Necrobiose lipóidica
Transcrição
Necrobiose lipóidica
NECROBIOSE LIPÓIDICA: UMA DERMATOSE MARCADORA DE DIABETES MELLITUS IV CNIAC 2015 Catarina Marques1, Fortunato Vieira2, Paulo Morais3 1Interna do Ano Comum, CHTV, Viseu; 2Histocit-Laboratório de Anatomia Patológica, Trofa; 3Assistente de Dermatologia, CHTV, Viseu INTRODUÇÃO Aspetos gerais. A necrobiose lipóidica (NL) é uma dermatose rara e de patogénese desconhecida que afeta cerca de 0,3% dos diabéticos e surge independente desta doença em 25 a 33% dos casos. Apesar de não ser patognomónica de diabetes mellitus (DM), é uma lesão característica, tendo 65% dos doentes o diagnóstico prévio de DM e outros 15% podem vir a ter este diagnóstico dentro de 5 anos. Associa-se frequentemente a DM do tipo 2, embora também possa ocorrer na DM do tipo 1. Acomete indivíduos desde o nascimento até aos 76 anos, sendo a idade média de início aos 30 anos em diabéticos e 41 anos em não diabéticos. É cerca de 3 a 5 vezes mais comum em mulheres. Clínica. A NL caracteriza-se por máculo-placas eritemato-acastanhadas e amareladas, brilhantes, deprimidas, atróficas e telangiectásicas, de contornos bem definidos. Atinge classicamente as regiões pré-tibiais com padrão simétrico, embora possa surgir nos membros superiores e noutros locais. Apesar de ser habitualmente uma lesão assintomática, por vezes pode haver referência a prurido e disestesia. A lesão pode surgir espontaneamente ou após trauma (13 a 35% dos casos). Embora a sua presença constitua um problema meramente estética, trata-se de uma dermatose crónica e com risco de ulceração. Diagnóstico. Baseia-se no aspeto clínico-histológico. Podem surgir dois padrões histológicos: um necrobiótico, com presença de desintegração e hialinização do colagénio, depósitos de lípidos extracelulares e infiltrado linfo-histiocitário e outro do tipo granulomatoso com presença de células epitelióides e células gigantes; este último está frequentemente associado à DM. Diagnósticos diferenciais. Sarcoidose, granuloma anular, xantogranuloma necrobiótico, morfeia e dermite de estase. Terapêutica. Geralmente ineficaz. Os corticóides tópicos conferem benefício transitório e o uso prolongado destes conduz à atrofia da lesão, podendo aumentar o risco de ulceração. Caso ocorra ulceração da lesão, o tratamento segue os princípios básicos do tratamento da úlcera diabética. A excisão cirúrgia com aplicação de enxerto de pele não confere grande benefício estético. Prognóstico. Independente do curso da DM; o controlo gicémico não se relaciona com a progressão da lesão. APRESENTAÇÃO DO CASO • Doente de 17 anos, sexo masculino • Antecedentes de DM tipo 1, insulinotratado e mal controlado • Enviado à consulta de Dermatologia Pediátrica por placa ovalada com 5 cm de maior diâmetro, assintomática, eritemato-nacarada, infiltrada e de bordos bem definidos. A lesão localizava-se ao antebraço esquerdo, apresentava 2 anos de evolução e crescimento progressivo (Figura 1). • O aspecto clínico sugeria os diagnósticos de NL diabeticorum ou morfeia em placa. • Foi realizada biópsia lesional para esclarecimento etiológico, tendo o exame anátomopatológico (Figura 2) confirmado a hipótese de NL. • O doente foi medicado com corticóide tópico e emoliente. Após 4 semanas de tratamento observava-se estabilização e menor infiltração da lesão. Figura 1. Aspecto clínico da lesão. Figura 2. Exame histológico (H&E) demonstrando espessamento das paredes dos vasos sanguíneos, degeneração do colagénio e presença de infiltrado linfo-histiocitário e granulomatoso, com acumulação de lípidos no citoplasma de histiócitos e no meio extracelular. DISCUSSÃO E CONCLUSÃO Os autores pretendem realçar uma apresentação invulgar de uma dermatose rara, porém característica e “avisadora” da presença de DM, cuja investigação é mandatória. Contudo, a presença e a evolução da NL não se correlaciona com o controlo glicémico. Salienta-se que em 1/3 dos casos o quadro surge fora do âmbito da DM, nomeadamente no contexto de sarcoidose ou doença inflamatória intestinal. Referências: Ramos e Silva M, Castro MC. Fundamentos de Dermatologia (Volume I). Rio da Janeiro, Atheneu, 2009. ∣ Rodrigo FG, Gomes MM, Mayer da Silva A, Filipe PL. Dermatologia. Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian, 2010.