correlatos valorativos das atitudes frente à tatuagem e
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correlatos valorativos das atitudes frente à tatuagem e
UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES DEPARTAMENTO DE PSICOLOGIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA SOCIAL MESTRADO EM PSICOLOGIA SOCIAL CORRELATOS VALORATIVOS DAS ATITUDES FRENTE À TATUAGEM E INTENÇÃO DE TATUAR-SE EMERSON DIÓGENES DE MEDEIROS João Pessoa – PB Agosto de 2008 UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES DEPARTAMENTO DE PSICOLOGIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA SOCIAL MESTRADO EM PSICOLOGIA SOCIAL CORRELATOS VALORATIVOS DAS ATITUDES FRENTE À TATUAGEM E INTENÇÃO DE TATUAR-SE Emerson Diógenes de Medeiros, Mestrando Prof. Dr. Valdiney Veloso Gouveia, Orientador João Pessoa, Agosto de 2008 UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES DEPARTAMENTO DE PSICOLOGIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA SOCIAL MESTRADO EM PSICOLOGIA SOCIAL CORRELATOS VALORATIVOS DAS ATITUDES FRENTE À TATUAGEM E INTENÇÃO DE TATUAR-SE Emerson Diógenes de Medeiros Dissertação submetida ao Programa de PósGraduação em Psicologia Social (Mestrado) como requisito parcial para a obtenção do grau de Mestre em Psicologia Social. CORRELATOS VALORATIVOS DAS ATITUDES FRENTE À TATUAGEM E INTENÇÃO DE TATUAR-SE Emerson Diógenes de Medeiros Banca Avaliadora: ___________________________________________________________ Prof. Dr. Valdiney Veloso Gouveia, (UFPB, Orientador) ___________________________________________________________ Prof. Dr. João Carlos Alchieri, (UFRN, Membro) ___________________________________________________________ Profa. Dra. Maria da Penha de Lima Coutinho, (UFPB, Membro) ___________________________________________________________ Profa. Dra. Patrícia Nunes da Fonseca, (UFPB, Membro) Ao meu pai ...E eu, que já não sou assim Muito de ganhar Junto às mãos ao meu redor Faço o melhor que sou capaz Só pra viver em paz. (Marcelo Camelo) Tentar e falhar é, pelo menos, aprender. Não chegar a tentar é sofrer a inestimável perda do que poderia ter sido. (Geraldo Eustáquio) AGRADECIMENTOS Ao meu orientador Prof. Valdiney Veloso Gouveia, que ainda no inicio da minha graduação alertou-me acerca da importância dos estudos e da ciência. Agradeço, especialmente, pela confiança depositada no meu trabalho e por acolher-me em seu núcleo de pesquisa. A esposa do meu orientador, Rildésia S. Veloso Gouveia pela confiança a mim concedida. A Profa. Maria da Penha de Lima Coutinho, por aceitar ser a leitora deste trabalho e contribuir de maneira significativa com suas considerações. Ao prof. Joca, que foi com quem dei meus primeiros passos em pesquisa. Aos professores João Carlos Alchieri e Patrícia Nunes da Fonseca, por aceitarem participar da banca avaliadora. A Carlos Eduardo Pimentel (Kdu) por ter me concedido a idéia do desenho desta dissertação. Aos grandes amigos Jorge Artur e sua esposa Priscila; Walberto Santos e Sandra Pronk, pelos momentos de descontração e ajuda prestada quando solicitados. Cabe ainda ressaltar a importância do primeiro, que acompanhou de maneira ativa todo o processo pelo qual passou a presente dissertação, assumindo o papel de co-orientador, mesmo que informalmente. Ao núcleo de pesquisa BNCS (Bases Normativas do Comportamento Social): Pollyane Kahelen da C. Diniz, Josélia de Mesquita Costa, Ana Karla S. Soares, Kátia C. Vione, Luana Elayne C. de Souza, Tiago Jessé Souza e Lima, Viviane Silva Pessoa, Estefânia Élida da S. Gusmão, Taciano Lemos Milfont, Luis A. Mendes, Luciana Chacon Dória, Thiago A. A. de Aquino, Célia Maria C. M. Chaves, Marcílio L. de Silva Filho, Jane Palmeira N. Cavalcanti, Gislene F. de Oliveira, Carlos Antônio dos Santos, Valeschka Martins Guerra. Ressaltando que este trabalho é mais um produto conseqüente do trabalho do grupo. A Thyala, Aila, Carol que contribuíram na coleta de dados. À Paloma C. Bezerra, amor e companheira de todas as horas, por seu apoio, incentivo e confiança, simplesmente por existir e me fazer feliz. À família Cavalcante Bezerra, por me receber tão bem e de braços abertos. À minha família, Edna Maria de Medeiros (Mãe), por ser simplesmente quem é, pessoa de fibra, guerreira e, ao mesmo tempo, amorosa, e Hermógenes Acácio de Medeiros (irmão). E finalmente ao meu onipresente Pai (Manoel Pedro de Medeiros) que deu sua vida por nossa família. Tenho certeza que está feliz e orgulhoso por mim. Aos grandes amigos que torceram por mim. A Deus, por tudo. CORRELATOS VALORATIVOS DAS ATITUDES FRENTE À TATUAGEM E INTENÇÃO DE TATUAR-SE RESUMO – A presente dissertação objetivou conhecer os correlatos valorativos (subfunções experimentação e normativa) das atitudes frente à tatuagem e intenção de tatuar-se. Para tanto, levaram-se a cabo dois estudos. O Estudo 1 objetivou elaborar a Escala de Atitudes Frente à Tatuagem (EAFT), conhecendo evidências de sua validade fatorial e consistência interna. Partiu-se de um conjunto de dez itens, tendo sido checada sua validade semântica. Participaram 273 estudantes de uma universidade particular da cidade de João Pessoa (PB), a maioria do sexo masculino (51,7%), com idade média de 25 anos (DP = 6,73; amplitude de 17 a 50 anos). Inicialmente, comprovou-se que todos os itens apresentaram poder discriminativo satisfatório. Prévia a realização da comprovação da estrutura fatorial, testou-se a adequação de se empregar esta técnica [KMO = 0,95; Teste de Esfericidade de Bartlett, χ² (45) = 2.334,55; p < 0,001], optando-se pelo método PAF (Principal Axis Factoring), sem fixar número de fatores ou rotação. Como esperado, uma solução unifatorial emergiu, explicando 69,5% da variância total, com cargas fatoriais entre 0,74 e 0,89; o índice de consistência interna (Alfa de Cronbach) deste fator geral foi 0,96. Portanto, concluiu-se que tais resultados permitiram reunir evidências de validade fatorial e consistência interna da EAFT. O Estudo 2 objetivou conhecer os correlatos valorativos das atitudes frente à tatuagem e a intenção de tatuar-se. Contou com a participação de 555 estudantes universitários de duas cidades do Nordeste (João Pessoa e Aracaju), a maioria do sexo feminino (55,5%) e solteiros (86,5%). Estes responderam a EAFT e o Questionário dos Valores Básicos (QVB). As duas primeiras hipóteses foram corroboradas, indicando que as atitudes frente à tatuagem se correlacionaram (p < 0,05) com as subfunções experimentação (r = 0,09) e, principalmente, normativa (r = 0,20). A terceira hipótese também pôde ser corroborada, pois 38% da variância da resposta de tatuar-se pode ser explicada em razão das atitudes frente à tatuagem [F (1, 553) = 337,73, p < 0,001)], isto é, quanto mais atitudes positivas frente à tatuagem mais provável ter intenção de se fazer uma tatuagem (β = 0,62; t = 18,37, p < 0,001). Nesta oportunidade testou-se uma quarta hipótese, correspondendo a um modelo teórico em que as subfunções valorativas (experimentação e normativa) explicaram as atitudes frente à tatuagem e estas, por suas vez, predisseram a intenção de tatuar-se. No geral, este modelo se mostrou ajustado aos dados empíricos [GFI = 0,99, AGFI = 0,95, CFI = 0,97, RMR = 0,05 e RMSEA = 0,09 (0,04 – 0,14), PCLOSE (p = 0,08)]. Finalmente, a quinta hipótese estimava uma diferença em atitudes frente à tatuagem em razão do sexo dos participantes. Esta não pôde ser corroborada [t (434) = -1,82, p = 0,07]. Entretanto, cabe assinalar que as pontuações destes grupos foram na direção apontada na literatura, com as mulheres apresentando atitudes mais positivas (M = 0; DP = 0,77) do que os homens (M = -0,13; DP = 0,76). Concluindo, confia-se que os objetivos propostos nesta dissertação tenham sido alcançados, apresentando-se nesta oportunidade uma contribuição para um campo de estudo escassamente considerado na Psicologia Social: atitudes e comportamentos de marcação corporal entre jovens. Palavras-chaves: Atitudes, Tatuagens, Valores Humanos, Intenção. VALUE CORRELATES OF ATTITUDES TOWARD TATTOO AND INTENTION OF GETTING TATTOOED ABSTRACT – The current thesis aimed at knowing the value correlates (subfunctions excitement and normative) of attitudes toward tattoo and intention of getting tattooed. According these objectives, two specific studies were conducted. Study 1 aimed at developing the Attitudes toward Tattoo Scale (ATTS), knowing evidences of its factor validity and reliability. Initially, this scale was comprised by 10 items, being its semantic validity checked. Participants were 273 students of a private university in João Pessoa (PB), most of them male (51.7%), with mean age of 25 years old (SD = 6.73; ranging from 17 to 50 years old). A preliminary statistical analysis indicated that all items presented satisfactory discriminative power. Prior to the performing of the factor analysis, it was checked the suitability of using this technique [KMO = 0.95; Bartlett’s Sphericity Test, χ² (45) = 2,334.55; p < 0.001]. It was conducted a PAF (Principal Axis Factoring), without fixing the number of factors and rotation. According to the expected, a one-factor solution emerged, accounting for 69.5% of the total variance, with factor loadings ranging from 0.74 to 0.89; the reliability (Cronbach’s Alpha) of this general factor was 0.96. These results support evidences of factor validity and reliability of the ATTS. Study 2 aimed at knowing the value correlates of attitudes toward tattoo and intention of getting tattooed. Participants were 555 undergraduate students in two cities from Northeast of Brazil (Joao Pessoa and Aracaju), most of them female (55.5%) and single (86.5%). They answered the ATTS and the Basic Values Survey (BVS). The first two hypotheses were corroborated, indicating that attitudes toward tattoo were correlated (p < 0.05) with the subfunctions excitement (r = 0.09) and, mainly, normative (r = 0.20). The third hypothesis was also corroborated, considering that 38% of the variance in answers of getting tattooed were explained by attitudes toward tattoo [F (1, 553) = 337.73, p < 0.001], showing that as more positives were the attitudes toward tattoo more likely was the intention of getting tattooed (β = 0.62; t = 18.37, p < 0.001). In this opportunity, it was tested the fourth hypothesis, which corresponded to the theoretical model in which the value subfunctions (excitement and normative) explained the attitudes toward tattoo, which in turn predicted the intention of getting tattooed. Overall, this model fitted to data [GFI = 0.99, AGFI = 0.95, CFI = 0.97, RMR = 0.05, and RMSEA = 0.09 (0.04 – 0.14), PCLOSE (p = 0.08)]. Finally, the fifth hypothesis estimated a difference in attitudes toward tattoo according to gender. This hypothesis was not corroborated [t (434) = -1.82, p = 0.07]. However, the observed scores were in line with the literature, indicating that women presented more positive attitudes (M = 0; SD = 0.77) than men (M = -0.13; SD = 0.76). In conclusion, it is hope that the aims proposed in this thesis have been reached. So, likely it presents a contribution for a scarce field of study in Social Psychology: attitudes and behavior of bodily marking in young people. Keywords: Attitudes, Tattoos, Human Values, Intention. SUMÁRIO Introdução ....................................................................................................................... 14 PARTE I – MARCO TEÓRICO .................................................................................... 18 1. Tatuagens e atitudes frente à tatuagem ....................................................................... 19 1.1 Modificação corporal e tatuagem ......................................................................... 20 1.2 Atitudes frente à tatuagem .................................................................................... 25 2. Valores Humanos ....................................................................................................... 35 2.1 Valores Humanos na Perspectiva Cultural ........................................................... 38 2.1.1 Valores individualistas e coletivistas de Hofstede. ....................................... 38 2.1.2 Valores materialistas e pós-materialistas de Inglehart .................................. 40 2.2 Valores na Perspectiva Individual ........................................................................ 42 2.2.1 Valores instrumentais e terminais de Rokeach. ............................................. 42 2.2.2 Tipos motivacionais de Shalom H. Schwartz ................................................ 46 2.2.3 Teoria Funcionalista dos valores humanos de Gouveia ................................ 52 3. Objetivos e Hipóteses ................................................................................................. 62 3.1 Objetivo geral ....................................................................................................... 63 3.2 Objetivos específicos e hipóteses ......................................................................... 63 3.2.1 Objetivos específicos: .................................................................................... 63 3.2.2 Hipóteses ....................................................................................................... 63 PARTE II – ESTUDOS EMPÍRICOS ........................................................................... 67 4. Estudo 1. Escala de Atitudes Frente à Tatuagem (EAFT): Construção e parâmetros psicométricos .................................................................................................................. 68 4.1 Delineamento ........................................................................................................ 69 4.2 Amostra ................................................................................................................ 69 4.3 Instrumentos ......................................................................................................... 69 4.4 Procedimento ........................................................................................................ 70 4.5 Análise dos Dados ................................................................................................ 71 4.6 Resultados............................................................................................................. 72 4.5.1 Poder discriminativo dos itens....................................................................... 72 4.5.2 Análise fatorial exploratória .......................................................................... 73 4.7 Discussão Parcial .................................................................................................. 75 5. Estudo 2. Correlatos valorativos das atitudes frente à tatuagem e intenção de se tatuar. ........................................................................................................................................ 78 5.1 Delineamento ........................................................................................................ 79 5.2 Amostra ................................................................................................................ 79 5.3 Instrumentos ......................................................................................................... 80 5.4 Procedimento ........................................................................................................ 81 5.5 Análise dos Dados ................................................................................................ 82 5.6 Resultados............................................................................................................. 83 5.6.1 Comprovação da estrutura fatorial da EAFT e modelos alternativos............ 84 5.6.2 Testando modelos alternativos para a EAFT................................................. 85 5.6.3 Atitudes frente à tatuagem, valores humanos e identificação com grupos alternativos: Relação entre as variáveis estudadas. ................................................ 87 5.7 Discussão Parcial .................................................................................................. 94 6. Discussão Geral e Conclusões .................................................................................... 96 6.1 Limitações das pesquisas ...................................................................................... 97 6.2 Elaboração e parâmetros psicométricos da EAFT ................................................ 99 6.3 Correlatos valorativos das atitudes frente à tatuagem. ....................................... 100 6.4 Conclusões e direções futuras ............................................................................ 106 Referências ................................................................................................................... 110 Anexos .......................................................................................................................... 126 ANEXO 1 – Escala de Atitudes Frente à Tatuagem (EAFT) ................................... 127 ANEXO 2 – Perguntas sócio-demográficas ............................................................. 128 ANEXO 3 – Questionário de Valores Básicos (QVB) ............................................. 129 ANEXO 4 – Escala de identificação com grupos alternativos (EIGA) .................... 130 LISTA DE TABELAS Tabela 1. Definições clássicas de atitudes (adaptado de Lima, 2000). .............................. 25 Tabela 2. Tipos de valores instrumentais e terminais proposto por Rokeach (1973) .......... 44 Tabela 3. Tipos motivacionais de Schwartz (1994, 2006) .................................................. 49 Tabela 4. Poder Discriminativo dos Itens da EAFT ........................................................... 72 Tabela 5. Estrutura Fatorial da Escala de Atitudes Frente à Tatuagem – EAFT ................ 75 Tabela 6. Índices de bondade de ajuste para os modelos alternativos ................................ 86 Tabela 7. Correlação entre valores humanos, Atitudes Frente à Tatuagens e Identificação com Grupos Alternativos ..................................................................................................... 88 LISTA DE FIGURAS Figura 1. Estrutura Bidimensional dos tipos motivacionais (Adaptado de Schwartz, 2006) ............................................................................................................................................. 50 Figura 2. Facetas, dimensões e subfunções dos valores básicos ......................................... 54 Figura 3. Padrão de congruência das subfunções dos valores básicos (adaptado de Gouveia & cols., 2008) ...................................................................................................................... 59 Figura 4. Representação Gráfica dos Valores Próprios ....................................................... 74 Figura 5. Estrutura Fatorial da Escala de Atitudes Frente ao uso de Tatuagens ................. 85 Figura 6. Modelo teórico para explicação das atitudes frente à tatuagem e intenção de tatuar-se ............................................................................................................................... 91 Figura 7. Modelo teórico para explicação das atitudes frente à tatuagem e intenção de tatuar-se a partir dos valores e identificação com grupos alternativos ................................ 92 Introdução Ao contrário do que muitas pessoas pensam, a prática da tatuagem não é recente. De fato, é milenar o hábito de pessoas se submeterem a transformações corporais, ou seja através da colocação de ornamentos, da realização de tatuagens, piercings, ou escarificações. Desde tempos remotos o homem imprime pinturas e símbolos em sua pele. Grumet (1983), por exemplo, faz referência a escavações francesas, portuguesas, romenas e escandinavas, de aproximadamente 1200 a 1000 a.C., em que foram encontrados pigmentos pretos e vermelhos junto a lascas pontiagudas de ossos, que sugeriam a prática de tatuagem. Diversas áreas do conhecimento têm se interessado pelo estudo da tatuagem, principalmente a Antropologia, Psicologia, Arte, Medicina e Criminologia. Não obstante, apesar de a temática ser discutida amplamente, no Brasil não foi encontrada qualquer referência a pesquisas empíricas sobre as atitudes frente a tatuagens. Em busca realizada no Index Psi (2007) com as palavras-chave “Atitudes frente à tatuagem”, “Tatuagem” e “Escala de atitudes frente à tatuagem” apenas uma publicação foi encontrada em que se fizesse referência ao menos a uma destas palavras; esta compreendeu um estudo de cunho teórico em que se fez uma revisão acerca dos aspectos motivacionais da decisão de tatuar-se (Menandro, 1995). Ampliando a busca, isto é, realizando-a no Google Acadêmico (2007), considerando estas mesmas palavraschave, não se encontraram, neste país, publicações em Psicologia Social, nem tão pouco em língua portuguesa. No entanto, encontrou-se um estudo de cunho etnográfico/antropológico sobre tatuagens (Pérez, 2006). Considerando que, em psicologia, uma das maneiras de se estudar a tatuagem – e a aqui utilizada – é por meio das atitudes frente à tatuagem (Armstrong, 1991; 15 Hawkes, Senn & Thorn, 2004), e em razão de não terem sido encontrados, no país, estudos focando o tema atitudes frente à tatuagem, inclusive com a criação de uma medida de tais atitudes, além de conhecer sua possível relação com os valores humanos, parece justificável e pertinente levar a cabo a presente dissertação. Em termos gerais, elaborou-se uma medida atitudinal, em relação à tatuagem, procurando-se, ainda, conhecer em que medida tais atitudes poderiam se pautar nas prioridades valorativas das pessoas. Neste sentido, e visando a atender aos objetivos do presente trabalho, esta dissertação é apresentada em duas partes. A primeira parte (Marco Teórico) se divide em três capítulos: (1) Tatuagens e atitudes frente à tatuagem, que apresenta, além da definição do construto, uma revisão acerca dos estudos sobre tatuagens e, mais amplamente, das atitudes frente a tatuagens; e (2) Os valores humanos, em que são apresentas as principais concepções teóricas acerca dos valores humanos, com maior ênfase na Teoria Funcionalista dos Valores Humanos (Gouveia, 1998, 2003; Gouveia, Fischer & Milfont, 2008), a partir da qual é feito um esforço em entender as atitudes frente à tatuagem; e finalmente, (3) Objetivos e hipóteses, em que são expostos os objetivos gerais e específicos dos estudos, assim como as hipóteses derivadas do marco teórico. Estão na segunda parte (Estudos Empíricos) os capítulos: (4) Estudo 1: Escala de Atitudes Frente a Tatuagens: Construção e parâmetros psicométricos, no qual se elabora e valida uma medida atitudinal em relação à tatuagem; (5) Estudo 2: Correlatos valorativos das atitudes frente à tatuagem e intenção de se tatuar, no qual se procura entender como os valores humanos se relacionam com as atitudes frente à tatuagem, além da elaboração e testagem de um modelo preditivo explicativo, através de modelagem de equações estruturais, envolvendo os valores de experimentação e 16 normativos, atitudes frente ao uso de tatuagens e intenção comportamental para tatuarse; e (6) Discussão geral e conclusões, indicando os principais resultados, as possíveis limitações e sugestão para pesquisas futuras. 17 PARTE I – MARCO TEÓRICO 18 1. Tatuagens e atitudes frente à tatuagem 19 1.1 Modificação corporal e tatuagem O comportamento de se submeter a práticas de transformações corporais é muito antigo (Teixeira, 2006). As marcações corporais sempre existiram no decorrer da história. Por isso, é importante retratar um pouco da história sobre as marcações corporais para que se possa compreender o contexto no qual “explode” o movimento da modificação corporal. Como mencionado anteriormente, o homem se submete às práticas de transformações corporais há milênios. Seja através da colocação de ornamentos, da realização de tatuagens, piercings, escarificações ou de qualquer outro tipo de modificação do corpo. Talvez a própria história da humanidade se confunda com a das práticas de modificações corporais (Teixeira, 2006). Existem evidências arqueológicas de marcações corporais das sociedades mais primitivas, a mais antiga encontrada data de 2.500 a.C., e deve-se à descoberta da múmia chamada de Ötzi (homem de gelo), em 1991, por turistas alemães (Nedden & cols., 1994; Wikipedia, 2008). Análises anatômicas avançadas permitiram verificar que ela tinha 57 tatuagens lineares nas costas e atrás dos joelhos (Nedden & cols., 1994), fato que faz com que a prática da tatuagem seja a forma mais primitiva de modificação corporal que se tem conhecimento. No Egito, também foram encontrados vestígios de uma cultura em que as práticas de modificar o corpo eram freqüentes e populares (Grumet, 1983), sendo que o registro mais antigo dessa cultura refere-se a tatuagens em formas de pontos e linhas, que foram preservadas em múmias femininas datadas do ano de 2.160 a.C. 20 No Japão, não obstante, foram encontrados vestígios de tatuagens faciais e escarificações que são datadas do ano de 600 a.C.. Klemperer (2006) afirma que estas marcações corporais serviam de proteção aos indivíduos, sendo sua variabilidade e disposição no corpo associadas com o status destes indivíduos na sociedade. Ainda, segundo este autor, foi também no Japão, a exemplo da China, que se iniciou o uso de marcações corporais como punição, de modo a marcar os indivíduos que infringissem as leis. A tatuagem se espalha, em proporções mundiais, na cultura ocidental, graças a James Cook, capitão da marinha inglesa, que entrou em contato com nativos que usavam tatuagens em suas viagens para a Polinésia. A partir daí, a tatuagem se torna popular entre os marinheiros, passando a ser considerada pela elite européia como algo bárbaro e selvagem (Fisher, 2002). Faz-se necessário lembrar que a Igreja tem papel decisivo quanto à arte corporal, devido ao seu grande poder através dos tempos. Para esta instituição, marcar o corpo é considerado ato de violência contra o corpo natural, o que significa injúria contra a criação divina, já que, para os religiosos, o homem foi feito a imagem e semelhança de Deus. Desta forma, a arte corporal foi condenada pela classe dominante (burguesia e clero), sendo algo próprio aos segregados e “foras da lei” (Costa, 2003). Assim, no Ocidente, é pela marginalidade que a tatuagem se insere na sociedade. Costa (2003) relata que existem passagens textuais sobre tatuagens nos escritos Gregos e Romanos. Na cultura Grega, as tatuagens eram utilizadas para marcar os escravos com os nomes de seus donos, enquanto que, na Romana, tatuavam-se os Legionários com os 21 nomes de seu general e uma águia; também os marginais eram tatuados como uma forma de estigma. O uso de tatuagem, especificamente, é uma das formas de modificação do corpo mais conhecidas e cultuadas, atualmente, do mundo (Armstrong, 1991; Atikson, 2002). Trata-se de um desenho “permanente” feito na pele humana, em outras palavras, é tecnicamente uma aplicação subcutânea obtida através de introdução de pigmentos por agulhas (Armstrong, 1991). Este é um procedimento que, durante muitos séculos, foi irreversível, não obstante, atualmente, com procedimentos médicos como o laser, já se pode “apagar” (cover up) uma tatuagem na pele. Existem diversos tipos de práticas de modificação corporal, das quais conceituam-se, a seguir, as oito mais comuns (Percília, 2008): (1) Branding: caracterizase pela aplicação de ferro quente na pele do indivíduo com uma chapa de aço esquentada por um maçarico. Após a queima da pele, forma-se uma cicatriz com o desenho desejado pela pessoa que se submete a este tipo de modificação do corpo; (2) Escarificação: é a prática de inserir, na pele, cortes com bisturi, com o intuito de formar uma cicatriz com o desenho desejado; (3) Tong split (bifurcação da língua): por meio de um ato cirúrgico, divide-se a língua em duas partes; (4) Pocket: é uma muito semelhante a um piercing. Não obstante, existe uma característica que o diferencia do piercing normal, que é o fato de a haste do objeto, inserido na pele, ficar do lado de fora e as pontas dentro da pele; (5) Implantes subcutâneos: insere-se objeto (de osso, silicone, aço cirúrgico) sob a pele, assim formando um alto relevo na forma do objeto; (6) Implante transdermal: implante de aço cirúrgico entre a gordura da pele e a fibra muscular, sendo que metade do aço fica exposto e a outra metade, dentro da pele; (7) Piercing: é a colocação de jóias ou outros objetos metalizados através de perfuração, 22 procurando adornar o corpo (por exemplo, brincos e argolas na orelha e no lóbulo, para alargamento, broches no umbigo, na língua, no nariz, nas partes íntimas); e (8) Tatuagem: trata-se de um desenho “permanente” feito na pele humana, empregando-se o procedimento de inserir pigmentos de tintas na pele. Como tem sido evidenciado previamente, na presente dissertação, o interesse recai no uso de tatuagem. Estima-se que, aproximadamente, em contexto estadunidense, 10% a 20% dos homens e 10% das mulheres usam tatuagens (Anderson, 1992; Grief, Hewitt & Armstrong, 1999; Hawkes & cols., 2004). Não obstante, em contexto brasileiro, não foram encontradas estatísticas oficiais acerca da quantidade de pessoas que usam tatuagem. Fato relevante é o aumento da quantidade de mulheres se tatuando; em um de seus estudos, Armstrong (1991) afirma que, na década de 1980, a cada três novas pessoas que se tatuavam duas eram mulheres. Além disso, comumente pessoas que usam desenhos na pele usam, também, outras formas de adornamento invasivo, a exemplo de piercing (Armstrong, 2005; Stuppy, Armstrong & Casals-Ariet, 1998). Apesar do aumento perceptível do uso da tatuagem, que presumivelmente também ocorre no Brasil, principalmente por jovens e mulheres, é possível que ainda hoje a tatuagem seja vista como uma “coisa” de grupos marginalizados, a exemplo de prisioneiros, doentes mentais e gângster, podendo ser, dessa forma, estereotipadas negativamente as pessoas que usam tatuagens (Estephen, Durkin, Parry, Turbett & Odgers, 1996; Stuppy & cols., 1998). Existe grande preocupação entre profissionais da saúde, a exemplo daqueles dos campos da Medicina e Psicologia (Estephen & cols., 1996), com relação aos riscos físicos e mentais que estão associados com a prática do uso de tatuagens, em especial as tatuagens “amadoras”. Por exemplo, aponta-se o fato de existirem evidências de uso de 23 tatuagem, cicatrizes e outras formas de marcas corporais estarem intimamente correlacionados com a estada de seus portadores em instituições de saúde mentais e prisões (Buhrich & Morris, 1982; Newman, 1982). Fica evidente que o uso de modificações corporais em suas diversas variações, atualmente, está aumentando no mundo inteiro. Especificamente, o uso de tatuagem tem sido objeto de interesse por parte de pesquisadores de diversas áreas, dentre elas a psicologia. As atitudes frente a este tipo específico de modificação do corpo, têm sido empregadas, com êxito, na tentativa de compreensão deste fenômeno. Neste sentido, e evidenciando que se empregará esta perspectiva nesta dissertação, passa-se a apresentar um subtópico, no qual são expostos os principais estudos acerca do uso e atitudes frente à tatuagem. 24 1.2 Atitudes frente à tatuagem Atitudes sempre foram um dos grandes temas em psicologia social (Álvaro & Garrido, 2007). Pode-se verificar, na literatura, que são muitas as conceituações a respeito das atitudes (Tabela 1). Tabela 1. Definições clássicas de atitudes (adaptado de Lima, 2000). Autor Thoma e Znaniecki (1915, p. 22) G. W. Allport (1935) Rosenberg e Hovland (1960, p. 3) Bem (1967, p. 75-78) Abelson (1976, p. 41) Jos Jaspars (1986, p. 22) I. Ajzen (1988) Definição de atitude Por atitudes entendemos um processo de consciência individual que determina atividades reais ou possíveis do indivíduo no mundo social. Atitude é um estado de preparação mental ou neural, organizado através da experiência, e exercendo uma influência dinâmica sobre respostas individuais a todos objetos ou situações com que se relaciona. Atitudes são predisposições para responder a determinada classe de estímulos com determinada classe de respostas. A variável dependente nos estudos de dissonância cognitiva é, com muito poucas expressões, a afirmação de auto-descrição de atitudes ou crenças. Mas como se adquirem esses comportamentos autodescritivos? A afirmação de determinada atitude pode ser vista como uma inferência a partir de uma observação do seu próprio comportamento e das variáveis situacionais em que ocorre. Desta forma, as afirmações de um indivíduo são funcionalmente equivalentes às que qualquer observador exterior poderia fazer sobre ele. Atitude face a um objeto consiste no conjunto de scripts relativos a esse objeto. Esta perspectiva combinada com uma teoria abrangente acerca da formação e da seleção dos scripts daria o significado funcional ao conceito de atitude que outras definições não possuem. As atitudes geralmente são vistas como predisposições comportamentais adquiridas, introduzidas na análise do comportamento social para dar conta das variações de comportamentos em situações aparentemente iguais. Como estados de preparação latente para agir de determinada forma, representam os resíduos da experiência passada que orientam, enviesam ou de qualquer outro modo influenciam o comportamento. Por definição, atitudes não podem ser medidas diretamente, mas têm que ser inferidas do comportamento. Atitude é uma predisposição para responder de forma favorável ou desfavorável a um objeto, pessoa, instituição ou acontecimento. No entanto, na presente dissertação, atitudes serão entendidas como postuladas por Rodrigues, Assmar e Jablonski (2000) que definem atitudes como uma organização duradoura de cognições em geral, dotada de carga afetiva positiva ou negativa em 25 relação a um objeto atitudinal, que predispõe a uma ação coerente com as cognições e os afetos relativos a este objeto, posição compartilhada por outros estudiosos (Ajzen 2001; Ajzen & Fishbein, 2000). Em relação a medidas de atitudes, estas têm sido, geralmente, mesuradas em escalas do tipo diferencial semântico (Osgood, Suci & Tannenbaum, 1957). Neste sentido, pode-se verificar que uma das possíveis formas de se estudar o uso de tatuagem, no âmbito da psicologia social, é através das atitudes frente ao uso deste adorno corporal. Entretanto, esta perspectiva é reconhecidamente empiricista (Atkinson, 2002), não formando um pólo teórico consistente. Porém, em psicologia social, disciplina a qual se filia esta dissertação, este tema não é tratado, por exemplo, em pesquisa realizada no Google Acadêmico (2008), tendo sido introduzidas as palavras-chave “attitudes toward tattoo” nenhuma publicação foi encontrada em revistas afiliadas à psicologia social. Entretanto, é possível encontrar, acerca do comportamento de tatuar-se, análises sociológicas (Irwin, 2000; Myers, 1997; Vail, 1999), análises antropológicas (DeMelo, 1993,1995; Kent, 1997) e, inclusive, psicológica (Grumet, 1983; Houghton, Durkin, Parry, Turbett, & Odgers, 1996), mas em psicologia social nenhuma foi encontrada. No Brasil, a situação não é diferente, pois, em busca realizada em bases de dados Scielo (2008) e Index Psi (2008), com a palavra descritora “tatuagem”, foram encontrados 67 trabalhos, porém estes, em sua maioria tratavam de aspectos médicos, não tento sido identificada qualquer publicação em psicologia social. 26 Mesmo com esta lacuna, considera-se que os estudos e as análises empíricas deste tema, mesmo não sendo em psicologia social, sirvam de alicerce para uma possível linha teórica nesta disciplina, assim como postula Atkinson (2002). Sem dúvida, quem mais contribui, atualmente, para o estudo acerca das atitudes frente à tatuagem e ao body piercing é Myrna L. Armstrong. Esta pesquisadora estadunidense, juntamente com seu grupo, vem desenvolvendo diversos estudos que têm sua maior ênfase no âmbito da saúde, enfatizando os riscos à saúde associados a estas práticas de modificação corporal. No entanto, também tem sido enfocado como as atitudes de pessoas (tatuadas ou não), estudantes universitários em sua maioria, podem se relacionar, por exemplo, com comportamentos, como o de prestar cuidados de saúde a pessoas tatuadas, ter número elevado de parceiros sexuais, envolvimento com drogas e álcool, entre outros. No contexto de seus estudos, esta pesquisadora e sua equipe desenvolveram um instrumento, específico para medir atitudes frente ao uso de tatuagem, intitulado Armstrong Tattoo Scale (ATS) (Armstrong, Owen, Roberts & Koch, 2002; Stuppy & cols., 1998). Este, inicialmente, era composto de 17 itens respondidos de acordo com uma escala do tipo diferencial semântico, tendo apresentado bons parâmetros psicométricos, numa estrutura unifatorial e com consistência interna (Alfa de Cronbach) variando de 0,92 a 0,95, em cinco amostras diferentes (Stuppy & cols., 1998). No entanto, ao longo do tempo, o ATS veio sofrendo modificações, como acréscimo de itens. Atualmente, conta com 30 itens (Greif & cols., 1999), que fazem parte do Armstrong Tattoo Attitude Survey (ATTAS) (Armstrong & cols., 2002), um 27 questionário formado por 134 itens. Especificamente, com relação ao ATTAS, não foram encontradas referências acerca de seus parâmetros psicométricos. Ao menos em contexto estadunidense, usar uma tatuagem e/ou um piercing ainda é visto negativamente por muitos (Gold, Schorzman, Murray, Downs & Tolentino, 2005; Hawkens & cols., 2004; Schorzman, Gold, Downs & Murray, 2006; Stupy & cols., 1998). No entanto, estudos sobre tatuagens e atitudes frente à tatuagem vêm demonstrando que esses construtos são importantes para o entendimento de alguns comportamentos, a exemplo daqueles de risco (Armstrong & Murphy, 1997; Carrol, Rifferburgh, Roberts & Myhre, 2002), crenças religiosas (Koch, Roberts, Armstrong & Owen, 2004a, 2004b), uso de substância (Braithwaite, Robillard, Woodring, Stephen & Arriola, 2001; Brooks, Woods, Knight & Shrier, 2003; MacCarron, 1999), agressão (Putnins, 2002), comportamentos não-saudáveis (Huxley & Grogan, 2005) e promoção de saúde (Stuppy & cols., 1998). No âmbito da medicina, os riscos têm sido associados ao uso de modificação corporal (Armstrong, DeBoer & Cetta, 2008; Caliendo, Armstrong & Roberts, 2004; Carrol & cols. 2002; Greif & cols., 1999; Mayers, Judelson, Moriarty & Rundell, 2002; Millner & Eichold II, 2001), atividade sexual prémarital (Koch, Roberts, Armstrong & Owen, 2005, 2007) e HIV (Beyrer & cols., 2003). Publicações, considerando o uso de tatuagem e atitudes frente a tatuados, em que são tratados temas relacionados a cuidados médicos (prevenção e complicações, por exemplo) são os mais comuns na literatura. Em publicação recente, Armstrong e cols. (2008) relatam a relação existente do uso de tatuagens e piercing com sérias cardiopatias congênitas, na maioria das vezes mortais. O uso de tatuagem e/ou piercings é apostado como a (possível) principal causa de complicações para esta doença, que se 28 trata de uma infecção cardiológica, chamada de endocardite infecciosa, em que o primeiro caso, comprovadamente relacionado ao ato de tatuar-se, foi recentemente relatado (Satchithananda, Walsh & Schofield, 2001). Neste sentido, estudos mais recentes vêm sendo desenvolvidos para comprovação desta relação (Lick, Edoize, Woodside & Conti, 2005; Shebani, Miles, Simmons & De Giovanni, 2007); Cetta, Graham, Lichtenberg e Warnes (1999) já apresentavam indícios desta presumível relação. Em pesquisa na qual participaram provedores de cuidados de saúde (médicos e enfermeiros, além de estudantes de enfermagem e medicina), Stuppy e cols. (1998) verificaram que as atitudes dos participantes podem influenciar negativamente os cuidados de saúde para com pessoas tatuadas. Nesta publicação, os autores chamam a atenção para a importância de se verificar, empiricamente, o impacto das atitudes negativas desses profissionais. Ainda neste estudo, foi possível verificar que as mulheres apresentaram atitudes menos favoráveis frente a pessoas tatuadas do que fizeram seus pares do sexo oposto, fato que é recorrente em outros estudos (Armstrong, 1991; Hawkes & cols, 2004; Schorzman & cols., 2006). Em geral, é comum encontrar comparações entre as atitudes de homens e mulheres frente à tatuagem, aspecto que pode ser entendido em razão do contexto atual, em que o número de mulheres que procuram se tatuar é crescente (Armstrong, 1991; Hawkes & cols., 2004; Stuppy & cols., 1998). Ao estudar comportamentos saudáveis e uso de tatuagem, Huxley e Grogan (2005) observaram que não existiu qualquer relação significativa entre estes comportamentos. Entretanto, nesta mesma pesquisa, tais autores apontaram que a 29 transmissão de conhecimentos e informações sobre os possíveis problemas causados pelo uso de alguma modificação corporal e como enfrentá-los é apontada por estudiosos como fator principal para minimizar a incidência de complicações (por exemplo, de hepatite, endocardite infecciosa, infecções cutâneas, HIV) geradas ou agravadas por uma tatuagem; outros estudiosos compartilham desta idéia (Armstrong & cols., 2008; Grief & cols., 1999). O comportamento sexual de estudantes universitários e sua relação com o uso e as atitudes frente ao uso de tatuagens foi, empiricamente, averiguado por Koch e cols. (2005). Estes autores verificaram que, por ser tão comum entre os jovens a prática de usar tatuagens e piercings, mesmo os estudantes que tinham atitudes negativas com relação à tatuagem não a consideravam uma prática ou um omportamento desviante. A relação significativa hipotetizada entre atividade sexual e uso de tatuagem foi comprovada, sendo o uso e as atitudes positivas bons indicadores do usuário ser um jovem ativo sexualmente; adicionalmente, foi demonstrado que os homens e as mulheres tatuadas começam sua vida sexual ativa bem mais cedo que pessoas não tatuadas. Como apontado anteriormente, no Brasil, não foram encontradas estatísticas acerca do uso de tatuagens. No entanto, em contexto estadunidense, dois estudos puderam verificar, em amostra de 3000 estudantes de nove estados, taxas de prevalência de uso de pelo menos uma tatuagem e/ ou piercing em 8 a 10% entre jovens adultos participantes (Armstrong & McConnell, 1994; Armstrong & Murphy, 1997). Em outra pesquisa, na qual se buscava conhecer os fatores de maior influência na decisão de se fazer uma tatuagem, Armstrong, Roberts, Owen e Koch (2004) verificaram que as 30 amizades próximas são, de fato, o fator de maior foco de influência na hora de decidir usar uma tattoo ou um piercing. Não obstante, outro fator importante para essa decisão é a impulsividade para tatuar-se (Armstrong & cols., 2004; Armstrong, Koch, Saunders, Roberts & Owen, 2007; Greif & cols., 1999). O conhecimento dos pais acerca do uso de tatuagens ou outras modificações do corpo por parte de seus filhos foi objeto de estudo de Benjamins e cols. (2006). Estes autores observaram que somente 58% dos usuários de tatuagens e 43% dos usuários de piercing, numa amostra total de 300 estudantes universitários estadunidenses, reportaram terem tido o consentimento de seus pais. Portanto, fica evidente que o consentimento paterno nem sempre é solicitado por jovens escolares que se submetem a uma modificação corporal. Como citado previamente, o uso de body art, mais comumente tatuagem e piercing, vem sendo associado a comportamentos desviantes como uso de drogas (Braithwaite & cols., 2001; Brooks & cols., 2003), mas também com doenças infecciosas (Burger & Finkel, 2002). Além disso, autores como Holsen, Harthu e Myrmel (1993) afirmam que, historicamente, tatuagem e outras modificações corporais vêm se mostrando como fator de risco significativo para doenças virais, independente do uso de drogas. Além dos comportamentos já citados, outros também vêm sendo associados com a tatuagem. Por exemplo, Braithwait e cols. (2001) afirmam que homens tatuados fumam mais cigarros e têm mais parceiras sexuais, as mulheres tatuadas são mais comumente usuárias de álcool e outras drogas. Seguindo essa mesma linha de pensamento, Deschesnes, Finès e Demers (2006) asseveram que jovens que usam 31 tatuagem e/ou piercing incorrem num “risco natural” de apresentarem comportamentos arriscados; afirmam ainda que alguns dos fatores que contribuem significativamente para inclinação juvenil para tatuagens e piercings são o uso de drogas, atividades ilegais, afiliação com gangues e problemas com jogos de azar. Buscando conhecer os fatores que influenciam as atitudes frente a tatuados, especificamente mulheres tatuadas, Hawkes e cols. (2004), manipulando variáveis independentes “tamanho” e “visibilidade da tatuagem usada por uma mulher” observaram que tanto homens como mulheres tiveram atitudes mais negativas frente a mulheres com tatuagens visíveis, já a variável tamanho da tatuagem só foi uma boa preditora da avaliação por parte de homens e mulheres que não usavam tatuagens. Crenças e práticas religiosas têm sido freqüentemente apontadas como fatores inibidores de comportamentos desviantes, como uso de drogas, álcool, entre outros (Koch & cols., 2004a, 2004b; Santos, 2008). A religiosidade influencia o comportamento dos indivíduos identificados com as normas que regem o contexto social em que se encontram, ou seja, os indivíduos mais conservadores. Podendo ainda ser considerado um valor humano, a religiosidade vem sendo utilizada em tipologias valorativas (Gouveia, 1998, 2003; Gouveia & cols., 2008; Schwartz, 1994). A influência de crenças e práticas religiosas no uso de tatuagem, prática considerada desviante, foi verificada previamente nos Estados Unidos (Koch e cols, 2004a, 2004b), e, como esperado, forte religiosidade manteve relação negativa com usar uma tatuagem, interesse por tatuagens e intenção de fazer uma tatuagem. Outra relação descrita na literatura, acerca de tatuagens e valores humanos é aquela entre o valor saúde e comportamento de tatuar-se. Em sua pesquisa, Huxley e 32 Grogan (2005) constataram que pessoas que aderem fortemente a este valor apresentam mais comportamentos saudáveis e estão menos engajadas em fazer uma tatuagem. Neste sentido, são apontadas direções acerca de algumas possíveis relações entre comportamento de tatuar-se, atitudes frente à tatuagem e valores humanos. Particularmente, parece ser que a adesão a valores específicos pode funcionar como fator inibitório para o uso de atitudes frente à tatuagem, como também a relação contrária, ou seja, adesão a determinados valores, podem ser mais um fator decisivo na hora de se decidir fazer uma tatuagem. Em Psicologia Social, fica claro que existe uma lacuna, quando se trata de estudos que consideram o uso ou atitudes frente à tatuagem. Verifica-se que este tema está intimamente relacionado a comportamentos de riscos e desviantes, a exemplo de uso de drogas, contaminação por HIV/ AIDS e uso de álcool. Sendo, portanto, importante para entendimento do comportamento, principalmente de adolescentes e jovens adultos. O conhecimento de tais atitudes, e sua relação com as diversas variáveis demográficas e construtos, permitem o conhecimento e mapeamento de comportamentos de grupos específicos. Podendo ser usados em diversos seguimentos, por exemplo, na criação de campanhas informativas focadas e direcionadas para estas pessoas e grupos. Tendo em vista que os valores são tão bons preditores comportamentais quanto as atitudes, verificar como se relacionam atitudes com este construto pode ser útil. Neste sentido, na presente dissertação, buscou-se conhecer como as atitudes e o comportamento de tatuar-se podem se pautar nas prioridades valorativas. 33 Assim, faz-se mister realizar uma exposição breve acerca dos diversos modelos teóricos sobre valores humanos, sendo este o propósito do próximo capítulo. 34 2. Valores Humanos 35 A tentativa de identificar os valores que descrevam as pessoas não é recente (Gouveia, 2003). O estudo dos valores humanos pode ser identificado desde tempos longínquos, na história do pensamento social; grandes pensadores, da filosofia (por exemplo, Platão e Aristóteles), consideravam os valores e sugeriam seu ensino (Pimentel, 2004). Diversas perspectivas, nos estudos dos valores, podem ser verificadas. Sobre valores podem ser encontradas referências em vários campos de conhecimento, a exemplo de filosofia, antropologia, sociologia e psicologia (Gouveia, 2003; Ros, 2006). Em psicologia social, os valores humanos têm sido amplamente estudados, justificandose em razão de serem importantes no processo seletivo das ações humanas (Rokeach, 1973), constituindo-se um construto preponderante para o entendimento de muitos fenômenos sócio-psicológicos (Bardi & Schwartz, 2001). Existem contribuições teóricas distintas para o estudo dos valores, procurando explicar e descrever o comportamento humano (Ros, 2006). Especificamente, os valores humanos são estudados em duas perspectivas distintas: uma cultural e outra individual. Na perspectiva mais sociológica (cultural), apresentam-se os valores individualistas e coletivistas de Hofstede (1984), e os materialistas e pós-materialistas de Inglehart (1977), no entanto, apesar de se apresentarem, num sub-tópico específico, seus principais teóricos, esta não é a abordagem adotada nesta dissertação. O foco de interesse do presente trabalho está inserido na perspectiva individual dos valores humanos. Assim, neste panorama, os perfis valorativos são estudados, buscando entender como estes servem de orientação a um conjunto de atitudes e comportamentos. Pesquisas que seguem esta linha de pensamento entendem os valores como orientadores da ação humana, sendo relacionados com vários comportamentos e/ou atitudes. 36 Os valores de ação individualista são comumente relacionados com vários outros construtos, a exemplo de atitudes e comportamentos ambientais (Coelho, Gouveia & Milfont, 2006), intenção de constituir família (Milfont, 2001), interesses vocacionais (Gusmão, 2004), religiosidade (Schwartz & Huismans, 1995), preconceito (Vasconcelos, Gouveia, Souza Filho, Sousa & Jesus, 2004), uso de drogas (Coelho Júnior, 2001), comportamentos sociais (Pimentel, 2004; Santos, 2008; Vasconcelos, 2004), preferência musical (Pimentel, 2004) e liberalismo sexual (Guerra, 2005). Neste sentido, teóricos diversos deram contribuições importantes para o tema “valores”, cada um com sua perspectiva teórica peculiar. Assim, na perspectiva mais psicológica (individual) são bastante conhecidos os modelos dos valores instrumentais e terminais de Rokeach (1973) e os tipos motivacionais de valores (Schwartz, 1994), extensão do primeiro. Contudo, recentemente também tem se apresentado uma tipologia funcional e integradora dos valores humanos, defendida por Gouveia (1998, 2003; Gouveia & cols., 2008). O presente estudo está localizado no âmbito da Psicologia Social. Sendo assim, serão apresentadas algumas das principais idéias acerca dos diversos estudiosos que se debruçaram na temática dos valores humanos. Sumariamente, seguirão dois tópicos principais: o primeiro, em que os valores são tratados numa perspectiva mais sociológica (modelos de Hofstede e Inglehart), e o segundo, que considera os valores desde uma perspectiva individual (modelos de Rokeach, Schwartz e, por fim, Gouveia). Esta segunda perspectiva fundamentará a presente dissertação. 37 2.1 Valores Humanos na Perspectiva Cultural Conforme foi anteriormente mencionado, nesta oportunidade, são apresentados os modelos dos valores que têm sido identificados como adotando uma perspectiva cultural, isto é, são modelos que têm como referências as pontuações médias das culturas nacionais, geralmente países, procurando conhecer ou testar determinada estrutura teórica ou dimensões valorativas. Como não poderia deixar de ser, inicia-se este tópico com o modelo de Geert Hofstede, que é, seguramente, um marco obrigatório, representando a maioria daqueles que têm assumido esta perspectiva. 2.1.1 Valores individualistas e coletivistas de Hofstede. Nesta perspectiva, os valores são considerados representações de necessidades construídas socialmente na realidade, e são estabelecidas sob o reflexo de normas sociais e institucionais vigentes (Mangabeira, 2002). Hofstede (1984) analisa as prioridades valorativas, levando em consideração a cultura em que as pessoas estão inseridas. Em termos amplos, este autor define a cultura como sendo o “programa mental” que guia os indivíduos nas suas interações cotidianas. Portanto, sua proposição aponta para a cultura como um fenômeno coletivo, determinando padrões ou “programas mentais” para as pessoas, instruindo-as acerca de pensamentos, sentimentos e ações que, parcialmente, determinam os comportamentos socializados (Hofstede, 1984, 1991). Em meados da década de 1980, Hofstede (1984) reconhece uma estrutura unidimensional que expressaria a “(in)dependência emocional de grupos, organizações e outras coletividades”. Gouveia, Andrade, Jesus, Meira e Soares (2002) apontam que, no seu estudo original, Hofstede considerou 100.000 empregados de uma grande 38 multinacional americana, estes responderam a um questionário que incluía quatorze metas do trabalho. Neste sentido, Hofstede buscava identificar quatro dimensões, das quais poder-se-iam analisar valores culturais, são elas: (1) Distância de poder: medida do quanto os subordinados replicam frente ao poder e a autoridade, em resumo, é uma medida de aceitação ou não da hierarquia; (2) Coletivismo vs. Individualismo: Dimensão que gerou maior quantidade de pesquisas. Esta medida indica o quanto as pessoas de uma sociedade se sentem responsáveis pelos outros ou independentes das outras pessoas; (3) Masculinidade vs. Feminilidade: indicando, no caso de masculinidade, se é materialista, dando ênfase a benefícios, ou, no caso de feminilidade, se é mais centrada nas relações, ou seja, nas interações com outras pessoas; e (4) Evitação da incerteza: medindo o grau de ansiedade e preocupação das pessoas frente a situações inesperadas ou incertas.. Apesar do grande sucesso inicial, o modelo acima apresentado, recebe algumas críticas. Gouveia (2006) afirma que dois foram os motivos pelos quais o modelo em questão se revelou inadequado, são eles: por um lado Hofstede dava a entender que com o desenvolvimento econômico as sociedades passariam a ser individualistas, portanto, abandonando o estilo de vida coletivista. Fato que é contestado, tendo-se em conta que as sociedades contemporâneas misturam elementos coletivistas e individualistas. Por outro lado, o modelo não levava em conta dados que consideravam coletivismo e individualismos como fatores legítimos e independentes. Outro modelo, que será apresentado no próximo tópico, de cunho cultural e de grande repercussão, é o de Inglehart. Este autor parte da concepção de hierarquia de necessidades de Maslow (1954) desenvolvendo a teoria dos valores políticos do 39 materialismo e pós-materialismo, cuja emergência estará ligada à satisfação das necessidades de bem-estar econômico seguida da de auto-realização. 2.1.2 Valores materialistas e pós-materialistas de Inglehart Inglehart, nas ciências sociais e políticas, é o grande destaque no estudo dos valores (Gouveia, 1998). Este autor, partindo da teoria da hierarquia das necessidades de Maslow, numa tentativa de definir a origem dos valores, elabora um modelo teórico que se propõe a considerar os aspectos sociais e culturais dos valores. Neste modelo, Inglehart (1977) define duas dimensões através das quais tenta identificar as mudanças geracionais e comparar culturas nacionais: materialismo e pós-materialismo, a primeira diz respeito a valores materiais (satisfação de necessidades mais básicas e de segurança), enquanto a segunda dimensão versa acerca dos valores espirituais (que se originam a partir da satisfação materialista). Para Inglehart (1991), o materialismo é o padrão valorativo que prevalece nas sociedades em que não são satisfeitas as necessidades de segurança (física e econômica). Enquanto que, nas sociedades mais industrializadas e com mais recursos financeiros, o padrão mais dominante é o pós-materialista. Portanto, somente nas sociedades com elevado grau de desenvolvimento cultural e social-econômico, é possível o surgimento de um novo conjunto de valores. Não obstante, estes padrões nem sempre condizem com a realidade, não é raro pessoas ou países com boas condições financeiras permaneçerem priorizando valores materialistas (Formiga, 2002; Oyserman, 2001). A explicação desse fato é, para Inglehart (1991), baseada em duas premissas: a primeira é o fato de que as prioridades valorativas básicas são delimitadas pela hipótese 40 da escassez, ou seja, as pessoas valorizam o que mais necessitam; enquanto que a segunda se deve ao processo de socialização pelo qual passam as pessoas, sendo necessária atenção para o contexto em que as pessoas foram socializadas no início de sua vida (infância e adolescência). Por exemplo, algumas pessoas que cresceram num contexto de escassez, por exemplo, durante uma grande seca ou enchente, podem seguir dando grande importância à segurança física e/ou econômica, mesmo já resguardado o suprimento dessas necessidades. Ainda de acordo com este autor, depois de usar a análise dos componentes principais, chegou-se à conclusão de que os valores agrupavam-se numa estrutura bipolar, em que os valores materialistas estariam no pólo positivo, enquanto os pósmaterialistas estariam no pólo contrário. Para Gouveia (1998), esta estrutura transcultural de valores existe, não obstante, ele pondera que o que não se sustenta é a hipótese de que as orientações materialistas e pós-materialistas sejam, estruturalmente, seqüenciadas em pólos opostos. Para Gouveia, em vários países, estas dimensões se confundem e se combinam, e não seria adequado tratar os valores num modelo dicotômico. Resumidamente, foram expostos os dois modelos teóricos dos valores humanos em nível cultural, que não será considerado para o presente trabalho. A seguir, apresentam-se os modelos valorativos a nível individual, iniciando a exposição por aquele que propõe Rokeach, seguido pelo de Schwartz e, finalmente, o de Gouveia. 41 2.2 Valores na Perspectiva Individual No plano individual, as teorias sobre valores são úteis para caracterizar as prioridades que orientam os indivíduos, as bases motivacionais, nas quais são apoiados os valores, e que servem para o entendimento das diferenças entre indivíduos (Ros, 2006). Ainda de acordo com esta autora, as teorias na perspectiva individual são comumente relacionadas com as decisões tomadas, além das atitudes que são manifestadas pelos indivíduos. Portanto, estas teorias são úteis para o estabelecimento de relações entre as prioridades e os comportamentos dos indivíduos ou grupos que os priorizam. Por conseguinte, inicia-se a exposição dos principais modelos teóricos desta perspectiva pelo modelo de Milton Rokeach, posteriormente apresenta-se o modelo predominante, ou seja, o de Schwartz, e, por fim, o modelo de Gouveia, que se apresenta uma alternativa mais parcimoniosa que as outras, e que fundamenta esta dissertação. 2.2.1 Valores instrumentais e terminais de Rokeach. De acordo com Chaves (2006), é a partir da década de 1950 que os valores humanos ganham maior expressão com a introdução de técnicas refinadas de medição das atitudes, ressaltando-se as contribuições de Rokeach na década de 1960. Este autor tem se destacado como um dos que mais contribuíram para os estudos recentes dos valores humanos (Gouveia, Andrade, Milfont, Queiroga & Santos, 2003). Rokeach, na década de 1960, foi quem pela primeira vez procedeu à mensuração específica dos valores por meio do Rokeach Value Survey (Ros, 2006). A 42 teoria de Rokeach (1973) consiste em cinco pressupostos básicos: (1) o número de valores que uma pessoa possui é relativamente pequeno; (2) todos os homens possuem os mesmos valores em graus diferentes, independente da cultura na qual estejam inseridos; (3) os valores são organizados em sistemas de valores; (4) os antecedentes dos valores humanos podem ser encontrados em cultura, sociedade, instituições e personalidade de cada indivíduo; e (5) os valores são manifestados (virtualmente) em todos os fenômenos que os cientistas sociais possam considerar como importantes de serem pesquisados. Rokeach (1973) conceituou os valores como “crença duradoura de que um modo específico de comportamento ou estado final de existência é pessoal ou socialmente preferível a um modo de comportamento ou estado final de existência oposto ou inverso”. Assim, os valores, podem ser compreendidos como crenças prescritivas – proscritivas que permitem aos indivíduos julgarem objetos ou ações como desejáveis, indesejáveis, se são recomendáveis ou reprováveis. O referido autor teoriza um sistema de valores, dividindo-os em terminais (o próprio desejável) e instrumentais (os comportamentos), que são operacionalizados por meio de duas listas de 18 valores cada, como se descrevem: Valores terminais: representam estados finais de existência, a exemplo de igualdade, vida confortável, felicidade etc. Estes valores também são classificados como auto-centrados, ou seja, com um foco pessoal, ou centrados na sociedade, ou seja, com um foco interpessoal. Valores instrumentais: representam condutas que são consideradas preferíveis, a exemplo de ambicioso, honesto, responsável etc. Estes valores ainda podem ser 43 subdivididos em valores morais, os quais reportam o modo como se comportar, e, quando são violados, geram sentimento de culpa (intrapessoal); e valores de competência, que conduzem a um estado (pessoal) de competência, de que se está agindo de forma adequada. Para uma melhor compreensão, e, na tentativa de facilitar o entendimento acerca desta teoria, a estrutura dos valores de Rokeach pode ser comprovada na Tabela 2, apresentada a seguir: Tabela 2. Tipos de valores instrumentais e terminais proposto por Rokeach (1973) Tipos de Valores Terminais Estados finais de existência Instrumentais Modos de comportamento Pessoais Centrados na própria pessoa, foco intrapessoal. Exemplos: salvação, harmonia interior. Sociais Centrados na sociedade, foco interpessoal. Exemplos: um mundo de paz, amizade verdadeira. De competência Sua transgressão provoca vergonha, foco intrapessoal. Exemplos: lógico, inteligente. Morais Sua transgressão provoca culpa, foco interpessoal. Exemplos: honesto, responsável. Neste modelo, os valores se integram em conjuntos, denominados de sistemas de valores, organizando-se de forma hierárquica, de modo que cada valor é elencado em razão de sua importância em comparação com os demais valores. Esta organização dos valores pode sofrer mudanças (reordenações) durante a vida dos indivíduos. Estas mudanças (reordenação) de valores se dão, segundo Gouveia (1998), em conseqüência das experiências culturais, sociais e pessoais. 44 Rokeach (1973) ainda assinala uma característica importante dos valores, isto é, suas funções. Para este autor, os valores têm cinco funções distintas, a saber: (1) egodefensiva: os sentimentos ou ações pouco aceitos, seja no plano pessoal ou social, podem se modificar, por processos de racionalização e formação defensiva, em algo mais aceitável, de maneira que socialmente representem conceitos culturalmente justificáveis; (2) de conhecimento ou de auto-realização: alguns dos valores fomentam a busca de significado e compreensão, o que sugere conhecimentos e, conseqüentemente, auto-realização; (3) critérios de orientação: para posicionamentos diante de problemas, tarefas como avaliar, julgar, emitir elogios a si ou a outras pessoas, comparar, persuadir, influenciar, racionalizar crenças, atitudes e comportamentos que de outro modo seriam pessoal ou socialmente condenados moralmente e necessários à manutenção da auto-estima; (4) motivacional: os valores guiam as ações humanas no cotidiano e expressam as necessidades humanas básicas e, finalmente, (5) adaptativa: alguns valores dão ênfase a modos de conduta ou estados finais que são de orientação adaptativa ou orientados para a utilidade. Portanto, pode-se observar que Milton Rokeach contribui de forma significativa para o avanço nos estudos valorativos. De forma resumida, podem-se destacar suas contribuições nos seguintes termos: sua abordagem reuniu diversas perspectivas e conhecimentos de áreas diversas como antropologia, sociologia e psicologia; providenciou a distinção dos valores de outros construtos que são relacionados, a exemplo de atitudes e traços de personalidade; apresentou um instrumento especifico para mensurar os valores; e destacou a centralidade dos valores no sistema cognitivo das pessoas, agrupando dados sobre seus antecedentes e conseqüentes. 45 Entretanto, Gouveia, Martínez, Meira e Milfont (2001) apontam alguns problemas no modelo de Rokeach, por exemplo: (a) a medida empregada, de natureza ipsativa (sugere uma dependência entre as pontuações de um mesmo sujeito); (b) a indefinição da estrutura dos valores; e (c) a restrição das amostras dos seus estudos, realizados principalmente com estudantes universitários estadunidenses. Estes foram alguns dos aspectos que motivaram a elaboração de novos modelos teóricos acerca dos valores, a exemplo daquele elaborado por Shalom H. Schwartz, descrito a seguir. 2.2.2 Tipos motivacionais de Shalom H. Schwartz Sem dúvida, Rokeach foi bastante influente no estudo dos valores em psicologia, entretanto, foi por meio de pesquisas transculturais realizadas por Shalon H. Schwartz e seus colaboradores que aconteceu a revitalização do estudo deste construto, tornando-se, atualmente, um dos temas principais em psicologia social. Desde o final dos anos 1980, seu modelo tem sido o principal referente no campo de estudos dos valores humanos. Schwartz buscava definir uma tipologia dos valores que primava pela universalidade, ou seja, buscava demonstrar sua validade intra e inter-cultural (Schwartz, 2006). Para este autor, é consensual, na literatura, o conceito de valor como uma crença pertencente a fins desejáveis ou à forma de comportamentos, que transcendem situações específicas, que guia as ações humanas e se ordena por sua importância com relação a outros valores (Schwartz, 1992, 2006; Schwartz & Bilsky, 1987, 1990). Contudo, Schwartz (2006) assume como limitação o fato de que, apesar da utilidade desta definição para diferenciar os valores de outros construtos, a exemplo de 46 necessidades e atitudes, ela não trata do conteúdo substancial e da estrutura dos valores. Afirma, ainda, que a identificação da estrutura das relações entre os valores permite avançar no estudo das associações entre valores, tomados isoladamente, e outras variáveis e, também, com o sistema de todos os valores. Este autor define os valores como metas desejáveis e trans-situacionais, que variam em importância, que servem como princípio na vida de uma pessoa ou de outra entidade social (Schwartz, 2006). Em decorrência desta definição, conjectura que a existência do ser humano se baseia em três tipos motivacionais primordiais: (1) necessidades biológicas do organismo, garantindo a sobrevivência; (2) necessidades de regulação das interações sociais; e (3) necessidades sócio-institucionais de bem-estar e sobrevivência grupal (Mangabeira, 2002). Schwartz (1994, 2006) propõe uma estrutura composta por dez tipos motivacionais, nos quais todo e qualquer valor humano encontraria sua representação, independente da cultura em que se encontre. A seguir, apresentam-se os tipos motivacionais, com marcadores valorativos (valores específicos) entre parênteses: 1. Autodireção: busca da independência do pensamento e ação, envolvendo escolhas, criatividade e exploração (por exemplo, criatividade; independente; liberdade); 2. Estimulação: busca de excitação, novidades e mudanças na vida (ser atrevido; uma vida excitante; uma vida variada); 3. Hedonismo: busca de prazer e gratificação sexual (desfrutar da vida; prazer); 47 4. Realização: demonstração de sucesso pessoal e competência de acordo com os padrões sociais (ambicioso; capaz; obter êxito); 5. Poder: busca de status social e prestígio, controle ou domínio sobre as pessoas e recursos (autoridade; poder social; riqueza); 6. Segurança: busca de segurança, harmonia e estabilidade da sociedade, dos relacionamentos e de si mesmo (ordem social; segurança familiar; segurança nacional); 7. Conformidade: restrições das ações, impulsos e inclinações que violam as expectativas e normas sociais (autodisciplina; bons modos; obediência); 8. Tradição: busca do respeito, compromisso e aceitação dos costumes e idéias impostos pela cultura ou religião (devoto; honra aos pais e mais velhos; humilde; respeito pela tradição; vida espiritual); 9. Benevolência: busca e preservação do bem-estar das pessoas com quem se matem relações de intimidade (ajudando; honesto; não-rancoroso; ter sentido na vida); 10. Universalismo: busca da compreensão, tolerância, aceitação e bem-estar de todos, além da proteção e preservação dos recursos naturais (aberto; amizade; verdadeira; igualdade; justiça social; protetor do meio ambiente; sabedoria; um mundo em paz; um mundo de beleza). 48 De forma mais resumida e ilustrativa, os dez tipos motivacionais de Schwartz (2006) podem ser vistos na Tabela 3, abaixo: Tabela 3. Tipos motivacionais de Schwartz (1994, 2006) Tipo motivacional Valores fontes Autodireção Criatividade; Curiosidade; Liberdade Organismo; Interação Estimulação Ousadia; Vida variada; Vida excitante Organismo Hedonismo Prazer; Apreciar a vida Organismo Realização Bem sucedido; Capaz; Ambicioso Interação; Grupo Poder Poder social; Autoridade; Riqueza Interação; Grupo Segurança Segurança nacional; Ordem social; Limpo Organismo; Interação; Grupo Conformidade Bons modos; Obediente; Honra os pais e os mais velhos Interação Tradição Humilde; Devoto Grupo Benevolência Prestativo; Honesto; Não rancoroso Organismo; Interação; Grupo Universalismo Tolerância; Justiça social; Igualdade; Proteção do meio ambiente Grupo; Organismo Para esta teoria, há inter-relações estreitas entre os tipos motivacionais (hipótese da estrutura). Adicionalmente, Schwartz (1992) afirma que, ao agir tomando um dos valores como meta, as conseqüências práticas, psicológicas ou sociais podem ser compatíveis ou até conflitantes com algum outro valor que se encalce. Este modelo de organização e dinâmica entre os tipos motivacionais foi proposto por Schwartz no final dos anos 1980 (Schwartz & Bilsky, 1987), podendo ser observado na Figura 1. 49 Figura 1. Estrutura Bidimensional dos tipos motivacionais (Adaptado de Schwartz, 2006) Nesta figura, é sugerido o padrão de conflitos e compatibilidade, em que os tipos conflitantes estão em direções opostas, tomando como referência o centro do círculo, enquanto os compatíveis estão em posições adjacentes. Por exemplo, os seguintes pares são considerados como tendo compatibilidade: poder / realização, realização / hedonismo; hedonismo / estimulação; estimulação / autodireção; autodireção/ universalismo; universalismo / benevolência; benevolência / conformidade; conformidade / tradição; tradição / segurança; segurança / poder e segurança / conformidade. 50 Esta estrutura, adicionalmente, apresenta bipolaridade de dimensões. Assim, uma dimensão, localizada no eixo horizontal, seria formada pela oposição entre abertura à mudança (compatibilidade entre os tipos motivacionais autodireção e estimulação), que enfatiza a independência e o favorecimento da mudança, e a conservação (tradição, conformidade e segurança), em que é focado a estabilidade pessoal, a submissão e a manutenção das tradições. A segunda dimensão, na vertical, é composta pela oposição de autotranscedência (universalismo e benevolência), que enfatiza a superação dos próprios interesses, em função do bem-estar dos outros, e a auto-promoção (poder e realização), que focaliza a busca de poder e sucesso. A teoria dos valores de Schwartz e seus colaboradores, ainda hoje, é a que possui maior repercussão no mundo acadêmico. É usada na realização de muitas pesquisas em Psicologia Social. Entretanto, recebe algumas críticas por parte de diversos autores (Gouveia, 1998; Molpeceres, 1994; Waege, Billiet & Pleysier, 2000). Tais críticas são baseadas, principalmente, na falta de uma base teórica subjacente à origem dos valores propostos por ele, além da técnica estatística empregada por Schwartz. Gouveia (2003) também acentua que a idéia de conflitos dos valores não é compatível com a concepção do desejável, evidenciando ambigüidade de um modelo de ser humano adotado por este autor. Em função de restrições e inconsistências dos modelos apresentados até o momento, Gouveia (1998, 2003; Gouveia & cols., 2008) propõe uma nova tipologia dos valores humanos, levando em consideração a natureza e as funções dos mesmos. Tipologia esta que será apresentada logo em seguida. 51 2.2.3 Teoria Funcionalista dos valores humanos de Gouveia Em revisão acerca dos teóricos dos valores, Gouveia (1998) pôde verificar que, em geral, os modelos de valores são deficitários na exposição da fonte e natureza dos valores. Além disso, indicam que poucas teorias valorativas partem da concepção de homem, sugerindo, assim, valores tanto positivos quanto negativos (contra-valores). De acordo com Gouveia (1998), alguns modelos de valores, a exemplo do de Schwartz (1992), apresentam valores sem conteúdo ou direção clara (por exemplo, valor limpo), e deixa de inserir outros de grande importância como critério de orientação do comportamento (por exemplo, sobrevivência). Sem deixar de reconhecer as contribuições dos teóricos anteriormente descritos, mas partindo das críticas que estes têm recebido, Gouveia (1998, 2003; Gouveia & cols., 2008) propõe um modelo alternativo de valores, que parece mais parcimonioso e que, apesar de pouco difundido no cenário internacional, vem apresentando padrões de adequabilidade muito aceitáveis. Para Gouveia e cols. (2008), os valores são definidos como critérios de orientação que guiam as ações humanas e expressam suas necessidades básicas. Esta concepção de valores perpassa por três suposições teóricas: (1) assume a natureza benevolente do ser humano; (2) os valores são representações cognitivas das necessidades individuais, demandas da sociedade e instituições, que insinuam a restrição de impulsos pessoais, como também asseguram um ambiente estável e seguro; e 3) todos os valores são terminais, ou seja, expressam um propósito em si mesmos, sendo definidos como substantivos. Este modelo tem como foco principal as funções dos valores humanos. Gouveia e cols. (2008) apontam para o fato de que poucos estudos fazem referência a este 52 aspecto, e, ao revisarem a literatura, identificaram duas funções consensuais acerca dos valores, a saber: (a) eles guiam as ações do homem (tipo de orientação) e (b) expressam suas necessidades (tipo motivador). Outra inovação deste modelo é a inclusão do critério central de orientação. Em revisão de estudos empíricos, Gouveia (2003) verificou que existem valores que figuram entre e são congruentes com os pessoais e sociais, sendo denominados por ele de valores centrais, representando seu caráter central ou adjacente em relação aos demais valores. Segundo Gouveia, mesmo não havendo uma correspondência perfeita entre necessidades e valores, é possível reconhecê-los como expressão das necessidades humanas. Neste sentido, este autor afirma que os valores podem ser classificados em termos materialistas (pragmáticos) ou humanitário (idealistas). Os valores que são classificados como materialistas referem-se a idéias práticas, e quem se pauta nestes valores têm uma orientação para metas específicas e regras normativas. Já os classificados como humanitários representam uma orientação universal, baseada em princípios abstratos e ideais, sem um foco imediato. Partindo dessas considerações, Gouveia e cols. (2008) apresentaram seu modelo valorativo. Em sua estrutura, o modelo em questão propõe dois eixos principais. Um horizontal, que corresponde ao tipo de orientação, e o vertical, que define o tipo motivador. O eixo horizontal se subdivide em três critérios de orientação, ou subfunções valorativas (social, central e pessoal), enquanto que o eixo vertical se subdivide em dois tipos de motivadores (materialista e humanitário). Estas dimensões são combinadas de maneira que formam seis quadrantes: social-materialista, social-humanitário, centralmaterialista, central-humanitário, pessoal-materialista e pessoal humanitário. A 53 interação dos valores ao longo dos eixos permite identificar seis subfunções que são distribuídas de maneira equitativa nos critérios de orientação social (interacional e normativa), central (suprapessoal e existência) e pessoal (experimentação e realização). Um esquema destas subfunções pode ser verificado na Figura 2. Figura 2. Facetas, dimensões e subfunções dos valores básicos A seguir, são descritos os valores, considerando o tipo de orientação e o tipo motivador que representam, bem como a subfunção específica a que correspondem. Valores sociais. Pessoas que se pautam nestes valores têm como preferência o convívio social. São indivíduos que tentam ser aceitos e integrados ao grupo do qual fazem parte, e tentam manter um grau mínimo de harmonia entre as pessoas de seu ciclo social. Os valores sociais podem ser subdivididos em duas subfunções psicossociais: normativa e interacional, descritas a seguir. 54 Subfunção normativa. Expressa orientação social, mas com princípio materialista, sendo focada em regras sociais. Reflete a importância e a preservação da cultura e das normas convencionais. Pessoas mais velhas são tipicamente guiadas por valores desta subfunção. Pessoas que primam por estes valores estão menos propensas a apresentarem comportamentos desviantes (Pimentel, 2004), sendo a ordem valorizada acima de qualquer coisa. Os valores seguintes COMPÕEM tal subfunção: Obediência. Evidencia a importância de obedecer e cumprir deveres e obrigações diárias, respeito pelos pais e mais velhos. É um valor típico de pessoas com mais idade e/ou educadas num sistema mais tradicional. Religiosidade. Representa a necessidade de segurança, porém não depende de qualquer preceito religioso; há o reconhecimento de uma entidade superior em que se busca certeza e harmonia social para uma vida social pacífica. Tradição. Representa a pré-condição de disciplina no grupo ou na sociedade como um todo, para satisfazer as necessidades. Sugere respeito aos padrões morais seculares e contribui para a harmonia social. Subfunção Interacional. Representante de motivador humanitário, mas com uma orientação eminentemente social. Corresponde às necessidades de pertença, amor e afiliação, enfatizando estabelecer e manter as relações entre as pessoas. Os indivíduos que adotam esta função como princípio-guia em suas vidas freqüentemente são jovens. Fazem parte desta subfunção os seguintes valores: Afetividade. É relacionado com aspectos da vida social, enfatizando relacionamentos íntimos, relações familiares, cuidados, afetos, prazer e tristeza. 55 Apoio social. Enfatiza a necessidade de afiliação, destacando-se a segurança que pode ser proporcionada. No caso, expressa a segurança no sentido de não se sentir sozinho no mundo e, quando necessitar, obter ajuda. Convivência. Não representa as relações interpessoais específicas, mas a relação indivíduo-grupo. Requer um sentido de identidade social, indicando a idéia de pertença a um grupo social e não viver sozinho. Valores centrais. Estes representam a espinha dorsal da hierarquia de valores. Indicam o caráter central ou adjacente destes valores, aqueles que estão acima do indivíduo (pessoais) e da sociedade (sociais), sendo compatíveis com todos os demais valores. Os valores centrais se subdividem em duas subfunções, Existência e Suprapessoal: Subfunção Existência. Compreende os valores mais importantes com um motivador materialista. Representam a necessidade mais básica de sobrevivência do homem (biológica e psicológica), reunindo valores compatíveis com as orientações social e pessoal. Servem de referência para as subfunções realização e normativa. Os seguintes valores constituem esta subfunção: Estabilidade pessoal. Sua ênfase está na vida organizada e planejada. Pessoas que se guiam por este valor procuram garantir sua própria sobrevivência. Saúde. Pessoas que se guiam por este valor buscam obter um elevado grau de saúde, evitando coisas que podem ser uma ameaça para sua vida. 56 Sobrevivência. É o mais relevante princípio-guia de pessoas socializadas em contextos de escassez ou que não têm à disposição recursos econômicos básicos. Representa necessidades mais básicas, como comer e beber. Subfunção Suprapessoal. Esta apresenta orientação central e motivador humanitário. Os valores desta subfunção representam as necessidade de estética e cognição. São valores mais importantes com motivador humanitário, sendo compatíveis com aqueles de orientação social e pessoal com mesmo motivador. Fazem parte desta subfunção os seguintes valores: Beleza. Representa necessidades estéticas que evidenciam uma orientação global, desconectada de objetos ou pessoas específicos. Os que se guiam por este valor buscam apreciar o que é belo. Conhecimento. Representa as necessidades cognitivas, tendo um caráter extrasocial. Quem enfatiza este valor busca conhecimentos novos. Maturidade. Representa a necessidade de auto-atualização. Descreve um senso de auto-satisfação ou um sentimento de se perceber útil. Indivíduos que se pautam neste valor como um princípio-guia tendem a apresentar uma orientação universal que transcende pessoas ou grupos específicos. Valores Pessoais. As pessoas que assumem estes valores buscam alcançar metas pessoais por meio de relações contratuais. Pautar-se em tais valores é dar prioridade aos próprios benefícios. Estes se subdividem em duas subfunções, realização e experimentação. 57 Subfunção Realização. Os valores da sub-função Existência são a fonte dos valores de realização, no sentido de representarem o motivador materialista; entretanto, têm uma orientação pessoal. Pessoas orientadas por tais valores focam realizações materiais. Os seguintes valores a representam: Êxito. A ênfase é ser eficiente e alcançar as metas. As pessoas que adotam este valor têm o ideal de sucesso e são orientadas nesta direção. Poder. Representa a ênfase dada ao princípio da hierarquia. Este valor é menos social que os outros dois desta subfunção. Prestígio. Neste valor a ênfase é dada para a importância do contexto social. Deve-se ter a imagem pessoal publicamente reconhecida. Subfunção Experimentação. Os valores suprapessoais são a fonte de tais valores, no sentido de se pautarem em um motivador humanitário, porém estes têm orientação pessoal. Representam a necessidade psicológica de gratificação e a suposição do princípio do prazer. Contribuem para a promoção de mudança e inovação na estrutura das organizações sociais. Fazem parte desta subfunção os valores descritos a seguir: Emoção. Representa a necessidade fisiológica de excitabilidade e busca de experiências perigosas, arriscadas. Prazer. Corresponde à necessidade orgânica de satisfação em um sentido mais amplo (por exemplo, beber ou comer por prazer, divertir-se). 58 Sexualidade. Representa a necessidade de sexo. Tem sido tratado como um item ou um fator de moralidade religiosidade. Sexualidade como valor enfatiza a obtenção de prazer e satisfação nas relações sexuais. Por fim, apresenta-se a hipótese da congruência (Gouveia & cols., 2008) entre os valores. Seus autores observaram que, entre os valores, as correlações eram geralmente positivas, variando em força entre indivíduos. Segundo os estudiosos em questão, congruência diz respeito à consistência interna do sistema funcional dos valores. Na Figura 3, abaixo, apresenta-se, a congruência entre as subfunções valorativas do modelo de Gouveia e cols. (2008): Figura 3. Padrão de congruência das subfunções dos valores básicos (adaptado de Gouveia & cols., 2008) Como se pode observar, a hipótese da congruência entre as subfunções forma graficamente um hexágono, no qual os autores sugerem que há três níveis de congruência: baixa, moderada e alta. O primeiro nível, baixa congruência, caracteriza59 se por apresentarem as subfunções que têm orientações e motivações diversas; estes se encontram em lados opostos no hexágono. A baixa congruência se deve à independência, enquanto princípios-guia, destes grupos de valores; o segundo nível, congruência moderada, caracteriza-se pelos valores apresentarem o mesmo motivador, mas diferentes orientações; e finalmente, o terceiro nível, alta congruência, agrupa os valores que possuem a mesma orientação, mas com motivadores diferentes. O fato de duas subfunções valorativas não serem incluídas, especificamente, existência e suprapessoal, é explicado por Gouveia e cols. (2008) por serem valores centrais e apresentarem correlações positivas com todas as outras subfunções. Além disso, outro fato também explica a não-inclusão de tais subfunções, a saber: o fato da distinção principal teórica dos valores situar-se entre os valores sociais e pessoais; e não entre os valores denominados como materialistas e humanitários. Este modelo de valores tem sido utilizado em diversos estudos (Chaves, 2006; Coelho Júnior, 2001; Fonseca, 2008; Formiga, 2002; Maia, 2000; Pimentel, 2004; Santos, 2008; Vasconcelos, 2004). Em termos gerais, tem-se demonstrado que este modelo é adequado psicometricamente. A propósito, a relação com construtos diversos vem demonstrando ser apropriada. Como é possível verificar, diante do exposto previamente, o modelo de Gouveia apresenta vantagens em relação aos outros modelos valorativos aqui apresentados. Neste sentido, é usado como referencial teórico na presente dissertação. Em resumo, parece haver razão para se verificar a relação existente entre atitudes frente à tatuagem e valores humanos. Buscou-se averiguar a adequação dos valores humanos, especificamente, os da subfunções normativa e experimentação, 60 como base para a explicação destas atitudes e a intenção comportamental de tatuar-se. Ainda, buscou-se identificar um modelo que integre as duas subfunções anteriormente citadas na explicação e compreensão das atitudes frente à tatuagem e do comportamento de tatuar-se, em contexto brasileiro. Os objetivos e hipóteses levantadas em acordo com o aporte teórico adotado podem ser verificados a seguir. 61 3. Objetivos e Hipóteses 62 3.1 Objetivo geral Pretendeu-se, nesta dissertação, conhecer os correlatos valorativos das atitudes frente à tatuagem e intenção de tatuar-se. 3.2 Objetivos específicos e hipóteses Em razão do objetivo geral antes apresentado, e considerando o aporte teórico adotado nesta dissertação, elaboraram-se objetivos específicos e as hipóteses apresentadas a seguir: 3.2.1 Objetivos específicos: Construir e conhecer evidências de validade fatorial e consistência interna da Escala de Atitudes Frente à Tatuagem (EAFT). Conhecer as correlações entre os possíveis fatores da EAFT e as subfunções do QVB (Questionário dos Valores Básicos; Gouveia & cols., 2008). Conhecer se as atitudes frente a tatuagens predizem a intenção comportamental de tatuar-se. Testar um modelo teórico, em que os valores são preditores das atitudes frente à tatuagem e estes, por sua vez, predizem a intenção comportamental de tatuar-se. 3.2.2 Hipóteses Os valores da subfunção experimentação são tipicamente endossados por jovens (Gouveia & cols., 2008), que geralmente não se conformam com regras sociais. Neste 63 sentido, alguns construtos e comportamentos “desviantes” têm sido relacionados com tais valores, a exemplo do uso de álcool (Coelho Júnior, 2001), comportamentos antisociais e delitivos (Pimentel, 2004; Santos, 2008) e uso de drogas (Pimentel, 2004). Especificamente, têm sido encontradas correlações positivas entre esta subfunção e comportamentos considerados não-convencionais, enquanto que os valores da subfunção normativa agem de maneira inversa, ou seja, mantém relação contraria aos mesmos construtos. Nesta direção, são encontrados estudos nos quais são observadas relações entre tatuagem e alguns comportamentos desviantes (Armstrong & McConnell, 1994; Armstrong & Murphy, 1997; Braithwaite & cols., 2001). Portanto, tendo em vista o que discorre a literatura, formularam-se as duas primeiras hipóteses, apresentadas a seguir: Hipótese 1. As atitudes positivas frente à tatuagem se correlacionarão positivamente com valores da subfunção experimentação. Hipótese 2. As atitudes positivas frente à tatuagem se correlacionarão negativamente com valores da subfunção normativa. As atitudes são consideradas um construto central na psicologia social (Ajzen, 2001). A relação atitudes-comportamentos tem sido extensamente explorada, evidenciando que as atitudes são boas preditoras do comportamento das pessoas (Ajzen, 1991; Ajzen & Fishbein, 1970; Ajzen & Sexton, 1999). Autores como Ajzen e Fishbein (2005), por exemplo, asseveram que, quando bem mensurada, a intenção comportamental é responsável por considerável proporção da variância do comportamento em questão, neste caso, de tatuar-se. Ainda segundo estes autores, a predição das atitudes em relação à intenção comportamental é averiguada com bastante 64 acurácia por diversos estudos, agregando valor à validade preditiva das atitudes em relação ao comportamento. Portanto, evidenciada a relação de predição entre atitudes e comportamento, elaborou-se a terceira hipótese da presente dissertação: Hipótese 3. As atitudes frente à tatuagem irão predizer o comportamento de tatuar-se. Os valores humanos servem de padrões gerais de orientação para comportamentos dos indivíduos, não sendo esses tão específicos como as atitudes (Gouveia & cols., 2008). No entanto, considerar indicadores valorativos é sugerido por autores como Schwartz e Bilsky (1987) como mais confiáveis para estudo das relações entre valores e atitudes, consideração endossada por Gouveia e cols. (2008). Mais especificamente, a relação de valores (subfunções normativa e experimentação), atitudes e comportamento já foi evidenciada (Pimentel, Gouveia, Medeiros, Santos & Fonseca, 2008). No estudo destes autores, as subfunções em questão, conjuntamente com a identificação com grupos alternativos, explicaram as condutas anti-sociais, tendo como mediadoras as atitudes frente à maconha. Portanto, pautado nesta evidência empírica, elaborou-se a quarta hipótese: Hipótese 4. Os valores predirão as atitudes frente à tatuagem, que, por sua vez, predirão a intenção de tatuar-se. Diversos estudos comprovam que o número de mulheres que se tatuam é crescente (Armstrong, 1991, 2005; Armstrong & McConnell, 1994; Atkinson, 2002; Caliendo & cols., 2004; Hawkes & cols., 2004). Tais estudos buscam comparar homens e mulheres no que concerne às atitudes frente à tatuagem, além do uso de tatuagem. Os achados a respeito sugerem que, apesar do crescente número de mulheres que buscam tatuarem-se, estas, no geral, ainda têm atitudes menos favoráveis frente à tatuagem em 65 comparação com os homens (Armstrong, 1991; Hawkes & cols., 2004; Schorzman & cols., 2006; Stuppy & cols., 1998). Nesta direção, elaborou-se a quinta hipótese, descrita a seguir: Hipótese 5. As mulheres apresentarão menos atitudes positivas frente à tatuagem do que os homens. Em resumo, em razão dos objetivos previamente listados, formularam-se cinco hipóteses alternativas (experimentais) a serem testadas. Com o propósito de lograr os objetivos desta dissertação, testando as hipóteses que foram derivadas do marco teórico, realizaram-se dois estudos empíricos, detalhados a seguir. 66 PARTE II – ESTUDOS EMPÍRICOS 67 4. Estudo 1. Escala de Atitudes Frente à Tatuagem (EAFT): Construção e parâmetros psicométricos 68 4.1 Delineamento Tratou-se de um estudo correlacional, ex post facto. Basicamente, a ênfase foi psicometrista, procurando elaborar um instrumento de atitudes frente à tatuagem, além de reunir evidências sobre a validade e precisão da mesma. 4.2 Amostra Para este estudo, contou-se com uma amostra de conveniência (nãoprobabilística, intencional) de 273 estudantes de uma universidade particular da cidade de João Pessoa-PB. Estes tinham idades variando de 17 a 50 anos (M = 24,8; DP = 6,73), sendo a maioria do sexo masculino (51,7%). 4.3 Instrumentos Os participantes responderam a um questionário com duas partes, descritas como seguem: Escala de Atitudes Frente à Tatuagem (EAFT). Este instrumento foi composto por 10 itens, dentre eles, três (Agradável / Desagradável, Desejável / Indesejável e Positivo / Negativo) foram retirados de Crites, Fabrigar e Petty (1994), por serem itens usados para medir atitudes gerais; os outros sete itens foram elaborados pelo autor da presente dissertação de acordo com a literatura sobre tatuagens (Stuppy & cols., 1998). A EAFT baseia-se em escalas de diferencial semântico (Osgood, Suci & Tannenbaum, 1957), consistindo em saber a avaliação global de estar usando uma tatuagem, sendo as respostas expressas em escala de 5 pontos (+2 à -2, tendo o 0 “zero” como ponto médio da escala). Os itens são formados por adjetivos bipolares, como seguem: Certo / Errado; 69 Agradável / Desagradável; Adequado / Inadequado; Responsável / Irresponsável; Delicado / Agressivo; Pacífico / Rebelde; Desejável / Indesejável; Bonito / Feio; Positivo / Negativo; e Convencional / Anticonvencional. O Instrumento ainda tem como estímulo a seguinte frase: “Considero estar usando tatuagens...”, que antecede os itens antes descritos (ver Anexo 1). Dados sócio-demográficos. Todos os participantes responderam a um conjunto de perguntas de natureza sócio-demográfica (por exemplo, sexo, idade, renda). O leitor pode consultar esta lista de perguntas no Anexo 2. Inicialmente, realizou-se a validação semântica da EAFT, que contou com a participação de 20 estudantes do primeiro período do curso de administração (extrato mais baixo da população alvo, isto é, estudantes universitários) de uma universidade particular. Nesta oportunidade, procurou-se verificar se as instruções sobre como responder, a escala de resposta apresentada e os itens em si eram compreensíveis. Verificado que não ocorreram questionamentos, manteve-se a versão proposta. 4.4 Procedimento Para a realização da coleta de dados, foi contatado o coordenador pedagógico da universidade particular, escolhida por conveniência, com o fim de obter a permissão para aplicação dos questionários. Após o consentimento da direção, a aplicação foi efetuada por três bolsistas de Iniciação Científica (IC) do curso de Psicologia de uma instituição pública. Previamente, realizou-se um treinamento com os bolsistas, que foram instruídos a seguirem o procedimento padrão para coleta de dados através de questionários auto-aplicáveis, ou seja, os mesmos foram orientados a se limitarem às 70 instruções da escala, esclarecendo os respondentes quanto à forma, mas não ao conteúdo da medida. Os instrumentos foram aplicados de forma coletiva em sala de aula, bastando aos participantes seguirem as orientações dadas por escrito no próprio questionário. Num primeiro momento, foram passados, oralmente, para os participantes os esclarecimentos sobre o anonimato e sigilo da participação, bem como o respeito às diretrizes éticas que regem a pesquisa com seres humanos. Nesta oportunidade, procurou-se que sua participação fosse confirmada, devendo, assim, assinar o termo de consentimento livre e esclarecido. No final da aplicação, foram deixados endereços (emails do mestrando e de seu orientador) com os quais os participantes poderiam obter informações adicionais acerca do estudo. Os participantes levaram, em média, cerca de 25 minutos para responder ao questionário. 4.5 Análise dos Dados O pacote estatístico SPSS (Statistical Package for the Social Sciences), em sua versão 15, foi utilizado para tabular e realizar as análises dos dados. Utilizaram-se estatísticas descritivas (medidas de tendência central e dispersão, distribuição de freqüência), principalmente para caracterizar os participantes do estudo. Foi empregado, para verificar o poder discriminativo dos itens, testes t de Student. A Análise Fatorial Exploratória, por meio do método dos eixos principais (Principal Axis factoring), foi empregada a fim de compreender a estrutura fatorial da escala. Foi utilizado o Alfa de Cronbach como índice de consistência interna (precisão), permitindo verificar a coerência que cada item tem com os demais itens do instrumento (Pasquali, 1999). 71 4.6 Resultados Os resultados são apresentados em subseções, organizadas segundo as análises empregadas para tratamento dos dados. Neste sentido, primeiramente é apresentado o subtópico que trata do poder discriminativo dos itens e, logo em seguida, é descrito o da análise fatorial exploratória. Finalmente, oferece-se uma discussão parcial acerca do Estudo 1. 4.5.1 Poder discriminativo dos itens Aqui, partiu-se do critério de mediana. Portanto, foram criados grupos-critérios internos, superior e inferior, considerando as pontuações totais (somatório da pontuação de todos os itens da escala) abaixo e acima da mediana teórica (0 pontuação), respectivamente. Definidos os grupos, efetuaram-se testes t de Student para amostras independentes. Observaram-se os resultados apresentados na Tabela 4, a seguir: Tabela 4. Poder Discriminativo dos Itens da EAFT Grupos-Critério Item Positivo / Negativo Agradável / Desagradável Desejável / Indesejável Bonito / Feio Delicado / Agressivo Certo / Errado Responsável / Irresponsável Adequado / Inadequado Pacífico / Rebelde Convencional / Anticonvencional Inferior Superior Contraste DP t (271) 0,87 1,07 1,08 1,45 0,69 0,72 0,70 0,53 0,52 0,99 0,81 0,88 0,66 0,98 0,92 1,03 0,97 0,99 -14,58 -16,02 -14,92 -16,24 -14,16 -14,52 -12,22 -14,80 -11,87 0,001 0,001 0,001 0,001 0,001 0,001 0,001 0,001 0,001 0,44 1,10 -12,14 0,001 M DP M 0,91 0,67 0,74 0,41 0,93 0,95 0,78 1,13 0,91 1,00 0,98 1,12 1,22 0,89 0,95 0,95 0,87 0,97 1,05 0,92 p 72 Como é possível observar na tabela apresentada previamente, os resultados dos testes t-Student comprovam que todos os itens apresentam poder discriminativo satisfatório (p < 0,001). Portanto, lograram assim diferenciar os participantes dos dois grupos critérios (inferior e superior) na direção esperada. Este aspecto assegura a qualidade métrica dos itens deste instrumento, podendo, assim, diferenciar pessoas com pontuações próximas. Cumprida esta etapa das análises preliminares, partiu-se para a verificação da estrutura fatorial da referida escala. 4.5.2 Análise fatorial exploratória Procurou-se, inicialmente, comprovar a fatorabilidade da matriz de correlações entre os itens da escala, empregando-se o índice Kaiser-Meyer-Olkin (KMO) e o Teste de Esfericidade de Bartlett. O primeiro trabalha com as correlações parciais das variáveis, devendo ser aceitos valores do KMO iguais ou superiores a 0,60 (Tabachnick & Fidell, 2006). O segundo, por outro lado, comprova a hipótese de que a matriz de covariâncias é uma matriz identidade, isto é, apresenta 1 (uns) na diagonal e 0 (zeros) no restante da matriz. Valores significativos indicam que esta hipótese é rejeitada, favorecendo realização de uma análise fatorial. Os resultados apoiaram a adequação de se utilizar uma análise fatorial exploratória, tendo sido observados os seguintes valores: KMO = 0,95 e Teste de Esfericidade de Bartlett, χ² (45) = 2.2356,56; p < 0,001. Neste sentido, decidiu-se realizar uma análise fatorial exploratória com o método PAF (Principal Axis Factoring), sem fixar tipo de rotação ou número de fatores a extrair. Isso permitiu identificar um único fator com valor próprio (eigenvalue) superior a 1 (Critério de 73 Kaiser), explicando 69,5% da variância total. A representação gráfica dos valores próprios (Critério de Cattell) é mostrada na Figura 4, a seguir: Figura 4. Representação Gráfica dos Valores Próprios Verifica-se, com base nesta figura, que somente um fator é destacadamente discrepante dos restantes, como fica evidenciado pela forma de cotovelo que se configura a partir do segundo fator. Portanto, ao traçar uma linha (pontilhada), pode-se observar que os demais valores próprios quase não se diferenciam uns dos outros, levando, assim, a confirmar uma estrutura unifatorial que era esperada. 74 Por meio da análise PAF, foi então identificado um único fator geral com valor próprio de 7,24. Todos os itens saturaram de maneira satisfatória, isto é, com cargas superiores a |0,40|, tendo como mínima 0,74 (Item 10. Convencional / Anticovencional) e máxima 0,89 (item 06. Certo / Errado). Os itens refletem atitudes frente à tatuagem, sendo o fator correspondente assim denominado. O índice de consistência interna (precisão) também foi satisfatório (Alfa de Cronbach = 0,96). Estes resultados podem ser verificados a seguir, na Tabela 5: Tabela 5. Estrutura Fatorial da Escala de Atitudes Frente à Tatuagem – EAFT Conteúdo dos itens Itens 06 Certo / Errado 02 Agradável / Desagradável 08 Adequado / Inadequado 07 Responsável / Irresponsável 05 Delicado / Agressivo 09 Pacífico / Rebelde 03 Desejável / Indesejável 04 Bonito / Feio 01 Positivo / Negativo 10 Convencional / Anticonvencional Número de itens Valor Próprio % da variância Alfa de Cronbach Carga 0,89 0,88 0,88 0,84 0,84 0,83 0,82 0,81 0,78 0,74 10 7,24 69,5 0,96 4.7 Discussão Parcial Nenhum instrumento de mensuração de atitudes frente à tatuagem, em que se apresentassem seus itens, foi encontrado em periódicos nacionais e internacionais. É sabido da existência da ATS (Armstrong Tattoo Scale; Armstrong, 1991; Stuppy & cols., 1998), porém, como evidenciado previamente, os itens desta escala não estão disponíveis na literatura, constando apenas seus parâmetros psicométricos. Dessa forma, 75 justificou-se e, portanto, realizou-se o presente estudo, cujo objetivo principal foi elaborar uma medida para avaliar tais atitudes. Frente aos resultados ora reportados, pensa-se que o mesmo tenha sido cumprido. Este estudo, como todo empreendimento científico, não está isento de potenciais limitações. Por exemplo, a medida aqui avaliada teve como base respostas de estudantes universitários, ou seja, uma amostra muito específica e constituída de maneira não-aleatória (conveniência). Portanto, devido à peculiaridade dessa amostra, pondera-se que os resultados previamente descritos não podem ser extrapolados para outros grupos, nem mesmo para o universo dessa população, ou seja, para todos os estudantes da instituição a que estão vinculados. Contudo, é prudente lembrar que não se pretendeu generalizar os resultados, mas sim conhecer se a escala aqui proposta apresentava evidências de validade fatorial e precisão. Estes aspectos foram previamente demonstrados. A análise fatorial (PAF) permitiu averiguar que a EAFT é uma medida claramente unidimensional, avaliando atitudes gerais em relação à tatuagem. No presente estudo, a estrutura fatorial encontrada está dentro do que seria recomendado na literatura (Pasquali, 1999, 2003). Esta escala explicou mais de 2/3 da variância total das respostas aos itens, apresentando índice de consistência interna acima do ponto de corte que tem sido preconizado na literatura (0,70; Nunnally, 1991; Pasquali, 2003). Neste sentido, justifica-se seu emprego em pesquisas futuras. Os parâmetros psicométricos da EAFT são semelhantes aos apresentados para a ATS (Stuppy & cols., 1998), que está formada quase pelo dobro de itens (são precisamente 17 itens), igualmente avaliados em escala de diferencial semântico. A 76 ATS, como a EAFT, é unidimensional, tendo apresentado índices de consistência interna que, embora satisfatórios (Alfas de Cronbach variaram de 0,92 a 0,95 em cinco grupos amostrais), situaram-se um pouco abaixo do valor observado para a EAFT. A despeito de possibilidades futuras, é importante que esta pesquisa seja replicada em outros contextos. Seria igualmente satisfatório que se considerassem amostras maiores e mais heterogêneas, incluindo pessoas de diferentes níveis de escolaridade e classes sociais. Poderia ser relevante, por exemplo, contar com a participação de um número significativo de jovens que têm tatuagens. No caso, poderse-iam criar dois grupos: um de pessoas com tatuagens e outro dos que não usam tatuagem. Com isso, se poderia tomar essa classificação como “padrão-ouro” e, em razão das pontuações dos participantes na escala, avaliar sua sensibilidade e especificidade. Sugere-se, igualmente, empregar procedimentos de modelagem por equações estruturais, com o propósito de confirmar a estrutura unifatorial da EAFT. Inclusive, seria útil checar a invariância fatorial desta medida em diferentes grupos (por exemplo, homens e mulheres, usuários e não-usuários de drogas, religiosos e nãoreligiosos, tatuados e não- tatuados). Finalmente, ainda em termos dos estudos futuros, seria importante reunir evidências de validade preditiva da EAFT, corroborando o que preconiza a literatura (Ajzen, 1991, 2001; Ajzen & Fishbein, 2005), ou seja, que as atitudes são bons preditores da intenção ou do comportamento propriamente dito. Isso é particularmente válido quando as atitudes são específicas e relevantes para o comportamento em questão, a exemplo do que ocorre no caso das atitudes frente ao uso de drogas (Gouveia & cols., 2007). 77 5. Estudo 2. Correlatos valorativos das atitudes frente à tatuagem e intenção de se tatuar. 78 5.1 Delineamento Assim como o Estudo 1, aqui tratou-se de um estudo correlacional, ex post facto. Basicamente, a ênfase foi dada numa análise relacional dos construtos em questão, procurando testar as hipóteses formuladas tendo em conta o marco teórico usado nesta dissertação. 5.2 Amostra No presente estudo, contou-se com uma amostra de 567 estudantes universitários de duas universidades públicas, uma sediada em João Pessoa - PB (n = 291) e outra em Aracaju - SE (n = 276). A título de informação ao leitor, não é o objetivo nesta ocasião comparar os participantes destas duas cidades. Do total de participantes anteriormente indicados, 12 foram excluídos da amostra por deixarem em branco (não responderem) ao menos um dos itens do instrumento “foco” para este estudo, isto é, a Escala de Atitudes frente à Tatuagem (EAFT) ou o Questionário de Valores Básicos (QVB). Portanto, restaram 555 participantes, distribuídos entre as universidades das duas cidades (Aracaju, n = 269; e João Pessoa, n = 286). Estes foram considerados de diversos cursos superiores, predominando, no conjunto, aqueles de Psicologia (12,1%), Física (14,1%), Serviço social (10,8%), Química (9%), Engenharia mecânica (7,5%), Enfermagem (6%), Ciências da Computação (3,5%) e Engenharia de Alimentos (3,3%). A maioria era composta por mulheres (55,5%), pessoas solteiras (86,5%) e de classe média (59,8%), considerando-se religiosas (40,5%) ou medianamente religiosas (32,7%). 79 5.3 Instrumentos Escala de Atitudes frente à Tatuagem (EAFT). Este instrumento foi elaborado e validado no Estudo 1, justificando-se que seja empregado no presente contexto. Esta escala é composta por 10 itens ou pares de adjetivos, que devem ser respondidos em uma escala de diferencial semântico de 5 pontos (+2 a -2, tendo o 0 “zero” como ponto médio da escala). Os itens, que consistem em saber a avaliação global de estar usando uma tatuagem, são os descritos a seguir: Certo / Errado; Agradável / Desagradável; Adequado / Inadequado; Responsável / Irresponsável; Delicado / Agressivo; Pacífico / Rebelde; Desejável / Indesejável; Bonito / Feio; Positivo / Negativo; e Convencional / Anticonvencional. Antes de respondê-los, os participantes lêem a seguinte fraseestímulo: “Considero estar usando tatuagens...” (Ver Anexo 1), e, em seguida, passam a pontuar cada item individualmente, segundo a escala de resposta antes apresentada. Questionário dos Valores Básicos (QVB). Esta é uma medida elaborada por Gouveia (1998, 2003). A versão atual conta com 18 itens ou valores específicos (por exemplo, Afetividade. Ter uma relação de afeto profunda e duradoura; Tradição. Seguir as normas sociais do seu país) (Gouveia & cols., 2008). Seus itens são respondidos em uma escala de 7 pontos, com os seguintes extremos: 1 = Nenhuma Importância e 7 = Extremamente Importante, indicando-se o grau de importância que cada valor tem como um princípio-guia para a vida da pessoa. Seus autores reuniram evidências da validade fatorial desta medida, que apresentou consistência interna aceitável, em razão do número de itens e da natureza do construto medido (Gouveia & cols., 2008). A versão aqui empregada poderá ser consultada no Anexo 3. 80 Escala de Identificação com Grupos Alternativos (EIGA). Apesar de não se inserir esta medida nas hipóteses deste estudo, achou-se importante seu emprego. De acordo com a literatura, é comum o uso de tatuagens por parte de integrantes de grupos alternativos (por exemplo, surfistas, skatistas). Deste modo, estima-se que a identificação com tais grupos alternativos poderia predizer atitudes frente a tatuagens. Este instrumento foi elaborado e validado por Pimentel, Gouveia e Fonseca (2005), servindo para medir a identificação grupal do respondente. Neste sentido, tal medida pode ser entendida como uma avaliação da “importância subjetiva do grupo para o indivíduo”. A EIGA (Ver Anexo 4) é formada por 7 itens / grupos, a saber: Hippies, Punks, Skinheads, Headbangers, Skatistas, Surfistas e Funkeiros. O respondente precisa considerar cada um deles e indicar o quanto se identifica, empregando para tanto uma escala de resposta com 5 pontos, definida pelos extremos 0 = Nada Identificado e 4 = Totalmente Identificado. Esta medida, de acordo com seus proponentes, é claramente unifatorial; na oportunidade de sua validação, este fator geral apresentou valore próprio de 4,02, explicando 56% da variância total, e ainda apresentou boa consistência interna (Alfa de Cronbach = 0,87). Portanto, observa-se que esta é uma medida adequada para uso com fins de pesquisas. Dados sócio-demográficos. Todos os participantes responderam a um conjunto de perguntas de natureza sócio-demográfica (por exemplo, sexo, idade, renda), e, adicionalmente, os participantes responderam a uma pergunta que se referia à intenção de tatuar-se. O leitor pode verificar esta lista de perguntas no Anexo 2. 5.4 Procedimento 81 A participação dos respondentes se deu individualmente, porém, em ambiente coletivo de sala de aula. Uma vez obtida a permissão dos professores dos cursos correspondentes, os três responsáveis pela aplicação dos instrumentos, devidamente treinados, apresentavam-se em sala de aula, com o fim de solicitar a colaboração dos estudantes. Estes foram informados sobre os propósitos gerais da pesquisa, identificada como objetivando conhecer como as pessoas pensam e agem no seu dia-a-dia. Procurou-se indicar que sua participação seria voluntária, devendo responder individualmente aos questionários. Enfatizou-se que não existiam respostas certas ou erradas, bem como foi assegurado o anonimato da participação. Todos precisaram ler e assinar um termo de consentimento livre e esclarecido. Foram necessários, em média, 25 minutos para concluir a participação neste estudo. 5.5 Análise dos Dados Tanto a tabulação dos dados como as subseqüentes análises estatísticas foram realizadas por meio do SPSS (Statistical Package for the Social Science), em sua versão 15. Foram calculadas estatísticas descritivas (média, desvio padrão), além de correlações de Pearson e Regressão Linear Simples. Por meio do AMOS 7, foi realizada uma análise fatorial confirmatória, considerando-se a matriz de covariância e adotando o estimador ML (Máxima Verossimilhança); uma path analysis (análise de caminhos) foi empregada para testar o modelo teórico de predição da intenção de tatuar-se. As análises por equações estruturais (análise fatorial confirmatória e análise de caminhos) oferecem alguns indicadores de ajuste do modelo teórico aos dados empíricos (ver Byrne, 1989, 2001; Joreskög & Sörbom, 1989; Tabachnick & Fidell, 2006), sendo os seguintes mais amplamente considerados e, por isso, aqui tidos em 82 conta: 1) o χ² (qui-quadrado), que testa a probabilidade de o modelo teórico se ajustar aos dados; quanto maior este valor pior o ajustamento. Este, por ser sensível ao tamanho da amostra (amostras grandes, isto é, n > 200), deve ser interpretado com alguma reserva, valendo-se de sua razão em relação aos graus de liberdade (χ²/g.l.). Neste caso, valores entre 2 e 3 indicam um ajustamento adequado, sendo considerado aceitável um valor até 5; 2) o Goodness-of-Fit Index (GFI) e o Adjusted Goodness-of-Fit Index (AGFI), que variam de 0 a 1, com valores na casa dos 0,90 ou superiores, indicando um ajustamento satisfatório; 3) o Comparative Fit Index (CFI), que é um índice comparativo, adicional, de ajuste ao modelo, com valores mais próximos de 1, indicando melhor ajuste; aceitam-se valores de 0,90 ou superiores como expressando um modelo ajustado; 4) a Root-Mean-Square Error of Approximation (RMSEA), com seu intervalo de confiança de 90% (IC90%) e o Root Mean Residual (RMR), cujos valores devem ser iguais ou inferiores a 0,05 e 0,08, respectivamente; aceitam-se valores de até 0,10. 5.6 Resultados Antes de levar a cabo as análises pertinentes para testar as hipóteses do presente estudo, resolveu-se, em primeiro lugar, testar a comprovação da estrutura da EAFT, comparando diferentes modelos alternativos, segundo o número de itens que conformam este instrumento. Na tentativa de facilitar a compreensão dos leitores, os resultados são apresentados em dois tópicos principais, procurando seguir uma ordem de complexidade. Portanto, inicialmente, apresenta-se a comprovação dos padrões psicométricos da Escala de Atitudes Frente à Tatuagem (EAFT) e, posteriormente, comparam-se modelos alternativos para explicar sua estrutura fatorial. Finalmente, 83 apresentam-se os resultados que se referem ao teste de cada uma das seis hipóteses formuladas e previamente apresentadas. 5.6.1 Comprovação da estrutura fatorial da EAFT e modelos alternativos Como previamente explicitado, realizou-se a análise fatorial confirmatória. Neste caso, considerou-se a matriz de covariância, adotando-se o estimador ML. De acordo com os resultados da SEM (Structural Equation Modeling), observou-se que os índices de bondade de ajuste foram marginalmente aceitáveis: ² (35) = 274,47, p < 0,001; ²/gl = 7,84, GFI = 0,89, AGFI = 0,83, CFI = 0,93, RMR = 0,04 e RMSEA = 0,11 (IC90% = 0,09 – 0,12). Não obstante, verificando os IMs (Índices de Modificação), algumas modificações poderiam fazer o modelo mais adequado. Especificamente, decidiu-se correlacionar os erros de medida entre os itens 1 (Certo / Errado) e 4 (Responsável / Irresponsável) e 7 (Desejável / Indesejável) e 8 (Bonito / Feio). Agindo desta forma, percebe-se que a estrutura fatorial da EAFT obtém melhores índices de ajuste aos dados: ² (33) = 147,67, p < 0,001; ²/gl = 4,47; GFI = 0,95; AGFI = 0,90; CFI = 0,97; RMR = 0,03 e RMSEA = 0,07 (IC90% = 0,06 – 0,09). A estrutura fatorial correspondente pode ser vista na Figura 5. 84 Figura 5. Estrutura Fatorial da Escala de Atitudes Frente ao uso de Tatuagens Como é possível observar nesta figura, os pesos fatoriais (Lambdas – λ) são todos positivos e estatisticamente diferentes de zero (0; t > 1,96, p < 0,05). Portanto, os índices de bondade de ajuste admitem apoio para a estrutura unidimensional da medida de atitude frente à tatuagem. 5.6.2 Testando modelos alternativos para a EAFT. Com a finalidade de testar modelos alternativos, tendo em vista a análise fatorial (PAF), realizada no Estudo 1, consideraram-se modelos com diferentes números de itens. Neste caso, fixou-se como mínimo quatro itens para representar as atitudes frente à tatuagem. Este é, de fato, um número razoavelmente pequeno, porém, acima do recomendado pela literatura, para compor um fator, ou seja, três itens (Marsh & Hau, 85 1998). O critério usado para exclusão dos itens foi a menor carga fatorial apresentada na análise fatorial exploratória. Então, testou-se a estrutura da EAFT com diversos números de itens, conformando seis modelos alternativos, a saber: A: 9 itens; B: 8 itens; C: 7 itens; D: 6 itens; E: 5 itens; e, finalmente, F: 4 itens. Os resultados das análises correspondentes podem ser verificados na Tabela 6, a seguir: Tabela 6. Índices de bondade de ajuste para os modelos alternativos Modelos Referência A (9 itens) B (8 itens) C (7 itens) D (6 itens) E (5 itens) F (4 itens) ² (gl) 147,47 (33) 244,66 (27) 217,43 (20) 104,53 (14) 47,79 (9) 35,62 (5) 24,05 (2) ²/gl GFI AGFI CFI RMR 4,47 0,95 0,90 0,97 0,03 9,06 0,89 0,82 0,93 0,04 10,87 0,90 0,81 0,92 0,05 7,47 0,94 0,89 0,96 0,03 5,31 0,97 0,93 0,98 0,02 7,12 0,97 0,92 0,98 0,02 12,02 0,98 0,90 0,98 0,02 RMSEA (IC 90%) 0,07 (0,06 – 0,09) 0,12 (0,11 – 0,13) 0,13 (0,11 – 0,15) 0,11 (0,09 – 0,13) 0,08 (0,06 – 0,10) 0,10 (0,07 – 0,14) 0,14 (0,09 – 0,19) De acordo com os índices de bondade de ajuste, apresentados na Tabela 6, tomando-se em conta o modelo de referência, isto é, aquele resultante da análise com a restrição de correlação de dois pares de erros de medida, o modelo D é o que representa a melhor alternativa. A propósito, tenham-se em conta, por exemplo, a razão ²/gl e o RMSEA. Estes são valores que, embora inferiores àqueles relatados para o modelo de referência, têm sido considerados, na literatura, como expressando um modelo ajustado (Byrne, 2001; Joreskög & Sörbom, 1989; Tabachnick & Fidell, 2006). Portanto, poderá 86 ser adequadamente utilizado em estudos futuros. Entretanto, fica evidente que o modelo inicial é mais promissor, o que motivou adotá-lo nas análises subseqüentes, e será aquele tido em conta no sentido de compor a pontuação total de atitudes frente à tatuagem, definida pelo somatório dos dez itens que definem esta medida. A partir desta pontuação são testadas todas as hipóteses deste estudo, como a seguir ficará evidente. 5.6.3 Atitudes frente à tatuagem, valores humanos e identificação com grupos alternativos: Relação entre as variáveis estudadas. Este tópico será apresentado em subtópicos. Cada um diz respeito às análises estatísticas que foram empregadas para testar cada uma das hipóteses previamente formuladas na presente dissertação. Deste modo, apresentam-se, a seguir, os resultados específicos para cada uma destas hipóteses. Hipótese 1. As atitudes positivas frente à tatuagem se correlacionarão positivamente com valores da subfunção experimentação. Hipótese 2. As atitudes positivas frente à tatuagem se correlacionarão inversamente com valores da subfunção normativa. Para levar a cabo o teste destas duas hipóteses iniciais, calculou-se a correlação de Pearson (r) das atitudes frente à tatuagem com as subfunções valorativas (experimentação e normativa). Definiu-se o teste como sendo uni–caudal, uma vez que as hipóteses previam um direcionamento do coeficiente de correlação. Os resultados a respeito podem ser observados na Tabela 7, a seguir. É importante ressaltar que nesta tabela constam também as correlações das demais funções valorativas (e seus valores 87 específicos) e da identificação com grupos alternativos (EIGA) com as atitudes frente à tatuagem. Tabela 7. Correlação entre valores humanos, Atitudes Frente à Tatuagens e Identificação com Grupos Alternativos AFT EXPERIMENTAÇÃO Emoção Sexualidade Prazer NORMATIVO Religiosidade Obediência Tradição REALIZAÇÃO Êxito Poder Prestígio EXISTÊNCIA Estabilidade pessoal Saúde Sobrevivência SUPRAPESSOAL Maturidade Beleza Conhecimento INTERACIONAL Afetividade Apoio social Convivência M DP AFT IGA -0,05 5,12 4,60 5,20 5,57 5,04 5,37 5,75 4,00 4,84 5,90 3,97 4,63 6,07 5,89 6,08 6,25 5,59 6,32 4,69 5,76 5,73 6,08 5,98 5,12 0,77 0,84 1,27 1,30 1,13 1,08 1,79 1,16 1,39 0,93 0,97 1,39 1,41 0,78 1,20 1,07 1,00 0,78 0,83 1,27 1,13 0,80 1,12 1,11 1,22 ----0,09* 0,10* -0,01 0,10* -0,20** -0,16** -0,14** -0,14** -0,02 -0,11* 0,05 -0,01 -0,01 0,03 -0,06 0,02 0,10* 0,05 0,11* 0,04 0,01 -0,02 0,01 0,03 0,26** 0,11* 0,16** 0,05 -0,01 -0,15** -0,17** -0,09* -0,07 -0,07 -0,09* -0,03 -0,05 -0,18** -0,15** -0,17** -0,05 -0,02 -0,04 0,03 -0,05 -0,05 -0,04 -0,02 -0,04 Notas: * p < 0.05, ** p < 0.01 (uni-caudal). M = Média; DP = Desvio Padrão; AFT = Atitudes frente à tatuagem; e IGA = Identificação com grupos alternativos. De acordo com o observado nesta tabela, corroboram-se as duas primeiras hipóteses em questão, isto é, as atitudes frente à tatuagem se correlacionaram 88 positivamente com a importância atribuídas aos valores da subfunção experimentação (r = 0,09; p < 0,05) e, principalmente, o fez em sentido negativo com aqueles que compõem a subfunção normativa (r = -0,20; p < 0,01). Além destes resultados, cabe ressaltar que os valores da subfunção suprapessoal também se correlacionaram positivamente com as atitudes frente à tatuagem (r = 0,10; p < 0,05), destacando-se beleza (r = 0,11; p < 0,05) entre tais valores. Apesar de não terem sido formuladas hipóteses acerca da variável identificação com grupos alternativos, decidiu-se considerá-la nas análises. Como anteriormente indicado, este fato se justifica por ser freqüente o uso de tatuagens por parte de integrantes de tais grupos. Assim, esperar-se-ia, embora não haja demasiado embasamento teórico a respeito, que esta variável se correlacionasse positivamente com os valores de experimentação, e o fizesse negativamente com aqueles normativos, padrão semelhante àquele observado em relação à medida de atitudes frente à tatuagem. Referendando esta presumível similaridade entre os padrões de correlação, observa-se, na Tabela 7, que as atitudes frente à tatuagem e a identificação com grupos alternativos se correlacionam diretamente entre si (r = 0,26; p < 0,01). Neste último caso, as pontuações nesta medida, como esperado, correlacionaram-se com aquelas das subfunções experimentação (r = 0,11; p < 0,05) e normativa (r = -0,15; p < 0,01). Hipótese 3. As atitudes frente à tatuagem irão predizer o comportamento de tatuar-se. Para averiguar esta hipótese, optou-se por testar a predição da atitude frente ao uso de tatuagens em relação ao comportamento (ou concretamente, a intenção) de tatuar-se. Esta foi aferida por meio de uma única pergunta, inserida nas perguntas de cunho sócio-demográficas, a saber: “Na sua opinião, o quanto seria provável fazer uma 89 (ou mais) tatuagem?”. Sua resposta foi feita em escala de 5 pontos, variando de 1 = Extremamente Improvável à 5 = Extremamente Provável. Realizou-se, nesta oportunidade, uma regressão linear simples. O resultado desta análise específica mostrou que 38% (R²) da variância na resposta à intenção de tatuar-se podem ser explicados em razão das atitudes frente à tatuagem [F (1, 553) = 337,73, p < 0,001). Portanto, quanto mais apresentam atitudes favoráveis frente à tatuagem, mais provável é que os indivíduos tenham a intenção ou acreditem ser provável que façam uma tatuagem (β = 0,62; t = 18,37, p < 0,001). Corrobora-se, assim, a hipótese 3. As hipóteses anteriormente testadas permitiram, previamente, pensar em uma seqüência (ou modelo causal) que reúne os valores e as atitudes frente à tatuagem na explicação da intenção de tatuar-se. Isso correspondeu à hipótese descrita a seguir: Hipótese 4. Os valores predirão as atitudes frente à tatuagem, que por sua vez, predirão a intenção de tatuar-se. Esta hipótese pôde ser confirmada. Os índices de bondade de ajuste do modelo são, no geral, aceitáveis: ² (2) = 10,93, ²/gl = 5,47, GFI = 0,99, AGFI = 0,95, CFI = 0,97, RMR = 0,05 e RMSEA = 0,09 (0,04 – 0,14). Neste último caso, o teste PCLOSE (p = 0,08) indicou que o valor do RMSEA não é estatisticamente superior ao valor tomado como ponto de corte, isto é, 0,05. Faz-se necessário dizer que, excetuando a correlação (covariância, Phi, ) entre as duas subfunções valorativas, que não foi estatisticamente diferente de zero (-0,07; t < 1,96, p > 0,05), todas as saturações (os lambdas, ) diferiram estatisticamente de zero (t > 1,96, p < 0,05). Um resumo deste modelo pode ser contemplado, a seguir, na Figura 6: 90 VE E2 E1 0,14 AFT -0,07 0,61 Comp. de tatuar-se -0,20 VN Figura 6. Modelo teórico para explicação das atitudes frente à tatuagem e intenção de tatuar-se Em razão da confirmação da hipótese 4 e dos resultados previamente apresentados acerca da identificação com grupos alternativos, decidiu-se incluir no modelo, avaliando-o de forma heurística, a contribuição desta variável. Os resultados a respeito foram menos satisfatórios: ² (3) = 23,93, p = 0,004, ²/gl = 7,97, GFI = 0,98, AGFI = 0,92, CFI = 0,94, RMR = 0,06 e RMSEA = 0,11 (0,07 – 0,15). O PCLOSE, neste caso, evidenciou que o RMSEA é estatisticamente superior ao ponto de corte 0,05. Decidiu-se, então, observar os IMs (Índices de Modificação), constatando que a variável identificação com grupos alternativos tem implicação direta (influência) à intenção de tatuar-se (IM = 14,35; mudança estimada do parâmetro para o peso de regressão = 0,17). Procedendo a esta especificação, de fato, observaram-se índices de ajuste mais favoráveis [ ² (2) = 8,38, p = 0,02, ²/gl = 4,19, GFI = 0,99, AGFI = 0,96, CFI = 0,98, RMR = 0,03 e RMSEA = 0,08 (0,03 – 0,13); PCLOSE = 0,16], cumprindo recomendações da literatura, conforme se descreveu na seção análise de dados. Portanto, a inclusão da identificação com grupos alternativos arroja luz à compreensão da relação entre valores, atitudes e comportamentos no âmbito do uso 91 presumível ou intenção de uso de tatuagem. No caso, a identificação com tais grupos não apenas influencia as atitudes, mas também a intenção comportamental. A Figura 7 apresenta um resumo deste modelo. E2 E1 IGA 0,14 0,22 0,10 VE -0,15 -0,07 0,12 AFT 0,61 Comp. de tatuar-se -0,17 VN . Figura 7. Modelo teórico para explicação das atitudes frente à tatuagem e intenção de tatuar-se a partir dos valores e identificação com grupos alternativos A seguir, é apresentada a última hipótese deste estudo. Estima-se uma diferença em atitudes frente ao uso de tatuagem em razão do sexo dos participantes. Neste caso, utilizou-se um teste de comparação de grupos independentes, especificamente o teste tStudent. O sexo entrou como variável de agrupamento (VI) e a pontuação total de atitudes frente à tatuagem como variável critério (VD). Hipótese 5. As mulheres apresentarão menos atitudes positivas frente ao uso de tatuagem que os homens. Contrariando o que tem sido encontrado na literatura, não foi observada qualquer diferença significativa nas pontuações das atitudes frente à tatuagem em função do sexo dos participantes [t (434) = -1,82, p = 0,07]. Entretanto, cabe assinalar que as pontuações destes foram na direção apontada na literatura (Armstrong, 1991; 92 Hawkes & cols., 2004; Schorzman & cols., 2006; Stuppy & cols., 1998), com as mulheres apresentando atitudes mais positivas (M = 0; DP = 0,77) do que os homens (M = -0,13; DP = 0,76). Frente aos resultados, decidiu-se checar se esta não-diferença também aconteceria em relação à outra variável “demográfica”: pessoas com e aquelas sem tatuagens. Portanto, optou-se por realizar comparações das médias de atitudes frente à tatuagem (teste t de Student) em razão da pertença a um desses dois grupos. Inicialmente, destaca-se que, do total de participantes do estudo que responderam ao item correspondente, 33 indicaram possuir ao menos uma tatuagem (5,82%) e 534 falaram que não tinham qualquer tatuagem (94,18%). Mesmo não tendo equivalência no número de participantes dos grupos, optou-se por efetuar dita análise. O resultado revelou existir diferença significativa nas médias de atitudes frente à tatuagem entre tatuados (M = 0,76; DP = 0,80) e não-tatuados (M = -0, 12; DP = 0,76) [t (438) = 6,65], sendo os primeiros mais favoráveis. Em resumo, testaram-se no presente estudo cinco hipóteses. Destas, unicamente não foi corroborada a que se referiu à diferença de sexo quanto às atitudes frente à tatuagem. Portanto, observou-se que as subfunções experimentação (+) e normativa (-) se correlacionam com as atitudes frente à tatuagem, e que estas permitem explicar a intenção de tatuar-se. Além disso, constatou-se também que a identificação com grupos alternativos pode ser uma variável a ser incluída no modelo, permitindo explicar tanto as atitudes como a intenção de fazer uma tatuagem. Usar tatuagens, como seria esperado, produz coerentemente mais atitudes positivas frente a este tipo de marcação corporal. 93 5.7 Discussão Parcial Pode-se observar, por meio dos testes das duas primeiras hipóteses, que as atitudes frente à tatuagem apresentaram correlação direta com os valores de experimentação, a identificação com grupos alternativos e valores suprapessoais, além de correlação inversa com os valores normativos. Isso parece bastante coerente com o que tem sido estudado acerca de comportamentos socialmente desviantes, em que as pessoas que aderem a estruturas convencionais da sociedade (por exemplo, valores normativos) tendem a ser inibidas para adotá-los. Por outro lado, ser guiado por valores de experimentação ou estar vinculado (no sentido de apego, identificação) com pares desviantes (grupos alternativos), predisporia mais a apresentar tais comportamentos (Pimentel, 2004; Santos, 2008) O conjunto dos dados oferece subsídios empíricos para a composição de um modelo teórico em que se explica, por meio dos valores humanos e da identificação grupal, as atitudes frente ao uso de tatuagens e do comportamento (intenção) de tatuarse. Este modelo foi preliminarmente testado, na presente dissertação, por meio de SEM (Modelagem por Equações Estruturais), mais especificamente, realizando análises de caminhos (path analysis). Obviamente, demandam-se estudos futuros, testando este modelo em amostras mais amplas e diversificadas. Finalmente, além de corroborar a maioria das hipóteses formuladas, o presente estudo aportou um dado importante em relação a estudos prévios realizados em temas correlatos (ver, por exemplo, Pimentel & cols., 2008). Especificamente, comprovou-se que as atitudes agem como uma variável mediadora da relação entre os valores e os comportamentos (ao menos a intenção destes), corroborando o que tem sido observado 94 em relação a outras áreas temáticas (Homer & Kahle, 1988; Ros, 2006). Espera-se que, este aspecto deve animar os pesquisadores dedicados ao tema valores, reconhecendo também a necessidade de medir atitudes para a predição de comportamentos sociais ou que possam ter implicações no contexto social. Diferente do que podem pensar alguns autores (Braithwaite & cols., 2001; Fisher, 2002), o uso de tatuagem, por si, não é antisocial, porém muito mais uma decisão pessoal, embora não se descarte a pressão do grupo de pares. Entretanto, possivelmente ninguém duvida que possuir tatuagens implica um posicionamento na sociedade, uma marca, uma situação que pode fazer a pessoa diferente das demais, embora tal fato venha se tornando menos evidente e, nem de longe, poder-se-ia ser comparada ao que ocorria há décadas atrás (ver um pouco da história da tatuagem; Capítulo 1). 95 6. Discussão Geral e Conclusões 96 A presente dissertação teve como objetivo principal verificar a relação dos valores humanos com as atitudes de estudantes universitários frente à tatuagem e a intenção de tatuar-se. Neste sentido, definiram-se alguns objetivos específicos: 1) elaborar e conhecer evidências de validade e consistência interna de uma medida de atitudes frente à tatuagem; 2) verificar em que medida as atitudes frente à tatuagem se correlacionam com os valores humanos básicos; 3) conhecer se tais atitudes predizem a intenção de tatuar-se; e, finalmente, 4) testar a adequação de um modelo explicativo em que os valores explicam as atitudes frente à tatuagem, e estas, por sua vez, predizem a intenção de tatuar-se. Consistente com tais objetivos, formularam-se cinco hipóteses experimentais, que puderam ser comprovadas a partir da realização de dois estudos empíricos, cujos resultados principais são discutidos a seguir. Antes, entretanto, cabe ponderar limitações potenciais desta dissertação. 6.1 Limitações das pesquisas Embora esta dissertação ofereça contribuições acerca de um novo instrumento para medir atitudes frente à tatuagem, além de compreender a relação entre tal medida e os valores humanos, não se descartam limitações. Em primeiro lugar, é importante frisar que as amostras dos estudos aqui mencionados podem conter vieses, uma vez que não foram probabilísticas. Portanto, certamente não são representativas das populações das quais foram retiradas, restringindo quaisquer possibilidades de generalizações, nem mesmo para o universo dos estudantes universitários, menos ainda para aqueles do Brasil. O esforço em incluir participantes de uma cidade de outro estado, isto é, Aracaju (SE), não resolve esta limitação. Portanto, demandam-se pesquisas futuras, podendo-se 97 utilizar os instrumentos ora empregados, de forma a aprofundar o conhecimento acerca da relação entre os construtos em pauta. Há que se frisar, igualmente, que os estudos descritos previamente se pautaram em um delineamento correlacional, empregando-se instrumentos auto-aplicáveis, tipo “lápis-e-papel”, ou seja, constituíram-se em medidas de auto-relato, carecendo de um correspondente efetivamente comportamental. Neste sentido, sendo estrito, deve-se admitir que é possível que inexistam , na realidade, as diferenças individuais nas atitudes frente ao uso de tatuagem. No marco do delineamento (ex post facto), também não foram estabelecidos cuidados para comprovação de variáveis intervenientes que poderiam estar afetando as relações estabelecidas entre as variáveis tidas em conta nos estudos. Finalmente, apesar de previamente ter sido empregada a expressão “modelo causal”, claro está que, excetuando no delineamento fatorial, é impossível, de fato, estabelecer relações de causa-e-efeito entre variáveis. Quando se afirma a existência de um modelo causal, q única coisa que se pretende é dizer que, de acordo com o modelo especificado, não é absurdo pensar em uma seqüência temporal de influência das variáveis, mas sem esgotar todas as possibilidades ou mesmo definir que uma variável é dependente de outra, denominada variável independente, que é, por natureza, manipulável. Portanto, assinalaram-se, nesta oportunidade, modelos que são explicativos, que podem refletir o padrão de correlações entre algumas variáveis de interesse. Feitas estas considerações, parece pertinente considerar o conjunto de resultados previamente apresentados, passando a discuti-los mais detalhadamente, levando-se em conta o marco teórico em que foram pautados os dois estudos empíricos. Portanto, consideram-se, a seguir, os resultados quanto à (1) Construção e validação da Escala de 98 Atitudes Frente a Tatuagens (EAFT) e, posteriormente, aos (2) Correlatos valorativos das atitudes frente à tatuagem e da intenção de tatuar-se. 6.2 Elaboração e parâmetros psicométricos da EAFT Como foi visto na Introdução, não foram encontradas, no Brasil, escalas atitudinais específicas que mesurassem o posicionamento de indivíduos frente à tatuagem ou às pessoas com tatuagens. Entretanto, em consultas à literatura da área, foi encontrada a Armstrong Tattoo Scale (ATS; Armstrong & cols., 2002; Stupy & cols., 1998). Apesar de ser citada em diversas pesquisas (Armstrong & cols., 2002; Greif & cols., 1999), tendo sido apresentados parâmetros psicométricos aceitáveis (Stupy & cols., 1998), com alfas de Cronbach (índice de consistência interna) superiores a 0,90, não foi encontrada qualquer publicação em que se apresentassem seus itens. Este fato justificou a elaboração e validação da Escala de Atitudes Frente à Tatuagem (EAFT), que foi o objetivo principal do Estudo 1. Conforme sugerindo, no primeiro estudo, buscou-se desenvolver um instrumento psicometricamente adequado, possibilitando conhecer as atitudes das pessoas frente à tatuagem. O instrumento final foi composto por 10 itens, alguns dos quais presentes em outras medidas atitudinais que se desenvolveram a partir de diferenciais semânticos (Crites & cols., 1994; Gouveia & cols., 2007; Pimentel, 2004). Os resultados deste estudo permitiram oferecer a EAFT como uma medida cujos parâmetros psicométricos são bastante aceitáveis (Pasquali, 2003), justificando seu emprego em pesquisas futuras. A propósito do que antes foi comentado, as análises fatoriais (exploratória e confirmatória) realizadas em amostras independentes permitiram constatar uma 99 estrutura unidimensional, facilmente interpretada como expressando atitudes (negativas) frente à tatuagem. A porcentagem de variância explicada por este fator geral foi superior a 2/3 do valor máximo, com consistência interna superior ao ponto de corte de 0,70 recomendado na literatura (Nunnally, 1991; Pasquali, 2003), inclusive maior do que aquele encontrado para a ATS (Armstrong & cols., 2002; Stupy & cols., 1998). O poder de discriminação dos seus itens, embora avaliado preliminarmente, reforça a adequação da EAFT. Esta conta com um número de itens razoável para o propósito de avaliar uma única dimensão, sendo coerente com o que tem sido recomendado na literatura (Marsh & Hau, 1998). Os indicadores de bondade de ajuste preconizados como refletindo a adequação de um modelo puderam ser observados para a versão ora apresentada (Byrne, 1989, 2001), que foi, ainda, contrastada com modelos mais parcimoniosos, isto é, com menor número de itens. Em resumo, reuniram-se provas suficientes da adequação psicométrica da Escala de Atitudes frente à Tatuagem. Compreende, portanto, um instrumento breve, de fácil compreensão, com itens curtos ou simplesmente adjetivos bipolares, que pode ser usado adequadamente em estudos em que o interesse é conhecer os antecedentes e conseqüentes das atitudes frente à tatuagem. Isso permitiu seu emprego no segundo estudo desta dissertação, que é discutido a seguir. 6.3 Correlatos valorativos das atitudes frente à tatuagem. Com o propósito didático, os resultados discutidos neste momento são apresentados tendo em conta cada uma das cinco hipóteses previamente formuladas. No 100 entanto, sempre que possível, estas são agrupadas de modo a facilitar a compreensão do leitor. Hipóteses 1 e 2 Os valores humanos têm sido um tema importante para explicação de diversos construtos e/ou comportamentos sociais e individuais. Por exemplo, foram empregados para explicar condutas anti-sociais (Santos, 2008; Pimentel, 2004), uso de álcool (Coelho Júnior, 2001), religiosidade (Santos, 2008), uso de drogas (Pimentel, 2004), prática de sexo pré-marital (Guerra, 2005) e sexualidade (Santos, 2007). Na presente dissertação, também se recorreu a este construto, provavelmente fazendo eco à visão de Rokeach (1973) de que os valores podem ser usados como explicadores de diversos fenômenos que os cientistas sociais são capazes de estudar. No presente caso, embora existam modelos mais difundidos no âmbito internacional (por exemplo, Inglehart, 1991; Rokeach, 1973; Schwartz, 1994), decidiuse optar pelo modelo proposto por Gouveia (1998, 2003). Como foi descrito no Capítulo 2, trata-se de um modelo parcimonioso e bem estruturado, permitindo pensar a explicação de diversos construtos. Além disso, conta com uma medida curta dos valores, formada por 18 itens, condição que favorece o estudo de outros construtos ou possibilita seu emprego em contextos trans-culturais ou, também, quando a limitação de tempo pode ser um complicador, como pode ocorrer em ambiente coletivo de sala de aula. Os comportamentos socialmente desviantes, como poderiam ser pensados aqueles de uso de drogas, sexo pré-marital, dirigir embriagado, fazer tatuagens e piercings, por exemplo, são freqüentemente relacionados com atitudes frente ao uso de 101 tatuagens e comportamento de tatuar-se (Armstrong & McConnell, 1994; Armstrong & Murphy, 1997; Braithwaite & cols., 2001; Koch & cols., 2005). Certamente, tais atitudes têm inerentes orientações axiológicas em que se fundamentam, certamente espelhando uma opção entre seguir os padrões convencionais da sociedade ou romper com normas sociais, evidenciando uma posição pessoal ou adesão a grupos desviantes. Portanto, seguindo este raciocínio, os valores, mais especificamente aqueles das subfunções normativa e experimentação, podem oferecer subsídios para o entendimento de tais atitudes frente à tatuagem. Na direção do que foi previamente mencionado, as duas primeiras hipóteses desta dissertação versaram sobre a relação entre os valores e as atitudes frente à tatuagem (AFT). Coerentemente com o que estabelece a teoria funcionalista dos valores humanos, os resultados evidenciaram que os valores normativos se relacionaram negativamente com as ATF, enquanto que os de experimentação o fizeram de forma positiva. Deste modo, corroboraram-se as duas primeiras hipóteses, reforçando a literatura que aponta que estas subfunções são fundamentais para explicar uma série de comportamentos considerados desviantes (Coelho Júnior, 2001; Pimentel, 2004; Santos, 2008), podendo o uso de tatuagem ser, ainda, categorizado como um deles. Por fim, um padrão de correlação para o qual não foi estabelecida qualquer hipótese, mas que deveria ser esperado, correspondeu aos valores da subfunção suprapessoal. Os jovens que pontuaram mais nesta subfunção apóiam, presumivelmente, o uso de tatuagens, mostrando mais atitudes positivas. Como assinala Gouveia (2003; Gouveia & cols., 2008), pessoas que se pautam pelos valores que a representam, prezam por elementos menos pragmáticos, materialistas, acentuando 102 atributos mais abstratos e universais, como o ideal de estética e a abertura a mudanças. Isso, seguramente, favorece a que não se oponham ao uso de tatuagem, sendo abertos a aceitarem a diferença, evidenciando menos preconceito e discriminação em relação aos demais (Martinez, Paterna & Gouveia, 2006). Hipótese 3 As atitudes são concebidas como boas preditoras do comportamento em si (Ajzen, 2001). Este autor afirma que a habilidade das atitudes para predizerem a intenção comportamental ou o comportamento evidente continua sendo o principal foco da teoria das atitudes e das pesquisas empíricas dela derivadas. Neste sentido, elaborouse a terceira hipótese do Estudo 2. Esta versou sobre a predição da intenção comportamental, tendo como variável preditora as AFT. No caso, mais de 1/3 da variância explicada da intenção de tatuar-se pôde ser atribuída às atitudes frente à tatuagem. Este achado respalda o que foi dito no começo deste parágrafo: as atitudes podem ser consideradas boas preditores da intenção de comportamento. A propósito, a relação atitude-comportamento tem sido tratada por este autor a partir de duas de suas teorias: Teoria da Ação Racional (Ajzen & Fishbein, 1980) e Teoria da Ação Planejada (Ajzen, 1991). Não obstante, apesar de heurísticas e terem sido amplamente usadas como referência em pesquisas empíricas, principalmente a Teoria da Ação Racional, tais modelos apresentam algumas limitações quando se trata de predizer comportamentos moralmente orientados (Coelho & cols., 2006). Certamente falta um componente que é axiológico, permitindo explicar as próprias atitudes; neste caso, falase sobre o construto valores humanos (Ros, 2006). 103 Hipótese 4 Como visto anteriormente, parece evidente a relação entre atitudes e comportamentos (Ajzen, 1991, 2001); isso tem sido apreciado em relação a diversos comportamentos e atitudes específicos, como atitudes-comportamentos frente ao uso de drogas e ao consumo de drogas (Gouveia & cols., 2007). Porém, como também foi sugerido anteriormente, os valores podem jogar um papel crucial neste contexto, passando a explicar as atitudes e estas atuarem como mediadoras do comportamento de tatuar-se. Corroborando o que propunha esta hipótese, os valores, especificamente aqueles das funções experimentação e normativa, mostraram-se como explicadores adequados das atitudes frente a esta modificação corporal (tatuagem), as quais predisseram satisfatoriamente a intenção comportamental de tatuar-se. Este modelo triádico tem recebido respaldo na literatura (Homer & Kahle, 1988; Ros, 2006). Apesar de corroborada a hipótese 4, decidiu-se ir mais além, tentando incorporar uma medida “social” ao modelo, isto é, a identificação com grupos alternativos. Este construto tinha sido previamente medido por Pimentel e cols. (2005). Considerando que tais grupos têm incidência alta de uso de tatuagens e outras formas de modificações corporais, pareceu importante ter em conta a medida correspondente em um modelo explicativo. Porém, considerando a ausência de evidências empíricas sistematicamente obtidas a respeito, preferiu-se não formular qualquer hipótese a respeito. Coerente com o que poderia ser pensado, a maior identificação com grupos alternativos fez com que os participantes endossassem atitudes mais favoráveis à tatuagem; um dado a mais foi que tal identificação também pode ser uma preditora do comportamento de tatuar-se. Este aspecto faz pensar sobre o papel dos grupos de pares em comportamentos que 104 podem refletir uma definição ou identidade grupal, como pode ser usar tatuagem ou apreciar estilos específicos de música (Pimentel, 2004). Hipótese 5 Os estudos que têm em conta dados demográficos, a exemplo do sexo dos participantes da pesquisa, são comuns na literatura como explicadores das atitudes frente a e do uso de tatuagens (Armstrong, 1991; Hawkes & cols., 2004; Schorzman & cols., 2006; Stuppy & cols., 1998). Coerente com o que tem sido recentemente observado, propôs-se a última hipótese desta dissertação. Os resultados não permitiram corroborá-la, pois, embora as mulheres tenham mostrado atitudes mais favoráveis do que os homens às tatuagens, a diferença não foi estatisticamente significativa. É possível que se procure dizer que foi quase significativa ou tendente a significativa (p = 0,07), mas isso é jogar com valores a favor das pretensões da pesquisa. Diferentemente, nesta dissertação, adota-se outra postura: é preferível replicar este estudo, avaliando se, efetivamente, não há tal diferença. Talvez, por serem estudantes universitários, o que no Brasil pode indicar a pertença a grupos sócio-econômicos mais homogêneos, neutralize qualquer variabilidade de respostas, sendo homens e mulheres mais parecidos nos seus comportamentos e nas suas atitudes frente a temas sociais ou comportamentos que possam representar a ruptura do status quo tão questionado nos contextos universitários. Mas esta é apenas uma explicação; não resta dúvida que pesquisas futuras são demandadas para dirimir dúvidas. Finalmente, corroborando o que tem sido observado na literatura, as pessoas não tatuadas apresentam mais atitudes negativas frente a esta forma de adorno corporal do 105 que aquelas que usam tatuagem (Hawkes & cols., 2004), talvez mesmo reforçando o fato de terem ou não aderido a esta prática, que, embora em crescimento, segundo pesquisas realizadas em outros países (Armstrong, 1991; Armstrong & cols., 2007; Atkinson, 2002), ainda abarca um quantitativo pequeno de brasileiros, ao menos daqueles que fizeram parte deste estudo. Mas, por suposto, o quantitativo aqui indicado não pode ser generalizado para outros contextos culturais dentro do país, nem mesmo outros grupos sociais (por exemplo, estudantes do ensino médio de escolas públicas, artistas, desportistas). Caberiam novos estudos a respeito e, especificamente sobre estas possibilidades, decidiu-se apresentar o tópico a seguir. 6.4 Conclusões e direções futuras Há uma quantidade considerável de estudos realizados a respeito do tema tatuagem e atitudes frente à tatuagem. No entanto, isso não garante um aporte teórico consistente (Atikson, 2002). Algumas publicações apontam para uma possível relação entre valores humanos, atitudes frente à tatuagem e uso desta prática de adorno corporal (Huxley & Gogan, 2005; Koch & cols., 2004a, 2004b; Stupy & cols., 1998). Porém, estas referências são muito mais teóricas ou especulativas; não foi encontrado qualquer estudo em que tenha sido deliberadamente comprovada, partindo de um modelo concreto dos valores humanos, como o que foi adotado nesta dissertação (Gouveia, 1998, 2003; Gouveia & cols., 2008). Neste sentido, o presente empreendimento científico parece representar uma contribuição à área, favorecendo uma aproximação mais adequada entre o construto valores humanos e o tema tatuagem. 106 Como foi possível observar em outros estudos em que foram considerados para explicar comportamentos socialmente desviantes (Pimentel, 2004; Santos, 2008), isto é, que não é predominante na sociedade (por exemplo, uso de drogas, sexo sem camisinha, comportamentos de risco), os valores humanos têm se revelado um construto adequado. No presente caso, sua importância ficou evidente na compreensão das atitudes em relação à tatuagem e ao seu uso. Uma análise mais minuciosa acerca deste tipo de comportamento, cada dia mais comum e banalizado (Armstrong, 1991; Armstrong & cols., 2002; Caliendo & cols., 2004), faz-se necessária para suprir uma lacuna existente acerca do estudo desta temática na Psicologia Social. Desse modo, reitera-se que a dissertação aqui apresentada buscou oferecer uma contribuição para o entendimento de aspectos psicossociais envolvidos no contexto do uso de tatuagens, aumentando, assim, o corpo de conhecimentos a respeito e favorecendo a solidificação de uma área que parece promissora neste país: o estudo de objetos sociais de identificação de jovens, a exemplo de música, tatuagens e piercings. Seguramente, pesquisas futuras poderão ser realizadas para o aumento do conhecimento acerca dos correlatos das atitudes frente a tatuagens e do comportamento de tatuar-se. Construtos, como o traço de personalidade de abertura à mudança, busca de sensações e religiosidade, assim como diversos comportamentos, a exemplo daqueles anti-sociais e delitivos, do uso de drogas em geral e das práticas sexuais, poderiam ser contemplados. Estes construtos são comuns na literatura internacional, em especial de língua inglesa, porém ainda são escassamente tratados em contexto brasileiro, havendo uma deficiência acerca de estudos que os relacionem com a temática das tatuagens. Seria muito interessante contar com estudos periódicos avaliando o quão comum a prática de tatuagens e outros símbolos identificadores estão se tornando na cultura 107 brasileira, e como seria possível explicá-los, considerando tanto variáveis psicológicas como sócio-estruturais, a exemplo de nível escolar, taxa de emprego, religião etc. Um aspecto que também poderia ser relevante diz respeito em pensar o tema da tatuagem desde uma perspectiva desenvolvimentista; poder-se-ia avaliar em que medida mudam as atitudes das pessoas frente à tatuagem em razão da sua idade, e se seguem sendo os mesmos valores a explicar o grau de (des)favorabilidade mostrado pelas pessoas. No plano mais prático, aplicado, embora este não tenha sido o propósito desta dissertação, cabe algum esforço nesta direção. A propósito, se for corroborado (a replicação deste estudo deve arrojar luz a respeito) que os valores atuam efetivamente como um recurso para o mapeamento de possíveis futuros tatuados, considerando as implicações desta prática, tanto legais, sociais como de saúde (Armstrong & cols.,2008; Grief & cols., 1999; Huxley & Grogan, 2005), caberia serem pensadas campanhas para promoção de determinados valores que, somadas a estratégias de esclarecimento dos jovens acerca dos riscos associados com o uso de tatuagens, tornariam esta decisão mais conseqüente e orientada ao futuro, no sentido de que o arrependimento e a procura por procedimentos de reparação (cover) não fossem recorrentes e expusessem os jovens a situações de constrangimento e inibição social. Finalmente, tendo sido os objetivos propostos alcançados, indicando possíveis limitações e a importância da temática do estudo das atitudes frente à tatuagem e intenção de tatuar-se, identificando nos valores e na identificação grupal dois construtos explicadores, confia-se, com a presente dissertação, ter colaborado para um campo específico da Psicologia Social que, embora dando os primeiros passos no contexto nacional, já dá provas de que é oportuno, cobrindo uma lacuna importante: o 108 comportamento socialmente desviante dos jovens. Seguramente, este empreendimento não se constitui em um ponto final, mas na abertura para novos estudos ou nos primeiros passos que sinalizam a importância de se terem em conta práticas que, embora não tão freqüentes (AINDA), explicam os comportamentos de muitos jovens, quer por endossarem, simpatizarem ou se oporem. Neste âmbito, um desafio é lançado também em relação à compreensão de outras formas de se diferenciar ou, paradoxalmente, ser igual, ao menos ao grupo de pertença; este pode ser o caso específico do uso de piercing, que tem marcado sobretudo a geração dos anos 1990 em diante. 109 Referências 110 Anderson, R. R. (1992). Tattooing should be regulated. New England Journal of Medicine. 326, 207. Ajzen, I. (1991). The theory of planned behavior. Organizational Behavior and Human Decision Processes, 50, 179 – 211. Ajzen, I. (2001). Nature and operation of attitudes. Annual Review Psychology, 52, 27 – 58. Ajzen, I. & Fishbein, M. (1970). The prediction of behavior from attitudinal and normative variables. Journal of Experimental Social Psichology, 6, 466 – 487. Ajzen, I. & Fishbein, M. (1980). Understanding attitudes and predicting social behavior. New Jersey: Prentice-Hall. Ajzen, I. & Fishbein, M. (2000). Attitudes and the attitude-behavior relation: Reasoned and automatic processes. Em W. 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Você não precisa ter tido experiência de usar uma tatuagem ou usar piercings para responder essas questões. Por favor, indique sua avaliação global marcando um X no quadro que melhor representar sua resposta. Considero “estar usando TATUAGENS”... 2 1 0 -1 -2 1. Positivo Negativo 2. Agradável Desagradável 3. Desejável Indesejável 4. Bonito Feio 5. Delicado Agressivo 6. Certo Errado 7. Responsável Irresponsável 8. Adequado Inadequado 9. Pacífico Rebelde 10. Convencional Anti-convencional 127 ANEXO 2 – Perguntas sócio-demográficas Finalmente, para obter um perfil dos participantes deste estudo, pedimo-lhes que responda às seguintes perguntas: 2. Sexo: Masculino 1. Idade: _____ anos Feminino 3. Estado Civil: Solteiro Casado Separado Outro 4. Curso:___________________________ 5.Universidade: Pública ( ) Privada ( ) 6. Qual seu grau de religiosidade? Circule a resposta. Nada religioso (a) 1 2 3 4 5 Totalmente religioso (a) 7. Em comparação com as pessoas da sua cidade, você diria que sua família é da classe sócio-econômica: Baixa Média-Baixa Média Média-Alta Alta 8. Você é usuário de bebidas alcoólicas? Sim Não 9. Você é usuário de maconha? Sim Não 10. Você é usuário de drogas (como cocaína, crack ou ecstasy)? Sim Não 11.Na sua opinião, o quanto seria provável fazer uma (ou mais) tatuagem? (circule um número) Extremamente improvável Improvável 1 2 Extremamente Mais ou menos provável Provável 3 4 provável 5 128 ANEXO 3 – Questionário de Valores Básicos (QVB) ATENÇÃO: Observe que agora você deverá utilizar outros códigos para responder às questões! Por favor, leia atentamente a lista de valores descritos a seguir, considerando seu conteúdo. Utilizando a escala de resposta abaixo, indique com um número no espaço ao lado de cada valor o grau de importância que este tem como um princípio que guia sua vida. 1 2 3 4 5 6 7 Totalmente Não Pouco Mais ou Importante Muito Totalmente não importante importante menos importante importante importante importante 01.____SEXUALIDADE. Ter relações sexuais; obter prazer sexual. 02.____ÊXITO. Obter o que se propõe; ser eficiente em tudo que faz. 03.____APOIO SOCIAL. Obter ajuda quando a necessite; sentir que não está só no mundo. 04.____CONHECIMENTO. Procurar notícias atualizadas sobre assuntos pouco conhecidos; tentar descobrir coisas novas sobre o mundo. 05.____EMOÇÃO. Desfrutar desafiando o perigo; buscar aventuras. 06.____PODER. Ter poder para influenciar os outros e controlar decisões; ser o chefe de uma equipe. 07.____AFETIVIDADE. Ter uma relação de afeto profunda e duradoura; ter alguém para compartilhar seus êxitos e fracassos. 08.____RELIGIOSIDADE. Crer em Deus como o salvador da humanidade; cumprir a vontade de Deus. 09.____SAÚDE. Preocupar-se com sua saúde antes de ficar doente; não estar enfermo. 10.____PRAZER. Desfrutar da vida; satisfazer todos os seus desejos. 11.____PRESTÍGIO. Saber que muita gente lhe conhece e admira; quando velho receber uma homenagem por suas contribuições. 12.____OBEDIÊNCIA. Cumprir seus deveres e obrigações do dia a dia; respeitar aos seus pais e aos mais velhos. 13.____ESTABILIDADE PESSOAL. Ter certeza de que amanhã terá tudo o que tem hoje; ter uma vida organizada e planificada. 14.____CONVIVÊNCIA. Conviver diariamente com os vizinhos; fazer parte de algum grupo, como: social, esportivo, entre outros. 15.____BELEZA. Ser capaz de apreciar o melhor da arte, música e literatura; ir a museus ou exposições onde possa ver coisas belas. 16.____TRADIÇÃO. Seguir as normas sociais do seu país; respeitar as tradições da sua sociedade. 17.____SOBREVIVÊNCIA. Ter água, comida e poder dormir bem todos os dias; viver em um lugar com abundância de alimentos. 18.____MATURIDADE. Sentir que conseguiu alcançar seus objetivos na vida; desenvolver todas as suas capacidades. 129 ANEXO 4 – Escala de identificação com grupos alternativos (EIGA) INSTRUÇÕES. Gostaríamos que indicasse o quanto você se identifica com os grupos sociais listados abaixo. Faça isso marcando um X no quadrado ao lado de cada grupo, de acordo com a seguinte escala de resposta: O QUANTO VOCÊ SE IDENTIFICA COM... (use a escala ao lado) Nada Totalmente 0 1 2 3 4 Hippies Punks Skinheads Headbangers Skatistas Surfistas Funkeiros 130