Cinesioterapia no fortalecimento muscular do assoalho pélvico

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Cinesioterapia no fortalecimento muscular do assoalho pélvico
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Cinesioterapia no fortalecimento muscular
do assoalho pélvico feminino
por
|
Juliana Nolasco, Letícia Martins, Marcela Berquo, Renato Alves Sandoval
O
assoalho pélvico é um conjunto de
partes moles que fecham a pelve,
sendo formado por músculos, ligamentos e fáscias. Suas funções são
de sustentar e suspender os órgãos pélvicos
e abdominais, mantendo as continências urinária e fecal. Os músculos do assoalho pélvico
também participam da função sexual e distendem-se em sua porção máxima na passagem
do produto conceptual (OLIVEIRA & LOPES,
2006).
Atualmente, entende-se como assoalho
pélvico todo o conjunto de estruturas que
dá suporte às vísceras abdominais e pélvicas
(SAMPAIO et al., 1999). O assoalho pélvico
consiste dos músculos coccígeos e elevadores
do ânus, que conjuntamente são chamados
de diafragma pélvico, que é atravessado à
frente pela vagina e uretra e ao centro pelo
canal anal (FREITAS et al., 2002).
Os músculos levantador do ânus se divide em
pubococcígeo, ileococcígeo e puborretal, os
músculos bulbocavernoso, transverso superficial do períneo e o isquiocavernoso compõem
o diafragma urogenital, e também a fascia endopélvica que é composta pelos ligamentos
pubo-vesical, redondo do útero, uterossacro
e ligamento cervical transverso e são importantes para manter a estruturas pélvicas em
suas posições normais (MOORE, 1998; ZANATTA & FRARE, 2003; OLIVEIRA & LOPES, 2006).
A musculatura estriada do assoalho pélvico,
juntamente com a fáscia endopélvica, exerce
papel fundamental no suporte dos órgãos
pélvicos e na manutenção da continência urinária (RIBEIRO & ROSSI, 2000).
Os músculos do assoalho pélvico são constituídos de 70% de fibras do tipo I (fibras de contração lenta) e 30% de fibras do tipo II (fibras
de contração rápida). Assim as fibras do tipo
I são responsáveis pela ação antigravitacional
dos músculos do assoalho pélvico, mantendo
o tônus constante e também na manutenção
da continência no repouso. E as do tipo II
são recrutadas durante aumento súbito da
pressão abdominal contribuindo assim para
o aumento da pressão de fechamento uretral
(CAMARRÃO et al., 2003; ZANATTA & FRARE,
2003; OLIVEIRA & LOPES, 2006).
A bexiga urinária está localizada posteriormente à sínfise púbica e anteriormente ao
reto, e nas mulheres está em contato com o
útero e a vagina. A bexiga é um órgão pélvico muscular côncavo que possui quatro camadas: mucosa, submucosa, muscular e serosa (adventícia). A mucosa é composta de
epitélio, que diminui em espessura quando a
bexiga enche-se e as células são distendidas.
A camada submucosa serve para dar suporte
à mucosa. A parte muscular é constituída por
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um músculo liso denominado detrusor, e a
camada serosa (externa) é constituída de gordura e tecido conjuntivo, e aparece apenas na
face superior da bexiga. (GRAAF, 1992).
A uretra feminina apresenta em média quatro centímetros de comprimento e também
é composta por fibras musculares lisas (esfíncter interno) e estriadas (esfíncter externo). As
fibras lisas têm pouca variedade de contração
espasmódica, possibilitando que se mantenha
uma pressão de fechamento e, assim, a continência urinária por período prolongado sem
fadiga, e as fibras estriadas está sob o controle
voluntário do sistema nervoso e pode ser usado para impedir conscientemente a micção,
mesmo quando controles involuntários estão
tentando esvaziar a bexiga (GUYTON & HALL,
2002; ZANATTA & FRARE, 2003; OLIVEIRA &
LOPES, 2006).
A submucosa constituída de tecido conjuntivo
frouxo misturado com feixes de fibras musculares lisas é um elaborado plexo vascular, cria
um efeito vital para o mecanismo de continência (OLIVEIRA & LOPES, 2006).
Sob o ponto de vista funcional, a integridade da
camada de músculo liso circundante mantém
esse mecanismo, direcionando as pressões
submucosas de expansão para dentro, em
direção à mucosa. A integridade do músculo
liso e do tecido esponjoso vascular da uretra
fornece uma importante contribuição para o
mecanismo de fechamento, possuindo, portanto, grande importância para a continência
urinária passiva normal. As fibras de músculo
estriado, extrínsecas à uretra no nível do diafragma urogenital, fornecem atividade esfincteriana reflexa e voluntária, contribuindo
principalmente para a continência ativa (WEI
et al., 1999).
Quando os músculos são mais requisitados
do que o normal, eles são forçados a um trabalho extra para superar uma resistência ou
carga. Este trabalho conduz a um aumento
de força, pois o músculo se contrai e a síntese
de proteínas musculares é estimulada. Após
um período de descanso e recuperação, novas proteínas são construídas tornando as fibras musculares maiores em diâmetro e força
(BRINCK & NERY, 2006).
A força muscular é a quantidade máxima de
força que um músculo ou grupo muscular
pode gerar em um padrão específico de movimento e em uma determinada velocidade. O
termo treinamento de força tem sido usado
para descrever um tipo de exercício que requer que os músculos se movam (ou tentem se
mover) (FLECK et al., 1999).
O grau de benefício que um programa de
treinamento de força pode transferir para o
desempenho de um exercício e está muito re-
lacionado ao treinamento de potência muscular e este está em função da velocidade de execução de movimento e da força desenvolvida
pelo músculo, caracterizando assim a definição de potência como sendo a velocidade em
que se desempenha o trabalho, sendo esta altamente dependente da força (SIMÃO, 2001).
Muitos são os trabalhos que evidenciam a
importância da força e potência muscular. Os
treinamentos destas variáveis têm-se demonstrado efetivos na melhoria de várias capacidades físicas, bem como o aumento da massa
muscular (SIMÃO, 2001).
Então esses treinamentos visam à melhora
na coordenação muscular e na flexibilidade o
que garantirá menor risco de lesão (JUNQUEIRA ET AL., 2004). E esses ganhos de força ocorrem devido à capacidade dos músculos de
desenvolverem tensão e do sistema nervoso
de ativá-los, o que desencadeará um maior
recrutamento de unidades motoras (MARCHAND, 2004).
O diâmetro do músculo corresponde ao
volume da fibra e são através de exercícios
elaborados especificamente para desenvolver
força que o tamanho dessas fibras musculares
esqueléticas pode ser aumentado. Isso é chamado de hipertrofia (KISNER & COLBY, 2002;
LEITE et al., 2004).
Todos os exercícios de fortalecimento promovem: hipertrofia devido ao aumento no
tamanho das fibras musculares, que acontece
por aumento na síntese protéica e diminuição
da degradação de proteínas, fenômeno que
leva de seis a oito semanas para ocorrer; maior
eficiência de recrutamento de fibras musculares pelos mecanismos de neurofacilitação
(ou aprendizado motor); aumento da capacidade oxidativa e volume das mitocôndrias;
aumento da densidade óssea, do conteúdo
mineral ósseo e de hidroxiprolina; alterações
nas células do corno anterior da medula espinhal e aumento da resistência de tendões e
ligamentos (MACHADO, 2005).
Como as fibras do tipo I (que representa 70%
da musculatura do assoalho pélvico) são responsáveis pela ação antigravitacional dos
músculos do assoalho pélvico e as do tipo II
(que representa os restantes 30%) são recrutadas durante aumento súbito da pressão abdominal contribuindo assim para o aumento
da pressão de fechamento uretral, os exercícios
que trabalham com essa musculatura podem
melhorar sua função e essa sustentação do
fortalecimento muscular se deve à mudança
funcional das fibras musculares (CAMARRÃO
et al., 2003).
A força muscular é então adquirida através
da prática de exercícios específicos para o assoalho pélvico baseados no preceito de que
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os movimentos voluntários repetidos proporcionam aumento da força muscular e seus
efeitos benéficos incluem desenvolvimento,
melhora, restauração ou manutenção da força,
da resistência, da mobilidade, da flexibilidade,
do relaxamento, da coordenação e da habilidade através dos movimentos (RUBINSTEIN,
2001; HILBERATH, 2006).
O fisioterapeuta tem sido um membro importante da equipe de obstetrícia durante anos,
na verdade, desde 1912. Assim a terapeuta
Mennie Randall junto com o obstetra J. S. Fairbairn no Hospital St. Thomas desenvolveram
interesses especiais no tratamento da gravidez, parto e puerpério. Mais tarde o campo de
interesse estendeu-se a casos ginecológicos
(POLDEN & MANTLE, 2000).
Por volta dos anos 50, Arnold Kegel, médico ginecologista, foi o primeiro a introduzir o treinamento da musculatura do assoalho pélvico
feminino para tratar a incontinência urinária.
Em seu primeiro estudo ele obteve 84% de
cura de mulheres com incontinência urinária,
onde o protocolo incluía palpação vaginal e
observação clínica da contração voluntária da
musculatura do assoalho pélvico e o uso do
biofeedback para mensurar a pressão vaginal
durante os exercícios. Hoje existe uma variedade de aparelhos de biofeedback usados na
prática clínica para ajudar no treinamento da
musculatura do assoalho pélvico feminino
(MORKVED et al., 2002).
A cinesioterapia é então, uma terapia através
dos movimentos, onde estes são utilizados
como forma de tratamento, tendo como base
de que os movimentos voluntários repetidos
proporcionam o aumento da força muscular,
uma resistência à fadiga, melhorando a mobilidade, a flexibilidade e a coordenação muscular (AMARO & GAMEIRO, 2001). E baseado
neste preceito das contrações repetidas, esses
exercícios têm sido indicados em alguns casos
de incontinência urinária, devido ao aumento
do tônus das fibras musculares lentas ou tipo
I (que constituem 70% e que promovam sustentação e resistência na contração muscular)
e das fibras musculares rápidas ou tipo II (os
30% restantes, que promovem contrações
fortes e breves) (LAYCOCK, 1994; BERNARDES
et al., 2000; CAMARRÃO et al., 2003).
Mas com o passar do tempo os exercícios
para o assoalho pélvico foi sendo esquecida
(MORENO, 2004). A partir daí as cirurgias foram a melhor opção para o tratamento de incontinência urinária, porém às recidivas foram
aparecendo com freqüência submetendo assim as pacientes as mesmas condições iniciais
de perda urinária, ou até mesmo a piora do
prognóstico (SOUZA, 2002). Até que no ano de
1992, a Sociedade Internacional de Continência validou cientificamente as técnicas de reabilitação do assoalho pélvico para tratamento
de distúrbios perineais, e como conseqüência o reconhecimento e a valorização foram
crescendo cada vez mais (MORENO, 2004).
A atuação do fisioterapeuta na reeducação
perineal do assoalho pélvico, tem como finalidade melhorar a força de contração das
fibras musculares, promover a reeducação ab-
dominal e um rearranjo estático lombopélvico
através de exercícios, aparelhos e técnicas.
Assim estes poderão ajudar a fortalecer os
músculos necessários para manter a continência urinária (SOUZA, 2002). A reeducação da
musculatura do assoalho pélvico torna-se imperativo no programa de exercícios atribuídos
para pacientes vindos sob forma preventiva
ou até mesmo curativa da patologia, além de
melhorar a função sexual. Porém, os melhores
resultados do tratamento fisioterapêutico da
incontinência urinária são obtidos nos casos
leve ou moderado (MORENO et al., 2004).
A cinesioterapia do assoalho pélvico compreende basicamente na realização dos exercícios de Kegel que objetiva trabalhar a musculatura perineal para o tratamento da hipotonia
do assoalho pélvico (SANTOS, 2004). Mas estudos mostram que 30% das mulheres não conseguem exercitar corretamente a musculatura
do assoalho pélvico, então se preconizou
que os músculos abdominais, glúteos e adutores, devem ficar em repouso ou em tensão
constante na tentativa de evitar a contração
conjunta (PRADO et al., 2003).
Segundo Santos (2004), afirmou que a maioria
das mulheres são incapazes de realizar uma
contração somente pela simples instrução
verbal, por isso é importante um controle palpatório intravaginal e a presença de um fisioterapeuta. E Grosse & Sengler (2002), afirmam
que a informação e a conscientização representam uma fase essencial na reeducação.
Segundo Moreno (2004), a contração correta
dos músculos do assoalho pélvico, principalmente os elevadores do ânus, tem sido muito
eficaz no tratamento de incontinência urinária,
apresentando melhora no controle esfincteriano, no aumento do recrutamento das fibras
musculares tipo I e II, no estímulo da funcio
nalidade inconsciente de contração simultânea do diafragma pélvico aumentando
assim o suporte das estruturas pélvicas e abdominais prevenindo futuras distopias genitais.
De acordo com Géo & Lima (2001), Souza
(2002), a cinesioterapia para o assoalho pélvico é isenta de efeitos colaterais e morbidade,
ao contrário das cirurgias. Por isso, hoje o
tratamento fisioterapêutico está sendo cada
vez mais utilizado devido ao seu resultado
positivo no tratamento da incontinência urinária feminina, porém depende de uma boa
avaliação do paciente e da escolha da técnica
e parâmetro de tratamento para cada tipo de
patologia que será tratada.
Existem várias formas de aplicação da cinesioterapia para o tratamento da incontinência
urinária feminina, dentre eles o trabalho com a
bola suíça. A bola suíça é um instrumento utilizado para o retreinamento dos músculos enfraquecidos como a hipotonia dos músculos
do assoalho pélvico. Os exercícios são funcionais e podem ser realizados de várias maneiras, pois a bola suíça é considerada como um
instrumento indispensável e intermediário
ideal para os movimentos no treino dessa
musculatura (CARRIÉRE & TRANZBERGER,
1999).
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Outro método utilizado seria os cones vaginais
que foram conceituados por Plevnik, em 1985,
para a tonificação da musculatura perineal
(GROSSE & SENGLER, 2002; MORENO & SANTOS, 2004). Os cones são pequenas cápsulas
de pesos diferentes, de uso individual, que se
introduz na vagina para fornecer resistência e
feedback sensorial nos músculos do assoalho
pélvico à medida que eles se contraem (SIZINO
et al., 2003; MORENO, 2004; SANTOS, 2004).
Os exercícios realizados com os cones são os
de Kegel, trabalhando assim contrações perineais. São encontrados de forma e tamanho
iguais, porém de pesos diferentes que variam
de 25g a 75g (MORENO, 2004).
Quando o cone de peso adequado é inserido
na vagina, ele tende a deslizar causando uma
sensação de perda que irá proporcionar um
biofeedback tátil e cinestésico, fazendo com
que o assoalho pélvico se contraia de forma
reflexa na tentativa de retê-lo (SOUZA, 2002).
De acordo com Moreno (2004) e Santos (2004),
o uso de cones vaginais além de aumentar
força muscular torna a atividade fisiológica do
assoalho pélvico mais coordenada com contrações, aumentando assim o recrutamento
de unidades motoras, tanto do tipo I quanto
do tipo II. As indicações para este tratamento
são: IU de esforço, urge-incontinência, assoalho pélvico fraco, pós-parto, disfunção sexual,
pouca propriocepção pélvica e incoordenação
da contração pélvica. As contra-indicações são:
presença de infecções no trato-urogenital, durante a menstruação, paciente com distúrbio
psiquiátrico, durante ou imediatamente após
relação sexual, gravidez, retenção/obstrução
urinária.
Já o biofeedback descrito por Kegel em 1948
é essencialmente toda e qualquer abordagem
que o fisioterapeuta utiliza para conscientizar um paciente de seu corpo e suas funções,
sejam estímulos táteis, visuais, auditivos ou
elétricos (perineômetro, toque digital ou cones
vaginais). Então é um aparelho que mensura,
avalia e trata as disfunções neuromusculares,
sendo eficiente na avaliação dos músculos do
assoalho pélvico por monitorar o tônus em repouso, a força, a sustentação e outros padrões
de atividade, mostrando-se efetivo na orientação da paciente a melhorar as contrações
voluntárias dessa musculatura, favorecendo
também o treino do relaxamento (MORENO,
2004).
Enfim, a cinesioterapia para o assoalho pélvico
compreende exercícios para a normalização
do tônus muscular, sendo empregada tanto
para o fortalecimento de áreas hipotônicas
como para o relaxamento de áreas hipertônicas (GROSSE & SENGLER, 2002; MORENO,
2004).
MÉTODOS
Esta pesquisa é uma revisão da literatura baseada na busca de livros e artigos nacionais e internacionais, datados de 1985 a 2006, nos idiomas português, espanhol e inglês. Realizou-se
ainda levantamento junto a sites de busca na
área da saúde como: Medline, Pubmed, Scielo,
Lilacs e Biblioteca Cochrane. Os descritores
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adotados foram: cinesioterapia, fortalecimento muscular, assoalho pélvico feminino, incontinência urinária. Os descritores adotados em
espanhol foram: ejercicios, fuerza muscular,
diafragma pélvico, incontinência urinaria. Os
descritores adotados em inglês foram: Kinesitherapy, muscle strengthening, pelvic floor
female, urinary incontinence.
DISCUSSÃO
No levantamento literário pôde-se observar
que a cinesioterapia para o assoalho pélvico
de acordo com o médico ginecologista Arnold
Kegel, em 1948, é um importante recurso utilizado pela fisioterapia uroginecológica para
acelerar os processos de recuperação, evidenciando resultados positivos quanto ao restabelecimento de força.
Os critérios adotados por grande parte dos
estudiosos, para considerar uma resposta
positiva sobre os efeitos da cinesioterapia do
assoalho pélvico para ganho de força muscular e conseqüentemente um tratamento
eficaz para incontinência urinária, foram baseados nos trabalhos desenvolvidos por Kegel,
em 1948. Seus relatos e eficácia do tratamento
contribuíram para que pesquisadores de todo
o mundo passassem a utilizar as técnicas de
cinesioterapia para fortalecer a musculatura
pélvica de mulheres que desencadeassem incontinência urinária de esforço (MORKVED &
BO, 1996).
De acordo com Sengler & Grosse (2002), a
reeducação do períneo agrupa diferentes
técnicas de cinesioterapia aplicada com objetivo de melhorar a qualidade e o controle da
musculatura estriada do diafragma pélvico.
Mas Bernardes et al. (2000), a cinesioterapia
é um tratamento efetivo, desde que a motivação da paciente também seja trabalhada
para assim promover a melhora ou cura da
incontinência urinária por até mais de cinco
anos.
Segundo Oliveira et al. (2004) as fases da cinesioterapia do músculo do assoalho pélvico
seguem a seqüência de aumento do músculo
levantador do ânus, conscientização e isolamento dos músculos agonistas e antagonistas,
aumento da força muscular e da ação reflexa
dos músculos do assoalho pélvico durante as
atividades de vida diárias. Assim concluiu que
é fundamental que todas as mulheres tenham
consciência da musculatura do assoalho pélvico e mesmo sem sintomas clínicos de incontinência urinária elas deveriam se submeter a
cinesioterapia destes músculos diariamente.
Bernardes et al. (2000) realizaram um estudo
comparativo entre cinesioterapia e eletroestimulação endovaginal para o tratamento da
incontinência urinária de esforço genuína, concluindo que 71,4% das pacientes ficaram sem
sintomas e 28,6% com perda leve de urina no
grupo de cinesioterapia. Já no grupo de eletroestimulação 28,6% das pacientes ficaram sem
sintomas, 57,1% com perda leve e 14,3% com
perda moderada de urina. Concluíram então
que tanto a cinesioterapia quanto a eletroestimulação endovaginal se mostraram efetivas
no tratamento da incontinência urinária de
esforço genuína, porém, a cinesioterapia para
reforço perineal apresentou uma tendência
para ser o tratamento de escolha.
Burgio et al. (1985) em seu estudo compararam a efetividade dos exercícios da musculatura pélvica usando o feedback verbal e o
aparelho de biofeedback em pacientes com
incontinência urinária e em seus achados encontraram que o grupo com biofeedback teve
76% de redução de incontinência urinária e
o grupo de feedback verbal teve redução de
50%, concluindo a eficácia dos exercícios da
musculatura pélvica utilizando os dois métodos.
Zacchi et al. (2001) fizeram um estudo com
o objetivo de comprovar a eficácia da cinesioterapia na restauração da musculatura
perineal de mulheres, sem distinção de faixa
etária, com incontinência urinária de esforço.
O período de tratamento foi de três meses,
onde foram realizados 150 contrações perineais por sessão. Este estudo concluiu que a
cinesioterapia é sim eficaz na recuperação do
tônus muscular e força que estavam diminuídas. Mas apesar dos resultados indicarem ganhos satisfatórios de força e diminuição ou até
a ausência da perda de urina, um tempo maior
de treinamento poderia demonstrar resultados mais satisfatórios.
Fergusan et al. (1990) mostraram a relação
entre o crescimento significante na força
muscular e a queda da incontinência urinária
utilizando um programa de treinamento de 6
semanas. No final do primeiro ano somente
50% do todo continuaram os exercícios e 25%
mostraram melhora significante da perda urinária.
Wells et al. (1990) realizaram uma pesquisa de
revisão bibliográfica procurando por estudos
de exercícios de cinesioterapia da musculatura
do assoalho pélvico utilizados para pacientes
com incontinência urinária de esforço. O levantamento abrangeu 22 estudos, de 1952 a
1990, onde foram ressaltados e citados alguns
estudos.
Harrison (1979) apud Wells et al. (1990), estudou um grupo único com 212 mulheres pósmenopausadas com incontinência urinária,
realizando exercícios de 4 contrações perineais mantendo 4 segundos cada, a cada 1
hora. Resultou-se em 93% de cura ou melhora
e 7% de fracasso.
Heendrickson (1981) apud Wells et al. (1990),
separou um grupo único com 15 mulheres, de
40 a 60 anos, com incontinência urinária, realizando progressão de até 60 contrações por
dia durante 20 segundos cada, resultando em
89% de melhora significativa.
Mohr et al (1983) apud Wells et al. (1990), em
grupo único com amostra de 46 mulheres,
de 42 a 92 anos, com incontinência urinária
e com uso diário de estrógeno, realizaram 53
minutos por dia de cinesioterapia, sendo 10
minutos a cada 3 ou 4 horas, resultando em
96% de alívio dos sintomas.
Shephered et al. (1983) apud Wells et al. (1990),
separou em seu estudo dois grupos randomizados de 22 mulheres de 23 a 67 anos com
incontinência urinária. O primeiro grupo foi
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submetido somente a exercícios e o segundo
utilizou-se dispositivos de resistência mensurando o resultado com o diário miccional e
com o perineômetro. Houve 55% de cura ou
melhora da incontinência urinária de esforço
no grupo de exercícios e 91% de melhora ou
cura no grupo de exercícios com dispositivo
de resistência.
Casiledden et al. (1984) apud Wells et al.
(1990), com uma seqüência randomizada de
19 mulheres de 23 a 85 anos com incontinência urinária, aplicaram 80 vezes os exercícios
por dia com ou sem dispositivo de resistência,
obtendo 94% de cura ou melhora dos sintomas sem diferença significante para o uso de
dispositivo.
Burgio et al. (1985) apud Wells et al. (1990),
com grupo único de 19 mulheres na faixa
etária de 65 a 86 anos realizou 50 exercícios
por dia com contrações de 10 segundos cada,
utilizando biofeedback. Obtiveram então
redução de 82% em média da freqüência incontinência urinária.
Burgio et al. (1986) apud Wells et al. (1990),
dividiu dois grupos randomizado de 24 mulheres na faixa etária de 29 a 64 anos com incontinência urinária. Utilizaram instrumento
de biofeedback e feedback verbal, onde obtiveram 76% de melhora dos sintomas urinários com aparelho de biofeedback e 51% com
feedback verbal.
Henderson et al. (1987) apud Wells et al. (1990),
dividiu dois grupos de faixas etárias diferentes
e realizou exercícios de 100 contrações de 10
segundos, resultando em 80% de cura de incontinência urinária em jovens e 67% de cura
em idosas.
Benvenutri et al. (1987) apud Wells et al. (1990),
em um grupo único de 26 mulheres com incontinência urinária, realizou 120 contrações
diariamente, intercalando 10 contrações
mantidas de 5 a 30 segundos, resultando em
32% de cura.
Neste levantamento bibliográfico então Wells
et al. (1990) concluíram que os resultados são
limitados. Observaram, entretanto que os exercícios da musculatura do assoalho pélvico são
seguros e por esta razão foram considerados
como tratamento apropriado para incontinência urinária de esforço. Porém encontraram
muitas falhas, pois poucos estudos relataram
os detalhes técnicos utilizados, como o nível
e a intensidade que precisam ter os exercícios
para obter resultados positivos e quais fatores
os influenciariam. Além disso, não definiram
se o sucesso do tratamento varia de acordo
com diferentes graus de severidade.
Muitos estudos ainda preconizam a importância e eficácia da cinesioterapia durante a
gestação. Moreno (2004) diz que a cinesioterapia é um recurso fisioterapêutico mais indicado para gestantes, pois é um método que
não possui contra-indicação, além de ser de
baixo custo e fácil aplicabilidade.
Morkved & Bo (1996) estudaram o efeito do
fortalecimento da musculatura do assoalho
pélvico após o parto em 132 mulheres, resultando assim no aumento da força desta
musculatura mostrando a importância da
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motivação e acompanhamento efetivo do
fisioterapeuta para o fortalecimento do assoalho pélvico.
Sampselle et al. (1998) avaliaram os efeitos dos
exercícios da musculatura do assoalho pélvico
nos sintomas de incontinência urinária e da
força desta musculatura em primigestas durante e após o parto. Concluíram que a prática
da cinesioterapia resultou em redução dos
sintomas de incontinência urinária no final
da gestação e após o parto, além de uma recuperação muscular perivaginal com maior
rapidez.
CONSIDERAÇÕES
Ao término deste estudo pode-se concluir que
a cinesioterapia do assoalho pélvico feminino
já se tornou um importante complemento
para inúmeros programas de tratamentos utilizados na fisioterapia uroginecológica.
Percebe-se o quanto o uso da cinesioterapia
do assoalho pélvico, utilizado durante as diferentes fases da reabilitação, ainda é relativamente polêmico. As divergências quanto
à efetividade na aplicação de um protocolo
cinesioterápico no fortalecimento de músculos saudáveis são bem maiores quanto aquelas encontradas em músculos acometidos por
lesão e/ou fraqueza. A difícil determinação
quanto a sua efetividade faz-se também, pela
metodologia falha apresentada por muitos
dos artigos pesquisados, devido a não especificação das técnicas utilizadas, dentre elas,
a intensidade e nível dos exercícios utilizados
para a obtenção de resultados positivos de
acordo com o grau de cada tipo de patologia.
Muitos autores sugerem que a prática da cinesioterapia possa favorecer o prognóstico de
lesões e patologias que acometem o assoalho
pélvico, por promover aumento da força muscular. Porém, pouco se sabe quanto à eficácia
da cinesioterapia somente como medida preventiva durante o decorrer do desenvolvimento feminino.
Porém, mesmo mediante a todas as metodologias falhas, conclui-se que a prática dos exercícios fisioterápicos para reeducação e fortalecimento dos músculos do assoalho pélvico
se tornam essenciais para toda a vida, podendo ser aplicado sozinho ou em conjunto com
técnicas de eletroestimulação e biofeedback,
compondo um programa completo de tratamento, treinamento e reabilitação.
REFERÊNCIAS
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