APRENDENDO COM JESUS A ORAR AO PAI

Transcrição

APRENDENDO COM JESUS A ORAR AO PAI
Classe: Evangelho para hoje
Mediador: Daniel Carvalho
APRENDENDO COM JESUS A ORAR AO PAI
Este é nosso primeiro encontro nesta nova sala de Escola Dominical e
gostaria de estimular nosso grupo às conversas sinceras, expondo realmente
aquilo que pensamos, ainda que eventualmente nos pareça uma “heresia”.
De outro lado, quero também estimular a que, de forma madura,
possamos ouvir todos os posicionamentos, ainda que divergentes do nosso, e
refletir sinceramente sobre aquilo que for exposto, afinal a Escritura nos orienta
que há sabedoria em ouvir diferentes conselheiros (Pv. 19:20 e 12:15).
É meu desejo, ainda, que nossa sala possa tornar-se um ambiente de
fraternidade e acolhimento, onde possamos abrir o coração, não só para Deus,
mas para os irmãos, sem receio de pré-julgamentos, de dedos acusadores, mas
com a esperança de recebermos ajuda (I Ts 5:11, Ef 4:2, Hb 10:24), consolo e
perdão (Pv 27:17, Ef 4:32, Mt 6:12, Tg 5:16), visto que estamos todos na mesma
situação de pecadores lutando pela santidade.
Para isso, é preciso que todos, a começar em mim, possamos nos
mostrar como somos e possamos aceitar o outro como ele é, sem necessidade de
máscaras, sem hipocrisia.
Penso que a hipocrisia1 tem duas principais origens:
1) O desejo de aparentar algo melhor do que efetivamente somos;
2) O medo de revelar quem realmente somos.
Quanto ao primeiro ponto, o fato é que, infelizmente, muitas vezes, não
nos reconhecemos pecadores ou tão pecadores quanto os outros.
Puro engano! Somos todos indignos da presença e favor de Deus (Rm
3:23). Somos todos filhos de Adão, portadores da natureza pecaminosa, portanto
na mesma condição diante de Deus. Em João 8:7, Jesus deixa isto muito claro:
“Quem de vós estiver sem pecado, seja o primeiro a lhe atirar uma pedra.”. João
ao escrever o Apocalipse coloca o mentiroso, por exemplo, em pé de igualdade
com o feiticeiro (21:8), indicando que, para Deus, pecado é pecado e pronto.
Creio, ainda, que o desejo de aparentar algo que não somos decorre
de um desejo de justificar-se2 diante de Deus e dos homens – a velha tentação de
conseguir
salvação
pelo
cumprimento
da
Lei.
Quando
não
entendemos/aceitamos que a salvação decorre exclusivamente da graça divina,
buscamos salvação por “práticas religiosas”, à semelhança dos fariseus da época
1
Manifestação de fingidas virtudes, sentimentos bons, devoção religiosa, compaixão etc.; fingimento, falsidade.
2
“Justificar-se” aqui no sentido bíblico de justificação, isto é, salvação
do Cristo. Sobre este tema recomendo ouvir o sermão do dia 23/11/14, do Rev.
Cassiano Luz, disponível na “Galeria de Áudio” do site de nossa igreja3.
Aliado a isto, há o medo de expor, até para Deus, as nossas fraquezas,
angústias, frustrações e pecados.
Em relação ao próximo, o temor é que, ao nos expormos como somos,
ao invés de sermos acolhidos, tratados, perdoados, sejamos apedrejados,
ridicularizados, estigmatizados e, virtualmente, tratados como “leprosos” do tempo
de Jesus.
Infelizmente isto ocorre quando nos vemos em condição “menos
pecadora” que a do próximo. A consequência inevitável é assumirmos uma
posição de juiz e/ou acusadora. Esquecemo-nos que somos todos iguais,
pecadores, salvos exclusivamente pela graça.
E, em relação a Deus, muitas vezes omitimos a nossa fraqueza, o
nosso pecado, a nossa incredulidade, porque temos medo de Seu castigo.
Precisamos entender de uma vez por todas que o nosso
relacionamento com Deus não pode ter o medo por fundamento, mas o amor (1
Jo 4:18). Nada que façamos pode aumentar ou diminuir o amor de Deus por nós.
Ele não nos ama menos porque eventualmente caímos em algum pecado. Isto
nos dá uma segurança indizível. Há sempre uma segunda chance, o pecador
arrependido é sempre acolhido (Sl 34:18 e 51:17, Lc 15:22-24), pois nada nos
separa de Seu amor (Rm 8:38-39)4.
Uma disciplina da vida cristã que é severamente afetada quando não
temos o amor como a base de nosso relacionamento com Deus é a oração.
Gostaria de pensar um pouco sobre isso.
Logo de cara, apesar de óbvio, precisamos lembrar que Deus vê o
coração. Talvez seja por isto que Jesus ao ensinar seus discípulos a orar disse
“Mas tu, quando orares, entra no teu aposento e, fechando a tua porta, ora a teu
Pai que está em secreto; e teu Pai, que vê em secreto, te recompensará
publicamente” (Mt 6:6). Perceba que Jesus não diz que o Pai ouve a oração, mas
a vê, indicando que ele sonda o coração. A mesma lógica é utilizada em I Rs
8:38-39 e II Cr 7:15:
“Toda a oração, toda a súplica, que qualquer homem de todo o teu
povo Israel fizer, conhecendo cada um a chaga do seu coração, e
estendendo as suas mãos para esta casa, ouve tu então nos céus,
assento da tua habitação, e perdoa, e age, e dá a cada um conforme a
todos os seus caminhos, e segundo vires o seu coração, porque só tu
conheces o coração de todos os filhos dos homens.”
3
http://ipbetaniadf.org.br/galeria-de-audio
A respeito, recomendo a leitura do estudo “Amar, servir e testemunhar” disponível em
http://ipbetaniadf.org.br/escola-dominical
4
“Agora estarão abertos os meus olhos e atentos os meus ouvidos à
oração deste lugar.”
Assim, é pura perda de tempo orarmos usando palavras que não
refletem aquilo que realmente está em nosso coração. Estará claro para Deus
que estamos mentindo...
Mas, às vezes, escondemos sentimentos/pensamentos guardados em
nosso coração por puro medo de apresentá-los na presença do Altíssimo.
Pensamos que por estarmos nos sentindo fracos, sem fé, desestimulados ou
mesmo chateados com algo feito por Ele, seremos castigados.
Em primeiro lugar, como vimos, em um relacionamento de amor não
deve haver espaço para medo.
Em segundo lugar, as Escrituras registram diversas passagens em que
servos de Deus abrem o coração na Sua presença, expondo a sua fraqueza ou
sua incompreensão/discordância antes os desígnios de Deus (Mc 14:36; Jn 4:2-3;
Gn 18:16-33; Mc 9:24) e Deus não os repreende por isso. O Senhor conhece a
nossa estrutura e conhece as nossas aflições, pois Ele, em Cristo, passou por
todas elas, por isso mesmo Ele se compadece das nossas fraquezas e nos
ajudará no tempo oportuno (Hb 4:15-16)
Em terceiro lugar, Deus quer mesmo que coloquemos diante dEle a
nossa fraqueza e inquietação (Fp 4:6), pois assim Ele nos fortalecerá e consolará
(2 Co 12:9; 2 Co 1:5)5.
Em último lugar, precisamos entender que Deus quer ter conosco um
relacionamento paterno. Esta é uma revelação magnífica trazida pelo Filho. Se
no Velho Testamento, Deus era visto como o “Todo-Poderoso” (Gn 48:3),
“Homem de Guerra” (Êx 15:3), “Senhor dos Exércitos” (Zc 1:3), no Novo
Testamento, Jesus nos ensina a chamar Deus de “Pai” ao orarmos (Mt 6:9).
Com esta nova visão, o relacionamento com Deus passa a um outro
nível, mais íntimo, mais próximo, mais aberto, sem medos, na certeza de que Seu
amor por nós é constante, de que podemos Lhe revelar toda nossa alma, todos os
nossos segredos e Ele, como um Pai de amor, compreenderá e nos tratará (Rm
8:15; Mt 7:9-11).
Sobre o tema, transcrevo um lindo texto do pastor Antônio Carlos
Costa, que nos faz entender melhor e de forma poética esta relação paterna que
Deus quer manter conosco:
“O NOME DE DEUS
5
Se possível veja o vídeo disponível no link a seguir a partir do minuto 5’25’’
https://www.youtube.com/watch?v=59Iztqj4JfY
Eu tenho uma relação pouco compreensível com o meu nome. Talvez
haja explicação psicanalítica para ela. Chamo-me Antônio Carlos. Tem
gente querida que me trata pelo meu nome completo: "Antônio Carlos".
Algumas pessoas me chamam de "pastor Antônio Carlos". No meio
presbiteriano, alguns, respeitosamente, se dirigem a mim tratando-me
como "reverendo Antônio Carlos".
Quando alguém me chama de "Antônio Carlos", sinto que essa pessoa
não me é íntima. Quando me chama de "pastor Antônio Carlos", a
distância aumenta. Quando sou tratado como "reverendo Antônio
Carlos", sinto essa pessoa mais afastada ainda. Gosto de ser chamado
de "Antônio". Quando alguém me trata pelo meu primeiro nome, tenho
a impressão de que essa pessoa me é próxima. O que posso fazer?
Aguardo a cura!
Todos meus amigos íntimos chamam-me de "Antônio". Meus irmãos e
mãe tratam-me da mesma forma. Minha mulher também me chama de
"Antônio". Amo ser chamado de "Antônio".
O evangelho ensina que Deus sofre do mesmo mal. Ele ama ser
chamado de Pai. No evangelho de Lucas no capítulo onze verso
primeiro, os discípulos pedem ao Senhor Jesus que os ensine a orar.
Nada na vida é mais importante do que esse tema, uma vez que é de
suma importância nos relacionarmos com Deus nos termos em que
Deus quer que nos relacionemos com Ele.
Cristo atende aos seus discípulos no verso dois: "Quando orardes,
dizei: Pai...". Que maravilha! A oração começa com a percepção desse
fato notável, extraordinário, comovente. Quando oramos estamos na
presença de um ser doce, amável, descomplicado, paciente e bom. Um
Deus cujo amor é justamente aquele que um pai sente por um filho...
só que elevado ao infinito.
Não comece sua oração com seus problemas. Antes de apresentá-los,
medite. Procure trazer à sua memória quem é esse diante de quem
você se prostra. Faça das suas primeiras palavras expressões de
adoração por estar na presença daquele que se revelou a você e mim
como mais do que Todo-Poderoso. Ele se revelou a você e a mim
como Pai. O cristão não se relaciona com Deus. O cristão se relaciona
com o Pai, Deus infinito em seu ser e atributos. Pai é o nome cristão
para Deus, conforme ressalta o teólogo inglês John Stott.
Há três pessoas, contudo, que não permito que me chamem de
"Antônio". Pedro, Matheus e Alyssa. Meus três filhos.
Se você já se reconciliou com Deus através de Cristo, lembre-se que
você foi tornado filho para viver na amorosa comunhão com o Deus
que tem como música ouvi-lo chamar de "Pai".
Assim ele gosta de ser visto. Desse modo ele ama ser chamado.”
Precisamos entender que na presença do Pai a oração pode ser
simples, franca, sem escolha de palavras bonitas ou uso de termos teológicos, até
porque Deus diz que tudo que falamos será “traduzido” pelo Espírito Santo (Rm
8:26).
Por isso, como o próprio Deus afirma que todos não sabemos orar, não
existe oração ruim, oração fraca ou feia. O importante é que ela seja feita de
coração, de forma sincera, e seja feita por um filho. Isto é suficiente. É uma
conversa amorosa entre o Pai e um filho.
Encerro com a letra de uma música do pastor Gerson Borges6, que fala
sobre este desejo de estar de coração desnudo na presença do Pai:
“Quero aprender a orar
De um modo que a minha alma consiga
Ver-se invadida de campos verdes, laranjais
Onde eu me encontre com Deus
E ali me abrigue do medo
Que às vezes vejo invadir
A varanda, a sala, o quarto do meu coração
Quero aprender a orar
Sem pressa em meio à pressa dos homens
Ir no contrário da corrente louca, querer mais
Mais da presença de Deus
E ali me cure das dores
Que às vezes sinto doer
Na cabeça, corpo, na carne do meu coração
“Quero mesmo a oração mais precária “
Solidária a minha alma me diz
“Quero orar como eu nunca quis”
“Quero a velha oração do passado”
Quebrantado meu peito me diz
“Quero orar como eu nunca fiz “
Quero aprender a orar
Quieto, eu e o som do silêncio
Poucas palavras dizem tanto quanto o Ai-de-Mim
Filho caçula de Deus
Choramingando migalhas
Ou mesmo o cansaço de viver
A tristeza toda do mundo no meu coração”
6
https://www.youtube.com/watch?v=r0GDj4h3zC0