Especial Consciência Negra - A carne mais exótica do - cress-mg

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Especial Consciência Negra - A carne mais exótica do - cress-mg
Especial Consciência Negra - A carne mais
exótica do mercado
Meninas e mulheres dos mais diversos contextos sociais sofrem com a sexualização exercida
pela sociedade. As mulheres negras, no entanto, precisam lidar com estereótipos raciais que
hipersexualizam seus corpos não somente por seu gênero, mas também por sua cor. Quando a
mulher negra não é considerada indesejável e respulsiva devido a sua pele, acaba se tornando
alvo de objetificação racista, que a exotifica sexualmente. Esses estereótipos acabam
naturalizando a violência sexual contra as mulheres negras e limitando sua existência a um limbo
de rejeição e indesejabilidade.A maioria das mulheres negras sofrem violência desde a infância,
onde aprendem desde cedo que seus corpos não são valiosos e vivem com o conhecimento de
que não são desejadas. Muitas meninas negras crescem com a certeza de que cada aspecto do
seu corpo é considerado ruim e, assim, acreditam que a única forma de alcançar um patamar de
igualdade com as mulheres brancas é “corrigindo” suas características com a ajuda da tecnologia.
A hipersexualização do corpo feminino negro, com ênfase em suas características consideradas
“excêntricas” e “diferentes do convencional”, promove uma falsa valorização das garotas negras,
que deixam de ser completamente rejeitadas para se tornarem aceitas, desde que seus corpos
sejam submetidos à exotificação racial.Essa hipersexualização do corpo feminino negro
acrescenta muitos degraus à escada que a mulher negra precisa escalar para garantir seus
direitos mais básicos. Assim, naturaliza-se a idéia de que as mulheres negras são somente
objetos sexuais exóticos para o consumo alheio, promovendo a marginalização desse grupo. Isso
traz grandes obstáculos para que as mulheres negras consigam conquistar algum crescimento
profissional e ocupar lugares de relevância em sociedade. As mulheres negras precisam lutar
para serem reconhecidas como seres humanos tridimensionais, com gostos, personalidades e
características individuais, e não somente seres excêntricos para serem usadas sexualmente por
quem quer “experimentar algo diferente”.Isso acontece porque as mulheres negras são
consideradas exóticas, ou seja, extravagantes e diferentes do convencional. Geralmente, são
consideradas exóticas coisas que fogem do padrão e fazem parte de culturas diferentes, tais
como roupas, músicas ou símbolos religiosos. No Ocidente, o padrão estabelecido é de uma
supremacia racial branca, que enxerga com olhos etnocêntricos quaisquer traços de etnias ou
culturas não-brancas. O modelo dominante na mídia, nas artes, na ciência e na política elimina
qualquer rastro de negritude em suas representações, reduzindo e transformando objetos ou
valores importantes para milhares de pessoas negras – ou até mesmo seres humanos inteiros,
como é o caso das mulheres negras – em “fetiches”, que são exibidos como excentricidades ou
bizarrices.Se encarar objetos e signos como excêntricos já tem um grande potencial para ser
problemático, reduzir seres humanos a símbolos de extravagância é mais do que desrespeito: é
desumanização. É lamentável que pessoas sejam consideradas exóticas, objetificadas tais como
roupas que saem e entram de moda e que estão disponíveis para o consumo de quem “quer ser
diferente”. E é assim que mulheres negras são vistas: como uma espécie de souvenir comprado
em viagens internacionais.A tentativa de exotificar a aparência das mulheres negras para
considerá-las belas e interessantes é uma forma de reduzí-las a meros acessórios. Mulheres
negras não são exóticas, simplesmente porque seres humanos não podem ser exóticos.
Qualquer tentativa de separar grupos de pessoas entre “convencionais” e “excêntricos” com base
em suas expressões culturais e características físicas é etnocentrismo e racismo. O fato de que
mulheres negras ainda precisam ser consideradas diferentes para serem vistas como atraentes é
evidência de uma cultura contaminada pelo racismo institucional, onde ser negra significa não ter
qualquer chance contra mulheres brancas.Essa violência passa frequentemente despercebida,
disfarçada em forma de elogios que enfatizam a suposta “excentricidade” da mulher negra. No
entanto, enquanto muitas pessoas encaram esse tipo de expressão como uma forma de
apreciação às diferenças, para as mulheres negras, que batalham arduamente para conquistar
espaço na sociedade, ser considerada uma “beleza exótica” não é elogio, mas sim uma forma de
segregação e exotificação racial. Mulheres negras não deveriam ser consideradas um “sabor” ou
“variedade” diferente de mulher, mas sim seres humanos completos e plenos, capazes de existir,
se expressar e transformar o mundo à sua volta.Na luta pela igualdade racial, é imprescindível
lembrar das sutilezas da cultura e da forma que ela opera para perpetuar valores racistas. Não
basta tirar as mulheres negras do limbo de rejeição e se contentar com máscaras de falsa
admiração; não adianta trocar a imposição do alisamento do cabelo crespo pelas passadas de
mão intrometidas nos cabelos naturais. Exaltar a beleza negra como algo exótico e consumível
não resolve o problema do padrão de beleza branco. Para combater o racismo, é necessário
muito mais do que transformar a mulher negra em fetiche.Por Jarid Arraes para as Blogueiras
Negras.Blogueiras NegrasO Blogueiras Negras é uma comunidade de
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organização é muito simples e toda mulher negra e afrodescendente que se identifique com a
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