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BOLETIM DA
GESTÃO 2013-2015 | EDIÇÃO OUTUBRO DE 2014
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04
OBITUÁRIO
A NEUROPSICOLOGIA COGNITIVA DO
DESENVOLVIMENTO FICOU ÓRFÃ
09
TEXTO INICIAL
TDAH E O USO TERAPÊUTICO DE
NEUROFEEDBACK
15
ENTREVISTA
SOBRE O II FÓRUM MUNDIAL DE DISLEXIA
18
DOMÍNIOS COGNITIVOS
HABILIDADES MOTORAS NA PARALISIA
CEREBRAL
21
INTERNACIONAL
O PSYCHOPHARMACOLOGY LABOR ATORY
24
RELATO DE PESQUISA
AVALIAÇÃO DA EXPRESSÃO GÊNICA
DE RECEPTORES DOPAMINÉRGICOS,
GLUTAMATÉRGICOS E DA ENZIMA SINTASE DE ÓXIDO NÍTRICO EM UM MODELO ANIMAL DE ESQUIZOFRENIA
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BOLETIM
SBNp
OBITUÁRIO
A NEUROPSICOLOGIA COGNITIVA DO DESENVOLVIMENTO FICOU ÓRFÃ
VITOR GERALDI HAASE
F aleceu no dia 22 de outubro
de 2014 a Profa. Christine Temple
da University of Essex (http://
www.essex.ac.uk/psychology/
staff/profile.aspx?ID=2442).
A
Profa. Temple foi a pioneira da
neuropsicologia cognitiva do desenvolvimento. Ou seja, da aplica-
ção
de
modelos
cognitivos
(principalmente de processamento
de informação) ao estudo quaseexperimental de casos em crianças
e jovens com lesões cerebrais e
transtornos do desenvolvimento.
A neuropsicologia cognitiva é um
ramo da psicologia experimental
que se utiliza de evidências do desempenho de pacientes neuropsicológicos com o intuito de testar
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modelos da arquitetura cogniti-
experimentais de caso, utilizando-
va geral. (Shallicce & Cooper,
se de tarefas experimentais especi-
2011). A versão do desenvolvi-
almente delineadas para testar o
mento da neuropsicologia cog-
modelo selecionado, e de estatísti-
nitiva procura fazer a mesma
cas apropriadas para pequenas
coisa, utilizando, porém, os
amostras
transtornos do desenvolvimento
homepages.abdn.ac.uk/j.crawford/
e as lesões cerebrais adquiridas
pages/dept/
na infância como fontes de evi-
SingleCaseMethodology.htm).
(http://
dência (Temple, 1997b). O objetivo é construir modelos da
Padrões complementares de com-
arquitetura cognitiva humana,
prometimento - nos quais p. ex., o
identificando os principais tipos
paciente A tem a função A’ com-
de processos e representações
prometida e a função B’ preserva-
mentais.
da, enquanto o paciente B tem a
função B’ comprometida e a fun-
A partir da identificação de ca-
ção A’ preservada - constituem
sos puros, nos quais haja com-
duplas dissociações. Um exemplo
prometimento isolado de um
de dupla dissociação é o compro-
processo psicológico determi-
metimento da memória episódica
nado, são utilizados modelos
após lesões bilaterais do córtex
cognitivos com o intuito de in-
temporal medial com memória de
terpretar e testar os padrões de
curto prazo normal, contrastando
funções comprometidas e pre-
com o déficit na memória de curto
servadas. Isto é geralmente rea-
prazo verbal com memória episó-
lizado através de estudos quase-
dica normal após lesões do giro
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angular esquerdo. As duplas dis-
zem respeito à aplicação dos
descobriu um padrão de leitura se-
sociações são interpretadas como
modelos de processamento de
melhante ao que é observado na
evidência para a organização mo-
informação às discalculias do
dislexia profunda (Temple, 2003).
dular dos processos psicológicos
desenvolvimento e às síndro-
A dislexia profunda se caracteriza
no cérebro-mente. A validação das
mes genéticas. Usando o mode-
por um padrão complexo de erros
duplas dissociações é realizada de
lo da cognição numérica de rota
na leitura de palavras isoladas, su-
forma convergente com evidências
semântica única de McCloskey,
gerindo disfunções tanto da rota
obtidas através de outros métodos,
Carammazza e Basili (1985), a
fonológica (dificuldade com a lei-
tais como neuroimagem funcional
Profa. Temple descobriu
que
tura de pseudopalavras) quanto da
ou
existem crianças cuja discalcu-
rota lexical-semãntica (paralexias
lia compromete seletivamente
semânticas, dificuldades com a
os fatos aritméticos enquanto
leitura de palavras abstratas etc.).
Na década de 1980 Christine
outras apresentam dificuldades
A dislexia profunda sempre resis-
Temple foi aluna em Oxford de
seletivas nos procedimentos de
tiu a uma interpretação mais sim-
John C. Marshall (1939–2007) e
cálculo (Temple, 1991). Adici-
plista em termos de correlações
Freda Newcombe (1925–2001), os
onalmente ela descreveu tam-
estrutura-função diretas. Os mode-
fundadores, junto com Elizabeth
bém uma criança com dislexia
los contemporâneos sugerem que a
Warrington e
para numerais arábicos (1989),
dislexia profunda pode resultar de
neuropsicologia cognitiva. Que eu
constituindo
dupla-
efeitos interativos dinâmicos de
saiba ela foi a primeira pesquisa-
dissociação com uma caso de
disfunções na rede neural da leitu-
dora a utilizar de forma sistemáti-
déficit no ditado de numerais
ra (Shallice & Cooper, 2011). A
ca a abordagem da neuropsicolo-
arábicos previamente publicado
caracterização do perfil de leitura
gia cognitiva para analisar os
(Sullivan et al., 1996). Essas
na síndrome de Williams como
transtornos neuropsicológicos de
observações sustentam a hipó-
uma dislexia profunda em conjun-
crianças e jovens. A Profa. Tem-
tese de que, mesmo em crian-
to com o conhecimento dos pa-
ple foi uma das primeiras pesqui-
ças, o sistema da cognição nu-
drões de comprometimento anatô-
sadoras a demonstrar que o mode-
mérica pode ser fraccionado em
mico nesta doença podem assim
lo de dupla rota da leitura e os
módulos distintos para o cálcu-
ajudar a entender melhor as corre-
subtipos de dislexia adquirida de
lo (procedimentos vs. fatos) e
lações anátomo-clinicas deste tipo
adultos também podiam ser utili-
processamento
de dificuldade de leitura.
zados para caracterizar as dislexi-
(compreensão e produção de
as do desenvolvimento (Temple,
numerais arábicos).
modelos
computacionais
(Shallice & Cooper, 2011).
Tim Shallice, da
uma
numérico
Eu sempre admirei a coragem com
a qual a Profa. Temple dissecava
2006).
Um exemplo de aplicação às
os padrões de funções cognitivas
Entretanto, os aspectos que mais
síndromes genéticas é a síndro-
comprometidas e preservadas em
me interessam no seu trabalho di-
me de Williams, na qual ela
casos de transtornos do desenvol-
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vimento usando as ferramentas da
cestral, se restringem às propri-
principais evidências são 1) as se-
neuropsicologia cognitiva. É um
edades neuroquímicas e biofísi-
melhanças entre os quadros neu-
programa de pesquisa extrema-
cas dos neurônios. Todo o resto
ropsicológicos de adultos e crian-
mente original e iluminador da
é o resultado de um processo
ças (Temple, 2003), 2) a possibili-
natureza das dificuldades apresen-
dinâmico de interação com am-
dade de fraccionamento dos défi-
tadas por crianças com dislexia,
biente, ou seja aprendizagem.
cits observados em crianças nas
mesmas linhas evidenciadas em
discalculia, TDAH etc.
Segundo a perspectiva neuro-
adultos (Sullivanet al., 1996, Tem-
Por que falo em coragem? Por que
construtivista
ple, 1989, 1991) e 3) os limites à
é preciso coragem para remar con-
modular do cérebro, a qual ex-
reorganização
tra a corrente. A ciência cognitiva
plica os déficits focais e as du-
cérebro infantil após lesões adqui-
também é caracterizada por modas
plas-dissociações observada em
ridas, sugerindo uma continuidade
que vêm e vão. As modas teóricas
adultos, é apenas o resultado de
de organização anátomo-funcional
vêm e vão independentemente da
um longo processo dinâmico de
do cérebro ao longo do ciclo vital
sua validade científica (Meehl,
desenvolvimento. Os módulos
(Anderson et al., 2009, Chilosi et
1978). É preciso, portanto, muita
evidenciados no cérebro do
al., 2008, Daigneault & Brau,
coragem para resistir aos modis-
adulto não passam de atratores,
2004, Drummond & Dutton, 2007,
mos, paciência para refutar as ob-
ou seja, de pontos de equilíbrio
Duchaine et al., 2009, Gillen &
servações infundadas ou preconce-
energético para os quais con-
Dutton, 2003, Lê et al., 2002,
bidas dos revisores dos artigos e,
verge a atividade cerebral sob
Trauner, 2003). Os comprometi-
sobretudo, evidências muito con-
influência
aprendizagem.
mentos neuropsicológicos clássi-
vincentes que consigam resistir à
Assim sendo, não faz sentido
cos observados em crianças de-
barreira de objeções colocadas à
procurar
duplas
monstram que, ao contrário do que
publicação.
dissociações em crianças uma
presume a perspectiva neurocons-
vez que a organização cerebral
trutivista, as possibilidades de re-
A corrente dominante atual em
da criança é radicalmente dis-
organização do sistema cognitivo
neuropsicologia do desenvolvi-
tinta daquela do adulto, e uma
são limitadas e este pode ser disse-
mento é o neuroconstrutivismo
vez que o sistema se caracteriza
cado nas mesmas linhas mestras
(Thomas
por uma dinâmica evolutiva
que caracterizam a cognição adul-
muito intensa.
ta. Segundo essa perspectiva os
&
Karmiloff-Smith,
2002). O neuroconstrutivismo par-
da
a
organização
caracterizar
neuroplástica
do
efeitos de reorganização plástica
te da hipótese de uma tabula rasa.
Ou seja, de que o cérebro da crian-
Os argumentos e evidências
constituem uma espécie de ruído
ça é indiferenciado por ocasião do
que sustentam a neuropsicolo-
que muitas vezes distorce as corre-
nascimento. Os mecanismos ina-
gia cognitiva do desenvolvi-
lações estrutura-função na faixa
tos, transmitidos de uma geração
mento são inúmeros (Temple &
pediátrica.
para outra através da herança an-
Clahsen, 2002). Algumas das
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Recentemente os padrões de co-
ma de pesquisa desenvolvido
ouvi-la mais. A não ser em vídeo
nectividade e ativação do cérebro
no Laboratório de Neuropsico-
(http://hireintelligenceuk.com/
em repouso através da análise de
logia
speaker/31).
gráficos vêm contribuindo para
(LND-UFMG) nos últimos 15
caracterizar as redes neurais subja-
anos. Além de mostrar que é
centes aos diversos processos psi-
possível interpretar os quadros
cológicos ao longo do ciclo vital.
clínicos dos transtornos do de-
Estudos de neuroimagem funcio-
senvolvimento em termos de
nal usando a técnica de conectivi-
modelos de processamento de
dade funcional mostram que o pa-
informação, no livro ela funda-
drão de conexão para as principais
menta estas hipóteses com base
redes funcionais descobertas pelos
em
neuropsicólogos é tão forte que
experimentais de casos. Apesar
pode ser identificado no adulto
de ser um livro antigo, ele está
mesmo em repouso (Meunier et
disponível e eu recomendo for-
al., 2010). As pesquisas sobre co-
temente sua leitura aos interes-
nectividade
sados em neuropsicologia do
funcional
mostram
também que as principais redes
do
seus
Desenvolvimento
estudos
quase-
desenvolvimento.
funcionais desvendadas pelos neuropsícólogos já estão ativas desde
Eu sempre fui um fã do traba-
o nascimento (Power et al., 2010).
lho da Profa. Temple, e vivia
Ou seja, o cérebro humano não é
perturbando sua paciência, pe-
uma tábula rasa ao nascimento,
dindo reprints de artigos anti-
mas sim, uma estrutura complexa,
gos ou não-disponíveis nos Pe-
modularmente hierarquizada, mas
riódicos CAPES. Há uns meses
que também suporta processamen-
atrás eu lhe escrevi, convidando
to paralelo e se adapta de forma
-a para vir ao XIII Congresso
plástica e dinâmica em função da
Brasileiro da SBNp de 20 a 22
experiência.
de novembro de 2014 em Belo
Horizonte. Ela me respondeu
A Profa. Christine Temple escre-
de forma extremamente gentil e
veu um clássico da neuropsicolo-
falou que não poderia vir por-
gia cognitiva do desenvolvimento,
que estava com câncer de estô-
o “Developmental Cognitive Neu-
mago, mas que assim que se
ropsychology” (Temple, 1997a).
recuperasse, aceitaria o convite.
Este livro inspirou todo o progra-
Infelizmente não vamos poder
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lar do Departamento de Psicologia da
Universidade Federal de Minas Gerais.
Tem experiência na área de neuropsicologia, tendo interesse por correlação estrutura-função em neuropsicologia, modelos de processamento de
informação
em
neuropsicologia
(cognição matemática, processamento lexical, processamento visoespacial, funções executivas), reabilitação
neuropsicológica,
desenvolvimento
humano e qualidade de vida, epidemiologia clínica e psicologia evolucionista.
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VITOR GERALDI HAASE | Graduação em Medicina pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul
(1981), mestrado em Lingüística
Aplicada pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul
(1990) e doutorado em Psicologia
Médica (Dr. rer. biol. hum.) pela
Ludwig-Maximilians-Universität zu
München (1999). É professor titu-
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BOLETIM
SBNp
TEXTO INICIAL
TDAH E O USO TERAPÊUTICO DE NEUROFEEDBACK
FABRÍCIO CARDOSO
O
ALFRED SHOLL-FRANCO
transtorno de déficit de
inteligência média ou acima da
ração cortical em relação às regi-
atenção e hiperatividade (TDAH)
média (RAZERA, 2001). Entre-
ões pré-frontais, sobretudo ao
representa uma das principais
tanto, é comum que estas cri-
córtex pré-frontal lateral, onde
causas de procura para atendi-
anças apresentem problemas
encontramos a maior parte das
mento em centros de saúde men-
de aprendizagem ou de com-
anormalidades estruturais e da
tal e neurologia especializados em
portamento, como, por exem-
hipoativação cerebral relaciona-
crianças e adolescentes. Estima-se
plo, dificuldades na percepção,
das às funções cognitivas, tais co-
que entre 3 a 6% das crianças em
na conceitualização, na lingua-
mo: habilidade para inibir pensa-
idade escolar apresentem este
gem, na memória, no controle
mentos e respostas indesejadas,
transtorno
da atenção, na função motora
controle executivo da atenção,
2003), cujas principais caracterís-
e,
impulsividade
avaliação das recompensas da
ticas são a desatenção, a hiperati-
(TAYLOR, 2011). Neste sentido,
ação, controle motor preciso e
vidade e a impulsividade. Como
Goldstein e Goldstein (2006)
adequado àquela ação e memória
essas características afetam dire-
demonstraram que crianças
operacional (SHAW et al., 2007;
tamente o comportamento da
portadoras de TDAH são mais
DOPHEIDE & PLISKA, 2009; MCLA-
criança, é possível observarmos
propensas a desenvolverem
UGHLIN et al., 2010). Estudos re-
dificuldades no seu desempenho
distúrbios sociais, emocionais e
centes mostram que indivíduos
acadêmico, nos relacionamentos
comportamentais e a manifes-
com TDAH, quando comparados a
familiares e sociais e no ajusta-
tarem mais problemas escola-
indivíduos sem o transtorno, apre-
mento
res que aquelas que não apre-
sentam maior lentidão e menor
sentam tal transtorno.
atenção para a realização tarefa
(FARAONE
psicossocial
et
e
al.,
motor
(ROHDE, 2011; AYCICEGI-DINN et
al., 2011; PIMENTEL et al., 2011;
SONTAG et al., 2011).
Um dos aspectos a ser
TDAH mostram, em geral, uma
de natureza estimulo-resposta,
indivíduos
isto provavelmente por conta da
com TDAH é o atraso na matu-
perda progressiva de atenção sus-
considerado
Na escola, as crianças com
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ainda,
nos
tentada (WANG et al., 2013). Al-
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guns estudiosos relacionam tais
A partir do final da dé-
modificar os padrões neuroló-
problemas ao acometimento
cada de 70, muitos estudos fo-
gicos alterados que interferem
do córtex pré-frontal e parietal,
ram realizados com o objetivo
no funcionamento adequado
no giro cingulado e, ainda, do
de investigar os efeitos do trei-
do cérebro (ARNS et al., 2013).
cerebelo, dos núcleos da base e
namento
de
Diversos estudos (LEINS
de outros circuitos associados,
TDAH, como desatenção, hipe-
et al., 2012; BAKHSHAYESH et
o que pode estar relacionado
ratividade e impulsividade. Es-
al., 2011; DURIC et al., 2012;
com alterações do controle ini-
ses estudos demonstram os
VAN DONGEN-BOOMSMA et al,
bitório, da memória operacio-
efeitos positivos do NFB no
2013; STEINER et al. 2014;
nal e do tempo de reação
funcionamento comportamen-
MAURIZIO et al., 2014; GE-
(BUSH et al., 2005; SEIDMAN et
tal e cognitivo como um trata-
VENSLEBEN et al., 2014; STEI-
al., 2006; MAKRIS et al., 2007;
mento não invasivo promissor
NER et al., 2014) vêm demons-
SHAW et al., 2007).
para
TDAH
trando a utilização e eficácia no
O Neurofeedback (NFB)
(LUBAR & LUBAR, 1999). Atual-
tratamento dos sintomas do
é uma forma de biofeedback
mente, o NFB vem atraindo um
TDAH, principalmente de desa-
que é baseada na aproximação
crescente interesse científico e
tenção, como no estudo de Lu-
das neurociências e terapias
clínico graças aos avanços no
bar (1991), que relatou que 80
comportamentais. Ele pode ser
processamento do sinal e reso-
a 90% das pessoas com TDAH
melhor descrito como um trei-
lução espacial da imagem (LOO
foram beneficiadas tanto do
namento
auto-regulação
& MAKEING, 2012), com a pos-
ponto de vista cognitivo como
com o objetivo de alcançar
sibilidade de treinamento e
comportamental e neuropsico-
controle sobre os padrões de
restauração de padrões de on-
lógico com os protocolos de
atividade cortical ou para nor-
das cerebrais (HAMOND, 2007)
treinamento de NFB, e que es-
malizá-los (Strehl et al., 2006;
através de um autocontrole
te tipo de tratamento pode ser
Heinrich et al., 2007). O NFB
que visa modificação de res-
uma alternativa promissora na
vem sendo utilizado para a esti-
postas fisiológicas pela retroali-
reabilitação dos padrões de
mulação de funções executivas
mentação de funções que se
atividade cortical nesses paci-
em crianças, jovens e adultos,
pretende monitorar e alterar
entes. Outros estudos de ensai-
especialmente no que se refere
(ORLANDO & RIVERA, 2004).
os clínicos demonstraram a efi-
ao processamento de informa-
Os avanços tecnológicos e cien-
cácia no tratamento dos sinto-
ções de maneira mais organiza-
tíficos têm possibilitado a utili-
mas, como melhora na aten-
da (SULZER et al., 2013; GE-
zação do NFB na prática clínica
ção, diminuição da hiperativi-
VENSLEBEN et al., 2014).
e terapêutica, já que podem
dade e melhora nos comporta-
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de
nos
crianças
sintomas
com
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mentos sociais e acadêmicos
MAURIZIO et al., 2014; STEI-
(HOLTMANN et al., 2009; GE-
NER et al., 2014).
DOPHEIDE, J.A. & PLISZKA, S.R. Attention-Deficit–Hyperactivity
Disorder: An Update. Pharma-
VENSLEBEN et al., 2014; WANGLER, et al., 2011; 2012; STEINER et al., 2014), ainda outros
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entes submetidos ao NFB apre-
ARNS, M. et al. Efficacy of neurofeed-
sentam uma estabilidade em
back treatment in ADHD: the
seu quadro clínico mesmo
após 24 meses de interrupção
(GANI et al., 2008; GEVENSLEBEN et al., 2010; MEISEL et al.,
2013).
da sobre o tempo de intervenção utilizando NFB e se somente ele dará conta das questões
apresentadas pelos indivíduos
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Responsável pelo convite
INDA LAGES
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OUT/14
Sociedade Brasileira de Neuropsicologia - www.sbnpbrasil.com.br
13
BOLETIM
SBNp
ENTREVISTA
Ângela Pinheiro
Possui graduação em Psicologia (Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais), mestrado em Psicologia Educacional
(University of Glasgow/Escócia), doutorado em Psicologia Cognitiva (University of Dundee/Escócia) e pós-doutorado na
Universidade de Educação de Ludwigsburg, em Reutlingen/Alemanha. É professora Titular da Universidade Federal de
Minas Gerais. Atua, na área de Processos Cognitivos Básicos, desenvolvimento da leitura e da escrita, construção de medidas de reconhecimento de palavras e dislexia do desenvolvimento. Recentemente tem também se dedicado ao treinamento de pais sobre com estimular a linguagem de seus filhos e à formação de professores do Ensino Básico sobre
como alfabetizar todas as crianças com especial foco no ensino daquelas com dificuldade gerais e específicas de leitura e de escrita. Nesse sentido, tem coordenado a plataforma Dislexia Brasil. Recentemente presidiu o II Fórum Mundial de
Dislexia.
Responsável pelo convite
ANDRESSA MOREIRA ANTUNES
No período de 17-20 de agosto do
corrente a UFMG sediou o II Fórum
Mundial de Dislexia (IIWDF), sob a
presidência da Professora Ângela Maria Vieira Pinheiro (professora titular
do Departamento de Psicologia/
FAFICH). O evento, cujo tema foi Políticas Públicas: abrindo canais para a
identificação precoce e para as melhores práticas de alfabetização, não
só primou pela excelência, mas teve
consequências muito importantes
para a história da formação de professores do ensino básico em Minas Gerais e possivelmente para o Brasil.
1. Professora, primeiramente, gostaria que a senhora traçasse um breve
histórico de sua atuação acadêmica/
profissional em relação à dislexia?
Ângela Pinheiro: Durante um dos
estágios que realizei em minha graduação em psicologia deparei-me, em
uma escola-clínica, com uma aluna
que apresentava uma profunda dificuldade na aprendizagem da leitura.
Na época, embora tivesse tentado
lidar com a dificuldade desta aluna,
não consegui levá-la a ter um progresso satisfatório na leitura. No entanto,
o caso desta aluna me marcou profundamente e, mais que isso, direcionou meus futuros estudos. Anos mais
OUT/14
tarde, tive a sorte de fazer o meu
mestrado na Universidade de Glasgow, em uma universidade de grande
prestígio na Escócia. Escolhi a área de
psicologia educacional. Durante essa
pós-graduação conheci a psicologia
cognitiva e logo me interessei pela
aquisição da linguagem escrita e seus
distúrbios. Na minha dissertação fiz
um levantamento sobre como a dislexia era conceituada e identificada
pelos psicólogos educacionais escoceses, assim como era o processo de
intervenção desta condição. Ao longo
deste trabalho me apaixonei por esse
assunto e resolvi retomá-lo de forma
mais profunda no meu doutorado.
Para entender o funcionamento da
cognição dos disléxicos, dediquei-me,
em primeiro lugar, ao estudo do desenvolvimento da linguagem em crianças típicas. A ideia era ter uma referência no português brasileiro para
entender as dificuldades dos disléxicos.
Recentemente, o meu trabalho mais
importante na área de dislexia foi a
coordenação da tradução e adaptação para o português brasileiro de
um curso para a formação de professores chamado “Online Learning –
Basics for Teachers, Dyslexia: Identification and What to do” (Pinheiro,
Scliar-Cabral, Goetry e Dyslexia International, 2012). O curso foi lançado em
francês e em inglês em 2010, pela Dyslexia International, no primeiro Fórum
Mundial de dislexia, em Paris, na sede
da UNESCO. No nosso idioma passou a
se chamar “Aprendizagem online – conhecimentos para professores, dislexia:
como identificar e o que fazer” e foi
implementado no site Dislexia Brasil
(www.dislexiabrasil.com.br), que pode
ser acessado sem nenhum custo. Um
dos focos do II Fórum Mundial foi a
apresentação dos primeiros resultados
do estudo desse site por palestrantes
de diferentes nacionalidades.
2. Quais as contribuições do II Fórum
Mundial de Dislexia (World Dyslexia
Forum) para a evolução do tratamento
com a dislexia?
Ângela Pinheiro: Em primeiro lugar, os
40 conferencistas e palestrantes do
evento (26 internacionais e 15 nacionais), juntamente com muitas autoridades brasileiras responsáveis por políticas públicas educacionais tiveram como
missão representar os interesses de
todas as crianças e adultos que se deparem com dificuldades para aprender a
ler e escrever. Esse grupo eminente
apresentou a pesquisa e prática atual
embasada em evidências científicas das
Sociedade Brasileira de Neuropsicologia - www.sbnpbrasil.com.br
14
BOLETIM
SBNp
ENTREVISTA
áreas de psicologia cognitiva, neurociência, psicolinguística e pedagogia.
Este encontro entre a ciência e a política representou um passo importante para a promoção de mudanças no
ensino da leitura, assim como avanços nos índices de alfabetização, que
são alarmantemente baixos no Brasil,
infelizmente. O evento contribuiu
para a discussão sobre: i) os Parâmetros Curriculares Nacionais sobre alfabetização, reconhecendo iniciativas
de formação de professores, como a
implementação do site Dislexia Brasil
e ii) os métodos de alfabetização de
orientação fônica, elaborados com
base em evidências de psicolinguística, psicologia cognitiva, neurociência
e da pedagogia. Com o Fórum conseguimos a abertura de novos horizontes no ensino da leitura e a obtenção
de insights valiosos e resultados positivos com efeitos duradouros para o
bem de cada novo aprendiz da leitura. Enfim, o IIWDF cumpriu o seu papel de divulgar o conhecimento científico mais atual sobre a dislexia.
3. Qual a importância da realização
deste evento no país, em especial na
(e para a) UFMG?
Ângela Pinheiro: O II Fórum Mundial
de Dislexia respondeu à demanda
nacional de melhoria da qualidade da
Educação Básica e de promoção da
inclusão. O evento foi uma grande
oportunidade para ouvir o que a ciência tem a dizer sobre a alfabetização,
tema muito mal compreendido e controverso no Brasil, cujo enfrentamento não pode ser mais adiado, visto o
mal desempenho de nossos alunos
em todas as avaliações nacionais e
internacionais. Como exemplo, em
2011, uma extensa avaliação do conhecimento realizada no Brasil demonstrou que apenas 56,1% das crianças com 8 anos de idade estavam
plenamente alfabetizadas, distanciando-se muito da meta de 80% (Todos
pela Educação, 2013). E na última
avaliação do PISA (programa que avalia a capacidade cognitiva dos estu-
OUT/14
dantes e o índice de alfabetização e
aprovação escolar) o Brasil está na
posição número 38 entre 40 países,
na frente apenas do México e da Indonésia.
Com a realização do evento, a UFMG
ganhou muita visibilidade e poderá
ser a sede de relações internacionais
muito importantes. Seguindo o modelo da Universidade de Londres que,
em parceria com a Dyslexia International, acaba de transformar o site que
deu origem ao “Dislexia Brasil” em
um Massive Open Online Course
(MOOC) –
www.coursera.org/course/
dyslexiaintro), a UFMG tem todos os
recursos para fazer o mesmo com o
Dislexia Brasil. De agora em diante
farei esforços para que isso realmente ocorra.
4. Como a senhora enxerga a forma
de a sociedade brasileira encarar e
lidar com a dislexia? A senhora ainda
vê muito preconceito e incompreensão com o tema e com as crianças
que sofrem com essa dificuldade?
Ângela Pinheiro: A sociedade brasileira lida ainda muito mal com dislexia na medida em que não luta por
políticas públicas que garantam a
inclusão e o ensino adequado dos
disléxicos. Infelizmente muitas das
crianças com essa condição, não são
identificadas e as que, porventura,
são, não recebem acompanhamento
adequado, por falta de conhecimento
dos professores sobre como ensinálas. Assim, os disléxicos, por não
aprenderem como é esperado e por
terem sua dificuldade mal compreendida, tendem a desenvolver baixa
autoestima e a se tornarem retraídos
e antissociais. As suas dificuldades de
leitura se tornam alvo de chacota na
sala de aula, e naturalmente, de bullying. O resultado de tudo isso pode
ser uma saída antecipada da escola e
envolvimento com drogas e com a
criminalidade (por exemplo, uma
pesquisa recente mostrou que, na
Inglaterra, cerca de 20% da popula-
ção carcerária era composta por disléxicos).
5. Os desafios da dislexia são maiores
para pais e professores. Como eles
devem lidar com as crianças no dia a
dia? Nossos educadores estão bem
preparados para isso?
Ângela Pinheiro: Geralmente a dislexia
é identificada no período de alfabetização. Diante da suspeita, a professora,
que precisa estar preparada para isso,
deve entrar em contato com a família
para que a criança passe por um diagnóstico formal, feito por especialistas.
Os pais precisam estar abertos a esta
possibilidade e conscientes de que a
sua criança necessita de acompanhamento adequado para desenvolver seu
potencial. É importante saber que a
dislexia não é uma doença, mas sim um
distúrbio da linguagem que afeta a
aprendizagem da leitura e da escrita, e
por isto demanda um ensino especial.
Uma vez diagnosticada, a rede de atendimento à pessoa com dislexia deve agir
em interação com a família e escola.
Infelizmente, nosso sistema educacional
não está preparado para isto.
6. Há algum dado estatístico hoje em
relação à dislexia no Brasil e no mundo?
Ângela Pinheiro: O comitê científico
Dyslexia International trabalha com o
percentual de 10% da população mundial com o transtorno, sendo que metade dessas pessoas possui a condição de
forma grave, o que dificulta ou até mesmo pode impedir a alfabetização.
7. O que a senhora pode adiantar dos
estudos e pesquisas que foram apresentados no evento? É possível eleger
um destaque dentre pesquisadores e
trabalhos neste Fórum?
Ângela Pinheiro: Sim! Entre os renomados pesquisadores que participaram do
Fórum, destaco o Stanislas Dehaene,
que acaba de receber o Brain Prize
2014, o principal prêmio europeu para
pesquisas sobre o cérebro, e o Mind &
Brain Prize 2014, da Universidade Politécnica de Torino, Itália. A conferência
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15
BOLETIM
SBNp
ENTREVISTA
dele foi sobre “Melhorando o Ensino
da Leitura: lições vindas da neurociência cognitiva”. Tivemos também a
brasileira Leonor Scliar-Cabral, autora
do Sistema Scliar de Alfabetização,
que falou sobre “Princípios para a
alfabetização nos sistemas alfabéticos”; o professor José Morais e Linda
Siegel enfocaram as consequências
dos fatores socioeconômicos na
aprendizagem da leitura e Hugh Catts
abordou os primeiros indicadores de
risco para a dislexia, as primeiras manifestações comportamentais da condição e os mecanismos de vulnerabilidade e de proteção que podem afetar
os desfechos, entre muitos outros.
Esses destaques e todas as outras
excelentes apresentações feitas no
Fórum podem ser encontrados no site
do evento que está completamente
atualizado com informações pósevento: http://dislexiabrasil.com.br/
wdforum2014/.
Os principais temas do Fórum foram o
desenvolvimento da linguagem oral,
prevenção e identificação precoce de
problemas da leitura e da escrita.
Práticas de alfabetização em diferentes países para crianças e adultos foram exploradas, com ênfase naqueles
com dislexia e no uso de tecnologia
como meio de facilitar o ensino.
dislexiabrasil.com.br fosse inserido
na formação continuada de professores nos seguintes programas do governo:
1. FORPROF-MG (Fórum Permanente
de Apoio à Formação Docente do
Estado
de
Minas
Gerais);
2. PIP (Programa de Intervenção Pedagógica)
e;
3. no Curso Normal de formação de
professores da Educação Infantil.
A secretária sugeriu também que o
link do Dislexia Brasil fosse disponibilizado no site da Escola Magistra,
órgão do governo responsável pela
formação continuada de professores.
Então, o Departamento de Psicologia
e a UFMG têm muito a comemorar.
Como presidente do IIWDF é com
muita satisfação e alegria que comunico a todos os grandes frutos obtidos pelo evento, que de fato, foi um
marco na história acadêmica e política da área.
8. Quais foram os impactos do Fórum?
Ângela Pinheiro: O Fórum encorajou
a utilização de Recursos Educacionais
Abertos (REA) e gerou uma DELIBERAÇÃO importante: uma petição sobre a
implementação do site Dislexia Brasil,
supracitado, na formação de professores nos cursos de pedagogia e na
formação continuada de professores.
Essa petição, www.avaaz.org/po/
petition/
PROPOSTA_PARA_A_SECRETARIA_ESTADUAL
_DA_EDUCACAO_Consolidacao_do_D
islexia_Brasil/?nMthYab foi acolhida
pela Secretária de Educação do Estado de Minas Gerais pela Profa. Ana
Lúcia Gazola, que deliberou que o site
OUT/14
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16
DOMÍNIOS COGNITIVOS:
HABILIDADES MOTORAS NA PARALISIA CEREBRAL
A
Lesões
neurológicas
instaladas ainda na infância resultam
DEISIANE OLIVEIRA SOUTO
malmente
em inúmeros comprometimentos no sistema
as
le-
nervoso, sendo a paralisia cerebral (PC) um
sões são provocadas
dos problemas mais comuns que acomete o
ao longo da gravidez,
encéfalo em desenvolvimento. Em países
du-
rante os trabalhos de parto ou
como o Brasil, postula-se que a cada 1.000
após o nascimento (SAKZEWSKI et al.,
crianças que nascem, sete são portadoras
2011). Os distúrbios motores da PC são fre-
de PC (PIOVESANA, 2002). Também co-
quentemente diferenciados e classificados de
nhecida como Encefalopatia Crônica, a PC
acordo com alguns critérios: pelo tipo de défi-
compreende um grupo heterogêneo de indi-
cit motor presente no tônus muscular, poden-
víduos que apresentam alterações neuro-
do ser do tipo atetóide, atáxico ou espástico;
motoras ocasionadas por uma lesão não
e pela topografia dos prejuízos motores, ou
progressiva que acomete o cérebro ainda
seja, localização das partes do corpo afeta-
imaturo (FONSECA, 2004). Trata-se de
das, que inclui a quadriplegia, diplegia e he-
uma lesão adquirida até os 5 primeiros anos
miplegia (FONSECA, 2004).
de vida e que causa prejuízo das habilida-
A criança com PC não apresentam
des motoras, resultando em incapacidade
apenas alterações sensório-motoras, podem
da criança em manter posturas e realizar
estar presentes outras alterações decorren-
movimentos normais (BAX, 2005).
tes da lesão neurológica como: déficit cogniti-
A PC pode ocorrer por qualquer con-
vo; convulsões; anormalidades da fala e lin-
dição que leve a uma anormalidade ou le-
guagem; alterações visoespaciais; distúrbios
são do cérebro em desenvolvimento. Nor-
da deglutição; comprometimentos perceptuais; distúrbios do comportamento, dentre ou-
OUT/14
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17
Domínios Cognitivos:Habilidades Motoras na Paralisia Cerebral
tros (SAKZEWSKI et al., 2011). Além disso,
crianças portadoras de distúrbios neuromoto-
as habilidades motoras geralmente estão
res, tais como os ocasionados pela PC
prejudicas devido à ausência do controle
(Nordmark, Hägglund e Jarnlo, 1997). A
completo dos músculos do corpo. Tais alte-
GMFM é um instrumento de observação pa-
rações interferem de forma significativa no
dronizado, elaborado e validado para medir
desempenho motor da criança, com conse-
mudança na função motora grossa que ocor-
quentes limitações funcionais (Bax et al.,
re ao longo do tempo nas crianças com PC
2005). Essas limitações variam desde graus
(LANE, 2000). Tal instrumento foi desenvolvi-
mais leves, até mais graves, com incapaci-
da por Russell e colaboradores em 1989, e
dade para andar, falar e dependência para
desde então tornou-se padrão para mensurar
atividades de vida diária.
mudanças nas habilidades motoras grossas
Embora a PC possa ocasionar altera-
de crianças com PC. Foi elaborado tanto pa-
ções musculoesquelético previsíveis, as ma-
ra avaliar uma função motora grossa, no sen-
nifestações funcionais devem ser avaliadas
tido de identificar habilidades motoras atuais,
individualmente, uma vez que o desempe-
quanto para quantificar alterações nessa fun-
nho funcional sofre influência não apenas
ção ao longo do tempo.
das propriedades intrínsecas da criança,
A primeira versão do GMFM foi apli-
mas também pela demanda da tarefa e pe-
cado em 111 pacientes com PC e foi com-
las características do ambiente no qual a cri-
posta por 85 itens baseados em uma revisão
ança esta inserida (STEENBERGEN et al.,
de literatura e em opiniões de clínicos
2009). Além disso, a classificação do com-
(RUSSELL et al, 2000). Cada item foi mensu-
prometimento da disfunção motora de uma
rado pela observação das crianças e classifi-
criança com PC é dificultada pela heteroge-
cado em uma escala ordinal de 4 pontos,
neidade do quadro clínico, sendo esse um
sendo que: 0 = não faz; 1 = inicia < 10% da
desafio para os profissionais da reabilitação
atividade; 2 = completa parcialmente 10% a
que trabalham com medidas baseadas no
<100% da atividade; 3 = completa a atividade
seu desempenho funcional. Existem diver-
(RUSSELL et al, 1989). Os itens da GMFM
sos métodos de avaliação das habilidades
foram agrupados em 5 dimensões, sendo:
motoras na PC, cabe a cada profissional es-
deitado e rolando; sentado; engatinhando e
colher o melhor instrumento para aplicação.
ajoelhando; em pé; andando, correndo e pu-
A medida de função motora grossa
lando. O resultado para cada dimensão foi
(GMFM) é um exemplo de instrumento usa-
expresso como uma percentagem do escore
do para avaliar a função motora grossa de
máximo para aquela dimensão. Assim, um
OUT/14
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18
Domínios Cognitivos:Habilidades Motoras na Paralisia
Cerebral
escore total foi obtido pela soma dos resulta-
dos de todas as dimensões e dividindo por 5
(RUSSELL et al, 1989). Após a criação da
versão inicial, duas novas atualizações da
GMFM com 88 e 66 itens também foram desenvolvidadas e vem sendo bastante utilizadas e validadas para avaliação de crianças
com PC.
Diante da heterogeneidade nos tipos,
tempo de instalação e extensão das lesões
cerebrais que levam à PC, percebe-se a necessidade de se utilizarem instrumentos de
avaliação que demonstram o quanto a mobilidade é determinante para o desempenho
funcional
das
habilidades
motoras
(Nordmark, Hägglund e Jarnlo, 1997). Com
essas informações, é possível orientar a prática terapêutica no sentido de planejar a forma de intervenção mais efetiva para os paci-
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123:e1111–1122, 2009.
STEENBERGEN, B. et al. Motor imagery training in
hemiplegic cerebral palsy: a potentially useful
therapeutic tool for rehabilitation. Developmental Medicine & Child Neurology, 51: 690–
696, 2009.
entes a fim de desenvolver as potencialidades dos mesmos. Dessa forma, sugere-se a
utilização frequente de medidas funcionais
como o GMFM, a fim de aumentar os detalhes e a uniformidade com os quais essas
crianças são caracterizadas. O GMFM é capaz de medir mudanças longitudinais, auxilia
na definição de objetivos terapêuticos e proporciona informações sobre a evolução do
processo de reabilitação. É uma ferramenta
simples, porém, essencial, pois permite a
detecção exata da função motora da criança.
REFERÊNCIAS
BAX, M. et al. Proposed definition and classification of cerebral palsy, April 2005. Dev Med Child
Neurol, v. 47, n. 8, p. 571-576, Aug. 2005.
OUT/14
Deisiane Oliveira Souto
Possui graduação em Fisioterapia pela Pontifícia
Universidade Católica de Minas Gerais (2013). Atualmente é Mestranda pelo Programa de PósGraduação em Neurociências da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Pesquisadora do Laboratório de Neuropsicologia do Desenvolvimento
(LND-UFMG). Integrante do grupo de pesquisa sobre Representação do Corpo em Crianças com Paralisia Cerebral, desenvolvido no LND. Tem interesses em pesquisas que abordam a representação corporal e reabilitação de crianças com Paralisia Cerebral, neuroplasticidade, neuropsicologia do desenvolvimento e genética.
Responsável pelo convite
ISABELLA STARLING-ALVES
Sociedade Brasileira de Neuropsicologia - www.sbnpbrasil.com.br
19
INTERNACIONAL
NEUROPSICOLOGIA
AO REDOR DO MUNDO
O PSYCHOPHARMACOLOGY LABORATORY
Pós-doutorando na Tufts University, nos Estados Unidos. Possui graduação em
Ciências Biológicas pela Universidade de São Paulo, mestrado em Psicobiologia pela Universidade de São Paulo, doutorado em Psicobiologia pela Universidade de São Paulo e pós-doutorado pela Faculdade de Filosofia, Ciências e
Letras de Ribeirão Preto – Universidade de São Paulo. Tem experiência nas
áreas de Farmacologia e Comportamento Animal, com ênfase em Modelos
animais de medo e ansiedade, Estresse e Consumo de drogas.
POR LUCAS ALBRECHET-SOUZA
O Psychopharmacology Laboratory encontra
Um dos desafios atuais da pesquisa sobre
-se no campus da Tufts University localizado em
dependência de substâncias psicoativas é a identifi-
Medford, uma das cidades que compõem a Grande
cação e caracterização dos fatores responsáveis pe-
Boston, no estado de Massachusetts, Estados Uni-
la transição do uso controlado ao uso abusivo.
dos. Esse laboratório de pesquisas pré-clínicas é li-
Além das diferenças genéticas e de características
derado pelo professor Dr. Klaus A. Miczek, um dos
associadas à própria droga, fatores ambientais e
pioneiros no estudo de agressão e estresse social em
sociais parecem contribuir de maneira decisiva para
animais de laboratório. No fim dos anos 70, o pro-
o desenvolvimento das dependências químicas.
fessor Miczek propôs um modelo no qual ratos ma-
Nesse sentido, o Psychopharmacology Laboratory
chos eram expostos de maneira sistemática a sessões
atua na investigação dos mecanismos neurológicos
de subordinação social por um macho agressivo
associados ao estresse social, ansiedade e agressivi-
(Miczek, 1979). Esse tipo de estresse social produz
dade, que podem levar ao consumo abusivo de ál-
uma série de alterações moleculares, fisiológicas e
cool e cocaína.
comportamentais.
O efeito reforçador positivo, ou seja, a sensação de prazer produzida pelas drogas psicoativas
decorre da ativação de um substrato neurobiológico
conhecido como sistema dopaminérgico mesocorticolímbico, composto pela área tegmental ventral
(região onde se localizam os corpos celulares de
neurônios que contém o neurotransmissor dopamiFigura 1: Estresse por subordinação social em ratos.
OUT/14
Sociedade Brasileira de Neuropsicologia - www.sbnpbrasil.com.br
20
na) e áreas de projeção do sistema límbico, como o
(Norman et al., 2014). Mecanismos que envolvem
núcleo accumbens e o córtex pré-frontal. Estudos
o CRF, assim como seus receptores e uma proteína-
realizados nesse e em outros laboratórios demonstra-
ligante, estão sendo investigados e parecem apre-
ram que o estresse social é capaz de promover alte-
sentar um papel modulatório importante no consu-
rações duradouras nessas vias de recompensa, de
mo de álcool, assim como na motivação em obter a
maneira a promover uma maior liberação de dopa-
droga.
mina no núcleo accumbens e aumentar assim o efeito reforçador das drogas.
O consumo abusivo de substâncias psicoativas vem crescendo de maneira inquietante em todo
O fator de liberação de corticotrofina (CRF),
o mundo e está associado a uma série de complica-
um peptídeo constituído por uma cadeia simples de
ções diretas e indiretas. A caracterização dos meca-
41 aminoácidos, é classicamente conhecido por re-
nismos subjacentes às alterações moleculares, fisio-
gular a atividade do eixo hipotálamo-pituitária-
lógicas e comportamentais que ocorrem em respos-
adrenal durante situações ameaçadoras e parece tam-
ta ao estresse social é de grande relevância para o
bém ser um elemento chave na interação entre o es-
delineamento das bases biológicas dos transtornos
tresse social e a vulnerabilidade ao uso abusivo de
psiquiátricos, incluindo as dependências químicas,
substâncias psicoativas. Por meio de estratégias
e pode constituir-se em uma ferramenta importante
comportamentais, fisiológicas e neurofarmacológi-
no desenvolvimento de medidas para a prevenção e
cas, o Psychopharmacology Laboratory vem investi-
o tratamento dessas doenças. Para saber mais sobre
gando a participação do CRF e sua interação com
as linhas de pesquisa e publicações do Psychophar-
outros neurotransmissores nas alterações do sistema
macology
nervoso central induzidas pelo estresse.
sackler.tufts.edu/Faculty-and-Research/Faculty-
Em um estudo publicado recentemente, nós
Laboratory,
acesse
o
site:
http://
Profiles/Klaus-Miczek-Profile.
demonstramos que a exposição ao estresse social
promove sensibilização das vias de recompensa e
REFERÊNCIAS
um aumento significativo na auto-administração de
cocaína em ratos. No entanto, o bloqueio farmacológico de receptores de CRF localizados na área tegmental ventral antes das sessões de derrota social foi
capaz de bloquear esses efeitos do estresse (Boyson
et al., 2014). De maneira parecida, camundongos
expostos ao estresse social moderado – em comparação com animais expostos ao estresse social leve –
apresentaram um aumento no consumo voluntário
de álcool, quando este foi apresentado de maneira
contínua (diariamente, 24 horas por dia) ou intermitente (três dias por semana, 24 horas por dia)
OUT/14
Boyson, C. O., Holly, E. N., Shimamoto, A., AlbrechetSouza, L., Weiner, L. A., Debold, J. F. & Miczek, K.
A. (2014) Social stress and CRF-dopamine interactions in the VTA: role in long-term escalation of
cocaine self-administration. Journal of Neuroscience
34, 6659‒6667.
Miczek, K. A. (1979) A new test for aggression in rats
without aversive stimulation: differential effects of d
-amphetamine and cocaine. Psychopharmacology
(Berlin) 60, 253–259.
Norman, K. J., Seiden, J. A., Klickstein, J. A., Han, X., Hwa,
L. S., Debold, J. F. & Miczek, K. A. (2014) Social
Stress and Escalated Drug Self-Administration in
Mice I. Alcohol and Corticosterone. Psychopharmacology (Berlin) (aceito para publicação).
Responsável pelo convite
MORGANA SCHEFFER
Sociedade Brasileira de Neuropsicologia - www.sbnpbrasil.com.br
21
BOLETIM
SBNp
RELATO DE PESQUISA
Avaliação da expressão gênica de receptores dopaminérgicos, glutamatérgicos e da enzima sintase de óxido nítrico em um modelo animal de esquizofrenia
por Oderci Messias de Lima Filho
A esquizofrenia é um transtorno complexo
que permanece pouco compreendido e que parece envolver diversos sistemas de neurotransmissores. Dentre eles, os sistemas dopaminérgicos
(dopamina - DA) glutamatérgicos, em particular a
redução da sinalização do receptor de glutamato
(GLU) subtipo N-methyl-D-aspartato (NMDA), são
ODERCI MESSIAS DE LIMA FILHO | ESTUDANTE DE GRADUAÇÃO NA UNIVERSIDADE FEDERAL DO
AÇÃO
VALE DO SÃO FRANCISCO. CURSA MEDICINA E FAZ INICI-
CIENTIFICA EM NEUROCIÊNCIAS
mostrados como alguns dos responsáveis pela
fisiopatologia da doença (Coyle, 2006; Krystal et
ção na distribuição desta molécula e de seus meta-
ai, 1994,. Lahti et ai, 1995;. Stone et al, 2007).
bólitos em cérebros de esquizofrênicos (Ramirez et
Os pacientes esquizofrênicos apresentam
al., 2004). O NO está diretamente ligado às neuro-
elevada síntese de DA pré-sináptica, liberação de
transmissões de DA e GLU. A ativação de NOS ou
DA, e aumento da quantidade de receptores de
doadores de NO promovem aumento da liberação e
dopamina D2/3 (Laruelle, 1998). Também é ob-
inibição da recaptação de DA (Zhu e Luo, 1992; Sa-
servado que a síntese e liberação de DA são ele-
lum et al., 2008, 2013).
vadas em indivíduos com maior probabilidade pa-
Recentes avaliações do genoma de pacien-
ra a esquizofrenia e em estado prodrômico
tes esquizofrênicos por meio de análise genômica
(Howes et al., 2009). Tais considerações fortale-
comparativa de hibridização revelaram que varian-
cem a hipótese do envolvimento destes neuro-
tes estruturais raras interromperam múltiplos ge-
transmissores na arquitetura que compõe o de-
nes em vias de neurodesenvolvimento que envol-
senvolvimento
vem profundamente o NO, implicando a sinalização
da
esquizofrenia
(Meyer-
Lindenberg, 2010).
deste neurotransmissor na esquizofrenia. (Walsh et
Nos últimos anos, o neurotransmissor atípico óxido nítrico (NO) tem sido relacionado a es-
al., 2008).
A administração do antimitótico metilazoxi-
ta patologia através de evidências de uma alteraOUT/14
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22
metanol (MAM) no dia 17 de gestação em ratas
cos e da enzima NOS dos ratos MAM. Serão avalia-
promove na prole várias alterações cerebrais es-
das a expressão gênica de receptores NMDA
truturais, neuroquímicas e comportamentais que
(subunidades NR1 e NR2), dos receptores DRD1
se assemelham à esquizofrenia (Moore et al,
(D1) e DRD2 (D2) de DA e das enzimas NO sintase
2006;. Lodge e Grace, 2009). Dentre as alterações
(NOS) (NOSi e NOSn) em ratos tratados com o
observadas estão a hiperatividade de neurônios
MAM.
do hipocampo, levando à aumento na liberação e
Os encéfalos serão dissecados para obten-
disparos dopaminérgicos, cuja causa tem sido
ção de regiões do CPF, estriado, hipocampo e me-
atribuída à redução de interneurônios gabaérgi-
sencéfalo, dois quais serão feitas extração do RNA.
cos que expressam parvalbumina (Lodge e Grace,
A extração do RNA total será realizada pelo método
2009, Hradetzky et al, 2012, Penschuck et al,
do TRIzol®, seguindo as instruções do fabricante
2006). A administração MAM no 17º dia gestacio-
(Invitrogen, Carlsbad, Califórnia, EUA). A seguir, efe-
nal parece ter um grande impacto nas estruturas
tuaremos o protocolo padrão de transcrição rever-
em desenvolvimento neste período, em particular
sa, utilizando a enzima MMLV ou SuperScript III
o desenvolvimento do hipocampo (Grace and Mo-
(Invitrogen). Para os estudos de quantificação de
ore, 1998), que estão morfologicamente alteradas
expressão gênica realizaremos experimentos utili-
na esquizofrenia.
zando o PCR em tempo real (Rotor Gene 6000, Cor-
Especificamente, algumas das alterações
bett, Valencia, Califórnia, EUA) em colaboração com
verificadas sob o tratamento MAM que se asse-
o Prof. Alexandre Kihara da Universidade Federal do
melham à patologia da esquizofrenia são a redu-
ABC. Neste sistema, a amplificação da sequência
ção na espessura do córtex pré-frontal (CPF) me-
alvo é detectada em tempo real pela emissão de
dial, no hipocampo e córtex para-hipocampal.
fluoróforo, que ocorre quando há formação de du-
Apesar destas alterações não se verifica redução
pla fita na região codificada pelo par de iniciadores
no número de neurônios do neocórtex (Moore et
(primers). A quantificação da amplificação é feita
al., 2006). Além das evidências comportamentais,
pela fluorescência captada pela unidade óptica do
ratos tratados com MAM apresentam um aumen-
aparelho. Pelas características do sistema, no PCR
to na atividade basal de populações de neurônios
Real-Time é possível determinar todo perfil de am-
dopaminérgicos da área tegmental ventral (VTA).
plificação, o que representa uma de suas vantagens
Neste contexto, é importante que os padrões de
metodológicas (Kihara et al., 2005; Schmittgen et
metilação produzidos pelo MAM no GD17 e os
al., 2000).
genes mais afetados sejam caracterizados.
Com base no que foi exposto, a pesquisa
tem como objetivo principal avaliar expressão gê-
REFERÊNCIAS
Coyle JT. 2006. Glutamate and schizophrenia: Be-
nica de receptores dopaminérgicos, glutamatérgiOUT/14
Sociedade Brasileira de Neuropsicologia - www.sbnpbrasil.com.br
23
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oxide) on endogenous dopamine release
from rat striatal slices. Journal of Neurochemistry 59:932-935.
Responsável pelo convite
INDA LAGE
Sociedade Brasileira de Neuropsicologia - www.sbnpbrasil.com.br
24
Presidente: Leandro Fernandes Malloy-Diniz (UFMG)
Vice-Presidente: Neander Abreu (UFBA)
Conselho Deliberativo:
Gabriel Coutinho (I'Dor - RJ)
Jerusa Fumagali de Salles (UFRGS)
Lucia Iracema Mendonça (PUC-SP e USP)
Vitor Haase (UFMG)
Presidente: Laiss Bertola (UFMG)
Conselho Fiscal:
Vice-Presidente: Annelise Júlio-Costa (UFMG)
Breno S. O. Diniz (UFMG)
Conselho Deliberativo:
Daniel Fuentes (USP)
Andréa Matos Oliveira Tourinho (IFBA)
Rodrigo Grassi Oliveira (PUC-RS)
Breno S. Vieira (PUC-RS)
Secretária Executiva: Carina Chaubet D'Aucante
Alvim
Secretaria Geral: Thiago Rivero (UNIFESP)
Emanuel Henrique Gonçalves Querino (UFMG)
Jaqueline de Carvalho Rodrigues (UFRGS)
Sabrina de Sousa Magalhães (UFMG)
Conselho Fiscal:
Natália Betker (UFRGS)
Ana Luiza Cosa Alves (UFMG)
Tesouraria Executiva: Eliane Fazion dos Santos
Tesouraria Geral: Deborah Azambuja.
Thaís Quaranta (USP)
Chrissie Ferreira de Carvalho (UFBA)
Secretário-Geral: Gustavo Marcelino Siquara
(UNEB)
Representantes regionais:
Secretário-Executivo: Bruno Schiavon (PUC-RS)
Acre: Lafaiete Moreira
Piauí: Inda Lages
Alagoas: Katiúscia Karine Martins da Silva
Rio de Janeiro: Flávia Miele
Secretário-Geral: Gustavo Marcelino Siquara
(UFBA)
Rio Grande do Norte: Katie
Almondes
Tesoureiro-Executivo: Alina Lebreiro G. Teldeschi
(CNA-I'Dor )
Rio Grande do Sul: Rochele Paz
Fonseca
Tesoureiro-Geral: Thiago da Silva Gusmão Cardoso (UNIFESP)
Rondônia: Kaline Prata
Setor de Marketing e Comunicação:
Centro Oeste: Leonardo Caixeta
Santa Catarina: Rachel Schlindwein-Zanini.
Andressa Antunes (UFMG)
DF: Danilo Assis Pereira
Sergipe: Ana Cláudia Viana
Silveira
Amazonas: Rockson Pessoa
Bahia: Tuti Cabuçu
Ceará: Silviane Pinheiro de Andrade
Minas Gerais: Jonas Jardim de
Paula e Annelise Júlio-Costa
Paraíba: Bernardino Calvo
Isabella Sallum (UFMG)
Adriana Binsfeld Hess (UFRGS)
Isabella Starling (UFMG)
Inda Lages (UFABC)
Morgana Scheffer (UFRGS)
Revisão: Isabela Sallum (UFMG)
OUT/14
Editoração: Andressa Antunes (UFMG)
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