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Faculdade Castelo Branco
ISSN 2316-4255
AFETIVIDADE NA ESCOLA: UM ELEMENTO
IMPORTANTE QUE DEVE SER REPENSADO NA
EDUCAÇÃO INFANTIL
RITA DE CASSIA MARQUEZINI1
RESUMO
Como a afetividade deve ser repensada na educação infantil? Como é vista
a afetividade pelo olhar do educador? Como é o olhar dos pais? O que pode
ser feito para melhorar? Quem é o sujeito e o objeto a serem estudados
nessa questão? Wallon, entre outros teóricos, ajuda a questionar sobre a
importância da afetividade, sobre como ela deve ser trabalhada na Educação Infantil, e também dialoga sobre o desenvolvimento que a criança
tem a partir das transformações que ocorrem no seu cotidiano, revelando
traços importantes de caráter e personalidade, contribuindo para a prática
docente.
PALAVRAS–CHAVE: Afetividade. Repensada. Olhar.
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Graduanda em Pedagogia da Faculdade Castelo Branco.
Castelo Branco Científica - Ano II - Nº 03 - janeiro/junho de 2013 - www.castelobrancocientifica.com.br
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INTRODUÇÃO
A afetividade deve ser pensada e repensada, ser vista com um olhar mais
crítico e objetivo, oportunizando “caminhos” mais fáceis de serem trabalhados, sendo assim um elemento desencadeador e importante para a
formação crítica e social de toda pessoa. Em se tratando de crianças na
primeira etapa do ensino, que é a Educação Infantil, é mais relevante ainda.
A educação contemporânea está cada vez mais atribulada e com muitas
dificuldades de saber o que deve ser feito na escola, qual é o papel do educador e qual é o papel dos pais diante dessa temática.
O olhar sobre a afetividade na Educação Infantil vem à tona, atualmente,
pela questão dos valores, que pouco a pouco estão sendo perdidos com a
correria das famílias, que estão sempre em busca do conforto e de uma
vida mais digna, mas, às vezes, estão deixando de lado os valores principais e primordiais dentro de casa que são o afeto, o carinho e o amor. Com
isso, pouco a pouco, o afeto está cada vez mais raro, e o que vemos nas
escolas são crianças querendo atenção, às vezes de uma maneira diferente
que acabam prejudicando o outro, mas talvez seja a única forma que estão
encontrando para receber a atenção e o “afeto” que tanto desejam.
Entretanto, a criança é estudada desde o princípio, sendo o sujeito central
de suas ações, é ela juntamente com sua família que estabelece laços de
afetividade, de amor e compreensão.
Com tais estudos e pesquisas que envolvam a afetividade, a moral e os valores,
queremos destacar nesse artigo como a educação está sendo veiculada em nosso
país. Se conseguíssemos observar cada escola de nosso país, veríamos como está
a relação professor e aluno, a família, a comunidade e principalmente a escola.
Muitas vezes, nós pensamos a afetividade apenas como um carinho que
deve ser dado ao aluno, sim é também, mas o seu significado vai muito
além do que nós conseguimos enxergar.
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O termo afetividade refere-se a um conjunto de estados afetivos,
sentimentos, emoções, e paixões de um indivíduo. Constitui a base
da vida psíquica, por meio da qual se edificam as relações humanas,
assim como todos os vínculos que unem o indivíduo a seu meio
(MONTOYA et al, 2007, p. 25).
Na primeira etapa da educação, a criança necessita de uma atenção ainda maior,
pois irá começar uma nova etapa de sua vida em que aprenderá a ser autônoma, a
ser social, a aprender as regras e as normas através de brincadeiras e de músicas.
Assim, a afetividade é fundamental para o aprendizado de uma criança, e
está diretamente ligada às sensações internas e morais, possibilitando um
maior enriquecimento na relação professor e aluno, este identificando-se
com a sociedade na sua própria construção como pessoa.
São muitas as relações que se podem estabelecer entre escola e educação moral. Essas relações dependem de o que entendemos por
moral e de como vemos as possibilidades de uma educação nela
arraigada. Podemos considerar a moral como um sistema de regras,
normas ou princípios que definem o que é bom ou mau, certo ou
errado numa cultura. [...] considerar como moral os sentimentos que
temos por outras pessoas em determinadas situações, por exemplo,
sentimentos de compaixão, de solidariedade, de piedade, de altruísmo (MONTOYA et al, 2007, p. 45).
A presente pesquisa mostra que através da afetividade a criança, na educação infantil, começa a revelar suas primeiras transformações sociais,
cognitivas e morais, identificando-se como sujeito desse processo, que é
construído a partir das experiências vividas em seu cotidiano. Assim, essa
temática é como um colaborador, sendo de grande importância no processo
educativo da criança.
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AFETIVIDADE: OLHARES NA EDUCAÇÃO INFANTIL
A afetividade na educação infantil é muito importante para o pleno desenvolvimento da criança, assim ela deve ser vista com olhar crítico e objetivo, baseando-se numa educação de valores, estabelecendo uma relação de
reciprocidade entre escola, família e a própria criança.
A descentração afetiva é, pois, correlativa da descentração cognitiva, não porque uma domine a outra, mas porque ambas se produzem em função do mesmo processo. Ao mesmo tempo que a criança
apresenta condições (intelectuais) de centrar a atenção em um objeto fora dela mesma, distinguindo o eu-mundo, ela adquire condições
(afetivas) de amar este objeto exterior (GOULART, 1983, p. 57).
A partir de uma educação construída com respeito, compreensão, autonomia e afeto, a criança torna-se o sujeito e não apenas um objeto a ser
estudado. Ela começa a fazer parte da sociedade, relacionando-se com a
comunidade, com a escola, interagindo com outras crianças, havendo assim o aprendizado mútuo.
No olhar do educador a criança precisa da afetividade para desenvolver-se
na oralidade, na formação de valores, no raciocínio e no seu cognitivo. A
partir desses fundamentos, a criança possibilita ser o sujeito que desenvolve uma série de dúvidas sobre o comportamento. Algumas são mais
“carentes” e assim desenvolvem o seu senso afetivo mais apurado, promovendo a interação com as outras crianças, e já outras são mais “afastadas”
não se deixando envolver e adquirir o espírito afetivo, por motivos que
geralmente vivem no cotidiano de suas casas.
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Segundo Iris Barbosa Goulart2 (1983), em sua obra que destaca os fundamentos da teoria Piagetiana:
A obra de Piaget nos ajuda a compreender a sequência de desenvolvimento do modelo de mundo que uma criança vai construindo
ao longo de cada período de sua vida; nos ajuda também a compreender os “erros” cometidos pelas crianças, percebendo-os como
resultados de uma maneira particular de interpretar a realidade, a
partir do mundo que se tem. É esse modelo particular de mundo da
criança e não do professor que se tem de levar em conta quando se
realiza o ensino. Além disso, a construção de novos modelos, mais
evoluídos, só é possível graças à atividade do próprio aluno, que é
agente de seu desenvolvimento (GOULART, 1983, p. 16).
Graduada em psicologia e pedagogia; Especialista em Administração Pública
pela Fundação Getúlio Vargas – FGV; Mestra em Educação pela Universidade
Federal de Minas Gerais – UFMG e Doutora em Psicologia pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo – PUCSP. Atualmente é Professora do curso de
Mestrado Profissional em Administração da FEAD, em Belo Horizonte. É organizadora e autora de diversos livros, entre os quais Psicologia do trabalho e gestão
de recursos humanos: estudos contemporâneos, organizado juntamente com Jader
dos Reis Sampaio e publicado em 1998; e Psicologia Organizacional e do trabalho: teoria, pesquisa e temas correlatos, publicado em 2002; Temas de Psicologia
e Administração, publicado em 2006. Além destes, tem quatro livros publicados
sobre a teoria de Jean Piaget.
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Só é possível haver uma interação, quando há mais de duas pessoas, assim
é o ensino, não há ensino sem alunos, sem pessoas para aprender e poder
compartilhar suas vivências ou seu conhecimento de mundo. A afetividade
deveria ter esse olhar dentro da sala de aula, é claro que não podemos ser meros “amigos” e sim educadores, devemos ter muito cuidado com esta questão
de aproximação e propor limites, para que tenhamos o devido respeito.
Na Educação Infantil essa educação deve ser repassada para estes alunos
na maneira mais lúdica e dinâmica possível, pois alguns ainda não detêm
a linguagem e ainda não estão com coordenação motora apurada, assim a
afetividade é trabalhada pelos professores com muita dedicação, utilizando
músicas, brincadeiras, jogos, e o próprio corpo do aluno para auxiliar no
entendimento da atividade.
WALLON E SEUS ESTUDOS SOBRE AFETIVIDADE
Com os estudos e pesquisas relacionados à afetividade não se poderia deixar de citar Henri Wallon, um dos maiores estudiosos na área, que levantou
hipóteses e dedicou-se a conhecer a infância e a levar as emoções para
dentro da sala de aula.
Na psicogenética de Henri Wallon, a dimensão afetiva ocupa lugar
central, tanto do ponto de vista da construção da pessoa quanto do
conhecimento. Ambos se iniciam num período que ele denomina
impulsivo-emocional e se estende ao longo do primeiro ano de vida.
Neste momento a afetividade reduz-se praticamente às manifestações
fisiológicas da emoção, que constitui, portanto, o ponto de partida do
psiquismo (LA TAILLE; OLIVEIRA; DANTAS, 1992, p. 85).
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Dentre alguns estudos que estão diretamente ligados à teoria de desenvolvimento de Henri Wallon, destaca-se Abigail Alvarenga Mahoney3 que completa sua pesquisa nos fazendo um convite a conhecer um pouco da vida
dele.
Mahoney (2008) aborda em suas pesquisas que Henri Wallon nasceu e
viveu na França entre 1879 e 1962, e que durante esse período o mundo
foi abalado pelas duas guerras mundiais. Sendo assim, Wallon teve participações importantíssimas nas duas guerras, sendo que na primeira participou como médico e na segunda do movimento da Resistência contra os
invasores nazistas. Com isso, a crença de Wallon só crescia, começou a
ter olhares na educação, que consequentemente era “carente”, revelando
ideais como a necessidade de a escola assumir valores de solidariedade, de
justiça social, de antirracismo para a reconstrução de uma sociedade mais
justa e democrática. “Sua trajetória acadêmica revelou sólida formação em
filosofia, medicina, psiquiatria, áreas que configuraram seu interesse em
psicologia” (MAHONEY et al, 2008, p. 10).
Wallon apresenta a teoria da sequência de estágios que aponta para duas
ordens de fatores: os orgânicos e os sociais, que irão constituir as condições
em que as atividades de cada estágio aparecem (MAHONEY et al, 2008).
Professora titular do Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Educação da
PUC-SP; Coordenadora do Grupo de Estudos “Henri Wallon: Psicólogo e Educador”.
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[...] Será no mergulho do organismo em dada cultura, em determinada época, que se desenvolverão as características de cada estágio.
A interação entre esses fatores define as possibilidades e os limites
dessas características [...] Cada configuração cria novas possibilidades, novos recursos motores, afetivos, cognitivos que se revelam em
atividades que, ao mesmo tempo que convivem com as atividades
adquiridas anteriormente, preparam a mudança para o estágio seguinte (MAHONEY et al, 2008, p. 12).
As teorias que Wallon apresenta para entender melhor o desenvolvimento da criança são os estágios que estão classificados em Impulsivo Emocional, Sensório-Motor e Projetivo, Personalismo, Categorial, Puberdade
e Adolescência. Na primeira fase do Estágio Impulsivo Emocional (impulsiva que é de 0 a 3 meses) predomina a exploração do próprio corpo,
com movimentos desajeitados, e já na segunda fase (emocional que é de
3 a 12 meses), consegue reconhecer as emoções e a diferenciá-las como
o medo, a alegria, a raiva e outras. No Sensório-Motor e Projetivo (1 a 3
anos), a criança começa a desenvolver a exploração concreta do espaço
físico, conseguindo agarrar, sentar, apontar, e é auxiliada pela fala que é
acompanhada por gestos. No Personalismo (3 a 6 anos) exploração de si
mesmo, descobre que é diferente dos outros seres, começa a usar as expressões eu, meu, não muitas vezes. No Categorial (6 a 11 anos) já entende
a diferença entre o eu e o outro, dá condições estáveis para a exploração
mental do mundo físico mediante atividades em grupos. Na Puberdade e
Adolescência (11 anos em diante), a criança consegue explorar a si mesmo,
com questionamentos, atitudes autônomas e ao mesmo tempo apóia-se no
outro, contrapondo-se aos valores tal como são interpretados pelos adultos
com os quais se relaciona (MAHONEY et al, 2008).
Com essas teorias, Wallon quer nos orientar a conhecer melhor as crianças, propiciar espaços mais adequados, entender suas dificuldades e que
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cada fase de sua vida tem um momento de descoberta, cada uma ajuda a
progredir para a próxima. Entender quais são as atividades que melhor se
adequam a cada estágio/fase.
Portanto, é através da história, dos momentos que o nosso mundo viveu
que a educação é cada dia mais “modelada”, a cada momento histórico e
a cada prática realizada em nossas escolas, a educação vai sendo transformada. Por isso, não podemos deixar nossas práticas somente na teoria, pois
elas acabam tornando-se “velhas” e “antigas”.
Assim, Mahoney (2008) afirma que essa teoria é indispensável para a construção do conhecimento do professor, pois possibilita que o profissional
analise todas as teorias de Wallon e as evidencie como um facilitador para
entender a totalidade do indivíduo.
A outra razão é o interesse profundo de Wallon pela educação, como
um dos campos que pode se enriquecer com os conhecimentos gerados pela psicologia e, ao mesmo tempo, fornecer conhecimentos
que podem ser incorporados pela psicologia, a qual, por sua vez,
deve também manter estreitas relações com os conhecimentos produzidos pela biologia e pela sociologia. Ao incorporar esses conhecimentos à formação de professores, o autor sugere posturas mais
abrangentes por incluir em suas decisões não só as considerações
relativas ao aspecto cognitivo, mas também seu impacto sobre o
motor e o afetivo (MAHONEY et al, 2008, p. 10).
Enriquecimento de valores, moral, conhecer o seu público alvo, são alguns
conhecimentos que propiciam um maior entendimento ao professor, e assim possibilita a levá-los em prática e realizá-los dentro da sala de aula
com os alunos. O professor deve desencadear algumas questões que considera necessárias e que propiciam um maior desempenho dos alunos em
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sala de aula, propor aulas mais dinâmicas que estabelecem vínculos com a
realidade deles, trabalhar com brincadeiras cantadas que possibilitem tanto
a coordenação motora, o cognitivo e principalmente o afetivo, que irão
reforçar ainda mais a amizade e a interação dos alunos na escola.
Contudo, Wallon acredita que a afetividade deve ter olhares mais abrangentes na educação, na família, na sociedade em geral e na comunidade
onde a escola está inserida. Essa parceria deve existir sempre, para manter um ambiente acolhedor e propiciar um aprendizado acondicionado de
amor, afeto, compreensão e muito carinho, para tornar os sujeitos dessa
pesquisa verdadeiros cidadãos, mostrando que a primeira etapa da educação é a que revela os primeiros caminhos para uma vida saudável.
MÚSICAS/BRINCADEIRAS/AFETIVIDADE
Lição do amigo
Olha meu amigo, eu vou te ensinar
A fazer amizade, é muito gostoso,
Você vai gostar!
Ponha o braço pra frente
Estenda as mãos
Aperte bem firme
Agora você é meu amigão
Olha meu amigo, eu vou te ensinar
A dar um sorriso, é muito gostoso,
Você vai gostar!
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Ponha um dedo no rosto
Estique pra trás
Agora abra a boca
É muito bonito, assim que se faz
Olha meu amigo, eu vou te ensinar
A dar um abraço, é muito gostoso,
Você vai gostar!
Abra bem os seus braços
Igualzinho um avião
Aperte bem firme
Pra que seu amigo não fuja mais não
Olha meu amigo, eu vou te ensinar
A dar um beijinho, é muito gostoso,
Você vai gostar!
Prepare sua boca
Fazendo biquinho
Encoste no rosto do seu companheirinho
Com muito carinho.
(Letra e composição Maycon Leal)
O Referencial Curricular Nacional da Educação Infantil (RCNEI) é um documento que auxilia o professor e toda a equipe gestora da escola a trabalhar os eixos temáticos da melhor maneira possível com as crianças. Nele
há todos os eixos a serem trabalhados na Educação Infantil, bem como
seus objetivos e conteúdos.
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Pesquisadores e estudiosos vêm traçando paralelos entre o desenvolvimento infantil e o exercício da expressão musical, resultando em
propostas que respeitam o modo de perceber, sentir e pensar, em cada
fase, e contribuindo para que a construção do conhecimento dessa
linguagem ocorra de modo significativo. O trabalho com Música proposto por este documento fundamenta-se nesses estudos, de modo a
garantir à criança a possibilidade de vivenciar e refletir sobre questões
musicais, num exercício sensível e expressivo que também oferece
condições para o desenvolvimento de habilidades, de formulação de
hipóteses e de elaboração de conceitos (RCNEI, 1998, p. 48).
A Educação Infantil possui seis Eixos Temáticos que são o Movimento, a
Música, Artes Visuais, Linguagem Oral e Escrita, Natureza e Sociedade e
Matemática. É através desses eixos que podemos trabalhar a afetividade
com as crianças.
Com a música já mencionada, o professor da Educação Infantil pode trabalhar os eixos temáticos Música, Movimento e Linguagem Oral e Escrita,
desenvolver a afetividade, os valores morais, o cognitivo e a coordenação
motora. Pode utilizar o próprio corpo da criança como objeto e o amigo
para poder fazer a brincadeira cantada. É muito importante desenvolver
brincadeiras que estabelecem vínculos de amizade e compreensão, permitindo que elas mantenham contato, conhecendo e explorando o próprio
corpo através da música.
A afetividade na Educação Infantil é mais um desafio a ser ultrapassado,
essa etapa da educação requer muito cuidado, disponibilidade, criatividade, compreensão, carinho, atenção e afeto. As dinâmicas mais utilizadas na
educação infantil são as músicas e as brincadeiras que levam as crianças
a interagirem umas com as outras, possibilitando um maior aprendizado.
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A afetividade, nesta perspectiva, não é apenas uma das dimensões
da pessoa: ela é também uma fase do desenvolvimento, a mais arcaica. O ser humano foi, logo que saiu da vida puramente orgânica,
um ser afetivo. Da afetividade diferenciou-se, lentamente, a vida
racional. Portanto, no início da vida, afetividade e inteligência estão sincreticamente misturadas, com o predomínio da primeira (LA
TAILLE; OLIVEIRA; DANTAS, 1992, p. 90).
Na sala de aula, a relação de afetividade é um dos princípios fundamentais
para se ter um bom desempenho, pois está presente no processo de aprendizagem da criança, no qual professor e aluno devem estar em constante
interação. O professor deve manter essa relação com as crianças através de
abraços, elogios, brincadeiras e músicas que facilitam o contato corporal e
afetivo uns com os outros.
A afetividade é um estado psicológico que pode ser trabalhado desde cedo
na criança, pois ajuda a desenvolver o seu senso cognitivo, seus sentimentos, desejos, interesses, tendências, valores, emoções e outros, que são tão
essenciais para que a criança desenvolva-se socialmente. [...] O sorriso
infantil, reforçado pelo sorriso do parceiro, torna-se instrumento de troca
ou contágio e, logo, de diferenciação das pessoas e coisas (GOULART,
1983, p. 56).
Iris Barbosa Goulart (1983) traz à tona um dos comportamentos da criança, que pode ser trabalhado no eixo Movimento que a acompanha desde o
nascimento, aproveita-se esse eixo para desafiar os seus limites, a desenvolver o equilíbrio e assim expressar suas emoções, seus desejos e suas
satisfações, propiciando espaços mais lúdicos, dinâmicos e de interação,
para que ela possa brincar, dançar, conhecer e descobrir-se, propiciando a
exploração de suas ações e de seus possíveis reflexos.
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[...] Através da linguagem no brinquedo e outras atividades, desde a
fase pré-escolar elas exercitam a defesa dos seus direitos e vão aos
poucos aprendendo a argumentar para defender seus pontos de vista
(GOULART, 1983, p. 65).
O professor deve desenvolver brincadeiras utilizando a imaginação e a
criatividade das crianças, como o faz de conta, levando alguns objetos para
a escola, para que eles construam sua própria brincadeira ou brinquedo.
Trabalhar a afetividade na Educação Infantil requer muito trabalho e disposição, este assunto é muito complexo e pode ser trabalhado de diversas
maneiras, através de músicas, brincadeiras, jogos, com movimento, que
fazem a criança sentir-se pertencente a um mundo que ela está descobrindo. O professor deve estabelecer essa relação com a criança com muita
seriedade, indicando os melhores caminhos que elas devem seguir para se
tornarem verdadeiros cidadãos.
OLHAR CINEMATOGRÁFICO NA AFETIVIDADE
Matilda é um filme de comédia, produzido nos Estados Unidos da América
(EUA) no ano de 1996. É dirigido por Danny DeVito (Harry Wormwood),
que faz o papel de pai da Matilda, e estrelado por Mara Wilson e pela Embeth Davidtz, que interpreta a professora Jenny Honey.
Esse filme conta a história de uma criança que não recebe nenhum tipo
de afeto dentro de casa, desde que nasceu não recebeu nenhum carinho e
nenhuma atenção. Matilda é uma menina esperta, com apenas quatro anos
já sabia ler, sempre autônoma, vai até à biblioteca pública e pega livros emprestados para poder ler. Os pais nunca perceberam essa “genialidade” na
menina, até que mandam Matilda para a escola. Ao chegar lá, a professora
Jenny Honey a recebe com todo carinho e atenção, mas a diretora é repug14
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nante e não deixa a professora ministrar as aulas do jeito dela, e se ela vê
que tem algo de diferente, colorido, que deixa o ambiente mais alegre para
dar as aulas, a diretora rasga e joga fora. Assim, Matilda acaba ajudando
a professora a se livrar dessa diretora, mantendo uma relação saudável e
duradoura, ambas sentiam-se muito bem, com a companhia da outra. Até
que um dia, elas conseguiram livrar-se dessa diretora e os pais de Matilda
tiveram que se mudar para bem longe, para fugir da polícia, então como
Matilda era muito esperta já estava com a papelada da adoção toda pronta,
foi adotada pela professora Honey e daí para frente ficaram sempre juntas,
mantendo a verdadeira relação de mãe e filha.
A criança inicia sua vida em uma situação de total dependência do
meio externo. Em consequência de sua inaptidão prolongada, mostra-se incapaz de resolver suas próprias necessidades para sobrevivência, necessitando do meio social para interpretar, dar significado
e trazer respostas a elas. Suas reações de bem-estar e mal-estar irão
inicialmente se manifestar mediante descargas motoras indiferenciadas (MAHONEY et al, 2008, p. 19).
O filme nos mostra como a relação professor e aluno é importante na vida da
criança, pois alguns alunos não recebem a devida atenção em casa e procuram um pouco desse afeto e carinho na escola, fazendo assim, com que essa
relação seja mais forte. A afetividade está presente em todos os momentos
de nossa vida, mas é durante a infância que temos que dar mais atenção, pois
nessa fase a criança ainda é muito dependente dos adultos, assim Wallon
compreende muito bem essa fase de desenvolvimento infantil.
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É-lhes indispensável uma assistência a todos os instantes. É um ser
cujas reações têm todas as necessidades a ser completadas, compensadas. Incapaz de efetuar algo por si só, é manipulado por outrem, e
é nos movimentos do outro que tomarão forma as primeiras atitudes
(WALLON apud MAHONEY et al, 2008, p. 20).
Entretanto, alguns questionamentos são necessários durante esta pesquisa
e essa relação da afetividade na educação infantil, como no filme “Matilda”, lembram o afeto, a compreensão, como um verdadeiro professor deve
agir com seus alunos. O professor de educação infantil deve cuidar, zelar
e educar as crianças, como se fossem seus próprios filhos, dar a atenção
que merecem quando fazem algo de novo e contar para a família as coisas
novas que aprenderam durante a aula. Esse filme nos faz questionar como
nós futuros professores devemos impor limites para esses alunos? Como
devemos nos comportar diante de diversas situações? A resposta desses
questionamentos traz à tona Paulo Freire4 que dizia que o ser humano é
inacabado, está em constante aprendizagem e que o conhecimento vem
através de nossas experiências, de nossas atitudes e de nossa realidade.
Paulo Reglus Neves Freire (Recife, 19 de setembro de 1921 — São Paulo, 2 de maio
de 1997) foi educador e filósofo brasileiro. É Patrono da Educação Brasileira.
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Outro saber necessário à prática educativa, e que se funda na mesma raiz que acabo de discutir – a da inconclusão do ser que se sabe
inconcluso –, é o que fala do respeito devido a autonomia do ser do
educando. Do educando criança, jovem ou adulto. Como educador,
devo estar constantemente advertido com relação a este respeito que
implica igualmente o que devo ter por mim mesmo. Não faz mal repetir a afirmação várias vezes feita neste texto – o inacabamento de que
nos tornamos conscientes nos fez seres éticos. O respeito à autonomia
e à dignidade de cada um é um imperativo ético e não um favor que
podemos ou não conceder uns aos outros. [...] Saber que devo respeito
à autonomia e à identidade do educando exige de mim uma prática
em tudo coerente com este saber (FREIRE, 2009, p. 59-61).
Assim, os estudos a respeito da afetividade são necessários à pratica docente e ajudam a entender a fundo o desenvolvimento da criança, seus
conceitos, seus desejos, o que as atrai, o que pensam, e a entender quem
realmente é o sujeito e o objeto desta pesquisa, que tanto aguçam o nosso
conhecimento de mundo. A criança é carregada de valores, experiências,
conhecimento de mundo, já nasce inserida numa cultura e seus conceitos
vão depender das vivências, dos familiares que pouco a pouco vão ser passadas para essa criança.
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Para Piaget, conhecer significa apreender o real, o meio. O meio
significa tudo aquilo que não se refere ao sujeito ele mesmo, abrangendo o meio físico e também social. Assim, buscando encontrar
explicações sobre como o ser humano conhece esse mundo, Piaget
formulou uma teoria do conhecimento que, muito mais do que explicar os reflexos e resultados desse ato de conhecer, busca, na verdade, compreender o processo do vir a ser conhecido, que implica
no desenvolvimento lógico do sujeito, nas transformações mentais
do sujeito inerentes ao conhecimento dos diferentes conteúdos, sejam eles físicos ou lógico-matemáticos. [...] o conhecimento parte
da ação do sujeito sobre o meio. Porém, ressalta que esta ação se
relaciona com a significação que o sujeito atribui ao objeto de conhecimento, o qual decorre dos esquemas cognitivos que tem ao seu
dispor num momento determinado de sua vida (MONTOYA et al,
2007, p. 63-64).
Assim, é a educação, sempre a procura de explicações, nossos teóricos
abordam temas que nos fazem refletir sobre ela. Há várias teorias que nos
fazem refletir uma prática docente mais digna, a conhecer a criança, suas
dificuldades, mas esquecemos que ela é moldada a cada dia, pois ela é o
reflexo dos adultos, por isso que nessa fase, todos nós devemos ter cuidado
com o que falamos, com nossas ações e principalmente com nossas atitudes referentes à sala de aula e à escola.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Em sua teoria psicológica, Wallon estuda a pessoa completa: analisa-a em seus domínios afetivo, cognitivo e motor de forma integrada,
mostrando como se dá, no transcorrer do desenvolvimento, a interdependência e a predominância desses diferentes conjuntos. Como sua
abordagem é psicogenética, o estudo da criança é fundamental, pois é
nessa fase inicial de desenvolvimento que a maior parte dos processos
psíquicos tem origem (MAHONEY et al, 2008, p. 71).
Acerca de todo o trabalho, foi refletida a afetividade na educação infantil que
trouxe à tona um assunto que preocupa a maioria dos educadores e pesquisadores da área. Assim, a afetividade foi abordada por alguns teóricos e pesquisadores que buscam orientar e refletir junto à prática docente na atualidade.
Contudo, percebemos que não conseguimos trabalhar a afetividade individualmente, mas sim com a cognição e a moral, visando um mesmo objetivo que é a
aprendizagem. A afetividade está totalmente ligada à psicologia, ao estudo das
emoções, sentimentos, o que ela é e como desenvolver esse processo com a
criança na escola. Tudo o que foi pesquisado e estudado, contribuirá para uma
prática docente apoiada na relação entre professor e aluno em que o afeto está
sempre presente, tanto dentro da sala de aula, quanto na comunidade.
A aprendizagem é o resultado disso tudo, através de todo esse processo construído no cotidiano da sala de aula, modificando a maneira como atuamos no
mundo. Ou seja, o conhecimento é adquirido a todo momento, cabe a cada um
de nós refletir sobre ele e assim utilizá-lo para compreender a educação infantil.
Pensemos que a educação é o olhar do futuro! Não podemos abandonar
este olhar! Precisamos entender que a afetividade é uma das primeiras formas da criança se comunicar e é através dela, criança, que a escola começa
a perceber as primeiras demonstrações da falta do afeto.
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Faculdade Castelo Branco
ISSN 2316-4255
Com esta pesquisa, podemos perceber que cabe à escola, principalmente
ao professor, essa interação com o aluno, essa função social, mostrando
que a responsabilidade é grande frente a tantos desafios e obstáculos que
estão surgindo na educação brasileira, mas devemos pensar e repensar a
afetividade na educação infantil com olhares mais abrangentes, compreender o aluno como um todo, em suas questões familiares e assim auxiliar
e propiciar uma interação social e intelectual mais saudável, promovendo
um ambiente mais acolhedor, cooperativo e estimulante, elaborando brincadeiras, jogos, danças, apresentações, músicas que estimulem o movimento e a emoção que favoreçam o seu desenvolvimento.
Moldado simultaneamente pelas variações produzidas tanto no ambiente como nas vísceras e na atividade própria do individuo, o tônus é de fato constituído para favorecer uma base material à vida
afetiva (WALLON apud MAHONEY et al, 2008, p. 26).
Através do presente artigo, constatou-se que a afetividade na educação infantil possibilita um maior desenvolvimento moral, autônomo e cognitivo,
auxiliando e contribuindo também para uma infância mais saudável, entendendo que a afetividade não deve ser limitada apenas com manifestações
de carinho físico ou elogios, mas sim identificar o verdadeiro sentido de
seu significado para a aprendizagem de uma criança.
Esse olhar crítico perante esse assunto traz outras discussões, mas o que este
tema ajuda a dar enfoque é ao desenvolvimento psicomotor, cognitivo e afetivo da criança, pois é na escola que ela passa o seu maior tempo e o professor precisa entender mais este assunto, para assim entender a necessidade e
se atentar às dificuldades e às atitudes que elas apresentam, colaborando com
o sucesso pessoal, profissional e social desses alunos futuramente.
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REFERÊNCIAS
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educativa. 40. ed. São Paulo, SP: Paz e Terra, 2009.
GOULART, Iris Barbosa. Piaget: Experiências Básicas para Utilização
pelo Professor. 16. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2000.
LA TAILLE, Yves de; OLIVEIRA, Marta Kohl de; DANTAS, Eloysa. Piaget, Vygotsky, Wallon: Teorias psicogenéticas em discussão. São Paulo,
SP: Summus, 1992.
MAHONEY, Abigail Alvarenga; ALMEIDA, Laurinda Ramalho (Org.).
Henri Wallon: Psicologia e Educação. 8. ed. São Paulo, SP: Loyola, 2008.
MONTOYA, Adrián O. Dongo. (Org.). Contribuições da psicologia para
a educação. Campinas, SP: Mercado de Letras, 2007.
RCNEI. Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil /
Ministério da Educação e do Desporto, Secretaria de Educação Fundamental. — Brasília: MEC/SEF, 1998. Disponível em <http://portal.mec.gov.br/
seb/arquivos/pdf/volume3.pdf>. Acesso em: 22 agosto 2012.
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