fala / fevereiro 2014 1

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fala / fevereiro 2014 1
FALA / FEVEREIRO 2014
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2 FALA / FEVEREIRO 2014
Sumário EDITORIAL
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A FORMAÇÃO DO COMPLEXO DO ALEMÃO
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ESQUENTANDO OS TAMBORINS! JÁ É CARNAVAL
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FALA SUBPREFEITO ANDRÉ
SANTOS!
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TARSILA DO AMARAL E
MADUREIRA - UM ELO DE
PAIXÃO
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PARQUE DE MADUREIRA
SEDIA PELA PRIMEIRA VEZ
UM CIRCUITO INTERNACIONAL DE SKATE
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RENATO, O GARI SORRISO
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MADUREIRA ESPORTE CLUBE COMPLETA 100 ANOS
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O REI DO BACALHAU
SONHOS NO PICADEIRO
FEIRA DE SÃO CRISTÓVÃO
- UMA VIAGEM PELA HISTÓRIA DO POVO NORDESTINO
NO RIO
DA CAIXA POSTAL
MOCOTÓ DA TIA SURICA
CARTA DO LEITOR
O brasileiro é um povo festeiro.
Fato. Mas o carioca é muito mais.
E quando o assunto é festa, os mais
entendidos nisso ficam do lado de
cá do Túnel Rebouças, no Subúrbio,
na Zona norte. E é em clima de festa
que a segunda edição da Revista Fala
Zona Norte chega até você, afinal é
carnaval, a maior festa popular do planeta! Nosso anfitrião é a figuraça Renato Sorriso, que estrela a matéria de
capa com sua irreverência e simpatia.
Trouxemos um roteiro completo
para você cair na folia na Festa de
Momo, com destaque, é claro, para
o carnaval da Zona Norte, com suas
escolas de samba e blocos. Vista sua
fantasia e vem com a gente brincar!
Temos muito orgulho de representar uma região onde um almoço no
quintal e cadeiras na calçada podem
se transformar num grande evento;
afinal comemorar e “bebemorar” são
especialidades do morador da Zona
Norte.
E que tal saborear um bom bacalhau? O do Rei do Bacalhau do En-
cantado é a nossa dica. Seu Antônio,
proprietário da casa, nos contou um
pouco de suas estórias e você confere
aqui. Na seção Canal Aberto, o Subprefeito da Zona Norte, André Santos, responde às perguntas dos leitores sobre assuntos da região. Você
confere ainda a história do centenário
Madureira Futebol Clube, curiosidades sobre a formação do Complexo
do Alemão e muito mais!
A Zona Norte é lugar de gente que
tem fé e samba no pé. O Maracanã
é nosso e temos um roteiro turístico
para ninguém botar defeito. Destacamos nesta edição o Centro Luiz
Gonzaga de Tradições Nordestinas,
a Feira de São Cristóvão, que reúne
um especial roteiro gastronômico e
cultural do Nordeste.
Preparamos para você, com muito carinho e capricho, esta alegre e
descontraída Revista que tem gosto
de almoço de domingo com a família
reunida em torno da mesa. Tem gosto
de banho de mangueira e sombra de
tamarineira. Bem-vindo; boa leitura!
EXPEDIENTE
Realização: IGPL Comunicação e Marketing Ltda
Jornalista Responsável: Luciana Paiva - MTB: 27.242/RJ
Colaboradores: Fernanda Borriello, Tia Surica, Ronaldo Martins, Pedro Joaquim, Iracema
Martins e Joaquim Ferreira dos Santos
Fotos: Sebastião Silvério, Willy Shampoo e Pedro Joaquim
Revisão: José Bernadino Cotta
Tiragem: 15.000 exemplares
Diagramação: IGPL Comunicação e Marketing
Publicidade: Email: [email protected]
Telefones: (21) 3415-0355 / 7828-7072 / 7828-7073 / 98440-4561
A Revista Fala Zona Norte não se responsabiliza pelas opiniões emitidas
nas matérias e nos artigos assinados por seus colaboradores.
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história do lugar
Iracema Martins
A Formação
do Complexo
do Alemão
Para entender a grandiosidade
do Complexo do Alemão, é preciso primeiro entender a sua formação. Definido como bairro em
1993, a ocupação que daria identidade à localidade, que compreende o lado leste do maciço da
Misericórdia, estendendo-se pelos bairros da Penha, Olaria, Ramos, Bonsucesso e Engenho da
Rainha, além das vertentes dos
morros do Sereno, Grotão/Caixad’Água, das Palmeiras, Adeus/
Bonsucesso, Cariri, Baiana, Alemão e Caricó, começou ainda no
século XIX. Sendo delimitada ao
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norte pela baixada de Irajá e ao
sul pela baixada de Inhaúma, a
região do maciço da Misericórdia já era ocupada, antes mesmo
dos portugueses atracarem em
terras cariocas pela primeira vez,
pela tribo dos Tamoios, povo indígena Tupinambá.
Após a chegada dos colonizadores, as terras da baixada de
Irajá foram doadas, no século
XVI, para a instalação do Engenho de Nossa Senhora da Ajuda,
mais tarde denominada Fazenda
Grande da Penha. Do outro lado,
as terras da baixada de Inhaúma
próximas à Misericórdia
foram doados aos jesuítas. Depois de vários desmembramentos, em 1759 os jesuítas foram
expulsos pelo reino de Portugal
de todas as suas colônias e todas
as suas terras foram confiscadas,
inclusive as de Inhaúma, que foram vendidas. Duas das terras
formariam mais tarde a fazenda
do Engenho da Pedra. Na outra
vertente, o Penhasco da Penha,
pertencente à fazenda Grande do
Engenho de Nossa Senhora da
Ajuda, foi o local para a fundação, em 1635, da Igreja de Nossa Senhora da Penha de França.
Durante os séculos XVIII e XIX,
as terras das duas baixadas foram vendidas, repartidas
e passadas de gera-
ção em geração, até que, na segunda metade do século XX, os
herdeiros de Joaquim Leandro
da Mota, que comprara as terras
ao sul da Misericórdia, venderam o domínio para o polonês
Leonard Kacsmarkiewiez. O
novo proprietário era conhecido
como alemão, assim como morro
de sua propriedade.
Com o final da agroindústria
açucareira na segunda metade
do século XIX, as baixadas de
Inhaúma e Irajá tornaram-se de
atividade agropecuária, transformando o trabalho escravo em pequenos lavradores e pecuaristas,
em regime de foro e “meação”.
Na época, antes mesmo da Lei
Áurea de 13 de maio de 1888,
muitos escravos foram alforriados e, trabalhando nas terras, tiveram que procurar locais para
estabelecer residência. As terras
da Misericórdia, livres de questões de posse, foram-se transformando em pequenos mocambos.
As encostas e morros cobertos
de vegetação também acolheram
escravos fugidos de seus donos,
com apoio de eclesiásticos e abolicionistas. Destes mocambos,
destacam-se o Juramento, com
escravos forros e trabalhadores
da fazenda de Vicente de Carvalho, a Serrinha, com escravos li-
bertos pela ação abolicionista de
Manuel Luiz Machado e sua mãe
Carolina Machado e o Quilombo
do Cruzeiro, formado por escravos fugidos e acobertados pelos
religiosos da Igreja da Penha nas
terras de sua Irmandade.
No início do século XX, as
ferrovias que cortavam as duas
baixadas traziam migrantes das
decadentes lavouras de café do
Vale do Paraíba fluminense e de
Minas Gerais. Além disso, facilitava os deslocamentos ao Centro,
o que atraía trabalhadores com
pouca renda e que buscavam residência nos aldeias já existente
na Misericórdia. Na segunda metade do século XX, as baixadas
trocaram as atividades rurais pelas indústrias, que começaram a
se instalar na região, graças ao
processo de industrialização do
Brasil.
Após as grandes secas no
Nordeste do país, na década de
1950, levas contínuas de migrantes se dirigiram a São Paulo e, a
então Capital Federal, Rio de Janeiro. A maior parte dos migrantes nordestinos eram direcionados para os municípios de Duque
de Caxias e São João de Meriti.
Pela facilidade de deslocamento
até as duas baixadas, muitos dos
migrantes trabalhavam, principalmente, em Madureira e na Penha, remigrando para essas áreas
e buscando moradia em terrenos
já existentes, especialmente nas
encostas da Misericórdia. Na década seguinte, as políticas habitacionais de remoção das favelas
na Zona Sul criaram conjuntos
habitacionais na Região Oeste
como a Vila Kennedy, em Campo Grande, a Vila Aliança, em
Bangu e a Cidade de Deus, em
Jacarepaguá, localidades afastadas geograficamente do lugar de
trabalho de boa parte dos realocados. Buscando lugares próximos aos seus ofícios, a área mais
próxima a Zona Sul tornara-se o
Alemão e a Maré.
Além de todas as migrações
e formações populacionais, ainda na região do Complexo do
Alemão foram incentivadas as
invasões de áreas devolutas e
de propriedades privadas não
ocupadas, demarcadas em pequenos lotes e com estreitas faixas de acesso a estes. Mais de
cem anos depois dos primeiros
mocambos, o Complexo do Alemão compreende, além das áreas
já citadas, 15 comunidades: Itararé, Joaquim de Queiroz, Mourão Filho, Nova Brasília, morro
das Palmeiras, Parque Alvorada,
Relicário, Rua 1 pela Ademas,
Vila Matinha, morro do Piancó,
morro do Adeus, morro da Baiana, Estrada do Itararé, morro do
Alemão e Armando Sodré. Mais
de 60 mil pessoas vivem, trabalham e ajudam a construir uma
das áreas mais importantes da
cidade.
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Carnaval 2014
Esquentando os tamborins!
Já é Carnaval
Zona Norte brilha com 8 das 12 escolas de samba do Grupo Especial
Para quem gosta de carnaval, o Rio
de Janeiro é mesmo um prato cheio;
seja para desfilar no luxo das escolas
de samba, ou para usar e abusar da
criatividade nos blocos pelas ruas da
cidade. É carnaval e fugir é impossível! Muita gente já está botando o bloco na rua, mas a folia começa oficialmente na sexta-feira, 28 de fevereiro,
quando o prefeito Eduardo Paes entregará as chaves da cidade ao Rei Momo
que abre as portas para a folia.
O carnaval de 2014 marcará os 30
anos da Passarela do Samba, lugar que
guarda momentos inesquecíveis e passou a fazer parte da história do Maior
Espetáculo da Terra. Idealizada pelo
arquiteto Oscar Niemeyer, o Sambó-
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dromo é o principal reduto das escolas
de samba do Rio.
É da Zona Norte a atual campeã
do Grupo Especial, a Vila Isabel, vitoriosa no carnaval de 2013. Aliás,
das doze agremiações que compõem
a elite do carnaval carioca, oito são
da Zona Norte: Portela, Imperatriz
Leopoldinense,União da Ilha do Governador, Mangueira, Salgueiro, Império da Tijuca, Unidos da Tijuca e a
Vila Isabel. A região também volta a
ser destaque no carnaval de rua com a
movimentação de blocos. Só o bloco
Timoneiros da Viola, em Madureira,
espera reunir cerca de 70 mil pessoas
em seu desfile, segundo seus organizadores.
Abram alas que a Zona
Norte vai passar! Enredos que
homenageiam Zico, exaltam a
natureza e contam lendas da
criação do mundo fazem parte do
repertório das grandes escolas
da região
A Zona Norte está de ponta a
ponta no desfile do Grupo Especial.
Caberá a duas escolas de samba da
região a responsabilidade de abrir
e fechar o grande show na Avenida
Marquês de Sapucaí. A Império da
Tijuca, que ascendeu ao grupo em
2013, vai abrir o espetáculo às 21h
de domingo, 02 de março. A Unidos
da Tijuca será a última de segunda-
feira, 03 de março. A ordem de apresentação foi definida em sorteio realizado em julho de 2013 na Cidade
do Samba.
E o que a Zona Norte levará para
a Avenida? Da biodiversidade, com
a Vila Isabel, à homenagem a Zico,
grande ídolo do futebol com a Imperatriz, a promessa é de muita emoção
na Passarela do Samba.
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Império da Tijuca
“BatuK” é o enredo da Império da Tijuca e a escola promete fazer
o “chão tremer” na volta à elite do carnaval carioca, celebrando as
batucadas da cultura africana que criaram raízes na vida do povo
brasileiro e no samba. O termo “Batuk” significa “bater, tocar, fazer
vibrar”. A verde-e-branco da Tijuca pretende mostrar que, para os
povos africanos, ritmar um acontecimento é preservar sua memória
coletiva e identidade cultural. Há batucadas que evocam a natureza,
a ancestralidade, que festejam datas importantes, que celebram vitórias, pedem proteção e afastam o mal. Uma das mais antigas agremiações de samba do Rio, fundada em 1940, a escola da Comunidade da Formiga, presidida por Antônio Marcos Teles, o Tê, foi campeã
no grupo de acesso em 2013 e subiu para o Grupo Especial. Será a
primeira a desfilar na Sapucaí, em 2 de março, domingo, às 21h.
Estação Primeira de Mangueira
“A festança brasileira cai no samba da Mangueira” é o tema do
enredo da verde-e-rosa que vai mostrar em seu desfile a alegria das
comemorações do brasileiro, um povo tão feliz, que “faz da vida fantasia, que espanta a dor com maestria, não se vexa nem se aperta e cai
no samba noite e dia”. O enredo apresenta um pouco da história das
festas no Brasil, da mistura étnica que deu origem ao jeito brasileiro
de tudo comemorar. Sob nova direção, tendo à frente Chiquinho da
Mangueira, a Estação Primeira é a quarta escola a entrar na Sapucaí,
no dia 2 de março.
Acadêmicos do Salgueiro
“Gaia – a vida em nossas mãos” é o enredo da Acadêmicos do
Salgueiro que levará ao público do Sambódromo a exaltação e história de Gaia: o envolvimento do ser humano com o Planeta Terra, onde
a vida acontece. O ar, o fogo, a água e a terra compõem este lugar único do Universo, unindo o ser humano. O chão, o mar, as montanhas,
os ciclos dos dias e das noites, o meio ambiente no qual nós nos adaptamos ao longo do tempo. Na reflexão sobre a união humana através
de Gaia, o desfile quer propor ideias sobre como aproveitar, de forma
ecológica, a vida. Assim, corações e mentes se conectam na luta contra a ansiedade e depressão, buscando caminhos para a qualidade de
vida na Terra. Única escola do grupo especial que tem na presidência
uma mulher, a imbatível Regina Celi, a vermelho-e-branco da Tijuca
é a quinta a entrar na Avenida no domingo de carnaval.
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União da Ilha do Governador
A Ilha vai levar para Marquês de Sapucaí no Carnaval 2014 brinquedos e brincadeiras com o enredo “É brinquedo, é brincadeira; a
Ilha vai levantar poeira”, propondo ao público o resgate da memória
da infância. Vão desfilar desde brincadeiras de povos antigos à história do conceito de criança, mostrando o quanto é saudável brincar.
A criança é conduzida ao imaginário, e então experimenta, descobre,
cria, exercita suas habilidades, desenvolve o intelecto e as relações
afetivas, estimulando a curiosidade e autoconfiança. Medos e alegrias da infância também serão retratados no desfile da tricolor da
Ilha do Governador do presidente Ney Filardi. A escola é a segunda
a desfilar no dia 3 de março.
Unidos de Vila Isabel
Com o enredo “Retratos de um país plural” a campeã do carnaval
2013 levará para Avenida as provas de que o Brasil é um país plural,
com suas riquezas naturais diversas que, quando preservadas, guardam um significativo patrimônio histórico-cultural, representado por
ritos e celebrações, formas de expressão musical, conhecimentos e
imaginário coletivo. Chico Mendes, que defendeu as florestas brasileiras, e o folclorista Câmara Cascudo, que desvendou muitos sertões
e territórios desconhecidos do Brasil, serão referenciados no desfile.
“Protegendo o ‘corpo’ como fez Chico, e a ‘alma’, como fez Cascudo, estaremos preservando a verdadeira natureza do nosso gigantesco
país e revelando as cores e matizes que retratam um Brasil Plural!” É
sob este tema que a azul-e-branco do “bairro de Noel”, presidida por
Wilson da Silva Alves, entra na Avenida, no dia 3 de março de 2014.
Ela será a 3ª escola a desfilar.
Imperatriz Leopoldinense
“Arthur X – O Reino do Galinho de Ouro na Corte da Imperatriz”
é o título do enredo com o qual a Imperatriz Leopoldinense vai homenagear neste carnaval o Galinho de Quintino, Zico, também conhecido como Arthur Antunes Coimbra, seu verdadeiro nome. Em seus
carros alegóricos, contará a trajetória do jogador no país do futebol.
A escola faz uma brincadeira com o nome verdadeiro do atleta, que
se transforma em um rei também Arthur, o Rei Arthur X. A proposta
é levar para Sapucaí uma narrativa recheada com nomenclaturas dignas de um reinado, de um império. A escola de Ramos tem as cores
verde, branco e dourado e é presidida por Luiz Pacheco Drumond.
A Imperatriz é quarta escola que desfila no dia 3 de março de 2014.
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Portela
De mar a mar, a Portela vai falar sobre a Avenida Rio Branco, desde
a sua criação até hoje. A escola também fará um carnaval homenageando o carioca com o enredo “Um Rio de mar a mar. Do Valongo à glória
de São Sebastião”. Sob a bênção de São Sebastião, padroeiro da cidade
por onde os cidadãos passam todos os dias, buscando vencer os desafios da vida. O enredo também falará sobre o a Zona Portuária, que antes recebia os escravos e hoje recebe os turistas. E, é claro, sobre o mar,
sobre um povo livre e feliz, e sobre o Rio, Capital da Arte e Cultura. A
Portela está sob nova direção após a eleição em 2013 que deu a vitória
à chapa Portela Verdade, encabeçada por Serginho Procópio e Marcos
Falcon. Monarco, grande estrela da azul-e-branco de Madureira, é presidente de honra. Portela é a quinta escola que entra no Sambódromo
no segundo dia de desfile, 3 de março de 2014.
Unidos da Tijuca
No ano em que completa 20 anos de sua morte, durante uma competição em Ímola, na Itália, o piloto Ayrton Senna será homenageado na Unidos da Tijuca com o enredo “Acelera, Tijuca!”, que levará
adrenalina para Sapucaí com o universo das corridas. A escola vai
abordar a velocidade, em todas as suas vertentes, com animais, personagens da ficção e do universo da ciência. No desfile, os principais
momentos dos grandes prêmios serão relembrados, assim como serão
louvados o esforço e a dedicação por uma vitória. Os carros estão
prontos para a largada, em busca de uma “Pole Position”, e até mesmo os personagens do desenho Corrida Maluca estarão na festa. A
amarelo-ouro e azul-pavão da Tijuca, presidida por Fernando Horta,
é a sexta de segunda-feira de carnaval e fecha as apresentações do
Grupo Especial no dia 3 de março de 2014. Confira a programação
completa no site liesa.com.br
Na Série A, antigo Grupo de
Acesso, SEIS escolas da Zona
Norte desfilam na Sapucaí
Império Serrano, Estácio de Sá,
Caprichosos de Pilares, Paraíso do
Tuiuti, Tradição e Em cima da Hora
entram na Avenida entre sexta (28/02)
e sábado (01/03) de carnaval na briga
por um lugar no Grupo Especial. Caberá à tradicional escola de Cavalcanti,
a Em Cima da Hora, abrir os desfiles
na sexta-feira e a Império Serrano será
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a última do primeiro dia. A Tradição
será a primeira, Caprichosos de Pilares
a quarta e a Estácio de Sá a sexta agremiação a desfilar no sábado. No grupo,
são ao todo 17 escolas e a primeira colocada vai para o Grupo Especial em
2015.
Haverá três reedições de enredo na
Série A: Tuiuti reedita “Kizomba – A
festa da Raça”, com o qual a Vila Isabel foi campeã em 1988. Já a Tradição
levará para Avenida “Sonhar com Rei
dá Leão”, do campeonato da Beija-
Flor de 1976. A Em Cima da Hora reedita o antológico “Os Sertões”, que
deu fama à escola em 1976, e é considerado um dos melhores sambas de
todos os tempos. “Um rio, à beira mar,
vento do passado em direção ao futuro” é o enredo da Estácio de Sá. Com
o enredo “Dos malandros e das madames: Lapa, a estrela da noite carioca”,
a Caprichosos de Pilares homenageia
o tradicional bairro da boemia carioca.
Confira a programação completa da
Série A no site lierj.com.br
Intendente Magalhães
Famosa por abrigar lojas e concessionárias de automóveis durante o ano
inteiro, no carnaval o cenário é outro
na Estrada Intendente Magalhães, em
Campinho. A via se enfeita para receber as escolas de samba dos grupos B,
C e D nos dias 2, 3 e 4 de março a partir
das 19h. Não há cobrança de ingressos
para assistir aos desfiles, ao todo 40 escolas de samba. Confira a programação
no site aescrj.com.br.
Carnaval de Rua na Zona Norte
homenageia candeia
Em pouco tempo de existência, o
Bloco Timoneiros da Viola já é símbolo do carnaval de rua da Zona Norte.
Criado em 2012, o bloco de Madureira
foi vencedor do Prêmio Serpentina de
Ouro de Melhor Bloco do Carnaval daquele ano. Com a homenagem a Candeia, em 2014, a expectativa é reunir
milhares de foliões no já tradicional,
desfile que acontece um domingo antes
do carnaval.
– Esperamos cerca de 70 mil foliões e novamente selamos parceria com
a Feira das Yabás, do amigo querido
Marquinhos, de Oswaldo Cruz – diz
Vagner Fernandes, presidente do bloco. O Granes (Grêmio Recreativo de
Arte Negra Escola de Samba Quilombo), fundado por Candeia na década de
1970, também vai participar do desfile.
A sede da agremiação foi destruída por
uma enchente em janeiro e desde então
o Timoneiros os vem auxiliando.
Vagner destaca a importância de
trazer de volta os foliões para a Zona
Norte, fora do eixo Centro-Zona Sul:
– O carnaval do subúrbio sempre
foi muito forte e, nas duas últimas décadas, veio perdendo sua representatividade. É preciso despertar a atenção
das autoridades e das empresas patrocinadoras para a importância da festa
que acontece geograficamente distante
da orla carioca.
Com a homenagem a Candeia, proposta por Paulinho da Viola, cofundador e anfitrião do bloco, O Timoneiros
pretende não só reverenciar o poeta do
samba, mas também despertar a atenção dos gestores públicos de que há um
quilombo em pleno bairro de Acari que,
embora agonize por falta de investimento, resiste. A concentração do bloco será
às 12h na Praça Paulo da Portela, em
frente à Portelinha, dia 23 de fevereiro.
Blocos autorizados pela
prefeitura devem reunir 500 mil
foliões na região
A batucada esquenta também em
outros pontos da Zona Norte da cidade com o surgimento de novos blocos
autorizados pela Prefeitura. Segundo a
Riotur, 167 blocos estão formalizados
na região para um público estimado de
500 mil pessoas. Na Grande Tijuca, os
foliões terão mais quatro opções com os
estreantes Thriller Elétrico, Bloc Bloc
e Bloco Baixo Macaco, em Vila Isabel.
Na Tijuca, a mais nova opção tijucana é
a Banda Zulmira e em Irajá o Ai, Se Eu
Te Pego. No Méier, a Banda Cruzeiro
do Sul faz seu primeiro desfile na Rua
Torres Sobrinho, no sábado de carnaval,
1º de março. Na Ilha do Governador, 31
blocos foram autorizados pela Prefeitura, entre os quais os novos Foliões do
Rio e a Banda da Praia da Bica, ambos
no bairro do Jardim Guanabara. Todas
as informações a respeito do carnaval
de rua, como datas, trajetos e horários
dos desfiles estão disponíveis na íntegra
no site www.rioguiaoficial.com.br e nas
redes sociais Twitter, Google+ e Facebook. Fotos LIESA.
Timoneiros da Viola
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canal aberto
FALA SUBPREFEITO ANDRÉ SANTOS!
O que rola no seu bairro? Algum problema na sua rua? O que
pode melhorar?
Esta seção da Revista Fala
Zona Norte foi feita exatamente
para isso, para ser um canal aberto
entre você, amigo leitor, e a Subprefeitura da Zona Norte. Aqui, o
Subprefeito André Santos responde a sua pergunta.
Lixo Zero
Concordo com a lei do Lixo
Zero, mais acho que faltam lixeiras e também mais ações educativas. O que a Subprefeitura tem a
dizer sobre isso?
Zaíra Silva Neves – Vila Isabel
A implantação de lixeiras vem
sendo intensificada nos bairros
onde o projeto já foi implantado.
No bairro do Méier, por exemplo,
a redução da quantidade de lixo
nas ruas é impressionante, pois as
pessoas estão-se conscientizando.
Ao mesmo tempo, o número de
multas também vem caindo.
Carnaval de rua
Com o aumento do número de
blocos de rua na região, o que a
Prefeitura vai montar de infraestrutura para os eventos?
Maria Luíza Nunes - Méier
De três anos pra cá, a Zona
Norte teve um aumento considerável de pelo menos 40 por cento
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no número de blocos. Com isso,
nós temos aumentado o número
de banheiros químicos, além de
agentes da Comlurb e da guarda
municipal que acompanham esses
blocos para dar maior conforto
a quem vem curtir o carnaval na
Zona Norte. Ficou acordado também, entre a Prefeitura e os organizadores, que os blocos aluguem
banheiros químicos, além daqueles cedidos pela Prefeitura, de
acordo com o número de pessoas
que vão desfilar.
Terminal de Madureira
O terminal de Madureira foi
fechado e os pontos finais de ônibus deslocados. Será construído
um novo terminal no bairro? Há
previsão?
Carlos Alberto de Oliveira Madureira
Na realidade, o terminal não
foi demolido, ele está sob intervenção através da obra da Transcarioca. É um terminal que servirá
aos BRTs; com isso, vamos conseguir reordenar o trânsito e as
linhas de ônibus que passarão no
BRT, ligando a Barra da Tijuca ao
Aeroporto do Galeão. Foi preciso fechar o terminal para fazer as
adequações necessárias; para dar
maior conforto à população. Nós
deslocamos os pontos finais para
as ruas próximas. A Rua Quaxima, por exemplo, fica a cem me-
tros do terminal. Dentro de três
meses, o terminal de Madureira
será reaberto com infraestrutura
bem melhor que antes.
Crack
Que ações vêm sendo implementadas na região para conter
o avanço das cracolândias, como
a das proximidades do morro do
Cajueiro, em Madureira?
Elisângela Freitas – Rocha
Miranda
A Prefeitura vem realizando
sistematicamente ações de acolhimento de usuários de crack há
cinco anos e com um olhar diferenciado para essa população que
circunda a região do Cajueiro. O
número de usuários aumentou
depois da pacificação das comunidades do Jacarezinho e Manguinhos. Nós voltamos o olhar não
só para Madureira, mas também
para Marechal Hermes. O perfil
da população de rua mudou. Antes, eles consumiam bebida alcoólica, mas agora são usuários de
crack. Existe a programação da
instalação da UPP em Madureira, uma promessa do Governador
e planejamento da Secretaria de
Segurança e que deve melhorar
a situação. Vamos continuar com
as ações de acolhimento na região
com a guarda municipal, a polícia
militar e os agentes da Comlurb.
Os dependentes são abordados e
Foto: Acervo IGPL
tentamos convencê-los a ir para
um dos abrigos da Prefeitura para
tratamento.
Alagamentos
Por conta das últimas fortes
chuvas, várias lojas e inclusive o
Mercadão de Madureira tiveram
seu funcionamento afetado. O que
tem sido feito para evitar os alagamentos na região?
Vera Lúcia Gomes – Marechal Hermes
A Zona Norte já vem com investimentos há vários anos, principalmente nas dragagens de rios.
Desde 2009, nós implementamos
também obras de canalização.
Estamos com uma obra pesada no
rio Acari, que corta pelo menos
10 bairros da Zona Norte, uma
obra prometida há mais de 30
anos. Já estamos no segundo ano
de intervenção, um investimento
de R$ 88 milhões, e vamos conseguir até o final de 2015 acabar
com as enchentes que acontecem
nos bairros de Acari, Fazenda
Botafogo, trecho de Guadalupe,
Honório Gurgel, entre outros. Já
demos início à dragagem do rio
Jacaré, na região da Leopoldina,
onde vamos conseguir acabar
com as enchentes naquela região
com intervenções de macro e de
microdrenagem.
Chuvas
Nas comunidades e áreas de
risco, quais são as ações preventivas para evitar tragédias com as
chuvas da época?
Natália Paiva - Tijuca
A Cidade do Rio de Janeiro não
tinha um mapeamento da quantidade de pessoas que moravam nas
áreas de encostas sujeitas a sofrer
com deslizamentos. Nós, entre
2009 e 2011, fizemos um mapeamento de toda a cidade e identificamos 17 mil famílias vivendo
em áreas de risco. O Prefeito Eduardo Paes, em parceria com o Governo Federal, conseguiu inserir
intervenções nessas áreas através
do PAC das Encostas. São R$ 350
milhões para reassentamento de
famílias.
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personalidade
Tarsila do Amaral e Madureira
Um elo de paixão
Coreto de Madureira em 1924
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“Bairro” em formação na década de vinte do século XX, apresentava problemas comuns aos outros lugares dos subúrbios da Central do Brasil.
“Apezar do seu
movimento intentíssimo, do seu commercio progressivo e da
sua numerosa população só parte de uma de
suas ruas tem illuminação electrica. Não
tem gaz, e calçamento
só duas ruas, em partes, o possuem.” Jornal A Noite – 1923.
“Porcos, carneiros, galinhas, cachorros, gatos, cabras etc.,
andam pelas ruas e
praças do logar, e
as cobras venenosas
quase todos os dias
mordem os transeuntes. Á noite não se
pode dormir devido
á cantoria dos sapos
nas lagoas.” Jornal Á
Noite – 1924.
É nesse cenário
que se foi construindo
a tradição do Carnaval de Madureira. Primeiramente festejado
quase exclusivamente
em clubes carnavalescos que apresentavam
os seus préstitos aos
moradores locais e
adjacências.
Os coretos grandiosos, novidade de
Madureira, teve início
na crise financeira de
1928 provocada pela
Primeira Grande Guerra Mundial.
Os comerciantes do largo de
Madureira perceberam, então, o
grande negócio que o carnaval
podia proporcionar e investiram
pesado na confecção dos chamados CORETOS ARTÍSTICOS,
denominado por eles de alegoria
fixa.
O primeiro deles foi em
1920 com a construção de navio de guerra, um Cruzador, a
um custo de uma pequena fortuna de 2.320$000 (dois contos
e trezentos e vinte mil réis),
que rendeu muito sucesso, pois,
cerca de vinte mil pessoas estiveram no Largo para apreciá-lo.
Imagine você, caro leitor, hoje,
no Largo de Madureira tamanho
aglomerado de pessoas! Que movimento espetacular no comércio
não apresentaria?
Então, de olho no sucesso alcançado, os comerciantes locais
partiram para aprimorar os coretos nos anos posteriores até que,
em 1924, resolveram homenagear
Santos Dumont construindo a Torre Eiffel, de autoria do cenógrafo
e comerciante local José da Costa.
O coreto media 18 metros de
altura com uma base quadrada
de 24 metros, contando com três
pavimentos giratórios, um farol
e um balão Santos Dumont, com
uma iluminação elétrica de 400
lâmpadas, tendo também instalações para bandas de música e
de clarins. O orçamento da obra
ficou em 12.000$000 (doze con-
tos de réis) rateadas entre os comerciantes.
É esta paisagem que Tarsila do
Amaral encontrará no Carnaval
em Madureira. Como chegou até
lá, não sei. Pode ter ido de trem,
bonde ou automóvel. Qual caminho tomou para chegar em Madureira? Quando chegou, ficou
maravilhada com a obra exposta
naquele lugar sem atrativo, mas
que sabia causar surpresas.
Tarsila, então, fez os croquis
para a futura obra denominada
CARNAVAL em MADUREIRA
e deve ter ficada impressionada
com a construção do grandioso
coreto e o movimento de pessoas
no lugar. Naquele ano, 1924, há
uma constatação de que “vinte e
cinco mil pessoas foram visitar
aquella locallidade para apreciar
a famosa tradição do logar, o belo
e custoso coreto levantado no largo de Madureira pelo commercio
local”. Jornal Á Noite – 1924
Desta forma Madureira mostra
a sua força como local apreciado
para se brincar o Carnaval tendo a
sua criatividade mostrada ao mundo através da obra modernista de
Tarsila do Amaral.
ROBERTO MATTOS DE
MENDONÇA
PROFESSOR DA REDE PÚBLICA
PESQUISA EM ANDAMENTO
UM COMPONENTE VARIÁVEL – OS CORETOS DE MADUREIRA 1920-1940.
FALA / FEVEREIRO 2014
15
ACONTECE
PARQUE DE MADUREIRA SEDIA
PELA PRIMEIRA VEZ UM CIRCUITO
INTERNACIONAL DE SKATE
16 FALA / FEVEREIRO 2014
Fotos Paulo Carneiro
O Parque Madureira sediou
pela primeira vez, nos dias 24, 25
e 26 de janeiro, o Mundial de Skate Bowl, fortalecendo ainda mais
a integração entre a Zona Sul e o
subúrbio carioca. Oito atletas disputaram a decisão da etapa carioca e Pedro Barros, tetracampeão
mundial na modalidade, levou a
melhor. A pista de skate bowl, com
seus aspectos que se igualam aos
padrões internacionais de qualidade e já é a queridinha dos praticantes do esporte.
FALA / FEVEREIRO 2014
17
capa
Renato,
o Gari Sorriso
“Obrigado, Zona Norte! Sem
vocês, não existiria o Gari Sorriso!” Foi com essa simpatia e com
seu sorriso farto que Renato Luiz
Feliciano Lourenço, o gari mais
famoso do mundo, se despediu de
nossa equipe após nos receber no
que ele chama de seu “escritório”,
a Praça Xavier de Brito, na Tijuca,
também conhecida como Praça
dos Cavalinhos.
Nascido numa família de dez
irmãos, no bairro de Guadalupe, o Gari Sorriso passou grande
parte de sua vida entre Madureira, Marechal Hermes e Bento Ribeiro. Hoje, aos 49 anos, 19 deles
como gari, Renato está no quarto casamento, é pai de quatro filhos e acumula em sua bagagem
o que intitula como “uma riqueza cultural que não tem preço”.
Conhece vários países e circula
entre celebridades nos mais badalados eventos pelo mundo, tendo
inclusive representado o Brasil
na Olimpíada de Londres. Mas,
segundo ele, sua maior conquista
mesmo foi ter concluído a Faculdade de Turismo em 2013.
18 FALA / FEVEREIRO 2014
“Minha vassoura é meu
passaporte,
a praça, meu
escritório, e o
mundo, meu
palco”
Nesta entrevista exclusiva, o
Gari Sorriso que atualmente mora
no bairro de Tomás Coelho, nos
contou de sua vida de moleque
brincalhão da Zona Norte e do
que mudou em sua estória desde
a noite daquele carnaval de 1997
na Avenida Marquês de Sapucaí,
quando seu gingado conquistou o
Brasil e o mundo.
Fale um pouco de sua infância na Zona Norte
Eu nasci em Guadalupe e fui
para Madureira com 5 ou 6 anos.
Minha avó tinha uma casa na Rua
Carolina Machado, 876 casa 2, do
lado da Portela. Estudei na Escola Municipal Raja Gabaglia, onde
eu repeti seis vezes a quinta
série (risos). Também
passei pelas Escolas Paraguai
(Bento Ribeiro) e França (Abolição). Eu repetia muito porque
acho que as professoras não
me entendiam; não conseguiam
acompanhar meu raciocínio.
Morei também na Rua Caracas,
em Bento Ribeiro, onde morou o
Ronaldinho (Ronaldo Fenômeno). Eu brincava demais e não
ligava para estudar. Hoje, tento
passar para os jovens o quanto é
importante os estudos na vida de
uma pessoa. Brinquei muito de
carrinho de rolimã na Praça Saiqui, no Valqueire. Roubei muita
manga nas casas da vizinhança
e brincava no valão no morro
de São Roque, onde eu pegava
rã. Parei de estudar aos 13 anos
para ajudar os meus pais a sustentarem a mim e meus nove
irmãos. Meu pai era pintor de
obras e minha mãe, lavadeira.
Meu primeiro emprego foi numa
serralheria na Estrada da Fontinha, mas eu também vendi pico-
lé, bala e amendoim nas quadras
da Rosa de Ouro e do extinto
Caprichosos de Bento Ribeiro.
Eu sempre sonhei em crescer na
vida e não podia imaginar o que
me aguardava quando, em 1995,
ingressei na Comlurb.
Quando foi que você começou a dançar assim?
Antigamente homem não podia rebolar e meu pai me proibia
de sambar, dizendo que homem
tinha que ter cintura dura. Os
pais orientavam os filhos a seguir
a carreira militar ou a tentar no
futebol, só que meu pai não deu
muita sorte comigo porque eu
nasci com a cintura mole. Passei
a frequentar os bailes como o do
Marã, em Marechal Hermes. Dancei muito também no Disco Voador no mesmo bairro e no Tênis
Clube de Valqueire. Desfilei muito no Arrasta Povo, um bloco de
Vaz Lobo, na União de Vaz Lobo,
Império do Marangá e na União
de Jacarepaguá.
Como nasceu o Gari Sorriso e sua fama?
Eu não sou famoso, sou conhecido. Famoso é Deus, o Sol, os
astros e as mulheres. Quando eu
morava em Bento Ribeiro, tinha
um senhor chamado Tica que me
disse, certa vez, que quando eu
mostrasse meu samba na televisão, o mundo ia me respeitar. Ele
dizia pra eu ir, na época, no programa João Roberto Kelly, mas
foi na Sapucaí que eu me tornei
conhecido por causa justamente
da televisão. Já estive lá na casa
do seu Tica agradecendo pelas palavras dele. Era carnaval de 1997,
desfile do antigo Grupo de Acesso, um sábado. Meus colegas do
trabalho já sabiam que eu gostava de rebolar igual mulher desde
pequeno. Tinha gente que achava
até que eu era gay. Eles ficaram
Fotos Acervo da COMLURB
FALA / FEVEREIRO 2014
19
Praça Xavier de Brito
dizendo pra eu ir lá e sambar. Eles
disseram “Renato, você hoje tá
no olho do mundo, cara.” E assim
eu fiz. Tinha acabado de passar a
Escola de Samba Santa Cruz e eu
fui atrás da escola, sambando com
minha vassoura, e o povo da arquibancada adorou. Seu Guilherme, que era meu gerente, me deu
uma bronca tremenda e disse que,
se eu não parasse, iria tomar uma
punição e ameaçou me suspender.
O pessoal do Setor 1 da Sapucaí
começou a xingar o seu Guilherme. No dia seguinte, os jornais
começaram a me chamar de “Globeleza da Comlurb”. Aí meu chefe mandou que eu sambasse também nos outros dias de desfile.
No dia do desfile das campeãs, a
Hebe Camargo, que Deus a tenha,
me chamou de “gracinha”. Eu não
entendi nada. Eu um nego feio, da
perna fina e nariz chato, ser cha-
20 FALA / FEVEREIRO 2014
mado assim. Hebe me convidou
para o programa dela e depois
disso foram várias entrevistas e
convites para participar de eventos. Me lembro muito do São Paulo Fashion Week onde desfilei ao
lado de Xuxa, Paulo Zulu e outras
celebridades. O nome de Sorriso
veio depois que participei de uma
palestra em São Paulo, onde eu
não parava de rir. Nascia o Renato
Sorriso, hoje Gari Sorriso.
Como foi para você representar o Brasil em Londres no
encerramento da Olimpíada
de 2012?
Eu não danço para a televisão.
Quando eu danço, penso na minha
mãe e imagino a figura dela na cadeira mais alta da plateia. Penso
nos meus irmãos e nos trabalhadores que não têm dinheiro para
comprar ingresso para assistir aos
espetáculos. Lá, na verdade, eu
estava muito concentrado e me
lembro das pessoas chamarem
meu nome, mas acho que estava
calmo. A ficha só caiu mesmo
quando eu voltei para o Brasil e vi
os jornais e a televisão. Aí eu chorei vendo a responsabilidade que
foi levar uma nação nas costas, a
bandeira de meu país no peito.
O que você conseguiu realizar depois do Gari Sorriso?
Eu nunca quero deixar de sonhar porque, quando a gente para
de sonhar, a gente morre. Mas, até
aqui, eu consegui o respeito dos
meus filhos, da minha mulher e
da sociedade. Eu valorizo mais a
sabedoria do que o dinheiro. Poder entrar na faculdade e me formar foi com certeza minha maior
conquista. Minha mãe dizia que,
se eu não estudasse, seria lixeiro,
mas lixeiro é quem suja a rua. Eu
sou gari e foi nessa profissão que
eu tive a oportunidade de voltar a
estudar. Eu fui o terceiro da minha
família a ter curso superior, tenho
também dois sobrinhos formados.
Hoje dois dos meus filhos estão
na faculdade. Entrei para faculdade de Turismo com 44 anos e
tinha professores bem mais novos
que eu. Peguei meu canudo no
ano passado (2013) na Faculdade
São José, em Realengo, e foi com
certeza a maior emoção da minha
vida, maior mesmo que Londres.
Eu inaugurei uma nova geração
na minha família; incentivo e dou
exemplo aos parentes e aos colegas de trabalho.
E a vassoura, você não pensa em deixar?
Não. Minha vassoura é meu
passaporte, essa praça é meu escritório e o mundo é meu palco.
Sou muito grato à minha empresa,
a Comlurb, e sei que, se eu largar
a vassoura, tudo acaba. Essa praça
é meu palco, sou bom no que faço
e faço com amor. O gari é responsável por manter limpo o espaço
público. De dia, sou Renato, à noite, sou o Gari Sorriso, mas durante
as 24 horas do dia eu sou gari. Foi
Deus quem me enviou. Deus põe
a mão em todo mundo, mas nem
todo mundo sente a mão de Deus.
E no carnaval de 2014,
onde veremos o Gari Sorriso?
Minha escola de samba de coração é a União da Ilha do Gover-
nador e com certeza vou torcer
por ela. Minha paixão pela Ilha
começou por causa do Haroldo
Melodia que eu admirava cantando desde criança. Meus pais eram
boêmios e na minha casa todo final de ano meu pai comprava o LP
das escolas de samba. Eu adorava ouvir o Haroldo cantando com
aquela voz marcante. Sinto falta
dos grandes sambas do passado,
mais cadenciados... Apesar de ter
sido criado em madureira, meu
coração é da Ilha do Governador.
Mas eu também adoro a Portela,
onde vou desfilar este ano. Venho
também na Grande Rio, mas todas
as agremiações moram no meu
coração.
do Grupo Brasil Brasileiro, dirigido pelo coreógrafo Claudio
Segovia, e com dançarinos de
peso como Marcelo Chocolate
e Sheila Aquino. No show nós
mostramos outras danças brasileiras além do samba. Nesses
últimos anos, eu tive muitos
momentos marcantes na minha
vida. Já dividi palco com a Madonna, Gisele Bündchen e Roberto Carlos. Almocei com Pelé
na casa dele na Inglaterra e conheci o jogador David Beckham.
Foi a vassoura que projetou tudo
na minha vida e eu só tenho a
agradecer por essa riqueza cultural que não tem preço.
Quantos países você já conheceu? Fale
de momentos
marcantes de
sua vida.
De Paris tô
enjoado (risos)!
Cansei de ir à
Paris! Conheço
Canadá, França, Espanha, Inglaterra e também a Suíça.
Na Inglaterra,
eu fui comparado a Fred Astaire. Este ano
em junho estou
voltando lá e
vou também à
Alemanha com
a terceira turnê
do Espetáculo
FALA / FEVEREIRO 2014
21
social
Sonhos no Picadeiro
Senhoras e senhores, preparem-se que vai começar o Maior Espetáculo da Terra! No picadeiro,
palhaços, malabaristas, contorcionistas, trapezistas
e muito mais no espetáculo que vai começar! Hoje,
em pauta, o picadeiro de um circo que há alguns
anos realiza um fantástico trabalho artístico-social,
mantendo sua lona armada no histórico bairro da
Zona Norte do Rio, São Cristóvão.
Utilizando o imaginário das artes circenses, a
Universidade do Circo (Unicirco) se propõe a capacitar crianças e jovens de comunidades carentes
para atuar profissionalmente no mundo do circo,
promovendo novas perspectivas de um futuro.
Quem idealizou e pilota com total dedicação o
artista Marcos Frota, que, depois de viver um trapezista em uma novela na TV, se apaixonou pelo
mundo do circo e hoje leva sua lona por todo o país,
divulgando a arte circense.
Quem nunca sonhou dominar pelo menos uma
parte do repertório de um artista de circo? Confesso
que sempre pensei assim, tenho grande admiração
pelo mundo do circo e quando criança sonhava em
voar como os trapezistas. Mas o tempo passou e
hoje acho que não rola... Devo ficar como espectadora mesmo.
22 FALA / FEVEREIRO
DEZEMBRO 2013
2014
Fernanda Borriello
Fotos: Wanderson Cruz
O Projeto da Unicirco conta com o apoio da Petrobras e oferece oficinas circenses em vários locais
do Rio de Janeiro como na Zona Oeste em Santa
Cruz, por exemplo.
Os jovens que se formam nas oficinas acabam
tendo destino imediato, o que aumenta muito a motivação: a lona do circo que fica montada na quinta
da Boa Vista. Lá os formandos já podem apresentarse como artistas profissionais.
Indo ao circo, observando o espetáculo de tamanha precisão e domínio artístico, quem poderia imaginar que muitos dos jovens ali acabaram de sair de
projetos sociais e hoje fazem do circo sua profissão?
A Zona Norte é a casa da lona da Unicirco já há
algum tempo e muitos não sabem que o circo está
armado na Quinta da Boa Vista, sendo opção de lazer e entretenimento para as famílias dos bairros da
região.
Outra curiosidade é que grande maioria dos ingressos são doados para projetos sociais e a plateia
está sempre cheia de um público bastante diversificado, promovendo a integração e o acesso à cultura
a todos.
Fernanda Borriello é Superintendente de Defesa e
Promoção dos Direitos Humanos – SEASDH-RJ
FALA / FEVEREIRO 2014
23
TURISMO
Feira
de
São
Cristóvão
Uma viagem pela história do povo nordestino no Rio
Uma respeitada senhora de 69
anos que rejuvenesceu, ficando
mais bela e forte com o passar
dos tempos. Assim podemos identificar a Feira de São Cristóvão,
como é popularmente chamado o
tradicional espaço de cultura nordestina na Zona Norte do Rio de
Janeiro. Centro Luiz Gonzaga de
Tradições Nordestinas é o nome
que o local recebeu depois das novas instalações, quando passou a
integrar oficialmente o roteiro turístico da cidade.
Os primeiros movimentos que
deram origem à Feira datam de
1945, época em que retirantes
nordestinos chegavam ao Campo
de São Cristóvão em caminhões
vindos do Nordeste para trabalhar
na construção civil. As festas regadas a muita música e comida
típica, geradas pelos encontros
dos recém-chegados com parentes e conterrâneos, deu origem à
Feira, que permaneceu ao redor
do Campo de São Cristóvão por
58 anos.
Em 2003, o antigo pavilhão foi
reformado pela Prefeitura do Rio
e transformado no Centro Municipal Luiz Gonzaga de Tradições
Nordestinas. Hoje, não só nordestinos frequentam o local para matar saudades e resgatar um pouco de sua cultura, como também
cariocas e turistas do Brasil e do
mundo.
A Feira de São Cristóvão é
uma ótima opção de lazer para todas as idades, com a gastronomia
e a representação das manifestações culturais do povo nordestino.
São mais de 700 barracas com comidas típicas e artigos variados.
Nos sete palcos instalados, o melhor do forró, xaxado e baião. Em
2014, os feirantes aguardam com
grande expectativa a Copa do
Mundo, quando o vizinho estádio
do Maracanã abrigará importantes
partidas do Mundial de Futebol.
– A Feira vai funcionar em todos os dias de jogos. Vamos colo-
Artesanato Mestre Vitalino
24 FALA / FEVEREIRO 2014
Público lota os palcos da Feira
Mestre Gonzagão dá as boas vindas
Foto Gilberto Teixeira
car bandas para tocar nos palcos
antes, durante o intervalo e depois
das partidas, com uma programação especial para brasileiros e
turistas – diz Marabá, diretor cultural da Feira que também abriga
a maior festa de São João do Rio,
que começa exatamente em junho, mesmo período da Copa.
Em 2010, a Feira de São Cristóvão passou a ser considerada
patrimônio cultural. O então presidente da República, Luís Inácio
Lula da Silva, sancionou a lei,
resultado de um projeto de pesquisa levantado pelo Instituto do
Patrimônio Histórico e Artístico
Nacional (IPHAN) e aprovado na
Câmara dos Deputados e no Senado Federal.
Quando os barraqueiros disputavam tabuleiros para expor suas
mercadorias no entorno do Pavilhão de São Cristóvão, enfrentando sol e poeira, não poderiam
imaginar que se tornariam empresários de estabelecimentos tão importantes para a cultura carioca. É
o caso de Francisca Alda Hortência, a Chiquita, que há 34 anos
deixava Crateús, no Sertão do Ceará, em direção ao Rio de Janeiro.
– A Feira foi minha primeira
oportunidade de emprego aqui.
Durante 24 anos, trabalhei embaixo dessas árvores, armando e desarmando barraca. Eu me lembro
de que, no começo, a gente pedia
a Deus pra conseguir um tabuleiro, que era dado pela Prefeitura,
para poder expor e vender nossos
produtos. Este novo espaço foi
uma grande conquista para todos
nós, feirantes.
Atualmente, a barraca da Chiquita é uma das mais concorridas
do lugar. O espaço é usado para
realização de reuniões de empresas, festas e, vez por outra, para
gravações de novelas e programas
de TV. Lá, Chiquita ainda preserva o uniforme de vaqueiro, feito
de couro, usado pelo pai no Sertão
e um velho baú em madeira, que
pertenceu à sua avó. Entre outros
artigos de decoração, os objetos
dão um toque especial à decoração da casa.
O espaço funciona de terça a
quinta-feira, das 10h às 18h, e no
intervalo direto das 10h de sexta às 21h de domingo. O endereço é Campo de São Cristóvão
S/N. Informações pelo telefone
2580.5335 ou pelo site www.feiradesaocristovao.org.br
Corredor da Feira
FALA / FEVEREIRO 2014
25
26 FALA / FEVEREIRO 2014
ESPORTE
MADUREIRA ESPORTE CLUBE
COMPLETA 100 ANOS
Em 1932, os comerciantes
Elísio Alves Ferreira, Manuel
Lopes da Silva, Manuel Augusto Maia e Joaquim Braia lideraram o movimento para fundar
um grande clube em Madureira.
O grupo entrou em contato com
Uassir do Amaral, então presidente do Fidalgo Madureira
Atlético Clube. Na época, pensou-se ainda na fusão com o
Magno Futebol Clube, o
que, de início, foi repro-
vado pelos sócios.
Após várias Assembleias, em 08
de agosto de 1914
foi fundado o Madureira Atlético
Clube com as cores azul do Magno
e a roxa do Fidalgo. Em 12 de outubro de 1971 foi
criado o Madureira Esporte Clube, resultado da
fusão entre o Madureira Atlético Clube, Madureira Tênis Clube e Imperial Basquete Clube.
A data de fundação, no entanto,
prevaleceu a de 08 de agosto de
1914. O azul, o amarelo e o grená passaram a formar a bandeira
do time, que passou a ser conhecido como Tricolor Suburbano.
O recorde brasileiro de
permanência de um clube no
exterior pertence ao Madureira
com 36 jogos em 144 dias em
1961. O clube foi o primeiro do
Brasil a visitar o Japão e HongKong. Dois anos depois, o Madureira viajou pelas Américas.
Em Cuba, uma das partidas foi
presenciada por Che Guevara.
Em 1964, outra viagem histórica do Madureira, desta vez, à
China de Mao Tsé-Tung.
O Madureira revelou jogadores como Waldo Machado,
Evaristo de Macedo, Jair Rosa
Pinto, Lelé, Isaías, Marcelinho
Carioca, Iranildo, Souza e Léo
Lima. Também passou pelo
clube o jogador Derlei, que
mais tarde viria a ser campeão
da UEFA Champions League
e Mundial de Clubes, pelo FC
Porto.
FALA / FEVEREIRO 2014
27
ENTRETENIMENTO
O REI DO BACALHAU
Ele trabalha desde os nove
anos de idade, é devoto da Beata
Alexandrina, é natural da Cidade do Porto, em Portugal, mas se
diz mais brasileiro do que português. Com frases, piadas e tiradas sensacionais, seu Antônio
de Azevedo Mendes é o dono do
Rei do Bacalhau do Encantado,
na Rua Guilhermina, 596, onde
ele recebeu a equipe da Revista Fala Zona Norte para contar
um pouco de suas estórias e da
casa que completará 50 anos em
2015.
– Sabe por que a Cidade do
Porto é a mais rica do mundo?
Seu Antônio me pergunta. Eu,
óbvio, não soube responder. Ele
então esclarece aos risos: - Porque ela tem o Rio D’Ouro pas-
28 FALA / FEVEREIRO 2014
sando bem no meio dela! No alto
de seus 84 anos, seu Antônio é
o retrato da simpatia. Veio para
o Brasil em 1956 e a família foi
morar no Jacarezinho, na Zona
Norte do Rio. Logo conseguiu
um emprego no Cais do Porto
onde trabalhou como motorista
entregador de jornais e revistas.
– O trabalho era duro e eu não
Fotos: Acervo IGPL
Sr. Antônio, proprietário
tinha tempo de gastar dinheiro –
disse o empresário. Foi juntando
dinheiro e andando pelas ruas
do Rio em suas entregas que seu
Antônio encontrou o estabelecimento onde funciona até hoje o
Rei do Bacalhau.
Quando em 1965 o Rei do
Bacalhau se instalava num antigo prédio de esquina de uma pacata rua do bairro do Encantado,
ninguém imaginava que seria
ali o endereço de um dos mais
conhecidos restaurantes especializados em bacalhau do Rio de
Janeiro, citado inúmeras vezes
nos mais importantes jornais e
revistas do país.
Por lá, várias personalidades já
degustaram do melhor bacalhau
do Rio acompanhado de vinhos
selecionados. Seu Antônio cita
os ex-presidentes do Brasil Ernesto Geisel, Garrastazu Médici
e João Baptista
de Figueiredo.
O presidente de
Portugal, Aníbal Cavaco Silva, também já
passou por lá.
Segundo
ele,
Carlos Lacerda,
em sua opinião
o melhor governador que o
Rio já teve, era
frequentador da
Fachada do Rei do Bacalhau do Encatado casa.
Na parte de baixo, funciona o
bar, onde são vendidos os deliciosos bolinhos de bacalhau e a
massa para viagem. Em cima, é
o restaurante, muito procurado
para reuniões e comemorações.
– Aqui, fazemos em torno de
800 quilos de bacalhau por mês.
Em dezembro, por conta das festas natalinas, o consumo chega
a uma tonelada – fala orgulhoso
seu Antônio, que garante que a
posta de bacalhau de seu restaurante tem 600 gramas.
Seu Antônio diz a um dos
garçons: – Pegue o pato. De dentro de um pato amarelo de cerâmica sobre a mesa, ele retira folhetos da Beata Alexandrina, se
emociona ao falar de sua fé pela
santa e dá um santinho para cada
um da equipe da Revista. Depois
chama o garçom novamente e
desta vez manda trazer um “Gomes de Sá” e bolinhos de bacalhau. Essa foi a hora do pecado.
Delicioso. Recomendo.
FALA / FEVEREIRO 2014
29
canal aberto
Da caixa postal
O casal de morféticos, Prestes escondido na rua
de armários e a curiosa marchinha do Marabu
De Tutty Vasques, do Encantado: “Você não era
de Vaz Lobo, Cacilda? Me lembraram uns colegas
do Engenho Novo que diziam morar no Grajaú!”
•Tutty, eu segui acampamentos ciganos e deles conservo no sorriso da frente um canino de ouro. Fui
também da trupe do palhaço Olimecha, com quem
aprendi a jogar as bolinhas do palavreado para o
alto e apanhá-las em seguida com o chapéu, antes
de se espatifarem na frase. Se eu fosse uma música,
seria “Moro onde não mora ninguém”. Mas, se um
dia eu virar música, me poupe da má fama, e não
conta para a rapaziada de Brás de Pina.
■■■■■■
De Edmilson Oliveira da Silva, do Engenho da
Rainha: “Eu pegava o 901 para passar os finais de
semana em Braz de Pina, com direito à linha de
passe na calçada do 335 da Rua Timboim, brincadeira interrompida apenas para que alguém passasse. Tinha o hi-fi no terraço, a turma embalada
ao som dos LPs importados pelo pessoal de Marinha e executados em um 3 em 1 da Grundig.” •
Edmilson, eu só acredito na pacificação da Penha
no dia em que a molecada estiver jogando pelada
na rua e alguém gritar de novo o mantra de “para a
bola pra moça passar”. A moça deve fazer sua parte.
Apressar o passo, enrubescida, e agradecer entredentes, os olhos baixos, sempre segurando o farfalhar de saia, anágua e combinação.
Essa é a lição civilizatória do subúrbio para o
mundo.
Foto: Divulgação
Joaquim Ferreira dos Santos
Carmoli que eu conheci minha esposa e foi no
Cine São Pedro que lhe dei o primeiro beijo. Ela
frequentava o Melo Tênis Clube, onde foi Rainha
da Primavera. Estamos juntos há 50 anos, sou
feliz e agradeço aos dois cinemas da Penha essa
minha felicidade.” • Jorge, a infelicidade conjugal
moderna reside no fato de que o número de espectadores nos cinemas diminui na mesma proporção em
que aumenta o número de frequentadores das sessões de terapia de casal. Cinema é aquilo que você
tão bem narrou. Um lugar para beijar e aproximar as
almas gêmeas na sofreguidão malsã da sala escura.
O resto é Goddard.
■■■■■■
De Paulo Felippe Agostinho, de Inhaúma: “Lembro que no bonde, perto do reclame do Rum Creosotado, podia se ler: ‘Cada passagem será registrada à vista do passageiro, permitindo-se apenas,
para facilitar a cobrança, registrar- se o total por
banco’.” • Paulo, os textos dos bondes eram muito
longos, eivados de vírgulas. Somados aos do Mario
Palmério que a professora me exigia, atrasaram em
anos a chegada do Dalton Trevisan e do Ivan Lessa
aos colégios da região. Tudo era passageiro, só o
texto não era ligeiro.
■■■■■■
■■■■■■
De Jorge Martins Leite, da Penha: “Foi no Cine
De Áurea Meireles, de Quintino: “Você ouviu
DEZEMBRO 2013
30 FALA / FEVEREIRO
2014
falar nos ‘capas pretas’? Diziam ser um casal de
morféticos que entrava nas casas pelas janelas
abertas nas noites quentes para morder os moradores com a intenção de contaminá-los. Eu tinha
4 anos, cheguei a ver um capa preta vestido feito
um Zorro, rosto coberto. Os moradores andavam
pelas ruas em grupos e armados de porretes.” •
Áurea, você tem certeza que isso não foi um capítulo do “Incrível, fantástico, extraordinário” que o
Almirante apresentava na Rádio Tupi?
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De Sônia Azevedo, de Del Castilho: “Você não
falou dos bailes de carnaval do Clube Marabu, na
Piedade. Tinha até um hino próprio para a ocasião. Era assim: ‘Marabuense, marabuense/ Carnavalesco não há como tu/ Traga a família, os seus
amigos/ Venha brincar o carnaval do Marabu’. Se
quiser, mando fotos de um grupo de amigos que
vestia fantasias iguais.” • Sonia, música de carnaval com rima para “bu” e “tu” não dá boa coisa no
final. O ano mal se inicia, vamos com calma. Oremos pela tradição de Reis. Deixa as fotos da família
Marabu para depois que se apagarem as luzes da
árvore da Lagoa.
Futebol de rua na Zona Norte
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De José Jacy, da Penha: “Tinha um bicheiro que
sempre chorava na apresentação do coral do jardim de infância da escola Ariosto Espinheiro. Meu
pai teve o relógio roubado no parque Ary Barroso. Brinquei no Shanghai, mas menos do que eu
queria.” • Não chore, José, o relógio do seu pai não
volta mais, as lágrimas do bicheiro secaram, mas
o parque você reabre quando quiser. Foi no altofalante do Shanghai que eu ouvi o Sinatra cantando
“morre melhor quem morre com mais brinquedos”.
Os brinquedos mudam, José, reinventa a tua montanha- russa. A minha é essa aqui.
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De Ana Glória Monteiro, do Méier: “A prisão
de Prestes e Olga Benário foi na Rua Honório, a
rua dos móveis, do Cachambi. A de Irajá é a Honório de Almeida.” • Ana, tem muito Zé na Paraíba e Honório aos montes no subúrbio de Honório
Gurgel. Sobre o fato de o Cavaleiro da Esperança
ter sido preso escondido numa rua de armários, isso
será revisto com todo o rigor dialético pelo governo
empossado.
FALA / FEVEREIRO 2014
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gastronomia
MOCOTÓ
Modo de fazer:
Ingredientes:
4 pernas de mocotó
2 kg. de bucho 1 kg. de lombo
2 kg. de costelinha salgada
1 kg. de linguiça calabresa grossa
1 kg. de feijão-branco
1 kg. de batatas
1 kg. de cenouras
1 kg. de azeitonas pretas
limão
2 tomates
2 cebolas
8 dentes de alho
1 pimentão verde
1 molho de cheiro-verde
6 colheres (de sopa) de massa de tomate
sal e pimenta-do-reino a gosto
32 FALA / FEVEREIRO 2014
Tia Surica da Portela
Lave bem o mocotó , com água e sumo de limão.
Coloque as carnes salgadas – costelinha e lombo – de
molho na água para retirar o excesso de sal. Troque a água
duas vezes. Cozinhe o mocotó em uma panela de pressão
com água e sal. Retire o mocotó quando estiver cozido e
reserve. Na mesma água , coloque o bucho para cozinhar.
Quando o bucho estiver cozido, retire da panela e reserve.
Tire o mocotó do osso . Corte em pedaços médios. Coloque o feijão para cozinhar usando a mesma carne onde
as carnes foram cozidas – acrescente mais, se necessário.
Fervente as carnes salgadas. Corte em pedaços médios e
reserve.
Prepare um refogado para as carnes, colocando um
pouco de óleo em uma panela grande com 4 dentes de
alho para dourar. Adicione o tomate, a cebola e o pimentão bem picados. Deixe o tempero ir desmanchando na
panela.
Acrescente massa de tomate a gosto, uma pitada de pimenta-do-reino e sal. Coloque, então, as carnes salgadas
para “morenar”. Adicione o bucho, o mocotó e o feijão
já cozidos . Acrescente água, misture bem, prove o sal.
Coloque a linguiça cortada em rodelas finas. Jogue na panela as batatas e as cenouras cortadas em pedaços médios.
Acrescente as azeitonas escorridas. Quando os legumes
estiverem cozidos, o mocotó estará pronto.
Antes de servir, soque quatro dentes de alho e bote
para dourar em uma panela com um pouco de óleo . Retire duas conchas do caldo de mocotó e despeje no refogado. Quando estiver ferventando, salpique o cheiroverde picado, misture e devolva a mistura para o panelão
de mocotó .Mexa bem e deixe cozinhar por mais alguns
minutos.
Acompanha arroz branco.
Dica: “Na hora de tirar os ossos do mocotó , aproveite
para ver se a carne está bem cozida. Se estiver, ela vai se
desprende do osso com facilidade. Se não soltar fácil, pode
devolver o mocotó para a panela e cozinhar mais.”
FALA / FEVEREIRO 2014
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carta do leitor
Olá, sou moradora do bairro da Penha e fiquei muito feliz quando
chegou em minhas mãos a Revista Fala Zona Norte, dando destaque
à nossa região com tanto zelo e qualidade. Gostaria de parabenizar
especialmente a matéria de capa com Carlinhos de Jesus. Adorei saber de curiosidades da vida do artista do qual sou fã. Achei de excelente bom gosto mesclar fotos da infância do mesmo na entrevista.
Carla Fagundes – Penha-RJ
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Que honra ter Joaquim Ferreira dos Santos nas páginas desta revista e como sempre exaltando a nossa querida Zona Norte. Já não
moro mais na região, por motivos de trabalho, mas guardo na memória o período feliz que por aí vivi. Tive a felicidade de receber de um
amigo que veio me visitar um exemplar e aqui estou guardando com
carinho. Feliz em ver minha Zona Norte tão bem representada.
Odevani de Freitas – Macaé – RJ
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Gostei muito da revista, mas achei pouco o espaço dedicado ao
esporte, e não falo só de futebol. A Zona Norte tem outras manifestações, como skate e basquete que merecem mais atenção. Só uma
sugestão.
Gabriel Paiva – Alto da Boa Vista – RJ
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Adorei a revista, mas gostaria de sugerir que colocassem uma
seção dedicada à estética, beleza e moda na Zona Norte. Nós temos um estilo especial e estamos influenciando o modo de vida do
carioca. Acho que isso merece destaque. Elogio aos bons textos e
à qualidade da impressão. Vou ficar esperando ver minha sugestão
nestas páginas.
Gláucia Regina – Engenho Novo – RJ
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Agradecemos a participação dos leitores e informamos que
todas as sugestões estão sendo analisadas pelo Conselho Editorial.
Envie também a sua sugestão para [email protected]
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cursos gratuitos
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o ano com muitas oportunidades de oficinas e cursos gratuitos
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Oliveira no Parque Madureira na
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