Sertanejo Universitário: A vida representada pela sanfona e pelo

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Sertanejo Universitário: A vida representada pela sanfona e pelo
Cultura
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Sertanejo Universitário:
A vida representada pela sanfona e pelo chapéu de couro
Agnes Lutterbach
[email protected]
Foi-se o tempo em que a
música sertaneja era tratada com
preconceito. Surgida em 1929, o
precursor do ritmo foi o jornalista e
escritor Cornélio Pires, que começou
a gravar histórias e pedaços de
cantos tradicionais rurais da região
caipira. Intérpretes como Tonico e
Tinoco, Milionário e Zé Rico, Leo
Canhoto e Robertinho fizeram muito
sucesso e influenciaram a nova
geração sertaneja. A música foi
tratada de maneira preconceituosa,
sendo chamada de “sertanojo” e
música de corno. As letras retratavam
as desilusões amorosas, o cotidiano
e a maneira de cantar. Superou
dificuldades, venceu barreiras e hoje,
através do sertanejo universitário, é
ouvida em todo o Brasil, sendo
enfatizada nas grandes capitais como
Brasília, São Paulo e Rio de Janeiro.
Expressão da cultura
A cultura brasileira também
pode ser percebida na música
sertaneja. Ela é mostrada através das
histórias apresentadas e dos
arranjos musicais, que unidos às
letras que falam sobre a terra, os
animais, o modo de viver do sertanejo
e as andanças pelo país, mostram um
povo sofrido na luta pelo que quer.
Esse gênero musical consegue
apresentar a simplicidade e a beleza,
onde se pensa que só existe seca.
O sertanejo hoje ...
O sertanejo universitário é a
nova tendência da música sertaneja.
Com novas vozes e instrumentos que
criaram uma nova roupagem mais
jovem e dançante. O ritmo recebeu
esse nome, já que a grande maioria
que freqüenta as casas de shows da
música
sertaneja,
é
das
universidades. A Chopperia Mais 1,
de Nova Friburgo, é um exemplo.
Toda quarta-feira acontece o projeto
“Quartaneja Universitária”, onde
diversas duplas e bandas do ritmo
sertanejo se apresentam desde
março de 2010. O empresário
Alexandre Cola disse que a ideia do
projeto surgiu em 2009, com a
ascensão e aceitação do estilo
musical nas grandes capitais do
Brasil. O público que freqüenta, é
bem diversificado, segundo Alexandre
“São os admiradores do sertanejo,
pessoas que gostam de forró e
ficaram carentes na cidade, já que
não tem um evento semanal voltado
para eles. Além dos freqüentadores
da casa. Quarta é o dia com o maior
Foto a direita: Cesário Ramos e Gabriel apresentam um show animado e dinâmico
Foto a esquerda: Vitor e Gusttavo são apaixonados pelo sertanejo universitário
público durante a semana.”
A moda musical do momento
é o sertanejo. Além de ser um ritmo
dançante e as letras falarem sobre
amor, relacionamentos e as alegrias
da vida, é um gênero que tem
conquistado cada vez mais
admiradores, além de despertar a
curiosidade das pessoas. Para as
duplas que tem vontade de se
apresentar na Mais 1, é preciso
passar por uma seleção, de acordo
com o empresário “Solicitamos que
nos mandem CD, repertório e
release, fazemos a seleção e
analisamos onde já tocaram.
Exigimos que tenha a banda que
acompanhe, já que ela é necessária
para que as pessoas queiram
dançar e não só se entreter”,
afirmou. Os arranjos, melodia e
ritmos agradam as diversas idades.
Duplas atuais ...
Duplas
jovens
têm
conquistado o país com o sertanejo
universitário. Maria Cecília e
Rodolfo, Guilherme e Santiago,
Fernando e Sorocaba, Hugo Pena
e Gabriel, João Bosco e Vinícius,
João Neto e Frederico e tantas
outras estão inovando na maneira
de cantar. A dupla Cesário Ramos e
Gabriel se apresenta sempre em
Nova Friburgo. Eles são de Duas
Barras e Bom Jardim, municípios
próximos e fazem muito sucesso por
onde passam. Eles tocam há um
ano e meio e tudo começou por
causa da família, segundo Cesário
“Desde criança nós escutamos o
sertanejo. Por gostarmos muito
desse ritmo, começamos a cantar e
fazer um trabalho em cima do que
gostamos”, afirmou.
Por ser uma música de raiz e
falar sobre as coisas simples da vida,
o sertanejo se diferencia dos outros
ritmos. A dupla Cesário Ramos e
Gabriel possui uma banda que os
acompanha nos shows, que é formada
por: Dannyel Tostes (bateria), Danylo
Tostes (guitarra), Raisa Mendes
(contrabaixo), e Carlos Eduardo
(Teclados). Fazem shows em Nova
Friburgo, Além Paraíba, Búzios, Ara
Cruz e Sul de Minas. As composições
próprias falam sobre o amor e a terra.
Antes havia muito preconceito com a
música sertaneja e isso tem mudado,
Cesário Ramos acredita que os meios
de comunicação ajudam “A mídia tem
ajudado bastante. Tem mostrado que
o sertanejo universitário é uma
roupagem nova do sertanejo”. A música
sertaneja tem aspectos culturais, fala
sobre a terra, o caboclo do mato.
Histórias de vida que muita gente não
tem acesso. Cesário acrescenta “A
música valoriza o lado raiz, que é a
nossa preferência”.
A dupla possui um CD “Uma
Viagem Sertaneja” e a ideia do
lançamento foi pela falta do sertanejo
raiz na região. Esse trabalho é só com
moda de viola e teve uma excelente
repercussão. “Temos um projeto de
lançar um CD só voltado para o
sertanejo universitário”, destacou
Cesário. No show, eles apresentam
sertanejo, forró, reggae e pop-rock e
possuem como influências Raul
Seixas, Almir Sater, Tonico e Tinoco e
Ernesto Nazareth. Para o futuro,
Cesário Ramos já tem planos
“Queremos lançar o novo CD e depois
gravar um DVD, com músicas inéditas,
regravações e participações de
amigos”, finalizou.
Outra dupla que tem se
destacado, é a friburguense Vitor e
Gusttavo. São dois jovens de 17 e
20 anos, que cantam desde maio
de 2010. A primeira vez, foi no show
de Cesário Ramos e Gabriel, na
Fazenda
do
Campo
“Não
começamos a cantar por modismo.
Foi influência da família, ouvimos
sertanejo desde crianças. Eu
cantava na igreja e estávamos
viciados em Cesar Menoti e
Fabiano”, disse Vitor. Os dois
sabiam que o destino destinava o
sertanejo a eles. O sucesso
começou com os vídeos que
postaram no Youtube, são cinco
músicas autorais, duas que estão
na internet e as outras são inéditas
“Levamos a câmera para a casa do
Gusttavo e resolvemos gravar de
brincadeira. Já tivemos duas mil
visualizações e a música Profetizar
o Nosso Amor já foi baixada quatro
mil vezes”, acrescentou Vitor.
Para quem acha que cantar
sertanejo é preciso vozerão, está
enganado. Aquilo da voz aguda e
gritante, já não existe mais, a voz
doce de Vitor, é um exemplo disso.
Os arranjos das músicas misturados
a outros ritmos têm atraído ainda
mais o público. A repercussão com
a dupla é muito boa, na opinião de
Vitor “Recebemos diversos convites
e temos um público que nos
acompanha. Temos um fã clube
desde outubro, o “Profetizar o Nosso
Amor”. Temos blog, Orkut e Twitter”,
respondeu sorrindo. Quando
começaram, era difícil porque as
pessoas não os conheciam, hoje a
mídia tem ajudado bastante na
divulgação e isso abriu portas. O
maior meio de divulgação do
trabalho de Vitor e Gusttavo é a
internet. Eles têm parceria com o
site Baixar Sertanejo, as rádios
Renascer (RS), Band FM (Campos),
Zona Sertaneja (Curitiba) e Cultura
Web (Aracaju).
O sertanejo universitário
conquista a cada dia mais uma
pessoa, que antes, poderia ter
preconceito com o sertanejo. Os
gostos evoluem, bem como a
maneira de tocar. É certo que cada
pessoa que canta tem orgulho do
que faz e carrega no peito o dom
de falar sobre as coisas simples e
que são esquecidas nesse mundo.
De autoria desconhecida: “Amar a
música sertaneja é gravar seus
versos transferindo para a alma
cada palavra cantada.” É ter na
alma a pureza do cantador e a
beleza do homem da terra.
Agnes Lutterbach é jornalista formada
pela Universidade Estácio de Sá

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