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BOLETIM DA GESTÃO 2013-2015 | EDIÇÃO OUTUBRO DE 2014 OUT/14 Sociedade Brasileira de Neuropsicologia - www.sbnpbrasil.com.br 1 04 OBITUÁRIO A NEUROPSICOLOGIA COGNITIVA DO DESENVOLVIMENTO FICOU ÓRFÃ 09 TEXTO INICIAL TDAH E O USO TERAPÊUTICO DE NEUROFEEDBACK 15 ENTREVISTA SOBRE O II FÓRUM MUNDIAL DE DISLEXIA 18 DOMÍNIOS COGNITIVOS HABILIDADES MOTORAS NA PARALISIA CEREBRAL 21 INTERNACIONAL O PSYCHOPHARMACOLOGY LABOR ATORY 24 RELATO DE PESQUISA AVALIAÇÃO DA EXPRESSÃO GÊNICA DE RECEPTORES DOPAMINÉRGICOS, GLUTAMATÉRGICOS E DA ENZIMA SINTASE DE ÓXIDO NÍTRICO EM UM MODELO ANIMAL DE ESQUIZOFRENIA OUT/14 Sociedade Brasileira de Neuropsicologia - www.sbnpbrasil.com.br 2 OUT/14 Sociedade Brasileira de Neuropsicologia - www.sbnpbrasil.com.br 3 BOLETIM SBNp OBITUÁRIO A NEUROPSICOLOGIA COGNITIVA DO DESENVOLVIMENTO FICOU ÓRFÃ VITOR GERALDI HAASE F aleceu no dia 22 de outubro de 2014 a Profa. Christine Temple da University of Essex (http:// www.essex.ac.uk/psychology/ staff/profile.aspx?ID=2442). A Profa. Temple foi a pioneira da neuropsicologia cognitiva do desenvolvimento. Ou seja, da aplica- ção de modelos cognitivos (principalmente de processamento de informação) ao estudo quaseexperimental de casos em crianças e jovens com lesões cerebrais e transtornos do desenvolvimento. A neuropsicologia cognitiva é um ramo da psicologia experimental que se utiliza de evidências do desempenho de pacientes neuropsicológicos com o intuito de testar OUT/14 modelos da arquitetura cogniti- experimentais de caso, utilizando- va geral. (Shallicce & Cooper, se de tarefas experimentais especi- 2011). A versão do desenvolvi- almente delineadas para testar o mento da neuropsicologia cog- modelo selecionado, e de estatísti- nitiva procura fazer a mesma cas apropriadas para pequenas coisa, utilizando, porém, os amostras transtornos do desenvolvimento homepages.abdn.ac.uk/j.crawford/ e as lesões cerebrais adquiridas pages/dept/ na infância como fontes de evi- SingleCaseMethodology.htm). (http:// dência (Temple, 1997b). O objetivo é construir modelos da Padrões complementares de com- arquitetura cognitiva humana, prometimento - nos quais p. ex., o identificando os principais tipos paciente A tem a função A’ com- de processos e representações prometida e a função B’ preserva- mentais. da, enquanto o paciente B tem a função B’ comprometida e a fun- A partir da identificação de ca- ção A’ preservada - constituem sos puros, nos quais haja com- duplas dissociações. Um exemplo prometimento isolado de um de dupla dissociação é o compro- processo psicológico determi- metimento da memória episódica nado, são utilizados modelos após lesões bilaterais do córtex cognitivos com o intuito de in- temporal medial com memória de terpretar e testar os padrões de curto prazo normal, contrastando funções comprometidas e pre- com o déficit na memória de curto servadas. Isto é geralmente rea- prazo verbal com memória episó- lizado através de estudos quase- dica normal após lesões do giro Sociedade Brasileira de Neuropsicologia - www.sbnpbrasil.com.br 4 angular esquerdo. As duplas dis- zem respeito à aplicação dos descobriu um padrão de leitura se- sociações são interpretadas como modelos de processamento de melhante ao que é observado na evidência para a organização mo- informação às discalculias do dislexia profunda (Temple, 2003). dular dos processos psicológicos desenvolvimento e às síndro- A dislexia profunda se caracteriza no cérebro-mente. A validação das mes genéticas. Usando o mode- por um padrão complexo de erros duplas dissociações é realizada de lo da cognição numérica de rota na leitura de palavras isoladas, su- forma convergente com evidências semântica única de McCloskey, gerindo disfunções tanto da rota obtidas através de outros métodos, Carammazza e Basili (1985), a fonológica (dificuldade com a lei- tais como neuroimagem funcional Profa. Temple descobriu que tura de pseudopalavras) quanto da ou existem crianças cuja discalcu- rota lexical-semãntica (paralexias lia compromete seletivamente semânticas, dificuldades com a os fatos aritméticos enquanto leitura de palavras abstratas etc.). Na década de 1980 Christine outras apresentam dificuldades A dislexia profunda sempre resis- Temple foi aluna em Oxford de seletivas nos procedimentos de tiu a uma interpretação mais sim- John C. Marshall (1939–2007) e cálculo (Temple, 1991). Adici- plista em termos de correlações Freda Newcombe (1925–2001), os onalmente ela descreveu tam- estrutura-função diretas. Os mode- fundadores, junto com Elizabeth bém uma criança com dislexia los contemporâneos sugerem que a Warrington e para numerais arábicos (1989), dislexia profunda pode resultar de neuropsicologia cognitiva. Que eu constituindo dupla- efeitos interativos dinâmicos de saiba ela foi a primeira pesquisa- dissociação com uma caso de disfunções na rede neural da leitu- dora a utilizar de forma sistemáti- déficit no ditado de numerais ra (Shallice & Cooper, 2011). A ca a abordagem da neuropsicolo- arábicos previamente publicado caracterização do perfil de leitura gia cognitiva para analisar os (Sullivan et al., 1996). Essas na síndrome de Williams como transtornos neuropsicológicos de observações sustentam a hipó- uma dislexia profunda em conjun- crianças e jovens. A Profa. Tem- tese de que, mesmo em crian- to com o conhecimento dos pa- ple foi uma das primeiras pesqui- ças, o sistema da cognição nu- drões de comprometimento anatô- sadoras a demonstrar que o mode- mérica pode ser fraccionado em mico nesta doença podem assim lo de dupla rota da leitura e os módulos distintos para o cálcu- ajudar a entender melhor as corre- subtipos de dislexia adquirida de lo (procedimentos vs. fatos) e lações anátomo-clinicas deste tipo adultos também podiam ser utili- processamento de dificuldade de leitura. zados para caracterizar as dislexi- (compreensão e produção de as do desenvolvimento (Temple, numerais arábicos). modelos computacionais (Shallice & Cooper, 2011). Tim Shallice, da uma numérico Eu sempre admirei a coragem com a qual a Profa. Temple dissecava 2006). Um exemplo de aplicação às os padrões de funções cognitivas Entretanto, os aspectos que mais síndromes genéticas é a síndro- comprometidas e preservadas em me interessam no seu trabalho di- me de Williams, na qual ela casos de transtornos do desenvol- OUT/14 Sociedade Brasileira de Neuropsicologia - www.sbnpbrasil.com.br 5 vimento usando as ferramentas da cestral, se restringem às propri- principais evidências são 1) as se- neuropsicologia cognitiva. É um edades neuroquímicas e biofísi- melhanças entre os quadros neu- programa de pesquisa extrema- cas dos neurônios. Todo o resto ropsicológicos de adultos e crian- mente original e iluminador da é o resultado de um processo ças (Temple, 2003), 2) a possibili- natureza das dificuldades apresen- dinâmico de interação com am- dade de fraccionamento dos défi- tadas por crianças com dislexia, biente, ou seja aprendizagem. cits observados em crianças nas mesmas linhas evidenciadas em discalculia, TDAH etc. Segundo a perspectiva neuro- adultos (Sullivanet al., 1996, Tem- Por que falo em coragem? Por que construtivista ple, 1989, 1991) e 3) os limites à é preciso coragem para remar con- modular do cérebro, a qual ex- reorganização tra a corrente. A ciência cognitiva plica os déficits focais e as du- cérebro infantil após lesões adqui- também é caracterizada por modas plas-dissociações observada em ridas, sugerindo uma continuidade que vêm e vão. As modas teóricas adultos, é apenas o resultado de de organização anátomo-funcional vêm e vão independentemente da um longo processo dinâmico de do cérebro ao longo do ciclo vital sua validade científica (Meehl, desenvolvimento. Os módulos (Anderson et al., 2009, Chilosi et 1978). É preciso, portanto, muita evidenciados no cérebro do al., 2008, Daigneault & Brau, coragem para resistir aos modis- adulto não passam de atratores, 2004, Drummond & Dutton, 2007, mos, paciência para refutar as ob- ou seja, de pontos de equilíbrio Duchaine et al., 2009, Gillen & servações infundadas ou preconce- energético para os quais con- Dutton, 2003, Lê et al., 2002, bidas dos revisores dos artigos e, verge a atividade cerebral sob Trauner, 2003). Os comprometi- sobretudo, evidências muito con- influência aprendizagem. mentos neuropsicológicos clássi- vincentes que consigam resistir à Assim sendo, não faz sentido cos observados em crianças de- barreira de objeções colocadas à procurar duplas monstram que, ao contrário do que publicação. dissociações em crianças uma presume a perspectiva neurocons- vez que a organização cerebral trutivista, as possibilidades de re- A corrente dominante atual em da criança é radicalmente dis- organização do sistema cognitivo neuropsicologia do desenvolvi- tinta daquela do adulto, e uma são limitadas e este pode ser disse- mento é o neuroconstrutivismo vez que o sistema se caracteriza cado nas mesmas linhas mestras (Thomas por uma dinâmica evolutiva que caracterizam a cognição adul- muito intensa. ta. Segundo essa perspectiva os & Karmiloff-Smith, 2002). O neuroconstrutivismo par- da a organização caracterizar neuroplástica do efeitos de reorganização plástica te da hipótese de uma tabula rasa. Ou seja, de que o cérebro da crian- Os argumentos e evidências constituem uma espécie de ruído ça é indiferenciado por ocasião do que sustentam a neuropsicolo- que muitas vezes distorce as corre- nascimento. Os mecanismos ina- gia cognitiva do desenvolvi- lações estrutura-função na faixa tos, transmitidos de uma geração mento são inúmeros (Temple & pediátrica. para outra através da herança an- Clahsen, 2002). Algumas das OUT/14 Sociedade Brasileira de Neuropsicologia - www.sbnpbrasil.com.br 6 Recentemente os padrões de co- ma de pesquisa desenvolvido ouvi-la mais. A não ser em vídeo nectividade e ativação do cérebro no Laboratório de Neuropsico- (http://hireintelligenceuk.com/ em repouso através da análise de logia speaker/31). gráficos vêm contribuindo para (LND-UFMG) nos últimos 15 caracterizar as redes neurais subja- anos. Além de mostrar que é centes aos diversos processos psi- possível interpretar os quadros cológicos ao longo do ciclo vital. clínicos dos transtornos do de- Estudos de neuroimagem funcio- senvolvimento em termos de nal usando a técnica de conectivi- modelos de processamento de dade funcional mostram que o pa- informação, no livro ela funda- drão de conexão para as principais menta estas hipóteses com base redes funcionais descobertas pelos em neuropsicólogos é tão forte que experimentais de casos. Apesar pode ser identificado no adulto de ser um livro antigo, ele está mesmo em repouso (Meunier et disponível e eu recomendo for- al., 2010). As pesquisas sobre co- temente sua leitura aos interes- nectividade sados em neuropsicologia do funcional mostram também que as principais redes do seus Desenvolvimento estudos quase- desenvolvimento. funcionais desvendadas pelos neuropsícólogos já estão ativas desde Eu sempre fui um fã do traba- o nascimento (Power et al., 2010). lho da Profa. Temple, e vivia Ou seja, o cérebro humano não é perturbando sua paciência, pe- uma tábula rasa ao nascimento, dindo reprints de artigos anti- mas sim, uma estrutura complexa, gos ou não-disponíveis nos Pe- modularmente hierarquizada, mas riódicos CAPES. Há uns meses que também suporta processamen- atrás eu lhe escrevi, convidando to paralelo e se adapta de forma -a para vir ao XIII Congresso plástica e dinâmica em função da Brasileiro da SBNp de 20 a 22 experiência. de novembro de 2014 em Belo Horizonte. Ela me respondeu A Profa. Christine Temple escre- de forma extremamente gentil e veu um clássico da neuropsicolo- falou que não poderia vir por- gia cognitiva do desenvolvimento, que estava com câncer de estô- o “Developmental Cognitive Neu- mago, mas que assim que se ropsychology” (Temple, 1997a). recuperasse, aceitaria o convite. Este livro inspirou todo o progra- Infelizmente não vamos poder OUT/14 REFERÊNCIAS Anderson, S. W., Wisnowski, J. L., Barrash, J., Damasio, H. & Tranel, D. 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Entre- ões pré-frontais, sobretudo ao representa uma das principais tanto, é comum que estas cri- córtex pré-frontal lateral, onde causas de procura para atendi- anças apresentem problemas encontramos a maior parte das mento em centros de saúde men- de aprendizagem ou de com- anormalidades estruturais e da tal e neurologia especializados em portamento, como, por exem- hipoativação cerebral relaciona- crianças e adolescentes. Estima-se plo, dificuldades na percepção, das às funções cognitivas, tais co- que entre 3 a 6% das crianças em na conceitualização, na lingua- mo: habilidade para inibir pensa- idade escolar apresentem este gem, na memória, no controle mentos e respostas indesejadas, transtorno da atenção, na função motora controle executivo da atenção, 2003), cujas principais caracterís- e, impulsividade avaliação das recompensas da ticas são a desatenção, a hiperati- (TAYLOR, 2011). Neste sentido, ação, controle motor preciso e vidade e a impulsividade. Como Goldstein e Goldstein (2006) adequado àquela ação e memória essas características afetam dire- demonstraram que crianças operacional (SHAW et al., 2007; tamente o comportamento da portadoras de TDAH são mais DOPHEIDE & PLISKA, 2009; MCLA- criança, é possível observarmos propensas a desenvolverem UGHLIN et al., 2010). Estudos re- dificuldades no seu desempenho distúrbios sociais, emocionais e centes mostram que indivíduos acadêmico, nos relacionamentos comportamentais e a manifes- com TDAH, quando comparados a familiares e sociais e no ajusta- tarem mais problemas escola- indivíduos sem o transtorno, apre- mento res que aquelas que não apre- sentam maior lentidão e menor sentam tal transtorno. atenção para a realização tarefa (FARAONE psicossocial et e al., motor (ROHDE, 2011; AYCICEGI-DINN et al., 2011; PIMENTEL et al., 2011; SONTAG et al., 2011). Um dos aspectos a ser TDAH mostram, em geral, uma de natureza estimulo-resposta, indivíduos isto provavelmente por conta da com TDAH é o atraso na matu- perda progressiva de atenção sus- considerado Na escola, as crianças com OUT/14 ainda, nos tentada (WANG et al., 2013). Al- Sociedade Brasileira de Neuropsicologia - www.sbnpbrasil.com.br 9 guns estudiosos relacionam tais A partir do final da dé- modificar os padrões neuroló- problemas ao acometimento cada de 70, muitos estudos fo- gicos alterados que interferem do córtex pré-frontal e parietal, ram realizados com o objetivo no funcionamento adequado no giro cingulado e, ainda, do de investigar os efeitos do trei- do cérebro (ARNS et al., 2013). cerebelo, dos núcleos da base e namento de Diversos estudos (LEINS de outros circuitos associados, TDAH, como desatenção, hipe- et al., 2012; BAKHSHAYESH et o que pode estar relacionado ratividade e impulsividade. Es- al., 2011; DURIC et al., 2012; com alterações do controle ini- ses estudos demonstram os VAN DONGEN-BOOMSMA et al, bitório, da memória operacio- efeitos positivos do NFB no 2013; STEINER et al. 2014; nal e do tempo de reação funcionamento comportamen- MAURIZIO et al., 2014; GE- (BUSH et al., 2005; SEIDMAN et tal e cognitivo como um trata- VENSLEBEN et al., 2014; STEI- al., 2006; MAKRIS et al., 2007; mento não invasivo promissor NER et al., 2014) vêm demons- SHAW et al., 2007). para TDAH trando a utilização e eficácia no O Neurofeedback (NFB) (LUBAR & LUBAR, 1999). Atual- tratamento dos sintomas do é uma forma de biofeedback mente, o NFB vem atraindo um TDAH, principalmente de desa- que é baseada na aproximação crescente interesse científico e tenção, como no estudo de Lu- das neurociências e terapias clínico graças aos avanços no bar (1991), que relatou que 80 comportamentais. Ele pode ser processamento do sinal e reso- a 90% das pessoas com TDAH melhor descrito como um trei- lução espacial da imagem (LOO foram beneficiadas tanto do namento auto-regulação & MAKEING, 2012), com a pos- ponto de vista cognitivo como com o objetivo de alcançar sibilidade de treinamento e comportamental e neuropsico- controle sobre os padrões de restauração de padrões de on- lógico com os protocolos de atividade cortical ou para nor- das cerebrais (HAMOND, 2007) treinamento de NFB, e que es- malizá-los (Strehl et al., 2006; através de um autocontrole te tipo de tratamento pode ser Heinrich et al., 2007). O NFB que visa modificação de res- uma alternativa promissora na vem sendo utilizado para a esti- postas fisiológicas pela retroali- reabilitação dos padrões de mulação de funções executivas mentação de funções que se atividade cortical nesses paci- em crianças, jovens e adultos, pretende monitorar e alterar entes. Outros estudos de ensai- especialmente no que se refere (ORLANDO & RIVERA, 2004). os clínicos demonstraram a efi- ao processamento de informa- Os avanços tecnológicos e cien- cácia no tratamento dos sinto- ções de maneira mais organiza- tíficos têm possibilitado a utili- mas, como melhora na aten- da (SULZER et al., 2013; GE- zação do NFB na prática clínica ção, diminuição da hiperativi- VENSLEBEN et al., 2014). e terapêutica, já que podem dade e melhora nos comporta- OUT/14 de nos crianças sintomas com Sociedade Brasileira de Neuropsicologia - www.sbnpbrasil.com.br 10 mentos sociais e acadêmicos MAURIZIO et al., 2014; STEI- (HOLTMANN et al., 2009; GE- NER et al., 2014). DOPHEIDE, J.A. & PLISZKA, S.R. Attention-Deficit–Hyperactivity Disorder: An Update. Pharma- VENSLEBEN et al., 2014; WANGLER, et al., 2011; 2012; STEINER et al., 2014), ainda outros cotherapy, 29 (6), 656-79, REFERÊNCIAS: 2009. ARNS, M. & STREHL U. Evidence for DURIC, N. et al. 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J Clin OUT/14 Sociedade Brasileira de Neuropsicologia - www.sbnpbrasil.com.br 13 BOLETIM SBNp ENTREVISTA Ângela Pinheiro Possui graduação em Psicologia (Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais), mestrado em Psicologia Educacional (University of Glasgow/Escócia), doutorado em Psicologia Cognitiva (University of Dundee/Escócia) e pós-doutorado na Universidade de Educação de Ludwigsburg, em Reutlingen/Alemanha. É professora Titular da Universidade Federal de Minas Gerais. Atua, na área de Processos Cognitivos Básicos, desenvolvimento da leitura e da escrita, construção de medidas de reconhecimento de palavras e dislexia do desenvolvimento. Recentemente tem também se dedicado ao treinamento de pais sobre com estimular a linguagem de seus filhos e à formação de professores do Ensino Básico sobre como alfabetizar todas as crianças com especial foco no ensino daquelas com dificuldade gerais e específicas de leitura e de escrita. Nesse sentido, tem coordenado a plataforma Dislexia Brasil. Recentemente presidiu o II Fórum Mundial de Dislexia. Responsável pelo convite ANDRESSA MOREIRA ANTUNES No período de 17-20 de agosto do corrente a UFMG sediou o II Fórum Mundial de Dislexia (IIWDF), sob a presidência da Professora Ângela Maria Vieira Pinheiro (professora titular do Departamento de Psicologia/ FAFICH). O evento, cujo tema foi Políticas Públicas: abrindo canais para a identificação precoce e para as melhores práticas de alfabetização, não só primou pela excelência, mas teve consequências muito importantes para a história da formação de professores do ensino básico em Minas Gerais e possivelmente para o Brasil. 1. Professora, primeiramente, gostaria que a senhora traçasse um breve histórico de sua atuação acadêmica/ profissional em relação à dislexia? Ângela Pinheiro: Durante um dos estágios que realizei em minha graduação em psicologia deparei-me, em uma escola-clínica, com uma aluna que apresentava uma profunda dificuldade na aprendizagem da leitura. Na época, embora tivesse tentado lidar com a dificuldade desta aluna, não consegui levá-la a ter um progresso satisfatório na leitura. No entanto, o caso desta aluna me marcou profundamente e, mais que isso, direcionou meus futuros estudos. Anos mais OUT/14 tarde, tive a sorte de fazer o meu mestrado na Universidade de Glasgow, em uma universidade de grande prestígio na Escócia. Escolhi a área de psicologia educacional. Durante essa pós-graduação conheci a psicologia cognitiva e logo me interessei pela aquisição da linguagem escrita e seus distúrbios. Na minha dissertação fiz um levantamento sobre como a dislexia era conceituada e identificada pelos psicólogos educacionais escoceses, assim como era o processo de intervenção desta condição. Ao longo deste trabalho me apaixonei por esse assunto e resolvi retomá-lo de forma mais profunda no meu doutorado. Para entender o funcionamento da cognição dos disléxicos, dediquei-me, em primeiro lugar, ao estudo do desenvolvimento da linguagem em crianças típicas. A ideia era ter uma referência no português brasileiro para entender as dificuldades dos disléxicos. Recentemente, o meu trabalho mais importante na área de dislexia foi a coordenação da tradução e adaptação para o português brasileiro de um curso para a formação de professores chamado “Online Learning – Basics for Teachers, Dyslexia: Identification and What to do” (Pinheiro, Scliar-Cabral, Goetry e Dyslexia International, 2012). O curso foi lançado em francês e em inglês em 2010, pela Dyslexia International, no primeiro Fórum Mundial de dislexia, em Paris, na sede da UNESCO. No nosso idioma passou a se chamar “Aprendizagem online – conhecimentos para professores, dislexia: como identificar e o que fazer” e foi implementado no site Dislexia Brasil (www.dislexiabrasil.com.br), que pode ser acessado sem nenhum custo. Um dos focos do II Fórum Mundial foi a apresentação dos primeiros resultados do estudo desse site por palestrantes de diferentes nacionalidades. 2. Quais as contribuições do II Fórum Mundial de Dislexia (World Dyslexia Forum) para a evolução do tratamento com a dislexia? Ângela Pinheiro: Em primeiro lugar, os 40 conferencistas e palestrantes do evento (26 internacionais e 15 nacionais), juntamente com muitas autoridades brasileiras responsáveis por políticas públicas educacionais tiveram como missão representar os interesses de todas as crianças e adultos que se deparem com dificuldades para aprender a ler e escrever. Esse grupo eminente apresentou a pesquisa e prática atual embasada em evidências científicas das Sociedade Brasileira de Neuropsicologia - www.sbnpbrasil.com.br 14 BOLETIM SBNp ENTREVISTA áreas de psicologia cognitiva, neurociência, psicolinguística e pedagogia. Este encontro entre a ciência e a política representou um passo importante para a promoção de mudanças no ensino da leitura, assim como avanços nos índices de alfabetização, que são alarmantemente baixos no Brasil, infelizmente. O evento contribuiu para a discussão sobre: i) os Parâmetros Curriculares Nacionais sobre alfabetização, reconhecendo iniciativas de formação de professores, como a implementação do site Dislexia Brasil e ii) os métodos de alfabetização de orientação fônica, elaborados com base em evidências de psicolinguística, psicologia cognitiva, neurociência e da pedagogia. Com o Fórum conseguimos a abertura de novos horizontes no ensino da leitura e a obtenção de insights valiosos e resultados positivos com efeitos duradouros para o bem de cada novo aprendiz da leitura. Enfim, o IIWDF cumpriu o seu papel de divulgar o conhecimento científico mais atual sobre a dislexia. 3. Qual a importância da realização deste evento no país, em especial na (e para a) UFMG? Ângela Pinheiro: O II Fórum Mundial de Dislexia respondeu à demanda nacional de melhoria da qualidade da Educação Básica e de promoção da inclusão. O evento foi uma grande oportunidade para ouvir o que a ciência tem a dizer sobre a alfabetização, tema muito mal compreendido e controverso no Brasil, cujo enfrentamento não pode ser mais adiado, visto o mal desempenho de nossos alunos em todas as avaliações nacionais e internacionais. Como exemplo, em 2011, uma extensa avaliação do conhecimento realizada no Brasil demonstrou que apenas 56,1% das crianças com 8 anos de idade estavam plenamente alfabetizadas, distanciando-se muito da meta de 80% (Todos pela Educação, 2013). E na última avaliação do PISA (programa que avalia a capacidade cognitiva dos estu- OUT/14 dantes e o índice de alfabetização e aprovação escolar) o Brasil está na posição número 38 entre 40 países, na frente apenas do México e da Indonésia. Com a realização do evento, a UFMG ganhou muita visibilidade e poderá ser a sede de relações internacionais muito importantes. Seguindo o modelo da Universidade de Londres que, em parceria com a Dyslexia International, acaba de transformar o site que deu origem ao “Dislexia Brasil” em um Massive Open Online Course (MOOC) – www.coursera.org/course/ dyslexiaintro), a UFMG tem todos os recursos para fazer o mesmo com o Dislexia Brasil. De agora em diante farei esforços para que isso realmente ocorra. 4. Como a senhora enxerga a forma de a sociedade brasileira encarar e lidar com a dislexia? A senhora ainda vê muito preconceito e incompreensão com o tema e com as crianças que sofrem com essa dificuldade? Ângela Pinheiro: A sociedade brasileira lida ainda muito mal com dislexia na medida em que não luta por políticas públicas que garantam a inclusão e o ensino adequado dos disléxicos. Infelizmente muitas das crianças com essa condição, não são identificadas e as que, porventura, são, não recebem acompanhamento adequado, por falta de conhecimento dos professores sobre como ensinálas. Assim, os disléxicos, por não aprenderem como é esperado e por terem sua dificuldade mal compreendida, tendem a desenvolver baixa autoestima e a se tornarem retraídos e antissociais. As suas dificuldades de leitura se tornam alvo de chacota na sala de aula, e naturalmente, de bullying. O resultado de tudo isso pode ser uma saída antecipada da escola e envolvimento com drogas e com a criminalidade (por exemplo, uma pesquisa recente mostrou que, na Inglaterra, cerca de 20% da popula- ção carcerária era composta por disléxicos). 5. Os desafios da dislexia são maiores para pais e professores. Como eles devem lidar com as crianças no dia a dia? Nossos educadores estão bem preparados para isso? Ângela Pinheiro: Geralmente a dislexia é identificada no período de alfabetização. Diante da suspeita, a professora, que precisa estar preparada para isso, deve entrar em contato com a família para que a criança passe por um diagnóstico formal, feito por especialistas. Os pais precisam estar abertos a esta possibilidade e conscientes de que a sua criança necessita de acompanhamento adequado para desenvolver seu potencial. É importante saber que a dislexia não é uma doença, mas sim um distúrbio da linguagem que afeta a aprendizagem da leitura e da escrita, e por isto demanda um ensino especial. Uma vez diagnosticada, a rede de atendimento à pessoa com dislexia deve agir em interação com a família e escola. Infelizmente, nosso sistema educacional não está preparado para isto. 6. Há algum dado estatístico hoje em relação à dislexia no Brasil e no mundo? Ângela Pinheiro: O comitê científico Dyslexia International trabalha com o percentual de 10% da população mundial com o transtorno, sendo que metade dessas pessoas possui a condição de forma grave, o que dificulta ou até mesmo pode impedir a alfabetização. 7. O que a senhora pode adiantar dos estudos e pesquisas que foram apresentados no evento? É possível eleger um destaque dentre pesquisadores e trabalhos neste Fórum? Ângela Pinheiro: Sim! Entre os renomados pesquisadores que participaram do Fórum, destaco o Stanislas Dehaene, que acaba de receber o Brain Prize 2014, o principal prêmio europeu para pesquisas sobre o cérebro, e o Mind & Brain Prize 2014, da Universidade Politécnica de Torino, Itália. A conferência Sociedade Brasileira de Neuropsicologia - www.sbnpbrasil.com.br 15 BOLETIM SBNp ENTREVISTA dele foi sobre “Melhorando o Ensino da Leitura: lições vindas da neurociência cognitiva”. Tivemos também a brasileira Leonor Scliar-Cabral, autora do Sistema Scliar de Alfabetização, que falou sobre “Princípios para a alfabetização nos sistemas alfabéticos”; o professor José Morais e Linda Siegel enfocaram as consequências dos fatores socioeconômicos na aprendizagem da leitura e Hugh Catts abordou os primeiros indicadores de risco para a dislexia, as primeiras manifestações comportamentais da condição e os mecanismos de vulnerabilidade e de proteção que podem afetar os desfechos, entre muitos outros. Esses destaques e todas as outras excelentes apresentações feitas no Fórum podem ser encontrados no site do evento que está completamente atualizado com informações pósevento: http://dislexiabrasil.com.br/ wdforum2014/. Os principais temas do Fórum foram o desenvolvimento da linguagem oral, prevenção e identificação precoce de problemas da leitura e da escrita. Práticas de alfabetização em diferentes países para crianças e adultos foram exploradas, com ênfase naqueles com dislexia e no uso de tecnologia como meio de facilitar o ensino. dislexiabrasil.com.br fosse inserido na formação continuada de professores nos seguintes programas do governo: 1. FORPROF-MG (Fórum Permanente de Apoio à Formação Docente do Estado de Minas Gerais); 2. PIP (Programa de Intervenção Pedagógica) e; 3. no Curso Normal de formação de professores da Educação Infantil. A secretária sugeriu também que o link do Dislexia Brasil fosse disponibilizado no site da Escola Magistra, órgão do governo responsável pela formação continuada de professores. Então, o Departamento de Psicologia e a UFMG têm muito a comemorar. Como presidente do IIWDF é com muita satisfação e alegria que comunico a todos os grandes frutos obtidos pelo evento, que de fato, foi um marco na história acadêmica e política da área. 8. Quais foram os impactos do Fórum? Ângela Pinheiro: O Fórum encorajou a utilização de Recursos Educacionais Abertos (REA) e gerou uma DELIBERAÇÃO importante: uma petição sobre a implementação do site Dislexia Brasil, supracitado, na formação de professores nos cursos de pedagogia e na formação continuada de professores. Essa petição, www.avaaz.org/po/ petition/ PROPOSTA_PARA_A_SECRETARIA_ESTADUAL _DA_EDUCACAO_Consolidacao_do_D islexia_Brasil/?nMthYab foi acolhida pela Secretária de Educação do Estado de Minas Gerais pela Profa. Ana Lúcia Gazola, que deliberou que o site OUT/14 Sociedade Brasileira de Neuropsicologia - www.sbnpbrasil.com.br 16 DOMÍNIOS COGNITIVOS: HABILIDADES MOTORAS NA PARALISIA CEREBRAL A Lesões neurológicas instaladas ainda na infância resultam DEISIANE OLIVEIRA SOUTO malmente em inúmeros comprometimentos no sistema as le- nervoso, sendo a paralisia cerebral (PC) um sões são provocadas dos problemas mais comuns que acomete o ao longo da gravidez, encéfalo em desenvolvimento. Em países du- rante os trabalhos de parto ou como o Brasil, postula-se que a cada 1.000 após o nascimento (SAKZEWSKI et al., crianças que nascem, sete são portadoras 2011). Os distúrbios motores da PC são fre- de PC (PIOVESANA, 2002). Também co- quentemente diferenciados e classificados de nhecida como Encefalopatia Crônica, a PC acordo com alguns critérios: pelo tipo de défi- compreende um grupo heterogêneo de indi- cit motor presente no tônus muscular, poden- víduos que apresentam alterações neuro- do ser do tipo atetóide, atáxico ou espástico; motoras ocasionadas por uma lesão não e pela topografia dos prejuízos motores, ou progressiva que acomete o cérebro ainda seja, localização das partes do corpo afeta- imaturo (FONSECA, 2004). Trata-se de das, que inclui a quadriplegia, diplegia e he- uma lesão adquirida até os 5 primeiros anos miplegia (FONSECA, 2004). de vida e que causa prejuízo das habilida- A criança com PC não apresentam des motoras, resultando em incapacidade apenas alterações sensório-motoras, podem da criança em manter posturas e realizar estar presentes outras alterações decorren- movimentos normais (BAX, 2005). tes da lesão neurológica como: déficit cogniti- A PC pode ocorrer por qualquer con- vo; convulsões; anormalidades da fala e lin- dição que leve a uma anormalidade ou le- guagem; alterações visoespaciais; distúrbios são do cérebro em desenvolvimento. Nor- da deglutição; comprometimentos perceptuais; distúrbios do comportamento, dentre ou- OUT/14 Sociedade Brasileira de Neuropsicologia - www.sbnpbrasil.com.br 17 Domínios Cognitivos:Habilidades Motoras na Paralisia Cerebral tros (SAKZEWSKI et al., 2011). Além disso, crianças portadoras de distúrbios neuromoto- as habilidades motoras geralmente estão res, tais como os ocasionados pela PC prejudicas devido à ausência do controle (Nordmark, Hägglund e Jarnlo, 1997). A completo dos músculos do corpo. Tais alte- GMFM é um instrumento de observação pa- rações interferem de forma significativa no dronizado, elaborado e validado para medir desempenho motor da criança, com conse- mudança na função motora grossa que ocor- quentes limitações funcionais (Bax et al., re ao longo do tempo nas crianças com PC 2005). Essas limitações variam desde graus (LANE, 2000). Tal instrumento foi desenvolvi- mais leves, até mais graves, com incapaci- da por Russell e colaboradores em 1989, e dade para andar, falar e dependência para desde então tornou-se padrão para mensurar atividades de vida diária. mudanças nas habilidades motoras grossas Embora a PC possa ocasionar altera- de crianças com PC. Foi elaborado tanto pa- ções musculoesquelético previsíveis, as ma- ra avaliar uma função motora grossa, no sen- nifestações funcionais devem ser avaliadas tido de identificar habilidades motoras atuais, individualmente, uma vez que o desempe- quanto para quantificar alterações nessa fun- nho funcional sofre influência não apenas ção ao longo do tempo. das propriedades intrínsecas da criança, A primeira versão do GMFM foi apli- mas também pela demanda da tarefa e pe- cado em 111 pacientes com PC e foi com- las características do ambiente no qual a cri- posta por 85 itens baseados em uma revisão ança esta inserida (STEENBERGEN et al., de literatura e em opiniões de clínicos 2009). Além disso, a classificação do com- (RUSSELL et al, 2000). Cada item foi mensu- prometimento da disfunção motora de uma rado pela observação das crianças e classifi- criança com PC é dificultada pela heteroge- cado em uma escala ordinal de 4 pontos, neidade do quadro clínico, sendo esse um sendo que: 0 = não faz; 1 = inicia < 10% da desafio para os profissionais da reabilitação atividade; 2 = completa parcialmente 10% a que trabalham com medidas baseadas no <100% da atividade; 3 = completa a atividade seu desempenho funcional. Existem diver- (RUSSELL et al, 1989). Os itens da GMFM sos métodos de avaliação das habilidades foram agrupados em 5 dimensões, sendo: motoras na PC, cabe a cada profissional es- deitado e rolando; sentado; engatinhando e colher o melhor instrumento para aplicação. ajoelhando; em pé; andando, correndo e pu- A medida de função motora grossa lando. O resultado para cada dimensão foi (GMFM) é um exemplo de instrumento usa- expresso como uma percentagem do escore do para avaliar a função motora grossa de máximo para aquela dimensão. Assim, um OUT/14 Sociedade Brasileira de Neuropsicologia - www.sbnpbrasil.com.br 18 Domínios Cognitivos:Habilidades Motoras na Paralisia Cerebral escore total foi obtido pela soma dos resulta- dos de todas as dimensões e dividindo por 5 (RUSSELL et al, 1989). Após a criação da versão inicial, duas novas atualizações da GMFM com 88 e 66 itens também foram desenvolvidadas e vem sendo bastante utilizadas e validadas para avaliação de crianças com PC. Diante da heterogeneidade nos tipos, tempo de instalação e extensão das lesões cerebrais que levam à PC, percebe-se a necessidade de se utilizarem instrumentos de avaliação que demonstram o quanto a mobilidade é determinante para o desempenho funcional das habilidades motoras (Nordmark, Hägglund e Jarnlo, 1997). Com essas informações, é possível orientar a prática terapêutica no sentido de planejar a forma de intervenção mais efetiva para os paci- FONSECA, L. F. Abordagem neurológica da criança com paralisia cerebral: causas e exames complementrares. In: LIMA, César Luiz Ferreira de Andrade; FONSECA, Luiz Fernando. Paralisia cerebral: neurologia, ortopedia, reabilitação. Rio de Janeiro: MEDSI, Guanabara Koogan, 2004. p45-65. NORDMARK, E., HAGGLUND, G., JARNLO, G.B. Reliability of the gross motor function measure in cerebral pals. Scandinavian Journal of Rehabilitation Medicine [1997, 29 (1): 25-28] PIOVESANA, A. Encefalopatia crônica, paralisia cerebral. In: FONSECA, L. et al. Compêndio De Neurologia Infantil. MEDSI, 2002. RUSSELL D.J. et al. Improved Scaling of the Gross Motor Function Measure for Children With Cerebral Palsy: Evidence of Reliability and Validity. PHYS THER. 2000; 80:873-885. RUSSELL D.J. et al. 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É uma ferramenta simples, porém, essencial, pois permite a detecção exata da função motora da criança. REFERÊNCIAS BAX, M. et al. Proposed definition and classification of cerebral palsy, April 2005. Dev Med Child Neurol, v. 47, n. 8, p. 571-576, Aug. 2005. OUT/14 Deisiane Oliveira Souto Possui graduação em Fisioterapia pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (2013). Atualmente é Mestranda pelo Programa de PósGraduação em Neurociências da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Pesquisadora do Laboratório de Neuropsicologia do Desenvolvimento (LND-UFMG). Integrante do grupo de pesquisa sobre Representação do Corpo em Crianças com Paralisia Cerebral, desenvolvido no LND. Tem interesses em pesquisas que abordam a representação corporal e reabilitação de crianças com Paralisia Cerebral, neuroplasticidade, neuropsicologia do desenvolvimento e genética. Responsável pelo convite ISABELLA STARLING-ALVES Sociedade Brasileira de Neuropsicologia - www.sbnpbrasil.com.br 19 INTERNACIONAL NEUROPSICOLOGIA AO REDOR DO MUNDO O PSYCHOPHARMACOLOGY LABORATORY Pós-doutorando na Tufts University, nos Estados Unidos. Possui graduação em Ciências Biológicas pela Universidade de São Paulo, mestrado em Psicobiologia pela Universidade de São Paulo, doutorado em Psicobiologia pela Universidade de São Paulo e pós-doutorado pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto – Universidade de São Paulo. Tem experiência nas áreas de Farmacologia e Comportamento Animal, com ênfase em Modelos animais de medo e ansiedade, Estresse e Consumo de drogas. POR LUCAS ALBRECHET-SOUZA O Psychopharmacology Laboratory encontra Um dos desafios atuais da pesquisa sobre -se no campus da Tufts University localizado em dependência de substâncias psicoativas é a identifi- Medford, uma das cidades que compõem a Grande cação e caracterização dos fatores responsáveis pe- Boston, no estado de Massachusetts, Estados Uni- la transição do uso controlado ao uso abusivo. dos. Esse laboratório de pesquisas pré-clínicas é li- Além das diferenças genéticas e de características derado pelo professor Dr. Klaus A. Miczek, um dos associadas à própria droga, fatores ambientais e pioneiros no estudo de agressão e estresse social em sociais parecem contribuir de maneira decisiva para animais de laboratório. No fim dos anos 70, o pro- o desenvolvimento das dependências químicas. fessor Miczek propôs um modelo no qual ratos ma- Nesse sentido, o Psychopharmacology Laboratory chos eram expostos de maneira sistemática a sessões atua na investigação dos mecanismos neurológicos de subordinação social por um macho agressivo associados ao estresse social, ansiedade e agressivi- (Miczek, 1979). Esse tipo de estresse social produz dade, que podem levar ao consumo abusivo de ál- uma série de alterações moleculares, fisiológicas e cool e cocaína. comportamentais. O efeito reforçador positivo, ou seja, a sensação de prazer produzida pelas drogas psicoativas decorre da ativação de um substrato neurobiológico conhecido como sistema dopaminérgico mesocorticolímbico, composto pela área tegmental ventral (região onde se localizam os corpos celulares de neurônios que contém o neurotransmissor dopamiFigura 1: Estresse por subordinação social em ratos. OUT/14 Sociedade Brasileira de Neuropsicologia - www.sbnpbrasil.com.br 20 na) e áreas de projeção do sistema límbico, como o (Norman et al., 2014). Mecanismos que envolvem núcleo accumbens e o córtex pré-frontal. Estudos o CRF, assim como seus receptores e uma proteína- realizados nesse e em outros laboratórios demonstra- ligante, estão sendo investigados e parecem apre- ram que o estresse social é capaz de promover alte- sentar um papel modulatório importante no consu- rações duradouras nessas vias de recompensa, de mo de álcool, assim como na motivação em obter a maneira a promover uma maior liberação de dopa- droga. mina no núcleo accumbens e aumentar assim o efeito reforçador das drogas. O consumo abusivo de substâncias psicoativas vem crescendo de maneira inquietante em todo O fator de liberação de corticotrofina (CRF), o mundo e está associado a uma série de complica- um peptídeo constituído por uma cadeia simples de ções diretas e indiretas. A caracterização dos meca- 41 aminoácidos, é classicamente conhecido por re- nismos subjacentes às alterações moleculares, fisio- gular a atividade do eixo hipotálamo-pituitária- lógicas e comportamentais que ocorrem em respos- adrenal durante situações ameaçadoras e parece tam- ta ao estresse social é de grande relevância para o bém ser um elemento chave na interação entre o es- delineamento das bases biológicas dos transtornos tresse social e a vulnerabilidade ao uso abusivo de psiquiátricos, incluindo as dependências químicas, substâncias psicoativas. Por meio de estratégias e pode constituir-se em uma ferramenta importante comportamentais, fisiológicas e neurofarmacológi- no desenvolvimento de medidas para a prevenção e cas, o Psychopharmacology Laboratory vem investi- o tratamento dessas doenças. Para saber mais sobre gando a participação do CRF e sua interação com as linhas de pesquisa e publicações do Psychophar- outros neurotransmissores nas alterações do sistema macology nervoso central induzidas pelo estresse. sackler.tufts.edu/Faculty-and-Research/Faculty- Em um estudo publicado recentemente, nós Laboratory, acesse o site: http:// Profiles/Klaus-Miczek-Profile. demonstramos que a exposição ao estresse social promove sensibilização das vias de recompensa e REFERÊNCIAS um aumento significativo na auto-administração de cocaína em ratos. No entanto, o bloqueio farmacológico de receptores de CRF localizados na área tegmental ventral antes das sessões de derrota social foi capaz de bloquear esses efeitos do estresse (Boyson et al., 2014). De maneira parecida, camundongos expostos ao estresse social moderado – em comparação com animais expostos ao estresse social leve – apresentaram um aumento no consumo voluntário de álcool, quando este foi apresentado de maneira contínua (diariamente, 24 horas por dia) ou intermitente (três dias por semana, 24 horas por dia) OUT/14 Boyson, C. O., Holly, E. N., Shimamoto, A., AlbrechetSouza, L., Weiner, L. A., Debold, J. F. & Miczek, K. A. (2014) Social stress and CRF-dopamine interactions in the VTA: role in long-term escalation of cocaine self-administration. Journal of Neuroscience 34, 6659‒6667. Miczek, K. A. (1979) A new test for aggression in rats without aversive stimulation: differential effects of d -amphetamine and cocaine. Psychopharmacology (Berlin) 60, 253–259. Norman, K. J., Seiden, J. A., Klickstein, J. A., Han, X., Hwa, L. S., Debold, J. F. & Miczek, K. A. (2014) Social Stress and Escalated Drug Self-Administration in Mice I. Alcohol and Corticosterone. Psychopharmacology (Berlin) (aceito para publicação). Responsável pelo convite MORGANA SCHEFFER Sociedade Brasileira de Neuropsicologia - www.sbnpbrasil.com.br 21 BOLETIM SBNp RELATO DE PESQUISA Avaliação da expressão gênica de receptores dopaminérgicos, glutamatérgicos e da enzima sintase de óxido nítrico em um modelo animal de esquizofrenia por Oderci Messias de Lima Filho A esquizofrenia é um transtorno complexo que permanece pouco compreendido e que parece envolver diversos sistemas de neurotransmissores. Dentre eles, os sistemas dopaminérgicos (dopamina - DA) glutamatérgicos, em particular a redução da sinalização do receptor de glutamato (GLU) subtipo N-methyl-D-aspartato (NMDA), são ODERCI MESSIAS DE LIMA FILHO | ESTUDANTE DE GRADUAÇÃO NA UNIVERSIDADE FEDERAL DO AÇÃO VALE DO SÃO FRANCISCO. CURSA MEDICINA E FAZ INICI- CIENTIFICA EM NEUROCIÊNCIAS mostrados como alguns dos responsáveis pela fisiopatologia da doença (Coyle, 2006; Krystal et ção na distribuição desta molécula e de seus meta- ai, 1994,. Lahti et ai, 1995;. Stone et al, 2007). bólitos em cérebros de esquizofrênicos (Ramirez et Os pacientes esquizofrênicos apresentam al., 2004). O NO está diretamente ligado às neuro- elevada síntese de DA pré-sináptica, liberação de transmissões de DA e GLU. A ativação de NOS ou DA, e aumento da quantidade de receptores de doadores de NO promovem aumento da liberação e dopamina D2/3 (Laruelle, 1998). Também é ob- inibição da recaptação de DA (Zhu e Luo, 1992; Sa- servado que a síntese e liberação de DA são ele- lum et al., 2008, 2013). vadas em indivíduos com maior probabilidade pa- Recentes avaliações do genoma de pacien- ra a esquizofrenia e em estado prodrômico tes esquizofrênicos por meio de análise genômica (Howes et al., 2009). Tais considerações fortale- comparativa de hibridização revelaram que varian- cem a hipótese do envolvimento destes neuro- tes estruturais raras interromperam múltiplos ge- transmissores na arquitetura que compõe o de- nes em vias de neurodesenvolvimento que envol- senvolvimento vem profundamente o NO, implicando a sinalização da esquizofrenia (Meyer- Lindenberg, 2010). deste neurotransmissor na esquizofrenia. (Walsh et Nos últimos anos, o neurotransmissor atípico óxido nítrico (NO) tem sido relacionado a es- al., 2008). A administração do antimitótico metilazoxi- ta patologia através de evidências de uma alteraOUT/14 Sociedade Brasileira de Neuropsicologia - www.sbnpbrasil.com.br 22 metanol (MAM) no dia 17 de gestação em ratas cos e da enzima NOS dos ratos MAM. Serão avalia- promove na prole várias alterações cerebrais es- das a expressão gênica de receptores NMDA truturais, neuroquímicas e comportamentais que (subunidades NR1 e NR2), dos receptores DRD1 se assemelham à esquizofrenia (Moore et al, (D1) e DRD2 (D2) de DA e das enzimas NO sintase 2006;. Lodge e Grace, 2009). Dentre as alterações (NOS) (NOSi e NOSn) em ratos tratados com o observadas estão a hiperatividade de neurônios MAM. do hipocampo, levando à aumento na liberação e Os encéfalos serão dissecados para obten- disparos dopaminérgicos, cuja causa tem sido ção de regiões do CPF, estriado, hipocampo e me- atribuída à redução de interneurônios gabaérgi- sencéfalo, dois quais serão feitas extração do RNA. cos que expressam parvalbumina (Lodge e Grace, A extração do RNA total será realizada pelo método 2009, Hradetzky et al, 2012, Penschuck et al, do TRIzol®, seguindo as instruções do fabricante 2006). A administração MAM no 17º dia gestacio- (Invitrogen, Carlsbad, Califórnia, EUA). A seguir, efe- nal parece ter um grande impacto nas estruturas tuaremos o protocolo padrão de transcrição rever- em desenvolvimento neste período, em particular sa, utilizando a enzima MMLV ou SuperScript III o desenvolvimento do hipocampo (Grace and Mo- (Invitrogen). Para os estudos de quantificação de ore, 1998), que estão morfologicamente alteradas expressão gênica realizaremos experimentos utili- na esquizofrenia. zando o PCR em tempo real (Rotor Gene 6000, Cor- Especificamente, algumas das alterações bett, Valencia, Califórnia, EUA) em colaboração com verificadas sob o tratamento MAM que se asse- o Prof. Alexandre Kihara da Universidade Federal do melham à patologia da esquizofrenia são a redu- ABC. Neste sistema, a amplificação da sequência ção na espessura do córtex pré-frontal (CPF) me- alvo é detectada em tempo real pela emissão de dial, no hipocampo e córtex para-hipocampal. fluoróforo, que ocorre quando há formação de du- Apesar destas alterações não se verifica redução pla fita na região codificada pelo par de iniciadores no número de neurônios do neocórtex (Moore et (primers). A quantificação da amplificação é feita al., 2006). Além das evidências comportamentais, pela fluorescência captada pela unidade óptica do ratos tratados com MAM apresentam um aumen- aparelho. Pelas características do sistema, no PCR to na atividade basal de populações de neurônios Real-Time é possível determinar todo perfil de am- dopaminérgicos da área tegmental ventral (VTA). plificação, o que representa uma de suas vantagens Neste contexto, é importante que os padrões de metodológicas (Kihara et al., 2005; Schmittgen et metilação produzidos pelo MAM no GD17 e os al., 2000). genes mais afetados sejam caracterizados. Com base no que foi exposto, a pesquisa tem como objetivo principal avaliar expressão gê- REFERÊNCIAS Coyle JT. 2006. Glutamate and schizophrenia: Be- nica de receptores dopaminérgicos, glutamatérgiOUT/14 Sociedade Brasileira de Neuropsicologia - www.sbnpbrasil.com.br 23 yond the dopamine hypothesis. Cell Molecular Neurobiology 26:365–384. Howes, O. D. et al. (2009) Elevated striatal dopamine function linked to prodromal signs of schizophrenia. Archives of Geneneral Psychiatry 66: 13–20. 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Diniz (UFMG) Conselho Deliberativo: Daniel Fuentes (USP) Andréa Matos Oliveira Tourinho (IFBA) Rodrigo Grassi Oliveira (PUC-RS) Breno S. Vieira (PUC-RS) Secretária Executiva: Carina Chaubet D'Aucante Alvim Secretaria Geral: Thiago Rivero (UNIFESP) Emanuel Henrique Gonçalves Querino (UFMG) Jaqueline de Carvalho Rodrigues (UFRGS) Sabrina de Sousa Magalhães (UFMG) Conselho Fiscal: Natália Betker (UFRGS) Ana Luiza Cosa Alves (UFMG) Tesouraria Executiva: Eliane Fazion dos Santos Tesouraria Geral: Deborah Azambuja. Thaís Quaranta (USP) Chrissie Ferreira de Carvalho (UFBA) Secretário-Geral: Gustavo Marcelino Siquara (UNEB) Representantes regionais: Secretário-Executivo: Bruno Schiavon (PUC-RS) Acre: Lafaiete Moreira Piauí: Inda Lages Alagoas: Katiúscia Karine Martins da Silva Rio de Janeiro: Flávia Miele Secretário-Geral: Gustavo Marcelino Siquara (UFBA) Rio Grande do Norte: Katie Almondes Tesoureiro-Executivo: Alina Lebreiro G. Teldeschi (CNA-I'Dor ) Rio Grande do Sul: Rochele Paz Fonseca Tesoureiro-Geral: Thiago da Silva Gusmão Cardoso (UNIFESP) Rondônia: Kaline Prata Setor de Marketing e Comunicação: Centro Oeste: Leonardo Caixeta Santa Catarina: Rachel Schlindwein-Zanini. Andressa Antunes (UFMG) DF: Danilo Assis Pereira Sergipe: Ana Cláudia Viana Silveira Amazonas: Rockson Pessoa Bahia: Tuti Cabuçu Ceará: Silviane Pinheiro de Andrade Minas Gerais: Jonas Jardim de Paula e Annelise Júlio-Costa Paraíba: Bernardino Calvo Isabella Sallum (UFMG) Adriana Binsfeld Hess (UFRGS) Isabella Starling (UFMG) Inda Lages (UFABC) Morgana Scheffer (UFRGS) Revisão: Isabela Sallum (UFMG) OUT/14 Editoração: Andressa Antunes (UFMG) Sociedade Brasileira de Neuropsicologia - www.sbnpbrasil.com.br 25