Língua e Cultura Chinesa

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Língua e Cultura Chinesa
Língua e Cultura Chinesa
Lendas sobre ervas medicinais chinesas (2)
Mahuang (煊煓) Efedra
Wang Suoying
Docente da UMC; Docente da Universidade de Aveiro; Responsável pelo Curso de Chinês na Delegação Económica e
Comercial de Macau em Portugal e no Centro Científico e Cultural de Macau; Investigadora do Centro de Linguística da
Universidade Nova de Lisboa.
A efedra faz parte da família Ephedraceae e é usada na China
há cinco mil anos no tratamento de problemas de asma e
O aprendiz respondeu: “Sim. Para provocar a transpiração,
infecções respiratórias, entre outros casos.
troca poderá provocar a morte”
Esta planta, cujas pequenas folhas são reduzidas a esca-
O
mas nas ligações, era denominada wuyecao/㡯⚅嗘, isto
usa-se a haste; para parar a transpiração, usa-se a raíz. A sua
governador
distrital
perguntou:
“O
doente
tinha
transpiração?”
é, “erva sem folhas”. Então porque é agora conhecida como
mahuang/煊煓? Vamos ouvir o que a lenda conta.
O aprendiz respondeu: “Sim, transpirava do corpo todo.”
Era uma vez um farmacêutico idoso, sem filhos, que vivia
O governador voltou a perguntar: “O que utilizou para o
tratar?”
com o seu aprendiz. Este, muito vaidoso, pensava que sabia
mais do que o mestre, pelo que tomava decisões sem o consultar querendo ser independente.
O aprendiz respondeu: “A haste.”
O governador, furioso, concluiu: “Disparate! Usou a haste que
Ao despedir-se do mestre, travaram o seguinte diálogo:
Mestre: “Há uma erva com a qual tens que ter muito cuidado.”
tem efeito de provocar a transpiração num doente que já estava a transpirar. Claro que morreu de tanto transpirar, o que
provocou o colapso!” Sentenciou 40 chicotadas ao acusado,
além de três anos de prisão. Quanto ao mestre, foi liberto na
altura.
Aprendiz: “Qual é?”
Mestre: “Wuyecao.”
Aprendiz: “Porquê?”
Mestre: “Porque a raíz e a haste desta erva têm efeitos diferentes. Para provocar a transpiração, usa-se a haste; para
parar a transpiração, usa-se a raíz. A sua troca poderá provocar a morte. Memorizaste? Repete!
O aprendiz repetiu e os dois separaram-se.
Poucos dias depois de o aprendiz ter começado a tratar doentes por conta própria, um destes morreu após ter tomado
sopa de erva sem folhas. O culpado foi levado pela família
do morto ao governador distrital e este, ao saber o nome do
seu mestre, mandou chamá-lo e censurou-o: “Como é que
ensinou o seu aprendiz? O doente morreu devido ao tratamento dele!”
Após três anos de prisão, o aprendiz reconheceu inteiramente o seu erro. Assim que saiu da prisão, foi falar com o mestre
querendo voltar a aprender com ele. Perante essa atitude, o
mestre aceitou-o de novo como aprendiz.
A partir daí, o homem tinha muito cuidado ao lidar com as
ervas medicinais, sobretudo a erva sem folhas. Como teve
um grande problema com esta planta, passou a chamar-lhe
mafancao/煊䍵嗘, isto é, erva do problema. Sendo a raíz
da erva amarela (huang/煓em chinês), mudou mais tarde o
nome para mahuang/煊煓, que se pode ser traduzido como
“problema amarelo”.
O mestre perguntou ao aprendiz: “Ainda te lembras das palavras que te mandei memorizar?”
Journal of Tradicional Chinese Medicine – Edição Portuguesa - Nº 41 - 2013
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