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21 de outubro de 2013 k 19:45h
Ediç~
ao 1
Um jornal dos estudantes
para os estudantes
Por Felipe Duque — Nessa época de irreversı́vel descentralização da
informação, com novas fontes surgindo a cada instante, qual deve
ser o papel de um jornal universitário? Como ele pode influenciar o
ambiente acadêmico?
Qual a diferença entre a universidade e a
escola?
por Paulo Ribeiro
Você já ouviu muitas histórias sobre
professores carrascos, noites em claro
ou provas lendárias de tão difı́ceis.
Porém, o curso superior é um lugar
menos assustador do que você imagina. Sim, tudo aquilo acontece, mas
não é tão ruim quanto parece. Descubra o que diferencia a universidade
da escola o mais cedo possı́vel para
aproveitar o melhor perı́odo de sua
vida.
ÍNDICE
Os caminhos da universidade Série de artigos mostrando o passado
e o futuro da universidade
brasileira. p. 3
Lição de casa A importância do costume do
dever de casa ainda na faculdade. p. 4
Os dilemas da organização estudantil na UFPE
por Maicon Vasconcelos
No Brasil, paı́s com uma desigualdade social
tamanha, o acesso à educação, sobremodo a de
qualidade, ainda é restrito, e o ingresso ao ensino
superior continua sendo sem dúvida um privilégio.
Qual deve ser o papel do estudante nesse cenário?
Privacidade: a quem pertence?
Reatividade vs.
criticidade Entender essa
diferença é fundamental
para compreendermos o
mundo ao redor. p. 6
Cadafalso O novo álbum
de Momo acrescenta um
sombrio toque ao voz-eviolão. p. 9
por Natan Café
A questão da biografia não-autorizada terem acesso aos pormenores da vida
de Caetano Veloso traz à tona a dis- dos seus ı́dolos mesmo sem seu concussão sobre a privacidade de pessoas sentimento?
públicas. Deveriam os fãs ou curiosos
O Estudante
EDITOR-CHEFE
Felipe Duque
[email protected]
facebook.com/jornaloestudante
Nosso portal
O Estudante, 21 de outubro de 2013
SEÇÃO A
Edição 1 2 / 12
Um jornal dos estudantes para os estudantes
Felipe Duque
Qual a função que um jornal de estudantes pode ter
na comunidade de uma universidade? Nesta época de irreversı́vel descentralização do conhecimento, com novas
fontes surgindo constantemente, pode ser muito desgastante ao estudante garimpar uma boa quantidade de informações úteis à sociedade e ao seu próprio desenvolvimento pessoal e profissional. Além disso, contribuindo
ainda mais à descentralização já citada, há, no nosso universo - no universo dos estudantes -, uma profusão de diferentes estilos de vida, reflexões, ideias, ideais e atitudes
que merecem ser compartilhadas. Temos, então, por ora,
duas principais atribuições do jornal: ecoar iniciativas de
interesse da comunidade acadêmica e gerar conteúdos e
iniciativas para engajar a comunidade num processo de
contı́nuo aprendizado e discussões. Essas duas atividades
em conjunto têm o potencial de promover uma UFPE mais
consciente, combativa e, por fim, virtuosa, caracterı́sticas
fundamentais para transformar não somente a UFPE, mas
nossa própria sociedade.
Encorajamos, portanto, que os membros da comunidade (estudante, técnico, professor ou da comunidade
externa) submetam notı́cias, artigos ou opiniões ao nosso
email [email protected]. Ajude-nos a
construir um jornal plural com a cara da UFPE.
Qual a diferença entre a universidade e a escola?
Quanto mais cedo você descobrir essa diferença, mais você aproveitará sua vida na universidade.
Paulo Ribeiro, Recife
Você já ouviu muitas histórias sobre
professores carrascos, noites em claro
ou provas lendárias de tão difı́ceis.
Porém, o curso superior é um lugar
menos assustador do que você imagina. Sim, tudo aquilo acontece, mas
não é tão ruim quanto parece.
A grande diferença da escola para
a faculdade é a responsabilidade:
agora o aprendizado está por sua
conta.
Desafios como os citados
aparecerão, mas garanto que estarão
dentro de seu alcance. Como um lugar natural de desenvolvimento, você
cresce junto às dificuldades ao seu redor. Por isso, espere desafios,mas
sempre com a visão de que são alcançáveis e que te ajudarão a subir de
nı́vel.
Contudo, não é da academia que
vim falar hoje; isso você vai tirar de
letra. Quero discutir um pouco sobre
todas as esferas da universidade que
não incluem a graduação e que muitas
pessoas perdem a oportunidade de Não, essa é a opinião de um aluno
vivenciar por achar que estão em uma que está prestes a se formar e está
grande escola.
satisfeito com seu tempo na UFPE.
Em última instância, seu futuro, o
tamanho de seu horizonte, vai depenNão se preocupe com o mercado der bastante da experimentação que
de trabalho. Seu objetivo na
você fizer como estudante agora.
vida é ser contratado ou ser
Não se preocupe com mercado de
feliz? Sempre haverá espaço
trabalho. Empresas contratam profispara pessoas felizes.
sionais competentes e você nunca vai
ser um se não for feliz com o que faz.
Os três pilares da UFPE são en- Além do mais, o objetivo da sua vida
sino, pesquisa e extensão. No Brasil, é ser contratado ou ser feliz? Talvez
temos uma educação superior com você se descubra empreendedor. Ou
grades curriculares rı́gidas, então você professor. Ou fundador de ONG. Seu
não vai ter muita oportunidade de futuro daqui a 8 perı́odos é incerto,
escolha no curso.
Suas descober- mas garanto que sempre há oportutas começam justamente quando você nidade para pessoas felizes, realizadas
mergulhar nas outras duas esferas: e vivendo vidas significativas. Já o
pesquisa e extensão.
contrário... não é verdadeiro.
Paulo Ribeiro ajuda as pessoas
A Universidade é um grande laboratório para a vida. Isso não é uma a viver melhor com Estrategistas, e
metáfora vazia daqueles que olham a aprender melhor com Aprendizado
para trás, saudosos de uma época na Acelerado.
graduação que nunca mais voltará.
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O Estudante, 21 de outubro de 2013
SEÇÃO A
Edição 1 3 / 12
Para onde vai a universidade brasileira? Parte 1.
Série de artigos retratando o passado, o presente e o futuro da universidade brasileira.
Dr. Sergio Rezende, Recife
Na história do Brasil, colonização e
império somaram quase 400 anos, durante os quais o Paı́s não tinha universidades. Os primeiros cursos de
direito e medicina foram criados somente depois que a famı́lia real portuguesa veio para o Brasil em 1808.
Até então, a Coroa Portuguesa não
permitia que sua colônia tivesse cursos superiores. Enquanto a Universidade de Harvard, nos EUA, tinha sido
fundada em 1636, e Chile e Argentina
implantaram suas primeiras universidades no Século XIX, no Brasil foram
criadas muitas escolas e faculdades a
partir de 1810, mas somente em 1934
foi implantada a primeira universidade de verdade: a Universidade de
São Paulo. Até a década de 1960 apenas uma parcela muito pequena da
população tinha acesso ao ensino superior no Brasil. Com raras exceções,
os professores das faculdades e escolas
exerciam atividades profissionais em
outras áreas, não eram pesquisadores,
dentre outras razões porque não havia
nas universidades emprego em regime
de tempo integral. E tampouco havia
programas de formação pós-graduada.
Também não havia engenheiros ou
especialistas em setores básicos da
indústria; nosso parque industrial era
incipiente e não existia cultura de inovação nas empresas.
As bases para a mudança desse
quadro foram lançadas em 1951 com
a criação do Conselho Nacional de
Pesquisas (CNPq) e da Coordenação
de Aperfeiçoamento de Pessoal de
Nı́vel Superior (CAPES). CNPq e
CAPES passaram a conceder bolsas de estudos para formação pósgraduada no exterior e a apoiar as
atividades cientı́ficas nos pequenos
grupos de pesquisa que estavam sendo
criados. A atuação do CNPq e da
CAPES foi fundamental para a mudança do cenário de Ciência e Tecnologia (C&T) no Brasil que foi percebida nas últimas décadas. Notável
avanço foi alcançado no final dos anos
60, com a criação do regime de tempo
integral, a implementação de salários
dignos para professores pesquisadores
das universidades federais, e a institucionalização da pós-graduação.
Enquanto a Universidade de Harvard tinha sido criada em 1636, e Chile
e Argentina implantaram suas primeiras universidades no século XIX, a
primeira universidade do Brasil só surgiu em 1934.
Rapidamente
programas
de
pós-graduação foram criados em
muitas áreas, bons laboratórios de
pesquisa foram instalados, passando
a atrair pesquisadores brasileiros e estrangeiros que estavam no exterior. O
avanço parecia se consolidar em 1974
com a lei que disciplinava as classes da
carreira do magistério: auxiliar de ensino para os portadores de diploma de
curso superior em nı́vel de graduação;
professor assistente para os mestres;
professor adjunto e professor titular
para os doutores.
Um grande retrocesso ocorreu em
1988, quando a nova Constituição
determinou que somente brasileiros
poderiam ocupar cargos nas instituições públicas, incluindo nelas as
universidades. Ao contrário das melhores universidades do mundo, deixamos de atrair cientistas que em-
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igravam dos próprios paı́ses e que
poderiam ter dado contribuições inestimáveis ao nosso desenvolvimento.
Isso só foi reparado em 1993, quando
o Congresso aprovou emenda constitucional revogando tal restrição.
Sergio Rezende é professor titular
do Departamento de Fı́sica da UFPE
e ex-ministro de Ciência e Tecnologia
do governo Lula.
O Estudante, 21 de outubro de 2013
SEÇÃO A
Edição 1 4 / 12
Privacidade: a quem pertence?
A questão da biografia não autorizada de Caetano Veloso traz à tona a discussão sobre o direito à
privacidade.
Natan Café, Recife
Durante a semana entrou em pauta
nacional o movimento Procure Saber,
que tem como partı́cipes artistas como
Chico Buarque e Caetano Veloso,
além de outras personalidades. O
grupo defende a necessidade de uma
autorização prévia à publicação de biografias.
Do lado oposto há a classe de escritores, as editoras e uma sociedade
sedenta por informações sobre seus
ı́dolos, personalidades e congêneres.
Há, nesse caso, a defesa da tão
famigerada liberdade de expressão e
do suposto direito pertencente à sociedade ao acesso irrestrito à vida da
figura pública.
Hoje a nossa lei permite a publicação de livros e filmes biográficos
com uma das quatro condições: autorização do biografado; da famı́lia, em
caso de morte do indivı́duo; para administração da Justiça; manutenção
da ordem pública.
Mas tramita
no Congresso Nacional um projeto de Lei, 393/2011, que torna
desnecessária a autorização prévia do
biografado, vivo ou morto. Esse é o
porquê do embate atual.
custo; a segunda deve ser controlada.
Para o controle existe a lei.
Figura pública também tem direito à privacidade, assim diz a nossa
Constituição. A vida pública sim é
de acesso público, não a privada. O
artista tem sim o direito de não querer
sua vida comercializada - na maioria
das vezes de maneira infiel à realidade.
Atualmente quem se sentir prejudicado pode ir à Justiça em busca de
reparos, mas a história mostra que alguns danos - por verdades ou mentiras
- são irreparáveis.
O sucesso dos sites de fofoca é
A maioria das pessoas parece
sintomático, revelando mais interesse
não perceber a divisão entre
pelo privado - termo que devia ser auliberdade de expressão e
toexplicativo - do que pela obra do
banalização. A primeira deve
artista. É a banalização sob a égide
ser preservada; a segunda,
da ‘liberdade de expressão’. Preservar
controlada.
a seara pessoal é - e deve continuar
sendo - um direito assegurado, indeA maioria das pessoas parece não pendentemente da vida pública.
Natan é estudante de engenharia
perceber a divisão - nada tênue - entre
liberdade de expressão e banalização. elétrica da UPE.
A primeira deve ser preservada a todo
SESSAO A
Lição que se aprende em casa
Famosas por fazerem parte da vida escolar das crianças, as tarefas de casa podem ser um diferencial
também na universidade.
David Santos, West Virginia, EUA
da lição de casa é escanteada quando
Ainda é clara em minha memória entramos na universidade. Talvez
parte da rotina de estudos de minha pelo noção arraigada de que na factenra infância. Uma das lembranças uldade o estudante deve encarar uma
mais fortes remonta ao tempo que realidade mais independente em que
éramos obrigados a gastar investindo ele mesmo deve trilhar suas rotinas
nos recorrentes deveres de casa, que e caminhos, talvez pelo fato de as
nos fazia encher os cadernos e tomar o salas de aula frequentemente se entempo de nossos pais, frequentemente contrarem apinhadas de alunos compostos pelas mais diversas nuances de
nos cobrando esforço e dedicação.
conhecimento, a relevância da lição de
Curioso como, no Brasil, a cultura
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casa definitivamente perde espaço no
ambiente acadêmico brasileiro.
Por mais que se espere que o
universitário seja automaticamente
provido por um senso de maturidade e organização para que mantenha um ritmo constante de estudos,
na prática o que se observa da maioria é algo bem diferente, enraizado no
‘deixar para estudar de última hora’,
tradição tão difundida nas universi-
O Estudante, 21 de outubro de 2013
dades brasileiras.
Nos Estados Unidos, os
homeworks desempenham,
mesmo na universidade, parte
essencial no aprendizado dos
estudantes
Nos Estados Unidos, lições de
casa, ou homeworks, desempenham,
mesmo na Universidade, uma parte
essencial do aprendizado dos estudantes. E não apenas na graduação.
É comum encontrar disciplinas da
pós-graduação em que os professores
prezam e até priorizam o constante
empenho dos alunos em esgotarem listas de exercı́cios que servem para sintetizar o conteúdo abordado em sala
SEÇÃO A
Edição 1 5 / 12
de aula, provocando o estudante a ir
Nunca é simples comparar remais fundo no conteúdo através de seu alidades de diferentes paı́ses, sempróprio estudo e pesquisa.
pre ladeados por um histórico sócioClaro que me refiro à lição polı́tico-econômico particular. No ende casa bem embasada e com tanto, nunca é ousado demais compropósito definido. Torna-se impor- partilhar as boas práticas e tentar
tante destacar que estudos mostram adaptá-las para nossa própria realique ao invés de priorizar o tempo dade. E se eu posso deixar minha suggasto na realização da tarefa, a estão sobre como dar um passo signilição de casa é muito mais efetiva ficativo na melhoria da qualidade do
quando permite ao estudante desen- ensino e do aprendizado nas universivolver certas medidas qualitativas, dades públicas, o exercı́cio da cultura
como gerenciamento de distrações, au- da lição de casa seria minha dica.
David Santos é estudante de entoeficácia e responsabilidade percebida para o aprendizado, estabeleci- genharia civil da UFPE e atualmente
mento de metas, autorreflexão, gestão está nos EUA pelo Ciência sem Fronde tempo e escolha de um local apro- teiras.
priado para completar as tarefas.
Os dilemas da organização estudantil na UFPE
O papel do estudante na sociedade deve ser maior do que simplesmente comparecer às aulas. Que
papel devemos ter na sociedade e na universidade?
Maicon Vasconcelos, Recife
No Brasil, paı́s com uma desigualdade social tamanha, o acesso à educação, sobremodo a de qualidade,
ainda é restrito, e o ingresso ao
ensino superior continua sendo sem
dúvida um privilégio. Mesmo preservando certa qualidade, as Universidades públicas brasileiras estão apinhadas de problemas, estruturais,
crônicos ou temporário-especı́ficos, já
naturalizados por vezes. E a Universidade Federal de Pernambuco (UFPE),
uma das melhores do Nordeste, apesar
de todos os avanços não foge a esse
cenário.
Apesar de todo o seu crescimento
e obras nos campi, a UFPE tem muito
que melhorar e não faltam reivin-
dicações dos estudantes: precisamos
de mais bolsas; RU gratuito e para todos; ampliação e fim das reformas da
casa do estudante; melhor estrutura
das salas de aula; frequência assı́dua
dos professores; uma polı́tica de esportes inclusiva; barrar o jubilamento
da forma que foi implementado; afora
as pautas especı́ficas de cada curso.
Além de lutas mais amplas como é
o caso do orçamento destinado à educação pelo governo federal, que ao
invés de aumentar têm sofrido cortes.
E que papel cabe a nós, jovens e
estudantes nesse panorama e na universidade: mundo multifacetado de
possibilidades de vivências e aprendizados? Primeiro diga-se que estudar aqui ou em qualquer outra uni-
versidade pública não é de graça,
nem seria justo se o fosse, ao entrar nesse mundo novo, que é a universidade, todo estudante assume um
compromisso social com milhões que
brasileiros, cidadãos e contribuintes,
que dão condicionantes e sustentáculo
a esta e outras instituições de ensino
superior. Esse compromisso muitos
estudantes assumiram na luta contra a ditadura militar em tempos
muito mais difı́ceis e sombrios, reivindicando uma sociedade mais justa e
democrática, entre eles estudantes da
UFPE, como Ranúsia Alves, Umberto
Câmara Neto, Rui Frazão, entre outros.
Estudar aqui ou em qualquer outra universidade pública não é de
graça. Todo estudante assume um compromisso social com milhões
de brasileiros e contribuintes.
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O Estudante, 21 de outubro de 2013
SEÇÃO A
E a articulação organizada das
reivindicações, gerais e especı́ficas,
dos estudantes se aglutina no
chamado movimento estudantil (ME),
que a despeito do desgaste da palavra
– teve, e ainda têm, salutar importância histórica na luta orgânica
por transformações positivas na sociedade, e em primeiro plano a responsabilidade de superar problemas cotidianos dos estudantes, numa
prática inflexı́vel de resistência aos
ditames arbitrários dos direitos dos
estudantes e do cidadão em geral.
Na universidade, o ME está majoritariamente constituı́do localmente,
por curso, pelos Diretórios e Centros
Acadêmicos, e em escala mais global
o Diretório Central dos Estudantes
(DCE) e para além destes a movimentação autônoma dos estudantes.
Em tom conclusivo, quero clarificar que nesse “sistema” chamado
Universidade, existem atores principais, os quais podem ser classificados
em três grandes grupos: professores,
alunos e funcionários, com uma hierarquia concretamente definida e irrefutavelmente atuante. Igualmente
alentá-los que o poder imediato está
nas mãos dos ditos funcionários do
alto escalão, majoritariamente do-
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centes, mas o poder da mudança
real está conosco, e é nesse ı́nterim
que está circunscrito e se propõe a
rearticulação do Diretório Central dos
Estudantes (DCE), através de um
seminário de movimento de base, a
realizar-se até inı́cio de Dezembro
- nos campi de Recife, Caruaru e
Vitória,- bem como a eleição da entidade marcada para 4 a 6 de fevereiro
de 2014.
Maicon é coordenador polı́tico do
Diretório Acadêmico de História da
UFPE e membro do Coletivo Aurora.
Por uma visão crı́tica do mundo e dos fatos
Entender a diferença entre reatividade e criticidade é fundamental para o amadurecimento do nosso
senso crı́tico
Camilla Costa, Recife
Tendemos a associar criticidade
com reatividade. Logo quando entrei
na faculdade, eu tinha a impressão
de que sabia das coisas e que era
crı́tica o suficiente. Por adotar uma
postura reativa desde o ensino fundamental, eu acreditava entender a
realidade dos fatos. Mas uma coisa
não tem necessariamente a ver com a
outra. Reatividade está para superficialidade e impulsividade, como criticidade está para parcimônia e aprofundamento. Explico. Quando reagimos a uma informação, notı́cia, acontecimento, ou fato, de forma involuntária, ou sem muita reflexão, é
uma crı́tica espontânea e sem muita
base. Apesar de natural, nem sempre é genuı́na em intenções, já que
reflete muito do que somos, acreditamos, e dos preconceitos que todos carregamos, dos julgamentos que todos
os seres humanos (in)conscientemente
fazem.
A criticidade se encontra no extremo oposto. Tem um pouco a ver
com as aulas de interpretação de texto
da escola. Um brainstorming de motivos e ângulos diferentes de análise,
que levam a conclusões por vezes distintas. Uma visão crı́tica significa não
apenas passar o olho, e sim quase dissecar. É uma habilidade que requer
paciência, busca, pesquisa, questionamento, interpretação. É preciso saber
de metáfora, metalinguagem, e tantas
figuras de linguagem quanto possı́vel.
Quando reagimos a um
acontecimento sem refletir sobre
ele, estamos criticando sem
base. A criticidade se encontra
no extremo oposto.
Significa
não
acreditar
na
chamada e dar-se por entendido do
conteúdo depois de ter lido o primeiro
parágrafo do primeiro jornal. É preciso entender que toda obra feita por
humanos, de uma forma ou de outra,
reflete essa humanidade. Foi assim
que Vinı́cius de Moraes, cujo centenário acaba de ser comemorado (dia
19 de outubro ele teria feito 100 anos),
criticou a ditadura em suas músicas
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sem que se percebesse. Um ser humano habilidoso é capaz de costurar
seus argumentos de forma tão harmoniosa que fica impossı́vel lembrar de
que tudo começou com uma linha e
uma agulha.
Quando eu ouvia dos professores
da faculdade que não tirasse conclusões precipitadas, pensava estar
imune; que eu possuı́a essa habilidade
inata de entender sem olhar atentamente. Apenas com o tempo, e conforme fui me percebendo, eu mesma,
capaz de costurar as palavras, entendi
que é preciso prática e atenção constante. E não um relance ou falar
da boca pra fora. Ainda assim, como
habilidade adquirida, qualquer pessoa
que deseje entender o mundo que nos
rodeia pode desenvolvê-la. E como
diria Raul Seixas, “Nunca é tarde demais pra começar tudo de novo..”.
Desejo a todos um excelente inı́cio de
perı́odo!
Camilla fundou o Politiquê? esperando que os jovens comecem a se
interessar e entender mais de polı́tica.
O Estudante, 21 de outubro de 2013
SEÇÃO B
Edição 1 7 / 12
Relato de uma caloura
Num ambiente completamente novo sempre surgem dificuldades, mas as oportunidades são ainda
maiores
Cecı́lia Bezerra, Recife
Ao entrar na universidade, deparei-me
com um contexto bastante diferente
do que tinha no ensino médio. A felicidade de ser aprovada no vestibular irradia essa nova fase: andar pelas
ruas da cidade universitária, por seus
departamentos e bibliotecas, tudo é
imponente para quem está apenas
começando. A dimensão fı́sica do
campus confunde um pouco os novatos, porém esse ambiente multidisciplinar é enriquecedor principalmente
por permitir contato com alunos mais
experientes e de outros cursos cujas
visões de mundo nos transformam.
O curso de medicina me deu as
boas-vindas com o ciclo básico, no
qual matérias como bioquı́mica, histologia e anatomia mostram o funcionamento do corpo humano no seu
estado normal sem doenças.
Enquanto aluna do primeiro perı́odo
também fui introduzida ao SUS durante as visitas às unidades de saúde
da famı́lia, de forma que passei a ter
contato com a população usuária e conceitos teóricos estudados na sala
comecei a entender o papel do profis- de aula.
Como o alicerce que sustenta
sional médico dentro dessas comuas universidades brasileiras está no
nidades.
tripé ensino, pesquisa e extensão, é
necessário aproveitar os projetos exComo o alicerce que sustenta as tracurriculares. Esses são oportuuniversidades brasileiras está no nidades singulares de conhecer notripé ensino, pesquisa e
vas perspectivas, apesar de ser difı́cil
extensão, é necessário aproveitar conciliar a carga horária com proos projetos extracurriculares
jetos paralelos como a iniciação
cientı́fica. Espero aproveitar meus
Só conheci a realidade univer- anos de universitária também para
sitária quando ela realmente se tornou participar de atividades de pesquisa
meu cotidiano. Acredito que o meu e começar a desenvolver outras ativiestranhamento maior foi a velocidade dades acadêmicas fora da sala de aula.
que os professores ministram uma Amadureci bastante nesse semestre,
imensa quantidade de conteúdo, mas conheci pessoas novas e ampliei meus
com o passar dos meses aprendi no- horizontes.
Na universidade são
vas formas de absorver a matéria e muitas as dificuldades, porém não
a otimizar o tempo dando prioridade quero perder esse fascı́nio de caloura.
aos objetivos de cada disciplina. As O primeiro perı́odo já passou, agora
aulas práticas nos laboratórios, estru- só faltam onze!
tura a que não tinha acesso durante
Cecı́lia é estudante do segundo
o ensino médio, são especialmente en- perı́odo de medicina
riquecedoras por ser possı́vel ver os
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O Estudante, 21 de outubro de 2013
SEÇÃO B
Edição 1 8 / 12
Por dentro da UFPE
Feliz segundo
semestre de 2013
O novo perı́odo começará
nasegunda, dia 21/10, e o
perı́odo de modificação de
matrı́cula, de 21 a 30/10.
Veteranos devem se matricular até o dia 15/10.
Quem precisa de férias?
Foi convocado para
o ENADE?
Aos estudantes que foram
convocados ao ENADE
2013 e aos interessados:
a Comissão Própria de
Avaliação da UFPE (CPA)
está promovendo um debate sobre o ENADE.
Data: 6/11, local: Auditório Jorge Lobo, CCS.
Traga sua opinião!
O que são negócios
sociais?
Cansado de esperar pela
oportunidade ideal no
mercado de trabalho?
Por que não criar suas
próprias oportunidades
- e ajudar milhares de
pessoas com isso? Venha
conhecer o ramo dos
negócios sociais com o
Movimento CHOICE,
que está promovendo
um evento sobre o tema
no dia 7/11. Inscrições
para os workshops em
http://goo.gl/tFcibb.
Tecnologia na educação
O Núcleo de Estudos de
Hipertexto e Tecnologia Educacional (NEHTE) está realizando o
5◦ Simpósio Hipertexto e
Tecnologias na Educação
e o 1◦ Colóquio Internacional de Educação com
Tecnologias. O evento
ocorrerá de 13 a 15 de
novembro. Inscrições:
http://goo.gl/PNVYfK.
Haverá palestras e workshops. Mais informações:
http://goo.gl/VLLvq4
Engenharia e
ciência para todos
Oportunidade para
estudar na Europa
O Departamento de
Eletrônica e Sistemas
está realizando a I Semana de Engenharia da
UFPE. Estão programadas
palestras de professores
e profissionais de engenharia voltadas ao público
em geral. A Semana será
de 21 a 25/10, no auditório do CTG. Inscrições:
http://goo.gl/wdl3vU
Seminário de
ciência polı́tica
Interessado em discutir
presidencialismo, democracia, polı́ticas públicas e
temas correlatos? Inscrevase no VII Seminário de
Ciência Polı́tica e Relações
Internacionais, que acontecerá de 21 a 25 de
outubro. Informações:
http://goo.gl/bl118f.
Semana de Ecologia
na UFRPE
O PET Ecologia da
UFRPE está realizando
a V Semana de Ecologia com o tema “Água:
ecologia, gestão e conservação”, que acontecerá
dos dias 18 a 21 de novembro. Mais informações em
http://goo.gl/QUyxfL.
Encontro de
tradução em Pernambuco
O grupo TIBRA está realizando o III Encontro de
Tradução em Pernambuco,
evento que trará professores, tradutores e institutos/empresas para discutir experiências na área.
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O Programa BE Mundus
está oferecendo bolsas
para graduação sanduı́che,
doutorado e pós-doutorado
em várias universidades da
Europa. Estudantes das
áreas de exatas e de todas as licenciaturas podem
concorrer às bolsas. Mais
informações: (81) 21268006 (Cooperação Internacional da UFPE)
Biologia em foco
O Congresso da Licenciatura em Biologia
(CLicBio) vai acontecer
de 14 a 16 de outubro,
com o tema ”Desafios da
formação do biólogo licenciado”. Informações:
http://goo.gl/UI8a5f.
Vamos pensar um
pouco
Interessados em participar do XXX Encontro Nacional dos Estudantes de Filosofia (Mato
Grosso, 2014) devem se
comunicar com o Diretório Acadêmico de
Filosofia. São requeridos
os seguintes dados para a
liberação de um ônibus da
UFPE: nome completo,
CPF, curso/instituição,
perı́odo e se pretende apresentar trabalho. Email:
[email protected].
Vamos empreender
mais um pouco
O Diretório Acadêmico
de Engenharia Eletrônica
está promovendo mais um
evento aberto da série Tecnologia em Foco, com o
tema ‘Empreender: como
criar capital ainda na
graduação’. Data: 30/10,
15h, quarto andar do
CTG. Ao final, haverá
apresentação musical dos
estudantes do curso!
Seminário sobre resiliência das cidades
Como nossas cidades se
sairão com as iminentes
mudanças climáticas?
Venha debater com os
especialistas internacionais do ramo dias 7 e
8 de novembro na FUNDAJ. Inscrições gratuitas:
[email protected]
Procura-se
calouro(a)!
Quer escrever sua experiência de calouro?
Junte-se a nós! [email protected]
Melhore sua leitura
O Departamento de Museologia e Arqueologia está
promovendo uma oficina de
métodos de leitura: ’Interpretor: do reconhecimento
à decisão’. A oficina deverá
começar dia 13/10. Interessados procurar pelo professor Alexandro de Jesus:
[email protected]
Divulgue seu
evento!
Tem algum evento interessante para divulgar? Fale
conosco! [email protected]
O Estudante, 21 de outubro de 2013
SEÇÃO B
Edição 1 9 / 12
SEÇÃO B
A escuridão do Cadafalso
Em seu álbum mais recente, o carioca Momo renova o intimismo e a melancolia na música brasileira
Lucas Adelino, Recife
Apesar de já contar com
quatro álbuns, Marcelo
Frota, o Momo, ainda é
um desconhecido na cena
independente nacional.
Ele pode ser visto em fotos ao lado de Marcelo
Camelo, Cı́cero e Wado,
mas seu nome não evoca
a mesma familiaridade
que o nome de seus amigos. Entretanto, poucos
álbuns produzidos por essa
nova leva de artistas são
tão desafiadores e originais
como Cadafalso (2013),
último trabalho do cantor
e compositor carioca. Aqui
não está presente a melancolia festiva de Canções
de Apartamento (Cı́cero,
2011), ou os versos esparsos e a instrumentação
adornada de Sou (Marcelo
Camelo, 2008). Cadafalso
parece ir na contramão da
estética desses artistas: é
um disco denso, escuro, cujos grandes trunfos se revelam principalmente pela
simplicidade.
Cadafalso é um álbum
sombrio da capa até a
última canção. Mas
Momo não se perde em
lamentações de amor: a
tristeza é destilada de
forma imagética.
Não há excessos no disco.
As nove faixas do disco
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(com exceção de um interlúdio) são breves e consistem inteiramente em voz
e violão. Restringindo-se
a instrumentação, ganham
destaque a força poética de
Momo, que tece imagens
admiráveis e extremamente
simbólicas, e sua técnica
instrumental. Esses elementos, aliados à voz suave
do cantor, contribuem pra
dar um tom quase mı́stico
ao álbum.
Mı́stico e soturno:
Cadafalso é um álbum
sombrio da capa até a
última canção. Entretanto,
Momo não se perde em
lamentações ou histórias
de amor. A tristeza,
aqui, é destilada de forma
imagética. Seja na relação
entre amor e vontade em
Coragem, ou no mundo
poliuretano de Recomeço,
as letras parecem pintar
quadros e sugerir emoções
ao invés de contá-las diretamente, em tom confessional.
O que mais encanta em
Cadafalso é como Momo
conseguiu transformar um
formato que, por si só, não
é especialmente original
(voz e violão) e transformá-lo em algo único.
É um álbum de mistério
e solidão, mas sobretudo
de uma poesia impactante, algo que eu tinha
encontrado em Pink Moon
(1972) do americano Nick
Drake, mas em nenhum
álbum nacional até agora.
Obrigado, Momo!
Lucas é estudante de jornalismo da UFPE.
O Estudante, 21 de outubro de 2013
SEÇÃO B
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O estilo de vida de um cara feliz
Impossı́vel não se deleitar com a história de vida de Richard Branson
Felipe Duque, Olinda
Em “Perdendo minha Virgindade”, o multimilionário empreendedor Richard
Branson conta como construiu sua
fortuna começando do zero - e como
foi divertido esse processo. Sua vitoriosa história começa na infância,
perı́odo em que seus pais constantemente o desafiavam, incentivando-o a
superar seus limites. Uma vez, aos
11 anos, sua mãe o acordou no meio
da noite obrigando-o a ir de bicicleta,
sozinho, à casa de um parente a mais
de 70 quilômetros de distância, a fim
de estimular seu senso de direção e
sua resistência fı́sica. Depois de concluı́do o desafio, e retornado a casa,
recebeu um ’muito bem’ da mãe e um
apanhado de tarefas domésticas.
Mais velho, Branson começou a
se desafiar por conta própria, abrindo
suas asas para viver a vida ao máximo
- seu bordão até os dias de hoje. Ele
detém o recorde mundial de travessia em barco do Oceano Atlântico,
o recorde mundial de travessia em
balão do Oceano Pacı́fico, além de
diversas tentativas mal-sucedidas que
quase acabaram de forma trágica
para ele e sua equipe.
Seus relatos dessas experiências são bastante
vı́vidos, transportando o leitor para as
tensas situações em que ele se encontrava.
Virgin: sua gravadora de CD, companhia aérea, marca de refrigerante,
grupo de caridade, além de várias outras empresas nos mais diversos ramos
- tudo isso criado por um homem que
nunca sequer tentou entrar em nenhuma universidade. Uma lição que ele
deixa clara, no entanto, é que em nenhum momento ele se enveredou por
esses ramos somente pelo dinheiro.
Sua principal motivação sempre foi a
diversão.
Pela exposição de um estilo de
vida alto-astral, ético, responsável até certo ponto -, mas mostrando de
forma franca seus vários erros, o livro
“Perdendo minha virgindade” recebe
o selo “Estudante Aprova”.
“Posso dizer sem medo que eu
nunca fiz nenhum negócio somente
“Se dinheiro for seu único
pelo dinheiro. Se esse é seu único momotivo, não entre nessa. Um
tivo, não entre nessa. Um negócio tem
negócio tem que ser envolvente, que ser envolvente, divertido; tem que
estimular sua criatividade”
exercitar seus instintos criativos.”
Felipe Duque é estudante de enMas Branson é mais conhecido
pela sua vida de empreendedor. No genharia eletrônica da UFPE.
livro, ele conta como fundou o grupo
Tudo o que você podia ser
Renato Souto, Recife
De mala aparentemente pronta, como sı́mbolo que se
coloca e se faz presente, ou a recém-comprada câmera,
assim como a expectativa de, com todas estas coisas a
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tiracolo, partir para algo desconhecido, novo; chame do
que quiser. Trajetória, jornada, viagem. Aqui chamarei
de aventura. Não há certezas, mas o desejo pelo processo
existe. Tudo é caminho, via. O inı́cio de algo, o começo de
alguma coisa, a partida propulsora para uma experiência.
Até o seu fim é idealizado, pensado. Mas e o meio?
A trama ainda está a ser escrita. Roteiros possı́veis
traçados, expectativas incontidas existentes, e a pouca
ideia do que está por vir. Mas, assim como tudo, as escolhas serão feitas. Um destino eleito, datas de ida e volta
marcadas, e novamente eles, os signos; as roupas na mala,
a câmera na mochila, o casaco no ombro, o livro debaixo
do braço, a expectativa dentro do peito e a vida inter-
O Estudante, 21 de outubro de 2013
SEÇÃO B
rompida, espremida e demarcada entre as fronteiras do
antes e depois. E o restante das coisas sobra e se revela
na intuição, no misterioso amanhã. A pré-produção terminou. Os preparativos foram muitos, e saboreados em
cada etapa riscada do caderno de afazeres. Comecemos,
então.
Viajar é produzir, inventar. Personagens aparecerão;
um plot os enlaçará e, assim, então, um gênero surgirá.
Rodemos estrada afora, com a câmera na mão, no capô ou
na mala do carro, e continuemos; com sı́mbolos e imagens
a comporem uma cenografia esteticamente interessante e
Edição 1 11 / 12
desafiadora, e que as lentes da(o) fotógrafa(o) registrem
a mise-en-scène, a dança dos corpos cênicos e as sombras
naturais das locações. Pela janela do cinema, do carro, sob
rodas ou a pé se caminha, atrás de algum momento, que
pode, ou não, ser aprisionado pelo tempo, pela fotografia
captada, pela imagem revelada. Que seu olhar certeiro e
fotográfico reflita uma rica inspiração através do cinema,
e de seus produtos fı́lmicos. Trata-se de longos percursos,
medidos pela metragem da pelı́cula, pelos quilômetros das
rodovias.
Viajar é produzir, inventar. Personagens aparecerão; um plot os
enlaçará e, assim, então, um gênero surgirá.
Os tempos não são mortos, mas sim vivos, e pulsantes.
Há vida no marasmo de uma longa distância entre cidades
e fronteiras. Por uma vida mais ágil e dinâmica, e por
cinematografias mais lentas e paradas, pois há muito chão
a se percorrer, e as linhas fronteiriças precisam ser ultrapassadas. O material adquirido ao longo da odisseia
pode ser farto, ou não. E organizado e distribuı́do em
fases, categorias, formatos, ou gêneros cinematográficos.
Na nossa viagem temos o road movie como norteador e
ponto de partida para a história, mas obviamente que
drama, comédia e suspense hão de pintar por aı́. Aqui a
descoberta do mistério não é tão objetivamente aguardada
como se quando vai de encontro a uma esquina. A estrada
deita-se reta e geometricamente bela diante dos olhos
da(o) cineasta(o).
Não há moral da história, porque ela ainda não acabou,
ou porque a moral não cabe. A pós não chegou. O diário
de bordo é cotidianamente escrito, e em seu rodapé um
filme sugerido. Não há fórmula para criar cinema, mas
alguns guias podem ajudar, como o de Jodoroswky, e
suas onze lições. Ou se complicar demais pode-se criar
um itinerário narrativo que perpasse obras fı́lmicas admiradas pelo agente narrativo da jornada; e colocar no âmago
da sua escrita estas influenciadas passagens. Pela contracultura e pioneirismo em Easy Rider; pelas descobertas
através do sexo, da dor e da amizade em Y Tu Mamá
También; pela maternidade latente e fervosora de Central do Brasil; pela descoberta de um mundo verdadeiro
em Na Natureza Selvagem; pela constatação de que a mudança não virá simplesmente por causa de uma viagem em
Profissão Repórter; pela poesia e beleza de Viajo Porque
Preciso, Volto Porque Te Amo; pelo estranhamento e excentricidade em Estranhos no Paraı́so; e pelo sumiço dos
outros em A Aventura. Por um começo de aventura repleto de boa energia. Por novas paisagens nas janelas; pois
é olhando para fora, para lá, que se enxerga as coisas cá.
Renato Souto é estudante de cinema e audiovisual da
UFPE.
O melhor do spotted
às vezes usa uma mini barba. Espero
Comentário num post: “Tô só es- que não sejas hetero. Deixe-me introperando o dia que alguém vai postar duzir o real sentido da biologia na sua
uma foto ABRAÇADO com uma pes- vida, seu lindo.”
soa e perguntar: vi essa gatinha no
campus, abraçamos e tiramos foto,
Rapidinha do Leminski
alguém pode me dizer o nome?”
não discuto
com o destino
O melhor do spotted 2
“Calouro de biológicas bacharelado. o que pintar
Uma amiga viu pegando cdu/boa eu assino
viagem/caxanga no Derby. É branquinho, com cabelo preto baixinho e (do poema “Não discuto”)
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jornaloestudan-
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