Natal: uma grata dependência de Cristo
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Natal: uma grata dependência de Cristo
nella Chiesa e nel mondo na Igreja e no mundo Diretor: Giulio Andreotti Natal: uma grata dependência de Cristo A mensagem de Rowan Williams, primaz da Comunhão Anglicana, para os leitores de 30Dias www.30giorni.it MENSILE SPED. IN ABB. POST. Tar. Economy Taxe Percue Tassa Riscossa Roma. ED. TRENTA GIORNI SOC. COOP. A R. L. ISSN 1827-627X ANO XXIX - N.11 - 2011 R$ 15,00 - € 5 In caso di mancato recapito rinviare a Uff. Poste Roma Romanina per la restituzione al mittente previo addebito. If undelivered please return to sender, postage prepaid, via Romanina post office, Roma, Italy. En cas de non distribution, renvoyer pour restitution à lʼexpéditeur, en port dû, à: Ufficio Poste Roma Romanina, Italie ano XXIX N. Sumário 11 ano 2011 Na capa: A Árvore de Jessé, miniatura extraída da Bíblia de Lambeth, século XII, Lambeth Palace Library; na foto, o arcebispo Rowan Williams EDITORIAL Fechar as contas é por si uma das mais importantes operações políticas 4 — por Giulio Andreotti p. 42 O risco dos movimentos messiânicos Encontro com Riccardo Di Segni, rabino-chefe da comunidade judaica de Roma CAPA CRISTIANISMO Natal: uma grata dependência de Cristo — pelo arcebispo de Canterbury, Rowan Williams 20 NESTE NÚMERO REPORTAGEM “Não somos maiores que nossos pais” — por G. Ricciardi, fotos de M. Quatrucci 27 p. 27 Reportagem Em Le Barroux, perto de Avinhão, na França, há quarenta anos uma comunidade beneditina cresce marcada pela estreita observância da Regra e pelo amor à antiga tradição litúrgica da Igreja Primeiro Milênio TRADIÇÃO E MOVIMENTOS O risco dos movimentos messiânicos Entrevista com Riccardo Di Segni — por G. Cubeddu 42 ARTE CRISTÃ No silêncio das nossas igrejas Entrevista com Paolo Portoghesi — por P. Mattei 54 PRIMEIRO MILÊNIO Perseguidos em tempos recentíssimos — pelo cardeal Walter Brandmüller Perseguidos em tempos recentíssimos. Um artigo do cardeal Brandmüller 62 SEÇÕES CARTAS DO MUNDO TODO p. 62 30DIAS NA IGREJA E NO MUNDO 30DIAS Nº 11 - 2011 8 48 3 Editorial Fechar as contas é por si uma das mais importantes operações políticas por Giulio Andreotti Como em outras vezes no passado – e penso Não podemos colocar em dúvida que a União Europeia esteja atra- por exemplo, nos anos anteriores à entrada na vessando um momento difícil. moeda única – o equívoco de fundo é a difusa Mas justamente por isso creio que agora seja a convicção de que a exigência de uma forte dimihora certa para deter-se em uma reflexão: par- nuição da dívida pública dependa apenas das solitindo da constatação de que, apesar das dificul- citações e das obrigações impostas pela União dades, o caminho tomado foi e continua sendo Europeia, como se fosse possível escapar a um o caminho certo. Ninguém pensava que o per- saneamento fisiologicamente indispensável. Além disso, o fato de combinar um aumento curso rumo à União fosse um caminho disseminado de flores e de fáceis metas. Em 54 anos te- tributário às exigências de estabilidade europeia ve-se um desenvolvimento superior às previsões mais otimistas, apesar das não raras parênteses do chamado europessimismo e da ação dos aglomerados autárquicos muito poderosos no sistema de cada um dos países. A cúpula de Bruxelas de 9 de dezembro de 2011 concluiu-se com um acordo que deve ser completado em março com um tratado intergovernamental sobre a União orçamentária ao qual somente a Grã-Bretanha não deu adesão. Esse compromisso foi comentado por muitos como uma coerção às finanças de cada país, como a abertura de um período de ainda mais sacrifícios e impostos que poderiam agravar a atual Manifestantes com suas barracas diante da sede do Banco Central Europeu crise econômica. em Frankfurt em outubro de 2011 4 30DIAS Nº 11 - 2011 A chanceler alemã Angela Merkel, o presidente francês Nicolas Sarkozy e o primeiro-ministro italiano Mario Monti no final do encontro a três em Estrasburgo, 24 de novembro de 2011 O equívoco de fundo é a difusa convicção de que a exigência de uma forte diminuição da dívida pública dependa apenas das solicitações e das obrigações impostas pela União Europeia, como se fosse possível escapar a um saneamento fisiologicamente indispensável certamente não causa simpatias para com a União, originando hipóteses de saídas inovadoras e extravagantes. Porque a Europa é um fato unitário mas composto por muitos fatores. Se um dos fatores é separado dos outros não há muito o que fazer, senão partir para a liquidação. Ao contrário, se refletirmos compreenderemos que o saneamento da dívida pública de um país deve ser sempre um objetivo, mas saindo da Europa, tanto a Itália, como também os outros países, não teriam nenhuma compensação em termos de desenvolvimento e bem-estar. Por exemplo é irrealista propor uma alternativa entre progresso da União e luta ao desemprego. Não sei se a União possa realizar o seu propó- sito de aumentar as vagas de trabalho, mas o que é certo é que os Estados por si teriam muito menos possibilidades. O mesmo vale para o euro; temos muitos problemas com a moeda única, mas saindo do euro teríamos um a mais: a nossa própria existência. É verdade que o conceito de simultaneidade do desenvolvimento monetário e do desenvolvimento institucional diminuiu e que isso pode levar a consequências graves, mas contrapor, como foi feito, a Europa dos contabilistas e dos banqueiros à Europa da política é um engano, porque fechar as contas é por si uma das mais importantes operações políticas. Recordo que um dos artífices do acordo de Maastricht foi o “banqueiro” Guido Carli. E também na época houve quem colocasse em dúvida que a Itália tivesse a possibilidade de alcançar os parâmetros solicitados. Talvez tenha ocorrido um excesso de velocidade, seja na passagem de Comunidade a União, seja no alargamento para 25 e depois para 27 membros. E também a estipulação do Tratado Constitucional, ocorrida, também em Roma, em 29 de outubro de 2004, não foi completamente natural, mas não podemos deixar passar este momento sem reforçar convencimentos supranacionais. Lamentar-se por temidos acordos especiais entre Paris e Berlim também é uma estrada errada e danosa, porque não devemos criar manias de perseguição anti-italiana e porque os governos passam, mas a grande política exterior permanece. Os eixos preferenciais entre países nunca deram bons frutos e tanto a França como a Alemanha certamente não teriam vantagem com a Itália rebaixada. Também a Comunidade do Carvão e do Aço nasceu como solidariedade entre a Alemanha e a França, dois Estados historicamente inimigos, e foi uma solidariedade participada junto com a Itália e com os três países do Benelux com suas características de conexão norte-europeia. Como italianos, temos o orgulho de estar entre os seis povos da corajosa Missão de ¬ 30DIAS Nº 11 - 2011 5 Editorial Contrapor a Europa dos contabilistas e dos banqueiros à Europa da política é um engano, porque fechar as contas é por si uma das mais importantes operações políticas. Recordo que um dos artífices do acordo de Maastricht foi o “banqueiro” Guido Carli Guido Carli, à direita, com Mario Draghi em uma foto da década de 1980 1957. Talvez isso nos dê algum direito, mas certamente muitos deveres. Concluindo, creio que uma pausa de reflexão seja necessária, sem deflagar bandeiras ou exasperar aspectos críticos. Nós, mais idosos, que tivemos a possibilidade de participar ao entusiasmo 3OGIORNI nella Chiesa e nel mondo Diretor Giulio Andreotti REDAÇÃO Via Vincenzo Manzini, 45 00173 Roma Tel.+39 06 72.64.041 Fax +39 06 72.63.33.95 Internet: www.30giorni.it E- mail: [email protected] Vice-Diretores Roberto Rotondo - [email protected] Giovanni Cubeddu - [email protected] Redação Alessandra Francioni - [email protected] Davide Malacaria - [email protected] Paolo Mattei - [email protected] Massimo Quattrucci [email protected] Gianni Valente - [email protected] Gráfica Marco Pigliapoco - [email protected] Vincenzo Scicolone - [email protected] Marco Viola - [email protected] do início, enfrentando contrariedades e ceticismos muito difusos, devemos exortar a continuar a crer na positividade de uma Europa unida. Mesmo em um período de dificuldade como este. Depois do Calvário vem a ressurreição, mesmo que não seja um fato automático. q Imagens Paolo Galosi - [email protected] Colaboradores Pierluca Azzaro, Françoise-Marie Babinet, Marie-Ange Beaugrand, Maurizio Benzi, Lorenzo Bianchi, Massimo Borghesi, Lucio Brunelli, Rodolfo Caporale, Pina Baglioni, Lorenzo Cappelletti, Gianni Cardinale, Stefania Falasca, Giuseppe Frangi, Silvia Kritzenberger, Walter Montini, Jane Nogara, Stefano M. Paci, Felix Palacios, Tommaso Ricci, Giovanni Ricciardi Colaboraram neste número Cardeal Walter Brandmüller Cardeal de Canterbury Rowan Williams Escritório Legal Davide Ramazzotti - [email protected] Secretaria de redação [email protected] 3OGIORNI nella Chiesa e nel mondo é uma publicação mensal registrada junto ao Tribunal de Roma na data 11/11/1993 n. 501. A publicação beneficia-se de subsídios públicos diretos de acordo com a lei de 7 de agosto de 1990, n. 250 SOCIEDADE EDITORA Trenta Giorni soc. coop. a r. l. Sede legale: Via Vincenzo Manzini, 45 00173 Roma Conselho de Administração Giampaolo Frezza (presidente), Massimo Quattrucci (vice-presidente), Giovanni Cubeddu, Paolo Mattei, Roberto Rotondo, Michele Sancioni, Gianni Valente Diretor responsável Roberto Rotondo Tipografia Arti Grafiche La Moderna Via di Tor Cervara, 171 - Roma ESCRITÓRIO PARA ASSINATURA E DIFUSÃO Via Vincenzo Manzini, 45 - 00173 Roma Tel. +39 06 72.64.041 Fax +39 06 72.63.33.95 E-mail: [email protected] De segunda a sexta-feira das 9h às 18h e-mail: [email protected] Este número foi concluído na redação dia 30 de novembro de 2011. O editorial foi concluído na tipografia em 10 de dezembro de 2011 Impressão concluída no mês de janeiro de 2012 CRÉDITOS FOTOGRÁFICOS Lambeth Palace Library: Capa; pp.21,23; Associated Press/LaPresse: pp.4,5,44,48,49,50,52; Ansa: p.6; Mario De Renzis: pp.8-9; Archivio ETS Milano: pp.11,12-13,18-19; Reuters/Contrasto: pp.13,18,50; Osservatore Romano: pp.20,25; Tim Ashley: p.22; The Dean and Chapter of Westminster: p.24; Massimo Quattrucci: pp.27-41; Agenzia Contrasto: pp.42-43,44; Corbis: p.43; Romano Siciliani: pp.46,53; por gentil concessão da sala de imprensa Opus Dei: p.51; Foto Scala, Firenze: pp.54,64; Giovanna Massobrio: p.54; por gentil concessão do Professor Paolo Portoghesi: pp.55,56,57,58,59; Paolo Galosi: p.63; Veneranda Fabbrica di San Pietro: p.65; Museus Vaticanos: p.65. Um patrimônio que une arte, cultura e espiritualidade na maravilhosa paisagem natu ral dos Montes “Simbruini” O patrimônio artístico e cultural desta região é fascinante. Os Mosteiros são jóias de inestimável valor pelas suas elaboradas arquiteturas, seus raros afrescos e o exclusivo patrimônio bibliográfico e de museus. A ESTRUTURA OFERECE HOSPITALIDADE INDIVIDUALMENTE E PARA GRUPOS E DISPÕE DE: u Quartos com 1 a 4 camas com banheiro autônomo, telefone, capacidade total para 65 pessoas. u Sala Aabadia de Santa Escolástica, situada a poucos passos de Subiaco, foi fundada por S. Bento no século VI. São de particular interesse histórico o campanário românico, construído no século XI, os três claustros (renascentista, gótico e cosmatesco) e a bela igreja neoclássica de Quarenghi. Bar e TV Sat 2000. u Restaurante com capacidade para 500 pessoas. Principais distâncias: 60 km de Roma, u 2 Salas para Congressos, coligadas com áudio-vídeo. u Estacionamento interno. 18 km de Fiuggi parque. u Capela. TODOS OS AMBIENTES SÃO ACESSÍVEIS A DEFICIENTES FÍSICOS RIETI Firenze ‡ u Grande 30 km de Tívoli, L’Aquila - Pescara Borgorose Vicovaro Mandela Subiaco ROMA La Foresteria Frascati Fiuggi Anagni Pomezia Velletri Anagni Fiuggi Guarcino Alatri Sora FROSINONE Cassino LATINA MOSTEIRO DE Sta. ESCOLÁSTICA Hospedagem do Mosteiro - Para reservas: Como chegar no Mosteiro Pontecorvo ‡ Fondi Napoli Formia Terracina Gaeta Tel. 0774.85569 Fax 0774.822862 E-Mail: [email protected] • www.benedettini-subiaco.it Cartas do mundo todo • Cartas do mundo todo • Ca ARGENTINA Rezo por vocês: não posso me empenhar de outro modo Florencio Varela, 30 de agosto de 2011 Com toda minha estima, à Associação Piccola Via onlus. Sou pai de uma freira que vive em um mosteiro de clarissas. Tenho 76 anos e minha filha quase 45, dos quais 25 de clausura. Gosto muito dos monumentos e das obras de arte da Igreja no mundo e sou grande apreciador do trabalho da revista 30Giorni. Mas não tenho condições financeiras para a assinatura. Peço a caridade de poder recebê-la grátis. Rezo pela missão que vocês levam adiante e não posso me empenhar de outro modo. Se não for pedir demais, gostaria muito de receber também gratuitamente 20 exemplares de Quien reza se salva para dá-los a pessoas que têm necessidades. Fico imensamente agradecido. Máximo Lezcano FILIPINAS CARMELO THE HEARTS OF JESUS AND MARY Trezentos exemplares de Who prays is saved Malaybalay City, 28 de setembro de 2011 Caro diretor Giulio Andreotti, seja louvado Jesus Cristo! Agradecemos-lhe muitíssimo pela generosidade e gentileza demonstrada pelo senhor ao nos enviar, 8 30DIAS Nº 11 - 2011 artas do mundo todo • Cartas do mundo todo • Cartas do mundo todo • A Basílica da Anunciação em Nazaré todos os meses, um exemplar gratuito da revista 30Days. Pelo bom trabalho que faz, Deus o recompense com a abundância de todas as graças e bênçãos necessárias para levar adiante a sua missão. Permito-me humildemente pedir-lhe ao menos 300 exemplares do pequeno livro Who prays is saved. Seriam distribuídos aos presentes por ocasião do meu vigésimo quinto aniversário da profissão solene, dia 6 de dezembro de 2011. Nós rezamos incessantemente pelo senhor e pela sua família, pela redação e por todos os colaboradores. Que a graça de Deus esteja sempre convosco. Muito confiante em uma sua resposta positiva, devotamente sua em Jesus, Maria e José, irmã Mary Catherine, OCD NIGÉRIA ABADIA BENEDITINA DE SANTA ESCOLÁSTICA Imensa gratidão pelo CD de cantos gregorianos Umuoji (Anambra), 5 de outubro de 2011 Caro diretor Giulio Andreotti, gostaríamos de manifestar-lhe a nossa imensa gratidão pelo CD de cantos gregorianos que nos foram enviados e também pelos exemplares da revista 30Days in the Church and in the world que recebemos pontualmente. Deus onipotente os recompense pela sua generosidade e pela importante obra de evangelização que vocês realizam com esta revista. Sinceramente sua em Cristo, abadessa, madre Margaret Mary Ngobidi, OSB 30DIAS Nº 11 - 2011 9 Cartas do mundo todo • Cartas do mundo todo • Ca NICARÁGUA IRMÃS DE NOSSA SENHORA DO REFÚGIO NO MONTE CALVÁRIO DO CONVENTO SANTA VIRGÍNIA Um obrigada da Nicarágua San Jorge, 8 de outubro de 2011 A paz e a alegria de Nosso Senhor Jesus Cristo esteja convosco! Agradecemos-lhes de coração pelo generoso gesto de ter enviado as revistas para nós irmãs e para o nosso pároco Sérgio. Fazemos votos e pedimos a Deus que esta revista possa chegar por todos os lugares e continuar a fazer o bem. Para nós que estamos longe coloca-nos pertinho da Igreja de Roma e faz-nos sentir unidas a todos os irmãos na fé e na oração. Continuem a fazer tanto bem! Obrigada! Irmãs de Nossa Senhora do Refúgio no Monte Calvário FILIPINAS CARMELO SAINT JOHN OF THE CROSS Em 2012 festejaremos os 50 anos de fundação do nosso Carmelo Ozamiz City, 10 de outubro de 2011 Gentil senador, sejam louvados Jesus e Maria, e bênçãos para o senhor e seus familiares! Mais uma vez, agradeço infinitamente pela edição inglesa de 30Days que vocês nos enviam há vários anos. 10 30DIAS Nº 11 - 2011 Dessa vez queremos pedir-lhes o pequeno livro de orações Who prays is saved. No próximo ano, dia 3 de outubro de 2012, agradecendo o Senhor, festejaremos os 50 anos de fundação do nosso carmelo. Achamos que o livrinho de vocês seria o “brinde” perfeito para os que virão aqui por ocasião dos festejos. Ozamiz, na província de Misamis Ocidental, onde se encontra o nosso carmelo, foi por muito tempo terra de missão: muitos aqui professavam o “aglipayan”, a religião criada por um bispo durante a revolução filipina contra os espanhóis. Ozamiz foi por muitos anos terra de evangelização dos nossos missionários. O nosso carmelo foi fundado em 1962, do carmelo de Bacolod na província de Negros Ocidental, por iniciativa do bispo Patrick Cronin. Pretendemos convidar os bispos reunidos no Dopim – diocese de Dipolog, Ozamiz, Pagadian, Iligan, Marawi – e por isso auspiciamos que no dia 3 de outubro de 2012 tenhamos aqui conosco uma grande participação. Seria demais solicitar-lhes para a nossa festa 2 mil exemplares de Who prays is saved? Pretendemos também, se possível, traduzir o livrinho de orações em cebuano, pois entre nossa gente muitos não falam inglês. Construímos a nossa capela e o nosso mosteiro ano após ano, pouco a pouco, dependendo dos meios disponíveis. E fizemos tudo isso utilizando um material considerado mais durável, mas também o menos caro no mercado: o amianto. Infelizmente, cerca de 45 anos depois, muitas de nós começaram a ficar doentes e os médicos disseram que talvez fosse devido ao amianto usado para as obras; mas não tínhamos meios para reconstruir a nossa casa. Então nós “bombardeamos” o Céu com as nossas orações, pedindo ao Senhor para que nos ajudasse a reconstruir a Casa de Sua Mãe, Nossa Senhora do Carmelo. Dois anos atrás, um membro de uma família de construtores, depois de ter visto a nossa casa, decidiu reconstruir o nosso dormitório, e depois o refeitório, a cozinha, a biblioteca e a sala comum. No início éramos 26, mas dia 10 de agosto uma das nossas irmãs deixou-nos, depois do falecimento da madre fundadora já em 2004. Além disso, neste momento a madre priora está lutando contra o câncer e está fazendo quimioterapia em Manila. Ainda devem ser reconstruídas e reformadas algumas partes do mosteiro e a capela, mas os ambientes principais já estão reformados com ótimos materiais em condições de resistir aos cupins, uma verdadeira praga para as estruturas de madeira da nossa casa. ¬ artas do mundo todo • Cartas do mundo todo • Cartas do mundo todo • O pequeno altar na Gruta da Anunciação, na Basílica da Anunciação, em Nazaré, com a inscrição VERBUM CARO HIC FACTUM EST (AQUI O VERBO SE FEZ CARNE) Cartas do mundo todo • Cartas do mundo todo • Ca A estrela que indica o lugar onde nasceu Jesus na Gruta da Natividade, na Basílica da Natividade, em Belém, com a inscrição HIC DE VERGINE MARIA IESUS CHRISTUS NATUS EST (AQUI DA VIRGEM MARIA NASCEU JESUS CRISTO) Podemos pedir-lhe um outro favor, gentil senador? Precisamos de um sino adequado para chamar a nossa comunidade à oração e para tocar o Angelus, além de chamar as pessoas à missa. Gostaríamos de pedir-lhe o favor de nos ajudar a encontrar para o nosso mosteiro um sino, talvez graças a alguma das sociedades que fazem publicidade em 30Days? Na nossa pobreza não temos inibição para pedir estes favores, porque vemos o seu grande amor pelo Senhor e Sua Mãe, e tudo o que vocês fazem pelos mosteiros, conventos e as pessoas consagradas ao Senhor. E rendemos louvores e graças a Deus por tudo o que vocês fazem pela Igreja. Agradecemos-lhes profundamente por tudo o que vocês poderão fazer para nos ajudar, dirigindo o nosso olhar ao Senhor para que seja ele mesmo o nosso melhor “obrigado”. Garantindo a nossa devota oração pelo senhor e pelos seus caros, pelos colaboradores de 30Days, te12 30DIAS Nº 11 - 2011 mos o senhor conosco no nosso afeto e nas nossas orações. Em Jesus e Maria, as irmãs do Carmelo de Ozamiz. Em nome da reverenda madre e da comunidade, irmã Mary Therese, OCD artas do mundo todo • Cartas do mundo todo • Cartas do mundo todo • ARGENTINA SEMINÁRIO DIOCESANO SAN JOSÉ DA DIOCESE DE SANTO TOMÉ Los cantos de la Tradición para os seminaristas Santo Tomé, 13 de outubro de 2011 Senhor diretor, sou o reitor do seminário diocesano San José da diocese de Santo Tomé, na República Argentina. Recebi, junto com a revista, o suplemento Los cantos de la Tradición. Considero uma publicação de grande riqueza pelo conteúdo que contribui para manter viva a nossa Tradição. Agradeço-lhe porque ao ouvir o CD vieram-me recordações dos meus anos de seminário. Escrevo-lhe para obter informações sobre a disponibilidade do suplemento e o custo. E para saber se é possível adquiri-lo diretamente aqui, na Argentina. Gostaria de dar um disco para cada um dos dez seminaristas da nossa diocese. Assim que for possível, o senhor me mande o preço do suplemento para então eu decidir sobre a compra para os nossos jovens. Cordiais saudações, padre Juan Carlos Fernández-Benítez continua na p. 16 Crianças na Gruta da Natividade Cartas do mundo todo • Cartas do mundo todo • Confiança! É a mão de Jesus que tudo conduz... Santa Teresa do Menino Jesus Convite à oração A redação de 30Dias convida a todos, em particular às pessoas consagradas dos mosteiros de clausura, a rezarem por padre Giacomo Tantardini. Há alguns meses ele vem-se tratando de um câncer no pulmão. Que o Senhor nos conceda pedir com confiança o milagre da cura. Aos sacerdotes que estimam e querem bem a 30Giorni pedimos que celebrem a santa missa segundo essa intenção. Aos pais pedimos a caridade de fazerem seus filhos rezar. Não nos cansemos de rezar. A confiança faz milagres. Santa Teresa do Menino Jesus 14 30DIAS Nº 11 - 2011 • Cartas do mundo todo • Cartas do mundo todo • Cartas do mundo todo • “Estou muito contente com o fato de 30Giorni fazer uma nova edição deste pequeno livro que contém as orações fundamentais dos cristãos, amadurecidas ao longo dos séculos. Faço votos de que este pequeno livro possa se tornar um companheiro de viagem para muitos cristãos”. da apresentação do cardeal Joseph Ratzinger de 18 de fevereiro de 2005 (eleito Papa em 19 de abril de 2005 com o nome de Bento XVI) QUEM REZA SE SALVA O livrinho, do qual 30Dias já distribuiu centenas de milhares de exemplares, contém as orações mais simples da vida cristã, como as da manhã e da noite, e tudo o que ajuda para uma boa confissão APENAS 1€ por exemplar, mais despesas de expedição AS EDIÇÕES SÃO EM LÍNGUA ALEMÃ, ESPANHOLA FRANCESA, INGLESA, ITALIANA, PORTUGUESA E CHINESA É possível solicitar exemplares de todas as línguas (a edição italiana apresenta-se em dois formatos, grande e pequeno), escrevendo para 30GIORNI via Vincenzo Manzini,45 - 00173 Roma ou para o e-mail: [email protected] Cartas do mundo todo • Cartas do mundo todo • Ca SUÍÇA MOSTEIRO DA PAIXÃO DE CRISTO 30Tage mantém-nos unidas ao coração da nossa realidade católica segue da p. 13 Jakobsbad, 18 de outubro de 2011 MÉXICO FRADES MÍNIMOS DO CONVENTO NUESTRA SEÑORA DE LA SOLEDAD Quinhentos exemplares de Quien reza se salva para a festa de Nossa Senhora de Guadalupe Saltillo (Coahuila), 16 de outubro de 2011 Estimadíssimo senador Giulio Andreotti é com imensa gratidão que quero agradecer-lhe pessoalmente pela revista 30Giorni que há alguns meses chega à nossa missão mexicana, onde, como frades da Ordem dos Mínimos, testemunhamos o carisma da caridade, da conversão e da reconciliação do nosso fundador, São Francisco de Paula, colocando-nos ao serviço dos mais pobres e necessitados do lugar. Graças à sua generosidade e de toda a redação, estamos recebendo gratuitamente este precioso instrumento de informação que é de vital importância para nós, religiosos, pois nos mantém em comunhão com todas a Igreja e com o mundo atual, e é uma fonte segura de atualização. Gostaria de apresentar à sua sensibilidade religiosa o meu desejo de dispor de 500 livrinhos Quien reza se salva para oferecê-los às famílias por ocasião da minha próxima visita em preparação à festa de Nossa Senhora de Guadalupe, que acontece dia 12 de dezembro. Considero uma publicação particularmente útil para minha gente, que na maior parte é humilde e simples, porque contém tudo aquilo que é verdadeiramente necessário saber e utilizar para viver uma vida cristã autêntica e profunda. Agradecendo-lhe antecipadamente pela grande dádiva que tenho certeza de receber, asseguro-lhe as orações da minha comunidade religiosa e de toda minha gente. Com gratidão e estima, em Cristo, padre Omar Javier Solís Rosales, OM, superior da comunidade dos frades mínimos 16 30DIAS Nº 11 - 2011 Estimado senador Giulio Andreotti, aqui no mosteiro das Capuchinhas da Paixão de Cristo recebemos há muito tempo a sua revista 30Tage, muito bem feita e interessante. Mantém-nos unidas ao coração da nossa realidade católica e oferece-nos uma ampla visão sobre o pensamento da nossa Igreja. Gostaríamos de agradecer-lhe por esta sua gentileza: cada vez traz também a nós um pouco de alegria por toda a Igreja. Garantindo que a nossa comunidade recorda nas orações o seu trabalho e o de seus colaboradores e jornalistas, envio com gratidão as minhas mais sinceras saudações. Madre superiora Ir. Mirjam Huber e comunidade CUBA Quien reza se salva para as crianças e os camponeses cubanos Havana, 19 de outubro de 2011 Senhor Giulio Andreotti, ilustre irmão em Cristo, paz e saúde! Chegou às nossas mãos o número 4/5 da sua revista 30Días e compartilhamos plenamente os critérios e as preocupações: a sua revista é uma profunda e maravilhosa catequese. Somos missionários camponeses católicos, fazemos parte de um ramo da Congregação da Missão de São Vicente de Paulo e de Santa Luísa de Marillac e trabalhamos em comunidades isoladas e rurais, na nossa amada Cuba. Tomamos conta também de algumas crianças tetraplégicas e de suas famílias, anunciando a Palavra de Deus e partilhando com eles tudo o que podemos. Vimos na sua revista o livrinho de artas do mundo todo • Cartas do mundo todo • Cartas do mundo todo • orações Quien reza se salva e escrevemos-lhe para pedir alguns exemplares, já que os nossos camponeses gostam muito de rezar. Seria-nos muito útil também alguns catecismos simples e alguns terços. Quem sabe se há alguma pessoa generosa que queira ajudar essas crianças. Acreditamos firmemente na comunhão dos santos. Junto aos nossos pedidos e aos nossos agradecimentos, garantimos-lhe as nossas simples e humildes orações. Que Jesus, Maria e José o guardem e o abençoem. Seu em Cristo, Sergio León Mendiboure 30DIAS Nº 11 - 2011 17 Cartas do mundo todo • Cartas do mundo todo • Ca Recebo esta revista em italiano. Gostaria muito de recebê-la em espanhol, como quando eu era bispo da diocese de Comodoro Rivadavia. Recebê-la em espanhol será de proveito para outras pessoas que poderão assim, ler com maior facilidade e melhor compreensão. Agradeço-lhes e saúdo cordialmente, garantindolhes uma viva lembrança na oração. Em Cristo e Maria, ARGENTINA monsenhor Virginio D. Bressanelli, bispo de Neuquén EPISCOPADO DE NEUQUÉN Aprecio 30Giorni e agradeço-lhes de coração Neuquén, 21 de outubro de 2011 À direita, uma Prezado diretor, sou monsenhor Virginio Domingo Bressanelli, SCI, bispo de Neuquén, na Patagônia, Argentina. Todos os meses recebo a revista 30Giorni, que aprecio e agradeço de coração porque me permite ter em mãos temas de atualidade e de aprofundamento cristão, além do amplo horizonte teológico, espiritual, histórico e cultural mostrados por muitos artigos. vista do interior da Basílica da Natividade À esquerda, devoção na Basílica da Natividade 18 30DIAS Nº 11 - 2011 artas do mundo todo • Cartas do mundo todo • Cartas do mundo todo • IRLANDA CARMELO SAINT JOSEPH Obrigada pela maravilhosa reportagem sobre a Turquia Dublim, 24 de outubro de 2011 A paz de Cristo! Caro senhor Andreotti, todos os meses recebemos com gratidão 30Days e gostamos muito dos artigos e das lindas imagens. Gostaríamos de agradecer-lhe de modo particular pelo nú- Anos depois, entrei para o carmelo na Inglaterra, passei quarenta anos em um convento galês, depois outros vinte anos em um convento perto de Johannesburg, na África do Sul, e agora estou aqui em Dublim. Gostaria muito de poder receber uma cópia daquela foto da igreja de Santo Antônio publicada em 30Days e também outras fotos, sempre da mesma igreja, caso vocês tenham. Com meus sentidos agradecimentos pela sua gentileza em doar 30Days a tanta gente e com os votos de divinas bênçãos , sua em Cristo, ir. Anne PERU SEMINÁRIO NUESTRA SEÑORA DE QUILCA 30Giorni ajuda os seminaristas a amar a Igreja Camaná, 26 de outubro de 2011 mero 6 de 2011. A entrevista com o cardeal Wuerl sobre os meios de evangelização na sua diocese de Washington, nos Estados Unidos, e os artigos sobre a história dos católicos afro-americanos e sobre o desenvolvimento da Igreja latino-americana eram excepcionais, assim como o perfil sobre o padre Jules Lebreton que estava muito bem escrito. Mas foi a maravilhosa reportagem sobre a Turquia que levou a nossa priora a encorajar-me para que lhe escrevesse. Para mim foi uma alegria ver uma foto da igreja de Santo Antônio de Pádua, onde fui batizada em 7 de março de 1926 pelo padre René Alexandre, CM, pois eu tinha nascido na então Constantinopla em janeiro daquele ano. Senhor diretor, receba uma cordial saudação por parte dos padres formadores e dos seminaristas do seminário Nuestra Señora de Quilca de Camaná, com a esperança que Deus lhe proteja na realização das suas atividades cotidianas. Escrevo-lhe para exprimir o meu mais profundo agradecimento pelo envio mensal da revista 30Giorni, que é de grande ajuda e é um instrumento de informação para os jovens que se formam no nosso seminário e também para nós sacerdotes que vivemos aqui com eles. Cada exemplar da revista 30Giorni é um impulso à unidade e universalidade da Igreja, que promove nos nossos seminaristas o apego a esta e um seu conhecimento mais profundo, ensinando a amá-la com um afeto sempre maior. Agradecendo-lhe pelo seu apoio e a sua atenção, cumprimento-lhe, garantindo-lhe que temos grande consideração pelo senhor e o recordamos sempre nas nossas orações e na santa missa cotidiana que celebramos aqui, no nosso seminário. Que Deus continue a abençoá-lo e doe abundantes bênçãos a todos os que trabalham com o senhor. Vice-reitor, padre Percy Saavedra Ramírez 30DIAS Nº 11 - 2011 19 C A PA Natal: uma grata dependência de Cristo A mensagem para os leitores de 30Dias de sua graça Rowan Williams, arcebispo de Canterbury ala-se muito hoje daqueles que preferem “espiritualidade” a “religião”. E a maior parte de nós entende alguma coisa do que significa essa posição. Representa uma revolta contra a ideia de que nós, seres humanos, somos salvos ou transfigurados apenas pela adesão à vida de uma instituição e a um conjunto de afirmações ou de teorias. ¬ F O arcebispo Rowan Williams mostra a Bento XVI a miniatura da Árvore de Jessé, na Bíblia de Lambeth, ao final de seu encontro no Lambeth Palace, em Londres, em 17 de setembro de 2010 20 30DIAS Nº 11 - 2011 Falar com verdade da Igreja é, nesse sentido, ir além tanto da religião quanto da espiritualidade. A Igreja é a condição de ser um com Jesus Cristo. E nós celebramos o Natal porque essa nova condição de vida depende absoluta e unicamente do fato de que um menino nasceu há dois mil anos no Oriente Médio A Árvore de Jessé, miniatura extraída da Bíblia de Lambeth, século XII, Lambeth Palace Library, Londres 30DIAS Nº 11 - 2011 21 C A PA “Não era ainda bastante humilde para reconhecer o humilde Jesus Cristo como meu Mestre”, diz Santo Agostinho. E, numa das imagens mais grandiosas de toda a sua obra, ele fala de como Cristo, vindo a nós na carne, nos impede de dar passos presunçosos para a descoberta da verdade com base apenas em nossos esforços Rowan Williams Mas dessa forma existe o perigo de reduzir a fé a uma série de experiências que nos fazem sentir melhor, com a consequência de que não haveria nenhuma verdade universal, nenhuma revolução na vida dos homens que salve de uma vez por todas, só uma sucessão de experimentos “espirituais”, que amplia a nossa sensibilidade, mas não nos leva para dentro de um mundo novo. De certa forma, precisamos de uma linguagem que nos possa conduzir para além da inútil polarização entre esses dois termos, uma linguagem de nova criação e uma prática de vida nova com novas relações. Falar com verdade da Igreja é, nesse sentido, ir além tanto da religião quanto da espiritualidade. A Igreja não existe para providenciar experiências fantásticas (de modo que você possa abandoná-la quando essas experiências se esgotam); a Igreja não é tampouco uma instituição com regras e convicções compartilhadas. A Igreja é a condição de ser um com Jesus Cristo, ou seja, o dom de sermos livres para 22 30DIAS Nº 11 - 2011 rezar a Sua oração e para compartilhar a Sua vida, para respirar o Seu respiro. E nós celebramos o Natal porque essa nova condição de vida depende absoluta e unicamente do fato de que um menino nasceu há dois mil anos no Oriente Médio. Não depende do desenvolvimento positivo de novas técnicas que nos ajudem a nos sentir melhor; não depende tampouco da revelação de um conjunto de teoremas. Começa com uma criança indefesa que ainda não fala; porque é em relação a essa frágil vida de homem que todo ser humano encontrará em última análise o seu verdadeiro destino. Em comparação tanto com o fascínio de experiências emocionantes quanto com a segurança de convicções inabaláveis, por si só isso pode parecer um tanto frágil. No entanto, na medida em que põe a verdadeira fonte da vida e da esperança completamente fora do âmbito do esforço e da organização humanos, nos desafia a confiar num fundamento incomparavelmente mais estável e menos mutável: a ação e a promessa de Deus, o ¬ A Natividade, miniatura extraída do Livro das Horas 1488.5, século XV, Lambeth Palace Library, Londres 30DIAS Nº 11 - 2011 23 C A PA Rowan Williams na igreja de Saint Margaret, Westminster Abbey, Londres 24 30DIAS Nº 11 - 2011 Cristianismo Esquecendo aspirações espirituais e correção religiosa, somos convidados pelo evangelho do Natal simplesmente a fazer isto: a nos deixar cair, em nosso humano cansaço, na terra do amor divino, amor divino que se fez indefeso e frágil de modo a poder pôr em crise a nossa vã confiança em nós mesmos Bento XVI e Rowan Williams de joelhos diante do altar do túmulo de São Francisco, Assis, 27 de outubro de 2011 Verbo de Deus que faz que a vida divina viva na vida da criação e sobretudo na vida desse menino recém-nascido. O conflito entre uma vida de relação na comunhão do Corpo de Cristo e o âmbito tanto da “espiritualidade” quanto da “religião” foi resolvido já mil e setecentos anos atrás por Santo Agostinho, quando escreveu as Confissões. Ele descreve suas aventuras “espirituais”, primeiramente dentro de uma organização herética com dogmas bem definidos que não aceitava nenhuma verificação intelectual, depois como especialista em meditação e numa espécie de misticismo. E ele nos fala de modo comovente da frustração profunda que sentiu, ao vislumbrar de longe o reino da verdade e da paz eterna. Mas diz que o problema subjacente era que em tudo isso ele nunca se libertara da obsessão de seu eu, de seu orgulho. “Não era ainda bastante humilde para reconhecer o humilde Jesus Cristo como meu Mestre”, diz. E, numa das imagens mais grandiosas de toda a sua obra, ele fala de como Cristo, vindo a nós na carne, nos impede de dar passos presun- çosos para a descoberta da verdade com base apenas em nossos esforços. Nós paramos de repente em nosso percurso, “por vermos aos nossos pés uma divindade frágil, tornada frágil pela comparticipação ‘da túnica de pele’ que vestimos. Exaustos jogamo-nos sobre esta frágil vida divina de modo que quando essa se erguer também nós nos ergueremos” (Confissões VII, 18, 24). Esquecendo aspirações espirituais e correção religiosa, somos convidados pelo evangelho do Natal simplesmente a fazer isto: a nos deixar cair, em nosso humano cansaço, na terra do amor divino, amor divino que se fez indefeso e frágil de modo a poder pôr em crise a nossa vã confiança em nós mesmos. Assim renovados, contra toda presumível expectativa, nos elevamos para a vida da grata dependência de Cristo e de um em relação ao outro, para a comunhão do mútuo dom sem fim. + Rowan Canterbury Lambeth Palace, Londres Natal de 2011 30DIAS Nº 11 - 2011 25 R EPORTAGEM “Não somos maiores que os nossos pais” “A liturgia tradicional é mais rica em sinais que nos lembram de onde vem a fé, e nos ensina que nós não somos maiores que os nossos pais, mas transmitimos apenas o que recebemos” R EPORTAGEM Em Le Barroux, perto de Avinhão, na França, há quarenta anos a comunidade beneditina fundada por dom Gérard Calvet cresce marcada pela estreita observância da Regra e pelo amor à antiga tradição litúrgica da Igreja texto de Giovanni Ricciardi fotos de Massimo Quattrucci as janelas do mosteiro de Le Barroux, o céu de Provença é uma bandeira celeste estendida ao vento. O mistral o agita às vezes com violência: em certos dias de inverno pode soprar a até trezentos quilômetros por hora nas montanhas próximas. As oliveiras e as vinhas não parecem sofrer com isso, mas a maior parte da vegetação é baixa, é o maquis mediterrâneo, como se diz, com exceção dos ciprestes, cuidadosamente inseridos ali para lembrar que a partir destes muros se olha para o alto. Sob o céu, como um cone regular, ergue-se a massa escura do Mont Ventoux. Foi aqui que na Sexta-Feira Santa de 1336 Francesco Petrarca fez, com seu irmão Gherardo, sua famosa “ascensão”, descrita numa carta ao amigo agostiniano Dionigi di Borgo San Sepolcro, que o iniciara na leitura das Confissões. Ao final da escalada, o poeta leu ao acaso ao irmão uma passagem do livro X, em que Agostinho escreve: “Os homens vão admirar os píncaros dos montes, as ondas alterosas do mar, as largas correntes dos rios, a amplidão do oceano, as órbitas dos astros: e nem pensam em si mesmos”. Petrarca, em sua luta constante entre o amor pelas coisas terrenas e a nostalgia pelas do céu, invejava em Gherardo, que era frade, o desapego, a liberdade que lhe havia permitido subir o monte rápido e ligeiro, sem o peso que segurava o poeta embaixo. ¬ D 28 30DIAS Nº 11 - 2011 Acima, a imagem de Nossa Senhora no claustro do mosteiro; à direita, a igreja de Le Barroux ao alvorecer, durante o canto das Matinas Le Barroux 30DIAS Nº 11 - 2011 29 R EPORTAGEM 30 30DIAS Nº 11 - 2011 O crucifixo sobre o altar, obra de um monge escultor, salienta a realeza e a vitória de Cristo na cruz Le Barroux Os monges cantam o Ofício das Laudes às seis da manhã 30DIAS Nº 11 - 2011 31 R EPORTAGEM Uma história de fidelidade à Tradição Foi bem aqui, há quarenta anos, em 22 de agosto de 1970, que outro Gherardo, para sermos exatos Gérard Calvet, beneditino francês, chegou dirigindo uma motoneta, com suas roupas no bagageiro e a bênção do abade do mosteiro de que provinha, e se estabeleceu na pequena capela de Bédoin, consagrada a Santa Maria Madalena. Nos anos turbulentos do pós-concílio, desejava unicamente continuar sua vida monástica sem ter de submeter-se àqueles “experimentos” de renovação doutrinal ou litúrgica que lhe pareciam muito mais pobres que a riqueza “antiga e sempre nova” da 32 30DIAS Nº 11 - 2011 Depois das Laudes, às seis e quarenta da manhã, cada monge sacerdote celebra a missa “lida” em latim nos altares laterais, auxiliado por um noviço. Nas páginas seguintes, a missa ferial das nove e meia, celebrada no altar central, da qual participam também os fiéis da cidade e amigos do mosteiro 30DIAS Nº 11 - 2011 33 Le Barroux tradição: oração, silêncio, trabalho manual, ofícios em latim, liturgia tradicional. Uma opção pela solidão que durou pouquíssimo. Três dias depois da sua chegada, apresentou-se em Bédoin um jovem para pedir que o acolhesse como noviço. Dom Gérard, surpreso e inseguro a respeito do que fazer, respondeu que não saberia como acolhê-lo, mas a insistência do outro levou a melhor. Depois de oito anos, constitui-se uma comunidade de 11 monges: a capelinha, com seu pequeno priorado em ruínas, prontamente restaurado, tornou-se assim estreita demais para o novo cenóbio. Mas o crescimento da nova comunidade, apoiado pelo abade de dom Gérard, seguia adiante. O apego à liturgia tradicional naqueles anos se conjugou com uma natural simpatia pelas posições de dom Lefebvre, que em julho de 1974 celebrou as ordenações dos primeiros monges da comunidade. Esse fato suscitou a reação do abade, que, se inicialmente tinha apoiado a opção de dom Gérard, naquele momento ordenou-lhe que encerrasse a sua experiência monástica. A comunidade foi excluída por isso da Congregação dos Beneditinos de Subiaco. Diante desse impasse, dom Gérard escolheu o caminho espinhoso de continuar a comunidade que iniciara, sentindo dor pela ruptura, mas convencido em seu coração de que o amor à tradição litúrgica secular da Igreja não poderia estar em conflito com o âmago da fé, com a fidelidade ao Papa, e que Deus encontraria um caminho para resolver uma situação canônica que se tornara irregular. Em 1980, deram adeus a Bédoin e depositaram a primeira pedra do novo mosteiro, no município de Le Barroux, entre o Mont Ventoux e as “Dentelles” de Montmirail, uma construção em estilo neorromânico, nua e essencial, que foi completada em pouco mais de uma década. Nesse meio-tempo, a ruptura entre Lefebvre e a Igreja se aprofundava, embora dom Gérard continuasse a esperar numa reconciliação. Assim, quando em 1988 João Paulo II, com o motu proprio Ecclesia Dei veio ao encontro das solicitações dos católicos “tradicionalistas”, concedendo a eles, embora sob certas condições, que celebrassem segundo o rito pré-conciliar, foi um dia de festa para o mosteiro de Le Barroux. Dom Gérard sempre tinha dito a seus monges que, se não sofressem pela situação canonicamente indefinida do mosteiro, isso significava que não amavam realmente a Igreja. Como dom Lefebvre, não confiando nas ofertas de Roma, ordenou naquele mesmo ano alguns bispos sem o consentimento do Papa, inaugurando o cisma de fato, o mosteiro escolheu sem titubear a fidelidade a Roma e a ruptura com o movimento do arcebispo francês. Dom Gérard pagou esse apego à Igreja vendo-se rejeitado pela comunidade monás- ¬ R EPORTAGEM tica que nesse meio-tempo Le Barroux tinha fundado no Brasil, a qual preferiu continuar fiel à “linha dura” de Lefebvre. No ano seguinte, em 2 de outubro de 1989, o cardeal Gagnon, acompanhado pelo bispo de Avinhão, consagrou solenemente a igreja do mosteiro recém-construída. Com esse gesto público, tornava-se visível a plena unidade da experiência de Le Barroux com a Igreja católica. A vida cotidiana Em meio à luz do campo provençal, o mosteiro parece hoje viver uma vida distante do barulho das lutas eclesiais e do noticiário daqueles anos. Seus sinos acompanham a vida de uma cidadezinha que nos primeiros tempos recebeu com desconfiança e suspeita os recém-chegados. Os monges se levantam no coração da noite para rezar em coro as Matinas, antecedem a aurora em suas celas para meditar a Escritura e os textos dos Padres, se reencontram às seis na igreja do mosteiro para o canto das Laudes e depois aqueles entre eles que receberam a sagrada ordem celebram nos altares laterais a missa “lida” em latim segundo o Missal Romano promulgado em 1962 por João XXIII. Alguns fiéis também entram, desafiando o frio da manhã, e se ajoelham para acompanhar a celebração no mais absoluto silêncio. Depois, todos iniciam os trabalhos do dia. O mosteiro é praticamente autossuficiente. Os 52 monges (alguns muito jovens, com idade média de 46 anos) que hoje constituem a comunidade (mais 13 outros que fundaram uma nova no sudoeste da França) vivem unicamente de seu trabalho, segundo a tradição beneditina. A terra do mosteiro produz óleo e vinho, uma padaria garante a satisfação das necessidades da comunidade, com a venda de biscoitos, baguetes e doces ao povo da cidade ou aos turistas. Há alguns anos o mosteiro abriu também um moinho, que oferece à comunidade rural o serviço de trituração de azeitonas, usando duas moendas de pedra especialmente encomendadas da Toscana e movidas por máquinas modernas. A tipografia também trabalha a todo o vapor, não apenas para imprimir os missais com o rito romano tradicional, mas também para satisfazer às exigências da pequena editora fundada por dom Gérard. A oração do Benedicite abre as refeições, vegetarianas e consumidas em silêncio, com os hóspedes no centro do refeitório, recebidos solenemente pelo abade, que os cumprimenta lavando suas mãos em sinal de acolhida. Uma acolhida que prevê também abrigo noturno para quem não tiver um teto sob o qual dormir por ali. Durante o tempo do almoço ou do jantar, um monge lê uma leitura espiritual ou às vezes até um texto de história ou de caráter mais genericamente cultural. 34 30DIAS Nº 11 - 2011 Não somos maiores que os nossos pais 30DIAS Nº 11 - 2011 35 Le Barroux “A liturgia tradicional é mais rica em sinais que nos lembram de onde vem a fé, e nos ensina que nós não somos maiores que os nossos pais, mas transmitimos apenas o que recebemos”. Não existe polêmica nas palavras do abade Louis-Marie, amigo e discípulo de dom Gérard, que lhe deixou o pastoral da comunidade em 2003, demitindo-se cinco anos antes de morrer. Além do mais, a experiência da beleza que provém dessa liturgia não é privilégio exclusivo desse mosteiro. Outras comunidades de monges adotam hoje na França essa forma de oração. Explica ainda o abade: “Na França secularizada, como me disse uma vez um bispo ucraniano, parece que vemos um grande deserto espiritual, mas nesse deserto há oásis muito bonitos”. Não apenas em Le Barroux. Algo se move, já sem a rigidez dos esquemas de vinte anos atrás. A relação entre o mosteiro e a diocese de Avinhão, em que se encontra a comunidade de dom Gérard, já não é tensa como antigamente. O padre abade vai todos os anos concelebrar com o bispo a missa crismal da Quinta-Feira Santa, e muitos sacerdotes da diocese se abriram a essa experiência monástica, promovendo pontos de comunicação com a Igreja francesa. De modo geral, diz-nos padre Louis-Marie, “as pessoas parecem atraídas para cá não apenas e exclusivamente porque celebramos segundo o rito romano anterior ao Concílio, mas ¬ R EPORTAGEM A vida dos monges é dividida entre oração e trabalho. Nesta página, no alto, a tipografia; no centro, um camponês espera a abertura do moinho do mosteiro para a trituração das azeitonas; na foto grande, o campo de Provença, ao redor do mosteiro simplesmente pela beleza da oração monástica, pelo canto gregoriano que aqui é executado, pois aqui a oração é vivida e sentida na profundidade do silêncio, voltados para Deus”. Todo ano uma centena de sacerdotes provenientes em sua maioria da França, da Itália, da Alemanha, da Grã-Bretanha e da Holanda passam em Le Barroux alguns dias de retiro, para conversar com os monges ou para aprender a celebrar a missa segundo o antigo ritual. O mosteiro conta com cerca de trezentos oblatos, entre sacerdotes, leigos e famílias que têm a espiritualidade beneditina como referência. As vocações que chegam a Le Barroux, hoje no ritmo de duas ou três por ano, têm as mais diversas origens. Há um jovem monge que provém da carreira militar, outro que era engenheiro na China e conheceu Le Barroux pelo site do mosteiro, um terceiro que pediu o batismo aos vinte anos a um padre de Marselha e depois tentou o caminho da vocação numa ordem religiosa, que, porém, lhe pareceu pouco “exigente”. ¬ 36 30DIAS Nº 11 - 2011 À esquerda, um momento da produção de óleo no moinho Le Barroux 30DIAS Nº 11 - 2011 37 R EPORTAGEM E então esse mesmo padre o trouxe para cá “porque um dos aspectos que atraem as pessoas para um lugar como este”, explica o abade, “é uma escolha livre de radicalidade evangélica”. Livre e radical são os dois adjetivos que mais ressoam entre estas paredes. Alguns lefebvrianos, não muitos na verdade, se aproximam da experiência de Le Barroux vendo-a como uma ponte para um retorno à plena comunhão com a Igreja, mas também porque, observa o abade, “na Fraternidade São Pio X sentem que respiram às vezes um ar pesado, caracterizado por aquilo que segundo eles se poderia chamar um certo autoritarismo clerical”. É como se aqui se estabelecesse um equilíbrio diferente, não baseado no compromisso, nem na contraposição a outras realidades eclesiais, mas simplesmente no retorno à Regra de São Bento como caminho para aproximar o coração da vida cristã. “Nestes anos”, acrescenta o padre abade, “pudemos constatar que os mosteiros que resolveram renovar e revolucionar as formas da vida religiosa são hoje os que têm menos vocações na França. Creio que, além do dinamismo e da vitalidade que veem nesta comunidade jovem, um dom que herdamos do nosso fundador, os jovens são atraídos a Le Barroux justamente pela radicalidade da opção por Deus, independentemente da beleza da liturgia que celebramos aqui. Mas isso não é tudo; no fundo, não é isso o essencial. Eu mesmo quando cheguei aqui, e me apaixonei por este lugar, desde o som dos sinos até o cuidado com que é celebrado o Ofício Divino, logo me dei conta de que a vida monástica nada mais é que um holocausto, uma oferta total de si a Deus”. ¬ 38 30DIAS Nº 11 - 2011 A missa solene do primeiro domingo de Advento em Le Barroux; na foto pequena, o abade asperge os fiéis com água benta. Por ocasião do Natal, os monges presentearam os fiéis com exemplares do livro Qui prie sauve son âme Le Barroux 30DIAS Nº 11 - 2011 39 R EPORTAGEM Para informações sobre a comunidade beneditina de Le Barroux, podem ser consultados estes sites: www.barroux.org ou www.jeconstruisunmonastere.com À noite, o som dos sinos chama a todos para as Vésperas, o momento talvez mais íntimo e ao mesmo tempo solene da liturgia comunitária. Enquanto o rumor da oração se espalha na hora do crepúsculo, a sombra do crucifixo sobre o altar se alonga sobre a parede de pedra nua da abside, e tudo parece de repente mais claro. Então é possível entender as palavras com que o abade conclui sua reflexão sobre o fascínio que exerce este lugar: “As coisas que eu disse são reais, mas secundárias. A atração última de uma vocação é simplesmente o bom Deus. É por isso que a vocação, toda vocação continua a ser fundamentalmente um mistério”. q O mosteiro à luz da tarde À direita, o toque dos sinos às dezessete e trinta chama os monges a deixar suas ocupações para o canto das Vésperas, a que se seguirão o jantar, as Completas e o silêncio, prescrito para as vinte e trinta Le Barroux Tradição e movimentos O risco dos movimentos messiânicos Encontro com rav Riccardo Di Segni, rabino-chefe da comunidade judaica de Roma por Giovanni Cubeddu m traço distintivo da pequena mas relevante comunidade judaica italiana é sua capacidade de acolhida. Beneficiaram-se dela, através dos séculos, às vezes ciclicamente, judeus alemães, espanhóis, portugueses e, mais recentemente, os provenientes dos países árabes e U 42 30DIAS Nº 11 - 2011 islâmicos. Para os judeus italianos é normal serem ortodoxos e participar da liturgia em hebraico, e a identidade coletiva nunca foi abalada pelo fato de serem um porto de destino. No máximo, as questões hoje à mesa estão ligadas à assimilação e, ultimamente, à opção de alguns dos recém-chega- dos de realizarem uma reação contra a secularização, por meio da “ultraortodoxia” militante. O líder da diáspora judaica mais antiga, a de Roma, é hoje o rabino Riccardo Di Segni, com quem mais uma vez nos encontramos de bom grado para conversar sobre o que vem acontecendo. À esquerda, jovens judeus romanos na sinagoga durante uma cerimônia; abaixo, uma reunião de Chabad-Lubavitch no Brooklyn, em Nova York Rav Di Segni, já se nota também em Roma a presença de novas identidades do judaísmo. RICCARDO DI SEGNI: Fiquei sabendo que uma vez João Paulo II perguntou por que os judeus romanos não se distinguiam por suas vestimentas, como os judeus poloneses. O Papa, que na juventude vivera dentro de um judaísmo completamente diferente do italiano – o judaísmo polonês que se destacava, principalmente, pela quantidade –, estava acostumado a ver “judeus que se vestiam como judeus”. Há muitas maneiras de vestir-se de modo judaico, e o judeu definitivamente se diferenciava muito do resto da população. Na Itália, essa distância exterior não existe e talvez nunca tenha existido, a não ser pelos sinais impostos na época das normas antijudaicas. Os judeus italianos sempre se vestiram como os outros, é uma caracte- rística cultural nossa não irrelevante. Nos países ocidentais, os judeus se vestem como os outros, com exceção daqueles que pertencem a alguns grupos mais ortodoxos, que ostentam alguns uniformes. Mas é preciso fazer algumas breves premissas sobre isso. É verdade. O mundo judaico ortodoxo tem suas variedades. Existe o modelo chamado modern orthodox, característico da pessoa de concepção e observância ortodoxa, que em sua vestimenta não tem sinais distintivos, a não ser pelo fato de que, sendo homem, cobre a cabeça, e, sendo mulher, se veste de maneira “modesta”, evitando expor seu corpo. Há ainda modelos impropriamente definidos ultraortodoxos, de pessoas que se vestem de preto (alguns acrescentam ao preto uma simples camisa branca e um chapéu borsalino, outros usam outras especificidades). Esse panorama de códigos de vestuário é estranho à tradição italiana, e foi importado recentemente, pois há um movimento de pessoas – provenientes em sua maioria de núcleos ortodoxos dos Estados Unidos, de Israel e ou da França – que se distinguem pelas vestes; e muito frequentemente não são judeus comuns, mas rabinos. E isso nos leva, por outro lado, à discussão sobre como os rabinos devem-se vestir, o que varia entre épocas e lugares: em alguns, eram exigidas especiais solenidade e austeridade e chapéus específicos, em outros, bastava a simples austeridade; temos todas as variantes... Se hoje, portanto, vemos pluralidade de vestimentas também na Itália e em Roma, não é por uma mutação do judaísmo local, mas porque foram acrescentadas essas novas experiências. ¬ Uma vez João Paulo II perguntou por que os judeus romanos não se distinguiam por suas vestimentas, como os judeus poloneses. O Papa na juventude viveu dentro de um judaísmo completamente diferente do italiano. Na Itália, essa distância exterior não existe e talvez nunca tenha existido, a não ser pelos sinais impostos na época das normas antijudaicas. Os judeus italianos sempre se vestiram como os outros, é uma característica cultural nossa não irrelevante 30DIAS Nº 11 - 2011 43 Tradição e movimentos À esquerda, ultraortodoxos poloneses em oração na sinagoga Chabad Shul, em Varsóvia; abaixo, o rabino Riccardo Di Segni Uma mudança com efeitos que podem vir a ser profundos? A primeira coisa que aparece é o elemento da mobilidade. O judaísmo italiano, por composição, é hoje radicalmente diferente do que antecedeu a Segunda Guerra Mundial, quando os judeus residentes eram em grande parte autóctones. O judaísmo italiano saiu do conflito reduzido à metade, empobrecido em seu componente local; em seguida foi reforçado por uma afluência de judeus provenientes do norte da África – particularmente judeus líbios, mas também em menor número egípcios, tunisianos e marroquinos; judeus sírios e libaneses, que se estabeleceram na Itália setentrional; e judeus asquenazitas, que vieram da Europa Central. Assim, o judaísmo italiano se revigorou mas também se fragmentou. A propósito da vestimenta exterior, nota-se uma forte influência cultural do mundo asquenazita, que se tornou, ou está tentando se tornar, líder cultural do mundo religioso. Esse é um fenômeno que foi particularmente percebido em Israel... ... até que os sefarditas se revoltaram contra essa hegemonia – ou seja, contra a ocupação dos postos de liderança por determinado grupo, como ocorreu nas escolas –, chegando até à criação de um partido político, o Shas. Mas, na tentativa de recuperar o poder, há de qualquer forma a imitação dos sinais exteriores, pelos quais o rabino sefardita israelense se veste como o asquenazi44 30DIAS Nº 11 - 2011 ta da Europa Central. E isso é muito estranho; por que os rabinos sefarditas africanos ou do Iraque teriam de se cobrir de preto, com roupas pesadas mesmo no verão...? Hoje nos parece que o look do rabino tem de ser um só. Esses novos movimentos estão presentes também na Itália. Eles se apresentam como uma novidade para o universo judaico, têm uma finalidade de missão interna. O judaísmo não faz nenhuma missão religiosa para o exterior, e a conservação das nossas tradições acontece por meio de mecanismos experimentados e antigos: as escolas, as sinagogas, a família. Uma novidade destes últimos cinquenta anos é que foram promovidos movimentos de outreach, como os chamam nos Estados Unidos, que pro- curam levar a mensagem religiosa a faixas mais extensas do mundo judaico, combatendo a tendência, muito presente, de se fechar no invólucro do pequeno grupo observante e isolar-se. Os movimentos, em vez disso, procuram levar a mensagem o mais para fora possível. São uma fórmula inédita. Novos movimentos, arraigados, porém, em algumas expressões do judaísmo dos séculos passados. Uma carga fortíssima desses movimentos é a tradição chassídica. O chassidismo nasceu em meados do século XVIII, como corrente em que existe um líder carismático que redescobre no judaísmo a dimensão emotiva e espiritual, em contraposição, ou pelo menos em acréscimo, ao componente intelectual que se tornou dominante no decorrer dos séculos. E esse movimento teve um grande impacto popular e se organizou em torno dos líderes – que se tornam dinásticos – de grupos ligados a seu mestre, o rebbe. Porém, com o passar do tempo esses grupos, embora tivessem um notável impacto sobre as pessoas, permaneciam sempre fechados em si mesmos, promoviam a espiritualidade em seu interior. Uma das invenções recentes foi usar a forte carga de carisma que emana da autoridade para enviar pessoas pelo mundo a di- ENCONTRO COM O RABINO-CHEFE RICCARDO DI SEGNI fundir o judaísmo. É uma forma de missão rara no judaísmo dos séculos passados: talvez não houvesse necessidade disso, pois os judeus conheciam outros modos de se organizar, ao passo que hoje queremse organizar para fazer frente à dispersão da fé judaica... Essa missão é realmente apenas para uso interno? Creio que sim; essas iniciativas não são institucionalmente abertas ao mundo exterior. A missão é interna ao povo judaico. Mesmo os movimentos, tendencialmente, respeitam muito a antiga atitude judaica de não proselitismo. Se alguém externo se interessa, pode de algum modo participar. Ou talvez, se procurarmos, encontremos alguém que estava completamente perdido, que não sabia nem que tinha origens judaicas, e assim vem a redescobrir suas raízes... Nesse sentido, nos dirigimos a um público mas amplo. O movimento Chabad [mais conhecido como Chabad-Lubavitch, fundado no século XVIII pelo rabino de origem polonês-lituana Shneur Zalman, de Liadi, cidade da Rússia imperial, ndr], a respeito desse tema do “não judeu”, de modo particular, vem-se dedicando a uma temática sobre a qual o resto do judaísmo continua bastante imobilizado. Segundo a tradição religiosa judaica, os judeus têm uma disciplina sacerdotal específica a observar, que compreende uma quantidade abundante de normas. Na tradição judaica, existem contudo também normas fundamentais que dizem respeito a toda a humanidade, os noachidi, ou seja, descendentes de Noé, como nós os chamamos. Ora, nenhum judeu faz quase nunca missão perante os noachidi, indo lembrar a eles que existem essas normas a serem respeitadas: esses grupos chassídicos, ao contrário, fazem alguma coisa. Pode ser um instrumento de diálogo. Por outro lado, porém, esses movimentos são dirigidos por um líder carismático, com noções e práticas peculiares do carisma. O judaísmo está cheio de episódios de pseudomessias, que a história se encarregou de demonstrar enganadores, mas que continuam até hoje a ter seguidores subterrâneos Acima, Sabbatai Zevi; à direita, Jacob Frank Neles há uma abordagem da tradição que é rígida, no sentido de que o que o mestre afirma não se discute. Em outras expressões, mesmo pertencendo ao mesmo judaísmo ortodoxo, há nisso sempre uma pluralidade, uma dinâmica, o confronto das possíveis soluções. Aqui age, ao contrário, uma espécie de dureza doutrinal. E além disso o carisma é pessoal, no sentido de que pertence ao líder. Trata-se também de movimentos messiânicos. O que impressiona é que em alguns desses ambientes a espera do messias não é a espera de uma pessoa, mas de um princípio. Há uma grande discussão. No judaísmo ortodoxo, tende-se a deixar um pouco de lado a espera do princípio em prol da espera da pessoa. O debate não terminou. Mas dizer que o messianismo é uma época e não uma pessoa é realmente algo que está à margem da ortodoxia. Foi uma das formas de racionalização – o messianismo como época e não como pessoa – em que se banhou também um pouco o judaísmo italiano. Definitivamente, como deve ser julgado o messianismo desses novos movimentos judaicos? O messianismo mais importante pertence ao cristianismo. O cristão diz que Cristo é o messias, o cristianismo é messianismo por definição. Para o judaísmo, a ideia messiânica é uma das muitas. É uma propensão, uma espera, o judaísmo teoricamente poderia existir – como de fato existe – sem o messianismo realizado. Porém, entre as maneiras como é visto e vivido o judaísmo existem grupos em que a espera messiânica se torna forte. E isso se pode traduzir tanto numa intensa religiosidade como também numa intensa política. Qual é o risco disso? O messianismo é uma ideia que impele vigorosamente a humanidade ao longo de sua história, mas para onde a leva? Também o marxismo, e os movimentos seguintes dele originados, são experiências políticas com uma carga religiosa de messianismo. Se o messianismo dá uma carga à religião, tem um impacto positivo, mas, quando se torna uma chave ¬ 30DIAS Nº 11 - 2011 45 Tradição e movimentos A interpretação messiânica se oferece como interpretação da história não apenas no momento de infortúnio, mas também quando uma ordem mundial muda. E um dos momentos em que a ordem mundial mudou foi 1989, a queda do Muro de Berlim de interpretação e até existe em alguns a consciência de um messianismo realizado, estamos numa situação de risco. Algumas situações vividas pelo judaísmo asquenazita são sintomáticas. 30Dias já escreveu a respeito de Sabbatai Zevi e Jacob Frank. O judaísmo está cheio de episódios de pseudomessias, que a história se encarregou de demonstrar enganadores, mas que continuam até hoje a ter seguidores subterrâneos. É um tema implícito mas real na vida do judaísmo hoje? A história impõe constantemente ao povo judeu desafios difíceis, diante dos quais nos interrogamos para entender seu sentido. Aconteceu várias vezes, e em relação às grandes perguntas houve grandes respostas ou, ao contrário, grandes fugas da realidade, ilusões, interpretações ou... movimentos. O que aconteceu ao povo judeu no século passado talvez esteja entre as maiores coisas de sua história e nos impôs perguntas, às quais é difícil responder. Aqui certamente a chave de interpretação de resposta messiânica lança toda a sua força. Mas a interpretação messiânica se oferece como interpretação da história não apenas no momento de infortúnio, mas também quando uma ordem mundial muda. E um dos momentos em que a ordem mundial mudou foi 1989, a queda do Muro de Berlim. Foi um divisor de épocas tão claro que levou a trilhos diferentes o curso da história, e em relação a isso houve perguntas, respostas impulsivas, e também a reflexão. Também hoje estamos num momento de mudança. Mas talvez aconteça sem o custo de milhões de mortos... Hoje há grande incerteza: armas sempre apontadas, massas enormes de pobres, desequilíbrios econômicos, sociedades ocidentais atormenta46 30DIAS Nº 11 - 2011 das por problemas que põem em discussão sua identidade. De um certo ponto de vista, esperamos que possa acontecer de tudo. E então reaparece a ideia de que a história esteja para se completar. Enfim, no cotidiano, o que acontece com o judaísmo tradicional italiano posto em confronto com essas novas/velhas correntes? Há uma troca contínua, não entre grandes ideias messiânicas O Templo-Mor de Roma – absolutamente não –, mas entre modelos de judaísmo vivido intensa ou marginalmente na própria vida. Há um confronto: alguns acolhem o que eles têm de bom, ou seja, a importância de uma reaproximação das tradições, outros os vivem de maneira problemática. E há ainda um pouco de choque de tradições, pois aqueles que chegam de fora não se parecem necessariamente com os ortodoxos locais... q Curtas Curtas Curtas Cu 3ODIAS NO MUNDO 3ODIAS NO MUNDO 3ODIAS NO MUNDO 3ODIAS NO MUN O Papa às crianças: a comunhão, a oração, o terço Durante a visita pastoral ao Benim (18-20 de novembro), o Papa teve um encontro com as crianças. Deste encontro, ocorrido em Cotonou, na igreja paroquial de Santa Rita, publicamos amplos trechos: “Deus, nosso Pai, reuniunos ao redor do seu Filho e nosso Irmão, Jesus Cristo, presente na Hóstia consagrada durante a Missa. É um grande mistério diante do qual se adora e se crê. Jesus, que tanto nos ama, está verdadeiramente presente nos sacrários de todas as igrejas do mundo, nos sacrários das igrejas dos vossos bairros e das vossas paróquias. Convido-vos a visitá-Lo muitas vezes, para Lhe exprimirdes o vosso amor. Alguns de vós já fizeram a Primeira Comunhão; outros estão a preparar-se. O dia da minha Primeira Comunhão foi um dos mais belos da minha vida. Porventura não se passou o mesmo convosco? E por quê? Não foi tanto por causa das roupas lindas, nem dos presentes, nem sequer da refeição de festa; mas sobretudo porque, naquele dia, recebemos pela primeira vez Jesus Cristo. Quando recebo a comunhão, Jesus vem habitar em mim; devo acolhê-Lo com amor e escutá-Lo com atenção. No íntimo do meu coração, posso dizer-Lhe por exemplo: ‘Jesus, eu sei que me amais. Dai-me o vosso amor para que eu Vos ame e ame os outros com o vosso amor. Confio-Vos as minhas alegrias, as mi48 30DIAS Nº 11 - 2011 nhas penas e o meu futuro’. Não hesiteis, queridas crianças, em falar de Jesus aos outros. Ele é um tesouro que é preciso saber partilhar com generosidade. Na história da Igreja, o amor de Jesus encheu de coragem e força muitos cristãos, incluindo crianças como vós. Assim São Kizito, um rapaz ugandês, foi morto porque queria viver segundo o Batismo que tinha recebido. Kizito rezava; compreendera que Deus não é apenas importante, mas que Ele é tudo. E o que é a oração? É um grito de amor lançado para Deus, nosso Pai, com a vontade de imitar Jesus nosso Irmão. Jesus retirava-Se sozinho para rezar. Como Jesus, posso também eu encontrar cada dia um lugar calmo onde me recolho diante duma cruz ou duma imagem sagrada para falar a Jesus e escutá-Lo. [...]. Que a Virgem Maria, sua Mãe, vos ensine a amá-Lo cada vez mais através da oração, do urtas Curtas Curtas Curtas NDO 3ODIAS NO MUNDO 3ODIAS NO MUNDO 3ODIAS NO MUNDO 3ODIAS NO MUNDO PAPA/1 A fonte mais secreta da oração de Jesus Papa Bento XVI na igreja de Santa Rita, Cotonou, Benim, domingo, 20 de novembro “Nas últimas catequeses refletimos sobre alguns exemplos de oração no Antigo Testamento, e hoje gostaria de começar a olhar para Jesus, para a sua oração, que atravessa toda a sua vida, como um canal secreto que irriga a existência, as relações e os gestos, e que O guia, com firmeza progressiva, rumo ao dom total de Si mesmo, segundo o desígnio de amor de Deus Pai. Jesus é o Mestre também das nossas orações, aliás, Ele é o nosso sustento concreto e fraterno, cada vez que nos dirigimos ao Pai. Verdadeiramente, como resume um título do Compêndio do Catecismo da Igreja Católica, ‘a oração é plenamente revelada e realizada em Jesus’. [...] O ensinamento de Jesus sobre a oração deriva, sem dúvida, do seu modo de rezar, adquirido em família, mas tem a sua origem profunda e essencial no seu ser o Filho de Deus, na sua relação singular com Deus Pai. À per gunta: De quem aprendeu Jesus a rezar?, o Compêndio do Catecismo da Igreja Católica assim responde: ‘Jesus, segundo o seu coração de homem, foi ensinado a rezar por sua Mãe e pela tradição judaica. Mas a sua oração brota de uma fonte mais secreta, porque Ele é o Filho eterno de Deus que, na sua santa humanidade, dirige a seu Pai a oração filial perfeita’”. Palavras do papa Bento XVI durante a audiência geral de 30 de novembro. PAPA/2 Como se a fé fosse um dado adquirido de uma vez por todas No dia 25 de novembro, durante a plenária do Pontifício Conselho para os ¬ Afresco de um crucifixo, Basílica dos santos Cosme e Damião, Roma perdão e da caridade. Confio-vos todos a Ela, bem como os vossos familiares e educadores. Olhai! Tiro um terço do meu bolso. O terço é uma espécie de instrumento que se pode usar para rezar. Rezar o terço é simples. Talvez já o saibais fazer, senão pedi aos vossos pais que vos ensinem. Aliás, no fim do nosso encontro, cada um de vós receberá um terço. Com ele na mão, podereis rezar pelo Papa – fazei-o, por favor –, pela Igreja e por todas as intenções importantes. E agora, antes de vos abençoar a todos com grande afeto, rezemos juntos uma Ave Maria pelas crianças do mundo inteiro, especialmente por aquelas que sofrem por causa da doença, da fome e da guerra. Rezemos então: Ave Maria…”. Curtas Curtas Curtas Cu 3ODIAS NO MUNDO 3ODIAS NO MUNDO 3ODIAS NO MUNDO 3ODIAS NO MUN Leigos, Bento XVI afirmou: “Algumas vezes trabalhamos para que a presença dos cristãos no campo social, na política ou na economia fosse mais incisiva, e talvez não nos preocupássemos em igual medida pela firmeza da sua fé, como se se tratasse de um dado adquirido de uma vez por todas. Na realidade, os cristãos não habitam um planeta distante, imune das ‘enfermidades’ do mundo”. Kirill em Beirute, dia 15 de novembro SAGRADO COLÉGIO Os oitenta anos do cardeal Simonis No dia 26 de novembro o cardeal Adrianus Johannes Simonis, arcebispo de Utrecht de 1983 a 2007, completou 80 anos. O cardeal holandês, sacerdote desde 1957, e bispo de Rotterdam de 1970 a 1983, recebeu o barrete de João Paulo II em 1985. Portanto no final de novembro os componentes do colégio cardinalício são 193, dos quais 111 eleitores. No dia 7 de dezembro um outro purpurado completa 80 anos, o coreano Nicholas Cheong Jin-Suk, arcebispo de Seul desde 1998. IGREJA/1 O apelo do patriarca de Antioquia dos Maronitas à Igreja ortodoxa russa para a defesa das minorias cristãs no Oriente Médio “O patriarca maronita Béchara Boutros Raï lançou um apelo ao patriarca da Igreja ortodoxa russa, Cirillo, para uma maior colaboração para salvaguardar a presença de cristãos nos 50 países do Oriente Médio. O encontro ocorreu na terça-feira 15, na residência de Bkerké, cidade libanesa onde se realizou a XX Sessão do Conselho dos Patriarcas Católicos do Oriente”. Este foi o incipit de um artigo do L’Osservatore Romano de 19 de novembro, que prossegue explicando que o patriarca maronita, “dirigindo-se diretamente ao patriarca Cirillo, fez uma proposta de ‘colaboração com a Igreja russa para salvaguardar a presença cristã nos países do Oriente Médio e para ajudar os cristãos a não emigrarem’. Também, ‘para administrar os conflitos políticos na região, os ataques contra os fiéis e o temor de ver a primavera árabe levar ao poder grupos que possam ameaçar a estabilidade e a convivência na região’”. 30DIAS Nº 11 - 2011 IGREJA/2 A relíquia do Santo Cinto de Nossa Senhora do Monte Athos pela primeira vez em Moscou “A fila é constante da manhã até a noite desafiando as gélidas temperaturas do outono moscovita para entrar na Catedral de Cristo Salvador, no centro de Moscou, e beijar um estojo que contém uma das relíquias mais importantes para a Igreja Ortodoxa: o cinto de Nossa Senhora. As pessoas caminham com dificuldade pelas ruas cobertas de gelo e com paciência esperam em média 26 horas em um congestionamento humano de mais de 5 quilômetros que há uma semana está paralisando o já confuso trânsito da capital [...]. Segundo os fiéis, a relíquia ajudaria a curar qualquer doença e a engravidar. Ninguém sabe qual graça teria pedido o poderoso premiê Vladimir Putin à Nossa Senhora quando, no mês passado, beijou por primeiro o ambicionado objeto que tinha acabado de chegar a São Petersburgo vindo do mosteiro de Monte Athos, onde está guardado”. Este é o início de uma breve reportagem publicada no Fatto Quotidiano de 26 de novembro passado. É a primeira vez que a venerada relíquia sai da Grécia. ¬ Fiéis que beijam a relíquia do Santo Cinto de Nossa Senhora em Moscou urtas Curtas Curtas Curtas NDO 3ODIAS NO MUNDO 3ODIAS NO MUNDO 3ODIAS NO MUNDO 3ODIAS NO MUNDO OPUS DEI O primado da oração sobre a ação São Josemaría Escrivá de Balaguer na Gruta de Lourdes “‘Na Igreja de Jesus os mais úteis não são os chamados homens práticos e nem mesmo os puros propagadores de teorias, mas sim os verdadeiros contemplativos’, escrevia no L’Osservatore Romano de 23 de junho de 1985, nos dias do 10º aniversário da morte de Josemaría Escrivá, monsenhor Álvaro del Portillo, seu primeiro sucessor. O tema da contemplação – da chamada ‘frequenta- ção’ com Deus que segundo são Josemaría leva a ‘conhecê-Lo e a conhecer-se’ – foi também o tema central da homilia de monsenhor Javier Echevarría, terceiro prelado do Opus Dei, pronunciada alguns dias atrás na Basílica de Santo Eugênio em Roma por ocasião da ordenação diaconal de 35 futuros sacerdotes”. Este é o início de uma matéria publicada no L’Osservatore Romano de 16 de novembro que se conclui deste modo: “Seria um grave erro, ainda mais no atual momento histórico, transcurar este ensinamento. Diante de um ativismo frenético e desumano que está longe de Deus, a verdadeira proposta cristã sempre foi desconcertante: o primado da oração sobre a ação. Madre Teresa de Calcutá for nece-nos a chave para entender melhor este primado: tudo aquilo que fazia ‘bem no meio do caminho’, como diria são Josemaría, tinha um motor secreto, aceso silenciosamente no coração da noite; a oração diante do seu Jesus eucaristia. Quem sabe se também a nossa noite, empregada deste modo, não nos leve ao alvorecer de um dia realmente novo e talvez inesperado”. Título do artigo: É necessário falar com Deus. O primado da oração sobre a ação. 30DIAS Nº 11 - 2011 51 Curtas Curtas Curtas Cu 3ODIAS NO MUNDO 3ODIAS NO MUNDO 3ODIAS NO MUNDO 3ODIAS NO MUN IRÃ Sergio Romano e o programa nuclear iraniano Um recente relatório da Agência Internacio- lestina muito mais do que não tenham feito nal para a Energia Atômica lançou novamente seus antecessores. O debate sobre a possibilia hipótese de que o Irã esteja preparando uma dade de um ataque preventivo contra as instabomba nuclear. Em um comentário publicado lações iranianas serviria portanto para criar no Corriere della Sera de 16 de novembro, uma maior atenção pelos seus temores. Os EsSergio Romano nota que, mesmo que se con- tados Unidos consideram isso muito arriscado sidere necessário ‘impedir’ ao Irã de apro- e já se manifestaram publicamente sobre o aspriar-se de tal arma, um ataque do Irã contra sunto com as declarações do seu Secretário da Israel “parece muito improvável”. Prossegue Defesa. [...]. Uma última observação. CombaRomano: “Por outro lado ainda me pergunto se os progressos feitos nestes últimos tempos permitem realmente a Teerã possuir uma bomba em alguns anos. Na última década fomos bombardeados por uma longa série de previsões baseadas em calendários muito diferentes. Depois, em dezembro de 2007, o National Intelligence Estimate (um relatório preparado pelo organismo que reúne os Serviços de Espionagem e de Contra-Espionagem dos Estados Unidos) informou, com grande surpresa para todos os A central nuclear em Isfahan, Irã observadores internacionais, que o Irã tinha renunciado desde 2003 ao seu te-se no Irã, já há muitos meses, uma batalha programa nuclear militar. Devemos acreditar política entre o presidente Ahmadinejad e o neste relatório ou no mais recente da Agência guia supremo, o aiatolá Khamenei, apoiado Internacional de Energia Atômica? Alguns co- pela poderosa organização dos Guardiões da meçam a pensar que esta imprevista reapari- Revolução. Enquanto o primeiro parece hoje ção do fantasma iraniano no cenário interna- mais disponível a um acordo com o Ocidencional responda a intenções e estratégias polí- te, os pasdaran pensam que uma maior tenticas. Depois da explosão das revoluções ára- são internacional ajudaria à sua batalha políbes, o Estado de Israel está mais isolado, e por- tica. Um ataque israelense contra o Irã é protanto mais inseguro, e teme que os próximos vavelmente o fator que mais contribuiria à governos da região se dediquem à questão pa- sua vitória”. 52 30DIAS Nº 11 - 2011 urtas Curtas Curtas Curtas NDO 3ODIAS NO MUNDO 3ODIAS NO MUNDO 3ODIAS NO MUNDO 3ODIAS NO MUNDO BASÍLICAS PAPAIS DIPLOMACIA Novo arcipreste em Santa Maria Maior No dia 21 de novembro o arcebispo espanhol Santos Abril y Castelló foi nomeado novo arcipreste da Basílica papal de Santa Maria Maior em Roma. Substitui o cardeal americano Bernard F. Law, 80 anos completados em 4 de novembro passado e que tinha sido nomeado para este cargo por João Paulo II em 2004. O novo arcipreste tem 76 anos e foi ordenado sacerdote em 1960. For mado em Ciências Sociais na Universidade Angelicum e em Direito Canônico na Gregoriana, em 1967 entrou na diplomacia vaticana, trabalhando no Paquistão, Turquia e Secretaria de Estado. Em 1985 foi nomeado arcebispo e núncio na Bolívia, onde ficou até 1989 quando se tor nou representante pontifício em Camarões. Nomeado núncio na Iugoslávia em 1996, no ano 2000 chegou à Argentina onde permaneceu até 2003, quando se tornou núncio na Eslovênia. Desde 22 de janeiro é vice-camerlengo da Santa Igreja Romana e desde abril é também membro da Congregação para os Bispos. CÚRIA Nomeado delegado no Pontifício Conselho para a Cultura No dia 11 de novembro o bispo português Carlos Alberto de Pinho Moreira Azevedo, 58 anos, foi nomeado delegado do Pontifício Conselho para a Cultura. Era bispo auxiliar de Lisboa desde 2005. O bis- Novos núncios na Tanzânia, Itália, Irlanda, Geórgia A basílica de Santa Maria Maior po, ordenado sacerdote em 1977 para a diocese de Porto, foi vice-reitor da Universidade Católica portuguesa. Agora participa da direção do dicastério vaticano com o presidente, cardeal Gianfranco Ravasi e o secretário, bispo Barthélemy Adoukonou. ITÁLIA Novos bispos de Aosta, Carpi, Taranto, Novara, Teggiano-Policastro No dia 9 de novembro monsenhor Franco Lovignana, 54 anos, foi nomeado bispo de Aosta. Nascido na cidade, ordenado sacerdote em 1981, desde 2004 era vigário geral da mesma diocese. No dia 14 de novembro monsenhor Francesco Cavina, 56 anos, foi nomeado bispo de Carpi. Nascido em Faenza, ordenado sacerdote em 1980 para a diocese de Ímola, desde 1996 era oficial junto à seção para as Relações com os Estados da Secretaria de Estado. No dia 21 de novembro o bispo Filippo Santoro, 63 anos, foi promovido ar- cebispo metropolita de Taranto. Nascido em Carbonara, Bari, ordenado sacerdote em 1972 na arquidiocese de Bari-Bitonto, em 1984 foi enviado sacerdote fidei donum ao Brasil. Responsável pela Comunhão e Libertação no Rio de Janeiro, no Brasil e na América Latina, em 1996 foi nomeado auxiliar da arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro; desde 2004 era bispo de Petrópolis. No dia 24 de novembro, o bispo Franco Giulio Brambilla, 62 anos, foi nomeado bispo de Novara. Nascido em Missaglia, na Lombardia, em 1975 foi ordenado sacerdote na arquidiocese de Milão. Desde 2006 era presidente da Faculdade de Teologia da Itália Setentrional e desde 2007 auxiliar de Milão. No dia 26 de novembro o padre redentorista Antonio De Luca, 55 anos, foi nomeado bispo de Teggiano-Policastro. Nascido em Torre del Greco, na província de Nápoles, foi ordenado sacerdote em 1981 e desde 2007 era pró-vigário episcopal para a vida consagrada da arquidiocese de Nápoles. No dia 10 de novembro o arcebispo filipino Francisco Montecillo Padilla, 58 anos, foi nomeado núncio na Tanzânia; desde 2006 era representante pontifício em Papua Nova Guiné e Ilhas Salomão. No dia 15 de novembro o arcebispo Adriano Bernardini, 69 anos, foi nomeado núncio na Itália e San Marino; desde 2003 era representante pontifício na Argentina. No dia 26 de novembro monsenhor Charles John Brown, 52 anos, foi nomeado núncio na Irlanda e elevado à dignidade de arcebispo titular de Aquileia. Nascido em Nova York, onde foi ordenado sacerdote em 1989, desde 1994 era oficial da Congregação para a Doutrina da Fé. Ainda no dia 26 de novembro monsenhor Marek Solczynski, 50 anos, foi nomeado núncio na Geórgia e elevado à dignidade de arce- bispo titular de Cesarea de Mauritânia. Ordenado sacerdote em 1987, na arquidiocese de Varsóvia, em 1993 entrou para o serviço diplomático vaticano, prestando serviço nas nunciaturas do Paraguai, Rússia, sede da ONU de Nova York, Estados Unidos, Turquia, República Tcheca e, por último, Espanha. q 30DIAS Nº 11 - 2011 53 Arte cristã No silêncio das nossas igrejas “As igrejas são domus Dei. Sempre considerei fundamental que numa grande cidade haja a possibilidade de abrir uma porta e ver aquela luzinha acesa que indica a presença do Senhor na Eucaristia”. Entrevista com Paolo Portoghesi, por ocasião de seu octogésimo aniversário por Paolo Mattei Paolo Portoghesi alvez tenha sido justamente o fato de ter nascido e vivido em Roma que amadureceu em mim a convicção de que na arquitetura, e não apenas nesse ramo, a tradição é uma condição vital, e de que pode haver continuidade na mudança. Roma mudou radicalmente muitas vezes, mas manteve essa sua profunda unidade e continuidade. Minhas ideias são sem dúvida influenciadas pela experiência da cidade”. Paolo Portoghesi começa daqui, de Roma, para dar conta de sua posição histórica no debate “T A cúpula de Santo Ivo na Sapienza, de Francesco Borromini, no bairro romano de Santo Eustáquio 54 30DIAS Nº 11 - 2011 O teto com o ideograma estelar de Nossa Senhora da Paz, de Paolo Portoghesi, em Terni; abaixo, uma vista do interior da igreja sobre a cultura arquitetônica, que, a partir da década de 1960, teve nele, como representante máximo da corrente pós-modernista italiana, um adversário das posturas mais extremistas de uma parte do racionalismo, segundo as quais seria preciso romper radicalmente com o passado e com a tradição em favor de um funcionalismo exasperado e abstrato. Segundo o arquiteto romano, entre o antigo e o novo, entre a tradição e a modernidade, não existe contraposição dialética, mas convergência e continuidade. “Professor aposentado” na Sapienza de Roma, onde lecionava Geoarquitetura – um curso que ele mesmo criou para ensinar aos alunos a arte de construir respeitando a história e as peculiaridades dos lugares em que se dá a intervenção –, um dos maiores especialistas em barroco romano e na obra de Borromini, crítico e arquiteto criador (entre suas obras mais famosas, devemos lembrar a Casa Baldi, a Mesquita de Roma e a igreja da Sagrada Família, em Salerno), Portoghesi completou oitenta anos há pouco tempo. Seu ani- versário foi festejado no início de novembro no Vaticano, no Salão Sistino da Biblioteca, redecorado pelo arquiteto para a sua reabertura como sala de leitura para os estudiosos, que ocorrerá em breve. Na ocasião, Portoghesi apresentou um modelo de igreja intitulada a São Bento, que ele projetou como presente para o papa Ratzinger. Fomos encontrá-lo em Calcata, na província de Viterbo, uma esplêndida cidadezinha que domina o vale de Treja do alto de uma montanha de pedras calcárias. Aqui, a menos de cinquenta quilômetros de Roma, Portoghesi dirige seu escritório e toca seus projetos, que são muitos e variados. Daqui a alguns meses, será inaugurada em Estrasburgo sua segunda mesquita: a primeira foi a de Roma, aberta em 1995. ¬ 30DIAS Nº 11 - 2011 55 Arte cristã Fizemos a ele algumas perguntas sobre sua vida e suas ideias a respeito da arquitetura das igrejas. A maquete da igreja intitulada a São Bento, projetada por Portoghesi como presente para o papa Ratzinger; à direita, elaboração gráfica do interior do edifício Professor, comecemos por Roma. PAOLO PORTOGHESI: Nasci lá e até os dezoito anos nunca tinha saído da cidade. Sempre a amei e nunca deixei de estudá-la. Sou um fruto da condição humana que se vive em Roma, à qual dediquei muitos livros e muitas pesquisas e da qual ainda hoje continuo a aprender coisas novas. A capacidade que essa cidade tem de falar àqueles que nasceram lá, como eu, mas também a quem a visita por qualquer motivo, é inesgotável. Que lugares da cidade o senhor mais frequentava e apreciava quando era jovem? Nasci no coração da cidade, em via Monterone, num velho edifício que pertencia a um príncipe. Meu pai, que também era arquiteto, tinha reaberto o portão original do edifício, que fora fechado séculos antes, depois do assassinato de um cardeal. Assim, eu vivia a dois passos de Santo Ivo da Sapienza, que via todos os dias quando ia para a escola, no vicolo Valdina: esse foi o meu primeiro “itinerário forte”, que tinha ainda a praça do Panteão e a via della Maddalena. Era “forte”, também, o percurso que me conduzia à casa dos meus avós, em via della Chiesa Nuova, 14, uma casa famosa, por ser sede da “Comunidade do Leitão”, lugar de encontro de alguns protagonistas da época da Constituinte, como Lazzati, Dossetti e La Pira. Qual era sua relação com a fé, quando menino? Minha família era católica. Fiz a primeira comunhão com as Irmãs do Cenáculo, num belíssimo parque em Gianicolo. Mas vivi o episódio da guerra num momento particular da minha vida, entre o final da infância e o início da adolescência, e por uma série de questões familiares fiquei muito isolado naquele período. Passava muitas vezes dias inteiros sem sair de casa. Lembro-me de que durante o “inver no dos alemães”, entre 1943 e 1944, quase nunca fui à 56 30DIAS Nº 11 - 2011 escola. Na minha primeira formação religiosa, portanto, faltou completamente o aspecto, que na época era comum, da participação da vida paroquial. Meu itinerário foi bastante mais complexo que o dos jovens da minha idade. Eu invejava muito, por exemplo, o meu irmão que estudava no Colégio Romano, dos jesuítas, e estava inserido numa realidade juvenil muito viva. Sempre cultivei minha relação com a fé como algo a ser escavado no “foro íntimo”, mais que como partilha com os outros. Nessa solidão eu lia muitos livros, também de conteúdo religioso. Que tipo de livros? Eu tinha predileção especial pelo catolicismo francês: Charles Péguy, Jacques Rivière, Georges Bernanos, por exemplo. Gostava, naturalmente, também de Pascal. E, um pouco rebelde como todos os jovens, me apaixonei por Rimbaud. Vivia minha relação pessoal – sofrida, nada pacífica – com a Igreja também passando pela mediação desses grandes personagens. Depois tive um período de afastamento, e em 1959 me inscrevi no Partido Socialista, com o desejo de encontrar nesse filão de pensamento a possibilidade de uma continuidade com o que tinha sido a minha experiência cristã até então. Reaproximei-me da Igreja na década de 1980, e depois vivi com particular intensidade a experiência de projetar e construir igrejas. No debate sobre a arquitetura das igrejas, o senhor critica a ideologia da tábula rasa, da ruptura com o passado e com a tradição. O que eu penso sobre isso está muito bem sintetizado na Sacrosanctum Concilium, a primeira das quatro constituições do Concílio Vaticano II, promulgada em 4 de dezembro de 1963, em que se recomenda, a propósito da inovação litúrgica, que “as novas formas de um certo modo brotem como que organicamente daquelas que já existiam”. Essas palavras NO SILÊNCIO DAS NOSSAS IGREJAS valem também para a inovação das formas e das tipologias arquitetônicas das igrejas. Com grande frequência isso não foi levado em conta, nestas últimas décadas. Por que, na sua opinião? Porque nos debates entre os arquitetos, a partir dos anos de 1960, ficaram em contraposição radical os conceitos de Igreja espiritual e igreja construída, noções que a tradição indica como complementares. Puseram em dúvida também a sacralidade do edifício cristão. Hoje há quem teorize um cristianismo sem templo. Isso é um erro enorme. Basta pensar na Eucaristia, presença real do Senhor celebrada e conservada nas igrejas, para entender que elas são domus Dei, casas de Deus. Nesse sentido, é sugestiva a provável etimologia das palavras Church e Kirche, “igreja” em inglês e alemão: kyriakón, que significa “o que é próprio do Senhor”. Sempre considerei fundamental, por exemplo, que numa grande cidade haja a possibilidade de abrir uma porta e ver aquela luzinha acesa que indica a presença do Senhor na Eucaristia. Quais foram os efeitos dessas interpretações na arquitetura das igrejas? Confusão e indistinção, em primeiro lugar. O posicionamento dos polos litúrgicos tradicionais – altar, tabernáculo, batistério, ambão – foi completamente rediscutida, e chegaram a soluções paradoxais, como a adotada na igreja de Jesus Redentor em Módena, onde o altar e o ambão se encontram nos dois extremos de um corredor central, dos lados do qual os fiéis, divididos em filas contrapostas, olham-se de frente, movendo os olhos, de vez em quando, ora para a direita, ora para a esquerda, para acompanhar com dificuldade os deslocamentos do celebrante entre os dois polos. Infelizmente esse modelo de igreja – na Alemanha definido “communio” – é um dos mais seguidos no plano internacional. A propósito disso, é muito bonito o que diz Ratzinger em seu livro Introdução ao espírito da liturgia, em que, citando Josef Andreas Jungmann, um dos pais da Sacrosanctum Concilium, explica a antiga conformação da assembleia litúrgica: “Sacerdote e povo sabiam que caminhavam juntos para o Senhor. Eles não se fecham em círculo, não olham uns para os outros, mas, como povo de Deus em caminho, estão de partida para o Oriente, para Cristo, que avança e vem ao nosso encontro”. Muitas igrejas recentes, como a de Módena, refletem essa perda da “dimensão cósmica” da liturgia... O que o senhor entende por “dimensão cósmica”? Era a razão profunda pela qual antigamente todos, fiéis e celebrante, durante a oração eucarística, se voltavam para o Oriente, direção que “se encontrava em estreita relação com o ‘sinal do Filho do homem’, com a cruz, que ¬ 30DIAS Nº 11 - 2011 57 Arte cristã Acima, a Mesquita de Estrasburgo; à direita, o teto da Mesquita de Roma anuncia o retorno do Senhor”, diz ainda Ratzinger, que explica que esse ato não era, portanto, a “celebração para a parede”, não significava que o sacerdote “voltava as costas ao povo”: o sacerdote, observa Ratzinger, “não se considerava, pois, tão importante”. A perda do sentimento dessa dimensão, de fato, gerou de um lado um certo tipo de retórica definida como “clericalização” da liturgia – a dinâmica em que o sacerdote se torna o centro da celebração, o protagonista do evento; de outro lado, quase por reação, deu origem à “criatividade” dos grupos que preparam a liturgia, que querem em primeiro lugar “mostrar a si mesmos”. “A atenção”, continua Ratzinger em seu livro, “está cada vez menos voltada para Deus, e é cada vez mais importante o que fazem as pessoas que ali se encontram”. Tudo isso conduziu a considerar a igreja como lugar de entretenimento, um lugar fechado, levando a esquecer as duas constantes que caracterizaram o desenvolvimento tipológico realizado desde a era paleocristã até o barroco. Que constantes? Em primeiro lugar, a profundidade de perspectiva obtida com a estrutura longitudinal, que expressa o caminho do povo de Deus para a salvação e para Cristo que vem, o êxodo “dos nossos pequenos grupos para entrar na grande comunidade que abraça o céu e a terra”, comenta ainda Ratzinger; 58 30DIAS Nº 11 - 2011 e, em segundo lugar, o movimento vertiginoso para o alto, visto nas cúpulas e nos cibórios: a Igreja, lemos em Povo e casa de Deus em Santo Agostinho, “não tem seu fundamento sob si, mas acima de si, e seu fundamento portanto é também a sua cabeça”. Enfim, o que quero dizer é que os homens não vão à igreja como vão a um círculo recreativo, para trocar um aperto de mão, mas vão até lá porque ali acontece essa aproximação com o Senhor. A arquitetura das igrejas deve chamar a atenção para essa dimensão de encontro com Deus. Não pode limitar-se a celebrar a presença da comunidade entendida como algo fechado. Uma igreja não é a sede de determinados grupos ou movimentos, ou um lugar de reunião. É um pequeno fragmento da Igreja universal. Essa tendência para a universalidade deve-se manifestar na arquitetura, não certamente por meio da ostentação e da complexidade. Aliás, hoje eu diria que a simplicidade é um elemento profundo pelo qual podemos atingir essa universalidade. Na sua opinião, há exemplos modernos positivos de arquitetura de igrejas? Sim, penso em Antoni Gaudí, Alvar Aalto, Rudolf Schwarz, Giovanni Michelucci... São exemplos de como é possível que a criatividade não se contraponha de modo algum a uma atenta consideração da tradição, que é a transmissão de uma herança que deve dar frutos. Quando o senhor começou a projetar igrejas? No final da década de 1960, quando construí a Sagrada Família em Salerno. Mas aquela é uma igreja “assinada”... Em que sentido? É a que é mais apreciada pelos críticos, porque é um esforço de linguagem, o típico edifício que, por seu estilo reconhecível dentro de um debate, pode encontrar seu lugar numa história da arquitetura. A partir da década de 1990 comecei a projetar outras igrejas, pondo entre parênteses a problemática expressiva pessoal – a linguagem – para dar mais ouvidos às exigências de quem as encomendava e para tentar realizar seus desejos. O senhor lembra com especial satisfação de alguma das igrejas que projetou? Bem, Nossa Senhora da Paz, em Terni, me envolveu e emocionou muito. Depois da aventura da Mesquita de Roma, que durou vinte anos, eu voltava a pensar numa igreja, cujo projeto me foi proposto em 1998 pelo então bispo da diocese, Franco Gualdrini. Fui tomado por um fluxo de sentimentos, ideias e imagens que brotavam dos títulos escolhidos para a igreja: a Santíssima Trindade e a Virgem portadora da paz. Mergulhei na leitura de textos sobre Maria e me confirmei na identificação simbólica de Nossa Senhora com a estrela e a luz, imagens para mim estreitamente ligadas à lembrança das ladainhas de Loreto, NO SILÊNCIO DAS NOSSAS IGREJAS À direita, vista em perspectiva do teto da nave central da Sagrada Família, de Antoni Gaudí, em Barcelona que eu ouvia depois da oração do rosário em casa, com meus avós, durante a guerra. Fui conquistado pelos versos do hino Akathistos – “Estrela anunciadora do Sol...” –; pelo hino medieval das Vésperas de Maria, o Ave maris stella; pelos tercetos de Dante no Paraíso – “Aqui és para nós a transparente/ face da caridade...” –; e pelas palavras de Péguy na Apresentação da Beauce a Nossa Senhora de Chartres – “Estrela do mar... Estrela da manhã.../ eis-nos em marcha para a vossa ilustre corte,/ e eis a travessa do nosso pobre amor,/ e eis o oceano da nossa pena imensa...”. Esses versos cristãos me fizeram lembrar da poesia Na foz, à noite, de Caproni, não propriamente um defensor da fé em sentido tradicional, mas poeta de que gosto muito: “Eu a via elevada sobre o mar. Altíssima./ Bela.// Infinitamente bela,/ mais que qualquer outra estrela [...]. Ignorava o seu nome./ O mar/ me sugeria Maria./ Era já a minha/ única estrela./ Na incerteza// da noite, eu, disperso,/ me surpreendia a rezar.// Era a estrela do Mar”. Eu me sentia muito contente: tinha encontrado o núcleo formador do edifício, o ideograma estelar, cujas primeiras aplicações à planta das igrejas remetem ao Barroco, embora seus prenúncios possam ser encontrados já na Idade Média. Que características o senhor desejava que tivesse a nova igreja? Queria que representasse o recolhimento: o silêncio nas igrejas é importante, o silêncio é a condição de acesso ao sagrado. Depois, desejava privilegiar a “pobreza”, mais que a riqueza. Por isso tive de fazer a cobertura em madeira, como nas igrejas medievais. A maquete da igreja dedicada a São Bento que o senhor deu ao Papa vai virar uma igreja de verdade? Não sei... Aquilo é sobretudo um presente para o papa Ratzinger. E são também os votos de que São Bento proteja a sua Europa nestes momentos difíceis. q 30DIAS Nº 11 - 2011 59 PRIMEIRO MILÊNIO Perseguidos em tempos recentíssimos A Primeira Carta de Clemente aos Coríntios, que fala das perseguições sofridas pelos cristãos “por inveja e ciúme”, foi redigida não muito tempo depois da morte de Nero, e portanto pouquíssimos anos após o martírio dos santos Pedro e Paulo, em Roma. Um artigo do presidente emérito do Pontifício Comitê de Ciências Históricas do cardeal Walter Brandmüller ntre os testemunhos escritos da Igreja primitiva que chegaram até nós, a Primeira Carta de Clemente é o mais próximo cronologicamente dos textos neotestamentários. Não nos devemos surpreender, portanto, se há tempos chama particularmente a atenção dos estudiosos. Mas esse texto foi, e é, debatido em cada mínimo detalhe sobretudo porque a tradição católica vê nele o primeiríssimo testemunho extrabíblico em favor do primado da Igreja romana no seio da cristandade. Sendo assim, a questão da data de composição se reveste de especial interesse. É geralmente aceito que a Primeira Carta de Clemente tenha sido composta no final do século I da era cristã. Partindo da referência à perseguição dos cristãos, hipotiza-se portanto que pertença à época do imperador Domiciano, que reinou de 81 a 96. No entanto, surgiram há algum tempo dúvidas sobre essa datação e estudos mais cuidadosos demonstraram que sob Domiciano não houve nenhuma perseguição aos cristãos. Nos capítulos 3 a 5 da Carta, que é um apelo à unidade e ao amor no seio da Igreja, fala-se das funestas consequências do ciúme para a comunidade dos cristãos. O autor traz sobre isso uma série de exemplos extraídos do Antigo Testamento, para depois prosseguir: “Todavia, deixando os exemplos antigos, examinemos os atletas que viveram em tempos recentíssi- E 62 30DIAS Nº 11 - 2011 mos. [...] Foi por causa do ciúme e da inveja que as colunas mais altas e justas foram perseguidas e lutaram até a morte. Consideremos os bons apóstolos. Pedro, pela inveja injusta, suportou, não uma ou duas, mas muitas fadigas [...]. Diante da inveja e da discórdia, Paulo mostrou o prêmio reservado à perseverança. [...] Deixou o mundo e se foi para o lugar santo, como excelso modelo de perseverança”. Logo depois, a Carta fala também dos mártires da perseguição realizada por Nero e lembra – como mais tarde faria também Tácito († 117) – a maneira como morreram, dizendo ainda de forma explícita que tudo isso aconteceu “entre nós” (em Roma) – •n ämîn – e, mais precisamente, ≤ggista, ou seja, “em tempos recentíssimos”. Mas isso significa que a perseguição de Nero pertence à experiência direta do autor. A Carta não pode portanto ter sido escrita muito tempo depois da morte de Nero (68), uma vez que o ano do massacre de cristãos ainda é incerto (64/65). A propósito disso, surge também a questão: na inveja e no ciúme de que fala Clemente, e dos quais os apóstolos Pedro e Paulo foram vítimas, devem ser reconhecidos os conflitos dentro da comunidade cristã de Roma? Os claros conflitos em torno de Marcião, Valentino e Cerdão são todos de uma geração depois. Os santos Pedro e Clemente, detalhe do mosaico absidal do século XII da Basílica de São Clemente, em Roma É muito mais verossímil pensar nas tensões entre cristãos e judeus. Não deve de fato ser esquecido que naquelas décadas estava em pleno andamento a separação entre judeus e cristãos, uma situação mais que favorável a invejas e ciúmes. Sabemos, além disso, por Flávio Josefo, que a esposa de Nero, Popeia, era uma prosélita, ou seja, uma convertida ao judaísmo, e deve portanto ter tido estreitos laços com os ambientes judaicos de Roma. Portanto, seria realmente impensável que na busca por bodes expiatórios para o incêndio da Roma neroniana tenha sido ela quem desviou a atenção para os cristãos, tão malvistos pelos judeus? Seja como for, em todas essas abordagens interpretativas é necessário ter cautela, dada a ausência de provas seguras nas fontes. Mas este é o momento de enfrentar a questão do autor. É evidente que o nosso texto – que se apre- ¬ 30DIAS Nº 11 - 2011 63 PRIMEIRO MILÊNIO Moeda com a efígie de Nero, Museu Arqueológico Nacional, Nápoles; abaixo, cabeça de Nero, 64 aprox., Museu Palatino, Roma senta como um tratado em forma epistolar – não é obra de uma coletividade: dizer que a “Igreja de Deus que vive como estrangeira em Roma” escreve à Igreja de Corinto é apenas um expediente formal. Considera-se que quem a escreveu foi “Clemente”, nome que – pelo que sabemos – é citado pela primeira vez numa carta de resposta do bispo Dionísio de Corinto ao papa Sotero (166-174 c.). Escreve Dionísio: “Hoje celebramos o dia santo do Senhor e neste mesmo dia lemos a vossa carta, a qual, tal como o precedente escrito a nós enviado por Clemente, sempre leremos como admoestação”. Se esse Clemente é nomeado ao lado do bispo de Roma Sotero e a sua carta é lida como a carta de um papa durante a liturgia, pode-se considerar que com esse Clemente se faça referência a um outro bispo de Roma. Como sugere também o Clemente Romano lembrado no Pastor de Hermas, escrito na primeira metade do século II, uma vez que pelo contexto deduzimos que esse Clemente era pessoa de alta autoridade. 64 30DIAS Nº 11 - 2011 PERSEGUIDOS EM TEMPOS RECENTÍSSIMOS Não devemos esquecer que até o século IV, então como no passado, a Carta de Clemente era de uso público em grande parte das Igrejas. No Egito e na Síria, de modo particular, era-lhe atribuída uma autoridade quase canônica. No Codex Alexandrinus, famoso manuscrito da Bíblia do século V hoje conservado em Londres, a Primeira Carta de Clemente aparece ao lado do Novo Testamento. Ora, como dissemos, todos esses debates, ou melhor, controvérsias, têm um precedente: pode a Primeira Carta de Clemente ser considerada a primeira prova pós-bíblica em favor do primado do bispo de Roma como guia da Igreja universal? Há diferentes respostas, dependendo do diferente ponto de vista confessional. Deveria estar claro o evidente anacronismo que representaria perguntarmo-nos se o primado de Roma, tal como formulado pelos dois Concílios Vaticanos, é testemunhado pela Primeira Carta de Clemente. É justo, porém, que nos perguntemos se nessa carta fica clara a responsabilidade da Ecclesia Romana sobre toda a Igreja. Pensando nisso, convém em primeiro lugar dar uma olhada no motivo e no conteúdo da Carta. Por que, afinal, foi necessário escrevê-la? Pelo texto, compreendemos que na comunidade de Corinto se verificara uma ruptura, uma vez que os jovens se haviam rebelado contra os presbíteros da comunidade e os haviam removido de seu posto. A intervenção de Roma, nessa situação que ameaçava a vida da Igreja de Corinto, é um fato notável. Ignoramos totalmente se ocorreu em resposta a um pedido de ajuda dos chefes da Igreja destituídos ou se Roma tomou a iniciativa motu proprio. Para a nossa questão, no entanto, isso é totalmente irrelevante, pois, no primeiro caso, se foram os presbíteros que recorreram a Roma, isso significa que reconheciam sua autoridade e sua faculdade de tutelar seus direitos; no segundo, a intervenção de Roma testemunharia que a Ecclesia Romana exercia de modo óbvio a autoridade sobre toda a Igreja. O fato parece ainda mais notável se considerarmos que na época do envio da Carta a Corinto – pouco importa se a data é anterior ou se deu só por volta do final do século I – ainda vivia, em Éfeso, um dos Doze, João. Afinal, por terra Corinto distava de Éfeso cerca de 1.300 quilômetros – menos da metade por mar –, enquanto, também por terra, Roma estava a 2.500 quilômetros. Deveria haver, portanto, um motivo para que não tenha sido o último dos Doze, mas o Bispo de Roma, a pessoa interpelada e que interveio nessa situação. A suposição, portanto, de que tenha-se recorrido ao Sucessor de Pedro como instância última poderia não ser de modo algum equivocada. q Acima, o “muro dos grafitos”, com a abertura que dá acesso ao lóculo em que se conservam as relíquias de Pedro, necrópole sob a Basílica de São Pedro, Cidade do Vaticano; abaixo, placa de mármore com a epígrafe: “A Paulo apóstolo e mártir”, Basílica de São Paulo Fora dos Muros, Roma 30DIAS Nº 11 - 2011 65 ASSINATURAS COMO ASSINAR Enviar o formulário ao endereço do escritório de assinaturas escrito abaixo Destinação Período de assinatura 1 ano 2 anos Preço (€) Brasil, África 25,00 Itália 45,00 Europa 60,00 Resto do mundo 70,00 Brasil, África 40,00 Itália 80,00 Europa 110,00 Resto do mundo 125,00 é a revista mensal internacional mais informada sobre a vida da Igreja. Nas suas páginas estão presentes os acontecimentos políticos e eclesiásticos mais importantes comentados pelos protagonistas. 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