Capítulo 9 Índia, Potência Emergente Geopolítica: A unidade
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Capítulo 9 Índia, Potência Emergente Geopolítica: A unidade
Capítulo 9 Índia, Potência Emergente Geopolítica: A unidade cultural da civilização indiana é fruto da fusão entre as tradições do budismo, a religião que se originou dos ensinamentos de Siddartha Gautama (Buda), no século VI a.C.,com a cultura das tribos arianas que habitavam o norte do subcontinente indiano. Essa fusão gerou o hinduísmo, um complexo sistema cultural e religioso que se divide em muitas seitas e se expressa pelo culto de numerosos deuses, cuja presença assinala eras cósmicas sucessivas. O hinduísmo e o sistema de castas: O hinduísmo é uma religião aberta e tolerante, que concede a seus fiéis a liberdade de venerar qualquer forma de divindade. Não é preciso aderir ao sistema de castas para ser hindu. Apesar disso, o arcaico sistema de castas sobrevive como traço característico do hinduísmo. O sistema de castas organiza dos hindus em grupos sociais fechados. As mais de 3 mil castas pertencem a quatro grandes categorias, ou varnas, que são posições na sociedade tradicional: brâmanes (sacerdotes), chátrias (guerreiros), vaisas (comerciantes0 e sudras (camponeses e trabalhadores braçais). Os varnas teriam se originado do corpo de deus Brama, com exceção dos dalits (intocáveis), que não participam de nenhuma casta e, por isso, são socialmente marginalizados. As castas nada têm que ver com o dinheiro. Antes de tudo, são fontes de prestígio e reconhecimento social. Elas funcionam como marcas sociais: nasce-se e morre-se em uma casta, e nada se pode fazer para mudar isso. Índia e Paquistão Os movimentos nacionalistas articularam-se em torno do Congresso Nacional Indiano, fundado em 1885, e da Liga Muçulmana, fundada em 1906. Entre 1919 e 1947, Mahatma Gandhi, líder híndu do Congresso Nacional Indiano, dirigiu sucessivas campanhas anticoloniais baseadas no método da desobediência civil e na noção de resistência pacífica. Encerrada a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), uma Grã-Bretanha enfraquecida decidiu-se pela descolonização e definiu um plano de partição da união Britânica em dois Estados. O plano atendia à reivindicação da Liga Muçulmana, que recusava a perspectiva de uma nação com maioria hinduísta, mas era alvo de crítica de Gandhi, que temia as consequências da transformação da fronteira religiosa numa fronteira entre nações. O alerta de Gandhi foi ignorado até mesmo pelo congresso Nacional Indiano. A participação efetivou-se em agosto de 1947, gerando a Índia e o Paquistão. O Paquistão, definido como lar dos muçulmanos do subcontinente indiano. Logo após as declarações de independência, eclodiram violentos conflitos religiosos. Cerca de 6 milhões de muçulmanos fugiram da Índia para o Paquistão. No sentido inverso, 9 milhões de hindus deixaram o Paquistão rumo a Índia. Os conflitos e fluxos de refugiados deixaram mais de 250 mil mortos e envenenaram as relações entre Índia e Paquistão. Em 1948, Gandhi foi assassinado por um fanático hindu, que o considerava responsável pela ruptura da unidade da Índia. A rivalidade indo-paquistanesa acirrou-se em virtude da disputa pelo controle da Cachemira, uma região habitada por maioria muçulmana e encravada nas montanhas do Himalaia, na fronteira entre os dois países. O primeiro confronto militar encerrou-se com um cessar-fogo e a divisão da região em duas zonas, uma indiana e outra paquistanesa. Mas a disputa prossegue. Um novo modelo econômico Depois da independência, a Índia adotou um modelo econômico baseado em forte participação do Estado na economia industrial. O Estado investiu na criação de grandes empresas de bens de produção, importou tecnologias da antiga URSS e manteve severas regulamentações sobre o setor industrial privado. Ao mesmo tempo, com a finalidade de estimular o crescimento interno, adotou regras comerciais nitidamente protecionistas. O modelo indiano privilegiava o emprego de mão-de-obra, mesmo à custa da produtividade, da eficiência e da competitividade das indústrias. Tal modelo resultou em baixas taxas de crescimento econômico, mas evitou, até certo ponto, o aprofundamento das desigualdades sociais. A urbanização avançou menos rapidamente que em outras grandes economias em desenvolvimento. Nas metrópoles, desenvolveu-se um vasto setor informal baseado no pequeno comércio, em indústrias domésticas e nos serviços pessoais. O encerramento da Guerra Fria e o avanço da globalização assinalaram o esgotamento do antigo modelo semiestatal. Em 1991, diante de uma grave crise financeira, o governo indiano deflagrou um conjunto de reformas destinadas a abrir as portas do país para o comércio internacional, estimular a concorrência e reduzir a participação do Estado na economia. A abertura indiana, retardatária em mais de uma década em relação à chinesa, propiciou um salto no crescimento do PI, que atingiu a média anual de 6% nos 15 anos seguintes. O rápido crescimento econômico transformou a Índia em alvo prioritário das estratégias das empresas transnacionais. Espera-se que a continuidade do processo reflita-se na expansão do mercado consumidor interno, cujo potencial é similar ao da China. Além disso, a Índia já oferece vasta força de trabalho tecnicamente qualificada, mas de baixo custo. A vantagem adicional, extremamente importante, está ligada à herança colonial: a maior parte dos trabalhadores qualificados indianos utiliza o inglês como língua materna. A Índia e o futuro A modernização indiana, embora impressionante, é extremamente desigual. Os pólos de inovação situam-se nas principais cidades e influenciam as regiões que as rodeiam, mas praticamente não tocam nas estruturas econômicas e sociais arcaicas de vastas áreas rurais. A infraestrutura de transporte, arcaica e decadente, limita as possibilidades de investimentos. Nos arredores das grandes cidades, antigas rodovias de pista única experimentam congestionamentos quase permanentes. Nas áreas mais distantes das metrópoles, estradas pavimentadas em ruínas conectam vias sem pavimentação, que se tornam praticamente intransitáveis durante as monções de verão. O Estado indiano não coleta impostos suficientes para realizar os investimentos necessários em infraestrutura. O problema estende-se ao setor de energia, atingindo tanto a produção quanto a distribuição de eletricidade. As grandes indústrias, de modo geral, utilizam geradores próprios, a fim de evitar os inconvenientes provocados por constantes cortes no fornecimento elétrico. Em vastas áreas do meio rural, os combustíveis tradicionais de biomassa, especialmente lenha e excrementos de animais, representam a principal fonte de energia para uso doméstico. A matriz energética indiana baseia-se no tripé formado por carvão, petróleo e biomassa. A Índia é grande produtora de carvão que funciona como matriz principal da produção de eletricidade. A maior parte do petróleo é importada. O crescimento econômico provoca aumento das emissões de gases de estufa e expansão das importações petrolíferas. Além de urgentes investimentos na rede de distribuição elétrica, a Índia enfrenta os desafios de modernizar suas usinas térmicas para reduzir as emissões de gás carbônico, de diversificar sua matriz energética e de fornecer eletricidade para a população rural. A persistência da pobreza A arrancada econômica indiana proporcionou, nas últimas décadas, forte crescimento do PIB. Ao longo desse processo, as desigualdades de renda aumentaram, com a expansão da classe média urbana, mas a pobreza foi reduzida e todos os indicadores sociais apresentam nítido progresso. Entretanto, a Índia continua a figurar entre os países mais pobres da Ásia. Cerca de 35% dos indianos sobrevivem com mentos de um dólar por dia e, no interior dessa massa de miseráveis, mais de 200 milhões sofrem subnutrição crônica. A expectativa de vida no país, em 2005, não passava de 63,5 anos e a taxa de mortalidade infantil, embora em queda, ainda ficava em torno de 56 por mil.
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