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ANO XXIX - N.9 - 2011 R$ 15,00 - € 5
www.30giorni.it
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Tar. Economy Taxe Percue Tassa Riscossa Roma.
ED. TRENTA GIORNI SOC. COOP. A R. L.
ISSN 1827-627X
na Igreja e no mundo
Quem vive
na graça
é santo
Diretor: Giulio Andreotti
A VIAGEM APOSTÓLICA
DO PAPA BENTO XVI
À ALEMANHA
22-25 DE SETEMBRO DE 2011
In caso di mancato recapito rinviare a Uff. Poste Roma Romanina per la restituzione al mittente previo addebito.
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nella Chiesa e nel mondo
CORRESPONDÊNCIA. Monsenhor Conforti e o Cardeal Ferrari: o conforto de uma amizade cristã
ano XXIX
N.
Sumário
9 ano 2011
Capa: no quadro, Papa Bento XVI; na foto grande,
a vigília de oração com os jovens na Feira
de Freiburg im Breisgau, 24 de setembro de 2011
p. 60
EDITORIAL
Confirma os teus irmãos
4
— por Gerhard Ludwig Müller
CAPA
PITADAS DE CATECISMO
Quem vive na graça é santo
— A viagem apostólica do Papa Bento XVI à Alemanha,
30
22-25 de setembro de 2011
Nova et Vetera
A Tradição segundo as cartas
do Papa Celestino I:
O tesouro a ser guardado é mais importante
que aquele que o guarda
3OGIORNI
nella Chiesa e nel mondo
NESTE NÚMERO
IGREJA
“A Igreja na China não mudou
uma vírgula da Tradição Apostólica
que lhe foi consignada”
Entrevista com João Batista Li Suguang
24
— por G. Valente
O tesouro e os vasos de barro
— por G. Valente
27
Diretor Giulio Andreotti
ORIENTE MÉDIO
REDAÇÃO
Via Vincenzo Manzini, 45 00173 Roma
Tel.+39 06 72.64.041 Fax +39 06 72.63.33.95
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E- mail: [email protected]
Vice-Diretores
Roberto Rotondo - [email protected]
Giovanni Cubeddu - [email protected]
Secretaria de redação
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3OGIORNI
nella Chiesa e nel mondo
é uma publicação mensal registrada
junto ao Tribunal de Roma na data 11/11/1993
n. 501. A publicação beneficia-se de subsídios
públicos diretos de acordo com a lei
de 7 de agosto de 1990, n. 250
Redação
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Pierluca Azzaro, Françoise-Marie Babinet,
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Gianni Cardinale, Stefania Falasca,
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Diretor responsável
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Tipografia
Arti Grafiche La Moderna
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De segunda a sexta-feira das 9h às 18h
e-mail: [email protected]
Colaboraram neste número
Gerhard Ludwig Müller
(bispo de Regensburg)
Este número foi concluído na redação
dia 11 de outubro de 2011
Escritório Legal
Davide Ramazzotti - [email protected]
Impressão concluída no mês de novembro
de 2011
CRÉDITOS FOTOGRÁFICOS:
Osservatore Romano: Capa; pp.5,31,32,33,34; Associated Press/LaPresse:
pp.4,5,25,28,29,36,39,40,47,48,59; por gentil concessão de Il Cigno GG Edizioni, Roma:
pp.6,9,15,16,17,19,20,21,22,23; Getty Images: pp.24,50; Afp/Getty Images: pp.26,30,35,37,38;
Tino Veneziano: pp.27,37; LaPresse: p.46,58,60,61; Magnum/Contrasto: p.48; Electa Mondadori: p.52;
Arquivo Missionari Saveriani: pp.52,53,55,56.
Uma primavera cheia de enigmas
Entrevista com Grégoire III Laham — por G. Valente
36
ATUALIDADE
Uma Civiltà de escritores,
poetas e navegadores da Web
Entrevista com Antonio Spadaro — por P. Mattei
46
CANONIZAÇÃO
Introdução — por Rino Benzoni
O conforto de uma amizade cristã
52
A correspondência entre o cardeal Ferrari
e monsenhor Conforti
52
NOVA ET VETERA
Introdução — por L. Cappelletti
O tesouro a ser guardado é mais importante
que aquele que o guarda
58
— por L. Cappelletti
60
SEÇÕES
CARTAS DOS MOSTEIROS
LEITURA ESPIRITUAL
6
10
CORREIO DO DIRETOR
21
30DIAS NA IGREJA E NO MUNDO
42
30DIAS Nº 9 - 2011
3
Editorial
Confirma
os teus irmãos
No final da viagem apostólica do Santo Padre à Alemanha
(22-25 de setembro de 2011), pedimos um comentário ao bispo
de Regensburg, monsenhor Gerhard Ludwig Müller.
Temos o prazer de publicar o comentário do bispo
como editorial de 30Dias
Giulio Andreotti
4
30DIAS Nº 9 - 2011
É
com muita gratidão que recordamos a visita do Santo Padre na nossa pátria. Ele veio como pastor universal da
Igreja para nos confirmar na fé e levar-nos a mensagem da salvação em Jesus Cristo. Foram dias de alegria e de encontros
solenes, na grande comunhão dos que são levados pela esperança em Jesus Cristo. Com as suas palavras e com os seus
gestos ele convidou todos a fazerem com que a busca de Deus
se torne o pensamento principal para a nossa vida pessoal,
mas também para toda a sociedade e o seu funcionamento.
O entusiasmo suscitado pela sua visita manifestou-se na extraordinária participação dos fiéis em Berlim, Erfurt e Freiburg
im Breisgau. As passagens mais marcantes da viagem, como
por exemplo, o encontro ecumênico na cidade de Lutero, Erfurt, e o discurso no Bundenstag alemão, deram estímulos decisivos para o futuro da Igreja na Alemanha.
Continuaremos a levar com grande alegria os pensamentos
do Santo Padre nos nossos corações. O que ouvimos nos fará
refletir ainda por muito tempo, e nos levará a uma compreensão mais profunda da fé no mundo de hoje.
Obrigado, Santo Padre, pela visita à Alemanha!
Na página ao lado,
Bento XVI durante a Vigília
de oração com os jovens
na Feira de Freiburg
im Breisgau dia 24 de setembro
de 2011; aqui acima,
um momento da Vigília
Gerhard Ludwig Müller
Bispo de Regensburg
30DIAS Nº 9 - 2011
5
Cartas dos mosteiros Cartas dos mosteiros
Mãe de Deus Odigitria, final do século XV, Novgorod
s imagens que ilustram as páginas das Cartas e da Leitura Espiritual são relativas a alguns dos quarenta ícones russos expostos até 12 de fevereiro de 2012 nas Salas do Castelo Santo Ângelo em Roma, por ocasião da mostra “Os ícones russos (séculos XV-XX)” (catálogo organizado por Il Cigno GG – Edições). As obras são provenientes do Museu do Ícone
Russo de Moscou, uma instituição privada nascida há apenas um ano e que pela primeira vez
concede em empréstimo suas preciosas peças a um museu estrangeiro. Inaugurada em 27 de
setembro passado pelo cardeal Raffaele Farina, arquivista e bibliotecário da Santa Igreja Romana, com a presença de Andrei Busygin, vice-ministro da Cultura da Federação Russa,
a mostra faz parte das manifestações do Ano da Cultura e da Língua russa na Itália e da
Cultura e da Língua italiana na Rússia.
A
Cartas dos mosteiros Cartas dos mosteiros
CLARISSAS DO MOSTEIRO DE TRÉVERIS
Tréveris, Alemanha
Há muitos anos recebemos
a belíssima revista 30Tage
Obrigada pela qualidade dos artigos e a realização
gráfica, que é belíssima.
Rezamos ao Senhor para que abençoe o seu apostolado, porque este é o seu trabalho para a glória de
Deus e a serviço da Igreja, nossa mãe.
Receba, senhor diretor, juntamente com todos os
seus colaboradores, as nossas devotas saudações,
Tréveris, 1º de junho de 2011
irmãs cooperadoras de Chabeuil
Prezado senhor diretor Andreotti,
há muitos anos recebemos a belíssima revista 30Tage
que o senhor nos oferece gratuitamente. Agradecemos-lhe muito. Apreciamos muito a forma visual de
bom gosto e os conteúdos de grande valor, autenticamente católicos. De boa vontade colocaremos o senhor e as suas intenções nas nossas orações.
Somos as clarissas capuchinhas de Tréveris, na
Alemanha.
Seguem nossas cordiais saudações e a máxima estima,
as irmãs de Santa Clara
IRMÃS COOPERADORAS DE CHABEUIL
Chabeuil, França
Um obrigado da França
Chabeuil, 16 de julho de 2011
Senhor diretor,
o último número da sua revista veio acompanhado
por um CD, Les chants de la Tradition. O canto gregoriano não precisa de louvores, é louvor, por isso nós
agradecemos de coração por este pequeno presente.
MOSTEIRO DE LA CONCEPCIÓN JERÓNIMA
Madri, Espanha
O livro Meditación sobre la santa Pascua
é precioso e instrutivo
Madri, 18 de julho de 2011
Senhor Giulio Andreotti,
Receba a nossa mais sincera gratidão pelo recebimento
da bela, interessante, instrutiva e profunda revista
30Días, que nos faz vibrar e viver com maior intensidade
a vida da Igreja, as suas necessidades e as do mundo. Lemos em comunidade e faz-nos sentir mais Igreja e mais
irmãs com todos os outros homens.
Agradecemos-lhe também pelo livro Meditación sobre
la santa Pascua, precioso e instrutivo. Muito obrigada!
Que o Senhor recompense-o como merece: nós
rezamos por isso.
A comunidade das jerônimas
CARMELITAS DO MOSTEIRO DE ATENAS
Atenas, Grécia
30Giorni na Grécia
Atenas, 18 de julho de 2011
Prezados senhores,
vimos por meio desta agradecer-lhes pela revista
30Giorni que recebemos aqui na Grécia e que lemos
com grande interesse, mas com dificuldade por causa da
língua. Pedimos, portanto, se podem nos enviá-la em língua francesa para que todas as irmãs possam lê-la.
Agradecemos de coração pela vossa dedicação,
irmã Marie-Pierre
30DIAS Nº 9 - 2011
7
Cartas dos mosteiros
AGOSTINIANAS DO MOSTEIRO DE SAN PEDRO
MOSTEIRO DE SANTA CATALINA DE SIENA
Mutilva, Espanha
La Laguna, Tenerife, Espanha
Lemos com interesse os artigos
sobre os Padres da Igreja,
entre os quais Santo Agostinho
O nosso mosteiro completa 400 anos
Mutilva, 21 de julho de 2011
Estimado senhor Andreotti,
há muito tempo eu queria escrever para lhe enviar os
meus agradecimentos pela revista 30Días que chega
até nós sempre com grande pontualidade. O seu conteúdo é de grande utilidade para todas as irmãs e,
além disso, nos mantêm a par de toda a problemática
do mundo e da Igreja.
“Não temos nem ouro nem prata...” mas o que temos nós damos. Conte sempre com a nossa oração para que Deus, rico de misericórdia, faça com que prosperem todos os projetos que o senhor tem em reserva.
Aproveito a ocasião para comunicar-lhe sobre o
evento que a minha comunidade está celebrando:
quatro séculos de fundação deste mosteiro de Santa
Catarina de Sena. Uma santa muito importante para
o senhor e para todos os italianos.
Saúdo cordialmente e renovo-lhe o meu profundo
agradecimento e o da minha comunidade,
Senhor diretor,
receba estas expressões de agradecimento pela revista
30Días que recebemos há alguns anos. É uma revista
muito bonita, instrutiva e a lemos com grande interesse, principalmente os artigos sobre os Padres da Igreja,
entre os quais Santo Agostinho. Muito obrigada.
Com todo o afeto e agradecimento, oferecemos as
nossas orações.
As monjas agostinianas
CONCEPCIONISTAS FRANCISCANAS
Borja, Espanha
O CD faz-nos apreciar o encanto
da música gregoriana
Borja, 25 de julho de 2011
irmã María Cleofé López Lantigua
Senhor diretor,
mais uma vez recebemos a sua revista 30Días, e queremos agradecer-lhe pela sua delicada atenção em
enviá-la. Gostamos muito do CD de cantos que veio
como suplemento no último número: são muito úteis
e apropriados. É bom recordar as antigas antífonas e
voltar a apreciar o encanto e a solenidade da música
gregoriana. Por tudo isso, muitíssimo obrigada.
Como já dissemos, somos monjas contemplativas e
nos são muito úteis as informações sobre a Igreja e sobre
o mundo que recebemos através dos seus artigos. A clareza e a precisão da exposição fazem com que possamos viver bem mais perto os problemas que surgem continuamente para apresentá-los ao Senhor na nossa oração.
O senhor é sempre recordado nas nossas orações
e pedimos ao Senhor para que continue a dar-lhe forças e a abençoar o seu trabalho apostólico.
Uma saudação fraterna de toda a comunidade que
lhe agradece pela sua generosidade,
irmã Adoración Diez, OIC
8
La Laguna, 29 de julho de 2011
30DIAS Nº 9 - 2011
Anunciação, final da década de Quarenta do século XVI, Pskov
CARMELITAS DO CARMELO DE NOTRE DAME
Ho Chi Minh Ville, Vietnã
30Giorni alarga o nosso coração
Ho Chi Minh Ville, 29 de julho de 2011
Caro senhor diretor
e todos os colaboradores de 30Giorni,
recebam a nossa saudação e os nossos agradecimentos pelo envio, há muitos anos, de 30Giorni ao nosso
longínquo e isolado Carmelo de Notre Dame.
Apreciamos particularmente o artigo Vida consagrada n. 4/5 de 2011.
Graças à sua generosidade e à de toda a sua equipe, as edições de 30Giorni colocam-nos a par dos
acontecimentos mundiais, ajudam-nos a ampliar o
nosso horizonte e a alargar o nosso coração e estimulam o nosso entusiasmo na nossa vocação de orantes
e penitentes.
Mais uma vez, obrigada de todo coração. Obrigada
também pelos cantos gregorianos.
Garantimos-lhes as orações de toda a comunidade,
as carmelitas do Carmelo de Notre Dame
continua na p. 16
30DIAS Nº 9 - 2011
9
Leitura espiritual
Leitura espiritual
Confiança! É a mão
de Jesus que tudo
conduz...
Santa Teresa
do Menino Jesus
Convite à oração
A redação de 30Dias convida a todos, em particular às pessoas consagradas dos
mosteiros de clausura, a rezarem por padre Giacomo Tantardini. Há alguns meses ele vem-se tratando de um câncer no pulmão. Que o Senhor nos conceda pedir com confiança o milagre da cura. Aos sacerdotes que estimam e querem
bem a 30Giorni pedimos que celebrem a santa missa segundo essa intenção.
Aos pais pedimos a caridade de fazerem seus filhos rezar.
Não nos cansemos
de rezar. A confiança
faz milagres.
Santa Teresa
do Menino Jesus
10
30DIAS Nº 9
- 2011
Leitura espiritual
Leitura espiritual
Emil Nolde, Cristo entre as crianças,
Museum of Modern Art, Nova York
A oração
das crianças
Charles Péguy, O mistério dos santos inocentes
Nada é tão belo como uma criança que adormece rezando, diz Deus.
Digo-lhes, nada é tão belo no mundo.
E devo dizer que vi belezas, no mundo.
E entendo do assunto. A minha criação transborda de belezas.
A minha criação transborda de maravilhas.
Há tantas, a ponto de não saber onde enfiá-las.
Vi milhões e milhões de astros girarem sob os meus pés como a areia do mar.
Vi dias ardentes como chamas.
Dias de verão, de junho, julho, agosto.
Vi noites de inverno estendidas como um manto.
Vi noites de verão calmas e doces como uma chuva de paraíso
Todas pontilhadas de estrelas.
Vi essas colinas da Meuse e essas igrejas que são as minhas casas.
E Paris e Reims e Rouen e catedrais que são os meus palácios, os meus castelos.
Tão belos que os conservarei no céu.
Vi a capital do reino e Roma, capital da cristandade.
Ouvi cantarem a missa e as vésperas triunfais.
Vi estas planícies e estes vales da França.
Que são a coisa mais linda.
30DIAS Nº 9
- 2011
11
Leitura espiritual
Leitura espiritual
Vi o mar profundo, e a profunda floresta, e o coração profundo do homem.
Vi corações devorados de amor
Durante a vida inteira
Estáticos de caridade.
Que queimavam como chamas:
Vi mártires tão animados de fé
Sólidos como rocha no cavalete
Sob os dentes de ferro.
(Como um soldado que resista sozinho a vida inteira
Por fé
Pelo seu general (aparentemente) ausente.)
Vi mártires em chamas como tochas
Obterem, assim, as palmas sempre verdes.
Vi caírem sob os ganchos de ferro
Gotas de sangue esplêndidas como diamantes.
Vi gotejarem lágrimas de amor
Que durarão mais que as estrelas do céu.
E vi olhares de oração, de ternura,
Estáticos de caridade
Que brilharão eternamente por noites e noites.
Vi vidas inteiras do nascimento à morte,
Do batismo ao viático,
Desenrolarem-se como um belo novelo de lã.
Agora lhes digo, diz Deus, não conheço nada tão belo no mundo inteiro
Como uma criança pequena que adormece ao dizer a oração
Sob a asa do anjo da guarda
E que sorri sozinha deslizando para o sono.
E já mistura tudo e não entende mais nada
12
30GIORNI
30DIAS NºN.9
9 - 2011
Leitura espiritual
Leitura espiritual
E embrulha as palavras do Pai Nosso e as enfia em desordem entre
as palavras da Ave Maria
Enquanto já um véu lhe cai sobre as pálpebras,
O véu da noite sobre o seu olhar, sobre a sua voz.
Vi os maiores santos, diz Deus. E mesmo assim, eu lhes digo.
Nunca vi nada mais cômico e portanto mais belo no mundo
Que essa criança que adormece ao dizer a oração
(Que esse serzinho que adormece confiante)
E que mistura Pai Nosso e Ave Maria.
Nada é mais belo, nisso até
A Santa Virgem concorda comigo.
Nessa questão.
E posso bem dizer que é o único ponto em que concordamos.
Porque geralmente temos opiniões contrárias.
Porque ela é pela misericórdia.
E eu, é preciso realmente que eu seja pela justiça.
Da mesma forma, diz Deus, entendo o meu filho. O meu filho o disse e repetiu.
(Porque é preciso entender ao pé da letra cada palavra do meu filho.)
Sinite parvulos. Deixai que venham.
Sinite parvulos venire ad me. Deixai que os pequeninos venham a mim.
As crianças pequenas.
Então lhe foram oferecidas algumas crianças para que lhes impusesse as mãos e rezasse.
Ora, os discípulos as repreendiam.
Mas Jesus disse a eles: Deixai os pequeninos, e não impedi que venham a mim:
talium est enim regnum coelorum. De fato, deles é o reino dos céus.
A eles, àqueles como eles pertence o reino dos céus.
E, depois de lhes ter imposto as mãos, foi-se embora.
30GIORNI
30DIAS NºN.9
9 - 2011
13
13
Leitura espiritual
Leitura espiritual
A oração dos adultos que,
por graça, tornaram-se crianças
As quinze promessas do Santo Rosário.
Entregues por Nossa Senhora ao beato Alain de la Roche
14
1.
A todos os que rezarem meu Rosário com devoção,
prometo minha proteção especial e grandíssimas graças.
2.
Aquele que perseverar na oração de meu Rosário receberá uma graça insigne.
3.
O Rosário será uma defesa poderosíssima contra o inferno;
destruirá os vícios, libertará do pecado, dissipará as heresias.
4.
O Rosário fará florescerem as virtudes e as boas obras, e obterá para as almas a mais
abundante misericórdia divina; fará que nos corações o amor ao mundo seja
substituído pelo amor a Deus, elevando-os ao desejo dos bens celestes e eternos.
Quantas almas se santificarão por esse meio!
5.
Quem se confia a mim por meio do Rosário não perecerá.
6.
Quem rezar meu Rosário com devoção, meditando seus mistérios,
não será oprimido pela desgraça. Pecador, se converterá; justo, crescerá em graças
e se tornará digno da vida eterna.
7.
Os verdadeiros devotos de meu Rosário não morrerão sem os Sacramentos da Igreja.
8.
Aqueles que rezam meu Rosário encontrarão durante sua vida e em sua morte a luz
de Deus e a plenitude de suas graças, e participarão dos méritos dos bem-aventurados.
30DIAS Nº 9
- 2011
Leitura espiritual
Leitura espiritual
Nossa Senhora
da Ternura,
final do século XVI,
Moscou
9. Libertarei muito prontamente do purgatório as almas devotadas a meu Rosário.
10. Os verdadeiros filhos de meu Rosário gozarão de uma grande glória no céu.
11. O que pedirem por meio de meu Rosário, obterão.
12. Aqueles que difundirem meu Rosário serão socorridos por mim em todas
as suas necessidades.
13. Obtive de meu Filho que todos os membros da Irmandade do Rosário tenham
por irmãos, durante a vida e na hora da morte, os santos do céu.
14. Aqueles que rezam fielmente meu Rosário são todos meus filhos amantíssimos,
irmãos e irmãs de Jesus Cristo.
15. A devoção a meu Rosário é um grande sinal de predestinação.
30DIAS Nº 9
- 2011
15
Apresentação de Jesus no Templo,
final do século XVI, região de Vologda; na página ao lado,
O batismo de Jesus, segunda metade do século XVII, Pskov
segue da p. 9
CLARISSAS DE CASTROJERIZ
Burgos, Espanha
O canto gregoriano foi feito nos mosteiros
Burgos, 31 de julho de 2011
Caros amigos de 30Días, continuamos a receber todos os meses a revista e é nosso dever agradecer-lhes
por este belíssimo presente que este mês, com o CD
de cantos gregorianos, foi duplo. Agradecemos-lhes
infinitamente, porque gostamos muito deste canto
que nos ajuda na nossa vocação contemplativa.
16
30DIAS Nº 9 - 2011
Há muito tempo, no nosso convento, cantamos esses cantos lindos e apropriados, porque, como dizia o
nosso professor de canto, “o canto gregoriano foi feito nos mosteiros e para os mosteiros”. Por isso, esse
livrinho que vocês publicaram com os trechos escolhidos e mais populares, nos é muito útil para continuar a
cantá-los e a difundi-los entre as pessoas que vêm participar das nossas celebrações.
Que Deus os recompense por tudo. Continuem a
fazer este trabalho maravilhoso que é esta publicação.
Com muita gratidão e oração para todos vocês,
as clarissas de Castrojeriz
Cartas dos mosteiros
CONVENTO SANTA TERESA
Rio de Janeiro, Brasil
A nossa oração entre as vicissitudes
da história do Brasil
Rio de Janeiro, 3 de agosto de 2011
Caríssimo senador Giulio Andreotti,
Pax Chisti!
Vimos através desta mensagem agradecer-lhe o envio
mensal da revista 30Dias, que por sua abordagem nos
insere nos acontecimentos mais candentes da Igreja e
do mundo, motivando-nos em nossa vocação contemplativa a orar sem cessar.
Somos a comunidade de Irmãs Carmelitas do Convento de Santa Teresa do Rio de Janeiro, o primeiro
Carmelo Descalço feminino fundado em terras brasileiras, em 1750 pela jovem, oriunda de nossa própria
cidade, Jacinta Rodrigues Aires.
Através de todas as vicissitudes da história do Brasil e
da Igreja, nosso mosteiro jamais deixou que se extinguisse a chama da oração e do louvor perene, e, nesta
prece ininterrupta, todas as suas intenções, bem como
desta benemérita revista, estão perenemente incluídas.
Com nossa gratidão fraterna e orante por todas as
vossas intenções,
irmãs Carmelitas
do Convento Santa Teresa
Cartas dos mosteiros
MOSTEIRO NUESTRA SEÑORA DE LA CONSOLACIÓN
Calabazanos, Espanha
O gregoriano é um bom meio para
transmitir a fé
Calabazanos, 4 de agosto de 2011
Prezado senhor Andreotti,
paz e bem.
Nós lhe agradecemos pelo envio do maravilhoso CD
de cantos gregorianos assim como da revista 30Días
com a atualidade sobre a Igreja e o mundo. Na nossa
comunidade conservamos o canto gregoriano porque
acreditamos que seja um bom meio para transmitir a
fé como sempre fez a Santa Igreja.
Unimo-nos a todos os que rezam pelo Papa, em
particular os jovens que logo participarão ao encontro
com sua santidade Bento XVI em Madri, para que
aquelas jornadas, que desde já confiamos à Virgem
Maria, nossa Mãe, sejam para todos jornadas de renovação espiritual.
Pedimos ao Senhor para que continue a abençoar
o seu trabalho e o de todos os seus colaboradores.
Agradecemos muito pela sua revista.
Em união de oração,
irmã Maria Clara de SF, OSC,
e as irmãs clarissas de Calabazanos
CARMELITAS DO MOSTEIRO DO CORAÇÃO IMACULADO
Naga City, Filipinas
escancara muitas janelas sobre diversas realidades da
Igreja, ativa e viva: em algumas áreas perseguida e
atualmente em graves dificuldades, em outras florescente e próspera sempre sob a guia de Deus na Sua
grande sabedoria. Todos os números são plenos de
ótimas leituras que alimentam o nosso interesse e a
nossa solicitude pela Igreja, e nos levam a rezar ainda
mais por aquelas realidades onde os nossos irmãos e
as nossas irmãs têm uma grande necessidade de serem iluminados, evangelizados e professar livremente
a sua fé. Além disso, as leituras nos ajudam a entender
melhor a variedade das condições nas quais a Igreja
Católica se encontra a viver, às vezes na concórdia, às
vezes em situações delicadas, outras ainda em circunstâncias complicadas e árduas. A sua linda revista ajuda-nos a apreciar a fé, a qual nós recebemos em dom
no nosso país, tão preciosa que em outros lugares há
quem morra por ela, enquanto nós corremos, de várias maneiras, o risco de considerá-la um dado de fato.
Enfim, a sua amada revista faz-nos apreciar muitíssimo os ensinamentos do Magistério, os escritos de Papa Bento XVI, as Igrejas Orientais, a interpretação de
trechos da Escritura e dos símbolos da arte religiosa,
tão ricos de significados para a nossa fé e o coração e
o espírito dos homens.
Obrigada do mais profundo do coração pelo envio
constante e regular de um exemplar todos os meses:
todas as vezes faz com que olhemos com maravilha à
grandeza, ao esplendor e à força da nossa Igreja e do
bom Deus que a sustenta.
O senhor e os seus colaboradores são grandes
evangelizadores e divulgadores.
Rezamos para que a sua revista e as atividades às quais
vocês se dedicam continuem a prosperar e a ter frutos,
30Giorni ajuda-nos a entender a Igreja
Naga City, 4 de agosto de 2011
Prezado diretor Andreotti
Deo gratias!
Ficamos muito contentes com o livrinho The
chants of Tradition enviado com o último exemplar da sua maravilhosa revista! Vocês não imaginam com qual entusiasmo nós iremos estudar os
cantos gregorianos para a nossa liturgia. É um presente enviado do céu! Do mesmo modo deixa-nos
surpresas a sua generosidade em nos fazer chegar,
todos os meses, a sua maravilhosa revista, uma leitura preciosíssima para nós aqui no Carmelo, que nos
18
30DIAS Nº 9 - 2011
as carmelitas do Carmelo
do Coração Imaculado
A Transfiguração, metade do século XVI, Pskov
CLARISSAS DO MOSTEIRO DE SANTA CLARA
Bolinao, Filipinas
Rezamos para que os cantos da Tradição
sejam apreciados por muitos
Bolinao, 15 de agosto de 2011
Prezado senhor Andreotti e colaboradores de 30Giorni,
pax et bonum!
Envio por meio desta a nossa gratidão pelo livrinho
e o CD The chants of Tradition, um presente belíssi-
mo para a nossa comunidade, porque já cantamos alguns destes cantos latinos.
Vocês realmente fazem uma grande obra na Igreja
ao conservar as suas tradições. Esperamos e rezamos
para que a beleza dos cantos tradicionais da Igreja sejam apreciados por muitos.
Estejam certos das nossas incessantes orações pelo
sucesso da sua missão.
Deus abençoe vocês e lhes conceda sempre maiores energias.
Em São Francisco e Santa Clara,
as clarissas de Bolinao
30DIAS Nº 9 - 2011
19
A Ressurreição, detalhe, final do século XVII, bacia do Volga
CARMELITAS DO MOSTEIRO MARÍA MADRE DE LA IGLESIA
La Vega, República Dominicana
Obrigada por Quien reza se salva
La Vega, 23 de agosto de 2011
Senhor Andreotti
estimadíssimo em Jesus Cristo,
a graça, a paz e o amor de Deus nosso Pai e a proteção da Santíssima Virgem nossa Mãe estejam sempre
com o senhor e com todos os que trabalham para a
publicação de 30Días.
Escrevo-lhe para agradecer de coração pelo importante trabalho de evangelização e de informação que
vocês realizam com tanto amor e dedicação, e pela sua
delicadeza em enviar-nos mensalmente a revista
30Días, que recebemos com grande prazer. Agradeço
também, em particular, pelo livrinho com o CD, com
as composições musicais em latim, e pelos quinze
20
30DIAS Nº 9 - 2011
exemplares de Quien reza se salva que recebemos recentemente. O senhor e a Virgem Maria Santíssima,
nossa Mãe, vos recompensem como apenas Eles sabem fazer.
Temos a alegria de comunicar-lhes que no próximo
dia 21 de novembro, se Deus quiser, celebraremos as
“bodas de ouro” da nossa irmã María de los Ángeles
Márquez. Na ocasião desta cerimônia, todos os parentes da nossa irmã estarão no mosteiro, provenientes
de vários países, entre os quais muitos jovens, e alguns
deles falam apenas inglês. Por este motivo, contando
com a sua generosidade, solicitamos se possível, quinze exemplares do livrinho Quien reza se salva em inglês, para dá-los como lembrança, na esperança de
que seja útil aos seus jovens corações.
Renovando-lhe mais uma vez a nossa gratidão e
garantindo-lhe a nossa incessante oração, cordialmente em Jesus e Maria,
a prioresa irmã María Cecilia Morini, OC, e comunidade
Correio do Diretor
DIOCESE DE GOYA
Goya, Argentina
Obrigado pela meditação sobre a Santa
Páscoa, bela e útil
Goya, 25 de agosto de 2011
Senhor diretor,
agradeço-lhe pelo envio regular e gratuito da revista
30Giorni nella Chiesa e nel mondo, dirigida pelo
senhor.
ARQUIDIOCESE DE GAGNOA
Gagnoa, Costa do Marfim
Qui prie sauve son âme
para os catecúmenos
e os estudantes
Gagnoa, 24 de agosto de 2011
Senhor diretor de 30Jours,
agradeço-lhe pelas edições de sua revista de informação sobre a vida da Igreja que nos envia regularmente.
Já faz alguns anos que lhe expresso minha gratidão pelo livrinho Qui prie sauve son âme, que
Com a presente, desejo pedir-lhe o envio, também gratuito, vistas as humildes condições de nossa diocese, de alguns exemplares do suplemento ao
n. 1/2 de 2011 de 30Giorni, intitulado “El Hijo
no puede hacer nada por su cuenta (Jn 5,19)”,
meditação sobre a Santa Páscoa de padre Giacomo
Tantardini.
É bom que outros irmãos possam tirar benefício
dela, já que se trata de uma meditação bela e útil.
Ofereço-lhe minha bênção e incentivo.
Ricardo Faifer, bispo de Goya
foi muito apreciado pelos nossos fiéis. Este ano
será inserido nos cursos de formação dos nossos
catecúmenos e nas escolas católicas.
Acabo de receber dois outros livrinhos, o primeiro intitulado Les chants de la Tradition, e o
segundo, “Le Fils ne peut rien faire de lui-même” (Jn 5,19). Méditation sur Pâques.
Posso-lhe pedir que envie mais exemplares
desses livrinhos para os nossos padres e os nossos fiéis, se estiverem ainda disponíveis?
Agradecendo-lhe muito por sua generosidade,
nós lhe asseguramos, senhor diretor, as nossas
orações para que 30Jours viva.
Joseph Aké,
arcebispo metropolita de Gagnoa
A Mãe de Deus
e João Batista, final
do século XV-início
do século XVI, Rostov
Correio do Diretor
Somos gratos pela querida revista 30Giorni. Nós lhe agradecemos pelo bem que o senhor oferece para o nosso crescimento espiOs cantos da Tradição para
ritual. A nossa oração, tão pequeos seminaristas
na e pobre, será oferecida a Deus
pelo senhor e por sua missão em
El Alto, 21 de agosto de 2011
favor do homem que ajudamos.
Na paróquia, colaboro na preEstimado senhor Andreotti,
paração para os sacramentos de
receba uma cordial saudação rejovens e adultos, e escrevo-lhe
pleta das bênçãos de Deus nosso
para perguntar-lhe se é possível
Pai, desta diocese de El Alto, na
receber trinta exemplares em inBolívia.
glês e trinta em italiano de Chi
Agradeço-lhe pela gentileza que
prega si salva para as pessoas
tem para comigo ao me enviar reidosas que participam da adoragularmente a revista 30Días, que
O Arcanjo Miguel, final
ção eucarística diária.
me ajuda a aprofundar o meu amor
do século XV-início do século XVI, Rostov
Agradeço de coração ao sepela Igreja universal e me estimula
nhor e a seus colaboradores fiéis
à unidade e à comunhão com ela.
em seu apostolado.
Ajuda-me também a ampliar
Que Nossa Senhora os mantenha unidos sob suas
meu horizonte eclesial e a conhecer a vida das Igrejas
particulares e os acontecimentos ligados à Santa Sé. asas maternais.
Grato,
De modo particular, obrigado pelo CD com os cantos
da Tradição, que será indubitavelmente uma ajuda paGiuseppe Spinato
ra os seminaristas do seminário diocesano “Jesús
Maestro”, que acaba de celebrar, com grande gratidão
a Deus, o seu décimo sétimo aniversário de fundação.
DIOCESE DE HUARI
Parabéns pelo aspecto gráfico da revista, que tor- Lima, Peru
na fácil a sua leitura.
Ao renovar-lhe meus cumprimentos, asseguro-lhe Aguardo a chegada de 30Giorni
uma lembrança fraternal na oração.
Lima, 12 de setembro de 2011
DIOCESE DE EL ALTO
El Alto, Bolívia
Jesús Juárez Párraga, S.D.B.,
bispo de El Alto
PARÓQUIA NOSSA SENHORA DO MONTE
CARMELO
Montreal, Quebec, Canadá
Chi prega si salva para uma
paróquia de Montreal
Montreal,
12 de setembro de 2011
Estimado senador Giulio Andreotti,
saúde e paz, no Senhor Jesus, sempre presente em meio ao seu povo.
22
30DIAS Nº 9 - 2011
O apóstolo Pedro, final do século XVinício do século XVI, Rostov
Estimado senhor Andreotti,
sou dom Dante Frasnelli Tarter,
bispo emérito da diocese de Huari,
na parte andina do Peru. Há dez
anos entreguei a diocese ao meu
sucessor, depois de ter cumprido,
por 34 anos, o meu humilde serviço de pastor dessa jurisdição. Agora me encontro em Lima, para algumas incumbências de caráter
particular e pessoal com alguns
amigos e conhecidos.
Recebi sua prestigiosa revista
até abril. Depois, como todos os
meses, esperei os números seguintes, mas até agora não tive a
ASSESSORIA DE IMPRENSA DA IGREJA CLANDESTINA DE XANGAI
Xangai, República Popular de China
De Xangai orações por 30Giorni
Recebemos da assessoria de imprensa
da Igreja clandestina de Xangai, em nome
do bispo José Fan Zhong-Liang, o pedido
de alguns exemplares de 30Giorni em inglês para os padres de Xangai. Publicamos o e-mail de 8 de setembro.
gregorianos e também a meditação sobre a
Santa Páscoa.
Em Nosso Senhor Jesus Cristo, nós rezamos pelo senhor e por todos os colaboradores de 30Giorni em nossa missa diária.
Assessoria de imprensa
da Igreja clandestina de Xangai
Xangai, 8 de setembro de 2011
Queremos agradecer-lhe pelo envio gratuito
dos exemplares da versão em inglês de
30Giorni e pedimos a cortesia de nos enviarem alguns exemplares do CD de cantos
Bento XVI com fiéis chineses na praça de São Pedro,
em 5 de maio de 2005
sorte de recebê-los. Toda vez que chegava a revista,
eu lia com muita atenção as notícias relativas à Igreja
e também as outras: os artigos são de grande profundidade, demonstram conhecimento dos temas e favorecem o incremento da cultura religiosa; eram úteis
para a minha vida espiritual.
Peço-lhe a possibilidade de continuar a beneficiar-me com seu
gesto fraternal e muito bem recebido, por meio da revista, dado que
pela idade não estou acostumado a
usar a internet e nem desejo fazêlo, ao passo que me interessa a imprensa escrita.
Com minhas orações e bênçãos
pelo senhor e por todos aqueles
que colaboram para a publicação
da revista, cumprimento-o esperando uma resposta positiva para a
minha solicitação.
Dante Frasnelli Tarter,
bispo emérito de Huari
DIOCESE DE SINCELEJO
Sincelejo, Colômbia
O apóstolo Paulo, final
do século XV-início do século XVI, Rostov
Um exemplar do CD
para cada sacerdote
Sincelejo, 26 de setembro de 2011
Caros amigos da revista 30Días,
minhas cordiais saudações.
Com a revista deste mês, recebi o
livrinho e o CD dos cantos gregorianos. Muito obrigado. Darei um
exemplar de ambos a cada sacerdote, na próxima reunião do clero.
Obrigado pelo bem que nos fazem. Que o Senhor os abençoe.
Cordialmente,
Nel Beltrán Santamaría,
bispo de Sincelejo
30DIAS Nº 9 - 2011
23
Igreja
“A Igreja na China não mudou
uma vírgula da Tradição Apostólica
que lhe foi consignada”
Entrevista com João Batista Li Suguang,
bispo coadjutor de Nanchang
por Gianni Valente
o 25º Encontro Internacional de Oração pela Paz, organizado em Munique pela
Comunidade de Santo Egídio, ele
também estava presente: João Batista Li Suguang, 46 anos, bispo
católico na China Popular com o
N
24
30DIAS Nº 9 - 2011
consenso do Sucessor de Pedro e
também dos funcionários governamentais de Pequim. Tão jovem e
tímido, que parece quase perdido,
entre os vários líderes religiosos
convocados à capital bávara de 11
a 13 de setembro pela trama de
amizades e proximidades sem
fronteiras que a comunidade fundada por Andrea Riccardi continua
a tecer no mundo inteiro.
No entanto, quando tomou a
palavra num dos 35 painéis que
pontuavam a manifestação hos-
As homilias, as encíclicas, os discursos
do Papa são fotocopiados e enviados
a todas as paróquias. Assim,
todos podem ler e seguir o Papa.
Essa é realmente a maneira mais
simples e concreta possível de viver
a comunhão com o sucessor
de Pedro, que todos podem ver.
E ainda rezamos por ele.
Todos os bispos rezam por ele
À esquerda, fiéis chineses em oração
numa igreja de Pequim; ao lado,
o batismo de uma jovem numa igreja
da cidade de Hangzhou,
na província chinesa de Zhejiang
pedada pela arquidiocese de Munique, a voz pareceu decidida e
as ideias, claras. Seu discurso foi
pontilhado por alusões e referências à complexa e irresoluta trama de relações trilaterais que há
séculos envolvem o Ocidente, a
Igreja Católica e o ex-Império
Celestial. Como o provérbio chinês a que dom Li recorreu para
lembrar a todos que nos tempos
fluidos da globalização até “uma
longa distância pode-se tornar
proximidade”. Ou como a comprovação clara do fato – experimentado em sua experiência de
pastor de almas – de que “a Igreja
não perde a sua universalidade
respeitando a cultura chinesa e
considerando as circunstâncias
reais na China”.
O senhor, para um bispo, é
bastante jovem.
J O Ã O B AT I S TA L I S U GUANG: Nasci em 1965, num
povoado na província de Shanxi,
onde a população, de cerca de
dois mil habitantes, compartilhava uma fé católica muito forte. Eu
cresci assim, no meio de muitas
pessoas que amavam a Jesus.
Mas aqueles eram anos difíceis. Era bem a época da
Revolução Cultural.
No meu povoado, não houve
muitos problemas. Havia dois
padres que continuaram a administrar os sacramentos. Hoje,
são quatro ou cinco. Nos arredores, há nada menos que trinta e
oito sacerdotes. E também muitas freiras.
O que o ajudou a reconhecer a vocação ao sacerdócio?
Foi muito importante o que vi
na minha família. Eu tinha um tio
sacerdote, e, quando era muito
pequeno, minha mãe e meu pai
me mostravam como rezar usando as orações da manhã e da noite. Eu era o caçula da família, e
meus irmãos sempre me diziam
que quando crescesse poderia me
tornar padre. Minha mãe, sobretudo, teve grande influência sobre
mim, com sua vida espiritual.
Mais tarde, um sacerdote que encontrei no seminário diocesano
de Pequim também teve um papel
importante, como meu orientador espiritual. Estive ali de 1987 a
1992. Nossos professores eram
padres muito idosos, e estuda- ¬
30DIAS Nº 9 - 2011
25
Igreja
toca o sino, as pessoas saem das
casas e você as vê caminharem
juntas pelas ruas, indo para a igreja. Até mesmo as missas diárias,
de manhã cedo, são muito frequentadas.
Como o senhor pode descrever o per fil pastoral de
sua diocese?
Em nossa província há 120 mil
católicos e menos de cinquenta
sacerdotes. Assim, só as paróquias maiores têm um sacerdote
fixo como pastor da comunidade.
Os outros circulam de povoado
em povoado, indo de uma paróquia a outra para administrar os
sacramentos. A coisa boa é que
muitos deles são jovens; em comparação com eles eu sou o “velho”... A idade média dos sacerdotes na minha diocese é 36
anos. Do ponto de vista econô- ¬
Mesmo com os nossos limites
e com todas as nossas faltas e
fragilidades, nós fazemos parte,
somos do número da Santa Igreja
universal, compartilhamos com
todos os nossos irmãos em qualquer
parte do mundo a fidelidade à
mesma Tradição Apostólica.
Não queremos mudar nada
mos teologia usando sobretudo
velhos manuais de antes do Concílio Vaticano II.
Em que mudou a condição
da Igreja em relação aos anos
da sua infância?
Quando eu era menino, o país
ainda estava por viver a época da
abertura. Nos vilarejos, era a devoção dos cristãos que preservava
as práticas da vida da fé. Hoje há
mais possibilidades de desenvolver a obra pastoral. No domingo,
as igrejas ficam cheias, certamente mais que em muitas paróquias
da Europa. Nos vilarejos, quando
26
30DIAS Nº 9 - 2011
No alto,
uma loja de artigos
religiosos em
Pequim; à direita,
fiéis à saída
da Catedral
da Imaculada
Conceição,
em Pequim
ENTREVISTA COM O BISPO COADJUTOR DE NANCHANG
O tesouro e os vasos de barro
bispo coadjutor de Nanchang, entrevistado nestas dos slogans sobre a pretensa “independência” da Igreja
páginas, originalmente se chamava João Batista Li da China, zeraram novamente as perspectivas de soluShuguang. Seu nome chinês compunha-se de dois ideo- ção negociada sobre a questão das nomeações dos
gramas:书 [shu], que significa livro, e 光 [guang], que sig- bispos, que sempre representou a ferida aberta nas renifica luz. Quando se tornou sacerdote, João Batista optou lações entre a China Popular e o Vaticano. Pela primeira
por modificar o primeiro dos dois ideogramas, transforman- vez desde 1958 – ano em que começaram na China as
do-o de 书 [shu] em 稣 [su]. Uma mudança leve, quase ordenações ilegítimas impostas por Pequim –, a excoimperceptível para quem não fala mandarim, realizada munhão latae sententiae de dois dos bispos ordenados
ilegitimamente foi publicamente concom a única finalidade de inserir em seu
firmada em pronunciamentos oficiais
nome o mesmo ideograma que aparece
do Vaticano.
no nome de Jesus ( 耶穌 ,Ye-su). De
O próprio grupo de novos “bispos
modo que hoje o sobrenome do bispo
jovens” de que faz parte Li Suguang
pode-se traduzir como “luz de Jesus”.
(que em 14 de julho participou da orNa China de hoje, a afeição a Jedenação ilegítima de José Huang Bisus daqueles que carregam o Seu nongzhuang como bispo de Shantou) foi
me pode passar e ser expressa tamlembrado na enésima fase negativa
bém por meio de detalhes discretos,
das relações entre a China e o Vaticaque devem ser captados no ar, por inno. Esses homens da faixa dos quaterior e implícita concórdia. Analogarenta anos que se encontram na lidemente, pode ser lido nas entrelinhas
rança da Igreja da China, saltando
também o sentido de diversas passauma geração, são tachados como
gens das respostas que o bispo de
rendidos ao dirigismo da política reliNanchang fornece nestas páginas.
giosa governamental. Voltam a ser alComo aquela em que faz votos de que
vo de desconfiança e suspeita de pouo bispo de Roma tenha em mente “a sica fidelidade, como nas décadas pastuação social concreta em que vive a
sadas os bispos que de algum modo
Igreja na China”. Ou aquela outra, em
aceitaram submeter-se ao dirigismo
que indica como sinal e fundamento
do regime no campo religioso. Inclusida comunhão com o sucessor de Peve os grandes bispos-testemunhas,
dro e com a Igreja universal a unidade
como Antônio Li Duan e Matias Duan
em torno dos mesmos sacramentos e
Yinmin, que enfrentaram perseguidas mesmas orações, na fidelidade à João Batista Li Suguang,
ções e privações para seguir até o fim
mesma Tradição Apostólica.
no 25º Encontro Internacional
sua vocação sacerdotal nos anos da
João Batista Li Suguang foi orde- de Oração pela Paz, organizado
Revolução Cultural.
nado bispo em 31 de outubro de em Munique pela Comunidade
Em relação à de seus antecesso2010, com a aprovação da Santa Sé de Santo Egídio,
res, a nova geração de bispos parece
e o reconhecimento das autoridades em setembro passado
para muitos observadores mais frágil
chinesas. Na liturgia de consagração,
além dos três bispos consagrantes, estavam presentes e tímida. Registram-se, tanto na esfera “oficial” quanto
oitenta sacerdotes, inclusive alguns padres ligados à na chamada “clandestina”, casos de carreirismo cleriesfera eclesial chamada “clandestina”. Depois da cele- cal, com jovens padres sempre em busca de alianças
bração, o novo bispo expressou publicamente sua in- eclesiásticas e políticas para alcançar o episcopado.
A situação complexa aconselha prudência e pondetenção de promover a reconciliação entre as comunidades católicas registradas junto aos organismos estatais rada avaliação de todos os fatores em jogo em cada caso. Os próprios eventuais episódios de oportunismo
e as que escapam à política religiosa governamental.
Antes de João Batista Li Suguang, apenas em 2010, clerical em chave chinesa não podem ser separados do
outros oito jovens bispos chineses foram ordenados ofuscamento da natureza própria do ministério episcocom o consenso do Papa e o paralelo reconhecimento pal que se registra também em outros países. Não é
oficial do governo. Naquela fase, a história sempre atri- certamente uma produção exclusiva made in China a
bulada das relações sino-vaticanas parecia ainda poder concepção errônea que interpreta as nomeações dos
bispos e suas transferências de uma sede para outra
caminhar para desdobramentos promissores.
Em comparação com aquele momento, o cenário como prêmios e honrarias concedidos a funcionários de
atual parece de novo voltar-se para o pior. Entre 20 de uma burocracia universal que se distinguem pela capanovembro de 2010 e 14 de julho de 2011, três novas or- cidade de cultivar relações de poder.
denações episcopais sem o consenso da Santa Sé, imG. V.
postas pelos organismos patrióticos como aplicação
O
30DIAS Nº 9 - 2011
27
Igreja
mico, a diocese possui alguns edifícios em Xangai, que, com suas
rendas, contribuem para financiar
as atividades corriqueiras.
O que mais facilita o anúncio cristão?
O mais importante é a presença de leigos que anunciam e testemunham o Evangelho nos lugares e nas circunstâncias em que
todos vivem. E também são muito importantes as obras de caridade. Em meu país, todas as comunidades religiosas são chamadas a ajudar e apoiar um grupo
étnico minoritário. Nós, católicos, também fazemos isso, assistindo algumas comunidades, que
são de fé cristã.
Há muitos batismos de
pessoas que não vêm de famílias cristãs?
São quase três mil por ano.
Dois terços são jovens, um terço é
formado por adultos e idosos. A
maior parte vem dos vilarejos do
campo. Pedem o batismo sobretudo porque ficam impressionados com o testemunho de seus colegas e amigos cristãos, ou porque ficam fascinados vendo os
cristãos cuidarem dos pobres e de
quem passa por dificuldades.
Que fontes alimentam a vida ordinária e cotidiana dos
fiéis?
A missa é o coração de tudo,
ao lado da oração e da participação das atividades propostas pela
paróquia.
Algum santo é objeto de
especial devoção?
Em nossa região é muito forte
a devoção a Santo Antônio de Pádua e à pequena Teresa do Menino Jesus. E ainda, claro, a Virgem
Maria. Todos têm Maria Santíssima como padroeira de sua vida
espiritual.
Com que r ealidades sociais e condições existenciais
vocês se deparam no seu trabalho pastoral?
Pelo rápido desenvolvimento da
economia chinesa, muitas pessoas
vivem sob pressão. Elas precisam
realmente de alguém que as ajude.
Alguém que lhes dê conforto e consolação, que as sustente. Muitas se
dão conta de que não conseguem
se virar sozinhas, sem uma ajuda. E
isso amplia o campo em que a Igre28
30DIAS Nº 9 - 2011
Santa missa de Páscoa na igreja de Santa Teresa do Menino Jesus, em Xangai
ja é chamada a atuar e a mostrar o
amor de Cristo por cada um. Não
podemos permanecer indiferentes
diante dessas condições reais. E é
preciso favorecer uma obra pastoral que seja um apoio real para os
nossos concidadãos que estão enfrentando problemas e dificuldades
em suas vidas.
O senhor leu a carta que
Bento XVI escreveu para os
católicos chineses em 2007?
E quais são, a seu ver, os conteúdos mais importantes desse documento?
Do meu ponto de vista, o próprio fato de o Papa ter escrito
uma carta específica aos católicos
chineses foi um grande estímulo
para a Igreja na China. De modo
particular, me impressionaram as
coisas que o Papa sugeriu aos sacerdotes.
O senhor foi ordenado bispo em 2010 com o consenso
da Sé Apostólica. Como vive
concretamente a sua comunhão com o Bispo de Roma?
E como a expressa, em seu
trabalho pastoral cotidiano?
Não só eu, mas também os outros bispos da China lemos sempre e
difundimos não somente a carta do
Papa aos católicos chineses de
2007, mas também todos os seus
discursos, as homilias, as encíclicas.
Tiramos cópias e os enviamos a todos os padres e a todas as paróquias.
Assim, todos podem ler e seguir o
Papa em seu magistério ordinário, e
podem assim encontrar referências
para a sua vida nas situações que estão vivendo. Dessa forma, compartilhamos a fé do sucessor de Pedro, e
essa é realmente a maneira mais
simples e concreta possível de viver
a comunhão com o Papa, que todos
podem ver. E ainda rezamos por ele.
Todos os bispos rezam por ele. Eu
rezo por ele, e rezo também por
mim, pedindo que o Senhor me ajude a ser um bom bispo.
Como o senhor vê a abordagem da Santa Sé à questão
chinesa? Se pudesse falar
com o Papa, o que lhe diria
ENTREVISTA COM O BISPO COADJUTOR DE NANCHANG
para explicar melhor a condição real da Igreja na China?
Seria uma grande dádiva se o
Papa pudesse entender a China,
ou seja, a cultura e a situação social concreta em que vive a Igreja
na China. Há muito para saber,
muito para compreender. Às vezes alguém passa uma semana na
China e depois volta para casa e
começa a se comportar como se
soubesse tudo da vida dos católicos chineses. No entanto, as situações complexas devem ser reconhecidas e respeitadas pelo que
são. Eu espero realmente que as
relações entre a China e o Vaticano possam retomar a direção certa. Seria uma coisa boa para nós e
para toda a Igreja.
Se o senhor quisesse sugerir
também ao Papa um indício de
como Deus preservou e continua a alimentar a fé dos católicos chineses, para mostrar como a Igreja da China compartilha a mesma fé com a Igreja de
Roma, o que lhe diria?
nunca mudou uma vírgula da Tradição Apostólica que lhe foi consignada. Não mudamos uma vírgula da doutrina que diz respeito à
fé e à grande disciplina da Igreja.
Estamos unidos em tor no dos
mesmos sacramentos, rezamos as
mesmas orações, na continuidade
da sucessão apostólica. Essa é a
base da autêntica comunhão.
Mesmo com os nossos limites e
com todas as nossas faltas e fragilidades, nós fazemos parte, somos
do número da Santa Igreja universal, compartilhamos com todos os
nossos irmãos em qualquer parte
do mundo a fidelidade à mesma
Tradição Apostólica. Não queremos mudar nada.
Alguns observadores, porém, afirmam que existe
quem ainda procura construir uma nova Igreja independente e autossuficiente,
diferente da Igreja Católica
Apostólica Romana.
Esse é o pensamento de outras pessoas. São opiniões de ou-
tros, não nossas. Nenhuma Igreja é autossuficiente, nenhuma
Igreja pode viver sem o dom do
Espírito de Cristo. Eu repito, hoje
na China nenhum padre e nenhum bispo tem intenção de mudar a doutrina da Igreja. Também
na China, o amor de Cristo se
manifesta como acolhida e compreensão. No mundo de hoje,
apesar dos processos da globalização, há ainda muitas diferenças. Por exemplo, entre a China
e a Europa é difícil a compreensão. É preciso encontrar pontos
de contato, e o diálogo, dia após
dia, é o único caminho para
aproximar mundos tão diferentes. Assim, espero que também a
Igreja universal acolha e reconheça a Igreja na China pelo que
realmente é. Sem isolá-la e maltratá-la, para que cresça a comunhão como sinal do amor de
Cristo. Como bispo, espero apenas que o espírito do amor de
Cristo se difunda e brilhe também em toda a China.
q
Nenhuma Igreja é autossuficiente,
nenhuma Igreja pode viver sem
o dom do Espírito de Cristo.
Espero que também a Igreja
universal acolha e reconheça a Igreja
na China pelo que realmente é.
Sem isolá-la e maltratá-la,
para que cresça a comunhão como
sinal do amor de Cristo
Acima, um santinho com a imagem
do Papa Bento XVI entre as páginas
de um pequeno missal numa igreja
de Pequim; à direita, o coral
da Catedral da Imaculada Conceição,
em Pequim
A pergunta fundamental é como os bispos chineses também
vivem e expressam a sua fé em
união com o Sucessor de Pedro e
com toda a Igreja universal.
Bem, eu creio que desde o início
até agora a nossa Igreja na China
C A PA
Quem vive
na graça
é santo
A viagem apostólica do Papa Bento XVI
à Alemanha 22-25 de setembro de 2011
30
30DIAS Nº 9
- 2011
PITADAS DE CATECISMO
O Senhor ressuscitado: perdão e novo início
“Neste tempo, o Senhor ressuscitado oferece-nos um refúgio,
um lugar de luz, de esperança e confiança, de paz e segurança.
Onde a secura e a morte ameaçam os ramos, aí, em Cristo,
há futuro, vida e alegria; aí há sempre perdão e novo início,
transformação ao entrar no seu amor”.
Santa Missa
Homilia
Olympiastadion de Berlim
Quinta-feira, 22 de setembro de 2011
30DIAS Nº 9
- 2011
31
C A PA
Na oração de Jesus, a nossa unidade
“'Não rogo só por eles, mas também por aqueles que hão de crer em
Mim, por meio da sua palavra' (Jo17, 20): assim disse Jesus ao Pai,
no Cenáculo. Intercede pelas futuras gerações de crentes.
Estende o olhar, mais além do Cenáculo, para o futuro. Rezou também
por nós. E reza pela nossa unidade. Esta oração de Jesus não é algo
simplesmente do passado. Ele está sempre diante do Pai, intercedendo
por nós, e é assim que Ele, nesta hora, está no meio de nós e nos quer
atrair para dentro da sua oração. Na oração de Jesus, encontra-se o
lugar interior, mais profundo, da nossa unidade. Tornar-nos-emos um só,
se nos deixarmos atrair para dentro de tal oração”.
Celebração ecumênica
igreja do ex-convento dos Agostinianos de Erfurt
Sexta-feira, 23 de setembro de 2011
O amor materno de Maria
“'Nós sabemos que tudo concorre para o bem daqueles que amam a
Deus, daqueles que são chamados segundo o seu desígnio’ (Rm 8, 28):
ouvimo-lo há pouco na leitura, retirada da Carta aos Romanos.
Em Maria, Deus fez concorrer tudo para o bem, e não cessa de fazer
com que, por meio de Maria, o bem se espalhe ainda mais no mundo.
Da Cruz, do trono da graça e da redenção, Jesus deu aos homens como
Mãe a sua própria Mãe Maria. No momento do seu sacrifício pela
humanidade, Ele, de certo modo, torna Maria medianeira do fluxo
de graça que provém da Cruz. Junto da Cruz, Maria torna-se
companheira e protetora dos homens ao longo do caminho da sua vida.
‘Cuida, com amor materno, dos irmãos de seu Filho que, entre perigos
e angústias, caminham ainda na terra, até chegarem à pátria bemaventurada’ (Lumen gentium, 62), como o exprimiu o Concílio Vaticano
II. É verdade! Na vida, atravessamos vicissitudes várias, mas Maria
intercede por nós junto de seu Filho e nos ajuda a encontrar a força
do amor divino do Filho e a abrirmo-nos a ele”.
Vésperas marianas
Wallfahrtskapelle de Etzelsbach
Sexta-feira, 23 de setembro de 2011
30DIAS Nº 9
- 2011
33
C A PA
Quem vive na graça é santo
“Queridos amigos, o apóstolo São Paulo, em muitas das suas cartas,
não tem receio de designar por ‘santos’ os seus contemporâneos,
os membros das comunidades locais. Aqui se torna evidente que cada
batizado – ainda antes de poder realizar boas obras – é santificado
por Deus. No Batismo, o Senhor acende, por assim dizer, uma luz na
nossa vida, uma luz que o catecismo chama a graça santificante.
Quem conserva essa luz, quem vive na graça, é santo”.
Vigília de oração com os jovens
feira de Freiburg im Breisgau
Sábado, 24 de setembro de 2011
34
30DIAS Nº 9
- 2011
PITADAS DE CATECISMO
Nós somos santos, se deixarmos a Sua graça agir em nós
“Não há nenhum santo, à exceção da bem-aventurada Virgem Maria,
que não tenha conhecido também o pecado e que não tenha caído
alguma vez. Queridos amigos, Cristo não se interessa tanto de quantas
vezes vacilamos e caímos na vida, como sobretudo de quantas vezes
nós, com a Sua ajuda, nos erguemos. Não exige ações extraordinárias,
mas quer que a sua luz brilhe em vós. Não vos chama porque sois bons
e perfeitos, mas porque Ele é bom e quer tornar-vos seus amigos. Sim,
vós sois a luz do mundo, porque Jesus é a vossa luz. Sois cristãos – não
porque realizais coisas singulares e extraordinárias – mas porque Ele,
Cristo, é a vossa, a nossa vida. Vós sois santos, nós somos santos,
se deixarmos a Sua graça agir em nós”.
Vigília de oração com os jovens
feira de Freiburg im Breisgau
Sábado, 24 de setembro de 2011
Oriente Médio
Uma primavera
cheia de enigmas
por Gianni Valente
régoire III Laham, patriarca
de Antioquia dos Greco-melquitas, tem a sua residência
habitual no coração da antiga Damasco, a poucos metros do lugar onde São Paulo foi batizado por Ananias. O seu ponto de observação é
único para decifrar com olhos de bispo o que está acontecendo na Síria.
G
36
30DIAS Nº 9
- 2011
Por sua própria índole, Sua
Beatitude não é do tipo de ficar
tranquilo e calado diante das convulsões que abalam as vidas de
seus irmãos do Oriente Médio,
começando pelos cristãos. Já em
março passado convocara na sede do Patriarcado quinze embaixadores de nações ocidentais e
Acima, uma manifestação
contra o presidente sírio
Bashar Assad em Talbiseh,
na província de Homs, na Síria,
em 27 de maio de 2011; à direita,
uma manifestação a favor
do presidente sírio
no centro de Damasco
em 23 de agosto de 2011
O patriarca
de Antioquia
dos Greco-melquitas
Grégoire III Laham
por ocasião
do 25º Encontro
Internacional
de Oração pela Paz
organizado
em Munique
pela Comunidade
Santo Egídio em
setembro de 2011
O alarme pelo destino dos cristãos.
Os conflitos entre grupos de poder que
correm o risco de degenerar em guerra civil.
As oportunidades perdidas dos líderes árabes
e as intervenções interessadas das potências
ocidentais. Entrevista com Grégoire III Laham,
patriarca de Antioquia dos Greco-melquitas,
sobre todas as incógnitas que afligem
o Oriente Médio
árabes residentes em Damasco:
uma consulta aberta para para
discernir juntos a contribuição
mais previdente que a comunidade internacional poderia ter fornecido para a superação do conflito sírio, e evitar que degenerasse em guerra civil. Depois, em
abril, Grégoire reuniu notas e sugestões que nasceram daquele encontro em uma carta-documento,
que logo foi enviada a todos os
chefes de Estado da região.
30Dias encontrou o Patriarca
dos Greco-melquitas em Munique,
onde Grégoire III participava do
25º Encontro Internacional de
Oração pela Paz organizado na capital da Bavária pela Comunidade
de Santo Egídio.
Entre os chefes das Igrejas
cristãs do Oriente Médio parece crescer o alarme pelas possíveis consequências da chamada primavera árabe.
GRÉGOIRE III LAHAM: Por favor, evitemos confundir os problemas ligados às revoluções destes
últimos meses com os ligados às
relações entre cristãos e muçulmanos. O problema aberto com as revoluções é um cenário novo para o
Oriente Médio, e é, antes de tudo,
uma questão de poder. Em contextos como o da Síria, as implicações religiosas tocam principalmente as relações entre os muçulmanos. Os cristãos, em princípio,
não são um alvo. Mas se continuar
uma situação de caos, de instabilidade e de conflito pelo poder, as
coisas para os cristãos irão piorar.
No Oriente Médio sempre aconteceu assim. Nas situações de caos e
nas revoluções sangrentas os cristãos são os primeiros a pagar,
sempre e em todos os lugares. A
“experiência” iraquiana custou
muito ao pequeno rebanho de
cristãos daquele país.
O que o senhor conseguiu
entender da situação síria?
A única coisa evidente é que ao
contrário de outros lugares as revoltas não surgiram da insatisfação econômico-social. Na Síria,
desde os últimos anos de poder de
Assad pai já tinha iniciado um certo progresso na agricultura, na indústria, na construção de estradas. Havia um sistema educati- ¬
30DIAS Nº 9 - 2011
37
Oriente Médio
Nas revoltas, na Síria, sem dúvida, há uma vontade geral de maior
liberdade política. Mas há também a contraposição dos grupos em
luta para ter em mãos o controle da situação. E nisso o dinheiro
também tem a sua parte. Conto-lhe um episódio. Havia uma
senhora que fazia faxina na casa de uma senhora idosa que eu
conhecia. A um certo ponto, não apareceu mais. Então a senhora
idosa telefonou-lhe: querida, por que você não veio mais aqui
trabalhar? E a outra respondeu-lhe: senhora, eu saio todos os dias
para protestar por meia hora, e em três dias ganho mais do que a
senhora me paga em um mês...
vo e de saúde que garantia a
todos pelo menos a alfabetização e a assistência médica. Não se pode dizer realisticamente que a revolução é
feita pelos pobres.
Mas então, o que aconteceu?
Na minha opinião uma
raiz de protesto foi a política, com algumas implicações religiosas. No partido
Ba’ath que guia o país, as
posições de poder estão todas em mãos da minoria islâmica alawita. Os sunitas,
que também ocupam oitenta por cento dos cargos na
burocracia estatal, não controlam os cargos de chefia.
Na mídia ocidental tudo é narrado em “preto
e branco”, como uma
batalha pela liberdade
contra um regime ditatorial.
Sem dúvida, há uma vontade geral de maior liberdade política. Mas há também
a contraposição dos grupos
em luta para ter em mãos o
controle da situação. E nisso o dinheiro também tem a sua parte.
O que o senhor quer dizer?
Quem usa o dinheiro?
Conto-lhe um episódio. Havia
uma senhora que fazia faxina na
casa de uma senhora idosa que eu
conhecia. A um certo ponto, não
apareceu mais. Então a senhora
38
30DIAS Nº 9
- 2011
Manifestantes antigovernamentais na praça Tahrir, no Cairo,
onde em fevereiro deste ano começou a revolta contra o presidente Hosni Mubarak
idosa telefonou-lhe: querida, por
que você não veio mais aqui trabalhar? E a outra respondeu-lhe:
senhora, eu saio todos os dias para protestar por meia hora, e em
três dias ganho mais do que a senhora me paga em um mês...
Também em Derhaia, uma pessoa que conheço falou-me de jo-
vens que saíam para protestar por
meia hora, com máquinas fotográficas e filmadoras, para depois
voltar cada um em sua própria casa. Enfim, acontece algo estranho, enigmático.
E o senhor, Beatitude, também pensa que exista um
complô?
ENTREVISTA COM GRÉGOIRE III. Uma primavera cheia de enigmas
Papa Shenouda III, patriarca copta de Alexandria, com o primeiro-ministro turco
Recep Tayyip Erdogan, no Cairo, em 14 de setembro de 2011
Não se trata de criar suposições de complôs. Mas certamente
há manipulações e aspectos que
permanecem enigmáticos. Todas
as revoluções do mundo árabe
contêm estes elementos. Por quarenta anos os regimes de Mubarak e de outros foram aliados, reconhecidos pelo Ocidente democrático, de repente, do dia para a
noite, como por magia, tornaram-se ditadores... Há algo artificial em tudo isso. Eu sempre desejei um processo de amadurecimento democrático que envolvesse todas as instituições, as universidades e os centros culturais, as
novas organizações profissionais,
os homens de religião. Apenas um
semelhante amadurecimento, que
compreenda os dados culturais e
difunda a consciência dos direitos
de cada um, pode realmente levar
ao pleno desenvolvimento das estruturas democráticas. Ao invés
disso, na mudança repentina que
vemos diante de nós, permanece
no fundo alguma coisa indecifrável. Os países árabes não estão
preparados para uma instauração
fulmínea dos modelos europeus
de democracia. E certos aspectos
fazem temer que com as revoltas
se possa voltar atrás.
Contudo os governantes sírios, nos últimos anos, apresentavam-se diante do mundo
com um perfil inovador e reformista, mostrando-se intencionados a acompanhar e favorecer os processos de melhorias econômica e social
que estavam acontecendo no
país. Então por que a única
palavra como resposta aos
protestos foi a repressão?
Quando iniciaram as revoltas
na Tunísia e no Egito, devia-se
partir para um caminho mais decidido de abertura. E isso não
aconteceu. Prevaleceu a lógica e
os mecanismos dos sistemas de
segurança. Agora as coisas degeneraram e não se recuperam de
um momento a outro. Tanto de
um lado como de outro, agora, há
os que pensam apenas em prevalecer, em ter tudo em mãos, e não
procura soluções de diálogo e
compromisso. Ninguém quer ouvir as razões dos outros. Não há
outra saída senão a ajuda externa.
Dentro tudo parece se encaminhar marcado pela fórmula mors
tua, vita mea.
O senhor espera uma intervenção internacional, talvez
militar? A Síria como a Líbia?
Não acredito que isso seja
feito. A própria Europa não
parece ter uma posição unívoca sobre a situação síria. Certamente não se espera uma intervenção militar. Também a
arma das sanções, invocada e
apoiada por muitos países ocidentais, não me parece oportuna, se se pensa que nenhuma sanção jamais foi feita contra a política de Israel. Seria
preciso de um outro tipo de interferência. Uma ingerência
externa de caráter diplomático, que acompanhe governo e
oposição no caminho das negociações mesmo através de
meios de comunicações reservadas. E ajude a retomar aqueles processos de mudança que
já estavam iniciados.
Quem deveria trabalhar
para que isso aconteça?
Um importante papel poderia ter a Turquia. Mas o também chamado Quarteto [EUA,
UE, Rússia e ONU, ndr] que
acompanha as negociações de paz
entre Israel e Autoridade palestina.
Não se pode separar os acontecimentos na Síria e em todo o mundo árabe das perspectivas de uma
paz possível e duradoura entre israelenses e palestinos.
O senhor cita a Turquia.
Muitos observadores veem na
experiência política de Erdogan um modelo de conciliação
entre islã e democracia que
poderia ser aplicado também
nos países árabes.
Parece-me difícil que os árabes
possam seguir exemplos propostos pelos que no tempo do império
otomano tentaram suprimir a língua, a literatura e a civilização árabe. Resta o fato de que até agora
não houve nenhuma posição árabe verdadeiramente digna e nobre,
que estivesse à altura do que está
acontecendo. Não entendo como
é que os países árabes ainda não
convocaram um summit para tratar destes problemas e encontrar
juntos soluções compartilhadas,
para não comprometer o futuro.
Se nós árabes, e não os outros,
não nos colocarmos juntos para
enfrentar a nova situação que se
abriu com as revoltas e suas trágicas consequências, e se não as- ¬
30DIAS Nº 9 - 2011
39
Oriente Médio
A oração da sexta-feira na Mesquita
dos Omíadas em Damasco
sumirmos juntos o seu encargo,
com a ajuda da comunidade internacional, o futuro do mundo árabe
corre o risco de se tornar obscuro.
As várias revoltas do mundo árabe
poderiam levar a confrontos de
uns contra os outros. E o mundo
árabe corre o risco de se desmantelar em uma série de “estadinhos”
confessionais em luta entre si.
Do que depende o êxito?
Como se resolve?
Eu espero realmente que se
chegue a constituir uma nova Carta de leis e direitos adequados ao
mundo árabe moderno. Mas isso
só pode acontecer através de processos graduais, com uma evolução a ser amadurecida passo após
passo. Ao contrário as revoluções
abrem novas feridas que depois se
cicatrizam com dificuldade. Enfim,
as palavras-chave devem ser evolução e amadurecimento, e não revolução. Nessa perspectiva, os
cristãos também poderiam se tornar com maior decisão operadores
de mudança.
Segundo alguns observadores os cristãos deveriam
sentir simpatia imediata pelas
revoltas que colocam em crise
regimes autoritários e esperam também para o Oriente
Médio a chegada de sistemas
democráticos de estilo ocidental.
De modo geral os cristãos sabem que na Síria podem ir adiante
com o regime e talvez participar a
uma evolução do regime no sentido mais democrático. Mas têm
medo do caos. Têm medo de manipulações externas que possam
colocar em crise a tradicional convivência com os próprios concidadãos muçulmanos. Houve alguns
casos preocupantes no distrito de
Homs, com os desordeiros que da
mesquita lançavam apelos para
que todos fossem assediar e expulsar os cristãos. Alguns muçulmanos vizinhos de casa de famílias
cristãs fugiram com medo de serem envolvidos em um ataque.
Nesses casos de perigo imediato,
pode-se ver também a intenção de
40
30DIAS Nº 9
- 2011
alargar o caos e usar a fachada do
conflito islâmico-cristão para cobrir outras coisas. Colocar os cristãos no meio para aumentar a tensão e o alarme. Os que animavam
essas provocações eram forasteiros, gente vinda de fora, não os
moradores locais. Perto de Homs
foram também queimadas lojas e
casas de cristãos. É preciso rezar, e
estar alerta, não ter medo diante
das provocações.
O presidente Assad continua a indicar os fundamentalistas e os mercenários como
os verdadeiros inspiradores
dos movimentos contra o regime. Nos últimos anos criaram-se leis e regulamentos estatais com a intenção de controlar a difusão de “ideias extremistas”. Uma tal repressão, talvez, tenha tido efeito
contrário?
Algumas daquelas medidas, como a proibição para as professoras de usar o véu integral nas escolas, de fato, não tiveram uma larga
aplicação. Claro, os islamitas querem aumentar a sua influência.
Mas tenho a convicção de que a
Síria não seja um terreno fértil para suas estratégias de expansão. A
Síria tem um passado laico ainda
antes da entrada do partido Ba’ath
no poder. Não vejo na sociedade
síria uma grande solicitação de
vínculos que os fundamentalistas
tentam impor à vida social. Os
chefes religiosos islâmicos são li-
gados ao governo, de fato atuam
como funcionários religiosos. Os
revoltosos de matriz islâmica
atuam fora dos sistemas oficiais
centrais.
Como o senhor avalia o
comportamento da Santa Sé
diante dos vários protestos
violentos que aconteceram
nos países árabes em 2011?
Depois dos acontecimentos
egípcios, a Santa Sé evitou a multiplicação de intervenções. O Papa
falou bem. Talvez, em algumas
ocasiões, os órgãos de informação
vaticana ao apresentar as notícias
parecem agregar-se de modo excessivamente acrítico a network
orientadas como Al Jazeera. Se
posso acrescentar uma anotação
pessoal, gostaria de sentir mais a
participação e a proximidade das
Igrejas nacionais, e em particular
dos episcopados europeus. Poderiam tentar colocar em campo iniciativas para favorecer o diálogo.
Uma última pergunta: na
opinião de alguns, o que está
acontecendo hoje nos países
do Oriente Médio tem muitas
semelhanças com o que aconteceu em 1989 nos países do
Leste europeu. O senhor concorda com isso?
Não. Aqui a realidade religiosa
e sociocultural e histórico-política
é completamente diferente. Tratase de uma comparação completamente errada. Ou talvez seja apenas propaganda dissimuladora. q
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Curtas Curtas Curtas Cu
3ODIAS NO MUNDO 3ODIAS NO MUNDO 3ODIAS NO MUNDO 3ODIAS NO MUN
IGREJA/1
Ecclesiam Suam
“Firmemente ancorados na
fé à pedra angular que é
Cristo, per maneçamos
n’Ele como o ramo que não
pode dar fruto sozinho se
não permanecer na videira.
Só n’Ele, por Ele e com Ele
se edifica a Igreja, povo da
nova Aliança. A este propósito, o Servo de Deus Paulo
VI escreveu: ‘O primeiro
fruto do aprofundamento da
consciência da Igreja sobre
si mesma é a renovada descoberta da sua relação vital
com Cristo. Aspecto notório, mas fundamental, mas
indispensável, mas nunca
conhecido, meditado nem
celebrado o suficiente’ (Enc.
Ecclesiam suam, 6 de agosto de 1964: AAS 56
[1964], 622)”. São palavras
de Bento XVI no Angelus
de domingo, 2 de outubro.
Paulo VI
com o cardeal
Ratzinger
CRISTIANISMO
“Quem” ou “o que” detém o mysterium iniquitatis
No L’Osservatore Romano de 25 de setembro monsenhor Enrico dal Covolo, reitor da
Pontifícia Universidade Lateranense, comentou as palavras do apóstolo Paulo na segunda
Carta aos Tessalonicenses, capítulo II, versículos 6-7. Em particular o bispo evidenciou o
modo com o qual os Padres antioquianos responderam à interrogação sobre “quem” ou
“o que” detenha (tò katèchon) o mistério da
iniquidade.
“A quarta homilia de João Crisóstomo logo
no início entra no mérito do problema, colocando-se duas questões: primeiramente o que
seja este katèchon; depois, por
que Paulo se exprime de modo tão
obscuro. Ao responder à primeira
pergunta Crisóstomo recorda, rejeitando-a, a interpretação de Severiano de Gabala, o qual identificava o katèchon com a graça do
Espírito. Também Teodoro de
Mopsuéstia concorda com Crisóstomo ao rejeitar a identificação de
Severiano. Baseando-se nas suas
objeções, que aqui não podemos
comentar, deve-se supor que Severiano identificasse numa Igreja dos carismas a
melhor e mais eficaz defesa contra a prevaricação das forças do mal. Rejeitada a opinião de
Severiano, Crisóstomo enuncia uma segunda
42
30DIAS Nº 9
- 2011
interpretação, à qual diz-se adepto: a que identifica o katèchon com o império romano. Paulo, segundo Crisóstomo, teria usado uma linguagem obscura e enigmática para evitar de se
expor demasiadamente, justamente porque
identificava no katèkon o império romano.
A vinda do Anticristo, teria ocorrido na queda do império romano, o qual, deixando de
‘deter’, teria aberto o caminho da parusia, antes a do Anticristo e depois, finalmente, a do
Senhor Jesus. O império ‘detém’ através do
medo que incute, enquanto durar este medo,
ninguém poderá instaurar a anomia”.
O autor do artigo apresenta en
passant também a reflexão de
Carl Schmitt: “Eu creio no katèchon; para mim é a única possibilidade de compreender a história
como cristão e de considerá-la
sensata”.
À esquerda, São João Crisóstomo,
aqui, abaixo, o Coliseu
urtas Curtas Curtas Curtas
NDO 3ODIAS NO MUNDO 3ODIAS NO MUNDO 3ODIAS NO MUNDO 3ODIAS NO MUNDO
MUNDO
As surpresas de Putin
“Duas surpresas em trinta dias. Depois de ter-se recandidatado para reassumir o seu lugar de presidente da Federação Russa, Vladimir Putin já faz saber ao seu povo e ao
mundo inteiro qual será o grande projeto que ele promoverá logo depois da vitória eleitoral de março, já considerada por muitos garantida: a reconstituição, com progressivo e parcial alargamento, de uma parte do espaço
geográfico que até 1991 chamava-se União Soviética. O
anuncio foi feito pelo próprio Putin, na espera de saltar
do governo para a terceira presidência, escrevendo na Izvestia um artigo de linguagem leve, atraente, não alarmante, no qual os termos econômicos do projeto atenuam propositadamente os de significado mais político.
Eis a passagem principal: ‘Propomos o modelo de uma
poderosa união supranacional, em condições de se tornar um dos polos do mundo moderno e de assumir um
papel de eficaz ligação entre a Europa e a dinâmica região Ásia-Pacífico’”. Escrito por Enzo Bettiza no La
Stampa de 5 de outubro.
Vladimir Putin
IGREJA/2
mo comunhão que recebe
da mesa eucarística a sua
norma normante não normada. ‘O primeiro e fundamental serviço da comunidade cristã é portanto a celebração da Eucaristia, sacramento da paixão do Senhor’”. Assim escreveu Alberto Melloni no Corriere
della Sera de 8 de outubro.
Carlo Caffarra:
o primeiro serviço
da Igreja à sociedade
civil é a celebração
da Eucaristia
“Muitos não deram a devida
atenção, a uma página da
homilia que o cardeal de Bolonha, Carlo Caffarra pronunciou por ocasião do dia
de São Petrônio, 4 de outubro. Como se usa nessas
ocasiões, o cardeal falou da
cidade. Perguntou-se qual é
‘o primeiro serviço’ que a
Igreja oferece à vida comum. E afirmou que não
consiste principalmente numa contribuição de doutrina
moral ou numa ética civil,
mas em fazer com que
aconteça dentro da vida
concreta uma verdadeira
fraternidade: que não solicita para si espaços ou concessões, mas se propõe co-
SAGRADO COLÉGIO
Os 80 anos
do cardeal Mazombwe
Carlo Caffarra durante a missa do dia de São Petrônio,
4 de outubro de 2011
No dia 24 de setembro o
cardeal africano Joseph Mazombwe Medardo, arcebispo emérito de Lusaka, criado cardeal por Bento XVI
em 2010, completou 80
anos. Portanto, no final de
setembro o Colégio cardinalício resulta composto por
193 cardeais dos quais 113
eleitores.
¬
30DIAS Nº 9 - 2011
43
Curtas Curtas Curtas Cu
3ODIAS NO MUNDO 3ODIAS NO MUNDO 3ODIAS NO MUNDO 3ODIAS NO MUN
HISTÓRIA
lica que persistiam em sua
obra de desagregação [...]’”.
O ponto de ruptura definitivo, lamenta o secretário da
federação de Milão, foi “o
discurso pronunciado pelo
cardeal Schuster, no qual ele
combate a nossa política sobre a raça”. Depois desse
discurso, o secretário da federação escreveu a Mussolini: “Naturalmente cortei todo e qualquer tipo de relação com o cardeal”.
A Igreja ambrosiana
contra o fascismo
O jornal Avvenire de 4 de
outubro publicou uma matéria de Giorgio Rumi, falecido
em 2006, na qual o ilustre
historiador católico recordava as relações conflituais entre a autoridade fascista de
Milão e o então cardeal arcebispo, o beato Ildefonso
Schuster. “No final da década de Trinta, as relações entre Igreja e regime, naquela
terra ambrosiana de onde
partiram os três grandes protestos à Itália liberal (católico,
socialista e enfim fascista),
são claras e explícitas relações de força; o secretário da
federação fascista de Milão
não tem dúvidas ao recordar
o caminho percorrido e a
reafirmar a sua visão das coisas: ‘Há mais ou menos cinco anos, fui chamado pela
sua confiança a dirigir o des-
CATÓLICOS
Ernesto Olivero
premiado como
cidadão europeu
do ano
Ildefonso Schuster
tino do fascismo milanês [...].
O cardeal, na época [1933]
era claramente antifascista, e
impedia, às vezes abertamente, às vezes de maneira
velada, a ação do fascismo
milanês; [...] enquanto decididamente [...] eu apostava
no povo, por trás eu tinha o
cardeal e toda a Ação Cató-
No dia 2 de outubro o Parlamento europeu condecorou
com o prêmio “Civi Europaeo Praemium”, Ernesto
Olivero, fundador do Sermig, que há muito tempo
HISTÓRIA DE UM HOMEM.
RETRATO DE CARLO MARIA MARTINI
“É mais importante ensinar aos amigos a humildade
que desafiar os inimigos com a verdade”
No Corriere della Sera de 14 de setembro, Armando Torno, apresentou a resenha do livro de Aldo Maria Valli, Storia
di un uomo. Ritratto di Carlo Maria
Martini. No artigo, depois de descrever
o cardeal como pessoa extremamente
simples, Torno escreve: “No fundo, e isso é recordado por Valli neste utilíssimo
livro, o seu estilo poderia ser resumido
com uma frase de Santo Agostinho: ‘É
mais importante ensinar aos amigos a
humildade que desafiar os inimigos com
a verdade’”. Título do artigo: Martini, a
coragem da humildade.
44
30DIAS Nº 9
- 2011
Ernesto Olivero
Aldo Maria Valli,
Storia di un uomo.
Ritratto di Carlo Maria Martini,
Ancora, Roma, 2011, 208 pp.
trabalha no campo no voluntariado, da integração e
do diálogo entre os povos. A
candidatura foi lançada pelo
político da Liga Norte Oreste Rossi e o prêmio foi entregue ao interessado pelo vice-presidente do Parlamento europeu Gianni Pittella. A
notícia foi publicada no Avvenire de 6 de outubro.
urtas Curtas Curtas Curtas
NDO 3ODIAS NO MUNDO 3ODIAS NO MUNDO 3ODIAS NO MUNDO 3ODIAS NO MUNDO
CÚRIA
Nova cúpula
na Prefeitura
de Assuntos
Econômicos
No dia 21 de setembro o
Papa nomeou o novo presidente da Prefeitura dos
Assuntos Econômicos da
Santa Sé. Para suceder ao
cardeal Velasio De Paolis,
76 anos, foi chamado
monsenhor Giuseppe Versaldi, 68 anos, desde 2007
bispo de Alexandria, que
foi também elevado à dignidade de arcebispo.
Ainda no dia 21 de setembro foi nomeado o novo
secretário da Prefeitura.
Trata-se do sacerdote espanhol Lucio Ángel Vallejo
Balda, 50 anos, desde
1991 administrador geral
do episcopado de Astorga.
ECONOMIA
“Somente
as Euro-obrigações
podem salvar a União
Europeia”
O jornal La Stampa de 11
de outubro publicou uma
entrevista a Cristopher
Sims e Thomas Sargent,
condecorados, no dia anterior, pelo Prêmio Nobel para a economia. À pergunta
sobre a crise europeia, Sims
responde: “Um dos estudos
que fizemos falava justamente das premissas precárias da união monetária. Há
um grave problema de origem: vocês tem o Banco
Central, mas não existe
uma autoridade que possa
decidir as políticas fiscais ou
emitir obrigações. Assim,
em situações de crise como
a atual, não se entende
quem tenha o poder de tomar as decisões necessárias. As perspectivas do euro são muito negativas caso
não seja colocada logo no
ITÁLIA
O presidente Napolitano,
o 11 de setembro e o choque de civilizações
“A principal consequência depois do 11
de setembro foi a tomada de consciência
por parte da comunidade internacional
de uma ameaça e de um desafio inaudito,
e compreendeu-se bem que aquela ameaça e aquele desafio não eram dirigidos
apenas aos Estados Unidos. Compreendeu-se muito antes que o ataque fosse levado, como depois aconteceu, também à
Europa, a grandes cidades europeias como Paris, Londres, Madri. Portanto, o
que posso colocar em evidência, é que
mudou alguma coisa profunda no modo
de conceber a própria segurança, mas
não apenas por parte de alguns Estados.
Talvez, o efeito não previsto pelos que ordenaram o ataque às Torres Gêmeas, foi
a reaproximação entre os membros da
comunidade internacional. E a partir daquele momento, Estados mesmo muito
diferentes entre si e mesmo não aliados
entre eles, dos Estados Unidos aos Estados da União Europeia, da Rússia à China, compreenderam que deviam enfrentar juntos um inimigo comum. E isso foi
essencial para todos os acontecimentos
sucessivos. [...] Porque no decorrer destes dez anos o mundo mudou sob muitos
aspectos. O fato fundamental foi entender que não precisava, principalmente
nós, Estados ocidentais, Estados Unidos
e Europa, deixar-se atrair naquilo que se
pretendia, por parte de al-Qaeda, que pudesse ser um choque de civilizações. Era
preciso não confundir o ataque terrorista
nem com a religião muçulmana nem com
a cultura islâmica; era preciso, ao contrá-
Banco Central uma autoridade com a possibilidade de
emitir euro-obrigações e
coordenar as políticas fiscais”. À resposta de Sims,
segue uma reflexão análoga
de Sargent: “Quando foram
criados os Estados Unidos,
no final do século XVIII, as
condições do país na época
eram semelhantes às da Europa de hoje. Havia treze
Estados que tinham o poder
Giorgio Napolitano
rio, encontrar o caminho para dissipar
motivos de incompreensões e de contraposição entre mundos diferentes, para
chegar a uma concepção comum da segurança, do desenvolvimento. E enfim,
da paz e da justiça entre as nações”. São
palavras do presidente italiano Giorgio
Napolitano, entrevistado pelo jornalista
Bruno Vespa no programa Porta a Porta
da RAI, em 10 de setembro de 2011, por
ocasião dos dez anos do ataque terrorista
às Torres Gêmeas.
de cunhar moedas, assumir
dívidas e decidir suas políticas fiscais, diante de um governo federal extremamente frágil. Estes Estados podiam até mesmo decidir as
próprias regras no setor do
comércio exterior, expondo
a América a graves penalizações por parte de Londres. Os pais fundadores,
que em grande parte eram
credores dos vários Esta-
dos, escreveram a Constituição exatamente com o
objetivo de corrigir este problema de fundo. O governo
central assumiu toda a dívida dos treze Estados, que
em troca perderam a autonomia econômica absoluta
que tinham tido até aquele
momento”. O título da entrevista “Somente as Euroobrigações podem salvar a
União Europeia”.
q
30DIAS Nº 9 - 2011
45
Atualidade
Giuseppe
Ungaretti
Padre Antonio Spadaro
Uma Civiltà de escritores,
poetas e navegadores da Web
Padre Antonio Spadaro é o novo diretor da revista Civiltà Cattolica.
Na revista da Companhia de Jesus, dedica-se há anos à literatura,
à música, à arte e às novas tecnologias de comunicação. Entrevista
por Paolo Mattei
adre Antonio Spadaro é
desde setembro o novo diretor da revista Civiltà
Cattolica, publicação quinzenal
“de alta divulgação” da Companhia de Jesus. Fundada em
1850, é, como se sabe, a única
revista católica cujas provas são
P
46
30DIAS Nº 9 - 2011
examinadas pela Secretaria de
Estado da Santa Sé.
Nascido em Messina, Itália, em
1966, padre Spadaro é graduado
em Filosofia e obteve o doutorado
em Teologia na Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma, onde
leciona desde 2000 no Centro In-
terdisciplinar de Comunicação Social. Tendo entrado no noviciado
da Companhia de Jesus em 1988,
tornou-se sacerdote em 1996.
Em 1993, começou a escrever
na Civiltà Cattolica, de cuja redação faz parte estavelmente desde
1998. Nas páginas da revista, de-
ENTREVISTA
Giacomo Leopardi
dica-se à crítica literária, com particular atenção para os autores
contemporâneos italianos e os escritores norte-americanos. Escreve também sobre teoria da literatura, música, arte, cinema e novas
tecnologias de comunicação.
Fizemos algumas perguntas
ao novo diretor.
Quando e como surgiu a
vocação ao sacerdócio? E como nasceu a decisão de entrar na Companhia?
A N T O N I O S PA D A R O : É
sempre difícil responder a essa
pergunta. A vocação é algo que
cresce “biologicamente” conosco, com a nossa história pessoal.
Considero, porém, um momento
importante os exercícios espirituais de que participei casualmente na Toscana, nos meus primeiros anos da universidade, depois de ter lido um convite que
encontrei numa mesa. Uma experiência completamente dife-
rente das que eu estava acostumado a fazer, dias de completo silêncio. Ali, olhei em perspectiva
para os meus primeiros vinte
anos de vida e senti uma consonância muito profunda com a experiência espiritual que estava vivendo. Uma consonância que
nunca havia experimentado antes. Nunca mais duvidei da verdade daquele momento.
Aquele foi o seu primeiro
contato com a ordem de Santo Inácio?
Não, eu fiz o ensino médio no
Ignatianum, o instituto dos jesuítas da minha cidade. Foi uma excelente experiência cultural e
criativa, a ponto de me fazer dizer, às vezes, que ainda hoje vivo
de renda de algumas atitudes básicas que amadureci justamente
naqueles anos. O método de ensino dos jesuítas não tinha uma
postura, digamos assim, tradicional. Era um ensino que passava
sempre pela descoberta pessoal.
Como é próprio da pedagogia inaciana...
Exato. E como Santo Tomás
também explica: “Dos dois modos
de adquirir a ciência – a descoberta
pessoal (inveniendo) e o aprendizado (addiscendo) –, o principal é
o primeiro, o outro é secundário”.
Naquela escola, matérias normalmente consideradas complementares, como a educação artística ou
a educação musical, eram muito
valorizadas.
Quando nasceu a sua paixão pela literatura?
Como as vocações, as paixões
também nascem e se desenvolvem
por percursos às vezes incomuns e
dificilmente descritíveis. O amor
pela literatura não surgiu logo, para dizer a verdade. Quando era
menino, eu não lia muitos livros,
preferia os quadrinhos. Lembrome, porém, de que um dia fiquei
fascinado com um livro de ficção
científica para jovens, no qual mergulhei completamente. Não me
tornei, como costumam dizer, um
“devorador” de livros, mas comecei a “mergulhar” naqueles que me
agradavam.
Quais foram seus autores
prediletos na juventude?
Kafka, Pirandello e Leopardi,
escritores que se “casam” bem
com os tormentos da adolescência. Neles, porém, eu captava algo
que “ia além de mim mesmo”, que
sobrevivia às inquietudes típicas
daquela idade. Mas Ungaretti merece um lugar especial. No terceiro
ano do ensino médio, me fizeram
ler boa parte da obra desse grande
poeta. Pensando nisso hoje, eu me
pergunto como isso foi possível. A
sua leitura, os seus “átomos de
emoção”, me marcaram profundamente. Sou muito grato a seus
versos.
Depois a literatura começou a ganhar mais espaço na
sua vida...
Como já lhe disse, minha relação com a literatura desenvolveu-se
com o tempo, ligada sobretudo a
autores capazes de me fazer pensar,
ou seja, escritores-filósofos, digamos assim. Portanto, a paixão pelas histórias, a narração, a densidade da palavra poética se desenvolveu sobretudo depois dos estudos
universitários. O meu cursus stu- ¬
30DIAS Nº 9 - 2011
47
Atualidade
diorum, de fato, foi eminentemente filosófico: diplomei-me em Filosofia na Universidade de Messina
em 1988, e dois anos depois concluí o currículo de aprofundamento
filosófico em Pádua, no Instituto
Aloisianum. O grande amor pela literatura nasceu quando comecei a
ensiná-la. Meus superiores, no final
de 1991, depois dos primeiros
anos de formação – o período que
nós chamamos de “magistério” –,
me pediram que ensinasse Letras
em nosso liceu científico de Roma,
o Massimiliano Massimo. A paixão
dos jovens, que me retornava como
feedback das coisas que eu propunha a eles nas aulas, me ligou à experiência da palavra e do relato,
que comecei a perceber como capaz de uma leitura profunda e rica
da existência. Com os estudantes,
aprofundei a metáfora da “viagem”
no imaginário coletivo ocidental. A
partir daquele trabalho nasceu um
livro de textos e comentários, Tracce profonde. Il viaggio tra il reale
e l’immaginario (Pegadas profundas. A viagem entre o real e o imaginário). E nasceu também a certeza de que a literatura seria uma
companhia fiel da minha viagem
pessoal.
A Civiltà Cattolica publicou muitos artigos seus sobre
a literatura americana.
Sim. Comecei a me interessar
por esse tema mais ou menos em
2002, ano em que fui aos EUA,
Acima, Cesare Pavese;
à direita, Raymond Carver
48
30DIAS Nº 9 - 2011
para a província dos jesuítas de
Chicago – mais precisamente, para Milford, em Ohio, pleno MeioOeste –, para a minha última etapa
de formação como jesuíta. Foi
uma descoberta, belíssima, de um
olhar renovado sobre a realidade...
A mesma impressão que
Pavese teve ao encontrar os
escritores de Além-Mar...
É verdade... Os poetas e os narradores americanos com que eu
me deparava falavam da realidade
como se a surpreendessem no momento da criação. Um olhar imediato, às vezes ingênuo, mas era
justamente essa ingenuidade que
me agradava, e me agrada. Era
precisamente o que eu sentia faltar
à literatura europeia, sobretudo a
do século XX, que eu percebia como um produto atormentado dos
meandros da consciência, o fruto
de uma angústia diuturna dentro
de si mesmo, com fracos contatos
com a realidade...
Quais são seus autores
americanos prediletos?
Muitos: Edgar Lee Masters,
Sylvia Plath, Jack London, Emily
Dickinson, Jack Kerouac... Mas
três de modo particular: Walt
Whitman, de quem fui também
tradutor; Raymond Carver, a
quem dediquei um dos poucos ensaios específicos em circulação
em italiano; e, sobretudo, Flannery O’Connor, de quem publiquei
alguns escritos inéditos, em maio
Bruce Springsteen
deste ano, pela Rizzoli [Il volto incompiuto, ndr]. A paixão pelas
obras dessa grande escritora
americana, que morreu em 1964
com trinta e nove anos, me levou
a visitar várias vezes a sua fazenda
em Milledgeville, na Geórgia, e a
entrar em contato com quem a
conheceu e conviveu com ela. Se
o que me impressiona em Whitman é o “olhar original” para as
coisas, e em Carver – in primis o
Carver poeta – a incomparável
capacidade de reduzir ao essencial as emoções que descreve,
amo em O’Connor a perspectiva
paradoxal e grotesca sobre a rea-
ENTREVISTA
lidade, presente em cada romance e conto seu. Lê-la me ajuda a
olhar para o mundo de pontos de
vista sempre diferentes e surpreendentes.
O senhor trouxe também
para as páginas da Civiltà Cattolica o rock americano: escreveu sobre Bruce Springsteen e
Tom Waits, entre outros. Por
que essas predileções?
cano na época de seu disco acústico Nebraska. Depois de The
ghost of Tom Joad eu quis ouvir e
ler tudo o que Springsteen compôs. Daí nasceu a ideia de escrever
alguma coisa na Civiltà Cattolica,
ideia que tomou corpo definitivamente quando saiu de The Rising
[“A Ressurreição”, de Bruce
Springsteen, 2002, IV, 13-26,
n.d.r.], álbum inspirado nos even-
Padre Antonio Spadaro, à direita na foto, com Jovanotti, por ocasião de um encontro
organizado na Capela Universitária da Sapienza, de Roma, em janeiro de 2010
Os poetas e os narradores americanos
com que eu me deparava falavam da realidade
como se a surpreendessem no momento
da criação. Um olhar imediato, às vezes
ingênuo, mas era justamente essa ingenuidade
que me agradava, e me agrada
Aqui também o papel principal
foi do acaso, e provavelmente da
minha curiosidade. Um dia me
aconteceu de ouvir The ghost of
Tom Joad, de Springsteen, e fiquei encantado com as melodias e
as letras. Eram canções que tinham grande consonância com
certos aspectos da obra de O’Connor, que, depois, eu soube ter sido
uma das leituras do cantor ameri-
tos trágicos do 11 de Setembro,
com um cunho religioso fundamental e uma oração que o moldavam que pareceram ter passado
em silêncio na Itália. Afinal,
Springsteen convive com o imaginário bíblico religioso desde o
tempo de sua formação escolar
primária, já que frequentou a escola católica Santa Rosa de Lima,
de Freehold, New Jersey, e alguns
gestos seus, como acender uma
vela a Nossa Senhora na Basílica
de São Petrônio durante a sua turnê em Bolonha, em 1998, e carregar uma medalha de São Cristóvão, padroeiro dos viajantes, expressam, na sua simplicidade,
uma forma de relação com os símbolos da devoção cristã. A partir
desse artigo sobre Springsteen
vieram os outros, sobre Tom
Waits, Nick Drake e Nick Cave. A
meu ver, o rock é capaz de descrever o pedido de salvação do homem de modo mais forte que outras formas de expressão.
O senhor já percebeu alguma perplexidade ou embaraço
entre os escritores da redação, ou na Secretaria de Estado, por essas escolhas?
Não, de modo algum. Encontrei boa acolhida e competência: a
respeito do artigo sobre Springsteen, cheguei a receber uma pequena colaboração relativa à data
de composição de uma canção de
sua juventude que nunca foi publicada em disco...
Nenhuma crítica, nem mesmo quando propôs os nomes
de Jovanotti e Ligabue?
Não, nem então. Naquele momento, 1999, eu estava estudando
os narradores mais jovens, aqueles
que hoje em sua maioria são quarentões. Portanto, queria abrir
uma janela para os cantores que a
certa altura da carreira decidem
publicar textos narrativos não destinados a virar música. Era o que
Jovanotti e Ligabue tinham feito
havia pouco, com os dois livros
que analisei naquele meu artigo.
Eu achava e acho o fenômeno
muito interessante. Em janeiro do
ano passado, na Capela Universitária da Sapienza, de Roma, tive
também a oportunidade de organizar um encontro com Jovanotti sobre o tema do “sucesso”. Ele disse
coisas muito sugestivas e, brincando com as palavras, mas não tanto, explicou que o “sucesso”, como “algo que sucede”, que passou,
não lhe interessava...
Um dos autores contemporâneos que o senhor mais
aprecia é Pier Vittorio Tondelli, que morreu há vinte anos, o
“escandaloso” romancista de
Altri libertini...
¬
30DIAS Nº 9 - 2011
49
Atualidade
Também nesse caso, o encontro foi fortuito. Estávamos em
1992, Tondelli tinha morrido fazia
um ano, aos trinta e seis anos, e eu
não conhecia os seus escritos. Um
dia, pouco antes de começar uma
longa viagem de trem, um romance dele chegou às minhas mãos.
Na época, eu lecionava no Massimo e me dedicava, como observei,
à literatura de viagem. Numa livraria perto da estação, adiantado para a partida do trem, folheei um
pouco distraidamente as primeiras
páginas daquele livro, Camere separate, e entendi que falava de
uma viagem de avião... A coincidência me surpreendeu. Naquele
romance, o último escrito por Tondelli, em 1989, e nos outros que eu
À direita, o escritor
Pier Vittorio Tondelli;
abaixo, o ensaio de Antonio
Spadaro Lontano dentro
se stessi. L’attesa di salvezza
in Pier Vittorio Tondelli
leria depois em ordem anticronológica, conheci a densidade de
uma grande experiência literária.
Deparei-me com a profundidade
de um escritor engajado num corpo a corpo com a sua existência,
com a sua vida, na qual a fé tinha tido um papel decisivo. Eu sabia, entre outras coisas, que Tondelli tinha sido idealizador do projeto
“Under 25”, na década de 1980,
50
30DIAS Nº 9 - 2011
uma espécie de laboratório de escrita a distância que envolveu muitos jovens aspirantes a escritores:
era uma coisa que interessava também ao meu trabalho. Lendo Tondelli, descobri um autor de formação católica que, mergulhado no
“pós-moderno italiano”, como
chegou a definir a década de
1980, exprimia a tensão fundamental à salvação própria de cada
homem. Eu me dei conta de como
as suas perguntas não eram nada
superficiais, e nada puramente, digamos assim, “pós-modernas”:
eram as grandes perguntas de todo
e qualquer homem. Comecei assim a estudar suas cartas, suas anotações, tive a sorte de frequentar
seu ambiente familiar. Sua bibliote-
tera ai Corinzi, de Giovanni Testori,
provavelmente o último livro que ele
leu, pouco antes de morrer, e que
mandou seu pai comprar quando já
estava no hospital. Como muitos escritores ao final da sua existência,
Tondelli se perguntava sobre o valor
de suas experiências literárias e o
peso que elas tinham tido para ele. É
uma expressão que lembra as palavras de Jean Cocteau a Jacques Maritain: “A literatura é impossível, é
preciso sair dela, e é inútil procurarmos escapar por meio da literatura,
pois só a Fé e o amor nos permitem
sair de nós mesmos”. O escritor se
dá conta de que a literatura não é capaz de salvar uma existência humana, por mais grandiosa que seja. É
certamente uma sugestão para
Há quinze anos, escrita a lápis
numa página da Traduzione
della prima Lettera ai Corinzi, de
Testori, encontrei uma anotação
inédita de Tondelli, que dizia:
“A literatura não salva [...].
A única coisa que salva é a fé,
o Amor e a recaída da Graça...”
ca pessoal conservava os textos da
sua formação, entre os quais a Bíblia, a Imitação de Cristo, os místicos medievais e Santa Teresinha
do Menino Jesus. E, com o passar
dos anos, escrevi sobre sua obra
artigos e livros.
Sobre esse escritor o senhor publicou também anotações inéditas, como aquela, muito bonita e sugestiva,
em que lemos: “A literatura
não salva, muito menos o
inocente. A única coisa que
salva é a fé, o Amor e a recaída da Graça...”. Uma observação que parece uma sugestão para críticos e apaixonados pela literatura...
Em 1996, encontrei essa sua
anotação escrita a lápis numa página da Traduzione della prima Let-
quem faz crítica literária ou ama a literatura. Não somos chamados a
verificar se uma obra corresponde a
critérios morais ou não, ou a avaliar
os textos com base na dogmática,
mas, sim, a confrontar o nosso julgamento com o Juízo Universal. A ter
em mente que o juízo sobre uma experiência artística se recorta sobre
um fundo de eternidade. Na minha
opinião, a anotação de Tondelli traz
à luz essa intuição.
O senhor falou de escritura
criativa. Em 1998, fundou o
laboratório “BombaCarta”,
que se dedica a isso.
É uma ideia que nasceu de uma
gaveta. Eu estava sentado à mesa
da sala em que dava aula e estava
procurando uma caneta na gaveta, que estava emperrada. Assim,
puxei-a com força demais e acabei
ENTREVISTA
À esquerda,
a homepage do site
www.cyberteologia.it,
organizado
por padre Spadaro
Abaixo, a homepage
do site da
Civiltà Cattolica
arrancando-a completamente. No
fundo da gaveta, vi escrita uma
poesia, anônima, mas cujo autor
era evidentemente um estudante.
Aquilo me tocou: os jovens, eu disse a mim mesmo, têm dificuldade
para escrever sobre os temas que
lhes propomos, e depois escrevem poesias nas gavetas. Então
afixei um aviso no mural convidando-os a compartilhar seus diários, seus escritos particulares,
suas poesias. No primeiro encontro, éramos quarenta e dois. Entendi que havia alguma coisa a
aprofundar. Aquela experiência
inicial nunca mais se interrompeu:
continuamos os encontros, criei
um mailing list e um site na internet. Entraram em contato conosco outras pessoas de outras partes
da Itália e então nasceram grupos
de “BombaCarta” em várias cidades: agora é uma federação de associações e de laboratórios de escrita criativa.
No início deste ano, o senhor criou um blog sobre a
“cyberteologia” (www.cyberteologia.it), “entendida como
a inteligência da fé no tempo
da Web”... É notória a sua
atenção ao universo das redes sociais informatizadas. O
senhor falou de “ética hacker
e visão cristã” na Civiltà Cattolica, num artigo recentemente publicado também no
Economist... Como nasceu
esse interesse?
A Web, da qual me aproximei
graças também à literatura, tornouse um ambiente habitual da existência cotidiana, em que um número
cada vez maior de pessoas forma a
sua consciência e os seus relacionamentos. A minha pergunta foi muito simples: se a Web está mudando
não só os nossos hábitos, mas também o modo de pensar e de conhecer o mundo, acaso não mudará
também o modo de pensar a fé? A
partir dessa pergunta, que nasceu
dando uma palestra que me foi pedida pela Conferência Episcopal
Italiana, notei depois que era realmente preciso iniciar uma reflexão
desse tipo. Fides quaerens intellectum: isso sempre foi vivido como a meta, o sentido da teologia.
Penso que a busca da inteligência
hoje não pode prescindir da Web.
Encontrei grande simpatia e interesse por parte da Igreja em vários
níveis. Certamente os discursos do
Papa sobre esses temas são um
grande encorajamento.
E agora a direção da Civiltà
Cattolica. Essa tarefa é muito
pesada para o senhor?
Eu a vivo com tremor, que frequentemente, devo dizer, me tira o
sono... Sinto uma grande responsabilidade. A revista tem 162 anos de
vida, tenho consciência de seu papel histórico, e assumir sua direção
me faz perceber o peso e a importância dessa fonte de informação.
Ao mesmo tempo, tenho um gran-
de desejo de dar o máximo, num
momento em que o modo de comunicar está mudando. Afinal, La Civiltà Cattolica nasceu num tempo
de grandes mudanças, fazendo propostas inovadoras: era uma revista
cultural eclesiástica não escrita em
latim, mas em italiano, e empregava uma linguagem simples, mesmo
tratando de temas especializados; já
era difundida por toda a Itália quando a Itália ainda não existia... Atualmente temos um site, uma página
no Facebook, uma conta no Twitter. Procuraremos tornar essa presença cada vez mais viva.
Como diretor, o senhor continuará ainda a se dedicar à literatura e às novas tecnologias da comunicação?
Estou dando os primeiros passos, ainda tenho de encontrar o
equilíbrio adequado. Está prevista
a saída de um livro meu sobre “cyberteologia” para janeiro. Depois, um ensaio sobre a literatura
americana, no ano que vem...
Mas por agora a direção da revista tem prioridade.
q
30DIAS Nº 9 - 2011
51
A correspondência Ferrari - Conforti
O conforto
de uma amizade cristã
Quando dois santos se encontram, muitas
vezes se instaura entre eles uma relação profunda, baseada no fato de ambos viverem a
realidade sob a particular luz da vontade de
Deus e vibrarem em uníssono diante de seu
modo, para nós estranho, de pensar e agir.
Mas é também interessante notar que essa
orientação forte para Deus frequentemente faz
nascer entre eles uma amizade humana frutuosa para ambos. Eles, talvez sem querer, apoiam
um ao outro no caminho da vida, ajudando-se
a descobrir o que Deus quer deles.
Isso sem dúvida foi verdade para o cardeal
Andrea Carlo Ferrari e dom Guido Maria Conforti, seu seminarista e depois, como ele, bispo
São Guido Maria Conforti
e o beato Andrea Ferrari
da Igreja italiana. Dois caracteres muito diferentes, mas, justamente por isso, capazes de
uma profunda complementaridade e de uma
verdadeira união espiritual para o bem do povo de Deus que lhes foi confiado.
Por ocasião da canonização de dom Guido,
podemos afirmar que, do ponto de vista humano, sem a influência de Ferrari desde a primeira
juventude provavelmente Guido Conforti não
teria sido um dos bispos mais significativos da
Igreja italiana do início do século XIX e talvez
nem mesmo se tornaria santo.
padre Rino Benzoni
superior-geral dos Xaverianos
É
notória a amizade entre o cardeal Andrea Carlo Ferrari, arcebispo de Milão, e dom Guido Maria Conforti, arcebispo de Ravena e depois bispo de Parma.
Andrea Carlo Ferrari nasceu em Lalatta (Parma) em 13
de agosto de 1850; ordenado sacerdote em 1873, foi reitor do seminário episcopal de Parma de 1877 a 1890, ano
em que foi nomeado bispo de Guastalla. Em 1891, tornouse bispo de Como e em 1894, arcebispo de Milão e cardeal. Morreu em 2 de fevereiro de 1921, depois de vinte e
sete anos de governo da arquidiocese de Milão. Foi beatificado por João Paulo II em 1987.
Guido Maria Conforti nasceu em Casarola di Ravadese
(Parma) em 30 de março de 1865; tornou-se sacerdote em
1888. Arcebispo de Ravena em 1902, tornou-se bispo de
Parma em 1907. Morreu em 5 de novembro de 1931. Proclamado beato em 17 de março de 1996, será canonizado em 23 de outubro deste ano.
Da esquerda para a direita, dom Guido Maria Conforti
e o cardeal Andrea Carlo Ferrari
Da correspondência Ferrari-Conforti extraímos apenas
cinco cartas que se referem a dois momentos dramáticos
da vida de Conforti: sua nomeação a arcebispo de Ravena
e seu afastamento por motivos de saúde
Nomeação para Ravena
Conforti fundou em Parma, em 1895, o Instituto Emiliano para as
Missões Estrangeiras, que se tornaria congregação religiosa três anos
depois. O bispo de Parma o nomeou vigário-geral da diocese em 1895.
Em 16 de maio de 1902, foi a Roma, chamado pelo papa Leão XIII,
que lhe comunicou tê-lo nomeado arcebispo de Ravena. Na carta ao
cardeal Ferrari, Conforti narra o acontecido e expressa seu espanto por
essa nomeação. Aceita em obediência ao Papa, convicto de fazer a vontade de Deus. Não falta na carta uma reprimenda velada a quem contribuiu para a sua nomeação. A alusão ao cardeal Ferrari é evidente.
Na carta de resposta do cardeal aparece a grande estima que ele tinha por Conforti.
Guido Maria Conforti,
arcebispo de Ravena
Dom Guido Conforti ao cardeal Ferrari
Parma, 22 de maio de 1902
Eminência,
é com a alma agitada por mil sentimentos e não sem alguma confusão que desta vez me decido
a escrever a V. Em.ª, a quem nada jamais pude ocultar daquilo que de alguma forma me dissesse
respeito.
Terça-feira passada, fui chamado a Roma por meio de uma carta urgente, e logo pus-me em viagem para lá; cheguei no dia seguinte e me apresentei, por volta das 10h, ao prelado que para minha
grande surpresa me convidava a ir ao Vaticano às 18h do mesmo dia para ser recebido em audiência pelo Santo Padre, que desejava falar-me.
No horário estipulado estava lá e logo fui levado à augusta presença do Sumo Pontífice, ao lado
de dom Maffi, atual administrador de Ravena, chamado também com urgência. O coração me batia
forte, por não conseguir atinar com a razão do que me acontecia, mas quando Sua Santidade me
disse depois que me destinava a ser arcebispo de Ravena, dando-me como auxiliar dom Maffi, senti
como se perdesse as forças e prorrompi em lágrimas. Roguei ao Santo Padre que me poupasse de um
peso tão grande, alegando minha pouca virtude e doutrina, minha inexperiência, a saúde frágil, a
fraqueza do meu caráter, as atuais necessidades do Seminário das Missões, fundado por mim recentemente, mas nenhuma dessas razões considerou ele boa. Roguei-lhe que trocasse os papéis, pondo
dom Maffi no meu lugar, em comparação com o qual sob todos os aspectos puer sum et nescio loqui,
mas foi em vão. Esconjurei-o enfim, se era vontade Sua que eu fosse bispo, a dar-me pelo menos
uma diocese menos ilustre e importante que Ravena, e a essa última súplica, com um tom até ¬
Mercoledì ultimo scorso, venivo chiamato a Roma a mezzo di pressa
giungevo e mi presentavo, circa alle ore 10, al Prelato il quale con grand
sere ricevuto in udienza dal santo Padre che desiderava parlarmi. All
Sommo Pontefice assieme a mons. Maffi, attuale amministratore di R
pendomi dar ragione di quanto succedeva, ma quando poi Sua Santità
mons. Maffi, mi sentii come venir meno e proruppi in lacrime. Pregai i
dottrina
bisogni presenti del Seminario delle Missioni da me di recente fondato, m
30DIAS Nº 9
- 2011
¬
53
A correspondência Ferrari - Conforti
enérgico, respondeu-me com estas exatas palavras, que nunca poderei esquecer: “Não insista e nem
faça outros insistirem, pois então me obrigará a uma ordem imperiosa. Ao Vigário de Cristo é preciso obedecer prontamente. Convidei-o a vir pessoalmente a Roma justamente para quebrar qualquer protelação e para que ouvisse da própria boca do Papa o que Ele quer do senhor. Disponha-se,
portanto, a fazer a vontade de Deus, que o recobrirá amplamente com sua graça”.
Saí do Vaticano com a alma profundamente agitada e uma forte febre me atribulou por toda
aquela noite. Oh, como não me sinto à altura da missão que querem confiar à minha fraqueza! Só
a reflexão de cumprir a vontade divina, da qual não posso duvidar porque me é manifestada pelo
Vigário de Cristo, me traz algum conforto.
Só a esperança de encontrar no novo ofício, a que sou chamado pela obediência, almas boas
que desejarão me ajudar e saberão compadecer-se me infunde um pouco de coragem. Queira o
Céu que todos aqueles que contribuíram com reta intenção para a minha nomeação não venham
depois por minha culpa a se arrepender. No primeiro dia do próximo mês, se me permitir, irei assim importuná-lo, tendo extrema necessidade de abrir a minha alma com V. Em.ª, que sempre me
foi de grande benevolência e compadecimento.
O cardeal Ferrari a dom Guido Conforti
Milão, 22 de maio de 1902
Excelência reverendíssima,
já cessada a obrigação do segredo, totalmente diferente do que me foi confidenciado por irmã
Ghezzi, envio-lhe esta folha; mas minha escrita poderia quase assemelhar-se à de São Bernardo
(embora eu seja tudo, menos santo), quando pela primeira vez escrevia a Eugênio III, pouco antes
eleito Papa. Naquele antigo Padre, eu poderia de certa forma me encontrar também; e se as coisas
continuarem neste passo, o pai se tornará filho e o filho, pai.
Mas deixemos tudo isso; e, como não tenho tempo, como não o terá o senhor nestes dias, sem
grandes cerimônias lhe comunico minhas congratulações, e se não as quiser as envio a Ravena, e
ao senhor desejarei todas as graças que lhe forem indispensáveis para ser realmente um bom Cireneu. Facilmente, porém, o senhor poderá imaginar de quão bom grado o verei; mas um pouco não
terá tempo, e mais que um pouco sou eu que non sum dignus. E com distinto e afetuoso obséquio
sou seu afeiçoadíssimo, no Senhor,
+ Andrea C. Card. Arceb.
Mercoledì ultimo scorso, venivo chiamato a Roma a mezzo di pressa
giungevo e mi presentavo, circa alle ore 10, al Prelato il quale con grand
re ricevuto in udienza dal santo Padre che desiderava parlarmi. All’o
Sommo Pontefice assieme a mons. Maffi, attuale amministratore di R
pendomi dar ragione di quanto succedeva, ma quando poi Sua Santità
mons. Maffi, mi sentii come venir meno e proruppi in lacrime. Pregai i
dottrina, la mia inesperienza, la malferma salute, la debolezza del mio car
recente fondato, ma nessuna di queste ragioni ebbe per buona. Lo pregai
A renúncia a Ravena
O arcebispo Conforti viu-se dirigindo uma diocese em que a propaganda anticlerical tinha afastado o
povo da fé: as igrejas estavam desertas, as crianças já não eram batizadas e nem os mortos eram levados à igreja. Além disso, encontrou um clero dividido em fileiras opostas. As dificuldades e o clima tiveram influência sobre sua já precária saúde. Em 1904, o arcebispo cuspiu sangue repetidas vezes, a
ponto de pensar numa tuberculose avançada. Por isso, decidiu apresentar seu pedido de demissão ao
Papa. Conta ao cardeal as razões desse grave passo e roga-lhe que interponha suas recomendações para obter o consenso do santo padre Pio X.
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O arcebispo Conforti ao cardeal Ferrari
In omnibus Christus!
Parma, 11 de setembro de 1904
Eminentíssimo Príncipe,
permita-me abrir minha alma a V. Em.ª com a confiança que me inspira a sua bondade e implorar seu
apoio em coisa de grave importância, que poderá talvez
trazer desprazer, mas que deverá reconhecer para mim
indispensável.
Desde que vim para Ravena, minha pobre saúde foise deteriorando quase continuamente e agora me vejo
em condições nada confortáveis. No ano passado, com a
chegada do verão, que em Ravena é bastante quente e
abafado, fui tomado por uma tosse contínua, por insônia e frequentes febres, que duraram mais de três meses,
a ponto de gerar nos médicos o medo bem fundado de
um início de tuberculose. Em agosto, fiquei por algum
Guido Maria Conforti
tempo em Parma, e o ar nativo e os tratamentos assíduos
determinaram em mim uma notável melhora, pelo que
voltei a minha diocese e ao trabalho com discreta rapidez. Não tardei, porém, a me dar conta de
uma notável piora e de fato não passou mês em que não tenha tido de ficar acamado por alguns
dias. Depois, a volta do verão produziu em mim os incômodos de sempre, de tosse e febre, que
procurei suportar com certo descuido, cumprindo do melhor modo possível os meus compromissos, o que contribuiu para piorar a minha saúde, como puderam comprovar as frequentes cusparadas de sangue, que sempre ocultei dos de casa, para não entristecê-los.
No final de julho passado dirigi-me a Parma, onde ainda me encontro, mas em condições muito deploráveis. Nos primeiros dias de agosto cuspi sangue duas vezes, com poucos dias de intervalo, e, se no presente momento, em consequência dos cuidados diligentes a que me sujeitei, me sinto muito melhor, não posso porém dizer estar totalmente curado, voltando de vez em quando a
cuspir sangue. Não dissimulo a V. Em.ª que esse conjunto de coisas me aflige bastante, bem pouco
podendo prometer para o futuro em questão de saúde, principalmente quando penso que também no passado sempre tive, desde a juventude, uma grande tendência às doenças do peito.
Mas ainda mais me aflige o pensamento de não poder desenvolver em Ravena toda a operosidade e a energia que a gravidade das condições morais locais exigiria. Essa ilustre arquidiocese decaiu
pelo fato de há cinquenta anos sempre ter sido governada por arcebispos, louváveis, sim, por piedade e doutrina, mas que assumiram o posto já velhos e enfermos, pelo que bem pouco puderam
fazer para o bem da arquidiocese.
Pensar, portanto, que também por minha causa venha-se a prolongar este doloroso estado de
coisas me aflige profundamente e não me deixa um instante de paz. Por isso, e não pelas cruzes e
penas inseparáveis do ministério episcopal, cheguei à desagradável determinação de depositar nas
mãos augustas do Santo Padre meu pedido de demissão, o que fiz há poucas semanas. Obtive resposta de que Sua Santidade não podia resolver-se a aceitar a minha renúncia e me propunha a escolha de um auxiliar ou de um coadjutor de minha confiança. Respondi agradecendo a atenção, ¬
ante lettera, e tosto messomi in viaggio a quella volta, il giorno appresso vi
e mia sorpresa mi invitava in Vaticano per le 18 del giorno stesso per esseora convenuta mi trovai colà e tosto venni messo all’augusta presenza del
Ravenna, chiamato esso pure d’urgenza. Il cuore forte mi batteva non sami disse che mi destinava arcivescovo di Ravenna, dandomi ad ausiliare
l S. Padre a risparmiarmi un tanto peso, adducendo la poca mia virtù e
rattere, i bisogni presenti del Seminario delle Missioni da me di
a scambiare le parti mettendo al mio posto mons. Maffi, a petto del quale
30DIAS Nº 9
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55
mas insistindo ao mesmo tempo na
renúncia, fazendo respeitosamente
observar que tal opção criaria um estado de coisas anormal, que poderia
durar muito tempo, levando em
conta a minha idade não avançada,
sem falar que a renda episcopal, embora a creiam tão rica, não oferecia
margem suficiente para um conveniente salário ao próprio coadjutor.
Guido Maria Conforti, bispo de Parma
Não recebi até agora resposta a essa
minha réplica, e por isso rogo o quanto sei e posso a V. Em.ª que queira oportunamente interpor
seus bons ofícios junto ao Santo Padre.
Não é um vão temor que me induz a este grave passo, mas o desejo da maior glória de Deus e do
maior bem das almas, que certamente viriam da minha renúncia. Ravena precisa de um bispo capaz da máxima energia e atividade, e eu não me sinto fisicamente à altura dessa grave tarefa. De minha parte não peço senão poder-me retirar na solidão do meu Instituto para as Missões, onde empregarei o resto dos meus dias, que não podem ser muitos, em educar muitos queridos jovens desejosos das pacíficas conquistas da fé e do martírio. É essa a minha única aspiração neste mundo.
Se o Santo Padre quiser destinar-me alguma provisão pecuniária, eu a aceitarei com gratidão,
em benefício da humilde Obra a que consagrei todos os meus bens. Perdoe-me também desta vez
se abuso demais da sua bondade, que sei ser muito grande, e me abençoe.
Resposta do cardeal Ferrari
J.M.J.
Excelência ilustríssima e reverendíssima,
o Santo Padre, embora descontente, teve de reconhecer o grave peso das razões alegadas por V.
Ex.ª em sua repetida solicitação, e já está pensando numa providência para essa arquidiocese.
Acrescentei uma menção a respeito da provisão, e ele respondeu que, como é mais do que justo, saberá levá-la em conta. Com grande pena cumpri o ofício que o senhor me encomendou, mas com
o senhor elevei os olhos ao Céu e disse: “Fiat voluntas Dei”. Quero porém esperar que a Providência lhe reserve fazer o bem ainda por muito tempo; e uma vez recuperado o vigor da saúde, especialmente por meio de repouso absoluto, podemos bem desejar que V. Ex.ª, não apenas em seu seminário, mas em toda a diocese parmense, dedicará suas forças e seu santo zelo.
Lamento ter de passar por Gênova, partindo hoje às 2h40, porque gostaria de lhe fazer uma visita em Parma. Mas daqui a algum tempo não poderei vê-lo em Milão? Ficaria muito feliz e o espero.
O Santo Padre o abençoa com toda a afeição, e eu, renovando-lhe o obséquio de veneração profunda, beijo humildemente as mãos.
De V. Ex.ª Rev.ma
Roma, 16 de setembro de 1904
humilíssimo, devotadíssimo, afeiçoadíssimo
+ Andrea C. Cardeal Ferrari
Arceb. de Milão
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O arcebispo agradece e afirma novamente as razões da renúncia: “Ao bem comum deve ceder o privado; e eu de bom grado obtemperei a este para mim necessário sentimento”.
In omnibus Christus!
Parma, 18 de setembro de 1904
Eminentíssimo Príncipe,
tão logo recebi sua carta veneranda, dirigi-me à capela para agradecer ao Senhor pela graça obtida, e agora satisfaço o dever de exprimir a V. Em.ª os sentimentos de minha viva gratidão pelos
bons e eficazes ofícios interpostos junto ao Santo Padre para que fosse atendido.
Parece-me ter renascido para uma vida nova, agora que fui liberado daquela enorme cruz que,
há dois anos, me era imposta e que eu aceitava em obséquio ao Vigário de Cristo. Acostumado a reconhecer nas vicissitudes humanas a vontade de Deus, que tudo dispõe para o nosso melhor, não
sinto nenhum remorso pelo passo desagradável que dei, diante das dificuldades não leves que me
impediam de poder fazer todo o bem que gostaria. Parece-me, antes, ter cumprido um sagrado dever ao trabalhar para que seja enviado a Ravena um arcebispo que possa e saiba fazer o que eu, por
minha frágil saúde, poderia apenas desejar.
Ao bem comum deve ceder o privado; e eu de bom grado obtemperei a este para mim necessário
sentimento. De agora em diante os meus pensamentos e os meus cuidados serão dirigidos a educar para o apostolado católico muitos queridos jovens; ocupação essa em nada inconveniente ao
excelso caráter episcopal, com o qual contra qualquer mérito meu fui honrado. V. Em.ª sempre
bom, sempre paternal comigo, me ajude com suas orações, para que possa alcançar esse objetivo
nobilíssimo e salutar e por semelhante forma ao menos não me torne de modo algum inútil à Igreja de Deus no tempo, talvez não longo, que ainda me resta de vida.
Agradeço a V. Em.ª também pela bela carta pastoral que me enviou como dádiva e pelo cortês
convite que me faz de me dirigir a Milão. Demasiado vivo é o desejo que sinto de rever e obsequiar
V. Em.ª, para que não venha a aproveitar esse convite em tempo não distante.
Beijo com profundo obséquio sua Púrpura Sagrada e com exuberante reconhecimento e gratidão me entrego a V. Em.ª, eminentíssimo Príncipe.
Devotadíssimo, obrigadíssimo, afeiçoadíssimo Filho, em Cristo,
+ Guido M. Arcebispo
Assim se concluiu o episódio de Ravena e dom Guido voltou a Parma, para o
seu instituto. Tendo recuperado suficientemente a saúde, em 1907 foi nomeado
pelo papa Pio X coadjutor do bispo de Parma com direito de sucessão. Sucedeu-o
de fato ao final de dezembro daquele ano e governou a diocese por 24 anos, até a
morte. A amizade com o cardeal Ferrari e a correspondência duraram até a morte
do cardeal, em 1921.
Organizado por padre Augusto Luca, S.X.
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- 2011
57
PRIMEIRO MILÊNIO
Caim constrói a cidade,
Abel oferece o que lhe é doado
por Deus
por Lorenzo Cappelletti
M
ais de uma vez, nos últimos dias, o papa Bento XVI citou passagens da Ecclesiam Suam, de Paulo VI. Não por acaso, o fez em 25 de setembro, no Konzerthaus de Freiburg im Breisgau, no encontro com católicos engajados na Igreja e na
sociedade: “Se a Igreja, como diz o Papa Paulo VI, ‘procura modelar-se em conformidade com o tipo proposto por Cristo, não poderá deixar de distinguir-se profundamente do ambiente humano, em que afinal vive ou do qual se aproxima’ (Ecclesiam Suam, 60)”. No domingo seguinte, no Ângelus, evocando a parábola dos vinhateiros homicidas, o Papa explicitava a essência de um tipo de Igreja como esse:
“Só n’Ele, por Ele e com Ele se edifica a Igreja, povo da nova Aliança. A este propósito, o Servo de Deus Paulo VI escreveu: ‘O primeiro fruto do aprofundamento da
consciência da Igreja sobre si mesma é a renovada descoberta da sua relação vital
com Cristo. Aspecto notório, mas fundamental, mas indispensável, mas nunca conhecido, meditado nem celebrado o suficiente’ (Ecclesiam Suam, 37)”.
Esse tipo de Igreja, traduzido (e assim compreendido, seria preciso acrescentar,
pois normalmente reina sobre ele uma grande confusão, por parte daqueles que
não entendem que as duas cidades convivem neste mundo) segundo as categorias
agostinianas das duas cidades, é o da cidade de Abel do livro XV do De civitate Dei.
“Lemos na Escritura que Caim construiu uma cidade, enquanto Abel, como peregrino, não a construiu”. O ponto não é tanto construir ou não, mas saber quem constrói e como. De fato, Agostinho prossegue dizendo que nos encontramos diante de
duas formas de cidade neste mundo: “Uma que (segundo uma tradução densa de
significado de Del Noce, num velho artigo de 1986, publicado no Corriere della Sera por ocasião do aniversário da conversão de Agostinho) demonstra a sua presença, a outra que, por meio da sua presença, serve de sinal para a cidade celeste”.
Uma que tem como problema demonstrar (suam praesentiam demonstrantem), a
outra que simplesmente existe para um Outro (sua praesentia servientem).
Esse tipo expressa a mens do Vaticano II sobre a Igreja, como lembrava padre
Cottier numa reflexão sobre a Lumen gentium que apareceu na última edição de
30Dias: “O último Concílio reconhece que o ponto de origem da Igreja não é a pró-
58
30DIAS Nº 9 - 2011
Nova
vetera
et
pria Igreja, mas a presença viva de
Cristo que a edifica pessoalmente. A
luz que é Cristo se reflete na Igreja como num espelho. A consciência desse dado elementar (a Igreja é o reflexo, no mundo, da presença e da ação
de Cristo) ilumina tudo o que o último
Concílio disse sobre a Igreja”.
De modo mais geral, esse tipo de
Igreja exprime a tradição apostólica,
que se manteve luminosa e pacífica
sobretudo no primeiro milênio da
Igreja indivisa (como podemos ler
nos mais variados autores italianos
cada vez mais frequentemente, de
Messori a Morini, de Magister a Melloni). Mas essa tradição volta à tona,
também, se prestarmos atenção, justamente nos momentos mais críticos
do segundo milênio. Basta lembrar o
Decreto sobre a justificação do Concílio de Trento, que não por acaso
constituiu nos nossos dias a base mais
sólida e frutuosa para o diálogo com
os luteranos, justamente porque não
é primordialmente antiprotestante,
mas antipelagiano. Ou pensar no VaCristo sentado no trono, presidindo o Concílio de Niceia
ticano I, quando se “autolimita”, poderíamos dizer, afirmando que “a
doutrina da fé que Deus revelou não foi proposta à inteligência humana como um
sistema filosófico a ser aperfeiçoado, mas confiada à Esposa de Cristo para que a
preserve fielmente e infalivelmente a proclame” (Dei Filius).
O artigo que segue mostra de que significado concreto se revestiu essa perspectiva nos discursos do papa Celestino I (422-432), pronunciados nos mesmos anos
em que Agostinho ia compondo o De civitate Dei e segundo a mesma mens. Mas
pode constituir também hoje uma imagem simples e bela de uma Igreja que não se
faz por si mesma, como, repetindo as palavras da Ecclesiam Suam, tem lembrado
nestes tempos o papa Bento XVI.
q
30DIAS Nº 9 - 2011
59
PRIMEIRO MILÊNIO
A Tradição segundo as cartas
do Papa Celestino I (422-432)
O tesouro
a ser guardado
é mais importante
que aquele que
o guarda
por Lorenzo Cappelletti
ez de setembro de 422,
Celestino I é o novo bispo
de Roma. À Sé de Pedro
sobe um homem cuja biografia
praticamente desconhecemos,
mas que, pelos poucos escritos
que nos deixou, sabemos que se
referiu à fé do pescador da Galileia
como o único motivo do seu ser e
do seu agir na sede papal. O seu
epistolário, que chegou até nósfragmentário, devido às numerosas destruições a que foi submetido o arquivo da Igreja de Roma,
foi recentemente publicado, pela
primeira vez numa bela tradução
italiana completa por obra de
Franco Guidi, editado pela Città
Nuova. Grande parte da obra é
constituída pelas suas intervenções na crise nestoriana, antes,
durante e depois do Concílio de
Éfeso de 431. Com isso, não pretendemos, como caçadores de heresias, fazer indagações sobre o
erro de Nestório, condenado exatamente naquele Concílio, mas
trazer positivamente à luz os critérios que guiaram Celestino.
D
60
30DIAS Nº 9
- 2011
A fé que nos foi transmitida
pelos apóstolos
com plenitude e com clareza
deve ser salvaguardada
de acréscimos e de subtrações
A primeira coisa que impressiona
ao constatar a maneira com a qual
Celestino enfrentou a questão é
que ele não se preocupa minimamente em discutir a teologia de
Nestório e também as razões pelas
quais Nestório pensa que deve
preferir para Maria a expressão
Christotòkos (mãe de Cristo) à
expressão Theotòkos (mãe de
Deus). É um campo minado. Mas
principalmente não compete ao
carisma de Roma, cuja originalidade, se poderia dizer, é a falta de
originalidade teológica, de não
propor soluções próprias. Celestino segue a fór mula do Credo
apostólico que afirma com simplicidade que o Filho unigênito de
Deus se fez carne por Maria.
Ao mesmo tempo Celestino
aproveita sua experiência passada. No início da carta que envia a
Nestório em agosto de 430 reper-
corre os recentes fatos da sé constantinopolitana: “Depois da sua
morte [a morte de Ático, bispo de
Constantinopla de 406 a 425] foi
muito grande a nossa preocupação, porque nos perguntávamos
se o seu sucessor o sucederia tam-
A r q u i v o d e 3 0 D i a s - S e t e m b ro d e 1 9 9 6
Nova
vetera
et
Nestas páginas, imagens dos mosaicos da Basílica de Santa Maria Maior, em Roma. Aqui, abaixo, detalhe do arco triunfal:
o Trono divino tendo ao lado os Santos Pedro e Paulo com a inscrição Xystus episcopus plebi Dei
bém na fé, já que é difícil que o bem
dure muito. Com efeito, amiúde o
mal o sucede tomando o seu lugar.
Todavia, depois dele tivemos o
santo Sisínio, que logo nos deixou
[já em 427], um colega louvado pela sua simplicidade e santidade que
pregava a fé que tinha encontrado.
Evidentemente, ele com a sua simples santidade e a sua santa simplicidade, tinha lido que é preciso antes ter o temor que a ciência profunda; e em outro lugar que não se
deve examinar muito profunda-
mente, e ainda: ‘Quem pregará diversamente de como nós pregamos, seja anátema’” (p.109-110).
A preocupação de Celestino é que
“a excessiva discussão” (p. 111) de
Nestório, que “preferiu estar a serviço de suas próprias ideias e ¬
30DIAS Nº 9 - 2011
61
não a serviço de Cristo” (p. 107) e
que quer “raciocinar sobre o Deus
Verbo de maneira diversa da considerada pela fé comum” (pág. 111),
enriqueça ou prive, é o mesmo, o
depositum fidei: “Não se deve
perturbar a pureza da fé tradicional
com palavras blasfêmias sobre
Deus. Quem não seria julgado digno de anátema, se acrescenta ou
subtrai alguma coisa à fé? Com
efeito, a fé que nos foi transmitida
pelos apóstolos com plenitude e
com clareza deve ser salvaguardada de acréscimos e subtrações. Lemos nos nossos livros que nada de-
PRIMEIRO MILÊNIO
ve ser acrescentado ou subtraído.
Com efeito, quem acrescenta ou
quem subtrai será atingido por
uma grande pena [...]. Nós nos lamentamos que foram retiradas do
Credo, transmitido pelos apóstolos, as palavras que nos prometem a esperança de toda a nossa
vida e nossa salvação” (p. 113). E
ainda mais pessoalmente, colocando à parte o pluralis maiestatis: “Agitur ut mihi totius spei
A Aparição do Senhor a Abraão, painel da nave central
62
30DIAS Nº 9
- 2011
meae causa tollatur”, isto é: “Trata-se de ser privado da razão de
toda minha esperança” (p. 116).
Passagem verdadeiramente decisiva: não podemos ter outra fé senão a fides communis, a fé dos
apóstolos, porque, paradoxalmente, apenas a fé comum é capaz de nutrir a pessoal e racional
esperança de um homem. Não há
nada de mecânico na guarda de
um depósito, é um livre agir, é um
amor: “A guarda da doutrina
transmitida não é menos importante do que o dever de quem a
transmite [o ato de evidenciar o
contrário, que hoje assistimos,
não seria uma indicação de falta
de amor?]. Os apóstolos lançaram
as sementes da fé, o nosso cuidado as proteja, para que o nosso
patrão, ao chegar, encontre frutos abundantes; sem dúvida somente a ele deve ser atribuída a
produtividade [hoje deve ter surgido alguma dúvida, se há tanta agitação]. Com efeito, como diz o vaso de eleição [São Paulo], não é
suficiente plantar e irrigar, se Deus
não faz com que cresça. Portanto,
temos de trabalhar juntos para
conservar os ensinamentos que
nos foram confiados e dos quais
através da sucessão apostólica nos
apropriamos até agora” (p. 144).
Assim escrevia ao Concílio reunido em Éfeso no dia 8 de maio de
431. Alguns anos antes, levando
em conta as originalidades disciplinares e teológicas da província de
Arles, Celestino explicava que assim como a fé dos apóstolos nutre
a esperança pessoal, a procura de
novidades desemboca em superstições ilusórias: “Sabemos que alguns sacerdotes do Senhor [isto é,
bispos] colocaram-se à serviço da
superstição ao invés de cuidar da
pureza da mente, ou seja, da fé
[...]. Se começamos a procurar a
novidade, pisaremos sobre as normas que nos foram transmitidas
pelos padres, e daremos espaço a
superstições sem valor. Portanto,
não devemos levar a mentalidade
dos fiéis a tais exterioridades. Com
efeito, devem ser educados e não
iludidos”. Aos bispos das províncias de Vienne e Narbonne, 26 de
julho de 428 (p. 61-62).
A r q u i v o d e 3 0 D i a s - S e t e m b ro d e 1 9 9 6
A guarda da doutrina
transmitida não é menos
importante que o dever
de quem a transmite
Na realidade, para Celestino, um
outro motivo de preocupação
aproximava desde então Nestório
aos bispos de Provença: o fato de
ter transgredido as normas tradicionais a respeito das eleições
episcopais. Para Celestino, o bispo deve ser escolhido no interior
do clero da própria Igreja, devendo
tratar-se de um candidato que já tenha dado boas provas de si mesmo
nos vários graus de ordens maiores
e menores. Explica isso na carta citada: “Que a ninguém seja imposto um bispo indesejado. Que seja
solicitado o consenso e levada em
consideração a vontade do clero,
do povo e dos participantes das ordens. Que seja eleito outro, pertencente a uma outra Igreja, apenas quando não tenha sido possível encontrar alguém digno entre
os clérigos da cidade para a qual se
deve designar um bispo, eventualidade que não acreditamos que se
verifique. Com efeito, neste caso,
antes é preciso reprovar estes clérigos, para que sejam justamente
preferidos aos que pertençam a
outras Igrejas. Que cada um produza o fruto do próprio serviço na
Igreja em que transcorreu o maior
tempo da sua própria vida lidando
em todas as funções. Que ninguém
absolutamente coloque as mãos
em serviços, e que ninguém ouse
pretender para si a recompensa
que pertence a outros. Que os clérigos tenham o direito de se opor,
se consideram ser sumetidos a um
peso muito grande, e não temam
em exprimir a sua rejeição àqueles
que veem ser introduzidos por
meios tortuosos; devem exprimir
livremente seu parecer sobre aquele que os deverá governar, se não é
a pessoa que merecem” (p. 6768). Alguns anos depois, louvando
o novo bispo de Constantinopla,
Celestino contestaria em Nestório
(que já fora afastado de Constantinopla) também a sua condição de
teólogo famoso que veio de fora:
“[Maximiano] não é desconhecido,
não foi trazido de outra localidade.
Vocês fizeram um juízo positivo so-
Nova
vetera
et
A passagem do Mar Vermelho, painel da nave central
bre uma pessoa que está entre vocês, vocês que no passado recente
foram enganados, pela sua desgraça, pela fama de uma personagem
ausente”. Ao clero e ao povo de
Constantinopla, 15 de março de
432 (p. 180).
Venceu em vós Ele,
cuja divindade pensava-se
que pudesse ser colocada
em discussão
É depois de obtida a vitória, que,
no entanto, se pode apreciar como a fé que vence – e se constata:
“O nosso Deus não suporta que
permaneça encoberto aquilo que
Ele doa, para que jamais os benefícios celestes permaneçam escondidos” (p. 183) – não tem ne-
nhuma relação com um projeto
de destruição daquele que erra.
Celestino continua fiel àquilo que
quis que se escrevesse no número
8 do Indiculus: “Que certas coisas sejam pedidas a Deus não de
modo superficial ou inutilmente o
demonstra o resultado concreto,
do momento que Deus se digna a
recuperar muitos que cometem
todos os tipos de erros, e, depois
de tê-los retirados do poder das
trevas, os transfere para o reino
do Filho de seu amor, e de vasos
de ira os transforma em vasos de
misericórdia. E tudo isto é entendido como obra divina, tanto que
a Deus que faz estas coisas está
sempre dirigido o agradecimento
e a expressão de louvor por ter ¬
30DIAS Nº 9 - 2011
63
iluminado e corrigido todos eles”
(p. 82). Assim, quando se trata
das condenações dos seguidores
de Nestório, o papa Celestino pede aos padres conciliares de Éfeso
que o ouçam: “A respeito dos que
compartilharam com igual impiedade a doutrina de Nestório e se
uniram a ele como companheiros
dos seus crimes, se bem que se
leia nas vossas sentenças a condenação deles, todavia também nós
decretamos aquilo que nos parece
oportuno” (p. 188). E aconselha
que seja usada a mesma magnanimidade que foi usada com frutos
para com os pelagianos: “Nestas
questões é preciso considerar os
vários elementos que a Sé apostólica sempre considerou [não é último indício da catolicidade a capacidade de levar em conta a totalidade dos fatores]. Aquilo que dizemos está documentado pelos fatos dos quais são protagonistas os
celestianos [os pelagianos], os
quais até aqui confiaram sempre
no Concílio. Estes, se se arrependem, têm a possibilidade de voltar, o que não é permitido apenas
A Anunciação, mosaico do arco triunfal
64
30DIAS Nº 9
- 2011
PRIMEIRO MILÊNIO
àqueles que consta, pela aprovação de todos os irmãos, terem sido precisamente condenados junto com os autores da heresia.
Com efeito, graças à misericórdia
de Deus estamos contentes com o
fato que alguns deles já tenham
voltado a nós [...]. Aconselho a
vossa fraternidade de seguir este
exemplo” (p. 188-189). Celestino não é severo com os “pelagianos anônimos”, contra os quais
interessadamente se indignaram
os seguidores de ambas as escolas
contrapostas em Éfeso. O fato é
que a vitória de Éfeso não é a vitória de uma teologia (a alexandrina) sobre outra (a antioquiana).
Na realidade “venceu em vós Ele,
cuja divindade pensava-se que pudesse ser colocada em discussão
[...]. Segundo as palavras do Senhor, não poderia ser arrancada
uma plantação que fora plantada
pelo Pai e que n’Ele demonstrava
produzir bons frutos. O Senhor de
Israel conservou a própria vinha.
A vinha do Senhor é a casa de Israel, e por isso não é uma surpresa se a sua casa foi preservada dos
ladrões, cujo zelador, como se lê,
não dorme, nem cochila [...]. Por
isso, irmãos caríssimos, permanecei com aquele que está em
vós, para que assim venceis (permanete in eum qui est, ut vincatis, in vobis)” (p. 168; 177; 181).
Aqueles que pretenderam ter vencido em nome de uma teologia logo irão à deriva. Com a morte de
Cirilo (444), o patriarca de Alexandria que em Éfeso foi o verdadeiro protagonista da confirmação da fé apostólica, assumiu o
seu lugar Dióscoro. O novo patriarca, não se apoiando mais à fé
de Pedro (que aquela sé, fundada
por São Marcos o evangelista, dividia com Roma), mas à genialidade da escola de Clemente, de Orígenes, de Apolinário, criou em
449 aquele concílio que passou à
história como latrocinium ephesinum, que foi a mais infame traição ao Concílio de Éfeso, não
apenas pela profissão de uma fé
A r q u i v o d e 3 0 D i a s - S e t e m b ro d e 1 9 9 6
Nova
vetera
et
A Adoração dos Magos, mosaico do arco triunfal
claramente herética mas também
pela intolerância transgressora
que foi ali utilizada. Leão Magno,
que na época reinava (depois de
ter sido, segundo a tradição, fiel
diácono de Celestino), deve ter repetido as palavras de seu predecessor: “É difícil que o bem dure
muito. De fato, amiúde o mal o
sucede tomando o seu lugar”.
Por isso, irmãos caríssimos,
permanecei com Aquele
que está em vós
para que assim venceis
Trataremos agora brevemente da
ideia que Celestino tinha do papel
da autoridade política nos fatos da
Igreja. Desta vez o faremos não a
partir das citações de Celestino,
mas de um trecho da Introdução
de Franco Guidi: “Celestino reconhece também que a autoridade
imperial deriva de Cristo, mas o
reconhecimento não é feito para
exaltá-la, quanto para insinuar
que ela deve estar subordinada a
Cristo e portanto aos interesses
da Igreja de Cristo. E da mesma
forma deve ser entendida a exortação ao imperador para preocupar-se mais com a causa da fé do
que com os destinos do império,
pois estes dependem dos destinos
da Igreja. Como vemos, trata-se
de uma tese contraposta à política
cesáreo-papista de Constantino e
de Constâncio II, mesmo se ainda
não chegamos à afirmação do primado da auctoritas sacrata pontificum, que terá muita importância para a definição das relações
entre a Igreja e o poder imperial
na Idade Média” (p. 33). Tomamos a liberdade de discordar e
considerar anacronista esta interpretação. Parece quase que a
concepção de Celestino considere necessariamente a saída hegemônico-gregoriana como contraposição especular ao cesáreo-papismo bizantino. Celestino parece preocupado em frear um poder político rebelde. Na realidade,
lendo os textos encontra-se uma
concepção muito mais leiga: Celestino não reconhece a autoridade política nem para “exaltá-la”,
nem “para insinuar...”, simplesmente a reconhece. Tudo isto
coincide mais com o início do 13°
capítulo da Carta aos Romanos
ou com a Primeira Carta de Pedro
ou ainda com a Cidade de Deus de
Agostinho que certamente, por
aproximação ideal e temporal,
Celestino devia conhecer melhor... do que as pretensões gregorianas. Celestino, no dia 7 de
maio de 431, a Cirilo de Alexandria: “Não é inútil, principalmente no caso de questões divinas, a
atenção da autoridade imperial a
respeito de Deus, que fielmente
dirige os corações dos reinantes”
(p. 141). Celestino, dia 15 de
março de 432, ao Concílio de
Éfeso: “Não surpreende que o coração do rei, que está nas mãos de
Deus, esteja em sintonia com
aqueles que ele sabe que são seus
sacerdotes” (p. 185).
Como prova de qual tinha sido
“a razão de toda a sua esperança”
enquanto vivia (p. 116), Celestino
quis repousar depois de morto ad
nymphas sancti Petri, junto às
catacumbas de Priscila, no lugar
que, de acordo com a antiga tradição, São Pedro teria escolhido para batizar os primeiros cristãos de
Roma. Quem quer que o tenha escrito, o seu epitáfio recorda aquela
“confiança que nasce da simplicidade” (p. 176) que acompanhara
o Papa em vida: “Aqui é o sepulcro do corpo: repousam ossos e
cinzas, não morre nada; a carne
toda ressurge no Senhor”.
q
30DIAS Nº 9 - 2011
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