Caderno eduCaTIVo

Transcrição

Caderno eduCaTIVo
Prefeitura de São Paulo,
Governo do México e Itaú
apresentam a exposição
Marcador do jogo de pelota Marcador del juego de pelota, 900-1250 d. C., Museu do Sítio de Chichén Itzá, Tinum, Iucatã, México
CADERNO EDUCATIVO
10/6 a 24/8/2014
museu da cidade - OCA | Parque Ibirapuera
instituto nacional de
antropologia e história
Embaixada do México no Brasil e Secretaria Municipal de Cultura
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museu da cidade - OCA
Avenida Pedro Álvares Cabral, s/n - Portão 3 Parque Ibirapuera
São Paulo, SP - Brasil Telefone: +55 11 3241-1081 (Museu da Cidade)
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Arqueologia:
os objetos
contam histórias
Em 1492, Cristóvão Colombo, acreditando que a Terra era redonda, criou uma nova rota para as Índias. E lá chegou.
Chegou e aquela “Índia” era diferente do que lhe contaram,
talvez fosse outra parte... Onde estavam os tecidos e os mercadores com suas especiarias? Os moradores de lá tinham hábitos
diferentes e falavam línguas estranhas.
Logo em seguida, Cristóvão Colombo percebeu ter chegado
a um continente até então desconhecido, que recebeu nome de
“América”, em homenagem a Américo Vespúcio, o mensageiro
que levou aquela descoberta para a Europa. Engana-se, porém,
quem pensa que somente os europeus encontraram algo novo.
Pois já não eram terras habitadas? Os nascidos naquele território
também descobriram o homem europeu, havendo, a partir de tal
encontro, muita troca e, é claro, alguns conflitos.
No presente, falamos muito sobre o “descobrimento” das
Américas, como se houvesse uma coberta impedindo de sabermos sobre o lugar e sua gente. Pouco ouvimos da versão dos nativos que aqui estavam, de sua cultura e seu jeito de viver. Uma
das formas que encontramos para ouvir suas vozes é através da
Arqueologia, que estuda os vestígios deixados por antigos habitantes de um local: de objetos de uso cotidiano, como vasos de
água, a construções como moradias, templos e túmulos.
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Observe a imagem a seguir:
Máscara funerária | Máscara funeraria
Jade, conchas e pirita
Calakmul, Campeche, México | Clássico tardio (600-900 d. C.)
Museu Regional de Campeche,
Fuerte de San Miguel, Campeche, Campeche, México
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Esta máscara foi encontrada em meio a um cenário (contexto) funerário, em 1988, na cidade de Calakmul, na região de Campeche, no México. É uma peça classificada pelos arqueólogos
como pertencente ao período clássico tardio, de 600-900 d. C.
Em diversas culturas, as máscaras funerárias tinham a função de preservar o rosto de um integrante poderoso daquela civilização, para torná-lo “imortal”. Esta máscara é composta por 100
pequenas peças de jade, 101 peças de hematita e 38 decorações
em conchas de diversos tipos. O uso de materiais nobres, como o
precioso jade – símbolo de poder, imortalidade e fertilidade para
os povos maias – nos revela que a peça pertencera a algum governante ou pessoa da elite.
Outro fator que também indica esta procedência é a deformação craniana identificada na parte superior da máscara. A
alteração, feita logo nos primeiros meses de vida da criança, tinha o intuito de alongar o crânio para que se parecesse com o
que eles acreditavam ser a aparência dos deuses. Além disso,
este formato de cabeça tinha também relação com o formato do
milho, alimento sagrado e vital para a sobrevivência dos maias.
Os detalhes de uma peça podem nos dizer mais sobre quem ela
representava: indícios afirmam que a máscara pertenceu a um
governante xamã. Repare que, além de boca, dentes e nariz, a
máscara possui quatro olhos: os na região da testa indicam o poder de visão sobrenatural, de comunicação com mundos ocultos. Outra contextualização são as escarificações nas laterais da
boca, feitas de conchas, também uma marca dos xamãs.
As máscaras funerárias também são encontradas em outras civilizações do mundo antigo.
Uma delas é a originária do Egito, cujo povo utilizava o ouro no lugar de jade para adornar as máscaras.
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Mayas: Revelação
de um tempo sem fim
Quando os espanhóis perceberam que a América poderia ser
fonte de muitas riquezas, eles mapearam o território e começaram
a se interessar em estudar os povos nativos. Ao chegar a Tenochtitlán, atual Cidade do México, Hernan Cortez, conquistador espanhol, se impressionou com o tamanho das terras e a organização
de seus habitantes. Ele nunca tinha visto algo parecido na Europa.
Havia povos de organização complexa no continente. Povos
com grandes governantes, assim como a figura do rei na Europa, com uma estrutura para manter seu poder. A sociedade era
dividida em diferentes camadas e funções. O povo maia foi um
dos que habitaram regiões do México, da Guatemala, de Belize,
Honduras e El Salvador.
Os maias tinham um complexo sistema de escrita e contagem do tempo, com calendários tão precisos quanto os atuais,
além do pioneirismo na noção do zero, utilizada na matemática
até os dias de hoje. Na matemática maia, os números eram contados de 20 em 20, em uma lógica semelhante à da contagem decimal que utilizamos hoje. Para representar estes números eram
utilizados pontos e traços, e não algarismos.
As cidades eram grandes centros urbanos, com uma arquitetura própria, serviços públicos, espaços de convivência,
campos de jogos de pelota e locais de produções artesanal e
artística. Estes centros eram densamente povoados e com um
ritmo rotineiro próximo ao de uma grande metrópole.
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Estatueta policromada
Figurilla policroma
Cerâmica e estuque
Jaina, Campeche, México
Clássico tardio (600-900 d. C.)
Museu Nacional de Antropologia,
Cidade do México, México
E os maias ainda existem! São, hoje, mais
de 10 milhões, vivendo em regiões do México e
em países da América Central sob seus antigos
costumes.
Na exposição Mayas: revelação de um
te­mpo sem fim, podemos descobrir peças que
recriam o passado e as origens da cultura maia.
Jogo de pelota
Povos do Brasil
povos maias
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Se uma pessoa que vive hoje voltasse no tempo, à época dos
maias, ela diria que um jogo de pelota é tão emocionante como
os campeonatos de futebol atuais. Apenas os elementos e regras
eram diferentes. No antigo jogo, o contato com a pelota não era
feito com os pés, e sim com a cintura.
O jogo de pelota era um ritual sagrado, presente no mito de
criação do povo maia, segundo o qual dois heróis gêmeos foram
desafiados pelos senhores de Xibalbá, um mundo subterrâneo
distinto do nosso, para uma partida. Ao jogarem e derrotarem
estes senhores, os gêmeos vingaram as mortes de seus pais,
mantiveram o equilíbrio do mundo e transformaram-se, por fim,
no Sol e na Lua. A partir deste mito, o jogo de pelota passou a ser
visto pelos maias como uma representação do movimento diário
do Sol em torno da Terra e do ciclo de vida e morte do homem.
Apesar das várias dúvidas que ainda persistem quanto a
muitos dos elementos relacionados ao jogo de pelota, sabe-se
que aquelas partidas reuniam um grande número de pessoas
da cidade e, também, muitos habitantes de sítios vizinhos, numa
grande cerimônia pública em que eram utilizados vários instrumentos musicais.
Denominado de Encosto de Trono ou Monumento 171 de Toniná,
este painel foi encontrado na cidade maia de Toniná, localizada
no sul do México, e construído durante o período clássico tardio.
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Possui inscrição com data de 03 de novembro de 727 d. C. Feito de arenito, possui 135 centímetros de largura e 49 centímetros
de altura. A peça foi descoberta pelo arqueólogo Juan Yadeun e
estava rachada em cerca de dez pedaços tendo sido, mais tarde,
restaurada.
O painel possui uma cena em que uma grande bola aparece
no centro, com dois personagens ao lado e três conjuntos de glifos (elemento da escrita que conheceremos mais à frente neste
caderno) rodeando as três figuras. Vemos que os dois homens
aparecem na mesma posição, com um dos joelhos dobrados e
apoiados no chão, fazendo um movimento que sugere que irão
bater na bola com a cintura. Eles usam roupas e acessórios muito bem elaborados, com ornamentos para a cabeça com figuras
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Encosto de trono | Respaldo de trono
Arenito
Toniná, Chiapas, México | Clássico tardio (600-900 d. C.)
Museu Nacional de Antropologia, Cidade do México, México
mitológicas, protetores nos braços e joelhos, cinto protetor, além
de adornos de orelhas e peitorais, elementos próprios de personagens da elite maia.
Você sabia que ainda hoje são disputados
campeonatos de jogos de pelota em regiões do
México e da Guatemala?
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Os dois personagens mostrados na peça seriam dois governantes de Toniná durante a encenação deste ritual. O texto que
acompanha os personagens traz o nome e o título de cada um
deles. Este painel faz parte do acervo do Museu Nacional de Antropologia da Cidade do México.
Marcador do jogo de pelota | Marcador del juego de pelota
Pedra
Chichén Itzá, Iucatã, México | Pós-clássico inicial (900-1250 d. C.)
Museu do Sítio de Chichén Itzá, Tinum, Iucatã, México
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Escrito em Pedra
Em muitas culturas, a escrita tem um papel sagrado, como
no Judaísmo, Cristianismo e Islamismo, religiões que possuem o
livro como seus pilares. Assim também era a escrita para os maias,
considerada um meio de comunicação com o divino e tinha, por
isso, um enorme poder de influência, político, social e ritualístico.
Existem diferentes sistemas de escrita. No nosso alfabeto,
os sons se fazem pela junção de letras que, por sua vez, formam as palavras. O sistema de escrita maia teve seu sentido
descoberto na metade do século XX. Ele é composto por uma
complexa mistura de elementos ideográficos e fonéticos. Alguns desenhos possuíam um significado por si só enquanto
outros expressavam as sílabas da língua falada. Neste sistema, qualquer palavra poderia ser escrita utilizando-se somente
uma forma, combinando duas formas, ou usando-se apenas os
signos de sílabas para grafar uma palavra. Algo bem semelhante à estrutura da escrita japonesa. Os glifos maias são lidos
em “duplas”, a cada dois símbolos juntos, da esquerda para a
direita e de cima para baixo.
As paredes de templos e palácios são cobertas de inscrições
em glifos, e boa parte já foi decifrada. Eles registravam, principalmente, as histórias das linhagens dos governantes, as guerras
contra as cidades rivais e o sacrifício de inimigos para agradar
aos deuses.
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A maioria destes monumentos foi erguida com a função
de ser a propaganda política do feito de um governante. Como
é o caso do Monumento 114 de Toniná, a peça que veremos a seguir, provavelmente construída para enaltecer uma conquista
militar e fortalecer o poder e o controle político da maior autoridade da cidade.
Monumento 114 de Toniná | Monumento 114 de Toniná
Pedra calcária
Toniná, Chiapas, México | Clássico tardio (600-900 d. C.)
Museu Regional de Chiapas, Tuxtla Gutiérrez, Chiapas, México
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Construída em arenito, esta peça foi encontrada em 1974 no
sítio de Toniná, no sul do México. A escultura em pedra mostra
um personagem reclinado em posição de submissão, com uma
corda nos braços e inscrições de glifos em uma das pernas e ao
lado dele. O personagem leva um adereço bem ornamentado em
sua cabeça, adornos de orelha e um colar, provas de que possuía
um elevado cargo de elite. Entretanto, podemos notar que, nesta
cena, ele estaria com pouca roupa, o que pode significar um propósito de humilhação imposto a este personagem.
A partir destes elementos iconográficos e das inscrições,
podemos reconstruir o sentido e a história presentes nesta peça.
O personagem em questão seria um antigo governante de Palenque, chamado K’inich K’an Joy Chitam, que teria sido capturado
pela cidade de Toniná em 26 de agosto de 711 d.C. Estas informações estão nos textos dos glifos que acompanham a figura.
Hoje a peça faz parte do acervo do museu de Tuxtla Gutierrez de
Chiapas, no México.
A escrita maia aparece, muitas vezes, em monumentos de pedras colocadas em espaços públicos, como praças e fachadas de construções. As
inscrições resistiram ao tempo e podem ser vistas até hoje, também, nas vasilhas de cerâmicas,
joias, ossos e outros objetos portáteis.
O eterno
circular do tempo
Contamos o tempo em diferentes ciclos: horas, dias, semanas, meses, anos. Partindo da observação dos fenômenos naturais, como a passagem dos dias e das noites e as estações do ano,
os maias desenvolveram conceitos sobre astronomia, supondo
os movimentos da Terra e dos demais planetas. A preocupação
com o tempo estava ligada diretamente à sobrevivência: quando
plantar, quando colher ou para reconhecer quando o inverno se
aproximava.
Como podemos medir o tempo? É fácil dizer que basta olhar
num relógio ou na folhinha de qualquer calendário. Mas, ao longo
dos séculos, nem sempre tivemos estes auxiliares.
O calendário, como o conhecemos hoje, foi criado pelo Papa
Gregório XIII, no ano de 1582. Convocando um grupo de especialistas, ele estabeleceu que um ano seria o ciclo de 365 dias, 5
horas, 49 minutos e 12 segundos.
Já os maias tinham uma maneira particular de contar o tempo. O Haab era o calendário solar, com uma contagem próxima
ao do calendário usado hoje. O Tzolkin era o calendário sagrado,
com 20 ciclos de 13 dias. A ideia de tempo dos maias era circular,
como os movimentos de rotação e translação da Terra. Desta maneira, a cada 52 anos, o início de um novo ciclo coincidia nos dois
calendários. Além desses dois, sabe-se também que eles tinham
a contagem dos ciclos dos planetas Vênus e Marte.
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Outro ciclo utilizado pelos maias era a chamada Conta
Longa. Neste ciclo, os maias contavam o passar dos dias, desde a criação mitológica do mundo até datas mais longínquas.
Vamos olhar a obra Dintel 48 de Yaxchilán, uma peça esculpida de forma quadrangular, feita de pedra calcária, em 526 d.C.
Dintel 48 de Yaxchilán | Dintel 48 de Yaxchilán
Pedra calcária
Yaxchilán, Chiapas, México | Clássico tardio (600-900 d. C.)
Museu Nacional de Antropologia, Cidade do México, México
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Ela possui oito conjuntos de glifos, com desenhos de cabeças e animais de corpo inteiro. Os símbolos que estão na primeira
linha do lado direito mostram uma cabeça, e ao lado uma figura
de um animal com aparência de um sapo misturado com uma
iguana. Na linha de baixo, à esquerda, ao lado do glifo de cabeça, está a figura de um pássaro e de uma mão que tem a forma
de uma mandíbula. Nos glifos do lado vemos uma cabeça junto
com um macaco com traços humanos. Na linha de baixo vemos
a figura de um pássaro e, na última linha, uma figura que mistura
uma serpente com uma planta aquática.
Todas as figuras desenhadas nesta peça representam uma
data do ciclo de Conta Longa. Esse sistema era utilizado pelos
maias em conjunto com a Roda Calendárica (ciclos de 260 e 365
dias). Neste ciclo, os maias contavam o passar dos dias desde a
criação do mundo em uma sequência cronológica. Para eles, este
início (ano zero) seria o dia 13 de agosto de 3114 a.C., de acordo
com a mais aceita correlação entre os calendários maia e cristão.
As inscrições do Dintel 48 representam a data 9.4.11.8.16,
2 Kib, que equivale ao dia 11 de fevereiro de 526 d.C. do nosso
calendário. Quem moldou esta peça usou símbolos de cabeça
para representar os números e as figuras de corpo inteiro para os
períodos calendáricos. Acredita-se que aquela forma de escrita
era uma maneira mais divinizada para mostrar uma determinada
data ou inscrição.
A Conta Longa consistia no total cumulativo de cinco tipos
de ciclos temporais sendo estes: o Bak’tun, um período de 144
mil dias; o K’atun, um período de 7200 dias; o Piktun, um período
de 2.880.000 dias; o Tun, um período de 360 dias; o Winal, um período de 20 dias; K’in, um período de 1 dia. Com este ciclo combinado com a Roda Calendárica, os antigos maias podiam calcular
datas num passado extremo e, também, projetar outras para o
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futuro. Era uma forma de prever acontecimentos importantes e
de se preparar para eles.
A seguir, veremos uma peça que exemplifica como se realizava a marcação de um evento importante.
Monumento 139 de Toniná | Monumento 139 de Toniná
Arenito
Toniná, Chiapas, México | Clássico tardio (600-900 d. C.)
Museu do Sítio de Toniná, Toniná, Chiapas, México
A palavra Bak’tun, para os maias, refere-se
a um ciclo, uma passagem de tempo que não se
finda, apenas muda. Esse é um conceito-chave da
cultura maia: a história nunca termina, ela apenas
se renova.
O Monumento 139 é de arenito e foi encontrado em 1980 pela
Missão Arqueológica Francesa, na cidade de Toniná, na área de
Chiapas, no México. Atualmente pertence ao acervo do Museu
do Sitio de Toniná. É uma peça classificada pelos arqueólogos
como pertencente ao período clássico tardio da história maia.
Este disco de pedra encontra-se em excelentes condições,
com glifos em perfeito estado de conservação. O mais preservado é o glifo central, que representa a data 7 Ajaw - este era
um nome associado à divindade do Sol, a grandes governantes
e também era um dos nomes que os maias usavam para nomear os dias.
Por toda a extremidade do disco, encontramos outros glifos
referentes a numerais maias. Por detalhada análise e leitura individual dos glifos, os arqueólogos afirmam que a referência de
data que o disco apresenta é 9. 13. 10. 0. 7 Ajaw 3 Kumk’u, que em
nosso calendário corresponde a 22 de janeiro de 702 d.C. Nesta
data, ocorreu a celebração de final de período por parte do grande governante K’ihnich B’aaknal Chaahk de Toniná, conhecido
como “Senhor das Lanças” e “Jogador de Pelota”.
Como já foi dito, a cultura maia usava a contagem dos dias e
tinha um conhecimento sobre eles tanto para saber as datas de
comemorações e rituais, como para prever os períodos de chuva,
seca, colheita, plantio e o início de uma guerra. Planejar o período ideal para cada plantio era, às vezes, determinante para a
sobrevivência do povo maia.
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A seguir, vamos comparar nosso sistema numérico com o
sistema maia.
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Filhos do milho
O milho é a base da alimentação maia. Diferentemente do
brasileiro, que conhece apenas algumas espé­cies de milho, como
o amarelo e o branco (usado para fazer canjica doce), os maias
cultivavam uma grande variedade do alimento, inclusive uma espécie de milho azul, que só dá frutos em alguns meses do ano.
Os maias faziam todo tipo de prato com milho, como os tamales – feitos a partir da massa do milho, uma espécie de pamonha
salgada e recheada que continua a fazer parte da culinária típica
de países da América Central. Também produziam o pinole e o
atole, que são bebidas à base de milho; e o pozole, um guisado de
milho com carne e vegetais.
O milho é tão importante para a civilização maia que está
presente em sua narrativa de criação do homem: acreditava-se
que os deuses, após três tentativas frustradas de criar os homens
utilizando animais, barro e madeira, conseguiram criá-los a partir
do milho, misturando seus grãos aos ossos de ancestrais e ao
sangue dos próprios deuses.
Encontrada na câmara funerária do Templo das Inscrições de
Palenque, no México, a cabeça
do governante Pakal é classificada pelos arqueólogos como
uma peça pertencente ao período clássico da história maia.
Feita de estuque (argamassa
composta de água e cal), a
peça carrega a fisionomia
de um homem com traços
marcantes e um ostentoso
adorno de cabeça.
O cenário em que a
peça foi encontrada, somado
ao evidente desejo de se manter eternizada a figura deste
homem, reforça a importância da peça e a quem ela representa. Trata-se de K’inich
Janaab’ Pakal, o grande Ajaw (governante) da cidade de Palenque, conhecido por ser um dos únicos governantes a serem imortalizados em seu
pós-morte em um sarcófago de pedra
e sob a proteção de uma pirâmide,
conhecida como Templo das Inscrições.
Cabeça de Pakal | Cabeza de Pakal
Estuque
Palenque, Chiapas, México | Clássico tardio (600-900 d. C.)
Museu Nacional de Antropologia, Cidade do México, México
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Os traços faciais, os detalhes dos lábios, as maçãs do rosto
e a modelação craniana apresentam o ideal de beleza dos maias,
e representam a imagem de Pakal por volta de seus 30 anos. O
artesão que a confeccionou conscientemente deixou evidente a
deformação craniana realçada pela mecha de cabelo que se sobressai no rosto, produzindo a semelhança com uma espiga de
milho e, assim, relacionando Pakal ao deus do milho. Esta entidade está associada à narrativa ancestral da criação dos homens
de milho à qual se refere o Popol Vuh.
Por que um deus do milho?
O milho foi, e ainda é, o mais importante alimento das populações maias, sendo o responsável por 60% das calorias diárias
ingeridas.
O uso doméstico deste alimento tem origem ancestral e de
grande importância não só para os maias, mas para todos os
outros povos que compõem a região cultural mesoamericana.
Outros alimentos também foram adotados para o uso doméstico,
como a abóbora, a pimenta e o feijão, mas nenhum deles teve a
importância dada ao milho.
Assim como os maias prepararam o pós-morte do grande
Ajaw de Palenque, outros povos ao redor do mundo também executavam práticas mortuárias semelhantes. Os egípcios construíram diversas estruturas como sarcófagos, templos e pirâmides
para servir de última morada de grandes governantes. Do mesmo
modo, hoje em dia, também realizamos práticas funerárias que
demonstram nossas maneiras de lidar com a morte.
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Popol Vuh:
A Crença do Cosmos
Os seres humanos, desde sempre, tiveram a necessidade de
explicar suas origens e a origem do próprio mundo, e cada cultura criou narrativas e histórias que foram passando de geração em
geração em explicar tais fatos. Na cultura religiosa cristã, a Bíblia
é o livro que contém histórias e as preserva para o conhecimento
de gerações futuras.
Os mitos de criação do mundo entre os maias estão presentes em um documento do século XVI, chamado Popol Vuh, ou Livro
do Conselho. Este livro é a fonte a partir da qual conhecemos as
histórias maias da origem do mundo e dos seres vivos, pois possibilitou a leitura de cenas presentes na arte maia.
A obra se divide em duas partes bem definidas: a primeira
trata das origens do mundo e dos seres vivos, das tentativas dos
deuses de criarem o homem, um ser que os adorasse e nutrisse. Já
a segunda parte ocupa-se da história dos quichés (povo maia que
ainda habita as terras altas da Guatemala e produziu o documento
em questão), de seus governantes, suas cidades e linhagens.
A narrativa, entretanto, não segue uma linha cronológica dos
fatos acontecidos. A história da criação dos homens é interrompida para o relato mitológico de dois pares de figuras heroicas que
partilham de um papel essencial, derrotando os senhores do Xibalbá (o mundo subterrâneo). Após a vitória dos gêmeos, um deles teria se tornado o Sol e o outro a Lua, e a eles se juntaram as estrelas.
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Prato Blom | Plato Blom
Cerâmica
Rio Hondo, Quintana Roo, México | Clássico tardio (600-900 d. C.)
Museu Maya de Cancún, Cancún, Quintana Roo, México
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Dentre as peças que compõem
a exposição, o prato cerâmico ritual,
denominado Prato Blom representa
uma notória parte da narrativa dos
povos maias quichés da Guatemala,
na qual os heróis gêmeos utilizam
suas zarabatanas para deter a orgulhosa e prepotente ave mitológica
Vucub Caquix. O objetivo era quebrar
seus dentes dourados, pois a ave dizia ser o próprio Sol.
Vucub Caquix pousa so­bre uma
serpente de duas cabeças, símbolo
da divindade celeste. Além da cauda
de quetzal (pássaro encontrado nas
zonas tropicais e na América Central) apresentada pela ave, emerge
de sua cabeça uma serpente com
cabeça de ave.
A imagem está dividida em três
planos: o inferior, que retrata Xibalbá
ou mundo dos mortos, o do meio, o
mundo dos homens, e o superior, o
mundo dos deuses.
Este prato de cerâmica cerimonial foi encontrado na Baía de Chetumal, Quintana Roo. Pertence ao que
os arqueólogos denominam como o
período clássico tardio dos maias, e
faz parte da coleção do Museu Maya
de Cancún, no México.
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Dentro de uma forma dual de ver o mundo, os povos indígenas da América acreditam em uma força cosmogônica universal que rege o equilíbrio da vida, ou seja, o homem precisaria da
mulher para ter a vida e vice-versa, assim como é necessária a
alternância entre o dia e a noite, reguladora das temperaturas da
terra para favorecer a plantação, e assim por diante.
Nessa perspectiva, vemos a importância que a dualidade
(representada pelos gêmeos) tem para a criação da vida.
Na parte inferior deste prato, temos a inscrição glífica cuja
tradução literal é “Aqui é elevado o milho”. Por ter sido encontrado enterrado junto a uma sepultura, acredita-se que o prato
teve a função ritualística de entregar aos deuses oferendas à
base de milho.
Serpente emplumada | Serpiente emplumada
Pedra calcária
Chichén Itzá, Iucatã, México | Pós-clássico inicial (900-1250 d. C.)
Museu do Sítio de Chichén Itzá, Tinum, Iucatã, México
PROGRAMA EDUCATIVO
Coordenação Geral
Daniela Chindler
Coordenação de Produção
Flavia Rocha
Coordenação Pedagógica
Karen Montija
Luara de Paula
Administrativo
Cristiane Leal dos Santos
Supervisão da Equipe
Juliane Duarte
Talita Gouvea
Educadores
Debora Leonel
Joyce Souza
Estagiários
Alex Sandro Alves de Barros
Bruna Emiliano
Bruno de Oliveira Mastrantonio
Daniel Angelo Andri
Daniel Grecco Pacheco
Dariane Ferreira de Lima
Inayara Samuel Silva
Kelly dos Santos Souza
Lucas Cominato D’angelo
Lucas Maia Benedetti
Melina de Lábio Parra Berlucci
Renata Cristina Pereira
O Programa Educativo da exposição Mayas: revelação de um tempo
Pesquisa e Redação
Caderno de Mediação
Alex Sandro Barros
Daniel Angelo Andria
Daniel Grecco Pacheco
Débora Leonel Soares
Fernando Dantas Marques Pesce
Gabriela da Fonseca
Marina Clara
sem fim conta com agendamento para ações educativas (para escolas e
grupos interessados); atendimento a visitantes espontâneos no espaço expositivo; contação de histórias, também com sessões em LIBRAS; e um espaço com material tátil para sentir e tocar, tornando a exposição totalmente
acessível. Nos fins de semana oferecemos oficinas práticas que exploram o
universo da arqueologia e da cultura maia.
Para escolas ou grupos agendados:
• Visita mediada à exposição, com desdobramento em ação educativa
(contação de histórias ou atividade prática de arqueologia e cosmovisão) – de terças a sextas.
• Visita em LIBRAS – serão disponibilizados atendimentos agendados
às terças.
Para público espontâneo:
• Visita mediada – de terças a sextas, às 10h e 17h.
• Oficina prática sobre arqueologia e cosmovisão – sábados às 10h,
13h e 15h; domingos às 10h, às 13h e 16h.*
• Contação de histórias – sábados às 11h, 14h e 16h em
LIBRAS; domingos às 11h e às 15h.*
• Estação sensível – sábados e domingos às 9h, 11h, 14h, 17h.*
* A programação é gratuita e acessível a todos os públicos,
com distribuição de senhas 30 minutos antes de cada atividade
aos finais de semana. Vagas limitadas.
Informações no Espaço Educativo da exposição ou:
+55 11 5579-0151 | [email protected]
Agendamento de visitas: [email protected]
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10/6 a 24/8/2014
Terças a domingos, das 9h às 17h
museu da cidade - OCA
Avenida Pedro Álvares Cabral, s/n - Portão 3
Parque Ibirapuera São Paulo, SP, Brasil
Entrada franca. Livre para todos os públicos.
Facebook:
https://www.facebook.com/MayasRevelacaoDeUmTempoSemFim
Instagram:
http://instagram.com/MayasNoBrasil
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CULTURA
VERDE E MEIO AMBIENTE
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