Cap19-IntoxicaçõesTAS2016

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Cap19-IntoxicaçõesTAS2016
Manual de Tripulante de Ambulância de Socorro
S.R.P.C.B.A. - Divisão de Prevenção, Formação e Sensibilização
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Capítulo
Intoxicações
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1. OBJETIVOS
No final da sessão os formandos deverão ser capazes de:
Descrever intoxicação;
Listar e descrever as vias de absorção mais frequentemente utilizadas;
Listar e descrever os agentes mais frequentemente utilizados;
Listar e descrever as medidas de proteção da equipa, vítima e outros intervenientes;
Listar e descrever a nomenclatura AVDS e CHAMU incluídas no exame da vítima intoxicada;
Listar e descrever os dados a recolher no local;
Listar e descrever os critérios de prioridade de atuação perante um quadro de intoxicação;
Listar e descrever os passos da atuação protocolados para este tipo de situação;
Listar e descrever a técnica de administração do carvão ativado, suas indicações e contraindicações;
Listar e descrever a técnica de indução do vómito, suas indicações e contraindicações;
Listar e descrever as funções do Centro de Informação Anti-Venenos.
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Capítulo 19. Intoxicações
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2. INTRODUÇÃO
Quanto maior for o progresso técnico e científico, maiores serão as probabilidades de surgirem intoxicações. Há
alguns séculos atrás, à exceção de uns escassos venenos, as intoxicações acidentais, resumiam-se à ingestão de plantas
venenosas e picadas de alguns animais.
Atualmente, a indústria inunda as nossas casas com produtos utilizados para facilitar as tarefas de limpeza de roupas,
louças, paredes, metais, etc., os quais constituem “venenos” em potência, dependendo da sua correta utilização ou não.
A cultura atual exige um ritual de higiene e beleza só possíveis através da utilização de produtos químicos
(desodorizantes, depilatórios, perfumes), que podem ser nocivos quando ingeridos.
Para além destes produtos, utilizamos ainda nas nossas casas no dia-a-dia, inúmeros produtos “venenosos”,
nomeadamente, “gás” canalizado ou em garrafas, inseticidas, vernizes, plantas decorativas venenosas, etc.
Os próprios medicamentos são um mundo de possíveis venenos. Um medicamento usado criteriosamente por quem
dele precisa e na quantidade devida, constitui um bem, mas utilizado incorretamente ou em quantidades excessivas,
comporta-se como um veneno.
Assim, podemos verificar que o contacto com os tóxicos constitui uma realidade que se generaliza aos lares e
campos, neste caso devido ao uso indispensável dos pesticidas.
Na verdade, temos a consciência da existência de “venenos” por todo o lado, os quais na sua grande maioria, não
podemos eliminar, porque, a nossa civilização e o esquema de vida que adotámos, não permitem que passemos sem os
benefícios que estes produtos nos trouxeram.
Impõe-se que todos nós aprendamos a utilizar esses “produtos”, que saibamos viver com eles, aproveitando-lhes os
benefícios, sem no entanto nos deixarmos atingir pelos seus malefícios.
Basicamente as intoxicações podem ser de origem acidental, profissional ou voluntária.
A par disso, devemos educar as crianças a conhecê-los, a respeitá-los e a não os usar indevidamente, embora, só em
parte, a educação e aprendizagem sejam eficazes, uma vez que há sempre a grande curiosidade da criança, que a leva a
cheirar e a provar os diferentes produtos que vê manejar e ingerir.
Não esqueçamos que como norma genérica, determinada substância só é venenosa de acordo com a dose.
Se temos, pois, de fazer campanhas para a educação e esclarecimento com o fim de aumentar a prevenção, impõese também que saibamos atuar de imediato no início da intoxicação, para evitar os seus efeitos ou diminui-los.
Como já vimos, há pois milhares de tóxicos, diferentes uns dos outros, que só um centro especializado nos pode dizer
se este ou aquele produto é tóxico e quais as medidas a tomar para cada caso.
Para se obterem respostas adequadas surgiram os Centros de Intoxicações, entre os quais o de Portugal – CENTRO
DE INFORMAÇÃO ANTIVENENOS (C.I.A.V.), o qual nos permite, mediante um telefonema, 24 horas por dia, contatarmos
com médicos que nos elucidam quando à natureza do produto e sobre as medidas a tomar de imediato e a quem ou a que
serviço deve recorrer.
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Embora as indicações sejam fornecidas por médicos do C.I.A.V., é conveniente que a população em geral e os
elementos envolvidos no socorro, tenham um certo número de conhecimentos básicos, que lhes permitam de uma forma
rápida evitar o agravamento da situação e adotar procedimentos protocolados eficazes.
3. NOÇÕES DE TOXICOLOGIA
O conceito de intoxicação depende de uma relação entre a forma como o organismo foi exposto à substância, a
toxicidade da própria substância e quais as estruturas do organismo afetado e a sua sensibilidade, sendo que podemos
apresentá-la através do conceito:
EXPOSIÇÃO + TOXICIDADE = INTOXICAÇÃO
3.1. Via de Exposição
Via Digestiva – É a escolhida na maioria das tentativas de suicídio. Acontece quando se ingerem produtos caseiros,
medicamentos em excesso, bebidas alcoólicas, entre outros.
Via Respiratória – Ocorre quando se inalam gases ou vapores, em cozinhas, nas fábricas ou durante combates a
fogos.
Via Cutânea – Quando o contacto do produto se processa através da pele, nomeadamente nas situações de uso
indevido de pesticidas, cáusticos, etc.
Via Ocular – Surge geralmente por acidente, quando um jato de um produto atinge os olhos.
Por Injeção – via parentérica – Acontece com os toxicodependentes por overdose ou, em caso de erro terapêutico,
habitualmente em ambiente hospitalar, quer ao nível da dose quer ao nível do próprio medicamento.
Picada de animal – Em Portugal está limitado ao escorpião, insetos, algumas víboras e peixes.
Para além destas vias, há ainda as Vias Retal e Vaginal, sendo no entanto raras as intoxicações que se processam
por esta via.
3.2. Toxicidade
A toxicidade de um produto vai variar de acordo com os seguintes fatores:
Concentração a que o produto se encontra. Saber se o produto foi ingerido puro ou diluído pode condicionar
substancialmente a gravidade da intoxicação.
Dose (quantidade) da qual resultou a intoxicação. Torna-se um dos dados que pode indicar ou não a toxicidade do
produto em relação à vítima.
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Rapidez da absorção do produto pelo organismo. Este é o dado sem dúvida que condiciona a intoxicação. Por
exemplo, se a absorção for de uma substância sólida esta demorará mais tempo a ser absorvida pelo organismo do
que uma que se encontre no estado líquido.
Rapidez da metabolização: Consiste no conjunto de transformações químicas que as substâncias sofrem no
interior do organismo, ficando assim disponíveis para interagir com outras substâncias ou estruturas do corpo. Claro
que quanto mais rápida for essa metabolização, mais tóxica será a substância.
Rapidez da eliminação: Passa pela capacidade que o organismo tem para eliminar a substância do seu interior,
ficando assim livre do seu efeito. Obviamente que uma eliminação mais rápida da substância leva a um menor nível
de toxicidade.
Fig. 19.1. Rótulos de identificação.
O tóxico, quando ingerido, inalado, injetado ou em contacto ocular ou cutâneo, atua de várias formas no
organismo:
Por contacto direto: lesando a pele, a conjuntiva dos olhos ou as mucosas da boca, do estômago e do intestino
traduzindo-se em queimaduras, necroses e perfurações;
Quando é absorvido: entra em circulação e vai atuar num ou mais órgãos, podendo provocar inconsciência,
paralisia, lesão do fígado, dos rins, convulsões, etc.
Na fase de eliminação: do produto, também pode provocar lesões do tubo digestivo e lesões renais.
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O nível de intoxicação estará também dependente dos órgãos afetados pela substância tóxica e qual a sensibilidade
ou capacidade de resistência que estes apresentem à ação do agente tóxico.
Perante o facto de determinados órgãos serem envolvidos, normalmente a função destes fica afetada, pelo que a
gravidade da intoxicação também poderá variar em relação aos órgãos e à importância das funções atingidas.
3.3. A vítima
Em relação à vítima, existe um conjunto de informações que pode determinar a gravidade ou não da intoxicação.
Assim deve-se procurar saber:
Sexo;
Idade;
Peso aproximado;
Antecedentes;
Hábitos.
4. A ABORDAGEM À INTOXICAÇÃO
Como se abordou anteriormente, a avaliação da situação da intoxicação está sempre condicionada à obtenção de
respostas às seguintes perguntas:
O quê;
Quanto;
Quando;
Onde;
Quem;
Como.
Por outras palavras deve permitir a caracterização do tóxico, do intoxicado e das condições da intoxicação.
4.1. Caracterização do tóxico
Devemos averiguar o nome do ou dos produtos, e se não os soubermos, tentar indagar:
Nome;
Utilidade;
Cor;
Forma;
Cheiro;
Se foi utilizado puro ou diluído;
Se foi utilizado com outra substância.
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4.2. Características da vítima.
Idade;
Sexo;
Gravidez;
Peso;
Doenças prévias (renal, cardíaco, diabético, hipertenso, epilético, doente psiquiátrico);
Hábitos (toxicodependente, alcoólico);
Estado de consciência;
Parâmetros vitais;
Lesões resultantes do contato com o tóxico.
4.3. Condições da intoxicação
Quantidade / dose do tóxico;
Hora da intoxicação;
Com ou sem ingestão de álcool;
Com ou sem ingestão de alimentos;
Com ou sem ingestão de medicação;
Quais os tratamentos já efetuados, por iniciativa própria, familiar ou médica;
Local.
5. ATUAÇÃO
A atuação para as situações de intoxicação no âmbito do pré-hospitalar tem as seguintes componentes:
Descontaminação;
Suporte das funções vitais.
A descontaminação consiste na retirada do tóxico do organismo de forma a evitar a sua absorção. As medidas a
adotar vão variar em conformidade com a via de contacto. No entanto, a equipa de emergência deve salvaguardar a sua
proteção uma vez que o risco de contaminação está sempre presente. A diversidade de tóxicos existentes e os seus efeitos
condicionam muitas vezes a atuação. Por este motivo, todos os procedimentos a adotar devem seguir indicação do CIAV
O suporte das funções vitais implica uma avaliação correta da vítima, identificando os sinais de compromisso. Os
aparecimentos de cianose, palidez, sudorese, alterações do ritmo cardíaco são indicadores de gravidade, devendo ser
adotadas as medidas necessárias para a estabilização das vítimas. Todos os procedimentos devem ser sempre submetidos
a aconselhamento específico do CIAV.
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5.1. Via respiratória
Entende-se por intoxicação por via respiratória quando existe inalação de gases, fumos ou vapores.
a) Procedimentos
As intoxicações pela via respiratória normalmente são acidentais e estão associadas à inalação de fumos ou de gás
devido a fugas nas respetivas canalizações. Os procedimentos para estes tipos de situações são:
Remover a vítima do ambiente contaminado;
Retirar as roupas contaminadas;
Manter o doente aquecido;
Administrar oxigénio a 15 L/m e fazer ventilação artificial, se necessário.
b) Medidas de proteção individual
Não entrar no local se não existirem as condições de segurança necessária.
Arejar o local.
Se possível, avaliar a vítima fora do local onde ocorreu a intoxicação.
5.2. Via cutânea
Entende-se por intoxicação por via cutânea quando exista a absorção do tóxico através da pele.
a) Procedimentos
Este tipo de intoxicações é mais frequente no meio rural devido à utilização de produtos químicos no tratamento das
colheitas e o não cumprimento das medidas de proteção individual aconselhadas. Podem também surgir alguns casos
domésticos e outros industriais, no entanto com menor incidência.
Os procedimentos a adotar para estes tipos de situações são:
Retirar roupas contaminadas;
Lavar abundantemente com água corrente;
Não aplicar produtos químicos;
Procurar possíveis lesões;
b) Medidas de proteção individual
Não entrar no local se não existirem as condições de segurança necessárias;
Arejar o local;
Se possível avaliar a vítima fora do local onde ocorreu a intoxicação;
Luvas;
Máscara de viseira ou óculos de proteção;
Avental de plástico.
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5.3. Via ocular
Entende-se por intoxicação por via ocular quando exista a absorção do tóxico através do globo ocular.
a) Procedimentos
Este tipo de intoxicações são pouco frequentes e normalmente têm origem em acidentes de trabalho, aquando do
manuseio de substancias químicas.
Os procedimentos para estes tipos de situações são:
Identificar o produto em causa;
Lavar com água corrente, durante 15 minutos, mantendo as pálpebras afastadas (não usar produtos químicos);
Procurar possíveis lesões.
b) Medidas de proteção individual
Máscara com viseira ou óculos de proteção;
Luvas;
Avental de plástico.
5.4. Via parentérica
Entende-se por intoxicação por via parentérica quando exista introdução do tóxico no organismo diretamente por via
endovenosa, arterial, intramuscular ou subcutânea.
a) Procedimentos
As “overdoses” são as situações mais frequentes neste tipo de intoxicações. No entanto estas também podem surgir
acidentalmente, pela administração de um fármaco via endovenosa, intramuscular ou subcutânea.
Os procedimentos para estes tipos de situações são:
Identificar o produto em causa;
Manter a vítima imobilizada;
Atuar conforme a sintomatologia apresentada.
b) Medidas de proteção individual
Intervir somente quando estejam criadas condições de segurança;
Luvas;
Máscara com viseira ou óculos de proteção;
Ter especial atenção à localização de objetos cortantes ou perfurantes, como lâminas, agulhas, etc.
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5.5. Picada de animal
Entende-se por intoxicação por picada de animal quando a absorção do tóxico ocorre por mordedura ou picada de
um animal.
a) Procedimentos
Identificar o produto em causa;
Manter a vítima em repouso;
Não efetuar qualquer incisão ou sucção da zona atingida;
Desinfetar o local da picada;
Aplicar frio no local da picada;
Atuar conforme a sintomatologia apresentada.
b) Medidas de proteção individual
Luvas;
Máscara com viseira ou óculos de proteção;
5.6. Via retal ou vaginal
Intoxicação por via retal ou vaginal é quando existe a absorção por introdução do tóxico no ânus ou na vagina.
a) Procedimentos
Identificar o produto em causa;
Lavagem do local;
Atuar conforme a sintomatologia apresentada.
b) Medidas de proteção individual
Máscara com viseira ou óculos de proteção;
Luvas;
Se existirem fluidos orgânicos como urina e fezes deve ser utilizado o avental de plástico.
5.7. Via digestiva
As intoxicações resultantes da ingestão do tóxico são das mais frequentes. Para este tipo de situações existe os
seguintes procedimentos:
Esvaziamento gástrico;
Absorção do tóxico;
Administração de purgante;
Medidas de proteção;
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a) Esvaziamento gástrico
O esvaziamento gástrico faz-se habitualmente por:
Indução do vómito;
Aspiração/lavagem gástrica.
Pode-se induzir o vómito por:
Estimulação mecânica da úvula (campainha) usando os dedos, uma espátula ou o cabo de colher;
Administrando por exemplo o xarope de ipecacuanha (Ipeca). O xarope de ipecacuanha é um agente emético
(induz o vómito) de alta eficácia, inócuo e tem grande utilidade principalmente em pediatria.
Em qualquer dos processos, para se induzir eficazmente o vómito, é necessário aumentar o conteúdo gástrico,
administrando 200 a 300 ml de água.
Para evitar a aspiração do vómito, com os consequentes problemas de pneumonia ou asfixia, tem de se atender ao
posicionamento do doente, o qual deve estar sentado e inclinado para a frente.
As crianças pequenas, enquanto esperam a ação do emético, devem permanecer sentadas e, durante o vómito a
posição ideal é deitada no colo, em decúbito ventral.
Fig. 19.2. Embalagem de xarope de ipeca.
Quando a quantidade ou nocividade do tóxico exigem cuidados médicos sem perda de tempo, é preferível provocar o
vómito, por estimulação mecânica, após prévia ingestão de água, em vez de escolher a ipeca que tem o inconveniente de só
produzir efeito cerca de 20 minutos após a sua ingestão.
O xarope de ipecacuanha, emético usa-se nas seguintes doses:
Idade
2 Anos
Dose
10 ml (1 colher de sobremesa)
2 a 5 anos
15 ml (1 colher de sopa)
> 5 Anos
20 a 25 ml (2 colheres de sobremesa)
Adultos
30 ml (1 frasco)
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As contraindicações da indução do vómito, dependem da fase da intoxicação e da natureza do tóxico, assim
temos:
Vítimas sonolentas ou inconscientes;
Ingestão de corrosivos;
Tóxico que produzem espuma;
Derivados do petróleo;
Tóxicos convulsivantes;
Vítimas com antecedentes de patologia cardíaca;
Tóxicos depressores do SNC.
Esvaziamento/lavagem gástrica
Este tipo de técnica consiste na introdução de uma sonda pelo nariz até ao estômago o que permite aspirar o
conteúdo gástrico.
Absorção do tóxico
Atualmente, utiliza-se muito o carvão ativado em toxicologia, devido à sua grande capacidade de absorção dos
tóxicos.
Fig. 19.3. Embalagem de carvão ativado.
As contraindicações da administração do carvão ativado são:
Antes do xarope de ipecacuanha atuar pois absorve a ipeca;
Nos casos em que é necessário fazer endoscopia (exame que permite a visualização direta do tubo digestivo
através da introdução de uma sonda – endoscópio) pois limita a observação;
A quando da ingestão de derivados do petróleo ou corrosivos.
Doses para a administração do carvão ativado
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Idade
Dose
Criança
1 grama por kg de peso
Adulto
50 Gramas
A preparação do carvão ativado implica a sua diluição em água conforme indicado na embalagem. O carvão ativado
é tanto mais eficaz, quanto mais precoce é a sua administração.
Purgante
Os purgantes são medicamentos que aceleram o trânsito intestinal. A sua administração faz-se em meio hospitalar
com o objetivo de acelerar a eliminação do tóxico ingerido, reduzindo assim a sua absorção.
Medidas de proteção individual
Neste tipo de intoxicações existe um alto risco de contaminação para a equipa de emergência. Por este motivo
torna-se obrigatório o uso de:
Máscara com viseira ou óculos de proteção;
Luvas;
Avental de plástico.
6. CASOS PARTICULARES DE INTOXICÃO
Apesar do universo dos tóxicos ser variado, o que limita a definição dos procedimentos a adotar, existem no entanto
um conjunto de situações que pela sua frequência em termos de ocorrência ou pela sua gravidade, obrigam a aplicação de
protocolos de atuação específicos.
6.1. INTOXICAÇÕES POR DROGAS
Ao longo da evolução da humanidade, o homem sempre conviveu com o uso de drogas, sem que esse fator fosse de
alarme social. Atualmente as substâncias psicoativas ainda são consumidas em algumas regiões do mundo associadas ás
culturas de alguns povos. Tem-se vindo a notar um aumento no consumo de drogas de forma alarmante, principalmente de
substâncias consideradas proibidas. Este fator tem uma interferência direta e indireta na vida social, familiar, no trabalho,
trânsito, disseminação de agentes infeciosos, tornando-se ainda um problema de saúde pública.
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Tipos de drogas e seus efeitos
TIPOS
CARACTERÍSTICAS
EXEMPLOS
Normalmente chamadas de depressoras.
Drogas que diminuem a
atividade mental
Afetam o SNC, fazendo com que este funcione mais
lentamente. Diminuem o estado de alerta, bem como
a concentração, tensão emocional e a capacidade
Tranquilizantes, álcool,
heroína, etc.
intelectual
Drogas que aumentam a
atividade mental
Drogas que alteram a
perceção
Designadas por estimulantes. Atuam sobre o SNC,
acelerando o seu funcionamento.
Cafeína, tabaco,
anfetaminas, cocaína,
crack, etc.
Substância alucinogénias e provocam distúrbios no
funcionamento do SNC, originando o afastamento da
LSD, ecstasy, haxixe, etc.
realidade, delírios ou alucinações
6.1.1. Cocaína
A cocaína é extraída das folhas de uma planta designada por “coca” (arbusto encontrado normalmente na América
do Sul). A sua aparência é semelhante a um pó branco que normalmente é embalado em pequenos sacos plásticos. O
consumidor pode utilizá-la por: aspiração, fricção gengival, diluída ou injetada.
Esta droga tem um efeito devastador no SNC, deixando sequelas que provocam alterações comportamentais e
psíquicas.
Fig. 19.4. Cocaína
Fig. 19.5. Arbusto do qual se extrai a cocaína
SINAIS E SINTOMAS
Agitação psicomotora;
Euforia;
Taquicardia;
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Sudorese;
Hipertermia;
Midríase;
Prurido;
Arritmias
Alucinações;
Convulsões.
ATUAÇÃO
Atuar se existirem condições de segurança, muitas vezes devido á agressividade da vítima tem de se recorrer a
autoridade no local;
Proteção individual da equipa;
Avaliar o estado de consciência;
Administrar oxigénio;
Efetuar a recolha de informação (CHAMU);
Transmitir a informação recolhida ao CIAV.
6.1.2. Opiáceos (heroína, morfina, etc.)
A heroína começou a ser utilizada em fins medicinais. Mais tarde foi sintetizada, criando-se a morfina. Como a
maioria dos opiáceos, substâncias que derivam do ópio, a heroína determina a dependência física e psíquica do utilizador,
isto é, se for retirada vai provocar o “síndroma da abstinência”. As suas vias de absorção podem ser: inalação ou injetada.
Fig. 19.6. Heroína.
Fig. 19.7. Planta da qual se extrai a heroína (papoila).
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SINAIS E SINTOMAS (Overdose)
Miose bilateral;
Bradipneia;
Cianose;
Sudorese;
Broncoespasmo;
Edema Agudo do Pulmão;
Inconsciência.
ATUAÇÃO
Estimular a vítima;
Administrar oxigénio a 15 L/min;
Se necessário assistir a ventilação;
Avaliar os parâmetros vitais;
Efetuar a recolha de informação (CHAMU);
Transportar para a unidade de saúde.
SINAIS E SINTOMAS (Abstinência)
Náuseas, vómitos;
Midríase;
Sensibilidade à luz;
Hipertensão;
Hipertermia;
Dores generalizadas;
Insónias;
Crises de choro;
Tremores;
Diarreias;
ATUAÇÃO (Abstinência)
Criar e garantir condições de segurança;
Administrar oxigénio a 3 l/min;
Avaliar os parâmetros vitais;
Efetuar a recolha de informação (CHAMU);
Transportar para a unidade de saúde.
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6.1.3. Anfetaminas
As anfetaminas são drogas sintéticas fabricadas em laboratórios. São usadas em alguns casos para emagrecer,
uma vez que moderam o apetite, e também para reduzir o sono, mantendo o consumidor acordado por longos períodos de
tempo. O uso prolongado desta droga provoca dependência física e tem uma sintomatologia semelhante à da cocaína
Fig. 19.8. Anfetaminas (forma de comprimido ou cápsula).
SINAIS E SINTOMAS
Midríase;
Agitação psicomotora;
Alucinações;
Convulsões;
Hipertensão;
Arritmias;
Vómitos;
Diarreia;
Hipertermia;
ATUAÇÃO
Administração de carvão ativado (ordem médica);
Avaliar os parâmetros vitais;
Administrar oxigénio;
Efetuar a recolha de informação (CHAMU);
Transmitir a informação recolhida ao CIAV;
Transporte à unidade de saúde;
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6.1.4. LSD (Lysergic Saure Diethylamide)
O LSD é um psicotrópico de produção clandestina. A sua potencialidade é medida em microgramas. Este pode
apresentar-se em forma de líquido, podendo ser ingerida sem a vítima se aperceber, uma vez que não tem cheiro, cor ou
gosto. Este facto associado a ser uma droga ilícita origina por vezes um excesso de dosagem que são responsáveis por
muitas das mortes causadas pela droga.
Fig. 19.9. LSD.
SINAIS E SINTOMAS
Alucinações;
Delírios;
Perceção de falsa realidade;
Estado de pânico.
ATUAÇÃO
Criar condições de segurança;
Administrar oxigénio;
Avaliar os parâmetros vitais;
Efetuar a recolha de informação (CHAMU);
Transporte à unidade de saúde
6.1.5. Ecstasy
O Ecstasy estimula a produção de um neurotransmissor (serotonina) responsável pelas sensações de bem-estar. No
entanto, sendo uma droga produzida clandestinamente é associada a outras substâncias que alteram por completo a sua
composição e assim os seus efeitos, que podem ser devastadores para o consumidor.
Esta droga provoca sensações de euforia e diminui o cansaço, podendo o seu utilizador estar horas em esforço
físico (exemplo a dançar)) sem apresentar sinais de fadiga. A sua ingestão prolongada pode originar estados de depressão,
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Capítulo 19. Intoxicações
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uma vez que o organismo vai precisar de maiores doses para produzir serotonina e assim sensações de bem-estar. A
duração do efeito desta droga vai de 6 a 12 horas. Após o seu efeito surgem dores musculares, depressão e fadiga que
podem durar vários dias a desaparecer.
Fig. 19.10. Ecstasy.
SINAIS E SINTOMAS
Euforia;
Ausência de fadiga;
Taquicardia;
Sede;
Náuseas;
Sudorese;
Diminuição do apetite.
SINAIS E SINTOMAS (Após o efeito da droga)
Dores musculares;
Desidratação;
Depressão;
Fadiga.
ATUAÇÃO
Criar condições de segurança;
Administrar oxigénio;
Avaliar os parâmetros vitais;
Efetuar a recolha de informação (CHAMU);
Transporte à unidade de saúde.
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Capítulo 19. Intoxicações
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6.1.6. Haxixe
O haxixe é as extremidades e a resina da Cannabis sativa (folhas e flores). É frequentemente fumado ou tomado por
uma via oral. Cria grande dependência psíquica e a dependência física é nula, mas possível.
O uso habitual da cannabis ou haxixe provoca relaxamento, euforia, diminuição das inibições e aumento do apetite
na fase final do efeito.
A sobredosagem cria pânico e o seu uso a longo prazo cria debilitação e sindroma amotivacional.
Fig. 19.11. Folha de cannabis
Fig. 19.12. Haxixe
SINAIS E SINTOMAS
Taquicardia;
Hipertensão;
Olhos vermelhos;
Aumento da sensibilidade à luz;
Tosse;
Euforia;
Sonolência;
Comportamento paranoico;
Alterações motoras;
ATUAÇÃO
Atuar se existirem condições de segurança, muitas vezes devido á agressividade da vítima tem de se recorrer a
autoridade no local;
Proteção individual da equipa;
Avaliar o estado de consciência;
Administrar oxigénio;
Efetuar a recolha de informação (CHAMU);
Transmitir a informação recolhida ao CIAV.
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6.1.7. Inalantes e solventes (cola de contacto, diluentes, éter, clorofórmio, tintas, etc.)
A utilização de substâncias inalantes ou solventes (ex. diluentes, colas, etc.) é mais evidente na toxicodependência
infantil. Após a inalação dos gases libertados por este tipo de substância, o seu efeito normalmente é rápido, com uma
duração que varia entre os 15 e os 40 minutos.
Os sinais e sintomas que surgem vão desde uma pequena estimulação, seguida de depressão de SNC até surgirem
processos alucinatórios.
Os solventes estão presentes em muitos produtos comerciais (colas, vernizes, perfumes, etc.).
Em termos de metabolismo provocam taquicardia e em casos mais graves lesões renais, do fígado e do Sistema
Nervoso Periférico.
SINAIS E SINTOMAS
1ª FASE
Euforia;
Tonturas;
Perturbações auditivas e visuais;
Em alguns casos: náuseas, tosse, hipersalivação.
2ª FASE
Confusão;
Desorientação;
Dificuldade na fala e visão;
Perda de autocontrolo;
Alucinações.
3ª FASE
Depressão profunda
Alteração da consciência;
Falta de coordenação motora;
Lentidão de reflexos;
Alucinações.
4ª FASE
Hipotensão;
Convulsões;
Inconsciência;
Tonturas.
ATUAÇÃO
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Estimular a vítima;
Administrar oxigénio;
Se necessário assistir a ventilação;
Avaliar os parâmetros vitais;
Efetuar a recolha de informação (CHAMU);
Transportar para a unidade de saúde.
6.1.8. Álcool etílico
O álcool atua como depressor do Sistema Nervoso Central, sendo o seu efeito variado em conformidade com a
quantidade ingerida. Na maioria dos casos não representa um perigo de vida imediato para o seu consumidor. No entanto, a
sua utilização prolongada vai dar origem à degradação do seu estado mental e físico, contribuindo para o aparecimento de
um conjunto de patologias, das quais se destaca a cirrose hepática.
SINAIS E SINTOMAS
Euforia;
Comportamento desinibido;
Descoordenação motora;
Sonolência;
Pele vermelha, quente e húmida;
Odor a álcool;
Inconsciência.
A vítima pode ser encontrada inconsciente apresentando:
Ventilação rápida e superficial;
Pulso rápido e fino;
Pele pálida e fria;
Odor a álcool (pode ou não ser detetado).
ATUAÇÃO
Vítima Consciente
Manter uma atitude calma e segura, evitando o recurso à utilização da força física;
Administrar bebidas açucaradas;
Avaliar os parâmetros vitais;
Vítima Inconsciente
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Manter a permeabilidade das vias aéreas;
Despistar uma possível hipoglicemia determinando a glicemia capilar. Administrar papa de açúcar no interior
das bochechas;
Administrar oxigénio;
Avaliar, caraterizar e registar os sinais vitais;
Despistar o choque e atuar em conformidade;
Elevação dos membros inferiores;
Manutenção da temperatura corporal;
Recolher o máximo de informação (CHAMU)
Transporte para o hospital com vigilância do estado de consciência e dos sinais vitais.
6.2. MEDICAMENTOS
As intoxicações por ingestão acentuada de medicamentos são bastante comuns. Habitualmente poderá haver
mistura de diversos tipos de medicamentos, bem como da ingestão de bebidas alcoólicas em excesso.
6.2.1. Antidepressivos
São drogas produzidas em laboratório que visam combater os estados depressivos. Sendo drogas vulgarmente
utilizadas pela população, as intoxicações oriundas da sua ingestão resultam essencialmente da automedicação ou de
tentativas de suicídio.
A sintomatologia deste tipo de intoxicações pode surgir 1 a 2 horas após a ingestão, podendo em alguns casos
surgir somente após 6 horas.
Atuam sobre o SNC, e têm interesse no controlo dos sintomas de depressão. Os mais conhecidos são a Fluoxetina
(Prozac) e Paroxetina (Seroxat, Paxetil).
SINAIS E SINTOMAS
Confusão;
Agitação;
Alucinações;
Sonolência;
Mucosas secas;
Midríase;
Alterações do estado de consciência;
Convulsões;
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Arritmias.
Hipotensão;
Depressão respiratória.
ATUAÇÃO
Manter a via aérea permeável;
Administrar oxigénio;
Se a vítima estiver consciente, orientada e não se encontra sonolenta deve-se induzir o vómito de forma
mecânica. No caso de hipotensão elevar os membros inferiores;
Avaliar e registar os parâmetros vitais;
Efetuar a recolha de informação (CHAMU);
Transportar em decúbito lateral;
Contatar o CIAV.
6.2.2. Benzodiazepinas
Este tipo de substância é utilizado normalmente para o controlo da ansiedade, insónia, convulsões entre outras.
Existem vários medicamentos com base desta substância, daí que está presente na maioria das intoxicações voluntárias.
Embora os casos de morte por ingestão deste tipo de substância de uma forma isolada possa ser pouco frequente, o
mesmo não se pode dizer nas intoxicações em que estejam associadas outras substâncias.
A causa mais direta da intoxicação com este tipo de substâncias é a depressão respiratória e a hipotensão
São medicamentos muito comuns, atuam ao nível do Sistema Nervoso Central, sendo os mais conhecidos os
Diazepam (Valium, Unisedil), Alprazolam (Xanax), Midazolam (Dormicum) e Oxazepam (Serenal).
SINAIS E SINTOMAS
Sonolência;
Depressão respiratória;
Hipotensão.
ATUAÇÃO
Manter a via aérea permeável;
Administrar oxigénio;
Se a vítima estiver consciente, orientada e não se encontra sonolenta deve-se induzir o vómito de forma
mecânica. No caso de hipotensão elevar os membros inferiores;
Avaliar e registar os parâmetros vitais;
Efetuar a recolha de informação (CHAMU);
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Transportar em decúbito lateral.
Contatar o CIAV.
6.3. INTOXICAÇÕES POR OUTRAS SUBSTÂNCIAS
a) Ingestão de cáusticos
Os agentes cáusticos são encontrados em muitos produtos de limpeza, quer domésticos, quer industriais.
Este tipo de produto quando ingerido vai provocar queimaduras da mucosa e consequentemente a sua destruição.
Pode também, em contacto com a pele originar queimaduras graves.
Fig. 19.13. Produtos de limpeza de uso doméstico.
SINAIS E SINTOMAS
Quando ingerido:
Hipersalivação;
Disfonia;
Dor/Ardor retroesternal;
Hemorragia digestiva;
Dor abdominal.
Quando em contato com a pele:
Ardor e dor;
Prurido;
Queimadura.
ATUAÇÃO
Quando ingerido:
Identificar o produto;
Não provocar o vómito;
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Avaliar e registar os parâmetros vitais;
Contatar o C.I.A.V.
Quando em contato com a pele:
Identificar o produto;
Expor a zona atingida;
Lavar abundantemente com água;
Não tapar as zonas atingidas;
Contatar o C.I.A.V.
b) Monóxido de carbono
O monóxido de carbono é um gás tóxico resultante da combustão. Trata-se na maioria dos casos de intoxicações
acidentais, que resultam na maioria da combustão de materiais em ambientes fechados, incêndios ou de acidentes
resultantes da existência de esquentadores na casa de banho. O seu grau de toxicidade é alto, bastando uma pequena
concentração para matar a vítima.
SINAIS E SINTOMAS
Cefaleias;
Náuseas e vómitos;
Disfunção neurológica;
Alteração da visão;
Insuficiência respiratória;
Cianose;
Arritmias;
Hipotensão;
Convulsões.
ATUAÇÃO
Arejar o local;
Retirar a vítima do local;
Permeabilizar a via aérea;
Administrar oxigénio a 15 L/min;
Avaliar e registar os parâmetros vitais;
Efetuar a recolha de informação;
Contatar o C.I.A.V.
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c) Hidrocarbonetos (petróleo, gasolina, gasóleo, etc.)
Este tipo de intoxicação é raro, e ocorre na maioria dos casos por acidente. Os hidrocarbonetos quando ingeridos
provocam alterações fisiológicas significativas que surgem na sua maioria algum tempo após ter ocorrido a ingestão.
SINAIS E SINTOMAS
Alterações de consciência;
Tonturas;
Sonolência;
Comportamento tipo alcoolizado;
Agitação;
Depressão respiratória;
Cianose;
Taquicardia;
Hipotensão;
Tremor;
Queimaduras das mucosas;
Dor /ardor retroesternal;
Dor abdominal;
Náuseas e vómitos;
Diarreia.
ATUAÇÃO
Não induzir o vómito nem administrar carvão ativado;
Avaliar o nível de consciência;
Procurar lesões da pele e das mucosas;
Efetuar a recolha de informação (CHAMU);
Contatar o CIAV.
d) Organofosforados e carbamatos ( E-605 forte, Roxion, Gusation, etc.)
O organofosforado é uma substância química com um elevado grau de toxicidade na maioria dos pesticidas de uso
agrícola. Este tipo de substância é um inibidor irreversível de uma enzima (colinesterase) envolvida na transmissão dos
estímulos nervosos.
O carbamato à semelhança do organofosforado é um inibidor mais reversível desta mesma enzima.
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Fig. 19.14.Gusation disponível no mercado.
SINAIS E SINTOMAS
Cefaleias;
Tonturas;
Visão desfocada;
Fraqueza;
Descoordenação motora;
Fasciculações musculares;
Tremores;
Diarreia;
Cólicas abdominais;
Hipersalivação;
Sudorese;
Incontinência de esfínteres;
Miose;
Bradicardia;
Convulsões;
Hipotensão;
Inconsciência;
Paragem ventilatória.
ATUAÇÃO
Indução mecânica do vómito (consciente) por ordem do C.I.A.V.;
Administração de carvão ativado (ordem médica);
Permeabilizar a via aérea;
Aspiração de secreções;
Administração de O2 a 15 l/min;
Efetuar ventilação artificial com recurso ao insuflador manual no caso de paragem ventilatória;
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Lavagem corporal;
Avaliação dos parâmetros vitais;
Efetuar a recolha de informação (CHAMU);
Contatar o C.I.A.V.
e) Raticidas (Racumin, Ratax, Ratibrom, etc.)
Na sua generalidade são pesticidas de baixa toxicidade e fundamentalmente à base de anticoagulantes. As
intoxicações deste tipo de produtos são frequentes, sendo a sua maioria de fácil resolução. A maior parte das vítimas
apresentam-se assintomáticas.
Fig. 19.15. Os raticidas são organofosforados de baixa toxicidade.
ATUAÇÃO
Avaliar ABCDE;
Avaliar parâmetros vitais;
Efetuar a recolha de informação (CHAMU);
Induzir o vómito;
Contatar C.I.A.V;
f) Paraquato (Gramoxone, Paraquato-SAPEC)
O Paraquato é um pesticida de elevada toxicidade utilizado na agricultura. Neste tipo de intoxicações as vítimas vão
apresentar-se assintomáticas, ou seja, não apresentam sinais e sintomas da intoxicação. Este facto não significa que as
vítimas estejam fora de perigo, pelo contrário. O Paraquato atua lentamente no organismo e normalmente leva à morte da
vítima dias após a ingestão.
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Fig. 19.16.Paraquato.
SINAIS E SINTOMAS
Na maioria dos casos as vítimas apresentam-se assintomáticas
ATUAÇÃO
Avaliar ABCDE;
Retirar roupas contaminadas;
Efetuar lavagem corporal;
NÃO ADMINISTAR OXIGÉNIO;
Avaliar e registar os parâmetros vitais;
Efetuar a recolha de informação (CHAMU);
Contatar o C.I.A.V.
f) Hipoclorito de sódio (Lixívia)
A ingestão de lixívia normalmente é de origem acidental e deve-se a deglutição de pequenas quantidades. Não
sendo uma substância muito corrosiva é no entanto irritante para as mucosas, determinando queixas de odinofagia e ardor
retroesternal.
Fig. 19.17. A lixívia de uso doméstico tem várias percentagens de hipoclorito de sódio.
SINAIS E SINTOMAS
Ansiedade;
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Ardor retroesternal;
Irritação das mucosas;
Odinofagia – dificuldade em deglutir.
ATUAÇÃO
Não induzir o vómito;
Avaliar o estado das mucosas;
Avaliar e registar os parâmetros vitais;
Efetuar a recolha de informação (CHAMU);
Contatar o C.I.A.V.
g) Detergentes
A ingestão de detergentes normalmente não origina intoxicações graves, sendo na sua maioria inofensivas. No
entanto, alguns condicionam uma toxicidade sistémica ou produzem lesões locais graves. Assim, neste tipo de intoxicação, a
recolha de informação e uma abordagem correta da vítima torna-se fundamental para a determinação de gravidade ou não.
O recurso ao CIAV é necessário para a determinação dos procedimentos s adotar.
A atuação para estes casos resume-se à contraindicação de induzir o vómito e devido à diversidade de produtos
existentes o contacto com o CIAV.
7. RESUMO
Uma boa observação do doente e a aplicação precoce das medidas que evitem a
absorção do tóxico podem impedir que o quadro clínico da intoxicação assuma proporções
de maior gravidade.
Não deve esquecer que um intoxicado é um doente como outro qualquer, que
merece atenção e respeito, e mesmo quando se trata de um toxicodependente ou suicida,
nunca se deve comportar como juiz, nem manifestar reprovação ou desprezo.
Assim e pelo que foi dito, podemos verificar que o C.I.AV, tem um papel fundamental
neste tipo de situações, pelo que é importante, sempre que possível, estabelecer contato
com este subsistema.
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