uma análise do apelo consumista presentes nas
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uma análise do apelo consumista presentes nas
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS CENTRO DE EDUCAÇÃO E CIÊNCIAS HUMANAS CURSO DE LICENCIATURA EM PEDAGOGIA ADOLESCÊNCIA E INTERNET: UMA ANÁLISE DO APELO CONSUMISTA PRESENTE NAS COMUNIDADES DO ORKUT E SUAS IMPLICAÇÕES NA ESCOLA. Danielle Regina do Amaral Cardoso SÃO CARLOS 2007 UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS CENTRO DE EDUCAÇÃO E CIÊNCIAS HUMANAS CURSO DE LICENCIATURA EM PEDAGOGIA ADOLESCÊNCIA E INTERNET: UMA ANÁLISE DO APELO CONSUMISTA PRESENTE NAS COMUNIDADES DO ORKUT E SUAS IMPLICAÇÕES NA ESCOLA. Trabalho de Conclusão do Curso de Licenciatura Plena em Pedagogia da Universidade Federal de São Carlos. Orientação: Professora Doutora Emília Freitas de Lima. Departamento de Metodologia de Ensino. SÃO CARLOS 2007 BANCA EXAMINADORA Profª.Drª. Emilia Freitas de Lima Profª. Msª. Roselaine Ripa AGRADECIMENTOS Agradeço à Profª. Drª. Emília Freitas de Lima, pelas orientações no decorrer do trabalho. Ao Prof. Dr. Antônio Álvaro Soares Zuin pela disponibilidade em auxiliar na orientação, à doutoranda do Departamento de Educação Roselaine Ripa, pelos conselhos e pelo empréstimo dos livros tomados como referências nesse trabalho, em especial, sua dissertação de mestrado e à mestranda, também do Departamento de Educação, Carla Regina Silva também por fornecer/disponibilizar sua dissertação como referencial teórico. Agradeço também aos meus pais que me forneceram todo o apoio moral e financeiro para que eu pudesse concretizar essa etapa final de minha formação, meu namorado Tiago, que esteve do meu lado também em apoiando nos momentos de angústias e felicidades no decorrer da pesquisa. Merecem os agradecimentos também, os adolescentes que permitiram realizar a investigação e análise em suas páginas disponíveis no orkut, dentre eles a minha irmã Paula. E à diretora Maria Doralice Matheus, da CEMEI Monsenhor Alcindo Siqueira, onde fiz estágio remunerado no decorrer desse ano, pela compreensão e amizade oferecidas. SUMÁRIO INTRODUÇÃO.............................................................................................................. 6 1. Adolescência, meios de comunicação, consumo e educação................................. 10 1.1. A indústria cultural e os meios de comunicação..................................... 11 1.2. A adolescência, o consumo e a mídia.........................................................15 1.2.1. O adolescente, a internet e o orkut......................................................... 19 1.2.2. Os adolescentes, as comunidades do orkut e o consumo..................... 25 2. O consumo, os adolescentes e a educação .............................................................. 28 2.1. Educação paa a mídia ............................................................................... 30 3. Análise dos conteúdos apresentados nas comunidades selecionadas....................33 3.1. Viva o Capitalismo!................................................................................... 33 3.2. Nike BrasiL................................................................................................. 35 3.3. Eu amo fazer compras/ Quero comprar o shopping todo!.................... 38 3.4. Eu quero um celular de câmera!.............................................................. 40 3.5. Durmo com meu celular do lado/ Eu amo meu celular.......................... 41 3.6. Amo muito tudo isso.................................................................................. 43 3.7. Cocólatras – Coca-cola.............................................................................. 44 CONSIDERAÇÕES FINAIS....................................................................................... 46 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS....................................................................... 49 ANEXOS...................................................................................................................... 52 5 Resumo O processo de desenvolvimento da mídia cresceu desenfreadamente, condicionando os seres humanos a se manterem ligados, de alguma forma, à forte publicidade envolvida na “sociedade midiática”. O presente trabalho busca demonstrar como a internet, enquanto meio de comunicação de massa, tem atingido a sociedade atual, em especial os adolescentes, levando dentre suas diversas mensagens instantâneas, uma grande rede de propagandas que apelam em favor do mercado consumidor, a fim de divulgar os produtos da indústria cultural, e construindo a crença de que, somente por meio da aquisição de tais produtos, as pessoas conseguirão alcançar a satisfação e realização pessoal. O apelo consumista da mídia para os adolescentes tornou-se algo constante na internet de modo que pode ser constatado até mesmo em sites de relacionamento, como é o caso do orkut, que oferece uma rede de comunidades, dentre as quais, muitas fazem apologia ao consumo, bem como aos ícones oferecidos pelo mercado e a rede de marcas presentes nesses. Dessa forma, a adolescência – entendida como a faixa etária que compreende dos 12 aos 18 anos – está se constituindo, hoje, em meio a uma sociedade marcada por uma nova Era, a Era Tecnológica, que traz uma série de implicações que são levadas pelos adolescentes para o ambiente escolar. A escola precisa conhecer quem são esses adolescentes que a freqüentam hoje, de modo a proporcionar uma educação coerente e contextualizada com as necessidades e anseios provocados pelos debates oriundos da sociedade moderna. Dessa forma, o trabalho demonstra a análise de tais comunidades de usuários adolescentes, com o intuito de apresentar dados que comprovem a forte presença de temas relacionados ao consumo no âmbito do universo on-line, em uma tentativa de compreender como o apelo consumista da mídia reflete no ambiente escolar e assim, construir estratégias pedagógicas que complementem a formação docente, e permitam ao educador, conhecer quem é esse adolescente que freqüenta a escola hoje. Palavras-chave: internet, orkut, consumo, adolescente, educação. 6 INTRODUÇÃO Um olhar mais atento para as questões que rondam a sociedade globalizada atual traz à tona o apelo consumista da mídia que tem se intensificado com o decorrer dos tempos. Os meios de comunicação de massa, cada vez mais apontam para propagandas com mensagens contagiantes capazes de atrair olhares e envolver mentes. Com o crescente acesso à internet, a sociedade do consumo tem-se apropriado desse meio, não só para exibir propagandas, mas até mesmo, como ponto de venda, oferecendo maior conforto e facilidade para que os consumidores possam realizar compras sem sair de suas próprias residências. Acreditando que esta sociedade de consumo, utilizando-se da mídia, tem atingido a população cada vez mais cedo, de uma forma apelativa, o trabalho abordará uma pesquisa com adolescentes, indivíduos entre 12 e 18 anos que se encontram na fase da adolescência, traduzida pelo dicionário como sendo, “(...) o período que se estende da terceira infância até a idade adulta, caracterizado psicologicamente por intensos processos conflituosos e persistentes esforços de auto-afirmação. Corresponde à fase de absorção de valores sociais e elaboração dos projetos que impliquem plena integração social”. (FERREIRA1, A.B.H. apud RIPA 2005, p. 118) A adolescência, hoje, constitui a fase mais vulnerável aos fetiches da indústria cultural, já que está inserida “(...) em um cenário que dissemina as desigualdades sociais, a cultura do descartável, a banalização das experiências, a espacialidade virtual, os produtos semiculturais, as logomarcas...” (RIPA, p. 121) Isso pode ser comprovado ainda por meio de sites de relacionamento que mostram, publicamente, as preferências dos indivíduos, classificadas em comunidades2, dentre as quais muitas se identificam com ícones de consumo. Sobre isso, Avanzini (1978, p. 66) ainda afirma que “(...) não se deve negligenciar a modificação proporcionada pelos mass-media ao clima cultural em que os adolescentes vivem e se formam”. Dessa forma, não se pode deixar de lado os reflexos presentes na cultura escolar, já que esta se encontra diretamente ligada com a sociedade, uma vez que é formada por 1 FERREIRA, A.B.H. Novo dicionário Aurélio da Língua Portuguesa. 1ª ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1975. 2 Essas comunidades – localizadas no orkut – constituirão o meio pelo qual analisarei o tema proposto nesse trabalho e estarão mais explicitadas no decorrer do trabalho. 7 meio de indivíduos que trazem consigo todo o contexto histórico em que estão inseridos. A análise de tal problemática favorecerá para que se possa conhecer um pouco mais quem é esse adolescente que freqüenta a escola. Aqui, mais uma vez utilizome das palavras de Ripa (2005) para mostrar que “Percebemos a necessidade de trazer para o universo escolar a reflexão ausente sobre os ícones de consumo e suas mensagens divulgadas incessantemente pelos meios de comunicação social.” (p. 3) Para pesquisar a relação entre mídia e consumo é necessário analisar questões permeadas por uma série de conceitos presentes na sociedade capitalista. Falar sobre os apelos dos meios de comunicação de massa com vistas ao consumismo implica aceitar que o ser humano é passível de controle. Entretanto, é preciso analisar o que está provocando essa crescente submissão do homem às mensagens transmitidas pela mídia, que trazem consigo o “universo maravilhoso” do consumo capaz de vender, juntamente com cada produto, a satisfação necessária para alcançar o prazer. Para tratar desse assunto, dentre outras referências, utilizei como fio condutor a dissertação de Ripa (2005) –“Indústria Cultural e Educação: Qual é a minha marca?”– que apresenta estudos realizados nessa mesma temática. A pesquisadora trouxe à tona, em seu trabalho, conceitos que explicam a forte presença/ influência do consumismo na sociedade – mais especificamente entre os adolescentes – que adquire escala global, graças à publicidade exercida pela mídia. Para isso, utilizou como referencial teórico os estudiosos da Teoria Crítica, dando ênfase às idéias de Theodor W. Adorno, que trouxe grandes contribuições à área educacional. Por se tratar de uma pesquisa que aborda a questão dos meios de comunicação de massa, a coleta de dados foi realizada por meio da internet, mais precisamente por um site de relacionamento intitulado orkut3. Primeiramente realizei uma análise dessas comunidades pertencentes a 20 adolescentes, que ainda não atingiram os dezoito anos, ou seja, que utilizam o site sem a devida autorização. Tais participantes foram indicados por uma adolescente que fazia uso do orkut e demonstrava grande interesse pelo mesmo. Dentre os 20 participantes da pesquisa, 14 pertencem ao sexo feminino e 6 ao sexo masculino. Com relação à escolaridade, 15 estão no terceiro ano do Ensino 3 O orkut será melhor apresentado no decorrer do primeiro capítulo. 8 Médio e completam 18 anos ainda em 2007; 2 estão no primeiro ano do Ensino Médio – 15 anos – e 3 estão na sexta série do Ensino Fundamental, com 12 anos. Dentre eles, 18 estudam em escola pública e 2 em escola particular. Apenas 2 dos participantes são da cidade de São Carlos, de modo que os restantes pertencem à cidade de Jaboticabal. Com isso, iniciei uma investigação acerca da influência exercida pela mídia para transformar os adolescentes, desde a mais tenra idade, em jovens consumidores. A primeira etapa desse levantamento foi somente quantitativa já que o objetivo era adquirir proporções, que demonstrassem a quantidade de comunidades que cada um dos adolescentes participa, bem como, quantas delas se referem a ícones ou temas voltados ao consumo. Para isso, observei apenas os títulos de cada comunidade. Em seguida realizei uma análise minuciosa acerca das comunidades. Entretanto, como o trabalho não possui dimensões extensas, essa segunda etapa envolveu apenas a análise de comunidades que pudessem exemplificar os vários tipos de comunidades que os adolescentes possuem relacionadas à questão do consumo, em suas mais diferentes formas, desde apologia até a preferência por marcas ou objetos. Com base nisso, o trabalho foi estruturado em três capítulos seguido das considerações finais. O primeiro traz uma contextualização do tema internet, adolescente e consumo, bem como de questões oriundas dessa discussão. Sua elaboração foi com base nos referenciais teóricos que teceram importantes considerações que dão suporte para que o leitor possa entrar em contato com algumas questões trazidas à tona nesse estudo. Inicialmente há uma análise da indústria cultural e dos meios de comunicação. Em seguida, apresento a discussão acerca da figura do adolescente e suas várias denominações para, depois, falar sobre seu envolvimento com a internet enquanto meio de comunicação, apontando sua crescente dominação no mundo moderno. Em meio a isso, destaco a propagação do site intitulado orkut, no qual foi realizada a coleta de dados. O segundo capítulo mostra como as novas tecnologias, a mídia e a questão do consumo relacionam-se com a educação. É colocada também a necessidade de um novo paradigma educacional que atenda às necessidades impostas por essas questões que rondam a educação moderna. Após esse estudo bibliográfico, o terceiro capítulo constitui a apresentação e análise dos dados. Sua estrutura é composta pela descrição das comunidades 9 selecionadas dos orkuts dos participantes, seguida de uma análise baseada nas idéias estudadas acerca da temática (presentes no primeiro capítulo). Por fim, as considerações finais buscam fazer uma relação de tudo que foi pesquisado com a questão educacional em uma tentativa de compreender quem são os adolescentes que nos deparamos hoje na escola e propor estratégias educacionais para se trabalhar com as tecnologias. 10 1. Adolescência, meios de comunicação e consumo Violência, aborto, consumismo e drogas são alguns dos temas encontrados quando se estuda a adolescência no mundo atual. Além disso, a adolescência hoje, está diretamente ligada às relações virtuais que passaram a ganhar espaço na sociedade moderna e que, embora coloque uma ampla rede de pessoas em uma conexão, estão cada vez mais, substituindo as relações humanas e marcando um cenário virtual que dissimula alguns valores pregados até então. “De uma perspectiva sociológica eu ousaria acrescentar que nossa sociedade, ao mesmo tempo em que se integra cada vez mais, gera tendências de desagregação.” (ADORNO, 1995, p. 122) Em contrapartida, dizer que a adolescência é um período marcado exclusivamente por fatores negativos, é generalizar uma etapa que, em alguns momentos históricos, como na Antiguidade, nem mesmo era considerada como uma fase do desenvolvimento humano. A adolescência requer um estudo mais minucioso que traga à tona sua diversidade no interior de diferentes culturas e contextos. O adolescente de hoje está inserido em um momento marcado pela ampla tecnologia presente nos meios de comunicação, nos quais se destacam os cyber espaços e a extensa rede de propagandas que exercem influência e causam impacto ao divulgarem produtos e mercadorias da indústria cultural. É nesse contexto que se deve analisar a adolescência na sociedade atual, em meio à banalização dos produtos e da cultura do descartável, na qual o gosto pela compra, transformou os indivíduos em agentes consumidores. Em meio a esse cenário, faz-se urgente, compreender um pouco mais quem é esse adolescente que freqüenta a escola e que, portanto, leva para o ambiente escolar algumas questões que merecem destaque, tais como a influência do apelo consumista presente na mídia, em especial na internet. Adorno, ao problematizar a educação contra a barbárie, utiliza-se das idéias de Freud – que analisou de uma maneira psicológica a tendência à barbárie – para dizer que a sociedade se impõe de tal forma que as pessoas cometem barbáries apenas pelo fato de satisfazerem à vontade de ter um produto, ou seja, “por intermédio da cultura as pessoas continuamente experimentam fracassos”. A 11 educação, para promover criticidade e emancipação, necessita trazer para discussões e diálogos os fatores que marcam e caracterizam a sociedade vigente, a fim de conseguir tornar significativos os processos de ensino e aprendizagem para os adolescentes de hoje. No decorrer desse capítulo será discutido um pouco desse cenário, marcado pela internet e pelo consumo e, para isso, serão trazidos à tona um pouco das considerações de alguns importantes estudiosos da indústria cultural e dos meios de comunicação, bem como da adolescência. 1. 1. A indústria cultural e os meios de comunicação Vivemos em uma sociedade pautada em um sistema cuja principal preocupação é a obtenção de bens materiais e o acúmulo de riquezas. O capitalista só possui um valor perante a história e o direito histórico à existência, enquanto funciona personificando o capital. Sua própria necessidade transitória, nessas condições, está ligada a necessidade transitória do modo capitalista de produção. Mas, ao personificar o capital, o que impele não são os valores-de-uso de sua fruição e sim o valor-de-troca e sua ampliação. (MARX, 1980, p. 688) Nesse contexto ganha espaço à indústria cultural com sua vasta rede de mercadorias e produtos capazes de ludibriar as pessoas provocando desejos. Ripa (2005) analisa a Indústria Cultural, enfatizando que seus produtos têm o objetivo “(...) de levar o indivíduo a se tornar um consumidor.” (p.23) De acordo com as idéias da autora, a Indústria Cultural é construída, a partir do advento do capitalismo, para que o ser humano passe de indivíduo a consumidor, adquirindo assim o consumismo como identificação enquanto sujeito, o que demonstra que o conceito de consumismo encontra-se engendrado à indústria cultural. Quanto mais firmes se tornam as posições de indústria cultural, mais sumariamente ela pode proceder com as necessidades dos consumidores, produzindo-as, dirigindo-as, disciplinado-as e, inclusive suspendendo a diversão: nenhuma barreira se eleva contra o progresso cultural. (ADORNO & HORKHEIMER, apud RIPA, 2005, p. 31) 12 É preciso esclarecer ainda que, segundo as idéias de Adorno e Horkheimer, em Dialética do Esclarecimento, o termo “indústria cultural”, substituiria “cultura de massa”, visto que o último alude à idéia de uma cultura que surge espontaneamente das massas. Ao reproduzir as idéias de Adorno sobre esse assunto, Cohn (1978) afirma que as massas constituem o “acessório de maquinaria” da indústria cultural e não o fator principal, ou seja, O consumidor não é rei, como a indústria cultural gostaria de fazer crer, ele não é o sujeito dessa indústria, mas seu objeto. O termo mass media, que se introduziu para designar a indústria, desvia, desde logo, a ênfase para aquilo que é inofensivo. (p. 93) A indústria cultural, embora apresente produtos que aparentemente constituemse com estéticas diferentes, são na verdade, bens padronizados, visto que atendem a necessidades iguais, construídas a partir do controle dos indivíduos, daí seu caráter manipulador. Em meio a isso, destaca-se o papel dos meios de comunicação na divulgação desses produtos, produzindo enunciados e imagens capazes de seduzir os indivíduos tornando-os mais suscetíveis às “tentações do mercado” e levando-os a crer na idéia de uma “cultura de massa”, como se realmente tivesse surgido dessa. Assim, os ícones de consumo tornaram-se parte fundamental do conteúdo apresentado pela mídia, tanto na programação da televisão, como do rádio, da internet, etc. Rocha (1995) também considera fundamental, urgente e necessário estudar a comunicação de massa e suas implicações. O autor vai nos dizer que “as chamadas sociedades industriais-modernas-capitalistas possuem uma importância definitiva aqui, pois foram elas que inventaram a Comunicação de Massa”.(p. 105) Após a Revolução Industrial, a sociedade foi marcada por um salto no processo de globalização, gerado pelo alto grau de desenvolvimento da tecnologia que possibilitou um avanço progressivo nos meios de comunicação social. De fato, esta nova sociedade apresentou um “estilo de vida”, uma determinada “visão de mundo” que reordenou a experiência existencial do ser humano. Aí dentro podemos computar a experiência inaugural de um sistema de produção 13 de símbolos do porte deste a que temos acesso por intermédio dos Meios de Comunicação de Massa. (ROCHA, 1995, p. 106) A partir daí, o processo de desenvolvimento da mídia cresceu desenfreadamente, condicionando os seres humanos a se manterem ligados, de alguma forma, à forte publicidade envolvida na “sociedade midiática”. A mídia passou a dominar a sociedade de tal maneira, que passou a ser capaz de tirar as pessoas de sua realidade, trazendo-as para um mundo de fantasia. Diante disso, hipnotizados pelo extenso mercado de consumo divulgado pelos meios de comunicação de massa, os indivíduos passaram a querer sempre mais. Essa realidade fez com que, muitos duplicassem o período destinado ao trabalho, mantendo-se cada vez mais presas ao controle do relógio – traço marcante da sociedade capitalista – a fim de acumularem bens materiais. A comunicação de massa também é responsável pelo surgimento de uma nova realidade, a realidade virtual, sem barreiras de segurança, que se tornou acessível mundialmente e que, cada vez mais ganha audiência. Uma pesquisa realizada pelo Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística (IBOPE), vem comprovar o crescente aumento no número de usuários de internet4 no Brasil, no período de 1999 a 2000, e que demonstram a grande tendência ao aumento progressivo com o passar dos tempos. 4 Encontra-se em anexo a evolução histórica e tecnológica da internet. 14 Esses dados trazem à tona a grande expansão da internet enquanto meio, não só de comunicação, como também de realizar transações bancárias e comerciais além de receber/transmitir informação. Diante disso, os livros estão sendo deixados de lado em detrimento da grande quantidade de conteúdos sistematizados que surgem na programação audiovisual em uma velocidade de acesso instantânea. Essa é uma preocupação que ronda a educação moderna. Muitas escolas garantem o acesso à internet, como forma de garantir que os alunos aprendam a utilizar as tecnologias e se beneficiem com a rapidez dela, mas nem sempre ensinam como utilizar esse instrumento como algo positivo ao aprendizado. Apesar disso, muitos professores deixam de incentivar o uso da biblioteca em favor da pesquisa na web, o que colabora na diminuição pelo gosto à leitura. É preciso estar atenta, pois o mau uso da internet e de seus sites, além de colocar o usuário em situações de risco, ainda oferece grande espaço às propagandas, colocando o “internauta” – indivíduo que utiliza a internet – em constante contato com os produtos da indústria cultural, provocando desejos e prazeres pela posse e incentivando um consumo desenfreado e maléfico. 15 1. 2. A adolescência, o consumo e a mídia A opção por estudar a adolescência se torna algo bem significativo ao constatar que, segundo dados do ano de 2000 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), vivemos em um mundo jovem no qual, aproximadamente 50 per cento da população possui até 25 anos de idade e, no Brasil, mais especificamente, 26 per cento da população é jovem. O IBGE ainda afirma que as estimativas prevêem um aumento progressivo nesses dados com o decorrer dos anos. Pesquisas e estudos mostram que não existe um consenso de idade e definição ao se falar de adolescência e juventude. Entretanto, é preciso deixar claro que esses conceitos, embora nem sempre distinguidos, são analisados de forma diferente em alguns estudos, como o de Silva (2007), que pesquisou a adolescência como foco de sua dissertação de mestrado. A autora afirma que, É importante esclarecer que, no campo teórico brasileiro, há um uso concomitante de dois termos: adolescência e juventude. Suas semelhanças e diferenças nem sempre são esclarecidas e suas concepções ora se superpõem, ora constituem campos distintos, mas complementares, ora traduzem uma disputa por distintas abordagens. (SILVA, 2007, p. 6) Para trabalhar essas diferenças Silva (2007) faz uma análise dos estudiosos que abordaram a adolescência e a juventude. Segundo a autora é comum encontrar teorias psicológicas analisando a adolescência e teorias sociológicas que analisam a juventude, considerada em alguns estudos como uma representação construída. A juventude, em algumas vertentes de pesquisa é tida como um conjunto de elementos sociais que caracterizam uma determinada fase marcada por aspectos geracionais. Outras fontes, entretanto, consideram a juventude como uma categoria, um conceito construído socialmente e que pode, portanto, apresentar diferentes vertentes de acordo com as sociedades, épocas e costumes. Isso pode ser comparado à idéia de infância, construída por Áries (1981), em sua obra, História Social da criança e da família, na qual o autor demonstra que o conceito de infância é construído socialmente com base na representação da idéia que se tem de criança em cada época. Pode-se dizer ainda, que a juventude também é vista com base em diferentes concepções nas políticas que a vêem ora como um período preparatório; ora como etapa problemática; como ator 16 estratégico do desenvolvimento, ou ainda, como jovem sujeito de direitos. Dubet (1996, apud Silva, 2007) foi um importante sociólogo da juventude ao propor que a experiência desse momento vivido é construída com base na formação de um mundo juvenil autônomo, mas que também busca inserir os indivíduos nas estruturas sociais. Já com relação à adolescência, apesar de não existir um consenso entre a faixa etária específica para essa etapa, o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), considera como sendo uma fase que engloba indivíduos de 12 a 18 anos, e que, segundo a psicopedagogia, constitui um período de maturação do ser humano. De acordo com estudiosos do desenvolvimento, como Palácios (1995), embora se encontre registro que desde a época dos grandes pensadores – como Aristóteles – os traços da puberdade despertam curiosidade e uma busca por identificação, pode-se dizer que a adolescência, tal como a concebemos hoje, como um grupo com suas próprias marcas, hábitos e problemas peculiares, nem sempre foi vista dessa forma. Na Antiguidade não existia uma cultura adolescente, pois, embora houvesse a identificação dos aspectos que marcam essa fase, como o desenvolvimento dos órgãos genitais e a busca por uma inserção no mundo adulto, a adolescência não era considerada como uma fase do desenvolvimento. Essa visão foi rompida com o advento da revolução industrial, época em que a formação e o estudo ganharam papel relevante, o que fez com que os filhos das classes médias e altas, permanecessem mais tempo na escola que passaram a desenvolver programas específicos e que, mais tarde, com a obrigatoriedade do ensino, acabou se estendendo também aos filhos dos operários. Com isso, houve um retardo no “tornar-se adulto”. O período entre a infância e o mundo adulto – a adolescência – passou a se configurar como uma fase marcada, segundo alguns autores, não só pelo processo de maturação física e psicológica, como também, por muitas vezes ainda existir a dependência dos pais. Diante desse contexto, pode-se perceber que a puberdade – conjunto de modificações físicas que transformam o corpo infantil em corpo adulto capaz de reproduzir – sempre existiu em todas as culturas. Enquanto que a adolescência, que configurou toda a transição (não só fisicamente) para o mundo adulto, é algo que se originou com a modernidade. Apesar do surgimento do termo, não existia, bem como ainda não existe, um consenso acerca da adolescência e das marcas que possam classificar o indivíduo como adolescente. Trata-se de uma fase que, dependendo da cultura, do contexto sócio-econômico e, no caso dos estudos, da linha acadêmica, pode 17 ser considerada como algo problemático, período de tensões ou mesmo como uma etapa comum do desenvolvimento que não possui características peculiares. Silva (2007) ainda aponta alguns estudiosos que se destacaram nas pesquisas acerca da adolescência e afirma que, ao falar dessa etapa, não se pode deixar de mencionar G. Stanley Hall, que foi considerado o “pai da adolescência” em 1902. Hall atribuía a essa etapa uma importância fundamental, chegando a imaginar a “criação de uma nova super-raça utópica” (Silva, 2007, p. 10). Segundo ele, a adolescência constituía um momento dramático marcado por inúmeras tensões que evidenciam o final da infância e o início de uma nova fase, que o autor chama de um “novo nascimento”. Diante disso, propunha um sistema educacional que cuidaria mais do desenvolvimento físico e emocional sadio desses indivíduos em detrimento do desenvolvimento intelectual. Além desse pensador, é preciso destacar, Maurice Debesse (apud Silva, 2007) que se tornou referência mundial para os estudiosos da temática com a obra L’adolescence de 1943. Debesse vê a adolescência como uma fase problemática, “ingrata”. Percebe-se com ele, que a adolescência era uma fase desvalorizada. Com relação ao processo de adolescer, Aberastury (1983, p. 15) afirma que “a adolescência é um momento crucial na vida do homem e constitui a etapa decisiva de um processo de desprendimento.” Além disso, a autora chama a atenção para as mudanças corporais ocorridas nessa etapa Se pensarmos no que há de essencial na adolescência, naquilo que seria seu signo, diríamos que é a necessidade de entrar no mundo do adulto. A modificação corporal, essência da puberdade, e o desenvolvimento dos órgãos sexuais e da capacidade de reprodução são vividos pelo adolescente como uma irrupção de um novo papel, que modifica sua posição frente ao mundo e que também o compromete em todos os planos da convivência. (IBIDEM, p. 227) Nesse trabalho, entretanto, os termos adolescentes e jovens não se encontrarão delimitados a uma ou outra teoria, ambos serão utilizados da mesma forma, referindo-se aos indivíduos com idade entre 12 e 18 anos, visto que a análise se pautará nessa faixa etária estipulado pelo ECA, como já foi mencionado anteriormente. 18 Segundo Aberastury, a mudança corporal presente nessa fase, implica também na perca da identidade infantil, o que requer uma busca por uma nova identidade, agora calcada na busca pela inserção do mundo adulto. E, é nessa constante busca por identidade que entram em cena os produtos da indústria cultural e a ânsia pela posse/consumo desenfreados. No cotidiano, a imagem do adolescente consumidor, difundida pela publicidade e pela televisão, oferece-se à identificação de todas as classes sociais, mesmo que poucos sejam capazes de consumir todos os produtos. (NOVAES e VANNUCHI, 2004, p. 12) O mundo atual está fortemente marcado pela presença da indústria cultural que dissemina seus produtos, encanta e manipula a vida das pessoas. A sociedade voltou-se, quase que exclusivamente, à exterioridade, deixando de lado valores e se tornando cada vez mais competitiva e excludente. O adolescente de hoje, está inserido nesse panorama que vem se mostrando cada vez mais voltado à necessidade de possuir produtos e acumular bens, em uma correria contra o tempo, marcada por uma vida cada vez mais capitalista. Essa necessidade de posse está ligada à idéia de que os produtos do mercado podem auxiliar os adolescentes na formação de uma imagem mais bem aceita em determinados grupo. Tal fato se comprova pelas palavras de Palácios (1995, p. 295) ao dizer que “o adolescente se observa e se julga a sim mesmo à luz de como percebe que os demais o julgam, compara-se a eles e também com o padrão de alguns critérios de valor significativos para ele”. Diante desse contexto, buscar uma nova identidade tornou-se buscar a apropriação de ícones e o acúmulo de produtos, na crença da possibilidade de uma entrada no mundo adulto de uma forma mais feliz. A sociedade administrada coloca o adolescente como mais um candidato ao consumo, apostando na divulgação e no apelo realizada pela mídia – através dos meios de comunicação de massa – a fim de atrair seus olhares e desejos. Ao falar da adolescência e do contexto histórico em que vivemos, Kehl (2004) – uma psicanalista que estudou a adolescência e a influência do consumo – afirma que “as pesquisas de marketing definem como uma nova fatia de mercado” (p. 91). Segundo ela, ao se falar em adolescente e consumo, não é somente à elite que estamos nos referindo visto que, 19 Na sociedade pautada pela indústria cultural, as identificações se constituem por meio das imagens industrializadas. Poucos são aqueles capazes de consumir todos os produtos que se oferecem ao adolescente contemporâneo – mas a imagem do adolescente consumidor, difundida pela publicidade e pela televisão, oferecese à identificação de todas as classes sociais. (IBIDEM, p. 93) Essa identificação como indivíduo consumidor, entretanto, faz com que aumente o índice de violência entre os jovens que não possuem condições de adquirir os produtos do mercado, ou seja, sentem-se incluídos na imagem de consumidor construída pela mídia, mas excluídos do “prazer” de fazer compras, da “possibilidade de consumo”, segundo as próprias palavras de Kehl (2004). Dessa forma, pode-se perceber que a adolescência hoje, é fruto de uma cultura marcada pela lei do capital, na qual a competição e o desejo de possuir mais se fazem fortemente presentes. Quem não possui o capital para fazer parte dessa sociedade, busca-se uma inserção por meio da violência física e moral, uma violência que reflete a injustiça reafirmada pelo sistema capitalista, no qual o bem material equipara-se à dignidade e a possibilidade de “ser alguém”. É esse adolescente que freqüenta a escola hoje, trazendo consigo todas as marcas impostas pelo contexto em que está inserido. 1.2.1. O adolescente, a internet e o orkut A sociedade de hoje preza como umas de suas principais características, a rapidez das informações, que atinge centenas de pessoas simultaneamente. Com o advento da internet, a sociedade sofreu uma transformação que engloba cada vez mais pessoas, tornando excluídos os indivíduos que não possuem acesso à imensa rede que navega no universo on-line. Aqui, mais uma vez nota-se que as desigualdades existentes no mundo agravam-se cada vez mais com o avanço da tecnologia, o que pode ser comprovado pelas palavras de Gates (1995), “Como o PC, a internet é um maremoto. Ela vai subjugar a indústria da informática e muitas outras, afogando quem não aprende a nadar em suas ondas”. (GATES apud SOARES, 1996, p. 24) 20 Hoje, o computador, por si só, já não possui um significado, ou seja, não compõe um aparelho tecnológico de extrema utilidade ao ser humano, se não possuir os meios para possibilitar a conexão à internet. Além das milhares de informações que as homepages contêm, existem ainda páginas de vendas, de acesso bancário, de músicas para gravação e também de relacionamentos. Esses últimos constituem o foco desta pesquisa porque, além de demonstrarem a grande rede de pessoas que utilizam a internet como forma de fazerem amizades e conhecer parceiros para relacionamento amoroso, também demonstra como os indivíduos se juntam em grupos que possam ser identificados pelas suas peculiaridades, dentre elas a necessidade, o desejo e o apego aos ícones de consumo. Com base nesses pressupostos, a internet foi escolhida como meio para realizar esta pesquisa, visto que se destaca entre os meios de comunicação da modernidade. Com relação aos adolescentes, Ripa (2005, p. 130) afirma que “(...) atualmente, são os que mais permanecem conectados à internet. Ficam deslumbrados diante dos modismos e do mundo virtual.” Dessa forma, foram escolhidos 20 adolescentes para participarem desse trabalho. A pesquisa foi feita inteiramente on-line, por meio da análise das páginas do orkut. O orkut é o título de um site de relacionamento, composto por uma rede de pessoas interessadas em amizade ou mesmo namoro. No Brasil, esse site possui uma dimensão exorbitante de usuários, já que, por meio dele, infinitos internautas podem ter acesso às dezenas de pessoas, sobre as quais pode ainda conhecer seus gostos, preferências, interesses e descrições em geral. Uma pesquisa5 acerca do índice de usuários do orkut constatou que o Brasil possui 600 mil pessoas cadastradas no site, o que representa 50 per cento do total de usuários espalhados pelo mundo. 5 Pesquisa retirada da B2B Magazine, Coluna Inclusão Empresarial, edição de agosto de 2004, disponível no site http://www.fulviocristofoli.com.br/wiki/index.php/%C3%8Dndice_Orkut. 21 O orkut ainda permite que recados (os chamados “scraps”) sejam trocados instantaneamente e que este seja redirecionado a todas as pessoas pertencentes à rede de amigos. Outro tipo de mensagem também pode ser encaminhada a todos, que são as com propostas de venda, troca ou mesmo informações gerais. Tais mensagens podem ainda serem recebidas no e-mail pessoal de cada usuário do site, se o participante desejar. Além disso, cada integrante do site possui em seu perfil, um álbum pessoal, por meio do qual mostra a sua rede de amigos fotos que o identifique ou que considera importante. Conecte-se aos seus amigos e familiares usando recados e mensagens instantâneas Conheça novas pessoas através de amigos de seus amigos e comunidades Compartilhe seus vídeos, fotos e paixões em um só lugar Para inscrever-se no orkut é preciso que a pessoa receba o convite de alguém que já pertence ao site. Tal convite é enviado por e-mail para o interessado que deve 22 preencher uma inscrição onde colocará um e-mail e uma senha (password) que serão utilizados para o acesso, na página inicial: Para a inscrição, também é preciso conter os dados pessoais, dentre eles a data de nascimento. De acordo com as regras6 do site, para tornar-se participante, as pessoas precisam possuir a partir de 18 anos. Entretanto, não existe nenhuma forma de comprovação da idade, o que leva crianças e adolescentes, a mentirem os dados referentes ao ano de nascimento. Esse fato comprova como a internet está, cada dia mais, envolvendo pessoas desde a mais tenra idade. A Era eletrônica está atingindo a população das mais diversas idades, sem demonstrar empecilhos para a inserção no universo on-line. Com base nisso, os participantes da pesquisa não foram escolhidos aleatoriamente, visto que um dos objetivos foi demonstrar que muitos adolescentes já fazem parte do site antes mesmo de completarem a idade necessária (dezoito anos). Tal circunstância exigiu que fossem selecionados indivíduos com os quais eu possuía algum contato, direto ou indireto, para que, dessa forma houvesse a comprovação da idade necessária, já que se 6 Algumas regras do site encontram-se em anexo. 23 utilizasse apenas as informações do orkut, estaria sujeita a levantar dados de indivíduos que não se encaixam no perfil desta pesquisa. Embora o orkut seja de acesso livre a todos os participantes, por se tratar de uma pesquisa com indivíduos menores de idade, foi necessária a assinatura, por parte dos responsáveis, de um termo de autorização. Além disso, é importante ressaltar que, embora seja de caráter público no site, não utilizei nenhum dado que revelasse/comprometesse nenhum dos participantes. Para demonstrar a grande proporção atingida pela internet e pelo orkut, julguei necessário apresentar duas comunidades7, encontradas no site da maioria dos adolescentes que participaram dessa pesquisa. A primeira se refere à necessidade do acesso à internet, contendo 268.332 membros; e a segunda, ao orkut, demonstrando a repercussão desse site no Brasil. → Não vivo sem internet (268.332 membros) Essa comunidade é perfeita para aquelas pessoas que não conseguem viver sem internet, que têm necessidade de entrar todos os dias e ficar durante horas seja para o que for. São realmente viciadas!!! 7 As frases contidas nas descrições das comunidades serão mantidas na íntegra, portanto, sem as devidas correções. 24 → Só vou pro céu se tiver orkut (334 membros) A original .. criada em 3 de outubro.. Comunidade destinada as pessoas que não imaginam suas vidas... sem esse maldito .. porem divertido... site de relacionamentos virtuais... pros que comem em frente ao pc.. os que acordam e antes mesmo de dar bom dia pra alguem.. já abrem o orkut... e tambem pra aqueles que não podem ter nem um tempinho... que jah tão lá mandando uns scraps ou fuçando no dos outros... Na vida e na morte... sempre.. orkut... Além dessas duas comunidades, uma outra merece ser destacada, ao se falar da repercussão do orkut na vida dos adolescentes (e não somente dessa faixa etária). A comunidade “Orkut é o RG da internet” demonstra a importância atribuída a esse site em meio ao conteúdo acessado na web: → Orkut é o RG da internet Orkut é RG online Você me conhece? Não? Então dá uma olhada no "meu orkut" Orkut virou identificação, igual RG, na internet. Se você não tem documento ainda não é gente; Se você não tem orkut, ainda não existe na internet. Dizer que uma pessoa não existe na internet se não tiver orkut – que está sendo comparado nessa descrição ao documento de identificação pessoal – implica em dizer que quem não possui acesso a internet está inerente ao contexto mundial vivido hoje, já que não possui uma identidade virtual. Esse é um fato bastante preocupante, visto que demonstra como a nova era da tecnologia está excluindo, cada vez mais, as pessoas que não têm acesso ao novo mundo que está se constituindo on-line. 25 1.2.2. Os adolescentes, as comunidades do orkut e o consumo Além dos recados que podem ser compartilhados no orkut, as comunidades virtuais, como as exemplificadas anteriormente, já somam mais de milhões. “O termo refere-se às comunidades na rede, e estas são virtuais, não reais, pois os seus membros efetivamente intercambiam mensagens (...)”. (TÜRCKE, et. al, 1999, p. 72) Essas comunidades servem para agrupar pessoas que possuem as mesmas preferências, de modo a poderem discutir sobre determinados temas. São como grupos on-line, cujos participantes são reconhecidos por algo que identifiquem o motivo de sua inserção. Todos nos sentimos reconfortados quando nos filiamos a algum grupo. Participar de um grupo é gratificante porque fortalece o sentimento de que temos valor e a sensação de que aquilo que pensamos e sentimos é compartilhado por outros, o que lhe revigora o valor de verdade e de correção moral. (SOARES, 2004, p. 150) Existem diversas modalidades que permitem que um indivíduo crie uma comunidade, na tentativa de conhecer e poder trocar idéias com pessoas do mundo todo, que também compartilham de seus gostos. No caso desta pesquisa, foram analisadas as comunidades cujos temas são voltados para o consumo, a fim de levantar alguns dados que demonstrem a influência dos meios de comunicação na vida dos adolescentes, bem como sua tendência ao consumo, o que corrobora com a idéia do fascínio causado pelos produtos da indústria cultural, que passou a atingir um público bem mais jovem. São várias as temáticas que intitulam as comunidades do orkut ligadas ao consumo, sendo algumas voltadas aos ícones de consumo e outras, referentes ao ato de consumir, como é o caso da comunidade cujo título é “Adoro fazer compras na 25 de março” . Comunidades como essa, ou como a intitulada apenas “Coca-Cola”, ou ainda “Nike”, trazem conteúdos e informações que demonstram que grupos de pessoas já podem ser identificados por uma marca presente no mercado. Isso evidencia a necessidade imposta pela propagação dos produtos da indústria cultural, capazes de causar um fascínio tão grande que faz com que os adolescentes acreditem que somente 26 adquirindo determinados produtos, serão capazes de serem felizes, se sentindo realizados. A escolha por uma marca específica é um fator que demonstra a necessidade do adolescente em fazer parte de determinado grupo, sentindo-se excluídos os que não adquiriram o determinado produto, em sua maioria, com uma estética padronizada, já que “as pessoas precisam adquirir os ícones de consumo divulgados pela indústria cultural para que possam se sentir vivos e integrados ao meio em que vivem.” (RIPA, 2005, p. 145) Pode-se perceber que, embora em diferentes quantidades, todos os participantes apresentaram comunidades referentes ao consumo, de modo que, primeiramente, foram levados em consideração apenas os títulos das comunidades as quais pertenciam os adolescentes, como demonstra a tabela: Tabela 1: Análise Quantitativa das Comunidades do Orkut Adolescentes Pesquisados Total de Comunidades Pertencentes Comunidades relacionadas ao Consumo A B C D E F G H I J L M N O P Q R S T 584 465 936 57 183 817 141 282 358 248 1203 618 159 197 884 542 948 201 48 25 15 36 4 7 51 3 19 12 9 42 22 5 7 17 23 29 14 2 27 Dentre as comunidades selecionadas, existem as que indicavam preferência exclusiva por marcas, como Nike, Coca-Cola, Adidas ou Cavalera (que foram as mais encontradas); atividades ligadas à aquisição de produtos, como fazer compras ou ganhar presentes e ainda comunidades que demonstrassem desejo/posse de ícones de consumo, como carros, celulares, motos, dentre outros. Além dessas, considerei para fins de análise, àquelas que se intitulam por meio de apologia ao mercado, como “Eu amo a 25 de março” ou ainda “Viva o capitalismo”. 28 2. O consumo, os adolescentes e a educação O consumo, na sociedade atual, embora seja tratado de uma forma comum e corrente, é um termo que alude à necessidade que temos de adquirir, com muita rapidez, coisas novas, inutilizando as velhas. Dizer que o ser humano tornou-se consumista devido ao fetiche da mercadoria é considerar que, hoje, os produtos da sociedade administrada estão sendo utilizados e descartados da mesma forma que utilizamos os alimentos, necessários a sobrevivência. “É uma cultura do imediato, do descompromisso consigo, com o outro e com o devir de todos” (SOARES, 2004, p. 85). Se o envolvimento com as propagandas é capaz de levar às pessoas a crerem na necessidade da mercadoria, é porque certamente os indivíduos acreditam que a posse dos produtos da indústria cultural é necessária para satisfazer sua realização pessoal, ao que acresce o fato de que os objetos de posse são tidos/vistos como uma etiqueta que comprova o valor social do indivíduo. (...) o impulso para comprar objetos, de fato, se fortaleceu à medida que nos tornamos mais dependentes dele para ter prazer. A insaciabilidade por compras se acentuou porque o ideal de prazer hegemônico fez do objeto a via real da satisfação pessoal. (IBIDEM, p. 84) Ao falar de consumo e adolescente, não se pode deixar de analisar a relação entre o ambiente em que este está inserido e sua relação com o consumo. Para tanto, busquei compreender, como os ícones de consumo são inseridos no ambiente escolar. Dessa forma foi necessário analisar as idéias de Klein (2002) que abarca a publicidade no âmbito escolar e universitário, demonstrando como o consumismo e a conseqüente tirania das marcas, alcançaram o local onde, inicialmente, não era tão profundamente marcado pela presença visível do consumo. Klein (2002) mostra a idéia contida em um folheto da Quarta Conferência Anual de Marketing do Poder Juvenil, que traz a mensagem Você concordará que o mercado jovem é um manancial inexplorado de novas receitas. Você também concordará que o mercado jovem passa a maior parte de seu dia na escola. Agora o problema é como alcançar esse mercado? (p. 111) 29 Essa mensagem torna evidente como a escola passou a ser um alvo da publicidade, incentivando o jovem estudante a tornar-se consumidor, em seu próprio local de formação. Pode-se perceber ainda, que a mídia é marcadamente o principal meio usado para unir educação e publicidade, fato confirmado pela autora ao colocar Esse raciocínio que equaciona deslavadamente o acesso corporativo às escolas com o acesso à moderna tecnologia, e por extensão ao próprio futuro, está no cerne do modo como as marcas têm sido gerenciadas, no curso de apenas uma década, sobretudo para eliminar a barreira entre a publicidade e a educação. (KLEIN, 2002, p. 112) Os ícones de consumo, comandados em sua maioria pela tirania das marcas, estão adentrando a escola, através dos meios de comunicação de massa, a fim de buscar no adolescente, um forte mercado consumidor. A comunicação de massa vem adquirindo lugar de destaque e, ao contrário do sistema burocrático escolar, esse sistema é desburocratizado e se foca nas mercadorias, no consumo. Assim, com a forte presença dos computadores e da internet no âmbito escolar, as propagandas midiáticas ultrapassam as barreiras escolares, atingindo os alunos com seu marcado apelo consumista. Com base nessas idéias, evidenciou-se a relação entre ícones de consumo e a internet, umas das formas mais utilizadas na sociedade atual para a publicidade midiática. Em meio a esse contexto um problema que ronda a educação moderna merece destaque: a ausência de discussões e conteúdos curriculares que abordem essa problemática estabelecida entre mídia e consumo. Ao se manter ausente desse debate, a escola acaba por ignorar a influência exercida pelos meios de comunicação na vida dos alunos, influência esta, que se reflete no ambiente escolar. A constante busca da identidade adolescente mostra-se bastante inserida no ambiente escolar, visto que é nesse local que se configuram os grupos, muitos dos quais, formados a partir de estilos de roupas, gostos e desejos. Diante disso, é preciso que a escola leve em consideração que um fracasso escolar também pode ser resultado de uma exclusão de grupos, ou mesmo da ausência de um ícone fortemente desejado e possuído pela maioria dos alunos. 30 Assim, pode-se dizer que, tudo o que acontece na vida de um indivíduo, reflete no ambiente escolar e, frente ao grande cenário proporcionado pela indústria cultural, não discutir questões ligadas ao consumo e aos meios de comunicação – em especial a internet – significa proporcionar uma educação descontextualizada e inerente aos processos evolutivos da sociedade. Sobre isso é importante mencionar as idéias de Adorno, que só concebe a educação como significativa se houver uma auto-reflexão crítica. 2.1. Educação para a mídia A partir do contexto vivenciado na sociedade capitalista marcado pela evolução tecnológica e sua crescente presença na escola pode-se dizer que a educação de hoje está se deparando com um novo momento, permeado por diversos veículos de comunicação que dão à mídia um imenso espaço. Paralelamente as informações e notícias, a mídia transmite uma vasta rede de propagandas que apelam em favor dos produtos do mercado de consumo e que, cada vez mais, atingem ao público jovem e adentram a escola.. A internet invadiu a vida dos indivíduos e transformou os hábitos e costumes de uma época. Esse panorama fez com que, juntamente com a tecnologia e as facilidades proporcionadas, aumentasse também a exclusão social e a conseqüente falta de oportunidades, tendo em vista que a exigência da sociedade moderna é bem maior, já que incluiu o manuseio e a possibilidade de acesso à web. Diante desse contexto, a escola precisa proporcionar um processo de ensinoaprendizagem que esteja mais contextualizado e que atenda o momento histórico que os alunos estão vivendo. Dessa forma, há uma urgência na capacitação dos profissionais da educação para saberem lidar com as novas tecnologias, em especial a internet, de uma forma que as transforme não somente em mais um conteúdo utilizado pelos alunos, como também em uma forma de se fazer educação diferenciada, que ultrapasse os limites da educação tradicional. Além disso, o professor deve saber, também, lidar com novas situações de aprendizagem nas quais ele não desempenhará mais o papel de detentor do saber, mas sim de orientador e participante dos processos de ensino e aprendizagem. 31 Esse novo paradigma educacional pode ser o início de um caminho para uma educação que fuja do modelo comum, composto, em sua maioria, por aulas expositivas e pelo triângulo professor-aprendizado-aluno. Nessa nova proposta educacional, os professores passam a fazer parte do sistema de aprendizado e não mais o detentor do saber. Entretanto, para que tais reformas possam ser efetuadas no ensino, é preciso um comprometimento de toda a comunidade escolar, bem como uma formação de professores que dê o suporte necessário para que o corpo docente seja, não apenas um usuário de novas tecnologias, mas que saiba lidar com elas educacionalmente. Em outras palavras, que saiba fazer da internet, do orkut e de outras tecnologias, um instrumento positivo ao processo de ensino-aprendizagem evitando, assim, uma inserção tecnológica na escola sem a promoção de uma educação diferenciada. A educação para a mídia requer uma atenção imediata, visto que por meio dela será possível buscar uma superação da educação danificada e da “semi-formação” dos indivíduos, a fim de lutar por uma educação crítica que consiga fazer com que os indivíduos saibam superar o conformismo e passem a analisar os veículos de comunicação e suas diversas mensagens direcionadas ao consumo, de uma forma a distanciar os seres humanos da barbárie e torná-los mais humanizado e emancipado. Essa educação para a auto-reflexão crítica faz-se necessária e urgente visto que, Na sociedade capitalista da industrialização avançada, esta educação crítica se encontra travada, desenvolvendo-se só o lado da adaptação, e não o lado da resistência e da contradição. É o fenômeno que Adorno denomina de semiformação (Halbbildung).(MAAR, 1995, p. 66) Em meio a um trabalho utilizando a internet como instrumento de auxílio ao processo de ensino-aprendizagem, o orkut destaca-se como uma forma de atingir, mais especificamente, o público jovem, chamando a atenção para diversos temas - como o consumo, foco dessa pesquisa - que podem ser debatidos com o auxílio das comunidades do site. Além de temáticas transversais, o orkut pode também ser um bom instrumento para trabalhar os conteúdos curriculares, favorecendo ainda a interdisciplinaridade. A construção de uma comunidade que permita aos alunos discutirem e tirarem dúvidas on-line torna-se uma forma de utilizar o orkut de uma forma positiva ao processo de ensino-aprendizagem, permitindo ainda que os jovens 32 desenvolvam o senso crítico sem deixar de lado a diversão e o encanto proporcionado pelo universo da web. 33 3. Análise dos conteúdos apresentados nas comunidades selecionadas Ao contrário do que havia pensado em um primeiro momento, considerei mais pertinente, analisar comunidades que exemplificassem as várias formas de ligação ao consumo e, por isso, selecionei comunidades dos diferentes participantes, até para não tornar o trabalho muito extenso, visto que se tornaria repetitivo devido às várias comunidades em comum apresentadas pelos adolescentes. Cabe ressaltar então, que as comunidades selecionadas não pertencem exclusivamente a nenhum dos participantes, bem como foram apresentadas de maneira aleatória, ou seja, não estão seguindo nenhum critério de classificação ou ordem. Antes de analisar as idéias contidas, será apresentada a descrição existente na comunidade na íntegra, como aparece nas páginas do orkut. 3.1. Viva o Capitalismo! Antes de alguém vir criticar algum membro dessa comunidade saibam de algumas coisas: Primeiro Che Guevara não era legal, ele matava muitas pessoas, era so estarem perto de soldados, e segundo, não é só os EUA os capitalistas, a parte inteligente do mundo é, o Bush é só um dos lideres. Morte aos sanguessugas, vampiros do nosso trabalho!! (2.025 membros) Para todos os que gostam de carrões, motos, jóias, casas, apartamentos na praia, coberturas, caviar, champanhe. Para quem acredita no mérito do esforço próprio. Viva a liberdade! A liberdade de expressão. A liberdade de produzir e de consumir. A liberdade de ir e vir. Pelo direito inalienável à vida, à propriedade privada e ao cumprimento dos contratos. Viva o Sistema Capitalista! Esta comunidade agora é moderada. Só é possível entrar com a permissão do moderador. Tópicos ou manifestações indesejados serão deletados. Membros indesejáveis serão banidos.Voltei a controlar a entrada, chega de palhaçada! 34 Dentre as comunidades encontradas no decorrer da pesquisa, essa foi a que mais chamou a atenção, sendo destacada nos orkuts de dois dos adolescentes que participaram da pesquisa. Contendo 2.025 integrantes, possui muitas postagens nos tópicos aberto no fórum, uma sessão destinada à troca de opiniões acerca de indagações geradas pelo tema da comunidade. Essa comunidade demonstra claramente a necessidade do indivíduo em estar sempre em busca de itens do mercado de consumo. Entretanto vai mais além, afirmando claramente a posição dos participantes em demonstrarem que não sentem vergonha de gostar do consumo, mas pelo contrário, de se assumirem enquanto consumidores e, por isso, serem adeptos ao sistema capitalista, cuja base é o capital e o mercado. A primeira parte da descrição contém uma justificativa feita a partir da análise do comportamento de pessoas que marcaram/ marcam a história do mundo. O primeiro é Che Guevara, que foi considerado um dos maiores heróis revolucionários. Em segundo, Bush que foi o precursor de vários debates acerca de seu posicionamento como presidente dos Estados Unidos. Esse fragmento merece destaque por possuir uma posição que, na maioria das vezes, é contrária a posição de grande parte das pessoas, que costumam endeusar Che Guevara e promover campanhas contra Bush. A partir disso, pode-se inferir que se trata de uma comunidade que demonstra um comportamento de desabafo dos membros que demonstram gostar de um sistema que, na maioria das vezes, é considerado injusto e mercenário. Pode-se dizer até mesmo que há uma evidência de rebeldia que se confirma na frase “Morte aos sanguessugas, vampiros do nosso trabalho!”. Em seguida, a descrição mostra que seu objetivo é reunir pessoas que demonstrem um verdadeiro apreço por produtos da indústria cultural e, em sua maioria, ícones de consumo de alto custo, que não podem ser adquiridos tão facilmente, como carros, motos e jóias. Além disso, ainda mostra o individualismo e a ganância presentes na frase “Para quem acredita no mérito do esforço próprio”. No final da descrição mais uma vez a apologia ao consumo é evidenciada por meio da frase “A liberdade de produzir e de consumir.”, demonstrando assim, que o cidadão que trabalha tem todo o direito de consumir tudo o que ganha, mesmo que de uma forma incontrolável. 35 Diante disso pode-se verificar que o consumo é algo que, não somente está presente na internet, como também está sendo fortemente defendido por milhares de pessoas que se reúnem tendo como afinidade o gosto por ícones de consumo. É preciso chamar a atenção para a necessidade do adolescente em expressar tal gosto, mesmo que, em muitos casos, ainda não trabalhem e, portanto, não possuem renda própria, dependendo do trabalho dos responsáveis. Ripa (2005, p. 177) ao se referir aos adolescentes e ao consumo, vai dizer que, Não é apenas a adoração dos artistas ou dos esportes radicais do momento que atrai os jovens, nem mesmo a adesão a grupos virtuais ou não, mas as suas afinidades como consumidores de celular, CD, vídeo-game, tênis, jeans.... Diante disso, pode-se perceber que, apesar de não ser um privilégio de todos ter acesso à compra de determinados produtos, muitos adolescentes se encontram agrupados por meio da posse de ícones do consumo e do desejo de se consumir cada vez mais, como uma forma de personalidade, ou seja, poder consumir determinadas coisas é como se fosse sua marca, característica natural, já que “numa sociedade que nega as condições reais de emancipação do indivíduo, a identidade de cada um é concebida de acordo com aquilo que cada um possui e exibe.” (RIPA,2005, p. 73) 3.2. Nike Brasil Para os eternos fãs da MARCA NIKE!!! Nike é NIKE, não tem outra marca igual por isso, JUST DO IT! (100.983 membros) Comunidade aberta para discussões sobre os produtos da NIKE, troca de informações, lançamentos, dicas.... 36 Essa comunidade foi verificada no orkut de, pelo menos, metade dos adolescentes analisados. Sua descrição traz consigo um culto à marca excepcionalmente difundida no mundo. “As marcas Nike, Coca-Cola, Pepsi, Mc Donald’s, Apple. Body Shop, Calvin Klein, Walt Disney, Levi’s e Starbucks são exemplos de logos que tornaram-se acessórios culturais e filosóficos de estilo de vida, necessários para a construção da identidade.” (RIPA, 2005, p. 53) Percebe-se, pelas palavras de Ripa (2005) que, assim como outras, a Nike tornou-se um acessório cultural, algo que marca um estilo de vida e, por isso, torna o consumidor, uma pessoa com estilo, diferenciada em uma vertente positiva aos olhos da maioria. Assim, possuir algo da Nike faz do indivíduo, uma pessoa mais feliz por poder “sobressair-se” na multidão, destacando-se por possuir uma identidade construída por meio da marca. Sobre isso Ripa (2005, p. 175) ainda afirma, Num mundo marcado, tudo se torna mercadoria e os adolescentes passam a desejar a posse de um logotipo que os identifique. Por isso, aceitam a própria transformação em publicidade viva e ambulante, consomem o que é consagrado pela mídia, descartam o que fora divulgado como passado e evitam a criação, a expressão e a experimentação do todo. Da mesma forma que a Nike, foram encontradas ainda nos orkuts analisados, comunidades referentes à Adidas, Puma, Cavalera, dentre outras. Todas elas, em uma perspectiva de reunir os adeptos da marca, apresentando ainda, tópicos que evidenciam a superioridade da marca em questão, em detrimento das demais. As enquétes abaixo, retirada das comunidades Nike e Cavalera, respectivamente, são exemplos do culto à marca, tendo em vista que os participantes buscam colocá-las como sendo a mais cotada. QUAL A MELHOR MARCA? Vota ai galera!!! vamo botar a Nike no primeiro lugar!! 37 quantas peças de roupas da cavalera, você tem??? se mas por favor faça um comentaria de quantas obrigada beijo!!! Klein (2002), ao contar a origem, trajetória e expansão das marcas, afirmou que “(...) esses logos tinham a mesma função social da etiqueta de preço das roupas: todo mundo sabia exatamente quanto o dono da roupa se dispôs a pagar pela distinção.” (p.52) Pode-se perceber, portanto, que o reconhecimento do indivíduo que carrega determinada marca é um fato que já tem história, e que esta passando gerações e se tornando cada vez mais acentuado, a ponto de se criar uma comunidade que divulga uma marca gratuitamente, discutindo ainda maneiras de colocá-la como número um no ranking das melhores. Diante disso, os adolescentes, ao fazerem parte dessa comunidade evidenciam que, a opção por uma determinada marca, faz com que sejam reconhecidos de uma forma positiva, visto que junto com a etiqueta, acreditam estarem levando um estilo de vida diferenciado e merecedor de destaque. Esse desejo incondicional oriundo da divulgação dos produtos feita, em sua maioria, pelos meios de comunicação é também o gerador de atos de atrocidade que colocam o ser humano novamente em situação de barbárie. Com relação a isso, Ripa (2005) chama a atenção para os diversos casos de jovens que roubam/assaltam para conseguirem a posse de um tênis (ou outro objeto) que tanto desejam. Esse desejo pela posse dos produtos de grande repercussão na mídia, é um fator que marca fortemente a educação ao passo que, da mesma forma que existem as comunidades virtuais, pode ocorrer também, como já foi dito anteriormente, a formação de grupos na escola, constituído por adolescentes que se identificam pela posse de um determinado produto. O consumo acaba por diferenciar as pessoas e nisso, é preciso reconhecer o poder manipulador do mercado. Essas situações podem, além de gerarem a exclusão, influenciarem no rendimento do aluno que pode tornar-se um fracasso escolar, contribuindo até mesmo no aumento do índice de evasão escolar, o que evidencia a necessidade de se discutir o consumo no ambiente escolar. 38 3.3. Eu amo fazer compras Vc Faz Compra Com a Razão , Emoção ou Coração ?? Ja Se Pegou Naqueles Dias Super Pra Baixo Nada Nem Ninguem Consegue Te Animar , A Unica Coisa Que Te Bota Pra Cima é Uma Passadinha No Shopping !! Com certeza Fazer Compras é Tudo !!! (100.230 membros) • Entre E Estoure Seu Cartão De Crédito A vontade Quero comprar o shopping todo! Se você anda pelo shopping e em cada loja que passa você quer comprar tudo e mais um pouco? Não há nenhuma loja em que vc não ache alguma coisinha que vc queira comprar? Já sonhou em ter um shopping só com você dentro podendo pegar o que vc quisesse? (39.284 membros) Haha, honey, você achou o seu lugar! Dentre outras comunidades essas foram escolhidas, pois, além de estarem presentes nos orkuts de sete dos adolescentes, mostram explicitamente a apologia ao consumo, em forma até mesmo de convite aos integrantes às compras compulsivas, ressaltada pela frase final da primeira comunidade “Entre E Estoure Seu Cartão De Crédito A vontade”. As descrições dessas comunidades evidenciam o aspecto assumido pelo consumo hoje. Ao dizer “Já Se Pegou Naqueles Dias Super Pra Baixo Nada Nem Ninguém Consegue Te Animar, A Única Coisa Que Te Bota Pra Cima é Uma Passadinha No Shopping !!”, torna-se evidente o caráter satisfatório adquirido pelo ato de fazer compras. Mais que uma necessidade (forjada pela sociedade administrada), as compras passaram a ser uma distração e uma forma de entretenimento para os indivíduos. 39 Mas o que deve ser questionado aqui é a inserção de adolescentes em comunidades como essas, principalmente entre os participantes do sexo feminino. As próprias imagens colocadas como símbolos das comunidades, mostram, em ambos os casos, o estereótipo da dita “patricinha”, que, na primeira comunidade em muito se assemelha à boneca Barbie, e, na segunda, é a imagem da própria boneca, colocada como padrão de beleza e futilidade, o que é reforçado na descrição ao estabelecer a ponte direta entre compras e shopping. Ou seja, novamente as comunidades são destinadas a uma pequena parcela da população que possui condições financeiras de fazer compras por satisfação e, sobretudo, em um local cujo valor das mercadorias é bem acima da média. Entretanto, fazer parte dessas comunidades pode possuir outra interpretação. Devido aos muitos adeptos e, após perguntar para uma adolescente – via orkut – o motivo de sua participação em tal comunidade, obtive a seguinte resposta: “Por que, embora não possa comprar tudo que desejo, me identifico com a comunidade, pois é uma coisa que eu sei que gostaria de fazer se pudesse.” Essa frase vem a confirmar que, nem sempre a participação na comunidade se dá pelo enquadramento naquilo que é relatado, o que pode ser percebido na frase “Já sonhou em ter um shopping só com você dentro podendo pegar o que vc quisesse?”, contida na segunda comunidade que evidencia o caráter de sonho. Pode também ter participantes que gostam da idéia mesmo não tendo acesso ao que está sendo mostrado. Além disso, o fato de pertencer à comunidades como estas, ou as anteriormente citadas, faz com que o sujeito seja reconhecido como gostaria de ser e não necessariamente, como é. Os indivíduos têm a sensação de precisar transformar o seu eu – que se resume na aparência – a cada nova estação, para vender a própria identidade. É incentivado pelos meios de comunicação social a acompanhar as supostas novidades, a encontrar produtos que possam solucionar os problemas que aparecem e, assim, garantir a sua participação como membro ativo da sociedade. (RIPA, 2005, p. 77) 40 3.4. Eu quero um celular de câmera! Essa comunidade foi criada para aqueles que possuem um celular "meia-boca" e o seu sonho é ter um celular de câmera!!! (583 membros) Obs: Aqueles que tem celular de câmera tambem podem entrar E aí pessoal valeu por participar!!!! Essa comunidade evidencia um aspecto da indústria cultural muito comum que é a busca por algo sempre melhor, que seja lançamento e que seja divulgado pelos meios de comunicação. Contando com a participação de três dos adolescentes da pesquisa, essa comunidade demonstra, em sua descrição, como os ícones de consumo passam a ser algo realmente desejados sem o qual, muitas vezes, a pessoa considera-se infeliz, prejudicada, excluída. Não basta possuir um celular, é necessário que seja o melhor celular, com mais funções, cada vez mais moderno e adequado aos padrões exigidos pela sociedade que está em constante mudança e desenvolvimento. Aqui se evidencia o caráter da indústria cultural de difundir bens padronizados e assim, conseguir satisfazer as necessidades iguais, o que pode ser bem evidenciado nas comunidades do orkut, que possuem sempre um número elevado de membros desejando, cobiçando e idealizando os mesmo objetos. Além disso, a comunidade ainda apresenta uma enquéte com o questionamento "Eu quero um celular de camêra mais tem que ser de abrir e vocês ???" que enfatiza como a indústria cultural é capaz de persuadir as pessoas, estipulando ainda um modelo ideal de objeto que é "lançamento nos mercados". Não é simplesmente o desejo que está sendo demonstrado, mas sim um "determinado desejo" que enfatiza a necessidade da posse do objeto em questão, com formas e estéticas estabelecidas. Ao se pensar a participação de adolescentes nesse tipo de comunidade o que se discute é a inserção desse público no mercado consumidor. Os objetos da indústria cultural atingiram de tal forma esse público que eles já demonstram a afeição e o desejo por ícones que, cada vez mais estão inseridos na vida dos indivíduos, como uma forma 41 até de manterem-se ligados e conectados a todo instante aos avanços da modernidade, além do aprisionamento do capitalismo. 3.5. Durmo com meu celular do lado Se voce tb tem a mania de dormir com o celular do lado, no pe da cama ou perto mesmo. ... pra não perder nenhuma ligação mesmo, mesmo que eu não possa atender eu quero saber quem me ligou... usar como despertador, lanterna, etc BEM-VINDO (1.029.231 membros) • Eu amo meu celular (12.698 membros) Essa comunidade é para as pessoas que amam seu celular =) Se você é uma daquelas pessoas que não sai de casa sem ele, uso para tudo... Seja bem vindo... Afinal de conta celular é tudo em nossas vidas eim?! Responda as enquetes =) Por favor, propaganda de outras comunidades nos eventos =) As comunidades acima descritas mostram a questão do apego com relação aos produtos da indústria cultural, evidenciando a forte relação estabelecida entre o ser humano e os bens materiais. O celular, de acordo com pesquisas realizadas por pesquisadores da área e empresas de comunicação8, tem sido o aparelho eletrônico mais vendido atualmente. Percebe-se que, além de ser um meio de comunicação, esse aparelho passou a ocupar o lugar de vários outros, já que, cada vez mais, demonstra diversas utilidades, como máquina fotográfica, despertador, calculadora, walkman, mp3 e agora, também fazendo 8 Uma pesquisa acerca da venda e posse de celulares encontra-se em anexo. 42 às vezes de pen-drive. A crescente modernidade observada na tecnologia torna o celular e suas várias estéticas, um objeto de desejo dos jovens, de modo que não possuir um celular, ou melhor, um “bom” celular, significa estar desconectado do mundo, visto que se trata de um meio de comunicação que permite a conversa em qualquer lugar, além é claro, da possibilidade de acesso à internet. Dormir com o celular do lado é uma forma de expressar que, mesmo quando não estão acordadas as pessoas estão em sintonia com a multidão de indivíduos com os quais mantém contato. Pode significar também que nenhuma possibilidade será passada, uma vez que a pessoa pode ser encontrada a qualquer momento. Além disso, não é só a questão da conectividade entre as pessoas que está sendo colocada em pauta, mas também, como já foi mencionada, a questão do apego. Percebe-se uma grande afeição pelos aparelhos, em especial os mais modernos que chegam a custar mais de mil reais. O apego é um fator muito difundido entre os jovens. No caso dos participantes dessa pesquisa, todos apresentaram a participação nessa comunidade e alguns possuíam a comunidade “Eu amo meu celular”, que reafirma essa idéia com relação a esse ícone de consumo. Outro ponto que merece ser destacado aqui é a influência dos meios de comunicação social na divulgação dos produtos da indústria cultural. Tal fato pode ser constatado nas mensagens gratuitas que podem ser enviadas pelos sites da web para celulares de determinadas empresas. Isso se estende também ao site do orkut que permite que sejam enviados os scraps – como são chamados os recados que podem ser deixados para a rede de amigos – diretamente para os aparelhos celulares, também de determinadas empresas. A possibilidade de trocar fotos, músicas e toques pela tecnologia do BLUETOOTH – um dispositivo usado para conectar um celular a outro – também é um fator que influencia o desejo pelos aparelhos mais modernos. O investimento nessa área tecnológica é tamanho que um celular pode ser lançamento hoje e daqui dois meses já haverá um mais moderno e passado mais um tempo haverá outro, o que mantém a constante procura pelo mercado, reafirmando mais uma vez a idéia de necessidades iguais por parte dos consumidores dos produtos criados pela indústria cultural. O grande número de adolescentes presentes nessas comunidades evidencia a importância dada por indivíduos dessa faixa etária em possuir um produto que “está em alta” e que os insere em mundo marcado pelo controle e pela virtualidade, tornando-os 43 parte de uma sociedade administrada, mas que, por outro lado, garante que “não estão ficando para trás”. 3.6. Amo muito tudo isso (5.720 membros) Poxa galera desculpe ae pelo tempo de descaso nessa comu mais jah passo, po uma fotinhu nova e um novo perfil Se você ama muito tudo no mc donalds Se vc não se importa q dizem q engorda,eh feito de carne de minhoca...DANE-SE O Q FALAM..MC DONALDS EH TUDO AMO MUITO TD ISSO AMO MUITO MC DONALDS A frase “Eu amo muito tudo isso” divulgada como slogan nas propagandas da rede de empresas Mc Donald´s, aqui ganha maior destaque visto que é o motivo da inserção de mais de cinco mil pessoas nessa comunidade. O apreço demonstrado pelos produtos dessa empresa de fast food fez dela, muito mais que uma simples lanchonete, mas sim um estilo de vida que possui milhares de adeptos, o estilo Mc Donald´s de ser. O mundo ficou marcado por essa empresa que contagia crianças e adolescentes do mundo inteiro, que passaram a considerar o lanche do Mc Donald´s como o padrão de qualidade, inferiorizando os demais. (...) o Mc Donald’s tem no Brasil seu quinto maior mercado, com 1.200 pontos de vendas em todas as regiões, constituindo-se na maior empresa do ramo (10). Essa imensa estrutura, capaz de financiar as mais eficazes estratégias de propaganda e marketing, concentra seu olhar no público infantil, buscando captar sua atenção e participar da formação de seus hábitos, promovendo assim uma constante e perpétua relação com os consumidores de amanhã. (SUCUPIRA, et.al., 2004, p. 7) Ainda nesse artigo, Sucupira (et. al., 2004) fala da criação de personagens para chamar a atenção do público, como é o caso do Ronald Mc Donald´s, que encontra-se estampado em diversos objetos da lanchonete para tornar o ambiente, não só um local para comer, mas também para se divertir com toda a família. Esses personagens, que estão presentes até mesmo na página virtual do Mc Donald´s, têm como função levar o 44 consumidor a achar divertido o consumo de seus produtos, em uma tentativa de levar, crianças e adolescentes a se tornarem consumidores fiéis. Ao se falar de fast food e adolescência é preciso mencionar ainda um problema muito comum hoje e que, embora não seja estudado nesse trabalho, não pode ser deixado de lado: o alto índice de obesidade causado pelo excessivo valor calórico desses produtos, em especial o hambúrguer. Em contrapartida, não se pode deixar de mencionar também, o alto custo desses produtos, que se torna uma barreia a muitas pessoas e que faz com que milhares de adolescentes sintam-se frustrados por não poderem degustar tais produtos e pior, não possuírem os diversos brindes que configuram a marca da opção pelo Mc Donald´s. Diante disso, pode-se dizer que, apesar de alguns entraves, a indústria alimentícia de fast food também se tornou um objeto de desejo e que sua inserção nas comunidades do orkut mostra que ainda foi além, tornou-se uma marca, responsável por um grupo de pessoas reunidas por possuírem/defenderem essa preferência. 3.7. Cocólatras – Coca-cola "Na aparência é apenas um refrigerante,uma bebida gelada que se pode comprar em quase todo lugar. Mas ela se tornou mais que issu. Como pode essa bebida suave, atingir emocionalmente milhões de pessoas no mundo? Acompanhe essa história e você acompanhará uma pequena parte da história do mundo." Prefácio do filme "The history of Coca-Cola" (306.111 membros) entao..se vc eh apaxonado por um dos 7 segredos mundias, ama o liquido negro mais caro do mundo(mas ki vale a pena), se axa ki em vez de Einstein, Doctor Pembertom (criador da coca) foi o maior gênio do mundo, ou se vc eh apenas fanático por esse liquido..join! E ae galera.. participem do nosso chat.. onde todos as pessoas movidas por esse vicio podem se conhecer melhor e trocar experiencias...xD Do mesmo estilo da comunidade do Mc Donald´s, a comunidade da Coca-Cola também vem representar a inserção de produtos de bebidas no mercado consumidor. De 45 acordo com a descrição dessa comunidade, essa bebida tornou-se muito mais que um simples refrigerante, mas também um estilo de vida. A frase “Como pode essa bebida suave, atingir emocionalmente milhões de pessoas no mundo?” demonstra que as pessoas passaram a ser adeptas da coca-cola como um subsídio necessário a sua existência, tornando-a emocionalmente dependentes de tal líquido. (...) há casos em que, a despeito das características de outro produto, de seu preço mais vantajoso e de maior conveniência, o consumidor continua dando preferência a determinada marca, por apresentar valores substanciais que constroem a firme lealdade do usuário, de maneira que não seja possível transferir a outra. (PINHO, 1996, p.119) Pinho (1996) ainda afirma que a The Coca Company utilizou-se da publicidade para construir uma relação de fidelidade dos consumidores com a marca, ao estabelecer ligações entre a marca e os diferentes aspectos da vida dos indivíduos. Assim a Coca-Cola passou a ser a determinante de um grupo, os apreciadores de Coca-cola, responsável inclusive, pela formação dessa comunidade “onde todas as pessoas movidas por esse vício podem se conhecer melhor e trocar experiências”. Devido a sua grande repercussão entre os apreciadores, a marca “Coca-cola” passou a estar presente também em vários produtos da indústria cultural, tais como roupas, adereços e até mesmo pelúcias e eletrônicos. A grande repercussão da Coca-Cola não poderia deixar de estar presente entre os adolescentes, que além de serem grandes apreciadores de refrigerantes, constituem o público mais fiel às marcas. 46 CONSIDERAÇÕES FINAIS Os avanços da sociedade moderna, pautado na ampla rede de conexão entre as pessoas, favoreceram uma relação estreita entre a adolescência, a internet, o consumo e, consequentemente, a educação. Embora não se possa dizer que existe um modelo de adolescente universal, a mídia favorece a criação de uma consciência coletiva, visto que permite que adolescentes do mundo inteiro se comuniquem e saibam o que está se destacando para essa fase no mais diversos locais, ou seja, os adolescentes nunca foram tão “padronizados” como estão na sociedade atual. Assim, a mídia, bem como a indústria cultural cria um adolescente comum, àquele considerado como alvo do mercado, como sujeito consumidor. Com base no conteúdo apresentado pelas comunidades analisadas nota-se que o consumo está visivelmente presente na internet, em especial do conteúdo do orkut. Embora, constitua um site de relacionamento, o orkut está fortemente marcado pela cultura dos ícones do consumo, pela apologia e pelo culto às marcas oferecidas pelo mercado, que se fazem presentes na sociedade em que vivemos hoje. Diante disso, percebe-se que o orkut, embora aparentemente seja apenas um espaço virtual para troca de mensagens entre as cadeias de amizade, constitui também um instrumento utilizado para demonstrar ideologias presentes na sociedade moderna, dentre as quais se destacam as ludibriadas pela sociedade administrada que proporcionam um estilo de vida calcado no capitalismo, no qual prevalece o desejo pela compra. Adolescentes se agrupando em torno de discussões acerca da posse de bens materiais, do culto a determinados estilos de vida nos quais está presente uma necessidade forjada pela sociedade administrada do desejo de comprar e acumular produtos da indústria cultural nos chama a atenção para os problemas oriundos do desenvolvimento tecnológico e da globalização do mundo. O suporte teórico dos estudiosos da temática possibilitou que se percebesse, a partir dessas comunidades, a constante necessidade de se adquirir novos produtos lançados no mercado, que demonstra como a evolução favoreceu a cultura do descartável, na qual, objetos e adereços disponibilizados pela moda em conjunto com a publicidade, são consumidos como alimentos, que carecem de um constante abastecimento, em uma perspectiva de competição proporcionada pelo sistema capitalista. Adorno, em sua obra “Educação e Emancipação”, fala sobre a competição no âmbito educacional, 47 (...) a competição é um princípio no fundo contrário a uma educação humana. De resto, acredito também que um ensino que se realiza em formas humanas de maneira alguma ultima o fortalecimento do instinto de competição. (ADORNO, 1995, p. 161) A mídia, com seu apelo consumista, está conseguindo atingir o público mais jovem, principalmente porque constituem o principal alvo da Era da tecnologia, e da virtualidade. Os adolescentes de hoje, estão se formando no âmbito de um mundo virtual, no qual o contato físico e a socialização pessoal estão perdendo espaço para as “cyber-relações”. Já não é necessário se encontrar para conversar, porque as mensagens instantâneas proporcionadas pelos sites de bate-papo são capazes de conectar um enorme grupo na mesma conversa. Também não é preciso sair de casa para fazer compras se as lojas estão constantemente disponíveis no mercado on-line, sem ter horário de funcionamento. Ou seja, o mundo está se constituindo de uma forma virtual, o universo da web satisfaz muitas necessidades do ser humano, em uma situação de imitação da vida real, acessada por meio dos computadores. Os adolescentes que freqüentam a escola hoje são agentes de uma Era tecnológica e requerem uma educação que permita a criticidade para lidarem com os conteúdos oferecidos pela internet em uma perspectiva positiva. O orkut pode ser uma via de acesso ao mundo adolescente, visto que há uma inserção jovem muito grande nesse site. Utilizá-lo para trabalhar com algumas questões presentes na sociedade atual pode permitir o despertar de interesse para debates muito importantes na busca da inserção no mundo adulto pelos adolescentes. O consumo é uma dessas questões que se fazem presentes no orkut e que merecem destaque em discussões em sala de aula ou mesmo grupos de estudo. Outras questões podem ser levantadas com base nessa discussão, como a violência trazida pela cobiça aos ícones de consumo e a banalização dos produtos tornados descartáveis. A partir disso, pode-se trabalhar o consumo em uma perspectiva crítica, de modo que a educação não seja “(...) a mera transmissão de conhecimentos, cuja característica de coisa morta já foi mais do que destacada, mas a produção de uma consciência verdadeira.” (ADORNO, 1995, p. 141) Assim, o primeiro capítulo buscou mostrar como o debate travado pela relação entre adolescência, internet e consumo trazem à tona questões que caracterizam a 48 sociedade capitalista e que geram fortes influências no âmbito educacional. Além disso, a contextualização da realidade encontrada pelos adolescentes de hoje, evidenciou o caráter manipulador da indústria cultural que seduz os adolescentes, construindo uma falsa idéia de que a aquisição de bens materiais permite o alcance do bem estar e da felicidade. A adolescência, considerada pelo ECA, como sendo dos 12 aos 18 anos, por englobar a faixa etária que mais se deslumbra com a Era Virtual, passou a ser foco dos apelos consumistas da mídia que fez da internet um instrumento eficaz de divulgação de produtos. A partir disso o segundo capítulo buscou, por meio da análise das comunidades do orkut, confirmar a necessidade dos adolescentes, bem como sua satisfação em possuir determinados ícones, ser adeptos a determinadas marcas e estilos de vida nos quais a sedução da compra divulgada pelas propagandas e pela moda, são defendidos em uma espécie de reverência. Por fim, faz-se necessário repensar a educação a partir das respostas encontradas para a questão “Quem é esse adolescente que freqüenta a escola hoje?”. O processo de ensino e aprendizagem deve ser significativo para os adolescentes da sociedade moderna, e não meramente uma transmissão de conteúdos desconexa da realidade e dos fatores que caracterizam o modo de viver em uma época na qual se preza pela tecnologia e rapidez de informações; época também marcada pela competição entre os indivíduos e pelo excessivo valor atribuído aos bens materiais. A educação deve constituir-se como um processo de conscientização e humanização, que atenda às necessidades dos alunos e possibilite uma formação crítica, distanciando os seres humanos da barbárie. Uma educação que questione os valores atuais e possibilite aos adolescentes, vivenciarem um processo de emancipação que rompa com a educação danificada, supere o conformismo e que permita enxergar que o valor do sujeito não é medido por meio de uma etiqueta ou por suas posses materiais. Referências Bibliográficas ABERASTURY, A. (e colaboradores). Adolescência. Tradução por Ruth Cabral. 2. ed. 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Tinha-se a idéia da potência do computador ser diretamente proporcional ao seu tamanho. Posteriormente, com o advento do circuito integrado e do microchip os computadores foram diminuindo à medida que aumentavam a velocidade e a capacidade de armazenamento de dados. Mas mesmo assim continuavam caros e grandes. Os governos, as grandes corporações e as universidades eram os únicos possibilitados a arcar com tamanhos investimentos. Surge, nesse patamar, os mainframes (ou computadores principais), grandes computadores que centralizavam em uma só máquina toda a base de dados disponível. É a época da corrida espacial, com os chamados "super-computadores", a exemplo do Pentágono, da NASA, da CIA, etc. Esses grandes computadores passaram a ter terminais, seja para a inclusão de dados, seja para a pesquisa de arquivos. Com o passar do tempo, sentiu-se a necessidade de aperfeiçoar os terminais, com uma gradual descentralização do computador principal, mostrando-se a lenta evolução de uma forma primitiva de rede. Assim, houve uma mudança de mentalidade com relação à interação de computadores. Não mais se pensava em um único super-computador centralizador de todos os dados e funções, e sim um grande número de pequenos computadores que interligados seriam muito mais potentes, numa analogia à rede neural do cérebro humano. A rede de computadores, até então, restringia-se à todos os computadores de um mesmo local. A conexão se fazia por cabos seriais, que restringiam o alcance da conexão a um espaço limitado. Ainda apenas o governo e universidades americanas possuíam o capital e tecnologia necessárias a implantação de cabos ligando cidades ou estados. Na década de setenta, muitos programadores e cientistas preconizavam a necessidade e vantagem de uma maior conectividade, em âmbito nacional e até mesmo mundial. Resolveu-se confeccionar um protótipo que ligasse algumas universidades, para aferir a possibilidade do êxito no projeto. Esta rede, futuristicamente denominada INTERNET, sofreu um vertiginoso crescimento, até então inimaginável. Foram dois os fatores determinantes deste aumento: o barateamento e difusão de computadores pessoais (P.C.’s) e a conectividade através de uma rede já pronta e de alcance mundial, a rede telefônica. Em poucos anos, 9 Disponível na página http://jus2.uol.com.br/DOUTRINA/texto.asp?id=1779. o espaço virtual habitado apenas por estudantes universitários, programadores e cientistas viu-se invadido por todo o tipo de pessoas; desde grandes corporações, e.g. a rede McDonalds e Coca Cola Corp., até pedófilos e grupos terroristas. O espaço mais democrático do mundo invadia as casas e escritórios sem regras nem limitações. Os bancos e agências governamentais eram o alvo preferencial dos hackers (invasores de sistemas), o material pornográfico era amplamente difundido. Por outro lado, esta rede possibilitou o maior avanço histórico da civilização, possibilitando uma real interação global, transferências instantâneas de riquezas, intercâmbio cultural entre todos os povos. Criou-se um fórum mundial de troca de informações. E este universo complexo e sui generis está a ser desbravado, cabendo ao direito nada menos do que a tarefa de regular um mundo imaginário e pouco conhecido. E certamente não é tarefa fácil, devido a ausência de paradigmas para comparações com casos concretos. Estatísticas de Celulares no Brasil10 Total de Celulares (Set/07): 112.753 mil Crescimento do celular em Set/07 A tendência de aceleração do crescimento do celular no 2º semestre de 2007 contínuou em setembro. O Brasil terminou o mês com 112,7 milhões de celulares e uma densidade de 59,47 cel/100 hab. As adições líquidas no mês de 1,8 milhões de celulares são quase duas vezes maiores que as de Set/06 que foram de 0,9 milhões de celulares. O crescimento acumulado nos primeiros nove meses de 2007 é de 12,8 milhões de celulares. As adições líquidas nos últimos 12 meses foram de 16,9 milhões de celulares superando as projeção do Teleco de que o Brasil deve terminar o ano com mais de 115 milhões de celulares 10 Disponível em: http://www.teleco.com.br/ncel.asp Termos e Condições dos Serviços da Google11 • A sua relação com a Google - O uso por si dos produtos, software, serviços e sítios na internet da Google (designados conjuntamente neste documento como “Serviços” e excluindo quaisquer serviços a si prestados pela Google mediante um acordo escrito separado) está sujeito aos termos do acordo Legal celebrado entre si e a Google. “Google” significa Google Inc., cujo principal estabelecimento é em1600 Amphitheatre Parkway, Mountain View, CA 94043, Estados Unidos. Este documento explica como é que o acordo é feito e regula alguns dos termos desse acordo. - Salvo acordo escrito em contrário celebrado com a Google, o seu acordo com a Google incluirá sempre, no mínimo, os termos e condições regulados neste documento. Estes são adiante designados por “Termos Universais” - Para além dos Termos Universais, o seu acordo com a Google também incluirá os termos de quaisquer Notificações Legais aplicáveis aos Serviços. Todos estes termos são adiante designados por “Termos Adicionais”. Quando os Termos Adicionais forem aplicáveis a um Serviço, estes ser-lhe-ão facultados para ler no âmbito de, ou através do uso por si desse Serviço. - Os Termos Universais, juntamente com os Termos Adicionais, formam um acordo legalmente vinculativo entre si e a Google relativamente ao uso por si dos Serviços. É importante que tire tempo para lê-los atentamente. Conjuntamente, este acordo legal é adiante designado por “Termos”. - No caso de existir alguma contradição entre o que dizem os Termos Adicionais e o que dizem os Termos Universais, então deverão prevalecer os Termos Adicionais em relação a esse Serviço. • Aceitação dos Termos - Para utilizar os Serviços, terá primeiro que aceitar os Termos. Não deverá utilizar os Serviços se não aceitar os Termos. - Pode aceitar os Termos: 11 O Google constitui o servidor responsável pelo site orkut e por isso, responsabiliza-se pelos termos e regras do site. Disponível em: www.orkut.com. (A) clicando em aceitar ou concordar com os Termos, na opção que lhe for disponibilizada pela Google no user interface para qualquer Serviço; ou (B) utilizando efectivamente os Serviços. Neste caso, reconhece e aceita que a Google tomará a sua utilização dos Serviços como uma aceitação dos Termos a partir desse momento em diante. - Não utilizará os Serviços e não aceitará os Termos se (a) não tiver idade legal para assinar um contrato vinculativo com a Google, ou (b) for uma pessoa impedida de receber os Serviços segundo as Leis dos Estados Unidos ou outros Países, incluindo o País onde é residente ou o País a partir do qual utiliza os Serviços. - Antes de continuar, deverá imprimir ou guardar uma cópia local dos Termos Universais para os seus registos. • A segurança das suas passwords e da sua conta - Reconhece e aceita que será responsável por manter a confidencialidade das passwords associadas a qualquer conta que use para aceder aos Serviços. - Consequentemente, aceita que será o único responsável perante a Google por todas as actividades que ocorram ao abrigo da sua conta. - Se tomar conhecimento de qualquer uso não autorizado da sua password ou da sua conta, aceita notificar imediatamente a Google em http://www.google.com/support/accounts/bin/answer.py?answer=48601&hl=pt. • Privacidade e suas informações pessoais - Para informação acerca das práticas de protecção de dados da Google, por favor leia a política de privacidade da Google em http://www.google.com.br/privacy.html. Esta política explica a forma como a Google trata a sua informação pessoal e protege a sua privacidade quando usa os Serviços. - Acorda com o uso dos seus dados de acordo com a política de privacidade da Google • Conteúdo nos Serviços - Reconhece que todas as informações (como ficheiros de dados, texto escrito, software de computador, música, ficheiros de áudio ou outros sons, fotografias, vídeos ou outras imagens) a que possa ter acesso como parte dos, ou através do seu uso dos, Serviços são da única responsabilidade da pessoa da qual esse conteúdo foi originado. 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Para alguns dos Serviços, a Google pode fornecer ferramentas para filtrar conteúdos sexuais explícitos. Estas ferramentas incluem o definidor de preferências SafeSearch (veja http://www.google.com.br/help/customize.html#safe). Adicionalmente, existem serviços comerciais disponíveis e software para limitar o acesso a material que possa considerar objectável. - Compreende que ao usar os Serviços pode estar exposto a Conteúdo que possa considerar ofensivo, indecente ou objectável e que, a este respeito, usa os Serviços por sua conta e risco. - Concorda que é o único responsável por (e que a Google não é responsável perante si ou perante terceiros por) qualquer Conteúdo que crie, transmita ou visualize enquanto usa os Serviços e pelas consequências dessas suas acções (incluindo qualquer perda ou dano que a Google possa sofrer).