PO-301

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PO-301
VIII Congresso da Sociedade Brasileira de Psicologia Hospitalar
PO
PO - 301
EXPRESSÕES DA EXPERIÊNCIA DE ADOECIMENTO
DE CRIANÇAS DIABÉTICAS
Julia Mota Farias, Ana Maria Monte Coelho Frota
Fortaleza, Universidade Federal do Ceará
Uma das situações desafiadoras para a atuação do psicólogo na área de saúde têm sido a assistência a
sujeitos portadores de doenças crônicas, em virtude do surgimento de uma nova condição irreversível com
imposição de restrições, limitações e o risco de complicações a curto e longo prazo. O diabetes mellitus de
tipo 1 (DM1) caracteriza-se por ser uma doença auto-imune que leva o sujeito a uma hiperglicemia crônica
com consequências a curto e longo prazo tornando-o dependente da reposição do hormônio insulina,
comumente administrado sob a forma de injeções subcutâneas. O DM1, é mais comum na população
jovem, na faixa etária abaixo de 35 anos e com índice crescente na população abaixo de 5 anos de idade
(SBD, 2007). O objetivo deste estudo foi conhecer a vivência de crianças portadores de diabetes mellitus
tipo 1 e identificar os processos de ajustamento criativo de tais sujeitos, expressos através de recursos
lúdicos. O diagnóstico de diabetes inaugura uma situação traumática de alteração da relação da criança
com seu corpo, agora campo de constantes intervenções hospitalares invasivas, sendo alvo ou portador
de características da doença, como marcas da aplicação de insulina e de exames, a redução de peso,
além de todo o controle alimentar e de movimentos, que podem conduzir à perda dos traços mais próprios
da infância e do sujeito. As relações sociais e desejos dessa criança serão, a partir desse momento,
permeados pelas restrições e limitações do tratamento que se impõem no seu cotidiano, exigindo-lhe
adaptações e ajustamentos contínuos (ROSSI, 2006). A metodologia utilizada para essa investigação foi
de natureza qualitativa, a fim de priorizar a vivência da experiência dos sujeitos, tendo técnicas lúdicas
como recurso mediador para acessar essa dimensão (FRANCISCHINI e CAMPOS, 2008). A escolha
por tais técnicas baseia-se no fato de que a ludicidade consiste numa forma de expressão e significação
mais própria da infância (VASCONCELOS, 2005). Nesse estudo foram utilizadas técnicas de desenhos,
contação de história e produção de narrativa com três crianças diabéticas. A análise das narrativas e
dos desenhos mostrou que a condição de ser criança-com-diabetes, por vezes, parece ser esquecida no
contexto familiar como meio de amenizar o sofrimento, especialmente, da mãe, principal figura cuidadora,
em ter que enfrentar a situação do/a filho/a vivenciando as dificuldades e os sofrimentos decorrentes da
diabetes. As crianças demonstraram conhecimento sobre a sua doença oferecendo informações sobre o
cotidiano de cuidados exigidos pelo adoecer, no entanto percebeu-se uma relação significativa entre os
modos de enfrentamento dos entrevistados e dos familiares. Deste modo, em ambientes familiares com
excessiva proteção e/ou nos quais a figura cuidadora evidenciava dificuldades em aceitar condição de
adoecimento, apesar da criança apresentar compreensões cognitivas sobre a doença e seus cuidados,
pouco evolui no contato com a experiência de integração das novas necessidades surgidas a partir da
condição de portador de uma doença crônica, mantendo comportamentos rígidos de apego a situações/
idéias do passado, evitando novas possibilidades de satisfação das necessidades surgidas a partir do
adoecer como pode ser percebido em relação à alimentação.
Palavras chave: narrativa, doença crônica, criança, capacidade de ajustamento.
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