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TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO
O ESTRESSE DE PROFESSORES E O
COMPORTAMENTO DOS ALUNOS
THE TEACHER’S STRESS AND STUDENTS BEHAVIOR
Gerson Avena da Silva1
Maria de Fátima Minetto2
RESUMO
O objetivo desta pesquisa foi investigar a relação entre o estresse dos professores e o
comportamento dos alunos. O trabalho foi desenvolvido a partir da queixa de professores e
pedagogos de uma instituição de ensino pública localizada em um bairro periférico da cidade de
Curitiba. O método utilizado na pesquisa incluiu análises descritivas e inferenciais. Participaram da
amostra 22 crianças de 11 a 15 anos da 5a. e 6a. série do Ensino Médio e 11 professores destas
turmas. Foi utilizado o instrumento CBCL (ChildBehaviorChecklist) que avaliou o comportamento
dos alunos e o inventário MBI – Maslach Burnout Inventory que faz avaliação de como o
profissional vivencia o seu trabalho de acordo com três dimensões: exaustão emocional, realização
profissional e despersonalização. Os resultados indicaram diferença significativa entre as turmas na
variável Afetividade. Com relação aos professores neste grupo pesquisado, houve predominância da
Sindrome de Burnout, com pontuações altas nas dimensões : Exaustão Emocional (>28),
Despersonalização ( >11) e Envolvimento Pessoal no trabalho ( < 33). As conclusões confirmam
dados da literatura da área e indicam a necessidade de se desenvolver intervenções junto a esta
população-alvo.
Palavras-chave: professores, alunos, comportamento, estresse.
ABSTRACT
The aim of this of research conducted on the complaint of teachers and educators of a public
educational institution located in a suburb of the city of Curitiba, the relationship that exists
between teacher stress and student behavior. The method used in the survey included descriptive
and inferential analysis. A sample of 22 children aged 11 to 15 years of the fifth. and 6a. grade of
High School representing 35% of students in these grades and 11 teachers who teach these classes.
We use the instrument CBCL (Child Behavior Checklist) assessing student behavior and inventory
MBI - Maslach Burnout Inventory that makes the professional assessment of how your work
experiences according to three dimensions: emotional exhaustion, depersonalization and personal
accomplishment. The results indicated significant differences between groups in the variable where
the fifth Affectivity. The results obtained revealed that the teachers in this research group, a
predominance of Burnout syndrome, with high scores on the dimensions: Emotional Exhaustion (>
28), Depersonalization (> 11) and Personal Involvement in work (<33). All results confirm the
literature surveyed the area and indicate the need to develop interventions with this target
population.
Keywords: teachers, students, behavior, stress.
1
2
Psicólogo formado pela FEPAR
Professora Dra. docente do curso de psicologia na FEPAR e
UFPR.
Aprovado em: 19/06/2012
Autor para correspondência: Maria de Fátima Minetto
Contato: [email protected]
Revista Eletrônica da Faculdade Evangélica do Paraná, Curitiba, v.2, n.2, p.62-70, abr./jun. 2012.
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O ESTRESSE DE PROFESSORES E O COMPORTAMENTO DOS ALUNOS
INTRODUÇÃO
Na atualidade os professores têm em suas mãos as consequências da desestrutura social,
representada de formas diversas desde o não aprendizado até a manifestação do comportamento
opositor por parte do aluno. Nóvoa(1) aborda o “mal-estar” docente considerando a situação do
professor diante da mudança social comparável a um ator que traja uma roupa de época e que é
colocado para atuar em um cenário futurista.
Crianças com distúrbios de comportamentos manifestam padrões de conduta que ameaçam
as relações saudáveis e se não tratados vão piorando no decorrer do tempo o que poderá ocasionar
um transtorno de conduta no futuro. Estas crianças que manifestam transtorno de conduta tem sido
um grande desafio para os educadores, instituições de ensino e para a sociedade em geral.(2,3)
Sem dúvidas, os professores estão vivendo uma experiência única, que a literatura tenta
explicar. A Síndrome de Burnout passou a ser relacionada e identificada a professores(4). Esta
síndrome pode ser entendida como “queimar até a exaustão”, expressão de origem inglesa que
significa colapso que o sistema passa após a utilização e toda a sua energia(5).
Souza(6) considera que definição de ‘estresse’ pode entendida como pressão, tensão ou
insistência. Para o autor estar estressado significa estar sob uma ação de estímulo insistente, que
resulta em desconforto excessivo, insuportável, resultando em um mal estar.
Para Benevides-Pereira(7,8) o investimento na prevenção pode contribuir fortemente para que
se evite a cronificação do estresse ocupacional, que é uma consequência de falhas nas estratégias
de se lidar com o estresse. Esta síndrome, afeta sobremaneira o ambiente educacional o que sem
duvida, interfere na obtenção dos objetivos pedagógicos o que leva os profissionais da educação se
mostrarem apáticos, desmotivados ocasionando na maioria das vezes faltas com atestado médico e
manifestando uma grande intenção de abandonar esta profissão(9).
A simples constatação das transformações sociais, políticas e econômicas não favorecem
que o professor se organize e possa ter ações mais eficientes. É preciso identificar os pormenores
que estão envolvidos a essa situação em cada contexto para que assim estratégias eficientes possam
ser programadas(10).
Qual será a incidência de estresse do professor? Será que há uma relação entre o mal
comportamento dos alunos e o estresse do professor? Como minimizar o desgaste do professor
diante do comportamento dos alunos? Como estabelecer estratégias de ação eficientes para
minimizar o desgaste das relações?
É possível que um conjunto de agentes estressores contribuam para o desgaste do
professor. A expressão agentes estressores refere-se a duas categorias principais: eventos internos
e externos. Eventos externos é quando diz respeito a fatos existentes no ambiente e às relações que a
pessoa estabelece com estes fatos, envolvendo questões profissionais, pessoais e sociais(3,11). Há
que se mencionar também, os eventos internos que estão relacionados aos pensamentos, emoções,
valores, comportamentos, vulnerabilidades biológicas ou psicológicas, inatas ou adquiridas que
estão ligadas ao mundo particular de cada pessoa e a forma como ela reage às situações cotidianas,
contemplando alguns aspectos importantes quais sejam: auto cobrança, e senso de responsabilidade
exagerada, perfeccionismo, autoestima baixa, esperar sempre aprovação e elogios externos (pais,
alunos, diretores, pedagogas) isso sem contar as metas que muitas vezes são irrealistas.(8)
Para Sousa (13) o estresse do professor pode ser visto pela ótica pedagógica, ou seja, pela
falta de estrutura que favorece o desgaste do professor como: classes com muitos alunos; trabalhar
com alunos desinteressados pelas atividades de classe; achar que alguns alunos indisciplinados
ocupam demais meu tempo em prejuízo dos outros; sentir que há falta de apoio dos pais para
resolver problemas de indisciplina; ter alunos na classe que conversam ou brincam o tempo todo;
trabalhar com uma classe onde as capacidades dos alunos são muito diferentes entre si.
O autor supra citado considera que a ansiedade do professor está ligada à indisciplina e ao
baixo aproveitamento dos alunos. Souza (13) considera que esses passam a ser obstáculo para o
trabalho do professor levando ao fracasso escolar, e por consequência geradores do estresse do
professor. Também afirma que há o despreparo e a pouca consciência que ele mesmo, professor,
que é o autor e deve tomar atitudes para modificar a situação. O desprepreparo psicológico do
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professor amplia a possibilidade de desgaste físico e emocional. Quando o autor se refere a
despreparo ele está relacionado a conhecimentos na área de psicologia da educação, psicologia
geral e relacionamento interpessoal, e administração da indisciplina dos alunos em sala de aula.
Diferentes autores(4,12,13) corroboram com a ideia temos ainda aspectos que dizem
respeito às relações interpessoais, incluindo colegas que não contribuem para que haja uma melhor
produtividade na escola e uma total e completa falta de rede de apoio social entre os profissionais
da instituição.
O professor muitas vezes lida com um cotidiano que é potencialmente aversivo e isto pode
repercutir de uma maneira muito negativa, gerando problemas físicos e psicológicos nos mesmos.
Dentre os problemas de saúde que acometem os docentes, podemos citar a síndrome de Burnout ou
síndrome de esgotamento profissional que apresenta-se muitas vezes como resposta ao estresse
ocupacional crônico(3,11,12).
Dentro deste contexto, objetivo desta pesquisa foi identificar o nível de estresse dos
professores uma escola pública estadual localizada na região sul do Brasil, e relaciona-lo com o
comportamento dos alunos.
MÉTODO
A pesquisa teve a natureza exploratória pois foram aplicados questionários e testes à pessoas
que passaram ou estão passando por experiências práticas com o problema a ser pesquisado
buscando esclarecer e modificar conceitos e idéias, podendo a posteriori definir novos focos de
pesquisa.
Esta pesquisa foi realizada em uma escola estadual localizada em um bairro periférico de
uma capital na Região Sul do Brasil. Para a realização da pesquisa, foram avaliadas 22 crianças
entre 11 e 15 anos que frequentam as 5ª série e 6ª série. O critério de escolha foi a apresentação do
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, assinado pelos pais ou responsável.
Para identificar o índice de estresse de professores foi utilizado o Inventario de Burnout.
Também foi avaliado problemas de comportamento nos alunos a partir do instrumento CBCL.
Posteriormente foi feita uma correlacionar entre o nível de estresse dos professores com o índice de
alunos com problemas de comportamento.
CBCL
O ChildBehaviorChecklist (CBCL)(14), ou Inventário de Comportamento da Infância e
Adolescência, é um questionário que compreende 138 itens divididos em duas partes, sendo a
primeira relativa à avaliação de Competências Sociais e a segunda de Problemas de
Comportamento. A aplicação do formulário é realizada com quaisquer responsáveis de crianças e
adolescentes entre 6ª série e 18 anos, sendo suas perguntas concernentes, à observação dos
responsáveis em relação aos últimos. Utilizado internacionalmente em pesquisas, o CBCL
proporciona uma categorização de diagnósticos descritivos que abrangem Transtornos de
Aprendizagem Transtorno de Déficit de Atenção, Transtornos de Conduta, Transtornos de
Ansiedade, Transtornos Depressivos e Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade.
Para efeito desta pesquisa, foram utilizados somente dois instrumentos:
TRF (Teacher Report Form)- Professores
YSR (Youth Self Report)- criança/ adolescente
O YSR é um questionário de Auto-avaliação para Jovens de 11 a 18 anos (YSR1) , que será
respondido pelo adolescente. Este instrumento fornece resultados nas escalas: Distúrbio
Internalizantes (DI), Distúrbio Externalizantes (DE), Distúrbio Total (DT) Competência Social(CS)
O TRF pretende descrever e avaliar as competências sociais e os problema de
comportamento da criança/adolescente, tal como são percepcionados pelos professores(14).
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Inventario de Burnout
Conforme Gil-Monte e Peiró(14), é o MBI – Maslach Burnout Inventory, que foi elaborado por
Christina Maslach e Susan Jackson em 1978. A elaboração deste inventário partiu de duas
dimensões: exaustão emocional e despersonalização e depois de estudos desenvolvidos com
centenas de pessoas, surgiu também a terceira dimensão que é a realização profissional. Este
instrumento faz uma avaliação de como o profissional vivencia o seu trabalho de acordo com as três
dimensões: exaustão emocional, realização profissional e despersonalização(16).
Apesar de haverem várias traduções e adaptações do MBI para o Brasil, o mesmo não está
disponível para comercialização. Segundo a editora que detém os direitos autorais nos Estados
Unidos não há interesse em repassá-los para editoras brasileiras. No entanto, a Resolução do
Conselho Federal de Psicologia no. 02/2003 que regulamenta a utilização de testes psicológicos
dispõe que a partir do Edital no. 02/03 do CFP os psicólogos passaram a estar impedidos de
empregar instrumentos de avaliação psicológica que não houvesse aprovação do conselho, a menos
que se destinasse à pesquisa. Até o presente momento, os pesquisadores desconhecem qualquer
outro instrumento que avalie a Síndrome de Burnout (7).
Para entender melhor as percepções dos alunos e dos professores sobre a relação professoraluno e comportamento foi organizado pelos autores dois questionários com o objetivo de entender
as percepções de alunos e professores sobre os seus relacionamentos no contexto escolar. O
questionário é composto de 15 perguntas e é respondido numa escala Likert. Sendo que no 0
Discordo fortemente até o 4 Concordo fortemente.
Seguindo os procedimento éticos, após a pesquisa ser aprovada pelo comitê de ética, foi
pedido a autorização da escola para a pesquisa e todos os participantes assinaram o Termo de
Consentimento Livre e Esclarecido.
Procedimento de análise dos dados
Os dados foram tratados por meio de análises descritivas (frequência, médias, desvio
padrão), bem como por meio de análises inferenciais (testes paramétricos). A diferença entre aos
resultados da análise de correlação e de regressão é que enquanto a primeira permite concluir a
força da associação entre duas variáveis, a segunda informa como essa relação funciona, ou seja,
qual será a mudança em uma variável se a outra se modificar (17).
RESULTADOS
Resultados da análise descritiva
Após a correção dos instrumentos CBCL e do MBI -MASLACH BURNOUT
INVENTORY-GENERAL SURVEY, utilizou-se o teste não paramétrico Mann-Whitney, que por
sua simplicidade são ideais para o ensino de conceitos matemáticos em especial a análise
combinatória. A tabela 01 abaixo descreve o estresse dos professores das turmas da 5a. E 6a série.
Tabela 01 – Estresse dos professores em função das turmas
Qtde de
Turma
professores
5
5ª série
ESTRESSE
6
6ª série
* tabela desenvolvida pelo autor
Média
60,6
79,5
Desvio
padrão
16,2
11,78
Os resultados mostram uma diferença de aproximadamente 19 pontos na medida de estresse
dos professores das turmas da 5ª série e 6ª série, sendo que os professores da 6ª série obtiveram
maior pontuação.
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Apesar de a diferença apontar um efeito grande (d=1,36), o teste não-paramétrico de MannWhitney não apresentou significância estatística quando considerado um nível de significância de
5% (U=6; p=0,12), provavelmente devido ao tamanho reduzido da amostra como pode ser
observado na tabela 01.
A tabela 02 logo abaixo apresenta os resultados do teste da Síndrome de Burnout.
Tabela 02 – Resultados das avaliações dos professores
Turma
professores
BAIXO
MEDIO
1
2
3
4
5
6a. Série
1
2
3
4
5
6
*tabela desenvolvida pelo autor
Síndrome de 5ª série
Burnout
ALTO
75
68
76
102
81
69
55
56
83
76
81
Através destes resultados descritos na tabela 02,pode-se observar que neste grupo de
professores pesquisados, houve predominância da Síndrome de Burnout, porque ocorreram
pontuações altas nas dimensões Exaustão Emocional (>28)Despersonalização (> 11) e
Envolvimento Pessoal no trabalho (< 33).
A pontuação total de cada dimensão, avaliada através do Maslach Burnout Inventory (MBI)
conforme tabela 2, encontrou-se acima da média para a totalidade dos pesquisados, caracterizando
portanto a presença da Síndrome de Burnout.
As respostas dos alunos e professores aos itens do CBCL foram analisadas a partir do
Software Assessment Data Manager (ADM), que é o programa desenvolvido para correção do
CBCL. Esse programa é o software central do Sistema de Avaliação Empiricamente Baseado de
Achenbach (Achenbach System of Empirically)
BasedAssessment - ASEBA) e é utilizado para a análise de todos os questionários do ASEBA,
dentre eles o CBCL 6/18. O programa inclui módulos para digitar e analisar os dados obtidos
através deste instrumento.
Estas estatísticas descritivas de todas as medidas investigadas na pesquisa, diferenciam
alunos da 5ª série e 6ª série. A análise inferencial indicou diferença significativa entre as turmas
somente na variável Desempenho Acadêmico 24,85% na 5ª série e 46,3% na 6ª série e
Delinquência 75,08% na 6ª série e 62,4% na 5ª série. Na variável afetividade, a 5a. Série apresentou
resultado de 78,38% e na 6a. Série 79,06%
Os resultados destas variáveis estão expostos no gráfico 01.
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Gráfico 01 – Resultados comparativos do CBCL com alunos da 5a e 6a série
90
80
70
60
50
40
30
75,08
78,38
79,06
AFETIVIDADE 5ª série
AFETIVIDADE 6ª série
62,4
46,3
20
24,85
10
0
DELINQUENCIA 5a
série
DELINQUENCIA 6ª série
DESEMPENHO
ACADEMICO 5ª série
DESEMPENHO
ACADEMICO 6ª série
* gráfico desenvolvido pelo autor
Os resultados das percepções dos alunos da 5ª série e professores sobre seus relacionamentos
no contexto escolar mostrou que as médias mais altas correspondem que 100% dos alunos se
consideram acessíveis aos colegas, 80% reconhecem o professor como sendo autoridade, 50% se
relacionam bem com os professores, 70% sentem pena quando tem alguém com dificuldade, 60% se
considera aluno participativo e 40% percebe que todos os professores estão estressados.
Os resultados das percepções dos professores da 5ª série sobre seus relacionamentos no
contexto escolar mostram que as médias mais altas correspondem que 100% sentem-se estressados
quando estão na 5ª série, 50% se consideram acessíveis aos alunos, 33% são sensíveis às
dificuldades dos alunos, 33% ajudam os alunos que tem dificuldade de aprendizagem, 50% ficam
magoados quando são tratados injustamente e 33% sentem pena de alguma pessoa em dificuldade e
50% concorda fortemente que a vida poderia ser mais fácil do que é.
Os resultados das percepções dos alunos da 6ª série sobre seus relacionamentos no contexto
escolar mostram que as médias mais altas correspondem que 60% se consideram acessível aos
colegas 80% reconhecem o professor como sendo autoridade, 40% se relacionam bem com os
professores, 40% percebem que todos os professores estão estressados, 40% são sensíveis às
dificuldades dos colegas e 60% sentem pena de alguma pessoa em dificuldade.
Os resultados das percepções dos professores da 6ª série sobre seu relacionamento no contexto
escolar mostram que as médias mais altas correspondem que 40% discorda um pouco de se sentir
estressado quando está na 6asérie, 40% ajudam os alunos que tem dificuldade de aprendizagem,
40% se sente acessível aos alunos e apenas 60% concorda um pouco que a vida deveria ser mais
fácil do que é.
DISCUSSÃO E CONCLUSÃO
Baseado neste trabalho de pesquisa, e verificando as fontes consultadas que serviram de
base para este estudo, é possível levantar algumas considerações com relação ao estresse dos
professores e o comportamento dos alunos. Está havendo entre os professores que participaram
desta pesquisa, uma perda significante do sentido do trabalho e um grande sentimento de
impotência para torná-lo mais significativo o que os tem levado à Síndrome de Burnout, entendida
como perda de energia no trabalho, mas também como um processo de alienação.
Várias podem ser as explicações acerca do que estão levando os trabalhadores,
principalmente os da educação a uns estranhamentos em relação ao próprio trabalho e a si mesmos.
Julgando pelas pesquisas, as condições de trabalho e a falta de perspectivas profissionais dos
professores é que vem contribuindo para o abandono da profissão. A acomodação gerada por um
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distanciamento da atividade docente é mostrado na indiferença por tudo que ocorre no ambiente
escolar, isso demonstrado por 78,38% dos alunos da 5ª série e 79,60% pelos alunos da 6ª série que
manifestaram problemas de afetividade, sendo um dos fatores que causam problemas de
comportamento dos alunos em sala de aula.
Conforme Souza(6) para que possa haver a formação da autoestima pautada em segurança,
autonomia de ideias, conceitos que o próprio aluno tenha de si e que sem duvida contribuem para o
seu desempenho escolar e de sua vida como um todo, o papel da escola na relação professor e aluno
é preponderante.
Pode-se perceber em geral que esta questão da afetividade e autoestima é algo que preocupa
os segmentos da sociedade e que a afetividade no trato com as pessoas é um pressuposto do que
autores referem-se como o resgate a valores humanos esquecidos por nós que estamos envolvidos
com a agitação do dia a dia.
A escola pode ser entendida como parte integrante e fundamental de uma sociedade, ela não
pode ficar à parte. Precisa apropria-se de embasamentos teóricos, que deem suporte para suas ações
pedagógicas, a fim de transformar a relação professor e aluno em um momento mais rico no
processo ensino-aprendizagem.
Estes conhecimentos vão perder sua validade se o professor e os técnicos não estão
comprometidos com mudanças em suas ideias tradicionais ou posturas que trazem praticas escolares
que apenas depositam informações nos alunos, desconsiderando assim a afetividade no processo
ensino-aprendizagem
Diante disso, é preocupante o número de casos que mostram alunos da 5a. e 6a série
envolvidos em agressões entre colegas ou discussões com professor, casos estes que observados em
sua essência, demonstram carência afetiva demonstrando que o conceito que o aluno tem de si é
negativo. É verdade que a escola não é a solução para todas as dificuldades existentes do ser
humano, mas como sendo um órgão educacional que tem como uma de suas funções mais nobres, a
formação do cidadão como sujeito que está sendo o construtor do seu contexto histórico, pode e
deve contribuir significativamente nas mudanças das relações professor e aluno, pois, além da sala
de aula que oferece conteúdos e provas, a afetividade está presente em cada ação e busca seu espaço
no espelho que a turma repassa aos técnicos quando dispõem do diário de notas, conselho de
classes, conselho escolar e tantos outros instrumentos e setores que retratam esta relação.
Para que possa haver a construção da auto estima é necessário buscar a responsabilidade e
não culpados, criar um clima que seja gostoso, de confiança e que faça com que as pessoas se
sintam aceitas, compreendidas e respeitadas. Estes sentimentos ajudam a bloquear condutas
inadequadas. Todos os professores sabem que quando a criança está satisfeita com ela mesma e que
os bons sentimentos são importantes a aprendizagem ocorre de uma maneira muito melhor.
Infelizmente há alguns professores que se esquecem que eles são como “espelhos” dentro da sala de
aula e se esquecem que os seus alunos os admiram e estão preocupados em ser iguais a eles, como
mostrou os resultados desta pesquisa, e acabam por imita-los em suas atitudes e até pensamentos.
Caso os professores tivessem a sensibilidade de perceber estas imitações acredito que procurariam
policiar suas palavras e posturas. Espera-se mudanças na educação a partir de uma conscientização
de novas metodologias que insiram cada vez mais o aluno em uma vida escolar que retrate sua
realidade e que busque a contextualização, mas, quando olhamos por um outro prisma, vemos que a
solução para a educação pode estar no afeto. Afeto que inclua e proporcione crescimento e
valorização do ser humano e o reconhecimento pessoal como sujeito ativo na construção da história.
O Ministério da Saúde(18) reconhece atualmente a Síndrome de Burnout como sendo uma
doença mental, sendo necessária, portanto a implantação nessa categoria profissional, de politicas
de prevenção e promoção à saúde. Devido aos grandes desafios que os profissionais da educação
encontram pela frente à rapidez das novas demandas sociais na atual crise que se encontra o sistema
educativo. Assim com novas politicas seria possível esses profissionais concretizar os seus projetos
tanto de vida pessoal, quanto os de todos os indivíduos participantes do sistema educacional.
O comportamento da criança e do adolescente é um tema que consta na maioria dos artigos,
principalmente entre os que buscam entender a dinâmica do funcionamento familiar(12). A grande
maioria dos artigos ressalta a grande importância que há no período principalmente durante o
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desenvolvimento da criança, que serve de modelo de conduta para a mesma. A família mesmo com
as grandes mudanças sociais sofridas durante o tempo, consideramos como uma instituição muito
importante no que tange à manutenção da segurança da criança suprindo-a dos recursos e a garantia
da educação. Mas, a função da família vai muito além do suprimento dos recursos e a garantia da
educação, ela é o porto seguro que fornece a energia para a criança enfrentar os problemas e
desafios que muito provavelmente encontrará no seu desenvolvimento. Por isso, torna-se
fundamental ao se analisar o comportamento de crianças por meio de escalas como CBCL, buscar a
compreensão da relação dos dados e resultados obtidos em instrumentos específicos de avaliação
deste aspecto do desenvolvimento com aspectos do contexto no qual a criança se insere,
principalmente das relações que se estabelecem entre a criança e seus pares no recôndito do lar.
Pode-se ressaltar ainda que embora o senso comum correlacione com frequência
comportamentos agressivos e transgressores entre crianças e jovens a dinâmica da violência familiar
ainda se fazem necessárias pesquisas mais aprofundadas, ainda que este era nosso desejo, mas
devido a precariedade de contato com as famílias dos alunos pesquisados, muitos deles cumprindo
penas nas prisões, outros sendo criados por parentes, não nos foi possível faze-lo.
Os resultados da presente pesquisa apontam para a necessidade de se desenvolver algumas
ações preventivas com vistas à diminuição de comportamentos problemáticos dentro do contexto
escolar. Estas ações poderiam contemplar a implantação de programas de intervenção nas escolas
visando o desenvolvimento de habilidades sociais, programas voltados especificamente para pais
com objetivo de desenvolver suas habilidades sociais educativas para que atuem nas habilidades
sociais dos filhos(18,19).
Cabe destacar que este trabalho tem caráter introdutório sobre o assunto e de modo algum
pretendeu esgotar suas possibilidades, ao contrário, pretende fornecer aos estudantes ou
pesquisadores substratos essenciais para conhecerem as características que compõe a Síndrome de
Burnout, suas especificidades e de que forma podem ser encaixadas as queixas que se apresentam,
além de abrir novas percepções sobre que ainda precisamos pesquisar.
Comportamento agressivo, não importa se tem sua origem no professor ou no aluno, é um
sintoma! Precisa ser entendidos como fonte de denuncia, quer denunciar alguma coisa, quer seja
maus tratos, solidão ou outro tipo de dor. A continuidade dos estudos pode contribuir para que
diversas práticas possam ser conduzidas especialmente no contexto escolar, familiar e da saúde,
visando à prevenção de agravos no adoecimento das relações no contexto escolar, e não apenas
buscar vitimas em réus
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