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Transcrição

003 bancos kamayura ate asurini_final.indd
K am ay u r á
Os Kamayurá falam uma língua da
geralmente em pagamento a serviços
Os materiais empregados são de
família tupi-guarani e fazem parte
prestados por ocasião da construção
origem nativa – madeira, embira,
dos povos indígenas tradicionais da
de uma casa ou da queimada,
fibra de buriti, algodão –, mas alguns
área cultural do Alto Xingu.
limpeza ou plantio comunitário de
produtos industrializados foram
Jamais se afastaram de sua área
uma roça, ou simplesmente como
também incorporados à produção,
de ocupação original, na região de
retribuição pela participação em
tais como miçangas, fios de lã e de
confluência dos rios Culuene e
alguma festa.
algodão, latas, pregos e corantes.
Culiseu, com a aldeia próxima à
No sistema alto-xinguano de
grande lagoa de Ipavu. Em 1954,
trocas especializadas, os Kamayurá
apresentar-se como os melhores
quando houve uma forte epidemia
incumbiam-se da produção de arcos,
construtores de casas do Alto Xingu.
de sarampo na região, viram-se
o que se alterou com a introdução
reduzidos a 94 indivíduos, mas hoje
na aldeia de armas de fogo; o arco,
-se em torno da Associação
somam cerca de 460.
contudo, persiste hoje na condição
Mavutsinim, cujo objetivo é
A aldeia kamayurá segue o
150
Os homens adultos gostam de
Hoje os Kamayurá organizam-
de símbolo do grupo mais do que de
desenvolver projetos específicos,
modelo alto-xinguano, com grandes
artigo de troca. A cultura material
como a Escola da Cultura, em que
casas dispostas em torno de uma
dos Kamayurá inclui objetos como
homens e mulheres mais velhos
praça central, para a qual convergem
cestos, arremessadores de flechas,
ensinam crianças e jovens a dançar,
os caminhos que conduzem tanto às
canoas de casca de jatobá, redes de
cantar, fazer artesanato e conhecer
moradias como aos lugares públicos,
dormir e de pescar e a flauta jakui.
as histórias do seu povo.
e onde se ergue a Casa das Flautas,
atravessada medianamente pelo
caminho do sol.
Em frente à Casa das Flautas,
onde os objetos rituais são
guardados, fica o banco da roda dos
fumantes. Ali os homens se reúnem
para conversar e discutir assuntos
como a preparação de uma pesca
coletiva, a construção de uma casa, a
limpeza da praça ou os preparativos
de uma festa próxima. É também ali
que se faz, sempre entre homens,
a distribuição de comidas (peixe,
mingau, beiju, pimenta, bananas),
AntA/tApir/tApir du Brésil
KAmAyurá – 60 x 21 x 21 cm
Autor/Author/Auteur: yAwApi KAmAyurá
AntA/tApir/tApir du Brésil
KAmAyurá – 74 x 45 x 31 cm
Autor/Author/Auteur: yAwApi KAmAyurá
151
AntA/tApir/tApir du Brésil
KAmAyurá – 95 x 32 x 33 cm
Autor/Author/Auteur: yAwApi KAmAyurá
BeiJA-flor/humminGBird/coliBri
KAmAyurá – 87 x 32 x 36 cm
Autor/Author/Auteur: yAwApi KAmAyurá
152
GAvião de duAs cABeçAs/two-heAded hArpy eAGle/hArpie à deux têtes
KAmAyurá – 73 x 34 x 31 cm
Autor/Author/Auteur: Joe KAmAyurá
153
JABuru/JABiru/JABiru
KAmAyurá – 92 x 35 x 41 cm
Autor/Author/Auteur: yAwApi KAmAyurá
mAcAco/monKey/sinGe
KAmAyurá – 70 x 35 x 31 cm
154
mAcAco/monKey/sinGe
KAmAyurá – 72 x 36 x 29 cm
Autor/Author/Auteur: yAwApi KAmAyurá
155
mAcAco/monKey/sinGe
KAmAyurá – 75 x 22 x 20 cm
onçA/JAGuAr/once
KAmAyurá – 114 x 28 x 23 cm
Autor/Author/Auteur: suKuri KAmAyurá
156
onçA/JAGuAr/once
KAmAyurá – 119 x 35 x 28 cm
Autor/Author/Auteur: yAwApi KAmAyurá
onçA/JAGuAr/once
KAmAyurá – 78 x 24 x 17 cm
Autor/Author/Auteur: suKuri KAmAyurá
157
onçA/JAGuAr/once
KAmAyurá – 158 x 51 x 37 cm
Autor/Author/Auteur: suKuri KAmAyurá
onçA/JAGuAr/once
KAmAyurá – 87 x 33 x 23 cm
Autor/Author/Auteur: suKuri KAmAyurá
158
onçA/JAGuAr/once
KAmAyurá – 87 x 25 x 19 cm
Autor/Author/Auteur: yAwApi KAmAyurá
159
onçA/JAGuAr/once
KAmAyurá – 69 x 23 x 16 cm
pApAGAio/pArrot/perroquet
KAmAyurá – 51 x 16 x 21 cm
Autor/Author/Auteur: tAtApé KAmAyurá
160
pAto/ducK/cAnArd
KAmAyurá – 53 x 33 x 33 cm
Autor/Author/Auteur: tAtApé KAmAyurá
sApo/froG/Grenouille
KAmAyurá – 58 x 21 x 23 cm
Autor/Author/Auteur: yAwApi KAmAyurá
161
sApo/froG/Grenouille
KAmAyurá – 68 x 23 x 23 cm
Autor/Author/Auteur: yAwApi KAmAyurá
tAmAnduá/AnteAter/tAmAnoir
KAmAyurá – 93 x 31 x 18 cm
Autor/Author/Auteur: yAwApi KAmAyurá
162
tAmAnduá/AnteAter/tAmAnoir
KAmAyurá – 113 x 32 x 27 cm
163
tAtu/ArmAdillo/tAtou
KAmAyurá – 62 x 20 x 26 cm
Autor/Author/Auteur: yAwApi KAmAyurá
tucAno/toucAn/toucAn
KAmAyurá – 59 x 14 x 24 cm
164
tucAno/toucAn/toucAn
KAmAyurá – 74 x 17 x 26 cm
165
tucAno/toucAn/toucAn
KAmAyurá – 92 x 37 x 45 cm
Autor/Author/Auteur: yAwApi KAmAyurá
uruBu/vulture/vAutour
KAmAyurá – 74 x 32 x 42 cm
Autor/Author/Auteur: tAtApé KAmAyurá
166
uruBu/vulture/vAutour
KAmAyurá – 80 x 23 x 27 cm
Autor/Author/Auteur: yAwApi KAmAyurá
167
uruBu/vulture/vAutour
KAmAyurá – 56 x 28 x 25 cm
Autor/Author/Auteur: yAwApi KAmAyurá
168
uruBu/vulture/vAutour
KAmAyurá – 85 x 42 x 50 cm
Autor/Author/Auteur: ApAhu KAmAyurá
169
tucAno/toucAn/toucAn
KAmAyurá – 108 x 36 x 44 cm
Autor/Author/Auteur: yAwApi KAmAyurá
K al apal o
Os Kalapalo foram os primeiros
se destacado pela vigilância ativa de
xinguanos contatados pelos irmãos
seus limites, a fim de evitar a invasão
Villas-Boas, em 1945. Compõem um
de fazendeiros vizinhos. Os produtos
dos quatro grupos de língua karib
mais conhecidos de seu artesanato
que habita a região do Alto Xingu.
são os adornos, sobretudo colares e
Vivem hoje em duas aldeias no
cintos, feitos de sementes e conchas
interior do Parque Indígena do Xingu
de caracol.
e somam cerca de 380 indivíduos.
Algumas semelhanças entre
170
É central para a vida social
um ideal de comportamento
mitos kalapalo e ye’kuana, povo com
chamado ifutisu, que corresponde
aldeias nas savanas da Venezuela
a um conjunto de preceitos éticos
e de Roraima, sugerem que os
pelos quais os Kalapalo distinguem
ancestrais dos Karib xinguanos
os povos do Alto Xingu de todos
deixaram a região das Guianas
os outros seres humanos. Em um
em tempos recentes, certamente
sentido mais geral, ifutisu pode
depois de contatos com espanhóis,
ser definido como uma ausência
intensificados durante a segunda
de agressividade – valoriza-se a
metade do século xviii. Sob o ponto
habilidade de falar em público
de vista da cultura, entretanto, há
e de não provocar situações que
pouco em comum entre os Kalapalo
causem desconforto aos outros –
e os povos Karib do Norte.
e pela prática da generosidade,
A vida social dos Kalapalo varia
o que inclui a hospitalidade e a
de acordo com as estações do ano.
predisposição para doar ou partilhar
Na estação seca, que se estende
posses materiais. Os Kalapalo
de maio a setembro, a comida é
acreditam que a viabilidade da
abundante. É a época de realizar
sociedade depende do cumprimento
rituais públicos, que contam com
desse ideal.
muita música e com a participação
de membros de outras aldeias. Na
estação chuvosa, a comida torna-se escassa e a aldeia fecha-se nas
relações entre as casas e os parentes.
No contexto multiétnico do Parque
Indígena do Xingu, os Kalapalo têm
171
ArrAiA/rAy/rAie
KAlApAlo – 82 x 44 x 62 cm
cApivArA/cApyBArA/cApyBArA
KAlApAlo – 63 x 25 x 20 cm
172
cApivArA/cApyBArA/cApyBArA
KAlApAlo – 69 x 24 x 19 cm
173
cApivArA/cApyBArA/cApyBArA
KAlApAlo – 59 x 23 x 19 cm
onçA/JAGuAr/once
KAlApAlo – 148 x 51 x 42 cm
Autor/Author/Auteur: mAnoá KAlApAlo
174
porco/piG/porc
KAlApAlo – 73 x 34 x 26 cm
uruBu/vulture/vAutour
KAlApAlo – 79 x 20 x 25 cm
175
uruBu/vulture/vAutour
KAlApAlo – 80 x 12 x 17 cm
K u ik u r o
Os Kuikuro são, hoje, o povo
da aldeia. Os chefes e suas famílias
trocas ritualizadas internamente ou
com a maior população no Alto
constituem uma espécie de estrato
entre as aldeias, chamadas de ulukí.
Xingu. Fazem parte do subsistema
social “nobre” distinto dos “comuns”.
Os Kuikuro, como os outros grupos
karib, juntamente com outros
176
As narrativas tradicionais dos
karib, participam do sistema
grupos que falam variantes
Kuikuro contam por que o universo
econômico e ritual alto-xinguano
dialetais da mesma língua
existe tal como ele é e explicam
como especialistas na fabricação
(Kalapalo, Matipu e Nahukuá) e
a origem de cantos, festas, bens
de colares e cintos de caramujo de
participam do sistema multilíngue
culturais, plantas cultivadas,
terra, bens de alto valor.
do Alto Xingu. Habitam três aldeias
categorias de seres. Assim como
na porção sul do Parque Indígena do
muitos outros povos ameríndios, os
Xingu. A maior e principal aldeia era
Kuikuro acreditam que, na origem,
Ipatse, pouco distante da margem
humanos e não humanos eram
esquerda do médio Culuene, onde
iguais, falavam a mesma língua e
viviam mais de trezentas pessoas.
conviviam na mesma aldeia. Os
Em 1997, surgiu Ahukugi, na
humanos viviam também no meio
margem direita do Culuene, rio
dos itseke, seres sobrenaturais que
acima de Ipatse, com cerca de cem
povoam a floresta e o fundo das
pessoas. Em seguida, uma terceira
águas, com os quais apenas os
aldeia formou-se a partir de um
xamãs têm o poder de se comunicar
grupo familiar de uma dezena de
hoje (a doença e o sonho, porém,
pessoas, no local da antiga Lahatuá,
são estados que podem colocar em
abandonada em 1961. Hoje somam
contato humanos em geral e itseke).
cerca de quinhentos habitantes.
Há também um mundo celeste,
A organização espacial da
kahü, onde mortos e itseke habitam
aldeia centrada na praça reflete a
a mesma aldeia e cujo “dono” é
organização política e ritual. Na
o urubu bicéfalo, muitas vezes
praça se realizam as atividades
representado nos bancos zoomorfos.
cerimoniais, relacionadas sobretudo
A produção tradicional de
aos principais ritos de passagem
artefatos, como bancos, esteiras,
que caracterizam a trajetória dos
cestos e adornos plumários, serve
chefes. Um complexo sistema de
para usos cotidianos e cerimoniais,
“donos” e “chefes” regula a dinâmica
para pagamento de serviços como a
política e a vida ritual, ou seja, a
pajelança ou para selar uma aliança
própria existência e a reprodução
de casamento, bem como para as
177
JAcAré/AlliGAtor/AlliGAtor
KuiKuro – 78 x 24 x 26 cm
Autor/Author/Auteur: tAwAKu KuiKuro
178
JAcAré/AlliGAtor/AlliGAtor
KuiKuro – 93 x 28 x 30 cm
Autor/Author/Auteur: tAwAKu KuiKuro
onçA/JAGuAr/once
KuiKuro – 134 x 56 x 50 cm
179
mAcAco/monKey/sinGe
KuiKuro – 115 x 34 x 36 cm
Autor/Author/Auteur: KAnAri KuiKuro
rAposA/fox/renArd
KuiKuro – 69 x 24 x 29 cm
180
rã/froG/Grenouille
KuiKuro – 77 x 23 x 44 cm
Autor/Author/Auteur: urissApA KuiKuro
tAmAnduá/AnteAter/tAmAnoir
KuiKuro – 82 x 33 x 23 cm
181
tAtu/ArmAdillo/tAtou
KuiKuro – 73 x 30 x 35 cm
Yaw al api ti
Os Yawalapiti são um povo de
situa uma casa frequentada apenas
língua aruak do Alto Xingu e foram
pelos homens, destinada a ocultar as
certamente um dos primeiros a
flautas sagradas (apapálu). É nessa
ocupar a região. Seu nome significa
casa, ou em bancos diante dela, que
“aldeia dos tucuns” e é hoje usado
os homens se reúnem para conversar
pelo grupo como autodenominação.
ao crepúsculo e se pintam para
A “aldeia dos tucuns” seria a
as cerimônias.
localização mais antiga de que se
casas e realizam todos os trabalhos em
Indígena do Xingu, próxima à
madeira, como bancos, arcos, pilões,
confluência dos rios Culuene e
pás de virar o beiju etc. Também
Batovi. Sua aldeia atual fica mais ao
fazem os cestos e os instrumentos
sul, em local de terra fértil.
cerimoniais (flautas e chocalhos).
Os Yawalapiti já estiveram sob
182
São os homens que constroem as
recordam e está situada no Parque
Os bancos feitos pelos
a ameaça de extinção, reduzidos
Yawalapiti, assim como os de outros
por epidemias a apenas 28
povos xinguanos, retratam animais
indivíduos em 1953. Em 2011 foram
que povoam a sua mitologia,
registradas 156 pessoas na aldeia.
como as onças. Eles acreditam na
O crescimento populacional se
existência de uma multiplicidade
deve tanto às melhores condições
de seres espirituais com influência
de saúde quanto à prática de
considerável nos assuntos humanos;
casamentos intertribais, com a
esses seres provocam a maioria das
incorporação de membros de
doenças, mas também podem ajudar
outras aldeias. Atualmente, apenas
os xamãs e são os “donos” de certas
quatro ou cinco indivíduos falam
espécies animais. São espíritos
yawalapiti; predominam na aldeia as
invisíveis, que só aparecem para os
línguas kuikuro (da família karib) e
doentes e para os xamãs em transe.
kamayurá (da família tupi-guarani),
É comum conceberem os espíritos
em razão dos muitos casamentos que
como donos de uma essência
ligam os Yawalapiti a esses grupos.
antropomorfa por baixo de uma
Assim como as outras aldeias
xinguanas, a dos Yawalapiti é circular,
com as casas comunais circundando
um pátio central (uikúka) no qual se
aparência animal ou monstruosa.
183
uruBu/vulture/vAutour
yAwAlApiti – 58 x 17 x 25 cm
184
mAcAco/monKey/sinGe
yAwAlApiti – 75 x 28 x 20 cm
Autor/Author/Auteur: pirAKumã yAwAlApiti
185
onçA/JAGuAr/once
yAwAlApiti – 127 x 50 x 44 cm
Autor/Author/Auteur: pirAKumã yAwAlApiti
Tr u m ai
Os Trumai vivem espalhados em três
passaram a dormir em redes e a usar
aldeias e nos postos da administração
arcos e flechas.
da Funai no Parque Indígena do
Xingu. Consta que foram os últimos
que introduziram no Alto Xingu o
a se instalar no Alto Xingu, aonde
ciclo cerimonial do Jawari, um ritual
chegaram no século xix. Nessa
dedicado aos guerreiros mortos,
época, eram bastante numerosos,
cujo evento central é a disputa
mas conflitos e guerras com outros
entre dois grupos com arremesso de
povos, bem como epidemias de
dardos. Durante a festa há diálogos e
sarampo e disenteria, reduziram-nos
extensos cantos, nos quais abundam
a dezoito indivíduos em 1952. Hoje
referências a animais – macaco, onça,
são uma centena.
jaguatirica –, também retratados em
Embora associados ao sistema
186
Por outro lado, foram os Trumai
seus bancos de madeira. Na maioria
alto-xinguano, os Trumai não
desses cantos, pássaros, felinos e
são totalmente integrados a ele,
diversos mamíferos “cantam” em
apresentando particularidades que
seu próprio nome, o que indica uma
os diferenciam dos outros grupos
sociedade mais voltada para a caça do
da área. Sua língua é considerada
que para a pesca.
isolada, isto é, não tem parentesco
A língua trumai está hoje
genético com nenhuma outra língua
ameaçada de extinção. A maioria das
do Xingu, nem com outras famílias
crianças já fala o português como
linguísticas indígenas. O convívio
primeira língua; algumas também
com os demais povos alto-xinguanos,
dominam outras línguas xinguanas,
entretanto, resultou em uma troca
como o kamayurá, o aweti ou o
de influências no que diz respeito a
suyá. Tentativas têm sido feitas para
costumes, rituais, cultura material e
estimular o uso da língua trumai,
atividades produtivas.
com destaque para o trabalho escolar
Dessa forma, os antigos Trumai
contam que seus ancestrais dormiam
em esteiras e utilizavam como
armas a borduna e o propulsor de
dardos; após a chegada ao Alto
Xingu, começaram a incorporar
hábitos comuns aos povos da área –
dos professores indígenas.
187
AntA/tApir/tApir du Brésil
trumAi – 60 x 30 x 23 cm
Autor/Author/Auteur: tropi trumAi
188
JAcAré/AlliGAtor/AlliGAtor
trumAi – 93 x 28 x 23 cm
Autor/Author/Auteur: tropi trumAi
tAmAnduá/AnteAter/tAmAnoir
trumAi – 80 x 25 x 22 cm
Autor/Author/Auteur: tropi trumAi
189
tAmAnduá/AnteAter/tAmAnoir
trumAi – 110 x 36 x 31 cm
Autor/Author/Auteur: tropi trumAi
K ay ab i
A maioria dos Kayabi habita
mama’é, que roubam as almas
atualmente a área do Parque
dos homens; os heróis culturais
Indígena do Xingu. Porém, essa
(demiurgos), que ensinaram aos
não é sua terra tradicional: até
Kayabi tudo o que sabem hoje em
aproximadamente a década de 1940,
dia; e os Ma’it, os grandes pajés do
eles ocupavam uma extensa faixa
céu. Todos esses seres povoam os
entre os rios Arinos, dos Peixes e
mitos e as narrativas através dos
Teles Pires, na bacia do rio Tapajós,
quais os Kayabi compreendem e
a oeste do rio Xingu. Mas, apesar
atuam sobre o universo em
da resistência vigorosa por parte
que vivem.
dos índios, essa região foi ocupada
190
Os Kayabi têm uma cultura
por seringueiros e depois dividida
material bastante elaborada
em fazendas. Com isso, os Kayabi
e diversa. Sua produção mais
acabaram por se deslocar e se
característica e singular é a
dividir. Grande parte foi abrigada
cestaria, mais especificamente
no interior do Parque e outros dois
um tipo de peneira que, trançada
núcleos vivem em terras indígenas
com arumã, forma grafismos
no Mato Grosso e no Pará. Uma
relacionados a figuras de sua
vez realocados, sua população
cosmologia e mitologia. Além das
quase duplicou e hoje somam mais
peneiras, produzem bordunas com
de 2 mil habitantes, distribuídos
empunhadura trançada, enfeites de
em cerca de doze aldeias.
tucum e inajá, tecidos de algodão
Atualmente estão mobilizados para
para redes e tipoias e bancos de
que sejam identificados por sua
madeira. Nestes, são aplicados os
autodenominação – Kawaiweté.
mesmos grafismos das peneiras.
A língua dos Kayabi é da
Os bancos kayabi se distinguem
família tupi-guarani e se assemelha
dos outros talhados pelos povos
ao kamayurá, ao asurini do Xingu e
xinguanos por suas linhas retas
ao apiaká.
e geométricas. São feitos pelos
Para os Kayabi, o cosmos divide-
homens, com madeiras de alta
-se em várias camadas superpostas,
durabilidade, como cedro, itaúba
habitadas por seres sobrenaturais
ou canela, para uso de todos;
de diferentes tipos: há os perigosos
antigamente, porém, apenas os
“chefes” de animais, anyang e
pajés e chefes podiam utilizá-los.
191
BAnco/stool/BAnc
KAyABi – 31 x 10 x 10 cm
192
BAnco/stool/BAnc
KAyABi – 90 x 15 x 21 cm
Autor/Author/Auteur: wirAy “pAssArinho” KAyABi
BAnco/stool/BAnc
KAyABi – 46 x 23 x 21 cm
193
BAnco/stool/BAnc
KAyABi – 67 x 20 x 21 cm
Waujá
Os Waujá (antes conhecidos
habitavam enormes aldeias circulares
são conhecidos pelo grafismo de
como Waurá) são um dos povos
interligadas por estradas e cercadas
seus cestos, sua arte plumária e suas
tradicionais do Alto Xingu, hoje
por valetas, paliçadas e caminhos
grandes máscaras rituais.
vivendo no Parque Nacional
terrestres elevados.
do Xingu. Falantes de uma
Uma das festas mais tradicionais
dos Waujá é a dos apapaatai, espíritos
língua maipure da família aruak,
por sua milenar cerâmica, são
que causam o mal e fazem as pessoas
constituem, ao lado dos Mehinaku,
responsáveis pelo fornecimento de
adoecerem. Na festa, esses espíritos
Yawalapiti, Pareci e Enawenê-Nawê,
potes e assadores de beiju para todos
são personificados por grandes
o grupo dos Mairupe centrais.
os grupos que habitam o Alto Xingu.
máscaras pintadas de palha, e a eles
Cerca de 270 índios dessa etnia
Muitos outros itens de sua cultura
são oferecidas comida e diversão, em
residem em uma única aldeia
material continuam a ser fabricados,
troca da cura mediada pelo pajé.
circular que segue o modelo típico
inclusive aqueles que poderiam
A cultura material waujá tem se
xinguano de uma praça central com
ter sido facilmente substituídos
disseminado no mundo exterior, não
uma casa das flautas no meio.
por objetos industrializados, mas
apenas no sistema de trocas do Parque
por motivos simbólicos seguem
Nacional do Xingu, como também
aruak (Waujá e Mehinaku) são
desempenhando seu papel de
no mercado do artesanato indígena
descendentes diretos de várias
reprodução da cultura waujá. É o
brasileiro. Atualmente, a cerâmica tem
populações originárias do sudoeste da
caso dos bancos de madeira, cuja
importante peso em sua economia.
bacia amazônica que estabeleceram
estética é semelhante à das vasilhas
as primeiras aldeias xinguanas a
de cerâmica em forma de animais,
partir dos anos 800 e 900. Pesquisas
tendo de cada lado do assento
arqueológicas mostram que entre
a cabeça e a cauda da espécie
os anos 1000 e 1600 esses povos
representada. Além da cerâmica e
eram muito mais populosos e
do entalhe da madeira, os Waujá
Os povos do Xingu de língua
194
Os Waujá, bastante conhecidos
BAnco de pAJé/shAmAn’s stool/BAnc de chAmAn
wAuJá – 28 x 18 x 18 cm
Autor/Author/Auteur: Amutuá wAurá
195
JAcAré/AlliGAtor/AlliGAtor
wAuJá – 140 x 35 x 30 cm
JAcutinGA/BlAcK-fronted pipinG GuAn/pénélope à front noir
wAuJá – 105 x 35 x 36 cm
196
mutum/curAssow/hocco
wAuJá – 118 x 43 x 43 cm
197
uruBu/vulture/vAutour
wAuJá – 83 x 34 x 30 cm
K ĩs ê djê
Os K˜˜sêdjê, por muitos anos
música é também dançar, fazer
chamados de Suyá, constituem
política e comunicar algo sobre si
o único povo a falar uma língua
mesmo. É o que tece a relação entre
da família jê no Alto Xingu.São
o indivíduo e o coletivo.
mais de trezentos e habitam hoje
quatro aldeias na parte sudeste do
destacam-se as redes de buriti, a
Parque Indígena do Xingu. Seu
cerâmica, os chocalhos, os bancos de
território ancestral, no entanto, era
madeira e as esteirinhas de buriti ou
no rio Arinos, na bacia do Tapajós.
inajá, trançadas com algodão.
Chegaram à região do Alto Xingu
Os bancos são feitos pelos homens
entre 1850 e 1860. Lá assimilaram
com madeira de amoreira ou de
várias manifestações culturais de
almíscar ou breu. Neles são aplicados,
outros povos.
com uma tinta escura à base de
A autodenominação K˜sêdjê
198
Na sua produção artesanal
carvão, os mesmos desenhos usados
significa “povo de grandes aldeias
na pintura corporal. São usados por
circulares”. Segundo suas narrativas,
todos na aldeia, porém a mulher não
a sociedade k˜sêdjê tomou forma
pode sentar-se no banco do marido,
por meio da apropriação de traços
nem os filhos no banco do pai.
específicos de animais e inimigos
indígenas. Assim, o fogo (e a prática
de cozinhar) foi obtido do jaguar;
o milho (e a prática de plantar)
foi obtido do camundongo; e o
sistema de nomeação (básico para
a identidade social e para todas as
cerimônias) foi obtido de um povo
inimigo que vivia debaixo da terra.
A música é muito importante
para os K˜sêdjê. Em seu universo
cosmológico, eles cantam porque
através dos cantos podem restaurar
ou criar a ordem de seu mundo.
Trata-se de uma sociedade em que
todos “fazem música” – nela, fazer
199
pássAro/Bird/oiseAu
– 63 x 21 x 17 cm
KĩsedJê
200
BAnco/stool/BAnc
KĩsêdJê – 47 x 23 x 20 cm
BAnco/stool/BAnc
KĩsêdJê – 38 x 16 x 16 cm
Autor/Author/Auteur: KoKoró suyá
201
BAnco/stool/BAnc
KĩsêdJê – 62 x 25 x 27 cm
Autor/Author/Auteur: KoKoró suyá
Yudjá
Os Yudjá são antigos habitantes
discos labiais e auriculares remetem
das ilhas e penínsulas do Baixo e
à importância cultural atribuída à
Médio Xingu. Com a invasão de
audição e à fala. A orelha era furada
seu território após a fundação de
para ouvir-compreender-saber
Belém em 1615, deslocaram-se rio
bem, e o disco labial associava-se
acima e hoje vivem divididos em dois
à agressividade e à belicosidade,
grupos, um no Médio Xingu e outro
relacionadas à autoafirmação
no Alto Xingu, em quatro aldeias ao
masculina, à oratória e à canção.
norte do Parque Indígena do Xingu.
202
Os Yudjá são exímios remadores
Somam cerca de 350 indivíduos
e trouxeram para o Xingu a técnica
atualmente, mas já foram 2 mil em
de confecção de canoas em um só
1848 e 52 em 1916. No século xvii,
tronco. Possuem uma produção
foram chamados de Juruna, que em
artística muito rica, representada
língua geral significa “boca preta”,
sobretudo pela tecelagem e pelos
em referência à tatuagem escura
bancos, remos, cerâmica e cabaças
que usavam ao redor da boca. Yudjá
pintadas. As peças são decoradas
significa “donos do rio”.
com os motivos da pintura corporal,
Os Yudjá falam uma língua do
exibindo quase sempre espirais
tronco tupi classificada na família
duplas separadas por linhas paralelas
de mesmo nome. No que tange à
retas ou ondulantes.
cultura, aproximam-se de povos que
Os bancos são talhados pelos
falam línguas da família tupi-
homens e pintados pelas mulheres.
-guarani. Em 1989, o grupo Yudjá do
Antigamente apenas os chefes e pajés
Médio Xingu contava com um único
podiam se sentar neles, mas hoje são
membro capaz de comunicar-se em
para o uso de todos na aldeia.
juruna. Há aproximadamente dez
anos, eles passaram a usar apenas a
autodenominação. Tradicionalmente
os Yudjá portavam grandes bodoques
redondos como ornamentos labiais e
também alargadores de orelha. Esses
costumes estão sendo abandonados,
mas o significado cosmológico que
os fundamenta ainda vigora, pois os
203
onçA/JAGuAr/once
yudJá – 67 x 22 x 19 cm
onçA/JAGuAr/once
yudJá – 62 x 22 x 31
cm
204
onçA/JAGuAr/once
yudJá – 64 x 26 x 30 cm
onçA/JAGuAr/once
yudJá – 73 x 26 x 28 cm
205
onçA/JAGuAr/once
yudJá – 58 x 30 x 27 cm
I k pe n g
Os Ikpeng são um povo de língua
mulheres. Nessa casa se produzem os
karib que ocupou a região dos rios
principais artefatos da cultura material,
formadores do Xingu no início do
ensaiam-se as cerimônias, os amigos
século xx, quando viviam em estado
se reúnem para beber e comer e se
de guerra com seus vizinhos alto-
confecciona o otxilat, peça plumária de
xinguanos. O contato com o mundo
cabeça que identifica o guerreiro.
dos brancos foi ainda mais recente, no
A maioria dos Ikpeng possui
início da década de 1960, e provocou
individualmente uma longa lista de
uma desastrosa redução de sua
nomes (entre seis e quinze, uma dúzia
população para menos da metade em
em média). A cadeia de nomes de cada
razão de doenças e morte por armas de
um é recitada em um ritual (orengo
fogo. Foram então transferidos para os
eganoptovo: “recitação de nomes”)
limites do Parque Indígena do Xingu e
relacionado com a cerimônia do
“pacificados” pela ação dos irmãos
regresso de uma expedição guerreira
Villas-Boas.
bem-sucedida. Pode também ser
Hoje os Ikpeng somam cerca de
206
declarada em ocasiões muito formais,
450 índios, distribuídos em uma aldeia
em que um “grande” (que não é
e dois postos da administração da
designado como “chefe”, pois o termo
Funai no interior do Parque, e mantêm
não é adequado) expressa-se em nome
relações pacíficas e de aliança com
do grupo.
seus vizinhos. Contudo, no cerne de
Dentre os povos que habitam o
sua visão de mundo permanecem a
Parque, os Ikpeng são os que mais
guerra e a relação com os mortos como
têm valorizado a educação escolar. Em
o principal motor de reprodução da
1994, com o auxílio de linguistas, os
vida social.
professores ikpeng elaboraram uma
O modelo da aldeia ikpeng tem
escrita. Essa escrita ikpeng tem sido
como centro cerimonial a “lua” ou
muito usada pelos alunos, que também
praça ritual, constituída como uma
aprendem a língua portuguesa,
elipse com dois fogos. Nela há ainda
falada com fluência pela maioria da
uma cabana coberta com um teto de
população. A escola ikpeng adquiriu
duas águas e sem parede, o mungnie,
um papel central no Parque e é
que não é uma casa de homens,
responsável pela aquisição de materiais
como no modelo alto-xinguano, pois
escolares e sua distribuição para as
geralmente permite o acesso das
demais aldeias do Médio Xingu.
207
BAnco/stool/BAnc
iKpenG – 47 x 14 x 14 cm
A s u r in i do X i n gu
Os Asurini do Xingu são um povo
uso cotidiano e ritual. Os bancos
de fala tupi-guarani que ocupa uma
de madeira também passaram a ser
aldeia na margem direita do rio
decorados com esses grafismos.
Xingu, na Terra Indígena Koatinemo,
maioria dos motivos desenhados
foram oficialmente contatados na
consiste em uma variação de
década de 1970, quando, após
um padrão estrutural conhecido
deslocamentos forçados e epidemias,
como tayngava, que quer dizer
estavam quase extintos, reduzidos a
imagem ou representação. Ele
menos de cinquenta pessoas. Hoje,
está relacionado à noção de ynga
sua população triplicou.
(princípio vital), compartilhada por
São conhecidos por sua
208
Na arte gráfica asurini, a
próximo a Altamira, no Pará. Só
espíritos e humanos e manipulada
cerâmica pintada com desenhos
pelos xamãs nos rituais. É a
geométricos e acabamento brilhante.
partir desse padrão, associado ao
As vasilhas são feitas segundo um
domínio do sobrenatural, que se
padrão de maestria tecnológica
produzem vários outros desenhos
que é repassado às meninas desde
cujo significado remete à natureza
pequenas. O resultado é uma
(animais, plantas) ou à cultura
variada gama de vasilhas, todas com
(objetos produzidos pelo homem).
paredes amareladas muito finas,
Entre os Asurini, a arte gráfica
recobertas de um ou mais grafismos
tem a mesma importância que os
e finalizadas com uma camada de
rituais xamânicos na produção e
resina de jatobá que lhes confere
transmissão do saber cultural e na
um brilho característico. Além da
reprodução da sociedade.
cerâmica, destaca-se a tecelagem
O xamã asurini é a figura
(redes, tipoias, tiras de cabeça e
central no desempenho da vida
outros enfeites de algodão), cuja
social do grupo. Seu livre trânsito
confecção fica a cargo da mulher.
pelos diversos domínios do cosmo
Os Asurini compartilham uma
lhe permite o controle de forças
complexa arte gráfica aplicada não
que asseguram a resistência da
só sobre a cerâmica, que é um
sociedade. Os rituais xamanísticos,
importante veículo de afirmação de
conhecidos como “pajelança”,
sua identidade étnica, mas também
realizam-se com muita frequência e
sobre o corpo e sobre objetos de
mobilizam todo o grupo.
209
BAnco/stool/BAnc
Asurini do xinGu – 48 x 41 x 54 cm
210
BAnco/stool/BAnc
Asurini do xinGu – 47 x 33 x 33 cm
211
BAnco/stool/BAnc
Asurini do xinGu – 30 x 16 x 17 cm
212
BAnco/stool/BAnc
Asurini do xinGu – 46 x 28 x 34 cm
213
BAnco/stool/BAnc
Asurini do xinGu – 30 x 18 x 29 cm

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