV a fita é diferente e não dá pra ver. Então, tem umas imagens que fizeram do primeiro Festival Universitário em que aparece lá o Alexandre Venera junto com o Faleiro. É uma imagem que é do Festival, mas em que aparecem os dois juntos lá naquela época. Então, com a Pita, de repente tu podes... É a imagem do primeiro Festival. Édio – Hum, bacana. E ela tem isso no acervo dela? Nassau – Tá lá no acervo, tu pode tentar conseguir. (Édio apresenta o blog para Nassau, e comenta como se pode interagir com o mesmo.)