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o sonho à realidade Making dreams come true Du rêve à la réalité Mulheres MIl Thousand Women MILLE FEMMES Mulheres MIl Thousand Women MILLE FEMMES Do sonho à realidade Making dreams come true Du rêve à la réalité Mulheres MIl Thousand Women MILLE FEMMES Do sonho à realidade Making dreams come true Du rêve à la réalité Mulheres Mil Do sonho à realidade Thousand Women Making dreams come true Mille Femmes Du rêve à la réalité Brasília, DF Março de 2011 Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Centro de Informação e Biblioteca em Educação (CIBEC) Mulheres mil : do sonho à realidade = Thousand women : making dreams come true = Mile femmes : du revê à la réalité. Organização: Stela Rosa. – Brasília : Ministério da Educação ; 2011. 420 p. : il. Títulos e textos em português, inglês e francês. ISBN: 978-85-64124-03-5 1. Mulher. 2. Educação de jovens e adultos I. Rosa, Stela. II. Brasil. Ministério da Educação CDU 377:396.4 Sumário Summary Table des 7 145 283 matières Apresentação Presentation Présentation 11 149 287 Alagoas Alagoas Alagoas 21 159 297 Amazonas Amazonas Amazonas 31 169 307 Bahia Bahia Bahia 41 179 317 Ceará Ceará Ceará 51 189 327 Maranhão Maranhão Maranhão 61 199 337 Paraíba Paraíba Paraíba 71 209 347 Pernambuco Pernambuco Pernambuco 81 219 357 Piauí Piauí Piauí 91 229 367 Do sonho à realidade Mulheres Mil Rio Grande do Norte Rio Grande do Norte Rio Grande do Norte 101 239 377 Rondônia Rondônia Rondônia 111 249 387 Roraima Roraima Roraima 121 259 397 Sergipe Sergipe Sergipe 131 269 407 Tocantins Tocantins Tocantins 141 279 417 Projetos por estado Projects by State Projets par État 5 Mulheres Mil Do sonho à realidade Mulheres MIl Do sonho à realidade Thousand Women Making dreams come true MILLE FEMMES Du rêve à la réalité 6 Esta publicação traz a trajetória de uma ação pública, o Mulheres Mil, narrada em primeira pessoa. Quem conta a história são 27 mulheres, entre alunas e egressas que participaram do projeto piloto implantado nas regiões Norte e Nordeste do país, com a meta de beneficiar mil brasileiras. Ousado e inédito na Rede Federal de Educação Profissional e Tecnológica, o Mulheres Mil trouxe o desafio de trabalhar com recortes de exclusão: mulheres jovens e adultas, em situação de vulnerabilidade econômica e social, a maioria com baixa escolaridade e à margem do mundo do trabalho. Em linhas gerais, o projeto teve como objetivos elevar a escolaridade, ofertar qualificação profissional e contribuir para a inserção dessas mulheres no mundo do trabalho. Saindo da linguagem objetiva, pode-se afirmar que também promoveu diversos outros impactos que por sua essência não são tão simples e óbvios de serem mensurados, tais como a descoberta da cidadania, o resgate da autoestima, a melhoria nas relações familiares e no convívio das comunidades, além do estímulo às mulheres a voltarem para os bancos escolares. Resumindo: pessoas que voltaram a acreditar em si mesmas. A gestação do projeto começou em 2005 e contou com a visão inclusiva, a coragem e a ousadia de diversos atores brasileiros e canadenses. A primeira ação nasceu de uma parceria entre o Instituto Federal do Rio Grande do Norte (IFRN), na época Centro Federal de Educação Profissional e Tecnológica (Cefet), e os colleges canadenses. Lá foi realizado um projeto de extensão que ofereceu capacitação para camareira. O resultado foi tão impactante que o Canadá, por meio da Agência Canadense para o Desenvolvimento Internacional (CIDA) e da Apresentação Uma história de muitas vozes Do sonho à realidade Mulheres Mil 7 Apresentação Mulheres Mil Do sonho à realidade 8 Associação dos Colleges Comunitários Canadenses, e o Brasil, por intermédio da Secretaria de Educação Profissional e Tecnológica (Setec) e da Agência Brasileira de Cooperação (ABC/MRE), resolveram construir um projeto para ampliar a ação para outros estados. Assim nasceu o Mulheres Mil, que, além do Rio Grande do Norte, foi estendido para mais 12 instituições. São elas os Institutos Federais de Alagoas, Amazonas, Bahia, Ceará, Maranhão, Paraíba, Pernambuco, Piauí, Roraima, Rondônia, Sergipe e Tocantins. As personagens da vida real participaram ou ainda participam dos cursos de qualificação que foram ofertados a partir de 2008. As áreas são diversas e buscam convergir para as habilidades das alunas e a vocação da região. Por isso foram oferecidos cursos de corte e costura, governança (camareira), alimentos, cuidador domiciliar e artesanato. Vale ressaltar que respeitar as aprendizagens não formais e contribuir para a (re)descoberta de talentos foi uma questão-chave na implantação do Mulheres Mil, e a contribuição valiosa dos colleges canadenses, que há décadas implantaram o processo de Reconhecimento da Aprendizagem Prévia (RAP), valida e certifica os conhecimentos acumulados no decorrer da vida. Em nível nacional, a ação foi implantada pela Secretaria de Educação Profissional e Tecnológica (Setec/MEC) e contou com a parceria da Assessoria Internacional do Gabinete do Ministro (AI/GM), da Agência Brasileira de Cooperação (ABC/MRE), da Rede Norte Nordeste de Educação Tecnológica (Redenet), do Conselho Nacional das Instituições da Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica (Conif ), da Agência Canadense para o Desenvolvimento Internacional (CIDA/ACDI) e da Associação dos Colleges Comunitários do Canadá (ACCC) e Colleges parceiros. Nos estados, os Institutos Federais (IFs) contaram com a participação de diversos parceiros governamentais e não governamentais, imprescindíveis na execução do projeto. Outras figuras fundamentais foram os professores, servidores e voluntários dos IFs e dos parceiros, que acolheram, realizaram as atividades de assistência às alunas e ministraram aulas. Com certeza, todos contribuíram diretamente nas mudanças significativas na vida dessas mulheres e seus familiares. Uma prova é que todas as entrevistadas, tanto para esta publicação quanto para o portal, desde 2008, falaram da importância das aulas e da convivência na instituição para sua formação profissional e cidadã. Como tudo que é novo, o Mulheres Mil está em processo, construindo caminhos para fortalecer e expandir as pontes criadas entre comunidades, institutos e sociedade. Pontes essas que vão desde as mudanças nas formas de Apresentação acesso – pois aqui os IFs saíram dos seus muros e foram às comunidades – até a formatação de cursos, permanência na escola, articulações com as demais organizações que pudessem garantir as diversas demandas trazidas por essas alunas não tradicionais, tais como creches, Educação de Jovens e Adultos, e parcerias com o setor produtivo para garantir a inserção no mundo do trabalho. Por isso o caminho não é único e não há uma só fórmula. O desafio é estabelecer o diálogo e adaptar a metodologia desenvolvida no Mulheres Mil para as realidades, sem perder de vista os eixos estruturantes do projeto: Educação, Cidadania e Desenvolvimento Sustentável. Os resultados também não são únicos, nem todas as histórias são tão exitosas quanto as publicadas. Mulheres ficaram no meio do caminho porque arranjaram trabalho, mudaram de moradia, não gostaram da capacitação ou não conseguiram conciliar o estudo com a vida. Há alunas que conquistaram uma vaga na área da qualificação e também há aquelas que estão atuando em áreas diferentes. Outras ainda estão em busca de uma colocação. Algumas voltaram a estudar, outras não. Há as que estão arriscando o caminho do empreendedorismo e há discussões na área de cooperativismo. Entretanto, há uma certeza: todas que concluíram a capacitação apontam que o projeto trouxe mudanças significativas em suas vidas. Do ponto vista institucional, o saldo também é imensurável. De 2005 a março de 2011, houve intenso intercâmbio de conhecimento entre docentes e gestores brasileiros e canadenses, através de missões técnicas, cursos, workshops e reuniões de trabalho. Mais do que parceiros de uma cooperação internacional, Brasil e Canadá alcançaram, na Educação Profissional e Tecnológica, uma relação de respeito, confiança e cumplicidade, com auxílios mútuos e com diversos planos para um futuro próximo. Um dos resultados foi o estreitamento da relação entre Brasil e Canadá, e hoje as instituições vêm celebrando diversas parcerias. Em relação ao Mulheres Mil, a ideia é levar o projeto não só para outras instituições brasileiras, mas também para países que queiram adaptar um método de sucesso às demandas de sua população. Para o Brasil, um fator importante é que os 13 Institutos Federais desenvolveram uma metodologia de acesso, permanência e êxito para mulheres que hoje pode ser expandida para as demais instituições e aplicada para as diversas comunidades e públicos que precisam do acesso à educação profissional. A disseminação dessa metodologia contará com o Centro de Referência do Mulheres Mil, sediado em Brasília, que será responsável pelo acompanhamento da expan- Do sonho à realidade Mulheres Mil 9 Apresentação Mulheres Mil Do sonho à realidade 10 são, pela promoção de capacitações de servidores da rede e de outras instituições, pelo desenvolvimento de pesquisa e pela produção de materiais. Além de apresentar impactos e desdobramentos que podem ser contabilizados em números, ao implantar o Mulheres Mil, as instituições construíram ferramentas de visibilidade e acesso para um público que há décadas sequer ousava atravessar o portão de entrada de um IF. Por isso, mais do que um projeto, essa ação representou o comprometimento com a inclusão social e, consequentemente, contribuiu para a construção de um país mais justo e igualitário e para o alcance das Metas do Milênio, promulgadas pela Organização das Nações Unidas (ONU) e aprovadas por 191 países que se comprometeram com a promoção da igualdade entre os sexos e autonomia das mulheres, a erradicação da extrema pobreza e da fome e a garantia da sustentabilidade ambiental. A meta para os próximos anos continua sendo balizada pela ousadia. O objetivo é que o conhecimento acumulado alicerce a implantação do projeto para o restante do Brasil, transformando o Mulheres Mil em uma política permanente da Rede Federal, ofertada em cada uma das suas 366 unidades espalhadas nos 27 estados do país. Sebastiana Alagoas Quitéria Elisângela Mulheres Mil Do sonho à realidade Marechal Deodoro À margem, esta é a expressão que representa as condições em que vivem os moradores da Vila Santa Ângela, no município de Marechal Deodoro. As casas, muitas de taipa, ficam dois metros abaixo do nível da rodovia AL-101 Sul e constantemente acontecem atropelamentos e óbitos de moradores. Invisíveis, as famílias não constam nas estatísticas oficiais quando são contabilizados os serviços básicos, tais como saneamento, escola, posto de saúde. Sem nenhuma associação de moradores organizada para reivindicar os direitos básicos, os carros, inclusive os do poder público, passam depressa demais. Não dá tempo de olhar para os lados. Um aspecto marcante do grupo de Alagoas é a timidez. São mulheres que, mesmo jovens, têm longa trajetória de trabalho. Filhas de lavradores, algumas, durante o dia, iam para as usinas trabalhar no corte da cana ou ajudar os pais na roça e, à noite, estudavam no Mobral (Movimento Brasileiro de Alfabetização), que ofertava educação para jovens e adultos entre os anos de 1964 e 1985. A oferta de capacitação do Instituto Federal de Alagoas no setor de alimentos visa qualificá-las em atividades já desenvolvidas, que são a venda e o preparo de alimentos em bares e restaurantes – trabalho realizado nos finais de semana –, a retirada de caranguejo do mangue, a comercialização de cocadas nas estradas próximas a suas moradias e a atividade de empregada doméstica. Além disso, o IF celebrou uma parceria com o governo local para a oferta de elevação de escolaridade. 12 Elisângela, Sebastiana e Quitéria Do sonho à realidade Mulheres Mil Maria Sebastiana da Silva, 49 anos, Maria Quitéria da Silva, 32 anos, e Elisângela da Silva, 23 anos, são mãe e filhas que compartilham histórias de vida similares: a maternidade chegou cedo e no tempo do viver não sobrou tempo para as letras. Quitéria, assim como Sebastiana, cedo foi trabalhar para ajudar a criar os irmãos. São vidas que se repetem nas trajetórias de exclusão. Moram próximas e se ajudam no que podem: dividem o que têm, se consolam na tristeza e comemoram juntas as alegrias e conquistas. Hoje, em sala de aula, elas compartilham o sonho de um futuro melhor. Elisângela quer conquistar a independência financeira, a meta é ser recepcionista. O objetivo de Quitéria é fazer um curso de enfermagem e essa foi uma das razões que a levou de volta para sala de aula. Já Sebastiana não desiste de sonhar com tempos mais prósperos. 13 Mulheres Mil Do sonho à realidade Meu nome é Sebastiana e sou filha natural de Marechal Deodoro. Tive cinco filhos e criei quatro sozinha. 14 1. Mobral – Movimento Brasileiro de Alfabetização. Um ficou com o pai. Eu estudei só até a terceira série. Trabalhava de dia e, de noite, ia estudar em uma escola chamada Mobral1. Chegava cansada. Às vezes, nem tomava café. O pouco que eu aprendi foi com sacrifício, foi trocando as letras, trocando os nomes. Vivi essa vida até quando eu me casei, com 17 anos. Casei no padre e no civil. Tive meu primeiro filho com 18 anos. Aí meu ex-marido trabalhava de motorista. Eu gostava dele, mas ele bebia muito. Tá com 17 anos que a gente tá separado. Sofri muito na minha infância; e na minha adolescência foi que eu sofri mais ainda. Minha mãe criou sete filhos e não tinha condições. Fui criada sem pai, cortando cana, limpando cana. Com 11 anos comecei a cortar cana e trabalhei até os 16 anos, depois casei. Se fosse hoje, não podia mais fazer porque tem o conselho tutelar, e criança não pode mais trabalhar, só estudar. Tô aprendendo agora, depois de velha. Tô aprendendo sobre culinária, gastronomia, direito das mulheres. A maioria do povo critica o lugar onde a gente mora; uns chamam favela, outros, cambada de mundiçada. Às vezes, eu pego o ônibus para Maceió e vejo as pessoas com preconceito. Eu me sinto acanhada, porque eu sou uma pessoa pobre e moro num lugar desses porque não tem um lugar maior pra morar. Dói, porque a pessoa ser pobre não é defeito. Eu voltei a estudar e fui para o projeto através das minhas filhas. Tô fazendo o EJA2 e tô gostando do projeto. Depois que eu entrei, aprendi coisas que eu nunca tinha aprendido na minha infância. Tô aprendendo agora, depois de velha. Tô aprendendo sobre culinária, gastronomia, direito das mulheres. Até eu mesma fui vítima de violência e nunca tive esse direito. Eu não tive medo de mexer no computador, eu tinha era curiosidade de um dia aprender a mexer em um deles. E realizei esse sonho. Eu vendo Avon, vendo confecção dos outros, de tudo eu faço um pouquinho para sobreviver. Eu faço filé3, renda de filé; tem o Bolsa Família que me ajuda muito, porque tenho um filho deficiente que mora comigo. Meu sonho é trabalhar para mim mesma e ter meu próprio negócio e um dia sair daqui desse lugar, para parar de ser tão discriminada. Ter meu pão de cada dia, sem trabalhar para os outros, mas trabalhando para mim mesma. E nunca desisti de sonhar e continuar lutando e sonhando para um dia ter uma vida melhor. Do sonho à realidade Mulheres Mil 2. EJA – Educação de Jovens e Adultos. 3. O filé surge a partir de uma rede simples, composta de malhas e de nós, é por isso também denominado “rede de nó”, seguindo a técnica de confecção da rede de pescador, que lhe serve de inspiração. 15 Mulheres Mil Do sonho à realidade Meu nome é Maria Quitéria. Eu tenho três filhos e agora estou separada. Eu não tive oportunidade de estudar. 16 4. Município onde está localizada a Vila Santa Ângela. Minha infância foi um pouco complicada. Vivi até os 12 anos no centro de Marechal Deodoro4. Então, houve a separação dos meus pais, minha mãe mudava muito, aí eu tive que parar de estudar pra cuidar dos meus irmãos e ajudar. Ela trabalhava em casa de família, trabalhava em lanchonete, eu ia ajudar. Depois ela fez uma cirurgia, aí eu tive que ficar no lugar dela ajudando. Eu não tive mais oportunidade para estudar. Fiz até o quarto ano primário. Eu era mais tímida, o projeto ajudou um pouco pra arrumar trabalho. Às vezes, eu trabalho no fim de semana no restaurante, de ajudante de cozinha, e recebo o Bolsa Família. Aprendi a me valorizar. Tenho mais coragem para enfrentar as dificuldades do dia a dia, que não são poucas. Eu tenho fé que vai melhorar. No curso, aprendi a fazer bobó de frango, a fazer refrigerante caseiro, reaproveitamento de comida. Aprendi como é a lavagem das mãos; que tem que lavar até o cotovelo e, se for para o banheiro, tem que tirar a bata, tem que tirar a touca, não pode falar enquanto está manipulando Eu quero terminar o curso, depois estudar para fazer o meu curso de enfermeira. Do sonho à realidade Mulheres Mil os alimentos. São coisas que eu não sabia. Devo colocar a verdura e os legumes para higienizar, para poder colocar na salada, nas panelas. Eu vou terminar, quero o meu certificado. Tenho lembranças boas da ida a Brasília; foi a primeira vez que eu saí do estado. Nem imaginava que um dia eu fosse sair de Alagoas. Sempre que tô assistindo televisão, que passa aqueles lugares que eu fui, eu digo: “Ó, tive aí”, é bem emocionante! Sempre fico falando para os meus filhos. Nunca tinha andado em hotel tão chique. Eu já trabalhei de doméstica, em restaurante como ajudante de cozinha, de garçonete, de faxineira. O que eu gosto mais é de trabalhar na cozinha, porque eu não gosto muito de estar no meio do povo, não. Eu prefiro ficar mais recolhida mesmo. Eu quero terminar o curso, depois estudar para fazer o meu curso de enfermeira. Sonho em fazer enfermagem desde criança. Eu nunca falei para ninguém, vim falar já agora, depois de adulta, que o meu sonho é fazer enfermagem. Uma pessoa disse pra mim que, pra fazer enfermagem, eu tenho que pelo menos fazer o primeiro ano. Por isso que eu voltei a estudar, porque eu quero fazer esse curso. 17 Mulheres Mil Do sonho à realidade Meu nome é Elisângela da Silva. Eu tenho três filhos, dois do primeiro casamento, e o mais novo é do segundo. 18 Sou operada, não quero mais filho. Minha infância foi melhor do que a da Quitéria, porque eu não trabalhava para ajudar a minha mãe. Ficava dentro de casa, estudava. Quando eu estudava em Maceió, teve uma festa do dia das mães. Quando as mães foram entrando na sala, a gente começou a cantar aquela música do Roberto Carlos. “Nunca se esqueça nenhum segundo que eu tenho o amor maior do mundo, como é grande o meu amor por você”. A maioria não aguentou de emoção e começou a chorar. Chorou eu, minha colega, a professora e saiu chorando todo mundo. Essa música marca muito porque fala no amor, e o amor da nossa família é grande. Minha mãe, pra mim, é tudo, é meu pai, é tudo. Depois dela, o que tenho na vida são meus filhos, minhas irmãs, que eu amo muito, minhas sobrinhas. Somos unidas. Aprendi, com a disciplina direito e saúde, a importância dos direitos que a gente tinha e que tem hoje. Antes mulher não votava e hoje a Dilma ganhou. É a primeira presidenta do Brasil. Você vê como as coisas estão Aprendi, com a disciplina direito e saúde, a importância dos direitos que a gente tinha e que tem hoje. evoluindo! O que aprendi, que valeu a pena, foi sobre as mulheres, que eu não sabia sobre essa Lei Maria da Penha. O pouco que eu sei da lei é que não é violência só quando agride a pessoa batendo, pode agredir com palavras, com gesto. Isso me ajudou, porque tem muitas mulheres que vivem com um parceiro apanhando e têm medo de denunciar. Eu fui casada uns cinco anos com o meu primeiro marido. Comecei a namorar com 15 anos e engravidei aos 17. Aí, ele começava a arengar: ele batia em mim, eu batia nele. Tinha essa delegacia das mulheres, só que não tinha essa Lei Maria da Penha ainda. Muita gente dizia: “Não vai denunciar não que ele vai lhe matar depois”. Ele sempre dizia: “Se você me denunciar, quando eu me soltar, eu te mato!” Da última vez que a gente arengou, que terminamos, quando minha mãe chegou em casa, ela disse: “Vamos para a delegacia!”. Cheguei lá, dei parte e pedi pra delegada fazer ele assinar um termo de responsabilidade. Desse dia para cá, eu criei coragem e, até hoje, qualquer homem que inventar de triscar a mão em mim eu já tô dando parte. Ele pode me ameaçar quanto for. Então, estudar a lei me ajudou a desenvolver mais um pouco, pra saber o que as mulheres passam e podem fazer pra não passar mais. Outra coisa que me marcou foi a informática. Nós tivemos 10 aulas de informática. Aprendi a acessar a internet, Do sonho à realidade Mulheres Mil 19 Mulheres Mil Do sonho à realidade que eu não sabia. Abrir as páginas no computador, ligar e desligar, que eu também não sabia, eu aprendi. Estudar ajuda na vida da gente, porque sem estudar não se vai a canto nenhum, porque para trabalhar numa empresa você tem que ter do primeiro grau em diante ou então o segundo grau todo completo. E ajuda na educação dos filhos da gente, porque, se a gente bota o filho na escola e não sabe nem ler nem escrever, como é que a gente vai ajudar os meninos nas tarefinhas? Também tem essa parte aí; eu acho interessante também nisso. Nós tivemos aula com a nutricionista, aprendemos a cozinhar outros tipos de comida diferente. Ela ensinou uma receita de moqueca de caju. Quando começar a ter caju, eu vou fazer. Fizemos bobó de frango, refrigerante caseiro, que é melhor do que o que vende nas vendas. Agora eu digo: “Estudo no nono ano e faço um curso no Cefet”. As pessoas já se interessam. Eu estou terminando a oitava série. Eu espero me profissionalizar em recepcionista. Eu quero entrar no Cefet à noite para fazer um curso de recepcionista para garantir um trabalho fixo para sustentar os meus filhos e não estar dependendo de marido, porque, um dia, vai que ele me deixe? Como é que eu vou ficar com meus filhos? Sem eira nem beira? Espero ter um trabalho fixo e espero que o curso me ajude mais ainda a arrumar um trabalho. 20 Janaína Amazonas Osmarivete Mulheres Mil Do sonho à realidade Manaus As beneficiadas com o Mulheres Mil são ex-moradoras de áreas alagadas, denominadas palafitas. Comum na Região Norte, diversas famílias construíam suas casas em cima de leito de rios e mangues. A falta de saneamento, estruturas precárias para a coleta de lixo e as enchentes eram fatores que tornavam as condições de moradias nesses locais insalubres, colocando em risco a saúde dos moradores. Para retirar as famílias dessas áreas de risco, o governo do Estado do Amazonas, através do Programa Social e Ambiental dos Igarapés de Manaus (Prosamim), construiu novas habitações, com saneamento básico e infraestrutura de condomínio residencial. As mulheres têm baixa escolaridade, uma família para atender e várias são naturais de outros estados do Brasil ou de municípios do interior. Muitas têm histórias de abandono, violência e trabalho infantil. Em comum, elas têm a necessidade de melhorar ou garantir a renda familiar. Além da questão da moradia, a falta de qualificação profissional empurrava as moradoras para o subemprego ou o desemprego. E foi nesse contexto que o Prosamim e o Instituto Federal do Amazonas estabeleceram parceria para a oferta de qualificação profissional na área de turismo. Desta forma, as instituições realizam ações conjuntas para facilitar o processo de adaptação na nova moradia e viabilizar possibilidades de trabalho e renda. Como em Manaus o setor de turismo está em crescimento e há carência de qualificação que esteja ao alcance do bolso desse público, a oferta do curso de camareira constitui uma importante alternativa para que essas mulheres possam ter uma profissão. Para contribuir com a mudança de residência, no plano educacional também foram integradas disciplinas como meio ambiente e relações interpessoais, focadas no processo de interação com a nova realidade e na adoção de um comportamento sustentável. Em relação ao trabalho, o estágio profissional foi um dos pontos cruciais, momento em que elas conhecem a rotina de trabalho e podem conquistar uma vaga. E essa foi a porta de entrada no mercado de várias alunas. Além de hotéis, algumas egressas estão descobrindo possibilidades de atuação em motéis e flats. 22 Janaína Tereza Lessa da Silva Do sonho à realidade Mulheres Mil Janaína Tereza Lessa da Silva, 35 anos, comemora a volta ao mercado de trabalho. A nova profissão de camareira abriu as portas do trabalho. Foi contratada no mesmo hotel no qual fez o estágio, exatamente como queria. Com o emprego, ela faz planos de continuar se qualificando e com a certeza de que está num mercado promissor. Estou trabalhando no hotel Caesar Business. Fiz a prática lá e acabei ficando lá também. Depois do estágio, nós fomos fazer a entrevista com o Recursos Humanos. Aí ela pediu os documentos e o currículo de todo mundo. Como faltava o número da minha carteira de trabalho, quando foi no sábado, fui lá com a minha filha entregar. Quando eu cheguei, ela falou assim: “Ainda bem que você veio, eu já ia ligar para você, porque você foi contratada”. Eu 23 Mulheres Mil Do sonho à realidade Algumas colegas minhas queriam fazer, mas não podiam porque não moravam no Prosamim. Eu tenho certeza que ia lotar. 24 chorei muito, eu chorei bastante. Minha filha tava lá. É difícil. Eu passei quase dois anos sem trabalhar. A primeira pessoa pra quem eu falei foi para o meu pai, porque ele foi uma pessoa que me deu muita força. Falei assim: “Nem sabe? Eu fui contratada para passar os três meses de experiência lá”. Ele chorou e disse que não era para eu desistir nunca das coisas. É cansativo um pouco, mas é gostoso. É legal trabalhar lá, as pessoas são bacanas. Tô aprendendo cada vez mais, porque tem um detalhe que a gente sempre esquece; mas elas estão ali para coordenar e, aos poucos, estou me adaptando, não estou mais esquecendo. São pequenos detalhezinhos que a gente esquece, que, às vezes, é tanta coisa para arrumar que a gente não lembra de tudo, mas já estou me adaptando mais. Os professores aqui do IFAM foram todos maravilhosos. Muito mesmo. O curso em si foi muito bom. Eu já recomendei para outras amigas minhas. Eu aprendi bastante. Erros de português que, às vezes, a gente comete no dia a dia, como se comportar um pouco mais, o inglês também. Vira e mexe eu me lembro, porque, quando tem hóspede que tem que falar inglês, a gente tem que se comunicar de alguma forma. Então algumas coisas eu tento lembrar, tento me comunicar. Ele prepara. Quem levar a sério o curso e for até o final mesmo, com certeza tem muita vaga. Vou fazer o curso de inglês agora esse ano. Agora, o que poderia melhorar no curso era ele ser aberto ao público. Algumas colegas minhas queriam fazer, mas não podiam porque não moravam no Prosamim. Eu tenho certeza que ia lotar. Muitas pessoas iam querer fazer, pessoas com a minha idade, de 35 anos, que, às vezes, não conseguem trabalho, e que gostariam de fazer o curso, porque é uma opor- Quando você tá desempregada, as pessoas meio que te esquecem, não lembram de você, não te respeitam. tunidade de trabalho. Nos hotéis, onde algumas colegas trabalham, sempre tem vaga, mas não tem um curso de camareira. Teria que ser nacional, para todo o tipo de mulher, porque hoje é tudo profissionalizante e tem muitas mulheres aí que precisam mesmo desse curso. Quando você tá desempregada, as pessoas meio que te esquecem, não lembram de você, não te respeitam. Então eu tive novamente o respeito das pessoas; as pessoas te olham de outra forma. Melhorou bastante, porque você tem o respeito das pessoas, as pessoas passam a te respeitar novamente. Eu trabalhava como auxiliar administrativo na prefeitura, durante 10 anos. Trabalhei como recepcionista e telefonista também, trabalhei como auxiliar de odontologia. Então, pra mim, camareira nunca passou pela minha cabeça; trabalho como diarista, em casas. Mas camareira... – que na verdade eles não gostam que a gente chame de camareira, é atendente de apartamentos. Pra mim está sendo legal, porque agora vou fazer o curso de supervisora, porque não quero passar minha vida inteira sendo camareira. Vai começar o curso agora, no Senac, de supervisora de apartamentos; começa agora em março, já me inscrevi. Eu tenho o ensino médio completo; eu tenho até o segundo período da faculdade de Educação Física; não concluí todo porque veio o falecimento da minha mãe e aí eu tranquei e nunca mais me interessei em voltar. Foi muito difícil, porque eu não tinha muita intimidade com meu pai, porque ele trabalhava o dia todo, vivia muito na rua. Hoje, não! Ele é meu melhor amigo, a gente se dá super bem. Quando eu fui voltar lá para ver não tinha mais condições de retomar a faculdade. Eu tive infância mesmo, brinquei bastante. Até os meus 15 anos, eu brincava de boneca. Estudei, me formei, fiz o vestibular e passei. Aí tive a minha filha com 23 anos. Eu sou meio que casada, a gente se considera marido e mulher, mas eu tenho a minha casa, o meu apartamento. Eu passo mais tempo com ele, porque eu tenho meu irmão, que mora comigo; ele não trabalha, tá desempregado no momento e usa muita droga. Como eu passo o dia trabalhando, eu tenho medo de deixar minha filha sozinha. Então, ela fica mais na casa dele do que na minha. Tem muitos hotéis que estão precisando de camareira profissional, que tenha o curso. Só nos dois meses que estou trabalhando tem colega mi- Do sonho à realidade Mulheres Mil 25 Mulheres Mil Do sonho à realidade nha que me fala: “Janaína, tu já tá trabalhando? Lá no hotel no Adrianópolis, que é tipo um condomínio, tão precisando de camareira”. Aí eu já indico outras colegas minhas que fizeram o curso. Hoje, eu estou vendo que tem bastante vaga, porque eu tô nesse ramo, mas pra quem não tem o curso de camareira, nem imagina que tá precisando de camareira nos hotéis. Quando você faz um curso desse, automaticamente você já fica envolvida nessa área e já sabe quem precisa, quem não precisa; vai conhecendo pessoas que estão te indicando e automaticamente já tá trabalhando. Então é muito bom o curso de camareira. Eu vou fazer minha faculdade de Farmácia. Vou me matricular no curso para supervisora de andar, que é acima de camareira, porque tem muitos hotéis que não têm, e a procura é grande. Eu não quero ser camareira, eu quero ser muito mais que isso e para isso eu tenho que estudar. E é isso que eu vou fazer: eu vou estudar; passei muito tempo, então quero estudar, quero fazer um cursinho, quero fazer inglês, me atualizar em informática, algumas coisas que eu já não me lembro mais. Quero fazer o inglês, o básico pelo menos fluentemente, e eu tenho que aproveitar agora que eu tô trabalhando para poder fazer. Se eu não ficar lá no Caesar, eu já tenho outro. Eu só tô esperando terminar minha experiência para ver se eu vou ser contratada ou não. Se eu não for contratada, eu não estou preocupada, porque eu já tenho outro me esperando. Não falta trabalho para camareira, ainda mais quem tem o curso profissionalizante. Nunca é tarde, enquanto eu tiver viva, o que eu puder fazer por mim eu vou fazer. É muito difícil... Eu digo para minhas colegas e para o meu marido: “Tem que estudar, tem que fazer curso profissionalizante. Tem que estudar; estudo é tudo”. 26 Osmarivete Carlos de Souza e Silva Do sonho à realidade Mulheres Mil Osmarivete Carlos de Souza e Silva tem 39 anos, três filhos e trabalha no hotel Adrianópolis. Determinada a mudar o rumo da história, quando começou a capacitação em 2008, não tinha com quem deixar os filhos e por um tempo teve que levá-los para a sala de aula. Segundo Osmarivete, a luta foi grande e o resultado também. Além da carteira de identidade, ela conquistou outra identificação, a carteira de trabalho. Eu cresci de tal forma que, se tiverem visto aquela mulher de antes e hoje me virem, vão notar uma grande diferença. Me cuido melhor, olho mais para mim mesma; vejo que eu também existo, sei o que está ao meu redor. Estão me vendo e sei que eu estou mudando, que eu mudei. Precisava de uma injeção de ânimo, precisava de alguém para me sacudir, dizer assim: “Você existe! Você é real!”. Eu noto que esse projeto foi uma injeção de ânimo. Eu precisava e eu não tinha como. Então chegou e eu peguei. 27 Mulheres Mil Do sonho à realidade 28 Quando a gente mora em beira de igarapé o carteiro quase não vai lá. Hoje nós temos endereço fixo; é muito importante. 1. Palavra usada no Amazonas para definir produção de carvão. 2. Mosquitos de pernas longas. Hoje eu sou uma mulher que existe no mercado de trabalho. Isso para mim foi muito importante. Eu posso dizer que eu tenho uma identidade chamada carteira de trabalho. Eu trabalhei já, mas por conta própria, trabalhando avulso, fazendo uma coisa aqui e outra acolá, mas nunca de carteira assinada. Eu comecei a trabalhar com sete anos, com a minha mãe. Como nós passamos a maior parte do tempo no interior, minha mãe fazia muita caieira1. Minha mãe foi uma mulher que teve muitos filhos, teve 16 filhos, morreram quatro e ficaram doze. Então, para ajudar o meu pai ela tinha que se virar. Quando eu tinha dez anos, ela mudou de profissão, foi vender comida em banquinhas. O curso ajudou em todos os sentidos; me levantou a autoestima, me deu uma perspectiva mais profunda. Eu era aquela mulher recatada, sempre dentro de casa, olhando sempre para o agora, não via o futuro. E esse projeto Mulheres Mil veio assim no momento mais propício da minha vida. Eu precisava muito. Eu me via numa situação de nem saber para onde correr; eu e meu marido passávamos uma situação difícil. Não tinha quem me ajudasse na realidade. Quando a gente mora em beira de igarapé o carteiro quase não vai lá. Você, para tirar qualquer coisa, precisa de endereço. Até para arranjar um trabalho precisa ter um endereço. Quando vem chuva, você não dorme, passa a noite todinha em claro. Não tem como dizer que você vai ter paz, que vai ter segurança. Quando a pessoa perguntava onde eu morava, muitas vezes, a pessoa olhava e é como se dissesse assim: “Você não existe, você não tem endereço fixo, endereço certo!”. Hoje nós temos endereço fixo; é muito importante. Meus filhos não precisam correr nem eu preciso me preocupar, porque, se chover, eu não tenho preocupação mais. Mudou tudo, porque, além da gente ter aquele problema de água, vinham os ratos e com eles vinham as carapanãs2, e é impossível dormir com tanta carapanã. Me sentia importante no meio de tanta gente aqui. Puxa! Eu estou fazendo um curso na escola técnica, ninguém quase acreditava e perguntavam: “Mas é lá mesmo que você está Do sonho à realidade Mulheres Mil Me sentia importante no meio de tanta gente aqui. Puxa! Eu estou fazendo um curso na escola técnica. fazendo o curso?”. Me sentia bem, acolhida, no dia que não dava para vir me preocupava, devo ter faltado assim umas três ou quatro vezes. Eu posso afirmar e vou afirmar que ele prepara mesmo. Quando você entra no mercado de trabalho, a primeira coisa que lembra é de cada instrução que elas nos deram. Você vai fazendo, vai lembrando. Então, em cada aula que a gente aprendeu, até mesmo na química, quando você vai misturar um produto, lembra que não pode fazer isso. Isso pode lhe prejudicar. Hoje eu me vejo assim importante, me vejo assim; eu nunca tive um cartão de crédito e, pelo amor de Deus, tem que ter sabedoria até para usar! Hoje eu sou mais cautelosa do que eu era antes; pego o dinheiro e digo: “Não, eu vou gastar naquilo que realmente preciso. Eu não vou gastar assim à toa, é pouco, mas tem que ser gasto com aquilo que eu preciso, do que estou mais necessitada”. Logo que eu fui lá no hotel, elas não queriam me dar vaga porque eu só tinha mesmo o certificado, aí eu disse: “Mas se vocês não me derem oportunidade, eu não vou ter experiência; eu sei fazer tudo”. Habilidades a gente tem no decorrer do trabalho, é como hoje se vê; eu faço o que eu posso. O hotel está 100% lotado e estamos lá. Eu tenho meu dinheiro, eu posso ajudar na minha casa. Meus filhos passaram um tempo de muita escassez mesmo, de não ter para onde correr; o pouco que fazia não dava pra nada. Hoje, o pouco que entra dá pra fazer alguma coisa; não dá muito, já dá para dizer que eu tenho onde recorrer. 29 Mulheres Mil Do sonho à realidade Hoje eu posso dizer que eu tenho um futuro. Conquistá-lo? Sei que está sendo difícil, mas eu vou chegar lá. Eu quero chegar a ser governanta. No momento, ainda não tem aqui o curso, mas estou de olho e, por enquanto, estou aprendendo um pouco nessa área. Quero fazer um curso de inglês e me qualificar na área que eu estou agora. O projeto que eu um dia estive nele é um projeto para qualquer mulher que está sem perspectiva de vida, de olhar para dentro de si mesma; aquelas mulheres que muitas vezes o marido não dá nada por ela, que difama, que joga ela, que faz tudo que acha que pode fazer; é para esse tipo de mulher que é esse curso, elas precisam de uma ajuda, elas precisam de um apoio, assim como eu precisei um dia. 30 Cleonice BAHIA Maria das Graças Mulheres Mil Do sonho à realidade Salvador Em Salvador, a Vila Dois de Julho e Jaquaribe II são comunidades vizinhas, que vivem, no dia a dia, dificuldades similares: não há rede de esgoto, têm infraestrutura precária, muita insegurança e violência. A falta de política pública também pode ser detectada na inexistência de áreas de lazer, não há praças nem espaços de convivência. Os bairros nasceram como loteamento e enfrentaram, no início dos anos 1990, um processo de ocupação massiva de famílias vindas de outras localidades da capital e do interior, como é a realidade de muitas das alunas do projeto. A falta de escola na zona rural e o trabalho infantil são as principais causas da baixa escolaridade, o que dificulta a inserção dessas mulheres no mercado de trabalho. Muitas são chefes de família e integram hoje o contingente de trabalhadores do mercado informal ou engrossam as estatísticas de desemprego. A maioria trabalha como empregada doméstica e na realização de serviços gerais. O Instituto Federal da Bahia enfrentou diversos desafios no processo de implantação do projeto, dentre os quais se destacam a violência existente nas comunidades e as dificuldades de inserção das mulheres no mercado de turismo, em função do preconceito de cor e idade. Para driblar a questão do mercado, o IF ampliou a oferta e criou um curso novo, o cuidador domiciliar, que tem um potencial considerável de mercado de trabalho. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2008, para cada 100 crianças de até 14 anos, existiam 25 idosos de 65 anos ou mais. A previsão é de que em 2050 sejam 173 idosos para cada grupo de 100 crianças. Tanto na profissão de camareira quanto na de cuidador domiciliar, as alunas estão conseguindo acessar o mercado de trabalho. Para muitas mulheres, a capacitação na área de saúde está garantindo uma nova atuação profissional, com mais possibilidade de trabalho e maior remuneração, visto que a maior parte atuava como empregada doméstica ou como faxineira. 32 Cleonice Ferreira da Conceição Do sonho à realidade Mulheres Mil Devota de Nossa Senhora do Livramento, Cleonice Ferreira da Conceição participa da comunidade católica no bairro Jaquaribe II que leva o nome da santa. Em dois momentos, a devoção ajudou: quando o marido se acidentou e quando o irmão foi acometido de uma depressão e passou um tempo sumido. Com 41 anos, ela luta para voltar ao mercado de trabalho. Agora a meta é tentar uma colocação na área de cuidador de idoso. O sonho, que começou quando concluiu o magistério, é fazer Pedagogia e poder dar aulas. Superou minhas expectativas, porque mudou completamente a minha vida; até a maneira de pensar, a maneira de lidar com o outro, porque eles trabalham muito isso: a maneira de você gostar mais de você. Cuidar mais de você. Quando cheguei no curso, tava me sentindo inútil, tava colocando currículo, ficava naquela expectativa de ser convocada a voltar a trabalhar 33 Mulheres Mil Do sonho à realidade 34 1. IFBA – Instituto Federal da Bahia. e não chamavam. Eles dizem: “Seu currículo é ótimo, mas você não tem o perfil que a empresa precisa”. Até a área do comércio mesmo, que eu já trabalhei de caixa em supermercado, só estava contratando pessoas até 27 anos. Aí você começa a pensar: “Eu estou forte, tenho coragem, tenho vontade de trabalhar e não tenho oportunidade só por causa da idade!”. Você vai ficando assim, porque eu só me sinto bem quando estou trabalhando. Quando eu comecei a participar dos encontros sobre autoestima, começou a mudar, porque lá eles trabalhavam também o lado espiritual, que você é um ser de luz, que você é importante, aí puxa também um pouquinho para a questão da infância, da família. Eles falavam também de desapego, das pessoas não desanimarem e essas aulas foram fortalecendo minha autoestima. Aí, quando eu comecei a ir para o Cefet, eu saí da depressão de vez. Eu sabia que era um curso de cuidadora de idosos, mas não sabia que era no Cefet e não sabia que ia ter bolsas. As aulas eram superdinâmicas. Os professores, se fosse dar nota de 1 a 10, daria 10 para todos. Eu gostei de todos. Nós tivemos aulas de primeiros socorros, foi superimportante, tivemos conhecimento de muitas coisas que não tínhamos, como trabalhar até em caso de prevenção de acidentes. Aprendi sobre depressão, sobre o mal de Alzheimer, que acomete pessoas de mais de 60 anos. Aprendi como cuidar, como observar os sintomas. Aí tiveram as oficinas, também as de artesanato. Depois nos reunimos para fazer embalagens a partir da reciclagem de caixas de leite. Você forra, dá o acabamento com a fita e fica muito bonito. Aprendemos a pintar, até participei da Feira de Natal do IFBA1 comercializando os produtos reciclados feitos por nós. Nós tivemos aula também de economia solidária; os professores têm muita experiência com cooperativas. Hoje pensamos em criar uma cooperativa de reciclagem; estamos amadurecendo a ideia. Não foram todas que se interessaram, mas umas três ou quatro pessoas se interessaram em voltar a falar sobre o assunto. Estamos esperando passar esse processo que vem agora de estágio e depois a formatura, para a gente voltar a pensar nisso. O professor vai nos orientar. Eles nos falaram que em qualquer época que a gente quiser voltar a falar sobre esse assunto, eles podem vir até a comunidade, explicar como funciona. Depois do curso eu me tornei uma pessoa mais forte, com mais esperança. Eu me sinto preparada para o mercado de trabalho. O meu objetivo maior é voltar ao mercado. A expectativa é grande porque no estágio eu vou colocar em prática aquilo que eu aprendi em sala de aula. Minha meta hoje é conseguir um emprego, porque nós precisamos trabalhar e, futuramente, fazer alguma coisa que possa vir a ajudar outras pessoas. De repente, trabalhar como voluntária até no próprio projeto Mulheres Mil. Também ajudar as pessoas com quem eu convivo, porque lá em casa tem três pessoas idosas, que é minha mãe, que tem 61 anos, tem meu sogro, que tá com 67, e minha sogra, com 62. Tem algumas colegas que já conhecia de vista, mas não tinha contato. Então, um dos pontos positivos do curso também foi esse: que eu pude me aproximar de algumas pessoas também, que só conhecia de vista, e pude aprofundar a amizade, ver que são pessoas excelentes; tem pessoas mesmo que descobri afinidades e eu sei que vai ser amizade assim para a vida toda. Depois do curso eu me tornei uma pessoa mais forte, com mais esperança. Eu acho que me tornei uma pessoa bem melhor. Eu ainda sou uma mulher com muitos sonhos para realizar, que não consegui realizar ao longo da vida, mas não desisti, estou batalhando, correndo atrás, e tenho certeza que vou conseguir realizar esses sonhos. Sei que eu não posso ficar sentada, esperando que as coisas aconteçam, eu tenho que construir. Aí tem esse lado profissional que eu preciso realizar e o sonho também de fazer uma faculdade, um curso de Pedagogia. Eu gosto de “Emoções”, de Roberto Carlos, porque na minha formatura do segundo grau, quando eu tava na cerimônia, começou a cantar, que fala que “quando eu estou aqui, eu vivo esse momento lindo”. Então passou um filme da minha vida. Minha maior dificuldade na infância era que meu pai e minha mãe são analfabetos. Então, eu não tinha uma pessoa que pudesse me ajudar com as tarefas escolares. Era muito difícil. Aí, geralmente, eu pedia a uma vizinha para me orientar. Na infância, a gente sonha com tantas coisas, e o meu sonho era ser pediatra. Aí, você sabe, a família de algum tempo atrás, mais tradicional, tinha mais filhos. Lá em casa mesmo somos nove irmãos, e os mais velhos sempre ti- Do sonho à realidade Mulheres Mil 35 Mulheres Mil Do sonho à realidade 36 Eu acho que nós nunca devemos desistir dos nossos sonhos, temos que lutar, correr sempre atrás daquilo que queremos. nham que trabalhar para poder ajudar a sustentar os menores. Como eu sou a mais velha, comecei a trabalhar muito cedo, desde 13 anos. Se eu parasse de trabalhar, eu não ia conseguir concluir o segundo grau. Eu fui trabalhar em casa de família, trabalhei durante cinco anos. Quando eu concluí o meu segundo grau, fiz magistério. Só que quando eu fui pegar o certificado, descobri que o curso não era registrado. Foi uma burocracia muito grande, fiquei quase seis anos para conseguir o histórico. Quando consegui, eu já estava desatualizada, já não podia mais dar aula. Agora, para voltar a dar aula, eu tenho que fazer um curso de Pedagogia, que é o que eu estou buscando ainda fazer. Estou esperando a situação melhorar. Eu acho que nós nunca devemos desistir dos nossos sonhos, temos que lutar, correr sempre atrás daquilo que queremos, porque muita gente tem sonhos e não tem a oportunidade de realizá-los. Então essa foi uma oportunidade que eu tive, e assim como eu tive essa oportunidade de voltar a sonhar e de voltar a correr atrás de meu objetivo, a mensagem que eu quero deixar é essa: que as pessoas nunca desistam de seus objetivos, nunca digam é tarde. Sempre é tempo de recomeçar. Maria das Graças Paula de Jesus Maria das Graças Paula de Jesus tem 51 anos e já trabalhou de empregada doméstica, babá, lavadora de carros e na construção civil. Hoje está começando a fazer uma nova trajetória profissional como cuidadora de idoso. Gosta de ir à igreja aos domingos rezar para sua xará, Nossa Senhora das Graças. Em busca de perspectivas, morou algum tempo em São Paulo. Por causa da violência, não gosta de onde mora, mas fica porque herdou a casa da mãe. Uma das metas é melhorar a moradia para deixar para o filho e o neto. Do sonho à realidade Mulheres Mil 1. O bairro de Plataforma fica no subúrbio ferroviário de Salvador e banhado pelas águas da Enseada do Cabrito e da Baía de Todos os Santos. Meu grande amor foi meu primeiro namorado, lá de Plataforma1 mesmo. Eu tinha 18 anos, ficamos uns dois anos, depois terminou. Eu acho que amor é só um. O seu coração tem que amar só uma pessoa, porque era assim: quando via ele noutros lugares, com outras pessoas, eu só faltava morrer. Eu tremia, ficava me sentido mal, gelava tudo. Ele é vivo, mas não fala comigo não. Ele já casou, tem filhos, estão mocinha 37 Mulheres Mil Do sonho à realidade Eu sempre dizia a minha mãe que eu queria fazer isso aí, estudar para ser enfermeira. e rapaz, mas, até hoje, quando eu o vejo, de vez em quando, quando eu vou em Plataforma, ainda sinto isso. Então, eu acho que amor é isso aí. Esse curso foi assim: tinha uma professora fazendo inscrição aqui, no colégio Padre Hugo, aí chegou uma menina que mora nessa outra rua falando: “Ali tá fazendo a inscrição para curso, mas tem que ir lá procurar saber, porque são 40 mulheres que ela vai inscrever”. Cheguei lá e ela disse que era para tomar conta de idoso, deu uma ficha para a gente preencher, dizer como era a casa da gente, se tinha parede, se tinha piso, se era de chão. A gente fez a ficha e deixei o número do telefone. Quando foi com três dias, ligaram. Eu sempre dizia a minha mãe que eu queria fazer isso aí, estudar para ser enfermeira. Só que eu não consegui, mas agora esse curso quase me deu oportunidade, porque eu já tiro pressão direitinho, já dou insulina, tiro a temperatura, dou medicamento, tudo certinho. Então eu já tô quase pertinho do que eu queria. Ainda não tá totalmente bem, mas uma coisa que eu queria fazer já consegui. Pra mim, lá foi muito bom. Eu achava que ia ser ruim, pensava que ia ser uma coisa chata, mas pensei: “Eu não tô pagando nada, não tô trabalhando e tenho que ocupar minha mente com alguma coisa”. Fui. Gostei, porque conheci outras pessoas. Os professores são muito bons. Aprendi algumas coisas da vida: eu aprendi a me dar com as pessoas, porque eu tava muito tensa, muito braba, muito revoltada depois que a minha mãe morreu e que meu filho ficou doente. Saía daqui correndo para ir para o meu curso, achava uma maravilha. 38 A gente teve uma aula também de desapego; que as pessoas não devem se apegar assim a tudo, que tem que ter desapego também. E aí foi que eu fui mais. Eu era assim, meio revoltada, muitos problemas que eu tinha assim na cabeça, mas depois disso eu melhorei. Eu fiquei mais paciente, me desapeguei mais das coisas, não fiquei mais nervosa como eu era. Eu melhorei bastante. E hoje eu sou outra pessoa e foi por causa desse curso. Melhorou muito o relacionamento com as pessoas, minha vida ficou melhor. Eu agora conheço outras pessoas, tô no meu trabalho; pra mim, tá bom. Estou comprando minhas coisinhas, tô pagando minhas contas. Esse trabalho eu consegui pelo curso, pela qualidade e pelo curso, porque esse meio de trabalho a gente tem que ter o curso para receber o certificado, para comprovar que sabe cuidar de idoso. Quando eu fui acertar, a mulher já perguntou para mim: “Você tem o certificado?”. Respondi: “Tenho sim!”. “Tem a apostila?”, aí eu disse: “Tenho!”. Porque a apostila diz como a gente tem que lidar com o idoso. Antes de terminar, eu já comecei a trabalhar. Eu fiquei muito nervosa. Trocava o remédio, na hora de dar insulina eu tremia, até uns três meses, mas, agora, eu faço de olho fechado. Fez um ano que trabalho lá. A senhora que eu tomo conta tem um monte de doença, sofre de diabete, tem pressão alta, sofre de tireoide. Ela vive sentadinha, não aborrece, não estressa. Uma pessoa maravilhosa. Eu comecei a trabalhar com nove anos de idade na casa de uma mulher para tomar conta de uma criancinha, de babá. Depois saí de lá e fui tomar conta dos meus irmãos. Minha mãe começou a ter filho, tinha que trabalhar, e eu tomava conta. E não tinha tempo nem de estudar. Depois de velha, morando aqui, é que eu me matriculei no Vera Lú2 cia ; aí foi que eu estudei mais dois anos; quando ia completar três anos, eu tive que trabalhar em São Paulo. Eu vim embora porque minha mãe deu derrame. São Paulo eu gosto muito. Você tem oportunidade de trabalhar e de estudar, só depende da pessoa. Eu tenho muitas amizades. Do sonho à realidade Mulheres Mil Foi uma sensação boa, porque eu fiquei tanto tempo sem aprender nada, e eu voltei a aprender mais um pouquinho. 2. A escola Vera Lúcia Cipriano fica no bairro Nova Brasília, em Salvador, onde Maria das Graças morou antes de se mudar para Jaguaribe II. 39 Mulheres Mil Do sonho à realidade 3. O Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) é uma autarquia do Governo Federal do Brasil que recebe as contribuições para a manutenção do Regime Geral da Previdência Social, sendo responsável pelo pagamento da aposentadoria. 40 Se eu tivesse menor idade um pouco, eu ia estudar, ia fazer um vestibular e ia fazer um curso de enfermagem. Só não tô pensando em fazer mais porque eu já não enxergo mais direito; cabeça também eu não tenho mais; nem idade, mas, se eu pudesse, faria isso que eu tenho vontade. Foi uma sensação boa, porque eu fiquei tanto tempo sem aprender nada, e eu voltei a aprender mais um pouquinho. Tivemos aula de matemática, sobre custo de vida, como é para viver com o seu salário, essas coisas. Tivemos aula de cuidador de idoso mesmo, aulas de primeiros socorros. Elas levaram uma agulha com a seringa para a gente poder dar insulina, falou sobre pressão arterial, como é que tira a pressão. Falou como é que lida com a diabete, o que acontece. Na reciclagem a gente aprendeu a fazer sabonete. Tivemos aula sobre câncer de mama, câncer de útero, essas coisas. A gente teve aula sobre a importância de serviço médico, de fazer exame. Eu passei a me cuidar. Para as minhas colegas, também foi muito bom, mudou também a vida delas; foi muito bom porque aprenderam. Algumas estão procurando serviço. Para o meu futuro, eu pretendo ajeitar a minha casa, botar uma laje – aqui é muito pequeno, só tem um quarto – para, quando eu faltar, ficar para o meu neto e meu filho. Estou pagando meu INSS3 para tirar minha aposentadoria para eu não ficar vendo navio. Então tenho que trabalhar. Eu já tenho a prática, já tenho minha carteira como cuidador de idoso. Ela assinou minha carteira, tenho a prática e fiz tudo direitinho então. Se eu conseguir outro emprego, ganhando mais um pouquinho para mim, vai ser bom. Eu gosto de lá. Ilda Ceará Selma Mulheres Mil Do sonho à realidade Fortaleza Nos livros de história do Ceará, o Pirambu é citado no ano 1932, quando uma seca assolou a região Nordeste do Brasil. Na época, foi instalado um dos campos de concentração: o Campo do Pirambu ou Campo do Urubu, como ficou conhecido o local para onde eram enviados os flagelados da seca, que recebiam algum cuidado e comida, e podiam trabalhar nas frentes de obras, sempre sob a vigilância de soldados. Décadas se passaram, o bairro cresceu, recebeu mais moradores vindos do interior, organizou-se, criou suas associações de moradores e atualmente faz uma boa interlocução com o poder local, mas as marcas da exclusão ainda fazem parte do cenário do local. Mulheres que nasceram nas décadas de 1950, 1960 e 1970, algumas alunas do projeto, ainda moraram nas precárias casas de taipas e não tiveram oportunidade de galgar uma formação superior ou técnica, quando muito terminaram o ensino médio. Ainda na adolescência, muitas se empregavam e se empregam nas fábricas de beneficiamento de castanha, instaladas nos arredores do bairro. Depois casam, têm filhos e só dão conta da importância dos estudos quando são demitidas, processo sazonal no ramo. Hoje o Pirambu é um dos maiores bairros de Fortaleza, com mais de 300 mil moradores, o que corresponde a quase 10% da população da capital, que atualmente ultrapassa os 3,2 milhões e apresenta uma das maiores densidades populacionais do Brasil, com mais de 40 mil habitantes por km². Como nos demais bairros de periferias dos grandes centros urbanos, os moradores enfrentam violência, tráfico de drogas e preconceito. E as mulheres, cada vez mais, assumem sozinhas o sustento dos seus filhos. Com sede já instalada no bairro, o Instituto Federal do Ceará ofertou capacitação na área de turismo e alimentos. Para viabilizar os estágios e as possibilidades de emprego, o IF celebrou parceria com a entidade da área de turismo, que contribui com a oferta do estágio que faz parte da grade curricular e vem se constituindo em uma porta de entrada no mercado de trabalho. Com a organização da Copa de 2014, da qual Fortaleza é uma das sedes, a tendência é que o mercado cresça e absorva mais mão de obra qualificada. Hoje, a inserção das egressas no mundo do trabalho vem aumentando. Tanto há registros de ex-alunas que conquistaram vagas de camareira quanto há aquelas que estão atuando nas cozinhas dos hotéis. 42 Ilda Maria Vital de Oliveira Do sonho à realidade Mulheres Mil Ilda Maria Vital de Oliveira, “a Obesa”, apelido carinhoso dado pelos amigos de trabalho, uma alusão ao corpo esbelto – ela é a mais magra das camareiras –, mostra que o acesso à educação transforma realidades. Moradora do bairro “vixe”, expressão carregada de preconceito que, segundo Ilda, muitos cearenses usam quando descobrem que estão de frente com o morador do Pirambu, acreditou que podia mudar o rumo da história, e mudou. Com 40 anos, ela deixou para trás o desemprego e hoje trabalha no Holiday Inn. Quando me chamaram, que eu tinha que estar no Holiday Inn, tal dia, tal hora pela manhã, me arrumei, me ajeitei toda e fui lá. Quando a mulher perguntou: “Você fez o curso onde?” – “No Cefet” – “Em qual Cefet?” – “13 de maio”. É uma referência grande mesmo. Ajuda a abrir portas. Quando o Mulheres Mil chegou na minha vida, eu tava bem caída. Meu filho tava preso, já ia fazer dois anos que eu estava desempregada e 43 Mulheres Mil Do sonho à realidade Quando eu trabalhava na Iracema, nas fábricas de castanha, era só aquele salariozinho limpo e seco. meu marido também já tinha ficado desempregado. Nós estávamos praticamente nas costas da minha mãe. Mas eu disse: “Depois que eu terminar esse curso, a minha vida vai melhorar, porque eu vou começar a batalhar emprego”. Deu certo! Eu estou com um ano e seis meses lá no hotel. Quando eu trabalhava na Iracema, nas fábricas de castanha, era só aquele salariozinho limpo e seco. Eu não tinha plano de saúde, não tinha plano dentário, não tinha nada. Depois que eu fiz o curso e entrei para o hotel, melhorou minha vida 100%, porque não é só aquele salário. Agora estou com plano de saúde, plano odontológico. Os meus filhos, que tavam com problemas, trataram os dentes, eu também. Minha mãe trabalhava igual eu trabalhei, nas castanhas. Nós somos cinco irmãos, não tínhamos casa. Eu lembro da gente morando ali embaixo, num casebrezinho feito de madeira, não tinha fogão, só fogareiro, sem perspectiva nenhuma. Minha vó era cega e muito cedo acordava, acendia aquele fogareiro com pau – era aquela fumaceira dentro de casa –, fazia um feijãozinho. Às vezes, ela estrelava ovo com água fervida; ficava uma coisa tão ruim... Aí, eu e a minha irmã saíamos para deixar o comer da minha mãe; era longe. Do meu pai eu nunca tive notícia. Eu queria um dia dizer: “Saí das Iracema”. Minha irmã continua lá e tem dias que ela chega em casa morta de cansada, sente muita dor nas costas porque a gente trabalha igual costureira, só catando, separando amêndoas com película, amêndoas com casca. Ela tem 36 anos. Aí eu digo para ela: “Mulher! Faz o curso de enfermeira, de camareira, porque é tão bom... a gente vive outra vida dentro do hotel”. 44 É aquela coisa boa, quando a gente chega, todo mundo lá no refeitório tomando café, depois vai todo mundo para o vestiário se vestir, se arrumar, botar aquela maquiagem, se ajeitar. E depois cada qual pega seu carrinho, seu plano, sua chave e cada uma sobe para o seu andar. Às vezes, na hora do banho, a gente se maldiz do cansaço, mas depois que toma aquele banho, que se ajeita, que vai descendo aquelas escadas para vir embora, chega sente aquele alívio, aquela coisa boa. Eu acho muito bom. No estágio, eu fiquei meio assim. No primeiro dia, eu pensei: “Rapaz, é muito cansativo!”. Eu achei que não ia dar para mim, não. No segundo, também, mas, no terceiro, eu já fui. Terminei o estágio na sexta e no sábado já estava colocando currículo. Aí, deixei em hotéis e em empresas. Dois hotéis já me chamaram, mas não quis trocar o certo pelo duvidoso. Já estou empregada, já estou de carteira assinada. O mercado para camareira é bom, não fica desempregada; é igual a costureira. Estudar muda as pessoas. Eu também voltei a estudar por causa do projeto, porque as meninas comentavam que o projeto não ia querer quem tivesse só o primeiro grau. Isso me deu força para enfrentar os problemas. Era muito difícil. Chegava o dia da audiência e eu ficava com a cabeça deste tamanho, mas meu marido me dava a maior força; dizia para eu não desistir. Agora meu filho está bem. O que eu aprendi no curso eu estou usando no trabalho: a informática, o português, a parte de camareira. A informática, apesar de ser só o básico, ajuda muito. O pouco que eu sei – abrir a internet, entrar no computador e ver quantos apartamentos estão limpos – ajuda. O pessoal da recepção liga e pede: “Ilda, abre aí o computador para ver como é que tá tal apartamento: tá sujo ou tá clean”. Eu vou, entro no computador, vejo. A informática é muito importante nesse ramo. Matemática ajuda em alguns pontos, mas português é muito importante, porque tem a planilha para preencher. Ali você vai preencher, colocando: apartamento ocupado, clean, vago, sujo. Se a gente entrar num apartamento e tiver as coisas dos hóspedes, porque geralmente eles deixam: relógio, anel, essas coisas, mala aberta, tudo eu coloco no meu plano. As aulas de inglês também ajudam. Tinha que ter mais, porque são poucas horas. Se eu pudesse reviver, eu gostaria de fazer o curso novamente. A melhor lembrança que eu trago das aulas eram as de interpretação dos textos. Fizemos um jogral com música; parecia que a gente tava vivendo aquele personagem. Foi uma das melhores aulas que eu tive. Do sonho à realidade Mulheres Mil Terminei o estágio na sexta e no sábado já estava colocando currículo. 45 Mulheres Mil Do sonho à realidade No Instituto, eles são muito acolhedores mesmo. Às vezes, eu me sentia inferior porque a gente via muito aluno e achava que eles tinham posses. A gente mora aqui na beira da praia; aí, estar dentro de um centro daquele, no meio de tanto adolescente que a gente acha que tem grande futuro pela frente... Eu, às vezes, ficava com receio de ir até o banheiro. Mas pensava, se eu cheguei aqui... A formatura foi uma coisa tão boa, chamar a gente ali na frente, receber aquela declaração, aquele diploma. Foi bom, muito bom mesmo! A gente se sente importante, sente aquela pessoa assim: Eu venci! Eu cheguei até o final! Hoje, depois que eu fiz o curso, eu tenho mais aquela liberdade. E tenho aquela força de vontade de que eu vou fazer e faço. Eu quero agora, em 2011, aperfeiçoar. Estou pensando em terminar meu terceiro ano e entrar num curso de informática avançado. Essa é a meta, porque eu estou fazendo um curso virtual, o nome é O Bem Receber a Copa no Brasil, que está preparando para a Copa de 2014 todo o pessoal do ramo de hotelaria. Eu daria nota mil para o curso; é mesmo Mulheres Mil. E aquelas que querem mesmo, como eu, que fizerem por onde, se quiserem mesmo, chegam onde eu cheguei. Não quero deixar de ser camareira. Tô realizada! 46 Maria Selma da Silva Do sonho à realidade Mulheres Mil Nos últimos quinze anos, Selma cuidou de Davi, seu filho mais velho, que nasceu com paralisia cerebral. Em 2008, começou a se preparar para a despedida: fez o curso de camareira e voltou a estudar. Em julho de 2010, Davi se foi, e em outubro, ela começou a trabalhar no Holiday Inn, indicada pela amiga de curso: a Ilda. Do passado, ela diz que tem a tranquilidade de missão cumprida. Do futuro, a certeza que tem capacidade para escrever sua história e cuidar do filho mais novo, o Danilo. “Essa Selma agora tá diferente daquela que entrou no Mulheres Mil, porque é uma mulher dinâmica, diferente, é uma mulher que agora sabe o que quer: a Selma quer trabalhar e ser feliz.” Foi incrível! Como eu disse a primeira vez, as meninas até riram lá em casa quando eu falei isso na minha entrevista – eu tinha medo de computador. Realmente, eu não chegava nem perto. Morria de medo. Minha mãe dizia: “Menina, esse bicho aí é um bicho do outro mundo, é um bicho do 47 Mulheres Mil Do sonho à realidade Eu tenho Orkut e tenho e-mail também. Abri logo que eu saí do projeto. 48 final dos tempos porque descobre a vida da gente todinha”. E descobre mesmo! Quer ver? Vamos supor: você está num apartamento, termina de limpar todo e dá o clean. O clean é digitar um código. Aí, aquela supervisora lá embaixo sabe onde você tá, onde entrou. Quando passa a chave no trinco do apartamento, acusa no computador. Todo mundo sabe a que horas você entrou, quantas vezes, o tempo que ficou lá dentro. Então o computador sabe tudo mesmo [risos]. Eu tenho Orkut e tenho e-mail também. Abri logo que eu saí do projeto. O desafio é muito grande, muito forte, muito intenso. A gente trabalha muito, é uma rotina pesada, mas, quando a gente se apaixona pela profissão, vai em frente. Fecha os olhos e abraça com todo amor, com todo o carinho, que é para isso que a gente foi preparada, e é isso que a gente quer, pelo menos, no meu caso, para isso que eu fui preparada, de 2008 a 2009. Eu tava apreensiva, nervosa, eu sabia que ia começar a trabalhar, sabia que a minha carteira já tava assinada, porque, quando eu fui fazer a entrevista, pelo projeto que eu fiz aqui no Mulheres Mil e pelo certificado que eu levei, já fiquei. Eu fiquei tão emocionada que quase que não consigo fazer nenhum exame para entrar na empresa. A minha pressão subiu e a doutora ficou um pouco preocupada, mas deu tudo certo. O coração bateu muito forte porque eu sabia que eu tava preparada para aquilo e sabia que eu ia enfrentar; mas aí eu entrei com toda a garra, com toda a força e estou enfrentando. Estou gostando, tô adorando ser camareira. Já estou lá faz três meses, com carteira assinada desde o primeiro dia. Tem de bom tudo, porque a gente conhece várias pessoas legais, pessoas de outros estados; a gente vê um mundo completamente novo. No projeto, a gente conhecia teoricamente, mas na prática é muito bom, muito legal mesmo. A primeira vez que eu trabalhei de carteira assinada foi antes de ter meu filho. Eu passei 15 anos parada por conta do problema do Davi. Era um bebê. Eu sabia que eu ia ficar sem ele, sabia que um dia ia precisar trabalhar, porque o meu trabalho era cuidar dele, tanto que eu vivia da aposentadoria dele. A casa era sustentada praticamente por ele, porque marido eu quase não tinha, era só para dizer que tinha. Abandonei o marido também para fazer o curso, para viver, porque vivia presa. Fui para o projeto e também voltei a estudar. Fui fazer EJA1 e terminei o primeiro grau. O segundo grau estou fazendo. Só tinha feito até a quinta série. Naquela época, bastava. Minha mãe sempre dizia: “Não já aprendeu a ler e escrever ? Pronto!”. Até a quinta série era o que a gente precisava, porque já sabia ler, escrever e fazer conta. Trabalhei com 14 anos, numa fábrica de rede; eu fazia varanda, trancinha. Naquela época, as redes eram manuais. A minha mãe sempre botou a gente para fazer alguma coisa, porque nós éramos cinco irmãs mulheres, fora os quatro irmãos homens. Era uma família grande, só o meu pai que trabalhava e os irmãos mais velhos trabalhavam com meu pai. Eu me sinto muito importante por ter participado do curso do Mulheres Mil. Ajuda muito. Aprendi que a gente tem sempre que tá de bem com a vida, tem que se cuidar, tem que se agarrar na nossa vida porque é única, e a gente tem que viver o momento, porque depois que passa acabou. Tem muitas mulheres desempregadas no nosso país e esse projeto é o ponto de partida para essas mulheres chegarem lá na frente e conseguirem vencer, porque é um projeto maravilhoso. Vi uma das meninas que estão fazendo o curso, no ônibus; pela blusa do Mulheres Mil reconheci logo. Eu tava com poucos dias lá no hotel. Ela olhou para mim e sorriu; eu nem conhecia, mas ela já me conhecia. “Você é a Selma, né?” Aí eu disse: “Você me conhece do Mulheres Mil, né? Olha, continua, porque é muito bom e esse projeto abre portas”. O Mulheres Mil foi a chave para abrir a porta de recomeço na minha vida, que eu vivia morta, só assistindo novela. Assisti novela por cima de novela; quando abri os olhos minha vida tava sendo uma novela. Aí eu pensei: “Epa! Comigo não! Vou mudar essa página”. A gente acha que não tem capacidade de se redescobrir, mas vai vendo coisas que sabe que é capaz. Você tem a capacidade de descobrir coisas que você nem imagina. Muitas vezes eu me senti inferior, mas o projeto me ajudou, porque a gente sabe que tem essa força, basta aprender a botar para fora. O projeto ajuda você A gente acha que não tem capacidade de se redescobrir, mas vai vendo coisas que sabe que é capaz. Do sonho à realidade Mulheres Mil 1. EJA – Educação de Jovens e Adultos. 49 Mulheres Mil Do sonho à realidade 50 2. O Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) é um exame individual realizado em todo o Brasil para avaliar os conhecimentos dos alunos que estão concluindo ou que concluíram o ensino médio. Com o Enem, o aluno pode concorrer a uma vaga em universidades e institutos federais e ainda a uma bolsa de estudos para instituições privadas. a ensinar também, porque não é só recriminar, brigar, falar, repreender, é também ensinar. O projeto ensina muitas coisas boas que a gente ensina para os filhos. Eu ensino para o Danilo que ele não pode baixar a cabeça com nada, que não pode ser inferior a ninguém. Ele pode fazer e tem que ter determinação de conseguir; colocar na cabeça que vai fazer, porque tem força para isso. Antigamente não esperava que fosse acontecer isso que tá acontecendo agora. Receber aquele dinheiro porque você se esforçou, estudou, praticou. Ah, é muito gratificante! Foi muito bom pegar aquele dinheiro e saber: agora eu vou pagar as minhas contas – tinha um monte de coisas atrasadas. Depois que o menino faleceu, o dinheiro acabou. A importância do Mulheres Mil na minha vida?! Foi muito importante! Foi um projeto único e determinante. Determinou o nosso futuro, né, pelo menos o meu, porque a vida não acaba aos 40, a vida começa aos 40 anos. A vida começa no tempo que você determinar que vai começar. A mulher tem que estudar sempre, não só na escola, não só no projeto; ela tem que estar sempre estudando, ela tem que estar à frente do seu tempo, porque não pode parar. Eu chego sozinha no vestiário. Eu me arrumo e olho para o espelho: “Ah, agora sim, agora dá para ir, porque agora eu sou uma camareira. Eu posso tudo o que eu quiser”. Esse ano eu termino o terceiro, vou fazer vestibular e vou passar no Enem2 e fazer a faculdade para economia doméstica. Raquel Maranhão Maria Rosilda Mulheres Mil Do sonho à realidade São Luís A 20 km do centro, a Vila Palmeira é um dos bairros mais antigos de São Luís. Inicialmente, moravam trabalhadores rurais, descendentes de escravos, entre outros grupos que se encontravam à margem do desenvolvimento urbano. A ocupação do local foi marcada pelo crescimento desordenado e pelo inchaço ocasionado pelo êxodo rural. Isto levou as famílias a construírem suas casas nas margens do rio Anil, que cruza a capital e que constituía o principal corpo hídrico da cidade naquela época. O bairro possui uma parte da comunidade instalada no manguezal do rio, hoje completamente poluído. Várias famílias moram em condições subumanas, em palafitas, construções de madeira sobre a maré, cercadas pelo lixo. Neste cenário, encontram-se diversas mulheres que não tiveram oportunidade de estudar, não se capacitaram profissionalmente e tiveram filhos. Grande parte é mãe solteira e mantém suas famílias como diaristas. Em São Luís, a área de alimentos tem forte potencial de inserção no mundo do trabalho e carência de mão de obra qualificada. Em função disso, o Instituto Federal do Maranhão desenvolveu a qualificação profissional na área de conservação, congelamento e preparo de alimentos e vem promovendo uma articulação com o setor produtivo para viabilizar a inserção no mundo do trabalho. O projeto foi apresentado para alguns empresários da área que hoje são empregadores das alunas. Outra ação importante foi a ampliação do Mulheres Mil para o campus do Centro Histórico, que ofertou curso na área de artesanato. No que se refere às egressas, algumas estão garantindo renda por meio de encomendas de salgados e doces, outras realizaram o sonho da carteira assinada e estão trabalhando em empresas parceiras. Muitas estão comercializando os produtos no próprio bairro e há ainda criação de microempresa. 52 Raquel Santos Do sonho à realidade Mulheres Mil Raquel Santos, 34 anos, leva a vida com bom humor. Gosta de rir, de brincar. Gosta de ser feliz. Talvez por isso, o período junino, que tem festa para todo lado, é a época em que mais curte São Luís. É quando tem arraial, tem Tambor de Crioula, tem Dança Portuguesa, tem Bumba Meu Boi e quadrilha. Na adolescência, fazia ginástica rítmica e dançava o Cacuriá, uma coreografia sensual, onde casais dançam com passos marcados e, de acordo com a música, os passos e parceiros são trocados. Com planos para o futuro, Raquel conquistou um sonho que parecia distante: a carteira de trabalho assinada. Sinto saudades das aulas práticas e das teóricas também, porque ficava aquela animação. Mas uma coisa que eu não sinto saudades, apesar do professor ser maravilhoso, é matemática. Essa aí não tem conversa. Talvez agora a gente 53 Mulheres Mil Do sonho à realidade 54 1. O Bondiboca é uma rede de lanchonetes de São Luís que integra a parceria para a inclusão das alunas no mercado. tente assim uma aproximação, porque eu entrei lá no serviço como atendente e, do mês de junho para cá, eu estou como caixa-atendente, tem que bater o caixa, prestar conta. Então, a gente tá querendo se acertar, só não sei se vai dar certo. Eu já tinha desistido de muita coisa. Eu ia para um lado, não dava certo, ia para outro, não dava certo. Eu tinha desistido de trabalhar de carteira assinada, porque eu já estava com 32 anos e não tinha arrumado nenhum serviço de carteira assinada. Terminei o ensino médio, sou formada em magistério e sempre trabalhei em escola comunitária. Na última escola que eu trabalhei, recebia 150 reais por mês e fiquei de setembro a novembro sem receber. Então, para mim isso tava fora de cogitação, porque o mercado não é só pelo currículo, mas olha muito a idade da pessoa; não só a experiência conta. Aí eu entrei no curso para me aventurar, para ver se conseguia melhorar alguma coisa. Realmente, mudou muito a minha vida. Mudou demais. Eu estou trabalhando no Bondiboca1, de carteira assinada; dia 28 de janeiro fez um ano de carteira assinada. Essa foi a minha primeira conquista. Comecei também a divulgar o trabalho de artesanato que eu faço. Eu faço flores, bonecos. Com o meu primeiro contracheque, eu comprei minha máquina de lavar. Aliviou muito, porque no dia que tava de folga era o dia todo lavando roupa. Estou economizando para comprar minha geladeira, cama, para dar um pouco de conforto para mim e para os meus filhos. Lembro de tanta coisa boa... a turma da gente era uma turma boa. Aqui no Cefet eu participei do projeto de uma bolsa, que eu trabalhei aqui em cima, na parte do Recursos Humanos. O dinheiro da bolsa me ajudou, tanto na parte de alimentação para dentro de casa, como na parte para a compra do material para fazer os bombons e os bonecos que eu fazia para vender. O projeto Mulheres Mil é muito importante, porque dá oportunidade a mulheres que já desistiram de lutar por alguma coisa na vida, pelas dificuldades do dia a dia, dificuldades de emprego, de alimentos, o preconceito por ser mulher. Existe sim o preconceito. Por ser mulher, às vezes, a gente não ocupa um cargo. Daí começa a discriminação, a desvalorização. E esse projeto vem contribuir para que a mulher recupere sua autoestima. É uma injeção de ânimo para que ela não desista dos seus sonhos, dos seus ideais, que ela corra atrás, batalhe, lute, que ela consiga e vença. Isso aí é o principal: uma injeção de ânimo, que vem renovar a mulher, vem fazer com que ela recupere a sua autoestima, volte a se valorizar, a dizer para ela mesma: “Eu posso, eu consigo, eu sou capaz, eu vou conseguir”, e futuramente dizer: “Consegui!”. Eu pretendo continuar os estudos, fazer uma faculdade, me formar e ir para frente. Como eu estou na área de alimentos, estou muito voltada para a área de nutrição e também a parte de gastronomia. Quero trabalhar, quero vencer, quem sabe futuramente botar meu próprio negócio. Estou pensando na área de decoração de festas infantis. Na aula de empreendedorismo, o professor ensinou a valorizar cada centavo que a gente ganha. Ele ensinou assim: se a gente ganha um real por dia, tem que guardar 10 centavos. A gente tem sempre que economizar, dar valor ao nosso dinheiro, porque é um dinheiro muito suado. Como eu estou pensando em botar um negócio lá para frente, então eu tenho que valorizar esse dinheiro que eu ganho. Sou feliz, apesar de todas as dificuldades que eu já passei e as que eu tenho no dia a dia, não tenho o que reclamar. Eu gosto de forró, eu gosto de pagode, eu gosto de ouvir música clássica, até aquelas músicas que tem para relaxar, com som de água, de pássaro, de meditação; só não gosto muito de reggae. Eu gosto de praia. Conheci meu marido numa discussão que tivemos. Nós queríamos ver o cão, mas não queríamos ver um ao outro. Eu casei com 19 anos, tive meu primeiro filho com 19 anos, e tenho 25 anos de casada. O primeiro filho eu queria muito, os outros dois não foram planejados. Fiz três cesáreas. Minha infância foi boa. Eu nasci e me criei na Vila Palmeira, que foi um bairro de invasão. Minha vó aventurou um terreno e eu morava na casa dos meus pais, com minha avó. Sou a mais velha de quatro irmãs. Meu pai começou a trabalhar aos 13 anos, num posto de combustível, como lavador de O projeto Mulheres Mil é muito importante porque dá oportunidade a mulheres que já desistiram de lutar por alguma coisa na vida. Do sonho à realidade Mulheres Mil 55 Mulheres Mil Do sonho à realidade A gente envelhece a partir do momento que não trabalha mais. 56 carro e até hoje ele trabalha nisso. Na Vila Palmeira, a maior dificuldade na época era água; minha mãe saía com uma lata para pegar água. Eu gosto muito de brincar. Vocês nem sabem o quanto eu gosto de uma molecagem. Lá no serviço a gente brinca tanto que eu digo: “Gente, se meus filhos souberem como eu sou aqui, eles diriam – mamãe! A senhora, quem diria?”. Eu gosto de brincar com os amigos, aí um vem conta uma coisa engraçada. Às vezes, uma coisa que acontece na hora é séria, depois começa um a rir do outro. A gente se diverte muito, até em casa com os meninos é desse jeito. Na hora é sério, depois que passa a gente começa um a rir do outro. Eu gosto disso, é muito legal. A gente tem que estar colocando a mente para trabalhar em alguma coisa. A gente envelhece a partir do momento que não trabalha mais. A gente não consegue mais utilizar ela para algumas coisas, fica assim parada. Com isso aí, a gente já começa a envelhecer. Por isso que eu não tenho cara de velha, porque eu estou sempre procurando alguma coisa para fazer. Maria Rosilda Costa Castro Maria Rosilda Costa Castro descobriu a paixão pela cozinha na adolescência, quando já gostava de se aventurar em novos sabores e misturas. Católica praticante, levou o marido para o altar ano passado e comemorou com o seu talento: fez um bolo. Tímida, o desafio de Rosilda tem sido aprender a cobrar pelos produtos fornecidos pela Guloseima, microempresa que abriu em 2010. Do sonho à realidade Mulheres Mil 1. Time de futebol do Rio de Janeiro. Também conhecido como Rubro Negro, é o clube que tem maior número de torcedores do Brasil e do mundo, de acordo com pesquisas do Ibope. 2. Torcedores do time de futebol São Paulo, que também é conhecido popularmente como Tricolor do Morumbi. Eu gosto do Flamengo1; não conheço quase nenhum dos jogadores. Meu marido, às vezes, diz: “Não sei que torcedora que tu é...”. Mas eu sempre gostei, desde pequenininha, mas não sou aquela torcedora fanática. Tenho dois filhos. Lucas tem 12 e Caio tem 7. São sãopaulinos2 os dois. Vivo com meu marido faz 13 anos, mas me casei no ano passado. Foi um casamento coletivo. Foi ótimo, foi muito bom; me emocionei, todo 57 Mulheres Mil Do sonho à realidade Quando vejo naquelas páginas de revista aqueles bolos lindões, fico apaixonada. E eu vou chegar lá. mundo se emocionou, minhas irmãs... Realizei um sonho, foi bom demais! Fiz um bolo bem bonito. Eu gosto de cozinhar, sempre gostei. Comecei com uns 12 anos, quando minha mãe ia para a cozinha, eu ia com ela. Lá na casa da minha mãe era praticamente só eu que fazia a comida. Gostava de inventar, pegar uma receita e fazer. Às vezes, dava certo, às vezes, não. Participar do projeto foi uma realização. Eu trabalhava como atendente de dentista, mas porque precisava trabalhar, nunca gostei da área. Trabalhei dez anos na área. Aí eu cansei. Saía às seis horas da manhã e chegava nove da noite. Não via meus filhos, não tinha tempo para casa; pedi para sair. O mapa da vida foi muito interessante. Cada uma botando o que queria, como ia seguir. A gente viu desde a nossa infância até os dias de hoje. É interessante porque a gente revê o passado e olha tudo o que deixou para trás e o que pode ainda buscar daqui para frente. Eu fiz vários desenhos, eu sou péssima no desenho, mas deu para entender o que eu queria dizer, deixar o meu recado. Eu fiz umas coisas brincando, subindo, até onde eu queria chegar, o topo que eu queria chegar, que é ser dona do meu próprio negócio. No mapa da vida descobri que ainda posso estudar, me profissionalizar, me preparar melhor. O meu objetivo é me tornar uma grande profissional. Eu quero me aperfeiçoar em salgados, na área de confeitaria. Eu adoro fazer bolo, doces, salgados. Quando vejo naquelas páginas de revista aqueles bolos lindões, fico apaixonada. E eu vou chegar lá, já fiz uns dois bem caprichados. 58 Eu fazia salgados para as minhas amigas, para o aniversário dos meninos, só que não trabalhava para ganhar. As pessoas pediam para eu fazer, traziam o material e depois diziam “obrigado”. Eu não fazia profissionalmente, não conseguia cobrar, tinha vergonha. Foi depois do projeto que eu comecei mesmo a fazer cobrando, procurei valorizar o meu trabalho. Minha autoestima melhorou bastante; aprendi a me valorizar, a dar valor para as minhas coisas, que eu não sabia. Não conseguia dar preço e hoje em dia eu já sei. Hoje eu digo para as pessoas: “É tanto por isso e isso”. Sei a justificativa, o porquê que é esse valor. O nome da minha empresa é Guloseima. Eu fiz pelo Sebrae3, é uma empresa individual; agora eu posso estar expandindo meu negócio, posso tá emitindo uma nota. O CNPJ4 saiu logo, e a partir de 10 meses já tem vários benefícios. A gente paga uma taxa de 57 reais e, com 15 anos, tem direito a uma aposentadoria. Vou botar um ponto na minha casa, no meu terraço, porque eu já tenho minhas encomendas de salgados, aí eu faço os dois ao mesmo tempo. É um bom mercado, tem muita gente que trabalha nessa área. O mercado está aí pra todos, mas a gente sempre tem que tá melhorando, porque não pode viver fazendo sempre aquela mesma coisa; tem que inovar. Eu ganho em média mais de um salário por mês. Tem mês que tiro menos, tem mês que tiro uns 700 a 800 reais. Eu melhorei um pouquinho de tudo; aprendi até a me conhecer melhor. Antigamente, eu achava que só ia ao médico se estivesse doente: pura ignorância. Melhorou pra mim, melhorou pra minhas irmãs, melhorou 3. O Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) orienta e promove eventos para facilitar o trâmite para abertura de pequenas empresas. 4. CNPJ – Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica. Do sonho à realidade Mulheres Mil 59 Mulheres Mil Do sonho à realidade Isso também é fruto da força de vontade, porque não pode esperar tudo do curso, a gente também tem que correr atrás. pra família toda, porque hoje em dia eu sou uma incentivadora das minhas irmãs; mando ir, digo que tem que ir ao médico. Tudo que eu aprendi a fazer melhorou no meu trabalho, em termos de higiene, de segurança, preparação, empreendedorismo, como se profissionalizar melhor, trabalhar melhor, na nossa própria segurança. Tudo isso veio acrescentar muito. Hoje está todo mundo trabalhando, só tem uma ou duas que não estão trabalhando. Isso também é fruto da força de vontade, porque não pode esperar tudo do curso, a gente também tem que correr atrás. Não adianta fazer o curso e ficar parada. 60 Aparecida Paraíba Marta Mulheres Mil Do sonho à realidade Bayeux O município de Bayeux engloba as comunidades de Baralho, São Bento, Porto de Oficina, Casa Branca, Porto do Moinho e São Lourenço. Não há linhas de separação, são comunidades vizinhas que têm como principal atividade econômica a pesca. Homens, mulheres e crianças tiram da maré que, geralmente, contorna o fundo das suas casas o pão de cada dia. Os adultos pescam e os pequenos ajudam na limpeza do marisco. As condições de moradia e infraestrutura básica são precárias. As ruas são pavimentadas, mas não há saneamento básico, e o abastecimento de água para o consumo é comprometido. Os reservatórios domésticos, como os tanques e caixas, foram construídos nas proximidades das fossas e das hortas, onde são aplicados agrotóxicos sem orientação técnica, colocando em risco a saúde da população. Nas localidades, há problemas de alcoolismo, uso de drogas e o número de portadores de vírus da Aids é o terceiro maior do estado. Construir uma oferta educacional, a partir do diálogo com as alunas, foi um dos desafios enfrentados pelo Instituto Federal da Paraíba, que está criando o curso técnico na área de pesca, tendo como base a abordagem por competências. Outra ação importante foi articular a inclusão das marisqueiras em ações do Ministério da Pesca e Aquicultura, o que beneficiou não só as alunas do Mulheres Mil, mas a comunidade, que passou a ter informações e assim pôde acessar as políticas públicas destinadas aos pescadores. As alunas são donas de casa, artesãs, marisqueiras, empregadas domésticas. A idade é variada, de 18 a mais de 60 anos, e algumas nunca tinham entrado numa sala de aula. Pegar o ônibus que as leva até a sede do Instituto Federal da Paraíba (IFPB), que fica em João Pessoa, a uma distância de 4 km, tem significados que é difícil colocar no papel: oportunidade, descoberta, recomeço, cidadania. Na primeira etapa, o desafio do IFPB foi sensibilizar e estimular as mulheres a participarem do curso. Esta fase foi marcada por oficinas na área de saúde, meio ambiente e produção artesanal. Depois, veio a elevação de escolaridade, e a oferta de profissionalização na área de pesca e artesanato, que ainda está em processo. 62 Maria Aparecida Batista Marinho Do sonho à realidade Mulheres Mil Maria Aparecida Batista Marinho, a Cida, como é chamada, gosta de música romântica. O primeiro disco que comprou foi de Amado Batista. Adorava a música “Menininha, Meu Amor”. O disco ficou na casa de uma das famílias em que trabalhou. Os anos de labuta como empregada doméstica e cortadora de cana são invisíveis. Não há carteira de trabalho. Não há registro. A única prova carrega no corpo. São as marcas que começaram na infância e se acumularam na adolescência, resultado dos acidentes constantes sofridos pelas crianças. Cida é marisqueira, mas a atividade de mãe forçou a folga. É preciso cuidar do bebê. Dona de casa e estudante, aos 37 anos, ela é a primeira da família a quebrar o ciclo do analfabetismo. O sonho é poder ser o que não teve: professora de criança. Quando o ônibus chegou no Cefet, eu perguntei: “É nesse lugar que eu vou ficar?”. Aí entramos numa sala chique, com ar-condicionado e eu pensei: “Deus do Céu! É um sonho e, se é um sonho, eu vou segurar, não vou deixar passar não”. 63 Mulheres Mil Do sonho à realidade 64 Tem tanta mãe analfabeta. É tão ruim ser analfabeta, é ser igual a um cego. Eu era cega e hoje eu estou enxergando. Foi tão bom para mim a primeira vez que eu vim; eu fiquei mais contente quando a gerente entregou a farda, eu me senti tão orgulhosa. Eu pensei: “Agora eu faço parte do grupo Mulheres Mil. Eu não quero sair desse grupo mais nunca”. Tem tanta mulher dona de casa querendo oportunidade de estudar. Tem tanta mãe analfabeta. É tão ruim ser analfabeta, é ser igual a um cego. Eu era cega e hoje eu estou enxergando. Por isso, o Mulheres Mil tem que ter continuidade, dar chance a outras mulheres. Quando eu ia pra usina receber dinheiro, colocava o dedo. Às vezes, eu não queria nem ir, porque eles perguntavam: “Sabe ler e escrever?”. Me sentia humilhada de ver alguém escrevendo e eu não. Era horrível! Eu tinha vergonha de não saber ler e escrever. Eu me sentia culpada. Hoje eu sei que é porque eu não tive oportunidade de estudar. Eu não tive escolha de vida. Era aquilo e aquilo mesmo. A gente cresceu nessa vida de corte de cana: meu pai, meus tios e até hoje meus tios cortam, meu irmão. Não era muito fácil, não. A gente chegava de manhã e só voltava seis da noite no trator. Quando mamãe dizia que queria me botar para estudar, eu dizia que não queria, porque a dificuldade era muita. Ela tinha muita criança pequena e minha vontade era de ajudar dentro de casa. Meu pai, na época, bebia muito e eu não tinha vontade de sair e deixar minha mãe naquela condição de sofrimento. Naquele tempo, eu não sabia, não tinha noção, tanto fazia ter estudado ou não. Mas hoje eu sei a importância. Quando eu completei 18 anos, arranjei um namorado, casei e tive minha primeira filha com 19 anos. Meu pai sempre ameaçava minha mãe de morte e eu, com medo, pedia muito pra gente sair daquela vida. Nesse tempo, minha prima mandou um bilhete pedindo pra eu ir para Bayeux com a minha filha. Aí eu pensei: “Com a cara e a coragem, eu vou!”. E fui e levei minha mãe. Lá passei um tempo trabalhando em casa de família. Aí conheci meu segundo marido, construí uma família, mas sempre sentia que faltava algo em mim. O que eu penso é que, se no Brasil não existisse desigualdade, as coisas eram bem melhores. Se existisse igualdade para todos, se fosse partilhado por igual, não existiria tanta gente sofrendo, passando fome. No Brasil, a terra é imensa, mas tem tanta gente pagando aluguel. Se fosse partilhado por igual, não teria isso não. O que eu mais gosto no Mulheres Mil são os professores. Eles incentivam a gente. Eu pensei que a obrigação deles era só dar aula e pronto, mas os daqui são maravilhosos. Eles dizem: “Insistam, persistam, não desistam, porque o estudo é a única coisa que ninguém pode tirar de vocês”. Eu gosto demais das aulas. Eu aprendi tanta coisa. A gente teve aula sobre o direito das mulheres e também sobre saúde; foi quando a enfermeira falou sobre a importância da mulher se cuidar, fazer os exames todos os anos, que eu morria de medo de fazer, morria de medo de ir no médico. No interior, as pessoas não fazem exames. Eu nunca tinha feito prevenção, agora já fiz. A gente tem aula de matemática, de português, de informática. Eu morria de medo de pegar no mouse. Ficava me tremendo, não conseguia pegar, pensava que eu ia quebrar. Aí o professor dizia: “Mulher! Pegue esse mouse. Não tenha medo, não!”. Aprendi a ligar e a desligar o computador. Melhorou bastante a autoestima. Hoje eu sei ensinar minhas filhas. Hoje eu sei trabalhar com matemática, fazer conta. Eu tenho segurança nas coisas que eu faço. Eu sou um incentivo em casa. Eu tenho cinco meninas fêmeas e elas estão estudando. Eu estudando também dou motivo para elas continuarem. Elas pensam: “Mainha que já tá velha tá estudando, eu também não vou desistir do meu estudo”. Eu não tive oportunidade de estudar quando criança que nem elas, mas eu quero que elas tenham. E eu quero ser esse exemplo, ser esse espelho para elas. Do sonho à realidade Mulheres Mil Melhorou bastante a autoestima. Hoje eu sei ensinar minhas filhas. Hoje eu sei trabalhar com matemática, fazer conta. Eu tenho segurança. 65 Mulheres Mil Do sonho à realidade A relação entre as mulheres da comunidade melhorou bastante com o Mulheres Mil. Hoje a gente se comunica. Quando tem uma passando dificuldade, quando está doente, quando passa assim alguma coisa de família, a gente vai lá saber, ajuda. E quando o ônibus vem pegar a gente, as pessoas veem e dizem: “Lá vão as Mulheres Mil”. Quando chegam nas reuniões da associação, eles dizem: “Lá vêm as Mulheres Mil”. A comunidade vê isso também; o projeto tá no povo da comunidade. Hoje eu tenho escolha. Eu quero aprender mais e mais e não vou desistir. Esse ano vou renovar minha matrícula no colégio. Estudo aqui e no colégio do estado, perto de casa. Passei de ano, terminei a quarta série. O povo fala assim: “Essa mulher tem um monte de filho e tá estudando”. Mas é porque eu quero alcançar meu objetivo de ser alguém na vida. A pessoa que não tem estudo não é ninguém não. É um cego mesmo, falando sério! Eu quero terminar meus estudos e fazer um curso para trabalhar com criança. Eu me identifico muito com criança. Eu sou uma mulher guerreira e, talvez, se eu estivesse lá no interior, não estaria aqui hoje. Me sinto uma pessoa capaz de aprender, de evoluir, que antes eu não tinha esse pensamento. Eu gosto de ser o que sou. E agora sabendo ler, aí é que eu gosto mesmo de ser o que eu sou. 66 Marta de Lima Do sonho à realidade Mulheres Mil Franzina, pele queimada do sol, Marta de Lima tornou-se marisqueira depois do casamento, quando foi morar em Bayeux. Curiosa, observava os vizinhos colocarem o barco no mar. Um dia se aventurou. Foi amor ao primeiro contato. E é do mar que tira o sustento dos filhos e a sensação de liberdade. Negociadora hábil, convenceu o marido a deixá-la estudar e a voltar a estudar. Mãe de três filhos, 38 anos, Marta cresce de tamanho quando fala da sua vontade de estudar e entrar na faculdade. Tudo que você faz tem que gostar. Eu gosto e gosto muito do que eu faço. Pra deixar de ir pra maré, só se for motivo de doença ou uma coisa muito forte acontecer. No mar, você se sente livre, respira o ar puro, que é muito bom. É maravilhoso. É uma sensação muito boa. Apesar de eu ter medo de água e não saber nadar, eu gosto de pescar. 67 Mulheres Mil Do sonho à realidade Aprendi nas aulas de meio ambiente que o que a gente tem que proteger mesmo é a área que a gente vive. 68 Aprendi nas aulas de meio ambiente que o que a gente tem que proteger mesmo é a área que a gente vive. É o mangue! Só que tem muita gente que não tem noção do valor que o mangue tem, que a maré tem. E tem um valor muito grande para mim; é o valor da minha sobrevivência e da sobrevivência de muita gente. Se você joga lixo na maré, você está poluindo o meio ambiente e aí seus filhos e seus netos não vão ver isso que eu estou vendo hoje. É isso que eu penso. Eu comecei a trabalhar aos nove anos. A gente morava na casa da minha vó, era em torno de seis filhos e só meu pai trabalhava. Eu achava muito pesado; eu sou a mais velha, então, eu tinha que fazer alguma coisa. Fiz um pequeno curso de crochê e comecei a vender minhas peças. Com isso, eu ajudava em casa. Depois, comecei a trabalhar na casa dos outros, mas sempre fazendo crochê. Lá pelos 17 anos, fui ser comerciante, trabalhar de vender sapato – a gente chama aqui de camelô. Foi nessa época que eu também parei de estudar, na oitava série. Eu não conseguia conciliar o trabalho com o estudo, aí eu resolvi trabalhar mesmo. Aos 21 anos, conheci meu marido e vim morar em Bayeux, foi quando eu comecei a pescar. Eu vim morar na beira da maré, onde eu moro até hoje. Só que antes minha casa não era de tijolo, era de taipa. Eu tinha curiosidade, via o pessoal pegando o barco e indo trabalhar. Aí eu pensei: “Eu vou também”. E meu marido dizia: “Tu não vai”. E eu dizia: “Eu vou”. E nesse vai e não vai acabei indo. Só que aí eu peguei amor. No início, meu marido foi contra eu voltar a estudar. A gente brigou muito, mas agora, não, ele já está sendo a favor. Aí eu insisti para ele ir também para a escola. Ele vai à força, mas vai [risos]. Eu vou com ele, porque ele só vai se for comigo. É engraçado demais. A professora acha engraçado porque sou eu que ajudo ele; pareço a professora na sala de aula [risos]. Eu gosto muito de Roberto Carlos, da música “As curvas de Santos”. Me lembra coisas boas da juventude. Eu gosto também de dançar na rua de casa. O pessoal gosta de fazer festinha e eu caio na gandaia com o meu marido. De clube eu não gosto, não sou muito chegada à multidão, mas uma festinha assim de rua, de família, eu tô dentro. Danço a noite todinha. O Mulheres Mil é a realização de um grande sonho. Eu me sinto realizada. Completa ainda não, porque eu não terminei os estudos. Mas só em ter tido oportunidade de voltar a estudar é um sonho mesmo. Para mim, estar aqui no Instituto é mais importante ainda, porque assim: pra poder entrar aqui, se faz prova, e eu acho que eu não entraria nunca através de prova. Entrei através de um projeto. De 2008 para cá, depois que eu entrei no projeto, eu sou totalmente diferente. Eu era mais calada, agora sou mais faladora, falo muito. Quando eu entrei, eu não sabia de nada, hoje me sinto inteligente e muito. Já posso ajudar em casa, na questão da lição com os meus filhos. Hoje, me comunico melhor com as pessoas, já sei o que tem que falar. Antes, só na vizinhança mesmo que eu gostava de conversar, mas participar de outras reuniões, ir para outros lugares, não. Agora, tenho mais força de vontade, me sinto bem. Me sinto ótima, aliás. Também teve aulas sobre direitos, e a gente tem muitos direitos. Falaram também sobre os direitos das mulheres, que tem a Lei Maria da Penha. Isso ajuda muito, porque hoje em dia tudo o que a gente vai fazer, tem homem que diz: “Ah, vou bater em você, vou fazer isso”. Puxa, que história é essa! A gente tem onde reclamar, tem onde chamar, não tem essa de bater, não! Acabou o tempo de a mulher ser escrava. A mulher agora tem que ser é livre. A gente conquistou a carteira de pesca. Para quem é pescador, serve como uma aposentadoria no futuro. Você paga o INSS1, no máximo 45 reais por ano, e no futuro se aposenta. A gente conseguiu tirar devido a essas reuniões que a gente foi convidada aqui do Instituto2. Hoje eu tenho a minha. Erro de conta eu já não tenho muito, porque já consigo fazer direitinho. Eu me acho outra pessoa. Da ida a Brasília3, eu lembro quando a gente foi para o Ministério da Educação, vendo aquele vídeo lá, com a história da vida da gente. Ali foi marcante, ver um ministro vendo eu ali, pescando, trabalhando. Me senti importantíssima. Às vezes, eu perco o ônibus, porque chego atrasada da maré. Aí eu só visto a roupa, faço carreira, chego na pista, e o pessoal diz: “O ônibus Do sonho à realidade Mulheres Mil 1. O Governo Federal do Brasil vem criando opções para que trabalhadores autônomos, entre eles pescadores, possam contribuir com o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) para garantir a aposentadoria. 2. As reuniões foram realizadas pela Secretaria Especial de Aquicultura e Pesca, e a participação das marisqueiras foi articulada pala equipe do Mulheres Mil no Estado. 3. Em abril de 2009, a Secretaria de Educação Profissional e Tecnológica (Setec) promoveu, em Brasília, um evento com a participação de uma aluna de cada estado. Na ocasião, houve o lançamento do documentário nacional do Mulheres Mil, produzido pelo cineasta Helvécio Ratton. O vídeo pode ser acessado no endereço eletrônico <www. mulheresmil.mec.gov.br>. 69 Mulheres Mil Do sonho à realidade Melhorou minha forma de pensar e tendo uma visão do mundo melhor, você pode repassar para os seus filhos. 70 já passou”. Ah, eu não acredito. Aí eu coloco sempre um dinheirinho lá, reservado na carteirinha, e venho de ônibus. Eu consegui tirar a carteira de estudante. Para mim, o projeto é tudo que eu podia conquistar na vida: voltar a estudar, conquistar minha carteira de pesca, tudo foi através do projeto. Melhorou minha forma de pensar e, tendo uma visão do mundo melhor, você pode repassar para os seus filhos. Eu insisto muito lá em casa: “Tem que estudar, porque a maré é hoje e não é amanhã”. Se eu tenho estudo, posso dar uma vida melhor para eles e, se eles têm estudo, podem ter uma vida melhor que a minha. Com estudo, a gente pode conseguir tudo, só basta você ter força de vontade e coragem. A minha meta é poder concluir os meus estudos. Aí, quando terminar vou ver o curso que vou fazer. Parar eu não vou mais, não. Espero que o projeto não acabe e que dê oportunidades a outras pescadoras, artesãs e donas de casa, porque a gente só tem a ganhar, nada a perder. Deine Pernambuco Vera Lúcia Mulheres Mil Do sonho à realidade Recife O dia a dia na Vila Chico Mendes, bairro da periferia de Recife, é embalado pelo barulho ensurdecedor dos aviões que se preparam para pousar no aeroporto internacional de Recife. Na verdade, só os visitantes os escutam, chegando a curvar os ombros com medo de que as aeronaves caiam nas suas cabeças. As crianças, nem piscam. A comunidade surgiu em 1991, quando 30 famílias de diversos bairros da capital ocuparam a área e montaram a casa que cabia no bolso – barracas de papelão e taipa. Os aluguéis consumiam uma parte considerável dos salários e a falta de política habitacional na época empurrou diversos trabalhadores para essas áreas periféricas para garantir um teto. Alguns ainda guardam na memória as histórias dos confrontos com a polícia e das lutas para conquistar os serviços básicos. Hoje, duas décadas depois, a Chico Mendes abriga mais de três mil moradores, que ainda continuam lutando por visibilidade junto ao poder público: o direito à educação, à saúde e ao trabalho. Nas ruas estreitas, algumas sem saneamento básico, a exclusão, o preconceito, a violência e o tráfico misturam-se às esperanças, à superação, à busca de oportunidades. E aqui está a importância da proximidade e atuação do Instituto Federal de Pernambuco na Chico Mendes: abrir perspectivas de trabalho por meio da oferta de capacitação na área de gastronomia. Com conhecimento prévio na área de alimentos, várias mulheres vendem comidas na praia aos domingos e outras já fazem salgados e doces por encomenda. O IF também assumiu o papel de articulador e estabeleceu parcerias com outras instituições que estão ministrando a parte prática. Com o resgate da autoestima e novos conhecimentos adquiridos, as alunas já começam a planejar o futuro. O sonho de algumas é montar um restaurante comunitário, de outras é conseguir trabalho de carteira assinada ou montar o próprio negócio. Para todas, a maior conquista é o direito de voltar a sonhar com perspectivas de melhoras. 72 Deine Araújo Do sonho à realidade Mulheres Mil Deine Araújo tem o tom de voz pausado, mas firme. Estatura mediana, um sorriso aberto, e dotada de coragem e habilidade para enfrentar os percalços nem sempre agradáveis da vida. Aos 43 anos, três filhos e 23 anos de casada, ainda recebe convite para ir namorar na praça. Determinada, terminou o ensino médio, está concluindo a capacitação profissional e planeja conciliar dois sonhos: fazer licenciatura em Matemática e abrir um negócio na área de alimentos. Para as mulheres, esse projeto significa ter um lugar ao sol, uma profissão. Elas terminam o curso e querem fazer uma faculdade. Por quê? Porque os olhos foram abertos, a janela do saber foi aberta e foi o projeto que fez isso pela gente. O meu sonho é fazer licenciatura em Matemática. Eu gosto dos números, tenho facilidade, aprendo muito rápido. Isso para mim será como um troféu, uma realização minha. Eu gosto de cozinhar e gosto de mate- 73 Mulheres Mil Do sonho à realidade 74 A construção do amor é todo dia. Eu digo muito às pessoas que todo dia meu marido é diferente. mática. Sou feliz, sou realizada porque tenho uma família estruturada. Tenho oportunidade de fazer o curso, que antes eu não tinha, e hoje a porta se abriu. Ter concluído o ensino médio foi bom, porque vivia lá presa no passado. Há 20 anos que moro aqui. No começo foi difícil, porque eu vim morar num barraco pequeno, de tábua e papelão. Não tinha piso, e o meu primeiro filho encheu os pés e as mãos de bicho-de-pé. Levei no posto e, quando a médica viu, avisou a prefeitura. A minha foi a primeira casa dedetizada. Criar filho aqui não foi fácil. Tem meninos que brincavam com eles que não conseguiram estudar, arranjaram filho na adolescência, se envolveram com o tráfico. Eu criei os três. O mais velho está no instituto, a menina casou e o mais novo está prestando serviço militar. Antes de vir para cá, meu marido tinha dois empregos e a gente vivia bem. O primeiro ele perdeu por causa da vista; o segundo, por causa da idade. Ele trabalhava com eletrônica, mas a visão ficou comprometida por causa da toxoplasmose, que o levou à cegueira quase total. É uma doença que se adquire através de fezes de cachorro, gato, pombo, frango. Provavelmente, a dele tenha sido com fezes de pombo. Ele deve ter tomado água de janeiro. É uma cultura do nordestino, é comum: as mães colhem a água da primeira chuva do ano e dão para a criança falar mais rápido. Para ele foi mais difícil, porque ele veio de Campo Grande, bairro bom, perto dos Pinheiros. O pai era gerente do Banco do Brasil, tinha carro, casa. Minha realidade foi outra. Meu pai era mecânico e funcionário público, mas, com cinco filhos, não tinha como dar tudo. Não chegamos a passar a dificuldade de não ter comida, mas de comer só uma vez por dia. A construção do amor é todo dia. Eu digo muito às pessoas que todo dia meu marido é diferente, e o que mais cativa é que ele me trata do mesmo jeito de quando eu tinha 15 anos. Ainda tem os mesmos carinhos, diz que eu tô bonita, mesmo quando eu engordei. Me dá flores, chocolate, manda mensagem fonada de amor, me chama para ir na praça namorar. Eu não vou porque tenho vergonha, digo que a gente já tá velho para isso. Quando eu chego de madrugada do trabalho, ele faz o leite, bota um pedaço de queijo no pão. Quando termino o banho, que me Do sonho à realidade Mulheres Mil sento, ele me dá na minha mão. Eu chego entre duas horas e uma e meia da manhã. Aqui na Chico Mendes, o Mulheres Mil dá oportunidade de crescimento, porque muita gente tem vontade, mas não tem oportunidade. São mulheres que não tiveram oportunidade de estudar e, às vezes, foram mães na adolescência, sem nenhuma estrutura, que arrumaram também companheiros sem grau de escolaridade. E eles são muito machistas, acham que mulher não pode trabalhar. O curso prepara para o mercado, porque tem essa parte de manipulação de alimentos, tem aula de etiqueta social no trabalho. Na manipulação de alimento, que, às vezes, a pessoa não leva em conta, aprendemos o quanto é importante, porque a gente está cuidando da vida do outro. Em português, a gente aprende a se expressar, a entender, a escutar o outro, porque a gente só quer impor. Aprende a trabalhar em equipe, porque sem o outro a gente não faz nada. E na parte de matemática, tudo que a gente faz leva matemática: peso, medida, divisão, o uso de porcentagem. Isso aí prepara para o mercado. Então é uma oportunidade que elas abraçam com unhas e dentes e que pode gerar trabalho. E eu creio que, com essa oportunidade, as portas se abrirão mesmo, tanto para quem vai abrir um negócio, como para quem vai trabalhar no mercado: num restaurante, num hotel. 75 Mulheres Mil Do sonho à realidade Aqui na Chico Mendes, o Mulheres Mil dá oportunidade de crescimento, porque muita gente tem vontade, mas não tem oportunidade. 76 Eu trabalhei em um bar e ganhava R$ 100 reais por semana, mas era muito pouco. Pelo trabalho que eu fazia, eu merecia mais. O dono era uma pessoa com pouca instrução e tudo que eu aprendia no curso ensinava para ele. Mostrei como manipular os alimentos e higiene. Aí, o que o dono aprendia comigo, passava para o pessoal da manhã. O meu projeto é abrir o meu negócio, inclusive eu já falei com uma das meninas que faz o curso comigo, porque ela gosta da parte burocrática e eu gosto de cozinha. Vamos servir almoço. Ela vai fazer a parte burocrática: ir nas firmas oferecer as quentinhas e cobrar, porque ela é boa nessa parte. Tem gente no mercado servindo quentinha em vasilha de plástico e está errado. Eu vou trabalhar com a descartável, que é mais higiênico, que é politicamente correto, que é como eu aprendi no curso. Vera Lúcia Francisca da Silva Do sonho à realidade Mulheres Mil Redescoberta talvez seja uma palavra que possa definir o momento de Vera Lúcia. Talvez porque qualquer palavra é limitada para definir processos de se ver com lentes que não sejam da inferioridade. Aos 39 anos, Vera passou a acreditar em si mesma e, aos poucos, está aprendendo a confiar nos seus talentos. Tem uma filha de seis anos, é evangélica e diz que está de partida: a saída da Vila Chico Mendes. Já a chegada tem destino desconhecido. Só uma certeza: a decolagem será na realização dos sonhos abafados pelas exclusões impostas pela vida. Toda aula que a gente ia era aquele agrado todo, era a gente aprendendo, fazendo conta em casa. Isso foi me dando aquela motivação e, aí, pronto: me apaixonei pelo projeto. É viver aquilo que a gente nunca teve. Eu nunca tive opor- 77 Mulheres Mil Do sonho à realidade Eu tinha uma autoestima um pouco para baixo, porque quem não tem estudo fica se sentindo inferior. 78 tunidade de entrar numa instituição. Eu conhecia o Cefet de ouvir falar, mas eu nunca tinha entrado. Fazer o que lá? Tava muito longe. A chegada do Mulheres Mil, para começar, levantou minha estima. Eu tinha uma autoestima um pouco para baixo, porque quem não tem estudo fica se sentindo inferior. Hoje eu me sinto um pouquinho mais realizada, porque eu conheci pessoas novas, pessoas que botam a gente lá em cima, pessoas que incentivam a gente. São experiências novas e tudo isso fez com que a gente acreditasse na gente. Eu não tive condições de estudar e não foi porque não quis. Para algumas pessoas e para mim, a vida foi muito difícil, eu não tive tudo que eu queria. Ficaram abafados dentro de mim muitos sonhos que eu não consegui realizar. Meu pai não tinha trabalho fixo, e a gente tinha que se virar para ajudar a manter a casa. Comecei a trabalhar com 12 anos, nas cozinhas dos outros, de empregada doméstica. Às vezes, a gente ia para a escola com fome, e o que ajudava era a merenda. Era dureza, tinha dia de comer um coco raspado com farinha e açúcar. Em tempo de festa a gente se animava, porque os vizinhos eram muito solidários e faziam aquelas trocas de pratos. Às vezes, a gente não tinha nada o que comer, mas a vizinha fazia uma canjiquinha a mais e mandava para a minha mãe. Aí era aquela festa. Vocês não sabem o quanto a gente valoriza essa oportunidade que o Cefet nos deu. É tanta importância que é como se fosse uma faculdade. É como se eu estivesse esperando o dia da minha formatura. Eu já estou sonhando. Terminei o ensino médio com 25 anos. Quando consegui terminar, parei, porque consegui um emprego de carteira assinada e o ritmo de trabalho era muito cansativo. Hoje eu me cobro um pouco, porque eu deveria ter investido nos estudos. Hoje eu vejo a falta que me faz no mercado lá fora por não ter uma qualificação que desse para arrumar uma coisa melhor. Hoje o que eu sei fazer é só serviços gerais. Meu casamento foi o dia mais feliz da minha vida. Com o dinheiro que eu tinha guardado durante anos, eu realizei meu sonho: casar de véu e grinalda. Esse foi o dia mais feliz. Eu me senti totalmente realizada em ver meus pais ali e eu dando esse orgulho para eles. Casei na igreja, de véu e grinalda. Casei virgem. Quando começou a parte prática do curso foi bom demais. Tá sendo show de bola. A gente pensa que cozinhar é simples. Em casa é simples, mas quando chega para trabalhar ao lado de um chef, de pessoas estudadas, Aí eu aprendi que a gente não deve baixar a cabeça, deve correr atrás dos nossos sonhos e esse projeto veio para isso. a gente tem que saber o princípio. Antes de chegar no alimento, tem que saber um monte de regra. E isso faz parte da culinária, tem que andar os dois juntos, tanto a parte teórica como a parte prática. Hoje eu estou vendo que a gente tem capacidade de estudar, pode passar em qualquer estudo que a gente queira, só basta acreditar na gente. O projeto Mulheres Mil veio para me mostrar que somos capazes, que eu não sou só dona de casa, que eu não sirvo só para estar nas cozinhas dos outros lavando prato, lavando banheiro. Não! Meu potencial pode muito mais que isso. Na questão da ética, aprendi que os direitos são de todos. Aprendi que tenho o direito de aprender, que eu sou uma cidadã igual a todo mundo, só me falta oportunidade e que não é culpa minha. Com essa desigualdade que a gente vive hoje em dia, quem é mais rico cada dia quer ficar mais rico, e quem é mais pobre, por conta disso, cada dia fica mais pobre. Aí eu aprendi que a gente não deve baixar a cabeça, deve correr atrás dos nossos sonhos e esse projeto veio para isso. Eu vou correr atrás dos meus sonhos e não tem nada, nem ninguém, que diga que eu não sou capaz, porque eu digo que sou. Meu sonho é terminar meu curso e trabalhar num restaurante, mesmo se for auxiliando Do sonho à realidade Mulheres Mil 79 Mulheres Mil Do sonho à realidade o chef. O que eu quero é estar à altura dele, porque eu tenho capacidade de estar ali ao lado dele, auxiliando. Eu quero estar trabalhando em condição de igualdade. Quando eu soube que ia ter um concurso para serviços gerais da prefeitura de Cabo, eu resolvi fazer. Eu não tinha recursos para pagar aula particular, mas peguei os livros e comecei a estudar por conta própria. Eu fiz concurso para me testar. Passei e agora estou só aguardando. Eu sempre tive esse mau hábito de me sentir inferior às outras pessoas. Sempre pensava: “Eu não posso, isso não é para mim”. Isso agora acabou. Então, eu agradeço muito a Deus e agradeço ao Mulheres Mil por nos trazer essa visão, que nós somos capazes, porque a gente não é avestruz, aquele bicho que enfia a cabeça na terra. A gente tem que erguer a cabeça e acreditar que a gente pode, se a gente quiser chegar lá no horizonte. Somos águia, a gente pode despertar. 80 Frankelice Piauí Socorro Mulheres Mil Do sonho à realidade Teresina Quem visita a Vila Verde Lar quando o calor está no auge não imagina que todos os anos os moradores sofrem com enchentes e inundações causadas pelas cheias do rio Poti. Localizado na Zona Leste de Teresina, o bairro foi ocupado por um processo de invasão, em 1999, e até hoje várias casas estão em áreas de risco. Com fortes traços rurais, ruas ainda de barro, muitas árvores e, em alguns trechos, casas com certa distância umas das outras, a sensação é de estar num pequeno vilarejo de interior. Por uma coincidência forjada pela necessidade, grande parte dos moradores veio de cidades do interior, são filhos ou netos de trabalhadores rurais em busca de um futuro. Os problemas são iguais aos das outras periferias do país: falta saneamento, política habitacional, há violência e preconceito. Em relação ao trabalho, a baixa escolaridade é a principal causa do desemprego e do trabalho informal, realidade que vive a maior parte das moradoras que participaram do curso. Sem qualificação, muitas trabalharam a maior parte da vida como empregadas domésticas. Levantar informações para ligar a demanda do mercado com os talentos locais foi uma das ações que orientou a implantação do Mulheres Mil no Piauí. Com o estado despontando como polo da indústria da moda no país, o Instituto Federal do Piauí (IFPI) fez uma pesquisa de mercado entre os empresários e os representantes sindicais para detectar as carências e necessidades da área. Já no diagnóstico realizado com as mulheres da comunidade, foi detectado que muitas tiveram contato com a área de corte e costura na infância, vendo e ajudando mães e avós a costurar a roupa dos filhos. Outras faziam pequenos consertos, fabricavam algumas peças e vendiam em feiras. E foi a partir desses levantamentos que o IFPI passou a ofertar a capacitação na área de corte e costura. Atualmente, a instituição já promoveu mudanças na proposta inicial e está ministrando qualificações nas áreas de confecção de peças íntimas e modelagem. Com a oferta do curso, os talentos adquiridos no decorrer da vida foram transformados em habilidades. Das mulheres que participaram da primeira turma, a maior parte continua trabalhando como autônoma e outras conseguiram inserção no mercado. Muitas sonham em montar seu próprio negócio e um pequeno grupo está organizando a criação de uma associação de produção. A ação está sendo articulada pelo Instituto Federal e conta com o apoio da prefeitura local. 82 Frankelice Melo da Costa Do sonho à realidade Mulheres Mil Frankelice Melo da Costa, 32 anos, é casada há 12 anos e tem três filhos. Sabe bordar e fazer crochê e é com esses talentos que ajuda na renda da casa. Para estudar, morou a maior parte do tempo longe da família, e por isso tem a sorte de contar com duas mães. Há pouco mais de um ano, ela descobriu que também tem potencial para negociar. Confiante em si mesma e no futuro, ela já estabeleceu metas para daqui a dez anos, entre elas colocar seu ateliê e fazer um curso de administração. Curso como este que a gente tá fazendo, eu e muitas outras não temos como pagar. É um curso que muito antes de começar esse projeto eu já tinha procurado, mas todos que encontrava não tinham o que eu queria, só tinham o básico: ensinar a costurar. Esse ensina o que você vai poder usar amanhã, que é cortar, desenhar, que vai poder chegar em uma cliente e saber atender, fazer com que ela saia de lá satisfeita. 83 Mulheres Mil Do sonho à realidade 84 O professor começou a botar a gente para ler, para escrever o que queria, o que não queria, o que gostava e o que não gostava. Eu vou aproveitar muita coisa no curso do Mulheres Mil. Eu entrei com um objetivo e acho que hoje eu tenho mais ainda, que é melhorar. Eu já aprendi muito. Eu dizia que sabia cortar, pegava o tecido e saía cortando de qualquer jeito. Hoje, eu pego, olho a posição que tá o fio e vejo como vou cortar melhor, a posição que eu vou botar minhas mãos, se é melhor apoiar na mesa ou não. Eu pegava a máquina e achava que sabia costurar. Aí, com as aulas, vi que aquele jeito que eu costurava era errado, a posição que eu sentava era errada. Eu digo que fui uma criança muito sapeca. As lembranças da minha infância são muito boas. A gente era uma família de nove irmãos e, como todas as crianças, brincávamos. Fui criada por duas mães. Com a minha mesmo, eu só morei até os sete anos, e aí fui morar com uma pessoa, porque onde a gente morava não tinha escola. Morei com essa senhora até os 20 anos, saí de lá quase para me casar, e eu digo que ela é minha segunda mãe. A minha mãe não era aquele tipo de andar beijando e abraçando, mas a gente diz que ela foi a inspiração para tudo. Ainda hoje é. Foi aquela que incentivou a trabalhar; começamos a trabalhar muito cedo. E ela dizia: “Amanhã, vocês vão ter a compensação”. A gente chegava lá nas férias chorando, ela dizia: “Volte e continue”. Tudo o que a gente aprendeu está servindo. Nós tivemos aulas de desenho e textura. Ainda não foi finalizada a de matemática, nem português, nem história da moda. Ética foi muito bom porque ajudou a pensar o di- reito que a gente tem, os deveres, como agir em certas situações. Tudo isso contribui muito; coisas que eu nunca tinha parado para pensar. Hoje em dia eu paro para pensar. Para mim, que não sabia desenhar nem uma bola, eu vejo uma roupa e imagino como faria se fosse desenhar. No desenho, a gente vê como pode montar, porque a professora ensinou parte por parte da roupa, da manga, do bolso, da gola. A professora ensinou muita coisa que dá para usar no dia a dia. Hoje eu posso dizer que eu reconheço um tecido! A gente aprendeu a reconhecer tecido, se é sintético. Vai ajudar em tudo, porque aí você vai saber até explicar para um cliente que tecido é. O professor começou a botar a gente para ler, para escrever o que queria, o que não queria, o que gostava e o que não gostava. Tudo isso fez com que eu me redescobrisse. Fez pensar como a gente pode fazer coisa boa por si mesmo. Para mim, o curso me ajudou de todas as maneiras. E vi que eu era capaz de fazer coisas que eu mesma tinha esquecido; não só o talento de bordar e fazer crochê, não, mas ter talento em outras coisas. Eu me redescobri como pessoa; que eu sou capaz, eu tenho talento; então fez com que eu olhasse para o amanhã, para o futuro, coisas bem boas mesmo, tanto para mim como para a minha família. Eu acho que me senti mais mulher. Eu não concluí o segundo grau; eu parei no segundo ano. Mas eu gostaria muito de concluir meu estudo; gostaria de me formar, porque eu descobri que eu tenho um ótimo talento para administrar. Há um ano mais ou menos. Sabe aquelas ideias que a gente tem? Com pouco dinheiro, saí oferecendo o que eu não sabia fazer e vendi. Transformei 50 reais em 150. Ninguém acredita, mas consegui. Tripliquei. Muito bem aplicado o dinheiro. Aprendi a fazer crochê com uma vizinha. De lá para cá, eu já comprei uma máquina de costura, porque precisava para costurar algumas peças; eu mesma já costuro na máquina. Hoje quando um mês é bom de venda, eu chego a faturar uns 350 reais. Então, um dia eu gostaria de fazer um curso de Administração. Eu me vejo hoje segura do que eu quero para amanhã. Quero continuar fazendo o que eu faço. Daqui a dez anos, eu quero me considerar uma mulher de sucesso, ser reconhecida pelo trabalho, estar com o meu próprio negócio, botar meu ateliê e já ter uma estabilidade Do sonho à realidade Mulheres Mil 85 Mulheres Mil Do sonho à realidade Projetos como esses são muito raros; pelo menos aqui eu não conhecia nenhum. financeira. Eu quero ganhar o suficiente para ter uma vida confortável. Meus filhos fazendo uma faculdade, eu já ter feito a minha também. Projetos como esses são muito raros; pelo menos aqui eu não conhecia nenhum. Você vê que tem muita mulher em casa sem fazer nada, só faz o dia a dia, cuida do marido, da casa, dos filhos e não tem uma coisa assim para ela ter um treinamento. Seria uma coisa que ajudaria a muita gente que não tem como pagar, não tem como se sustentar, e as pessoas tendo um curso para se qualificar: Nossa! É bom demais! Eu diria que é uma pena se não investisse mais. Para mim, se tivesse mais investimento seria melhor ainda. Se tivesse outros projetos como esse, tirava muitas pessoas da miséria. Eu acho que, quando terminar, vou sair qualificada e vou ter até coragem de sair e bater na porta de uma empresa e dizer: “Ó, tô precisando de um emprego. Tá bem aqui meu certificado do curso de qualificação”. Para mim vai ser bom, e espero que outras consigam também o objetivo de se realizar. 86 Maria do Socorro Costa Do sonho à realidade Mulheres Mil Maria do Socorro Costa tem coragem de sobra para enfrentar o novo. Depois de levar calote do patrão, quando era empregada doméstica, resolveu dar um basta e aprendeu a costurar com a irmã. Há pouco mais de um ano, mudou para Goiás com o marido para tentar um futuro melhor. Na bagagem, levou o medo do novo, saudades da família e a habilidade de costurar, que aprendeu com as necessidades da vida e se aperfeiçoou um pouco mais no projeto. Lá conseguiu emprego, conheceu o mercado e hoje trabalha por conta própria. Mulher, quando aprende alguma coisa, corre atrás. No Piauí não tem muita coisa, tudo é para homem. Então, quando tem um incentivo para mulher, quando elas veem que sabem, vão atrás. Aí dão um futuro melhor para o filho, compram uma coisa aqui, uma coisa acolá, ajudam o marido, ajeitam a casa. Eu acho muito importante. 87 Mulheres Mil Do sonho à realidade 88 Minha história de vida é assim: eu nasci no interior do Piauí, em Pimenteiras. Depois, a gente foi morar em São Miguel dos Tapuios, onde eu fiquei até os 15 anos. Meu pai é lavrador, minha mãe também. A gente sempre trabalhou, éramos em 11 irmãos. Meus irmãos mais velhos, nenhum teve oportunidade de ter escola. Só depois de mim e de dois mais velhos que eu, a gente pôde morar na cidade e começou a ir para a escola. Mas aí meu pai revezava: iam uns numa semana e outros ficavam em casa, iam para a roça com ele. A gente passava muitas dificuldades. Tinha dias de só ter assim feijão, sem tempero, só com sal. E eu não gostava daquilo, eu sempre quis melhorar, trabalhar. Com 14 anos, eu ainda tentei trabalhar, vendendo coisinhas. Vendia cheiro-verde, pimentões. Eu fazia tudo para ter alguma coisa. Com 15 anos, fui para Teresina, e trabalhava sempre de doméstica. Em 2004, 2003, mais ou menos, eu trabalhei em uma casa um ano e cinco meses e, durante cinco meses, meu patrão não me pagou. Eu esperava muito, porque eu queria comprar minha casa, melhorar minha situação, porque eu sonhava muito em ter um filho. Eu fiquei muito revoltada e eu disse que dali em diante eu ia trabalhar por conta própria, não ia mais trabalhar na casa de ninguém. Aí minha irmã fez um curso no Senai de corte e costura, mas eu não pude pagar. Ela ia trabalhar e eu também: arrumava a casa dela inteira, limpava, lavava roupa, fazia comida, fazia tudo para quando ela chegar ter o tempo de me ensinar a costurar. Aí eu aprendi, comprei uma máquina à prestação, com a ajuda do meu marido. Aí fui trabalhando muito, fazendo as minhas pecinhas e levando para a feira, subindo ladeira, empurrando bicicleta, levando meu filho, lutando. Eu tenho 29 anos. Casei com 21 anos. De lá pra cá, eu vivo da costura. E aí apareceu o curso para gente. A princípio, eu achei assim: tudo enquanto ia para o bairro era de momento – o pessoal fala muito, tem muitas coisas e depois some, não tem mais. E eu achava que o curso ia ser isso, mas aí eu me inscrevi, chamei minha irmã e a gente foi. E eu fiquei muito feliz por ter o curso na nossa vida, e, como muitas das meninas falam, mexe muito com a autoestima, porque a gente tem vontade de crescer, melhorar. Lá no Piauí, eu trabalhava com feira, fazia minhas pecinhas e vendia e também para as pessoas que revendiam. Do sonho à realidade Mulheres Mil Eu só vivia na minha vidinha, costurando e levando para a feira. Hoje eu já sonho maior. Na minha profissão, melhorou mais porque eu já sei mexer com máquinas industriais. Já sei fazer além do que eu fazia. Antigamente, eu só fazia peça íntima de criança. Agora eu já faço camisetas, vestidos. Com o pouco que eu aprendi da modelagem no curso, eu sei cortar um vestido, camiseta, já estou aprendendo a fazer moldes. Eu aprendi também a cortar uma modelagem, fazer uma modelagem e na costura já estou bem melhor. Aquele vestido de noiva, de patchwork, que a professora ensinou, a gente montou completinho1. E aí a gente aprendeu que montar pedacinhos, fica uma coisa maravilhosa, fica show. Aprendi o nó da costureira, e eu nem o nó de costureira sabia dar. Aprendi a tirar o molde de uma revista. Lá no Piauí, eu trabalhava com feira, fazia minhas pecinhas e vendia e também para as pessoas que revendiam. Aqui, em Goiás, mudou. Eu pego a confecção e faço na minha casa e não tenho que estar correndo com bolsa na cabeça na feira. Eu faço facção: vem camiseta cortada e pintada da serigrafia e eu monto. E eu ganho por peça. Meu sonho é colocar meu ateliê. Quero fazer uma camiseteria – a serigrafia para o meu esposo, eu na costura – e montar o nosso negócio, para nenhum dos dois, nem meu filho, precisar trabalhar para ninguém. Eu estou com duas máquinas industriais. Eu quero continuar fazendo curso. No próximo ano, quero fazer um curso de modelagem. 1. Em novembro de 2009, as alunas da primeira turma levaram peças feitas com técnica patchwork, entre elas um vestido de noiva, para expor no I Fórum Mundial de Educação Profissional e Tecnológica. 89 Mulheres Mil Do sonho à realidade É uma oportunidade. Eu aprendi muita coisa que eu ponho em prática hoje. Esse projeto ajuda a mudar a vida. 90 Eu costumo dizer para o meu bebezinho que, quando ele crescer e estiver na faculdade, eu vou comprar um carro para ele ir. A gente só sonha em crescer. Eu sonho em poder dar um futuro melhor para o meu filho, poder ajudar minha mãe, meus irmãos. Tenho dois irmãos deficientes visuais. Então, a gente sonha em ter pra ajudar o outro. E a única oportunidade que mulheres que estão na periferia têm é uma coisa assim, se for um programa assim. É uma oportunidade. Eu aprendi muita coisa que eu ponho em prática hoje. Esse projeto ajuda a mudar a vida. Joana Rio Grande do Norte Josirene Mulheres Mil Do sonho à realidade Assentamentos de Canudos, Aracati, Bebida Velha, Modelo I e II Longe da cidade, a vida das alunas dos assentamentos se repete e se perde nos afazeres domésticos e na roça. A paisagem é de sertão: secura da terra, o vento levantando e carregando a poeira, sol escaldante, pouca vegetação. Quando o inverno é bom, há fartura. Da terra, vem o feijão-verde, o milho, a mandioca, o quiabo e o maxixe. Quando a chuva é escassa, o jeito é economizar água e comida, quando tem. Os homens tratam de arranjar pequenos trabalhos nos arredores, quebram pedras. As mulheres ficam em casa. No Rio Grande do Norte, o projeto atende cinco comunidades, quatro em assentamentos e uma no município de Touros. Trabalhadoras rurais, a maior parte das alunas vem de famílias numerosas, trabalharam a partir dos sete anos e não concluíram o ensino fundamental. Na época, chegar à quinta série era o topo. 1 1 Assentamento Modelo II As realidades geográficas e política são complexas, e para promover as qualificações profissionais e assegurar a oferta educacional, o Instituto Federal do Rio Grande do Norte enfrentou diversas dificuldades, desde o transporte – pois os assentamentos são distantes um dos outros – até o processo de diálogo e negociação com entidades locais – que foi longo e precisa ser constante. Em todos os assentamentos, há uma escola que não funcionava à noite nem ofertava Educação de Jovens e Adultos. Assim, o estudo para essas mulheres era uma ilusão. E é exatamente essa a importância do projeto nesses locais: garantir a oferta de educação para mulheres jovens e adultas. Através do Mulheres Mil, o Instituto Federal negociou com as prefeituras a oferta de elevação de escolaridade. As capacitações serão nas áreas de corte e costura, beneficiamento e conservação do pescado, alimentos – fabricação de doces caseiros, fabricação e conservação de polpa de frutas – e artesanato. Além disso, as alunas estão sendo inseridas no dia a dia da escola, quando participam de palestras e eventos sobre temas importantes para a trabalhadora rural, tais como aposentadoria, cooperativismo, entre outras. 1 92 Com isso, para algumas, estudar entrou na rotina. Com lanternas na mão – nos assentamentos não há iluminação pública, a luz é só nas casas – elas vão caminhando pelas ruas largas, passando umas nas casas das outras até chegarem juntas à escola. Lá, elas enfrentam os seus medos e, aos poucos, reaprendem a sonhar. Joana Darc dos Santos Do sonho à realidade Mulheres Mil Joana Darc dos Santos não gosta muito do nome, mas parece ter herdado da heroína a coragem. Enfrentou, com marido e três filhos, a polícia pela posse da terra, acampada em uma barraca de lona por quase um ano. Com a mesma coragem, hoje ela enfrenta o quadro-negro. Fica gelada, treme até a alma quando tem que escrever nele, mas vai. Já escreve o nome em público, e quando o professor passa a chamada ela é a primeira a assinar. E Joana vai, sempre tocando a vida em frente. Eu não gosto do meu nome porque tudo quanto acontece as pessoas dizem: “Vai pra casa da mãe Joana!” [risos]. Meu marido trabalha na agricultura e, quando não tem chuva, ele faz bico. Eu vivo mais da minha renda do Bolsa Família, é o que eu posso ajudar. Recebo R$ 200. Serve demais, na minha casa é fundamental mesmo, porque são nove pessoas e sem ter emprego fixo. 93 Mulheres Mil Do sonho à realidade 94 A gente, às vezes, não sabe pegar num lápis direito e vai aprendendo. Eu ainda tenho tanto medo do quadro... Hoje em dia quem não tem estudo não tem nada, para tudo depende do estudo. Eu tive essa oportunidade antes e não aproveitei, e hoje tá me fazendo falta. Porque se eu tivesse estudo, eu tava o quê? Tinha feito um concurso na prefeitura, como de fato eu fiz e não passei. Tinha mais uma chance. Meus pais se separaram e minha mãe tinha levado meu registro. Depois, quando eu tinha uns nove anos, meu pai arranjou a documentação, mas eu não tinha interesse de estudar. Logo no começo eu ia, mas meus colegas ficavam mangando de mim; eu não sabia ler, não sabia escrever. Aí eu me incomodava e não queria ir mais. Desistia. Eu espero muito desse programa. Eu espero concluir e nunca mais parar de estudar, porque se eu tivesse estudado eu podia oferecer coisa melhor para os meus filhos; porque uma mãe quer é o melhor pros filhos. O programa oferece vários cursos, vou escolher um desses cursos para ver se eu consigo me capacitar. Eu gosto de cozinhar, e acho que é desse que vou querer. Vou estudar bastante e não vou desistir. Não vou deixar a oportunidade passar, vou aproveitar, vou insistir até eu conseguir, porque tudo a gente consegue se tiver força de vontade. Né isso? Eu também quero servir de exemplo para os meus filhos. Eu tenho sete filhos, e como eu posso incentivar meus filhos a estudar se eu mesma mostro que não tenho interesse em meus estudos? Eu não quero que eles se transformem no que eu me tornei: uma pessoa sem estudo, sem conhecimento. E hoje em dia a gente só consegue uma coisa tendo estudo. Se junta um grupo e todas têm um sonho ali junto, todo mundo tem aquele objetivo! Aí incentiva mais. À vista do que eu era? Tô aprendendo. Porque é uma cultura diferente. A gente, às vezes, não sabe pegar num lápis direito e vai aprendendo. Eu ainda tenho tanto medo do quadro... Mas eu fico tão gelada quando me chama para ir no quadro. Ai, meu Deus do Céu! Mas vou perdendo medo e enfrentando a vida! Meu marido tinha assim o sonho de arrumar um pé de chão para viver trabalhando. Primeiro queria que ele desistisse. Quando ele me falou que tinha polícia, eu disse: “Desista! Desista que isso aí não vai dar certo!” Mas ele disse que não ia desistir. Aí, quando eu vi que ele não ia desistir, tinha que acompanhar mesmo. Aí vim para cá em 95, morava nas barraquinhas de lona. Era um sofrimento tão grande. Imagine! A gente tava num canto, chegava a polícia, despejava. A gente saía com os troços na cabeça, tirava a gente pra fora da fazenda. Depois, voltava para trás de novo. Vim com as crianças; eu tinha três crianças na época. Durante o dia, que era muito quente, ele botava os meninos pra dormir do lado de fora. Com uns paus botava a rede na sombra. Quando era de noite, botava para dentro, porque a quentura era demais. Foi um ano de luta para conseguir. Depois fez o cadastro e fizemos a casa de taipa. Com todo o sacrifício, mas valeu. Eu queria que a minha comunidade melhorasse mais, tivesse mais médico, tivesse uma rodagem, mais condições de viver aqui dentro, porque eu não pretendo sair daqui pra morar na cidade, porque na cidade atrai muito é violência, principalmente a gente que tem filho jovem. O medo é grande de levar pra dentro de uma cidade e destruir a vida deles. Prefiro morar na minha comunidade mesmo, mas preferia que melhorasse mais, os governos olhassem mais por nós e dessem mais condições: um meio de a gente poder arrumar um emprego, de sobreviver melhor dentro do nosso campo. Aqui na região. Eu estou aprendendo assim a escrever, porque eu não sabia muito escrever. Eu estudei até o quarto ano, mas não sei ler direito. Leio algumas palavrinhas, mas errando muito. Ainda tô lutando, porque eu sei mais na escrita do que na leitura. Eu era muito nervosa quando chegava a vez de mandar assinar meu nome. Eu sei escrever, mas, vamos supor, se eu fosse num banco e alguém dissesse assim: “A senhora assina?”. Eu ficava com tremor dentro de mim porque eu tinha medo de errar alguma letra. Tinha vez que Do sonho à realidade Mulheres Mil 95 Mulheres Mil Do sonho à realidade eu dizia que eu não sabia, só pra assinar no dedo e ir mais rápido. Todo dia, quando o professor passa a lista de presença, sou uma das primeiras a assinar. Agora assino o nome tranquila! De tudo eu aprendi um pouquinho, matemática aprendi um pouco! Das palestras do IF eu gostei, sobre cooperativismo, não sei muito o nome, mas gostei dessa palestra. Mudou várias coisas na minha vida, porque primeiro eu não sabia assinar meu nome corretamente, e eu tinha medo de assinar, tinha bastante vergonha de errar e passar vexame. E agora eu não tenho mais. Se aparecer alguma coisa na televisão eu já leio sem tá pedindo aos outros pra lerem pra mim. Tô podendo buscar mais conhecimentos e coisas que eu não conhecia. Isso foi depois do projeto. Eu acho que é o incentivo e as propostas de melhora pra gente. Se junta um grupo e todas têm um sonho ali junto, todo mundo tem aquele objetivo! Aí incentiva mais. E tudo por um objetivo só: melhorar. 96 Josirene Francisca de Almeida Do sonho à realidade Mulheres Mil Josirene Francisca de Almeida tem 54 anos e doze filhos. Trabalhadora rural desde os sete anos, ela mora no assentamento Modelo II e faz parte das estatísticas de mulheres que estiveram ao lado do marido na luta pela terra. O sonho? Aprender mais. E ela não balança quando alguém diz que o tempo de estudar já passou. Aliás, pouco foi o tempo para as letras. De uma família de 12 irmãos, a urgência da sobrevivência falava mais alto. A partir dos sete anos, estava sempre dividida entre a roça e os cadernos, e as reprovações foram minando o ânimo. Abandonou a escola. O primeiro encontro dos alunos com os professores, o primeiro dia em sala de aula... A emoção foi boa, muito boa. Eu me emocionei muito quando foi passado o primeiro dever no quadro. Tive aquela recordação, de pequena, quando aos sete anos fui para o colégio. Me senti como se tivesse voltado a 97 Mulheres Mil Do sonho à realidade Já leio, já escrevo. A gente vai pegando mais um conhecimento de coisas que não conhecia. Eu adoro. ser criança outra vez. Fazia 35 anos que eu não tirava o dever de um quadro. Foi bom! Foi bom! E continua sendo bom. Eu aprendi mais experiência. Aprendi mais geografia, matemática, estudos sociais. Eu gostei das aulas, também tiveram as viagens para o Cefet. Eu gostei também, foram muito boas, aprendemos mais algumas coisas. Eu gostaria de fazer o profissionalizante do curso de corte e costura. Meus pais eram agricultores e são até hoje. Comecei a trabalhar no roçado com sete anos. Às seis e meia da manhã já tava levantada. Aí trabalhava até as dez e meia, e de onze horas tava em casa para entrar na escola de uma e meia da tarde. Ficava cansada, mas, na época, os pais não queriam saber se os filhos estavam cansados. Tinha que ir, tinha que obedecer, tinha que trabalhar! Eu estudei até a terceira série. Eu era atrasada nos estudos, não passava no final de ano, era reprovada. Foi o tempo que casei, desisti. Casei com 16 anos e tava na terceira série. Eu resolvi voltar a estudar porque eu deixei muitas coisas para trás. No estudo, o pouco que eu aprendi não é o suficiente para mim. Eu queria 98 aprender mais, entender mais, chegar mais a leitura para ter um conhecimento melhor, porque o meu conhecimento da leitura ainda tava pouco. Eu estou gostando muito do projeto. Para mim, quanto mais aprender, melhor será. Já leio, já escrevo. A gente vai pegando mais um conhecimento de coisas que não conhecia. Eu adoro. Eu lembro assim, tinha dificuldade na leitura, não era para ler, era para escrever. Muitas palavras, muitas letras eu não acertava escrever corretamente. Agora já conheço as letras bem direitinho, já escrevo tudo OK. As professoras são excelentes, eu gosto muito das minhas professoras. Moro aqui há 15 anos e tenho 12 filhos. Seis moram comigo e seis moram fora. Quando cheguei aqui era só mato, depois o pessoal desmatou e foram feitas as casas. Eu não cheguei a morar em barracas, vim depois que as casas de taipa tavam prontas, porque tinha filhos pequenos estudando lá onde eu morava. Meu marido resolveu vir para cá porque lá onde nós morávamos era na cidade, em Ceará-Mirim, e ele nasceu e se criou na agricultura e não tinha terra para trabalhar. Por isso, ele procurou um acampamento e depois passou a ser um assentado, para trabalhar e sobreviver. Ele trabalha na agricultura, no roçado. Este ano não tá bom, porque não houve inverno, e, não havendo inverno, não há fartura. Uma criança que começa a trabalhar muito cedo, quando chega à idade dos seus 40 anos, já tá muito cansada. Que é o meu caso e de muitas pessoas. E ainda trabalho na roça. Quando chega o inverno, é plantar, é colher. Quando não é inverno, é só em casa mesmo, é cuidando da casa e dos filhos, lavar roupa, cozinhar, varrer. À noite é ir para escola. Fico cansada, mas tem que enfrentar. Tem horas que eu cochilo dentro do colégio. Aí a professora diz: “Dona Josirene!” – “Eu tô aqui professora!”, respondo. Cansada, mas tô lá. [Risos] Do sonho à realidade Mulheres Mil 99 Mulheres Mil Do sonho à realidade Eu acho que estudar melhora o conhecimento; através do estudo a gente pode ter uma vida melhor. Pela minha idade eu não tenho como sonhar mais alto não, só aprender mais, ter mais conhecimento. Eu sei que eu não formo mais. Meu marido diz: “Josinha, tu com essa idade, estudando? O que tu tinha de aprender, já aprendeu!”. Aí, eu digo: “Mas eu quero aprender mais!”. Eu sei que eu não me formo mais uma médica, não me formo mais uma engenheira. Eu acho esse projeto importante. Eu acho que estudar melhora o conhecimento; através do estudo a gente pode ter uma vida melhor. Umas aqui desejam ser veterinária, outras sonham em ser nutricionista. Cada uma tem um sonho, né! Se eu pudesse me formar ia ser psicóloga, porque eu acho muito bonito, e a primeira pessoa que eu ia conversar era meu filho, porque ele é uma pessoa muito nervosa, tudo ele se agita. Ele estuda e é inteligente, mas sofreu muito para chegar no primeiro ano. Passava vários anos na mesma série. 100 Celly Rondônia Filomena Mulheres Mil Do sonho à realidade Ji-Paraná Jardim dos Migrantes e Novo Ji-Paraná são os dois bairros beneficiados com o Mulheres Mil e também com a chegada do Instituto Federal no Estado de Rondônia, que foi criado em 2008. Em Ji-Paraná, que fica a 373 km de Porto Velho, capital do Estado, o campus tem aquele cheiro peculiar de prédio novo – começou a funcionar em 2009 –, e melhor: com os portões abertos à comunidade que nunca teve acesso à educação profissional. Lá, o processo de expansão da rede federal de educação profissional e tecnológica salta aos olhos e há muitos desafios, entre eles o de criar uma oferta educacional que atenda às necessidades e à vocação da região e que respeite e inclua cidadãos que por décadas estiveram à margem do direito e do acesso à educação. As comunidades que serão beneficiadas pelo projeto são vizinhas e parecem ainda áreas rurais. Há pouco comércio, casas com certa distância umas das outras, sem saneamento básico, com iluminação pública precária e quando chove é difícil se movimentar, a lama toma conta das ruas. Nos bairros, é fácil encontrar alunas vindas de norte a sul do Brasil. As histórias dessas mulheres se entrelaçam de tal forma que até podiam ser de uma mesma família. Na verdade, podiam ser de qualquer uma das 14 comunidades atendidas pelo Mulheres Mil. Trabalho infantil, falta de tempo para a escola, violência doméstica, baixa autoestima e uma força imensurável para cuidar dos filhos são pontos de encontro. Por lá, o Mulheres Mil está começando. Até o fechamento da publicação, janeiro de 2011, elas tinham tido algumas aulas em novembro e dezembro de 2010. Por isso, aqui, elas falam de expectativas. A capacitação será na área de artesanato e biojoias, e o Instituto Federal está buscando parcerias para garantir a elevação da escolaridade e a comercialização dos produtos que serão elaborados pelas alunas. A promoção do diálogo e do acesso da comunidade ao campus é uma ação inédita no local e, no futuro, deve gerar outros desdobramentos. A maior parte das alunas trabalha de empregada doméstica e o sonho é conseguir um emprego melhor para garantir perspectiva de futuro para os filhos. 102 Celly Santos Silva Celly Santos Silva tem 25 anos, quatro filhos, dois casamentos. Parte da infância, trabalhou na roça, a outra, em casa de família, para ajudar a criar os irmãos. Na adolescência, chegaram os filhos. Teve o primeiro com 14 anos e a partir de então não sobrou tempo para estudar. O sonho, como o da maior parte das mulheres, é crescer para ajudar os filhos. Contrariando as previsões da mãe, Celly pretende fazer faculdade. Do sonho à realidade Mulheres Mil 1. Com o nome de Seringueiras, o município foi criado pela Lei nº 370, de 13 de fevereiro de 1992, assinada pelo governador Oswaldo Piana Filho. Eu fiz até a quinta série. Meu sonho é terminar meus estudos. Eu acho que é uma oportunidade pra gente agarrar com unha, força e vontade. É uma oportunidade de a gente sair da vida que viveu até agora. Por exemplo, eu não tive muita oportunidade de estudar. Nós morávamos em Seringueiras1. Éramos seis irmãos. Lá a gente só tem dinheiro de ano em ano. Tem os maquinistas que compram café e durante esse ano a gente pode ir pegando dinheiro com eles. Eu lembro 103 Mulheres Mil Do sonho à realidade 104 que, na época, meu pai se matou. Ele bebeu veneno porque tava devendo muito. Eu tinha um irmão que tava mexendo com droga e meu pai fazia de tudo pra ele não roubar. A gente ficou devendo 240 sacas de café. Minha mãe ficou com aquela conta nas costas pra pagar. Daí eu tive que encontrar um jeito pra ganhar dinheiro extra pra ajudar minha mãe. Saí de casa com 11 anos pra trabalhar na casa dos outros. Naquele tempo, tudo que eu pensava era em parar de trabalhar na casa dos outros e ter minha própria casa, mas eu não pensava no problema que eu poderia arrumar, arrumando um marido. Na época, eu não sabia me prevenir pra não ter filho, eu não tinha com quem conversar sobre isso. Muito jovem fui morar com um cara. Eu tinha 13 anos. Aí ele começou a me bater, se chegasse em casa – ele trabalhava na roça – e tivesse qualquer coisa fora do lugar, batia em mim e nos meninos. Tive dois filhos com ele. Vim pra Ji-Paraná fugida. Peguei só uma roupa minha e dos me- Quero concluir o terceiro ano e fazer um técnico de enfermagem, e do técnico de enfermagem, se Deus quiser, ser pediatra. Do sonho à realidade Mulheres Mil ninos e fui pra casa da minha mãe. Eu tinha 16 anos e comecei a trabalhar de novo na casa dos outros pra ajudar minha mãe a sustentar eles, porque o que eu ganhava não dava pra manter eles sozinha. Eu espero, com o Mulheres Mil, fazer um curso, pra que eu possa arrumar um serviço que não seja de doméstica. Quero conseguir um dinheiro pra terminar meus estudos: concluir o terceiro ano e fazer um técnico de enfermagem, e do técnico de enfermagem, se Deus quiser, quero ver se consigo pagar a minha faculdade e ser pediatra. Eu amei as aulas. Foi mais conversa pra gente conhecer as colegas de sala de aula, mas eu estou gostando demais. Eu tinha um pouquinho de medo; aí, com as explicações do professor, eu perdi o medo. É mais fácil do que eu imaginava; eu tinha muito medo de mexer no computador, de apagar, agora não tenho mais. Eu me acho uma pessoa simples, às vezes, sem conhecimento nenhum; sou uma pessoa alegre, sou uma pessoa animada. Eu me acho muito corajosa, por não ter medo de enfrentar a vida; tem gente que olha qualquer obstáculo e diz: “Isso pra mim não dá, isso não pode acontecer”. 105 Mulheres Mil Do sonho à realidade Daqui a dez anos, eu imagino, pode ser até ali onde eu moro, ter uma casa confortável. Voltar a estudar pode mudar completamente minha vida. Pode mudar pra mim, pode mudar para os meus filhos. Daqui a dez anos, eu imagino, pode ser até ali onde eu moro, ter uma casa confortável. O meu filho mais velho vai estar com 21 anos, o outro, com 18 para 19 anos, sei que o meu caçula vai estar com seus 12 para 13 anos, e o outro com 16. Se eu ainda não tiver terminado, é pra eu já estar fazendo minha faculdade e num emprego bom, podendo ajudar meu filho mais velho a fazer a faculdade dele também. É isso que eu imagino daqui a dez anos. 106 Filomena Ferreira de Abreu Do sonho à realidade Mulheres Mil Entre as décadas de 1970 a 1990, milhares de trabalhadores do Sudeste migraram para o Norte do país em busca de terra. A história de Filomena Ferreira de Abreu está diretamente ligada a esse processo de migração. Natural de Minas Gerais, ainda criança se mudou com os pais para os arredores de Ji-Paraná. Morava em um sítio e cedo começou a trabalhar na roça. Com 43 anos, três filhos, um dos sonhos é voltar à sua cidade natal e conhecer o restante da família. O outro, conhecer a praia. Calada, relata que só agora está conseguindo falar mais e pretende terminar o ensino médio para conseguir um emprego melhor e ver o mar. Minha mãe trabalhou bastante, e nós ajudávamos a plantar e colher. Depois que meu pai morreu, minha mãe vendeu o sítio, que ficava no KM 12 e comprou uma casa no Jardim dos Imigrantes e veio pra cá. Nessa época, eu já tinha 14 anos. E aí a vida ficou mais difícil ainda, por- 107 Mulheres Mil Do sonho à realidade que na cidade grande é mais difícil, e ela não tinha estudo. Meu irmão, com 14 anos, começou a trabalhar, ela trabalhava em casa de família, e eu tomava conta da casa e dos irmãos pequenos. Eu tive o meu primeiro filho com 16 anos. Minha mãe não deixava eu namorar, aí fugi com o primeiro rapaz que saí. Meu marido não gostava muito de trabalhar. Aí eu voltei pra casa da minha mãe grávida. Depois, eu casei de novo. A vida melhorou por um tempo, tive dois filhos. Ele bebia muito, era violento, levei até um tiro. Eu não denunciei porque ele foi junto comigo na ambulância e dizendo que, se eu falasse, ele matava a menina e se matava. Eu nunca falei. Eu me separei, fiquei morando em Porto Velho. Agora está com quatro anos que eu estou aqui de novo. Quando criança eu estudei até a quinta série. Eu gostava de ir pra escola pra encontrar os amigos, pra aprender também. Todo dia a professora escolhia duas meninas pra ir fazer a merenda, porque não tinha fogão, tudo era cozido à lenha. A gente ia acender o fogo, apanhava uns panelões para cozinhar, fazia sopa ou arroz doce. Tinha umas sopas salgadas que nunca mais vi delas, vinham em um pacote grande. Era só pôr na água e deixar ferver, ficava muito bom. Depois de 24 anos, voltei a estudar. Eu estudei até a oitava série, a escola era longe, chegava cansada. Meu sonho é terminar meus estudos e 108 Quando criança eu estudei até a quinta série. Eu gostava de ir pra escola pra encontrar os amigos, pra aprender também. arranjar um emprego bom. Hoje em dia, eu sou diarista, é difícil. Ganho pouco. Eu queria dar condições de vida melhor para os meus filhos. Um sonha em fazer uma faculdade, e eu não tenho como ajudar. Eu primeiro matriculei minha filha, depois é que eu vim para o projeto. Eu tô achando ótimo, porque a gente vai aprender bastante, já tivemos umas aulinhas de computador, pouquinho. Eu tenho vontade de aprender a mexer. Alguma coisa eu já sei mexer, mas é pouco. Foi legal; a professora deixou a gente à vontade, eu mesma tinha medo de mexer e estragar. Eu me sinto acolhida, as pessoas conversam bastante, as professoras perguntam bastante coisa, como a gente tem passado. Aí a gente se sente bem. As pessoas olham mais, esperam mais da gente; é bom, é muito bom. Isso incentiva bastante. É bom conhecer gente nova, com outras cabeças. A gente vai aprendendo bastante com a história dos outros. Eu aprendi que a gente tem que aceitar os outros com os seus defeitos; ninguém é perfeito, todo mundo erra, todo mundo tem problemas. Melhora bastante a autoestima, que é a gente se sentir bem com a gente mesma e se sentir feliz, con- Do sonho à realidade Mulheres Mil 109 Mulheres Mil Do sonho à realidade 110 Eu me sinto acolhida, as pessoas conversam bastante, as professoras perguntam bastante coisa, como a gente tem passado. versar mais. Eu estou aprendendo a conversar bastante, porque eu acho que eu tive poucas amigas por causa disso, porque eu sempre fui muito tímida, quase não conversava, era muito calada. Eu espero terminar meus estudos, aprender o máximo que eu puder, e talvez arrumar um emprego melhor, pode ser na área de vendedora, uma coisa assim, até pela prefeitura. Na real, eu queria passar num concurso. Eu tenho o sonho de construir minha casa, e quero começar a construir no ano que vem. A casa que eu tenho é de madeira e eu quero fazer de alvenaria. E tenho o sonho também, que eu não sei quando que eu vou realizar: eu quero ir à praia. Sempre vejo pela televisão. Simone Roraima Sôngila Mulheres Mil Do sonho à realidade Boa Vista Fronteira com a Venezuela e Guiana Inglesa, Roraima é usada como corredor do tráfico. A atividade vitima várias mulheres que, por diversas razões, acabam sendo presas. Na penitenciária Feminina de Boa Vista, são mais de 100 reclusas cumprindo pena, quase todas por tráfico. Há mulheres de todas as faixas etárias, jovens de 18 anos e adultas com mais de 50. Vindas de várias partes do Brasil e de outros países, incluindo índias das etnias macuxi e wapichana, muitas são usadas como “mulas”. Sem saber, são negociadas, entregues pelos traficantes à polícia para mascarar a entrada de carregamentos maiores. Algumas nunca se envolveram, mas, como não denunciaram os filhos e maridos, são consideradas cúmplices. A penitenciária é pequena e elas dividem a cela com até quatro mulheres. As camas são beliches e em todas há uma pequena cozinha para fazer lanches. O difícil é aguentar o calor; alguns espaços são cobertos com telhas de amianto e a sensação térmica dá a impressão de uns 50 graus. Chega a faltar ar. A carência de recursos para pagar um advogado faz com que algumas esperem até mais de dois anos pelo julgamento, e o abandono da família leva várias a uma profunda crise de tristeza. No berçário, o choro e os gritos das crianças as tiram do presente, nem parece que se está num presídio, mas o olhar e o desespero de algumas reeducandas retratam a necessidade de construir alternativas para o futuro. Um dia elas sairão. Em Boa Vista, houve um encontro de intenções. A direção do presídio buscava alternativas de oferta de educação e o Instituto Federal de Roraima (IFRR) estava discutindo o Mulheres Mil. Para viabilizar o projeto dentro do presídio, o IF assumiu o papel de articulador, sensibilizando várias instituições locais, imprescindíveis para que as ações cotidianas pudessem acontecer, desde as mais simples, como garantir a permissão da justiça para que os servidores pudessem ministrar aulas no presídio, até as mais complexas, como conseguir permissão e escolta para deslocar as reeducandas para as aulas práticas. A junção de esforços teve um final feliz. Oitenta mulheres foram capacitadas na área de alimentos e estão elevando a escolaridade. Algumas já foram soltas e conseguiram trabalho na área, e uma montou um negócio no presídio masculino. As entidades continuam planejando ações para garantir a inserção dessas mulheres no mundo do trabalho. Uma das propostas é ajudá-las a organizar uma cooperativa para que possam fornecer as suas próprias refeições no presídio. Hoje, o Governo do Estado contrata uma empresa privada. 112 A meta é ajudá-las a organizar uma cooperativa para que possam produzir e fornecer as próprias refeições, que hoje é terceirizada. Simone Pires Lopes Do sonho à realidade Mulheres Mil Simone Pires Lopes tem 40 anos, é natural de Manaus e teve uma infância e adolescência tranquilas. Pôde estudar, terminou o ensino médio, mas optou por não fazer faculdade e escolheu o tráfico. Presa pela segunda vez, Simone assumiu o papel de representante da turma e ajuda na organização do coral. Evangélica, o desafio de Simone é não cair na sedução do dinheiro fácil quando terminar de cumprir pena. O sonho é abrir um comércio com o marido, que também cumpre pena. Aquela que começou, que foi até o finalzinho, até o último dia, que foi subir no palco lá do Cefet e receber o certificado, viu o quanto foi importante na vida de cada uma de nós que participou desse curso. Sabe aquela história da estrela guia, que está à nossa frente e vai nos levando? É esse projeto Mulheres Mil. Eu vi, no decorrer desse projeto, a recuperação de algumas das minhas colegas. Quem passou por ele não esquece, porque abriu a nossa men- 113 Mulheres Mil Do sonho à realidade 114 te a ter mais oportunidade na nossa vida. Ensinou a importância da decisão de mudar de vida, de agarrar as oportunidades boas que aparecerem na nossa frente, como esse curso. As que já fizeram e as que estão fazendo, é uma oportunidade a que elas estão se agarrando, se segurando. Eu aprendi com o Mulheres Mil a colocar em prática que toda aquela garra, aquela coragem para fazer coisas ilícitas, eu posso usar de outra forma, com a mesma garra, o mesmo peito, só que agora com o ego mais baixo, porque o ego alto não faz bem. O tratamento com as pessoas é bem diferente; aplicação do dinheiro, o retorno, que a gente aprendeu a trabalhar com retorno. Eu não tinha medo de polícia, não tinha medo de vagabundo, não tinha medo de nada. Enfrentava mesmo, botava marra, andava armada; se tivesse que atirar, atirava. Graças a Deus, nunca foi preciso, mas eu era peituda demais em relação a isso. Eu me achava a última coca-cola do deserto. Aí descobri que eu não sou, não era nada disso, pelo contrário, eu era muito era idiota, pensando isso tudo. Você pensa que tá com tudo, mas não está com nada. Você não passa de uma boboca, de uma idiota, se achando, porque está com certa quantidade de droga, certa quantidade de dinheiro, porque pode ter quando quiser na sua mão, numa noite gastar quanto quiser, porque era desse jeito a minha vida. O curso foi um conteúdo que veio preencher várias lacunas na nossa vida. Desde o começo, ele veio trabalhar nossa autoestima, aquela parte que em muitas pessoas se encontra vazia, que é trabalhar tipo assim: você pode, você consegue, você faz, você muda, basta querer. Então, algumas de nós não tinham essas lacunas preenchidas, precisava preencher. E esse curso veio para isso, veio nos ensinar que a gente pode mudar. Basta querer. Depois que a gente se encontra aqui neste local, dentro do sistema penitenciário, todo mundo é igual. Eu nasci e cresci no meio de uma famí- E esse curso veio para isso, veio nos ensinar que a gente pode mudar. Basta querer. Do sonho à realidade Mulheres Mil lia muito boa. Sempre fui assim muito querida, por ser a única menina da família, sempre fui ganhando brinquedo, atenção, paparicos, manha e fui crescendo nesse ritmo. Eu me apaixonei, o tal do amor bandido apareceu na minha vida. Eu vim pra Boa Vista passar 15 dias e fiquei dois anos. Daí comecei a traficar, mas não por incentivo dele, mas porque vi ali um modo de ganho rápido, fácil. A gente tem pressa de cuidar da nossa vida. Cegamente, a gente pensa assim, porque a realidade é bem outra. Eu já tinha terminado o ensino médio, foi uma coisa que eu deixei tudo para lá. Eu ia fazer faculdade de Ciências Biológicas. A gente fez o curso de empreendedorismo, isso ampliou muito a mente da gente. Quando eu sair daqui, a expectativa pra mim e pra maioria das mulheres que se encontra aqui é de percorrer um caminho novo. Aliás, esse caminho novo já começa desde aqui de dentro. A partir do momento que a gente começou a se dedicar nesse curso, que pessoas passaram a participar da nossa vida. O Mulheres Mil é uma porta, mesmo para a pessoa que já teve oportunidade de estudar. Às vezes, a gente até brincava: “Nós somos descartadas da sociedade”, mas a gente vê que lá fora tem pessoas que pensam o contrário, porque daqui vão sair pessoas para a sociedade. E a expectativa é justamente a gente poder buscar, porque a perda da gente vir pra cá não é só pra nós, a perda é, principalmente, para a nossa família, porque a gente perde a autoestima, tem o constrangimento. 115 Mulheres Mil Do sonho à realidade E a mulher é um ser humano que, quando parte para a luta assim, não parte só. Ela engloba filho, marido. Participar do Mulheres Mil também me mostrou que eu não existo sozinha, existem outras pessoas ao meu redor, mesmo que não tenha aquele vínculo de sangue, mas a gente passa a ter vínculo de amizade, de carinho, de afeto. Aqui mesmo, foi necessário a gente se unir várias vezes na cozinha para fazer salgadinhos, comida. E a mulher é um ser humano que, quando parte para a luta assim, não parte só. Ela engloba filho, marido. Quando ela busca, não busca só para si. A mulher é isso, é companheirismo. Quero aplicar tudo o que a gente aprendeu. Eu penso em trabalhar com mercadinho, vender arroz, feijão e nos finais de semana colocar para vender, na porta da minha casa, frango com um baiãozinho e salada de maionese. Meu sonho é sair daqui com o meu companheiro, João Morais. Eu acho que eu sou a panela e ele é minha tampinha [risos]. Fundo musical da minha vida? “Amor sem limite”, do Roberto Carlos. 116 Sôngila Soares de Lima Do sonho à realidade Mulheres Mil Sôngila Soares de Lima, 47 anos, é o que se pode chamar de empreendedora nata. Montou um restaurante com o companheiro dentro da penitenciária masculina e tem uma venda de balas dentro da feminina. Paraense, filha de índia com português, ficar parada é algo complicado para quem trabalhou mais de 20 anos em garimpo. Na Penitenciária, ela estuda, faz limpeza na guarita dos policiais para diminuir a pena e toma conta do seu comércio. Mesmo por tudo isso que eu passei, eu nunca fui medrosa. Sou muito divertida, muito popular, eu sou muito companheira, amiga. Vivo sorrindo. Para mim, não tem tempo ruim. Eu sou assim: mulher de atitude, de garra, de agir. Não sou de prometer, sou de fazer. Quando eu boto para fazer uma coisa, eu vou e faço mesmo. Confio no meu taco. Eu não me sentia filha. Quando descobri que era adotada, tinha 16 anos. Um dia ouvi minha madrasta conversando com a minha própria mãe 117 Mulheres Mil Do sonho à realidade biológica. Eu já tinha visto várias vezes aquela mulher na casa e nunca imaginei que eu era filha adotiva. Nunca consegui e até hoje nunca chamei de mãe, porque ela me via apanhando, via meu sofrimento e nunca tomou uma atitude. Os filhos, a minha madrasta não maltratava. Em 2008, chegou esse benefício do Mulheres Mil; como eu já tinha vontade de fazer esse curso lá fora, mas eu não tinha condição, aproveitei. Tinha feito até a quinta série e tava com 20 anos que eu não estudava. Aí retornei a estudar, fui me capacitando, estudando, aprendendo sobre empreendedorismo, sobre cálculo, sobre o ambiente, como é trabalhar com o povo, pra botar o meu próprio negócio. Eu tinha uma tia de criação, que era cozinheira e doceira de mão-cheia. Eu ficava lá na cozinha ao lado dela, ficava vendo, aprendendo aquilo ali. Ela gostava muito de mim; acho que era o meu dom mesmo ser cozinheira. Eu tinha muita facilidade de aprender as coisas. Eu nunca trafiquei, sempre trabalhei no garimpo, em firma, em restaurantes. Eu cozinhava para o dono do barraco, que era dono da terra, e para os peões e ganhava dois gramas de ouro por dia. Quando eu entrei no garimpo era tudo manual, depois é que chegaram as máquinas. Trabalhei na Colômbia, na Venezuela e na Guiana Inglesa. Quando eu vim presa, eu recém tinha vindo da Guiana. Foi lá que conheci esse meu companheiro e foi aí minha perdição pra chegar aqui. Ele me ajudou a construir minha casa; eu, com meu dinheiro, meu diamante, e ele com o dele. 118 Em 2008, chegou esse benefício do Mulheres Mil; como eu já tinha vontade de fazer esse curso lá fora, mas eu não tinha condição, aproveitei. Agora eu estou com restaurante no presídio masculino, são sete, mas, graças a Deus, o meu está em primeiro lugar na concorrência. Fiz o curso e repassei tudo que eu aprendi, ensinei meu marido e os reeducandos. Eu tenho cinco funcionários lá dentro e eles têm que estar equipados, com touca, mãos limpas, barba feitinha, nada nas mãos, nem relógio ou anel. Eu vou todos os domingos e quando eu chego lá tá todo mundo de barbinha feita, cheirosinha. E eles fazem tudo direitinho. Eu peguei 12 anos. O juiz me colocou como comparsa, disse que eu tava lúcida, ciente e, por ele estar devendo à justiça, porque ele tinha sido preso e fugiu quando tava em semiaberto, então eu era cúmplice, estava acobertando e não tomei a atitude de denunciar. Já cumpri o tempo que eu tinha no fechado, agora vou ficar no semiaberto. Eu fiquei oito meses sem ver ninguém da minha família. Sou mãe de nove filhos; tem dois em Manaus, os outros vivem aqui, mas só vem uma filha me visitar. Quando a gente cai aqui, a família se afasta. No início, começam a vir, aí depois vai diminuindo. Dói muito porque a gente se sente abandonada. Nós éramos 40 mulheres, 20 na parte da manhã e 20 na parte da tarde. Todo dia nos levavam para o Senac1, para a parte prática do nosso curso de Gastronomia. Eu aprendi muito, desenvolvi muito. Antes de começar a fazer esse curso, eu já tinha uma venda de bombom, e tenho até hoje, e é o que está me ajudando a puxar minha cadeia para eu me manter. Eu já tinha conhecimento com várias receitas, só que eu não tinha a prática era do total; os materiais que eu ia gastar, ver o número de pessoas, 1. O Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (Sebrae) de Roraima é um dos parceiros do projeto em Boa Vista. Do sonho à realidade Mulheres Mil 119 Mulheres Mil Do sonho à realidade Pretendo continuar, porque não é interessante ser uma empresária e não ter um estudo avançado. porque, às vezes, eu fazia e sobrava, estragava. Ia tudo para o mato. Aprendi tudo no curso. Aprendi como trabalhar com meu dinheiro, porque tudo que eu pegava eu gastava, eu comprava coisa que não tinha precisão. Hoje eu sei como economizar o meu dinheiro, como fazer ele render na minha mão. Eu desenvolvi muito na matemática, tudo que eu faço é na base da caneta. Eu tive várias aulas aqui dentro, tive aulas de boas maneiras, de bom comportamento, de conviver com as pessoas, como se dirigir às pessoas. Esse projeto é para abrir portas para as mulheres que sabem cozinhar, querem levar em frente, procuraram aprender mais, se desenvolver, porque ela pode, lá na frente, botar na porta da sua casa a sua própria venda, pra não ficar só dependendo do marido. Agora estou terminando a sétima, já estou passada, e vou para a oitava. Pretendo continuar, porque não é interessante ser uma empresária e não ter um estudo avançado. O projeto, quando eu sair daqui, é continuar, é colocar meu ponto de lanche e colocar outro comércio na porta da minha casa, mexer com refrigerante, com bebida, laticínio, essas coisas. 120 Elenilde Sergipe Valdenice Mulheres Mil Do sonho à realidade Aracaju e Nossa Senhora do Socorro O bairro Santa Maria, também conhecido como Terra Dura, fica na zona sul de Aracaju e é onde ainda é depositado parte do lixão produzido na capital. Mesmo com a proibição do Ministério Público, segundo os moradores, famílias ainda tiram o seu sustento dos resíduos trazidos de Aracaju, São Cristovão e Nossa Senhora do Socorro. Já o povoado de Taiçoca de Fora fica no município de Nossa Senhora do Socorro, área litorânea de Sergipe, e a maioria dos moradores sobrevive da atividade da pesca. 1 A paisagem e a forma de garantir o sustento nessas localidades são diferentes, mas as realidades socioeconômicas das mulheres se assemelham. Tanto no Santa Maria como em Taiçoca de Fora, o trabalho chegou ainda na infância. Em função disso, a escolaridade é baixa, a maternidade foi precoce e a falta de qualificação profissional dificulta o acesso ao mundo do trabalho. 2 1 Bairro Santa Maria 2 Taiçoca de Fora 1 2 122 Com as mulheres do Santa Maria, o desafio foi torná-las visíveis para si mesmas. Era preciso amolecer as camadas de medo, baixa autoestima e preconceito acumuladas durante anos de trabalho no lixo. Em Taiçoca de Fora, enfrenta-se a resistência dos maridos e a desconfiança das mulheres, calejadas de promessas políticas nunca cumpridas. Com ambas, a meta foi explorar e aprimorar talentos que elas trazem da trajetória de vida. Para trabalhar com essas realidades e atender às necessidades das mulheres, o Instituto Federal de Sergipe criou qualificações nas áreas de resíduos sólidos e artesanato, que não faziam parte da sua oferta tradicional. A celebração de parcerias foi fundamental para garantir a elevação de escolaridade das moradoras de Taiçoca de Fora, para a oferta da capacitação profissional e a inserção das artesãs em feiras locais e nacionais. Essas ações garantiram articulação com diversas entidades, que formaram uma rede de atendimento que pode ser reproduzida em outras localidades do estado. Em relação às alunas, os resultados são diversos. Das egressas, algumas optaram pelo caminho do artesanato, estão produzindo e vendendo em feiras. Outras continuam trabalhando na Cooperativa de Catadores Autônomos de Aracaju (Care) e há casos das que estão buscando outros caminhos profissionais. As mulheres de Taiçoca de Fora discutem a possibilidade de organizar uma associação de produção. Elenilde do Espírito Santo Do sonho à realidade Mulheres Mil Elenilde do Espírito Santo herdou dos pais, além do sobrenome e dos traços físicos, a profissão: catadora de marisco. Aos 32 anos, tem uma longa experiência com mangues e mar. São 23 anos de atividade, nos quais aprendeu a pescar, quebrar e limpar. Só não deu para aprender a vender, depende do atravessador. Alegre e objetiva, fala o que pensa sem se deixar levar por censuras. Da escola, lembra das brigas que tinha com os colegas e ainda hoje não leva desaforo para casa. Foi muito bom estudar informática e gostaríamos era de ter mais aulas. No início, ficamos com medo de quebrar o computador, aí perguntamos: “Se quebrar vamos ter que pagar?” Aí disseram: “Não, não paga nada!” Aprendi a entrar na internet, fiquei muito curiosa. Começamos a procurar namorado, aprendemos a bater papo [risos]. Eu me senti alegre em voltar para a escola, porque chega o momento que a gente tem que aprender, mesmo depois de velha. Esse curso 123 Mulheres Mil Do sonho à realidade 124 Hoje, eu já sei fazer um bordado com casco de sururu, de ostra, coisa que a gente nunca fez e nunca imaginou, porque a gente jogava o cascalho era no lixo. vai ser bom pra mim e pra ensinar aos meus filhos que estudar vai ser a melhor coisa da vida, pra não fazer como eu fiz: deixar passar. Nas aulas de português, nós fizemos texto falando sobre a vida da gente, o que tinha feito na nossa infância. A minha infância foi de trabalho, não tive tempo pra brincar, meus brinquedos foram os meus filhos. Eu comecei a trabalhar a partir dos nove anos. Minha mãe acordava a gente a meia-noite, dizendo que era quatro da manhã, pra quebrar marisco. Aí eu dizia: “Vixe! E o dia não amanhece não?”. Era a única solução que a gente tinha, porque só trabalhava de pesca. A gente também ia para o mangue, tirar o sururu e ostras. Minha mãe levava pra gente não ficar solta. Eu fiz só até a terceira série. Quando chegava na escola tava cansada; só pensava no serviço quando chegasse em casa: era prato, era água para pegar. Quando eu deixei a escola tinha 13 anos. Aí, pronto, fui trabalhar tomando conta de crianças e até hoje tomo conta dos meus filhos e trabalho no marisco. Eu trabalho de tudo, mas eu gosto é de tomar conta de criança. Quando eu vou pra maré, saio de casa às quatro horas e chego entre duas e meia e três da tarde. Nós vamos de canoa e eu não sei nadar. O marisco tem semana que dá e semana que não dá. Do sonho à realidade Mulheres Mil A gente também quebra em casa o marisco tirado do fundo do mar e passa pra outra pessoa vender. Ele vai pra Bahia e vende por quilo. Cada quilo custa cinco reais. Eu quebro 10 a 12 kg por dia, de quatro e meia da manhã até as oito da noite. Tem muitas de nós que ficam inseguras, têm medo, mas com o estudo eu me sinto mais segura e tenho mais confiança. Na sala de aula, é outro momento, porque a gente fica mais entretida, mais concentrada pra poder aprender, pra ver o que realmente os professores têm de coisas boas pra ensinar pra gente. As pessoas aprendem em qualquer idade, basta só querer. A gente vai aprendendo coisas que não teve tempo de aprender na vida. Hoje, eu já sei fazer um bordado com casco de sururu, de ostra, coisa que a gente nunca fez e nunca imaginou, porque a gente jogava o cascalho era no lixo. Nós estamos aprendendo a fazer arte com a casca do marisco. Hoje nós sabemos que o casco que a gente jogava é dinheiro. Gostei muito do professor de matemática. Ele é uma pessoa muito alegre e tem vontade que a gente aprenda, porque é difícil pra fazer conta. Na escola, eu não era muito boa em matemática, mas, pelo jeito que ele tava ensinando, mostra que a gente tem capacidade de aprender, de se desenvolver mais na vida. Eu aprendi a dividir as contas. Eu sou muito atrapalhada para dividir, mas aprendi. 125 Mulheres Mil Do sonho à realidade O curso me ajudou a ter paciência com meus filhos. Agora eu chego, brinco com eles, levo pra passear. 126 O curso me ajudou a ter paciência com meus filhos. Agora eu chego, brinco com eles, levo pra passear. Vou à praia, ao shopping, porque eu gosto muito de passear. Tomar a minha cervejinha bem geladinha. Estou aprendendo a dar mais amor aos meus filhos, porque eu não tive muito amor de brincar com os meus pais, de beijar, de abraçar, e hoje eu brinco, abraço, beijo e bato, quando merece. Meus filhos não trabalham. Eles são crianças. Eu tenho um de dez, um de cinco e um de dois anos e cinco meses. Cleidiane, a mais velha, Adriano e Raquele. Me qualificando, eu espero dar uma vida melhor aos meus filhos. Através dos meus estudos, do projeto que estou fazendo, eu pretendo dar muitas coisas boas para os meus filhos. Valdenice Alves Do sonho à realidade Mulheres Mil Valdenice Alves não é de muita conversa. Reservada, fala pouco, talvez pelo fato de já ter nascido grande no tamanho da responsabilidade. Começou a se preocupar com o sustento da mãe cedo. Natural de Alagoas, por volta dos 10 anos, ajudava a vender caranguejo e marisco. Aos 11, a família mudou para Aracaju, onde ela e dois irmãos enfrentaram, durante anos, o lixão da Terra Dura, como é chamado o bairro de Santa Maria, para garantir o sustento da mãe. O estudo era um luxo que só dava para desfrutar de vez enquanto. Eu gostei do nome do projeto - Mulheres Mil - porque eu me acho uma vencedora. Eu enfrento qualquer trabalho, porque uma pessoa trabalhar numa lixeira desde os 11 anos não é fácil. Tenho 24 anos, sou de Maceió, mas moro em Aracaju faz 12 anos. Quando a gente chegou aqui, eu saía de oito horas e ficava até cinco horas da tarde. Às vezes, virava a noite, 127 Mulheres Mil Do sonho à realidade 128 1. A Cooperativa dos Agentes Autônomos de Reciclagem (Care) de Aracaju foi criada em 1999 com o objetivo de tirar famílias do lixão. porque tinha muita gente que trabalhava de noite. Quando o meu pai começava a beber, a gente tinha que se virar, porque ele custava a parar e, se não fosse a gente, minha mãe passava dificuldade. Eu e os gêmeos sustentávamos a casa. Eu soube do projeto através da 1 Care , eu era uma das cooperadas. Foi bom voltar pra sala de aula depois de tanto tempo. Este projeto deixou uma experiência muito boa, conheci várias pessoas do bairro e gostei muito das outras mulheres. Gostei da psicóloga, porque a professora deixava a gente à vontade, fazia a gente se sentir bem. Gostei da aula de computação. Tinham muitas que nunca pegaram num computador. Teve uma que ficou tão alegre só porque conseguiu ligar e desligar. Eu também fiquei, porque a gente nunca tinha mexido. Para quem nunca pegou o computador, fica assim com medo mesmo, dá um nervoso. Eu chamava a professora direto. A gente se sentia em casa, eu me sentia à vontade, e os professores também ajudaram muito, porque eles eram bastante simples. Eu estudei até a quarta série. Na época, foi uma vizinha que matriculou. Ela pediu os registros a minha mãe e foi matriculando eu, meu irmão, meus primos, que estavam tudo na lixeira. Eu gostava de ir à escola, eu tinha vontade de ir. Às vezes, eu sentia vergonha das minhas colegas quando o ônibus ia buscar a gente lá na lixeira. Eles botavam a cabeça do lado de fora e ficava chamando a gente de lixeiro. Uma vez briguei com um menino, pisei em cima dele, porque ele me chamou de lixeira. Tem muita gente que tem preconceito quando diz que é do Santa Maria ou do Terra Dura. É um sentimento muito ruim, assim de humilhação. Mesmo com a farda da Care, quando eu entrava no mercadinho para pegar resíduos sólidos já ficavam olhando. Se eu pudesse, xingava, dizia: “Tá olhando o quê? É da sua conta? É melhor trabalhar do que tá roubando”. Essas coisas... Eu brigava muito por causa disso, por isso que eu era assim, meio revoltada. Antes do curso, eu só pensava em trabalhar para comer, só isso. Agora, não! Eu penso em trabalhar, comprar uma roupa, comprar um calçado. Naquele tempo, eu só pensava em trabalhar e em construir minha casa e pronto. Não pensava em mim. Hoje eu penso mais em mim. Eu acho que foi o modo que eu fui criada, porque meu pai era assim. Para ele, botou o arroz e o feijão, botou tudo. Eu nunca tive um brinquedo, uma roupa que preste. Ele era muito ignorante com a gente. Depois da lixeira, meu segundo emprego foi lá na Care, foi com uma coisa que eu já sabia lidar, que é com lixo. Eu aprendi a fazer fuxico e o artesanato com jornal. Foi bom, mas devia ter mais aula. Gostaria que voltasse uma segunda etapa do projeto. Eu faço a xuxinha de cabelo. Umas eu dei para as minhas sobrinhas e outras eu vendi. Dá para vender legal. Eu parei porque comecei a trabalhar na casa da mulher, lá na Atalaia. Depois saí porque a mulher queria que eu dormisse lá. Através do curso, fui pensando mais em mim, na minha vida, do que tava precisando. Antes só vivia doente, mas comecei a pensar mais na minha saúde. A gente para pra pensar num projeto de vida melhor, um emprego melhor. Eu só parei de trabalhar uns anos, quando eu fiquei grávida, com oito meses, que eu não fui mais para lixeira, e quando eu tive meu filho. Eu engravidei aos 15 anos, e não tinha planejado nada; depois que veio fiquei me prevenindo, e ele já tem nove anos. Eu conheci o pai do meu filho desde pequena. Depois da lixeira, meu segundo emprego foi lá na Care, foi com uma coisa que eu já sabia lidar, que é com lixo. Entrei lá com 20 anos, fiquei três anos e nove meses. Saí porque adoeci, eu peguei uma infecção no sangue e no pulmão. Na formatura do curso, eu tava no hospital; fiquei 13 dias internada. Antes, eu nunca tinha procurado trabalho fora da Care, eu tinha medo de sair de lá e não conseguir outro emprego. Eu trabalhava doente, calada ali, para não sair. No começo, foi um pouco diferente, porque tava acostumada a trabalhar diferente, só com lixo. O trabalho da faxina é mais leve. Se tiver a faxina certinha, é melhor. Do sonho à realidade Mulheres Mil 129 Mulheres Mil Do sonho à realidade O curso ajudou a me comunicar melhor, que eu era muito calada, não gostava de estar falando com as pessoas sem conhecer. Tanto você ganha mais como é melhor, é mais leve, e o dinheiro é melhor. Eu também faço unha, lá em casa mesmo. O projeto levanta a autoestima de muitas mulheres. Às vezes, a gente tá passando por dificuldades, aí já levanta, e a gente se dá mais valor, se valoriza mais. A gente já sofreu muito, já trabalhou muito nessa vida; aí tem que pensar mais na gente. O curso ajudou a me comunicar melhor, que eu era muito calada, não gostava de estar falando com as pessoas sem conhecer. Era oi, tudo bem e pronto! Agora, não, eu me comunico melhor. A participação no projeto mudou muitas coisas, o modo de eu tratar em casa, a forma de conversar com o meu filho. Participar do projeto foi bom para mim. Hoje eu me sinto melhor. Eu tenho muitas colegas que trabalham na lixeira. Ainda tem muita criança e muita mulher. Tem muitas que trabalham mais que homem, é nas carroças, pulando nas coletas. Eu acho bonito porque é o jeito delas agirem. É não ter medo de enfrentar a vida, mas é muito doloroso. Eu sou uma pessoa que já passou por muitas dificuldades na vida e nunca desistiu. E não vou desistir nunca. Não vou desistir de ver minha casa toda reformada, de ver meu filho estudando, de ter um emprego que nunca tive. Eu queria trabalhar assim, exercer como manicure. Eu vou fazer uns currículos para ficar botando lá nas empresas para ver se consigo trabalho de serviços gerais. Me sinto mais qualificada para o mercado. Meu sonho é ter um emprego de carteira assinada e construir minha casa; e quero dar ao meu filho o que nunca tive. 130 Lúcia Tocantins Sheilane Mulheres Mil Do sonho à realidade Palmas e Taquaruçu As alunas do distrito de Taquaruçu e do bairro Santa Bárbara têm histórias de vidas com pontos em comum: muitas trabalharam na infância, a maioria casou cedo, várias assumem sozinhas o sustento da casa, algumas escondem as marcas da violência doméstica, diversas não acreditavam em si mesmas e nenhuma tinha frequentado os bancos da universidade ou de um curso técnico. 2 1 Palmas 2 Taquaruçu 1 2 132 O distrito de Taquaruçu está a 32 km de Palmas, onde fica a sede do Instituto Federal de Tocantins (IFTO). O distrito é uma cidade pequena e tem aquele ar de tranquilidade, como se o tempo tivesse parado e a correria do mundo moderno fizesse parte de outro planeta. O bairro Santa Bárbara, em Palmas, tem um ar de medo, as casas são próximas, há falta de saneamento, de acesso à saúde, de planejamento urbano e muita violência, e a maioria dos moradores vive abaixo da linha da miséria. Em comum, esses locais têm carências de ações do poder público e muitos moradores vivem à margem dos direitos à educação e ao trabalho. Para promover o acesso das mulheres dessas comunidades, o Instituto abriu interlocução com a associação de moradores. Depois, vieram outros desafios: garantir o transporte, assegurar a permanência na escola e ofertar a profissionalização para um grupo heterogêneo na faixa etária – as alunas têm entre 18 e 60 anos – e na escolarização – desde o ensino fundamental incompleto ao ensino médio. No Colégio Estadual Santa Bárbara, não havia oferta de Educação de Jovens e Adultos, e a interlocução do IFTO com a prefeitura de Palmas garantiu que mulheres que estavam há décadas longe dos bancos escolares pudessem ter a chance de dar continuidade aos estudos. A instituição também celebrou parcerias com entidades locais para ofertar qualificação em áreas diversas. Hoje, além de artesanato, capacitação ofertada para as moradoras de Taquaruçu, as alunas do Santa Bárbara podem fazer cursos na área de corte e costura e alimentos. Os impactos na vida das que já receberam a certificação são diversos. Muitas conseguiram trabalho em áreas diferentes da qualificação, um grupo continua produzindo e comercializando artesanato e a maioria voltou a estudar. Lúcia Araújo Mendes Do sonho à realidade Mulheres Mil O bom humor e a disposição para viver são marcas fortes em Lúcia Araújo Mendes. Ela é da terra do “reggae”, maranhense, e tem orgulho de onde vem. Com 51 anos, viveu a maior parte da sua vida na área rural, plantando, colhendo e criando irmãos e filhos. Na trajetória, embalou 19 crianças, cria uma neta de 13 anos e ajuda na criação de outros quatro. Vai completar seis anos que está em Palmas e hoje vive da reciclagem e do artesanato. Quando eu comecei a mexer com artesanato, eu vim chamada por uma colega, mas sem vontade; e não é que eu gostei! Está com quatro anos que eu trabalho com artesanato. Eu estou convencida e gosto mesmo. Eu também trabalho na reciclagem. Eu junto ferro, latinhas, plástico, faço artesanato, faço papel reciclado. Hoje, só trabalho eu, porque meu marido tá doente. Aí eu vendo para o atravessador. 133 Mulheres Mil Do sonho à realidade 134 Gostei de tudo que já participei nesse grupo. Eu fiz o curso de culinária. Aprendemos a fazer salgados, tortas, doces, coxinhas, pastel, empadinha. Fiquei alegre quando me falaram que no projeto iam dar um curso de artesanato para gente. Gostei de tudo que já participei nesse grupo. Eu fiz o curso de culinária. Aprendemos a fazer salgados, tortas, doces, coxinhas, pastel, empadinha. Eu gostei muito da oficina de artesanato de caixinhas; fiquei apaixonada por aquelas caixinhas. Eu morava no interior, na roça, trabalhava no plantio, na colheita. Disso eu entendo tudo. A gente plantava arroz, feijão, milho, fava, mandioca. Tinha ano que dava pra todo mundo comer, mas tinha ano que faltava. Minha mãe teve pouquinho filhos, teve 15, e se criaram 13. Eu sou a segunda, então tive que ajudar a criar meus irmãos. Os que mais sofrem são os primeiros, por isso nem crescer eu pude de tanto carregar meninos aqui! Quando eu era menina, até os 11 anos, não tinha escola, era só na roça mesmo. Eu casei criança ainda, tinha entre 13 e 14 anos. Eu me sentia muita presa, meu pai não me deixava sair com minhas colegas. Do sonho à realidade Mulheres Mil Esse projeto pra mim foi tudo de bom, porque eu não assinava ainda meu nome. Hoje eu boto meu nome, eu já conheço todas as letras, mas ainda não sei juntar quando tem um nome grande. Estudei no Mobral1, mas naquele tempo eu tive que largar por causa dos filhos. Comecei a estudar aqui no Santa Bárbara, mas, como acabou o EJA2, tive que largar também. Eu acho que esse curso ajudou em tudo pra nós. Não saber ler nem escrever é muito ruim. Já tive dentro da capital de Teresina, com minha guria doente e eu, com papel escrito na mão, sem saber onde era pra ficar. Pedia informação, e o povo me botava para um lado, me botava para outro. É muito ruim. Hoje eu já não tenho mais medo de escrever meu nome quando é preciso assinar algum papel. Tô me sentindo mais confiante. Agora já leio um pouco, todas as letras grandes eu já conheço. Mas juntar os nomes grandes é muito difícil para mim. O Mulheres Mil mudou a vida das mulheres aqui no bairro. Eu te digo isso porque minha menina falou: “Mãe! Eu estou muito feliz, porque fiz a oitava série, mas não tinha o conhecimento que tenho hoje”. Agora, graças a Deus, com esse projeto, ela disse que não vai mais parar de estudar. 1. Mobral – Movimento Brasileiro de Alfabetização. 2. EJA – Educação de Jovens e Adultos. 135 Mulheres Mil Do sonho à realidade Abriu os olhos, a mente melhorou em tudo, pra mim está muito bom. Melhor se eu continuar aqui. 136 Nós recebemos bolsa; pra mim é muito importante. São R$ 100, mas pra mim é muito dinheiro. Eu pago água, pago energia, às vezes, compro arroz, carne, compro as coisas pra casa. Abriu os olhos, a mente melhorou em tudo, pra mim está muito bom. Melhor se eu continuar aqui. Muitas mulheres eram como eu: não sabiam nem botar o nome. Agora já sabem e se animaram para estudar, para continuar. Mesmo que encerre o curso, elas querem continuar. Sheilane Alves Do sonho à realidade Mulheres Mil Sheilane Alves é dona de casa, trabalha na Câmara de Vereadores de Palmas e é estudante do curso técnico de música do Colégio Militar. Ela parou de estudar na sétima série e esteve por 17 anos longe dos bancos escolares. Voltou para a sala de aula com o projeto e, aos 37 anos, traça novos objetivos, entre eles, fazer faculdade de Serviço Social. Gosta de cantar, a voz sai solta, principalmente quando canta a música que lembra o início do namoro com o segundo marido. “Quero colo”, de Leandro e Leonardo. Eu fico imaginando por que eu parei tanto tempo no tempo. Eu posso estar cansada, porque esse serviço exige muito de mim, mas quando eu tô indo para o colégio dá uma alegria tão grande, uma satisfação tão grande de saber que eu vou estudar! Eu saio de casa dez para cinco da tarde e só chego meia-noite e meia. E, às vezes, eu estudo até quatro e meia da manhã para dar conta de fazer meus trabalhos, minhas provas. 137 Mulheres Mil Do sonho à realidade 138 Para mim, ir para o colégio é um desafio que eu quero viver com as pessoas que eu aprendi a amar e a respeitar. Ir para a escola militar hoje é como se eu estivesse indo para o Mulheres Mil: é um desafio, é uma alegria e é um aprendizado, porque um dia não é igual ao outro. Eu parei de estudar eu tinha 17 anos, na oitava série. E eu adquiri essa vontade de estudar foi no projeto, porque eu não tinha incentivo e também não tinha vontade. Eu achava que tinha só que trabalhar e correr atrás para cuidar da família. Hoje, não! Eu aprendi lá que eu posso contornar toda essa situação: posso cuidar da minha casa, fazer aquilo que eu gosto e posso estudar. Nós somos quatro filhos e até hoje meu pai manda na gente; e a gente sempre respeita a opinião dele. E eu casei pra fazer gosto ao meu pai. Ia fazer 16 anos. Meu pai gostava muito do namorado que eu tinha. Nós brigamos e terminamos. Aí ele foi na casa do pai, que não sabia que a gente tinha terminado, e pediu minha mão em casamento. Eu tive uma certa resistência, mas não queria dar desgosto para o meu pai. Então, eu aceitei casar e casei. Eu fazia a sétima série e não voltei mais, porque eu trabalhava, não tinha mais muito tempo para os estudos. O esposo também não ajudava. Dois anos depois, meu filho nasceu, o primeiro filho. Foi quando eu me dediquei cada vez mais à casa, ao filho, ao serviço, aí eu não lembrei mais de estudar. Cinco anos depois nós separamos – vai fazer mais de 20 anos que somos separados – e casei de novo. Vou fazer onze anos de casada. A gente vive muito bem, é uma das pessoas que me incentiva muito. Me ajudou muito na época do projeto. O Colégio Militar eu ouvi a oportunidade no rádio. Tavam abrindo inscrições para os cursos de música e informática. Fui lá, me inscrevi e hoje eu faço música. A gente tanto aprende a tocar como também aprende a ser professor de música. Eu amo o meu curso. A gente acha que música é uma coisa simples, mas não é. Hoje, pra você ser um professor de música ou aprender a cantar ou tocar bem, tem que estudar, porque nós temos partitura para ser estudada, têm regras para serem estudadas, obedecidas. Com esse projeto, eu também tive a oportunidade de trabalhar. Vai fazer dois anos, no dia 1º de janeiro, que eu sou funcionária da Câmara Municipal de Palmas. Foi O projeto me ensinou a olhar para mim, a me amar mais, a não achar que eu não tinha mais direito de lutar, de persistir... através do Mulheres Mil que as pessoas viram o meu valor, viram que eu tinha um potencial muito grande de liderar, de levar as coisas com compromisso, de trabalhar e de sobreviver. Uma coisa que me marcou muito foi a viagem que nós fizemos para Brasília, e lá tinham 13 comunidades participantes do Mulheres Mil. Eu conheci uma pessoa muito especial, foi a Marta de Lima1, marisqueira da Paraíba. Com toda a dificuldade, ela não desistiu, ela acreditou. Eu queria que tivessem muitas “Martas”. Mudou muita coisa. Eu sempre digo que o projeto me fez voltar a ver a vida diferente, porque até então eu era uma dona de casa, não tinha expectativa de nada e, de repente, o projeto abriu novos horizontes. Eu tive vontade de voltar a estudar, de voltar a crescer, porque eu tinha desistido. E essa Sheilane de 2011, é uma Sheilane que aprendeu a ser batalhadora, que aprendeu a ir atrás dos ideais. Foi uma das coisas que eu aprendi no projeto: não desista, não importa a sua dificuldade. As meninas todas que fizeram o mapa da vida colocaram muito foi a questão do ônibus, porque vinha um ônibus buscar para levar a gente lá. Quando a gente chegou, eu lembro como se fosse hoje, todo mundo olhava o Instituto e falava: “Meu Deus! Isso aqui tudo é pra gente mesmo?”. Quando colocaram a gente dentro de uma sala, que começou a falar do projeto, eu disse para uma amiga, com os olhos cheios d´água: “Aqui, muitas de nós, se quiserem, vão crescer”. Quando a gente voltou para casa, todo mundo maravilhado, todo mundo queria contar o que tinha passado, o que tinha achado. Eu nunca imaginei que ia ser tratada tão bem, que as pessoas iam respeitar a gente tão bem. O projeto me ensinou a olhar para mim, a me amar mais, a não achar que eu não tinha mais direito de lutar, de persistir, porque eu achava que com essa minha idade aqui eu não ia conseguir muita coisa não. E o projeto me mostrou que não tem idade pra você vencer na vida. Não tem idade pra você achar que é velha e que o seu tempo passou. Não! Ele me mostrou que, se eu quiser, minha idade não importa, eu posso vencer e ir atrás dos meus objetivos. Hoje eu estou com 37 anos e daqui a um ano e meio termino meu curso de música. Do sonho à realidade Mulheres Mil 139 1. Veja história de Marta de Lima na página 67. Mulheres Mil Do sonho à realidade Eu aprendi lá que eu posso contornar toda essa situação: posso cuidar da minha casa, fazer aquilo que eu gosto e posso estudar. As mulheres de Taquaruçu, eu tenho certeza absoluta, sem ter medo de errar, muitas delas não tinham aquela dignidade, aquele amor próprio e hoje nós temos mulheres diferentes. A maioria de nós conseguiu trabalhar, tem aquelas que não prosseguiram com o trabalho de artesanato, mas todo mundo tá trabalhando. Minha meta agora é terminar meus estudos na escola militar e fazer uma faculdade de Serviço Social, porque eu acho que eu tenho jeito para isso. É um projeto que veio para mudar a história das mulheres que precisam de ajuda. E nesse projeto realmente vale a pena investir, porque ele ajuda o ser humano a descobrir o seu valor, a ter sua autoestima, a se desenvolver, a procurar ser melhor como ser humano, procurar vencer na vida, sem se importar com as barreiras, porque tem pessoas que desistem por tão pouca coisa. 140 Projetos por estado Do sonho à realidade Mulheres Mil Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Alagoas O Doce Sabor de Ser Área de Formação: Alimentos Parcerias Brasileiras: Secretaria de Estado de Educação de Alagoas, ECAPEL (papelaria), Projeto Raízes de África – ONG Maria Mariá, Cooperativa de Funcionários do Banco do Brasil, Pastoral da Barra Nova – Freiras Canadenses, Aeroturismo Colleges Parceiros: Red River College e Cégep Régional de Lanaudière Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Amazonas Transformação, Cidadania e Renda Área de Formação: Turismo Parcerias Brasileiras: Governo do Estado do Amazonas/Programa Social e Ambiental dos Igarapés de Manaus e Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (Senac-AM) Colleges Parceiros: Niagara College, George Brown College e Collège Montmorency Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Bahia Um Tour em Novos Horizontes Áreas de Formação: Turismo e Cuidador domiciliar Parcerias Brasileiras: Terreiro Mokambo, Centro de Meditação Raja Yoga Brahma Kumaris, Associação de Moradores da Comunidade Vila Dois de Julho (Amovila), Igreja Batista Betesda, Paróquia de São Lázaro, Incubadora Tecnológica de Cooperativas Populares do IFBA Colleges Parceiros: Niagara College, George Brown College e Collège Montmorency Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará Mulheres de Fortaleza Áreas de Formação: Turismo, Manipulação de alimentos e Governança Parcerias Brasileiras: ONG Emaús, Associações de Bairro do Pirambu, Centro de Pesquisa e Qualificação Tecnológica (CPQT) e Associação Brasileira da Indústria de Hotéis – Ceará Colleges Parceiros: Niagara College, George Brown College e Collège Montmorency Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Maranhão Alimento da Inclusão Social Área de Formação: Técnicas de conservação e manipulação de alimentos Parcerias Brasileiras: Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (Senac-MA), Fundação de Apoio à Educação e ao Desenvolvimento Tecnológico do Maranhão (Funcema), Associação Comercial do Maranhão (Ascom), Olívio J. Fonseca, Bondiboca, Panificadora Pão Nosso, Panificadora e Confeitaria Sabor e Qualidade, Fundação José Sarney Colleges Parceiros: Red River College e Cégep Régional de Lanaudière 141 Projetos Mulheres Mil Do sonho à realidade Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Paraíba Desenvolvimento Comunitário – Impacto na Qualidade de Vida e Ambiental Áreas de Formação: Pesca, Artesanato e Meio ambiente Colleges Parceiros: Cégep de la Gaspésie et des Îles Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Pernambuco Culinária Solidária Área de Formação: Culinária Parcerias Brasileiras: Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (Senac-PE) e Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) Colleges Parceiros: Red River College e Cégep Régional de Lanaudière Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Piauí Vestindo a Cidadania Área de Formação: Moda e confecção Parcerias Brasileiras: Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae-PI), Prefeitura Municipal de Teresina, Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico e Turismo e Casa de Zabelê (Ação Social Arquidiocesana – ASA) Colleges Parceiros: New Brunswick College of Craft and Design e Cégep Marie-Victorin Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Norte Casa da Tilápia Áreas de Formação: Beneficiamento do couro do peixe, Alimentos e Artesanato Parcerias Brasileiras: Fundação de Apoio à Educação e ao Desenvolvimento Tecnológico do Rio Grande do Norte (Funcern), Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar), Prefeituras Municipais de Ceará-Mirim, João Câmara, Pureza e Touros Colleges Parceiros: Cégep de la Gaspésie et des Îles Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Rondônia Biojoias – Rede de Vida Área de Formação: Artesanato Parcerias Brasileiras: Secretaria Municipal de Educação de Ji-Paraná e Secretaria Estadual de Educação de Rondônia Colleges Parceiros: New Brunswick College of Craft and Design e Cégep Marie-Victorin 142 Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Roraima Inclusão com Educação Área de Formação: Alimentos Parcerias Brasileiras: Secretaria de Educação do Estado de Roraima, Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae-RR), Serviço Nacional Projetos da Indústria (Sesi-RR), Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (Senac-RR), Fórum da Educação de Jovens e Adultos (EJA), Secretaria de Justiça do Estado, Universidade Federal de Roraima (UFR), Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB), Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo (SESCOOP) Colleges Parceiros: Red River College e Cégep Régional de Lanaudière Do sonho à realidade Mulheres Mil Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Sergipe Do Lixo à Cidadania/Pescando Cidadania e Arte Áreas de Formação: Artesanato com reaproveitamento de resíduos sólidos e Arte na culinária Parcerias Brasileiras: Ministério Público Estadual, Universidade Federal de Sergipe (UFS), Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SebraeSE), Secretaria Estadual de Inclusão Social, Grupo de Saúde e Prevenção nas Escolas, Prefeitura Municipal de Nossa Senhora do Socorro, Cooperativa de Agentes Autônomos de Reciclagem de Aracaju (Care), Fundação de Apoio ao Desenvolvimento Tecnológico de Sergipe (FUNCEFETSE), Instituto de Beleza Cida Duarte e educadores voluntários Colleges Parceiros: New Brunswick College of Craft and Design e Cégep Marie-Victorin Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Tocantins Cidadania pela Arte Áreas de Formação: Artesanato e Bioarte Parcerias Brasileiras: Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae-TO), Prefeitura de Palmas, Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai-TO), Instituto Ecológica Colleges Parceiros: New Brunswick College of Craft and Design e Cégep Marie-Victorin 143 Mulheres Mil Do sonho à realidade Mulheres MIl Do sonho à realidade Thousand Women Making dreams come true MILLE FEMMES Du rêve à la réalité 144 This publication tells us the story of a public initiative, Mulheres Mil, through first-person narratives. The story is told by 27 women, students and former students, who have taken part in a pilot project to improve the lives of 1000 Brazilian women in the North and Northeast regions of the country. Daring and unparalleled in the National Professional and Technological Education Network of Brazil, the Mulheres Mil project took on the challenge of working with a specific marginalized population: young and mature women, poorly educated, socially and economically vulnerable and excluded from the labor market. The project’s primary goals were to improve the women’s education, to offer them professional qualifications and to help them to enter the labour market. Beyond these immediate goals, the program also changed the women, in ways that are not as easy to measure, by helping them to rediscover their citizenship, restore their self-esteem, and improve family and community relations. In short: these women started believing in themselves again. The Mulheres Mil project was launched in 2005 with an inclusive vision, and the courage and boldness of a cross-section of Brazilian and Canadian partners. The project was initially a collaboration between Rio Grande do Norte Federal Institute (IFRN), (at the time called Federal Center for Professional and Technological Education (Cefet), and Canadian colleges. At the Rio Grande do Norte institute they promoted an extension project that offered training for chambermaids. The impact was such that Canada, through the Association of Canadian Community Colleges (ACCC) and funded by the Canadian International Development Agency (CIDA) and Brazil (through the Professional and Technological Education Secretariat and the Brazilian Cooperation Agency Presentation A story told by many voices Making dreams come true Thousand Women 145 Presentation Thousand Women Making DMakingdreams dreamscome come true true 146 (ABC/MRE)) decided to develop a larger program to take this same approach to other states. And that is how the Mulheres Mil project was born, a project which was taken to 12 other institutions after Rio Grande do Norte: the federal Institutes of Alagoas, Amazonas, Bahia, Ceará, Maranhão, Paraíba, Pernambuco, Piauí, Roraima, Rondônia, Sergipe and Tocantins. The real people in these stories took part in the introductory courses that have been offered since 2008. The skills taught are diverse and the courses are designed to match the talents of students and the vocations available in each region. That is why there are courses on tailoring, office management, food handling, housekeeping and handicrafts. The recognition of informal experience and previous studies was a key factor in the implementation the Mulheres Mil project. The Prior Learning Assessment and Recognition (PLAR) methodology was an important element brought to the project by the Canadian colleges, which have used the process for decades. PLAR is an approach that allows educational institutions to validate and certify the knowledge gathered throughout life. On a national level, the project was implemented by the Professional and Technological Education Secretariat (Setec/MEC) and supported by International Advisory of the Minister’s Cabinet (AI/GM), the Brazilian Cooperation Agency (ABC/MRE), the North and Northeast Technological Education Network (Redenet), the Federal Professional, Scientific and Technological Education National Council (Conif ), the Canadian International Development Agency (CIDA/ACDI) and the Association of Canadian Community Colleges (ACCC) and partner colleges. In the states, the Federal Institutes (IFs) relied on a number of government and non-governmental collaborators to implement the project. Other important participants were the teachers, IF staff and volunteers and collaborators who welcomed students, who taught and supported them. They all contributed directly to significantly changing the lives of these women and their families. In fact, all those interviewed since 2008, both for this publication and for the website, commented on the importance that the classes and community life at the institution had in their development as professionals and citizens. Like everything that is new, Mulheres Mil is a work in progress and is looking for ways to consolidate its success and strengthen the links created between communities, institutes and society. New approaches employed in this project range from changes in access – as the institutes came out from behind their walls and into the communities – to the design of courses, ways to help Presentation women stay at school and collaboration with other organizations to fulfill the many demands brought by those non-traditional learners such as childcare, education for mature and young students and advice from the manufacturing sector to guarantee acceptance into the labour market. That is why there has to be more than one pathway. There is no such thing as a universal formula. The challenge is to establish dialogue and to adapt the methodology developed for Mulheres Mil to different realities without losing sight of fundamentals of the project: Education, Citizenship and Sustainable Development. The results are not always the same and not every story is as successful as the ones published here. There were women who dropped out when they found a job, or when they moved to another house, or when they didn’t like the course or they were unable to combine studies and life. There are students who got a position in the sector they were trained in and those who are working in different sectors. Others are still searching for a position. Some of them have come back to the classroom and others have not. There are those who are starting their own businesses and there are some who are discussing setting up cooperatives. However, one thing is certain: all those who finished their training say that the project brought significant changes to their lives. From an institutional viewpoint, the results are extremely positive. From 2005 to March 2011 there was an intense exchange of knowledge among Brazilian and Canadian educators and managers through technical missions, workshops and meetings. More than being partners in international cooperation, Brazil and Canada have developed a relationship of respect, confidence and partnership in the area of professional and technological education and have many plans for the near future. One result was the strengthening of the relationship between Brazil and Canada, and several other partnerships have been signed between the two countries. As for the Mulheres Mil project, the idea is to take the project not only to more Brazilian institutions but also to other countries that may want to adapt this successful method to meet the needs of their people. In Brazil, an important outcome is that all the 13 Federal Institutes developed a methodology of access, retention and success for women that today can be expanded to the other institutions and applied to other marginalized communities and populations that would like to have professional or vocational education. The recently-created Mulheres Mil Reference Centre, will be responsible for spreading the methodology, following up on the expansion, training network resource people and overseeing research and design of educational materials. Making dreams come true Thousand Women 147 Presentation Thousand Women DMakingdreams dreamscome come true Making true 148 Another important contribution from the Mulheres Mil project is that the Federal Institutes have developed the tools to provide access to a public that for decades would not even enter the gates of a Federal Institute. That is why this initiative has been more than a project, it represents a commitment to social inclusion and thus contributes to a more egalitarian and just country. It will contribute to Brazil reaching the Millennium Development Goals set by United Nations (and approved by 91 countries) to promote gender equity and female autonomy, environmental sustainability and the eradication of extreme poverty and hunger. The goals for the coming years are still audacious. The objective is to utilize the accumulated knowledge as a foundation for project implementation in the rest of Brazil, making Mulheres Mil a permanent policy of the Federal Network to be offered in each of the 366 institutes throughout the 27 states in the country. Sebastiana Alagoas Quitéria Elisângela Thousand Women Making dreams come true Marechal Deodoro On the margins of society, this is how the inhabitants of Vila Santa Ângela live, in the municipality of Marechal Deodoro. The houses, many of them made of mud, are located two metres below highway AL-101 South and it is not uncommon for someone from the neighbourhood to be run over and killed by a car. These families are ignored by official statistics and are invisible when planning for basic services such as sewage, education and health care. Without any neighbourhood association to defend their basic rights, vehicles, including government vehicles, drive too fast through the area and one barely has time to look both ways. A distinguishing trait of the people in Alagoas is their shyness. These women, even the young ones, have been working for many years. The daughters of peasants, some of them would go to the mills to cut sugarcane or would stay and help their parents work the land by day. At night they would attend Mobral (The Brazilian Literacy Movement), which offered education for youth and adults from 1964 to 1985. The professional training offered at the Alagoas Federal Institute aims to provide them with qualifications for positions using skills they already have from work they do now – in sales and preparation of food at bars and restaurants – work done on weekends – crab fishing in the mangrove, selling coconut candies by the roads near their houses and working as housemaids. The IF has also signed an agreement with the local government to improve education levels of the women in this neighbourhood. 150 Elisângela, Sebastiana and Quitéria Making dreams come true Thousand Women Maria Sebastiana da Silva, age 49, Maria Quitéria da Silva, 32, and Elisângela da Silva, 23, are mother and daughters with similar life stories: early motherhood and no free time for education. Like Sebastiana, Quitéria began to work early in order to help raising her brothers and sisters. Marginalization is the distinguishing trait of their lives. They live near each other and help each other whenever they need to: they share what they have, they mourn together and celebrate joys and achievements together. Today, in the classroom, they share the dream of a better future. Elisângela’s wants financial independence and her goal is to become a receptionist. Quitéria’s goal is to take a nursing course and that was one of the reasons she came back to a classroom. As for Sebastiana, she has not abandoned a dream of a better future. 151 Thousand Women Making dreams come true My name is Sebastiana and I was born in Marechal Deodoro. I had five children and raised four of them on my own. 152 1. Mobral – Brazilian Literacy Movement. One of them was raised by the father. I made it only to third grade. I would work all day and at night I would go to a school called Mobral1. I would arrive tired. Sometimes I wouldn’t even have had breakfast. The little I learned came through sacrifice, letter by letter, word by word. That was the life I lived until I got married when I was 17. My wedding was both religious and legal. I had my first child when I was 18. My former husband was a driver. I loved him but he drank too much. We separated 17 years ago. I had a painful childhood, and my adolescence was even worse. My mother had no means to raise seven children. I was raised without a father, cutting sugarcane, cleaning sugarcane. At the age of 11, I began cutting sugarcane and I worked until I was 16 and then I got married. Now it wouldn’t be like that because of the childhood protection agency, children are not allowed to work any longer, they must go to school. And I’m learning them now that I’m old. I’m learning about cooking, woman’s rights. Most people criticize the place where we live; some call it a slum and others call us slum dogs. Sometimes I catch a bus to Maceió and I see people who are filled with prejudice. I feel embarrassed because I’m poor and I only live in this place because I have nowhere else to live. It hurts, because being poor is not my fault. I went back to school and discovered the Mulheres Mil project because my daughters persuaded me. I’m taking the EJA2 and am enjoying it. When I joined the class I learned things I had never learned during my childhood. And I’m learning them now that I’m old. I’m learning about cooking, woman’s rights. I was a victim of domestic violence, but was not aware of my rights. I had no fear to try using the computer, I was actually curious about it; a dream come true. I sell Avon, I sell clothes made by other people; I do a little bit of this and that to survive. I do lace3 and the family benefit (Bolsa Familia) also helps a lot as I have a handicapped son who lives with me. My dream is to be self-employed, have my own business and one day leave this place and stop being discriminated against. I would like to earn my daily bread without having to work for others, only for myself. And I have never given up dreaming and struggling for a better life. Making dreams come true Thousand Women 2. EJA – Education for Youths and Adults. 3. The lace comes up from a simple net consisting of meshes and knots, which is also called “knot network”, by following the same technique used to make a fisherman’s net, which serves as an inspiration. 153 Thousand Women Making dreams come true My name is Maria Quitéria. I have three children and am now separated from my husband. I didn’t have the chance to get an education. 154 4. Municipality where Vila Santa Ângela is located. My childhood was kind of troubled. Until I was 12 I lived in downtown Marechal Deodoro1. But then my parents separated and my mother moved so often I had to quit school to help raise my brothers and sisters. She would work in family houses, work at a fast food restaurant, and I would help. Then she had an operation and I had to take her place and help even more. I had no more time to study. I made it to fourth grade. I was shy and the project helped me to find a job. Sometimes I work on weekends at a restaurant, as a kitchen assistant, and I am also given family benefits. I have learned to value myself. I have more courage to face the challenges of daily life, and there are many. But I believe things will get better. At the course I learned to prepare chicken recipes, make refreshing drinks and to re-use leftover food. I learned how to wash my hands properly, that you need to wash up to the elbows and that if you go to the bathroom you need to take off your apron, take off your head covering, and that I want to complete the course and then to take my nursing course. you can’t talk while handling food. I would ignore those things. I have to wash the greens and vegetables before putting them in salads or in casseroles. I am determined to finish the course and get my certificate. I have good memories of the time when I went to Brasília. It was the first time I had been out of my state. It didn’t even cross my mind that one day I would leave Alagoas. When I’m watching TV and I see those places where I have been, I always say: “Look, I was there,” and it is really moving. I keep on saying that to my children. I had never been to such a chic hotel. I have already worked as a maid, a kitchen assistant at a restaurant, as a waitress, as a cleaner. What I like most is to work in the kitchen, because I don’t enjoy being in the crowd. I prefer peace and quiet. I want to complete the course and then to take my nursing course. I have dreamt of being a nurse ever since I was a child. I never shared it with anyone. I’m saying it now that I’m a grown-up; that my dream is to study nursing. Someone told me that to study nursing I have to at least have finished the first year of middle school. That is why I’m back in the classroom, because I want to take that course. Making dreams come true Thousand Women 155 Thousand Women Making dreams come true My name is Elisângela da Silva. I have three children, two from my first marriage and the youngest one from the second. 156 I had an operation so I wouldn’t have anymore children. My childhood was better than Quitéria’s, who had to work to help to raise us. I stayed at home and was able to study. When I went to school in Maceió, there was a Mother’s Day celebration. When the mothers came into the classroom, we began to sing that song by Roberto Carlos. “Don’t ever forget, not for a second, that my love for you is the greatest in the world.” Most of them couldn’t contain their emotions and wept. I wept as well; my classmates, the teacher, everybody wept. It is a song to remember as it tells about love, and love is something very important in our family. My mother is everything to me; she’s Mom and Dad; she’s everything. After her the most important thing to me is my children, my sisters who I love so much and my nieces. We are united. I learned a lot from the course Rights and Health, the importance of the rights we had in the past and nowadays. Before women didn’t have the right to vote but now Dilma has been elected president. She is the first I learned a lot from the course Rights and Health, the importance of the rights we had in the past and nowadays. woman to be president of Brazil. So you can see how things are evolving! What was really worth learning was women’s rights, like the Maria da Penha act, for example. The little I know of the law is that violence is not only physical aggression, but it can also be through words, through gestures. So that was useful as there are women afraid to say that the man they live with beats them. My first marriage lasted five years. I started dating when I was 15 and got pregnant at 17. And then he would begin to argue: he would beat me and I would beat him. There was this Woman’s Police Station, but there was no Maria da Penha law (the law on domestic and family violence) yet. Many people would say don’t denounce him because he will kill you. He would always say: “if you turn me in, as soon as I get out I’ll kill you”. The last time we fought, when we broke up, my mother came and said: “Let’s go to the police station!” I went there, I made a claim against him and asked the chief to make him sign a term of responsibility. From that day on I gained courage and until this day, if any man decides to slap me, I denounce him right away. He can threaten me as much as he can. So, by studying the law, I have made progress and now I know what women can do to stop abuse. Something else that was important for me was Information Technology. We had 10 lessons on that. Making dreams come true Thousand Women 157 Thousand Women Making dreams come true 5. Brazilian chicken stew. 158 I learned how to access the Internet, which I didn’t know before. And to open the pages on the computer, to turn it on and off, which I didn’t know either and I learned. Learning is something that really helps us, because without it you won’t get anywhere. If you want to work for a business you need to have at least an elementary school education or even have completed high school. And this has an effect on the education of our children as well, because if we send a child to school but we cannot read nor write ourselves, how we will help them with their homework? So that is something to think about, too. We took classes with a nutrition scientist; we learned to cook different kinds of dishes. She taught us a cashew recipe. When the cashew season comes, I’ll make it. We cooked chicken “bobó5,” even better than you get in the market. So now I can say: “I’m going to finish ninth grade and then take a course at Cefet.” And people already show interest. I am finishing eighth grade. I expect to become a professional receptionist. I want to attend Cefet in the evenings so I can take a receptionist course to be able to get a permanent job and be able to provide for my children and not depend on a husband, because he could leave me someday; and then what? How will I raise my children then? Will I be left without a cent? I expect to have a regular job and I hope the course will help me find one. Janaína Amazonas Osmarivete Thousand Women Making dreams come true Manaus The women benefiting from Mulheres Mil project in Amazonas are former inhabitants of houses in a flooded area called “palafitas,” something common in the North Region where many families have built their houses over rivers and mangrove beds. The lack of sewage facilities or garbage collection, as well as regular flooding, make the housing conditions deplorable and threaten the health of the inhabitants. In order to remove families from these risk areas, the state government of Amazonas has built new houses, with basic sewage and residential condominium infrastructure through its Manaus Wetland Social and Environmental Program (Prosamim). The women who live here are poorly educated and have children to provide for. Many were born in other Brazilian states or other municipalities in the same state. Many of them have life histories of abandonment, violence and child labour. They have a common need to improve and guarantee their family income. Besides the housing problems, a lack of professional qualifications keeps the inhabitants unemployed or under-employed. This was the background that prompted Prosamim and the Amazonas State Federal Institute to cooperate in offering courses to train professionally-qualified employees for the tourism industry. The institutions worked together to ease the adaptation to new the homes that is crucial to allow the women to find work and earn an income. The tourism industry is expanding in Manaus and there is a lack of qualified employees for in sector. The course in chambermaid skills offers an important opportunity for these women to develop professional skills. To contribute to the relocation process, the course included Environment and Interpersonal Relations to help focus on living sustainably and functioning well in their new environment. The professional internship is an important part of the course as it is the time when they learn the work routine and can obtain a position at a hotel. This was the means to entering the workforce for many students. As well as finding positions at hotels, some students have also found work at motels and apartment hotels. 160 Janaína Tereza Lessa da Silva Making dreams come true Thousand Women Janaína Tereza Lessa da Silva, age 35, is celebrating her return to the labour market. Her new profession as chambermaid opened the door to a full-time job. She was hired by the same hotel where she had her internship, as she had hoped to be. Being employed, she plans to continue upgrading as she is certain that she is in a sector that has a promising future. I am working at the Caesar Business hotel. I had my practical training there and they hired me. After the internship we had an interview with the Human Resources department. Then they asked for our documents and CVs. I didn’t have my worker’s card number with me, so I went there Saturday to give it to them. When I arrived, she said, “It’s good to see you. I was going to call you. You are hired.” I cried so much; I really wept. My 161 Thousand Women Making dreams come true Some friends of mine wanted to take it but could not as they don’t live in Prosamim. I’m certain the course would be jam-packed. 162 daughter was there with me. It was hard; I spent almost two years with no work. The first person who I told was my father, because he was the one who encouraged me the most. I said, “Guess what? I was hired for a trial period of three months at the hotel.” He cried and said that I should never give up my dreams. It’s a little tiring but it’s good. It is good to work there, people are nice. I’m learning more as there are always details we forget. But there are people there coordinating and little by little I’m getting used to it, and I’m not forgetting the details anymore. Small details that we must not forget; but there are so many things to tidy up that we don’t remember everything, but now it’s getting better. The teachers at the Federal Institute are amazing. They really are. The course itself is very good. I have already recommended it to other friends. I learned a lot; Portuguese language mistakes that we make in our daily life, how to behave, and English as well. Now and then I use it, because whenever there is a guest who only speaks English, we need to communicate somehow. So I try to remember some phrases and try to communicate. The course prepares us. Anyone works hard and completes the course will certainly find a position. I am going to take another English course this year. Now, a way to improve the course would be to open it to the public. Some friends of mine wanted to take it but could not as they don’t live in Prosamim. I’m certain the course would be jam-packed. Many people would like to take it, people my age, 35, who can’t find a job and who would like to take the course because it offers a chance to get work. At the hotels When you’re unemployed, people kind of forget about you. They don’t think about you, they don’t respect you. where some former classmates work there is always a vacancy, but there is no chambermaid course available. It should be national, open to all women, because many women really need a professional training course nowadays. When you’re unemployed, people kind of forget about you. They don’t think about you, they don’t respect you. Now people respect me again; they see me in a different way. Things have gotten a lot better, because people show more respect, people start respecting you again. I worked as an administrative assistant at the City Hall for 10 years. I have worked as a receptionist and a telephone operator; and as a dentist’s assistant as well. So being chambermaid had never crossed my mind, but I did do cleaning in other people’s houses. But chambermaid…they actually don’t like us to call it chambermaid; they prefer ‘apartment attendant.’ The way I see it, it is good, and now I am going to take the supervisor course, because I don’t want to spend the rest of my life being a chambermaid. The course is about to start, at Senac, on being an apartment supervisor. It starts in March and I have already enrolled. I completed high school; I even completed the second semester at the Physical Education faculty. But then my mother died and I had to stop going temporarily, and then I didn’t feel like starting over again. It was very hard because my father and I were not very close as he worked all day long, he would always be out. But not today, he’s my best friend and we get along very well. When I finally decided to return to college, there wasn’t a way to continue at the faculty. I can say I had a good childhood, I played a lot. I played with dolls until I was 15. I went to school, I completed high school and then I passed the admission exam to college. Then I had my daughter when I was 23. I’m kind of married, we consider ourselves husband and wife, but I have my own home, my apartment. I spend more time at his place because my brother lives with me, and he doesn’t work, he’s unemployed. And besides, he is really into drugs. I work all day long, and I don’t like leaving my daughter alone where I live. So she spends most of her time with my husband. There are many hotels that need a professional chambermaid, someone who has a diploma. In the two months since I’ve started working, people have asked me: “Janaína, do you have a job already? At the Adrianópolis hotel, there is a kind of a condominium that is looking Making dreams come true Thousand Women 163 Thousand Women 164 Making dreams come true for a chambermaid.” So I told them about other colleagues I know who took the course. Now I see that there are many vacancies, because I’m in this industry. But for those who haven’t taken the chambermaid course, they have no idea that hotels are looking for chambermaids. When you take a course like that, you get involved in the industry and you get to know who’s looking for a professional and who’s not. You get to know people who will recommend you and then you get a job. So this chambermaid course really helps. I’d like to go to college to study pharmacy. But first I’ll first enroll in the course for apartment supervisor, which is above chambermaid, as many hotels don’t have one that and there is a lot of demand. I don’t want to be only a chambermaid, I want go further, but I must study to make it possible. And that is what I’m going to do: I’m going to study. I’ve already lost too much time, so I want to study. I want to take a university preparation course. I want to learn English, to update my knowledge on Information Technology because I’ve already forgotten some things. I want to learn English, at least the basics, and I should do it now while I can afford it because I’m working. If I don’t stay there at the Caesar, there is already another job for me. I’m waiting until the end of my trial period to see if I’ll be hired or not. If I’m not hired, I’m not worried, because there will be another opportunity waiting for me. There are many opportunities for chambermaids, and especially for those who have a course. It is never too late. And now that I have the chance to do something to improve myself, I’ll do it. Things can get hard... What I say to my workmates and to my husband is, “You need to study, to take a professional training course. Nothing is more important than getting an education.” Osmarivete Carlos de Souza e Silva Making dreams come true Thousand Women Osmarivete Carlos de Souza e Silva is 39 years old and has three children. She works at the Adrianópolis hotel and is determined to change her life. When she began professional training in 2008, she did not have anyone to leave her children with and for some time had to bring them with her to the classroom. For Osmarivete, it made the training especially difficult. But now, as well as an identity card, she now has another important document: her worker’s card. I have grown so much that if you could see the woman I was, you would notice a real difference. I take more care of myself. I pay more attention to myself. I know who I am and I know what goes on around me. I know people are watching me and I am aware I am changing, that I have already changed. I needed a boost of courage, needed someone to give me a shake and say: “You exist! You are real!” I believe this project was a boost of excitement. It was what I needed, but didn’t know how to get. So when it came I seized the opportunity. 165 Thousand Women 166 Making dreams come true When we lived on the wetlands the postman almost never showed up. Today we have a fixed address, which is very important. 1. Word used in the Amazon to define coal production. 2. Long-legged mosquitoes. Today I’m a woman in the labour market. And that was an important change to me. I can say that I have another identity called a worker’s card. I had worked before, but I was self-employed, doing this and that, but I had never had a regular job with an employer signing my card. I started working when I was seven, helping my mom. We lived in the country most of the time, so my mother did a lot of ‘caieira1,’ charcoal work. My mother had many children. She had 16: four of them died but 12 are still alive. So she had to do all kinds of things to help my father. When I was 10 she changed jobs and went to sell food on the streets. The course helped in every sense. It raised my self-esteem and deepened my perception. I was a reserved woman, always at home, always thinking about today. I couldn’t think about the future. And the Mulheres Mil project couldn’t have come at a more propitious moment in my life. I needed something like this. I was in a situation where I didn’t know where to run. Me and my husband were going through hard times. There was really no one I could ask for help. When we lived on the wetlands the postman almost never showed up. And in order to get any document you need to give an address. Even to be given a job you need to have an address. When it rains you don’t sleep, you stay awake all night. You simply cannot know you’ll be alright, that you’ll be safe. Many times when someone asked me where I lived, they would look at me and say something like, “You don’t exist, you have no fixed address, no known address!” Today we have a fixed address, which is very important. There is no need for my children to rush, or for me to worry, because I don’t have to worry when it rains. Everything has changed. Before, besides having the problem of being surrounded by water, there were also the rats and, along with them, the carapanãs2 that would come, and it is impossible to sleep with so many of them. In the Mulheres Mil project I felt important surrounded by so many people. Wow, I’m taking a course at the technical school! And people, didn’t believe it, and would ask, “Are you really taking your course there?” So I would feel well, welcome, and if on a certain day I couldn’t come, I would get worried. I think I was absent only three or four times. I can really say that it prepares you for the workplace, and I’ll keep saying it. When you get a job, the first thing you remember is each instruction they gave you. So you start doing things and by doing them, you remember. So you learn in every class, even in chemistry, and you remember what you learned when you are about to mix certain substances and you remember you can’t, because it might harm you. Today I feel I am important, that is how I regard myself. I don’t have a credit card and, for God’s sake: you have to use it wisely if you have one. I am more cautious now than I used to be. So I get the pay and say to myself, “No, I’ll spend it on what I really need. I won’t just waste it. It is not that much and it must be spent on something I need, something which I need most.” When I went to the hotel, they didn’t want to give me the position because all I had was the certificate. So I said, “But I’ll only get experience if you give me a chance; and there is nothing I cannot do.” Skills are something we develop as we get experience and today you can see I do what I’m capable of, I do what I can. The hotel has an occupation rate of 100% and we’re there. I have money of my own and I can help at home. My children really went through hard times, without anywhere to play, and the little I could do didn’t help. Now what I manage to bring in is enough to do something; it is not that much, but there is enough. Making dreams come true Thousand Women In the Mulheres Mil project I felt important surrounded by so many people. Wow, I’m taking a course at the technical school! 167 Thousand Women 168 Making dreams come true I can say today that I have a future. Is it still a challenge? Yes, I know it is hard, but I’ll get there. I want to be a nanny. They don’t have that course yet, but I’m keeping an eye out for it and am already learning something about it. I want to take an English course and become more qualified in the sector I’m working in now. This project that I took part in is meant for any woman who has no prospects, who lacks confidence, any woman who isn’t valued by her husband because he doesn’t say nice things about her, as he treat her however he chooses. This is the kind of woman this course is meant for, women who really need help, who need support, like I did. Cleonice BAHIA Maria das Graças Thousand Women Making dreams come true Salvador Vila Dois de Julho and Jaquaribe II are neighboring communities in Salvador with similar challenges. They have no sewage network, poor infrastructure, the streets are unsafe and violence is omnipresent. There are no areas for leisure: there are no squares or meeting places. The neighborhoods were originally laid out as subdivisions but, at the beginning of the 1990s, were inundated with families coming from other areas in the capital city and the interior who crowded into the area and squatted. This kind of neighbourhood is the reality of many of the women involved in the project. The lack of schools in the rural areas and widespread child labour are the main reasons these women have such poor educations. This has made it harder for these women to join the labour market. Many of them are the heads of families and are informal market workers or unemployed. Most of them work as housemaids or general labourers. The Federal Institute of Bahia faced many challenges implementing the Mulheres Mil project, primarily because of the violence in the communities and the difficulty overcoming colour and gender prejudice in the tourism industry. In order to remove barriers, the IF designed a new course: caregiver for elders, which has considerable labour market potential. According to the Brazilian Institute of Geography and Statistics (IBGE), in 2008, for every 100 children under 14 there were 25 seniors aged 65 or older. Inn 2050 it is forecast that there will be 173 seniors for every 100 children. In both the chambermaid and housekeeper professions, students are finding jobs in the labour market. For many women, training in health is guaranteeing them a new professional level of work, with better job prospects and higher pay. 170 Cleonice Ferreira da Conceição Making dreams come true Thousand Women Cleonice Ferreira da Conceição is devoted to Our Lady of Livramento (Our Lady of Deliverance) and plays an active role in the Catholic community of the Jaguaribe II neighborhood named after this saint. There were two moments in her life when this devotion of hers helped: when her husband had an accident and when her brother was hit by depression and disappeared for a period of time. At 41, she is struggling to return to work. Her goal now is to find a job as caregiver for elders. Her dream, which was born when she completed her teacher’s course, is to study pedagogy and then truly be able to give classes. It exceeded my expectations because it completely changed my life; even the way I think, the way to interact with others. That is something they really focus on: that we should have more self-esteem. That we should look after ourselves. When I started the course, I felt I was useless. I would send my CV and then wait for someone to call me so I could work again, but no one would 171 Thousand Women Making dreams come true 172 1. IFBA – Federal Institute of Bahia. call. They say, “Your CV is great, but you lack the profile the company is looking for.” Even in retail, where I worked before as a supermarket cashier, they were only hiring people 27 years old or younger. So you begin to think, “I am strong. I am brave. I have the will to work and I am not given a chance only because of my age!” And so you feel bad because you only feel good when you are working. When I started taking part in the meetings on self-esteem, things started to change, because there they also focus on the spiritual aspect. They say that you’re a being of light, that you’re important, and then they also address issues of childhood, family issues. They also talked about detachment, and about people not giving up, so that strengthened my self-esteem. So when I went to Cefet (the federal institute), that was when I got rid of my depression for good. I was aware it was a course for becoming a caregiver for elders, but didn’t know that it would be at Cefet and that there would be grants. The classes were very dynamic. As for the teachers, if I had to give them a grade from 1 to 10, I would give 10 to all of them. I liked them all. We had first aid lessons, which were important, we acquired knowledge on many things we had ignored before, like how to prevent accidents. I learned about depression, about Alzheimer’s disease, which strikes people over 60 years of age. I learned how to take care of sick people, how to identify symptoms. And then there were the workshops, the crafts one as well. We got together to make gift boxes from recycled milk cartons. You coat it, you trim it with a tape and then it looks beautiful. We learned to paint, and I even took part in the IFBA1 Christmas Fair selling our recycled products. We also had classes on solidarity economics with teachers who are experienced in running cooperatives. Now we are considering creating a recycling cooperative; we are looking at this idea. Not everyone was interested, but three or four are interested in discussing it over. We have to complete our internship period and get our certificates and then we’ll start thinking about it again. The teacher said he will guide us. They told us that the moment we decide to talk about it again, they can come to the community and explain how it works. I feel I’m prepared for the labour market. My broader objective is to be back in the labour market. Expectations are high because it will be After the course I became a stronger person, someone with more hope. in the internship that I will apply what I learned in the classroom. My goal today is to find a job because we need to work and, in the future, do something that may help people. Perhaps to work as a volunteer with the Mulheres Mil project as well. And I can help the people I live with as well, because at home there are three older seniors, my mother, 61 years old, my father-in-law, who is 67, and my mother in law year who is 62. There are certain people I already knew by sight, but had no contact with. So that was one of the positive things about the course: being able to get to know certain people, people I would only know by sight. Then we became friends, and I discovered that they’re great people. There are people who I found like the same things and I know it’s the kind of friendship that lasts for a lifetime. After the course I became a stronger person, someone with more hope. I think I became someone much better. I’m still a woman with many dreams, that I haven’t managed to fulfill in my life yet, but I haven’t given up, I’m struggling, going for it, and I’m certain that I’ll fulfill my dreams. I know I can’t just sit and wait for things to happen, I have to make it happen. And then there is this professional training which I need to complete and also the dream of going to college, to get a degree on pedagogy. I like the song “Emoções,” by Roberto Carlos, because when I graduated from high school, during the ceremony, they played it, and it says, “Being here, at this beautiful moment.” So my life passed through my mind like a movie. I had no one to help me with my homework. It was hard. I would normally ask a neighbour to help me. When we’re children we dream of so many things, and my dream was to become a pediatrician. And you know, families not so long ago had many children. At home we were nine children. And the older ones had to work to help raise the younger ones. Because I’m the eldest, I began working very early, I’ve been working since I was 13. If I hadn’t been working I wouldn’t have been able to finish my secondary school. I went to work at a family house, where I stayed for five years. When I finished my secondary studies, I went to a teachers’ college. But when I went to get my certificate, I discovered the course Making dreams come true Thousand Women 173 Thousand Women 174 Making dreams come true I think we must never give up on our dreams, we must fight for them, always go for what we want. was not official. And the bureaucratic red tape took so long; it took me almost six years to have my certificate recognized. When I finally managed, I was already outdated, I couldn’t teach any longer. Now, if I want to teach, I would need to take a course on pedagogy, which is what I am trying to do. I am waiting for my situation to get better. I think we must never give up on our dreams, we must fight for them, always go for what we want, because many people have dreams but don’t have a chance to make them come true. Mulheres Mil was an opportunity for me, and it has given me this chance to have dreams again and to try to achieve my goals. The message I want to pass on is this one: that people should never give up their goals, they should never think it is too late. There is always time to start over. Maria das Graças Paula de Jesus Maria das Graças Paula de Jesus is 51 years old and has worked as maid, nanny, car washer and construction worker. Now she is starting on another professional path as caregiver of seniors. She likes going to church on Sundays to pray to her namesake Our Lady of Grace (“graças”). She lived in São Paulo for a few years looking for better work. She doesn’t like where she lives because of the violence but stays because she inherited the house she lives in from her mother. One of her goals is to improve her living conditions so she can leave something better for her son and grandson. Making dreams come true Thousand Women 1. The Plataforma borough is located in the railway suburb of Salvador, and it’s bathed by the waters of Enseada do Cabrito and Baía de Todos os Santos. The love of my life was my first boyfriend, from the Platform1 itself. I was 18, we were together for something like two years and then it was over. I think there is only one love. Your heart has to love a single person, because that is how it was: when I would see him in other places, with other people, I felt like dying. I would tremble, I would feel horrible; everything would freeze. He is still alive, but he won’t talk to me. He 175 Thousand Women 176 Making dreams come true I always told my mother that I would like to do something like that, to study to become a nurse. is married and has children. They’re already adolescents, but even to this day, when I go to Plataforma sometimes, I still feel something. So that is what I recognize as love. The course happened like this: there was a teacher taking enrolments at the Father Hugo school, and a girl who lives on a street nearby came and told me, “They’re taking applications for a course, but you need to go there to get information because they will only accept 40 women.” So I went and was told that it was for taking care of the elderly and she gave me a form to fill in. They wanted us to describe our house, to say if there was a wall, if there was a floor, if it was not a dirt floor. I filled in the form and left my phone number. They called me three days after that. I always told my mother that I would like to do something like that, to study to become a nurse. But I couldn’t make it. This course is giving me a chance. I can already gauge someone’s blood pressure, I can see the body temperature, I can give medicine. I can do those things the right way. So I’m really close to what I was looking for. I haven’t got as far as I want yet, but I know I have already achieved something. I liked it a lot there. I expected something worse, thought it would be boring, but then I thought, “It’s free, I’m not working anyway and I have to keep my mind busy with something.” So I went. And I also enjoyed it because I got to know other people. The teachers are very good. I learned something about life; I learned how to get along with people. I used to be tense, quite angry. I got sort of angry after my mother died and my son got ill. But during the course, I would leave here and hurry to the school, and it was great. And we also learned about detachment; that people shouldn’t feel attached to everything, that one should be able to be detached from things. That was when I really started going frequently. Because I was sort of a rebel, I had many problems in my mind, but then it got better. I became more patient, got more detached from things. I didn’t get so worried anymore. I’m a lot better now. I feel like I’ve become a new person and I owe it to this course. My relationships with other people got a lot better, my life got better. I know other people now. I have a job; so things have gotten better for me. I’m buying stuff and paying my bills. I only got this job because of the course, because of the quality of the course, because to get this job you have to take the course and get the certificate that proves that you can really take care of an elder. When I went to apply for the job, the first thing the woman there asked was, “Have you got a certificate?” And I answered, “I do!” “Have you got the manual?” and I said, “I do!” The manual tells us how to deal with an elderly person. Before I knew it, I was working. At first I would get nervous. I would swap medicines and would tremble if I had to give insulin, but that was only for the first three months. Now I can do it with my eyes closed. And it has been a year since I started working there. The old lady I take care of has diabetes, hypertension and thyroid problems. Most of the time she just sits and she doesn’t bother me, doesn’t get me nervous. She’s wonderful. I started working as a nanny in a house when I was nine years old. Then I left and went to take care of my brothers and sisters. My mother kept having more children, so she had to work out of the house, and it was me staying home and taking care. I was left with no time for an education. After growing up and moving here, I made an application for the Vera 2 Lúcia school and studied for another two years. When I was going to complete my third year, I moved to São Paulo to work there. But I came back because my mother had a stroke. I really enjoyed São Paulo. You have the opportunity to study and work; it only depends on you. I have many friends there. Making dreams come true Thousand Women It was a good feeling (coming to the Mulheres Mil course) because I lived so long without learning anything, and now I’m learning again. 2. The Vera Lúcia Cipriano school is in the Nova Brasília borough within Salvador, where Maria das Graças lived before moving into Jaguaribe II. 177 Thousand Women Making dreams come true 3. The National Institute of Social Security (INSS) is an independent organism of the Brazilian Federal Government that receives contributions for the maintenance of the General Regimen of Social Welfare, being responsible for the payment of retirement plans. 178 If I was a little younger, I would study, I would take the admission exam to do the nursing course. The only thing that stops me from doing that is that my sight isn’t good anymore; and I don’t have the mindset anymore, and I’m too old. But if I could, that is what I would like to do. It was a good feeling (coming to the Mulheres Mil course) because I lived so long without learning anything, and now I’m learning again. We had Math class, on the cost of living, how to live on what we earn, that kind of thing. And we had classes on how to take care of elders, first aid lessons. They brought a needle with a syringe so we could learn to give insulin, they told us about blood pressure, how to gauge it. They told us about how to deal with diabetes, about what can happen. At recycling class we learned how to make soap. We had a class on breast cancer, on uterus cancer, those kinds of things – how to examine oneself, the importance of getting medical care. Now I take better care of myself. My classmates also thought the course was very good; it changed their lives too. They also learn a lot. Some of them are looking for jobs. In the future, I plan to fix my house, to put a proper roof on it – so I can leave to my son and grandson when my days are over. It’s quite small - there is only one bedroom. I’m paying for my INSS3 (The National Institute of Social Security), so I can retire someday when I get older. So I have to work now. I have already done the internship, and I have my seniors’ caregiver card. They signed my card, I have done the internship and I’ve been doing things the right way. If I find another job with better pay, that would be nice. But I like working here. Ilda Ceará Selma Thousand Women Making dreams come true Fortaleza In books on the history of Ceará, the first mention of Pirambu is in1932, when a drought devastated the Northeast region of Brazil. At that time, a concentration camp was established called the Camp of Pirambu or Camp of Urubu (“buzzard”), where the drought victims were taken and provided some care and food, and could work, but always under the observation of guards. Decades went by, and the neighborhood grew with the influx of people from the interior of the country. It became organized; neighborhood associations were created that maintain an active dialogue with local authorities. However local residents are still marginalized. Women born in the 50s, 60s and 70s, some of them students in the project, live in makeshift mud houses and have no opportunity for professional or higher education. At most they may have completed secondary school. As adolescents, many went to work in the chestnut processing plants that surround the neighborhood. They would then marry and have children, only to discover the importance of education once they were let go from these jobs, a seasonal occurrence in this industry. Today, Pirambu is one of the largest neighborhoods in Fortaleza, with over 300,000 inhabitants or almost 10 percent of the capital city’s population, which today is over 3.2 million. It accounts for one of the highest population densities in Brazil with more than 40,000 inhabitants per square kilometer. As with other neighborhoods on the periphery of large urban centers, residents have to cope with violence, drug trafficking and prejudice. And more and more women are the sole providers for their families. With a location already in the neighborhood, the Federal Institute of Ceará offers professional training in the tourism and food industry. The Institute established a partnership with a local tourism authority to offer internship opportunities that have become an integral part of the curriculum, and to open doors to the labour market. With Fortaleza being one of the host cities of the 2014 FIFA World Cup, the need for a qualified workforce in this field is growing. Former graduates are increasingly being hired as chambermaids or in hotel kitchens. 180 Ilda Maria Vital de Oliveira Making dreams come true Thousand Women Ilda Maria Vital de Oliveira, is called “the Obese,” an affectionate nickname given by her colleagues due to her slim body. She is the thinnest of the chambermaids and her story shows us how access to education can change reality. Ilda is an inhabitant of the neighborhood called “vixe,” a pejorative expression that is used by the people of Ceará when they come across someone who lives in the district of Pirambu. She really believed she could change her destiny, and she did it. At age 40, she left unemployment behind and today works at the Holiday Inn. When they called me saying that I would have to be at the Holiday Inn at a certain day and time, I got dressed up, and I went. When the lady asked, “Where did you take your course?” I replied, “At Cefet” – “Which Cefet?” – “’13 de Maio’ Street.” It is a really great reference that helps to open doors. 181 Thousand Women 182 Making dreams come true When I worked at Iracema, at the chestnut processing plant, I had just a small salary. When Muheres Mil came into my life, I was really down. My son was in jail, I had been unemployed for almost two years and my husband had lost his job too. We were a burden on my mother. But I said to myself, “When I finish this course my life will get better, because I’ll be able to look for a job.” And it worked! It has been a year and a half since I came to the hotel. When I worked at Iracema, at the chestnut processing plant, I had just a small salary. I didn’t have medical or dental insurance of any kind. After I took the course and came to work at the hotel, my life got 100% better as I earn much more than a salary. I now have health insurance and a dental plan. My children, who had dental problems, have been able to get their teeth fixed and me as well. My mother had the same job as me, working with chestnuts. We were five children without a house of our own. I remember us living in a wooden hut with no stove, just a portable wood stove, without any prospects whatsoever. My grandmother was blind and would wake up very early to light the wood stove and the house would fill with smoke, then she would cook some beans. Sometimes she would cook an egg only with boiling water; it tasted horrible. And then my sister and I would leave to bring lunch to my mom; and it was very far. I never had any news about my father. I wanted to be able to one day say, “I left Iracema.” My sister is still there, and there are days when she comes home exhausted, with a lot of back pain because she has to work hunched over, separating almonds from their shells and peels. She’s 36. And then I tell her, “Girl! Take the nursing or the chambermaid course because they’re really good and the life at the hotel is completely different”. And it’s so good when we arrive for our shift, everybody’s in the cafeteria having coffee, then everybody goes to the changing room to change, put on their makeup, fix themselves up and get ready. And then everyone gets their cart, the work plan, the key and we all go to our floors. Sometimes after our shift we complain about being tired, but then we shower, we relax and go down the stairs to go home, and we feel relieved, something good. I find it really good. During the internship, I wasn’t sure if I liked it. On the first day I thought, “Boy, this is tiring!” I thought I wouldn’t make it. On the second day it was the same. But on the third day all went well. I finished my internship on a Friday and by Saturday I was already sending out my CVs to hotels and businesses. Two other hotels have called me since, but I’ll stay where I am. I already have a permanent job. The employment market for chambermaids is very good at the moment; as it is for seamstresses. Education changes people. I also started studying again because of the project, because my friends said that the project wouldn’t take anybody who only had elementary school. That gave me the strength to face problems. It used to be very hard. The day of the interview I had a big headache, but my husband really supported me; he told me not to give up. And my son is alright now. Everything I learned at the course I use at work: information technology, Portuguese, the chambermaid training as well. Even though I only learned the basics of informatics, it helps a lot. The little I know – how to access the Internet, how to go on the computer to see how many rooms are clean – helps. People at the front desk call and ask me to open the computer and see the status of a room, if it’s dirty or clean. So I open the computer and check it out. It is very important to this business. Math helps in certain aspects, but Portuguese is really important because we have to fill out a worksheet indicating if the room is occupied, clean, vacant or dirty. We may come into an apartment and find that the guests left their things there, as they usually do: like a watch, a ring, those kinds of things, an open suitcase, I have to write it all down on my worksheet. English classes also help. There should be more English because currently there are not very many hours on this. Making dreams come true Thousand Women I finished my internship on a Friday and by Saturday I was already sending out my Cvs. 183 Thousand Women 184 Making dreams come true If I could relive something, I would do the course again. The best memory I have of the classes was interpreting texts. We did a play with music; it was like we were living the characters. It was one of the best classes. At the Institute they really make you feel welcome. I would sometimes feel inferior to others because we would see all those students and we thought they were rich. We live by the beach. But to be inside that centre, surrounded by so many adolescents, we began to think we have a future ahead of us... I would sometimes be afraid of going to the bathroom. But then I would think, I managed to get here… The graduation ceremony was so good, we were called in front of everyone to receive that certificate, that diploma. That was really good! We felt so important, like someone who could say, “I won! I made it to the end!” Now that I’ve finished the course, I have more freedom. And I have the will to do something when I decide to do it. For 2011 my plan is to specialize. I’m thinking about completing my third year and starting a course in advanced IT. That’s the goal and I’m taking an online course called ‘How to properly host the World Cup in Brazil,’ which is preparing all the hotel industry personnel for the 2014 World Cup. I would give the course the highest grade. One thousand for One Thousand Women! And those like me who really want to get somewhere, if they really apply themselves, they’ll succeed like I have. I don’t want to quit being a chambermaid. I’m fulfilled! Maria Selma da Silva Making dreams come true Thousand Women For the past 15 years Selma has taken care of Davi, her eldest son, who was born with brain paralysis. In 2008, she began to prepare herself to say goodbye: she took the chambermaid course and started her education over. In July 2010, Davi passed away and in October she began to work at the Holiday Inn recommended by a Mulheres Mil classmate: Ilda. About the past, she says she has a clear conscience because she accomplished her mission. Regarding the future, she is sure that she is capable of re-writing her story and taking care of her youngest son, Danilo. “This Selma is very different from that one who came into Mil Mulheres. She is dynamic, a different woman, a woman who knows what she wants: Selma wants to work and be happy.” It was incredible! As I said the first time, the girls at home laughed when I told them what I had said in my interview, that I was afraid of computers. It’s true; I wouldn’t even go close to one, I was scared to death. My mother would say, “Girl, it’s a thing from another world. It is something from the end of 185 Thousand Women Making dreams come true I have an Orkut (social network) page and an e-mail address as well. I created it as soon as soon as I left the project. 186 time because it knows our whole lives.” And it’s true! Do you want to see? Suppose you’re in an apartment, you finish cleaning and you press ‘clean.’ ‘Clean’ is the code you have to type. So the supervisor downstairs knows where you are, where you came in. When you put the key in the lock it shows on the computer. Everybody knows what time you came in, how long you stayed. So the computer knows it all (laughs). I have an Orkut (social network) page and an e-mail address as well. I created it as soon as soon as I left the project. It is a huge challenge, a very intense one. We work a lot, the routine is hard, but when we like what we do, we continue. We close our eyes and we embrace it with all the love we have, with all the tenderness, because we’ve trained for this, it’s what we wanted. At least in my case; it’s what I trained for from 2008 to 2009. I was apprehensive, nervous, I knew I would start working. I knew my employment card had already been signed because, when I went to be interviewed, both because of the Mulheres Mil project and because of the certificate I had earned, I knew I was already hired. I was so emotional that I hardly could take any of the tests to enter the company. My blood pressure got high and the doctor got a little concerned, but it all went okay. My heart was beating so fast because I knew I was ready and I knew I what was waiting for me, but then I went in there with all my heart, with all my strength and I faced up to it. I like it a lot; I love being a chambermaid. It’s been three months since I was hired, with a signed contract right from the first day. Everything is great because we meet a lot of nice people, people from other states and we discover a whole new world. During the project we learned the theory, but when it comes to the practice, it’s really good. The first time I worked with an employment contract was when I had my son. I stopped working for 15 years because of Davi’s problem. He was a baby. I knew I would lose him, I knew one day I would have to work, but then my work was to look after him, to the point that I was paid an allowance to take care of him. It was pretty much the only income for the household because my husband really didn’t help, just to say that I had one. I left my husband to take the course, in order to live, because I felt trapped. I participated in the project and I also started to study. I went to the 1 EJA and completed my elementary school. Secondary school studies are still in progress. I had only made it to the fifth grade. At that time it was enough. My mother always said, “Have you learned to read and write? Well, that’s enough!” We only needed up to fifth grade because we had learned to read, write and do a little math. I started to work at a hammock factory when I was 14, where I would do laces and braiding. At that time, hammocks were hand made. My mother would always make us do something, because we were five sisters and four brothers. It was a big family. Only my father worked and my older brothers worked with him. I feel very important having participated in the Mulheres Mil course. It helped a lot. I learned that we have to have a positive attitude in life, that we have to take care of ourselves, that we have to value our life because it’s the only one we have, and we need to live for the moment before it’s too late. There are many unemployed women in our country and this project is the starting point for them to get ahead and win, because it is a wonderful project. I met one of the girls who is taking the course on the bus, and I recognized her because of the Mulheres Mil t-shirt. I had been working at the hotel for a few days. She looked at me and smiled. I didn’t know her, but she knew me. “Aren’t you Selma?” Then I said, “You know me from the Mulheres Mil project, right? Listen, you need to continue because this project is really good and it opens doors.” Mulheres Mil was my key to open the door to a new beginning, because I was kind of dead and all I would do was watch soap operas on TV, one after the other. When I opened my eyes, my life looked like a soap opera. And I thought, “Hey! Wait a minute! I have to turn the page.” We think we are not capable of rediscovering ourselves, but we find that we’re capable of doing things. We can discover things we never would have imagined. I We think we are not capable of rediscovering ourselves, but we find that we’re capable of doing things. Making dreams come true Thousand Women 1. EJA – Education for Youth and Adults. 187 Thousand Women 188 Making dreams come true 2. The National Examination of Secondary Education (Enem) is an individual examination applied all over Brazil to assess the knowledge of students who are graduating or have finished high school. With this exam, students can apply for a slot in federal universities and institutes, and also for a scholarship in private institutions. often felt inferior, but the project helped me, because we know we have strength, we just have to learn how to use it. And the project helps us to teach as well, as it is not only a matter of giving advice, of reproaching, of arguing, we also have to teach. The project teaches us many good things that we then teach our children. I teach Danilo that he must never lower his head for any reason, that he must never feel inferior. He can accomplish anything he sets his mind to, because he has enough strength to do so. Before I never would have thought that things could be as they are now. To be paid money because you made the effort, you studied, you practiced. Oh, it is so fulfilling! It was great to get that money and to know: that now I can pay my bills – I used to have a pile of unpaid bills. When my little boy died, the money stopped coming in. The importance of Mulheres Mil in my life?! It was very important! It was a unique and defining project. It defined our future, at least mine, because life doesn’t end when you turn 40, life begins when you turn 40. Life begins when you decide it does. And a woman always has to study, not only at school, not only at the project, a woman must never stop studying, she must be ahead of her time, because she can never stop. I’m by myself in the changing room. I get ready and I look in the mirror: “ah yes, it’s like that, now I can go to work because now I am a chambermaid. I can achieve whatever I want”. This year I’ll finish third grade, I’ll pass the Enem2 exam and I’1l enter the faculty of home economics. Raquel Maranhão Maria Rosilda Thousand Women Making dreams come true São Luís Located 20 km from downtown, the Palmeira village is one of the oldest districts in São Luís. In the beginning, it was settled primarily by rural workers and descendants of slaves, living on the outskirts of urban development. The region was marked by disorderly urban growth caused by the rural exodus and led families to build their houses on the banks of the Anil River, which cuts through the capital city and was once the city’s primary source of water. Part of this community is settled on the river’s mangrove swamp, which nowadays is completely polluted. Many families live in subhuman conditions, in wooden houses set on stilts over the swamp and surrounded by waste. A number of the women who live here have had no access to education or professional skills training. Many of them are single mothers who provide for their families by working as cleaning ladies. The food industry in São Luís lacks a skilled labour force and can provide opportunities for these women to enter the labour force. The Federal Institute of Maranhão therefore offers professional training programs in food conservation for both prepared and frozen foods, and works with the manufacturing sector to develop pathways for these women to enter the labour market. The project was presented to a group of entrepreneurs who currently employ trained program graduates. Another important step was the extension of the Mulheres Mil project to offer courses on handicrafts at the city centre campus. As for the graduates, some are earning their income by preparing pastries to order, while others have fulfilled their dreams of having a steady job by working with the partner companies. Many sell their wares in the neighborhood itself and some worked together to open their own small business. 190 Raquel Santos Raquel Santos, 34, lives her life cheerfully. She likes to joke and laugh, and enjoys being happy. Maybe that is why she enjoys the month of June the most. It is a time of celebration in São Luís with many fairs, and folk dancing such as the Tambor da Crioula1, Portuguese dances, Bumba Meu Boi2, and square dances. In her youth, she took rhythmic gymnastics classes and used to dance the Cacuriá folk dance, with its sensual choreography in which the couples change partners and dance specific steps that change with the cadence of the music. Full of plans for the future, Raquel has accomplished the seemingly impossible dream of having a signed contract in her employment card. Making dreams come true Thousand Women 1. Literally, the Creole’s drummer, Afrobrazilian dance practiced by descendants of African slaves. 2. Popular street folk dance which depicts an 18th century legend which tells the history of the death and resurrection of an ox. I miss the practical and theoretical classes, because they were so animated! The one thing I don’t miss is math class, despite the fantastic teacher. But now my skills are being put to the test because I found work as a sales clerk, and since June I’ve been working as a cashier. The cash has to 191 Thousand Women 192 Making dreams come true 3. Bondiboca is a chain of fast food restaurants in São Luís which partners to introduce students into the market. balance. So I am working on strengthening my math skills and hopefully it will all work out. I had already given up on many things. I would go this way and it wouldn’t work out, so I would go the other way and it wouldn’t work out either. I had given up on the idea of having a regular job because I was 32 years old and hadn’t found anything. I graduated from high school, I have an elementary school teaching degree, but I always worked in community schools. At the last school I worked for, I received 150 reals a month, but from September to November there was no pay at all. I was not counting on getting a regular job, because for the job market, it is not only your CV that’s considered, but also your age. It’s not just experience that counts! I joined the course to see what could happen, and if things could be better for me, and it completely changed my life. I am working at Bondiboca3, with a signed employment card, and on January 28, I celebrated my one year anniversary of working there. That was my first achievement. Now my work is beginning to become known. I make flowers and dolls. I bought a washing machine with my first pay cheque. That brought some relief, because I used to spend my days off washing clothes. I am now saving to buy a refrigerator and a bed, to provide some comfort for me and my children. There are so many good things I remember… our class was very good. I participated in the Cefet project thanks to a grant, and I worked there, as well, in the human resources department. The grant money helped me to provide food for my household as well as to buy material for making the candy and the dolls that I would sell. The Mulheres Mil project is very important as it provides an opportunity for women who have given up the hope of finding something worthwhile, because of their daily troubles, difficulties in finding a job, troubles feeding their families, and because of the prejudice against women. Yes, there is prejudice. Sometimes just being women was enough to disqualify us from getting a job. We were discriminated against and under-valued. But this project helps women to recover their self-esteem. It motivates women to not let go of their dreams, their ideals, and to continue to fight and eventually win. That is what counts most: the enthusiasm to encourage a woman to recover her self-esteem, and for her to say to herself: “I can, I can make it, I am capable, I am going to make it,” and later, “I made it!” I intend to continue my studies, to go to college, to get a degree and move forward. As I am working in the food industry, I am very interested in nutrition and in gourmet cuisine. I want to work. I want to succeed and perhaps even open my own business, maybe making decorations for children’s parties. In the entrepreneurship class, we were taught to cherish every cent we make. The instructor said that if we make one real per day, then we should save 10 cents. We should always save and value our money as it comes with effort. As I am planning on opening my own business in the future, I have to cherish the money I make. Despite the challenges I have already faced and those I still face on a daily basis, I have nothing to complain about. I like forró music, samba music, classical music, and even meditation music, with its sounds of water and birds singing. The only music I don’t like is reggae. I also enjoy going to the beach. I met my husband because of an argument we had. We would have preferred to see the Devil than to see each other. I was 19 when I got married, and I was 19 when I had my first child. And I have been married for 25 years. I really wanted the first child, but the other two were not planned. I had three Caesarean sections. My childhood was good. I was born and raised in Vila Palmeira. My grandmother found a piece of land and I lived in my parents’ house with my grandmother. I am the eldest of four sisters. My father started working when he was 13, washing cars at a gas station, and he has worked there ever since. At that time in Vila Palmeira, the greatest difficulty was getting water; my mother had to go out every day with a can to fetch it. The Mulheres Mil project is very important as it provides an opportunity for women who have given up the hope of finding something worthwhile. Making dreams come true Thousand Women 193 Thousand Women Making dreams come true We grow old the moment we stop working. 194 I enjoy joking around a lot; you have no idea how much. At work we play so many jokes that I say, “If my children ever knew how I behave here, they would say, Mom, who would have imagined you were so much fun!” I like to laugh with friends, when someone has a funny story. Sometimes it’s something serious when it happens, but then we all laugh at each other. We have a lot of fun, and even at home with the children it is like that. At first it’s serious, but then we start to laugh at each other. That’s how I like it, it’s fun. We need to set our mind to work on something. We grow old the moment we stop working. If you don’t use it, you lose it. The reason why I don’t look old is because I am always looking for something to do. Maria Rosilda Costa Castro Maria Rosilda Costa Castro discovered her passion for cooking during adolescence, already venturing into new flavors and mixtures. A churchgoing Catholic, she took her husband to the altar last year and celebrated the event using her talents to bake a cake. She is shy, and Rosilda’s challenge has been to learn to accept payment for the products sold by Guloseima, the small business she opened in 2010. Making dreams come true Thousand Women 1. A football team from Rio de Janeiro. Also known as Rubro Negro, it is the football club with the greatest number of fans in Brazil and the world, according to Ibope poll. 2. Fans of the São Paulo football club, which is also popularly known as Tricolor do Morumbi. I like cheering for Flamengo1, but I hardly know any of the players. Sometimes my husband asks, “What kind of a fan are you?” But I’ve always liked the team, ever since childhood, although I’m no fanatic. I have two sons. Lucas is 12 and Caio, 7. They are both São Paulo2 team fans. I have been living with my husband for 13 years, but we only got married last year. It was a collective wedding. It was great; I was moved, everybody was moved, my sisters... It was so good, it was a dream come true! I baked a gorgeous cake. 195 Thousand Women 196 Making dreams come true When I see those gorgeous cakes in magazines, I fall in love. And I know I’ll get there. I like to cook, I always did. I began when I was around 12. When my mother would go to the kitchen, I would go with her. I was probably the only one who cooked at my mom’s house. I liked to create, to take a recipe and make something of it. Sometimes it would work and sometimes not. Taking part in the project was an accomplishment. I used to work as a dental assistant, but only because I had to work, not because I liked it. I worked in a dentist’s office for ten years, then I got tired of it. I would leave home at 6:00 in the morning and not return until 9:00 at night. I wouldn’t get to see my children, and I had no time to look after the house. So I quit. Drawing our life maps was interesting. Each of us has our own path to follow. We have a view of our life from childhood to the present day. It is interesting because we see the past, we see everything that was left behind and what we can still try to find in the future. I made many drawings, I am horrible at drawing, but I made myself understood. I kind of played with it, showing what I would like to achieve, the summit I would like to reach: to have a business of my own. On my life’s path, I discovered I could still study, learn more skills, be better prepared. My objective is to become an outstanding professional. I want to specialize in preparing pastries. I love to make petits-fours, sweets and cakes. When I see those gorgeous cakes in magazines, I fall in love. And I know I’ll get there; I’ve already had two great successes. I would make pastries for my friends, for their children’s birthday parties, but I wouldn’t charge anything. People would ask me, they would bring the ingredients and then say “thank you.” I didn’t do it professionally; I couldn’t bring myself to charge them for it, I was hesitant to do so. It was only after the project that I began to value my work enough to get paid for it. My self-esteem improved. I began to value myself and to value the things I made, something I didn’t do before. I never knew what to charge, but now I do. Today I can tell people what things cost and why. I can justify the prices I charge. The name of my small business is Guloseima. I was able to open it with help from Sebrae3. Now I can expand my business and issue invoices. The registration was issued quickly by the CNPJ4, and even after 10 months, there are many benefits. You pay a fee of 57 reals, and in 15 years you are eligible for a pension. I will work from home and I am already receiving orders for pastries. It is a good market and there are many people working in this area. The market is open to everyone, but you always have to improve, rather than always doing the same thing, you have to innovate. On average, I make more than minimum wage each month. Some months I earn less, but others I make between 700 or 800 reals. I improved in many different ways; I got to know myself better. Before, out of sheer ignorance, I thought I only needed to go to a doctor when I was ill. But now things are better for me, for my sisters, for the whole family, because today I encourage my sisters to go to the doctor for regular checkups. 3. The Support Service to Micro and Small Enterprises (Sebrae) guides and promotes events to facilitate the process to start small businesses. 4. CNPJ - National Register of Legal Entities. Making dreams come true Thousand Women 197 Thousand Women Making dreams come true This is due to our own will, because the course doesn’t give us everything, we also have to make an effort. Everything I learned to do improved my work – in terms of hygiene, safety, preparation, entrepreneurship, and professionalism. All of which added value to my product. Today everybody works; only one or two of us are not working. This is due to our own will, because the course doesn’t give us everything, we also have to make an effort. It doesn’t help if you take the course and then just sit back and wait. 198 Aparecida Paraíba Marta Thousand Women Making dreams come true Bayeux The municipality of Bayeux encompasses the communities of Baralho, São Bento, Porto de Oficina, Casa Branca, Porto do Moinho and São Lourenço. There are no borderlines; they are neighboring communities with fishing as the main economic activity. Men, women and children earn their living from the swamp which runs behind their houses. The adults fish and the children help by cleaning the seafood. The conditions of the housing and basic infrastructure are poor. Streets are paved but there is no basic sewage, and the supply of drinking water is compromised. Household water reservoirs were built too close to cesspits and vegetable gardens where pesticides, applied without technical guidance, are a threat to people’s health. In these neighborhoods there are problems with alcohol and drug abuse, and the number of people infected with HIV is the third highest in the country. The development of educational opportunities based on a dialogue held with students was one of the challenges faced by the Paraiba Federal Institute. The institute is creating a competency-based technical course on fishing. The institute also wanted to include the community of women who sell seafood in initiatives of the Ministry of Fishing and Aquaculture, a measure that benefitted not only the Mulheres Mil students but the community as a whole, which was able to get information on public policies developed for the fishing professionals. The students are housewives, craftswomen, clam fishers, and cleaning ladies. Their ages range from 18 to 60 and some of them had never set foot in a classroom. Taking the bus to the Instituto Federal da Paraíba (IFPB) in João Pessoa, four kilometers away from where they live, means opportunity, discovery, a new beginning, citizenship. At first, the IFPB’s challenge was to raise awareness among these women and encourage them to participate in the training. Workshops were held on health, the environment and the production of crafts. Then came the program to improve educational levels and the opportunity to become professional in fishing and crafts, training that is currently underway. 200 Maria Aparecida Batista Marinho Making dreams come true Thousand Women Maria Aparecida Batista Marinho (or Cida, as she is called) enjoys listening to romantic music. The first record she bought was by Amado Batista. She loved the song “Menininha, Meu Amor.” The album was left in one the homes where she worked. There is no record of the years she worked as a cleaning lady and sugarcane cutter. There is no work card. Only her body bears evidence of this work in the form of scars that began to appear in childhood and that she accumulated in adolescence resulting from the frequent accidents experienced by these children. Cida is a seafood fisher, but motherhood has forced her to stop working. She has to take care of her baby. Housewife and student at age 37, she is the first in her family to overcome the vicious circle of illiteracy. Her dream is to become what she never had as a child: a school teacher. When the bus arrived at Cefet, I asked, “Is this where I will stay?” Then we entered an elegant room with air conditioning and I thought, “God in heaven! This is a dream. And if it is a dream, I will hold on to it, I won’t let it go.” I felt so good the first time I came, and even better when 201 Thousand Women 202 Making dreams come true So many mothers who are illiterate. It is horrible to be illiterate; it is the same as being blind. I was blind and now I can see. I was given the uniform. I felt so proud. I thought: “Now I belong to the Mulheres Mil group. And I don’t want to ever leave this group.” There are so many housewives wanting to study, so many mothers who are illiterate. It is horrible to be illiterate; it is the same as being blind. I was blind and now I can see. That is why Mulheres Mil has to continue, to give a chance to other women. When I went to the factory to be paid, I signed with my fingerprint. Sometimes I wouldn’t want to go because they would ask, “Can you read and write?” I would feel humiliated whenever I saw someone writing but I couldn’t. It was awful! I was ashamed of not being able to read and write. I felt guilty. Today I know it’s because I was never given a chance to study. I didn’t have a choice in life. It’s just the way it was. We grew up cutting sugarcane: my father, my aunts and uncles still work cutting cane and my brother as well. It is not easy. We would arrive early in the morning and would only leave at 6:00 in the evening on the tractor. When my mother said that she wanted me to have an education, I would tell her I didn’t want to, because it was too hard. She had many small children and I wanted to help at home. In those days my dad would drink too much and I didn’t want to leave home and leave my mom in such a miserable situation. At that time I had no idea of how important an education was. I didn’t care if I had one or not. But today I am aware of its importance. When I turned 18, I found myself a boyfriend, got married and had my first daughter at age 19. My father would threaten to kill my mother. I was afraid and I would beg her to leave. Then my cousin sent me a message asking me to go to Bayeux with my daughter. Then I thought, “I must gather my courage and go!!” I took my mother along with me. There I spent some time working in households. Then I met my second husband, had a new family, but I always felt deep inside that something was missing. I think that if there were no inequality in Brazil, things would be much better. If everyone were equal and if everything was shared equally, there wouldn’t be so many people hungry and suffering. There is plenty of land in Brazil, but so many people have to pay rent. If things were shared equally that wouldn’t be so. What I like most about Mulheres Mil are the teachers. They encourage us. I thought their obligation was to give classes and that would be it, but the teachers here are wonderful. They say: “Persevere, don’t give up, don’t quit, because an education is the only thing no one can take from you”. I love the classes so much. I learned so many things. We had a class on women’s rights and on health; the nurse told us how important it is for a woman to take care of herself, to have a yearly exam. I was scared to death of doing so, I hated the idea of going to a doctor. In the countryside no one has medical checkups. I was never into prevention, but now I am. We have Math, Portuguese and Information Technology classes. I was afraid to hold a computer mouse. I would tremble, I wouldn’t hold it, I thought it would break. And then the teacher would say, “Woman! Hold that mouse! Have no fear, it won’t bite you!!” Then I learned how to turn the computer on and off. My self-esteem improved so much. Today I can teach my children. I can solve math problems and do calculations. I am sure about the things I do. I serve as an example at home. I have five girls and they all go to school. When I study I give them a reason to go too. They think, “mom, at her age, is going to school, then I must not give up on my studies”. I didn’t have a chance to study as a child, but I want them to have the opportunity. And I want to be an example for them. The relationship between the women in the community improved a lot with Mulheres Mil. Today we communicate with each other. When someone is going through hard times, when someone is ill, when there are problems in the family, we try to see what happened and how we can help. And when Making dreams come true Thousand Women It really helped my self-esteem. Today I know how to teach my daughters. Today I know how to work with math, to add and subtract. I am confident about what I’m doing. 203 Thousand Women Making dreams come true the bus comes to pick us up, people say, “There go the Mulheres Mil women.” When we come to the association meetings, they say, “Here come the Mulheres Mil women.” The people in the community see it too; the project has been embraced by the people in the community. Today I have a choice. I want to learn more and I won’t give up. This year I will renew my enrolment at school. I take classes here and at the state school near home. I just finished my fourth year. People say, “This woman has many children and is getting an education.” But it is because I want to achieve my goal of becoming someone in life. If you don’t have an education you’re no one! I want to finish my education and take a course on working with children. I can identify with children. I’m a warrior and, there is no doubt that if I had stayed in the countryside I wouldn’t have come this far. I feel I am someone capable of learning of growing, and that is not how I used to think. I like who I’ve become. And now that I can read, I really like who I am. 204 Marta de Lima Making dreams come true Thousand Women Skinny, with sunburnt skin, Marta de Lima became a clam fisher after she got married and moved to Bayeux. Ever curious, she would observe neighbors when they set off in their boats. One day she tried it. It was love at first try. And it is the sea that allows her to provide for her children and to have a unique sensation of freedom. A skillful negotiator, she persuaded her husband to resume his studies and allow her to study as well. A 38-year old mother of three children, Martha lights up when she talks about her desire to learn and to go to college. You need to enjoy whatever you do. I like what I do and I like it a lot. I have to be really sick or something really serious has to happen to keep me from going fishing. On the sea you feel free, you breathe fresh air, which is so good. It is wonderful! It is a very pleasant sensation. Although I fear water and I can’t swim, I like to fish. 205 Thousand Women Making dreams come true I learned in environment class that we really have to protect the place where we live. 206 I learned in environment class that we really have to protect the place where we live. It is the mangrove! But there are people who have no idea of how important the mangrove is, how important the sea is. And it is sure important to me; it’s where I earn my living and it’s where many people earn their living. If you throw garbage into the mangrove you pollute the environment and then your children and grandchildren won’t be able to know what you know today. That’s how I think. I started to work when I was nine. We lived at my grandmother’s, we were six children, and my father was the only one working. I found it very hard. I am the eldest, so I thought I should do something. I took a short course on crochet and began to sell my stuff. So that is how I would help at home. Then I began to work in other people’s houses, but continued to crochet. When I was 17, I went to work selling shoes. That is also when I stopped going to school, in grade eight. I wasn’t able to work and study, so I decided to just work. At age 21, I met my husband and came to live in Bayeux. That is when I began to fish. I came to live by the mangrove, which is where I live to this day. At that time my house wasn’t made of brick, it was made of mud. I was curious to see people get in their boats and go out to work. So I thought, “I’ll go too!” And my husband would say, “No, you won’t!” And I would say, “Yes, I will!” And I ended up winning the argument and going. And then I fell in love with it. In the beginning my husband didn’t want me to start studying again. We used to argue a lot, but not anymore; now he agrees. Then I insisted that he go back to school as well. I have to force him but he goes. I go with him, because that is the only way to make him go. It is so funny. The teacher finds it funny that I am the one who helps him; I look like the teacher. I like the Roberto Carlos song “As curvas de Santos”. It reminds me of the good things in my youth. I also like to dance on the street where we live. The people who live there organize street parties and I enjoy myself with my husband. I don’t like clubs; I don’t like crowds that much. But a small street party with people we know, for the whole family, that I enjoy. I can dance all night long. Mulheres Mil represents a great dream come true. I feel I have accomplished something. Not yet completely, since I haven’t finished my studies. But the mere fact of having the opportunity to study again is really a dream come true. To me, to be here at the Institute is even more important, because normally you have to pass an entrance exam to get in and I don’t think I would have been able to pass this exam. I got in because of the project. Since I joined the project in 2008, I have become someone totally different. I used to be quiet, and now I am more talkative, I talk a lot. When I first came I hardly knew anything, but today I feel quite intelligent. I can help my children do their homework. Today I can communicate better with people; I know what to say. Before I only liked to talk with my neighbours, but would never go to other meetings, in other places. Now I feel stronger: I feel alright. Actually, I feel great. We also had class on rights, and we have many rights. They talked about women’s rights, and the Maria da Penha law. That helps a lot, because whenever we decide to do something, there is always a man who says, “I will beat you if you do that.” My God! Now we know where we can go to make a complaint, who to call. So the beatings are over! The days of female slavery are over. Women can now be free. I got my fishing license, which means a pension in the future. You pay your social security1, to a maximum of 45 reals a year, and in the future you can retire. We managed to get it because of the meetings we participated in here at the Institute2. Now I have mine. I don’t make as many math mistakes as I used to, because I’m pretty good in calculating. I feel like I’m someone new. I remember when we went to Brasília3, to the Ministry of Education and saw the video telling our life story. That was something to remember, to see a Minister watching me fishing, working. I felt really important. Making dreams come true Thousand Women 1. The Federal Government of Brazil has been creating options so that self-employed workers, including fishermen, may contribute to the National Institute of Social Security (INSS) to ensure their retirement. 2. The meetings were held by the Special Secretariat for Aquaculture and Fishery, under the Ministry of Fishery and Aquaculture, and the participation of shellfish collectors was articulated by the team from the Thousand Women Project in the State. 3. In April/2009, the Secretariat of Vocational and Technological Education (SETEC), promoted an event that was attended by a student from each state in Brasília. On that occasion, there was the launch of the national documentary of the Women Thousand Project, produced by filmmaker Helvécio Ratton. The video can be accessed at the following website: www.mulheresmil.mec.gov.br. 207 Thousand Women Making dreams come true It changed my way of thinking and improved my view of the world that I can pass on to my children. 208 Sometimes I miss the bus because I arrive late from the sea. So I dress really quick, hurry, get to the road and people say, “The bus already left.” Oh, no! But I always save a few cents in my wallet for these occasions when I have to pay to take the bus. And I have my student’s card. For me, the project represents everything I could have dreamed of achieving in life: to study again, to receive my fishing license, all because of the project. It changed my way of thinking and improved my view of the world that I can pass on to my children. At home I insist that, “You must study because the sea may not always be there as a source of income.” If I have an education, I can provide a better life for them, and if they have education, they can have a life better than mine. By studying, anything can be achieved, the only thing that it takes is courage and perseverance. My goal is to finish my studies. And when I finish, I will see what course I will take then. I won’t stop myself anymore. I hope the project doesn’t end so it can provide opportunity to other women who fish, make crafts or are housewives, because there is nothing to lose and a lot to gain. Deine Pernambuco Vera Lúcia Thousand Women Making dreams come true Recife The rhythm of daily life in Chico Mendes, a village district in the outskirts of Recife, is punctuated with the deafening noise of aircraft preparing to land at the Recife international airport. But only visitors hear the noise and duck their heads as the aircraft fly low above their heads. Children in the neighborhood don’t react at all. The community appeared in 1991 when families coming from different districts occupied the area and built houses with materials they could afford: cardboard and mud. Rent of existing housing would eat up a large part of their wages and the lack of a housing policy at the time forced many workers to move to outlying areas in search of shelter. Some still remember the stories of confrontation with the police and of the struggle to get basic services. Today, two decades later, Chico Mendes is home to more than 3,000 workers who still struggle to be recognized by public authorities and to obtain access to education, health and jobs. On the narrow streets, some of them without basic sewage, prejudice, violence and trafficking are mingled with hope, achievement and the search for opportunity. This is why the proximity and activity of the Pernambuco Federal Institute to Chico Mendes is so important. It opens opportunities for employment by offering training in gastronomy. With their existing knowledge in food preparation, several women sell food on the beach every Sunday while others take orders for pastries and deserts. The Federal Institute in Pernambuco has established partnerships with other institutions that are providing hands-on training. As they restore their self-esteem and acquire new knowledge, the students begin to plan for their future. Some dream of opening a community restaurant, while the dream of others is to have a full-time job or to open their own business. For all of them, the greatest battle won has been the right to dream of a better future. 210 Deine Araújo Making dreams come true Thousand Women Deine Araújo speaks slowly but with a firm voice. Of medium height, she has an open smile, and has the courage and competence to face the not always pleasant obstacles in life. At the age of 43, with three children and married for 23 years, Deine is still invited on dates in the local square. Determined as she is, she has finished high school, is finishing professional training and plans to combine two dreams: getting a degree as a Math teacher and opening a food business. For these women, this project means they can have a place under the sun, a profession. They finish the introductory course and already want to go to college. Why? Because their eyes were opened, the window to knowledge was opened. It is the project that made this possible for us. My dream is to become a Math teacher. I like numbers, I have a talent for them, and I learn very fast. That would be like a trophy to me, a personal accomplishment. Cooking and Math are two things I enjoy. I am 211 Thousand Women 212 Making dreams come true Love is something you build every day. I often say to people that every day my husband is different. happy, I am fulfilled because I have a husband and family. I have this chance to take the course, something I didn’t have before, but a door was opened. Finishing high school is a good thing to do because I lived as a prisoner in the past. I’ve been living here for 20 years. It was hard in the beginning because when I came we lived in a small cardboard and plank hut. There was no covering on the floor and my first son got parasites in his feet and his hands. I took him to the health station and when the doctor realized what had happened she called City Hall. Ours was the first house to have insect extermination. It wasn’t easy to raise a child here. There were children who played with them who didn’t go to school, who had children when they were still adolescents, who got involved with drug trafficking. I raised the three of them. The eldest is going to college. The girl got married and the youngest is doing his year of military service. Before coming here, my husband had two jobs and we would do alright. He lost his first job because of poor sight; the second one, because of his age. He worked in electronics but his sight was damaged by toxoplasmosis, which led to almost complete blindness. It is a disease one gets from dog, cat, pigeon or chicken feces; perhaps he got his from pigeon feces. He must have drunk January water. It is a belief of the Northeast: mothers gather the water of the first rain in the year and give it to the child so he will learn to speak earlier. It was harder for him, because he came from Campo Grande, a good neighborhood near Pinheiros. His father was a bank office manager, had a car, a house. The reality I came from was different. My father was a mechanic and a civil servant but, having five children as he did, he couldn’t provide everything we needed. We never spent a whole day without eating, but we sometimes ate only once a day. Love is something you build every day. I often say to people that every day my husband is different, and what strikes me most is that he treats me the same way he would when I was 15. There is still the same tenderness; he says I look pretty, even when I gain weight. He brings me flowers, chocolate, sends me love messages on the phone, invites me to go for a date at the square. I don’t go because I feel ashamed; I tell him that we’re too old for that. When I come from work late at night, he warms milk and puts some cheese on a piece of bread for me. When I finish my shower and I sit, he gives me his hand. I usually get home between 1:30 and 2:00 in the morning. Here in Chico Mendes, Mulheres Mil provides a chance for growth, because many people would like to improve their lives, but have no opportunity. These are women that did not have a chance to study, some of them even having had children when they were adolescents, as single mothers, or with partners who didn’t have any education either. And they are very chauvinistic, saying that women must not work. The course gets you ready for the labour market, as it includes things like food handling, as well as social and work etiquette. We learn how important it is to know how to handle food because it can affect someone else’s life. In Portuguese class we learn how to express ourselves, how to understand, how to listen to others, because we often want to impose our own point of view. We learn how to work as a team, because without others we can achieve nothing. And in Math, everything we do includes Math: weight, height, division, the use of percentages. It is something Making dreams come true Thousand Women 213 Thousand Women Making dreams come true Here in Chico Mendes, Mulheres Mil provides a chance for growth, because many people would like to improve their lives, but have no opportunity. 214 that prepares us for the marketplace. So it is an opportunity that they grab with both hands and that may lead to a better job. And I am convinced that, having such opportunity, the doors may open, both for those wanting to have their own business as well as for those wanting a position in a restaurant or a hotel. I have worked in a bar and used to earn R$ 100.00 a week, but it was too little money. I deserved more for that kind of work I used to do. The owner had a bit of education, so I used to teach him everything I learned in the course. I showed him how to handle the food and hygiene procedures. Afterwards, he would share all the lessons learned with the morning staff. My ambition is to open my own business, and I already told one of the girls taking the course with me about it, because she likes the office work whereas I like cooking. We will serve lunch. She will handle the commercial side of it: go to the businesses and offer the luncheon and then charge, because she’s good at that. There are people in the market delivering lunches in plastic recipients, which is wrong. I will work with something disposable, as it is more hygienic, which is something I learned at the course. Vera Lúcia Francisca da Silva Making dreams come true Thousand Women Rediscovery is perhaps the word to define this moment in Vera Lucia’s life. Perhaps because no word is strong enough to describe the process of seeing one’s own self through a positive lens after years of feeling inferior. At age 39, Vera started to believe in herself and little by little is learning to have confidence in her talents. She is evangelical, has a six year old daughter and says she is about to move. She will say goodbye to the village of Chico Mendes. The destination is as yet unknown. Only one thing is certain: the departure will be because dreams that were stifled by the social exclusion she experienced in life have now come true. Every class we would go to was fun. It was us doing things, doing our Math. It started to motivate me and then I fell in love with the project. It is experiencing what we never had experienced before. I never had the chance of entering an institution. I heard about the vocational institute, but had never gone in. What for? It was too far for me. 215 Thousand Women Making dreams come true My selfesteem was kind of low, because without an education you tend to feel inferior. 216 The arrival of Mulheres Mil raised my self-esteem. My self-esteem was kind of low, because without an education you tend to feel inferior. Today I feel a little more accomplished, because I met new people, people who recognize our worth, people who encourage us. We had new experiences and we started to have more confidence in ourselves. I didn’t have a chance to study but it wasn’t because I didn’t want to. For some people, and for myself, life was very hard; I couldn’t have everything I needed. Many dreams I had were crushed, dreams that never came true. My dad didn’t have a regular job and we had to do whatever we could to help at home. I started to work when I was 12 in other people’s kitchens, as a maid. Sometimes we would go to school feeling hungry and what helped us stick it out was the free school lunch. It was hard. There were days when we would eat some grated coconut, manioc flour and sugar. In times of celebration we would get very excited as neighbors felt solidarity with each other and would exchange plates of food. Sometimes we would have nothing to eat, but neighbors would cook a little corn desert and send it to our mother. That was really a party. You can’t tell how much we cherish this opportunity the Federal Institute has given to us. It is so important that it is as if I was going to college. It is as if I was waiting for my graduation day. I am already dreaming. I finished high school when I was 25. When I succeeded in completing high school I stopped because I found a regular job and the work pace was very tiring. This is something I blame myself for as I should have been more dedicated to studying. Today I see how much I miss in the job market by not having the qualifications required for a better job. The only thing I can do today is ‘general services.’ My wedding was the happiest day in my life. With the money I had saved for years I made a dream come true: to be married in grand style wearing a veil and a garland. That was the happiest day. I felt totally fulfilled in seeing my parents there and how I was making them proud. I was married in a church. I was wedded as a virgin. When the practical lessons of the course began it was great. It was really great. We think cooking is simple. At home it can be simple, but when it comes to working with a chef, with people with a higher education, we need to know some basic theory. Before you start to work with the food itself, there are rules you have to know. And that is part of cuisine, both things go together, the theory and the practice. But I also learned that I must not bow, that I must go for my dreams and that is what this project’s purpose is. Now I see that I am capable of studying, that I can pass any test I want, that all it takes is to believe in oneself. The Mulheres Mil project is here to show us how capable we are, that I am more than a housewife; that I’m not good only to work in other people’s kitchens washing dishes, washing bathrooms. No! The potential I have makes me want more than that. And we learned about ethics, I learned that everybody has rights. I learned that I have a right to learn, that I am a citizen equal to any other, that I only lack opportunity, which is not my fault. With the inequality that we have nowadays, those who are rich want to get richer every day, and because of that, those who are poor get poorer. But I also learned that I must not bow, that I must go for my dreams and that is what this project’s purpose is. I’ll go for my dreams and there is nothing and no one who will convince me that I’m not capable of achieving them, because I am. My dream is to complete my course and work at a restaurant, even as a chef ’s assistant. What I want is to be good enough to do this, because I am capable of being there, as an assistant chef. I want to work as an equal. When I knew there would be a competition for a general service job at the Cabo city hall, I decided to enter. I couldn’t afford private classes, but got the books and Making dreams come true Thousand Women 217 Thousand Women Making dreams come true began to study on my own. I took part in the competition to test myself. But I passed and now I am only waiting. I always had this habit of feeling inferior to others. I would always think: “I can’t, this is not for me”. But that is over. So I am very grateful to God and to Mulheres Mil for allowing us to have this vision that we are capable, as we are not ostriches, that animal that sticks its head in the sand. We need to raise our heads and believe in ourselves, believe that we can reach the horizon. We are eagles, we can wake up. 218 Frankelice Piauí Socorro Thousand Women Making dreams come true Teresina Anyone who visits Villa Verde Lar when it’s at its hottest cannot imagine that every year its inhabitants suffer from flooding of the Poti river. Located in the eastern zone of Teresina, this neighborhood was settled in 1999 and today many houses are at risk. With rural characteristics, unpaved streets, many trees and, in certain places, a fair distance between houses, it is like a small rural village. By coincidence born of necessity, the majority of its inhabitants came from small towns in the country’s interior; children or grandchildren of rural workers in search of a better future. The problems are the same as in other suburbs in the country: lack of sanitation, lack of a housing policy, violence and prejudice. As far as work is concerned, poor education is the main cause for unemployment and informal labor, a reality for most of the women who took the course. Lacking qualifications, many of them have worked most of their lives as house cleaners. Getting information to appropriately link local skills to market demand was one of the factors that guided the establishment of the Mulheres Mil project in Piauí. Given that this state is the industrial centre of the apparel and fashion industry in the country, the Piauí Federal Institute (IFPI) conducted a market research study of businessmen and union leaders to identify needs in this sector. Through the study of the women in the community, it was found that many had been exposed to cutting and sewing in their childhood, watching and helping their mothers and grandmothers sew children’s clothes. Others did small repair work and made some items of clothing to sell in the markets. So the IFPI began to offer training in sewing. The institution has already altered its initial proposal, and is now providing training in underwear manufacture and tailoring. With these courses, talents acquired throughout their lives became skills. Most of the women who were part of the initial class are still self-employed, and others found work in the labour market. Many dream of having their own businesses, and a small group is creating a production association. The courses are offered at the Federal Institute which counts on the support of the local city hall. 220 Frankelice Melo da Costa Making dreams come true Thousand Women Frankelice Melo da Costa, age 32, has been married for 12 years and has three children. She can embroider and crochet, and with these skills she contributes to the family income. In order to study, she had to live far from her family, but she was fortunate in having two mothers. A little more than a year ago, she discovered she also has good business skills. With confidence in herself and in the future, she has already established her goals for the next 10 years, which include having her own business and taking a management course. A course like the one we are taking is something I and other women cannot afford. I was looking for this type of course before the project began, but none of the ones I came across offered what I was looking for, only sewing basics. This course teaches things that are useful down the road, how to cut, design, and meet the customers’ needs so they leave happy. I think many things in the Mulheres Mil course will be useful. I came in with a goal and I think today I’ve surpassed it; I’ve learned so much and 221 Thousand Women 222 Making dreams come true The teacher made us read, and to write down what we did and did not want, what we did and did not like. I’ve developed so many skills. I used to say that I knew how to cut, but I would cut the fabric any which way. Now I see which way the threads go and how to cut it correctly; I see how I must place my hands, if it’s better to lean on the table or not. Before, I would sit at the sewing machine and thought I could sew. Through the course, I learned that the way I was sewing was wrong; even the way I used to sit at the machine was wrong. I admit I was a mischievous child. I have good memories of my childhood. We were nine children in my family and, like all children, we would play a lot. I was raised by two mothers. I lived with my real mother until I was seven, then I went to live with someone else because there was no school where we lived. I lived with that lady until I was 20, when I left to get married. So I say she’s my second mother. My real mother was not of the kind who cuddles a lot, but she was my inspiration, and she still is. She was the one who encouraged me to work, and I began to work very early. She would say, “Tomorrow you will be rewarded.” On vacation we would arrive home crying, and she would say, “Go back and continue.” Everything we learned here is useful. We had classes on design and texture. We are still learning math, Portuguese and the history of fashion. The ethics course was very useful because it helped us to think about our rights, duties, and how to behave in certain situations. It is all very useful things which I had never stopped to think about, but today I do. Before I wasn’t even able to draw a circle, and now I see a piece of clothing and I wonder how I would design it. In the design course we learned how we can put it together, because the teacher taught us to do it piece by piece, the sleeves, the pockets, the collar. The teacher taught us many things that we can use on a daily basis. I can now identify different fabrics. We learned how to identify fabrics, to see whether they are natural or synthetic. And that really helps because we are able to tell the customer what fabric the clothes are made of. The teacher made us read, and to write down what we did and did not want, what we did and did not like. This helped me discover who I am. It made us think about doing the right things for ourselves. As for me, the course helped me in many ways, and I realized I could do things that I thought I’d forgotten. Not only with crochet and embroidery, but I found I had talent for other things as well. I discovered myself as a person; I am competent, I have talent. It made me look to the future, for good things for me and my family. I think I feel more like a woman. I didn’t finish secondary school; I dropped out in the second year. But I would really like to finish my education and get my diploma, as I discovered I have a talent for administration. That was about a year ago. You know how sometimes an idea just comes into your head? With little money, I did something no one thought I could do. I turned 50 reals into 150. No one believed it, but I did it; I tripled the amount I had. It was money well spent. I learned to crochet from a neighbor. Then I bought a sewing machine, as I needed a few pieces sewn; and I wanted to make them myself. Now, in a good month I make around 350 reals. One day I would like to take a management course. Today I know what I want for tomorrow. I want to keep on doing what I am doing. In 10 years I want to consider myself a successful woman, to be acknowledged for my work, to have a business of my own, to have my own workshop and financial stability. I want to earn enough to have a comfortable life. And I would like my children to go to college, and for me to have completed my college education. Projects such as this are very rare; here, at least, I hadn’t come across any. There are so many women at home doing only housework, looking after the hus- Making dreams come true Thousand Women 223 Thousand Women Making dreams come true Projects such as this are very rare; here, at least, I hadn’t come across any. band, the house, the children, but there’s nothing like this project to help them get skills training. This would help so many people who cannot afford an education, who hardly survive on what they earn. But if they had training in a skill, my goodness! It would be so good. It would be a shame not to expand this investment. In my opinion, if there was more investment it would be even better. If there were other projects like this, many others would be saved from lives of misery. I believe that I will be qualified when I finish my training and I will even have the courage to knock on a company’s door and say, “Hi, I need a job; and here is my certificate.” It will be good for me and I hope that others will achieve their goals as well. 224 Maria do Socorro Costa Making dreams come true Thousand Women Maria do Socorro Costa has an abundant amount of courage in facing anything new. After being swindled by a boss while she was working as a maid, she decided she had had enough and learned to sew with her sister. A little more than a year ago she and her husband moved to Goiás in search of a better future. She brought with her a fear of the unknown, the longing for her family, and her sewing skills, which she improved in the project. There she found a job, surveyed the market and is now self-employed. When a woman gets to learn something she goes for it. In Piauí there is not much available, men take it all. So whenever women are encouraged, when they find out what they are capable of, they grab the chance. Then they can provide a better future for their children, they can buy something here, something there, they help their husbands, they fix up the house. I think that’s important. 225 Thousand Women 226 Making dreams come true My life story goes like this: I was born in the hinterland of Piauí, in Pimenteiras. Then we moved to São Miguel dos Tapuios, where I stayed until I was 15. My dad is a peasant farmer and so is my mother. The 11 children always worked. None of my older brothers had the chance to go to school. It was only after my two younger brothers and I were born that we moved to town and were able to go to school. But my Dad would make us alternate, one week some of us would go to school and the others would stay home and help him work the land. We suffered through a lot of hardship. Some days all we had had to eat were beans without any seasoning, just a bit of salt. And I didn’t like to live like that; I always wanted to improve, to work. When I was 14, I tried to work by selling little things. I would sell spices and peppers; I would do everything I could to earn something. At age 15, I moved to Teresina and began to work as a maid. In 2003-2004, I worked in a house for one year and five months and my boss didn’t pay me for five months. I really counted on being paid because I wanted to buy a house, to improve my situation and because I dreamed of having a child. I was disgusted and I promised myself that from then on I would work for myself, that I would never work for someone else again. My sister took a course on cutting and sewing at Senai, but I couldn’t afford it. She would go to work and I would too: I would clean her house, wash clothes, cook for her, I would do everything so that she had the time to teach me how to sew as soon as she came home. So I learned, and my husband helped me to buy a sewing machine on credit. And I started to work a lot, to make small clothes that I would sell in the marketplace, going up hill, pushing my bicycle, my son with me, struggling. I’m 29 years old. I was married at 21. I have been sewing for a living ever since. And then the course came. At first I thought, everything that shows up in this neighborhood is temporary – people talk a lot, do some things, but then disappear and there’s nothing left. And I thought the course would be the same way, but I applied anyway. I called my sister and we went. But I was very happy to have the course in my life and, as many girls In Piauí I would work in the market, I would make my little pieces of clothing and sell them to customers and to resellers. have already said, it changes our self-esteem, because we want to grow, to improve. I lived my little life, I sewed and went to the market. Now I have bigger dreams. I’ve made a lot of progress in my profession because I can now use industrial machines. I can now do more. Before, I only made underwear for children. Now I make t-shirts and dresses. With the little I learned in the course, I can already cut out a dress or a t-shirt, and I am learning to make patterns. I also learned how to properly cut patterns and my sewing has improved. We assembled a wedding dress in patchwork, as the teacher taught us1. And we learned that putting small pieces together can yield amazing results. I learned how to make a proper sewing knot, which I didn’t know how to do before. I learned how to copy a pattern from a magazine. In Piauí I would work in the market, I would make my little pieces of clothing and sell them to customers and to resellers. Here in Goiás things have changed. I get orders and I work at home. I no longer have to go to the market carrying a heavy bag on my head. I now assemble t-shirts that come already cut and printed. I get paid by the piece. My dream is to have my own workshop. I would like to make my own t-shirts. I can do the sewing and my husband can do the screen printing. That way none of us, not even my son, will have to work for someone else. I own two industrial machines. I want to keep taking courses. Next year I want to take a course on pattern-making. 1. In November/2009, the students from the first class took the pieces made using the patchwork technique, including a wedding dress, to be shown at the First World Forum of Technological Education. Making dreams come true Thousand Women 227 Thousand Women Making dreams come true I often say to my baby that when he grows up and goes to college, I will buy him a car so he can drive there. I dream of making a better future for my son, and helping my mother, my brothers and sisters. I have two visuallyimpaired brothers. So I dream of having enough It’s a unique opportunity. I have learned so many things that I now put into practice. This project helps to change lives. 228 that I can help others. A program like this is the only opportunity for women in the slums. It’s a unique opportunity. I have learned so many things that I now put into practice. This project helps to change lives. Joana Rio Grande do Norte Josirene Thousand Women Making dreams come true Settlements of Canudos, Aracati, Bebida Velha, Modelo I and II The life of students from the settlements far from town is repetitive, spent doing household chores and working the land. The landscape is that of the sertão: the land is dry, the wind blows dust, the sun burns and there is little vegetation. When the winter rains are good, there is plenty. The land provides green beans, corn, manioc, gherkins and okra. When rain is scarce, water and food must be conserved, what little there is. Men try to find some work nearby, like breaking stones. Women stay at home. In Rio Grande do Norte, the project serves five communities, four of them in settlements and the other in the municipality of Touros. Most of the students are rural workers. They come from families with lots of children children, began to work at age seven, and never completed elementary school. In those days, the most one could dream of was to make it to fifth grade. 1 1 Settlement of Modelo II The political and geographical realities are complex, and the Federal Institute of Rio Grande do Norte had to overcome many obstacles to provide professional qualifications and ensure appropriate training. These ranged from transportation – the settlements are far from each other – to the process of negotiating with local entities – which was very long and needs to be continued. There was a school in each settlement but it was closed at night and did not offer education to youths and adults, so for these women, education was just an dream. And that is precisely the importance of the project in these areas: to ensure the provision of education to young and adult women. Through Mulheres Mil, the Federal Institute negotiated with the municipal administrations to provide better education. The professional training was to be in the fields of tailoring, fish processing and conservation, food preparation – making homemade confections, processing and conservation fruit pulp – and crafts. Also, students would be integrated into the school routine, where they participated in workshops and events on important issues for rural workers, such as retirement and setting up cooperatives. 1 230 For some of these women, studying has become a routine. With lanterns in their hands – the settlements lack public lighting and there is only electricity in the houses – they walk along those wide streets, passing each other’s houses until they arrive together at school. Once they get there, they face their fears and little by little they learn to dream again. Joana Darc dos Santos Making dreams come true Thousand Women Joana Darc dos Santos does not like her name very much, but she seems to have inherited her courage from the famous heroine. Along with her husband and three children, she confronted the police who tried to remove them from their disputed land and camped in a tarp tent for almost a year. With this same courage she now confronts the blackboard. She freezes and trembles to the bottom of her soul when she has to write on it, but she does it. She already writes her name in front of others and when the teacher passes the attendance list, she is the first one to sign. And off she goes, taking her life one step at a time. I don’t like my name because whenever something happens, people say, “Go to mother Joana’s house!!”. My husband is a farmer and when it rains he does other things. I live on my income from the Bolsa Família (Family benefit) grant, and that is how I help. I am paid R$ 200. It really helps and in my house it is essential, because we’re nine people and none of us has a regular job. 231 Thousand Women 232 Making dreams come true Sometimes we don’t even know how to hold a pencil but we learn. I still fear the blackboard... Nowadays if you lack education, there is nothing for you, everything depends on having an education. I had this opportunity and let it go, and now I miss it. Because if I had had an education, where would I be now? I would have passed an exam to work at the City Hall, which I actually tried without passing. I would have had more than one chance. My parents broke up and my mother took my birth certificate with her. Then when I was nine, my father managed to get a second copy of the document, but I wasn’t interested in studying any longer. I did go to school for a while, but my classmates would make fun of me because I couldn’t read or write. That really bothered me and I didn’t want to go anymore. I gave up. I expect a lot from this program. I expect to finish it but to never stop studying again, because if I had studied I could have offered something better to my children; because every mother wants the best for her children. The program offers many courses and I’ll choose one of them to see if I can get a professional education. I like to cook and I think that is the one I will choose. I’ll apply myself a lot and I won’t give up. I won’t let this opportunity go by, I’ll persist until I make it because everything is possible if you have the willpower, right? I also want to serve as an example to my children. I have seven children. And how can I encourage my children to study if I don’t show any interest in studying myself? I don’t want them to become what I became: If you gather together a group and everybody has the same dream, everyone will visualize this goal! Then you feel even more encouraged. someone with no education, with no knowledge. And today you can only achieve something if you have an education. Compared to what I was? I’m learning. Because it’s a different culture. Sometimes we don’t even know how to hold a pencil but we learn. I still fear the blackboard. I get so afraid when they call me to the blackboard. Good Lord! But I am gradually losing my fear and am facing what life has to offer! My husband had this dream of having land of his own to work. At first I wanted him to give up. When he told me the police were there, I said, “Give up! This will never work!” But he told me he would not give up. So when I saw he would not give up, I decided to support him. So I came here in 1995, living a tarp tent. It was really difficult. Can you imagine?! We would stay until the police would come and kick us out. So we would leave carrying our things on our heads; they would kick us out of the farm. Then we would come back. I came with the children; I had three children at the time. By day, as it was so hot, I would let them sleep outside. I would gather some sticks and stretch the hammock in the shade. When night came I would bring them in. It was so hot. It was a year of struggling. Then we got registered and we made our mud house. So all the sacrifice was worth it. I would like my community to improve, with more doctors, with better living conditions because I don’t intend to leave here to go to a town. Because cities attract violence, and this is bad for adolescents. So there is this fear of taking them to town and ending up destroying their lives. I prefer to live in my community, but would like it to improve, I would like government to provide us better conditions: the means to find a job, to better survive in this land. Here in this region. I’m learning to read and write because I couldn’t read or write that well. I made it to fourth grade, but I can’t read very well. I can read a few words, but I make many mistakes. I’m still struggling but I have become a better writer than a reader. I would get very nervous if anyone asked me to sign my name. I can write, but when I went to a bank and someone asked me, “Could you sign?” I would tremble inside from fear of mixing up the letters. Sometimes I would say that I couldn’t write, so that I could sign with my thumbprint and it would go faster. Every day, when the teacher passes the attendance list, I’m one of the first to sign. And now I have Making dreams come true Thousand Women 233 Thousand Women 234 Making dreams come true no problem! I learned a little bit of everything, I learned a little math too. Regarding the lectures at the IF, I liked the one on creating cooperatives, can’t remember what it was called, but I liked that lecture very much. Many things changed in my life, because first of all I couldn’t sign my name correctly and I would be afraid of doing it, I would feel very ashamed of making mistakes and having people laughing at me. And that is something I don’t fear any longer. If there is something to read on TV, I can read it without having to ask anyone to do it for me. I’m able to learn about things I never knew before. That was after the project. I think it is because of the encouragement and the possibility of improvement offered to us. If you gather together a group and everybody has the same dream, everyone will visualize this goal! Then you feel even more encouraged. And all that because of one simple objective: to improve. Josirene Francisca de Almeida Making dreams come true Thousand Women Josirene Francisca de Almeida is 54 and the mother of 12 children. A rural worker ever since she was seven, she lives in the Modelo II settlement and is part of the group of women who stood by their husbands throughout the struggle for land. Her dream? To learn more. And she does not care when someone tells her that the time for education is over. She had very little time for studying. Born into a family of 12 children, the need to survive spoke loudest. At age seven she had to divide herself between her work in the fields and her notebooks. The failures at school began to take their toll. She abandoned her studies. The first time the students and teachers met, that first day of classes, it was very emotional. I was very moved when the first assignment was written on the board. A memory came to me of when I was small, of when I was seven and went to school. I felt like I was a child again. It had been 235 Thousand Women 236 Making dreams come true And I can already read and write. We’re discovering things we didn’t know before. I love it. 35 years since the last time I had copied an assignment from the board. It felt great, just great! And it still feels like that. I gained more experience. I learned more Geography, Math, Social Studies. I enjoyed the classes, as well as the trips to Cefet. I enjoyed those as well, they were really good and we learned a lot of other things. I would like to take the professional course on tailoring. My parents were farmers and they still work the fields. I started working the land when I was seven. At 6:30 a.m. I was already out of bed. Then I would work until 10:30. At 11:00 I would be back home so I could be at school at 1:30 p.m. I would feel tired, but in those days parents wouldn’t care if the children were too tired. You had to obey, you had to go, you had to work! I made it to the third grade. I was behind in my studies. I didn’t pass at the end of the year, so I had to repeat. That pattern lasted until I got married when I was 16 and still in third grade. Then I quit school. I decided to start studying again because there were many things I had forgotten in my life. The little I learned when I went to school is not enough for me. I would like to learn more, to learn to read better so I can learn more, to understand things better because I don’t read very well. I’m enjoying the project very much. As I see it, the more I learn, the better. And I can already read and write. We’re discovering things we didn’t know before. I love it. I remember I had trouble writing, more so than reading. There were too many words, too many letters and I wouldn’t get it right. Now, I know all the letters and I can write correctly. The teachers are excellent and I like them very much. I came to live here 15 years ago and I have 12 children. Six of them live with me and the other six live elsewhere. When I first arrived there was only wilderness, then people chopped the wood and built houses. I didn’t get to live in tents; I came after the mud houses were built because my children were going to school where I lived. My husband decided to come here because it was a city where we lived, the town of Ceará Mirm, and he was born and raised as a farmer and had nowhere to work. That is why he looked for a camp and then became a settler, so he could work and survive. He works the land. This year hasn’t been good as there was no winter rain, and if there’s no winter rain, there’s no yield. You start working too early, as a child, and when you turn 40 you’re already tired. Which is my case and the case of many people. I still work the land. When winter comes, you sow and you harvest. But when winter does not come, you stay at home looking after the children, washing clothes, cooking, sweeping. And in the evening I go to school. It makes me tired but it has to be done. Sometimes I fall asleep in class. And then the teacher says, “Mrs Josirene!” – “I’m here, teacher!”, I answer. I’m tired but I’m there. Making dreams come true Thousand Women 237 Thousand Women 238 Making dreams come true I think studying improves our knowledge; it is through study that we can have a better life. At my age I cannot have big dreams, just to learn more and gain more knowledge. I know I won’t earn a degree. My husband says, “Josinha, you still go to school at your age? You should have already learned everything!” And then I say, “But I want to learn more!” But I know I will never be a doctor or an engineer. I find this project very important. I think studying improves our knowledge; it is through study that we can have a better life. Some women here want to become veterinarians and others dream of becoming nutrition scientists. We all have dreams, right! If I could have a degree, I would be a psychologist because I think it is a good profession, and the first one I would talk to would be my son, who is a very nervous person, and everything stresses him out. He studies and he’s clever, but he struggled to finish elementary school. He had to do the same grade over many times. Celly Rondônia Filomena Thousand Women Making dreams come true Ji-Paraná Jardim dos Migrantes and Novo Ji-Paraná are two districts that have benefited from the Mulheres Mil project and the arrival of the Federal Institute in the state of Rondônia in 2008. In Ji-Paraná, 373 kilometres from the state capital of Porto Velho, the campus has the smell peculiar to new buildings – it opened its gates in 2009 to a community that had never before had access to professional education. Mulheres Mil began offering classes in November and December 2010. The process of expanding the federal professional and technological education network is clearly visible here but there have been many challenges. One of the biggest challenges was to offer education that responded to the needs and employment opportunities in the region and that would respect and include marginalized citizens that for decades had no access to education. The communities that will benefit from this are neighboring rural areas. There are few stores. Houses are fairly far from each other, there is no sewage system, public lighting is poor and the streets turn to mud when it rains making it difficult to get around. In the neighborhoods it is easy to find students from all parts of Brazil. The stories of these women are so similar that they could have come from the same family. Actually, they could have come from any of the 14 communities supported by Mulheres Mil. Child labour, little time for school, household violence, low self-esteem and an infinite strength to look after the children – all of those are common traits. Training was given in crafts and bio-jewelry. The Federal Institute looked for partners to ensure the education provided new skills and helped with the commercialization of the products made by the students. The project’s promotion of dialogue and of community access to the campus was unprecedented in this region. Most students work as maids and their dream is to find a better job in order to give their children the prospect of a better future. 240 Celly Santos Silva Celly Santos Silva is 25 years old and has four children from two marriages. She spent part of her childhood working in the fields and another part working as maid in the home of another family, so she could help raise her brother sand sisters. She had children herself when she was still an adolescent. She had the first one when she was 14 and from then on there was no time left to study. Her dream, like that of most women, is to improve herself so she can help her children. Disproving her mother’s prediction, Celly intends to go to college. Making dreams come true Thousand Women 1. Named Seringueiras, the municipality was created by Law No. 370, dated on February 13, 1992, and signed by Governor Oswaldo Piana Filho.. I was in school up until to fifth grade. My dream is to complete my studies. I believe it is an opportunity to grab with all our strength. It is an opportunity to leave the life we have lived until this day. For example, I didn’t have much of an opportunity to study. We lived in Seringueiras1. We were six children there. There we would only get paid once a year. There are middlemen who buy coffee 241 Thousand Women 242 Making dreams come true and throughout the year we can borrow money from them in advance. I remember, my father killed himself in this period. He drank poison as he owed so much money. I had a brother who had got into drugs and my father did everything he could to stop him from stealing. We ended up having a debt of 240 sacks of coffee. My mother was left with that debt to pay. So I had to find a way to make extra money and help my mother. I left home when I was 11 to work in other people’s houses. At that time all I thought about was being able to stop working in other people’s houses and to have my own house, but I didn’t think that I could have the problems that faced me in finding a husband. In those days I knew nothing about contraception and had no one to talk about it. When I was too young I went to live with this guy. I was 13. Then he started to beat me; if he arrived from work – he worked in the fields – and thought that anything was not in its place, he would beat me and the children. I had two children with him. I can finish my education, finish high school and then take a technical course on nursing and, if God wishes, go to university to become a pediatrician. So I ran away to Ji-Paraná. I took a few pieces of clothes for me and my children and moved in to my mother’s house. I was 16 years old and began to work again in other people’s houses to help my mother and provide for my children, as what I earned was not enough to live on my own. With the Mulheres Mil course I hope to find a better job than being a maid. I want to make some money so I can finish my education, finish high school and then take a technical course on nursing and, if God wishes, go to university to become a pediatrician. I loved the classes we had. At first it was more conversation to get to know our classmates, but I liked it a lot. I was a little afraid, but when the teacher started to explain, the fear went away. It is easier than I thought; I was very afraid of coming close to a computer, of erasing the programs, but not any more. I consider myself a simple person who doesn’t know a lot. A cheerful person, a person full of life. I consider myself brave, because I’m not afraid to face what life brings us; there are people who when they come across any obstacle say: “This is too much for me; I can’t handle this.” Making dreams come true Thousand Women 243 Thousand Women 244 Making dreams come true I think in 10 years I’ll be able to have a comfortable house, even in my current neighborhood. Starting to study again can completely change my life. And it can change my life and the life of my children. I think in 10 years I’ll be able to have a comfortable house, even in my current neighborhood. My eldest son will be 21 by then and the other one will be somewhere between 18 and 19. The youngest will be 12 and the other one, 16. If I haven’t finished college by then, I will at least be there and I will have a better job anyway. And I’ll be able to help my eldest to go to university himself. That is where I want to be in 10 years. Filomena Ferreira de Abreu Making dreams come true Thousand Women From the 1970s to the 1990s, thousands of workers moved from the Southeast to the North of the country in search of land. The story of Filomena Ferreira de Abreu is directly related to this migration. Born in Minas Gerais, she moved as a child with her parents to the outskirts of Ji-Paraná. She lived on a small ranch and started working the land very early. At age 43, with three children, one of her dreams is to return to her hometown and meet her relatives. The other dream is to see the beach. A quiet person, she says it’s only lately that she’s been able to speak more, and she intends to finish her studies so she can find a better job and see the sea. My mother worked a lot and we would help her with sowing and harvesting. After my father died, she sold the small ranch, which was on km 12, and she bought a house in Jardim dos Imigrantes and came here. I was 14 years old. And then life became even harder, because things are 245 Thousand Women 246 Making dreams come true more difficult in the big city, and she had no education. At age 14, my brother went to work and my mother worked as a housekeeper. So I stayed home to look after our house and my little brothers. I had my first child when I was 16. My mom wouldn’t let me date, so I ran away with the first young man I dated. My husband was not a hard worker. I went home to my mother’s house but I was pregnant. Then I married again. Life got better for a while and I had two children. But my husband drank too much and got violent. He even shot me with a gun. I didn’t call the police because he came with me in the ambulance and threatened that if I said anything about it, he would kill my daughter and then kill himself. I never said a word about it. I left him and moved to Porto Velho. It’s now been four years since I came back here. As a child I made it to fifth grade. I enjoyed going to school to meet my friends and to learn as well. Every day the teacher would choose two girls to prepare the meal since there was no stove and we needed wood to cook. So we would light the fire, we would get some big pans to cook and we would make sweet rice or soup. There were some salty soups which I never saw again, that would come in a big package. You only had to add water and let it boil, and it tasted really good. As a child I made it to fifth grade. I enjoyed going to school to meet my friends and to learn as well. Twenty-four years later, I returned school. I made it to eighth grade, but the school was far away and I would come home tired. My dream is to finish my studies and find a good job. I work as house cleaner and it is hard; I don’t make much money. I would like to make a better life for my children. One of them dreams of going to college and I have no means to help. I first enrolled my daughter and then I came to the project. I think it’s great because we will learn a lot and we already had some classes in computers, just a few. I want to learn how to use it. I already know a little, but it is not enough. It was great, the teacher made us feel at ease, because I was afraid to touch it and break it. I feel welcome, people speak a lot; the teachers ask a lot of questions, they ask how we’re doing. So we feel better. People look at us differently, they expect more from us, and it’s good, it’s very good. It is encouraging. It is good to meet new people, with other views. We learn a lot from the stories other people tell us. I learned that we have to accept others with their flaws. Nobody is perfect, everybody makes mistakes. Everybody has problems. Making dreams come true Thousand Women 247 Thousand Women 248 Making dreams come true I feel welcome, people speak a lot; the teachers ask a lot of questions, they ask how we’re doing. It’s good for the self-esteem, to have more confidence and feel happy, and talk more. I’m learning to talk a little more. I think I didn’t used to have many friends because I was always very shy, I would hardly talk. I was too quiet. I expect to finish my studies, to learn as much as I can, and maybe find a better job, maybe as a saleswoman, something like that, or even a job at city hall. To be honest, I’d really like to pass a public competition. I dream of building my own house and I would like to start it next year. The house I have is made of wood and I’d like one made of brick. I have another dream, but I have no idea when I’ll get to do it: I’d like to go to the beach. I see it often on TV. Simone Roraima Sôngila Thousand Women Making dreams come true Boa Vista Bordering Venezuela and British Guyana, the State of Roraima is a corridor for drug trafficking. The activity victimizes many women who get arrested for several reasons. At the Boa Vista Women’s Penitentiary there are over 100 inmates doing time, almost all of them for trafficking. There are women of all ages, 18 year old youths and adults over 50 years old. Women from many areas of Brazil, including indigenous women from the Macuxi and Wapichana tribes and even from abroad, were used as “mules”. Without their knowledge, they were bargaining chips: given by traffickers to the police in order to disguise the entry of larger cargoes. Some of them were never involved with drugs, but because they won’t turn in their husbands or sons, they are considered accomplices. The jail is small and as many as four women share a cell. There are bunk beds and each cell has a small kitchen for making snacks. The hardest thing is to bear the heat; some rooms are covered with asbestos tiles and the temperature is up to 50ºC. Breathing is difficult. Since many cannot afford a lawyer, they can wait for over two years for a trial. The sense of being abandonned by their families leads to profound depression. In the childcare wing, the cries of children are a distraction and they can forget they are in a prison, but the desperate look in the eyes of some inmates shows the need to develop alternatives for the future. One day they will leave the prison. In Boa Vista there were two groups with similar goals. The prison management was looking for alternatives to the education they were offering and the Roraima Federal Institute (IFRR) was discussing the adoption of the Mulheres Mil project. In order to develop the project in the prison, the IF acted as a facilitator and raised awareness among several local institutions that were needed to make the daily work possible. This ranged from the simplest things, like obtaining authorization for the instructors to enter the prison, to more complex matters, like getting permission and escorts for inmates to leave the prison for the practical training. The partnership had a happy end. Eighty women were certified in food preparation and upgraded their education. Some of them have already been released and found work in their field and one of them has opened a business at the men’s prison. Organizations continue to plan ways to ensure these women enter the work force. One of the proposals is to help them organize a cooperative so they can supply their own meals in prison. Currently the state government hires a private company for food service. 250 The goal is to help them organize a cooperative so they can produce and supply their own meals, something that currently is in the hands of a third party. Simone Pires Lopes Making dreams come true Thousand Women Simone Pires Lopes is 40 years old. She was born in Manaus and had a normal childhood and adolescence. She was able to study and even finished high school, but chose trafficking rather than going to college. Arrested for the second time, Simone has assumed the role of representing her classmates and helps organize the choir. Since she is evangelical, her challenge is to avoid the temptation of easy money when she finishes her sentence. Her dream is to open a business with her husband, who is also doing time. The woman who began, who stayed until the end, until the last day, who went on stage at Cefet to receive her certificates, she knows how important this was to the lives of all of us who took the course. Do you know the story of the star that guided the three kings and led them to their goal? That is what the Mulheres Mil project means. Throughout the project I witnessed the rehabilitation of some of my colleagues. Those who participated will never forget it, because it opened 251 Thousand Women 252 Making dreams come true our minds to take advantage of this opportunity in our lives. It taught us the importance of making the decision to change our lives, to seize the opportunities that are presented to us, like this course. Those who took the course and those who are taking it now know it’s an opportunity they have to hold on to. With Mulheres Mil I learned to take all the courage, the energy I had put into doing illegal things, and use it in another way, with the same courage, the same energy, but with less ego, because too much ego isn’t good. The way you treat people changes; the use of money, the way to earn it, because we learn to work in order to reap the benefit. I wasn’t afraid of the police, I wasn’t afraid of the drifters, I had no fear at all. I was brave, I would challenge them. I had a gun with me and I’d shoot if I had to. Thank God I never had to, but I really had the guts. I thought I was really something. Then I found out I was nothing like that. On the contrary, I was a fool for having thought that way. I thought I was the best, but I was nothing at all. I was a fool, an idiot who thought she was better than everyone else because she had some drugs, some money, and because she could get whatever she wanted and she could spend as much as she wanted in one night because that’s how my life was. The course content filled several gaps in our lives. Right from the start it worked on our self-esteem, that thing which so many people lack, by repeating: you can, you are capable, you can change. You just have to want it. So many of us had those gaps that we needed to fill. And this course came and filled them. It taught us that we can change our lives. We just have to want it. When we find ourselves here in prison, everyone is equal. I was born and raised in a very good family. I was always very much loved as I was And this course came and filled them. It taught us that we can change our lives. We just have to want it. the only girl, and was always given many toys, much attention, lots of affection and that is how I grew up. I fell in love; the so-called love bandit came into my life. I went to Boa Vista for 15 days, and stayed for two years. Then I started trafficking, but not because he encouraged me, but because I saw how quickly you could make money, easy money. We are often in a hurry to succeed in life. This is blind thinking, because reality is something different. I had already finished high school, but then let my education drop. I had wanted to study Biology. We took the entrepreneurship course, and that really broadened our minds. When I leave this place, I hope, and so do the other women, to follow a new path. Actually, this new path has already started in here. It began the moment we applied for the course, the moment other people started to take part in our lives. The Mulheres Mil project is a door, even for those who already have had the chance to study. Sometimes we would joke that we were left outside of society, but we see that there are people outside these walls that think otherwise, and those who leave this place will return to society. And the hope is to succeed, because the prejudice is not only against those of us in here, it is also against our families, because we lose our self-esteem, we feel ashamed. Participating in Mulheres Mil also showed me that I don’t exist as an island, that there are other people around me, even if we’re not linked by Making dreams come true Thousand Women 253 Thousand Women 254 Making dreams come true And a woman is a human being that, when it comes to fighting, doesn’t fight alone. She fights for her husband and children. blood we’re linked by bonds of friendship, of care, of affection. Even here we used to get together in the kitchen many times to prepare appetizers and meals. And a woman is a human being that, when it comes to fighting, doesn’t fight alone. She fights for her husband and children. When she does something, it’s not for her sake alone. That is what being a woman is about: companionship. I want to apply all that I have learned. I’d like to open a small market and sell rice and beans, and on weekends, from the front of my house, sell chicken with salad. My dream is to leave prison at the same time as my boyfriend, João Morais. I think I’m the pan and he’s the lid [laughs]. What would be the soundtrack for my life? Love without Limits by Roberto Carlos. Sôngila Soares de Lima Making dreams come true Thousand Women Sôngila Soares de Lima, age 47, could be called a natural-born entrepreneur. She opened a restaurant with her boyfriend at the men`s prison and has a candy shop at the women`s prison. Born in Pará, her mother was indigenous and her father was Portuguese. Inactivity can be hard for someone who worked in the mines for over 20 years. At the prison she studies, cleans the guards’ surveillance post to shorten her sentence, and looks after her business. Even after all I’ve been through, I’ve never been fearful. I am fun to be with, I’m popular, and very loyal, a real friend. I live life smiling, there is no such thing as a cloudy weather. That’s who I am: full of attitude, guts, ready to take action. I don’t make promises, I do. Whenever I decide to do something, I go and do it. I have confidence in myself. I didn’t feel I was their daughter, and than I found out I had been adopted, I was 16. One day I heard my adoptive mother talking with 255 Thousand Women 256 Making dreams come true my biological mother. I had seen her visit many times before but it had never occurred to me that I was adopted. I never managed to call her mother, because she saw me being abused so many times, she witnessed my pain and never did or said anything about it. But my adoptive mother never abused her own children! In 2008 Mulheres Mil appeared. Since I already wanted to take a course like this but couldn’t afford it, I jumped at the chance. I had made it to fifth grade but it had been 20 years since then. So I started studying again, I became qualified, I learned about entrepreneurship, about math, about the environment, about how to work with the public, so I could start my own business. I had an aunt who was a gifted cook and baker. I would stand by her side in the kitchen watching and learning. She liked me a lot. I think I have a talent for cooking. I learned really easily. I never got involved in trafficking; I always worked on mining sites, in businesses, in restaurants. I would cook for the guy who owned the site, and for the miners, and I was paid 2 grams of gold per day. When I started, the mining was done manually, later it was done with machines. I worked in Colombia, Venezuela and English Guyana. When I was arrested I had just arrived from Guyana. It was there that I met my boyfriend. He helped me build my house; I would contribute with my money, my diamonds, and he would contribute with his. In 2008 Mulheres Mil appeared. Since I already wanted to take a course like this but couldn’t afford it, I jumped at the chance. Now I have a restaurant at the men’s prison. There are seven, but thank God mine is the most popular. I took the course and passed on everything I learned to my husband and my fellow inmates. I have five workers at the prison and they need to be equipped, wear a cap, they need to have clean hands, need to be clean-shaven, nothing on their hands, no watch or ring. I go there every Sunday and when I arrive everybody is there clean-shaven and smelling good. They do everything right. I was sentenced to 12 years in prison. The judge considered me an accomplice, he said I was aware of what was going on, and since my boyfriend had been in prison and escaped from parole, I was therefore an accomplice. I didn’t turn him in. But I have already done my jail time, so now I’m on probation. I didn’t see anyone in my family for eight months. I am a mother of nine children; two of them live in Manaus, the other ones live here, but only one of my daughters has visited me. When we come here, the family turns its back on us. In the beginning they come, but the visits become rarer. It hurts because you feel abandoned. We were 40 women, 20 in the morning and the other 20 in the afternoon. Everyday they would take us to Senac1, for the practical part of our gastronomy course. I learned a lot, made a lot of progress. Before I started taking that course I already had a stand where I sold sweets, which I still have, and that is what gave me the courage to cope with this sentence and to make a living. I already knew many recipes, but I lacked practice with the rest: the ingredients I needed, calculating the amount per person, because 1. The National Service of Commercial Learning (Senac) in Roraima is one of the project partners in Boa Vista. Making dreams come true Thousand Women 257 Thousand Women 258 Making dreams come true I plan to continue, because it doesn’t make sense to be a businesswoman without an education. sometimes I would prepare too much and then it would spoil. So I would have to throw it away. I learned everything in the course. I learned how to live with my earnings, because I would spend everything I earned, I would buy things that were not necessary. Now I know how to save my money, how to make it last. I learned a lot of math, and I use all I learned. I had many classes here, I had lessons in manners, in good behaviour, how to get along with people, how to address people. This project is meant to open doors to women who can cook, who want to get ahead, who want to learn more, to improve themselves, because a woman can, further down the road, set up stall in front of her house, so she doesn’t need to rely only on her husband. I passed seventh grade and I am going into eighth. I plan to continue, because it doesn’t make sense to be a businesswoman without an education. My plan for when I leave here is to continue, to open a small snack bar and a shop at my house, to sell soda, dairy, things like that. Elenilde Sergipe Valdenice Thousand Women Making dreams come true Aracaju and Nossa Senhora do Socorro The district of Santa Maria, known as Terra Dura (hard land), is in the southern zone of Aracaju and is where part of the garbage from the capital city is dumped. Even after the Public Ministry outlawed it, the inhabitants say there are families who still make their living from the garbage brought from Aracaju, São Cristovão and Nossa Senhora do Socorro. The village of Taiçoca de Fora is in the municipality of Nossa Senhora do Socorro, a coastal area of Sergipe, and the majority of the population fishes for a living. 1 The landscape and the subsistence in these areas are different, but the social and economic realities of the women are similar. Both in Santa Maria and in Taiçoca de Fora, work begins in childhood. Because of that, the education level is low, motherhood comes early and the lack of professional qualifications becomes an obstacle to entering the labour force. 2 1 Santa Maria neighbourhood 2 Taiçoca de Fora 1 2 260 The challenge for the women in Santa Maria was to make them see themselves. They had to strip away the layers of fear and prejudice accumulated through years of working in garbage. In Taiçoca de Fora, they had to confront the resistance of husbands and the suspicion of other women, who were so tired of hearing unfulfilled promises from politicians. In both communities, the goal was to use and improve the talents that they had already acquired during their lives. To work with these realities and fulfill the needs of these women, the Federal Institute of Sergipe designed courses in the areas of recycling and crafts, which were not previously offered in its programming. The establishment of partnerships was essential to ensure the improvement of the education level among the female population of Taiçoca de Fora, to offer professional qualifications and to integrate craftswomen into local and national markets. All these measures required the involvement of many organizations, which created a support network that could be replicated in other locations in the state. The results for the students are varied. Some graduates chose to make crafts, which they sell at markets. Others still work at the Independent Gatherers Cooperative of Aracaju (Care), and some are looking for other professional alternatives. The women from Taiçoca de Fora are discussing the possibility of organizing a production association. Elenilde do Espírito Santo Making dreams come true Thousand Women Besides her family name and physical traits, Elenilde do Espírito Santo inherited the profession of shellfish gatherer from her parents. At age 32, she has already had long experience working in the sea and in the mangrove. She has been doing this for 23 years and knows how to catch, crack and clean the shellfish. She did not to learn to sell, however, so she still depends on a middleman. Cheerful and objective, she says what she thinks without worrying about criticism. Memories of school include quarrels with schoolmates and she still will not tolerate disrespect. It was very good to study Information Technology and we would like to have more classes on that. First we were afraid of wrecking the computer, so we asked, “If we break it, will we have to pay for it?” “No, you won’t have to pay.” I learned to access the Internet; I got very curious about it. We started to look for boyfriends, we learned how to chat. 261 Thousand Women 262 Making dreams come true Now I know how to embroider using “sururu” shells, oyster shells, things we would not know before as we would throw the shells away. I was glad to return to the classroom and to know we can learn even at this age. This course will be good for me and to show my children that the best thing in life is to study and for them not to do as I did, quit. In Portuguese class we wrote a story telling about our lives, what we had done in our childhood. My childhood was a hard one. I didn’t have time to play; my children became my toys. I started to work when I was nine. My mother would wake us at midnight saying it was 4:00 a.m., to crack shellfish. And I would say: “Won’t the sun ever come up?” That was our only choice, fishing was our only choice. We would also go to the mangrove, to catch oysters and shellfish. My mother would take us with her, rather than leaving us alone at home. I only made it to third grade. When it was time to go to school, I would already be so tired, and all I would think about was the work I had to do when I went home: do the dishes, go out to fetch water. When I left school I was 13. And that was it. I started taking care of the children and as of this day I take care of my children and gather shellfish. I do a little bit of everything, but what I like most is to take care of children. It is 4:00 a.m. when I’m off to the sea and I’m back between 2:30 and 3:00 p.m. We go out by canoe and I can’t swim. As for the shellfish, there are some weeks when you catch them and some weeks when you don’t. And we crack the shellfish that we gather from the sea at home and then pass them on to someone else to sell. He goes to Bahia and sells them by the kilo. Each kilo costs five reals. I crack between 10 and 12 kilos a day, from 4:30 a.m. to 8:00 p.m.. Many of us feel insecure, and are afraid, but having taken this course I feel more self assured, I have more confidence. The classroom is something else because we get more involved, more focused on learning, on seeing what good things the teachers have to show us. People can learn at any age, it is just a matter of wanting to. We start to learn things we didn’t have time to learn earlier in life. Now I know how to embroider using “sururu” shells, oyster shells, things we would not know before as we would throw the shells away. We’re learning to make art from shells. Now we know that the shells we used to throw away can be worth something. I like the math teacher a lot. He’s a very cheerful person and is really into making us learn, because calculating can be hard. At school I wasn’t very good in math, but the way he teaches it shows us we are capable of learning, of moving ahead in life. I learned how to divide. It was not easy for me, but I learned. Making dreams come true Thousand Women 263 Thousand Women Making dreams come true The course also helped me to be patient with my children. Now I come, I play with them, I take them out. 264 The course also helped me to be patient with my children. Now I come, I play with them, I take them out. I’ll go to the mall, to the beach, because I like to go out. I like having the coldest beer I can find. I’m learning to give more love to my children. I didn’t get that much love from my parents, love in the sense of kissing, hugging, and today I kiss, hug and even spank when it’s necessary. My children don’t work. They can be children. I have one who is ten, a five year old and another one who is two years and five months old. Cleidiane, the eldest, Adriano and Raquele. By getting qualifications, I expect to provide a better life for my children. Through my studies, through the project, I intend to give many good things to my children. Valdenice Alves Making dreams come true Thousand Women Valdenice Alves is not very talkative. She keeps things to herself, does not speak very much, perhaps because she was given a great deal of responsibility at a very young age. She started helping her mother make a living very early. Born in Alagoas, she helped to sell shellfish and crabs when she was around 10. At age 11, the family moved to Aracaju, where she and two brothers had to cope for years with the Terra Dura landfill, as the Santa Maria neighborhood is known, in order to provide for her mother. Education was a luxury that she seldom experienced. I liked the project name – Mulheres Mil – as I consider myself a winner, one who’s empowered. I can handle any kind of work because working on a landfill since 11 years of age wasn’t easy. I’m 24 years old. I was born in Maceió but I came to live here in Aracaju when I was 12. When we first arrived, I 265 Thousand Women 266 Making dreams come true 1. The Cooperative of Autonomous Recycling Agents (Care) from Aracaju was established in 1999 aiming to take families out of the landfill. would leave at 8:00 a.m. and would stay until 5:00 p.m.. Sometimes we would work all night long, because many people worked at night. When my father started to drink, we had to look after ourselves, because he would go on and on, and if it wasn’t for us, my mother would be in trouble. The twins and I provided for the house. I knew about the project through Care1; I was one of the cooperative members. It was good to be back in a classroom after so long. This project was a very good experience, I met many people from my neighbourhood and I liked the other women very much. I liked the psychologist because she made us feel at ease, we would feel alright. I liked the computer lessons. Many of us had never handled a computer. There was one woman who was so happy just to be able to turn it on and off. I was too, as I had never used one before. Someone who never handled a computer before is afraid to touch it, I was really nervous. I never stopped asking for help. We felt at home, I felt at ease, and the teachers helped a lot. I made it to fourth grade. At the time, a neighbour enrolled me in school. She asked for our birth certificates and filled out the applications for myself, my brother, and my cousins, who all worked at the landfill. I enjoyed going to school, I wanted to go. There were times when I would feel ashamed when the bus would pick us up at the landfill. The other students would stick their heads out of the window and call us garbagemen. Once I argued with a boy; I stepped on him because he called me garbageman. Many people show prejudice when they know that we are from Santa Maria or Terra Dura. It is a horrible feeling being humiliated. Even when I wore the Care uniform, when I would go to buy groceries they would stare at us. If I could I would swear. I would say, “What are you looking at? Is this any business of yours? It’s better to work than to steal.” Things like that. I would argue a lot because of that; I was pretty angry about it. Before taking the course, I only thought of work as a means to eat. Now it’s different! I think about working, about buying clothes, buying a pair of shoes. In those days I would only think about working and building my house, and that was it. I wouldn’t include myself. And today I take myself more into consideration. I think it was because of the way I was raised, because that is how my dad was. The way he saw things, as long as there was rice and beans, nothing was missing. I never had a toy, a good piece of clothes. He was as poorly educated as we were. After the landfill, my second job was at Care, and it was with something I already knew how to handle, which was garbage. I learned to make crafts with newspaper. It was good, but there should have been more lessons. I would like the project to have a second phase. I can make elastic bands for holding hair. I gave a few to my nieces and sold the other ones. They sell easily. I only stopped because I began to work at a lady’s house in Atalaia. But then I left because she wanted me to live in. I stopped working for a few years when I was in my eighth month of pregnancy and when I had my son. I got pregnant when I was 15 and it was unplanned. I took more precautions after he was born. He’s nine years old. I met my son’s father when I was still a child. After the landfill, my second job was at Care, and it was with something I already knew how to handle, which was garbage. I started there when I was 20, I stayed there for three years and nine months. I left because I got sick; I had a blood and lung infection. At the graduation ceremony I was in hospital; I spent 13 days there. Before that, I had never looked for a job outside of Care. I was afraid of leaving there and not being able to find another job. I would go to work even when I was sick, wouldn’t mention it, because I was so afraid of having to leave. In the beginning I was used to working in a different area, only with garbage. Cleaning work is easier. If we know precisely what to clean, it’s easier and you earn more. I also do manicures at home. This project raises the self-esteem of many women. Sometimes we’re going through hard times, but then we Making dreams come true Thousand Women 267 Thousand Women 268 Making dreams come true The project helped me to develop communication skills as I used to be quiet. I wouldn’t like to talk with people without having been introduced. stand up, and value ourselves more. We’ve been through a lot of pain, so we need to look after ourselves a little more. The project helped me to develop communication skills as I used to be quiet. I wouldn’t like to talk with people without having been introduced. It was “Hi” and that was pretty much it. But now it is easier for me to communicate. Taking part in the project changed many things: the way I relate to my family, the way I talk to my son. Taking part in the project was good for me. Now I feel I am better. I have many friends who work at the landfill. There are still many women and children. Many of them work more than men, pulling the wagons, and going through the garbage. What I find beautiful is their attitude. They’re not afraid to face life’s challenges, but it’s very hard. I’ve been through many hard times in life but never gave up. And I won’t ever give up. I won’t give up fixing my house, seeing my son study, having a job I never had before. I would like to work as a manicurist. I’ll prepare a few CVs to send to businesses and see if I can get a job in general services. I feel I am now more qualified for the job market. My dream is to have a signed job card and build my house. I want to give to my son what I never had. Lúcia Tocantins Sheilane Thousand Women Making dreams come true Palmas and Taquaruçu Students of the district of Taquaruçu and Santa Bárbara neighbourhood have life stories with many similarities. Many of them worked as children, most of them married early, and many of them are the sole providers to the household. Some of them try to hide the marks of domestic violence they carry, many have no self-confidence and none of them have taken a technical course or sat in a college classroom. 2 1 Palmas 2 Taquaruçu 1 2 270 The district of Taquaruçu is 32 kilometres away from Palmas, where the Federal Institute of Tocantins (IFTO) is located. The district is a small town and has an air of tranquility, as if time has stopped and the hustle and bustle of the modern world is something from another world. In the Santa Bárbara neighborhood of Palmas, there is an atmosphere of fear. The houses are close to one another, there is no healthcare, urban planning or sewage disposal. And there is plenty of violence. Most of the population lives in extreme poverty. As in other slum areas there are no government services and many inhabitants are unaware of their rights to education and jobs. In order to promote access to education for the women from these communities, the Federal Institute established a dialogue with the neighbourhood association. Many challenges then presented themselves: the need for transportation to school, a way to ensure continued attendance and how to offer professional training to a group with a wide range of ages – from 18 to 60 – and varied education rates – from a few grades of elementary school to middle school graduation. At the Santa Barbara State School there was no Education for Youth and Adults course and the dialogue between the IFTO and Palmas City Hall made it possible for women who had left the classroom decades ago to continue their studies. The institution also collaborated with local businesses to offer qualifications in a variety of skill areas. Today, besides the handicraftmaking course offered to women living in Taquaruçu, students at Santa Bárbara are also enrolled in courses on tailoring and food handling. The impact in the lives of those who have earned their certification varies. Many found work in areas not related to their qualifications, a group is still making and selling crafts, but the majority of them have gone back to school. Lúcia Araújo Mendes Making dreams come true Thousand Women Good humour and a ‘joie de vivre’ are strong traits in Lúcia Araújo Mendes. She is from reggae land, or Maranhão, and is proud of her roots. At 51, she has lived most of her life in a rural area sowing and harvesting and raising brothers, sisters and children of her own. During her life, she has rocked the cradle of 19 children, and is now raising a 13-year-old granddaughter and helps with another four grandchildren. Soon it will be six years since she came to live in Palmas and she now makes a living from recycling and making crafts. When I started getting into crafts, it was because a friend told me about it, I wasn’t really that enthusiastic. But I liked it! It’s been four years since I started making crafts. I’m convinced and really like it. I also work on recycling. I gather iron, cans, plastic. I make crafts and I make recycled 271 Thousand Women 272 Making dreams come true I’ve liked everything I’ve done while participating in this group. I took the culinary course. We learned to do appetizers, cakes, confections, chicken recipes and puffs. paper and then I sell everything to the middleman. I’m the only one working now because my husband is sick. I was happy when I heard that the project would offer us a course on crafts. I’ve liked everything I’ve done while participating in this group. I took the culinary course. We learned to do appetizers, cakes, confections, chicken recipes and puffs. I really liked the craft workshop on making boxes; I fell in love with those little boxes. I used to live in the country and I worked sowing and harvesting. I could give classes on that. We would plant beans, rice, corn and manioc. There were years when it produced enough for everyone to eat as much as they wanted, but others years we had a bad harvest and not enough to eat. My mother had quite a few children – she had 15, and she raised 13. I came second, so I had to help look after the ones who came after me. The first ones are the ones who suffer most; that is why I didn’t grow very tall, because I had to carry the boys! When I was a girl, until I was 11, there was no school, it was really only farmland. I married very young, around 13, 14 years of age. I felt like I was a prisoner because my father wouldn’t let me go out with my friends. This project was really wonderful for me, because I couldn’t write at all, not even my name. And today I can sign my name. I already know all my letters, but I still can’t put them together when it’s a big word. went to Mobral1, but I had to quit at that time because of my children. I began to study here at Santa Bárbara, but when the EJA2 came to an end, I had to stop as well. I think this course has helped us in many ways. Not knowing how to read or write is really difficult. I once went to the capital city, Teresina, to take my sick girl to the hospital; they gave me a paper with something written on it, and I didn’t know what to do or where to go. I would ask for information and people would send me to somewhere and then to somewhere else. It was horrible. Now I’m not afraid of having to write my name when I need to sign a paper. I’m feeling more confident. Now I can read a little, I already know all the capital letters. But putting letters together to form big words is something hard to me. Mulheres Mil changed the life of the women from our neighborhood. 1. Mobral –The Brazilian Literacy Movement. 2. EJA – Education for Youth and Adults. Making dreams come true Thousand Women 273 Thousand Women Making dreams come true This has opened my eyes and my spirit, and for me it’s good. Things will be better if I continue. 274 I tell you that because my girl said to me, “Mom! I’m really glad because I finished the eighth grade and I know things I didn’t know before.” Now, thank God, because of this project, she said she will never stop studying. We are given a grant, which is very important to me. It’s R$100, but it’s a lot of money to me. I pay the electricity and water bill with it and sometimes I even buy rice, meat, I provide for the house. This has opened my eyes and my spirit, and for me it’s good. Things will be better if I continue. Many women were like me: unable to sign their name. But now they know how and are excited about studying, they want to continue. Even if the course comes to an end, they want to keep studying. Sheilane Alves Making dreams come true Thousand Women Sheilane Alves is a housewife, who works at the Palmas City Council and is studying music at the Military College. She quit studying when she was in seventh grade and for 17 years she didn’t go back to the classroom. She came back to school because of the project and now, at 37, she has new goals, one of them being a college degree in social services. She enjoys singing, she sings beautifully, especially when she sings the song that reminds her of when she started dating her second husband. ”Quero colo” (I want some tenderness), by Leandro e Leonardo. I keep wondering why I stayed away from school for so long. Sometimes now I may be tired, because this job demands a lot from me, but when I go to school I feel so good, so happy to know I’m going to learn something! I leave home at 4:40 p.m. and only come back at half past midnight. And sometimes I study until 4:30 in the morning to do 275 Thousand Women 276 Making dreams come true all the homework and get ready for the tests. For me, going to school is a challenge that I want to share with those people who I’ve learned to love and respect. Going to the military school today feels like going to Mulheres Mil: it’s a challenge, but it’s also a joy and an apprenticeship, because every day is different. I quit school when I was 17 and was in eighth grade. And I developed this desire to study through the project because before that I didn’t get any encouragement and didn’t really want to do it either. I thought I could only manage to work and to do what I could to provide for my life. Now it’s different! I learned that I can manage both: I can take care of my household and do what I like, which is to study. We are four children and my father guides us, and we always respect his opinion. And I married to please my father. I was about to turn 16. My father approved of the boyfriend I had. But then we argued and split up. So he went to my father’s house, who didn’t yet know we had split, and asked him for my hand in marriage. I resisted a bit, but didn’t want to displease my father. So I accepted and got married. I was in the seventh grade and never came back, because I was working and didn’t have much time to study. And my husband didn’t encourage me. Two years after that my son was born. That is when I really dedicated myself to the house, to the child, to the job, and I couldn’t even think about studying. Five years later we separated – and soon it will be 20 years since we separated – then I married again. We’ve been married 11 years. We get along well; he’s one of the people who encouraged me to go back to school. He helped me a lot while I was in the Mulheres Mil courses. I heard about this opportunity at Military College on the radio. They were taking applications for courses on music and information technology. So I went there and filled out the application and today I am studying music. We are learning to play and also to become a music teacher. I love my course. We think music is something so simple, but it’s really not. Nowadays, for you to become a music teacher or to learn to sing and play well you have to study, because we have to read music, there are rules to be studied, and obeyed. The project taught me to look at myself, to like myself better, not to think that I had no right to fight, to persevere… Through this project I have also had the opportunity to work. On January 1st it will be two years since I started working as a civil servant at the Palmas City Council. It was through Mulheres Mil that people began to see my value. They saw I had the potential for leadership, to be committed to my job, to work and to survive. One thing that I’ll always remember was our trip to Brasília, and there we met the 13 communities taking part in Mulheres Mil project. I met a very special person, Marta de Lima1, a shellfish gatherer from Paraíba. With all the hardships she had faced, she didn’t give up, she didn’t stop believing. I wish there were more Martas. Many things have changed for me. I always say that the project allowed me to see life differently, because up until then I was a housewife, I didn’t expect anything else and, all of a sudden, the project opened new horizons for me. I felt like studying again, growing again, because I had given up. And the 2011 Sheilane is a Sheilane who learned to be a warrior, who learned to go for her dreams. That was one of the things I learned in the project: don’t give up, no matter how difficult it can get. All the girls who made the life maps mentioned the bus, because a bus would come to pick us up and bring us back. When we arrived, I remember it as if it was yesterday, everybody looked at the institute building and said, “My God! Is this really meant for us?” When they brought us to a classroom, and began to tell us about the project, I said to a friend, with my eyes full of tears, “Here, if we want to, many of us will be able to improve our lives.” When they brought us back home, everybody was amazed, wanting to tell everyone what had happened, what they had thought about it. It never crossed my mind I would be treated so well, that people would respect us so much. The project taught me to look at myself, to like myself better, not to think that I had no right to fight, to persevere, because I would think that at my age I wouldn’t get very far. And the project showed me that there is no right age to win in life. There is not an age that you have to think you’ve grown old and that your time is over. No! It showed me that, if I want, my Making dreams come true Thousand Women 277 1. See the story of Marta Lima on page 205. Thousand Women 278 Making dreams come true I learned that I can manage both: I can take care of my household and do what I like, which is to study. age doesn’t matter, that I can win and go for my objectives. I am 37 today and in a year and a half I’ll complete the music course. The women from Taquaruçu, I’m absolutely certain many of them don’t have the dignity, the love for oneself, that we have today. We have become different women. The majority of us managed to get a job, there are those who didn’t continue with the handicraft work, but we are all working. My goal now is to complete my education at the military school and then take a university course on social services, because I think I have some talent in that area. It is a project that has changed the stories of poor women. And it is really worth investing in this project, because it helps human beings to discover their value, to have self-esteem, to develop, to improve as human beings, to try to succeed in life without worrying about the barriers, because some people give up for the slightest reason. Projects by State Making dreams come true Thousand Women Alagoas Federal Institute for Education, Science and Technology The Sweet Flavour of Being Area of Qualification: Food Brazilian Collaborators: Alagoas State Education Secretariat, ECAPEL (stationery store), African Roots Project – ONG Maria Mariá, Banco do Brasil Cooperative of Employees, Barra Nova Pastoral – Canadian Nuns, Aerotourism Collaborating Colleges: Red River College and Cégep Régional de Lanaudière Amazonas Federal Institute of Education, Science and Technology Transformation, Citizenship and Income Area of Qualification: Tourism Brazilian Collaborators: State Government of Amazonas/Manaus Social and Environmental Wetland Program and National Commercial Apprenticeship Service (Senac-AM) Collaborating Colleges: Niagara College, George Brown College and Collège Montmorency Bahia Federal Institute of Education, Science and Technology Institute A Voyage to New Horizons Area of Qualification:Tourism and Caregiver for Elders Brazilan Collaborators: Terreiro Mokambo, Raja Yoga Brahma Kumaris Meditation Center, Neighbourhood Association of Vila Dois de Julho Community (Amovila), Betesda Baptist Church, São Lázaro Parrish, IFBA Technological Incubator of Popular Cooperatives Collaborating Colleges: Niagara College, George Brown College and Collège Montmorency Ceará Federal Institute of Education, Science and Technology Women of Fortaleza Area of Qualification:Tourism, Food Handling and Governance Brazilian Collaborators: ONG Emaús, Pirambu Neighbourhood Association, Technological and Qualification Research Centre (CPQT) and the Brazilian Hotel Industry Association – Ceará Collaborating Colleges: Niagara College, George Brown College and Collège Montmorency Maranhão Federal Institute of Education, Science and Technology Food for Social Inclusion Area of Qualification: Conserving Techniques and Food Handling 279 Projetos Thousand Women Making DMakingdreams dreamscome come true true Brazilian Collaborators: National Commercial Apprenticeship Service (Senac-MA), Foundation for Supporting Education and Technological Development of Maranhão (Funcema), Maranhão Commercial Association (Ascom), Olívio J. Fonseca, Bondiboca, Pão Nosso Bakery, Bakery and Confectionary Sabor e Qualidade, José Sarney Foundation Collaborating Colleges: Red River College and Cégep Régional de Lanaudière Paraíba Federal Institute of Education, Science and Technology Community Development – Impact on Quality of Life and the Environment Area of Qualification: Fishing, Crafts and Environment Collaborating Colleges: Cégep de la Gaspésie et des Îles Pernambuco Federal Institute of Education, Science and Technology Culinary Solidarity Area of Qualification: Culinary Brazilian Collaborators: National Commercial Apprenticeship Servic (Senac-PE) and Federal Rural University of Pernambuco (UFRPE) Collaborating Colleges: Red River College and Cégep Régional de Lanaudière Piauí Federal Institute of Education, Science and Technology Fashion and Citizenship Area of Qualification: Fashion and Apparel Brazilian Collaborators: Brazilian Service for Supporting Micro and Small Businesses (Sebrae-PI), Municipality of Teresina, Municipal Secretariat for Economic Development and Tourism and Casa de Zabelê (Archbishop Social Action – ASA) Collaborating Colleges: New Brunswick College of Craft and Design and Cégep Marie-Victorin Rio Grande do Norte Federal Institute of Education, Science and Technology Casa da Tilápia Area of Qualification: Processing of Fish Leather - Food to Crafts Brazilian Collaborators: Education and Technological Development Support Foundation of Rio Grande do Norte (Funcern), National Rural Apprenticeship Service (Senar), Municipalities of Ceará-Mirim, João Câmara, Pureza and Touros Collaborating Colleges: Cégep de la Gaspésie et des Îles 280 Rondônia Federal Institute of Education, Science and Technology Organic Jewellery – A Network for Life Projetos Area of Qualification: Crafts Brazilian Collaborators: Ji-Paraná Municipal Secretariat of Education and Rondônia State Education Secretariat Collaborator Colleges: New Brunswick College of Craft and Design and Cégep Marie-Victorin Making dreams come true Thousand Women Roraima Federal Institute of Education, Science and Technology Inclusion through Education Area of Qualification: Food Brazilian Collaborators: State Education Secretariat of Roraima, Brazilian Service for Supporting Micro and Small Businesses (Sebrae-RR), National Industrial Sector Service (Sesi-RR), National Commercial Apprenticeship Service (SenacRR), Youth and Adult Education Forum (EJA), State Justice Secretariat, Federal University of Roraima (UFR), Brazilian Cooperative Organization (OCB), National Service of Apprenticeship on Cooperatives (SESCOOP) Collaborating Colleges: Red River College and Cégep Régional de Lanaudière Sergipe Federal Institute de Education, Science and Technology From Garbage to Citizenship - Fishing and Citizenship Area of Qualification: Recycling, Crafts and Culinary Arts Brazilian Collaborators: State Public Ministry, Federal University of Sergipe (UFS), Brazilian Service for Supporting Micro and Small Businesses (Sebrae-SE), Social Inclusion State Secretariat, Health and Prevention Group for Schools, Nossa Senhora do Socorro Municipality, Aracaju Recycling Agents Cooperative (Care), Sergipe Foundation for Supporting Technological Development (FUNCEFETSE), Cida Duarte Beauty Institute and volunteer educators Collaborating Colleges: New Brunswick College of Craft and Design and Cégep Marie-Victorin Tocantins Federal Institute of Education, Science and Technology Citizenship through Art Area of Qualification: Crafts and Organic Art Brazilian Collaborators: Brazilian Service for Supporting Micro and Small Businesses (Sebrae-TO), Municipality of Palmas, National Industrial Apprenticeship Service (Senai-TO), Ecológica Institute Collaborating Colleges: New Brunswick College of Craft and Design and Cégep Marie-Victorin 281 Thousand Women DMaking dreams come true Mulheres MIl Do sonho à realidade Thousand Women Making dreams come true MILLE FEMMES Du rêve à la réalité 282 nombreuses voix Ce livre raconte la trajectoire d’une action publique, le projet Milles Femmes, narrée à la première personne. Celles qui nous racontent cette histoire, ce sont 27 femmes, élèves qui participent ou ont participé au projet pilote mis en place dans les régions Nord et Nord-est du pays dans le but d’améliorer la vie de mille Brésiliennes. Projet audacieux et inédit dans le Réseau Fédéral d’Éducation Professionnelle et Technologique, le projet Mille Femmes nous a mis au défi de travailler avec des exemples d’exclusion : des femmes jeunes et adultes en situation de vulnérabilité économique et sociale, la plupart d’entre elles avec un faible niveau de scolarité et en marge du monde du travail. En lignes générales, le projet avait pour but d’élever le niveau scolaire, d’offrir une qualification professionnelle et de contribuer à l’insertion de ces femmes dans le monde du travail. Outre ces objectifs immédiats, on peut affirmer qu’il a également eu d’autres retombées qui, de par leur nature même, ne sont ni simples ni évidentes à mesurer, telles que la découverte de la citoyenneté, la récupération de l’estime de soi, l’amélioration des relations familiales et de la vie en société dans les communautés, en plus d’encourager les femmes à retourner sur les bancs de l’école. En un mot : des personnes ont recommencé à croire en elles-mêmes. La gestation du projet a débuté en 2005, avec la vision inclusive, le courage et l’audace même de plusieurs acteurs brésiliens et canadiens. La première action est née d’un partenariat entre l’Institut Fédéral du Rio Grande do Norte (IFRN), à l’époque Centre Fédéral d’Éducation Professionnelle et Technologique Présentation Une histoire racontée par de Du rêve à la réalité Mille Femmes 283 résentation Presentation Mille Femmes Du rêve à la réalité 284 (Cefet), et les collèges canadiens. C’est au sein de cet institut que fut développé un projet éducatif de formation pour femme de chambre. Le résultat en fut si impressionnant que le Canada, par l’intermédiaire de l’Agence canadienne de développement international (ACDI) et de l’Association des Collèges Communautaires du Canada (ACCC), et le Brésil, par l’intermédiaire du Secrétariat à l’Éducation Professionnelle et Technologique (Setec) et de l’Agence Brésilienne de Coopération (ABC/MRE), ont décidé d’élaborer un projet en vue d’étendre cette action à d’autres états. C’est ainsi qu’est né le projet Mille Femmes qui, en plus du Rio Grande do Norte, fut étendu à 12 autres institutions, à savoir les Instituts Fédéraux d’Alagoas, Amazonas, Bahia, Ceará, Maranhão, Paraíba, Pernambuco, Piauí, Roraima, Rondônia, Sergipe et Tocantins. Des personnes ont suivi ou continuent de suivre les cours de formation qui y sont offerts depuis 2008. Les domaines sont les plus divers et cherchent à s’harmoniser avec les talents des élèves et la vocation de la région. C’est ainsi que l’on propose des cours de coupe et couture, de femme de chambre, d’alimentation, de gestion domestique et d’artisanat. Soulignons le fait que, dans la mise en œuvre du projet Mille Femmes, le respect des apprentissages non formels et la (re)découverte de talents a constitué un élément-clé, sans oublier la précieuse contribution des collèges canadiens qui, depuis des décennies, ont mis en place le processus de Reconnaissance des Acquis Antérieurs (RAA), lequel valide et certifie les connaissances accumulées tout au long de la vie. Au niveau national, ce projet a été mis sur pied par le Secrétariat à l’Éducation Professionnelle et Technologique (Setec/MEC), avec le partenariat du Bureau International du Cabinet du Ministre (AI/GM), de l’Agence Brésilienne de Coopération (ABC/MRE), du Réseau Nord-Nordeste d’Éducation Technologique (Redenet), du Conseil National des Institutions du Réseau Fédéral d’Éducation Professionnelle, Scientifique et Technologique (Conif ), de Agence canadienne de développement international (ACDI) et de l’Association des Collèges Communautaires du Canada (ACCC) et des collèges partenaires. Dans les États, les Instituts Fédéraux (IF) ont compté sur la participation de divers partenaires gouvernementaux et non gouvernementaux, qui étaient incontournables pour l’exécution du projet. D’autres acteurs clés tels que les professeurs, fonctionnaires et volontaires des IF et les partenaires ont accepté d’effectuer des activités d’assistance pour les élèves et de donner les cours. Il est certain que tous ont directement contribué aux changements considérables qui se sont produits dans la vie de ces femmes et de leurs familles. La preuve en est que resentation Présentation toutes celles qui ont été interviewées depuis 2008, aussi bien pour ce livre que pour le portail du projet, ont parlé de l’importance des cours et de l’expérience de la vie en commun dans l’institution pour leur formation professionnelle et citoyenne. Comme tout ce qui est nouveau, le projet Mille Femmes est en évolution constante, visant à consolider et à développer les passerelles créées entre les communautés, les instituts et la société. Ces passerelles qui solidifient les changements au niveau de l’accès – une fois que les IF s’ouvrent aux communautés – à la mise en œuvre du programmes et des cours, à la présence régulière à l’école, aux relations avec les autres organisations en mesure de répondre aux différents besoins de ces élèves non traditionnels, comme des garderies, des cours d’éducation de jeunes et d’adultes ainsi que des partenariats avec le secteur productif visant à garantir l’insertion dans le monde du travail. C’est pourquoi il n’existe pas une seule voie ni une seule formule. Le défi principal est d’établir le dialogue pour adapter la méthodologie développée dans le projet Mille Femmes aux diverses réalités, sans toutefois perdre de vue les objectifs clés du projet : Éducation, Citoyenneté et Développement Durable. Les résultats obtenus ne sont pas toujours les mêmes et toutes les histoires n’ont pas atteint le même taux de réussite que celles publiées. Certaines femmes n’ont pas terminé les cours, soit parce qu’elles avaient trouvé du travail, soit qu’elles avaient déménagé ou qu’elles n’avaient pas aimé la formation, ou encore qu’elles ne sont pas parvenues à concilier leur vie et leurs études. Il y a des élèves qui ont obtenu un emploi dans le secteur correspondant à leur formation et il y a aussi celles qui travaillent dans des domaines différents. Cependant, certaines femmes cherchent touours un emploi et d’autres ont repris leurs études et d’autres non. De plus, on compte parmi ces femmes, celles qui se sont risquées dans le développement d’une petite entreprise. Et il existe aussi des discussions dans le domaine du coopérativisme. Cependant, une chose est certaine : toutes celles qui ont terminé leur formation affirment que le projet a engendré d’importants changements dans leur vie. D’un point de vue institutionnel, le bilan est extrêmement positif. De 2005 à mars 2011, il y a eu d’énormes échanges de savoirs entre enseignants et administrateurs brésiliens et canadiens lors de missions techniques, de cours, d’ateliers et de réunions de travail. Au-delà des partenariats pour la coopération internationale, le Brésil et le Canada ont créé une relation de respect, de confiance et de complicité dans le domaine de l’éducation professionnelle et technologique en s’aidant mutuellement et en élaborant plusieurs plans pour l‘avenir. Un des Du rêve à la réalité Mille Femmes 285 résentation Presentation Mille Femmes Du Du rêve rêve àà la la réalité réalité 286 résultats obtenus a été le rapprochement entre le Brésil et le Canada, qui a conduit à la signature de plusieurs partenariats entre les institutions. En ce qui concerne Mille Femmes, l’idée est d’étendre le projet non seulement à d’autres institutions brésiliennes, mais aussi dans d’autres pays qui veulent adapter cette méthode qui a porté fruit aux besoins de leurs populations. Pour ce qui est du Brésil, un résultat important est que les 13 Instituts Fédéraux ont développé une méthodologie d’accès et de succès pour ces femmes, et qui peut aujourd’hui être développée dans d’autres institutions et appliquée dans différentes communautés et auprès de divers groupes de personnes qui souhaitent avoir accès à une éducation professionnelle. La dissémination de cette méthodologie pourra être faite par le Centre de référence du projet Mille Femmes, dont le siège est à Brasilia et qui aura la responsabilité du suivi de l’extension du projet, de la promotion des formations de fonctionnaires du réseau et d’autres institutions, du développement de la recherche et de la production d’outils d’appui. Outre les impacts et les implications qui peuvent être comptabilités, grâce à la mise en place du projet Mille Femmes, les institutions ont élaboré des outils de promotion et d’accès destinés à un public qui, depuis très longtemps, n’osait même pas franchir la porte d’entrée d’un IF. C’est pour cette raison que cette action constitue un engagement pour l’inclusion sociale et contribue donc à la construction d’un pays plus juste et plus égalitaire ainsi qu’à l’atteinte des Objectifs du Millénaire, définis par l’Organisation des Nations Unies (ONU) et adoptés par 191 pays qui se sont engagés à promouvoir l’égalité entre les sexes et l’autonomie des femmes, l’éradication de l’extrême pauvreté et de la faim, ainsi que l’assurance de la durabilité environnementale. Pour les prochaines années, les objectifs sont toujours guidés par l’audace. Le but est de faire en sorte que les connaissances accumulées servent de base à la mise en place du projet dans le reste du Brésil, en transformant le projet Mille Femmes en une politique permanente du Réseau Fédéral, offert dans chacune de ses 366 unités réparties dans les 27 états de notre pays. Sebastiana Alagoas Quitéria Elisângela Mille Femmes Du rêve à la réalité Marechal Deodoro En marge de la société, voilà l’expression qui caractérise le mieux les conditions dans lesquelles vivent les habitants de la Vila Santa Ângela, dans la commune de Marechal Deodoro. Les maisons, beaucoup d’entre elles en torchis, se trouvent à deux mètres en contrebas de la route AL-101 Sud et à cause de son emplacement des voitures passent et tuent régulièrement des habitants. Les familles ne sont pas prises en compte dans les statistiques officielles lorsque le relevé officiel des services de base est effectué tels que pour l’assainissement, l’école, et le poste de santé. Il n’existe pas d’association d’habitants qui puisse revendiquer les droits les plus élémentaires, les voitures, y compris celles des autorités publiques, passent trop vite. On n’a pas le temps de regarder sur les côtés. La timidité est un trait marquant de ce groupe d’Alagoas. Ce sont des femmes qui, encore jeunes, ont déjà une longue expérience de travail. Filles de paysans, certaines d’entre elles travaillaient à la coupe de la canne à sucre dans les usines ou aidaient leurs parents dans les champs pendant la journée et étudiaient le soir au Mobral (Mouvement Brésilien de Alphabétisation), qui donnait un peu d’instruction aux jeunes et aux adultes entre les années 1964 et 1985. L’offre de formation de l’Institut Fédéral d’Alagoas dans le secteur d’alimentation vise à les qualifier dans des activités qu’elles pratiquent déjà, comme la vente et la préparation d’aliments dans des bars et des restaurants – travail qu’elles font la fin de semaine –, la récolte de crabes dans la mangrove, la vente de bonbons à la noix de coco au bord des routes proches de leurs maisons, ainsi que le service de femme de ménage. En plus de cela, l’IF a signé un accord de partenariat avec le gouvernement local en vue d’améliorer la scolarité des habitants. 288 Elisângela, Sebastiana et Quitéria Du rêve à la réalité Mille Femmes Maria Sebastiana da Silva, 49 ans, Maria Quitéria da Silva, 32 ans, et Elisângela da Silva, 23 ans, une mère et ses filles qui ont des histoires de vie qui se ressemblent : la maternité est arrivée tôt et elles n’ont plus eu le temps d’étudier. Tout comme Sebastiana, Quitéria a commencé à travailler très tôt pour aider à élever ses frères et sœurs. Ce sont des vies qui reproduisent la même trajectoire d’exclusion. Elles sont voisines et s’entraident comme elles le peuvent : elles partagent ce qu’elles ont, se consolent l’une l’autre quand elles sont tristes et fêtent ensemble les joies et les succès. Aujourd’hui, sur les bancs de la salle de classe, elles partagent le rêve d’un avenir meilleur. Elisângela veut acquérir son indépendance financière : elle veut être réceptionniste. L’objectif de Quitéria est de suivre un cours d’infirmière et c’est une des raisons qui l’a poussée à retourner sur les bancs de l’école. Et tout de suite. Sebastiana, elle, n’abandonne pas son rêve d’un avenir meilleur. 289 Mille Femmes Du rêve à la réalité Je m’appelle Sebastiana et je suis née à Marechal Deodoro. J’ai eu cinq enfants et j’en ai élevé quatre toute seule. 290 1. Mobral – Mouvement Brésilien d’Alphabétisation. L’autre est resté avec son père. J’ai été à l’école jusqu’en troisième année. Pendant la journée, je travaillais et le soir, j’étudiais dans une école appelée Mobral1. J’y arrivais très fatiguée. Parfois, je ne prenais même pas de petit déjeuner. Le peu que j’ai appris a exigé pas mal de sacrifices, lettre par lettre, mot par mot. J’ai vécu cette vie-là jusqu’à mon mariage à 17 ans. Je me suis mariée à l’église et à la mairie. J’ai eu mon premier enfant à 18 ans. Mon mari travaillait comme conducteur. Je l’aimais bien, mais il buvait beaucoup. Ça va faire 17 ans qu’on est séparés. J’ai beaucoup souffert durant mon enfance, et encore plus dans mon adolescence. Ma mère a élevé sept enfants et n’avait pas les moyens. J’ai été élevée sans père, je coupais de la canne à sucre. J’avais 11 ans quand j’ai commencé à travailler dans les champs de canne à sucre et j’y ai travaillé jusqu’à mes 16 ans ; après, je me suis mariée. De nos jours, on ne pourrait plus faire ça parce qu’il existe le Conseil tutélaire et les enfants ne peuvent plus travailler mais uniquement étudier. C’est maintenant que j’apprends, sur le tas. J’apprends des trucs de cuisine, de gastronomie, de droits des femmes. La plupart des gens critiquent l’endroit où nous habitons ; les uns l’appellent favela, d’autres, bande de voyous. Il y a des fois où je prends le bus pour Maceió et je vois des gens pleins de préjugés. Je me sens toute gênée parce que je suis une personne pauvre, et si j’habite dans un endroit comme ça, c’est parce que je n’en ai pas d’autre. Ça me fait mal, parce que la pauvreté n’est pas un défaut. J’ai recommencé à étudier et j’ai découvert le projet grâce à mes filles. Je fais l’EJA2 et j’aime bien le projet. Depuis que j’ai commencé, j’ai appris des choses que je n’avais jamais apprises quand j’étais petite. C’est maintenant que j’apprends, sur le tas. J’apprends des trucs de cuisine, de gastronomie, de droits des femmes. J’ai moi-même été victime de violence et je n’ai jamais eu de droits. Je n’ai pas eu peur d’utiliser l’ordinateur, j’étais plutôt curieuse d’apprendre un jour à en utiliser un. Et j’ai réalisé mon rêve. Je revends des produits Avon, des vêtements faits par d’autres, je fais un peu de tout pour vivre. Je fais de la dentelle au filet3. Il y la Bourse Famille qui m’aide beaucoup parce que j’ai un fils handicapé qui habite avec moi. Mon rêve est de travailler à mon propre compte et d’avoir mon propre commerce, et d’un jour sortir d’ici pour ne plus être aussi discriminée. Gagner mon pain quotidien, sans travailler pour les autres, mais seulement pour moimême. Et ne jamais cesser de rêver et continuer à lutter et à rêver d’avoir un jour une vie meilleure. Du rêve à la réalité Mille Femmes 2. EJA – Éducation de Jeunes et Adultes. 3. La dentelle au filet est faite à partir d’un filet simple, composé de mailles et de nœuds, qu’on appelle également « dentelle de nœuds », suivant la technique de fabrication d’un filet de pêche d’où elle s’inspire. 291 Mille Femmes Du rêve à la réalité Je m’appelle Maria Quitéria. J’ai trois enfants et je suis maintenant séparée. Je n’ai pas eu l’occasion d’étudier. 292 4. Commune où se trouve la Vila Santa Ângela. 5. Espèce de strogonoff de poulet. Mon enfance a été un peu compliquée. Jusqu’à 12 ans, j’ai vécu dans le centre de Marechal Deodoro4. Ensuite, mes parents se sont séparés et comme ma mère déménageait beaucoup, j’ai dû arrêter mes études pour m’occuper de mes frères et sœurs et aider à la maison. Ma mère travaillait comme femme de ménage et aussi dans une caféteria, et moi j’allais l’aider. Après elle a été opérée et j’ai dû la remplacer. Je n’ai plus eu l’occasion d’étudier. J’ai été à l’école jusqu’en quatrième année de primaire. J’étais plus timide et le projet m’a aidée à trouver du travail. Parfois je travaille au restaurant la fin de semaine comme aide-cuisinière, et je reçois la Bourse Famille. J’ai appris à me mettre en valeur. J’ai plus de courage pour faire face aux difficultés quotidiennes, et il y en a beaucoup ! Je suis sûre que les choses vont s’améliorer. Pendant le cours, j’ai appris à préparer un bobó de poulet5, des boissons rafraîchissantes, et à réutiliser les restes. J’ai même appris à me laver les mains correctement : il faut se laver les mains jusqu’au coude, et quand on va aux toilettes, il faut enlever son tablier et sa toque ; on ne doit pas parler quand on manipule les aliments. Ce sont des choses que j’ignorais. Je veux terminer le cours et après, étudier et suivre mon cours d’infirmière. Du rêve à la réalité Mille Femmes Il faut désinfecter la salade et les légumes avant de les utiliser dans les plats et les casseroles. Je vais terminer mes études, je veux avoir mon certificat. J’ai gardé de très bons souvenirs de mon voyage à Brasilia ; c’était la première fois que je sortais de l’état. Je n’imaginais jamais qu’un jour je sortirais d’Alagoas. Quand je regarde la télé et qu’on montre les endroits où j’ai été, je dis toujours : « Regardez, je suis allée là ! ». Ça me fait toujours quelque chose ! J’en parle très souvent à mes enfants. Je n’avais jamais mis les pieds dans un hôtel aussi chic. J’ai déjà travaillé comme domestique, comme aidecuisinière dans un restaurant, comme serveuse, comme femme de ménage. Ce que j’aime le plus c’est de travailler à la cuisine, parce que je n’aime pas beaucoup me trouver au milieu des gens. Je suis plutôt réservée, je préfère rester dans mon coin. Je veux terminer le cours et après, étudier et suivre mon cours d’infirmière. Je rêve d’être infirmière depuis que je suis toute petite. Je n’en ai jamais parlé à personne, mais maintenant que je suis adulte, je dis que mon rêve c’est de suivre un cours d’infirmière. Quelqu’un m’a dit que pour suivre ce cours d’infirmière je devais au moins terminer la première année. C’est pour ça que j’ai repris les études, parce que je veux suivre ce cours. 293 Mille Femmes Du rêve à la réalité Je m’appelle Elisângela da Silva. J’ai trois enfants, deux de mon premier mariage et le plus jeune est du second. 294 Je me suis fait opérer parce que je ne veux plus d’enfant. Mon enfance a été meilleure que celle de Quitéria, parce que je ne travaillais pas pour aider ma mère. Je restais à la maison et j’étudiais. Quand j’étudiais à Maceió, nous avons célébrer la fète des mères. Quand les mamans sont entrées dans la classe, on a commencé à chanter une chanson de Roberto Carlos. « N’oublie jamais, même pour un instant, ce que je ressens pour toi, j’ai le plus grand amour du monde pour toi ». La plupart des personnes présentes n’ont pas pu résister à l’émotion et elles ont commencé à pleurer. Tout le monde était en larmes, moi, ma collègue, l’enseignante. Cette chanson est très marquante parce qu’elle parle d’amour, et l’amour est très important dans notre famille. Ma mère est tout pour moi, elle est mon père, elle est tout. Après elle, ce que j’ai de plus précieux dans ma vie, ce sont mes enfants, mes sœurs que j’aime beaucoup, mes nièces. Nous sommes très unies. Au cours de droit et santé, j’ai appris l’importance des droits que nous avions et que nous avons de nos jours. Auparavant, les femmes ne votaient pas et Au cours de droit et santé, j’ai appris l’importance des droits que nous avions et que nous avons de nos jours. aujourd’hui, Dilma a gagné les élections. Elle est la première femme présidente du Brésil. Vous voyez comme les choses ont évolué ! Ce que j’ai appris, qui vaut vraiment la peine, c’est au sujet des femmes : je ne connaissais pas cette loi Maria da Penha. Le peu que je connais de la loi c’est que la violence, ce n’est pas seulement quand on frappe la personne, on peut blesser avec des mots, avec des gestes. Ça m’a aidé parce qu’il existe beaucoup de femmes qui vivent avec un compagnon qui les bat et qui ont peur de le dénoncer. J’ai été mariée pendant cinq ans avec mon premier mari. J’ai commencé à sortir avec lui quand j’avais 15 ans et je suis tombée enceinte à 17 ans. Et alors, les disputes ont commencé : il me battait et moi je le battais aussi. Il existait bien un commissariat pour femmes, mais cette loi Maria da Penha n’existait pas encore. Beaucoup de femmes disaient : je ne vais pas le dénoncer, sinon il va me tuer après. Et lui il me disait toujours : si tu me dénonces, je te tue après ma remise en liberté. La dernière fois qu’on s’est disputés, quand nous nous sommes séparés, ma mère est arrivée à la maison, elle a dit : « Nous allons au commissariat ! ». Quand je suis arrivée, j’ai porté plainte et j’ai demandé à la commissaire de lui faire signer un énoncé de responsabilité. Maintenant, je n’ai plus peur et aujourd’hui, si un homme lève la main sur moi, je fonce porter plainte. Il peut me menacer autant qu’il veut. Alors, étudier la loi m’a aidée à progresser un peu plus, à savoir ce que vivent les Du rêve à la réalité Mille Femmes 295 Mille Femmes Du rêve à la réalité femmes et ce que nous pouvons faire pour remédier a cette situation. Une autre chose qui m’a marquée, c’est l’informatique. Nous avons eu 10 leçons d’informatique. J’ai appris à accéder à Internet, chose que je ne savais pas. J’ai aussi appris à ouvrir des pages sur l’ordinateur, à l’allumer et à l’éteindre, choses que je ne savais pas non plus. Étudier, ça aide dans la vie parce que sans études, on ne va nulle part, parce que pour trouver du travail dans une entreprise, il faut avoir plus qu’un diplôme d’études primaires ou même avoir terminé l’école. Et ça aide aussi dans l’éducation des enfants parce que, si on met ses enfants à l’école et qu’on ne sait ni lire ni écrire, comment est-ce qu’on va les aider à faire leurs devoirs ? Ce côté-là aussi c’est important. On a eu des cours avec la nutritionniste, on a appris à cuisiner des plats différents. Elle nous a appris une recette de moqueca (ragoût) de cajou. Quand ce sera la saison des cajous, j’en ferai. On a fait du bobó de poulet, des boissons rafraîchissantes, c’est se qui se vend le mieux dans les cafétérias. Maintenant je dis : « Je vais terminer la neuvième année et puis suivre un cours au Cefet ». Les gens s’y intéressent déjà. Je termine la huitième année primaire. J’espère devenir réceptionniste. Je veux étudier le soir au Cefet et suivre le cours de réceptionniste afin de me garantir un emploi fixe pour pouvoir subvenir aux besoins de mes enfants et ne pas dépendre d’un mari, parce qu’un jour qui sait, il peut m’abandonner. Et alors, qu’est-ce qu’on va devenir, mes enfants et moi ? Sans argent ? Je compte avoir un emploi fixe et j’espère que ce cours m’aidera encore plus à trouver du travail. 296 Janaína Amazonas Osmarivete Mille Femmes Du rêve à la réalité Manaus Les bénéficiaires du projet Mille Femmes sont des femmes qui habitaient dans des maisons sur pilotis sur des terrains inondés. Il est très courant dans la région Nord que des familles construisent leur maison dans le lit d’un cours d’eau ou sur une mangrove. Le manque d’assainissement et de structures pour ramassage d’ordures ainsi que les inondations régulières sont des facteurs qui rendent les conditions de logement insalubres et mettent en danger la santé des habitants. Pour remédier a cette situation pour les familles de ces zones de risque, le gouvernement de l’État d’Amazonas, par l’intermédiaire du Programme social et environnemental des Igarapés de Manaus (Prosamim), a construit de nouvelles maisons avec un assainissement de base et une infrastructure de lotissement résidentiel. Les femmes ont un faible niveau de scolarité, une famille dont elles doivent s’occuper et plusieurs d’entre elles sont originaires d’autres états du Brésil ou de communes de la campagne. Beaucoup ont vécu des histoires d’abandon, de violence et de travail infantile. En commun, elles ont la nécessité d’améliorer ou d’assurer le revenu de la famille. Outre la question du logement, le manque de qualification professionnelle poussait ces femmes au sous-emploi ou au chômage. Et c’est dans ce contexte que le Prosamim et l’Institut Fédéral d’Amazonas ont établi un partenariat pour offrir des cours de qualification professionnelle dans le secteur du tourisme. Ainsi, les institutions réalisent des actions conjointes visant à faciliter le processus d’adaptation au nouveau logement et à fournir des opportunités de travail et de revenus. Étant donné que le secteur du tourisme est en pleine croissance à Manaus et qu’il existe un manque de qualification à la portée de ce public, l’offre du cours de femme de chambre constitue une alternative pour que ces femmes puissent avoir une profession. Dans le but de contribuer à l’adaptation au changement de logement, on a également ajouté des cours relatifs à l’environnement et aux relations interpersonnelles, centrés sur le processus d’interaction avec la nouvelle réalité et l’adoption d’un comportement durable. En ce qui concerne le travail, le stage professionnel a constitué un des points cruciaux, quand elles ont eu la possibilité de connaître la routine de travail et d’obtenir une place. Ce fut la porte d’entrée sur le marché du travail pour plusieurs élèves. Outre les hôtels, quelques-unes d’entre elles ont découvert la possibilité de travailler dans des motels et des appartements. 298 Janaína Tereza Lessa da Silva Du rêve à la réalité Mille Femmes Janaína Tereza Lessa da Silva, 35 ans, fête son retour sur le marché du travail. La nouvelle profession de femme de chambre lui a ouvert plusieurs portes. Elle a été embauchée dans l’hôtel où elle a fait son stage, exactement comme elle le voulait. Maintenant qu’elle a du travail, elle fait des projets pour continuer à se qualifier, avec la certitude qu’elle est dans un secteur du marché qui a de l’avenir. Je travaille à l’hôtel Caesar Business. J’y ai fait mon stage pratique et ils m’ont embauchée. Après le stage, nous avons eu une entrevue avec le département de ressources humaines. Là, on nous a demandé les papiers et le CV de tout le monde. Comme il me manquait le numéro de ma carte de travail, j’y suis retournée le samedi avec ma fille pour leur donner. Quand je suis arrivée, la personne m’a dit comme ça : «Encore heureux que vous êtes venue ; j’allais 299 Mille Femmes Du rêve à la réalité Quelquesunes de mes collègues voulaient le suivre, mais elles ne le pouvaient pas parce qu’elles n’habitaient pas au Prosamim. Je suis sûre qu’il y aurait salle comble. 300 vous téléphoner parce que vous avez été engagée.» J’ai beaucoup pleuré, à chaudes larmes. Ma fille était présente. C’est difficile car j’ai passé presque deux ans sans emploi. La première personne à qui j’ai annoncé la nouvelle, c’est à mon père, parce qu’il est la personne qui m’a le plus encouragée. Je lui ai dit comme ça : « Tu sais quoi ? J’ai été engagée pour une période d’essai de trois mois ». Il a pleuré et il m’a dit qu’il ne fallait jamais renoncer. C’est un peu fatigant, mais j’aime bien. C’est chouette de travailler là, les gens sont sympathiques. J’apprends tous les jours un peu plus parce qu’il y a des détails qu’on oublie toujours ; mais les gens sont là pour organiser les choses et je m’adapte petit à petit, je n’oublie plus. Ce sont des petits détails qui vous échappent, parce qu’il y a tant de choses à mettre en ordre que des fois, on ne se souvient pas de tout, mais ça va mieux. Les professeurs de l’IFAM ont tous été merveilleux. Vraiment fantastiques. Le cours en lui-même était très bien. Je l’ai déjà recommandé à des amies. J’ai beaucoup appris. Corriger des erreurs de portugais qu’on commet parfois, comment se comporter de meilleure façon, et l’anglais aussi. Je m’en rappelle souvent parce que quand il y a un client avec qui il faut parler anglais, on doit communiquer d’une manière ou d’une autre. Alors j’essaie de me rappeler certaines choses, j’essaie de communiquer. Le cours vous prépare. Si on prend le cours au sérieux et on le termine, des occasions d’emploi s’offrent à nous. Je vais suivre un cours d’anglais cette année. Maintenant, ce qui pourrait être amélioré, c’est d’offrir le cours au grand public. Quelques-unes de mes collègues voulaient le suivre, mais elles ne le pouvaient pas parce qu’elles n’habitaient pas au Prosamim. Je suis certaine qu’il y aurait une classe remplie. Beaucoup de gens voudraient le Quand on est chômeur, les gens ont tendance à t’oublier, ils ne se souviennent pas de toi, ils ne te respectent pas. suivre, des gens de mon âge, de 35 ans, qui ne trouvent pas de travail et qui aimeraient suivre ce cours parce que c’est une occasion de trouver du travail. Dans les hôtels où certaines collègues travaillent, il y a toujours des postes à combler mais il n’y a pas de cours de femme de chambre. Ça devrait être à l’échelle nationale, pour toutes les femmes, parce qu’aujourd’hui il faut se se former et il y a beaucoup de femmes qui ont vraiment besoin de ce cours. Quand on est chômeur, les gens ont tendance à t’oublier, ils ne se souviennent pas de toi, ils ne te respectent pas. Maintenant, j’ai récupéré le respect des gens : ils me regardent avec d’autres yeux. Les choses se sont beaucoup améliorées. J’ai travaillé comme auxiliaire administrative à la mairie pendant 10 ans. J’ai aussi travaillé comme réceptionniste et standardiste, et j’ai travaillé comme aide dentiste. Mais pour moi, travailler comme femme de chambre, ça ne m’était jamais venu à l’esprit ; je travaille comme femme à journée chez des particuliers. Mais femme de chambre... – en vérité, ils n’aiment pas beaucoup qu’on dise femme de chambre, ils préfèrent « préposée aux appartements ». Pour moi c’est chouette, car je vais maintenant suivre le cours de gouvernante parce que je ne compte pas passer toute ma vie comme femme de chambre. Le cours de responsable d’appartements va bientôt commencer au Senac ; il commence en mars prochain, je m’y suis déjà inscrite. J’ai terminé l’école secondaire; j’ai même terminé le deuxième semestre de la faculté d’Éducation physique; je n’ai pas continué parce que ma mère est décédée, j’ai dû arrêter provisoirement et je n’ai plus jamais eu envie de reprendre. Ça a été plutôt difficile parce que je n’étais pas très proche de mon père, étant donné qu’il travaillait toute la journée, qu’il était souvent absent. Mais tout ça c’est du passé maintenant ! Aujourd’hui, c’est mon meilleur ami, on s’entend très bien. Quand je suis allée m’informer à la faculté, il n’y avait plus moyen de reprendre les cours. J’ai eu une enfance normale, j’ai beaucoup joué. J’ai joué à la poupée jusqu’à 15 ans. J’ai étudié, j’ai eu mon diplôme d’études secondaires, et j’ai passé l’examen d’entrée à l’université. J’avais 23 ans quand j’ai eu ma fille. Je suis plus ou moins mariée, on est comme mari et femme, mais j’ai mon chez-moi, mon appartement. Je passe plus de temps avec lui, étant donné que j’ai un frère qui habite avec moi et qui ne travaille pas ; il est sans emploi pour le moment et il consomme pas mal de drogue. Comme je passe toute Du rêve à la réalité Mille Femmes 301 Mille Femmes Du rêve à la réalité 302 la journée au travail, j’ai peur de laisser ma fille toute seule avec lui. Alors, elle passe plus de temps chez lui que chez moi. Il y a beaucoup d’hôtels qui ont besoin de femmes de chambre professionnelles, qui ont leur diplôme. Rien qu’au cours des deux mois que je travaille, il y a une amie qui m’a dit : « Janaína, tu as déjà trouvé du travail ? À Adrianópolis, il y a une sorte d’apparthôtel où ils ont besoin de femme de chambre ». Alors je lui indiqué d’autres collègues qui ont terminé le cours. Aujourd’hui, je constate qu’il existe pas mal d’opportunités d’emploi parce que je travaille dans le secteur, mais ceux qui n’ont pas suivi le cours de femme de chambre, ils n’imaginent pas que les hôtels ont besoin de femmes de chambre. Quand on suit un cours comme ça, on est automatiquement impliqué dans ce secteur et on sait qui a besoin ou non d’employés ; on rencontre des gens qui vous recommandent et on trouve automatiquement du travail. C’est pour ça que le cours de femme de chambre est très intéressant. Je pense m’inscrire à la faculté de pharmacie. Je vais m’inscrire au cours de responsable d’étage, poste au-dessus de femme de chambre, parce qu’il y a beaucoup d’hôtels qui n’en ont pas et ce poste est en demande. Je ne veux pas être que femme de chambre, je veux être beaucoup plus que ça et c’est pour ça que je dois étudier. Et c’est ce que je vais faire!. J’ai déjà perdu beaucoup de temps, alors je veux étudier, je veux suivre un cours préparatoire, un cours d’anglais, un cours d’informatique, parce qu’il y a des choses dont je ne me souviens déjà plus. Je veux étudier l’anglais, pour parler couramment, au moins les bases, et je dois en profiter pour pouvoir le faire maintenant que je travaille. Si je ne reste pas au Caesar, j’ai déjà autre chose en vue. J’attends la fin de mon stage pour savoir si je vais être engagée ou pas. S’ils ne m’engagent pas, je ne m’en fais pas parce que j’ai déjà un autre emploi qui m’attend. Il ne manque pas de places pour une femme de chambre, encore plus pour quelqu’un qui a suivi le cours de formation. Il n’est jamais trop tard, tant que j’ai la possibilité de faire quelque chose pour moi, je le ferai. Ce n’est pas facile... Je le dis à mes collègues et à mon mari : « Il faut étudier, il faut suivre un cours de formation. Il faut étudier, les études c’est tout dans la vie ». Osmarivete Carlos de Souza e Silva Du rêve à la réalité Mille Femmes Osmarivete Carlos de Souza e Silva a 39 ans, trois enfants et travaille à l’hôtel Adrianópolis. Décidée à changer le cours de sa vie, quand le cours de formation a commencé en 2008, elle n’avait personne à qui laisser ses enfants et durant quelques temps, elle a été obligée de les amené dans la salle de classe. Selon Osmarivete, le combat a été difficile mais le résultat est là. En plus de sa carte d’identité, elle a obtenu un autre document, sa carte de travail. J’ai tellement progressé que, si vous pouviez comparer la femme que j’étais avant et celle que je suis devenue aujourd’hui, vous constateriez une grande différence. Je me soigne mieux, je m’occupe plus de moi-même ; je vois que j’existe, j’ai conscience de ce qui m’entoure. Les gens me voient et je sais que je suis en train de changer, que j’ai déjà changé. J’avais besoin d’un coup de pouce, que quelqu’un me secoue et me dise comme ça : « Tu existes ! Tu es réelle ! ». Je constate que ce projet a été pour moi une poussée de courage. J’en avais besoin mais je ne savais pas comment faire. Alors c’est arrivé et j’ai saisi l’occasion. 303 Mille Femmes Du rêve à la réalité 304 Quand on habite au bord d’un ruisseau, le facteur ne passe presque jamais là. Aujourd’hui nous avons une adresse connue ; c’est très important. 1. Mot employé en Amazonie pour désigner la production de charbon de bois. 2. Moustiques aux longues pattes. Aujourd’hui je suis une femme présente sur le marché du travail. Ça a été très important pour moi. Je peux affirmer que j’ai une identité maintenant par ma carte de travail. J’avais déjà travaillé, mais à mon propre compte, des petits emplois par ici et par là, mais jamais avec un contrat de travail. J’ai commencé à travailler quand j’avais 7 ans, avec ma mère. Comme on passait la plupart du temps à la campagne, ma mère faisait beaucoup de caieira1. Ma mère est une femme qui a eu beaucoup d’enfants, elle a eu 16 enfants ; quatre sont morts et il en reste douze. Alors elle devait se débrouiller pour aider mon père. Quand j’avais dix ans, elle a changé de métier : elle a commencé à vendre de la nourriture dans une petite échoppe. Le cours m’a aidé dans tous les sens; il m’a redonné l’estime de moimême, il m’a donné une perspective plus grand. J’étais une femme réservée, je restais toujours enfermée chez moi, ne voyant que le présent, sans penser à l’avenir. Et ce projet Mille Femmes est arrivé au moment le plus propice de ma vie. J’en avais vraiment besoin. Je me trouvais dans une situation où je ne savais pas à quel saint me vouer ; mon mari et moi passions une période difficile. Il n’y avait personne pour m’aider réellement. Quand on habite au bord d’un ruisseau, le facteur ne passe presque jamais là. Pour obtenir quoi que ce soit, il faut une adresse. Même pour trouver du travail, il faut avoir une adresse. Quand il pleut, on ne dort pas, on passe une nuit blanche. On ne peut pas dire qu’on vit en paix, en sécurité. Quand les gens me demandaient où j’habitais, très souvent ils me regardaient avec l’air de dire : « Tu n’existes pas, tu n’as pas de domicile fixe, pas d’adresse connue ! ». Aujourd’hui nous avons une adresse connue ; c’est très important. Mes enfants ne doivent pas se presser et je ne doit plus m’en faire parce que s’il pleut, ça ne m’inquiète plus. Tout a changé parce qu’en dehors du problème des inondations, il y avait des rats et avec eux, des carapanãs2 et c’est impossible de dormir avec autant de moustiques. Je me sentais importante au milieu des gens d’ici. Mince alors ! Je suis des cours à l’école technique, les gens y croyaient à peine et ils me demandaient : « Mais c’est bien là que tu étudies ? ». Je me sentais bien, acceptée. Le jour où je ne pouvais pas aller à l’école, ça m’embêtait ; je n’ai dû rater les cours que trois ou quatre fois. Du rêve à la réalité Mille Femmes Je me sentais importante au milieu des gens d’ici. Mince alors ! Je suis des cours à l’école technique. Je peux affirmer et réaffirmer que l’école vous prépare vraiment bien. Quand on entre sur le marché du travail, la première chose qu’on se rappelle, c’est de chaque élément qu’ils nous ont enseigné. On s’en rappelle au fur et à mesure du travail. Ainsi à chaque leçon qu’on a apprise, même la chimie, quand on va mélanger des produits, on se souvient qu’on ne peut pas le faire. Ça peut vous causer des problèmes. Aujourd’hui je me sens plutôt importante, c’est comme ça que je me vois. Je n’ai jamais eu de carte de crédit mais, pour l’amour de Dieu, il faut savoir s’en servir ! Aujourd’hui je suis plus prudente qu’avant ; je prends l’argent et je me dis : « Non, je vais le dépenser pour acheter ce dont j’ai réellement besoin. Je ne vais pas le gaspiller ; ce n’est pas grand-chose, mais il faut le dépenser pour ce que j’ai le plus besoin ». Au début, quand je suis allée à l’hôtel, ils ne voulaient pas me donner l’emploi parce que je n’avais que le certificat, et alors je leur ai dis : « Mais si vous ne m’en donnez pas l’occasion, je n’aurai jamais d’expérience ; je sais faire de tout ! ». On apprend vraiment en mettant la main à la pâte ; je fais ce que je peux. L’hôtel est plein à 100 % et nous sommes ici occupés. J’ai mon propre argent, je peux contribuer aux dépenses de la maison. Mes enfants ont passé une période de disette, de n’avoir rien à se mettre sous la dent ; le peu qu’on avait ne nous menait pas loin. Aujourd’hui, ce petit montant nous permet de faire quelque chose ; pas beaucoup, mais on peut dire que je sais vers où me tourner. Maintenant, je peux dire que j’ai un avenir. Dois-je l’affronter ? Je sais que c’est difficile mais j’y arriverai. Je veux devenir gouvernante. Pour 305 Mille Femmes Du rêve à la réalité le moment, ce cours n’est pas encore offert ici, mais j’ouvre l’œil et en attendant, j’apprends un peu dans ce domaine. Je veux suivre un cours d’anglais et me qualifier dans le secteur où je travaille pour le moment. Le projet auquel j’ai participé est un projet pour n’importe quelle femme sans perspective de vie ; ces femmes dont très souvent le mari ne donne aucune valeur et en dit du mal, qui se moque d’elles et leur fait tout ce qu’il veut. C’est pour ce type de femmes que ce cours est fait, celles qui ont besoin d’aide, de soutien, tout comme moi j’en ai eu un jour besoin. 306 Cleonice BAHIA Maria das Graças Mille Femmes Du rêve à la réalité Salvador À Salvador, la Vila Dois de Julho et Jaquaribe II sont des communautés voisines qui vivent au quotidien de difficultés similaires : il n’y existe pas de réseau d’égouts, l’infrastructure est précaire, la sécurité est faible et la violence omniprésente. L’absence de politiques publiques transparaît également dans le manque d’espaces de loisirs, l’absence de places et d’espaces communautaires. Les quartiers sont nés des lotissements qui, au début des années 1990, ont été envahis par une masse de familles venant d’autres régions de la capitale et de la campagne, comme c’est le cas de beaucoup d’élèves du projet. Le manque d’écoles dans la zone rurale et le travail infantile sont les causes principales du faible niveau de scolarité, ce qui cause des difficultés à l’insertion de ces femmes dans le marché du travail. Beaucoup d’entre elles sont chefs de famille et font partie de la masse de travailleurs du marché informel ou accroissent les statistiques de chômage. La plupart travaillent comme employées de maison ou femmes de ménage. L’Institut Fédéral de Bahia a été confronté à plusieurs défis pour la mise en place du projet, parmi lesquels la violence présente dans les communautés et les difficultés d’insertion des femmes sur le marché du tourisme, à cause des préjugés de couleur et d’âge. Pour contourner la question du marché, l’IF a élargi l’offre et mis sur pied un nouveau cours, celui d’aide soignante à domicile, qui possède un énorme marché de travail potentiel. Selon l’Institut Brésilien de Géographie et Statistiques (IBGE), en 2008, pour 100 enfants de moins de 14 ans il existait 25 personnes âgées de 65 ans ou plus. La prévision est qu’en 2050, il y aura 173 personnes du troisième âge pour 100 enfants. Aussi bien dans la profession de femme de chambre que dans celle d’aide soignante à domicile, les élèves réussissent à entrer sur le marché du travail. Pour beaucoup de femmes, la formation dans le secteur de la santé leur assure une nouvelle profession, en plus de la possibilité d’un travail mieux rémunéré, une fois que la plupart d’entre elles travaillaient comme domestiques ou femmes de ménage. 308 Cleonice Ferreira da Conceição Du rêve à la réalité Mille Femmes Dévote de Nossa Senhora do Livramento (Notre Dame de la Délivrance), Cleonice Ferreira da Conceição fait partie de la communauté catholique du quartier Jaquaribe II qui porte le nom de la sainte. Sa dévotion l’a aidé à deux moments : quand son mari a souffert un accident et quand son frère a été atteint de dépression et a disparu pendant un certain temps. À 41 ans, elle lutte pour retourner sur le marché du travail. En ce moment, son objectif est de trouver une place comme aide à domicile pour personnes âgées. Après ses études d’institutrice, son rêve était de faire des études de pédagogie et de pouvoir donner des cours. Ce cours a dépassé mes attentes parce qu’il a complètement changé ma vie; jusqu’à ma manière de penser, de traiter les autres, parce qu’ils travaillent beaucoup tout ça : la manière de mieux s’aimer. De prendre soin de nous. Quand j’ai commencé le cours, je me sentais inutile, j’envoyais des CV, je restais dans l’attente d’être convoquée pour recommencer à travailler, 309 Mille Femmes Du rêve à la réalité 310 1. IFBA – l’Institut Fédéral de Bahia. mais on ne m’appelait pas. Ils disaient comme ça : « Votre CV est excellent, mais vous ne répondez pas au profil que l’entreprise recherche ». Même dans le secteur du commerce, où j’avais déjà travaillé comme caissière de supermarché, ils n’embauchaient que des personnes de moins de 27 ans. Alors vous commencez à vous dire : « Je suis forte, je ne manque pas de courage, je veux travailler et je ne trouve pas de place uniquement à cause de mon âge ! ». Et alors on se sent mal, parce que je ne me sens bien que quand j’ai du travail. Quand j’ai commencé à participer aux rencontres qui parlaient de l’estime de soi, j’ai commencé à changer, parce que là, ils travaillaient aussi le côté spirituel, qui dit que vous êtes un être de lumière, que vous êtes important, et aussi un peu la question de l’enfance, de la famille. Ils parlaient aussi de se détacher des choses, que les gens ne doivent pas perdre l’espoir, et ces cours ont renforcé mon estime. Après, quand j’ai commencé à aller au Cefet, je suis sortie de ma dépression pour de bon. Je savais que c’était un cours d’aide soignante pour personnes âgées, mais je ne savais pas que c’était au Cefet, ni qu’il y avait des bourses d’étude. Les cours étaient super dynamiques. S’il fallait leur donner une note sur 10, je donnerais 10 à tous les profs. Je les ai tous aimés. Nous avons eu des cours de premiers secours, une chose super importante car nous avons appris beaucoup de choses que nous ignorions, comme le fait de travailler à la prévention d’accidents. J’ai appris des choses sur la dépression, la maladie d’Alzheimer qui atteint les personnes de plus de 60 ans. J’ai appris comment m’occuper de ces malades, comment observer les symptômes. On a eu des ateliers et aussi des ateliers d’artisanat. Ensuite on se réunissait pour faire des emballages en recyclant des boîtes de lait. On les décore et on ajouter un ruban et c’est très joli. Nous avons appris à peindre, j’ai même participé à la Foire de Noël de l’IFBA1 ou j’ai vendu des objets que nous avions fabriqués avec des produits recyclés. Nous avons également eu un cours d’économie solidaire : les professeurs possèdent beaucoup d’expérience avec les coopératives. Aujourd’hui, nous pensons créer une coopérative de recyclage ; nous réfléchissons à cette idée. Toutes ne s’y sont pas intéressées ; trois ou quatre personnes ont rediscuté la question. Nous attendrons la fin de la période de stage et la remise de diplômes qui suivra pour en reparler. Le professeur va nous orienter. Ils nous Après le cours, je suis devenue une personne plus forte, avec plus d’espoir. ont dit que si on voulait reparler de ce sujet, ils pourraient venir dans notre communauté pour nous expliquer comment cela fonctionne. Je me sens préparée pour le marché du travail. Mon objectif principal était de retourner sur le marché. J’ai hâte parce que durant le stage, je vais mettre en pratique ce que j’ai appris en salle de classe. Actuellement, mon objectif est d’obtenir un emploi parce que nous avons besoin de travailler et prochainement, de faire quelque chose qui puisse venir en aide à d’autres personnes. Qui sait, travailler comme bénévole au propre projet Mille Femmes. Aider également les personnes qui vivent avec moi, parce qu’à la maison il y a trois personnes âgées, à savoir ma mère qui a 61 ans, mon beaupère qui a 67 ans, et ma belle-mère de 62 ans. Il y a quelques collègues que je connaissais de vue, mais avec lesquelles je n’avais pas de contacts. Alors, un des points positifs du cours a été que ça m’a donné l’occasion de me rapprocher de certaines personnes que je connaissais de vue et de me lier d’amitié, de voir que ce sont d’excellentes personnes ; il y a des gens avec lesquels j’ai découvert des affinités et je suis certaine que ce sont des amitiés pour toute la vie. Après le cours, je suis devenue une personne plus forte, avec plus d’espoir. Je pense que je suis devenue une personne bien meilleure. Je suis une femme qui a beaucoup de rêves à réaliser, que je n’ai pas encore réalisés durant ma vie, mais je n’y ai pas renoncé, je continue la lutte, je continue à foncer et je suis sûre que je parviendrai à réaliser ces rêves. Je sais que je ne peux pas rester les bras croisés à attendre que les choses se passent, je dois continuer. Et là, il y a le côté professionnel que je dois réaliser et le rêve de faire une faculté, de suivre un cours de pédagogie. J’aime la chanson « Émotions » de Roberto Carlos, parce que lors de la remise de diplômes du secondaire, durant la cérémonie, la chanson a été jouée et elle disait « Quand je suis ici, et que je vis ce moment merveilleux ». Alors le film de ma vie est passé devant mes yeux. Ma plus grande difficulté quand j’étais enfant c’est que mon père et ma mère étaient analphabètes. Alors je n’avais personne qui pouvait m’aider à faire mes devoirs. C’était très difficile. Et en général, je demandais l’aide d’une voisine. Quand on est enfant, on rêve de tellement de choses, et mon rêve Du rêve à la réalité Mille Femmes 311 Mille Femmes Du rêve à la réalité 312 Je pense que nous ne devons jamais abandonner nos rêves, il nous faut lutter, courir après ce que nous voulons. à moi était d’être pédiatre. Comme vous le savez, dans le temps, la famille était plus traditionnelle et avait plus d’enfants. Chez nous, nous sommes neuf frères et sœurs, et les plus âgés devaient toujours travailler pour aider à élever les plus jeunes. Comme je suis l’aînée, j’ai commencé à travailler très tôt, à 13 ans. Si je m’étais arrêtée de travailler, je ne serais pas parvenue à terminer mes études secondaires. J’ai travaillé dans une maison de famille pendant cinq ans. Quand j’ai terminé mes études secondaires, j’ai fait l’école d’instituteurs. Ce n’est que quand j’ai été cherché mon diplôme que j’ai découvert que le cours n’était pas reconnu. Ça a été beaucoup de bureaucratie, presque six ans pour obtenir la reconnaissance des acquis scolaire. Quand j’y suis parvenue, j’étais déjà en retard, je ne pouvais plus donner de cours. Et maintenant, si je veux donner un cours, je dois suivre un cours de pédagogie, et c’est ce que j’essaie de faire. J’attends que les choses s’améliorent. Je pense que nous ne devons jamais abandonner nos rêves, il nous faut lutter, courir après ce que nous voulons, parce que beaucoup de gens ont des rêves et n’ont pas l’occasion de les réaliser. Alors c’est une occasion qui s’est présentée à moi, et de la même manière que j’ai eu cette opportunité de recommencer à rêver et à courir après mes objectifs, le message que je voudrais transmettre est le suivant : que les gens n’abandonnent jamais leurs objectifs, ne disent jamais qu’il est trop tard. Il est toujours temps de recommencer. Maria das Graças Paula de Jesus Maria das Graças Paula de Jesus a 51 ans et elle a déjà travaillé comme domestique, comme gardienne d’enfant, dans un lave-auto et dans la construction civile. Aujourd’hui, elle entame une nouvelle trajectoire professionnelle d’aide à domicile pour personnes âgées. Elle aime aller à l’église le dimanche et prier son homonyme, Nossa Senhora das Graças (Notre Dame des Grâces). Elle a vécu quelque temps à São Paulo, à la recherche d’une vie meilleure. Elle n’aime pas le quartier où elle habite à cause de la violence mais elle y reste parce qu’elle a hérité de la maison de sa mère. Un de ses objectifs est rénové la maison pour la laisser à son fils et à son petit-fils. Du rêve à la réalité Mille Femmes 1. Le quartier de Plataforma se trouve dans la banlieue ferroviaire de Salvador, baigné par les eaux de l’Enseada do Cabrito (Anse du Chevreau) et de la Baía de Todos os Santos (Baie de Tous les Saints). Mon premier petit ami a été mon grand amour, là à Plataforma1. J’avais 18 ans, nous sommes restés ensemble pendant deux ans et puis nous nous sommes laissés. Je crois qu’on n’a qu’un seul amour. Votre cœur ne peut aimer qu’une seule personne ; et ça se passait comme ça : quand je le voyais quelque part, avec d’autres personnes, je croyais en mourir. Je tremblais, 313 Mille Femmes Du rêve à la réalité J’ai toujours dit à ma mère que je voulais faire ça, étudier pour être infirmière. je ne me sentais pas bien, j’avais des sueurs froides. Il vit toujours mais il ne me parle plus. Il est déjà marié, il a deux enfants, une fille et un garçon qui sont déjà grands, mais même maintenant, quand je le vois, quand je vais à Plataforma, j’éprouve toujours la même chose. Et je crois que c’est ça l’amour. Le cours s’est passé comme ça : il y avait une professeure qui prenait les inscriptions ici au collège Padre Hugo, et une fille qui habite sur une rue voisine a dit : « Ils prennent les inscriptions pour le cours, mais il faut y aller pour se renseigner parce qu’il y a seulement 40 places ». Je suis arrivée là et elle m’a dit que c’était pour s’occuper de personnes âgées. Elle m’a donné une fiche à remplir, où on devait expliquer comment était notre maison, s’il y avait des murs, s’il il y avait du carrelage ou si le sol était en terre battue. J’ai rempli la fiche et j’ai laissé mon numéro de téléphone. Trois jours plus tard ils m’ont appelée. J’ai toujours dit à ma mère que je voulais faire ça, étudier pour être infirmière. Malheureusement, je n’y suis pas arrivée mais maintenant, ce cours m’en a presque donné l’occasion parce que je sais déjà prendre la pression, donner de l’insuline, prendre la température, donner les médicaments, sans problème. Alors je suis tout près de faire ce que je voulais. Pas encore complètement, mais j’ai déjà réussi à faire une chose que je voulais. En ce qui me concerne, tout s’est très bien passé là. Je craignais que ce soit difficile, je pensais que ce serait quelque chose d’ennuyeux, mais je me suis dit : « Je ne paie rien, je n’ai pas de travail et je dois m’occuper l’esprit avec quelque chose ». Alors j’y suis allée. J’ai aimé connaître d’autres personnes. Les professeurs sont très bons. J’ai appris pas mal de choses sur la vie : j’ai appris à m’entendre avec les gens, parce que j’étais très stressée, très 314 nerveuse, très révoltée après la mort de ma mère et la maladie de mon fils. Je me dépêchais pour aller au cours, c’était merveilleux. On a aussi eu une leçon pour apprendre à se détacher des choses ; les gens ne doivent pas s’attacher comme ça à tout, il faut avoir un détachement des choses aussi. Et j’y suis retournée. J’étais comme ça à moitié révoltée, j’avais beaucoup de problèmes en tête, mais après ça allait mieux. Je suis devenue plus patiente, je me suis plus détachée des choses, je n’étais plus aussi nerveuse qu’avant. Je suis devenue une meilleure femme. Et aujourd’hui, je suis une autre personne, grâce à ce cours. Mes relations avec les gens se sont beaucoup améliorées, ma vie est meilleure. Maintenant je connais d’autres personnes, j’ai un boulot ; pour moi, c’est bien. J’achète mes petites choses, je paie mes factures. J’ai obtenu cet emploi grâce au cours, à la qualité du cours, parce que pour ce travail, il faut avoir suivi le cours pour obtenir son certificat, pour prouver qu’on est capable de s’occuper de personnes âgées. Quand je me suis présentée, la femme m’a demandé : « Vous avez le certificat ? ». J’ai répondu : « Oui, je l’ai ! ». « Vous avez les notes du cours ? » et j’ai répondu : « Oui, je les ai ! ». Parce que dans les notes du cours, on explique comme on doit s’occuper des personnes âgées. J’ai commencé à travailler avant de terminer le cours. J’étais très nerveuse. Je mélangeais les médicaments, ma main tremblait au moment de donner de l’insuline ; tout ça les trois premiers mois, mais maintenant, je le fais les yeux fermés. Ça fait un an que je travaille. La dame dont je m’occupe souffre d’un tas de maladies, elle a le diabète, sa tension est trop élevée, elle a des problèmes de thyroïde. La plupart du temps elle reste assise, elle ne me dérange pas, elle ne se stresse pas. C’est une personne merveilleuse. J’ai commencé à travailler à neuf ans chez une femme, à m’occuper d’un petit enfant comme baby-sitter. Ensuite, j’ai du m’occuper de mes frères et sœurs. Ma mère a eu d’autres enfants et elle devait travailler, alors c’est moi qui m’en occupais. Et je n’avais pas le temps d’étudier. Déjà adulte, quand j’habitais ici, je me suis inscrite au Vera Lúcia2 ; j’y ai étudié pendant encore deux ans ; cependant que j’allais terminer la troisième année, j’ai dû aller travailler à São Paulo. Je suis revenue parce que Du rêve à la réalité Mille Femmes C’est un très bon sentiment, parce que je suis restée longtemps sans rien apprendre et j’ai recommencé à apprendre petit à petit. 2. L’école Vera Lúcia Cipriano se trouve dans le quartier Nova Brasília à Salvador, où Maria das Graças a habité avant de déménager à Jaguaribe II. 315 Mille Femmes Du rêve à la réalité 3. L’Institut National d’Assurance Sociale (INSS) nationale est un organisme indépendant du gouvernement fédéral du Brésil qui reçoit des contributions pour le maintien de l’aide sociale générale, et qui est responsable du paiement de la retraite. 316 ma mère a eu un AVC. J’ai beaucoup aimé São Paulo. On y a l’occasion de travailler et d’étudier, ça ne dépend que de soi. J’ai beaucoup d’amis là-bas. Si j’étais un peu plus jeune, j’étudierais, je présenterais l’examen d’entrée et je suivrais un cours d’infirmière. Je n’y pense plus, surtout parce que je ne vois déjà plus très bien; je n’ai plus la tête à ça, ni l’âge, mais si je le pouvais, je le ferais parce que j’en ai envie. C’est un très bon sentiment, parce que je suis restée longtemps sans rien apprendre et j’ai recommencé à apprendre petit à petit. Nous avons eu des cours de mathématiques, sur le coût de la vie, comment vivre avec son salaire, ce genre de choses. Nous avons eu des cours pour apprendre à prendre soin d’une personne âgée, des cours de premiers soins. Elles ont apporté une seringue et une aiguille pour qu’on apprenne à donner une piqûre d’insuline ; on nous a parlé de pression artérielle, de la manière de prendre la tension. On nous a expliqué comment traiter le diabète, ce qu’il provoque. Au cours de recyclage, on a appris à fabriquer du savon. On a eu une leçon sur le cancer du sein, le cancer de l’utérus, ce genre de choses. On a eu des leçons sur l’importance du service médical et de se faire examiner. Maintenant, je fais attention à moi. Pour ce qui est de mes collègues, le cours a aussi été très bon, il a changé leur vie aussi ; ça a été très bon parce qu’elles ont appris. Quelques-unes d’entre elles cherchent du travail. En ce qui concerne mon avenir, j’ai l’intention d’arranger ma maison, d’y mettre un plafond – ici c’est très petit, il n’y a qu’une chambre – pour la laisser à mon petit-fils et à mon fils après ma mort. Je paie mes cotisations à l’INSS3 pour avoir une retraite. Alors il faut que je travaille. J’ai déjà la pratique, j’ai ma carte de travail en tant qu’aide soignante de personnes âgées. Elle a signé mon contrat de travail, j’ai de l’expérience et j’ai donc tout fait dans les règles. Si je parvenais à décrocher un autre emploi, où je gagne un peu plus, ce serait bien. J’aime cet endroit. Ilda Ceará Selma Mille Femmes Du rêve à la réalité Fortaleza Dans les livres d’histoire du Ceará, le Pirambu est cité , en 1932, lorsqu’une sécheresse ravagea la région Nord-est du Brésil. À l’époque, un camp de concentration fut installé à cet endroit : le Camp du Pirambu ou Camp de l’Urubu, comme on appelait le local où étaient envoyés les sinistrés de la sécheresse qui y recevaient quelques soins et un peu de nourriture et qui pouvaient travailler sur le front toujours surveillés par des soldats. Les années ont passé, le quartier s’est développé et il a accueilli d’autres habitants originaires de la campagne. Celui-ci a été mieux organisé, des associations d’habitants ont été créées qui ont de bonnes relations avec les autorités locales, mais les marques de l’exclusion font encore partie du cadre de l’endroit. Des femmes nées dans les années 1950, 1960 et 1970, quelques-unes d’entre elles élèves du projet, habitent encore dans des maisons rudimentaires en torchis et elles n’ont pas eu l’occasion d’acquérir une formation supérieure ou technique, ayant tout au plus terminé l’école secondaire. Dans leur adolescence, beaucoup d’entre elles travaillaient et travaillent encore dans des usines de traitement de noix de cajou, installées à la périphérie du quartier. Elles se marient, ont des enfants et elles ne se rendent pas compte de l’importance des études seulement quand elles sont licenciées, phénomène saisonnier dans ce secteur. Aujourd’hui, le Pirambu est l’un des plus grands quartiers de Fortaleza, avec plus de 300 000 habitants, ce qui correspond à près de 10 % de la population de la capitale, qui dépasse actuellement les 3,2 millions d’habitants, avec une des plus importantes densités de population du Brésil, à savoir plus de 40 000 habitants par km². Comme dans les autres quartiers de la périphérie des grands centres urbains, les habitants sont confrontés à la violence, au trafic de drogues et aux préjugés. Et de plus en plus, les femmes assument toutes seules l’éducation de leurs enfants. L’Institut Fédéral du Ceará possède déjà une unité dans ce quartier où il offre des formations dans le secteur du tourisme et de l’alimentation. Pour faciliter les stages et offrir des possibilités d’emploi, l’IF a signé un accord de partenariat avec l’organisme du secteur du tourisme qui offre les stages qui font partie du curriculum du cours et représente une porte d’entrée pour le marché du travail. Avec l’organisation de la Coupe du monde de football en 2014, et étant donné que Fortaleza sera une des villes d’accueil, la tendance est à la croissance du marché qui devra absorber plus de maind’œuvre qualifiée. Aujourd’hui, les entrées des élèves du projet dans le monde du travail sont en hausse. D’anciennes élèves ont trouvé des emplois de femmes de chambre ou travaillent dans les cuisines des hôtels. 318 Ilda Maria Vital de Oliveira Du rêve à la réalité Mille Femmes Ilda Maria Vital de Oliveira, affectueusement surnommée « la Grosse » par ses collègues de travail, une allusion à la minceur de son corps – elle est la plus mince des femmes de chambre – montre que l’accès à l’éducation permet de transformer la réalité. Habitante du quartier « vixe », expression pleine de préjugé que, selon Ilda, beaucoup de cearenses utilisent quand ils découvrent qu’ils ont affaire à un habitant du Pirambu, a cru qu’elle pouvait changer le cours de son histoire et elle l’a fait ! À 40 ans, le chômage est pour elle de l’histoire ancienne et aujourd’hui, elle travaille dans un hôtel Holiday Inn. Quand ils m’ont appelée en me disant que j’avais rendez-vous au Holiday Inn , je me suis pomponnée et j’y suis allée. Quand la femme m’a demandé : « Où avez-vous suivi le cours ? », j’ai répondu : « Au Cefet » – « Quel Cefet ? » – « 13 de maio ». C’est vraiment une très bonne référence. Cela m’a ouvert des portes ! 319 Mille Femmes Du rêve à la réalité Quand je travaillais à Iracema, l’industrie de noix de cajou, je ne gagnais qu’un maigre petit salaire. Quand le projet Mille Femmes est entré dans ma vie, j’étais confronté à plein de problèmes. Mon fils était en prison, ça faisait déjà presque deux que j’étais sans emploi et mon mari aussi était au chômage. Nous vivions pratiquement aux crochets de ma mère. Mais je me suisdit : « Quand j’aurai terminé ce cours, ma vie va s’améliorer parce que je vais essayer de trouver un emploi ». Et ça a marché ! Je travaille depuis un an et demi à cet hôtel. Quand je travaillais à Iracema, l’industrie de noix de cajou, je ne gagnais qu’un maigre petit salaire. Je n’avais pas d’assurance maladie, pas d’assurance dentaire, je n’avais rien. Après avoir terminé le cours et avoir été engagée à l’hôtel, ma vie est deux fois meilleure parce qu’il n’y a pas que le salaire. Maintenant j’ai une assurance maladie, une assurance dentaire. Mes enfants en bénéficient également. Ma mère a travaillé comme moi dans les industries de noix de cajou. Nous sommes cinq frères et sœurs, et nous n’avions pas de maison. Je me souviens qu’on habitait là en bas, dans un taudis en bois, où il n’y avait pas de cuisinière, rien qu’un réchaud, sans aucune perspective d’avenir. Ma grand-mère était aveugle et elle se levait tôt le matin pour allumer le réchaud avec du bois – qu’est-ce que ça faisait comme fumée dans la maison ! – et elle préparait des fèves. Parfois, elle cuisait un œuf dans de l’eau bouillante ; c’était si mauvais... Alors ma sœur et moi sortions pour apporter le repas à ma mère, mais c’était si loin ! Je n’ai jamais eu de nouvelles de mon père. Je voulais pouvoir dire un jour : « Je suis sortie d’Iracema ». Ma sœur habite toujours là et il y a des jours où elle rentre chez elle fatiguée, elle a très mal au dos parce qu’elle travaille courbée comme une couturière, à séparer les amandes avec pellicule, les amandes avec coque. Elle a 36 ans. Je lui dis : « Ma 320 vieille, suis le cours d’infirmière, ou de femme de chambre, c’est tellement bien... On vit une autre vie à l’hôtel ! » C’est vraiment chouette là ; quand on arrive le matin, tout le monde est au réfectoire pour prendre le petit déjeuner, ensuite tout le monde va au vestiaire pour s’habiller, s’apprêter, se maquiller, se préparer. Et ensuite, chacune prend son chariot, son plan, sa clé et monte à son étage. Parfois, à l’heure de la douche, on se plaint de la fatigue, mais après une bonne douche, on s’arrange et on descend les escaliers pour s’en aller, on arrive chez soi et on sent un soulagement, une chose agréable. Je trouve que c’est très bon. Durant le stage, j’ai plus ou moins aimé. Le premier jour, je me suis dit : « Ma vieille, mais qu’est-ce que c’est fatigant ! ». J’ai cru que je n’allais pas tenir le coup. Le deuxième jour, même chose, mais le troisième, ça allait bien. J’ai terminé mon stage un vendredi et le samedi, je distribuais déjà mon CV. J’en ai laissé dans des hôtels et des entreprises. Deux hôtels m’ont déjà appelée, c’est super! J’ai déjà un emploi, j’ai déjà un contrat de travail signé. Le marché est bon pour les femmes de chambre, on ne reste pas longtemps sans travail ; c’est comme pour les couturières. Étudier change une personne. J’ai aussi recommencé à étudier à cause du projet, parce que les copines disaient que le projet n’accepterait pas celles qui n’auraient terminé que l’école primaire. Ça m’a donné du courage pour affronter les problèmes. C’était très difficile. Quand arrivait le jour de l’audience du tribunal, j’avais la tête grosse comme ça, mais mon mari m’encourageait ; il me disait de ne pas tout abandonner. Maintenant mon fils va mieux. Tout ce que j’ai appris au cours, je l’utilise dans mon travail : l’informatique, le portugais, la matière sur la femme de chambre. L’informatique aide beaucoup même si j’ai appris que les bases. Le peu que je sais – accéder à Internet, ouvrir le programme et voir combien d’appartements sont propres – ça aide. Le personnel de la réception m’appelle et me dit : « Ilda, ouvre le programme sur l’ordinateur pour voir si tel ou tel appartement est propre ou pas ». J’allume l’ordinateur et je le vois. L’informatique est très important dans ce secteur. Les mathématiques aident dans certains domaines, mais le portugais est très important parce qu’il faut remplir la feuille de travail. On la remplit en indiquant : appartement occupé, propre, libre, pas nettoyé. Si j’entre dans une chambre et que je trouve des objets appartenant aux occupants, parce qu’en général ils laissent montre, bague, ce genre de choses, valise ouverte, je note tout sur ma feuille. Les leçons d’anglais aident aussi. Il faudrait en avoir plus parce qu’on n’en a que quelques heures. Du rêve à la réalité Mille Femmes J’ai terminé mon stage un vendredi et le samedi, je distribuais déjà mon CV. 321 Mille Femmes Du rêve à la réalité Si je pouvais revivre ma vie, j’aimerais de nouveau suivre le cours. Le meilleur souvenir que j’ai conservé des cours, ce sont les interprétations de textes. On avait organisé un groupe musique ; on aurait dit qu’on vivait le personnage. Ce fut une des meilleures classes que j’ai eues. Ils sont très accueillants à l’Institut. Parfois, je me sentais inférieure parce qu’on rencontrait beaucoup d’élèves et qu’on croyait qu’ils étaient riches. Nous habitons au bord de la mer ; et se trouver dans un centre comme celui-là, au milieu de tant d’adolescents, on se prend à penser qu’on a un grand avenir devant soi... Parfois, j’avais peur d’aller aux toilettes. Mais je pensais si je suis arrivée jusqu’ici... La fête de remise des diplômes était très bien, nous appeler sur la scène là devant tout le monde, recevoir la déclaration le diplôme. Ça a vraiment été très chouette! On se sent important, comme quelqu’un qui peut dire : J’ai gagné ! J’ai réussi à terminer ! Aujourd’hui, après avoir terminé le cours, j’ai ce sentiment de liberté. Et j’ai cette force de volonté de vouloir agir et de le faire. En 2011, je veux me spécialiser. Je pense terminer ma troisième année et suivre un cours d’informatique avancé. Ça c’est l’objectif parce que je suis en train de suivre un cours virtuel qui s’appelle Bien Recevoir la Coupe au Brésil, qui prépare tout le monde du secteur d’hôtellerie à la Coupe du monde de football en 2014. Je donnerais dix sur dix au cours, ou plutôt mille ; c’est vraiment Mille Femmes. Et celles qui comme moi veulent vraiment, celles qui s’efforcent, si elles le veulent vraiment, elles arriveront là où je suis arrivée. Femme de chambre est tout ce que je souhaite. Je me sens réalisée ! 322 Maria Selma da Silva Du rêve à la réalité Mille Femmes Ces quinze dernières années, Selma s’est occupée de Davi, son fils aîné, qui est né atteint de paralysie cérébrale. En 2008, elle a commencé à se préparer pour les adieux : elle a suivi le cours de femme de chambre et elle a recommencé à étudier. En juillet 2010, Davi s’est éteint et en octobre, elle a commencé à travailler à l’hôtel Holiday Inn, indiquée par Ilda, une amie de cours. Concernant le passé, elle dit qu’elle a la conscience tranquille d’avoir rempli sa mission. Pour ce qui est de l’avenir, elle est certaine qu’elle est capable d’écrire sa propre histoire et de s’occuper de Danilo, son fils cadet. « La Selma actuelle est très différente de celle qui a entamé au projet Mille Femmes parce que c’est une femme dynamique, différente, une femme qui sait ce qu’elle veut : Selma veut travailler et être heureuse ». C’était incroyable ! Comme je l’ai dit la première fois, les filles ont rigolé à la maison quand j’ai raconté que j’avais dit ça lors de mon entrevue – que j’avais peur de l’ordinateur. C’est vrai, je l’évitais à tout prix, je mourais de peur. Ma mère 323 Mille Femmes Du rêve à la réalité J’ai un compte sur Orkut et une adresse courriel aussi. Je l’ai créée aussitôt que j’ai terminé le projet. 324 disait : « Ma fille, c’est un truc d’un autre monde, un animal de la fin des temps parce qu’il connait tout de notre vie ». Et il le découvre vraiment ! Vous voulez le voir ? Supposons que vous soyez dans un appartement, vous terminez de tout nettoyer et entrez clean. Clean c’est taper un code. Et alors, la superviseure là en bas sait où vous êtes, où vous êtes entré. Quand je mets la clé dans la serrure de l’appartement, l’ordinateur l’accuse. Tout le monde sait à quelle heure vous êtes entré, combien de fois, le temps que vous avez passé à l’intérieur. Alors l’ordinateur sait vraiment tout [rires]. J’ai un compte sur Orkut et une adresse courriel aussi. Je l’ai créée aussitôt que j’ai terminé le projet. Le défi est très grand et très intense. On travaille beaucoup, la routine est dure, mais quand on est passionné par sa profession, on continue. On ferme les yeux et on l’embrasse avec tout l’amour qu’on a, toute la tendresse, car c’est à ça qu’on s’est préparé et c’est ce qu’on veut, tout au moins dans mon cas, c’est pour ça que je me suis préparée de 2008 à 2009. J’étais inquiète, nerveuse, je savais que j’allais commencer à travailler, je savais que mon contrat était déjà signé, parce que quand je suis allée pour l’entrevue, avec le projet que j’avais fait de Mille Femmes et avec le certificat que j’ai obtenu, j’étais déjà engagée. J’étais tellement émue que je n’ai presque pas réussi à faire les examens pour l’entrée dans l’entreprise. Ma tension est montée, même que le docteur était un peu inquiet, mais tout s’est bien passé. Mon cœur battait la chamade parce que je savais que j’étais prête et je savais ce qui m’attendait ; mais j’y suis allée de tout mon cœur, de toutes mes forces et j’ai fait face. J’aime beaucoup, j’adore le métier de femme de chambre. Je travaille là depuis trois mois, avec un contrat signé dès le premier jour. Tout est très bien, parce qu’on connaît des personnes sympas, des gens d’autres états ; on découvre un monde totalement nouveau. Dans le projet, on connaissait les choses dans la théorie. Mais dans la pratique, c’est très bon, vraiment très chouette. La première fois que j’ai travaillé avec un contrat de travail c’était avant d’avoir mon fils. Je me suis arrêtée pendant 15 ans à cause du problème de Davi. C’était un bébé. Je savais que j’allais le perdre, je savais qu’un jour j’allais devoir travailler, parce que mon travail c’était de m’occuper de lui et que je vivais de son allocation. C’est elle qui payait les dépenses de la maison dans la pratique, parce que je ne pouvais pas compter sur mon mari, juste pour dire que j’en avais un. J’ai quitté mon mari pour suive le cours, pour vivre parce que je me sentais prisonnière. J’ai participé au projet et j’ai aussi recommencé à étudier. J’ai fait l’EJA1 et terminé mes primaires. Je suis au secondaire maintenant. Je m’étais rendue jusqu’à la cinquième année primaire. À cette époque, c’était suffisant. Ma mère me disait toujours : « Tu as déjà appris à lire et à écrire ? Voilà, ça suffit ! ». On n’avait besoin que de la cinquième année, parce qu’alors on savait déjà lire, écrire et calculer. À 14 ans, j’ai travaillé dans une usine de hamacs ; je faisais des franges, des tresses. À cette époque, les hamacs étaient fabriqués manuellement. Ma mère nous a toujours fait faire quelque chose, parce que nous étions cinq sœurs et quatre frères. C’était une grande famille, seul mon père travaillait et mes frères aînés travaillaient avec mon père. Je me considère très chanceuse d’avoir participé au projet Mille Femmes. Ça aide beaucoup. J’ai appris qu’on doit toujours être en paix avec la vie, prendre soin de soi-même, s’accrocher à la vie parce qu’on n’en a seulement une, et qu’on doit vivre le moment présent parce que le temps passé ne revient jamais. Il y a beaucoup de femmes sans emploi dans notre pays et ce projet représente le point de départ pour que ces femmes arrivent à quelque chose plus tard et à réussir dans la vie, parce que c’est un projet merveilleux. J’ai croisé dans le bus une des filles du cours ; je l’ai tout de suite repérée grâce au teeshirt du projet Mille Femmes. Il n’y avait que quelques jours que je travaillais là à l’hôtel. Elle m’a regardée et m’a souri ; je ne la connaissais pas mais elle me connaissait déjà. « Tu es Selma, pas vrai ? ». Je lui ai dit : « Tu me connais du projet Mille Femmes, c’est ça ? Continue parce que c’est très bien, ce projet t’ouvre des portes ». Mille Femmes a été pour moi la clé qui m’a ouvert les portes d’une nouvelle vie, car j’étais comme morte, je ne faisais que regarder des feuilletons à la télé, l’un après l’autre. Quand j’ai ouvert les yeux, ma vie était un vrai feuilleton. Et j’ai pensé : « Halte là ! Pas avec moi ! Je vais changer cette histoire ». On pense qu’on n’est incapable de se redécouvrir, mais on trouve des choses qu’on sait être capable de faire. Du rêve à la réalité Mille Femmes 1. EJA – Éducation des Jeunes Adultes 325 Mille Femmes Du rêve à la réalité 326 2. L’Examen National de l’Enseignement Secondaire (Enem) est un examen individuel effectué au Brésil pour évaluer les connaissances des élèves qui terminent ou ont terminé leurs études secondaires. Avec l’Enem, les étudiants peuvent concourir pour une place dans les universités et écoles polytechniques fédérales et donne droit aux bourses dans les institutions privées. On pense qu’on n’est incapable de se redécouvrir, mais on trouve des choses qu’on sait être capable de faire. On peut découvrir des choses qu’on n’imaginait même pas. Je me suis très souvent sentie inférieure, mais le projet m’a aidé, parce que l’on se rend compte de nos forces, il suffit d’apprendre à les exprimer. Le projet vous aide aussi à enseigner, parce qu’il ne suffit pas de réclamer, de se disputer, de parler, de critiquer, il faut aussi enseigner. Le projet apprend beaucoup de bonnes choses qu’on enseigne à nos enfants. J’ai appris à Danilo qu’il ne doit jamais baisser la tête, qu’il n’est inférieur à personne. Il peut y arriver et il doit être déterminé à réussir ; se convaincre qu’il va y arriver parce qu’il en a la force. Avant, je ne m’attendais pas à ce que les choses se passent de la manière dont elles se passent maintenant. Recevoir son argent parce que vous avez fait des efforts, vous avez étudié, pratiqué. C’est très gratifiant ! C’est très bon de prendre cet argent et de savoir : maintenant je vais payer mes factures – j’en avais un tas qui étaient en retard. Quand le petit est mort, il n’y avait plus d’argent. L’importance du projet Mille Femmes dans ma vie ? Il a été très important ! Ce fut un projet unique et déterminant. Il a déterminé notre avenir, du moins le mien, parce que la vie ne termine pas à 40 ans, la vie commence à 40 ans. La vie commence au moment où vous décidez qu’elle va commencer. La femme doit toujours étudier, pas seulement à l’école, pas seulement au projet ; elle doit toujours étudier, être en avance sur son temps parce qu’elle ne peut pas s’arrêter. J’arrive seule au vestiaire. Je m’apprête et je jette un coup d’œil dans le miroir : « ah, comme ça oui, maintenant je peux aller travailler, parce que maintenant, je suis une femme de chambre. Je peux faire tout ce que je désire». Cette année, je vais terminer la troisième année, je vais passer l’examen d’entrée et je vais réussir l’Enem2 et m’inscrire à la faculté d’économie domestique. Raquel Maranhão Maria Rosilda Mille Femmes Du rêve à la réalité São Luís À 20 km du centre, la Vila Palmeira est l’un des quartiers les plus anciens de São Luís. Au début, c’étaient surtout des travailleurs ruraux et des descendants d’esclaves qui vivaient là, à la périphérie du développement urbain. L’occupation de la région se caractérise par une croissance désordonnée et par l’explosion démographique provoquée par l’exode rural. Les familles ont construit leurs maisons sur les berges du fleuve Anil qui traverse la capitale et qui était le principal plan d’eau de la ville à cette époque. Une partie de la communauté de ce quartier s’est installée sur la mangrove du fleuve, de nos jours complètement polluée. Plusieurs familles habitent dans des conditions inhumaines, dans des maisons sur pilotis, des constructions en bois sur la mangrove, entourées d’ordures. Dans ce milieu, il y a beaucoup de femmes que n’ont pas eu l’occasion d’étudier, qui n’ont reçu aucune formation professionnelle et ont des enfants. Une bonne partie d’entre elles sont des mères célibataires et elles pourvoient aux besoins de leurs familles en travaillant comme femmes à journée. À São Luís, le secteur de l’alimentation manque de main-d’œuvre qualifiée et possède un grand potentiel d’insertion dans le monde du travail. C’est pourquoi l’Institut Fédéral du Maranhão offre des cours de qualification professionnelle dans le secteur d’aliments en conserve, préparés et surgelés, et organise l’articulation avec le secteur de production dans le but de permettre l’insertion sur le marché du travail. Le projet a été présenté à quelques chefs d’entreprises de ce secteur qui aujourd’hui emploient les anciennes élèves du projet. Une autre action importante a été d’étendre le projet Mille Femmes au campus du Centre historique, qui propose des cours dans le domaine de l’artisanat. En ce qui concerne les anciennes élèves, quelquesunes d’entre elles obtiennent un petit revenu en prenant des commandes de petits-fours salés et sucrés, d’autres ont concrétisé leur rêve de signer un contrat de travail et travaillent dans des entreprises partenaires du projet. Beaucoup d’entre elles vendent leurs produits dans leur propre quartier et quelques-unes ont formé une micro-entreprise. 328 Raquel Santos Raquel Santos, 34 ans, vit sa vie avec bonne humeur. Elle aime rire et plaisanter. Elle aime se sentir heureuse. C’est sans doute pourquoi le mois de juin, quand il y a des fêtes un peu partout, est l’époque qu’elle aime le plus à São Luís. C’est quand il y a la kermesse, le Tambor de Crioula1, la Danse Portugaise, le Bumba Meu Boi 2 et les quadrilles. Quand elle était adolescente, elle faisait de la gymnastique rythmique et dansait le Cacuriá, chorégraphie sensuelle où les couples dansent en cadence et où, suivant la musique, les pas changent et on change de partenaires. Pleine de projets pour l’avenir, Raquel a réussi à réaliser un rêve qui lui semblait si lointain : un contrat signé dans son carnet de travail. J’éprouve une certaine nostalgie des cours pratiques et des cours théoriques aussi parce qu’ils étaient si animés ! Une chose que je ne regrette pas, même si le professeur était fantastique, c’est les maths. Sans aucun doute là-dessus. Peut-être qu’à présent on essaiera Du rêve à la réalité Mille Femmes 1. Littéralement, le Tambour de la Créole, danse afrobrésilienne pratiquée par les descendants des esclaves africains. 2. Danse folklorique populaire de rue représentant une légende remontant au 18e siècle, qui raconte l’histoire de la mort et de la résurrection d’un bœuf 329 Mille Femmes Du rêve à la réalité 330 3. Bondiboca est une chaîne de snacks de São Luís, partenaire du projet pour l’inclusion des élèves sur le marché du travail. de s’entendre parce que j’avais commencé à travailler au comptoir et depuis le mois de juin, je m’occupe de la caisse ; la caisse doit être en ordre, je dois rendre des comptes. Alors les maths et moi, on essaie de se mettre d‘accord, mais je ne sais pas si ça va marcher. J’avais déjà renoncé à beaucoup de choses. J’allais d’un côté et ça ne marchait pas, j’allais de l’autre, et ça ne marchait pas non plus. J’avais abandonné l’idée d’avoir un contrat signé dans mon carnet de travail parce que j’avais déjà 32 ans et que je n’étais pas encore parvenue à obtenir un contrat d’emploi régulier. J’ai terminé le secondaire, j’ai fait l’école d’instituteurs et j’ai toujours travaillé dans des écoles communautaires. Dans la dernière école où j’ai travaillé, je recevais 150 réaux par mois et je n’ai pas reçu de salaire de septembre à novembre. Alors pour moi, c’était hors de question, parce que le marché de travail ne regarde pas seulement le CV mais aussi l’âge de la personne. Il n’y a pas que l’expérience qui compte ! Alors je me suis inscrite au cours pour voir ce que ça donnerait, pour voir si j’arriverais à améliorer les choses. Réellement, ça a complètement changé ma vie. De fond en comble. Je travaille au Bondiboca3, avec un CDD. Le 28 janvier cela a fait un an que j’y travaille. Ça a été ma première victoire. J’ai également commencé à faire connaître les pièces d’artisanat que je fabrique. Je fais des fleurs, des poupées. Avec ma première paie, j’ai acheté une machine à laver et c’était parfait car quand j’avais un jour de congé, je le passais à faire la lessive. Je fais des économies pour m’acheter un frigo, un lit, pour nous donner un peu de confort à mes enfants et à moi. Je me souviens de tellement de bonnes choses... notre groupe était très bien. Ici au Cefet j’ai participé au projet grâce à une bourse, et je travaillais ici à l’étage, au département de ressources humaines. L’argent de la bourse m’a aidé aussi bien pour l’alimentation à la maison que pour l’achat du matériel que j’utilisais pour préparer les bonbons et fabriquer les poupées que je vendais. Le projet Mille Femmes est très important parce qu’il donne une opportunité à des femmes qui avaient déjà renoncé à lutter pour obtenir quelque chose dans la vie, à cause des difficultés quotidiennes, difficulté de trouver un emploi, des aliments, et des préjugés contre les femmes. Car ils existent ces préjugés ! Parfois, le fait même d’être femme nous empêche d’occuper un poste. On est discriminées, dévalorisées. Et ce projet vient contribuer à ce que la femme retrouve sa confiance en soi. C’est comme un coup de fouet pour qu’elle ne renonce pas à ses rêves, à ses idéaux, qu’elle continue à se battre, à lutter, qu’elle y parvienne et triomphe. Voilà le principal : un coup de fouet qui ranime la femme, qui fasse en sorte qu’elle retrouve son estime de soi, qu’elle se revalorise et se dise : « Je peux, j’y arriverai, j’en suis capable, je vais réussir » et plus tard : « J’y suis parvenue ! ». J’ai l’intention de continuer mes études, d’obtenir un diplôme et d’aller de l’avant. Comme je travaille dans le secteur des aliments, je m’intéresse beaucoup à la nutrition et aussi à la gastronomie. Je veux travailler, je veux y arriver et, qui sait à l’avenir, monter ma propre affaire. Je pense au secteur de décoration de fêtes d’enfants. Au cours d’entreprenariat, le professeur nous a appris à valoriser chaque centime qu’on gagne. Il a expliqué : si on gagne un réal par jour, il faut épargner 10 centimes. Il faut toujours économiser, donner de la valeur à son argent parce que c’est un argent durement gagné. Comme j’ai l’intention de monter ma propre affaire plus tard, je dois donner de la valeur à l’argent que je gagne. Je suis heureuse malgré toutes les difficultés que j’ai vécues et celle auxquelles je suis confrontée tous les jours ; je ne peux pas me plaindre. J’aime le forró, j’aime le pagode, j’aime écouter de la musique classique et même ces musiques qu’on écoute pour se détendre, avec des bruits d’eau, d’oiseaux, de méditation. La seule chose que je n’aime pas beaucoup, c’est le reggae. J’aime aussi la plage. J’ai connu mon mari au cours d’une discussion que nous avons eue. À l’époque, on ne pouvait pas se supporter l’un l’autre. Je me suis mariée à 19 ans, j’ai eu mon premier enfant à 19 ans, et je suis mariée depuis 25 ans. Le premier enfant, je le désirais très fort, les deux autres n’avaient pas été prévus au programme. J’ai eu trois césariennes. Mon enfance fut bonne. Je suis née et j’ai grandi à la Vila Palmeira, qui était un quartier d’invasion. Ma grand-mère Le projet Mille Femmes est très important parce qu’il donne une opportunité à des femmes qui avaient déjà renoncé à lutter pour obtenir quelque chose dans la vie. Du rêve à la réalité Mille Femmes 331 Mille Femmes Du rêve à la réalité On commence à vieillir à partir du moment où ne travaille plus. 332 s’est installée sur un terrain et j’habitais dans la maison de mes parents avec ma grand-mère. Je suis l’aînée de quatre sœurs. Mon père a commencé à travailler à 13 ans dans une stationservice, comme laveur de voitures et il fait toujours le même travail. À la Vila Palmeira, le plus grand problème à l’époque, c’était l’eau ; ma mère sortait tous les jours avec un bidon pour aller chercher de l’eau. J’aime beaucoup plaisanter. Vous ne pouvez pas savoir ce que j’aime jouer des tours. Au travail, on s’amuse tellement que je leur dis : « Si mes enfants savaient comment je me comporte ici, ils diraient – Maman ! C’est du joli ! Qui pourrait imaginer ça de ta part ? » J’aime plaisanter avec mes amis, quand quelqu’un raconte une histoire drôle. Parfois, il s’agit de quelque chose de sérieux au départ, mais après, on commence à rire l’un de l’autre. On s’amuse beaucoup, et avec les enfants à la maison c’est la même chose. Au début c’est sérieux, et puis on ne peut pas s’empêcher de rire l’un de l’autre. J’aime beaucoup ça, c’est vraiment chouette. Il faut s’occuper l’esprit avec quelque chose. On commence à vieillir à partir du moment où ne travaille plus. On n’arrive plus à l’utiliser pour faire certaines choses, il stagne. Et c’est ainsi qu’on commence déjà à vieillir. C’est pour ça que je n’ai pas l’air d’une vieille, parce que je cherche toujours quelque chose à faire. Maria Rosilda Costa Castro Maria Rosilda Costa Castro a découvert sa passion pour la cuisine quand elle était jeune, quand elle aimait déjà cuisiner avec de nouvelles saveurs et de nouveaux mélanges. Catholique pratiquante, elle a conduit son mari à l’autel l’année passée et a fêté l’occasion avec son talent : elle a fait le gâteau de mariage. Timide, le défi de Rosilda a été d’apprendre à se faire payer pour les produits vendus par Guloseima, la micro-entreprise qu’elle a ouverte en 2010. Du rêve à la réalité Mille Femmes 1.Équipe de football de Rio de Janeiro. Connue aussi sous le nom de Rubro Negro, c’est le club qui possède le plus grand nombre de supporters au Brésil et dans le monde selon les sondages de l’Ibope (Institut brésilien d’opinion publique et de statistiques). 2. Supporters de l’équipe de football São Paulo, aussi appelée Tricolor du Morumbi. J’aime le Flamengo1 ; je ne connais pratiquement aucun joueur. Mon mari me dit parfois : « Je me demande quelle sorte de fan tu es… ». J’ai toujours aimé le Flamengo, depuis que je suis toute petite, mais je ne suis pas du genre fanatique. J’ai deux garçons. Lucas a 12 ans et Caio, 7 ans. Tous les deux sont sãopaulinos2. Je vis avec mon mari depuis 13 ans mais on ne s’est mariés que l’année passée. Ce fut un mariage collectif. C’était très 333 Mille Femmes Du rêve à la réalité Quand je vois ces gâteaux merveilleux sur les pages des magazines, ça me met l’eau à la bouche. Et je vais y arriver. bien, merveilleux. J’étais émue, tout le monde était ému, mes sœurs... J’ai réalisé un rêve, c’était trop beau ! J’ai préparé un joli gâteau de mariage. J’aime cuisiner, j’ai toujours aimé. J’ai commencé quand j’avais environ 12 ans, quand ma mère allait à la cuisine, j’y allais avec elle. Chez ma mère, il n’y avait pratiquement que moi qui préparais les repas. J’aimais inventer des trucs, prendre une recette et essayer de la faire. Parfois ça réussissait, parfois non. Participer au projet a été pour moi une réussite. Je travaillais comme aide-dentiste, mais c’était parce que j’avais besoin de travailler, je n’ai jamais aimé cet emploi. J’ai travaillé pendant dix ans dans un cabinet de dentiste et puis j’en ai eu marre. Je partais de chez moi à six heures du matin et je rentrais à neuf heures du soir. Je ne voyais pas mes enfants, je n’avais pas le temps de m’occuper de la maison ; j’ai donné ma démission. La carte de la vie est une chose très intéressante. Chacun y mettait ce qu’il voulait et comment il pensait continuer. On a fait un retour à l’enfance jusqu’à maintenant. C’est intéressant parce qu’on revoit le passé et on voit tout ce qu’on a laissé derrière soi et tout ce qu’on peut encore essayer de trouver dans l’avenir. J’ai fait plusieurs dessins, je suis très mauvaise pour dessiner mais on a compris ce que je voulais dire, j’ai fais passer mon message. J’ai fait ça pour m’amuser, en montrant, jusqu’où je voulais arriver, mon but ultime, ce que je voulais faire : à savoir être propriétaire de ma propre affaire. Sur la carte de la vie j’ai découvert que je pouvais encore étudier, me professionnaliser, mieux me préparer. Mon objectif est de devenir une grande professionnelle. Je veux me spécialiser dans la fabrication de petits-fours, dans le secteur de la pâtisserie. J’adore préparer un gâteau, des confiseries, 334 des petits-fours. Quand je vois ces gâteaux merveilleux sur les pages des magazines, ça me met l’eau à la bouche. Et je vais y arriver, j’en ai déjà fait deux qui n’étaient pas mal. Je préparais des petits-fours pour mes amies, pour l’anniversaire des enfants, mais je ne travaillais pas pour gagner de l’argent. Les gens me demandaient de le faire, ils apportaient les ingrédients et après me remerciais. Je ne le faisais pas professionnellement, je n’arrivais pas à leur demander de me payer, j’avais honte. C’est après le projet que j’ai commencé à me faire payer, j’ai essayé de valoriser mon travail. Ma confiance s’est bien améliorée ; j’ai appris à me valoriser, à donner de la valeur à ce que je fais, chose que je ne savais pas faire. Je n’arrivais pas à fixer un prix mais maintenant je sais le faire. Aujourd’hui je dis aux gens : « ça coûte tant ! » Et je connais la valeur et le prix de ce que je prépare. Mon entreprise s’appelle Guloseima. Je l’ai ouverte avec l’aide du Sebrae3, c’est une entreprise individuelle. Maintenant, je peux agrandir mon affaire, je peux faire des factures. Le CNPJ4 n’a pas traîné et à partir de 10 mois il y a déjà plusieurs bénéfices. On paie une taxe de 57 réaux et après 15 ans de cotisation, on a droit à une pension. Je vais ouvrir un point de vente chez moi, sur ma terrasse, parce que j’ai déjà des commandes de petits-fours et comme ça, je fais les deux choses en même temps. C’est un marché intéressant, il y a beaucoup de gens qui travaillent dans ce secteur. Le marché est pour tout le monde, mais on doit essayer de toujours faire mieux parce qu’on ne peut pas toujours faire la même chose, 3. Le Service de Soutien aux Micro et Petites Entreprises (Sebrae) oriente et organise des ateliers en vue de faciliter les démarches pour l’ouverture d’une petite entreprise. 4. CNPJ – Cadastre National de Personnes Juridiques. Du rêve à la réalité Mille Femmes 335 Mille Femmes Du rêve à la réalité C’est aussi le résultat de la volonté, parce qu’on ne peut pas tout attendre du cours, il faut aussi y mettre du sien. il faut innover. Je gagne en moyenne un peu plus d’un salaire minimum par mois. Il y a des mois où je gagne moins, d’autres où je gagne entre 700 et 800 réaux. J’ai progressé un peu dans tout ; j’ai appris à mieux me connaître. Dans le temps, je pensais qu’il ne fallait aller chez le médecin que quand on était malade ; pure ignorance ! Les choses se sont améliorées pour moi, pour mes sœurs, pour toute la famille, parce que maintenant, c’est moi qui encourage mes sœurs. Je les envoie chez le médecin, je leur ordonne d’y aller. Tout ce que j’ai appris à faire a contribué à améliorer mon travail en termes d’hygiène, de sécurité, de préparation, d’esprit d’entreprise, comment mieux se former pour notre propre sécurité. Tout ça a beaucoup contribué. Aujourd’hui, nous travaillons toutes, il n’y en a qu’une ou deux d’entre nous qui ne travaillent pas. C’est aussi le résultat de la volonté, parce qu’on ne peut pas tout attendre du cours, il faut aussi y mettre du sien. Ça ne sert à rien de suivre le cours et puis de rester les bras croisés. 336 Aparecida Paraíba Marta Mille Femmes Du rêve à la réalité Bayeux La commune de Bayeux englobe les communautés de Baralho, São Bento, Porto de Oficina, Casa Branca, Porto do Moinho et São Lourenço. Il n’existe pas de ligne de séparation, ce sont des communautés voisines dont la pêche est la principale activité économique. Hommes, femmes et enfants obtiennent leur gagne-pain quotidien de la mangrove, qui en général s’étend à l’arrière de leurs maisons. Les adultes pêchent et les plus petits aident à nettoyer les fruits de mer. Les conditions de logement et l’infrastructure de base sont très précaires. Les rues sont pavées mais il n’y a pas d’assainissement de base et l’approvisionnement en eau potable est critique. Les réservoirs d’eau domestiques ont été construits aux environs des fosses septiques et des potagers arrosés de pesticides sans aucune orientation technique, mettant ainsi en danger la santé de la population. Dans ces quartiers, il existe des problèmes d’alcoolisme, de consommation de drogue et le nombre de porteurs du virus du SIDA est le troisième de l’état. Développer un programme éducatif à partir du dialogue avec les élèves a été un des grands défis auquel l’Institut Fédéral de la Paraíba a été confronté, et l’institut est en train de mettre sur pied un cours technique dans le domaine de la pêche, basé sur l’approche par compétences. Une autre action importante fut d’articuler l’inclusion des vendeuses de fruits de mer dans les actions du Ministère de la Pêche et de l’Aquiculture, ce dont ont profité non seulement les élèves du Mille Femmes mais aussi toute la communauté, qui disposent ainsi des informations nécessaires et peuvent avoir accès aux politiques publiques destinées aux pêcheurs. Les élèves sont des ménagères, des artisanes, des vendeuses de coquillages, des femmes de ménage. L’âge varie de 18 et 60 ans et certaines d’entre elles n’avaient jamais mis les pieds dans une salle de classe. Prendre le bus qui les conduit au siège de l’Institut Fédéral de la Paraíba (IFPB), qui se trouve à João Pessoa, à 4 km de là, représente des choses qu’il est difficile d’exprimer sur papier : opportunité, découverte, recommencement, citoyenneté. Dans la première étape, le défi de l’IFPB fut de sensibiliser et d’encourager les femmes à participer au cours. Durant cette phase, des ateliers furent organisés sur les thèmes de la santé, de l’environnement et de la production artisanale. Ensuite, il y a eu le projet d’élévation du niveau de scolarité et l’offre de professionnalisation dans le domaine de la pêche et de l’artisanat, lequel est encore en cours d’exécution. 338 Maria Aparecida Batista Marinho Du rêve à la réalité Mille Femmes Maria Aparecida, Cida, comme on l’appelle, aime la musique romantique. Le premier disque qu’elle a acheté est d’Amado Batista. Elle adorait la chanson « Petite fille, mon amour ». Le disque est resté chez une des familles où elle a travaillé. Les années de travail comme employée de maison et coupeuse de canne à sucre sont invisibles. Elle ne possède pas de carnet de travail. Il n’y en a pas trace. Seul son corps en porte les preuves : ce sont les marques qui ont commencé à apparaître au cours de son enfance et se sont accumulées quand elle était adolescente, résultat des accidents que les enfants souffrent constamment. Cida est vendeuse de fruits de mer, mais son activité de mère l’a forcée au repos. Elle doit s’occuper du bébé. Ménagère et étudiante, âgée de 37 ans, elle est la première de la famille à rompre le cercle vicieux de l’analphabétisme. Son rêve est d’être ce qu’elle n’a pas eu : professeur d’enfants. Quand le bus est arrivé au Cefet, j’ai demandé : « C’est ici que nous allons rester ? ». Ensuite nous sommes entrées dans une salle très chic, avec climatisation et je me suis dit : « Mon Dieu ! C’est un rêve et si c’est un rêve, je vais le 339 Mille Femmes Du rêve à la réalité 340 Tellement de mères analphabètes. C’est si horrible d’être analphabète, c’est comme si on était aveugle. J’étais aveugle et aujourd’hui je vois. garder, je ne vais pas le laisser passer ». J’ai tellement bien aimé la première fois où je suis venue ; j’étais encore plus heureuse quand le responsable a distribué les uniformes, je me sentais toute fière. J’ai pensé : « Maintenant je fais partie du groupe Mille Femmes. Je ne veux jamais quitter ce groupe ». Il existe tellement de ménagères qui voudraient avoir une opportunité d’étudier. Tellement de mères analphabètes. C’est si horrible d’être analphabète, c’est comme si on était aveugle. J’étais aveugle et aujourd’hui je vois. C’est pour ça que le projet Mille Femmes doit continuer, pour donner une opportunité à d’autres femmes. Quand j’allais à l’usine pour recevoir ma paie, je signais avec mon pouce. Parfois, je ne voulais pas y aller parce qu’ils me demandaient : « Tu sais lire et écrire ? ». Je me sentais humiliée quand je voyais quelqu’un qui savait écrire et pas moi. C’était horrible ! J’avais honte de ne pas savoir lire ni écrire. Je me sentais coupable. Aujourd’hui je sais que c’est parce que je n’ai pas eu l’occasion d’aller à l’école. Je n’ai pas eu le choix dans ma vie. C’était comme ça, un point c’est tout. Nous avons grandi en coupant de la canne à sucre, mon père, mes oncles, et ils le font toujours, mon frère. Ce n’était pas facile, non. On arrivait le matin et on ne rentrait qu’à six heures du soir sur le tracteur. Quand maman disait qu’elle voulait me mettre à l’école, je disais que je ne voulais pas parce que c’était très difficile. Elle avait beaucoup d’enfants en bas âge et je voulais aider à la maison. À cette époque-là, mon père buvait beaucoup et je n’avais aucune envie de sortir et de laisser ma mère dans cette pénible situation. Et moi je ne savais pas, je n’avais aucune idée, ça m’était égal d’étudier ou pas. Mais aujourd’hui, j’en connais l’importance. À 18 ans j’ai connu un garçon, je me suis mariée et j’ai eu ma première fille à 19 ans. Mon père menaçait toujours de tuer ma mère et moi, j’avais très peur et je la suppliais qu’on s’en aille de là. C’est à ce moment que ma cousine m’a envoyé un billet me demandant d’aller à Bayeux avec ma fille. Alors j’ai pensé : « Je prends mon courage à deux mains et j’y vais ! ». Et je suis partie et j’ai emmené ma mère avec moi. Une fois là, j’ai travaillé quelques temps dans une maison de famille. C’est là que j’ai connu mon deuxième mari, fondé une famille, mais je sentais toujours qu’il me manquait quelque chose. Je pense que s’il n’existait pas tant d’inégalité au Brésil, les choses seraient bien meilleures. Si tout le monde était égal, si tout était équitablement partagé, il n’y aurait pas tant de gens qui souffrent et qui ont faim. Il y a tellement de terres au Brésil et tant de gens qui paient un loyer. Si on partageait tout de manière égale, ça n’existerait pas. Ce que j’aime le plus au Mille Femmes, ce sont les professeurs. Ils nous encouragent. Je croyais que leur obligation c’était de donner cours et puis c’est tout, mais ceux d’ici sont fantastiques. Ils nous disent : « Insistez, persévérez, n’abandonnez pas parce que ce, que vous étudiez, personne ne pourra jamais vous l’enlever ». J’adore les cours. J’ai appris tant de choses ! On a eu des leçons sur les droits des femmes et aussi sur la santé ; c’est alors que l’infirmière a parlé de l’importance pour la femme de se soigner, de faire les examens tous les ans, moi qui mourais de peur de les faire, je mourais de peur d’aller chez le médecin. À la campagne, les gens ne font pas d’examens. Je n’avais jamais fait d’examen préventif, mais maintenant je les ai déjà faits. On a des cours de maths, de portugais, d’informatique. Je mourais de peur de toucher la souris. Je tremblais, je n’arrivais pas à le prendre en main, je croyais qu’il allait se casser. Alors le professeur disait : « Courage ma fille ! Prend la souris.. Elle ne va pas te mordre ! ». J’ai appris à allumer et à éteindre l’ordinateur. Ma confiance s’est bien améliorée. Aujourd’hui je peux apprendre à mes enfants. Aujourd’hui je m’en tire en mathématique, je sais faire des calculs. Je me sens certaine des choses ce que je fais. C’est moi qui encourage les autres à la maison. J’ai cinq filles et elles vont toutes à l’école. Comme je vais aussi à l’école, c’est un bon motif pour qu’elles Du rêve à la réalité Mille Femmes Ma confiance s’est bien améliorée. Aujourd’hui je peux apprendre à mes enfants. Aujourd’hui je m’en tire en mathématique, je sais faire des calculs. Je me sens certaine des choses ce que je fais. 341 Mille Femmes Du rêve à la réalité continuent à étudier. Elles se disent : « Maman qui est déjà vieille va à l’école, moi non plus je ne vais pas abandonner mes études ». Je n’ai pas eu l’occasion d’étudier quand j’avais leur âge, mais je veux qu’elles aient cette opportunité. Et je veux être un exemple pour elles. Les relations entre les femmes de la communauté se sont beaucoup améliorées avec le projet Mille Femmes. Aujourd’hui, on communique. Quand il y a en une qui passe par des difficultés, qui est malade, qui a des problèmes dans sa famille, on va la voir pour savoir ce qui se passe, pour l’aider. Et quand le bus vient nous chercher, les gens nous voient et ils disent : « Voilà les Mille Femmes ». Pendant les réunions de l’association, ils disent : « Voilà les Mille Femmes ». Les gens de la communauté voient ça aussi ; le projet est présent dans la communauté. Aujourd’hui je peux choisir. Je veux apprendre toujours plus et je ne vais pas m’arrêter. Cette année, je vais renouveler mon inscription au collège. J’étudie ici et au collège de l’état, près de chez moi. J’ai réussi ma quatrième année. Les gens disent comme ça : « Cette femme a un tas d’enfants et elle va à l’école ! ». Mais c’est parce que je veux atteindre mon objectif d’être quelqu’un dans la vie. Celui qui n’a pas d’études n’est personne dans la vie. C’est un aveugle, sérieusement ! Je veux terminer mes études et suivre un cours pour apprendre à travailler avec des enfants. Je m’identifie beaucoup aux enfants. Je suis une guerrière et il ne fait aucun doute que si j’étais restée à la campagne, je n’en serais pas là aujourd’hui. Je me sens quelqu’un capable d’apprendre, d’évoluer, et je ne pensais pas comme ça avant. J’aime la personne que je suis devenue. Et maintenant que je sais lire, j’aime beaucoup la personne que je suis. 342 Marta de Lima Du rêve à la réalité Mille Femmes Menue avec, la peau brûlée par le soleil, Marta de Lima est devenue vendeuse de fruits de mer après son mariage, quand elle est allée vivre à Bayeux. Curieuse, elle observait les voisins quand ils mettaient leurs canots à la mer. Un jour, elle s’y est risquée. Ce fut le coup de foudre. Et c’est de la mer qu’elle obtient son gagne-pain pour subvenir aux besoins de ses enfants, ainsi que cette sensation de liberté. Habile négociatrice, elle a convaincu son mari de la laisser étudier et de reprendre ses études. À 38 ans, mère de trois enfants, Marta grandit quand elle parle de sa volonté d’étudier et d’entrer à la faculté. On doit aimer tout ce qu’on fait. J’aime ce que je fais. Pour ne pas aller pêcher, il faut que je sois malade ou qu’il soit arrivé quelque chose de grave. En mer, on se sent libre, on respire l’air pur, ce qui est très bon. C’est merveilleux ! C’est une sensation très agréable. Malgré que j’aie peur de l’eau et que je ne sache pas nager, j’aime pêcher. 343 Mille Femmes Du rêve à la réalité Durant le cours sur l’environnement, j’ai appris que ce qu’on doit protéger le plus c’est le milieu où l’on vit. 344 Durant le cours sur l’environnement, j’ai appris que ce qu’on doit protéger le plus c’est le milieu où l’on vit. C’est la mangrove ! Mais il existe beaucoup de gens qui n’ont aucune idée de la valeur de la mangrove. Et elle a énormément de valeur pour moi ; elle représente mon gagne-pain et celui de beaucoup de gens. Si vous jetez des ordures dans la mangrove, vous polluez l’environnement et vos enfants et petits-enfants ne connaîtront pas ce que je connais aujourd’hui. C’est ce que je pense. J’ai commencé à travailler à neuf ans. On habitait dans la maison de ma grand-mère, on était six frères et sœurs et seul mon père travaillait. Je trouvais que c’était très dur ; je suis l’aînée et alors, il fallait que je fasse quelque chose. J’ai suivi un petit cours de crochet et j’ai commencé à vendre ce que je faisais. Comme ça j’aidais à la maison. Après j’ai commencé à travailler chez les autres, mais je faisais toujours du crochet. À 17 ans, j’ai travaillé dans le commerce, je vendais des souliers – ce qu’on appelle ici un camelot. C’est aussi à cette époque que j’ai arrêté d’étudier, en huitième année. Comme je n’arrivais pas à concilier le travail et les études, j’ai décidé de travailler pour de bon. À 21 ans j’ai rencontré mon mari et on est allé habiter à Bayeux ; c’est quand j’ai commencé à pêcher. Je suis venue habiter au bord de la mangrove, et j’y habite toujours. Dans le temps, ma maison n’était pas en briques mais en torchis. J’étais curieuse, je voyais les gens qui prenaient leur barque et qui allaient travailler. Alors je me suis dit : « J’y vais aussi ». Et mon mari disait : « Non, tu n’y vas pas ». Et moi je disais : « Si, j’y vais ». Et j’ai fini par y aller. Mais je me suis prise de passion pour la chose. Au début, mon mari ne voulait pas que je recommence à étudier. On s’est beaucoup disputés mais maintenant, ça va, il est plutôt content. Alors j’ai insisté pour qu’il aille aussi à l’école. Il y va contre son gré mais il y va ! [rires]. Je vais avec lui, parce qu’il n’y va pas sans moi. C’est trop drôle. La professeure trouve que c’est drôle que ce soit moi qui l’aide ; on dirait que je suis la professeure en salle de classe [rires]. J’aime beaucoup Roberto Carlos, la chanson « Les virages de Santos ». Ça me rappelle de bons souvenirs de ma jeunesse. J’aime aussi danser dans ma rue. Les gens qui habitent là aiment organiser des petites fêtes et alors mon mari et moi, on s’amuse. J’aime pas beaucoup aller en discothèque, je n’aime pas beaucoup la foule, mais une petite fête dans la rue comme ça, familiale, ça oui. Je danse toute la nuit. Le projet Mille Femmes représente la réalisation d’un grand rêve. Je me sens réalisée. Pas encore complètement parce que je n’ai pas encore terminé mes études. Mais rien que d’avoir eu l’opportunité de recommencer à étudier, c’est pour moi un rêve. Dans mon cas, être ici à l’Institut est encore plus important, parce que ça marche comme ça : pour pouvoir entrer ici, il faut passer un examen, et je crois que je n’entrerais jamais s’il me fallait faire un examen. Je suis entrée grâce au projet. Depuis 2008, après mon entrée dans le projet, je suis complètement différente. J’étais plus taciturne, maintenant je suis plus loquace, je parle beaucoup. Quand je suis entrée, je ne savais rien et aujourd’hui, je me sens intelligente, très intelligente. Je peux aider mes enfants à faire leurs devoirs et leçons à la maison. Aujourd’hui je communique mieux avec les gens, je sais ce que je dois dire. Avant, je n’aimais parler qu’avec mes voisines ; mais participer à d’autres réunions, aller ailleurs, ça non. Maintenant, j’ai plus de volonté, je me sens bien. Je me sens même très bien. On a aussi eu des cours sur les droits et nous avons beaucoup de droits. Ils nous ont parlé des droits des femmes et de la loi Maria da Penha. Ça nous aide beaucoup parce que tout ce qu’on veut faire, il y a toujours un homme pour vous dire : « Ah, je vais te taper dessus, je vais te faire ceci et cela ! ». Mon Dieu, quelle histoire ! On sait où porter plainte, qui appeler, c’est fini de nous taper dessus ! C’est fini le temps de la femme esclave. Maintenant la femme doit être libre. J’ai réussi à avoir la carte de pêcheur. Pour celui qui est pêcheur, cela représente une pension dans l’avenir. On paie l’INSS1, au maximum 45 réaux par an, et dans l’avenir, on prend sa retraite. On a réussi à l’avoir grâce à ces réunions auxquelles on a été convoquées ici à l’Institut2. Aujourd’hui j’ai la mienne. Du rêve à la réalité Mille Femmes 1. Le Gouvernement fédéral du Brésil crée des options pour que les travailleurs autonomes, et parmi eux les pêcheurs, puissent cotiser à l’Institut National de Sécurité Sociale (INSS), pour leur assurer une pension de retraite. 2. Les réunions ont été organisées par le Secrétariat Spécial à l’Aquiculture et à la Pêche du Ministère de la Pêche et de l’Aquiculture, et la participation des vendeuses de fruits de mer a été articulée par l’équipe du projet Mille Femmes de la Paraíba. 3. En avril 2009, le Secrétariat à l’Éducation Professionnelle et Technologique (Setec) a organisé une rencontre à Brasilia, avec la participation d’une élève de chaque état. À cette occasion, le documentaire national du projet Mille Femmes a été lancé, produit par le directeur Helvécio Ratton. Cette vidéo peut être visionnée à l’adresse électronique <www. mulheresmil.mec.gov.br>. 345 Mille Femmes Du rêve à la réalité J’ai changé ma façon de penser et j’ai une meilleure vision du monde ; je peux transmettre tout cela à mes enfants. 346 Je ne fais plus beaucoup d’erreurs de calcul, je me débrouille bien. Je me sens comme une autre personne. Du voyage à Brasilia3, je me souviens quand nous sommes allées au Ministère de l’Éducation pour voir la vidéo avec l’histoire de notre vie. Ça m’a marquée qu’un ministre me voie là, à la pêche, au travail. Je me suis sentie très importante. Parfois, je rate le bus parce que j’arrive en retard à cause de la marée. Alors je m’habille vite, je pique une course, j’arrive sur la route et les gens me disent : « Le bus est déjà passé ». Ah, ce n’est pas vrai ! Mais j’ai toujours quelques sous que je garde dans mon porte-monnaie pour ces cas-là et je prends le bus. J’ai réussi à avoir ma carte d’étudiante. Pour moi, ce projet est tout ce que je pouvais rêver d’atteindre dans ma vie : recommencer à étudier, obtenir ma carte de pêcheur, tout ça grâce au projet. J’ai changé ma façon de penser et j’ai une meilleure vision du monde ; je peux transmettre tout cela à mes enfants. J’insiste beaucoup sur ce point à la maison : « Il faut étudier, parce que la marée n’attend pas demain ». Si j’étudie, je peux leur donner une vie meilleure et s’ils étudient, ils peuvent avoir une vie meilleure que la mienne. En étudiant, on peut tout obtenir, il suffit d’avoir un peu de volonté et de courage. Mon objectif est de terminer mes études. Après, quand j’aurai terminé, je verrai quel cours je vais suivre. Je ne vais pas m’arrêter, plus jamais. J’espère que le projet ne terminera pas et qu’il offrira des chances à d’autres pêcheuse, artisanes et ménagères, parce qu’on a tout à gagner et rien à perdre. Deine Pernambuco Vera Lúcia Mille Femmes Du rêve à la réalité Recife Le quotidien à la Vila Chico Mendes, quartier de la banlieue de Recife, est rythmé par le bruit assourdissant des avions qui se préparent à atterrir à l’aéroport international de Recife. À vrai dire, seuls les visiteurs les entendent et ils ont même le réflexe de rentrer les épaules de peur que les avions ne leur tombent sur la tête. Les enfants ne réagissent même plus. La communauté est apparue en 1991 quand 30 familles de plusieurs quartiers de la capitale ont occupé le terrain et construit les abris qu’ils pouvaient – des taudis en carton et en torchis. Les loyers absorbaient une bonne partie des salaires et le manque de politique de logement à cette époque a poussé beaucoup de travailleurs vers ces régions de la périphérie pour trouver un toit. Certains gardent encore en mémoire les histoires d’affrontements avec la police et de la lutte pour arriver à obtenir les services de base. Aujourd’hui, vingt ans après, la Vila Chico Mendes abrite plus de trois mille habitants qui continuent à lutter pour pris en compte par les autorités publics, pour le droit à l’éducation, à la santé et au travail. Dans les rues étroites, plusieurs sans assainissement de base, l’exclusion, les préjugés, la violence et le trafic de drogues se mêlent aux espoirs, à l’avenir et à la recherche de nouveaux horizons. Et c’est là l’importance de la proximité et de l’action de l’Institut Fédéral de Pernambuco à la Vila Chico Mendes : offrir des perspectives de travail en proposant des formations dans le secteur de la gastronomie. Avec leurs connaissances dans le domaine de l’alimentation, plusieurs femmes vendent de la nourriture sur la plage le dimanche et d’autres préparent déjà des petits-fours et des confiseries sur commande. L’IF a également assumé le rôle d’articulateur et signé des accords de partenariat avec d’autres institutions qui enseignent la partie pratique. En récupérant leur auto-estime et en acquérant de nouvelles connaissances, les élèves commencent déjà à faire des projets pour leur avenir. Le rêve de quelques-unes d’entre elles est de mettre en place un restaurant communautaire, alors que d’autres rêvent d’un contrat de travail en bonne et due forme ou de monter leur propre affaire. Pour chacune, la plus grande conquête est le droit de recommencer à rêver et d’espérer de meilleurs lendemains. 348 Deine Araújo Du rêve à la réalité Mille Femmes Deine Araújo a un ton de voix posé mais ferme. Une stature moyenne, un beau sourire et un courage et une compétence pour faire face aux désagréments de la vie. À 43 ans, avec trois enfants et 23 ans de mariage, elle reçoit encore des invitations pour aller flirter sur les bancs de la place. Déterminée, elle a complété ses études secondaires, a presque terminé la formation professionnelle et elle fait des projets pour concilier deux rêves : faire un diplôme en mathématiques et ouvrir une entreprise dans le secteur de l’alimentation. Pour les femmes, ce projet signifie avoir une place au soleil, une profession. Elles terminent le cours et veulent faire un programme. Pourquoi ? Parce que leurs yeux se sont ouverts, la fenêtre du savoir a été ouverte et ça, c’est le projet qui l’a fait pour nous. Mon rêve est de faire un diplôme en mathématiques. J’aime les chiffres, j’ai une grande facilité, j’apprends très vite. Ce serait pour moi comme un trophée, une réalisation. J’aime cuisiner et j’aime les maths. Je suis heu- 349 Mille Femmes Du rêve à la réalité 350 Il faut entretenir l’amour tous les jours. Je dis souvent aux gens que chaque jour, mon mari est différent. reuse, je me sens réalisée, j’ai une famille structurée. J’ai l’occasion de suivre le cours, chose que je n’avais pas avant, et aujourd’hui la porte s’est ouverte. Avoir terminé l’école secondaire a été une bonne chose de faite parce que je vivais prisonnière du passé. Cela fait 20 ans que j’habite ici. Au début ça a été dur parce que j’habitais dans une petite cabane en planches et en carton. Il n’y avait pas de carrelage, les puces-chiques attaquaient souvent les pieds et les mains de mon premier enfant. Je l’ai amené au poste de santé et quand le médecin a vu de quoi il s’agissait, elle l’a communiqué avec la mairie. Ma maison fut la première à être désinsectisée. Élever un enfant n’est pas une chose facile ici. Il y avait des jeunes qui jouaient avec eux et qui n’avaient pas l’occasion d’aller à l’école, qui faisaient un enfant quand ils étaient encore des adolescents, qui étaient impliqués dans le trafic de drogues. J’ai élevé les trois. L’aîné est à la faculté, ma fille s’est mariée et le cadet fait son service militaire. Avant de venir ici mon mari avait deux emplois et on vivait bien. Le premier, il l’a perdu à cause de sa vue ; le second, à cause de son âge. Il travaillait en électronique mais sa vue a baissé à cause de la toxoplasmose qui l’a presque conduit à la cécité. C’est une maladie qu’on attrape par des excréments de chien, de chat, de pigeon, de poulet. La sienne, il l’a probablement attrapée par des excréments de pigeon. Il a dû boire de l’eau de janvier. C’est une croyance du Nord-est, c’est courant : les mères recueillent l’eau de la première pluie de l’année et la font boire à l’enfant pour le faire parler plus vite. Pour lui ça a été plus difficile, parce qu’il venait de Campo Grande, un bon quartier près de Pinheiros. Son père était directeur d’une agence de la Banque du Brésil, il avait une voiture, une maison. Ma réalité a été très différente. Mon père était mécanicien et fonctionnaire, mais avec cinq enfants, il ne pouvait pas nous donner tout. Nous avons toujours eu de la nourriture mais il nous est arrivé de manger qu’une seule fois par jour. Il faut entretenir l’amour tous les jours. Je dis souvent aux gens que chaque jour, mon mari est différent et que ce qui me captive le plus c’est qu’il me traite de la même manière que quand j’avais 15 ans. Il a toujours Du rêve à la réalité Mille Femmes les mêmes gestes tendres, il me dit que je suis jolie malgré le fait que j’aie grossi. Il me donne des fleurs, des chocolats, il m’envoie des messages d’amour par téléphone, il m’invite à sortir. Je n’y vais pas parce que ça me gêne un peu, je lui dis qu’on est déjà trop vieux pour ça. Quand j’arrive du boulot au petit matin, il met le lait à chauffer, un morceau de fromage sur une tranche de pain. Quand j’ai pris ma douche, que je m’assieds, il me le donne. J’arrive chez moi vers deux heures, deux heures et demie du matin. Ici à la Vila Chico Mendes, le projet Mille Femmes représente une occasion de progresser parce que beaucoup de gens veulent mais pas n’ont pas l’occasion. Ce sont des femmes qui n’ont pas eu l’opportunité d’étudier et qui parfois ont été mères adolescentes, sans aucune structure, qui ont trouvé des compagnons qui sont aussi sans éducation. Et ils sont très machistes, ils pensent que la femme ne doit pas travailler. Le cours prépare pour le marché parce qu’il parle de la manipulation des aliments ; il y a des cours d’étiquette sociale au travail. Pour ce qui est de la manipulation des aliments, dont la personne ne tient parfois pas compte, on apprend que c’est très important, parce qu’il s’agit de la vie des autres. En portugais, on apprend à s’exprimer, à comprendre, à écouter l’autre parce qu’on veut souvent imposer son point de vue. Apprendre à travailler en équipe parce 351 Mille Femmes Du rêve à la réalité Ici à la Vila Chico Mendes, le projet Mille Femmes représente une occasion de progresser parce que beaucoup de gens veulent mais pas n’ont pas l’occasion. 352 que sans l’autre on ne fait rien. Et en mathématiques, tout ce qu’on fait comporte des calculs : poids, mesures, division, l’utlisation des pourcentages. Tout ça prépare au marché du travail. Alors c’est une occasion qu’elles saisissent bec et ongles et qui peut leur donner du travail. Et je suis convaincue qu’avec cette chance, les portes s’ouvriront vraiment, aussi bien pour celle qui veut mettre en place une affaire que pour celle qui va sur le marché du travail, dans un restaurant ou un hôtel. J’ai travaillé dans un bar et je gagnais R$ 100 reais par semaine, mais c’était très peu. Vu le travail que je faisais, je méritais plus. Le propriétaire était une personne avec peu d’éducation et tout ce que j’apprenait dans le cours je le lui ensegnait. J’ai montré comment manipuler les aliments et l’hygiène. Donc, ce que le propriétaire a appris avec moi, il transmet au personnel qui travaille le matin. Mon projet est de mettre sur pied ma propre affaire et j’en ai d’ailleurs déjà parlé à une de mes collègues de cours parce qu’elle aime la partie bureaucratique alors que moi j’aime la cuisine. Nous allons servir des déjeuners. Elle s’occupera de la partie bureaucratique : aller dans les entreprises offrir des récipients et encaisser, parce qu’elle est bonne pour ça. Il y a des gens au marché qui vendent des repas dans un récipient en plastique et ce n’est pas correct. Je servirai dans un récipient jetable, ce qui est plus hygiénique, plus politiquement correct comme je l’ai appris au cours. Vera Lúcia Francisca da Silva Du rêve à la réalité Mille Femmes Le moment actuel dans la vie de Vera Lúcia pourrait sans doute être défini par un mot : redécouverte. Peut-être parce que tout autre mot ne serait pas assez fort pour définir le processus de se voir avec des yeux qui ne sont pas ceux d’une personne inférieure. À 39 ans, Vera a commencé à croire en elle –même et petit à petit, elle apprend à avoir confiance en ses talents. Elle a une fille de six ans, elle est évangélique et elle dit qu’elle est sur le point de partir : de quitter la Vila Chico Mendes. Mais c’est vers un destin inconnu. Une seule chose est certaine : le départ sera vers la réalisation des rêves étouffés par les exclusions imposées par la vie. Chaque fois qu’on avait un cours, c’était un vrai plaisir, on apprenait des trucs, on faisait des calculs. Ça m’a vraiment motivée et je suis tombée amoureuse du projet. On vit ce qu’on n’a jamais eu. Je n’ai jamais eu l’occasion d’entrer dans une 353 Mille Femmes Du rêve à la réalité Mon auto-estime était plutôt à la baisse parce que celui qui n’a pas fait d’études se sent inférieur. 354 institution. J’avais entendu parler du Cefet mais je n’y étais jamais entrée. Pour y faire quoi ? C’était très loin. Pour commencer, l’arrivée du Mille Femmes a redoré mon estime personnelle. Mon auto-estime était plutôt à la baisse parce que celui qui n’a pas fait d’études se sent inférieur. Aujourd’hui je me sens un peu plus réalisée parce que j’ai rencontré d’autres personnes, des gens qui me donnent de la valeur, qui m’encouragent. Ce sont des expériences nouvelles et tout ça fait qu’on croit en soi-même. Je n’ai pas eu l’occasion d’étudier et ce n’est pas parce que je ne voulais pas. Pour certaines personnes et pour moi la vie a été très dure, je n’ai pas eu tout ce que je voulais. J’ai dû renoncé à beaucoup de rêves. Mon père n’avait pas de travail fixe et on devait se débrouiller pour aider à subvenir aux besoins de la maison. J’ai commencé à travailler à 12 ans dans les cuisines des autres, comme domestique. Parfois, on allait à l’école avec le ventre creux et ce qui nous aidait à tenir le coup c’était le repas servi à l’école. C’était très dur, parfois on n’avait que de la noix de coco râpée avec de la farine et du sucre. Quand il y avait une fête, on était tout heureux parce que les voisins étaient solidaires et on échangeait des plats. Parfois, on n’avait rien à manger mais la voisine préparait une bouillie de semoule de maïs et nous l’apportait. C’était un vrai festin. Vous ne pouvez pas imaginer comme on donne de la valeur à cette opportunité que le Cefet nous a donnée ! C’est aussi important que si c’était un collège. C’est comme si j’attendais le jour de ma remise de diplôme. J’en rêve déjà ! J’ai terminé mes études secondaires à 25 ans. Quand j’ai réussi à les terminer, je me suis arrêtée parce que j’avais trouvé un emploi avec contrat signé dans mon carnet et que le rythme de travail était très intense. Aujourd’hui je le regrette un peu parce que j’aurais dû m’investir dans les études. Maintenant je vois ce qu’il me manque sur le marché du travail de ne pas avoir une qualification qui me permette de trouver un meilleur emploi. Tout ce que je sais faire aujourd’hui, c’est des services généraux. Mon mariage a été le plus beau jour de ma vie. Avec l’argent que j’avais économisé pendant des années, j’ai réalisé mon rêve : me marier avec un voile et une couronne. Ce fut le plus beau jour de ma vie. Je me suis sentie complètement réalisée en voyant mes parents fiers de moi. Je me suis mariée à l’église, avec voile et couronne de mariée. Je me suis mariée vierge. Quand la partie pratique du cours a commencé, c’était vraiment bien. On pense que cuisiner c’est simple. Chez soi, c’est simple mais quand on travaille avec un chef, avec des gens qui ont étudié, on doit connaître les Alors j’ai appris que je ne devais pas baisser les bras, que je devais poursuivre mes rêves, et ce projet est là pour ça. bases du métier. Avant d’en arriver aux aliments, il faut connaître un tas de règles. Et tout ça fait partie des arts culinaires, il faut travailler la théorie et la pratique. Aujourd’hui je me rends compte que je suis capable d’étudier, que je pourrais étudier ce que je veux, qu’il me suffit de croire en moi-même. Le projet Mille Femmes est venu me montrer que je suis capable, que je ne suis pas qu’une ménagère, que je peux faire autre chose que travailler dans les cuisines des autres à laver des assiettes ou des toilettes ! Non ! J’ai bien plus de potentiel que ça ! En ce qui concerne l’éthique, j’ai appris que les droits sont pour tout le monde. J’ai appris que j’ai le droit d’étudier, que je suis une citoyenne égale aux autres, qu’il ne me manque que l’occasion et que ce n’est pas de faute. Avec toute cette inégalité qui existe aujourd’hui, les plus riches veulent s’enrichir encore plus et en conséquence, les plus pauvres sont de plus en plus pauvres. Alors j’ai appris que je ne devais pas baisser les bras, que je devais poursuivre mes rêves, et ce projet est là pour ça. Je vais continuer et il n’existe rien ni personne qui puisse me dire que je n’en suis pas capable, parce que moi je le sais ! Mon rêve est de terminer mon cours et de travailler dans un restaurant, ne fût-ce que Du rêve à la réalité Mille Femmes 355 Mille Femmes Du rêve à la réalité comme assistant du chef. Ce que je veux, c’est me montrer à sa hauteur parce que j’ai les compétences pour être à ses côtés et l’aider. Je veux travailler d’égal à égal. Quand j’ai appris qu’il y allait avoir un concours public pour services généraux à la mairie de Cabo, j’ai décidé de le faire. Je n’avais pas les moyens de me payer des cours particuliers alors j’ai pris les livres et j’ai commencé à étudier toute seule. J’ai fait le concours pour me tester. J’ai réussi et maintenant j’attends. J’ai toujours eu cette mauvaise habitude de me sentir inférieure aux autres. Je me disais toujours : « je ne suis pas capable, ce n’est pas pour moi. » C’est fini tout ça maintenant ! Alors je remercie beaucoup le ciel et je remercie le projet Mille Femmes de nous avoir apporté cette vision que nous sommes capables, parce que nous ne sommes pas des autruches, cet animal qui se cache sa tête dans le sable. Nous devons relever la tête et croire en nous-mêmes, croire qu’on est capable. Nous sommes des aigles, nous pouvons voler. 356 Frankelice Piauí Socorro Mille Femmes Du rêve à la réalité Teresina Celui qui visite la Vila Verde Lar quand la chaleur est à son maximum n’imagine pas que tous les ans, les habitants souffrent à cause des inondations provoquées par les crues du fleuve Poti. Située dans la zone est de Teresina, la région a été envahie en 1999 et aujourd’hui, plusieurs maisons se trouvent dans des zones de risque. Avec un fort aspect rural, des rues en terre battue, beaucoup d’arbres et par endroit, une certaine distance entre les maisons, la sensation est de se trouver dans un petit village de la campagne. Une grande partie des habitants viennent de petites villes de l’intérieur du pays, enfants ou petits-enfants de travailleurs ruraux en quête d’un avenir. Les problèmes sont les mêmes que ceux des autres banlieues du pays : manque d’assainissement, d’une politique de logement, violence et préjugés. En ce qui concerne le travail, le faible niveau de scolarité est la principale cause du chômage et du travail informel, réalité vécue par la majorité des habitantes qui ont participé au cours. Sans qualification, beaucoup ont travaillé comme domestiques la plus grande partie de leur vie. Obtenir les informations nécessaires pour établir une passerelle entre la demande du marché et les talents locaux fut l’une des actions qui ont orienté la mise en place du projet Mille Femmes à Piauí. Étant donné que cet état apparaît comme un pôle industriel de l’habillement et de la mode au Brésil, l’Institut Fédéral du Piauí (IFPI) a réalisé une étude de marché parmi les industriels et les représentants syndicaux dans le but d’identifier les pénuries et les besoins du secteur. Dans l’étude réalisée auprès des femmes de la communauté, on a constaté que beaucoup d’entre elles ont eu des contacts avec le secteur de coupe et couture dans leur enfance, quand elles voyaient et aidaient leurs mère et grands-mères à coudre les vêtements des enfants. D’autres faisaient des petites retouches, fabriquaient quelques pièces et les vendaient sur les marchés. Et c’est à partir de ces études que l’IFPI a commencé à offrir des formations dans le secteur de coupe et couture. Actuellement, l’institution a déjà effectué quelques changements dans la proposition initiale et elle donne des cours de formation dans le domaine de la confection de lingerie et de patrons de couture (modélisme). Avec ces cours, les talents acquis tout au long de la vie ont été transformés en compétences. Parmi les femmes ayant participé au premier groupe, la plupart continuent à travailler comme autonomes alors que d’autres ont réussi à s’insérer dans le marché du travail. Beaucoup rêvent de monter leur propre affaire et un petit groupe est en train d’organiser la création d’une association de production. L’action est articulée par l’Institut Fédéral et compte sur le soutien de la mairie locale. 358 Frankelice Melo da Costa Du rêve à la réalité Mille Femmes Frankelice Melo da Costa, 32 ans, est mariée depuis 12 ans et elle a trois enfants. Elle sait broder et faire du crochet, et c’est avec ces talents qu’elle contribue aux revenus de la maison. Pour pouvoir étudier, elle a été forcée d’habiter pendant longtemps loin de la famille, mais elle a la chance de pouvoir compter sur deux mamans. Il y a un peu plus d’un an, elle a découvert qu’elle avait aussi un bon potentiel pour le commerce. Confiante en elle-même et en l’avenir, elle a déjà tracé ses plans pour les dix prochaines années et parmi eux, celui de monter son atelier et de suivre un cours d’administration. Un cours comme celui que nous faisons, beaucoup d’entre nous et moi-même n’avons pas les moyens de le payer. C’est un cours que j’avais déjà cherché avant que ce projet commence, mais aucun de ceux que je trouvais n’offrait ce que je voulais, ils ne donnaient que la base : apprendre à coudre. Celui-ci enseigne ce qu’on va pouvoir 359 Mille Femmes Du rêve à la réalité 360 Le professeur nous a fait lire, puis écrire ce qu’on voulait, ce qu’on ne voulait pas, ce qu’on aimait et ce qu’on n’aimait pas. utiliser demain, à savoir couper, dessiner, répondre aux besoins des clientes pour qu’elles soient satisfaites. Je vais profiter de beaucoup de choses du cours du projet Mille Femmes. J’avais en tête un objectif et je crois qu’aujourd’hui, j’ai atteint beaucoup plus, je me suis perfectionnée. J’ai déjà appris beaucoup. Je disais que je savais couper, je prenais le tissu et je coupais n’importe comment. Aujourd’hui je le prends, je regarde le sens du fil et je vois comment couper correctement, la position de mes mains, s’il vaut mieux m’appuyer sur la table ou pas. Je prenais la machine et je pensais que je savais coudre. Avec les cours qu’on a eu, je vois que la manière dont je cousais était tout à fait mauvaise, que la position dans laquelle j’étais assise n’était pas bonne. J’avoue que j’étais une enfant très turbulente. J’ai gardé de très bons souvenirs de mon enfance. Nous étions neuf frères et sœurs et, comme tous les enfants, on jouait beaucoup. J’ai été élevée par deux mères. J’ai vécu avec ma vraie mère jusqu’à sept ans et puis je suis allée vivre avec une dame parce que là où nous habitions, il n’y avait pas d’école. J’ai vécu avec cette dame jusqu’à 20 ans, et je suis partie de là pour me marier, et c’est pour ça que je dis que c’est ma deuxième mère. Ma mère n’était pas du genre à embrasser et à donner des bisous, mais j’affirme qu’elle a été l’inspiration pour tout. Elle l’est encore aujourd’hui. C’est elle qui m’a encouragée à travailler ; nous avons commencé très tôt à travailler. Et elle disait : « Demain vous en serez récompensés ». On arrivait là pour les vacances, en pleurant et elle disait : « Retournez et continuez ». Tous ce qu’on a appris nous est utile. Nous avons eu des cours de dessin et de texture. Nous n’avons pas encore terminé les maths, ni le portugais, ni l’histoire de la mode. Le cours d’éthique a été très bon parce qu’il nous a aidé à penser aux droits que nous avons, aux devoirs, comment agir dans certaines situations. Tout ça aide beaucoup ; des choses auxquelles je n’avais jamais pensé. Et maintenant je prends le temps d’y penser. Pour moi qui ne savais même pas dessiner un ballon, je vois un vêtement et j’imagine comment je ferais pour le dessiner. Au cours de dessin on apprend comment on peut le composer parce que la professeure a expliqué les vêtements partie par partie, la manche, la poche, le col. La professeure a enseigné beaucoup de choses qu’on peut utiliser au quotidien. Aujourd’hui, je peux dire que je suis capable de reconnaître un tissu. On a appris à reconnaître un tissu, s’il est synthétique. Ça va nous aider parce qu’on saura expliquer à un client de quel tissu il s’agit. Le professeur nous a fait lire, puis écrire ce qu’on voulait, ce qu’on ne voulait pas, ce qu’on aimait et ce qu’on n’aimait pas. Tout ça a fait en sorte que je me suis redécouverte. Cela fait penser comment on peut faire des choses bonnes pour soi-même. Quant à moi, le cours m’a aidée de toutes les façons. Et j’ai vu que j’étais capable de faire des choses que j’avais pratiquement oubliées. Et pas seulement mon talent pour broder et faire du crochet, non, mais que j’avais du talent pour d’autres choses. Je me suis redécouverte en tant que personne ; que je suis compétente, que j’ai du talent. Alors ça m’a fait regarder vers l’avenir, le futur, des choses excellentes, aussi bien pour moi que pour ma famille. Je crois que je me suis sentie plus femme. Je n’ai pas terminé le secondaire ; j’ai arrêté en deuxième année. Mais j’aimerais beaucoup terminer mes études ; j’aimerais obtenir un diplôme parce que j’ai découvert que j’ai beaucoup de talent pour la gestion. Il y a de ça un an plus ou moins. Vous savez, ces idées qui vous viennent en tête ? Comme j’avais peu d’argent, j’ai offert ce que je ne savais pas faire et je l’ai vendu. J’ai transformé 50 réaux en 150. Personne ne veut le croire, mais j’ai réussi. J’ai triplé le montant. Un argent très bien investis. J’ai appris à faire du crochet avec une voisine. Depuis lors, j’ai déjà acheté une machine à coudre parce que j’en avais besoin pour coudre quelques pièces. Je sais déjà coudre à la machine. Actuellement, j’arrive à gagner environ 350 réaux le mois où les ventes sont bonnes. Alors, j’aimerais faire un jour un cours d’administration. Du rêve à la réalité Mille Femmes 361 Mille Femmes Du rêve à la réalité 362 Des projets comme celuilà sont très rares ; tout au moins ici, je n’en connaissais aucun. Aujourd’hui je suis sûre de ce que je veux pour l’avenir. Je souhaite continuer à faire ce que je fais. Dans dix ans, je voudrais pouvoir me considérer une femme de succès, être reconnue pour mon travail, avoir ma propre affaire, monter mon atelier et avoir une stabilité financière. Je veux gagner ce qu’il faut pour avoir une vie confortable. Mes enfants au collège, et moi ayant terminé la mienne. Des projets comme celui-là sont très rares ; tout au moins ici, je n’en connaissais aucun. Vous voyez qu’il y a beaucoup de femmes qui restent chez elles à ne rien faire sinon suivre leur train-train quotidien, s’occuper du mari, de la maison, des enfants, et il n’existe pas quelque chose comme ce projet pour leur donner une formation. Ce serait quelque chose qui aiderait beaucoup de gens qui ne pourraient pas payer, qui n’ont pas les moyens de subvenir à leur besoins. Si les gens avaient un cours pour se qualifier : Mon dieu ! Ce serait trop bon ! Je dis que ce serait dommage de ne pas investir plus. Selon moi, s’il y avait plus d’investissements, ce serait encore mieux. S’il y avait d’autres projets comme celui-ci, cela sauverait beaucoup de gens de la misère. Je pense que quand je terminerai, je serai qualifiée et j’aurai même le courage d’aller frapper à la porte d’une entreprise en disant : « Holà, j’ai besoin d’un emploi. Voici mon certificat du cours de formation ». Ce sera bon pour moi et j’espère que d’autres réussiront également à atteindre leur objectif de réalisation. Maria do Socorro Costa Du rêve à la réalité Mille Femmes Maria do Socorro Costa a du courage à revendre pour faire face aux nouvelles situations. Après ne pas avoir été payée par son patron quand elle était domestique, elle a décidé que ça suffisait et elle a appris à coudre avec sa sœur. Il y a un peu plus d’un an, elle a déménagé à Goiás avec son mari pour tenter sa chance. Dans ses bagages, elle a emporté la peur de la nouveauté, la nostalgie de sa famille et sa compétence pour coudre, qu’elle a apprise pour répondre aux besoins de la vie et qu’elle a améliorée un peu plus avec le projet. Elle a trouvé un emploi, sondé le marché et aujourd’hui, elle travaille à son propre compte. Femme, quand tu apprends quelque chose, vas-y à fond. Au Piauí, il n’y a pas grand-chose, tout est pour les hommes. Alors quand apparaît un encouragement destiné aux femmes, quand elles découvrent qu’elles savent, elles y vont à fond. Et elles donnent un avenir meilleur à leurs enfants, elles achètent une chose ici et une 363 Mille Femmes Du rêve à la réalité 364 autre là, elles aident leur mari, elles arrangent la maison. Je trouve que c’est très important. L’histoire de ma vie est la suivante : je suis née dans l’intérieur du Piauí, à Pimenteiras. Plus tard, nous sommes allés habiter à São Miguel dos Tapuios où je suis restée jusqu’à 15 ans. Mon père était agriculteur et ma mère aussi. Nous avons toujours travaillé, nous étions 11 frères et sœurs. Aucun de mes frères aînés n’a eu l’occasion d’aller à l’école. Ce n’est qu’après ma naissance et celle de deux frères plus âgés qu’on est allé vivre en ville et qu’on a commencé à aller à l’école. Mais mon père nous faisait alterner : les uns y allaient une semaine et les autres restaient à la maison pour aller travailler aux champs avec lui. La vie était très dure pour nous. Il y avait des jours où on n’avait que des fèves à manger, sans assaisonnement, rien qu’un peu de sel. Et je n’aimais pas ça ; j’ai toujours voulu progresser, travailler. À 14 ans, j’ai encore tenté de travailler en vendant des petits trucs. Je vendais du persil, des poivrons. Je faisais de tout pour avoir quelque chose. À 15 ans, je suis allée à Teresina pour travailler comme domestique. Entre 2003 et 2004, j’ai travaillé dans une maison durant un an et cinq mois et mon patron ne m’a pas payée pendant cinq mois. J’y comptais beaucoup parce que je voulais acheter ma maison, améliorer ma situation, parce que je rêvais d’avoir un enfant. J’ai été dégoûtée et j’ai décidé qu’à partir de ce moment-là je travaillerais à mon propre compte, que je ne travaillerais plus chez personne. Ma sœur a suivi un cours de coupe et couture au Senai mais je n’ai pas pu me le payer. Elle allait travailler et moi aussi : je faisais le ménage chez elle, je lavais, je faisais la lessive, je préparais les repas, je faisais tout pour que quand elle arrive elle ait le temps de m’apprendre à coudre. J’ai appris, j’ai acheté une machine à coudre à crédit avec l’aide de mon mari. J’ai beaucoup travaillé à coudre les petites pièces que j’allais vendre au marché, en montant les rues, en poussant mon vélo, avec mon enfant, avec beaucoup de difficulté. J’ai 29 ans. Je me suis mariée à 21 ans. Depuis lors, je vis de la couture. Et alors le projet a été mis en place. Au début je pensais : tout ce qui apparaissait dans notre quartier ne durait pas longtemps – les gens parlent beaucoup, font beaucoup de choses et ensuite disparaissent, il n’y a plus rien. Là à Piauí, je travaillais pour vendre au marché, je fabriquais mes petites pièces et je les vendais, aussi à des personnes qui les revendaient. Du rêve à la réalité Mille Femmes Et je pensais que le cours allait être comme ça, mais je me suis inscrite, j’ai appelé ma sœur et nous y sommes allées. J’ai été très heureuse d’avoir ce cours dans notre vie car, comme le disent beaucoup de collègues, il remote notre estime de soi, parce qu’on veut grandir, avoir une vie meilleure. Je vivais ma petite vie, je cousais et j’allais au marché. Aujourd’hui je vise plus haut. J’ai beaucoup progressé dans ma profession parce que je sais déjà travailler avec des machines industrielles. Je sais faire plus que ce que je faisais. Auparavant, je ne fabriquais que des sous-vêtements pour enfants. Maintenant je fais déjà des tee-shirts, des robes. Avec le peu que j’ai appris au cours de modélisme, je sais couper une robe, un tee-shirt et j’apprends à faire des patrons. J’ai aussi appris à découper un patron, à faire un patron et ma couture est bien meilleure. Cette robe de mariée en patchwork, nous l’avons entièrement faite1, comme la professeur nous l’avait appris. Et on a vu que coudre des petits morceaux ensemble, ça donne une chose merveilleuse, un vrai spectacle. J’ai appris le nœud de couturière que je ne savais pas faire avant. J’ai appris à copier un patron d’une revue. Là à Piauí, je travaillais pour vendre au marché, je fabriquais mes petites pièces et je les vendais, aussi à des personnes qui les revendaient. Ici à Goiás, les choses ont changé. Je prends du travail et je le fais chez moi ; je ne dois plus courir au marché avec un grand sac sur la tête. Je couds à ma façon : les tee-shirts viennent découpés et imprimés en sérigraphie et je les met ensemble et j’obtiens un morceau complet. 1. En novembre 2009, les élèves du premier groupe ont apporté des vêtements fabriqués selon la technique du patchwork, entre autres une robe de mariée, pour les exposer au Ier Forum Mondial d’Éducation Professionnelle et Technologique. 365 Mille Femmes Du rêve à la réalité C’est une occasion unique. J’ai appris beaucoup de choses que je mets en pratique aujourd’hui. Ce projet aide à changer la vie. 366 Mon rêve c’est de mettre sur pied mon atelier. Je voudrais avoir une fabrique de tee-shirts – la sérigraphie pour mon mari, et moi à la couture – et monter notre affaire, pour qu’aucun de nous, ni même mon enfant ne doive travailler pour les autres. J’ai deux machines industrielles. J’ai l’intention de continuer à prendre des cours. L’année prochaine, je voudrais suivre un cours de modélisme. J’ai l’habitude de dire à mon bébé que quand il sera grand et qu’il étudiera à l’université, je lui achèterai une voiture pour y aller. On ne rêve que de ça, se développer, grandir. Je rêve de pouvoir donner un avenir meilleur à mon enfant, de pouvoir aider ma mère, mes frères et sœurs. J’ai deux frères malvoyants. Alors on rêve d’avoir quelque chose pour pouvoir aider les autres. La seule opportunité pour des femmes qui vivent dans les banlieues, c’est d’avoir un programme de ce genre. C’est une occasion unique. J’ai appris beaucoup de choses que je mets en pratique aujourd’hui. Ce projet aide à changer la vie. Joana Rio Grande do Norte Josirene Mille Femmes Du rêve à la réalité Assentamentos1 de Canudos, Aracati, Bebida Velha, Modelo I et II Loin de la ville, la vie des élèves des assentamentos1 se répète et se perd dans les travaux ménagers et aux champs. Le paysage est celui du sertão : la terre est sèche, le vent soulève et emporte la poussière, le soleil est brûlant, la végétation est rare. Quand l’hiver est bon, il y a abondance. La terre produit des haricots verts, du maïs, du manioc, des gombos et des concombres. Quand la pluie est peu abondante, il faut économiser l’eau et la nourriture, quand il y en a. Les hommes essaient de trouver des petits boulots dans les environs, ils cassent des pierres. Les femmes restent à la maison. 1 1 Assentamento Modelo II Au Rio Grande do Norte, le projet s’occupe de cinq communautés, quatre qui vivent sur des assentamentos et une de la commune de Touros. Travailleuses rurales, la plupart des élèves viennent de familles nombreuses, ont commencé à travailler à partir de sept ans et n’ont jamais terminé l’école primaire. À l’époque, la cinquième année c’était le maximum. Les réalités géographiques et politiques sont complexes et pour organiser les cours de qualification professionnelle et assurer l’offre éducationnelle, l’Institut Fédéral du Rio Grande do Norte a été confronté à divers problèmes, depuis la question du transport – du fait que les communautés sont distantes les unes des autres – jusqu’au processus de dialogue et de négociation avec les organismes locaux – qui a été très long et qui doit être constant. Dans tous les assentamentos il existe une école, qui ne fonctionnait pas le soir et ne donnait pas de cours d’Éducation de Jeunes et Adultes. De sorte que pour ces femmes, étudier était une illusion. Et c’est exactement l’importance du projet dans ces endroits : assurer une offre d’éducation pour les femmes, jeunes et adultes. Avec le projet Mille Femmes, l’Institut Fédéral a négocié avec les mairies une proposition pour améliorer leur scolarité. 1. Occupations de terrain. 1 368 Les formations seront données dans le domaine de coupe et couture, du traitement et de la conservation des poissons et des aliments – fabrication de compotes, fabrication et conservation de pulpe de fruits – et dans celui de l’artisanat. En outre, les élèves participent à des conférences et des événements sur des thèmes importants pour le travailleur rural, tels que la retraite, le coopérativisme et d’autres. De cette façon, pour certaines d’entre elles, étudier fait partie de la routine. Avec des lampes de poche à la main – dans les assentamentos il n’y a pas d’éclairage public, seules les maisons ont l’électricité – elles marchent dans les rues larges, allant de maison en maison pour arriver ensemble à l’école. Là, elles affrontent leurs peurs et petit à petit, réapprennent à rêver. Joana Darc dos Santos Du rêve à la réalité Mille Femmes Joana Darc dos Santos n’aime pas beaucoup son nom, mais il semble qu’elle ait hérité le courage de l’héroïne du même nom. Avec son mari et ses trois enfants, elle a affronté la police pour garder sa terre et elle a campé sous une tente de toile pendant presqu’un an. C’est avec le même courage qu’elle affronte aujourd’hui le tableau noir. Elle en a des sueurs froides, elle tremble de tous ses membres quand elle doit y écrire quelque chose, mais elle y va. Elle écrit déjà son nom devant tout le monde et quand le professeur fait circuler la feuille de présence, elle est la première à signer. Et Joana continue son chemin. Je n’aime pas beaucoup mon nom parce que quand il se passe quelque chose avec moi, les gens me disent : « Va chez la mère Joana ! » [rires]. Mon mari est agriculteur et quand il ne pleut pas, il fait des petits boulots. On vit plus des revenus que je touche de 369 Mille Femmes Du rêve à la réalité 370 Parfois, je ne sais pas tenir mon crayon comme il faut, mais j’apprends. J’ai encore si peur du tableau noir... la Bourse Famille, c’est ma contribution. Je reçois 200 réaux. Ça nous vient bien à point, c’est essentiel pour nous parce que nous sommes neuf et aucun d’entre nous a un emploi fixe. De nos jours, celui qui n’a pas été à l’école n’a rien, parce que tout dépend des études. J’ai eu cette occasion avant et je n’en ai jamais profité, et aujourd’hui ça me manque. Parce que si j’avais étudié, qu’est-ce que je serais devenue ? J’aurais fait un concours de la mairie, que j’ai d’ailleurs fait mais je n’ai pas réussi. Mais j’aurais eu mis toutes les chances de mon côté ! Mes parents se sont séparés et ma mère avait emporté mon acte de naissance. Plus tard, quand j’avais neuf ans, mon père a obtenu les papiers mais je ne voulais pas aller à l’école. Au début j’y suis allée, mais mes collègues se moquaient de moi parce que je ne savais ni lire ni écrire. Ça m’embêtait et je n’ai plus voulu y aller. J’ai finalement laissé tomber. J’attends beaucoup de ce programme. J’espère pouvoir terminer mes études et ne plus jamais m’arrêter d’étudier, parce que si j’avais étudié, je pourrais offrir plus de confort à mes enfants ; parce qu’une mère veut ce qu’il y a de meilleur pour ses enfants. Le programme offre plusieurs cours, je vais choisir un de ces cours pour voir si je parviens à me qualifier. J’aime cuisiner et je pense que c’est celui-là que je vais suivre. Je vais beaucoup étudier et ne rien lâcher. Je ne veux pas perdre cette occasion, je veux en profiter et insister jusqu’à ce que j’y arrive, parce qu’on arrive à tout avec de la volonté. Pas vrai ? Je veux aussi servir d’exemple à mes enfants. J’ai sept enfants et comment est-ce que je pourrais les encourager à étudier si moi-même je ne Si on rassemble un groupe et que toutes ont le même rêve ensemble, tout le monde va viser cet objectif ! Ça stimule plus encore. montre pas d’intérêt pour mes études ? Je ne veux pas qu’ils deviennent ce que je suis : une personne sans études, qui ne connaît rien. Et de nos jours, on ne parvient à quelque chose que si on fait des études. Par rapport à ce que j’étais ? J’apprends petit à petit. Parce que c’est une culture différente. Parfois, je ne sais pas tenir mon crayon comme il faut, mais j’apprends. J’ai encore si peur du tableau noir... et j’ai tellement froid dans le dos quand on m’appelle pour aller au tableau. Ah mon Dieu ! Mais je suis en train de perdre cette peur et j’affronte la vie ! Mon mari rêvait d’avoir un bout de terrain pour y travailler. Au début, je voulais qu’il renonce à cette idée. Quand il m’a dit qu’il y avait la police, je lui ai dit : « Oublie ça parce que ça ne va marcher ! », mais il m’a répondu qu’il n’allait pas renoncer. Alors quand j’ai vu qu’il n’allait pas renoncer, j’ai bien été obligée de l’accompagner. Nous sommes venus ici en 1995, on vivait dans des tentes en toile. C’était tellement dur ! Imaginez-vous : on était ici et la police arrivait et nous expulsait. On partait de là avec notre barda sur la tête, ils nous chassaient de la ferme. Plus tard, on revenait. Je suis venue avec mes enfants ; j’avais trois enfants à l’époque. Pendant la journée, il faisait horriblement chaud, et il mettait les enfants à l’extérieur pour dormir. Il plantait quelques pieux et mettait le hamac à l’ombre. Quand la nuit venait, il mettait tout le monde à l’intérieur parce qu’il faisait trop chaud. Cette lutte a duré un an. Après, on s’est inscrit au registre et nous avons construit une maison en torchis. Avec beaucoup de sacrifices, mais ça valait la peine. Je voudrais que les choses s’améliorent dans ma communauté, qu’il y ait plus de médecins, qu’il y ait un roulement, de meilleures conditions de vie ici, parce que je n’ai pas l’intention de partir d’ici pour aller vivre en ville. Parce que la ville attire beaucoup de violence, surtout pour ceux qui ont des enfants en bas âge. J’ai très peur de les faire vivre en ville et de détruire leur vie. Je préfère vivre dans ma communauté, mais j’aimerais que les choses s’améliorent, que les gouvernements s’occupent un peu plus de nous et nous fournissent plus de ressources : une manière de trouver un emploi, de vivre mieux dans notre camp, ici dans la région. J’apprends à écrire. J’ai été à l’école jusqu’en quatrième mais je ne sais pas bien lire. Je lis quelques mots mais je me trompe beaucoup. Je fais des efforts parce que je sais mieux écrire que lire. J’étais très nerveuse quand on me demandait de signer mon nom. Je sais écrire mais supposons que je sois Du rêve à la réalité Mille Femmes 371 Mille Femmes Du rêve à la réalité dans une banque et que quelqu’un me demande comme ça : « Vous signez, madame ? ». Je tremblais intérieurement parce j’avais peur de mélanger les lettres. Parfois je disais que je ne savais pas écrire, juste pour signer avec mon pouce et ça allait plus vite. Tous les jours, quand le professeur fait circuler la feuille de présence, je suis une des premières à signer. Maintenant je signe mon nom sans problème. J’ai appris un peu de tout, même des mathématiques ! J’ai bien aimé les conférences de l’IF sur le coopérativisme, je ne suis pas sûre du terme, mais j’ai bien aimé cette conférence. Plusieurs choses ont changé dans ma vie, parce qu’avant je ne savais pas signer mon nom correctement et j’avais peur de devoir signer, de me trompais ; je me sentais mal à l’aise et j’étais très gênée. Mais maintenant c’est du passé. S’il passe quelque chose à la télé, je sais déjà le lire sans demander aux autres de me le lire. Ça me permet d’apprendre plus sur des choses que j’ignorais. Tout ça c’est venu après le projet. Je pense que c’est grâce à l’encouragement et aux propositions d’amélioration. Si on rassemble un groupe et que toutes ont le même rêve ensemble, tout le monde va viser cet objectif ! Ça stimule plus encore. Et tout ça pour un seul et même objectif : s’améliorer personnellement. 372 Josirene Francisca de Almeida Du rêve à la réalité Mille Femmes Josirene Francisca de Almeida a 54 ans et douze enfants. Travailleuse rurale depuis qu’elle a sept ans, elle habite dans l’assentamento Modelo II et fait partie des statistiques de femmes que sont restées aux côtés de leur mari au cours de la lutte pour la terre. Son rêve ? Apprendre plus. Et elle ne faiblit pas quand quelqu’un lui dit que son temps d’étudier est déjà passé. Elle a eu très peu de temps pour les études d’ailleurs. Née dans une famille de 12 enfants, l’urgence de subvenir aux besoins était une priorité. À partir de sept ans, elle devait se partager entre les champs et les cahiers, et les échecs scolaires ont petit à petit miné sa disposition. Elle a fini par abandonner l’école. La première rencontre des élèves avec les professeurs, le premier jour en salle de classe... l’émotion fut grande, très grande. Je me suis sentie très émue quand on a passé le premier devoir au tableau. Ça m’a rappelé quand j’allais au collège à 373 Mille Femmes Du rêve à la réalité Je sais déjà lire et écrire. On découvre des choses qu’on ne connaissait pas. J’adore ça. sept ans. Je me suis sentie comme si j’étais redevenue enfant. Cela faisait 35 ans que je n’avais pas copié de devoir d’un tableau. Ça a été très bien ! Et c’est toujours aussi bien. J’ai acquis plus d’expérience. J’ai appris plus de choses en géographie, en mathématiques, en études sociales. J’ai bien aimé les cours et les voyages au Cefet. Je les ai beaucoup aimé aussi, c’était très bien, on a appris des trucs en plus. J’aimerais suivre le cours de professionnalisation en coupe et couture. Mes parents étaient agriculteurs et le sont encore aujourd’hui. À sept ans, j’ai commencé à travailler dans les champs. J’étais déjà debout à six heures et demie du matin. Puis je travaillais jusqu’à dix heures et demie, et à onze heures je rentrais à la maison pour être à l’école à une heure et demie. Je me sentais fatiguée mais à l’époque les parents ne voulaient pas savoir si les enfants étaient fatigués. Il fallait y aller, il fallait obéir, il fallait travailler ! J’ai étudié jusqu’en troisième. J’étais en retard dans mes études, je ne réussissais pas à la fin de l’année, j’étais recalée. Ça a duré jusqu’à mon mariage et puis j’ai tout laissé tomber. Je me suis mariée à 16 ans et j’étais en troisième. 374 J’ai décidé de recommencer à étudier parce que j’ai perdu beaucoup de choses dans ma vie. Le peu que j’ai appris n’était pas suffisant pour moi. Je voudrais apprendre plus, comprendre plus, savoir mieux lire pour apprendre davantage. J’aime beaucoup le projet. Pour moi, plus j’apprends, mieux ce sera. Je sais déjà lire et écrire. On découvre des choses qu’on ne connaissait pas. J’adore ça. Je me souviens que j’éprouvais des difficultés pour écrire, plus que pour lire. Trop de mots, trop de lettres, je ne parvenais pas à écrire correctement. Maintenant je connais toutes les lettres, je sais tout écrire correctement. Les professeurs sont excellents, j’aime beaucoup mes professeurs. J’habite ici depuis 15 ans et j’ai 12 enfants. Six habitent avec moi et six vivent ailleurs. Quand je suis arrivée ici, c’était la brousse. Par après les gens ont débroussaillé le terrain et construit les maisons. Je n’ai pas vécu sous la tente, je suis arrivée après la construction des maisons en torchis, parce que j’avais des enfants en bas âge qui allaient à l’école là où j’habitais. Mon mari a décidé de venir ici parce que là où on habitait c’était en ville, à CearáMirim, alors que lui il était né et avait grandi à la campagne et qu’il n’avait pas de terre pour travailler. C’est pour ça qu’il a cherché un camp et qu’il est devenu un assentado, pour travailler et subvenir aux besoins. Il travaille dans l’agriculture, dans les champs. Cette année n’est pas bonne parce qu’on n’a pas eu d’hiver et quand il n’y a pas d’hiver, il n’y a pas d’abondance. Lorsqu’ une enfant commence à travailler en bas âge, quand elle arrive à 40 ans elle est déjà très fatiguée. Et c’est mon cas et celui de beaucoup de gens. Et je travaille encore dans les champs. Quand l’hiver arrive, il faut planter, il faut récolter. Quand ce n’est pas l’hiver, je reste à la maison, je m’occupe du ménage et des enfants, je fais la lessive, je cuisine et je nettoie. Le soir est réservé pour aller à l’école. Je me sens fatiguée mais faut y aller. Il Du rêve à la réalité Mille Femmes 375 Mille Femmes Du rêve à la réalité Je pense qu’étudier améliore les connaissances ; c’est grâce aux études qu’on peut avoir une meilleure vie. y a des fois où je somnole en classe. Alors la professeure dit : « Dona Josirene ! » – « Je suis ici, professeur ! » je réponds. Fatiguée, mais je suis présente [rires]. Étant donné mon âge, je ne peux pas trop rêver, mais juste apprendre plus, connaître plus de choses. Je sais que je n’aurai pas de diplôme. Mon mari dit : « Josinha, à ton âge, tu étudies encore ? Ce que tu devais apprendre, tu l’as déjà appris ! ». Alors moi je réponds : « Mais je veux en apprendre plus ! ». Je sais que je n’aurai jamais de diplôme de médecin ni d’ingénieur. Je pense que ce projet est important. Je pense qu’étudier améliore les connaissances ; c’est grâce aux études qu’on peut avoir une meilleure vie. Certaines d’entre nous veulent être vétérinaire, d’autres rêvent d’être nutritionniste. Chacun a son rêve, pas vrai ! Si je pouvais avoir un diplôme, je choisirais d’être psychologue parce que je trouve que c’est un très joli métier, et la première personne avec qui je parlerais serait mon fils, parce qu’il est très nerveux, très agité. Il étudie et il est intelligent mais il a eu beaucoup de difficulté pour arriver en première année. Il passait plusieurs années dans la même classe. 376 Celly Rondônia Filomena Mille Femmes Du rêve à la réalité Ji-Paraná Jardim dos Migrantes et Novo Ji-Paraná sont les deux quartiers qui ont bénéficié du projet Mille Femmes et de l’arrivée de l’Institut Fédéral dans l’État de Rondônia, inauguré en 2008. À Ji-Paraná, qui se trouve à 373 km de Porto Velho, la capitale de l’État, le campus a cette odeur particulière de bâtiment neuf – il est entré en opération en 2009 – et mieux encore : ses portes sont ouvertes à une communauté qui n’a jamais eu accès à une éducation professionnelle. Là, le processus d’extension du réseau fédéral d’éducation professionnelle et technologique saute aux yeux, mais il existe de nombreux défis parmi lesquels celui de mettre sur pied une offre éducationnelle qui réponde aux besoins et à la vocation de la région, et qui respecte et intègre des citoyens qui, durant des dizaines d’années, sont restés en marge du droit et de l’accès à l’éducation. Les communautés qui profiteront du projet sont voisines l’une de l’autre et ressemblent encore à des zones rurales. Il existe peu de magasins, les maisons sont à une certaine distance les unes des autres, il n’y a pas d’assainissement de base, un éclairage public précaire et quand il pleut, la boue envahit les rues et rend très difficile la circulation. Dans les quartiers, il est facile de rencontrer des élèves qui viennent de tous les coins du Brésil. Les histoires de ces femmes s’entremêlent de telle manière qu’elles pourraient être de la même famille. À vrai dire, elles pourraient être celles de n’importe laquelle des 14 communautés où se trouve le projet Mille Femmes. Le travail infantil, le manque de temps pour l’école, la violence domestique, le manque d’estime de soi et la dévotion de s’occuper des enfants sont d’autres points communs. Là, le Mille Femmes ne fait que commencer. Jusqu’à la fin janvier 2011, date de la clôture de cette publication, elles n’avaient eu que quelques cours en novembre et décembre 2010. C’est pourquoi elles parlent ici de leurs attentes. La formation sera donnée dans le domaine de l’artisanat et des bijoux bio, et l’Institut Fédéral est à la recherche de partenaires pour garantir l’élévation de la scolarité et la commercialisation des produits qui seront élaborés par les élèves. La promotion du dialogue et de l’accès de la communauté au campus constitue une action inédite dans cette région et dans l’avenir, elle devra produire d’autres développements. La plupart des élèves travaillent comme domestiques et leur rêve est d’avoir un emploi meilleur pour assurer une perspective d’avenir à leurs enfants. 378 Celly Santos Silva Celly Santos Silva a 25 ans et quatre enfants de deux mariages. Durant son enfance, elle a travaillé dans les champs et dans une maison de famille pour aider à élever ses frères et sœurs. Encore adolescente, elle a eu des enfants, le premier à 14 ans et depuis, elle n’a plus eu le temps d’étudier. Son rêve, comme celui de la plupart des femmes, est de progresser pour aider ses enfants. Contrariant aux prévisions de sa mère, Celly a l’intention d’étudier davantage. Du rêve à la réalité Mille Femmes 1. La commune a été créée avec le nom de Seringueiras par la Loi nº 370, du 13 février 1992, signée par le gouverneur Oswaldo Piana Filho. J’ai été à l’école jusqu’à la cinquième année. Mon rêve est de terminer mes études. Je crois que c’est là une occasion à ne pas manquer, à laquelle il faut s’accrocher de toutes ses forces et avec toute sa volonté. C’est une opportunité pour sortir de la vie que j’ai vécue jusqu’à présent. Je n’ai par exemple pas eu beaucoup d’occasion d’étudier. Nous habitions à Seringueiras1. Nous étions six frères et sœurs. Là, les gens n’ont de l’argent qu’une fois par an. Il y a des machinistes qui achètent 379 Mille Femmes Du rêve à la réalité 380 le café et durant l’année on peut leur emprunter de l’argent. Je me souviens que mon père s’est suicidé à cette époque. Il a bu du poison parce qu’il devait beaucoup d’argent. J’avais un frère qui se droguait et mon père faisait de tout pour qu’il ne vole pas. On avait une dette de 240 sacs de café. Ma mère a hérité de cette dette. Et j’ai dû trouver une manière de gagner de l’argent en plus pour aider ma mère. J’ai quitté la maison à 11 ans pour aller travailler chez les autres. À cette époque-là, à la seule chose à laquelle je pensais était d’arrêter de travailler chez les autres et d’avoir ma propre maison, mais je ne pensais pas aux problèmes que pourrait me poser le fait de trouver un mari. Je ne savais pas comment éviter de tomber enceinte, je n’avais personne avec qui parler à ce sujet. J’étais encore très jeune quand je suis partie vivre avec un homme. J’avais 13 ans. Alors il a commencé à me battre ; s’il rentrait à la maison – il travaillait dans les champs – et qu’il y avait quelque chose qui n’était pas à sa place, il nous tapait dessus, sur moi et les enfants. J’ai eu deux enfants de lui. Je voudrais terminer la troisième année et suivre une formation de technicienne infirmière et si Dieu le veut, devenir pédiatre. Du rêve à la réalité Mille Femmes Je me suis enfuie à Ji-Paraná. Les enfants et moi sommes partis en emportant seulement les vêtements que nous avions sur nous et nous sommes allés chez ma mère. J’avais 16 ans et j’ai recommencé à travailler chez les autres pour aider ma mère à subvenir aux besoins des enfants, parce que ce que je gagnais ne me permettait pas de les entretenir toute seule. Avec le projet Mille Femmes, j’espère suivre un cours qui me permettra de trouver un emploi qui ne soit pas celui de domestique. Je voudrais gagner l’argent pour pouvoir terminer mes études : terminer la troisième année et suivre une formation de technicienne infirmière et si Dieu le veut, comme technicienne infirmière je voudrais parvenir à payer l’université pour devenir pédiatre. J’ai aimé les cours. Jusqu’à présent, on a beaucoup discuté dans le but de connaître les collègues du cours, mais j’aime beaucoup tout ça. J’avais un peu peur au début, mais avec les explications du professeur, la peur est passée. C’est plus facile que je ne le croyais ; j’avais très peur d’utiliser l’ordinateur, d’effacer des programmes, mais c’est fini maintenant. Je me considère une personne simple, qui ne connaît pas grand-chose. Je suis une personne gaie, une personne pleine de vie. Je me considère très 381 Mille Femmes Du rêve à la réalité D’ici dix ans, j’imagine avoir une maison confortable, et ça peut même être là où j’habite. courageuse car je n’ai pas peur d’affronter la vie. Il y a des gens qui devant n’importe quel obstacle disent : « Pour moi ça ne marche pas, ce n’est pas possible ». Recommencer à étudier peut changer complètement ma vie. Elle peut changer ma vie, elle peut changer celle de mes enfants. D’ici dix ans, j’imagine avoir une maison confortable, et ça peut même être là où j’habite. Mon fils aîné aura 21 ans, l’autre entre 18 et 19 ans, mon cadet aura 12 ans, et l’autre, 16 ans. Si je n’ai pas encore terminé, je devrais être en train de faire mes études et avoir un bon emploi, de manière à pouvoir aider mon aîné à faire l’université lui aussi. C’est ça que j’imagine d’ici dix ans. 382 Filomena Ferreira de Abreu Du rêve à la réalité Mille Femmes Entre les années 1970 et 1990, des milliers de travailleurs de la région Sudest ont migré vers le Nord du pays en quête de terres. L’histoire de Filomena Ferreira de Abreu est directement liée à ce processus de migration. Originaire de Minas Gerais, elle a déménagé encore enfant avec ses parents dans les environs de Ji-Paraná. Elle habitait dans une ferme et très tôt, elle a commencé à travailler dans les champs. À 43 ans et avec trois enfants, un de ses rêves est de retourner dans sa ville natale et de connaître le reste de sa famille. Un autre est celui de voir la plage. Plutôt taciturne, elle raconte que ce n’est que depuis peu qu’elle parvient à parler plus et qu’elle à l’intention de terminer ses études secondaires pour trouver un emploi meilleur et voir la mer. Ma mère a beaucoup travaillé et nous, on aidait à planter et à la récolte. Après la mort de mon père, ma mère a vendu la ferme qui se trouvait au km 12, elle a acheté une maison au Jardim dos Imigrantes et nous sommes 383 Mille Femmes Du rêve à la réalité venus ici. À cette époque, j’avais déjà 14 ans. Mais la vie est devenue encore plus dure parce que dans la grande ville, tout est plus difficile et que je n’avais pas été à l’école. À 14 ans mon frère a commencé à travailler ; ma mère travaillait dans une maison de famille et moi je m’occupais de la maison et de mes petits frères et sœurs. J’ai eu mon premier enfant à 16 ans. Ma mère ne me laissait pas sortir, alors je me suis enfuie avec le premier garçon avec lequel je suis sortie. Mon mari n’aimait pas beaucoup travailler. Alors je suis retournée chez ma mère, enceinte. Ensuite, je me suis remariée. Durant quelques temps, la vie allait mieux et j’ai eu deux enfants. Mais il buvait beaucoup, il était violent, il m’a même tiré dessus ! Je ne l’ai pas dénoncé parce qu’il m’a accompagnée dans l’ambulance et il a dit que si je parlais, il tuerait ma fille et se suiciderait. Je ne l’ai jamais dénoncé. Je me suis séparée et j’ai déménagé à Porto Velho. Et maintenant ça va faire quatre ans que je suis revenue ici. Quand j’étais petite, j’ai étudié jusqu’en cinquième année. J’aimais bien aller à l’école pour rencontrer mes amis et aussi pour apprendre. Tous les jours, la professeure choisissait deux filles pour aller préparer le repas, parce qu’il n’y avait pas de cuisinière, tout était cuit au feu de bois. On allumait le feu, on prenait des chaudrons pour cuisiner et on préparait de la soupe ou du riz au lait. Il y avait des soupes salées que je n’ai plus jamais vues ; elles venaient dans un grand paquet. Il suffisait de la mettre dans l’eau et de faire bouillir, c’était très bon. 384 Quand j’étais petite, j’ai étudié jusqu’en cinquième année. J’aimais bien aller à l’école pour rencontrer mes amis et aussi pour apprendre. À 24 ans, j’ai recommencé à étudier. J’ai fait jusqu’à la huitième année, l’école était loin de chez moi et j’arrivais fatiguée. Mon rêve est de terminer mes études et de trouver un bon emploi. Aujourd’hui je suis femme à journée, et c’est dur. Je gagne peu. Je voudrais donner une vie meilleure à mes enfants. L’un d’eux rêve de faire l’université, et je n’ai pas les moyens de l’aider. J’ai d’abord inscrit ma fille et c’est par la suite que je suis entrée dans le projet. Je trouve ça fantastique parce qu’on va apprendre beaucoup, on a déjà eu quelques leçons d’ordinateur, un tout petit peu. Je voudrais apprendre à l’utiliser. Je sais déjà l’utiliser un peu, juste un petit peu. C’était chouette, la professeure nous a mise à l’aise, mais j’avais peur d’y toucher et de le dérégler. Je me sens bien accueillie, les gens parlent beaucoup, les professeurs posent beaucoup de questions, nous demandent comment nous allons. Alors on se sent bien. Les gens nous regardent avec d’autres yeux, ils attendent plus de nous ; c’est bon, c’est très bien. Cela stimule beaucoup. C’est agréable de connaître d’autres personnes, avec d’autres idées. On apprend beaucoup avec les histoires des autres. J’ai appris qu’il faut accepter les autres avec leurs défauts ; personne n’est parfait, tout le monde peut se tromper, tout le monde a des problèmes. Du rêve à la réalité Mille Femmes 385 Mille Femmes Du rêve à la réalité 386 Je me sens bien accueillie, les gens parlent beaucoup, les professeurs posent beaucoup de questions, nous demandent comment nous allons. Ça améliore beaucoup l’estime de soi, c’est très bien pour se sentir bien avec soi même, se sentir heureuse, parler plus. J’apprends à parler plus parce que je pense que j’ai eu peu d’amies à cause de ça, parce que j’ai toujours été très timide, je ne parlais presque pas, j’étais très réservée. J’espère terminer mes études, apprendre tout ce que je peux et peut-être trouver un meilleur emploi, qui sait comme vendeuse, quelque chose comme ça, peut-être même à la mairie. À dire vrai, je voudrais réussir un concours public. Je rêve de construire ma maison et je voudrais commencer à la construire l’année prochaine. La maison que je possède est en bois et je voudrais en faire une en briques. Et j’ai un autre rêve aussi, mais je ne sais pas quand je vais pouvoir le réaliser : je voudrais aller à la plage. Je la vois souvent à la télévision. Simone Roraima Sôngila Mille Femmes Du rêve à la réalité Boa Vista Faisant frontière avec le Venezuela et la Guyane Anglaise, Roraima est utilisé comme couloir pour le trafic. Cette activité victimise plusieurs femmes qui, pour divers motifs, se font arrêter. À la prison pour femmes de Boa Vista, il y a plus de 100 détenues qui purgent leur peine, presque toutes pour trafic de drogue. Il y a des femmes de tous les âges, des jeunes filles de 18 ans et des adultes de plus de 50 ans. Originaires de différentes régions du Brésil et même d’autres pays, y compris de indiennes des ethnies macuxi et wapichana, beaucoup sont utilisées comme « mules ». À leur insu, elles sont vendues, dénoncées par les trafiquants à la police dans le but dissimuler l’entrée de cargaisons plus importantes. Certaines d’entre elles n’ont jamais participé à ce trafic, mais comme elles ne dénoncent pas leurs enfants ni leur mari, elles sont considérées complices. La prison est petite et elles sont jusqu’à quatre à partager la même cellule. Les lits sont superposés et dans toutes les cellules, il existe une petite cuisine pour préparer des petits repas. Le plus dur est de supporter la chaleur ; quelques pièces sont couvertes avec des plaques d’amiante et la sensation thermique est d’une température d’environ 50ºC. La respiration y est difficile. Le manque d’argent pour payer un avocat fait en sorte que certaines d’entre elles attendent plus de deux ans avant d’être jugées et l’abandon de leur famille en conduit plusieurs à une crise de dépression profonde. À la garderie, les pleurs et les cris des enfants les détournent du présent, il semblerait qu’on ne se trouve pas dans une prison, mais le regard et le désespoir de certaines détenues trahissent la nécessité de trouver des solutions pour l’avenir. Un jour, elles sortiront de prison. À Boa Vista a eu lieu une rencontre: la direction de la prison cherchait des alternatives d’offre d’éducation et l’Institut Fédéral de Roraima (IFRR) discutait le projet Mille Femmes. Pour permettre de développer le projet à l’intérieur de la prison, l’IF a assumé le rôle d’articulateur en sensibilisant plusieurs institutions locales, incontournables pour que les actions quotidiennes puissent avoir lieu, des plus simples comme de garantir l’autorisation de la justice pour que des fonctionnaires puissent donner des cours dans la prison, aux plus complexes comme celle d’obtenir l’autorisation et l’escorte pour le déplacement des détenues pour les leçons pratiques. Cette réunion d’efforts s’est bien terminée : quatre-vingts femmes ont été qualifiées dans le secteur des aliments et ont élevé leur niveau de scolarité. Quelques-unes ont déjà été libérées et ont trouvé du travail dans ce domaine et l’une d’entre elles a mis sur pied une affaire dans la prison pour hommes. Les organismes continuent à planifier des actions dans le but de garantir l’insertion de ces femmes dans le monde travail. Une de ces propositions est de les aider à organiser une coopérative pour qu’elles puissent fournir leurs propres repas à la prison, étant donné qu’actuellement, le Gouvernement de l’État a un contrat avec une entreprise privée chargée de le faire. 388 L’objectif est de les aider à organiser une coopérative pour qu’elles puissent préparer et fournir leurs propres repas, service actuellement en sous-traitance. Simone Pires Lopes Du rêve à la réalité Mille Femmes Née à Manaus, Simone Pires Lopes a 40 ans et elle a eu une enfance et une adolescence paisibles. Elle a eu l’occasion d’étudier, elle a terminé ses études secondaires, mais au lieu de faire l’université elle a choisi le trafic de stupéfiants. Arrêtée pour la seconde fois, Simone a assumé le rôle de représentante du groupe et aide à l’organisation de la chorale. Comme elle est évangélique, le défi de Simone est de ne pas céder à la tentation de l’argent facile quand elle aura purgé sa peine. Son rêve est d’ouvrir un magasin avec son mari qui purge aussi une peine de prison. Celle qui a commencé, qui a été jusqu’au bout, jusqu’au dernier jour, qui est montée sur l’estrade du Cefet pour recevoir son certificat, elle en sait l’importance dans la vie de chacune d’entre nous qui avons participé à ce cours. Vous connaissez l’histoire de l’étoile des rois mages, qui nous conduit vers le but ? Eh bien, c’est exactement ça le projet Mille Femmes. 389 Mille Femmes Du rêve à la réalité 390 Tout au long de ce projet, j’ai été témoin de rattrapage de quelques-unes de mes collègues. Les femmes qui y ont participé n’oublieront jamais parce qu’il nous a ouvert l’esprit et nous permet profiter de cette autre opportunité dans notre vie. Il nous a enseigné l’importance de la décision de changer de vie, de saisir les bonnes occasions qui se présentent à nous, comme ce cours par exemple. Pour celles qui l’ont déjà suivi et celles qui le suivent actuellement, il s’agit d’une opportunité à laquelle elles s’accrochent. Avec le projet Mille Femmes, j’ai appris à mettre en pratique la constatation que toute cette énergie, tout ce courage pour commettre des actes illégaux, je pouvais les canaliser d’une autre manière, avec la même énergie, le même courage, mais avec un ego plus modeste, parce qu’un ego démesuré, ça ne vous fait pas de bien. La manière de traiter les gens est très différente ; l’utilisation de l’argent, la rentabilité, parce qu’on a appris à travailler pour avoir en bénéficier. Je n’avais pas peur de la police, je n’avais pas peur des truands, je n’avais peur de rien. Je bravais tout, je jouais les gros bras, j’étais armée ; s’il me fallait tirer, je tirais. Grâce à Dieu, je n’ai jamais dû le faire, mais j’étais gonflée à bloc à ce sujet. Je me croyais la meilleure. Puis j’ai découvert que ce n’était pas vrai, que je ne n’étais rien de tout ça, bien au contraire, que j’étais vraiment idiote de penser comme ça ! Je croyais que j’étais la meilleure, mais j’étais nulle. Je n’étais qu’une sotte, qui se croyait meilleure que les autres parce qu’elle avait un peu de drogue, un peu d’argent, parce qu’elle pouvait en trouver autant qu’elle le voulait, qu’elle pouvait claquer autant d’argent qu’elle le voulait en une nuit, parce que ma vie était comme ça. Le contenu du cours est venu combler plusieurs lacunes dans notre vie. Dès le début, il a travaillé notre auto-estime, cette partie de soi-même qui est vide chez beaucoup de gens, en nous répétant comme ça : vous pouvez, vous êtes capable, vous agissez, vous changez, il suffit de vouloir. Alors quelques- Et ce cours a été utile, il est venu nous enseigner qu’on pouvait changer de vie. Il suffit de le vouloir. Du rêve à la réalité Mille Femmes unes d’entre nous ont remédié à ces lacunes. Et ce cours a été utile, il est venu nous enseigner qu’on pouvait changer de vie. Il suffit de le vouloir. Quand on se retrouve ici, en prison, tout le monde est égal. Je suis née et j’ai grandi au sein d’une très bonne famille. J’ai toujours été la petite chérie parce que j’étais la seule fille de la famille, j’ai toujours reçu beaucoup de jouets, d’attention, de câlins, toujours été dorlotée et j’ai grandi dans cette ambiance. Je suis tombée amoureuse, le fameux bandit d’amour est apparu dans ma vie. Je suis allée à Boa Vista pour y passer 15 jours et j’y suis restée deux ans. Alors j’ai commencé à faire du trafic, pas à cause de lui mais parce que je me suis rendue compte que c’était un moyen de gagner de l’argent rapidement, facilement. On est souvent pressé de réussir dans la vie. On est aveugle de penser comme ça parce que la réalité est très différente. J’avais déjà terminé le lycée, mais c’est une chose que j’ai complètement laissé tomber. J’allais entrer en faculté de sciences biologiques. Nous avons fait le cours d’entreprenariat, ce qui nous a vraiment ouvert l’esprit. Quand je sortirai d’ici, l’espoir pour moi et pour la majorité des femmes qui sont ici c’est de suivre une nouvelle voie. Cette nouvelle voie commence d’ailleurs ici même. À partir du moment où on a commencé à s’appliquer à ce cours, que certaines personnes ont commencé à faire partie de notre vie. Le projet Mille Femmes est une porte, même pour celle qui a déjà étudié. Parfois on plaisantait : « Nous sommes au rebut de la société », mais on voit qu’en dehors de ces murs, il existe des gens qui pensent le contraire, parce que 391 Mille Femmes Du rêve à la réalité Et la femme est un être humain qui, quand elle va au combat, elle n’y va pas seule. Elle y va pour l’enfant, pour le mari. les gens qui vont sortir d’ici vont entrer dans la société. Et l’espoir est justement de pouvoir gagner, parce que le préjudice en entrant ici n’est pas seulement pour nous, mais surtout pour notre famille, parce qu’on perd sa propre estime, on a honte... Participer du Mille Femmes m’a aussi montré que je ne vis pas ce problème toute seule, qu’il existe d’autres personnes autour de moi, même sans être liées par le sang, mais on se lie par l’amitié, l’affection, le sentiment. Ici même, il a fallu plusieurs fois se rassembler à la cuisine pour faire des petits-fours, préparer les repas. Et la femme est un être humain qui, quand elle va au combat, elle n’y va pas seule. Elle y va pour l’enfant, pour le mari. Quand elle cherche quelque chose, ce n’est pas pour elle seule. La femme est comme ça, elle est camarade. Je voudrais appliquer tout ce que j’ai appris. Je pense ouvrir une petite épicerie, vendre du riz, des haricots et le weekend, vendre du poulet avec de la salade et des haricots. Mon rêve est de sortir d’ici avec mon compagnon João Morais. Je pense que je suis une casserole et qu’il en est le couvercle [rires]. Un fond musical pour ma vie ? « Amour sans limite », de Roberto Carlos. 392 Sôngila Soares de Lima Du rêve à la réalité Mille Femmes Sôngila Soares de Lima, 47 ans, est ce qu’on peut appeler une femme d’affaire née. Avec son compagnon elle a monté un restaurant dans la prison pour hommes et possède aussi une échoppe où elle vend des sucreries dans la prison pour femmes. Paraense, fille d’indienne et de portugais, rester à ne rien faire est quelque chose de compliqué pour quelqu’un qui a travaillé pendant plus de 20 ans dans l’exploitation minière. À la prison, elle étudie, nettoie les stations des gardes pour diminuer sa peine et s’occupe de son commerce. Malgré tout ce qui m’est déjà arrivée, je n’ai jamais été lâche. Je suis très drôle, très populaire, très camarade, amie. Je vis avec un sourire aux lèvres. Pour moi, il n’y a jamais de problème. Je suis comme ça : une femme d’attitude, pleine d’énergie, d’action. Je ne fais pas de promesses, j’agis. Quand je décide de faire quelque chose, j’y vais et je le fais. J’ai confiance en moi. 393 Mille Femmes Du rêve à la réalité Je ne sentais pas que j’étais leur fille. Quand j’ai découvert que j’étais adoptée, j’avais 16 ans. Un jour j’ai entendu ma mère adoptive parler avec ma mère biologique. J’avais déjà vu plusieurs fois cette femme à la maison, mais je ne m’étais jamais imaginé que j’avais été adoptée. Je ne suis jamais parvenue à l’appeler maman parce qu’elle voyait qu’on me battait, elle voyait que je souffrais et elle n’a jamais rien dit ou fait. Ses propres enfants, ma marâtre ne les maltraitait pas ! En 2008, ce programme Mille Femmes a été crée ; comme j’avais déjà l’envie de suivre ce type de cours mais que je n’en n’avais pas les moyens, j’en ai profité. J’avais étudié jusqu’en cinquième et il y avait 20 ans que je n’étudiais pas. J’ai recommencé à étudier, je me suis qualifiée, j’ai appris des trucs sur l’entreprenariat, sur les mathématiques, sur l’environnement, comment travailler avec les gens, pour ouvrir mon propre commerce. J’avais une tante qui était une excellente cuisinière et pâtissière. Je restais à la cuisine à ses côtés, je la regardais faire et j’apprenais avec elle. Elle m’aimait beaucoup ; je crois que mon vrai don c’est la cuisine. J’ai beaucoup de facilité pour apprendre. Je n’ai jamais fait de trafic, j’ai toujours travaillé dans l’exploitation minière, dans des entreprises, dans des restaurants. Je cuisinais pour le patron qui était le propriétaire du terrain et pour les mineurs, et je touchais deux grammes d’or par jour. Quand j’ai commencé, l’exploitation était manuelle, c’est après que les machines sont arrivées. J’ai travaillé en Colombie, au 394 En 2008, ce programme Mille Femmes a été crée ; comme j’avais déjà l’envie de suivre ce type de cours mais que je n’en n’avais pas les moyens, j’en ai profité. Venezuela et en Guyane anglaise. Quand ils m’ont arrêtée, je venais d’arriver de Guyane. C’est là que j’ai rencontré mon compagnon et c’est ce qui m’a perdue quand je suis arrivée ici. Il m’a aidée à construire ma maison ; moi avec mon argent, mon diamant, et lui avec le sien. Maintenant j’ai un restaurant dans la prison pour hommes. Il y en avait sept, mais, grâce à dieu, le mien a été le premier lors de l’appel d’offre. J’ai suivi le cours et j’ai repassé tout ce que j’avais appris à mon mari et aux détenus. J’ai cinq employés à la prison, et il faut qu’ils utilisent une toque, qu’ils aient les mains propres, la barbe rasée, et qu’ils ne portent rien, ni montre ni bague. Je vais là tous les dimanches et quand j’arrive, ils sont tous bien rasés, parfumés. Et ils travaillent comme il le faut. J’ai écopé de 12 ans. Le juge m’a accusée de complice, il a dit que j’étais lucide, que je savais ce que je faisais, et que, comme il avait été condamné et qu’il s’était enfui quand il était en régime semi-ouvert, j’étais donc sa complice, que je l’avais caché et que je ne l’avais pas dénoncé. J’ai déjà purgé ma peine en régime fermé et maintenant je suis en régime semi-ouvert. J’ai passé huit mois sans voir personne de ma famille. Je suis mère de neuf enfants ; il y en a deux à Manaus, les autres vivent ici mais seulement une de mes filles est venue me voir. Quand on entre ici, la famille vous tourne le dos. Au début, ils venaient encore et puis, les visites ont diminué. Ça fait très mal parce qu’on se sent abandonnée. Nous étions 40 femmes, 20 le matin et 20 l’après-midi. Tous les jours, ils nous conduisaient au Senac1 pour la partie pratique de notre cours de gastronomie. J’ai beaucoup appris, j’ai fait beaucoup de progrès. Avant 1. Le Service National d’Apprentissage Commercial (Senac) de Roraima est l’un des partenaires du projet à Boa Vista. Du rêve à la réalité Mille Femmes 395 Mille Femmes Du rêve à la réalité J’ai l’intention de continuer parce que ce ne serait pas bon d’être femme d’affaires et de ne pas avoir étudié plus. de commencer à suivre ce cours, j’avais déjà une échoppe où je vendais des sucreries et je l’ai encore et ça m’aide à subvenir à mes besoins ici en prison. Je connaissais déjà plusieurs recettes mais je n’avais pas beaucoup de pratique ; les ingrédients que j’utilisais, voir le nombre de personnes, parce que parfois je préparais et il en restait beaucoup, ça se perdait. Je devais jeter le reste. J’ai tout appris au cours. J’ai appris comment travailler avec mon argent, parce que tout ce que je gagnais je le dépensais, j’achetais des choses qui ne me servaient à rien. Aujourd’hui je sais comment économiser mon argent, comment le faire rapporter. J’ai fait beaucoup de progrès en mathématiques, tout ce que je fais, je l’écris. J’ai eu plusieurs cours ici, des cours de bonnes manières, de bon comportement, de vie en société avec les gens, comment s’adresser aux gens. Ce projet sert à ouvrir des portes aux femmes qui savent cuisiner, qui veulent aller de l’avant, qui cherchent à en apprendre plus, à se développer, pour que plus tard, elle puisse ouvrir sa propre petite épicerie devant chez elle et ne pas dépendre uniquement de son mari. J’ai terminé la septième année, j’ai réussi et je vais entrer en huitième. J’ai l’intention de continuer parce que ce ne serait pas bon d’être femme d’affaires et de ne pas avoir étudié plus. Quand je sortirai d’ici, mon projet est de continuer, d’ouvrir un petit snack et un autre petit magasin chez moi, de vendre des boissons rafraîchissantes, des produits laitiers, des choses comme ça. 396 Elenilde Sergipe Valdenice Mille Femmes Du rêve à la réalité Aracaju et Nossa Senhora do Socorro Le quartier Santa Maria, aussi appelé Terra Dura, se trouve dans la région sud d’Aracaju et c’est là qu’on décharge une partie des ordures produites dans la capitale. Malgré l’interdiction du Ministère Public, selon les habitants, des familles entières tirent encore leurs moyens de subsistance des résidus venant d’Aracaju, de São Cristovão et de Nossa Senhora do Socorro. Le village de Taiçoca de Fora se trouve sur la commune de Nossa Senhora do Socorro, zone littorale de Sergipe et la majorité de ses habitants vivent de la pêche. 1 Le paysage et la manière d’assurer la subsistance de ces deux localités sont différents, mais les réalités socioéconomiques des femmes se ressemblent fort. Aussi bien à Santa Maria qu’à Taiçoca de Fora, le travail commence dès l’enfance. C’est pourquoi le niveau de scolarité est très faible. La maternité précoce et le manque de qualification professionnelle compliquent l’accès au monde du travail. 2 1 Quartier Sanata Maria 2 Taiçoca de Fora 1 2 398 En ce qui concerne les femmes de Santa Maria, le défi fut qu’elles apprennent à s’aimer. Il a fallut les rassurer, car leur estime était médiocre et les préjugés qu’elles ont vécus tout au long des années avaient été difficile à vivre. À Taiçoca de Fora, il fallut affronter la résistance des maris et la méfiance des femmes, fatiguées des promesses politiques jamais tenues. Dans les deux cas, l’objectif était d’exploiter et d’améliorer les talents qu’elles avaient acquis au cours de leur vie. Pour travailler avec ces réalités et répondre aux besoins de ces femmes, l’Institut Fédéral de Sergipe a mis sur pied des qualifications dans le domaine des résidus solides et de l’artisanat, qui ne faisaient pas partie de ses cours traditionnels. La signature de partenariats fut fondamentale pour assurer l’élévation du niveau de scolarité des habitantes de Taiçoca de Fora, pour leur offrir une formation professionnelle et impliquer les artisanes dans les foires locales et nationales. Toutes ces actions ont garanti une articulation avec divers organismes qui ont formé un réseau d’assistance, qui peut d’ailleurs être reproduit dans d’autres localités de l’état. En ce qui concerne les élèves, les résultats sont variés. Certaines des anciennes élèves ont choisi la voie de l’artisanat et elles vendent leurs produits sur les marchés. D’autres continuent à travailler à la Coopérative de Récupérateurs Autonomes d’Aracaju (Care) et il y a celles qui cherchent d’autres voies professionnelles. Les femmes de Taiçoca de Fora discutent la possibilité d’organiser une association de production. Elenilde do Espírito Santo Du rêve à la réalité Mille Femmes Outre le nom et les traits physiques, Elenilde do Espírito Santo a hérité la profession de ses parents : ramasseuse de fruits de mer. À 32 ans, elle possède une longue expérience de la mangrove et de la mer. Au cours de ses 23 ans d’expérience, elle a appris à pêcher et nettoyer les fruits de mer. Elle n’a malheureusement pas appris à les vendre, elle dépend toujours d’autres personnes. Joyeuse et objective, elle dit ce qu’elle pense sans s’inquiéter des critiques. De l’école, elle se souvient des disputes qu’elle avait avec ses collègues et aujourd’hui encore, elle ne s’en laisse pas marcher sur les pieds. J’ai beaucoup apprécié étudier l’informatique et j’aurais aimé avoir plus de cours. Au début, on avait peur de dérégler l’ordinateur et on a demandé : « Si on le casse, on devra payer ? » Mais ils ont répondu : « Non, non, vous ne devrez rien payer ! » J’ai appris à entrer sur Internet, j’étais très curieuse. Nous avons commencé à chercher un petit ami, nous avons appris à tchatcher [rires]. 399 Mille Femmes Du rêve à la réalité 400 Aujourd’hui, je sais faire des broderies avec des coquilles de moules, d’huîtres, des choses qu’on avait jamais faites, même jamais imaginées; pour nous c’étaient des déchets. Je me suis sentie heureuse de retourner à l’école parce qu’il arrive un moment où on doit apprendre, même sur le tas. Ce cours va être bon pour moi et pour enseigner à mes enfants qu’étudier c’est la meilleure chose de la vie, et qu’ils ne doivent pas faire comme j’ai fait : laisser tout tomber. Au cours de portugais, on a rédigé un texte sur notre vie, ce qu’on avait fait dans notre enfance. Mon enfance s’est passée à travailler, je n’ai pas eu le temps de jouer, mes jouets ont été mes enfants. J’ai commencé à travailler à partir de neuf ans. Ma mère nous réveillait à minuit en disant qu’il était quatre heures du matin, pour qu’on casse des coquilles. Alors je disais : « Mince alors ! Le jour ne se lève pas aujourd’hui ? ». C’était la seule solution pour nous parce qu’on ne vivait que de la pêche. On allait aussi dans la mangrove, pour ramasser des moules et des huîtres. Ma mère nous conduisait pour qu’on ne se disperse pas. Je n’ai étudié que jusqu’en troisième. Quand j’arrivais à l’école j’étais crevée ; je ne pensais qu’aux tâches qui m’attendait à la maison : laver la vaisselle, aller chercher de l’eau. J’avais 13 ans quand j’ai abandonné l’école. Et voilà, j’ai été m’occuper d’enfants et jusqu’à aujourd’hui, je m’occupe de mes enfants et je travaille en pêchant. Je fais un peu de tout, mais ce que j’aime c’est de m’occuper des enfants. Du rêve à la réalité Mille Femmes Quand je vais à la mangrove, je sors de chez moi à quatre heures du matin et je reviens entre deux et trois heures de l’après-midi. On y va en canot mais moi je ne sais pas nager. Il y a des semaines où j’ai assez de fruits de mer et d’autres semaine où ça ne donne rien. On casse aussi les coquilles des palourdes qu’on pêche en mer et on les donne à quelqu’un d’autre pour les vendre. Ça se vend au kilo à Bahia ; chaque kilo coûte cinq réaux. J’en casse de 10 à 12 kg par jour, entre quatre heures et demie du matin et huit heures du soir. Beaucoup d’entre nous manquent d’assurance et ont peur, mais avec les études, je me sens plus sûre de moi et j’ai plus confiance en moi. En salle de classe, les choses sont différentes parce qu’on s’amuse, on est plus concentrées pour apprendre, pour connaître toutes les choses intéressantes que les professeurs nous enseignent. On peut apprendre à tout âge, il suffit de vouloir. On apprend des choses qu’on n’a pas eu le temps d’apprendre dans la vie. Aujourd’hui, je sais faire des broderies avec des coquilles de moules, d’huîtres, des choses qu’on avait jamais faites, même jamais imaginées parce qu’on jetait les coquilles, pour nous c’étaient des déchets. On apprend à faire de l’art avec des coquilles de mollusques. Aujourd’hui nous savons que les coquilles qu’on jetait étaient de l’argent. J’ai beaucoup aimé le professeur de mathématiques. C’est une personne très joviale et qui veut que nous apprenions parce que c’est difficile de faire des calculs. À l’école, je n’étais pas très bonne en mathématiques, 401 Mille Femmes Du rêve à la réalité Le cours m’a aidé à avoir de la patience avec mes enfants. Maintenant j’arrive, je joue avec eux. 402 mais de la manière dont il nous l’enseigne, il nous montre qu’on est capables d’apprendre, de se développer dans la vie. J’ai appris à diviser. J’avais beaucoup de difficultés à faire des divisions, mais j’ai appris. Le cours m’a aidé à avoir de la patience avec mes enfants. Maintenant j’arrive, je joue avec eux, je vais me promener avec eux. Je vais à la plage, au centre commercial, parce que j’aime beaucoup me promener, prendre une petite bière bien glacée. J’apprends à montrer plus d’affection à mes enfants, parce que je n’ai pas eu beaucoup d’amour de la part de mes parents, pas de baisers, d’embrassades, et aujourd’hui je joue, j’embrasse, je donne des bisous, et des claques quand ils le méritent. Mes enfants ne travaillent pas. Ce sont des enfants. J’en ai un qui a dix ans, un de cinq et un de deux ans et cinq mois. Cleidiane, l’aînée, Adriano et Raquele. Quand j’aurai terminé la formation, j’espère pouvoir donner une vie meilleure à mes enfants. Grâce à mes études, au projet que je fais, j’ai l’intention de donner plein de bonnes choses à mes enfants. Valdenice Alves Du rêve à la réalité Mille Femmes Valdenice Alves n’est pas très bavarde. Réservée, elle parle peu, peut-être parce qu’elle est née avec une grande responsabilité. Elle a commencé très tôt à aider sa mère. Originaire d’Alagoas, à 10 ans elle l’aidait à vendre des crabes et d’autres fruits de mer. À 11 ans, la famille a déménagé à Aracaju où ses deux frères et elle ont travaillé très fort pendant des années dans la décharge publique de Terra Dura comme on appelle le quartier de Santa Maria, pour assurer la subsistance de leur mère. Étudier était un luxe dont elle n’a que très rarement pu profiter. J’ai bien aimé le nom du projet – Mille Femmes – parce que je me crois une personne victorieuse. Je suis prête à faire n’importe quel travail, parce que travailler dans un dépotoir depuis ses 11 ans, ce n’est pas facile. J’ai 24 ans, je suis de Maceió, mais j’habite à Aracaju depuis 12 ans. Quand on est arrivés ici, je sortais à 403 Mille Femmes Du rêve à la réalité 404 1. La Coopérative des Agents Autonomes de Recyclage d’Aracaju (Care) a été créée en 1999 dans le but de retirer les familles de la décharge publique. huit heures et je rentrais à cinq heures de l’après-midi. Parfois, je travaillais toute la nuit parce qu’il y avait beaucoup de gens qui travaillaient de nuit. Quand mon père commençait à boire, on devait se débrouiller parce qu’il ne s’arrêtait pas de si tôt et sans nous, ma mère aurait eu du mal. C’étaient les jumeaux et moi qui subvenions aux besoins de la maison. J’ai découvert le projet par l’intermédiaire de la Care1, j’étais membre de la coopérative. C’était bon de retourner dans une salle de classe après si longtemps. Ce projet a été une très bonne expérience, j’ai rencontré plusieurs personnes du quartier et j’ai beaucoup aimé les autres femmes. J’aimais la psychologie parce que la professeure nous mettait à l’aise, on se sentait bien. J’ai aimé les cours d’informatique. Il y en avait beaucoup qui n’avaient jamais touché à un ordinateur. Il y en avait une qui était si contente parce qu’elle avait appris à l’allumer et à l’éteindre. Moi aussi j’étais contente parce que je n’en n’avais jamais touché. Quelqu’un qui n’a jamais eu de contact avec un ordinateur a un peu peur d’y toucher, j’étais nerveuse. J’appelais souvent la professeure à mon secours. On se sentait comme chez soi, j’étais à l’aise et les professeurs nous aidaient beaucoup, c’étaient aussi des personnes très simples. J’ai étudié jusqu’en quatrième année. À l’époque, ce fut une voisine qui m’a inscrite. Elle a demandé les actes de naissance à ma mère et nous a inscrits, moi, mon frère, mes cousins qui travaillaient à la décharge. J’aimais bien aller à l’école, j’avais envie d’y aller. Parfois, je me sentais gênée devant mes collègues quand le bus allait nous chercher à la décharge. Elles passaient la tête par la fenêtre et nous appelaient bac à ordures. Une fois je me suis même battue avec un enfant, je lui ai marché dessus parce qu’il m’avait appelée bac à ordures. Il y a beaucoup de gens qui ont des préjugés quand on dit qu’on est de Santa Maria ou de Terra Dura. C’est une très mauvaise sensation, on se sent humilié. Même avec l’uniforme de la Care, quand j’allais au marché pour ramasser les résidus solides, ils me regardaient. Si j’avais pu, je les aurais injuriés : « Qu’est-ce que t’as à me regarder comme ça ? Ça te regarde ? Il vaut mieux travailler que voler ! » Ce genre de choses… je me disputais beaucoup à cause de ça, c’est pour ça que j’étais si révoltée. Avant le cours, je ne pensais qu’à travailler pour manger, c’est tout. Maintenant non ! Je pense à travailler pour acheter un vêtement, des souliers. Avant, je ne pensais qu’à travailler pour construire ma maison et c’est tout. Je ne pensais pas à moi. Aujourd’hui je pense plus à moi. Je crois que c’est à Après la décharge, mon deuxième emploi fut à la Care ; il s’agissait de travailler avec une chose que je connaissais déjà, c’està-dire les déchets. cause de la manière dont j’ai été élevée, parce que mon père était ainsi. Pour lui, du moment qu’il y avait du riz et des haricots, c’était bon. Je n’ai jamais eu de jouet ou de vêtement décent. C’était une vraie brute avec nous. J’ai appris à faire du fuxico2 et de l’artisanat avec du papier journal. C’était bien, il faudrait plus de classes. J’aimerais qu’il y ait une deuxième étape du projet. Je fabrique des chouchous pour les cheveux. J’en ai donné à mes nièces et j’en ai vendu d’autres. Ça se vend bien. J’ai arrêté parce que j’ai commencé à travailler chez une femme, là à Atalaia. Après j’ai quitté parce que la femme voulait que je dorme chez elle. Grâce au cours, j’ai commencé à penser plus à moi, à ma vie, à ce dont j’avais besoin. Avant j’étais toujours malade mais j’ai commencé à me soucier plus de ma santé. On prend le temps de penser à un projet de vie meilleure, à un meilleur emploi. J’ai arrêté de travailler pendant quelques années quand j’étais enceinte de huit mois, et je ne suis plus retournée à la décharge quand j’ai eu mon enfant. Je suis tombée enceinte à 15 ans et je n’avais rien prévu. Ensuite, j’ai pris mes précautions. Elle a déjà neuf ans. Je connaissais depuis toujours le père de ma fille. Après la décharge, mon deuxième emploi fut à la Care ; il s’agissait de travailler avec une chose que je connaissais déjà, c’est-à-dire les déchets. J’avais 20 ans quand je suis entrée et j’y suis restée pendant trois ans et neuf mois. J’ai quitté parce que je suis tombée malade, j’ai attrapé une infection du sang et au poumon. Lors de la remise de diplômes du cours, j’étais à l’hôpital ; j’y suis restée 13 jours. Avant, je n’avais jamais cherché de travail en dehors de la Care, j’avais peur de sortir de là et de ne pas trouver d’autre emploi. Je travaillais malade, en silence pour ne pas être renvoyée. Du rêve à la réalité Mille Femmes 2. Espèce de broderie en patchwork, fait avec des restes de tissus et de la laine. 405 Mille Femmes Du rêve à la réalité Le cours m’a aidée à mieux communiquer, parce que j’étais très réservée, je n’aimais pas parler aux gens que je ne connaissais pas. Au début c’était un peu différent parce que j’avais l’habitude de travailler d’une autre manière, rien qu’avec des déchets. Le travail de nettoyage est moins dur. Si on sépare correctement c’est mieux. On gagne plus et c’est mieux, le travail est moins difficile et on gagne plus. Je fais aussi des manucures à la maison. Le projet améliore l’estime de soi pour les femmes. Parfois, on passe par des difficultés et on relève la tête, on se met plus en valeur. J’ai déjà beaucoup souffert, j’ai déjà beaucoup travaillé dans cette vie ; alors je dois plus penser à moi. Le cours m’a aidée à mieux communiquer, parce que j’étais très réservée, je n’aimais pas parler aux gens que je ne connaissais pas. C’était bonjour, bonsoir et c’était tout ! Mais maintenant je me communique plus facilement. Le fait de participer au projet a changé beaucoup de choses, la manière de me comporter à la maison, de parler à mon enfant. Participer au projet a été très bien pour moi. Aujourd’hui je sens que je suis meilleure. J’ai pas mal de collègues qui travaillent à la décharge. Il y a encore beaucoup de femmes et d’enfants. Il y en beaucoup qui travaillent plus qu’un homme, à tirer les charrettes et trier les déchets. Je trouve que c’est beau parce que c’est leur manière d’agir. Elles n’ont pas peur d’affronter la vie, mais c’est très dur. Je suis déjà passée par beaucoup de difficultés dans la vie et je n’ai jamais renoncé. Et je ne vais jamais renoncer. Je ne vais pas abandonner l’espoir de voir ma maison remise en état, de voir ma fille étudier, de trouver l’emploi que je n’ai jamais eu. Je voudrais travailler comme manucuriste. Je vais faire quelques CV pour les envoyer à des entreprises pour voir si je trouve un travail de services généraux. Je me sens mieux qualifiée pour le marché. Mon rêve est d’avoir un emploi avec un contrat signé dans mon carnet de travail et de construire ma maison ; et je veux donner à ma fille tout ce que je n’ai jamais eu. 406 Lúcia Tocantins Sheilane Mille Femmes Du rêve à la réalité Palmas et Taquaruçu Les élèves du district de Taquaruçu et du quartier Santa Bárbara possèdent des histoires de vie pleines de points en commun : beaucoup ont travaillé durant leur enfance, la majorité se sont mariées très tôt, plusieurs subviennent seules aux besoins de leur famille, quelques-unes cachent les marques de la violence domestique, un certain nombre ne croyaient pas en elles-mêmes et aucune d’elles n’avait été sur les bancs d’une université ou d’une école technique. 2 1 Palmas 2 Taquaruçu 1 2 408 Le district de Taquaruçu est à 32 km de Palmas, où se trouve le siège de l’Institut Fédéral de Tocantins (IFTO). Le district est une petite ville qui possède cet air de tranquillité comme si le temps s’était arrêté et que l’agitation du monde moderne faisait partie d’une autre planète. À Palmas, le quartier Santa Bárbara dégage une impression de peur, les maisons sont proches l’une de l’autre, l’assainissement fait cruellement défaut, ainsi que l’accès à la santé et la planification urbaine, il y a beaucoup de violence et la majorité des habitants vivent sous le seuil de la pauvreté. En commun, ces endroits manquent d’actions des autorités publiques et beaucoup d’habitants vivent en marge des droits à l’éducation et du travail. Dans le but de promouvoir l’accès des femmes de ces communautés, l’Institut a établi un dialogue avec l’association des habitants. Ensuite, d’autres défis sont apparus : assurer le transport, garantir la permanence à l’école et offrir des cours de formation à un groupe hétérogène en âge – les élèves ont entre 18 et 60 ans – et en scolarisation – de l’enseignement primaire incomplet jusqu’au secondaire. Au Collège d’État Santa Bárbara, il n’existait pas de cours d’Éducation de Jeunes et Adultes, et le dialogue de l’IFTO avec la mairie de Palmas a eu comme résultat que des femmes qui ne fréquentaient plus l’école depuis des dizaines d’années puissent avoir la chance de continuer leurs études. L’institution a également signé des accords de partenariat avec des organismes locaux pour offrir des qualifications dans divers domaines. Aujourd’hui, en plus de la formation en artisanat proposée aux habitantes de Taquaruçu, les élèves de Santa Bárbara peuvent suivre des cours dans les secteurs de coupe et couture et d’alimentation. Les impacts sur la vie de celles qui ont déjà reçu leur certificat sont très variés. Beaucoup ont trouvé du travail dans des domaines différents de celui de leur formation, un groupe continue à produire et vendre des pièces d’artisanat et la plupart d’entre elles ont recommencé à étudier. Lúcia Araújo Mendes Du rêve à la réalité Mille Femmes La bonne humeur et la joie de vivre sont des caractéristiques marquantes chez Lúcia Araújo Mendes. Maranhense, elle vient du pays du “reggae” et elle est fière de ses origines. À 51 ans, elle a vécu la plupart de sa vie à la campagne, à planter et récolter, et à élever ses frères et sœurs et ses enfants. Au cours de sa trajectoire de vie, elle a bercé 19 enfants, elle élève une petite-fille de 13 ans et aide à en élever quatre autres. Cela va faire six ans qu’elle habite à Palmas et actuellement, elle vit du recyclage et de l’artisanat. Quand j’ai commencé à faire de l’artisanat, c’était pour aider une collègue, mais je n’en avais pas vraiment envie. Et j’ai aimé ça ! Cela fait quatre ans maintenant que je travaille dans l’artisanat. Ça m’a convaincu et j’aime 409 Mille Femmes Du rêve à la réalité 410 J’ai bien aimé tout ce à quoi j’ai déjà participé dans le groupe. J’ai suivi le cours d’arts culinaires. Nous avons appris à faire des petits-fours, des gâteaux, des compotes... beaucoup. Je travaille aussi dans le recyclage. Je ramasse des morceaux de fer, des canettes, du plastique, je fais de l’artisanat, je travaille avec du papier recyclé. Aujourd’hui il n’y a que moi qui travaille parce que mon mari est malade. Et puis je vends tout à un intermédiaire. J’étais contente quand on m’a dit qu’ils allaient donner un cours d’artisanat. J’ai bien aimé tout ce à quoi j’ai déjà participé dans le groupe. J’ai suivi le cours d’arts culinaires. Nous avons appris à faire des petitsfours, des gâteaux, des compotes, des pâtisseries, des quiches. J’ai beaucoup aimé l’atelier d’artisanat pour faire des petites boîtes ; et cela a été mon coup de cœur. J’habitais à la campagne, je travaillais dans les champs, aux récoltes. Je connais tout ça. On plantait du riz, des haricots, du maïs, des fèves, du manioc. Certaines années, ça donnait assez pour que tout le monde puisse manger à sa faim, mais d’autres années, ça ne donnait presque rien. Ma mère a eu peu d’enfants, elle en a eu 15 et en a élevé 13. Je suis la deuxiè- Du rêve à la réalité Mille Femmes me et j’ai donc dû aider à élever mes frères et sœurs. Ce sont toujours les aînés qui souffrent le plus, je n’ai pas eu le temps de grandir parce que je m’occupais des petits ! Quand j’étais enfant, jusqu’à 11 ans, je n’étais jamais allée à l’école, rien qu’aux champs. Je me suis mariée très jeune, j’avais entre 13 et 14 ans. Je me sentais prisonnière, mon père ne me laissait pas sortir avec mes collègues. Ce projet est pour moi tout ce qu’il y a de bon parce que je ne savais même pas signer mon nom. Aujourd’hui je signe mon nom, je connais déjà toutes les lettres, mais je ne sais pas encore les mettre ensemble quand c’est un long mot. J’ai étudié au Mobral1 mais j’ai dû abandonner à cause des enfants. J’ai commencé à étudier ici à Santa Bárbara mais comme il n’y a plus d’EJA2, j’ai été forcée d’arrêter aussi. Je crois que ce cours nous a aidées à tous les niveaux. Ne pas savoir lire ni écrire, c’est très pénible. Je suis déjà allée à la capitale Teresina avec ma petite fille malade, avec un papier écrit à la main et sans savoir où aller. Je demandais des informations et les gens m’envoyaient d’un côté à l’autre. C’était épouvantable. Aujourd’hui je n’ai plus peur d’écrire mon nom quand je dois signer un papier. Je me sens plus confiante. Je sais déjà lire un peu, je connais déjà toutes les majuscules. Mais les longs mots sont très difficiles pour moi. 1. Mobral – Mouvement Brésilien d’Alphabétisation. 2. EJA – Éducation de Jeunes et Adultes. 411 Mille Femmes Du rêve à la réalité Ça m’a ouvert les yeux et l’esprit, pour moi c’est très bien. Meilleur encore si je continue. Le projet Mille Femmes a changé la vie des femmes de notre quartier. Je vous dis ça parce que ma fille m’a dit : « Maman, je suis si heureuse parce que j’ai terminé la huitième année ; je ne connaissais pas tout ce que je sais aujourd’hui ! ». Maintenant, grâce à Dieu, avec ce projet, elle dit qu’elle ne va continuer d’étudier. Nous recevons une bourse ; pour moi, c’est très important. Ce ne sont que 100 réaux, mais pour moi c’est beaucoup d’argent. Je paie l’eau, l’électricité, et parfois j’achète du riz, de la viande, des trucs pour la maison. Ça m’a ouvert les yeux et l’esprit, pour moi c’est très bien. Meilleur encore si je continue. Beaucoup de femmes étaient comme moi : elles ne savaient pas écrire leur nom. Maintenant elles le savent déjà et se sentent encouragées à étudier, à continuer. Même si ce cours termine, elles veulent continuer à étudier. 412 Sheilane Alves Du rêve à la réalité Mille Femmes Sheilane Alves est ménagère, elle travaille au Conseil Municipal de Palmas et étudie au cours technique de musique du Collège militaire. Elle a arrêté ses études en septième année et a passé 17 ans loin des bancs d’école. Elle est retournée en salle de classe grâce au projet et à 37 ans, elle fait de nouveaux projets, entre autres de faire d’étudier dans la faculté du Service social. Elle aime chanter, elle a une belle voix, surtout quand elle chante la chanson qui lui rappelle quand elle a commencé à fréquenter son deuxième mari. « Je veux rester dans tes bras » de Leandro et Leonardo. Je me demande pourquoi j’ai arrêté pendant si longtemps. Je peux me sentir fatiguée parce que cet emploi exige beaucoup de moi, mais quand je vais au collège, je me sens si heureuse, si contente de savoir que je vais étudier ! Je sors de chez moi à cinq heures moins dix et je ne rentre qu’à minuit et demie. Et parfois, j’étudie jusqu’à quatre heures et demie du matin pour faire mes devoirs, préparer mes examens. 413 Mille Femmes Du rêve à la réalité 414 Pour moi, aller au collège c’est un défi que je veux vivre avec les gens que j’ai appris à aimer et à respecter. Aller à l’école militaire, c’est comme si j’allais au Mille Femmes : c’est un défi mais c’est aussi une joie et un apprentissage parce que tous les jours sont différents. J’ai arrêté d’étudier quand j’avais 17 ans, en huitième. Et j’ai eu cette envie d’étudier grâce au projet parce que sinon, je ne recevais pas d’encouragement et je n’avais pas envie non plus. Je pensais que je devais juste travailler et me débrouiller pour m’occuper de ma famille. Plus maintenant ! Là j’ai appris que je peux très bien concilier tout : je peux m’occuper de ma maison, faire ce que j’aime et étudier. Nous sommes quatre frères et sœurs et même maintenant, c’est mon père qui dirige tout et nous, on respecte son opinion. Je me suis mariée pour faire plaisir à mon père. J’allais avoir 16 ans. Mon père aimait beaucoup mon petit ami. Nous nous sommes disputés et nous avons rompu. Alors il est allé voir mon père, qui ne savait pas que nous avions rompu, et il lui a demandé ma main. J’ai résisté un peu mais je ne voulais pas déplaire à mon père, alors j’ai accepté et je me suis mariée. J’étais en septième et je ne suis plus retournée à l’école parce que je travaillais, je n’avais plus beaucoup de temps pour les études. Mon mari ne m’encourageait pas non plus. Deux ans plus tard, mon enfant est né, mon premier enfant. Alors je me suis consacrée de plus en plus à la maison, au bébé, à mon emploi et je n’ai plus pensé à étudier. Cinq ans après, on s’est séparés – ça va faire plus de 20 ans que nous sommes séparés – et je me suis remariée. Il y a onze ans que je suis remariée. On vit très bien ensemble, c’est une personne qui m’encourage beaucoup. Il m’a beaucoup aidée à l’époque du projet. J’ai entendu à la radio qu’il y avait l’occasion de faire le Collège militaire ; on pouvait s’inscrire pour les cours de musique et d’informatique. J’y suis allée, je me suis inscrite et aujourd’hui j’étudie la musique. On apprend à jouer et aussi à être professeur de musique. J’aime beaucoup mon cours. On pense que la musique c’est quelque chose de simple mais ce n’est pas vrai. Pour être professeur de musique ou apprendre à chanter ou à jouer, il faut étudier, parce qu’on doit apprendre les partitions, il y a des règles à respecter. Avec ce projet, j’ai aussi eu l’occasion de travailler. Le 1er janvier, ça a fait deux ans que je suis fonctionnaire Le projet m’a enseigné à m’occuper de moi, à mieux m’aimer, plus encore, à ne pas croire que je n’avais pas le droit de lutter, de persévérer... au Conseil municipal de Palmas. C’est grâce au Mille Femmes que les gens ont pu se rendre compte de mon grand potentiel pour travailler, pour respecter mes engagements et pour tenir le coup. Une chose qui m’a beaucoup marquée, c’est le voyage que nous avons fait à Brasília ; il y avait là les 13 communautés qui participent au projet Mille Femmes. J’ai rencontré une personne très spéciale, Marta de Lima1, vendeuse de fruits de mer à Paraíba. Malgré toutes ses difficultés, elle n’a pas renoncé, elle y a cru. Je voudrais qu’il y ait beaucoup de femmes comme elle, beaucoup de « Martas ». Beaucoup de choses ont changé. Je dis toujours que le projet m’a fait voir la vie d’une manière différente parce que jusque là, j’étais une ménagère, je n’avais pas beaucoup de projets pour l’avenir, et tout d’un coup, ce projet m’a ouvert de nouveaux horizons. J’ai eu envie de recommencer à étudier, de recommencer à me développer, parce que j’avais tout laissé tomber. Et la Sheilane de 2011, c’est une Sheilane qui a appris à être quelqu’un qui se bat, qui a appris à courir après ses idéaux. C’est une des choses que j’ai apprise du projet : ne jamais renoncer, peu importe les difficultés. Celles qui ont fait la carte de vie ont beaucoup parlé de la question du bus, parce qu’il y avait un bus qui venait nous chercher pour nous conduire au collège. Quand nous sommes arrivées, je m’en rappelle comme si c’était hier, tout le monde regardait l’Institut et disait : « Mon Dieu ! Tout ça c’est vraiment pour nous ? ». Quand ils nous ont conduites dans la salle, qu’ils ont commencé à parler du projet, j’ai dit à une amie, avec des larmes aux yeux : « Ici si on le veut, beaucoup d’entre nous vont faire des progrès ». Quand nous sommes rentrées à la maison, tout le monde était émerveillé, tout le monde voulait raconter ce qui s’était passé, ce qu’on en pensait. Jamais je n’avais imaginé être si bien traitée, que les gens allaient nous respecter comme ça. Le projet m’a enseigné à m’occuper de moi, à mieux m’aimer, plus encore, à ne pas croire que je n’avais pas le droit de lutter, de persévérer, parce que je pensais qu’à mon âge, je n’attendais plus grand-chose. Et le projet m’a montré qu’il n’y a pas d’âge pour réussir dans la vie. Il n’y a pas d’âge pour penser qu’on est vieux et que son temps est déjà passé. Non ! Il m’a enseigné que si je le veux, mon âge n’a aucune importance, que je peux Du rêve à la réalité Mille Femmes 415 1. Voir l’histoire de Marta de Lima à la page 343. Mille Femmes Du rêve à la réalité Là j’ai appris que je peux très bien concilier tout : je peux m’occuper de ma maison, faire ce que j’aime et étudier. réussir et poursuivre mes objectifs. Aujourd’hui, j’ai 37 ans et dans un an et demi, je termine mon cours de musique. Les femmes de Taquaruçu, je suis sûre et certaine que beaucoup d’entre elles n’avaient pas cette dignité, cet amour propre qui aujourd’hui fait de nous des femmes différentes. La majorité d’entre nous a réussi à trouver du travail ; il y a bien celles qui n’ont pas continué le travail d’artisanat, mais tout le monde a du travail. Mon objectif est de terminer mes études à l’École Militaire et de faire un programme de la faculté du Service social parce que je crois que je suis bonne dans ce domaine. C’est un projet qui est venu changer l’histoire de femmes qui avaient besoin d’aide. Et ça vaut vraiment la peine d’investir dans ce projet, parce qu’il aide les personnes à découvrir leur propre valeur, à renforcer leur estime de soi, à se développer, à chercher à s’améliorer en tant qu’être humain, à essayer de réussir dans la vie, sans se soucier des obstacles, parce qu’il existe des gens qui renoncent pour si peu de chose ! 416 Projets par État Du rêve à la réalité Mille Femmes Institut Fédéral d’Éducation, Science et Technologie d’Alagoas La Douce Saveur d’Être Domaine de Formation : Aliments Partenaires brésiliens : Secrétariat d’Éducation de l’État d’Alagoas, ECAPEL (papeterie), Project Racines Africaines, ONG Maria María, Coopérative des Fonctionnaires de la Banque du Brésil, Pastorale de Barra Nova, Canadian Sisters et Aérotourisme Collèges partenaires : Red River Collège et Cégep Régional de Lanaudière Institut Fédéral d’Éducation, Science et Technologie d’Amazonas Transformation, Citoyenneté et Revenu Domaine de Formation : Tourisme Partenaires brésiliens : Gouvernement de l’État d’Amazonas/Programme Social et Environnemental des Igarapés de Manaus et Service National d’Apprentissage (Senac-AM) Collèges partenaires: Niagara Collège, George Brown et Collège Montmorency Institut Fédéral d’Éducation, Science et Technologie de Bahia Un Tour vers de Nouveaux Horizons Domaines de Formation : Tourisme et Aide à Domicile Partenaires brésiliens : Terreiro Mokambo, Centre de Méditation Raja Yoga Brahma Kumaris, Association d’Habitants de la Communauté Vila Dois de Julho (Amovila), Église Baptiste Betesda, Paroisse de São Lázaro et Centre Technologique de Coopératives Populaires du IFBA Collèges partenaires: Niagara Collège, George Brown Collège et Collège Montmorency Institut Fédéral d’Éducation, Science et Technologie du Ceará Femmes de Fortaleza Domaines de Formation: Tourisme, Manipulation d’aliments et Gouvernante Partenaires brésiliens : ONG Emaüs, Associations du Quartier de Pirambu, Centre de Recherche et Qualification Technologique (CPQT) et Association Brésilienne de l’Industrie Hôtelière - Ceará Collèges partenaires : Niagara Collège, George Brown Collège et Collège Montmorency Institut Fédéral d’Éducation, Science et Technologie du Maranhão Aliment de l’Inclusion Sociale Domaine de Formation: Techniques de conservation et de manipulation d’aliments Partenaires brésiliens : Service National d’Apprentissage Commercial (Senac-MA), Fondation d’Appui à l’Éducation et au Développement Technologique du Maranhão (Funcema), Association commerciale du Maranhão (Ascom), Olívio J. Fonseca, Bondiboca, Boulangerie Pão Nosso, Boulangerie et Pâtisserie Sabor e Qualidade et Fondation José Sarney Collèges partenaires : Red River Collège et Cégep Régional de Lanaudière 417 Projets ille Femmes MMulheres Mil Do Du sonho rêve à la à realidade réalité Institut Fédéral d’Éducation, Science et Technologie de Paraíba Développement Communautaire – Impact sur la Qualité de Vie et de l’Environnement Domaines de Formation : Pêche, Artisanat et Environnement Collèges partenaires : Cégep de la Gaspésie et des Îles Institut Fédéral d’Éducation, Science et Technologie de Pernambuco Cuisine Solidaire Domaine de Formation : Culinaire Partenaire brésilien : Service National d’Apprentissage Commercial (Senac-PE) et l’Université Fédérale Rurale de Pernambuco (UFRPE) Collèges partenaires : Red River Collège et Cégep Régional de Lanaudière Institut Fédéral d’Éducation, Science et Technologie du Piauí Habiller la Citoyenneté Domaine de Formation : Mode et confection Partenaires brésiliens : Service Brésilien d’Appui aux Petites et Micro Entreprises (Sebrae-PI), Municipalité de Teresina, Prefecture Municipal du Développement Économique et Touristique de Teresina et la Maison de Zabelê (Action Sociale Archevêché – ASA) Collèges partenaires : New Brunswick Collège of Crafts and Design et Cégep Marie-Victorin Institut Fédéral d’Éducation, Science et Technologie du Rio Grande do Norte La Maison du Tilapia Domaines de Formation : Traitement du cuir de poisson, Aliments et Artisanat Partenaires brésiliens : Fondation d’Appui à l’Éducation et au Développement Technologique du Rio Grande do Norte (Funcern), Service National d’Apprentissage Rural (Senar), Préfectures Municipales de Ceará-Mirin , João Câmara, Pureza et Touros Collèges partenaires : Cégep de la Gaspésie et des Îles Institut Fédéral d’Éducation, Science et Technologie de Rondônia Bijoux Bio – Réseau de Vie Domaine de Formation : Artisanat Partenaires brésiliens : Secrétariat Municipal d’Éducation de JI-Paraná et Secrétariat de l’Éducation de l’État de Rondônia Collèges partenaires : New Brunswick Collège of Crafts and Design et Cégep MarieVictorin 418 Institut Fédéral d’Éducation, Science et Technologie de Roraima Inclusion par l’Éducation Projets Domaine de Formation : Aliments Partenaires brésiliens : Secrétariat à l’Éducation de l’État de Roraima, Service Brésilien d’Appui aux Petites et Micro Entreprises (Sebrae-RR), Service National d’Apprentissage Industriel (Sesi-RR), Service National d’Apprentissage Commercial (Senac-RR), Forum de l’Éducation de Jeunes et Adultes (EJA), Secrétariat à la Justice de l’État, Université Fédérale de Roraima (UFRR), Organisation des Coopératives du Brésil (OCB), Service National d’Apprentissage du Cooperativisme (SESCOOP) Collèges partenaires : Red River Collège et Cégep Régional de Lanaudière Du rêve à la réalité Do sonho à realidade ille Femmes MMulheres Mil Institut Fédéral d’Éducation, Science et Technologie de Sergipe Des ordures à la Citoyenneté / Pêcher l’Art et la Citoyenneté Domaines de Formation : Artisanat à base de déchets et matériaux recyclage et arts culinaires Partenaires brésiliens : Ministère Public de l’État, Université Fédérale de Sergipe (UFS), Service Brésilien d’Appui aux Petites et Micro Entreprises (Sebrae-SE), Secrétariat d’État pour l’Inclusion Sociale, Groupe de Santé et de Prévention dans les École, Préfecture Municipale de Nossa Senhora do Socorro, Coopérative des Agents Autonomes de Recyclage d’Aracaju (Care), Fondation d’appui au Développement Technique de Sergipe (FUNCEFETSE), Institut de Beauté Cida Duarte, Éducateurs Volontaires Collèges partenaires : New Brunswick College of Crafts and Design and Design and Cégep Marie-Victorin Institut Fédéral d’Éducation, Science et Technologie du Tocantins Citoyenneté par l’Art Domaines de Formation : Artisanat et Art bio Partenaires brésiliens : Service Brésilien d’Appui aux Petites et Micro Entreprises (Sebrae-TO), Préfecture de Palmas, Service National d’Apprentissage Industriel (Senai-TO) et Institut Écológica Collèges partenaires : New Brunswick Collège of Crafts and Design et Cégep MarieVictorin 419 Mulheres Mil: Do sonho À Realidade Thousand Women: Making dreams come true Mille femmes: Du rêve à la réalité Concepção e implantação do projeto Project design and Implementation Conception et mise en œuvre du projet Ministério da Educação - Secretaria de Educação Profissional e Tecnológica (MEC/Setec) Ministry of Education - Secretariat of Vocational and Technological Education (MEC/Setec) Ministère de l’Éducation - Secrétariat de l’Éducation Professionnelle et Technologique (MEC/Setec) Conselho Nacional das Instituições da Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica (Conif ) National Council of the Institutions within the Federal Network of Vocational, Scientific and Technological Education (Conif ) Conseil des Établissements du Réseau Fédérale de l’Éducation Professionnelle, Scientifique et Technologique (Conif ) Rede Norte Nordeste de Educação Tecnológica (Redenet) Northern and Northeastern Network of Technology Education (Redenet) Réseau Nord Nord-Est de la Technologie (Redenet) Agência Brasileira de Cooperação (ABC/MRE) Brazilian Cooperation Agency (ABC/MRE ) Agence Brésilienne de Coopération (ABC/MRE) Agência Canadense para o Desenvolvimento Internacional (CIDA) Canadian International Development Agency (CIDA) Agence Canadienne de Développement International (ACDI) Associação dos Colleges Comunitários Canadenses (ACCC) Association of Canadian Community Colleges (ACCC) Association des Collèges Communautaires du Canada (ACCC) Execução / Execution / Mise en œuvre Institutos Federais de Alagoas, Amazonas, Bahia, Ceará, Maranhão, Paraíba, Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Norte, Roraima, Rondônia, Sergipe e Tocantins Fotógrafos / Photographers / Photographes Alagoas: Marcelo Albuquerque Amazonas: Francisco Araújo Bahia: Rafael Dourado Ceará: André Goldman Maranhão: Francisco Campos Paraíba: Petrônio Lins Pernambuco: Rafael Medeiros Piauí: Thiago Amaral/ Martim Garcia Rio Grande do Norte: Marco Antônio Montoril Rondônia: Leonardo Rocha Roraima: Erick Vieira Sergipe: André Moreira Tocantins: Thâmara Filgueiras Tradução / Translation / Traduction Globo Traduções Tradução inglês / Translation english / Traduction anglais Martim Cardoso Tradução francês / Translation french / Traduction français Edouard Braun Revisão português / Portuguese edition / Revision du portugais Cecília Fujita Revisão inglês / English edition / Révision de l’anglais Leslie Cole Debby Dufford Yannick Cabassu Revisão francês / French edition / Révision du français Florence Arnould-Lalonde Yannick Cabassu Produção executiva, coordenação editorial, organização, redação e edição / Production executive, editorial coordination, organization, writing, and editing / Production exécutive, coordination éditoriale, interviews, rédaction et édition Stela Rosa Tiragem / Edition / Tirage 1.700 exemplares Assistente de edição / Assistant editor / Assistant à l’édition Rodrigo Torres Araújo Lima Esta publicação foi financiada pela Agência Canadense para o Desenvolvimento Internacional (CIDA) e Secretaria de Educação Profissional e Tecnológica. É permitida a reprodução parcial ou total desta obra, desde que citada a fonte. Assistentes de produção / Production assistants / Assistants à la production Ana Carolina Oliveira Batista Rosane Alves de Souza Cerqueira Abreu Impressão / Printing / Imprimeur Gráfica Artecor This publication was financed by the Canadian International Development Agency (CIDA) and the Secretariat of Vocational and Technological Education. The partial or total reproduction of this work is allowed as long as the source is mentioned. Projeto gráfico, diagramação e capa / Graphic design, layout and cover / Conception graphique et couverture Caco Bisol Produção Gráfica [email protected] Cette publication a été financée par l’Agence Canadienne de Développement International (ACDI) et le Secrétariat de l’Éducation Professionnelle et Technologique. La reproduction en partie ou complète de ce document est autorisé à condition que la source soit citée. Colaboradores nas entrevistas / Interview collaborators / Collaborateurs d’entrevues Bahia: Verusa Pinho de Sá e Valéria dos Santos Nascimento (IFBA) Piauí: Elisabete Sales (IFPI) Tocantins: Maiara Sobral (IFTO) Ministério da Educação Secretaria de Educação Profissional e Tecnológica Esplanada dos Ministérios, Edifício Sede, bloco L, 4º andar CEP 70047-900 – Brasília/DF http://mulheresmil.mec.gov.br/ o sonho à realidade Making dreams come true Du rêve à la réalité Mulheres MIl Thousand Women MILLE FEMMES Mulheres MIl Thousand Women MILLE FEMMES Do sonho à realidade Making dreams come true Du rêve à la réalité