Cortines Erika - Oral

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Cortines Erika - Oral
ESPÉCIES VEGETAIS INDICADORAS DE UMIDADE EM ÁREA DE INFLUÊNCIA DE
UMA NASCENTE DO PROJETO MUTIRÃO REFLORESTAMENTO, BARRA DE
GUARATIBA-RJ
Erika Cortines1; Ricardo Valcarcel2
1
Bióloga, Prof. Assistente/DCAA/ITR/UFRuralRJ, Av. Prefeito Alberto da Silva Lavinas, no 1847, Centro, Três Rios,
RJ, cep. 25802-100 ([email protected]); 2 Eng. Florestal, Prof. Associado III/DCA/IF/UFRuralRJ ([email protected])
Apresentado no II Congresso Brasileiro de Reflorestamento Ambiental – 23 a 26 de outubro de2012 – SESC Centro de
Turismo de Guarapari, Guarapari – ES.
Resumo - Espécies ripárias apresentam variações quanto a oferta diferenciada de umidade no solo servindo como
bioindicadoras de umidade e tempo de residência da água, mesmo em solos pouco saturados. Este trabalho avaliou a
umidade do solo e a composição de espécies do extrato regenerante em área de influência de uma nascente como forma
de mapear a região de afloramento do lençol freático. A nascente situa-se em terreno escarpado, raso, com chuvas mal
distribuídas, em uma área do Projeto Mutirão Reflorestamento da Prefeitura Municipal do Rio de Janeiro. A
regeneração foi avaliada em 6 parcelas de 4 x 2 m, contabilizando-se todos os indivíduos da parcela. A umidade do solo
(método gravimétrico) foi calculada para as profundidades de 10 a 20 cm e 20 a 40 cm. A umidade do solo se mostrou
descontínua formando "bolsões de umidade" à montante da nascente, abastecendo-a mesmo na seca. A espécie
Tibouchina sp. foi a mais representativa na parcela próxima à nascente. As espécies Tibouchinia sp, Calathea sp,
Ischnosiphon gracilis Commelina diffusa, Commelina benghalensis, Tradeschantia zanonia e Centella asiattica foram
as que melhor indicaram as condições de umidade do solo. Conclui-se que estas espécies podem ser utilizadas como
identificadoras de regiões com diferencial na capacidade de armazenamento de água nas microbacias, podendo ser
utilizadas como indicadoras em programas de revitalização das nascentes, antes mesmos dos reflorestamentos,
direcionando as ações de plantio.
Palavras-chave: produção de água, indicadores ambientais, zonas úmidas, reflorestamento.
Introdução
Atualmente, a maioria dos reflorestamentos buscam o aumento da oferta de serviços ambientais, como: perenização
das nascentes, controle de enchentes, desassoreamento das redes de drenagens, estabilização de terrenos, redução dos
riscos de deslizamentos e rolamento de matacões, melhoria do aspecto da paisagem, amenização térmica, dentre outros
(CORTINES, 2008). Uma das principais funções de um reflorestamento é restabelecer o equilíbrio do meio ambiente
por meio da retomada das interações entre vegetação, água, solo e fatores bióticos e abióticos envolvidos.
Os componentes biológicos e suas relações intra/interespecíficas agem para fortalecer relações funcionais dos
ecossistemas. Havendo equilíbrio entre entrada e saída de energia/água do ecossistema, haverá aumento da
biodiversidade, da resiliência e da qualidade ambiental (DOBSON et al., 1997; CAMARGO et al., 2002; BROWN e
LUGO, 1994).
As nascentes perenes podem ser consideradas uma resposta ambiental positiva para os ecossistemas reflorestados,
principalmente em ambientes de alta fragilidade ambiental (solo raso, declividade acentuada, presença de matacões e
pedras soltas, proximidade com o mar) como em Barra de Guaratiba - RJ, onde as microbacias apresentam pouca
habilidade de reter a água da precipitação, liberando-a rapidamente para o oceano.
Na região estudada, a água das nascentes ainda é fonte complementar de abastecimento para muitas famílias
(PCRJ/SMAC, 1999), aumentando a importância do manejo adequado das espécies utilizadas no reflorestamento. A
caracterização da vegetação nas áreas plantadas próximo às nascentes pode servir como ferramenta para detectar as
áreas com capacidade para produzir água, aumentando a perenidade das nascentes na área do reflorestamento. O
objetivo deste estudo foi avaliar a composição de espécies herbáceas na área de influência de uma nascente e relacionálas com o teor de umidade do solo, em uma área reflorestada, destacando as com potencial bioindicador.
Materiais e Métodos
A área de estudo localiza-se na zona Oeste do Rio de Janeiro, distrito de Barra de Guaratiba, e está inserida no
Parque Estadual da Pedra Branca. Anteriormente a região já foi cultivada com café e cana-de-açúcar e mais recente com
banana que persiste até hoje em algumas encostas (ESTADO DO RIO DE JANEIRO, 1998). Os solos são muito rasos e
com presença frequente de matacões e pedras soltas que oferecem risco à população residente na base da encosta. Em
1995, o Projeto Mutirão Reflorestamento iniciou plantio de espécies arbóreas nas encostas da região totalizando 96,3
ha. Este projeto surgiu em 1984 pela necessidade da inibição da ocupação das áreas de risco da cidade do Rio de Janeiro
e obteve sucesso por apresentar um cunho socioambiental importante onde a mão de obra recrutada para execução dos
plantios é inteiramente local, incentivando os moradores a se sentirem parte do processo de restauração e a cuidarem
das áreas reflorestadas melhorando a qualidade de vida na região (SANTOS et al., 1987).
A nascente estudada teve as características topográficas de sua área de influência direta (AID) determinadas por
meio de Estação Total modelo ELTA R 3305 e GPS Ashtech Promark II à partir dos quais se obteve levantamento
detalhado (escala 1: 500) com curvas de nível a cada 0,5 m.
A umidade do solo foi determinada em Abril e Agosto de 2007, a partir de método gravimétrico (Nascimento,
1998). As amostras foram coletadas com trado de rosca nas profundidades de 0-20 e 20-40 cm em três linhas
perpendiculares às curvas de nível, a cada 0,5 m. O Peso úmido do solo (PU) foi obtido em balança de precisão 0,01g
(modelo Ohaus Compact Scales CS 200 da Ashworth). O peso seco foi obtido após secagem em estufa à 105 O C. A
umidade foi expressa em porcentagem.
Para avaliar a regeneração espontânea foram alocadas seis parcelas de 4 x 2 m distanciando-se do ponto de
afloramento da nascente para montante até o divisor de águas. Em cada parcela foram medidos e contabilizados todos
os indivíduos > 10 cm. O esquema amostral das coletas de solo e vegetação pode ser visto na figura 1.
Figura 1: Esquema da distribuição dos pontos de coleta de solo e das parcelas de amostragem da regeneração
espontânea, na área de influência de uma nascente do projeto mutirão reflorestamento, Barra de Guaratiba - RJ.
Resultados e discussão
A umidade do solo se mostrou descontínua ao longo da área de influência da nascente formando "bolsões de
umidade" à montante, que mostraram-se responsáveis pelo abastecimento da nascente na época de seca. A umidade do
solo variou seu comportamento nas duas estações avaliadas (chuva e seca) (Tabela 1).
Tabela 1: Valores médios de umidade (%) nas amostras de solo coletadas em linhas radiais em relação à nascente nas
estações de chuva e seca, em uma área reflorestada no município do Rio de Janeiro-RJ.
Linhas
A
B
C
Média
Chuva (abril 2007)
0 a 20 cm
20 a 40 cm
(%)
(%)
45,5
34,8
45,1
53,7
48,2
61,0
46,3a
49,8a
Seca (Agosto 2007)
0 a 20 cm
20 a 40 cm
(%)
(%)
13,8
13,9
15,5
16,9
13,8
12,7
14,4b
14,5b
Médias seguidas pela mesma letra não diferem estatisticamente pelo teste de Tukey (p < 0,05)
As médias de umidade do solo diferiram estatisticamente entre as estações de chuva e seca conforme tabela acima.
Apesar da média de umidade ter sido baixa no inverno, em alguns pontos chegou a 50% mesmo após 3 meses sem
chuva. Estes pontos de maior retenção de umidade são importantes para a manutenção da perenidade da nascente. O
ponto de maior umidade (93%) se localizou a um desnível de 8 m da nascente, indicando que outros fatores como a
textura, composição do solo e a microtopografia local tem um peso maior que a proximidade da nascente no quesito
acúmulo de água no solo. Alguns autores sugerem que a disponibilidade de água no solo está relacionada com a
capacidade de movimentação da água pelos poros, o que por sua vez tem relação com seus teores de areia, silte e argila
(KARMAN, 2001; SILVA 2003).
Com relação às espécies regenerantes, foram identificadas 458 indivíduos de 91 espécies, pertencentes a 35 famílias
e 77 gêneros. As famílias com maior riqueza de espécies foram Asteraceae (11), Fabaceae (7), Melastomataceae (5),
Euphorbiaceae (5), Solanaceae (4) e Commelinaceae (3). A presença de vegetação higrófila em 30% da AID constitui
uma evidência da ocorrência de regiões mais úmidas e capazes de reter água, onde há variações na altura do lençol
freático e consequentemente maior adaptação das espécies vegetais regenerantes.
As espécies mais frequentes foram as herbáceas e arbustivas, Anemia sp., Spermacoce verticillata, Psychotria sp.,
Panicum maximum, Piper aduncum, Aciotis purpurascens e as arbóreas, Psidium guajava, Guarea guidonea, Inga
sessilis, Nectandra sp., Alchornea triplinervia e Alophyllus sp., que apareceram em 67% das parcelas amostradas
estando bem distribuídas na AID. Dentre as arbóreas regenerantes Nectandra sp. e I. sessilis foram as mais abundantes.
As espécies herbáceas que se mostraram melhores indicadoras de umidade no entorno da nascente foram Tibouchinia
sp, Calathea sp, Ischnosiphon gracilis, Commelina diffusa, Commelina benghalensis, Tradeschantia zanonia e Centella
asiattica.
Segundo Rodrigues e Sheperd (2000) o mosaico vegetacional formado nas zonas ripárias dependem da
diferenciação da umidade onde a topografia e os elementos físicos do solo são fatores determinantes. Em regiões de
comportamento hidrológico similar ao da área estudada, a detecção da amplitude ecológica das espécies indicadoras de
umidade podem auxiliar no mapeamento das áreas prioritárias para produção hídrica e balizar as ações de
reflorestamento por meio do uso de espécies adequadas.
Conclusões
As espécies riparias mesmo em locais com baixa capacidade de retenção hídrica se mostraram boas indicadoras de
de umidade nas microbacias podendo ser usadas como facilitadoras de programas de revitalização de nascentes em
ecossistemas reflorestados, garantindo a manutenção da vazão ecológica e dos serviços ambientais hidrológicos.
Referências Bibliográficas
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2, n.2, pp.92-111, 1994.
CAMARGO, J. L. C.; FERRAZ, I. D. K.; IMAKAWA, A. M. Degraded areas of Central Amazon using direct sowing
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