Acesse livro completo - Mulheres Mil

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o sonho à realidade
Making dreams come true
Du rêve à la réalité
Mulheres MIl Thousand Women MILLE FEMMES
Mulheres MIl
Thousand Women
MILLE FEMMES
Do sonho à realidade
Making dreams come true
Du rêve à la réalité
Mulheres MIl
Thousand Women
MILLE FEMMES
Do sonho à realidade
Making dreams come true
Du rêve à la réalité
Mulheres Mil
Do sonho à realidade
Thousand Women
Making dreams come true
Mille Femmes
Du rêve à la réalité
Brasília, DF
Março de 2011
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
Centro de Informação e Biblioteca em Educação (CIBEC)
Mulheres mil : do sonho à realidade = Thousand women : making dreams come true =
Mile femmes : du revê à la réalité. Organização: Stela Rosa. – Brasília : Ministério da Educação ; 2011.
420 p. : il.
Títulos e textos em português, inglês e francês.
ISBN: 978-85-64124-03-5
1. Mulher. 2. Educação de jovens e adultos I. Rosa, Stela. II. Brasil. Ministério da
Educação
CDU 377:396.4
Sumário
Summary
Table des
7
145
283
matières
Apresentação
Presentation
Présentation
11
149
287
Alagoas
Alagoas
Alagoas
21
159
297
Amazonas
Amazonas
Amazonas
31
169
307
Bahia
Bahia
Bahia
41
179
317
Ceará
Ceará
Ceará
51
189
327
Maranhão
Maranhão
Maranhão
61
199
337
Paraíba
Paraíba
Paraíba
71
209
347
Pernambuco
Pernambuco
Pernambuco
81
219
357
Piauí
Piauí
Piauí
91
229
367
Do sonho à realidade
Mulheres Mil
Rio Grande do Norte
Rio Grande do Norte
Rio Grande do Norte
101
239
377
Rondônia
Rondônia
Rondônia
111
249
387
Roraima
Roraima
Roraima
121
259
397
Sergipe
Sergipe
Sergipe
131
269
407
Tocantins
Tocantins
Tocantins
141
279
417
Projetos por estado
Projects by State
Projets par État
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Mulheres Mil
Do sonho à realidade
Mulheres MIl
Do sonho à realidade
Thousand Women
Making dreams come true
MILLE FEMMES
Du rêve à la réalité
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Esta publicação traz a trajetória de uma ação pública, o Mulheres Mil,
narrada em primeira pessoa. Quem conta a história são 27 mulheres, entre alunas e egressas que participaram do projeto piloto implantado nas regiões Norte
e Nordeste do país, com a meta de beneficiar mil brasileiras. Ousado e inédito
na Rede Federal de Educação Profissional e Tecnológica, o Mulheres Mil trouxe
o desafio de trabalhar com recortes de exclusão: mulheres jovens e adultas, em
situação de vulnerabilidade econômica e social, a maioria com baixa escolaridade
e à margem do mundo do trabalho.
Em linhas gerais, o projeto teve como objetivos elevar a escolaridade,
ofertar qualificação profissional e contribuir para a inserção dessas mulheres no
mundo do trabalho. Saindo da linguagem objetiva, pode-se afirmar que também
promoveu diversos outros impactos que por sua essência não são tão simples e
óbvios de serem mensurados, tais como a descoberta da cidadania, o resgate da
autoestima, a melhoria nas relações familiares e no convívio das comunidades,
além do estímulo às mulheres a voltarem para os bancos escolares. Resumindo:
pessoas que voltaram a acreditar em si mesmas.
A gestação do projeto começou em 2005 e contou com a visão inclusiva,
a coragem e a ousadia de diversos atores brasileiros e canadenses. A primeira
ação nasceu de uma parceria entre o Instituto Federal do Rio Grande do Norte
(IFRN), na época Centro Federal de Educação Profissional e Tecnológica (Cefet), e os colleges canadenses. Lá foi realizado um projeto de extensão que ofereceu
capacitação para camareira. O resultado foi tão impactante que o Canadá, por
meio da Agência Canadense para o Desenvolvimento Internacional (CIDA) e da
Apresentação
Uma história de muitas vozes
Do sonho à realidade
Mulheres Mil
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Apresentação
Mulheres Mil
Do sonho à realidade
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Associação dos Colleges Comunitários Canadenses, e o Brasil, por intermédio
da Secretaria de Educação Profissional e Tecnológica (Setec) e da Agência Brasileira de Cooperação (ABC/MRE), resolveram construir um projeto para ampliar
a ação para outros estados. Assim nasceu o Mulheres Mil, que, além do Rio
Grande do Norte, foi estendido para mais 12 instituições. São elas os Institutos
Federais de Alagoas, Amazonas, Bahia, Ceará, Maranhão, Paraíba, Pernambuco,
Piauí, Roraima, Rondônia, Sergipe e Tocantins.
As personagens da vida real participaram ou ainda participam dos cursos
de qualificação que foram ofertados a partir de 2008. As áreas são diversas e buscam convergir para as habilidades das alunas e a vocação da região. Por isso foram
oferecidos cursos de corte e costura, governança (camareira), alimentos, cuidador
domiciliar e artesanato. Vale ressaltar que respeitar as aprendizagens não formais
e contribuir para a (re)descoberta de talentos foi uma questão-chave na implantação do Mulheres Mil, e a contribuição valiosa dos colleges canadenses, que há
décadas implantaram o processo de Reconhecimento da Aprendizagem Prévia
(RAP), valida e certifica os conhecimentos acumulados no decorrer da vida.
Em nível nacional, a ação foi implantada pela Secretaria de Educação
Profissional e Tecnológica (Setec/MEC) e contou com a parceria da Assessoria Internacional do Gabinete do Ministro (AI/GM), da Agência Brasileira de
Cooperação (ABC/MRE), da Rede Norte Nordeste de Educação Tecnológica
(Redenet), do Conselho Nacional das Instituições da Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica (Conif ), da Agência Canadense para
o Desenvolvimento Internacional (CIDA/ACDI) e da Associação dos Colleges
Comunitários do Canadá (ACCC) e Colleges parceiros.
Nos estados, os Institutos Federais (IFs) contaram com a participação de
diversos parceiros governamentais e não governamentais, imprescindíveis na execução do projeto. Outras figuras fundamentais foram os professores, servidores
e voluntários dos IFs e dos parceiros, que acolheram, realizaram as atividades de
assistência às alunas e ministraram aulas. Com certeza, todos contribuíram diretamente nas mudanças significativas na vida dessas mulheres e seus familiares.
Uma prova é que todas as entrevistadas, tanto para esta publicação quanto para
o portal, desde 2008, falaram da importância das aulas e da convivência na instituição para sua formação profissional e cidadã.
Como tudo que é novo, o Mulheres Mil está em processo, construindo caminhos para fortalecer e expandir as pontes criadas entre comunidades,
institutos e sociedade. Pontes essas que vão desde as mudanças nas formas de
Apresentação
acesso – pois aqui os IFs saíram dos seus muros e foram às comunidades – até a
formatação de cursos, permanência na escola, articulações com as demais organizações que pudessem garantir as diversas demandas trazidas por essas alunas
não tradicionais, tais como creches, Educação de Jovens e Adultos, e parcerias
com o setor produtivo para garantir a inserção no mundo do trabalho. Por isso o
caminho não é único e não há uma só fórmula. O desafio é estabelecer o diálogo
e adaptar a metodologia desenvolvida no Mulheres Mil para as realidades, sem
perder de vista os eixos estruturantes do projeto: Educação, Cidadania e Desenvolvimento Sustentável.
Os resultados também não são únicos, nem todas as histórias são tão exitosas quanto as publicadas. Mulheres ficaram no meio do caminho porque arranjaram trabalho, mudaram de moradia, não gostaram da capacitação ou não
conseguiram conciliar o estudo com a vida. Há alunas que conquistaram uma
vaga na área da qualificação e também há aquelas que estão atuando em áreas
diferentes. Outras ainda estão em busca de uma colocação. Algumas voltaram a
estudar, outras não. Há as que estão arriscando o caminho do empreendedorismo e há discussões na área de cooperativismo. Entretanto, há uma certeza: todas
que concluíram a capacitação apontam que o projeto trouxe mudanças significativas em suas vidas.
Do ponto vista institucional, o saldo também é imensurável. De 2005 a
março de 2011, houve intenso intercâmbio de conhecimento entre docentes e
gestores brasileiros e canadenses, através de missões técnicas, cursos, workshops e
reuniões de trabalho. Mais do que parceiros de uma cooperação internacional,
Brasil e Canadá alcançaram, na Educação Profissional e Tecnológica, uma relação
de respeito, confiança e cumplicidade, com auxílios mútuos e com diversos planos para um futuro próximo. Um dos resultados foi o estreitamento da relação
entre Brasil e Canadá, e hoje as instituições vêm celebrando diversas parcerias.
Em relação ao Mulheres Mil, a ideia é levar o projeto não só para outras instituições brasileiras, mas também para países que queiram adaptar um método de
sucesso às demandas de sua população.
Para o Brasil, um fator importante é que os 13 Institutos Federais desenvolveram uma metodologia de acesso, permanência e êxito para mulheres que
hoje pode ser expandida para as demais instituições e aplicada para as diversas
comunidades e públicos que precisam do acesso à educação profissional. A disseminação dessa metodologia contará com o Centro de Referência do Mulheres
Mil, sediado em Brasília, que será responsável pelo acompanhamento da expan-
Do sonho à realidade
Mulheres Mil
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Apresentação
Mulheres Mil
Do sonho à realidade
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são, pela promoção de capacitações de servidores da rede e de outras instituições, pelo desenvolvimento de pesquisa e pela produção de materiais.
Além de apresentar impactos e desdobramentos que podem ser contabilizados em números, ao implantar o Mulheres Mil, as instituições construíram
ferramentas de visibilidade e acesso para um público que há décadas sequer ousava atravessar o portão de entrada de um IF. Por isso, mais do que um projeto,
essa ação representou o comprometimento com a inclusão social e, consequentemente, contribuiu para a construção de um país mais justo e igualitário e para o
alcance das Metas do Milênio, promulgadas pela Organização das Nações Unidas
(ONU) e aprovadas por 191 países que se comprometeram com a promoção da
igualdade entre os sexos e autonomia das mulheres, a erradicação da extrema
pobreza e da fome e a garantia da sustentabilidade ambiental.
A meta para os próximos anos continua sendo balizada pela ousadia. O objetivo é que o conhecimento acumulado alicerce a implantação do projeto para o
restante do Brasil, transformando o Mulheres Mil em uma política permanente
da Rede Federal, ofertada em cada uma das suas 366 unidades espalhadas nos 27
estados do país.
Sebastiana
Alagoas
Quitéria
Elisângela
Mulheres Mil
Do sonho à realidade
Marechal Deodoro
À margem, esta é a expressão que representa as condições em que vivem os
moradores da Vila Santa Ângela, no município de Marechal Deodoro. As casas, muitas de taipa, ficam dois metros abaixo do nível da rodovia AL-101 Sul
e constantemente acontecem atropelamentos e óbitos de moradores.
Invisíveis, as famílias não constam nas estatísticas oficiais quando são contabilizados os serviços básicos, tais como saneamento, escola, posto de saúde.
Sem nenhuma associação de moradores organizada para reivindicar os direitos
básicos, os carros, inclusive os do poder público, passam depressa demais. Não
dá tempo de olhar para os lados.
Um aspecto marcante do grupo de Alagoas é a timidez. São mulheres que, mesmo jovens, têm longa trajetória de trabalho. Filhas de lavradores, algumas, durante o dia, iam para as usinas trabalhar no corte da cana ou ajudar os pais na
roça e, à noite, estudavam no Mobral (Movimento Brasileiro de Alfabetização),
que ofertava educação para jovens e adultos entre os anos de 1964 e 1985.
A oferta de capacitação do Instituto Federal de Alagoas no setor de alimentos
visa qualificá-las em atividades já desenvolvidas, que são a venda e o preparo
de alimentos em bares e restaurantes – trabalho realizado nos finais de semana –, a retirada de caranguejo do mangue, a comercialização de cocadas
nas estradas próximas a suas moradias e a atividade de empregada doméstica.
Além disso, o IF celebrou uma parceria com o governo local para a oferta de
elevação de escolaridade.
12
Elisângela, Sebastiana e Quitéria
Do sonho à realidade
Mulheres Mil
Maria Sebastiana da Silva, 49 anos, Maria Quitéria da Silva,
32 anos, e Elisângela da Silva, 23 anos, são mãe e filhas que
compartilham histórias de vida similares: a maternidade chegou cedo
e no tempo do viver não sobrou tempo para as letras. Quitéria, assim
como Sebastiana, cedo foi trabalhar para ajudar a criar os irmãos.
São vidas que se repetem nas trajetórias de exclusão. Moram próximas
e se ajudam no que podem: dividem o que têm, se consolam na tristeza e
comemoram juntas as alegrias e conquistas. Hoje, em sala de aula, elas
compartilham o sonho de um futuro melhor. Elisângela quer conquistar
a independência financeira, a meta é ser recepcionista. O objetivo de
Quitéria é fazer um curso de enfermagem e essa foi uma das razões
que a levou de volta para sala de aula. Já Sebastiana não desiste de
sonhar com tempos mais prósperos.
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Mulheres Mil
Do sonho à realidade
Meu nome é Sebastiana e sou filha
natural de Marechal Deodoro.
Tive cinco filhos e criei quatro sozinha.
14
1. Mobral – Movimento
Brasileiro de Alfabetização.
Um ficou com o pai. Eu estudei só até a terceira série. Trabalhava de
dia e, de noite, ia estudar em uma escola chamada Mobral1. Chegava cansada. Às vezes, nem tomava café. O pouco que eu aprendi foi com sacrifício, foi trocando as letras, trocando os nomes. Vivi essa vida até quando eu
me casei, com 17 anos. Casei no padre e no civil. Tive meu primeiro filho
com 18 anos. Aí meu ex-marido trabalhava de motorista. Eu gostava dele,
mas ele bebia muito. Tá com 17 anos que a gente tá separado.
Sofri muito na minha infância; e na minha adolescência foi que eu
sofri mais ainda. Minha mãe criou sete filhos e não tinha condições. Fui
criada sem pai, cortando cana, limpando cana. Com 11 anos comecei a
cortar cana e trabalhei até os 16 anos, depois casei. Se fosse hoje, não podia
mais fazer porque tem o conselho tutelar, e criança não pode mais trabalhar, só estudar.
Tô aprendendo agora, depois de velha. Tô aprendendo
sobre culinária, gastronomia, direito das mulheres.
A maioria do povo critica o lugar onde a gente mora; uns chamam
favela, outros, cambada de mundiçada. Às vezes, eu pego o ônibus para
Maceió e vejo as pessoas com preconceito. Eu me sinto acanhada, porque
eu sou uma pessoa pobre e moro num lugar desses porque não tem um
lugar maior pra morar. Dói, porque a pessoa ser pobre não é defeito.
Eu voltei a estudar e fui para o projeto através das minhas filhas. Tô
fazendo o EJA2 e tô gostando do projeto. Depois que eu entrei, aprendi
coisas que eu nunca tinha aprendido na minha infância. Tô aprendendo
agora, depois de velha. Tô aprendendo sobre culinária, gastronomia, direito das mulheres. Até eu mesma fui vítima de violência e nunca tive esse direito. Eu não tive medo de mexer no computador, eu tinha era curiosidade
de um dia aprender a mexer em um deles. E realizei esse sonho.
Eu vendo Avon, vendo confecção
dos outros, de tudo eu faço um pouquinho para sobreviver. Eu faço filé3, renda
de filé; tem o Bolsa Família que me ajuda
muito, porque tenho um filho deficiente
que mora comigo. Meu sonho é trabalhar
para mim mesma e ter meu próprio negócio e um dia sair daqui desse lugar, para
parar de ser tão discriminada. Ter meu
pão de cada dia, sem trabalhar para os
outros, mas trabalhando para mim mesma. E nunca desisti de sonhar e continuar
lutando e sonhando para um dia ter uma
vida melhor.
Do sonho à realidade
Mulheres Mil
2. EJA – Educação de Jovens
e Adultos.
3. O filé surge a partir de
uma rede simples, composta
de malhas e de nós, é por isso
também denominado “rede
de nó”, seguindo a técnica de
confecção da rede de pescador,
que lhe serve de inspiração.
15
Mulheres Mil
Do sonho à realidade
Meu nome é Maria Quitéria. Eu tenho
três filhos e agora estou separada.
Eu não tive oportunidade de estudar.
16
4. Município onde
está localizada a
Vila Santa Ângela.
Minha infância foi um pouco complicada. Vivi até os 12 anos no
centro de Marechal Deodoro4. Então, houve a separação dos meus pais,
minha mãe mudava muito, aí eu tive que parar de estudar pra cuidar dos
meus irmãos e ajudar. Ela trabalhava em casa de família, trabalhava em
lanchonete, eu ia ajudar. Depois ela fez uma cirurgia, aí eu tive que ficar
no lugar dela ajudando. Eu não tive mais oportunidade para estudar. Fiz
até o quarto ano primário.
Eu era mais tímida, o projeto ajudou um pouco pra arrumar trabalho. Às vezes, eu trabalho no fim de semana no restaurante, de ajudante
de cozinha, e recebo o Bolsa Família. Aprendi a me valorizar. Tenho mais
coragem para enfrentar as dificuldades do dia a dia, que não são poucas.
Eu tenho fé que vai melhorar.
No curso, aprendi a fazer bobó de frango, a fazer refrigerante caseiro, reaproveitamento de comida. Aprendi como é a lavagem das mãos;
que tem que lavar até o cotovelo e, se for para o banheiro, tem que tirar
a bata, tem que tirar a touca, não pode falar enquanto está manipulando
Eu quero terminar o curso, depois estudar
para fazer o meu curso de enfermeira.
Do sonho à realidade
Mulheres Mil
os alimentos. São coisas que eu não sabia. Devo colocar a
verdura e os legumes para higienizar, para poder colocar
na salada, nas panelas. Eu vou terminar, quero o meu
certificado.
Tenho lembranças boas da ida a Brasília; foi a primeira vez que eu saí do estado. Nem imaginava que um
dia eu fosse sair de Alagoas. Sempre que tô assistindo televisão, que passa aqueles lugares que eu fui, eu digo: “Ó,
tive aí”, é bem emocionante! Sempre fico falando para os
meus filhos. Nunca tinha andado em hotel tão chique.
Eu já trabalhei de doméstica, em restaurante como
ajudante de cozinha, de garçonete, de faxineira. O que
eu gosto mais é de trabalhar na cozinha, porque eu não
gosto muito de estar no meio do povo, não. Eu prefiro
ficar mais recolhida mesmo.
Eu quero terminar o curso, depois estudar para fazer o meu curso
de enfermeira. Sonho em fazer enfermagem desde criança. Eu nunca falei
para ninguém, vim falar já agora, depois de adulta, que o meu sonho é
fazer enfermagem. Uma pessoa disse pra mim que, pra fazer enfermagem,
eu tenho que pelo menos fazer o primeiro ano. Por isso que eu voltei a
estudar, porque eu quero fazer esse curso.
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Mulheres Mil
Do sonho à realidade
Meu nome é Elisângela da Silva.
Eu tenho três filhos, dois do primeiro
casamento, e o mais novo é do segundo.
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Sou operada, não quero mais filho. Minha infância foi melhor do
que a da Quitéria, porque eu não trabalhava para ajudar a minha mãe.
Ficava dentro de casa, estudava.
Quando eu estudava em Maceió, teve uma festa do dia das mães.
Quando as mães foram entrando na sala, a gente começou a cantar aquela música do Roberto Carlos. “Nunca se esqueça nenhum segundo que
eu tenho o amor maior do mundo, como é grande o meu amor por
você”. A maioria não aguentou de emoção e começou a chorar. Chorou
eu, minha colega, a professora e saiu chorando todo mundo. Essa música
marca muito porque fala no amor, e o amor da nossa família é grande.
Minha mãe, pra mim, é tudo, é meu pai, é tudo. Depois dela, o que tenho na vida são meus filhos, minhas irmãs, que eu amo muito, minhas
sobrinhas. Somos unidas.
Aprendi, com a disciplina direito e saúde, a importância dos direitos
que a gente tinha e que tem hoje. Antes mulher não votava e hoje a Dilma
ganhou. É a primeira presidenta do Brasil. Você vê como as coisas estão
Aprendi, com a disciplina direito e saúde, a importância
dos direitos que a gente tinha e que tem hoje.
evoluindo! O que aprendi, que valeu a pena, foi sobre as mulheres, que eu
não sabia sobre essa Lei Maria da Penha. O pouco que eu sei da lei é que
não é violência só quando agride a pessoa batendo, pode agredir com palavras, com gesto. Isso me ajudou, porque tem muitas mulheres que vivem
com um parceiro apanhando e têm medo de denunciar.
Eu fui casada uns cinco anos com o meu primeiro marido. Comecei
a namorar com 15 anos e engravidei aos 17. Aí, ele começava a arengar:
ele batia em mim, eu batia nele. Tinha essa delegacia das mulheres, só que
não tinha essa Lei Maria da Penha ainda. Muita gente dizia: “Não vai denunciar não que ele vai lhe matar depois”. Ele sempre dizia: “Se você me
denunciar, quando eu me soltar, eu te mato!” Da última vez que a gente
arengou, que terminamos, quando minha mãe chegou em casa, ela disse:
“Vamos para a delegacia!”.
Cheguei lá, dei parte e pedi pra delegada fazer ele assinar um termo de responsabilidade. Desse dia para cá, eu criei coragem e, até
hoje, qualquer homem que inventar de triscar
a mão em mim eu já tô dando parte. Ele pode
me ameaçar quanto for. Então, estudar a lei
me ajudou a desenvolver mais um pouco, pra
saber o que as mulheres passam e podem fazer
pra não passar mais. Outra coisa que me marcou foi a informática. Nós tivemos 10 aulas
de informática. Aprendi a acessar a internet,
Do sonho à realidade
Mulheres Mil
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Mulheres Mil
Do sonho à realidade
que eu não sabia. Abrir as páginas no computador, ligar e desligar, que eu
também não sabia, eu aprendi.
Estudar ajuda na vida da gente, porque sem estudar não se vai a
canto nenhum, porque para trabalhar numa empresa você tem que ter
do primeiro grau em diante ou então o segundo grau todo completo. E
ajuda na educação dos filhos da gente, porque, se a gente bota o filho na
escola e não sabe nem ler nem escrever, como é que a gente vai ajudar os
meninos nas tarefinhas? Também tem essa parte aí; eu acho interessante
também nisso.
Nós tivemos aula com a nutricionista, aprendemos a cozinhar outros tipos de comida diferente. Ela ensinou uma receita de moqueca de
caju. Quando começar a ter caju, eu vou fazer. Fizemos bobó de frango,
refrigerante caseiro, que é melhor do que o que vende nas vendas. Agora
eu digo: “Estudo no nono ano e faço um curso no Cefet”. As pessoas já
se interessam.
Eu estou terminando a oitava série. Eu espero me profissionalizar
em recepcionista. Eu quero entrar no Cefet à noite para fazer um curso de
recepcionista para garantir um trabalho fixo para sustentar os meus filhos
e não estar dependendo de marido, porque, um dia, vai que ele me deixe?
Como é que eu vou ficar com meus filhos? Sem eira nem beira? Espero
ter um trabalho fixo e espero que o curso me ajude mais ainda a arrumar
um trabalho.
20
Janaína
Amazonas
Osmarivete
Mulheres Mil
Do sonho à realidade
Manaus
As beneficiadas com o Mulheres Mil são ex-moradoras de áreas alagadas, denominadas palafitas. Comum na Região Norte, diversas famílias construíam
suas casas em cima de leito de rios e mangues. A falta de saneamento, estruturas precárias para a coleta de lixo e as enchentes eram fatores que tornavam
as condições de moradias nesses locais insalubres, colocando em risco a saúde
dos moradores.
Para retirar as famílias dessas áreas de risco, o governo do Estado do Amazonas, através do Programa Social e Ambiental dos Igarapés de Manaus (Prosamim), construiu novas habitações, com saneamento básico e infraestrutura de condomínio residencial. As mulheres têm baixa escolaridade, uma
família para atender e várias são naturais de outros estados do Brasil ou de
municípios do interior. Muitas têm histórias de abandono, violência e trabalho infantil. Em comum, elas têm a necessidade de melhorar ou garantir
a renda familiar.
Além da questão da moradia, a falta de qualificação profissional empurrava as
moradoras para o subemprego ou o desemprego. E foi nesse contexto que o
Prosamim e o Instituto Federal do Amazonas estabeleceram parceria para a oferta de qualificação profissional na área de turismo. Desta forma, as instituições
realizam ações conjuntas para facilitar o processo de adaptação na nova moradia
e viabilizar possibilidades de trabalho e renda. Como em Manaus o setor de
turismo está em crescimento e há carência de qualificação que esteja ao alcance
do bolso desse público, a oferta do curso de camareira constitui uma importante
alternativa para que essas mulheres possam ter uma profissão.
Para contribuir com a mudança de residência, no plano educacional também
foram integradas disciplinas como meio ambiente e relações interpessoais, focadas no processo de interação com a nova realidade e na adoção de um comportamento sustentável. Em relação ao trabalho, o estágio profissional foi um
dos pontos cruciais, momento em que elas conhecem a rotina de trabalho e
podem conquistar uma vaga. E essa foi
a porta de entrada no mercado de várias
alunas. Além de hotéis, algumas egressas estão descobrindo possibilidades de
atuação em motéis e flats.
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Janaína Tereza Lessa da Silva
Do sonho à realidade
Mulheres Mil
Janaína Tereza Lessa da Silva, 35 anos, comemora a volta ao mercado
de trabalho. A nova profissão de camareira abriu as portas do trabalho.
Foi contratada no mesmo hotel no qual fez o estágio, exatamente como
queria. Com o emprego, ela faz planos de continuar se qualificando e com
a certeza de que está num mercado promissor.
Estou trabalhando no hotel
Caesar Business. Fiz a prática lá e
acabei ficando lá também.
Depois do estágio, nós fomos fazer a entrevista com o Recursos Humanos. Aí ela pediu os documentos e o currículo de todo mundo. Como
faltava o número da minha carteira de trabalho, quando foi no sábado, fui
lá com a minha filha entregar. Quando eu cheguei, ela falou assim: “Ainda
bem que você veio, eu já ia ligar para você, porque você foi contratada”. Eu
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Mulheres Mil
Do sonho à realidade
Algumas
colegas
minhas
queriam
fazer, mas
não podiam
porque não
moravam no
Prosamim.
Eu tenho
certeza que
ia lotar.
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chorei muito, eu chorei bastante. Minha filha tava lá. É difícil. Eu passei
quase dois anos sem trabalhar.
A primeira pessoa pra quem eu falei foi para o meu pai, porque ele
foi uma pessoa que me deu muita força. Falei assim: “Nem sabe? Eu fui
contratada para passar os três meses de experiência lá”. Ele chorou e disse
que não era para eu desistir nunca das coisas.
É cansativo um pouco, mas é gostoso. É legal trabalhar lá, as pessoas
são bacanas. Tô aprendendo cada vez mais, porque tem um detalhe que
a gente sempre esquece; mas elas estão ali para coordenar e, aos poucos,
estou me adaptando, não estou mais esquecendo. São pequenos detalhezinhos que a gente esquece, que, às vezes, é tanta coisa para arrumar que a
gente não lembra de tudo, mas já estou me adaptando mais.
Os professores aqui do IFAM foram todos maravilhosos. Muito
mesmo. O curso em si foi muito bom. Eu já recomendei para outras amigas minhas. Eu aprendi bastante. Erros de português que, às vezes, a gente
comete no dia a dia, como se comportar um pouco mais, o inglês também.
Vira e mexe eu me lembro, porque, quando tem hóspede que tem que falar
inglês, a gente tem que se comunicar de alguma forma. Então algumas coisas eu tento lembrar, tento me comunicar. Ele prepara. Quem levar a sério
o curso e for até o final mesmo, com certeza tem muita vaga. Vou fazer o
curso de inglês agora esse ano.
Agora, o que poderia melhorar no curso era ele ser aberto ao público. Algumas colegas minhas queriam fazer, mas não podiam porque não
moravam no Prosamim. Eu tenho certeza que ia lotar. Muitas pessoas iam
querer fazer, pessoas com a minha idade, de 35 anos, que, às vezes, não
conseguem trabalho, e que gostariam de fazer o curso, porque é uma opor-
Quando você tá desempregada, as pessoas meio que te
esquecem, não lembram de você, não te respeitam.
tunidade de trabalho. Nos hotéis, onde algumas colegas trabalham, sempre
tem vaga, mas não tem um curso de camareira. Teria que ser nacional, para
todo o tipo de mulher, porque hoje é tudo profissionalizante e tem muitas
mulheres aí que precisam mesmo desse curso.
Quando você tá desempregada, as pessoas meio que te esquecem, não
lembram de você, não te respeitam. Então eu tive novamente o respeito das
pessoas; as pessoas te olham de outra forma. Melhorou bastante, porque
você tem o respeito das pessoas, as pessoas passam a te respeitar novamente.
Eu trabalhava como auxiliar administrativo na prefeitura, durante 10
anos. Trabalhei como recepcionista e telefonista também, trabalhei como
auxiliar de odontologia. Então, pra mim, camareira nunca passou pela minha cabeça; trabalho como diarista, em casas. Mas camareira... – que na
verdade eles não gostam que a gente chame de camareira, é atendente de
apartamentos.
Pra mim está sendo legal, porque agora vou fazer o curso de supervisora, porque não quero passar minha vida inteira sendo camareira. Vai
começar o curso agora, no Senac, de supervisora de apartamentos; começa
agora em março, já me inscrevi.
Eu tenho o ensino médio completo; eu tenho até o segundo período da faculdade de Educação Física; não concluí todo porque veio o
falecimento da minha mãe e aí eu tranquei e nunca mais me interessei em
voltar. Foi muito difícil, porque eu não tinha muita intimidade com meu
pai, porque ele trabalhava o dia todo, vivia muito na rua. Hoje, não! Ele é
meu melhor amigo, a gente se dá super bem. Quando eu fui voltar lá para
ver não tinha mais condições de retomar a faculdade.
Eu tive infância mesmo, brinquei bastante. Até os meus 15 anos, eu
brincava de boneca. Estudei, me formei, fiz o vestibular e passei. Aí tive
a minha filha com 23 anos. Eu sou meio que casada, a gente se considera
marido e mulher, mas eu tenho a minha casa, o meu apartamento. Eu passo
mais tempo com ele, porque eu tenho
meu irmão, que mora comigo; ele não
trabalha, tá desempregado no momento e usa muita droga. Como eu passo o
dia trabalhando, eu tenho medo de deixar minha filha sozinha. Então, ela fica
mais na casa dele do que na minha.
Tem muitos hotéis que estão
precisando de camareira profissional,
que tenha o curso. Só nos dois meses
que estou trabalhando tem colega mi-
Do sonho à realidade
Mulheres Mil
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Mulheres Mil
Do sonho à realidade
nha que me fala: “Janaína, tu já tá trabalhando? Lá no hotel
no Adrianópolis, que é tipo um condomínio, tão precisando de camareira”. Aí eu já indico outras colegas minhas que
fizeram o curso.
Hoje, eu estou vendo que tem bastante vaga, porque
eu tô nesse ramo, mas pra quem não tem o curso de camareira, nem imagina que tá precisando de camareira nos hotéis.
Quando você faz um curso desse, automaticamente você já
fica envolvida nessa área e já sabe quem precisa, quem não
precisa; vai conhecendo pessoas que estão te indicando e automaticamente já tá trabalhando. Então é muito bom o curso de camareira.
Eu vou fazer minha faculdade de Farmácia. Vou me matricular no
curso para supervisora de andar, que é acima de camareira, porque tem
muitos hotéis que não têm, e a procura é grande. Eu não quero ser camareira, eu quero ser muito mais que isso e para isso eu tenho que estudar. E
é isso que eu vou fazer: eu vou estudar; passei muito tempo, então quero
estudar, quero fazer um cursinho, quero fazer inglês, me atualizar em informática, algumas coisas que eu já não me lembro mais. Quero fazer o
inglês, o básico pelo menos fluentemente, e eu tenho que aproveitar agora
que eu tô trabalhando para poder fazer.
Se eu não ficar lá no Caesar, eu já tenho outro. Eu só tô esperando
terminar minha experiência para ver se eu vou ser contratada ou não. Se
eu não for contratada, eu não estou preocupada, porque eu já tenho outro
me esperando.
Não falta trabalho para camareira, ainda mais quem tem o curso
profissionalizante. Nunca é tarde, enquanto eu tiver viva, o que eu puder
fazer por mim eu vou fazer. É muito difícil... Eu digo para minhas colegas
e para o meu marido: “Tem que estudar, tem que fazer curso profissionalizante. Tem que estudar; estudo é tudo”.
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Osmarivete Carlos de Souza e Silva
Do sonho à realidade
Mulheres Mil
Osmarivete Carlos de Souza e Silva tem 39 anos, três filhos e trabalha no
hotel Adrianópolis. Determinada a mudar o rumo da história, quando
começou a capacitação em 2008, não tinha com quem deixar os filhos e
por um tempo teve que levá-los para a sala de aula. Segundo Osmarivete,
a luta foi grande e o resultado também. Além da carteira de identidade,
ela conquistou outra identificação, a carteira de trabalho.
Eu cresci de tal forma que, se tiverem
visto aquela mulher de antes e hoje me
virem, vão notar uma grande diferença.
Me cuido melhor, olho mais para mim mesma; vejo que eu também
existo, sei o que está ao meu redor. Estão me vendo e sei que eu estou
mudando, que eu mudei. Precisava de uma injeção de ânimo, precisava de
alguém para me sacudir, dizer assim: “Você existe! Você é real!”. Eu noto
que esse projeto foi uma injeção de ânimo. Eu precisava e eu não tinha
como. Então chegou e eu peguei.
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Mulheres Mil
Do sonho à realidade
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Quando a gente mora em beira de igarapé o carteiro quase não
vai lá. Hoje nós temos endereço fixo; é muito importante.
1. Palavra usada no Amazonas
para definir produção de
carvão.
2. Mosquitos de pernas longas.
Hoje eu sou uma mulher que existe no mercado de trabalho. Isso
para mim foi muito importante. Eu posso dizer que eu tenho uma identidade chamada carteira de trabalho. Eu trabalhei já, mas por conta própria,
trabalhando avulso, fazendo uma coisa aqui e outra acolá, mas nunca de
carteira assinada.
Eu comecei a trabalhar com sete anos, com a minha mãe. Como
nós passamos a maior parte do tempo no interior, minha mãe fazia muita
caieira1. Minha mãe foi uma mulher que teve muitos filhos, teve 16 filhos,
morreram quatro e ficaram doze. Então, para ajudar o meu pai ela tinha
que se virar. Quando eu tinha dez anos, ela mudou de profissão, foi vender
comida em banquinhas.
O curso ajudou em todos os sentidos; me levantou a autoestima,
me deu uma perspectiva mais profunda. Eu era aquela mulher recatada,
sempre dentro de casa, olhando sempre para o agora, não via o futuro. E
esse projeto Mulheres Mil veio assim no momento mais propício da minha vida. Eu precisava muito. Eu me via numa situação de nem saber para
onde correr; eu e meu marido passávamos uma situação difícil. Não tinha
quem me ajudasse na realidade.
Quando a gente mora em beira de igarapé o carteiro quase não vai
lá. Você, para tirar qualquer coisa, precisa de endereço. Até para arranjar
um trabalho precisa ter um endereço. Quando vem chuva, você não dorme, passa a noite todinha em claro. Não tem como dizer que você vai ter
paz, que vai ter segurança. Quando a pessoa perguntava onde eu morava,
muitas vezes, a pessoa olhava e é como se dissesse assim: “Você não existe,
você não tem endereço fixo, endereço certo!”.
Hoje nós temos endereço fixo; é muito importante. Meus filhos não
precisam correr nem eu preciso me preocupar, porque, se
chover, eu não tenho preocupação mais. Mudou tudo, porque, além da gente ter aquele
problema de água, vinham os
ratos e com eles vinham as carapanãs2, e é impossível dormir
com tanta carapanã.
Me sentia importante no
meio de tanta gente aqui. Puxa!
Eu estou fazendo um curso na
escola técnica, ninguém quase acreditava e perguntavam:
“Mas é lá mesmo que você está
Do sonho à realidade
Mulheres Mil
Me sentia
importante no
meio de tanta
gente aqui.
Puxa! Eu estou
fazendo um
curso na escola
técnica.
fazendo o curso?”. Me sentia bem, acolhida, no dia que não dava para vir
me preocupava, devo ter faltado assim umas três ou quatro vezes.
Eu posso afirmar e vou afirmar que ele prepara mesmo. Quando
você entra no mercado de trabalho, a primeira coisa que lembra é de cada
instrução que elas nos deram. Você vai fazendo, vai lembrando. Então,
em cada aula que a gente aprendeu, até mesmo na química, quando você
vai misturar um produto, lembra que não pode fazer isso. Isso pode lhe
prejudicar.
Hoje eu me vejo assim importante, me vejo assim; eu nunca tive um
cartão de crédito e, pelo amor de Deus, tem que ter sabedoria até para usar!
Hoje eu sou mais cautelosa do que eu era antes; pego o dinheiro e digo:
“Não, eu vou gastar naquilo que realmente preciso. Eu não vou gastar assim à toa, é pouco, mas tem que ser gasto com aquilo que eu preciso, do
que estou mais necessitada”.
Logo que eu fui lá no hotel, elas não queriam me dar vaga porque
eu só tinha mesmo o certificado, aí eu disse: “Mas se vocês não me derem
oportunidade, eu não vou ter experiência; eu sei fazer tudo”. Habilidades
a gente tem no decorrer do trabalho, é como hoje se vê; eu faço o que eu
posso. O hotel está 100% lotado e estamos lá.
Eu tenho meu dinheiro, eu posso ajudar na minha casa. Meus filhos
passaram um tempo de muita escassez mesmo, de não ter para onde correr;
o pouco que fazia não dava pra nada. Hoje, o pouco que entra dá pra fazer
alguma coisa; não dá muito, já dá para dizer que eu tenho onde recorrer.
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Mulheres Mil
Do sonho à realidade
Hoje eu posso dizer que eu
tenho um futuro. Conquistá-lo? Sei
que está sendo difícil, mas eu vou
chegar lá. Eu quero chegar a ser governanta. No momento, ainda não
tem aqui o curso, mas estou de olho
e, por enquanto, estou aprendendo
um pouco nessa área. Quero fazer
um curso de inglês e me qualificar na área que eu estou agora.
O projeto que eu um dia estive nele é um projeto para qualquer
mulher que está sem perspectiva de vida, de olhar para dentro de si mesma; aquelas mulheres que muitas vezes o marido não dá nada por ela, que
difama, que joga ela, que faz tudo que acha que pode fazer; é para esse tipo
de mulher que é esse curso, elas precisam de uma ajuda, elas precisam de
um apoio, assim como eu precisei um dia.
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Cleonice
BAHIA
Maria das Graças
Mulheres Mil
Do sonho à realidade
Salvador
Em Salvador, a Vila Dois de Julho e Jaquaribe II são comunidades vizinhas, que
vivem, no dia a dia, dificuldades similares: não há rede de esgoto, têm infraestrutura precária, muita insegurança e violência. A falta de política pública também
pode ser detectada na inexistência de áreas de lazer, não há praças nem espaços
de convivência.
Os bairros nasceram como loteamento e enfrentaram, no início dos anos 1990,
um processo de ocupação massiva de famílias vindas de outras localidades da
capital e do interior, como é a realidade de muitas das alunas do projeto.
A falta de escola na zona rural e o trabalho infantil são as principais causas da
baixa escolaridade, o que dificulta a inserção dessas mulheres no mercado de
trabalho. Muitas são chefes de família e integram hoje o contingente de trabalhadores do mercado informal ou engrossam as estatísticas de desemprego. A
maioria trabalha como empregada doméstica e na realização de serviços gerais.
O Instituto Federal da Bahia enfrentou diversos desafios no processo de implantação do projeto, dentre os quais se destacam a violência existente nas comunidades e as dificuldades de inserção das mulheres no mercado de turismo,
em função do preconceito de cor e idade. Para driblar a questão do mercado, o
IF ampliou a oferta e criou um curso novo, o cuidador domiciliar, que tem um
potencial considerável de mercado de trabalho. Segundo o Instituto Brasileiro
de Geografia e Estatística (IBGE), em 2008, para cada 100 crianças de até 14
anos, existiam 25 idosos de 65 anos ou mais. A previsão é de que em 2050 sejam
173 idosos para cada grupo de 100 crianças.
Tanto na profissão de camareira quanto na de cuidador domiciliar, as alunas
estão conseguindo acessar o mercado de trabalho. Para muitas mulheres, a capacitação na área de saúde está garantindo uma nova atuação profissional, com
mais possibilidade de trabalho e maior remuneração, visto que a maior parte
atuava como empregada doméstica ou como faxineira.
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Cleonice Ferreira da Conceição
Do sonho à realidade
Mulheres Mil
Devota de Nossa Senhora do Livramento, Cleonice Ferreira da Conceição
participa da comunidade católica no bairro Jaquaribe II que leva o nome da
santa. Em dois momentos, a devoção ajudou: quando o marido se acidentou
e quando o irmão foi acometido de uma depressão e passou um tempo
sumido. Com 41 anos, ela luta para voltar ao mercado de trabalho. Agora
a meta é tentar uma colocação na área de cuidador de idoso. O sonho, que
começou quando concluiu o magistério, é fazer Pedagogia e poder dar aulas.
Superou minhas expectativas,
porque mudou completamente a minha
vida; até a maneira de pensar,
a maneira de lidar com o outro, porque eles trabalham muito isso: a maneira de você gostar mais de você. Cuidar mais de você.
Quando cheguei no curso, tava me sentindo inútil, tava colocando
currículo, ficava naquela expectativa de ser convocada a voltar a trabalhar
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Mulheres Mil
Do sonho à realidade
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1. IFBA – Instituto Federal
da Bahia.
e não chamavam. Eles dizem: “Seu
currículo é ótimo, mas você não tem
o perfil que a empresa precisa”. Até a
área do comércio mesmo, que eu já
trabalhei de caixa em supermercado,
só estava contratando pessoas até 27
anos. Aí você começa a pensar: “Eu
estou forte, tenho coragem, tenho
vontade de trabalhar e não tenho
oportunidade só por causa da idade!”. Você vai ficando assim, porque
eu só me sinto bem quando estou
trabalhando.
Quando eu comecei a participar dos encontros sobre autoestima,
começou a mudar, porque lá eles trabalhavam também o lado espiritual,
que você é um ser de luz, que você é importante, aí puxa também um
pouquinho para a questão da infância, da família. Eles falavam também de
desapego, das pessoas não desanimarem e essas aulas foram fortalecendo
minha autoestima. Aí, quando eu comecei a ir para o Cefet, eu saí da depressão de vez. Eu sabia que era um curso de cuidadora de idosos, mas não
sabia que era no Cefet e não sabia que ia ter bolsas.
As aulas eram superdinâmicas. Os professores, se fosse dar nota de 1
a 10, daria 10 para todos. Eu gostei de todos. Nós tivemos aulas de primeiros socorros, foi superimportante, tivemos conhecimento de muitas coisas
que não tínhamos, como trabalhar até em caso de prevenção de acidentes.
Aprendi sobre depressão, sobre o mal de Alzheimer, que acomete pessoas
de mais de 60 anos. Aprendi como cuidar, como observar os sintomas.
Aí tiveram as oficinas, também as de artesanato. Depois nos reunimos para fazer embalagens a partir da reciclagem de caixas de leite. Você
forra, dá o acabamento com a fita e fica muito bonito. Aprendemos a pintar, até participei da Feira de Natal do IFBA1 comercializando os produtos
reciclados feitos por nós.
Nós tivemos aula também de economia solidária; os professores têm
muita experiência com cooperativas. Hoje pensamos em criar uma cooperativa de reciclagem; estamos amadurecendo a ideia. Não foram todas que
se interessaram, mas umas três ou quatro pessoas se interessaram em voltar
a falar sobre o assunto. Estamos esperando passar esse processo que vem
agora de estágio e depois a formatura, para a gente voltar a pensar nisso. O
professor vai nos orientar. Eles nos falaram que em qualquer época que a
gente quiser voltar a falar sobre esse assunto, eles podem vir até a comunidade, explicar como funciona.
Depois do curso eu me tornei uma pessoa
mais forte, com mais esperança.
Eu me sinto preparada para o mercado de trabalho. O meu objetivo maior é voltar ao mercado. A expectativa é grande porque no estágio
eu vou colocar em prática aquilo que eu aprendi em sala de aula. Minha
meta hoje é conseguir um emprego, porque nós precisamos trabalhar e,
futuramente, fazer alguma coisa que possa vir a ajudar outras pessoas. De
repente, trabalhar como voluntária até no próprio projeto Mulheres Mil.
Também ajudar as pessoas com quem eu convivo, porque lá em casa tem
três pessoas idosas, que é minha mãe, que tem 61 anos, tem meu sogro,
que tá com 67, e minha sogra, com 62.
Tem algumas colegas que já conhecia de vista, mas não tinha contato. Então, um dos pontos positivos do curso também foi esse: que eu
pude me aproximar de algumas pessoas também, que só conhecia de
vista, e pude aprofundar a amizade, ver que são pessoas excelentes; tem
pessoas mesmo que descobri afinidades e eu sei que vai ser amizade assim
para a vida toda.
Depois do curso eu me tornei uma pessoa mais forte, com mais
esperança. Eu acho que me tornei uma pessoa bem melhor. Eu ainda sou
uma mulher com muitos sonhos para realizar, que não consegui realizar ao
longo da vida, mas não desisti, estou batalhando, correndo atrás, e tenho
certeza que vou conseguir realizar esses sonhos. Sei que eu não posso ficar
sentada, esperando que as coisas aconteçam, eu tenho que construir. Aí
tem esse lado profissional que eu preciso realizar e o sonho também de
fazer uma faculdade, um curso de Pedagogia.
Eu gosto de “Emoções”, de Roberto Carlos, porque na minha formatura do segundo grau, quando eu tava na cerimônia, começou a cantar, que
fala que “quando eu estou aqui, eu vivo esse momento lindo”. Então passou um filme da minha vida. Minha maior dificuldade na infância
era que meu pai e minha mãe são
analfabetos. Então, eu não tinha
uma pessoa que pudesse me ajudar
com as tarefas escolares. Era muito
difícil. Aí, geralmente, eu pedia a
uma vizinha para me orientar.
Na infância, a gente sonha
com tantas coisas, e o meu sonho
era ser pediatra. Aí, você sabe, a família de algum tempo atrás, mais
tradicional, tinha mais filhos. Lá
em casa mesmo somos nove irmãos, e os mais velhos sempre ti-
Do sonho à realidade
Mulheres Mil
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Mulheres Mil
Do sonho à realidade
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Eu acho
que nós
nunca
devemos
desistir dos
nossos sonhos,
temos que
lutar, correr
sempre atrás
daquilo que
queremos.
nham que trabalhar para poder ajudar a sustentar os menores. Como eu
sou a mais velha, comecei a trabalhar muito cedo, desde 13 anos. Se eu
parasse de trabalhar, eu não ia conseguir concluir o segundo grau.
Eu fui trabalhar em casa de família, trabalhei durante cinco anos.
Quando eu concluí o meu segundo grau, fiz magistério. Só que quando eu
fui pegar o certificado, descobri que o curso não era registrado. Foi uma burocracia muito grande, fiquei quase seis anos para conseguir o histórico. Quando consegui, eu já estava desatualizada, já não podia mais dar aula. Agora,
para voltar a dar aula, eu tenho que fazer um curso de Pedagogia, que é o que
eu estou buscando ainda fazer. Estou esperando a situação melhorar.
Eu acho que nós nunca devemos desistir dos nossos sonhos, temos
que lutar, correr sempre atrás daquilo que queremos, porque muita gente
tem sonhos e não tem a oportunidade de realizá-los. Então essa foi uma
oportunidade que eu tive, e assim como eu tive essa oportunidade de voltar a sonhar e de voltar a correr atrás de meu objetivo, a mensagem que eu
quero deixar é essa: que as pessoas nunca desistam de seus objetivos, nunca
digam é tarde. Sempre é tempo de recomeçar.
Maria das Graças Paula de Jesus
Maria das Graças Paula de Jesus tem 51 anos e já trabalhou de
empregada doméstica, babá, lavadora de carros e na construção civil.
Hoje está começando a fazer uma nova trajetória profissional como
cuidadora de idoso. Gosta de ir à igreja aos domingos rezar para sua xará,
Nossa Senhora das Graças. Em busca de perspectivas, morou algum tempo
em São Paulo. Por causa da violência, não gosta de onde mora, mas fica
porque herdou a casa da mãe. Uma das metas é melhorar a moradia
para deixar para o filho e o neto.
Do sonho à realidade
Mulheres Mil
1. O bairro de Plataforma
fica no subúrbio ferroviário
de Salvador e banhado pelas
águas da Enseada do Cabrito
e da Baía de Todos os Santos.
Meu grande amor foi meu primeiro
namorado, lá de Plataforma1 mesmo.
Eu tinha 18 anos, ficamos uns dois anos, depois terminou. Eu
acho que amor é só um. O seu coração tem que amar só uma pessoa,
porque era assim: quando via ele noutros lugares, com outras pessoas,
eu só faltava morrer. Eu tremia, ficava me sentido mal, gelava tudo. Ele
é vivo, mas não fala comigo não. Ele já casou, tem filhos, estão mocinha
37
Mulheres Mil
Do sonho à realidade
Eu sempre dizia a minha mãe que eu queria
fazer isso aí, estudar para ser enfermeira.
e rapaz, mas, até hoje, quando eu o vejo, de vez em quando,
quando eu vou em Plataforma, ainda sinto isso. Então, eu
acho que amor é isso aí.
Esse curso foi assim: tinha uma professora fazendo inscrição aqui, no colégio Padre Hugo, aí chegou uma menina que
mora nessa outra rua falando: “Ali tá fazendo a inscrição para
curso, mas tem que ir lá procurar saber, porque são 40 mulheres
que ela vai inscrever”. Cheguei lá e ela disse que era para tomar
conta de idoso, deu uma ficha para a gente preencher, dizer como era a casa
da gente, se tinha parede, se tinha piso, se era de chão. A gente fez a ficha e
deixei o número do telefone. Quando foi com três dias, ligaram.
Eu sempre dizia a minha mãe que eu queria fazer isso aí, estudar para
ser enfermeira. Só que eu não consegui, mas agora esse curso quase me deu
oportunidade, porque eu já tiro pressão direitinho, já dou insulina, tiro a
temperatura, dou medicamento, tudo certinho. Então eu já tô quase pertinho do que eu queria. Ainda não tá totalmente bem, mas uma coisa que
eu queria fazer já consegui.
Pra mim, lá foi muito bom. Eu achava que ia ser ruim, pensava que
ia ser uma coisa chata, mas pensei: “Eu não tô pagando nada, não tô trabalhando e tenho que ocupar minha mente com alguma coisa”. Fui. Gostei,
porque conheci outras pessoas. Os professores são muito bons. Aprendi
algumas coisas da vida: eu aprendi a me dar com as pessoas, porque eu
tava muito tensa, muito braba, muito revoltada depois que a minha mãe
morreu e que meu filho ficou doente. Saía daqui correndo para ir para o
meu curso, achava uma maravilha.
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A gente teve uma aula também de desapego; que as pessoas não
devem se apegar assim a tudo, que tem que ter desapego também. E aí
foi que eu fui mais. Eu era assim, meio revoltada, muitos problemas que
eu tinha assim na cabeça, mas depois disso eu melhorei. Eu fiquei mais
paciente, me desapeguei mais das coisas, não fiquei mais nervosa como
eu era. Eu melhorei bastante. E hoje eu sou outra pessoa e foi por causa
desse curso. Melhorou muito o relacionamento com as pessoas, minha
vida ficou melhor. Eu agora conheço outras pessoas, tô no meu trabalho;
pra mim, tá bom. Estou comprando minhas coisinhas, tô pagando minhas contas.
Esse trabalho eu consegui pelo curso, pela qualidade e pelo curso,
porque esse meio de trabalho a gente tem que ter o curso para receber o
certificado, para comprovar que sabe cuidar de idoso. Quando eu fui acertar, a mulher já perguntou para mim: “Você tem o certificado?”. Respondi:
“Tenho sim!”. “Tem a apostila?”, aí eu disse: “Tenho!”. Porque a apostila
diz como a gente tem que lidar com o idoso. Antes de terminar, eu já comecei a trabalhar.
Eu fiquei muito nervosa. Trocava o remédio, na hora de dar insulina
eu tremia, até uns três meses, mas, agora, eu faço de olho fechado. Fez um
ano que trabalho lá. A senhora que eu tomo conta tem um monte de doença, sofre de diabete, tem pressão alta, sofre de tireoide. Ela vive sentadinha,
não aborrece, não estressa. Uma pessoa maravilhosa.
Eu comecei a trabalhar com nove anos de idade na casa de uma mulher para tomar conta de uma criancinha, de babá. Depois saí de lá e fui
tomar conta dos meus irmãos. Minha mãe começou a ter filho, tinha que
trabalhar, e eu tomava conta. E não tinha tempo nem de estudar.
Depois de velha, morando aqui, é que eu me matriculei no Vera Lú2
cia ; aí foi que eu estudei mais dois anos; quando ia completar três anos, eu
tive que trabalhar em São Paulo. Eu vim embora porque minha mãe deu
derrame. São Paulo eu gosto muito. Você tem oportunidade de trabalhar e
de estudar, só depende da pessoa. Eu tenho muitas amizades.
Do sonho à realidade
Mulheres Mil
Foi uma
sensação boa,
porque eu
fiquei tanto
tempo sem
aprender nada,
e eu voltei
a aprender
mais um
pouquinho.
2. A escola Vera Lúcia
Cipriano fica no bairro
Nova Brasília, em Salvador,
onde Maria das Graças
morou antes de se mudar
para Jaguaribe II.
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Mulheres Mil
Do sonho à realidade
3. O Instituto Nacional
do Seguro Social (INSS) é
uma autarquia do Governo
Federal do Brasil que recebe
as contribuições para a
manutenção do Regime Geral
da Previdência Social, sendo
responsável pelo pagamento
da aposentadoria.
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Se eu tivesse menor idade um pouco, eu ia estudar, ia fazer um vestibular e ia fazer um curso de enfermagem. Só não tô pensando em fazer
mais porque eu já não enxergo mais direito; cabeça também eu não tenho
mais; nem idade, mas, se eu pudesse, faria isso que eu tenho vontade.
Foi uma sensação boa, porque eu fiquei tanto tempo sem aprender nada, e eu voltei a aprender mais um pouquinho. Tivemos aula de
matemática, sobre custo de vida, como é para viver com o seu salário,
essas coisas. Tivemos aula de cuidador de idoso mesmo, aulas de primeiros
socorros. Elas levaram uma agulha com a seringa para a gente poder dar
insulina, falou sobre pressão arterial, como é que tira a pressão. Falou como
é que lida com a diabete, o que acontece. Na reciclagem a gente aprendeu a
fazer sabonete. Tivemos aula sobre câncer de mama, câncer de útero, essas
coisas. A gente teve aula sobre a importância de serviço médico, de fazer
exame. Eu passei a me cuidar. Para as minhas colegas, também foi muito
bom, mudou também a vida delas; foi muito bom porque aprenderam.
Algumas estão procurando serviço.
Para o meu futuro, eu pretendo ajeitar a minha casa, botar uma laje
– aqui é muito pequeno, só tem um quarto – para, quando eu faltar, ficar
para o meu neto e meu filho. Estou pagando meu INSS3 para tirar minha
aposentadoria para eu não ficar vendo navio. Então tenho que trabalhar.
Eu já tenho a prática, já tenho minha carteira como cuidador de idoso. Ela assinou minha carteira, tenho a prática e fiz tudo direitinho então.
Se eu conseguir outro emprego, ganhando mais um pouquinho para mim,
vai ser bom. Eu gosto de lá.
Ilda
Ceará
Selma
Mulheres Mil
Do sonho à realidade
Fortaleza
Nos livros de história do Ceará, o Pirambu é citado no ano 1932, quando uma
seca assolou a região Nordeste do Brasil. Na época, foi instalado um dos campos de concentração: o Campo do Pirambu ou Campo do Urubu, como ficou
conhecido o local para onde eram enviados os flagelados da seca, que recebiam
algum cuidado e comida, e podiam trabalhar nas frentes de obras, sempre sob a
vigilância de soldados.
Décadas se passaram, o bairro cresceu, recebeu mais moradores vindos do interior, organizou-se, criou suas associações de moradores e atualmente faz uma
boa interlocução com o poder local, mas as marcas da exclusão ainda fazem
parte do cenário do local. Mulheres que nasceram nas décadas de 1950, 1960 e
1970, algumas alunas do projeto, ainda moraram nas precárias casas de taipas e
não tiveram oportunidade de galgar uma formação superior ou técnica, quando
muito terminaram o ensino médio. Ainda na adolescência, muitas se empregavam e se empregam nas fábricas de beneficiamento de castanha, instaladas nos
arredores do bairro. Depois casam, têm filhos e só dão conta da importância dos
estudos quando são demitidas, processo sazonal no ramo.
Hoje o Pirambu é um dos maiores bairros de Fortaleza, com mais de 300 mil
moradores, o que corresponde a quase 10% da população da capital, que atualmente ultrapassa os 3,2 milhões e apresenta uma das maiores densidades populacionais do Brasil, com mais de 40 mil habitantes por km². Como nos demais
bairros de periferias dos grandes centros urbanos, os moradores enfrentam violência, tráfico de drogas e preconceito. E as mulheres, cada vez mais, assumem
sozinhas o sustento dos seus filhos.
Com sede já instalada no bairro, o Instituto Federal do Ceará ofertou capacitação na área de turismo e alimentos. Para viabilizar os estágios e as possibilidades
de emprego, o IF celebrou parceria com a entidade da área de turismo, que
contribui com a oferta do estágio que faz parte da grade curricular e vem se
constituindo em uma porta de entrada no mercado de trabalho. Com a organização da Copa de 2014, da qual Fortaleza é uma das sedes, a tendência é que
o mercado cresça e absorva mais mão de obra
qualificada. Hoje, a inserção das egressas no
mundo do trabalho vem aumentando. Tanto
há registros de ex-alunas que conquistaram vagas de camareira quanto há aquelas que estão
atuando nas cozinhas dos hotéis.
42
Ilda Maria Vital de Oliveira
Do sonho à realidade
Mulheres Mil
Ilda Maria Vital de Oliveira, “a Obesa”, apelido carinhoso dado pelos
amigos de trabalho, uma alusão ao corpo esbelto – ela é a mais magra
das camareiras –, mostra que o acesso à educação transforma realidades.
Moradora do bairro “vixe”, expressão carregada de preconceito que,
segundo Ilda, muitos cearenses usam quando descobrem que estão de
frente com o morador do Pirambu, acreditou que podia mudar o rumo
da história, e mudou. Com 40 anos, ela deixou para trás o desemprego e
hoje trabalha no Holiday Inn.
Quando me chamaram, que eu tinha
que estar no Holiday Inn, tal dia,
tal hora pela manhã, me arrumei, me ajeitei toda e fui lá. Quando a mulher
perguntou: “Você fez o curso onde?” – “No Cefet” – “Em qual Cefet?” –
“13 de maio”. É uma referência grande mesmo. Ajuda a abrir portas.
Quando o Mulheres Mil chegou na minha vida, eu tava bem caída.
Meu filho tava preso, já ia fazer dois anos que eu estava desempregada e
43
Mulheres Mil
Do sonho à realidade
Quando eu trabalhava na Iracema, nas fábricas de
castanha, era só aquele salariozinho limpo e seco.
meu marido também já tinha ficado desempregado. Nós estávamos praticamente nas costas da minha mãe. Mas eu disse: “Depois que eu terminar
esse curso, a minha vida vai melhorar, porque eu vou começar a batalhar
emprego”. Deu certo! Eu estou com um ano e seis meses lá no hotel.
Quando eu trabalhava na Iracema, nas fábricas de castanha, era só
aquele salariozinho limpo e seco. Eu não tinha plano de saúde, não tinha
plano dentário, não tinha nada. Depois que eu fiz o curso e entrei para o
hotel, melhorou minha vida 100%, porque não é só aquele salário. Agora
estou com plano de saúde, plano odontológico. Os meus filhos, que tavam
com problemas, trataram os dentes, eu também.
Minha mãe trabalhava igual eu trabalhei, nas castanhas. Nós somos
cinco irmãos, não tínhamos casa. Eu lembro da gente morando ali embaixo, num casebrezinho feito de madeira, não tinha fogão, só fogareiro, sem
perspectiva nenhuma. Minha vó era cega e muito cedo acordava, acendia
aquele fogareiro com pau – era aquela fumaceira dentro de casa –, fazia um
feijãozinho. Às vezes, ela estrelava ovo com água fervida; ficava uma coisa
tão ruim... Aí, eu e a minha irmã saíamos para deixar o comer da minha
mãe; era longe. Do meu pai eu nunca tive notícia.
Eu queria um dia dizer: “Saí das Iracema”. Minha irmã continua
lá e tem dias que ela chega em casa morta de cansada, sente muita dor
nas costas porque a gente trabalha igual costureira, só catando, separando
amêndoas com película, amêndoas com casca. Ela tem 36 anos. Aí eu digo
para ela: “Mulher! Faz o curso de enfermeira, de camareira, porque é tão
bom... a gente vive outra vida dentro do hotel”.
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É aquela coisa boa, quando a gente chega, todo mundo lá no refeitório tomando café, depois vai todo mundo
para o vestiário se vestir, se arrumar, botar aquela maquiagem, se ajeitar. E depois cada qual pega seu carrinho, seu
plano, sua chave e cada uma sobe para o seu andar. Às
vezes, na hora do banho, a gente se maldiz do cansaço, mas
depois que toma aquele banho, que se ajeita, que vai descendo aquelas escadas para vir embora, chega sente aquele
alívio, aquela coisa boa. Eu acho muito bom.
No estágio, eu fiquei meio assim. No primeiro dia, eu
pensei: “Rapaz, é muito cansativo!”. Eu achei que não ia dar
para mim, não. No segundo, também, mas, no terceiro, eu
já fui. Terminei o estágio na sexta e no sábado já estava colocando currículo. Aí, deixei em hotéis e em empresas. Dois
hotéis já me chamaram, mas não quis trocar o certo pelo
duvidoso. Já estou empregada, já estou de carteira assinada.
O mercado para camareira é bom, não fica desempregada;
é igual a costureira.
Estudar muda as pessoas. Eu também voltei a estudar por causa do
projeto, porque as meninas comentavam que o projeto não ia querer quem
tivesse só o primeiro grau. Isso me deu força para enfrentar os problemas.
Era muito difícil. Chegava o dia da audiência e eu ficava com a cabeça
deste tamanho, mas meu marido me dava a maior força; dizia para eu não
desistir. Agora meu filho está bem.
O que eu aprendi no curso eu estou usando no trabalho: a informática, o português, a parte de camareira. A informática, apesar de ser só
o básico, ajuda muito. O pouco que eu sei – abrir a internet, entrar no
computador e ver quantos apartamentos estão limpos – ajuda. O pessoal
da recepção liga e pede: “Ilda, abre aí o computador para ver como é que tá
tal apartamento: tá sujo ou tá clean”. Eu vou, entro no computador, vejo.
A informática é muito importante nesse ramo.
Matemática ajuda em alguns pontos, mas português é muito importante, porque tem a planilha para preencher. Ali você vai preencher, colocando: apartamento ocupado, clean, vago, sujo. Se a gente entrar num
apartamento e tiver as coisas dos hóspedes, porque geralmente eles deixam:
relógio, anel, essas coisas, mala aberta, tudo eu coloco no meu plano. As aulas de inglês também ajudam. Tinha que ter mais, porque são poucas horas.
Se eu pudesse reviver, eu gostaria de fazer o curso novamente. A melhor lembrança que eu trago das aulas eram as de interpretação dos textos.
Fizemos um jogral com música; parecia que a gente tava vivendo aquele
personagem. Foi uma das melhores aulas que eu tive.
Do sonho à realidade
Mulheres Mil
Terminei
o estágio
na sexta e
no sábado
já estava
colocando
currículo.
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Mulheres Mil
Do sonho à realidade
No Instituto, eles são muito acolhedores mesmo. Às vezes, eu me
sentia inferior porque a gente via muito aluno e achava que eles tinham
posses. A gente mora aqui na beira da praia; aí, estar dentro de um centro
daquele, no meio de tanto adolescente que a gente acha que tem grande
futuro pela frente... Eu, às vezes, ficava com receio de ir até o banheiro.
Mas pensava, se eu cheguei aqui...
A formatura foi uma coisa tão boa, chamar a gente ali na frente, receber aquela declaração, aquele diploma. Foi bom, muito bom mesmo! A
gente se sente importante, sente aquela pessoa assim: Eu venci! Eu cheguei
até o final!
Hoje, depois que eu fiz o curso, eu tenho mais aquela liberdade. E tenho aquela força de vontade de que eu vou fazer e faço. Eu quero agora, em
2011, aperfeiçoar. Estou pensando em terminar meu terceiro ano e entrar
num curso de informática avançado. Essa é a meta, porque eu estou fazendo
um curso virtual, o nome é O Bem Receber a Copa no Brasil, que está preparando para a Copa de 2014 todo o pessoal do ramo de hotelaria.
Eu daria nota mil para o curso; é mesmo Mulheres Mil. E aquelas que
querem mesmo, como eu, que fizerem por onde, se quiserem mesmo, chegam onde eu cheguei. Não quero deixar de ser camareira. Tô realizada!
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Maria Selma da Silva
Do sonho à realidade
Mulheres Mil
Nos últimos quinze anos, Selma cuidou de Davi, seu filho mais velho,
que nasceu com paralisia cerebral. Em 2008, começou a se preparar para
a despedida: fez o curso de camareira e voltou a estudar. Em julho de
2010, Davi se foi, e em outubro, ela começou a trabalhar no Holiday
Inn, indicada pela amiga de curso: a Ilda. Do passado, ela diz que tem a
tranquilidade de missão cumprida. Do futuro, a certeza que tem capacidade
para escrever sua história e cuidar do filho mais novo, o Danilo. “Essa Selma
agora tá diferente daquela que entrou no Mulheres Mil, porque é uma
mulher dinâmica, diferente, é uma mulher que agora sabe o que quer:
a Selma quer trabalhar e ser feliz.”
Foi incrível! Como eu disse a primeira vez,
as meninas até riram lá em casa
quando eu falei isso na minha entrevista – eu tinha medo de computador.
Realmente, eu não chegava nem perto. Morria de medo. Minha mãe
dizia: “Menina, esse bicho aí é um bicho do outro mundo, é um bicho do
47
Mulheres Mil
Do sonho à realidade
Eu tenho
Orkut e
tenho e-mail
também. Abri
logo que eu
saí do projeto.
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final dos tempos porque descobre a vida da gente todinha”. E descobre
mesmo! Quer ver? Vamos supor: você está num apartamento, termina de
limpar todo e dá o clean. O clean é digitar um código. Aí, aquela supervisora lá embaixo sabe onde você tá, onde entrou. Quando passa a chave
no trinco do apartamento, acusa no computador. Todo mundo sabe a que
horas você entrou, quantas vezes, o tempo que ficou lá dentro. Então o
computador sabe tudo mesmo [risos]. Eu tenho Orkut e tenho e-mail também. Abri logo que eu saí do projeto.
O desafio é muito grande, muito forte, muito intenso. A gente trabalha muito, é uma rotina pesada, mas, quando a gente se apaixona pela
profissão, vai em frente. Fecha os olhos e abraça com todo amor, com todo o
carinho, que é para isso que a gente foi preparada, e é isso que a gente quer,
pelo menos, no meu caso, para isso que eu fui preparada, de 2008 a 2009.
Eu tava apreensiva, nervosa, eu sabia que ia começar a trabalhar, sabia
que a minha carteira já tava assinada, porque, quando eu fui fazer a entrevista, pelo projeto que eu fiz aqui no Mulheres Mil e pelo certificado que eu
levei, já fiquei. Eu fiquei tão emocionada que quase que não consigo fazer
nenhum exame para entrar na empresa. A minha pressão subiu e a doutora
ficou um pouco preocupada, mas deu tudo certo. O coração bateu muito
forte porque eu sabia que eu tava preparada para aquilo e sabia que eu ia
enfrentar; mas aí eu entrei com toda a garra, com toda a força e estou enfrentando. Estou gostando, tô adorando ser camareira.
Já estou lá faz três meses, com carteira assinada desde o primeiro
dia. Tem de bom tudo, porque a gente conhece várias pessoas legais,
pessoas de outros estados; a gente vê um mundo completamente novo.
No projeto, a gente conhecia teoricamente, mas na prática é muito bom,
muito legal mesmo.
A primeira vez que eu trabalhei de carteira assinada foi antes de ter
meu filho. Eu passei 15 anos parada por conta do problema do Davi. Era
um bebê. Eu sabia que eu ia ficar sem ele, sabia que um dia ia precisar
trabalhar, porque o meu trabalho era cuidar dele, tanto que eu vivia da
aposentadoria dele. A casa era sustentada praticamente por ele, porque marido eu quase não tinha, era só para dizer que tinha. Abandonei o marido
também para fazer o curso, para viver, porque vivia presa.
Fui para o projeto e também voltei a estudar. Fui fazer EJA1 e terminei o primeiro grau. O segundo grau estou fazendo. Só tinha feito até
a quinta série. Naquela época, bastava. Minha mãe sempre dizia: “Não já
aprendeu a ler e escrever ? Pronto!”. Até a quinta série era o que a gente
precisava, porque já sabia ler, escrever e fazer conta.
Trabalhei com 14 anos, numa fábrica de rede; eu fazia varanda, trancinha. Naquela época, as redes eram manuais. A minha mãe sempre botou
a gente para fazer alguma coisa, porque nós éramos cinco irmãs mulheres,
fora os quatro irmãos homens. Era uma família grande, só o meu pai que
trabalhava e os irmãos mais velhos trabalhavam com meu pai.
Eu me sinto muito importante por ter participado do curso do Mulheres Mil. Ajuda muito. Aprendi que a gente tem sempre que tá de bem
com a vida, tem que se cuidar, tem que se agarrar na nossa vida porque é única, e a gente tem que viver o momento, porque depois que passa acabou.
Tem muitas mulheres desempregadas no nosso país e esse projeto é o
ponto de partida para essas mulheres chegarem lá na frente e conseguirem
vencer, porque é um projeto maravilhoso. Vi uma das meninas que estão
fazendo o curso, no ônibus; pela blusa do Mulheres Mil reconheci logo.
Eu tava com poucos dias lá no hotel. Ela olhou para mim e sorriu; eu nem
conhecia, mas ela já me conhecia. “Você é a Selma, né?” Aí eu disse: “Você
me conhece do Mulheres Mil, né? Olha, continua, porque é muito bom e
esse projeto abre portas”.
O Mulheres Mil foi a chave para abrir a porta de recomeço na minha
vida, que eu vivia morta, só assistindo novela. Assisti novela por cima de
novela; quando abri os olhos minha vida tava sendo uma novela.
Aí eu pensei: “Epa! Comigo não!
Vou mudar essa página”.
A gente acha que não tem
capacidade de se redescobrir, mas
vai vendo coisas que sabe que é
capaz. Você tem a capacidade de
descobrir coisas que você nem
imagina. Muitas vezes eu me senti inferior, mas o projeto me ajudou, porque a gente sabe que tem
essa força, basta aprender a botar
para fora. O projeto ajuda você
A gente
acha que
não tem
capacidade
de se
redescobrir,
mas vai vendo
coisas que
sabe que é
capaz.
Do sonho à realidade
Mulheres Mil
1. EJA – Educação de Jovens
e Adultos.
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Mulheres Mil
Do sonho à realidade
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2. O Exame Nacional do
Ensino Médio (Enem) é um
exame individual realizado
em todo o Brasil para avaliar
os conhecimentos dos alunos
que estão concluindo ou que
concluíram o ensino médio.
Com o Enem, o aluno pode
concorrer a uma vaga em
universidades e institutos
federais e ainda a uma bolsa
de estudos para instituições
privadas.
a ensinar também, porque não é só recriminar, brigar, falar, repreender, é
também ensinar. O projeto ensina muitas coisas boas que a gente ensina
para os filhos. Eu ensino para o Danilo que ele não pode baixar a cabeça
com nada, que não pode ser inferior a ninguém. Ele pode fazer e tem que
ter determinação de conseguir; colocar na cabeça que vai fazer, porque tem
força para isso.
Antigamente não esperava que fosse acontecer isso que tá acontecendo agora. Receber aquele dinheiro porque você se esforçou, estudou,
praticou. Ah, é muito gratificante! Foi muito bom pegar aquele dinheiro
e saber: agora eu vou pagar as minhas contas – tinha um monte de coisas
atrasadas. Depois que o menino faleceu, o dinheiro acabou.
A importância do Mulheres Mil na minha vida?! Foi muito importante! Foi um projeto único e determinante. Determinou o nosso futuro,
né, pelo menos o meu, porque a vida não acaba aos 40, a vida começa aos
40 anos. A vida começa no tempo que você determinar que vai começar.
A mulher tem que estudar sempre, não só na escola, não só no projeto; ela
tem que estar sempre estudando, ela tem que estar à frente do seu tempo,
porque não pode parar.
Eu chego sozinha no vestiário. Eu me arrumo e olho para o espelho:
“Ah, agora sim, agora dá para ir, porque agora eu sou uma camareira. Eu posso tudo o que eu quiser”. Esse ano eu termino o terceiro, vou fazer vestibular
e vou passar no Enem2 e fazer a faculdade para economia doméstica.
Raquel
Maranhão
Maria Rosilda
Mulheres Mil
Do sonho à realidade
São Luís
A 20 km do centro, a Vila Palmeira é um dos bairros mais antigos de São Luís.
Inicialmente, moravam trabalhadores rurais, descendentes de escravos, entre
outros grupos que se encontravam à margem do desenvolvimento urbano. A
ocupação do local foi marcada pelo crescimento desordenado e pelo inchaço
ocasionado pelo êxodo rural. Isto levou as famílias a construírem suas casas
nas margens do rio Anil, que cruza a capital e que constituía o principal corpo
hídrico da cidade naquela época.
O bairro possui uma parte da comunidade instalada no manguezal do rio,
hoje completamente poluído. Várias famílias moram em condições subumanas, em palafitas, construções de madeira sobre a maré, cercadas pelo lixo.
Neste cenário, encontram-se diversas mulheres que não tiveram oportunidade
de estudar, não se capacitaram profissionalmente e tiveram filhos. Grande parte é mãe solteira e mantém suas famílias como diaristas.
Em São Luís, a área de alimentos tem forte potencial de inserção no mundo
do trabalho e carência de mão de obra qualificada. Em função disso, o Instituto Federal do Maranhão desenvolveu a qualificação profissional na área de
conservação, congelamento e preparo de alimentos e vem promovendo uma
articulação com o setor produtivo para viabilizar a inserção no mundo do trabalho. O projeto foi apresentado para alguns empresários da área que hoje são
empregadores das alunas. Outra ação importante foi a ampliação do Mulheres
Mil para o campus do Centro Histórico, que
ofertou curso na área de artesanato.
No que se refere às egressas, algumas estão garantindo renda por meio de encomendas de
salgados e doces, outras realizaram o sonho da
carteira assinada e estão trabalhando em empresas parceiras. Muitas estão comercializando os produtos no próprio bairro e há ainda
criação de microempresa.
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Raquel Santos
Do sonho à realidade
Mulheres Mil
Raquel Santos, 34 anos, leva a vida com bom humor. Gosta de rir,
de brincar. Gosta de ser feliz. Talvez por isso, o período junino, que tem
festa para todo lado, é a época em que mais curte São Luís. É quando
tem arraial, tem Tambor de Crioula, tem Dança Portuguesa, tem Bumba
Meu Boi e quadrilha. Na adolescência, fazia ginástica rítmica e dançava
o Cacuriá, uma coreografia sensual, onde casais dançam com passos
marcados e, de acordo com a música, os passos e parceiros são trocados.
Com planos para o futuro, Raquel conquistou um sonho que parecia
distante: a carteira de trabalho assinada.
Sinto saudades das aulas práticas
e das teóricas também, porque
ficava aquela animação.
Mas uma coisa que eu não sinto saudades, apesar do professor ser
maravilhoso, é matemática. Essa aí não tem conversa. Talvez agora a gente
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Mulheres Mil
Do sonho à realidade
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1. O Bondiboca é uma
rede de lanchonetes de
São Luís que integra a
parceria para a inclusão
das alunas no mercado.
tente assim uma aproximação, porque eu entrei lá no serviço como atendente e, do mês de junho para cá, eu estou como caixa-atendente, tem que
bater o caixa, prestar conta. Então, a gente tá querendo se acertar, só não
sei se vai dar certo.
Eu já tinha desistido de muita coisa. Eu ia para um lado, não dava
certo, ia para outro, não dava certo. Eu tinha desistido de trabalhar de
carteira assinada, porque eu já estava com 32 anos e não tinha arrumado
nenhum serviço de carteira assinada. Terminei o ensino médio, sou formada em magistério e sempre trabalhei em escola comunitária. Na última
escola que eu trabalhei, recebia 150 reais por mês e fiquei de setembro a
novembro sem receber. Então, para mim isso tava fora de cogitação, porque o mercado não é só pelo currículo, mas olha muito a idade da pessoa;
não só a experiência conta.
Aí eu entrei no curso para me aventurar, para ver se conseguia melhorar alguma coisa. Realmente, mudou muito a minha vida. Mudou demais. Eu estou trabalhando no Bondiboca1, de carteira assinada; dia 28 de
janeiro fez um ano de carteira assinada. Essa foi a minha primeira conquista. Comecei também a divulgar o trabalho de artesanato que eu faço. Eu
faço flores, bonecos.
Com o meu primeiro contracheque, eu comprei minha máquina de
lavar. Aliviou muito, porque no dia que tava de folga era o dia todo lavando roupa. Estou economizando para comprar minha geladeira, cama, para
dar um pouco de conforto para mim e para os meus filhos.
Lembro de tanta coisa boa... a turma da gente era uma turma boa.
Aqui no Cefet eu participei do projeto de uma bolsa, que eu trabalhei aqui
em cima, na parte do Recursos Humanos. O dinheiro da bolsa me ajudou,
tanto na parte de alimentação para dentro de casa, como na parte para a compra do material para fazer os bombons e os bonecos que eu fazia para vender.
O projeto Mulheres Mil é muito importante, porque dá oportunidade
a mulheres que já desistiram de lutar por alguma coisa na vida, pelas dificuldades do dia a dia, dificuldades de emprego, de alimentos, o preconceito por
ser mulher. Existe sim o preconceito. Por ser mulher, às vezes, a gente não
ocupa um cargo. Daí começa a discriminação, a desvalorização. E esse projeto vem contribuir para que a mulher recupere sua autoestima. É uma injeção
de ânimo para que ela não desista dos seus sonhos, dos seus ideais, que ela
corra atrás, batalhe, lute, que ela consiga e vença. Isso aí é o principal: uma
injeção de ânimo, que vem renovar a mulher, vem fazer com que ela recupere
a sua autoestima, volte a se valorizar, a dizer para ela mesma: “Eu posso, eu
consigo, eu sou capaz, eu vou conseguir”, e futuramente dizer: “Consegui!”.
Eu pretendo continuar os estudos, fazer uma faculdade, me formar
e ir para frente. Como eu estou na área de alimentos, estou muito voltada
para a área de nutrição e também a parte de gastronomia. Quero trabalhar,
quero vencer, quem sabe futuramente botar meu próprio negócio. Estou
pensando na área de decoração de festas infantis.
Na aula de empreendedorismo, o professor ensinou a valorizar cada
centavo que a gente ganha. Ele ensinou assim: se a gente ganha um real por
dia, tem que guardar 10 centavos. A gente tem sempre que economizar,
dar valor ao nosso dinheiro, porque é um dinheiro muito suado. Como eu
estou pensando em botar um negócio lá para frente, então eu tenho que
valorizar esse dinheiro que eu ganho.
Sou feliz, apesar de todas as dificuldades que eu já passei e as que eu
tenho no dia a dia, não tenho o que reclamar. Eu gosto de forró, eu gosto
de pagode, eu gosto de ouvir música clássica, até aquelas músicas que tem
para relaxar, com som de água, de pássaro, de meditação; só não gosto
muito de reggae. Eu gosto de praia.
Conheci meu marido numa discussão que tivemos. Nós queríamos
ver o cão, mas não queríamos ver um ao outro. Eu casei com 19 anos,
tive meu primeiro filho com 19 anos, e
tenho 25 anos de casada. O primeiro filho eu queria muito, os outros dois não
foram planejados. Fiz três cesáreas.
Minha infância foi boa. Eu nasci e me criei na Vila Palmeira, que foi
um bairro de invasão. Minha vó aventurou um terreno e eu morava na casa
dos meus pais, com minha avó. Sou a
mais velha de quatro irmãs. Meu pai
começou a trabalhar aos 13 anos, num
posto de combustível, como lavador de
O projeto
Mulheres
Mil é muito
importante
porque dá
oportunidade
a mulheres
que já
desistiram
de lutar por
alguma coisa
na vida.
Do sonho à realidade
Mulheres Mil
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Mulheres Mil
Do sonho à realidade
A gente
envelhece a
partir do
momento
que não
trabalha mais.
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carro e até hoje ele trabalha nisso. Na Vila Palmeira, a maior
dificuldade na época era água; minha mãe saía com uma lata
para pegar água.
Eu gosto muito de brincar. Vocês nem sabem o quanto eu
gosto de uma molecagem. Lá no serviço a gente brinca tanto que
eu digo: “Gente, se meus filhos souberem como eu sou aqui, eles
diriam – mamãe! A senhora, quem diria?”. Eu gosto de brincar
com os amigos, aí um vem conta uma coisa engraçada. Às vezes,
uma coisa que acontece na hora é séria, depois começa um a rir
do outro. A gente se diverte muito, até em casa com os meninos é
desse jeito. Na hora é sério, depois que passa a gente começa um
a rir do outro. Eu gosto disso, é muito legal.
A gente tem que estar colocando a mente para trabalhar em alguma
coisa. A gente envelhece a partir do momento que não trabalha mais. A
gente não consegue mais utilizar ela para algumas coisas, fica assim parada.
Com isso aí, a gente já começa a envelhecer. Por isso que eu não tenho cara
de velha, porque eu estou sempre procurando alguma coisa para fazer.
Maria Rosilda Costa Castro
Maria Rosilda Costa Castro descobriu a paixão pela cozinha na
adolescência, quando já gostava de se aventurar em novos sabores e
misturas. Católica praticante, levou o marido para o altar ano passado
e comemorou com o seu talento: fez um bolo. Tímida, o desafio de Rosilda
tem sido aprender a cobrar pelos produtos fornecidos pela Guloseima,
microempresa que abriu em 2010.
Do sonho à realidade
Mulheres Mil
1. Time de futebol do
Rio de Janeiro. Também
conhecido como Rubro Negro,
é o clube que tem maior
número de torcedores do
Brasil e do mundo, de acordo
com pesquisas do Ibope.
2. Torcedores do time de
futebol São Paulo, que
também é conhecido
popularmente como Tricolor do Morumbi.
Eu gosto do Flamengo1; não conheço
quase nenhum dos jogadores.
Meu marido, às vezes, diz: “Não sei que torcedora que tu é...”. Mas
eu sempre gostei, desde pequenininha, mas não sou aquela torcedora
fanática.
Tenho dois filhos. Lucas tem 12 e Caio tem 7. São sãopaulinos2 os
dois. Vivo com meu marido faz 13 anos, mas me casei no ano passado. Foi
um casamento coletivo. Foi ótimo, foi muito bom; me emocionei, todo
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Mulheres Mil
Do sonho à realidade
Quando vejo naquelas páginas de revista aqueles bolos
lindões, fico apaixonada. E eu vou chegar lá.
mundo se emocionou, minhas irmãs... Realizei um sonho, foi bom demais!
Fiz um bolo bem bonito.
Eu gosto de cozinhar, sempre gostei. Comecei com uns 12 anos,
quando minha mãe ia para a cozinha, eu ia com ela. Lá na casa da minha
mãe era praticamente só eu que fazia a comida. Gostava de inventar, pegar
uma receita e fazer. Às vezes, dava certo, às vezes, não.
Participar do projeto foi uma realização. Eu trabalhava como atendente de dentista, mas porque precisava trabalhar, nunca gostei da área.
Trabalhei dez anos na área. Aí eu cansei. Saía às seis horas da manhã e
chegava nove da noite. Não via meus filhos, não tinha tempo para casa;
pedi para sair.
O mapa da vida foi muito interessante. Cada uma botando o que
queria, como ia seguir. A gente viu desde a nossa infância até os dias de
hoje. É interessante porque a gente revê o passado e olha tudo o que deixou para trás e o que pode ainda buscar daqui para frente. Eu fiz vários
desenhos, eu sou péssima no desenho, mas deu para entender o que eu
queria dizer, deixar o meu recado. Eu fiz umas coisas brincando, subindo,
até onde eu queria chegar, o topo que eu queria chegar, que é ser dona do
meu próprio negócio.
No mapa da vida descobri que ainda posso estudar, me profissionalizar, me preparar melhor. O meu objetivo é me tornar uma grande profissional. Eu quero me aperfeiçoar em salgados, na área de confeitaria. Eu
adoro fazer bolo, doces, salgados. Quando vejo naquelas páginas de revista
aqueles bolos lindões, fico apaixonada. E eu vou chegar lá, já fiz uns dois
bem caprichados.
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Eu fazia salgados para as minhas amigas, para o aniversário dos meninos, só que não trabalhava para ganhar. As pessoas pediam para eu fazer,
traziam o material e depois diziam “obrigado”. Eu não fazia profissionalmente, não conseguia cobrar, tinha vergonha.
Foi depois do projeto que eu comecei mesmo a fazer cobrando,
procurei valorizar o meu trabalho. Minha autoestima melhorou bastante;
aprendi a me valorizar, a dar valor para as minhas coisas, que eu não sabia.
Não conseguia dar preço e hoje em dia eu já sei. Hoje eu digo para as pessoas: “É tanto por isso e isso”. Sei a justificativa, o porquê que é esse valor.
O nome da minha empresa é Guloseima. Eu fiz pelo Sebrae3, é uma
empresa individual; agora eu posso estar expandindo meu negócio, posso
tá emitindo uma nota. O CNPJ4 saiu logo, e a partir de 10 meses já tem
vários benefícios. A gente paga uma taxa de 57 reais e, com 15 anos, tem
direito a uma aposentadoria. Vou botar um ponto na minha casa, no meu
terraço, porque eu já tenho minhas encomendas de salgados, aí eu faço os
dois ao mesmo tempo.
É um bom mercado, tem muita gente que trabalha nessa área. O
mercado está aí pra todos, mas a gente sempre tem que tá melhorando,
porque não pode viver fazendo sempre aquela mesma coisa; tem que inovar. Eu ganho em média mais de um salário por mês. Tem mês que tiro
menos, tem mês que tiro uns 700 a 800 reais.
Eu melhorei um pouquinho de tudo; aprendi até a me conhecer melhor. Antigamente, eu achava que só ia ao médico se estivesse doente: pura
ignorância. Melhorou pra mim, melhorou pra minhas irmãs, melhorou
3. O Serviço de Apoio às
Micro e Pequenas Empresas
(Sebrae) orienta e promove
eventos para facilitar o
trâmite para abertura de
pequenas empresas.
4. CNPJ – Cadastro
Nacional da Pessoa Jurídica.
Do sonho à realidade
Mulheres Mil
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Mulheres Mil
Do sonho à realidade
Isso também é fruto da força de vontade, porque não pode esperar
tudo do curso, a gente também tem que correr atrás.
pra família toda, porque hoje em dia eu sou uma incentivadora das minhas
irmãs; mando ir, digo que tem que ir ao médico.
Tudo que eu aprendi a fazer melhorou no meu trabalho, em termos
de higiene, de segurança, preparação, empreendedorismo, como se profissionalizar melhor, trabalhar melhor, na nossa própria segurança. Tudo isso
veio acrescentar muito.
Hoje está todo mundo trabalhando, só tem uma ou duas que não
estão trabalhando. Isso também é fruto da força de vontade, porque não
pode esperar tudo do curso, a gente também tem que correr atrás. Não
adianta fazer o curso e ficar parada.
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Aparecida
Paraíba
Marta
Mulheres Mil
Do sonho à realidade
Bayeux
O município de Bayeux engloba as comunidades de Baralho, São Bento,
Porto de Oficina, Casa Branca, Porto do Moinho e São Lourenço. Não há
linhas de separação, são comunidades vizinhas que têm como principal atividade econômica a pesca. Homens, mulheres e crianças tiram da maré que,
geralmente, contorna o fundo das suas casas o pão de cada dia. Os adultos
pescam e os pequenos ajudam na limpeza do marisco.
As condições de moradia e infraestrutura básica são precárias. As ruas são pavimentadas, mas não há saneamento básico, e o abastecimento de água para
o consumo é comprometido. Os reservatórios domésticos, como os tanques e
caixas, foram construídos nas proximidades das fossas e das hortas, onde são
aplicados agrotóxicos sem orientação técnica, colocando em risco a saúde da
população. Nas localidades, há problemas de alcoolismo, uso de drogas e o
número de portadores de vírus da Aids é o terceiro maior do estado.
Construir uma oferta educacional, a partir do diálogo com as alunas, foi um
dos desafios enfrentados pelo Instituto Federal da Paraíba, que está criando
o curso técnico na área de pesca, tendo como base a abordagem por competências. Outra ação importante foi articular a inclusão das marisqueiras
em ações do Ministério da Pesca e Aquicultura, o que beneficiou não só as
alunas do Mulheres Mil, mas a comunidade, que passou a ter informações e
assim pôde acessar as políticas públicas destinadas aos pescadores.
As alunas são donas de casa, artesãs, marisqueiras, empregadas domésticas.
A idade é variada, de 18 a mais de 60 anos, e algumas nunca tinham entrado
numa sala de aula. Pegar o ônibus que as leva até a sede do Instituto Federal da Paraíba (IFPB), que fica em João Pessoa, a uma distância de 4 km,
tem significados que é difícil colocar no papel: oportunidade, descoberta,
recomeço, cidadania. Na primeira etapa, o desafio do IFPB foi sensibilizar
e estimular as mulheres a participarem do curso. Esta fase foi marcada por
oficinas na área de saúde, meio ambiente e produção artesanal. Depois, veio
a elevação de escolaridade, e a oferta de
profissionalização na área de pesca e artesanato, que ainda está em processo.
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Maria Aparecida Batista Marinho
Do sonho à realidade
Mulheres Mil
Maria Aparecida Batista Marinho, a Cida, como é chamada, gosta de música
romântica. O primeiro disco que comprou foi de Amado Batista. Adorava a
música “Menininha, Meu Amor”. O disco ficou na casa de uma das famílias
em que trabalhou. Os anos de labuta como empregada doméstica e cortadora de
cana são invisíveis. Não há carteira de trabalho. Não há registro. A única prova
carrega no corpo. São as marcas que começaram na infância e se acumularam
na adolescência, resultado dos acidentes constantes sofridos pelas crianças. Cida
é marisqueira, mas a atividade de mãe forçou a folga. É preciso cuidar do bebê.
Dona de casa e estudante, aos 37 anos, ela é a primeira da família a quebrar o
ciclo do analfabetismo. O sonho é poder ser o que não teve: professora de criança.
Quando o ônibus chegou no Cefet, eu
perguntei: “É nesse lugar que eu vou ficar?”.
Aí entramos numa sala chique, com ar-condicionado e eu pensei:
“Deus do Céu! É um sonho e, se é um sonho, eu vou segurar, não vou
deixar passar não”.
63
Mulheres Mil
Do sonho à realidade
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Tem tanta mãe analfabeta. É tão ruim ser analfabeta, é ser
igual a um cego. Eu era cega e hoje eu estou enxergando.
Foi tão bom para mim a primeira vez que eu vim; eu fiquei mais
contente quando a gerente entregou a farda, eu me senti tão orgulhosa.
Eu pensei: “Agora eu faço parte do grupo Mulheres Mil. Eu não quero sair
desse grupo mais nunca”.
Tem tanta mulher dona de casa querendo oportunidade de estudar.
Tem tanta mãe analfabeta. É tão ruim ser analfabeta, é ser igual a um cego.
Eu era cega e hoje eu estou enxergando. Por isso, o Mulheres Mil tem que
ter continuidade, dar chance a outras mulheres.
Quando eu ia pra usina receber dinheiro, colocava o dedo. Às vezes,
eu não queria nem ir, porque eles perguntavam: “Sabe ler e escrever?”.
Me sentia humilhada de ver alguém escrevendo e eu não. Era horrível! Eu
tinha vergonha de não saber ler e escrever. Eu me sentia culpada. Hoje eu
sei que é porque eu não tive oportunidade de estudar. Eu não tive escolha
de vida. Era aquilo e aquilo mesmo.
A gente cresceu nessa vida de corte de cana: meu pai, meus tios e
até hoje meus tios cortam, meu irmão. Não era muito fácil, não. A gente
chegava de manhã e só voltava seis da noite no trator. Quando mamãe
dizia que queria me botar para estudar, eu dizia que não queria, porque a
dificuldade era muita. Ela tinha muita criança pequena e minha vontade
era de ajudar dentro de casa. Meu pai, na época, bebia muito e eu não tinha vontade de sair e deixar minha mãe naquela condição de sofrimento.
Naquele tempo, eu não sabia, não tinha noção, tanto fazia ter estudado ou
não. Mas hoje eu sei a importância.
Quando eu completei 18 anos, arranjei um namorado, casei e tive
minha primeira filha com 19 anos. Meu pai sempre ameaçava minha mãe
de morte e eu, com medo, pedia muito pra gente sair daquela vida. Nesse
tempo, minha prima mandou um bilhete pedindo pra eu ir para Bayeux
com a minha filha. Aí eu pensei: “Com a cara e a coragem, eu vou!”. E fui
e levei minha mãe. Lá passei um tempo trabalhando em casa de família.
Aí conheci meu segundo marido, construí uma família, mas sempre sentia
que faltava algo em mim.
O que eu penso é que, se no Brasil não existisse desigualdade, as coisas eram bem melhores. Se existisse igualdade para todos, se fosse partilhado por igual, não existiria tanta gente sofrendo, passando fome. No Brasil,
a terra é imensa, mas tem tanta gente pagando aluguel. Se fosse partilhado
por igual, não teria isso não.
O que eu mais gosto no Mulheres Mil são os professores. Eles incentivam a gente. Eu pensei que a obrigação deles era só dar aula e pronto, mas
os daqui são maravilhosos. Eles dizem: “Insistam, persistam, não desistam,
porque o estudo é a única coisa que ninguém pode tirar de vocês”.
Eu gosto demais das aulas. Eu aprendi tanta coisa. A gente teve aula
sobre o direito das mulheres e também sobre saúde; foi quando a enfermeira falou sobre a importância da mulher se cuidar, fazer os exames todos os
anos, que eu morria de medo de fazer, morria de medo de ir no médico.
No interior, as pessoas não fazem exames. Eu nunca tinha feito prevenção,
agora já fiz.
A gente tem aula de matemática, de português, de informática. Eu
morria de medo de pegar no mouse. Ficava me tremendo, não conseguia
pegar, pensava que eu ia quebrar. Aí o professor dizia: “Mulher! Pegue esse
mouse. Não tenha medo, não!”. Aprendi a ligar e a desligar o computador.
Melhorou bastante a autoestima. Hoje eu sei ensinar minhas filhas.
Hoje eu sei trabalhar com matemática,
fazer conta. Eu tenho segurança nas
coisas que eu faço. Eu sou um incentivo
em casa. Eu tenho cinco meninas fêmeas e elas estão estudando. Eu estudando
também dou motivo para elas continuarem. Elas pensam: “Mainha que já
tá velha tá estudando, eu também não
vou desistir do meu estudo”. Eu não
tive oportunidade de estudar quando
criança que nem elas, mas eu quero que
elas tenham. E eu quero ser esse exemplo, ser esse espelho para elas.
Do sonho à realidade
Mulheres Mil
Melhorou
bastante a
autoestima.
Hoje eu sei
ensinar minhas
filhas. Hoje eu sei
trabalhar com
matemática,
fazer conta.
Eu tenho
segurança.
65
Mulheres Mil
Do sonho à realidade
A relação entre as mulheres da comunidade melhorou bastante com
o Mulheres Mil. Hoje a gente se comunica. Quando tem uma passando
dificuldade, quando está doente, quando passa assim alguma coisa de família, a gente vai lá saber, ajuda. E quando o ônibus vem pegar a gente, as
pessoas veem e dizem: “Lá vão as Mulheres Mil”. Quando chegam nas reuniões da associação, eles dizem: “Lá vêm as Mulheres Mil”. A comunidade
vê isso também; o projeto tá no povo da comunidade.
Hoje eu tenho escolha. Eu quero aprender mais e mais e não vou
desistir. Esse ano vou renovar minha matrícula no colégio. Estudo aqui e
no colégio do estado, perto de casa. Passei de ano, terminei a quarta série.
O povo fala assim: “Essa mulher tem um monte de filho e tá estudando”.
Mas é porque eu quero alcançar meu objetivo de ser alguém na vida. A
pessoa que não tem estudo não é ninguém não. É um cego mesmo, falando
sério! Eu quero terminar meus estudos e fazer um curso para trabalhar com
criança. Eu me identifico muito com criança.
Eu sou uma mulher guerreira e, talvez, se eu estivesse lá no interior,
não estaria aqui hoje. Me sinto uma pessoa capaz de aprender, de evoluir,
que antes eu não tinha esse pensamento. Eu gosto de ser o que sou. E agora
sabendo ler, aí é que eu gosto mesmo de ser o que eu sou.
66
Marta de Lima
Do sonho à realidade
Mulheres Mil
Franzina, pele queimada do sol, Marta de Lima tornou-se marisqueira
depois do casamento, quando foi morar em Bayeux. Curiosa, observava
os vizinhos colocarem o barco no mar. Um dia se aventurou. Foi amor
ao primeiro contato. E é do mar que tira o sustento dos filhos e a sensação
de liberdade. Negociadora hábil, convenceu o marido a deixá-la estudar
e a voltar a estudar. Mãe de três filhos, 38 anos, Marta cresce de tamanho
quando fala da sua vontade de estudar e entrar na faculdade.
Tudo que você faz tem que gostar.
Eu gosto e gosto muito do que eu faço.
Pra deixar de ir pra maré, só se for motivo de doença ou uma coisa
muito forte acontecer. No mar, você se sente livre, respira o ar puro, que é
muito bom.
É maravilhoso. É uma sensação muito boa. Apesar de eu ter medo de
água e não saber nadar, eu gosto de pescar.
67
Mulheres Mil
Do sonho à realidade
Aprendi nas
aulas de
meio ambiente
que o que a
gente tem
que proteger
mesmo é a
área que a
gente vive.
68
Aprendi nas aulas de meio ambiente que o
que a gente tem que proteger mesmo é a área que
a gente vive. É o mangue! Só que tem muita gente
que não tem noção do valor que o mangue tem,
que a maré tem. E tem um valor muito grande
para mim; é o valor da minha sobrevivência e da
sobrevivência de muita gente. Se você joga lixo
na maré, você está poluindo o meio ambiente e aí seus filhos e seus netos
não vão ver isso que eu estou vendo hoje. É isso que eu penso.
Eu comecei a trabalhar aos nove anos. A gente morava na casa da
minha vó, era em torno de seis filhos e só meu pai trabalhava. Eu achava
muito pesado; eu sou a mais velha, então, eu tinha que fazer alguma coisa.
Fiz um pequeno curso de crochê e comecei a vender minhas peças. Com
isso, eu ajudava em casa.
Depois, comecei a trabalhar na casa dos outros, mas sempre fazendo
crochê. Lá pelos 17 anos, fui ser comerciante, trabalhar de vender sapato
– a gente chama aqui de camelô. Foi nessa época que eu também parei de
estudar, na oitava série. Eu não conseguia conciliar o trabalho com o estudo, aí eu resolvi trabalhar mesmo.
Aos 21 anos, conheci meu marido e vim morar em Bayeux, foi quando eu comecei a pescar. Eu vim morar na beira da maré, onde eu moro
até hoje. Só que antes minha casa não era de tijolo, era de taipa. Eu tinha
curiosidade, via o pessoal pegando o barco e indo trabalhar. Aí eu pensei:
“Eu vou também”. E meu marido dizia: “Tu não vai”. E eu dizia: “Eu vou”.
E nesse vai e não vai acabei indo. Só que aí eu peguei amor.
No início, meu marido foi contra eu voltar a estudar. A gente brigou
muito, mas agora, não, ele já está sendo a favor. Aí eu insisti para ele ir também para a escola. Ele vai à força, mas vai [risos]. Eu vou com ele, porque
ele só vai se for comigo. É engraçado demais. A professora acha engraçado
porque sou eu que ajudo ele; pareço a professora na sala de aula [risos].
Eu gosto muito de Roberto Carlos, da música “As curvas de Santos”.
Me lembra coisas boas da juventude. Eu gosto também de dançar na rua de
casa. O pessoal gosta de fazer festinha e eu caio na gandaia com o meu marido. De clube eu não gosto, não sou muito chegada à multidão, mas uma
festinha assim de rua, de família, eu tô dentro. Danço a noite todinha.
O Mulheres Mil é a realização de um grande sonho. Eu me sinto
realizada. Completa ainda não, porque eu não terminei os estudos. Mas
só em ter tido oportunidade de voltar a estudar é um sonho mesmo. Para
mim, estar aqui no Instituto é mais importante ainda, porque assim: pra
poder entrar aqui, se faz prova, e eu acho que eu não entraria nunca através
de prova. Entrei através de um projeto.
De 2008 para cá, depois que eu entrei no projeto, eu sou totalmente
diferente. Eu era mais calada, agora sou mais faladora, falo muito. Quando eu entrei, eu não sabia de nada, hoje me sinto inteligente e muito. Já
posso ajudar em casa, na questão da lição com os meus filhos. Hoje, me
comunico melhor com as pessoas, já sei o que tem que falar. Antes, só na
vizinhança mesmo que eu gostava de conversar, mas participar de outras
reuniões, ir para outros lugares, não. Agora, tenho mais força de vontade,
me sinto bem. Me sinto ótima, aliás.
Também teve aulas sobre direitos, e a gente tem muitos direitos. Falaram também sobre os direitos das mulheres, que tem a Lei Maria da Penha.
Isso ajuda muito, porque hoje em dia tudo o que a gente vai fazer, tem homem
que diz: “Ah, vou bater em você, vou fazer isso”. Puxa, que história é essa!
A gente tem onde reclamar, tem onde chamar, não tem essa de bater, não!
Acabou o tempo de a mulher ser escrava. A mulher agora tem que ser é livre.
A gente conquistou a carteira de pesca. Para quem é pescador, serve
como uma aposentadoria no futuro. Você paga o INSS1, no máximo 45 reais
por ano, e no futuro se aposenta. A gente conseguiu tirar devido a essas reuniões que a gente foi convidada aqui do Instituto2. Hoje eu tenho a minha.
Erro de conta eu já não tenho muito, porque já consigo fazer direitinho. Eu me acho outra pessoa. Da ida a Brasília3, eu lembro quando
a gente foi para o Ministério da Educação, vendo aquele vídeo lá, com a
história da vida da gente. Ali foi marcante, ver um ministro vendo eu ali,
pescando, trabalhando. Me senti importantíssima.
Às vezes, eu perco o ônibus, porque chego atrasada da maré. Aí eu
só visto a roupa, faço carreira, chego na pista, e o pessoal diz: “O ônibus
Do sonho à realidade
Mulheres Mil
1. O Governo Federal do
Brasil vem criando opções
para que trabalhadores
autônomos, entre eles
pescadores, possam contribuir
com o Instituto Nacional do
Seguro Social (INSS) para
garantir a aposentadoria.
2. As reuniões foram
realizadas pela Secretaria
Especial de Aquicultura e
Pesca, e a participação das
marisqueiras foi articulada
pala equipe do Mulheres Mil no Estado.
3. Em abril de 2009, a
Secretaria de Educação
Profissional e Tecnológica
(Setec) promoveu, em
Brasília, um evento com a
participação de uma aluna
de cada estado. Na ocasião,
houve o lançamento do
documentário nacional do
Mulheres Mil, produzido pelo
cineasta Helvécio Ratton. O vídeo pode ser acessado no
endereço eletrônico <www.
mulheresmil.mec.gov.br>.
69
Mulheres Mil
Do sonho à realidade
Melhorou
minha forma
de pensar
e tendo
uma visão
do mundo
melhor,
você pode
repassar para
os seus filhos.
70
já passou”. Ah, eu não acredito. Aí eu coloco sempre um dinheirinho lá, reservado na carteirinha, e
venho de ônibus. Eu consegui tirar a carteira de
estudante.
Para mim, o projeto é tudo que eu podia
conquistar na vida: voltar a estudar, conquistar minha carteira de pesca, tudo foi através do projeto.
Melhorou minha forma de pensar e, tendo uma visão do mundo melhor,
você pode repassar para os seus filhos. Eu insisto muito lá em casa: “Tem
que estudar, porque a maré é hoje e não é amanhã”. Se eu tenho estudo,
posso dar uma vida melhor para eles e, se eles têm estudo, podem ter uma
vida melhor que a minha. Com estudo, a gente pode conseguir tudo, só
basta você ter força de vontade e coragem.
A minha meta é poder concluir os meus estudos. Aí, quando terminar vou ver o curso que vou fazer. Parar eu não vou mais, não. Espero que
o projeto não acabe e que dê oportunidades a outras pescadoras, artesãs e
donas de casa, porque a gente só tem a ganhar, nada a perder.
Deine
Pernambuco
Vera Lúcia
Mulheres Mil
Do sonho à realidade
Recife
O dia a dia na Vila Chico Mendes, bairro da periferia de Recife, é embalado pelo barulho ensurdecedor dos aviões que se preparam para pousar no
aeroporto internacional de Recife. Na verdade, só os visitantes os escutam,
chegando a curvar os ombros com medo de que as aeronaves caiam nas suas
cabeças. As crianças, nem piscam.
A comunidade surgiu em 1991, quando 30 famílias de diversos bairros da
capital ocuparam a área e montaram a casa que cabia no bolso – barracas de
papelão e taipa. Os aluguéis consumiam uma parte considerável dos salários
e a falta de política habitacional na época empurrou diversos trabalhadores
para essas áreas periféricas para garantir um teto.
Alguns ainda guardam na memória as histórias dos confrontos com a polícia
e das lutas para conquistar os serviços básicos. Hoje, duas décadas depois, a
Chico Mendes abriga mais de três mil moradores, que ainda continuam lutando por visibilidade junto ao poder público: o direito à educação, à saúde
e ao trabalho.
Nas ruas estreitas, algumas sem saneamento básico, a exclusão, o preconceito, a violência e o tráfico misturam-se às esperanças, à superação, à busca
de oportunidades. E aqui está a importância da proximidade e atuação do
Instituto Federal de Pernambuco na Chico Mendes: abrir perspectivas de
trabalho por meio da oferta de capacitação na área de gastronomia. Com
conhecimento prévio na área de alimentos, várias mulheres vendem comidas
na praia aos domingos e outras já fazem salgados e doces por encomenda. O
IF também assumiu o papel de articulador e estabeleceu parcerias com outras
instituições que estão ministrando a parte prática.
Com o resgate da autoestima e novos conhecimentos adquiridos, as alunas já
começam a planejar o futuro. O sonho de algumas é montar um restaurante
comunitário, de outras é conseguir trabalho de carteira assinada ou montar
o próprio negócio. Para todas, a maior
conquista é o direito de voltar a sonhar
com perspectivas de melhoras.
72
Deine Araújo
Do sonho à realidade
Mulheres Mil
Deine Araújo tem o tom de voz pausado, mas firme. Estatura mediana,
um sorriso aberto, e dotada de coragem e habilidade para enfrentar os
percalços nem sempre agradáveis da vida. Aos 43 anos, três filhos e 23 anos
de casada, ainda recebe convite para ir namorar na praça. Determinada,
terminou o ensino médio, está concluindo a capacitação profissional e
planeja conciliar dois sonhos: fazer licenciatura em Matemática e abrir
um negócio na área de alimentos.
Para as mulheres, esse projeto significa
ter um lugar ao sol, uma profissão.
Elas terminam o curso e querem fazer uma faculdade. Por quê? Porque os olhos foram abertos, a janela do saber foi aberta e foi o projeto que
fez isso pela gente.
O meu sonho é fazer licenciatura em Matemática. Eu gosto dos números, tenho facilidade, aprendo muito rápido. Isso para mim será como
um troféu, uma realização minha. Eu gosto de cozinhar e gosto de mate-
73
Mulheres Mil
Do sonho à realidade
74
A construção do amor é todo dia. Eu digo muito
às pessoas que todo dia meu marido é diferente.
mática. Sou feliz, sou realizada porque
tenho uma família estruturada. Tenho
oportunidade de fazer o curso, que antes eu não tinha, e hoje a porta se abriu.
Ter concluído o ensino médio foi bom,
porque vivia lá presa no passado.
Há 20 anos que moro aqui. No
começo foi difícil, porque eu vim morar num barraco pequeno, de tábua e
papelão. Não tinha piso, e o meu primeiro filho encheu os pés e as mãos de
bicho-de-pé. Levei no posto e, quando a médica viu, avisou a prefeitura. A
minha foi a primeira casa dedetizada.
Criar filho aqui não foi fácil.
Tem meninos que brincavam com
eles que não conseguiram estudar, arranjaram filho na adolescência, se envolveram com o tráfico. Eu criei os três. O mais velho está no instituto, a
menina casou e o mais novo está prestando serviço militar.
Antes de vir para cá, meu marido tinha dois empregos e a gente vivia
bem. O primeiro ele perdeu por causa da vista; o segundo, por causa da
idade. Ele trabalhava com eletrônica, mas a visão ficou comprometida por
causa da toxoplasmose, que o levou à cegueira quase total. É uma doença
que se adquire através de fezes de cachorro, gato, pombo, frango. Provavelmente, a dele tenha sido com fezes de pombo. Ele deve ter tomado água de
janeiro. É uma cultura do nordestino, é comum: as mães colhem a água da
primeira chuva do ano e dão para a criança falar mais rápido.
Para ele foi mais difícil, porque ele veio de Campo Grande, bairro
bom, perto dos Pinheiros. O pai era gerente do Banco do Brasil, tinha
carro, casa. Minha realidade foi outra. Meu pai era mecânico e funcionário
público, mas, com cinco filhos, não tinha como dar tudo. Não chegamos a
passar a dificuldade de não ter comida, mas de comer só uma vez por dia.
A construção do amor é todo dia. Eu digo muito às pessoas que
todo dia meu marido é diferente, e o que mais cativa é que ele me trata
do mesmo jeito de quando eu tinha 15 anos. Ainda tem os mesmos carinhos, diz que eu tô bonita, mesmo quando eu engordei. Me dá flores,
chocolate, manda mensagem fonada de amor, me chama para ir na praça
namorar. Eu não vou porque tenho vergonha, digo que a gente já tá velho
para isso. Quando eu chego de madrugada do trabalho, ele faz o leite,
bota um pedaço de queijo no pão. Quando termino o banho, que me
Do sonho à realidade
Mulheres Mil
sento, ele me dá na minha mão. Eu chego entre
duas horas e uma e meia da manhã.
Aqui na Chico Mendes, o Mulheres Mil
dá oportunidade de crescimento, porque muita
gente tem vontade, mas não tem oportunidade.
São mulheres que não tiveram oportunidade de
estudar e, às vezes, foram mães na adolescência,
sem nenhuma estrutura, que arrumaram também
companheiros sem grau de escolaridade. E eles são muito machistas, acham
que mulher não pode trabalhar.
O curso prepara para o mercado, porque tem essa parte de manipulação de alimentos, tem aula de etiqueta social no trabalho. Na manipulação de alimento, que, às vezes, a pessoa não leva em conta, aprendemos o
quanto é importante, porque a gente está cuidando da vida do outro. Em
português, a gente aprende a se expressar, a entender, a escutar o outro,
porque a gente só quer impor. Aprende a trabalhar em equipe, porque sem
o outro a gente não faz nada. E na parte de matemática, tudo que a gente
faz leva matemática: peso, medida, divisão, o uso de porcentagem. Isso aí
prepara para o mercado. Então é uma oportunidade que elas abraçam com
unhas e dentes e que pode gerar trabalho. E eu creio que, com essa oportunidade, as portas se abrirão mesmo, tanto para quem vai abrir um negócio,
como para quem vai trabalhar no mercado: num restaurante, num hotel.
75
Mulheres Mil
Do sonho à realidade
Aqui na
Chico Mendes,
o Mulheres
Mil dá
oportunidade
de crescimento,
porque muita
gente tem
vontade,
mas não tem
oportunidade.
76
Eu trabalhei em um bar e ganhava R$
100 reais por semana, mas era muito pouco.
Pelo trabalho que eu fazia, eu merecia mais.
O dono era uma pessoa com pouca instrução e tudo que eu aprendia no curso ensinava para ele. Mostrei como manipular os alimentos e higiene. Aí, o que o dono aprendia
comigo, passava para o pessoal da manhã.
O meu projeto é abrir o meu negócio, inclusive eu já falei com uma
das meninas que faz o curso comigo, porque ela gosta da parte burocrática
e eu gosto de cozinha. Vamos servir almoço. Ela vai fazer a parte burocrática: ir nas firmas oferecer as quentinhas e cobrar, porque ela é boa nessa
parte. Tem gente no mercado servindo quentinha em vasilha de plástico e
está errado. Eu vou trabalhar com a descartável, que é mais higiênico, que
é politicamente correto, que é como eu aprendi no curso.
Vera Lúcia Francisca da Silva
Do sonho à realidade
Mulheres Mil
Redescoberta talvez seja uma palavra que possa definir o momento de
Vera Lúcia. Talvez porque qualquer palavra é limitada para definir
processos de se ver com lentes que não sejam da inferioridade. Aos 39 anos,
Vera passou a acreditar em si mesma e, aos poucos, está aprendendo a
confiar nos seus talentos. Tem uma filha de seis anos, é evangélica e diz que
está de partida: a saída da Vila Chico Mendes. Já a chegada tem destino
desconhecido. Só uma certeza: a decolagem será na realização dos sonhos
abafados pelas exclusões impostas pela vida.
Toda aula que a gente ia era aquele
agrado todo, era a gente aprendendo,
fazendo conta em casa.
Isso foi me dando aquela motivação e, aí, pronto: me apaixonei
pelo projeto. É viver aquilo que a gente nunca teve. Eu nunca tive opor-
77
Mulheres Mil
Do sonho à realidade
Eu
tinha uma
autoestima um
pouco para
baixo, porque
quem não tem
estudo fica
se sentindo
inferior.
78
tunidade de entrar numa instituição. Eu conhecia o Cefet de
ouvir falar, mas eu nunca tinha entrado. Fazer o que lá? Tava
muito longe.
A chegada do Mulheres Mil, para começar, levantou minha estima. Eu tinha uma autoestima um pouco para baixo,
porque quem não tem estudo fica se sentindo inferior. Hoje
eu me sinto um pouquinho mais realizada, porque eu conheci
pessoas novas, pessoas que botam a gente lá em cima, pessoas
que incentivam a gente. São experiências novas e tudo isso fez
com que a gente acreditasse na gente.
Eu não tive condições de estudar e não foi porque não
quis. Para algumas pessoas e para mim, a vida foi muito difícil,
eu não tive tudo que eu queria. Ficaram abafados dentro de
mim muitos sonhos que eu não consegui realizar. Meu pai não
tinha trabalho fixo, e a gente tinha que se virar para ajudar a manter a
casa. Comecei a trabalhar com 12 anos, nas cozinhas dos outros, de empregada doméstica. Às vezes, a gente ia para a escola com fome, e o que
ajudava era a merenda. Era dureza, tinha dia de comer um coco raspado
com farinha e açúcar.
Em tempo de festa a gente se animava, porque os vizinhos eram
muito solidários e faziam aquelas trocas de pratos. Às vezes, a gente não
tinha nada o que comer, mas a vizinha fazia uma canjiquinha a mais e
mandava para a minha mãe. Aí era aquela festa.
Vocês não sabem o quanto a gente valoriza essa oportunidade que
o Cefet nos deu. É tanta importância que é como se fosse uma faculdade.
É como se eu estivesse esperando o dia da minha formatura. Eu já estou
sonhando.
Terminei o ensino médio com 25 anos. Quando consegui terminar,
parei, porque consegui um emprego de carteira assinada e o ritmo de trabalho era muito cansativo. Hoje eu me cobro um pouco, porque eu deveria
ter investido nos estudos. Hoje eu vejo a falta que me faz no mercado lá
fora por não ter uma qualificação que desse para arrumar uma coisa melhor. Hoje o que eu sei fazer é só serviços gerais.
Meu casamento foi o dia mais feliz da minha vida. Com o dinheiro
que eu tinha guardado durante anos, eu realizei meu sonho: casar de véu e
grinalda. Esse foi o dia mais feliz. Eu me senti totalmente realizada em ver
meus pais ali e eu dando esse orgulho para eles. Casei na igreja, de véu e
grinalda. Casei virgem.
Quando começou a parte prática do curso foi bom demais. Tá sendo
show de bola. A gente pensa que cozinhar é simples. Em casa é simples,
mas quando chega para trabalhar ao lado de um chef, de pessoas estudadas,
Aí eu aprendi que a gente não deve baixar a cabeça, deve correr
atrás dos nossos sonhos e esse projeto veio para isso.
a gente tem que saber o princípio. Antes de chegar no alimento, tem que
saber um monte de regra. E isso faz parte da culinária, tem que andar os
dois juntos, tanto a parte teórica como a parte prática.
Hoje eu estou vendo que a gente tem capacidade de estudar, pode
passar em qualquer estudo que a gente queira, só basta acreditar na gente.
O projeto Mulheres Mil veio para me mostrar que somos capazes, que eu
não sou só dona de casa, que eu não sirvo só para estar nas cozinhas dos
outros lavando prato, lavando banheiro. Não! Meu potencial pode muito
mais que isso.
Na questão da ética, aprendi que os direitos são de todos. Aprendi
que tenho o direito de aprender, que eu sou uma cidadã igual a todo mundo, só me falta oportunidade e que não é culpa
minha. Com essa desigualdade que a gente vive
hoje em dia, quem é mais rico cada dia quer ficar
mais rico, e quem é mais pobre, por conta disso, cada dia fica mais pobre. Aí eu aprendi que a
gente não deve baixar a cabeça, deve correr atrás
dos nossos sonhos e esse projeto veio para isso.
Eu vou correr atrás dos meus sonhos e não tem
nada, nem ninguém, que diga que eu não sou
capaz, porque eu digo que sou.
Meu sonho é terminar meu curso e trabalhar num restaurante, mesmo se for auxiliando
Do sonho à realidade
Mulheres Mil
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Mulheres Mil
Do sonho à realidade
o chef. O que eu quero é estar à altura dele, porque eu tenho capacidade
de estar ali ao lado dele, auxiliando. Eu quero estar trabalhando em condição de igualdade.
Quando eu soube que ia ter um concurso para serviços gerais da
prefeitura de Cabo, eu resolvi fazer. Eu não tinha recursos para pagar aula
particular, mas peguei os livros e comecei a estudar por conta própria. Eu
fiz concurso para me testar. Passei e agora estou só aguardando. Eu sempre
tive esse mau hábito de me sentir inferior às outras pessoas. Sempre pensava: “Eu não posso, isso não é para mim”. Isso agora acabou.
Então, eu agradeço muito a Deus e agradeço ao Mulheres Mil por
nos trazer essa visão, que nós somos capazes, porque a gente não é avestruz,
aquele bicho que enfia a cabeça na terra. A gente tem que erguer a cabeça e
acreditar que a gente pode, se a gente quiser
chegar lá no horizonte. Somos águia, a gente
pode despertar.
80
Frankelice
Piauí
Socorro
Mulheres Mil
Do sonho à realidade
Teresina
Quem visita a Vila Verde Lar quando o calor está no auge não imagina que todos
os anos os moradores sofrem com enchentes e inundações causadas pelas cheias
do rio Poti. Localizado na Zona Leste de Teresina, o bairro foi ocupado por um
processo de invasão, em 1999, e até hoje várias casas estão em áreas de risco.
Com fortes traços rurais, ruas ainda de barro, muitas árvores e, em alguns trechos,
casas com certa distância umas das outras, a sensação é de estar num pequeno
vilarejo de interior. Por uma coincidência forjada pela necessidade, grande parte
dos moradores veio de cidades do interior, são filhos ou netos de trabalhadores
rurais em busca de um futuro.
Os problemas são iguais aos das outras periferias do país: falta saneamento, política habitacional, há violência e preconceito. Em relação ao trabalho, a baixa
escolaridade é a principal causa do desemprego e do trabalho informal, realidade
que vive a maior parte das moradoras que participaram do curso. Sem qualificação, muitas trabalharam a maior parte da vida como empregadas domésticas.
Levantar informações para ligar a demanda do mercado com os talentos locais
foi uma das ações que orientou a implantação do Mulheres Mil no Piauí. Com
o estado despontando como polo da indústria da moda no país, o Instituto
Federal do Piauí (IFPI) fez uma pesquisa de mercado entre os empresários e os
representantes sindicais para detectar as carências e necessidades da área. Já no
diagnóstico realizado com as mulheres da comunidade, foi detectado que muitas
tiveram contato com a área de corte e costura na infância, vendo e ajudando
mães e avós a costurar a roupa dos filhos. Outras faziam pequenos consertos, fabricavam algumas peças e vendiam em feiras. E foi a partir desses levantamentos
que o IFPI passou a ofertar a capacitação na área de corte e costura. Atualmente,
a instituição já promoveu mudanças na proposta inicial e está ministrando qualificações nas áreas de confecção de peças íntimas e modelagem.
Com a oferta do curso, os talentos adquiridos no decorrer da vida foram transformados em habilidades. Das mulheres que participaram da primeira turma, a
maior parte continua trabalhando como
autônoma e outras conseguiram inserção
no mercado. Muitas sonham em montar
seu próprio negócio e um pequeno grupo
está organizando a criação de uma associação de produção. A ação está sendo articulada pelo Instituto Federal e conta com o
apoio da prefeitura local.
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Frankelice Melo da Costa
Do sonho à realidade
Mulheres Mil
Frankelice Melo da Costa, 32 anos, é casada há 12 anos e tem três filhos.
Sabe bordar e fazer crochê e é com esses talentos que ajuda na renda da casa.
Para estudar, morou a maior parte do tempo longe da família, e por isso tem
a sorte de contar com duas mães. Há pouco mais de um ano, ela descobriu
que também tem potencial para negociar. Confiante em si mesma e no
futuro, ela já estabeleceu metas para daqui a dez anos, entre elas colocar
seu ateliê e fazer um curso de administração.
Curso como este que a gente tá fazendo,
eu e muitas outras não temos como pagar.
É um curso que muito antes de começar esse projeto eu já tinha procurado, mas todos que encontrava não tinham o que eu queria, só tinham
o básico: ensinar a costurar. Esse ensina o que você vai poder usar amanhã,
que é cortar, desenhar, que vai poder chegar em uma cliente e saber atender, fazer com que ela saia de lá satisfeita.
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Mulheres Mil
Do sonho à realidade
84
O professor começou a botar a gente para ler, para escrever o
que queria, o que não queria, o que gostava e o que não gostava.
Eu vou aproveitar muita coisa no curso do Mulheres Mil. Eu entrei
com um objetivo e acho que hoje eu tenho mais ainda, que é melhorar. Eu
já aprendi muito. Eu dizia que sabia cortar, pegava o tecido e saía cortando
de qualquer jeito. Hoje, eu pego, olho a posição que tá o fio e vejo como
vou cortar melhor, a posição que eu vou botar minhas mãos, se é melhor
apoiar na mesa ou não. Eu pegava a máquina e achava que sabia costurar.
Aí, com as aulas, vi que aquele jeito que eu costurava era errado, a posição
que eu sentava era errada.
Eu digo que fui uma criança muito sapeca. As lembranças da minha
infância são muito boas. A gente era uma família de nove irmãos e, como
todas as crianças, brincávamos. Fui criada por duas mães. Com a minha
mesmo, eu só morei até os sete anos, e aí fui morar com uma pessoa, porque
onde a gente morava não tinha escola. Morei com essa senhora até os 20
anos, saí de lá quase para me casar, e eu digo que ela é minha segunda mãe.
A minha mãe não era aquele tipo de andar beijando e abraçando,
mas a gente diz que ela foi a inspiração para tudo. Ainda hoje é. Foi aquela
que incentivou a trabalhar; começamos a trabalhar muito cedo. E ela dizia:
“Amanhã, vocês vão ter a compensação”. A gente chegava lá nas férias chorando, ela dizia: “Volte e continue”.
Tudo o que a gente aprendeu está servindo. Nós tivemos aulas de desenho e textura. Ainda não foi finalizada a de matemática, nem português,
nem história da moda. Ética foi muito bom porque ajudou a pensar o di-
reito que a gente tem, os deveres, como agir em certas situações.
Tudo isso contribui muito; coisas que eu nunca tinha parado para
pensar. Hoje em dia eu paro para pensar.
Para mim, que não sabia desenhar nem uma bola, eu vejo
uma roupa e imagino como faria se fosse desenhar. No desenho,
a gente vê como pode montar, porque a professora ensinou parte
por parte da roupa, da manga, do bolso, da gola. A professora
ensinou muita coisa que dá para usar no dia a dia. Hoje eu posso
dizer que eu reconheço um tecido! A gente aprendeu a reconhecer tecido, se é sintético. Vai ajudar em tudo, porque aí você vai saber até
explicar para um cliente que tecido é.
O professor começou a botar a gente para ler, para escrever o que queria, o que não queria, o que gostava e o que não gostava. Tudo isso fez com
que eu me redescobrisse. Fez pensar como a gente pode fazer coisa boa por
si mesmo. Para mim, o curso me ajudou de todas as maneiras. E vi que eu
era capaz de fazer coisas que eu mesma tinha esquecido; não só o talento de
bordar e fazer crochê, não, mas ter talento em outras coisas. Eu me redescobri como pessoa; que eu sou capaz, eu tenho talento; então fez com que eu
olhasse para o amanhã, para o futuro, coisas bem boas mesmo, tanto para
mim como para a minha família. Eu acho que me senti mais mulher.
Eu não concluí o segundo grau; eu parei no segundo ano. Mas eu
gostaria muito de concluir meu estudo; gostaria de me formar, porque eu
descobri que eu tenho um ótimo talento para administrar. Há um ano
mais ou menos. Sabe aquelas ideias que a gente tem? Com pouco dinheiro, saí oferecendo o que eu não sabia fazer e vendi. Transformei 50 reais
em 150. Ninguém acredita, mas consegui. Tripliquei. Muito bem aplicado o dinheiro. Aprendi a fazer crochê com uma vizinha. De lá para cá,
eu já comprei uma máquina de costura,
porque precisava para costurar algumas
peças; eu mesma já costuro na máquina.
Hoje quando um mês é bom de venda,
eu chego a faturar uns 350 reais. Então,
um dia eu gostaria de fazer um curso de
Administração.
Eu me vejo hoje segura do que eu
quero para amanhã. Quero continuar
fazendo o que eu faço. Daqui a dez anos,
eu quero me considerar uma mulher de
sucesso, ser reconhecida pelo trabalho,
estar com o meu próprio negócio, botar meu ateliê e já ter uma estabilidade
Do sonho à realidade
Mulheres Mil
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Mulheres Mil
Do sonho à realidade
Projetos
como esses
são muito
raros; pelo
menos aqui
eu não
conhecia
nenhum.
financeira. Eu quero ganhar o suficiente para ter uma vida confortável.
Meus filhos fazendo uma faculdade, eu já ter feito a minha também.
Projetos como esses são muito raros; pelo menos aqui eu não conhecia nenhum. Você vê que tem muita mulher em casa sem fazer nada, só faz
o dia a dia, cuida do marido, da casa, dos filhos e não tem uma coisa assim
para ela ter um treinamento.
Seria uma coisa que ajudaria a muita gente que não tem como pagar,
não tem como se sustentar, e as pessoas tendo um curso para se qualificar:
Nossa! É bom demais! Eu diria que é uma pena se não investisse mais. Para
mim, se tivesse mais investimento seria melhor ainda. Se tivesse outros
projetos como esse, tirava muitas pessoas da miséria.
Eu acho que, quando terminar, vou sair
qualificada e vou ter até coragem de sair e bater na porta de uma empresa e dizer: “Ó, tô
precisando de um emprego. Tá bem aqui meu
certificado do curso de qualificação”. Para
mim vai ser bom, e espero que outras consigam também o objetivo de se realizar.
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Maria do Socorro Costa
Do sonho à realidade
Mulheres Mil
Maria do Socorro Costa tem coragem de sobra para enfrentar o novo.
Depois de levar calote do patrão, quando era empregada doméstica,
resolveu dar um basta e aprendeu a costurar com a irmã. Há pouco mais
de um ano, mudou para Goiás com o marido para tentar um futuro
melhor. Na bagagem, levou o medo do novo, saudades da família e a
habilidade de costurar, que aprendeu com as necessidades da vida e se
aperfeiçoou um pouco mais no projeto. Lá conseguiu emprego, conheceu o
mercado e hoje trabalha por conta própria.
Mulher, quando aprende alguma coisa,
corre atrás. No Piauí não tem muita coisa,
tudo é para homem. Então, quando tem um incentivo para mulher, quando elas veem que sabem, vão atrás. Aí dão um futuro melhor para o filho,
compram uma coisa aqui, uma coisa acolá, ajudam o marido, ajeitam a
casa. Eu acho muito importante.
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Mulheres Mil
Do sonho à realidade
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Minha história de vida é assim: eu
nasci no interior do Piauí, em Pimenteiras.
Depois, a gente foi morar em São Miguel
dos Tapuios, onde eu fiquei até os 15 anos.
Meu pai é lavrador, minha mãe também. A
gente sempre trabalhou, éramos em 11 irmãos. Meus irmãos mais velhos, nenhum
teve oportunidade de ter escola. Só depois
de mim e de dois mais velhos que eu, a gente pôde morar na cidade e começou a ir para
a escola. Mas aí meu pai revezava: iam uns
numa semana e outros ficavam em casa, iam
para a roça com ele.
A gente passava muitas dificuldades.
Tinha dias de só ter assim feijão, sem tempero, só com sal. E eu não gostava daquilo,
eu sempre quis melhorar, trabalhar. Com 14
anos, eu ainda tentei trabalhar, vendendo
coisinhas. Vendia cheiro-verde, pimentões.
Eu fazia tudo para ter alguma coisa.
Com 15 anos, fui para Teresina, e trabalhava sempre de doméstica.
Em 2004, 2003, mais ou menos, eu trabalhei em uma casa um ano e cinco meses e, durante cinco meses, meu patrão não me pagou. Eu esperava
muito, porque eu queria comprar minha casa, melhorar minha situação,
porque eu sonhava muito em ter um filho. Eu fiquei muito revoltada e
eu disse que dali em diante eu ia trabalhar por conta própria, não ia mais
trabalhar na casa de ninguém.
Aí minha irmã fez um curso no Senai de corte e costura, mas eu não
pude pagar. Ela ia trabalhar e eu também: arrumava a casa dela inteira,
limpava, lavava roupa, fazia comida, fazia tudo para quando ela chegar ter
o tempo de me ensinar a costurar. Aí eu aprendi, comprei uma máquina à
prestação, com a ajuda do meu marido. Aí fui trabalhando muito, fazendo
as minhas pecinhas e levando para a feira, subindo ladeira, empurrando
bicicleta, levando meu filho, lutando. Eu tenho 29 anos. Casei com 21
anos. De lá pra cá, eu vivo da costura.
E aí apareceu o curso para gente. A princípio, eu achei assim: tudo
enquanto ia para o bairro era de momento – o pessoal fala muito, tem muitas coisas e depois some, não tem mais. E eu achava que o curso ia ser isso,
mas aí eu me inscrevi, chamei minha irmã e a gente foi. E eu fiquei muito
feliz por ter o curso na nossa vida, e, como muitas das meninas falam, mexe
muito com a autoestima, porque a gente tem vontade de crescer, melhorar.
Lá no Piauí, eu trabalhava com feira, fazia minhas pecinhas
e vendia e também para as pessoas que revendiam.
Do sonho à realidade
Mulheres Mil
Eu só vivia na minha vidinha, costurando e levando para a feira. Hoje eu
já sonho maior.
Na minha profissão, melhorou mais porque eu já sei mexer com
máquinas industriais. Já sei fazer além do que eu fazia. Antigamente,
eu só fazia peça íntima de criança. Agora eu já faço camisetas, vestidos.
Com o pouco que eu aprendi da modelagem no curso, eu sei cortar
um vestido, camiseta, já estou aprendendo a fazer moldes. Eu aprendi
também a cortar uma modelagem, fazer uma modelagem e na costura já
estou bem melhor.
Aquele vestido de noiva, de patchwork, que a professora ensinou, a
gente montou completinho1. E aí a gente aprendeu que montar pedacinhos, fica uma coisa maravilhosa, fica show. Aprendi o nó da costureira, e eu
nem o nó de costureira sabia dar. Aprendi a tirar o molde de uma revista.
Lá no Piauí, eu trabalhava com feira, fazia minhas pecinhas e vendia
e também para as pessoas que revendiam. Aqui, em Goiás, mudou. Eu
pego a confecção e faço na minha casa e não tenho que estar correndo com
bolsa na cabeça na feira. Eu faço facção: vem camiseta cortada e pintada da
serigrafia e eu monto. E eu ganho por peça.
Meu sonho é colocar meu ateliê. Quero fazer uma camiseteria – a
serigrafia para o meu esposo, eu na costura – e montar o nosso negócio,
para nenhum dos dois, nem meu filho, precisar trabalhar para ninguém.
Eu estou com duas máquinas industriais. Eu quero continuar fazendo curso. No próximo ano, quero fazer um curso de modelagem.
1. Em novembro de 2009,
as alunas da primeira turma
levaram peças feitas com
técnica patchwork, entre elas
um vestido de noiva, para
expor no I Fórum Mundial
de Educação Profissional
e Tecnológica.
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Mulheres Mil
Do sonho à realidade
É uma
oportunidade.
Eu aprendi
muita coisa
que eu ponho
em prática
hoje. Esse
projeto ajuda
a mudar a vida.
90
Eu costumo dizer para o meu bebezinho
que, quando ele crescer e estiver na faculdade, eu
vou comprar um carro para ele ir. A gente só sonha em crescer. Eu sonho em poder dar um futuro melhor para o meu filho, poder ajudar minha
mãe, meus irmãos. Tenho dois irmãos deficientes
visuais. Então, a gente sonha em ter pra ajudar o outro.
E a única oportunidade que mulheres que estão na periferia têm
é uma coisa assim, se for um programa assim. É uma oportunidade. Eu
aprendi muita coisa que eu ponho em prática hoje. Esse projeto ajuda a
mudar a vida.
Joana
Rio Grande do Norte
Josirene
Mulheres Mil
Do sonho à realidade
Assentamentos de Canudos, Aracati,
Bebida Velha, Modelo I e II
Longe da cidade, a vida das alunas dos assentamentos se repete e se perde nos
afazeres domésticos e na roça. A paisagem é de sertão: secura da terra, o vento
levantando e carregando a poeira, sol escaldante, pouca vegetação. Quando o
inverno é bom, há fartura. Da terra, vem o feijão-verde, o milho, a mandioca,
o quiabo e o maxixe. Quando a chuva é escassa, o jeito é economizar água e
comida, quando tem. Os homens tratam de arranjar pequenos trabalhos nos
arredores, quebram pedras. As mulheres ficam em casa.
No Rio Grande do Norte, o projeto atende cinco comunidades, quatro em assentamentos e uma no município de Touros. Trabalhadoras rurais, a maior parte
das alunas vem de famílias numerosas, trabalharam a partir dos sete anos e não
concluíram o ensino fundamental. Na época, chegar à quinta série era o topo.
1
1
Assentamento Modelo II
As realidades geográficas e política são complexas, e para promover as qualificações profissionais e assegurar a oferta educacional, o Instituto Federal do Rio
Grande do Norte enfrentou diversas dificuldades, desde o transporte – pois os
assentamentos são distantes um dos outros – até o processo de diálogo e negociação com entidades locais – que foi longo e precisa ser constante.
Em todos os assentamentos, há uma escola que não funcionava à noite nem
ofertava Educação de Jovens e Adultos. Assim, o estudo para essas mulheres
era uma ilusão. E é exatamente essa a importância do projeto nesses locais:
garantir a oferta de educação para mulheres jovens e adultas. Através do Mulheres Mil, o Instituto Federal negociou com as prefeituras a oferta de elevação
de escolaridade.
As capacitações serão nas áreas de corte e costura, beneficiamento e conservação do pescado, alimentos – fabricação de doces caseiros, fabricação e conservação de polpa de frutas – e artesanato. Além disso, as alunas estão sendo
inseridas no dia a dia da escola, quando participam de palestras e eventos
sobre temas importantes para a trabalhadora rural, tais como aposentadoria,
cooperativismo, entre outras.
1
92
Com isso, para algumas, estudar entrou na
rotina. Com lanternas na mão – nos assentamentos não há iluminação pública, a luz
é só nas casas – elas vão caminhando pelas
ruas largas, passando umas nas casas das outras até chegarem juntas à escola. Lá, elas
enfrentam os seus medos e, aos poucos, reaprendem a sonhar.
Joana Darc dos Santos
Do sonho à realidade
Mulheres Mil
Joana Darc dos Santos não gosta muito do nome, mas parece ter herdado
da heroína a coragem. Enfrentou, com marido e três filhos, a polícia pela
posse da terra, acampada em uma barraca de lona por quase um ano.
Com a mesma coragem, hoje ela enfrenta o quadro-negro. Fica gelada,
treme até a alma quando tem que escrever nele, mas vai. Já escreve o nome
em público, e quando o professor passa a chamada ela é a primeira a
assinar. E Joana vai, sempre tocando a vida em frente.
Eu não gosto do meu nome porque tudo
quanto acontece as pessoas dizem:
“Vai pra casa da mãe Joana!” [risos]. Meu marido trabalha na agricultura e, quando não tem chuva, ele faz bico. Eu vivo mais da minha
renda do Bolsa Família, é o que eu posso ajudar. Recebo R$ 200. Serve
demais, na minha casa é fundamental mesmo, porque são nove pessoas e
sem ter emprego fixo.
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Mulheres Mil
Do sonho à realidade
94
A gente, às vezes, não sabe pegar num lápis direito e vai
aprendendo. Eu ainda tenho tanto medo do quadro...
Hoje em dia quem não tem estudo não tem nada, para tudo depende do estudo. Eu tive essa oportunidade antes e não aproveitei, e hoje tá
me fazendo falta. Porque se eu tivesse estudo, eu tava o quê? Tinha feito
um concurso na prefeitura, como de fato eu fiz e não passei. Tinha mais
uma chance.
Meus pais se separaram e minha mãe tinha levado meu registro. Depois, quando eu tinha uns nove anos, meu pai arranjou a documentação,
mas eu não tinha interesse de estudar. Logo no começo eu ia, mas meus
colegas ficavam mangando de mim; eu não sabia ler, não sabia escrever. Aí
eu me incomodava e não queria ir mais. Desistia.
Eu espero muito desse programa. Eu espero concluir e nunca mais
parar de estudar, porque se eu tivesse estudado eu podia oferecer coisa melhor para os meus filhos; porque uma mãe quer é o melhor pros filhos.
O programa oferece vários cursos, vou escolher um desses cursos
para ver se eu consigo me capacitar. Eu gosto de cozinhar, e acho que é desse que vou querer. Vou estudar bastante e não vou desistir. Não vou deixar
a oportunidade passar, vou aproveitar, vou insistir até eu conseguir, porque
tudo a gente consegue se tiver força de vontade. Né isso?
Eu também quero servir de exemplo para os meus filhos. Eu tenho
sete filhos, e como eu posso incentivar meus filhos a estudar se eu mesma
mostro que não tenho interesse em meus estudos? Eu não quero que eles se
transformem no que eu me tornei: uma pessoa sem estudo, sem conhecimento. E hoje em dia a gente só consegue uma coisa tendo estudo.
Se junta um grupo e todas têm um sonho ali junto,
todo mundo tem aquele objetivo! Aí incentiva mais.
À vista do que eu era? Tô aprendendo. Porque é uma cultura diferente. A gente, às vezes, não sabe pegar num lápis direito e vai aprendendo. Eu
ainda tenho tanto medo do quadro... Mas eu fico tão gelada quando me
chama para ir no quadro. Ai, meu Deus do Céu! Mas vou perdendo medo
e enfrentando a vida!
Meu marido tinha assim o sonho de arrumar um pé de chão para
viver trabalhando. Primeiro queria que ele desistisse. Quando ele me falou
que tinha polícia, eu disse: “Desista! Desista que isso aí não vai dar certo!”
Mas ele disse que não ia desistir. Aí, quando eu vi que ele não ia desistir, tinha que acompanhar mesmo. Aí vim para cá em 95, morava nas barraquinhas de lona. Era um sofrimento tão grande. Imagine! A gente tava num
canto, chegava a polícia, despejava. A gente saía com os troços na cabeça,
tirava a gente pra fora da fazenda. Depois, voltava para trás de novo.
Vim com as crianças; eu tinha três crianças na época. Durante o
dia, que era muito quente, ele botava os meninos pra dormir do lado de
fora. Com uns paus botava a rede na sombra. Quando era de noite, botava para dentro, porque a quentura era demais. Foi um ano de luta para
conseguir. Depois fez o cadastro e fizemos a casa de taipa. Com todo o
sacrifício, mas valeu.
Eu queria que a minha comunidade melhorasse mais, tivesse mais
médico, tivesse uma rodagem, mais condições de viver aqui dentro, porque eu não pretendo sair daqui pra morar na cidade, porque na cidade
atrai muito é violência, principalmente a gente que tem filho jovem. O
medo é grande de levar pra dentro de uma cidade
e destruir a vida deles. Prefiro morar na minha
comunidade mesmo, mas preferia que melhorasse mais, os governos olhassem mais por nós e
dessem mais condições: um meio de a gente poder arrumar um emprego, de sobreviver melhor
dentro do nosso campo. Aqui na região.
Eu estou aprendendo assim a escrever, porque eu não sabia muito escrever. Eu estudei até
o quarto ano, mas não sei ler direito. Leio algumas palavrinhas, mas errando muito. Ainda tô
lutando, porque eu sei mais na escrita do que na
leitura. Eu era muito nervosa quando chegava a
vez de mandar assinar meu nome. Eu sei escrever, mas, vamos supor, se eu fosse num banco
e alguém dissesse assim: “A senhora assina?”. Eu
ficava com tremor dentro de mim porque eu tinha medo de errar alguma letra. Tinha vez que
Do sonho à realidade
Mulheres Mil
95
Mulheres Mil
Do sonho à realidade
eu dizia que eu não sabia, só pra assinar no dedo e
ir mais rápido. Todo dia, quando o professor passa
a lista de presença, sou uma das primeiras a assinar.
Agora assino o nome tranquila! De tudo eu aprendi um pouquinho, matemática aprendi um pouco!
Das palestras do IF eu gostei, sobre cooperativismo,
não sei muito o nome, mas gostei dessa palestra.
Mudou várias coisas na minha vida, porque
primeiro eu não sabia assinar meu nome corretamente, e eu tinha medo de
assinar, tinha bastante vergonha de errar e passar vexame. E agora eu não
tenho mais. Se aparecer alguma coisa na televisão eu já leio sem tá pedindo
aos outros pra lerem pra mim. Tô podendo buscar mais conhecimentos e
coisas que eu não conhecia.
Isso foi depois do projeto. Eu acho que é o incentivo e as propostas
de melhora pra gente. Se junta um grupo e todas têm um sonho ali junto,
todo mundo tem aquele objetivo! Aí incentiva mais. E tudo por um objetivo só: melhorar.
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Josirene Francisca de Almeida
Do sonho à realidade
Mulheres Mil
Josirene Francisca de Almeida tem 54 anos e doze filhos. Trabalhadora
rural desde os sete anos, ela mora no assentamento Modelo II e faz parte das
estatísticas de mulheres que estiveram ao lado do marido na luta pela terra.
O sonho? Aprender mais. E ela não balança quando alguém diz que o tempo
de estudar já passou. Aliás, pouco foi o tempo para as letras. De uma família
de 12 irmãos, a urgência da sobrevivência falava mais alto. A partir dos
sete anos, estava sempre dividida entre a roça e os cadernos, e as reprovações
foram minando o ânimo. Abandonou a escola.
O primeiro encontro dos alunos com os
professores, o primeiro dia em sala de aula...
A emoção foi boa, muito boa. Eu me emocionei muito quando foi
passado o primeiro dever no quadro. Tive aquela recordação, de pequena,
quando aos sete anos fui para o colégio. Me senti como se tivesse voltado a
97
Mulheres Mil
Do sonho à realidade
Já leio, já escrevo. A gente vai pegando mais um
conhecimento de coisas que não conhecia. Eu adoro.
ser criança outra vez. Fazia 35 anos que eu
não tirava o dever de um quadro. Foi bom!
Foi bom! E continua sendo bom.
Eu aprendi mais experiência. Aprendi mais geografia, matemática, estudos sociais. Eu gostei das aulas, também tiveram
as viagens para o Cefet. Eu gostei também,
foram muito boas, aprendemos mais algumas coisas. Eu gostaria de fazer o profissionalizante do curso de corte e costura.
Meus pais eram agricultores e são
até hoje. Comecei a trabalhar no roçado
com sete anos. Às seis e meia da manhã já
tava levantada. Aí trabalhava até as dez e
meia, e de onze horas tava em casa para entrar na escola de uma e meia da
tarde. Ficava cansada, mas, na época, os pais não queriam saber se os filhos
estavam cansados. Tinha que ir, tinha que obedecer, tinha que trabalhar!
Eu estudei até a terceira série. Eu era atrasada nos estudos, não passava no
final de ano, era reprovada. Foi o tempo que casei, desisti. Casei com 16
anos e tava na terceira série.
Eu resolvi voltar a estudar porque eu deixei muitas coisas para trás.
No estudo, o pouco que eu aprendi não é o suficiente para mim. Eu queria
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aprender mais, entender mais, chegar mais a leitura para ter um conhecimento melhor, porque o meu conhecimento da leitura ainda tava pouco.
Eu estou gostando muito do projeto. Para mim, quanto mais aprender, melhor será. Já leio, já escrevo. A gente vai pegando mais um conhecimento de coisas que não conhecia. Eu adoro. Eu lembro assim, tinha
dificuldade na leitura, não era para ler, era para escrever. Muitas palavras,
muitas letras eu não acertava escrever corretamente. Agora já conheço as
letras bem direitinho, já escrevo tudo OK. As professoras são excelentes, eu
gosto muito das minhas professoras.
Moro aqui há 15 anos e tenho 12 filhos. Seis moram comigo e seis
moram fora. Quando cheguei aqui era só mato, depois o pessoal desmatou
e foram feitas as casas. Eu não cheguei a morar em barracas, vim depois
que as casas de taipa tavam prontas, porque tinha filhos pequenos estudando lá onde eu morava. Meu marido resolveu vir para cá porque lá onde
nós morávamos era na cidade, em Ceará-Mirim, e ele nasceu e se criou
na agricultura e não tinha terra para trabalhar. Por isso, ele procurou um
acampamento e depois passou a ser um assentado, para trabalhar e sobreviver. Ele trabalha na agricultura, no roçado. Este ano não tá bom, porque
não houve inverno, e, não havendo inverno, não há fartura.
Uma criança que começa a trabalhar muito cedo, quando chega à
idade dos seus 40 anos, já tá muito cansada. Que é o meu caso e de muitas
pessoas. E ainda trabalho na roça. Quando chega o inverno, é plantar, é
colher. Quando não é inverno, é só em casa mesmo, é cuidando da casa e
dos filhos, lavar roupa, cozinhar, varrer. À noite é ir para escola. Fico cansada, mas tem que enfrentar. Tem horas que eu cochilo dentro do colégio.
Aí a professora diz: “Dona Josirene!” – “Eu tô aqui professora!”, respondo.
Cansada, mas tô lá. [Risos]
Do sonho à realidade
Mulheres Mil
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Mulheres Mil
Do sonho à realidade
Eu acho que estudar melhora o conhecimento; através
do estudo a gente pode ter uma vida melhor.
Pela minha idade eu não tenho como
sonhar mais alto não, só aprender mais,
ter mais conhecimento. Eu sei que eu não
formo mais. Meu marido diz: “Josinha, tu
com essa idade, estudando? O que tu tinha
de aprender, já aprendeu!”. Aí, eu digo:
“Mas eu quero aprender mais!”. Eu sei que
eu não me formo mais uma médica, não
me formo mais uma engenheira.
Eu acho esse projeto importante.
Eu acho que estudar melhora o conhecimento; através do estudo a gente pode ter uma vida melhor. Umas aqui
desejam ser veterinária, outras sonham em ser nutricionista. Cada uma
tem um sonho, né! Se eu pudesse me formar ia ser psicóloga, porque eu
acho muito bonito, e a primeira pessoa que eu ia conversar era meu filho,
porque ele é uma pessoa muito nervosa, tudo ele se agita. Ele estuda e é
inteligente, mas sofreu muito para chegar no primeiro ano. Passava vários
anos na mesma série.
100
Celly
Rondônia
Filomena
Mulheres Mil
Do sonho à realidade
Ji-Paraná
Jardim dos Migrantes e Novo Ji-Paraná são os dois bairros beneficiados com o
Mulheres Mil e também com a chegada do Instituto Federal no Estado de Rondônia, que foi criado em 2008. Em Ji-Paraná, que fica a 373 km de Porto Velho,
capital do Estado, o campus tem aquele cheiro peculiar de prédio novo – começou a funcionar em 2009 –, e melhor: com os portões abertos à comunidade que
nunca teve acesso à educação profissional.
Lá, o processo de expansão da rede federal de educação profissional e tecnológica
salta aos olhos e há muitos desafios, entre eles o de criar uma oferta educacional
que atenda às necessidades e à vocação da região e que respeite e inclua cidadãos
que por décadas estiveram à margem do direito e do acesso à educação.
As comunidades que serão beneficiadas pelo projeto são vizinhas e parecem ainda áreas rurais. Há pouco comércio, casas com certa distância umas das outras,
sem saneamento básico, com iluminação pública precária e quando chove é difícil se movimentar, a lama toma conta das ruas.
Nos bairros, é fácil encontrar alunas vindas de norte a sul do Brasil. As histórias
dessas mulheres se entrelaçam de tal forma que até podiam ser de uma mesma
família. Na verdade, podiam ser de qualquer uma das 14 comunidades atendidas pelo Mulheres Mil. Trabalho infantil, falta de tempo para a escola, violência
doméstica, baixa autoestima e uma força imensurável para cuidar dos filhos são
pontos de encontro. Por lá, o Mulheres Mil está começando. Até o fechamento
da publicação, janeiro de 2011, elas tinham tido algumas aulas em novembro e
dezembro de 2010. Por isso, aqui, elas falam de expectativas.
A capacitação será na área de artesanato e biojoias, e o Instituto Federal está
buscando parcerias para garantir a elevação da escolaridade e a comercialização dos produtos que serão elaborados pelas alunas. A promoção do diálogo e
do acesso da comunidade ao campus é uma ação inédita no local e, no futuro,
deve gerar outros desdobramentos. A maior parte das alunas trabalha de empregada doméstica e o sonho é conseguir um emprego melhor para garantir
perspectiva de futuro para os filhos.
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Celly Santos Silva
Celly Santos Silva tem 25 anos, quatro filhos, dois casamentos. Parte da
infância, trabalhou na roça, a outra, em casa de família, para ajudar a
criar os irmãos. Na adolescência, chegaram os filhos. Teve o primeiro com
14 anos e a partir de então não sobrou tempo para estudar. O sonho, como
o da maior parte das mulheres, é crescer para ajudar os filhos. Contrariando
as previsões da mãe, Celly pretende fazer faculdade.
Do sonho à realidade
Mulheres Mil
1. Com o nome de
Seringueiras, o município
foi criado pela Lei nº 370,
de 13 de fevereiro de 1992,
assinada pelo governador
Oswaldo Piana Filho.
Eu fiz até a quinta série.
Meu sonho é terminar meus estudos.
Eu acho que é uma oportunidade pra gente agarrar com unha, força e vontade. É uma oportunidade de a gente sair da vida que viveu até
agora. Por exemplo, eu não tive muita oportunidade de estudar.
Nós morávamos em Seringueiras1. Éramos seis irmãos. Lá a gente
só tem dinheiro de ano em ano. Tem os maquinistas que compram café e
durante esse ano a gente pode ir pegando dinheiro com eles. Eu lembro
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Mulheres Mil
Do sonho à realidade
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que, na época, meu pai se matou. Ele bebeu veneno porque tava devendo
muito. Eu tinha um irmão que tava mexendo com droga e meu pai fazia
de tudo pra ele não roubar. A gente ficou devendo 240 sacas de café.
Minha mãe ficou com aquela conta nas costas pra pagar. Daí eu tive que
encontrar um jeito pra ganhar dinheiro extra pra ajudar minha mãe. Saí
de casa com 11 anos pra trabalhar na casa dos outros.
Naquele tempo, tudo que eu pensava era em parar de trabalhar
na casa dos outros e ter minha própria
casa, mas eu não pensava no problema
que eu poderia arrumar, arrumando
um marido. Na época, eu não sabia
me prevenir pra não ter filho, eu não
tinha com quem conversar sobre isso.
Muito jovem fui morar com um cara.
Eu tinha 13 anos. Aí ele começou a me
bater, se chegasse em casa – ele trabalhava na roça – e tivesse qualquer coisa
fora do lugar, batia em mim e nos meninos. Tive dois filhos com ele.
Vim pra Ji-Paraná fugida. Peguei só uma roupa minha e dos me-
Quero concluir o terceiro ano e fazer um técnico de enfermagem, e
do técnico de enfermagem, se Deus quiser, ser pediatra.
Do sonho à realidade
Mulheres Mil
ninos e fui pra casa da minha mãe. Eu tinha 16
anos e comecei a trabalhar de novo na casa dos
outros pra ajudar minha mãe a sustentar eles,
porque o que eu ganhava não dava pra manter
eles sozinha.
Eu espero, com o Mulheres Mil, fazer um
curso, pra que eu possa arrumar um serviço que
não seja de doméstica. Quero conseguir um dinheiro pra terminar meus estudos: concluir o terceiro ano e fazer um técnico de enfermagem, e do
técnico de enfermagem, se Deus quiser, quero ver
se consigo pagar a minha faculdade e ser pediatra.
Eu amei as aulas. Foi mais conversa pra gente conhecer as colegas
de sala de aula, mas eu estou gostando demais. Eu tinha um pouquinho
de medo; aí, com as explicações do professor, eu perdi o medo. É mais fácil do que eu imaginava; eu tinha muito medo de mexer no computador,
de apagar, agora não tenho mais.
Eu me acho uma pessoa simples, às vezes, sem conhecimento nenhum; sou uma pessoa alegre, sou uma pessoa animada. Eu me acho muito corajosa, por não ter medo de enfrentar a vida; tem gente que olha
qualquer obstáculo e diz: “Isso pra mim não dá, isso não pode acontecer”.
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Mulheres Mil
Do sonho à realidade
Daqui a dez anos, eu imagino, pode ser até ali onde eu moro,
ter uma casa confortável.
Voltar a estudar pode mudar
completamente minha vida. Pode
mudar pra mim, pode mudar para os
meus filhos. Daqui a dez anos, eu imagino, pode ser até ali onde eu moro,
ter uma casa confortável. O meu filho
mais velho vai estar com 21 anos, o
outro, com 18 para 19 anos, sei que o
meu caçula vai estar com seus 12 para
13 anos, e o outro com 16. Se eu ainda
não tiver terminado, é pra eu já estar
fazendo minha faculdade e num emprego bom, podendo ajudar meu filho
mais velho a fazer a faculdade dele também. É isso que eu imagino daqui
a dez anos.
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Filomena Ferreira de Abreu
Do sonho à realidade
Mulheres Mil
Entre as décadas de 1970 a 1990, milhares de trabalhadores do Sudeste
migraram para o Norte do país em busca de terra. A história de Filomena
Ferreira de Abreu está diretamente ligada a esse processo de migração.
Natural de Minas Gerais, ainda criança se mudou com os pais para os
arredores de Ji-Paraná. Morava em um sítio e cedo começou a trabalhar na
roça. Com 43 anos, três filhos, um dos sonhos é voltar à sua cidade natal e
conhecer o restante da família. O outro, conhecer a praia. Calada, relata
que só agora está conseguindo falar mais e pretende terminar o ensino médio
para conseguir um emprego melhor e ver o mar.
Minha mãe trabalhou bastante, e nós
ajudávamos a plantar e colher.
Depois que meu pai morreu, minha mãe vendeu o sítio, que ficava
no KM 12 e comprou uma casa no Jardim dos Imigrantes e veio pra cá.
Nessa época, eu já tinha 14 anos. E aí a vida ficou mais difícil ainda, por-
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Mulheres Mil
Do sonho à realidade
que na cidade grande é mais difícil, e ela não tinha estudo. Meu
irmão, com 14 anos, começou a trabalhar, ela trabalhava em casa
de família, e eu tomava conta da casa e dos irmãos pequenos.
Eu tive o meu primeiro filho com 16 anos. Minha mãe não
deixava eu namorar, aí fugi com o primeiro rapaz que saí. Meu
marido não gostava muito de trabalhar. Aí eu voltei pra casa da
minha mãe grávida. Depois, eu casei de novo. A vida melhorou
por um tempo, tive dois filhos. Ele bebia muito, era violento, levei até um tiro. Eu não denunciei porque ele foi junto comigo na
ambulância e dizendo que, se eu falasse, ele matava a menina e se
matava. Eu nunca falei. Eu me separei, fiquei morando em Porto
Velho. Agora está com quatro anos que eu estou aqui de novo.
Quando criança eu estudei até a quinta série. Eu gostava de ir pra
escola pra encontrar os amigos, pra aprender também. Todo dia a professora escolhia duas meninas pra ir fazer a merenda, porque não tinha
fogão, tudo era cozido à lenha. A gente ia acender o fogo, apanhava uns
panelões para cozinhar, fazia sopa ou arroz doce. Tinha umas sopas salgadas que nunca mais vi delas, vinham em um pacote grande. Era só pôr na
água e deixar ferver, ficava muito bom.
Depois de 24 anos, voltei a estudar. Eu estudei até a oitava série, a
escola era longe, chegava cansada. Meu sonho é terminar meus estudos e
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Quando criança eu estudei até a quinta série. Eu gostava de ir
pra escola pra encontrar os amigos, pra aprender também.
arranjar um emprego bom. Hoje em dia, eu sou diarista, é difícil. Ganho
pouco. Eu queria dar condições de vida melhor para os meus filhos. Um
sonha em fazer uma faculdade, e eu não tenho como ajudar.
Eu primeiro matriculei minha filha, depois é que eu vim para o
projeto. Eu tô achando ótimo, porque a gente vai aprender bastante, já
tivemos umas aulinhas de computador, pouquinho.
Eu tenho vontade de aprender a mexer. Alguma coisa
eu já sei mexer, mas é pouco. Foi legal; a professora
deixou a gente à vontade, eu mesma tinha medo de
mexer e estragar.
Eu me sinto acolhida, as pessoas conversam bastante, as professoras perguntam bastante coisa, como
a gente tem passado. Aí a gente se sente bem. As pessoas olham mais, esperam mais da gente; é bom, é
muito bom. Isso incentiva bastante. É bom conhecer
gente nova, com outras cabeças. A gente vai aprendendo bastante com a história dos outros. Eu aprendi
que a gente tem que aceitar os outros com os seus
defeitos; ninguém é perfeito, todo mundo erra, todo
mundo tem problemas.
Melhora bastante a autoestima, que é a gente se
sentir bem com a gente mesma e se sentir feliz, con-
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Mulheres Mil
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Eu me
sinto acolhida,
as pessoas
conversam
bastante,
as professoras
perguntam
bastante coisa,
como a gente
tem passado.
versar mais. Eu estou aprendendo a
conversar bastante, porque eu acho
que eu tive poucas amigas por causa
disso, porque eu sempre fui muito
tímida, quase não conversava, era
muito calada.
Eu espero terminar meus estudos, aprender o máximo que eu
puder, e talvez arrumar um emprego
melhor, pode ser na área de vendedora, uma coisa assim, até pela prefeitura. Na real, eu queria passar num
concurso.
Eu tenho o sonho de construir
minha casa, e quero começar a construir no ano que vem. A casa que eu
tenho é de madeira e eu quero fazer de alvenaria. E tenho o sonho também, que eu não sei quando que eu vou realizar: eu quero ir à praia.
Sempre vejo pela televisão.
Simone
Roraima
Sôngila
Mulheres Mil
Do sonho à realidade
Boa Vista
Fronteira com a Venezuela e Guiana Inglesa, Roraima é usada como corredor
do tráfico. A atividade vitima várias mulheres que, por diversas razões, acabam
sendo presas. Na penitenciária Feminina de Boa Vista, são mais de 100 reclusas
cumprindo pena, quase todas por tráfico. Há mulheres de todas as faixas etárias,
jovens de 18 anos e adultas com mais de 50.
Vindas de várias partes do Brasil e de outros países, incluindo índias das etnias
macuxi e wapichana, muitas são usadas como “mulas”. Sem saber, são negociadas,
entregues pelos traficantes à polícia para mascarar a entrada de carregamentos
maiores. Algumas nunca se envolveram, mas, como não denunciaram os filhos e
maridos, são consideradas cúmplices.
A penitenciária é pequena e elas dividem a cela com até quatro mulheres. As camas são beliches e em todas há uma pequena cozinha para fazer lanches. O difícil
é aguentar o calor; alguns espaços são cobertos com telhas de amianto e a sensação
térmica dá a impressão de uns 50 graus. Chega a faltar ar. A carência de recursos
para pagar um advogado faz com que algumas esperem até mais de dois anos pelo
julgamento, e o abandono da família leva várias a uma profunda crise de tristeza.
No berçário, o choro e os gritos das crianças as tiram do presente, nem parece que
se está num presídio, mas o olhar e o desespero de algumas reeducandas retratam
a necessidade de construir alternativas para o futuro. Um dia elas sairão.
Em Boa Vista, houve um encontro de intenções. A direção do presídio buscava
alternativas de oferta de educação e o Instituto Federal de Roraima (IFRR) estava
discutindo o Mulheres Mil. Para viabilizar o projeto dentro do presídio, o IF
assumiu o papel de articulador, sensibilizando várias instituições locais, imprescindíveis para que as ações cotidianas pudessem acontecer, desde as mais simples,
como garantir a permissão da justiça para que os servidores pudessem ministrar
aulas no presídio, até as mais complexas, como conseguir permissão e escolta para
deslocar as reeducandas para as aulas práticas.
A junção de esforços teve um final feliz. Oitenta mulheres foram capacitadas na
área de alimentos e estão elevando a escolaridade. Algumas já foram soltas e conseguiram trabalho na área, e uma montou um negócio no presídio masculino.
As entidades continuam planejando ações
para garantir a inserção dessas mulheres no
mundo do trabalho. Uma das propostas é
ajudá-las a organizar uma cooperativa para
que possam fornecer as suas próprias refeições no presídio. Hoje, o Governo do Estado contrata uma empresa privada.
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A meta é ajudá-las a organizar uma cooperativa para que possam produzir e fornecer as
próprias refeições, que hoje é terceirizada.
Simone Pires Lopes
Do sonho à realidade
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Simone Pires Lopes tem 40 anos, é natural de Manaus e teve uma infância
e adolescência tranquilas. Pôde estudar, terminou o ensino médio, mas optou
por não fazer faculdade e escolheu o tráfico. Presa pela segunda vez, Simone
assumiu o papel de representante da turma e ajuda na organização do coral.
Evangélica, o desafio de Simone é não cair na sedução do dinheiro fácil
quando terminar de cumprir pena. O sonho é abrir um comércio
com o marido, que também cumpre pena.
Aquela que começou, que foi até o
finalzinho, até o último dia, que foi subir
no palco lá do Cefet e receber o certificado, viu o quanto foi importante na
vida de cada uma de nós que participou desse curso. Sabe aquela história
da estrela guia, que está à nossa frente e vai nos levando? É esse projeto
Mulheres Mil.
Eu vi, no decorrer desse projeto, a recuperação de algumas das minhas colegas. Quem passou por ele não esquece, porque abriu a nossa men-
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te a ter mais oportunidade na nossa vida. Ensinou a importância da decisão de mudar de vida, de agarrar as oportunidades boas que aparecerem na
nossa frente, como esse curso. As que já fizeram e as que estão fazendo, é
uma oportunidade a que elas estão se agarrando, se segurando.
Eu aprendi com o Mulheres Mil a colocar em prática que toda aquela garra, aquela coragem para fazer coisas ilícitas, eu posso usar de outra
forma, com a mesma garra, o mesmo peito, só que agora com o ego mais
baixo, porque o ego alto não faz bem. O tratamento com as pessoas é bem
diferente; aplicação do dinheiro, o retorno, que a gente aprendeu a trabalhar com retorno.
Eu não tinha medo de polícia, não tinha medo de vagabundo, não
tinha medo de nada. Enfrentava mesmo, botava marra, andava armada;
se tivesse que atirar, atirava. Graças a Deus, nunca foi preciso, mas eu era
peituda demais em relação a isso. Eu me achava a última coca-cola do
deserto. Aí descobri que eu não sou, não era nada disso, pelo contrário,
eu era muito era idiota, pensando isso tudo. Você pensa que tá com tudo,
mas não está com nada. Você não passa de uma boboca, de uma idiota, se
achando, porque está com certa quantidade de droga, certa quantidade de
dinheiro, porque pode ter quando quiser na sua mão, numa noite gastar
quanto quiser, porque era desse jeito a minha vida.
O curso foi um conteúdo que veio preencher várias lacunas na nossa
vida. Desde o começo, ele veio trabalhar nossa autoestima, aquela parte
que em muitas pessoas se encontra vazia, que é trabalhar tipo assim: você
pode, você consegue, você faz, você muda, basta querer. Então, algumas de
nós não tinham essas lacunas preenchidas, precisava preencher. E esse curso veio para isso, veio nos ensinar que a gente pode mudar. Basta querer.
Depois que a gente se encontra aqui neste local, dentro do sistema
penitenciário, todo mundo é igual. Eu nasci e cresci no meio de uma famí-
E esse curso veio para isso, veio nos ensinar
que a gente pode mudar. Basta querer.
Do sonho à realidade
Mulheres Mil
lia muito boa. Sempre fui assim muito querida, por ser a única menina da
família, sempre fui ganhando brinquedo, atenção, paparicos, manha e fui
crescendo nesse ritmo.
Eu me apaixonei, o tal do amor bandido apareceu na minha vida. Eu
vim pra Boa Vista passar 15 dias e fiquei dois anos. Daí comecei a traficar,
mas não por incentivo dele, mas porque vi ali um modo de ganho rápido,
fácil. A gente tem pressa de cuidar da nossa vida. Cegamente, a gente pensa assim, porque a realidade é bem outra. Eu já tinha terminado o ensino
médio, foi uma coisa que eu deixei tudo para lá. Eu ia fazer faculdade de
Ciências Biológicas.
A gente fez o curso de empreendedorismo, isso ampliou muito a
mente da gente. Quando eu sair daqui, a expectativa pra mim e pra maioria das mulheres que se encontra aqui é de percorrer um caminho novo.
Aliás, esse caminho novo já começa desde aqui de dentro. A partir do momento que a gente começou a se dedicar nesse curso, que pessoas passaram
a participar da nossa vida.
O Mulheres Mil é uma porta, mesmo para a pessoa que já teve oportunidade de estudar. Às vezes, a gente até brincava: “Nós somos descartadas da sociedade”, mas a gente vê que lá fora tem pessoas que pensam o
contrário, porque daqui vão sair pessoas para a sociedade. E a expectativa é
justamente a gente poder buscar, porque a perda da gente vir pra cá não é
só pra nós, a perda é, principalmente, para a nossa família, porque a gente
perde a autoestima, tem o constrangimento.
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Mulheres Mil
Do sonho à realidade
E a mulher é um ser humano que, quando parte para
a luta assim, não parte só. Ela engloba filho, marido.
Participar do Mulheres Mil também me
mostrou que eu não existo sozinha, existem outras
pessoas ao meu redor, mesmo que não tenha aquele
vínculo de sangue, mas a gente passa a ter vínculo
de amizade, de carinho, de afeto. Aqui mesmo, foi
necessário a gente se unir várias vezes na cozinha
para fazer salgadinhos, comida. E a mulher é um
ser humano que, quando parte para a luta assim,
não parte só. Ela engloba filho, marido. Quando
ela busca, não busca só para si. A mulher é isso, é
companheirismo.
Quero aplicar tudo o que a gente aprendeu. Eu penso em trabalhar
com mercadinho, vender arroz, feijão e nos finais de semana colocar para
vender, na porta da minha casa, frango com um baiãozinho e salada de
maionese. Meu sonho é sair daqui com o meu companheiro, João Morais.
Eu acho que eu sou a panela e ele é minha tampinha [risos]. Fundo musical
da minha vida? “Amor sem limite”, do Roberto Carlos.
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Sôngila Soares de Lima
Do sonho à realidade
Mulheres Mil
Sôngila Soares de Lima, 47 anos, é o que se pode chamar de empreendedora
nata. Montou um restaurante com o companheiro dentro da penitenciária
masculina e tem uma venda de balas dentro da feminina. Paraense, filha de
índia com português, ficar parada é algo complicado para quem trabalhou
mais de 20 anos em garimpo. Na Penitenciária, ela estuda, faz limpeza na
guarita dos policiais para diminuir a pena e toma conta do seu comércio.
Mesmo por tudo isso que eu passei,
eu nunca fui medrosa.
Sou muito divertida, muito popular, eu sou muito companheira,
amiga. Vivo sorrindo. Para mim, não tem tempo ruim. Eu sou assim: mulher de atitude, de garra, de agir. Não sou de prometer, sou de fazer. Quando eu boto para fazer uma coisa, eu vou e faço mesmo. Confio no meu taco.
Eu não me sentia filha. Quando descobri que era adotada, tinha 16
anos. Um dia ouvi minha madrasta conversando com a minha própria mãe
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Mulheres Mil
Do sonho à realidade
biológica. Eu já tinha visto várias vezes aquela mulher na casa
e nunca imaginei que eu era filha adotiva. Nunca consegui e
até hoje nunca chamei de mãe, porque ela me via apanhando,
via meu sofrimento e nunca tomou uma atitude. Os filhos, a
minha madrasta não maltratava.
Em 2008, chegou esse benefício do Mulheres Mil; como
eu já tinha vontade de fazer esse curso lá fora, mas eu não tinha
condição, aproveitei. Tinha feito até a quinta série e tava com
20 anos que eu não estudava. Aí retornei a estudar, fui me capacitando, estudando, aprendendo sobre empreendedorismo,
sobre cálculo, sobre o ambiente, como é trabalhar com o povo,
pra botar o meu próprio negócio.
Eu tinha uma tia de criação, que era cozinheira e doceira
de mão-cheia. Eu ficava lá na cozinha ao lado dela, ficava vendo, aprendendo aquilo ali. Ela gostava muito de mim; acho que era o meu dom mesmo
ser cozinheira. Eu tinha muita facilidade de aprender as coisas.
Eu nunca trafiquei, sempre trabalhei no garimpo, em firma, em restaurantes. Eu cozinhava para o dono do barraco, que era dono da terra, e
para os peões e ganhava dois gramas de ouro por dia. Quando eu entrei no
garimpo era tudo manual, depois é que chegaram as máquinas. Trabalhei
na Colômbia, na Venezuela e na Guiana Inglesa. Quando eu vim presa, eu
recém tinha vindo da Guiana. Foi lá que conheci esse meu companheiro
e foi aí minha perdição pra chegar aqui. Ele me ajudou a construir minha
casa; eu, com meu dinheiro, meu diamante, e ele com o dele.
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Em 2008, chegou esse benefício do Mulheres Mil; como eu já tinha
vontade de fazer esse curso lá fora, mas eu não tinha condição, aproveitei.
Agora eu estou com restaurante no presídio masculino, são sete,
mas, graças a Deus, o meu está em primeiro lugar na concorrência. Fiz o
curso e repassei tudo que eu aprendi, ensinei meu marido e os reeducandos. Eu tenho cinco funcionários lá dentro e eles têm que estar equipados,
com touca, mãos limpas, barba feitinha, nada nas mãos, nem relógio ou
anel. Eu vou todos os domingos e quando eu chego lá tá todo mundo de
barbinha feita, cheirosinha. E eles fazem tudo direitinho.
Eu peguei 12 anos. O juiz me colocou como comparsa, disse que eu
tava lúcida, ciente e, por ele estar devendo à justiça, porque ele tinha sido
preso e fugiu quando tava em semiaberto, então eu era cúmplice, estava
acobertando e não tomei a atitude de denunciar. Já cumpri o tempo que
eu tinha no fechado, agora vou ficar no semiaberto.
Eu fiquei oito meses sem ver ninguém da minha família. Sou mãe de
nove filhos; tem dois em Manaus, os outros vivem aqui, mas só vem uma
filha me visitar. Quando a gente cai aqui, a família se afasta. No início,
começam a vir, aí depois vai diminuindo. Dói muito porque a gente se
sente abandonada.
Nós éramos 40 mulheres, 20 na parte da manhã e 20 na parte da tarde. Todo dia nos levavam para o Senac1, para a parte prática do nosso curso
de Gastronomia. Eu aprendi muito, desenvolvi muito. Antes de começar a
fazer esse curso, eu já tinha uma venda de bombom, e tenho até hoje, e é o
que está me ajudando a puxar minha cadeia para eu me manter.
Eu já tinha conhecimento com várias receitas, só que eu não tinha a
prática era do total; os materiais que eu ia gastar, ver o número de pessoas,
1. O Serviço Nacional de
Aprendizagem Comercial
(Sebrae) de Roraima é um
dos parceiros do projeto em
Boa Vista.
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Mulheres Mil
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Mulheres Mil
Do sonho à realidade
Pretendo continuar, porque não é interessante ser uma
empresária e não ter um estudo avançado.
porque, às vezes, eu fazia e sobrava, estragava. Ia tudo para o mato.
Aprendi tudo no curso. Aprendi como trabalhar com meu dinheiro, porque tudo que eu pegava eu gastava, eu comprava coisa que
não tinha precisão. Hoje eu sei como economizar o meu dinheiro,
como fazer ele render na minha mão. Eu desenvolvi muito na matemática, tudo que eu faço é na base da caneta. Eu tive várias aulas
aqui dentro, tive aulas de boas maneiras, de bom comportamento,
de conviver com as pessoas, como se dirigir às pessoas.
Esse projeto é para abrir portas para as mulheres que sabem
cozinhar, querem levar em frente, procuraram aprender mais, se
desenvolver, porque ela pode, lá na frente, botar na porta da sua
casa a sua própria venda, pra não ficar só dependendo do marido.
Agora estou terminando a sétima, já estou passada, e vou
para a oitava. Pretendo continuar, porque não é interessante ser
uma empresária e não ter um estudo avançado. O projeto, quando eu sair
daqui, é continuar, é colocar meu ponto de lanche e colocar outro comércio na porta da minha casa, mexer com refrigerante, com bebida, laticínio,
essas coisas.
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Elenilde
Sergipe
Valdenice
Mulheres Mil
Do sonho à realidade
Aracaju e
Nossa Senhora do Socorro
O bairro Santa Maria, também conhecido como Terra Dura, fica na zona sul de
Aracaju e é onde ainda é depositado parte do lixão produzido na capital. Mesmo
com a proibição do Ministério Público, segundo os moradores, famílias ainda
tiram o seu sustento dos resíduos trazidos de Aracaju, São Cristovão e Nossa
Senhora do Socorro. Já o povoado de Taiçoca de Fora fica no município de
Nossa Senhora do Socorro, área litorânea de Sergipe, e a maioria dos moradores
sobrevive da atividade da pesca.
1
A paisagem e a forma de garantir o sustento nessas localidades são diferentes,
mas as realidades socioeconômicas das mulheres se assemelham. Tanto no Santa
Maria como em Taiçoca de Fora, o trabalho chegou ainda na infância. Em função disso, a escolaridade é baixa, a maternidade foi precoce e a falta de qualificação profissional dificulta o acesso ao mundo do trabalho.
2
1
Bairro Santa Maria
2
Taiçoca de Fora
1
2
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Com as mulheres do Santa Maria, o desafio foi torná-las visíveis para si mesmas. Era preciso amolecer as camadas de medo, baixa autoestima e preconceito
acumuladas durante anos de trabalho no lixo. Em Taiçoca de Fora, enfrenta-se
a resistência dos maridos e a desconfiança das mulheres, calejadas de promessas
políticas nunca cumpridas. Com ambas, a meta foi explorar e aprimorar talentos
que elas trazem da trajetória de vida.
Para trabalhar com essas realidades e atender às necessidades das mulheres, o
Instituto Federal de Sergipe criou qualificações nas áreas de resíduos sólidos e artesanato, que não faziam parte da sua oferta tradicional. A celebração de parcerias foi fundamental
para garantir a elevação de escolaridade das moradoras de Taiçoca de Fora, para a oferta da capacitação profissional e a inserção das artesãs em feiras
locais e nacionais. Essas ações garantiram articulação com diversas entidades, que formaram uma
rede de atendimento que pode ser reproduzida em
outras localidades do estado.
Em relação às alunas, os resultados são diversos.
Das egressas, algumas optaram pelo caminho do
artesanato, estão produzindo e vendendo em feiras. Outras continuam trabalhando na Cooperativa de Catadores Autônomos de Aracaju (Care) e
há casos das que estão buscando outros caminhos
profissionais. As mulheres de Taiçoca de Fora discutem a possibilidade de organizar uma associação de produção.
Elenilde do Espírito Santo
Do sonho à realidade
Mulheres Mil
Elenilde do Espírito Santo herdou dos pais, além do sobrenome e dos
traços físicos, a profissão: catadora de marisco. Aos 32 anos, tem uma longa
experiência com mangues e mar. São 23 anos de atividade, nos quais
aprendeu a pescar, quebrar e limpar. Só não deu para aprender a vender,
depende do atravessador. Alegre e objetiva, fala o que pensa sem se deixar
levar por censuras. Da escola, lembra das brigas que tinha com os colegas e
ainda hoje não leva desaforo para casa.
Foi muito bom estudar informática e
gostaríamos era de ter mais aulas.
No início, ficamos com medo de quebrar o computador, aí perguntamos: “Se quebrar vamos ter que pagar?” Aí disseram: “Não, não
paga nada!” Aprendi a entrar na internet, fiquei muito curiosa. Começamos a procurar namorado, aprendemos a bater papo [risos].
Eu me senti alegre em voltar para a escola, porque chega o momento que a gente tem que aprender, mesmo depois de velha. Esse curso
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Mulheres Mil
Do sonho à realidade
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Hoje, eu já sei fazer um bordado com casco de sururu, de ostra, coisa que a
gente nunca fez e nunca imaginou, porque a gente jogava o cascalho era no lixo.
vai ser bom pra mim e pra ensinar aos meus filhos que estudar vai ser a
melhor coisa da vida, pra não fazer como eu fiz: deixar passar.
Nas aulas de português, nós fizemos texto falando sobre a vida
da gente, o que tinha feito na nossa infância. A minha infância foi de
trabalho, não tive tempo pra brincar, meus brinquedos foram os meus
filhos. Eu comecei a trabalhar a partir dos nove anos. Minha mãe acordava a gente a meia-noite, dizendo que era quatro da manhã, pra quebrar
marisco. Aí eu dizia: “Vixe! E o dia não amanhece não?”. Era a única
solução que a gente tinha, porque só trabalhava de pesca.
A gente também ia para o mangue, tirar o
sururu e ostras. Minha mãe levava pra gente não
ficar solta. Eu fiz só até a terceira série. Quando
chegava na escola tava cansada; só pensava no
serviço quando chegasse em casa: era prato, era
água para pegar. Quando eu deixei a escola tinha
13 anos. Aí, pronto, fui trabalhar tomando conta de crianças e até hoje tomo conta dos meus filhos e trabalho no marisco. Eu trabalho de tudo,
mas eu gosto é de tomar conta de criança.
Quando eu vou pra maré, saio de casa às
quatro horas e chego entre duas e meia e três da
tarde. Nós vamos de canoa e eu não sei nadar. O
marisco tem semana que dá e semana que não dá.
Do sonho à realidade
Mulheres Mil
A gente também quebra em casa o marisco tirado do fundo do
mar e passa pra outra pessoa vender. Ele vai pra Bahia e vende por
quilo. Cada quilo custa cinco reais. Eu quebro 10 a 12 kg por dia,
de quatro e meia da manhã até as oito da noite.
Tem muitas de nós que ficam inseguras, têm medo, mas
com o estudo eu me sinto mais segura e tenho mais confiança.
Na sala de aula, é outro momento, porque a gente fica mais entretida, mais concentrada pra poder aprender, pra ver o que realmente os professores têm de coisas boas pra ensinar pra gente.
As pessoas aprendem em qualquer idade, basta só querer.
A gente vai aprendendo coisas que não teve tempo de aprender
na vida. Hoje, eu já sei fazer um bordado com casco de sururu, de ostra,
coisa que a gente nunca fez e nunca imaginou, porque a gente jogava o
cascalho era no lixo. Nós estamos aprendendo a fazer arte com a casca do
marisco. Hoje nós sabemos que o casco que a gente jogava é dinheiro.
Gostei muito do professor de matemática. Ele é uma pessoa muito
alegre e tem vontade que a gente aprenda, porque é difícil pra fazer conta. Na escola, eu não era muito boa em matemática, mas, pelo jeito que
ele tava ensinando, mostra que a gente tem capacidade de aprender, de
se desenvolver mais na vida. Eu aprendi a dividir as contas. Eu sou muito
atrapalhada para dividir, mas aprendi.
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Mulheres Mil
Do sonho à realidade
O curso
me ajudou a
ter paciência
com meus
filhos. Agora
eu chego,
brinco com
eles, levo pra
passear.
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O curso me ajudou a ter paciência com meus filhos. Agora eu chego, brinco com eles, levo pra passear. Vou à praia, ao shopping, porque eu
gosto muito de passear. Tomar a minha cervejinha bem geladinha. Estou
aprendendo a dar mais amor aos meus filhos, porque eu não tive muito
amor de brincar com os meus pais, de beijar, de abraçar, e hoje eu brinco,
abraço, beijo e bato, quando merece.
Meus filhos não trabalham. Eles são crianças. Eu tenho um de dez,
um de cinco e um de dois anos e cinco meses. Cleidiane, a mais velha,
Adriano e Raquele. Me qualificando, eu espero dar uma vida melhor aos
meus filhos. Através dos meus estudos, do projeto que estou fazendo, eu
pretendo dar muitas coisas boas para os meus filhos.
Valdenice Alves
Do sonho à realidade
Mulheres Mil
Valdenice Alves não é de muita conversa. Reservada, fala pouco, talvez
pelo fato de já ter nascido grande no tamanho da responsabilidade.
Começou a se preocupar com o sustento da mãe cedo. Natural de Alagoas,
por volta dos 10 anos, ajudava a vender caranguejo e marisco. Aos 11,
a família mudou para Aracaju, onde ela e dois irmãos enfrentaram,
durante anos, o lixão da Terra Dura, como é chamado o bairro de Santa
Maria, para garantir o sustento da mãe. O estudo era um luxo que só
dava para desfrutar de vez enquanto.
Eu gostei do nome do projeto - Mulheres
Mil - porque eu me acho uma vencedora.
Eu enfrento qualquer trabalho, porque uma pessoa trabalhar numa
lixeira desde os 11 anos não é fácil. Tenho 24 anos, sou de Maceió, mas
moro em Aracaju faz 12 anos. Quando a gente chegou aqui, eu saía
de oito horas e ficava até cinco horas da tarde. Às vezes, virava a noite,
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Mulheres Mil
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1. A Cooperativa dos Agentes
Autônomos de Reciclagem
(Care) de Aracaju foi criada
em 1999 com o objetivo de
tirar famílias do lixão.
porque tinha muita gente que trabalhava de noite. Quando o meu pai
começava a beber, a gente tinha que
se virar, porque ele custava a parar
e, se não fosse a gente, minha mãe
passava dificuldade. Eu e os gêmeos
sustentávamos a casa.
Eu soube do projeto através da
1
Care , eu era uma das cooperadas.
Foi bom voltar pra sala de aula depois de tanto tempo. Este projeto deixou
uma experiência muito boa, conheci várias pessoas do bairro e gostei muito
das outras mulheres.
Gostei da psicóloga, porque a professora deixava a gente à vontade,
fazia a gente se sentir bem. Gostei da aula de computação. Tinham muitas
que nunca pegaram num computador. Teve uma que ficou tão alegre só
porque conseguiu ligar e desligar. Eu também fiquei, porque a gente nunca tinha mexido. Para quem nunca pegou o computador, fica assim com
medo mesmo, dá um nervoso. Eu chamava a professora direto. A gente se
sentia em casa, eu me sentia à vontade, e os professores também ajudaram
muito, porque eles eram bastante simples.
Eu estudei até a quarta série. Na época, foi uma vizinha que matriculou. Ela pediu os registros a minha mãe e foi matriculando eu, meu
irmão, meus primos, que estavam tudo na lixeira. Eu gostava de ir à escola,
eu tinha vontade de ir. Às vezes, eu sentia vergonha das minhas colegas
quando o ônibus ia buscar a gente lá na lixeira. Eles botavam a cabeça do
lado de fora e ficava chamando a gente de lixeiro. Uma vez briguei com um
menino, pisei em cima dele, porque ele me chamou de lixeira.
Tem muita gente que tem preconceito quando diz que é do Santa
Maria ou do Terra Dura. É um sentimento muito ruim, assim de humilhação. Mesmo com a farda da Care, quando eu entrava no mercadinho para
pegar resíduos sólidos já ficavam olhando. Se eu pudesse, xingava, dizia: “Tá
olhando o quê? É da sua conta? É melhor trabalhar do que tá roubando”.
Essas coisas... Eu brigava muito por causa disso, por isso que eu era assim,
meio revoltada.
Antes do curso, eu só pensava em trabalhar para comer, só isso. Agora, não! Eu penso em trabalhar, comprar uma roupa, comprar um calçado.
Naquele tempo, eu só pensava em trabalhar e em construir minha casa e
pronto. Não pensava em mim. Hoje eu penso mais em mim. Eu acho que
foi o modo que eu fui criada, porque meu pai era assim. Para ele, botou o
arroz e o feijão, botou tudo. Eu nunca tive um brinquedo, uma roupa que
preste. Ele era muito ignorante com a gente.
Depois da
lixeira, meu
segundo
emprego
foi lá na Care,
foi com uma
coisa que eu
já sabia lidar,
que é com lixo.
Eu aprendi a fazer fuxico e o artesanato com jornal. Foi bom, mas
devia ter mais aula. Gostaria que voltasse uma segunda etapa do projeto.
Eu faço a xuxinha de cabelo. Umas eu dei para as minhas sobrinhas e outras eu vendi. Dá para vender legal. Eu parei porque comecei a trabalhar
na casa da mulher, lá na Atalaia. Depois saí porque a mulher queria que
eu dormisse lá.
Através do curso, fui pensando mais em mim, na minha vida, do
que tava precisando. Antes só vivia doente, mas comecei a pensar mais na
minha saúde. A gente para pra pensar num projeto de vida melhor, um
emprego melhor.
Eu só parei de trabalhar uns anos, quando eu fiquei grávida, com
oito meses, que eu não fui mais para lixeira, e quando eu tive meu filho.
Eu engravidei aos 15 anos, e não tinha planejado nada; depois que veio
fiquei me prevenindo, e ele já tem nove anos. Eu conheci o pai do meu
filho desde pequena.
Depois da lixeira, meu segundo emprego foi lá na Care, foi com uma
coisa que eu já sabia lidar, que é com lixo. Entrei lá com 20
anos, fiquei três anos e nove meses. Saí porque adoeci, eu
peguei uma infecção no sangue e no pulmão. Na formatura do curso, eu tava no hospital; fiquei 13 dias internada.
Antes, eu nunca tinha procurado trabalho fora da Care, eu
tinha medo de sair de lá e não conseguir outro emprego. Eu
trabalhava doente, calada ali, para não sair.
No começo, foi um pouco diferente, porque tava
acostumada a trabalhar diferente, só com lixo. O trabalho
da faxina é mais leve. Se tiver a faxina certinha, é melhor.
Do sonho à realidade
Mulheres Mil
129
Mulheres Mil
Do sonho à realidade
O curso ajudou a me comunicar melhor, que eu era muito
calada, não gostava de estar falando com as pessoas sem conhecer.
Tanto você ganha mais como é melhor, é mais leve, e o dinheiro é melhor.
Eu também faço unha, lá em casa mesmo.
O projeto levanta a autoestima de muitas mulheres. Às vezes, a gente
tá passando por dificuldades, aí já levanta, e a gente se dá mais valor, se
valoriza mais. A gente já sofreu muito, já trabalhou muito nessa vida; aí
tem que pensar mais na gente.
O curso ajudou a me comunicar melhor, que eu era muito calada,
não gostava de estar falando com as pessoas sem conhecer. Era oi, tudo
bem e pronto! Agora, não, eu me comunico melhor. A participação no
projeto mudou muitas coisas, o modo de eu tratar em casa, a forma de
conversar com o meu filho. Participar do projeto foi bom para mim. Hoje
eu me sinto melhor.
Eu tenho muitas colegas que trabalham na lixeira. Ainda tem muita
criança e muita mulher. Tem muitas que trabalham mais que homem, é
nas carroças, pulando nas coletas. Eu acho bonito porque é o jeito delas
agirem. É não ter medo de enfrentar a vida, mas é muito doloroso.
Eu sou uma pessoa que já passou por muitas dificuldades na vida e
nunca desistiu. E não vou desistir nunca. Não vou desistir de ver minha
casa toda reformada, de ver meu filho estudando, de ter um emprego que
nunca tive.
Eu queria trabalhar assim, exercer como manicure. Eu vou fazer uns
currículos para ficar botando lá nas empresas para ver se consigo trabalho
de serviços gerais. Me sinto mais qualificada para o mercado. Meu sonho
é ter um emprego de carteira assinada e construir minha casa; e quero dar
ao meu filho o que nunca tive.
130
Lúcia
Tocantins
Sheilane
Mulheres Mil
Do sonho à realidade
Palmas e
Taquaruçu
As alunas do distrito de Taquaruçu e do bairro Santa Bárbara têm histórias de
vidas com pontos em comum: muitas trabalharam na infância, a maioria casou
cedo, várias assumem sozinhas o sustento da casa, algumas escondem as marcas
da violência doméstica, diversas não acreditavam em si mesmas e nenhuma tinha frequentado os bancos da universidade ou de um curso técnico.
2
1
Palmas
2
Taquaruçu
1
2
132
O distrito de Taquaruçu está a 32 km de Palmas, onde fica a sede do Instituto
Federal de Tocantins (IFTO). O distrito é uma cidade pequena e tem aquele
ar de tranquilidade, como se o tempo tivesse parado e a correria do mundo
moderno fizesse parte de outro planeta. O bairro Santa Bárbara, em Palmas,
tem um ar de medo, as casas são próximas, há falta de saneamento, de acesso
à saúde, de planejamento urbano e muita violência, e a maioria dos moradores
vive abaixo da linha da miséria. Em comum, esses locais têm carências de ações
do poder público e muitos moradores vivem à margem dos direitos à educação
e ao trabalho.
Para promover o acesso das mulheres dessas comunidades, o Instituto abriu
interlocução com a associação de moradores. Depois, vieram outros desafios:
garantir o transporte, assegurar a permanência na escola e ofertar a profissionalização para um grupo heterogêneo na
faixa etária – as alunas têm entre 18 e 60
anos – e na escolarização – desde o ensino
fundamental incompleto ao ensino médio. No Colégio Estadual Santa Bárbara,
não havia oferta de Educação de Jovens e
Adultos, e a interlocução do IFTO com
a prefeitura de Palmas garantiu que mulheres que estavam há décadas longe dos
bancos escolares pudessem ter a chance de
dar continuidade aos estudos.
A instituição também celebrou parcerias
com entidades locais para ofertar qualificação em áreas diversas. Hoje, além de artesanato, capacitação ofertada para as moradoras de Taquaruçu, as alunas do Santa
Bárbara podem fazer cursos na área de corte e costura e alimentos. Os impactos na
vida das que já receberam a certificação são
diversos. Muitas conseguiram trabalho em
áreas diferentes da qualificação, um grupo
continua produzindo e comercializando
artesanato e a maioria voltou a estudar.
Lúcia Araújo Mendes
Do sonho à realidade
Mulheres Mil
O bom humor e a disposição para viver são marcas fortes em Lúcia Araújo
Mendes. Ela é da terra do “reggae”, maranhense, e tem orgulho de onde vem.
Com 51 anos, viveu a maior parte da sua vida na área rural, plantando,
colhendo e criando irmãos e filhos. Na trajetória, embalou 19 crianças, cria
uma neta de 13 anos e ajuda na criação de outros quatro. Vai completar
seis anos que está em Palmas e hoje vive da reciclagem e do artesanato.
Quando eu comecei a mexer com
artesanato, eu vim chamada por uma colega,
mas sem vontade; e não é que eu gostei! Está com quatro anos que eu trabalho com artesanato. Eu estou convencida e gosto mesmo. Eu também
trabalho na reciclagem. Eu junto ferro, latinhas, plástico, faço artesanato,
faço papel reciclado. Hoje, só trabalho eu, porque meu marido tá doente.
Aí eu vendo para o atravessador.
133
Mulheres Mil
Do sonho à realidade
134
Gostei de tudo que já participei nesse grupo. Eu fiz o curso de culinária.
Aprendemos a fazer salgados, tortas, doces, coxinhas, pastel, empadinha.
Fiquei alegre quando me falaram que no projeto iam dar um curso
de artesanato para gente. Gostei de tudo que já participei nesse grupo.
Eu fiz o curso de culinária. Aprendemos a fazer salgados, tortas, doces,
coxinhas, pastel, empadinha. Eu gostei muito da oficina de artesanato
de caixinhas; fiquei apaixonada por aquelas caixinhas.
Eu morava no interior, na roça, trabalhava no plantio, na colheita. Disso eu entendo tudo. A gente plantava arroz, feijão, milho, fava,
mandioca. Tinha ano que dava pra todo mundo comer, mas tinha ano
que faltava. Minha mãe teve pouquinho filhos, teve 15, e se criaram
13. Eu sou a segunda, então tive que
ajudar a criar meus irmãos. Os que
mais sofrem são os primeiros, por
isso nem crescer eu pude de tanto
carregar meninos aqui! Quando eu
era menina, até os 11 anos, não tinha escola, era só na roça mesmo.
Eu casei criança ainda, tinha entre
13 e 14 anos. Eu me sentia muita
presa, meu pai não me deixava sair
com minhas colegas.
Do sonho à realidade
Mulheres Mil
Esse projeto pra mim foi tudo de bom, porque eu
não assinava ainda meu nome. Hoje eu boto meu nome,
eu já conheço todas as letras, mas ainda não sei juntar
quando tem um nome grande. Estudei no Mobral1, mas
naquele tempo eu tive que largar por causa dos filhos. Comecei a estudar aqui no Santa Bárbara, mas, como acabou
o EJA2, tive que largar também.
Eu acho que esse curso ajudou em tudo pra nós.
Não saber ler nem escrever é muito ruim. Já tive dentro
da capital de Teresina, com minha guria doente e eu, com
papel escrito na mão, sem saber onde era pra ficar. Pedia
informação, e o povo me botava para um lado, me botava
para outro. É muito ruim.
Hoje eu já não tenho mais medo de escrever meu nome quando
é preciso assinar algum papel. Tô me sentindo mais confiante. Agora
já leio um pouco, todas as letras grandes eu já conheço. Mas juntar os
nomes grandes é muito difícil para mim.
O Mulheres Mil mudou a vida das mulheres aqui no bairro. Eu te
digo isso porque minha menina falou: “Mãe! Eu estou muito feliz, porque fiz a oitava série, mas não tinha o conhecimento que tenho hoje”.
Agora, graças a Deus, com esse projeto, ela disse que não vai mais parar
de estudar.
1. Mobral – Movimento
Brasileiro de Alfabetização.
2. EJA – Educação de Jovens e Adultos.
135
Mulheres Mil
Do sonho à realidade
Abriu os
olhos, a mente
melhorou
em tudo,
pra mim está
muito bom.
Melhor se eu
continuar aqui.
136
Nós recebemos bolsa; pra mim é muito importante. São R$ 100,
mas pra mim é muito dinheiro. Eu pago água, pago energia, às vezes,
compro arroz, carne, compro as coisas pra casa.
Abriu os olhos, a mente melhorou em tudo, pra mim está muito
bom. Melhor se eu continuar aqui. Muitas mulheres eram como eu: não
sabiam nem botar o nome. Agora já sabem e se animaram para estudar,
para continuar. Mesmo que encerre o curso, elas querem continuar.
Sheilane Alves
Do sonho à realidade
Mulheres Mil
Sheilane Alves é dona de casa, trabalha na Câmara de Vereadores de Palmas
e é estudante do curso técnico de música do Colégio Militar. Ela parou de
estudar na sétima série e esteve por 17 anos longe dos bancos escolares. Voltou
para a sala de aula com o projeto e, aos 37 anos, traça novos objetivos, entre
eles, fazer faculdade de Serviço Social. Gosta de cantar, a voz sai solta,
principalmente quando canta a música que lembra o início do namoro
com o segundo marido. “Quero colo”, de Leandro e Leonardo.
Eu fico imaginando por que eu parei
tanto tempo no tempo.
Eu posso estar cansada, porque esse serviço exige muito de mim, mas
quando eu tô indo para o colégio dá uma alegria tão grande, uma satisfação
tão grande de saber que eu vou estudar! Eu saio de casa dez para cinco da
tarde e só chego meia-noite e meia. E, às vezes, eu estudo até quatro e meia
da manhã para dar conta de fazer meus trabalhos, minhas provas.
137
Mulheres Mil
Do sonho à realidade
138
Para mim, ir para o colégio é
um desafio que eu quero viver com
as pessoas que eu aprendi a amar e a
respeitar. Ir para a escola militar hoje
é como se eu estivesse indo para o
Mulheres Mil: é um desafio, é uma
alegria e é um aprendizado, porque
um dia não é igual ao outro.
Eu parei de estudar eu tinha
17 anos, na oitava série. E eu adquiri
essa vontade de estudar foi no projeto, porque eu não tinha incentivo e
também não tinha vontade. Eu achava que tinha só que trabalhar e correr
atrás para cuidar da família. Hoje, não! Eu aprendi lá que eu posso contornar toda essa situação: posso cuidar da minha casa, fazer aquilo que eu
gosto e posso estudar.
Nós somos quatro filhos e até hoje meu pai manda na gente; e a gente
sempre respeita a opinião dele. E eu casei pra fazer gosto ao meu pai. Ia fazer
16 anos. Meu pai gostava muito do namorado que eu tinha. Nós brigamos e
terminamos. Aí ele foi na casa do pai, que não sabia que a gente tinha terminado, e pediu minha mão em casamento. Eu tive uma certa resistência, mas
não queria dar desgosto para o meu pai. Então, eu aceitei casar e casei.
Eu fazia a sétima série e não voltei mais, porque eu trabalhava, não
tinha mais muito tempo para os estudos. O esposo também não ajudava.
Dois anos depois, meu filho nasceu, o primeiro filho. Foi quando eu me
dediquei cada vez mais à casa, ao filho, ao serviço, aí eu não lembrei mais
de estudar. Cinco anos depois nós separamos – vai fazer mais de 20 anos
que somos separados – e casei de novo. Vou fazer onze anos de casada. A
gente vive muito bem, é uma das pessoas que me incentiva
muito. Me ajudou muito na época do projeto.
O Colégio Militar eu ouvi a oportunidade no rádio. Tavam abrindo inscrições para os cursos de música e
informática. Fui lá, me inscrevi e hoje eu faço música. A
gente tanto aprende a tocar como também aprende a ser
professor de música. Eu amo o meu curso. A gente acha
que música é uma coisa simples, mas não é. Hoje, pra você
ser um professor de música ou aprender a cantar ou tocar
bem, tem que estudar, porque nós temos partitura para ser
estudada, têm regras para serem estudadas, obedecidas.
Com esse projeto, eu também tive a oportunidade
de trabalhar. Vai fazer dois anos, no dia 1º de janeiro, que
eu sou funcionária da Câmara Municipal de Palmas. Foi
O projeto me ensinou a olhar para mim, a me amar mais,
a não achar que eu não tinha mais direito de lutar, de persistir...
através do Mulheres Mil que as
pessoas viram o meu valor, viram
que eu tinha um potencial muito
grande de liderar, de levar as coisas com compromisso, de trabalhar e de sobreviver.
Uma coisa que me marcou muito foi a viagem que nós
fizemos para Brasília, e lá tinham
13 comunidades participantes do
Mulheres Mil. Eu conheci uma
pessoa muito especial, foi a Marta
de Lima1, marisqueira da Paraíba.
Com toda a dificuldade, ela não
desistiu, ela acreditou. Eu queria
que tivessem muitas “Martas”.
Mudou muita coisa. Eu sempre digo que o projeto me fez voltar a
ver a vida diferente, porque até então eu era uma dona de casa, não tinha
expectativa de nada e, de repente, o projeto abriu novos horizontes. Eu tive
vontade de voltar a estudar, de voltar a crescer, porque eu tinha desistido. E
essa Sheilane de 2011, é uma Sheilane que aprendeu a ser batalhadora, que
aprendeu a ir atrás dos ideais. Foi uma das coisas que eu aprendi no projeto:
não desista, não importa a sua dificuldade.
As meninas todas que fizeram o mapa da vida colocaram muito foi
a questão do ônibus, porque vinha um ônibus buscar para levar a gente
lá. Quando a gente chegou, eu lembro como se fosse hoje, todo mundo
olhava o Instituto e falava: “Meu Deus! Isso aqui tudo é pra gente mesmo?”. Quando colocaram a gente dentro de uma sala, que começou a falar
do projeto, eu disse para uma amiga, com os olhos cheios d´água: “Aqui,
muitas de nós, se quiserem, vão crescer”. Quando a gente voltou para casa,
todo mundo maravilhado, todo mundo queria contar o que tinha passado,
o que tinha achado. Eu nunca imaginei que ia ser tratada tão bem, que as
pessoas iam respeitar a gente tão bem.
O projeto me ensinou a olhar para mim, a me amar mais, a não achar
que eu não tinha mais direito de lutar, de persistir, porque eu achava que
com essa minha idade aqui eu não ia conseguir muita coisa não. E o projeto
me mostrou que não tem idade pra você vencer na vida. Não tem idade pra
você achar que é velha e que o seu tempo passou. Não! Ele me mostrou que,
se eu quiser, minha idade não importa, eu posso vencer e ir atrás dos meus
objetivos. Hoje eu estou com 37 anos e daqui a um ano e meio termino
meu curso de música.
Do sonho à realidade
Mulheres Mil
139
1. Veja história de Marta de
Lima na página 67.
Mulheres Mil
Do sonho à realidade
Eu aprendi lá que eu posso contornar toda essa situação: posso
cuidar da minha casa, fazer aquilo que eu gosto e posso estudar.
As mulheres de Taquaruçu, eu tenho certeza absoluta, sem ter
medo de errar, muitas delas não tinham aquela dignidade, aquele
amor próprio e hoje nós temos mulheres diferentes. A maioria de
nós conseguiu trabalhar, tem aquelas que não prosseguiram com o
trabalho de artesanato, mas todo mundo tá trabalhando.
Minha meta agora é terminar meus estudos na escola militar e
fazer uma faculdade de Serviço Social, porque eu acho que eu tenho
jeito para isso.
É um projeto que veio para mudar a história das mulheres que
precisam de ajuda. E nesse projeto realmente vale a pena investir,
porque ele ajuda o ser humano a descobrir o seu valor, a ter sua autoestima, a se desenvolver, a procurar ser melhor como ser humano,
procurar vencer na vida, sem se importar com as barreiras, porque tem
pessoas que desistem por tão pouca coisa.
140
Projetos por estado
Do sonho à realidade
Mulheres Mil
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Alagoas
O Doce Sabor de Ser
Área de Formação: Alimentos
Parcerias Brasileiras: Secretaria de Estado de Educação de Alagoas, ECAPEL
(papelaria), Projeto Raízes de África – ONG Maria Mariá, Cooperativa de
Funcionários do Banco do Brasil, Pastoral da Barra Nova – Freiras Canadenses,
Aeroturismo
Colleges Parceiros: Red River College e Cégep Régional de Lanaudière
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Amazonas
Transformação, Cidadania e Renda
Área de Formação: Turismo
Parcerias Brasileiras: Governo do Estado do Amazonas/Programa Social e Ambiental
dos Igarapés de Manaus e Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (Senac-AM)
Colleges Parceiros: Niagara College, George Brown College e Collège Montmorency
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Bahia
Um Tour em Novos Horizontes
Áreas de Formação: Turismo e Cuidador domiciliar
Parcerias Brasileiras: Terreiro Mokambo, Centro de Meditação Raja Yoga Brahma
Kumaris, Associação de Moradores da Comunidade Vila Dois de Julho (Amovila),
Igreja Batista Betesda, Paróquia de São Lázaro, Incubadora Tecnológica de
Cooperativas Populares do IFBA
Colleges Parceiros: Niagara College, George Brown College e Collège Montmorency
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará
Mulheres de Fortaleza
Áreas de Formação: Turismo, Manipulação de alimentos e Governança
Parcerias Brasileiras: ONG Emaús, Associações de Bairro do Pirambu, Centro de
Pesquisa e Qualificação Tecnológica (CPQT) e Associação Brasileira da Indústria
de Hotéis – Ceará
Colleges Parceiros: Niagara College, George Brown College e Collège Montmorency
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Maranhão
Alimento da Inclusão Social
Área de Formação: Técnicas de conservação e manipulação de alimentos
Parcerias Brasileiras: Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (Senac-MA),
Fundação de Apoio à Educação e ao Desenvolvimento Tecnológico do Maranhão
(Funcema), Associação Comercial do Maranhão (Ascom), Olívio J. Fonseca,
Bondiboca, Panificadora Pão Nosso, Panificadora e Confeitaria Sabor e Qualidade,
Fundação José Sarney
Colleges Parceiros: Red River College e Cégep Régional de Lanaudière
141
Projetos
Mulheres Mil
Do sonho à realidade
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Paraíba
Desenvolvimento Comunitário – Impacto na Qualidade de Vida e Ambiental
Áreas de Formação: Pesca, Artesanato e Meio ambiente
Colleges Parceiros: Cégep de la Gaspésie et des Îles
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Pernambuco
Culinária Solidária
Área de Formação: Culinária
Parcerias Brasileiras: Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (Senac-PE) e
Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE)
Colleges Parceiros: Red River College e Cégep Régional de Lanaudière
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Piauí
Vestindo a Cidadania
Área de Formação: Moda e confecção
Parcerias Brasileiras: Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas
(Sebrae-PI), Prefeitura Municipal de Teresina, Secretaria Municipal de
Desenvolvimento Econômico e Turismo e Casa de Zabelê (Ação Social
Arquidiocesana – ASA)
Colleges Parceiros: New Brunswick College of Craft and Design e Cégep Marie-Victorin
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Norte
Casa da Tilápia
Áreas de Formação: Beneficiamento do couro do peixe, Alimentos e Artesanato
Parcerias Brasileiras: Fundação de Apoio à Educação e ao Desenvolvimento
Tecnológico do Rio Grande do Norte (Funcern), Serviço Nacional de
Aprendizagem Rural (Senar), Prefeituras Municipais de Ceará-Mirim, João
Câmara, Pureza e Touros
Colleges Parceiros: Cégep de la Gaspésie et des Îles
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Rondônia
Biojoias – Rede de Vida
Área de Formação: Artesanato
Parcerias Brasileiras: Secretaria Municipal de Educação de Ji-Paraná e Secretaria
Estadual de Educação de Rondônia
Colleges Parceiros: New Brunswick College of Craft and Design e Cégep Marie-Victorin
142
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Roraima
Inclusão com Educação
Área de Formação: Alimentos
Parcerias Brasileiras: Secretaria de Educação do Estado de Roraima, Serviço
Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae-RR), Serviço Nacional
Projetos
da Indústria (Sesi-RR), Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (Senac-RR),
Fórum da Educação de Jovens e Adultos (EJA), Secretaria de Justiça do Estado,
Universidade Federal de Roraima (UFR), Organização das Cooperativas Brasileiras
(OCB), Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo (SESCOOP)
Colleges Parceiros: Red River College e Cégep Régional de Lanaudière
Do sonho à realidade
Mulheres Mil
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Sergipe
Do Lixo à Cidadania/Pescando Cidadania e Arte
Áreas de Formação: Artesanato com reaproveitamento de resíduos sólidos e Arte na
culinária
Parcerias Brasileiras: Ministério Público Estadual, Universidade Federal de Sergipe
(UFS), Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SebraeSE), Secretaria Estadual de Inclusão Social, Grupo de Saúde e Prevenção nas
Escolas, Prefeitura Municipal de Nossa Senhora do Socorro, Cooperativa de
Agentes Autônomos de Reciclagem de Aracaju (Care), Fundação de Apoio ao
Desenvolvimento Tecnológico de Sergipe (FUNCEFETSE), Instituto de Beleza
Cida Duarte e educadores voluntários
Colleges Parceiros: New Brunswick College of Craft and Design e Cégep Marie-Victorin
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Tocantins
Cidadania pela Arte
Áreas de Formação: Artesanato e Bioarte
Parcerias Brasileiras: Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas
(Sebrae-TO), Prefeitura de Palmas, Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial
(Senai-TO), Instituto Ecológica
Colleges Parceiros: New Brunswick College of Craft and Design e Cégep Marie-Victorin
143
Mulheres Mil
Do sonho à realidade
Mulheres MIl
Do sonho à realidade
Thousand Women
Making dreams come true
MILLE FEMMES
Du rêve à la réalité
144
This publication tells us the story of a public initiative, Mulheres Mil,
through first-person narratives. The story is told by 27 women, students and
former students, who have taken part in a pilot project to improve the lives of 1000
Brazilian women in the North and Northeast regions of the country. Daring and
unparalleled in the National Professional and Technological Education Network
of Brazil, the Mulheres Mil project took on the challenge of working with a
specific marginalized population: young and mature women, poorly educated,
socially and economically vulnerable and excluded from the labor market.
The project’s primary goals were to improve the women’s education, to offer
them professional qualifications and to help them to enter the labour market.
Beyond these immediate goals, the program also changed the women, in ways
that are not as easy to measure, by helping them to rediscover their citizenship,
restore their self-esteem, and improve family and community relations. In short:
these women started believing in themselves again.
The Mulheres Mil project was launched in 2005 with an inclusive vision,
and the courage and boldness of a cross-section of Brazilian and Canadian
partners. The project was initially a collaboration between Rio Grande do Norte
Federal Institute (IFRN), (at the time called Federal Center for Professional and
Technological Education (Cefet), and Canadian colleges. At the Rio Grande
do Norte institute they promoted an extension project that offered training
for chambermaids. The impact was such that Canada, through the Association
of Canadian Community Colleges (ACCC) and funded by the Canadian
International Development Agency (CIDA) and Brazil (through the Professional
and Technological Education Secretariat and the Brazilian Cooperation Agency
Presentation
A story told by many voices
Making dreams come true
Thousand Women
145
Presentation
Thousand Women
Making
DMakingdreams
dreamscome
come
true
true
146
(ABC/MRE)) decided to develop a larger program to take this same approach
to other states. And that is how the Mulheres Mil project was born, a project
which was taken to 12 other institutions after Rio Grande do Norte: the federal
Institutes of Alagoas, Amazonas, Bahia, Ceará, Maranhão, Paraíba, Pernambuco,
Piauí, Roraima, Rondônia, Sergipe and Tocantins.
The real people in these stories took part in the introductory courses that
have been offered since 2008. The skills taught are diverse and the courses are
designed to match the talents of students and the vocations available in each
region. That is why there are courses on tailoring, office management, food
handling, housekeeping and handicrafts. The recognition of informal experience
and previous studies was a key factor in the implementation the Mulheres Mil
project. The Prior Learning Assessment and Recognition (PLAR) methodology
was an important element brought to the project by the Canadian colleges, which
have used the process for decades. PLAR is an approach that allows educational
institutions to validate and certify the knowledge gathered throughout life.
On a national level, the project was implemented by the Professional and
Technological Education Secretariat (Setec/MEC) and supported by International
Advisory of the Minister’s Cabinet (AI/GM), the Brazilian Cooperation Agency
(ABC/MRE), the North and Northeast Technological Education Network
(Redenet), the Federal Professional, Scientific and Technological Education
National Council (Conif ), the Canadian International Development Agency
(CIDA/ACDI) and the Association of Canadian Community Colleges (ACCC)
and partner colleges.
In the states, the Federal Institutes (IFs) relied on a number of government
and non-governmental collaborators to implement the project. Other important
participants were the teachers, IF staff and volunteers and collaborators who
welcomed students, who taught and supported them. They all contributed
directly to significantly changing the lives of these women and their families.
In fact, all those interviewed since 2008, both for this publication and for the
website, commented on the importance that the classes and community life at
the institution had in their development as professionals and citizens.
Like everything that is new, Mulheres Mil is a work in progress and is
looking for ways to consolidate its success and strengthen the links created
between communities, institutes and society. New approaches employed in this
project range from changes in access – as the institutes came out from behind
their walls and into the communities – to the design of courses, ways to help
Presentation
women stay at school and collaboration with other organizations to fulfill the
many demands brought by those non-traditional learners such as childcare,
education for mature and young students and advice from the manufacturing
sector to guarantee acceptance into the labour market. That is why there has to
be more than one pathway. There is no such thing as a universal formula. The
challenge is to establish dialogue and to adapt the methodology developed for
Mulheres Mil to different realities without losing sight of fundamentals of the
project: Education, Citizenship and Sustainable Development.
The results are not always the same and not every story is as successful as
the ones published here. There were women who dropped out when they found
a job, or when they moved to another house, or when they didn’t like the course
or they were unable to combine studies and life. There are students who got a
position in the sector they were trained in and those who are working in different
sectors. Others are still searching for a position. Some of them have come back
to the classroom and others have not. There are those who are starting their
own businesses and there are some who are discussing setting up cooperatives.
However, one thing is certain: all those who finished their training say that the
project brought significant changes to their lives.
From an institutional viewpoint, the results are extremely positive. From
2005 to March 2011 there was an intense exchange of knowledge among Brazilian
and Canadian educators and managers through technical missions, workshops
and meetings. More than being partners in international cooperation, Brazil and
Canada have developed a relationship of respect, confidence and partnership in
the area of professional and technological education and have many plans for the
near future. One result was the strengthening of the relationship between Brazil
and Canada, and several other partnerships have been signed between the two
countries. As for the Mulheres Mil project, the idea is to take the project not
only to more Brazilian institutions but also to other countries that may want to
adapt this successful method to meet the needs of their people.
In Brazil, an important outcome is that all the 13 Federal Institutes
developed a methodology of access, retention and success for women that today
can be expanded to the other institutions and applied to other marginalized
communities and populations that would like to have professional or vocational
education. The recently-created Mulheres Mil Reference Centre, will be responsible
for spreading the methodology, following up on the expansion, training network
resource people and overseeing research and design of educational materials.
Making dreams come true
Thousand Women
147
Presentation
Thousand Women
DMakingdreams
dreamscome
come
true
Making
true
148
Another important contribution from the Mulheres Mil project is that the
Federal Institutes have developed the tools to provide access to a public that for
decades would not even enter the gates of a Federal Institute. That is why this
initiative has been more than a project, it represents a commitment to social
inclusion and thus contributes to a more egalitarian and just country. It will
contribute to Brazil reaching the Millennium Development Goals set by United
Nations (and approved by 91 countries) to promote gender equity and female
autonomy, environmental sustainability and the eradication of extreme poverty
and hunger.
The goals for the coming years are still audacious. The objective is to utilize
the accumulated knowledge as a foundation for project implementation in the
rest of Brazil, making Mulheres Mil a permanent policy of the Federal Network to
be offered in each of the 366 institutes throughout the 27 states in the country.
Sebastiana
Alagoas
Quitéria
Elisângela
Thousand Women
Making dreams come true
Marechal Deodoro
On the margins of society, this is how the inhabitants of Vila Santa Ângela live,
in the municipality of Marechal Deodoro. The houses, many of them made
of mud, are located two metres below highway AL-101 South and it is not
uncommon for someone from the neighbourhood to be run over and killed
by a car.
These families are ignored by official statistics and are invisible when planning
for basic services such as sewage, education and health care. Without any
neighbourhood association to defend their basic rights, vehicles, including
government vehicles, drive too fast through the area and one barely has time to
look both ways.
A distinguishing trait of the people in Alagoas is their shyness. These women,
even the young ones, have been working for many years. The daughters of
peasants, some of them would go to the mills to cut sugarcane or would stay
and help their parents work the land by day. At night they would attend Mobral
(The Brazilian Literacy Movement), which offered education for youth and
adults from 1964 to 1985.
The professional training offered at the Alagoas Federal Institute aims to provide
them with qualifications for positions using skills they already have from work
they do now – in sales and preparation of food at bars and restaurants – work
done on weekends – crab fishing in the mangrove, selling coconut candies by
the roads near their houses and working as housemaids. The IF has also signed
an agreement with the local government to improve education levels of the
women in this neighbourhood.
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Elisângela, Sebastiana and Quitéria
Making dreams come true
Thousand Women
Maria Sebastiana da Silva, age 49, Maria Quitéria da Silva, 32, and
Elisângela da Silva, 23, are mother and daughters with similar life
stories: early motherhood and no free time for education. Like Sebastiana,
Quitéria began to work early in order to help raising her brothers and
sisters. Marginalization is the distinguishing trait of their lives. They live
near each other and help each other whenever they need to: they share
what they have, they mourn together and celebrate joys and achievements
together. Today, in the classroom, they share the dream of a better future.
Elisângela’s wants financial independence and her goal is to become a
receptionist. Quitéria’s goal is to take a nursing course and that was one
of the reasons she came back to a classroom. As for Sebastiana, she has not
abandoned a dream of a better future.
151
Thousand Women
Making dreams come true
My name is Sebastiana and I was born
in Marechal Deodoro. I had five children
and raised four of them on my own.
152
1. Mobral – Brazilian
Literacy Movement.
One of them was raised by the father. I made it only to third grade. I
would work all day and at night I would go to a school called Mobral1.
I would arrive tired. Sometimes I wouldn’t even have had breakfast. The
little I learned came through sacrifice, letter by letter, word by word. That
was the life I lived until I got married when I was 17. My wedding was
both religious and legal. I had my first child when I was 18. My former
husband was a driver. I loved him but he drank too much. We separated
17 years ago.
I had a painful childhood, and my adolescence was even worse. My
mother had no means to raise seven children. I was raised without a father,
cutting sugarcane, cleaning sugarcane. At the age of 11, I began cutting
sugarcane and I worked until I was 16 and then I got married. Now it
wouldn’t be like that because of the childhood protection agency, children
are not allowed to work any longer, they must go to school.
And I’m learning them now that I’m old.
I’m learning about cooking, woman’s rights.
Most people criticize the place where we live; some call it a slum
and others call us slum dogs. Sometimes I catch a bus to Maceió and I see
people who are filled with prejudice. I feel embarrassed because I’m poor
and I only live in this place because I have nowhere else to live. It hurts,
because being poor is not my fault.
I went back to school and discovered the Mulheres Mil project
because my daughters persuaded me. I’m taking the EJA2 and am enjoying
it. When I joined the class I learned things I had never learned during my
childhood. And I’m learning them now that I’m old. I’m learning about
cooking, woman’s rights. I was a victim of domestic violence, but was not
aware of my rights. I had no fear to try using the computer, I was actually
curious about it; a dream come true.
I sell Avon, I sell clothes made
by other people; I do a little bit of this
and that to survive. I do lace3 and the
family benefit (Bolsa Familia) also
helps a lot as I have a handicapped
son who lives with me. My dream is
to be self-employed, have my own
business and one day leave this place
and stop being discriminated against.
I would like to earn my daily bread
without having to work for others,
only for myself. And I have never
given up dreaming and struggling
for a better life.
Making dreams come true
Thousand Women
2. EJA – Education for
Youths and Adults.
3. The lace comes up from
a simple net consisting of
meshes and knots, which is
also called “knot network”, by
following the same technique
used to make a fisherman’s
net, which serves as an
inspiration.
153
Thousand Women
Making dreams come true
My name is Maria Quitéria. I have three
children and am now separated from my
husband. I didn’t have the chance to get
an education.
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4. Municipality where Vila
Santa Ângela is located.
My childhood was kind of troubled. Until I was 12 I lived in downtown
Marechal Deodoro1. But then my parents separated and my mother moved
so often I had to quit school to help raise my brothers and sisters. She would
work in family houses, work at a fast food restaurant, and I would help. Then
she had an operation and I had to take her place and help even more. I had
no more time to study. I made it to fourth grade.
I was shy and the project helped me to find a job. Sometimes I work
on weekends at a restaurant, as a kitchen assistant, and I am also given
family benefits. I have learned to value myself. I have more courage to face
the challenges of daily life, and there are many. But I believe things will
get better.
At the course I learned to prepare chicken recipes, make refreshing
drinks and to re-use leftover food. I learned how to wash my hands properly,
that you need to wash up to the elbows and that if you go to the bathroom
you need to take off your apron, take off your head covering, and that
I want to complete the course and then
to take my nursing course.
you can’t talk while handling food. I would ignore those
things. I have to wash the greens and vegetables before
putting them in salads or in casseroles. I am determined
to finish the course and get my certificate.
I have good memories of the time when I went to
Brasília. It was the first time I had been out of my state.
It didn’t even cross my mind that one day I would leave
Alagoas. When I’m watching TV and I see those places
where I have been, I always say: “Look, I was there,” and
it is really moving. I keep on saying that to my children. I
had never been to such a chic hotel.
I have already worked as a maid, a kitchen assistant
at a restaurant, as a waitress, as a cleaner. What I like most
is to work in the kitchen, because I don’t enjoy being in
the crowd. I prefer peace and quiet.
I want to complete the course and then to take my nursing course.
I have dreamt of being a nurse ever since I was a child. I never shared it
with anyone. I’m saying it now that I’m a grown-up; that my dream is to
study nursing. Someone told me that to study nursing I have to at least
have finished the first year of middle school. That is why I’m back in the
classroom, because I want to take that course.
Making dreams come true
Thousand Women
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Thousand Women
Making dreams come true
My name is Elisângela da Silva. I have
three children, two from my first marriage
and the youngest one from the second.
156
I had an operation so I wouldn’t have anymore children. My
childhood was better than Quitéria’s, who had to work to help to raise us.
I stayed at home and was able to study.
When I went to school in Maceió, there was a Mother’s Day
celebration. When the mothers came into the classroom, we began to sing
that song by Roberto Carlos. “Don’t ever forget, not for a second, that my
love for you is the greatest in the world.” Most of them couldn’t contain
their emotions and wept. I wept as well; my classmates, the teacher,
everybody wept. It is a song to remember as it tells about love, and love is
something very important in our family. My mother is everything to me;
she’s Mom and Dad; she’s everything. After her the most important thing
to me is my children, my sisters who I love so much and my nieces. We
are united.
I learned a lot from the course Rights and Health, the importance
of the rights we had in the past and nowadays. Before women didn’t have
the right to vote but now Dilma has been elected president. She is the first
I learned a lot from the course Rights and Health,
the importance of the rights we had in the past and nowadays.
woman to be president of Brazil. So you can see how things are evolving!
What was really worth learning was women’s rights, like the Maria da
Penha act, for example. The little I know of the law is that violence is
not only physical aggression, but it can also be through words, through
gestures. So that was useful as there are women afraid to say that the man
they live with beats them.
My first marriage lasted five years. I started dating when I was 15
and got pregnant at 17. And then he would begin to argue: he would beat
me and I would beat him. There was this Woman’s Police Station, but there
was no Maria da Penha law (the law on domestic and family violence) yet.
Many people would say don’t denounce him because he will kill you. He
would always say: “if you turn me in, as soon as I get out I’ll kill you”. The
last time we fought, when we broke up, my mother came and said: “Let’s
go to the police station!”
I went there, I made a claim against him
and asked the chief to make him sign a term of
responsibility. From that day on I gained courage and until this day, if any man decides to
slap me, I denounce him right away. He can
threaten me as much as he can. So, by studying
the law, I have made progress and now I know
what women can do to stop abuse. Something
else that was important for me was Information Technology. We had 10 lessons on that.
Making dreams come true
Thousand Women
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Thousand Women
Making dreams come true
5. Brazilian chicken stew.
158
I learned how to access the Internet, which I didn’t know before. And to
open the pages on the computer, to turn it on and off, which I didn’t know
either and I learned.
Learning is something that really helps us, because without it you
won’t get anywhere. If you want to work for a business you need to have at
least an elementary school education or even have completed high school.
And this has an effect on the education of our children as well, because if we
send a child to school but we cannot read nor write ourselves, how we will
help them with their homework? So that is something to think about, too.
We took classes with a nutrition scientist; we learned to cook different
kinds of dishes. She taught us a cashew recipe. When the cashew season
comes, I’ll make it. We cooked chicken “bobó5,” even better than you get
in the market. So now I can say: “I’m going to finish ninth grade and then
take a course at Cefet.” And people already show interest.
I am finishing eighth grade. I expect to become a professional
receptionist. I want to attend Cefet in the evenings so I can take a
receptionist course to be able to get a permanent job and be able to provide
for my children and not depend on a husband, because he could leave me
someday; and then what? How will I raise my children then? Will I be left
without a cent? I expect to have a regular job and I hope the course will
help me find one.
Janaína
Amazonas
Osmarivete
Thousand Women
Making dreams come true
Manaus
The women benefiting from Mulheres Mil project in Amazonas are former
inhabitants of houses in a flooded area called “palafitas,” something common
in the North Region where many families have built their houses over rivers
and mangrove beds. The lack of sewage facilities or garbage collection, as well
as regular flooding, make the housing conditions deplorable and threaten the
health of the inhabitants.
In order to remove families from these risk areas, the state government of
Amazonas has built new houses, with basic sewage and residential condominium
infrastructure through its Manaus Wetland Social and Environmental Program
(Prosamim). The women who live here are poorly educated and have children
to provide for. Many were born in other Brazilian states or other municipalities
in the same state. Many of them have life histories of abandonment, violence
and child labour. They have a common need to improve and guarantee their
family income.
Besides the housing problems, a lack of professional qualifications keeps the
inhabitants unemployed or under-employed. This was the background that
prompted Prosamim and the Amazonas State Federal Institute to cooperate
in offering courses to train professionally-qualified employees for the tourism
industry. The institutions worked together to ease the adaptation to new the
homes that is crucial to allow the women to find work and earn an income.
The tourism industry is expanding in Manaus and there is a lack of qualified
employees for in sector. The course in chambermaid skills offers an important
opportunity for these women to develop professional skills.
To contribute to the relocation process, the course included Environment and
Interpersonal Relations to help focus on living sustainably and functioning well
in their new environment. The professional internship is an important part of
the course as it is the time when they learn the work routine and can obtain
a position at a hotel. This was the means to entering the workforce for many
students. As well as finding positions at
hotels, some students have also found
work at motels and apartment hotels.
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Janaína Tereza Lessa da Silva
Making dreams come true
Thousand Women
Janaína Tereza Lessa da Silva, age 35, is celebrating her return to the labour
market. Her new profession as chambermaid opened the door to a full-time
job. She was hired by the same hotel where she had her internship, as she had
hoped to be. Being employed, she plans to continue upgrading as she is certain
that she is in a sector that has a promising future.
I am working at the Caesar Business hotel.
I had my practical training there
and they hired me.
After the internship we had an interview with the Human
Resources department. Then they asked for our documents and CVs. I
didn’t have my worker’s card number with me, so I went there Saturday
to give it to them. When I arrived, she said, “It’s good to see you. I was
going to call you. You are hired.” I cried so much; I really wept. My
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Thousand Women
Making dreams come true
Some
friends of mine
wanted to take
it but could
not as they
don’t live
in Prosamim.
I’m certain
the course
would be
jam-packed.
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daughter was there with me. It was hard; I spent almost two years with
no work.
The first person who I told was my father, because he was the one
who encouraged me the most. I said, “Guess what? I was hired for a trial
period of three months at the hotel.” He cried and said that I should never
give up my dreams.
It’s a little tiring but it’s good. It is good to work there, people are
nice. I’m learning more as there are always details we forget. But there are
people there coordinating and little by little I’m getting used to it, and I’m
not forgetting the details anymore. Small details that we must not forget;
but there are so many things to tidy up that we don’t remember everything,
but now it’s getting better.
The teachers at the Federal Institute are amazing. They really are.
The course itself is very good. I have already recommended it to other
friends. I learned a lot; Portuguese language mistakes that we make in
our daily life, how to behave, and English as well. Now and then I use it,
because whenever there is a guest who only speaks English, we need to
communicate somehow. So I try to remember some phrases and try to
communicate. The course prepares us. Anyone works hard and completes
the course will certainly find a position. I am going to take another English
course this year.
Now, a way to improve the course would be to open it to the public.
Some friends of mine wanted to take it but could not as they don’t live
in Prosamim. I’m certain the course would be jam-packed. Many people
would like to take it, people my age, 35, who can’t find a job and who would
like to take the course because it offers a chance to get work. At the hotels
When you’re unemployed, people kind of forget about you.
They don’t think about you, they don’t respect you.
where some former classmates work there is always a vacancy, but there is
no chambermaid course available. It should be national, open to all women,
because many women really need a professional training course nowadays.
When you’re unemployed, people kind of forget about you. They
don’t think about you, they don’t respect you. Now people respect me
again; they see me in a different way. Things have gotten a lot better,
because people show more respect, people start respecting you again.
I worked as an administrative assistant at the City Hall for 10 years.
I have worked as a receptionist and a telephone operator; and as a dentist’s
assistant as well. So being chambermaid had never crossed my mind, but I
did do cleaning in other people’s houses. But chambermaid…they actually
don’t like us to call it chambermaid; they prefer ‘apartment attendant.’
The way I see it, it is good, and now I am going to take the
supervisor course, because I don’t want to spend the rest of my life being a
chambermaid. The course is about to start, at Senac, on being an apartment
supervisor. It starts in March and I have already enrolled.
I completed high school; I even completed the second semester at
the Physical Education faculty. But then my mother died and I had to stop
going temporarily, and then I didn’t feel like starting over again. It was
very hard because my father and I were not very close as he worked all day
long, he would always be out. But not today, he’s my best friend and we get
along very well. When I finally decided to return to college, there wasn’t a
way to continue at the faculty.
I can say I had a good childhood, I played a lot. I played with dolls
until I was 15. I went to school, I completed high school and then I passed
the admission exam to college. Then I had my daughter when I was 23.
I’m kind of married, we consider ourselves husband and wife, but I have
my own home, my apartment. I spend more time at his place because
my brother lives with me, and he doesn’t
work, he’s unemployed. And besides, he
is really into drugs. I work all day long,
and I don’t like leaving my daughter
alone where I live. So she spends most of
her time with my husband.
There are many hotels that need
a professional chambermaid, someone
who has a diploma. In the two months
since I’ve started working, people have
asked me: “Janaína, do you have a job already? At the Adrianópolis hotel, there is
a kind of a condominium that is looking
Making dreams come true
Thousand Women
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Thousand Women
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Making dreams come true
for a chambermaid.” So I told them about other colleagues I
know who took the course.
Now I see that there are many vacancies, because
I’m in this industry. But for those who haven’t taken the
chambermaid course, they have no idea that hotels are
looking for chambermaids. When you take a course like
that, you get involved in the industry and you get to know
who’s looking for a professional and who’s not. You get to
know people who will recommend you and then you get a
job. So this chambermaid course really helps.
I’d like to go to college to study pharmacy. But first I’ll first enroll
in the course for apartment supervisor, which is above chambermaid, as
many hotels don’t have one that and there is a lot of demand. I don’t
want to be only a chambermaid, I want go further, but I must study to
make it possible. And that is what I’m going to do: I’m going to study. I’ve
already lost too much time, so I want to study. I want to take a university
preparation course. I want to learn English, to update my knowledge on
Information Technology because I’ve already forgotten some things. I
want to learn English, at least the basics, and I should do it now while I
can afford it because I’m working.
If I don’t stay there at the Caesar, there is already another job for me.
I’m waiting until the end of my trial period to see if I’ll be hired or not. If
I’m not hired, I’m not worried, because there will be another opportunity
waiting for me.
There are many opportunities for chambermaids, and especially for
those who have a course. It is never too late. And now that I have the
chance to do something to improve myself, I’ll do it. Things can get hard...
What I say to my workmates and to my husband is, “You need to study,
to take a professional training course. Nothing is more important than
getting an education.”
Osmarivete Carlos de Souza e Silva
Making dreams come true
Thousand Women
Osmarivete Carlos de Souza e Silva is 39 years old and has three children. She
works at the Adrianópolis hotel and is determined to change her life. When
she began professional training in 2008, she did not have anyone to leave her
children with and for some time had to bring them with her to the classroom.
For Osmarivete, it made the training especially difficult. But now, as well as
an identity card, she now has another important document: her worker’s card.
I have grown so much that if you could
see the woman I was, you would notice a
real difference.
I take more care of myself. I pay more attention to myself. I know who
I am and I know what goes on around me. I know people are watching me
and I am aware I am changing, that I have already changed. I needed a boost
of courage, needed someone to give me a shake and say: “You exist! You are
real!” I believe this project was a boost of excitement. It was what I needed,
but didn’t know how to get. So when it came I seized the opportunity.
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When we lived on the wetlands the postman almost never
showed up. Today we have a fixed address, which is very important.
1. Word used in the Amazon
to define coal production.
2. Long-legged mosquitoes.
Today I’m a woman in the labour market. And that was an important
change to me. I can say that I have another identity called a worker’s card. I
had worked before, but I was self-employed, doing this and that, but I had
never had a regular job with an employer signing my card.
I started working when I was seven, helping my mom. We lived in
the country most of the time, so my mother did a lot of ‘caieira1,’ charcoal
work. My mother had many children. She had 16: four of them died but
12 are still alive. So she had to do all kinds of things to help my father.
When I was 10 she changed jobs and went to sell food on the streets.
The course helped in every sense. It raised my self-esteem and
deepened my perception. I was a reserved woman, always at home, always
thinking about today. I couldn’t think about the future. And the Mulheres
Mil project couldn’t have come at a more propitious moment in my life. I
needed something like this. I was in a situation where I didn’t know where
to run. Me and my husband were going through hard times. There was
really no one I could ask for help.
When we lived on the wetlands the postman almost never showed
up. And in order to get any document you need to give an address. Even
to be given a job you need to have an address. When it rains you don’t
sleep, you stay awake all night. You simply cannot know you’ll be alright,
that you’ll be safe. Many times when someone asked me where I lived, they
would look at me and say something like, “You don’t exist, you have no
fixed address, no known address!”
Today we have a fixed address, which is very important. There is no
need for my children to rush, or for me to worry, because I don’t have to
worry when it rains. Everything has changed. Before, besides having the
problem of being surrounded
by water, there were also the
rats and, along with them, the
carapanãs2 that would come,
and it is impossible to sleep with
so many of them.
In the Mulheres Mil
project I felt important surrounded by so many people.
Wow, I’m taking a course
at the technical school! And
people, didn’t believe it, and
would ask, “Are you really taking your course there?” So I
would feel well, welcome, and
if on a certain day I couldn’t come, I would get worried. I think I was absent only three or four times.
I can really say that it prepares you for the workplace, and I’ll
keep saying it. When you get a job, the first thing you remember is each
instruction they gave you. So you start doing things and by doing them,
you remember. So you learn in every class, even in chemistry, and you
remember what you learned when you are about to mix certain substances
and you remember you can’t, because it might harm you.
Today I feel I am important, that is how I regard myself. I don’t
have a credit card and, for God’s sake: you have to use it wisely if you have
one. I am more cautious now than I used to be. So I get the pay and say
to myself, “No, I’ll spend it on what I really need. I won’t just waste it. It
is not that much and it must be spent on something I need, something
which I need most.”
When I went to the hotel, they didn’t want to give me the position
because all I had was the certificate. So I said, “But I’ll only get experience
if you give me a chance; and there is nothing I cannot do.” Skills are
something we develop as we get experience and today you can see I do
what I’m capable of, I do what I can. The hotel has an occupation rate of
100% and we’re there.
I have money of my own and I can help at home. My children really
went through hard times, without anywhere to play, and the little I could
do didn’t help. Now what I manage to bring in is enough to do something;
it is not that much, but there is enough.
Making dreams come true
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In the
Mulheres Mil
project I felt
important
surrounded
by so many
people. Wow,
I’m taking
a course at
the technical
school!
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I can say today that I have a
future. Is it still a challenge? Yes, I
know it is hard, but I’ll get there. I
want to be a nanny. They don’t have
that course yet, but I’m keeping an
eye out for it and am already learning
something about it. I want to take
an English course and become more
qualified in the sector I’m working in now.
This project that I took part in is meant for any woman who has
no prospects, who lacks confidence, any woman who isn’t valued by her
husband because he doesn’t say nice things about her, as he treat her
however he chooses. This is the kind of woman this course is meant for,
women who really need help, who need support, like I did.
Cleonice
BAHIA
Maria das Graças
Thousand Women
Making dreams come true
Salvador
Vila Dois de Julho and Jaquaribe II are neighboring communities in Salvador
with similar challenges. They have no sewage network, poor infrastructure, the
streets are unsafe and violence is omnipresent. There are no areas for leisure:
there are no squares or meeting places.
The neighborhoods were originally laid out as subdivisions but, at the beginning
of the 1990s, were inundated with families coming from other areas in the
capital city and the interior who crowded into the area and squatted. This kind
of neighbourhood is the reality of many of the women involved in the project.
The lack of schools in the rural areas and widespread child labour are the main
reasons these women have such poor educations. This has made it harder
for these women to join the labour market. Many of them are the heads of
families and are informal market workers or unemployed. Most of them work
as housemaids or general labourers.
The Federal Institute of Bahia faced many challenges implementing the
Mulheres Mil project, primarily because of the violence in the communities and
the difficulty overcoming colour and gender prejudice in the tourism industry.
In order to remove barriers, the IF designed a new course: caregiver for elders,
which has considerable labour market potential. According to the Brazilian
Institute of Geography and Statistics (IBGE), in 2008, for every 100 children
under 14 there were 25 seniors aged 65 or older. Inn 2050 it is forecast that
there will be 173 seniors for every 100 children.
In both the chambermaid and housekeeper professions, students are finding jobs
in the labour market. For many women, training in health is guaranteeing them
a new professional level of work, with better job prospects and higher pay.
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Cleonice Ferreira da Conceição
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Thousand Women
Cleonice Ferreira da Conceição is devoted to Our Lady of Livramento (Our
Lady of Deliverance) and plays an active role in the Catholic community of the
Jaguaribe II neighborhood named after this saint. There were two moments in
her life when this devotion of hers helped: when her husband had an accident
and when her brother was hit by depression and disappeared for a period of
time. At 41, she is struggling to return to work. Her goal now is to find a job
as caregiver for elders. Her dream, which was born when she completed her
teacher’s course, is to study pedagogy and then truly be able to give classes.
It exceeded my expectations because
it completely changed my life;
even the way I think,
the way to interact with others. That is something they really focus on: that
we should have more self-esteem. That we should look after ourselves.
When I started the course, I felt I was useless. I would send my CV and
then wait for someone to call me so I could work again, but no one would
171
Thousand Women
Making dreams come true
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1. IFBA – Federal Institute
of Bahia.
call. They say, “Your CV is great, but
you lack the profile the company is
looking for.” Even in retail, where I
worked before as a supermarket cashier, they were only hiring people 27
years old or younger. So you begin to
think, “I am strong. I am brave. I have
the will to work and I am not given a
chance only because of my age!” And
so you feel bad because you only feel
good when you are working.
When I started taking part in
the meetings on self-esteem, things
started to change, because there they also focus on the spiritual aspect. They say
that you’re a being of light, that you’re important, and then they also address
issues of childhood, family issues. They also talked about detachment, and
about people not giving up, so that strengthened my self-esteem. So when I
went to Cefet (the federal institute), that was when I got rid of my depression
for good. I was aware it was a course for becoming a caregiver for elders, but
didn’t know that it would be at Cefet and that there would be grants.
The classes were very dynamic. As for the teachers, if I had to give
them a grade from 1 to 10, I would give 10 to all of them. I liked them all.
We had first aid lessons, which were important, we acquired knowledge
on many things we had ignored before, like how to prevent accidents. I
learned about depression, about Alzheimer’s disease, which strikes people
over 60 years of age. I learned how to take care of sick people, how to
identify symptoms.
And then there were the workshops, the crafts one as well. We got
together to make gift boxes from recycled milk cartons. You coat it, you
trim it with a tape and then it looks beautiful. We learned to paint, and I
even took part in the IFBA1 Christmas Fair selling our recycled products.
We also had classes on solidarity economics with teachers who are
experienced in running cooperatives. Now we are considering creating
a recycling cooperative; we are looking at this idea. Not everyone was
interested, but three or four are interested in discussing it over. We have
to complete our internship period and get our certificates and then we’ll
start thinking about it again. The teacher said he will guide us. They told
us that the moment we decide to talk about it again, they can come to the
community and explain how it works.
I feel I’m prepared for the labour market. My broader objective is
to be back in the labour market. Expectations are high because it will be
After the course I became a stronger person,
someone with more hope.
in the internship that I will apply what I learned in the classroom. My
goal today is to find a job because we need to work and, in the future, do
something that may help people. Perhaps to work as a volunteer with the
Mulheres Mil project as well. And I can help the people I live with as well,
because at home there are three older seniors, my mother, 61 years old, my
father-in-law, who is 67, and my mother in law year who is 62.
There are certain people I already knew by sight, but had no contact
with. So that was one of the positive things about the course: being able to
get to know certain people, people I would only know by sight. Then we
became friends, and I discovered that they’re great people. There are people
who I found like the same things and I know it’s the kind of friendship
that lasts for a lifetime.
After the course I became a stronger person, someone with more
hope. I think I became someone much better. I’m still a woman with many
dreams, that I haven’t managed to fulfill in my life yet, but I haven’t given
up, I’m struggling, going for it, and I’m certain that I’ll fulfill my dreams. I
know I can’t just sit and wait for things to happen, I have to make it happen.
And then there is this professional training which I need to complete and
also the dream of going to college, to get a degree on pedagogy.
I like the song “Emoções,” by Roberto Carlos, because when I
graduated from high school, during the ceremony, they played it, and it
says, “Being here, at this beautiful moment.” So my life passed through my
mind like a movie. I had no one to help me with my homework. It was
hard. I would normally ask a neighbour to help me.
When we’re children we dream of so many things, and my dream
was to become a pediatrician. And you know, families not so long ago
had many children. At home we
were nine children. And the older ones had to work to help raise
the younger ones. Because I’m the
eldest, I began working very early,
I’ve been working since I was 13.
If I hadn’t been working I wouldn’t
have been able to finish my secondary school.
I went to work at a family
house, where I stayed for five years.
When I finished my secondary
studies, I went to a teachers’ college. But when I went to get my
certificate, I discovered the course
Making dreams come true
Thousand Women
173
Thousand Women
174
Making dreams come true
I think we
must never
give up on our
dreams, we
must fight for
them, always
go for what we
want.
was not official. And the bureaucratic red tape took so long; it took me
almost six years to have my certificate recognized. When I finally managed,
I was already outdated, I couldn’t teach any longer. Now, if I want to teach,
I would need to take a course on pedagogy, which is what I am trying to
do. I am waiting for my situation to get better.
I think we must never give up on our dreams, we must fight for
them, always go for what we want, because many people have dreams
but don’t have a chance to make them come true. Mulheres Mil was an
opportunity for me, and it has given me this chance to have dreams again
and to try to achieve my goals. The message I want to pass on is this one:
that people should never give up their goals, they should never think it is
too late. There is always time to start over.
Maria das Graças Paula
de
Jesus
Maria das Graças Paula de Jesus is 51 years old and has worked as maid,
nanny, car washer and construction worker. Now she is starting on another
professional path as caregiver of seniors. She likes going to church on Sundays
to pray to her namesake Our Lady of Grace (“graças”). She lived in São Paulo
for a few years looking for better work. She doesn’t like where she lives because
of the violence but stays because she inherited the house she lives in from her
mother. One of her goals is to improve her living conditions so she can leave
something better for her son and grandson.
Making dreams come true
Thousand Women
1. The Plataforma borough is
located in the railway suburb
of Salvador, and it’s bathed
by the waters of Enseada do
Cabrito and Baía de Todos
os Santos.
The love of my life was my first boyfriend,
from the Platform1 itself.
I was 18, we were together for something like two years and then
it was over. I think there is only one love. Your heart has to love a single
person, because that is how it was: when I would see him in other places,
with other people, I felt like dying. I would tremble, I would feel horrible;
everything would freeze. He is still alive, but he won’t talk to me. He
175
Thousand Women
176
Making dreams come true
I always told my mother that I would like
to do something like that, to study to become a nurse.
is married and has children. They’re already adolescents, but
even to this day, when I go to Plataforma sometimes, I still
feel something. So that is what I recognize as love.
The course happened like this: there was a teacher taking
enrolments at the Father Hugo school, and a girl who lives on
a street nearby came and told me, “They’re taking applications
for a course, but you need to go there to get information
because they will only accept 40 women.” So I went and was
told that it was for taking care of the elderly and she gave me a form to fill
in. They wanted us to describe our house, to say if there was a wall, if there
was a floor, if it was not a dirt floor. I filled in the form and left my phone
number. They called me three days after that.
I always told my mother that I would like to do something like that,
to study to become a nurse. But I couldn’t make it. This course is giving me
a chance. I can already gauge someone’s blood pressure, I can see the body
temperature, I can give medicine. I can do those things the right way. So
I’m really close to what I was looking for. I haven’t got as far as I want yet,
but I know I have already achieved something.
I liked it a lot there. I expected something worse, thought it would be
boring, but then I thought, “It’s free, I’m not working anyway and I have to
keep my mind busy with something.” So I went. And I also enjoyed it because
I got to know other people. The teachers are very good. I learned something
about life; I learned how to get along with people. I used to be tense, quite
angry. I got sort of angry after my mother died and my son got ill. But during
the course, I would leave here and hurry to the school, and it was great.
And we also learned about detachment; that people shouldn’t feel
attached to everything, that one should be able to be detached from things.
That was when I really started going frequently. Because I was sort of a rebel,
I had many problems in my mind, but then it got better. I became more
patient, got more detached from things. I didn’t get so worried anymore.
I’m a lot better now. I feel like I’ve become a new person and I owe it to
this course. My relationships with other people got a lot better, my life got
better. I know other people now. I have a job; so things have gotten better
for me. I’m buying stuff and paying my bills.
I only got this job because of the course, because of the quality of
the course, because to get this job you have to take the course and get the
certificate that proves that you can really take care of an elder. When I went
to apply for the job, the first thing the woman there asked was, “Have you
got a certificate?” And I answered, “I do!” “Have you got the manual?”
and I said, “I do!” The manual tells us how to deal with an elderly person.
Before I knew it, I was working.
At first I would get nervous. I would swap medicines and would
tremble if I had to give insulin, but that was only for the first three months.
Now I can do it with my eyes closed. And it has been a year since I started
working there. The old lady I take care of has diabetes, hypertension and
thyroid problems. Most of the time she just sits and she doesn’t bother me,
doesn’t get me nervous. She’s wonderful.
I started working as a nanny in a house when I was nine years old.
Then I left and went to take care of my brothers and sisters. My mother kept
having more children, so she had to work out of the house, and it was me
staying home and taking care. I was left with no time for an education.
After growing up and moving here, I made an application for the Vera
2
Lúcia school and studied for another two years. When I was going to complete my third year, I moved to São Paulo to work there. But I came back because my mother had a stroke. I really enjoyed São Paulo. You have the opportunity to study and work; it only depends on you. I have many friends there.
Making dreams come true
Thousand Women
It was a
good feeling
(coming to
the Mulheres
Mil course)
because I
lived so long
without
learning
anything,
and now I’m
learning again.
2. The Vera Lúcia Cipriano
school is in the Nova Brasília
borough within Salvador,
where Maria das Graças
lived before moving into
Jaguaribe II.
177
Thousand Women
Making dreams come true
3. The National Institute
of Social Security (INSS) is
an independent organism
of the Brazilian Federal
Government that receives
contributions for the
maintenance of the General
Regimen of Social Welfare,
being responsible for the
payment of retirement plans.
178
If I was a little younger, I would study, I would take the admission
exam to do the nursing course. The only thing that stops me from doing
that is that my sight isn’t good anymore; and I don’t have the mindset
anymore, and I’m too old. But if I could, that is what I would like to do.
It was a good feeling (coming to the Mulheres Mil course) because I
lived so long without learning anything, and now I’m learning again. We
had Math class, on the cost of living, how to live on what we earn, that
kind of thing. And we had classes on how to take care of elders, first aid
lessons. They brought a needle with a syringe so we could learn to give
insulin, they told us about blood pressure, how to gauge it. They told us
about how to deal with diabetes, about what can happen.
At recycling class we learned how to make soap. We had a class on
breast cancer, on uterus cancer, those kinds of things – how to examine
oneself, the importance of getting medical care. Now I take better care of
myself. My classmates also thought the course was very good; it changed
their lives too. They also learn a lot. Some of them are looking for jobs.
In the future, I plan to fix my house, to put a proper roof on it –
so I can leave to my son and grandson when my days are over. It’s quite
small - there is only one bedroom. I’m paying for my INSS3 (The National
Institute of Social Security), so I can retire someday when I get older. So I
have to work now.
I have already done the internship, and I have my seniors’ caregiver
card. They signed my card, I have done the internship and I’ve been doing
things the right way. If I find another job with better pay, that would be
nice. But I like working here.
Ilda
Ceará
Selma
Thousand Women
Making dreams come true
Fortaleza
In books on the history of Ceará, the first mention of Pirambu is in1932,
when a drought devastated the Northeast region of Brazil. At that time, a
concentration camp was established called the Camp of Pirambu or Camp of
Urubu (“buzzard”), where the drought victims were taken and provided some
care and food, and could work, but always under the observation of guards.
Decades went by, and the neighborhood grew with the influx of people from
the interior of the country. It became organized; neighborhood associations
were created that maintain an active dialogue with local authorities. However
local residents are still marginalized. Women born in the 50s, 60s and 70s,
some of them students in the project, live in makeshift mud houses and have
no opportunity for professional or higher education. At most they may have
completed secondary school. As adolescents, many went to work in the chestnut
processing plants that surround the neighborhood. They would then marry and
have children, only to discover the importance of education once they were let
go from these jobs, a seasonal occurrence in this industry.
Today, Pirambu is one of the largest neighborhoods in Fortaleza, with over
300,000 inhabitants or almost 10 percent of the capital city’s population, which
today is over 3.2 million. It accounts for one of the highest population densities
in Brazil with more than 40,000 inhabitants per square kilometer. As with other
neighborhoods on the periphery of large urban centers, residents have to cope
with violence, drug trafficking and prejudice. And more and more women are
the sole providers for their families.
With a location already in the neighborhood, the Federal Institute of Ceará offers
professional training in the tourism and food industry. The Institute established
a partnership with a local tourism authority to offer internship opportunities
that have become an integral part of the curriculum, and to open doors to the
labour market. With Fortaleza being one of the host cities of the 2014 FIFA
World Cup, the need for a qualified workforce in this field is growing. Former
graduates are increasingly being hired as chambermaids or in hotel kitchens.
180
Ilda Maria Vital de Oliveira
Making dreams come true
Thousand Women
Ilda Maria Vital de Oliveira, is called “the Obese,” an affectionate nickname
given by her colleagues due to her slim body. She is the thinnest of the
chambermaids and her story shows us how access to education can change
reality. Ilda is an inhabitant of the neighborhood called “vixe,” a pejorative
expression that is used by the people of Ceará when they come across someone
who lives in the district of Pirambu. She really believed she could change her
destiny, and she did it. At age 40, she left unemployment behind and today
works at the Holiday Inn.
When they called me saying that I would
have to be at the Holiday Inn at a certain
day and time, I got dressed up, and I went.
When the lady asked, “Where did you take your course?” I replied, “At
Cefet” – “Which Cefet?” – “’13 de Maio’ Street.” It is a really great reference
that helps to open doors.
181
Thousand Women
182
Making dreams come true
When I worked at Iracema, at the chestnut processing
plant, I had just a small salary.
When Muheres Mil came into my life, I was really down. My son
was in jail, I had been unemployed for almost two years and my husband
had lost his job too. We were a burden on my mother. But I said to
myself, “When I finish this course my life will get better, because I’ll be
able to look for a job.” And it worked! It has been a year and a half since
I came to the hotel.
When I worked at Iracema, at the chestnut processing plant, I had
just a small salary. I didn’t have medical or dental insurance of any kind.
After I took the course and came to work at the hotel, my life got 100%
better as I earn much more than a salary. I now have health insurance and
a dental plan. My children, who had dental problems, have been able to
get their teeth fixed and me as well.
My mother had the same job as me, working with chestnuts. We
were five children without a house of our own. I remember us living in
a wooden hut with no stove, just a portable wood stove, without any
prospects whatsoever. My grandmother was blind and would wake up very
early to light the wood stove and the house would fill with smoke, then
she would cook some beans. Sometimes she would cook an egg only with
boiling water; it tasted horrible. And then my sister and I would leave to
bring lunch to my mom; and it was very far. I never had any news about
my father.
I wanted to be able to one day say, “I left Iracema.” My sister is still
there, and there are days when she comes home exhausted, with a lot of
back pain because she has to work hunched over, separating almonds from
their shells and peels. She’s 36. And then I tell her, “Girl!
Take the nursing or the chambermaid course because
they’re really good and the life at the hotel is completely
different”.
And it’s so good when we arrive for our shift,
everybody’s in the cafeteria having coffee, then everybody
goes to the changing room to change, put on their makeup, fix themselves up and get ready. And then everyone
gets their cart, the work plan, the key and we all go to our
floors. Sometimes after our shift we complain about being
tired, but then we shower, we relax and go down the stairs
to go home, and we feel relieved, something good. I find
it really good.
During the internship, I wasn’t sure if I liked it. On
the first day I thought, “Boy, this is tiring!” I thought I
wouldn’t make it. On the second day it was the same. But
on the third day all went well. I finished my internship on
a Friday and by Saturday I was already sending out my CVs to hotels and
businesses. Two other hotels have called me since, but I’ll stay where I am. I
already have a permanent job. The employment market for chambermaids
is very good at the moment; as it is for seamstresses.
Education changes people. I also started studying again because
of the project, because my friends said that the project wouldn’t take
anybody who only had elementary school. That gave me the strength to
face problems. It used to be very hard. The day of the interview I had a big
headache, but my husband really supported me; he told me not to give up.
And my son is alright now.
Everything I learned at the course I use at work: information
technology, Portuguese, the chambermaid training as well. Even though
I only learned the basics of informatics, it helps a lot. The little I know –
how to access the Internet, how to go on the computer to see how many
rooms are clean – helps. People at the front desk call and ask me to open
the computer and see the status of a room, if it’s dirty or clean. So I open
the computer and check it out. It is very important to this business.
Math helps in certain aspects, but Portuguese is really important
because we have to fill out a worksheet indicating if the room is occupied,
clean, vacant or dirty. We may come into an apartment and find that
the guests left their things there, as they usually do: like a watch, a ring,
those kinds of things, an open suitcase, I have to write it all down on my
worksheet. English classes also help. There should be more English because
currently there are not very many hours on this.
Making dreams come true
Thousand Women
I finished
my internship
on a Friday and
by Saturday
I was already
sending out
my Cvs.
183
Thousand Women
184
Making dreams come true
If I could relive something, I would do the course again. The best
memory I have of the classes was interpreting texts. We did a play with music;
it was like we were living the characters. It was one of the best classes.
At the Institute they really make you feel welcome. I would sometimes
feel inferior to others because we would see all those students and we
thought they were rich. We live by the beach. But to be inside that centre,
surrounded by so many adolescents, we began to think we have a future
ahead of us... I would sometimes be afraid of going to the bathroom. But
then I would think, I managed to get here…
The graduation ceremony was so good, we were called in front of
everyone to receive that certificate, that diploma. That was really good! We
felt so important, like someone who could say, “I won! I made it to the end!”
Now that I’ve finished the course, I have more freedom. And I have
the will to do something when I decide to do it. For 2011 my plan is to
specialize. I’m thinking about completing my third year and starting a
course in advanced IT. That’s the goal and I’m taking an online course
called ‘How to properly host the World Cup in Brazil,’ which is preparing
all the hotel industry personnel for the 2014 World Cup.
I would give the course the highest grade. One thousand for One
Thousand Women! And those like me who really want to get somewhere,
if they really apply themselves, they’ll succeed like I have. I don’t want to
quit being a chambermaid. I’m fulfilled!
Maria Selma da Silva
Making dreams come true
Thousand Women
For the past 15 years Selma has taken care of Davi, her eldest son, who was
born with brain paralysis. In 2008, she began to prepare herself to say goodbye:
she took the chambermaid course and started her education over. In July
2010, Davi passed away and in October she began to work at the Holiday
Inn recommended by a Mulheres Mil classmate: Ilda. About the past, she says
she has a clear conscience because she accomplished her mission. Regarding the
future, she is sure that she is capable of re-writing her story and taking care
of her youngest son, Danilo. “This Selma is very different from that one who
came into Mil Mulheres. She is dynamic, a different woman, a woman who
knows what she wants: Selma wants to work and be happy.”
It was incredible! As I said the first time,
the girls at home laughed when I told them
what I had said in my interview, that I was afraid of computers. It’s true;
I wouldn’t even go close to one, I was scared to death. My mother would
say, “Girl, it’s a thing from another world. It is something from the end of
185
Thousand Women
Making dreams come true
I have an
Orkut (social
network) page
and an e-mail
address as
well. I created
it as soon as
soon as I left
the project.
186
time because it knows our whole lives.” And it’s true! Do you want to see?
Suppose you’re in an apartment, you finish cleaning and you press ‘clean.’
‘Clean’ is the code you have to type. So the supervisor downstairs knows
where you are, where you came in. When you put the key in the lock it
shows on the computer. Everybody knows what time you came in, how
long you stayed. So the computer knows it all (laughs). I have an Orkut
(social network) page and an e-mail address as well. I created it as soon as
soon as I left the project.
It is a huge challenge, a very intense one. We work a lot, the routine
is hard, but when we like what we do, we continue. We close our eyes and
we embrace it with all the love we have, with all the tenderness, because
we’ve trained for this, it’s what we wanted. At least in my case; it’s what I
trained for from 2008 to 2009.
I was apprehensive, nervous, I knew I would start working. I knew
my employment card had already been signed because, when I went to be
interviewed, both because of the Mulheres Mil project and because of the
certificate I had earned, I knew I was already hired. I was so emotional
that I hardly could take any of the tests to enter the company. My blood
pressure got high and the doctor got a little concerned, but it all went okay.
My heart was beating so fast because I knew I was ready and I knew I what
was waiting for me, but then I went in there with all my heart, with all my
strength and I faced up to it. I like it a lot; I love being a chambermaid.
It’s been three months since I was hired, with a signed contract
right from the first day. Everything is great because we meet a lot of nice
people, people from other states and we discover a whole new world.
During the project we learned the theory, but when it comes to the
practice, it’s really good.
The first time I worked with an employment contract was when I
had my son. I stopped working for 15 years because of Davi’s problem.
He was a baby. I knew I would lose him, I knew one day I would have
to work, but then my work was to look after him, to the point that I was
paid an allowance to take care of him. It was pretty much the only income
for the household because my husband really didn’t help, just to say that
I had one. I left my husband to take the course, in order to live, because
I felt trapped.
I participated in the project and I also started to study. I went to the
1
EJA and completed my elementary school. Secondary school studies are
still in progress. I had only made it to the fifth grade. At that time it was
enough. My mother always said, “Have you learned to read and write?
Well, that’s enough!” We only needed up to fifth grade because we had
learned to read, write and do a little math.
I started to work at a hammock factory when I was 14, where I
would do laces and braiding. At that time, hammocks were hand made.
My mother would always make us do something, because we were five
sisters and four brothers. It was a big family. Only my father worked and
my older brothers worked with him.
I feel very important having participated in the Mulheres Mil course.
It helped a lot. I learned that we have to have a positive attitude in life, that
we have to take care of ourselves, that we have to value our life because it’s the
only one we have, and we need to live for the moment before it’s too late.
There are many unemployed women in our country and this project
is the starting point for them to get ahead and win, because it is a wonderful
project. I met one of the girls who is taking the course on the bus, and I
recognized her because of the Mulheres Mil t-shirt. I had been working at
the hotel for a few days. She looked at me and smiled. I didn’t know her,
but she knew me. “Aren’t you Selma?” Then I said, “You know me from
the Mulheres Mil project, right? Listen, you need to continue because this
project is really good and it opens doors.”
Mulheres Mil was my key
to open the door to a new beginning, because I was kind of dead
and all I would do was watch soap
operas on TV, one after the other.
When I opened my eyes, my life
looked like a soap opera. And I
thought, “Hey! Wait a minute! I
have to turn the page.”
We think we are not capable
of rediscovering ourselves, but we
find that we’re capable of doing
things. We can discover things
we never would have imagined. I
We think
we are not
capable of
rediscovering
ourselves, but
we find that
we’re capable
of doing
things.
Making dreams come true
Thousand Women
1. EJA – Education for Youth
and Adults.
187
Thousand Women
188
Making dreams come true
2. The National
Examination of
Secondary Education
(Enem) is an individual
examination applied
all over Brazil to
assess the knowledge
of students who are
graduating or have
finished high school.
With this exam, students
can apply for a slot in
federal universities and
institutes, and also for
a scholarship in private
institutions.
often felt inferior, but the project helped me, because we know we have
strength, we just have to learn how to use it. And the project helps us to
teach as well, as it is not only a matter of giving advice, of reproaching, of
arguing, we also have to teach. The project teaches us many good things
that we then teach our children. I teach Danilo that he must never lower
his head for any reason, that he must never feel inferior. He can accomplish
anything he sets his mind to, because he has enough strength to do so.
Before I never would have thought that things could be as they are
now. To be paid money because you made the effort, you studied, you
practiced. Oh, it is so fulfilling! It was great to get that money and to
know: that now I can pay my bills – I used to have a pile of unpaid bills.
When my little boy died, the money stopped coming in.
The importance of Mulheres Mil in my life?! It was very important!
It was a unique and defining project. It defined our future, at least mine,
because life doesn’t end when you turn 40, life begins when you turn 40.
Life begins when you decide it does. And a woman always has to study, not
only at school, not only at the project, a woman must never stop studying,
she must be ahead of her time, because she can never stop.
I’m by myself in the changing room. I get ready and I look in
the mirror: “ah yes, it’s like that, now I can go to work because now I
am a chambermaid. I can achieve whatever I want”. This year I’ll finish
third grade, I’ll pass the Enem2 exam and I’1l enter the faculty of home
economics.
Raquel
Maranhão
Maria Rosilda
Thousand Women
Making dreams come true
São Luís
Located 20 km from downtown, the Palmeira village is one of the oldest districts
in São Luís. In the beginning, it was settled primarily by rural workers and
descendants of slaves, living on the outskirts of urban development. The region
was marked by disorderly urban growth caused by the rural exodus and led
families to build their houses on the banks of the Anil River, which cuts through
the capital city and was once the city’s primary source of water.
Part of this community is settled on the river’s mangrove swamp, which nowadays
is completely polluted. Many families live in subhuman conditions, in wooden
houses set on stilts over the swamp and surrounded by waste. A number of the
women who live here have had no access to education or professional skills
training. Many of them are single mothers who provide for their families by
working as cleaning ladies.
The food industry in São Luís lacks a skilled labour force and can provide
opportunities for these women to enter the labour force. The Federal Institute of
Maranhão therefore offers professional training programs in food conservation
for both prepared and frozen foods, and works with the manufacturing sector to
develop pathways for these women to enter the labour market. The project was
presented to a group of entrepreneurs who currently employ trained program
graduates. Another important step was the extension of the Mulheres Mil project
to offer courses on handicrafts at the city centre campus.
As for the graduates, some are earning their
income by preparing pastries to order, while
others have fulfilled their dreams of having
a steady job by working with the partner
companies. Many sell their wares in the
neighborhood itself and some worked together
to open their own small business.
190
Raquel Santos
Raquel Santos, 34, lives her life cheerfully. She likes to joke and laugh, and
enjoys being happy. Maybe that is why she enjoys the month of June
the most. It is a time of celebration in São Luís with many fairs, and
folk dancing such as the Tambor da Crioula1, Portuguese dances, Bumba Meu
Boi2, and square dances. In her youth, she took rhythmic gymnastics classes and
used to dance the Cacuriá folk dance, with its sensual choreography in which the
couples change partners and dance specific steps that change with the cadence of
the music. Full of plans for the future, Raquel has accomplished the seemingly
impossible dream of having a signed contract in her employment card.
Making dreams come true
Thousand Women
1. Literally, the Creole’s
drummer, Afrobrazilian
dance practiced by
descendants of African slaves.
2. Popular street folk dance
which depicts an 18th
century legend which tells
the history of the death and
resurrection of an ox.
I miss the practical and theoretical
classes, because they were so animated!
The one thing I don’t miss is math class, despite the fantastic teacher.
But now my skills are being put to the test because I found work as a
sales clerk, and since June I’ve been working as a cashier. The cash has to
191
Thousand Women
192
Making dreams come true
3. Bondiboca is a chain of
fast food restaurants in São
Luís which partners to
introduce students into the
market.
balance. So I am working on strengthening my math skills and hopefully
it will all work out.
I had already given up on many things. I would go this way and it
wouldn’t work out, so I would go the other way and it wouldn’t work out
either. I had given up on the idea of having a regular job because I was 32
years old and hadn’t found anything. I graduated from high school, I have
an elementary school teaching degree, but I always worked in community
schools. At the last school I worked for, I received 150 reals a month, but
from September to November there was no pay at all. I was not counting
on getting a regular job, because for the job market, it is not only your CV
that’s considered, but also your age. It’s not just experience that counts!
I joined the course to see what could happen, and if things could
be better for me, and it completely changed my life. I am working at
Bondiboca3, with a signed employment card, and on January 28, I celebrated
my one year anniversary of working there. That was my first achievement.
Now my work is beginning to become known. I make flowers and dolls.
I bought a washing machine with my first pay cheque. That brought
some relief, because I used to spend my days off washing clothes. I am now
saving to buy a refrigerator and a bed, to provide some comfort for me and
my children.
There are so many good things I remember… our class was very
good. I participated in the Cefet project thanks to a grant, and I worked
there, as well, in the human resources department. The grant money helped
me to provide food for my household as well as to buy material for making
the candy and the dolls that I would sell.
The Mulheres Mil project is very important as it provides an
opportunity for women who have given up the hope of finding something
worthwhile, because of their daily troubles, difficulties in finding a job,
troubles feeding their families, and because of the prejudice against
women. Yes, there is prejudice. Sometimes just being women was enough
to disqualify us from getting a job. We were discriminated against and
under-valued. But this project helps women to recover their self-esteem.
It motivates women to not let go of their dreams, their ideals, and to
continue to fight and eventually win. That is what counts most: the
enthusiasm to encourage a woman to recover her self-esteem, and for her
to say to herself: “I can, I can make it, I am capable, I am going to make
it,” and later, “I made it!”
I intend to continue my studies, to go to college, to get a degree and
move forward. As I am working in the food industry, I am very interested
in nutrition and in gourmet cuisine. I want to work. I want to succeed
and perhaps even open my own business, maybe making decorations for
children’s parties.
In the entrepreneurship class, we were taught to cherish every cent
we make. The instructor said that if we make one real per day, then we
should save 10 cents. We should always save and value our money as it
comes with effort. As I am planning on opening my own business in the
future, I have to cherish the money I make.
Despite the challenges I have already faced and those I still face on
a daily basis, I have nothing to complain about. I like forró music, samba
music, classical music, and even meditation music, with its sounds of water
and birds singing. The only music I don’t like is reggae. I also enjoy going
to the beach.
I met my husband because of an argument we had. We would have
preferred to see the Devil than to see each other. I was 19 when I got
married, and I was 19 when I had my first child. And I have been married
for 25 years. I really wanted the first child, but the other two were not
planned. I had three Caesarean sections.
My childhood was good. I was
born and raised in Vila Palmeira. My
grandmother found a piece of land and
I lived in my parents’ house with my
grandmother. I am the eldest of four
sisters. My father started working when
he was 13, washing cars at a gas station,
and he has worked there ever since. At
that time in Vila Palmeira, the greatest
difficulty was getting water; my mother
had to go out every day with a can to
fetch it.
The Mulheres
Mil project is
very important
as it provides
an opportunity
for women
who have
given up the
hope of finding
something
worthwhile.
Making dreams come true
Thousand Women
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Thousand Women
Making dreams come true
We grow
old the
moment we
stop working.
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I enjoy joking around a lot; you have no idea how much.
At work we play so many jokes that I say, “If my children ever
knew how I behave here, they would say, Mom, who would have
imagined you were so much fun!” I like to laugh with friends,
when someone has a funny story. Sometimes it’s something
serious when it happens, but then we all laugh at each other.
We have a lot of fun, and even at home with the children it is
like that. At first it’s serious, but then we start to laugh at each
other. That’s how I like it, it’s fun.
We need to set our mind to work on something. We
grow old the moment we stop working. If you don’t use it, you
lose it. The reason why I don’t look old is because I am always
looking for something to do.
Maria Rosilda Costa Castro
Maria Rosilda Costa Castro discovered her passion for cooking during
adolescence, already venturing into new flavors and mixtures. A churchgoing
Catholic, she took her husband to the altar last year and celebrated the event
using her talents to bake a cake. She is shy, and Rosilda’s challenge has been
to learn to accept payment for the products sold by Guloseima, the small
business she opened in 2010.
Making dreams come true
Thousand Women
1. A football team from Rio
de Janeiro. Also known as
Rubro Negro, it is the football
club with the greatest number
of fans in Brazil and the
world, according to Ibope
poll.
2. Fans of the São Paulo
football club, which is also
popularly known as Tricolor
do Morumbi.
I like cheering for Flamengo1, but I hardly
know any of the players.
Sometimes my husband asks, “What kind of a fan are you?” But I’ve
always liked the team, ever since childhood, although I’m no fanatic. I have
two sons. Lucas is 12 and Caio, 7. They are both São Paulo2 team fans. I have
been living with my husband for 13 years, but we only got married last year.
It was a collective wedding. It was great; I was moved, everybody was moved,
my sisters... It was so good, it was a dream come true! I baked a gorgeous cake.
195
Thousand Women
196
Making dreams come true
When I see those gorgeous cakes in magazines,
I fall in love. And I know I’ll get there.
I like to cook, I always did. I began when I was around 12. When
my mother would go to the kitchen, I would go with her. I was probably
the only one who cooked at my mom’s house. I liked to create, to take
a recipe and make something of it. Sometimes it would work and
sometimes not.
Taking part in the project was an accomplishment. I used to work
as a dental assistant, but only because I had to work, not because I liked
it. I worked in a dentist’s office for ten years, then I got tired of it. I would
leave home at 6:00 in the morning and not return until 9:00 at night. I
wouldn’t get to see my children, and I had no time to look after the house.
So I quit.
Drawing our life maps was interesting. Each of us has our own path
to follow. We have a view of our life from childhood to the present day. It is
interesting because we see the past, we see everything that was left behind
and what we can still try to find in the future. I made many drawings, I am
horrible at drawing, but I made myself understood. I kind of played with
it, showing what I would like to achieve, the summit I would like to reach:
to have a business of my own.
On my life’s path, I discovered I could still study, learn more skills,
be better prepared. My objective is to become an outstanding professional.
I want to specialize in preparing pastries. I love to make petits-fours, sweets
and cakes. When I see those gorgeous cakes in magazines, I fall in love.
And I know I’ll get there; I’ve already had two great successes.
I would make pastries for my friends, for their children’s birthday
parties, but I wouldn’t charge anything. People would ask me, they
would bring the ingredients and then say “thank you.” I didn’t do it
professionally; I couldn’t bring myself to charge them for it, I was hesitant
to do so.
It was only after the project that I began to value my work enough
to get paid for it. My self-esteem improved. I began to value myself and to
value the things I made, something I didn’t do before. I never knew what
to charge, but now I do. Today I can tell people what things cost and why.
I can justify the prices I charge.
The name of my small business is Guloseima. I was able to open
it with help from Sebrae3. Now I can expand my business and issue
invoices. The registration was issued quickly by the CNPJ4, and even
after 10 months, there are many benefits. You pay a fee of 57 reals, and
in 15 years you are eligible for a pension. I will work from home and I
am already receiving orders for pastries.
It is a good market and there are many people working in this area.
The market is open to everyone, but you always have to improve, rather
than always doing the same thing, you have to innovate. On average, I
make more than minimum wage each month. Some months I earn less,
but others I make between 700 or 800 reals.
I improved in many different ways; I got to know myself better.
Before, out of sheer ignorance, I thought I only needed to go to a doctor
when I was ill. But now things are better for me, for my sisters, for the
whole family, because today I encourage my sisters to go to the doctor for
regular checkups.
3. The Support Service to
Micro and Small Enterprises
(Sebrae) guides and promotes
events to facilitate the process
to start small businesses.
4. CNPJ - National Register
of Legal Entities.
Making dreams come true
Thousand Women
197
Thousand Women
Making dreams come true
This is due to our own will, because the course doesn’t give us
everything, we also have to make an effort.
Everything I learned to do improved my work – in terms of hygiene,
safety, preparation, entrepreneurship, and professionalism. All of which
added value to my product.
Today everybody works; only one or two of us are not working. This
is due to our own will, because the course doesn’t give us everything, we
also have to make an effort. It doesn’t help if you take the course and then
just sit back and wait.
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Aparecida
Paraíba
Marta
Thousand Women
Making dreams come true
Bayeux
The municipality of Bayeux encompasses the communities of Baralho, São
Bento, Porto de Oficina, Casa Branca, Porto do Moinho and São Lourenço.
There are no borderlines; they are neighboring communities with fishing as the
main economic activity. Men, women and children earn their living from the
swamp which runs behind their houses. The adults fish and the children help
by cleaning the seafood.
The conditions of the housing and basic infrastructure are poor. Streets
are paved but there is no basic sewage, and the supply of drinking water is
compromised. Household water reservoirs were built too close to cesspits and
vegetable gardens where pesticides, applied without technical guidance, are
a threat to people’s health. In these neighborhoods there are problems with
alcohol and drug abuse, and the number of people infected with HIV is the
third highest in the country.
The development of educational opportunities based on a dialogue held with
students was one of the challenges faced by the Paraiba Federal Institute. The
institute is creating a competency-based technical course on fishing. The institute
also wanted to include the community of women who sell seafood in initiatives
of the Ministry of Fishing and Aquaculture, a measure that benefitted not only
the Mulheres Mil students but the community as a whole, which was able to get
information on public policies developed for the fishing professionals.
The students are housewives, craftswomen, clam fishers, and cleaning ladies.
Their ages range from 18 to 60 and some of them had never set foot in a
classroom. Taking the bus to the Instituto Federal da Paraíba (IFPB) in João
Pessoa, four kilometers away from where they live, means opportunity, discovery,
a new beginning, citizenship. At first, the IFPB’s challenge was to raise awareness
among these women and encourage them to participate in the training.
Workshops were held on health, the environment and the production of crafts.
Then came the program to improve educational levels and the opportunity to
become professional in fishing and crafts,
training that is currently underway.
200
Maria Aparecida Batista Marinho
Making dreams come true
Thousand Women
Maria Aparecida Batista Marinho (or Cida, as she is called) enjoys listening
to romantic music. The first record she bought was by Amado Batista. She
loved the song “Menininha, Meu Amor.” The album was left in one the homes
where she worked. There is no record of the years she worked as a cleaning lady
and sugarcane cutter. There is no work card. Only her body bears evidence of
this work in the form of scars that began to appear in childhood and that she
accumulated in adolescence resulting from the frequent accidents experienced
by these children. Cida is a seafood fisher, but motherhood has forced her to stop
working. She has to take care of her baby. Housewife and student at age 37, she
is the first in her family to overcome the vicious circle of illiteracy. Her dream is
to become what she never had as a child: a school teacher.
When the bus arrived at Cefet, I asked,
“Is this where I will stay?”
Then we entered an elegant room with air conditioning and I thought,
“God in heaven! This is a dream. And if it is a dream, I will hold on to it,
I won’t let it go.” I felt so good the first time I came, and even better when
201
Thousand Women
202
Making dreams come true
So many mothers who are illiterate. It is horrible to be illiterate;
it is the same as being blind. I was blind and now I can see.
I was given the uniform. I felt so proud. I thought: “Now I belong to the
Mulheres Mil group. And I don’t want to ever leave this group.”
There are so many housewives wanting to study, so many mothers
who are illiterate. It is horrible to be illiterate; it is the same as being blind.
I was blind and now I can see. That is why Mulheres Mil has to continue,
to give a chance to other women.
When I went to the factory to be paid, I signed with my fingerprint.
Sometimes I wouldn’t want to go because they would ask, “Can you read
and write?” I would feel humiliated whenever I saw someone writing but I
couldn’t. It was awful! I was ashamed of not being able to read and write.
I felt guilty. Today I know it’s because I was never given a chance to study.
I didn’t have a choice in life. It’s just the way it was.
We grew up cutting sugarcane: my father, my aunts and uncles still
work cutting cane and my brother as well. It is not easy. We would arrive
early in the morning and would only leave at 6:00 in the evening on the
tractor. When my mother said that she wanted me to have an education, I
would tell her I didn’t want to, because it was too hard. She had many small
children and I wanted to help at home. In those days my dad would drink too
much and I didn’t want to leave home and leave my mom in such a miserable
situation. At that time I had no idea of how important an education was. I
didn’t care if I had one or not. But today I am aware of its importance.
When I turned 18, I found myself a boyfriend, got married and had
my first daughter at age 19. My father would threaten to kill my mother. I
was afraid and I would beg her to leave. Then my cousin sent me a message
asking me to go to Bayeux with my daughter. Then I thought, “I must gather
my courage and go!!” I took my mother along with me. There I spent some
time working in households. Then I met my second husband, had a new
family, but I always felt deep inside that something was missing.
I think that if there were no inequality in Brazil, things would be
much better. If everyone were equal and if everything was shared equally,
there wouldn’t be so many people hungry and suffering. There is plenty of
land in Brazil, but so many people have to pay rent. If things were shared
equally that wouldn’t be so.
What I like most about Mulheres Mil are the teachers. They encourage
us. I thought their obligation was to give classes and that would be it, but
the teachers here are wonderful. They say: “Persevere, don’t give up, don’t
quit, because an education is the only thing no one can take from you”.
I love the classes so much. I learned so many things. We had a class
on women’s rights and on health; the nurse told us how important it is for
a woman to take care of herself, to have a yearly exam. I was scared to death
of doing so, I hated the idea of going to a doctor. In the countryside no one
has medical checkups. I was never into prevention, but now I am.
We have Math, Portuguese and Information Technology classes. I
was afraid to hold a computer mouse. I would tremble, I wouldn’t hold it,
I thought it would break. And then the teacher would say, “Woman! Hold
that mouse! Have no fear, it won’t bite you!!” Then I learned how to turn
the computer on and off.
My self-esteem improved so much. Today I can teach my children.
I can solve math problems and do calculations. I am sure about the things
I do. I serve as an example at home. I have five girls and they all go to
school. When I study I give them a reason to go too. They think, “mom,
at her age, is going to school, then I must
not give up on my studies”. I didn’t have
a chance to study as a child, but I want
them to have the opportunity. And I
want to be an example for them.
The relationship between the
women in the community improved a
lot with Mulheres Mil. Today we communicate with each other. When someone is going through hard times, when
someone is ill, when there are problems
in the family, we try to see what happened and how we can help. And when
Making dreams come true
Thousand Women
It really helped
my self-esteem.
Today I know
how to teach
my daughters.
Today I know
how to work with
math, to add and
subtract. I am
confident about
what I’m doing.
203
Thousand Women
Making dreams come true
the bus comes to pick us up, people say, “There go the Mulheres Mil women.” When we come to the association meetings, they say, “Here come
the Mulheres Mil women.” The people in the community see it too; the
project has been embraced by the people in the community.
Today I have a choice. I want to learn more and I won’t give up. This
year I will renew my enrolment at school. I take classes here and at the
state school near home. I just finished my fourth year. People say, “This
woman has many children and is getting an education.” But it is because I
want to achieve my goal of becoming someone in life. If you don’t have an
education you’re no one! I want to finish my education and take a course
on working with children. I can identify with children.
I’m a warrior and, there is no doubt that if I had stayed in the
countryside I wouldn’t have come this far. I feel I am someone capable of
learning of growing, and that is not how I used to think. I like who I’ve
become. And now that I can read, I really like who I am.
204
Marta de Lima
Making dreams come true
Thousand Women
Skinny, with sunburnt skin, Marta de Lima became a clam fisher after she
got married and moved to Bayeux. Ever curious, she would observe neighbors
when they set off in their boats. One day she tried it. It was love at first try.
And it is the sea that allows her to provide for her children and to have a
unique sensation of freedom. A skillful negotiator, she persuaded her husband
to resume his studies and allow her to study as well. A 38-year old mother of
three children, Martha lights up when she talks about her desire to learn and
to go to college.
You need to enjoy whatever you do.
I like what I do and I like it a lot.
I have to be really sick or something really serious has to happen to
keep me from going fishing. On the sea you feel free, you breathe fresh air,
which is so good. It is wonderful! It is a very pleasant sensation. Although
I fear water and I can’t swim, I like to fish.
205
Thousand Women
Making dreams come true
I learned in
environment
class that we
really have to
protect the
place where
we live.
206
I learned in environment class that we
really have to protect the place where we live. It
is the mangrove! But there are people who have
no idea of how important the mangrove is, how
important the sea is. And it is sure important
to me; it’s where I earn my living and it’s where
many people earn their living. If you throw
garbage into the mangrove you pollute the environment and then your
children and grandchildren won’t be able to know what you know today.
That’s how I think.
I started to work when I was nine. We lived at my grandmother’s,
we were six children, and my father was the only one working. I found it
very hard. I am the eldest, so I thought I should do something. I took a
short course on crochet and began to sell my stuff. So that is how I would
help at home.
Then I began to work in other people’s houses, but continued to
crochet. When I was 17, I went to work selling shoes. That is also when I
stopped going to school, in grade eight. I wasn’t able to work and study, so
I decided to just work.
At age 21, I met my husband and came to live in Bayeux. That is
when I began to fish. I came to live by the mangrove, which is where I live
to this day. At that time my house wasn’t made of brick, it was made of
mud. I was curious to see people get in their boats and go out to work. So I
thought, “I’ll go too!” And my husband would say, “No, you won’t!” And I
would say, “Yes, I will!” And I ended up winning the argument and going.
And then I fell in love with it.
In the beginning my husband didn’t want me to start studying
again. We used to argue a lot, but not anymore; now he agrees. Then
I insisted that he go back to school as well. I have to force him but he
goes. I go with him, because that is the only way to make him go. It is
so funny. The teacher finds it funny that I am the one who helps him; I
look like the teacher.
I like the Roberto Carlos song “As curvas de Santos”. It reminds me
of the good things in my youth. I also like to dance on the street where we
live. The people who live there organize street parties and I enjoy myself
with my husband. I don’t like clubs; I don’t like crowds that much. But a
small street party with people we know, for the whole family, that I enjoy.
I can dance all night long.
Mulheres Mil represents a great dream come true. I feel I have
accomplished something. Not yet completely, since I haven’t finished my
studies. But the mere fact of having the opportunity to study again is
really a dream come true. To me, to be here at the Institute is even more
important, because normally you have to pass an entrance exam to get in
and I don’t think I would have been able to pass this exam. I got in because
of the project.
Since I joined the project in 2008, I have become someone totally
different. I used to be quiet, and now I am more talkative, I talk a lot.
When I first came I hardly knew anything, but today I feel quite intelligent.
I can help my children do their homework. Today I can communicate
better with people; I know what to say. Before I only liked to talk with my
neighbours, but would never go to other meetings, in other places. Now I
feel stronger: I feel alright. Actually, I feel great.
We also had class on rights, and we have many rights. They talked
about women’s rights, and the Maria da Penha law. That helps a lot, because
whenever we decide to do something, there is always a man who says, “I
will beat you if you do that.” My God! Now we know where we can go to
make a complaint, who to call. So the beatings are over! The days of female
slavery are over. Women can now be free.
I got my fishing license, which means a pension in the future. You
pay your social security1, to a maximum of 45 reals a year, and in the
future you can retire. We managed to get it because of the meetings we
participated in here at the Institute2. Now I have mine.
I don’t make as many math mistakes as I used to, because I’m pretty
good in calculating. I feel like I’m someone new. I remember when we
went to Brasília3, to the Ministry of Education and saw the video telling
our life story. That was something to remember, to see a Minister watching
me fishing, working. I felt really important.
Making dreams come true
Thousand Women
1. The Federal Government
of Brazil has been creating
options so that self-employed
workers, including fishermen,
may contribute to the
National Institute of Social
Security (INSS) to ensure
their retirement.
2. The meetings were held
by the Special Secretariat for
Aquaculture and Fishery,
under the Ministry of Fishery
and Aquaculture, and the
participation of shellfish
collectors was articulated by
the team from the Thousand
Women Project in the State.
3. In April/2009, the
Secretariat of Vocational and
Technological Education
(SETEC), promoted an
event that was attended by
a student from each state in
Brasília. On that occasion,
there was the launch of the
national documentary of the
Women Thousand Project,
produced by filmmaker
Helvécio Ratton. The
video can be accessed at the
following website: www.mulheresmil.mec.gov.br.
207
Thousand Women
Making dreams come true
It changed
my way of
thinking and
improved my
view of the
world that I
can pass on to
my children.
208
Sometimes I miss the bus because I arrive late
from the sea. So I dress really quick, hurry, get to the
road and people say, “The bus already left.” Oh, no!
But I always save a few cents in my wallet for these
occasions when I have to pay to take the bus. And I
have my student’s card.
For me, the project represents everything I
could have dreamed of achieving in life: to study again, to receive my
fishing license, all because of the project. It changed my way of thinking
and improved my view of the world that I can pass on to my children. At
home I insist that, “You must study because the sea may not always be
there as a source of income.” If I have an education, I can provide a better
life for them, and if they have education, they can have a life better than
mine. By studying, anything can be achieved, the only thing that it takes
is courage and perseverance.
My goal is to finish my studies. And when I finish, I will see what
course I will take then. I won’t stop myself anymore. I hope the project
doesn’t end so it can provide opportunity to other women who fish, make
crafts or are housewives, because there is nothing to lose and a lot to gain.
Deine
Pernambuco
Vera Lúcia
Thousand Women
Making dreams come true
Recife
The rhythm of daily life in Chico Mendes, a village district in the outskirts of
Recife, is punctuated with the deafening noise of aircraft preparing to land at
the Recife international airport. But only visitors hear the noise and duck their
heads as the aircraft fly low above their heads. Children in the neighborhood
don’t react at all.
The community appeared in 1991 when families coming from different districts
occupied the area and built houses with materials they could afford: cardboard
and mud. Rent of existing housing would eat up a large part of their wages
and the lack of a housing policy at the time forced many workers to move to
outlying areas in search of shelter.
Some still remember the stories of confrontation with the police and of the
struggle to get basic services. Today, two decades later, Chico Mendes is home to
more than 3,000 workers who still struggle to be recognized by public authorities
and to obtain access to education, health and jobs.
On the narrow streets, some of them without basic sewage, prejudice, violence and
trafficking are mingled with hope, achievement and the search for opportunity.
This is why the proximity and activity of the Pernambuco Federal Institute to
Chico Mendes is so important. It opens opportunities for employment by offering
training in gastronomy. With their existing knowledge in food preparation,
several women sell food on the beach every Sunday while others take orders
for pastries and deserts. The Federal Institute in Pernambuco has established
partnerships with other institutions that are providing hands-on training.
As they restore their self-esteem and acquire new knowledge, the students begin
to plan for their future. Some dream of opening a community restaurant, while
the dream of others is to have a full-time job or to open their own business. For
all of them, the greatest battle won has been the right to dream of a better future.
210
Deine Araújo
Making dreams come true
Thousand Women
Deine Araújo speaks slowly but with a firm voice. Of medium height, she
has an open smile, and has the courage and competence to face the not
always pleasant obstacles in life. At the age of 43, with three children and
married for 23 years, Deine is still invited on dates in the local square.
Determined as she is, she has finished high school, is finishing professional
training and plans to combine two dreams: getting a degree as a Math
teacher and opening a food business.
For these women, this project means they
can have a place under the sun, a profession.
They finish the introductory course and already want to go to
college. Why? Because their eyes were opened, the window to knowledge
was opened. It is the project that made this possible for us.
My dream is to become a Math teacher. I like numbers, I have a talent for them, and I learn very fast. That would be like a trophy to me, a
personal accomplishment. Cooking and Math are two things I enjoy. I am
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Thousand Women
212
Making dreams come true
Love is something you build every day.
I often say to people that every day my husband is different.
happy, I am fulfilled because I have a
husband and family. I have this chance
to take the course, something I didn’t
have before, but a door was opened.
Finishing high school is a good thing
to do because I lived as a prisoner in
the past.
I’ve been living here for 20 years.
It was hard in the beginning because
when I came we lived in a small cardboard and plank hut. There was no
covering on the floor and my first son
got parasites in his feet and his hands.
I took him to the health station and
when the doctor realized what had
happened she called City Hall. Ours
was the first house to have insect extermination.
It wasn’t easy to raise a child here. There were children who played
with them who didn’t go to school, who had children when they were still
adolescents, who got involved with drug trafficking. I raised the three of
them. The eldest is going to college. The girl got married and the youngest
is doing his year of military service.
Before coming here, my husband had two jobs and we would
do alright. He lost his first job because of poor sight; the second one,
because of his age. He worked in electronics but his sight was damaged by
toxoplasmosis, which led to almost complete blindness. It is a disease one
gets from dog, cat, pigeon or chicken feces; perhaps he got his from pigeon
feces. He must have drunk January water. It is a belief of the Northeast:
mothers gather the water of the first rain in the year and give it to the child
so he will learn to speak earlier.
It was harder for him, because he came from Campo Grande, a good
neighborhood near Pinheiros. His father was a bank office manager, had
a car, a house. The reality I came from was different. My father was a
mechanic and a civil servant but, having five children as he did, he couldn’t
provide everything we needed. We never spent a whole day without eating,
but we sometimes ate only once a day.
Love is something you build every day. I often say to people that every
day my husband is different, and what strikes me most is that he treats me
the same way he would when I was 15. There is still the same tenderness;
he says I look pretty, even when I gain weight. He brings me flowers,
chocolate, sends me love messages on the phone,
invites me to go for a date at the square. I don’t
go because I feel ashamed; I tell him that we’re
too old for that. When I come from work late at
night, he warms milk and puts some cheese on a
piece of bread for me. When I finish my shower
and I sit, he gives me his hand. I usually get home
between 1:30 and 2:00 in the morning.
Here in Chico Mendes, Mulheres Mil provides a chance for growth,
because many people would like to improve their lives, but have no
opportunity. These are women that did not have a chance to study, some
of them even having had children when they were adolescents, as single
mothers, or with partners who didn’t have any education either. And they
are very chauvinistic, saying that women must not work.
The course gets you ready for the labour market, as it includes things
like food handling, as well as social and work etiquette. We learn how
important it is to know how to handle food because it can affect someone
else’s life. In Portuguese class we learn how to express ourselves, how to
understand, how to listen to others, because we often want to impose our
own point of view. We learn how to work as a team, because without
others we can achieve nothing. And in Math, everything we do includes
Math: weight, height, division, the use of percentages. It is something
Making dreams come true
Thousand Women
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Thousand Women
Making dreams come true
Here in
Chico Mendes,
Mulheres
Mil provides
a chance
for growth,
because many
people would
like to improve
their lives,
but have no
opportunity.
214
that prepares us for the marketplace. So
it is an opportunity that they grab with
both hands and that may lead to a better
job. And I am convinced that, having such
opportunity, the doors may open, both for
those wanting to have their own business
as well as for those wanting a position in a
restaurant or a hotel.
I have worked in a bar and used to earn R$ 100.00 a week, but it
was too little money. I deserved more for that kind of work I used to do.
The owner had a bit of education, so I used to teach him everything I
learned in the course. I showed him how to handle the food and hygiene
procedures. Afterwards, he would share all the lessons learned with the
morning staff.
My ambition is to open my own business, and I already told one of
the girls taking the course with me about it, because she likes the office
work whereas I like cooking. We will serve lunch. She will handle the
commercial side of it: go to the businesses and offer the luncheon and
then charge, because she’s good at that. There are people in the market
delivering lunches in plastic recipients, which is wrong. I will work with
something disposable, as it is more hygienic, which is something I learned
at the course.
Vera Lúcia Francisca da Silva
Making dreams come true
Thousand Women
Rediscovery is perhaps the word to define this moment in Vera Lucia’s life. Perhaps
because no word is strong enough to describe the process of seeing one’s own self
through a positive lens after years of feeling inferior. At age 39, Vera started to
believe in herself and little by little is learning to have confidence in her talents.
She is evangelical, has a six year old daughter and says she is about to move.
She will say goodbye to the village of Chico Mendes. The destination is as yet
unknown. Only one thing is certain: the departure will be because dreams that
were stifled by the social exclusion she experienced in life have now come true.
Every class we would go to was fun. It
was us doing things, doing our Math.
It started to motivate me and then I fell in love with the project.
It is experiencing what we never had experienced before. I never had the
chance of entering an institution. I heard about the vocational institute,
but had never gone in. What for? It was too far for me.
215
Thousand Women
Making dreams come true
My selfesteem was
kind of low,
because
without an
education you
tend to feel
inferior.
216
The arrival of Mulheres Mil raised my self-esteem. My
self-esteem was kind of low, because without an education you
tend to feel inferior. Today I feel a little more accomplished,
because I met new people, people who recognize our worth,
people who encourage us. We had new experiences and we
started to have more confidence in ourselves.
I didn’t have a chance to study but it wasn’t because I
didn’t want to. For some people, and for myself, life was very
hard; I couldn’t have everything I needed. Many dreams I had
were crushed, dreams that never came true. My dad didn’t have
a regular job and we had to do whatever we could to help at
home. I started to work when I was 12 in other people’s kitchens,
as a maid. Sometimes we would go to school feeling hungry
and what helped us stick it out was the free school lunch. It was
hard. There were days when we would eat some grated coconut, manioc
flour and sugar.
In times of celebration we would get very excited as neighbors felt
solidarity with each other and would exchange plates of food. Sometimes
we would have nothing to eat, but neighbors would cook a little corn
desert and send it to our mother. That was really a party.
You can’t tell how much we cherish this opportunity the Federal
Institute has given to us. It is so important that it is as if I was going
to college. It is as if I was waiting for my graduation day. I am already
dreaming.
I finished high school when I was 25. When I succeeded in
completing high school I stopped because I found a regular job and the
work pace was very tiring. This is something I blame myself for as I should
have been more dedicated to studying. Today I see how much I miss in the
job market by not having the qualifications required for a better job. The
only thing I can do today is ‘general services.’
My wedding was the happiest day in my life. With the money I
had saved for years I made a dream come true: to be married in grand
style wearing a veil and a garland. That was the happiest day. I felt totally
fulfilled in seeing my parents there and how I was making them proud. I
was married in a church. I was wedded as a virgin.
When the practical lessons of the course began it was great. It was
really great. We think cooking is simple. At home it can be simple, but
when it comes to working with a chef, with people with a higher education,
we need to know some basic theory. Before you start to work with the food
itself, there are rules you have to know. And that is part of cuisine, both
things go together, the theory and the practice.
But I also learned that I must not bow, that I must go
for my dreams and that is what this project’s purpose is.
Now I see that I am capable of studying, that I can pass any test I
want, that all it takes is to believe in oneself. The Mulheres Mil project is here
to show us how capable we are, that I am more than a housewife; that I’m
not good only to work in other people’s kitchens washing dishes, washing
bathrooms. No! The potential I have makes me want more than that.
And we learned about ethics, I learned that everybody has rights. I
learned that I have a right to learn, that I am a citizen equal to any other, that
I only lack opportunity, which is not my fault. With the inequality that we
have nowadays, those who are rich want to get richer every day, and because
of that, those who are poor get poorer. But I also learned that I must not
bow, that I must go for my dreams and that is what this project’s purpose is.
I’ll go for my dreams and there is nothing and no
one who will convince me that I’m not capable
of achieving them, because I am.
My dream is to complete my course and
work at a restaurant, even as a chef ’s assistant.
What I want is to be good enough to do this,
because I am capable of being there, as an
assistant chef. I want to work as an equal.
When I knew there would be a
competition for a general service job at the
Cabo city hall, I decided to enter. I couldn’t
afford private classes, but got the books and
Making dreams come true
Thousand Women
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Thousand Women
Making dreams come true
began to study on my own. I took part in the competition to test myself. But
I passed and now I am only waiting. I always had this habit of feeling inferior
to others. I would always think: “I can’t, this is not for me”. But that is over.
So I am very grateful to God and to Mulheres Mil for allowing us
to have this vision that we are capable, as we are not ostriches, that animal
that sticks its head in the sand. We need to raise our heads and believe in
ourselves, believe that we can reach the horizon. We are eagles, we can
wake up.
218
Frankelice
Piauí
Socorro
Thousand Women
Making dreams come true
Teresina
Anyone who visits Villa Verde Lar when it’s at its hottest cannot imagine that
every year its inhabitants suffer from flooding of the Poti river. Located in the
eastern zone of Teresina, this neighborhood was settled in 1999 and today many
houses are at risk.
With rural characteristics, unpaved streets, many trees and, in certain places,
a fair distance between houses, it is like a small rural village. By coincidence
born of necessity, the majority of its inhabitants came from small towns in the
country’s interior; children or grandchildren of rural workers in search of a
better future.
The problems are the same as in other suburbs in the country: lack of sanitation,
lack of a housing policy, violence and prejudice. As far as work is concerned, poor
education is the main cause for unemployment and informal labor, a reality for
most of the women who took the course. Lacking qualifications, many of them
have worked most of their lives as house cleaners.
Getting information to appropriately link local skills to market demand was one
of the factors that guided the establishment of the Mulheres Mil project in Piauí.
Given that this state is the industrial centre of the apparel and fashion industry
in the country, the Piauí Federal Institute (IFPI) conducted a market research
study of businessmen and union leaders to identify needs in this sector. Through
the study of the women in the community, it was found that many had been
exposed to cutting and sewing in their childhood, watching and helping their
mothers and grandmothers sew children’s clothes. Others did small repair work
and made some items of clothing to sell in the markets. So the IFPI began to
offer training in sewing. The institution has already altered its initial proposal,
and is now providing training in underwear manufacture and tailoring.
With these courses, talents acquired throughout their lives became skills. Most
of the women who were part of the initial class are still self-employed, and others
found work in the labour market. Many dream of having their own businesses,
and a small group is creating a production
association. The courses are offered at the
Federal Institute which counts on the
support of the local city hall.
220
Frankelice Melo da Costa
Making dreams come true
Thousand Women
Frankelice Melo da Costa, age 32, has been married for 12 years and has three
children. She can embroider and crochet, and with these skills she contributes
to the family income. In order to study, she had to live far from her family, but
she was fortunate in having two mothers. A little more than a year ago, she
discovered she also has good business skills. With confidence in herself and in
the future, she has already established her goals for the next 10 years, which
include having her own business and taking a management course.
A course like the one we are taking is
something I and other women cannot afford.
I was looking for this type of course before the project began, but
none of the ones I came across offered what I was looking for, only sewing
basics. This course teaches things that are useful down the road, how to
cut, design, and meet the customers’ needs so they leave happy.
I think many things in the Mulheres Mil course will be useful. I came
in with a goal and I think today I’ve surpassed it; I’ve learned so much and
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Thousand Women
222
Making dreams come true
The teacher made us read, and to write down what we did
and did not want, what we did and did not like.
I’ve developed so many skills. I used to say that I knew how to cut, but I
would cut the fabric any which way. Now I see which way the threads go and
how to cut it correctly; I see how I must place my hands, if it’s better to lean
on the table or not. Before, I would sit at the sewing machine and thought
I could sew. Through the course, I learned that the way I was sewing was
wrong; even the way I used to sit at the machine was wrong.
I admit I was a mischievous child. I have good memories of my
childhood. We were nine children in my family and, like all children, we
would play a lot. I was raised by two mothers. I lived with my real mother
until I was seven, then I went to live with someone else because there was
no school where we lived. I lived with that lady until I was 20, when I left
to get married. So I say she’s my second mother.
My real mother was not of the kind who cuddles a lot, but she was
my inspiration, and she still is. She was the one who encouraged me to
work, and I began to work very early. She would say, “Tomorrow you will
be rewarded.” On vacation we would arrive home crying, and she would
say, “Go back and continue.”
Everything we learned here is useful. We had classes on design and
texture. We are still learning math, Portuguese and the history of fashion.
The ethics course was very useful because it helped us to think about our
rights, duties, and how to behave in certain situations. It is all very useful
things which I had never stopped to think about, but today I do.
Before I wasn’t even able to draw a circle, and now I see
a piece of clothing and I wonder how I would design it. In the
design course we learned how we can put it together, because the
teacher taught us to do it piece by piece, the sleeves, the pockets,
the collar. The teacher taught us many things that we can use on
a daily basis. I can now identify different fabrics. We learned how
to identify fabrics, to see whether they are natural or synthetic.
And that really helps because we are able to tell the customer
what fabric the clothes are made of.
The teacher made us read, and to write down what we did and did
not want, what we did and did not like. This helped me discover who I
am. It made us think about doing the right things for ourselves. As for me,
the course helped me in many ways, and I realized I could do things that I
thought I’d forgotten. Not only with crochet and embroidery, but I found
I had talent for other things as well. I discovered myself as a person; I am
competent, I have talent. It made me look to the future, for good things
for me and my family. I think I feel more like a woman.
I didn’t finish secondary school; I dropped out in the second year.
But I would really like to finish my education and get my diploma, as I
discovered I have a talent for administration. That was about a year ago.
You know how sometimes an idea just comes into your head? With little
money, I did something no one thought I could do. I turned 50 reals into
150. No one believed it, but I did it; I tripled the amount I had. It was
money well spent. I learned to crochet from a neighbor. Then I bought
a sewing machine, as I needed a few pieces sewn; and I wanted to make
them myself. Now, in a good month I make around 350 reals. One day I
would like to take a management course.
Today I know what I want for tomorrow. I want to keep on doing
what I am doing. In 10 years I want to
consider myself a successful woman, to
be acknowledged for my work, to have
a business of my own, to have my own
workshop and financial stability. I want to
earn enough to have a comfortable life.
And I would like my children to go to
college, and for me to have completed my
college education.
Projects such as this are very rare;
here, at least, I hadn’t come across any.
There are so many women at home doing
only housework, looking after the hus-
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Thousand Women
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Thousand Women
Making dreams come true
Projects
such as this
are very rare;
here, at least,
I hadn’t come
across any.
band, the house, the children, but there’s nothing like this project to help
them get skills training.
This would help so many people who cannot afford an education,
who hardly survive on what they earn. But if they had training in a skill,
my goodness! It would be so good. It would be a shame not to expand this
investment. In my opinion, if there was more investment it would be even
better. If there were other projects like this, many others would be saved
from lives of misery.
I believe that I will be qualified when I finish my training and I will
even have the courage to knock on a company’s door and say, “Hi, I need
a job; and here is my certificate.” It will be good for me and I hope that
others will achieve their goals as well.
224
Maria do Socorro Costa
Making dreams come true
Thousand Women
Maria do Socorro Costa has an abundant amount of courage in facing
anything new. After being swindled by a boss while she was working as a
maid, she decided she had had enough and learned to sew with her sister. A
little more than a year ago she and her husband moved to Goiás in search of
a better future. She brought with her a fear of the unknown, the longing for
her family, and her sewing skills, which she improved in the project. There she
found a job, surveyed the market and is now self-employed.
When a woman gets to learn something
she goes for it. In Piauí there is not
much available,
men take it all. So whenever women are encouraged, when they find out
what they are capable of, they grab the chance. Then they can provide a better
future for their children, they can buy something here, something there, they
help their husbands, they fix up the house. I think that’s important.
225
Thousand Women
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Making dreams come true
My life story goes like this: I was
born in the hinterland of Piauí, in Pimenteiras. Then we moved to São Miguel
dos Tapuios, where I stayed until I was 15.
My dad is a peasant farmer and so is my
mother. The 11 children always worked.
None of my older brothers had the chance
to go to school. It was only after my two
younger brothers and I were born that
we moved to town and were able to go
to school. But my Dad would make us
alternate, one week some of us would go
to school and the others would stay home
and help him work the land.
We suffered through a lot of
hardship. Some days all we had had to eat
were beans without any seasoning, just
a bit of salt. And I didn’t like to live like
that; I always wanted to improve, to work.
When I was 14, I tried to work by selling
little things. I would sell spices and peppers; I would do everything I
could to earn something.
At age 15, I moved to Teresina and began to work as a maid. In
2003-2004, I worked in a house for one year and five months and my boss
didn’t pay me for five months. I really counted on being paid because I
wanted to buy a house, to improve my situation and because I dreamed of
having a child. I was disgusted and I promised myself that from then on I
would work for myself, that I would never work for someone else again.
My sister took a course on cutting and sewing at Senai, but I couldn’t
afford it. She would go to work and I would too: I would clean her house,
wash clothes, cook for her, I would do everything so that she had the time
to teach me how to sew as soon as she came home. So I learned, and my
husband helped me to buy a sewing machine on credit. And I started to
work a lot, to make small clothes that I would sell in the marketplace,
going up hill, pushing my bicycle, my son with me, struggling. I’m 29
years old. I was married at 21. I have been sewing for a living ever since.
And then the course came. At first I thought, everything that shows
up in this neighborhood is temporary – people talk a lot, do some things,
but then disappear and there’s nothing left. And I thought the course
would be the same way, but I applied anyway. I called my sister and we
went. But I was very happy to have the course in my life and, as many girls
In Piauí I would work in the market, I would make my little pieces
of clothing and sell them to customers and to resellers.
have already said, it changes our self-esteem, because we want to grow, to
improve. I lived my little life, I sewed and went to the market. Now I have
bigger dreams.
I’ve made a lot of progress in my profession because I can now use
industrial machines. I can now do more. Before, I only made underwear
for children. Now I make t-shirts and dresses. With the little I learned in
the course, I can already cut out a dress or a t-shirt, and I am learning to
make patterns. I also learned how to properly cut patterns and my sewing
has improved.
We assembled a wedding dress in patchwork, as the teacher taught
us1. And we learned that putting small pieces together can yield amazing
results. I learned how to make a proper sewing knot, which I didn’t know
how to do before. I learned how to copy a pattern from a magazine.
In Piauí I would work in the market, I would make my little pieces
of clothing and sell them to customers and to resellers. Here in Goiás
things have changed. I get orders and I work at home. I no longer have to
go to the market carrying a heavy bag on my head. I now assemble t-shirts
that come already cut and printed. I get paid by the piece.
My dream is to have my own workshop. I would like to make my own
t-shirts. I can do the sewing and my husband can do the screen printing.
That way none of us, not even my son, will have to work for someone else.
I own two industrial machines. I want to keep taking courses. Next year I
want to take a course on pattern-making.
1. In November/2009, the
students from the first class
took the pieces made using
the patchwork technique,
including a wedding dress, to
be shown at the First World
Forum of Technological
Education.
Making dreams come true
Thousand Women
227
Thousand Women
Making dreams come true
I often say to my baby that when he grows
up and goes to college, I will buy him a car so
he can drive there. I dream of making a better
future for my son, and helping my mother,
my brothers and sisters. I have two visuallyimpaired brothers. So I dream of having enough
It’s a unique
opportunity.
I have learned
so many things
that I now put
into practice.
This project
helps to
change lives.
228
that I can help others.
A program like this is the only opportunity for women in the slums.
It’s a unique opportunity. I have learned so many things that I now put
into practice. This project helps to change lives.
Joana
Rio Grande do Norte
Josirene
Thousand Women
Making dreams come true
Settlements of Canudos, Aracati,
Bebida Velha, Modelo I and II
The life of students from the settlements far from town is repetitive, spent doing
household chores and working the land. The landscape is that of the sertão: the
land is dry, the wind blows dust, the sun burns and there is little vegetation.
When the winter rains are good, there is plenty. The land provides green beans,
corn, manioc, gherkins and okra. When rain is scarce, water and food must be
conserved, what little there is. Men try to find some work nearby, like breaking
stones. Women stay at home.
In Rio Grande do Norte, the project serves five communities, four of them in
settlements and the other in the municipality of Touros. Most of the students
are rural workers. They come from families with lots of children children, began
to work at age seven, and never completed elementary school. In those days, the
most one could dream of was to make it to fifth grade.
1
1
Settlement of Modelo II
The political and geographical realities are complex, and the Federal Institute of
Rio Grande do Norte had to overcome many obstacles to provide professional
qualifications and ensure appropriate training. These ranged from transportation
– the settlements are far from each other – to the process of negotiating with
local entities – which was very long and needs to be continued.
There was a school in each settlement but it was closed at night and did not
offer education to youths and adults, so for these women, education was just an
dream. And that is precisely the importance of the project in these areas: to ensure
the provision of education to young and adult women. Through Mulheres Mil,
the Federal Institute negotiated with the municipal administrations to provide
better education.
The professional training was to be in the fields of tailoring, fish processing and
conservation, food preparation – making homemade confections, processing and
conservation fruit pulp – and crafts. Also, students would be integrated into the
school routine, where they participated in workshops and events on important
issues for rural workers, such as retirement and setting up cooperatives.
1
230
For some of these women, studying has become
a routine. With lanterns in their hands – the
settlements lack public lighting and there
is only electricity in the houses – they walk
along those wide streets, passing each other’s
houses until they arrive together at school.
Once they get there, they face their fears and
little by little they learn to dream again.
Joana Darc dos Santos
Making dreams come true
Thousand Women
Joana Darc dos Santos does not like her name very much, but she seems to
have inherited her courage from the famous heroine. Along with her husband
and three children, she confronted the police who tried to remove them from
their disputed land and camped in a tarp tent for almost a year. With this
same courage she now confronts the blackboard. She freezes and trembles to the
bottom of her soul when she has to write on it, but she does it. She already writes
her name in front of others and when the teacher passes the attendance list, she
is the first one to sign. And off she goes, taking her life one step at a time.
I don’t like my name because whenever
something happens, people say,
“Go to mother Joana’s house!!”. My husband is a farmer and when it rains he
does other things. I live on my income from the Bolsa Família (Family benefit)
grant, and that is how I help. I am paid R$ 200. It really helps and in my
house it is essential, because we’re nine people and none of us has a regular job.
231
Thousand Women
232
Making dreams come true
Sometimes we don’t even know how to hold a pencil
but we learn. I still fear the blackboard...
Nowadays if you lack education, there is nothing for you, everything
depends on having an education. I had this opportunity and let it go, and
now I miss it. Because if I had had an education, where would I be now? I
would have passed an exam to work at the City Hall, which I actually tried
without passing. I would have had more than one chance.
My parents broke up and my mother took my birth certificate with
her. Then when I was nine, my father managed to get a second copy of
the document, but I wasn’t interested in studying any longer. I did go to
school for a while, but my classmates would make fun of me because I
couldn’t read or write. That really bothered me and I didn’t want to go
anymore. I gave up.
I expect a lot from this program. I expect to finish it but to
never stop studying again, because if I had studied I could have offered
something better to my children; because every mother wants the best for
her children.
The program offers many courses and I’ll choose one of them to see
if I can get a professional education. I like to cook and I think that is the
one I will choose. I’ll apply myself a lot and I won’t give up. I won’t let this
opportunity go by, I’ll persist until I make it because everything is possible
if you have the willpower, right?
I also want to serve as an example to my children. I have seven
children. And how can I encourage my children to study if I don’t show any
interest in studying myself? I don’t want them to become what I became:
If you gather together a group and everybody has the same dream,
everyone will visualize this goal! Then you feel even more encouraged.
someone with no education, with no knowledge. And today you can only
achieve something if you have an education.
Compared to what I was? I’m learning. Because it’s a different culture.
Sometimes we don’t even know how to hold a pencil but we learn. I still fear
the blackboard. I get so afraid when they call me to the blackboard. Good
Lord! But I am gradually losing my fear and am facing what life has to offer!
My husband had this dream of having land of his own to work. At
first I wanted him to give up. When he told me the police were there, I
said, “Give up! This will never work!” But he told me he would not give
up. So when I saw he would not give up, I decided to support him. So
I came here in 1995, living a tarp tent. It was really difficult. Can you
imagine?! We would stay until the police would come and kick us out. So
we would leave carrying our things on our heads; they would kick us out
of the farm. Then we would come back.
I came with the children; I had three children at the time. By day, as
it was so hot, I would let them sleep outside. I would gather some sticks
and stretch the hammock in the shade. When night came I would bring
them in. It was so hot. It was a year of struggling. Then we got registered
and we made our mud house. So all the sacrifice was worth it.
I would like my community to improve, with more doctors, with
better living conditions because I don’t intend to leave here to go to a town.
Because cities attract violence, and this is bad for adolescents. So there is
this fear of taking them to town and ending up destroying their lives. I
prefer to live in my community, but would like it
to improve, I would like government to provide
us better conditions: the means to find a job, to
better survive in this land. Here in this region.
I’m learning to read and write because
I couldn’t read or write that well. I made it to
fourth grade, but I can’t read very well. I can
read a few words, but I make many mistakes.
I’m still struggling but I have become a better
writer than a reader. I would get very nervous if
anyone asked me to sign my name. I can write,
but when I went to a bank and someone asked
me, “Could you sign?” I would tremble inside
from fear of mixing up the letters. Sometimes I
would say that I couldn’t write, so that I could
sign with my thumbprint and it would go faster.
Every day, when the teacher passes the attendance
list, I’m one of the first to sign. And now I have
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Making dreams come true
no problem! I learned a little bit of everything, I
learned a little math too. Regarding the lectures at
the IF, I liked the one on creating cooperatives, can’t
remember what it was called, but I liked that lecture
very much.
Many things changed in my life, because first
of all I couldn’t sign my name correctly and I would
be afraid of doing it, I would feel very ashamed of
making mistakes and having people laughing at me. And that is something
I don’t fear any longer. If there is something to read on TV, I can read it
without having to ask anyone to do it for me. I’m able to learn about
things I never knew before.
That was after the project. I think it is because of the encouragement
and the possibility of improvement offered to us. If you gather together a
group and everybody has the same dream, everyone will visualize this goal!
Then you feel even more encouraged. And all that because of one simple
objective: to improve.
Josirene Francisca de Almeida
Making dreams come true
Thousand Women
Josirene Francisca de Almeida is 54 and the mother of 12 children. A rural
worker ever since she was seven, she lives in the Modelo II settlement and is part
of the group of women who stood by their husbands throughout the struggle for
land. Her dream? To learn more. And she does not care when someone tells her
that the time for education is over. She had very little time for studying. Born
into a family of 12 children, the need to survive spoke loudest. At age seven she
had to divide herself between her work in the fields and her notebooks. The
failures at school began to take their toll. She abandoned her studies.
The first time the students and teachers
met, that first day of classes,
it was very emotional. I was very moved when the first assignment was
written on the board. A memory came to me of when I was small, of when
I was seven and went to school. I felt like I was a child again. It had been
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Making dreams come true
And I can already read and write. We’re discovering things
we didn’t know before. I love it.
35 years since the last time I had copied an
assignment from the board. It felt great,
just great! And it still feels like that.
I gained more experience. I learned
more Geography, Math, Social Studies. I
enjoyed the classes, as well as the trips to
Cefet. I enjoyed those as well, they were
really good and we learned a lot of other
things. I would like to take the professional
course on tailoring.
My parents were farmers and they
still work the fields. I started working the
land when I was seven. At 6:30 a.m. I was
already out of bed. Then I would work
until 10:30. At 11:00 I would be back home so I could be at school at
1:30 p.m. I would feel tired, but in those days parents wouldn’t care if
the children were too tired. You had to obey, you had to go, you had to
work! I made it to the third grade. I was behind in my studies. I didn’t
pass at the end of the year, so I had to repeat. That pattern lasted until I
got married when I was 16 and still in third grade. Then I quit school.
I decided to start studying again because there were many things I
had forgotten in my life. The little I learned when I went to school is not
enough for me. I would like to learn more, to learn to read better so I can
learn more, to understand things better because I don’t read very well.
I’m enjoying the project very much. As I see it, the more I learn, the
better. And I can already read and write. We’re discovering things we didn’t
know before. I love it. I remember I had trouble writing, more so than
reading. There were too many words, too many letters and I wouldn’t get
it right. Now, I know all the letters and I can write correctly. The teachers
are excellent and I like them very much.
I came to live here 15 years ago and I have 12 children. Six of them
live with me and the other six live elsewhere. When I first arrived there was
only wilderness, then people chopped the wood and built houses. I didn’t
get to live in tents; I came after the mud houses were built because my
children were going to school where I lived. My husband decided to come
here because it was a city where we lived, the town of Ceará Mirm, and he
was born and raised as a farmer and had nowhere to work. That is why he
looked for a camp and then became a settler, so he could work and survive.
He works the land. This year hasn’t been good as there was no winter rain,
and if there’s no winter rain, there’s no yield.
You start working too early, as a child, and when you turn 40 you’re
already tired. Which is my case and the case of many people. I still work
the land. When winter comes, you sow and you harvest. But when winter
does not come, you stay at home looking after the children, washing
clothes, cooking, sweeping. And in the evening I go to school. It makes
me tired but it has to be done. Sometimes I fall asleep in class. And then
the teacher says, “Mrs Josirene!” – “I’m here, teacher!”, I answer. I’m tired
but I’m there.
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Making dreams come true
I think studying improves our knowledge;
it is through study that we can have a better life.
At my age I cannot have big dreams,
just to learn more and gain more knowledge. I know I won’t earn a degree. My
husband says, “Josinha, you still go to
school at your age? You should have already learned everything!” And then I say,
“But I want to learn more!” But I know I
will never be a doctor or an engineer.
I find this project very important. I
think studying improves our knowledge; it
is through study that we can have a better
life. Some women here want to become veterinarians and others dream of
becoming nutrition scientists. We all have dreams, right! If I could have a
degree, I would be a psychologist because I think it is a good profession,
and the first one I would talk to would be my son, who is a very nervous
person, and everything stresses him out. He studies and he’s clever, but he
struggled to finish elementary school. He had to do the same grade over
many times.
Celly
Rondônia
Filomena
Thousand Women
Making dreams come true
Ji-Paraná
Jardim dos Migrantes and Novo Ji-Paraná are two districts that have benefited
from the Mulheres Mil project and the arrival of the Federal Institute in the state
of Rondônia in 2008. In Ji-Paraná, 373 kilometres from the state capital of Porto
Velho, the campus has the smell peculiar to new buildings – it opened its gates in
2009 to a community that had never before had access to professional education.
Mulheres Mil began offering classes in November and December 2010.
The process of expanding the federal professional and technological education
network is clearly visible here but there have been many challenges. One of
the biggest challenges was to offer education that responded to the needs and
employment opportunities in the region and that would respect and include
marginalized citizens that for decades had no access to education.
The communities that will benefit from this are neighboring rural areas. There
are few stores. Houses are fairly far from each other, there is no sewage system,
public lighting is poor and the streets turn to mud when it rains making it
difficult to get around.
In the neighborhoods it is easy to find students from all parts of Brazil. The stories
of these women are so similar that they could have come from the same family.
Actually, they could have come from any of the 14 communities supported
by Mulheres Mil. Child labour, little time for school, household violence, low
self-esteem and an infinite strength to look after the children – all of those are
common traits.
Training was given in crafts and bio-jewelry. The Federal Institute looked
for partners to ensure the education provided new skills and helped with the
commercialization of the products made by the students. The project’s promotion
of dialogue and of community access to the campus was unprecedented in this
region. Most students work as maids and their dream is to find a better job in
order to give their children the prospect of a better future.
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Celly Santos Silva
Celly Santos Silva is 25 years old and has four children from two marriages.
She spent part of her childhood working in the fields and another part working
as maid in the home of another family, so she could help raise her brother sand
sisters. She had children herself when she was still an adolescent. She had the
first one when she was 14 and from then on there was no time left to study.
Her dream, like that of most women, is to improve herself so she can help her
children. Disproving her mother’s prediction, Celly intends to go to college.
Making dreams come true
Thousand Women
1. Named Seringueiras, the
municipality was created
by Law No. 370, dated on
February 13, 1992, and
signed by Governor Oswaldo
Piana Filho..
I was in school up until to fifth grade. My
dream is to complete my studies.
I believe it is an opportunity to grab with all our strength. It is an
opportunity to leave the life we have lived until this day. For example, I
didn’t have much of an opportunity to study.
We lived in Seringueiras1. We were six children there. There we
would only get paid once a year. There are middlemen who buy coffee
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Making dreams come true
and throughout the year we can borrow money from them in advance.
I remember, my father killed himself in this period. He drank poison as
he owed so much money. I had a brother who had got into drugs and my
father did everything he could to stop him from stealing. We ended up
having a debt of 240 sacks of coffee. My mother was left with that debt to
pay. So I had to find a way to make extra money and help my mother. I left
home when I was 11 to work in other people’s houses.
At that time all I thought about
was being able to stop working in other
people’s houses and to have my own
house, but I didn’t think that I could have
the problems that faced me in finding a
husband. In those days I knew nothing
about contraception and had no one to
talk about it. When I was too young I
went to live with this guy. I was 13. Then
he started to beat me; if he arrived from
work – he worked in the fields – and
thought that anything was not in its place,
he would beat me and the children. I had
two children with him.
I can finish my education, finish high school and then take a technical course
on nursing and, if God wishes, go to university to become a pediatrician.
So I ran away to Ji-Paraná. I took a few
pieces of clothes for me and my children and
moved in to my mother’s house. I was 16 years old
and began to work again in other people’s houses
to help my mother and provide for my children, as
what I earned was not enough to live on my own.
With the Mulheres Mil course I hope to
find a better job than being a maid. I want to
make some money so I can finish my education,
finish high school and then take a technical course
on nursing and, if God wishes, go to university to
become a pediatrician.
I loved the classes we had. At first it was more conversation to get to
know our classmates, but I liked it a lot. I was a little afraid, but when the
teacher started to explain, the fear went away. It is easier than I thought;
I was very afraid of coming close to a computer, of erasing the programs,
but not any more.
I consider myself a simple person who doesn’t know a lot. A cheerful
person, a person full of life. I consider myself brave, because I’m not afraid
to face what life brings us; there are people who when they come across any
obstacle say: “This is too much for me; I can’t handle this.”
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Making dreams come true
I think in 10 years I’ll be able to have a comfortable house,
even in my current neighborhood.
Starting to study again can
completely change my life. And it
can change my life and the life of my
children. I think in 10 years I’ll be able
to have a comfortable house, even in
my current neighborhood. My eldest
son will be 21 by then and the other
one will be somewhere between 18
and 19. The youngest will be 12 and
the other one, 16. If I haven’t finished
college by then, I will at least be there
and I will have a better job anyway.
And I’ll be able to help my eldest to go
to university himself. That is where I want to be in 10 years.
Filomena Ferreira de Abreu
Making dreams come true
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From the 1970s to the 1990s, thousands of workers moved from the Southeast
to the North of the country in search of land. The story of Filomena Ferreira de
Abreu is directly related to this migration. Born in Minas Gerais, she moved
as a child with her parents to the outskirts of Ji-Paraná. She lived on a small
ranch and started working the land very early. At age 43, with three children,
one of her dreams is to return to her hometown and meet her relatives. The
other dream is to see the beach. A quiet person, she says it’s only lately that she’s
been able to speak more, and she intends to finish her studies so she can find a
better job and see the sea.
My mother worked a lot and we would
help her with sowing and harvesting.
After my father died, she sold the small ranch, which was on km
12, and she bought a house in Jardim dos Imigrantes and came here. I
was 14 years old. And then life became even harder, because things are
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Making dreams come true
more difficult in the big city, and she had no education. At
age 14, my brother went to work and my mother worked as
a housekeeper. So I stayed home to look after our house and
my little brothers.
I had my first child when I was 16. My mom wouldn’t
let me date, so I ran away with the first young man I dated.
My husband was not a hard worker. I went home to my
mother’s house but I was pregnant. Then I married again.
Life got better for a while and I had two children. But my
husband drank too much and got violent. He even shot me
with a gun. I didn’t call the police because he came with me
in the ambulance and threatened that if I said anything about
it, he would kill my daughter and then kill himself. I never said a word
about it. I left him and moved to Porto Velho. It’s now been four years
since I came back here.
As a child I made it to fifth grade. I enjoyed going to school to meet
my friends and to learn as well. Every day the teacher would choose two
girls to prepare the meal since there was no stove and we needed wood to
cook. So we would light the fire, we would get some big pans to cook and
we would make sweet rice or soup. There were some salty soups which I
never saw again, that would come in a big package. You only had to add
water and let it boil, and it tasted really good.
As a child I made it to fifth grade. I enjoyed going to school
to meet my friends and to learn as well.
Twenty-four years later, I returned school. I made it to eighth
grade, but the school was far away and I would come home tired. My
dream is to finish my studies and find a good job. I work as house cleaner
and it is hard; I don’t make much money. I would like to make a better
life for my children. One of them dreams of going to college and I have
no means to help.
I first enrolled my daughter and then I came to
the project. I think it’s great because we will learn a
lot and we already had some classes in computers, just
a few. I want to learn how to use it. I already know a
little, but it is not enough. It was great, the teacher
made us feel at ease, because I was afraid to touch it
and break it.
I feel welcome, people speak a lot; the teachers
ask a lot of questions, they ask how we’re doing.
So we feel better. People look at us differently, they
expect more from us, and it’s good, it’s very good. It is
encouraging. It is good to meet new people, with other
views. We learn a lot from the stories other people tell
us. I learned that we have to accept others with their
flaws. Nobody is perfect, everybody makes mistakes.
Everybody has problems.
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I feel
welcome,
people
speak a lot;
the teachers
ask a lot of
questions, they
ask how we’re
doing.
It’s good for the self-esteem,
to have more confidence and feel
happy, and talk more. I’m learning
to talk a little more. I think I didn’t
used to have many friends because I
was always very shy, I would hardly
talk. I was too quiet.
I expect to finish my studies,
to learn as much as I can, and
maybe find a better job, maybe as
a saleswoman, something like that,
or even a job at city hall. To be
honest, I’d really like to pass a public
competition.
I dream of building my own
house and I would like to start it
next year. The house I have is made
of wood and I’d like one made of brick. I have another dream, but I have no
idea when I’ll get to do it: I’d like to go to the beach. I see it often on TV.
Simone
Roraima
Sôngila
Thousand Women
Making dreams come true
Boa Vista
Bordering Venezuela and British Guyana, the State of Roraima is a corridor for
drug trafficking. The activity victimizes many women who get arrested for several
reasons. At the Boa Vista Women’s Penitentiary there are over 100 inmates doing
time, almost all of them for trafficking. There are women of all ages, 18 year old
youths and adults over 50 years old.
Women from many areas of Brazil, including indigenous women from the Macuxi
and Wapichana tribes and even from abroad, were used as “mules”. Without their
knowledge, they were bargaining chips: given by traffickers to the police in order
to disguise the entry of larger cargoes. Some of them were never involved with
drugs, but because they won’t turn in their husbands or sons, they are considered
accomplices.
The jail is small and as many as four women share a cell. There are bunk beds
and each cell has a small kitchen for making snacks. The hardest thing is to bear
the heat; some rooms are covered with asbestos tiles and the temperature is up to
50ºC. Breathing is difficult. Since many cannot afford a lawyer, they can wait for
over two years for a trial. The sense of being abandonned by their families leads to
profound depression. In the childcare wing, the cries of children are a distraction
and they can forget they are in a prison, but the desperate look in the eyes of some
inmates shows the need to develop alternatives for the future. One day they will
leave the prison.
In Boa Vista there were two groups with similar goals. The prison management
was looking for alternatives to the education they were offering and the Roraima
Federal Institute (IFRR) was discussing the adoption of the Mulheres Mil project.
In order to develop the project in the prison, the IF acted as a facilitator and raised
awareness among several local institutions that were needed to make the daily
work possible. This ranged from the simplest things, like obtaining authorization
for the instructors to enter the prison, to more complex matters, like getting
permission and escorts for inmates to leave the prison for the practical training.
The partnership had a happy end. Eighty women were certified in food preparation and upgraded their education. Some of them have already been released and
found work in their field and one of them has opened a business at the men’s
prison. Organizations continue to plan ways
to ensure these women enter the work force.
One of the proposals is to help them organize
a cooperative so they can supply their own
meals in prison. Currently the state government hires a private company for food service.
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The goal is to help them organize a cooperative so they can produce and supply their
own meals, something that currently is in the
hands of a third party.
Simone Pires Lopes
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Thousand Women
Simone Pires Lopes is 40 years old. She was born in Manaus and had a
normal childhood and adolescence. She was able to study and even finished
high school, but chose trafficking rather than going to college. Arrested for the
second time, Simone has assumed the role of representing her classmates and
helps organize the choir. Since she is evangelical, her challenge is to avoid the
temptation of easy money when she finishes her sentence. Her dream is to open
a business with her husband, who is also doing time.
The woman who began, who stayed until
the end, until the last day,
who went on stage at Cefet to receive her certificates, she knows how
important this was to the lives of all of us who took the course. Do you
know the story of the star that guided the three kings and led them to their
goal? That is what the Mulheres Mil project means.
Throughout the project I witnessed the rehabilitation of some of my
colleagues. Those who participated will never forget it, because it opened
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Making dreams come true
our minds to take advantage of this opportunity in our lives. It taught us
the importance of making the decision to change our lives, to seize the
opportunities that are presented to us, like this course. Those who took
the course and those who are taking it now know it’s an opportunity they
have to hold on to.
With Mulheres Mil I learned to take all the courage, the energy I
had put into doing illegal things, and use it in another way, with the same
courage, the same energy, but with less ego, because too much ego isn’t
good. The way you treat people changes; the use of money, the way to earn
it, because we learn to work in order to reap the benefit.
I wasn’t afraid of the police, I wasn’t afraid of the drifters, I had no
fear at all. I was brave, I would challenge them. I had a gun with me and
I’d shoot if I had to. Thank God I never had to, but I really had the guts. I
thought I was really something. Then I found out I was nothing like that.
On the contrary, I was a fool for having thought that way. I thought I was
the best, but I was nothing at all. I was a fool, an idiot who thought she
was better than everyone else because she had some drugs, some money,
and because she could get whatever she wanted and she could spend as
much as she wanted in one night because that’s how my life was.
The course content filled several gaps in our lives. Right from the
start it worked on our self-esteem, that thing which so many people lack,
by repeating: you can, you are capable, you can change. You just have to
want it. So many of us had those gaps that we needed to fill. And this
course came and filled them. It taught us that we can change our lives. We
just have to want it.
When we find ourselves here in prison, everyone is equal. I was born
and raised in a very good family. I was always very much loved as I was
And this course came and filled them. It taught us
that we can change our lives. We just have to want it.
the only girl, and was always given many toys, much attention, lots of
affection and that is how I grew up.
I fell in love; the so-called love bandit came into my life. I went to
Boa Vista for 15 days, and stayed for two years. Then I started trafficking,
but not because he encouraged me, but because I saw how quickly you
could make money, easy money. We are often in a hurry to succeed in life.
This is blind thinking, because reality is something different. I had already
finished high school, but then let my education drop. I had wanted to
study Biology.
We took the entrepreneurship course, and that really broadened our
minds. When I leave this place, I hope, and so do the other women, to
follow a new path. Actually, this new path has already started in here. It
began the moment we applied for the course, the moment other people
started to take part in our lives.
The Mulheres Mil project is a door, even for those who already
have had the chance to study. Sometimes we would joke that we were left
outside of society, but we see that there are people outside these walls that
think otherwise, and those who leave this place will return to society. And
the hope is to succeed, because the prejudice is not only against those of
us in here, it is also against our families, because we lose our self-esteem,
we feel ashamed.
Participating in Mulheres Mil also showed me that I don’t exist as an
island, that there are other people around me, even if we’re not linked by
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Making dreams come true
And a woman is a human being that, when it comes to fighting,
doesn’t fight alone. She fights for her husband and children.
blood we’re linked by bonds of friendship, of care,
of affection. Even here we used to get together in
the kitchen many times to prepare appetizers and
meals. And a woman is a human being that, when
it comes to fighting, doesn’t fight alone. She fights
for her husband and children. When she does
something, it’s not for her sake alone. That is what
being a woman is about: companionship.
I want to apply all that I have learned.
I’d like to open a small market and sell rice and
beans, and on weekends, from the front of my
house, sell chicken with salad. My dream is to leave prison at the same
time as my boyfriend, João Morais. I think I’m the pan and he’s the lid
[laughs]. What would be the soundtrack for my life? Love without Limits
by Roberto Carlos.
Sôngila Soares de Lima
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Sôngila Soares de Lima, age 47, could be called a natural-born entrepreneur.
She opened a restaurant with her boyfriend at the men`s prison and has a
candy shop at the women`s prison. Born in Pará, her mother was indigenous
and her father was Portuguese. Inactivity can be hard for someone who
worked in the mines for over 20 years. At the prison she studies, cleans the
guards’ surveillance post to shorten her sentence, and looks after her business.
Even after all I’ve been through, I’ve
never been fearful.
I am fun to be with, I’m popular, and very loyal, a real friend. I live life
smiling, there is no such thing as a cloudy weather. That’s who I am: full of
attitude, guts, ready to take action. I don’t make promises, I do. Whenever I
decide to do something, I go and do it. I have confidence in myself.
I didn’t feel I was their daughter, and than I found out I had been
adopted, I was 16. One day I heard my adoptive mother talking with
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Making dreams come true
my biological mother. I had seen her visit many times before
but it had never occurred to me that I was adopted. I never
managed to call her mother, because she saw me being abused
so many times, she witnessed my pain and never did or said
anything about it. But my adoptive mother never abused her
own children!
In 2008 Mulheres Mil appeared. Since I already wanted
to take a course like this but couldn’t afford it, I jumped at the
chance. I had made it to fifth grade but it had been 20 years
since then. So I started studying again, I became qualified,
I learned about entrepreneurship, about math, about the
environment, about how to work with the public, so I could
start my own business.
I had an aunt who was a gifted cook and baker. I would stand by
her side in the kitchen watching and learning. She liked me a lot. I think I
have a talent for cooking. I learned really easily.
I never got involved in trafficking; I always worked on mining sites,
in businesses, in restaurants. I would cook for the guy who owned the site,
and for the miners, and I was paid 2 grams of gold per day. When I started,
the mining was done manually, later it was done with machines. I worked
in Colombia, Venezuela and English Guyana. When I was arrested I had
just arrived from Guyana. It was there that I met my boyfriend. He helped
me build my house; I would contribute with my money, my diamonds,
and he would contribute with his.
In 2008 Mulheres Mil appeared. Since I already wanted to take a course
like this but couldn’t afford it, I jumped at the chance.
Now I have a restaurant at the men’s prison. There are seven, but
thank God mine is the most popular. I took the course and passed on
everything I learned to my husband and my fellow inmates. I have five
workers at the prison and they need to be equipped, wear a cap, they need
to have clean hands, need to be clean-shaven, nothing on their hands, no
watch or ring. I go there every Sunday and when I arrive everybody is there
clean-shaven and smelling good. They do everything right.
I was sentenced to 12 years in prison. The judge considered me
an accomplice, he said I was aware of what was going on, and since my
boyfriend had been in prison and escaped from parole, I was therefore an
accomplice. I didn’t turn him in. But I have already done my jail time, so
now I’m on probation.
I didn’t see anyone in my family for eight months. I am a mother of
nine children; two of them live in Manaus, the other ones live here, but
only one of my daughters has visited me. When we come here, the family
turns its back on us. In the beginning they come, but the visits become
rarer. It hurts because you feel abandoned.
We were 40 women, 20 in the morning and the other 20 in the
afternoon. Everyday they would take us to Senac1, for the practical part
of our gastronomy course. I learned a lot, made a lot of progress. Before I
started taking that course I already had a stand where I sold sweets, which
I still have, and that is what gave me the courage to cope with this sentence
and to make a living.
I already knew many recipes, but I lacked practice with the rest:
the ingredients I needed, calculating the amount per person, because
1. The National Service
of Commercial Learning
(Senac) in Roraima is one of
the project partners in Boa
Vista.
Making dreams come true
Thousand Women
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Thousand Women
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Making dreams come true
I plan to continue, because it doesn’t make sense
to be a businesswoman without an education.
sometimes I would prepare too much and then it would spoil. So
I would have to throw it away. I learned everything in the course.
I learned how to live with my earnings, because I would spend
everything I earned, I would buy things that were not necessary.
Now I know how to save my money, how to make it last. I learned
a lot of math, and I use all I learned. I had many classes here, I
had lessons in manners, in good behaviour, how to get along with
people, how to address people.
This project is meant to open doors to women who can
cook, who want to get ahead, who want to learn more, to
improve themselves, because a woman can, further down the
road, set up stall in front of her house, so she doesn’t need to rely
only on her husband.
I passed seventh grade and I am going into eighth. I plan to
continue, because it doesn’t make sense to be a businesswoman without an
education. My plan for when I leave here is to continue, to open a small
snack bar and a shop at my house, to sell soda, dairy, things like that.
Elenilde
Sergipe
Valdenice
Thousand Women
Making dreams come true
Aracaju and
Nossa Senhora do Socorro
The district of Santa Maria, known as Terra Dura (hard land), is in the southern
zone of Aracaju and is where part of the garbage from the capital city is
dumped. Even after the Public Ministry outlawed it, the inhabitants say there
are families who still make their living from the garbage brought from Aracaju,
São Cristovão and Nossa Senhora do Socorro. The village of Taiçoca de Fora is
in the municipality of Nossa Senhora do Socorro, a coastal area of Sergipe, and
the majority of the population fishes for a living.
1
The landscape and the subsistence in these areas are different, but the social and
economic realities of the women are similar. Both in Santa Maria and in Taiçoca
de Fora, work begins in childhood. Because of that, the education level is low,
motherhood comes early and the lack of professional qualifications becomes an
obstacle to entering the labour force.
2
1
Santa Maria neighbourhood
2
Taiçoca de Fora
1
2
260
The challenge for the women in Santa Maria was to make them see themselves.
They had to strip away the layers of fear and prejudice accumulated through years
of working in garbage. In Taiçoca de Fora, they had to confront the resistance
of husbands and the suspicion of other women, who were so tired of hearing
unfulfilled promises from politicians. In both communities, the goal was to use
and improve the talents that they had already acquired during their lives.
To work with these realities and fulfill the needs of these women, the Federal
Institute of Sergipe designed courses in the areas of recycling and crafts, which
were not previously offered in its programming.
The establishment of partnerships was essential
to ensure the improvement of the education
level among the female population of Taiçoca
de Fora, to offer professional qualifications and
to integrate craftswomen into local and national
markets. All these measures required the involvement of many organizations, which created
a support network that could be replicated in
other locations in the state.
The results for the students are varied. Some
graduates chose to make crafts, which they sell
at markets. Others still work at the Independent Gatherers Cooperative of Aracaju (Care), and
some are looking for other professional alternatives. The women from Taiçoca de Fora are discussing the possibility of organizing a production
association.
Elenilde do Espírito Santo
Making dreams come true
Thousand Women
Besides her family name and physical traits, Elenilde do Espírito Santo
inherited the profession of shellfish gatherer from her parents. At age 32, she
has already had long experience working in the sea and in the mangrove. She
has been doing this for 23 years and knows how to catch, crack and clean
the shellfish. She did not to learn to sell, however, so she still depends on a
middleman. Cheerful and objective, she says what she thinks without worrying
about criticism. Memories of school include quarrels with schoolmates and she
still will not tolerate disrespect.
It was very good to study Information
Technology and we would like to have
more classes on that.
First we were afraid of wrecking the computer, so we asked, “If we
break it, will we have to pay for it?” “No, you won’t have to pay.” I learned
to access the Internet; I got very curious about it. We started to look for
boyfriends, we learned how to chat.
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Thousand Women
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Making dreams come true
Now I know how to embroider using “sururu” shells, oyster shells,
things we would not know before as we would throw the shells away.
I was glad to return to the classroom and to know we can learn even
at this age. This course will be good for me and to show my children that
the best thing in life is to study and for them not to do as I did, quit.
In Portuguese class we wrote a story telling about our lives, what we
had done in our childhood. My childhood was a hard one. I didn’t have
time to play; my children became my toys. I started to work when I was
nine. My mother would wake us at midnight saying it was 4:00 a.m., to
crack shellfish. And I would say: “Won’t the sun ever come up?” That was
our only choice, fishing was our only choice.
We would also go to the mangrove, to catch
oysters and shellfish. My mother would take us
with her, rather than leaving us alone at home. I
only made it to third grade. When it was time to
go to school, I would already be so tired, and all I
would think about was the work I had to do when
I went home: do the dishes, go out to fetch water.
When I left school I was 13. And that was it. I
started taking care of the children and as of this
day I take care of my children and gather shellfish.
I do a little bit of everything, but what I like most
is to take care of children.
It is 4:00 a.m. when I’m off to the sea and
I’m back between 2:30 and 3:00 p.m. We go out
by canoe and I can’t swim. As for the shellfish, there are some
weeks when you catch them and some weeks when you don’t. And
we crack the shellfish that we gather from the sea at home and
then pass them on to someone else to sell. He goes to Bahia and
sells them by the kilo. Each kilo costs five reals. I crack between 10
and 12 kilos a day, from 4:30 a.m. to 8:00 p.m..
Many of us feel insecure, and are afraid, but having taken
this course I feel more self assured, I have more confidence. The
classroom is something else because we get more involved, more
focused on learning, on seeing what good things the teachers have
to show us.
People can learn at any age, it is just a matter of wanting to. We start
to learn things we didn’t have time to learn earlier in life. Now I know
how to embroider using “sururu” shells, oyster shells, things we would not
know before as we would throw the shells away. We’re learning to make art
from shells. Now we know that the shells we used to throw away can be
worth something.
I like the math teacher a lot. He’s a very cheerful person and is really
into making us learn, because calculating can be hard. At school I wasn’t
very good in math, but the way he teaches it shows us we are capable of
learning, of moving ahead in life. I learned how to divide. It was not easy
for me, but I learned.
Making dreams come true
Thousand Women
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Thousand Women
Making dreams come true
The course
also helped
me to be
patient with
my children.
Now I come,
I play with
them, I take
them out.
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The course also helped me to be patient with my children. Now I
come, I play with them, I take them out. I’ll go to the mall, to the beach,
because I like to go out. I like having the coldest beer I can find. I’m
learning to give more love to my children. I didn’t get that much love from
my parents, love in the sense of kissing, hugging, and today I kiss, hug and
even spank when it’s necessary.
My children don’t work. They can be children. I have one who is
ten, a five year old and another one who is two years and five months
old. Cleidiane, the eldest, Adriano and Raquele. By getting qualifications,
I expect to provide a better life for my children. Through my studies,
through the project, I intend to give many good things to my children.
Valdenice Alves
Making dreams come true
Thousand Women
Valdenice Alves is not very talkative. She keeps things to herself, does
not speak very much, perhaps because she was given a great deal of
responsibility at a very young age. She started helping her mother make
a living very early. Born in Alagoas, she helped to sell shellfish and crabs
when she was around 10. At age 11, the family moved to Aracaju, where
she and two brothers had to cope for years with the Terra Dura landfill,
as the Santa Maria neighborhood is known, in order to provide for her
mother. Education was a luxury that she seldom experienced.
I liked the project name – Mulheres Mil –
as I consider myself a winner,
one who’s empowered.
I can handle any kind of work because working on a landfill since
11 years of age wasn’t easy. I’m 24 years old. I was born in Maceió but
I came to live here in Aracaju when I was 12. When we first arrived, I
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Thousand Women
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Making dreams come true
1. The Cooperative of
Autonomous Recycling Agents
(Care) from Aracaju was
established in 1999 aiming
to take families out of the
landfill.
would leave at 8:00 a.m. and would
stay until 5:00 p.m.. Sometimes we
would work all night long, because
many people worked at night. When
my father started to drink, we had to
look after ourselves, because he would
go on and on, and if it wasn’t for us,
my mother would be in trouble. The
twins and I provided for the house.
I knew about the project through Care1; I was one of the cooperative
members. It was good to be back in a classroom after so long. This project
was a very good experience, I met many people from my neighbourhood
and I liked the other women very much.
I liked the psychologist because she made us feel at ease, we would
feel alright. I liked the computer lessons. Many of us had never handled
a computer. There was one woman who was so happy just to be able to
turn it on and off. I was too, as I had never used one before. Someone who
never handled a computer before is afraid to touch it, I was really nervous.
I never stopped asking for help. We felt at home, I felt at ease, and the
teachers helped a lot.
I made it to fourth grade. At the time, a neighbour enrolled me in
school. She asked for our birth certificates and filled out the applications
for myself, my brother, and my cousins, who all worked at the landfill. I
enjoyed going to school, I wanted to go. There were times when I would feel
ashamed when the bus would pick us up at the landfill. The other students
would stick their heads out of the window and call us garbagemen. Once I
argued with a boy; I stepped on him because he called me garbageman.
Many people show prejudice when they know that we are from Santa
Maria or Terra Dura. It is a horrible feeling being humiliated. Even when
I wore the Care uniform, when I would go to buy groceries they would
stare at us. If I could I would swear. I would say, “What are you looking at?
Is this any business of yours? It’s better to work than to steal.” Things like
that. I would argue a lot because of that; I was pretty angry about it.
Before taking the course, I only thought of work as a means to eat.
Now it’s different! I think about working, about buying clothes, buying a
pair of shoes. In those days I would only think about working and building
my house, and that was it. I wouldn’t include myself. And today I take
myself more into consideration. I think it was because of the way I was
raised, because that is how my dad was. The way he saw things, as long as
there was rice and beans, nothing was missing. I never had a toy, a good
piece of clothes. He was as poorly educated as we were.
After the
landfill, my
second job
was at Care,
and it was with
something I
already knew
how to handle,
which was
garbage.
I learned to make crafts with newspaper. It was good, but there
should have been more lessons. I would like the project to have a second
phase. I can make elastic bands for holding hair. I gave a few to my nieces
and sold the other ones. They sell easily. I only stopped because I began to
work at a lady’s house in Atalaia. But then I left because she wanted me to
live in.
I stopped working for a few years when I was in my eighth month
of pregnancy and when I had my son. I got pregnant when I was 15 and it
was unplanned. I took more precautions after he was born. He’s nine years
old. I met my son’s father when I was still a child.
After the landfill, my second job was at Care, and it was with
something I already knew how to handle, which was garbage. I started
there when I was 20, I stayed there for three years and nine months. I left
because I got sick; I had a blood and lung infection. At the graduation
ceremony I was in hospital; I spent 13 days there. Before that, I had never
looked for a job outside of Care. I was afraid of leaving
there and not being able to find another job. I would go to
work even when I was sick, wouldn’t mention it, because
I was so afraid of having to leave.
In the beginning I was used to working in a
different area, only with garbage. Cleaning work is easier.
If we know precisely what to clean, it’s easier and you earn
more. I also do manicures at home.
This project raises the self-esteem of many women.
Sometimes we’re going through hard times, but then we
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Making dreams come true
The project helped me to develop communication skills as I used to be quiet.
I wouldn’t like to talk with people without having been introduced.
stand up, and value ourselves more. We’ve been through a lot of pain, so
we need to look after ourselves a little more.
The project helped me to develop communication skills as I used
to be quiet. I wouldn’t like to talk with people without having been
introduced. It was “Hi” and that was pretty much it. But now it is easier
for me to communicate. Taking part in the project changed many things:
the way I relate to my family, the way I talk to my son. Taking part in the
project was good for me. Now I feel I am better.
I have many friends who work at the landfill. There are still many
women and children. Many of them work more than men, pulling the
wagons, and going through the garbage. What I find beautiful is their
attitude. They’re not afraid to face life’s challenges, but it’s very hard.
I’ve been through many hard times in life but never gave up. And I
won’t ever give up. I won’t give up fixing my house, seeing my son study,
having a job I never had before.
I would like to work as a manicurist. I’ll prepare a few CVs to send
to businesses and see if I can get a job in general services. I feel I am now
more qualified for the job market. My dream is to have a signed job card
and build my house. I want to give to my son what I never had.
Lúcia
Tocantins
Sheilane
Thousand Women
Making dreams come true
Palmas and
Taquaruçu
Students of the district of Taquaruçu and Santa Bárbara neighbourhood have
life stories with many similarities. Many of them worked as children, most of
them married early, and many of them are the sole providers to the household.
Some of them try to hide the marks of domestic violence they carry, many have
no self-confidence and none of them have taken a technical course or sat in a
college classroom.
2
1
Palmas
2
Taquaruçu
1
2
270
The district of Taquaruçu is 32 kilometres away from Palmas, where the Federal
Institute of Tocantins (IFTO) is located. The district is a small town and has an air
of tranquility, as if time has stopped and the hustle and bustle of the modern world is
something from another world. In the Santa Bárbara neighborhood of Palmas, there
is an atmosphere of fear. The houses are close to one another, there is no healthcare,
urban planning or sewage disposal. And there is plenty of violence. Most of the
population lives in extreme poverty. As in other slum areas there are no government
services and many inhabitants are unaware of their rights to education and jobs.
In order to promote access to education for the women from these communities,
the Federal Institute established a dialogue with the neighbourhood association.
Many challenges then presented themselves: the need for transportation to school,
a way to ensure continued attendance and
how to offer professional training to a
group with a wide range of ages – from 18
to 60 – and varied education rates – from a
few grades of elementary school to middle
school graduation. At the Santa Barbara
State School there was no Education for
Youth and Adults course and the dialogue
between the IFTO and Palmas City Hall
made it possible for women who had left
the classroom decades ago to continue their
studies.
The institution also collaborated with local
businesses to offer qualifications in a variety
of skill areas. Today, besides the handicraftmaking course offered to women living in
Taquaruçu, students at Santa Bárbara are
also enrolled in courses on tailoring and
food handling. The impact in the lives of
those who have earned their certification
varies. Many found work in areas not
related to their qualifications, a group is still
making and selling crafts, but the majority
of them have gone back to school.
Lúcia Araújo Mendes
Making dreams come true
Thousand Women
Good humour and a ‘joie de vivre’ are strong traits in Lúcia Araújo
Mendes. She is from reggae land, or Maranhão, and is proud of her roots.
At 51, she has lived most of her life in a rural area sowing and harvesting
and raising brothers, sisters and children of her own. During her life, she
has rocked the cradle of 19 children, and is now raising a 13-year-old
granddaughter and helps with another four grandchildren. Soon it will be
six years since she came to live in Palmas and she now makes a living from
recycling and making crafts.
When I started getting into crafts, it was
because a friend told me about it,
I wasn’t really that enthusiastic. But I liked it! It’s been four years since
I started making crafts. I’m convinced and really like it. I also work on
recycling. I gather iron, cans, plastic. I make crafts and I make recycled
271
Thousand Women
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Making dreams come true
I’ve liked everything I’ve done while participating in this group. I took the culinary
course. We learned to do appetizers, cakes, confections, chicken recipes and puffs.
paper and then I sell everything to the middleman. I’m the only one
working now because my husband is sick.
I was happy when I heard that the project would offer us a course
on crafts. I’ve liked everything I’ve done while participating in this group.
I took the culinary course. We learned to do appetizers, cakes, confections,
chicken recipes and puffs. I really liked the craft workshop on making
boxes; I fell in love with those little boxes.
I used to live in the country and I worked sowing and harvesting. I
could give classes on that. We would
plant beans, rice, corn and manioc.
There were years when it produced
enough for everyone to eat as much
as they wanted, but others years we
had a bad harvest and not enough
to eat. My mother had quite a few
children – she had 15, and she raised
13. I came second, so I had to help
look after the ones who came after
me. The first ones are the ones who
suffer most; that is why I didn’t grow
very tall, because I had to carry the
boys! When I was a girl, until I was 11, there was no school,
it was really only farmland. I married very young, around
13, 14 years of age. I felt like I was a prisoner because my
father wouldn’t let me go out with my friends.
This project was really wonderful for me, because I
couldn’t write at all, not even my name. And today I can sign
my name. I already know all my letters, but I still can’t put
them together when it’s a big word. went to Mobral1, but I
had to quit at that time because of my children. I began to
study here at Santa Bárbara, but when the EJA2 came to an
end, I had to stop as well.
I think this course has helped us in many ways. Not
knowing how to read or write is really difficult. I once went to
the capital city, Teresina, to take my sick girl to the hospital;
they gave me a paper with something written on it, and I didn’t know what
to do or where to go. I would ask for information and people would send
me to somewhere and then to somewhere else. It was horrible.
Now I’m not afraid of having to write my name when I need to
sign a paper. I’m feeling more confident. Now I can read a little, I already
know all the capital letters. But putting letters together to form big words
is something hard to me.
Mulheres Mil changed the life of the women from our neighborhood.
1. Mobral –The Brazilian
Literacy Movement.
2. EJA – Education for Youth
and Adults.
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Making dreams come true
This has
opened my
eyes and my
spirit, and for
me it’s good.
Things will
be better if I
continue.
274
I tell you that because my girl said to me, “Mom! I’m really glad because
I finished the eighth grade and I know things I didn’t know before.” Now,
thank God, because of this project, she said she will never stop studying.
We are given a grant, which is very important to me. It’s R$100, but
it’s a lot of money to me. I pay the electricity and water bill with it and
sometimes I even buy rice, meat, I provide for the house.
This has opened my eyes and my spirit, and for me it’s good. Things
will be better if I continue. Many women were like me: unable to sign
their name. But now they know how and are excited about studying, they
want to continue. Even if the course comes to an end, they want to keep
studying.
Sheilane Alves
Making dreams come true
Thousand Women
Sheilane Alves is a housewife, who works at the Palmas City Council and is
studying music at the Military College. She quit studying when she was in
seventh grade and for 17 years she didn’t go back to the classroom. She came
back to school because of the project and now, at 37, she has new goals, one
of them being a college degree in social services. She enjoys singing, she sings
beautifully, especially when she sings the song that reminds her of when she
started dating her second husband. ”Quero colo” (I want some tenderness), by
Leandro e Leonardo.
I keep wondering why I stayed away
from school for so long.
Sometimes now I may be tired, because this job demands a lot from
me, but when I go to school I feel so good, so happy to know I’m going
to learn something! I leave home at 4:40 p.m. and only come back at half
past midnight. And sometimes I study until 4:30 in the morning to do
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Thousand Women
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Making dreams come true
all the homework and get ready for
the tests.
For me, going to school is a
challenge that I want to share with
those people who I’ve learned to love
and respect. Going to the military
school today feels like going to
Mulheres Mil: it’s a challenge, but
it’s also a joy and an apprenticeship,
because every day is different.
I quit school when I was 17 and was in eighth grade. And I developed
this desire to study through the project because before that I didn’t get
any encouragement and didn’t really want to do it either. I thought I
could only manage to work and to do what I could to provide for my life.
Now it’s different! I learned that I can manage both: I can take care of my
household and do what I like, which is to study.
We are four children and my father guides us, and we always respect
his opinion. And I married to please my father. I was about to turn 16.
My father approved of the boyfriend I had. But then we argued and split
up. So he went to my father’s house, who didn’t yet know we had split,
and asked him for my hand in marriage. I resisted a bit, but didn’t want to
displease my father. So I accepted and got married.
I was in the seventh grade and never came back, because I was
working and didn’t have much time to study. And my husband didn’t
encourage me. Two years after that my son was born. That is when I really
dedicated myself to the house, to the child, to the job, and I couldn’t even
think about studying. Five years later we separated – and soon it will be 20
years since we separated – then I married again. We’ve been
married 11 years. We get along well; he’s one of the people
who encouraged me to go back to school. He helped me a
lot while I was in the Mulheres Mil courses.
I heard about this opportunity at Military College
on the radio. They were taking applications for courses
on music and information technology. So I went there
and filled out the application and today I am studying
music. We are learning to play and also to become a music
teacher. I love my course. We think music is something so
simple, but it’s really not. Nowadays, for you to become a
music teacher or to learn to sing and play well you have to
study, because we have to read music, there are rules to be
studied, and obeyed.
The project taught me to look at myself, to like myself better,
not to think that I had no right to fight, to persevere…
Through this project I
have also had the opportunity to
work. On January 1st it will be
two years since I started working as a civil servant at the Palmas City Council. It was through
Mulheres Mil that people began
to see my value. They saw I had
the potential for leadership, to be
committed to my job, to work
and to survive.
One thing that I’ll always
remember was our trip to Brasília, and there we met the 13 communities taking part in Mulheres
Mil project. I met a very special
person, Marta de Lima1, a shellfish gatherer from Paraíba. With all the
hardships she had faced, she didn’t give up, she didn’t stop believing. I wish
there were more Martas.
Many things have changed for me. I always say that the project
allowed me to see life differently, because up until then I was a housewife,
I didn’t expect anything else and, all of a sudden, the project opened new
horizons for me. I felt like studying again, growing again, because I had
given up. And the 2011 Sheilane is a Sheilane who learned to be a warrior,
who learned to go for her dreams. That was one of the things I learned in
the project: don’t give up, no matter how difficult it can get.
All the girls who made the life maps mentioned the bus, because
a bus would come to pick us up and bring us back. When we arrived,
I remember it as if it was yesterday, everybody looked at the institute
building and said, “My God! Is this really meant for us?” When they
brought us to a classroom, and began to tell us about the project, I said to
a friend, with my eyes full of tears, “Here, if we want to, many of us will be
able to improve our lives.” When they brought us back home, everybody
was amazed, wanting to tell everyone what had happened, what they had
thought about it. It never crossed my mind I would be treated so well, that
people would respect us so much.
The project taught me to look at myself, to like myself better, not to
think that I had no right to fight, to persevere, because I would think that
at my age I wouldn’t get very far. And the project showed me that there is
no right age to win in life. There is not an age that you have to think you’ve
grown old and that your time is over. No! It showed me that, if I want, my
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1. See the story of Marta
Lima on page 205.
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Making dreams come true
I learned that I can manage both: I can take care of my household
and do what I like, which is to study.
age doesn’t matter, that I can win and go for my objectives. I am 37
today and in a year and a half I’ll complete the music course.
The women from Taquaruçu, I’m absolutely certain many of
them don’t have the dignity, the love for oneself, that we have today.
We have become different women. The majority of us managed to
get a job, there are those who didn’t continue with the handicraft
work, but we are all working.
My goal now is to complete my education at the military
school and then take a university course on social services, because I
think I have some talent in that area.
It is a project that has changed the stories of poor women. And
it is really worth investing in this project, because it helps human
beings to discover their value, to have self-esteem, to develop, to improve
as human beings, to try to succeed in life without worrying about the
barriers, because some people give up for the slightest reason.
Projects by State
Making dreams come true
Thousand Women
Alagoas Federal Institute for Education, Science and Technology
The Sweet Flavour of Being
Area of Qualification: Food
Brazilian Collaborators: Alagoas State Education Secretariat, ECAPEL
(stationery store), African Roots Project – ONG Maria Mariá, Banco do Brasil
Cooperative of Employees, Barra Nova Pastoral – Canadian Nuns, Aerotourism
Collaborating Colleges: Red River College and Cégep Régional de Lanaudière
Amazonas Federal Institute of Education, Science and Technology
Transformation, Citizenship and Income
Area of Qualification: Tourism
Brazilian Collaborators: State Government of Amazonas/Manaus Social and
Environmental Wetland Program and National Commercial Apprenticeship
Service (Senac-AM)
Collaborating Colleges: Niagara College, George Brown College and Collège
Montmorency
Bahia Federal Institute of Education, Science and Technology Institute
A Voyage to New Horizons
Area of Qualification:Tourism and Caregiver for Elders
Brazilan Collaborators: Terreiro Mokambo, Raja Yoga Brahma Kumaris
Meditation Center, Neighbourhood Association of Vila Dois de Julho
Community (Amovila), Betesda Baptist Church, São Lázaro Parrish, IFBA
Technological Incubator of Popular Cooperatives
Collaborating Colleges: Niagara College, George Brown College and Collège
Montmorency
Ceará Federal Institute of Education, Science and Technology
Women of Fortaleza
Area of Qualification:Tourism, Food Handling and Governance
Brazilian Collaborators: ONG Emaús, Pirambu Neighbourhood Association,
Technological and Qualification Research Centre (CPQT) and the Brazilian
Hotel Industry Association – Ceará
Collaborating Colleges: Niagara College, George Brown College and Collège
Montmorency
Maranhão Federal Institute of Education, Science and Technology
Food for Social Inclusion
Area of Qualification: Conserving Techniques and Food Handling
279
Projetos
Thousand Women
Making
DMakingdreams
dreamscome
come
true
true
Brazilian Collaborators: National Commercial Apprenticeship Service (Senac-MA),
Foundation for Supporting Education and Technological Development of
Maranhão (Funcema), Maranhão Commercial Association (Ascom), Olívio J. Fonseca, Bondiboca, Pão Nosso Bakery, Bakery and Confectionary Sabor e
Qualidade, José Sarney Foundation
Collaborating Colleges: Red River College and Cégep Régional de Lanaudière
Paraíba Federal Institute of Education, Science and Technology
Community Development – Impact on Quality of Life and the Environment
Area of Qualification: Fishing, Crafts and Environment
Collaborating Colleges: Cégep de la Gaspésie et des Îles
Pernambuco Federal Institute of Education, Science and Technology
Culinary Solidarity
Area of Qualification: Culinary
Brazilian Collaborators: National Commercial Apprenticeship Servic (Senac-PE)
and Federal Rural University of Pernambuco (UFRPE)
Collaborating Colleges: Red River College and Cégep Régional de Lanaudière
Piauí Federal Institute of Education, Science and Technology
Fashion and Citizenship
Area of Qualification: Fashion and Apparel
Brazilian Collaborators: Brazilian Service for Supporting Micro and Small
Businesses (Sebrae-PI), Municipality of Teresina, Municipal Secretariat for
Economic Development and Tourism and Casa de Zabelê (Archbishop Social
Action – ASA)
Collaborating Colleges: New Brunswick College of Craft and Design and Cégep
Marie-Victorin
Rio Grande do Norte Federal Institute of Education, Science and Technology
Casa da Tilápia
Area of Qualification: Processing of Fish Leather - Food to Crafts
Brazilian Collaborators: Education and Technological Development Support
Foundation of Rio Grande do Norte (Funcern), National Rural Apprenticeship
Service (Senar), Municipalities of Ceará-Mirim, João Câmara, Pureza and Touros
Collaborating Colleges: Cégep de la Gaspésie et des Îles
280
Rondônia Federal Institute of Education, Science and Technology
Organic Jewellery – A Network for Life
Projetos
Area of Qualification: Crafts
Brazilian Collaborators: Ji-Paraná Municipal Secretariat of Education and
Rondônia State Education Secretariat
Collaborator Colleges: New Brunswick College of Craft and Design and Cégep
Marie-Victorin
Making dreams come true
Thousand Women
Roraima Federal Institute of Education, Science and Technology
Inclusion through Education
Area of Qualification: Food
Brazilian Collaborators: State Education Secretariat of Roraima, Brazilian Service
for Supporting Micro and Small Businesses (Sebrae-RR), National Industrial
Sector Service (Sesi-RR), National Commercial Apprenticeship Service (SenacRR), Youth and Adult Education Forum (EJA), State Justice Secretariat, Federal
University of Roraima (UFR), Brazilian Cooperative Organization (OCB),
National Service of Apprenticeship on Cooperatives (SESCOOP)
Collaborating Colleges: Red River College and Cégep Régional de Lanaudière
Sergipe Federal Institute de Education, Science and Technology
From Garbage to Citizenship - Fishing and Citizenship
Area of Qualification: Recycling, Crafts and Culinary Arts
Brazilian Collaborators: State Public Ministry, Federal University of Sergipe (UFS),
Brazilian Service for Supporting Micro and Small Businesses (Sebrae-SE), Social
Inclusion State Secretariat, Health and Prevention Group for Schools, Nossa
Senhora do Socorro Municipality, Aracaju Recycling Agents Cooperative (Care),
Sergipe Foundation for Supporting Technological Development
(FUNCEFETSE), Cida Duarte Beauty Institute and volunteer educators
Collaborating Colleges: New Brunswick College of Craft and Design and Cégep
Marie-Victorin
Tocantins Federal Institute of Education, Science and Technology
Citizenship through Art
Area of Qualification: Crafts and Organic Art
Brazilian Collaborators: Brazilian Service for Supporting Micro and Small
Businesses (Sebrae-TO), Municipality of Palmas, National Industrial
Apprenticeship Service (Senai-TO), Ecológica Institute
Collaborating Colleges: New Brunswick College of Craft and Design and Cégep
Marie-Victorin
281
Thousand Women
DMaking dreams come true
Mulheres MIl
Do sonho à realidade
Thousand Women
Making dreams come true
MILLE FEMMES
Du rêve à la réalité
282
nombreuses voix
Ce livre raconte la trajectoire d’une action publique, le projet Milles
Femmes, narrée à la première personne. Celles qui nous racontent cette histoire,
ce sont 27 femmes, élèves qui participent ou ont participé au projet pilote mis en
place dans les régions Nord et Nord-est du pays dans le but d’améliorer la vie de
mille Brésiliennes. Projet audacieux et inédit dans le Réseau Fédéral d’Éducation
Professionnelle et Technologique, le projet Mille Femmes nous a mis au défi
de travailler avec des exemples d’exclusion : des femmes jeunes et adultes en
situation de vulnérabilité économique et sociale, la plupart d’entre elles avec un
faible niveau de scolarité et en marge du monde du travail.
En lignes générales, le projet avait pour but d’élever le niveau scolaire,
d’offrir une qualification professionnelle et de contribuer à l’insertion de ces
femmes dans le monde du travail. Outre ces objectifs immédiats, on peut affirmer
qu’il a également eu d’autres retombées qui, de par leur nature même, ne sont
ni simples ni évidentes à mesurer, telles que la découverte de la citoyenneté, la
récupération de l’estime de soi, l’amélioration des relations familiales et de la vie
en société dans les communautés, en plus d’encourager les femmes à retourner
sur les bancs de l’école. En un mot : des personnes ont recommencé à croire en
elles-mêmes.
La gestation du projet a débuté en 2005, avec la vision inclusive, le courage
et l’audace même de plusieurs acteurs brésiliens et canadiens. La première
action est née d’un partenariat entre l’Institut Fédéral du Rio Grande do Norte
(IFRN), à l’époque Centre Fédéral d’Éducation Professionnelle et Technologique
Présentation
Une histoire racontée par de
Du rêve à la réalité
Mille Femmes
283
résentation
Presentation
Mille Femmes
Du rêve à la réalité
284
(Cefet), et les collèges canadiens. C’est au sein de cet institut que fut développé
un projet éducatif de formation pour femme de chambre. Le résultat en fut
si impressionnant que le Canada, par l’intermédiaire de l’Agence canadienne
de développement international (ACDI) et de l’Association des Collèges
Communautaires du Canada (ACCC), et le Brésil, par l’intermédiaire du
Secrétariat à l’Éducation Professionnelle et Technologique (Setec) et de l’Agence
Brésilienne de Coopération (ABC/MRE), ont décidé d’élaborer un projet en vue
d’étendre cette action à d’autres états. C’est ainsi qu’est né le projet Mille Femmes
qui, en plus du Rio Grande do Norte, fut étendu à 12 autres institutions, à savoir
les Instituts Fédéraux d’Alagoas, Amazonas, Bahia, Ceará, Maranhão, Paraíba,
Pernambuco, Piauí, Roraima, Rondônia, Sergipe et Tocantins.
Des personnes ont suivi ou continuent de suivre les cours de formation
qui y sont offerts depuis 2008. Les domaines sont les plus divers et cherchent à
s’harmoniser avec les talents des élèves et la vocation de la région. C’est ainsi que
l’on propose des cours de coupe et couture, de femme de chambre, d’alimentation,
de gestion domestique et d’artisanat. Soulignons le fait que, dans la mise en
œuvre du projet Mille Femmes, le respect des apprentissages non formels et la
(re)découverte de talents a constitué un élément-clé, sans oublier la précieuse
contribution des collèges canadiens qui, depuis des décennies, ont mis en place
le processus de Reconnaissance des Acquis Antérieurs (RAA), lequel valide et
certifie les connaissances accumulées tout au long de la vie.
Au niveau national, ce projet a été mis sur pied par le Secrétariat à
l’Éducation Professionnelle et Technologique (Setec/MEC), avec le partenariat
du Bureau International du Cabinet du Ministre (AI/GM), de l’Agence
Brésilienne de Coopération (ABC/MRE), du Réseau Nord-Nordeste d’Éducation
Technologique (Redenet), du Conseil National des Institutions du Réseau
Fédéral d’Éducation Professionnelle, Scientifique et Technologique (Conif ), de
Agence canadienne de développement international (ACDI) et de l’Association
des Collèges Communautaires du Canada (ACCC) et des collèges partenaires.
Dans les États, les Instituts Fédéraux (IF) ont compté sur la participation
de divers partenaires gouvernementaux et non gouvernementaux, qui étaient
incontournables pour l’exécution du projet. D’autres acteurs clés tels que les
professeurs, fonctionnaires et volontaires des IF et les partenaires ont accepté
d’effectuer des activités d’assistance pour les élèves et de donner les cours. Il est
certain que tous ont directement contribué aux changements considérables qui se
sont produits dans la vie de ces femmes et de leurs familles. La preuve en est que
resentation
Présentation
toutes celles qui ont été interviewées depuis 2008, aussi bien pour ce livre que pour
le portail du projet, ont parlé de l’importance des cours et de l’expérience de la vie
en commun dans l’institution pour leur formation professionnelle et citoyenne.
Comme tout ce qui est nouveau, le projet Mille Femmes est en évolution
constante, visant à consolider et à développer les passerelles créées entre
les communautés, les instituts et la société. Ces passerelles qui solidifient les
changements au niveau de l’accès – une fois que les IF s’ouvrent aux communautés
– à la mise en œuvre du programmes et des cours, à la présence régulière à
l’école, aux relations avec les autres organisations en mesure de répondre aux
différents besoins de ces élèves non traditionnels, comme des garderies, des
cours d’éducation de jeunes et d’adultes ainsi que des partenariats avec le secteur
productif visant à garantir l’insertion dans le monde du travail. C’est pourquoi il
n’existe pas une seule voie ni une seule formule. Le défi principal est d’établir le
dialogue pour adapter la méthodologie développée dans le projet Mille Femmes
aux diverses réalités, sans toutefois perdre de vue les objectifs clés du projet :
Éducation, Citoyenneté et Développement Durable.
Les résultats obtenus ne sont pas toujours les mêmes et toutes les histoires
n’ont pas atteint le même taux de réussite que celles publiées. Certaines femmes
n’ont pas terminé les cours, soit parce qu’elles avaient trouvé du travail, soit
qu’elles avaient déménagé ou qu’elles n’avaient pas aimé la formation, ou encore
qu’elles ne sont pas parvenues à concilier leur vie et leurs études. Il y a des élèves
qui ont obtenu un emploi dans le secteur correspondant à leur formation et il y
a aussi celles qui travaillent dans des domaines différents. Cependant, certaines
femmes cherchent touours un emploi et d’autres ont repris leurs études et d’autres
non. De plus, on compte parmi ces femmes, celles qui se sont risquées dans le
développement d’une petite entreprise. Et il existe aussi des discussions dans le
domaine du coopérativisme. Cependant, une chose est certaine : toutes celles
qui ont terminé leur formation affirment que le projet a engendré d’importants
changements dans leur vie.
D’un point de vue institutionnel, le bilan est extrêmement positif. De
2005 à mars 2011, il y a eu d’énormes échanges de savoirs entre enseignants
et administrateurs brésiliens et canadiens lors de missions techniques, de cours,
d’ateliers et de réunions de travail. Au-delà des partenariats pour la coopération
internationale, le Brésil et le Canada ont créé une relation de respect, de confiance
et de complicité dans le domaine de l’éducation professionnelle et technologique
en s’aidant mutuellement et en élaborant plusieurs plans pour l‘avenir. Un des
Du rêve à la réalité
Mille Femmes
285
résentation
Presentation
Mille Femmes
Du
Du rêve
rêve àà la
la réalité
réalité
286
résultats obtenus a été le rapprochement entre le Brésil et le Canada, qui a conduit
à la signature de plusieurs partenariats entre les institutions. En ce qui concerne
Mille Femmes, l’idée est d’étendre le projet non seulement à d’autres institutions
brésiliennes, mais aussi dans d’autres pays qui veulent adapter cette méthode qui
a porté fruit aux besoins de leurs populations.
Pour ce qui est du Brésil, un résultat important est que les 13 Instituts
Fédéraux ont développé une méthodologie d’accès et de succès pour ces femmes,
et qui peut aujourd’hui être développée dans d’autres institutions et appliquée dans
différentes communautés et auprès de divers groupes de personnes qui souhaitent
avoir accès à une éducation professionnelle. La dissémination de cette méthodologie
pourra être faite par le Centre de référence du projet Mille Femmes, dont le siège
est à Brasilia et qui aura la responsabilité du suivi de l’extension du projet, de la
promotion des formations de fonctionnaires du réseau et d’autres institutions, du
développement de la recherche et de la production d’outils d’appui.
Outre les impacts et les implications qui peuvent être comptabilités, grâce
à la mise en place du projet Mille Femmes, les institutions ont élaboré des outils
de promotion et d’accès destinés à un public qui, depuis très longtemps, n’osait
même pas franchir la porte d’entrée d’un IF. C’est pour cette raison que cette
action constitue un engagement pour l’inclusion sociale et contribue donc à
la construction d’un pays plus juste et plus égalitaire ainsi qu’à l’atteinte des
Objectifs du Millénaire, définis par l’Organisation des Nations Unies (ONU) et
adoptés par 191 pays qui se sont engagés à promouvoir l’égalité entre les sexes et
l’autonomie des femmes, l’éradication de l’extrême pauvreté et de la faim, ainsi
que l’assurance de la durabilité environnementale.
Pour les prochaines années, les objectifs sont toujours guidés par l’audace.
Le but est de faire en sorte que les connaissances accumulées servent de base à
la mise en place du projet dans le reste du Brésil, en transformant le projet Mille
Femmes en une politique permanente du Réseau Fédéral, offert dans chacune de
ses 366 unités réparties dans les 27 états de notre pays.
Sebastiana
Alagoas
Quitéria
Elisângela
Mille Femmes
Du rêve à la réalité
Marechal Deodoro
En marge de la société, voilà l’expression qui caractérise le mieux les conditions dans
lesquelles vivent les habitants de la Vila Santa Ângela, dans la commune de Marechal
Deodoro. Les maisons, beaucoup d’entre elles en torchis, se trouvent à deux mètres
en contrebas de la route AL-101 Sud et à cause de son emplacement des voitures
passent et tuent régulièrement des habitants.
Les familles ne sont pas prises en compte dans les statistiques officielles lorsque le
relevé officiel des services de base est effectué tels que pour l’assainissement, l’école,
et le poste de santé. Il n’existe pas d’association d’habitants qui puisse revendiquer
les droits les plus élémentaires, les voitures, y compris celles des autorités publiques,
passent trop vite. On n’a pas le temps de regarder sur les côtés.
La timidité est un trait marquant de ce groupe d’Alagoas. Ce sont des femmes qui,
encore jeunes, ont déjà une longue expérience de travail. Filles de paysans, certaines
d’entre elles travaillaient à la coupe de la canne à sucre dans les usines ou aidaient
leurs parents dans les champs pendant la journée et étudiaient le soir au Mobral
(Mouvement Brésilien de Alphabétisation), qui donnait un peu d’instruction aux
jeunes et aux adultes entre les années 1964 et 1985.
L’offre de formation de l’Institut Fédéral d’Alagoas dans le secteur d’alimentation
vise à les qualifier dans des activités qu’elles pratiquent déjà, comme la vente et la
préparation d’aliments dans des bars et des restaurants – travail qu’elles font la fin de
semaine –, la récolte de crabes dans la mangrove, la vente de bonbons à la noix de
coco au bord des routes proches de leurs maisons, ainsi que le service de femme de
ménage. En plus de cela, l’IF a signé un accord de partenariat avec le gouvernement
local en vue d’améliorer la scolarité des habitants.
288
Elisângela, Sebastiana et Quitéria
Du rêve à la réalité
Mille Femmes
Maria Sebastiana da Silva, 49 ans, Maria Quitéria da Silva, 32 ans,
et Elisângela da Silva, 23 ans, une mère et ses filles qui ont des histoires
de vie qui se ressemblent : la maternité est arrivée tôt et elles n’ont plus
eu le temps d’étudier. Tout comme Sebastiana, Quitéria a commencé à
travailler très tôt pour aider à élever ses frères et sœurs. Ce sont des vies
qui reproduisent la même trajectoire d’exclusion. Elles sont voisines et
s’entraident comme elles le peuvent : elles partagent ce qu’elles ont, se
consolent l’une l’autre quand elles sont tristes et fêtent ensemble les joies
et les succès. Aujourd’hui, sur les bancs de la salle de classe, elles partagent
le rêve d’un avenir meilleur. Elisângela veut acquérir son indépendance
financière : elle veut être réceptionniste. L’objectif de Quitéria est de suivre
un cours d’infirmière et c’est une des raisons qui l’a poussée à retourner sur
les bancs de l’école. Et tout de suite. Sebastiana, elle, n’abandonne pas son
rêve d’un avenir meilleur.
289
Mille Femmes
Du rêve à la réalité
Je m’appelle Sebastiana et je suis née à
Marechal Deodoro. J’ai eu cinq enfants
et j’en ai élevé quatre toute seule.
290
1. Mobral – Mouvement
Brésilien d’Alphabétisation.
L’autre est resté avec son père. J’ai été à l’école jusqu’en troisième
année. Pendant la journée, je travaillais et le soir, j’étudiais dans une école
appelée Mobral1. J’y arrivais très fatiguée. Parfois, je ne prenais même pas de
petit déjeuner. Le peu que j’ai appris a exigé pas mal de sacrifices, lettre par
lettre, mot par mot. J’ai vécu cette vie-là jusqu’à mon mariage à 17 ans. Je me
suis mariée à l’église et à la mairie. J’ai eu mon premier enfant à 18 ans. Mon
mari travaillait comme conducteur. Je l’aimais bien, mais il buvait beaucoup.
Ça va faire 17 ans qu’on est séparés.
J’ai beaucoup souffert durant mon enfance, et encore plus dans mon
adolescence. Ma mère a élevé sept enfants et n’avait pas les moyens. J’ai été
élevée sans père, je coupais de la canne à sucre. J’avais 11 ans quand j’ai
commencé à travailler dans les champs de canne à sucre et j’y ai travaillé
jusqu’à mes 16 ans ; après, je me suis mariée. De nos jours, on ne pourrait
plus faire ça parce qu’il existe le Conseil tutélaire et les enfants ne peuvent
plus travailler mais uniquement étudier.
C’est maintenant que j’apprends, sur le tas. J’apprends des
trucs de cuisine, de gastronomie, de droits des femmes.
La plupart des gens critiquent l’endroit où nous habitons ; les uns
l’appellent favela, d’autres, bande de voyous. Il y a des fois où je prends le
bus pour Maceió et je vois des gens pleins de préjugés. Je me sens toute gênée
parce que je suis une personne pauvre, et si j’habite dans un endroit comme
ça, c’est parce que je n’en ai pas d’autre. Ça me fait mal, parce que la pauvreté
n’est pas un défaut.
J’ai recommencé à étudier et j’ai découvert le projet grâce à mes filles.
Je fais l’EJA2 et j’aime bien le projet. Depuis que j’ai commencé, j’ai appris
des choses que je n’avais jamais apprises quand j’étais petite. C’est maintenant
que j’apprends, sur le tas. J’apprends des trucs de cuisine, de gastronomie,
de droits des femmes. J’ai moi-même été victime de violence et je n’ai jamais
eu de droits. Je n’ai pas eu peur d’utiliser l’ordinateur, j’étais plutôt curieuse
d’apprendre un jour à en utiliser un. Et j’ai réalisé mon rêve.
Je revends des produits Avon, des
vêtements faits par d’autres, je fais un peu
de tout pour vivre. Je fais de la dentelle
au filet3. Il y la Bourse Famille qui m’aide
beaucoup parce que j’ai un fils handicapé
qui habite avec moi. Mon rêve est de
travailler à mon propre compte et d’avoir
mon propre commerce, et d’un jour sortir
d’ici pour ne plus être aussi discriminée.
Gagner mon pain quotidien, sans travailler
pour les autres, mais seulement pour moimême. Et ne jamais cesser de rêver et
continuer à lutter et à rêver d’avoir un jour
une vie meilleure.
Du rêve à la réalité
Mille Femmes
2. EJA – Éducation de Jeunes
et Adultes.
3. La dentelle au filet est
faite à partir d’un filet
simple, composé de mailles
et de nœuds, qu’on appelle
également « dentelle de
nœuds », suivant la technique
de fabrication d’un filet de
pêche d’où elle s’inspire.
291
Mille Femmes
Du rêve à la réalité
Je m’appelle Maria Quitéria. J’ai trois
enfants et je suis maintenant séparée. Je n’ai pas eu l’occasion d’étudier.
292
4. Commune où se trouve la
Vila Santa Ângela.
5. Espèce de strogonoff de
poulet.
Mon enfance a été un peu compliquée. Jusqu’à 12 ans, j’ai vécu dans le
centre de Marechal Deodoro4. Ensuite, mes parents se sont séparés et comme
ma mère déménageait beaucoup, j’ai dû arrêter mes études pour m’occuper
de mes frères et sœurs et aider à la maison. Ma mère travaillait comme femme
de ménage et aussi dans une caféteria, et moi j’allais l’aider. Après elle a été
opérée et j’ai dû la remplacer. Je n’ai plus eu l’occasion d’étudier. J’ai été à
l’école jusqu’en quatrième année de primaire.
J’étais plus timide et le projet m’a aidée à trouver du travail. Parfois je
travaille au restaurant la fin de semaine comme aide-cuisinière, et je reçois la
Bourse Famille. J’ai appris à me mettre en valeur. J’ai plus de courage pour
faire face aux difficultés quotidiennes, et il y en a beaucoup ! Je suis sûre que
les choses vont s’améliorer.
Pendant le cours, j’ai appris à préparer un bobó de poulet5, des
boissons rafraîchissantes, et à réutiliser les restes. J’ai même appris à me laver
les mains correctement : il faut se laver les mains jusqu’au coude, et quand
on va aux toilettes, il faut enlever son tablier et sa toque ; on ne doit pas
parler quand on manipule les aliments. Ce sont des choses que j’ignorais.
Je veux terminer le cours et après,
étudier et suivre mon cours d’infirmière.
Du rêve à la réalité
Mille Femmes
Il faut désinfecter la salade et les légumes avant de les utiliser
dans les plats et les casseroles. Je vais terminer mes études, je
veux avoir mon certificat.
J’ai gardé de très bons souvenirs de mon voyage à
Brasilia ; c’était la première fois que je sortais de l’état. Je
n’imaginais jamais qu’un jour je sortirais d’Alagoas. Quand je
regarde la télé et qu’on montre les endroits où j’ai été, je dis
toujours : « Regardez, je suis allée là ! ». Ça me fait toujours
quelque chose ! J’en parle très souvent à mes enfants. Je n’avais
jamais mis les pieds dans un hôtel aussi chic.
J’ai déjà travaillé comme domestique, comme aidecuisinière dans un restaurant, comme serveuse, comme
femme de ménage. Ce que j’aime le plus c’est de travailler à
la cuisine, parce que je n’aime pas beaucoup me trouver au
milieu des gens. Je suis plutôt réservée, je préfère rester dans mon coin.
Je veux terminer le cours et après, étudier et suivre mon cours
d’infirmière. Je rêve d’être infirmière depuis que je suis toute petite. Je n’en ai
jamais parlé à personne, mais maintenant que je suis adulte, je dis que mon
rêve c’est de suivre un cours d’infirmière. Quelqu’un m’a dit que pour suivre
ce cours d’infirmière je devais au moins terminer la première année. C’est
pour ça que j’ai repris les études, parce que je veux suivre ce cours.
293
Mille Femmes
Du rêve à la réalité
Je m’appelle Elisângela da Silva. J’ai trois enfants, deux de mon premier
mariage et le plus jeune est du second.
294
Je me suis fait opérer parce que je ne veux plus d’enfant. Mon enfance
a été meilleure que celle de Quitéria, parce que je ne travaillais pas pour aider
ma mère. Je restais à la maison et j’étudiais.
Quand j’étudiais à Maceió, nous avons célébrer la fète des mères.
Quand les mamans sont entrées dans la classe, on a commencé à chanter
une chanson de Roberto Carlos. « N’oublie jamais, même pour un instant,
ce que je ressens pour toi, j’ai le plus grand amour du monde pour toi ».
La plupart des personnes présentes n’ont pas pu résister à l’émotion et elles
ont commencé à pleurer. Tout le monde était en larmes, moi, ma collègue,
l’enseignante. Cette chanson est très marquante parce qu’elle parle d’amour,
et l’amour est très important dans notre famille. Ma mère est tout pour moi,
elle est mon père, elle est tout. Après elle, ce que j’ai de plus précieux dans ma
vie, ce sont mes enfants, mes sœurs que j’aime beaucoup, mes nièces. Nous
sommes très unies.
Au cours de droit et santé, j’ai appris l’importance des droits que nous
avions et que nous avons de nos jours. Auparavant, les femmes ne votaient pas et
Au cours de droit et santé, j’ai appris l’importance des droits
que nous avions et que nous avons de nos jours.
aujourd’hui, Dilma a gagné les élections. Elle est la première femme présidente
du Brésil. Vous voyez comme les choses ont évolué ! Ce que j’ai appris, qui
vaut vraiment la peine, c’est au sujet des femmes : je ne connaissais pas cette loi
Maria da Penha. Le peu que je connais de la loi c’est que la violence, ce n’est
pas seulement quand on frappe la personne, on peut blesser avec des mots, avec
des gestes. Ça m’a aidé parce qu’il existe beaucoup de femmes qui vivent avec
un compagnon qui les bat et qui ont peur de le dénoncer.
J’ai été mariée pendant cinq ans avec mon premier mari. J’ai commencé
à sortir avec lui quand j’avais 15 ans et je suis tombée enceinte à 17 ans. Et
alors, les disputes ont commencé : il me battait et moi je le battais aussi. Il
existait bien un commissariat pour femmes, mais cette loi Maria da Penha
n’existait pas encore. Beaucoup de femmes disaient : je ne vais pas le dénoncer,
sinon il va me tuer après. Et lui il me disait toujours : si tu me dénonces, je
te tue après ma remise en liberté. La dernière fois
qu’on s’est disputés, quand nous nous sommes
séparés, ma mère est arrivée à la maison, elle a dit :
« Nous allons au commissariat ! ».
Quand je suis arrivée, j’ai porté plainte et
j’ai demandé à la commissaire de lui faire signer un
énoncé de responsabilité. Maintenant, je n’ai plus
peur et aujourd’hui, si un homme lève la main sur
moi, je fonce porter plainte. Il peut me menacer
autant qu’il veut. Alors, étudier la loi m’a aidée à
progresser un peu plus, à savoir ce que vivent les
Du rêve à la réalité
Mille Femmes
295
Mille Femmes
Du rêve à la réalité
femmes et ce que nous pouvons faire pour remédier a cette situation. Une
autre chose qui m’a marquée, c’est l’informatique. Nous avons eu 10 leçons
d’informatique. J’ai appris à accéder à Internet, chose que je ne savais pas.
J’ai aussi appris à ouvrir des pages sur l’ordinateur, à l’allumer et à l’éteindre,
choses que je ne savais pas non plus.
Étudier, ça aide dans la vie parce que sans études, on ne va nulle part,
parce que pour trouver du travail dans une entreprise, il faut avoir plus qu’un
diplôme d’études primaires ou même avoir terminé l’école. Et ça aide aussi
dans l’éducation des enfants parce que, si on met ses enfants à l’école et
qu’on ne sait ni lire ni écrire, comment est-ce qu’on va les aider à faire leurs
devoirs ? Ce côté-là aussi c’est important.
On a eu des cours avec la nutritionniste, on a appris à cuisiner des
plats différents. Elle nous a appris une recette de moqueca (ragoût) de cajou.
Quand ce sera la saison des cajous, j’en ferai. On a fait du bobó de poulet,
des boissons rafraîchissantes, c’est se qui se vend le mieux dans les cafétérias.
Maintenant je dis : « Je vais terminer la neuvième année et puis suivre un
cours au Cefet ». Les gens s’y intéressent déjà.
Je termine la huitième année primaire. J’espère devenir réceptionniste.
Je veux étudier le soir au Cefet et suivre le cours de réceptionniste afin de me
garantir un emploi fixe pour pouvoir subvenir aux besoins de mes enfants et
ne pas dépendre d’un mari, parce qu’un jour qui sait, il peut m’abandonner.
Et alors, qu’est-ce qu’on va devenir, mes enfants et moi ? Sans argent ? Je
compte avoir un emploi fixe et j’espère que ce cours m’aidera encore plus à
trouver du travail.
296
Janaína
Amazonas
Osmarivete
Mille Femmes
Du rêve à la réalité
Manaus
Les bénéficiaires du projet Mille Femmes sont des femmes qui habitaient dans des
maisons sur pilotis sur des terrains inondés. Il est très courant dans la région Nord
que des familles construisent leur maison dans le lit d’un cours d’eau ou sur une
mangrove. Le manque d’assainissement et de structures pour ramassage d’ordures
ainsi que les inondations régulières sont des facteurs qui rendent les conditions de
logement insalubres et mettent en danger la santé des habitants.
Pour remédier a cette situation pour les familles de ces zones de risque, le
gouvernement de l’État d’Amazonas, par l’intermédiaire du Programme social et
environnemental des Igarapés de Manaus (Prosamim), a construit de nouvelles
maisons avec un assainissement de base et une infrastructure de lotissement
résidentiel. Les femmes ont un faible niveau de scolarité, une famille dont elles
doivent s’occuper et plusieurs d’entre elles sont originaires d’autres états du Brésil
ou de communes de la campagne. Beaucoup ont vécu des histoires d’abandon, de
violence et de travail infantile. En commun, elles ont la nécessité d’améliorer ou
d’assurer le revenu de la famille.
Outre la question du logement, le manque de qualification professionnelle poussait
ces femmes au sous-emploi ou au chômage. Et c’est dans ce contexte que le Prosamim
et l’Institut Fédéral d’Amazonas ont établi un partenariat pour offrir des cours de
qualification professionnelle dans le secteur du tourisme. Ainsi, les institutions
réalisent des actions conjointes visant à faciliter le processus d’adaptation au nouveau
logement et à fournir des opportunités de travail et de revenus. Étant donné que
le secteur du tourisme est en pleine croissance à Manaus et qu’il existe un manque
de qualification à la portée de ce public, l’offre du cours de femme de chambre
constitue une alternative pour que ces femmes puissent avoir une profession.
Dans le but de contribuer à l’adaptation au changement de logement, on a également
ajouté des cours relatifs à l’environnement et aux relations interpersonnelles,
centrés sur le processus d’interaction avec la nouvelle réalité et l’adoption d’un
comportement durable. En ce qui concerne le travail, le stage professionnel a
constitué un des points cruciaux, quand elles ont eu la possibilité de connaître la
routine de travail et d’obtenir une place. Ce fut la porte d’entrée sur le marché
du travail pour plusieurs élèves. Outre
les hôtels, quelques-unes d’entre elles ont
découvert la possibilité de travailler dans
des motels et des appartements.
298
Janaína Tereza Lessa da Silva
Du rêve à la réalité
Mille Femmes
Janaína Tereza Lessa da Silva, 35 ans, fête son retour sur le marché du
travail. La nouvelle profession de femme de chambre lui a ouvert plusieurs
portes. Elle a été embauchée dans l’hôtel où elle a fait son stage, exactement
comme elle le voulait. Maintenant qu’elle a du travail, elle fait des projets
pour continuer à se qualifier, avec la certitude qu’elle est dans un secteur du
marché qui a de l’avenir.
Je travaille à l’hôtel Caesar Business.
J’y ai fait mon stage pratique et
ils m’ont embauchée.
Après le stage, nous avons eu une entrevue avec le département de
ressources humaines. Là, on nous a demandé les papiers et le CV de tout le
monde. Comme il me manquait le numéro de ma carte de travail, j’y suis
retournée le samedi avec ma fille pour leur donner. Quand je suis arrivée, la
personne m’a dit comme ça : «Encore heureux que vous êtes venue ; j’allais
299
Mille Femmes
Du rêve à la réalité
Quelquesunes de mes
collègues
voulaient le
suivre, mais
elles ne le
pouvaient pas
parce qu’elles
n’habitaient
pas au
Prosamim.
Je suis sûre
qu’il y aurait
salle comble.
300
vous téléphoner parce que vous avez été engagée.» J’ai beaucoup pleuré, à
chaudes larmes. Ma fille était présente. C’est difficile car j’ai passé presque
deux ans sans emploi.
La première personne à qui j’ai annoncé la nouvelle, c’est à mon père,
parce qu’il est la personne qui m’a le plus encouragée. Je lui ai dit comme ça :
« Tu sais quoi ? J’ai été engagée pour une période d’essai de trois mois ». Il a
pleuré et il m’a dit qu’il ne fallait jamais renoncer.
C’est un peu fatigant, mais j’aime bien. C’est chouette de travailler là,
les gens sont sympathiques. J’apprends tous les jours un peu plus parce qu’il
y a des détails qu’on oublie toujours ; mais les gens sont là pour organiser les
choses et je m’adapte petit à petit, je n’oublie plus. Ce sont des petits détails
qui vous échappent, parce qu’il y a tant de choses à mettre en ordre que des
fois, on ne se souvient pas de tout, mais ça va mieux.
Les professeurs de l’IFAM ont tous été merveilleux. Vraiment
fantastiques. Le cours en lui-même était très bien. Je l’ai déjà recommandé
à des amies. J’ai beaucoup appris. Corriger des erreurs de portugais qu’on
commet parfois, comment se comporter de meilleure façon, et l’anglais aussi.
Je m’en rappelle souvent parce que quand il y a un client avec qui il faut
parler anglais, on doit communiquer d’une manière ou d’une autre. Alors
j’essaie de me rappeler certaines choses, j’essaie de communiquer. Le cours
vous prépare. Si on prend le cours au sérieux et on le termine, des occasions
d’emploi s’offrent à nous. Je vais suivre un cours d’anglais cette année.
Maintenant, ce qui pourrait être amélioré, c’est d’offrir le cours au
grand public. Quelques-unes de mes collègues voulaient le suivre, mais
elles ne le pouvaient pas parce qu’elles n’habitaient pas au Prosamim. Je suis
certaine qu’il y aurait une classe remplie. Beaucoup de gens voudraient le
Quand on est chômeur, les gens ont tendance à t’oublier,
ils ne se souviennent pas de toi, ils ne te respectent pas.
suivre, des gens de mon âge, de 35 ans, qui ne trouvent pas de travail et qui
aimeraient suivre ce cours parce que c’est une occasion de trouver du travail.
Dans les hôtels où certaines collègues travaillent, il y a toujours des postes à
combler mais il n’y a pas de cours de femme de chambre. Ça devrait être à
l’échelle nationale, pour toutes les femmes, parce qu’aujourd’hui il faut se se
former et il y a beaucoup de femmes qui ont vraiment besoin de ce cours.
Quand on est chômeur, les gens ont tendance à t’oublier, ils ne se
souviennent pas de toi, ils ne te respectent pas. Maintenant, j’ai récupéré
le respect des gens : ils me regardent avec d’autres yeux. Les choses se sont
beaucoup améliorées.
J’ai travaillé comme auxiliaire administrative à la mairie pendant 10
ans. J’ai aussi travaillé comme réceptionniste et standardiste, et j’ai travaillé
comme aide dentiste. Mais pour moi, travailler comme femme de chambre, ça
ne m’était jamais venu à l’esprit ; je travaille comme femme à journée chez des
particuliers. Mais femme de chambre... – en vérité, ils n’aiment pas beaucoup
qu’on dise femme de chambre, ils préfèrent « préposée aux appartements ».
Pour moi c’est chouette, car je vais maintenant suivre le cours de
gouvernante parce que je ne compte pas passer toute ma vie comme femme
de chambre. Le cours de responsable d’appartements va bientôt commencer
au Senac ; il commence en mars prochain, je m’y suis déjà inscrite.
J’ai terminé l’école secondaire; j’ai même terminé le deuxième semestre
de la faculté d’Éducation physique; je n’ai pas continué parce que ma mère
est décédée, j’ai dû arrêter provisoirement et je n’ai plus jamais eu envie de
reprendre. Ça a été plutôt difficile parce que je n’étais pas très proche de mon
père, étant donné qu’il travaillait toute la journée, qu’il était souvent absent.
Mais tout ça c’est du passé maintenant ! Aujourd’hui, c’est mon meilleur ami,
on s’entend très bien. Quand je suis allée m’informer à la faculté, il n’y avait
plus moyen de reprendre les cours.
J’ai eu une enfance normale, j’ai
beaucoup joué. J’ai joué à la poupée
jusqu’à 15 ans. J’ai étudié, j’ai eu mon
diplôme d’études secondaires, et j’ai passé
l’examen d’entrée à l’université. J’avais
23 ans quand j’ai eu ma fille. Je suis plus
ou moins mariée, on est comme mari et
femme, mais j’ai mon chez-moi, mon
appartement. Je passe plus de temps avec
lui, étant donné que j’ai un frère qui habite
avec moi et qui ne travaille pas ; il est sans
emploi pour le moment et il consomme
pas mal de drogue. Comme je passe toute
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Mille Femmes
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la journée au travail, j’ai peur de laisser ma fille toute seule avec lui.
Alors, elle passe plus de temps chez lui que chez moi.
Il y a beaucoup d’hôtels qui ont besoin de femmes de chambre
professionnelles, qui ont leur diplôme. Rien qu’au cours des deux
mois que je travaille, il y a une amie qui m’a dit : « Janaína, tu as
déjà trouvé du travail ? À Adrianópolis, il y a une sorte d’apparthôtel où ils ont besoin de femme de chambre ». Alors je lui indiqué
d’autres collègues qui ont terminé le cours.
Aujourd’hui, je constate qu’il existe pas mal d’opportunités
d’emploi parce que je travaille dans le secteur, mais ceux qui n’ont pas
suivi le cours de femme de chambre, ils n’imaginent pas que les hôtels
ont besoin de femmes de chambre. Quand on suit un cours comme ça,
on est automatiquement impliqué dans ce secteur et on sait qui a besoin
ou non d’employés ; on rencontre des gens qui vous recommandent et on
trouve automatiquement du travail. C’est pour ça que le cours de femme de
chambre est très intéressant.
Je pense m’inscrire à la faculté de pharmacie. Je vais m’inscrire au cours
de responsable d’étage, poste au-dessus de femme de chambre, parce qu’il y a
beaucoup d’hôtels qui n’en ont pas et ce poste est en demande. Je ne veux pas être
que femme de chambre, je veux être beaucoup plus que ça et c’est pour ça que
je dois étudier. Et c’est ce que je vais faire!. J’ai déjà perdu beaucoup de temps,
alors je veux étudier, je veux suivre un cours préparatoire, un cours d’anglais,
un cours d’informatique, parce qu’il y a des choses dont je ne me souviens déjà
plus. Je veux étudier l’anglais, pour parler couramment, au moins les bases, et
je dois en profiter pour pouvoir le faire maintenant que je travaille.
Si je ne reste pas au Caesar, j’ai déjà autre chose en vue. J’attends la fin
de mon stage pour savoir si je vais être engagée ou pas. S’ils ne m’engagent
pas, je ne m’en fais pas parce que j’ai déjà un autre emploi qui m’attend.
Il ne manque pas de places pour une femme de chambre, encore plus
pour quelqu’un qui a suivi le cours
de formation. Il n’est jamais trop
tard, tant que j’ai la possibilité de
faire quelque chose pour moi, je
le ferai. Ce n’est pas facile... Je
le dis à mes collègues et à mon
mari : « Il faut étudier, il faut
suivre un cours de formation. Il
faut étudier, les études c’est tout
dans la vie ».
Osmarivete Carlos de Souza e Silva
Du rêve à la réalité
Mille Femmes
Osmarivete Carlos de Souza e Silva a 39 ans, trois enfants et travaille à
l’hôtel Adrianópolis. Décidée à changer le cours de sa vie, quand le cours de
formation a commencé en 2008, elle n’avait personne à qui laisser ses enfants
et durant quelques temps, elle a été obligée de les amené dans la salle de classe.
Selon Osmarivete, le combat a été difficile mais le résultat est là. En plus de sa
carte d’identité, elle a obtenu un autre document, sa carte de travail.
J’ai tellement progressé que, si vous pouviez
comparer la femme que j’étais avant et celle
que je suis devenue aujourd’hui,
vous constateriez une grande différence. Je me soigne mieux, je m’occupe
plus de moi-même ; je vois que j’existe, j’ai conscience de ce qui m’entoure.
Les gens me voient et je sais que je suis en train de changer, que j’ai déjà
changé. J’avais besoin d’un coup de pouce, que quelqu’un me secoue et me
dise comme ça : « Tu existes ! Tu es réelle ! ». Je constate que ce projet a été
pour moi une poussée de courage. J’en avais besoin mais je ne savais pas
comment faire. Alors c’est arrivé et j’ai saisi l’occasion.
303
Mille Femmes
Du rêve à la réalité
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Quand on habite au bord d’un ruisseau, le facteur ne passe presque jamais là.
Aujourd’hui nous avons une adresse connue ; c’est très important.
1. Mot employé en Amazonie
pour désigner la production
de charbon de bois.
2. Moustiques aux longues
pattes.
Aujourd’hui je suis une femme présente sur le marché du travail. Ça a
été très important pour moi. Je peux affirmer que j’ai une identité maintenant
par ma carte de travail. J’avais déjà travaillé, mais à mon propre compte, des
petits emplois par ici et par là, mais jamais avec un contrat de travail.
J’ai commencé à travailler quand j’avais 7 ans, avec ma mère. Comme
on passait la plupart du temps à la campagne, ma mère faisait beaucoup de
caieira1. Ma mère est une femme qui a eu beaucoup d’enfants, elle a eu 16
enfants ; quatre sont morts et il en reste douze. Alors elle devait se débrouiller
pour aider mon père. Quand j’avais dix ans, elle a changé de métier : elle a
commencé à vendre de la nourriture dans une petite échoppe.
Le cours m’a aidé dans tous les sens; il m’a redonné l’estime de moimême, il m’a donné une perspective plus grand. J’étais une femme réservée,
je restais toujours enfermée chez moi, ne voyant que le présent, sans penser
à l’avenir. Et ce projet Mille Femmes est arrivé au moment le plus propice de
ma vie. J’en avais vraiment besoin. Je me trouvais dans une situation où je
ne savais pas à quel saint me vouer ; mon mari et moi passions une période
difficile. Il n’y avait personne pour m’aider réellement.
Quand on habite au bord d’un ruisseau, le facteur ne passe presque
jamais là. Pour obtenir quoi que ce soit, il faut une adresse. Même pour
trouver du travail, il faut avoir une adresse. Quand il pleut, on ne dort
pas, on passe une nuit blanche. On ne peut pas dire qu’on vit en paix, en
sécurité. Quand les gens me demandaient où j’habitais, très souvent ils me
regardaient avec l’air de dire : « Tu n’existes pas, tu n’as pas de domicile fixe,
pas d’adresse connue ! ».
Aujourd’hui nous avons une adresse connue ; c’est très important.
Mes enfants ne doivent pas se presser et je ne doit plus m’en faire parce
que s’il pleut, ça ne m’inquiète plus.
Tout a changé parce qu’en dehors du
problème des inondations, il y avait
des rats et avec eux, des carapanãs2
et c’est impossible de dormir avec
autant de moustiques.
Je me sentais importante au
milieu des gens d’ici. Mince alors ! Je
suis des cours à l’école technique, les
gens y croyaient à peine et ils me demandaient : « Mais c’est bien là que tu
étudies ? ». Je me sentais bien, acceptée. Le jour où je ne pouvais pas aller
à l’école, ça m’embêtait ; je n’ai dû rater les cours que trois ou quatre fois.
Du rêve à la réalité
Mille Femmes
Je me
sentais
importante
au milieu des
gens d’ici.
Mince alors !
Je suis des
cours à l’école
technique.
Je peux affirmer et réaffirmer que l’école vous prépare vraiment bien.
Quand on entre sur le marché du travail, la première chose qu’on se rappelle,
c’est de chaque élément qu’ils nous ont enseigné. On s’en rappelle au fur et
à mesure du travail. Ainsi à chaque leçon qu’on a apprise, même la chimie,
quand on va mélanger des produits, on se souvient qu’on ne peut pas le faire.
Ça peut vous causer des problèmes.
Aujourd’hui je me sens plutôt importante, c’est comme ça que je me
vois. Je n’ai jamais eu de carte de crédit mais, pour l’amour de Dieu, il faut
savoir s’en servir ! Aujourd’hui je suis plus prudente qu’avant ; je prends
l’argent et je me dis : « Non, je vais le dépenser pour acheter ce dont j’ai
réellement besoin. Je ne vais pas le gaspiller ; ce n’est pas grand-chose, mais
il faut le dépenser pour ce que j’ai le plus besoin ».
Au début, quand je suis allée à l’hôtel, ils ne voulaient pas me donner
l’emploi parce que je n’avais que le certificat, et alors je leur ai dis : « Mais
si vous ne m’en donnez pas l’occasion, je n’aurai jamais d’expérience ; je sais
faire de tout ! ». On apprend vraiment en mettant la main à la pâte ; je fais ce
que je peux. L’hôtel est plein à 100 % et nous sommes ici occupés.
J’ai mon propre argent, je peux contribuer aux dépenses de la maison.
Mes enfants ont passé une période de disette, de n’avoir rien à se mettre sous
la dent ; le peu qu’on avait ne nous menait pas loin. Aujourd’hui, ce petit
montant nous permet de faire quelque chose ; pas beaucoup, mais on peut
dire que je sais vers où me tourner.
Maintenant, je peux dire que j’ai un avenir. Dois-je l’affronter ? Je
sais que c’est difficile mais j’y arriverai. Je veux devenir gouvernante. Pour
305
Mille Femmes
Du rêve à la réalité
le moment, ce cours n’est pas encore
offert ici, mais j’ouvre l’œil et en
attendant, j’apprends un peu dans
ce domaine. Je veux suivre un cours
d’anglais et me qualifier dans le secteur
où je travaille pour le moment.
Le projet auquel j’ai participé
est un projet pour n’importe quelle
femme sans perspective de vie ; ces femmes dont très souvent le mari ne
donne aucune valeur et en dit du mal, qui se moque d’elles et leur fait tout ce
qu’il veut. C’est pour ce type de femmes que ce cours est fait, celles qui ont
besoin d’aide, de soutien, tout comme moi j’en ai eu un jour besoin.
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Cleonice
BAHIA
Maria das Graças
Mille Femmes
Du rêve à la réalité
Salvador
À Salvador, la Vila Dois de Julho et Jaquaribe II sont des communautés voisines
qui vivent au quotidien de difficultés similaires : il n’y existe pas de réseau d’égouts,
l’infrastructure est précaire, la sécurité est faible et la violence omniprésente.
L’absence de politiques publiques transparaît également dans le manque d’espaces
de loisirs, l’absence de places et d’espaces communautaires.
Les quartiers sont nés des lotissements qui, au début des années 1990, ont été
envahis par une masse de familles venant d’autres régions de la capitale et de la
campagne, comme c’est le cas de beaucoup d’élèves du projet.
Le manque d’écoles dans la zone rurale et le travail infantile sont les causes
principales du faible niveau de scolarité, ce qui cause des difficultés à l’insertion de
ces femmes dans le marché du travail. Beaucoup d’entre elles sont chefs de famille
et font partie de la masse de travailleurs du marché informel ou accroissent les
statistiques de chômage. La plupart travaillent comme employées de maison ou
femmes de ménage.
L’Institut Fédéral de Bahia a été confronté à plusieurs défis pour la mise en place du
projet, parmi lesquels la violence présente dans les communautés et les difficultés
d’insertion des femmes sur le marché du tourisme, à cause des préjugés de couleur
et d’âge. Pour contourner la question du marché, l’IF a élargi l’offre et mis sur pied
un nouveau cours, celui d’aide soignante à domicile, qui possède un énorme marché
de travail potentiel. Selon l’Institut Brésilien de Géographie et Statistiques (IBGE),
en 2008, pour 100 enfants de moins de 14 ans il existait 25 personnes âgées de 65
ans ou plus. La prévision est qu’en 2050, il y aura 173 personnes du troisième âge
pour 100 enfants.
Aussi bien dans la profession de femme de chambre que dans celle d’aide soignante
à domicile, les élèves réussissent à entrer sur le marché du travail. Pour beaucoup de
femmes, la formation dans le secteur de la santé leur assure une nouvelle profession,
en plus de la possibilité d’un travail mieux rémunéré, une fois que la plupart d’entre
elles travaillaient comme domestiques ou femmes de ménage.
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Cleonice Ferreira da Conceição
Du rêve à la réalité
Mille Femmes
Dévote de Nossa Senhora do Livramento (Notre Dame de la Délivrance),
Cleonice Ferreira da Conceição fait partie de la communauté catholique du
quartier Jaquaribe II qui porte le nom de la sainte. Sa dévotion l’a aidé à
deux moments : quand son mari a souffert un accident et quand son frère a
été atteint de dépression et a disparu pendant un certain temps. À 41 ans,
elle lutte pour retourner sur le marché du travail. En ce moment, son objectif
est de trouver une place comme aide à domicile pour personnes âgées. Après
ses études d’institutrice, son rêve était de faire des études de pédagogie et de
pouvoir donner des cours.
Ce cours a dépassé mes attentes parce
qu’il a complètement changé ma vie;
jusqu’à ma manière de penser,
de traiter les autres, parce qu’ils travaillent beaucoup tout ça : la manière de
mieux s’aimer. De prendre soin de nous.
Quand j’ai commencé le cours, je me sentais inutile, j’envoyais des
CV, je restais dans l’attente d’être convoquée pour recommencer à travailler,
309
Mille Femmes
Du rêve à la réalité
310
1. IFBA – l’Institut Fédéral
de Bahia.
mais on ne m’appelait pas. Ils disaient
comme ça : « Votre CV est excellent,
mais vous ne répondez pas au profil
que l’entreprise recherche ». Même
dans le secteur du commerce, où
j’avais déjà travaillé comme caissière
de supermarché, ils n’embauchaient
que des personnes de moins de 27
ans. Alors vous commencez à vous
dire : « Je suis forte, je ne manque
pas de courage, je veux travailler et je
ne trouve pas de place uniquement à
cause de mon âge ! ». Et alors on se
sent mal, parce que je ne me sens bien que quand j’ai du travail.
Quand j’ai commencé à participer aux rencontres qui parlaient de
l’estime de soi, j’ai commencé à changer, parce que là, ils travaillaient aussi
le côté spirituel, qui dit que vous êtes un être de lumière, que vous êtes
important, et aussi un peu la question de l’enfance, de la famille. Ils parlaient
aussi de se détacher des choses, que les gens ne doivent pas perdre l’espoir,
et ces cours ont renforcé mon estime. Après, quand j’ai commencé à aller au
Cefet, je suis sortie de ma dépression pour de bon. Je savais que c’était un
cours d’aide soignante pour personnes âgées, mais je ne savais pas que c’était
au Cefet, ni qu’il y avait des bourses d’étude.
Les cours étaient super dynamiques. S’il fallait leur donner une note
sur 10, je donnerais 10 à tous les profs. Je les ai tous aimés. Nous avons eu
des cours de premiers secours, une chose super importante car nous avons
appris beaucoup de choses que nous ignorions, comme le fait de travailler à
la prévention d’accidents. J’ai appris des choses sur la dépression, la maladie
d’Alzheimer qui atteint les personnes de plus de 60 ans. J’ai appris comment
m’occuper de ces malades, comment observer les symptômes.
On a eu des ateliers et aussi des ateliers d’artisanat. Ensuite on se
réunissait pour faire des emballages en recyclant des boîtes de lait. On les
décore et on ajouter un ruban et c’est très joli. Nous avons appris à peindre,
j’ai même participé à la Foire de Noël de l’IFBA1 ou j’ai vendu des objets que
nous avions fabriqués avec des produits recyclés.
Nous avons également eu un cours d’économie solidaire : les professeurs
possèdent beaucoup d’expérience avec les coopératives. Aujourd’hui, nous
pensons créer une coopérative de recyclage ; nous réfléchissons à cette idée.
Toutes ne s’y sont pas intéressées ; trois ou quatre personnes ont rediscuté
la question. Nous attendrons la fin de la période de stage et la remise de
diplômes qui suivra pour en reparler. Le professeur va nous orienter. Ils nous
Après le cours, je suis devenue une personne
plus forte, avec plus d’espoir.
ont dit que si on voulait reparler de ce sujet, ils pourraient venir dans notre
communauté pour nous expliquer comment cela fonctionne.
Je me sens préparée pour le marché du travail. Mon objectif principal
était de retourner sur le marché. J’ai hâte parce que durant le stage, je vais
mettre en pratique ce que j’ai appris en salle de classe. Actuellement, mon
objectif est d’obtenir un emploi parce que nous avons besoin de travailler
et prochainement, de faire quelque chose qui puisse venir en aide à d’autres
personnes. Qui sait, travailler comme bénévole au propre projet Mille
Femmes. Aider également les personnes qui vivent avec moi, parce qu’à la
maison il y a trois personnes âgées, à savoir ma mère qui a 61 ans, mon beaupère qui a 67 ans, et ma belle-mère de 62 ans.
Il y a quelques collègues que je connaissais de vue, mais avec lesquelles
je n’avais pas de contacts. Alors, un des points positifs du cours a été que
ça m’a donné l’occasion de me rapprocher de certaines personnes que je
connaissais de vue et de me lier d’amitié, de voir que ce sont d’excellentes
personnes ; il y a des gens avec lesquels j’ai découvert des affinités et je suis
certaine que ce sont des amitiés pour toute la vie.
Après le cours, je suis devenue une personne plus forte, avec plus
d’espoir. Je pense que je suis devenue une personne bien meilleure. Je suis
une femme qui a beaucoup de rêves à réaliser, que je n’ai pas encore réalisés
durant ma vie, mais je n’y ai pas renoncé, je continue la lutte, je continue à
foncer et je suis sûre que je parviendrai à réaliser ces rêves. Je sais que je ne
peux pas rester les bras croisés à attendre que les choses se passent, je dois
continuer. Et là, il y a le côté professionnel que je dois réaliser et le rêve de
faire une faculté, de suivre un cours de pédagogie.
J’aime la chanson « Émotions » de Roberto Carlos, parce que lors de la
remise de diplômes du secondaire,
durant la cérémonie, la chanson a
été jouée et elle disait « Quand je
suis ici, et que je vis ce moment
merveilleux ». Alors le film de ma
vie est passé devant mes yeux. Ma
plus grande difficulté quand j’étais
enfant c’est que mon père et ma
mère étaient analphabètes. Alors je
n’avais personne qui pouvait m’aider
à faire mes devoirs. C’était très difficile. Et en général, je demandais
l’aide d’une voisine.
Quand on est enfant, on rêve
de tellement de choses, et mon rêve
Du rêve à la réalité
Mille Femmes
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Mille Femmes
Du rêve à la réalité
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Je pense
que nous ne
devons jamais
abandonner
nos rêves,
il nous faut
lutter, courir
après ce que
nous voulons.
à moi était d’être pédiatre. Comme vous le savez, dans le temps, la famille
était plus traditionnelle et avait plus d’enfants. Chez nous, nous sommes
neuf frères et sœurs, et les plus âgés devaient toujours travailler pour aider à
élever les plus jeunes. Comme je suis l’aînée, j’ai commencé à travailler très
tôt, à 13 ans. Si je m’étais arrêtée de travailler, je ne serais pas parvenue à
terminer mes études secondaires.
J’ai travaillé dans une maison de famille pendant cinq ans. Quand
j’ai terminé mes études secondaires, j’ai fait l’école d’instituteurs. Ce n’est
que quand j’ai été cherché mon diplôme que j’ai découvert que le cours
n’était pas reconnu. Ça a été beaucoup de bureaucratie, presque six ans pour
obtenir la reconnaissance des acquis scolaire. Quand j’y suis parvenue, j’étais
déjà en retard, je ne pouvais plus donner de cours. Et maintenant, si je veux
donner un cours, je dois suivre un cours de pédagogie, et c’est ce que j’essaie
de faire. J’attends que les choses s’améliorent.
Je pense que nous ne devons jamais abandonner nos rêves, il nous faut
lutter, courir après ce que nous voulons, parce que beaucoup de gens ont
des rêves et n’ont pas l’occasion de les réaliser. Alors c’est une occasion qui
s’est présentée à moi, et de la même manière que j’ai eu cette opportunité
de recommencer à rêver et à courir après mes objectifs, le message que je
voudrais transmettre est le suivant : que les gens n’abandonnent jamais
leurs objectifs, ne disent jamais qu’il est trop tard. Il est toujours temps de
recommencer.
Maria das Graças Paula
de
Jesus
Maria das Graças Paula de Jesus a 51 ans et elle a déjà travaillé comme
domestique, comme gardienne d’enfant, dans un lave-auto et dans la
construction civile. Aujourd’hui, elle entame une nouvelle trajectoire
professionnelle d’aide à domicile pour personnes âgées. Elle aime aller à l’église
le dimanche et prier son homonyme, Nossa Senhora das Graças (Notre Dame
des Grâces). Elle a vécu quelque temps à São Paulo, à la recherche d’une vie
meilleure. Elle n’aime pas le quartier où elle habite à cause de la violence mais
elle y reste parce qu’elle a hérité de la maison de sa mère. Un de ses objectifs est
rénové la maison pour la laisser à son fils et à son petit-fils.
Du rêve à la réalité
Mille Femmes
1. Le quartier de Plataforma
se trouve dans la banlieue
ferroviaire de Salvador,
baigné par les eaux de
l’Enseada do Cabrito (Anse
du Chevreau) et de la Baía
de Todos os Santos (Baie de
Tous les Saints).
Mon premier petit ami a été mon grand
amour, là à Plataforma1.
J’avais 18 ans, nous sommes restés ensemble pendant deux ans et puis
nous nous sommes laissés. Je crois qu’on n’a qu’un seul amour. Votre cœur
ne peut aimer qu’une seule personne ; et ça se passait comme ça : quand je le
voyais quelque part, avec d’autres personnes, je croyais en mourir. Je tremblais,
313
Mille Femmes
Du rêve à la réalité
J’ai toujours dit à ma mère que je voulais faire ça,
étudier pour être infirmière.
je ne me sentais pas bien, j’avais des sueurs froides. Il vit toujours
mais il ne me parle plus. Il est déjà marié, il a deux enfants, une
fille et un garçon qui sont déjà grands, mais même maintenant,
quand je le vois, quand je vais à Plataforma, j’éprouve toujours
la même chose. Et je crois que c’est ça l’amour.
Le cours s’est passé comme ça : il y avait une professeure
qui prenait les inscriptions ici au collège Padre Hugo, et une
fille qui habite sur une rue voisine a dit : « Ils prennent les
inscriptions pour le cours, mais il faut y aller pour se renseigner
parce qu’il y a seulement 40 places ». Je suis arrivée là et elle m’a dit que
c’était pour s’occuper de personnes âgées. Elle m’a donné une fiche à remplir,
où on devait expliquer comment était notre maison, s’il y avait des murs, s’il
il y avait du carrelage ou si le sol était en terre battue. J’ai rempli la fiche et
j’ai laissé mon numéro de téléphone. Trois jours plus tard ils m’ont appelée.
J’ai toujours dit à ma mère que je voulais faire ça, étudier pour être
infirmière. Malheureusement, je n’y suis pas arrivée mais maintenant, ce cours
m’en a presque donné l’occasion parce que je sais déjà prendre la pression,
donner de l’insuline, prendre la température, donner les médicaments,
sans problème. Alors je suis tout près de faire ce que je voulais. Pas encore
complètement, mais j’ai déjà réussi à faire une chose que je voulais.
En ce qui me concerne, tout s’est très bien passé là. Je craignais que
ce soit difficile, je pensais que ce serait quelque chose d’ennuyeux, mais je
me suis dit : « Je ne paie rien, je n’ai pas de travail et je dois m’occuper
l’esprit avec quelque chose ». Alors j’y suis allée. J’ai aimé connaître d’autres
personnes. Les professeurs sont très bons. J’ai appris pas mal de choses sur la
vie : j’ai appris à m’entendre avec les gens, parce que j’étais très stressée, très
314
nerveuse, très révoltée après la mort de ma mère et la maladie de mon fils. Je
me dépêchais pour aller au cours, c’était merveilleux.
On a aussi eu une leçon pour apprendre à se détacher des choses ; les
gens ne doivent pas s’attacher comme ça à tout, il faut avoir un détachement
des choses aussi. Et j’y suis retournée. J’étais comme ça à moitié révoltée,
j’avais beaucoup de problèmes en tête, mais après ça allait mieux. Je suis
devenue plus patiente, je me suis plus détachée des choses, je n’étais plus aussi
nerveuse qu’avant. Je suis devenue une meilleure femme. Et aujourd’hui, je
suis une autre personne, grâce à ce cours. Mes relations avec les gens se sont
beaucoup améliorées, ma vie est meilleure. Maintenant je connais d’autres
personnes, j’ai un boulot ; pour moi, c’est bien. J’achète mes petites choses,
je paie mes factures.
J’ai obtenu cet emploi grâce au cours, à la qualité du cours, parce que
pour ce travail, il faut avoir suivi le cours pour obtenir son certificat, pour
prouver qu’on est capable de s’occuper de personnes âgées. Quand je me suis
présentée, la femme m’a demandé : « Vous avez le certificat ? ». J’ai répondu :
« Oui, je l’ai ! ». « Vous avez les notes du cours ? » et j’ai répondu : « Oui, je les
ai ! ». Parce que dans les notes du cours, on explique comme on doit s’occuper
des personnes âgées. J’ai commencé à travailler avant de terminer le cours.
J’étais très nerveuse. Je mélangeais les médicaments, ma main tremblait
au moment de donner de l’insuline ; tout ça les trois premiers mois, mais
maintenant, je le fais les yeux fermés. Ça fait un an que je travaille. La dame
dont je m’occupe souffre d’un tas de maladies, elle a le diabète, sa tension est trop
élevée, elle a des problèmes de thyroïde. La plupart du temps elle reste assise,
elle ne me dérange pas, elle ne se stresse pas. C’est une personne merveilleuse.
J’ai commencé à travailler à neuf ans chez une femme, à m’occuper
d’un petit enfant comme baby-sitter. Ensuite, j’ai du m’occuper de mes frères
et sœurs. Ma mère a eu d’autres enfants et elle devait travailler, alors c’est moi
qui m’en occupais. Et je n’avais pas le temps d’étudier.
Déjà adulte, quand j’habitais ici, je me suis inscrite au Vera Lúcia2 ;
j’y ai étudié pendant encore deux ans ; cependant que j’allais terminer la
troisième année, j’ai dû aller travailler à São Paulo. Je suis revenue parce que
Du rêve à la réalité
Mille Femmes
C’est un très
bon sentiment,
parce que je
suis restée
longtemps
sans rien
apprendre
et j’ai
recommencé
à apprendre
petit à petit.
2. L’école Vera Lúcia
Cipriano se trouve dans
le quartier Nova Brasília
à Salvador, où Maria das
Graças a habité avant de
déménager à Jaguaribe II.
315
Mille Femmes
Du rêve à la réalité
3. L’Institut National
d’Assurance Sociale
(INSS) nationale est un
organisme indépendant
du gouvernement fédéral
du Brésil qui reçoit des
contributions pour le
maintien de l’aide sociale
générale, et qui est responsable
du paiement de la retraite.
316
ma mère a eu un AVC. J’ai beaucoup aimé São Paulo. On y a l’occasion de
travailler et d’étudier, ça ne dépend que de soi. J’ai beaucoup d’amis là-bas.
Si j’étais un peu plus jeune, j’étudierais, je présenterais l’examen
d’entrée et je suivrais un cours d’infirmière. Je n’y pense plus, surtout parce
que je ne vois déjà plus très bien; je n’ai plus la tête à ça, ni l’âge, mais si je le
pouvais, je le ferais parce que j’en ai envie.
C’est un très bon sentiment, parce que je suis restée longtemps sans
rien apprendre et j’ai recommencé à apprendre petit à petit. Nous avons
eu des cours de mathématiques, sur le coût de la vie, comment vivre avec
son salaire, ce genre de choses. Nous avons eu des cours pour apprendre à
prendre soin d’une personne âgée, des cours de premiers soins. Elles ont
apporté une seringue et une aiguille pour qu’on apprenne à donner une
piqûre d’insuline ; on nous a parlé de pression artérielle, de la manière de
prendre la tension. On nous a expliqué comment traiter le diabète, ce qu’il
provoque. Au cours de recyclage, on a appris à fabriquer du savon. On a eu
une leçon sur le cancer du sein, le cancer de l’utérus, ce genre de choses. On
a eu des leçons sur l’importance du service médical et de se faire examiner.
Maintenant, je fais attention à moi. Pour ce qui est de mes collègues, le cours
a aussi été très bon, il a changé leur vie aussi ; ça a été très bon parce qu’elles
ont appris. Quelques-unes d’entre elles cherchent du travail.
En ce qui concerne mon avenir, j’ai l’intention d’arranger ma maison,
d’y mettre un plafond – ici c’est très petit, il n’y a qu’une chambre – pour la
laisser à mon petit-fils et à mon fils après ma mort. Je paie mes cotisations à
l’INSS3 pour avoir une retraite. Alors il faut que je travaille.
J’ai déjà la pratique, j’ai ma carte de travail en tant qu’aide soignante
de personnes âgées. Elle a signé mon contrat de travail, j’ai de l’expérience et
j’ai donc tout fait dans les règles. Si je parvenais à décrocher un autre emploi,
où je gagne un peu plus, ce serait bien. J’aime cet endroit.
Ilda
Ceará
Selma
Mille Femmes
Du rêve à la réalité
Fortaleza
Dans les livres d’histoire du Ceará, le Pirambu est cité , en 1932, lorsqu’une sécheresse
ravagea la région Nord-est du Brésil. À l’époque, un camp de concentration fut
installé à cet endroit : le Camp du Pirambu ou Camp de l’Urubu, comme on appelait
le local où étaient envoyés les sinistrés de la sécheresse qui y recevaient quelques soins
et un peu de nourriture et qui pouvaient travailler sur le front toujours surveillés
par des soldats.
Les années ont passé, le quartier s’est développé et il a accueilli d’autres habitants
originaires de la campagne. Celui-ci a été mieux organisé, des associations d’habitants
ont été créées qui ont de bonnes relations avec les autorités locales, mais les marques
de l’exclusion font encore partie du cadre de l’endroit. Des femmes nées dans les
années 1950, 1960 et 1970, quelques-unes d’entre elles élèves du projet, habitent
encore dans des maisons rudimentaires en torchis et elles n’ont pas eu l’occasion
d’acquérir une formation supérieure ou technique, ayant tout au plus terminé l’école
secondaire. Dans leur adolescence, beaucoup d’entre elles travaillaient et travaillent
encore dans des usines de traitement de noix de cajou, installées à la périphérie
du quartier. Elles se marient, ont des enfants et elles ne se rendent pas compte
de l’importance des études seulement quand elles sont licenciées, phénomène
saisonnier dans ce secteur.
Aujourd’hui, le Pirambu est l’un des plus grands quartiers de Fortaleza, avec plus
de 300 000 habitants, ce qui correspond à près de 10 % de la population de la
capitale, qui dépasse actuellement les 3,2 millions d’habitants, avec une des plus
importantes densités de population du Brésil, à savoir plus de 40 000 habitants par
km². Comme dans les autres quartiers de la périphérie des grands centres urbains,
les habitants sont confrontés à la violence, au trafic de drogues et aux préjugés. Et de
plus en plus, les femmes assument toutes seules l’éducation de leurs enfants.
L’Institut Fédéral du Ceará possède déjà une unité dans ce quartier où il offre des
formations dans le secteur du tourisme et de l’alimentation. Pour faciliter les stages et
offrir des possibilités d’emploi, l’IF a signé un accord de partenariat avec l’organisme
du secteur du tourisme qui offre les stages qui font partie du curriculum du cours
et représente une porte d’entrée pour le marché du travail. Avec l’organisation de
la Coupe du monde de football en 2014, et étant donné que Fortaleza sera une des
villes d’accueil, la tendance est à la croissance
du marché qui devra absorber plus de maind’œuvre qualifiée. Aujourd’hui, les entrées des
élèves du projet dans le monde du travail sont
en hausse. D’anciennes élèves ont trouvé des
emplois de femmes de chambre ou travaillent
dans les cuisines des hôtels.
318
Ilda Maria Vital de Oliveira
Du rêve à la réalité
Mille Femmes
Ilda Maria Vital de Oliveira, affectueusement surnommée « la Grosse »
par ses collègues de travail, une allusion à la minceur de son corps –
elle est la plus mince des femmes de chambre – montre que l’accès à
l’éducation permet de transformer la réalité. Habitante du quartier
« vixe », expression pleine de préjugé que, selon Ilda, beaucoup de
cearenses utilisent quand ils découvrent qu’ils ont affaire à un habitant
du Pirambu, a cru qu’elle pouvait changer le cours de son histoire et
elle l’a fait ! À 40 ans, le chômage est pour elle de l’histoire ancienne et
aujourd’hui, elle travaille dans un hôtel Holiday Inn.
Quand ils m’ont appelée en me disant
que j’avais rendez-vous au Holiday Inn ,
je me suis pomponnée et j’y suis allée. Quand la femme m’a demandé :
« Où avez-vous suivi le cours ? », j’ai répondu : « Au Cefet » – « Quel
Cefet ? » – « 13 de maio ». C’est vraiment une très bonne référence. Cela
m’a ouvert des portes !
319
Mille Femmes
Du rêve à la réalité
Quand je travaillais à Iracema, l’industrie de noix de cajou,
je ne gagnais qu’un maigre petit salaire.
Quand le projet Mille Femmes est entré dans ma vie, j’étais confronté
à plein de problèmes. Mon fils était en prison, ça faisait déjà presque deux
que j’étais sans emploi et mon mari aussi était au chômage. Nous vivions
pratiquement aux crochets de ma mère. Mais je me suisdit : « Quand j’aurai
terminé ce cours, ma vie va s’améliorer parce que je vais essayer de trouver un
emploi ». Et ça a marché ! Je travaille depuis un an et demi à cet hôtel.
Quand je travaillais à Iracema, l’industrie de noix de cajou, je ne
gagnais qu’un maigre petit salaire. Je n’avais pas d’assurance maladie, pas
d’assurance dentaire, je n’avais rien. Après avoir terminé le cours et avoir été
engagée à l’hôtel, ma vie est deux fois meilleure parce qu’il n’y a pas que le
salaire. Maintenant j’ai une assurance maladie, une assurance dentaire. Mes
enfants en bénéficient également.
Ma mère a travaillé comme moi dans les industries de noix de cajou.
Nous sommes cinq frères et sœurs, et nous n’avions pas de maison. Je me
souviens qu’on habitait là en bas, dans un taudis en bois, où il n’y avait
pas de cuisinière, rien qu’un réchaud, sans aucune perspective d’avenir. Ma
grand-mère était aveugle et elle se levait tôt le matin pour allumer le réchaud
avec du bois – qu’est-ce que ça faisait comme fumée dans la maison ! – et
elle préparait des fèves. Parfois, elle cuisait un œuf dans de l’eau bouillante ;
c’était si mauvais... Alors ma sœur et moi sortions pour apporter le repas à
ma mère, mais c’était si loin ! Je n’ai jamais eu de nouvelles de mon père.
Je voulais pouvoir dire un jour : « Je suis sortie d’Iracema ». Ma sœur
habite toujours là et il y a des jours où elle rentre chez elle fatiguée, elle a très
mal au dos parce qu’elle travaille courbée comme une couturière, à séparer les
amandes avec pellicule, les amandes avec coque. Elle a 36 ans. Je lui dis : « Ma
320
vieille, suis le cours d’infirmière, ou de femme de chambre,
c’est tellement bien... On vit une autre vie à l’hôtel ! »
C’est vraiment chouette là ; quand on arrive le
matin, tout le monde est au réfectoire pour prendre le
petit déjeuner, ensuite tout le monde va au vestiaire pour
s’habiller, s’apprêter, se maquiller, se préparer. Et ensuite,
chacune prend son chariot, son plan, sa clé et monte à son
étage. Parfois, à l’heure de la douche, on se plaint de la
fatigue, mais après une bonne douche, on s’arrange et on
descend les escaliers pour s’en aller, on arrive chez soi et on
sent un soulagement, une chose agréable. Je trouve que c’est
très bon.
Durant le stage, j’ai plus ou moins aimé. Le premier
jour, je me suis dit : « Ma vieille, mais qu’est-ce que c’est
fatigant ! ». J’ai cru que je n’allais pas tenir le coup. Le
deuxième jour, même chose, mais le troisième, ça allait bien.
J’ai terminé mon stage un vendredi et le samedi, je distribuais
déjà mon CV. J’en ai laissé dans des hôtels et des entreprises.
Deux hôtels m’ont déjà appelée, c’est super! J’ai déjà un emploi, j’ai déjà un
contrat de travail signé. Le marché est bon pour les femmes de chambre, on ne
reste pas longtemps sans travail ; c’est comme pour les couturières.
Étudier change une personne. J’ai aussi recommencé à étudier à cause
du projet, parce que les copines disaient que le projet n’accepterait pas celles
qui n’auraient terminé que l’école primaire. Ça m’a donné du courage pour
affronter les problèmes. C’était très difficile. Quand arrivait le jour de l’audience
du tribunal, j’avais la tête grosse comme ça, mais mon mari m’encourageait ; il
me disait de ne pas tout abandonner. Maintenant mon fils va mieux.
Tout ce que j’ai appris au cours, je l’utilise dans mon travail : l’informatique, le portugais, la matière sur la femme de chambre. L’informatique
aide beaucoup même si j’ai appris que les bases. Le peu que je sais – accéder
à Internet, ouvrir le programme et voir combien d’appartements sont propres – ça aide. Le personnel de la réception m’appelle et me dit : « Ilda, ouvre
le programme sur l’ordinateur pour voir si tel ou tel appartement est propre
ou pas ». J’allume l’ordinateur et je le vois. L’informatique est très important
dans ce secteur.
Les mathématiques aident dans certains domaines, mais le portugais
est très important parce qu’il faut remplir la feuille de travail. On la remplit
en indiquant : appartement occupé, propre, libre, pas nettoyé. Si j’entre dans
une chambre et que je trouve des objets appartenant aux occupants, parce
qu’en général ils laissent montre, bague, ce genre de choses, valise ouverte, je
note tout sur ma feuille. Les leçons d’anglais aident aussi. Il faudrait en avoir
plus parce qu’on n’en a que quelques heures.
Du rêve à la réalité
Mille Femmes
J’ai terminé
mon stage un
vendredi et
le samedi, je
distribuais déjà
mon CV.
321
Mille Femmes
Du rêve à la réalité
Si je pouvais revivre ma vie, j’aimerais de nouveau suivre le cours. Le
meilleur souvenir que j’ai conservé des cours, ce sont les interprétations de
textes. On avait organisé un groupe musique ; on aurait dit qu’on vivait le
personnage. Ce fut une des meilleures classes que j’ai eues.
Ils sont très accueillants à l’Institut. Parfois, je me sentais inférieure
parce qu’on rencontrait beaucoup d’élèves et qu’on croyait qu’ils étaient
riches. Nous habitons au bord de la mer ; et se trouver dans un centre
comme celui-là, au milieu de tant d’adolescents, on se prend à penser qu’on
a un grand avenir devant soi... Parfois, j’avais peur d’aller aux toilettes. Mais
je pensais si je suis arrivée jusqu’ici...
La fête de remise des diplômes était très bien, nous appeler sur la scène
là devant tout le monde, recevoir la déclaration le diplôme. Ça a vraiment
été très chouette! On se sent important, comme quelqu’un qui peut dire : J’ai
gagné ! J’ai réussi à terminer !
Aujourd’hui, après avoir terminé le cours, j’ai ce sentiment de liberté.
Et j’ai cette force de volonté de vouloir agir et de le faire. En 2011, je veux
me spécialiser. Je pense terminer ma troisième année et suivre un cours
d’informatique avancé. Ça c’est l’objectif parce que je suis en train de suivre un
cours virtuel qui s’appelle Bien Recevoir la Coupe au Brésil, qui prépare tout le
monde du secteur d’hôtellerie à la Coupe du monde de football en 2014.
Je donnerais dix sur dix au cours, ou plutôt mille ; c’est vraiment Mille
Femmes. Et celles qui comme moi veulent vraiment, celles qui s’efforcent,
si elles le veulent vraiment, elles arriveront là où je suis arrivée. Femme de
chambre est tout ce que je souhaite. Je me sens réalisée !
322
Maria Selma da Silva
Du rêve à la réalité
Mille Femmes
Ces quinze dernières années, Selma s’est occupée de Davi, son fils aîné,
qui est né atteint de paralysie cérébrale. En 2008, elle a commencé à se
préparer pour les adieux : elle a suivi le cours de femme de chambre et elle
a recommencé à étudier. En juillet 2010, Davi s’est éteint et en octobre,
elle a commencé à travailler à l’hôtel Holiday Inn, indiquée par Ilda, une
amie de cours. Concernant le passé, elle dit qu’elle a la conscience tranquille
d’avoir rempli sa mission. Pour ce qui est de l’avenir, elle est certaine qu’elle
est capable d’écrire sa propre histoire et de s’occuper de Danilo, son fils cadet.
« La Selma actuelle est très différente de celle qui a entamé au projet Mille
Femmes parce que c’est une femme dynamique, différente, une femme qui
sait ce qu’elle veut : Selma veut travailler et être heureuse ».
C’était incroyable ! Comme je l’ai dit la
première fois, les filles ont rigolé à la maison
quand j’ai raconté que j’avais dit ça lors de mon entrevue – que j’avais peur
de l’ordinateur. C’est vrai, je l’évitais à tout prix, je mourais de peur. Ma mère
323
Mille Femmes
Du rêve à la réalité
J’ai un
compte sur
Orkut et
une adresse
courriel aussi.
Je l’ai créée
aussitôt que
j’ai terminé le
projet.
324
disait : « Ma fille, c’est un truc d’un autre monde, un animal de la fin des temps
parce qu’il connait tout de notre vie ». Et il le découvre vraiment ! Vous voulez
le voir ? Supposons que vous soyez dans un appartement, vous terminez de tout
nettoyer et entrez clean. Clean c’est taper un code. Et alors, la superviseure là
en bas sait où vous êtes, où vous êtes entré. Quand je mets la clé dans la serrure
de l’appartement, l’ordinateur l’accuse. Tout le monde sait à quelle heure vous
êtes entré, combien de fois, le temps que vous avez passé à l’intérieur. Alors
l’ordinateur sait vraiment tout [rires]. J’ai un compte sur Orkut et une adresse
courriel aussi. Je l’ai créée aussitôt que j’ai terminé le projet.
Le défi est très grand et très intense. On travaille beaucoup, la routine
est dure, mais quand on est passionné par sa profession, on continue. On
ferme les yeux et on l’embrasse avec tout l’amour qu’on a, toute la tendresse,
car c’est à ça qu’on s’est préparé et c’est ce qu’on veut, tout au moins dans
mon cas, c’est pour ça que je me suis préparée de 2008 à 2009.
J’étais inquiète, nerveuse, je savais que j’allais commencer à travailler,
je savais que mon contrat était déjà signé, parce que quand je suis allée pour
l’entrevue, avec le projet que j’avais fait de Mille Femmes et avec le certificat
que j’ai obtenu, j’étais déjà engagée. J’étais tellement émue que je n’ai presque
pas réussi à faire les examens pour l’entrée dans l’entreprise. Ma tension est
montée, même que le docteur était un peu inquiet, mais tout s’est bien passé.
Mon cœur battait la chamade parce que je savais que j’étais prête et je savais
ce qui m’attendait ; mais j’y suis allée de tout mon cœur, de toutes mes forces
et j’ai fait face. J’aime beaucoup, j’adore le métier de femme de chambre.
Je travaille là depuis trois mois, avec un contrat signé dès le premier
jour. Tout est très bien, parce qu’on connaît des personnes sympas, des gens
d’autres états ; on découvre un monde totalement nouveau. Dans le projet,
on connaissait les choses dans la théorie. Mais dans la pratique, c’est très
bon, vraiment très chouette.
La première fois que j’ai travaillé avec un contrat de travail c’était
avant d’avoir mon fils. Je me suis arrêtée pendant 15 ans à cause du problème
de Davi. C’était un bébé. Je savais que j’allais le perdre, je savais qu’un jour
j’allais devoir travailler, parce que mon travail c’était de m’occuper de lui et
que je vivais de son allocation. C’est elle qui payait les dépenses de la maison
dans la pratique, parce que je ne pouvais pas compter sur mon mari, juste
pour dire que j’en avais un. J’ai quitté mon mari pour suive le cours, pour
vivre parce que je me sentais prisonnière.
J’ai participé au projet et j’ai aussi recommencé à étudier. J’ai fait
l’EJA1 et terminé mes primaires. Je suis au secondaire maintenant. Je m’étais
rendue jusqu’à la cinquième année primaire. À cette époque, c’était suffisant.
Ma mère me disait toujours : « Tu as déjà appris à lire et à écrire ? Voilà, ça
suffit ! ». On n’avait besoin que de la cinquième année, parce qu’alors on
savait déjà lire, écrire et calculer.
À 14 ans, j’ai travaillé dans une usine de hamacs ; je faisais des franges,
des tresses. À cette époque, les hamacs étaient fabriqués manuellement. Ma
mère nous a toujours fait faire quelque chose, parce que nous étions cinq
sœurs et quatre frères. C’était une grande famille, seul mon père travaillait et
mes frères aînés travaillaient avec mon père.
Je me considère très chanceuse d’avoir participé au projet Mille
Femmes. Ça aide beaucoup. J’ai appris qu’on doit toujours être en paix avec
la vie, prendre soin de soi-même, s’accrocher à la vie parce qu’on n’en a
seulement une, et qu’on doit vivre le moment présent parce que le temps
passé ne revient jamais.
Il y a beaucoup de femmes sans emploi dans notre pays et ce projet
représente le point de départ pour que ces femmes arrivent à quelque chose
plus tard et à réussir dans la vie, parce que c’est un projet merveilleux. J’ai croisé
dans le bus une des filles du cours ; je l’ai tout de suite repérée grâce au teeshirt du projet Mille Femmes. Il n’y avait que quelques jours que je travaillais
là à l’hôtel. Elle m’a regardée et m’a souri ; je ne la connaissais pas mais elle me
connaissait déjà. « Tu es Selma, pas
vrai ? ». Je lui ai dit : « Tu me connais
du projet Mille Femmes, c’est ça ?
Continue parce que c’est très bien,
ce projet t’ouvre des portes ».
Mille Femmes a été pour moi
la clé qui m’a ouvert les portes d’une
nouvelle vie, car j’étais comme
morte, je ne faisais que regarder
des feuilletons à la télé, l’un après
l’autre. Quand j’ai ouvert les yeux,
ma vie était un vrai feuilleton. Et
j’ai pensé : « Halte là ! Pas avec moi !
Je vais changer cette histoire ».
On pense
qu’on n’est
incapable de
se redécouvrir,
mais on trouve
des choses
qu’on sait être
capable de
faire.
Du rêve à la réalité
Mille Femmes
1. EJA – Éducation des
Jeunes Adultes
325
Mille Femmes
Du rêve à la réalité
326
2. L’Examen National de
l’Enseignement Secondaire
(Enem) est un examen
individuel effectué au Brésil
pour évaluer les connaissances
des élèves qui terminent ou
ont terminé leurs études
secondaires. Avec l’Enem,
les étudiants peuvent
concourir pour une place
dans les universités et écoles
polytechniques fédérales et
donne droit aux bourses dans
les institutions privées.
On pense qu’on n’est incapable de se redécouvrir, mais on trouve des
choses qu’on sait être capable de faire. On peut découvrir des choses qu’on
n’imaginait même pas. Je me suis très souvent sentie inférieure, mais le projet
m’a aidé, parce que l’on se rend compte de nos forces, il suffit d’apprendre
à les exprimer. Le projet vous aide aussi à enseigner, parce qu’il ne suffit pas
de réclamer, de se disputer, de parler, de critiquer, il faut aussi enseigner. Le
projet apprend beaucoup de bonnes choses qu’on enseigne à nos enfants.
J’ai appris à Danilo qu’il ne doit jamais baisser la tête, qu’il n’est inférieur à
personne. Il peut y arriver et il doit être déterminé à réussir ; se convaincre
qu’il va y arriver parce qu’il en a la force.
Avant, je ne m’attendais pas à ce que les choses se passent de la manière
dont elles se passent maintenant. Recevoir son argent parce que vous avez
fait des efforts, vous avez étudié, pratiqué. C’est très gratifiant !
C’est très bon de prendre cet argent et de savoir : maintenant je vais
payer mes factures – j’en avais un tas qui étaient en retard. Quand le petit est
mort, il n’y avait plus d’argent.
L’importance du projet Mille Femmes dans ma vie ? Il a été très
important ! Ce fut un projet unique et déterminant. Il a déterminé notre
avenir, du moins le mien, parce que la vie ne termine pas à 40 ans, la vie
commence à 40 ans. La vie commence au moment où vous décidez qu’elle
va commencer. La femme doit toujours étudier, pas seulement à l’école, pas
seulement au projet ; elle doit toujours étudier, être en avance sur son temps
parce qu’elle ne peut pas s’arrêter.
J’arrive seule au vestiaire. Je m’apprête et je jette un coup d’œil dans
le miroir : « ah, comme ça oui, maintenant je peux aller travailler, parce que
maintenant, je suis une femme de chambre. Je peux faire tout ce que je désire».
Cette année, je vais terminer la troisième année, je vais passer l’examen d’entrée
et je vais réussir l’Enem2 et m’inscrire à la faculté d’économie domestique.
Raquel
Maranhão
Maria Rosilda
Mille Femmes
Du rêve à la réalité
São Luís
À 20 km du centre, la Vila Palmeira est l’un des quartiers les plus anciens de São
Luís. Au début, c’étaient surtout des travailleurs ruraux et des descendants d’esclaves
qui vivaient là, à la périphérie du développement urbain. L’occupation de la région
se caractérise par une croissance désordonnée et par l’explosion démographique
provoquée par l’exode rural. Les familles ont construit leurs maisons sur les berges
du fleuve Anil qui traverse la capitale et qui était le principal plan d’eau de la ville
à cette époque.
Une partie de la communauté de ce quartier s’est installée sur la mangrove du fleuve,
de nos jours complètement polluée. Plusieurs familles habitent dans des conditions
inhumaines, dans des maisons sur pilotis, des constructions en bois sur la mangrove,
entourées d’ordures. Dans ce milieu, il y a beaucoup de femmes que n’ont pas eu
l’occasion d’étudier, qui n’ont reçu aucune formation professionnelle et ont des
enfants. Une bonne partie d’entre elles sont des mères célibataires et elles pourvoient
aux besoins de leurs familles en travaillant comme femmes à journée.
À São Luís, le secteur de l’alimentation manque de main-d’œuvre qualifiée et
possède un grand potentiel d’insertion dans le monde du travail. C’est pourquoi
l’Institut Fédéral du Maranhão offre des cours de qualification professionnelle dans
le secteur d’aliments en conserve, préparés et surgelés, et organise l’articulation
avec le secteur de production dans le but de permettre l’insertion sur le marché
du travail. Le projet a été présenté à quelques chefs d’entreprises de ce secteur qui
aujourd’hui emploient les anciennes élèves du projet. Une autre action importante
a été d’étendre le projet Mille Femmes au campus du Centre historique, qui propose
des cours dans le domaine de l’artisanat.
En ce qui concerne les anciennes élèves, quelquesunes d’entre elles obtiennent un petit revenu
en prenant des commandes de petits-fours salés
et sucrés, d’autres ont concrétisé leur rêve de
signer un contrat de travail et travaillent dans
des entreprises partenaires du projet. Beaucoup
d’entre elles vendent leurs produits dans leur
propre quartier et quelques-unes ont formé une
micro-entreprise.
328
Raquel Santos
Raquel Santos, 34 ans, vit sa vie avec bonne humeur. Elle aime rire et
plaisanter. Elle aime se sentir heureuse. C’est sans doute pourquoi le mois
de juin, quand il y a des fêtes un peu partout, est l’époque qu’elle aime le
plus à São Luís. C’est quand il y a la kermesse, le Tambor de Crioula1,
la Danse Portugaise, le Bumba Meu Boi 2 et les quadrilles. Quand elle
était adolescente, elle faisait de la gymnastique rythmique et dansait le
Cacuriá, chorégraphie sensuelle où les couples dansent en cadence et où,
suivant la musique, les pas changent et on change de partenaires. Pleine
de projets pour l’avenir, Raquel a réussi à réaliser un rêve qui lui semblait
si lointain : un contrat signé dans son carnet de travail.
J’éprouve une certaine nostalgie des
cours pratiques et des cours théoriques
aussi parce qu’ils étaient si animés !
Une chose que je ne regrette pas, même si le professeur était fantastique,
c’est les maths. Sans aucun doute là-dessus. Peut-être qu’à présent on essaiera
Du rêve à la réalité
Mille Femmes
1. Littéralement, le Tambour
de la Créole, danse afrobrésilienne pratiquée par
les descendants des esclaves
africains.
2. Danse folklorique
populaire de rue représentant
une légende remontant
au 18e siècle, qui raconte
l’histoire de la mort et de la
résurrection d’un bœuf
329
Mille Femmes
Du rêve à la réalité
330
3. Bondiboca est une chaîne
de snacks de São Luís,
partenaire du projet pour
l’inclusion des élèves sur le
marché du travail.
de s’entendre parce que j’avais commencé à travailler au comptoir et depuis
le mois de juin, je m’occupe de la caisse ; la caisse doit être en ordre, je dois
rendre des comptes. Alors les maths et moi, on essaie de se mettre d‘accord,
mais je ne sais pas si ça va marcher.
J’avais déjà renoncé à beaucoup de choses. J’allais d’un côté et ça
ne marchait pas, j’allais de l’autre, et ça ne marchait pas non plus. J’avais
abandonné l’idée d’avoir un contrat signé dans mon carnet de travail parce que
j’avais déjà 32 ans et que je n’étais pas encore parvenue à obtenir un contrat
d’emploi régulier. J’ai terminé le secondaire, j’ai fait l’école d’instituteurs et
j’ai toujours travaillé dans des écoles communautaires. Dans la dernière école
où j’ai travaillé, je recevais 150 réaux par mois et je n’ai pas reçu de salaire de
septembre à novembre. Alors pour moi, c’était hors de question, parce que
le marché de travail ne regarde pas seulement le CV mais aussi l’âge de la
personne. Il n’y a pas que l’expérience qui compte !
Alors je me suis inscrite au cours pour voir ce que ça donnerait, pour
voir si j’arriverais à améliorer les choses. Réellement, ça a complètement
changé ma vie. De fond en comble. Je travaille au Bondiboca3, avec un
CDD. Le 28 janvier cela a fait un an que j’y travaille. Ça a été ma première
victoire. J’ai également commencé à faire connaître les pièces d’artisanat que
je fabrique. Je fais des fleurs, des poupées.
Avec ma première paie, j’ai acheté une machine à laver et c’était parfait
car quand j’avais un jour de congé, je le passais à faire la lessive. Je fais des
économies pour m’acheter un frigo, un lit, pour nous donner un peu de
confort à mes enfants et à moi.
Je me souviens de tellement de bonnes choses... notre groupe était très
bien. Ici au Cefet j’ai participé au projet grâce à une bourse, et je travaillais ici à
l’étage, au département de ressources humaines. L’argent de la bourse m’a aidé
aussi bien pour l’alimentation à la maison que pour l’achat du matériel que
j’utilisais pour préparer les bonbons et fabriquer les poupées que je vendais.
Le projet Mille Femmes est très important parce qu’il donne une
opportunité à des femmes qui avaient déjà renoncé à lutter pour obtenir
quelque chose dans la vie, à cause des difficultés quotidiennes, difficulté
de trouver un emploi, des aliments, et des préjugés contre les femmes. Car
ils existent ces préjugés ! Parfois, le fait même d’être femme nous empêche
d’occuper un poste. On est discriminées, dévalorisées. Et ce projet vient
contribuer à ce que la femme retrouve sa confiance en soi. C’est comme un
coup de fouet pour qu’elle ne renonce pas à ses rêves, à ses idéaux, qu’elle
continue à se battre, à lutter, qu’elle y parvienne et triomphe. Voilà le principal :
un coup de fouet qui ranime la femme, qui fasse en sorte qu’elle retrouve son
estime de soi, qu’elle se revalorise et se dise : « Je peux, j’y arriverai, j’en suis
capable, je vais réussir » et plus tard : « J’y suis parvenue ! ».
J’ai l’intention de continuer mes études, d’obtenir un diplôme et d’aller
de l’avant. Comme je travaille dans le secteur des aliments, je m’intéresse
beaucoup à la nutrition et aussi à la gastronomie. Je veux travailler, je veux y
arriver et, qui sait à l’avenir, monter ma propre affaire. Je pense au secteur de
décoration de fêtes d’enfants.
Au cours d’entreprenariat, le professeur nous a appris à valoriser
chaque centime qu’on gagne. Il a expliqué : si on gagne un réal par jour, il
faut épargner 10 centimes. Il faut toujours économiser, donner de la valeur à
son argent parce que c’est un argent durement gagné. Comme j’ai l’intention
de monter ma propre affaire plus tard, je dois donner de la valeur à l’argent
que je gagne.
Je suis heureuse malgré toutes les difficultés que j’ai vécues et celle
auxquelles je suis confrontée tous les jours ; je ne peux pas me plaindre.
J’aime le forró, j’aime le pagode, j’aime écouter de la musique classique et
même ces musiques qu’on écoute pour se détendre, avec des bruits d’eau,
d’oiseaux, de méditation. La seule chose que je n’aime pas beaucoup, c’est le
reggae. J’aime aussi la plage.
J’ai connu mon mari au cours
d’une discussion que nous avons eue. À
l’époque, on ne pouvait pas se supporter
l’un l’autre. Je me suis mariée à 19 ans, j’ai
eu mon premier enfant à 19 ans, et je suis
mariée depuis 25 ans. Le premier enfant,
je le désirais très fort, les deux autres
n’avaient pas été prévus au programme.
J’ai eu trois césariennes.
Mon enfance fut bonne. Je suis née
et j’ai grandi à la Vila Palmeira, qui était
un quartier d’invasion. Ma grand-mère
Le projet
Mille Femmes
est très
important
parce qu’il
donne une
opportunité
à des femmes
qui avaient
déjà renoncé
à lutter pour
obtenir
quelque chose
dans la vie.
Du rêve à la réalité
Mille Femmes
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Mille Femmes
Du rêve à la réalité
On
commence à
vieillir à partir
du moment où
ne travaille plus.
332
s’est installée sur un terrain et j’habitais dans la maison de mes
parents avec ma grand-mère. Je suis l’aînée de quatre sœurs.
Mon père a commencé à travailler à 13 ans dans une stationservice, comme laveur de voitures et il fait toujours le même
travail. À la Vila Palmeira, le plus grand problème à l’époque,
c’était l’eau ; ma mère sortait tous les jours avec un bidon pour
aller chercher de l’eau.
J’aime beaucoup plaisanter. Vous ne pouvez pas savoir ce
que j’aime jouer des tours. Au travail, on s’amuse tellement que
je leur dis : « Si mes enfants savaient comment je me comporte
ici, ils diraient – Maman ! C’est du joli ! Qui pourrait imaginer
ça de ta part ? » J’aime plaisanter avec mes amis, quand quelqu’un
raconte une histoire drôle. Parfois, il s’agit de quelque chose de sérieux au
départ, mais après, on commence à rire l’un de l’autre. On s’amuse beaucoup,
et avec les enfants à la maison c’est la même chose. Au début c’est sérieux, et
puis on ne peut pas s’empêcher de rire l’un de l’autre. J’aime beaucoup ça,
c’est vraiment chouette.
Il faut s’occuper l’esprit avec quelque chose. On commence à vieillir
à partir du moment où ne travaille plus. On n’arrive plus à l’utiliser pour
faire certaines choses, il stagne. Et c’est ainsi qu’on commence déjà à vieillir.
C’est pour ça que je n’ai pas l’air d’une vieille, parce que je cherche toujours
quelque chose à faire.
Maria Rosilda Costa Castro
Maria Rosilda Costa Castro a découvert sa passion pour la cuisine quand
elle était jeune, quand elle aimait déjà cuisiner avec de nouvelles saveurs
et de nouveaux mélanges. Catholique pratiquante, elle a conduit son mari
à l’autel l’année passée et a fêté l’occasion avec son talent : elle a fait le
gâteau de mariage. Timide, le défi de Rosilda a été d’apprendre à se faire
payer pour les produits vendus par Guloseima, la micro-entreprise qu’elle a
ouverte en 2010.
Du rêve à la réalité
Mille Femmes
1.Équipe de football de Rio
de Janeiro. Connue aussi sous
le nom de Rubro Negro, c’est
le club qui possède le plus
grand nombre de supporters
au Brésil et dans le monde
selon les sondages de l’Ibope
(Institut brésilien d’opinion
publique et de statistiques).
2. Supporters de l’équipe
de football São Paulo,
aussi appelée Tricolor du
Morumbi.
J’aime le Flamengo1 ; je ne connais
pratiquement aucun joueur.
Mon mari me dit parfois : « Je me demande quelle sorte de fan tu
es… ». J’ai toujours aimé le Flamengo, depuis que je suis toute petite, mais
je ne suis pas du genre fanatique. J’ai deux garçons. Lucas a 12 ans et Caio, 7
ans. Tous les deux sont sãopaulinos2. Je vis avec mon mari depuis 13 ans mais
on ne s’est mariés que l’année passée. Ce fut un mariage collectif. C’était très
333
Mille Femmes
Du rêve à la réalité
Quand je vois ces gâteaux merveilleux sur les pages des magazines,
ça me met l’eau à la bouche. Et je vais y arriver.
bien, merveilleux. J’étais émue, tout le monde était ému, mes sœurs... J’ai
réalisé un rêve, c’était trop beau ! J’ai préparé un joli gâteau de mariage.
J’aime cuisiner, j’ai toujours aimé. J’ai commencé quand j’avais
environ 12 ans, quand ma mère allait à la cuisine, j’y allais avec elle. Chez
ma mère, il n’y avait pratiquement que moi qui préparais les repas. J’aimais
inventer des trucs, prendre une recette et essayer de la faire. Parfois ça
réussissait, parfois non.
Participer au projet a été pour moi une réussite. Je travaillais comme
aide-dentiste, mais c’était parce que j’avais besoin de travailler, je n’ai jamais
aimé cet emploi. J’ai travaillé pendant dix ans dans un cabinet de dentiste
et puis j’en ai eu marre. Je partais de chez moi à six heures du matin et je
rentrais à neuf heures du soir. Je ne voyais pas mes enfants, je n’avais pas le
temps de m’occuper de la maison ; j’ai donné ma démission.
La carte de la vie est une chose très intéressante. Chacun y mettait ce
qu’il voulait et comment il pensait continuer. On a fait un retour à l’enfance
jusqu’à maintenant. C’est intéressant parce qu’on revoit le passé et on voit tout
ce qu’on a laissé derrière soi et tout ce qu’on peut encore essayer de trouver
dans l’avenir. J’ai fait plusieurs dessins, je suis très mauvaise pour dessiner
mais on a compris ce que je voulais dire, j’ai fais passer mon message. J’ai fait
ça pour m’amuser, en montrant, jusqu’où je voulais arriver, mon but ultime,
ce que je voulais faire : à savoir être propriétaire de ma propre affaire.
Sur la carte de la vie j’ai découvert que je pouvais encore étudier, me
professionnaliser, mieux me préparer. Mon objectif est de devenir une grande
professionnelle. Je veux me spécialiser dans la fabrication de petits-fours,
dans le secteur de la pâtisserie. J’adore préparer un gâteau, des confiseries,
334
des petits-fours. Quand je vois ces gâteaux merveilleux sur les pages des
magazines, ça me met l’eau à la bouche. Et je vais y arriver, j’en ai déjà fait
deux qui n’étaient pas mal.
Je préparais des petits-fours pour mes amies, pour l’anniversaire
des enfants, mais je ne travaillais pas pour gagner de l’argent. Les gens me
demandaient de le faire, ils apportaient les ingrédients et après me remerciais.
Je ne le faisais pas professionnellement, je n’arrivais pas à leur demander de
me payer, j’avais honte.
C’est après le projet que j’ai commencé à me faire payer, j’ai essayé
de valoriser mon travail. Ma confiance s’est bien améliorée ; j’ai appris à
me valoriser, à donner de la valeur à ce que je fais, chose que je ne savais
pas faire. Je n’arrivais pas à fixer un prix mais maintenant je sais le faire.
Aujourd’hui je dis aux gens : « ça coûte tant ! » Et je connais la valeur et le
prix de ce que je prépare.
Mon entreprise s’appelle Guloseima. Je l’ai ouverte avec l’aide du
Sebrae3, c’est une entreprise individuelle. Maintenant, je peux agrandir mon
affaire, je peux faire des factures. Le CNPJ4 n’a pas traîné et à partir de 10
mois il y a déjà plusieurs bénéfices. On paie une taxe de 57 réaux et après 15
ans de cotisation, on a droit à une pension. Je vais ouvrir un point de vente
chez moi, sur ma terrasse, parce que j’ai déjà des commandes de petits-fours
et comme ça, je fais les deux choses en même temps.
C’est un marché intéressant, il y a beaucoup de gens qui travaillent
dans ce secteur. Le marché est pour tout le monde, mais on doit essayer de
toujours faire mieux parce qu’on ne peut pas toujours faire la même chose,
3. Le Service de Soutien aux
Micro et Petites Entreprises
(Sebrae) oriente et organise
des ateliers en vue de faciliter
les démarches pour l’ouverture
d’une petite entreprise.
4. CNPJ – Cadastre
National de Personnes
Juridiques.
Du rêve à la réalité
Mille Femmes
335
Mille Femmes
Du rêve à la réalité
C’est aussi le résultat de la volonté, parce qu’on ne peut pas tout
attendre du cours, il faut aussi y mettre du sien.
il faut innover. Je gagne en moyenne un peu plus d’un salaire minimum
par mois. Il y a des mois où je gagne moins, d’autres où je gagne entre 700
et 800 réaux.
J’ai progressé un peu dans tout ; j’ai appris à mieux me connaître. Dans
le temps, je pensais qu’il ne fallait aller chez le médecin que quand on était
malade ; pure ignorance ! Les choses se sont améliorées pour moi, pour mes
sœurs, pour toute la famille, parce que maintenant, c’est moi qui encourage
mes sœurs. Je les envoie chez le médecin, je leur ordonne d’y aller.
Tout ce que j’ai appris à faire a contribué à améliorer mon travail en
termes d’hygiène, de sécurité, de préparation, d’esprit d’entreprise, comment
mieux se former pour notre propre sécurité. Tout ça a beaucoup contribué.
Aujourd’hui, nous travaillons toutes, il n’y en a qu’une ou deux d’entre
nous qui ne travaillent pas. C’est aussi le résultat de la volonté, parce qu’on
ne peut pas tout attendre du cours, il faut aussi y mettre du sien. Ça ne sert
à rien de suivre le cours et puis de rester les bras croisés.
336
Aparecida
Paraíba
Marta
Mille Femmes
Du rêve à la réalité
Bayeux
La commune de Bayeux englobe les communautés de Baralho, São Bento, Porto de
Oficina, Casa Branca, Porto do Moinho et São Lourenço. Il n’existe pas de ligne de
séparation, ce sont des communautés voisines dont la pêche est la principale activité
économique. Hommes, femmes et enfants obtiennent leur gagne-pain quotidien de
la mangrove, qui en général s’étend à l’arrière de leurs maisons. Les adultes pêchent
et les plus petits aident à nettoyer les fruits de mer.
Les conditions de logement et l’infrastructure de base sont très précaires. Les rues
sont pavées mais il n’y a pas d’assainissement de base et l’approvisionnement en eau
potable est critique. Les réservoirs d’eau domestiques ont été construits aux environs
des fosses septiques et des potagers arrosés de pesticides sans aucune orientation
technique, mettant ainsi en danger la santé de la population. Dans ces quartiers,
il existe des problèmes d’alcoolisme, de consommation de drogue et le nombre de
porteurs du virus du SIDA est le troisième de l’état.
Développer un programme éducatif à partir du dialogue avec les élèves a été un
des grands défis auquel l’Institut Fédéral de la Paraíba a été confronté, et l’institut
est en train de mettre sur pied un cours technique dans le domaine de la pêche,
basé sur l’approche par compétences. Une autre action importante fut d’articuler
l’inclusion des vendeuses de fruits de mer dans les actions du Ministère de la Pêche
et de l’Aquiculture, ce dont ont profité non seulement les élèves du Mille Femmes
mais aussi toute la communauté, qui disposent ainsi des informations nécessaires et
peuvent avoir accès aux politiques publiques destinées aux pêcheurs.
Les élèves sont des ménagères, des artisanes, des vendeuses de coquillages, des femmes
de ménage. L’âge varie de 18 et 60 ans et certaines d’entre elles n’avaient jamais mis
les pieds dans une salle de classe. Prendre le bus qui les conduit au siège de l’Institut
Fédéral de la Paraíba (IFPB), qui se trouve à João Pessoa, à 4 km de là, représente
des choses qu’il est difficile d’exprimer sur papier : opportunité, découverte,
recommencement, citoyenneté. Dans la première étape, le défi de l’IFPB fut de
sensibiliser et d’encourager les femmes à participer au cours. Durant cette phase,
des ateliers furent organisés sur les thèmes de la santé, de l’environnement et de la
production artisanale. Ensuite, il y a eu le projet d’élévation du niveau de scolarité
et l’offre de professionnalisation dans le
domaine de la pêche et de l’artisanat, lequel
est encore en cours d’exécution.
338
Maria Aparecida Batista Marinho
Du rêve à la réalité
Mille Femmes
Maria Aparecida, Cida, comme on l’appelle, aime la musique romantique. Le
premier disque qu’elle a acheté est d’Amado Batista. Elle adorait la chanson
« Petite fille, mon amour ». Le disque est resté chez une des familles où elle
a travaillé. Les années de travail comme employée de maison et coupeuse de
canne à sucre sont invisibles. Elle ne possède pas de carnet de travail. Il n’y en
a pas trace. Seul son corps en porte les preuves : ce sont les marques qui ont
commencé à apparaître au cours de son enfance et se sont accumulées quand elle
était adolescente, résultat des accidents que les enfants souffrent constamment.
Cida est vendeuse de fruits de mer, mais son activité de mère l’a forcée au repos.
Elle doit s’occuper du bébé. Ménagère et étudiante, âgée de 37 ans, elle est la
première de la famille à rompre le cercle vicieux de l’analphabétisme. Son rêve
est d’être ce qu’elle n’a pas eu : professeur d’enfants.
Quand le bus est arrivé au Cefet, j’ai
demandé : « C’est ici que nous allons rester ? ».
Ensuite nous sommes entrées dans une salle très chic, avec climatisation
et je me suis dit : « Mon Dieu ! C’est un rêve et si c’est un rêve, je vais le
339
Mille Femmes
Du rêve à la réalité
340
Tellement de mères analphabètes. C’est si horrible d’être analphabète,
c’est comme si on était aveugle. J’étais aveugle et aujourd’hui je vois.
garder, je ne vais pas le laisser passer ». J’ai tellement bien aimé la première
fois où je suis venue ; j’étais encore plus heureuse quand le responsable a
distribué les uniformes, je me sentais toute fière. J’ai pensé : « Maintenant je
fais partie du groupe Mille Femmes. Je ne veux jamais quitter ce groupe ».
Il existe tellement de ménagères qui voudraient avoir une opportunité
d’étudier. Tellement de mères analphabètes. C’est si horrible d’être analphabète, c’est comme si on était aveugle. J’étais aveugle et aujourd’hui je vois.
C’est pour ça que le projet Mille Femmes doit continuer, pour donner une
opportunité à d’autres femmes.
Quand j’allais à l’usine pour recevoir ma paie, je signais avec mon
pouce. Parfois, je ne voulais pas y aller parce qu’ils me demandaient : « Tu
sais lire et écrire ? ». Je me sentais humiliée quand je voyais quelqu’un qui
savait écrire et pas moi. C’était horrible ! J’avais honte de ne pas savoir lire ni
écrire. Je me sentais coupable. Aujourd’hui je sais que c’est parce que je n’ai
pas eu l’occasion d’aller à l’école. Je n’ai pas eu le choix dans ma vie. C’était
comme ça, un point c’est tout.
Nous avons grandi en coupant de la canne à sucre, mon père, mes
oncles, et ils le font toujours, mon frère. Ce n’était pas facile, non. On
arrivait le matin et on ne rentrait qu’à six heures du soir sur le tracteur.
Quand maman disait qu’elle voulait me mettre à l’école, je disais que je ne
voulais pas parce que c’était très difficile. Elle avait beaucoup d’enfants en
bas âge et je voulais aider à la maison. À cette époque-là, mon père buvait
beaucoup et je n’avais aucune envie de sortir et de laisser ma mère dans cette
pénible situation. Et moi je ne savais pas, je n’avais aucune idée, ça m’était
égal d’étudier ou pas. Mais aujourd’hui, j’en connais l’importance.
À 18 ans j’ai connu un garçon, je me suis mariée et j’ai eu ma première
fille à 19 ans. Mon père menaçait toujours de tuer ma mère et moi, j’avais très
peur et je la suppliais qu’on s’en aille de là. C’est à ce moment que ma cousine
m’a envoyé un billet me demandant d’aller à Bayeux avec ma fille. Alors j’ai
pensé : « Je prends mon courage à deux mains et j’y vais ! ». Et je suis partie et
j’ai emmené ma mère avec moi. Une fois là, j’ai travaillé quelques temps dans
une maison de famille. C’est là que j’ai connu mon deuxième mari, fondé une
famille, mais je sentais toujours qu’il me manquait quelque chose.
Je pense que s’il n’existait pas tant d’inégalité au Brésil, les choses
seraient bien meilleures. Si tout le monde était égal, si tout était équitablement
partagé, il n’y aurait pas tant de gens qui souffrent et qui ont faim. Il y
a tellement de terres au Brésil et tant de gens qui paient un loyer. Si on
partageait tout de manière égale, ça n’existerait pas.
Ce que j’aime le plus au Mille Femmes, ce sont les professeurs. Ils
nous encouragent. Je croyais que leur obligation c’était de donner cours et
puis c’est tout, mais ceux d’ici sont fantastiques. Ils nous disent : « Insistez,
persévérez, n’abandonnez pas parce que ce, que vous étudiez, personne ne
pourra jamais vous l’enlever ».
J’adore les cours. J’ai appris tant de choses ! On a eu des leçons sur
les droits des femmes et aussi sur la santé ; c’est alors que l’infirmière a parlé
de l’importance pour la femme de se soigner, de faire les examens tous les
ans, moi qui mourais de peur de les faire, je mourais de peur d’aller chez le
médecin. À la campagne, les gens ne font pas d’examens. Je n’avais jamais
fait d’examen préventif, mais maintenant je les ai déjà faits.
On a des cours de maths, de portugais, d’informatique. Je mourais de
peur de toucher la souris. Je tremblais, je n’arrivais pas à le prendre en main,
je croyais qu’il allait se casser. Alors le professeur disait : « Courage ma fille ! Prend la
souris.. Elle ne va pas te mordre ! ». J’ai appris à allumer et à éteindre l’ordinateur.
Ma confiance s’est bien améliorée.
Aujourd’hui je peux apprendre à mes
enfants. Aujourd’hui je m’en tire en
mathématique, je sais faire des calculs.
Je me sens certaine des choses ce que je
fais. C’est moi qui encourage les autres
à la maison. J’ai cinq filles et elles vont
toutes à l’école. Comme je vais aussi à
l’école, c’est un bon motif pour qu’elles
Du rêve à la réalité
Mille Femmes
Ma confiance
s’est bien
améliorée.
Aujourd’hui je
peux apprendre
à mes enfants.
Aujourd’hui
je m’en tire en
mathématique,
je sais faire des
calculs. Je me
sens certaine
des choses ce
que je fais.
341
Mille Femmes
Du rêve à la réalité
continuent à étudier. Elles se disent : « Maman qui est déjà vieille va à l’école,
moi non plus je ne vais pas abandonner mes études ». Je n’ai pas eu l’occasion
d’étudier quand j’avais leur âge, mais je veux qu’elles aient cette opportunité.
Et je veux être un exemple pour elles.
Les relations entre les femmes de la communauté se sont beaucoup
améliorées avec le projet Mille Femmes. Aujourd’hui, on communique.
Quand il y a en une qui passe par des difficultés, qui est malade, qui a
des problèmes dans sa famille, on va la voir pour savoir ce qui se passe,
pour l’aider. Et quand le bus vient nous chercher, les gens nous voient et ils
disent : « Voilà les Mille Femmes ». Pendant les réunions de l’association, ils
disent : « Voilà les Mille Femmes ». Les gens de la communauté voient ça
aussi ; le projet est présent dans la communauté.
Aujourd’hui je peux choisir. Je veux apprendre toujours plus et je ne
vais pas m’arrêter. Cette année, je vais renouveler mon inscription au collège.
J’étudie ici et au collège de l’état, près de chez moi. J’ai réussi ma quatrième
année. Les gens disent comme ça : « Cette femme a un tas d’enfants et elle
va à l’école ! ». Mais c’est parce que je veux atteindre mon objectif d’être
quelqu’un dans la vie. Celui qui n’a pas d’études n’est personne dans la vie.
C’est un aveugle, sérieusement ! Je veux terminer mes études et suivre un
cours pour apprendre à travailler avec des enfants. Je m’identifie beaucoup
aux enfants.
Je suis une guerrière et il ne fait aucun doute que si j’étais restée à la
campagne, je n’en serais pas là aujourd’hui. Je me sens quelqu’un capable
d’apprendre, d’évoluer, et je ne pensais pas comme ça avant. J’aime la personne que je suis devenue. Et maintenant que je sais lire, j’aime beaucoup la
personne que je suis.
342
Marta de Lima
Du rêve à la réalité
Mille Femmes
Menue avec, la peau brûlée par le soleil, Marta de Lima est devenue vendeuse
de fruits de mer après son mariage, quand elle est allée vivre à Bayeux.
Curieuse, elle observait les voisins quand ils mettaient leurs canots à la mer.
Un jour, elle s’y est risquée. Ce fut le coup de foudre. Et c’est de la mer qu’elle
obtient son gagne-pain pour subvenir aux besoins de ses enfants, ainsi que
cette sensation de liberté. Habile négociatrice, elle a convaincu son mari de
la laisser étudier et de reprendre ses études. À 38 ans, mère de trois enfants,
Marta grandit quand elle parle de sa volonté d’étudier et d’entrer à la faculté.
On doit aimer tout ce qu’on fait.
J’aime ce que je fais.
Pour ne pas aller pêcher, il faut que je sois malade ou qu’il soit arrivé
quelque chose de grave. En mer, on se sent libre, on respire l’air pur, ce qui
est très bon. C’est merveilleux ! C’est une sensation très agréable. Malgré que
j’aie peur de l’eau et que je ne sache pas nager, j’aime pêcher.
343
Mille Femmes
Du rêve à la réalité
Durant
le cours sur
l’environnement,
j’ai appris que
ce qu’on doit
protéger le plus
c’est le milieu où
l’on vit.
344
Durant le cours sur l’environnement, j’ai
appris que ce qu’on doit protéger le plus c’est le
milieu où l’on vit. C’est la mangrove ! Mais il existe
beaucoup de gens qui n’ont aucune idée de la valeur
de la mangrove. Et elle a énormément de valeur
pour moi ; elle représente mon gagne-pain et celui
de beaucoup de gens. Si vous jetez des ordures dans
la mangrove, vous polluez l’environnement et vos enfants et petits-enfants ne
connaîtront pas ce que je connais aujourd’hui. C’est ce que je pense.
J’ai commencé à travailler à neuf ans. On habitait dans la maison
de ma grand-mère, on était six frères et sœurs et seul mon père travaillait.
Je trouvais que c’était très dur ; je suis l’aînée et alors, il fallait que je fasse
quelque chose. J’ai suivi un petit cours de crochet et j’ai commencé à vendre
ce que je faisais. Comme ça j’aidais à la maison.
Après j’ai commencé à travailler chez les autres, mais je faisais toujours
du crochet. À 17 ans, j’ai travaillé dans le commerce, je vendais des souliers
– ce qu’on appelle ici un camelot. C’est aussi à cette époque que j’ai arrêté
d’étudier, en huitième année. Comme je n’arrivais pas à concilier le travail et
les études, j’ai décidé de travailler pour de bon.
À 21 ans j’ai rencontré mon mari et on est allé habiter à Bayeux ; c’est
quand j’ai commencé à pêcher. Je suis venue habiter au bord de la mangrove,
et j’y habite toujours. Dans le temps, ma maison n’était pas en briques mais
en torchis. J’étais curieuse, je voyais les gens qui prenaient leur barque et qui
allaient travailler. Alors je me suis dit : « J’y vais aussi ». Et mon mari disait :
« Non, tu n’y vas pas ». Et moi je disais : « Si, j’y vais ». Et j’ai fini par y aller.
Mais je me suis prise de passion pour la chose.
Au début, mon mari ne voulait pas que je recommence à étudier. On
s’est beaucoup disputés mais maintenant, ça va, il est plutôt content. Alors
j’ai insisté pour qu’il aille aussi à l’école. Il y va contre son gré mais il y va !
[rires]. Je vais avec lui, parce qu’il n’y va pas sans moi. C’est trop drôle. La
professeure trouve que c’est drôle que ce soit moi qui l’aide ; on dirait que je
suis la professeure en salle de classe [rires].
J’aime beaucoup Roberto Carlos, la chanson « Les virages de Santos ».
Ça me rappelle de bons souvenirs de ma jeunesse. J’aime aussi danser dans
ma rue. Les gens qui habitent là aiment organiser des petites fêtes et alors
mon mari et moi, on s’amuse. J’aime pas beaucoup aller en discothèque, je
n’aime pas beaucoup la foule, mais une petite fête dans la rue comme ça,
familiale, ça oui. Je danse toute la nuit.
Le projet Mille Femmes représente la réalisation d’un grand rêve.
Je me sens réalisée. Pas encore complètement parce que je n’ai pas encore
terminé mes études. Mais rien que d’avoir eu l’opportunité de recommencer
à étudier, c’est pour moi un rêve. Dans mon cas, être ici à l’Institut est encore
plus important, parce que ça marche comme ça : pour pouvoir entrer ici, il
faut passer un examen, et je crois que je n’entrerais jamais s’il me fallait faire
un examen. Je suis entrée grâce au projet.
Depuis 2008, après mon entrée dans le projet, je suis complètement
différente. J’étais plus taciturne, maintenant je suis plus loquace, je parle
beaucoup. Quand je suis entrée, je ne savais rien et aujourd’hui, je me sens
intelligente, très intelligente. Je peux aider mes enfants à faire leurs devoirs
et leçons à la maison. Aujourd’hui je communique mieux avec les gens, je
sais ce que je dois dire. Avant, je n’aimais parler qu’avec mes voisines ; mais
participer à d’autres réunions, aller ailleurs, ça non. Maintenant, j’ai plus de
volonté, je me sens bien. Je me sens même très bien.
On a aussi eu des cours sur les droits et nous avons beaucoup de droits.
Ils nous ont parlé des droits des femmes et de la loi Maria da Penha. Ça nous
aide beaucoup parce que tout ce qu’on veut faire, il y a toujours un homme
pour vous dire : « Ah, je vais te taper dessus, je vais te faire ceci et cela ! ».
Mon Dieu, quelle histoire ! On sait où porter plainte, qui appeler, c’est fini
de nous taper dessus ! C’est fini le temps de la femme esclave. Maintenant la
femme doit être libre.
J’ai réussi à avoir la carte de pêcheur. Pour celui qui est pêcheur, cela
représente une pension dans l’avenir. On paie l’INSS1, au maximum 45
réaux par an, et dans l’avenir, on prend sa retraite. On a réussi à l’avoir grâce
à ces réunions auxquelles on a été convoquées ici à l’Institut2. Aujourd’hui
j’ai la mienne.
Du rêve à la réalité
Mille Femmes
1. Le Gouvernement fédéral
du Brésil crée des options
pour que les travailleurs
autonomes, et parmi eux
les pêcheurs, puissent cotiser
à l’Institut National de
Sécurité Sociale (INSS), pour
leur assurer une pension de
retraite.
2. Les réunions ont été
organisées par le Secrétariat
Spécial à l’Aquiculture et à
la Pêche du Ministère de la
Pêche et de l’Aquiculture, et
la participation des vendeuses
de fruits de mer a été articulée
par l’équipe du projet Mille
Femmes de la Paraíba.
3. En avril 2009, le
Secrétariat à l’Éducation
Professionnelle et
Technologique (Setec) a
organisé une rencontre à
Brasilia, avec la participation
d’une élève de chaque
état. À cette occasion, le
documentaire national du
projet Mille Femmes a été
lancé, produit par le directeur
Helvécio Ratton. Cette
vidéo peut être visionnée à
l’adresse électronique <www.
mulheresmil.mec.gov.br>.
345
Mille Femmes
Du rêve à la réalité
J’ai changé
ma façon de
penser et j’ai
une meilleure
vision du
monde ;
je peux
transmettre
tout cela à mes
enfants.
346
Je ne fais plus beaucoup d’erreurs de calcul,
je me débrouille bien. Je me sens comme une autre
personne. Du voyage à Brasilia3, je me souviens quand
nous sommes allées au Ministère de l’Éducation
pour voir la vidéo avec l’histoire de notre vie. Ça m’a
marquée qu’un ministre me voie là, à la pêche, au
travail. Je me suis sentie très importante.
Parfois, je rate le bus parce que j’arrive en retard à cause de la marée.
Alors je m’habille vite, je pique une course, j’arrive sur la route et les gens
me disent : « Le bus est déjà passé ». Ah, ce n’est pas vrai ! Mais j’ai toujours
quelques sous que je garde dans mon porte-monnaie pour ces cas-là et je
prends le bus. J’ai réussi à avoir ma carte d’étudiante.
Pour moi, ce projet est tout ce que je pouvais rêver d’atteindre dans
ma vie : recommencer à étudier, obtenir ma carte de pêcheur, tout ça grâce
au projet. J’ai changé ma façon de penser et j’ai une meilleure vision du
monde ; je peux transmettre tout cela à mes enfants. J’insiste beaucoup sur
ce point à la maison : « Il faut étudier, parce que la marée n’attend pas
demain ». Si j’étudie, je peux leur donner une vie meilleure et s’ils étudient,
ils peuvent avoir une vie meilleure que la mienne. En étudiant, on peut tout
obtenir, il suffit d’avoir un peu de volonté et de courage.
Mon objectif est de terminer mes études. Après, quand j’aurai terminé,
je verrai quel cours je vais suivre. Je ne vais pas m’arrêter, plus jamais. J’espère
que le projet ne terminera pas et qu’il offrira des chances à d’autres pêcheuse,
artisanes et ménagères, parce qu’on a tout à gagner et rien à perdre.
Deine
Pernambuco
Vera Lúcia
Mille Femmes
Du rêve à la réalité
Recife
Le quotidien à la Vila Chico Mendes, quartier de la banlieue de Recife, est rythmé par
le bruit assourdissant des avions qui se préparent à atterrir à l’aéroport international
de Recife. À vrai dire, seuls les visiteurs les entendent et ils ont même le réflexe de
rentrer les épaules de peur que les avions ne leur tombent sur la tête. Les enfants ne
réagissent même plus.
La communauté est apparue en 1991 quand 30 familles de plusieurs quartiers de
la capitale ont occupé le terrain et construit les abris qu’ils pouvaient – des taudis
en carton et en torchis. Les loyers absorbaient une bonne partie des salaires et le
manque de politique de logement à cette époque a poussé beaucoup de travailleurs
vers ces régions de la périphérie pour trouver un toit.
Certains gardent encore en mémoire les histoires d’affrontements avec la police
et de la lutte pour arriver à obtenir les services de base. Aujourd’hui, vingt ans
après, la Vila Chico Mendes abrite plus de trois mille habitants qui continuent à
lutter pour pris en compte par les autorités publics, pour le droit à l’éducation, à
la santé et au travail.
Dans les rues étroites, plusieurs sans assainissement de base, l’exclusion, les
préjugés, la violence et le trafic de drogues se mêlent aux espoirs, à l’avenir et
à la recherche de nouveaux horizons. Et c’est là l’importance de la proximité
et de l’action de l’Institut Fédéral de Pernambuco à la Vila Chico Mendes :
offrir des perspectives de travail en proposant des formations dans le secteur
de la gastronomie. Avec leurs connaissances dans le domaine de l’alimentation,
plusieurs femmes vendent de la nourriture sur la plage le dimanche et d’autres
préparent déjà des petits-fours et des confiseries sur commande. L’IF a également
assumé le rôle d’articulateur et signé des accords de partenariat avec d’autres
institutions qui enseignent la partie pratique.
En récupérant leur auto-estime et en acquérant de nouvelles connaissances, les élèves
commencent déjà à faire des projets pour leur avenir. Le rêve de quelques-unes
d’entre elles est de mettre en place un restaurant communautaire, alors que d’autres
rêvent d’un contrat de travail en bonne et due forme ou de monter leur propre affaire.
Pour chacune, la plus grande conquête
est le droit de recommencer à rêver et
d’espérer de meilleurs lendemains.
348
Deine Araújo
Du rêve à la réalité
Mille Femmes
Deine Araújo a un ton de voix posé mais ferme. Une stature moyenne, un
beau sourire et un courage et une compétence pour faire face aux désagréments
de la vie. À 43 ans, avec trois enfants et 23 ans de mariage, elle reçoit encore
des invitations pour aller flirter sur les bancs de la place. Déterminée, elle a
complété ses études secondaires, a presque terminé la formation professionnelle
et elle fait des projets pour concilier deux rêves : faire un diplôme en
mathématiques et ouvrir une entreprise dans le secteur de l’alimentation.
Pour les femmes, ce projet signifie avoir
une place au soleil, une profession.
Elles terminent le cours et veulent faire un programme. Pourquoi ?
Parce que leurs yeux se sont ouverts, la fenêtre du savoir a été ouverte et ça,
c’est le projet qui l’a fait pour nous.
Mon rêve est de faire un diplôme en mathématiques. J’aime les chiffres, j’ai une grande facilité, j’apprends très vite. Ce serait pour moi comme
un trophée, une réalisation. J’aime cuisiner et j’aime les maths. Je suis heu-
349
Mille Femmes
Du rêve à la réalité
350
Il faut entretenir l’amour tous les jours. Je dis souvent aux gens
que chaque jour, mon mari est différent.
reuse, je me sens réalisée, j’ai une famille structurée. J’ai l’occasion de suivre
le cours, chose que je n’avais pas avant,
et aujourd’hui la porte s’est ouverte.
Avoir terminé l’école secondaire a été
une bonne chose de faite parce que je
vivais prisonnière du passé.
Cela fait 20 ans que j’habite ici.
Au début ça a été dur parce que j’habitais dans une petite cabane en planches
et en carton. Il n’y avait pas de carrelage, les puces-chiques attaquaient souvent les pieds et les mains de mon premier enfant. Je l’ai amené au poste de
santé et quand le médecin a vu de quoi
il s’agissait, elle l’a communiqué avec la
mairie. Ma maison fut la première à être
désinsectisée.
Élever un enfant n’est pas une chose facile ici. Il y avait des jeunes qui
jouaient avec eux et qui n’avaient pas l’occasion d’aller à l’école, qui faisaient
un enfant quand ils étaient encore des adolescents, qui étaient impliqués
dans le trafic de drogues. J’ai élevé les trois. L’aîné est à la faculté, ma fille s’est
mariée et le cadet fait son service militaire.
Avant de venir ici mon mari avait deux emplois et on vivait bien.
Le premier, il l’a perdu à cause de sa vue ; le second, à cause de son âge. Il
travaillait en électronique mais sa vue a baissé à cause de la toxoplasmose
qui l’a presque conduit à la cécité. C’est une maladie qu’on attrape par
des excréments de chien, de chat, de pigeon, de poulet. La sienne, il l’a
probablement attrapée par des excréments de pigeon. Il a dû boire de l’eau de
janvier. C’est une croyance du Nord-est, c’est courant : les mères recueillent
l’eau de la première pluie de l’année et la font boire à l’enfant pour le faire
parler plus vite.
Pour lui ça a été plus difficile, parce qu’il venait de Campo Grande,
un bon quartier près de Pinheiros. Son père était directeur d’une agence
de la Banque du Brésil, il avait une voiture, une maison. Ma réalité a été
très différente. Mon père était mécanicien et fonctionnaire, mais avec cinq
enfants, il ne pouvait pas nous donner tout. Nous avons toujours eu de la
nourriture mais il nous est arrivé de manger qu’une seule fois par jour.
Il faut entretenir l’amour tous les jours. Je dis souvent aux gens que
chaque jour, mon mari est différent et que ce qui me captive le plus c’est
qu’il me traite de la même manière que quand j’avais 15 ans. Il a toujours
Du rêve à la réalité
Mille Femmes
les mêmes gestes tendres, il me dit que je suis
jolie malgré le fait que j’aie grossi. Il me donne
des fleurs, des chocolats, il m’envoie des messages
d’amour par téléphone, il m’invite à sortir. Je n’y
vais pas parce que ça me gêne un peu, je lui dis
qu’on est déjà trop vieux pour ça. Quand j’arrive
du boulot au petit matin, il met le lait à chauffer,
un morceau de fromage sur une tranche de pain.
Quand j’ai pris ma douche, que je m’assieds, il me le donne. J’arrive chez
moi vers deux heures, deux heures et demie du matin.
Ici à la Vila Chico Mendes, le projet Mille Femmes représente une
occasion de progresser parce que beaucoup de gens veulent mais pas n’ont
pas l’occasion. Ce sont des femmes qui n’ont pas eu l’opportunité d’étudier et
qui parfois ont été mères adolescentes, sans aucune structure, qui ont trouvé
des compagnons qui sont aussi sans éducation. Et ils sont très machistes, ils
pensent que la femme ne doit pas travailler.
Le cours prépare pour le marché parce qu’il parle de la manipulation
des aliments ; il y a des cours d’étiquette sociale au travail. Pour ce qui est de la
manipulation des aliments, dont la personne ne tient parfois pas compte, on
apprend que c’est très important, parce qu’il s’agit de la vie des autres. En portugais, on apprend à s’exprimer, à comprendre, à écouter l’autre parce qu’on
veut souvent imposer son point de vue. Apprendre à travailler en équipe parce
351
Mille Femmes
Du rêve à la réalité
Ici à la Vila
Chico Mendes,
le projet
Mille Femmes
représente
une occasion
de progresser
parce que
beaucoup de
gens veulent
mais pas n’ont
pas l’occasion.
352
que sans l’autre on ne fait rien. Et en mathématiques, tout ce qu’on fait comporte des
calculs : poids, mesures, division, l’utlisation
des pourcentages. Tout ça prépare au marché
du travail. Alors c’est une occasion qu’elles
saisissent bec et ongles et qui peut leur donner du travail. Et je suis convaincue qu’avec
cette chance, les portes s’ouvriront vraiment,
aussi bien pour celle qui veut mettre en place une affaire que pour celle qui va
sur le marché du travail, dans un restaurant ou un hôtel.
J’ai travaillé dans un bar et je gagnais R$ 100 reais par semaine, mais
c’était très peu. Vu le travail que je faisais, je méritais plus. Le propriétaire était
une personne avec peu d’éducation et tout ce que j’apprenait dans le cours
je le lui ensegnait. J’ai montré comment manipuler les aliments et l’hygiène.
Donc, ce que le propriétaire a appris avec moi, il transmet au personnel qui
travaille le matin.
Mon projet est de mettre sur pied ma propre affaire et j’en ai
d’ailleurs déjà parlé à une de mes collègues de cours parce qu’elle aime la
partie bureaucratique alors que moi j’aime la cuisine. Nous allons servir
des déjeuners. Elle s’occupera de la partie bureaucratique : aller dans les
entreprises offrir des récipients et encaisser, parce qu’elle est bonne pour ça. Il
y a des gens au marché qui vendent des repas dans un récipient en plastique
et ce n’est pas correct. Je servirai dans un récipient jetable, ce qui est plus
hygiénique, plus politiquement correct comme je l’ai appris au cours.
Vera Lúcia Francisca da Silva
Du rêve à la réalité
Mille Femmes
Le moment actuel dans la vie de Vera Lúcia pourrait sans doute être défini
par un mot : redécouverte. Peut-être parce que tout autre mot ne serait pas
assez fort pour définir le processus de se voir avec des yeux qui ne sont pas
ceux d’une personne inférieure. À 39 ans, Vera a commencé à croire en elle
–même et petit à petit, elle apprend à avoir confiance en ses talents. Elle a
une fille de six ans, elle est évangélique et elle dit qu’elle est sur le point de
partir : de quitter la Vila Chico Mendes. Mais c’est vers un destin inconnu.
Une seule chose est certaine : le départ sera vers la réalisation des rêves
étouffés par les exclusions imposées par la vie.
Chaque fois qu’on avait un cours,
c’était un vrai plaisir, on apprenait des
trucs, on faisait des calculs.
Ça m’a vraiment motivée et je suis tombée amoureuse du projet. On
vit ce qu’on n’a jamais eu. Je n’ai jamais eu l’occasion d’entrer dans une
353
Mille Femmes
Du rêve à la réalité
Mon
auto-estime
était plutôt à
la baisse parce
que celui qui
n’a pas fait
d’études se
sent inférieur.
354
institution. J’avais entendu parler du Cefet mais je n’y étais jamais
entrée. Pour y faire quoi ? C’était très loin.
Pour commencer, l’arrivée du Mille Femmes a redoré mon
estime personnelle. Mon auto-estime était plutôt à la baisse parce
que celui qui n’a pas fait d’études se sent inférieur. Aujourd’hui
je me sens un peu plus réalisée parce que j’ai rencontré
d’autres personnes, des gens qui me donnent de la valeur, qui
m’encouragent. Ce sont des expériences nouvelles et tout ça fait
qu’on croit en soi-même.
Je n’ai pas eu l’occasion d’étudier et ce n’est pas parce
que je ne voulais pas. Pour certaines personnes et pour moi la
vie a été très dure, je n’ai pas eu tout ce que je voulais. J’ai dû
renoncé à beaucoup de rêves. Mon père n’avait pas de travail fixe
et on devait se débrouiller pour aider à subvenir aux besoins de
la maison. J’ai commencé à travailler à 12 ans dans les cuisines des autres,
comme domestique. Parfois, on allait à l’école avec le ventre creux et ce qui
nous aidait à tenir le coup c’était le repas servi à l’école. C’était très dur,
parfois on n’avait que de la noix de coco râpée avec de la farine et du sucre.
Quand il y avait une fête, on était tout heureux parce que les voisins
étaient solidaires et on échangeait des plats. Parfois, on n’avait rien à manger
mais la voisine préparait une bouillie de semoule de maïs et nous l’apportait.
C’était un vrai festin.
Vous ne pouvez pas imaginer comme on donne de la valeur à cette
opportunité que le Cefet nous a donnée ! C’est aussi important que si
c’était un collège. C’est comme si j’attendais le jour de ma remise de
diplôme. J’en rêve déjà !
J’ai terminé mes études secondaires à 25 ans. Quand j’ai réussi
à les terminer, je me suis arrêtée parce que j’avais trouvé un emploi avec
contrat signé dans mon carnet et que le rythme de travail était très intense.
Aujourd’hui je le regrette un peu parce que j’aurais dû m’investir dans les
études. Maintenant je vois ce qu’il me manque sur le marché du travail de ne
pas avoir une qualification qui me permette de trouver un meilleur emploi.
Tout ce que je sais faire aujourd’hui, c’est des services généraux.
Mon mariage a été le plus beau jour de ma vie. Avec l’argent que
j’avais économisé pendant des années, j’ai réalisé mon rêve : me marier avec
un voile et une couronne. Ce fut le plus beau jour de ma vie. Je me suis sentie
complètement réalisée en voyant mes parents fiers de moi. Je me suis mariée
à l’église, avec voile et couronne de mariée. Je me suis mariée vierge.
Quand la partie pratique du cours a commencé, c’était vraiment
bien. On pense que cuisiner c’est simple. Chez soi, c’est simple mais quand
on travaille avec un chef, avec des gens qui ont étudié, on doit connaître les
Alors j’ai appris que je ne devais pas baisser les bras, que je devais
poursuivre mes rêves, et ce projet est là pour ça.
bases du métier. Avant d’en arriver aux aliments, il faut connaître un tas de
règles. Et tout ça fait partie des arts culinaires, il faut travailler la théorie
et la pratique.
Aujourd’hui je me rends compte que je suis capable d’étudier, que je
pourrais étudier ce que je veux, qu’il me suffit de croire en moi-même. Le
projet Mille Femmes est venu me montrer que je suis capable, que je ne suis
pas qu’une ménagère, que je peux faire autre chose que travailler dans les
cuisines des autres à laver des assiettes ou des toilettes ! Non ! J’ai bien plus
de potentiel que ça !
En ce qui concerne l’éthique, j’ai appris que les droits sont pour tout le
monde. J’ai appris que j’ai le droit d’étudier, que je suis une citoyenne égale
aux autres, qu’il ne me manque que l’occasion et
que ce n’est pas de faute. Avec toute cette inégalité
qui existe aujourd’hui, les plus riches veulent
s’enrichir encore plus et en conséquence, les plus
pauvres sont de plus en plus pauvres. Alors j’ai
appris que je ne devais pas baisser les bras, que
je devais poursuivre mes rêves, et ce projet est
là pour ça. Je vais continuer et il n’existe rien ni
personne qui puisse me dire que je n’en suis pas
capable, parce que moi je le sais !
Mon rêve est de terminer mon cours et
de travailler dans un restaurant, ne fût-ce que
Du rêve à la réalité
Mille Femmes
355
Mille Femmes
Du rêve à la réalité
comme assistant du chef. Ce que je veux, c’est me montrer à sa hauteur
parce que j’ai les compétences pour être à ses côtés et l’aider. Je veux
travailler d’égal à égal.
Quand j’ai appris qu’il y allait avoir un concours public pour services
généraux à la mairie de Cabo, j’ai décidé de le faire. Je n’avais pas les moyens
de me payer des cours particuliers alors j’ai pris les livres et j’ai commencé
à étudier toute seule. J’ai fait le concours pour me tester. J’ai réussi et
maintenant j’attends. J’ai toujours eu cette mauvaise habitude de me sentir
inférieure aux autres. Je me disais toujours : « je ne suis pas capable, ce n’est
pas pour moi. » C’est fini tout ça maintenant !
Alors je remercie beaucoup le ciel et je remercie le projet Mille Femmes
de nous avoir apporté cette vision que nous sommes capables, parce que nous
ne sommes pas des autruches, cet animal qui
se cache sa tête dans le sable. Nous devons
relever la tête et croire en nous-mêmes, croire
qu’on est capable. Nous sommes des aigles,
nous pouvons voler.
356
Frankelice
Piauí
Socorro
Mille Femmes
Du rêve à la réalité
Teresina
Celui qui visite la Vila Verde Lar quand la chaleur est à son maximum n’imagine pas
que tous les ans, les habitants souffrent à cause des inondations provoquées par les
crues du fleuve Poti. Située dans la zone est de Teresina, la région a été envahie en
1999 et aujourd’hui, plusieurs maisons se trouvent dans des zones de risque.
Avec un fort aspect rural, des rues en terre battue, beaucoup d’arbres et par endroit,
une certaine distance entre les maisons, la sensation est de se trouver dans un petit village de la campagne. Une grande partie des habitants viennent de petites villes de l’intérieur du pays, enfants ou petits-enfants de travailleurs ruraux en quête d’un avenir.
Les problèmes sont les mêmes que ceux des autres banlieues du pays : manque
d’assainissement, d’une politique de logement, violence et préjugés. En ce qui
concerne le travail, le faible niveau de scolarité est la principale cause du chômage et
du travail informel, réalité vécue par la majorité des habitantes qui ont participé au
cours. Sans qualification, beaucoup ont travaillé comme domestiques la plus grande
partie de leur vie.
Obtenir les informations nécessaires pour établir une passerelle entre la demande
du marché et les talents locaux fut l’une des actions qui ont orienté la mise en place
du projet Mille Femmes à Piauí. Étant donné que cet état apparaît comme un pôle
industriel de l’habillement et de la mode au Brésil, l’Institut Fédéral du Piauí (IFPI) a
réalisé une étude de marché parmi les industriels et les représentants syndicaux dans
le but d’identifier les pénuries et les besoins du secteur. Dans l’étude réalisée auprès
des femmes de la communauté, on a constaté que beaucoup d’entre elles ont eu des
contacts avec le secteur de coupe et couture dans leur enfance, quand elles voyaient
et aidaient leurs mère et grands-mères à coudre les vêtements des enfants. D’autres
faisaient des petites retouches, fabriquaient quelques pièces et les vendaient sur les
marchés. Et c’est à partir de ces études que l’IFPI a commencé à offrir des formations
dans le secteur de coupe et couture. Actuellement, l’institution a déjà effectué quelques
changements dans la proposition initiale et elle donne des cours de formation dans le
domaine de la confection de lingerie et de patrons de couture (modélisme).
Avec ces cours, les talents acquis tout au long de la vie ont été transformés en
compétences. Parmi les femmes ayant participé au premier groupe, la plupart
continuent à travailler comme autonomes alors que d’autres ont réussi à s’insérer
dans le marché du travail. Beaucoup rêvent
de monter leur propre affaire et un petit
groupe est en train d’organiser la création
d’une association de production. L’action est
articulée par l’Institut Fédéral et compte sur
le soutien de la mairie locale.
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Frankelice Melo da Costa
Du rêve à la réalité
Mille Femmes
Frankelice Melo da Costa, 32 ans, est mariée depuis 12 ans et elle a trois
enfants. Elle sait broder et faire du crochet, et c’est avec ces talents qu’elle
contribue aux revenus de la maison. Pour pouvoir étudier, elle a été forcée
d’habiter pendant longtemps loin de la famille, mais elle a la chance de pouvoir
compter sur deux mamans. Il y a un peu plus d’un an, elle a découvert qu’elle
avait aussi un bon potentiel pour le commerce. Confiante en elle-même et en
l’avenir, elle a déjà tracé ses plans pour les dix prochaines années et parmi eux,
celui de monter son atelier et de suivre un cours d’administration.
Un cours comme celui que nous faisons,
beaucoup d’entre nous et moi-même
n’avons pas les moyens de le payer.
C’est un cours que j’avais déjà cherché avant que ce projet commence,
mais aucun de ceux que je trouvais n’offrait ce que je voulais, ils ne donnaient
que la base : apprendre à coudre. Celui-ci enseigne ce qu’on va pouvoir
359
Mille Femmes
Du rêve à la réalité
360
Le professeur nous a fait lire, puis écrire ce qu’on voulait, ce qu’on
ne voulait pas, ce qu’on aimait et ce qu’on n’aimait pas.
utiliser demain, à savoir couper, dessiner, répondre aux besoins des clientes
pour qu’elles soient satisfaites.
Je vais profiter de beaucoup de choses du cours du projet Mille Femmes.
J’avais en tête un objectif et je crois qu’aujourd’hui, j’ai atteint beaucoup
plus, je me suis perfectionnée. J’ai déjà appris beaucoup. Je disais que je savais
couper, je prenais le tissu et je coupais n’importe comment. Aujourd’hui je
le prends, je regarde le sens du fil et je vois comment couper correctement,
la position de mes mains, s’il vaut mieux m’appuyer sur la table ou pas. Je
prenais la machine et je pensais que je savais coudre. Avec les cours qu’on a
eu, je vois que la manière dont je cousais était tout à fait mauvaise, que la
position dans laquelle j’étais assise n’était pas bonne.
J’avoue que j’étais une enfant très turbulente. J’ai gardé de très bons
souvenirs de mon enfance. Nous étions neuf frères et sœurs et, comme tous
les enfants, on jouait beaucoup. J’ai été élevée par deux mères. J’ai vécu avec
ma vraie mère jusqu’à sept ans et puis je suis allée vivre avec une dame parce
que là où nous habitions, il n’y avait pas d’école. J’ai vécu avec cette dame
jusqu’à 20 ans, et je suis partie de là pour me marier, et c’est pour ça que je
dis que c’est ma deuxième mère.
Ma mère n’était pas du genre à embrasser et à donner des bisous, mais
j’affirme qu’elle a été l’inspiration pour tout. Elle l’est encore aujourd’hui.
C’est elle qui m’a encouragée à travailler ; nous avons commencé très tôt à
travailler. Et elle disait : « Demain vous en serez récompensés ». On arrivait là
pour les vacances, en pleurant et elle disait : « Retournez et continuez ».
Tous ce qu’on a appris nous est utile. Nous avons eu des
cours de dessin et de texture. Nous n’avons pas encore terminé les
maths, ni le portugais, ni l’histoire de la mode. Le cours d’éthique
a été très bon parce qu’il nous a aidé à penser aux droits que nous
avons, aux devoirs, comment agir dans certaines situations. Tout
ça aide beaucoup ; des choses auxquelles je n’avais jamais pensé. Et
maintenant je prends le temps d’y penser.
Pour moi qui ne savais même pas dessiner un ballon, je vois
un vêtement et j’imagine comment je ferais pour le dessiner. Au
cours de dessin on apprend comment on peut le composer parce que la
professeure a expliqué les vêtements partie par partie, la manche, la poche,
le col. La professeure a enseigné beaucoup de choses qu’on peut utiliser au
quotidien. Aujourd’hui, je peux dire que je suis capable de reconnaître un
tissu. On a appris à reconnaître un tissu, s’il est synthétique. Ça va nous aider
parce qu’on saura expliquer à un client de quel tissu il s’agit.
Le professeur nous a fait lire, puis écrire ce qu’on voulait, ce qu’on ne
voulait pas, ce qu’on aimait et ce qu’on n’aimait pas. Tout ça a fait en sorte que
je me suis redécouverte. Cela fait penser comment on peut faire des choses
bonnes pour soi-même. Quant à moi, le cours m’a aidée de toutes les façons.
Et j’ai vu que j’étais capable de faire des choses que j’avais pratiquement
oubliées. Et pas seulement mon talent pour broder et faire du crochet, non,
mais que j’avais du talent pour d’autres choses. Je me suis redécouverte en
tant que personne ; que je suis compétente, que j’ai du talent. Alors ça m’a
fait regarder vers l’avenir, le futur, des choses excellentes, aussi bien pour moi
que pour ma famille. Je crois que je me suis sentie plus femme.
Je n’ai pas terminé le secondaire ; j’ai arrêté en deuxième année. Mais
j’aimerais beaucoup terminer mes études ; j’aimerais obtenir un diplôme
parce que j’ai découvert que j’ai beaucoup de talent pour la gestion. Il y
a de ça un an plus ou moins. Vous savez, ces idées qui vous viennent en
tête ? Comme j’avais peu d’argent, j’ai offert
ce que je ne savais pas faire et je l’ai vendu. J’ai
transformé 50 réaux en 150. Personne ne veut
le croire, mais j’ai réussi. J’ai triplé le montant.
Un argent très bien investis. J’ai appris à faire
du crochet avec une voisine. Depuis lors, j’ai
déjà acheté une machine à coudre parce que
j’en avais besoin pour coudre quelques pièces.
Je sais déjà coudre à la machine. Actuellement,
j’arrive à gagner environ 350 réaux le mois où
les ventes sont bonnes. Alors, j’aimerais faire
un jour un cours d’administration.
Du rêve à la réalité
Mille Femmes
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Mille Femmes
Du rêve à la réalité
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Des projets
comme celuilà sont très
rares ; tout
au moins
ici, je n’en
connaissais
aucun.
Aujourd’hui je suis sûre de ce que je veux pour l’avenir. Je souhaite
continuer à faire ce que je fais. Dans dix ans, je voudrais pouvoir me
considérer une femme de succès, être reconnue pour mon travail, avoir ma
propre affaire, monter mon atelier et avoir une stabilité financière. Je veux
gagner ce qu’il faut pour avoir une vie confortable. Mes enfants au collège,
et moi ayant terminé la mienne.
Des projets comme celui-là sont très rares ; tout au moins ici, je n’en
connaissais aucun. Vous voyez qu’il y a beaucoup de femmes qui restent chez
elles à ne rien faire sinon suivre leur train-train quotidien, s’occuper du mari,
de la maison, des enfants, et il n’existe pas quelque chose comme ce projet
pour leur donner une formation.
Ce serait quelque chose qui aiderait beaucoup de gens qui ne pourraient
pas payer, qui n’ont pas les moyens de subvenir à leur besoins. Si les gens
avaient un cours pour se qualifier : Mon dieu ! Ce serait trop bon ! Je dis
que ce serait dommage de ne pas investir plus.
Selon moi, s’il y avait plus d’investissements, ce
serait encore mieux. S’il y avait d’autres projets
comme celui-ci, cela sauverait beaucoup de gens
de la misère.
Je pense que quand je terminerai, je serai
qualifiée et j’aurai même le courage d’aller frapper à la porte d’une entreprise en disant : « Holà,
j’ai besoin d’un emploi. Voici mon certificat du
cours de formation ». Ce sera bon pour moi et
j’espère que d’autres réussiront également à atteindre leur objectif de réalisation.
Maria do Socorro Costa
Du rêve à la réalité
Mille Femmes
Maria do Socorro Costa a du courage à revendre pour faire face aux nouvelles
situations. Après ne pas avoir été payée par son patron quand elle était
domestique, elle a décidé que ça suffisait et elle a appris à coudre avec sa sœur.
Il y a un peu plus d’un an, elle a déménagé à Goiás avec son mari pour tenter
sa chance. Dans ses bagages, elle a emporté la peur de la nouveauté, la nostalgie
de sa famille et sa compétence pour coudre, qu’elle a apprise pour répondre aux
besoins de la vie et qu’elle a améliorée un peu plus avec le projet. Elle a trouvé
un emploi, sondé le marché et aujourd’hui, elle travaille à son propre compte.
Femme, quand tu apprends quelque
chose, vas-y à fond.
Au Piauí, il n’y a pas grand-chose,
tout est pour les hommes. Alors quand apparaît un encouragement destiné
aux femmes, quand elles découvrent qu’elles savent, elles y vont à fond. Et elles
donnent un avenir meilleur à leurs enfants, elles achètent une chose ici et une
363
Mille Femmes
Du rêve à la réalité
364
autre là, elles aident leur mari, elles arrangent
la maison. Je trouve que c’est très important.
L’histoire de ma vie est la suivante : je
suis née dans l’intérieur du Piauí, à Pimenteiras. Plus tard, nous sommes allés habiter
à São Miguel dos Tapuios où je suis restée
jusqu’à 15 ans. Mon père était agriculteur
et ma mère aussi. Nous avons toujours travaillé, nous étions 11 frères et sœurs. Aucun
de mes frères aînés n’a eu l’occasion d’aller
à l’école. Ce n’est qu’après ma naissance et
celle de deux frères plus âgés qu’on est allé
vivre en ville et qu’on a commencé à aller à
l’école. Mais mon père nous faisait alterner :
les uns y allaient une semaine et les autres
restaient à la maison pour aller travailler aux
champs avec lui.
La vie était très dure pour nous. Il y
avait des jours où on n’avait que des fèves à
manger, sans assaisonnement, rien qu’un peu
de sel. Et je n’aimais pas ça ; j’ai toujours voulu progresser, travailler. À 14
ans, j’ai encore tenté de travailler en vendant des petits trucs. Je vendais du
persil, des poivrons. Je faisais de tout pour avoir quelque chose.
À 15 ans, je suis allée à Teresina pour travailler comme domestique.
Entre 2003 et 2004, j’ai travaillé dans une maison durant un an et cinq mois
et mon patron ne m’a pas payée pendant cinq mois. J’y comptais beaucoup
parce que je voulais acheter ma maison, améliorer ma situation, parce que
je rêvais d’avoir un enfant. J’ai été dégoûtée et j’ai décidé qu’à partir de ce
moment-là je travaillerais à mon propre compte, que je ne travaillerais plus
chez personne.
Ma sœur a suivi un cours de coupe et couture au Senai mais je n’ai pas
pu me le payer. Elle allait travailler et moi aussi : je faisais le ménage chez
elle, je lavais, je faisais la lessive, je préparais les repas, je faisais tout pour que
quand elle arrive elle ait le temps de m’apprendre à coudre. J’ai appris, j’ai
acheté une machine à coudre à crédit avec l’aide de mon mari. J’ai beaucoup
travaillé à coudre les petites pièces que j’allais vendre au marché, en montant
les rues, en poussant mon vélo, avec mon enfant, avec beaucoup de difficulté.
J’ai 29 ans. Je me suis mariée à 21 ans. Depuis lors, je vis de la couture.
Et alors le projet a été mis en place. Au début je pensais : tout ce qui
apparaissait dans notre quartier ne durait pas longtemps – les gens parlent
beaucoup, font beaucoup de choses et ensuite disparaissent, il n’y a plus rien.
Là à Piauí, je travaillais pour vendre au marché, je fabriquais mes petites pièces
et je les vendais, aussi à des personnes qui les revendaient.
Du rêve à la réalité
Mille Femmes
Et je pensais que le cours allait être comme ça, mais je me suis inscrite, j’ai
appelé ma sœur et nous y sommes allées. J’ai été très heureuse d’avoir ce cours
dans notre vie car, comme le disent beaucoup de collègues, il remote notre
estime de soi, parce qu’on veut grandir, avoir une vie meilleure. Je vivais ma
petite vie, je cousais et j’allais au marché. Aujourd’hui je vise plus haut.
J’ai beaucoup progressé dans ma profession parce que je sais déjà
travailler avec des machines industrielles. Je sais faire plus que ce que je
faisais. Auparavant, je ne fabriquais que des sous-vêtements pour enfants.
Maintenant je fais déjà des tee-shirts, des robes. Avec le peu que j’ai appris
au cours de modélisme, je sais couper une robe, un tee-shirt et j’apprends à
faire des patrons. J’ai aussi appris à découper un patron, à faire un patron et
ma couture est bien meilleure.
Cette robe de mariée en patchwork, nous l’avons entièrement faite1,
comme la professeur nous l’avait appris. Et on a vu que coudre des petits
morceaux ensemble, ça donne une chose merveilleuse, un vrai spectacle. J’ai
appris le nœud de couturière que je ne savais pas faire avant. J’ai appris à
copier un patron d’une revue.
Là à Piauí, je travaillais pour vendre au marché, je fabriquais mes
petites pièces et je les vendais, aussi à des personnes qui les revendaient. Ici
à Goiás, les choses ont changé. Je prends du travail et je le fais chez moi ; je
ne dois plus courir au marché avec un grand sac sur la tête. Je couds à ma
façon : les tee-shirts viennent découpés et imprimés en sérigraphie et je les
met ensemble et j’obtiens un morceau complet.
1. En novembre 2009, les
élèves du premier groupe
ont apporté des vêtements
fabriqués selon la technique
du patchwork, entre autres
une robe de mariée, pour les
exposer au Ier Forum Mondial
d’Éducation Professionnelle et
Technologique.
365
Mille Femmes
Du rêve à la réalité
C’est une
occasion
unique.
J’ai appris
beaucoup
de choses
que je mets
en pratique
aujourd’hui. Ce
projet aide à
changer la vie.
366
Mon rêve c’est de mettre sur pied mon
atelier. Je voudrais avoir une fabrique de tee-shirts
– la sérigraphie pour mon mari, et moi à la couture
– et monter notre affaire, pour qu’aucun de nous,
ni même mon enfant ne doive travailler pour
les autres. J’ai deux machines industrielles. J’ai
l’intention de continuer à prendre des cours. L’année prochaine, je voudrais
suivre un cours de modélisme.
J’ai l’habitude de dire à mon bébé que quand il sera grand et qu’il
étudiera à l’université, je lui achèterai une voiture pour y aller. On ne rêve
que de ça, se développer, grandir. Je rêve de pouvoir donner un avenir
meilleur à mon enfant, de pouvoir aider ma mère, mes frères et sœurs. J’ai
deux frères malvoyants. Alors on rêve d’avoir quelque chose pour pouvoir
aider les autres.
La seule opportunité pour des femmes qui vivent dans les banlieues,
c’est d’avoir un programme de ce genre. C’est une occasion unique. J’ai
appris beaucoup de choses que je mets en pratique aujourd’hui. Ce projet
aide à changer la vie.
Joana
Rio Grande do Norte
Josirene
Mille Femmes
Du rêve à la réalité
Assentamentos1 de Canudos, Aracati,
Bebida Velha, Modelo I et II
Loin de la ville, la vie des élèves des assentamentos1 se répète et se perd dans les travaux
ménagers et aux champs. Le paysage est celui du sertão : la terre est sèche, le vent
soulève et emporte la poussière, le soleil est brûlant, la végétation est rare. Quand
l’hiver est bon, il y a abondance. La terre produit des haricots verts, du maïs, du
manioc, des gombos et des concombres. Quand la pluie est peu abondante, il faut
économiser l’eau et la nourriture, quand il y en a. Les hommes essaient de trouver
des petits boulots dans les environs, ils cassent des pierres. Les femmes restent à la
maison.
1
1
Assentamento Modelo II
Au Rio Grande do Norte, le projet s’occupe de cinq communautés, quatre qui
vivent sur des assentamentos et une de la commune de Touros. Travailleuses rurales,
la plupart des élèves viennent de familles nombreuses, ont commencé à travailler à
partir de sept ans et n’ont jamais terminé l’école primaire. À l’époque, la cinquième
année c’était le maximum.
Les réalités géographiques et politiques sont complexes et pour organiser les cours
de qualification professionnelle et assurer l’offre éducationnelle, l’Institut Fédéral
du Rio Grande do Norte a été confronté à divers problèmes, depuis la question
du transport – du fait que les communautés sont distantes les unes des autres –
jusqu’au processus de dialogue et de négociation avec les organismes locaux – qui a
été très long et qui doit être constant.
Dans tous les assentamentos il existe une école, qui ne fonctionnait pas le soir et
ne donnait pas de cours d’Éducation de Jeunes et Adultes. De sorte que pour ces
femmes, étudier était une illusion. Et c’est exactement l’importance du projet dans
ces endroits : assurer une offre d’éducation pour les femmes, jeunes et adultes. Avec
le projet Mille Femmes, l’Institut Fédéral a négocié avec les mairies une proposition
pour améliorer leur scolarité.
1. Occupations de terrain.
1
368
Les formations seront données dans le domaine de coupe et couture, du traitement
et de la conservation des poissons et des aliments – fabrication de compotes,
fabrication et conservation de pulpe de fruits – et dans celui de l’artisanat. En outre,
les élèves participent à des conférences et des événements sur des thèmes importants
pour le travailleur rural, tels que la retraite, le coopérativisme et d’autres.
De cette façon, pour certaines d’entre elles, étudier fait partie de la routine. Avec
des lampes de poche à la main – dans les assentamentos
il n’y a pas d’éclairage public, seules les maisons ont
l’électricité – elles marchent dans les rues larges,
allant de maison en maison pour arriver ensemble à
l’école. Là, elles affrontent leurs peurs et petit à petit,
réapprennent à rêver.
Joana Darc dos Santos
Du rêve à la réalité
Mille Femmes
Joana Darc dos Santos n’aime pas beaucoup son nom, mais il semble qu’elle
ait hérité le courage de l’héroïne du même nom. Avec son mari et ses trois
enfants, elle a affronté la police pour garder sa terre et elle a campé sous
une tente de toile pendant presqu’un an. C’est avec le même courage qu’elle
affronte aujourd’hui le tableau noir. Elle en a des sueurs froides, elle tremble
de tous ses membres quand elle doit y écrire quelque chose, mais elle y va. Elle
écrit déjà son nom devant tout le monde et quand le professeur fait circuler la
feuille de présence, elle est la première à signer. Et Joana continue son chemin.
Je n’aime pas beaucoup mon nom parce
que quand il se passe quelque chose
avec moi, les gens me disent :
« Va chez la mère Joana ! » [rires]. Mon mari est agriculteur et quand il ne
pleut pas, il fait des petits boulots. On vit plus des revenus que je touche de
369
Mille Femmes
Du rêve à la réalité
370
Parfois, je ne sais pas tenir mon crayon comme il faut,
mais j’apprends. J’ai encore si peur du tableau noir...
la Bourse Famille, c’est ma contribution. Je reçois 200 réaux. Ça nous vient
bien à point, c’est essentiel pour nous parce que nous sommes neuf et aucun
d’entre nous a un emploi fixe.
De nos jours, celui qui n’a pas été à l’école n’a rien, parce que tout
dépend des études. J’ai eu cette occasion avant et je n’en ai jamais profité, et
aujourd’hui ça me manque. Parce que si j’avais étudié, qu’est-ce que je serais
devenue ? J’aurais fait un concours de la mairie, que j’ai d’ailleurs fait mais je
n’ai pas réussi. Mais j’aurais eu mis toutes les chances de mon côté !
Mes parents se sont séparés et ma mère avait emporté mon acte de
naissance. Plus tard, quand j’avais neuf ans, mon père a obtenu les papiers
mais je ne voulais pas aller à l’école. Au début j’y suis allée, mais mes collègues
se moquaient de moi parce que je ne savais ni lire ni écrire. Ça m’embêtait et
je n’ai plus voulu y aller. J’ai finalement laissé tomber.
J’attends beaucoup de ce programme. J’espère pouvoir terminer mes
études et ne plus jamais m’arrêter d’étudier, parce que si j’avais étudié, je
pourrais offrir plus de confort à mes enfants ; parce qu’une mère veut ce qu’il
y a de meilleur pour ses enfants.
Le programme offre plusieurs cours, je vais choisir un de ces cours
pour voir si je parviens à me qualifier. J’aime cuisiner et je pense que c’est
celui-là que je vais suivre. Je vais beaucoup étudier et ne rien lâcher. Je ne
veux pas perdre cette occasion, je veux en profiter et insister jusqu’à ce que
j’y arrive, parce qu’on arrive à tout avec de la volonté. Pas vrai ?
Je veux aussi servir d’exemple à mes enfants. J’ai sept enfants et
comment est-ce que je pourrais les encourager à étudier si moi-même je ne
Si on rassemble un groupe et que toutes ont le même rêve ensemble,
tout le monde va viser cet objectif ! Ça stimule plus encore.
montre pas d’intérêt pour mes études ? Je ne veux pas qu’ils deviennent ce
que je suis : une personne sans études, qui ne connaît rien. Et de nos jours,
on ne parvient à quelque chose que si on fait des études.
Par rapport à ce que j’étais ? J’apprends petit à petit. Parce que c’est
une culture différente. Parfois, je ne sais pas tenir mon crayon comme il faut,
mais j’apprends. J’ai encore si peur du tableau noir... et j’ai tellement froid
dans le dos quand on m’appelle pour aller au tableau. Ah mon Dieu ! Mais
je suis en train de perdre cette peur et j’affronte la vie !
Mon mari rêvait d’avoir un bout de terrain pour y travailler. Au début,
je voulais qu’il renonce à cette idée. Quand il m’a dit qu’il y avait la police,
je lui ai dit : « Oublie ça parce que ça ne va marcher ! », mais il m’a répondu
qu’il n’allait pas renoncer. Alors quand j’ai vu qu’il n’allait pas renoncer, j’ai
bien été obligée de l’accompagner. Nous sommes venus ici en 1995, on vivait
dans des tentes en toile. C’était tellement dur ! Imaginez-vous : on était ici
et la police arrivait et nous expulsait. On partait de là avec notre barda sur la
tête, ils nous chassaient de la ferme. Plus tard, on revenait.
Je suis venue avec mes enfants ; j’avais trois enfants à l’époque. Pendant
la journée, il faisait horriblement chaud, et il mettait les enfants à l’extérieur
pour dormir. Il plantait quelques pieux et mettait le hamac à l’ombre. Quand
la nuit venait, il mettait tout le monde à l’intérieur parce qu’il faisait trop
chaud. Cette lutte a duré un an. Après, on s’est inscrit au registre et nous
avons construit une maison en torchis. Avec beaucoup de sacrifices, mais ça
valait la peine.
Je voudrais que les choses s’améliorent dans ma communauté, qu’il y
ait plus de médecins, qu’il y ait un roulement, de meilleures conditions de vie
ici, parce que je n’ai pas l’intention de partir d’ici pour
aller vivre en ville. Parce que la ville attire beaucoup
de violence, surtout pour ceux qui ont des enfants en
bas âge. J’ai très peur de les faire vivre en ville et de
détruire leur vie. Je préfère vivre dans ma communauté,
mais j’aimerais que les choses s’améliorent, que les
gouvernements s’occupent un peu plus de nous et
nous fournissent plus de ressources : une manière de
trouver un emploi, de vivre mieux dans notre camp,
ici dans la région.
J’apprends à écrire. J’ai été à l’école jusqu’en
quatrième mais je ne sais pas bien lire. Je lis quelques
mots mais je me trompe beaucoup. Je fais des
efforts parce que je sais mieux écrire que lire. J’étais
très nerveuse quand on me demandait de signer
mon nom. Je sais écrire mais supposons que je sois
Du rêve à la réalité
Mille Femmes
371
Mille Femmes
Du rêve à la réalité
dans une banque et que quelqu’un me demande
comme ça : « Vous signez, madame ? ». Je tremblais
intérieurement parce j’avais peur de mélanger les
lettres. Parfois je disais que je ne savais pas écrire,
juste pour signer avec mon pouce et ça allait plus
vite. Tous les jours, quand le professeur fait circuler
la feuille de présence, je suis une des premières à
signer. Maintenant je signe mon nom sans problème.
J’ai appris un peu de tout, même des mathématiques ! J’ai bien aimé les
conférences de l’IF sur le coopérativisme, je ne suis pas sûre du terme, mais
j’ai bien aimé cette conférence.
Plusieurs choses ont changé dans ma vie, parce qu’avant je ne savais
pas signer mon nom correctement et j’avais peur de devoir signer, de me
trompais ; je me sentais mal à l’aise et j’étais très gênée. Mais maintenant
c’est du passé. S’il passe quelque chose à la télé, je sais déjà le lire sans
demander aux autres de me le lire. Ça me permet d’apprendre plus sur des
choses que j’ignorais.
Tout ça c’est venu après le projet. Je pense que c’est grâce à l’encouragement et aux propositions d’amélioration. Si on rassemble un groupe et que
toutes ont le même rêve ensemble, tout le monde va viser cet objectif ! Ça
stimule plus encore. Et tout ça pour un seul et même objectif : s’améliorer
personnellement.
372
Josirene Francisca de Almeida
Du rêve à la réalité
Mille Femmes
Josirene Francisca de Almeida a 54 ans et douze enfants. Travailleuse rurale
depuis qu’elle a sept ans, elle habite dans l’assentamento Modelo II et fait
partie des statistiques de femmes que sont restées aux côtés de leur mari au
cours de la lutte pour la terre. Son rêve ? Apprendre plus. Et elle ne faiblit
pas quand quelqu’un lui dit que son temps d’étudier est déjà passé. Elle a
eu très peu de temps pour les études d’ailleurs. Née dans une famille de 12
enfants, l’urgence de subvenir aux besoins était une priorité. À partir de sept
ans, elle devait se partager entre les champs et les cahiers, et les échecs scolaires
ont petit à petit miné sa disposition. Elle a fini par abandonner l’école.
La première rencontre des élèves avec les
professeurs, le premier jour en salle de classe...
l’émotion fut grande, très grande. Je me suis sentie très émue quand on a
passé le premier devoir au tableau. Ça m’a rappelé quand j’allais au collège à
373
Mille Femmes
Du rêve à la réalité
Je sais déjà lire et écrire. On découvre des choses
qu’on ne connaissait pas. J’adore ça.
sept ans. Je me suis sentie comme si j’étais
redevenue enfant. Cela faisait 35 ans que je
n’avais pas copié de devoir d’un tableau. Ça
a été très bien ! Et c’est toujours aussi bien.
J’ai acquis plus d’expérience. J’ai appris plus de choses en géographie, en mathématiques, en études sociales. J’ai bien
aimé les cours et les voyages au Cefet. Je les
ai beaucoup aimé aussi, c’était très bien, on
a appris des trucs en plus. J’aimerais suivre
le cours de professionnalisation en coupe
et couture.
Mes parents étaient agriculteurs et
le sont encore aujourd’hui. À sept ans, j’ai
commencé à travailler dans les champs. J’étais déjà debout à six heures et
demie du matin. Puis je travaillais jusqu’à dix heures et demie, et à onze
heures je rentrais à la maison pour être à l’école à une heure et demie. Je
me sentais fatiguée mais à l’époque les parents ne voulaient pas savoir si les
enfants étaient fatigués. Il fallait y aller, il fallait obéir, il fallait travailler ! J’ai
étudié jusqu’en troisième. J’étais en retard dans mes études, je ne réussissais
pas à la fin de l’année, j’étais recalée. Ça a duré jusqu’à mon mariage et puis
j’ai tout laissé tomber. Je me suis mariée à 16 ans et j’étais en troisième.
374
J’ai décidé de recommencer à étudier parce que j’ai perdu beaucoup
de choses dans ma vie. Le peu que j’ai appris n’était pas suffisant pour
moi. Je voudrais apprendre plus, comprendre plus, savoir mieux lire pour
apprendre davantage.
J’aime beaucoup le projet. Pour moi, plus j’apprends, mieux ce sera. Je
sais déjà lire et écrire. On découvre des choses qu’on ne connaissait pas. J’adore
ça. Je me souviens que j’éprouvais des difficultés pour écrire, plus que pour
lire. Trop de mots, trop de lettres, je ne parvenais pas à écrire correctement.
Maintenant je connais toutes les lettres, je sais tout écrire correctement. Les
professeurs sont excellents, j’aime beaucoup mes professeurs.
J’habite ici depuis 15 ans et j’ai 12 enfants. Six habitent avec moi et
six vivent ailleurs. Quand je suis arrivée ici, c’était la brousse. Par après les
gens ont débroussaillé le terrain et construit les maisons. Je n’ai pas vécu sous
la tente, je suis arrivée après la construction des maisons en torchis, parce
que j’avais des enfants en bas âge qui allaient à l’école là où j’habitais. Mon
mari a décidé de venir ici parce que là où on habitait c’était en ville, à CearáMirim, alors que lui il était né et avait grandi à la campagne et qu’il n’avait
pas de terre pour travailler. C’est pour ça qu’il a cherché un camp et qu’il est
devenu un assentado, pour travailler et subvenir aux besoins. Il travaille dans
l’agriculture, dans les champs. Cette année n’est pas bonne parce qu’on n’a
pas eu d’hiver et quand il n’y a pas d’hiver, il n’y a pas d’abondance.
Lorsqu’ une enfant commence à travailler en bas âge, quand elle arrive
à 40 ans elle est déjà très fatiguée. Et c’est mon cas et celui de beaucoup de
gens. Et je travaille encore dans les champs. Quand l’hiver arrive, il faut
planter, il faut récolter. Quand ce n’est pas l’hiver, je reste à la maison, je
m’occupe du ménage et des enfants, je fais la lessive, je cuisine et je nettoie.
Le soir est réservé pour aller à l’école. Je me sens fatiguée mais faut y aller. Il
Du rêve à la réalité
Mille Femmes
375
Mille Femmes
Du rêve à la réalité
Je pense qu’étudier améliore les connaissances ;
c’est grâce aux études qu’on peut avoir une meilleure vie.
y a des fois où je somnole en classe. Alors la
professeure dit : « Dona Josirene ! » – « Je
suis ici, professeur ! » je réponds. Fatiguée,
mais je suis présente [rires].
Étant donné mon âge, je ne peux
pas trop rêver, mais juste apprendre plus,
connaître plus de choses. Je sais que je n’aurai
pas de diplôme. Mon mari dit : « Josinha, à
ton âge, tu étudies encore ? Ce que tu devais
apprendre, tu l’as déjà appris ! ». Alors moi
je réponds : « Mais je veux en apprendre
plus ! ». Je sais que je n’aurai jamais de diplôme de médecin ni d’ingénieur.
Je pense que ce projet est important. Je pense qu’étudier améliore
les connaissances ; c’est grâce aux études qu’on peut avoir une meilleure
vie. Certaines d’entre nous veulent être vétérinaire, d’autres rêvent d’être
nutritionniste. Chacun a son rêve, pas vrai ! Si je pouvais avoir un diplôme,
je choisirais d’être psychologue parce que je trouve que c’est un très joli
métier, et la première personne avec qui je parlerais serait mon fils, parce
qu’il est très nerveux, très agité. Il étudie et il est intelligent mais il a eu
beaucoup de difficulté pour arriver en première année. Il passait plusieurs
années dans la même classe.
376
Celly
Rondônia
Filomena
Mille Femmes
Du rêve à la réalité
Ji-Paraná
Jardim dos Migrantes et Novo Ji-Paraná sont les deux quartiers qui ont bénéficié
du projet Mille Femmes et de l’arrivée de l’Institut Fédéral dans l’État de Rondônia,
inauguré en 2008. À Ji-Paraná, qui se trouve à 373 km de Porto Velho, la capitale
de l’État, le campus a cette odeur particulière de bâtiment neuf – il est entré en
opération en 2009 – et mieux encore : ses portes sont ouvertes à une communauté
qui n’a jamais eu accès à une éducation professionnelle.
Là, le processus d’extension du réseau fédéral d’éducation professionnelle et
technologique saute aux yeux, mais il existe de nombreux défis parmi lesquels celui
de mettre sur pied une offre éducationnelle qui réponde aux besoins et à la vocation
de la région, et qui respecte et intègre des citoyens qui, durant des dizaines d’années,
sont restés en marge du droit et de l’accès à l’éducation.
Les communautés qui profiteront du projet sont voisines l’une de l’autre et
ressemblent encore à des zones rurales. Il existe peu de magasins, les maisons sont
à une certaine distance les unes des autres, il n’y a pas d’assainissement de base,
un éclairage public précaire et quand il pleut, la boue envahit les rues et rend très
difficile la circulation.
Dans les quartiers, il est facile de rencontrer des élèves qui viennent de tous les coins du
Brésil. Les histoires de ces femmes s’entremêlent de telle manière qu’elles pourraient
être de la même famille. À vrai dire, elles pourraient être celles de n’importe laquelle
des 14 communautés où se trouve le projet Mille Femmes. Le travail infantil, le
manque de temps pour l’école, la violence domestique, le manque d’estime de soi
et la dévotion de s’occuper des enfants sont d’autres points communs. Là, le Mille
Femmes ne fait que commencer. Jusqu’à la fin janvier 2011, date de la clôture de
cette publication, elles n’avaient eu que quelques cours en novembre et décembre
2010. C’est pourquoi elles parlent ici de leurs attentes.
La formation sera donnée dans le domaine de l’artisanat et des bijoux bio, et
l’Institut Fédéral est à la recherche de partenaires pour garantir l’élévation de la
scolarité et la commercialisation des produits qui seront élaborés par les élèves.
La promotion du dialogue et de l’accès de la communauté au campus constitue
une action inédite dans cette région et dans l’avenir, elle devra produire d’autres
développements. La plupart des élèves
travaillent comme domestiques et leur rêve
est d’avoir un emploi meilleur pour assurer
une perspective d’avenir à leurs enfants.
378
Celly Santos Silva
Celly Santos Silva a 25 ans et quatre enfants de deux mariages. Durant son
enfance, elle a travaillé dans les champs et dans une maison de famille pour
aider à élever ses frères et sœurs. Encore adolescente, elle a eu des enfants,
le premier à 14 ans et depuis, elle n’a plus eu le temps d’étudier. Son rêve,
comme celui de la plupart des femmes, est de progresser pour aider ses enfants.
Contrariant aux prévisions de sa mère, Celly a l’intention d’étudier davantage.
Du rêve à la réalité
Mille Femmes
1. La commune a été créée
avec le nom de Seringueiras
par la Loi nº 370, du 13
février 1992, signée par le
gouverneur Oswaldo Piana
Filho.
J’ai été à l’école jusqu’à la cinquième année.
Mon rêve est de terminer mes études.
Je crois que c’est là une occasion à ne pas manquer, à laquelle il faut
s’accrocher de toutes ses forces et avec toute sa volonté. C’est une opportunité
pour sortir de la vie que j’ai vécue jusqu’à présent. Je n’ai par exemple pas eu
beaucoup d’occasion d’étudier.
Nous habitions à Seringueiras1. Nous étions six frères et sœurs. Là, les
gens n’ont de l’argent qu’une fois par an. Il y a des machinistes qui achètent
379
Mille Femmes
Du rêve à la réalité
380
le café et durant l’année on peut leur emprunter de l’argent. Je me souviens
que mon père s’est suicidé à cette époque. Il a bu du poison parce qu’il devait
beaucoup d’argent. J’avais un frère qui se droguait et mon père faisait de tout
pour qu’il ne vole pas. On avait une dette de 240 sacs de café. Ma mère a
hérité de cette dette. Et j’ai dû trouver une manière de gagner de l’argent en
plus pour aider ma mère. J’ai quitté la maison à 11 ans pour aller travailler
chez les autres.
À cette époque-là, à la seule chose à laquelle je pensais était d’arrêter
de travailler chez les autres et d’avoir ma
propre maison, mais je ne pensais pas aux
problèmes que pourrait me poser le fait de
trouver un mari. Je ne savais pas comment
éviter de tomber enceinte, je n’avais
personne avec qui parler à ce sujet. J’étais
encore très jeune quand je suis partie vivre
avec un homme. J’avais 13 ans. Alors il a
commencé à me battre ; s’il rentrait à la
maison – il travaillait dans les champs – et
qu’il y avait quelque chose qui n’était pas à
sa place, il nous tapait dessus, sur moi et les
enfants. J’ai eu deux enfants de lui.
Je voudrais terminer la troisième année et suivre une formation de
technicienne infirmière et si Dieu le veut, devenir pédiatre.
Du rêve à la réalité
Mille Femmes
Je me suis enfuie à Ji-Paraná. Les enfants et
moi sommes partis en emportant seulement les
vêtements que nous avions sur nous et nous sommes
allés chez ma mère. J’avais 16 ans et j’ai recommencé
à travailler chez les autres pour aider ma mère à
subvenir aux besoins des enfants, parce que ce que je
gagnais ne me permettait pas de les entretenir toute
seule.
Avec le projet Mille Femmes, j’espère suivre un
cours qui me permettra de trouver un emploi qui ne
soit pas celui de domestique. Je voudrais gagner l’argent pour pouvoir terminer mes études : terminer la
troisième année et suivre une formation de technicienne infirmière et si Dieu
le veut, comme technicienne infirmière je voudrais parvenir à payer l’université pour devenir pédiatre.
J’ai aimé les cours. Jusqu’à présent, on a beaucoup discuté dans le but
de connaître les collègues du cours, mais j’aime beaucoup tout ça. J’avais un
peu peur au début, mais avec les explications du professeur, la peur est passée.
C’est plus facile que je ne le croyais ; j’avais très peur d’utiliser l’ordinateur,
d’effacer des programmes, mais c’est fini maintenant.
Je me considère une personne simple, qui ne connaît pas grand-chose.
Je suis une personne gaie, une personne pleine de vie. Je me considère très
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Mille Femmes
Du rêve à la réalité
D’ici dix ans, j’imagine avoir une maison confortable,
et ça peut même être là où j’habite.
courageuse car je n’ai pas peur d’affronter
la vie. Il y a des gens qui devant n’importe
quel obstacle disent : « Pour moi ça ne
marche pas, ce n’est pas possible ».
Recommencer à étudier peut
changer complètement ma vie. Elle peut
changer ma vie, elle peut changer celle
de mes enfants. D’ici dix ans, j’imagine
avoir une maison confortable, et ça peut
même être là où j’habite. Mon fils aîné
aura 21 ans, l’autre entre 18 et 19 ans,
mon cadet aura 12 ans, et l’autre, 16
ans. Si je n’ai pas encore terminé, je devrais être en train de faire mes études et avoir un bon emploi, de manière à
pouvoir aider mon aîné à faire l’université lui aussi. C’est ça que j’imagine
d’ici dix ans.
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Filomena Ferreira de Abreu
Du rêve à la réalité
Mille Femmes
Entre les années 1970 et 1990, des milliers de travailleurs de la région Sudest ont migré vers le Nord du pays en quête de terres. L’histoire de Filomena
Ferreira de Abreu est directement liée à ce processus de migration. Originaire
de Minas Gerais, elle a déménagé encore enfant avec ses parents dans les
environs de Ji-Paraná. Elle habitait dans une ferme et très tôt, elle a commencé
à travailler dans les champs. À 43 ans et avec trois enfants, un de ses rêves est
de retourner dans sa ville natale et de connaître le reste de sa famille. Un autre
est celui de voir la plage. Plutôt taciturne, elle raconte que ce n’est que depuis
peu qu’elle parvient à parler plus et qu’elle à l’intention de terminer ses études
secondaires pour trouver un emploi meilleur et voir la mer.
Ma mère a beaucoup travaillé et nous, on
aidait à planter et à la récolte.
Après la mort de mon père, ma mère a vendu la ferme qui se trouvait
au km 12, elle a acheté une maison au Jardim dos Imigrantes et nous sommes
383
Mille Femmes
Du rêve à la réalité
venus ici. À cette époque, j’avais déjà 14 ans. Mais la vie est devenue
encore plus dure parce que dans la grande ville, tout est plus difficile
et que je n’avais pas été à l’école. À 14 ans mon frère a commencé à
travailler ; ma mère travaillait dans une maison de famille et moi je
m’occupais de la maison et de mes petits frères et sœurs.
J’ai eu mon premier enfant à 16 ans. Ma mère ne me laissait
pas sortir, alors je me suis enfuie avec le premier garçon avec lequel
je suis sortie. Mon mari n’aimait pas beaucoup travailler. Alors je
suis retournée chez ma mère, enceinte. Ensuite, je me suis remariée.
Durant quelques temps, la vie allait mieux et j’ai eu deux enfants.
Mais il buvait beaucoup, il était violent, il m’a même tiré dessus ! Je
ne l’ai pas dénoncé parce qu’il m’a accompagnée dans l’ambulance et il a dit
que si je parlais, il tuerait ma fille et se suiciderait. Je ne l’ai jamais dénoncé.
Je me suis séparée et j’ai déménagé à Porto Velho. Et maintenant ça va faire
quatre ans que je suis revenue ici.
Quand j’étais petite, j’ai étudié jusqu’en cinquième année. J’aimais
bien aller à l’école pour rencontrer mes amis et aussi pour apprendre. Tous
les jours, la professeure choisissait deux filles pour aller préparer le repas,
parce qu’il n’y avait pas de cuisinière, tout était cuit au feu de bois. On
allumait le feu, on prenait des chaudrons pour cuisiner et on préparait de
la soupe ou du riz au lait. Il y avait des soupes salées que je n’ai plus jamais
vues ; elles venaient dans un grand paquet. Il suffisait de la mettre dans l’eau
et de faire bouillir, c’était très bon.
384
Quand j’étais petite, j’ai étudié jusqu’en cinquième année. J’aimais
bien aller à l’école pour rencontrer mes amis et aussi pour apprendre.
À 24 ans, j’ai recommencé à étudier. J’ai fait jusqu’à la huitième année,
l’école était loin de chez moi et j’arrivais fatiguée. Mon rêve est de terminer
mes études et de trouver un bon emploi. Aujourd’hui je suis femme à journée,
et c’est dur. Je gagne peu. Je voudrais donner une vie meilleure à mes enfants.
L’un d’eux rêve de faire l’université, et je n’ai pas les moyens de l’aider.
J’ai d’abord inscrit ma fille et c’est par la suite que
je suis entrée dans le projet. Je trouve ça fantastique parce
qu’on va apprendre beaucoup, on a déjà eu quelques
leçons d’ordinateur, un tout petit peu. Je voudrais
apprendre à l’utiliser. Je sais déjà l’utiliser un peu, juste
un petit peu. C’était chouette, la professeure nous a mise
à l’aise, mais j’avais peur d’y toucher et de le dérégler.
Je me sens bien accueillie, les gens parlent beaucoup, les professeurs posent beaucoup de questions, nous
demandent comment nous allons. Alors on se sent bien.
Les gens nous regardent avec d’autres yeux, ils attendent
plus de nous ; c’est bon, c’est très bien. Cela stimule
beaucoup. C’est agréable de connaître d’autres personnes, avec d’autres idées. On apprend beaucoup avec
les histoires des autres. J’ai appris qu’il faut accepter les
autres avec leurs défauts ; personne n’est parfait, tout le
monde peut se tromper, tout le monde a des problèmes.
Du rêve à la réalité
Mille Femmes
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Mille Femmes
Du rêve à la réalité
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Je me
sens bien
accueillie, les
gens parlent
beaucoup, les
professeurs
posent
beaucoup
de questions,
nous
demandent
comment
nous allons.
Ça améliore beaucoup l’estime
de soi, c’est très bien pour se sentir bien
avec soi même, se sentir heureuse, parler
plus. J’apprends à parler plus parce que
je pense que j’ai eu peu d’amies à cause
de ça, parce que j’ai toujours été très
timide, je ne parlais presque pas, j’étais
très réservée.
J’espère terminer mes études,
apprendre tout ce que je peux et
peut-être trouver un meilleur emploi,
qui sait comme vendeuse, quelque
chose comme ça, peut-être même à la
mairie. À dire vrai, je voudrais réussir
un concours public.
Je rêve de construire ma maison
et je voudrais commencer à la construire l’année prochaine. La maison que je possède est en bois et je voudrais en faire
une en briques. Et j’ai un autre rêve aussi, mais je ne sais pas quand je vais pouvoir le réaliser : je voudrais aller à la plage. Je la vois souvent à la télévision.
Simone
Roraima
Sôngila
Mille Femmes
Du rêve à la réalité
Boa Vista
Faisant frontière avec le Venezuela et la Guyane Anglaise, Roraima est utilisé comme
couloir pour le trafic. Cette activité victimise plusieurs femmes qui, pour divers motifs,
se font arrêter. À la prison pour femmes de Boa Vista, il y a plus de 100 détenues qui
purgent leur peine, presque toutes pour trafic de drogue. Il y a des femmes de tous les
âges, des jeunes filles de 18 ans et des adultes de plus de 50 ans.
Originaires de différentes régions du Brésil et même d’autres pays, y compris de
indiennes des ethnies macuxi et wapichana, beaucoup sont utilisées comme « mules ».
À leur insu, elles sont vendues, dénoncées par les trafiquants à la police dans le but
dissimuler l’entrée de cargaisons plus importantes. Certaines d’entre elles n’ont jamais
participé à ce trafic, mais comme elles ne dénoncent pas leurs enfants ni leur mari, elles
sont considérées complices.
La prison est petite et elles sont jusqu’à quatre à partager la même cellule. Les lits sont
superposés et dans toutes les cellules, il existe une petite cuisine pour préparer des petits
repas. Le plus dur est de supporter la chaleur ; quelques pièces sont couvertes avec des
plaques d’amiante et la sensation thermique est d’une température d’environ 50ºC. La
respiration y est difficile. Le manque d’argent pour payer un avocat fait en sorte que
certaines d’entre elles attendent plus de deux ans avant d’être jugées et l’abandon de
leur famille en conduit plusieurs à une crise de dépression profonde. À la garderie, les
pleurs et les cris des enfants les détournent du présent, il semblerait qu’on ne se trouve
pas dans une prison, mais le regard et le désespoir de certaines détenues trahissent la
nécessité de trouver des solutions pour l’avenir. Un jour, elles sortiront de prison.
À Boa Vista a eu lieu une rencontre: la direction de la prison cherchait des alternatives
d’offre d’éducation et l’Institut Fédéral de Roraima (IFRR) discutait le projet Mille
Femmes. Pour permettre de développer le projet à l’intérieur de la prison, l’IF a assumé
le rôle d’articulateur en sensibilisant plusieurs institutions locales, incontournables pour
que les actions quotidiennes puissent avoir lieu, des plus simples comme de garantir
l’autorisation de la justice pour que des fonctionnaires puissent donner des cours dans
la prison, aux plus complexes comme celle d’obtenir l’autorisation et l’escorte pour le
déplacement des détenues pour les leçons pratiques.
Cette réunion d’efforts s’est bien terminée : quatre-vingts femmes ont été qualifiées
dans le secteur des aliments et ont élevé leur niveau de scolarité. Quelques-unes ont
déjà été libérées et ont trouvé du travail dans ce domaine et l’une d’entre elles a mis sur
pied une affaire dans la prison pour hommes. Les organismes continuent à planifier
des actions dans le but de garantir l’insertion de ces femmes dans le monde travail. Une
de ces propositions est de les aider à organiser
une coopérative pour qu’elles puissent fournir
leurs propres repas à la prison, étant donné
qu’actuellement, le Gouvernement de l’État a
un contrat avec une entreprise privée chargée
de le faire.
388
L’objectif est de les aider à organiser une coopérative pour qu’elles puissent préparer et
fournir leurs propres repas, service actuellement en sous-traitance.
Simone Pires Lopes
Du rêve à la réalité
Mille Femmes
Née à Manaus, Simone Pires Lopes a 40 ans et elle a eu une enfance
et une adolescence paisibles. Elle a eu l’occasion d’étudier, elle a
terminé ses études secondaires, mais au lieu de faire l’université elle a
choisi le trafic de stupéfiants. Arrêtée pour la seconde fois, Simone a
assumé le rôle de représentante du groupe et aide à l’organisation de
la chorale. Comme elle est évangélique, le défi de Simone est de ne pas
céder à la tentation de l’argent facile quand elle aura purgé sa peine.
Son rêve est d’ouvrir un magasin avec son mari qui purge aussi une
peine de prison.
Celle qui a commencé, qui a été jusqu’au
bout, jusqu’au dernier jour,
qui est montée sur l’estrade du Cefet pour recevoir son certificat, elle en sait
l’importance dans la vie de chacune d’entre nous qui avons participé à ce
cours. Vous connaissez l’histoire de l’étoile des rois mages, qui nous conduit
vers le but ? Eh bien, c’est exactement ça le projet Mille Femmes.
389
Mille Femmes
Du rêve à la réalité
390
Tout au long de ce projet, j’ai été témoin de rattrapage de quelques-unes
de mes collègues. Les femmes qui y ont participé n’oublieront jamais parce
qu’il nous a ouvert l’esprit et nous permet profiter de cette autre opportunité
dans notre vie. Il nous a enseigné l’importance de la décision de changer
de vie, de saisir les bonnes occasions qui se présentent à nous, comme ce
cours par exemple. Pour celles qui l’ont déjà suivi et celles qui le suivent
actuellement, il s’agit d’une opportunité à laquelle elles s’accrochent.
Avec le projet Mille Femmes, j’ai appris à mettre en pratique la
constatation que toute cette énergie, tout ce courage pour commettre des
actes illégaux, je pouvais les canaliser d’une autre manière, avec la même
énergie, le même courage, mais avec un ego plus modeste, parce qu’un ego
démesuré, ça ne vous fait pas de bien. La manière de traiter les gens est
très différente ; l’utilisation de l’argent, la rentabilité, parce qu’on a appris à
travailler pour avoir en bénéficier.
Je n’avais pas peur de la police, je n’avais pas peur des truands, je
n’avais peur de rien. Je bravais tout, je jouais les gros bras, j’étais armée ; s’il
me fallait tirer, je tirais. Grâce à Dieu, je n’ai jamais dû le faire, mais j’étais
gonflée à bloc à ce sujet. Je me croyais la meilleure. Puis j’ai découvert que ce
n’était pas vrai, que je ne n’étais rien de tout ça, bien au contraire, que j’étais
vraiment idiote de penser comme ça ! Je croyais que j’étais la meilleure, mais
j’étais nulle. Je n’étais qu’une sotte, qui se croyait meilleure que les autres
parce qu’elle avait un peu de drogue, un peu d’argent, parce qu’elle pouvait
en trouver autant qu’elle le voulait, qu’elle pouvait claquer autant d’argent
qu’elle le voulait en une nuit, parce que ma vie était comme ça.
Le contenu du cours est venu combler plusieurs lacunes dans notre vie.
Dès le début, il a travaillé notre auto-estime, cette partie de soi-même qui est
vide chez beaucoup de gens, en nous répétant comme ça : vous pouvez, vous
êtes capable, vous agissez, vous changez, il suffit de vouloir. Alors quelques-
Et ce cours a été utile, il est venu nous enseigner
qu’on pouvait changer de vie. Il suffit de le vouloir.
Du rêve à la réalité
Mille Femmes
unes d’entre nous ont remédié à ces lacunes. Et ce cours a été utile, il est venu
nous enseigner qu’on pouvait changer de vie. Il suffit de le vouloir.
Quand on se retrouve ici, en prison, tout le monde est égal. Je suis née
et j’ai grandi au sein d’une très bonne famille. J’ai toujours été la petite chérie
parce que j’étais la seule fille de la famille, j’ai toujours reçu beaucoup de jouets,
d’attention, de câlins, toujours été dorlotée et j’ai grandi dans cette ambiance.
Je suis tombée amoureuse, le fameux bandit d’amour est apparu dans
ma vie. Je suis allée à Boa Vista pour y passer 15 jours et j’y suis restée deux
ans. Alors j’ai commencé à faire du trafic, pas à cause de lui mais parce
que je me suis rendue compte que c’était un moyen de gagner de l’argent
rapidement, facilement. On est souvent pressé de réussir dans la vie. On est
aveugle de penser comme ça parce que la réalité est très différente. J’avais déjà
terminé le lycée, mais c’est une chose que j’ai complètement laissé tomber.
J’allais entrer en faculté de sciences biologiques.
Nous avons fait le cours d’entreprenariat, ce qui nous a vraiment
ouvert l’esprit. Quand je sortirai d’ici, l’espoir pour moi et pour la majorité
des femmes qui sont ici c’est de suivre une nouvelle voie. Cette nouvelle voie
commence d’ailleurs ici même. À partir du moment où on a commencé à
s’appliquer à ce cours, que certaines personnes ont commencé à faire partie
de notre vie.
Le projet Mille Femmes est une porte, même pour celle qui a déjà étudié.
Parfois on plaisantait : « Nous sommes au rebut de la société », mais on voit
qu’en dehors de ces murs, il existe des gens qui pensent le contraire, parce que
391
Mille Femmes
Du rêve à la réalité
Et la femme est un être humain qui, quand elle va au combat,
elle n’y va pas seule. Elle y va pour l’enfant, pour le mari.
les gens qui vont sortir d’ici vont entrer dans la société.
Et l’espoir est justement de pouvoir gagner, parce que
le préjudice en entrant ici n’est pas seulement pour
nous, mais surtout pour notre famille, parce qu’on
perd sa propre estime, on a honte...
Participer du Mille Femmes m’a aussi montré
que je ne vis pas ce problème toute seule, qu’il existe
d’autres personnes autour de moi, même sans être
liées par le sang, mais on se lie par l’amitié, l’affection,
le sentiment. Ici même, il a fallu plusieurs fois se
rassembler à la cuisine pour faire des petits-fours,
préparer les repas. Et la femme est un être humain qui, quand elle va au
combat, elle n’y va pas seule. Elle y va pour l’enfant, pour le mari. Quand
elle cherche quelque chose, ce n’est pas pour elle seule. La femme est comme
ça, elle est camarade.
Je voudrais appliquer tout ce que j’ai appris. Je pense ouvrir une petite
épicerie, vendre du riz, des haricots et le weekend, vendre du poulet avec de la
salade et des haricots. Mon rêve est de sortir d’ici avec mon compagnon João
Morais. Je pense que je suis une casserole et qu’il en est le couvercle [rires]. Un
fond musical pour ma vie ? « Amour sans limite », de Roberto Carlos.
392
Sôngila Soares de Lima
Du rêve à la réalité
Mille Femmes
Sôngila Soares de Lima, 47 ans, est ce qu’on peut appeler une femme
d’affaire née. Avec son compagnon elle a monté un restaurant dans la prison
pour hommes et possède aussi une échoppe où elle vend des sucreries dans
la prison pour femmes. Paraense, fille d’indienne et de portugais, rester à
ne rien faire est quelque chose de compliqué pour quelqu’un qui a travaillé
pendant plus de 20 ans dans l’exploitation minière. À la prison, elle étudie,
nettoie les stations des gardes pour diminuer sa peine et s’occupe de son
commerce.
Malgré tout ce qui m’est déjà arrivée,
je n’ai jamais été lâche.
Je suis très drôle, très populaire, très camarade, amie. Je vis avec un sourire
aux lèvres. Pour moi, il n’y a jamais de problème. Je suis comme ça : une femme
d’attitude, pleine d’énergie, d’action. Je ne fais pas de promesses, j’agis. Quand
je décide de faire quelque chose, j’y vais et je le fais. J’ai confiance en moi.
393
Mille Femmes
Du rêve à la réalité
Je ne sentais pas que j’étais leur fille. Quand j’ai découvert
que j’étais adoptée, j’avais 16 ans. Un jour j’ai entendu ma mère
adoptive parler avec ma mère biologique. J’avais déjà vu plusieurs
fois cette femme à la maison, mais je ne m’étais jamais imaginé
que j’avais été adoptée. Je ne suis jamais parvenue à l’appeler
maman parce qu’elle voyait qu’on me battait, elle voyait que je
souffrais et elle n’a jamais rien dit ou fait. Ses propres enfants,
ma marâtre ne les maltraitait pas !
En 2008, ce programme Mille Femmes a été crée ;
comme j’avais déjà l’envie de suivre ce type de cours mais que
je n’en n’avais pas les moyens, j’en ai profité. J’avais étudié
jusqu’en cinquième et il y avait 20 ans que je n’étudiais pas. J’ai
recommencé à étudier, je me suis qualifiée, j’ai appris des trucs
sur l’entreprenariat, sur les mathématiques, sur l’environnement, comment
travailler avec les gens, pour ouvrir mon propre commerce.
J’avais une tante qui était une excellente cuisinière et pâtissière. Je
restais à la cuisine à ses côtés, je la regardais faire et j’apprenais avec elle. Elle
m’aimait beaucoup ; je crois que mon vrai don c’est la cuisine. J’ai beaucoup
de facilité pour apprendre.
Je n’ai jamais fait de trafic, j’ai toujours travaillé dans l’exploitation
minière, dans des entreprises, dans des restaurants. Je cuisinais pour le patron
qui était le propriétaire du terrain et pour les mineurs, et je touchais deux
grammes d’or par jour. Quand j’ai commencé, l’exploitation était manuelle,
c’est après que les machines sont arrivées. J’ai travaillé en Colombie, au
394
En 2008, ce programme Mille Femmes a été crée ; comme j’avais déjà l’envie
de suivre ce type de cours mais que je n’en n’avais pas les moyens, j’en ai profité.
Venezuela et en Guyane anglaise. Quand ils m’ont arrêtée, je venais d’arriver
de Guyane. C’est là que j’ai rencontré mon compagnon et c’est ce qui m’a
perdue quand je suis arrivée ici. Il m’a aidée à construire ma maison ; moi
avec mon argent, mon diamant, et lui avec le sien.
Maintenant j’ai un restaurant dans la prison pour hommes. Il y en
avait sept, mais, grâce à dieu, le mien a été le premier lors de l’appel d’offre.
J’ai suivi le cours et j’ai repassé tout ce que j’avais appris à mon mari et aux
détenus. J’ai cinq employés à la prison, et il faut qu’ils utilisent une toque,
qu’ils aient les mains propres, la barbe rasée, et qu’ils ne portent rien, ni
montre ni bague. Je vais là tous les dimanches et quand j’arrive, ils sont tous
bien rasés, parfumés. Et ils travaillent comme il le faut.
J’ai écopé de 12 ans. Le juge m’a accusée de complice, il a dit que j’étais
lucide, que je savais ce que je faisais, et que, comme il avait été condamné
et qu’il s’était enfui quand il était en régime semi-ouvert, j’étais donc sa
complice, que je l’avais caché et que je ne l’avais pas dénoncé. J’ai déjà purgé
ma peine en régime fermé et maintenant je suis en régime semi-ouvert.
J’ai passé huit mois sans voir personne de ma famille. Je suis mère de
neuf enfants ; il y en a deux à Manaus, les autres vivent ici mais seulement
une de mes filles est venue me voir. Quand on entre ici, la famille vous
tourne le dos. Au début, ils venaient encore et puis, les visites ont diminué.
Ça fait très mal parce qu’on se sent abandonnée.
Nous étions 40 femmes, 20 le matin et 20 l’après-midi. Tous les
jours, ils nous conduisaient au Senac1 pour la partie pratique de notre cours
de gastronomie. J’ai beaucoup appris, j’ai fait beaucoup de progrès. Avant
1. Le Service National
d’Apprentissage Commercial
(Senac) de Roraima est l’un
des partenaires du projet à
Boa Vista.
Du rêve à la réalité
Mille Femmes
395
Mille Femmes
Du rêve à la réalité
J’ai l’intention de continuer parce que ce ne serait pas bon d’être
femme d’affaires et de ne pas avoir étudié plus.
de commencer à suivre ce cours, j’avais déjà une échoppe où je
vendais des sucreries et je l’ai encore et ça m’aide à subvenir à mes
besoins ici en prison.
Je connaissais déjà plusieurs recettes mais je n’avais pas beaucoup de pratique ; les ingrédients que j’utilisais, voir le nombre de
personnes, parce que parfois je préparais et il en restait beaucoup,
ça se perdait. Je devais jeter le reste. J’ai tout appris au cours. J’ai
appris comment travailler avec mon argent, parce que tout ce que
je gagnais je le dépensais, j’achetais des choses qui ne me servaient
à rien. Aujourd’hui je sais comment économiser mon argent, comment le faire rapporter. J’ai fait beaucoup de progrès en mathématiques, tout ce que je fais, je l’écris. J’ai eu plusieurs cours ici, des
cours de bonnes manières, de bon comportement, de vie en société
avec les gens, comment s’adresser aux gens.
Ce projet sert à ouvrir des portes aux femmes qui savent cuisiner, qui
veulent aller de l’avant, qui cherchent à en apprendre plus, à se développer,
pour que plus tard, elle puisse ouvrir sa propre petite épicerie devant chez
elle et ne pas dépendre uniquement de son mari.
J’ai terminé la septième année, j’ai réussi et je vais entrer en huitième.
J’ai l’intention de continuer parce que ce ne serait pas bon d’être femme
d’affaires et de ne pas avoir étudié plus. Quand je sortirai d’ici, mon projet
est de continuer, d’ouvrir un petit snack et un autre petit magasin chez
moi, de vendre des boissons rafraîchissantes, des produits laitiers, des choses
comme ça.
396
Elenilde
Sergipe
Valdenice
Mille Femmes
Du rêve à la réalité
Aracaju et
Nossa Senhora do Socorro
Le quartier Santa Maria, aussi appelé Terra Dura, se trouve dans la région sud
d’Aracaju et c’est là qu’on décharge une partie des ordures produites dans la
capitale. Malgré l’interdiction du Ministère Public, selon les habitants, des familles
entières tirent encore leurs moyens de subsistance des résidus venant d’Aracaju, de
São Cristovão et de Nossa Senhora do Socorro. Le village de Taiçoca de Fora se
trouve sur la commune de Nossa Senhora do Socorro, zone littorale de Sergipe et la
majorité de ses habitants vivent de la pêche.
1
Le paysage et la manière d’assurer la subsistance de ces deux localités sont différents,
mais les réalités socioéconomiques des femmes se ressemblent fort. Aussi bien à Santa
Maria qu’à Taiçoca de Fora, le travail commence dès l’enfance. C’est pourquoi le
niveau de scolarité est très faible. La maternité précoce et le manque de qualification
professionnelle compliquent l’accès au monde du travail.
2
1
Quartier Sanata Maria
2
Taiçoca de Fora
1
2
398
En ce qui concerne les femmes de Santa Maria, le défi fut qu’elles apprennent à
s’aimer. Il a fallut les rassurer, car leur estime était médiocre et les préjugés qu’elles
ont vécus tout au long des années avaient été difficile à vivre. À Taiçoca de Fora,
il fallut affronter la résistance des maris et la méfiance des femmes, fatiguées des
promesses politiques jamais tenues. Dans les deux cas, l’objectif était d’exploiter et
d’améliorer les talents qu’elles avaient acquis au cours de leur vie.
Pour travailler avec ces réalités et répondre aux besoins de ces femmes, l’Institut
Fédéral de Sergipe a mis sur pied des qualifications dans le domaine des résidus
solides et de l’artisanat, qui ne faisaient pas partie de ses cours traditionnels. La
signature de partenariats fut fondamentale pour
assurer l’élévation du niveau de scolarité des habitantes de Taiçoca de Fora, pour leur offrir une
formation professionnelle et impliquer les artisanes dans les foires locales et nationales. Toutes ces
actions ont garanti une articulation avec divers organismes qui ont formé un réseau d’assistance, qui
peut d’ailleurs être reproduit dans d’autres localités
de l’état.
En ce qui concerne les élèves, les résultats sont variés. Certaines des anciennes élèves ont choisi la
voie de l’artisanat et elles vendent leurs produits
sur les marchés. D’autres continuent à travailler à la
Coopérative de Récupérateurs Autonomes d’Aracaju (Care) et il y a celles qui cherchent d’autres
voies professionnelles. Les femmes de Taiçoca de
Fora discutent la possibilité d’organiser une association de production.
Elenilde do Espírito Santo
Du rêve à la réalité
Mille Femmes
Outre le nom et les traits physiques, Elenilde do Espírito Santo a hérité
la profession de ses parents : ramasseuse de fruits de mer. À 32 ans, elle
possède une longue expérience de la mangrove et de la mer. Au cours de ses
23 ans d’expérience, elle a appris à pêcher et nettoyer les fruits de mer. Elle
n’a malheureusement pas appris à les vendre, elle dépend toujours d’autres
personnes. Joyeuse et objective, elle dit ce qu’elle pense sans s’inquiéter des
critiques. De l’école, elle se souvient des disputes qu’elle avait avec ses collègues
et aujourd’hui encore, elle ne s’en laisse pas marcher sur les pieds.
J’ai beaucoup apprécié étudier
l’informatique et j’aurais aimé
avoir plus de cours.
Au début, on avait peur de dérégler l’ordinateur et on a demandé : « Si on
le casse, on devra payer ? » Mais ils ont répondu : « Non, non, vous ne devrez
rien payer ! » J’ai appris à entrer sur Internet, j’étais très curieuse. Nous avons
commencé à chercher un petit ami, nous avons appris à tchatcher [rires].
399
Mille Femmes
Du rêve à la réalité
400
Aujourd’hui, je sais faire des broderies avec des coquilles de moules, d’huîtres, des
choses qu’on avait jamais faites, même jamais imaginées; pour nous c’étaient des déchets.
Je me suis sentie heureuse de retourner à l’école parce qu’il arrive un
moment où on doit apprendre, même sur le tas. Ce cours va être bon pour
moi et pour enseigner à mes enfants qu’étudier c’est la meilleure chose de la
vie, et qu’ils ne doivent pas faire comme j’ai fait : laisser tout tomber.
Au cours de portugais, on a rédigé un texte sur notre vie, ce qu’on
avait fait dans notre enfance. Mon enfance s’est passée à travailler, je n’ai
pas eu le temps de jouer, mes jouets ont été mes enfants. J’ai commencé à
travailler à partir de neuf ans. Ma mère nous réveillait à minuit en disant qu’il
était quatre heures du matin, pour qu’on casse des coquilles. Alors je disais :
« Mince alors ! Le jour ne se lève pas aujourd’hui ? ».
C’était la seule solution pour nous parce qu’on ne
vivait que de la pêche.
On allait aussi dans la mangrove, pour ramasser
des moules et des huîtres. Ma mère nous conduisait
pour qu’on ne se disperse pas. Je n’ai étudié que
jusqu’en troisième. Quand j’arrivais à l’école j’étais
crevée ; je ne pensais qu’aux tâches qui m’attendait
à la maison : laver la vaisselle, aller chercher de l’eau.
J’avais 13 ans quand j’ai abandonné l’école. Et voilà,
j’ai été m’occuper d’enfants et jusqu’à aujourd’hui,
je m’occupe de mes enfants et je travaille en pêchant.
Je fais un peu de tout, mais ce que j’aime c’est de
m’occuper des enfants.
Du rêve à la réalité
Mille Femmes
Quand je vais à la mangrove, je sors de chez moi à quatre heures
du matin et je reviens entre deux et trois heures de l’après-midi. On
y va en canot mais moi je ne sais pas nager. Il y a des semaines où
j’ai assez de fruits de mer et d’autres semaine où ça ne donne rien.
On casse aussi les coquilles des palourdes qu’on pêche en mer et on
les donne à quelqu’un d’autre pour les vendre. Ça se vend au kilo à
Bahia ; chaque kilo coûte cinq réaux. J’en casse de 10 à 12 kg par jour,
entre quatre heures et demie du matin et huit heures du soir.
Beaucoup d’entre nous manquent d’assurance et ont peur,
mais avec les études, je me sens plus sûre de moi et j’ai plus confiance
en moi. En salle de classe, les choses sont différentes parce qu’on
s’amuse, on est plus concentrées pour apprendre, pour connaître toutes les
choses intéressantes que les professeurs nous enseignent.
On peut apprendre à tout âge, il suffit de vouloir. On apprend des choses
qu’on n’a pas eu le temps d’apprendre dans la vie. Aujourd’hui, je sais faire
des broderies avec des coquilles de moules, d’huîtres, des choses qu’on avait
jamais faites, même jamais imaginées parce qu’on jetait les coquilles, pour nous
c’étaient des déchets. On apprend à faire de l’art avec des coquilles de mollusques.
Aujourd’hui nous savons que les coquilles qu’on jetait étaient de l’argent.
J’ai beaucoup aimé le professeur de mathématiques. C’est une
personne très joviale et qui veut que nous apprenions parce que c’est difficile
de faire des calculs. À l’école, je n’étais pas très bonne en mathématiques,
401
Mille Femmes
Du rêve à la réalité
Le cours
m’a aidé à
avoir de la
patience avec
mes enfants.
Maintenant
j’arrive, je joue
avec eux.
402
mais de la manière dont il nous l’enseigne, il nous montre qu’on est capables
d’apprendre, de se développer dans la vie. J’ai appris à diviser. J’avais beaucoup
de difficultés à faire des divisions, mais j’ai appris.
Le cours m’a aidé à avoir de la patience avec mes enfants. Maintenant
j’arrive, je joue avec eux, je vais me promener avec eux. Je vais à la plage, au
centre commercial, parce que j’aime beaucoup me promener, prendre une
petite bière bien glacée. J’apprends à montrer plus d’affection à mes enfants,
parce que je n’ai pas eu beaucoup d’amour de la part de mes parents, pas
de baisers, d’embrassades, et aujourd’hui je joue, j’embrasse, je donne des
bisous, et des claques quand ils le méritent.
Mes enfants ne travaillent pas. Ce sont des enfants. J’en ai un qui a dix
ans, un de cinq et un de deux ans et cinq mois. Cleidiane, l’aînée, Adriano et
Raquele. Quand j’aurai terminé la formation, j’espère pouvoir donner une
vie meilleure à mes enfants. Grâce à mes études, au projet que je fais, j’ai
l’intention de donner plein de bonnes choses à mes enfants.
Valdenice Alves
Du rêve à la réalité
Mille Femmes
Valdenice Alves n’est pas très bavarde. Réservée, elle parle peu, peut-être
parce qu’elle est née avec une grande responsabilité. Elle a commencé très
tôt à aider sa mère. Originaire d’Alagoas, à 10 ans elle l’aidait à vendre
des crabes et d’autres fruits de mer. À 11 ans, la famille a déménagé à
Aracaju où ses deux frères et elle ont travaillé très fort pendant des années
dans la décharge publique de Terra Dura comme on appelle le quartier
de Santa Maria, pour assurer la subsistance de leur mère. Étudier était
un luxe dont elle n’a que très rarement pu profiter.
J’ai bien aimé le nom du projet –
Mille Femmes – parce que je me crois une
personne victorieuse.
Je suis prête à faire n’importe quel travail, parce que travailler dans un
dépotoir depuis ses 11 ans, ce n’est pas facile. J’ai 24 ans, je suis de Maceió,
mais j’habite à Aracaju depuis 12 ans. Quand on est arrivés ici, je sortais à
403
Mille Femmes
Du rêve à la réalité
404
1. La Coopérative des Agents
Autonomes de Recyclage
d’Aracaju (Care) a été créée
en 1999 dans le but de retirer
les familles de la décharge
publique.
huit heures et je rentrais à cinq heures de
l’après-midi. Parfois, je travaillais toute
la nuit parce qu’il y avait beaucoup de
gens qui travaillaient de nuit. Quand
mon père commençait à boire, on devait
se débrouiller parce qu’il ne s’arrêtait pas
de si tôt et sans nous, ma mère aurait eu
du mal. C’étaient les jumeaux et moi qui
subvenions aux besoins de la maison.
J’ai découvert le projet par l’intermédiaire de la Care1, j’étais membre
de la coopérative. C’était bon de retourner dans une salle de classe après si
longtemps. Ce projet a été une très bonne expérience, j’ai rencontré plusieurs
personnes du quartier et j’ai beaucoup aimé les autres femmes.
J’aimais la psychologie parce que la professeure nous mettait à l’aise,
on se sentait bien. J’ai aimé les cours d’informatique. Il y en avait beaucoup
qui n’avaient jamais touché à un ordinateur. Il y en avait une qui était si
contente parce qu’elle avait appris à l’allumer et à l’éteindre. Moi aussi j’étais
contente parce que je n’en n’avais jamais touché. Quelqu’un qui n’a jamais
eu de contact avec un ordinateur a un peu peur d’y toucher, j’étais nerveuse.
J’appelais souvent la professeure à mon secours. On se sentait comme chez
soi, j’étais à l’aise et les professeurs nous aidaient beaucoup, c’étaient aussi
des personnes très simples.
J’ai étudié jusqu’en quatrième année. À l’époque, ce fut une voisine
qui m’a inscrite. Elle a demandé les actes de naissance à ma mère et nous a
inscrits, moi, mon frère, mes cousins qui travaillaient à la décharge. J’aimais
bien aller à l’école, j’avais envie d’y aller. Parfois, je me sentais gênée devant
mes collègues quand le bus allait nous chercher à la décharge. Elles passaient
la tête par la fenêtre et nous appelaient bac à ordures. Une fois je me suis
même battue avec un enfant, je lui ai marché dessus parce qu’il m’avait
appelée bac à ordures.
Il y a beaucoup de gens qui ont des préjugés quand on dit qu’on est
de Santa Maria ou de Terra Dura. C’est une très mauvaise sensation, on se
sent humilié. Même avec l’uniforme de la Care, quand j’allais au marché
pour ramasser les résidus solides, ils me regardaient. Si j’avais pu, je les aurais
injuriés : « Qu’est-ce que t’as à me regarder comme ça ? Ça te regarde ? Il vaut
mieux travailler que voler ! » Ce genre de choses… je me disputais beaucoup
à cause de ça, c’est pour ça que j’étais si révoltée.
Avant le cours, je ne pensais qu’à travailler pour manger, c’est tout.
Maintenant non ! Je pense à travailler pour acheter un vêtement, des souliers.
Avant, je ne pensais qu’à travailler pour construire ma maison et c’est tout.
Je ne pensais pas à moi. Aujourd’hui je pense plus à moi. Je crois que c’est à
Après la
décharge, mon
deuxième
emploi fut
à la Care ; il
s’agissait de
travailler avec
une chose que
je connaissais
déjà, c’està-dire les
déchets.
cause de la manière dont j’ai été élevée, parce que mon père était ainsi. Pour
lui, du moment qu’il y avait du riz et des haricots, c’était bon. Je n’ai jamais
eu de jouet ou de vêtement décent. C’était une vraie brute avec nous.
J’ai appris à faire du fuxico2 et de l’artisanat avec du papier journal.
C’était bien, il faudrait plus de classes. J’aimerais qu’il y ait une deuxième
étape du projet. Je fabrique des chouchous pour les cheveux. J’en ai donné à
mes nièces et j’en ai vendu d’autres. Ça se vend bien. J’ai arrêté parce que j’ai
commencé à travailler chez une femme, là à Atalaia. Après j’ai quitté parce
que la femme voulait que je dorme chez elle.
Grâce au cours, j’ai commencé à penser plus à moi, à ma vie, à ce dont
j’avais besoin. Avant j’étais toujours malade mais j’ai commencé à me soucier
plus de ma santé. On prend le temps de penser à un projet de vie meilleure,
à un meilleur emploi.
J’ai arrêté de travailler pendant quelques années quand j’étais enceinte de
huit mois, et je ne suis plus retournée à la décharge quand j’ai eu mon enfant.
Je suis tombée enceinte à 15 ans et je n’avais rien prévu. Ensuite, j’ai pris mes
précautions. Elle a déjà neuf ans. Je connaissais depuis toujours le père de ma fille.
Après la décharge, mon deuxième emploi fut à la Care ;
il s’agissait de travailler avec une chose que je connaissais déjà,
c’est-à-dire les déchets. J’avais 20 ans quand je suis entrée et
j’y suis restée pendant trois ans et neuf mois. J’ai quitté parce
que je suis tombée malade, j’ai attrapé une infection du sang
et au poumon. Lors de la remise de diplômes du cours, j’étais
à l’hôpital ; j’y suis restée 13 jours. Avant, je n’avais jamais
cherché de travail en dehors de la Care, j’avais peur de sortir
de là et de ne pas trouver d’autre emploi. Je travaillais malade,
en silence pour ne pas être renvoyée.
Du rêve à la réalité
Mille Femmes
2. Espèce de broderie en
patchwork, fait avec des restes
de tissus et de la laine.
405
Mille Femmes
Du rêve à la réalité
Le cours m’a aidée à mieux communiquer, parce que j’étais très réservée,
je n’aimais pas parler aux gens que je ne connaissais pas.
Au début c’était un peu différent parce que j’avais l’habitude de travailler
d’une autre manière, rien qu’avec des déchets. Le travail de nettoyage est moins
dur. Si on sépare correctement c’est mieux. On gagne plus et c’est mieux, le travail est moins difficile et on gagne plus. Je fais aussi des manucures à la maison.
Le projet améliore l’estime de soi pour les femmes. Parfois, on passe
par des difficultés et on relève la tête, on se met plus en valeur. J’ai déjà
beaucoup souffert, j’ai déjà beaucoup travaillé dans cette vie ; alors je dois
plus penser à moi.
Le cours m’a aidée à mieux communiquer, parce que j’étais très réservée,
je n’aimais pas parler aux gens que je ne connaissais pas. C’était bonjour,
bonsoir et c’était tout ! Mais maintenant je me communique plus facilement.
Le fait de participer au projet a changé beaucoup de choses, la manière de me
comporter à la maison, de parler à mon enfant. Participer au projet a été très
bien pour moi. Aujourd’hui je sens que je suis meilleure.
J’ai pas mal de collègues qui travaillent à la décharge. Il y a encore beaucoup de femmes et d’enfants. Il y en beaucoup qui travaillent plus qu’un homme, à tirer les charrettes et trier les déchets. Je trouve que c’est beau parce que
c’est leur manière d’agir. Elles n’ont pas peur d’affronter la vie, mais c’est très dur.
Je suis déjà passée par beaucoup de difficultés dans la vie et je n’ai jamais
renoncé. Et je ne vais jamais renoncer. Je ne vais pas abandonner l’espoir de
voir ma maison remise en état, de voir ma fille étudier, de trouver l’emploi que
je n’ai jamais eu.
Je voudrais travailler comme manucuriste. Je vais faire quelques CV
pour les envoyer à des entreprises pour voir si je trouve un travail de services
généraux. Je me sens mieux qualifiée pour le marché. Mon rêve est d’avoir un
emploi avec un contrat signé dans mon carnet de travail et de construire ma
maison ; et je veux donner à ma fille tout ce que je n’ai jamais eu.
406
Lúcia
Tocantins
Sheilane
Mille Femmes
Du rêve à la réalité
Palmas et
Taquaruçu
Les élèves du district de Taquaruçu et du quartier Santa Bárbara possèdent des
histoires de vie pleines de points en commun : beaucoup ont travaillé durant leur
enfance, la majorité se sont mariées très tôt, plusieurs subviennent seules aux besoins
de leur famille, quelques-unes cachent les marques de la violence domestique, un
certain nombre ne croyaient pas en elles-mêmes et aucune d’elles n’avait été sur les
bancs d’une université ou d’une école technique.
2
1
Palmas
2
Taquaruçu
1
2
408
Le district de Taquaruçu est à 32 km de Palmas, où se trouve le siège de l’Institut
Fédéral de Tocantins (IFTO). Le district est une petite ville qui possède cet air de
tranquillité comme si le temps s’était arrêté et que l’agitation du monde moderne
faisait partie d’une autre planète. À Palmas, le quartier Santa Bárbara dégage une
impression de peur, les maisons sont proches l’une de l’autre, l’assainissement fait
cruellement défaut, ainsi que l’accès à la santé et la planification urbaine, il y a
beaucoup de violence et la majorité des habitants vivent sous le seuil de la pauvreté.
En commun, ces endroits manquent d’actions des autorités publiques et beaucoup
d’habitants vivent en marge des droits à l’éducation et du travail.
Dans le but de promouvoir l’accès des femmes de ces communautés, l’Institut
a établi un dialogue avec l’association des habitants. Ensuite, d’autres défis sont
apparus : assurer le transport, garantir la permanence à l’école et offrir des cours
de formation à un groupe hétérogène en âge – les élèves ont entre 18 et 60 ans
– et en scolarisation – de l’enseignement
primaire incomplet jusqu’au secondaire. Au
Collège d’État Santa Bárbara, il n’existait pas
de cours d’Éducation de Jeunes et Adultes, et
le dialogue de l’IFTO avec la mairie de Palmas
a eu comme résultat que des femmes qui ne
fréquentaient plus l’école depuis des dizaines
d’années puissent avoir la chance de continuer
leurs études.
L’institution a également signé des accords de
partenariat avec des organismes locaux pour
offrir des qualifications dans divers domaines.
Aujourd’hui, en plus de la formation en
artisanat proposée aux habitantes de Taquaruçu,
les élèves de Santa Bárbara peuvent suivre des
cours dans les secteurs de coupe et couture
et d’alimentation. Les impacts sur la vie de
celles qui ont déjà reçu leur certificat sont très
variés. Beaucoup ont trouvé du travail dans des
domaines différents de celui de leur formation,
un groupe continue à produire et vendre des
pièces d’artisanat et la plupart d’entre elles ont
recommencé à étudier.
Lúcia Araújo Mendes
Du rêve à la réalité
Mille Femmes
La bonne humeur et la joie de vivre sont des caractéristiques marquantes chez
Lúcia Araújo Mendes. Maranhense, elle vient du pays du “reggae” et elle est
fière de ses origines. À 51 ans, elle a vécu la plupart de sa vie à la campagne,
à planter et récolter, et à élever ses frères et sœurs et ses enfants. Au cours de sa
trajectoire de vie, elle a bercé 19 enfants, elle élève une petite-fille de 13 ans et
aide à en élever quatre autres. Cela va faire six ans qu’elle habite à Palmas et
actuellement, elle vit du recyclage et de l’artisanat.
Quand j’ai commencé à faire
de l’artisanat, c’était pour aider
une collègue,
mais je n’en avais pas vraiment envie. Et j’ai aimé ça ! Cela fait quatre ans
maintenant que je travaille dans l’artisanat. Ça m’a convaincu et j’aime
409
Mille Femmes
Du rêve à la réalité
410
J’ai bien aimé tout ce à quoi j’ai déjà participé dans le groupe. J’ai suivi le cours d’arts
culinaires. Nous avons appris à faire des petits-fours, des gâteaux, des compotes...
beaucoup. Je travaille aussi dans le recyclage. Je ramasse des morceaux de
fer, des canettes, du plastique, je fais de l’artisanat, je travaille avec du
papier recyclé. Aujourd’hui il n’y a que moi qui travaille parce que mon
mari est malade. Et puis je vends tout à un intermédiaire.
J’étais contente quand on m’a dit qu’ils allaient donner un cours
d’artisanat. J’ai bien aimé tout ce à quoi j’ai déjà participé dans le groupe.
J’ai suivi le cours d’arts culinaires. Nous avons appris à faire des petitsfours, des gâteaux, des compotes, des pâtisseries, des quiches. J’ai beaucoup
aimé l’atelier d’artisanat pour faire des
petites boîtes ; et cela a été mon coup
de cœur.
J’habitais à la campagne, je travaillais dans les champs, aux récoltes.
Je connais tout ça. On plantait du riz,
des haricots, du maïs, des fèves, du
manioc. Certaines années, ça donnait
assez pour que tout le monde puisse
manger à sa faim, mais d’autres années, ça ne donnait presque rien. Ma
mère a eu peu d’enfants, elle en a eu
15 et en a élevé 13. Je suis la deuxiè-
Du rêve à la réalité
Mille Femmes
me et j’ai donc dû aider à élever mes frères et sœurs. Ce sont
toujours les aînés qui souffrent le plus, je n’ai pas eu le temps
de grandir parce que je m’occupais des petits ! Quand j’étais
enfant, jusqu’à 11 ans, je n’étais jamais allée à l’école, rien
qu’aux champs. Je me suis mariée très jeune, j’avais entre 13
et 14 ans. Je me sentais prisonnière, mon père ne me laissait
pas sortir avec mes collègues.
Ce projet est pour moi tout ce qu’il y a de bon parce
que je ne savais même pas signer mon nom. Aujourd’hui je
signe mon nom, je connais déjà toutes les lettres, mais je ne
sais pas encore les mettre ensemble quand c’est un long mot.
J’ai étudié au Mobral1 mais j’ai dû abandonner à cause des
enfants. J’ai commencé à étudier ici à Santa Bárbara mais
comme il n’y a plus d’EJA2, j’ai été forcée d’arrêter aussi.
Je crois que ce cours nous a aidées à tous les niveaux. Ne pas savoir
lire ni écrire, c’est très pénible. Je suis déjà allée à la capitale Teresina avec
ma petite fille malade, avec un papier écrit à la main et sans savoir où aller.
Je demandais des informations et les gens m’envoyaient d’un côté à l’autre.
C’était épouvantable.
Aujourd’hui je n’ai plus peur d’écrire mon nom quand je dois signer
un papier. Je me sens plus confiante. Je sais déjà lire un peu, je connais déjà
toutes les majuscules. Mais les longs mots sont très difficiles pour moi.
1. Mobral – Mouvement
Brésilien d’Alphabétisation.
2. EJA – Éducation de Jeunes
et Adultes.
411
Mille Femmes
Du rêve à la réalité
Ça m’a
ouvert les yeux
et l’esprit, pour
moi c’est très
bien. Meilleur
encore si je
continue.
Le projet Mille Femmes a changé la vie des femmes de notre quartier.
Je vous dis ça parce que ma fille m’a dit : « Maman, je suis si heureuse parce
que j’ai terminé la huitième année ; je ne connaissais pas tout ce que je sais
aujourd’hui ! ». Maintenant, grâce à Dieu, avec ce projet, elle dit qu’elle ne
va continuer d’étudier.
Nous recevons une bourse ; pour moi, c’est très important. Ce ne
sont que 100 réaux, mais pour moi c’est beaucoup d’argent. Je paie l’eau,
l’électricité, et parfois j’achète du riz, de la viande, des trucs pour la maison.
Ça m’a ouvert les yeux et l’esprit, pour moi c’est très bien. Meilleur
encore si je continue. Beaucoup de femmes étaient comme moi : elles ne
savaient pas écrire leur nom. Maintenant elles le savent déjà et se sentent
encouragées à étudier, à continuer. Même si ce cours termine, elles veulent
continuer à étudier.
412
Sheilane Alves
Du rêve à la réalité
Mille Femmes
Sheilane Alves est ménagère, elle travaille au Conseil Municipal de Palmas
et étudie au cours technique de musique du Collège militaire. Elle a arrêté
ses études en septième année et a passé 17 ans loin des bancs d’école. Elle est
retournée en salle de classe grâce au projet et à 37 ans, elle fait de nouveaux
projets, entre autres de faire d’étudier dans la faculté du Service social. Elle
aime chanter, elle a une belle voix, surtout quand elle chante la chanson qui
lui rappelle quand elle a commencé à fréquenter son deuxième mari. « Je
veux rester dans tes bras » de Leandro et Leonardo.
Je me demande pourquoi j’ai arrêté
pendant si longtemps.
Je peux me sentir fatiguée parce que cet emploi exige beaucoup de
moi, mais quand je vais au collège, je me sens si heureuse, si contente de
savoir que je vais étudier ! Je sors de chez moi à cinq heures moins dix et je
ne rentre qu’à minuit et demie. Et parfois, j’étudie jusqu’à quatre heures et
demie du matin pour faire mes devoirs, préparer mes examens.
413
Mille Femmes
Du rêve à la réalité
414
Pour moi, aller au collège c’est un
défi que je veux vivre avec les gens que
j’ai appris à aimer et à respecter. Aller
à l’école militaire, c’est comme si j’allais au Mille Femmes : c’est un défi mais
c’est aussi une joie et un apprentissage
parce que tous les jours sont différents.
J’ai arrêté d’étudier quand j’avais
17 ans, en huitième. Et j’ai eu cette
envie d’étudier grâce au projet parce que
sinon, je ne recevais pas d’encouragement et je n’avais pas envie non plus. Je
pensais que je devais juste travailler et me débrouiller pour m’occuper de ma
famille. Plus maintenant ! Là j’ai appris que je peux très bien concilier tout :
je peux m’occuper de ma maison, faire ce que j’aime et étudier.
Nous sommes quatre frères et sœurs et même maintenant, c’est mon
père qui dirige tout et nous, on respecte son opinion. Je me suis mariée pour
faire plaisir à mon père. J’allais avoir 16 ans. Mon père aimait beaucoup mon
petit ami. Nous nous sommes disputés et nous avons rompu. Alors il est allé
voir mon père, qui ne savait pas que nous avions rompu, et il lui a demandé
ma main. J’ai résisté un peu mais je ne voulais pas déplaire à mon père, alors
j’ai accepté et je me suis mariée.
J’étais en septième et je ne suis plus retournée à l’école parce que je
travaillais, je n’avais plus beaucoup de temps pour les études. Mon mari
ne m’encourageait pas non plus. Deux ans plus tard, mon enfant est né,
mon premier enfant. Alors je me suis consacrée de plus en plus à la maison,
au bébé, à mon emploi et je n’ai plus pensé à étudier. Cinq ans après, on
s’est séparés – ça va faire plus de 20 ans que nous sommes séparés – et je
me suis remariée. Il y a onze ans que je suis remariée. On
vit très bien ensemble, c’est une personne qui m’encourage
beaucoup. Il m’a beaucoup aidée à l’époque du projet.
J’ai entendu à la radio qu’il y avait l’occasion de faire
le Collège militaire ; on pouvait s’inscrire pour les cours de
musique et d’informatique. J’y suis allée, je me suis inscrite
et aujourd’hui j’étudie la musique. On apprend à jouer et
aussi à être professeur de musique. J’aime beaucoup mon
cours. On pense que la musique c’est quelque chose de simple mais ce n’est pas vrai. Pour être professeur de musique ou
apprendre à chanter ou à jouer, il faut étudier, parce qu’on
doit apprendre les partitions, il y a des règles à respecter.
Avec ce projet, j’ai aussi eu l’occasion de travailler.
Le 1er janvier, ça a fait deux ans que je suis fonctionnaire
Le projet m’a enseigné à m’occuper de moi, à mieux m’aimer,
plus encore, à ne pas croire que je n’avais pas le droit de lutter, de persévérer...
au Conseil municipal de Palmas.
C’est grâce au Mille Femmes que
les gens ont pu se rendre compte
de mon grand potentiel pour travailler, pour respecter mes engagements et pour tenir le coup.
Une chose qui m’a beaucoup marquée, c’est le voyage que
nous avons fait à Brasília ; il y avait
là les 13 communautés qui participent au projet Mille Femmes. J’ai
rencontré une personne très spéciale, Marta de Lima1, vendeuse
de fruits de mer à Paraíba. Malgré
toutes ses difficultés, elle n’a pas
renoncé, elle y a cru. Je voudrais
qu’il y ait beaucoup de femmes comme elle, beaucoup de « Martas ».
Beaucoup de choses ont changé. Je dis toujours que le projet m’a fait
voir la vie d’une manière différente parce que jusque là, j’étais une ménagère,
je n’avais pas beaucoup de projets pour l’avenir, et tout d’un coup, ce projet
m’a ouvert de nouveaux horizons. J’ai eu envie de recommencer à étudier,
de recommencer à me développer, parce que j’avais tout laissé tomber. Et la
Sheilane de 2011, c’est une Sheilane qui a appris à être quelqu’un qui se bat,
qui a appris à courir après ses idéaux. C’est une des choses que j’ai apprise du
projet : ne jamais renoncer, peu importe les difficultés.
Celles qui ont fait la carte de vie ont beaucoup parlé de la question du
bus, parce qu’il y avait un bus qui venait nous chercher pour nous conduire
au collège. Quand nous sommes arrivées, je m’en rappelle comme si c’était
hier, tout le monde regardait l’Institut et disait : « Mon Dieu ! Tout ça c’est
vraiment pour nous ? ». Quand ils nous ont conduites dans la salle, qu’ils ont
commencé à parler du projet, j’ai dit à une amie, avec des larmes aux yeux :
« Ici si on le veut, beaucoup d’entre nous vont faire des progrès ». Quand nous
sommes rentrées à la maison, tout le monde était émerveillé, tout le monde
voulait raconter ce qui s’était passé, ce qu’on en pensait. Jamais je n’avais
imaginé être si bien traitée, que les gens allaient nous respecter comme ça.
Le projet m’a enseigné à m’occuper de moi, à mieux m’aimer, plus
encore, à ne pas croire que je n’avais pas le droit de lutter, de persévérer,
parce que je pensais qu’à mon âge, je n’attendais plus grand-chose. Et le
projet m’a montré qu’il n’y a pas d’âge pour réussir dans la vie. Il n’y a pas
d’âge pour penser qu’on est vieux et que son temps est déjà passé. Non ! Il
m’a enseigné que si je le veux, mon âge n’a aucune importance, que je peux
Du rêve à la réalité
Mille Femmes
415
1. Voir l’histoire de Marta de
Lima à la page 343.
Mille Femmes
Du rêve à la réalité
Là j’ai appris que je peux très bien concilier tout : je peux
m’occuper de ma maison, faire ce que j’aime et étudier.
réussir et poursuivre mes objectifs. Aujourd’hui, j’ai 37 ans et dans un
an et demi, je termine mon cours de musique.
Les femmes de Taquaruçu, je suis sûre et certaine que beaucoup d’entre elles n’avaient pas cette dignité, cet amour propre qui
aujourd’hui fait de nous des femmes différentes. La majorité d’entre
nous a réussi à trouver du travail ; il y a bien celles qui n’ont pas continué le travail d’artisanat, mais tout le monde a du travail.
Mon objectif est de terminer mes études à l’École Militaire et de
faire un programme de la faculté du Service social parce que je crois
que je suis bonne dans ce domaine.
C’est un projet qui est venu changer l’histoire de femmes qui
avaient besoin d’aide. Et ça vaut vraiment la peine d’investir dans
ce projet, parce qu’il aide les personnes à découvrir leur propre valeur, à
renforcer leur estime de soi, à se développer, à chercher à s’améliorer en tant
qu’être humain, à essayer de réussir dans la vie, sans se soucier des obstacles,
parce qu’il existe des gens qui renoncent pour si peu de chose !
416
Projets par État
Du rêve à la réalité
Mille Femmes
Institut Fédéral d’Éducation, Science et Technologie d’Alagoas
La Douce Saveur d’Être
Domaine de Formation : Aliments
Partenaires brésiliens : Secrétariat d’Éducation de l’État d’Alagoas, ECAPEL
(papeterie), Project Racines Africaines, ONG Maria María, Coopérative des
Fonctionnaires de la Banque du Brésil, Pastorale de Barra Nova, Canadian Sisters et
Aérotourisme
Collèges partenaires : Red River Collège et Cégep Régional de Lanaudière
Institut Fédéral d’Éducation, Science et Technologie d’Amazonas
Transformation, Citoyenneté et Revenu
Domaine de Formation : Tourisme
Partenaires brésiliens : Gouvernement de l’État d’Amazonas/Programme Social et
Environnemental des Igarapés de Manaus et Service National d’Apprentissage
(Senac-AM)
Collèges partenaires: Niagara Collège, George Brown et Collège Montmorency
Institut Fédéral d’Éducation, Science et Technologie de Bahia
Un Tour vers de Nouveaux Horizons
Domaines de Formation : Tourisme et Aide à Domicile
Partenaires brésiliens : Terreiro Mokambo, Centre de Méditation Raja Yoga Brahma
Kumaris, Association d’Habitants de la Communauté Vila Dois de Julho (Amovila),
Église Baptiste Betesda, Paroisse de São Lázaro et Centre Technologique de
Coopératives Populaires du IFBA
Collèges partenaires: Niagara Collège, George Brown Collège et Collège Montmorency
Institut Fédéral d’Éducation, Science et Technologie du Ceará
Femmes de Fortaleza
Domaines de Formation: Tourisme, Manipulation d’aliments et Gouvernante
Partenaires brésiliens : ONG Emaüs, Associations du Quartier de Pirambu, Centre de
Recherche et Qualification Technologique (CPQT) et Association Brésilienne de
l’Industrie Hôtelière - Ceará
Collèges partenaires : Niagara Collège, George Brown Collège et Collège Montmorency
Institut Fédéral d’Éducation, Science et Technologie du Maranhão
Aliment de l’Inclusion Sociale
Domaine de Formation: Techniques de conservation et de manipulation d’aliments
Partenaires brésiliens : Service National d’Apprentissage Commercial (Senac-MA),
Fondation d’Appui à l’Éducation et au Développement Technologique du
Maranhão (Funcema), Association commerciale du Maranhão (Ascom), Olívio J.
Fonseca, Bondiboca, Boulangerie Pão Nosso, Boulangerie et Pâtisserie Sabor e
Qualidade et Fondation José Sarney
Collèges partenaires : Red River Collège et Cégep Régional de Lanaudière
417
Projets
ille Femmes
MMulheres
Mil
Do
Du sonho
rêve à la
à realidade
réalité
Institut Fédéral d’Éducation, Science et Technologie de Paraíba
Développement Communautaire – Impact sur la Qualité de Vie et de
l’Environnement
Domaines de Formation : Pêche, Artisanat et Environnement
Collèges partenaires : Cégep de la Gaspésie et des Îles
Institut Fédéral d’Éducation, Science et Technologie de Pernambuco
Cuisine Solidaire
Domaine de Formation : Culinaire
Partenaire brésilien : Service National d’Apprentissage Commercial (Senac-PE) et
l’Université Fédérale Rurale de Pernambuco (UFRPE)
Collèges partenaires : Red River Collège et Cégep Régional de Lanaudière
Institut Fédéral d’Éducation, Science et Technologie du Piauí
Habiller la Citoyenneté
Domaine de Formation : Mode et confection
Partenaires brésiliens : Service Brésilien d’Appui aux Petites et Micro Entreprises
(Sebrae-PI), Municipalité de Teresina, Prefecture Municipal du Développement
Économique et Touristique de Teresina et la Maison de Zabelê (Action Sociale
Archevêché – ASA)
Collèges partenaires : New Brunswick Collège of Crafts and Design et Cégep Marie-Victorin
Institut Fédéral d’Éducation, Science et Technologie du Rio Grande do Norte
La Maison du Tilapia
Domaines de Formation : Traitement du cuir de poisson, Aliments et Artisanat
Partenaires brésiliens : Fondation d’Appui à l’Éducation et au Développement
Technologique du Rio Grande do Norte (Funcern), Service National
d’Apprentissage Rural (Senar), Préfectures Municipales de Ceará-Mirin , João
Câmara, Pureza et Touros
Collèges partenaires : Cégep de la Gaspésie et des Îles
Institut Fédéral d’Éducation, Science et Technologie de Rondônia
Bijoux Bio – Réseau de Vie
Domaine de Formation : Artisanat
Partenaires brésiliens : Secrétariat Municipal d’Éducation de JI-Paraná et Secrétariat
de l’Éducation de l’État de Rondônia
Collèges partenaires : New Brunswick Collège of Crafts and Design et Cégep MarieVictorin
418
Institut Fédéral d’Éducation, Science et Technologie de Roraima
Inclusion par l’Éducation
Projets
Domaine de Formation : Aliments
Partenaires brésiliens : Secrétariat à l’Éducation de l’État de Roraima, Service Brésilien
d’Appui aux Petites et Micro Entreprises (Sebrae-RR), Service National
d’Apprentissage Industriel (Sesi-RR), Service National d’Apprentissage Commercial
(Senac-RR), Forum de l’Éducation de Jeunes et Adultes (EJA), Secrétariat à la
Justice de l’État, Université Fédérale de Roraima (UFRR), Organisation des
Coopératives du Brésil (OCB), Service National d’Apprentissage du Cooperativisme
(SESCOOP)
Collèges partenaires : Red River Collège et Cégep Régional de Lanaudière
Du rêve
à la
réalité
Do
sonho
à realidade
ille Femmes
MMulheres
Mil
Institut Fédéral d’Éducation, Science et Technologie de Sergipe
Des ordures à la Citoyenneté / Pêcher l’Art et la Citoyenneté
Domaines de Formation : Artisanat à base de déchets et matériaux recyclage et arts
culinaires
Partenaires brésiliens : Ministère Public de l’État, Université Fédérale de Sergipe
(UFS), Service Brésilien d’Appui aux Petites et Micro Entreprises (Sebrae-SE),
Secrétariat d’État pour l’Inclusion Sociale, Groupe de Santé et de Prévention dans les
École, Préfecture Municipale de Nossa Senhora do Socorro, Coopérative des Agents
Autonomes de Recyclage d’Aracaju (Care), Fondation d’appui au Développement
Technique de Sergipe (FUNCEFETSE), Institut de Beauté Cida Duarte,
Éducateurs Volontaires
Collèges partenaires : New Brunswick College of Crafts and Design and Design and
Cégep Marie-Victorin
Institut Fédéral d’Éducation, Science et Technologie du Tocantins
Citoyenneté par l’Art
Domaines de Formation : Artisanat et Art bio
Partenaires brésiliens : Service Brésilien d’Appui aux Petites et Micro Entreprises
(Sebrae-TO), Préfecture de Palmas, Service National d’Apprentissage Industriel (Senai-TO) et Institut Écológica
Collèges partenaires : New Brunswick Collège of Crafts and Design et Cégep MarieVictorin
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Mulheres Mil: Do sonho À Realidade
Thousand Women: Making dreams come true
Mille femmes: Du rêve à la réalité
Concepção e implantação do projeto
Project design and Implementation
Conception et mise en œuvre du projet
Ministério da Educação - Secretaria de Educação Profissional e Tecnológica (MEC/Setec)
Ministry of Education - Secretariat of Vocational and Technological Education (MEC/Setec)
Ministère de l’Éducation - Secrétariat de l’Éducation Professionnelle et Technologique (MEC/Setec)
Conselho Nacional das Instituições da Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica (Conif )
National Council of the Institutions within the Federal Network of Vocational, Scientific and Technological Education (Conif )
Conseil des Établissements du Réseau Fédérale de l’Éducation Professionnelle, Scientifique et Technologique (Conif )
Rede Norte Nordeste de Educação Tecnológica (Redenet)
Northern and Northeastern Network of Technology Education (Redenet)
Réseau Nord Nord-Est de la Technologie (Redenet)
Agência Brasileira de Cooperação (ABC/MRE) Brazilian Cooperation Agency (ABC/MRE ) Agence Brésilienne de Coopération (ABC/MRE)
Agência Canadense para o Desenvolvimento Internacional (CIDA)
Canadian International Development Agency (CIDA) Agence Canadienne de Développement International (ACDI)
Associação dos Colleges Comunitários Canadenses (ACCC)
Association of Canadian Community Colleges (ACCC) Association des Collèges Communautaires du Canada (ACCC)
Execução / Execution / Mise en œuvre
Institutos Federais de Alagoas, Amazonas, Bahia, Ceará, Maranhão,
Paraíba, Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Norte, Roraima,
Rondônia, Sergipe e Tocantins
Fotógrafos / Photographers / Photographes
Alagoas: Marcelo Albuquerque
Amazonas: Francisco Araújo
Bahia: Rafael Dourado
Ceará: André Goldman
Maranhão: Francisco Campos
Paraíba: Petrônio Lins
Pernambuco: Rafael Medeiros
Piauí: Thiago Amaral/ Martim Garcia
Rio Grande do Norte: Marco Antônio Montoril
Rondônia: Leonardo Rocha
Roraima: Erick Vieira
Sergipe: André Moreira
Tocantins: Thâmara Filgueiras
Tradução / Translation / Traduction
Globo Traduções
Tradução inglês / Translation english / Traduction
anglais
Martim Cardoso
Tradução francês / Translation french / Traduction français
Edouard Braun
Revisão português / Portuguese edition / Revision du
portugais
Cecília Fujita
Revisão inglês / English edition / Révision de l’anglais
Leslie Cole
Debby Dufford
Yannick Cabassu
Revisão francês / French edition / Révision du français
Florence Arnould-Lalonde
Yannick Cabassu
Produção executiva, coordenação editorial, organização,
redação e edição / Production executive, editorial
coordination, organization, writing, and editing / Production exécutive, coordination éditoriale, interviews,
rédaction et édition
Stela Rosa
Tiragem / Edition / Tirage
1.700 exemplares
Assistente de edição / Assistant editor / Assistant à l’édition
Rodrigo Torres Araújo Lima
Esta publicação foi financiada pela Agência Canadense para o
Desenvolvimento Internacional (CIDA) e Secretaria de Educação
Profissional e Tecnológica. É permitida a reprodução parcial ou
total desta obra, desde que citada a fonte.
Assistentes de produção / Production assistants /
Assistants à la production
Ana Carolina Oliveira Batista
Rosane Alves de Souza Cerqueira Abreu
Impressão / Printing / Imprimeur
Gráfica Artecor
This publication was financed by the Canadian International
Development Agency (CIDA) and the Secretariat of Vocational
and Technological Education. The partial or total reproduction of
this work is allowed as long as the source is mentioned.
Projeto gráfico, diagramação e capa / Graphic design, layout and cover / Conception graphique et couverture
Caco Bisol Produção Gráfica
[email protected]
Cette publication a été financée par l’Agence Canadienne de
Développement International (ACDI) et le Secrétariat de
l’Éducation Professionnelle et Technologique. La reproduction en
partie ou complète de ce document est autorisé à condition que
la source soit citée.
Colaboradores nas entrevistas / Interview collaborators /
Collaborateurs d’entrevues
Bahia: Verusa Pinho de Sá e Valéria dos Santos Nascimento (IFBA)
Piauí: Elisabete Sales (IFPI)
Tocantins: Maiara Sobral (IFTO)
Ministério da Educação
Secretaria de Educação Profissional e Tecnológica
Esplanada dos Ministérios, Edifício Sede,
bloco L, 4º andar
CEP 70047-900 – Brasília/DF
http://mulheresmil.mec.gov.br/
o sonho à realidade
Making dreams come true
Du rêve à la réalité
Mulheres MIl Thousand Women MILLE FEMMES
Mulheres MIl
Thousand Women
MILLE FEMMES
Do sonho à realidade
Making dreams come true
Du rêve à la réalité