Biodiversidade brasileira como fonte de novos fitoterápicos

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Biodiversidade brasileira como fonte de novos fitoterápicos
Biodiversidade brasileira como
fonte de novos fitoterápicos
Pela Dra. Daniela Sachs
Imagens: FreeDigitalPhotos.net
Durante a maior parte da existência humana as plantas
medicinais foram praticamente o único recurso disponível
para o tratamento das enfermidades. Em países em desenvolvimento isso ainda é verdadeiro. A prática do uso
de plantas medicinais é a principal opção terapêutica de
aproximadamente 80% da população nos países em desenvolvimento, de acordo com a Organização Mundial da
Saúde (OMS). O mercado mundial de fitoterápicos, fármacos provenientes de plantas medicinais, movimenta cerca
de US$ 22 bilhões por ano. No Brasil, estima-se que o comércio de fitoterápicos seja mais de US$ 400 milhões, 5%
do mercado total de fármacos.
Os tratamentos à base de plantas medicinais foram
criados pelo método de experiência e erro e forneceram
uma grande quantidade de terapias com bons resultados.
Hoje, muitos fármacos encontrados nas farmácias contêm
os mesmos princípios ativos extraídos de plantas medicinais. No Egito antigo foi encontrado um dos primeiros
textos médicos que relata o uso de plantas medicinais para
o tratamento de várias enfermidades, o Papiro de Ebers. Nele
estão descritas mais de 800 receitas à base de plantas como
babosa e hortelã (Figura 1), por exemplo. Além dos egípcios,
os chineses também registraram os poderes curativos das
plantas, há mais de 2.000 anos, descreveram que um arbusto do deserto denominado mahuang eliminava a tosse e
aliviava males dos pulmões e brônquios. Hoje sabe-se que
o arbusto contém o princípio ativo efedrina, presente em
medicamentos utilizados para o tratamento de resfriados.
A
B
Figura 1. (A) babosa e (B) hortelã são plantas com propriedades
medicinas descritas no Papiro de Ebers.
No início do século XX, a medicina entra na sua era
moderna e avanços tecnológicos elucidaram a origem das
doenças provendo uma melhor compreensão de como o
corpo funciona. Com as novas tecnologias, os químicos
puderam isolar e extrair os princípios ativos das plantas
medicinais para depois sintetizar esses princípios ativos em
laboratório. Em 1.805, Friedrich Sertürner isola a morfina da
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Figura 2. Esquema da extração da morfina, um princípio ativo
proveniente da papoula (Papaver somniferum L.). Novas técnicas
de extração e isolamento do princípio ativo de plantas medicinais propiciaram o início da indústria farmacêutica.
papoula e rapidamente sua técnica foi utilizada para extrair
o princípio ativo de outras plantas. Desses primeiros experimentos surgiu a indústria farmacêutica que não apenas isola
e extrai o princípio ativo das plantas medicinais, mas também pode sintetizá-los em laboratórios em doses estáveis e
padronizadas (Figura 2). Dessa maneira, fármacos sintetizados no laboratório substituíram os fármacos provenientes
do campo ou do jardim. Como consequência, os fármacos
clássicos derivados de plantas medicinais perderam espaço
para os de origem sintética.
Nas últimas décadas, entretanto, ocorreu um fenômeno interessante na fitoterapia e novos medicamentos estão
sendo desenvolvidos e recebendo atenção especial. Essa
foi a estratégia utilizada pelo laboratório Aché no caso do
desenvolvimento do Acheflan. Utilizando o conhecimento popular, a Aché desenvolveu efetivamente um fármaco
no Brasil que chegou às prateleiras das farmácias. Sabiase que a erva baleeira, ou Cordia verbenacea, arbusto das
restingas, cicatriza feridas e alivia dores. Entretanto, foi
necessário que um funcionário da Aché sofresse uma contusão numa partida de futebol para que essa história tivesse
início. Após a contusão no joelho, o funcionário experimentou o alívio proporcionado pela garrafada da erva e decidiu
investigar os efeitos terapêuticos da erva baleeira (Cordia
verbenacea). Depois de 16 anos a pomada chegou ao mercado com grande potencial de vendas. O desenvolvimento
do Acheflan teve a participação de diversas instituições
Naturale
outubro/novembro
agosto/setembro - 2013
públicas como a Universidade Estadual de Campinas,
Universidade de São Paulo, Universidade Federal do Rio
de Janeiro e Universidade Federal de Santa Catarina.
Estudos preliminares, envolvendo pesquisador do Centro de Estudos e Inovação em Materiais Biofuncionais
Avançados (CEIMBA) da Universidade Federal de Itajubá
(UNIFEI), investiga a ação anti-inflamatória de uma planta medicinal conhecida por seu uso popular no interior
de São Paulo.
Atualmente, apesar da crescente importância dos
fitoterápicos, relativamente poucos estudos foram realizados a fim de comprovar sua eficácia e segurança,
sendo que muitas plantas medicinais ainda são utilizadas com base somente no seu uso popular. É importante
ressaltar que o uso indiscriminado dos fitoterápicos, pode trazer consequências graves para a saúde. Afirmação
do tipo “é remédio natural, portanto não faz mal” não é
verdadeira. Ao contrário, existem vários exemplos que
desmentem essa afirmação. Plantas como aroeira brava (Lithraea brasiliensis March), avelós (Euphorbia tirucalli L.)
e buchinha (Luffa operculata Cogn) possuem substâncias
que se ingeridas podem causar intoxicação. Para ser
comercializado no Brasil um fitoterápico deve ter registro na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa),
responsável pela qualidade, segurança e eficácia do produto, que adota requisitos até mais rígidos do que os
utilizados para regulamentar os medicamentos sintéticos, na tentativa de desvincular os fitoterápicos da ideia
de que são produtos de qualidade inferior ou sem risco.
Dra. Daniela Sachs, Professora e Coordenadora Científica do Centro de Estudos e Inovação em Materiais Biofuncionais
Avançados da UNIFEI. Doutora em
Farmacologia pela Faculdade de
Medicina de Ribeirão Preto da
Universidade de São Paulo e
Pós-Doutora em Farmacologia
pela Faculdade de
Medicina de Ribeirão
Preto da Universidade
de São Paulo e em
Bioquímica e
Imunologia pela
Universidade Federal
de Minas Gerais.
Naturale
outubro/novembro - 2013
Curso G9 abre as
portas para a Feira do
Conhecimento 2013
Por Bill Souza
O Curso G9 realiza a 19ª edição da Feira do
Conhecimento, projeto institucional que envolve
alunos da Educação Infantil ao Ensino Médio. O
tema, este ano, é “Matemática: modelando a vida”.
O evento é aberto à visitação de escolas de Itajubá
e região e da comunidade. A abertura será dia 16,
às 20h, com apresentações artísticas e culturais; a
visitação será dia 21, das 10h às 20h, e dia 22, das
8h às 17h, nas dependências do Curso G9/FACESM.
“A UNESCO declarou 2013 como o Ano Internacional da Matemática do Planeta Terra”, diz
Giovanni Henrique Faria Floriano, coordenador geral da Feira e diretor de Planejamento do G9. “A
partir disso escolhemos o tema da Feira, que é bastante atual e mostra as conexões entre Biologia e
Matemática”, completa.
Os trabalhos dos alunos, divididos em subtemas, começou junto com o ano letivo. Durante
esse período, eles realizaram pesquisas, visitas,
entrevistas e participaram de debates ligados ao
assunto tratado.
Dentre os principais assuntos que serão abordados na Feira 2013 estão: a história da modelagem
matemática, determinismo e aleatoriedade, a matemática na arte, geometria fractal, a biomimética
e os principais modelos matemáticos aplicados ao
estudo da genética, da dinâmica de populações, da
neurociência, da epidemiologia, do câncer, da fisiologia humana (geral e esportiva) e das condições
ambientais (em especial no controle de enchentes
em Itajubá).
Mais informações pelo telefone (35) 36231877 ou pelo site www.curso-g9.com.br.
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