Da `marginalidade` ao processo de institucionalização
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Da `marginalidade` ao processo de institucionalização
Índice Editorial .. V N ecrología 1 . Artículos: el ciclo de iuventute 4 Von Colóns Briefen zu Lope de Vegas Kannibalen.Eine KIassifizierung der Texte des Siglo de Oro über Alnerika ......... 33 Wenn Hunde erzãhlen.Miguel de Cervantes' Coloquio de los perros und die Tierliteratur ..................., 51 BENJAMIN KLoss: La imagen de Francia en los artículos de Mariano José de Larra ......... . ............................ 82 ANTONIO CARRENO: Lope y INGRID SIMSON: MICHAEL KOHLHAUER: deI sujeto ético en la trilogía social de Blas de Otero ............................. 106 JUAN JOSÉ LANz: La construcción de la voz y M.CARMEN VILLARINO PARDO: Da "rnarginalidade" ao processo de institu cionalização: o caso da poesia no sistema literário brasileiro pós-64 .., 134 HUBERT POPPEL: Ein seltsarnes brasilianisches Allti-Evangelium: Mário de AIldrades Macunaíma: ............................. 148 Resenas ROLF EBERENZ: Diálogo y oralidad en la narrativa hispánica moderna.Perspectivas literarias y lingüísticas [Jiménez RanlÍrez] ............ 161 / HANS-JORG NEUSCHÀFER / AUGUSTA LÓPEZ (eds. ): Entre el ocio y el negocio: Industria editorial y literatura en la Espana de los 90 lJirnénez Rarnírez] ............... 163 JosÉ MANUEL LOPEZ DE ABIADA BERNASOCCHI AIlales de la literatura espanola contenlporánea: Teatro y cine, VoI.26,1 [Magnus] ..................................... 165 Theater, Filnl, Literatur in Spanien.Literatur geschichte aIs integrierte Mediengeschichte [Koch] ............. 167 FRANZ-JOSEF ALBERSMEIER: Da "marginalidade" ao processo de institucionalização � ? 135 alternativas fornecidas pela política cultural oficial são inúmeras que os setores J vens começarã � a enf�tizar � atuação em circuitos alternativos ou marginais (. . . ) . �est�çoes cnam seu próprio circuito 10das essas ma -não dependem, portanto da chancela ofiCIal, seja do Estado ou das empresas privadas -e enfatizam o caráter M. CARMEN VILLARINO PARDOl itucionalização: Da "Inarginalidade" ao processo de inst sileiro pós-64 o caso da poesia no sistenla literário bra de grupo e artesanal de suas experiências. Assim, face à cooptação e o controlo que o Estado quer ter do CaInpo cultural e do campo literário, uma série de produtores4 e manifestações rnargulais se �presentaIn corn� alt:rn�tiv�, restrita, a essa cultura oficial5 em que alguns se mte��am, e tambem � propna produção de tipo engajado que algurnas ernpre sas Ja e� n estabeleCIdas no nlercado editorial vendianl, porque perceberaln que eXlstIaln consumidores para os textos políticos ou de intervenção. Aos poucos conleça a perfilar-se unl público, um público que consome política de nlOdo que "as obras engajadas vão se transfonnando num rentável negóci � para as elnpresas da cultura" (Hollanda, 19923: 93). � livreiro do país nlostravanl unl pano As editoras que trabalhavam no rnercado nacionais, ainda conl rnenos possibili rama pouco alentador para os escritores menos se os ntateriais do repertório dades se se tratava de autores novos, e queixas não deixaraln de existir, mas escolhidos eram pouco priorizados. As crítica em algo produtivo: surgiram também houve quern quis traduzir toda essa arn a editar eln "regune ntarginal", por os "autores Inarginais", porque conleçar no terreno da poesia, talvez o mais exernplo cmn o mhneógrafo,2 e não só conhecido nesta tendência. 3 unta crescente intervenção estaA partir de 1975, sobretudo, evidenciou-se io, que provocou reacções interes tal no CaInpo da cultura e no campo literár ções culturais e literárias e que Ine SaIltes enl cadeia nas diferentes maIlifesta ução poética, por exemplo, e como rece a pena ver. No que diz respeito à prod elecidas, vários produtores e pro crítica ao circuito das grandes editoras estab ativo de produção e distribuição dutoras optararn por criar um circuito altern no teatro proliferaram os 'grupos (livros minleografados). De nlOdo parecido, os mambembes de rock, chorinho . . . , experimentais', na música popular os grup orçanlentos e, preferenciallnente, ou no cinema as produções de pequenos como explica a professora Heloísa filInes ern super-8. É o mornento, em que, Buarque de Hollanda (Hollanda, 19923: 96): Compos leira na Universidade de Santiago de Professora e Doutora em Literatura Brasi m dos Sistemas Culturais tigaço Inves de ra Galab o Grup do tela-USC (Galiza). Membro Galego,Luso,Afro e Brasileiro,da USC. edição,texto nta: "Processo de edição é processo de 2 Abel Silva (Opinião, 9/4/76 ) come é texto". ento em por O pasquim, em 1975,há um mom 3 Ao falar da prosa no debate promovido -Sérgio Sant'Anna: "( . . . ) a s: lemo e inal marg ção produ da que os participantes falam : Agripino entrou no mercado ainda. E ela existe grande obra de revolta no Brasil não Não,nós io: -Sérg des?/ rebel ar: Não são vocês os de Paula,Sebastião Nunes . . . ! -Jagu ! -João Antônio: dele. gosto não , papel esse to Rejei somos escritores do establishment. E é uma obra tão fazendo uma obra na escuridão. O Sérgio está certo. Esses caras inlportante". 1. A rnarginalidade corno referência: a geração mimeógrafo � � � � � Mas enl que : rmo s define ou estabelece essa "marginalidade",6 que pro dutores e cntIcos lsIs ern enl mostrar? �lávio Aguiar (Leia, 1978, p. 13) re su e e nlOdo nluIto sunples e nlesmo gráfico de rnais a questão: "recebiam, ao Ulves da proteção almejada, a tesourada". Mar na s que a ontavaIn, especialmente na poesia, para a inadequação e . ulsuficIeI cIa das edItoras brasileiras face às novas necessidades do consunlO. 7 lecessIdad: que estes produtores manifestam, atinge, assim, não só mate . como também pla aI� r p :rtonaIs cação cultural e de mercado, papel das ulstItmçoes . . . ; enfun, urna aInpla re-estruturação intra-sistémica. Heloísa Buar que de Hollanda oferece (HollaIlda, 1976: 7) a sua explicação: � � �! � � �� � � � �� fr nt o � � ?loqueio sistemá�ico das editoras, tnbmçao mdependente VaI um circuito paralelo de produção e dis se fonnando e conquistando um público jovem que não se confunde com o antigo leitor de poesia. 1 � � 4 Eles insist m :m que o princípio que se iga no campo de produção literária seja aquele . em que as UIllCas regras venham deternunadas pelo próprio campo literário' e não peIo 5 6 7 campo do poder. idade/ uma barra pesada ! impossível de retocar" (André Bueno,Brasa Brasil, 7 Cfr. Saraiva (1975). Sem esqu ce que nes�e "espírito de marginalidade" estava muito presente também uma margmalIdade poht ca m sectores amplos da sociedade,incluídos os artistas que procuram estes outros ClrcUltos alternativos. �� ��� � � � � Da "marginalidade" ao processo de instituCionalização M. Carmen Villarino Pardo 135 � inal", tambérn aponta (Cacaso, 19 7: Cacaso, um dos poetas da "geração marg lema importante, cultural e socIal 18-19) para uma dinârnica que é um prob mente, no Brasil daquela altura: estreante, e barra ao escritor, sobretudo se for a escalada da marginalização, que em condi buído distri e de ter seu trabalho editado mais ainda se for poeta, o direito ente de req ais vez da c nós é a ocorrência . ções normais (. .. ) O que se vê entre como taIS , IOnaIS tradiC VIas de cada vez menos das uma poesia cuja existência depen pa de ipado antec nto ecime nas livrarias, reconh apoio editorial, vendagem nonnal drinhos e instituições literárias, etc. � . � � � mr de 'nmrginal' o autor "barrado" Este autor reconhece que o habitual era chan ibuindo por conta própria, 8 de nlOdo nas editoras e que acabava editando e distr nlaneira que, cOln a passagenl dos geral se é estreante ou pouco conhecido. De o assim acontece) textos e auto anos tenninássernos lendo e estudando (com vezes apesar das instituiçõ�s". res que sobreviveram "à nmrgenl e muitas os anos setenta no Br�Il, nunm . A actuação enl grupos,9 tão habitual durante situação de margmalidade enl a rar supe rem tenta e s força r soma de tentativa geral os factores institucionai ), que os colocava o sistema editorial (e enl independente, enl geral enl reVIS favoreceu por todo o país as edições de tipo os próprios autores [manciavam tinhas ou livros ern papel jornal barato, que urna adversidade (evidente tarnbénl e como se sabe, distribuíanl, convertendo sistenla literário� �um �as posições periféricas que ocupavarn nas redes do vida literária brasileIra. ria u a próp claro exemplo de dinanusnlO que enriquece surginlento desse do s culpáveis O facto de indicar as editoras conlO única cionista como pensar na censura rnovimento de poesia rnarginal é tão redu govenlo rnilitar no campo cultural corno a única estratégia de intervenção do anos. Para isso, entendemos o e no carnpo literário brasileiros durante esses do poder, nUIn esquerna de círculos campo literário cOlno uma parte do canlpo ectiva mais apropriada para não concêntricos que nos deve dar sempre a persp de vista nunca a estrutura em que isolar os factos que analisarnos e não perder � 8 dessa época, �o�no mo�tra, ��r exemplo, Coincidem com ele quase todos os estudiosos ras Brasü�tras: Ittnerarw� r:o Pen Leitu como amplo tão a referência que, num livro s Manza Veloso e Angelica Massora profe as samento Social e na Literatura, fazem . . deira (VelosolMadeira, 1999: 186): -Bossa Nova, Crnema Novo-, nos ano.s "Assim como nos anos 50 ( ..) tudo era 'novo' lar de Cultura (CPC), m�sica �opul� brasl 60 tudo se tornou 'popular' -Centro Popu estações estéticas que nao se ldentificavam manif as todas leira (MPB)-, nos anos 70, '. com o status quo eram denominadas 'marginais" de "marginalidade", como um exem e ia rebeld de es atitud ntes difere Que mostravam deu da França e dos EEUU a outros esten se que ", plo mais do chamado "poder jovem países, entre eles o Brasil. se insere aquilo que trabalhamos, seja do canlpo estritarnente literário ou do cultural. Nesse Brasil do período pós-54, e especialrnente na década de 1970, estava na moda entre um detenninado sector da população, jovern maioritariamente, ser marginal; de rnodo que, como aponta F. Süssekind (Süssekind, 1984: 179): Se o leitor sente no escritor, no narrador, no herói do romance, alguém que sofre marginalização semelhante à sua a empatia é imediata. Por isso se abusou tanto do epíteto 'marginal' nos anos setenta. Tomou-se coisa tão elogiosa quanto uma tuber culose para os autores românticos. Ser marginal parecia implicar uma percepção mais radical da sociedade brasileira, ela também marginalizada e exposta à violência e à censura. Na literatura brasileira, este movimento poético recebeu vários norHes (parece haver uma resistência a que fique defirudo cOln um único nome), entre eles o de movimento 70, geração 70, alternativo, independente, paralelo (que preferem �eraldo Canleiro ou Ronaldo Periassu), jovem, marginal, 10 desbunde (que uti lIza, entre outros, Benedito Nunes), mimeógrafo.ll Talvez o melhor seja oscilar entre 'os verbetes do cardápio'. Ser marginal, ou melhor, declarar-se rnarginal corno poeta estava na rnoda podemos dizer que era um dos materiais privilegiados do repertório ness � época, utilizado por determinados (e nurnerosos) produtores; rnas não fazia parte de um repertório canoruzado, porque esses autores não utilizavam os circuitos habituais que marcavam o rnercado e/ou as instituições, nern quarlto à edição nem à distribuição dos seus produtos. Essa maneira de fazer e divulgar poesia, procurando uma participação viva na cena literária cultural, para o que saíram para as ruas e utilizararn as marlei ras rnais sugestivas e irnaginativas para chegar ao público,12 "virou moda", e conleçou a centrar a atenção dos críticos, da imprensa, de professores e estu diosos e, tarnbém, dos editores; num canunho que se orientou para a institucio nalização de uma parte desta produção e dos seus autores. 10 11 . 9 137 12 Este foi talv�z o que mais �ngou, como indicam, por exemplo, estas referências: Cha . ca:, Quampenos (1977), RlO de Janeiro, Edições Guarnicê, 1986; Cacaso, "Tudo da minha �erra-bate-papo sobre poesia marginal", inAlmanaque 6 (Cadernos de Literatura e Ensaio), São Paulo, Brasiliense, 1978; e Heloísa Buarque de Hollanda (19923). Como exemplo os poemas "geração mimeógrafo" de Xico Chaves, in PoeEta clandes tino (1986), ou "Ai que saudade eu tenho" (primeiro verso), de Paulo Nassar (in Cam pedelli, 1995). "Par� obter esse efeit� �e reconhecimento imediato, essa resposta direta do leitor, foi preclso que o texto poetlco começasse a dialogar cada vez mais com os media e menos c�m o pr? prio sistema li�erário, cada vez mais com o alinhavo emocional do diário, com o lllstantâneo, com o reglstro, em close, da própria geração" (F. Süssekind, 1985: 73). 138 1.1. 26 poetas hoje e o irúcio da institucionalização. O papel da editora Labor no Inercado literário brasileiro Especialmente significativo neste sentido foi a publicação do livro de Heloísa Buarque de Hollanda, enl 1976, 26 poetas hoje.13 Nele, esta professora tomou visíveis alguns dos principais representantes (e os seus produtos) dessa 'nlOda poética',14 para unl público unl pouco ntais amplo do habitual consumidor desses textos (frequenteInente jovens e, Inuitas vezes, tambéIn eles produtores de 'poeInas Inarginais'; conlO é habitual no "sous-chanlp de production res treinte", de que fala P. Bourdieu, 1991: 7). A autora não inclui só os poetas denonlirlados Inarginais, nlas trata-se de uma lista fechada, uma tentativa de canonização de vinte e seis poetas e dos seus textos.15 A publicação do livro desta ensaísta e crítica carioca na editora Labor, enl 1976, é importante taInbém pelo facto de iniciar unla nova etapa desta casa editorial. Instalada no Rio de Janeiro há quarenta anos COIno distribuidora, a Labor do Brasil16 entrava agora no nlercado conlO editora, publicando obras nacionais e estrangeiras. E precisanlente essa estreia editorial foi com 26 poe tas hoje. SeIn dúvida, a Coleção de Bolso Labor foi unl passo para a frente, COIn diferente repercussão no relativo aos outros autores e à antologia organi zada por Heloísa B. de Hollanda. E o caso desta últÍlna é especialnlente irnpor13 14 15 16 Da "marginalidade" ao processo de institucionalização M. Carmen Villarino Pardo Um ano antes saíra tanlbém a antologia AbertuTa poética- PrimeiTa antologia dos novos poetas do novo Rio de JaneiTo, Rio de Janeiro, C. S. Editora, � 975, organizada por César de Araújo e Walmir Ayala, em que aparecem quarenta e tres pO:,tas �ovos, inéditos até então. Não teve muita repercussão na crítica, embora a sua funçao divulga dora fosse importante. E em 1978, por e�emplo, encontramos Ebuliçã? da �scrivatuTa, no Rio, ContTamão, em São Paulo e Aguas emendadas, em Brasília: tres casos de antologias poéticas em que a organização depende de um grupo. . Distinto é o caso de Wally Sailormoon -e de algum outro poeta- que VIU a sua obra Á (um exemplares mil dez de tiragem editada em 1973 pela Editora José lvaro numa acontecimento, se pensamos nas tiragens mínimas que era� p�s�das de mão em �ão no caso da maioria dos poetas desse grupo dos anos 70), distnbUIdo mesmo em qUIOS ques. Me seguTa que vou daT um tTOÇO era o título do livro, que devia . Lniciar uma colecção dedicada a poesia ("Na Corda Bamba") . Aconteceu o que pratIcamente se podia prever: um fracasso de vendas, provocando que não saíssem outros autores que iriam integrar a colecção -Luís Carlos Maciel, J. Mautner (Cfr. Cacaso, 1997: 71). . "Esta mostra de poemas não foi feita sem arbitrariedade" (Hollanda, 1976: 10). Uma arbI dispers � trariedade que passa também por algumas limitações: conhec�r a produção desses autores não resultava fácil, por isso se limitou àquela area que melhor conhecIa: o Rio de Janeiro. No polissistema literário brasileiro desses anos não escolheu produto res das correntes experimentais, nem das tendências formalistas, nem obras já reconhe cidas. "O que orientou a escolha e identifica o conjunto selecionado foi ajá referida recu peração do coloquial numa determinada dicção poética" (Hollanda, 1976: 11). O Grupo Labor, a que se filia a Labor do Brasil, tinha sede em Barcelona, e . a ele estavam ligados duas importantes editoras espanholas, a Guadarrama de Madnd e a BarraI de Barcelona. 139 tante pela luz que trazia sobre unla aInpla produção marginal, pouquíssimo conhecida fora do espaço dos próprios produtores. 26 poetas hoje inaugurou unta linha editorial no grupo catalão irlstalado no Brasil: a Colecção Formato de Bolso de obras de ficção, poesia e reflexão (eIn que pretendiam dar atenção aos "bons autores brasileiros"), que, COIn as obras de Inedicina e livros técnicos, querianl que fossem as tendências que Inarcas seIn os lançamentos da casa. Sem 'pretender disputar o mercad o de best-se llers' apostaraIn por introduzir entre os (poucos) hábitos leitores do público brasileiro o dos livros de bolso, ainda escassanlente presentes no seu Inercado editorial. O projecto concretizou-se COIn o lançarnento de cinco livros "todos COIn ótirnas capas de Sílvia Roesler" ("Cinco bons livros de bolso", Jdrnal de Ipanema, Julho, 1976): Nem preto nem branco. (Escravidão e relaçõe s raciais no Brasil e nos Estados Unidos), de Carl N. Degrel; 26 poetas hoje, org. por H. Buarque de Hollanda; Armadilha para Lamartine, de Carlos & Carlos Susse kind; Gargalhada no escuro, de Vladirnir Nabokov; e Fundador (2a edição re vista), de Nélida Pifíon. UIn lançamento editorial que teve arnpla repercussão na impren sa17 e uma caInpanha intensa de promoção, favorecendo que vários desses livros figuras sem em breve entre os mais vendidos. 18 Se o lançamento da antologia orgarúzada por Heloísa B. de Holland a é enor Inemente sigIúficativo, também a re-edição da obra de Nélida Pifion foi impor tante, porque se tratava de voltar a ter nas livrarias um texto publicado em 1969 que tivera UIna distribuição InÍIúIna e que havia teInpo precisa va de unta nova edição (Jornal do Commércio, 9/5/74), especialmente após o prémio que a autora carioca recebeu por A Casa da Paixão (Prêmio da APCA) e da edição eIn espaIlhol que a editora argentina Emecé lançou eIn Buenos Aires, enl 1973. Fundador foi premiado COIn UIna Menção Honrosa no Wahnap de 1969 e conti nuava a ser mencionado entre os livros desta escritora, considerado COIno "um voluIne cheio de chaves simbólicas e ainda carecedor de atenção Inaior da crítica nacional" (Aramis Millarch, Estado do Paraná, 1973). O lançamento desta edição de Fundador chanlOU de novo a atenção sobre UIna autora que não parece precisar já de apresentações prévias .19 E o resul17 18 Jornal do BTasil, 9/6/76; Jornal de Ipanema, Julho, 1976; Jornal do ComméTcio, 4/7/ 76: Manchete, Julho, � 9!6; � Globo, 18�7/76; Diário de PetTópolis, 25/7/76; O Estado de Mtnas, 8/8/76; A Nottcta, RIO de JaneIro, 10/12/76; O Dia, 1/8/76; Gazeta Comercial, 28/1/77, etc. Vid. O Dia, 1/8/76. Este jornal carioca oferece uma lista dos dez mais vendidos chefiada por Os velhos marinheiTos, de Jorge Amado, e que continua Boitempo, de Carlos Drmnmond de An�ade. Encontramos, nos postos 5°, 6° e 7°, respectivamente, 26 . Armadüha paTa LamaTtine e F'undadoT, seguidos de duas obras de Gui poetas ho.Je, marães Rosa, Tutaméia (8°) e SagaTana (90). 140 141 M. Carmen Villarino Pardo Da "marginalidade" ao processo de institucionalização tado desse lançamento?: "O livro repete o sucesso comercial. Disputa-o o pú blico. Suas páginas servern de material de estudo nas universidades" (Gazeta Comercial, 28/1/77). Mas estas palavras do crítico Campomizzi Filho, que conhece beIll a obra da escritora carioca, parecem dar a impressão de estannos diante de uma produtora literária de sucesso comercial, urna ideia que não se ajusta exacta mente à realidade. É verdade que o livro atingiu uma maior divulgação, e que o norne da autora circulou Illais amplaInente, Illas não nos enganernos: N. Pilion continua a ser, nessa altura, UIlla autora com urn público restrito, COIll um nOIlle e uma posição consolidados e de destaque (porérn ainda não ocupa uma posição central no sistema literário brasileiro), rnas um norne estranho para muitos estudantes do Rio Grande do Sul, de Salvador, de São Luís do Maranhão . . . (e mais ainda entre um público não universitário). O seu caso não é singular, pois tarnbéIll outros escritores e escritoras, colegas seus (em posições diferentes do CaInpo, mas todos eles longe da periferia do sistema literário), vão precisar do contacto directo através de viagens pelo país afora (aonde convidaIn sernpre os IllesIllOs) para dizer quem sou, qual é a rninha obra e também para se mostrarem mais acessíveis ao público. As escolhas da editora Labor contribuíram para a divulgação desses produ tores literários e dos seus produtos, entre eles taInbém a obra nelidiana. Mas, a repercussão que esta re-edição de Fundador tem no polissisterna literário brasileiro é Ínfirna se a cornparaInos corn o significado que, em 1976, tem o lançamento da obra organizada por Buarque de HollaIlda, porque indica que cOIlleça a abrir-se o caminho das editoras (e de unl mercado mais amplo) para o 'grupo marginal'.2o A publicação de 26 poetas hoje deu rnais força ao movirnento da poesia margi nal, abrangente e diversificado; um fenómeno que se aInpliou devido sobretudo a vários lançamentos (sendo este livro um dos mais significativos), praticaInente seIllpre acornpanhados de recitais, e ao início de polémica em jonlais e revistas. Nesse crescente irlteresse taInbém devemos incluir ala Feira Paulista de Poesia e Arte (Novernbro 1977), no Teatro Municipal de São Paulo - o mesrno cenário da Sernana de Arte Modenla de 1922. Durante três dias foraIn lançados e vendidos dezenas de livros, além de leituras públicas, espectáculos de música e dança, ex posições de fotografias, gravuras, pinturas . . . , com uma presença e participação irnportantes, e surpreendentes, de público. A revista Escrita também lhe dedicou urn rnonográfico no n° 19 (1978). H. B. de Hollanda, que estava a trabalhar COIll a produção poética do rno mento, recebeu UIlla encomenda da Editora Labor para reunir os chamados poe tas rnarginais. Estes simplesmente exemplificavarn alguns dos grupos que trabal havaIll com materiais repertoriais e objectivos parecidos; entre eles, a revitaliza ção do fazer poético, a procura de público, a desintelectualização da linguagem e do comportarnento, o mercado altenlativo . .. A professora Buarque de Hollanda pretendia traçar urna 'radiografia' do panoraIna poético do IllOrnento, um retrato de geração21 rnostrando essenciahnente alguns dos produtores que iniciararn a sua actividade poética nos anos sessenta e setenta; contudo, sem tentar repre sentar "a poesia jovem" no Brasil de modo global, equívoco que persistiu durante bastaIlte ternpo ao referir-se à colectânea.22 'De parte ficararn, entre outros, o neoprocesso e em geral as vanguardas, mas não só. O objectivo do trabalho parecia claro para a organizadora, como se depreende deste debate que reproduzimos, apesar da sua extensão: Luiz Costa Lima- (. ..) Que se pretendeu? Furar o mercado editorial? 19 20 Heloísa- Criar uma alternativa. Entre os comentários que falam dela, encontramos alguns como estes: "a autora já firmou o nome e é o quanto basta, para recomendar o seu livro" , "o nome de Nélida Pifion, por si só, suscita interesse quando aparece como autora de um livro" (Jornal do Commércio, 4/7/76); "Nélida Pillon é hoje um nome consagrado da ficção brasileira. Desde sua estréia há quinze anos com 'Guia-Mapa de Gabriel Arcanjo', a escritora carioca se fez destaque" (Edigar de Alencar, A Notícia, 10/12/76); "a autora se impõe como destaque entre todos os nomes femininos das letras brasileiras de todos os tem pos" (Camponúzzi Filho, Gazeta ComerC'ial, Juiz de Fora, 28/1/77). "Ana Cristina e Ítalo tiveram a inteligência de perceber, ainda em 1977, sob o impacto do sucesso da antologia 26 poetas hoje, publicada por Heloísa Buarque no ano anterior, as ambigüidades com que passaria a se defrontar a partir de então a opção marginal. Entre o 'trampolim' para uma grande editora e a persistência num esquema alternativo de produção. Divisão que se apresentaria de maneira mais rútida no início dos anos 80, quando Chico Alvim, a própria Ana Cristina, Leminski, Chacal, Alice Ruiz e, mais tarde, Cacaso seriam convidados pela editora Brasiliense para reunir em volume seus livros editados inicialmente de forma independente. O que se realizaria com bastante sucesso de público" (Süssekind, 1985: 71). Sebastião Uchoa Leite- Criar uma alternativa assim como existe uma imprensa alter nativa em relação ao Establishment. Luiz- Tipo imprensa nanica. Eudoro Augusto- A poesia nanica. 21 22 "Mas ela {a Antologia} é um registro. Que aliás, deu muito certo, comercialmente . . . ", comentou a organizadora, H. B. de Hollanda, na revista José ("Poesia hoje", Agosto, 1976) no momento da publicação da obra. Esta revista foi lançada durante o III Encon tro Nacional de Professores de Literatura (de 28 a 31 de Julho na PUC-RJ). Foi uma das várias revistas que surgiram nessa altura, como Saco Cultural, Ceará ou Inéditus, "o que é prova de uma certa efervescência que vem aparecendo nos meios literários brasileiros" (Affonso Romano de Sant'Anna, O Estado de S. Paulo, 1/8/76). "Equívoco que não parte da Antologia, mas da recepção em relação a ela. Ela retrata apenas uma ilha de um arquipélago de poesia jovem e atual", explica Jorge Wanderley no debate sobre poesia que publicou a revista José em Agosto de 1976 (p. 5). 142 Da "marginalidade" ao processo de institucionalização do M. Carmen Villarino Par mimeografados, outros, em offset, mostram um trabalho gráfico sabido e diferen _ o pergunto.. Se é essa a intenção vocês não correm o risco de enta Mas to. Exa Luiz de serem poetas que pelo simples fato h ment uma sene de mar tomarem como Establis . , são colocados na outra o, AgUllar, gra ndes editoras editados pela Jos é Olympi / � :: o . · 1 do repertório canonizad aneldade": Inatena por teln con da o istr "reg O 1.2. a rque de Hollanda faz para ess y�o que H. Bua . É interessante a chalnada de at �n 7): 6: anda, 197 no lIUCIO do seu livro (Ho11 produção poética eIn 1976, � � a, nas portas de oesia. Nos bares da mod . . e, o a�tl o do dia é Curiosamente, hOJ . ul!n e se esgotam com rapidez. Alguns são s, livrinhos crrc teatro, nos lançamento 23 epção da via diálogo ·de um lado a perc intere s n ,de� � � lprensa. Neste caso Várias são as ideias que. nos na ntecia ac que , e par e o aqu e tamalternativa para a poesm � leis do mercado editorial tlca, no outro, ais Pelas polI sura cen pela do inção entre .aqueles dist a um Propicia lara c Ica fi o política· de outr o-nos bém, claro, pela ce�sura (Establishment), e refenm estao do 1 d d� poder as grad inte o estã tas produtores de poesm que pos cujas pro mercado e o al aqueles outro, aquele� qu� de e basicamente ao poder do . ral, Cab e ond , especm�mente D� tl nas editoras consagradas orial nem de n�nhuma m� � a�Olo de nenhuma casa edit sem ta, con sua pela tambem, a referen actuam Mas ). ário liter ma siste penfena de�tro .do faz da tendência que tuição (um centro e uma le o eI deflnição que se l é Ch�v �, , porque um �o� ndo cia a Drununond e C�bra Hollanda); segu , clasSIClZ ( . na Antologm e ta sen representam: formalIsta, apre rque Bua sa a produçao que. Heloí coloca estes ar Cés tina traços mais comuns a toda Cris Ana alismo; e ter�e�ro' form anti o mo, e do mo part ralis m cab o anti mesmo se faze o l dentro d tr o tradiçã? u' F com deles dois poetas praticamente alar ção. de prod presente e mento presente (aquele zam um repertório canOIllentre os autores que utili los cá colo Ica nifi . SI que . pensamos a presença geradora: . . ' 'um � . são eles ue q ntar amda maIS, co Even-Zohar denormna zado(/não canoIllzado); e ar Itam ar daquilo que rmos a esta de o ce fact ao a reflr se talvez . ·ado modelo literário se estabele . . . a' ' em que mn detemlm � canOIUzaesta a Seri como 'canoIUcIdade di�armc te. . des io rtór ra eS do repe do slstem opinião do professor como princípio produtl�� en e produz o cânone, em re que ) tlco esta tip de a ção (e não <.> lOS os da Escola de TelaVive. s que a Antologia (ao lem de produtores e pr duto Em vista disto, o leque ial comum, talvez mais do tenc exis a o ebe-se rquia entre textos que apresentam per� a atitude de escárnio e ana � al comum, literatura da a grafi orio que uma proposta rep:rton arlha na hist. de rebelde que não é estr hecidos em 1976 con á os mais novos·, uma atItu J uns (alg e . erec f o 1987·. 91-110) nos estanam brasileira -cfr. Schwarz, . do-se, quase, ao público) ntan rese ap s tr o a, !ICad � tro do através dalguma ob�a . pub sistemas periféricos den -canoIllz� o, e integrariarn a utilizar um repertono nao ileiro da decada de 1970. polissistema literário bras �f _ ciado do que se vê no design industrializado das editoras comerciais. Mesas-redon das e artigos de imprensa discutem o acontecimento. O assunto começa -ainda que . gem, no Establishment? m, por exemp1o?. (Ana) Cristina Cesar- Que ral. Cab , rária. Luiz- Drummond . que dentro da tradição lite e Cabral estanam quase (Ana) Cristina- Drununond " presença g adora . .. Eles são mais, digamos, uma 1976, p. 6) ("Poesia hoje", José, Agosto, �� � �� = � _ ll :e ��;�: � ��;�� � � � � com alguma resistência- a ser ventilado nas universidades.24 Tinúdalnente a poesia Inarginal foi entrando na universidade, após unta pre sença insistente eln recitais, polémicas eln jornais e revistas, UIna Feira em São Paulo, um Inonográfico da revista Escrita ...; até converter-se em capítulo de tese e mesmo objecto central de estudo em detenninados Ineios acadélni COS.25 Da periferia do sistenta literário e das atitudes de luta dalguns produtores enfrentados ao carnpo do poder e às instituições passou-se a UIn processo de aproXÍlnação desses espaços institucionais e, paralelamente, de posições Inais centrais no campo literário para vários desses autores (antes) "Inarginais". H. Buarque de Hollanda destaca também outro aspecto importante: escre ver, ler poesia converteu-se nesses anos praticarnente numa nlOda (e surge um número alnplo de poetas em vários pontos do país através de pequenas edições autofrnanciadas).26 Ulna 'moda' (Inais uma nlOda ou unl Inovimento literário? pergunta esta professora -Hollanda, 1976: 7) que saltou às ruas (especialInente na Cinelândia, no Rio de Janeiro), aos espaços públicos (teatros, bares, cine mas) e que circulou com bastante nonnalidade entre as Inãos de unl público jovem.27 O tema poesia não se restringia aos textos, tambénl chegou -e de nlOdo nluito forte - aos debates, que por vezes se trasladaraln a revistas e jornais. Falou-se muito de poesia lnimeografada e escreveraIn-se textos28 no calor da hora que dão uma ideia interessante das lutas, dentro do campo literá rio, pelo poder. Com o movimento da 'geração númeógrafo' a distância entre o autor e o leitor reduz-se, e, sobretudo, o leitor,não precisa ser mn entendido para poder 24 25 26 / � ��� :� 143 27 28 O carregado é nosso. Cfr. Hollarlda (1976: 7). Como vemos, a 'poesia está na moda'. Isso significa que a poesia é mn dos materiais do repertório priorizados no campo literário brasileiro dessa altura; e dentro dessa escolha privilegiada - como também o era o conto -, há a selecção de materiais de mn repertório carlOnizado (o de Drmnmond e Cabral) ou de mn repertório não-canonizado (os marginais e outras tendências). Vid. Carlos Alberto Messeder Pereira, Retrato de época: poesia marginal anos 70; C. Al berto Messeder Pereira e Heloísa Buarque de Hollanda, Poesia jovem (anos 70); Geraldo Carneiro, "A poesia marginal e seus meios", Gam, Rio de Janeiro, 29 Julho, 1976. Como exemplos podemos dar os de Antônio Carlos de Brito -Cacaso-, um dos mais prolíficos ("Poetas e poesia brasileira hoje", Opinião, Rio de Janeiro, 25 JUllho/1976; e outros. Vid. Cacaso, 1997) Affonso Romano de Sant'Anna (Música popular e moderna poesia brasileira, Petrópolis, Vozes, 1978), Silviano Santiago ("Poesia jovem: roteiro de velhas varlguardas à tropicália e ao marginal mimeografado", Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, 20/12/75), etc. Da "marginalidade" ao processo de institucionalização M. Carmen Villarino Pardo 144 cesso de marginalização por não absorção das novas propostas e vocações; o volume a urna "desierarquir sern rnedo dela . Assistirnos ler poesia e para se aproxinla . poesr�" (Hollanda, 1976: 8). zação do espaço nobre da '. as provas de irnprensa e s van vern a Iunle apo' Nao se trata de livros que saídos enl edições custosas, . ParticiParn de livros revisões ponnenonzadas, nem o ao contrário, ,as ou outra grande editora · Tud a unl de e om n o gam ul v di nern ora, que tanlbem ' a�ão directa do autor ou da aut 'cr: :r. edições contanl �o� � par: s rnodestas, edi �tajunto �O pu'blico ' trata-se de çõe colabora na distnburçao re e algumas isso . agrnatrvas e nlU Ito pessoar's. Talvez fosse . Inl .'maIs, atraentes, ong . . uagern29 lIuO aparenternente fácil e ,.{' mlal .' s (corno a hng . ais erarn o quoti. cIp escolhas repertonaI . dos textos - cU Jos ternas pnn do teú con o e ad a raç eng s recursos COIno o corn forte presença de doi diano " o rnedo e o erotisrno, . o de as segundas fact ores que m�s influÍranl no hunlOr e a metapoesia) os �act lero nao terem sido raras, e o nún , . odo geral nllIneografadas ) ja (d s ta r tad� continU arnent . ut r de poesia ter aurnen ú l p , to x e t e d lica-se o nurnero ltip mu res, uto d pro de ro nle entre o espaço dos l rno�ento de homologia30 leitor de poesia: estamos nun existir unla sintoece sumIdores de poesia?. Par p�odutores e o es�açO dos con (oferta) e a deenl rec aquilo que os produtores ofe ma, urna homol og�a entre e jovens da classe sunlidores (fundanlentalrnent nlanda de um sec t or de con ) 31 média, nurn anlbiente ur ano . que se assistia no ece cIara numas datas enl par tIca poé a nci scê rve efe A ' lOU o "boom de denonllI . 'Iro aqu " ilo que, como se sabe se lcarnpo literário brasIle prod ção aunlentou espectacu como em 75", ern que, tarlto enl prosa (Ca aso Cac lhernos um texto de se mornen annente. Para o registro des dia no vimento (n° 22 ' lente apareceu no jonla1 Mo caso, 1997: 77), que inicialn 1° de Dezernbro de 1975): da produção literária, sem qualquer chance de edição, tende a se expandir. E entre esses candidatos, lembra Cacaso, vários professores universitários liga dos ao circuito USP-Unicamp ("um fenômeno literário paulista irlteressantÍs simo"), entre os que destaca os nomes de Roberto Schwarz, Walrlice Nogueira GaIvão, Flávio Aguiar e Modesto Carone . 32 Na produção poética desses anos, especialmente no caso da poesia da cha mada 'geração 70' ou 'poesia marginar, enl opinião do poeta Cacaso (1997: 54), � estar fazendo poesia é mais importante do que o produto final. Esta atitude _ ������ : :� anlbígua consolida, no plano ideológico, a necessidade vital de retomar a criação, de não se deixar paralisar pelos esquemas paralisantes, de resistir. Forma de preser vação da individualidade, essa poesia dispersa é muito mais uma busca de reconheci : �� �::: � � � �:� _ mento e identidade, maneira precária de dizer que estamos vivos, do que um aconte cimento 'literário'.:33 ? � ��:��� escritores cresce O número de candidatos a de vagas que nossO maior do que o número . �� SlS ema s proporções muitas veze pro um Há rta. compo rial � �: Bras '1 d clara (e uma . res marca uma diferença a or est:s auto classici. : atura liter Neste ponto a linha esconu� � da ntes tanto çao as ten?��Cl� d mina hoje", José, esia ("Po atitude subversiva) em rela rque Bua sa eloí ond, em �plluao e szante - Cabral e Drumm a que trouxeram. uma con dos mOVimentos de vanguard filO . 4) ,p. 6 197 , C especIalmente no Agosto s, ante tia exis ? não e lent ' an sIa que J.>ratlc xaciência de linguagem a poe , processo ' etc.) que "ortodo de poesIa concre'ta,praxis o l' lteran a oram pan caso dos Concretos (grupos o a no noss a contro1adora e repressiv mente,se impuser3.1n de form pior", (Hollanda, 1976: 8). . . on "Poesia ruim,sociedade V uClUS Dantas e I nna Sim ' Cfr. também o artigo de � . 108 s,1987, pp. 95 Remate de Males 7, Campma 32. 11, : 1991 u, publica a rdie Bou Cfr. 30 número desses produtores aumentar quando um bom . 31 Demanda que parece e. tard S maI editoras,uns 3.1lOS sua obra (ou parte dela) em 29 � - _ . / / � ' 145 " Concordamos em parte COIn este poeta e crítico, ele próprio partícipe dessa rnaré poética, que, nós sim, consideramos que foi urn acontecimento literário, de que é clara a atitude de procura de identidade e de se deixarem ouvir. 34 O desejo de manifestar: aqui estarnos, existimos, e sornos poetas, criou algurls problemas à crítica literária que precisava reunir boa parte (se não era possível toda) dessa produção dispersa para estudá-la e avaliá-la . Daí também a irlicia tiva da Expoesia 1, 2 e 3, e das antologias que resgatassem e agrupassern esses autores . A chegada deste número amplo de novos produtores ao canlpo literário brasileiro faz com que pensemos na questão das fronteiras, dos linlites, das lutas que funcionam no interior do próprio carnpo, das lutas de defirução que se dão para se estabelecerern no ca:rnpo literário, e no problemático que isto resulta cada vez que se dá urna entrada considerável de produtores . Esta situa ção leva-nos às palavras do sociólogo do College de France, Pierre Bourdieu, que comenta (Bourdieu, 1991: 15): en effet, l'accroissement du volume de la population des producteurs est une des médiations principales à travers lesquelles les changements externes affectent les 32 Deles comenta (Cacaso, 1997: 257-258): o nível de qualidade dos poemas, sempre elevado, deriva quase que diretamente do nível de formação crítica da pessoa. São profissionais competentes nas suas respectivas áreas, pesquisadores sérios,doutores em sociologia,crítica literária,:filosofia,e que,por uma questão simples de envergadura intelectual, transferem consistência ao que criam. 33 O carregado é nosso. 34 Movida pelo medo que perpassa os textos,uma boa parte da poesia produzida durante a década de 70, "perpetua,para as gerações futuras,as cicatrizes do tempo" (Salgueiro, 1997: 41). 146 M. Carmen Villarino Pardo Da "marginalidade" ao processo de institucionalização rapports de forces au sein du champ: les grands bouleversements naissent de l'irrup tion de nouveaux venus qui, par le seul effet de leur nombre et de leur qualité sociale, importent des innovations en matiere de produits ou de techniques de production, et tendent ou prétendent à imposer dans un champ de production qui est à lui-même son propre marché un nouveau mode d'évaluation des produits. 2. Conclusões Enquanto que a poesia continuava a ocupar espaços em edições marginais vendidas de modo artesanal, quase atingindo 'proporções de epidemia', 1974, 1975 e 1976 são também anos em que o conto se converte numa das escolhas de rnateriais do repertório ntais apoiadas pelas instituições (editoras, autorida des culturais, criticos . . . ) e amplia a sua presença na irnprensa e nas publica ções ("o conto invadia a inlprensa e a poesia a vida cotidiana" F. Aguiar, Leia 0, 1978, p. 12), ern luta com a poesia para conseguir a "hegernonia genérica" durante a década. Nos fInais dessa nlesrna década vários produtores poéticos que pertenceram ao chamado círculo ntarginal ou alternativo (afastados, de modo geral, dos modos convencionais que se usam para a produção, edição e divulgação dos textos; e, sobretudo, do ârnbito institucional) entraram no circuito do rnercado editorial ao aceitarem que as suas obras fossern publicadas por editoras conler ciais. São os anos de uma irlcipiente indústria editorial brasileira, e o rnomento enl que alguns produtores escolhem a via da profIssionalização. O caso da poesia não é alheio ao da prosa.35 - BibliografIa citada Aguiar, Flávio (1978), "Os mensageiros de Jó: notas sobre a produção literária recente no Brasil", Leia Livros O, ano 1, pp. 12-13. Bourdieu, Pierre (1991), "Le champ littéraire", Actes de la recherche 89. Septembre, pp. 4-46. Cacaso (1997), Não quero prosa. OrgaIÚZação e seleção de Vilma Arêas. Campinas: Editora da UnicamplRio de Janeiro: Editora da UFRJ. Campedelli, Samira Youssef (1995), Poesia marginal dos anos 70. São Paulo: Scipione. Even-Zohar, Itanlar (1990), "Polysystem Theory", Poetics Today 11: 1 (Spring), pp. 9-26. (E revisões posteriores: 1999). Hollanda, Heloísa Buarque de (1976), 26 poetas hoje. Rio de Janeiro: Labor. Hollanda, Heloísa Buarque de/Freitas Filho, A/Gonçalves, Marcos A (1979), "Política e lite ratura", Anos 70-Literatura. Rio de Janerio: Europa, 19923, pp. 7-81. 35 Cfr. Villarino Pardo (2000: 370-382). 147 Salgueiro, Wilberth Claython F. (1997), Forças & Formas: aspectos da poesia brasileira contemporânea (dos anos 70 aos 90). Tese de Doutoramento. Rio de Janeiro: Universi dade Federal do Rio de Janeiro. Saraiva, Arnaldo (1975), Literatura Marginalizada, Porto. (Porto: Edições Árvore, 21980). Schwarz, Roberto (1987), "Nacional por subtração", in AA.VV, Tradição/Contradição. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, pp. 91-110. Süssekind, Flora (1985), Literatura e vida literária: polêmicas, diários & retratos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor. VelosolMadeira (1999), Leituras Brasileiras. Itinerários no Pensamento Social e na litera tura. São Paulo-Rio de Janeiro: Paz e Terra. Villarino Pardo, M. Carmen (2000), Aproximação à obra de Nélida Piiíon. A República dos Sonhos. (A trajectória de Nélida Pifíon no sistema literário brasileiro). Tese de Doutora mento em CD-Rom. Santiago de Compostela: Universidade de Santiago de Compostela.