Portugueses no Estrangeiro

Transcrição

Portugueses no Estrangeiro
n.º 16
Fevereiro_2007
ÍNDICE
EDITORIAL
7
. Que o novo mundo fale também português
EM FEVEREIRO
Ficha Técnica
Ficha Técnica
8
REDACÇÃO
Cremilde Santos
DESIGN GRÁFICO E PAGINAÇÃO
Paulo Simão
MARKETING E COMUNICAÇÃO
Paulo Carrasqueira
TIRAGEM
Versão online
R. C. Social nº 124.623
PERIODICIDADE
Mensal
PROPRIETÁRIO
T Media – Tecnologias de Informação, Lda
Rua Nova do Soares
Edifício Quinta das Pratas r/c Loja 4
2070-110 Cartaxo
EDITOR0
CienciaMetrics – Ciência, Tecnologia e
Inovação Editores, Lda
Largo Mem Ramires, Casas da Atamarma 13
2000-105 Santarém
e-MAIL
[email protected]
HOMEPAGE
www.cienciapt.net/mundus
TELEFONE
(+351) 243 704 771
SABIA QUE...
106
... pode fazer chamadas pela Internet a um
custo muito mais reduzido
. Cientistas portugueses discutem energia
nuclear
ENSINO SUPERIOR EM REDE
. UA cria site que prevê o estado do tempo
com qualidade e rigor científico
INTERNACIONAL EM REVISTA
13
. Fármaco contra impotência também pode
prevenir AVC
14
TECNOLOGIA
16
INOVAÇÃO
18
ENTREVISTA
20
. João Magueijo
. Organismo possui molécula que pode
proteger de HIV
86
. Pessoas com distúrbios psiquiátricos correm
mais riscos de doenças cardiovasculares
PUBLICAÇÕES
88
COLUNA - SAÚDE
92
. Rui Medeiros
. Emprego Científico, Bolsas de Investigação
e Apoio e Financiamento
. Exposição ao fumo do tabaco no trabalho
duplica risco de cancro
22
. Produção Científica Nacional
Investigadores em Portugal e no Estrangeiro
OPORTUNIDADES CIENTIFICAS
. Alimentos ricos em melatonina retardam
efeitos do envelhecimento
. Tratamento para a insónia pode
estar para breve
. Investigadores Portugueses no Mundo
FACTOS E NÚMEROS
118
. Ginecomastia pré-púbere provocada
por produtos com lavanda
CIÊNCIA
CADERNO ESPECIAL
110
. As instituições de Ensino Superior
. Vasco Eiriz
COORDENAÇÃO
Joana Vidigal Leal
104
. Diogo Barral
. Taxa de penetração de Internet em Portugal
pode atingir os 50 por cento
COLUNA - GESTÃO
DIRECTOR
Susana Jorge
[email protected]
ENTREVISTA
96
. Vitamina D reduz riscos de dois tipos
de cancro
CURIOSIDADES DO MÊS
122
A NÃO PERDER
125
PRÓXIMA EDIÇÃO
128
FAX
(+351) 243 704 772
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Fevereiro 2007 | Mundus
5.
EDITORIAL
A equipa da Mundus agradece a todos os
Que o novo mundo fale
também português
investigadores portugueses no estrangeiro
que aceitaram o nosso convite para participarem neste caderno especial.
Desde o início da nacionalidade que o povo português lançou-se na
aventura de conhecer novos territórios, novas culturas ultrapassando
obstáculos e fronteiras. Esse espírito não se perdeu, e os descobrimentos portugueses marcaram uma época e são reconhecidos em
todo o mundo.
Muitos portugueses sairam do nosso país na década de 60 e 70 à procura de melhores condições de vida.Hoje em dia, a realidade no país
é outra. São os profissionais que procuram formação no exterior com
melhores condições de trabalho e estabilidade profissional.
Esta “emigração” ocorre, não porque não sejam necessários para o
país, mas porque o país não consegue oferecer-lhes condições para
desenvolver o seu trabalho.
A estes cidadãos do mundo que nasceram
em Portugal desejamos o maior sucesso nas
suas carreiras profissionais, e que ajudem
na construção de um mundo melhor.
A maioria das opiniões destes investigadores, sobre a grande dificuldade para o país os manter cá, é a mais óbvia: a remuneração. Para
além desta, os nossos compatriotas apontam também as condições
de trabalho, a forma como é financiada investigação e falta de projectos a médio e a longo prazo, como dificuldades para a actividade
científica no nosso país.
Temos assim dois problemas:
1 - O país forma profissionais nas mais diversas áreas científicas e
tecnológicas, gastando tempo e dinheiro nessa formação e qualificação. O cenário seguinte devia ser a sua inserção no mercado de
trabalho e na investigação.
2 - O país não consegue absorver a grande parte dos nossos profissionais e investigadores, e como tal não é de estranhar que a maior
parte dos formados em portugal faça os seus doutoramentos, pósdoutoramentos e investigação no estrangeiro.
Com isto nota-se uma grande diferença entre a formação e a realidade do país.
Com tudo isto não quer dizer que não exista investigação de qualidade e com projectos a médio e longo prazo em Portugal. A verdade é que não há espaço para todos os investigadores e profissionais
que o país forma. Talvez uma mudança radical no sistema permita
criar algumas condições para crescermos como país tecnológico e
científico, mas não será possível sem o contributo de todos os envolvidos, os que cá fazem investigação e os que lá fora contribuiem
para o bom nome de Portugal.
Esta edição da Mundus dá-nos a conhecer mais de meia centena de
investigadores que foram para o estrangeiro em busca de um sonho,
a sua carreira profissional.
Mais uma vez a Mundus leva aos seus leitores a “voz” da Ciência em
português, com a adesão de mais de 55 investigadores espalhados
pelo mundo que não quiseram deixar de dar a sua opinião.
REVISTA MUNDUS
A revista Mundus é uma publicação digital mensal de divulgação e
comunicação de informação de referência em Português nos domínios
da Ciência, Tecnologia e Inovação. E dirigida quer à comunidade
científica e académica, investigadores, docentes, alunos, gestores de
Ciência e Tecnologia, quer ao público em geral.
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DESTAQUE
A Revista Mundus é a primeira revista digital portuguesa de
divulgação alargada da Ciência, Tecnologia e Inovação. Tem como
complemento permanente a Revista e.Ciência semanal, editada em
formato digital e disponibilizada no portal www.cienciapt.net.
Fevereiro 2007 | Mundus
7.
Ciência
EM
FEVEREIRO
no Mundo
DIA 2
INVESTIGAÇÃO
missão de especialistas para investigar os
motivos do acidente.
O lançamento do Zenit-3SL estava a ser
transmitido, em directo pela Internet, tendo
sido interrompida quando a nave se transformou numa enorme bola de fogo.
Fonte: Nasa
FOGUETÃO RUSSO EXPLODE
APÓS LANÇAMENTO DO OCEANO
PACÍFICO
Um foguetão Zenit-3SL, que devia colocar
em órbita o satélite de comunicações NSS-
8, explodiu instantes após sua descolagem
de uma plataforma flutuante no Oceano Pacífico. De acordo com o Centro de Controlo de Voos Espaciais (CCVE) da Rússia, que
não adiantaram as possíveis causas para a
explosão do foguetão, será criada uma co-
DIA 2
Fontes do consórcio internacional Sea Launch,
responsável pelo lançamento, informaram que
a explosão não causou vítimas nem danos à
plataforma ou aos navios de apoio. O satélite
NSS-8, construído pela Boeing, estava destinado a fornecer serviços de comunicação a países da Europa, África, Oriente Médio e Ásia.
Este é já o quarto lançamento fracassado
deste tipo de foguetão, fabricado por empresas da Rússia e Ucrânia.
TECNOLOGIA
TAXA DE PENETRAÇÃO
DE INTERNET EM PORTUGAL PODE
ATINGIR OS 50 POR CENTO
Este ano a taxa de penetração da Internet
em Portugal pode chegar ao 50 por cento,
segundo refere a Anacom, que aponta uma
subida de dez pontos percentuais.
De acordo com as conclusões do estudo
realizado pela Metriz GFK, entre Novembro e Dezembro de 2006, “9,7 por cento
dos inquiridos que não têm Internet pretendem adquirir o serviço no prazo de um
ano”. A concretizarem-se estas intenções, a penetração da Internet nos lares
portugueses irá aproximar-se dos 50 por
cento, mais dez pontos acima dos 40 por
cento que foram registados no final do
ano passado.
Citada pela RTP, a Anacom refere que, em
8.
Fevereiro 2007 | Mundus
2006, a percentagem de lares com ligação
à Internet de banda larga aumentou 7,8 por
cento, para os 33,8 por cento, uma subida
que é explicada em grande parte pela mi-
gração de banda estreita para a banda larga,
que continua a ter como principal tecnologia
o suporte ADSL (com 60,5 por cento do total
de acessos).
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EM FEVEREIRO
DIA 7
CIENTISTAS PORTUGUESES
DISCUTEM ENERGIA NUCLEAR
A energia nuclear está na ordem do dia,
com cientistas portugueses a garantirem
tratar-se de uma alternativa mais barata,
mais limpa e abundante, com riscos cada
vez menos significativos. Os ambientalistas,
por sua vez, garantem que o investimento
necessário para adaptar a rede eléctrica
nacional à energia nuclear é demasiado
elevado, além do “problema irresolúvel”
que são os resíduos radioactivos.
A notícia surgiu no Correio da Manhã
(CM), informando que vários especialistas internacionais se encontraram em
Portugal para participar na discussão
‘Energia Nuclear – Oportunidade perdi-
TECNOLOGIA
da ou erro evitável?’. Carlos Varandas,
presidente do Centro de Fusão Nuclear,
e o físico nuclear José Carvalho Soares
são os representantes portugueses no
debate.
Para Carlos Varandas, “a energia nuclear
é uma tecnologia limpa, potente, economicamente competitiva e com combustíveis
abundantes na Terra”, acrescentando que
este tipo de energia já existe em quase todo
o Ocidente.
O especialista, citado pelo CM, refere ainda
outra qualidade da energia nuclear: “electricidade barata, fundamental para o desenvolvimento sustentável da sociedade”. “Produzir hidrogénio, por electrólise da água, em
conjunto com os biocombustíveis, é muito
DIA 7
importante para o sector dos transportes”,
acrescenta ainda.
Por outro lado, Carlos Costa, presidente do
Grupo de Estudos de Ordenamento do Território e Ambiente (GEOTA), contesta e explica que
“o acordo para a redução das emissões de dióxido de carbono termina em 2012 e uma central
nuclear nunca estaria concluída antes”. Por sua
vez, Francisco Ferreira, ambientalista da Quercus, considera que “o país é demasiado pequeno para assimilar uma central na rede, tal como
está concebida” e acrescenta que, quando se
afirma que esta é uma energia limpa, “apesar
dos progressos, é inegável que o problema se
mantém porque os resíduos são radioactivos.
Além de que é preciso contabilizar os riscos
das explorações de urânio nas minas”.
PALEONTOLOGIA
CIENTISTAS DESCOBREM CEM OVOS
DE DINOSSAUROS NA ÍNDIA
Uma equipa de paleontólogos amadores
encontrou mais de cem ovos fossilizados de
dinossauros do período Cretáceo na região
de Madhya Pradesh, no centro da Índia. A
descoberta, realizada em Dezembro no Distrito de Dhar, a cerca de 150 quilómetros
da cidade de Indore, foi agora anunciada,
depois de se confirmar que os fósseis eram
efectivamente de dinossauros.
De acordo com a imprensa local, que cita
Vishal Verma, um dos paleontólogos da organização Mangal Panchayatan Parishad,
dedicada a explorar a região, o geólogo Tapas Ganguly, da Universidade de Howrah,
“confirmou na semana passada as características dos fósseis”. Segundo o mesmo,
“todos os ovos estavam no mesmo local,
havendo seis a oito ovos em cada ninho”.
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O período Cretáceo, de 144 a 65 milhões
de anos atrás, é considerado a última fase
da era dos dinossauros. Os especialistas
acham que os ovos podem pertencer a
três tipos de dinossauros do grupo dos
saurópodes, gigantescos herbívoros que
podiam atingir até 25 metros de comprimento.
Fevereiro 2007 | Mundus
9.
Ciência
EM
FEVEREIRO
no Mundo
DIA 8
INOVAÇÃO
SOCIEDADE PORTUGUESA
DE ROBÓTICA LANÇA PODCAST
A Sociedade Portuguesa de Robótica (SPR)
lançou um PODCAST, com o objectivo de
colocar à disposição do público em geral,
e dos interessados em robótica e ciência,
uma fonte de informação sobre actividades promovidas pela SPR. O PODCAST da
SPR tem excertos de programas de rádio,
de programas de televisão, entrevistas com
cientistas, investigadores e utilizadores de
robótica, etc., tudo numa linguagem fácil e
acessível. O PODCAST da SPR tem um epi-
DIA 09
sódio novo todas as sextas-feiras, sendo o
actual um excerto de um programa de rádio da “Rádio Clube Português” – Programa “Janela Aberta”, em que participaram,
J. Norberto Pires (UC, SPR), Pedro Lima
(IST, SPR), Leonel Moura (Pintor) e Moniz
Pereira (UNL).
INOVAÇÃO
UA CRIA SITE QUE PREVÊ
O ESTADO DO TEMPO
COM QUALIDADE E RIGOR
CIENTÍFICO
O Grupo de Meteorologia e Climatologia
da Universidade de Aveiro (CliM@UA),
composto pelos membros do Departamento de Física, integrados na linha de
investigação Qualidade da Atmosfera do
Centro de Estudos do Ambiente e do Mar
(CESAM), lançou no passado dia 30 de
Janeiro, o site de previsão meteorológica
http://climetua.fis.ua.pt.
Nesta página poderá consultar a previsão
de tempo para três dias, actualizada de 12
em 12 horas e verificar, de hora a hora, a
temperatura, a precipitação, o vento ou a
presença de nevoeiro, entre outros. São
igualmente apresentados campos destas
variáveis, com os respectivos valores,
para todas as capitais de distrito de Portugal Continental.
As previsões meteorológicas são obtidas
a partir de simulações realizadas por um
modelo numérico de previsão de tempo,
desenvolvido por um conjunto de entidades, de índole operacional e de investigação, nos Estados Unidos da América.
Este modelo, Weather Research and Forecasting, é actualmente uma referência,
em termos de modelação numérica da
10.
Fevereiro 2007 | Mundus
atmosfera, em muitos países, tendo sido
instalado e tornado operacional pelo Grupo de Meteorologia e Climatologia da Universidade de Aveiro (CliM@UA).
“O modelo é integrado com uma resolução
horizontal elevada de cinco quilómetros;
são mostradas previsões de tempo horárias; as variáveis apresentadas são quantificadas; são apresentadas previsões para
outras variáveis meteorológicas para além
das utilizadas normalmente (nevoeiro, diagramas termodinâmicos, entre outras)”,
considera o Prof. Alfredo Rocha, um dos
responsáveis do projecto, que acrescenta
que “a informação que disponibilizamos
sobre a previsão de tempo foi, em parte,
adequada às necessidades pedagógicas
dos alunos que estudam este tema”. Para
além da utilidade para o público em geral,
este projecto é também de extrema utilidade para os alunos de algumas das licenciaturas ministradas pela UA, em particular,
Meteorologia e Oceanografia, Ciências do
Mar e Engenharia do Ambiente.
Para saber mais informações contactar
o Prof. Alfredo Rocha – Departamento de
Física da UA, telefone 234 370 356, fax:
234 424 965 ou e-mail: arocha@fis.ua.pt.
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EM FEVEREIRO
DIA 10
7.o PROGRAMA-QUADRO
EM DISCUSSÃO NA UNIVERSIDADE
DO PORTO
A Universidade do Porto vai promoveu nos
dias 15 e 16 de Fevereiro, o evento “7PQ - Da
ideia ao projecto”, que se realiza no Auditório da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto.
O evento apresentará de maneira geral o
7.o Programa-Quadro de I&D da Comissão
Europeia, e mais especificamente os programas Ideias, Pessoas, Capacidades e
Cooperação e destina-se a docentes universitários, investigadores, alunos de licenciatura, mestrado e doutoramento, gestores de
DEBATE
projectos; instituições de I&D; empresas; e a
outras pessoas e entidades interessadas.
O evento procura dar informações específicas
sobre o 7.o Programa-Quadro, as regras de
participação, as condições de elegibilidade, os
instrumentos disponíveis e os parceiros elegíveis. Numa segunda fase, o participante poderá obter informações mais detalhadas sobre
os programas Ideias, Pessoas, Capacidades e
sobre cada área temática do programa Cooperação, analisando os programas de trabalho (work programmes) e as expectativas da
Comissão Europeia quanto às chamadas para
propostas abertas. Numa terceira e última
fase, os interessados poderão inscrever-se
para participar em mesas redondas onde po-
DIA 12
derão apresentar ideias de projecto em cada
área temática do programa Cooperação e discutir sobre estas com o especialista da área.
Será também apresentada uma ferramenta
on-line de apoio à elaboração de candidaturas
desenvolvida pela empresa INOVA+.
Para mais informações sobre o programa e
inscrições na página http://7PQ.up.pt.
Para outras informações contactar a Universidade do Porto Inovação (UPIN): Sofia Varge – 22
040 8031 – [email protected]; ou Aude BacheGabrielsen – 22 040 8032 – agabrielsen@reit.
up.pt ou contactar ainda Pedro Coelho da FEUP
SICC/DCoop – Divisão de Cooperação pelo telefone: 22 508 1410 ou e-mail: [email protected].
CIDADANIA
APESAR DA ELEVADA ABSTENÇÃO,
‘SIM’ VENCE REFERENDO
‘Não’. A abstenção atingiu os 56,39 por cento,
pelo que os resultados não são vinculativos.
Os votos em branco corresponderam a 1,25
por cento e os votos nulos a 0,68 por cento.
O ‘Sim’ à despenalização da interrupção voluntária da gravidez (IVG) venceu, no dia 11 o
referendo popular em Portugal, com 59,25
por cento dos votos, contra 40,75 por cento do
A lei que despenaliza o aborto a pedido da mulher até às dez semanas, em estabelecimento
legalmente autorizado, será assim submetida a
votação final global com carácter de urgência.
Em 1998, no referendo sobre realizado sobre
a mesma temática, o ‘Não’ venceu com 51,30
por cento contra 48,70 por cento do ‘Sim’, tendo a abstenção atingido os 58,09 por cento.
DIA 13
PORTUGAL TREMEU ONTEM
COM SISMO DE 5.8 GRAUS
NA ESCALA DE RICHTER
Ocorreu ontem, pelas 10h36 da manhã, o
maior tremor de terra dos últimos 38 anos no
Continente português. Apesar de não ter deixado marcas para a História, o sismo de magnitude de 5.8 graus na escala de Richter abalou o Centro e Sul do país, assustando quem
durante 30 segundos sentiu a terra tremer.
O sismo não chegou a provocar vítimas, mas foi
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SISMO
suficientemente forte para abalar também algumas zonas de Espanha e Marrocos. Em Portugal,
apenas na Nazaré uma parede cedeu à força do
tremor e sete pessoas – das quais cinco crianças – foram assistidas no Algarve, zona que levou
centenas de pessoas para as ruas, em pânico.
O sismo registado às 10h36 teve o epicentro a
160 quilómetros a sudoeste do Cabo de S. Vicente (no Banco de Gorringe), região onde é presumível que tenha tido origem o sismo de 1755 e,
dois séculos mais tarde, o de Fevereiro de 1969.
Tido como o maior tremor de terra dos últimos
38 anos no Continente português, o abalo de ontem foi sentido com intensidade máxima V (na
escala de Mercalli modificada) especialmente no
Barlavento algarvio, embora tenha atingido ainda os distritos de Lisboa, Beja, Évora, Santarém
Leiria e Setúbal. Catorze minutos depois ocorreu
a primeira réplica, seguida de outra às 13h30.
Ambas com magnitude 2.5 na escala de Richter,
não foram sentidas pelas populações.
Na Andaluzia, Espanha, o sismo atingiu a
magnitude de 4 na escala de Richter. Foi o
maior dos últimos dez anos naquela região.
Fevereiro 2007 | Mundus
11.
Ciência
EM
FEVEREIRO
no Mundo
DIA 14
ECONOMIA
entrada no mercado e no licenciamento nos
sectores de indústrias não-transformadoras.
Portugal está praticamente paralisado no
que respeita à reforma da legislação laboral,
conclui a Organização depois de identificar
os factores que mais influenciam nas dife-
OCDE APONTA FRACA
PRODUTIVIDADE PARA ATRASO
DO PAÍS
O relatório da OCDE – “Going For Growth
2007” – aponta a fraca produtividade como
o principal obstáculo à convergência de
Portugal com os níveis de bem-estar das
economias mais desenvolvidas. Segundo a
Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Económico, as prioridades de
Portugal devem ser a reforma da Educação,
eliminação das barreiras à concorrência e a
reforma da legislação de trabalho.
No relatório, divulgado ontem (13), a OCDE
confirma um decréscimo no crescimento do
PIB per capita, para 1,3 por cento no período
entre 2000 e 2005, face a uma taxa de 2,3 por
cento no quinquénio anterior.
De acordo com o Diário Digital, com base na
análise de alguns indicadores estruturais de
Portugal como a produtividade (quase 60 por
cento abaixo da dos EUA), da taxa de emprego (acima da média da OCDE), das restrições
impostas pelas leis de protecção do trabalho
(acima de 4, numa escala entre zero e 6), a
OCDE confirma que, desde a criação da Autoridade da Concorrência, em 2003, não se
vêem benefícios para os consumidores, não
se progrediu na redução de obstáculos à
DIA 20
CÂMARA DE ABRANTES PROMOVE
ENSINO DE INGLÊS E EDUCAÇÃO
MUSICAL NAS ESCOLAS
A Câmara de Abrantes aprovou no dia 6
de Fevereiro, um contrato de prestação de
serviços, referente ao ensino do Inglês e
Educação Musical nas Escolas do Primeiro
Ciclo do Ensino Básico Público, no valor de
175.675,00 euros, a celebrar entre a Autar-
12.
Fevereiro 2007 | Mundus
renças do rendimento real das famílias. De
acordo com o relatório, que analisa os factores estruturais da qualidade de vida nos
30 países da região, a interrupção do ciclo
de convergência da economia portuguesa
está muito associado à baixa produtividade,
ocasionada pelo baixo nível de qualificação,
rigidez da lei laboral e falta de concorrência
em sectores chave, como a energia e as telecomunicações.
Para a OCDE as prioridades de política económica baseiam-se num triângulo composto
pela Educação, regras de concorrência e regulamentação do trabalho: o regime na função pública deve convergir para as regras do
sector privado, de modo a facilitar o objectivo
da mobilidade. No sector da Educação, além
das reformas já anunciadas, o relatório sugere que o Governo implemente uma avaliação
de desempenho mais sistemática das instituições de ensino superior, já que as baixas
qualificações dificultam a adopção de novas
soluções tecnológicas nas empresas.
EDUCAÇÃO
quia e a empresa Inforinfantil – Informática
para crianças, Lda.
Quanto ao programa de Enriquecimento
Curricular estão a decorrer no concelho de
Abrantes aulas de inglês, música e expressão física motora para os 3.o e 4.o anos.
No 1.o e 2.o anos todos os alunos têm música e expressão físico motora e ainda uma
terceira disciplina de entre as seguintes: inglês, expressão dramática, expressão plástica e robótica.
Para garantir as condições necessárias à
implementação deste programa, nomeadamente o financiamento das actividades a
Câmara de Abrantes apresentou uma candidatura à Direcção Regional de Educação que
foi aprovada.
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Coluna
GESTÃO
Vasco Eiriz
Escola de Economia e Gestão da Universidade do Minho
http://vasco.eiriz.googlepages.com
Empreendedorismo e criação de empresas
Tudo leva a crer que os empreen-
factores económicos e sócio-psi-
a energia necessária para os em-
dedores melhor sucedidos são in-
cológicos. Estes incentivos com-
preendedores vencerem os desa-
centivados simultaneamente por
plementam-se e permitem criar
fios que se colocam a si próprios.
O termo empreendedorismo está na moda. É
provavelmente o chavão de gestão mais utilizado
actualmente. Uma das razões porque isso acontece reside no seu amplo significado. Na verdade,
o termo empreendedorismo é utilizado com diferentes propósitos para significar coisas aparentemente tão distintas como, por exemplo, criar o
próprio emprego ou criar algo através duma inovação e mudança, frequentemente mas não necessariamente de natureza tecnológica. Noutras
circunstâncias o empreendedorismo refere-se a
uma qualquer actividade que possui determinadas características (por exemplo, o crescimento
das vendas) e resultados (por exemplo, criar riqueza), ao lançamento de novos negócios ou à
revitalização de empresas já existentes. Em todo
o caso, o significado que talvez seja mais popular
refere-se à criação de empresas.
tividade empreendedora ao seu estilo de vida e,
não raras vezes, desenvolverem actividades altruístas. Quais destes factores são mais importantes? Todos eles são importantes e tudo leva a
crer que os empreendedores melhor sucedidos
são incentivados simultaneamente por factores
económicos e sócio-psicológicos. Estes incentivos complementam-se e permitem criar a energia necessária para os empreendedores vencerem os desafios que se colocam a si próprios.
longo dos últimos anos temos avaliado largas
dezenas de projectos de criação de empresas.
Nessa avaliação aplicamos seis critérios: probabilidade de sobrevivência do negócio; seu potencial de resultados; qualidade, originalidade
e execução da ideia de negócio; mecanismos
de protecção da concorrência; gestão dos recursos; e potencial de crescimento do negócio.
Estes critérios são todos eles importantes; a
excelência num deles não permite deficiência
noutro qualquer.
Porque é que muitos indivíduos sentem necessidade de empreender, criando empresas? Há,
grosso modo, dois grandes tipos de incentivos
à actividade empreendedora. Um deles é de
natureza económica e o outro é de natureza sócio-psicológica. Entre os incentivos de natureza
económica encontramos factores como, por
exemplo, a propensão para criar riqueza, criar
o próprio emprego ou satisfazer uma necessidade de mercado.
Os factores de ordem sócio-psicológica que incentivam os empreendedores resultam geralmente da sua vontade em serem autónomos,
realizarem-se pessoalmente, associando a ac-
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Os empreendedores são geralmente ambiciosos
e procuram atingir os seus fins com método e
determinação, pensam no longo prazo, questionam constantemente formas de pensar e agir,
têm uma profunda orientação para o mercado,
dão importância aos detalhes da implementação
dos projectos, e querem melhorar continuamente. São, em síntese, espíritos inquietos.
Mesmo assim, as taxas de insucesso na criação
de empresas são elevadas, fundamentalmente
devido a opções estratégicas frágeis e a limitações na gestão operacional do negócio. Não
é raro, por exemplo, que muitos indivíduos que
criam empresas não equacionem devidamente
a posição que querem alcançar no longo-prazo,
definam objectivos irrealistas, criem negócios
em que a oferta não vai de encontro ao mercado
escolhido, ou descurem o planeamento financeiro e de recursos humanos.
Na disciplina de Empreendedorismo de que somos responsáveis na Universidade do Minho, ao
Os resultados obtidos mostram-nos claramente
que os potenciais empreendedores na fase final
dos seus cursos universitários são excelentes
em termos da originalidade e qualidade das
suas ideias de negócio. É certo que por vezes o
excesso de originalidade esconde utopias sem
aderência à dura realidade do mercado mas, em
média, é este o critério em que existe melhor desempenho. Sem surpresa, onde existem maiores fragilidades é ao nível da gestão dos recursos
e do potencial de crescimento do negócio. Gerir
recursos é algo que requer experiência, algo que
o ensino tem dificuldades em transmitir.
Quanto ao potencial de crescimento de um negócio, cada vez mais os jovens empreendedores têm que ter os horizontes abertos. Já não
é possível nem desejável que o seu mercado se
limite à sua rua, à sua cidade ou ao seu país.
Mais ideias e recursos de gestão, estratégia e marketing
www.empreender.blogspot.com
Fevereiro 2007 | Mundus
13.
noticias de
CIÊNCIA
II OLIMPÍADAS DA BIOTECNOLOGIA
A Escola Superior de Biotecnologia da Universidade Católica
Portuguesa, em colaboração
com a Sociedade Portuguesa
de Biotecnologia, vai organizar
as II Olimpíadas da Biotecnologia 2007, dirigidas a todos os
alunos do Ensino Secundário
de Portugal continental.
As II Olimpíadas da Biotecnologia
visam promover o conhecimento e o interesse pela temática da
Biotecnologia, nas suas múltiplas
vertentes de utilização do método
científico na resolução de problemas; actividades realizadas fora
da comunidade escolar; intercâmbio de ideias e confraternização entre diferentes comunidades
escolares; e interacção professor/
/aluno em ambiente não lectivo.
ELIMINATÓRIAS
As Olimpíadas serão realizadas
ao longo de três etapas. A 1a eliminatória realiza-se a nível local
14.
Fevereiro 2007 | Mundus
a 28 de Fevereiro, às 14 horas,
onde serão apurados para a segunda eliminatória os melhores
alunos a nível nacional por escola. No dia 13 de Abril tem lugar
a 2a eliminatória, onde vão ser
apurados os melhores alunos a
nível nacional e por distrito. A final acontece na Escola Superior
de Biotecnologia a 14 de Maio,
às 10 horas.
A primeira eliminatória decorre
em todas as escolas inscritas e
nas quais haja condições para
que a divulgação, a preparação, a realização, a vigilância
e a classificação das provas se
faça de acordo com o regulamento. Na 2a eliminatória serão
admitidos os 200 concorrentes
(pelo menos) que tenham obtido as melhores pontuações a
nível nacional.
Na 2.a eliminatória será realizada em cada escola partici-
pante e decorrerá nos mesmos
moldes que a 1ª eliminatória.
em http://www.esb.ucp.pt/olimpiadasbio.
Serão admitidos à final os 22
concorrentes que tenham obtido as melhores pontuações.
SOCIEDADE PORTUGUESA
DE BIOTECNOLOGIA
A Sociedade Portuguesa de
Biotecnologia (SPBT) foi constituída como secção autónoma
da Sociedade Portuguesa de
Bioquímica (SPB), em 1981.
A 1.a e 2.a eliminatória consistirão na resolução de um teste de
escolha múltipla e na resposta
a uma pergunta de desenvolvimento. A final consistirá na resolução de um teste de escolha
múltipla, numa prova oral e na
realização de algumas actividades experimentais. As questões
abrangem quatro áreas temáticas: Biotecnologia Ambiental,
Biotecnologia da Saúde, Biotecnologia dos Alimentos e Biotecnologia Microbiana.
Os três primeiros classificados
receberão um prémio. Todos os
outros participantes receberão
um certificado de participação.
O regulamento está disponível
Tem como objectivos, entre outros
constituir uma entidade nacional
interessada no desenvolvimento
da biotecnologia, definida como
a actividade em que é feito o uso
integrado da bioquímica, da microbiologia e da engenharia química
para realizar a aplicação técnica
e industrial das capacidades dos
microrganismos e das células dos
tecidos; Congregar cientistas e
técnicos que se dedicam à biotecnologia e promover trocas de informações sobre investigação, ensino
e aplicação industrial nesse domínio, entre outros objectivos.
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noticias de
Ciência
Fonte: http://www.bouletfermat.com/backgrounds/
ARQUEÓLOGOS DESCOBREM MORADIA DOS CRIADORES DE STONEHENGE
Arqueólogos britânicos, com a
colaboração de portugueses,
descobriram uma vila com várias casas, que teria sido usada
como moradia pelos construtores
do monumento neolítico de Stonehenge. A descoberta terá sido
feita depois de realizadas escavações em Durrington Wells, a três
quilómetros do famoso círculo de
pedra.
O novo achado, datado da mesma época de Stonehenge (2.600
a.C.), é agora considerado como
a maior vila neolítica britânica.
De acordo com os investigadores que estiveram a trabalhar no
local, foram encontradas quase
cem casas, sendo esta a primeira
vez que são encontrados vestígios
de habitação humana em redor
do monumento. Os arqueólogos
revelam ainda a existência de evidências de que o local agora descoberto era usado para celebrar a
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vida e a morte, depois de encontrados vários ossos de porco e de
gado naquela área.
E, enriquecendo ainda mais a
enigmática história do sítio arqueológico, os trabalhos arqueológicos revelaram ainda a
existência de uma avenida de 30
metros, que ligava a vila ao rio
mais próximo, suspeitando-se
que esta via seria usada para que
os mortos fossem levados ao rio e
a Stonehenge.
PORTUGUESES PARTICIPAM
NA DESCOBERTA
Quatro arqueólogos portugueses
participaram na descoberta dos
vestígios de oito habitações que
estão ligadas ao complexo de
Stonehenge, numa colaboração
resultante de um projecto conjunto entre universidades inglesas e portuguesas, financiado
pelas Acções Integradas LusoBritânicas.
De acordo com Gonçalo Cardoso
Leite Velho, do Departamento de
Território, Arqueologia e Património, do Instituto Politécnico de
Tomar, “a mesma equipa inglesa, que esteve na origem desta
fantástica descoberta, esteve em
Portugal para participar nas escavações da colina monumental
de Castanheiro do Vento (Horta
do Douro, Vila Nova de Foz Côa)”.
Esta foi uma intervenção que se
desenrolou por dois meses e contou com a participação de uma
equipa com mais de cem pessoas, “desenvolvendo-se numa escala invulgar para o nosso país”,
conta o especialista.
Ainda segundo Gonçalo Velho,
esta cooperação entre os investigadores “tem vindo a dar frutos e
irá continuar”. Para o próximo ano
os portugueses (ligados à Faculdade de Letras da Universidade
do Porto e ao Instituto Politécnico
de Tomar) irão regressar a Inglaterra, desta vez para intervir em
Stonehenge, assim como se prevê o regresso dos investigadores
ingleses, mas com uma equipa
reforçada e de maior dimensão.
Gonçalo Cardoso Velho frisa que
“Portugal tem-se vindo a destacar no estudo das arquitecturas
pré-históricas (conduzindo inclusive diversos projectos europeus
nesta área). O estudo dos recintos
monumentais do Norte de Portugal está na origem de uma escola
reconhecida a nível mundial”.
A apresentação dos resultados da
participação nas descobertas de
Durrington Walls foi feita ontem,
dia 22 de Fevereiro, na Faculdade de Letras da Universidade do
Porto.
Fevereiro 2007 | Mundus
15.
noticias de
TECNOLOGIA
sável pelo Gabinete de Tecnologias e Conceitos Avançados de
Missões, sedeado no ESOC.
O SEISOP, membro da Rede Europeia de Meteorologia Espacial
(SWENET), permite aos controladores da missão preverem
quando devem desligar instrumentos como star trackers, colocar os sistemas no ‘modo de
segurança’ ou tomar outras medidas para proteger os sensíveis
componentes electrónicos e os
sensores científicos a bordo.
ESA DESENVOLVE SOFISTICADA FERRAMENTA
DE METEOROLOGIA ESPACIAL
Uma ferramenta sofisticada, em
desenvolvimento no ESOC, promete fornecer meios eficazes
de monitorização e previsão, de
modo a prevenir que os sistemas electrónicos de bordo se
despedacem, os instrumentos
científicos se danifiquem e o
satélite se perca de vez, devido
a partículas de elevada energia
ou outros fenómenos de meteorologia espacial.
De acordo com a ESA, a actividade solar influencia todo o
sistema solar de várias formas,
incluindo a geração de correntes
de partículas energéticas que se
movem rapidamente e explosões
repentinas de raios X perigosos
durante as chamas solares. Os
raios cósmicos energéticos de
qualquer outro ponto na galáxia penetram também no nosso
sistema solar. Estes fenómenos
16.
Fevereiro 2007 | Mundus
estão entre as principais causas
do comportamento anormal e do
envelhecimento dos satélites e
dos seus sensíveis instrumentos
científicos.
Mas desde inícios de 2005, o
SEISOP (Sistema de Informação
sobre o Ambiente Espacial para
Operações) – ferramenta de monitorização e previsão da meteorologia espacial, em desenvolvimento no Centro de Operações
Espaciais da ESA – tem vindo
a oferecer, com sucesso, relatórios quase em tempo real ao
Integral, o observatório espacial
de raios gama da ESA.
Como informa a ESA, o SEISOP,
desenvolvido em colaboração
com o Projecto Piloto de Aplicações de Meteorologia Espacial da ESA com financiamento
da portuguesa Task Force ESA/
Portugal, inclui uma base de
dados dos registos do estado
dos satélites e das observações
meteorológicas espaciais a nível
mundial, juntamente com sofisticadas aplicações de software
que fornecem relatórios, avisos,
previsões e um rastreio histórico
para a Equipa de Controlo de Voo
do Integral.
“A meteorologia espacial afecta
os satélites de várias formas.
Podem dar-se perdas aleatórias
de dados, alterações na dinâmica da órbita e uma redução da
qualidade de dados científicos.
Por isso, as actualizações em
tempo real são essenciais na altura de decidir quanto tempo se
devem desligar os instrumentos
durante períodos de risco,” afirma Alessandro Donati, respon-
Enquanto que alguns instrumentos estão equipados para se desligarem automaticamente durante
períodos adversos, nem todos eles
estão, e reactivar um instrumento
após uma paragem automática
que requer bastante tempo. Além
disso, e ainda segundo a ESA, até
hoje tem sido difícil saber quando
a radiação desce a níveis seguros,
depois de se dar um fenómeno
particular, como por exemplo
uma chama solar.
No decorrer deste ano, o SEISOP
passará por um desenvolvimento operacional com vista a fornecer a todas as missões da ESA
as mesmas actualizações vitais
de meteorologia espacial.
Alessandro Donati e a restante
equipa espera começar a trabalhar este ano para criar a versão
operacional final. Estes responsáveis salientam que “o SEISOP
pode potencialmente fornecer
serviços de aviso não só para a
ESA mas também para agências
espaciais em todo o mundo, uma
vez que a meteorologia espacial
pode afectar qualquer satélite”.
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noticias de
Tecnologia
visuais baseado em UML, que
possibilita aos responsáveis pelos vários sistemas do telescópio
disporem de um plano detalhado de todo o projecto e, sem
restrições temporais, recuperar
e actualizar o código do software directamente nesse mesmo
plano, ficando automaticamente disponível ao longo de todo o
projecto.
NASA USA SOFTWARE IBM EM TELESCÓPIO ESPACIAL
DE PRÓXIMA GERAÇÃO
A IBM acaba de anunciar que a
NASA está a utilizar o seu software para desenvolver os sistemas que vão operacionalizar o
Telescópio Espacial James Webb
(TEJW), sucessor do Telescópio Espacial Hubble (TEH). Este
novo telescópio de próxima-geração vai observar mais de perto
o início dos tempos e procurar a
desconhecida formação das primeiras galáxias.
O telescópio, cujo lançamento
está previsto para 2013, irá estudar a formação de galáxias,
estrelas e planetas. Para tal,
a NASA irá recuar no tempo e
mergulhar no espaço, utilizando
anos-luz para viajar do presente para o passado. Por exemplo,
para estudar a formação inicial das estrelas no universo, a
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NASA irá observar luz infravermelha através de instrumentos
especiais optimizados, de forma
a conseguir capturar esta parte
do espectro.
Há 20 anos, os componentes e
instrumentos do telescópio Hubble foram criados por múltiplas
organizações que recorreram a
software registado para desenvolvimento dos sistemas. Esta
abordagem levou a que a manutenção, as mudanças e os arranjos executados no telescópio
exigissem múltiplas ferramentas, que foram sendo geradas ao
longo de toda a missão.
Dado que o software operacional dos sistemas de navegação
e controlo (Guidance, Navigation
and Control - GNC), de coman-
do e de tratamento de dados
(Command and Data Handling CNDH) e o Módulo Instrumental
de Ciência Integrada (Integrated
Science Instrument Module ISIM), que agrega os principais
quatro instrumentos do TEJW,
provinha de diferentes instituições de diferentes países, tornou-se imprescindível criar uma
linha condutora comum durante
o projecto a fim de evitar o excessivo consumo de recursos e
de tempo afectos às questões de
software.
Para superar esta complexidade, a NASA determinou que cada
organismo deverá desenvolver
os seus sistemas utilizando o
IBM Rational Rose Real-time,
software open-standard de desenvolvimento de modelizações
O Rational Rose Real-time ajuda os programadores dos vários
sistemas a criarem as aplicações mais rapidamente e sem
comprometerem a sua qualidade. Este software da IBM verifica
continuadamente a qualidade do
projecto ao longo de cada passo
do processo de desenvolvimento
– incluindo a concepção do código, a realização dos testes, a localização e depuração de falhas,
e as mudanças persistentes –
para que a evolução do sistema
continue em curso e sem erros.
Isto possibilita às várias instituições associadas à construção
do telescópio espacial James
Webb uma maior produtividade
e capacidade de distribuição de
códigos seguros atempadamente – indo ao encontro dos requisitos do projecto e das regulamentações da indústria.
A NASA vai continuar a utilizar
o software IBM Rational para
fazer a manutenção do telescópio após o seu lançamento e
durante a missão. Além disso,
a abordagem baseada em UML
permite à agência espacial criar
uma arquitectura padronizada,
cuja natureza reutilizável permitirá a sua aplicação em futuras
missões suplementares.
Fevereiro 2007 | Mundus
17.
noticias de
INOVAÇÃO
SOFTWARE ‘IDEMIX’ SALVAGUARDA IDENTIDADE DOS CONSUMIDORES NA REDE
membro veterano do Berkman
Center for Internet and Society da
Harvard Law School. “A capacida-
A IBM acaba de anunciar um novo
software que permite aos cibernautas ocultar ou tornar anónima a
sua informação pessoal na Internet,
assegurando a protecção da identidade contra furtos e outros abusos.
Desenvolvido por investigadores no
laboratório da IBM em Zurique, o
software – com o nome de código
Identity Mixer, ou ‘Idemix’, vai possibilitar aos consumidores desfrutarem de bons serviços na Internet
sem revelarem informação pessoal.
A IBM vai contribuir com o Idemix
para o projecto Eclipse Higgins,
uma iniciativa open source dedicada ao desenvolvimento de software de gestão da identidade dos
utilizadores. Esta última tendência
voltada para uma abordagem centrada no utilizador, significa que
os indivíduos podem controlar, de
uma forma activa e segura, quem
tem acesso às suas informações
pessoais online, tais como contas
bancárias e números de cartões de
crédito, ou registos médicos e de
emprego, ao invés de terem instituições exclusivamente responsáveis pela gestão dessa informação,
como acontece actualmente.
Sempre que os consumidores digitam dados pessoais ao fazerem o
download de músicas ou ao subscreverem newsletters online, o
percurso dos dados é deixado para
trás, dados esses que relevam informação acerca da dimensão,
da frequência e da fonte das suas
transacções online, e que podem
ser seguidos de volta até ao utilizador. O software IBM Idemix elimina
esse percurso ao utilizar uma falsa informação sobre a identidade,
18.
Fevereiro 2007 | Mundus
de de tornar as transacções anónimas utilizando o Idemix reforça a
confiança do consumidor, abrindo
portas para novas formas de comércio na Internet.”
conhecida como pseudónimo, para
tornar anónimas as transacções
realizadas online. Por exemplo, o
software permite aos compradores
adquirirem livros ou roupas sem
revelarem o seu número de cartão
de crédito. Ao mesmo tempo, pode
verificar o saldo bancário de alguém sem o partilhar, ou dar provas da idade de uma pessoa sem
divulgar a data do seu aniversário.
banco, uma companhia de seguros
ou uma instituição governamental.
Uma companhia de seguros de saúde, por exemplo, pode oferecer uma
credencial confirmando que um
utilizador usufrui de determinados
benefícios no seguro de saúde.
Desta forma, ao contrário de outros
sistemas de gestão da identidade,
que transmitem partes da verdadeira identidade dos utilizadores,
os sistemas construídos utilizando
o software Idemix vão ajudar a proteger a privacidade do utilizadores
ao partilhar apenas pseudónimos,
para que a verdadeira informação
nunca possa vir a ser interceptada
ou exposta.
Se o utilizador quiser consultar o
portal online do seu fornecedor de
serviços de saúde para informação
médica, o Idemix sela digitalmente
a credencial, de modo a que o utilizador a possa enviar para o fornecedor de serviços de saúde e tenha
acesso ao serviço online. Ao utilizar
sofisticados algoritmos de criptografia, este software da IBM actua
como um intermediário, pelo que a
verdadeira identidade do utilizador
nunca é exposta ao fornecedor de
serviços de saúde.
De acordo com a IBM, o Idemix
actua permitindo ao utilizador de
um determinado computador com
o software apropriado obter uma
credencial digital anónima ou um
documento comprovativo de terceiros de confiança, tal como um
Sempre que o utilizador consultar
o serviço será usada uma nova
credencial codificada. “Quando as
pessoas não têm de revelar a sua
informação pessoal na Web, o risco
de furto de identidade é altamente
reduzido”, explica John Clippinger,
A IBM planeia adicionar a tecnologia
Idemix ao seu portfólio de software
de gestão de identidade, o Tivoli. Este
software confere uma nova dimensão à indústria das tecnologias mais
importantes da IBM na protecção
da privacidade dos consumidores e
dos negócios. Actualmente, a IBM
é o fornecedor do software utilizado
por grandes governos, organizações
de serviços de saúde e instituições
financeiras, o que possibilita uma
forma de comparar dados acerca
dos seus passageiros, pacientes ou
clientes de modo a identificar relações, ao mesmo tempo que nunca
expõe a informação vulnerável acerca das pessoas.
O software ‘tritura’ irreversivelmente indícios tais como nomes, moradas, números de telefone e números de segurança social antes dos
dados serem partilhados, analisa
essa informação e alerta a companhia quando é encontrada uma
associação entre registos específicos, identificando apenas o número de registo do ficheiro atribuído
pelo software. É a organização que
decide que quantidade de detalhes
do registo identificado deve partilhar, o que protege os pormenores
pessoais dentro de outros registos,
para que estes não sejam desnecessariamente expostos durante o
processo de comparação.
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noticias de
Inovação
ESCOLAS PORTUGUESAS NO DIA EUROPEU PARA UMA INTERNET SEGURA
A Comissão Europeia decidiu declarar o passado dia 6 Fevereiro
o Dia Europeu para Uma Internet Segura, de modo a alertar
para os riscos inerentes a este
meio para os mais jovens. Em
Portugal, colaboraram 20 escolas que enalteceram mais “uma
utilização crítica e esclarecida
da Net”.
Quem o disse, em declarações
ao Diário de Notícias (DN), foi
Maria João Horta, coordenadora
do projecto “Dia da Internet Segura 2007”. Ainda de acordo com
este diário, citando a responsável pela Equipa de Missão Computadores, Redes e Internet nas
Escolas (CRIE), do Ministério da
Educação, que se associou à iniciativa, o objectivo máximo des-
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ta iniciativa “é destacar as boas
práticas e dar-lhes visibilidade”.
Foram desafiadas a participar 20
escolas nacionais, que tiveram
de encontrar uma congénere
europeia para debaterem temas
como: “Privacidade – como podemos proteger a privacidade na Internet?”; “Netiqueta – como nos
comportarmos correctamente na
Internet?”; ou “Poder da Imagem
– como podemos partilhar de forma segura as nossas fotografias
na Internet?”.
No final, as escolas tiveram de,
em conjunto, criar um “produto”
em vídeo, fotografia ou em tese,
subordinado ao tema da segurança online. Os trabalhos, realizados e apresentados no pró-
prio dia, encontram-se expostos
no site do CRIE (moodle.crie.
min-edu.pt), num espaço especialmente criado para o Projecto
SeguraNet.
Ao longo do Dia Europeu para
Uma Internet Segura, para além
das apresentações dos trabalhos das escolas, as mesmas
foram visitadas pelos representantes do Ministério da Educação, onde foi ainda dado espaço
a uma série de debates, que se
estenderam pelo resto da semana e com transmissão online
garantida para as escolas.
Sendo esta uma iniciativa europeia, a própria Comissão – através do projecto “EU Kids Online”
(que está integrado no plano de
acção europeu “Safer Internet
Plus”) - pretende organizar um
guia de recomendações para a
segurança dos adolescentes no
uso da Internet, acção inevitável
com a adesão cada vez maior
aos diversos ambientes que o
mundo virtual oferece, sendo
assim também mais fácil de
orientar os pais no sentido de
aprenderem a lidar com estas
novas questões e acompanhar
os filhos na utilização dada a
conteúdos e plataformas online.
No âmbito do “EU Kids Online”,
Portugal é um dos três países
europeus (além de Reino Unido
e Polónia) onde será feito o primeiro estudo comparativo da exposição das crianças aos riscos
da Internet.
Fevereiro 2007 | Mundus
19.
ENTREVISTA
João Magueijo
Department of Physics, Imperial College London, UK
“...nunca tive temperamento para
estar calado quando acho que
algo está mal...”
Com que idade decidiu ir estudar para
fora do país?
Saí com 21, muito embora já tivesse considerado essa possibilidade antes.
Isso foi depois de concluir a licenciatura de Física na Faculdade de Ciências na Universidade de Lisboa. - O
que é que o levou a deixar o país e ir
estudar para o estrangeiro?
Era óbvio que para aquilo que queria fazer cosmologia e gravidade quântica - não tinha
mesmo outra hipótese. Nessa altura nem
era uma questão de ser melhor ou pior: é
que não havia mesmo nada dentro de Portugal que permitisse enveredar por essas
áreas. Ficar em Portugal seria equivalente a
ser um auto-didacta.
Controverso e polémico, João Magueijo recusa-se
a “estar calado” quando considera que algo está errado. Escolheu estudar em Inglaterra por não haver
condições para seguir os estudos em cosmologia e
gravidade quântica em Portugal e porque esperava
naquele país ter mais liberdade para dar largas à sua
criatividade enquanto cientista. Pôs em causa a Teoria
da Relatividade de Einstein abalando o mundo científico, cujo sistema critica severamente
Porquê Inglaterra?
Primeiro pela minha aversão política aos Estados Unidos, que de facto seria a outra opção óbvia. Depois porque havia na altura uma
certa impressão (pelo menos entre os cientistas mais jovens) de que a Inglaterra tinha
um sistema de investigação mais liberal, que
se “podia fazer o que se queria”, enfim, que a
criatividade do investigador era mais respeitada. Tenho de admitir que, com todas as críticas que inevitavelmente tenho feito ao sistema
Inglês (depois de o conhecer por dentro e a
todos os níveis há mais de 17 anos) ainda acho
20.
Fevereiro 2007 | Mundus
que esse “mito” que me levou a Inglatera é no
fundo mais real do que se poderá pensar.
Tem sido um cientista algo controverso pelo facto de ter posto em causa a
teoria da velocidade constante da luz
de Einstein. No seu entender, teria
sido mais difícil, por exemplo, defender esta sua teoria em Portugal?
Sim. Primeiro porque os mais conservadores são sempre os medíocres, uma classe
que parece dominar a ciência Portuguesa.
Portanto pessoas que raramente escrevem
artigos ou fazem alguma investigação são
sempre as mais críticas de alguma ideia
nova.
Depois porque mesmo que a ideia tivesse
sido aceite em Portugal, isso quanto muito
teria um efeito contra-producente para a sua
aceitação no resto do mundo. A comunidade
cientifica internacional não leva a sua congénere Portuguesa a sério.
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ENTREVISTA
Nestas coisas, portanto, o melhor é tentar
logo convencer os peritos mundiais: “to go
for the throat”...
um lado, isso é promovido pelos burocratas da
ciência que o utilizam para justificar o gasto de
dinheiros públicos na ciência; por outro lado, à
maioria dos cientistas “parece mal”.
Este também foi um momento de afirmação. Considera este um marco importante na sua carreira de investigador?
Portanto as complicações vieram mais do
lado da divulgação do que da teoria propriamente dita... o que são as coisas!
Claro. Sempre disse que nunca trabalhei em
VSL a tempo inteiro, e que tenho outros interesses, mas foi algo muito marcante para
mim como investigador. Foi talvez o trabalho
mais original e arriscado que fiz até ao momento... sem desfazer do resto.
As suas ideias e maneira de ver o sistema académico/ científico são polémicos. O que é que está mal para si
nos ‘circuitos’ da ciência?
Como tem sido a sua vida depois desta sua revelação?
O mesmo do costume. Continuo a trabalhar em
VSL mas tambem noutras áreas mais convencionais, mas nem por isso menos importantes.
Em termos pessoais claro que houve uma fase
complicada, até porque atrair interesse da imprensa e do público em geral nunca é perdoado pela comunidade científica, diga-se o que se
disser. Há pressões contraditórias, pelo menos
em Inglaterra, no que diz respeito ao que eles
chamam “public understanding of science”. Por
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Muito poder arbitrariamente investido em pessoas mais “seniors” e que já não fazem ciência; muita precariedade, e falta desse mesmo
poder, para aqueles que efectivamente produzem a ciência. Trata-se de um caso clássico
de um sistema de duas classes, com o oprimido e o opressor claramente identificados.
Receia que esta sua postura no meio
científico lhe possa trazer dissabores
ou, antes pelo contrário, tem esperanças de contribuir para uma mudança?
Dissabores, mais do que tudo, mas nunca
tive temperamento para estar calado quando acho que algo está mal. Agora não tenho
ilusões nenhumas em relação a mudanças. Acho que a ciência contuará a ser feita
apesar do estabelecimento científico (em
vez de devido ao mesmo, o que faria mais
sentido.)
Pelo que é sabido, o mundo da ciência está presente na sua vida desde
a infância. É no mundo científico que
pretende continuar a viver?
Talvez sim, talvez não. Há um bocado a
tendência, com a idade, de os cientistas
deixarem de o ser, no sentido literal do
termo, para se dedicarem isso sim a tarefas de administração e política da ciência.
Isso não me interessa, portanto preferia
simplesmente fazer outra coisa, caso o fazer ciência “seque”.
Era melhor que os cientistas fossem como
os futebolistas, que têm de honestamente
passar reforma quando o tempo chega...
Mas por enquanto continuo a marcar golos, portanto ainda não chegou o momento
de enfrentar essa decisão.
Fevereiro 2007 | Mundus
21.
22.
Fevereiro 2007 | Mundus
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CADERNO ESPECIAL
“...Portugal se está a tornar
num melhor país para desenvolver
trabalho científico...”
O que o fez ficar? Porque não voltou?
ALEXANDRA CAPELA
Idade:
35 anos
Área:
Neurobiologia
Funções actuais:
Investigadora na StemCells Inc, EUA
O que o levou a deixar o país e ir estudar/ trabalhar para o estrangeiro?
Em 1996 fui aceite no Programa Gulbenkian
de Doutoramento em Biologia e Medicina
(PGDBM). O PGDBM foi desenhado com base
nos programas doutorais norte-americanos
que incluem uma forte componente lectiva na
formação dos seus doutorandos. No caso do
PDGBM, as aulas do primeiro ano foram maioritariamente leccionadas por professores estrangeiros, líderes em varias áreas da biologia,
como desenvolvimento, ciclo celular, cancro,
fisiologia celular, neurobiologia, etc. O que em
parte tornou este programa único foi o facto
dos alunos serem encorajados a desenvolver a
componente prática do doutoramento em laboratórios estrangeiros de qualidade reconhecida. Na altura eu estava interessada em estudar
biologia do desenvolvimento, mais precisamente desenvolvimento do sistema nervoso, e
a investigação nessa área era quase inexistente
em Portugal. Durante o ano lectivo, no Instituto
Gulbenkian de Ciencia em Oeiras, fui estabelecendo contactos com vários investigadores na
Europa e nos Estados Unidos da América e fui
aceite no laboratório da Dra Sally Temple, em
Albany, estado de Nova Iorque, cujo objectivo
geral era estudar o desenvolvimento do cortex
cerebral embrionário de ratinhos.
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Quase no final do meu doutoramento assisti a
uma conferência apresentada por uma investigadora da empresa StemCells Inc. num congresso “Keystone” sobre células estaminais. A
conferência revelou-me um estreito paralelismo entre a investigação desenvolvida no grupo
Neural da empresa e o meu próprio trabalho de
doutoramento, o que me fez equacionar (pela
primeira vez) a Indústria de Biotecnologia como
uma possibilidade viável de carreira profissional. A afinidade com o trabalho desenvolvido na
StemCells Inc. teve bastante peso na minha decisão de aceitar a oferta de emprego e permanecer nos Estados Unidos. Mas foi a perspectiva real, a curto prazo, da aplicação de células
estaminais neurais humanas no tratamento de
doenças neurodegenerativas, ou seja, a tradução directa do trabalho de investigação básica,
de bancada, para a clínica, que me atraiu fortemente e que não poderia de todo desenvolver
se, à data, tivesse voltado para Portugal.
O que o faria voltar a Portugal (a nível
profissional)?
O regresso envolveria obrigatoriamente condições de trabalho estimulantes, ambiente propício a colaboração entre cientistas de várias
especialidades em instituições públicas ou privadas interessadas em desenvolver investigação
translaccional. A situação ideal seria aquela
em que a minha experiência em investigação
biomédica, num contexto de indústria, concretamente em terapia celular, fosse tida como uma
mais-valia na estruturação de um grupo multidisciplinar com objectivos clinicos concretos.
nário actual é bastante diferente do que se vivia
quando eu deixei o país em 1997. Os últimos
6-8 anos viram regressar ao país muitos jovens
cientistas graduados em instituições de grande
reputação, que, juntando-se à excelente massa
crítica já existente em Portugal e impulsionados também pela criação de novos centros de
investigação e/ou reestruturação de outros, estão a dar um forte impulso à ciência portuguesa. Os resultados estão patentes no aumento
do número de artigos publicados em revistas
de alto impacto, nos prémios internacionais,
no financiamento de projectos europeus, na
participação em grupos de trabalho internacionais e finalmente na emergência de empresas
de biotecnologia. É nesse sentido que defendo
que Portugal se está a tornar num melhor país
para desenvolver trabalho científico.
Para si quais as áreas de investigação
mais promissoras em Portugal?
É-me difícil dar uma opinião fundamentada
fora da minha área de formação, ainda que
destaque a área das telecomunicações como
muito importante. Em relação à investigação
em biologia, os esforços na área da identificação de marcadores genéticos de cancro têm
sido excepcionais. A área da biologia do desenvolvimento embrionário tem tido uma evolução
consistente, bem como as neurociências. Penso que a investigação biomédica/clínica, que já
começa a evidenciar-se, será uma das áreas
mais promissoras, concretamente no campo
da investigação em biomateriais, terapia celular e cancro.
Na sua opinião, Portugal é um bom país
para desenvolver trabalho de investigação científica? Porquê?
Penso que comeca a ser. É evidente que o ce-
Fevereiro 2007 | Mundus
23.
CADERNO ESPECIAL
“...que vantagens tira Portugal ...
se depois acabamos por contribuir
para a riqueza de outro país?...”
Os paises mais ricos, não investem na investigação por serem ricos e terem mais recursos.
ANA MARGARIDA
DO AMARAL CARDOSO
DOS SANTOS
Idade:
32 anos
Investem na investigação porque isso lhes garante que continuarão o seu desenvolvimento e
crescimento. E não é por acaso que estes países, em vez de exportarem cientistas, tentam
manter os que formam e adquirir outros com
outros métodos e filosofias de trabalho.
praticos desse investimento. Enquanto não
sairmos deste ciclo vicioso, nada segue em
frente e continuaremos a dar gratuitamente a
outros países o mais precioso dos nossos bens:
o conhecimento.
Para além disso, que vantagens tira Portugal
de nos ter educado, se depois acabamos por
contribuir para a riqueza de outro país?
Área:
Bioquimica e biomateriais
Funções actuais:
Estudante de Doutoramento, Bélgica
O que o levou a deixar o país e ir estudar/ trabalhar para o estrangeiro?
A minha vinda para a Bélgica começou por ser
apenas por três meses para aprender uma
técnica que tinha interesse em conhecer. Entretanto fui convidada a integrar um projecto de
investigaçao onde essa técnica era fundamental e decidi ficar até ao final do projecto.
O que o fez ficar? Porque não voltou?
Não voltei ainda porque quero acabar o trabalho que comecei aqui e em Portugal, não tenho
essa possibilidade por razões de dificuldades
de financiamento do projecto, instabilidade
profissional...
O que o faria voltar a Portugal (a nível
profissional)?
Se visse reunidas as condições para prosseguir o meu estudo em Portugal, regressaria
ainda hoje. Gostaria que quem realmente tem
o direito (e o dever) de decidir nestas coisas
sentisse que o país poderia evoluir de outra
maneira se as prioridades fossem o ensino e
a investigação.
24.
Fevereiro 2007 | Mundus
Na sua opinião, Portugal é um bom país
para desenvolver trabalho de investigação científica? Porquê?
Actualmente, não. Há que mudar mentalidades,
criar condições para que os nossos investigadores não sintam a necessidade de emigrar. E
isso passa por não concentrar a investigaçao
nas universidades, em criar mais centros de
estudos, em rever os processos de finaciamentos dos projectos, em dar alguma estabilidade
a quem se quer dedicar à pesquisa, envolver a
indústria. Fundamental: diminuir os gastos de
tempo e dinheiro com a burocracia que desncorajam qualquer um com vontade de inovar. Eu
penso que o sentimento é geral:em Portugal
não falta dinheiro para a investigação. Está é a
ser mal gerido, o que não leva a lado nenhum.
É bom que se perceba que o facto de trabalharmos noutros países é positivo para que se
aprenda e se evolua, mas seriamos todos bem
mais felizes e o país teria tudo a ganhar se pudessemos desenvolver os nossos estudos em
Portugal e investir o nosso know-how em prol
do nosso país. E Portugal é um manancial de
recursos por explorar e por investigar. Se se
investisse um pouco mais na investigação, na
exploração dos recursos que temos ( bastava
um pequeno investimentos inicial já que a investigaçao e conhecimento cientifico se autosustentam), eu acredito que o país beneficiaria
com isso e a curto prazo se veriam resultados
Para si quais as áreas de investigação
mais promissoras em Portugal?
Nao precisamos de ir longe ou de ter ideias luminosas de investigação em Portugal. O campo
é vasto. Devemos começar pelo que temos “em
casa”. Recursos naturais. E Portugal tem tanto
que deve estudar, preservar e rentabilizar.
Educação. Investigaçao de qualidade nas ciencias da educação.
Sendo um país com um património histórico
incomparável, é de vital importancia a investigação na área da história, arqueologia, museologia. Um país que conhece as suas raízes
cresce mais saudável.
Inovação tecnológica. Investir na modernização
da nossa indústria sem perder de vista o que
nos caracteriza: o rigor e a qualidade.
Os investigadores portuguese são bem vistos
cá fora e muito procurados. Isso indicia que
somos gente com coragem, imaginação e capacidade de desenvolver trabalhos. Para além
disso, é-nos reconhecido o volume de conhecimentos que adquirimos durante a nossa educação. Porque não criar então condições para
que possamos desenvolver o nosso país? O
esforço inicial seria mínimo comparado com as
mais valias que daí viriam.
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CADERNO ESPECIAL
“...pelo que tenho observado não
parece ser muito fácil voltar...”
ARMÉNIO BARBOSA
Idade:
23 anos
O que o levou a deixar o país e ir estudar/ trabalhar para o estrangeiro?
tenho observado não parece ser muito fácil
voltar.
A oportunidade de fazer doutoramento após o
fim da licenciatura. Com o meu actual currículo
deveria esperar alguns anos até conseguir um
lugar devido ao actual sistema de atribuição de
bolsas para doutoramento em Portugal.
Na sua opinião, Portugal é um bom país
para desenvolver trabalho de investigação científica? Porquê?
Área:
Química Computacional / Bioinformática
O que o fez ficar? Porque não voltou?
Funções actuais:
Estudante de Doutoramento
O facto de ter tido uma boa experiência com o
programa Erasmus na mesma universidade,
foi importante na decisão de estudar no estrangeiro.
O que o faria voltar a Portugal (a nível
profissional)?
A oportunidade de continuar a desenvolver trabalho de investigação científica, mas pelo que
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Na realidade não trabalhei muito em Portugal
mas trabalho com a colaboração de portugueses. Na minha opinião é um país muito bom
para desenvolver investigação.
Para si quais as áreas de investigação
mais promissoras em Portugal?
Penso que pela quantidade de laboratórios e
grupos, a área das ciências da vida é uma das
mais promissoras, também em engenharia e
informática há avanços e ideias inovadoras frequentemente.
Fevereiro 2007 | Mundus
25.
CADERNO ESPECIAL
“...Estava zangada com o sistema
em Portugal. O sistema de compadrio
e protagonismo...”
O que o levou a deixar o país e ir estudar/
trabalhar para o estrangeiro?
ANABELA DE ASSIS PINTO
Idade:
46 anos
Área:
Biologia
Funções actuais:
Professora Universitária, responsável
pelo Cambridge e-Learning Institute, UK
Quando deixei Portugal em 1989 o país não oferecia condições para uma carreira em investigação. Um grande amigo meu, que conheci aqui
em Cambridge durante o seu sabático, providenciou-me com uma grande revelação.
Batendo-me nas costas com aquela forma amigável de Brasileiro, virou-se para mim e disse:
“Vou-lhe confessar uma grande verdade. Para se
ganhar um emprego em qualquer Universidade,
não interessa “your know-how”, o que interessa
é o “you-know-who!”.” Foi de facto uma grande
verdade. Em 20 anos de carreira académica fora
de Portugal cheguei a essa triste conclusão.
qualificações que não foram seleccionadas só
porque não tinham nenhum “padrinho” dentro
da instituição.
O que o fez ficar? Porque não voltou?
Estava zangada com o sistema em Portugal. O
sistema de compadrio e protagonismo. Depois
de alguns anos na Dinamarca, minha personalidade alterou-se. Tornei-me muito escandinava
e não conseguia me readaptar à cultura Portuguesa.
O que o faria voltar a Portugal (a nível
profissional)?
Nada
Se a pessoa não tem conhecimentos dentro do
sistema, pode ser um génio em sua área, mas
nunca vai ter uma oportunidade, a não ser que
conheça alguém dentro do sistema que lhe abra
uma porta. É aquilo que no meu país se costuma
chamar de “entrar pela porta do cavalo”. Numa
conjuntura social onde é tão importante dizerse apenas o que é politicamente correcto, esta
é uma verdade que toda a gente sabe, mas ninguém quer indagar ou falar abertamente.
A práctica de publicitar vagas académicas em
jornais não é mais do que um tapa-olhos para
oficializar alguém que já está lá dentro.
Esse era o clima de Portugal em 1989. Segundo
informação que me chega por parte de jovens
estudantes portugueses que abandonaram o
país, a coisa continua na mesma.
Não vejo nada de errado em convidar pessoas
conhecidas para ocupar cargos académicos.
O que está errado é que algumas dessas pessoas que acabam tendo acesso a um contrato
permanente são menos adequadas, (less skilled) do que algumas pessoas com melhores
26.
Fevereiro 2007 | Mundus
Na sua opinião, Portugal é um bom país
para desenvolver trabalho de investigação científica? Porquê?
Não posso responder a esta questão pois já não
moro em Portugal há 20 anos. Mas na minha
área Portugal não evoluiu absolutamente nada
e não há qualquer interesse em desenvolver ou
subsidiar pesquisa.
Para si quais as áreas de investigação
mais promissoras em Portugal?
Não sei o que se passa em Portugal. Para mim é
uma sociedade absolutamente estranha. Estou
mais a par do que se passa no Brasil, pois vou
lá todos os anos como professora convidada dar
cursos de especialização em diversas Universidades. Mas de facto, o Brasil está em franco
progresso científico. O governo Brazileiro está investindo em força na pesquisa e é um prazer trabalhar lá. Os colegas Brasileiros também fazem
pesquisa de muito boa qualidade e são prontamente abraçados pelas Universidades Brasileiras depois de sua formação no estrangeiro.
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CADERNO ESPECIAL
“...A maior dificuldade em Portugal...
é a falta de uma estrutura
de financiamento regularizada...”
CARLOS CALDAS
Idade:
46 anos
Área:
Medicina/Oncologia
Funções actuais:
Professor of Cancer Medicine, University
of Cambridge; Senior Investigator, Cancer
Research UK Cambridge Research Institute; Consultant Medical Oncologist, Addenbrookes Hospital, UK
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O que o levou a deixar o país e ir estudar/ trabalhar para o estrangeiro?
O que o faria voltar a Portugal (a nível
profissional)?
A procura da Excelência.
A oportunidade certa!
O que o fez ficar? Porque não voltou?
Na sua opinião, Portugal é um bom
país para desenvolver trabalho de investigação científica? Porquê?
Quando parti de Portugal (15 Junho 1988)
a minha ideia era completar o meu treino
pós-graduado em Medicina Interna e Oncologia Médica nos EUA e voltar depois a Portugal. Depois de 6 anos nos EUA, para além
de um treino clínico excepcional (em Dallas
e no Johns Hopkins em Baltimore) comecei
a fazer investigação e tornei-me num “médico-cientista”. Combinar actividade clínica
com investigação laboratorial básica não é
fácil em lugar nenhum do Mundo, mas seria quase impossível em Portugal. Em 1994
vim para Londres onde fiz um Research
Fellowship (Chester Beatty Laboratories,
Institute of Cancer Research) e a partir daí
surgiu a oportunidade de ficar no Reino
Unido, tendo sido convidado para vir para
Cambridge em 1996 como Junior Faculty.
Em 2002 fui eleito para a Catedra de Cancer
Medicine e entretanto o meu grupo cresceu
e agora é aqui que estou estabelecido.
A maior dificuldade em Portugal a meu ver
é a falta de uma estrutura de financiamento
“regularizada”. Quero com isto dizer, haver
mecanismos de financiamento regulares
e calendarizados com um orçamento prédefinido e planeado em fases de 5 anos. De
momento não há calendário regular e o financiamento é tri-anual e mesmo esse não
planeado.
Para si quais as áreas de investigação mais promissoras em Portugal?
As áreas da biologia básica, porque a investigação clínica e de translação requerem
uma grande transformação cultural, quer
no meio científico, quer no meio clínico.
Fevereiro 2007 | Mundus
27.
CADERNO ESPECIAL
“...Sou apologista de avaliações
e auditorias externas...”
O que o fez ficar? Porque não voltou?
CATARINA GRANDELA
Idade:
28 anos
Área:
Biomedicina (Células estaminais)
Funções actuais:
Estudante de doutoramento, Austrália
O que o levou a deixar o país e ir estudar/ trabalhar para o estrangeiro?
Sou aluna do Programa de Doutoramento
em Biologia Experimental e Biomedicina
organizado pelo Centro de Neurociências
da Universidade de Coimbra. Este programa
proporciona aos seus alunos estabelecer colaborações entre laboratórios nacionais e estrangeiros. Eu comecei o meu doutoramento
em 2003 e entre várias áreas aliciantes para
desenvolver a tese de dissertação acabei
por escolhar a das células estaminais. Por
esta razão e pelo facto de querer fazer parte
do doutoramento no estrangeiro, contactei
o Professor Martin Pera um dos primeiros
investigadores a derivar células estaminais
embrionárias humanas na Monash University em Clayton (muito perto de Melbourne) na
Austrália. Em Portugal, tanto quanto sei, não
teria a oportunidade de trabalhar com este
tipo de células. O laboratório onde estou a
desenvolver o meu trabalho reúne todas condições, a nível de infrastuturas, equipamento
e conhecimento, para que eu tire máximo
partido desta fase da minha apredizagem.
Para além de ser uma excelente oportunidade a nivel profissional, a Austrália é um pais
fántastico e com pessoas de todos os cantos
do Mundo.
28.
Fevereiro 2007 | Mundus
Planeio acabar o doutoramento no final deste
ano e depois voltar a Portugal para passar um
pouco de tempo com a família. Acho que não
vou voltar a Portugal pelo menos nos próximos 5
anos devido ao escasso número de posições para
investigadores de carreira e pelo facto do financiamento de projectos ser inferior países como
os Estados Unidos ou o Reino Unido. Nestes países as chamadas “grants” permitem aos cientistas
realizar investigacão em áreas competitivas e em
muitos dos seus institutos é possível utilizar tecnologia de ponta routineiramente.
O que o faria voltar a Portugal (a nível
profissional)?
Penso que a maioria dos investigadores que se
encontra no estrangeiro tem a vondade de voltar para Portugal e contribuir para o desenvolvimento do país. Se tivesse a oportunidade de
encontrar um laboratório com financiamente ou
até mesmo formar o meu laboratório voltaria a
Portugal. Sei que o governo tentou atrair cientistas, mas considero os seus critérios exigentes e
apenas cientistas já conhecidos e no topo da sua
carreira estariam nas condições de benefeciar
destes incentivos. Acho que algo deve ser feito
para atrair cientistas mais jovens e empreendedores. É óbvio que empregos para a vida não
existem, mas depender de bolsas a vida inteira,
sem saber o que vai acontecer no ano seguinte,
é díficil. Embora grande parte dos investigadores
não esteja em ciência por razões monetárias,
uma certa estabilidade financeira evitará que este
tipo de preocupações interfira com o seu desempenho profissional. Uma soluções seria oferecer
contratos por cerca de 5 anos com condições de
trabalho em estruturas institucionais para que os
investigadores pudessem realizar o seu trabalho
e mostrarem do que são capazes. Sou apologista
de avaliações e auditorias externas para garantir
que o dinheiro público seja utilizado da melhor
forma. Por um outro lado, cabe também aos
investigadores serem dinâmicos e ambiciosos.
Estes deverão procurar fazer parte de concórcios internacionais para concorrer a “grants” e
obter financiamento de entidades estrangeiras.
Sobretudo os investigadores que estão fora do
países já desenvolveram uma razoavél rede de
contactos, muitos deles cientistas conhecidos
mundialmente, e seria bom que essas relações
se mantivessem.Um outro esforço, tanto quanto
possível, é encontrar um vertente biotecnológica
nos projectos desenvolvidos e procurar estabelecer parcerias com empresas.
Na sua opinião, Portugal é um bom país
para desenvolver trabalho de investigação científica? Porquê?
Acho que Portugal não é um mau país para fazer
investigação científica, mas até que reúna todas
a condições para ser um país competitivo a nível
mundial muito terá que ser feito. A massa crítica
em Portugal é excelente e os portugueses quando vão para fora mostram que não ficam atrás de
ninguém. São, pelo que me apercebi, tidos com
trabalhadores e inteligentes. No entanto, se compararmos com o estrangeiro, nomeadamente com
Estados Unidos da América, Portugal está em
desvantagem pelo facto das infrastuturas e equipamento, bem como “grants”, serem inferiores.
O investimento em ciência para que isto aconteça
tem que ser maior e levado a sério.
Para si quais as de investigação mais
promissoras em Portugal?
Considero as áreas das neurociências e da oncobiologia muito promissoras. Talvez seja um pouco
parcial, porque em Portugal tive a oportunidade
de trabalhar nestas áeras. As doenças neurodegenerativas e o cancro estão, infelizmente, entre
as principais causas de morte e sofrimento. Investigação nestas áreas, sobretudo com relevância para as que afectam especificamente a nossa
população, de extrema importância. Isto permite
não só tentar curar este tipo de doenças que nos
são mais próximas, mas tambem tentar prevenir e detectar mais precocemente as mesmas.
Outra área muito importante e cada vez mais há
problemas nessa área é a da imunologia. Conheço em Portugal cientistas a desenvolver trabalho excelente nestas área.
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CADERNO ESPECIAL
“...penso que o ambiente
académico é ainda muito fechado:
há pouca interacção...”
O que o levou a deixar o país e ir estudar/ trabalhar para o estrangeiro?
CLÁUDIA REI
Idade:
30 anos
Área:
Economia
Funções actuais:
Estudante de doutoramento, EUA
Dois anos depois de ter terminado o curso de
Economia no ISEG, contava já com duas experiências de trabalho: uma a nível bancário que
não me satisfez intelectualmente; outra a nível
institucional que compensou em termos de satisfação intelectual mas não em termos monetários (tratava-se de um estágio não remunerado). Como sempre gostei de estudar e aprender
coisas novas, decidi candidatar-me a uma bolsa
de estudo da Fulbright para fazer um mestrado
em Economia nos EUA, onde se faz investigação
ao mais alto nível, se bem que a investigação
não fosse inicialmente a minha vocação (candidatei-me a um mestrado e não um doutoramento). Aprender a partir de quem faz avançar
a ciência foi a minha grande motivação.
O que o fez ficar? Porque não voltou?
O plano inicial era ficar dois anos num programa
de mestrado, terminá-lo e voltar a Portugal com
mais um grau académico, que possivelmente me
abriria outras oportunidades no mercado de trabalho, satisfatórias tanto em termos intelectuais
como monetários. Mas o programa de mestrado na NYU (New York University) é especial: requer uma componente curricular, mas também
uma tese. Resolvi tirar o máximo número de
cadeiras no primeiro ano para no segundo poder dedicar-me mais à tese. Foi no segundo ano
que mudei de ideias, uma vez que gostei muito mais da parte de investigação e decidi então
que aquilo era o que eu gostaria de fazer. Tive
o privilégio de trabalhar directamente com um
dos melhores (mais publicado, mais acessível,
mais, mais, mais) professores do departamento
e a experiência de o ter como meu orientador
mostrou-me uma face da investigação que eu
desconhecia e que muito me fascinava.
Terminado o mestrado candidatei-me a um
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programa de doutoramento (em Boston), que
terminarei no próximo ano lectivo.
O que a faria voltar a Portugal (a nível
profissional)?
Saber que poderia continuar a trabalhar (e
produzir) na área de investigação de que gosto
e que teria um ambiente académico aberto em
que se discutem ideias de forma produtiva.
Na sua opinião, Portugal é um bom
país para desenvolver trabalho de investigação científica? Porquê?
Infelizmente penso que o ambiente académico é
ainda muito fechado: há pouca interacção entre
universidades e a abertura ao exterior é mínima.
Se não houver sistemas de professores visitantes e altas restrições ao inbreeding corre-se o risco de se estar a fazer investigação
virada para o nosso umbigo e pensar que se é
o melhor do mundo! Para além destes problemas crónicos há ainda um outro que, de
tão grave, limita os horizontes de qualquer
um: o sistema de universidades públicas é incompatível com a investigação por definição!
É muito difícil para os departamentos terem
fundos (do Estado) para subsidiar visitas de
professores estrangeiros, trazerem oradores
para de outras universidades para falarem da
sua investigação em seminário, e acima de
tudo garantirem a excelência no ensino. Na
área que conheço (Economia) há leves sinais
de mudança no que refere à abertura ao estrangeiro que me enchem de esperança.
Para si quais as áreas de investigação
mais promissoras em Portugal?
Não sei responder com conhecimento de causa, pelo que deixo em branco.
Fevereiro 2007 | Mundus
29.
CADERNO ESPECIAL
“...Em termos logísticos
acho que há um problema
de investimento...”
DIOGO PIMENTEL
Idade:
28 anos
Área:
Neurobiologia
Funções actuais:
Estudante de Doutoramento, UK
O que o levou a deixar o país e ir estudar/ trabalhar para o estrangeiro?
Após terminar o meu curso decidi que queria
fazer investigação. Fui aceite para o Programa
Gulbenkian de doutoramento em biomedicina
que consistia num primeiro ano curricular seguido de (no máximo) 4 anos durante os quais
desenvolvemos o projecto de que consiste o
doutoramento.
No primeiro ano contactámos com cientistas
nacionais e internacionais que tabalhavam
nos mais diversos campos de investigação
relevantes para as ciências da vida. Isto foi
de facto uma oportunidade única porque não
só nos permitiu amadurecer cientificamente
mas também sermos expostos aos mais recentes tópicos e formas de fazer investigação.
Tivemos a possibilidade de interagir com cientistas excelentes que nos vieram mostrar o
mundo da ciência. Durante este período é nos
dado a escolher o tema e local onde queremos
desenvolver o nosso projecto sem qualquer
restrição. Na altura senti que era importante
para o meu desenvolvimento como cientista
conhecer ambientes científicos diferentes. Experimentar abordagens diferentes em relação
a ciência num meio mais competitivo e com
mais maturidade científica.
30.
Fevereiro 2007 | Mundus
Nos tópicos em que estava interessado trabalhar isso não seria possível em Portugal
e por isso decidi vir para Londres onde estou actualmente a trabalhar na neurobiologia do olfacto.
O que o fez ficar? Porque não voltou?
Ainda não terminei o doutoramento, faltame agora pouco menos que um ano para
terminar e por isso esta é a primeira situação em que essa possibilidade existe e que
posso considerar voltar para Portugal. É
algo que ainda não está decidido mas não
penso que vá voltar num futuro muito próximo. Acho que a nível profissional ainda
tenho muito que aprender e posso lucrar
muito por estar em contacto com ambientes científicos diferentes e mais competitivos.
O que o faria voltar a Portugal (a nível
profissional)?
Penso que para a motivação ser puramente
profissional teria que surgir uma oportunidade de emprego, seja como investigador
ou não, que seja comparável àquelas que
surgem estando no estrangeiro. Imagino
(uma vez que é uma decisão pela qual ainda
não passei) que a perspectiva de regressar
a Portugal tenha sempre um peso muito
grande a nível pessoal que causa um certo
desequilíbrio na comparação de diferentes
oportunidades. Acho que caso decida continuar a fazer investigação é preciso sentir
que posso fazer a investigação que mais me
atrai. Sentir que há apoio não só a nível logístico mas também intelectual. Sentir que
existe no local um conjunto de pessoas (e
condições logísticas) que dêem confiança
e estabilidade para que os projectos a que
me quero propor sejam realizáveis.
Na sua opinião, Portugal é um bom país
para desenvolver trabalho de investigação científica? Porquê?
Acho que neste momento depende muito da
área de investigação. A interacção com outros
cientistas é algo absolutamente vital por isso
penso que na minha área não seria porque não
existem pessoas suficientes interessadas nas
abordagens e tópicos semelhantes àqueles em
que estou interessado. Contudo penso que em
Portugal existem pessoas e laboratórios cuja
investigação é tão boa como em qualquer outro
sítio do mundo.
Em termos logísticos acho que há um problema de investimento. É preciso que se forneçam
os recursos logísticos para criar estabilidade e
gerar competitividade em Portugal. Só assim
também se pode atrair mais investigadores
(portugueses ou não) para se juntarem àqueles
que existem trazendo ideias novas, abordagens
novas, etc. É preciso lutar contra a estagnação
do ambiente científico em Portugal e promover
ao máximo a interacção com outros ambientes
científicos.
Para si quais as áreas de investigação
mais promissoras em Portugal?
Acho que isso é uma questão um pouco difícil
de responder. Acho que isso depende muito das
pessoas que estão em Portugal e que estão
dispostas a trabalhar em Portugal. Penso que o
importante é investir nessas pessoas.
Criar condições, infra-estruturas para acomodar mais cientistas e financiamento para que
possam desenvolver a sua ciência. O que é essencial é investir na possibilidade de existir uma
massa crítica de cientistas em áreas que se
complementem de modo a criar o mais possivel
um ambiente de interacção e cooperação.
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CADERNO ESPECIAL
“...Avanço científico e tecnológico
não são só ideias...”
FERNANDO PEREIRA
Idade:
54 anos
Área:
Informática (inteligência artificial, linguística computacional, bioinformática)
Funções actuais:
Professor catedrático e presidente do departamento de Computer and Information
Science, University of Pennsylvania, EUA
O que o levou a deixar o país e ir estudar/ trabalhar para o estrangeiro?
Uma bolsa do British Council deu-me a oportunidade de fazer o doutoramento em Edimburgo, um dos centros de investigação mais
destacados em inteligência artificial. Uma
oferta de emprego com um dos grupos de investigação mais activos nos Estados Unidos
quando estava próximo de me doutorar em
1982 foi irresistível. A falta de oportunidades
sérias em Portugal nessa altura ajudou a tomar essa decisão.
O que o fez ficar? Porque não voltou?
Vários factores profissionais contribuíram: a
liberdade de escolher entre muitas oportunidades, a relativa falta de burocracia e outros
obstáculos institucionais, os bons níveis de
financiamento, a variedade de colaboradores,
e as ligações entre a investigação básica e a
indústria. As oportunidades para trabalhar em
problemas variados em ambientes diferentes
são muito sedutoras. Desde que vim para os
Estados Unidos, trabalhei em dois laboratórios
industriais e uma universidade, e ajudei duas
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companhias a arrancar com novas tecnologias.
Fiz investigação fundamental (demonstrando
teoremas), experimental (testando hipóteses
e algoritmos), e aplicada (desenvolvendo programas utilizados em muitos projectos universitários e industriais). Criei e dirigi grupos de
investigação. Vim para o meu cargo actual com
um mandato para renovar e expandir a investigação e o ensino, presidindo à contratação de
onze novos professores nos últimos cinco anos.
Pessoalmente, fiz raízes nos Estados Unidos:
os filhos nascidos e criados aqui, muitos amigos, e os espaços naturais variados e amplos,
as montanhas especialmente. E finalmente, já
se encontra bom vinho e bom café...
Para si quais as áreas de investigação
mais promissoras em Portugal?
O que o faria voltar a Portugal (a nível
profissional)?
Avanço científico e tecnológico não é só ideias. Tudo o
que fiz e faço depende de recursos públicos e privados
que foi preciso obter e administrar cuidadosamente.
Recursos são limitados mesmo num pais tão rico
como os Estados Unidos. O mínimo que devemos aos
que financiam a ciência é que os recursos que nos
disponibilizam sejam utilizados com o maior cuidado.
É preciso saber explicar a importância do que se faz
com entusiasmo mas também com a maior clareza.
É preciso saber escolher colaboradores com objectividade e isenção. É preciso manter a maior honestidade na análise e apresentação de resultados. É preciso
medir-nos pelo melhor do mundo na nossa área, e
não só pelo melhor da nossa paróquia. Nunca é fácil, mas vale bem aqueles momentos de descoberta,
aqueles novos cientistas que ajudamos a educar,
e aquelas ligações fundas a tantos na comunidade
mundial da ciência.
Gosto muito de manter contactos em Portugal,
mas não penso que uma carreira de 25 anos
possa ser “transplantada” para um ambiente
profissional tão diferente daquele em que me
formei e defini.
Na sua opinião, Portugal é um bom país
para desenvolver trabalho de investigação científica? Porquê?
É evidente que as condições hoje em Portugal são muito melhores do que eram quando saí para Edimburgo em 1977. Por outro
lado, a competição internacional é muito
mais acesa, e a internacionalização da ciência impõe que a investigação em Portugal
tem de se ligar cada vez mais a projectos e
instituições internacionais. Penso que jovens
cientistas portugueses precisam de se projectar num espaço mais amplo, no mínimo o
espaço europeu. Carreiras científicas não se
podem limitar a um só país: os focos de actividade científica movem-se rapidamente de
centro para centro com as pessoas, ideias,
conexões, recursos.
Não tenho informação suficiente para responder com precisão. Parece-me que o
mais importante é identificar áreas em que
existam vantagens competitivas e investir
nelas, tendo em conta que as vantagens podem desaparecer rapidamente se não forem
defendidas. Comparado com outros países
pequenos como a Irlanda, a Finlândia, ou
Israel, Portugal não tem sido muito efectivo
em criar situações de vantagem competitiva
em áreas cuidadosamente escolhidas. Em
vez disso, recursos limitados parecem ser
divididos por todos em fatias muito fininhas
para que ninguém se sinta lesado.
Fevereiro 2007 | Mundus
31.
CADERNO ESPECIAL
GONÇALO
CASTELO-BRANCO
Idade:
30 anos
Área:
Neurobiologia do Desenvolvimento, Células Estaminais Neurais, Epigenética
Figura 1 - Obtenção de células nervosas a partir de células progenitoras/estaminais neurais fetais humanas.
Funções actuais:
Post-doctoral fellow, Laboratory of Molecular Neurodevelopment, Department of
Neuroscience, Karolinska Institute, Stockholm, Suécia.
As células progenitoras/estaminais neurais estão assinaladas a verde, pelo marcador celular nestina. Estas células
foram expandidas em laboratório e posteriormente transferidas para um diferente meio de cultura, de modo a transformarem-se em células nervosas (a vermelho, marcação com a proteína beta-tubulina 3). O estudo deste processo
de transformação é essencial para que, no futuro, células estaminais possam ser usadas na clínica, no tratamento de
doenças neurológicas.
O que o levou a deixar o país e ir estudar/ trabalhar para o estrangeiro?
Há sete anos atrás, no último ano da minha
licenciatura em Bioquimica pela Universidade de Coimbra, fiz o estágio científico na
Unidade de Amilóide, no IBMC, Porto, com
a Professora Maria João Saraiva e a Professora Joana Palha, investigando funções da
proteina transtirretina no cérebro. Durante
este período, comecei a ficar interessado em
neurogénese (o processo de génese de neurónios no cérebro).
Procurei então laboratórios que combinassem
investigação nesta área com doenças neurodegenerativas, o que na altura não encontrei
em Portugal. Depois de contactar e visitar vários laboratórios, decidi iniciar o doutoramento (com uma bolsa da Fundação para a Ciência
e a Tecnologia) no Instituto Karolinska, Suécia,
com o Professor Ernest Arenas, no estudo de
desenvolvimento de neurónios dopaminérgicos e aplicações de células estaminais em
terapia celular na doença de Parkinson.
32.
Fevereiro 2007 | Mundus
O que o fez ficar? Porque não voltou?
A necessidade de continuar a minha formação científica num laboratório que possuísse
tecnologias de ponta nesta área de investigação, de modo a no futuro poder criar o meu
próprio laboratório de investigação num ambiente académico. Depois de concluir o doutoramento, iniciei um pós-doutoramento com
o Professor Ola Hermanson, igualmente no
Instituto Karolinska, Suécia, no estudo do desenvolvimento de oligodendrócitos, um tipo de
células que degenera em doenças como esclerose multipla. A minha investigação versa
actualmente sobre o controlo epigenético do
desenvolvimento embrionário destas células e
subsequentes aplicações com células estaminais neurais em doenças desmielinizantes.
Quando tiver condições para criar o meu laboratório de investigação, tal poderá acontecer
tanto em Portugal, como na Suécia, como num
terceiro pais. Essencialmente, onde encontrar
essas condições. No entanto, pretendo manter
sempre uma ligação à ciência feita em Portu-
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CADERNO ESPECIAL
“...é necessário
que o Estado
Português seja
uma fonte de
financiamento
estável a longo
prazo...”
Figura 2 – Diferenciação de células estaminais neurais fetais de rato em oligodendrócitos.
Células estaminais neurais foram expandidas em laboratório e posteriormente transferidas para um meio de cultura contendo hormona da tiróide, de modo a transformarem-se em oligodendrócitos. Numa fase inicial, os oligodendrócitos reagem
contra o anticorpo RIP (a verde), enquanto numa fase mais tardia no seu desenvolvimento expressam a proteína básica de
mielina (a vermelho). A geração de oligodendrócitos a partir de células estaminais humanas poderá ser utilizado, no futuro,
para o tratamento de doenças desmielinizantes, como a esclerose múltipla.
gal. Actualmente, mantenho-me em contacto
com a ciência em Portugal através da empresa Crioestaminal, do qual sou co-fundador, e
através da Sociedade Portuguesa de Células
Estaminais e Terapia Celular, do qual fui membro fundador e coordeno o fórum de discussão
científica online. Tenho igualmente feito regularmente apresentações em conferências ou
reuniões científicas em Portugal sobre células
estaminais e/ou sobre a minha investigação.
O que o faria voltar a Portugal (a nível
profissional)?
Condições (a nivel de financiamento, recursos e massa crítica envolvente) para criar um
laboratório de investigação académica competitivo na minha área de investigação.
Na sua opinião, Portugal é um bom
país para desenvolver trabalho de investigação científica? Porquê?
Nos últimos anos, tem ocorrido um grande
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desenvolvimento da ciência em Portugal. Já
começa a ser mais frequente ver investigação feita essencialmente em Portugal publicada em jornais científicos internacionais
de topo. Os programas de financiamento de
doutoramento e pós-doutoramento da Fundação para a Ciência e a Tecnologia têm permitido que haja vários cientistas portugueses com formação científica em laboratório
internacionais de referência.
No entanto, é necessário que o Estado português seja uma fonte de financiamento
estável a longo prazo. Para um grupo de investigação ser competitivo, tem de recorrer
a fontes de financiamento diversas, como
fundações não governamentais, redes cientificas da União Europeia, empresas privadas
ou mesmo agências governamentais estrangeiras (nomeadamente americanas). Sendo
isto importante, deve ter como base um forte
financiamento estatal. Nos últimos anos têm
havido uma evolução muito positiva nesta
área, mas no meu ver ainda insuficiente para
tornar Portugal um país com uma forte vertente científica.
Para si quais as áreas de investigação mais promissoras em Portugal?
Em Biomedicina, existem várias áreas em
que a investigação em Portugal é competitiva a nivel internacional, mas que necessitam
de maior estabilidade de financiamento para
continuarem nesse nível. Actualmente considero que as áreas mais promissoras são a
Biologia do Desenvolvimento e a Imunologia,
essenciamente devido ao trabalho de base da
Fundação Calouste Gulbenkian na formação
de cientistas nestas áreas. No futuro, Neurociências e Ciências da Visão poderão ter
uma grande expansão dado estarem no plano estratégico da Fundação Champalimaud.
A área das células estaminais também é
promissora, dado ser uma área multidisciplinar, na qual podem convergir cientistas de
diferentes áreas científicas competitivas em
Portugal.
Fevereiro 2007 | Mundus
33.
CADERNO ESPECIAL
“...Nada me daria mais gosto
do que a voltar a Portugal e desenvolver a minha investigação...”
O que o levou a deixar o país e ir estudar/ trabalhar para o estrangeiro?
GONÇALO ESPREGUEIRA
THEMUDO
Idade:
27 anos
Área:
Ciências Biológicas
Funções actuais:
Aluno de Doutoramento na Universidade
de Leiden na Holanda em colaboração
com o Naturalis - Museu de História Natural de Leiden e o CIBIO – Centro de Investigação de Biodiversidade e Recursos
Genéticos da Universidade do Porto
Apesar de o ambiente de trabalho no grupo
onde eu trabalhava no Porto ser excelente,
as questões logísticas eram demasiado
frequentes. Na minha actual situação, no
Museu de História Natural de Leiden, todo
o material que preciso para fazer a minha
investigação está disponível imediatamente e sem restrições.
Além disso, a FCT (Fundação para a Ciência e Tecnologia) favorece as idas para o
estrangeiro aumentando o valor das bolsas o que permite...
O que o fez ficar? Porque não voltou?
de e energia para inovar. Falta organização
nos níveis mais elevados das hierarquias,
falta estabilidade nos fundos. Se a estabilidade for conseguida, acredito que Portugal
pode competir a nível mundial em termos
de ciência.
Para si quais as áreas de investigação mais promissoras em Portugal?
Qualquer área de investigação tem potencial. Julgo que muitas coisas interessantes
estão a ser feitas na área da investigação
do cancro. Falando um bocado da minha
área, Portugal tem uma enorme biodiversidade, das maiores da Europa, e já começa a haver um maior interesse por estas
questões.
Estando na Holanda, tenho oportunidade
de fazer cursos em países vizinhos que
não teria oportunidade de fazer se estivesse em Portugal, pois as viagens são mais
caras. Além disso, tenho apoio do meu
orientador diariamente, que pela minha
experiência anterior, seria mais esporádica estando em Portugal.
O que o faria voltar a Portugal (a nível
profissional)?
Nada me daria mais gosto do que voltar
a Portugal e poder desenvolver a minha
investigação “em casa”. Acho que isso só
vai acontecer se houver algum laboratório
com condições para isso.
Na sua opinião, Portugal é um bom
país para desenvolver trabalho de investigação científica? Porquê?
Portugal tem óptimo potencial para desenvolvimento de trabalhos de investigação.
Tem pessoas inteligentes, com criativida-
34.
Fevereiro 2007 | Mundus
www.cienciapt.net/mundus
CADERNO ESPECIAL
“...Quando contactei
várias instituições em Portugal
as portas não se abriram...”
GRAÇA ALMEIDA-PORADA
Idade:
45 anos
Área:
Medicina, Biologia de celulas estaminais, Terapia Celular, Transplante de
celulas estaminais
Funções actuais:
Professora Associada, Directora do
Programa de Biotecnologia, EUA
O que o levou a deixar o país e ir estudar/ trabalhar para o estrangeiro?
O que o faria voltar a Portugal (a nível
profissional)?
Fazer investigação médica foi sempre um
sonho e um objectivo que tive desde o início
do curso de medicina. Fui para o estrangeiro para realizar esse sonho. Depois de acabar o curso e fazer o Internato Geral resolvi
escolher um Internato Complementar que
tivesse uma parte laboratorial para que eu
pudesse avaliar se na verdade a vida num
laboratório me agradava. O Internato de
Immunohemoterapia permitiu-me exactamente isso. O Director de Serviço de Hematologia do Hospital de Santo António, nessa
altura era o Prof. Dr. Benvindo Justiça, um
homem com visão do futuro, que tentava
proporcionar aos Internos do Serviço a melhor formação possível. Como o programa
do Internato permitia um ano de Investigação com o apoio do Prof. Dr. Justiça concorri a uma Bolsa de Doutoramento. Tive
também a ajuda de outras pessoas extraordinárias, o Prof Doutor Sobrinho Simões,
que durante todo este processo me aconselhou eestabeleceu o contacto com o Prof
Dr. João Ascensão, nessa altura Director
da Unidade de Transplante da Universidade
de Connecticut para ser meu orientador de
doutoramento, e claro o Prof. Doutor Fernando de Oliveira Torres o meu orientador
de doutoramento em Portugal que durante
os meus anos no ICBAS sempre me inspirou para prosseguir o meu sonho de investigadora.
A oportunidade de prosseguir o meu trabalho com as condições que aqui tenho
Na sua opinião, Portugal é um bom
país para desenvolver trabalho de investigação científica? Porquê?
Acho que sim, e vejo um progresso significante a nivel de mentalidade e infraestruturas que permitem Portugal competir com
outros países a nível de investigação.
Para si quais as áreas de investigação mais promissoras em Portugal?
Biotecnologia nas suas diferentes áreas
como medicina, engenharia, são amplamente promissoras em Portugal. Temos
boas Universidades e pessoas formadas
nestas áreas que estão ao mesmo nivel de
qualquer outro grupo Internacional. Só falta um investimento sério nestas áreas.
Outras áreas provavelmente serão também
promissoras mas eu não estou a par do desenvolvimento dessas áreas em Portugal.
O que o fez ficar? Porque não voltou?
Depois de acabar o Doutoramento tive várias ofertas para ficar nos Estados Unidos
em várias Universidades. Quando contactei
varias Instituições em Portugal as portas
não se abriram e as pessoas não pareciam
estar interessadas no meu trabalho.
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Fevereiro 2007 | Mundus
35.
CADERNO ESPECIAL
“...a oferta de emprego
em Portugal fica muito aquém
das expectativas...”
instituições ou empresas passam pelos objectivos das pessoas.
HELGA MOREIRA DAVID
Idade:
30 anos
Área:
Biotecnologia, Engenharia Metabólica
Funções actuais:
Investigadora, Fluxome Sciences A/S,
Dinamarca
Por outro lado, o que me fez não voltar a Portugal, foi a falta de perspectivas de trabalho,
num meio universitário completamente saturado e num meio industrial praticamente
inexistente.
Acresce que, a nível pessoal, existe o facto de
ter um companheiro dinamarquês.
O que o faria voltar a Portugal (a nível
profissional)?
O que o levou a deixar o país e ir estudar/ trabalhar para o estrangeiro?
O que me levou a deixar Portugal há seis
anos atrás foi a vontade de conhecer outras
formas de viver e de trabalhar. A esta vontade
de sair aliou-se o desejo de me especializar
numa área científica, na qual, nessa altura,
ninguém trabalhava em Portugal. E houve
também o estímulo de alguém que já tinha
andado por fora...
O que o fez ficar? Porque não voltou?
O que me fez ficar fora de Portugal, após
terminar o doutoramento, foi a possibilidade de ter acesso a um mundo de trabalho,
em que as pessoas são respeitadas e valorizadas, não só como alguém que trabalha,
mas também como alguém que tem uma
vida para além do trabalho. Um mundo de
trabalho, em que as pessoas não se avaliam
só pelas horas que passam a trabalhar, mas
fundamentalmente pela qualidade do trabalho que realizam. Um mundo de trabalho,
em que a mudança (de emprego) não é sinónimo de insegurança, mas reflecte o desejo
de se querer melhorar e de dar o melhor. Um
mundo de trabalho, em que os objectivos das
36.
Fevereiro 2007 | Mundus
A nível profissional, o que poderia motivarme a regressar a Portugal seria uma posição
que me oferecesse desafios e que me fizesse sentir valorizada, com boas condições de
trabalho e um bom ordenado, independentemente de estar inserida na universidade ou
na indústria.
Na sua opinião, Portugal é um bom
país para desenvolver trabalho de investigação científica? Porquê?
Portugal é um bom país para desenvolver
trabalho de investigação científica, no sentido em que há no país, vários cientistas
com muito valor – e isto é o mais importante. A questão é que as pessoas precisam de
ser estimuladas para dar o seu melhor e,
obviamente, ser recompensadas por isso.
E, nestes aspectos, a oferta de emprego
em Portugal fica muito aquém das expectativas.
Para si quais as áreas de investigação mais promissoras em Portugal?
O potencial da investigação na área da biotecnologia em Portugal é muito vasto.
Basta pensarmos na quantidade de produtos
e processos biotecnológicos tradicionalmente usados e que têm relevância directa para
a economia do país, como sejam a produção
de bebidas (vinho, cerveja, etc.) e alimentos
(iogurte, queijo, etc.), os enxertos em plantas, etc.
Em particular, a agricultura em Portugal
representa uma área que pode beneficiar
grandemente da aplicação da biotecnologia,
já que sofre de um grande atraso tecnológico, que apenas pode ser superado através
da aplicação de tecnologia especificamente
desenvolvida para as condições locais.
As áreas de investigação mais promissoras
são, portanto, aquelas que podem beneficiar
ou impulsionar a economia portuguesa.
Neste contexto, é importante uma maior interacção entre as universidades ou institutos
de investigação e a indústria, de forma a pôr
em prática ideias inovadoras e a conseguir o
aproveitamento e a valorização dos recursos
(naturais e humanos) do país.
É, por consequência, necessário apostar na
investigação e nos investigadores em Portugal, através da criação de mais postos de
trabalho e da oferta de condições de trabalho
mais atractivas.
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CADERNO ESPECIAL
“...em Portugal... a ciência
não é tema de conversa de café...”
mais garantias e regalias que em Portugal, contribuiria definitivamente para ficar por cá.
HUGO AGOSTINHO
MACHADO FERNANDES
Idade:
29 anos
Área:
Engenharia Biomédica
Funções actuais:
Estudante de Doutoramento, Holanda
O que o levou a deixar o país e ir estudar/
/trabalhar para o estrangeiro?
Foram várias as razões, mas eu salientaria duas
em particular: a falta de oportunidade (quer no
mercado de trabalho quer a nível de bolsas de
investigação, a qual em Portugal se faz, maioritariamente, com recurso a bolsas da FCT, sendo estas em número limitado) e o facto de no
estrangeiro ter a oportunidade de desenvolver
um projecto de investigação mais aliciante. Uma
outra razão tem a ver com o desafio de empreender um projecto de investigação fora do País.
Julgo que, sobretudo em ciência, “viajar” por diferentes países, trabalhar em diferentes laboratórios, conhecer diferentes pessoas é uma mais
valia que muitas vezes não é tida em consideração em Portugal.
O que o fez ficar? Porque não voltou?
Neste momento encontro-me a meio do meu
projecto de doutoramento e, como tal, a questão
ainda não se me colocou. No entanto, e avançando ligeiramente no tempo, considero que a
existência de um mercado de trabalho aliciante
e dinâmico no qual poderei aplicar os conhecimentos obtidos durante o doutoramento ou a
possibilidade de prosseguir um postdoc, com
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O que o faria voltar a Portugal (a nível
profissional)?
Uma mudança de mentalidade de muita da gente envolvida em ciência, desde os cientistas aos
governantes. A ciência deverá ser reconhecida
como uma mais valia para o desenvolvimento do
país e não como algo que não só é estranho para
a maioria das pessoas, como é vista como algo
que não faz parte do seu dia-a-dia.
Julgo que o maior problema em Portugal em
ciência não reside tanto na falta de fundos, mas
sim na aplicação dos mesmos. Não é a falta
de capacidade que afecta a ciência em Portugal (como facilmente pode ser demonstrado
encontrando vários cientistas portugueses nos
melhores laboratórios mundiais e em cargos
relevantes), mas sobretudo a passividade de
alguns dos seus intervenientes. A avaliação do
desempenho e a actuação em conformidade
com os resultados dessa avaliação devem ser
seriamente considerados e aplicados. Devem
ser redireccionados os recursos para aqueles
grupos que estão dispostos a trabalhar e que
apresentam resultados de qualidade, em detrimento de outros. A passividade é algo intrínseco
à nossa sociedade e, infelizmente, com o exemplo a vir do topo.
porcionando aos nossos cientistas as condições
que eles encontram no estrangeiro que seriam
eles capazes de fazer em Portugal? Portugal é
o nosso País e eu julgo que qualquer português
tem orgulho em ajudar o seu país a desenvolverse. Uma tarefa hercúlea, por vezes, mas uma tarefa que muitos estão dispostos a empreender e
muitos mais o farão no futuro.
Para si quais as áreas de investigação
mais promissoras em Portugal?
As áreas relacionadas com a medicina e tecnologia. Portugal é um país aberto às novas tecnologias. Não terá sido por acaso que a aplicação
de novas tecnologias nos levou, há cinco séculos
atrás, por mares nunca antes navegados....
Sobretudo na área da medicina julgo estar na
altura de começar a aplicar os conhecimentos
“de bancada” num cenário clínico, aquilo que
é designado por medicina translacional. Julgo
que esta será uma disciplina com futuro em
Portugal.
Na sua opinião, Portugal é um bom país
para desenvolver trabalho de investigação científica? Porquê?
Na minha opinião, em Portugal, e muito por
culpa dos cientistas, a ciência não é tema de
conversa de café. As pessoas estão alheadas
do que se passa não só no país como na ciência
em geral e isso deveria mudar. Uma sociedade
informada será uma sociedade interventiva. Iniciativas como esta revista de divulgação científica, simpósios, conferencias, workshops e afins
devem ser feitos de uma forma regular, não
somente para a comunidade científica mas, em
especial, para a comunidade em geral. Comunicar ciência não é fácil mas não é impossível.
Julgo que sim e julgo que o é possível fazer
com qualidade e reconhecimento internacional,
como tem sido demonstrado por alguns grupos
de investigação. O que nos deveremos perguntar
é: seria possível fazer mais com melhores condições? Aumentando o investimento em ciência
conseguiríamos melhores resultados? Um processo de avaliação que contemplasse a excelência teria impacto na forma de fazer ciência? Pro-
Vejo com alguma preocupação o facto de a
maioria das instituições dar prioridade a pessoas da casa em detrimento de pessoas com currículos mais adequados à função. Este é outro
dos aspectos que, a meu ver, deve ser mudado o quanto antes para que a ciência avance e,
concomitantemente, o conhecimento flua pelas
diferentes instituições.
Fevereiro 2007 | Mundus
37.
CADERNO ESPECIAL
“...(Portugal) não é o país ideal
para se desenvolver investigação...”
O que o levou a deixar o país e ir estudar/ trabalhar para o estrangeiro?
HUGO ALEXANDRE
PEREIRA MONTEIRO
Idade:
24 anos
Área:
Indústria Espacial
Funções actuais:
Portuguese Trainee - Mission Control
System and Simulator Data Systems
Engineer na Agência Espacial Europeia,
Darmstadt, Alemanha
Acima de tudo uma vontade de abrir horizontes.
Sentia curiosidade de saber como era o mundo
fora do nosso “jardim à beira-mar plantado”.
Além disso, foi também o desejo de me aproximar um pouco de outra área que me apaixona,
a astronomia, e por isso decidi candidatar-me a
um estágio na Agência Espacial Europeia.
O que o fez ficar? Porque não voltou?
O principal motivo que me mantém fora de Portugal é a enorme variedade de carreiras possíveis no
estrangeiro, comparado com as opções existentes em Portugal. Além disso, qualquer que seja o
ramo escolhido, técnico, gestão ou investigação,
existe sempre uma perspectiva de evolução e
existem boas remunerações em todas as áreas,
enquanto que em Portugal as áreas técnicas e de
investigação estão um pouco esquecidas.
O que o faria voltar a Portugal (a nível
profissional)?
Mudança de mentalidades das empresas portuguesas. Acima de tudo, estas deviam aprender a
motivar e recompensar trabalhos bem feitos. Só
quando as empresas souberem respeitar e motivar os seus colaboradores é que esta tendência
emigração poderá abrandar. No entanto já há
algumas (poucas) empresas onde já se pratica
uma filosofia diferente, no entanto espero que
38.
Fevereiro 2007 | Mundus
as outras enveredem pelo mesmo caminho,
uma vez que eu gostaria imenso de voltar para
Portugal e, para já, isso só não está nos meus
planos por motivos profissionais.
Na sua opinião, Portugal é um bom
país para desenvolver trabalho de investigação científica? Porquê?
Digamos que não é o país ideal para se desenvolver investigação. Acima de tudo pela
falta de fundos, que se podem justificar pela
escassa ligação do mundo da investigação
com o sector empresarial. Existem já algumas actividades no sentido de estimular essa
ligação, mas ainda está tudo muito “verde”.
Para si quais as áreas de investigação mais promissoras em Portugal?
As áreas que mais potencialidades têm são
aquelas que conseguem unir esforços de
investigadores de muitos campos de estudo
diferentes, como por exemplo, a bio-informática. Recentemente tem havido enormes
desenvolvimentos em muitas áreas (biologia,
ciências da computação, neurologia, etc...)
essencialmente graças à colaboração entre
elas e ao aparecimento destas novas áreas
intermédias que se ocupam essencialmente
de proporcionar novos métodos de estudo e
optimizar ao máximo as sinergias entre os
diversos campos.
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CADERNO ESPECIAL
“...E Portugal, por muito
que se diga que não, não está
assim tão mal...”
O que o levou a deixar o país e ir estudar/ trabalhar para o estrangeiro?
Idade:
27 anos
Porque me interessava o que fazia o grupo
em que estou integrada. E, também, pelo
facto de se tratar de um dos grupos mais
conceituados dentro da área – Genética Evolutiva.
Área:
Genética Evolutiva
O que o fez ficar? Porque não voltou?
INÊS SUSANA PIRES
C. DA CONCEIÇÃO
Funções actuais:
Estudante de Doutoramento, Espanha
Ainda estou a terminar o doutoramento.
Quanto ao futuro, ainda não sei muito
bem se ficar aqui ou voltar para Portugal. Uma pessoa acaba também por
construir uma vida no sítio onde está.
E, estando em Espanha, a diferença de
cultura é mínima e portanto, sinto-me
bastante integrada.
O que o faria voltar a Portugal (a nível
profissional)?
Uma posiçao nalguma instituição, fosse
uma universidade ou outro tipo de instituição. Mas, afinal de contas, isso é o que
todos queremos, em qualquer área, não só
na ciência.
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Na sua opinião, Portugal é um bom
país para desenvolver trabalho de
investigação científica? Porquê?
Acho que a ciência se pode desenvolver em
qualquer país que tenha alguma estabilidade económica. E Portugal, por muito que se
diga que não, não está assim tão mal e não
tem muitos mais problemas económicos
que o resto da Europa. Neste momento,
parece-me que já se desenvolve bastante
trabalho científico, pois apercebo-me que
as pessoas de aqui e de outros sítios conhecem instituições como a Gulbenkian, o
IBMC, Vairao, etc...
Para si quais as áreas de investigação mais promissoras em Portugal?
Confesso que não conheço muito bem o estado da investigação em Portugal. Mas parece-me que os novos projectos para investir na tecnologia são bastante promissores.
Também os programas de doutoramentos
direccionados à Biomedicina, como o da
Gulbenkian, são importantes.
Fevereiro 2007 | Mundus
39.
CADERNO ESPECIAL
“...É claro que não controlamos
tudo na nossa vida...”
JOÃO CARVAS
formação pós-graduada em Portugal, mas a
maneira como as oportunidades foram surgindo trouxe-me até à Suiça para fazer 4 anos de
doutoramento.
Idade:
25 anos
O que o fez ficar? Porque não voltou?
Área:
Fisiologia e patologia do sistema cardiovascular
Funções actuais:
Estudante de doutoramento, Suiça
O que o levou a deixar o país e ir estudar/
/trabalhar para o estrangeiro?
A minha saída de Portugal foi sempre possibilidade durante o curso. Uma participação no programa Erasmus para ir estudar na Universidade
de Salamanca contribuiu para aumentar esta
vontade. A decisão não teve como base uma percepção de que o nível científico fora de Portugal
fosse superior ao do meu país. Aliás, existem em
Portugal excelentes laboratórios com gente muito boa naquilo que faz, onde se pratica uma ciência de primeiríssima água, perfeitamente capaz
de ombrear com qualquer laoratório mundial.
Esta decisão partiu da minha crença de que
qualquer cientista deve viajar, conhecer e absorver outras realidades e maneiras de estar na
ciência, quer durante a sua formação, quer no
decurso da sua carreira profissional. Isto aplica-se, claro, a qualquer actividade profissional
mas é premente para alguém que vai passar o
resto da vida a criar e a transmitir conhecimento
e que estará em competição permanente com o
resto do mundo. Se há área em que a globalização mais se entranhou, e bem, essa é a ciência.
Mas é claro que tudo isto tem o seu quê de fortuito. Poderia perfeitamente ter iniciado uma
40.
Fevereiro 2007 | Mundus
Por enquanto a minha permanência em Fribourg
está a ser bastante produtiva e enriquecedora.
Enquanto for um desafio ficarei por aqui. Depois
do doutoramento gostaria de viajar até outro
país para fazer um pós-doutoramento. Regressar a Portugal sempre fez parte dos meus planos, mas apenas a médio-longo prazo.
É claro que não controlamos tudo na nossa vida,
e por isso não tenho a certeza absoluta que um
dia regresse. De qualquer maneira gostaria de
voltar e por em prática o que apenderei nesta
formação além fronteiras.
O que o faria voltar a Portugal (a nível
profissional)?
Essa é uma questão importante. Os cientistas
que com muito mérito se conseguem impor fora
de Portugal muitas vezes acabam por não voltar
porque nos países de acolhimento lhes criam
todas as condições para que trabalhem com
qualidade. Como já referi, existem em Portugal
diversos centros de excelência em investigação,
onde já se instituiu a cultura do mérito. Enquanto esta meritocracia não for também transferida
para as Universidades por exemplo, não existem
possibilidades de um regresso massivo dos nossos cientistas porque os institutos de investigação têm uma capacidade limitada.
Na sua opinião, Portugal é um bom país
para desenvolver trabalho de investigação científica? Porquê?
se faz em Portugal evoluiu, e continua a evoluir,
de forma notável, muito graças às políticas de
alguns governos que têm sabido valorizar a inovação e a investigação. Existe no entanto muito
trabalho a fazer, sobretudo no que diz respeito
ao envolvimento do sector privado neste esforço
que deve ser de toda a sociedade. Outra medida
importante seria a reforma profunda do sistema
universitário, que deveria ser muito mais produtivo em I&D e ser capaz de estender relações
com a comunidade em que se insere e com o
tecido empresaria que a rodeia. Existe uma
grande falta de flexibilidade e proactividade por
parte de alguns docentes, que ainda vêm a investigação como um “passatempo” mais lúdico
e meramente demonstrativo, do que essencial
para o futuro da universidade.
Para si quais as áreas de investigação
mais promissoras em Portugal?
Ao nível da investigação mais fundamental ou
básica, existem numerosas áreas com excelentes exemplos no nosso país. Gostaria de
valorizar aquelas ligadas ás ciências da saúde
e que versam sobre as patologias que são endémicas do nosso país, como a doença de Machado-Joseph ou paramiloidose, e que podem
ter um maior impacto sobre a saúde de muitos
portugueses. Outra área de inovação já bastante
importante em Portugal – é já o terceiro sector
exportador – é a investigação e produção farmacêutica. Esta é uma área na qual podemos
competir e com a qual se obtém uma mais valia
para o país que é imediata. Mas para além destas, penso que a investigação ligada ao mar, ao
ambiente e às energias renováveis pode e deve
ter no nosso país um lugar de destaque. Como
o país ainda não tem um PIB igual ao de outros
países Europeus mais ricos, o dinheiro deve ser
investido em áreas que criem uma mais valia
para o nosso país e para a sua população.
Não vejo porque não. A qualidade da ciência que
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CADERNO ESPECIAL
O que o levou a deixar o país e ir estudar/ trabalhar para o estrangeiro?
JOÃO MATOS
Idade:
27 anos
Área:
Ciclo celular
Funções actuais:
Estudante de Doutoramento, Alemanha
“...sair de Portugal
é muito importante...”
A vontade fazer ciência. O facto de ser bastante difícil conseguir uma bolsa de Doutoramento em Portugal talvez tenha sido o
factor que desencadeou a procura de outras
paragens. Em Portugal o potencial do candidato à bolsa de doutoramento é avaliado
essencialmente com base num número. Não
é relevante perceber, por exemplo, os níveis
de motivação que movem o candidato a trabalhar numa área onde a dedicação e persistência são um dos principais factores de
sucesso. Quando a motivação é suficientemente grande as fronteiras do país são facilmente ultrapassáveis e então deparamo-nos
com uma oferta muito grande, especialmente
em países onde a ciência é verdadeiramente
um motor de desenvolvimento. No Instituto
Max Planck for Cell Biology and Genetics
na Alemanha, onde estou quase a concluir
o doutoramento no laboratório do Dr. Wolfgang Zachariae, todos os anos são convidados para entrevistas cerca de 80 candidatos
de entre 600 concorrentes de todo o mundo.
Num instituto com cerca de 300 investigadores 50% são estrangeiros, de 35 nacionalidades. A pergunta que se põe é: Porque é que
é tão atractivo vir para cá? Porque para além
de condições extraordinariamente boas para
fazer investigação de topo, que é a principal
razão de tal sucesso, existe uma preocupação muito clara de tornar o ambiente atractivo também para os momentos fora do trabalho. Existe por exemplo uma preocupação
grande em que os investigadores com família
consigam facilmente integrá-la na sua vinda
para a Alemanha.
a grupos de trabalho com especializações
diferentes. Neste aspecto, sair de Portugal
é muito importante, pelo menos durante o
doutoramento ou pos-doutoramento.
O que o fez ficar? Porque não voltou?
Penso voltar para Portugal mas não antes de
fazer pelo menos um pos-doutoramento.
O que o faria voltar a Portugal (a nível
profissional)?
Uma boa oferta de trabalho.
Na sua opinião, Portugal é um bom
país para desenvolver trabalho de investigação científica? Porquê?
Acho que tem muito potencial. Basta ver o
número de cientistas portugueses espalhados pelo mundo a trabalhar em alguns dos
laboratórios com maior reputação mundial.
Tendo os cientistas, só falta conseguir competir com outros países nas condições que
lhes são dadas para fazer investigação! Sem
isso não é fácil atrair, pelo menos, os melhores.
Para si quais as áreas de investigação mais promissoras em Portugal?
Pelos vistos a grande aposta parece ser em
áreas ligadas à biotecnologia. As ciências do
mar também me parecem ter bastante potencial.
Na minha opinião é também muito importante estabelecer contactos com grupos fora
de Portugal porque hoje em dia é muito difícil competir ao mais alto nível sem pertencer
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Fevereiro 2007 | Mundus
41.
CADERNO ESPECIAL
“...há que apostar em investigação
no que Portugal apresenta
de vantagens...”
O que o levou a deixar o país e ir estudar/ trabalhar para o estrangeiro?
JOÃO HENRIQUE
NUNES PALMA
Idade:
31 anos
Área:
Ciências Naturais (Biologia/Agricultura/Floresta/Geografia)
Doutoramento:
Integrated assessment of silvoarable
agroforestry at landscape scale
Funções actuais:
Investigador de Pós-Doutoramento,
Suiça
Quando terminei a minha licenciatura estava “esgotado”, queria fazer algo de diferente do que tinha feito durante o meu curso,
algo sem ser relacionado com ciência, experimentar outras coisas, conhecer outros
contextos. Surgiu então uma hipótese para
trabalhar no estrangeiro e aí começou a
aventura cá fora.
O que o fez ficar? Porque não voltou?
Existem várias razões que me foram fazendo
ficar. Antes de começar o doutoramento foi a
visão de que perspectivas sustentáveis de trabalho em Portugal eram praticamente invisíveis (se as existissem) e desprovidas de qualquer futuro. Para estar futuramente inseguro,
pelo menos estava-se a ganhar mais cá fora.
Durante o doutoramento a razão principal de
ficar era acabá-lo. Agora, mantenho-me no
estrangeiro porque fui solicitado para ajudar
ao arranque de um projecto. Ofereceram-me
uma posição de Post-Doc e aceitei.
mento em relação a esse investigador por se
tratar de uma condição precária como sugere
o código de conduta para recrutamento de investigadores (www.europa.eu/eracareers/europeancharter).
Na sua opinião, Portugal é um bom
país para desenvolver trabalho de investigação científica? Porquê?
Nunca desenvolvi trabalho científico em Portugal (além da licenciatura), logo não posso
falar por experiência. No entanto, visto de fora
tenho a ideia que Portugal tem tão bons ou
melhores cientistas que os outros países. É
apenas uma questão de motivação por parte
das instituições superiores, obviamente motivação pessoal e, principalmente, dos líderes
dos grupos de investigação.
Se existir essa motivação, Portugal é um país
tão bom ou melhor que os outros para desenvolver trabalho.
Para si quais as áreas de investigação
mais promissoras em Portugal?
O que o faria voltar a Portugal (a nível
profissional)?
Um contrato permanente de trabalho numa
Universidade/Instituto de Investigação para
que pudesse exercer investigação sem ter de
me preocupar (ocupar cérebro sem ser na ciência) em procurar um novo contrato ao fim
de 3 ou 5 anos.
Mas esta realidade tende a mudar para o bem
e para o mal, as instituições públicas fazem
cada vez menos contratos permanentes. Por
isso, já me contentava com um contrato de
trabalho a 5 anos com as mesmas regalias
sociais de um investigador permanente com
as mesmas funções e com um ligeiro au-
42.
Fevereiro 2007 | Mundus
Há dois contextos principais. Um a nível nacional e outro a nível global inseridos numa
União Europeia (cada vez maior).
Comecemos pelas características de Portugal. É pequeno. Não temos fontes de petróleo,
diamantes nem ouro. Excluindo as ilhas (para
simplificar), é um país com clima atlântico
mas maioritariamente mediterrânico no qual
a agricultura está localizada precisamente
nessa maioria e a indústria localizada no norte. É um país em que metade da fronteira é
oceano. É um país com qualidade turística.
Tem recursos e qualidades humanas internacionalmente reconhecidas. Tem cérebros que
quando motivados fornecem conhecimento
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e tecnologia que podem colocar Portugal na
vanguarda (como há 500 anos o foi).
No contexto global temos de entender que
estamos incluídos numa Europa com perto de
500 milhões de pessoas que estão cada vez
mais perto umas das outras e que há problemas/desafios comuns para resolver (por ex.
alterações climáticas).
Num ponto de vista estratégico, há que apostar em investigação no que Portugal apresenta
de vantagens, e ao mesmo tempo que sejam
internacionalmente úteis.
Não esquecendo a investigação fundamental
e estrutural, em que o impacto é indirecto por
ser executado em aplicações práticas, a investigação técnico-prática é a que poderá ter mais
impacto na sociedade pois é aquela em que
melhor se podem ver efeitos e a sociedade dar
mais valor e por isso ser mais “promissor”.
Em Portugal investigação em medicina, biotecnologia, qualidade (alimentar, turística, etc.),
recursos energéticos e tecnologias de informação parecem-me áreas (certamente faltarão algumas) em que Portugal pode ser líder
(ou estar entre os líderes) com especial ênfase
para as tecnologias de informação (engenharia
de software, telecomunicações, etc.).
Esta área abrange todo o mercado das outras
áreas de investigação e requer recursos relativamente baratos, tendo um grande retorno,
quer do investimento, quer na motivação e interesse por parte da utilização do público.
Descurei um pouco as áreas das ciências
sociais, artes e humanidades, mas todas as
áreas podem ser promissoras desde que se
vejam resultados da sua aplicabilidade na sociedade.
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Todas as áreas são importantes e necessárias
para um desenvolvimento sustentável.
Claro que tudo isto não funciona bem sem
uma estrutura sólida e organizada que é impossível de manter e motivar quando há cortes orçamentais...
a) Linhas de Pesquisa (Research guidelines)
Quando se reside e trabalha fora de Portugal,
tem-se oportunidade de ver o país com outros
olhos, ao mesmo tempo que se conhece ao pormenor a realidade do país onde se trabalha.
Deixo aqui uma ideia que vejo funcionar e que
penso que funcionaria dadas as qualidades
dos portugueses.
Uma das capacidades habitualmente relacionadas com portugueses é a sua capacidade
inventiva e de flexibilidade.
O governo e ministérios têm em seu poder dados relativos às necessidades do país. Os cientistas poderiam ter um papel mais forte/útil
na sociedade se conseguissem tentar chegar
ao encontro das necessidades estratégicas do
país. Poderia haver por exemplo um “Fundo
para Ciência Estratégica” capaz de lançar desafios às capacidades dos cientistas.
Seria um Processo Top-Down a adicionar ao
existente Bottom-Up dos dias de hoje. Neste
sistema existente cada cientista (ou grupo de
cientistas) propõe o que acha o que deve ser
feito. Por um lado está correcto mas por outro
deveria haver também uma vertente paralela
directamente vocacionada para os problemas
actuais do país, sem ser confundido com uma
eventual “nacionalização do sistema científico”
associado a tempos antigos. Moderação e complementaridade sempre foram e serão a chave
do segredo. Seria assim mais um estímulo
para reunir grupos de investigação engrenados
para o mesmo objectivo em vez de os grupos
fazerem os seus próprios objectivos em que os
resultados são mais difíceis de reunir.
b) Estratégia vista de fora
A época do ouro diamantes e canela das colónias já lá vai. Somos lembrados pela nossa cultura expansionista, de descobrir novos
mundos mas não nos podemos esconder nas
lágrimas do fado. Não somos “coitadinhos”
e não foi com esse ar de “coitadinhos” que
egocentricamente dividimos desigualmente o
mundo em dois com os nossos vizinhos espanhóis. Foi com uma visão de estratégia a longo
termo.
Vejo com bons olhos o investimento na ciência e inovação que o actual governo está
a implementar. Revela maturidade e estratégia. A ciência e inovação são o motor das
economias. No entanto, politicamente, numa
democracia, é arriscado investir nesta área
pois os resultados não se vêem a curto prazo, a tempo de “recolher votos” para as próximas eleições. Normalmente as pessoas dão
valor a resultados de curto prazo e entendem
mal as necessidades de construir uma base
sólida para evitar as tão familiares políticas
“tapa buracos”. Embora o português saiba e
prefira remendar algo com um “aramezinho”
para a solução imediata (não é por acaso que
os navios ingleses requeriam sempre um português a bordo), é necessário que se entenda
que em política, o investimento de longo prazo
em pilares e multiplicadores da economia são
importantes, necessárias e que as devemos
exigir dos políticos e principalmente ignorar a
crítica destrutiva de qualquer oposição.
Fevereiro 2007 | Mundus
43.
CADERNO ESPECIAL
“...Eu voltarei a Portugal num abrir
e fechar de olhos se em Portugal
existir uma oportunidade...”
O que o levou a deixar o país e ir estudar/ trabalhar para o estrangeiro?
JOÃO PEDRO SOUSA
Idade:
41 anos
Área:
Engenharia de Software
Funções actuais:
Professor Universitário, EUA
Olhe, seria tentador para mim dar uma
resposta de circunstância: que não há condições em Portugal. Mas a verdade é que
quem se lembra de crescer em Portugal nos
anos 70, e o vê hoje, não pode deixar de notar
um progresso tremendo. Eu saí de Portugal
porque, depois de trabalhar um bom par de
anos, resolvi perseguir um velho sonho: fazer um doutoramento na melhor escola que
eu podesse alcançar. Por coincidência, essa
escola era no estrangeiro.
O que o fez ficar? Porque não voltou?
Para mim, a vida tem fases. Nesta fase quero
dedicar-me à investigação e ao ensino universitário, e por isso sondei o mercado de
trabalho nessa àrea. Eu vou contar como
é que isso se passou, porque é importante
perceber como, muitas vezes, o que faz a diferença é mais do que tudo uma questão de
atitude.
Eu mandei várias dezenas de candidaturas
para os Estados Unidos, Canadá, e Europa.
De ambos os lados do Atlântico há muito
mais candidatos do que vagas: só para dar
um exemplo, a Universidade onde agora
me encontro recebeu este ano mais de 200
candidaturas para duas vagas de professor,
e este é um número perfeitamente normal.
Do lado de lá, as universidades publicitam
as vagas por todos os meios, e competem
entre si para atrair os melhores candidatos. Depois têm um processo de seleção
rigorosíssimo que culmina com entrevistas de três ou quatro candidatos para cada
vaga: o que implica pagarem avião, hotel, e
todas as despesas aos candidatos, venham
eles donde vierem.
44.
Fevereiro 2007 | Mundus
Mesmo as mais discretas universidades públicas competem nestes termos.
Das candidaturas que mandei, recebi e aceitei 6 convites para entrevista nos Estados
Unidos e Canadá. Do lado de cá do Atlantico, o processo de recrutamento é bastante
diferente.
Preferem-se os candidatos que já fazem
parte da casa. E a mesma diferença de atitudes mantém-se na gestão de toda a carreira
profissional.
Bom, mas a verdade é que esta é só metade da história. Do lado de lá do Atlântico
os professores trabalham como Mouros,
também de um modo muito directo para
atrair financiamento para a sua actividade
e para a actividade da escola. Mas são muito melhor pagos. E eu nunca tive aversão
ao trabalho.
O que o faria voltar a Portugal (a nível
profissional)?
Eu voltarei a Portugal num abrir e fechar de
olhos se em Portugal existir uma oportunidade, e condições, de fazer trabalho excelente. E com excelente, quero dizer a nível
internacional.
Mas digo isto com a perfeita consciência
que o nível de investimento, e a existência
de meios humanos, que é necessario para
fazer trabalho a esse nível, não se compadece com a escala de Portugal. É preciso
pensar em termos Europeus.
Quanto às condições, mais do que as condições materiais é preciso mudar a atitude
em relação ao insucesso, e através dela
toda a forma de gerir a ciência e as carrei-
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ras científicas. Primeiro, é preciso entender que a ciência é uma actividade de risco,
e que em cada dez ideas, é optimo se uma
tiver sucesso. Em segundo lugar, deve ser
encarado de forma natural que a ciência
nâo é uma actividade em que todos possam
ter productividade, ou em que possam manter essa productividade durante toda a vida.
Em Portugal existe um medo tremendo do
insucesso, ou que se saiba que se falhou, e
isso limita tremendamente as trajectórias
de investigação, e pior, as escolhas profissionais das pessoas e das intituições.
Nisto a sociedade Americana é radicalmente diferente da Portuguesa: eles aprendem
desde muito cedo a “cair do cavalo,” levantarem-se e sacudir a poeira. Como não
existe o receio de estigmatizar as pessoas
quando o nível de prestação não é o desejado, também não há qualquer reserva
em encorajar as pessoas a irem ser excelentes... noutra actividade. Por exemplo,
eu encontrei recentemente na California
colegas Americanos que tiveram 3 empregos em 3 anos, e nem por isso se sentiam
diminuídos.
Na sua opinião, Portugal é um bom
país para desenvolver trabalho de investigação científica? Porquê?
Vai-me perdoar a aparente falta de patriotismo, mas Portugal não é nem melhor
nem pior do que qualquer outro país. Tudo
depende em que é que Portugal queira in-
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vestir e ganhar estatura internacional. E
aqui é importante tomar consciência que
nenhum país pode ser o melhor em tudo.
Por outro lado, um país não é atractivo por
ser bonzinho em muita coisa: é preciso
concentrar energias e ser realmente muito
bom em duas ou três coisas.
Para si quais as áreas de investigação mais promissoras em Portugal?
Bem, Portugal tem dois recursos: o mar e
as pessoas. No mar, Portugal pode vir a
tomar uma posição de liderança na mudança de atitudes, passando da depredação à
gestão informada dos recursos marinhos.
Com isto quero dizer que Portugal pode
não só gerir bem os seus recursos, como
posicionar-se para ajudar outros países a
conhecer e a gerir os seus recursos. Outra àrea com uma importância estratégica
crescente è o desenvolvimento de fontes alternativas de energia ligadas ao oceano.
gueses têm um excelente potencial. E isto
deve-se a combinarem um espírito que é
simultâneamente creativo e prático, com
uma boa base matemática. Outras culturas
reúnem frequentemente uma ou duas dessas características, mas é menos frequente encontrarem-se as três com a mesma
abundância. Tem dúvidas? Então os Americanos não colocaram o Homem na Lua?
Pois, mas para isso precisaram de centenas de cientistas Alemães que “importaram” na sequência da vitória na 2.a guerra
mundial.
Mas sejamos claros, para realizar este potencial dos Portugueses é preciso continuar a investir seriamente na educação e na
formação de líderes. E é preciso sobretudo
deixar para trás a idea que somos um país
pequeno, ou cuja actividade tem de se confinar ao espaço das suas fronteiras.
Noutras áreas de ciência cuja “matéria
prima” sejam pessoas, por exemplo, medicina, ciências sociais, matemática, etc.
Portugal pode ser tão bom quanto queira.
Mesmo em ciências que exijam níveis consideráveis de investimento em infrastrutura, como a física, nada deveria impedir que
os cientistas Portugueses beneficiem da
infrastrutura Europeia.
Na àrea que me diz mais respeito, das ciências da informação, eu diria que os Portu-
Fevereiro 2007 | Mundus
45.
CADERNO ESPECIAL
“...Valia a pena recrutar
quem já esteve fora..., como
fez Espanha...”
O que o levou a deixar o país e ir estudar/ trabalhar para o estrangeiro?
JOÃO LUIS ASCENÇÃO
Idade:
58 anos
Área:
Medicina (Hemato-Oncologia)
Funções actuais:
Professor Catedrático de Medicina
Interna e Imunologia, The George
Washington University School of Medicine; Chefe-assistente, Serviço de
Hematologia, Veterans Hospital, Washington, DC, EUA
As possibilidades de fazer investigação básica com investigadores/mentores de alto
calibre científico.
O que o fez ficar? Porque não voltou?
Falta de condições para voltar: não havia
laboratório; não havia qualquer garantia de
suporte financeiro ou académico; salário
muito baixo; muitas promessas sem contratos; estrutura académica fossilizada e
muito “incestuosa”.
O que me fez ficar: foi-me oferecido a possibilidade de fazer trabalho clínico, o que me
obrigou a voltar ao internato, mas que me
lançou no caminho da investigação clínica.
capazes, e está provado que são capazes de
competir a nível internacional. Falta é uma
estrutura organizacional capaz, menos politicizada, com uma visão a curto e longo
prazo e subsidiada de uma forma que permita fazer investigação. Há muitos núcleos
a fazer investigação de qualidade, mas são
muitas estrelas num horizonte grisalho.
Valia a pena recrutar quem já esteve fora
e proporcionar condições e capacidade de
trabalho, como fez a Espanha.
Para si quais as áreas de investigação mais promissoras em Portugal?
Biologia e neste quadro incluo a Biologia
Molecular, a Hemato-Oncologia Básica e
Clinica, a Neurobiologia, Imunologia; a BioTecnologia; a Ciência de informatização e
Computadores.
O que o faria voltar a Portugal (a nível
profissional)?
Neste momento seria a possibilidade de
estabelecer um Centro de Cancro – Freestanding – ou associado a uma entidade universitária, que dispusesse de uma estrutura
independente, com um orçamento próprio,
garantido por um mínimo de 5 anos; e onde
se pudesse fazer trabalho clínico, investigação clínica e básica; e com um contrato que
obrigasse a uma avaliação anual e no final
de 5 anos; com uma estrutura administrativa
própria e independente; com um Conselho
de Avaliação Científico e Médico Nacional e
Internacional; com ligações a outros centros
nacionais e internacionais.
Na sua opinião, Portugal é um bom
país para desenvolver trabalho de investigação científica? Porquê?
Acho que sim; as pessoas são inteligentes e
46.
Fevereiro 2007 | Mundus
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CADERNO ESPECIAL
“...Portugal é ainda um país
onde há outras prioridades...”
O que o levou a deixar o país e ir estudar/ trabalhar para o estrangeiro?
JOÃO F. GOMES
Idade:
37 anos
Na altura era muito difícil fazer um doutoramento em economia em Portugal.
Além disso muitos dos meus professores
eram Doutorados nos EUA.
Área:
Economia e Finanças
O que o fez ficar? Porque não voltou?
Funções actuais:
Professor Associado, The Wharton School,
University of Pennsylvania - Philadelphia,
EUA
Acima de tudo porque é muito mais estimulante.
Hoje em dia não há grandes dúvidas que
os EUA são um pólo de atracção para
os melhores economistas do mundo. A
concorrência é enorme e a pressão para
produzir trabalho interessante, especialmente nas melhores escolas, é muito intensa.
É claro que em Portugal seria muito mais
fácil ser bem sucedido e ganhar o respeito
dos meus colegas e até da sociedade em
geral.
Mas seria um sucesso ilusório porque a
qualidade do meu trabalho seria muito inferior.
O que o faria voltar a Portugal (a nível
profissional)?
O regresso permanente seria sempre uma
decisão pessoal. Não creio que seja possível estabelecer em Portugal o tipo de condições profissionais que sejam comparáveis às que tenho hoje.
Na sua opinião, Portugal é um bom
país para desenvolver trabalho de investigação científica? Porquê?
Economia e gestão são as áreas que conheço razoavelmente bem e penso que nestas
temos dois problemas importantes. Primeiro temos bastante falta de massa crítica. Não é geralmente possível fazer investigação de qualidade sem estar em contacto
regular com outros cientistas dedicados e
com talento.
Segundo os incentivos para fazer investigação são muito poucos. Infelizmente
Portugal é ainda um país onde há outras
prioridades e muitos cientistas de talento
são encorajados a dedicar-se a resolver
problemas mais imediatos.
Para si quais as áreas de investigação mais promissoras em Portugal?
Depende bastante do objectivo da investigação. Pessoalmente acho que não há
grande vantagem em investigar apenas
para reinventar o que já se sabe no resto do
mundo. É bastante mais eficiente mandar
pessoas estudar nas melhores escolas internacionais e trazer esses conhecimentos
para o país.
Em geral seria melhor concentrar recursos nas (poucas) áreas onde já existe um
núcleo de cientistas dedicados e de reconhecida capacidade e talvez também em
áreas onde o investimento de recursos seja
relativamente pequeno.
É mais realista pensar em colaborações
temporárias mas periódicas. A esse nível
não creio que existam grandes obstáculos.
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Fevereiro 2007 | Mundus
47.
João Zilhão na Pestera cu Oase (Roménia), onde foi responsável pela escavação dos mais antigos restos de homem moderno da Europa (cf. PNAS, 104, 2007, p. 116570). O acesso à galeria onde se realizaram as escavações
fazia-se por progressão espeleológica, incluindo passagem de um sifão com equipamento de mergulho.
“...a universidade portuguesa está
transformada num cemitério intelectual...”
O que o levou a deixar o país e ir estudar/ trabalhar para o estrangeiro?
JOÃO ZILHÃO
Idade:
50 anos
Área:
Arqueologia Pré-histórica
Funções actuais:
Professor of Palaeolithic Archaeology,
University of Bristol, UK
Fiz todos os meus estudos (licenciatura,
doutoramento, agregação) em Portugal, e
não foi senão aos 48 anos de idade, já com
uma carreira científica consolidada, que
decidi emigrar. Porquê? Sem querer exagerar, e admitindo que a minha experiência
é parcial e que as coisas podem ser muito
diferentes, para melhor, noutras áreas, por
me ter finalmente resignado à constatação de que a universidade portuguesa está
transformada num cemitério intelectual
controlado por uma legião de fósseis vivos
dedicados à promoção do seguidismo, do
“respeitinho” e da antiguidade, e à perseguição activa e militante do mérito e da independência de espírito. Em tal ambiente,
chega-se inevitavelmente a um ponto onde
já não é possível avançar: ou te juntas a eles,
ou vais-te embora. Eu fui-me embora.
O que o fez ficar? Porque não voltou?
Como a minha emigração é recente, a pergunta pertinente seria se faço tenções de
voltar, e a resposta é não. O que me faz ficar
é um ambiente intelectual são e uma cultura científica de trabalho, de emulação e
de colaboração que estão a anos-luz do que
em Portugal conheci e aguentei ao longo de
mais de duas décadas.
O que o faria voltar a Portugal (a nível
profissional)?
Teriam que me ser dadas condições materiais de trabalho, isto é, garantias de orçamento, de contratação de pessoal e de
possibilidade de formação de equipas que,
no quadro actual, não existem em lado nenhum (que eu saiba). A ironia é que, no âmbito do Ministério da Cultura, tive já, entre
48.
Fevereiro 2007 | Mundus
1999 e 2002, oportunidade de montar um
centro com essas características e de nível
internacional reconhecido; era um corpo
estranho, e por isso desde então votado
pelas sucessivas tutelas ao ostracismo e a
uma vida no limiar da subsistência. A lição
que aprendi é que, salvo honrosas e pontuais excepções, as nossas elites administrativas e políticas sofrem de uma profunda
incultura científica, e que não se pode depender delas para construir nada de duradouro. E como a universidade é o que é...
Em todo o caso, talvez me sentisse encorajado a pensar no regresso, se entretanto
visse algumas mudanças estruturais profundas.
Por exemplo, e só para começar, uma revisão
do Estatuto da Carreira Docente Universitária que pusesse fim à estrutura hierárquica,
de matriz militar-eclesiástica, em que a cada
“patente” corresponde um certo tipo de “poder fazer”, e que, por via do controlo sobre
os júris e sobre as carreiras, se traduz, na
prática, num regime de poder absoluto dos
catedráticos, ou seja, o regime ideal para a
produção e reprodução da cultura do “respeitinho”. Acabar com esse regime, igualizando em “poder fazer” todos os doutorados,
e transformando as “patentes” simplesmente em patamares de remuneração a que se
chega por mérito absoluto reconhecido por
júris externos, seria um bom princípio. Sem
essa mudança radical, os poderes fácticos
que transformaram a universidade portuguesa numa jazida paleontológica não desaparecerão nunca. Depois, tudo o resto que
faz falta para que haja investigação a sério:
financiamento justo de projectos, equipas
com orçamentos estáveis, formação de doutorandos, programas de recrutamento e de
renovação periódica das equipas, etc.
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CADERNO ESPECIAL
João Zilhão (à direita) e Laurentiu Sarcina na Pestera cu Oase
(Roménia), realizando as medições da radiação gama ambiental necessárias para a datação dos ossos por ESR (res-
O crânio Oase 2 e a mandíbula Oase 1, descobertos entre 2003 e 2005 no quadro de um projecto de investigação dirigido por João
sonância electromagnética de spin).
Zilhão (Universidade de Bristol) e Erik Trinkaus (Washington University St. Louis).
Se, na minha área, vir que se fazem progressos nesta direcção, seja na universidade seja em instituições do tipo Laboratório
de Estado, poderia pensar em regressar,
ou pelo menos em ter, ainda que de fora,
uma colaboração activa com instituições
portuguesas. De outro modo, “para esse
peditório já dei...”
tífica de que sofrem, acordaram num modelo de desenvolvimento económico para
o país assente na intermediação e nos serviços, não na produção, e isso reflecte-se
logicamente na atenção (ou falta dela) que
se dá à investigação.
Para si quais as áreas de investigação mais promissoras em Portugal?
Na sua opinião, Portugal é um bom
país para desenvolver trabalho de investigação científica? Porquê?
No que diz respeito à minha área, sim
e não. Sim, pelo potencial científico do
território para a abordagem de questões
centrais da evolução humana (potencial
ilustrado, na última década, por achados
de repercussão mundial como a arte rupestre do Côa ou o esqueleto da criança do
Lapedo), pela existência de gente capaz,
e pelo interesse da opinião pública. Não,
porque as elites administrativas e políticas, além da generalizada incultura cien-
www.cienciapt.net/mundus
do ponto de vista da estratégia de serviços
(turismo), mas que é quotidiana e criminalmente desperdiçado por incompetência e incúria governativas — a experiência
diz-me que não. Desde logo, quando mo
pedem, o conselho que dou a estudantes
e jovens investigadores com interesse
pelo estudo das origens do homem é: se
querem fazer alguma coisa de jeito, emigrem.
No quadro acima, é compreensível que os
meios de que se dispõe para o ensino superior e a investigação sejam canalizados
para as coisas que são básicas para que
o país possa funcionar e a estratégia de
desenvolvimento escolhida seja viável: ou
seja, para disciplinas aplicadas, como a
medicina, a biologia humana, a engenharia, a informática, ou a economia. Para
quem se dedique a estas áreas, acredito que haja oportunidades em Portugal.
Para quem se dedique à investigação fundamental, incluindo áreas como a minha
— que até tem algum potencial económico
Fevereiro 2007 | Mundus
49.
CADERNO ESPECIAL
“...Sinto não ter saído,
nem regressado... o meu mundo
é uma Aldeia...”
Nessa altura fui convidado a criar um gru-
JONAS ALMEIDA
Idade:
40 anos
Área:
Bioinformática / Biologia Computacional
Funções actuais:
Professor Catedrático da Universidade
do Texas em Houston, Departamento
Bioinformática e Biologia Computacional
do MDAnderson Cancer Center. EUA
Filiação à Universidade Nova de Lisboa
como Professor Catedrático do ITQB/
UNL (Oeiras) e cordenador do grupo de
Biomatemática. Esta segunda é uma posição não remunerada
O que o levou a deixar o país e ir estudar/ trabalhar para o estrangeiro?
Fui fazer um postdoc na Universidade do Tennessee em Knoxville no Centro de Biotecnologia
Ambiental. O Centro era liderado pelo Professor
David White (falecido recentemente) que foi durante a carreira dele não só uma referência na
área mas também um visonário que influenciou
gerações de alunos de pós-graduação na área
de consórcios microbianos e ciclos minerais no
ambiente. A minha saída foi originalmente organizada pela minha mentora de doutoramento, a Professora Ascecção Reis, na Faculdade
de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova
de Lisboa.
O que o fez ficar? Porque não voltou?
Na realidade eu voltei para a FCT/UNL onde
continuei o percurso Académico até chegar a
Professor Auxiliar com nomeação definitiva.
50.
Fevereiro 2007 | Mundus
po de Biomatemática no ITQB pelo Professor
António Xavier de que todos ouvimos falar recentemente na ocasião da celebração da sua
carreira e pela grande influência que teve em
múltiplos percursos académicos no país. Eu
sou um de muitos beneficiados do seu ânimo
infeccioso de conceber carreiras de investigação e os instittutos que as albergam primariamente como incubadoras de ideias. Essa
experiência mais do que nenhuma outra me
convenceu da importância de manter redes
de colaboradores independentemente de se
basearem em posições remuneradas ou não.
Acontece que durante esse tempo mantive
ligações nos EUA, sobretudo no Laboratório
Nacional de Oak Ridge que eventualmente
me arrastaram de volta aos EUA preservando,
agora em sentido contrário, ligações em Portugal. Sinto que a Academia começa a trilhar o
caminho da globalização já há muito trilhado
pelas multinacionais em que a facilidade de
comunicações deslocalizam a actividade académica. Tenho recebido e enviado alunos de
3 continentes sem que isso tenha envolvido
grandes investimentos ou preparações logisticas. Recordo uma aluna minha que dos 3 artigos da tese, um foi escrito em Charleston SC
nos USA, outro iniciado num café no Rio de Janeiro e acabado em Lisboa e o terceiro iniciado
em Lyon em França e acabado nem sei bem
aonde. Esta situação nómada não é tão exótica
como se poderá pensar. Outros grupos têm um
modus operandi semelhante. Por exemplo no
ITQB/UNL, o grupo de Epidemiologia Molecular liderado pela Professora Hermínia de Lencastre tem características semelhantes.
O que o faria voltar a Portugal (a nível
profissional)?
Sinto não ter saído, nem regressado. Parece um
dilema Pessoano não é? Ele não saía (fisica-
mente) mas andava sempre lá fora, só que bem
interiormente. O meu mundo é uma Aldeia.
Na sua opinião, Portugal é um bom país
para desenvolver trabalho de investigação científica? Porquê?
Sim é um excelente país para trabalhar em
ciência, sobretudo depois de se saber bem o
que se quer fazer. Como todos os lugares é importante que haja uma interacção intensa com
outros grupos em outros lugares e em outras
áreas sobretudo na fase inicial da carreira que é
dominada pela descoberta. Apesar das queixas
de que os aspectos logísticos do financiamento
da Ciência são ineficientes – o que é verdade
– também é verdade que não há a mesma pressão escravizante de máquinas científicas mais
oleadas. Todas as vantagens são defeitos, e todos os defeitos vantagens.
Para si quais as áreas de investigação
mais promissoras em Portugal?
Nos últimos 5 anos têm emergido muitas áreas de competência muito promissoras em várias áreas do País. Sente-se que a comunidade
científica Portuguesa se está a diversificar muito rapidamente o que cria oportunidades particularmente boas nas áreas de interface.
Parecerá talvez um paradoxo, mas o sucesso de
uma infraestrutura científica cria uma atracção
que a alimenta e especializa progressivamente.
Assim a ausência dessas atracções é simultaneamente um sintoma de fraqueza do tecido
científico mas também uma oportunidade de
apostar em áreas novas de uma forma mais
liberada. Isso é por exemplo verdade na minha
área da Bioinformática onde se sente em Portugal um diálogo crescente entre os que produzem dados e os que os analisam.
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CADERNO ESPECIAL
“...em Portugal é necessário
desenvolver a investigação
em geral...”
O que o levou a deixar o país e ir estudar/ trabalhar para o estrangeiro?
JORGE MANUEL CORREIA
DE AZEVEDO SOARES
Idade:
41 anos
Área:
Economia
Funções actuais:
Professor Auxiliar na Universidade de Delaware, EUA
Quando decidi enveredar pela carreira académica, fui encorajado por vários professores a tirar o doutoramento nos EUA. Pelo menos nessa altura, a opinião quase generalizada no seio
dos investigadores portugueses era a de que
as condições nos EUA eram significativamente
melhores. Durante a minha estadia aqui verifiquei que os programas de doutoramento das
universidades de topo são estruturados cuidadosa e rigorosamente por forma a maximizar
o desenvolvimento da capacidade de investigação dos seus alunos, são liderados por investigadores de renome mundial e os estudantes
são rigorosamente seleccionados de um vasto
lote de candidatos altamente qualificados.
excelentes resultados, mas esses casos parecem-me ser excepcionais.
Na situação corrente, com a excepção de algumas instituições ou departamentos, parece-me
que além das condições de investigação serem,
em geral, insuficientes também não existem incentivos para sustentar a dedicação exclusiva à
investigação por parte de pessoas que dada as
suas capacidades tem boas alternativas quer
no estrangeiro quer no sector privado.
Para si quais as áreas de investigação
mais promissoras em Portugal?
Nunca pensei seriamente nesse assunto e não
tenho conhecimentos que me possibilitem avaliar quais as áreas mais promissoras para a
investigação em Portugal.
O que o fez ficar? Porque não voltou?
Dada a minha opção pela carreira académica
não considerei o regresso a Portugal porque as
condições de trabalho oferecidas aos investigadores no EUA são incomparáveis.
Além de haver mais recursos dedicados à investigação, o sistema de incentivos é criado por
forma a recompensar de forma clara e sistemática a investigação e a inovação.
O que o faria voltar a Portugal (a nível
profissional)?
Dada a minha situação familiar planeio voltar
a fazer investigação em Portugal mas apenas
por períodos de curta duração.
Na sua opinião, Portugal é um bom país
para desenvolver trabalho de investigação científica? Porquê?
Em Portugal há investigadores que se dedicam
exclusivamente à investigação científica com
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Apenas conheço casos pontuais, de investigadores que trabalham em Portugal e que tem
grande impacto nas suas áreas de investigação. No entanto, isso não me permite inferir
sobre o estado da investigação nessas áreas ou
quaisquer vantagens comparativas que Portugal possa ou não ter.
Acho no entanto que em Portugal é necessário desenvolver a investigação em geral e não
olhar apenas para áreas específicas de investigação.
Muito do capital humano em Portugal tem sido
desaproveitado por falta de um ambiente que
recompense a investigação e o desenvolvimento científico que é, a meu ver, essencial para
a criação e sustentação de ensino universitário
de qualidade. Ensino esse que é por sua vez essencial para o desenvolvimento do país e para
o aumento da competitividade dos portugueses
no mercado de trabalho.
Fevereiro 2007 | Mundus
51.
CADERNO ESPECIAL
“...o que mais prejudica
a actividade científica... (é) a falta
de uma cultura científica...”
JOSÉ CARLOS JUNÇA
DE MORAIS
Idade:
63 anos
O que o faria voltar a Portugal (a nível
profissional)?
Área:
Psicolinguística experimental, Psicologia e Neuropsicologia Cognitivas
Funções actuais:
Director da “Unité de Recherche en
Neurosciences Cognitives” da “Université Libre de Bruxelles”, Bélgica
O que o levou a deixar o país e ir estudar/ trabalhar para o estrangeiro?
Razões políticas. Depois de vários anos de
luta antifascista em situação de clandestinidade, o desentendimento entre mim e o meu
partido, sem que houvesse outro ao qual pudesse aderir, obrigou-me a deixar Portugal.
Decidi então retomar os estudos universitários, não na Faculdade que tinha frequentado
em Portugal (Direito), mas numa orientação
que nessa época (1968) não existia no nosso
país e me interessava (Psicologia).
O que o fez ficar? Porque não voltou?
Desde fins de 1978 até à revolução de Abril
tive o estatuto de refugiado político das
ONU e podia ir a todos os países excepto
Portugal.
Depois, não voltei porque estava integrado numa excelente equipa de investigação,
tendo vindo, no início dos anos 90, a assumir a sua direcção. Em 1975-76, considerei
52.
a possibilidade de regresso a Portugal, mas
as condições de ensino e de investigação
que encontrei dissuadiram-me disso ao fim
de três meses.
Fevereiro 2007 | Mundus
Uma revolução mental e cultural na política
e na gestão da investigação científica que
permitisse um trabalho eficiente à comunidade dos investigadores. Actualmente, o que
mais prejudica a actividade científica não é
a relativa escassez de meios, mas a falta de
uma cultura científica, a prevalência de interesses extra-científicos, e a desorganização
e a excessiva burocratização das instituições
envolvida no apoio à investigação. De qualquer modo, não me parece essencial, e até
talvez seja contraproducente, fazer regressar investigadores portugueses que estão há
muitos anos nos estrangeiro, mas encontrar
formas de colaboração que, trazendo a eles
alguma vantagem, permitam fazer beneficiar a investigação conduzida em Portugal
tanto da sua experiência como das relações
internacionais que eles podem proporcionar.
Portugal é um bom país para desenvolver trabalho de investigação
científica?
Não é possível responder a esta pergunta
em termos que não sejam comparativos. É
melhor do que o Mali ou o Sudão, ou do que
o Iraque e o Afeganistão, mas pior do que outros países. Não sendo Portugal uma entidade homogénea, nele haverá bons, sofríveis e
maus lugares para se fazer investigação.
Além disso, parece-me que a pergunta reflecte uma preocupação um pouco nacionalista de mais a meu gosto. Uma questão
mais interessante seria: que fazer para, no
campo da investigação, desenvolver relações
produtivas à escala ibérica ou à escala europeia? A proximidade geográfica e de língua
com a Espanha, e a partilha de características culturais com os outros países da Europa, justificam que os responsáveis políticos
portugueses sejam mais ousados no sentido
de uma política de autêntica integração científica (laboratórios transnacionais, integrados ou associados, intercâmbio, realizações
e publicações comuns,...).
Quais são as áreas de investigação
mais promissoras em Portugal?
Não conheço a investigação portuguesa no
conjunto das áreas para poder emitir alguma
opinião. Na minha área, a psicologia cognitiva e de maneira mais geral as ciências e
neurociências cognitivas, há pontos fortes
e pontos fracos. Não creio que seja realista querer necessariamente tornar fortes os
pontos fracos. De maneira geral, os organismos responsáveis pela política científica
portuguesa deveriam ter um conhecimento
preciso dos pontos fortes ou com potencialidades reais para se tornarem fortes em cada
área, identificar as dificuldades que podem
ser superadas (por exemplo, falta de contacto entre equipas ou indivíduos que, em
diferentes instituições e por vezes na mesma, trabalham nos mesmos assuntos). No
caso específico das ciências e neurociências
cognitivas, que são actualmente uma das
áreas cientificas de mais acelerado desenvolvimento a nível mundial, com implicações
teóricas e tecnológicas, deveria haver uma
análise aprofundada dos meios (“expertise”
e equipamentos) existentes, a definição de
objectivos realistas no prazo de dez anos, e
uma planificação consequente.
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CADERNO ESPECIAL
“...a modernização... do ensino
superior em Portugal seria um desafio
que eu estaria disposto em assumir...”
LUIS GABRIEL MELO
Idade:
46 anos
Área:
Fisiologia e Medicina
Funções actuais:
Professor, Physiology and Medicine and
Canada Research Chair in Molecular Cardiology - Queen’s University, Kingston, Ontário, Canadá
Não voltei, porque a oportunidade em desenvolver uma carreira académica e científica em Portugal não se apresentou com os
mesmos incentivos e oportunidades que me
foram dados no estrangeiro.
O que o faria voltar a Portugal (a nível
profissional)?
Para mim, um maior desempenho das entidades responsáveis, em promover e assegurar o apoio a longo prazo à investigação
científica seriam iniciativas que me levariam
a considerar o retorno. Para além disso a
modernização e contemporização do ensino
superior em Portugal seria um desafio que
eu estaria disposto em assumir.
O que o levou a deixar o país e ir estudar/ trabalhar para o estrangeiro?
A oportunidade de crescer cientificamente, a
qual era limitada em Portugal na altura em
que emigrei, em 1980, foi o principal motivo
que me levou a procurar o futuro no estrangeiro, no meu caso actualmente no Canadá,
e previamente nos Estados Unidos.
O que o fez ficar? Porque não voltou?
Para mim o empenho que as instituições
e governo demonstram em promover a
investigação científica é uma razão fundamental na minha decisão em permanecer
no estrangeiro. Admiro também a imparcialidade do processo de “peer review” o
qual é imune à interferência política aos diferentes níveis do processo Científico. Para
além disso, admiro a equidade e transparência do sistema de promoção e avanço
profissional, o qual é baseado na avaliação
de mérito e reconhecimento profissional à
distância, e livre da influência daqueles que
estão em contacto directo ou com autoridade sobre o candidato.
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Na sua opinião, Portugal é um bom
país para desenvolver trabalho de investigação científica? Porquê?
Sem dúvida, Portugal tem o talento e capacidade para desenvolver investigação de
vanguarda em todas as áreas de estudo. Os
nossos jovens que se deslocam ao estrangeiro para adquirir formação profissional e
científica, dum modo geral distinguem-se.
Muitos destes brilhantes jovens eventualmente fazem rumo a posições de relevo nas
instituições estrangeiras, e o ganho destas
instituições representa um perca incalculável para Portugal. Tenho a convicção que
muitos destes expatriados retornariam a
Portugal sem hesitação se as condições em
Portugal lhes proporcionasse o mesmo nível de progresso e avanço profissional que
eles conseguem no estrangeiro. Do mesmo
modo, o sistema em Portugal necessita urgentemente de acarinhar o imenso talento
que existe no país e prover os meios para
este talento desabrochar e contribuir para o
seu enriquecimento.
A responsabilidade neste aspecto resta em
parte nos ombros dos nossos governantes,
os quais devem fazer o apoio Científico e tecnológico umas das suas prioridades.
Para si quais as áreas de investigação mais promissoras em Portugal?
A informática parece uma área com corrente potencialidade em Portugal, acho
que há grande potencialidade para desenvolvimento.
Como referi anteriormente acho que Portugal tem capacidades para desenvolver investigação em todas as áreas. Claramente a
informática é uma das áreas onde as instituições portuguesas têm uma presenca internacional, mas seria um risco “pôr todos
os ovos num só cesto”. Portugal necessita
de dar apoio e avanço simultâneo em áreas múltiplas, não só nas áreas actualmente em demanda, mas também nas áreas de
investigação emergentes tais como energias
alternativas, terapias com base em células
estaminais, etc. O nosso país necessita de
competir simultaneamente em diversos palcos a nível internacional para assegurar a
visibilidade e reconhecimento que os nossos
investigadores merecem. O empenho neste
sentido necessita dum apoio vigoroso por
parte do governo, o qual deve encarar isso
como uma das suas prioridades.
Fevereiro 2007 | Mundus
53.
CADERNO ESPECIAL
“...voltei por quatro meses
mas a oferta de emprego na minha
área não era satisfatória...”
O que o levou a deixar o país e ir estudar/ trabalhar para o estrangeiro?
LUIS RODRIGUES
Idade:
34 anos
Oportunidade para alargar horizontes através de uma nova experiência profissional e
também pessoal. Contribuiu muito o facto
das melhores universidades do mundo na
minha área estarem nos EUA.
Área:
Controlo e Robótica
O que o fez ficar? Porque não voltou?
Funções actuais:
Professor Auxiliar, Department of Mechanical and Industrial Engineering
Concordia University - Canadá
Voltei por quatro meses mas a oferta de emprego na minha área não era satisfatória porque ou não envolvia investigação ou se envolvesse investigação era uma oferta precária
de emprego com uma bolsa e com fracas
possibilidades de progressão na carreira. O
facto de muitas coisas não funcionarem bem
e não serem organizadas em Portugal e funcionarem bastante melhor em países mais
desenvolvidos também contribuiu, mas contribuiu menos do que a ausência de emprego
estável na minha área de investigação.
O que o faria voltar a Portugal (a nível
profissional)?
2) na universidade faz-se boa investigação na
minha área em certas instituições mas não
há vagas e o sistema de avaliação de desempenho profissional e abertura de vagas está
completamente obsoleto;
3) pelas razões apontadas e dado o estado de
desenvolvimento do país, a relação universidade/industria não é de todo dinâmica e/ou
estimulante e esta relação é na minha opiniao de importância fulcral para fazer investigação na área da engenharia. Há sempre
excepções mas não muitas na minha área.
Para si quais as áreas de investigação mais promissoras em Portugal?
Pelo que me apercebo vivendo fora de Portugal, penso que as áreas da genética e biotecnologia, bem como a área da informática
para sistemas críticos e realidade virtual,
são as mais desenvolvidas e mais promissoras em Portugal neste momento. Se trabalhasse nessas áreas possivelmente teria
regressado porque as oportunidades eram
melhores.
Neste ponto acho muito dificil regressar por
questões familiares. Só mesmo um grande desafio profissional, que fosse compatível com a
minha situação familiar, me faria voltar. Talvez
perto da idade da reforma eu decida voltar...
Na sua opinião, Portugal é um bom
país para desenvolver trabalho de investigação científica? Porquê?
Depende da área. Na minha área acho que
não por três razoes:
1) na indústria não se faz quase investigação
nenhuma na minha área dado o actual estado precário de desenvolvimento tecnológico
em Portugal;
54.
Fevereiro 2007 | Mundus
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CADERNO ESPECIAL
“...(Portugal) ainda não está
ao nível dos melhores países
estrangeiros...”
LUIS HIPOLITO
FERNANDES
Idade:
34 anos
O que o levou a deixar o país e ir estudar/ trabalhar para o estrangeiro?
1) Existe demasiada burocracia;
Oportunidade de fazer o doutoramento no estrangeiro, falta de perpectivas em Portugal.
2) é dificil conseguir financiamentos se não
se estiver inserido numa estrutura (trabalhar
com alguém já estabelecido em Portugal);
O que o fez ficar? Porque não voltou?
3) falta de acompanhamento e de certificação de qualidade dos doutoramentos;
Falta de perpectivas em Portugal
Área:
Biologia
Funções actuais:
Post-Doc, Università di Perugia
Dipartimento di Medicina Sperimentale
e Scienze Biochimiche, Sezione Microbiologia - Itália
4) Ordenados inferiores.
O que o faria voltar a Portugal (a nível
profissional)?
Possibilidade de trabalhar numa instituição
de qualidade, que permita a progressão
profissional e um ordenado compatível.
Na sua opinião, Portugal é um bom
país para desenvolver trabalho de
investigação científica?
Para si quais as áreas de investigação mais promissoras em Portugal?
Não conheço a fundo a situação portuguesa, mas creio que os reconhecimentos recebidos por investigadores portugueses se
devem prioritariamente ao mérito pessoal
e não das estruturas.
Não é o pior e melhorou-se muito, mas ainda não esta ao nivel dos melhores países
estrangeiros.
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Fevereiro 2007 | Mundus
55.
CADERNO ESPECIAL
“...tenho vindo a acreditar...
nas possibilidades de investigação
científica em Portugal...”
O que o levou a deixar o país e ir estudar/ trabalhar para o estrangeiro?
MADALENA
CRUZ-FERREIRA
Idade:
54 anos
A especialização que escolhi não existia em Portugal.
O que o fez ficar? Porque não voltou?
Área:
Linguística (linguagem infantil, prosódia, multilingualismo)
Funções actuais:
Senior Lecturer, National University of
Singapore, Singapura
Voltei. Mas não encontrei ambiente
académico favorável à introdução e desenvolvimento do meu trabalho.
O que o faria voltar a Portugal (a nível
profissional)?
Estou demasiado perto da reforma
para recomeçar vida profissional noutro país, incluindo o meu.
tífica em Portugal, pela informação que
obtenho por canais electrónicos (nomeadamente cienciahoje.pt, cienciapt.net
e amonet.org) e por colegas no país.
Para si quais as áreas de investigação mais promissoras em Portugal?
Ciências da vida, climatologia e tecnologia electrónica, incluindo em linguística, parecem-me ser as áreas de ponta
correntes.
Considero o ímpeto actual que vejo na
divulgação de conhecimento e métodos
científicos pelas escolas portuguesas
um excelente sinal de abertura e maturidade intelectual.
Na sua opinião, Portugal é um bom
país para desenvolver trabalho de investigação científica? Porquê?
Tenho vindo a acreditar cada vez mais
nas possiblidades de investigação cien-
56.
Fevereiro 2007 | Mundus
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CADERNO ESPECIAL
“...O que nos falta são os recursos
financeiros ou a vontade
de os usar na investigação...”
MARIA JOÃO CABRAL
GOMES SOLECKI
Idade:
39 anos
Área:
Microbiologia e Imunologia.
Funções actuais:
Research Assistant Professor of Microbiology and Immunology, New York Medical
College NYMC, and, Director of Research,
Biopeptides Corp., USA
O que o levou a deixar o país e ir estudar/ trabalhar para o estrangeiro?
A inércia da ciência que eu lutava por fazer em
Portugal. Deixe-me frisar que isto foi há 11
anos atrás. Entretanto, parece-me que a nossa situação científica tem vindo a melhorar.
tas, de modo que isto leva a que as pessoas
consigam devotar mais do seu tempo a actividades de melhoramento pessoal (como
a actividade científica ou artística). Se for
comparar com Portugal por exemplo, o nosso povo passa tanto tempo preocupado com
as suas necessidades básicas de por comida na mesa e um tecto sobre a cabeça que
lhes sobra pouco tempo para “indulge” em
actividades de puro interesse pessoal como
a ciência e a arte. Talvez se se fizesse uma
correlação entre as duas, se chegasse a triste conclusão que a quantidade de arte que se
produz em Portugal será tanta ou menor que
a ciência que é produzida pelo nosso país.
O que o faria voltar a Portugal (a nível
profissional)?
Bom, o meu marido teria que arranjar trabalho em Portugal. Ele também é cientista
e a área de trabalho dele é “Developmental
Neurobiology”.
Devo dizer que não é muito fácil convencer o
meu marido a ir trabalhar fora do seu pais.
O que o fez ficar? Porque não voltou?
A academia americana tem as seguintes características que eu acho imprescindíveis há
manutenção de um sistema científico competitivo: cepticismo intelectual, capacidade
de resolução de problemas activamente e
modéstia intelectual (que leva ao desenvolvimento duma mente inquisitiva). É minha
opinião pessoal, que no caso da academia
portuguesa existe bastante cepticismo intelectual mas existe muito pouco das outras
duas qualidades. Outra vez, esta é a minha
opinião pessoal.
Por outro lado, é mais fácil ganhar a vida
nos US, ou seja, a necessidades básicas
são mais facilmente e rapidamente satisfei-
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Mas também ele não fecharia os olhos a uma
oportunidade competitiva. E eu teria também
que arranjar trabalho em Portugal.
E isto pode lhe parecer impossível mas acho
mais difícil arranjar trabalho para mim do
que para o meu marido. No meu caso, tenho
aqui uma posição de docente numa Escola
de Medicina e também dirijo uma companhia
de Biotecnologia de que sou partner. Aqui
nos US eu consigo arranjar financiamento
para a companhia através de programas de
financiamento federais que subsidiam companhias start up, como a minha.
tem em Portugal e da última vez que verifiquei não existiam na Europa. Mas talvez
esteja “mal-informada” neste aspecto. Não
tenho a certeza se existem ou não estes programas em Portugal.
Na sua opinião, Portugal é um bom
país para desenvolver trabalho de investigação científica? Porquê?
Portugal é um pais tão bom como qualquer
outro para fazer investigação cientifica.
Além de que eu acho que temos uma “pool”
de intelecto pessoal que é completamente
desperdiçado em Portugal. A inteligência
destas pessoas que acabam os seus cursos
superiores e depois só conseguem arranjar
emprego a fazer outras profissões não relacionadas com o seu ramo de estudos, podia
ser usada muito mais produtivamente pela
nossa sociedade. O que nos falta são os recursos financeiros ou a vontade de os usar
na investigação cientifica.
Para si quais as áreas de investigação mais promissoras em Portugal?
1. As neurociências parecem estar em bom
estado de saúde. Já o Egas Moniz era neurocientista, o António Damásio também é, e
estou à espera do próximo grande nome da
neurociência portuguesa.
2. As ciências do mar. Obviamente que o nosso quintal à beira do Atlântico plantado devia investir mais do seu PIB na investigação
marítima.
Estes programas, segundo eu sei, não exis-
Fevereiro 2007 | Mundus
57.
CADERNO ESPECIAL
“...estou ilegalmente demitido
das minhas funções de professor...”
MÁRIO JOSÉ
CALADO LAIMA
Idade:
48 anos
Área:
Biogeoquímica Ambiental- ambientes
costeiros e marinhos
Funções actuais:
Doutor em Ciência, University of Aarhus, Department of Earth Sciences
Ny Munkegade, Dinamarca
58.
Fevereiro 2007 | Mundus
O que o levou a deixar o país e ir estudar/ trabalhar para o estrangeiro?
O que o faria voltar a Portugal (a nível
profissional)?
Desde Julho 1993, estou ilegalmente demitido das minhas funções de Professor da
Universidade de Évora.
Entre outros, que o meu trabalho fosse reconhecido. A experiência profissional e o
domínio em algumas línguas do Norte da
Europa poderiam trazer alguns benefícios.
Ver as noticias publicadas nos Jornais Expresso, Semanário, Independente, e Público no endereço: http://www.mariolaima.
dk/site/evora/evora.htm
O que o fez ficar? Porque não voltou?
Essencialmente os atrasos e omissão de
legislação na Justiça Portuguesa, e falta
de condições económicas para poder prosseguir com êxito a minha actividade, reconhecida no estrangeiro. A inexistência de
apoio económico relevante para a situação
em que me encontro, levaram-me a ter de
procurar outros meios para continuar a desenvolver actividade cientifica, e de sobrevivência, fora de Portugal.
Na sua opinião, Portugal é um bom
país para desenvolver trabalho de investigação científica? Porquê?
Certamente em algumas áreas. Mas existirá talvez ainda uma burocracia administrativa associada ao desempenho nos projectos científicos.
Para si quais as áreas de investigação mais promissoras em Portugal?
Nanotecnologia, Biotecnologia, Aquacultura, Energias Alternativas, Ciências do Mar
citando apenas alguns exemplos.
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CADERNO ESPECIAL
“...falta alguma massa
crítica na comunidade científica
portuguesa...”
MARTA SOFIA
COELHO NUNES
Idade:
32 anos
Área:
Biologia Celular
Funções actuais:
Post-doc, Institut Pasteur, França
O que o levou a deixar o país e ir estudar/ trabalhar para o estrangeiro?
O que o faria voltar a Portugal (a nível
profissional)?
A primeira vez que fui estudar para o estrangeiro foi no âmbito do programa ERASMUS para concluir a minha licenciatura. Foi
a curiosidade de ter uma experiência fora
de Portugal que me levou a dar esse passo.
Gostei muito dessa experiência na Noruega
principalmente porque o projecto que estava a desenvolver era muito interessante e a
nível pessoal foi muito enriquecedora; conheci muita gente de países distintos e tive
a possibilidade de viajar bastante. Como
este primeiro contacto com o estrangeiro
correu tão bem decidi repetir.
Voltaria se encontrasse em Portugal a possibilidade de continuar a desenvolver os meus
projectos.
Mais tarde no doutoramento decidi ir para
os EUA pois os melhores laboratórios na
área de investigação que eu estava interessada eram americanos.
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Na sua opinião, Portugal é um bom
país para desenvolver trabalho de investigação científica? Porquê?
Acho que sim! Portugal tem muito bons
cientistas e alguns dos institutos que conheço em Portugal oferecem mais ou menos as
mesmas condições que instituições internacionais oferecem no estrangeiro. Ainda falta
alguma “massa critica” na comunidade cientifica portuguesa no entanto creio que o meio
cientifico em Portugal está a crescer muito
rapidamente.
O que o fez ficar? Porque não voltou?
Para si quais as áreas de investigação mais promissoras em Portugal?
Creio que este tipo de decisões têm sempre
uma mistura de razões pessoais e razões
profissionais. Quando acabei o doutoramento, não senti muita vontade de voltar a
Portugal e como decidi mudar de área de
investigação achei importante ir para um
sítio forte nessa nova área, daí ter optado
por Paris.
É difícil de dizer. Por um lado penso que toda
a investigação é importante e haver diferentes
áreas de investigação é muito enriquecedor
para um país. No entanto creio que Portugal
poderia apostar em áreas de investigação para
as quais tem mais vantagens do que outros países como por exemplo em ciências de mar e a
investigação em doenças tropicais.
Fevereiro 2007 | Mundus
59.
CADERNO ESPECIAL
“...As universidades tinham e têm - as portas blindadas
aos candidatos do exterior...”
MIGUEL BASTOS ARAÚJO
Idade:
37 anos
Área:
Alterações climáticas, Biodiversidade,
Conservação e Ecologia
Funções actuais:
Professor Associado de Investigação
do Museu Nacional de Ciências Naturais de Madrid (centro pertencente ao
“Consejo Superior de Investigaciónes
Científicas”) e Investigador Associado
na Universidade de Oxford, UK
O que o levou a deixar o país e ir estudar/ trabalhar para o estrangeiro?
Quando saí pela primeira vez foi o sentido de
aventura que me motivou. Tinha uma escassa
vintena de anos e queria aproveitar as condições oferecidas pelo programa ERASMUS para
explorar novas vivências sociais e culturais.
Os meus conhecimentos de Inglês eram rudimentares (naquela altura tinha uma formação
essencialmente francófona) pelo que decidi ir
para Aberdeen, na Escócia. Acabei por ficar oito
anos no Reino Unido e viver numa série de outros Países Europeus.
Na altura era estudante de Geografia na Universidade Nova de Lisboa e o ensino desta
disciplina estava muito centrado na dicotomia
entre a Geografia Humana e Física. Os meus interesses apontavam noutras direcções: por um
lado, no estudo dos mecanismos que governam
a distribuição da vida no espaço geográfico, ou
seja, a Biogeografia, e por outro, na utilização
desse conhecimento para extrair informação
60.
Fevereiro 2007 | Mundus
que fosse relevante para as políticas de conservação da biodiversidade, ou seja a Biogeografia
da Conservação.
Nenhuma das licenciaturas disponíveis em Portugal, fosse Biologia ou Geografia, oferecia formações adequadas nestes domínios. A Biologia
estava excessivamente centrada no organismo
e o que me interessava era estudar as interacções entre organismos e entre os organismos e
o meio físico. A Geografia, por seu lado, ignorava o papel dos organismos no território, assim
como a forma com que o território condiciona a
distribuição dos mesmos.
Era inevitável sentir uma certa angústia ao pensar no regresso a casa. Em Portugal o simples
acesso à bibliografia é um desafio. Por este
motivo fotocopiava todos os artigos que fossem
interessantes pois imaginava que no regresso
voltaria a deixar de ter acesso à informação.
Quando terminei a minha estadia na Escócia
trazia quilos de papel comigo. Porém, a meio
desta estadia, percebi que nove meses eram insuficientes para compensar as lacunas de formação que trazia de Portugal. Por isso inscrevime num mestrado em Biologia da Conservação
na Universidade de Londres. Devo dizer que o
mestrado foi fundamental para a minha formação académica, já que me proporcionou uma
amplitude de conhecimentos que um doutoramento não faculta. Foi aí que comecei a desenvolver espírito crítico, que tomei conhecimento
dos debates contemporâneos sobre conservação da biodiversidade, e que conheci o investigador do Museu de História Natural de Londres, que me convenceu a fazer doutoramento:
o Prof. Dick Vane-Right.
É importante referir que todo este percurso foi
possível graças a um investimento substancial
por parte da Comunidade Europeia, Estado Português e Fundações privadas, para não falar no
apoio familiar.
O que o fez ficar? Porque não voltou?
Quando terminei o doutoramento queria regressar. Ainda tentei o regresso mas qual não
foi a minha surpresa quando percebi que o
Estado Português, depois de tão substancial
investimento na minha formação, não tinha
accionado mecanismos que permitissem a
doutorados, como eu, concorrer no mercado de
trabalho, em igualdade de circunstâncias com
os que tinham ficado. As universidades tinham
- e têm - as portas blindadas aos candidatos do
exterior. Já escrevi sobre o assunto em vários
locais, pelo que não me alongarei. Mas é importante salientar que a endogamia é um enfermidade que enfraquece o sistema universitário em
Portugal e nem os gestores universitários nem os
sucessivos governos da nação parecem ter vontade, ou coragem, para atalhar o problema pela
raiz. Por outro lado, os centros de investigação
do Estado são poucos e os poucos que existem
são pouco dinâmicos. Conheço vários investigadores de carreira em laboratórios do Estado
que nunca publicaram um único artigo científico numa revista internacional. Em qualquer
parte do mundo onde a investigação científica
tenha um papel importante no sector público,
esses investigadores não teriam sequer acesso
a uma bolsa, quanto mais a um lugar fixo na
carreira de investigação. Finalmente, o mundo empresarial oferece perspectivas limitadas
para quem, como eu, pretendia seguir uma via
de investigação numa área que não visa o desenvolvimento de novas tecnologias.
Neste contexto, fui adiando o regresso na esperança que as tão propagandeadas reformas
no ensino superior e ciência se efectuassem.
Como eu estavam a grande maioria dos bolseiros da minha geração. Passaram anos e apesar
do muito dinheiro gasto em bolsas e formação
avançada poucos progressos foram feitos ao
nível da organização do ensino universitário e
investigação em Portugal. Como a vida é finita
www.cienciapt.net/mundus
Marcação radio telemétrica de um lobo no Parque Natural
das Emas, região do Cerrado, Brasil.
e não espera pelas reformas do Estado, concluí
que talvez fosse melhor investir noutras paragens. Assim, acabei por desenvolver a minha
investigação num centro de investigação em
Montpellier, na Universidade de Oxford, na Universidade de Copenhaga e, finalmente, no Museu Nacional de Ciências Naturais de Madrid
onde, após realização de um concurso competitivo, mas justo, ganhei um lugar de investigador
permanente. Curiosamente, nos dois lugares
de investigador que foram atribuídos no meu
concurso, nenhum dos primeiros classificados
era Espanhol. Isto diz muito sobre o espírito e
esforço de abertura e modernidade que está a
ser empreendido em Espanha. Devo dizer que
a carreira de investigador é bastante atraente
visto não ter associada obrigações docentes,
implicar total liberdade para escolher temas de
investigação e oferecer condições de trabalho e
acesso a financiamento excelentes. Claro que
pressupõe gosto, trabalho e iniciativa. Tudo isto
ainda com a vantagem, claro está, de viver na
Península Ibérica a pouco mais de três horas
da fronteira de Portugal numa viagem de carro.
Creio que devo ser um dos primeiros Portugueses a conquistar um lugar de investigador do
Estado em Espanha, mas com estas condições
estou certo de que não serei o último.
O que o faria voltar a Portugal (a nível
profissional)?
Condições de trabalho iguais ou melhores às
que possuo actualmente o que, dadas as condições actuais, não parece ser fácil. Sabe, quando
mais tarde se perspectiva o regresso de um profissional mais difícil ele é de se concretizar. Tudo
tem um tempo na vida e um País que aposta no
seu futuro aposta nos jovens. Portugal deveria
apostar na fixação dos investigadores com 2-5
anos de experiência pós doutoral. Nesta fase, os
melhores investigadores estarão a iniciar o período mais produtivo das suas carreiras. É certo que
ainda têm poucas provas dadas mas uma sim-
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ples análise curricular permite prever quais os
que terão mais possibilidades de vir a tornar-se
líderes nos seus respectivos campos de trabalho. Não nego que seja importante atrair e fixar
investigadores com carreiras consolidadas pois
são estes que serão capazes de formar, rapidamente, equipas de excelência em universidades
e centros de investigação portugueses.
Mas essa estratégia – que deu resultados positivos na Austrália – só faz sentido se o Estado for, primeiro, capaz de dar perspectivas aos
jovens investigadores. Sem eles não há, nem
nunca haverá, inovação científica e tecnológica.
jovens doutores que se formaram no
estrangeiro com bolsas Portuguesas?
Creio que não. Sou dos que defendem que a ciência
não é para todos e que não basta fazer um doutoramento para ingressar numa carreira científica (ou
docente). Estou consciente que a carreira científica
é particularmente exigente e que, como tal, deve
ser sujeita a um rigoroso e continuado processo
de avaliação. Por isso costumo dizer que o acesso
à carreira científica deve ser como um funil: muitos
concorrem mas poucos entram. O problema é que em
Portugal esse funil foi substituído por uma parede.
Para si quais as áreas de investigação
mais promissoras em Portugal?
Na sua opinião, Portugal é um bom país
para desenvolver trabalho de investigação científica? Porquê?
Portugal é um bom País para viver, logo poderia
ser um bom País para desenvolver investigação
científica. Mas a realidade teima em contrariar
este raciocínio. De facto, não existe cultura
científica; existem poucas instituições vocacionadas para o desenvolvimento de investigação
científica; as universidades têm modos de funcionamento arcaicos que acabam por fomentar
mais a passividade do que a inovação; não existe uma política estabilizada de investimento na
ciência e o Estado caracteriza-se por ser fraco
investidor, mau pagador, pouco transparente
e bastante imprevisível na definição das suas
políticas de ciência. Finalmente, não existem
perspectivas de carreira para jovens investigadores e a emigração configura-se a solução
mais racional para quem tenha coragem de
dar o salto definitivo. Não surpreende, portanto,
que entre os investigadores Portugueses que
conheci no estrangeiro, mais de 80% resolveu
estabelecer-se fora do País.
Quer isto dizer que o Estado deveria ter
a obrigação de integrar a totalidade dos
As áreas mais promissoras são as áreas onde
existam pessoas com inteligência e criatividade
para gerar inovação. Dou um exemplo. Durante
anos assumiu-se que a universidade de Évora
teria, pela sua localização geográfica, condições para tornar-se um pólo de excelência na
área da investigação agrária. É um potencial
que salta à vista para quem visita a universidade e a sua herdade experimental. A realidade,
porém, é que a Universidade de Évora é mais
conhecida, a nível internacional, pelo trabalho
desenvolvido por uma pequena comunidade de
astrofísicos do que pelo trabalho desenvolvido
em investigação agrária. Portanto, nas condições actuais seria defensável apostar na astrofísica mais que na investigação agrária. Alguém
se teria lembrado desta possibilidade?
Estou convencido de que é um erro decidir prioridades de investimento científico com base em
considerandos políticos. A primeira pergunta
que deve ser feita por quem decide o futuro das
verbas de ciência num País deve ser: “quem tem
unhas?” Respondida esta pergunta, devem distribuir-se guitarras. Por outras palavras, a política
de ciência deve ser guiada pelo mérito científico
dos seus actores mais do que por preconceitos
políticos sobre prioridades.
Fevereiro 2007 | Mundus
61.
CADERNO ESPECIAL
“...Portugal é um país periférico...
terá sempre alguma desvantagem...”
NUNO LIMÃO
O que o levou a deixar o país e ir estudar/ trabalhar para o estrangeiro?
viar este problema e as novas tecnologias
de informação permitem melhor colabora-
A qualidade dos programas a que tive acesso
ção entre investigadores que se encontram
em locais diferentes. Contudo Portugal é
um país periférico em termos geográficos
portanto terá sempre alguma desvantagem
neste tipo de actividades.
Idade:
32 anos
O que o fez ficar? Porque não voltou?
Área:
Economia
A qualidade e quantidade de colegas na minha área de interesse e toda a estrutura de
apoio à investigação na minha área.
Funções actuais:
Professor de Economia,
Department of Economics - University
of Maryland, EUA
Para si quais as áreas de investigação mais promissoras em Portugal?
O que o faria voltar a Portugal (a nível
profissional)?
Uma posição que:
(1) me permita flexibilidade em termos de
partilha do tempo em vários locais diferentes,
(2) me dê a liberdade de prosseguir a minha pesquisa em termos de tempo e apoios
financeiros,
(3) tenha visibilidade (projecção) a nível
nacional e internacional de modo a que pudesse participar como consultor em actividades de politica económica.
Algumas áreas de investigação não necessitam de grandes investimentos em termos
de infra-estrutura, por exemplo a das ciências sociais, e portanto essas seriam as
áreas de investigação em que Portugal poderia eventualmente ter alguma vantagem
comparativa.
Na sua opinião, Portugal é um bom
país para desenvolver trabalho de investigação científica? Porquê?
Não. Penso que há dois grandes entraves.
Primeiro a opinião pública sobre a educação
de qualidade e a investigação. Há pouco ênfase e nenhuma das duas é suficientemente
valorizada. Em parte isto é compreensível
dado o nível de desenvolvimento económico do país. Em segundo lugar, o desenvolvimento de investigação científica necessita
de toda uma infra-estrutura cujos custos
fixos só podem ser suportados quando o
número de investigadores excede uma (determinada) massa crítica. A integração em
redes de investigação europeia ajuda a ali-
62.
Fevereiro 2007 | Mundus
www.cienciapt.net/mundus
CADERNO ESPECIAL
“...O motivo pelo qual não voltei
a Portugal é muito simples: falta
de incentivo...”
PATRICIA ALEXANDRA
SARAIVA MADUREIRA
alargada em diferentes técnicas e disciplinas
que será essencial para o estabelecimento de
um grupo de investigação competitivo no futu-
Idade:
31 anos
ro. Como a minha experiência no Reino Unido
foi extremamente positiva regressei a Londres
aonde fiz um pós-doutoramento no Imperial
College London.
Área:
Investigacao na area de Oncologia
O que o fez ficar? Porque não voltou?
Funções actuais:
Pos-Doc na Universidade de Dalhousie,
Departamento Biochemistry and Molecular Biology, Halifax, Nova Scotia, Canadá
O que a levou a deixar o país e ir estudar/
trabalhar para o estrangeiro?
Eu fiz a maior parte do meu doutoramento no
Instituto Gulbenkian de Ciência em Oeiras.
Considero o IGC um lugar privilegiado para se
fazer Ciência em Portugal, nao só em termos de
equipamento mas principalmente pelo facto de
acolher investigadores principais, alunos e posdocs de diferentes países e com vários backgrounds. Este ambiente misto proporciona uma
interacção que é muito enriquecedora tanto a
nível científico como social. O meu supervisor de
doutoramento era uma pessoa jovem a iniciar o
seu grupo de investigação científica e sem muita
experiência na maioria das técnicas essenciais
para o desenvolvimento do meu projecto. Por
esse motivo estabelecemos colaborações com
grupos no Reino Unido que beneficiaram grandemente o desenvolvimento do meu projecto de
doutoramento. Após terminar o meu doutoramento decidi mudar de laboratório.
No meio científico é importante trabalhar em diferentes grupos de investigação durante o início
de carreira por forma a ganhar uma experiência
www.cienciapt.net/mundus
O motivo pelo qual não voltei a Portugal é muito simples: falta de incentivo. Após começar a
trabalhar no estrangeiro apercebi-me de uma
crescente insatisfação por parte dos meus colegas em Portugal com relação a financiamento
de projectos e bolsas de investigação, enquanto que no Reino Unido e no Canadá (aonde me
encontro actualmente) a realidade é totalmente
diferente e regra geral os laboratórios não tem
quaisquer problemas de financiamento, principalmente na área de Investigação do Cancro na
qual trabalho. Por um lado ainda sinto que Portugal é a minha “casa” e gostaria de regressar
um dia, mas por outro é difícil pensar em voltar
a Portugal sem ter qualquer tipo de garantia
enquanto que no estrangeiro tenho estabilidade
financeira e trabalho num grupo de investigação
muito competitivo a nível mundial.
O que o faria voltar a Portugal (a nível
profissional)?
Para regressar a Portugal seria necessário uma
melhoria considerável em termos de financiamento na área de Investigação Científica de
modo a possibilitar a vinda de investigadores que
se encontrem no estrangeiro. A ideia que tenho
neste momento é que o investimento português
na Ciência é escasso até para os investigadores
que já se encontram em Portugal. Para além
disso os cientistas que optaram por trabalhar
no estrangeiro têm um contacto mais limitado
com a comunidade científica portuguesa o que
de certa forma torna mais dificil o re-estabelecimento em Portugal sem existirem medidas que
estimulem esse regresso.
Na sua opinião, Portugal é um bom país
para desenvolver trabalho de investigação científica? Porquê?
Eu penso que Portugal tem um grande potencial para desenvolver trabalho de investigaçÐo
científica de excelente qualidade na medida em
que “produz” bons investigadores. Os investigadores portugueses tem imenso sucesso no
estrangeiro e sao muitíssimo bem cotados. No
entanto é necessário um maior investimento por parte do governo português de modo a
permitir o desenvolvimento de trabalho científico a um nível competitivo com países como
os Estados Unidos, Reino Unido, Canadá, entre
outros, que absorvem cada vez mais os cientistas portugueses nos seus laboratórios. Felizmente alguns investigadores estabelecidos
em Portugal têm recebido prémios europeus
e internacionais pelo seu brilhante desempenho, que contribuem para o melhoramento das
condições de trabalho de investigação científica em Portugal.
Para si quais as áreas de investigação
mais promissoras em Portugal?
Apesar de me encontrar ausente de Portugal há
três anos vou tentando manter-me informada
com relação aos trabalhos científicos que vão
sendo desenvolvidos em Portugal, especialmente nas áreas de biologia e bioquímica. Tenho notado que Portugal tem desenvolvido um
excelente trabalho na investigação da Malária,
o qual tem merecido prémios internacionais.
Também tenho observado o estabelecimento de
novas companhias Biotecnológicas que espero
venham a contribuir para um bom impulsionamento da Ciência em Portugal.
Fevereiro 2007 | Mundus
63.
CADERNO ESPECIAL
“...Portugal ainda não se tornou
suficientemente competitivo
na arena internacional...”
O que o levou a deixar o país e ir estudar/ trabalhar para o estrangeiro?
PAULO A. FERREIRA
Idade:
41 anos
Área:
Molecular Medicine, Neuroscience,
Molecular Genetics
Funções actuais:
Professor (docente) e Investigador,
EUA
Eu vim para o EUA no Verão de 1986 mesmo
antes de terminar a minha licenciatura em
Biologia na Universidade do Porto. A minha
vinda deveu-se a uma conjugação de 3 factores principais: atraso tecnológico/científico
no campo de investigação em medicina/ciências da vida, indefinição/instabilidade política, científica e tecnológica a nível nacional,
e uma oferta de uma bolsa de estudos completa por uma universidade americana para
terminar os meus estudos.
O que o fez ficar? Porque não voltou?
Para minha satisfação, a minha carreira profissional e pessoal tomou um óptimo percurso
desde a minha vinda para os EUA. Em termos
práticos as coisas passam-se como uma bola
de neve. Um sucesso leva a outro sucesso e
passado um certo tempo, as coisas engrenam
de tal forma que levam a apostas, compromissos e expectativas cada vez maiores e que nem
sempre há interesse (como defesa egotista) e/
ou possibilidades (por limitações financeiras)
em equiparar. Neste sentido, Portugal, e ao
contrário da nossa vizinha Espanha, teve uma
política péssima de captação de novo e alto
capital humano produtivo/creativo e rejuvenecimento do meio científico (se é que exista
mesmo uma política para tal efeito). Além do
mais parece que há falta de linhas mestres
de programas de investigação consistentes, e
mais importante, de uma visão científica “própria” e nacional que leve a uma mobilização
e aposta consistente dos recursos humanos e
financeiros necessários.
O que o faria voltar a Portugal (a nível
profissional)?
Talvez a reforma, e férias já que geralmente
64.
Fevereiro 2007 | Mundus
vou todos anos a Portugal passar férias com
a familia! Não sei, é muito difícil responder
a tal questão. Por principio, eu sou bastante
pragmático. A vida evolve tão rapidamente
no meio profissional em que trabalho, em
que por vezes somos quase obrigados a
considerar novos desafios que aparecem
nos momentos mais inesperados. Por outro
lado, acho que Portugal ainda não se tornou suficientemente competitivo na arena
internacional para captar o material humano com experiência e massa crítica necessária, e francamente tenho muitas dúvidas
de que haja um interesse profundo e honesto para que tal aconteça por diversas
razões. Neste sentido, terá que haver uma
mudanca de atitude se é que se queira que
as coisas andem para a frente rapidamente e não a reboque de outros. Apesar de já
ter considerado várias propostas de vários
países europeus, nunca recebi nenhuma de
Portugal. Estive mesmo muito próximo de
me mudar para a Suiça (Geneva), já que as
condições eram fantásticas.
Na sua opinião, Portugal é um bom
país para desenvolver trabalho de investigação científica? Porquê?
Portugal pode ser um país tão bom como
qualquer outro (e até melhor porque não?)
para desenvolver trabalho de investigação
científica. Hoje o mundo de alta investigação tornou-se mesmo como uma “global
village”. Tudo está interligado. Investigadores a este nível, são obrigados e aprendem
a não só se adaptarem muito rapidamente,
mas a vencer também, novos desafios, e tal
tem um efeito até estimulante (mas não em
todos...). Penso que desde que haja um certa massa crítica e construtiva, o mínimo de
meios e uma vontade/compromissos imbalaveis para se alcancar certos objectivos, o
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resto depois aparece naturalmente e tornase por assim dizer “auto-sustentavel”.....
Para si quais as áreas de investigação mais promissoras em Portugal?
Penso que qualquer campo pode ser promissor desde que haja o mínimo de massa crítica e criativa, recursos financeiros
e uma aposta nacional (apartidária) e consistente a nível político. Mas como tudo,
tem que se establecer prioridades e nao
se andar a mudar de prioridades de acordo
com as modas, cabeçários, e/ou governos.
Portugal teve e tem uma exelente tradição
em diversos campos da engenharia (investigação aplicada). No campo que me toca
(medicina e ciências da vida), penso que há
muito ainda a fazer para se criar uma infrastrutura e organização que possa tirar
proveito de toda informação proveniente de
utentes hospitalares (matéria-prima portuguesa), utilizar esta informação para investigação e desenvolvimento de novos conhecimentos e descobertas desde o básico
ao aplicado, e por último devolver e aplicar
os resultados de tais descobertas na pre-
www.cienciapt.net/mundus
venção, prognóstico precoce, tratamento e
até mesmo curas “clínicas” de doenças dos
mais diversos foros etiológicos. A saúde
está a começar a ser uma das áreas mais
críticas a nível de investigação e políticas
nacionais. O custo de tratamento e repercussoes a nível social são cada vez mais
elevados, as populações ocidentais estão
a envelhecer rapidamente e com expectativas de vida cada vez mais longas. Por outro
lado, a pressão é brutal para se acompanhar tais expectativas com uma boa qualidade de vida, compreensão aprofundada
das mais diversas patologias (e.g. cancro,
diabetes, e doenças neurodegenerativas),
desenvolvimento de novos fármacos (drogas), e diagnóstico precoce de doenças.
Neste sentido apesar do enorme potencial
gerado pelo desenvolvimento nas ciências
da vida, a aplicação de novas drogas tem
uma taxa de falha estrondosa. Por exemplo, acima de 99% de novos fármacos falham em “testes clinicos” pelas mais diversas razões. Muitas tem efeitos marginais.
Contudo tal requer uma modificação grande de como a investigação é desenvolvida e
aplicada. Por exemplo, as “barreiras” entre
disciplinas tradicionais deixou de existir,
na prática, nos centros mais avançados
de investigação (razão que me mudei para
Duke Medical Center). Isto cria novos desafios na gestão de equipas de investigação e
com um foro interdisciplinar, aplicação de
conhecimento e descobertas, e uma visão
e disciplina concertada e de certo modo
aprofundada, que requer material humano
com experiência que penso ser quase inexistente em Portugal (tanto a nível político
como profissional). Por outro lado, desafios criam sempre novas oportunidades
que Portugal (ou qualquer outro país) pode
saber aproveitar, todos tirarem proveito e
criar uma boa projecção a nível internacional. Portugal não só pode, como deve
apostar fortemente neste campo da “biologia humana” já que as ramificações de tal
sucesso são de facto enormes, o impacto é
duradouro e transcenderá quaisquer fronteiras nacionais.
Mas eu tenho a certeza de que isto vai mudar, apesar de haver muito trabalho a fazer.
Fevereiro 2007 | Mundus
65.
CADERNO ESPECIAL
“...parece-me que estou
no estrangeiro prisioneira
da minha especialização...”
foi o que aconteceu e, tanto quanto sei, não
é assim que costuma acontecer. A curiosi-
PATRÍCIA BELDADE
Idade:
34 anos
Área:
Biologia (Genética, Desenvolvimento
e Evolução)
Funções actuais:
Prof. Associada / Investigadora, Holanda
O que a levou a deixar o país e ir estudar para o estrangeiro?
Saí do país logo após a minha licenciatura
para fazer um estágio extra-curricular em
França. Voltei por um ano para participar
no programa de doutoramento em Biologia
e Medicina da Gulbenkian e depois saí outra vez para o trabalho de doutoramento na
Holanda. Desde então só voltei a Portugal
para férias.
Acho que não houve uma razão única que
me levou a ir estudar para o estrangeiro,
mas antes uma série de razões que acabaram por me puxar para fora com mais força
do que a força das razões que me queriam
em Lisboa (a família e amigos, e a portugalidade que me é natural e, por isso, fácil).
Se tivesse de resumir em poucas palavras
eu diria “oportunidade, curiosidade e área
de interesse”. Oportunidade porque sem
os meios (nomeadamente bolsas de estudo e laboratórios no estrangeiro dispostos
a aceitaram-me como estudante) dificilmente teria ido. “Mochila às costas e partir
à aventura” soa bem e daria assim um ar
descontraído e radical à história mas não
66.
Fevereiro 2007 | Mundus
dade e vontade de aprender serão, suponho,
características de todos os investigadores
(todas as pessoas?); os que ficam em Portugal e os que vão para fora. A curiosidade
de que falo aqui, mais do que a “científica” é
a pessoal/cultural; o querer experimentar
viver como fazem outras culturas. Mais do
que Biologia (a minha área de formação),
tinha vontade de aprender “mundo”, se
isso existe; outras línguas, outras rotinas e
outros modos de estar na vida. E também,
claro, aprender a desenvencilhar-me sozinha longe da facilidade que é ter família
e amigos a distância de autocarro. Finalmente, havia nessa altura poucas pessoas
a fazer investigação na minha área de especialização, a biologia evolutiva. Ir para
o estrangeiro apresentou-se então como
a melhor maneira de expandir (e mesmo
guiar) a minha formação neste campo.
O que a fez ficar? Porque não voltou?
Quase me apetece responder “porque foi
calhando”. O que me tem mantido fora de
Portugal são as oportunidades que vão surgindo. Portas que se vão abrindo (quase)
sozinhas, ao ponto de eu às vezes achar que
tive um papel (quase) passivo nos trajectos
da minha vida (profissional). Claro que isso
não é nada bom ... mas também acho que
não é totalmente verdade. Acontece é que
as escolhas que vamos fazendo no início de
carreira acabam (sempre) por limitar as
escolhas que podemos fazer mais tarde.
Às vezes parece-me que estou no estrangeiro prisioneira da minha especialização.
Trabalhei no doutoramento e pós-doutoramento com um sistema (experimental)
que não é fácil de exportar. Faço investi-
gação usando umas borboletas que estão
estabelecidas num laboratório na Holanda e numa área (ligar a variação genética
à variação morfológica) que exige manter
populações com números elevados de indivíduos. O investimento em tempo e dinheiro
necessário para tentar reproduzir o sistema noutro local torna-o proibitivo para a
maioria dos financiamentos disponíveis em
Portugal. Assim, e porque há ainda tantas
perguntas interessantes a explorar nestas
borboletas, quando surgiu a possibilidade
de vir trabalhar como Professora Associada / Investigadora no laboratório onde tudo
está montado e funciona bem, pareceu-me
uma escolha quase natural. Muitas vezes, e
sobretudo quando as saudades de Portugal
apertam, penso que o regresso seria infinitamente mais fácil se eu trabalhasse com
um sistema dos chamados “modelo” (como
as moscas do vinagre ou os peixe zebra
– dir-se-á assim?) que existem em praticamente todos os institutos de investigação do mundo. Mas “difícil” não é a mesma
coisa que “impossível” e culpar o sistema é
demasiado simplista e soa a auto-desresponsabilização. Gosto de pensar que sou
suficientemente flexível para poder mudar
de sistema experimental se for necessário
ou desejável... Só que ainda não aconteceu.
Continuo a viver no estrangeiro porque tem
calhado e até nem está a correr mal.
O que a faria voltar a Portugal (a nível
profissional)?
Às vezes acho que era preciso muito pouco para me fazer voltar a Portugal, porque
vontade não me falta. Ainda não voltei por
falta de uma (boa) oportunidade - o que não
é nada “pouco”! Para um regresso sério seria necessária uma garantia de condições
de trabalho. Isto passa por um
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CADERNO ESPECIAL
Para si quais as áreas de investigação mais promissoras em Portugal?
ambiente estimulante (com massa crítica e
dinamismo entre investigadores) e o apoio
institucional (em termos de financiamento,
logística, flexibilidade na organização do
tempo entre o ensino e a investigação, etc.)
que são fundamentais à produtividade científica. Ou então podia voltar a Portugal para
fazer coisas completamente novas, que às
vezes é o que apetece.
Na sua opinião, Portugal é um bom
país para desenvolver trabalho de investigação científica? Porquê?
ção nacionais que fui fazendo, é que as condições têm melhorado muitíssimo na última
década. Há uma cada vez maior massa crítica
de (jovens) investigadores cheios de energia e
vontade de trabalhar e há acesso a financiamentos nacionais e estrangeiros que possibilitam estabelecer novos grupos e novas áreas
de investigação e também dar continuidade e
expandir áreas existentes julgadas de interesse. Estamos longe da situação de investimento científico que se vive nos Estados Unidos ou
outros países da União Europeia, mas também
é certo que se produz investigação de grande
qualidade em Portugal.
Esta é uma pergunta para a qual me sinto mal
preparada. A verdade é que nunca fiz investigação independente em Portugal e custa-me,
por isso, julgar se é ou não um bom país para
investigação científica. A impressão que tenho
de conversas com colegas que trabalham em
Portugal e de visitas a centros de investiga-
Há seguramente muitas coisas a melhorar, mas nós temos pelo menos suficiente
vontade e o know-how científicos e espero
que cada vez mais possamos contar com a
vontade e o apoio (também na forma de financiamentos) institucionais.
www.cienciapt.net/mundus
Se a pergunta anterior era difícil, nesta
pergunta mal me atrevo. Ou melhor, não
me atrevo mesmo sem antes esclarecer
que não tenho a pretensão de achar que
sei o que se passa nas “mil e uma” áreas
da Ciência, ou sequer nas “cento e duas”
da Biologia. Mas ainda assim, é com a investigação em Biologia que estou mais familiarizada. Do ponto de vista da chamada
ciência aplicada, isto é, aquela que mais
do que o “conhecimento” per se, procura
resposta directa para questões médicas ou
outras de aplicabilidade imediata, a genética de doenças humanas e as neurociências
são duas áreas de grande interesse actual
a nível internacional. Não sei se é desejável fazer a distinção entre as áreas mais
promissoras em Portugal versus as áreas
mais promissoras em geral; a ciência não
conhece fronteiras e as “promessas” estão globalizadas. Mas haverá certamente
determinadas questões que, por motivos
históricos (por exemplo, a “doença dos pezinhos” foi descrita pela primeira vez em
Portugal, pelo Professor Corino de Andrade
nos anos cinquenta) ou demográficos (por
exemplo, doenças de elevada incidência em
Portugal ou o estudo de espécies cruciais à
nossa economia) aparecerão como áreas de
especial interesse nacional. Também a conservação e protecção da natureza, responsabilidade social e política de qualquer país
desenvolvido, terá aspectos que, simplesmente pela geografia, merecerão especial
atenção em Portugal (por exemplo, o estudo de comunidades de peixes endémicos às
nossas costas ou rios). Finalmente, e porque
até aqui mencionei apenas áreas consideradas mais aplicadas, não posso deixar de salientar que a chamada ciência fundamental,
aquela que por oposição à aplicada se satisfaz com a procura do conhecimento mesmo
que a aplicabilidade directa deste não seja
(imediatamente) óbvia, é, na minha opinião,
essencial em qualquer sociedade moderna.
O conhecimento, o perceber como “funciona” o mundo e os seus habitantes, é seguramente sempre um objectivo “promissor” da
investigação científica actual, em Portugal
como em todo o lado.
Fevereiro 2007 | Mundus
67.
CADERNO ESPECIAL
“...Não sei ainda se voltarei
a Portugal...”
O que o levou a deixar o país e ir estudar/ trabalhar para o estrangeiro?
Na sua opinião, Portugal é um bom
país para desenvolver trabalho de
investigação científica? Porquê?
Idade:
29 anos
Foi essencialmente o projecto de doutoramento que me interessou, e a oportunidade
de trabalhar no estrangeiro, que julgo ser
essencial na carreira de um investigador.
Área:
Astronomia
O que o fez ficar? Porque não voltou?
Sim, desde que apoiada institucionalmente, com uma estrategia sólida e financiamento garantido a longo prazo.
Infelizmente, não posso dizer que a investigação em astronomia tenha todas
estas condições.
Actualmente estou a fazer um programa
de doutoramento durante quatro anos, de
modo que durante esse tempo terei de ficar na Holanda. Não sei ainda se voltarei
a Portugal.
Para si quais as áreas de investigação mais promissoras em Portugal?
PEDRO BEIRÃO
Funções actuais:
Estudante de Doutoramento, Holanda
O que o faria voltar a Portugal (a nível
profissional)?
Ter perspectivas de continuação do meu trabalho na minha área de especialização, colaborando com investigadores em Portugal.
68.
Fevereiro 2007 | Mundus
Não sei o suficiente para opinar sobre
outras áreas. Posso, no entanto, puxar
a brasa à minha sardinha, e dizer que
apesar de tudo a astronomia é ainda uma
área em que vale a pena apostar, dada a
sua grande versatilidade.
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CADERNO ESPECIAL
“...EUA tinha melhores condições
de trabalho e maior potencial
de impacto...”
O que o levou a deixar o país e ir estudar/ trabalhar para o estrangeiro?
PEDRO DOMINGOS
Idade:
41 anos
Área:
Informática (Inteligência Artificial)
Funções actuais:
Professor Auxiliar na Universidade
de Washington, Seattle, EUA
A oportunidade de aprender mais, melhor
e mais rapidamente na minha área de estudo.
Na sua opinião, Portugal é um bom
país para desenvolver trabalho de investigação científica? Porquê?
Sim, porque tem as condições básicas, pólos de excelência em áreas especificas, e
uma qualidade de vida atraente para investigadores.
O que o fez ficar? Porque não voltou?
Casei-me com uma americana, gostei do
pais, e dei-me conta que nos EUA tinha melhores condições de trabalho e maior potencial de impacto.
Para si quais as áreas de investigação mais promissoras em Portugal?
Informática, biotecnologia.
O que o faria voltar a Portugal (a nível
profissional)?
Condições de trabalho e potencial de impacto semelhantes aos que tenho no EUA.
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Fevereiro 2007 | Mundus
69.
CADERNO ESPECIAL
“...Quando eu tento explicar aos meus
colegas daqui o que me contam os colegas
de Portugal eles não acreditam...”
RICARDO AZEVEDO
Idade:
36 anos
Área:
Biologia evolutiva
Funções actuais:
Professor Universitário, EUA
O que o levou a deixar o país e ir estudar/ trabalhar para o estrangeiro?
A ideia de estudar no estrangeiro começou a
atrair-me a meio da licenciatura —cerca de 1990
—, principalmente por duas razões. Em primeiro lugar, a constatação de que havia poucas
oportunidades para fazer investigação científica
em Portugal. Na altura a única via para continuar a fazer investigação era ser contratado como
Assistente numa Universidade. Mas olhando
à minha volta esse caminho revelava-se como
pouco viável: as vagas para Assistentes eram
raras e altamente competitivas, os doutoramentos demoravam quase uma década a realizar, a
carga de ensino era elevada, os financiamentos
escassos e precários. Em segundo lugar, a observação de que a minha área de interesse, a
biologia evolutiva, estava particularmente pouco
desenvolvida no nosso país. Este é um problema com raízes históricas profundas em Portugal. Um exemplo perfeito foi-me contado pelo
Professor Luís Vicente. Um dia ele teve a oportunidade de consultar a cópia da “Origem das
Espécies” de Darwin que pertenceu a Oliveira
Martins, um dos raros pensadores portugueses
do século XIX que escreveu alguma coisa sobre
evolução. Aparentemente as páginas do livro
nem sequer tinham sido cortadas. Passado um
século, os cientistas que estudavam evolução
70.
Fevereiro 2007 | Mundus
em Portugal contavam-se pelos dedos — pouco
para uma disciplina que era suposta dar sentido
a toda a biologia (refiro-me, à famosa frase de
Dobzhansky: “Nothing in biology makes sense
except in the light of evolution”). A conclusão a
retirar de tudo isto era óbvia. Para estudar biologia evolutiva tinha que procurar os líderes dessa
área onde eles estavam — no estrangeiro.
O que o fez ficar? Porque não voltou?
Essa pergunta é mais difícil de responder. De
certa forma, uma coisa levou a outra, e nunca
se proporcionou o regresso. Mas a realidade
é mais complexa. Por um lado admito que
alguns dos problemas que apontei anteriormente têm sido atenuados significativamente
nos últimos anos.
Por exemplo, o Instituto Gulbenkian de Ciência
inclui excelentes investigadores em biologia evolutiva, todos da minha geração ou mais jovens do
que eu. Mas infelizmente existem outros problemas que me têm afastado, tais como, a estrutura hierárquica dos departamentos universitários, a forma como se realizam os concursos,
a “consanguinidade” científica (“inbreeding”), o
sistema de financiamento de projectos. Pegando apenas no último exemplo, aqui nos EUA, as
organizações federais que financiam projectos
(por exemplo, a “National Science Foundation”)
têm concursos regulares, anunciados com
meses ou anos de antecedência, com critérios
relativamente claros. Os projectos, quando são
financiados, recebem as quantias certas a tempo e horas. Quando eu tento explicar aos meus
colegas daqui o que me contam os colegas que
trabalham em Portugal eles não acreditam.
Na sua opinião, Portugal é um bom país
para desenvolver trabalho de investigação científica? Porquê?
Penso que sim, embora não me considere a
pessoa mais indicada para responder a esta
pergunta dado que trabalho fora do país há quase 15 anos. É claro que alguns dos problemas
que apontei persistem hoje. No entanto devo
dizer que, na minha opinião, a situação melhorou bastante nos últimos anos. Os programas
Ciência e Praxis, da antiga JNICT e FCT (que
financiaram o meu próprio doutoramento) e os
programas de doutoramento da Gulbenkian, levaram a um aumento significativo do número de
doutorados. Este simples facto tem e continuará
a ter repercussões importantes. Por exemplo,
agora é mais difícil (embora não impossível)
manipular um concurso para contratar o candidato “da casa”, porque há candidatos muito
mais qualificados a competir. Várias reformas
iniciadas pelo Dr. Mariano Gago foram inteligentes e tiveram efeitos benéficos. Por exemplo, a
avaliação independente dos institutos e centro
de investigação melhorou o estatuto dos investigadores mais produtivos que antes não tinham
qualquer incentivo para melhorar a qualidade.
A maior integração europeia aumentou a mobilidade de investigadores e as possibilidades de
financiamento. Tudo isto permite-me algum optimismo em relação à ciência em Portugal.
Para si quais as áreas de investigação
mais promissoras em Portugal?
Não me sinto suficientemente conhecedor da
situação geral do país para responder adequadamente a esta pergunta.
O que o faria voltar a Portugal (a nível
profissional)?
Talvez um desafio profissional interessante...
Mas é difícil prever o futuro.
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CADERNO ESPECIAL
“...Portugal mantém
uma escola muito boa ao nível
de investigação fundamental...”
O que o levou a deixar o país e ir estudar/ trabalhar para o estrangeiro?
RICARDO BENJAMIM
LEITÃO GONÇALVES
Idade:
26 anos
Área:
Neurociências
Funções actuais:
Estudante de Doutoramento, Bélgica
Vinte e três anos e uma vontade muito
grande de ter contacto com abordagens
muito mais ambiciosas no que respeita ao
trabalho em Ciência. Queria continuar a
trabalhar na área em que efectuei o estágio, Biologia Vegetal, um nicho minúsculo
em Portugal. Há um desejo muito grande
para manter os jovens licenciados vinculados ao local onde dão os primeiros passos em investigação, o problema é que os
períodos para concursos de atribuição de
bolsas são muito espaçados. Essa é uma
diferença essencial com o que que se passa
em grande parte da Europa, os laboratórios
estão constantemente em processo de recrutamento.
O que o fez ficar? Porque não voltou?
Depois da primeira experiência na Alemanha pensei voltar mas achei prematuro.
Para além disso tinha perdido um pouco o
contacto com os laboratórios em Portugal.
Agora há o doutoramento para concluir na
Bélgica.
finlandês depois de ter estado no Porto.
Se mantivermos o esforço para melhorar
as estruturas que suportam a investigação e atraírmos pessoas com imaginação,
sem dúvida que sim. Por sermos um país
pequeno será necessário discriminar, uns
serão recompensados outros fecharão as
portas.
Para si quais as áreas de investigação mais promissoras em Portugal?
Portugal mantém uma escola muito boa
ao nível da investigação fundamental que
quando cruzada com a área da oncologia,
das neurociências e da imunologia tem
dado bons resultados. A investigação no
domínio dos biomaterias e da engenharia
biomédica tem vindo a crescer muito nos
últimos anos e demonstra grande vitalidade, muito dinamismo aliado a uma interacção intensa com a indústria asseguram um
futuro promissor.
O que o faria voltar a Portugal (a nível
profissional)?
Um aumento considerável da massa crítica nos lugares onde se faz ciência e um
desejo verdadeiro de internacionalizar os
nossos grupos de investigação.
Na sua opinião, Portugal é um bom
país para desenvolver trabalho de investigação científica? Porquê?
Vocês têm tudo o que um cientista precisa
para recuperar de um mau dia na banca,
luz e noites quentes! disse-me um colega
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Fevereiro 2007 | Mundus
71.
CADERNO ESPECIAL
“...volto se conseguir obter emprego
em Portugal, senão, continuarei
a trabalhar fora...”
O que o levou a deixar o país e ir estudar/ trabalhar para o estrangeiro?
RICARDO COELHO
Idade:
27 anos
A área em que eu trabalho ainda não tem
muitos grupos em Portugal.
A experiência que ganho em conhecer diferentes métodos de trabalho.
Área:
Fisica (Fisica Estatistica, Econofisica)
Funções actuais:
Estudante de Doutoramento no Trinity
College Dublin, Irlanda
Ter conseguido uma bolsa irlandesa com
maior facilidade do que mais tarde consegui uma bolsa FCT (portuguesa).
O que o fez ficar? Porque não voltou?
Primeiro porque ainda me encontro a acabar o meu doutoramento.
Depois de terminar o doutoramento, volto
se conseguir obter emprego em Portugal,
senão, continuarei a trabalhar fora, porque
na minha área (para já) é mais fácil obter
um emprego na Irlanda ou Inglaterra, do
que em Portugal.
O que o faria voltar a Portugal (a nível
profissional)?
Na sua opinião, Portugal é um bom
país para desenvolver trabalho de investigação científica? Porquê?
Portugal é um bom país para desenvolver
investigação. Penso que aquilo que falta mais a Portugal é haver mais visitas de
investigadores estrangeiros aos nossos
laboratórios, tanto para seminários como
para colaborações.
E acima de tudo as “portas” dos diferentes
departamentos abrirem-se aos outros departamentos vizinhos e à população em geral.
Para si quais as áreas de investigação mais promissoras em Portugal?
Penso que as áreas de biologia, estudos do
mar, estudos climáticos, terão sem dúvida
um papel importante no futuro da investigação em Portugal. Mas acima de tudo áreas
multidisciplinares serão o futuro da investigação. A área que eu estudo e um exemplo
disso, Físicos, Matemáticos, Estatísticos,
Sociólogos, Economistas, juntam-se e tentam descobrir os problemas uns dos outros
e utilizar técnicas de outras disciplinas
para resolverem os seus problemas.
Encontrar um emprego em que pudesse
usar as técnicas que tenho desenvolvido
nos meus estudos de doutoramento.
72.
Fevereiro 2007 | Mundus
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CADERNO ESPECIAL
“...É minha vontade a médio
prazo regressar a Portugal...”
RICARDO FILIPE
DA SILVA CARVALHO
Idade:
25 anos
Área:
Bioquímica
Funções actuais:
Estudante de Doutoramento, Suécia
O que o levou a deixar o país e ir estudar/
trabalhar para o estrangeiro?
A experiência em termos culturais e sociais e
a perspectiva de desenvolver um bom projecto
de estágio foi o que mais pesou no momento
de sair do país pela primeira vez. Desenvolvi o
estágio na Holanda na Universidade de Utrecht
durante 9 meses. Após terminar a licenciatura
procurei ganhar um pouco mais de experiência
em áreas diferentes daquelas em que tinha estado envolvido e tendo surgido a oportunidade
de trabalhar num grupo de renome mudei-me
para a Suécia para realizar um mini estágio de
3 meses. Depois seguiu-se aquela que seria
talvez a decisão mais difícil de tomar, onde realizar o doutoramento (que era há muito tempo
um objectivo pessoal)? Portugal ou tentar nova
aventura no estrangeiro? Acabei por optar pelo
estrangeiro dado ter surgido uma excelente
oportunidade. Regressei assim a Estocolmo, a
uma área nova, o que em termos pessoais me
satisfaz imenso. Em termos profissionais, o futuro dirá se a escolha de trabalhar em diferentes
áreas terá sido acertada!
O que o fez ficar? Porque não voltou?
Já regressei a Portugal entre as duas experiên-
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cias na Suécia. Trabalhei no ICVS, na Escola de
Ciências da Saúde, em Braga, na Universidade
do Minho durante 6 meses como bolseiro de investigação. Foi uma experiência enriquecedora
em termos profissionais, no entanto, o objectivo de iniciar o doutoramento foi preponderante
na minha decisão de voltar a sair do país. Em
termos futuros, gostaria de voltar a Portugal.
É a minha vontade a médio prazo regressar a
Portugal.
O que o faria voltar a Portugal (a nível
profissional)?
Em termos profissionais, se decidir continuar na
Academia, obviamente um projecto interessante
num grupo dinâmico, com um bom suporte económico e com parcerias com outros grupos. Se
entretanto decidir deixar a academia, há muitos
factores que poderão pesar na decisão: o tipo de
emprego, a localização, as condições financeiras e as perspectivas futuras serão com certeza
os mais importantes.
Na sua opinião, Portugal é um bom país
para desenvolver trabalho de investigação científica? Porquê?
Portugal é um país com excelentes cientistas,
com alguns centros de investigação muito bons
e bem organizados. No entanto, o financiamento dos projectos de investigação científica é na
maioria dos casos deficiente. A maior parte do
dinheiro provém apenas da fundação para a
ciencia e tecnologia, sendo que, num contexto
nacional, neste momento ainda são poucas as
fontes de financiamento alternativas à FCT. As
empresas ainda investem pouco em I&D, as
associações de doentes preocupam-se mais
nos tratamentos e no bem estar dos doentes do
que em financiar a investigação nessa doença,
certos sectores da sociedade civil poderiam ter
uma contribuição mais activa,etc... Felizmente
bastantes grupos de investigação já perceberam que para desenvolverem um bom trabalho
teriam que recorrer a outras fontes de financiamento e têm conseguido atingir esses propósitos, recorrendo aos fundos da UE para a ciência,
do NIH, fundações privadas, algumas associações de cientistas internacionais, entre outros.
Para além disso, as cooperações entre grupos
Portugueses e com grupos no estrangeiro, têm
permitido contornar alguns dos problemas que
o deficiente financiamento à partida colocaria. O
que me parece é que a maior parte dos jovens
cientistas que abandonam o país o fazem principalmente por dois motivos: por motivações
pessoais e por sentirem que o financiamento
da ciência é insuficiente para desenvolverem os
projectos que pretendem.
Para si quais as áreas de investigação
mais promissoras em Portugal?
Na minha área (ciências da saúde), que é
aquela que me sinto mais à vontade para falar, Portugal tem uma grande tradição nalgumas áreas como as neurociências, a imunologia entre outras. A tradição tem associada
o conhecimento, como tal, serão áreas que
continuarão a ter um grande peso em termos cientificos no país. Para além dessas,
na minha opinião há áreas nas áreas das
tecnologias da informação, informática, no
ambiente, nas ciências da saúde, em que há
nichos de mercado que têm sido aproveitados
por alguns e outros ainda à espera de serem
aproveitados, e para os quais temos pessoal
mais que qualificado para desenvolver novos
projectos. Quando falo em nichos de mercado refiro-me ao possível aproveitamento do
conhecimento gerado pela investigação para
comercialização. Há áreas que ainda estão
pouco exploradas e onde é mais fácil qualquer
um impor-se num contexto global.
Fevereiro 2007 | Mundus
73.
CADERNO ESPECIAL
“...Lá por estarmos cá fora,
acreditem, nunca virámos
as costas ao nosso País!..”
O que o fez ficar? Porque não voltou?
RICARDO DA CONCEIÇÃO
SCHLUNDT INGLÊS
Idade:
24 anos
Área:
Matemática, Teoria de Números
Funções actuais:
Estudante de Doutoramento no Departamento de Matemática da Universidade de Heidelberg, Alemanha
O que o levou a deixar o país e ir estudar/ trabalhar para o estrangeiro?
Foram várias as razões que me levaram a vir
estudar para o estrangeiro. Primeiramente
estive na Universidade de Cambridge, U.K.,
onde fiz um curso avançado em Matemática numa área sem expressão em Portugal:
Teoria de Números. Esta experiência foi fundamental para compreender a diferença no
nível de exigência numa universidade portuguesa e numa universidade inglesa (top 10
mundial) e preparar-me para um doutoramento na minha área em qualquer outra universidade do mundo. O contacto com outras
culturas foi outro aspecto que me motivou
bastante. A experiência linguística outro.
Estou agora a estudar na Alemanha pelo que
ao inglês fluente junto o alemão, o que me dá
muitas oportunidades no mundo académico
e no mercado de trabalho.
Não fora um motivo na minha primeira passagem por Cambridge mas foi certamente
um motivo na minha vinda para a Alemanha:
a minha esposa é alemã...
74.
Fevereiro 2007 | Mundus
Continuo a estudar. Por isso permaneço. A
minha vida começa a estar agora directamente ligada à Alemanha, não só pela minha esposa como também pela minha filha
nascida há menos de dois meses. Portanto,
nenhum motivo profissional.
conferência mundial de Álgebra Comutativa
organizada pelo Departamento de Matemática. Ora são eventos destes que permitem a
divulgação de ideias e o progresso científico.
São exemplos de actividades assim que podem tornar o país (ainda mais) atractivo para
a investigação matemática.
O que o faria voltar a Portugal (a nível
profissional)?
Para si quais as áreas de investigação mais promissoras em Portugal?
Uma oportunidade de emprego ou uma posição numa instituição académica apetecível
onde pudesse aplicar os meus conhecimentos. No mercado de trabalho poderia desempenhar funções servindo-me não só da minha área (a Teoria de Números tem, quanto
muito, aplicabilidades em Segurança e Sistemas de Códigos) ou da Matemática em geral (Estatística, Matemática Financeira) mas
também da minha experiência linguística e
cultural.
Um forte progresso científico só se consegue com apoios. Assim acredito que irá ser
a ciência que andar de mãos dadas com a
economia e a indústria que terá mais hipóteses. Por isso refiro a biotecnologia e a química como fortes áreas para Portugal. Temos
conhecimento e companhias dispostas a investir. Estas são disciplinas directamente relacionadas com a produção de biocombustíveis, com a indústria papeleira ou a indústria
farmacêutica, áreas em contínua expansão
e com claras possibilidades de investimento
em Portugal.
Na sua opinião, Portugal é um bom
país para desenvolver trabalho de investigação científica? Porquê?
Na minha área (Matemática) sim. Reconheço
que em muitas áreas onde são necessários
mundos e fundos para trabalhar, como laboratórios equipados com última tecnologia,
não o seja. Mas como se sabe um matemático precisa geralmente de papel, lápis e
um cesto de papéis... Falando a sério, creio
que o sistema universitário português, com
a sua rede de comunicação (acordos entre
universidades, parcerias com empresas e
laboratórios, quer no âmbito nacional quer
estrangeiro) e a disponibilidade (financeira,
espaço de trabalho) permitem desenvolver
bons projectos. Fui estudante de Matemática
Aplicada e Computação no Instituto Superior Técnico e participei por exemplo numa
Está no sangue de qualquer português as
saudades da pátria mãe. Não um desejo de
voltar mas de que as coisas melhorem. Esse
desejo pode ser e deve ser alvo de consideração e investimento. Mesmo não trabalhando em Portugal os portugueses na diáspora
têm um papel fundamental no crescimento
cultural e económico de Portugal. Parcerias,
aconselhamento técnico ou convites para fazer formação, são tudo possibilidades a ter
para com os investigadores no estrangeiro.
Lá por estarmos cá fora, acreditem, nunca
virámos as costas ao nosso país!
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CADERNO ESPECIAL
“...vejo o regresso a Portugal
como viável a médio prazo...”
universidade Americana me enriqueceu muito
para além do doutoramento. Não é que não pu-
RUI ANDRÉ PINTO
DE ALBUQUERQUE
Idade:
37 anos
Área:
Economia Financeira
Funções actuais:
Professor Assistente de Finanças e Economia da Escola de Gestão da Boston University, EUA
O que o levou a deixar o país e ir estudar/
trabalhar para o estrangeiro?
Só no final da minha licenciatura é que despertei
para a investigação cientifica. O meu interesse
nasceu da interacção com o Professor Sérgio
Rebelo que entretanto tinha regressado dos Estados Unidos da América para dar aulas na Universidade Católica. A sua capacidade de motivar
os alunos, o seu gosto pela Economia, e os tópicos de que falava nas aulas fizeram despertar
em mim a curiosidade por saber mais.
A decisão de ir estudar para os EUA não foi fácil,
mas era óbvia, pela falta de alternativas viáveis
em Portugal. Todos os meus professores me recomendaram a ir para os EUA. Como tal admiro
muito as pessoas que tiram o doutoramento em
Portugal e continuam activas em investigação
apesar das muitas distracções e obstáculos
–áquem do programa de doutoramento– que
têm de superar.
desse ter desenvolvido investigação noutro país,
mas há muita coisa da vida universitária ligada
à investigação que aprendi desde que acabei o
doutoramento que penso ainda serem únicas
de universidades de topo: o estabelecer de uma
rede de contactos e co-autores, o funcionamento e atribuição de incentivos aos professores
para serem mais produtivos, os recursos que
se disponibilizam aos professores, mas também
as exigências de uma carreira académica numa
universidade de topo.
Tive essa oportunidade e não a quiz desperdiçar.
Por isso fiquei nos EUA.
Ainda não voltei por uma variedade de razões
entre elas o timing da minha carreira e a da minha esposa, também ela a dar aulas na Boston
University, e a falta de algumas condições ainda
omissas na vida de investigação universitária
em Portugal (por exemplo, disponibilidade de
bases de dados internacionais).
Pese embora estas razões, há alguns custos
importantes em ficar nos EUA, nomeadamente
a ausência continuada da família alargada, dos
amigos, e a falta das muitas outras coisas boas
do viver em Portugal.
Recentemente, tem havido um grande esforço por
parte de algumas instituições de topo no ramo da
Economia e das Finanças em Portugal por forma
a atrair os melhores investigadores oferencedo
remunerações que estão perto de competir com
salários nos EUA e tempo para investigação.
Como tal vejo o regresso a Portugal como viável
a médio prazo... havendo oportunidades.
O que o fez ficar? Porque não voltou?
O que o faria voltar a Portugal (a nível
profissional)?
Para mim não tenho dúvidas que viver a experiência de investigar como professor numa
Penso que um dos maiores problemas neste
momento em Portugal é convencer as pessoas
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que as mudanças que estão a ocorrer agora nas
faculdades de Economia são para ficar. Quando
as pessoas regressam agora a Portugal –mesmo aquelas que regressam com tenure– ainda
há algumas incertezas contratuais em relação
ao que acontece depois de 3 a 5 anos (em termos salariais, de disponibilidade de tempo para
investigação, etc). Obviamente que eu concordo
que alguma incerteza é desejável para garantir que os incentivos a produzir investigação se
mantenham. Mas, comparando com o que as
universidades Americanas oferecem, a incerteza em Portugal é ainda em demasia.
Na sua opinião, Portugal é um bom país
para desenvolver trabalho de investigação científica? Porquê?
Por que não? Temos investigadores de topo
espalhados pelas melhores universidades do
mundo a fazer trabalho reconhecido nas suas
áreas. Em Portugal também já começa a haver
uma massa crítica de pessoas a desenvolver
investigação. Acrescente-se o reconhecimento
de entre os vários sectores da sociedade de que
essa investigação tem valor. Finalmente, Portugal apresenta muitas outras condições que tornam a vida em Portugal atractiva.
Para si quais as áreas de investigação
mais promissoras em Portugal?
Não sei o suficiente para responder sobre
outras áreas, por isso vou concentrar-me
nas área de Economia e Gestão Empresarial. Nestas áreas tem havido um crescimento notável em toda a Europa havendo
agora programas que competem directamente com as melhores escolas Americanas, nomedamente a nível de mestrados
em gestão de empresas (também conhecidos por MBA) e cursos de gestão para executivos. Portugal não é excepção e antevejo
que o mercado vá crescer ainda mais com a
introdução do tratado de Bolonha.
Fevereiro 2007 | Mundus
75.
CADERNO ESPECIAL
“...Suponho que não deve ser fácil
trabalhar como investigador
em Portugal...”
O que o levou a deixar o país e ir estudar/ trabalhar para o estrangeiro?
RUI MELO PONTE
Idade:
46 anos
Área:
Oceanografia Física
Funções actuais:
Principal Scientist and Manager, Oceanography Group, Atmospheric and
Environmental Research, Inc., Lexington, Massachusetts, EUA
Deixei o país em 1977 numa altura em que
havia uma grande instabilidade no sistema
educativo português, principalmente no
ensino universitário. A aventura americana
era um desafio aliciante a todos os níveis,
enquanto que as perspectivas de um curso de Física em Portugal não eram muito
prometedoras. Resolvi fazer as malas e
tentar a minha sorte noutras paragens, aliás como muitos outros colegas do liceu nos
anos a seguir ao 25 de Abril.
O que o fez ficar? Porque não voltou?
Depois de entrar no ensino universitário
americano, sucederam-se as oportunidades. Acabei por fazer o doutoramento
e nessa altura não regressei por motivos
familiares. Depois apareceram os desafios
profissionais e acabei por ficar. No entanto,
devo também dizer que as oportunidades
para regressar nunca foram muitas.
O que o faria voltar a Portugal (a nível
profissional)?
queixumes. Suponho que não deve ser fácil
trabalhar como investigador em Portugal,
mas também me parece que as coisas têm
mudado para melhor nos últimos anos,
principalmente na área da formação. Ao
nível das oportunidades profissionais, especialmente para jovens investigadores, o
panorama talvez continue a ser difícil. Terá
de haver um maior esforço do governo, a
par de um maior dinamismo do sector privado, no financiamento de actividades I&D,
para que se possa aproveitar todo o investimento feito na área da formação.
Para si quais as áreas de investigação mais promissoras em Portugal?
Em minha opinião, há que olhar para o que
já se faz e bem em Portugal, mas também
para outras áreas que possam ser estrategicamente importantes para o país. Assim
por alto, sem fazer uma reflexão aprofundada, há áreas em que o país tem tradição,
como, por exemplo, nas ciências biomédicas e na ciência de materiais, e outras áreas, como as ciências do mar ou as energias
renováveis, em que o país deveria ter um
papel mais activo.
Um desafio profissional interessante, em
que pudesse aplicar os meus conhecimentos em prol do desenvolvimento do país e ao
mesmo tempo aprender coisas novas, e a
garantia de um bom ambiente de trabalho.
Na sua opinião, Portugal é um bom
país para desenvolver trabalho de investigação científica? Porquê?
É difícil responder a essa pergunta quando se trabalha no estrangeiro e o contacto
com a realidade do país é esporádico e algo
superficial. Dos colegas e amigos que fazem investigação em Portugal, oiço muitos
76.
Fevereiro 2007 | Mundus
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CADERNO ESPECIAL
“...não temos a noção real
do que valemos...”
O que o levou a deixar o país e ir estudar/ trabalhar para o estrangeiro?
RUI MANUEL MARQUES
FERNANDES DA COSTA
Idade:
34 anos
Funções actuais:
Section on In-Vivo Neural Function
Laboratory for Integrative Neuroscience
NIAAA/NIH, EUA
Eu tenho desde longa data um interesse
grande em compreender as bases biológicas
do comportamento. Quando comecei a interessar-me pelo estudo da memória, e mais
tarde as acções e decisões, ficou claro que
teria de sair pois não havia ninguém a trabalhar nestes temas ou com as técnicas com
que trabalho, em Portugal.
temos uma noção real do que valemos. Tão
depressa apelidamos algo de “melhor do
mundo” sem o ser, como ignoramos coisas
realmente inovadoras e criativas. O outro é
que os projectos institucionais nunca são
feitos a dez ou vinte anos; o normal é serem
feitos a 3 ou 5 anos. Ora, se um investigador
tem de ter um programa de investigação a
médio/longo prazo (6 anos ou mais); como é
que o pode realizar em instituições com planos a curto prazo?
O que o fez ficar? Porque não voltou?
Tive a possibilidade de trabalhar naquilo que
gosto, com os meios financeiros, técnicos, e
de recursos humanos necessários para desenvolver o programa de investigação que eu
queria.
O que o faria voltar a Portugal (a nível
profissional)?
Integrar um projecto ambicioso, de longo
prazo, e que abarcasse mais que o projecto
do meu próprio laboratório. Algo de que me
pudesse orgulhar.
Para si quais as áreas de investigação mais promissoras em Portugal?
Obviamente que penso que a área da neurociência, em que trabalho, é uma área promissora. Embora não conheça muito, penso
que algumas áreas da bioengenharia e da
robótica são promissoras. Também penso
que a investigação nas áreas da biologia
computacional, da biologia estrutural, e da
genética (associada à clínica) podem vir a ser
muito interessantes.
Na sua opinião, Portugal é um bom
país para desenvolver trabalho de investigação científica? Porquê?
Está a melhorar bastante, e não se pode
quase comparar ao Portugal onde cresci.
Tem várias vantagens em relação a outros
países. Por exemplo, os bons alunos ainda se interessam pela ciência, e portanto
é possível atrair alguns dos melhores para
fazer investigação científica. Noutros países
já não é assim. Portugal também tem vários
problemas. Dois deles fazem com que ainda
haja um caminho longo a percorrer na investigação científica portuguesa. Um é que não
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Fevereiro 2007 | Mundus
77.
CADERNO ESPECIAL
“...Penso que Portugal
é um óptimo país para desenvolver
investogação científica...”
O que o levou a deixar o país e ir estudar/ trabalhar para o estrangeiro?
SOFIA JORGE ARAÚJO
Idade:
35 anos
Área:
Biologia do desenvolvimento
Funções actuais:
Investigadora contratada pelo Consejo
Superior de Investigaciones cientificas
(CSIC), Espanha
Em 1994 foi-me atribuída uma bolsa do
Programa Gulbenkian de Doutoramento
em Biologia e Medicina (PGDBM). Após o
primeiro ano, com frequência de cursos
avançados em Portugal, apercebi-me que
para fazer o doutoramento nas áreas que
me interessavam, teria que sair de Portugal. Em Outubro de 1995, comecei o meu
doutoramento no Imperial Cancer Research Fund (ICRF) em Londres.
O que o fez ficar? Porque não voltou?
Após o doutoramento, surgiu a oportunidade de fazer um pós-doutoramento também
em Londres. Aproveitei esta oportunidade para continuar a fazer investigação e
aprender mais sobre temas que me entusiasmam. Em seguida, fui contratada para
vir trabalhar para Espanha, mais concretamente Barcelona, onde me encontro desde
2004.
O que o faria voltar a Portugal (a nível
profissional)?
A ideia de voltar a Portugal tem estado
sempre presente desde que saí do país em
1995. No entanto, continuam a existir mais
oportunidades, em especial para cientistas
juniores, fora que dentro de Portugal. Por
exemplo, tanto no Reino Unido como em
Espanha, existem bolsas e contratos para
jovens investigadores após um doutoramento e uma experiência pós-doutoral. Estes contratos (career development awards),
são (geralmente) oferecidos por 5-6 anos, e
geram oportunidades profissionais (e desenvolvimento de linhas de investigação
próprias) para investigadores no início da
sua carreira independente.
78.
Fevereiro 2007 | Mundus
Na sua opinião, Portugal é um bom
país para desenvolver trabalho de
investigação científica? Justifique
porquê?
Penso que Portugal é um óptimo país para
desenvolver investigação científica. Desde há
10 anos que se nota uma grande diferença na
massa crítica, isto é, no número de laboratórios e investigadores, do país. De momento,
parece que a tendência é mesmo a de aumentar estes números o que fará de Portugal um país ainda melhor para desenvolver
trabalho de investigação científica. Além disso, Portugal é geograficamente privilegiado,
uma vez que é um país pequeno em que é
fácil as pessoas encontrarem-se e reunirem-se sem perder muito tempo. Por esta
razão, os investigadores portugueses deveriam trabalhar e colaborar mais em equipas
interdisciplinares e de regiões diferentes.
Para si quais as áreas de investigação mais promissoras em Portugal?
De momento, dentro das ciências da vida, as
áreas mais promissoras em Portugal são a
Biologia do Desenvolvimento (Embriologia),
a Imunologia e as Neurociências. Esperemos
que estas continuem a ser promissoras, mas
que também se aposte e se invista noutras.
É também muito importante que se invista mais na comunicação de ciência em
Portugal. Nos últimos 10 anos a informação relativa à ciência tem-se tornado mais
popular (e a sua presença mais frequente),
mas continua a haver necessidade de criar
mais espaço e oportunidades para que os
cidadãos portugueses possam discutir e
dialogar sobre assuntos de ciência. Para
tal, é também necessário que mais cientistas se envolvam na comunicação da ciência
que fazem.
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CADERNO ESPECIAL
“...a decisão de ficar não foi tomada por mim...”
SUSANA ARAUJO
MARREIRO VARELA
Idade:
29 anos
Área:
Ecologia do Comportamento e Biologia
da Conservação
Funções actuais:
Estudante de doutoramento, França
pessoas. Em ciência, e muito provavelmente em todos
os ambientes profissionais, as relações de trabalho
entre colegas e superiores são muito importantes. É
preciso fazer compreender às pessoas com quem se
trabalha, que se é alguém no qual vale a pena investir
tempo e dinheiro. Se os outros perceberem que nós
temos capacidade de trabalho, motivação, criatividade
e intuição para trabalhar em ciência, então as portas
abrem-se com alguma facilidade, e as oportunidades
de trabalho aparecem. Foi mais ou menos o que me
aconteceu. Durante o meu estágio consegui chamar
a atenção do meu orientador (sem ter ainda a noção
exacta de que o estava a fazer), que se interessou em
mim, e me propôs ficar a trabalhar com ele, para podermos desenvolver o projecto que, então, tinhamos
começado. Foi nessa altura que a minha vida mudou
de facto, porque em vez de um ano de estágio, eu iria,
afinal, ficar em França por mais cinco anos, um para
o Mestrado, e os outros quatro para o Doutoramento.
Actualmente, estou no último ano do doutoramento,
que vou defender em Maio, se tudo correr bem.
O que o levou a deixar o país e ir estudar/ trabalhar para o estrangeiro?
O que o faria voltar a Portugal (a nível profissional)?
Quando tomei a decisão de vir estudar para França,
a minha intenção era só a de passar um ano numa
instituição científica estrangeira, de modo a conhecer
o mundo da ciência fora de Portugal. Foi, por isso,
que me candidatei a uma bolsa Erasmus para fazer
o estágio de licenciatura no Instituto de Ecologia da
Universidade Pierre et Marie Curie, em Paris. Como
na altura eu tinha apenas 22 anos e, por isso, desconhecia totalmente o mundo da ciência e como fazer
parte dele, o meu projecto de estudar no estrangeiro
foi motivado mais pela curiosidade, do que por uma
ideia concreta de futuro. É verdade que eu já sonhava
em construir uma carreira cientifica, mas como é proprio da natureza dos sonhos, havia em mim mais força
de vontade, do que um plano de acção bem definido.
No entanto, foi essa força de vontade que me levou a
tomar a decisão de partir, o que, finalmente, acabou
por ser a decisão mais importante.
No meu caso, o regresso a Portugal nunca esteve em
causa. Quando decidi ficar em em França para fazer o
douramento, nunca me convenci a mim própria que
não regressaria a Portugal.
Nem a minha experiência de vida no estrangeiro me
fez alguma vez sentir que o meu Pais é inferior aos
outros. Antes pelo contrário. A vida fora de Portugal
ensinou-me a compreender melhor, e a gostar mais
do meu País, simplesmente porque não há mundos
perfeitos em lado nenhum. Hoje, depois de sete anos
fora de Portugal, sinto uma vontade enorme de regressar, e tenho o sonho, talvez ingénio, de regressar
para ajudar a desenvolver em Portugal projectos de investigação científica semelhantes aos que se fazem lá
fora. Há, no entanto, um problema para as pessas que
partem muito tempo para estudar, ou trabalhar no estrangeiro, que tem a ver com o facto de a comunidade
cientifica portuguesa não as conhecer, o que adiciona
uma dificuldade importante ao projecto de regresso.
O que o fez ficar? Porque não voltou?
A decisão de ficar, em si, não foi tomada por mim. A
este respeito, aprendi com a experiência, que muitos
dos rumos que se tomam na vida são, em grande parte, condicionados pelas opiniões e decisões de outras
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Na sua opinião, Portugal é um bom país para
desenvolver trabalho de investigação científica? Porquê?
Sim. Portugal é um País como os outros. Não há razão
para pensar que em Portugal não se pode fazer ciência. Por um lado, os investigadores portugueses são
excelentes em tudo o que fazem. E por outro, Portugal
é um Pais onde ainda há muita coisa para fazer, muitas instituições que poderiam ainda ser criadas, muitas áreas científicas para desenvolver, de tal modo que
as oportunidades de trabalho, em teoria, não deveriam
faltar. Infelizmente, o que falta é investimento (tanto da
parte do Estado como de privados) para lançar novos
projectos, para financiar os já existentes e para pagar
a mais pessoas. Enquanto não houver dinheiro disponível para investir sem restrições na ciência, Portugal
nunca será um País atractivo para a comunidade científica portuguesa e estrangeira.
Para si quais as áreas de investigação mais
promissoras em Portugal?
Actualmente, em Portugal e no Mundo, a ciência fundamental, seja ela em que área for, é uma das componentes da ciência que deveria ser financiada continuamente, porque é com base na ciência fundamental que
todas as outras avançam. Por outro lado, há urgência
em desenvolver as áreas da Ecologia, Biologia da Conservação, Biodiversidade, Genética de Populações,
Ambiente, Clima e Economia aplicada à Conservação
da Natureza. Todas estas disciplinas estão interligadas, e todas elas são cruciais para nos ajudarem a
conhecer, a compreender, a preservar e a viver em
equilibrio com a Natureza. Hoje, este é de facto o tema
da actualidade, do qual depende mesmo a sobrevivência da vida na Terra. É preciso mudar as mentalidades
com urgência para o bem de todos, e a contribuição da
ciência neste processo é fundamental.
Gostaria só de informar, que a minha tese de doutoramento tem sido financiada pela Fundação para a Ciência
e a Tecnologia do Ministério da Ciência e do Ensino Superior de Portugal. As instituições de acolhimento são o “Laboratoire du Fonctionnement et Evolution des Systèmes
Ecologique” da Universidade Pierre et Marie Curie (Paris
VI), em França, e o “Konrad Lorenz Institute for Ethology”,
da Universidade de Viena, na Áustria. A minha tese tem
por objectivo estudar e compreender de que modo a partilha de informação social entre os animais é importante
para a selecção de habitats de reprodução e de parceiros
sexuais. “Informação social” é um dos temas mais recentes da Ecologia do Comportamento, e um dos que tem
actualmente originado maior debate. Uma das aplicações
mais importantes é a Conservação das espécies em risco
de extinção.
Fevereiro 2007 | Mundus
79.
CADERNO ESPECIAL
“...talvez possa trazer a minha
experiência contribuir
para o desenvolvimento do País...”
O que o levou a deixar o país e ir estudar/ trabalhar para o estrangeiro?
TIAGO FLEMING OUTEIRO
Idade:
30 anos
Área:
Neurociências, doenças neurodegenerativas
Funções actuais:
Postdoctoral Research Fellow, MassGeneral Institute for Neurodegenerative Disease, Harvard Medical School, EUA
Depois de terminada a minha licenciatura,
em 1998, senti que gostava de fazer investigação ao mais alto nível. Os EUA são o país
onde há mais massa crítica, onde há um forte investimento em investigação, e onde estão reunidas outras condições importantes
para que se possa fazer um bom trabalho.
Foi isso que me fez procurar este país para
fazer o doutoramento.
O que o fez ficar? Porque não voltou?
Fui ficando porque fui sentindo que era importante continuar por cá mais algum tempo para melhorar a minha formação, mas o
meu objectivo é voltar, e isso vai acontecer
já este ano.
O que o faria voltar a Portugal (a nível
profissional)?
Eu posso já falar no presente, uma vez que
estou quase de regresso. O que me faz voltar
a Portugal é acreditar que há boas condições
para que possa fazer um trabalho de qualidade, mas também sentir que talvez possa
trazer a minha experiência para contribuir
para o desenvolvimento do país. E, obviamente, tenho também motivos pessoais fortes que me fazem querer regressar.
Na sua opinião, Portugal é um bom
país para desenvolver trabalho de
investigação científica? Justifique
porquê?
Penso que Portugal tem evoluído bastante nos últimos anos, e que apresenta neste
momento condições suficientes para que
possamos desenvolver trabalho de grande
80.
Fevereiro 2007 | Mundus
qualidade. Isto deve-se a um aumento significativo da massa crítica – colegas que foram
regressando e lutando para que as coisas
fossem evoluindo positivamente.
Certamente que há ainda muito a fazer, mas
devemos encarar isso pelo lado positivo – há
um grande espaco para que as coisas possam ser feitas de forma planeada e consistente. Devemos também ter consciência de
que só com um esforco sério e conjunto podemos colocar Portugal num nível de maior
relevo a nivel internacional. E compete-nos a
todos lutar por esse objectivo! Temos todos
de perceber que isto será importante para
o desenvolvimento económico, que todos os
Portugueses desejam, e que é importante
que os governos vão aumentando o investimento em investigação, para que os frutos
possam vir a ser colhidos a médio-longo
prazo.
Para si quais as áreas de investigação mais promissoras em Portugal?
Eu penso que há várias áreas promissoras
em que Portugal pode apostar. Há vários
centros de investigação reconhecidos a nível
internacional pela qualidade que apresentam, e esses merecem que se aposte no seu
trabalho. Áreas como a bioengenharia, as
neurociências, a biotecnologia, as ciências
da computação, são, quanto a mim, áreas
com grande potencial em Portugal. Penso
também que os novos programas estabelecidos com Universidades Americanas, e
outros que se estabeleçam com outras Universidades de outros países, podem também
ajudar a definir áreas prioritárias. O importante, quanto a mim, é que sejamos capazes
de ir fazendo investigação aplicada, para que
possamos ir colhendo frutos concretos do
investimento feito.
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CADERNO ESPECIAL
“...tenho muito orgulho
em ser portuguesa numa equipa
internacional...”
VÂNIA CASIMIRO SILVA
COELHO
Idade:
27 anos
Área:
Investigação em Cancro
Funções actuais:
Investigadora Pós-Doc na Universidade
de Medicina de Southampton , Inglaterra
O que a levou a deixar o país e ir estudar/ trabalhar para o estrangeiro?
No âmbito de um projecto de uma disciplina
da licenciatura em Microbiologia na Universidade Católica do Porto, que desenvolvi no
IPO do Porto, surgiu o convite para fazer o
doutoramento na Universidade de MedicinaCharité, em Berlim. O reconhecimento internacional do referido hospital, a natureza do
projecto proposto, bem como a oportunidade
de desenvolver uma carreira diferenciada levaram-me a aceitar este desafio.
publicações de um investigador determina
o financiamento dos seus futuros projectos.
Há dois anos atrás, quando ainda estava a
fazer o meu doutoramento no Charité, em
Berlim, a FCT não financiou o meu projecto
por eu, na altura, ainda não ter publicações.
Naturalmente que situações como estas não
me motivam a voltar a Portugal.
As diferentes oportunidades desafiantes que
me foram propostas, em países europeus,
confrontadas com as dificuldades em Portugal, são razões fundamentais para explicar a
minha opção.
Acresce ainda que todo o meu percurso e
experiência de vida na Alemanha, me fazem
cada vez mais pensar como uma cidadã da
Europa. Não querendo com isto dizer que
não gostaria de um dia voltar a Portugal.
O que a faria voltar a Portugal (a nível
profissional)?
Voltaria a Portugal se encontrasse uma
oportunidade para trabalhar como investigadora que me proporcionasse a participação
em projectos aliciantes, com estatuto para
competição a nível Europeu, oferecendo uma
compensação económica compatível.
O que a fez ficar? Porque não voltou?
Em ciência os resultados obtidos nem sempre, ou talvez na maior parte das vezes, espelham o muito e árduo trabalho realizado
pelo investigador. Isto porque para se descobrir algo de novo, é preciso ser-se ambicioso e arriscar experimentar aquilo que nem
sempre corre como previsto. Uma vez que a
“moeda” da nossa profissão são as publicações, o facto de estarmos algum tempo sem
publicar significa não vermos o nosso devido
valor reconhecido. Em Portugal esta é ainda uma questão determinante. O número de
www.cienciapt.net/mundus
Na sua opinião, Portugal é um bom
país para desenvolver trabalho de investigação científica? Porquê?
Penso que aos poucos os investigadores
portugueses têm vindo a superar as limitações que se colocam em Portugal. O crescente reconhecimento que diversas instituições portuguesas têm recebido pelo seu
mérito e contributo para o conhecimento
científico revela-nos que há mudanças em
curso.
A integração europeia tem proporcionado o aparecimento de muitos jovens cientistas que desenvolvem a sua carreira no
estrangeiro, criando condições para mais
tarde em Portugal dinamizar uma actividade científica assente na rede de contactos
estabelecidos.
Espero que num futuro próximo Portugal
consiga reunir as condições necessárias
para motivar os cientistas que estão fora a
regressar.
Para si quais as áreas de investigação mais promissoras em Portugal?
O facto de já estar ausente há quatro anos,
não me tem permitido acompanhar muito
de perto os projectos em Portugal. No entanto vejo como muito promissoras as áreas de oncobiologia, neurociências e controlo da dor.
No mundo de hoje não é mais possível pensar
como há dez anos atrás. É fundamental que
as nossas opções se pautem por referenciais
que já não cabem nos limites geográficos de
cada um dos nossos países. Para uma jovem
como eu, o questionamento que está na base
das minhas decisões não é mais o de regressar ou não ao meu país.
Podendo parecer paradoxal, tenho muito
orgulho em ser Portuguesa numa equipa internacional. Talvez seja também esta
uma forma de contribuir para a criação de
melhores condições para a investigação em
Portugal.
Fevereiro 2007 | Mundus
81.
CADERNO ESPECIAL
“...o inbreeding, que atinge taxas
assustadoras em Portugal,
está fortemente correlacionado
com a baixa produtividade científica...”
O que o levou a deixar o país e ir estudar/ trabalhar para o estrangeiro?
TIAGO VAZ MAIA
Idade:
35 anos
Área:
Psicologia, neurociências e informática
Funções actuais:
Estudante de doutoramento no Departamento de Psicologia da Carnegie
Mellon University, EUA
O tipo de investigação que eu queria fazer
não existia em Portugal, pelo que foi muito
natural olhar além-fronteiras. Eu estava,
desde muito cedo, interessado em usar técnicas computacionais para construir modelos do cérebro e explicar o comportamento
humano. Ainda me lembro vividamente do
dia em que tive essa ideia pela primeira vez,
quando estava no último ano do liceu. Na
altura, eu não fazia ideia que isso era uma
área de investigação extremamente activa
ou sequer que alguém já se teria lembrado
da mesma coisa! (Isto passou-se antes da
existência da Web; hoje em dia, é já difícil
lembrarmo-nos como o acesso à informação era mais limitado...)
Comecei por me licenciar em Engenharia
Informática na Universidade Nova de Lisboa, mas cedo percebi que precisaria de
uma formação altamente interdisciplinar
que além de informática incluísse também
psicologia e neurociências, o que era praticamente impossível em Portugal. Assim, a
minha vinda para os Estados Unidos, onde
esse tipo de trabalho interdisciplinar é muito valorizado, acabou por ser muito natural.
Antes da minha vinda, ainda fiz algumas
“excursões” por áreas relacionadas - trabalhei, por exemplo, em robótica inteligente para exploração planetária na Agência
Espacial Europeia na Holanda - mas o meu
sonho de usar técnicas computacionais
para desenvolver teorias rigorosas acerca
do funcionamento do cérebro e da mente
continuou sempre comigo. Encontrei no
Departamento de Psicologia da Carnegie
Mellon University o ambiente ideal para
dar corpo a esse sonho, uma vez que aqui a
psicologia, as neurociências e a informática estão intimamente ligadas e existe uma
82.
Fevereiro 2007 | Mundus
forte tradição de utilização de modelos
computacionais para simular o cérebro e
explicar o comportamento.
O que o fez ficar? Porque não voltou?
Vou acabar o doutoramento agora no verão, pelo que a questão de voltar ou não
para Portugal é uma com a qual me estou
precisamente a começar a debater neste
momento. Por um lado, as condições nos
EUA são extremamente tentadoras e não
têm paralelo em Portugal; por outro lado,
eu gostaria de usar a experiência que adquiri nestes anos nos EUA para ajudar a
desenvolver a ciência em Portugal, particularmente na minha área. A decisão não
é fácil...
O que o faria voltar a Portugal (a nível
profissional)?
O tipo de trabalho que eu faço não exige equipamentos caros ou investimentos
elevados, pelo que a questão fundamental
nem seriam os meios técnicos ou financeiros disponíveis. Muito mais significativo é o
facto de a minha área não existir em Portugal, pelo que teria de ser eu a criá-la, o que
só faria sentido numa perspectiva de médio
ou longo prazo. Para isso, eu necessitaria
de uma posição profissional estável e de
sentir que as pessoas que me rodeariam
estariam interessadas em que eu viesse a
desenvolver um grupo de excelência nesta
área. O resto seria trabalho que teria de ser
eu a fazer. Julgo que há em Portugal muito
talento - basta ver os sucessos dos alunos
portugueses que vão para fora. Atraindo
estudantes e pós-doutorandos de topo e
dando-lhes uma formação competitiva a
nível internacional (incluindo estadias no
www.cienciapt.net/mundus
CADERNO ESPECIAL
estrangeiro), penso que seria possível criar
em pouco tempo a massa crítica essencial
para ter em Portugal um grupo com forte
projecção internacional nesta área.
Na sua opinião, Portugal é um bom
país para desenvolver trabalho de investigação científica? Porquê?
Existem em Portugal vários problemas
endémicos que põem obstáculos sérios ao
desenvolvimento de investigação científica
de alta qualidade. Embora seja fácil atribuir
as culpas da baixa produtividade científica portuguesa a factores como a falta de
meios, há na realidade factores bastante
mais graves a impedir o desenvolvimento
de uma cultura de excelência na ciência
em Portugal. A meu ver, o factor-chave é
que o progresso na carreira académica ou
científica nem sempre - os mais cépticos
diriam mesmo que raramente - tem base
numa avaliação objectiva do mérito dos
candidatos. Quem entra para os quadros e
quem sobe na carreira nem sempre é quem
tem maior produtividade ou aptidão, mas
sim quem está no sistema há mais tempo,
quem conseguiu ter mais força em jogos de
influência, etc. Como a qualidade da ciência
é, acima de tudo, uma função da qualidade
das pessoas que a fazem, se nem sempre
são as melhores pessoas que entram para
o sistema ou nele ascendem, a qualidade
da ciência pode ficar irremediavelmente
comprometida.
Um óptimo exemplo disto é o chamado “inbreeding” (a tendência das universidades
para contratarem para os seus quadros
as pessoas que lá fizeram o doutoramento). Enquanto nos Estados Unidos quando
abre uma vaga numa universidade o objectivo é atrair o melhor candidato possível,
em Portugal as coisas são frequentemente “cozinhadas” de forma a que as poucas
vagas que vão abrindo vão para candidatos
internos que muitas vezes têm menos qualificações do que candidatos externos.
Isto significa que não há oportunidade para
renovação de ideias e abordagens, e cria
situações em que a mediocridade científica
se pode auto-propagar através de gerações
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de novos investigadores, o que é extremamente preocupante. De resto, sabe-se hoje
que o inbreeding, que atinge taxas assustadoras em Portugal, está fortemente
correlacionado com a baixa produtividade
científica.
Para si quais as áreas de investigação mais promissoras em Portugal?
É um pouco difícil responder a essa pergunta em termos gerais, uma vez que há
áreas com as quais eu tenho pouca familiaridade. Posso, no entanto, referir a título
de exemplo que há bastante assimetria no
desenvolvimento em Portugal das várias
áreas com as quais a minha investigação
intersecta. Como eu faço modelos computacionais do cérebro e do comportamento
tanto no organismo saudável como em doenças mentais, o meu trabalho situa-se na
intersecção da informática, neurociências,
psicologia e psiquiatria. Destas áreas, a informática é talvez aquela na qual há mais
massa crítica em Portugal. Recentemente,
tem também havido várias movimentações
no sentido de fortalecer as neurociências,
o que me traz bastante esperançado de que
possa haver um futuro auspicioso para as
neurociências em Portugal. Já a psicologia
e a psiquiatria portuguesas me trazem um
pouco mais preocupado. A psicologia em
Portugal parece por vezes ainda bastante
agarrada a escolas de pensamento que já
se consideram largamente ultrapassadas
nos EUA, e a produtividade científica das
nossas faculdades de psicologia é bastante
baixa, com poucas publicações em revistas internacionais de mérito indiscutível.
Relativamente à psiquiatria, tenho bastante menos conhecimento do que se passa
em Portugal, pelo que me é difícil avaliar
a situação actual; no entanto, das poucas
coisas que conheço, não tenho encontrado
uma tradição forte de investigação.
psicologia requer meios técnicos e financeiros ao alcance de qualquer faculdade
de psicologia: com um vulgar computador
para correr experiências e algum software
especializado (e.g., para análise de dados
e estatística) pode-se chegar muito longe
em várias áreas da psicologia. Não há, por
isso, à partida, nenhuma razão para que
não pudéssemos ter muitos grupos fortes
em psicologia em Portugal. No entanto, a
psicologia portuguesa tem fraca expressão
a nível internacional, com muitos investigadores a publicar sobretudo em revistas
nacionais (embora existam, naturalmente,
honrosas excepções).
É claro que há áreas científicas (e.g., imagiologia biomédica) que exigem investimentos avultados em equipamento, que
Portugal deverá fazer. No entanto, estou
convencido que enquanto o sistema universitário e científico não funcionar de forma a
promover claramente as pessoas de qualidade, não haverá investimento em equipamento que possa garantir a competitividade
da ciência portuguesa. Nos últimos anos,
Portugal tem feito um investimento muito
significativo na formação de recursos humanos, tendo financiado muitos doutoramentos e pós-doutoramentos, vários deles
em centros de referência no estrangeiro.
Importa agora criar condições para que a
ciência e tecnologia nacionais possam tirar
fruto desses investimentos. Se, por exemplo, as pessoas de mais qualidade se virem
impedidas de entrar para as universidades
portuguesas porque as carreiras estão entupidas, os poucos lugares que abrem vão
para as pessoas da casa, etc., e se aqueles
que entram acabarem por ser abafados por
um sistema que nem sempre preza a excelência, poderá perder-se uma oportunidade única para tornar a ciência e tecnologia
portuguesas competitivas a nível internacional.
É curioso notar que este panorama confirma o que eu referi acima: em várias áreas,
a baixa produtividade científica portuguesa
fica-se a dever mais a factores sociológicos do que à falta de meios técnicos ou
financeiros. Por exemplo, fazer investigação científica de topo em vários ramos da
Fevereiro 2007 | Mundus
83.
CADERNO ESPECIAL
“...em Portugal há muito mais o
reconhecimento de apelidos do
que de qualidade...”
lho nos Estados Unidos, mas o desejo de
voltar à Europa é também bastante gran-
VIRGÍLIO JORGE JESUS
CADETE
Idade:
25 anos
Área:
Pediatria – Metabolismo Cardíaco/Doenças cardíacas congénitas
Funções actuais:
Aluno do programa de estudos graduados do Departamento de Pediatria da
Universidade de Alberta, Edmonton,
Alberta, Canadá
O que o levou a deixar o país e ir estudar/ trabalhar para o estrangeiro?
Primeiro a falta de espaço e financiamento para um aluno apenas razoável (como
eu fui classificado no final da minha licenciatura). Em segundo lugar a possibilidade de ver as minhas potencialidades
reconhecidas com a possibilidade de trabalhar com um dos mais reconhecidos
e sucedidos investigadores na área de
investigação cardiovascular. E naturalmente o espírito de aventura, o desejo
de viajar o mundo que é quase inerente a
todos os portugueses, especialmente em
cientistas.
O que o fez ficar? Porque não voltou?
Neste momento estou ainda no início do
programa. Estou como aluno de Mestrado mas penso continuar e fazer o Doutoramento por cá e talvez experimentar um
pós-doutoramento noutro país. Gostaria
muito de experimentar o ritmo de traba-
84.
Fevereiro 2007 | Mundus
hora de tentarmos recrutar investigadores
estrangeiros para adicionar algo mais.
de.
O que o faria voltar a Portugal (a nível
profissional)?
Neste momento não faz parte dos meus
planos regressar a Portugal num futuro
próximo. Gostaria bastante de poder desenvolver o meu trabalho de investigação
em Portugal, mas penso que ainda estamos demasiado agarrados aos estatutos
sociais e a hierarquias universitárias demasiado decadentes. De uma forma geral
penso que em Portugal há muito mais o
reconhecimento de apelidos do que de
qualidade.
Não quero com isto dizer que estas pessoas não possuem qualidade suficiente, mas
existem situações quase escandalosas um
pouco por todo o pais.
Na sua opinião, Portugal é um bom
país para desenvolver trabalho de investigação científica? Porquê?
O único senão que encontro é a questão referida previamente: mentalidade. Por vezes
em Portugal pensamos demasiado pequeno ou estupidamente grande. Temos todos
de ser mais ambiciosos e mais exigentes,
mas ao mesmo tempo não podemos estar à
espera que as coisas aconteçam como que
por milagre, esperar por D. Sebastião por
entre o nevoeiro.
Para si quais as áreas de investigação mais promissoras em Portugal?
Penso que neste momento a elevada qualidade dos cuidados oncológicos fornece um
excelente ambiente para o desenvolvimento da oncologia. Uma área emergente em
França e que começa a alastrar ao norte
da América prende-se com os benefícios
do vinho e a sua relação com longevidade.
Penso que Portugal pode investir um pouco
mais nessa área. Naturalmente que gostaria também de ver um desenvolvimento
considerável na área cardiovascular.
Penso que Portugal tem todas as condições
para se tornar num país extremamente
atractivo para o desenvolvimento de investigação científica de qualidade. Primeiro
porque possuímos licenciados de qualidade em diversas áreas (basta olhar para o
número de portugueses no estrangeiro a
desenvolver investigação de qualidade internacionalmente reconhecida). Segundo
porque o investimento feito nos últimos
anos a nível de infra-estruturas foi elevado.
Os edifícios e o equipamento existem pelo
que é apenas necessário dar-lhes uso! Em
terceiro lugar porque somos um país extremamente acolhedor o que ajuda sempre na
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Fevereiro 2007 | Mundus
85.
FACTOS &
NÚMEROS
Produção Científica Nacional
Investigadores em Portugal e no Estrangeiro
Investigadores no estrangeiro divulgam a ciência portuguesa
O Fórum Internacional dos Investigadores Portugueses (FIIP) realizou-se mais uma vez em Portugal, com o objectivo de estimular a
cooperação entre os investigadores portugueses em Portugal e no
estrangeiro. O encontro é uma “oportunidade” para os investigadores portugueses, a trabalhar em Portugal ou lá fora, trocarem
impressões. Os cientistas portugueses no estrangeiro “são excelentes âncoras da investigação portuguesa” e estas reuniões em
solo nacional demonstram que “também podemos falar de ciência
em português”, disse Isabel Azevedo.
“Em termos de informação, em Portugal está-se tão bem como
noutro sítio qualquer. Os estudantes portugueses têm uma preparação nada inferior e por vezes mesmo superior à dos alunos de
outros países. As diferenças estão na investigação de ponta, que
exige equipamentos muito poderosos. Aí é que, em regra, estamos
mal”, observou a especialista. Porém, “a investigação em Portugal
complementa-se muito bem com os avanços científicos lá fora”, o
que torna importantes encontros como este.
Internacionalização da Ciência Portuguesa
Portugal não pode ficar alheio à crescente dinâmica da internacionalização da ciência, à escala europeia e mundial, por isso não deve
perder o comboio do desenvolvimento científico para não ficar para
trás em relação aos seus parceiros europeus e mundiais.
Produção Científica Portuguesa
Desde 1980 que a produção científica nacional cresce exponencialmente
a uma taxa média anual de 13 por cento. A nossa produção científica,
apesar dos avanços evidentes na ciência em Portugal, é idêntica à da
Grécia, um país com uma economia e dimensão semelhante a Portugal. Para termos um crescimento idêntico à média da União Europeia
ainda vai ser preciso vários anos ou mesmo décadas. A nossa ciência
ainda produz apenas metade do que seria de esperar relativamente ao seu
produto interno bruto (PIB) e só consegue angariar metade do que seria de
esperar dos fundos para a investigação, segundo defende o docente Adelino
V.M. Canário, da Universidade do Algarve no texto da sua página pessoal, “A
peculiaridade da investigação científica portuguesa”.
Quadro 1: Produção científica portuguesa
Número de publicações* por área científica (nível 1)
* Apuramento efectuado pelo método de contagem fraccionada
** Valores provisórios
(1) Institute for Scientific Information, National Citation Report for Portugal 1981/2002
(2) Institute for Scientific Information, National Citation Report for Portugal 1981/2005
86.
Fevereiro 2007 | Mundus
www.cienciapt.net/mundus
FACTOS &
NÚMEROS
Produção Científica Portuguesa 1990-2005
Os dados actualmente disponibilizados pelo Observatório da Ciência e Ensino Superior (OCES) reportam-se ao período de 1990 a 2005. Alguns dos
quadros presentes neste documento, referentes à produção científica nacional, foram elaborados a partir do National Citation Report for Portugal,
base de dados produzida pelo Institute for Scientific Information (ISI).
Gráfico 1: Produção Científica Portuguesa (1990-2005), por
área científica
Gráfico 2: Os 10 países que mais colaboraram com Portugal
Número de publicações* por área científica (nível 1)
* Apuramento efectuado pelo método de contagem global
* Apuramento efectuado pelo método de contagem global
Quadro 2: Colaboração internacional: Número de publicações* em co-autoria com instituições de outros países por área científica (nível 1)
* Apuramento efectuado pelo método de contagem global
** Valores provisórios
Fontes: - Observatório da Ciência e do Ensino Superior: http://www.oces.mctes.pt/
Fonte: Observatório da Ciência e do Ensino Superior, a partir de:
docs/ficheiros/seriesestatisticas90_05vfd.pdf
(1) Institute for Scientific Information, National Citation Report for Portugal 1981/2002
- Institute for Scientific Information, National Citation Report for Portugal 1981-2002;
(2) Institute for Scientific Information, National Citation Report for Portugal 1981/2005
National Citation Report for Portugal 1981-2005
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Fevereiro 2007 | Mundus
87.
PUBLICAÇÕES
EM FOCO
A ESCOLA EM PORTUGAL
de Ana Nunes de Almeida e Maria
Manuel Vieira
STALKING BIRDS WITH
COLOR CAMERA
de Arthur A. Allen
O JARDIM. MANUAL
DO JARDINEIRO-AMADOR
de Joaquim Casimiro Barbosa
88.
Fevereiro 2007 | Mundus
Este livro, editado pela Imprensa
de Ciências Sociais, do Instituto de
Ciências Sociais da Universidade
de Lisboa, é antes de mais, uma
excelente montra dos trabalhos
que as autoras têm desenvolvido
no Instituto de Ciências Sociais sobre a escola em Portugal. Privilegiando o olhar sociológico, a obra
resulta do diálogo estabelecido
entre dois percursos de investigação com perspectivas diferentes
mas profundamente imbricadas
na compreensão da nossa escola:
o percurso que parte dos estudos
sobre a família e a infância, e o que
parte dos estudos sobre a educa-
Trata-se da apresentação de
331 ilustrações a cor natural
mostrando 266 espécies de
pássaros da América do Norte. Destas ilustrações a cores,
editadas pela National Geographic Society, 264 são do
autor. Em 12 capítulos o autor
descreve as suas experiências
de observação e fotografia no
habitat natural dos pássaros.
Com centenas de fotografias a
cores e a negro.
“(...) Dividimos este livro em
três partes. Na primeira encontram-se os conhecimentos
mais necessários para bem
compreender a vida dos vegetais — a descrição sumária dos
seus diferentes órgãos e funções por eles desempenhadas,
bem como a importância relativa d’esses funções; resumindo:
uns elementos de botânica. Esta
parte é, portanto, destinada a
dar ao leitor os conhecimentos
de botânica indispensáveis para
a boa compreensão das outras
duas partes.
ção. Mas o livro procura, também,
responder a uma inquietação decorrente da apreciação dos debates públicos sobre a escola, tantas
vezes assentes na superficialidade
dos argumentos, no impressionismo da analise, na fragilidade
da prova, ou no desconhecimento
do objecto. Ao disponibilizar e ao
analisar criteriosamente informação substantiva, o livro contribui
para um melhor conhecimento
da escola em Portugal. Com ele
se comprova a utilidade social do
conhecimento científico.
A segunda parte, como aplicação dos princípios expostos na
primeira, trata das culturas em
geral, achando-se ali indicados
os rudimentos gerais de jardinagem e as diversas operações
da cultura prática. A terceira
parte, finalmente, ocupa-se das
culturas especiais. (...)” Trata-se
de uma obra clássica da jardinagem portuguesa, ilustrada.
www.cienciapt.net/mundus
PUBLICAÇÕES
JOSHUA BENOLIEL REPÓRTER PARLAMENTAR
de Joshua Benoliel
“Joshua Benoliei foi um dos
mais extraordinários foto-repórteres portugueses deste
século. (...) Se no início da sua
vida profissional se faz em diversas revistas ilustradas, das
quais se destacam a Mala da
Europa, o Tiro e Sport (resultante da fusão do Tiro Civil e da
Revista de Sport), o Ocidente, o
Brasil-Portugal, é com a Ilustração Portuguesa, pertencen-
OS PORTUGUEZES
EM 1640
de Miguel Osório Cabral
Obra invulgar editada pela
Imprensa Nacional, em 1886.
Com uma laudatória carta de
José da Silva Mendes Leal e
dedicatória do autor. Com encadernação com lombada em
pele.
A RESINAGEM DO PINHEIRO
BRAVO
DESCRIÇÃO TOPOGRÁFICA
E HISTÓRICA DA CIDADE
DO PORTO
de José de Sousa Machado
Fontes
te ao jornal O Século, que o seu
nome se afirma. (...)” A pesquisa, selecção e legendagem é de
Teresa Parra da Silva.
Da Livraria Civilização. Porto.
(1941), “a resinagem do pinheiro bravo é uma das maiores
fontes de riqueza de Portugal.
A exploração da matéria-prima
necessária à indústria dos resinosos e a defesa dos valiosíssimos interesses, que nela tem
a Lavoura, levantam problemas
de ordem técnica, económica e
social. Esclarecer a posição
actual dos últimos e as boas
regras, que devem orientar os
primeiros, é o objectivo deste
trabalho”. Ilustrado com fotografias, quadros, e desenhos.
de Agostinho Rebelo da Costa
2.a edição, com a Carta de Tomás
de Modessan e algumas palavras
prévias de A. de Magalhães Basto. Enriquecida com estampas
e mapas curiosos que a ornam.
As gravuras são reproduzidas
a partir das da edição original
setecentista. Encontram-se impressas em separado, duas das
quais em folhas desdobráveis.
Da Editora – Livraria Progredior
- Porto. (1945).
www.cienciapt.net/mundus
MAQUIAVEL E OUTROS
ESTUDOS
de Jorge de Sena
Da Livraria Paisagem. “Este livro
colige alguns estudos, prefácios
e artigos publicados entre 1958 e
1968...”. Aborda personalidades
como Miguel Ângelo, Shakespeare, Rousseau, Karl Marx e
André Malraux. Assinatura de
posse no anterrosto.
Fevereiro 2007 | Mundus
89.
PUBLICAÇÕES
TECHNOLOGIA RURAL OU
ARTES CHIMICAS, AGRICOLO-FLORESTAES
de João Inácio Ferreira Lapa
Dois volumes da segunda edição
correcta e muito aumentada, da
Typographia da Academia Real das
Sciencias.
dutos têxteis, produtos animais e
produtos salinos. Alguns capítulos:
Análise dos vinhos; Composição do
bago da uva; Vida Química do vi-
A obra contém três partes e está
encadernada em dois volumes.
O primeiro volume é composto
pela Primeira parte — produtos
fermentados. o segundo volume
é composto pelas duas restantes:
segunda parte — azeites, lacticínios, cereais, farinhas, pão e féculas, e a terceira parte — produtos
sacarinos, produtos florestais, pro-
nho; Falsificação do vinho; Produtos oleaginosos; Processo prático
da apanha da azeitona; Espremedura do azeite; Propriedades físicas do leite; Fabrico da Manteiga;
Indústria do queijo em Portugal;
Moinhos de água; Qualidades do
pão; Extracção do açucar; Zoetica
das Abelhas; Processos práticos
do corte das madeiras; Methodos
diversos de sangrar os pinheiros;
OS EUCALIPTOS
EM PORTUGAL
por um número muito limitado
de indivíduos.
de Ferd. von Mueller
fazer. Pelo Barão... Traduzido e
anotado no que se refere a Portugal pelo Dr. Júlio A. Henriques.
Este é um dicionário de plantas
úteis próprias para cultura, principalmente nas regiões extratropicais, com as indicações da
pátria de cada uma e de muitas
aplicações que delas se podem
Primeira edição deste magnífico
e importante trabalho pelo qual
“O Barão de Mueller tinha grande empenho na divulgação, porque o considerava extremamente
útil (...)” e que na opinião de J. A.
Henriques “(...) é o catalogo mais
completo de plantas úteis, que
podem ser cultivadas ou nos cli-
mas tropicais ou nos climas temperados. Relativamente a cada
espécie são dadas informações
dos usos que a espécie pode ter
e é indicado o país de origem,
que dará a conhecer a natureza
do clima que ela requer. (...) Os
engenheiros florestais, as câmaras municipais, os agrónomos
encontrarão n’ele informações
preciosas.” Encadernação com
lombada em pele. Carimbo a óleo
no frontispício.
DICIONÁRIO DE PLANTAS
ÚTEIS
Fevereiro 2007 | Mundus
A terceira parte é da primeira
edição de 1871. Encadernação da
época, com lombada em pele.
I Volume, com a identificação
e monografia de 90 espécies.
“(...) Se bem que a nossa chave
de identificação dos eucaliptos
inclua 90 espécies, não engloba todas as existentes no nosso
país — as espécies recentemente introduzidas e aquelas que
ultimamente têm sido identificadas mas que apresentam fraca
adaptabilidade, estando duma
maneira geral representadas
de Ernesto Goes
90.
Qualidades de lã em geral; Lavagem da lã tosquiada; Sedas, sua
extracção; Secagem dos casulos;
Cortimenta do Linho; Apanha do
Algodão; Salga das carnes; Defumação das carnes; Trabalho do
cortume; Extracção do sal marinho; entre tantos outros de diversa
matéria. Profusamente ilustrado
com esquemas e belíssimas gravuras abertas em chapa de cobre.
(...)” Amplamente ilustrado por
esquemas, fotos e inúmeros
desenhos de Maria da Graça
Pinto Gambino. Ilustrado com
dezenas de gravuras a negro
impressas em papel couché,
algumas das quais em folha
desdobrável. Assinatura no anterosto.
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PUBLICAÇÕES
INSTANTES DE LUZ
NO OCEANO
de Luís Quinta
MEMORIA SOBRE
CHAFARIZES, BICAS,
FONTES E POÇOS PÚBLICOS
DE LISBOA, BELÉM,
E MUITOS LUGARES
DO TERMO
de José Sérgio Veloso
d’Andrade
Valiosa contribuição para a bibliografia dos recursos hidrológicos olisiponenses, documentada com plantas e mapas
estatísticos impressos em folhas desdobráveis, peças entre
as quais se encontra, em folha
de grandes dimensões (70x38
cm.), a raríssima “Planta do
Aqueducto das Aguas Livres
desde a nascente do Olival do
Santissimo ao norte de Caneças, até á entrada da Porcalhota”.
Da Indústria Gráfica Lda. “(...) Durante uma década fui conhecendo
os fundos do Atlântico português.
Foram muitas as milhas náuticas
percorridas, e as horas de imersão para apreciar a vida selvagem
que povoa a nossa costa. Um
trabalho moroso devido à grande
vulnerabilidade das águas que,
ora cristalinas, com visibilidades
que podem ir além dos 50 metros, como nas Ilhas Selvagens,
A QUESTÃO ACADÉMICA DE
1907
de Natália Correia
ora turvas, condicionaram, por
vezes, a obtenção de imagens
fidedignas da riqueza dos fundos
em cor e vida. Este livro pretende ser uma visão simples mas
reveladora da realidade do nosso mundo subaquático e, acima
de tudo, um desfilar de cenários
naturais magníficos que, através
da fotografia, é possível trazer ao
grande público.”Boa impressão
sobre papel de qualidade.
Com prefácio de Mário Braga.
Obra editada pela Editorial Minotauro, Lda. “Ao examinarmos
a documentação relativa ao
movimento académico de 1907,
duas circunstâncias nos saltam desde logo à vista: o ritmo
acelerado dos sucessos e a intensa reacção das duas forças
em campo - os estudantes e
as autoridades universitárias,
sustentadas firmemente pelo
governo”. Dedicatória na folha
de guarda.
LIVROS RECOMENDADOS PELA BIBLIOTECÁRIA DO ISEC:
ELLYIN, Fernand
Fatigue damage, crack growth and life prediction/ Fernand Ellyin. - London (etc.): Chapman & Hall, 1997. - 469 p.: il. ISBN 0-412-59600-8, COTA:
4-14-92 (ISEC) - 13932
ROSATO, DOMINIK V., ROSATO, Donald V., ROSATO, Marlene G.
Injection molding handbook/ ed. by Dominick V. Rosato, Donald V. Rosato, Marlene G. Rosato. - 3rd ed. - Boston (etc.): Kluwer Academic Publishers, cop. 2000. - 1457 p.: il. ISBN 0-7923-8619-1, COTA: 4-6-148 (ISEC) - 13946
COLLINS, Jim
De bom a excelente: porque é que algumas empresas dão o salto... e outras não/ Jim Collins. - Cruz Quebrada: Casa das Letras, 2007. - 383 p.:
il. - Trad. de: Good to great. ISBN 978-972-46-1697-1, COTA: 2A-1-122 (ISEC) - 13958
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Fevereiro 2007 | Mundus
91.
Coluna
SAÚDE
Rui Medeiros
Universidade do Minho
[email protected]
Vírus, Vacinas e Cancro do Colo do Útero:
A oportunidade para a investigação na área de Epidemiologia
Molecular, Virologia e Saúde Pública em Portugal
Algumas infecções crónicas por agentes virais apresentam risco aumentado para cancro. Entre estes agentes temos como mais
representativos os vírus HPV no risco para
cancro do colo do útero, o vírus HBV no risco
para cancro do fígado e o vírus EBV no risco
para cancro da nasofaringe.
Os estudos epidemiológicos têm demonstrado uma forte associação entre o cancro
do colo uterino e padrões de comportamento sexual na infecção pelo HPV. A principal
forma de transmissão do HPV é a via sexual,
sendo considerada uma das principais infecções sexualmente transmissíveis detectadas
em mulheres jovens. Idade precoce da primeira relação sexual e a existência de múltiplos parceiros são factores de risco bem
aceites.
Hábitos tabágicos, uso de contraceptivos
orais, presença de doenças venéreas, algumas deficiências nutricionais e raça/etnia,
têm também sido descritos como factores
de risco para esta neoplasia. O Cancro do
colo do útero é reconhecidamente um importante problema de Saúde pública na população portuguesa sendo a sua incidência
estimada em 17 por 100 mil (cerca de 850
casos todos os anos). Além do cancro do
colo uterino, os vírus HPV estão também
associados a alguns tipos de verrugas
genitais e ainda a outras neoplasias anogenitais. Existem identificadas mais de 90
variantes (tipos) do HPV, sendo cada novo
tipo de HPV caracterizado com base na sequência do DNA viral.
92.
Fevereiro 2007 | Mundus
Cerca de 40 tipos de HPV podem infectar o
tracto urogenital e destes cerca de 17 estão
associados ao desenvolvimento de cancro
sendo conhecidos por HPV de alto risco ou
HPV oncogénicos. A investigação nesta área
demonstrou que as proteínas virais complexam com proteínas do hospedeiro importantes na regulação do ciclo celular. Entre os
HPV oncogénicos, temos o HPV16 e HPV18
como os mais frequentemente encontrados
no cancro do colo uterino. Os HPV6 e HPV11
são também associados a verrugas genitais
mas não provocam cancro.
É um facto que o cancro do colo do útero
continua a ser um grave problema de saúde
em Portugal. Sendo uma neoplasia provocada por um vírus, é possível fazer o seu ras-
treio e a sua prevenção através da vacinação
e da formação acerca dos vários factores de
risco conhecidos.
Nas novas directrizes do Plano Nacional de
Saúde, o envolvimento de todos os médicos,
investigadores e outros profissionais de saúde na Investigação Clínica foi considerado
prioritário e como critério cada vez mais importante na avaliação profissional e no sucesso deste mesmo plano. O cancro do colo
do útero é um bom exemplo para centralizar
estes esforços. No entanto, uma simples observação através da publicação cientifica de
origem portuguesa envolvendo o vírus HPV
e o Cancro do colo do útero verificamos que
ainda é escassa a investigação portuguesa
nesta área.
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SAÚDE
A compreensão dos mecanismos envolvidos no desenvolvimento do cancro pode
fornecer uma importante informação para
a optimização da eficácia das estratégias
de saúde pública nos planos oncológicos e
a individualização dos tratamentos adequados a cada doente.
O estudo de agentes infecciosos, como é o
caso dos vírus, é uma importante área de
investigação em oncologia com um elevado
potencial na prevenção e rastreio da doença. O sucesso de qualquer medida de saúde
pública nesta área envolve o conhecimento
por parte da população das principais atitudes que podem ser preconizadas no sentido de diminuir o risco de desenvolver esta
neoplasia. A pesquisa apresentada nas páginas seguintes pretende ser um incentivo
a aumentar o esforço de investigação nesta
área, para deste modo compreender melhor
a realidade Portuguesa.
BIBLIOGRAFIA
PubMed (www.pubmed.gov) serviço gratuito
fornecido pela U.S. National Library of Medicine que inclui 16 milhões de citações da
MEDLINE incluindo artigos na áreas das Ciências da Saúde e Biomedicina desde 1950. O
Objectivo da pesquisa envolveu a determinação dos trabalhos de investigação com base
em institutições portuguesas envolvendo o
cancro do colo uterino. Os critérios de pesquisa envolveram a introdução das palavras
chave: HPV, cervical cancer, Portugal, Porto,
Lisboa, Lisbon, Coimbra.
2001 a 2007
1) Santos AM, Sousa H, Pinto D, Portela C,
Pereira D, Catarino R, Duarte I, Lopes C,
Medeiros R. Linkage of TP53 codon 72 and
p21 nt590 genotypes and the development of
cervical and ovarian cancer.
Eur J Cancer 2006;42(7):958-63
Institutição de origem: Instituto Português de
Oncologia do Porto
2) Ferreira PM, Catarino R, Pereira D, Matos
A, Pinto D, Coelho A, Lopes C, Medeiros R.
Cervical cancer and CYP2E1 polymorphisms:
www.cienciapt.net/mundus
implications for molecular epidemiology. Eur
J Clin Pharmacol 2006; 62 (1): 15-21.
Institutição de origem: Instituto Português de
Oncologia do Porto
3) Cardoso CS, Araujo H, Cruz E, Afonso A,
Mascarenhas C, Almeida S, Moutinho J, Lopes C, Medeiros R. Hemochromatosis Gene
(HFE) Mutations in Viral Associated Neoplasia:Linkage to Cervical Cancer.
Biochem Biophys Res Commun 2006;341(1):2328.
Institutição de origem: Instituto Português de
Oncologia do Porto
4) Coelho A, Matos A, Catarino R, Pinto D,
Pereira D, Lopes C, Medeiros R. Protective
role of the polymorphism CCR2-64I in the
progression from squamous intraepithelial
lesions to invasive cervical carcinoma.
Gynecol Oncol. 2005;96(3):760-4.
Institutição de origem: Instituto Português de
Oncologia do Porto
5) Santos AM, Sousa H, Catarino R, Pinto D, Pereira D, Vasconcelos A, Matos
A, Lopes C, Medeiros R. TP53 codon 72
polymorphism and risk for cervical cancer in Portugal. Cancer Genet Cytogenet.
2005;159(2):143-7.
Institutição de origem : Instituto Português de
Oncologia do Porto
6) Catarino R, Matos A, Pinto D, Pereira D,
Craveiro R, Vasconcelos A, Lopes C, Medeiros R. Increased risk of cervical cancer
associated with cyclin D1 gene A870G polymorphism.
Cancer Genet Cytogenet. 2005;160(1):49-54
Institutição de origem : Instituto Português de
Oncologia do Porto
7) Duarte I, Santos A, Sousa H, Catarino R,
Pinto D, Matos A, Pereira D, Moutinho J, Canedo P, Machado JC, Medeiros R. G-308A
TNF-alpha polymorphism is associated with
an increased risk of invasive cervical cancer.
Fevereiro 2007 | Mundus
93.
SAÚDE
Biochem Biophys Res Commun. 2005;
334(2):588-92.
Institutição de origem: Instituto Português de
Oncologia do Porto
8) Medeiros R, Prazeres H, Pinto D, MacedoPinto I, Lacerda M, Lopes C, Cruz E. Characterization of HPV genotype profile in squamous
cervical lesions in Portugal, a southern European population at high risk of cervical cancer.
Eur J Cancer Prev. 2005;14(5):467-71.
Institutição de origem: Instituto Português de
Oncologia do Porto
9) Matos A, Moutinho J, Pinto D, Medeiros R.
The influence of smoking and other cofactors
on the time to onset to cervical cancer in a
southern European population.
Eur J Cancer Prev 2005; 14(5):485-91.
Institutição de origem: Instituto Português de
Oncologia do Porto
10) Caldeira S, Dong W, Tommasino M. Analysis of E7/Rb associations.
Methods Mol Med. 2005;119:363-79.
Institutição de origem: Faculdade de Medicina
de Lisboa
11) Craveiro R, Costa S, Pinto D, Salgado L,
Carvalho L, Castro C, Bravo I, Lopes C, Silva I, Medeiros R. TP73 alterations in cervical
carcinoma.
Cancer Genet Cytogenet. 2004;150(2):116-21.
Institutição de origem: Instituto Português de
Oncologia do Porto
12) Fonseca-Moutinho JA, Cruz E, Carvalho
L, Prazeres HJ, de Lacerda MM, da Silva DP,
Mota F, de Oliveira CF. Estrogen receptor,
progesterone receptor, and bcl-2 are markers with prognostic significance in CIN III.
Int J Gynecol Cancer. 2004;14(5):911-20.
Institutição de origem: Instituto Português de
Oncologia de Coimbra
13) Novoa Vazquez RM. [Cost-effectiveness
of a cervical cancer screening programme in
the Algarve region, Portugal]
Rev Esp Salud Publica. 2004;78(3):341-53.
Institutição de origem : Administracão Regional de Saude do Algarve
94.
Fevereiro 2007 | Mundus
14) Costa S, Medeiros R, Vasconcelos A, Pinto
D, Lopes C. A slow acetylator genotype associated with an increased risk of advanced
cervical cancer.
J Cancer Res Clin Oncol. 2002;128(12):678-82.
Institutição de origem: Instituto Português de
Oncologia do Porto
2000 e anos anteriores
15) Real O, Silva D, Leitao MA, Oliveira HM,
Rocha Alves JG. Cervical cancer screening in
the central region of Portugal.
Eur J Cancer. 2000 Nov;36(17):2247-9.
Institutição de origem: Instituto Português de
Oncologia de Coimbra
16) Serra H, Pista A, Figueiredo P, Urbano A,
Avilez F, De Oliveira CF. [Cervix uteri lesions
and human papiloma virus infection (HPV):
detection and characterization of DNA/HPV
using PCR (polymerase chain reaction]
Acta Med Port. 2000 Jul-Aug;13(4):181-92.
Institutição de origem: Instituto Português de
Oncologia de Coimbra/ Inst. Ricardo Jorge
17) Pires MA, Dias M, Oliveira C, De Oliveira
HM. [Factors of recurrence of intraepithelial
lesions of the uterine cervix]
Acta Med Port. 2000 Sep-Dec;13(5-6):259-63.
Institutição de origem: Hospitais da Universidade de Coimbra
18) Gomes C, Dias M, Falcao F, Oliveira C. Serologic profile of some sexually transmitted
diseases in women with squamous intraepithelial lesions.
Eur J Gynaecol Oncol. 1998;19(2):135-7.
Institutição de origem: Hospitais da Universidade de Coimbra
19) da Silva DP, Real O. [Screening for cancer of the cervix. Program of the Central Region of Portugal]
Acta Med Port. 1997 Oct;10(10):643-52.
Institutição de origem: Instituto Português de
Oncologia de Coimbra
20) Santo C, Pista A, Bartolo E, Almeida M, Ayres
L, Ferreira P, Rodrigo G. [Typing of human papillomavirus (HPV) in the male and female genitalia]
Acta Med Port. 1992 Dec;5(11):567-70.
Institutição de origem: Hospital de Santa Maria,
Lisboa/Inst. Ricardo Jorge
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Fevereiro 2007 | Mundus
95.
OPORTUNIDADES
96.
Fevereiro 2007 | Mundus
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CIENTÍFICAS
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Fevereiro 2007 | Mundus
97.
BOLSAS DE INVESTIGAÇÃO
BOLSA DE INVESTIGAÇÃO NA ÁREA DA FÍSICA
Concurso para atribuição de uma Bolsa de
Investigação no âmbito do Projecto POCI/
FP/63948/2005, designado por Sistemas de
Informação e Aquisição de Dados para ATLAS/
CERN.
A bolsa tem a duração de 6 meses, com início previsto para 1 de Março de 2007, sendo
que as candidaturas decorrem até dia 28 de
Fevereiro.
A actividade consiste no desenvolvimento,
teste, validação e suporte da aplicação NODE
para disponibilização de informação estatística de monitorização do funcionamento ATLAS;
desenvolvimento e suporte da infra-estrutura
de gestão de comentários associados; estudos do canal de física de produção de mesões
B de forma determinar os critérios de qualidade da informação mais relevante para este
canal. Para facilitar a integração futura dos
diferentes trabalhos, todos os desenvolvimentos devem resultar na criação de um pacote
Debian/Linux.
O candidato deve ser Mestre em Física, Astrofísica ou Engenharia com interesse em Física de
Partículas e computação e que ambicione dedicar-se a este ramo do conhecimento a longo
termo. Conhecimentos sólidos de C e C++.
O candidato deve enviar currículo e carta expondo a motivação do candidato (incluindo os
planos de formação pós-graduada) para António Amorim, Departamento de Física, Edifício
C8 (8-5-15), Faculdade de Ciências, Campo
Grande, 1749-016 Lisboa, Tel. Directo: 21
750 08 87, Fax: 21 750 09 77, e-mail: Antonio.
[email protected].
http://www.cienciapt.net/empregodesc.
asp?ID=1623
BOLSA DE INVESTIGAÇÃO NA ÁREA DO AMBIENTE E
ORDENAMENTO
Até 4 de Março, está aberto concurso, no
Departamento de Ambiente e Ordenamento
da Universidade de Aveiro, para atribuição
de uma Bolsa de Investigação no âmbito dos
projectos POCI/AMB/55878/2004, “Impactos
do Aerossol Atmosférico na Saúde Humana”,
financiado pelo POCI e pelo FEDER através da
98.
Fevereiro 2007 | Mundus
Fundação para a Ciência e Tecnologia, Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior,
e “EUCAARI - European Integrated Project on
Aerosol, Cloud, Climate and Air Quality Interactions”, do 6º Programa Quadro da Comunidade
Europeia – Mudanças Globais e Ecossistemas.
A bolsa terá por finalidade assegurar a realização experimental dos trabalhos da responsabilidade da Universidade de Aveiro no
sentido de estudar as características do aerossol atmosférico para estes dois projectos,
que tem uma componente preponderante de
análise química da composição de amostras
colhidas e do tratamento dos dados com identificação provável das fontes por métodos de
Modelização no Receptor.
A duração da bolsa é de 19 meses, sendo sete
meses de trabalho para apoio ao Projecto
POCI/AMB/55878/2004 e 12 meses de trabalho
para apoio ao Projecto EUCAARI, com financiamento repartido por estes dois projectos
em proporção com o trabalho despendido em
cada Projecto. O Contrato será inicialmente de
um ano, com início previsto para 1 de Abril de
2007, em regime de exclusividade. A bolsa poderá, eventualmente, ser prorrogada por um
período adicional de sete meses.
Os destinatários da bolsa são licenciados em
Engenharia do Ambiente ou áreas afins, com
perfil adequado.
É dada preferência aos seguintes elementos:
Nota de classificação da licenciatura; Habilitações adicionais; Conhecimentos na área das
Ciências da Atmosfera e experiência laboratorial em métodos de análise de compostos particulados por cromatografia iónica e utilização
de Modelos no Receptor aplicados a aerossóis
atmosféricos.
A selecção dos Bolseiros basear-se-á nos seguintes critérios, por ordem decrescente de
importância: Curriculum académico e científico relevante para a área de abertura de concurso; Proximidade dos domínios científicos
de especialização em relação à área na qual
os bolseiros irão exercer a sua actividade; Experiência anterior.
Documentos de Candidatura:
- Requerimento de Aceitação (ver Formulário
Candidatura Bolsas Investigação - http://www.
adm.ua.pt/drh/impressos/Formulario_Candidatura_BolsasInvestigacao.doc;
- Curriculum Vitae, datado e assinado;
- Fotocópia do Bilhete de Identidade ou Passaporte;
- Documento comprovativo do grau académico;
- Outros elementos relevantes.
As candidaturas deverão ser dirigidas ao Presidente do Júri, Departamento de Ambiente e
Ordenamento da Universidade de Aveiro, sito
no Campus Universitário de Santiago, 3810193- Aveiro, por correio sob registo, expedidas
até ao termo do prazo fixado ou entregues
pessoalmente na Secretaria do mesmo Departamento.
http://www.cienciapt.net/empregodesc.
asp?ID=1624
PRÉMIO D. DINIS 2006
O banco Montepio promove mais uma vez
a atribuição do Prémio D. Dinis, destinado
a alunos que estão a frequentar cursos de
Mestrado nas áreas de Agronomia, Filosofia e
Ciências da Educação. O período de aceitação
de candidaturas decorre até ao próximo dia 28
de Fevereiro.
Poderão candidatar-se a este Prémio os jovens licenciados que se encontrem inscritos
em cursos de Mestrado nas áreas de Agronomia, Ciências da Educação e Filosofia e que,
em 31 de Dezembro de 2006, tivessem idade
inferior a 30 anos.
Os candidatos ao Prémio, traduzido no montante de 2500 euros, não poderão ter obtido
classificação inferior a 14 valores na respectiva Licenciatura. Para se candidatarem ao
Prémio devem apresentar: certificado de licenciatura; fotocópia do bilhete de identidade;
objectivos de carácter científico, que pretende
alcançar com o mestrado; prova de inscrição
no respectivo mestrado; parecer da instituição de ensino superior sobre a candidatura,
designadamente sobre a importância da área
em que o mestrado se desenvolverá; e outros
elementos curriculares considerados úteis
para a apreciação da candidatura.
www.cienciapt.net/mundus
BOLSAS DE INVESTIGAÇÃO
As candidaturas deverão ser dirigidas a Montepio, Gabinete de Relações Públicas Institucionais, “Prémio D. Dinis 2006”, Rua Áurea,
219 a 241, 3o andar, 1100 – 062 Lisboa.
Mais informações podem ser solicitadas através do e-mail: [email protected].
http://www.cienciapt.net/empregodesc.
asp?ID=1625
BOLSAS DE PÓS-GRADUAÇÃO DA UNIVERSIDADE DE
WALES
A Universidade de Wales está a promover a
atribuição de bolsas de pós-graduação, no valor de cerca de 12300 libras por ano. A recepção de candidaturas decorre até 1 de Março.
Para mais informações contactar: Postgraduate Admissions Office, OldCollege, King Street, Aberystwyth, ceredigion SY23 2AX, UK, Tel:
+44 (0)1970 622270, Fax. +44 (0)1970 622921,
e-mail: [email protected]
http://www.aber.ac.uk/pga. http://www.cienciapt.net/empregodesc.asp?ID=1626
PRÉMIO CIENTÍFICO IBM
A Companhia IBM Portuguesa, S.A. convida,
uma vez mais, os investigadores portugueses
com menos de 36 anos de idade em 31 de Dezembro de 2006, a candidatarem-se ao Prémio Científico IBM. Este Prémio foi instituído
pela IBM em 1990 para distinguir trabalhos de
elevado mérito científico no campo da computação teórica e aplicada.
Os trabalhos a concurso deverão versar qualquer das áreas enumeradas na Computing
Reviews Classification Tree, da Association for
Computing Machinery, Inc., Copyright 1998.
As candidaturas ao Prémio Científico IBM serão individuais, podendo concorrer qualquer
cidadão português, ou residente em Portugal
comprovadamente há pelo menos 3 anos, com
menos de 36 anos de idade em 31 de Dezembro de 2006. Não poderão candidatar-se à
edição de 2006, os vencedores de anteriores
edições do Prémio Científico IBM.
Os trabalhos deverão ter um único autor, constituindo o envio a este prémio um compromis-
www.cienciapt.net/mundus
so de honra de autenticidade. Serão aceites
trabalhos em língua portuguesa, originais ou
publicados em data posterior a 1 de Dezembro de 2005.Trabalhos em língua estrangeira
deverão ser traduzidos para português para
serem apresentados.
Os trabalhos deverão conter, no início, os
seguintes elementos: título, pseudónimo do
autor, área em que se insere o trabalho de
acordo com a classificação ACM, entre três
e seis palavras-chave que identifiquem o assunto, e um resumo com até 1000 caracteres.
No texto deverão ser claramente identificadas
as contribuições originais do autor. Para garantia de anonimato, as referências explícitas,
nomeadamente as auto-referências, deverão
ser retidas do trabalho a concurso, podendo
no entanto, ser incluídas no curriculum.
A data limite para a recepção dos trabalhos é
de 31 de Março de 2007.
Para mais informações contactar a Companhia IBM Portuguesa, S.A., Prémio
Científico IBM, Divisão de Comunicações e
Programas Externos, Edifício Office Oriente, Rua Mar da China - Lote 1.07.2.3, Parque das Nações, 1990-138 Lisboa, e-mail:
[email protected].
http://www.cienciapt.net/empregodesc.
asp?ID=1627.
CONCURSO JOVENS VALORES DA ECONOMIA 2007
A Ordem dos Economistas, com o patrocínio
do Banco de Portugal e da Deloitte e o apoio
do Diário Económico, lança o concurso “Jovens Valores da Economia”. A entrega dos
trabalhos termina a 30 de Março de 2007. O
objectivo é incentivar a produção de trabalhos
inéditos na área da ciência económica e dar
devido relevo público aos seus autores.
Os dois prémios “Jovens Valores da Economia” serão atribuídos nas especialidades de
Economia Política, prémio “Jovem Valor da
Economia/Banco de Portugal” e Economia e
Gestão Empresariais, prémio “Jovem Valor da
Economia/Deloitte”.
Cada um destes dois prémios consiste na entrega, em cerimónia pública de atribuição, de
uma importância de 3.750 euros e publicação
do trabalho premiado nos “Cadernos de Economia” da Ordem dos Economistas.
Candidaturas, individuais ou em grupo:
a) Estagiários inscritos na Ordem dos Economistas;
b) Licenciados em Economia ou em Ciências
Económicas
Para saber mais sobre o regulamento deste
concurso ver a página: http://www.cienciapt.
net/empregodesc.asp?ID=1628
BOLSA DE INVESTIGAÇÃO EM CIÊNCIAS BIOLÓGICAS
O Centro Interdisciplinar de Investigação Marinha e Ambiental, abre concurso para atribuição
de uma Bolsa de Investigação (BI) no âmbito
do projecto POCI/MAR/56964/2004, designado
“Biotestes Marinhos para a detecção em tempo
real da toxicidade do petróleo”.
O trabalho do bolseiro envolve o desenvolvimento
de testes de toxicidade com compostos isolados e
misturas de PAHs utilizando Sparus aurata e Mytilus galloprovincialis como organismos teste. Análise de alterações comportamentais das espécies
utilizando um biosensor marinho; o tratamento
dos resultados; e a elaboração de relatórios.
Deve ter licenciatura em Biologia ou áreas
afins sendo favorável a experiência prévia em
(i) etologia dos invertebrados e vertebrados
aquáticos; (ii) análises de alterações comportamentais por sondas eléctricas.
A avaliação terá em conta o mérito do candidato, considerando os parâmetros da formação académica e experiência em investigação
científica na área pretendida.
A bolsa tem a duração de 8 meses, com inicio
previsto para 1 de Abril de 2007, em regime de
exclusividade. As candidaturas deverão incluir
cópia dos certificados de habilitações, Curriculum vitae detalhado e duas cartas de recomendação e decorrem até 5 de Março.
As candidaturas devem ser enviadas ao cuidado da Doutora Ana Dulce Ascensão Correia,
Instituto de Biopatologia Química, Av. Professor Egas Moniz-1649-028 Lisboa, e-mail:
[email protected].
http://www.cienciapt.net/empregodesc.
asp?ID=1640
Fevereiro 2007 | Mundus
99.
EMPREGO CIENTÍFICO
PROFESSOR CATEDRÁTICO QUÍMICA E BIOLOGIA
A este concurso podem concorrer:
Candidaturas para um lugar de Professor
Catedrático no grupo de disciplinas de Química e Biologia do Instituto de Tecnologia
Química e Biológica, a decorrer até dia 26 de
Fevereiro.
a) Os professores-coordenadores de outra
escola superior politécnica da área científica
para que é aberto concurso;
b) Os professores-adjuntos da área científica
para que é aberto concurso com, pelo menos, três anos de bom e efectivo serviço na
categoria;
c) Os candidatos habilitados com o grau de
doutor ou equivalente na área científica para
que é aberto concurso;
d) Os equiparados a professor-coordenador ou a professor-adjunto da Escola Superior de Tecnologia do Barreiro ou de outra
escola da área científica para que é aberto
concurso e que satisfaçam os requisitos de
habilitações e tempo de docência indicado
na alínea b).
As candidaturas devem ser formalizadas mediante requerimento, dirigido ao presidente
do Instituto Politécnico de Setúbal, Largo
dos Defensores da República, 1, 2910-470
Setúbal, e-mail: [email protected], podendo
ser entregue pessoalmente ou remetido pelo
correio, em carta registada e com aviso de
recepção.
http://www.cienciapt.net/empregodesc.
asp?ID=1642
Podem candidatar-se:
a) Os professores catedráticos do mesmo grupo ou disciplina de outra universidade ou de
análogo grupo ou disciplina de outra escola da
mesma ou de diferente universidade;
b) Os professores associados do mesmo grupo ou disciplina ou de análogo grupo ou disciplina de qualquer escola ou departamento
da mesma ou de diferente universidade que
tenham sido aprovados em provas públicas de
agregação e contem, pelo menos, três anos de
efectivo serviço docente na categoria de professor associado ou na qualidade de professor
convidado, catedrático ou associado;
c) Os professores convidados, catedráticos
ou associados do mesmo grupo ou disciplina
ou de análogo grupo ou disciplina de qualquer escola ou departamento da mesma ou
de diferente universidade que tenham sido
aprovados em provas públicas de agregação
e contem, pelo menos, três anos de efectivo
serviço docente como professores ou professores convidados daquelas categorias.
Para informações adicionais contactar a
Reitoria da Universidade Nova de Lisboa,
Campus de Campolide, Lisboa, 1099-085,
[email protected].
http://www.cienciapt.net/empregodesc.
asp?ID=1619
PROFESSOR-COORDENADOR DA ÁREA CIENTÍFICA
DE MECÂNICA E ESTRUTURAS
Concurso até 13 de Março para recrutamento de um professor-coordenador para
a Escola Superior de Tecnologia do Barreiro, do Instituto Politécnico de Setúbal, para
as disciplinas de Betão Estrutural, da área
científica de Mecânica e Estruturas, dos
cursos de Engenharia Civil e de Engenharia
de Conservação e Reabilitação.
100.
Fevereiro 2007 | Mundus
PROFESSOR-COORDENADOR NA ÁREA DAS CIÊNCIAS DA SAÚDE
Concurso público até dia 12 de Março para
o preenchimento de uma vaga de professor-coordenador para a área científica de
Enfermagem - vertente de Enfermagem de
Reabilitação para a Escola Superior de Enfermagem de Santarém do Instituto Politécnico de Santarém.
Vencimento e regalias sociais - o estabelecido no estatuto remuneratório da carreira do pessoal docente do ensino superior
politécnico e na legislação geral da função
pública.
As candidaturas deverão ser formalizados
mediante requerimento, com indicação da
referência do concurso, dirigido ao presidente do conselho directivo da Escola Su-
perior de Enfermagem de Santarém, devendo ser entregue directamente no Sector
de Recursos Humanos da Escola, ou remetido pelo correio, em carta registada, com
aviso de recepção, para a Quinta do Mergulhão, Senhora da Guia, 2005-075 Santarém,
e-mail: [email protected].
Constituem critérios de selecção e ordenação dos candidatos a capacidade científica,
técnica e pedagógica revelada para o desempenho das funções de professor-coordenador na área e vertente para a qual é aberto
o concurso.
http://www.cienciapt.net/empregodesc.
asp?ID=1643
PROFESSOR-COORDENADOR PARA A ÁREA CIENTÍFICA DE ENFERMAGEM
Concurso público até dia 12 de Março para
o preenchimento de uma vaga de professorcoordenador para a área científica de Enfermagem - vertente de Enfermagem de Saúde
Pública para a Escola Superior de Enfermagem de Santarém do Instituto Politécnico de
Santarém.
Vencimento e regalias sociais - o estabelecido
no estatuto remuneratório da carreira do pessoal docente do ensino superior politécnico e
na legislação geral da função pública.
As candidaturas deverão ser formalizados
mediante requerimento, com indicação da
referência do concurso, dirigido ao presidente
do conselho directivo da Escola Superior de
Enfermagem de Santarém, devendo ser entregue directamente no Sector de Recursos
Humanos da Escola, ou remetido pelo correio,
em carta registada, com aviso de recepção,
para a Quinta do Mergulhão, Senhora da Guia,
e-mail: [email protected].
Constituem critérios de selecção e ordenação dos candidatos a capacidade científica,
técnica e pedagógica revelada para o desempenho das funções de professor-coordenador na área e vertente para a qual é aberto
o concurso.
http://www.cienciapt.net/empregodesc.
asp?ID=1644
www.cienciapt.net/mundus
EMPREGO CIENTÍFICO
PROFESSOR ADJUNTO PARA A DISCIPLINA DE
MÚSICA
Encontra-se aberto até 15 de Março concurso documental para recrutamento de
um professor-adjunto do quadro do pessoal docente da Escola Superior de Dança do
Instituto Politécnico de Lisboa, para a área
científica de Análise e Contextos, disciplina
de Música.
Ao referido concurso podem apresentar-se
os candidatos que se encontrem nas condições previstas nos artigos 5.o, 7.o, n.o 1, e 17.o
do Decreto-Lei n.o 185/81, de 1 de Julho, e
sejam detentores do grau de mestre na área
de Música ou de Ciências da Educação.
Na apreciação das candidaturas atender-se-á ao mérito científico, pedagógico e
profissional dos candidatos, sendo factores
de preferência a docência no ensino superior politécnico na área da Dança, no âmbito da disciplina de Música, a experiência
no ensino vocacional da Música e no ensino
superior, bem como em funções de gestão
académica e na implementação de projectos
pedagógicos.
As candidaturas devem ser formalizadas
através de requerimento dirigido ao presidente do Instituto Politécnico de Lisboa e
entregue pessoalmente ou remetido pelo
correio, em carta registada e com aviso de
recepção, para a Escola Superior de Dança,
Rua da Academia das Ciências, 5, 1200-003
Lisboa, e-mail: [email protected].
http://www.cienciapt.net/empregodesc.
asp?ID=1645
grupo ou disciplina de outra universidade
ou de análogo grupo ou disciplina de outra
escola da mesma ou de diferente universidade;
b) Os professores associados do mesmo grupo ou disciplina ou de análogo grupo ou disciplina de qualquer escola ou departamento
da mesma ou de diferente universidade que
tenham sido aprovados em provas públicas
de agregação e contem, pelo menos, três
anos de efectivo serviço docente na categoria de professor associado ou na qualidade
de professor convidado, catedrático ou associado;
c) Os professores convidados, catedráticos
ou associados do mesmo grupo ou disciplina ou de análogo grupo ou disciplina
de qualquer escola ou departamento da
mesma ou de diferente universidade que
tenham sido aprovados em provas públicas de agregação e contem, pelo menos,
três anos de efectivo serviço docente como
professores ou professores convidados daquelas categorias;
d) Os investigadores principais dos estabelecimentos do ensino superior com, pelo
menos, três anos de efectivo serviço na categoria, habilitados com o grau de doutores
e com o título de agregado.
Os candidatos deverão apresentar os seus
requerimentos no Centro de Atendimento da administração da Universidade de
Coimbra, Palácio dos Grilos, Rua da Ilha,
3004-531 Coimbra, e-mail: gbreitor@ci.
uc.pt.
http://www.cienciapt.net/empregodesc.
asp?ID=1646
PROFESSOR CATEDRÁTICO DO 1.O GRUPO, SUBGRUPO DE HISTOLOGIA/EMBRIOLOGIA
Encontra-se aberto até 3 de Março concurso documental para provimento de uma
vaga de professor catedrático do 1º grupo,
subgrupo de Histologia/Embriologia, da
Faculdade de Medicina da Universidade de
Coimbra.
Ao concurso poderão apresentar-se:
a) Os professores catedráticos do mesmo
www.cienciapt.net/mundus
EMPREGO PARA ENGENHEIROS INFORMÁTICOS
Empresa de informática e actividades afins,
consultadoria e desenvolvimento com sede
em Lisboa procura finalistas ou recémlicenciados Licenciado (conclusão entre
2005 e 2007) em Engenharia Electrónica e
Telecomunicações, Engenharia de Computadores e Telemática, Tecnologias de Informação e Comunicação.
Descrição: Consultores/Programadores
Microsoft .NET. A empresa procura colaboradores empreendedores, responsáveis e competentes e que estejam abertos
a participar em desafios com uma equipa
jovem e dinâmica.
Os candidatos devem possuir licenciatura
em Eng. Informática ou equivalente. Devem
ter experiência profissional de 0 a 2 anos;
experiência em análise e desenvolvimento
.NET (C#, VB.net, ASP.net), tecnologias XML
e Webservices; espírito de trabalho em equipa, inovador e criativo; e boas capacidades
de comunicação. Deve ainda possuir carta
de condução.
http://www.cienciapt.net/empregodesc.
asp?ID=1647
OPORTUNIDADE DE EMPREGO PARA PROGRAMADORES JAVA
A empresa Noesis, com mais de 10 anos de
experiência em Consultoria de Sistemas de
Informação, que presta serviços e desenvolve soluções nas áreas de Application
Development & Support, Quality Management e IT Infrastructure pretende recrutar
Programadores JAVA para trabalhar em
Lisboa.
Os candidatos devem ter competência em
Desenvolvimento J2EE; Desenvolvimento
com Structs e Tomcat; e Desenvolvimento
Web: HTML, CSS e Javascript. Devem ter
bons conhecimentos da língua inglesa (falada e escrita).
O candidato terá a oportunidade de analisar,
desenvolver e testar variadas Soluções Informáticas.
Os candidatos que reúnam as condições
referidas devem enviar o seu CV para
[email protected], indicando no assunto “Java
15.07”.
Os interessados em apresentar uma candidatura espontânea devem referir, no assunto, a função em que melhor se enquadram
as suas expectativas de carreira.
http://www.cienciapt.net/empregodesc.
asp?ID=1648
Fevereiro 2007 | Mundus
101.
FINANCIAMENTO
HYPERGLYCEMIC EXACERBATION OF ISCHEMIA/RE-
STRESS MANAGEMENT INTERVENTIONS TO REDUCE
NOVEL APPROACHES TO ENHANCE ANIMAL STEM
PERFUSION INJURY AFTER ISCHEMIC INSULT (R01)
RISK OF CORONARY ARTERY DISEASE (R01)
CELL RESEARCH (R01)
Prazo: 7 Fevereiro 2009
http://www.cienciapt.net/financiamentodesc.
asp?ID=1307
Prazo: 3 Janeiro 2010
http://www.cienciapt.net/financiamentodesc.
asp?ID=1313
Prazo: 3 Janeiro 2010
http://www.cienciapt.net/financiamentodesc.
asp?ID=1318
GLOBAL RESEARCH INITIATIVE PROGRAM, BEHAVIOR-
RUTH L. KIRSCHSTEIN NATIONAL RESEARCH SERVICE
NOVEL APPROACHES TO ENHANCE ANIMAL STEM
AL/SOCIAL SCIENCES (R01)
AWARDS FOR POSTDOCTORAL TRAINING IN COMPLE-
CELL RESEARCH (R21)
Prazo: 22 Setembro 2009
http://www.cienciapt.net/financiamentodesc.
asp?ID=1308
MENTARY AND ALTERNATIVE MEDICINE (F32)
Prazo: 3 Janeiro 2010
http://www.cienciapt.net/financiamentodesc.
asp?ID=1319
Prazo: 3 Janeiro 2010
http://www.cienciapt.net/financiamentodesc.
asp?ID=1314
DRUG ABUSE, RISKY DECISION MAKING AND HIV/
NEUROBIOLOGY OF MIGRAINE (R01)
AIDS (R01)
RUTH L. KIRSCHSTEIN NATIONAL RESEARCH SERVICE
Prazo: 3 Janeiro 2010
http://www.cienciapt.net/financiamentodesc.
asp?ID=1309
AWARDS FOR POSTDOCTORAL TRAINING IN COMPLEMENTARY AND ALTERNATIVE MEDICINE (F32)
Prazo: 6 Novembro 2009
http://www.cienciapt.net/financiamentodesc.
asp?ID=1320
Prazo: 3 Janeiro 2010
http://www.cienciapt.net/financiamentodesc.
asp?ID=1315
MENTAL HEALTH CONSEQUENCES OF VIOLENCE AND
DRUG ABUSE, RISKY DECISION MAKING AND HIV/
TRAUMA (R01)
AIDS (R21)
Prazo: 3 Janeiro 2010
http://www.cienciapt.net/financiamentodesc.
asp?ID=1310
MENTAL HEALTH CONSEQUENCES OF VIOLENCE AND
TRAUMA (R03)
Prazo: 6 Novembro 2009
http://www.cienciapt.net/financiamentodesc.
asp?ID=1321
Prazo: 17 Novembro 2009
http://www.cienciapt.net/financiamentodesc.
asp?ID=1316
HYPERSENSITIVITY PNEUMONITIS – EARLY IDENTIFI-
DRUG ABUSE, RISKY DECISION MAKING AND HIV/
CATION AND MECHANISMS OF DISEASE (R01)
AIDS (R03)
Prazo: 6 Novembro 2009
http://www.cienciapt.net/financiamentodesc.
asp?ID=1322
Prazo: 3 Janeiro 2010
http://www.cienciapt.net/financiamentodesc.
asp?ID=1311
MENTAL HEALTH CONSEQUENCES OF VIOLENCE AND
TRAUMA (R21)
Prazo: 17 Novembro 2009
http://www.cienciapt.net/financiamentodesc.
asp?ID=1317
APPLICATION OF METABOLOMICS FOR TRANSLATION-
EARLY CAREER AWARD IN CHEMISTRY OF DRUG ABUSE
AL AND BIOLOGICAL RESEARCH (R01)
AND ADDICTION (ECHEM) – NIDA (R03)
Prazo: 3 Janeiro 2010
http://www.cienciapt.net/financiamentodesc.
asp?ID=1323
Prazo: 3 Janeiro 2010
http://www.cienciapt.net/financiamentodesc.
asp?ID=1312
102.
Fevereiro 2007 | Mundus
www.cienciapt.net/mundus
FINANCIAMENTO
APPLICATION OF METABOLOMICS FOR TRANSLATION-
COLLABORATIONS WITH NATIONAL CENTERS FOR BIO-
NIAAA CAREER TRANSITION AWARD (K22)
AL AND BIOLOGICAL RESEARCH (R21)
MEDICAL COMPUTING (R01)
Prazo: 3 Janeiro 2010
http://www.cienciapt.net/financiamentodesc.
asp?ID=1324
Prazo: 18 Janeiro 2008
http://www.cienciapt.net/financiamentodesc.
asp?ID=1330
Prazo: 3 Janeiro 2009
http://www.cienciapt.net/financiamentodesc.
asp?ID=1335
DRUG ABUSE ASPECTS OF HIV/AIDS (R01)
EXPLORATORY COLLABORATIONS WITH NATIONAL
SEARCH (SBIR [R44]) COMPETING RENEWAL AWARDS
Prazo: 3 Janeiro 2010
http://www.cienciapt.net/financiamentodesc.
asp?ID=1325
CENTERS FOR BIOMEDICAL COMPUTING (R21)
Prazo: 2 Setembro 2009
http://www.cienciapt.net/financiamentodesc.
asp?ID=1336
NIDA PHASE II SMALL BUSINESS INNOVATION RE-
Prazo: 18 Janeiro 2008
http://www.cienciapt.net/financiamentodesc.
asp?ID=1331
THE ROLE OF NUCLEAR RECEPTORS IN TISSUE AND
TRANSLATIONAL RESEARCH IN MUSCULAR DYSTRO-
ORGANISMAL AGING (R01)
APPLICATIONS OF IMAGING AND SENSOR TECHNOLO-
PHY (U01)
Prazo: 2 Maio 2009
http://www.cienciapt.net/financiamentodesc.
asp?ID=1326
GIES FOR CLINICAL AGING RESEARCH (SBIR [R43/R44])
Prazo: 2 Novembro 2008
http://www.cienciapt.net/financiamentodesc.
asp?ID=1337
Prazo: 2 Abril 2008
http://www.cienciapt.net/financiamentodesc.
asp?ID=1332
IMMUNOREGULATION OF GASTROINTESTINAL CARCI-
SMALL GRANT PROGRAM FOR CONFERENCE SUPPORT
NOGENESIS (R01)
DIRECTED STEM CELL DIFFERENTIATION FOR CELL
(R13)
Prazo: 2 Maio 2009
http://www.cienciapt.net/financiamentodesc.
asp?ID=1327
BASED THERAPIES FOR HEART, LUNG, BLOOD, AND
Prazo: 21 Outubro 2008
http://www.cienciapt.net/financiamentodesc.
asp?ID=1338
AGING DISEASES (SBIR [R43/R44])
Prazo: 8 Abril 2008
http://www.cienciapt.net/financiamentodesc.
asp?ID=1333
ETIOLOGY, PREVENTION, AND TREATMENT OF HEPA-
INTERDISCIPLINARY DEVELOPMENTAL SCIENCE CEN-
TOCELLULAR CARCINOMA (R01)
Prazo: 2 Setembro 2008
http://www.cienciapt.net/financiamentodesc.
asp?ID=1328
TERS FOR MENTAL HEALTH (IDSC): FORMATIVE CENAHRQ GRANTS FOR HEALTH SERVICES RESEARCH DIS-
TERS (P20)
SERTATION (R36)
Prazo: 15 Março 2008
http://www.cienciapt.net/financiamentodesc.
asp?ID=1339
Prazo: 11 Abril 2008
http://www.cienciapt.net/financiamentodesc.
asp?ID=1334
UNDERSTANDING THE EFFECTS OF EMERGING CELLULAR, MOLECULAR, AND GENOMIC TECHNOLOGIES ON
CENTERS FOR AGRICULTURAL DISEASE AND INJURY
CANCER HEALTH CARE DELIVERY(R01)
RESEARCH, EDUCATION, AND PREVENTION (U50)
Prazo: 3 Janeiro 2009
http://www.cienciapt.net/financiamentodesc.
asp?ID=1329
Prazo: 21 Dezembro 2009
http://www.cienciapt.net/financiamentodesc.
asp?ID=1340
www.cienciapt.net/mundus
Fevereiro 2007 | Mundus
103.
ENTREVISTA
Diogo Barral
Presidente da Portuguese American Postgraduate Society - PAPS
A PAPS como interlocutor
de experiências e conhecimentos
A Portuguese American Post-
relacionamento destes com as
aos membros. A PAPS procura
graduate Society (PAPS) é uma
comunidades científica e empre-
ser útil a todos os pós-gradu-
organização criada em 1998 por
sarial em Portugal e nos EUA. A
ados que vêm para os EUA e
um grupo de estudantes portu-
Convenção de Natal que se reali-
constituir uma rede que possa
gueses de pós-graduação, e con-
za em Portugal e o fórum anual
servir os interesses do nosso
ta actualmente com cerca de 400
da PAPS, que tem lugar nos EUA,
país. Entre as nossas próximas
membros activos. A PAPS am-
são disso um exemplo.
actividades, regularmente anun-
biciona promover o intercâmbio
Outras actividades da PAPS in-
ciadas no site www.papsnet.
de conhecimentos e experiên-
cluem uma newsletter mensal,
org, destacam-se o fórum que
cias em diferentes áreas, como
um grupo de discussão online e
se realizará na Universidade de
as ciências da vida, economia e
actividades através das delega-
Columbia, em Nova Iorque, nos
gestão, entre outras. Para isso,
ções regionais em Boston, Chi-
dias 24 e 25 de Março de 2007 e
procura integrar estudantes de
cago, Los Angeles, Nova Iorque
terá por tema “Um roteiro para
pós-graduação e profissionais
e S. Francisco, que proporcio-
Portugal – Ciência, Tecnologia e
portugueses nos EUA e facilita o
nam uma ligação mais próxima
Inovação”.
Qual o papel da PAPS junto da comunidade científica portuguesa nos
EUA?
rentes áreas, como as ciências da vida, economia e gestão, entre outras. Para isso, procura integrar estudantes de pós-graduação e
profissionais portugueses nos EUA e facilita
o relacionamento destes com as comunida-
des científica e empresarial portuguesas. É
nosso objectivo criar uma rede que possa ser
útil a quem vem estudar para os EUA e que,
simultaneamente, possa servir os interesses
do nosso país.
A PAPS ambiciona promover o intercâmbio
de conhecimentos e experiências em dife-
104.
Fevereiro 2007 | Mundus
www.cienciapt.net/mundus
ENTREVISTA
Com que frequência os investigadores portugueses recorrem à PAPS e
com que finalidade?
Temos no nosso website www.papsnet.org
informações muito úteis a quem vem estudar para os EUA, além de termos uma rede
com núcleos em Boston, Nova Iorque, São
Francisco, Chicago e Los Angeles, através
dos quais quem venha para os EUA poderá
contactar com pessoas a viver nestes locais
e que eventualmente tenham experiências e
conselhos úteis.
Actualmente qual o número de
investigadores portugueses nos
EUA?
Não dispomos desta estatística, mas certamente andará pelas centenas.
E a PAPS, quantos membros tem actualmente?
A PAPS tem cerca de 400 membros activos,
embora tenham já passado pela PAPS, desde a sua criação em 1998, outros tantos que
www.cienciapt.net/mundus
entretanto saíram dos EUA e foram para outros países.
Qual a relação que existe entre a
PAPS e as instituições de investigação portuguesas?
Temos relações próximas com várias instituições de investigação portuguesas. No
nosso Fórum anual contamos regularmente com responsáveis das mesmas e vários
membros da PAPS passaram por essas
instituições antes de virem para os EUA.
Alguns membros alumni da PAPS estão
também, presentemente, nas referidas instituições.
tunidade de se conhecer. Nos mesmos núcleos também temos organizado jantares
com destacados investigadores portugueses quando estes se encontram nos EUA.
Realizamos ainda uma Convenção de Natal
anual em que debatemos temas importantes como as “Parcerias entre Universidades
Portuguesas e Americanas”, que foi o tema
da última edição. Finalmente, a nossa grande actividade anual é um fórum nos EUA em
que cerca de 100 participantes se reúnem
durante um dia e meio e discutem temas
relacionados com a Ciência, Tecnologia, Inovação, Empreendedorismo, etc. Este ano o
nosso VIII Fórum terá lugar na Universidade
de Columbia, em Nova Iorque, nos dias 24 e
25 de Março e o tema será “Um roteiro para
Portugal – Ciência, Tecnologia e Inovação”.
Que actividades a PAPS realiza no
sentido de promover e aproximar
os investigadores portugueses nos
EUA?
Qual a área científica com maior número de investigadores nos EUA?
Realizamos actividades de carácter social
nos nossos diferentes núcleos, geralmente
no início do ano lectivo, para aproximar os
membros e para que estes tenham opor-
Na PAPS, o maior número de membros pertence à área das ciências da vida. Seguemse as áreas de economia e gestão e engenharia.
Fevereiro 2007 | Mundus
105.
SABIA que...
... pode fazer chamadas pela Internet
a um custo muito mais reduzido
O uso da VoIP não é novo, havendo
por estar mais acessível a médias utilizada. As suas vantagens ba-
já grandes empresas a utilizar este
e pequenas empresas, o uso da seiam-se na acentuada redução de
serviço há anos, mas actualmente,
tecnologia VoIP começa a ser mais custos nas chamadas telefónicas
Actualmente, o aumento das operadoras telefónicas desencadeou uma baixa considerável
nos preços das ligações de longa distância,
e isso não acontece somente devido à concorrência estabelecida entre essas mesmas
empresas, mas também pelo surgimento de
alternativas de comunicações de baixo custo.
Entretanto, uma mudança de paradigma começa a ocorrer.
VoIP, ou Voice Over IP ou Voz Sobre IP é a tecnologia que torna possível estabelecer conversações telefónicas numa Rede IP (incluindo
a Internet), tornando a transmissão de voz
mais um dos serviços suportados pela rede
de dados. Ou seja, o VoIP é a tecnologia que
possibilita o uso de redes IPs como meio de
transmissão de voz.
Hoje o tráfego de dados começa a crescer mais
que o telefónico e é cada vez maior o tráfego de
voz pela rede de dados, alterando radicalmente
o transporte de voz.
106.
Fevereiro 2007 | Mundus
O conceito é simples e consiste em converter os
pacotes de voz analógicos em pacotes digitais e
fazê-los navegar pela Internet.
A voz sobre o protocolo Internet (Voice over In-
ternet Protocol - VoIP) é uma tecnologia que
permite estabelecer chamadas telefónicas
através de uma rede de dados como a Internet, convertendo um sinal de voz analógico
num conjunto de sinais digitais, sob a forma
de pacotes com endereçamento IP, que podem ser enviados, designadamente, através
de uma ligação à Internet (preferencialmente
em banda larga).
Para tal, é necessário um computador equipado
com microfone e auscultadores, um telefone IP
ou um telefone tradicional ligado a um adaptador IP (Analogue Telephone Adapter - ATA).
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SABIA que...
ximadamente 70 por cento com serviços telefónicos normais. Para se implantar uma solução
VoIP numa empresa é necessário fazer um projecto para identificar qual a real necessidade da
empresa, qual a solução utilizada, verificar se a
empresa possui IP fixo’ ou IP dinâmico, qual o
tamanho da banda ADSL, e o que navega pela
rede de dados.
Esta tecnologia é geralmente tratada em algumas ocasiões como sendo o mesmo que Telefonia IP embora sejam definições totalmente
distintas. VoIP é a tecnologia ou técnica de se
transformar a voz no modo convencional em pacotes IP para ser transmitida por uma rede de
dados, enquanto a Telefonia IP, que utiliza VoIP,
traz consigo um conceito de serviços agregados
muito mais amplo, já que carrega outras aplicações que não somente VoIP.
O Internet Protocol – IP é um protocolo que
permite o envio da informação, sob a forma
de pacotes, de um PC para outro, através da
Internet.
De uma maneira geral, quando um utilizador
estabelece uma ligação à Internet, o prestador
do serviço (Internet Service Provider - ISP) atribui um endereço IP público ao computador, que
o identifica de uma forma única em toda a rede
da Internet. Assim, quando o utilizador envia
uma mensagem de correio electrónico ou um
ficheiro, a informação é dividida em pequenos
pacotes (pacotes IP) que contêm o endereço do
destinatário e o seu.
Os pacotes IP têm um percurso mais ou menos complexo até chegarem ao seu destino,
porque o endereço do destinatário vai sendo
analisado por várias máquinas intermédias
até chegar ao computador para o qual se pretende enviar a mensagem de correio electrónico ou o ficheiro.
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Os vários pacotes IP que contêm a informação
podem seguir por diferentes caminhos na Internet e, em função do tempo que levaram a percorrê-lo, acabam por chegar ao seu destino por
uma ordem diferente da que inicialmente foram
enviados.
Deste modo, o protocolo IP só entrega os pacotes, sendo, assim, necessário a ajuda de um
outro protocolo (de nível superior) – o Transmission Control Protocol – TCP – para os reordenar.
TIPOS DE LIGAÇÃO VOIP
O procedimento, que promete inovar na área
das telecomunicações, com o tráfego de voz via
rede IP, consiste em digitalizar a voz em pacotes
de dados para que navegue pela rede e convertê-los em voz novamente em seu destino. A sua
maior vantagem está na relação custo/ benefício, ou seja, uma vez implantado ste sistema,
constata-se de imediato uma redução de apro-
Permite a redução dos custos de telefonia das
empresas, pois convergem serviços de dados,
voz, fax e vídeo, e também constrói novas infra-estruturas para aplicações avançadas de ecommerce (ex., Call center Web). Os programas
mais utilizados no Brasil são o MSN, ZipVox, o
Skype, o ATIvoip, o VoxFone, o TelefoneBarato,
o V-Phone, o Teleminas, o Google Talk e o Voipwebfone. Em Portugal utilizam-se, além do
Skype,a Voipglobe, o Teleminas, o IOL Talki, o
GVSC phone, o Netcall, o NetAppel, o Telefonerato, o VoipCheap, o VoipBuster e o TelExtreme,
sendo esta última a maior operadora VoIP do
mundo.
Outra forma de utilização da telefonia VoIP é via
ATAs (Analog Terminal Adapters) ou Gateways
VoIP (geralmente com mais recursos que um
ATA). Os ATAs e GWs são aparelhos que podem ser conectados directamente a um acesso
banda larga (ADSL, Cabo, etc.) e a um aparelho
telefónico comum ou a um PABX em posições
de troncos(FXS) ou ramais(FXO). Com o serviço
habilitado, é possível ter um telefone em qualquer lugar do mundo funcionando 24 horas por
dia, sem necessidade de computador e auscultadores de ouvido. Esta solução traz geralmente reduções nas tarifas de longa-distância e no
caso corporativo a interconexão de filiais com
menor custo.
Fevereiro 2007 | Mundus
107.
SABIA que...
Em função do equipamento disponível, podem
ser estabelecidos vários tipos de chamadas
telefónicas, tais como:
PC-a-PC – em que o computador pessoal (PC)
necessita de ter instalado um programa de
um prestador VoIP e o originador da chamada
deve saber qual é o endereço IP do seu correspondente para o estabelecimento da ligação;
PC-a-telefone – tal como no caso anterior, o
PC deve ter instalado um programa através do
qual seja possível marcar o número do telefone
do seu correspondente, ou utilizar um telefone
IP ou um telefone tradicional (rede pública de
serviço telefónico/public service telephony network - PSTN) com adaptador ATA (Analogue
Telephone Adapter);
Telefone-a-telefone – neste tipo de chamada
há a vantagem de não ser necessário ligar o
computador, porque o estabelecimento da
chamada com o telefone realiza-se do modo
habitual.
Seja como for, para qualquer tipo de chamada, o utilizador necessita de um contrato com
um prestador de serviço ISP (Internet Service
Provider) que, preferencialmente, disponibilize
acessos à Internet em banda larga através de
um modem ADSL ou de cabo.
No caso das chamadas PC-a-PC (entre computadores pessoais) e PC-a-telefone (entre um
computador pessoal e um telefone analógico),
o utilizador precisa de um computador pessoal com a configuração mínima recomendada
e de um microfone, sendo igualmente aconselháveis auriculares para evitar o feedback
que ocorre quando se utiliza o microfone e os
altifalantes.
Para as chamadas telefone-a-telefone, o utilizador necessita de um router/switch onde liga
o modem e o telefone IP. Se tiver apenas um
telefone analógico, precisa de um adaptador
para o ligar ao router/ switch.
despesas que proporciona, visto que a rede de
dados (e consequentemente a VoIP) não está sujeita à mesma tarifação das ligações telefónicas
convencionais, que é calculada em função de
distâncias geodésicas e horários de utilização
estabelecidos pelas Operadoras de Telefonia.
VANTAGENS
A comunicação telefónica via VoIP apresenta
grandes vantagens sobre a telefonia convencional, sendo o principal benefício a redução de
Outra grande vantagem da VoIP em relação à
telefonia convencional é que esta última está
baseada em comutação de circuitos, que podem ou não ser utilizados, enquanto a VoIP
108.
Fevereiro 2007 | Mundus
utiliza comutação por pacotes, o que a torna
mais ‘inteligente’ no aproveitamento dos recursos existentes (circuitos físicos e largura
de banda). Esta característica (comutação por
pacotes) também traz outra vantagem à VoIP,
que é a capacidade dos pacotes de voz ‘buscarem’ o melhor caminho entre dois pontos,
tendo sempre mais de um caminho, ou rota,
disponível e, portanto, com maiores opções
de contingência (característica intrínseca das
redes IP).
www.cienciapt.net/mundus
www.cienciapt.net/mundus
Fevereiro 2007 | Mundus
109.
Ciência no
ENSINO
SUPERIOR
Mundo EM REDE
UMINHO
ROBOPARTY NA UNIVERSIDADE
DO MINHO
A Universidade do Minho e a SAR-Soluções
de Automação e Robótica organizam a primeira RoboParty em Portugal. Trata-se de
um evento de três dias, de 23 a 25 de Março
onde os jovens podem aprender a construir
o seu próprio robô.
O Grupo de Robótica do Departamento de Electrónica Industrial da Universidade do Minho
têm desenvolvido esforços junto das escolas
Básicas, Secundárias e Profissionais, para fomentar o gosto dos jovens pela Robótica. Têm
sido várias as palestras, as demonstrações de
robôs móveis e as organizações de eventos pedagógicos. O próximo evento é o RoboParty.
Esta iniciativa consiste num evento pedagógico que vai reunir cerca de 100 equipas
de quatro pessoas cada, durante três dias
e duas noites (trás o teu saco cama), para
ensinar a construir pequenos robôs, de uma
forma simples e divertida.
Há uma pequena formação inicial (vais
aprender a dar os primeiros passos em
Electrónica, em programação de robôs, em
construção mecânica), depois é oferecido
um KIT robótico desenvolvido pela Universidade do Minho e pela SAR, para ser montado (mecânica, electrónica, e programação) e
que no final do evento pertence à equipa.
Decorrem ainda outras actividades lúdicas
como desporto, música, Internet, jogos, festas, etc. Cada participante traz o seu saco
cama e permanece lá durante todo o evento.
A RoboParty é idêntica a uma LANParty e
também vai funcionar 24h/24h mas tem um
objectivo mais pedagógico.
AAL
ASSOCIAÇÃO ACADÉMICA
DE LISBOA LANÇA SEMANÁRIO
UNIVERSITÁRIO
MoovingBrands, empresa que vai explorar a
publicidade do título.
Foi lançada este mês de Fevereiro uma publicação gratuita destinada aos estudantes
do ensino superior de Lisboa. O Semanário
Académico de Lisboa (SAL), com distribuição
às terças-feiras, vai contar com uma tiragem
de 80 mil exemplares e estará presente em
mais de cem pontos distintos.
Da responsabilidade da Associação Académica de Lisboa (AAL), o SAL terá uma equipa
de 20 estudantes universitários, sendo a responsabilidade editorial de Ricardo Florêncio,
membro da direcção da AAL.
De acordo com a ‘Meios & Publicidade’,
a publicação, que deve iniciar a sua distribuição na primeira quinzena do mês, tem
por objectivo chegar a todos os estudantes,
por isso será distribuída “em universidades, bibliotecas, residências universitárias
110.
Fevereiro 2007 | Mundus
e centros comerciais”, revela à ‘Meios &
Publicidade’ Paulo Lopes, responsável da
A nova publicação pretende “ser um jornal
de referência”, no que diz respeito aos “temas ligados ao ensino superior”. Com um
total de 24 páginas, a publicação estará dividida em cinco secções (Nacional; Internacional; Economia; Cultura e Desporto), sendo que em todas elas será dado “um grande
enfoque aos temas universitários”.
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Universidades
ENSINO SUPERIOR EM REDE
UAVEIRO
neiro de 2008, mais uma edição do curso de
“Técnico Superior de Segurança e Higiene do
Trabalho”, homologado pelo ISHST.
A frequência da acção confere direito ao
Certificado de Aptidão Profissional, CAP,
para o exercício das funções de Técnico Superior de SHT. Pretende-se que no final do
curso de formação, os formandos tenham
adquirido as competências necessárias ao
exercício da profissão de Técnico Superior
de Segurança e Higiene do Trabalho.
CURSO “TÉCNICO SUPERIOR
DE SEGURANÇA E HIGIENE
DO TRABALHO”
A UNAVE e o Departamento de Engenharia
Civil da Universidade de Aveiro (UA) vão promover a partir de 5 de Março e até 30 de Ja-
A acção, com realização prevista para Segundas, Quartas e Sextas-feiras, das 18h30
às 22h30, é dirigida a licenciados ou bacharéis, preferencialmente nas áreas das
Engenharias. Terá uma duração total de
548 horas, 428 de formação em sala e 120
de componente prática em contexto real de
trabalho, e terá lugar nas instalações da
UNAVE.
A coordenação científica e pedagógica está
a cargo do Prof. José Claudino Cardos, Professor Associado e Presidente do Conselho
Directivo da Secção Autónoma de Engenharia Civil da Universidade de Aveiro, Maria
Fernanda Rodrigues, Assistente da Secção
Autónoma de Engenharia Civil da Universidade de Aveiro e Maria do Rosário Pires,
Directora de Formação da UNAVE/ Universidade de Aveiro.
Para mais informações contactar a UNAVE
– Edifício 1, Campus Universitário de Santiago, 3810 – 193 Aveiro, Tel: 234 370 833, Fax:
234 370 835, e-mail: [email protected]
ou consultar a página Internet http://www.
unave.ua.pt.
UAÇORES
UNIVERSIDADE DOS AÇORES
ORGANIZA O I ENCONTRO
DE BIOMEDICINA
A Universidade dos Açores apresentou este
mês, no dia 8 de Fevereiro, no Anfiteatro C da
Universidade, o I Encontro de Biomedicina.
Subordinado ao tema “Genética das Doenças
Complexas”, a reunião conta com a participação de especialistas nacionais e internacionais de renome que, ao longo dia, abordarão
esta temática.
As doenças complexas definem-se como condições decorrentes da interacção de múltiplos
genes, e destes com o ambiente. Exemplos
bem conhecidos incluem o cancro, a diabetes e
a aterosclerose. Se bem que responsáveis pela
maioria da morbilidade e mortalidade, a nível
mundial, este grupo de patologias permanece
mal conhecido, fazendo com que a investigação nesta área seja uma prioridade clara.
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De entre os cerca de 150 participantes
inscritos, contam-se alunos das Licenciaturas na área da Saúde da Universidade dos Açores (Ciclo Básico de Medicina,
Enfermagem e Ciências Biológicas e da
Saúde), Profissionais de Saúde e Biólogos.
O Encontro, organizado pelo Centro de Biomedicina do Departamento de Biologia e pelo
Centro de Investigação de Recursos Naturais
(CIRN) da Universidade dos Açores tem o patrocínio científico da Ordem dos Biólogos e o apoio
financeiro do projecto BIOPÓLIS (InterregIIIB) e
da Fundação para a Ciência e a Tecnologia.
Fevereiro 2007 | Mundus
111.
Ciência no
ENSINO
SUPERIOR
Mundo EM REDE
FEUP
FEUP VENCE CONCURSO
DE PESQUISA EM E-BOOKS
A Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP) acolheu, no passado dia 8 de Fevereiro, a Cerimónia de
Entrega do Prémio Mundial de Pesquisa
em e-Books.
Rui Pedro Amor, aluno do 4.o ano de Mestrado Integrado em Engenharia Informática
e Computação (MIEIC) da FEUP, receberá o
prémio principal do concurso – um cheque
no valor de 500 dólares.
O concurso internacional de pesquisa, intitulado “University Challenge”, foi lançado pela Knovel, uma plataforma de livros
electrónicos, tendo terminado no passado
dia 13 de Novembro. O concurso consistia
na resposta a um questionário de carácter
técnico, para o qual seria necessário fazer
pesquisa de informação científico-técnica no editor Knovel, disponibilizado pela
Biblioteca da FEUP, em http://biblioteca.
fe.up.pt, desde 2004.
Neste concurso participaram cerca de 1700
alunos de instituições de ensino superior
provenientes de 46 países de todo o mundo. A Faculdade de Engenharia foi uma das
instituições concorrentes, tendo conseguido
uma participação considerada “excelente”
pela própria Knovel.
A iniciativa decorre na Zona de Exposições do piso zero da Biblioteca da
Faculdade. O galardão será entregue
pelo professor José Silva Matos, presidente do Departamento de Engenharia Electrotécnica e de Computadores
(DEEC).
FEP
FEP CELEBRA PROTOCOLO
COM MEIO EMPRESARIAL
A Faculdade de Economia da Universidade
do Porto (FEP) celebrou, no passado dia 8
de Fevereiro, um protocolo de colaboração com o meio empresarial. A parceria
envolve o Instituto de Investigação e Serviços da Faculdade de Economia do Porto
(ISFEP) e a Associação dos Industriais de
Construção Civil e Obras Públicas (AICCOPN) e fomentará o desenvolvimento
de programas de educação contínua com
vista à melhoria dos recursos humanos
do sector da construção.
A sessão decorreu na Sede da AICCOPN
112.
Fevereiro 2007 | Mundus
e contou com a presença do Director da
FEP, José da Silva Costa, do Presidente
da Direcção do ISFEP, Mário Rui Silva, e
do Presidente da Direcção da AICCOPN,
Manuel Joaquim Reis Campos.
A Indústria da Construção é um sector de
actividade maioritariamente constituído
por micro, pequenas e médias empresas
que regista actualmente uma forte expansão do capital humano e um progresso tecnológico elevado.
A FEP, em cooperação com a AICCOPN,
pretende dar um contributo significativo
no desenvolvimento dos recursos huma-
nos deste importante sector económico,
criando para o efeito um programa de
acções de educação contínua e de formação pós-graduada para executivos. O
primeiro curso a ser lançado no âmbito
deste protocolo é uma Pós-Graduação
em Direcção de Empresas que tem como
principal objectivo dotar os participantes das competências indispensáveis ao
exercício de funções de relevo na área da
Gestão em empresas industriais. A oportunidade desta Pós-Graduação baseia-se
nas necessidades apresentadas por muitos engenheiros civis, gestores e economistas que dirigem empresas na área da
construção civil e obras públicas.
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Universidades
ENSINO SUPERIOR EM REDE
UMINHO
UMINHO E FUNDAÇÃO
VODAFONE ASSINAM PROTOCOLO
DE COOPERAÇÃO
A Universidade do Minho e a Fundação Vodafone Portugal celebraram este mês um protocolo
de cooperação, com o objectivo de desenvolver
a utilização das novas tecnologias de comunicação, designadamente as tecnologias móveis
integradas com sistemas de informação.
No âmbito do protocolo, foi igualmente
assinado um acordo, pioneiro em Portugal, com vista à implementação de um
sistema de envio de SMS (mensagens
escritas) destinado a criar um mais rápido e estreito relacionamento entre a
Universidade e os seus alunos, professores e demais colaboradores. Para
efectivar esta primeira aplicação prática
do protocolo, além da disponibilização
das suas competências específicas nesta área, a Fundação Vodafone Portugal
doou um milhão de SMS à Universidade
do Minho.
Assinado em Braga pelo Reitor da Universidade do Minho, António José Marques
Guimarães Rodrigues, e pelo presidente da
Fundação Vodafone Portugal, António de Lacerda Carrapatoso, este protocolo visa também a colaboração e troca de informações
relativas a investigações sobre inovação na
área das novas tecnologias da informação.
USC
IPVC E USC PROMOVEM OITO
CURSOS NA ÁREA DA INFORMAÇÃO
GEOGRÁFICA
A Universidade de Santiago de Compostela
(USC) e o Instituto Politécnico de Viana do Castelo (IPVC) no âmbito da parceria e acções do
projecto SIGN II (Infra-estrutura de Dados Espaciais para o território rural da Galiza Norte
de Portugal) realizam, durante o ano de 2007,
diversas acções de formação, na área dos Sistemas de Informação Geográfica (SIG).
De acordo com o IPVC, este projecto assume
que a formação de recursos humanos é um
factor central no desenvolvimento de bases de
dados espaciais e de Sistemas de Informação
Geográfica (SIG), como elemento capaz de potenciar, a nível regional, as oportunidades que
resultam da actual evolução das tecnologias e
ciências de informação geográfica. Na realidade os diversos actores presentes no território
apresentam diferentes níveis de conhecimento, de adopção e de utilização dos SIG. Apesar
do aumento significativo nestes últimos anos
do uso de informação geográfica, continuam
a verificar-se importantes estrangulamentos
nomeadamente ao nível da capacitação dos
recursos humanos; da coordenação de acções
e entidades; da insuficiência e das limitações
de acesso aos dados; da forte dispersão das
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fontes, dos formatos e da resolução, com
consequentes dificuldades na integração da
informação.
A parceria do projecto SIGNII engloba além daquelas duas instituições de ensino, a Sociedade para o Desenvolvemento Comarcal de Galicia (SDC), o Instituto para o Desenvolvimento
Agrário da Região Norte (IDARN), FORESTIS
(Associação Florestal de Portugal), DRAEDM
(Direcção Regional Agricultura de Entre Douro
e Minho), e Comissão de Viticultura da Região
dos Vinhos Verdes (CVRVV).
O projecto no seu todo e estas acções de formação, em particular, pretendem vulgarizar,
melhorar o desempenho e o número de apli-
cações dos Sistemas de Informação Geográfica.
São oito os cursos presenciais inseridos neste
projecto: Concepção e Gestão de Projectos de
Informação Geográfica; Introdução aos SIG;
Cartografia Digital; Análise Espacial ARCGIS;
Análise Espacial GEOMEDIA; Introdução aos
SIG com SOFTWARE LIVRE (GRASS); Aplicações dos SIG:Workshop “Políticas e Dinâmicas
de Gestão de Informação Geográfica na Galiza-Norte de Portugal”.
Toda a informação sobre os cursos, bem
como as pré-inscrições online, encontrase disponível no site do projecto, em http://
www.projectosign.org/.
Fevereiro 2007 | Mundus
113.
Ciência no
ENSINO
SUPERIOR
Mundo EM REDE
ISEP
ISEP ACOLHE JORNADAS
SOBRE CLASSIFICAÇÃO E ANÁLISE
DE DADOS
Decorreram este mês no ISEP as XIV Jornadas
Anuais da Associação de Classificação e Análise de Dados – CLAD, sobre a importância da
estatística e a análise de dados.
As jornadas foram promovidas pelo Instituto Superior de Engenharia do Porto (ISEP) e
decorrem no Auditório E deste Instituto. Na
sessão de abertura, Cristina Matos, Presidente do Conselho Científico do ISEP, reiterou a
importância desta área que se deve continuar
a investir. “As XIV Jornadas são as primeiras de
muitas outras que irão surgir e o ISEP acolhe
com entusiasmo este tipo de iniciativas” salientou a Presidente.
As jornadas caracterizam-se por um crescimento na quantidade e especialmente
na qualidade e diversidade de propostas
apresentadas e demonstram a importância
da análise de dados como uma ferramenta
transversal que está presente nas mais diversas áreas.
Pedro Coelho, representante da JOCLAD afirmou que “esta iniciativa é uma ponte de ligação
entre académicos e profissionais, investigadores e o meio empresarial, associando a teoria
e a prática, como ligação entre a investigação
e as suas aplicações”.
O programa inclui sessões plenárias com a
presença de conferencistas convidados, assim
como sessões de apresentação de Comunicações Livres seleccionadas. O encontro pretende, por via da estatística e análise de dados,
estimular e divulgar a produção científica
promovam um enriquecimento mútuo entre
investigadores e utilizadores, incentivando a
troca de ideias e a exploração de interesses
comuns.
Entre os convidados destacam-se o Prof. André
Hardy, Facultes Universitaires Notre-Dame de
la Paix, Namur, Belgium (“Cluster Analysis
and Validation based on Point Processes”),
Carlos Ferreira, Departamento de Economia,
Gestão e Engenharia Industrial, Universidade Aveiro, Portugal, (“Análise Quantitativa de
Dados em Trabalhos Académicos: alguns casos”), Joaquim Marques de Sá, Faculdade de
Engenharia do Porto, Portugal, (“Redes Neuronais com Funções de Custo Entrópicas na
Classificação de Dados), Michael Greenacre,
Universitat Pompeu Fabra, Barcelona, Spain,
(“Correspondence Analysis versus Spectral
Mapping/ Weighted Log-ratio Analysis”).
Para mais informações sobre a iniciativa consultar a página http://www.joclad2007.isep.ipp.pt.
ESEIPVC
IPVC PROMOVE PÓS-GRADUAÇÃO
DE ENFERMAGEM ONCOLÓGICA
A Escola Superior de Enfermagem do Instituto Politécnico de Viana do Castelo (ESEnfIPVC) vai promover uma Pós-Graduação de
Enfermagem Oncológica, que terá como objectivos gerais “desenvolver competências
para cuidar da pessoa com cancro e a sua
família nos diversos contextos da prática de
cuidados, bem como desenvolver competências que permitam ao enfermeiro assumir
um papel activo na equipa multidisciplinar
tendo em vista a maximização da qualidade
dos cuidados à pessoa com cancro e sua família”.
De acordo com a Escola, os destinatários
desta Pós-Graduação, que decorrerá de Março de 2007 a Fevereiro de 2008, são todos os
profissionais detentores de uma Licenciatura
114.
Fevereiro 2007 | Mundus
em Enfermagem, sendo que o curso terá um
máximo de 20 formandos.
Segundo a Vice-Presidente da ESEnf-IPVC
e coordenadora do curso, Aurora Pereira, “a
complexidade e a natureza da doença oncológica, a dor oncológica e outros sintomas, o
processo de luto, o acompanhamento espiritual e religioso bem como a abordagem da
problemática do sofrimento, são algumas das
matérias a abordar nesta Pós-Graduação”.
A doença oncológica é a segunda causa de morte a nível Nacional e do Distrito, sendo que a sua
incidência e prevalência tem sofrido um aumento
constante e considerável, pelo que constitui um
grave problema de Saúde, não só pelas taxa de
mortalidade, mas também pelos elevados índices
de morbilidade. Estes aspectos associados aos
avanços constantes ao nível da prevenção, diag-
nóstico, tratamento, reabilitação e cuidados de
suporte, geram uma necessidade crescente de
profissionais de saúde especializados nesta área.
“A Escola Superior de Enfermagem do IPVC
atenta a esta realidade e à escassa existência
de enfermeiros com formação específica em
oncologia, decidiu criar uma pós-graduação
nesta área, proporcionando deste modo, actualização e aprofundamento de conhecimentos
para um desempenho profissional competente
que assegure respostas adequadas à prevenção, diagnóstico precoce e gestão da doença
oncológica junto do doente, família e comunidade”, salientou Aurora Pereira.
“Para a consecução destes objectivos contámos com um corpo docente com desenvolvimento científico e experiencial nesta área”,
referiu ainda a coordenadora de curso.
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Universidades
ENSINO SUPERIOR EM REDE
UCOIMBRA
INVESTIGADOR DA UC
PREMIADO PELA ORDEM
DOS ENGENHEIROS
Ricardo Joel Teixeira Costa, investigador e
professor assistente do Departamento de
Engenharia Civil da Faculdade de Ciências
e Tecnologia Universidade de Coimbra (FCTUC), foi distinguido com o “Prémio Melhor
Estágio 2006” pelo Colégio de Engenharia
Civil da Ordem dos Engenheiros, que considerou o seu trabalho como o melhor estágio,
a nível nacional, de admissão à Ordem.
De acordo com a Universidade de Coimbra,
Uma parte importante do estágio, realizado no
Departamento de Engenharia Civil da FCTUC,
consistiu num programa de investigação, com
uma importante componente experimental,
sobre placas de betão armado. Um dos resultados práticos para a comunidade técnica foi a
obtenção de um procedimento de ensaio muito menos dispendioso do que o existente em
universidades americanas e canadianas.
O conjunto de ensaios efectuados na Universidade de Coimbra permitiu ainda efectuar
uma análise crítica das regras técnicas que
constam da normalização europeia para dimensionamento de estruturas de betão. O
tema é especialmente importante em estru-
turas com esforços de torção importantes,
como é o caso de pontes curvas.
Na Universidade de Coimbra, o trabalho
inseriu-se num projecto de investigação
mais alargado sobre Torção em Vigas
Caixão de Betão Armado.
Por outro lado, o trabalho de investigação
conduziu também à elaboração de uma tese
de mestrado, orientada por Sérgio Lopes, docente da Faculdade de Ciências e Tecnologia
da Universidade de Coimbra e Luís Bernardo,
docente da Faculdade de Ciências da Engenharia da Universidade da Beira Interior.
ICBAS
PORTO ACOLHE
SIMPÓSIO “EXPLORING
BIOMEDICINE”
O Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar da Universidade do Porto (ICBAS) está
a organizar em colaboração com o Hospital
Geral de Santo António (HGSA), o Centro de
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Estudos Sociais (CES) da Universidade de
Coimbra e o Instituto de Biologia Molecular
e Celular (IBMC) da Universidade do Porto,
um Simpósio denominado “Exploring Biomedicine”, hoje, dia 23 de Fevereiro.
Este evento, que decorrerá no Auditório
Dr. Alexandre Moreira, no Hospital Geral
de Santo António (Porto)/ ICBAS, irá reunir
historiadores, filósofos e sociólogos da ciência e da biomedicina, bem como investigadores da área biomédica, com a finalidade de conjuntamente analisar e discutir
este domínio do conhecimento.
Fevereiro 2007 | Mundus
115.
Ciência no
ENSINO
SUPERIOR
Mundo EM REDE
IST
IST ADERE A PLATAFORMA
MUNDIAL DE INVESTIGAÇÃO
EM REDES
O Instituto Superior Técnico (IST) acaba de
aderir ao PlanetLab, laboratório mundial
de investigação em redes para o estudo
e desenvolvimento de novos protocolos e
aplicações sobre a Internet. Trata-se de um
consórcio internacional, com mais de 350
membros, entre os quais universidades,
institutos de investigação e empresas das
tecnologias de informação.
Gerida por três universidades norteamericanas: Princeton University, University of California at Berkeley e University of Washington, e com a participação
de importantes empresas, como a Intel,
116.
Fevereiro 2007 | Mundus
Hewlett Packard, Google, AT&T e France Telecom, esta plataforma ainda inclui
as mais conceituadas universidades das
áreas de ciência e tecnologia a nível internacional.
A adesão do IST a este laboratório implica,
paralelamente a um esforço financeiro, o
estabelecimento da ligação de dois computadores à Internet nas instalações de
cada participante e em troca é-lhe permitido o acesso aos computadores de outros
parceiros, o que possibilita a realização de
experiências internáuticas.
A maior utilidade do PlanetLab para o público em geral reside nos actuais serviços
avançados, como é exemplo o serviço de
distribuição de conteúdos que possibilita
o alojamento de sites detentores de um
grande número de visitas em servidores
com ligações lentas à Internet.
O campus do IST no Taguspark vai usufruir
do PlanetLab para a execução de projectos relevantes, concretamente o estudo de
novos protocolos peer-to-peer de troca de
ficheiros mais eficientes e de menor custo
para os operadores de telecomunicações,
além de técnicas de distribuição de vídeo
em tempo real.
A aquisição e ligação à Internet de dois
servidores, com recurso a fundos próprios,
possibilitaram a entrada do IST neste mundo internáutico.
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Universidades
ENSINO SUPERIOR EM REDE
FDUCL
FACULDADE DE DIREITO
DA CATÓLICA APROXIMA OS ALUNOS
À VIDA PROFISSIONAL
versidade Católica já que, segundo ele, “...
um dos maiores problemas que os jovens
licenciados hoje sentem é, precisamente,
a falta de experiência e de contacto com o
mercado de trabalho (...) nada melhor, por-
A Faculdade de Direito da Universidade Católica (FD Católica), Escola de Lisboa, iniciou no
passado dia 12 a quarta edição do Jobshop,
uma iniciativa que visa reforçar a sua aposta
na aproximação dos alunos à vida prática,
fazendo justiça ao prestígio acumulado ao
longo de mais de 30 anos, e apresentar os
novos programas de mestrado e protocolos
com universidades estrangeiras. O evento desenrolou-se pelos dias 13, 14, 15, abrangendo
ainda os dias 26 e 27 de Fevereiro.
Através do Jobshop, e à semelhança de anos
anteriores, a FD trará ao campus universitário os melhores escritórios de advocacia do
país e outras entidades profissionais ligadas à prática do Direito, que assim poderão
apresentar os seus projectos e aprofundar
contactos com os estudantes finalistas. Por
seu lado, os alunos terão oportunidade de
contactar com potenciais empregadores e
conhecer a realidade profissional.
A sessão de abertura do JobShop, dedicada
ao tema “O Processo de Bolonha e o Acesso
às Profissões Jurídicas”, contou com a participação do Secretário de Estado Adjunto,
José Conde Rodrigues, e do Bastonário da
Ordem dos Advogados, Rogério Alves, presença frequente nas iniciativas organizadas
pela FD Católica.
Durante os dias do evento serão feitas diversas apresentações de empregadores
e abordando diversos temas como “Os
novos mestrados da UCP e o Mercado de
Trabalho” e “Frequência de um Semestre em Universidades Americanas”, com
a presença de alunos que passaram pela
experiência”.
Raymond Nimmer, director da University of
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tanto, do que trazer o mundo profissional
e empresarial às faculdades.” Relativamente às consequências que o Processo
de Bolonha poderá vir a ter em Portugal no
acesso às profissões forenses, o Secretário
de Estado Adjunto e da Justiça sublinhou
que “... esta matéria está ainda a ser alvo
de estudo e análise no âmbito do ministério
da Justiça, pelo que não é possível delinear
um quadro preciso de todas as consequências previsíveis”.
Houston Law Center, marcará presença no
penúltimo dia do JobShop para a apresentação do LL.M. (Master of Law) da Católica
que proporciona uma formação aprofundada
de elevado nível em determinada área de especialização, possibilitando aos alunos não
apenas background internacional, mas também perspectivas profissionais.
Sessão de abertura do JobShop
“O Processo de Bolonha e o Acesso às Profissões Jurídicas” foi o tema da sessão de
abertura do JobShop Católica 2007, uma
iniciativa da Faculdade de Direito da Católica que teve lugar dia 12.
Para o Bastonário “... a redução de cinco
para quatro anos não é aceitável, numa altura em que se aposta na qualidade e na
credibilização do sistema judicial português”. Por isso, “a Ordem dos Advogados
vai pedir à Assembleia da República a alteração do estatuto da Ordem no sentido em
que a licenciatura deixe de ser apenas a regra para ingresso na Ordem. É necessário
o grau de Mestre...”
Conde Rodrigues, louvou a iniciativa promovida pela Faculdade de Direito da Uni-
Adiantou, no entanto, que “... o ministério
irá proceder a uma reforma profunda no
que respeita ao acesso à magistratura, estando neste momento a ser preparada uma
proposta de Lei de alteração à Lei Orgânica
do Centro de Estudos Jurídicos, a qual irá
já reflectir a nova filosofia inerente ao programa de Bolonha...”.
“O processo de Bolonha surge como um
excelente pretexto para repensar a forma
como o ensino universitário e pós-universitário estão estruturados; queremos que
esta reforma permita que o acesso à magistratura se faça em novos moldes, mais
adaptados às recentes realidades jurídicas
e sociais, para que os novos juízes estejam
melhor preparados para lidar com os casos difíceis com que se deparam, todos os
dias, nos tribunais, realçou o Secretário de
Estado. Conde Rodrigues sublinhou ainda
que “... não partimos do pressuposto que
novos licenciados saberão menos do que
aqueles que se licenciaram e irão ainda
licenciar-se ao abrigo do sistema anterior.
No entanto, para o acesso à Magistratura,
passará a ser exigido o Mestrado, como requisito de entrada...”.
Fevereiro 2007 | Mundus
117.
Internacional em Revista
GINECOMASTIA PRÉ-PÚBERE
PROVOCADA POR PRODUTOS
COM LAVANDA
Investigadores do National Institute of
Environmental Health Sciences (NIEHS) e
pediatras da University of Colorado School
of Medicine, EUA o Ginecomastia pré-púbere realizaram um estudo que levou à
descoberta da ligação entre produtos que
possuem a essência de lavanda e óleo de
melaleuca (Melaleuca alternifolia) com o
desenvolvimento da mama em rapazes,
um distúrbio hormonal conhecido como
Ginecomastia pré-púbere.
Publicado na revista científica “New En-
gland Journal of Medicine”, o trabalho teve
como base a análise de três casos clínicos,
o que levou os cientistas a alertar para o
facto de serem precisos estudos de maior
escala. O resultado da investigação aplicase apenas a rapazes pré-púberes, que desenvolveram Ginecomastia depois do uso
regular de produtos que continham esses
óleos.
O estudo incidiu sobre três crianças
com 4, 7 e 10 anos e nos três casos, a
ginecomastia desapareceu depois da
suspensão do uso destes produtos.
Depois destas duas constatações, a
equipa médica desenvolveu um estudo
laboratorial usando células humanas.
Neste estudo, as culturas celulares
foram incubadas com lavanda e óleo
de melaleuca tendo-se verificado um
aumento na produção de estrogénico e
antiandrogénicos.
Para já, não se sabe se os óleos podem
ter efeitos semelhantes no sistema endócrino de raparigas ou em adultos. Derek
Hanley, líder da investigação, disse não
haver provas de que os óleos alterem o
sistema endócrino dos rapazes a longo
prazo.
In New England Journal of Medicine
FÁRMACO CONTRA IMPOTÊNCIA
TAMBÉM PODE PREVENIR AVC
Investigadores do Instituto Espanhol de
Neurobiologia Ramón e Cajal, liderados por
Alfredo Martínez comprovaram a eficácia de
um fármaco usado contra a impotência no
tratamento de danos provocados por AVC e
que é uma das principais causas de morte
nos países desenvolvidos.
De acordo com o estudo, publicado pela
revista International Journal of Molecular
Medicine, este fármaco é rico em óxido nítrico e trata-se de um fármaco vasodilatador
comum no tratamento contra a Impotência,
mas pode também ser utilizado para tratar
outras Doenças Cardiovasculares, tal como
os investigadores comprovaram através de
experiências em ratinhos. O estudo demonstrou a capacidade do óxido nítrico no tratamento de Doenças Isquémicas cerebrais.
O AVC consiste na oclusão de um vaso sanguíneo, que interrompe o fluxo sanguíneo a
uma região específica do cérebro, ficando
esta privada de oxigénio e nutrientes. Se
a irrigação sanguínea não é restabelecida
118.
Fevereiro 2007 | Mundus
imediatamente, a zona afectada sofre de
morte celular e, dependendo da área implicada, provoca perdas das funções coordenadas por essa área do cérebro. Por isso,
é fundamental tratar os pacientes o mais
rapidamente possível, dado ser impossível
regenerar o tecido morto.
Os cientistas espanhóis provaram neste estudo que o óxido nítrico pode ser útil para o
tratamento da Isquemia Cerebral, além de
complementar os actuais tratamentos, que
se baseiam em fármacos anticoagulantes.
A equipa de Alfredo Martínez usou Imagens
de Ressonâncias Magnéticas para estudar
a extensão do edema citotóxico, que produz
a falta de oxigénio no cérebro. Num modelo experimental, o óxido nítrico foi capaz de
reduzir os efeitos fisiológicos e bioquímicos
induzidos pela Isquemia Cerebral.
In Journal of Molecular Medicine
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Internacional em Revista
ALIMENTOS RICOS
EM MELATONINA RETARDAM
EFEITOS DO ENVELHECIMENTO
Uma equipa de investigadores espanhóis liderada por Darío Acuña Castroviejo, director
da Rede Nacional de Investigação do Envelhecimento, da Universidade de Granada,
concluiu que o consumo de melatonina, uma
substância produzida no cérebro pela glândula pineal e presente em muitos alimentos
retarda os efeitos do envelhecimento.
As conclusões do estudo foram publicadas
em várias revistas médicas internacionais,
nomeadamente na Free Radical Research,
Experimental Gerontology, Journal of Pineal
Research e Frontiers in Bioscience.
Os investigadores basearam-se na análise
da função mitocondrial nos ratinhos e verificaram a sua capacidade mitocondrial para
produzir ATP (adenosina trifosfato), uma
molécula cuja função é armazenar a energia
que cada célula necessita para realizar as
suas funções.
Depois de administrarem pequenas quantidades de melatonina nos ratinhos, os investigadores verificaram que a substância
neutralizava o “stress oxidativo” e o processo inflamatório causado pelo envelhecimento retardava os seus efeitos, aumentando a
longevidade.
Os investigadores concluíram que, a administração continuada de melatonina em animais a partir do momento em que deixam
de produzir essa substância (aos cinco me-
ses nos ratinhos - equivalente a 30 anos nas
pessoas) pode prevenir ou retardar doenças
relacionadas com o envelhecimento, os radicais livres e os processos inflamatórios.
Também conhecida como “a hormona do
sono”, a melatonina regula os ciclos circadianos (dormir-acordar), sendo a sua produção estimulada pela escuridão e inibida pela
luz. Esta substância existe em pequenas
quantidades em frutos e vegetais como a cebola, a cereja e a banana, em cereais como o
milho, a aveia e o arroz, em plantas aromáticas como a hortelã, a verbena, a salva e o
tomilho, e no vinho tinto.
In Free Radical Research, Experimental
Gerontology, Journal of Pineal Research e
Frontiers in Bioscience
EXPOSIÇÃO AO FUMO
DO TABACO NO TRABALHO
DUPLICA RISCO DE CANCRO
Investigadores norte-americanos concluíram, através de um estudo, que a exposição a elevados níveis de fumo de tabaco no
local de trabalho pode duplicar o risco de
desenvolver cancro do pulmão nos não-fumadores.
Liderados pelo cientista Leslie Stayner, da
Universidade de Ilinois, os investigadores
combinaram resultados de 22 outros estudos
sobre fumadores passivos conduzidos nos
EUA, Japão, Canadá, Europa, Índia e China.
Segundo disse Stayner “consideramos que
este estudo representa a maior prova, até à
data, que fumar nos locais de trabalho representa um elevado risco para a saúde dos
trabalhadores, particularmente para os que
trabalham em bares ou restaurantes, que
são aéreas expostas a doses mais elevadas
de fumo do tabaco”.
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Ainda de acordo com o estudo, publicado no
“American Journal of Public Health” a exposição ao longo de 30 anos a doses elevadas de
fumo, em locais de trabalho, aumenta em cerca de 50 por cento o risco de desenvolver cancro do pulmão nos não-fumadores, enquanto
que os expostos a qualquer nível de fumo registaram um aumento de 24 por cento.
Leslie Stayner afirma que os resultados
deste estudo vêm reforçar o esforço produzido por muitas comunidades nos EUA
e por todo o mundo, em proibir ou limitar
o consumo de tabaco nos locais de trabalho.
In American Journal of Public Health
Fevereiro 2007 | Mundus
119.
Internacional em Revista
anti-insónia que imita a acção da orexina
em pacientes narcolépticos.
A orexina é importante para manter o estado
de vigília e é também uma molécula ausente
no cérebro dos narcolépticos, por esta razão,
os portadores desta doença não conseguem
dormir e acordar em ciclos normais.
Os investigadores testaram o medicamento em roedores e em cães, tendo ainda realizado testes clínicos em humanos
para determinar a segurança e a eficácia
do fármaco, afirma Roland Haelfi, relações públicas da Actelion.
Actualmente, os cientistas estão a efectuar estudos para avaliar a dosagem ideal
para o medicamento.
TRATAMENTO PARA A INSÓNIA
PODE ESTAR PARA BREVE
Cientistas suíços que estudam a Narcolepsia, uma doença que provoca nas
pessoas um adormecimento súbito, produziram um novo fármaco promissor que
pode ajudar no tratamento da Insónia.
ORGANISMO POSSUI MOLÉCULA
QUE PODE PROTEGER DE HIV
O organismo produz uma molécula que pode
impedir a destruição das células do sistema
imunitário quando este é “atacado” pelo vírus da Sida, sendo que este pode contribuir
para a reconstituição das que foram destruídas pela infecção.
Os investigadores do National Institute of Allergy and Infectious Diseases
(NIAID), autores de um estudo publicado
nos Annals of the New York Academy of
Sciences lembraram que o HIV ataca o
sistema de defesa do organismo ao dis-
120.
Fevereiro 2007 | Mundus
No estudo, publicado na edição online
da revista “Nature Medicine”, os cientistas relatam como conseguiram reverter o problema, ao bloquear a acção do
neurotransmissor orexina no cérebro
de animais e pessoas. A equipa liderada
por François Jenck, do laboratório suíço
Actelion, conseguiu produzir um fármaco
De acordo com os investigadores, até final deste ano deve ser iniciado um ensaio
clínico de fase 3 - uma avaliação mais
pormenorizada da acção do fármaco -,
que permitirá ao laboratório pedir licença
para iniciar a comercialização.
simular-se no interior das células imunitárias linfocita-T.
O sangue dos doentes tratado com a
molécula IL-7 mostrou uma redução de
apoptose e uma diminuição dos marcadores moleculares da infecção, levando
a um reforço do sistema imunitário. Os
efeitos do IL-7 variaram em função do
grau de avanço da infecção, mas os resultados indicam que a molécula pode
ser utilizada como um anti-retroviral
para reconstituir as células imunitárias
danificadas pelo vírus da Sida, concluem
os cientistas.
De acordo com a investigação, durante a
progressão da infecção, as células linfocita-T autodestroem-se, efectuando um suicídio celular (denominado de apoptose) que
se propaga às células ainda não afectadas.
Para impedir a autodestruição das células
do sistema imunitário, os investigadores
testaram o papel da proteína interleucina 7
(IL-7) em amostras sanguíneas de 24 pessoas infectadas com o HIV em diferentes fases.
Este teste foi realizado com recurso a uma
forte concentração de moléculas IL-7.
In Nature Medicine
In Annals of the New York Academy of
Sciences
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Internacional em Revista
PESSOAS COM DISTÚRBIOS
PSIQUIÁTRICOS CORREM
MAIS RISCOS DE DOENÇAS
CARDIOVASCULARES
Um estudo britânico afirma que as pessoas que sofrem de distúrbios psiquiátricos
graves correm mais riscos de morrer de
doenças cardiovasculares do que o resto
da população. Ao contrário, os riscos de
desenvolver um cancro não aumentam, segundo verificaram os autores do trabalho
publicado na edição de Fevereiro dos Archives of General Psychiatry.
A investigação realizada na Grã-Bretanha
refere que os efeitos secundários dos antipsicóticos bem como do tabagismo, do
modo de vida e da pobreza contribuem frequentemente para a deterioração da saúde
deste grupo de pessoas.
De acordo com o estudo, as pessoas que
sofrem de Doenças Mentais graves, com
idades entre os 18 e os 49 anos, têm 3,22
vezes mais riscos de morrer vítimas de uma
doença cardíaca e 2,53 vezes mais riscos
de morrer de AVC, do que as pessoas que
não sofrem deste tipo de perturbações.
No estudo participaram 46.136 pessoas que sofriam de diferentes perturbações psiquiátricas,
nomeadamente esquizofrénicos e maníaco-depressivos, e 300.426 pessoas que não apresentavam qualquer tipo de problemas mentais.
mortalidade devida a doenças cardíacas e
aos sete tipos de cancro mais frequentes
na Grã-Bretanha (cancro das vias respiratórias, da mama, da próstata, do estômago,
do esófago, do pâncreas e colo-rectal).
Os investigadores compararam as taxas de
In Archives of General Psychiatry
VITAMINA D REDUZ RISCOS DE DOIS
TIPOS DE CANCRO
tigação, liderada por investigadores do Moores Cancer Center da Universidade da Califórnia, San Diego (UCSD) Medical Centre,
EUA, mostrou que indivíduos que apresentavam uma maior concentração de vitamina
D no sangue (52 nanogramas por mililitro de
sangue) correm menos riscos de desenvolver Cancro da Mama.
sangue), acompanhado de 10 a 15 minutos
de exposição solar diária”.
Cancro da Mama e Cancro Colorrectal são
duas patologias que a vitamina D pode ajudar a reduzir. Até 50 por cento reduz o risco
de Cancro da Mama e mais de 66 por cento
o de contrair Cancro Colorrectal, segundo
concluem dois estudos publicados no “Journal of Steroid Biochemistry and Molecular
Biology” e no “American Journal of Preventive Medicine”.
Os investigadores acompanharam 1.750
pessoas com Cancro da Mama submetidas
a doses diferentes da vitamina D. Esta inves-
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Cedric Garland, um dos autores do estudo,
afirma que “pode reduzir-se em 50 por cento
o risco de Cancro da Mama através do consumo diário de duas mil unidades internacionais de vitamina D (ou seja uma concentração de 46 nanogramas por mililitros de
Outra investigação, publicada pelo “American
Journal of Preventive Medicine” revela os resultados de uma análise idêntica feita a 1.448
pessoas com o objectivo de medir os efeitos
da vitamina D no risco de Cancro Colorrectal.
Edward Gorham, um dos autores do estudo,
afirma que “aumentando a dose de vitamina
D absorvida diariamente de 13 para 34 nanogramas por mililitro, a incidência do Cancro
Colorrectal seria reduzida a metade”.
In American Journal of Preventive Medicine
Fevereiro 2007 | Mundus
121.
CURIOSIDADES
21 de Fevereiro de 1999
DIA INTERNACIONAL DA LÍNGUA MATERNA
(UNESCO)
Celebra-se a 21 de Fevereiro o Dia Interncional da Língua Materna. Proclamado pela
Conferência Geral da UNESCO em Novembro de 1999, que mostra, assim, a sua forte
dedicação e empenho na contribuição para
preservação da herança linguística mundial
contra as forças de globalização imposta
que não respeitam os indivíduos, nem a suas
línguas e culturas.
O dia foi instituído pela UNESCO para dar visibilidade à diversidade linguística e cultural
da humanidade e promover a sua salvaguarda, passou entre nós quase despercebido.
“A Línguas Maternas são únicas porque marcam os seres humanos desde o seu nascimento, dando-lhes sobre o mundo um olhar
singular que nunca se extingue, independentemente do número de línguas que se venha
a adquirir posteriormente. Aprender línguas
de outros é uma maneira de percepcionar o
mundo de diferentes formas, fazer-lhe outras aproximações”, disse o Director Geral da
Unesco, Koitiro MatÐra, que acrescentou, por
ocasião das celebrações desta data, em 2004,
que “somos um movimento pela defesa da
diversidade linguística. Os esperantistas pretendem conservar todas as línguas maternas
e propõem o uso do esperanto nas relações
internacionais como uma forma de comunicar neutralmente sem a imposição da visão
do mundo de outrem. Por isso o movimento
esperantista festeja com a UNESCO o Dia Internacional da Língua Materna”.
Estimam-se em quase seis mil as línguas
faladas no mundo, mas cerca de metade
está à beira da extinção. Neste contexto, a
UNESCO propõe que a Internet contribua
para a recuperação das línguas ameaçadas.
desde a instalação dos primeiros aparelhos
em Portugal em 1879 - à sigla “T.S.F.”, aportuguesando para “Telefonia Sem Fios”. Os
técnicos ainda usaram durante algum tempo a palavra “radiotelefonia”.
ro conflito mundial atrasou os trabalhos,
que só foram retomados em 1922. Novas
estações são acrescentadas às anteriores, de modo a incluir Angola e Moçambique, garantindo acordos especiais para
alargar a rede a Macau, Índia e Timor.
Assinale-se que o português não faz parte
deste conjunto, dado que se crê ocupar a 6ª
posição na lista dos idiomas mais falados no
mundo.
22 de Fevereiro de 1912
A TELEGRAFIA SEM FIOS É INTRODUZIDA
EM PORTUGAL
O nome telegrafia sem fios deriva do inglês
wireless telegraphy e era o nome dado para
as comunicações por ondas electromagnéticas em código morse. Na América esta
expressão foi usada até 1910, mas depois
desta data a designação oficial passou a ser
rádio.
Em Portugal utilizou-se os termos Radiotelegrafia, Telegrafia Sem Fios e T.S.F., e quando a “fonia” (palavra ou música) substituiu
a “grafia” (código Morse) os portugueses
adaptaram a palavra “telephone” - já usada
122.
Fevereiro 2007 | Mundus
O primeiro contrato para a transmissão
de mensagens em sistema TSF (telegrafia sem fios) seria firmado em 1912
entre o governo português e a empresa
estrangeira, a Marconi’s Wireless Telegraph Company Limited. Este contrato
preconizava o fornecimento de postos de
TSF para Lisboa, Porto, Açores, Madeira
e Cabo Verde. Mas, o advento do primei-
Para além da TSF, à Marconi’s seria concedida autorização para operar em telefonia.
Em 1925 processa-se a criação da Companhia Portuguesa Rádio Marconi, a partir da
empresa anterior, introduzindo um novo sistema para as comunicações directas a longa
distância, e no final do ano seguinte entram
em actividade as primeiras estações.
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CURIOSIDADES
23 de Fevereiro de 1889
ABOLIÇÃO DA ESCRAVATURA EM TERRITÓRIO
PORTUGUÊS
A escravatura existiu, em toda a parte do
mundo, desde a pré-história. Portugal foi
dos primeiros países europeus a abolir a
escravatura, começando por publicar uma
série de decretos restritivos a essa prática
desde o século XV, e a partir do início do século XVII tomou a fundo o desejo de abolir
tal tráfico. No dia 5 de Julho de 1856, aboliu
a escravidão em zonas de Angola, Cabinda e
Macau. A 18 de Julho do mesmo ano a nova
lei concedeu alforria a todos os escravos que
desembarcassem em Portugal, Açores, Madeira, Índia e Macau. Em 25 de Abril de 1858,
data do casamento de D.Pedro V, um novo
decreto determinava que a escravatura e a
escravidão acabassem em todo o território
português em 1878, mas o tráfico de escravos tinha sido definitivamente encerrado em
1869.
O século XIX assistiu à abolição da escravatura numa série de países e a luta
contra a discriminação racial tem envolvido personalidades tão destacadas como
Martin Luther King e Nelson Mandela,
registando progressos significativos. O
racismo vai contra os princípios da Declaração Universal dos Direitos do Homem,
de 1948, que afirma a igualdade de todas
as pessoas.
nhecemos com partículas necessárias para
garantir o equilíbrio do Universo.
de largura. As primeiras análises da sonda
revelaram que o asteróide Eros não é uma
rocha qualquer. A sua densidade é de 2.4
gramas por centrímetro cúbico, valor esse
muito semelhante ao da crosta terrestre.
14 de Fevereiro de 2000
SONDA NORTE-AMERICANA ENTRA EM ÓRBITA
DO ASTERÓIDE EROS
Deste dia a sonda Near Earth Asteroid Rendezvouz – Shoemaker entrou em órbita do
asteróide Eros.
O cientista australiano da Universidade de
Melbourne, Robert Foot, e o seu colega da
Universidade de Amesterdão, Saibal Mitra,
acreditam que o asteróide Eros pode conter
evidências da existência de um Universo paralelo.
Na opinião destes especialistas e segundo
observações feitas em imagens detalhadas
do asteróide Eros, conseguidas pela sonda
espacial Near-Shoemaker, o mesmo pode
ter sido dividido pela chamada mirror matter (matéria espelho, traduzindo o termo). É
considerada um reflexo da matéria que co-
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Robert Foot acredita que a mirror matter foi
criada em grandes quantidades quando da
origem do Universo com o Big Band, e se encontra ao nosso redor mas sem ser possível
de ser visualizada. Apesar disso, o cientista pensa ter encontrado evidências que ela
existe e está bem próxima de nós, e tem um
efeito passível de ser medido através das
nossas sondas espaciais.
A teoria da mirror matter não é credível por
alguns cientistas, mas algumas experiências estão a ser realizadas para comprovar
sua existência.
Com a forma de uma batata, este asteróide
possui um comprimento de 33 km e 13 km
O grande número de crateras na superfície
de Eros e a sua densidade revelam que este
é um asteróide bastante antigo. A existência
de ranhuras e sulcos nas crateras apontam
para uma formação única dos níveis inferiores da superfície. Estes dados poderão indicar que o asteróide pertenceu a um corpo
muito maior no passado.
Um dos instrumentos da sonda detectou uma
composição mineral não homogénea na superfície do asteróide. Todos os minerais descobertos são também encontrados vulgarmente
na Terra, na Lua, em Marte e nos meteoritos.
Fevereiro 2007 | Mundus
123.
CURIOSIDADES
9 de Fevereiro de 1895
INVENÇÃO DO VOLEIBOL
O voleibol foi criado nos Estados Unidos pelo
director de educação física da ACM (Associação Cristã de Moços de Massachusetts)
William George Morgan. O objectivo era criar
um desporto sem contacto físico entre os jogadores. Desta forma, ele pretendia oferecer
às pessoas (principalmente aos mais velhos)
um desporto em que as lesões físicas, provocadas por choques entre pessoas, seriam
raras.
Inicialmente o desporto jogava-se com uma
câmara numa bola de basquetebol e era chamado Mintonette, mas rapidamente ganhou
popularidade com o nome de volleyball.
do programa dos Jogos Olímpicos, tendo-se
mantido até hoje. Recentemente, o voleibol de
praia, uma modalidade derivada do voleibol,
tem obtido grande sucesso em diversos países,
nomeadamente no Brasil e nos EUA.
Em 1947 foi fundada a Fédération Internationale de Volleyball (FIVB). Dois anos mais tarde, foi
realizado o primeiro Campeonato Mundial da
modalidade, apenas para homens; em 1952, o
evento foi estendido também ao voleibol feminino. Em 1964 o voleibol passou a fazer parte
Nos desportos colectivos, a primeira medalha de ouro olímpica conquistada por um
país lusófono foi obtida pela equipa masculina de volley do Brasil nos jogos de 1992. A
proeza repetiu-se em 2004.
tulados teóricos básicos da ciência biológica da época.
as características dos pais são frequentemente herdadas.
Aquando do seu regresso a Inglaterra,
aos 27 anos, Darwin decidiu dedicar a sua
vida à ciência. Em 1842, com a herança
paterna, retira-se para uma casa no campo, onde vive consagrado ao estudo até à
morte.
Segundo Darwin nem todos os membros
de uma nova geração conseguem crescer
e reproduzir-se, acabando por morrer
cedo.
12 de Fevereiro de 1809
NASCE CHARLES DARWIN
Nesta data nascia Charles Robert Darwin, o naturalista britânico que iniciou os
estudos de Medicina e de Teologia, mas
em 1831, depois de aprender bastante de
Botânica, Entomologia e Geologia, foi recomendado para uma expedição científica
a bordo do Beagle.
A volta ao mundo do Beagle durou cinco
anos, durante os quais Darwin formou a
sua colecção de naturalista, acumulou
observações práticas e modificou os pos-
124.
Fevereiro 2007 | Mundus
O naturalista britânico alcançou a fama
ao convencer a comunidade científica da
ocorrência da evolução e propor uma teoria para explicar como ela se dá através
da selecção natural e sexual. Esta teoria
desenvolveu-se no que é actualmente
considerado o paradigma central para
explicação de diversos fenómenos na biologia.
O inglês foi o responsável pela teoria da
evolução, que se difundiu no século XIX.
Através de um conjunto de observações, o
cientista chegou à conclusão que os indivíduos de uma mesma espécie são idênticos, mas apresentam ligeiras diferenças
(por exemplo, alguns são maiores, outros
têm cores diferentes, etc.). Os filhos são
idênticos aos pais, ao que ele conclui que
Uma vez que os indivíduos acabam por
ser diferentes, os que têm características
que os tornam mais aptos para viver no
seu ambiente têm mais possibilidades de
gerar mais descendentes. Estas características são, assim, hereditárias, o que
as torna cada vez mais frequentes com o
passar das gerações, acabando por modificar as características globais da espécie.
A este mecanismo chama-se selecção
natural e através dele são eliminados os
que não possuem características vantajosas. O resultado é sempre uma melhor
adaptação da espécie ao ambiente em que
vive. Com o passar dos anos, uma população da mesma espécie pode ir acumulando diferenças sucessivas até deixar de ser
possível o seu cruzamento com indivíduos
de outras populações. É assim que nasce
uma nova espécie.
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MARÇO
conferências
seminários
encontros
A não perder
“DESCENTRALIZAÇÃO/ REGIONALIZAÇÃO”
Conferência a decorrer no dia 8 de Março, com a presença de Vital Moreira e
Miguel Cadilhe, entre outras distintas
personalidades.
A Sessão de Encerramento do Ciclo de
Conferências comemorativo dos 30 Anos
de Poder Local realizar-se-á pelas 15.30
horas, em Braga, no Campus de Gualtar,
Complexo Pedagógico II, Auditório B1, e
contará com a presença do Deputado da
Assembleia Constituinte, Jorge Miranda
e Jorge Sampaio.
http://www.cienciapt.net/congressosdesc.asp?id=5483
I BIENAL DE MATEMÁTICA
E LÍNGUA PORTUGUESA
A decorrer em Maputo (Moçambique),
nos dias 1,2 e 3 de Março. A iniciativa é
promovida pelo Instituto Superior de Ciências e Tecnologia de Moçambique, Maputo e a Universidade de Aveiro, sendo
dedicada à troca de experiências no ensino e na aprendizagem da Língua Portuguesa e da Matemática, com recurso às
tecnologias.
Esta bienal tem como objectivo apresentar e discutir uma plataforma para
novos ambientes de aprendizagem e
suas aplicações. Pretende-se dar uma
visão global do estado da arte bem como
promover a discussão em torno do potencial pedagógico e didáctico da tecnologia para uma melhor aprendizagem. A
conferência visa, sobretudo, os aspectos
técnicos e pedagógicos, a inovação, as
redes de aprendizagem e as comunidades virtuais.
http://www.cienciapt.net/congressosdesc.asp?id=5552
125.
Fevereiro 2007 | Mundus
20 ANOS DE ENGENHARIA CIVIL
NO IP TOMAR
Encontro que reúne, no dia 3 de Março,
um grupo de oradores, antigos alunos
deste Curso que irão discutir temas de
grande interesse no panorama nacional.
Este Encontro destina-se a todos os
interessados por temas de engenharia
civil, estudantes e antigos alunos deste curso do IPT, empregadores, antigos
e actuais docentes desta Instituição,
associações profissionais e a todos os
que, directa ou indirectamente, estiveram ligados ao curso de Engenharia
Civil do IPT.
http://www.cienciapt.net/congressosdesc.asp?id=5590
III ENCONTRO NACIONAL
DE ORIENTADORES E I ENCUENTRO
INTERNACIONAL VIRTUAL
Dias 9, 10, 11 de Março no Auditório de
Zaragoza, em Espanha.
http://www.cienciapt.net/congressosdesc.asp?id=5314
www.cienciapt.net/mundus
conferências_seminários_encontros
FIRST INTERNATIONAL
WORKSHOP ON ENABLING
RELIABLE AND AGILE
CROSS-ENTERPRISE
INTEROPERABLE SYSTEMS
MOVING STANDARDS FORWARD
FOR IMPACT IN THE GLOBAL
INDUSTRIAL ENVIRONMENT
Dia 27 de Março na Ilha da Madeira.
http://www.cienciapt.net/congressosdesc.asp?id=5599
6.O ENCONTRO DA DIVISÃO
DE QUÍMICA ANALÍTICA
(ANALITICA’07)
De 29 a 30 de Março no Centro de Congressos do Instituto Superior Técnico (UTL).
http://www.cienciapt.net/congressosdesc.asp?id=5127
ENCONTRO DE PRIMAVERA
2007 DA APEP – O ESTADO
DA ARTE DA ECOLOGIA
DA PAISAGEM EM PORTUGAL
Dias 23 e 24 de Março no Auditório da Escola Superior Agrária do Instituto Politécnico
de Castelo Branco (ESA-IPCB), em Castelo
Branco. O evento é organizado pela Escola
em conjunto com a Associação Portuguesa
de Ecologia da Paisagem e pretende abordar o tema “O Estado da Arte da Ecologia
da Paisagem em Portugal”.
A inscrição é gratuita para os sócios
da APEP com as cotas regularizadas.
Para os restantes participantes o valor
da inscrição é de 20 euros, sendo a data
limite par ao fazer dia 16 de Março. O
número de inscritos é limitado.
http://www.cienciapt.net/congressosdesc.asp?id=5656
126.
Fevereiro 2007 | Mundus
A não perder
CEBIT – IRC FUTURE MATCH
A rede Innovation Relay Centres organiza
mais uma edição do IRC Future Match,
uma Bolsa de Contactos no âmbito da
feira internacional CeBIT em Hannover,
de 15 a 19 de Março. O objectivo deste
brokerage é criar novas formas de cooperação, promover a transferência de
tecnologia e Know-how de forma a criar
novas oportunidades de negócio.
2.O ENCONTRO NACIONAL
DA ASSOCIAÇÃO PORTUGUESA
DE PSICOLOGIA EXPERIMENTAL
- APPE
De 16 e 17 de Março no Anfiteatro Central
da Faculdade de Psicologia e de Ciências
da Educação da Universidade do Porto.
http://www.cienciapt.net/congressosdesc.asp?id=5638
O IRC Future Match 2007 reúne perfis tecnológicos (ofertas e procuras) de
empresas de toda a Europa e divulga-os
num catálogo online onde as empresas
podem seleccionar os parceiros que mais
lhe interessam para realizar reuniões individuais durante o evento.
http://www.cienciapt.net/congressosdesc.asp?id=5646
“ALFABETO”
A decorrer até dia 22 Março, das 13h00
às 24h00, no Silo-Espaço Cultural, Norteshopping, em Matosinhos.
Esta é a terceira exposição de uma série
de seis mostras no âmbito do projecto
“Idiomas”, inserido no programa que a
Fundação de Serralves, que tem vindo a
ser desenvolvido para o Silo-Espaço Cultural. A mostra apresenta cerca de três
centenas de fotografias das quais fazem
parte trabalhos de 51 alunos de design de
comunicação da Escola Superior de Artes
e Design (ESAD) de Matosinhos, desenvolvidos no âmbito de um projecto de ‘Introdução à Tipografia’ que Andrew Howard,
comissário desta série de exposições, desenvolveu enquanto professor da ESAD.
http://www.cienciapt.net/congressosdesc.asp?id=5648
CONFERÊNCIA INTERNACIONAL
MATERIAIS 2007
– 13th CONFERENCE OF SOCIEDADE PORTUGUESA DE MATERIAIS, IV INTERNATIONAL
MATERIALS CONFERENCE SYMPOSIUM
– A MATERIALS SCIENCE FORUM: “GLOBAL
MATERIALS FOR THE XXI CENTURY: CHALLENGES TO ACADEMIA AND INDUSTRY”
De 1 e 4 de Abril na Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP).
A conferência, que aborda 20 temas na
área dos materiais e vai reunir mais de
400 investigadores nacionais e estrangeiros, representando 35 países, tem os investigadores do INEGI, Engenheiros Jorge Lino e Monteiro Baptista na Comissão
Organizadora presidida pelo Professor
Torres Marques, também ele investigador do Instituto e docente na FEUP.
http://www.cienciapt.net/congressosdesc.asp?id=5628
www.cienciapt.net/mundus
EXPOSIÇÃO “ALFABETO
E TABUADA - O CONTO
MATEMÁTICO SILVADO DOCE”
Até 31 de Março na Sala Estúdio A do
CIFOP, das 10h00 às 12h00 e das 14h00
às 16h.
http://www.cienciapt.net/congressosdesc.asp?id=5621
XII ENCONTRO NACIONAL
DE SOCIOLOGIA (ENSIOT)
Cidadania e empregabilidade: as novas
paisagens socioprofissionais, em debate
nos dias 27 e 28 de Março na Fundação
Calouste Gulbenkian, em Lisboa.
http://www.cienciapt.net/congressosdesc.asp?id=5587
FORMAÇÃO PARA PROJECTISTAS
– NOVO REGULAMENTO
DAS CARACTERÍSTICAS
DE COMPORTAMENTO TÉRMICO
DE EDIFÍCIOS (RCCTE)
Dias 19, 20, 21 e 26 de Março.
A Unave, em colaboração com o Departamento de Engenharia Civil da
www.cienciapt.net/mundus
UNEQUAL CENTROSOME
BEHAVIOUR IN ASYMETRICALLY
DIVIDING NEURAL STEM
CELLS
Dia 9 Março no IBMC-INEB, com Elena
Rebollo, Institute for Research in Biomedicine (IRB), Cell Division Laboratory
Josep Samitier, Spain.
http://www.cienciapt.net/congressosdesc.asp?id=5531
Universidade de Aveiro, vai realizar o
curso “Formação para Projectistas
– Novo Regulamento das Características de Comportamento Térmico de
Edifícios (RCCTE)”. As inscrições estão abertas até ao próximo dia 11 de
Março.
http://www.cienciapt.net/congressosdesc.asp?id=5618
Fevereiro 2007 | Mundus
127.
NA PRÓXIMA EDIÇÃO
MARÇO
A mulher na ciência
128.
Fevereiro 2007 | Mundus
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