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ANO XXIX - N.9 - 2011 R$ 15,00 - € 5 www.30giorni.it MENSILE SPED. IN ABB. POST. Tar. Economy Taxe Percue Tassa Riscossa Roma. ED. TRENTA GIORNI SOC. COOP. A R. L. ISSN 1827-627X na Igreja e no mundo Quem vive na graça é santo Diretor: Giulio Andreotti A VIAGEM APOSTÓLICA DO PAPA BENTO XVI À ALEMANHA 22-25 DE SETEMBRO DE 2011 In caso di mancato recapito rinviare a Uff. Poste Roma Romanina per la restituzione al mittente previo addebito. If undelivered please return to sender, postage prepaid, via Romanina post office, Roma, Italy. En cas de non distribution, renvoyer pour restitution à lʼexpéditeur, en port dû, à: Ufficio Poste Roma Romanina, Italie nella Chiesa e nel mondo CORRESPONDÊNCIA. Monsenhor Conforti e o Cardeal Ferrari: o conforto de uma amizade cristã ano XXIX N. Sumário 9 ano 2011 Capa: no quadro, Papa Bento XVI; na foto grande, a vigília de oração com os jovens na Feira de Freiburg im Breisgau, 24 de setembro de 2011 p. 60 EDITORIAL Confirma os teus irmãos 4 — por Gerhard Ludwig Müller CAPA PITADAS DE CATECISMO Quem vive na graça é santo — A viagem apostólica do Papa Bento XVI à Alemanha, 30 22-25 de setembro de 2011 Nova et Vetera A Tradição segundo as cartas do Papa Celestino I: O tesouro a ser guardado é mais importante que aquele que o guarda 3OGIORNI nella Chiesa e nel mondo NESTE NÚMERO IGREJA “A Igreja na China não mudou uma vírgula da Tradição Apostólica que lhe foi consignada” Entrevista com João Batista Li Suguang 24 — por G. Valente O tesouro e os vasos de barro — por G. Valente 27 Diretor Giulio Andreotti ORIENTE MÉDIO REDAÇÃO Via Vincenzo Manzini, 45 00173 Roma Tel.+39 06 72.64.041 Fax +39 06 72.63.33.95 Internet: www.30giorni.it E- mail: [email protected] Vice-Diretores Roberto Rotondo - [email protected] Giovanni Cubeddu - [email protected] Secretaria de redação [email protected] 3OGIORNI nella Chiesa e nel mondo é uma publicação mensal registrada junto ao Tribunal de Roma na data 11/11/1993 n. 501. A publicação beneficia-se de subsídios públicos diretos de acordo com a lei de 7 de agosto de 1990, n. 250 Redação Alessandra Francioni - [email protected] Davide Malacaria - [email protected] Paolo Mattei - [email protected] Massimo Quattrucci [email protected] Gianni Valente - [email protected] SOCIEDADE EDITORA Trenta Giorni soc. coop. a r. l. Sede legale: Via Vincenzo Manzini, 45 00173 Roma Gráfica Marco Pigliapoco - [email protected] Vincenzo Scicolone - [email protected] Marco Viola - [email protected] Conselho de Administração Giampaolo Frezza (presidente), Massimo Quattrucci (vice-presidente), Giovanni Cubeddu, Paolo Mattei, Roberto Rotondo, Michele Sancioni, Gianni Valente Imagens Paolo Galosi - [email protected] Colaboradores Pierluca Azzaro, Françoise-Marie Babinet, Marie-Ange Beaugrand, Maurizio Benzi, Lorenzo Bianchi, Massimo Borghesi, Lucio Brunelli, Rodolfo Caporale, Pina Baglioni, Lorenzo Cappelletti, Gianni Cardinale, Stefania Falasca, Giuseppe Frangi, Silvia Kritzenberger, Walter Montini, Jane Nogara, Stefano M. Paci, Felix Palacios, Tommaso Ricci, Giovanni Ricciardi Diretor responsável Roberto Rotondo Tipografia Arti Grafiche La Moderna Via di Tor Cervara, 171 - Roma ESCRITÓRIO PARA ASSINATURA E DIFUSÃO Via Vincenzo Manzini, 45 - 00173 Roma Tel. +39 06 72.64.041 Fax +39 06 72.63.33.95 E-mail: [email protected] De segunda a sexta-feira das 9h às 18h e-mail: [email protected] Colaboraram neste número Gerhard Ludwig Müller (bispo de Regensburg) Este número foi concluído na redação dia 11 de outubro de 2011 Escritório Legal Davide Ramazzotti - [email protected] Impressão concluída no mês de novembro de 2011 CRÉDITOS FOTOGRÁFICOS: Osservatore Romano: Capa; pp.5,31,32,33,34; Associated Press/LaPresse: pp.4,5,25,28,29,36,39,40,47,48,59; por gentil concessão de Il Cigno GG Edizioni, Roma: pp.6,9,15,16,17,19,20,21,22,23; Getty Images: pp.24,50; Afp/Getty Images: pp.26,30,35,37,38; Tino Veneziano: pp.27,37; LaPresse: p.46,58,60,61; Magnum/Contrasto: p.48; Electa Mondadori: p.52; Arquivo Missionari Saveriani: pp.52,53,55,56. Uma primavera cheia de enigmas Entrevista com Grégoire III Laham — por G. Valente 36 ATUALIDADE Uma Civiltà de escritores, poetas e navegadores da Web Entrevista com Antonio Spadaro — por P. Mattei 46 CANONIZAÇÃO Introdução — por Rino Benzoni O conforto de uma amizade cristã 52 A correspondência entre o cardeal Ferrari e monsenhor Conforti 52 NOVA ET VETERA Introdução — por L. Cappelletti O tesouro a ser guardado é mais importante que aquele que o guarda 58 — por L. Cappelletti 60 SEÇÕES CARTAS DOS MOSTEIROS LEITURA ESPIRITUAL 6 10 CORREIO DO DIRETOR 21 30DIAS NA IGREJA E NO MUNDO 42 30DIAS Nº 9 - 2011 3 Editorial Confirma os teus irmãos No final da viagem apostólica do Santo Padre à Alemanha (22-25 de setembro de 2011), pedimos um comentário ao bispo de Regensburg, monsenhor Gerhard Ludwig Müller. Temos o prazer de publicar o comentário do bispo como editorial de 30Dias Giulio Andreotti 4 30DIAS Nº 9 - 2011 É com muita gratidão que recordamos a visita do Santo Padre na nossa pátria. Ele veio como pastor universal da Igreja para nos confirmar na fé e levar-nos a mensagem da salvação em Jesus Cristo. Foram dias de alegria e de encontros solenes, na grande comunhão dos que são levados pela esperança em Jesus Cristo. Com as suas palavras e com os seus gestos ele convidou todos a fazerem com que a busca de Deus se torne o pensamento principal para a nossa vida pessoal, mas também para toda a sociedade e o seu funcionamento. O entusiasmo suscitado pela sua visita manifestou-se na extraordinária participação dos fiéis em Berlim, Erfurt e Freiburg im Breisgau. As passagens mais marcantes da viagem, como por exemplo, o encontro ecumênico na cidade de Lutero, Erfurt, e o discurso no Bundenstag alemão, deram estímulos decisivos para o futuro da Igreja na Alemanha. Continuaremos a levar com grande alegria os pensamentos do Santo Padre nos nossos corações. O que ouvimos nos fará refletir ainda por muito tempo, e nos levará a uma compreensão mais profunda da fé no mundo de hoje. Obrigado, Santo Padre, pela visita à Alemanha! Na página ao lado, Bento XVI durante a Vigília de oração com os jovens na Feira de Freiburg im Breisgau dia 24 de setembro de 2011; aqui acima, um momento da Vigília Gerhard Ludwig Müller Bispo de Regensburg 30DIAS Nº 9 - 2011 5 Cartas dos mosteiros Cartas dos mosteiros Mãe de Deus Odigitria, final do século XV, Novgorod s imagens que ilustram as páginas das Cartas e da Leitura Espiritual são relativas a alguns dos quarenta ícones russos expostos até 12 de fevereiro de 2012 nas Salas do Castelo Santo Ângelo em Roma, por ocasião da mostra “Os ícones russos (séculos XV-XX)” (catálogo organizado por Il Cigno GG – Edições). As obras são provenientes do Museu do Ícone Russo de Moscou, uma instituição privada nascida há apenas um ano e que pela primeira vez concede em empréstimo suas preciosas peças a um museu estrangeiro. Inaugurada em 27 de setembro passado pelo cardeal Raffaele Farina, arquivista e bibliotecário da Santa Igreja Romana, com a presença de Andrei Busygin, vice-ministro da Cultura da Federação Russa, a mostra faz parte das manifestações do Ano da Cultura e da Língua russa na Itália e da Cultura e da Língua italiana na Rússia. A Cartas dos mosteiros Cartas dos mosteiros CLARISSAS DO MOSTEIRO DE TRÉVERIS Tréveris, Alemanha Há muitos anos recebemos a belíssima revista 30Tage Obrigada pela qualidade dos artigos e a realização gráfica, que é belíssima. Rezamos ao Senhor para que abençoe o seu apostolado, porque este é o seu trabalho para a glória de Deus e a serviço da Igreja, nossa mãe. Receba, senhor diretor, juntamente com todos os seus colaboradores, as nossas devotas saudações, Tréveris, 1º de junho de 2011 irmãs cooperadoras de Chabeuil Prezado senhor diretor Andreotti, há muitos anos recebemos a belíssima revista 30Tage que o senhor nos oferece gratuitamente. Agradecemos-lhe muito. Apreciamos muito a forma visual de bom gosto e os conteúdos de grande valor, autenticamente católicos. De boa vontade colocaremos o senhor e as suas intenções nas nossas orações. Somos as clarissas capuchinhas de Tréveris, na Alemanha. Seguem nossas cordiais saudações e a máxima estima, as irmãs de Santa Clara IRMÃS COOPERADORAS DE CHABEUIL Chabeuil, França Um obrigado da França Chabeuil, 16 de julho de 2011 Senhor diretor, o último número da sua revista veio acompanhado por um CD, Les chants de la Tradition. O canto gregoriano não precisa de louvores, é louvor, por isso nós agradecemos de coração por este pequeno presente. MOSTEIRO DE LA CONCEPCIÓN JERÓNIMA Madri, Espanha O livro Meditación sobre la santa Pascua é precioso e instrutivo Madri, 18 de julho de 2011 Senhor Giulio Andreotti, Receba a nossa mais sincera gratidão pelo recebimento da bela, interessante, instrutiva e profunda revista 30Días, que nos faz vibrar e viver com maior intensidade a vida da Igreja, as suas necessidades e as do mundo. Lemos em comunidade e faz-nos sentir mais Igreja e mais irmãs com todos os outros homens. Agradecemos-lhe também pelo livro Meditación sobre la santa Pascua, precioso e instrutivo. Muito obrigada! Que o Senhor recompense-o como merece: nós rezamos por isso. A comunidade das jerônimas CARMELITAS DO MOSTEIRO DE ATENAS Atenas, Grécia 30Giorni na Grécia Atenas, 18 de julho de 2011 Prezados senhores, vimos por meio desta agradecer-lhes pela revista 30Giorni que recebemos aqui na Grécia e que lemos com grande interesse, mas com dificuldade por causa da língua. Pedimos, portanto, se podem nos enviá-la em língua francesa para que todas as irmãs possam lê-la. Agradecemos de coração pela vossa dedicação, irmã Marie-Pierre 30DIAS Nº 9 - 2011 7 Cartas dos mosteiros AGOSTINIANAS DO MOSTEIRO DE SAN PEDRO MOSTEIRO DE SANTA CATALINA DE SIENA Mutilva, Espanha La Laguna, Tenerife, Espanha Lemos com interesse os artigos sobre os Padres da Igreja, entre os quais Santo Agostinho O nosso mosteiro completa 400 anos Mutilva, 21 de julho de 2011 Estimado senhor Andreotti, há muito tempo eu queria escrever para lhe enviar os meus agradecimentos pela revista 30Días que chega até nós sempre com grande pontualidade. O seu conteúdo é de grande utilidade para todas as irmãs e, além disso, nos mantêm a par de toda a problemática do mundo e da Igreja. “Não temos nem ouro nem prata...” mas o que temos nós damos. Conte sempre com a nossa oração para que Deus, rico de misericórdia, faça com que prosperem todos os projetos que o senhor tem em reserva. Aproveito a ocasião para comunicar-lhe sobre o evento que a minha comunidade está celebrando: quatro séculos de fundação deste mosteiro de Santa Catarina de Sena. Uma santa muito importante para o senhor e para todos os italianos. Saúdo cordialmente e renovo-lhe o meu profundo agradecimento e o da minha comunidade, Senhor diretor, receba estas expressões de agradecimento pela revista 30Días que recebemos há alguns anos. É uma revista muito bonita, instrutiva e a lemos com grande interesse, principalmente os artigos sobre os Padres da Igreja, entre os quais Santo Agostinho. Muito obrigada. Com todo o afeto e agradecimento, oferecemos as nossas orações. As monjas agostinianas CONCEPCIONISTAS FRANCISCANAS Borja, Espanha O CD faz-nos apreciar o encanto da música gregoriana Borja, 25 de julho de 2011 irmã María Cleofé López Lantigua Senhor diretor, mais uma vez recebemos a sua revista 30Días, e queremos agradecer-lhe pela sua delicada atenção em enviá-la. Gostamos muito do CD de cantos que veio como suplemento no último número: são muito úteis e apropriados. É bom recordar as antigas antífonas e voltar a apreciar o encanto e a solenidade da música gregoriana. Por tudo isso, muitíssimo obrigada. Como já dissemos, somos monjas contemplativas e nos são muito úteis as informações sobre a Igreja e sobre o mundo que recebemos através dos seus artigos. A clareza e a precisão da exposição fazem com que possamos viver bem mais perto os problemas que surgem continuamente para apresentá-los ao Senhor na nossa oração. O senhor é sempre recordado nas nossas orações e pedimos ao Senhor para que continue a dar-lhe forças e a abençoar o seu trabalho apostólico. Uma saudação fraterna de toda a comunidade que lhe agradece pela sua generosidade, irmã Adoración Diez, OIC 8 La Laguna, 29 de julho de 2011 30DIAS Nº 9 - 2011 Anunciação, final da década de Quarenta do século XVI, Pskov CARMELITAS DO CARMELO DE NOTRE DAME Ho Chi Minh Ville, Vietnã 30Giorni alarga o nosso coração Ho Chi Minh Ville, 29 de julho de 2011 Caro senhor diretor e todos os colaboradores de 30Giorni, recebam a nossa saudação e os nossos agradecimentos pelo envio, há muitos anos, de 30Giorni ao nosso longínquo e isolado Carmelo de Notre Dame. Apreciamos particularmente o artigo Vida consagrada n. 4/5 de 2011. Graças à sua generosidade e à de toda a sua equipe, as edições de 30Giorni colocam-nos a par dos acontecimentos mundiais, ajudam-nos a ampliar o nosso horizonte e a alargar o nosso coração e estimulam o nosso entusiasmo na nossa vocação de orantes e penitentes. Mais uma vez, obrigada de todo coração. Obrigada também pelos cantos gregorianos. Garantimos-lhes as orações de toda a comunidade, as carmelitas do Carmelo de Notre Dame continua na p. 16 30DIAS Nº 9 - 2011 9 Leitura espiritual Leitura espiritual Confiança! É a mão de Jesus que tudo conduz... Santa Teresa do Menino Jesus Convite à oração A redação de 30Dias convida a todos, em particular às pessoas consagradas dos mosteiros de clausura, a rezarem por padre Giacomo Tantardini. Há alguns meses ele vem-se tratando de um câncer no pulmão. Que o Senhor nos conceda pedir com confiança o milagre da cura. Aos sacerdotes que estimam e querem bem a 30Giorni pedimos que celebrem a santa missa segundo essa intenção. Aos pais pedimos a caridade de fazerem seus filhos rezar. Não nos cansemos de rezar. A confiança faz milagres. Santa Teresa do Menino Jesus 10 30DIAS Nº 9 - 2011 Leitura espiritual Leitura espiritual Emil Nolde, Cristo entre as crianças, Museum of Modern Art, Nova York A oração das crianças Charles Péguy, O mistério dos santos inocentes Nada é tão belo como uma criança que adormece rezando, diz Deus. Digo-lhes, nada é tão belo no mundo. E devo dizer que vi belezas, no mundo. E entendo do assunto. A minha criação transborda de belezas. A minha criação transborda de maravilhas. Há tantas, a ponto de não saber onde enfiá-las. Vi milhões e milhões de astros girarem sob os meus pés como a areia do mar. Vi dias ardentes como chamas. Dias de verão, de junho, julho, agosto. Vi noites de inverno estendidas como um manto. Vi noites de verão calmas e doces como uma chuva de paraíso Todas pontilhadas de estrelas. Vi essas colinas da Meuse e essas igrejas que são as minhas casas. E Paris e Reims e Rouen e catedrais que são os meus palácios, os meus castelos. Tão belos que os conservarei no céu. Vi a capital do reino e Roma, capital da cristandade. Ouvi cantarem a missa e as vésperas triunfais. Vi estas planícies e estes vales da França. Que são a coisa mais linda. 30DIAS Nº 9 - 2011 11 Leitura espiritual Leitura espiritual Vi o mar profundo, e a profunda floresta, e o coração profundo do homem. Vi corações devorados de amor Durante a vida inteira Estáticos de caridade. Que queimavam como chamas: Vi mártires tão animados de fé Sólidos como rocha no cavalete Sob os dentes de ferro. (Como um soldado que resista sozinho a vida inteira Por fé Pelo seu general (aparentemente) ausente.) Vi mártires em chamas como tochas Obterem, assim, as palmas sempre verdes. Vi caírem sob os ganchos de ferro Gotas de sangue esplêndidas como diamantes. Vi gotejarem lágrimas de amor Que durarão mais que as estrelas do céu. E vi olhares de oração, de ternura, Estáticos de caridade Que brilharão eternamente por noites e noites. Vi vidas inteiras do nascimento à morte, Do batismo ao viático, Desenrolarem-se como um belo novelo de lã. Agora lhes digo, diz Deus, não conheço nada tão belo no mundo inteiro Como uma criança pequena que adormece ao dizer a oração Sob a asa do anjo da guarda E que sorri sozinha deslizando para o sono. E já mistura tudo e não entende mais nada 12 30GIORNI 30DIAS NºN.9 9 - 2011 Leitura espiritual Leitura espiritual E embrulha as palavras do Pai Nosso e as enfia em desordem entre as palavras da Ave Maria Enquanto já um véu lhe cai sobre as pálpebras, O véu da noite sobre o seu olhar, sobre a sua voz. Vi os maiores santos, diz Deus. E mesmo assim, eu lhes digo. Nunca vi nada mais cômico e portanto mais belo no mundo Que essa criança que adormece ao dizer a oração (Que esse serzinho que adormece confiante) E que mistura Pai Nosso e Ave Maria. Nada é mais belo, nisso até A Santa Virgem concorda comigo. Nessa questão. E posso bem dizer que é o único ponto em que concordamos. Porque geralmente temos opiniões contrárias. Porque ela é pela misericórdia. E eu, é preciso realmente que eu seja pela justiça. Da mesma forma, diz Deus, entendo o meu filho. O meu filho o disse e repetiu. (Porque é preciso entender ao pé da letra cada palavra do meu filho.) Sinite parvulos. Deixai que venham. Sinite parvulos venire ad me. Deixai que os pequeninos venham a mim. As crianças pequenas. Então lhe foram oferecidas algumas crianças para que lhes impusesse as mãos e rezasse. Ora, os discípulos as repreendiam. Mas Jesus disse a eles: Deixai os pequeninos, e não impedi que venham a mim: talium est enim regnum coelorum. De fato, deles é o reino dos céus. A eles, àqueles como eles pertence o reino dos céus. E, depois de lhes ter imposto as mãos, foi-se embora. 30GIORNI 30DIAS NºN.9 9 - 2011 13 13 Leitura espiritual Leitura espiritual A oração dos adultos que, por graça, tornaram-se crianças As quinze promessas do Santo Rosário. Entregues por Nossa Senhora ao beato Alain de la Roche 14 1. A todos os que rezarem meu Rosário com devoção, prometo minha proteção especial e grandíssimas graças. 2. Aquele que perseverar na oração de meu Rosário receberá uma graça insigne. 3. O Rosário será uma defesa poderosíssima contra o inferno; destruirá os vícios, libertará do pecado, dissipará as heresias. 4. O Rosário fará florescerem as virtudes e as boas obras, e obterá para as almas a mais abundante misericórdia divina; fará que nos corações o amor ao mundo seja substituído pelo amor a Deus, elevando-os ao desejo dos bens celestes e eternos. Quantas almas se santificarão por esse meio! 5. Quem se confia a mim por meio do Rosário não perecerá. 6. Quem rezar meu Rosário com devoção, meditando seus mistérios, não será oprimido pela desgraça. Pecador, se converterá; justo, crescerá em graças e se tornará digno da vida eterna. 7. Os verdadeiros devotos de meu Rosário não morrerão sem os Sacramentos da Igreja. 8. Aqueles que rezam meu Rosário encontrarão durante sua vida e em sua morte a luz de Deus e a plenitude de suas graças, e participarão dos méritos dos bem-aventurados. 30DIAS Nº 9 - 2011 Leitura espiritual Leitura espiritual Nossa Senhora da Ternura, final do século XVI, Moscou 9. Libertarei muito prontamente do purgatório as almas devotadas a meu Rosário. 10. Os verdadeiros filhos de meu Rosário gozarão de uma grande glória no céu. 11. O que pedirem por meio de meu Rosário, obterão. 12. Aqueles que difundirem meu Rosário serão socorridos por mim em todas as suas necessidades. 13. Obtive de meu Filho que todos os membros da Irmandade do Rosário tenham por irmãos, durante a vida e na hora da morte, os santos do céu. 14. Aqueles que rezam fielmente meu Rosário são todos meus filhos amantíssimos, irmãos e irmãs de Jesus Cristo. 15. A devoção a meu Rosário é um grande sinal de predestinação. 30DIAS Nº 9 - 2011 15 Apresentação de Jesus no Templo, final do século XVI, região de Vologda; na página ao lado, O batismo de Jesus, segunda metade do século XVII, Pskov segue da p. 9 CLARISSAS DE CASTROJERIZ Burgos, Espanha O canto gregoriano foi feito nos mosteiros Burgos, 31 de julho de 2011 Caros amigos de 30Días, continuamos a receber todos os meses a revista e é nosso dever agradecer-lhes por este belíssimo presente que este mês, com o CD de cantos gregorianos, foi duplo. Agradecemos-lhes infinitamente, porque gostamos muito deste canto que nos ajuda na nossa vocação contemplativa. 16 30DIAS Nº 9 - 2011 Há muito tempo, no nosso convento, cantamos esses cantos lindos e apropriados, porque, como dizia o nosso professor de canto, “o canto gregoriano foi feito nos mosteiros e para os mosteiros”. Por isso, esse livrinho que vocês publicaram com os trechos escolhidos e mais populares, nos é muito útil para continuar a cantá-los e a difundi-los entre as pessoas que vêm participar das nossas celebrações. Que Deus os recompense por tudo. Continuem a fazer este trabalho maravilhoso que é esta publicação. Com muita gratidão e oração para todos vocês, as clarissas de Castrojeriz Cartas dos mosteiros CONVENTO SANTA TERESA Rio de Janeiro, Brasil A nossa oração entre as vicissitudes da história do Brasil Rio de Janeiro, 3 de agosto de 2011 Caríssimo senador Giulio Andreotti, Pax Chisti! Vimos através desta mensagem agradecer-lhe o envio mensal da revista 30Dias, que por sua abordagem nos insere nos acontecimentos mais candentes da Igreja e do mundo, motivando-nos em nossa vocação contemplativa a orar sem cessar. Somos a comunidade de Irmãs Carmelitas do Convento de Santa Teresa do Rio de Janeiro, o primeiro Carmelo Descalço feminino fundado em terras brasileiras, em 1750 pela jovem, oriunda de nossa própria cidade, Jacinta Rodrigues Aires. Através de todas as vicissitudes da história do Brasil e da Igreja, nosso mosteiro jamais deixou que se extinguisse a chama da oração e do louvor perene, e, nesta prece ininterrupta, todas as suas intenções, bem como desta benemérita revista, estão perenemente incluídas. Com nossa gratidão fraterna e orante por todas as vossas intenções, irmãs Carmelitas do Convento Santa Teresa Cartas dos mosteiros MOSTEIRO NUESTRA SEÑORA DE LA CONSOLACIÓN Calabazanos, Espanha O gregoriano é um bom meio para transmitir a fé Calabazanos, 4 de agosto de 2011 Prezado senhor Andreotti, paz e bem. Nós lhe agradecemos pelo envio do maravilhoso CD de cantos gregorianos assim como da revista 30Días com a atualidade sobre a Igreja e o mundo. Na nossa comunidade conservamos o canto gregoriano porque acreditamos que seja um bom meio para transmitir a fé como sempre fez a Santa Igreja. Unimo-nos a todos os que rezam pelo Papa, em particular os jovens que logo participarão ao encontro com sua santidade Bento XVI em Madri, para que aquelas jornadas, que desde já confiamos à Virgem Maria, nossa Mãe, sejam para todos jornadas de renovação espiritual. Pedimos ao Senhor para que continue a abençoar o seu trabalho e o de todos os seus colaboradores. Agradecemos muito pela sua revista. Em união de oração, irmã Maria Clara de SF, OSC, e as irmãs clarissas de Calabazanos CARMELITAS DO MOSTEIRO DO CORAÇÃO IMACULADO Naga City, Filipinas escancara muitas janelas sobre diversas realidades da Igreja, ativa e viva: em algumas áreas perseguida e atualmente em graves dificuldades, em outras florescente e próspera sempre sob a guia de Deus na Sua grande sabedoria. Todos os números são plenos de ótimas leituras que alimentam o nosso interesse e a nossa solicitude pela Igreja, e nos levam a rezar ainda mais por aquelas realidades onde os nossos irmãos e as nossas irmãs têm uma grande necessidade de serem iluminados, evangelizados e professar livremente a sua fé. Além disso, as leituras nos ajudam a entender melhor a variedade das condições nas quais a Igreja Católica se encontra a viver, às vezes na concórdia, às vezes em situações delicadas, outras ainda em circunstâncias complicadas e árduas. A sua linda revista ajuda-nos a apreciar a fé, a qual nós recebemos em dom no nosso país, tão preciosa que em outros lugares há quem morra por ela, enquanto nós corremos, de várias maneiras, o risco de considerá-la um dado de fato. Enfim, a sua amada revista faz-nos apreciar muitíssimo os ensinamentos do Magistério, os escritos de Papa Bento XVI, as Igrejas Orientais, a interpretação de trechos da Escritura e dos símbolos da arte religiosa, tão ricos de significados para a nossa fé e o coração e o espírito dos homens. Obrigada do mais profundo do coração pelo envio constante e regular de um exemplar todos os meses: todas as vezes faz com que olhemos com maravilha à grandeza, ao esplendor e à força da nossa Igreja e do bom Deus que a sustenta. O senhor e os seus colaboradores são grandes evangelizadores e divulgadores. Rezamos para que a sua revista e as atividades às quais vocês se dedicam continuem a prosperar e a ter frutos, 30Giorni ajuda-nos a entender a Igreja Naga City, 4 de agosto de 2011 Prezado diretor Andreotti Deo gratias! Ficamos muito contentes com o livrinho The chants of Tradition enviado com o último exemplar da sua maravilhosa revista! Vocês não imaginam com qual entusiasmo nós iremos estudar os cantos gregorianos para a nossa liturgia. É um presente enviado do céu! Do mesmo modo deixa-nos surpresas a sua generosidade em nos fazer chegar, todos os meses, a sua maravilhosa revista, uma leitura preciosíssima para nós aqui no Carmelo, que nos 18 30DIAS Nº 9 - 2011 as carmelitas do Carmelo do Coração Imaculado A Transfiguração, metade do século XVI, Pskov CLARISSAS DO MOSTEIRO DE SANTA CLARA Bolinao, Filipinas Rezamos para que os cantos da Tradição sejam apreciados por muitos Bolinao, 15 de agosto de 2011 Prezado senhor Andreotti e colaboradores de 30Giorni, pax et bonum! Envio por meio desta a nossa gratidão pelo livrinho e o CD The chants of Tradition, um presente belíssi- mo para a nossa comunidade, porque já cantamos alguns destes cantos latinos. Vocês realmente fazem uma grande obra na Igreja ao conservar as suas tradições. Esperamos e rezamos para que a beleza dos cantos tradicionais da Igreja sejam apreciados por muitos. Estejam certos das nossas incessantes orações pelo sucesso da sua missão. Deus abençoe vocês e lhes conceda sempre maiores energias. Em São Francisco e Santa Clara, as clarissas de Bolinao 30DIAS Nº 9 - 2011 19 A Ressurreição, detalhe, final do século XVII, bacia do Volga CARMELITAS DO MOSTEIRO MARÍA MADRE DE LA IGLESIA La Vega, República Dominicana Obrigada por Quien reza se salva La Vega, 23 de agosto de 2011 Senhor Andreotti estimadíssimo em Jesus Cristo, a graça, a paz e o amor de Deus nosso Pai e a proteção da Santíssima Virgem nossa Mãe estejam sempre com o senhor e com todos os que trabalham para a publicação de 30Días. Escrevo-lhe para agradecer de coração pelo importante trabalho de evangelização e de informação que vocês realizam com tanto amor e dedicação, e pela sua delicadeza em enviar-nos mensalmente a revista 30Días, que recebemos com grande prazer. Agradeço também, em particular, pelo livrinho com o CD, com as composições musicais em latim, e pelos quinze 20 30DIAS Nº 9 - 2011 exemplares de Quien reza se salva que recebemos recentemente. O senhor e a Virgem Maria Santíssima, nossa Mãe, vos recompensem como apenas Eles sabem fazer. Temos a alegria de comunicar-lhes que no próximo dia 21 de novembro, se Deus quiser, celebraremos as “bodas de ouro” da nossa irmã María de los Ángeles Márquez. Na ocasião desta cerimônia, todos os parentes da nossa irmã estarão no mosteiro, provenientes de vários países, entre os quais muitos jovens, e alguns deles falam apenas inglês. Por este motivo, contando com a sua generosidade, solicitamos se possível, quinze exemplares do livrinho Quien reza se salva em inglês, para dá-los como lembrança, na esperança de que seja útil aos seus jovens corações. Renovando-lhe mais uma vez a nossa gratidão e garantindo-lhe a nossa incessante oração, cordialmente em Jesus e Maria, a prioresa irmã María Cecilia Morini, OC, e comunidade Correio do Diretor DIOCESE DE GOYA Goya, Argentina Obrigado pela meditação sobre a Santa Páscoa, bela e útil Goya, 25 de agosto de 2011 Senhor diretor, agradeço-lhe pelo envio regular e gratuito da revista 30Giorni nella Chiesa e nel mondo, dirigida pelo senhor. ARQUIDIOCESE DE GAGNOA Gagnoa, Costa do Marfim Qui prie sauve son âme para os catecúmenos e os estudantes Gagnoa, 24 de agosto de 2011 Senhor diretor de 30Jours, agradeço-lhe pelas edições de sua revista de informação sobre a vida da Igreja que nos envia regularmente. Já faz alguns anos que lhe expresso minha gratidão pelo livrinho Qui prie sauve son âme, que Com a presente, desejo pedir-lhe o envio, também gratuito, vistas as humildes condições de nossa diocese, de alguns exemplares do suplemento ao n. 1/2 de 2011 de 30Giorni, intitulado “El Hijo no puede hacer nada por su cuenta (Jn 5,19)”, meditação sobre a Santa Páscoa de padre Giacomo Tantardini. É bom que outros irmãos possam tirar benefício dela, já que se trata de uma meditação bela e útil. Ofereço-lhe minha bênção e incentivo. Ricardo Faifer, bispo de Goya foi muito apreciado pelos nossos fiéis. Este ano será inserido nos cursos de formação dos nossos catecúmenos e nas escolas católicas. Acabo de receber dois outros livrinhos, o primeiro intitulado Les chants de la Tradition, e o segundo, “Le Fils ne peut rien faire de lui-même” (Jn 5,19). Méditation sur Pâques. Posso-lhe pedir que envie mais exemplares desses livrinhos para os nossos padres e os nossos fiéis, se estiverem ainda disponíveis? Agradecendo-lhe muito por sua generosidade, nós lhe asseguramos, senhor diretor, as nossas orações para que 30Jours viva. Joseph Aké, arcebispo metropolita de Gagnoa A Mãe de Deus e João Batista, final do século XV-início do século XVI, Rostov Correio do Diretor Somos gratos pela querida revista 30Giorni. Nós lhe agradecemos pelo bem que o senhor oferece para o nosso crescimento espiOs cantos da Tradição para ritual. A nossa oração, tão pequeos seminaristas na e pobre, será oferecida a Deus pelo senhor e por sua missão em El Alto, 21 de agosto de 2011 favor do homem que ajudamos. Na paróquia, colaboro na preEstimado senhor Andreotti, paração para os sacramentos de receba uma cordial saudação rejovens e adultos, e escrevo-lhe pleta das bênçãos de Deus nosso para perguntar-lhe se é possível Pai, desta diocese de El Alto, na receber trinta exemplares em inBolívia. glês e trinta em italiano de Chi Agradeço-lhe pela gentileza que prega si salva para as pessoas tem para comigo ao me enviar reidosas que participam da adoragularmente a revista 30Días, que O Arcanjo Miguel, final ção eucarística diária. me ajuda a aprofundar o meu amor do século XV-início do século XVI, Rostov Agradeço de coração ao sepela Igreja universal e me estimula nhor e a seus colaboradores fiéis à unidade e à comunhão com ela. em seu apostolado. Ajuda-me também a ampliar Que Nossa Senhora os mantenha unidos sob suas meu horizonte eclesial e a conhecer a vida das Igrejas particulares e os acontecimentos ligados à Santa Sé. asas maternais. Grato, De modo particular, obrigado pelo CD com os cantos da Tradição, que será indubitavelmente uma ajuda paGiuseppe Spinato ra os seminaristas do seminário diocesano “Jesús Maestro”, que acaba de celebrar, com grande gratidão a Deus, o seu décimo sétimo aniversário de fundação. DIOCESE DE HUARI Parabéns pelo aspecto gráfico da revista, que tor- Lima, Peru na fácil a sua leitura. Ao renovar-lhe meus cumprimentos, asseguro-lhe Aguardo a chegada de 30Giorni uma lembrança fraternal na oração. Lima, 12 de setembro de 2011 DIOCESE DE EL ALTO El Alto, Bolívia Jesús Juárez Párraga, S.D.B., bispo de El Alto PARÓQUIA NOSSA SENHORA DO MONTE CARMELO Montreal, Quebec, Canadá Chi prega si salva para uma paróquia de Montreal Montreal, 12 de setembro de 2011 Estimado senador Giulio Andreotti, saúde e paz, no Senhor Jesus, sempre presente em meio ao seu povo. 22 30DIAS Nº 9 - 2011 O apóstolo Pedro, final do século XVinício do século XVI, Rostov Estimado senhor Andreotti, sou dom Dante Frasnelli Tarter, bispo emérito da diocese de Huari, na parte andina do Peru. Há dez anos entreguei a diocese ao meu sucessor, depois de ter cumprido, por 34 anos, o meu humilde serviço de pastor dessa jurisdição. Agora me encontro em Lima, para algumas incumbências de caráter particular e pessoal com alguns amigos e conhecidos. Recebi sua prestigiosa revista até abril. Depois, como todos os meses, esperei os números seguintes, mas até agora não tive a ASSESSORIA DE IMPRENSA DA IGREJA CLANDESTINA DE XANGAI Xangai, República Popular de China De Xangai orações por 30Giorni Recebemos da assessoria de imprensa da Igreja clandestina de Xangai, em nome do bispo José Fan Zhong-Liang, o pedido de alguns exemplares de 30Giorni em inglês para os padres de Xangai. Publicamos o e-mail de 8 de setembro. gregorianos e também a meditação sobre a Santa Páscoa. Em Nosso Senhor Jesus Cristo, nós rezamos pelo senhor e por todos os colaboradores de 30Giorni em nossa missa diária. Assessoria de imprensa da Igreja clandestina de Xangai Xangai, 8 de setembro de 2011 Queremos agradecer-lhe pelo envio gratuito dos exemplares da versão em inglês de 30Giorni e pedimos a cortesia de nos enviarem alguns exemplares do CD de cantos Bento XVI com fiéis chineses na praça de São Pedro, em 5 de maio de 2005 sorte de recebê-los. Toda vez que chegava a revista, eu lia com muita atenção as notícias relativas à Igreja e também as outras: os artigos são de grande profundidade, demonstram conhecimento dos temas e favorecem o incremento da cultura religiosa; eram úteis para a minha vida espiritual. Peço-lhe a possibilidade de continuar a beneficiar-me com seu gesto fraternal e muito bem recebido, por meio da revista, dado que pela idade não estou acostumado a usar a internet e nem desejo fazêlo, ao passo que me interessa a imprensa escrita. Com minhas orações e bênçãos pelo senhor e por todos aqueles que colaboram para a publicação da revista, cumprimento-o esperando uma resposta positiva para a minha solicitação. Dante Frasnelli Tarter, bispo emérito de Huari DIOCESE DE SINCELEJO Sincelejo, Colômbia O apóstolo Paulo, final do século XV-início do século XVI, Rostov Um exemplar do CD para cada sacerdote Sincelejo, 26 de setembro de 2011 Caros amigos da revista 30Días, minhas cordiais saudações. Com a revista deste mês, recebi o livrinho e o CD dos cantos gregorianos. Muito obrigado. Darei um exemplar de ambos a cada sacerdote, na próxima reunião do clero. Obrigado pelo bem que nos fazem. Que o Senhor os abençoe. Cordialmente, Nel Beltrán Santamaría, bispo de Sincelejo 30DIAS Nº 9 - 2011 23 Igreja “A Igreja na China não mudou uma vírgula da Tradição Apostólica que lhe foi consignada” Entrevista com João Batista Li Suguang, bispo coadjutor de Nanchang por Gianni Valente o 25º Encontro Internacional de Oração pela Paz, organizado em Munique pela Comunidade de Santo Egídio, ele também estava presente: João Batista Li Suguang, 46 anos, bispo católico na China Popular com o N 24 30DIAS Nº 9 - 2011 consenso do Sucessor de Pedro e também dos funcionários governamentais de Pequim. Tão jovem e tímido, que parece quase perdido, entre os vários líderes religiosos convocados à capital bávara de 11 a 13 de setembro pela trama de amizades e proximidades sem fronteiras que a comunidade fundada por Andrea Riccardi continua a tecer no mundo inteiro. No entanto, quando tomou a palavra num dos 35 painéis que pontuavam a manifestação hos- As homilias, as encíclicas, os discursos do Papa são fotocopiados e enviados a todas as paróquias. Assim, todos podem ler e seguir o Papa. Essa é realmente a maneira mais simples e concreta possível de viver a comunhão com o sucessor de Pedro, que todos podem ver. E ainda rezamos por ele. Todos os bispos rezam por ele À esquerda, fiéis chineses em oração numa igreja de Pequim; ao lado, o batismo de uma jovem numa igreja da cidade de Hangzhou, na província chinesa de Zhejiang pedada pela arquidiocese de Munique, a voz pareceu decidida e as ideias, claras. Seu discurso foi pontilhado por alusões e referências à complexa e irresoluta trama de relações trilaterais que há séculos envolvem o Ocidente, a Igreja Católica e o ex-Império Celestial. Como o provérbio chinês a que dom Li recorreu para lembrar a todos que nos tempos fluidos da globalização até “uma longa distância pode-se tornar proximidade”. Ou como a comprovação clara do fato – experimentado em sua experiência de pastor de almas – de que “a Igreja não perde a sua universalidade respeitando a cultura chinesa e considerando as circunstâncias reais na China”. O senhor, para um bispo, é bastante jovem. J O Ã O B AT I S TA L I S U GUANG: Nasci em 1965, num povoado na província de Shanxi, onde a população, de cerca de dois mil habitantes, compartilhava uma fé católica muito forte. Eu cresci assim, no meio de muitas pessoas que amavam a Jesus. Mas aqueles eram anos difíceis. Era bem a época da Revolução Cultural. No meu povoado, não houve muitos problemas. Havia dois padres que continuaram a administrar os sacramentos. Hoje, são quatro ou cinco. Nos arredores, há nada menos que trinta e oito sacerdotes. E também muitas freiras. O que o ajudou a reconhecer a vocação ao sacerdócio? Foi muito importante o que vi na minha família. Eu tinha um tio sacerdote, e, quando era muito pequeno, minha mãe e meu pai me mostravam como rezar usando as orações da manhã e da noite. Eu era o caçula da família, e meus irmãos sempre me diziam que quando crescesse poderia me tornar padre. Minha mãe, sobretudo, teve grande influência sobre mim, com sua vida espiritual. Mais tarde, um sacerdote que encontrei no seminário diocesano de Pequim também teve um papel importante, como meu orientador espiritual. Estive ali de 1987 a 1992. Nossos professores eram padres muito idosos, e estuda- ¬ 30DIAS Nº 9 - 2011 25 Igreja toca o sino, as pessoas saem das casas e você as vê caminharem juntas pelas ruas, indo para a igreja. Até mesmo as missas diárias, de manhã cedo, são muito frequentadas. Como o senhor pode descrever o per fil pastoral de sua diocese? Em nossa província há 120 mil católicos e menos de cinquenta sacerdotes. Assim, só as paróquias maiores têm um sacerdote fixo como pastor da comunidade. Os outros circulam de povoado em povoado, indo de uma paróquia a outra para administrar os sacramentos. A coisa boa é que muitos deles são jovens; em comparação com eles eu sou o “velho”... A idade média dos sacerdotes na minha diocese é 36 anos. Do ponto de vista econô- ¬ Mesmo com os nossos limites e com todas as nossas faltas e fragilidades, nós fazemos parte, somos do número da Santa Igreja universal, compartilhamos com todos os nossos irmãos em qualquer parte do mundo a fidelidade à mesma Tradição Apostólica. Não queremos mudar nada mos teologia usando sobretudo velhos manuais de antes do Concílio Vaticano II. Em que mudou a condição da Igreja em relação aos anos da sua infância? Quando eu era menino, o país ainda estava por viver a época da abertura. Nos vilarejos, era a devoção dos cristãos que preservava as práticas da vida da fé. Hoje há mais possibilidades de desenvolver a obra pastoral. No domingo, as igrejas ficam cheias, certamente mais que em muitas paróquias da Europa. Nos vilarejos, quando 26 30DIAS Nº 9 - 2011 No alto, uma loja de artigos religiosos em Pequim; à direita, fiéis à saída da Catedral da Imaculada Conceição, em Pequim ENTREVISTA COM O BISPO COADJUTOR DE NANCHANG O tesouro e os vasos de barro bispo coadjutor de Nanchang, entrevistado nestas dos slogans sobre a pretensa “independência” da Igreja páginas, originalmente se chamava João Batista Li da China, zeraram novamente as perspectivas de soluShuguang. Seu nome chinês compunha-se de dois ideo- ção negociada sobre a questão das nomeações dos gramas:书 [shu], que significa livro, e 光 [guang], que sig- bispos, que sempre representou a ferida aberta nas renifica luz. Quando se tornou sacerdote, João Batista optou lações entre a China Popular e o Vaticano. Pela primeira por modificar o primeiro dos dois ideogramas, transforman- vez desde 1958 – ano em que começaram na China as do-o de 书 [shu] em 稣 [su]. Uma mudança leve, quase ordenações ilegítimas impostas por Pequim –, a excoimperceptível para quem não fala mandarim, realizada munhão latae sententiae de dois dos bispos ordenados ilegitimamente foi publicamente concom a única finalidade de inserir em seu firmada em pronunciamentos oficiais nome o mesmo ideograma que aparece do Vaticano. no nome de Jesus ( 耶穌 ,Ye-su). De O próprio grupo de novos “bispos modo que hoje o sobrenome do bispo jovens” de que faz parte Li Suguang pode-se traduzir como “luz de Jesus”. (que em 14 de julho participou da orNa China de hoje, a afeição a Jedenação ilegítima de José Huang Bisus daqueles que carregam o Seu nongzhuang como bispo de Shantou) foi me pode passar e ser expressa tamlembrado na enésima fase negativa bém por meio de detalhes discretos, das relações entre a China e o Vaticaque devem ser captados no ar, por inno. Esses homens da faixa dos quaterior e implícita concórdia. Analogarenta anos que se encontram na lidemente, pode ser lido nas entrelinhas rança da Igreja da China, saltando também o sentido de diversas passauma geração, são tachados como gens das respostas que o bispo de rendidos ao dirigismo da política reliNanchang fornece nestas páginas. giosa governamental. Voltam a ser alComo aquela em que faz votos de que vo de desconfiança e suspeita de pouo bispo de Roma tenha em mente “a sica fidelidade, como nas décadas pastuação social concreta em que vive a sadas os bispos que de algum modo Igreja na China”. Ou aquela outra, em aceitaram submeter-se ao dirigismo que indica como sinal e fundamento do regime no campo religioso. Inclusida comunhão com o sucessor de Peve os grandes bispos-testemunhas, dro e com a Igreja universal a unidade como Antônio Li Duan e Matias Duan em torno dos mesmos sacramentos e Yinmin, que enfrentaram perseguidas mesmas orações, na fidelidade à João Batista Li Suguang, ções e privações para seguir até o fim mesma Tradição Apostólica. no 25º Encontro Internacional sua vocação sacerdotal nos anos da João Batista Li Suguang foi orde- de Oração pela Paz, organizado Revolução Cultural. nado bispo em 31 de outubro de em Munique pela Comunidade Em relação à de seus antecesso2010, com a aprovação da Santa Sé de Santo Egídio, res, a nova geração de bispos parece e o reconhecimento das autoridades em setembro passado para muitos observadores mais frágil chinesas. Na liturgia de consagração, além dos três bispos consagrantes, estavam presentes e tímida. Registram-se, tanto na esfera “oficial” quanto oitenta sacerdotes, inclusive alguns padres ligados à na chamada “clandestina”, casos de carreirismo cleriesfera eclesial chamada “clandestina”. Depois da cele- cal, com jovens padres sempre em busca de alianças bração, o novo bispo expressou publicamente sua in- eclesiásticas e políticas para alcançar o episcopado. A situação complexa aconselha prudência e pondetenção de promover a reconciliação entre as comunidades católicas registradas junto aos organismos estatais rada avaliação de todos os fatores em jogo em cada caso. Os próprios eventuais episódios de oportunismo e as que escapam à política religiosa governamental. Antes de João Batista Li Suguang, apenas em 2010, clerical em chave chinesa não podem ser separados do outros oito jovens bispos chineses foram ordenados ofuscamento da natureza própria do ministério episcocom o consenso do Papa e o paralelo reconhecimento pal que se registra também em outros países. Não é oficial do governo. Naquela fase, a história sempre atri- certamente uma produção exclusiva made in China a bulada das relações sino-vaticanas parecia ainda poder concepção errônea que interpreta as nomeações dos bispos e suas transferências de uma sede para outra caminhar para desdobramentos promissores. Em comparação com aquele momento, o cenário como prêmios e honrarias concedidos a funcionários de atual parece de novo voltar-se para o pior. Entre 20 de uma burocracia universal que se distinguem pela capanovembro de 2010 e 14 de julho de 2011, três novas or- cidade de cultivar relações de poder. denações episcopais sem o consenso da Santa Sé, imG. V. postas pelos organismos patrióticos como aplicação O 30DIAS Nº 9 - 2011 27 Igreja mico, a diocese possui alguns edifícios em Xangai, que, com suas rendas, contribuem para financiar as atividades corriqueiras. O que mais facilita o anúncio cristão? O mais importante é a presença de leigos que anunciam e testemunham o Evangelho nos lugares e nas circunstâncias em que todos vivem. E também são muito importantes as obras de caridade. Em meu país, todas as comunidades religiosas são chamadas a ajudar e apoiar um grupo étnico minoritário. Nós, católicos, também fazemos isso, assistindo algumas comunidades, que são de fé cristã. Há muitos batismos de pessoas que não vêm de famílias cristãs? São quase três mil por ano. Dois terços são jovens, um terço é formado por adultos e idosos. A maior parte vem dos vilarejos do campo. Pedem o batismo sobretudo porque ficam impressionados com o testemunho de seus colegas e amigos cristãos, ou porque ficam fascinados vendo os cristãos cuidarem dos pobres e de quem passa por dificuldades. Que fontes alimentam a vida ordinária e cotidiana dos fiéis? A missa é o coração de tudo, ao lado da oração e da participação das atividades propostas pela paróquia. Algum santo é objeto de especial devoção? Em nossa região é muito forte a devoção a Santo Antônio de Pádua e à pequena Teresa do Menino Jesus. E ainda, claro, a Virgem Maria. Todos têm Maria Santíssima como padroeira de sua vida espiritual. Com que r ealidades sociais e condições existenciais vocês se deparam no seu trabalho pastoral? Pelo rápido desenvolvimento da economia chinesa, muitas pessoas vivem sob pressão. Elas precisam realmente de alguém que as ajude. Alguém que lhes dê conforto e consolação, que as sustente. Muitas se dão conta de que não conseguem se virar sozinhas, sem uma ajuda. E isso amplia o campo em que a Igre28 30DIAS Nº 9 - 2011 Santa missa de Páscoa na igreja de Santa Teresa do Menino Jesus, em Xangai ja é chamada a atuar e a mostrar o amor de Cristo por cada um. Não podemos permanecer indiferentes diante dessas condições reais. E é preciso favorecer uma obra pastoral que seja um apoio real para os nossos concidadãos que estão enfrentando problemas e dificuldades em suas vidas. O senhor leu a carta que Bento XVI escreveu para os católicos chineses em 2007? E quais são, a seu ver, os conteúdos mais importantes desse documento? Do meu ponto de vista, o próprio fato de o Papa ter escrito uma carta específica aos católicos chineses foi um grande estímulo para a Igreja na China. De modo particular, me impressionaram as coisas que o Papa sugeriu aos sacerdotes. O senhor foi ordenado bispo em 2010 com o consenso da Sé Apostólica. Como vive concretamente a sua comunhão com o Bispo de Roma? E como a expressa, em seu trabalho pastoral cotidiano? Não só eu, mas também os outros bispos da China lemos sempre e difundimos não somente a carta do Papa aos católicos chineses de 2007, mas também todos os seus discursos, as homilias, as encíclicas. Tiramos cópias e os enviamos a todos os padres e a todas as paróquias. Assim, todos podem ler e seguir o Papa em seu magistério ordinário, e podem assim encontrar referências para a sua vida nas situações que estão vivendo. Dessa forma, compartilhamos a fé do sucessor de Pedro, e essa é realmente a maneira mais simples e concreta possível de viver a comunhão com o Papa, que todos podem ver. E ainda rezamos por ele. Todos os bispos rezam por ele. Eu rezo por ele, e rezo também por mim, pedindo que o Senhor me ajude a ser um bom bispo. Como o senhor vê a abordagem da Santa Sé à questão chinesa? Se pudesse falar com o Papa, o que lhe diria ENTREVISTA COM O BISPO COADJUTOR DE NANCHANG para explicar melhor a condição real da Igreja na China? Seria uma grande dádiva se o Papa pudesse entender a China, ou seja, a cultura e a situação social concreta em que vive a Igreja na China. Há muito para saber, muito para compreender. Às vezes alguém passa uma semana na China e depois volta para casa e começa a se comportar como se soubesse tudo da vida dos católicos chineses. No entanto, as situações complexas devem ser reconhecidas e respeitadas pelo que são. Eu espero realmente que as relações entre a China e o Vaticano possam retomar a direção certa. Seria uma coisa boa para nós e para toda a Igreja. Se o senhor quisesse sugerir também ao Papa um indício de como Deus preservou e continua a alimentar a fé dos católicos chineses, para mostrar como a Igreja da China compartilha a mesma fé com a Igreja de Roma, o que lhe diria? nunca mudou uma vírgula da Tradição Apostólica que lhe foi consignada. Não mudamos uma vírgula da doutrina que diz respeito à fé e à grande disciplina da Igreja. Estamos unidos em tor no dos mesmos sacramentos, rezamos as mesmas orações, na continuidade da sucessão apostólica. Essa é a base da autêntica comunhão. Mesmo com os nossos limites e com todas as nossas faltas e fragilidades, nós fazemos parte, somos do número da Santa Igreja universal, compartilhamos com todos os nossos irmãos em qualquer parte do mundo a fidelidade à mesma Tradição Apostólica. Não queremos mudar nada. Alguns observadores, porém, afirmam que existe quem ainda procura construir uma nova Igreja independente e autossuficiente, diferente da Igreja Católica Apostólica Romana. Esse é o pensamento de outras pessoas. São opiniões de ou- tros, não nossas. Nenhuma Igreja é autossuficiente, nenhuma Igreja pode viver sem o dom do Espírito de Cristo. Eu repito, hoje na China nenhum padre e nenhum bispo tem intenção de mudar a doutrina da Igreja. Também na China, o amor de Cristo se manifesta como acolhida e compreensão. No mundo de hoje, apesar dos processos da globalização, há ainda muitas diferenças. Por exemplo, entre a China e a Europa é difícil a compreensão. É preciso encontrar pontos de contato, e o diálogo, dia após dia, é o único caminho para aproximar mundos tão diferentes. Assim, espero que também a Igreja universal acolha e reconheça a Igreja na China pelo que realmente é. Sem isolá-la e maltratá-la, para que cresça a comunhão como sinal do amor de Cristo. Como bispo, espero apenas que o espírito do amor de Cristo se difunda e brilhe também em toda a China. q Nenhuma Igreja é autossuficiente, nenhuma Igreja pode viver sem o dom do Espírito de Cristo. Espero que também a Igreja universal acolha e reconheça a Igreja na China pelo que realmente é. Sem isolá-la e maltratá-la, para que cresça a comunhão como sinal do amor de Cristo Acima, um santinho com a imagem do Papa Bento XVI entre as páginas de um pequeno missal numa igreja de Pequim; à direita, o coral da Catedral da Imaculada Conceição, em Pequim A pergunta fundamental é como os bispos chineses também vivem e expressam a sua fé em união com o Sucessor de Pedro e com toda a Igreja universal. Bem, eu creio que desde o início até agora a nossa Igreja na China C A PA Quem vive na graça é santo A viagem apostólica do Papa Bento XVI à Alemanha 22-25 de setembro de 2011 30 30DIAS Nº 9 - 2011 PITADAS DE CATECISMO O Senhor ressuscitado: perdão e novo início “Neste tempo, o Senhor ressuscitado oferece-nos um refúgio, um lugar de luz, de esperança e confiança, de paz e segurança. Onde a secura e a morte ameaçam os ramos, aí, em Cristo, há futuro, vida e alegria; aí há sempre perdão e novo início, transformação ao entrar no seu amor”. Santa Missa Homilia Olympiastadion de Berlim Quinta-feira, 22 de setembro de 2011 30DIAS Nº 9 - 2011 31 C A PA Na oração de Jesus, a nossa unidade “'Não rogo só por eles, mas também por aqueles que hão de crer em Mim, por meio da sua palavra' (Jo17, 20): assim disse Jesus ao Pai, no Cenáculo. Intercede pelas futuras gerações de crentes. Estende o olhar, mais além do Cenáculo, para o futuro. Rezou também por nós. E reza pela nossa unidade. Esta oração de Jesus não é algo simplesmente do passado. Ele está sempre diante do Pai, intercedendo por nós, e é assim que Ele, nesta hora, está no meio de nós e nos quer atrair para dentro da sua oração. Na oração de Jesus, encontra-se o lugar interior, mais profundo, da nossa unidade. Tornar-nos-emos um só, se nos deixarmos atrair para dentro de tal oração”. Celebração ecumênica igreja do ex-convento dos Agostinianos de Erfurt Sexta-feira, 23 de setembro de 2011 O amor materno de Maria “'Nós sabemos que tudo concorre para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu desígnio’ (Rm 8, 28): ouvimo-lo há pouco na leitura, retirada da Carta aos Romanos. Em Maria, Deus fez concorrer tudo para o bem, e não cessa de fazer com que, por meio de Maria, o bem se espalhe ainda mais no mundo. Da Cruz, do trono da graça e da redenção, Jesus deu aos homens como Mãe a sua própria Mãe Maria. No momento do seu sacrifício pela humanidade, Ele, de certo modo, torna Maria medianeira do fluxo de graça que provém da Cruz. Junto da Cruz, Maria torna-se companheira e protetora dos homens ao longo do caminho da sua vida. ‘Cuida, com amor materno, dos irmãos de seu Filho que, entre perigos e angústias, caminham ainda na terra, até chegarem à pátria bemaventurada’ (Lumen gentium, 62), como o exprimiu o Concílio Vaticano II. É verdade! Na vida, atravessamos vicissitudes várias, mas Maria intercede por nós junto de seu Filho e nos ajuda a encontrar a força do amor divino do Filho e a abrirmo-nos a ele”. Vésperas marianas Wallfahrtskapelle de Etzelsbach Sexta-feira, 23 de setembro de 2011 30DIAS Nº 9 - 2011 33 C A PA Quem vive na graça é santo “Queridos amigos, o apóstolo São Paulo, em muitas das suas cartas, não tem receio de designar por ‘santos’ os seus contemporâneos, os membros das comunidades locais. Aqui se torna evidente que cada batizado – ainda antes de poder realizar boas obras – é santificado por Deus. No Batismo, o Senhor acende, por assim dizer, uma luz na nossa vida, uma luz que o catecismo chama a graça santificante. Quem conserva essa luz, quem vive na graça, é santo”. Vigília de oração com os jovens feira de Freiburg im Breisgau Sábado, 24 de setembro de 2011 34 30DIAS Nº 9 - 2011 PITADAS DE CATECISMO Nós somos santos, se deixarmos a Sua graça agir em nós “Não há nenhum santo, à exceção da bem-aventurada Virgem Maria, que não tenha conhecido também o pecado e que não tenha caído alguma vez. Queridos amigos, Cristo não se interessa tanto de quantas vezes vacilamos e caímos na vida, como sobretudo de quantas vezes nós, com a Sua ajuda, nos erguemos. Não exige ações extraordinárias, mas quer que a sua luz brilhe em vós. Não vos chama porque sois bons e perfeitos, mas porque Ele é bom e quer tornar-vos seus amigos. Sim, vós sois a luz do mundo, porque Jesus é a vossa luz. Sois cristãos – não porque realizais coisas singulares e extraordinárias – mas porque Ele, Cristo, é a vossa, a nossa vida. Vós sois santos, nós somos santos, se deixarmos a Sua graça agir em nós”. Vigília de oração com os jovens feira de Freiburg im Breisgau Sábado, 24 de setembro de 2011 Oriente Médio Uma primavera cheia de enigmas por Gianni Valente régoire III Laham, patriarca de Antioquia dos Greco-melquitas, tem a sua residência habitual no coração da antiga Damasco, a poucos metros do lugar onde São Paulo foi batizado por Ananias. O seu ponto de observação é único para decifrar com olhos de bispo o que está acontecendo na Síria. G 36 30DIAS Nº 9 - 2011 Por sua própria índole, Sua Beatitude não é do tipo de ficar tranquilo e calado diante das convulsões que abalam as vidas de seus irmãos do Oriente Médio, começando pelos cristãos. Já em março passado convocara na sede do Patriarcado quinze embaixadores de nações ocidentais e Acima, uma manifestação contra o presidente sírio Bashar Assad em Talbiseh, na província de Homs, na Síria, em 27 de maio de 2011; à direita, uma manifestação a favor do presidente sírio no centro de Damasco em 23 de agosto de 2011 O patriarca de Antioquia dos Greco-melquitas Grégoire III Laham por ocasião do 25º Encontro Internacional de Oração pela Paz organizado em Munique pela Comunidade Santo Egídio em setembro de 2011 O alarme pelo destino dos cristãos. Os conflitos entre grupos de poder que correm o risco de degenerar em guerra civil. As oportunidades perdidas dos líderes árabes e as intervenções interessadas das potências ocidentais. Entrevista com Grégoire III Laham, patriarca de Antioquia dos Greco-melquitas, sobre todas as incógnitas que afligem o Oriente Médio árabes residentes em Damasco: uma consulta aberta para para discernir juntos a contribuição mais previdente que a comunidade internacional poderia ter fornecido para a superação do conflito sírio, e evitar que degenerasse em guerra civil. Depois, em abril, Grégoire reuniu notas e sugestões que nasceram daquele encontro em uma carta-documento, que logo foi enviada a todos os chefes de Estado da região. 30Dias encontrou o Patriarca dos Greco-melquitas em Munique, onde Grégoire III participava do 25º Encontro Internacional de Oração pela Paz organizado na capital da Bavária pela Comunidade de Santo Egídio. Entre os chefes das Igrejas cristãs do Oriente Médio parece crescer o alarme pelas possíveis consequências da chamada primavera árabe. GRÉGOIRE III LAHAM: Por favor, evitemos confundir os problemas ligados às revoluções destes últimos meses com os ligados às relações entre cristãos e muçulmanos. O problema aberto com as revoluções é um cenário novo para o Oriente Médio, e é, antes de tudo, uma questão de poder. Em contextos como o da Síria, as implicações religiosas tocam principalmente as relações entre os muçulmanos. Os cristãos, em princípio, não são um alvo. Mas se continuar uma situação de caos, de instabilidade e de conflito pelo poder, as coisas para os cristãos irão piorar. No Oriente Médio sempre aconteceu assim. Nas situações de caos e nas revoluções sangrentas os cristãos são os primeiros a pagar, sempre e em todos os lugares. A “experiência” iraquiana custou muito ao pequeno rebanho de cristãos daquele país. O que o senhor conseguiu entender da situação síria? A única coisa evidente é que ao contrário de outros lugares as revoltas não surgiram da insatisfação econômico-social. Na Síria, desde os últimos anos de poder de Assad pai já tinha iniciado um certo progresso na agricultura, na indústria, na construção de estradas. Havia um sistema educati- ¬ 30DIAS Nº 9 - 2011 37 Oriente Médio Nas revoltas, na Síria, sem dúvida, há uma vontade geral de maior liberdade política. Mas há também a contraposição dos grupos em luta para ter em mãos o controle da situação. E nisso o dinheiro também tem a sua parte. Conto-lhe um episódio. Havia uma senhora que fazia faxina na casa de uma senhora idosa que eu conhecia. A um certo ponto, não apareceu mais. Então a senhora idosa telefonou-lhe: querida, por que você não veio mais aqui trabalhar? E a outra respondeu-lhe: senhora, eu saio todos os dias para protestar por meia hora, e em três dias ganho mais do que a senhora me paga em um mês... vo e de saúde que garantia a todos pelo menos a alfabetização e a assistência médica. Não se pode dizer realisticamente que a revolução é feita pelos pobres. Mas então, o que aconteceu? Na minha opinião uma raiz de protesto foi a política, com algumas implicações religiosas. No partido Ba’ath que guia o país, as posições de poder estão todas em mãos da minoria islâmica alawita. Os sunitas, que também ocupam oitenta por cento dos cargos na burocracia estatal, não controlam os cargos de chefia. Na mídia ocidental tudo é narrado em “preto e branco”, como uma batalha pela liberdade contra um regime ditatorial. Sem dúvida, há uma vontade geral de maior liberdade política. Mas há também a contraposição dos grupos em luta para ter em mãos o controle da situação. E nisso o dinheiro também tem a sua parte. O que o senhor quer dizer? Quem usa o dinheiro? Conto-lhe um episódio. Havia uma senhora que fazia faxina na casa de uma senhora idosa que eu conhecia. A um certo ponto, não apareceu mais. Então a senhora 38 30DIAS Nº 9 - 2011 Manifestantes antigovernamentais na praça Tahrir, no Cairo, onde em fevereiro deste ano começou a revolta contra o presidente Hosni Mubarak idosa telefonou-lhe: querida, por que você não veio mais aqui trabalhar? E a outra respondeu-lhe: senhora, eu saio todos os dias para protestar por meia hora, e em três dias ganho mais do que a senhora me paga em um mês... Também em Derhaia, uma pessoa que conheço falou-me de jo- vens que saíam para protestar por meia hora, com máquinas fotográficas e filmadoras, para depois voltar cada um em sua própria casa. Enfim, acontece algo estranho, enigmático. E o senhor, Beatitude, também pensa que exista um complô? ENTREVISTA COM GRÉGOIRE III. Uma primavera cheia de enigmas Papa Shenouda III, patriarca copta de Alexandria, com o primeiro-ministro turco Recep Tayyip Erdogan, no Cairo, em 14 de setembro de 2011 Não se trata de criar suposições de complôs. Mas certamente há manipulações e aspectos que permanecem enigmáticos. Todas as revoluções do mundo árabe contêm estes elementos. Por quarenta anos os regimes de Mubarak e de outros foram aliados, reconhecidos pelo Ocidente democrático, de repente, do dia para a noite, como por magia, tornaram-se ditadores... Há algo artificial em tudo isso. Eu sempre desejei um processo de amadurecimento democrático que envolvesse todas as instituições, as universidades e os centros culturais, as novas organizações profissionais, os homens de religião. Apenas um semelhante amadurecimento, que compreenda os dados culturais e difunda a consciência dos direitos de cada um, pode realmente levar ao pleno desenvolvimento das estruturas democráticas. Ao invés disso, na mudança repentina que vemos diante de nós, permanece no fundo alguma coisa indecifrável. Os países árabes não estão preparados para uma instauração fulmínea dos modelos europeus de democracia. E certos aspectos fazem temer que com as revoltas se possa voltar atrás. Contudo os governantes sírios, nos últimos anos, apresentavam-se diante do mundo com um perfil inovador e reformista, mostrando-se intencionados a acompanhar e favorecer os processos de melhorias econômica e social que estavam acontecendo no país. Então por que a única palavra como resposta aos protestos foi a repressão? Quando iniciaram as revoltas na Tunísia e no Egito, devia-se partir para um caminho mais decidido de abertura. E isso não aconteceu. Prevaleceu a lógica e os mecanismos dos sistemas de segurança. Agora as coisas degeneraram e não se recuperam de um momento a outro. Tanto de um lado como de outro, agora, há os que pensam apenas em prevalecer, em ter tudo em mãos, e não procura soluções de diálogo e compromisso. Ninguém quer ouvir as razões dos outros. Não há outra saída senão a ajuda externa. Dentro tudo parece se encaminhar marcado pela fórmula mors tua, vita mea. O senhor espera uma intervenção internacional, talvez militar? A Síria como a Líbia? Não acredito que isso seja feito. A própria Europa não parece ter uma posição unívoca sobre a situação síria. Certamente não se espera uma intervenção militar. Também a arma das sanções, invocada e apoiada por muitos países ocidentais, não me parece oportuna, se se pensa que nenhuma sanção jamais foi feita contra a política de Israel. Seria preciso de um outro tipo de interferência. Uma ingerência externa de caráter diplomático, que acompanhe governo e oposição no caminho das negociações mesmo através de meios de comunicações reservadas. E ajude a retomar aqueles processos de mudança que já estavam iniciados. Quem deveria trabalhar para que isso aconteça? Um importante papel poderia ter a Turquia. Mas o também chamado Quarteto [EUA, UE, Rússia e ONU, ndr] que acompanha as negociações de paz entre Israel e Autoridade palestina. Não se pode separar os acontecimentos na Síria e em todo o mundo árabe das perspectivas de uma paz possível e duradoura entre israelenses e palestinos. O senhor cita a Turquia. Muitos observadores veem na experiência política de Erdogan um modelo de conciliação entre islã e democracia que poderia ser aplicado também nos países árabes. Parece-me difícil que os árabes possam seguir exemplos propostos pelos que no tempo do império otomano tentaram suprimir a língua, a literatura e a civilização árabe. Resta o fato de que até agora não houve nenhuma posição árabe verdadeiramente digna e nobre, que estivesse à altura do que está acontecendo. Não entendo como é que os países árabes ainda não convocaram um summit para tratar destes problemas e encontrar juntos soluções compartilhadas, para não comprometer o futuro. Se nós árabes, e não os outros, não nos colocarmos juntos para enfrentar a nova situação que se abriu com as revoltas e suas trágicas consequências, e se não as- ¬ 30DIAS Nº 9 - 2011 39 Oriente Médio A oração da sexta-feira na Mesquita dos Omíadas em Damasco sumirmos juntos o seu encargo, com a ajuda da comunidade internacional, o futuro do mundo árabe corre o risco de se tornar obscuro. As várias revoltas do mundo árabe poderiam levar a confrontos de uns contra os outros. E o mundo árabe corre o risco de se desmantelar em uma série de “estadinhos” confessionais em luta entre si. Do que depende o êxito? Como se resolve? Eu espero realmente que se chegue a constituir uma nova Carta de leis e direitos adequados ao mundo árabe moderno. Mas isso só pode acontecer através de processos graduais, com uma evolução a ser amadurecida passo após passo. Ao contrário as revoluções abrem novas feridas que depois se cicatrizam com dificuldade. Enfim, as palavras-chave devem ser evolução e amadurecimento, e não revolução. Nessa perspectiva, os cristãos também poderiam se tornar com maior decisão operadores de mudança. Segundo alguns observadores os cristãos deveriam sentir simpatia imediata pelas revoltas que colocam em crise regimes autoritários e esperam também para o Oriente Médio a chegada de sistemas democráticos de estilo ocidental. De modo geral os cristãos sabem que na Síria podem ir adiante com o regime e talvez participar a uma evolução do regime no sentido mais democrático. Mas têm medo do caos. Têm medo de manipulações externas que possam colocar em crise a tradicional convivência com os próprios concidadãos muçulmanos. Houve alguns casos preocupantes no distrito de Homs, com os desordeiros que da mesquita lançavam apelos para que todos fossem assediar e expulsar os cristãos. Alguns muçulmanos vizinhos de casa de famílias cristãs fugiram com medo de serem envolvidos em um ataque. Nesses casos de perigo imediato, pode-se ver também a intenção de 40 30DIAS Nº 9 - 2011 alargar o caos e usar a fachada do conflito islâmico-cristão para cobrir outras coisas. Colocar os cristãos no meio para aumentar a tensão e o alarme. Os que animavam essas provocações eram forasteiros, gente vinda de fora, não os moradores locais. Perto de Homs foram também queimadas lojas e casas de cristãos. É preciso rezar, e estar alerta, não ter medo diante das provocações. O presidente Assad continua a indicar os fundamentalistas e os mercenários como os verdadeiros inspiradores dos movimentos contra o regime. Nos últimos anos criaram-se leis e regulamentos estatais com a intenção de controlar a difusão de “ideias extremistas”. Uma tal repressão, talvez, tenha tido efeito contrário? Algumas daquelas medidas, como a proibição para as professoras de usar o véu integral nas escolas, de fato, não tiveram uma larga aplicação. Claro, os islamitas querem aumentar a sua influência. Mas tenho a convicção de que a Síria não seja um terreno fértil para suas estratégias de expansão. A Síria tem um passado laico ainda antes da entrada do partido Ba’ath no poder. Não vejo na sociedade síria uma grande solicitação de vínculos que os fundamentalistas tentam impor à vida social. Os chefes religiosos islâmicos são li- gados ao governo, de fato atuam como funcionários religiosos. Os revoltosos de matriz islâmica atuam fora dos sistemas oficiais centrais. Como o senhor avalia o comportamento da Santa Sé diante dos vários protestos violentos que aconteceram nos países árabes em 2011? Depois dos acontecimentos egípcios, a Santa Sé evitou a multiplicação de intervenções. O Papa falou bem. Talvez, em algumas ocasiões, os órgãos de informação vaticana ao apresentar as notícias parecem agregar-se de modo excessivamente acrítico a network orientadas como Al Jazeera. Se posso acrescentar uma anotação pessoal, gostaria de sentir mais a participação e a proximidade das Igrejas nacionais, e em particular dos episcopados europeus. Poderiam tentar colocar em campo iniciativas para favorecer o diálogo. Uma última pergunta: na opinião de alguns, o que está acontecendo hoje nos países do Oriente Médio tem muitas semelhanças com o que aconteceu em 1989 nos países do Leste europeu. O senhor concorda com isso? Não. Aqui a realidade religiosa e sociocultural e histórico-política é completamente diferente. Tratase de uma comparação completamente errada. Ou talvez seja apenas propaganda dissimuladora. q Um patrimônio que une arte, cultura e espiritualidade na maravilhosa paisagem natu ral dos Montes “Simbruini” O patrimônio artístico e cultural desta região é fascinante. Os Mosteiros são jóias de inestimável valor pelas suas elaboradas arquiteturas, seus raros afrescos e o exclusivo patrimônio bibliográfico e de museus. 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Paulo VI com o cardeal Ratzinger CRISTIANISMO “Quem” ou “o que” detém o mysterium iniquitatis No L’Osservatore Romano de 25 de setembro monsenhor Enrico dal Covolo, reitor da Pontifícia Universidade Lateranense, comentou as palavras do apóstolo Paulo na segunda Carta aos Tessalonicenses, capítulo II, versículos 6-7. Em particular o bispo evidenciou o modo com o qual os Padres antioquianos responderam à interrogação sobre “quem” ou “o que” detenha (tò katèchon) o mistério da iniquidade. “A quarta homilia de João Crisóstomo logo no início entra no mérito do problema, colocando-se duas questões: primeiramente o que seja este katèchon; depois, por que Paulo se exprime de modo tão obscuro. Ao responder à primeira pergunta Crisóstomo recorda, rejeitando-a, a interpretação de Severiano de Gabala, o qual identificava o katèchon com a graça do Espírito. Também Teodoro de Mopsuéstia concorda com Crisóstomo ao rejeitar a identificação de Severiano. Baseando-se nas suas objeções, que aqui não podemos comentar, deve-se supor que Severiano identificasse numa Igreja dos carismas a melhor e mais eficaz defesa contra a prevaricação das forças do mal. Rejeitada a opinião de Severiano, Crisóstomo enuncia uma segunda 42 30DIAS Nº 9 - 2011 interpretação, à qual diz-se adepto: a que identifica o katèchon com o império romano. Paulo, segundo Crisóstomo, teria usado uma linguagem obscura e enigmática para evitar de se expor demasiadamente, justamente porque identificava no katèkon o império romano. A vinda do Anticristo, teria ocorrido na queda do império romano, o qual, deixando de ‘deter’, teria aberto o caminho da parusia, antes a do Anticristo e depois, finalmente, a do Senhor Jesus. O império ‘detém’ através do medo que incute, enquanto durar este medo, ninguém poderá instaurar a anomia”. O autor do artigo apresenta en passant também a reflexão de Carl Schmitt: “Eu creio no katèchon; para mim é a única possibilidade de compreender a história como cristão e de considerá-la sensata”. À esquerda, São João Crisóstomo, aqui, abaixo, o Coliseu urtas Curtas Curtas Curtas NDO 3ODIAS NO MUNDO 3ODIAS NO MUNDO 3ODIAS NO MUNDO 3ODIAS NO MUNDO MUNDO As surpresas de Putin “Duas surpresas em trinta dias. Depois de ter-se recandidatado para reassumir o seu lugar de presidente da Federação Russa, Vladimir Putin já faz saber ao seu povo e ao mundo inteiro qual será o grande projeto que ele promoverá logo depois da vitória eleitoral de março, já considerada por muitos garantida: a reconstituição, com progressivo e parcial alargamento, de uma parte do espaço geográfico que até 1991 chamava-se União Soviética. O anuncio foi feito pelo próprio Putin, na espera de saltar do governo para a terceira presidência, escrevendo na Izvestia um artigo de linguagem leve, atraente, não alarmante, no qual os termos econômicos do projeto atenuam propositadamente os de significado mais político. Eis a passagem principal: ‘Propomos o modelo de uma poderosa união supranacional, em condições de se tornar um dos polos do mundo moderno e de assumir um papel de eficaz ligação entre a Europa e a dinâmica região Ásia-Pacífico’”. Escrito por Enzo Bettiza no La Stampa de 5 de outubro. Vladimir Putin IGREJA/2 mo comunhão que recebe da mesa eucarística a sua norma normante não normada. ‘O primeiro e fundamental serviço da comunidade cristã é portanto a celebração da Eucaristia, sacramento da paixão do Senhor’”. Assim escreveu Alberto Melloni no Corriere della Sera de 8 de outubro. Carlo Caffarra: o primeiro serviço da Igreja à sociedade civil é a celebração da Eucaristia “Muitos não deram a devida atenção, a uma página da homilia que o cardeal de Bolonha, Carlo Caffarra pronunciou por ocasião do dia de São Petrônio, 4 de outubro. Como se usa nessas ocasiões, o cardeal falou da cidade. Perguntou-se qual é ‘o primeiro serviço’ que a Igreja oferece à vida comum. E afirmou que não consiste principalmente numa contribuição de doutrina moral ou numa ética civil, mas em fazer com que aconteça dentro da vida concreta uma verdadeira fraternidade: que não solicita para si espaços ou concessões, mas se propõe co- SAGRADO COLÉGIO Os 80 anos do cardeal Mazombwe Carlo Caffarra durante a missa do dia de São Petrônio, 4 de outubro de 2011 No dia 24 de setembro o cardeal africano Joseph Mazombwe Medardo, arcebispo emérito de Lusaka, criado cardeal por Bento XVI em 2010, completou 80 anos. Portanto, no final de setembro o Colégio cardinalício resulta composto por 193 cardeais dos quais 113 eleitores. ¬ 30DIAS Nº 9 - 2011 43 Curtas Curtas Curtas Cu 3ODIAS NO MUNDO 3ODIAS NO MUNDO 3ODIAS NO MUNDO 3ODIAS NO MUN HISTÓRIA lica que persistiam em sua obra de desagregação [...]’”. O ponto de ruptura definitivo, lamenta o secretário da federação de Milão, foi “o discurso pronunciado pelo cardeal Schuster, no qual ele combate a nossa política sobre a raça”. Depois desse discurso, o secretário da federação escreveu a Mussolini: “Naturalmente cortei todo e qualquer tipo de relação com o cardeal”. A Igreja ambrosiana contra o fascismo O jornal Avvenire de 4 de outubro publicou uma matéria de Giorgio Rumi, falecido em 2006, na qual o ilustre historiador católico recordava as relações conflituais entre a autoridade fascista de Milão e o então cardeal arcebispo, o beato Ildefonso Schuster. “No final da década de Trinta, as relações entre Igreja e regime, naquela terra ambrosiana de onde partiram os três grandes protestos à Itália liberal (católico, socialista e enfim fascista), são claras e explícitas relações de força; o secretário da federação fascista de Milão não tem dúvidas ao recordar o caminho percorrido e a reafirmar a sua visão das coisas: ‘Há mais ou menos cinco anos, fui chamado pela sua confiança a dirigir o des- CATÓLICOS Ernesto Olivero premiado como cidadão europeu do ano Ildefonso Schuster tino do fascismo milanês [...]. O cardeal, na época [1933] era claramente antifascista, e impedia, às vezes abertamente, às vezes de maneira velada, a ação do fascismo milanês; [...] enquanto decididamente [...] eu apostava no povo, por trás eu tinha o cardeal e toda a Ação Cató- No dia 2 de outubro o Parlamento europeu condecorou com o prêmio “Civi Europaeo Praemium”, Ernesto Olivero, fundador do Sermig, que há muito tempo HISTÓRIA DE UM HOMEM. RETRATO DE CARLO MARIA MARTINI “É mais importante ensinar aos amigos a humildade que desafiar os inimigos com a verdade” No Corriere della Sera de 14 de setembro, Armando Torno, apresentou a resenha do livro de Aldo Maria Valli, Storia di un uomo. Ritratto di Carlo Maria Martini. No artigo, depois de descrever o cardeal como pessoa extremamente simples, Torno escreve: “No fundo, e isso é recordado por Valli neste utilíssimo livro, o seu estilo poderia ser resumido com uma frase de Santo Agostinho: ‘É mais importante ensinar aos amigos a humildade que desafiar os inimigos com a verdade’”. Título do artigo: Martini, a coragem da humildade. 44 30DIAS Nº 9 - 2011 Ernesto Olivero Aldo Maria Valli, Storia di un uomo. Ritratto di Carlo Maria Martini, Ancora, Roma, 2011, 208 pp. trabalha no campo no voluntariado, da integração e do diálogo entre os povos. A candidatura foi lançada pelo político da Liga Norte Oreste Rossi e o prêmio foi entregue ao interessado pelo vice-presidente do Parlamento europeu Gianni Pittella. A notícia foi publicada no Avvenire de 6 de outubro. urtas Curtas Curtas Curtas NDO 3ODIAS NO MUNDO 3ODIAS NO MUNDO 3ODIAS NO MUNDO 3ODIAS NO MUNDO CÚRIA Nova cúpula na Prefeitura de Assuntos Econômicos No dia 21 de setembro o Papa nomeou o novo presidente da Prefeitura dos Assuntos Econômicos da Santa Sé. Para suceder ao cardeal Velasio De Paolis, 76 anos, foi chamado monsenhor Giuseppe Versaldi, 68 anos, desde 2007 bispo de Alexandria, que foi também elevado à dignidade de arcebispo. Ainda no dia 21 de setembro foi nomeado o novo secretário da Prefeitura. Trata-se do sacerdote espanhol Lucio Ángel Vallejo Balda, 50 anos, desde 1991 administrador geral do episcopado de Astorga. ECONOMIA “Somente as Euro-obrigações podem salvar a União Europeia” O jornal La Stampa de 11 de outubro publicou uma entrevista a Cristopher Sims e Thomas Sargent, condecorados, no dia anterior, pelo Prêmio Nobel para a economia. À pergunta sobre a crise europeia, Sims responde: “Um dos estudos que fizemos falava justamente das premissas precárias da união monetária. Há um grave problema de origem: vocês tem o Banco Central, mas não existe uma autoridade que possa decidir as políticas fiscais ou emitir obrigações. Assim, em situações de crise como a atual, não se entende quem tenha o poder de tomar as decisões necessárias. As perspectivas do euro são muito negativas caso não seja colocada logo no ITÁLIA O presidente Napolitano, o 11 de setembro e o choque de civilizações “A principal consequência depois do 11 de setembro foi a tomada de consciência por parte da comunidade internacional de uma ameaça e de um desafio inaudito, e compreendeu-se bem que aquela ameaça e aquele desafio não eram dirigidos apenas aos Estados Unidos. Compreendeu-se muito antes que o ataque fosse levado, como depois aconteceu, também à Europa, a grandes cidades europeias como Paris, Londres, Madri. Portanto, o que posso colocar em evidência, é que mudou alguma coisa profunda no modo de conceber a própria segurança, mas não apenas por parte de alguns Estados. Talvez, o efeito não previsto pelos que ordenaram o ataque às Torres Gêmeas, foi a reaproximação entre os membros da comunidade internacional. E a partir daquele momento, Estados mesmo muito diferentes entre si e mesmo não aliados entre eles, dos Estados Unidos aos Estados da União Europeia, da Rússia à China, compreenderam que deviam enfrentar juntos um inimigo comum. E isso foi essencial para todos os acontecimentos sucessivos. [...] Porque no decorrer destes dez anos o mundo mudou sob muitos aspectos. O fato fundamental foi entender que não precisava, principalmente nós, Estados ocidentais, Estados Unidos e Europa, deixar-se atrair naquilo que se pretendia, por parte de al-Qaeda, que pudesse ser um choque de civilizações. Era preciso não confundir o ataque terrorista nem com a religião muçulmana nem com a cultura islâmica; era preciso, ao contrá- Banco Central uma autoridade com a possibilidade de emitir euro-obrigações e coordenar as políticas fiscais”. À resposta de Sims, segue uma reflexão análoga de Sargent: “Quando foram criados os Estados Unidos, no final do século XVIII, as condições do país na época eram semelhantes às da Europa de hoje. Havia treze Estados que tinham o poder Giorgio Napolitano rio, encontrar o caminho para dissipar motivos de incompreensões e de contraposição entre mundos diferentes, para chegar a uma concepção comum da segurança, do desenvolvimento. E enfim, da paz e da justiça entre as nações”. São palavras do presidente italiano Giorgio Napolitano, entrevistado pelo jornalista Bruno Vespa no programa Porta a Porta da RAI, em 10 de setembro de 2011, por ocasião dos dez anos do ataque terrorista às Torres Gêmeas. de cunhar moedas, assumir dívidas e decidir suas políticas fiscais, diante de um governo federal extremamente frágil. Estes Estados podiam até mesmo decidir as próprias regras no setor do comércio exterior, expondo a América a graves penalizações por parte de Londres. Os pais fundadores, que em grande parte eram credores dos vários Esta- dos, escreveram a Constituição exatamente com o objetivo de corrigir este problema de fundo. O governo central assumiu toda a dívida dos treze Estados, que em troca perderam a autonomia econômica absoluta que tinham tido até aquele momento”. O título da entrevista “Somente as Euroobrigações podem salvar a União Europeia”. q 30DIAS Nº 9 - 2011 45 Atualidade Giuseppe Ungaretti Padre Antonio Spadaro Uma Civiltà de escritores, poetas e navegadores da Web Padre Antonio Spadaro é o novo diretor da revista Civiltà Cattolica. Na revista da Companhia de Jesus, dedica-se há anos à literatura, à música, à arte e às novas tecnologias de comunicação. Entrevista por Paolo Mattei adre Antonio Spadaro é desde setembro o novo diretor da revista Civiltà Cattolica, publicação quinzenal “de alta divulgação” da Companhia de Jesus. Fundada em 1850, é, como se sabe, a única revista católica cujas provas são P 46 30DIAS Nº 9 - 2011 examinadas pela Secretaria de Estado da Santa Sé. Nascido em Messina, Itália, em 1966, padre Spadaro é graduado em Filosofia e obteve o doutorado em Teologia na Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma, onde leciona desde 2000 no Centro In- terdisciplinar de Comunicação Social. Tendo entrado no noviciado da Companhia de Jesus em 1988, tornou-se sacerdote em 1996. Em 1993, começou a escrever na Civiltà Cattolica, de cuja redação faz parte estavelmente desde 1998. Nas páginas da revista, de- ENTREVISTA Giacomo Leopardi dica-se à crítica literária, com particular atenção para os autores contemporâneos italianos e os escritores norte-americanos. Escreve também sobre teoria da literatura, música, arte, cinema e novas tecnologias de comunicação. Fizemos algumas perguntas ao novo diretor. Quando e como surgiu a vocação ao sacerdócio? E como nasceu a decisão de entrar na Companhia? A N T O N I O S PA D A R O : É sempre difícil responder a essa pergunta. A vocação é algo que cresce “biologicamente” conosco, com a nossa história pessoal. Considero, porém, um momento importante os exercícios espirituais de que participei casualmente na Toscana, nos meus primeiros anos da universidade, depois de ter lido um convite que encontrei numa mesa. Uma experiência completamente dife- rente das que eu estava acostumado a fazer, dias de completo silêncio. Ali, olhei em perspectiva para os meus primeiros vinte anos de vida e senti uma consonância muito profunda com a experiência espiritual que estava vivendo. Uma consonância que nunca havia experimentado antes. Nunca mais duvidei da verdade daquele momento. Aquele foi o seu primeiro contato com a ordem de Santo Inácio? Não, eu fiz o ensino médio no Ignatianum, o instituto dos jesuítas da minha cidade. Foi uma excelente experiência cultural e criativa, a ponto de me fazer dizer, às vezes, que ainda hoje vivo de renda de algumas atitudes básicas que amadureci justamente naqueles anos. O método de ensino dos jesuítas não tinha uma postura, digamos assim, tradicional. Era um ensino que passava sempre pela descoberta pessoal. Como é próprio da pedagogia inaciana... Exato. E como Santo Tomás também explica: “Dos dois modos de adquirir a ciência – a descoberta pessoal (inveniendo) e o aprendizado (addiscendo) –, o principal é o primeiro, o outro é secundário”. Naquela escola, matérias normalmente consideradas complementares, como a educação artística ou a educação musical, eram muito valorizadas. Quando nasceu a sua paixão pela literatura? Como as vocações, as paixões também nascem e se desenvolvem por percursos às vezes incomuns e dificilmente descritíveis. O amor pela literatura não surgiu logo, para dizer a verdade. Quando era menino, eu não lia muitos livros, preferia os quadrinhos. Lembrome, porém, de que um dia fiquei fascinado com um livro de ficção científica para jovens, no qual mergulhei completamente. Não me tornei, como costumam dizer, um “devorador” de livros, mas comecei a “mergulhar” naqueles que me agradavam. Quais foram seus autores prediletos na juventude? Kafka, Pirandello e Leopardi, escritores que se “casam” bem com os tormentos da adolescência. Neles, porém, eu captava algo que “ia além de mim mesmo”, que sobrevivia às inquietudes típicas daquela idade. Mas Ungaretti merece um lugar especial. No terceiro ano do ensino médio, me fizeram ler boa parte da obra desse grande poeta. Pensando nisso hoje, eu me pergunto como isso foi possível. A sua leitura, os seus “átomos de emoção”, me marcaram profundamente. Sou muito grato a seus versos. Depois a literatura começou a ganhar mais espaço na sua vida... Como já lhe disse, minha relação com a literatura desenvolveu-se com o tempo, ligada sobretudo a autores capazes de me fazer pensar, ou seja, escritores-filósofos, digamos assim. Portanto, a paixão pelas histórias, a narração, a densidade da palavra poética se desenvolveu sobretudo depois dos estudos universitários. O meu cursus stu- ¬ 30DIAS Nº 9 - 2011 47 Atualidade diorum, de fato, foi eminentemente filosófico: diplomei-me em Filosofia na Universidade de Messina em 1988, e dois anos depois concluí o currículo de aprofundamento filosófico em Pádua, no Instituto Aloisianum. O grande amor pela literatura nasceu quando comecei a ensiná-la. Meus superiores, no final de 1991, depois dos primeiros anos de formação – o período que nós chamamos de “magistério” –, me pediram que ensinasse Letras em nosso liceu científico de Roma, o Massimiliano Massimo. A paixão dos jovens, que me retornava como feedback das coisas que eu propunha a eles nas aulas, me ligou à experiência da palavra e do relato, que comecei a perceber como capaz de uma leitura profunda e rica da existência. Com os estudantes, aprofundei a metáfora da “viagem” no imaginário coletivo ocidental. A partir daquele trabalho nasceu um livro de textos e comentários, Tracce profonde. Il viaggio tra il reale e l’immaginario (Pegadas profundas. A viagem entre o real e o imaginário). E nasceu também a certeza de que a literatura seria uma companhia fiel da minha viagem pessoal. A Civiltà Cattolica publicou muitos artigos seus sobre a literatura americana. Sim. Comecei a me interessar por esse tema mais ou menos em 2002, ano em que fui aos EUA, Acima, Cesare Pavese; à direita, Raymond Carver 48 30DIAS Nº 9 - 2011 para a província dos jesuítas de Chicago – mais precisamente, para Milford, em Ohio, pleno MeioOeste –, para a minha última etapa de formação como jesuíta. Foi uma descoberta, belíssima, de um olhar renovado sobre a realidade... A mesma impressão que Pavese teve ao encontrar os escritores de Além-Mar... É verdade... Os poetas e os narradores americanos com que eu me deparava falavam da realidade como se a surpreendessem no momento da criação. Um olhar imediato, às vezes ingênuo, mas era justamente essa ingenuidade que me agradava, e me agrada. Era precisamente o que eu sentia faltar à literatura europeia, sobretudo a do século XX, que eu percebia como um produto atormentado dos meandros da consciência, o fruto de uma angústia diuturna dentro de si mesmo, com fracos contatos com a realidade... Quais são seus autores americanos prediletos? Muitos: Edgar Lee Masters, Sylvia Plath, Jack London, Emily Dickinson, Jack Kerouac... Mas três de modo particular: Walt Whitman, de quem fui também tradutor; Raymond Carver, a quem dediquei um dos poucos ensaios específicos em circulação em italiano; e, sobretudo, Flannery O’Connor, de quem publiquei alguns escritos inéditos, em maio Bruce Springsteen deste ano, pela Rizzoli [Il volto incompiuto, ndr]. A paixão pelas obras dessa grande escritora americana, que morreu em 1964 com trinta e nove anos, me levou a visitar várias vezes a sua fazenda em Milledgeville, na Geórgia, e a entrar em contato com quem a conheceu e conviveu com ela. Se o que me impressiona em Whitman é o “olhar original” para as coisas, e em Carver – in primis o Carver poeta – a incomparável capacidade de reduzir ao essencial as emoções que descreve, amo em O’Connor a perspectiva paradoxal e grotesca sobre a rea- ENTREVISTA lidade, presente em cada romance e conto seu. Lê-la me ajuda a olhar para o mundo de pontos de vista sempre diferentes e surpreendentes. O senhor trouxe também para as páginas da Civiltà Cattolica o rock americano: escreveu sobre Bruce Springsteen e Tom Waits, entre outros. Por que essas predileções? cano na época de seu disco acústico Nebraska. Depois de The ghost of Tom Joad eu quis ouvir e ler tudo o que Springsteen compôs. Daí nasceu a ideia de escrever alguma coisa na Civiltà Cattolica, ideia que tomou corpo definitivamente quando saiu de The Rising [“A Ressurreição”, de Bruce Springsteen, 2002, IV, 13-26, n.d.r.], álbum inspirado nos even- Padre Antonio Spadaro, à direita na foto, com Jovanotti, por ocasião de um encontro organizado na Capela Universitária da Sapienza, de Roma, em janeiro de 2010 Os poetas e os narradores americanos com que eu me deparava falavam da realidade como se a surpreendessem no momento da criação. Um olhar imediato, às vezes ingênuo, mas era justamente essa ingenuidade que me agradava, e me agrada Aqui também o papel principal foi do acaso, e provavelmente da minha curiosidade. Um dia me aconteceu de ouvir The ghost of Tom Joad, de Springsteen, e fiquei encantado com as melodias e as letras. Eram canções que tinham grande consonância com certos aspectos da obra de O’Connor, que, depois, eu soube ter sido uma das leituras do cantor ameri- tos trágicos do 11 de Setembro, com um cunho religioso fundamental e uma oração que o moldavam que pareceram ter passado em silêncio na Itália. Afinal, Springsteen convive com o imaginário bíblico religioso desde o tempo de sua formação escolar primária, já que frequentou a escola católica Santa Rosa de Lima, de Freehold, New Jersey, e alguns gestos seus, como acender uma vela a Nossa Senhora na Basílica de São Petrônio durante a sua turnê em Bolonha, em 1998, e carregar uma medalha de São Cristóvão, padroeiro dos viajantes, expressam, na sua simplicidade, uma forma de relação com os símbolos da devoção cristã. A partir desse artigo sobre Springsteen vieram os outros, sobre Tom Waits, Nick Drake e Nick Cave. A meu ver, o rock é capaz de descrever o pedido de salvação do homem de modo mais forte que outras formas de expressão. O senhor já percebeu alguma perplexidade ou embaraço entre os escritores da redação, ou na Secretaria de Estado, por essas escolhas? Não, de modo algum. Encontrei boa acolhida e competência: a respeito do artigo sobre Springsteen, cheguei a receber uma pequena colaboração relativa à data de composição de uma canção de sua juventude que nunca foi publicada em disco... Nenhuma crítica, nem mesmo quando propôs os nomes de Jovanotti e Ligabue? Não, nem então. Naquele momento, 1999, eu estava estudando os narradores mais jovens, aqueles que hoje em sua maioria são quarentões. Portanto, queria abrir uma janela para os cantores que a certa altura da carreira decidem publicar textos narrativos não destinados a virar música. Era o que Jovanotti e Ligabue tinham feito havia pouco, com os dois livros que analisei naquele meu artigo. Eu achava e acho o fenômeno muito interessante. Em janeiro do ano passado, na Capela Universitária da Sapienza, de Roma, tive também a oportunidade de organizar um encontro com Jovanotti sobre o tema do “sucesso”. Ele disse coisas muito sugestivas e, brincando com as palavras, mas não tanto, explicou que o “sucesso”, como “algo que sucede”, que passou, não lhe interessava... Um dos autores contemporâneos que o senhor mais aprecia é Pier Vittorio Tondelli, que morreu há vinte anos, o “escandaloso” romancista de Altri libertini... ¬ 30DIAS Nº 9 - 2011 49 Atualidade Também nesse caso, o encontro foi fortuito. Estávamos em 1992, Tondelli tinha morrido fazia um ano, aos trinta e seis anos, e eu não conhecia os seus escritos. Um dia, pouco antes de começar uma longa viagem de trem, um romance dele chegou às minhas mãos. Na época, eu lecionava no Massimo e me dedicava, como observei, à literatura de viagem. Numa livraria perto da estação, adiantado para a partida do trem, folheei um pouco distraidamente as primeiras páginas daquele livro, Camere separate, e entendi que falava de uma viagem de avião... A coincidência me surpreendeu. Naquele romance, o último escrito por Tondelli, em 1989, e nos outros que eu À direita, o escritor Pier Vittorio Tondelli; abaixo, o ensaio de Antonio Spadaro Lontano dentro se stessi. L’attesa di salvezza in Pier Vittorio Tondelli leria depois em ordem anticronológica, conheci a densidade de uma grande experiência literária. Deparei-me com a profundidade de um escritor engajado num corpo a corpo com a sua existência, com a sua vida, na qual a fé tinha tido um papel decisivo. Eu sabia, entre outras coisas, que Tondelli tinha sido idealizador do projeto “Under 25”, na década de 1980, 50 30DIAS Nº 9 - 2011 uma espécie de laboratório de escrita a distância que envolveu muitos jovens aspirantes a escritores: era uma coisa que interessava também ao meu trabalho. Lendo Tondelli, descobri um autor de formação católica que, mergulhado no “pós-moderno italiano”, como chegou a definir a década de 1980, exprimia a tensão fundamental à salvação própria de cada homem. Eu me dei conta de como as suas perguntas não eram nada superficiais, e nada puramente, digamos assim, “pós-modernas”: eram as grandes perguntas de todo e qualquer homem. Comecei assim a estudar suas cartas, suas anotações, tive a sorte de frequentar seu ambiente familiar. Sua bibliote- tera ai Corinzi, de Giovanni Testori, provavelmente o último livro que ele leu, pouco antes de morrer, e que mandou seu pai comprar quando já estava no hospital. Como muitos escritores ao final da sua existência, Tondelli se perguntava sobre o valor de suas experiências literárias e o peso que elas tinham tido para ele. É uma expressão que lembra as palavras de Jean Cocteau a Jacques Maritain: “A literatura é impossível, é preciso sair dela, e é inútil procurarmos escapar por meio da literatura, pois só a Fé e o amor nos permitem sair de nós mesmos”. O escritor se dá conta de que a literatura não é capaz de salvar uma existência humana, por mais grandiosa que seja. É certamente uma sugestão para Há quinze anos, escrita a lápis numa página da Traduzione della prima Lettera ai Corinzi, de Testori, encontrei uma anotação inédita de Tondelli, que dizia: “A literatura não salva [...]. A única coisa que salva é a fé, o Amor e a recaída da Graça...” ca pessoal conservava os textos da sua formação, entre os quais a Bíblia, a Imitação de Cristo, os místicos medievais e Santa Teresinha do Menino Jesus. E, com o passar dos anos, escrevi sobre sua obra artigos e livros. Sobre esse escritor o senhor publicou também anotações inéditas, como aquela, muito bonita e sugestiva, em que lemos: “A literatura não salva, muito menos o inocente. A única coisa que salva é a fé, o Amor e a recaída da Graça...”. Uma observação que parece uma sugestão para críticos e apaixonados pela literatura... Em 1996, encontrei essa sua anotação escrita a lápis numa página da Traduzione della prima Let- quem faz crítica literária ou ama a literatura. Não somos chamados a verificar se uma obra corresponde a critérios morais ou não, ou a avaliar os textos com base na dogmática, mas, sim, a confrontar o nosso julgamento com o Juízo Universal. A ter em mente que o juízo sobre uma experiência artística se recorta sobre um fundo de eternidade. Na minha opinião, a anotação de Tondelli traz à luz essa intuição. O senhor falou de escritura criativa. Em 1998, fundou o laboratório “BombaCarta”, que se dedica a isso. É uma ideia que nasceu de uma gaveta. Eu estava sentado à mesa da sala em que dava aula e estava procurando uma caneta na gaveta, que estava emperrada. Assim, puxei-a com força demais e acabei ENTREVISTA À esquerda, a homepage do site www.cyberteologia.it, organizado por padre Spadaro Abaixo, a homepage do site da Civiltà Cattolica arrancando-a completamente. No fundo da gaveta, vi escrita uma poesia, anônima, mas cujo autor era evidentemente um estudante. Aquilo me tocou: os jovens, eu disse a mim mesmo, têm dificuldade para escrever sobre os temas que lhes propomos, e depois escrevem poesias nas gavetas. Então afixei um aviso no mural convidando-os a compartilhar seus diários, seus escritos particulares, suas poesias. No primeiro encontro, éramos quarenta e dois. Entendi que havia alguma coisa a aprofundar. Aquela experiência inicial nunca mais se interrompeu: continuamos os encontros, criei um mailing list e um site na internet. Entraram em contato conosco outras pessoas de outras partes da Itália e então nasceram grupos de “BombaCarta” em várias cidades: agora é uma federação de associações e de laboratórios de escrita criativa. No início deste ano, o senhor criou um blog sobre a “cyberteologia” (www.cyberteologia.it), “entendida como a inteligência da fé no tempo da Web”... É notória a sua atenção ao universo das redes sociais informatizadas. O senhor falou de “ética hacker e visão cristã” na Civiltà Cattolica, num artigo recentemente publicado também no Economist... Como nasceu esse interesse? A Web, da qual me aproximei graças também à literatura, tornouse um ambiente habitual da existência cotidiana, em que um número cada vez maior de pessoas forma a sua consciência e os seus relacionamentos. A minha pergunta foi muito simples: se a Web está mudando não só os nossos hábitos, mas também o modo de pensar e de conhecer o mundo, acaso não mudará também o modo de pensar a fé? A partir dessa pergunta, que nasceu dando uma palestra que me foi pedida pela Conferência Episcopal Italiana, notei depois que era realmente preciso iniciar uma reflexão desse tipo. Fides quaerens intellectum: isso sempre foi vivido como a meta, o sentido da teologia. Penso que a busca da inteligência hoje não pode prescindir da Web. Encontrei grande simpatia e interesse por parte da Igreja em vários níveis. Certamente os discursos do Papa sobre esses temas são um grande encorajamento. E agora a direção da Civiltà Cattolica. Essa tarefa é muito pesada para o senhor? Eu a vivo com tremor, que frequentemente, devo dizer, me tira o sono... Sinto uma grande responsabilidade. A revista tem 162 anos de vida, tenho consciência de seu papel histórico, e assumir sua direção me faz perceber o peso e a importância dessa fonte de informação. Ao mesmo tempo, tenho um gran- de desejo de dar o máximo, num momento em que o modo de comunicar está mudando. Afinal, La Civiltà Cattolica nasceu num tempo de grandes mudanças, fazendo propostas inovadoras: era uma revista cultural eclesiástica não escrita em latim, mas em italiano, e empregava uma linguagem simples, mesmo tratando de temas especializados; já era difundida por toda a Itália quando a Itália ainda não existia... Atualmente temos um site, uma página no Facebook, uma conta no Twitter. Procuraremos tornar essa presença cada vez mais viva. Como diretor, o senhor continuará ainda a se dedicar à literatura e às novas tecnologias da comunicação? Estou dando os primeiros passos, ainda tenho de encontrar o equilíbrio adequado. Está prevista a saída de um livro meu sobre “cyberteologia” para janeiro. Depois, um ensaio sobre a literatura americana, no ano que vem... Mas por agora a direção da revista tem prioridade. q 30DIAS Nº 9 - 2011 51 A correspondência Ferrari - Conforti O conforto de uma amizade cristã Quando dois santos se encontram, muitas vezes se instaura entre eles uma relação profunda, baseada no fato de ambos viverem a realidade sob a particular luz da vontade de Deus e vibrarem em uníssono diante de seu modo, para nós estranho, de pensar e agir. Mas é também interessante notar que essa orientação forte para Deus frequentemente faz nascer entre eles uma amizade humana frutuosa para ambos. Eles, talvez sem querer, apoiam um ao outro no caminho da vida, ajudando-se a descobrir o que Deus quer deles. Isso sem dúvida foi verdade para o cardeal Andrea Carlo Ferrari e dom Guido Maria Conforti, seu seminarista e depois, como ele, bispo São Guido Maria Conforti e o beato Andrea Ferrari da Igreja italiana. Dois caracteres muito diferentes, mas, justamente por isso, capazes de uma profunda complementaridade e de uma verdadeira união espiritual para o bem do povo de Deus que lhes foi confiado. Por ocasião da canonização de dom Guido, podemos afirmar que, do ponto de vista humano, sem a influência de Ferrari desde a primeira juventude provavelmente Guido Conforti não teria sido um dos bispos mais significativos da Igreja italiana do início do século XIX e talvez nem mesmo se tornaria santo. padre Rino Benzoni superior-geral dos Xaverianos É notória a amizade entre o cardeal Andrea Carlo Ferrari, arcebispo de Milão, e dom Guido Maria Conforti, arcebispo de Ravena e depois bispo de Parma. Andrea Carlo Ferrari nasceu em Lalatta (Parma) em 13 de agosto de 1850; ordenado sacerdote em 1873, foi reitor do seminário episcopal de Parma de 1877 a 1890, ano em que foi nomeado bispo de Guastalla. Em 1891, tornouse bispo de Como e em 1894, arcebispo de Milão e cardeal. Morreu em 2 de fevereiro de 1921, depois de vinte e sete anos de governo da arquidiocese de Milão. Foi beatificado por João Paulo II em 1987. Guido Maria Conforti nasceu em Casarola di Ravadese (Parma) em 30 de março de 1865; tornou-se sacerdote em 1888. Arcebispo de Ravena em 1902, tornou-se bispo de Parma em 1907. Morreu em 5 de novembro de 1931. Proclamado beato em 17 de março de 1996, será canonizado em 23 de outubro deste ano. Da esquerda para a direita, dom Guido Maria Conforti e o cardeal Andrea Carlo Ferrari Da correspondência Ferrari-Conforti extraímos apenas cinco cartas que se referem a dois momentos dramáticos da vida de Conforti: sua nomeação a arcebispo de Ravena e seu afastamento por motivos de saúde Nomeação para Ravena Conforti fundou em Parma, em 1895, o Instituto Emiliano para as Missões Estrangeiras, que se tornaria congregação religiosa três anos depois. O bispo de Parma o nomeou vigário-geral da diocese em 1895. Em 16 de maio de 1902, foi a Roma, chamado pelo papa Leão XIII, que lhe comunicou tê-lo nomeado arcebispo de Ravena. Na carta ao cardeal Ferrari, Conforti narra o acontecido e expressa seu espanto por essa nomeação. Aceita em obediência ao Papa, convicto de fazer a vontade de Deus. Não falta na carta uma reprimenda velada a quem contribuiu para a sua nomeação. A alusão ao cardeal Ferrari é evidente. Na carta de resposta do cardeal aparece a grande estima que ele tinha por Conforti. Guido Maria Conforti, arcebispo de Ravena Dom Guido Conforti ao cardeal Ferrari Parma, 22 de maio de 1902 Eminência, é com a alma agitada por mil sentimentos e não sem alguma confusão que desta vez me decido a escrever a V. Em.ª, a quem nada jamais pude ocultar daquilo que de alguma forma me dissesse respeito. Terça-feira passada, fui chamado a Roma por meio de uma carta urgente, e logo pus-me em viagem para lá; cheguei no dia seguinte e me apresentei, por volta das 10h, ao prelado que para minha grande surpresa me convidava a ir ao Vaticano às 18h do mesmo dia para ser recebido em audiência pelo Santo Padre, que desejava falar-me. No horário estipulado estava lá e logo fui levado à augusta presença do Sumo Pontífice, ao lado de dom Maffi, atual administrador de Ravena, chamado também com urgência. O coração me batia forte, por não conseguir atinar com a razão do que me acontecia, mas quando Sua Santidade me disse depois que me destinava a ser arcebispo de Ravena, dando-me como auxiliar dom Maffi, senti como se perdesse as forças e prorrompi em lágrimas. Roguei ao Santo Padre que me poupasse de um peso tão grande, alegando minha pouca virtude e doutrina, minha inexperiência, a saúde frágil, a fraqueza do meu caráter, as atuais necessidades do Seminário das Missões, fundado por mim recentemente, mas nenhuma dessas razões considerou ele boa. Roguei-lhe que trocasse os papéis, pondo dom Maffi no meu lugar, em comparação com o qual sob todos os aspectos puer sum et nescio loqui, mas foi em vão. Esconjurei-o enfim, se era vontade Sua que eu fosse bispo, a dar-me pelo menos uma diocese menos ilustre e importante que Ravena, e a essa última súplica, com um tom até ¬ Mercoledì ultimo scorso, venivo chiamato a Roma a mezzo di pressa giungevo e mi presentavo, circa alle ore 10, al Prelato il quale con grand sere ricevuto in udienza dal santo Padre che desiderava parlarmi. All Sommo Pontefice assieme a mons. Maffi, attuale amministratore di R pendomi dar ragione di quanto succedeva, ma quando poi Sua Santità mons. Maffi, mi sentii come venir meno e proruppi in lacrime. Pregai i dottrina bisogni presenti del Seminario delle Missioni da me di recente fondato, m 30DIAS Nº 9 - 2011 ¬ 53 A correspondência Ferrari - Conforti enérgico, respondeu-me com estas exatas palavras, que nunca poderei esquecer: “Não insista e nem faça outros insistirem, pois então me obrigará a uma ordem imperiosa. Ao Vigário de Cristo é preciso obedecer prontamente. Convidei-o a vir pessoalmente a Roma justamente para quebrar qualquer protelação e para que ouvisse da própria boca do Papa o que Ele quer do senhor. Disponha-se, portanto, a fazer a vontade de Deus, que o recobrirá amplamente com sua graça”. Saí do Vaticano com a alma profundamente agitada e uma forte febre me atribulou por toda aquela noite. Oh, como não me sinto à altura da missão que querem confiar à minha fraqueza! Só a reflexão de cumprir a vontade divina, da qual não posso duvidar porque me é manifestada pelo Vigário de Cristo, me traz algum conforto. Só a esperança de encontrar no novo ofício, a que sou chamado pela obediência, almas boas que desejarão me ajudar e saberão compadecer-se me infunde um pouco de coragem. Queira o Céu que todos aqueles que contribuíram com reta intenção para a minha nomeação não venham depois por minha culpa a se arrepender. No primeiro dia do próximo mês, se me permitir, irei assim importuná-lo, tendo extrema necessidade de abrir a minha alma com V. Em.ª, que sempre me foi de grande benevolência e compadecimento. O cardeal Ferrari a dom Guido Conforti Milão, 22 de maio de 1902 Excelência reverendíssima, já cessada a obrigação do segredo, totalmente diferente do que me foi confidenciado por irmã Ghezzi, envio-lhe esta folha; mas minha escrita poderia quase assemelhar-se à de São Bernardo (embora eu seja tudo, menos santo), quando pela primeira vez escrevia a Eugênio III, pouco antes eleito Papa. Naquele antigo Padre, eu poderia de certa forma me encontrar também; e se as coisas continuarem neste passo, o pai se tornará filho e o filho, pai. Mas deixemos tudo isso; e, como não tenho tempo, como não o terá o senhor nestes dias, sem grandes cerimônias lhe comunico minhas congratulações, e se não as quiser as envio a Ravena, e ao senhor desejarei todas as graças que lhe forem indispensáveis para ser realmente um bom Cireneu. Facilmente, porém, o senhor poderá imaginar de quão bom grado o verei; mas um pouco não terá tempo, e mais que um pouco sou eu que non sum dignus. E com distinto e afetuoso obséquio sou seu afeiçoadíssimo, no Senhor, + Andrea C. Card. Arceb. Mercoledì ultimo scorso, venivo chiamato a Roma a mezzo di pressa giungevo e mi presentavo, circa alle ore 10, al Prelato il quale con grand re ricevuto in udienza dal santo Padre che desiderava parlarmi. All’o Sommo Pontefice assieme a mons. Maffi, attuale amministratore di R pendomi dar ragione di quanto succedeva, ma quando poi Sua Santità mons. Maffi, mi sentii come venir meno e proruppi in lacrime. Pregai i dottrina, la mia inesperienza, la malferma salute, la debolezza del mio car recente fondato, ma nessuna di queste ragioni ebbe per buona. Lo pregai A renúncia a Ravena O arcebispo Conforti viu-se dirigindo uma diocese em que a propaganda anticlerical tinha afastado o povo da fé: as igrejas estavam desertas, as crianças já não eram batizadas e nem os mortos eram levados à igreja. Além disso, encontrou um clero dividido em fileiras opostas. As dificuldades e o clima tiveram influência sobre sua já precária saúde. Em 1904, o arcebispo cuspiu sangue repetidas vezes, a ponto de pensar numa tuberculose avançada. Por isso, decidiu apresentar seu pedido de demissão ao Papa. Conta ao cardeal as razões desse grave passo e roga-lhe que interponha suas recomendações para obter o consenso do santo padre Pio X. 54 30DIAS Nº 9 - 2011 O arcebispo Conforti ao cardeal Ferrari In omnibus Christus! Parma, 11 de setembro de 1904 Eminentíssimo Príncipe, permita-me abrir minha alma a V. Em.ª com a confiança que me inspira a sua bondade e implorar seu apoio em coisa de grave importância, que poderá talvez trazer desprazer, mas que deverá reconhecer para mim indispensável. Desde que vim para Ravena, minha pobre saúde foise deteriorando quase continuamente e agora me vejo em condições nada confortáveis. No ano passado, com a chegada do verão, que em Ravena é bastante quente e abafado, fui tomado por uma tosse contínua, por insônia e frequentes febres, que duraram mais de três meses, a ponto de gerar nos médicos o medo bem fundado de um início de tuberculose. Em agosto, fiquei por algum Guido Maria Conforti tempo em Parma, e o ar nativo e os tratamentos assíduos determinaram em mim uma notável melhora, pelo que voltei a minha diocese e ao trabalho com discreta rapidez. Não tardei, porém, a me dar conta de uma notável piora e de fato não passou mês em que não tenha tido de ficar acamado por alguns dias. Depois, a volta do verão produziu em mim os incômodos de sempre, de tosse e febre, que procurei suportar com certo descuido, cumprindo do melhor modo possível os meus compromissos, o que contribuiu para piorar a minha saúde, como puderam comprovar as frequentes cusparadas de sangue, que sempre ocultei dos de casa, para não entristecê-los. No final de julho passado dirigi-me a Parma, onde ainda me encontro, mas em condições muito deploráveis. Nos primeiros dias de agosto cuspi sangue duas vezes, com poucos dias de intervalo, e, se no presente momento, em consequência dos cuidados diligentes a que me sujeitei, me sinto muito melhor, não posso porém dizer estar totalmente curado, voltando de vez em quando a cuspir sangue. Não dissimulo a V. Em.ª que esse conjunto de coisas me aflige bastante, bem pouco podendo prometer para o futuro em questão de saúde, principalmente quando penso que também no passado sempre tive, desde a juventude, uma grande tendência às doenças do peito. Mas ainda mais me aflige o pensamento de não poder desenvolver em Ravena toda a operosidade e a energia que a gravidade das condições morais locais exigiria. Essa ilustre arquidiocese decaiu pelo fato de há cinquenta anos sempre ter sido governada por arcebispos, louváveis, sim, por piedade e doutrina, mas que assumiram o posto já velhos e enfermos, pelo que bem pouco puderam fazer para o bem da arquidiocese. Pensar, portanto, que também por minha causa venha-se a prolongar este doloroso estado de coisas me aflige profundamente e não me deixa um instante de paz. Por isso, e não pelas cruzes e penas inseparáveis do ministério episcopal, cheguei à desagradável determinação de depositar nas mãos augustas do Santo Padre meu pedido de demissão, o que fiz há poucas semanas. Obtive resposta de que Sua Santidade não podia resolver-se a aceitar a minha renúncia e me propunha a escolha de um auxiliar ou de um coadjutor de minha confiança. Respondi agradecendo a atenção, ¬ ante lettera, e tosto messomi in viaggio a quella volta, il giorno appresso vi e mia sorpresa mi invitava in Vaticano per le 18 del giorno stesso per esseora convenuta mi trovai colà e tosto venni messo all’augusta presenza del Ravenna, chiamato esso pure d’urgenza. Il cuore forte mi batteva non sami disse che mi destinava arcivescovo di Ravenna, dandomi ad ausiliare l S. Padre a risparmiarmi un tanto peso, adducendo la poca mia virtù e rattere, i bisogni presenti del Seminario delle Missioni da me di a scambiare le parti mettendo al mio posto mons. Maffi, a petto del quale 30DIAS Nº 9 - 2011 55 mas insistindo ao mesmo tempo na renúncia, fazendo respeitosamente observar que tal opção criaria um estado de coisas anormal, que poderia durar muito tempo, levando em conta a minha idade não avançada, sem falar que a renda episcopal, embora a creiam tão rica, não oferecia margem suficiente para um conveniente salário ao próprio coadjutor. Guido Maria Conforti, bispo de Parma Não recebi até agora resposta a essa minha réplica, e por isso rogo o quanto sei e posso a V. Em.ª que queira oportunamente interpor seus bons ofícios junto ao Santo Padre. Não é um vão temor que me induz a este grave passo, mas o desejo da maior glória de Deus e do maior bem das almas, que certamente viriam da minha renúncia. Ravena precisa de um bispo capaz da máxima energia e atividade, e eu não me sinto fisicamente à altura dessa grave tarefa. De minha parte não peço senão poder-me retirar na solidão do meu Instituto para as Missões, onde empregarei o resto dos meus dias, que não podem ser muitos, em educar muitos queridos jovens desejosos das pacíficas conquistas da fé e do martírio. É essa a minha única aspiração neste mundo. Se o Santo Padre quiser destinar-me alguma provisão pecuniária, eu a aceitarei com gratidão, em benefício da humilde Obra a que consagrei todos os meus bens. Perdoe-me também desta vez se abuso demais da sua bondade, que sei ser muito grande, e me abençoe. Resposta do cardeal Ferrari J.M.J. Excelência ilustríssima e reverendíssima, o Santo Padre, embora descontente, teve de reconhecer o grave peso das razões alegadas por V. Ex.ª em sua repetida solicitação, e já está pensando numa providência para essa arquidiocese. Acrescentei uma menção a respeito da provisão, e ele respondeu que, como é mais do que justo, saberá levá-la em conta. Com grande pena cumpri o ofício que o senhor me encomendou, mas com o senhor elevei os olhos ao Céu e disse: “Fiat voluntas Dei”. Quero porém esperar que a Providência lhe reserve fazer o bem ainda por muito tempo; e uma vez recuperado o vigor da saúde, especialmente por meio de repouso absoluto, podemos bem desejar que V. Ex.ª, não apenas em seu seminário, mas em toda a diocese parmense, dedicará suas forças e seu santo zelo. Lamento ter de passar por Gênova, partindo hoje às 2h40, porque gostaria de lhe fazer uma visita em Parma. Mas daqui a algum tempo não poderei vê-lo em Milão? Ficaria muito feliz e o espero. O Santo Padre o abençoa com toda a afeição, e eu, renovando-lhe o obséquio de veneração profunda, beijo humildemente as mãos. De V. Ex.ª Rev.ma Roma, 16 de setembro de 1904 humilíssimo, devotadíssimo, afeiçoadíssimo + Andrea C. Cardeal Ferrari Arceb. de Milão 56 30DIAS Nº 9 - 2011 O arcebispo agradece e afirma novamente as razões da renúncia: “Ao bem comum deve ceder o privado; e eu de bom grado obtemperei a este para mim necessário sentimento”. In omnibus Christus! Parma, 18 de setembro de 1904 Eminentíssimo Príncipe, tão logo recebi sua carta veneranda, dirigi-me à capela para agradecer ao Senhor pela graça obtida, e agora satisfaço o dever de exprimir a V. Em.ª os sentimentos de minha viva gratidão pelos bons e eficazes ofícios interpostos junto ao Santo Padre para que fosse atendido. Parece-me ter renascido para uma vida nova, agora que fui liberado daquela enorme cruz que, há dois anos, me era imposta e que eu aceitava em obséquio ao Vigário de Cristo. Acostumado a reconhecer nas vicissitudes humanas a vontade de Deus, que tudo dispõe para o nosso melhor, não sinto nenhum remorso pelo passo desagradável que dei, diante das dificuldades não leves que me impediam de poder fazer todo o bem que gostaria. Parece-me, antes, ter cumprido um sagrado dever ao trabalhar para que seja enviado a Ravena um arcebispo que possa e saiba fazer o que eu, por minha frágil saúde, poderia apenas desejar. Ao bem comum deve ceder o privado; e eu de bom grado obtemperei a este para mim necessário sentimento. De agora em diante os meus pensamentos e os meus cuidados serão dirigidos a educar para o apostolado católico muitos queridos jovens; ocupação essa em nada inconveniente ao excelso caráter episcopal, com o qual contra qualquer mérito meu fui honrado. V. Em.ª sempre bom, sempre paternal comigo, me ajude com suas orações, para que possa alcançar esse objetivo nobilíssimo e salutar e por semelhante forma ao menos não me torne de modo algum inútil à Igreja de Deus no tempo, talvez não longo, que ainda me resta de vida. Agradeço a V. Em.ª também pela bela carta pastoral que me enviou como dádiva e pelo cortês convite que me faz de me dirigir a Milão. Demasiado vivo é o desejo que sinto de rever e obsequiar V. Em.ª, para que não venha a aproveitar esse convite em tempo não distante. Beijo com profundo obséquio sua Púrpura Sagrada e com exuberante reconhecimento e gratidão me entrego a V. Em.ª, eminentíssimo Príncipe. Devotadíssimo, obrigadíssimo, afeiçoadíssimo Filho, em Cristo, + Guido M. Arcebispo Assim se concluiu o episódio de Ravena e dom Guido voltou a Parma, para o seu instituto. Tendo recuperado suficientemente a saúde, em 1907 foi nomeado pelo papa Pio X coadjutor do bispo de Parma com direito de sucessão. Sucedeu-o de fato ao final de dezembro daquele ano e governou a diocese por 24 anos, até a morte. A amizade com o cardeal Ferrari e a correspondência duraram até a morte do cardeal, em 1921. Organizado por padre Augusto Luca, S.X. 30DIAS Nº 9 - 2011 57 PRIMEIRO MILÊNIO Caim constrói a cidade, Abel oferece o que lhe é doado por Deus por Lorenzo Cappelletti M ais de uma vez, nos últimos dias, o papa Bento XVI citou passagens da Ecclesiam Suam, de Paulo VI. Não por acaso, o fez em 25 de setembro, no Konzerthaus de Freiburg im Breisgau, no encontro com católicos engajados na Igreja e na sociedade: “Se a Igreja, como diz o Papa Paulo VI, ‘procura modelar-se em conformidade com o tipo proposto por Cristo, não poderá deixar de distinguir-se profundamente do ambiente humano, em que afinal vive ou do qual se aproxima’ (Ecclesiam Suam, 60)”. No domingo seguinte, no Ângelus, evocando a parábola dos vinhateiros homicidas, o Papa explicitava a essência de um tipo de Igreja como esse: “Só n’Ele, por Ele e com Ele se edifica a Igreja, povo da nova Aliança. A este propósito, o Servo de Deus Paulo VI escreveu: ‘O primeiro fruto do aprofundamento da consciência da Igreja sobre si mesma é a renovada descoberta da sua relação vital com Cristo. Aspecto notório, mas fundamental, mas indispensável, mas nunca conhecido, meditado nem celebrado o suficiente’ (Ecclesiam Suam, 37)”. Esse tipo de Igreja, traduzido (e assim compreendido, seria preciso acrescentar, pois normalmente reina sobre ele uma grande confusão, por parte daqueles que não entendem que as duas cidades convivem neste mundo) segundo as categorias agostinianas das duas cidades, é o da cidade de Abel do livro XV do De civitate Dei. “Lemos na Escritura que Caim construiu uma cidade, enquanto Abel, como peregrino, não a construiu”. O ponto não é tanto construir ou não, mas saber quem constrói e como. De fato, Agostinho prossegue dizendo que nos encontramos diante de duas formas de cidade neste mundo: “Uma que (segundo uma tradução densa de significado de Del Noce, num velho artigo de 1986, publicado no Corriere della Sera por ocasião do aniversário da conversão de Agostinho) demonstra a sua presença, a outra que, por meio da sua presença, serve de sinal para a cidade celeste”. Uma que tem como problema demonstrar (suam praesentiam demonstrantem), a outra que simplesmente existe para um Outro (sua praesentia servientem). Esse tipo expressa a mens do Vaticano II sobre a Igreja, como lembrava padre Cottier numa reflexão sobre a Lumen gentium que apareceu na última edição de 30Dias: “O último Concílio reconhece que o ponto de origem da Igreja não é a pró- 58 30DIAS Nº 9 - 2011 Nova vetera et pria Igreja, mas a presença viva de Cristo que a edifica pessoalmente. A luz que é Cristo se reflete na Igreja como num espelho. A consciência desse dado elementar (a Igreja é o reflexo, no mundo, da presença e da ação de Cristo) ilumina tudo o que o último Concílio disse sobre a Igreja”. De modo mais geral, esse tipo de Igreja exprime a tradição apostólica, que se manteve luminosa e pacífica sobretudo no primeiro milênio da Igreja indivisa (como podemos ler nos mais variados autores italianos cada vez mais frequentemente, de Messori a Morini, de Magister a Melloni). Mas essa tradição volta à tona, também, se prestarmos atenção, justamente nos momentos mais críticos do segundo milênio. Basta lembrar o Decreto sobre a justificação do Concílio de Trento, que não por acaso constituiu nos nossos dias a base mais sólida e frutuosa para o diálogo com os luteranos, justamente porque não é primordialmente antiprotestante, mas antipelagiano. Ou pensar no VaCristo sentado no trono, presidindo o Concílio de Niceia ticano I, quando se “autolimita”, poderíamos dizer, afirmando que “a doutrina da fé que Deus revelou não foi proposta à inteligência humana como um sistema filosófico a ser aperfeiçoado, mas confiada à Esposa de Cristo para que a preserve fielmente e infalivelmente a proclame” (Dei Filius). O artigo que segue mostra de que significado concreto se revestiu essa perspectiva nos discursos do papa Celestino I (422-432), pronunciados nos mesmos anos em que Agostinho ia compondo o De civitate Dei e segundo a mesma mens. Mas pode constituir também hoje uma imagem simples e bela de uma Igreja que não se faz por si mesma, como, repetindo as palavras da Ecclesiam Suam, tem lembrado nestes tempos o papa Bento XVI. q 30DIAS Nº 9 - 2011 59 PRIMEIRO MILÊNIO A Tradição segundo as cartas do Papa Celestino I (422-432) O tesouro a ser guardado é mais importante que aquele que o guarda por Lorenzo Cappelletti ez de setembro de 422, Celestino I é o novo bispo de Roma. À Sé de Pedro sobe um homem cuja biografia praticamente desconhecemos, mas que, pelos poucos escritos que nos deixou, sabemos que se referiu à fé do pescador da Galileia como o único motivo do seu ser e do seu agir na sede papal. O seu epistolário, que chegou até nósfragmentário, devido às numerosas destruições a que foi submetido o arquivo da Igreja de Roma, foi recentemente publicado, pela primeira vez numa bela tradução italiana completa por obra de Franco Guidi, editado pela Città Nuova. Grande parte da obra é constituída pelas suas intervenções na crise nestoriana, antes, durante e depois do Concílio de Éfeso de 431. Com isso, não pretendemos, como caçadores de heresias, fazer indagações sobre o erro de Nestório, condenado exatamente naquele Concílio, mas trazer positivamente à luz os critérios que guiaram Celestino. D 60 30DIAS Nº 9 - 2011 A fé que nos foi transmitida pelos apóstolos com plenitude e com clareza deve ser salvaguardada de acréscimos e de subtrações A primeira coisa que impressiona ao constatar a maneira com a qual Celestino enfrentou a questão é que ele não se preocupa minimamente em discutir a teologia de Nestório e também as razões pelas quais Nestório pensa que deve preferir para Maria a expressão Christotòkos (mãe de Cristo) à expressão Theotòkos (mãe de Deus). É um campo minado. Mas principalmente não compete ao carisma de Roma, cuja originalidade, se poderia dizer, é a falta de originalidade teológica, de não propor soluções próprias. Celestino segue a fór mula do Credo apostólico que afirma com simplicidade que o Filho unigênito de Deus se fez carne por Maria. Ao mesmo tempo Celestino aproveita sua experiência passada. No início da carta que envia a Nestório em agosto de 430 reper- corre os recentes fatos da sé constantinopolitana: “Depois da sua morte [a morte de Ático, bispo de Constantinopla de 406 a 425] foi muito grande a nossa preocupação, porque nos perguntávamos se o seu sucessor o sucederia tam- A r q u i v o d e 3 0 D i a s - S e t e m b ro d e 1 9 9 6 Nova vetera et Nestas páginas, imagens dos mosaicos da Basílica de Santa Maria Maior, em Roma. Aqui, abaixo, detalhe do arco triunfal: o Trono divino tendo ao lado os Santos Pedro e Paulo com a inscrição Xystus episcopus plebi Dei bém na fé, já que é difícil que o bem dure muito. Com efeito, amiúde o mal o sucede tomando o seu lugar. Todavia, depois dele tivemos o santo Sisínio, que logo nos deixou [já em 427], um colega louvado pela sua simplicidade e santidade que pregava a fé que tinha encontrado. Evidentemente, ele com a sua simples santidade e a sua santa simplicidade, tinha lido que é preciso antes ter o temor que a ciência profunda; e em outro lugar que não se deve examinar muito profunda- mente, e ainda: ‘Quem pregará diversamente de como nós pregamos, seja anátema’” (p.109-110). A preocupação de Celestino é que “a excessiva discussão” (p. 111) de Nestório, que “preferiu estar a serviço de suas próprias ideias e ¬ 30DIAS Nº 9 - 2011 61 não a serviço de Cristo” (p. 107) e que quer “raciocinar sobre o Deus Verbo de maneira diversa da considerada pela fé comum” (pág. 111), enriqueça ou prive, é o mesmo, o depositum fidei: “Não se deve perturbar a pureza da fé tradicional com palavras blasfêmias sobre Deus. Quem não seria julgado digno de anátema, se acrescenta ou subtrai alguma coisa à fé? Com efeito, a fé que nos foi transmitida pelos apóstolos com plenitude e com clareza deve ser salvaguardada de acréscimos e subtrações. Lemos nos nossos livros que nada de- PRIMEIRO MILÊNIO ve ser acrescentado ou subtraído. Com efeito, quem acrescenta ou quem subtrai será atingido por uma grande pena [...]. Nós nos lamentamos que foram retiradas do Credo, transmitido pelos apóstolos, as palavras que nos prometem a esperança de toda a nossa vida e nossa salvação” (p. 113). E ainda mais pessoalmente, colocando à parte o pluralis maiestatis: “Agitur ut mihi totius spei A Aparição do Senhor a Abraão, painel da nave central 62 30DIAS Nº 9 - 2011 meae causa tollatur”, isto é: “Trata-se de ser privado da razão de toda minha esperança” (p. 116). Passagem verdadeiramente decisiva: não podemos ter outra fé senão a fides communis, a fé dos apóstolos, porque, paradoxalmente, apenas a fé comum é capaz de nutrir a pessoal e racional esperança de um homem. Não há nada de mecânico na guarda de um depósito, é um livre agir, é um amor: “A guarda da doutrina transmitida não é menos importante do que o dever de quem a transmite [o ato de evidenciar o contrário, que hoje assistimos, não seria uma indicação de falta de amor?]. Os apóstolos lançaram as sementes da fé, o nosso cuidado as proteja, para que o nosso patrão, ao chegar, encontre frutos abundantes; sem dúvida somente a ele deve ser atribuída a produtividade [hoje deve ter surgido alguma dúvida, se há tanta agitação]. Com efeito, como diz o vaso de eleição [São Paulo], não é suficiente plantar e irrigar, se Deus não faz com que cresça. Portanto, temos de trabalhar juntos para conservar os ensinamentos que nos foram confiados e dos quais através da sucessão apostólica nos apropriamos até agora” (p. 144). Assim escrevia ao Concílio reunido em Éfeso no dia 8 de maio de 431. Alguns anos antes, levando em conta as originalidades disciplinares e teológicas da província de Arles, Celestino explicava que assim como a fé dos apóstolos nutre a esperança pessoal, a procura de novidades desemboca em superstições ilusórias: “Sabemos que alguns sacerdotes do Senhor [isto é, bispos] colocaram-se à serviço da superstição ao invés de cuidar da pureza da mente, ou seja, da fé [...]. Se começamos a procurar a novidade, pisaremos sobre as normas que nos foram transmitidas pelos padres, e daremos espaço a superstições sem valor. Portanto, não devemos levar a mentalidade dos fiéis a tais exterioridades. Com efeito, devem ser educados e não iludidos”. Aos bispos das províncias de Vienne e Narbonne, 26 de julho de 428 (p. 61-62). A r q u i v o d e 3 0 D i a s - S e t e m b ro d e 1 9 9 6 A guarda da doutrina transmitida não é menos importante que o dever de quem a transmite Na realidade, para Celestino, um outro motivo de preocupação aproximava desde então Nestório aos bispos de Provença: o fato de ter transgredido as normas tradicionais a respeito das eleições episcopais. Para Celestino, o bispo deve ser escolhido no interior do clero da própria Igreja, devendo tratar-se de um candidato que já tenha dado boas provas de si mesmo nos vários graus de ordens maiores e menores. Explica isso na carta citada: “Que a ninguém seja imposto um bispo indesejado. Que seja solicitado o consenso e levada em consideração a vontade do clero, do povo e dos participantes das ordens. Que seja eleito outro, pertencente a uma outra Igreja, apenas quando não tenha sido possível encontrar alguém digno entre os clérigos da cidade para a qual se deve designar um bispo, eventualidade que não acreditamos que se verifique. Com efeito, neste caso, antes é preciso reprovar estes clérigos, para que sejam justamente preferidos aos que pertençam a outras Igrejas. Que cada um produza o fruto do próprio serviço na Igreja em que transcorreu o maior tempo da sua própria vida lidando em todas as funções. Que ninguém absolutamente coloque as mãos em serviços, e que ninguém ouse pretender para si a recompensa que pertence a outros. Que os clérigos tenham o direito de se opor, se consideram ser sumetidos a um peso muito grande, e não temam em exprimir a sua rejeição àqueles que veem ser introduzidos por meios tortuosos; devem exprimir livremente seu parecer sobre aquele que os deverá governar, se não é a pessoa que merecem” (p. 6768). Alguns anos depois, louvando o novo bispo de Constantinopla, Celestino contestaria em Nestório (que já fora afastado de Constantinopla) também a sua condição de teólogo famoso que veio de fora: “[Maximiano] não é desconhecido, não foi trazido de outra localidade. Vocês fizeram um juízo positivo so- Nova vetera et A passagem do Mar Vermelho, painel da nave central bre uma pessoa que está entre vocês, vocês que no passado recente foram enganados, pela sua desgraça, pela fama de uma personagem ausente”. Ao clero e ao povo de Constantinopla, 15 de março de 432 (p. 180). Venceu em vós Ele, cuja divindade pensava-se que pudesse ser colocada em discussão É depois de obtida a vitória, que, no entanto, se pode apreciar como a fé que vence – e se constata: “O nosso Deus não suporta que permaneça encoberto aquilo que Ele doa, para que jamais os benefícios celestes permaneçam escondidos” (p. 183) – não tem ne- nhuma relação com um projeto de destruição daquele que erra. Celestino continua fiel àquilo que quis que se escrevesse no número 8 do Indiculus: “Que certas coisas sejam pedidas a Deus não de modo superficial ou inutilmente o demonstra o resultado concreto, do momento que Deus se digna a recuperar muitos que cometem todos os tipos de erros, e, depois de tê-los retirados do poder das trevas, os transfere para o reino do Filho de seu amor, e de vasos de ira os transforma em vasos de misericórdia. E tudo isto é entendido como obra divina, tanto que a Deus que faz estas coisas está sempre dirigido o agradecimento e a expressão de louvor por ter ¬ 30DIAS Nº 9 - 2011 63 iluminado e corrigido todos eles” (p. 82). Assim, quando se trata das condenações dos seguidores de Nestório, o papa Celestino pede aos padres conciliares de Éfeso que o ouçam: “A respeito dos que compartilharam com igual impiedade a doutrina de Nestório e se uniram a ele como companheiros dos seus crimes, se bem que se leia nas vossas sentenças a condenação deles, todavia também nós decretamos aquilo que nos parece oportuno” (p. 188). E aconselha que seja usada a mesma magnanimidade que foi usada com frutos para com os pelagianos: “Nestas questões é preciso considerar os vários elementos que a Sé apostólica sempre considerou [não é último indício da catolicidade a capacidade de levar em conta a totalidade dos fatores]. Aquilo que dizemos está documentado pelos fatos dos quais são protagonistas os celestianos [os pelagianos], os quais até aqui confiaram sempre no Concílio. Estes, se se arrependem, têm a possibilidade de voltar, o que não é permitido apenas A Anunciação, mosaico do arco triunfal 64 30DIAS Nº 9 - 2011 PRIMEIRO MILÊNIO àqueles que consta, pela aprovação de todos os irmãos, terem sido precisamente condenados junto com os autores da heresia. Com efeito, graças à misericórdia de Deus estamos contentes com o fato que alguns deles já tenham voltado a nós [...]. Aconselho a vossa fraternidade de seguir este exemplo” (p. 188-189). Celestino não é severo com os “pelagianos anônimos”, contra os quais interessadamente se indignaram os seguidores de ambas as escolas contrapostas em Éfeso. O fato é que a vitória de Éfeso não é a vitória de uma teologia (a alexandrina) sobre outra (a antioquiana). Na realidade “venceu em vós Ele, cuja divindade pensava-se que pudesse ser colocada em discussão [...]. Segundo as palavras do Senhor, não poderia ser arrancada uma plantação que fora plantada pelo Pai e que n’Ele demonstrava produzir bons frutos. O Senhor de Israel conservou a própria vinha. A vinha do Senhor é a casa de Israel, e por isso não é uma surpresa se a sua casa foi preservada dos ladrões, cujo zelador, como se lê, não dorme, nem cochila [...]. Por isso, irmãos caríssimos, permanecei com aquele que está em vós, para que assim venceis (permanete in eum qui est, ut vincatis, in vobis)” (p. 168; 177; 181). Aqueles que pretenderam ter vencido em nome de uma teologia logo irão à deriva. Com a morte de Cirilo (444), o patriarca de Alexandria que em Éfeso foi o verdadeiro protagonista da confirmação da fé apostólica, assumiu o seu lugar Dióscoro. O novo patriarca, não se apoiando mais à fé de Pedro (que aquela sé, fundada por São Marcos o evangelista, dividia com Roma), mas à genialidade da escola de Clemente, de Orígenes, de Apolinário, criou em 449 aquele concílio que passou à história como latrocinium ephesinum, que foi a mais infame traição ao Concílio de Éfeso, não apenas pela profissão de uma fé A r q u i v o d e 3 0 D i a s - S e t e m b ro d e 1 9 9 6 Nova vetera et A Adoração dos Magos, mosaico do arco triunfal claramente herética mas também pela intolerância transgressora que foi ali utilizada. Leão Magno, que na época reinava (depois de ter sido, segundo a tradição, fiel diácono de Celestino), deve ter repetido as palavras de seu predecessor: “É difícil que o bem dure muito. De fato, amiúde o mal o sucede tomando o seu lugar”. Por isso, irmãos caríssimos, permanecei com Aquele que está em vós para que assim venceis Trataremos agora brevemente da ideia que Celestino tinha do papel da autoridade política nos fatos da Igreja. Desta vez o faremos não a partir das citações de Celestino, mas de um trecho da Introdução de Franco Guidi: “Celestino reconhece também que a autoridade imperial deriva de Cristo, mas o reconhecimento não é feito para exaltá-la, quanto para insinuar que ela deve estar subordinada a Cristo e portanto aos interesses da Igreja de Cristo. E da mesma forma deve ser entendida a exortação ao imperador para preocupar-se mais com a causa da fé do que com os destinos do império, pois estes dependem dos destinos da Igreja. Como vemos, trata-se de uma tese contraposta à política cesáreo-papista de Constantino e de Constâncio II, mesmo se ainda não chegamos à afirmação do primado da auctoritas sacrata pontificum, que terá muita importância para a definição das relações entre a Igreja e o poder imperial na Idade Média” (p. 33). Tomamos a liberdade de discordar e considerar anacronista esta interpretação. Parece quase que a concepção de Celestino considere necessariamente a saída hegemônico-gregoriana como contraposição especular ao cesáreo-papismo bizantino. Celestino parece preocupado em frear um poder político rebelde. Na realidade, lendo os textos encontra-se uma concepção muito mais leiga: Celestino não reconhece a autoridade política nem para “exaltá-la”, nem “para insinuar...”, simplesmente a reconhece. Tudo isto coincide mais com o início do 13° capítulo da Carta aos Romanos ou com a Primeira Carta de Pedro ou ainda com a Cidade de Deus de Agostinho que certamente, por aproximação ideal e temporal, Celestino devia conhecer melhor... do que as pretensões gregorianas. Celestino, no dia 7 de maio de 431, a Cirilo de Alexandria: “Não é inútil, principalmente no caso de questões divinas, a atenção da autoridade imperial a respeito de Deus, que fielmente dirige os corações dos reinantes” (p. 141). Celestino, dia 15 de março de 432, ao Concílio de Éfeso: “Não surpreende que o coração do rei, que está nas mãos de Deus, esteja em sintonia com aqueles que ele sabe que são seus sacerdotes” (p. 185). Como prova de qual tinha sido “a razão de toda a sua esperança” enquanto vivia (p. 116), Celestino quis repousar depois de morto ad nymphas sancti Petri, junto às catacumbas de Priscila, no lugar que, de acordo com a antiga tradição, São Pedro teria escolhido para batizar os primeiros cristãos de Roma. Quem quer que o tenha escrito, o seu epitáfio recorda aquela “confiança que nasce da simplicidade” (p. 176) que acompanhara o Papa em vida: “Aqui é o sepulcro do corpo: repousam ossos e cinzas, não morre nada; a carne toda ressurge no Senhor”. q 30DIAS Nº 9 - 2011 65 ASSINATURAS COMO ASSINAR Enviar o formulário ao endereço do escritório de assinaturas escrito abaixo Destinação Período de assinatura 1 ano 2 anos Preço (€) Brasil, África 25,00 Itália 45,00 Europa 60,00 Resto do mundo 70,00 Brasil, África 40,00 Itália 80,00 Europa 110,00 Resto do mundo 125,00 é a revista mensal internacional mais informada sobre a vida da Igreja. 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