Amériques 2010 port

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Amériques 2010 port
Américas – Classificação Mundial 2010 Progressos notáveis na América Central, o Brasil acede ao topo da lista Após as Honduras em 2009, duramente penalizadas pelas consequências do golpe de Estado sobre a liberdade de informação, as evoluções mais espetaculares do ano provêm de três outros países da América Central. O assassinato de Christian Poveda, a 2 de setembro de 2009, no início do período em questão, poderia ter atirado El Salvador para a parte baixa da classificação. Tal não sucedeu, devido aos esforços conduzidos e aos resultados obtidos pelo governo de Mauricio Funes contra a impunidade no que respeita a este caso. Embora os meios de comunicação, em particular a mídia comunitária, continuem a ser alvo de ameaças frequentes, a ausência de agressões ou de atos graves de censura colocam este país, que goza da reputação de perigoso, numa posição invejável. A mesma tendência positiva se assinala na Guatemala, onde não foi contabilizado nenhum assassinato, ao contrário dos anos anteriores. Já o Panamá efetua o movimento inverso, numa atmosfera cada vez mais tensa entre a imprensa e as autoridades. Três episódios graves explicam esta queda brutal: em primeiro lugar, a detenção, no início do junho e durante dezanove dias, do jornalista aposentado Carlos Núñez, devido a uma condenação por “difamação” e “injúria” com mais de doze anos e da qual o interessado não tinha sequer conhecimento. Em segundo lugar, os maus-­‐tratos infligidos na cadeia a um fotógrafo detido por uma foto inofensiva. Por fim, as ameaças, acompanhadas por uma ação de expulsão, de que foi alvo o jornalista espanhol Paco Gómez Nadal, editorialista crítico e defensor da causa indígena. Entretanto, a sua vizinha Costa Rica continua assumindo-­‐
se como o país latino-­‐americano melhor posicionado. Mais ao norte, os Estados Unidos (50 estados da União) e o Canadá mantêm-­‐se nas primeiras posições do continente, mas atrás de duas dezenas de outros países. O primeiro balanço da administração Obama em matéria de acesso à informação se afigura decepcionante. As Honduras se encontram na cauda da classificação na América Central, devido a um balanço humano comparável ao do México, que se situa apenas ligeiramente acima, mas ao nível da Colômbia, onde aos efeitos do escândalo do DAS se juntam dois assassinatos (um dos quais com um móbil profissional confirmado). Se na República Dominicana a tensão persiste, por causa das dificuldades em abordar temas como a corrupção e o narcotráfico, nos países andinos a situação volta a ser crítica. Quer a Bolívia como o Equador retrocedem novamente, devido a violências, intimidações e bloqueios que alimentam um intenso clima de polarização política mediática. A situação efeta tanto os meios de comunicação públicos como os privados. O Peru volta a perder lugares, na sequência não só da persistência de uma quantidade elevada de agressões mas também de censuras impostas pelas autoridades e do abuso de ações contra a imprensa. Os mesmos fatores estão na base do novo recuo da Venezuela, onde a monopolização das frequências hertzianas audiovisuais pelo poder e a utilização descomedida das “cadenas” presidenciais deixam pouco espaço ao pluralismo. Cuba conquista algumas posições após a vaga de libertação de dissidentes – em especial presos da “Primavera negra” de março de 2003 – iniciada em julho de 2010. Atualmente, cinco jornalistas continuam encarcerados no único Estado do continente que não autoriza nenhum tipo de imprensa livre. Embora o regime tenha acedido a libertar alguns prisioneiros políticos em troca do seu exílio forçado, parece não querer ceder nada no que respeita às liberdades públicas. Problemas persistentes no Sul Alguns problemas persistentes – concentração da mídia, desigualdades económicas, tensões locais, processos judiciais em número exagerado, restrições de cobertura – são partilhados pelos restantes países. Aos progressos já observados no Cone Sul (Argentina, Chile, Paraguai e Uruguai) se soma desta vez o do Brasil. O gigante latino-­‐americano deve a sua melhor posição a uma diminuição das violências graves que até aqui tinham minado certas regiões e às provas de luta contra a impunidade em determinados casos. Outra explicação reside na evolução legislativa favorável em matéria de acesso à informação e de liberdade editorial, como a afirmação do direito à caricatura em período eleitoral. Por fim, o Brasil conta com uma das mais activas comunidades de internautas do mundo. A situação seria ainda melhor se medidas de censura preventiva não viessem lesar alguns meios de comunicação. Nos países anglófonos, só a Guiana sofre um retrocesso significativo, devido às relações difíceis entre a imprensa e a presidência e ao monopólio radiofónico do Estado. Ligeiramente à sua frente se encontram as seis ilhas da Organização dos Estados do Caribe Oriental (OECS), que surgem pela primeira vez na classificação numa posição conjunta, e ligeiramente atrás o Haiti, onde a mídia tenta sobreviver ao processo de reconstrução após o sismo de 12 de janeiro de 2010.