os efeitos da desnutrição sobre o desenvolvimento físico e mental
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os efeitos da desnutrição sobre o desenvolvimento físico e mental
OS EFEITOS DA DESNUTRIÇÃO SOBRE O DESENVOLVIMENTO FÍSICO E MENTAL INFANTIL – CASO OBSERVADO NO MUNICÍPIO DE PARACATUMG Deborah Ribeiro Petronilho1 Lumaira Maria Nascimento Silva2 RESUMO INTRODUÇÃO: A desnutrição infantil é uma doença de origem multicausal e complexa que tem suas raízes na desigualdade social. Ocorre quando o organismo não recebe os nutrientes necessários para o seu metabolismo. Na maioria dos casos, a desnutrição é o resultado de uma ingesta insuficiente, fome, ou doenças. OBJETIVO: Analisar o perfil de uma família carente e as influências da desnutrição para o desenvolvimento físico e cognitivo de um dos filhos do casal com quadro clínico típico. METODOLOGIA: O presente estudo trata-se de um estudo de caso realizado por meio de visitas domiciliares durante os anos de 2006 e 2007, nas atividades práticas da disciplina de Interação Comunitária do curso de Medicina da Faculdade Atenas-MG. RESULTADOS: No primeiro semestre de 2006, Y, pesava 8.700 g e media 77 cm. Dados estes que quando marcados na linha de percentil infantil apontavam a área de risco, pois estava muito abaixo do peso e da altura esperados. Um ano depois do primeiro contato, pesava 10.495 g e media 85 cm, permanecendo nas linhas abaixo de 1 Acadêmica do curso de medicina pela Faculdade Atenas, Paracatu – Minas Gerais – Brasil 2 Professora do curso de Medicina da Faculdade Atenas, Paracatu-MG. peso e altura ideais, explicitando a dificuldade de reversão do quadro. Apresentou atraso de desenvolvimento físico e cognitivo quando comparada aos irmãos. CONCLUSÃO: O baixo nível de escolaridade materna, ligado à situação de extrema pobreza, foram fatores determinantes para a dificuldade de regressão do quadro de desnutrição de Y. Essa situação influenciou no desenvolvimento mental e físico da criança, que não acompanhava o ritmo de crescimento e aprendizagem dos irmãos. Palavras-chave: Desnutrição. Desenvolvimento Infantil. Crescimento. Estudo de caso I) INTRODUÇÃO 1.1. ESTADO DA ARTE Define-se como desenvolvimento a capacidade progressiva do ser humano em realizar funções cada vez mais complexas. Este processo é o resultado da interação entre os fatores biológicos, próprios da espécie e do indivíduo e os fatores culturais, próprios do meio social onde esse indivíduo encontra-se inserido. Assim, a aquisição de novas habilidades está diretamente relacionada não apenas à faixa etária da criança, mas também às interações vividas com os outros seres humanos do seu grupo social.(1) Dentre os fatores determinantes o tipo de gestação, situação de nascimento e estado nutricional estão entre os principais. O desenvolvimento é descrito de acordo com alguns domínios de funções, que são: o desenvolvimento sensorial; as habilidades motoras grosseiras, que se referem à utilização dos grandes músculos do corpo; as habilidades motoras finas, relacionadas ao uso dos pequenos músculos das mãos; linguagem; desenvolvimento social e emocional e cognição, que se refere aos processos mentais superiores, como o pensamento, memória e aprendizado. Esses domínios são interdependentes, cada um deles influenciando e sendo influenciado pelos outros. (1) A desnutrição infantil é uma doença de origem multicausal e complexa que tem suas raízes na desigualdade social. Ocorre quando o organismo não recebe os nutrientes necessários para o seu metabolismo fisiológico, devido a falta de aporte ou problema na utilização do que lhe é ofertado. Assim sendo, na maioria dos casos, a desnutrição é o resultado de uma ingesta insuficiente, fome, ou de doenças.(2) Em 1995, a desnutrição foi responsável por 6,6 milhões das 12,2 milhões de mortes entre crianças menores de cinco anos no mundo. Isto representa 54% da mortalidade infantil nos países em desenvolvimento. No mesmo ano, mais de 200 milhões de crianças tiveram seu crescimento retardado pela má nutrição. Estas crianças têm maior probabilidade de apresentar baixo desenvolvimento cognitivo, sofrer danos neurológicos, além de menor resistência a doenças. Na idade adulta, podem apresentar maior risco de contrair doenças cardiovasculares, hipertensão, diabetes, altas taxas de colesterol e problemas renais .(3) A desnutrição é um importante indicador de pobreza. Tal como as outras dimensões de saúde precária, está concentrada entre as populações mais miseráveis, normalmente não alcançadas por políticas definidas em termos de médias populacionais. Por isso, o objetivo das políticas de combate à desnutrição deve ser especificamente dirigido às camadas mais pobres da população. Em 1989, quando foi tomada a média nacional da desnutrição, o Brasil encontrava-se com 15% dos menores de 5 anos com baixa estatura. Porém, como o país é símbolo da desigualdade social, os dados têm mais representatividade se analisados separando a população que mais sofre com esse problema. Por exemplo, último dado nacional mostra que este índice alcança 10,5% (1996), mas quando tomados os 20% mais pobres esse percentual sobe para 23%, que é mais alto do que em países africanos como o Egito.(3) Os resultados no desenvolvimento são produzidos pela combinação de fatores de risco genéticos, biológicos, psicológicos e ambientais, geralmente envolvendo interações complexas entre eles. A natureza multicausal do desenvolvimento infantil é amplamente reconhecida e discutida. Considera-se que o impacto de fatores biológicos seja mais importante no início da vida e que a influência de fatores ambientais (condição socioeconômica,estado nutricional, quantidade de estimulação, etc) aumente seu impacto no decorrer dos anos .(4) Como indicadores biológicos com repercussão no desenvolvimento são apontadas condições desfavoráveis ao nascimento como o baixo peso e a prematuridade. 1.2. CONTEXTUALIZAÇÃO C. O. L., sexo feminino, 27 anos, casada, com C. R. C., 22 anos, pedreiro. O casal reside com seus 04 filhos, Y.O.M., 06 anos, E.O.M, 05 anos, Y.S.O.M, 04 anos ( Criança com desnutrição) e C.O.C, 02 anos. Este estudo, narra de forma descritiva a situação de uma criança de 04 anos, cuja família vive na área de abrangência do PSF Vila Mariana, no município de Paracatu – MG. A família é composta por 6 pessoas C. O. L., sexo feminino, 27 anos, casada, com C. R. C., 22 anos, pedreiro. O casal reside com seus 04 filhos, Y.O.M., 06 anos, E.O.M, 05 anos, Y.S.O.M, 04 anos (Criança com desnutrição) e C.O.C, 02 anos. Os pais e as quatro crianças moram na parte dos fundos do quintal da casa da avó materna das crianças. A casa tem estrutura pequena e humilde, se resumindo em 2 cômodos, sem forro e sem banheiro. Os móveis e a organização interna da residência salientam as dificuldades financeiras em que a família vive. A parte externa da casa é usada como depósito de lixo e entulhos pelo pai da paciente citada e o terreno não é cimentado, sendo tanto esta parte de fora, como a de dentro da casa de “chão batido”. Na parte interna da casa um cômodo é usado como cozinha, onde se encontra uma geladeira, um fogão, um armário e uma mesa com quatro cadeiras em péssimo estado e cobertos por machas de sujeira e poeira. No cômodo seguinte encontra-se o “quarto” onde dormem os 6 componentes da família. Há uma cama de casal, um sofá pequeno, um berço e uma pequena cômoda, todos em estado de longa data de uso. A mãe e o pai cursaram até a 7ª série do ensino fundamental, e a baixa escolaridade deles é um dos fatores de risco para o desenvolvimento dos seus 4 filhos. A família vive com uma renda mensal de 01 salário mínimo ( cerca de R$ 450,00) pois a mãe está desempregada e somente o marido trabalhava. A seguir segue a composição e estrutura familiar de C.O.L em genograma: P. L. 68 anos HAS T. 42 I. 40 V. O. 65 anos HAS L. 38 L. 35 R. 33 E.30 V. 29 L.28 22 C.R.C 06 Y.O.M 27 04 E.O.M 03 Y.S.O.M 02 C.O.C 1.3. JUSTIFICATIVA A desnutrição é uma doença causada por dieta inapropriada, hipocalórica e hipoprotéica e tem como fator determinante o contexto social sendo um grave problema de saúde pública. Acontece principalmente em indivíduos de baixa classe social e principalmente as crianças de países subdesenvolvidos, pois a causa mais frequente é a má- alimentação devido à pobreza. Desde a minha primeira visita à casa dessa família, Y, foi a criança que mais me chamou a atenção.No meu primeiro contato com a família, a mãe carregava no colo a filha mais nova que tinha apenas 18 dias de vida. Os outros filhos, os meninos brincavam no quintal de terra e mesmo se apresentando muito sujos, agiam como duas crianças normais e tinham atitudes típicas da idade. Ela, porém estava suja e chorosa, nos olhando com olhos atentos e agarrada às pernas da mãe. Nos preocupou o comportamento dela desde esse dia, pois a mãe havia relatado que ela chorava muito e que isso ocorria há dias. Na época ainda não tínhamos maturidade para caracterizar os sintomas da criança. Y, tinha nascido prematura e observamos que ela apresentava histórico frequente de resfriados, febre alta e diarréia. Tinha estrutura corpórea magra e cabelos ressecados e clareados. Foram feitas várias tentativas de intervenção nesse problema, orientando a mãe sobre a importância da alimentação, cuidado no preparo dos alimentos, horário, frequencia e qualidade da comida da família, mas Y,segundo à mãe, se recusava a comer corretamente. Foi indicado também o uso da “multimistura” fornecida pela Pastoral da Criança, mas que infelizmente também não deu resultados. Os outros irmãos, pelo contrário, apresentavam peso e altura ideais para as respectivas idades. É fácil notar a influência que a má alimentação provocou no desenvolvimento físico, mental e imunológico dessa criança. Dentre outros, essas alterações patológicas e a experiência vivida com essa menininha durante os meses acompanhando a família foram as principais causas que me motivaram a optar por este tema. 1.4. OBJETIVOS 1.4.1. Objetivo Geral: Este estudo tem como objetivo analisar o perfil de uma família carente e as influências da desnutrição para o desenvolvimento físico e cognitivo de um dos filhos do casal com quadro clínico típico. 1.4.2. Objetivos Específicos: Observar a relação dessa doença na manutenção do sistema imunológico dessa criança; Comparar o desenvolvimento físico de Y, com o dos irmãos, que moram na mesma casa, têm a mesma alimentação e são expostos aos mesmos fatores de risco. II) METODOLOGIA 2.1. TIPO DE ESTUDO Estudo do tipo descritivo, caracterizado como Estudo de caso. 2.2. ÁREA DE ESTUDO A área de estudo foi a área de abrangência do PSF Vila Mariana, em ParacatuMG, onde estava inserida a residência da família acompanhada. 2.3. COLETA DE DADOS As fontes de informação mais importantes foram: Anotações de visitas domiciliares, onde eram feitas entrevistas com os membros da família por meio de roteiro de visita domiciliar padronizado (anexo 1) e que eram registradas em Diário de Bordo e Projetos de Intervenção, e também Prontuário médico e Cartão de vacinação da criança. No primeiro semestre de faculdade, foi proposto na aula de Interação Comunitária, que ao encontrarem com as famílias acompanhadas os acadêmicos registrassem em um caderno, toda a atividade detalhadamente incluindo informações colhidas, orientações propostas e impressões pessoais. Esse caderno foi então chamado de “Diário de Bordo”. A partir do terceiro semestre iniciamos um trabalho na tentativa de elaborar medidas de intervenção positivas dentro de cada família acompanhada, na tentativa de sanar ou mesmo diminuir alguns dos problemas vivenciados por estas na época. Este então foi chamado de “Projeto de Intervenção”. A coleta de dados foi feita em 12 visitas domiciliares, ao longo dos primeiros 04 semestres, como mostra a tabela: Período Datas das Visitas Domiciliares (Acadêmico) 1° -17/02/2006 -31/03/2006 -19/05/2006 -02/06/2006 -23/06/2006 2° -11/08/2006 -06/10/2006 -24/11/2006 3° -12/04/2007 -14/06/2007 4° -30/08/2007 -25/10/2007 Em todas as entrevistas citadas acima, a informante foi a mãe das crianças, C.O.L . 2.4. POPULAÇÃO DE ESTUDO A População de estudo é uma família carente inserida na área de abrangência do PSF Vila Mariana, Paracatu-MG. 2.5 CRITÉRIO DE SELEÇÃO DOS SUJEITOS A indicação das famílias foi feita pelas agentes comunitárias de saúde de cada PSF de Paracatu que tinha parceria com a Interação Comunitária. Os principais critérios de seleção de cada família foram o interesse dessas de participar do estudo, a carência e necessidade de medidas de ajuda e presença de problemas típicos das populações menos favorecidas. Foi explicada a cada representante da família a metodologia do trabalho e como seriam realizadas as visitas domiciliares. Todas as famílias participantes concordaram com o método descrito. 2.6. INSTRUMENTOS OU TÉCNICAS UTILIZADAS Os instrumentos utilizados para realização do estudo foram as anotações descritas no Diário de Bordo, e análise do Prontuário médico da criança analisada e do Cartão de Vacina da mesma. Todas as informações coletadas foram descritas pela mãe da criança. Esta, C.O. L tinha baixa escolaridade, tendo freqüentado à escola somente até a 7ª série do ensino fundamental, mas não apresentava dificuldades de entendimento e linguagem para com os alunos, mas ficava receosa de dar informações quando o marido, C.R.C, estava em casa. III) RESULTADOS 3.1 DESCRIÇÃO No primeiro semestre de 2006, Y, pesava 8.700 g e media 77 cm. Dados estes que quando marcados na linha de percentil infantil apontavam a área de risco, indicando que ela estava muito abaixo do peso e da altura esperados e que confirmavam as suspeitas de ser uma criança desnutrida.(Dados observados nas tabelas 1 e 2.) Foi pedido à mãe que descrevesse detalhadamente a rotina de Y, principalmente em relação a alimentação, explicando sobre os horários, a freqüência, a quantidade e a qualidade. Foi conversado com a mãe sobre a importância de uma alimentação equilibrada e como ela influenciaria no crescimento e desenvolvimento dos seus filhos.Ela foi então orientada a mudar alguns hábitos na casa, como estabelecer uma hora específica de, pelo menos, almoço e jantar para que as crianças se acostumassem a comer no horário, o que facilitaria manter o controle da alimentação de Y e dos demais filhos na casa. Foi também sugerido que a mãe separasse uma parte do quintal para poder fazer uma mini-horta para a família, e assim enriquecer nutricionalmente a alimentação das crianças. No ano de 2007, observamos que o problema ainda continuava, e que Y tinha um desenvolvimento mais lento do que os outros irmãos e apresentava um sistema imunológico menos competente, pois sempre apresentava histórico de gripes, faringite e diarréia. Um ano depois do primeiro contato, já com 03 anos de idade, Y pesava 10.495 g e media 85 cm, permanecendo nas linhas abaixo de peso e altura ideais, como ilustrado nas tabelas 3 e 4. Foi então explicado à mãe todas as conseqüências que a falta de nutrientes traria ao desenvolvimento de Y e foi sugerido que ela procurasse a Pastoral da Criança, para que pudesse se inscrever na entidade e ganhar a “multimistura” fornecida, uma farinha preparada com alimentos de fácil acesso em cada região, como sementes,farelos de cereais e casca de ovo e que é muito usada no combate à desnutrição infantil devido ao seu alto valor nutricional. Foi pedido a mãe que observasse mais detalhadamente o desenvolvimento de Y, principalmente motor, comparando-a com os irmãos e também que ela tentasse ensinar novas palavras a filha, para auxilio na observação da evolução cognitiva de Y. Nas visitas seguintes, perguntamos à mãe sobre as medidas sugeridas e segundo ela Y, não aceitou a “multimistura”, episódio que se repetiu, pois a mãe já teria tentado essa suplementação no ano anterior e a criança teria rejeitado. Ao final de todo o período de acompanhamento ficou claro o impacto que a carência nutricional causou sobre o desenvolvimento de Y. Esta mantinha praticamente o mesmo biotipo de baixo peso e aparentava desenvolvimento tanto físico quanto cognitivo mais lento do que os irmãos, pois tinha crescido menos do que o esperado e apresentou demora em relação ao tempo estimado para manter o equilíbrio e andar. Os outros irmãos de Y acompanharam a linha de crescimento infantil. Em relação à parte cognitiva ela apresentou dificuldades para pronunciar palavras, apenas balbuciando algumas monossílabas ou palavras pequenas e apresentando certo atraso no aprendizado de novas palavras que a mãe tentou ensinar. TABELAS E QUADROS Tabela 1: Tabela 2: Tabela 3: Tabela 4: IV) DISCUSSÃO 4.1 INTERPRETAÇÃO DOS RESULTADOS Observando os resultados ao final do acompanhamento, fica claro o quanto a desnutrição protéico calórica influenciou no crescimento e desenvolvimento de Y. A situação de pobreza e dificuldades da família é um dos principais fatores que desencadeiam este processo, mas não pode-se dizer que é o que determina a desnutrição de Y, pois ela tem outros 03 irmãos que vivem na mesma casa e são expostos às mesmas limitações. Pode-se levar em conta o processo de gestação, que pode ter tido alguma intercorrência não relatada pela mãe, ou mesmo fatores genéticos e individuais de Y que a tornam mais predisposta à desnutrição. Esse quadro freqüente é extremamente preocupante pois a falta de alguns micronutrientes presentes em uma dieta balanceada prejudica vários processos do organismo, desencadeando em problemas e patologias que surgirão ao longo do tempo. A desnutrição afeta todos os sistemas e órgãos das crianças gravemente desnutridas. Nenhuma das funções até agora estudadas nessas crianças tem se mostrado normal (6) . Sugere-se que todos os processos do organismo entram em uma redução funcional adaptativa, como estratégia para garantir a sobrevivência (6,7,8,9). Baixos níveis de ferro podem provocar desde falta de apetite até comprometimento do desenvolvimento intelectual e psicomotor da criança. A carência de vitamina A afeta a visão, podendo até causar cegueira total, e debilita o sistema imunológico, aumentando o risco de mortes por diarréia e outras doenças. O iodo evita vários problemas de saúde, como retardo do crescimento, comprometimento do desenvolvimento cerebral, e cretinismo, doença que provoca retardo mental severo e irreversível. Outros micronutrientes fundamentais para a criança são o zinco e o ácido fólico. O zinco tem eficácia reconhecida no combate à diarréia, pois diminui a duração, a intensidade e o risco de reincidência da doença. Também ajuda a prevenir outros problemas de saúde, como a pneumonia, e é importante para garantir o crescimento e o desenvolvimento normais da criança. (10) A falta de ácido fólico, pode provocar diminuição do crescimento e anemia megaloblástica, entre outros problemas. 4.2) COMPARAÇÃO COM OUTROS ESTUDOS Segundo outros estudos, a alimentação insuficiente tem efeitos duradouros e produz adultos obesos, diabéticos e com problemas cardiovasculares. Alguns desses resultados mais recentes mostram uma elevada prevalência de hipertensão em adolescentes que foram crianças desnutridas –e que chega a 21% em São Paulo (11) Essa alteração na pressão arterial surge por causa de lesões que reduzem a elasticidade dos vasos sangüíneos e da má-formação dos rins.(11) Examinou-se crianças entre 10 e 13 anos que já nasceram com baixo peso, indício de desnutrição intra-uterina, e se observou que nessas crianças o colesterol do tipo LDL – que integra a membrana das células – reage mais do que deveria com radicais livres, moléculas de oxigênio altamente reativas. É o que se chama de estresse oxidativo, que dá origem a espécies ainda mais reativas de oxigênio que por sua vez danificam as células que revestem os vasos sangüíneos: um passo para desenvolver placas de gordura que alteram a pressão sangüínea e reduz a elasticidade dos vasos, como sugerem resultados publicados na revista Pediatric Research.(14) A desnutrição no início da infância provoca ainda deficiências no metabolismo do açúcar, comandado pelo hormônio insulina cuja carência é a principal causa do diabetes. Em artigo publicado em 2006 no British Journal of Nutrition, foi mostrado que a produção de insulina é deficiente em crianças que sofreram de desnutrição no início da vida. Isso ocorre porque a escassez de alimento nas primeiras fases do crescimento leva o organismo a produzir menos células beta no pâncreas, que fabricam a insulina. Para compensar, o organismo dessas crianças é mais sensível à pouca insulina produzida. O corpo tenta suprir a deficiência e faz cada célula do pâncreas trabalhar mais e esse desequilíbrio acaba levando ao diabetes.(12) A desnutrição deixa também seqüelas cognitivas.Foi mostrado em artigo recente na que crianças entre 6 e 10 anos com má alimentação contínua desde o início da vida se lembram mal do que viram pouco tempo antes, têm um vocabulário mais restrito e sofrem de ansiedade.(11) Outro estudo, em Alagoas, mostrou que crianças com histórico de desnutrição têm maior dificuldade em aprender a falar. 4.3) DIFICULDADES E LIMITAÇÕES Dentre as limitações do estudo estava a dificuldade da mãe em informar as questões perguntadas mais detalhadamente, talvez por receio ou mesmo pelo fato não compreender corretamente as perguntas e principalmente a dificuldade da família em seguir as medidas interventivas, deixando transparecer certa apatia da mãe em relação ao quadro da filha, já que a implantação das orientações dependia quase que exclusivamente dela. V) CONCLUSÃO 5.1 SÍNTESE DOS PRINCIPAIS RESULTADOS Infelizmente as medidas propostas não foram seguidas pela família, e pouco se alterou no cenário inicial que havia se conhecido. Y manteve uma estrutura corpórea magra e ao final do projeto pesava 11.650g, media 89 cm e continuava na linha abaixo do ideal. Seus hábitos alimentares continuavam praticamente os mesmos. O baixo nível de escolaridade materna, o que, de certa forma, pode impossibilitar a mãe de entender corretamente as intervenções propostas e acreditar no tratamento, ligado à situação de extrema pobreza, onde a falta de alimentos com boa qualidade é uma realidade, podem ser fatores determinantes para a dificuldade de regressão do quadro de desnutrição de Y. 5.2. SUGESTÕES DE NOVAS PESQUISAS A desnutrição infantil é uma doença de característica multicausal, onde os principais fatores presentes são devido às desigualdades sociais. Pelo fato da desnutrição ser uma patologia de caráter tão complexo, apresentando desde a simples carência nutricional até o vínculo mãe e filho como facetas determinantes, é um tema muito amplo para investimento e novas pesquisas. Como apresentado nesse artigo, em muitas famílias há presença tanto de crianças desnutridas quanto de crianças saudáveis dentro do mesmo ambiente, no caso os irmãos que são expostos aos mesmos fatores de risco e por algum motivo, não desenvolvem a patologia. Seria extremamente interessante que se pudesse avaliar essas diferenças levando em conta o fator genético e até que ponto este influencia na incidência de doenças em cada indivíduo. 5.3. PROPOSIÇÕES E RECOMENDAÇÕES DE INTERVENÇÕES (APLICAÇÕES) O desafio é reduzir cada vez mais o número de crianças desnutridas, qualquer que seja a gravidade da doença. Há muito a ser feito e são várias as chances e formas em que um profissional de saúde, com conhecimento atualizado e funcionando de forma correta e eficaz, pode contribuir para ter crianças bem nutridas e saudáveis em sua área . As ações de manejo dietético podem ser promovidas pelos profissionais de saúde através de orientação direta às mães sobre aleitamento materno, alimentação complementar para crianças a partir de 6 meses, incluindo alimentos ricos em vitamina A, ferro, zinco, vitamina B6, alimentação da criança doente e reidratação oral na diarréia. Reduzir a prevalência da desnutrição infantil requer ação focalizada e sistemática não apenas na área de saúde, mas também de segurança alimentar e, particularmente, nos cuidados com a mãe para que ela possa cuidar bem da sua criança. Acesso à educação, cuidados de saúde e água de boa qualidade, proteção contra doenças e garantia de uma ingestão adequada de micronutrientes são elementos chave, em conjunto com algum sistema comunitário adequado para acompanhamento e suporte às crianças com desnutrição leve, moderada e grave. A desnutrição infantil é um grave problema de saúde pública e sua efetiva redução depende de intervenções integradas que reduzam a pobreza e melhorem a qualidade de vida das famílias menos favorecidas. Isso implica estratégias amplas no nível governamental, com intensa participação da sociedade civil. Não é função do profissional de saúde mudar a estrutura política e econômica de uma sociedade, mas é sua responsabilidade entender as desigualdades e limitações vividas pela população por ele atendida, e ser capaz de, neste contexto, aplicar o conhecimento científico disponível. VI) AGRADECIMENTOS Meus sinceros agradecimentos aos componentes da família acompanhada, à equipe do PSF CAIC Vila Mariana e ao professor que possibilitou a realização deste trabalho Dr. Helvécio Bueno. ABSTRACT INTRODUCTION: The infantile malnutrition is an illness of complex origin that is caused mainly by the social inaquality. It occurs when the organism does not receive the necessary nutrients for its metabolism. In the majority of the cases, the malnutrition is the result of a insufficient feeding, hunger, or illnesses. OBJECTIVE: To analyze the profile of a devoid family and the influences of the malnutrition for the physical and cognitive development of one of the children of the couple with typical clinical. METHODOLOGY: The present study is about a study of case realized through means of visits domiciliary during the years of 2006 and 2007, in the practical activities of the discipline of Communitarian Interaction of the course of Medicine of Atenas Faculty – MG. RESULTS: In the first semester of 2006, Y, weighed 8,700 g and measured 77 cm Given these that when marked in the line of infantile percentile they pointed the risk area, therefore was very below of the waited weight and the height. One year after the first contact, g weighed 10,495 and measured 85 cm, remaining in the lines below of ideal weight and height, confirming the difficulty of reversion of the picture. It presented delay of physical and cognitive development when compared with the brothers. CONCLUSION: The low level of education of the mother, on to the situation of extreme poverty, had been determinative factors for the difficulty of regression of the picture of malnutrition of Y. This situation influenced in the mental and physical development of the child, who did not follow the rhythm of growth and learning of the brothers. REFERÊNCIAS: 1. RESEGUE, R.; WECHSLER, R.; HARADA, J. Desenvolvimento da Criança. 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