Rio das Pedras - EMOP - Governo do Estado do Rio de Janeiro
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Rio das Pedras - EMOP - Governo do Estado do Rio de Janeiro
CRÉDITOs Coordenação do trabalho pelo Governo do Estado Ruth Jurberg – Coordenadora do PAC Social Marcela Moreira – Assessora da Coordenação do PAC Social Frank Moehr - Gerente de Projetos da EMOP Coordenação geral do trabalho William Resende de Castro Jr. – Engenheiro Equipe de campo Coordenação da pesquisa de campo Maria Gabriela Bessa – Socióloga – Especialista em Política e Planejamento Urbano Sub coordenação de campo Julia Coelho de Castro – Turismóloga Coordenação da pesquisa de campo Christian Andrade Vieira- Cientista Social Pesquisadores Aretusa de Paula Amanda Fonseca Pangaio Evânio Pereira de Paula Fernando Cesar Vicente Rosa José Ramos da Silva Rafaela da Silva Cassiano Silvia Nascimento dos Santos Thiago Isabel Rosa Assistente geral Verônica da Cruz Equipe de produção Coordenação da produção do trabalho, pesquisa, redação, criação e diagramação miolo e capa Leila Maria Baptista Fernandes - Arquiteta e Urbanista – M.Sc. Planejamento Urbano e Regional IPPUR/UFRJ e Designer Gráfico Diagramação dos cadernos das oficinas Daniel Yuhasz – Arquiteto e Designer Gráfico Mapas em geral Antônio Sales - Geógrafo - Analista Ambiental, Especializado em Geoprocessamento. Fotografias Equipe de Campo e fotos cedidas por Frank Moehr Apresentação deste conteúdo em Flash elaborada por Carlos Maurício da Costa Ramos – Designer - M.Sc. Desenho Industrial PUC RIO 1 ÍNDICE APRESENTAÇÃO 2 Apresentação 3 Introdução 4 História dos Bairros do Itanhangá e Jacarepaguá O presente documento abordará a caracterização do território de Rio das Pedras, assim definido como a comunidade carente situada na Estrada de Jacarepaguá, entre os bairros de Itanhangá e Jacarepaguá, na Zona Oeste do Rio de Janeiro, apresentando e consolidando informações importantes quanto ao histórico, localização, entorno, caracterização física, urbanística e sócio econômica. 9 Histórico da Ocupação das Comunidades de Rio das Pedras. 11 Legislação Vigente e Restrições Urbanísticas e Ambientais na Área de Rio das Pedras 15 Localização e Inserção na Cidade 22 Divisão Sociopolítica Local 23 Caracterização Socioeconômica da População Local 31 Identificação e Caracterização das Organizações Presentes – Pesquisa de Campo 35 Equipamentos Sociais - existentes e previstos a partir da demanda da comunidade 36 Infraestrutura Física 59 Tipologia Edilícia O objetivo principal deste documento será subsidiar a captação de recursos para novos investimentos na comunidade de Rio das Pedras, de forma a implementar o seu desenvolvimento socioeconômico e físico espacial. Desta proposta fará parte um amplo estudo sócio urbanístico da região com a participação dos moradores e lideranças visando o enquadramento da mesma no denominado PAC 2. 74 Intervenções já realizadas e/ou projetos tanto do Governo Federal, quanto do Estado e da Prefeitura 75 Planos e Programas Governamentais Co-Localizados 76 Intervenções Previstas pelo PAC 77 Oficinas do Imaginário 87 Cadernos das Oficinas Anexo 1 – Modelo do questionário aplicado na pesquisa de campo Anexo 2 – Modelo do convite para as Oficinas do Imaginário Anexo 3 – Proposta de Trabalho Técnico Social 2 INTRODUÇÃO Desde o início do século XX, o modelo de urbanização da cidade do Rio de Janeiro mostrou-se segregador, excludente e desigual. 1 As políticas públicas implementadas desde então, especialmente a partir da reforma Pereira Passos em 1906, apenas reforçam essa lógica de exclusão e segregação, apartando os mais pobres dos benefícios da urbanização e relegando-os às áreas menos favorecidas da cidade, em geral em terrenos públicos, áreas de preservação, encostas íngremes e impróprias, propriedades abandonadas ou seguindo, em geral, o curso de ocupação industrial ou acompanhando a linha dos trens urbanos como forma de ficar mais próximo de possíveis locais de trabalho. Nesse processo a especulação imobiliária teve um papel fundamental, sobretudo nas áreas mais distantes do centro urbano ou localizadas nos municípios próximos, o que gerou um tipo de “urbanização por expansão de periferias”2 e com maior intensidade a partir da década de 40. A ocupação dos subúrbios do Rio de Janeiro foi também facilitada pela implantação dos trens urbanos que se deu ao final do século XIX. menos localizadas no espaço urbano e levados a cabo pelas associações de bairros e associações classistas, ao nível de organizações de base, articulados, muitas vezes por agentes externos como a igreja, partidos políticos, militantes de esquerda, políticos, etc. dotados de sacadas de ferro, entradas revestidas em mármore e os apartamentos, com cerca de 180 m², possuem quatro quartos. No início do processo de industrialização, nos idos dos anos 30 e enquanto a população trabalhadora era ainda de pequeno vulto, as empresas optaram por construir moradias para seus empregados, geralmente próximo às fábricas, incentivadas pelo Decreto Legislativo de 08/02/1888 que concedia privilégios de isenção de impostos sobre importação de materiais de construção, além de concessão de terrenos e edifícios, às firmas que se propusessem a construir casas populares. Na altura da praça Múcio Leitão estão os edifícios de padrão médio que são de quatro pavimentos, têm cerca de 100m² e possuem três quartos. Ao final da rua foram locados os apartamentos mais simples e menores, com três pavimentos e apartamentos de um e dois quartos. Vila Arthur Sauer, no Horto Em todos os edifícios, as dependências de empregados ficavam no último pavimento e com acessos independentes pelo acesso de serviço. Assim como o Complexo da Penha, do Alemão, do Lins de Vasconcelos, do Jacarezinho, Rocinha, Manguinhos e tantos outros no Rio de Janeiro, a comunidade de Rio das Pedras surge a partir das diretrizes e políticas públicas que mais do que nunca se fundearam na lógica da acumulação capitalista, especialmente, no modelo de desenvolvimento seguido a partir da década de 50 no Brasil, com a adoção do Plano de Metas (1956/ 1961). Esse não foi um processo fácil e isento de contradições. Ao contrário, muitos dos conflitos urbanos que afloraram ao longo de todo o século XX, foram marcados pelas reivindicações em torno de melhoria das condições de vida, mais ou 1 Referências bibliográficas: SCHMIDT, B. V. E FARRET, R. L. A Questão Urbana. RJ, Jorge Zahar Editor, 1986. MELO, Marcus A. B. C. de, O Padrão de Intervenção Pública no Saneamento Básico. In: Revista de Administração Pública, nº 23. Rio de Janeiro, FGV, 1989. AZEVEDO, S Andrade, L. A.G. de. Habitação e Poder. RJ, Jorge Zahar Editor, 1982. MARICATO, E. Brasil 2000: qual planejamento urbano? in: Cadernos IPPUR, vol XI nº 1 e 2, jan/dez 1997. RJ. IPPUR. Azevedo, S. A crise da política habitacional in: Ribeiro, L. C. de Q. e Azevedo, S. A crise da moradia nas grandes cidades: da questão habitacional à reforma urbana, RJ, Editora UFRJ, 1996. 2 MARICATO, E. “Brasil 2000: qual planejamento urbano?” in: Cadernos IPPUR, vol XI nº 1 e 2, jan/dez 1997. RJ. IPPUR. Mapa 1 - de localização dos setores das edificações do Jardim Sul América Na foto vemos o acesso para a velha Fábrica Aliança, conhecido como Rua Aliança (atual rua General Glicério). Fechando no horizonte vemos o imponente pórtico da fábrica (http://www.fotolog.com.br/ andredecourt/23156011) No Rio de Janeiro ainda é possível observar alguns exemplos dessas “vilas operárias”: as casas da vila operária da Fábrica Corcovado, denominadas Vila Arthur Sauer, no Horto, construídas em 1891 e os prédios da antiga rua Jardim Sul América, atual rua Pires de Almeida, em Laranjeiras, ambas na Zona Sul do Rio de Janeiro.3 3 ALCÂNTARA, D. de; RHEINGANTZ, P. A.; BARBOSA, A.; LAUREANO, A. e AMORIM, F. Texto do link http://www.fau. ufrj.br/prolugar/arq_pdf/diversos/enepea_2006_rua_pires_de_almeida safe.pdf O Jardim Sul América foi edificado na década de 20 pela empreiteira Monteiro Aranha para servir de vila aos funcionários da Cia. de Seguros Sul América. O terreno possuía 15.000 m² e seu uso era distribuído entre 23 edifícios em estilo art déco, contabilizando 158 unidades de um até quatro quartos que se destinavam a abrigar desde gerentes até os serventes da empresa. Para tanto, a vila foi ocupada em três setores diferenciados que refletiam a hierarquia interna da empresa: os quatro edifícios mais próximos à rua principal, rua das Laranjeiras foram destinados aos funcionários mais graduados. Estes possuem seis pavimentos servidos por elevadores, Foto do setor 1 - de edifícios mais nobres 3 Com relação em especial às políticas habitacionais, resumiram-se muitas vezes a programas pouco expressivos em que muitas vezes os supostos beneficiados não tinham como amortizar as prestações contratadas e, em muitos casos, ou deixavam de pagá-las ou eram transferidas a pessoas de renda mais elevada, enquanto essas pessoas às quais se destinavam os investimentos voltavam às suas condições anteriores ou até piores. Foto do setor 3 - popular Vista do cul-de-sac ao final da rua e da praça Múcio Leitão no setor 2 Há ainda a notável Vila Operária da Gamboa, projetada pelo arquiteto e urbanista Lúcio Costa e construída com a ajuda do arquiteto Gregori Warchavchik, em 1933. Com o crescimento da classe operária urbana, a pressão da classe trabalhadora sobre a demanda de moradias populares se intensificou e diante de um quadro de valorização dos terrenos urbanos – sobretudo aqueles ocupados no entorno das fábricas, servidos por infraestrutura – e de um fluxo migratório intenso alavancado pela industrialização crescente da cidade – em contradição com a maior parte do restante do país, especialmente o Nordeste – essa modalidade de oferta de moradias populares mostrou-se inviável. Como resposta parcial às crescentes demandas e reivindicações, várias políticas urbanas foram levadas à prática por meio de providências concretas através de políticas habitacionais, políticas de transportes urbanos, de saneamento, entre tantas outras. Cite-se que os vários governos tanto a nível estadual quanto federal, elaboravam políticas habitacionais desde a década de 40. Disseminou-se a criação das carteiras prediais dos Institutos e Caixas de Aposentadorias e Pensões e no âmbito nacional a Fundação da Casa Popular (FCP), instituída em 1º de maio de 1946. Responsáveis por 90% das moradias construídas por instituições no período Vargas, estas se destinavam muitas vezes mais às classes médias e altas do que às classes de baixa renda, assim como aconteceu com o BNH, na década de 60. Um segundo momento da política habitacional se instaurou nos breves nove meses do governo Jânio Quadros com a criação do IAP (Instituto de Assistência Habitacional) para fazer frente, principalmente, às graves condições sociais que apontavam já para o perigo de uma convulsão social e onde a crise habitacional se revelava em toda a sua extensão na expansão das favelas e periferias. Outras tentativas de resolver essa problemática foi a criação do Banco de Nacional da Habitação (BNH), em agosto de 1964, que representa de forma emblemática essa fase posterior de políticas públicas, sobretudo no que tange às áreas de habitação e de saneamento básico, com a criação do SFH (Sistema Financeiro da Habitação) e do SFS (Sistema Financeiro do Saneamento). Mas, assim como as propostas dos Institutos e Caixas de Pensões, atendia mais às classes médias e altas do que às classes populares. Porém, a partir de 1971 o BNH se transformaria em empresa pública e banco de segunda linha, trabalhando com o repasse de financiamentos. Com relação ao saneamento, é criado o PLANASA (Plano Nacional de Saneamento), onde os Estados, que dele quisessem participar, deveriam instituir uma Empresa Estadual de Saneamento – o que acarretava, no mais das vezes, em mudanças no formato daquelas existentes. Extinto em dezembro 1985, o BNH jamais atendeu de forma adequada à intensa demanda habitacional do país e o quadro interno de recessão e desemprego, determinou o aumento da inadimplência dos mutuários do Banco, criando e ampliando o enorme rombo no SFH, que repassou então suas atribuições para a Caixa Econômica Federal enquanto as políticas de investimentos urbanos passaram a ser atribuição do Ministério de Desenvolvimento Urbano. De um lado, o apoio ideológico que deu suporte a essas políticas habitacionais, apontava para a ideia de ascendência e segurança socioeconômica representado pela casa própria diante de um quadro de baixa remuneração da força de trabalho, de desemprego e inflação. Assim, a ideia da casa própria como solução de moradia das classes trabalhadoras urbanas acabou por constituir-se na base ideológica dessas políticas, embora correspondam a relações sociais concretas, marcadas pelas disparidades sociais, pela exclusão e pela desigualdade. Mas, a conjuntura econômica da época, limitando o acesso dessa população ao mercado formal de construção da casa própria ou ao mercado formal de aluguel de imóveis para residências, impeliu, por outro lado, para as soluções informais de construção da casa própria – em favelas, loteamentos periféricos das grandes cidades, áreas públicas invadidas etc... A demanda pelo crescimento da oferta de bens e equipamentos públicos de uso coletivo também cresce e não se distribuem de maneira igualitária no espaço urbano. E correspondem a essa lógica concentradora e centralizadora do capital, também no interior do espaço urbano desses grandes centros, gerando enormes focos de tensões sociais e problemas de infraestrutura urbana que demandam, até hoje, um investimento considerável em planejamento e ações de governo, especialmente do governo municipal. Lei Complementar 14 e, em 1974, à criação da Comissão Nacional de Regiões Metropolitanas e Políticas Urbanas (CNPU) pelo Decreto 74.156 de 1975, que é o mesmo decreto que desativou o SERFHAU (Serviço Federal de Habitação e Urbanismo). A periferização urbana acelerou-se: se proliferaram os loteamentos – legais e ilegais –, cresceram os cortiços e favelas e as invasões passaram a ser o modo dominante de aquisição da propriedade fundiária. Como lembra Ermíria Maricato, “A ocupação ilegal da terra urbana é não somente permitida como parte do modelo de desenvolvimento urbano no Brasil... É funcional para a manutenção do baixo custo de reprodução da força de trabalho, como também de um mercado imobiliário especulativo (ao qual correspondem relações de trabalho atrasadas na construção), que se sustenta sobre a estrutura fundiária arcaica”4. Diante deste quadro e num clima de abertura democrática, desde os anos 80 sucessivos governos municipais investiram na urbanização de favelas no Rio de Janeiro, investindo em projetos e obras em comunidades de baixa renda. Em 1982, foi iniciado o Projeto de Desenvolvimento Social das Favelas do Rio de Janeiro pela SMDS (Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social) cujo objetivo era traçar um perfil completo das comunidades em estudo nos aspectos socioeconômico, físico, urbanístico e jurídico a fim de elaborar um modelo de intervenção genérico e passível de ser aplicado em outras comunidades e cujo enfoque era a intervenção integrada. Em Rio das Pedras essa é uma situação evidente e o processo de ocupação irregular dessa região apresenta todos os problemas característicos da ocupação desordenada e desassistida. O Governo Estadual, desde o início da gestão de Leonel Brizola (1983-1987), desenvolveu uma série de projetos para intervenções em favelas: O PROFACE (Programa de Favelas da CEDAE) desenvolvido entre 1983 e 1985; a ação da Comlurb com a compra de micro tratores para atuação em favelas; um Programa de Iluminação Pública, iniciado em 1985 pela Comissão Municipal de Energia; o Programa Cada Família um Lote da Secretaria de Estado do Trabalho e da Habitação, que incluía a regularização fundiária nas áreas de ação, durante o período de gestão.5 A crise urbana brasileira não pode ser contida a despeito de todos os esforços e mudanças no aparato institucional com a criação das Regiões Metropolitanas, em 1973 (Porto Alegre, Curitiba, São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Salvador, Recife, Fortaleza e Belém), através da 4 MARICATO, E. Brasil 2000: qual planejamento urbano? in: Cadernos IPPUR, vol XI nº 1 e 2, jan/dez 1997. RJ. IPPUR, pp. 123 5 MENDES, I. C. R. Programa Favela-Bairro: uma inovação estratégica? Estudo do Programa Favela-bairro no contexto do plano Estratégico da Cidade do Rio de Janeiro. Dissertação de Mestrado para a FAUUSP, São Paulo, 2006. 4 A ausência de investimentos em habitações populares, a partir da extinção do BNH, em 1985, alavancou o crescimento e expansão das áreas de favelas. Diante disso, em 1987 é realizada a reformulação do Projeto Mutirão, visando a substituição de ações pontuais por ações mais integradas e consequentes de urbanização, através da Superintendência de Desenvolvimento Comunitário (SDC), com a criação do Programa de Urbanização Simplificada, precursores do Programa Favela Bairro. O Plano Diretor da Cidade, sancionado em 1992, define favelas como sendo “área predominantemente habitacional, caracterizada por ocupação da terra por população de baixa renda, precariedade da infraestrutura urbana e de serviços públicos, vias estreitas e de alinhamento irregular, lotes de forma e tamanho irregular e construções não licenciadas, em desconformidade com os padrões legais.” (art. 147). Consolida a ideia de um programa global de integração das favelas ao bairro e ao aglomerado de favelas onde se situa a cidade e, diante disso, sua integração ao meio urbano como bairros populares, apontando a ausência de infraestrutura como o maior problema a ser enfrentado nessas áreas, além do déficit habitacional, a urbanização e a regularização fundiária dessas áreas e dos loteamentos irregulares existentes. Preconiza ainda a preservação da tipicidade da ocupação local (art. 152). É também no início dos anos 80 que a teoria neoliberal ganha força no mundo todo, desde a China de Deng Xiaoping até o governo de Margareth Tatcher, na Inglaterra, e o Governo Ronald Reagan, nos Estados Unidos. E no cerne desse curso, ao final dos anos 80, os processos de globalização já ensejavam uma visão de cidade que deve operar a nível regional, mas também no plano global e transnacional, estruturada a partir de processos competitivos entre cidades globais, forçando-as a enfrentar e responder a esses novos desafios pari e passu com as demandas de bem-estar e convivência democrática urbana. Os planos estratégicos aparecem como uma resposta a essas novas demandas, a fim de adequarem o espaço urbano às exigências do mundo globalizado. Baseados nos modelos militares, depois também adotados no meio empresarial, surge como o modelo ideal de administração urbana no cenário da globalização por permitir “agilidade de gestão, estabelecimento de metas e prazos, participação cidadã na construção da cidade, maior controle sobre os objetivos que se estabelece, flexibilidade para mudanças que se tornem necessárias e principalmente por se caracterizar como um plano de ações”.6 Em 1993, o BID selecionava a cidade do Rio de Janeiro para colocar em andamento seu maior programa de integração urbana, tendo em conta a experiência acumulada pela prefeitura em urbanização de favelas. Contratualmente o programa foi denominado Programa de Urbanização de Assentamentos Populares e, para dar conta de uma melhor forma de comunicação, recebeu o nome de Favela-Bairro. Este tinha a intenção precípua de integrar as comunidades das favelas ao resto da cidade, investindo, sobretudo em infraestrutura urbana dos demais bairros da cidade. Neste momento a Prefeitura criou o Grupo Executivo de Assentamentos Populares (GEAP) que congregava secretarias e empresas municipais atuantes no setor, cujo objetivo era criar uma política pública para o município e articular as ações da Prefeitura neste setor. Trabalhando juntos, BID e Prefeitura, através do GEAP, desenvolveram uma metodologia e implementaram o programa que beneficiou diversas comunidades e inclusive às de Rio das Pedras. Em 1995, o primeiro Plano Estratégico da Cidade do Rio de Janeiro – Rio Sempre Rio – foi apresentado, como resultado de uma parceria entre o Município e a iniciativa privada. Este já contemplava em sua Estratégia 4 (foram apresentadas oito estratégias) – Rio Integrado – o Programa Favela Bairro como um dos projetos capazes de resolver a normalizar a situação urbanística. O Programa Favela Bairro, outro Programa de Governo nascido no âmbito do Plano Estratégico da Cidade do Rio de Janeiro – Rio Sempre Rio – realizou duas etapas em 143 favelas e 15 loteamento. No entanto, entre os anos 2000 e 2007, o Programa perdeu fôlego e as obras já realizadas ficaram em boa parte sem manutenção apropriada. Nesse mesmo período “houve um crescimento geral de cerca de três milhões de metros quadrados, correspondentes a 6,88% de acrésci6 Idem mo na área ocupada pelas favelas cariocas”7. O que significa dizer que para dar conta de atender adequadamente a todas as comunidades, o Programa precisaria, ao contrário do que aconteceu, ganhar fôlego. A área de Rio das Pedras foi contemplada com a ação denominada Programa de Urbanização e Regularização: Grandes Favelas. Tampouco o Projeto Rio Cidade, um Programa de Governo nascido no âmbito do Plano Estratégico da Cidade do Rio de Janeiro – Rio Sempre Rio – apresentado na Estratégia 2 – Rio acolhedor – como um dos programas cujo objetivo era o de qualificar a vida dos bairros e melhorar a qualidade dos espaços públicos, contemplou a área de Rio das Pedras. O PAC – Programa de Aceleração de Crescimento – significa uma mudança de paradigma na cultura do planejamento urbano e, sobretudo, do planejamento e revitalização de áreas subnormais porque trabalha grandes áreas e atinge a uma população e a áreas muito maiores. O Governo Federal lançou em 2007 o PAC em todo Brasil e trouxe para o Estado do Rio de Janeiro investimentos em 15 cidades - sendo 12 municípios da Região Metropolitana e três Municípios de outras regiões do Estado. No Rio de Janeiro, os investimentos iniciais do PAC atingiram o montante de R$ 3.237.000.000,00 (R$ 643.000.000,00 de contrapartida) e pretende atingir a 2 milhões de famílias, com prioridades para o abastecimento de água do sistema Guandu; a urbanização de cinco favelas do Rio de Janeiro, investimentos em esgotamento sanitário com a despoluição das baías de Sepetiba e Guanabara; revitalização do rio Paraíba do Sul e construção de unidades habitacionais para população de baixa renda. É preciso ressaltar que, segundo o IPP e a Secretaria de Urbanismo, o Rio de Janeiro tem hoje mais de 1.300 favelas levantadas e os dados do Censo 2010 devem mostrar uma mudança para pior no crescimento de assentamentos subnormais. 7 VIAL, A. & CAVALLIERI, F.. O efeito da presença governamental sobre a expansão horizontal das favelas do Rio de Janeiro: os Pouso’s e o Programa Favela-Bairro. Coleção Estudos Cariocas, IPP/Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro, Maio - 2008 5 HISTÓRIA DOS BAIRROS DE JACAREPAGUÁ E ITANHANGÁ JACAREPAGUÁ8 Até o início do século XX, a região hoje denominada Jacarepaguá era conhecida como Vale do Marangá, palavra indígena cujo significado é campo ou lugar de batalha. É possível que o nome do lugar onde hoje se encontra a Praça Seca tenha sido adotado em virtude das lutas entre portugueses e índios, ocorridas no início da colonização. Outra hipótese, preferida por alguns historiadores, mas não confirmada, remete à frustrada invasão francesa comandada pelo corsário Jean François Duclerc, no início do século XVIII. A chegada de uma esquadra francesa em 16 de agosto de 1710, numa expedição enviada por Luis XIV contra o Brasil foi repelida por canhões da fortaleza de Santa Cruz. Assim, a esquadra francesa teria desistido de forçar a entrada na baía. Rechaçados também na Ilha Grande, conseguiram o desembarque na praia de Guaratiba, em 11 de setembro daquele ano. Em sua tentativa de invasão, iniciaram sua marcha para o Centro da cidade, atravessando a região por um caminho transformado anos depois na Rua Cândido Benício, “onde possivelmente encontraram resistência, e através de uma trilha que tudo indica ser hoje a Estrada Grajaú-Jacarepaguá”. “Um dos indícios que podem justificar essa hipótese foi a descoberta de canhões franceses, durante a construção da estrada, já em meados do século XX. Se durante o percurso encontraram resistência, esta foi superada, pois em 19 de setembro atacaram a cidade, sendo rechaçados pelos homens que guarneciam o morro do Castelo. Atacados por tropas arregimentadas pelo governador Francisco de Castro Morais, os franceses renderam-se, caindo prisioneiro Duclerc.” A ideia de criar no Rio de Janeiro uma colônia francesa era antiga, mesmo antes da tentativa de François Duclerc e da fundação da cidade. “Nicolas Durand de Villegaignon, apoiado por Henrique II, rei da França (1547-1559), já havia desembarcado aqui quase um século e meio antes, em novembro de 1555, quando os franceses 8 A maior parte dos dados deste item foram levantados em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Jacarepagu%C3%A1 e http:// www.portalemfoco.com.br/artigos.php?pag=artigo& artigoid=411 e http://portaldejacarepagua.com.br/ historiadejacarepagua.html#capitulo_1 e www.carlocaiado.com. br e CARVALHO, D C. História do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: DGDI, Divisão de Editoração da Secretaria Municipal de Saúde, 1994 e JUNIOR, D. M. Rio de Janeiro: Planos, plantas e aparências. Rio de Janeiro: João Fortes Engenharia, 1988. foram senhores do Rio de Janeiro durante quatro anos e três meses. Mem de Sá combateu-os com uma esquadra enviada da metrópole, por ordem real, desalojando os invasores e arrasando suas fortificações”. Ao chegar à cidade, em fevereiro de 1564, de Estácio de Sá, incumbido de estabelecer as bases de uma colonização sistemática, encontrou-a novamente dominada. Buscando reforços em São Vicente, subjugou os franceses e índios em março de 1565. A consolidação da missão com a destruição das forças inimigas teve a ajuda de Mem de Sá, seu tio, que veio em seu auxílio, à frente de tropas organizadas na Bahia, derrotando novamente os franceses. A batalha travada em 20 de janeiro de 1567, data escolhida por ser o Dia de São Sebastião, culminou com sua morte. Ferido durante o combate por uma flechada no rosto, morreu em seguida. Após expulsar os invasores, seu tio, Mem de Sá, nomeou outro sobrinho, Salvador Correia de Sá, capitão e governador (1567-1572) da cidade, recebendo o mesmo, como benefício da guerra, as terras que hoje constituem o Município do Rio de Janeiro. “Salvador Correia de Sá doou sesmarias no Rio de Janeiro para Jerônimo Fernandes e Julião Rangel de Macedo, portugueses que se haviam destacado na luta contra os franceses. Nenhum dos dois, entretanto, desenvolveu qualquer atividade econômica nos vastos territórios recebidos. A ocupação territorial de Jacarepaguá só começou no final do século XVI, quando o governador Salvador Correia de Sá doou essas mesmas sesmarias a seus filhos (1594), que as reivindicaram em petição ao pai-governador, no final de seu último período de governo (1578-1598), alegando que após trinta anos as terras ainda não haviam sido cultivadas. A sesmaria de Gonçalo Correia de Sá compreendia terras que abrangiam uma parte da Barra da Tijuca e dos atuais bairros da Freguesia, Taquara e Camorim, indo até Campinho. As terras de Martim cobriam um vasto território a partir de Camorim, englobando Vargem Pequena e Vargem Grande e estendendo-se até o Recreio dos Bandeirantes e a extensa faixa litorânea.” Enquanto as sesmarias doadas a Gonçalo Correia de Sá foram prontamente ocupadas e em parte delas fundados engenhos de açúcar, enquanto outra parte era arrendada a terceiros, tornan- do-as economicamente viáveis e seus domínios rapidamente transformados em povoações, as terras de seu irmão Martim, alagadas, pantanosas e formadas predominantemente por grandes areais, impróprias, portanto, às atividades econômicas daquela época, dedicava-se à sua carreira política. em Angola, defendendo os interesses portugueses. Governou três vezes o Rio de Janeiro (16371642, 1648-1649 e 1659-1660), contribuindo com inúmeras melhorias e desenvolvimento à região, sobretudo ao vender parte de suas terras em Jacarepaguá e incentivar os novos proprietários a fundar novos engenhos. “Martim Correia de Sá foi por três vezes governador da capitania do Rio de Janeiro (1602-1608, 1618-1620 e 1623-1630), o que explica em parte por que a região de Jacarepaguá, ao desenvolver desde o início suas atividades econômicas, efetivou sua ocupação de forma mais consistente, enquanto a região da Barra da Tijuca permanecia desocupada por quase quatro séculos.” Seu filho, Martim Correia de Sá e Benevides (neto de Martim Correia de Sá), herdou o que restou das terras e se tornou o primeiro Visconde de Asseca e Alcaide-Mór do Rio de Janeiro. De fato, o primeiro núcleo de ocupação da região surgiu em 1616, no lugar também conhecido como Porta d’Água, que hoje chama-se Largo da Freguesia. A proximidade com a Lagoa dos Jacarés, tornou a região conhecida pelo nome de Jacarepaguá. Pra incentivar a ocupação, uma parte das terras foi desmembrada em foros. Em tempo, o topônimo Jacarepaguá deriva de três palavras do tupi-guarani: yakare (jacaré), upa (lagoa) e guá (baixa) ou lagoa baixa dos jacarés. No início da colonização da região, as lagoas que existiam entre o Vale do Marangá e o mar eram plenas de jacarés. “Em 1625, a filha de Gonçalo Correia de Sá, D. Vitória de Sá e Benevides, neta do governador Salvador Correia de Sá, recebeu como herança as terras que seu pai havia recebido do avô. Em 1628, ela casou-se com o governador-geral do Paraguai, o fidalgo espanhol D. Luis Cespede Xeria, que recebeu parte da sesmaria como dote. Em 1667, D. Vitória doou aos beneditinos, por testamento, a maior parte da área que hoje pertence à Barra da Tijuca. Já o general Salvador Correia de Sá e Benevides (1601-1688), filho de Martim e primo de dona Vitória, comprou as terras que pertenciam aos foreiros e ao marido de D. Vitória, tornando-se assim o proprietário quase absoluto do território que hoje compõe Jacarepaguá, inclusive o futuramente denominado Vale do Marangá. Logo após a compra, ele passou a morar na casa-grande do Engenho d’ Água e, a partir daí, a região do Vale do Maranguá começou a progredir.” Falecido em Lisboa em 1688, Salvador Correia de Sá e Benevides lutou contra os holandeses Nascido dessa nobre linhagem dos Assecas, o quarto Visconde - nascido em 1698 e falecido em 1777 - foi o responsável pelos primeiros vestígios de povoamento mais efetivos em torno da Praça Seca (corruptela de Praça Asseca, ou Praç’Asseca). O desenvolvimento da localidade cujo dono era o Padre Manuel de Araújo, que ergueu no alto de um penhasco chamado Pedra do Galo, a Capela de Nossa Senhora da Pena, levou ao pedido de emancipação do lugar, efetivada em 6 de março de 1661. Foi criada, assim, pelo governador do Rio de Janeiro, João Correia de Sá, a Freguesia de Nossa Senhora do Loreto e Santo Antônio de Jacarepaguá, a quarta da cidade do Rio de Janeiro, separada da antiga Freguesia de Irajá. A primeira foi a de São Sebastião, instituída a 20 de janeiro de 1569, quatro anos após a fundação da cidade. A segunda em 1634, a da Candelária. E a terceira, em 1644, a de Irajá. A sede inicial da Freguesia de Jacarepaguá foi a capela da Fazenda do Capitão Rodrigo da Veiga. A igreja matriz de Nossa Senhora do Loreto foi construída pelo Padre Manoel de Araújo. Na inauguração, houve festa à qual compareceram o governador do Rio de Janeiro D. Pedro de Melo, o prelado da província Manoel de Souza Almada e o Provedor Diogo Correia. A viagem para Jacarepaguá, no início século XVII, praticamente só era possível pelo mar, através da Barra da Tijuca e suas lagoas. Essas viagens ficavam na dependência das condições do tempo e de embarcações de grande porte para enfrentar mar aberto até a distante Freguesia de São Sebastião do Rio de Janeiro. A família de Diogo Lobo Teles Barreto de Meneses (1593-1658), primeiro Juiz de órfãos do Rio de 6 Janeiro, foi a mais famosa da região nos tempos colonial e imperial de Jacarepaguá. Cargo transmitido de pai para o primogênito por cinco gerações, como recompensa dos serviços prestados pela família, foi também ocupado por Francisco Teles Barreto de Meneses (1625-1679), filho de Diogo e também provedor da Santa Casa da Misericórdia. Este comprou o Engenho da Taquara em 1658. Ele e sua mulher, D. Inês de Andrade Souto Maior, pentavós do Barão de Taquara, foram contemporâneos do General Salvador Correia de Sá e Benevides. A Região ganhou tal importância no período colonial que passou a ser conhecida como Planície dos Onze Engenhos. “Luís Teles Barreto de Meneses (1656-1702) foi outro juiz de órfãos, provedor da propriedade. Seu sucessor Antônio Teles Barreto de Meneses (1682-1757) comprou o Engenho Novo, aumentando os bens da família em Jacarepaguá.” O primogênito de Luís, Francisco Teles Barreto de Meneses (1733-1806), segundo com esse nome e bisavô do Barão de Taquara foi quem assumiu as terras com a morte do pai. Casado bom Dona Francisca de Oliveira Brito, morta a 6 de dezembro de 1806, veio a falecer dias depois, a 13 de dezembro. “Em 20 de abril de 1807, procedeu-se o inventário, ficando como inventariante a filha mais velha Dona Ana Inocência Teles de Meneses, casada com o sargento-mor João Alves Pinto Ribeiro. Os outros filhos do Dr. Francisco eram Luís Teles Barreto de Meneses, casado com Dona Maria Felicidade da Gama Freitas (avós do Barão de Taquara); D. Catarina Josefa de Andrade Teles, casada com Pascoal Cosme dos Reis; D. Maria Rosa Teles de Meneses, D. Mariana da Penha França Teles de Meneses e D. Escolástica Maria de Oliveira Teles. Os filhos dividiram as propriedades. Os dois principais engenhos ficaram sob o controle de duas irmãs e seus maridos: D. Ana Inocência e João Alves com o Engenho da Taquara e D. Catarina Josefa e Pascoal Cosme com o Engenho Novo de Jacarepaguá. Houve acirrada disputa entre os cônjuges das herdeiras para definir marcos das terras. A briga ficou conhecida como ‘guerra dos concunhados’. O conflito só terminou em 1839, mortos os casais.” “Em documento apresentado ao vice-rei D. José Luís de Castro (1744-1819), conde de Resende, o sargento-mor Sebastião José Guerreiro França narra que, em 1797, a freguesia de Jacarepaguá possuía 253 residências e população de 1.905 habitantes. O comércio era formado por três lojas de fazenda (armarinho), 70 vendas e mercearias, cinco açougues.” Em meados do século XVIII, foi aberto um caminho para ligar a antiga Estrada Real de Santa Cruz à Estrada de Jacarepaguá a fim de encurtar o percurso entre o Engenho de Fora, dos descendentes dos Sá, e as terras dos Magalhães, que margeavam a Estrada Real de Santa Cruz. Mais tarde esse caminho deu origem à Estrada Intendente Magalhães. Com o falecimento do quarto Visconde de Asseca, a partir de 1777, a área passou à família dos Teles de Meneses. A chegada de D. João VI e sua Corte no início do século XIX, transformaram o Rio na capital do reinado português. O meio urbano se consolidou definitivamente através de sucessivas ações como a abertura dos portos às nações amigas, a vinda da Missão Francesa e a preocupação com o ensino, entre outras. Nessa época começou a importação de produtos variados da Europa e o café surgia como principal atividade econômica interna, produto de exportação que gerava as divisas necessárias ao crescente comércio com o exterior. Acompanhando a tendência, a partir de 1831 Jacarepaguá transforma seus antigos engenhos em fazendas de lavoura de café. Em Jacarepaguá, foram criadas muitas fazendas para plantação, além de ser cultivado também nos solos férteis dos antigos engenhos de açúcar. Nessa época, grandes fazendas se destacavam: a do Cafundá, Valqueire, Cantagalo, Covanca, o Engenho da Serra (de Joaquim Sequeira Tedim Filho), a fazenda do Quitite (de Marcos Delesderrier), etc. Em 1885 foi inaugurado o cemitério de Jacarepaguá no Pechincha. “O político brasileiro Francisco Maria Gordilho Veloso de Barbuda - Marquês de Jacarepaguá, possuía terras ali. Muito amigo de D. Pedro I (1798-1834), ocupou diversos cargos de confiança no Governo, após a independência. É bem provável que o imperador em suas andanças pela região tenha visitado a fazenda do Marquês. O autor do Hino Nacional, Francisco Manuel da Silva (1795-1865), também tinha grande sítio em Jacarepaguá. O músico teria se inspirado no canto de um pássaro de sua chácara para compor o hino em 1831. Nessa década, começaram a ser subdivididas as fazendas de café e a produção continuou nas propriedades menores.” Em 1838 foi realizado um recenseamento a mando do Ministro da Justiça Bernardo Pereira de Vasconcelos (1795-1850). Nessa ocasião Jacarepaguá totalizava 7.302 habitantes, dos quais 4.491 eram escravos. A Freguesia possuía a maior população escrava no município da corte. Os logradouros atuais da região se formaram a partir da necessidade de um escoamento regular para a produção das fazendas e engenhos instalados na Região, a partir de caminhos abertos entre as fazendas e em torno do Vale do Marangá, para esses fins. Assim, para levar os produtos oriundos do cultivo da cana-de-açúcar e da produção de carne bovina, os moradores de Jacarepaguá tinham que atravessar a Estrada da Fazenda dos Jesuítas, posteriormente Estrada Real da Fazenda de Santa Cruz, que ia até São Cristóvão e se interligava com outros caminhos e vias fluviais que chegavam até o centro da cidade. “Fazendeiros levando suas mercadorias atravessavam o Vale do Marangá, atual região da Praça Seca, dirigindo-se ao pequeno porto fluvial de Irajá, que deu origem à Freguesia de Irajá, de onde seguiam em pequenas embarcações (faluas) pelo pequeno percurso do rio Irajá (3 km) até a Baía de Guanabara, chegando ao cais da atual Praça XV e a outros atracadouros da cidade.” Área de confluência de antigos caminhos, a Praça Seca foi um marco histórico urbano da cidade, pois foi aí que Jacarepaguá cresceu, longe do centro de decisões do governo colonial. Cabe lembrar que na época imperial as relações econômicas e as características do poder apresentavam quadro bem diferente do período colonial, quando o poder era sustentado pela monocultura da cana-de-açúcar, pelo comércio e exportação de produtos primários e pelo poder religioso - posteriormente, pelas exportações das riquezas minerais de Minas Gerais, além do já incipiente comércio interno. “Um novo proprietário de terras, Francisco Pinto da Fonseca Teles, futuro Barão de Taquara, com apenas 23 anos assumiu o controle dos principais engenhos: Taquara, d’ Água e de Fora. Seu pai fora guarda-roupa da Corte e gozava de inti- midade e amizade com D. Pedro II. A Fazenda do Taquara hospedou o Imperador e a esposa em muitas ocasiões. Em 21 de outubro de 1882, Fonseca Teles recebeu o título de Barão de Taquara, por sua atuação na Guerra do Paraguai, pelos serviços prestados à Coroa e por sua dedicação ao povo e à Região de Jacarepaguá. Os meios de transporte para a região, na época, ainda eram os mesmos usados por seus ancestrais dos tempos coloniais: carruagens simples, carroças, diligências e montarias a cavalo. Em 1890, o Barão de Taquara fez o primeiro fracionamento de terrenos em lotes menores e com arruamento definido. A partir daí, a antiga Estrada de Jacarepaguá passou a ser conhecida como Cândido Benício, homenagem ao médico influente na Região e político mais votado nas eleições legislativas municipais de 1892. Benício era grande amigo do Barão e o loteamento trouxe muitas melhorias urbanas para a Região, levou ao traçado de várias ruas e à transformação do antigo Largo dos Asseca numa grande praça. Entre 1906 e 1909, outro empreendimento do Barão de Taquara ampliou o processo de urbanização, em área bem maior e com projeto de arruamento do Engenheiro Bernardino Bastos. Mas até 1920 as ruas locais ainda não tinham pavimentação, mesmo com a linha de bondes funcionando desde o final do século XIX.” O desmembramento e loteamento da Fazenda do Valqueire, em 1927, a partir das terras do antigo Engenho de Fora - herdadas por Geremário Dantas de seu bisavô, o foreiro e plantador de café Ludovico Teles Barbosa - deu origem ao atual bairro de Vila Valqueire. Jacarepaguá possuía então cinco pequenos núcleos rurais - o do Engenho de Fora (depois Vila Albano), o do Pechincha, o do Tanque, o da Taquara e o da Freguesia – que, lentamente, se desenvolveram, até que esses quatro últimos se tornarem bairros independentes na década de 80. A atual rua Cândido Benício, que atravessava o Vale do Marangá passava pelo meio do histórico Largo dos Asseca, constituiu-se sempre no principal eixo de ligação entre os primeiros núcleos, sendo também o mais importante acesso ao Centro. A partir do início do século XX, essa via tornou--se a principal responsável pela progressiva transformação, de rural para urbana, da Região. 7 Outro personagem importante para a transformação da região de área tipicamente rural em urbana foi Gastão Taveira, que possuía muitos terrenos na Região. Em 1901, por sua intervenção, a Praça Seca foi aterrada e urbanizada e a partir de 1910, ele inicia a construção de casas e vilas inteiras destinadas à locação, acelerando o processo de ocupação. Em 1875, foi inaugurada a Companhia Ferro-Carril de Jacarepaguá, que ligava as localidades daquela área aos subúrbios ao norte. Inicialmente esse trajeto era feito por meio de tração animal.e, a partir de 1911, passa a ser por meio dos bondes eletrificados. O Prefeito Prado Junior, entre 1926 e 1930, melhorou os acessos a Jacarepaguá, modernizando a estrada de Jacarepaguá, que juntamente com a do Itanhanguá, interligaria o bairro com a Barra da Tijuca. A conclusão da Estrada Grajaú-Jacarepaguá (atual Menezes Cortes), se deu durante a década de 1950, e foi idealizada com o intuito de facilitar o acesso à Zona Norte e ao Centro da Cidade, sendo consolidada, finalmente, em 1997, com a inauguração da “Linha Amarela” (avenida Governador Carlos Lacerda), uma via expressa que interliga a Barra da Tijuca e Jacarepaguá à avenida Brasil, atravessando a Serra dos Pretos Forros pelo túnel da Covanca, com 2.187 metros de extensão. Em 1885 foi inaugurado o cemitério de Jacarepaguá no Pechincha. As principais estradas de Jacarepaguá eram a estrada da Freguesia (atuais Cândido Benício e Geremário Dantas), a da Taquara (atual Nelson Cardoso), a do Tindiba, do Camorim, a da Pavuna ou de Guaratiba (atual Bandeirantes), a do Cafundá, da Covanca, do Catonho, do Rio Grande, do Inácio Dias, a dos Três Rios, a antiga da Tijuca ou do Anil (atual Jacarepaguá), a da Estiva, do Gabinal, do Capão, do Pau Ferro, entre outras. Após a primeira Guerra Mundial, grandes hospitais se instalaram em Jacarepaguá. O primeiro, que daria origem à Colônia Juliano Moreira, se instalou devido à transferência da colônia dos psicopatas da Ilha do Governador para o Engenho Novo (desapropriado em 1912). Depois vieram os hospitais dos Hansenianos (em 1928, para a Fazenda Curupaiti), o dos tuberculosos (para o Sanatório Santa Maria) e o hospital da Curicica (atual Raphael de Paula e Souza). Na década de 1960 foi construído o enorme Conjunto Habitacional da Cidade de Deus, abri- gando moradores oriundos das favelas da zona sul carioca, instalados em quadras divididas pelo Rio Grande. Estas quadras depois cresceriam de forma desordenada, ocorrendo favelizações em seu entorno. Posteriormente esta área foi transformada na XXXIV-RA – Cidade de Deus e desmembrada da XVI–RA – J acarepaguá. Compreendida entre serras e lagoas e palco de episódios históricos, a região Jacarepaguá tem, portanto, uma história singular entre as 12 regiões da cidade. Reunindo um dos maiores acervos arquitetônicos do período colonial do Rio de Janeiro concentrados em apenas um bairro, alguns de seus templos religiosos são monumentos históricos que remontam ao século XVII. Nos anos 1970, surgiriam os condomínios “GreenWood Park” e Portinho do Massaru. Também nessa época, as principais comunidades se estabeleceriam no bairro, com destaque para a Tijuquinha, Sítio Pai João, Muzema e Morro do Banco. O rio Cachoeira, localizado na região, nasce no Alto da Boa Vista e forma a belíssima Cascata Grande. Na estrada das Furnas, fica o Recanto das “Furnas de Abrassiz”, formado por grupamento de enormes pedras, que formam grutas, frequentado no século XIX por Dom Pedro II. Datam dessa época igrejas, engenhos e fazendas como as dos Fonseca Teles, além do Aqueduto do Engenho Novo. Diferente da maioria dos bairros do Rio de Janeiro, a região se desenvolveu desde a época colonial, em um local bastante distante do Centro, e não teve como vetor de seu crescimento qualquer sistema de transportes que facilitasse seu acesso a outras direções. Seu desenvolvimento portanto está ligado não apenas à natureza empreendedora de grandes homens que foram proprietários de terras e moradores, mas também ao pioneirismo e iniciativa de seus antigos desbravadores. ITANHANGÁ O nome Itanhangá9 tem origem na grande pedra, situada à beira da Lagoa da Tijuca: Ita (pedra) e Anhangá (fantasmagórica) ou ”Pedra que fala”. Pela sua conformação, os ventos produziam sons que apavoravam os indígenas. Seus antigos acessos, na época do Distrito Federal, se davam pelas estradas de Furnas e do Itanhangá. Na década de 1930, foi construído um extenso campo de golf, o atual Itanhangá Golf Club, para ser usado pelo então Presidente da República, Getúlio Vargas. Duas décadas mais tarde, foi implantado um loteamento que ocupou extensa área verde, entre a estrada da Barra da Tijuca e os morros da Pedra da Gávea/Focinho do Cavalo, denominado “Jardim da Barra”. 9 A denominação, delimitação e codificação do Bairro foi estabelecida pelo Decreto Nº 3158, de 23 de julho de 1981 com alterações do Decreto Nº 5280, de 23 de agosto de 1985. 8 HISTÓRICO DA OCUPAÇÃO DAS COMUNIDADES DE RIO DAS PEDRAS O histórico da ocupação das comunidades de Rio das Pedras remete a um passado mais recente, mas não difere muito do histórico da ocupação das demais comunidades dos subúrbios cariocas. Baseia-se na própria história do país e da cidade, assim como na ação do poder público e das classes urbanas hegemônicas com relação às diretrizes de uso e ocupação do solo urbano.10 As favelas surgiram como resposta a um processo de desenvolvimento altamente desigual e contraditório, num curso marcado por forte estigmatização e segregação. De um modo geral o que revela a história dessas comunidades é um conjunto de respostas ao caráter altamente excludente com que a industrialização se desenvolveu a nível local e nacional. A não absorção de amplo segmento da classe trabalhadora nesse processo permite relativizar e analisar com cuidado essa articulação entre o processo de industrialização da área e a favelização ocorrida nessa época. À medida que o Rio de Janeiro se adequou ao desenvolvimento global do país, que esteve sempre vinculado à urbanização de um modo geral, modernizando-se e ajustando-se às demandas da inserção do país na economia mundial, a terra urbana passou a adquirir um valor de mercado com o qual as populações mais pobres, sempre crescentes nesse processo, não podiam arcar. A ocupação das encostas, das áreas públicas e daquelas desprovidas de serviços públicos e benfeitorias, mas próximas aos locais de oferta de empregos, apresentou-se como a solução possível à exclusão econômica e social no âmbito do modelo econômico urbano industrial. Este movimento se deu através de um processo de autoconstrução. Assim, ainda que os pressupostos e marcos regulatórios de uma cidade formal nem sempre se apliquem à singularidade das áreas das comunidades de baixa renda, com sua cultura e modus vivendi próprios, o que salta aos olhos é a falta de serviços básicos, infraestrutura urbana e a precariedade das habitações. Alguns fatos históricos são consideráveis para o processo de favelização da cidade do Rio de Janeiro, e se combinam com o processo de desen10 Referências bibliográficas: A maior parte dos dados apresentados neste item foram extraídos de ABREU, M. de A. A evolução urbana do Rio de Janeiro. 4ª Ed. Rio de Janeiro: IPLANRIO/ZAHAR, 2010; CARVALHO, D C. História do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: DGDI, Divisão de Editoração da Secretaria Municipal de Saúde, 1994 e JUNIOR, D. M. Rio de Janeiro: Planos, plantas e aparências. Rio de Janeiro: João Fortes Engenharia, 1988. volvimento político e econômico nacional, tendo em conta que o Rio de Janeiro tinha também o status de capital, primeiro da Colônia, depois do Império, finalmente, da República. A vinda da família real portuguesa que aportou na cidade do Rio de Janeiro no dia 7 de março de 1808, tornando-a a nova capital do Império transformou-a, segundo o historiador e arquiteto Nireu Cavalcanti, professor da Universidade Federal Fluminense na segunda cidade mais rica de todo o império, atrás apenas de Lisboa.11 A população urbana da cidade cresceu repentinamente e uma nova classe social, até então praticamente inexistente fundeia no Rio novas necessidades, novos desejos e impõe outro cenário que facilitasse o desempenho das atividades econômicas, políticas e ideológicas que a cidade passa a exercer. Em 07 de setembro de 1822 o Brasil torna-se independente e o país transforma suas concepções e passa a possuir então uma cultura fortemente baseada na exportação de matérias-primas. O café foi o produto que impulsionou a economia brasileira desde o início do século XIX (1800) até a década de 1930. Concentrado a princípio no Vale do Paraíba (entre Rio de Janeiro e São Paulo) e depois nas zonas de terra roxa do interior de São Paulo e do Paraná, o grão foi o principal produto de exportação do país durante quase 100 anos. O surto e incremento da produção do café foram favorecidos por uma série de fatores existentes á época da Independência. As culturas do açúcar e do algodão estavam em crise, batidas no mercado internacional pela produção das Antilhas e dos EUA. Nesse sentido, os fazendeiros precisavam encontrar outro produto de fácil colocação no mercado internacional. Além disso, a decadência da mineração libertou mão-de-obra e recursos financeiros na região centro-sul (Minas Gerais e Rio de Janeiro, principalmente) que poderiam ser aplicados em atividades mais lucrativas. A independência política e o início do reinado do café atraíram no decorrer do século um grande número de trabalhadores livres, tanto brasileiros quanto estrangeiros. E a independência passou a seduzir também o capital estrangeiro, o que no Rio de Janeiro significou o investimento desse capital no setor de serviços (esgoto, transportes, água etc.). 11 Chegada da corte portuguesa muda o Rio de Janeiro; WANDERLEY PREITE SOBRINHO - Colaboração para a Folha Online em 07/03/2008 - 11h03 Na época da independência no país o Rio de Janeiro era ainda uma pequena cidade com cinco freguesias urbanas, confinadas entre os morros do Castelo, Santo Antônio, São Bento e Conceição. Eram as freguesias da Candelária, São José, Sacramento, Santa Rita e Santana localizadas onde hoje se encontram as RAs do Centro e Portuária. As demais freguesias eram predominantemente rurais. As freguesias centrais de Candelária e São José foram pouco a pouco se notabilizando por ser o local preferido de ocupação das classes dirigentes. As demais freguesias: Sacramento, Santa Rita e Santana (as duas últimas situadas onde hoje estão os bairros de Saúde, Santo Cristo e Gamboa) foram ocupadas e adensadas pelas demais classes sociais. A ocupação da cidade pelas classes de maior poder aquisitivo e de maior capacidade de mobilidade, portanto, deu-se a partir de dois vetores principais: para o sul, onde se deslocavam as classes mais abastadas, ocupando terras das chácaras que foram sendo retalhadas para esses fins e onde habitava a rainha Carlota Joaquina ou para a região de São Cristóvão, privilegiada por ser o local de residência da família Imperial, depois que a área de mangue do Saco de São Diogo foi aterrado – local onde atualmente se situa a Cidade Nova – área que era vizinha ao Caminho do Aterrado ou Caminho das Lanternas – hoje se situa o lado par da Avenida Presidente Vargas. A ação do poder público foi definitiva para o crescimento territorial das áreas urbanas, abrindo caminhos e estradas para os arredores da cidade para onde se dirigiram as classes mais ricas (São Cristóvão e Zona Sul). Enquanto isto, as classes menos abastadas ocupavam cada vez mais as áreas centrais da cidade, fossem trabalhadores livres ou escravos, devido, principalmente, ao seu menor poder de mobilidade dentro do território. O trem e o bonde mudaram esse cenário. Após 1870, aproximadamente,a cidade começou a sofrer um acelerado processo de expansão, graças à mobilidade que a implantação dos bondes e trens permitiu, como se viu anteriormente. Enquanto o primeiro convinha basicamente para intensificar a ocupação de áreas já consolidadas e em franca expansão, como Catete, Glória, Botafogo, Gávea, Copacabana, Tijuca, Andaraí, Vila Isabel, Grajaú, Maracanã, São Cristóvão, os trens convieram a outro vetor de expansão da cidade, as freguesias que até sua implantação eram basicamente rurais, produzindo matéria prima e alimentos para as freguesias centrais do Rio de Janeiro e para exportação, como era o caso do café naquela época. A partir de sua implantação e ao longo de seu percurso e, sobretudo ao redor das estações, um vigoroso processo de ocupação começou a dar forma aos subúrbios cariocas, especialmente após a década de 30. Em fins do século XIX, às vésperas da República, o Rio de Janeiro contava já com 21 freguesias urbanas e rurais. Destas últimas surgiram os subúrbios cariocas. Cascadura e Engenho Novo eram então freguesias rurais que mantinham relações constantes com as freguesias da área central. O final do século XX assistiu ao término do sistema escravagista, com a libertação dos escravos pela Lei Áurea, assinada a 13 de maio de 1888, pela Princesa Isabel, e ao consequente declínio da atividade de cafeicultura, e a 15 de novembro de 1889, a República foi instaurada no Brasil. A esses dois fatos juntou-se mais um. Á revelia das classes até então dominantes de cafeicultores, o final do século assistiu também ao incremento das atividades industriais no Rio de Janeiro e as fábricas se multiplicaram pelos bairros cariocas, sobretudo São Cristóvão que perdia seu status de bairro nobre com o final do império, mas era dos mais bem providos com infraestrutura para acolher às fábricas que ali se instalavam e a um acelerado processo migratório de estrangeiros para a cidade. Esses foram fatos que vieram a promover mudanças substanciais à vida da cidade durante o século XX, pois o crescimento populacional se intensificou de forma acelerada e agravou extraordinariamente o problema habitacional da cidade, especialmente nas áreas centrais, nos cortiços adensados. As epidemias de febre amarela tornaram-se preocupantes e medidas preventivas que pudessem minimizar os efeitos que a degradação das condições de vida trazia para a cidade e para a força de trabalho foram tomadas. Uma delas foi com a criação de vilas operárias, alavancadas por decretos que estimulavam sua construção em troca de favorecimentos fiscais. Pela primeira vez, o Estado assumia seu papel formal de subsidiar a reprodução da força de trabalho. 9 A cidade do Rio de Janeiro, no entanto, ao assumir o papel de capital da república, de uma cidade capitalista, precisava adequar-se ainda mais às premissas postas pela necessidade de criação, concentração e acumulação de capital. A reforma urbana levada a cabo pelo então Prefeito Pereira Passos, no início de século XXI (1902-1906) representou a maior revolução do espaço da cidade para, via transformação da forma urbana, resolver as contradições que apresentava na representação simbólica de um estado capitalista moderno, uma vez que era a capital nacional, que divulgasse sua importância no contexto internacional como principal produtor de café do mundo. Mas, serviu também para resolver, na prática as questões da produção e reprodução do capital. Era preciso agilizar a exportação e importação de bens e mercadorias e para a doção de medidas higienistas, com a finalidade de acabar com os surtos de febre amarela que tanto desabonavam a imagem da cidade internacionalmente. Atraída pelo desenvolvimento industrial a população proletária não parou de crescer e aparentemente dirigiu-se maciçamente para os subúrbios. Os dados sobre o crescimento das freguesias suburbanas mais próximas ao Centro parecem confirmar este fato. Até a década de 20, a preferência de localização industrial se dava na região do Porto e em São Cristóvão. O apoio do Estado Novo às atividades industriais a partir da década de 30, possível graças à crise mundial do capitalismo em 1929 e à segunda Guerra Mundial, expandiu esse setor produtivo e mudou significantemente o padrão de localização industrial para as áreas servidas pelas três principais linhas de trens: a Leopoldina, a linha Auxiliar e a Rio Douro. Nestas regiões os terrenos eram mais baratos. Como consequência redirecionou o crescimento suburbano para essas áreas. Nesse período, o Estado passou também a intervir de forma mais objetiva no processo de localização industrial e o Decreto-lei 6.000/37 definiu pela primeira vez uma zona industrial para a cidade. Pelo Decreto foram excluídas as áreas da Zona Sul, de importante tradição fabril, o ramal de Santa Cruz, a margem esquerda da linha da Central do Brasil e as linhas situadas entre esta e a Baixada de Jacarepaguá. Incluía São Cristóvão, o novo bairro de Jacarezinho até Bonsucesso e pela orla litorânea até Ramos. Nos anos 50 a inauguração da Avenida Brasil fomentou um novo eixo de expansão fabril. Se por um lado estas medidas representaram um exemplo importante da intervenção do estado no espaço da produção capitalista, que significou a eliminação das formas antigas e contraditórias com a nova realidade, por outro lado, ao eliminar do Centro da cidade os espaços normalmente ocupados pelas classes pobres e trabalhadoras, os cortiços, sem uma adequada política de construção de casas populares, alavancou uma aceleração da ocupação dos subúrbios. Com isso os morros do Centro da Cidade (Providência, São Carlos, Santo Antônio) passaram a ser ocupados pelo que viria a ser uma referência na paisagem carioca, as favelas. A designação de favela para os assentamentos subnormais resulta, aliás, da ocupação do Morro da Providência, o primeiro a ser ocupado, que já era conhecido, desde 1897, como Morro da Favela, quando passou a ser tomado por militares de baixa hierarquia que retornavam da Guerra de Canudos. O modelo de planejamento urbano estratégico traz consequências, apontadas por seus críticos, que promovem ou pioram a fragmentação e a segregação espacial e ainda o acirramento das disparidades sociais, o que pode também contribuir para a condição de “problema” das áreas de favelas. Na contramão o que observamos é a adoção de práticas que dizem estar de acordo com os conceitos desse modelo de gestão e intervenção urbana, justamente para se obter o cenário oposto nas favelas cariocas – o de integração e o de inclusão social. Estabelece-se assim um paradoxo interessante.12 Na década de 80 as favelas são já um fenômeno urbano materializado e consolidado, integrado à paisagem da cidade. O reconhecimento desse fato levou às práticas políticas integradoras no tecido urbano nos períodos subsequentes, mas que, num período marcado pelo autoritarismo não se deu sem lutas, especialmente das Associações de Moradores locais. O Diagnóstico de Rio das Pedras para o Programa Favela-Bairro foi realizado pelo escritório Paulo Casé e Luiz Accioli Arquitetos Associados Ltda., em 1998 e apresenta um enfoque na análise técnico ambiental.13 12 MENDES, I. C. R. Programa Favela-Bairro: uma inovação estratégica? Estudo do Programa Favela-bairro no contexto do plano Estratégico da Cidade do Rio de Janeiro. Dissertação de Mestrado para a FAUUSP, São Paulo, 2006. 13 Uma outra fonte é o trabalho “Favela, cidade e cidadania em Rio das Pedras de Burgos (2002) que integra aspectos da estrutura sócio espacial e política de Rio das Pedras, des- O diagnóstico identificou que a comunidade de Rio das Pedras é integrada ao sistema viário urbano, está inserida na área de expansão urbana atual e de valorização imobiliária e de investimentos econômicos da cidade. É uma área de formação mais recente e não se encontra sob o domínio do crime organizado, mas de milícias. Se localiza entre os bairros de Gardênia Azul, Jardim Clarice, Bosque dos Esquilos, Quinta do Itanhangá e Barra da Tijuca, às margens da Lagoa da Tijuca, ocupando, em parte, uma área de proteção ambiental (APA). Em Rio das Pedras a política de remoção de favelas da década de 60 contribuiu para o crescimento da área que recebeu um grande contingente de pessoas vindas das áreas ameaçadas que encontravam ali uma segurança maior, por se tratar de terreno público. A abertura de vias na área da Barra da Tijuca, em função do desenvolvimento da região, também se tornou fator de adensamento da área. Segundo o SABREN14, a área foi ocupada no início da década de 50 e contam os moradores que esses primeiros ocupantes eram, principalmente, nordestinos. A área que abrange a comunidade era pantanosa devido à proximidade do Rio das Pedras. Os próprios moradores fizeram os aterros necessários para a construção das suas casas. Em maio de 1964, foram ameaçados de remoção. Segundo pesquisa realizada em Rio das Pedras, dois grupos distintos culturalmente podem ser identificados nessa comunidade: cariocas e nordestinos, sendo estes últimos predominantes Durante o governo Brizola (1983-1986) um aterro sanitário foi realizado na área para acolher famílias desalojadas pelas enchentes de 1984, dentro do programa “Cada família um lote”, da Cehab-RJ. Levantamentos realizados em Rio das Pedras identificaram havia 2.800 famílias ocupantes nos anos de 1984/1985. Um projeto de alinhamento e urbanização (PAL) para regularizar e reorganizar a morfologia da favela foi realizado nessa época, com a entrega de 130 títulos para as famílias ocupantes pela CEHAB-RJ. crevendo sua morfologia e identificando sua relação com a estrutura social local. 14 O SABREN é um sistema de pesquisa desenvolvido pela Prefeitura do Rio de Janeiro através do Instituto Pereira Passos para divulgar informações sobre assentamentos de baixa renda. Levantamentos realizados em Rio das Pedras identificaram 2.800 famílias ocupantes nos anos de 1984/1985. Um projeto de alinhamento e urbanização (PAL) para regularizar e reorganizar a morfologia da favela foi realizado nessa época, com a entrega de 130 títulos para as famílias ocupantes pela Cehab-RJ. Em 1986, a Cedae implanta o Proface na área que visava o sistema de esgotamento sanitário, introduzindo redes coletoras nos principais becos e travessas e a construção de uma elevatória de esgoto. Essa rede foi posteriormente substituída pelos moradores por uma rede compartilhada de águas pluviais, sem nenhum acompanhamento técnico. A rede de abastecimento de águas também foi implantada pelo Proface, limitando-se à colocação de uma adutora e uma derivação, sendo os moradores os responsáveis implantado pela rede de distribuição interna. Pessoas que se diziam donas do terreno tentaram remover os moradores. O governador Negrão de Lima (1965-1970) desapropriou o local transformando-a em área de interesse social. Noventa e seis famílias foram beneficiadas. A partir de 1966 houve uma considerável expansão da favela. Por volta de 1981 um novo surto de expansão. Em 2000 a comunidade passou a ser atendida pelo programa grandes favelas, que consiste na intervenção urbanística em favelas com mais de 2.500 domicílios, nos moldes do programa Favela Bairro. “Nos primeiros anos desse período a necessidade de urbanização das favelas e de participação dos moradores neste processo já aparece na agenda política dos governos. A este respeito, a primeira gestão do governo Brizola (1982-1986) foi reveladora, definindo uma nova forma de interlocução com as comunidades faveladas, senão menos autoritária, certamente menos tecnocrática.”15 Destaca-se assim que, historicamente, as associações têm atuado, sobretudo, como mediadoras tanto nos conflitos e lutas pelo espaço urbano ocupado, quanto na luta pela instalação de bens de consumo coletivo de infraestrutura urbana. No Rio de Janeiro como um todo é notável esse processo de favelização crescente, especialmente nas áreas servidas pelos transportes urbanos de massa, trens e metrô, assim como a degradação evidente da infraestrutura, dos serviços e equipamentos urbanos. 15 Idem Nota 10 10 LEGISLAÇÃO VIGENTE E RESTRIÇÕES URBANÍSTICAS E AMBIENTAIS NA ÁREA DE RIO DAS PEDRAS A comunidade de Rio das Pedras insere-se na AP 4 e pertence à XVI Região Administrativa (R.A.) - Jacarepaguá - do município do Rio de Janeiro, com acesso pela estrada de Jacarepaguá 2.400. É uma área de Especial Interesse Social (AEIS), definida pela Lei Municipal 2818 23/06/1999.16 A legislação urbanística define a divisão administrativa, o uso permitido e as restrições tanto urbanísticas quanto ambientais do município e, portanto, dos bairros onde se insere a comunidade de Rio das Pedras. A partir da fusão dos estados da Guanabara e do Rio de Janeiro, em 1975, a cidade passou a ser capital do novo estado. Em 1977 o poder público se viu diante da necessidade de elaborar um novo plano para a cidade, Plano Urbanístico Básico - PUB-Rio, aprovado pelo Decreto nº 1269 de 27 de outubro de 1977. Este plano dividia o território municipal em cinco Áreas de Planejamento, instituía os Projetos de Estruturação Urbana (PEU) para o planejamento local, respeitando as características dos diferentes bairros e criava políticas setoriais para o desenvolvimento econômico e social. Além disso, o Decreto nº 322, DE 3 de março de 1976, aprovou o Regulamento de Zoneamento do Município do Rio de Janeiro que já definia as regras para o uso e ocupação do solo. O decreto, no Capítulo II – Divisão e Delimitação das Zonas – Art. 4º definiu as seguintes zonas, com as delimitações adiante referidas: I – área central (AC), com duas subdivisões: AC-1 e AC-2, delimitadas nos anexos 1 e 2; II – zona industrial (Zl), com duas subdivisões: Zl-1 e ZI-2, delimitadas nos anexos 3 e 4; lll – zona portuária (ZP), delimitada no anexo 5; IV – os centros de bairro (CB), com três subdivisões: CB-1, CB-2 e CB-3, compreendendo os logradouros e as quadras relacionados no anexo 20; V – zona de indústria e comércio (ZlC), delimitada no anexo 14; 16 A maior parte dos dados e mapas aqui apresentados encontram-se disponíveis no site da Secretaria Municipal de Urbanismo: http://www2.rio.rj.gov.br/smu/ e no site do Armazém de dados da Prefeitura do Rio de Janeiro: http:// www.armazemdedados.rio.rj.gov.br/. Vl – zona turística (ZT), com duas subdivisões: ZT-1 e ZT-2, delimitadas nos anexos 6 e 7; 9 – ZE-9; (Acrescentado pelo Decreto nº 1.271, de 27/10/1977, e revogado pelo Decreto nº 13.177, de 26/8/1994) Vll – zona residencial (ZR), com seis subdivisões: ZR-1, ZR-2, ZR-3, ZR4, ZR-5, ZR-6, delimitadas nos anexos 8, 9, 10, 11, 12 e 13; (O Decreto nº 3.103, de16/6/1981, acrescentou o item 10 – ZE-10:) Vlll – zonas especiais (ZE), que são: 10 – ZE-10 – de recuperação urbana de áreas já consolidadas, constituídas por aglomerações de habitações subnormais, consideradas de interesse social, delimitada no anexo 21. 1 – ZE-1 – zona de reserva florestal –, de que trata o art. 157*; (*Obs. Na realidade, é o art. 163, cuja redação diz: A ZE-1 compreende as áreas acima da curva de nível de 60 m, nos morros do Pão de Açúcar, Urca, Telégrafo, e serra do Engenho Novo, e as que estão acima da curva de nível de 100m, nos demais morros e serras do Município, consideradas áreas de reserva florestal, obedecida a competência federal). 04 de junho de 1992, atualmente em vigor. Mais do que diretrizes para o desenvolvimento da cidade o Plano Diretor estabelece instrumentos e regras para o planejamento, visando distribuir mais justamente os recursos aplicados na cidade. Funciona como uma carta de princípios para o planejamento urbano que, com as constantes e rápidas transformações da sociedade, torna-se cada vez mais importante para fazer frente às desigualdades econômicas e sociais nas cidades. 2 – ZE-2 – Ilha de Paquetá –, compreendendo a XXl Região Administrativa; 3 – ZE-3 – Santa Teresa –, delimitada no anexo 15; 4 – ZE-4 – Guaratiba –, delimitada no anexo 16; 5 – ZE-5 – Barra da Tijuca –, delimitada no anexo 17; 6 – ZE-6 – Grumari –, delimitada no anexo 18; 7 – ZE-7 – áreas de administração e governo –, compreendendo aquelas sob jurisdição militar, 8 – ZE-8, Cidade Nova (Regulada pelo Decreto nº 10.040, de 11/3/1991); MAPA 02 – ZONEAMENTO (delimitação ZE-10) Garantido pela Constituição Federal de 1988 e em clima de abertura democrática e participação popular, foi elaborado o Plano Diretor Decenal do Rio de Janeiro, Lei Complementar nº 16, de Do ponto de vista DA ORDENAÇÃO PARA O PLANEJAMENTO o Rio de Janeiro de acordo com o Plano Diretor, Lei Complementar nº 16/92 corrobora as áreas definidas no PUB-Rio e define as áreas seguintes: 11 Art. 42 – Para o planejamento e controle do desenvolvimento urbano o território municipal divide-se em: I - Áreas de Planejamento - AP; II - Regiões Administrativas – RA; III - Unidades Espaciais de Planejamento - UEP; IV - Bairros. § 1º - As Áreas de Planejamento são formadas por agrupamento de várias Regiões Administrativas e poderão ser divididas em Subáreas de Planejamento, em função de fatores sócioeconômicos e de relativa homogeneidade da ocupação. § 2º - As Regiões Administrativas são for- madas por uma ou mais Unidades Espaciais de Planejamento. § 3º - As Unidades Espaciais de Planejamento correspondem às áreas objeto dos Projetos de Estruturação Urbana, constituídas por um ou mais bairros em continuidade geográfica e definidas por analogias físicas ou urbanísticas, segundo indicadores de integração e compartimentação. § 4º - Os bairros correspondem a porções do território que reúnem pessoas que utilizam os mesmos equipamentos comunitários, dentro de limites reconhecidos pela mesma denominação. Art. 44 - O USO E OCUPAÇÃO DO SOLO URBANO respeitarão os seguintes princípios e objetivos: I - distribuição equilibrada dos ônus e benefícios da urbanização e atendimento à função social da propriedade, com a subordinação do uso e ocupação do solo ao interesse coletivo; II - proteção do meio ambiente e respeito aos recursos naturais e ao patrimônio cultural como condicionantes da ocupação do solo; III - não remoção das favelas; IV - inserção das favelas e loteamentos irregulares no planejamento da Cidade com vista à sua transformação em bairros ou integração com os bairros em que se situam; V - prioridade para a ocupação dos vazios urbanos que não atendam ao interesse coletivo para o adensamento das áreas com potencial de me- lhoria de infra-estrutura, controlando-se a expansão da malha urbana; VI - adensamento ou controle de crescimento de áreas em função da oferta de transportes; VII - controle do impacto das atividades geradoras de tráfego nas áreas já adensadas e nos principais corredores de transportes; VIII - prioridade na distribuição de investimentos públicos para: a) a Área de Planejamento 3; b) a XVI Região Administrativa - Jacarepaguá, na Área de Planejamento 4; c) a Área de Planejamento 5; Art. 45 – A ocupação urbana do Município consolidará os grandes vetores de crescimento do centro da Cidade para a Zona Norte – Área de Planejamento 3, para a Zona Oeste – Área de Planejamento 5 para região de Jacarepaguá, na Área de Planejamento 4, bem como os vetores que se irradiam a partir de centros de comércio e serviços. Art. 69 - As diretrizes de uso e ocupação do solo para a Área de Planejamento 4 são as seguintes: I - adensamento compatível com a infraestrutura existente nos bairros do Pechincha, Freguesia, Taquara, Tanque e Praça Seca; II – incentivo à localização de atividades geradoras de emprego, para redução dos deslocamentos, mediante o fortalecimento do centro de comércio e serviços Taquara-Tanque; III – desestímulo ao parcelamento das áreas ocupadas por sítios e granjas nos bairros de Vargem Grande, Vargem Pequena e Camorim; IV – revisão, complementação e implementação do sistema viário projetado da Barra da Tijuca; V – recuperação e preservação dos canais da Barra da Tijuca; VI – criação de área para estacionamento na região Tanque-Taquara; VII – implantação de sistema cicloviário; MAPA 03 – Divisão administrativa do Município com destaque para a AP3 VIII – elaboração execução de macro plano de drenagem e aterros para a Baixada de Jacarepa12 guá, o qual dará prioridade à desobstrução de canais de alimentação das lagoas da região, mediante estudo e relatório de impacto ambiental; IX – revisão do estado de variação das lâminas d’agua das lagoas, para redefinição das cotas de aterros da região da Baixada de Jacarepaguá; X – revisão dos critérios de ocupação da área de baixada de Jacarepaguá, incluído o centro metropolitano, consideradas as características geológicas; seguintes áreas localizadas na Área de Planejamento 4: Regulamento de Zoneamento aprovado pelo Decreto nº 322, de 3 de março de 1976.... I – as lagoas de Camorim, Jacarepaguá, Lagoinha, Marapendi e Tijuca, seus canais e suas faixas marginais; Art. 2º - Para os efeitos do disposto no art 1º deste decreto, a Zona Especial 5 (ZE-5), objeto do Plano Piloto da Baixada de Jacarepaguá, fica dividida em 46 (quarenta e seis) subzonas, delimitadas e caracterizadas no Capítulo III das presentes Instruções Normativas. II – o Parque Chico Mendes; III – a orla marítima da praia da Gávea, em São Conrado, até à ponta da Praia Funda, incluídas as faixas de areia, as formações rochosas e as ilhas; XI – consolidação das áreas destinadas à ocupação industrial, inclusive dos pólos de desenvolvimento industrial; IV – a Prainha; XII – criação de unidades de conservação na área da Colônia Juliano Moreira e definição de parâmetros de ocupação compatíveis com a proteção da área; VI – os Maciços da Pedra Branca e da Tijuca; XIII – incentivo ao desenvolvimento de atividades turísticas, desportivas, culturais, de educação ambiental e de pesquisa e proteção da fauna, da flora e dos recursos naturais da região; XIV - estímulo à implantação de transporte sobre trilhos de alta capacidade para promover a integração; XV – elaboração de planos de recuperação e preservação ambiental do sistema lagunar da região, compreendendo o controle e a fiscalização da ocupação das margens das lagoas por edificações e aterros irregulares e do lançamento de esgotos sanitários e industriais sem tratamento ou com tratamento inadequado; XVI – contenção do processo de ocupação desordenada da Baixada de Jacarepaguá, especialmente nas áreas lindeiras às lagoas, canais e outros cursos d’agua; XVII – manutenção de sistema e medidas de caráter permanente para inibir a ocupação desordenada de áreas públicas na Baixada de Jacarepaguá, mediante a criação de programas de oferta de lotes urbanizados e construção de habitações para a população de baixa renda; XVIII – planejamento integrado de infraestrutura da baixada de Jacarepaguá, com as instalações aeroportuárias ali existentes; Art. 70 - Integram o patrimônio paisagístico do Município, sujeitos à proteção ambiental, as V – o bairro de Grumari; VII – as Pedras de Itaúna e do Catemba; VIII – os Morros da Panela, do Bruno, do Camorim, do Cantagalo, do Outeiro, do Portela, do Rangel e do Urubu; IX – Os Bosques da Barra e da Freguesia; X – o Itanhangá golfe Clube; XI – a Restinga de Marapendi; XII – o Parque Ecológico da Barra da Tijuca, formado pelos Morros do Amorim e Cantagalo; XIII – outros conjuntos arquitetônicos e monumentos de valor cultural e paisagístico da área. O Decreto nº 3046 de 27 de abril de 1981 consolida as Instruções Normativas e os demais atos complementares baixados para disciplinar a ocupação do solo na área da Zona Especial 5 (ZE-5), definida e delimitada pelo Decreto nº 322, de 03/03/1976. O PREFEITO DA CIDADE DO RIO DE JANEIRO No uso de suas atribuições legais, e tendo em vista a Deliberação nº 107, de 25 de fevereiro de 1981, da Comissão do Plano da Cidade P/COPLAN, constante do processo nº 02/328/81, DECRETA: Art. 1º - Ficam aprovadas as Instruções Normativas para disciplinar a ocupação do solo na área da Zona Especial 5 (ZE-5), integrante da Área de Planejamento 4 (AP-4) estabelecida no PUBRIO, definida e delimitada conforme o disposto no 1980, e 2977, de 29 de janeiro de 1981. Rio de Janeiro, 27 de abril de 1981 - 417º de Fundação da Cidade JULIO COUTINHO Joaquim Torres Araújo Carlos Alberto de Carvalho Art. 3º - As Instruções Normativas aprovadas por este decreto têm por objetivo estabelecer as condições de Zoneamento, Parcelamento da Terra e Edificações para cada uma das subzonas a que se refere o artigo anterior. Renato da Silva Almeida Parágrafo Único – As condições mencionadas no “CAPUT” deste artigo, que não estiverem expressamente reguladas por estas instruções normativas deverão obedecer ao disposto no Regulamento de Zoneamento aprovado pelo Decreto nº 322, de 3 de março de 1976, e nos Regulamentos aprovados pelo Decreto “E” nº 3800, de 20 de abril de 1970. Retificado em 10/06/81 (O Decreto 9269, de 10-4-90, que havia renumerado o parágrafo único para parágrafo 1º e criado o parágrafo 2º foi revogado pelo Decreto 9319, de 11-5-1990) Art. 4º - O art. 194 do Regulamento de Zoneamento aprovado pelo Decreto nº 322, de 3 de março de 1976, passa a vigorar com a seguinte redação: “Art. 194 – A Zona Especial 5 (ZE-5), objeto do Plano Piloto da Baixada de Jacarepaguá , descrita e delimitada no Anexo 17, tem sua utilização disciplinada pelas Instruções Normativas que forem aprovadas por decreto específico.” Art. 5º - Este decreto entrará em vigor na data de sua publicação, revogadas as disposições em contrário, especialmente os Decretos nsº 135, de 12 de setembro de 1975, 324, de 3 de março de 1976, 1594, de 12 de junho de 1978, 1596, de 16 de junho de 1978, 1756, de 11 de setembro de 1978, 1757, de 11 de setembro de 1978, 1960, de 16 de janeiro de 1979, 2148, de 11 de maio de 1979, 2211, de 19 de julho de 1979, 2212, de 19 de julho de 1979, 2311, de 05 de outubro de 1979, 2368, de 08 de novembro de 1979, 2614, de 15 de maio de 1980, 2615, de 15 de maio de 1980, 2851, de 13 de novembro de 1980, 2891, de 21 de novembro de 1980, 2914, de 5 de dezembro de 1980, 2919, de 9 de dezembro de DO RIO de 29/04/81 Republicado em 22/05/81 INSTRUÇÕES NORMATIVAS QUE ACOMPANHAM O DECRETO Nº 3046 DE 27/04/1981 Capítulo I Introdução As Instruções Normativas, além da delimitação e caracterização das 46 (quarenta e seis) subzonas em que está dividida a Zona Especial (ZE-5), impõem as condições de uso do solo, de parcelamento da terra e das edificações em cada uma delas. Constituem um instrumento de detalhamento do Plano Piloto da Baixada de Jacarepaguá, refletindo o micro zoneamento de cada subzona, razão pela qual, na sua redação, as determinações sobre o uso do solo aparecem, quase sempre, inseridas nos textos referentes aos critérios de parcelamento e de edificações. As “Disposições Gerais” (Capítulo II) tratam de assunto de natureza comum a todas as subzonas da Zona Especial 5 (ZE-5), e se aplicam em qualquer caso, salvo disposição específica em contrário. No Capítulo III, “Das Subzonas”, são tratados os assuntos específicos a cada uma delas, partindo da delimitação e estabelecendo critérios de zoneamento, parcelamento e edificações. Subzona A-8 I – Delimitação Área compreendida pela faixa de terreno entre a Lagoa da Tijuca e a Estrada de Jacarepaguá, é delimitada a leste pela divisa ocidental do Itanhangá Golf Club e a oeste pelo Rio das Pedras. 13 II – Critérios para Parcelamento a) Uso Residencial Unifamiliar - Área mínima do lote: 600,00 m² (seiscentos metros quadrados) - Testada mínima do lote: 15,00 m (quinze metros) b) Uso Residencial Multifamiliar - Área mínima do lote: 10.000,00 m² (dez mil metros quadrados) - Testada mínima do lote: 50,00 m (cinquenta metros) c) Uso Comercial - Os lotes comerciais com testada para a Estrada de Jacarepaguá deverão apresentar área mínima de 2.400,00 m² (dois mil e quatrocentos metros quadrados) e testada mínima de 30,00 m (trinta metros) d) quando a área a urbanizar for igual ou superior a 30.000 m² (trinta mil metros quadrados), a área loteável corresponderá a 50% (cinquenta por cento) da área total do terreno. Os 50% (cinquenta por cento) restantes serão destinados a vias, praças, escolas, serviços públicos e outros equipamentos de uso coletivo. Nos lotes que margeiam a Lagoa da Tijuca, além da faixa “non aedificandi” de 25,00 (vinte e cinco metros) estabelecida pela Superintendência Estadual de Rios e Lagoas – SERLA, será exigida uma faixa adicional de preservação com 125,00 m (cento e vinte e cinco metros) de largura no trecho compreendido entre o Rio das Pedras e o canal paralelo localizado ao norte do acesso ao Clube de Tiro, incluído o local conhecido como Ilha do Ribeiro. (Alínea “d” com redação dada pelo Decreto 8707, de 6-9-1989) III – Critérios para Edificação a) Uso Residencial Unifamiliar - Gabarito: 2 (dois) pavimentos - I.A.A.: 0,60 - Taxa de ocupação: 40% (quarenta por cento) - Afastamentos mínimos: frontal – 5,00 m (cinco metros), das divisas – 2,50 m (dois metros e cinquenta centímetros). Para afastamentos frontais iguais ou superiores 10,00 m (dez metros) não é exigido o afastamento das divisas. ficandi” de preservação com 125,00 m (cento e vinte e cinco metros) de largura. (Alínea “e” com redação dada pelo Decreto 8707 de 6-9-1989) b) Uso Residencial Multifamiliar (Área limitada pela Lagoa da Tijuca, pelo Rio das Pedras, pela variante principal da Estrada de Jacarepaguá e pelo canal paralelo ao acesso do Clube de Tiro situado na Ilha do Ribeiro): - Gabarito: máximo de 12 (doze) pavimentos qualquer que seja a sua natureza, exceto o pavimento de uso comum em pilotis. - I.A.A.: 1,50 - Taxa de ocupação: 20% (vinte por cento) - Afastamentos mínimos: frontal – 10.00 m (dez metros), das divisas – mínimo de 5,00 m (cinco metros) até 8 (oito) pavimentos, a partir do 9º (nono) pavimento, inclusive, deverão obedecer ao disposto nos arts. 139, 140 e 141 do RCE aprovado pelo Decreto “E” nº 3800, de 20 de abril de 1970. c) Uso Comercial - Gabarito: 2 (dois) pavimentos - I.A.A.: 0,40 - Taxa de ocupação: 20% (vinte por cento) - Afastamentos mínimos: frontal – 10,00 m (dez metros), das divisas, isento. d) Nos lotes de qualquer natureza, que tenham testada para a Estrada de Jacarepaguá, as edificações obedecerão ao afastamento frontal mínimo de 15,00m (quinze metros) para a referida via. e) Nas edificações situadas em lotes que margeiam a Lagoa da Tijuca, no trecho compreendido entre o Rio das Pedras e o canal paralelo localizado ao norte do acesso ao Clube de Tiro, incluído o local conhecido como Ilha do Ribeiro, além da faixa “non aedificandi” de 25,00 m (vinte e cinco metros) estabelecida pela Superintendência Estadual de Rios e Lagoas – SERLA, será exigida uma faixa adicional também “non aedi14 LOCALIZAÇÃO E INSERÇÃO NA CIDADE (LOCALIZAÇÃO, PONTOS NOTÁVEIS, HIDROGRAFIA, RELEVO, ACESSOS E ENTORNO IMEDIATO) posta pelas bacias dos rios do mesmo nome. Os dois primeiros rios desembocam em diversos canais, que deságuam principalmente no Canal de Sernambetiba e deste na Lagoa de Marapendi. O rio Camorim deságua na Lagoa de Jacarepaguá. A predominância de grandes declividades, somada aos altos índices de precipitação pluviométrica, torna a área frágil e instável, o que dá importância significativa à floresta que ocupa a encosta sul do Maciço da Pedra Branca. O controle da ocupação das encostas e a dragagem e manutenção dos canais são práticas importantes para a preservação da qualidade de vida da Barra da Tijuca. A atividade econômica local é composta por cerca de cinco mil estabelecimentos, 90,4% dos quais são do segmento de comércio e serviços, empregando aproximadamente 42 mil pessoas. O volume de negócios gera R$ 69,9 milhões de ICMS (US$ 60,2 milhões) (2) , nona arrecadação da cidade. A região está classificada como de médio-alto desenvolvimento humano, tanto pelo Índice de Desenvolvimento Humano (IDH=0,802) como pelo Índice de Condições de Vida (ICV=0,769), ocupando a sexta posição no critério do IDH e a 11ª no critério do ICV, quando consideradas todas as regiões. O que se contrapõe aos dados estatísticos levantados para a comunidade de Rio das Pedras, cujo IDH é muito baixo. MAPA 04 – Localização de rio das Pedras na AP 4 – Zona Oeste do Rio de Janeiro A área de Rio das Pedras, situa-se na AP-4, Zona Oeste do Rio de Janeiro, entre os bairros de Jacarepaguá e Itanhangá. Bem localizada, a região fica a poucos quilômetros dos melhores centros de comércio e serviços, sendo grandes polos geradores de empregos e serviços para uma população de baixa qualificação profissional.17 17 A maior parte dos dados aqui expostos foram transcritos do documento Notas Técnicas do Plano Estratégico - Campo Grande, Grande Méier e Barra da Tijuca (nº 2, 3 e 4), publicado em RIO ESTUDOS nº 94, fevereiro de 2003 pelo IPP. Disponível em: Armazém de dados da Prefeitura do Rio de Janeiro: http://www.armazemdedados.rio.rj.gov.br/. O bairro de Itanhangá, onde oficialmente situase a comunidade de Rio das Pedras, localiza-se na região da Barra da Tijuca que cobre uma área de 16.559 hectares (1), na qual residem 174.353 habitantes, segundo o Censo 2000. Sua densidade líquida de 13,7 habitantes por hectare é a menor entre as 12 regiões do Plano Estratégico que compõem o Município do Rio. Além do Itanhangá, é formada por mais sete bairros: Barra da Tijuca, Camorim, Grumari, Joá, Recreio dos Bandeirantes, Vargem Grande e Vargem Pequena. A primeira é formada por área de restinga, onde estão os bairros da Barra da Tijuca, Recreio dos Bandeirantes, Grumari, Itanhangá e Joá. Situada em extenso areal formado por acumulação de areia provida pelo oceano, permite drenagem eficiente, mas esta eficiência vem diminuindo, como resultado da impermeabilização de extensas superfícies, em decorrência da intensa urbanização. Por isso, é importante a manutenção de parques e jardins, com a vegetação original de restinga bem distribuída na área. A região Barra da Tijuca possui duas partes geomorfologicamente bastante distintas: A segunda parte abrange os bairros de Vargem Grande, Vargem Pequena e Camorim e é com- Os dados demográficos indicam que a região foi a que mais cresceu no município, na década de 1990: cerca de 44%, ou 124 mil novos habitantes. O maior aumento populacional ocorreu na segunda metade da década, com uma taxa relativa de crescimento de 26% ou 45.721 mil novos residentes. Esse alto crescimento na década foi devido às impressionantes taxas de crescimento registradas nos bairros de Camorim (82%), Vargem Pequena (71%), Recreio dos Bandeirantes (62%) e Itanhangá (57%). O acentuado aumento de população foi causado ainda, em boa parte, pelo grande fluxo migratório estimado, que alcançou 21%, ou 37.341 novos habitantes, apenas no período 1996 a 2000. Alguns bairros apresentaram taxas estimadas de movimento migratório altíssimas, como Itanhangá, com a maior taxa da Cidade (47%), Recreio dos Bandeirantes (40%) e Vargem Pequena (37%), locais que alcançaram grande valorização imobiliária. 15 O bairro de Jacarepaguá, onde se situa outra parte de Rio das Pedras, pertence à região de Jacarepaguá que cobre uma área de 12.661 hectares, na qual residem 469.682 habitantes, segundo o Censo 2000. Sua densidade líquida de 50,5 habitantes por hectare é a nona maior entre as 12 regiões do Plano Estratégico que compõem o município do Rio. Além de Jacarepaguá, é formada por mais 10 bairros: Anil, Cidade de Deus, Curicica, Freguesia, Gardênia Azul, Pechincha, Praça Seca, Tanque, Taquara e Vila Valqueire. Jacarepaguá18 é um bairro de classe média da Zona Oeste do Rio de Janeiro, localizado na Baixada de Jacarepaguá, entre o Maciço da Tijuca e a serra da Pedra Branca, onde está localizado o Parque Estadual da Pedra Branca. Possui uma área territorial de 7.579,64 ha, sendo o 4° maior bairro em área do município. Em 2004, sua população estimada era 100.822 habitantes. Suas vias principais são a Avenida Geremário Dantas, Estrada dos Três Rios, Estrada de Jacarepaguá e Estrada do Gabinal. No entanto, é um bairro em processo de desmembramento, pois importantes áreas do que sempre se entendeu historicamente como a parte principal de Jacarepaguá, com o tempo foram se desmembrando e tornando-se bairros próprios, como é o caso dos bairros Anil, Curi-cica, Cidade de Deus, Freguesia, Gardênia Azul, Pechincha, Praça Seca, Tanque e Taquara, que junto com Vila Valqueire e o próprio Jacarepaguá, fazem parte da XVI Região Administrativa (R.A.) - Jacarepaguá - do município do Rio de Janeiro. O que restou do antigo bairro de Jacarepaguá hoje são inúmeras localidades com nomenclaturas próprias, em geral loteamentos ainda recentes e que não foram oficializados como bairros pela prefeitura, além da área onde está o Autódromo e o Riocentro. A região limita-se com as encostas atlânticas do Maciço da Pedra Branca a sul-sudeste, com o Maciço da Tijuca, a sudoeste, e com as lagoas de Jacarepaguá, Camorim e Tijuca, ao sul. Estas formaram-se após o processo de assoreamento marítimo que resultou na restinga onde se situa a Barra da Tijuca. A região Jacarepaguá apresen18 Nota: A denominação, delimitação e codificação do Bairro foi estabelecida pelo Decreto Nº 3158, de 23 de julho de 1981 com alterações do Decreto Nº 5280, de 23 de agosto de 1985. ta alta densidade de drenagem, formada pelos rios Guerenguê e Passarinhos (Maciço da Pedra Branca), Grande (maciços da Tijuca e Pedra Branca) e das Pedras e Anil (Maciço da Tijuca). Deve-se atentar para o controle da ocupação das encostas e margens dos rios e lagoas, de primordial importância para preservar a qualidade de vida na baixada de Jacarepaguá, evitando-se preventivamente o processo de assoreamento da rede de drenagem. É necessário também implementar políticas de reflorestamento e conservação ambiental no Maciço da Pedra Branca e, principalmente, na encosta do Maciço da Tijuca, onde o processo erosivo resultante da composição granítica apresenta-se bem mais acentuado. A região está classificada como de médio-alto desenvolvimento humano, tanto pelo Índice de Desenvolvimento Humano (IDH=0,800), como pelo Índice de Condições de Vida (ICV=0,795), ocupando a sétima posição no critério do IDH e a sexta no do ICV, quando consideradas todas as regiões. O que, novamente confronta com o baixo IDH da comunidade de Rio das Pedras. Os dados demográficos indicam que a região cresceu à taxa de 16%, na década de 1990, o equivalente a cerca de 80 mil novos habitantes. O maior crescimento populacional ocorreu na segunda metade da década: 12% ou aproximadamente 61 mil pessoas. Esse marcante aumento populacional na segunda metade da década é resultante das altas taxas de crescimento em alguns bairros, como Gardênia Azul (49%), Jacarepaguá (38%) e Anil (18%), provavelmente devido ao fluxo migratório para a região – estimado por estudos feitos pelo Plano Estratégico em 39 mil imigrantes, correspondentes à taxa de migração de aproximadamente 8%. Os bairros que mais receberam habitantes foram Gardênia Azul (27%), Jacarepaguá (17%) e Tanque (11%). A atividade econômica de Jacarepaguá é composta por cerca de 7.900 estabelecimentos, 88,4% dos quais são do segmento de comércio e serviços, empregando aproximadamente 163 mil pessoas, a terceira maior região empregadora do município. O volume de negócios gera R$439,1 milhões de ICMS (US$378,3 milhões), segunda maior arrecadação da cidade. A partir de 1964 a cidade avança em direção à São Conrado e Barra da Tijuca e, consequente- mente, as favelas crescem e se desenvolvem paralelamente à evolução da cidade. Segundo dados dos censos, a taxa de crescimento anual da população das favelas decresceu na década de 60, acentuando-se na década de 70, devido: à diminuição do ritmo de crescimento populacional da cidade como um todo (principalmente pela diminuição do movimento migratório, comparado às décadas de 40 e 50), abertura de loteamentos a preços populares na periferia metropolitana com baixo investimento em infraestrutura e financiados a longo prazo e, finalmente, à implementação de políticas de remoção de favelas com caráter seletivo nas décadas de 60 e 70.19 a diferença é bem grande. A taxa de crescimento dos setores subnormais é de 2,4% ao ano, enquanto que o resto da cidade cresce apenas 0,38% ao ano. Isso quer dizer que as “favelas” crescem em um ano o que o “asfalto” leva mais de seis anos para crescer, no conjunto. E o crescimento das “favelas” se acelerou recentemente, pois na década anterior a população dos setores subnormais havia crescido apenas 1,91% ao ano. Em resumo, éramos 5.480.778 residentes no Rio em 1991, e passamos a ser 5.851.914 em 2000. As favelas tenderiam a decrescer e desaparecer mas, apesar disto, na década de 80, ocorre a retomada do crescimento, onde o ritmo de crescimento das favelas esteve acima do aumento da cidade, as antigas favelas sofrem processo de adensamento e surgem novas. Tal fato deve-se ao processo de ocupação da periferia que entra em colapso pois a população perde a capacidade de endividamento e pelo encarecimento da terra e, a partir de 82, ocorre o período de legitimação da favela por parte do poder público, em sua política vigente. E o número de “favelados” já passa de um milhão. Como fato marcante da década de 80, o crescimento das favelas se dá mais intensamente em direção às Áreas de Planejamento 4 e 5, ou seja, baixada e zona oeste. O crescimento das favelas até então observado, deixa de ter o caráter de polos concentradores. A cidade passa a ter um crescimento uniforme em todas as favelas através do adensamento de áreas existentes. No último período inter-censitário, a taxa média de crescimento demográfico foi de 0,73% ao ano, maior que os 0,67% anuais do período anterior (1980 a 1991). Considerando separadamente setores normais e subnormais, Expansão acelerada na Barra e em Jacarepaguá 19 CEZAR, Paulo Bastos, Evolução da população de favelas na Cidade do Rio de Janeiro – Coleção Estudos da cidade nº 46. IPP, fevereiro de 2002. Entre os censos de 1990 e 2000, o Rio ganhou 210 mil novos moradores em aglomerados sub16 normais. Desses, uma terça parte se instalou nas regiões da Barra da Tijuca e Jacarepaguá (que tem apenas 12% da população total). O cadastro de favelas indica que combinou-se ali o crescimento horizontal e vertical das favelas antigas (com destaque para o Rio das Pedras) com o surgimento de novas comunidades, especialmente à custa de áreas de preservação ambiental. Nessas regiões, as taxas de crescimento foram altas também para a cidade formal: 1,7% e 6% ao ano, respectivamente, para Jacarepaguá e Barra. Nos setores subnormais o crescimento foi bem mais rápido, com taxas de 7,5% ao ano em Jacarepaguá e quase 10% ao ano na Barra da Tijuca. Um exercício aritmético simples indica que, mantido esse ritmo, Jacarepaguá será uma região majoritariamente “favela” em 2024. seis vezes mais que a das áreas formais. A taxa é maior do que a média do país, onde as comunidades se expandiram num ritmo quatro vezes maior que o do asfalto. pectivamente. Na escolaridade, o abismo permanecerá: as pessoas com 25 anos ou mais nas favelas terão 6,6 anos de estudo e as do asfalto, dez. As projeções do Iets mostram que, em termos de bens de consumo, favela e asfalto ficarão mais parecidos em 2010. Os percentuais de domicílios com telefone fixo serão de 78,6% e 80,1%, res- O analfabetismo também deverá diminuir nas favelas, mas ainda será um fator de segregação. Em 2010, as favelas terão 6,1% de analfabetos (com 15 anos ou mais). No asfalto, esse percentual será de 1,8% . Para fazer as projeções, o Iets levou em conta médias aritméticas anuais (mais conservadoras que as geométricas) a partir dos números dos censos de 1991 e 2000. Por esse cálculo, a taxa anual de crescimento da população foi de 1,9% nas favelas e de 0,4% no asfalto. Já o aumento do número de domicílios foi de 3,9% e de 1,4%, respectivamente. Rio das Pedras é uma das favelas cariocas que apresentou crescimento territorial no período 2000 a 2008. Em 2000 a área ocupada por Rio das Pedras era de 530.381,03 m². Em 2008, segundo dados do IPP20, esta área cresceu para 542.059,75 m². Ou seja, em oito anos a comunidade de Rio das Pedras cresceu 11.678,72 m². “Segundo projeções do IETS (Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade)21, o município do Rio teria em 2010 cerca de 1,3 milhão de moradores de favelas, 210 mil a mais do que em 2000. Isso corresponde a quase quatro Rocinhas - onde moram 56 mil pessoas, segundo o IBGE - ou a um município do porte de Nova Friburgo. A projeção foi feita com base numa taxa constante de crescimento anual, calculada a partir dos dados dos censos de 1991 e 2000. Ainda de acordo com o estudo, os moradores de favelas representarão 21,1% da população total em 2010. Esses dados devem confirmar-se com o atual Censo 2010. Os censos mostram que, nos últimos 20 anos, houve uma explosão demográfica nas favelas do Rio: o número de moradores nessas áreas - classificadas pelo IBGE como aglomerados subnormais - passou de 637.518 em 1980 para 1.092.476 em 2000, o que significa um aumento de 71,3%. O fenômeno é tão acelerado que, segundo o Instituto Pereira Passos (IPP), entre 1991 e 2000 a população das favelas cresceu 20 Tabela 2642 - Área ocupada pelas favelas cadastradas segundo as Áreas de Planejamento e Regiões Administrativas – Município do Rio de Janeiro - 1999/2004/2008 – IPP (Instituto Pereira Passos, Prefeitura do Rio de Janeiro) 21 Disponível no site do IETS no endereço: http://www.iets. org.br/article.php3?id_article=702 MAPA 05 – Localização de rio das Pedras no entorno da Lagoa da Tijuca e na confluência das RAs de Jacarepaguá e Barra da Tijuca (Elaborado por Antônio Sales - Geógrafo - Analista Ambiental, Especializado em Geoprocessamento) 17 No início, morou num barraco de madeira, mas hoje tem uma casa modesta de dois andares e um terraço. Para o diretor de Informações Geográficas do IPP, Sergio Besserman, o aumento das favelas em Jacarepaguá, Barra e em outros bairros da Zona Oeste acompanha o crescimento das áreas formais: - É a dinâmica da cidade. As pessoas, faveladas ou não, vão em busca de trabalho e de renda. É para a Zona Oeste que o Rio está crescendo. Mas por que as favelas crescem tanto? Um estudo do IPP com base nos censos de 1991 e 2000 indica que a taxa de fecundidade - maior nas favelas do que no asfalto - foi o principal fator de expansão na última década. A segunda causa foram as migrações, tanto de outros estados quanto de municípios fluminenses. - O número de migrantes equivale ao dobro do de moradores que empobreceram e saíram de bairros do Rio para favelas - diz Besserman. Outra pesquisa encomendada pelo IPP à Escola Nacional de Ciências Estatísticas do IBGE estima que a população da Rocinha passará de 57 mil, em 2001, para 87 mil, em 2020. O crescimento do Complexo da Maré será menor: de 115 mil para 142 mil. O Jacarezinho e o Complexo do Alemão deverão perder moradores. MAPA 05 – Localização de rio das Pedras no entorno da Lagoa da Tijuca e na confluência dos bairros de Jacarepaguá e Itanhangá do (Elaborado por Antônio Sales - Geógrafo - Analista Ambiental, Especializado em Geoprocessamento) Um estudo do IPP mostra que o crescimento da população das favelas do Rio na última década não foi homogêneo. Em áreas centrais, como São Cristóvão e Santa Teresa, houve redução do número de moradores. O maior aumento ocorreu na Zona Oeste, especialmente na área de Planejamento 4 (Jacarepaguá, Barra e Cidade de Deus), onde a população de favelas dobrou de 1991 a 2000, passando de 72.182 para 144.394. Favelas como Rio das Pedras, em Jacarepaguá, e Morro do Banco, no Itanhangá, não param de crescer. De acordo com o IPP, a população de favelas em Jacarepaguá cresceu 7,5% ao ano e, na Barra, 10%. Mantidas essas taxas, assinala a pesquisa, “Jacarepaguá será uma região majoritariamente favelizada em 2024”. “Uma vista aérea da Favela Rio das Pedras, a maior da região, impressiona: o conjunto de casas parece avançar em direção à Lagoa de Jacarepaguá. Pelos dados oficiais, são cerca de 26 mil habitantes, mas a associação de moradores diz que esse número pode chegar a 90 mil. Foto aéreas da área de Rio das Pedras. A comunidade é formada basicamente por nordestinos, como a pernambucana Maria José dos Santos, de 54 anos, que veio para o Rio há 30. 18 Geografia e Geologia A maioria das rochas do subsolo do Estado do Rio de Janeiro datam do período pré-cambriano (há mais de 500 milhões de anos). Essas rochas são de origem magmática (consolidação do magma no interior da Terra) ou originadas pelo metamorfismo das rochas preexistentes (ação de grandes pressões e altas temperaturas).22 A predominância no embasamento no Estado do Rio de Janeiro é de granitos (magmáticas) e de gnaisses (metamórficas), que são constituídas pelos mesmos minerais mas apresentam estruturas/texturas diferentes. Os granitos e gnaisses do embasamento estão entrecortados por diques de basalto e de diabásico provenientes de fendas que foram preenchidas por material magmático, no final do período jurássico (era mesozoica), quando ocorreu a separação da América do Sul da África. O terreno onde se dá a ocupação de Rio das Pedras é solo de turfa, do período cenozóico, em região alagadiça, muito próxima às Lagoas de Jacarepaguá e Camorim. A área em questão pertence à sub bacia do Rio das Pedras, que dá nome à comunidade, e pertencente à Bacia de Jacarepaguá e Zona Sul. Segundo o documento do IPP “Áreas da cidade passíveis de alagamento pela elevação do nível do mar”23, devido à atura das cotas de nível na área de Rio das Pedras, grande parte do seu território com cotas sujeitas a alagamento, conforme se pode observar no mapa abaixo. Situação Ambiental “O Complexo Lagunar da Baixada de Jacarepaguá, formado pelas lagoas de Tijuca, Camorim, Jacarepaguá, Marapendi e Lagoinha, possui cerca de 300 km² de superfície, abrangendo os bairros pertencentes às Regiões Administrativas de Jacarepaguá (XVI RA) e Barra da Tijuca (XXIV RA).24 22 A maior parte dos dados constantes desse item foram coletados no Portal da Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro, Instituto Pereira Passos, Armazém de Dados: http:// www.armazemdedados.rio.rj.gov.br/ e no site http:// www.educacaopublica.rj.gov.br/ oficinas/geologia/hidrografia_rj/14.html. 23 MENDONÇA, Maria Luiza Furtado de & SILVA, Luiz Roberto Arueira da. “Áreas da cidade passíveis de alagamento pela elevação do nível do mar”. IPP/Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro, 2008. 24 Os dados constantes neste item foram transcritos literal- MAPA 06 – Geologia do Rio de Janeiro O sistema, formado pelas Lagoas de Tijuca, Camorim, Jacarepaguá, com cerca de 9,3 km² de espelho d’água, vem sofrendo sérios prejuízos devido à contaminação de suas águas em função, principalmente, da falta de equipamento sanitário na região. No que concerne à degradação ambiental das Lagoas da Tijuca e de Camorim, percebe-se duas principais condições responsáveis. A primeira condição se refere à ocupação irregular que, mente do artigo de SILVA, G. C. “(In)Sustentabilidade ambiental na ocupação urbana da Barra da Tijuca, na cidade do Rio de Janeiro”. In Revista Risco nº 5, 2007. geralmente acompanhada de aterros indiscriminados, especialmente nas Faixas Marginais de Proteção (FMP)9, está à margem do processo de licenciamento pelos órgãos públicos competentes. Essa forma de ocupação ocorre tanto nos condomínios residenciais, por ação das grandes incorporadoras imobiliárias, quanto nas favelas, por ação dos moradores de baixa renda.25 A segunda condição se deve à falta de equipamento sanitário para recolher e tratar os esgotos despejados in natura, pelos imóveis comerciais, industriais e residenciais. Observam-se algumas violações de padrões no que concerne à qualidade das águas das Lagoas da Tijuca e de Camorim. A taxa de Oxigênio Dissolvido (OD), por exemplo, se mostra abaixo da mínima (5 mg/L); isso se deve, principalmente, aos despejos de origem orgânica, comprometendo a saúde de seres aquáticos aeróbios, daí a mortandade de peixes, em determinados períodos do ano. Os índices de coliformes totais e de coliformes fecais (E. Coli) confirmam a presença de micro-organismos patogênicos nessas águas. Analisando a Lagoa da Tijuca, verifica-se a piora desses índices. 25 Onde se inclui Rio das Pedras. Nota do redator). 19 MAPA 07 – Bacias Hidrográficas do Rio de Janeiro MAPA 08 – Áreas sujeitas a alagamentos em Rio das Pedras A Lagoa da Tijuca é a mais comprometida das lagoas da região, no que concerne à qualidade das águas. Se até a década de 80 a profundidade da lagoa alcançava dois metros, hoje chega a atingir apenas 10 centímetros, em algumas áreas em dadas épocas do ano (PORTELLA, 2001). Isso ocorre, principalmente, devido ao lançamento de esgoto sem tratamento preliminar que contribui para acelerar o processo de eutrofização natural da lagoa, levando ao estado de hipertrofização. O esgoto é despejado in natura na água e é acumulado no fundo da lagoa, causando assoreamento e liberando grande quantidade de fósforo e nitrogênio, que servem de nutrientes para o crescimento de plantas aquáticas, como as gigogas (HOUGH, 2000). Com isso a lâmina d’água da lagoa vem sendo reduzida, bem como sua profundidade, sofrendo, portanto, um processo de assoreamento. Conforme Hough (2000), a taxa média de sedimentação natural deve ser de um milímetro (1 mm) ao ano. Portanto, considerando-se que em algumas áreas da Lagoa de Camorim a profundidade média de dois metros (200 cm), até 1980, reduziu para 10 cm em 2000 (PORTELLA, 2001), é evidente que a sedimentação nessa lagoa, que é dez vezes maior que o recomendado, não é natural. O problema de assoreamento que ocorre nas lagoas da região tem sido registrado por algumas instituições. Por exemplo, um estudo batimétrico do Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia do Estado do Rio de Janeiro identificou as áreas de assoreamento do complexo lagunar da região e revelou a crítica situação de degradação ambiental da Lagoa da Tijuca. A maior parte do espelho d’água da lagoa atinge profundidade inferior a um metro (1 m), sendo a mínima de 0,30 m e a máxima de 12,7 m (CREARJ, 2000). Acessos As principais vias de acesso em Rio das Pedras são a Estrada de Jacarepaguá ao norte; a Estrada Variante de Jacarepaguá que se comunicam; a Estrada Engenheiro Souza Fialho que corta a comunidade no seu sentido menor e, perpendicularmente, ao sul e ladeando a comunidade encontra-se a Av. Principal. O mapa abaixo apresenta essas vias relacionadas à comunidade de Rio das Pedras. Em 2002, um estudo da Secretaria Municipal de Meio Ambiente, responsável pelo monitoramento das águas das lagoas do Município, caracterizou o Arroio Pavuna e o Arroio Fundo como as principais fontes de poluição do sistema lagunar da região. Os canais se localizam na Lagoa do Camorim, poluindo principalmente as lagoas adjacentes, sendo Jacarepaguá e Tijuca.” 20 MAPA 09– Mapa de vias de acesso (Elaborado por Antônio Sales - Geógrafo - Analista Ambiental, Especializado em Geoprocessamento 21 DIVISÃO SOCIOPOLÍTICA LOCAL A área ocupada é de aproximadamente 67 ha. O setor Rio das Pedras, o mais antigo, localizase entre as duas principais vias de ligação com a área formal da cidade.26 A Vila dos Pinheiros foi ocupada no início dos anos 90 e constitui-se na área central e mais valorizada da comunidade. Era uma área privada que foi negociada pela Secretaria Estadual de Habitação e desapropriada para que a favela a ocupasse. A ocupação foi comandada pela associação de moradores que determinou o tamanho dos lotes e vias, assim como a distribuição dos lotes entre a população interessada. É nesta área que se encontram os principais equipamentos e projetos comunitários: Ciep, Ciac e unidades habitacionais do programa Morar sem Risco. A Vila Caranguejo localiza-se entre a Estrada Engenheiro Souza Filho e a Área de Preservação Ambiental da Construtora Carvalho Hosken. Foi fruto de uma invasão planejada pelos moradores em 1983 que buscaram racionalizar o loteamento e implantação de vias no local. Outro setor às margens da Estrada Engenheiro Souza Filho é a Areal 1 que foi doada à Associação em 1988 e é para esta área que a comunidade se expande. Também nessa área foi realizado o parcelamento e arruamento pela associação de moradores. Juntamente com a área da Vila Caranguejo, constitui-se em área intermediária entra a área central e periférica. O setor Pantanal, também na periferia de Rio das Pedras, configura-se como uma extensão do setor Areal 1 e avança por sobre a lagoa da Tijuca. Essa é a área mais precária da comunidade, com casas de madeira e plástico e assentados sobre a lama resultante do aterro realizado. Não possui infraestrutura alguma e também deverá ser removido pela Prefeitura para recuperação ambiental da Lagoa. Adjacente ao setor Areal 1, encontra-se o setor Areal 2 que foi ocupado em 1991 pelos desalojados dos blocos residências construídos pela Construtora Delfim. É o setor mais precário da favela, situando-se em solo de argila mole, abai- xo da cota zero, sujeito a inundações, e, portanto, sem infraestrutura. O setor Areinha foi ocupado simultaneamente ao setor Areial 2 e fica do outro lado do canal. Por ter sido sua ocupação precedida de um trabalho de execução de aterros e abertura de vias, possui quadras bem definidas e boas condições de acessibilidade. Teve rápido crescimento e atualmente ocupa as margens da Lagoa do Camorim. Assim como a área Areal 2, é uma área periférica da comunidade, muito pobre e precária. Roque Santeiro é uma pequena área de aproximadamente 100 residências, assim como Vila Mangueira que possui cerca de 50 residências. Ambas estão inscritas no Programa Morar sem Risco da Secretaria Municipal de Habitação (SMH) para serem removidas. Por ocasião do diagnóstico realizado, pela comunidade, para o Programa Favela Bairro, em 1988, foi identificado um quadro de precariedade de equipamentos de uso coletivo, especialmente creches. Também foi identificado um quadro de precariedade de equipamentos de lazer e esportivos. Com exceção dos setores Rio das Pedras e Areal 2 que configuravam numa morfologia de ocupação irregular, a comunidade apresenta boa acessibilidade, com vias hierarquizadas em grande parte da área, mas havia falta de pavimentação, um fluxo perigoso de veículos em alta velocidade e pouca sinalização nas vias. Ainda o diagnóstico apontava, em 1998, para o crescimento “vertiginoso e descontrolado” da área. Inserido que está entre as duas áreas de maior crescimento da cidade, Jacarepaguá e Barra da Tijuca, acompanha o crescimento dessas regiões e acolhe uma população de trabalhadores domésticos e da construção civil, com baixa qualificação. 26 Aplicativo SABREN, do site Armazém de dados da Prefeitura do Rio de Janeiro: http://www.armazemdedados. rio. rj.gov.br/. Os mapas foram produzidos por Elaborado por Antônio Sales - Geógrafo - Analista Ambiental, Especializado em Geoprocessamento. 22 CARACTERIZAÇÃO SOCIOECONÔMICA DA POPULAÇÃO LOCAL Poucos habitantes da comunidade de Rio das Pedras conhecem sua história. Embora a violência do controle sobre a vida dos habitantes de Rio das Pedras seja fortemente explicitada no dia a dia da comunidade pela presença do poder paralelo imposto pela milícia local que, ironicamente busca afastar a violência do tráfico de drogas, a área em questão cumpre o papel de abrigo para indivíduos privados de recursos financeiros e incapacitados de exprimir a escolha pelo habitat desejado, em área provida de infraestrutura e serviços de qualidade.27 Além do crescimento endógeno, o crescimento exógeno, ou seja, a partir da escolha por habitar naquela comunidade se dá a partir da existência de algum parente ou conhecido no local. A população local era composta, em 2000, por 17.228 habitantes, sendo que destas 9.002 eram mulheres, a maior incidência, e 8.226 eram homens. Essa população residia, na época, em 5.519 habitações, o que constituía uma densidade média de 3,12 hab/domicílio na região, como é apresentado na Tabela 01, abaixo. A Tabela 03 abaixo permite observar que entre a maior parte a dos 5.444 responsáveis dos domicílios de Rio das Pedras, apenas 69,26% havia alcançado algum nível de escolaridade, especificamente no ensino fundamental. Apenas 13,78 % chegaram ao ensino médio. A escolaridade é baixa e raros são os que tiveram a oportunidade de frequentar o curso superior, apenas 1,03 % . A renda per capta é baixa, conforme se pode observar na Tabela 05. A maior parte dos indivíduos encontra-se numa está na faixa renda entre 2 a 5 salários mínimos correspondendo a 39,60% dos responsáveis familiares. Na faixa de ½ a 2 salários mínimos, são 38,74% dos responsáveis familiares. TABELA 03 Resp. Domicílio Ensino Fundamental RIO DAS PEDRAS 5.444 Ensino Médio Ensino Superior 750 56 3.771 Fonte: Censo 2000 – IBGE Também o número de crianças fora da escola em 2000 era grande, das 1.421 crianças entre cinco e nove anos, 724 não estavam alfabetizadas, correspondendo a 50,95% deste universo. TABELA 05 RENDA DO RESPONSÁVEL PELO DOMICÍLIO – CENSO 2000 TABELA 01 COMUNIDADE RIO DAS PEDRAS DADOS POPULACIONAIS POR COMUNIDADE - CENSO 2000 COMUNIDADE RIO DAS PEDRAS Os MAPAS de 10 a 16 mostram estas distribuições no território. ANOS DE ESTUDO POR RESPONSÁVEL DE DOMICÍLIO - CENSO 2000 COMUNIDADE antigripais, bebidas etc. Todavia, a falta de infraestrutura desses estabelecimentos não comportaria a regularização dos mesmos e tampouco a existência de um quadro de funcionários. Não foi possível identificar processos de geração de recursos próprios capazes de promoverem a auto sustentabilidade. E novamente aqui seria necessário a realização de um Censo que venha a corroborar ou refutar a afirmação. POPULAÇÃO MULHERES HOMENS DOMICÍLIOS DENSIDADE 17.228 8.226 9.002 5.519 3,12 até 1/2SM 1/2 até 1 SM 1 até 2 SM 2 até 5 SM 5 a 10 SM Acima de 10 SM 16 549 1.544 2.156 463 84 * Em 2000, o salário era de R 151,00 Fonte: Censo 2000 – IBGE OBS: o valor total da densidade se refere à média dos valores encontrados Fonte: Censo 2000 – IBGE TABELA 04 Uma projeção de crescimento de 5% realizada pelo EGP Rio, Tabela 02, aponta para um aumento fabuloso em Rio das Pedras, indicando que a população de 2000 correspondia a apenas 28,10 % da população atualmente supostamente existente, o que deverá ser confirmado ou não pelo censo 2010, em andamento. CRIANÇAS FORA DA ESCOLA - CENSO 2000 COMUNIDADE Total crianças de 5 a 9 anos Alfabetizadas de 5 a 9 anos Não Alfabetizadas de 5 a 9 anos 1.421 724 697 RIO DAS PEDRAS Fonte: Censo 2000 – IBGE TABELA 02 DADOS POPULACIONAIS POR COMUNIDADE – PROJEÇÃO de 5%– EGP RIO COMUNIDADE RIO DAS PEDRAS POPULAÇÃO MULHERES HOMENS DOMICÍLIOS DENSIDADE 61.300 ------ ------ 16.700 3,67 OBS: o valor total da densidade se refere à média dos valores encontrados Fonte: EGP -- ESTADO DO RIO DE JANEIRO 27 Os mapas foram elaborados por Antônio Sales - Geógrafo - Analista Ambiental, Especializado em Geoprocessamento. Em Rio das Pedras existe, hoje, um grande contingente de desempregados e assalariados de baixa renda. Outros são trabalhadores do terceiro setor ou mantém sua subsistência com base no trabalho temporário e informal. Grande parte é fruto da economia informal. Observam-se alguns poucos pequenos comerciantes, que assumem o papel de suprir às comunidades, em relação aos itens de consumo básicos, como: ovos, açúcar, leite, pilhas, papel higiênico, 23 MAPA 10 – Distribuição da população EM Rio das Pedras – Fonte: Censo 2000 – IBGE 24 MAPA 11 – Número de domicílios, com até cinco moradores na comunidade de Rio das Pedras – Fonte: Censo 2000 – IBGE 25 MAPA 12 – Número de domicílios, com cinco a dez moradores na comunidade de Rio das Pedras – Fonte: Censo 2000 – IBGE 26 MAPA 13 – Anos de estudo por responsável do domicílio na comunidade de Rio das Pedras – Fonte: Censo 2000 – IBGE 27 MAPA 14– Renda por responsável do domicílio ½ a 2 SM na comunidade de Rio das Pedras – Fonte: Censo 2000 – IBGE 28 MAPA 15 – Renda por responsável do domicílio 2 a 5 SM na comunidade de Rio das Pedras – Fonte: Censo 2000 – IBGE 29 MAPA 16 – Renda por responsável do domicílio 5/10 SM na comunidade de Rio das Pedras – Fonte: Censo 2000 – IBGE 30 IDENTIFICAÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DAS ORGANIZAÇÕES PRESENTES / PESQUISA DE CAMPO Foram pesquisados 498 moradores de Rio das Pedras em suas casas, nas ruas e no comércio local. Com esta amostra, com intervalo de confiança de 95%, a margem de erro para mais ou para menos é de 3,5%. Para o objetivo da pesquisa, qual seja identificar como aqueles cidadãos e cidadãs se veem, à sua comunidade e seus problemas, e suas aspirações de solução, é mais do que suficiente desde que nos atentemos para os grandes números, i.e. para aqueles itens que possuem itens claramente majoritários. Também as respostas apontadas para as subcomunidades devem ser olhadas com as mesmas reservas, visto que amostra foi calculada para Rio das Pedras como um todo. Foram 251 mulheres e 247 homens com a estratificação etária apontada na Tabela 06 conjuntamente com a estratificação de escolaridade. Na Tabela 07 vemos que apenas 11,2% dos entrevistados conhecem a história de sua comunidade. As histórias contadas lembram de uma ocupação ou invasão (20% e 30%), ocorrida em uma área de mangue/pântano/lagoa (33%), promovida por nordestinos (12%). Nesta tabela os números inteiros são absolutos e os decimais são percentuais. Na Tabela 08 os resultados de quando foram perguntados do que mais gostam na comunidade. Destaque para a percepção de tranquilidade, segurança, comércio local e relações comunitárias. A Tabela 09 apresenta as respostas para o que você menos gosta em sua comunidade. Os 25 primeiros itens são variados, porém apresentam a característica de serem ligados à auto-estima. São itens que denotam a percepção de serem maltratados não apenas pelo governo, mas também por si próprios (4,6%). Tal percepção não apresenta diferenças quando se olha o sexo dos entrevistados. Com relação à violência, apenas 2,8% a indicaram como algo que os incomoda. A falta de asfalto, o alagamento das ruas e a lama, incomodam quase a metade dos moradores (45%), seguido pela questão do lixo (10,6%), e da falta de saneamento, infraestrutura e esgoto (13,6%). Com relação ao lixo e à lama há maior preocupação entre as mulheres. Quando perguntados com relação à sua percepção de oferta de serviços básicos de infraestrutura urbana, os resultados da Tabela 10 apontam TABELA 07 as questões mais óbvias. Outra vez a percepção de gênero é semelhante, exceto novamente na questão do lixo, com maior preocupação das mulheres. Perguntados sobre qual a prioridade para solução das mesmas questões, aparecem algumas diferenças entre percepção da falta e priorização na solução. Tal discrepância não deve permitir engano. Pavimentação, escoamento da chuva e drenagem, e tratamento de esgoto são os itens campeões na Tabela 11. A Tabela 12 mostra os resultados para a avaliação sobre a dificuldade de entrar e sair da comunidade, versus as causas. Aparecem de maneira inequívoca as dificuldades causadas pela lama e pela chuva, mesmo entre os que consideram pouca a dificuldade de entrar e sair. Na Tabela 13 são apresentados os resultados para a percepção com relação à qualidade de serviços de educação combinada com sua utilização. Baixo uso de creches (3,4% das famílias das mulheres e 4,4% das famílias dos homens) com alta aprovação da qualidade ( 70,6% das mulheres e 81,8% dos homens). Ensino fundamental utilizado por 23,9% das famílias das mulheres e 19,3% da dos homens, com avaliação ainda alta. Ensino médio com uso por poucas famílias (7,8% e 8,6%) e avaliação positiva um pouco menor. Ensino profissionalizante é bem avaliado, porém é menos utilizado (2,8% e 2,4%) do que as creches. Dados pífios resultados do Ideb para a educação pública fluminense, merece estudo posterior para melhor compreensão do resultado. Na Tabela 14 foram apresentadas várias opções de lazer que deveriam ser apontadas como 1ª. 2ª e 3ª prioridades. Também aceitamos uma 4ª e 5ª opções. A TABELA 15 exibe o resultado da pergunta sobre o que falta para melhorar a comunidade. Pergunta aberta, após sistematização ortográfica e conceitual, mostra o esperado, como pavimentação e saneamento. Aparecem dois pontos que merecem destaque: a saúde que para quase 14% é essencial para a vida comunitária, assim como um banco. Entretanto, é no segundo item da tabela que aparece algo que merece atenção. Quase 10% apresentam como demanda para uma vida melhor, questões ligadas ao modo como se sentem tratados (mal tratados). Uma leitura atenta do QUADRO A composto pelos itens que somados atingem 9,4% (9,2% de mulheres e 9,7% dos homens) aponta a necessidade de intervenções que ajudem em sua organização, representação política e comunitária, melhoria da auto-estima. 31 Por fim, a TABELA 16 apresenta os resultados sobre o conhecimento sobre o PAC. Pergunta aberta, exige homogeneização das respostas. Foram agrupadas respostas semelhantes. Apenas os números significativos estão apresentados. Nunca ouviram falar do PAC, 43,6% dos entrevistados. Aqui há diferença entre gêneros, pois quase metade das mulheres o desconhece. Dos outros entrevistados, 15,6% afirmaram ter ouvido falar, sendo que 9% externaram aprovação. Quase um em cada cinco habitantes (19,7%) declara que o PAC é bom. O PAC da Rocinha é citado por 2,4% e 6,2% viram pela TV. 32 33 34 EQUIPAMENTOS SOCIAIS - EXISTENTES E PREVISTOS A PARTIR DA DEMANDA DA COMUNIDADE Os dados, especialmente para os equipamentos comunitários de educação e saúde existentes nas comunidades, foram obtidos através do SABREN. No que se refere ao lazer no interior das comunidades, foram encontrados praças e quadras de futebol danificadas. Não existem áreas adequadas ou iniciativas ao desenvolvimento de projetos socioculturais e de lazer e tampouco há esse tipo de iniciativa em Rio das Pedras. Os jovens não têm muitas opções de lazer dentro das comunidades. São poucas as áreas com equipamentos para esses fins. As praças existentes precisam de manutenção. Apesar disso a comunidade é bem localizados estando perto de grandes Centros Comerciais na Barra da Tijuca onde há cinemas, restaurantes e bares. Além disso a praia da Barra da Tijuca fica relativamente próxima e ha´transporte fácil para a Zona Sul e Central da cidade. A TABELA 17, a seguir apresenta um quadro resumo sobre os EQUIPAMENTOS COMUNITÁRIOS EXISTENTES. Equipamentos sociais Existentes ESCOLAS (Localizadas no assentamento ou em um raio de 500m da sua borda) RIO DAS PEDRAS Classe em Cooperação Adalgisa Monteiro - No Entorno Escola Municipal Rio das Pedras - No assentamento Escola Municipal Jorge Amado - No Entorno Escola Municipal Claudio Besserman Vianna - No Entorno Ciep No. 301 - No Entorno Ciep Governador Roberto da Silveira - No Entorno CRECHES (Localizadas no assentamento ou em um raio de 500m da sua borda) Creche Municipal Otávio Henrique de Oliveira - No Assentamento Creche Municipal Rio Novo - Rio das Flores - No entorno CRAS - Centro de Referência da Assistência Social (Localizados no assentamento ou em um raio de 2000m da sua borda) Centro de Referência da Assistência Social Cidadania de Rio das Pedras UNIDADES DE SAÚDE (Localizadas no assentamento ou em um raio de 2000m da sua borda) Posto de Saúde Canal do Anil - No entorno PRAÇAS (Localizadas no assentamento ou em um raio de 1000m da sua borda) Praça da Com. Rio das Pedras - No assentamento 35 INFRAESTRUTURA FÍSICA Embora os dados censitários de 2000 apontem para um atendimento quase universal dos domicílios nessa comunidade, sendo 94,25% atendidos por rede de esgotamento sanitário e 97,7% eram atendidos pela rede de abastecimento de água, ou seja, 82,5 % de domicílios atendidos por rede, de acordo com a Tabela 06, nas entrevistas realizadas e nas Oficinas do Imaginário estas são questões recorrentes: acesso e qualidade das redes de abastecimento de água, de drenagem, de esgotos, de iluminação pública, de transportes, de pavimentação e telefonia.28 mau estado de conservação, umas pela falta de manutenção e uso inadequado (depredação) e outras por falta de conclusão das obras. O esgotamento sanitário, em muitas áreas, é precário e encontra-se em condições inadequadas, causando danos a saúde dos moradores. Os dejetos descem a céu aberto em alguns locais, os bueiros não têm tampa. Infraestrutura urbana, em domicílios particulares pernentes, segundo as áreas selecionadas de Rio das Pedras - Censo 2000 INCIDÊNCIA Bruto % Total de domicílios permanentes 5.444 100 Servidos por escoamento em rede de esgotamento sanitário 2.906 53,38 Servidos por escoamento em fossa séptica ou rudimentar 753 13,83 Servidos por escoamento em vala 1.404 25,79 Servidos por outras formas de escoamento 0 0 Sem serviço de esgotamento sanitário 23 0,42 Escoamento em rio, lago ou mar 358 6,58 ESGOTAMENTO SANITÁRIO ABASTECIMENTO DE ÁGUA Servidos por rede de abastecimento de água 5.398 99,15 Servidos por abastecimento por poço 8 0,15 Servidos por outras formas de abastecimento 38 0,70 TABELA 18 - Fonte: Censo 2000 – IBGE Os Mapas 40 e 41 mostram os dados censitários no território abrangido pelo Rio das Pedras, com relação ao abastecimento de água e esgotamento sanitário. No espaço de Rio das Pedras, observa-se uma escassez de projetos urbanísticos, à exceção do Projeto Favela Bairro em sua versão Grandes Favelas. Mas as obras realizadas se encontram em 28 Fotos e dados coletados nos locais pela equipe de campo. Mapas elaborados por Antônio Sales - Geógrafo - Analista Ambiental, Especializado em Geoprocessamento. Em certos pontos os alagamentos formam verdadeiras piscinas e há muita lama em várias ruas quando chove. Muitos moradores improvisam sua própria rede de esgoto. Em certos locais o abastecimento de água, o esgotamento sanitário e a drenagem simplesmente inexistem. Todos os indícios de asfaltamento e calçamento são precários e melhores nas partes onde existe comércio. As vias, que foram resultados de outras obras, não possuem uma largura apropriada e, em caso de curva, não possuem angulação que comporte o trânsito de mão dupla. De qualquer forma, na quase totalidade das áreas, são permeadas por becos estreitos e algumas escadarias. Todos em péssimas condições de uso. Não existe a preocupação com a adequação à realidade dos portadores de necessidades especiais. As áreas limítrofes à via férrea e mesmo dentro dela estão ocupadas e representam enorme risco de vida. A coleta de lixo existe, mas é insuficiente. A circulação dos caminhões da Comlurb em determinadas áreas é prejudicada pela falta de vias de acesso pavimentadas que comportem o trânsito de veículos de grande porte. Em muitas áreas a frequência desse serviço é baixa e inversamente proporcional a quantidade de dejetos produzidos. Existe um acúmulo de lixo por vários pontos da comunidade O sistema de energia elétrica não atua com constância e nem abrange todos os domicílios. Dessa forma, observam-se um emaranhado de fios, dispostos à revelia, com fins de captação ilegal e inadequada de energia. A gravidade desta questão vai além da inadimplência. Nos moldes como são feitas, as chamadas “gambiarras” representam perigo de vida. A iluminação pública é precária e inexistente em diversos pontos das comunidades. Em muitos locais não existem postes, principalmente nas áreas que ocupam o leito do rio. Assim, é possível inferir que, a despeito de algumas poucas intervenções já realizadas pela Prefeitura do Rio de Janeiro, o que se pode observar é uma baixa qualidade desses serviços e de sua manutenção. As redes não sofrem manutenção e os canos e taludes estão danificados. Os reservatórios locais não são suficientes para atender à população. Também existem poucos funcionários para a realização da manobra de água. 36 MAPA 40 – Domicílios ligados á rede de esgoto – Fonte: Censo 2000 – IBGE 37 MAPA 41 – Domicílios ligados á rede de água – Fonte: Censo 2000 – IBGE 38 39 40 41 42 43 44 45 46 47 48 49 50 51 52 53 54 55 56 57 58 TIPOLOGIA EDILÍCIA A tipologia edilícia das comunidades da região ,objeto da intervenção segue o padrão de ocupação subnormal: habitações de um modo geral pequenas, com baixa qualidade estrutural e construtiva, acabamentos precários, baixo ou até mesmo nenhum acesso aos serviços básicos de saneamento e abastecimento de água.29 Segundo a ONU, cinco componentes refletem essa precariedade: Uma grande parte das construções, em todas as quatorze comunidades da área, é agora de alvenaria, mas sem revestimentos de reboco ou emboço, também na maioria das vezes. • Baixa qualidade estrutural dos domicílios; Em algumas áreas de ocupação mais recente, sobretudo nas partes mais próximas aos aterros recentes realizados na Lagoa da Tijuca para ganhar mais terras para a comunidade, as habitações são ainda mais precárias e algumas são de taipa ou refugos de madeira e sequer possuem sanitários instalados. Conforme é hoje entendido pelo Ministério das Cidades, um assentamento subnormal é um assentamento contíguo caracterizado pelas condições precárias das habitações. 29 Fotos e dados coletados nos locais pela equipe de campo. • Status residencial inseguro • Acesso inadequado à água potável • Acesso inadequado a saneamento e infraestrutura em geral; • Adensamento excessivo. Um fato que logo chama a atenção é o encontro entre o adensamento das habitações e o baixo índice de verticalização da área, mesmo naquelas áreas onde o acesso à infraestrutura e serviços urbanos é formal. Situação que se transforma ao ingressar mais para dentro das comunidades, onde o acabamento das residências termina por evidenciar o local. O investimento em melhorias habitacionais poderá reverter este quadro de precariedade, pelo menos no que tange ao aspecto morfológico. A seguir, são apresentadas fotos coletadas no local que evidenciam os aspectos acima descritos. 59 60 61 62 63 64 65 66 67 68 69 70 71 72 73 INTERVENÇÕES JÁ REALIZADAS: PELO GOVERNO FEDERAL, PELO ESTADO OU PELA PREFEITURA As muitas intervenções realizadas pela Prefeitura do Rio de Janeiro em comunidades que era atualizado a cada quatro anos passará a ser anual. O Plano Estratégico I da Cidade do Rio de Janeiro – Rio Sempre Rio – não contemplou a área do Complexo do Jacarezinho com o Programa Favela Bairro através de intervenção urbanística e social. Dadas as dimensões das comunidades do Complexo do Jacarezinho e os poucos projetos que o atenderam já se aponta a extrema necessidade de vê-lo atendido pelo PAC 2. O Rio Cidade, outro Programa de Governo nascido no âmbito do Plano Estratégico da Cidade do Rio de Janeiro – Rio Sempre Rio – apresentado na estratégia 2 – Rio acolhedor – como um dos programas cujo objetivo era o de qualificar a vida dos bairros e melhorar a qualidade dos espaços públicos, também não atingiu as áreas do Jacaré e do Jacarezinho. O Programa Mutirão realizou no Jacarezinho obras de infraestrutura em 1980: abastecimento de água, esgotamento sanitário, drenagem de águas pluviais e pavimentação. O Mutirão Obras Comunitárias é um dos mais antigos e eficientes programas de urbanização da Prefeitura. Empregando, sempre que possível, mão de obra da própria comunidade, o Mutirão Obras Comunitárias vem recuperando espaços ociosos em pequenas áreas de loteamentos, favelas e vilas existentes na cidade. Cerca de 600 comunidades em 76 bairros já receberam obras de infra-estrutura através desse programa. A iniciativa emprega em média equipes de 15 pessoas, ganhando cada uma em torno de R$ 400,00. Em 2000 a comunidade começou a ser atendida pelo Programa Grandes Favelas, da Secretaria de Habitação de este consiste na intervenção urbanística em favelas com mais de 2.500 domicílios, aos moldes do programa Favela Bairro. O prefeito Eduardo Paes lançou em 27/07/2010 no Palácio da Cidade, o programa Morar Carioca, que prevê a urbanização de todas as favelas do Rio até 2020, com gabaritos fixados e limites demarcados. O programa “Morar Carioca”, também conhecido como Plano Municipal de Integração dos Assentamentos Informais Precários, tem como objetivo promover a integração e a urbanização das favelas, bem como implantar um sistema de controle e ordenamento da ocupação e uso do solo urbano. A Secretaria Especial de Ordem Pública será responsável pela fiscalização permanente dos limites das comunidades e pelo combate ao crescimento irregular. O mapeamento das favelas, através de fotos aéreas e satélites, 74 PLANOS E PROGRAMAS GOVERNAMENTAIS CO-LOCALIZADOS O PAC Favelas, lançado no ano de 2007, destina investimentos vultosos para as camadas mais pobres da população, visando promover a urbanização em assentamentos precários, através da construção de equipamentos sociais, unidades habitacionais, saneamento, áreas de lazer, centros culturais e esportivos, creches, escolas técnicas, postos de saúde, bibliotecas e sistemas de abastecimento de água, esgoto e iluminação pública entre outros. Soma-se ainda, o trabalho social ao qual se destina no mínimo 2,5% do valor das obras e tem como objetivo geral transformar as intervenções físicas de urbanização em processos de Desenvolvimento Sustentável incentivando a manutenção dos recursos através da gestão democrática, organização comunitária e participação política. Através de altos investimentos em favelas cariocas na ordem de aproximadamente R$ 940 milhões, que estão sendo aplicados nos Complexos do Alemão, Manguinhos e Rocinha objetiva-se tornar a favela parte integrante da cidade, por não se tratar apenas de intervenções físicas e urbanísticas, mas por se tratar de intervenções sociais, modificando o habitus da população mediante a transformação do espaço físico (o que interfere indiscutivelmente na economia local). As cidades brasileiras abrigavam, há menos de um século, 10% da população nacional. Atualmente são 82%. Incharam, num processo de exclusão e de desigualdade. O PAC- Favelas objetiva reverter o quadro de desigualdade social e territorial existente, de modo a tornar efetivo o direito à cidade dos habitantes dos assentamentos precários. Os investimentos do PAC no Complexo do Alemão, Manguinhos e Rocinha têm tido, e terão ainda mais ao final das intervenções, um forte impacto sobre a vida das pessoas daquelas comunidades. Do ponto de vista do trabalho técnico social do Governo do Estado do Rio de Janeiro, o PAC no Rio de Janeiro se caracteriza pela forma inusitada de atuação porque coloca a população desde o princípio como agente e corresponsável pelas decisões e manutenção sobre os investimentos em seus territórios. Ainda de acordo com a coordenação do trabalho social no Estado do Rio de Janeiro, o trabalho tem como objetivo geral transformar as Intervenções físicas de urbanização (as obras de transforma- ção do território) em processos de desenvolvimento sustentável (crescimento econômico com distribuição de benefícios e sustentação de recursos sob gestão democrática – Transformação do Território + Transformação das Pessoas). e democrática através da participação e da mobilização, com a criação de instâncias de gestão compartilhada do processo de planejamento e implantação da transformação, deve ser o foco a que se deve dar agora a Rio das Pedras. A Secretaria Municipal de Habitação30, em parceria com o Governo Federal, com recursos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), no valor de R$ 379,5 milhões (R$ 100,5 milhões da Prefeitura do Rio e R$ 279 milhões da União), está realizando obras de urbanização e implantação de infraestrutura nos complexos do Alemão e de Manguinhos; em um conjunto de 11 comunidades na Tijuca; na Colônia Juliano Moreira (Jacarepaguá); e na construção de 293 unidades habitacionais no Centro e em Marechal Hermes, para famílias que ganham de 0 a 3 salários mínimos. No total, 179,5 mil pessoas serão beneficiadas pelas ações. No Complexo de Manguinhos, o investimento é de R$ 93,3 milhões, sendo R$ 70 milhões do governo federal e R$ 23,3 milhões da Prefeitura. Serão alcançados pelas intervenções cerca de 46 mil moradores das comunidades CHP2, Vila Turismo, Parque João Goulart, Vila União, Mandela de Pedra, e dos conjuntos habitacionais Nelson Mandela e Samora Machel. Em Manguinhos, com as obras de urbanização, serão construídas quatro creches, cinco estações elevatórias de esgoto e um posto do Programa de Saúde da Família. Estão previstas, de acordo com a abertura das frentes de obra, 1.548 desapropriações com reassentamento das famílias, incluindo as 365 que estão nas margens do Rio Jacaré. Na Tijuca, as intervenções do PAC contam com investimento da ordem de R$ 66,7 milhões sendo R$ 50 milhões da União e R$ 16,7 milhões da Prefeitura. Assim, é possível dizer que as obras do PAC, que tanto beneficiarão à população daquelas comunidades devem e precisam ser ampliadas para a população de Rio das Pedras. Promover o crescimento econômico, a distribuição de benefícios relacionados ao acesso, à mobilidade e integração, aos serviços de qualidade, à regularização fundiária e à sustentabilidade dos recursos através de educação sanitária e ambiental, assim como a gestão compartilha 30 Portal da prefeitura do Rio de Janeiro, site da Secretaria Municipal de Habitação, Programa de Aceleração de Crescimento: http://www.rio.rj.gov.br/habitacao/ 75 INTERVENÇÕES DO PAC NAs AP3 e ap4 O lançamento do PAC 2 no Rio de Janeiro foi noticiado no Folha EMOP (Empresa de Obras Públicas do Estado do Rio de Janeiro em 05/05/2008: Oito comunidades receberão PAC 2 Oito comunidades da cidade do Rio de Janeiro serão beneficiadas com a segunda fase do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), que será apresentada no próximo dia 12, com a presença do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. As intervenções terão as mesmas características da primeira etapa do PAC, que já está em andamento nas comunidades da Rocinha, Manguinhos e Complexo do Alemão. Após esta notícia também foram incluídas as áreas do Complexo do Lins e do Complexo da Tijuca e Rio das Pedras para receberem os benefícios do PAC em suas comunidades. O mapa a seguir mostra as áreas de intervenção do PAC na AP3, tanto do Governo do Estado quanto da Prefeitura do Rio de Janeiro. As principais metas são melhorar a acessibilidade, construir novas unidades habitacionais e fazer melhorias nas que já existem, além de instalar programas sociais e de geração de renda. Complexo da Penha, Jacarezinho, Borel, Mangueira, Kelson, Coroa e Andaraí receberão as intervenções da segunda etapa do PAC. Assim como o Complexo do Alemão, um teleférico será instalado no Complexo da Penha, na segunda etapa do PAC. Serão cinco estações, saindo da linha ferroviária, com paradas na Igreja da Penha, Vila Cruzeiro e Proletário da Penha, até chegar à estação do Parque da Serra da Misericórdia, que irá ligar a comunidade da Penha à do Alemão. - O teleférico irá valorizar muito a festa da Penha, e a estação no Parque da Serra da Misericórdia fará a interface dos complexos da Penha com o Alemão – explica o presidente da Empresa de Obras Públicas do Estado do Rio de Janeiro (Emop), Ícaro Moreno Júnior. Chapéu Mangueira e Babilônia também serão interligados após as obras do PAC. Um plano inclinado vai sair da Rua General Ribeiro da Costa, no Leme, unir as duas comunidades e chegar até a Área de Proteção Ambiental (APA) do local. O presidente da Emop lembra que as comunidades também receberão obras de infra-estrutura, como tratamento esgoto, água potável, drenagem e tratamento de lixo. - No Borel, vamos resolver um problema muito sério de drenagem do Rio Maracanã, que perdura há anos, e a Mangueira está contemplada tanto na parte de esgoto da comunidade como nos acessos à comunidade, na Rua Visconde de Niterói. Não haveria sentido entrar nas comunidades sem resolver as questões de infra-estrutura – disse Ícaro Moreno Júnior. A segunda etapa do programa também continuará cadastrando moradores das comunidades para trabalhar nas obras. O treinamento de mão de obra, através do Programa Canteiro-Escola, também será mantido. Para o presidente de Emop, essa é a principal característica do programa. - A capacitação e geração de empregos é uma vertente muito forte do PAC. Não estamos apenas gerando oportunidades, mas motivando a comunidade. Eles estão empolgados em executar as obras com qualidade. Isto está dando resultados expressivos. Considero que a permanente geração de empregos, para acabar com esse desequilíbrio de oportunidades que estas comunidades sofrem hoje, é o grande diferencial do PAC – defende o presidente da Emop. MAPA 55 – Intervenções do PAC estaduais e municipais 76 OFICINAS DO IMAGINÁRIO As Oficinas do Imaginário têm sido desenvolvidas com o intuito de levantar junto às comunidades as suas demandas e prioridades, ancorados no modelo de urbanização das comunas de Medellin com o PUI (Programa de Urbanização Integrada). O modelo em questão privilegia as comunidades na busca das definições sócio espacias e as colocam como cogestoras e corresponsáveis pelos espaços trabalhados. Esses espaços, que historicamente são aspectos sociais ausentes na paisagem urbana dessas áreas, como o não acesso aos equipamentos, aos bens e aos serviços públicos, isto é, às condições materiais da urbanidade, e cujo déficit aumenta na mesma proporção em que crescem as populações dessas comunidades. Por esta razão o nome “Oficina do Imaginário” é tão revelador do que é preciso buscar: os sonhos. Através da materialização dos sonhos e desejos é que o Governo do Estado pretende melhorar a vida da comunidade, pactuando deveres e fazendo cumprir direitos fundamentais. A Oficina do Imaginário é uma das atividades que tem por objetivo a realização de um diagnóstico dos desejos da comunidade A metodologia adotada para essas Oficinas obedeceu à seguinte sistemática: Em uma reunião de planejamento foi decidido que a mobilização para as Oficinas deveria ser mais lúdica, considerando que ela é uma atividade diferente das convencionais. Foi definido junto à Associação de Moradores de Rio das Pedras, única da comunidade, que as Oficinas seriam todas sediadas em seu espaço, visto que ela está situada no centro da comunidade e possui uma ótima infraestrutura. Para tanto, optou-se pela utilização de balões de gás hélio com algumas finalidades: 1- colocar um conjunto em lugares problemáticos que trouxessem o olhar reflexivo da comunidade; ex: lixo espalhado, bueiros abertos, esgoto a céu aberto, canal poluído, etc. 2- distribuir convites colados em balões para crianças acompanhadas de responsáveis; 3- colocar balões na entrada das Oficinas, utilizando-as como identidade da ação. Com o apoio da Associação de Moradores, que colaborou distribuindo convites, convidando atores locais estratégicos e ainda com a gravação de uma mensagem que foi transmitida na rádio comunitária local e em um carro de som circular, entre os dias 20 e 24 de setembro, uma equipe de três pessoas ficou encarregada de distribuir os convites, convidar no boca a boca e ainda executar as ações relacionadas aos balões. A mobilização foi feita durante dois dias em cada uma dessas áreas para que as Oficinas ficassem com número equilibrado de participantes. Também durante o trabalho de campo, durante a pesquisa, os pesquisadores já convidavam à população local para a realização da Oficina, através de um panfleto especialmente composto para estes fins, conforme modelo anexo. Para que todas as sub comunidades fossem convidadas para participar, ainda com auxílio da Associação e de mapa, foram pré definidas três áreas: Área I – região próxima à associação e Pinheiros; Área II – região da Areal I (outro lado da pista) e Área III- região da Areinha, do outro lado do canal. É importante ressaltar que a equipe de mobili- zação foi composta por entrevistadores do questionário social, o que facilitou o reconhecimento das áreas preestabelecidas para cada dia. Durante todas as reuniões foi feita uma apresentação de slides que continham imagens de lugares aprazíveis e diferentes para instigar a imaginação dos participantes e mapas e fotografias da comunidade que vivem. Os diferentes recursos adotados tinham um objetivo principal: incentivar os sonhos! Realizou-se, então, uma dinâmica para a identificação dos sonhos e desejos dos moradores de tal comunidade para que pudessem ser adicionados ao plano de urbanização local, onde após apresentação da equipe de pesquisadores, explicavase a atividade. Posteriormente, os participantes eram divididos em grupos e distribuíam-se papel e canetas coloridas. Aos grupos, depois de formados, novamente explicava-se que deviam desenhar os sonhos, os desejos e não a realidade. Ao final dessa atividade, houve uma exposição de cada desenho pelo grupo que o elaborou. As Oficinas do Imaginário aconteceram nos dias 77 21, 22 e 24 de setembro, contando sempre com uma equipe de quatro condutores. Todas ocorreram na sede da Associação dos Moradores tendo sido considerado um ponto estratégico para reunir moradores de todas as sub localidades. Os horários, assim como os locais foram definidos em parceria com as associações, a fim de garantir uma maior participação dos moradores. Infelizmente, não conseguimos atingir nossas expectativas. As reuniões tiveram um quorum em torno de 30 pessoas no máximo por oficina, mas isso não inviabilizou a atividade. Contamos com a participação e boa vontade dos que lá estiveram. Vale ressaltar aqui, durante a dinâmica da Oficina do Imaginário, foi orientado que nosso objetivo era de captar os detalhes que melhorariam a qualidade de vida dos indivíduos que vivem nesses lugares. Sabendo disso, salientamos que tudo que é básico para um projeto de urbanização está garantido no projeto, por tanto poderíamos partir da ideia que pavimentação das ruas, obras de contenção de encostas, regularização do sistema de esgoto e de abastecimento de água, já estariam inclusos em nossas propostas. Os elementos de infraestruturas básicos apareceram como uma necessidade em todos os grupos no momento de suas apresentações. Ressaltamos aqui, alguns importantes apontamentos que surgiram nas Oficinas do Imaginário, e que se repetiram em todas elas. Destacamos que em todas as Oficinas houve a solicitação por moradias dignas. Solicitaram com muita frequência, também, que fosse solucionado o problema das constantes enchentes que causam alagamento em toda a comunidade. Postos de saúde, creche, áreas de lazer, escolas, entre outros, são equipamentos que despertaram desejos dos participantes de todas as Oficinas do Imaginário. Ao final houve lanche de confraternização. Vejamos a seguir, mais detalhadamente, os resultados das Oficinas: 78