Veja o PDF da edição - Plásticos em Revista

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Veja o PDF da edição - Plásticos em Revista
Fevereiro/2014
Nº 600
UD
Os masters por
trás das cores
com cara de lar
Resinas de barreira
A indústria de alimentos
poderia ousar mais
Refrigerantes
Cápsulas ameaçam
as garrafas de PET?
EDITORIAL
O futuro no escuro
Previsão de escassez de petróleo põe plásticos em xeque no carro elétrico
F
iliada à norte-americana Society of Automotive Engineers,
a SAE Brasil se debruça sobre pesquisas a respeito dos
prováveis efeitos na engenharia da mobilidade esperado com
a escassez global de petróleo no período aproximado de 50
anos. As recentes descobertas de mais reservas do combustível em
regiões como a do Golfo do México ou o frisson em torno da corrida
de investidores atrás do óleo e gás natural
seccionados do gás de xisto, matriz chave
para tornar a curto prazo os EUA autossuficientes em petróleo, podem causar
um soluço positivo nos gráficos, mas os
levantamentos respeitados pelos técnicos
da SAE convergem de forma inexorável
para a chegada a mais um ciclo de carência
mundial da fonte finita de energia.
Essa perspectiva de escassez de petróleo e, a tiracolo, a promessa colateral de
declínio nas emissões de gás carbônico,
são o mote para o atual relançamento do
carro elétrico, movido a baterias recarregáveis e cujo surgimento remonta ao final do século 19, na Escócia e
EUA. Desde então, a indústria automobilística tem acusado intermitentes recaídas no estudo e concepção de modelos sem tipo algum de
emissão. Um renitente calcanhar de aquiles dos veículos elétricos é a
disponibilidade de baterias acessíveis (inclusive na troca ) e capazes
de armazenar carga suficiente para se percorrer uma distância útil. Nos
anos 70, por exemplo, sob a pancada dos choques do petróleo e o
espocar das primeiras preocupações com o meio ambiente, estreou
nos EUA o CitiCar, da montadora Vanguard-Sebring, apto a rodar 48
km/h a cada recarga de suas baterias de chumbo ácido, cuja recarga
consumia de quatro a 10 horas. O CitiCar saiu de cena ao final da
década, vitimado por segurança insuficiente.
Do tipo chumbo ácido, as montadoras evoluíram para as baterias
de níquel hidreto metálico e hoje estão na versão de lítio-íon, de recarga
mais rápida e adequadas a trajetos maiores, mais compatíveis com
a mobilidade na vida real. Apesar do progresso a bordo das baterias
lítio-ion, os carros elétricos permanecem uma promessa e, entre os
pedregulhos por remover do caminho, constam a ausência de sistemas
de postos preparados e a cara manutenção dos veículos eletrificados.
Nesse meio tempo, os híbridos se popularizam como saída
provisória. Mas os experimentos tecnológicos, montagem de redes
de abastecimento e lançamentos de carros elétricos continuam a
borbulhar, indicando uma tendência sem volta. A visão do carro 100%
elétrico já faz tremer nos alicerces, devido à sua antevista extinção,
redutos como sistemas de transmissão e de diferencial (transferência
e distribuição uniforme do torque) ou
dos óleos para o motor. Vale o mesmo
para peças plásticas como o tanque de
combustível soprado, aplicação hoje no
cartão de visitas de polietileno de alta
densidade. Outro desafio para o plástico
emerge da preferência de montadoras
âncoras, como BMW, Audi e Mercedes
Benz, pelo uso de alumínio nas partes
externas. Como pesa quase a metade do
peso original em aço, o alumínio converge
para o consumo menor de combustível.
Em razão do preço, seu uso hoje limita-se a determinados modelos de luxo mas
a experiência histórica vaticina que toda revolução vem de cima para
baixo. O plástico não presencia esses movimentos com apatia. A BMW
sustenta que seus carros elétricos i3 e i6 são os primeiros do mundo
com carroceria de termofixo à base de fibra de carbono. A Smart, por
seu turno, já lançou carro conceito sem metal, à base de epóxi e fibra
de carbono na carcaça.
Os técnicos da SAE Brasil afirmam deparar com uma incógnita:
qual o futuro das resinas em autopeças? Afinal, elas procedem do
petróleo, cuja futura escassez leva ao encarecimento do combustível e
seus derivados. O que colide com o ideal de um carro econômico, no
sentido de preço ao alcance popular. Nas conversas com futurólogos
da entidade, pulam na mesa hipóteses como investimentos maciços
em bioplásticos, hoje ausentes dos carros, por aliarem predicados
ambientais com a ausência da matriz petrolífera na composição. Reina
hoje, no entanto, o consenso de que, à parte características técnicas,
plásticos de fontes renováveis dependem de brutal economia de escala
para se avizinharem dos preços das resinas convencionais. De outro
lado, ninguém põe em dúvida a capacidade do plástico de se reinventar.
Façam seu jogo. •
3
plásticos em revista
Fevereiro / 2014
SUMÁRIO
Conjuntura
Diretores
Beatriz de Mello Helman
Hélio Helman
REDAÇÃO
Diretor
Visor
RESINAS DE BARREIRA
Passividade da indústria
refreia evolução
Fevereiro/2014
Nº 600 - Ano 51
Hélio Helman
[email protected]
Fernanda de Biagio
[email protected]
ESPECIAL
TUBOS CORRUGADOS
Tigre-ADS monta segunda
planta no país
Direção de Arte
Samuel Felix
[email protected]
ADMINISTRAÇÃO
Diretora
Beatriz de Mello Helman
[email protected]
Publicidade
Oportunidades
IN MOLD LABEL
Mack Color e Vitopel
desenvolvem filme show
Sensor
ADALBERTO VIVIANI
Consultor analisa duelo das
cápsulas de refrigerantes
com garrafas de PET
Rasante
PLANO GERAL
Curtas, quentes e cáusticas
3 Questões
OSVALDO CRUZ
Distribuidor comenta efeitos
das barreiras tarifárias para
resinas
UD
OS MASTERS
POR TRÁS DAS
CORES COM
CARA DE LAR
Sustentabilidade
AG PLAST
Engarrafadora entra em PET
bottle to bottle
INTECMAT
Aposta no filão de
biocompostos
Trajetória
Marketing
Fábrica Modelo
Tendências
INPLAC
40 anos sem rugas
NORD WEST
Uma butique de injeção de
peças técnicas
Jalil Issa Gerjis Jr.
Sergio Antonio da Silva
[email protected]
International Sales
Multimedia, Inc. (USA)
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OS LANÇAMENTOS DE
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Com plástico, dá para navegar
pedalando
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visor
Dá pra garfar bem mais
Flexíveis com barreira poderiam desfrutar bem mais
o mercado se a indústria deixasse a retranca
Claire Sarantópoulos:
progresso das barreiras
atrelado à selagem.
2
0 anos de economia estabilizada,
coroados hoje com baixo desemprego e massa salarial crescente
ainda não são suficientes para
deflagrar uma evolução com a mesma
intensidade entre as embalagens flexíveis
com agentes de barreira. Progressos são
patentes na área. Convertedores, dão a
entrever os entrevistados nessa reportagem,
contam com equipamentos em dia com
o mundo, matérias-primas da elite global
estão ao alcance da mão e, apesar do rilhar
dos dentes da inflação, o consumo familiar
segue adiante. No entanto, apontam algumas fontes de peso, a demanda brasileira
por esses flexíveis para alimentos ainda
não corresponde em cheio ao potencial do
país – nichos consolidados para resinas
de barreira no exterior permanecem pouco
explorados e, entre as interpretações para a
situação, alega-se a inclinação do público
por dar primazia ao fator custo, embora seu
poder aquisitivo seja bandeira eleitoral.
Por essa linha de raciocínio, a indústria
de alimentos e sua cadeia de embalagens
flexíveis estariam se curvando à cultura do
consumidor, contemplando-o com soluções
ok de preservação dos alimentos, mas represando as possibilidades de ganhar mercado,
à sombra da economia de escala, com a
oferta de tecnologias multicamada mais
requintadas e, atestam analistas ouvidos
por Plásticos em Revista, já entranhadas
no dia a dia de economias emergentes. O
radar dessa situação intrigante e do que
vem por aí é o ícone brasileiro do estudo e
desenvolvimento de flexíveis com barreira,
diz Claire Sarantópoulos, pesquisadora
científica do Centro de Tecnologia de Embalagens (Cetea), astro da entrevista a seguir. A
propósito, as convertedoras Mazda, Valfilm
e Deltaplam e, entre os produtores de materiais de barreira, Dow, Solvay e Tredegar,
esquivaram-se de participar da reportagem.
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plásticos em revista
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PR - Poderia indicar alimentos cujas
embalagens flexíveis acusavam, sob
pressão dos custos, barreira de qualidade
sofrível há cerca de 5 anos e hoje em dia
essa propriedade de barreira evoluiu a
olhos vistos, devido ao salto no consumo e
consequente economia de escala?
Claire - Foi significativa a melhoria de
barreira dos filmes laminados metalizados,
tanto em termos de barreira a gases como
ao vapor d’água, em especial à base de
BOPP, para aplicações como embalagens
de alimentos de baixa atividade de água. Por
exemplo, produtos desidratados, snacks e
biscoitos. Também mudaram de patamar tecnológico os filmes coextrusados com barreira
de poliamida (PA) e copolímero de etileno e
álcool vinílico (EVOH), inclusive com inúmeras opções de películas encolhíveis.
No mercado de derivados de tomate no
Brasil, expressivo no plano mundial, a penetração de flexíveis também causou grandes
mudanças no setor de embalagens plásticas.
Em grande parte, tratam-se de estruturas
híbridas, ou seja, filmes metalizados lami-
nados a filmes coextrusados com barreira
polimérica. Normalmente, associa-se um
filme de PET metalizado a filmes coex com
PA e/ou EVOH.
PR - Como justifica esse progresso?
Claire - A melhoria de barreira nos
filmes decorre, principalmente, dos investimentos em infraestrutura de produção
de embalagem. Avanços na formação de
profissionais de maior competência na área
também foram determinantes para a evolução
do setor. O norte dos desenvolvimentos de
melhoria de barreira não tem sido o aumento
de espessura e gramatura dos materiais.
Ao contrário, buscam-se estruturas cada
vez mais finas, com redução de material e
manutenção ou até melhoria de desempenho.
Os materiais tem evoluído para o que chamamos de polímeros de alta performance.
Aliás, falando em barreira de embalagens,
trusados com barreira em EVOH seguiu o
crescimento interno de produtos cárneos
processados e do leite asséptico em embalagem flexível. Foi também relevante para o
avanço do mercado de estruturas de barreira
coextrusadas o aumento do mercado de
exportação de carne fresca embalada a
vácuo. Neste último cenário, verificaram-se
vários investimentos em modernas linhas
de coextrusão.
PR - Quais as consequências da
evolução observada quanto à ação de
barreira sobre a vida útil dos alimentos
acondicionados?
Claire - No caso de alimentos sensíveis
à umidade, em geral comercializados à
temperatura ambiente, o aumento de barreira
dos filmes metalizados associado a selagens
herméticas assegura melhor qualidade do
produto e vida útil mais longa. Trata-se de
fator importantíssimo
para um país de clima
quente e úmido, com
grande parte da população concentrada em capitais litorâneas. Já para
os produtos sensíveis
ao oxigênio, em grande
parte perecíveis e ofertados sob refrigeração, o
aumento da vida útil está
associado à temperatura
de comercialização, à
Carne fresca: investimentos em coextrusão no rastro das exportações.
eficiência da retirada do
oxigênio dentro da emé impossível não fazer menção às resinas
balagem além da barreira a gás do material.
de alta performance em selagem hermética.
Nesse caso, os três requisitos devem ser
PR - Quais os tipos de alimentos cujos
atendidos para se ter ganho significativo de
filmes multicamada, devido a custos, não
vida útil e qualidade.
PR- Quais os pontos a desejar que
recorriam cinco anos atrás à barreira de
nota no emprego dos materiais de barreira
EVOH e hoje o fazem no Brasil, devido
em filmes técnicos de alimentos no Brasil?
à explosão do consumo em especial nas
Claire - O mercado brasileiro ainda é
classes mais pobres?
pobre em opções de filmes de alta permeaClaire - Em termos de mercado consumidor, o avanço na área de filmes coexbilidade a gases, para aplicações em frutas
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plásticos em revista
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Hortaliças:
potencial pouco
desbravado para
flexíveis com barreira.
e hortaliças minimamente processadas. Por
exemplo, filmes microperfurados a laser,
ainda importados.
PR - No universo brasileiro de filmes
alimentícios com barreira, dominam com
folga as tradicionais estruturas de três
camadas. É muitíssimo restrita a parcela
de filmes de sete ou nove camadas. No
Primeiro Mundo, por seu turno, vários
alimentos no passado acondicionados em
três camadas hoje são embalados em uma
quantidade de substratos bem maior. Se o
consumo brasileiro de alimentos decolou
nos últimos 10 anos, mérito em especial
do poder aquisitivo das classes populares,
por quais motivos as embalagens locais,
escoradas nos ganhos de escala, não
acompanharam essa evolução tecnológica?
Claire - A pressão por preço baixo da
embalagem ainda mantém uma parte do
parque de coextrusão defasada frente às
novas tecnologias. Outro fator influente é o
limite de aceitabilidade de baixa qualidade
de produtos alimentícios por grande parte
dos consumidores brasileiros. Contudo,
foram significativos os investimentos em
novos equipamentos multicamada; permitem trabalhar com espessuras mais finas
de polímero barreira e resinas selantes de
alta performance. Também operam com
maior número de resinas por filme, usando
os melhores polímeros para cada requisito
exigido da película, otimizando os custos de
visor
novos materiais fabricados com tecnologia
de ponta.
PR - Quais são, no mostruário brasileiro de flexíveis para alimentos, as típicas
estruturas multicamada mais distantes
e defasadas em relação ao modelo de
embalagem hoje em dia adotado no Primeiro Mundo para acondicionar o mesmo
produto?
Claire - A meu ver, vale ressaltar o uso
ainda pequeno de embalagens plásticas
termoformadas para o acondicionamento
a vácuo ou em atmosfera modificada, no
setor de varejo e food service no Brasil.
Baixos volumes, conivência com a baixa
produtividade e os desperdícios nos es-
número de fornecedores que aderem a esta
tecnologia de barreira. Contudo, frente à manutenção das propriedades de barreira a gás
em condições de alta umidade, o que não
acontece com PA e EVOH, PVDC tem sido
a opção de alguns novos investimentos de
convertedores no país, especialmente com
vistas ao mercado de carne fresca.
PR - Como vê as perspectivas para
o incremento de uso de BOPET a partir da
anunciada expansão, pela Tredegar, da capacidade nacional desse tipo de poliéster?
Claire - O uso da embalagem plástica
flexível, em especial stand up pouch, como
alternativa às versões plásticas rígidas, ao
pote de vidro e às latas para alimentos; o
desenvolvimento de
embalagens do tipo
refil para o mercado
de higiene e limpeza
e cosméticos e, por
fim, a expansão do
mercado de ração
animal, criam um cenário favorável ao uso
de PET. O crescente
interesse por máquinas automáticas de
acondicionamento,
Cárneos processados: barreira de EVOH bafejada pelo aumento do consumo. termoformadoras ou
form-fill-seal, tamtabelecimentos de varejo, além da falta de
bém colabora para o aumento de consumo
investimento em máquinas de acondiciodesse material. A possibilidade de receber
namento são entraves associados à esta
revestimentos orgânicos e inorgânicos, para
defasagem, mesmo em relação a outros
conferir diferentes propriedades de barreira,
países da América Latina.
amplia as possibilidades de utilização do
PR - Por quais motivos, policloreto
BOPET.
PR - Em seu livro (coautora) “Rede vinilideno (PVDC) é a barreira menos
quisitos de conservação de alimento em
usada no Brasil, em geral preterida por PA
embalagens flexíveis” (2001, Cetea), o
ou EVOH?
papel dos agentes de barreira é ressaltado,
Claire - As restrições de processabilidade e a agressividade aos equipamentos
em especial, nos capítulos de maioneses e
das resinas de PVDC para confecção de
molhos cremosos; alimentos congelados;
filmes coextrusados multicamada e de
carnes, aves, pescados e derivados e pet
filmes revestidos de PET ou BOPP limita o
food. Quais as tendências a curto prazo?
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Snacks e biscoitos: melhoria da barreira a gases
e vapor d’água.
Claire - Uma forte tendência no mercado de alimentos é o aspecto de conveniência
e praticidade no consumo do produto. O
desdobramento dessa tendência está associado a vários aspectos da embalagem, mas
vale citar a tendência de porções menores,
inclusive que favoreçam a portabilidade, ou
seja, o consumo em trânsito (on-the-go) e
preparo rápido em microondas de produtos
prontos ou semi-prontos, em especial os
refrigerados. Para acondicionamento de
porções menores é necessária maior barreira, pois a relação área de embalagem e
peso de produto aumenta. Para conservação
de alimentos refrigerados, porcionados, as
técnicas de acondicionamento a vácuo ou
atmosfera modificada exigem boas propriedades de barreira das embalagens. Nesse
compartimento, note-se os lançamentos
de frios fatiados e carnes porcionadas em
bandejas com atmosfera modificada. Outro
aspecto favorável ao desenvolvimento de
filmes com barreira é seu uso como alternativa a embalagens de vidro e latas, ambas de
elevada barreira a gases e umidade.
visor
Resinas de barreira/Fornecedores
Por trás da muralha
Fervem os avanços entre os materiais de barreira
Tripas para embutidos: referência de Selar no Brasil.
N
a esfera do plástico, os agentes
de barreira compõem o nicho
que, ao pé da letra, junta a fome
com a vontade de comer. Ou seja,
conectam a conservação de alimentos com
as propriedades das embalagens flexíveis.
Esse link fortaleceu-se no Brasil da última
década pelas mudanças no consumo das
famílias, em especial de baixa renda; o
requinte e distribuição nacional dos canais de autosserviço (supermercadistas)
e a ascensão da cultura de combate aos
índices infames de comida desperdiçada
e descartada no país.
As reviravoltas provocadas por esse
processo em intenso andamento são captadas em cheio pela demanda pela resina de
barreira premium, o copolímero de etileno
e álcool vinílico (EVOH). Antes restrito ao
circuito da elite dos filmes alimentícios,
seu uso como barreira a oxigênio e dióxido de carbono, movido por ganhos
de escala, hoje atinge no país estruturas
multicamada circunscritas no passado a
nichos do consumo mais abonado. Esse
panorama fica patente em análises como a
de Guilherme Ferreira do Nascimento, engenheiro de desenvolvimento da brasileira
Intermarketing, importadora de EVOH do
grupo japonês Kuraray.
Um destaque em aplicação, ele diz, é
o retorno do saquinho com propriedades
melhoradas para leite. Com essa estrutura
multicamada que inclui EVOH, o produto
permanece intacto por longo período, perto
de 120 dias em temperatura ambiente,
numa alfinetada na atual supremacia da
caixa cartonada asséptica. “É um grande
sucesso no exterior e estamos trazendo a
tecnologia ao Brasil graças à parceria com
fornecedores e clientes”, encaixa Nascimento. Embora a indústria de alimentos
seja o maior mercado para EVOH, setores
como o de cosméticos, agroquímicos e
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saneantes têm alargado o espaço para o
copolímero, acrescenta o especialista.
Segundo análise da Intermarketing,
em 2013 predominaram as vendas de
grades de EVOH com 32% e 38% de teor
molar de etileno para aplicações alimentícias. A Kuraray, inclusive, lançou um
tipo específico para processo de Double
Bubble. “Nesse caso, EVOH mostra-se
capaz de acompanhar o estiramento sem
perder propriedades de barreira”, ele
explica. Mercados-alvo são os de carnes
frescas e embutidos que ainda optam
pelas alternativas de PA e do copolímero
de cloreto de vinila e vinilideno (PVDC).
Contudo, distingue Nascimento, EVOH se
destaca nos quesitos de eficiência, redução
de e facilidade de reciclagem, assegura
Nascimento.
Outra tecnologia recente da Kuraray,
ele insere, é a chamada O2 Scavenger. Além
de oferecer barreira a gases, esse grade de
visor
Resinas de barreira/Fornecedores
EVOH retém oxigênio, tornando a embalagem impermeável até a saturação, elucida
o engenheiro. Completando a lista de inovações, aparece o tipo EVOH Elastomérico,
de comportamento mecânico semelhante
ao de PA, mas provido de características
de barreira e resistência química próprias
do copolímero. Esse produto, no entanto,
não entra na produção de estruturas multicamada para embalar alimentos, mas é
opção para bombonas de agroquímicos,
avalia Nascimento. “Hoje, fornecemos para
recipientes de até um litro o grade usual de
EVOH. Mas, com o novo tipo elastomérico,
graças a suas propriedades mecânicas,
poderemos expandir a atuação para até 20
Brunelli: barreira aguçada em
nova embalagem para queijos
e carnes.
que essa tendência emplaque de vez no
Brasil, onde prevalecem as estruturas de
barreira com cinco camadas, inclusas as
de adesivos no cômputo. “Muitos fabricantes já desejam isso. Afinal, quanto mais
camadas, melhores serão as características
da película”, assinala, deixando implícita a
rentabilidade superior do filme. Assim, é
possível explorar diferentes composições
e, por tabela, baixar os custos, ele fecha.
Para Anderson Pinto da Silva, representante técnico de vendas no país da alemã Basf, fera no fornecimento global de PA,
a melhoria notada em flexíveis com barreira
para alimentos é mérito, em especial, da
luta contra a distância entre área produtiva
Boaventura: segurança
alimentar e prazos de validade
atraem investimentos em filmes.
litros, inclusive com melhor resistência
química a solventes”, pontua.
Na percepção do engenheiro, o uso
do EVOH pode, sim, resultar competitivo,
já que ele confere menor espessura e maior
barreira em certas aplicações e quando
comparado ao desempenho de PA e PVDC.
“Para chegar a esse resultado, é necessária
a formulação adequada do filme e seleção
do grade apropriado de EVOH, levando em
consideração a vida de prateleira requerida”, ressalta.
Apesar do investimento na importação de coextrusora para filmes de sete
ou nove camadas, Nascimento acredita
shelf-stable”, acrescenta Da Silva.
Entre os feitos recentes da Basf,
consta a oferta dos grades SL (Slow
Crystallization) de PA Ultramid. “São
homopolímeros aperfeiçoados para aplicações em filmes”, sumariza o técnico. “A
ampla janela de processamento contempla
esses materiais com maior produtividade
e menor formação de quebras”. Com
essa performance, assinala, os grades SL
lograram substituir em várias estruturas
multicamada as blendas de homopolímero
com copolímero de PA.
Além disso, desde fevereiro deste
ano, a Basf passou a comercializar parte do
portfólio de PA 6 produzido no Brasil sob
Selar: barreira a gases com ganhos de brilho e transparência.
e os centros de consumo. Trunfo da PA, ele
comenta, é sua excepcional resistência mecânica, o que resulta em menor espessura
dos filmes, custo competitivo e redução
do volume de material descartado. “Outra
vantagem é a adequação do material a
diversos processos, a exemplo de extrusão
balão e de matriz plana ou da tecnologia de
biorientação”, esclarece. PA também tem
vez, prossegue, em filmes de tampa ou
fundo de recipientes termoformados, bem
como em estruturas laminadas. “Nesses
casos, as resinas apresentam alta resistência térmica, o que permite seu emprego em
embalagens do tipo retortable em produtos
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sua assinatura Ultramid em substituição
à marca Mazmid, da Mazzaferro, cuja
unidade de polimerização e beneficiamento
foi adquirida pelo grupo alemão em 2012..
Na planta em São Bernardo do Campo
(SP), a empresa produz cinco grades para
flexíveis, dos quais três de PA 6 e dois do
copolímero PA 6/6.6.
Ao comparar o mercado brasileiro
com economias maduras, como Estados
Unidos e Europa, e com emergentes
asiáticos, Da Silva percebe enorme distância tecnológica. Mas também enxerga
oportunidades para embalagens dos tipos
stand-up e shelf-stable. Um passo nessa
visor
Resinas de barreira/Fornecedores
Poliamidas DSM: estruturas de barreira acima do padrão vigente no Brasil.
direção é o interesse por equipamentos
para produção de filmes de até nove camadas. “Isso permite ampla variação de
estruturas, desde as mais simplificadas
até as de alta complexidade”, afiança.
Além disso, comenta, na Europa grassa
a tendência de aplicação de barreira de
PA, via paper coating ou in-liners, contra
migração do óleo mineral proveniente de
caixas de papelão utilizadas para transporte. “Isso terá um peso significativo na
América do Sul desde que implementada
uma legislação específica no continente
europeu”, condiciona.
Segundo nota o executivo da Basf, o
parque de extrusão no Brasil ainda apresenta muitos equipamentos defasados mas, ele
garante, máquinas recém-adquiridas, em
grande parte importadas, demonstra que
fabricantes locais estão determinados a
mudar o cenário. Contudo, interpreta, o
sentimento de incerteza quanto à política
econômica e dúvidas sobre o avanço do
mercado fazem com que a tomada de decisões não seja tão rápida. Alavanca para
esse desenvolvimento são as exigências
por parte de brand owners, como frigoríficos, pastifícios e indústria de alimentos.
“Novas necessidades demandam esforços,
bem como maquinário capaz de produzir
estruturas diferenciadas. O ganho com o
uso de extrusoras para estruturas de mais
camadas é nítido”, ele analisa. Apesar de
o investimento ser maior nesses modelos,
coloca, os resultados são superiores e
permitem que sejam utilizados materiais
de alto valor agregado em películas mais
finas, diminuindo o custo final.
Busca constante do mercado de alimentos, julga Carlos Catarozzo, executivo
de vendas e marketing da japonesa UBE na
América Latina, é a diminuição de perdas.
Para responder a essas demandas, as PAs
da grie nipônica saíram de homopolímeros
básicos, sem aditivos, para terpolímeros,
como PA 6, 6.6 e 12, ele aponta. Os materiais, segue Catarozzo, têm alta resistência
mecânica e, assim, permitem a diminuição
da espessura da embalagem.
Em 2013, diz o executivo, a UBE
trabalhou forte no Brasil seu terpolímero
Terpalex para aplicações de termoformados
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mais fundos e com melhor distribuição
nos cantos, “ponto débil das embalagens
atuais”, ele afirma. Para 2014, a empresa
lança copolímeros para aplicação retort
com resistência a condições severas de
temperaturas, ele antecipa.
Catarozzo percebe forte onda mundial
com relação a stand-up pouch. “Esse tipo
de embalagem cada vez mais substitui
metais e vidros. Observamos o movimento
em gôndolas de supermercados em todo
território nacional no acondicionamento
de produtos de higiene pessoal, domissanitários e pet food”, informa. Ainda no
âmbito do futiro do mercado brasileiro, o
especialista acredita no incremento do uso
de coextrusoras de sete e nove camadas.
No Brasil, distingue Catarozzo, o
mostruário de PA da UBE faz sucesso
em embalagens encolhíveis para carnes
e em termoformados que requerem alta
resistência mecânica, como em peças de
bacon mais rígidas. Embora 2013 tenha
sido um ano de novidades, o mercado
marcou pela turbulência, analisa o executivo. Apesar disso, o escritório comercial
brasileiro aumentou a equipe de vendas
e manteve o giro de 500 t/mês, inclusos
homo e copolímeros de PA. Para o período
atual, a empresa projeta crescimento de
perto de 5%.
Por enquanto, a UBE deixa de lado
seus planos de formular PA no Brasil
e segue com expansão da unidade em
Castellon, na Espanha, com capacidade
adicional de 10.000 toneladas anuais. O
foco do aumento é em produtos ready to
use, ou seja, poliamidas com aditivos, que
garantem soluções completas à clientela.
“Até cerca de cinco anos atrás, a
população comprava alimentos para consumo diário e era intenso o desperdício de
produtos”, rememoram Fernando Antunes
e Daniela Giusti, respectivamente gerente
geral de vendas e gerente de contas Packa-
visor
Resinas de barreira/Fornecedores
ging & Extrusion do escritório brasileiro
da holandesa DSM, pêndulo mundial em
PA para coextrusão. Hoje em dia, eles
completam, as mudanças nos hábitos de
consumo familiar e o cotidiano atribulado
acenderam o pavio da propensão para se
comprar alimentos passíveis de armazenagem por tempo maior, entre eles queijos,
carnes e embutidos. “Também pesa em
prol dos flexíveis com barreira a atual
preocupação com regulamentações de
segurança alimentar e meios para evitar a
contaminação”, encaixa Antunes.
Apesar da demanda crescente e
de um parque transformador com equi-
pletora de aditivos formulados pela DSM
para melhorar a produtividade e acabamento de filmes blow, cast ou biorientados.
Em 2013, por sinal, a empresa introduziu
a linha Akulon XS sob o chamariz de
melhor processamento de PA 6 em filmes
tubulares. “Permite uma faixa mais ampla
de ajuste superior à proporcionada pela copoliamida 66/6, ultrapassando-a também
nos quesitos de barreira e resistência”,
arrematam os gerentes da DSM.
No plano geral, as estruturas multicamada nacionais equiparam-se em desempenho de barreira às adotadas no Primeiro
Mundo, considera Kleber Brunelli, gerente
Estrutura com barreira: espessura mais fina e
alta resistência mecânica.
Nascimento: EVOH à sombra
do retorno do saquinho coex
de leite
Da Silva: Basf nacionaliza cinco
grades de PA para flexíveis.
pamentos e know how em dia com o
mundo, reconhecem os dois executivos,
o mercado brasileiro de embalagens com
barreira ainda rateia em alguns pontos. “O
usuário final ainda não procura produtos
técnicos como deveria e mantém o foco em
custos, pressionando assim o fabricante
e impedindo a entrada de soluções mais
avançadas”, ilustra Daniela.
Para ajudar a vergar essas resistências e abrir caminho para os flexíveis com
barreira habituais nos países desenvolvidos, Antunes e Daniela acenam aos convertedores com os grades de PA 6 Akulon, a
linha de copoliamida 66/6 Novamid e uma
Catarozzo: PA com lugar cativo
em embalagens encolhíveis para
carnes.
técnico da divisão de polímeros para embalagens da DuPont Brasil. “Mas pode haver
defasagem quanto à eficiência de selagem
ou facilidade de abertura”, ele pondera. “As
principais diferenças notam-se na qualidade de acabamento e na produtividade da
conversão (fabricação da embalagem) e
da etapa de envase”. Brunelli também pinça
peculiaridades brasileiras nas tecnologias
de produção e estratégias de suprimentos.
“Nos EUA, é notória a preferência por
processos mais produtivos de conversão,
a exemplo do revestimento e laminação por
extrusão, enquanto aqui predomina a laminação com adesivos à base de solventes ou
16
plásticos em revista
Fevereiro / 2014
sem eles”. A Europa, fecha o especialista,
pende pela adoção de estruturas de 11 ou
mais camadas para a obtenção de filmes
de alta barreira sem laminação e alumínio.
Em seu retrospecto do mercado
interno dos últimos cinco anos, José Boaventura, gerente de marketing da divisão
de polímeros para embalagens e aplicações industriais da DuPont Brasil, não
flagra casos de melhorias dramáticas nas
propriedades de barreira a gases ou vapor
d’água em flexíveis. Em contrapartida, ele
identifica o aumento da disponibilidade de
estruturas laminadas com alta barreira. “Daí
o significativo avanço sobre tradicionais
embalagens de vidro e metal de flexíveis
como stand up pouches, envelopes e sacos
laminados, contendo alumínio ou BOPP
ou BOPET metalizados”, constata o executivo. “Além do embalamento, o uso dessas
estruturas estende-se a aplicações como
refis para produtos de higiene e limpeza”.
Boaventura antevê uma engorda nos
investimentos em, flexíveis de custos mais
competitivos e melhor barreira e hermetici-
dade, “esforço impulsionado pelo rigor na
segurança alimentar e aumento dos prazos
de validade”, argumenta. Como referência,
ele cita o negócio de exportação de carnes
in natura ou processadas, para as quais se
exige validade estendida para acomodar o
tempo gasto para a remessa ao exterior,
fora atender às exigências sanitárias internacionais e vencer os entraves ao uso de
insumos como compostos clorados ou o
antioxidante tri nonil fenil fosfito (TNPP).
A DuPont marca de perto esse fumegar de bons sinais com sua poliamida
amorfa Selar, em regra utilizada em misturas com poliamida homo ou copolímero
à permeação do oxigênio, Brunelli avalia
ter sido reduzida nessa embalagem em
três vezes perante os resultados do ponto
de partida do desenvolvimento. Resultou
equivalente a perto da metade dos valores
obtidos para as estruturas de envase de
carne e queijo convencionais, ele confronta. “A barreira ao oxigênio influi de
forma decisiva para baixar a atividade
de microorganismos aeróbios, causadores da deterioração de carnes frescas
ou processadas”. Boaventura martela
a tecla dos progressos constatados na
barreira ao vapor d’água e oxigênio dessa
embalagem por obra da ação conjunta de
DSM: poliamidas impulsionadas
pelas mudanças de hábitos de consumo.
para ampliar a barreira ao vapor d’água,
explica Brunelli. “Selar mantém a barreira
a gases mesmo na presença de umidade,
além de contribuir para o brilho e transparência da embalagem”, ele frisa. O gerente
põe na mesa os predicados de Selar com
o recente desenvolvimento de embalagem
para queijos e carne fresca ou processada.
“A composição alinha PET/PA+Selar/
EVOH/Surlyn (ionômero)/camada de selagem”, expõe o especialista. “Na camada
externa, o poliéster confere brilho e maior
produtividade ao envase, ao impedir uma
embalagem de grudar na outra”. Quanto
Selar, composto de poliamida e EVOH. A
presença de Surlyn na composição, ele
completa, adiciona resistência à perfuração
e termoencolhimento. “Dispensa, assim,
a aplicação de raio gama para reticular o
filme”, observa.
Em meio à multidão de flexíveis de
alimentos conquistados no Brasil por
Selar nesses 10 anos, Brunelli enaltece
as tripas poliméricas para embutidos. “A
combinação de poliamidas convencionais
com Selar aumenta a barreira a gases
e incrementa o brilho e transparência”,
sintetiza o gerente da DuPont. •
17
plásticos em revista
Fevereiro / 2014
conjuntura
Tigre-ADS
Baião de dois
Por que o Nordeste merece marcação ao vivo da Tigre-ADS
Tubos corrugados: demanda em acensão
em empreendimentos privados e infraestrutura.
P
elo menos até os próximos quatro
anos, o Nordeste deve continuar a
crescer acima da média nacional,
empurrado por investimentos
acima de R$ 160 bilhões até 2020, prevê
divulgado estudo da consultoria Tendências. O motor desse avanço, crêem
analistas, não deve mais contar, em plano
decisivo, com os gastos das famílias.
Afinal, alega essa corrente, o impacto dos
programas de transferência de renda já se
completou na região e, daqui por diante,
a adição de contemplados será de cunho
marginal. Assim, o impulso da economia
nordestina tende a vir agora do florescimento do agronegócio e da indústria, a
exemplo de novas refinarias de petróleo,
unidades de usinas eólicas e montadoras
a exemplo do complexo orçado em US$ 6
bilhões a ser ativado no ano que vem pela
Fiat em Goiana (PE) , com 11 sistemistas
no entorno.
Na esfera do plástico, esse forró de
bons fluidos contagia a Tigre-ADS, suprassumo em tubos corrugados de polietileno
de alta densidade (PEAD) para saneamento
e drenagem pluvial, com duas fábricas no
Chile e há cinco anos em campo no Brasil,
através de sua unidade em Rio Claro (SP).
José Antonio Cattani Xavier, gerente geral
dessa joint venture da brasileira Tigre com
a norte-americana Advanced Drainage Systems (ADS), já sente no caixa o afago da
brisa nordestina. Em sua carteira, reluzem
obras como as da estrutura dos estádios
Arena Pernambuco, Duna e Fonte Nova, ou
então, redes para a Companhia Pernambucana de Saneamento e para o complexo
urbanístico Alphaville Sergipe. A firmeza
do terreno convenceu a empresa a aplicar
cerca de R$ 20 milhões numa filial no
Nordeste, cuja capacidade instalada deve
atingir 450 t/mês em plena carga, condição
agendada para ser alcançada até o fim do
ano. Com essa segunda fábrica no Brasil,
a Tigre-ADS deve duplicar seu não reve-
18
plásticos em revista
Fevereiro / 2014
lado potencial total de produção no Cone
Sul,valorizando assim uma sociedade
em partes iguais que, quando implantada
em 2009, foi orçada em US$40 milhões.
No ano passado, solta conciso Xavier, a
produção do seu trio de fábricas somou
16.000 toneladas.
O governo Dilma tem nome feito
como gestor ineficiente de obras de infraestrutura, segmento ao qual os dutos
da Tigre-ADS se conectam. Mas isso não
esvanece o ânimo de Xavier em relação
à segunda fábrica da empresa no Brasil.
“Existe uma lentidão de grandes obras de
forma geral, a exemplo da universalização
do saneamento defendida pelo Instituto
Trata Brasil”, concorda o gerente geral.
“Mesmo assim, temos feito um trabalho
grande pelo país”. Além do contrato com
a Compesa, ele exemplifica como bons
resultados obtidos na esfera estatal, as
obras fornecidas para a unidade de Rio
Claro,no interior paulista, da empresa Foz,
contratada via parceria público privada
(PPP) para prestar serviços de esgotamento sanitário. No plano da iniciativa privada,
Cattani destaca projetos como o da rede
de drenagem pluvial para a futura planta
catarinense da BMW.
A marcação ao vivo do mercado é a
justificativa-chave brandida por Xavier para
erguer a fábrica em Marechal Deodoro,
em Alagoas. “O custo de logística para
transportar tubos é muito alto e tomamos
essa decisão para baixar o tempo e gasto
de frete”, esclarece. “Além do mais, perto
de 50% do faturamento em 2013 foi gerado
na região”. O gerente não abre o parque de
extrusoras em Alagoas, mas informa que o
portfólio de PEAD abrange os diâmetros de
450 a 1.200mm em tubos de seis metros
de comprimento, destinados a redes de
saneamento, e nos diâmetros de 100 a
1.500 mm para sistemas de drenagem. “O
sistema de ponta e bolsa efetua a união
dos tubos”, detalha. “Ou seja, é realizado
por um encaixe, sendo a bolsa alargada”.
Conforme assinala, a bolsa sobressai pela
resistência à distorção, corte e rachadura,
operando reforçada com duas bandas cerâmicas de 50 mm e dois anéis de vedação.
Quanto à localização da nova unidade, Xavier deixa claro que os fatos de a
Bahia monopolizar as plantas de PEAD da
região e de seu polo petroquímico acenar
com benefícios a transformadores de plástico não conseguiram destronar Alagoas
na seleção da Tigre-ADS. “Priorizamos a
questão do produto final ao cliente, mas
não podemos negar que os incentivos
fiscais de Alagoas contribuíram de forma
muito significativa para esse investimento”,
reconhece Cattani. Quanto à matéria-prima,
ele revela não empregar PEAD proveniente
de Camaçari, recorrendo à resina do Rio
Xavier: região responde por
quase a metade da receita.
Filial em Alagoas: Tigre- ADS dobra
capacidade no Cone Sul.
Grande do Sul e Rio de Janeiro.
Única produtora de PEAD no país, a
Braskem, sob a justificativa de adequação
do portfólio às necessidades do mercado,
optou por servir o reduto de tubos corrugados com a planta swing no Rio de Janeiro,
licenciada da tecnologia Univation, e com
a resina formulada em Triunfo (RS) pelo
processo slurry, expõe Ederson Munhoz
Reis Matos, gerente de conta de PE do
grupo. “Nosso principal grade para corrugados destinados à drenagem é a resina
HT 5303”, coloca. “Mas estamos desenvolvendo outro grade para uso em drenagem e
esgoto, nas pegadas da normatização para
corrugados neste último nicho”.
José Antonio Cattani Xavier estaciona
a Tigre-ADS na pole do mercado nacional
de tubos corrugados. Do observatório da
Braskem, Matos não se manifesta sobre
a liderança, mas enxerga oito rivais de
peso no ramo. “E algumas empresas
avaliam ingressar no mercado”, apimenta
o executivo. Sem descer às tonelagens,
Matos dimensiona em 12% o aumento no
consumo brasileiro de PEAD em tubos em
2013 perante 2012. “Do volume aferido no
ano passado, uma parcela de 55% cabe a
tubos de pressão (água, gás etc.) PE 100
e PE 80, enquanto corrugados (esgoto,
drenagem, comunicação etc.) participaram
com 34% e subdutos e tubos de irrigação
responderam por 11%”, atribui o gerente
da Braskem. •
Tubos leves batem pesado
TIGRE-ADS - PEAD
Outras tecnologias
Quimicamente inerte
Variação de pH de 1,5 a 14
Variação de pH de 3 a 12
Eficiência hidráulica
Manning = 0,009 a 0,012
Manning = 0,013 a 0,017
75 anos
30 anos
Peso
1200 mm = 40 Kg/m
1200 mm = 1360 Kg/m
Instalação
1200 mm = 24 tubos
1200 mm = 144 tubos
Comprimento dos Tubos
Barras de 6 metros
Tubos de 1 metro
Quantidade de Emendas
144 m = 23 pontos de
junção / emendas
144 m = 143 pontos
de junção
Comparação
“Tubos corrugados de PEAD são de 50%
a 75% mais leves que os de aço e têm perto
de 1/10 do peso dos tubos de concreto”,
compara José Antonio Cattani Xavier,
gerente geral da Tigre-ADS. “Além disso,
resistem à corrosão e são imunes à reação
galvânica e eletromecânica”. Na tabela ao
lado a empresa lista os atributos-chave
dos corrugados com os concorrentes em
drenagem saneamento.
Vida útil
Tempo de instalação
19
50% mais rápido
plásticos em revista
Fevereiro / 2014
Oportunidades
Mack Color
Rossi: tecnologia zera problemas de
estática na aplicação do filme.
A chegada ao topo
Mack Color e Vitopel atingem excelência em filmes de in mold label
K
raft, Catupiry, M. Dias Branco.
Marcos Rossi, presidente da Mack
Color, ilustra com essas âncoras
os avais já obtidos pelo filme de in
mold label (IML-impressão no compartimento do molde) desenvolvido na surdina
por sua empresa e a produtora de polipropileno biorientado (BOPP) Vitopel. Rossi
reconhece a existência de concorrência
doméstica para sua película, mas tem em
sua carteira de clientes a prova dos nove
da performance do seu filme nos moldes
de injeção. “Constitui um casamento perfeito entre a qualidade e desempenho do
BOPP da Vitopel com nossa tecnologia de
impressão”, traduz o dirigente.
Embora acumule mais de uma década
de milhagem no Brasil, o processo IML
ainda não tirou todo o sumo do mercado
por razões como a dependência dos componentes importados. Entre eles, como
revela o próprio comportamento de Rossi,
sublinhando a nobreza da sua clientela já
conquistada, consta a inclinação generalizada dos transformadores por recorrer à
película trazida de fornecedores como os da
Bélgica. É esse hábito que ele quer romper.
Sem números comprobatórios na mão, o
presidente da Mack Color estima as importações com base na condição de IML como
20
plásticos em revista
Fevereiro / 2014
tecnologia relativamente recente no país, em
termos do grau de sua disseminação entre
indústrias de transformação. “Diante das
dimensões da demanda, as importações
de filme IML representam uma quantidade
muito tímida, em torno de 10% a 20% da
necessidade de nossos clientes”.
Rossi afirma saber de várias tentativas
frustradas na praça, inclusive com outros
fornecedores de BOPP, para chegar a um filme de IML páreo com o da sua criação com
a Vitropel. “A parceria no desenvolvimento
começou na virada de 2011 com longo
estudo, a cargo do nosso departamento de
marketing, sobre as dificuldades dos clien-
tes e como a concorrência as enfrentava”,
rememora o dirigente. No ano passado,
conta, começaram as vendas regulares e,
para o exercício atual, Rossi espera firmar
vendas com um time estimado de 10 a
15 empresas de médio e grande porte.
Referência nesse sentido é o lançamento
dos copos promocionais e colecionáveis
de PP, gravados com imagens das cidades
sede dos jogos da Copa. Os filmes com
tratamentos especiais da Vitopel são impressos, de acordo com as quantidades
estipuladas pelo cliente, e comercializados
pela Mack Color. “Devido a diversidade dos
nossos sistemas de impressão, atendemos
de pequenas a grandes tiragens do filme
de IML”, acena Rossi. “Quanto aos prazos,
efetuamos o primeiro fornecimento na
média de 15 dias desde o recebimento das
artes até a entrega final do filme, enquanto
nas repetições suprimos o cliente em sete
dias em média”.
Além de bater os prazos dados pela
concorrência, o pulo do gato nesse desenvolvimento, deixa claro Rossi, foi a resolução dos problemas de estática no momento
de aplicação da película. “Concebemos com
exclusividade um sistema de acabamento
e corte”, ele revela. “O equipamento efetua
o processo de corte automático e empilha
os maços de fime nas quantidades requeridas pelo cliente, sem contato manual e
diminuindo ao máximo a estática junto à
robótica de aplicação da película”. A operação, frisa Rossi, é 70% mais rápida que
os métodos convencionais da concorrência.
“Eles realizam o processo em corte e vinco,
manuseando o filme e assim geram aumento de estática na aplicação”, ele esclarece.
Transparentes ou opacos (brancos),
21
plásticos em revista
Fevereiro / 2014
os filmes para IML da Vitopel exibem espessuras de 55 a 79 micra. A Mack Color,
insere Rossi, padronizou seus fornecimentos em 60 micra, medida capaz de cobrir
90% da demanda, julga o empresário. “A
propósito, em caso de irregularidades na
peça injetada, como ranhuras, desvios ou
riscos na moldagem, os filmes mais espessos podem corrigi-las”. No terreno dos
custos, o empresário não se apega tanto à
diferença entre os preços internos e os das
importações de BOPP, a matéria-prima a
ser impressa para o processo IML. “Nossa
vantagem está na agilidade do processo e
na disponibilidade imediata do produto,
mérito da fabricação local”, coloca Rossi.
“Não dependemos da burocracia de internação das importações e o cliente, por sua
vez não corre o eventual risco de receber
filme fora de especificações”. •
sensor
Adalberto Viviani
Vai sair faísca?
Consultor avalia a possibilidade de o refrigerante
feito em casa encurralar as garrafas de PET
G
arrafas e latas aguardam uma
chocoalhada a partir do ano que
vem, quando ganha o mercado
mundial, pelas mãos da CocaCola, um sistema de fabricação caseira de
bebidas gaseificadas geladas, via cápsulas,
patenteado pela parceira norte-americana
Green Mountain. A fé da fera em carbonatados nesse divisor de águas, aliás, é
mensurável pelo fato de ter cacifado 10%
de participação acionária na Green Mountain. Seu equipamento competirá com o da
israelense SodaStream, cujo preparo do
refrigerante transcorre em meio minuto e
calcula-se que poupe o consumo familiar
de 430 latas e garrafas ao ano. Sob esse
remelexo em carbonatados, vibram a voga
de criar produtos em casa e uma senhora
incógnita pelos flancos do plástico: qual será
o impacto sobre a embalagem e a demanda
de PET, cujo mercado nº1 sempre foi o de
refrigerantes? É por essa zona de turbulência
que trafega a entrevista de Adalberto Viviani,
presidente da Concept Planejamento em
Marketing e Comunicação, requisitada
consultoria com milhagem platinum nos
ramos de bebidas e alimentos.
PR – Como avalia o impacto sobre as
vendas de garrafas e latas de refrigerantes
para consumo no lar provocado pela introdução da máquina de fabricação de refrigerantes em cápsulas, agendada para o ano
que vem? Quais os tamanhos de garrafas
mais e menos vulneráveis a essa inovação?
Viviani – É cedo para dizer. Temos
em jogo uma mudança de hábito. Abrir
um refrigerante em casa é muito diferente
de produzi-lo. Existe um manuseio que
altera a raiz do uso, pois o produto deixa de
ser um PPB (pronto para beber) e passa a
exigir preparo. Outro ponto é que, depois de
pronto e colocado no copo, há uma perda
de referência da marca. Qualquer produto
pode estar ali. Além disso, a intervenção
do consumidor no preparo pode alterar o
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plásticos em revista
Fevereiro / 2014
resultado final. É mais ou menos como se
o suco pronto voltasse para o mercado do
suco integral. Aliás, este pode ser um efeito
secundário.
Também é preciso entender qual o
preço da máquina e seu resultado final. As
máquinas de café constituem um produto
que entra no universo do desejo, no qual
o hábito de tomar café se transformou em
diferencial para o consumidor. Começamos
com um processo em que o café passou a ser
cobrado nos restaurantes após as refeições
para valorizar o produto. Passamos pelas
cafeterias nos grandes centros, chegamos
aos baristas e o café foi sendo incorporado
como hábito elegante e descolado. O refrigerante não tem essa pegada. É diferente. É
um produto para a família, com muito peso
do público infantil. Pode ser uma máquina
com cunho de diversão, como se fosse um
brinquedo. Mas refrigerante não é café. O
café é um produto que passa pela manufatura
na residência. A máquina de café promove
uma experiência positiva. Qual o sabor do
refrigerante? O consumidor gosta do refrigerante ‘de máquina’, existente hoje em dia em
lanchonetes e restaurantes? São itens que
precisam ser avaliados no processo.
Como o consumo tende a ser no lar,
a embalagem que mais vai sofrer será a
de 2 litros ou mais, o grande mercado de
refrigerantes. No entanto, não creio em
impacto significativo de curto prazo, a não
ser que haja uma pressão do produtor em
reduzir a disponibilidade do produto para
criar essa mudança.
PR – Como enquadra a participação do
consumo doméstico habitual de refrigerantes entre os vários cenários e situações de
consumo dessa bebida no Brasil?
Viviani – O consumo de refrigerantes
em embalagem familiar no Brasil é superior
a 80% em volume.
PR – Em quais pontos, a seu ver, a máquina de refrigerantes em cápsulas poderá,
se seu uso estiver massificado, deflagrar
mudanças significativas nos hábitos de
consumo doméstico do produto?
Viviani – Com as cápsulas tendo um
período de patente e exclusividade, teremos outros fabricantes delas atuando no
mercado. A distribuição em autosserviço é
menos complexa do que em bares. Temos
um universo de possibilidades. Mas a principal será a oportunidade de ter o produto
sempre em casa disponível. Os efeitos para
a logística são fenomenais, pois as empresas
deixarão de transportar água e embalagens.
Cada caminhão transportará mais litros
de consumo. A máquina também poderá
ser utilizada, hipoteticamente, para outros
produtos, como sucos. Se isso acontecer,
podemos ter marcas de bebidas agregando
segmentos distintos.
Viviani: manuseio
altera a raiz do uso
do refrigerante.
PR – Quais as possíveis frentes de
consumo que essa máquina deve abrir
para os refrigerantes de um modo até hoje
inatingível pelas latas e garrafas de PET?
Viviani – Depende da máquina. Se
as cápsulas forem para várias unidades de
resultado final, teremos um uso. Se forem
individuais, haverá outro resultado. Vale
lembrar que o mercado de refrigerantes
tem de lidar com mudanças conceituais,
que pregam que bebidas devem ser saudáveis e o refrigerante não tem este atributo
reconhecido. A máquina não interfere nessa
percepção. Se o foco for o universo corporativo, por exemplo, a tentativa será fortalecer o
consumo de refrigerantes no público adulto
fora do lar e ter esta bebida como um snack,
para consumo imediato. Não me parece ser
um grande mercado, especialmente por
concorrer com as outras bebidas e com o
próprio café.
PR – Como analisa o custo-benefício
dessa máquina de refrigerante perante o
consumo do produto na embalagem?
Viviani – Não temos o preço final
da máquina nem das cápsulas. Se nos
Longe de dar insônia
Embora afirme carecer de maiores informações sobre o desenvolvimento, Evandro
Cazzaro, diretor da canadense Husky na América do Sul, aposta na continuidade do
consumo mundial das embalagens PET em refrigerantes, em meio à ofensiva ensaiada
pelas cápsulas de fabricação doméstica do produto. Sua posição é lastreada numa das
vocações da Husky, a construção de injetoras de pré-formas de classe mundial. O segmento
de bebidas carbonatadas, confia o executivo, prosseguirá o grande motor da demanda
pelo poliéster grau garrafa. Em paralelo, ele nota que gigantes mundiais de bebidas têm
colocado esforços em nichos de reconhecido apelo de saúde & bem estar (wellness), como
sucos, chás, água e isotônicos, o que tem ricocheteado no portfólio de inovações da Husky.
“Nossos sistemas estão cada vez mais habilitados a oferecer soluções de menor custo para
a fabricação de frascos para esses produtos”, encaixa o diretor. Como referência, Cazzaro
cita a plataforma HyPET HPP 5.0, com trunfos a exemplo da injeção em alta cadência,
sem limitações de ciclos, de pré-formas com gargalo de 38 mm.
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plásticos em revista
Fevereiro / 2014
Cazzaro: garrafas imunes
à fabricação caseira de
refrigerantes.
sensor
Adalberto Viviani
Refrigerantes: influência decisiva do público infantil.
basearmos nos preços das cápsulas atuais
de café, teremos preços não tão reduzidos,
mas certamente haverá mais margem para
a indústria. Volto a lembrar que a máquina,
como a de café, tem de estar incorporada a
um universo de status para os consumidores. Se não estiver, não será introduzida no
cotidiano.
PR – PET é a resina termoplástica
mais reciclada, mérito evidente de garrafas
de refrigerantes. Com a eventual consolidação da máquina de fabricação doméstica de
refrigerantes, sem dependência da embalagem, o quanto a parcela de garrafas de
PET descartadas nos lares, disponibilizadas
para reciclagem, poderá diminuir?
Viviani – Existem dúvidas sobre o
impacto que a máquina terá. Para chegar ao
ponto de reduzir significativamente o uso
e a reciclagem de PET, terá de haver uma
adesão popular muito grande. Mas ela deve
entrar num nicho, buscar formadores de
opinião para poder determinar um perfil e
influenciar todo o mercado. Minha percepção
é de um movimento de longo prazo. É como
responder quanto a menos de café os supermercados ou as cafeterias vendem com as
cápsulas em um país em que milhões ainda
usam o coador de pano e de papel.
Sem engarrafamentos
Pelo menos até o próximo ano,
as garrafas PET permanecerão com sua
cadeira cativa no reduto de refrigerantes,
afirma Donald Loepp, editor de Plastics
News, publicação nº1 do setor plástico
norte-americano. “Essas máquinas são
muito caras. É um mercado de nicho”, ele
sustenta, referindo-se ao projeto da CocaCola e Green Mountain.
Para comparação, Loepp menciona
a israelense SodaStream, que oferece
sistema similar de fabricação caseira de
refrigerantes. Trata-se da patrocinadora do
comercial, transmitido em primeira mão
no caríssimo intervalo da finalíssima do
campeonato de futebol americano Super
Bowl, em 2 de fevereiro, com a atriz Scarlett
Johansson apelando para o lado saudável e
supostamente ambiental da marca. No texto,
destaque para o bordão “menos açúcar e
menos garrafas”. Pois bem, emenda o
Scarlett Johansson: “menos açúcar e menos
garrafas” com a máquina da SodaStream.
jornalista, as vendas anuais da SodaStream
chegam a US$ 500 milhões, enquanto as da
Coca-Cola beiram nada menos que US$ 50
bilhões, confronta o especialista. “A maior
parte dos consumidores ainda preferirá os
recipientes de uso único”, ele encaixa.
Mesmo que a máquina da Coca-Cola
sacuda o mercado, o segmento de água
mineral continuará um porto seguro para o
PET. “Esse setor cresce mais rápido do que
o de bebidas carbonatadas e deve logo se
24
plásticos em revista
Fevereiro / 2014
Loepp: refrigerante em cápsula
é mercado de nicho.
tornar o principal consumidor da resina grau
garrafa”, Loepp prevê. O editor de Plastics
News ainda lembra que o cenário para o
PET há tempos não anda bom, decorrência
notória do excedente na oferta, e que o
crescimento, mesmo com a demanda da
indústria de refrigerantes, foi ínfimo em
anos recentes. Além do mais, constata, o
público tem preferido bebidas que trazem
menos prejuízo ao organismo, como a água
e opções não carbonatadas.
Não é uma bomba relógio encapsulada
Tamanho família: 70%
do consumo brasileiro
de refrigerantes.
“Essas máquinas de fabricação
caseira de refrigerantes e o preço unitário
das cápsulas só seriam acessíveis a um
público de razoável poder aquisitivo que,
na prática não é grande consumidor de
refrigerantes”, opina Auri Marçon, presidente da Associação Brasileira da Indústria
do PET (Abipet). Até por dever de ofício, a
postura do dirigente é compreensível, ainda
mais se fincada no terceiro produtor de
refrigerantes do planeta. Em sua argumentação, Marçon passa ao largo da tendência
ascendente da fabricação doméstica de
produtos e da aritmética sem pátria da economia de escala advinda de uma produção
massificada. Quem ousaria dizer, nos anos
90, que a classe C teria acesso franqueado
a celular, computador e TV de tela plana?
Para Marçon, a novidade das cápsulas é uma sacada da cadeia de refrigerantes
na tentativa de trazer de volta um consumidor infiel e menos frequente. Por isso,
prossegue o porta-voz da Abipet, não é
de se esperar diminuição relevante na
demanda pelo poliéster, pois a máquina
de fabricação doméstica apenas resgata ou
agrega adeptos. Além do mais, vaticina, o
mercado brasileiro de refrigerantes é movido pela garrafa tamanho família. “Cerca
de 70% do consumo de refrigerantes é feito
em garrafas de 2 litros”, pontua Marçon.
Marçon: tentativa de laçar
consumidor infiel e esporádico.
Incluindo os tipos de 1 litro e 1,5 litro,
a fatia chega a 80%, ele acrescenta. Sob
outro ângulo, nota, ao pensar que o modelo
em cápsulas tomaria lugar de recipientes
menores de dose única, o efeito negativo
surtiria sobre as latas de alumínio, julga o
presidente da Abipet.
Nessa mesma linha, Marçon acredita
que a reciclagem do PET não sairá perdendo e que a cadeia produtiva da resina
dificilmente sentirá um baque, pelo menos
no primeiro momento. Porém, ele ressalva,
é preciso lembrar que uma movimentação
assim, vinda da Coca-Cola, não acontece
ao acaso. “A empresa possui inúmeras
marcas e atua em diversos segmentos de
bebidas que poderiam funcionar bem com
um equipamento desse tipo”, arremata.
Única produtora de PET no país, a M&G
não deu entrevista.
25
plásticos em revista
Fevereiro / 2014
rasante
Mais barato em dólar
Washington De Luccas
Vantagens competitivas fizeram
com que a Rotoline, sediada em Chapecó
(SC), começasse, no início do ano, a
montar linhas de rotomoldagem em sua
filial de Kent, em Ohio (EUA). Segundo
Washington De Luccas, diretor-presidente
da empresa, os clientes locais ganharão
com entrega rápida, menor interferência de
variações cambiais, bem como frete mais
barato. “Outro fator pertinente que pesou
na decisão foi o tamanho do mercado
norte-americano, o maior mundialmente”,
estabelece. A previsão de De Luccas, até o
fechamento desta edição, era de entregar
os dois primeiros equipamentos feitos em
Kent em fevereiro.
Nos Estados Unidos, prossegue o
industrial, a Rotoline tem 40 máquinas
instaladas e 2013 foi um ano positivo em
relação às vendas, embora ele não abra
quantos modelos foram comercializados.
Com essa aproximação, aliás, os custos
serão mais compatíveis com a realidade
atual, o que deve impulsionar os negócios
e alavancar o padrão de atendimento no
pós-venda, com assistência técnica especializada, sublinha De Luccas.
A retomada da transformação de plásticos nos Estados Unidos é também fator
crítico para o bom desempenho da planta.
Por lá, ele encaixa, o setor é diversificado
e a máquina tipo carrossel é a mais requisitada. “É um equipamento adequado para
produção seriada”, ele prossegue. Além
desse modelo, as linhas suttle também são
montadas em Ohio, sendo que os cabeçotes e braços para todas as rotomoldadoras
são enviados do Brasil. Sobre essas partes,
inclusive, incide tarifa de importação de
aproximadamente 3%, percentual quase
irrisório em comparação aos impostos de
internalização brasileiros.
Enquanto Kent esbanja competiti-
vidade, a fábrica catarinense da Rotoline
sofre com as mazelas do Custo Brasil.
“Temos problemas com infraestrutura, custos de frete interno, burocracia nos portos
e alta carga tributária”, enumera o diretor.
A Rotoline continuará montando e vendendo moinhos da Reduction Engineering,
parceira da empresa, apenas no território
brasileiro, onde é válida sua licença para
esses auxiliares.
Volta por cima
Carlos Fadigas
O resultado da Braskem em valores
não decepcionou em 2013. A receita líquida
consolidada no ano passado somou R$
41 bilhões, uma expansão de 13% com
MERCADO BRASILEIRO DE
Serviço completo
da MaxiQuim
A conduta da Braskem de não
avaliar em separado a performance anual
de seus tipos de polietileno anima, em
contrapartida, analistas a projetarem esses indicadores. Com nome feito como
termômetro do mercado, a MaxiQuim
solta aqui sua avaliação em serviço completo. Além de destrinchar o consumo
aparente dos polietilenos, estende os
cálculos do exercício de 2013 às demais
resinas commodities.
Mil toneladas
PEBD
PEBDL
PEAD
PRODUÇÃO
672
855
1.054
EXPORTAÇÃO
217
241
348
IMPORTAÇÃO
133
353
306
CONSUMO APARENTE (CA)
588
968
1.012
26
plásticos em revista
Fevereiro / 2014
relação a 2012. De acordo com a empresa,
a apreciação média no dólar, que variou
10% no período, influiu no balanço. Além
do mais, com a adoção da contabilidade de
hedge, a petroquímica conseguiu em 2013
reverter o prejuízo de R$ 738 milhões do
exercício anterior e consolidar lucro líquido
da ordem de R$ 507 milhões.
No ano passado, a Braskem investiu
R$ 2,72 bilhões, sendo que 40% do
montante foram destinados à construção
do complexo petroquímico mexicano. A
planta está agendada para partir em 2015 e
terá capacidade de gerar 750.000 toneladas
de PEAD e 300.000 toneladas de PEBD. A
estimativa para os desembolsos neste ano
aponta para R$ 2,66 bilhões no total.
Enquanto isso, a divisão petroquímica
do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj), que será gerida pela Braskem,
caminha a passos tão lentos quando a
crença na viabilidade do projeto diante do
parâmetro em preços das resinas resultantes
da rota norte-americana do gás de xisto.
Para Carlos Fadigas,presidente do grupo
petroquímico, dificilmente a decisão final de
investimento irá à apreciação do conselho
da empresa ainda em 2014. Sem isso, o
valor dos aportes, capacidades de resinas,
cronograma do Comperj e preço médio para
compra de gás não saem este ano.
Miniavanços
No ano passado, a Braskem produziu
no Brasil 2,58 milhões de toneladas de
PE e permanece com sua política de não
desmembrar os indicadores de consumo aparente da resina entre os tipos de
densidades alta, baixa e baixa linear (ver
quadros da MaxiQuim nesta página). Em
comparação a 2012, a alta foi de 2%. No
caso do PP, a produção no ano passado
totalizou 1,62 milhão de toneladas, uma
queda pequena de 1% sobre o exercício
anterior. Pelos lados de PVC, a expansão
em Alagoas resultou em produção 17%
maior, correspondendo a 582.579 toneladas em 2013. Com a aquisição dos ativos
da Solvay Indupa no Brasil e Argentina, a
capacidade total do vinil da Braskem sai
de 750.000 t/a para 1,25 milhão de t/a.
No balanço da petroquímica, suas plantas
internacionais, localizadas nos Estados
Unidos e Alemanha, venderam juntas 1,8
milhão de toneladas de PP, um avanço de
3% sobre 2012. Essas unidades geraram
1,78 milhão de toneladas da resina, 2% a
mais sob a mesma base de comparação.
de joelho no milho
Uma das primeiras grifes de biocompostos a bater às portas do Brasil, a
Cereplast pediu concordata (Chapter 11)
em 10 de fevereiro último, com a cabeça
na guilhotina: um dos credores pleiteou
a conversão do pedido de recuperação
judicial em falência da empresa, badalada
referência no beneficiamento de ácido po-
RESINAS TERMOPLÁSTICAS - estimativa 2013 MaxiQuim
PE´s
PS
PP
PVC
PET
Poliolefinas
Total
2.581
392
1.627
820
415
4.208
5.835
805
28
326
14
29
1.131
1.202
792
32
287
484
146
1.079
1.742
2.568
396
1.588
1.291
533
4.155
6.375
(grau garrafa)
27
plásticos em revista
Fevereiro / 2014
rasante
Deu empate
lilático (PLA) comprado da NatureWorks.
Nos nove meses findos em 30 de setembro
passado, a componedora reportou prejuízo
total de US$ 34 milhões e vendas limitadas
a US$ 2,1 milhões, conforme foi divulgado
na mídia. Entre as justificativas para a chegada ao pré-sal financeiro, foram citadas
a retração norte-americana da demanda de
biomateriais e os passos de tartaruga da
regulamentação europeia para o segmento.
especial em recipientes transparentes,
segundo adiantou na mídia global. Conforme foi assinalado, PS é mais acessível,
mas PLA possibilita recipientes menos
espessos e que ocupam menos espaço
no frete. Dos pontos a desejar, PLA ainda
não se presta ao envase a quente (hot fill).
No embalo, pintou a notícia de que a suíça
Clariant, GPS mundial em pigmentos e
masters, juntou-se à Danone na concepção
de agentes espumantes capazes de reduzir
a densidade de PLA.
Filme com final feliz
Sem distinguir as vendas de injetoras
das de sopradoras, a unidade de Máquinas
para Plásticos, a Romi aferiu em 2013
vendas de 220 máquinas, quantidade
muito similar à obtida em 2012 (221 unidades). O preço médio por unidade nesta
comparação cresceu 12,4%, refletindo
a recuperação de preços conduzida em
2013. Entre os mercados que mobilizaram
as entregas, a empresa alinha embalagens,
autopeças, móveis, utilidades domésticas
e prestação de serviços.
Biogurte
A parisiense Danone, trem bala global
em lácteos, converteu perto de 5% de suas
embalagens de iogurte, originalmente de
poliestireno alto impacto (HIPS), para o
ácido polilático (PLA) e apalpa as chances
de expandir o uso desse bioplástico, em
28
plásticos em revista
Fevereiro / 2014
Pesquisa da consultoria MaxiQuim
constata crescimento de 3,5% da indústria
brasileira de embalagens plásticas flexíveis
em 2013 versus 2012. O setor emplacou,
no ano passado, produção de 1,88 milhão
de toneladas e o o faturamento cresceu
14,4% em 2013, para R$ 13,7 bilhões
contra anteriores R$ 12 bilhões. Quanto às
exportações, a desvalorização do real frente
ao dólar ajudou a materializar aumento de
13,6%, equiparáveis a 60.000 toneladas
(receita de US$ 207 milhões) contra 53.000
em 2012. Por sua vez, as importações
recuaram 8,3%, fechando em 124.000
toneladas (receita de US$ 624 milhões),
abaixo das 136.000 precedentes. Noves
fora, o consumo aparente de embalagens
plásticas flexíveis exibe saldo de 1,940
milhão de toneladas em 2013, volume
2,3% acima do balanço de 2012. •
ESPECIAL
Fernanda de Biagio
O plus da sedução
Fabricantes de UDs revelam táticas para chamar a atenção dos consumidores
A
viso aos produtores de masterbatches: no setor de utilidades
domésticas, a vida não anda fácil
para o roxo e suas tonalidades.
Sábio é jogar essa cor pra escanteio ao
menos até a próxima virada fashion. A
constatação é uníssona entre Plasvale
e Coza, feras na transformação desses
utensílios, bem como da Bertussi Design
(ver entrevista na página 32), estúdio especializado em projetos para UDs e outros
setores. Em contraste, se saíram bem em
2013 o preto e o prata para a linha cozinha
e verde esmeralda em outros nichos, como
limpeza e organização, verifica Darlene
Gomes, diretora comercial e de marketing
da Plasvale, sediada em Gaspar (SC). “Para
jarras, garrafas e copos, investimos no
neon colorido, como verde limão, laranja
e rosa pink. Foi um sucesso”, comemora.
Darlene percebe que, no ramo de
UDs, só é viável investir em uma tonalidade sob medida quando a fabricação,
no fim das contas, for bastante elevada.
“Exclusividade e produções especiais estão
relacionadas a volumes expressivos”, ela
ressalva. Trabalhos personalizados, aliás,
entram apenas no portfólio direcionado
à exportação. Nesse reduto, ela ilustra,
despontam laranja e azul para a Argentina
e vermelho para Paraguai e Colômbia.
Enquanto isso, no Brasil, há tendências que
vivem sempre em alta. “Verde é um clássico em UD de plástico, visto por nossos
consumidores como cor básica. Tem saída
em todo território nacional”, ela comenta.
Para 2014, os planos da Plasvale estão
voltados justamente ao design, personalização e diferenciação. “Queremos fazer com
que o plástico seja visto como um item de
moda”, ela pontua. Além disso, prossegue
Darlene, o objetivo é tornar o produto desejável aos olhos, de forma que a compra
por impulso seja cada vez mais um fator
dominante. Para ela, a decisão de adquirir
o artefato começa pelo visual e só em um
segundo momento o comprador considera
a necessidade da peça para seu dia a dia.
30
plásticos em revista
Fevereiro / 2014
O encarecimento do custo em manter
empregadas domésticas, de acordo com a
executiva da Plasvale, em nada influencia o
negócio de UDs. A inspiração para desenvolvimentos arrojados e inovadores, ela
assinala, vem da necessidade de mudança
desencadeada por consumidores cada vez
mais exigentes. “Preferências e tendências
para diferentes classes sociais, que conseguíamos distinguir de forma clara no
passado, não existem mais”, esclarece. O
parque da transformadora é composto por
cerca de 40 injetoras. Polipropileno (PP) é
a resina mais utilizada, com uma fatia de
80%. O restante fica com poliestireno (PS).
De seu lado, a Coza, parte do Grupo
Brinox, observou que os conservadores
preto e branco fizeram a cabeça da clientela
no ano passado. “Houve pitadas pontuais
de verde esmeralda e coral”, insere Márcia
Balestro, supervisora de desenvolvimento
de produto. Por seu turno, amarelo e roxo,
saíram do mostruário de UDs da empresa.
Independentemente do apelo do momento,
ESPECIAL
exclusividade em lotes especiais gera muitas perdas.
Além disso, o custo do produto seria muito elevado”,
Márcia justifica, mas não
abre suas últimas formulações feitas por encomenda e
muito menos quem fornece
os masterbatches.
Segundo nota a suDarlene Gomes: compra por
Márcia Balestro: branco e tons
pervisora, o apelo visual
impulso determina sucesso
naturais sempre em alta.
deve estar atrelado à funcioem UDs.
nalidade da peça. “A estética
ela acrescenta, o branco e tons naturais
é atrativa, mas o consumidor está muito
sempre têm lugar entre as novidades, pois
cauteloso quanto à utilização do produto. Ele
permitem uma variedade de combinações.
compra somente quando sabe que irá usar”,
Pela experiência da Coza, de Caxias
ela informa, contrastando com a opinião da
do Sul (RS), a aposta em cores sob medida
diretora da Plasvale. A maior parte das UDs
é vantajosa apenas quando o tom pode ser
fabricadas pela grife gaúcha é, conforme a
inserido na produção regular. “Trabalhar a
praxe, injetada com PP e PS.
31
plásticos em revista
Fevereiro / 2014
Plasvale: tendências comuns a
todas as classes sociais.
ESPECIAL
UD/Design
Pista livre para a sofisticação
Diferenciação e desempenho tornam-se objetos
de desejo, percebe designer da Bertussi
C
ores exclusivas em utilidades
domésticas (UDs) representam
sofisticação e diferenciação em
um mercado mega concorrido.
No entanto, não é um artifício que deve ser
utilizado sem planejamento e a qualquer
preço. Por sinal, volume e regularidade são
fatores cruciais e precisam ser analisados.
Se eles não justificarem o investimento,
não há nada de errado em escolher
tonalidades existentes nas cartelas dos
fornecedores de masterbatches. Só que, a
partir daí, é preciso ousar na criatividade,
seja na mistura de tons, efeitos ou no
formato, porque peças com forte chamariz
visual se destacam na prateleira e fazem
com que a compra por impulso determine
o sucesso ou fracasso das marcas. Na
entrevista a seguir, Betina Brentano, gerente
de projeto da gaúcha Bertussi Design, ás
na estética de UDs premium, descreve os
atributos chave para o segmento atrair e
reter o consumidor brasileiro.
PR – Entre seus projetos de 2013,
quais as principais cores, tons ou efeitos,
até então inéditos, que predominaram
em UDs?
Betina Brentano – Trabalhamos bastante com efeitos de transparência, semi-transparência e reflexão que polímeros
como acrílico (PMMA) e SAN propiciam,
especialmente quando aplicados a formas
geométricas curvilíneas ou facetadas. Será
lançada na edição da Gift Fair (10-13/3,SP)
a linha inédita chamada Discovery. Ela
utiliza esse recurso de uma forma pouco
usual em utensílios domésticos.
32
plásticos em revista
Fevereiro / 2014
PR – Pela sua percepção, quais as
cores e tons que caíram em desuso em UD
hoje em dia? E quais estão em alta atualmente? E quais os demais efeitos estéticos
hoje em evidência em UDs no Brasil?
Betina Brentano – Roxo e fúcsia estão
bastante em desuso, especialmente na
cor fechada. Tons cítricos, como laranja
ou mesmo o verde cítrico, ficaram muito
batidos e deram lugar a tons pastéis. O
próprio verde, inclusive, assumiu novas
formas em cartelas mais discretas e escuras e tornou-se tendência.
PR – Quais são as cores preferidas,
em UDs, dos consumidores brasileiros,
independente de moda ou tendências
passageiras?
Betina Brentano – O mercado brasileiro tem maior número de vendas em
ESPECIAL
UD/Design
Betina Brentano: roxo e fúcsia em
desuso no mercado brasileiro.
produtos na cor branca e natural (transparente). Mas também percebemos, em
algumas áreas, certo conservadorismo e
apego a tons padrão, como vermelho e azul
primários. Estes insistem em perdurar em
algumas categorias, como a de isotérmicos
– caixas térmicas e garrafões. Contudo, é
preciso questionar se esse apego é de fato
do público final ou se o trader é que impõe
um filtro mais duro. No último caso, o consumidor permaneceria carente de opções
sofisticadas na hora da compra.
PR – Pela experiência da Bertussi
Design, produtores de UDs têm investido
em cor ou tonalidade exclusiva ou tendem
a buscar o que há disponível nos mostruários dos fornecedores?
Betina Brentano – De um modo geral,
mesmo as grandes empresas tendem a
optar por tons disponíveis nas cartelas de
seus fornecedores. O habitual é indicarmos
um determinado pantone, que será buscado nos fornecedores em uma tonalidade
similar. Não vivenciamos experiência de
desenvolvimento exclusivo até hoje.
PR – Como você classifica a compra
por impulso entre os fatores que desencadeiam a decisão de levar UDs pelo
consumidor? E qual o peso do apelo visual
nessa compra por impulso?
Betina Brentano – A compra por impulso se aplica muito ao segmento de UDs.
Isso acontece principalmente em produtos
fabricados com plástico, dado o grande
tos acabam se transformando em itens de
apelo visual e custo relativamente baixo
decoração.
PR – Como avalia as pressões do culem relação a peças similares de outros
to à sustentabilidade no negócio de UDs?
materiais. Isso permite que o consumidor
Betina Brentano – As utilidades
renove sua casa de maneira fácil, acessível
domésticas em plástico servem muitas
e frequente.
PR – UDs em geral são opacas.
vezes para substituir o uso de embalagens
Como encara a tradicional resistência do
descartáveis, então até acabam ajudando
consumidor a soluções translúcidas ou
nesse ponto. As discussões sobre sustentransparentes para UDs no Brasil?
tabilidade muitas vezes carecem de dados
Betina Brentano – Não verificamos
e argumentos objetivos. Em relação aos
esta resistência. As linhas translúcidas
produtos de plástico, acreditamos que,
estão crescendo muitíssimo, tanto em
com projetos bem feitos e o uso racional da
volume quanto em margem e representam
matéria-prima, temos mais vantagens do
parte significativa de nossa receita de UDs
que problemas, pois trata-se de um mateplásticas.
rial muito versátil e plenamente reciclável.
PR – O encarecimento do custo de
PR – Quantos clientes a Bertussi
empregadas domésticas tem se refletido,
possui hoje no ramo de UDs? Esse segmento corresponde a qual fatia do total de
de alguma forma, no negócio de UDs?
projetos do escritório?
Tem inspirado a criação de produtos? Dar
Betina Brentano – Hoje temos aproexemplos.
ximadamente 15% da carteira concentrada
Betina Brentano – Observamos uma
aproximação do consumidor final com o
em UDs com receita proporcional.
universo dos utensílios
para o lar, cujo uso era
atribuição das empregadas domésticas. Estes
artefatos passam a ser,
portanto, utilizados de
fato por quem os compra.
Isso abre margem para
produtos com maior sofisticação estética, acabamento e altas exigências
funcionais. Peças com
valores mais elevados
passam a ser viáveis,
posto que diferenciação
e desempenho tornam-se
objetos de desejo. Por
exemplo, produtos para
armazenagem devem ter
aspecto bom o suficiente
para ir à mesa, ao passo
que escorredores de pra- Cesto de roupa: referência da Bertussi para requinte e funcionalidade.
34
plásticos em revista
Fevereiro / 2014
ESPECIAL
UD/Masters
A paleta das
fórmulas sob medida
Feras em concentrados indicam quando é
vantajoso investir em cores e efeitos exclusivos
U
Ds e cosméticos comandam os
setores que mais encomendam
formulações exclusivas de masterbatches para a Cromex, blue chip
nacional em concentrados. “Na esfera da
injeção de UDs, destacam-se os pedidos de
cores com glitter e, tendência hoje em alta no
ramo, tonalidades translúcidas”, distinguem
Roberto Herrero Lopes, coordenador de
laboratório de cores, e Luis Ghidelli, gerente
de desenvolvimento dessa componedora
controlada pela família Wajsbrot.
O prazo de exclusividade, acertado em
comum, para uso da formulação sob medida
é muito variável. “No segmento de cosméticos, dura de um a dois anos, enquanto
em UDs o prazo aumenta e, na indústria
automobilística, oscila de acordo com os
lançamentos”, explicam os dois executivos.
A propósito, eles encaixam, muitas vezes
os clientes têm uma noção de tonalidade e
efeito em vista, mas não possuem um padrão
físico. “Nesse caso, abrimos as portas para
que ele escolha uma cor de efeito já existente
ou desenvolva sua proposta com o colorista,
a partir de nossos estudos de tendência de
mercado para cada aplicação”.
Francielo Fardo, diretor superintendente da paranaense Colorfix, assina embaixo.
“A cor ou tonalidade especial agrada o
consumidor em busca desse diferencial nas
embalagens”, pondera. Transformadores
como os de UDs, indica, são receptivos a
inovações em efeitos – perolados, marmo-
36
plásticos em revista
Fevereiro / 2014
rizados, com interferência de transparência
etc. – que devem relacionar-se com o público
a ser atendido. Pesquisas de mercado e
tendências de futuras cores, com as quais
devem se identificar determinados perfis de
consumidores, também ajudam a Colorfix
a nortear os desenvolvimentos de concentrados personalizados, completa Fardo.
“Ajudam na diferenciação dos produtos,
inclusive para agregar valor ou incutir um
desejo, e a cativar clientes através da cor,
pois eles reagem à ação e à emoção”. A
depender da demanda, condiciona o dirigente, a Colorfix entrega a amostra de uma
formulação individualizada entre cinco e 10
dias úteis.“Dispomos ainda de um catálogo
com mais de 40.000 cores”.
No âmbito de UDs, Fardo enxerga um
pendor pelo emprego de efeitos a exemplo
de metalizados, marmorizados, fluorescentes
e até fosforescentes. Nessa trilha, insere, a
Colorfix introduz para UDs e artigos de polipropileno (PP) a linha ClearFix Colorants,
acenando com transparência e brilho.
A indústria de UDs é a terceira no
ranking das que mais demandam masters
exclusivos para a Colorfix, situa Fardo. Pelo
seu crivo, os efeitos estéticos em evidência
em UDs no país alinham-se em duas vertentes. “No universo adulto, estão em alta os
perolados, fosco e brilhante, até de efeitos
transparentes e opacos, neutros e coloridos,
brilho cromado, cobres e tons pastel”,
expõe. “Em relação ao universo infantil,
ESPECIAL
UD/Masters
sobressaem os efeitos perolados, verniz,
tons suaves e materiais transparentes”. Para
a temporada de 2014, ele arremata, “as cores
farão parte de um degradê, do vermelho
profundo ao rosé”.
Cores e tonalidades sob encomenda
são a praia da Cromaster, identifica o sócio
e diretor industrial João Daniel. Mas, aos
seus olhos, o reduto de UDs anda retraído
a investir em concentrados personalizados.
zados por um atendimento especial utilizam
nesse trabalho um único componedor
parceiro”. Em decorrência desse quadro
geral, completa, varia muito o prazo em
que o mercado nacional clona um master
concebido por encomenda. Na mesma trilha,
Daniel comenta que, no plano geral, uma
dificuldade do transformador em repassar
ao componedor sua real necessidade técnica
tem a ver com os gastos. “Quanto maior a
Cabides: reduto marcado pela diversidade de cores vivas.
“Com a invasão dos importados, os custos
de UDs nacionais ficaram muito apertados e
seus produtores então partiram para artigos
transparentes tonalizados e muitas vezes
as tampas são coloridas, translúcidas ou
opacas”, observa. Em determinados casos,
assinala Daniel, quando almeja valorizar ou
distinguir suas UDs, o transformador parte
para o efeito transparente fluorescente. “Em
outra situação, relativa a ações promocionais
em feiras ou eventos, a Cromaster já contribuiu com cores peroladas especiais de custo
mais acessível”, arremata o componedor.
Na maioria das vezes, considera
Daniel, os transformadores desenvolvem
cor ou tonalidade exclusivas com mais de
um fornecedor. “Apenas aqueles com uma
solicitação técnica ultra específica ou fideli-
exigência tecnológica, maior o custo da
formulação e para prover a solução técnica
e comercial adequada, envolvemos a área
de marketing do cliente no desenvolvimento
do concentrado”. Conforme a urgência,
delimita Daniel, a Cromaster, escorada num
lastro de 30 anos de bagagem, comparece
com a formulação desejada no mesmo dia
do pedido, mas em média o faz entre três e
cinco dias. “Realizamos todos os ensaios e
homologações necessárias das amostras”,
sublinha o industrial.
“A Termocolor tem como característica
a criação de produtos personalizados”, assegura o gerente comercial Wagner Catrasta.
Tanto que, segundo ele, 80% dos desenvolvimentos são cores especiais e com efeitos.
No ano passado, os projetos sob encomenda
38
plásticos em revista
Fevereiro / 2014
apresentaram crescimento de 20%, um ritmo
que se mantém estável desde 2010. Aspecto
negativo, no entanto, é a clonagem quase
imediata. “O mercado de plásticos, assim
como diversos outros, está cada vez mais
dinâmico e globalizado. A oferta de insumos
é enorme”, justifica.
A maior dificuldade notada nos clientes
em indicar precisamente as tonalidades
exclusivas que desejam é a falta de padrão,
informa Catrasta. “Muitas vezes, a área de
marketing nos traz ideias de cores de peças
que não são plásticas. Temos de desenvolver, da forma mais fiel possível, para não
deixarmos o cliente frustrado”, ele comenta.
Com altos investimentos em laboratório
e profissionais capacitados, a Termocolor
oferece resposta rápida a esses pedidos e
entrega amostras para testes em três dias, o
gerente afiança.
Entre seus projetos exclusivos, a
Termocolor destaca tons neon, cores fosforescentes, com efeitos perolizados, mesclados, aromatizados e com bactericida.
Esses concentrados, informa Catrasta, foram
aplicados em segmentos como construção
civil, descartáveis, utilidades domésticas,
brindes, linha branca, brinquedos, embalagens, cosméticos, móveis de jardim e
eletroeletrônicos.
Em 2013, entre as formulações sob
encomenda, sobressaíram os efeitos perolizados, cores vibrantes, neon e aromatizados.
Os redutos que mais demandam soluções
personalizadas, pelo visto, foram os de higiene, limpeza doméstica, UDs e cosméticos.
Em UDs, especificamente, caíram em desuso
tons pastéis, como bege, creme e marrom,
no passado utilizados de forma ampla. Para
este ano, por conta da Copa do Mundo, verde
e amarelo entraram com tudo.
No caso da Cristal Master, produtos
especiais representam de 20% a 30% dos
desenvolvimentos. “Os efeitos variam de
tons perolados e metalizados, até neon, com
ESPECIAL
UD/Masters
borda, furta-cor, fluorescentes, cores com
glitter, termocrômicos e fosforescentes”,
enumeram Aline Arndt, coordenadora de
vendas internas, e Fábio Fazolim, gerente comercial. Essas criações exclusivas atendem
a diversos segmentos, como brinquedos,
cosméticos, higiene e limpeza e descartáveis.
No nicho das UDs, tonalidades variam
de acordo com o público para o qual os
Fardo: Colorfix aposta na
transparência e brilho.
é instalar linhas de produção em todas as
filiais. “Atenderemos todo o país com rapidez
e competitividade”, completam.
Pela percepção de Thiago Ostorero,
gerente comercial da Engeflex do Brasil, na
maioria dos casos, é mais vantajoso apostar
na concepção exclusiva de um masterbatch
do que alterar um molde para injeção de UDs.
Segundo ele avalia, dependendo da comple-
Daniel: pressão das importações
sobre UDs nacionais.
utensílios são direcionados, opinam Aline
e Fazolim. No atacado e nas famosas lojas
de R$ 1,99, cores e efeitos não apresentam
alterações significativas. “O custo é muito
apertado”, explicam. Por outro lado, com
relação a artefatos voltados ao mercado de
elevado valor agregado e design diferenciado, há projetos tocados pela Cristal Master
que incluem até agente antimicrobiano à base
de zinco. “Ele proporciona alta eficiência na
eliminação de fungos e bactérias e é extremamente competitivo”, asseveram. Inclusive,
em um caso específico de inovação da
empresa, a aplicação do aditivo não chegou
a aumentar em R$ 0,05 o custo da peça final.
Os aportes em melhorias e expansões
na componedora não param. Em março,
Aline e Fazolim esperam a chegada de uma
extrusora dupla rosca com capacidade de
600 t/mês. Em 2013, a Cristal Master já
havia adquirido outras três máquinas, aptas
a gerarem 15.000 t/ano, que estão operando
a todo vapor. Para os próximos anos, a meta
pequenos lotes de produção”.
De acordo os especialistas da filial brasileira da Ampacet, Raquel Morais, executiva
de desenvolvimento de negócios, e Sérgio
Bianchini, gerente da mesma área, o mercado
doméstico de UDs é extremamente pulverizado. A maior parte desses transformadores
é de pequeno porte e focada em produtos
de combate, portanto sem muita inclinação
Aline Arndt e Fazolim: quatro novas extrusoras
em 2013 e 2014.
xidade e custos envolvidos, o transformador
pode desfrutar de um ano de tranquilidade
até que o mercado copie o tom específico.
Difícil, em alguns casos, é apenas convencer
o cliente de que o pantone selecionado é o
mesmo visto no artefato plástico pronto, ele
reclama. Os projetos especiais mais recentes
da Engeflex compreendem produtos perolizados e fluorescentes de alto desempenho e
voltados aos setores de cosméticos, limpeza
doméstica, higiene pessoal e lubrificantes.
Por sinal, agilidade é marca registrada
da empresa. Ostorero avisa que em 24 horas
consegue entregar um desenvolvimento de
cor ou tonalidade, dependendo, claro, da
complexidade e características técnicas.
“Alguns casos demandam busca de novas
matérias-primas e tecnologias junto a nossos
fornecedores”, esclarece Ostorero. Mas, no
geral, a resposta é quase instantânea porque
o laboratório trabalha dia e noite. “Possuímos
ainda um equipamento com baixa capacidade e que nos ajuda com amostras piloto e
40
plásticos em revista
Fevereiro / 2014
Ostorero: fórmulas criadas em
24 horas.
à encomenda de cores exclusivas. Para o
corpo de utensílios de cozinha, distinguem,
a resina mais usada é a natural e, quando
os produtores tendem aos masterbatches,
optam por brancos e pretos. “Cores diferentes estão associadas a potes e tampas”,
notam Raquel e Bianchini. Em outros itens,
ainda em UD, como escorredor de pratos,
de macarrão, bacias de uso geral, cestos
de lixo e de roupa, pá de lixo, cabides e
fruteiras, despontam o verde, azul, cereja,
lilás, laranja e rosa. “Já o bege para potes
e marrom para tampas caíram em desuso”,
eles reconhecem.
Essa fatia da clientela da Ampacet está
mais preocupada em trabalhar com concentrados que mantenham o padrão de cor
estabelecido em vez de adotarem os efeitos
especiais. “É um mercado considerado de
baixo valor”, julgam. Efeitos diferenciados
têm espaço em artigos de decoração e utensílios premium. “Ainda assim, observamos
que a busca por inovação em cores perma-
ESPECIAL
Bianchini: em UDs, fidelidade à
cor é baixa.
Rollo: paleta de tons
vivos para 2015.
nece restrita e baseada em custo”. Outro fator
que complica a situação é a entrada de similares importados, que chegam com preços
baixíssimos ao ponto de venda. No fim das
contas, mesmo as coleções mais sofisticadas
competem pelo mesmo consumidor.
Embora os desenvolvimentos exclusivos sejam clonados com rapidez, o
segmento de UDs não se importa. “Pequenos fabricantes trocam de cor com muita
flexibilidade. Logo, existe baixa fidelidade”,
analisam Raquel e Bianchini. A Ampacet,
de acordo com seus executivos, cria um
master sob encomenda em até três dias. Essa
agilidade é resultado de investimentos em
equipamentos de colorimetria, bem como em
injetoras e sopradoras. Contrastando com as
PP: avanços na
transparência
e rigidez.
Catrasta: efeitos especiais incluem
aromatizados e bactericidas.
UDs, as categorias de cosméticos e higiene
pessoal demandam muito mais tonalidades
exclusivas e sob medida, já que a competição
na gôndola por distintas variantes de uma
mesma linha é grande. “A cor, nesse caso,
é um grande diferencial”, balizam.
No caso da Clariant no Brasil, desenvolvimentos especiais e exclusivos cresceram em 2013. “Translucidez predomina,
mas alternativas de efeitos, como o perolado,
cada vez mais aparecem no nascimento de
produtos”, destaca Antonio Rollo, gerente
de marketing na América Latina. Investir
em opções sob encomenda, aliás, é crucial
quando o objetivo for ganhar participação
de mercado, inclusive no caso de UDs.
“Renovação da linha atrai mais a atenção
do consumidor, que está sempre em busca
de inovação”, garante. Embora as cópias
aconteçam com rapidez, ainda é valioso ser
pioneiro e aproveitar essa posição enquanto
ela dura.
Segundo intui Rollo, a decisão sobre
um subtom ou concentração exata de cor
é sempre um desafio. De qualquer forma,
a empresa conta com o centro ColorWorks
para criações e, dependendo do projeto, o
trabalho de desenvolvimento para a clientela
pode ser concluído no mesmo dia.
No ano passado, a Clariant se debruçou na concepção de efeitos aliados à
transparência para atender linhas premium
em UDs. “Ter cores mais intensas e concentradas sem poluir o artefato foi outro foco
importante”, delimita o gerente. Em meio
a projetos da empresa para esse reduto,
tonalidades vivas de violeta e rosa estão em
alta, muitas vezes entrando no lugar do azul.
Ao mesmo tempo, a intensidade não chega
ao ápice e tons pastéis permanecem com
cadeira cativa. Segundo a ColorForward
2015, ferramenta de previsão de cores para
o mercado plástico desenvolvida pela múlti,
tendências apontam para uma paleta mais
viva. Tons escuros e misteriosos também
chegam com força, contrastando com
transparência e texturas, finaliza. •
PP na retaguarda da qualidade
Até o momento, está para existir quem derrube as cores transparentes
de UDs. Pelo flanco da matéria-prima, a Braskem reverencia essa tendência
em polipropileno (PP) com grades de copolímero random e a família Prisma, estabelece Andressa Argani Abreu, engenheira de aplicação do grupo
petroquímico. “Junto com a resistência ao impacto, essa propriedade óptica
da resina traz outra visão do produto ao consumidor”, ela pondera. “Afinal, a
UD de alta qualidade não se relaciona apenas à transparência, mas à durabilidade”. Nessa mesma trilha do padrão premium, ela encaixa a exigência de
espessuras maiores. Em paralelo, Andressa enaltece os préstimos de grades
de PP da série Maxio para UDs. “Ela acena com a possibilidade de reduzir
custos através da economia de energia e diminuição dos ciclos de injeção”.
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plásticos em revista
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3 questões
Osvaldo Cruz
Fechar é regredir
Barreiras às importações de resinas
deixam Brasil à margem
do mundo, sustenta distribuidor.
Cruz: mercado brasileiro
deseja importar.
A
globalização é um processo permanente de melhoria de competitividade, provocado pela necessidade
de competir interna e externamente.
Nessa trilha, a abertura do comércio exterior não visa conter ou baixar os preços
internos, mas aumentar a economia pelo
melhor aproveitamento de suas vantagens
comparativas. Essas premissas básicas de
uma agenda econômica hoje passam longe
do governo Dilma, apontado em estudo da
Organização Mundial do Comércio como o
nº1 em medidas protecionistas em 2013.
Estilhaços desse retraimento pegam na
carne da cadeia do plástico, percebe nesta
entrevista Osvaldo Cruz, gerente geral da
Entec, distribuidora de resinas importadas,
entre elas polietileno da Dow.
PR - Diante das incessantes medidas
antidumping concedidas para importações
brasileiras de polipropileno (PP) e polietileno (PE), quais as alternativas concretas
para os importadores de poliolefinas não
virarem uma espécie em extinção?
Cruz - A curto prazo não há o que fazer,
porque os preços internacionais estão em
alta também. Porém, com os preços voltando para os patamares do ano passado,
haverá espaço para os importadores atuarem. Atualmente, o mercado brasileiro de
plásticos deseja importar; já há uma cultura
que compreende que o mercado precisa
estar aberto e isso é importante para todos.
Esse entendimento é muito importante para
as necessárias mudanças que, em algum
momento, os governantes terão de entender
e implantar.
PR - Como avalia os reflexos dessa
profusão de barreiras tarifárias sobre a
trajetória dos preços brasileiros de poliolefinas?
Cruz - Os reflexos compreendem
desequilíbrios de todas as ordens e preços
das matérias-primas sempre desalinhados
com os internacionais. Em decorrência,
os preços das embalagens e artefatos
transformados em geral também ficam
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plásticos em revista
Fevereiro / 2014
desalinhados, causando prejuízos ora para
o fabricantes, ora para os consumidores.
Nessas circunstâncias, é impossível para
os fabricantes possuírem uma política de
exportação. Enfim, vivemos fora da realidade
de outras regiões. Dessa forma, caímos fora
do comércio internacional, com a nossa
indústria de embalagens praticando a autofagia econômica.
PR - Na voz unânime dos analistas, em
poucos anos os EUA se tornarão exportadores de PE derivado da rota do gás de xisto
e a América Latina será o mercado externo
preferencial. A nova rota é muito mais
barata que a matriz da nafta, dominante
no Brasil. Como vê a possibilidade de o
governo brasileiro vir a atender pedidos
de medidas antidumping para importações
brasileiras de PE produzido a custo mais
baixo nos EUA, devido a uma vantagem
tecnológica?
Cruz - A continuar essa política marcada por nacionalismo e xenofobia, encabeçada pelo governo federal, são muito grandes
as chances de esses pleitos de antidumping
serem atendidos. O que será um desastre
para o país, acarretando mais atraso a uma
conjuntura na qual alguns grupos, em
determinados períodos, obtêm vantagens
cada vez mais questionáveis. Elas acabam
perdidas a longo prazo e mergulham o país
no subdesenvolvimento.•
trajetória
Inplac
Com pulmão de garoto
Inplac completa 40 anos sem perder o pique do começo
Inplac: modelo reconhecido de gestão.
N
os idos de 1974, quando o
polo catarinense de flexíveis
sequer era um brilho nos olhos
dos empreendedores, Fernando
Marcondes de Mattos, especialista em
economia do governo estadual, enxergou
no plástico o material do futuro e uma
forma de ajudar na geração de empregos e
desenvolvimento de Florianópolis e região.
Com esse faro, constituiu a Inplac que, 40
anos depois, tem nome feito como ás de
ouros nacional na extrusão, coextrusão,
flexografia e tecnologia de sacos valvulados. “Crescemos 20 vezes desde então, à
média de 8% ao ano e a área construída
passou de 2.500 para 25.000 m²”, calcula
Roberto Marcondes de Mattos, irmão do
controlador Fernando e CEO e diretor
industrial da empresa. Arisco a detalhar
metas o presidente deixa no ar a possibilidade de uma mexida no perfil da Inplac,
ainda sem prazo definido mas consistente
o bastante para ser ventilada. “Estamos
estudando o mercado de ráfia”.
Mal saído da faculdade de Engenharia, Roberto Marcondes de Mattos
capitaneou a instalação original e assumiu
o leme da produção em Biguaçu. O município aliás, venceu as alternativas para
sediar a Inplac por uma razão sentimental.
“Foi onde meus pais se conheceram; ele
era promotor e ela, professora”, revela
o presidente. Em valor atualizado, ele
orça o investimento em R$10 milhões.
“Foi financiado pelo Banco Regional de
Desenvolvimento do Extremo Sul (BRDE)
e incentivos fiscais do Fundo de Desenvolvimento de Santa Catarina (Fundesc)”.
44
plásticos em revista
Fevereiro / 2014
À época, assinala Mattos, a concorrência da Inplac contabilizava cerca de 10
transformadoras no Sul. “A oferta de sacos
era relativamente adequada à demanda,
mas o potencial de crescimento era bastante alto”. A Inplac entrou em cena mandando
bem em regime de três turnos de trabalho
e com efetivo de 100 funcionários. “A
planta partiu com quatro extrusoras blown
da alemã Reifenhäuser e sua capacidade
instalada era de 100 t/mês”, especifica
o CEO. O portfólio de estreia, prossegue
o fundador, exibia sacos monocamada
para calcário e fertilizante. “Pesavam 200
gramas, bem acim da embalagem atual de
85 gramas”, ele compara.
Já no segundo ano de produção regular, em 1976, a Inplac mostrava sua assinatura ao país na condição de fornecedora
de sacos coextrusados. Foi uma evolução
significativa a ponto de Mattos listar, ao
lado da extrusora tubular Reifenhäuser,
uma coextrusora da canadense Brampton
entre os equipamentos marcantes nos 40
anos de travessia da Inplac. À sombra dessa infra industrial, insere Mattos, a empresa
sobressaiu como pioneira no país ao botinar, com seus sacos de polietileno, aqueles
confeccionados com papel nos mercados
de cal e calcário. Em seu retrospecto, o
presidente pinça a década de 1980 como
o período mais rentável da Inplac.
No momento, a fábrica em Biguaçu
possui capacidade máxima, trabalhando
30 dias por mês, da ordem de 2.550 t/
mês, projeta Mattos. Apesar do latejar do
agronegócio e do crescimento econômico
Mattos: crescimento ininterrupto de
8% ao ano.
Sacos valvulados: papel perdeu mercados.
de regiões afastadas, como o Nordeste, o
CEO corta no ato a hipótese de erguer uma
unidade filial. “Os produtos da Inplac são
referência de mercado e não teríamos como
replicar nossa fábrica no Nordeste”. Na
mesma trilha, ele descarta a ideia de produzir sua sacaria nos EUA, para desfrutar o
polietileno mais barato, proveniente da rota
do gás de xisto, tanto em vendas internas
como em exportações. “Por enquanto,
nossa atenção está dedicada a dobrar
para 2.000 t/a nossas remessas de sacos
para os EUA, hoje equivalentes a 10% da
produção da empresa”.
A solidez do negócio e a excelência na
gestão tornam a empresa um alvo natural
de sondagens em torno de joint ventures
ou compra de concorrentes e de acenos
de fundos privados para ingressarem no
quadro de acionistas. “Temos recebido
propostas neste sentido e sempre as analisamos sem pressa”, desconversa o CEO.
O mercado atual de sacos flexíveis
difere em 180º do encontrado pela Inplac
em 1974. Sobram concorrentes, há apenas
um produtor de polietileno no país, campos
como a indústria sucroalcooleira estão no
fundo do poço, a informalidade grassa na
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plásticos em revista
Fevereiro / 2014
transformação e a carga tributária chegou
ao estágio de obesidade mórbida e nó
cego. Mesmo assim, Mattos dá a entrever
que, se o tempo voltasse, tudo começaria
outra vez. “A escolha do segmento plástico
continua acertada até hoje; creio que Fernando repetiria sua decisão”.
Fernando e Roberto tornaram a
Inplac referência de indústria familiar bem
administrada. E a continuidade desse
padrão embute um desafio. “O quadro
de parentes resume-se aos dois irmãos.
“Pela programação estabelecida por ele,
ficarei na posição atual pelos próximos
10 anos, quando então o substituirei como
Chairman”, esclarece Roberto Marcondes
de Mattos. “Nesse meio tempo, teremos
que encontrar uma pessoa para a cadeira
de CEO”. •
fábrica modelo
Nord West
Ourives de peças técnicas
Nichos premium norteiam a produção da Nord West
Nord West: ênfase na automação do processo.
A
o embarcar no quinto ano de
estrada, a catarinense Nord West
se empenha em fugir de tentações,
como apostar na economia de escala, para não por a perder sua vocação de
uma ourivesaria de injeção. Desde o início,
seu forte são peças técnicas à base de resinas de engenharia e de alta complexidade,
como aquelas dirigidas às áreas náutica,
metal mecânica, automotiva e odontológica, expõem os sócios Adriano Francisco
Reinert, incumbido da diretoria industrial,
e Marcelo Mattos de Lemos, responsável
pela área financeira. O foco em tiragens
limitadas de artefatos fora do convencional
tende a ser fortalecido com a concretização
do anunciado projeto de incorporar uma
sala com ambiente controlado na sede em
Joinville.”Será utilizada para a manipulação
de peças da área médica”, delimitam os dois
controladores.
No momento, o parque de injeção da
empresa aloja quatro injetoras hidráulicas
da grife alemã Arburg, munidas de patenteado sistema de gerenciamento de energia
e com respectivas forças de fechamento
de 40, 50,150 e 200 toneladas. “Damos
preferência a essa marca em razão da altíssima tecnologia, precisão e durabilidade”,
assinalam os sócios. Entre as metas para o
Arburg: injetoras para artefatos de baixa oferta local.
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plásticos em revista
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exercício atual, abrem, consta a compra de
injetora Arburg de 300 toneladas equipada
com periféricos da Piovan, Husky e Moretto.
Reinert e Lemos afirmam sempre comprarem as máquinas já equipadas com os auxiliares. A quinta injetora, eles adiantam, será
aproveitada na expansão da Nord West em
produtos médicos e odontológicos. “Nesse
caso, cogitamos inclusive trabalhar com
resinas commodities, pois a dificuldade não
está apenas no material, mas nos cuidados
com o manuseio do produto”, assinala
Lemos. Na foto atual, a planta transforma
100 t/mês de resinas de engenharia virgens,
volume que em evoluído à média anual de
20%, ele calcula.
As injetoras da Nord West rodam seis
dias por semana em quatro turnos de seis
horas, especifica Reinert. “Uma delas opera
com robô Star Seiki e, no plano geral, as
linhas agrupam dry cooler e chiller da
Piovan; aquecedores de câmara quente da
Husky; alimentadores e desumidificadorers
da Arburg e aquecedores de molde até 250
ºC da Piovan e Moretto”, revela o dirigente.
Como as linhas são consideradas recentes,
Lemos: plano de investir em
sala de ambiente controlado.
seu custo de manutenção é ultra baixo,
define Lermos. “Tem sido inferior a 1%
do faturamento”. Sem matrizaria própria, a
Nord West recorre aos préstimos do polo
ferramenteiro de Joinville. “Na média de 70
a 90 dias a partir do pedido, nos entregam
o molde pronto para entrar em produção”.
O ambiente fabril é climatizado por
obra de 12 exaustores eólicos e nele, inclusos supervisores e operadores, trabalham
17 funcionários às voltas com os setores
de injeção, metalização e acabamento. “Em
essência, eles controlam a qualidade das
peças produzidas, embora nossas injetoras
e acessórios sejam de alta repetitibilidade”,
observa Steinert. Quanto à atualização
de conhecimentos do efetivo, ele informa
dispor, no sistema de qualidade, de um indicador de horas de treinamento. “Realizamos
treinos mensais para cada área”.
Credenciada na gestão de produtividade e qualidade pela ISO 9001:2008, a Nordwest resguarda seus custos zelando pela
economia de energia e água. “Monitoramos
os indicadores do consumo de eletricidade
a cada semana e nossas máquinas modernas são um ponto a favor nesse sentido”,
considera Reinert. Em relação ao consumo
de água, Lemos é taxativo. “Utilizamos uma
tecnologia, basicamente um sistema fechado, que dispensa o tratamento de água e tem
o menor consumo do mercado”. •
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plásticos em revista
Fevereiro / 2014
sustentabilidade
Fernanda de Biagio
AG Plast
Tutu à mineira
AG Plast entra na reciclagem de PET bottle-to-bottle
Guimarães: visita da Anvisa
agendada para março.
O
grupo AG Plast, fera na produção
de garrafas PET e de polietileno
de alta densidade (PEAD), acaba
de estender o braço no nicho
premium da reciclagem bottle-to-bottle
(BTB). Foi a primeira investida da empresa
na recuperação de plásticos, decisão tomada
após três anos de minuciosas pesquisas,
sublinha o diretor executivo Anderson
Guimarães. “Não entramos nesse ramo
antes pela dificuldade de encontrar sucata
PET no mercado”, justifica. No total, foram
desembolsados R$ 30 milhões para montar
a recicladora junto às atividades de sopro em
Juiz de Fora (MG). O retorno é esperado em
seis anos, ele antevê.
A planta BTB conta com uma linha
da austríaca Starlinger, cuja capacidade
alcança 750 t/mês, em operação desde
dezembro. Embora Guimarães não dê detalhes sobre como sua cadeia de suprimento
está estruturada, ele acredita na expansão e
melhora da coleta seletiva no país. Dentro
da empresa, as embalagens PET são selecionadas, trituradas e convertidas em flakes.
Estes, depois, passam por intenso processo
de limpeza e descontaminação em um reator,
sob alta temperatura e pressão, até atingir a
pureza necessária. Outra vantagem, aliás, é
menor consumo de água e energia em comparação a outros sistemas de produção de
resina reciclada grau alimentício, incluindo
despolimerização, ou mesmo fabricação de
frascos multicamada com miolo de material
recuperado, assegura a AG Plast.
A recicladora já roda em três turnos
com nível de ocupação de 70%, ainda
que, até o fechamento desta edição, não
contasse com aval da Agência Nacional de
Vigilância Sanitária (Anvisa) para fornecer
o poliéster BTB para a indústria alimentícia.
A partir da certificação, por sinal, a resina
pós-consumo gerada proporcionará economia de 10.000 t/a de PET virgem e será
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plásticos em revista
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direcionada ao sopro de garrafas. “É esse o
mercado que queremos atender”, assevera
o diretor. A visita dos técnicos da agência
reguladora está agendada para março e, de
antemão, Guimarães avisa que a Starlinger
é homologada mundialmente para suprir
o segmento de bebidas. Pelas projeções
do industrial, a diferença de preço do flake
BTB em relação ao recuperado pelo método
mecânico convencional chega a 30%. Sem
a permissão para contato com alimentos, o
PET reciclado é utilizado na produção de
sacos de lixo, solados, pisos, conduítes,
mangueiras, componentes de automóveis,
fibras e outras embalagens.
No mercado doméstico, a CPR, divisão
do Valgroup, opera no Rio de Janeiro a única
planta brasileira certificada para fornecer o
poliéster BTB. Contudo, há outros projetos
tomando corpo. O grupo italiano M&G, por
exemplo, instala em Poços de Caldas (MG)
uma fábrica do tipo com capacidade de
18.000 t/a, equivalente a reciclar perto de
400 milhões de garrafas. Ao mesmo tempo,
a Clodam, especializada na recuperação
tradicional de PET, mostrou intenção de
homologar suas unidades em Diadema
(SP) e Maceió (AL) para fornecer a resina
grau alimentício. •
sustentabilidade
Intecmat
Fernanda de Biagio
O alfaiate dos biocompostos
Intecmat recorre a formulações verdes sob medida
A
s pressões do culto à sustentabilidade não dão trégua e, no meio
do turbilhão, o mercado de compostos plásticos ditos amigáveis
ao ambiente fervilha. Para se diferenciar no
meio da ferrenha concorrência, a Intecmat
firma sua estratégia no desenvolvimento de
soluções sob medida. “Nossos produtos
são feitos de acordo com a necessidade de
cada cliente e características técnicas desejadas para o artigo final”, delimita o diretor
Carlos Razzino. Junto com essa tática, a
empresa, que iniciou suas atividades em
2006 no Centro de Desenvolvimento das
Indústrias Nascentes (Cedin) de São Carlos
(SP) e tornou-se independente em 2009,
depositou suas fichas em formulações com
cargas de fonte renovável. Hoje em dia, a
Intecmat já vende para cerca de 50 transformadores. O portfólio da componedora,
situa Razzino, é utilizado principalmente na
produção de móveis com designs alternativos, além de brindes, itens para escritório
e embalagens de cosméticos.
Os carros-chefe são misturas de
polipropileno (PP) com fibra de coco ou
farinha de madeira, pontua o industrial.
Para consolidar sua aura sustentável, inclusive, a Intecmat já agregou ao mostruário
compostos baseados em ácido polilático
(PLA), com o intuito de tornar o produto
final biodegradável. Contudo, segundo
o diretor, não é possível estabelecer com
precisão o tempo de degradação desses
artefatos. A empresa, de qualquer forma,
assegura ter conduzido estudos sobre o
processo de decomposição com corpos
de prova em condições controladas e alega
que algumas variáveis, como espessura da
peça, podem influenciar o resultado. “Isso
é específico para cada formulação, cada
artigo e suas dimensões”, ele ressalta.
Os compostos da Intecmat são processáveis por injeção, extrusão e rotomoldagem. De acordo do Razzino, não há
restrições para aplicações. Entretanto, ele
encaixa, são necessários alguns ajustes na
máquina. “O principal desafio para o desenvolvimento desses produtos é a quebra de
paradigma frente a um novo conceito de
material”, sublinha. As empresas parceiras
precisam ser bem orientadas para que
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plásticos em revista
Fevereiro / 2014
entendam os benefícios e promovam tais
adaptações nos equipamentos, ele assinala.
Em sua sede, cuja capacidade chega a
100 t/mês, a Intecmat possui para ensaios
uma linha de injeção e uma de extrusão,
ambas equipadas com periféricos, moldes
e matrizes. A empresa também presta serviços de consultoria e desenvolve fórmulas
para pesos-pesados como Faber-Castell,
Johnson & Johnson, Ingredion, HP e Magnesita. Atuam junto à Intecmat, inclusive,
seis bolsistas do Conselho Nacional de
Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), integrante do Ministério da
Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI).
Apesar de não dar detalhes, Razzino antevê
expansões para a planta de São Carlos
ao longo do exercício atual. Em paralelo,
acaba de chegar ao time um dos maiores
experts do país em compostos de PP
para a indústria automotiva, Ricardo Luís
Duarte de Sousa. Ele atuou por anos na
Produmaster, reconhecida na distribuição
nacional de termoplásticos, bem como em
compondagem por meio de parceria com a
japonesa Prime Polymer. •
CADERNO DE MARKETING
Materiais
BELSUL
PA na área
Corrêa: expectativa de vender
600 t no primeiro ano.
A Belsul, de Porto Alegre (RS), comemora a distribuição de poliamidas (PA) 6
e 6.6 da norte-americana
Technical Polymers. No primeiro ano de comercialização regular, o volume deve
chegar a 600 toneladas de
resina, prevê Sérgio Sanches
Corrêa, presidente e CEO da
agente autorizada brasileira.
A parceria, ele comenta, foi
consolidada por meio da
Impressão 3D
Belsul America, filial localizada em Nova York (EUA).
Por aqui, a representante gaúcha mantém uma equipe
técnica de engenheiros
químicos prestando assistência local.
No momento, o
carro-chefe da Technical
Plymers no país é o composto de PA com fibra de
vidro. A Belsul não beneficia os materiais distribuídos, mas a situação pode
mudar em breve, deixa no
ar Corrêa. “Temos projetos de oferecer o produto
conforme especificação de
nossos clientes”. No âmbito
de plásticos de engenharia,
por sinal, a empresa gaúcha
atua há cerca de 10 anos na
venda de poliacetal (POM),
copolímero de acrilonitrila
butadieno estireno (ABS)
e copolímeros de PA. No
mostruário, aparecem também resinas commodities
importadas, como polietileno
(PE), polipropileno (PP), PET
e PVC, bem como alguns
aditivos.
STRATASYS
Geração multimaterial
A produtora de impressoras 3D Stratasys acaba
de lançar o modelo multimaterial colorido Objet500
Connex3. A tecnologia de
triplo jateamento permite
que o equipamento use três
e VeroAmarelo – resultam
em centenas de cores vivas.
Estas são combinadas ao
portfólio de fotopolímeros
Polyjet da Stratasys, que
inclui materiais digitais,
rígidos, tipo borracha, transparente e de alta temperatura,
que simulam plásticos de
engenharia padrão. Objet500
Connex3 é recomendado
Objet500 Connex3: protótipo com características iguais às do produto final.
materiais para fabricação de
peças com combinações rígidas, flexíveis e transparentes.
Como não é necessário realizar montagem ou pintura, a
utilização dessa impressora
3D ainda proporciona economia de tempo, informa a
empresa. “Objet500 Connex3
ajuda fabricantes a validarem
o design e tomar decisões
estratégicas antes de iniciar
a produção”, sublinha a
Stratasys.
Em um processo similar ao de uma impressora jato de tinta 2D, três
matérias-primas coloridas
– CeroCyan, VeroMagenta
50
plásticos em revista
Fevereiro / 2014
para modelagem com ABS
digital e possibilita a criação
de modelos, moldes e peças
que se encaixam nas características dos artigos finais. A
impressora gera em 3D protótipos na cor, durabilidade e
acabamento desses artefatos
e os trabalhos de impressão
chegam a operar com 30 kg
de resina por ciclo.
A Stratasys Ltd. foi formada em 2012 por meio da
fusão da Stratasys Inc., de
Minneapolis (EUA), e Objet
Ltd., de Rehovot, Israel. A
empresa também fabrica
materiais para prototipagem
e produção, contando com
120 fotopolímeros baseados
em jato de tinta e dez termoplásticos proprietários com
base em FDM.
Máquinas
Macro
Banho de espuma
Verbete na extrusão de
filmes e chapas, a canadense
Macro acena com uma opção
Máquinas
da Macro, alarga o espectro
de aplicações finais da película. Além de proporcionar
redução de peso e economia
no emprego de resinas, a
estrutura de espuma gera
proppriedades favoráveis ao
filme coex. O aproveitamento
de uma ou mais camadas
espumadas, demonstram
os ndicadores da macro,
incrementam atributos como
KraussMaffei
Vanguarda eletrizante
Primeiro carro elétrico
com carroceria e partes estruturais à base de termofixo
reforçado com fibra de carbono, o compacto BMW i3
tornou-se um bem sucedido
campo de provas para tecnologias da KraussMaffei, bólido alemão em máquinas para
transformação de plástico.
No caso do carro eletrificado,
a empresa supriu a planta
da montadora em Leipizig
com quatro instalações de
moldagem por injeção e
Macro: camada espumada reduz peso do filme cast.
para turbinar películas de
matriz plana: uma camada
de espuma resultante da
injeção de nitrogênio. A
tecnologia de coextrusão
cast da empresa é empregada para estruturas de até
11 camadas, com largura
máxima de três metros e
emprego de uma diversidade
de materiais, entre eles agentes de barreira.O acréscimo
de uma camada espumada
individual, pela avaliação
o isolamento térmico e acústico, além da flexibilidade e
a conformabilidade. O efeito
da opacidade, por sua vez,
pode ser obtido sem a adição
de cargas à película.Com
essa tecnologia da camada
espumada, a Macro assedia campos como bandejas
termoformadas, pouches,
laminados premium e filmes
de maior dureza e brilho empregados como chamarizes
na prateleira.
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reação, a exemplo de duas
linhas de duas placas equipadas com robôs. Cada
equipamento MX 400017200/12000/750WL pesa
400 toneladas e tem sete
metros de comprimento,
nove de largura e sete de
altura, além de força de
fechamento de 4.000 toneladas. Como referência da
vanguarda desses processos, a KraussMaffei divulga
que a parte externa da porta
e sua subestrutura são injetadas numa única etapa,
unidas por um movimento
da placa e coladas uma
a outra, assegurando alta
CADERNO DE MARKETING
precisão dimensional dos
elementos, por um material
plástico não revelado pela
empresa. Painéis lateriais,
o para-choque traseiro e o
capô também são injetados
com máquinas da KraussMaffei. No caso do processo de
moldagem por transferência
de resina, sobressaem em
Leipzig 20 unidades adeptas
ali alojadas em processo
sob alta pressão e emitindo
estimativas da duração e
temperatura dessa etapa.
Uma vez endurecida, a autopeça resultante torna-se dura
e leve ao extremo.
O BMW i3 é fruto de
pesquisas da montadora para
baixar o custo do compósito
de fibra de carbono e torná-
HP-RTM: cabeçote (detalhe) opera sob alta pressão.
lo mais competitivo perante
a alternativa do alumínio,
metal de alta preferência em
carrocerias de carros elétricos de luxo. A estrutura de
fibra de carbono contribui
para compensar o peso das
bateriais e, ao mesmo tempo,
rodar mais milhas coma
mesma carga de energia. Por
BMW i3: fibra de carbono com epóxi desloca alternativa do alumínio.
dessa tecnologia com alta
pressão e agrupadas pela
KraussMaffei na série de
equipamentos HP-TRM.
Conforme foi informado
à mídia, a máquina prima
pela rapidez nos sistemas de
reação, trunfo para a redução
do ciclo, e exibe destaque
como cabeçotes capazes de
adicionar um agente interno
de separação à moldagem
do composto de epóxi com
fibra de carbono. O cabeçote
injeta a resina no interior da
cavidade e satura as fibras
sinal, para assegurar o fornecimento da matéria-prima, a
BMW firmou com a também
alemã SGL Carbon AG a joint
venture SGL Automotive Carbon Fibers. O sistema inclui
produção da fibra no Japão,
sua manufatura nos EUA e
preparo final do compósito
na Alemanha. •
Organograma
Adriana Belmiro (foto) assume a presidência
da subsidiária brasileira da alemã Balluff, especializada em sensores e soluções de automação industrial, a exemplo de auxiliares no monitoramento
de garrafas transparentes, bobinas de filmes, corte
e perfuração de blisters e envase e secagem de
embalagens. Em seu novo posto, Adriana sucede
Claudio Kreitmeyer, que deixou a empresa. * Paulo
Motta, gerente de negócios para a América do Sul
da unidade de negócios de polímeros especiais
da Rhodia, ingressou na Styrolution como diretor
para a América do Sul.
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TOP DO MÊS
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PLÁSTICOS EM
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TENDÊNCIAS
WetBike
Fernanda de Biagio
Navegar de bicicleta
Martinez: flutuador de
poliéster com borracha
nitrílica e PVC.
WetBike: vida útil de até dez anos.
S
obram no Brasil engenho e arte
para extrair aplicações de produtos fora do escopo original. Garrafas de PET, por exemplo, viram
luminárias; carrinhos de supermercado
serviram para substituir trenós, em treinos
sob 40º à sombra para as Olimpíadas de
Inverno em Sochi, na Rússia. Vai nessa
toada a proposta da WetBike, criação
do empresário Clemente Martinez. “Aos
48 anos, comecei a andar de bicicleta e
percebi que existiam modelos para correr,
subir morro, passeio, competições e tipos
ergométricos. Mas não havia para atividade aquática”, ele conta. Com esse estalo,
Martinez encarou o desafio de conceber
uma estrutura flutuante que pudesse ser
utilizada tanto para o lazer, quanto para
exercícios físicos.
Os desenvolvimentos começaram
há oito anos, mas o lançamento oficial
aconteceu somente em 2013, durante a
feira Equipotel, explica o inventor. Por
enquanto, a fabricação é realizada em
séries muito pequenas e o preço sugerido para venda é R$ 4.500. Porém, ao
que parece, o produto já caiu no gosto
da freguesia e o primeiro lote, de 50
unidades, esgotou. Para 2014, a meta
é extremamente ambiciosa. “Queremos
vender cerca de 1.000 WetBikes”, ele
projeta, acrescentando que o equipamento
é seguro, estável e indicado para todas
as idades. Contudo, para chegar nessa
marca, o empresário precisará encontrar
um parceiro que alavanque a escala de
produção. Atualmente, a bicicleta aquática
é montada por um amigo no bairro do
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Ipiranga, em São Paulo, e o prazo para
entrega chega a 30 dias.
Quando inflados, os flutuadores
assumem 2,8 metros de comprimento por
30 cm de diâmetro. São feitos de tecido
de poliéster com composto à base de borracha nitrílica e PVC. Chegar ao material
ideal não foi difícil, pois já é utilizado na
confecção de botes infláveis, esclarece
Martinez. A única adaptação necessária
deu-se em relação à fixação da ferragem
que liga a bicicleta aos flutuadores. Estes,
por seu lado, têm capacidade de ar de
cinco libras e são fornecidos pela Zefir,
vista por Martinez como líder na fabricação local do chamado banana boat, bem
como caiaques infláveis e botes para a
prática de rafting.
A WetBike suporta pessoas com até
150 kg, é silenciosa, não agride o ambiente e tem vida útil de dez anos, afiança
Martinez. Além disso, caso algum dos
flutuadores fure, pode ser reparado sem
necessidade de substituição. A bicicleta
aquática já foi aprovada em rios, lagos e
represas, e navega bem em mar calmo,
com ondas de até um metro. Sem leme
nem vela. •

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