“jogando com a realidade” – instrumento como possibilidade
Transcrição
“jogando com a realidade” – instrumento como possibilidade
FACULDADE DE FILOSOFIA, CIÊNCIAS E LETRAS DE ALEGRE CURSO DE PSICOLOGIA CUSTODIO BEATE DE MACEDO JUNIOR “JOGANDO COM A REALIDADE” – INSTRUMENTO COMO POSSIBILIDADE DE PREVENÇÃO NO USO DE SUBSTÂNCIA PSICOATIVA POR ADOLESCENTES ALEGRE 2014 CUSTODIO BEATE MACEDO JÚNIOR “JOGANDO COM A REALIDADE” – INSTRUMENTO COMO POSSIBILIDADE DE PREVENÇÃO NO USO DE SUBSTÂNCIA PSICOATIVA POR ADOLESCENTES Monografia apresentada ao Colegiado do Curso de Psicologia da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Alegre como requisito parcial para obtenção de título de Bacharel em Psicologia, sob a orientação da Profª Joelma Tose Oliosi. ALEGRE 2014 FICHA CATALOGRÁFICA Preparada pela Biblioteca RJCP/FAFIA 016/2014 M141j MACEDO JUNIOR, Custodio Beate. Jogando com a realidade : instrumento como possibilidade 14.55 de prevenção no uso de substância psicoativa por adolescentes. – 2014. 74 f. Orientadora: Profª. Ma. Joelma Tose Oliosi Monografia: ( Graduação em Psicologia ) - FAFIA - Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Alegre-ES. 1. Uso de drogas. 2.Adolescentes. 3.Jogo terapêutico. 4.Dependência química. I. OLIOSI, Joelma Tose. es II. FAFIA. III. Título. CDD 616.863 155.5 Índice Para Catálogo Sistemático. 616.863 Drogas: Dependência: Medicina 155.5 Uso de drogas: Adolescentes: Psicologia FACULDADE DE FILOSOFIA, CIÊNCIAS E LETRAS DE ALEGRE AUTARQUIA MUNICIPAL Rua Belo Amorim, 100 - Centro - Alegre-ES CEP 29500-000 - Tel. (28) 3552-1412 COLEGIADO DO CURSO DE PSICOLOGIA CUSTODIO BEATE DE MACEDO JUNIOR “JOGANDO COM A REALIDADE” – INSTRUMENTO COMO POSSIBILIDADE DE PREVENÇÃO NO USO DE SUBSTÂNCIA PSICOATIVA POR ADOLESCENTES Monografia apresentada ao Colegiado do Curso de Psicologia da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Alegre, como requisito parcial para obtenção do título de bacharel em Psicologia. Área de concentração: Psicologia e Saúde Mental. Aprovado em ___ de ___________ de 2014. COMISSÃO EXAMINADORA _______________________________________ Prof.ª Ma. Joelma Tose Oliose Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Alegre – ES (Orientador) _______________________________________ Prof.ª Rosane Maria Souza dos Santos Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Alegre – ES _______________________________________ Prof.ª Flávia Monteiro Teodoro Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Alegre – ES Aos meus queridos pais, Custodio e Graça, com muito amor e gratidão. AGRADECIMENTOS À orientadora, Joelma Tose Oliosi, que acreditou nesse trabalho e por compartilhar seus conhecimentos. À co-orientadora Adriana Moreira dos Santos Ferreira pelas suas contribuições que tanto cooperaram para o meu crescimento. À diretora da FAFIA e coordenadora do CAPS I, Rosane Maria de Souza Santos, e à querida amiga de estágio, Keila Provete Esposti Paraizo, pelo companheirismo, confiança e incentivo, fazendo-me ver a cada dia a minha potencialidade, e por acreditar que esse estudo seria possível. Por ter me aguentado no estágio, mas principalmente por ter criado comigo o “Jogando com a Realidade”. À Adriana Madeira e ao Projeto Rede do Bem, que tanto nos acrescentou no saber, e possibilitaram que o nosso jogo estivesse no livro Brincar e Viver Feliz. À Inez Aparecida Gonçalves Rodrigues (minha Fada Madrinha), Gesilane Oliveira, Luciene Soares e Monique Ribeiro de Melo – Equipe de Saúde Mental de Muniz Freire – que me acolheram, me incentivaram, por terem cuidado de mim e de minha saúde emocional nesta etapa. Agradeço a Luciana Bolzan por ter contribuído para os momentos de descontração (foram ótimos livros) e pela revisão deste estudo. Agradeço aos meus mestres: minha família. Em cada momento dessa etapa me ensinaram com o silêncio, e principalmente com os afetos, carinhos, presença, e agradeço pela força dada de cada um. Em especial, agradeço àqueles que me acompanharam de perto, aguentaram meu estresse: meus admiráveis pais, que tanto contribuíram com conversas, me fazendo entender o mistério da vida. À Andréia, coordenadora da Escola Lia Therezinha Merçon Rocha, por ter apoiado e contribuído para a realização da pesquisa. Agradeço aos voluntários que se permitiram experienciar algo novo contribuindo para o estudo. "Pouco a pouco, o Guerreiro da Luz muda sua vida e vai percebendo as diferenças" Paulo Coelho RESUMO Nos tempos atuais o uso de drogas está sendo considerado como uma epidemia. O uso de substância psicoativa (SPA) é mais frequente entre os jovens por ser uma fase em que eles buscam a própria identidade e vivem muitos conflitos. Desse modo desenvolvemos um jogo que visa promover habilidades para enfrentar as ofertas de drogas, como também levantar hipóteses de recusa das drogas. O jogo, intitulado Jogando com a Realidade, foi desenvolvido em um projeto de extensão no ano de 2012 por dois alunos e uma professora do curso de psicologia da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Alegre (FAFIA). Tivemos como objetivo geral verificar se o jogo funcionava como um instrumento terapêutico para lidar com o uso de substâncias psicoativas por adolescentes. O objetivo foi de compreender o nível de interesse dos adolescentes quanto ao uso de SPA; conhecer mais sobre crenças típicas, os possíveis problemas acarretados pelo uso dessas substâncias através do jogo, bem como quais as perspectivas em relação ao não uso; levantar a possível motivação acarretada para cessar o uso de SPA a partir da aplicação do jogo; e verificar se a linguagem utilizada no jogo está condizente com a faixa etária dos participantes da pesquisa. Dessa maneira, buscamos compreender se essa técnica funciona como um jogo terapêutico, com possibilidades de atuar como um instrumento que promova estratégias para os problemas acarretados pelo uso de SPA. Nesta pesquisa houve a participação de 6 (seis) adolescentes de 15 (quinze) a 22 (vinte e dois) anos, alunos do 8º ano de Escola Municipal de Ensino Fundamental da cidade de Muniz Freire. Realizamos entrevistas iniciais individuais semiestruturadas; aplicação do jogo em processo grupal; entrevista semi-estruturada individual devolutiva a fim de avaliar se o jogo alcançou os objetivos propostos. As entrevistas serviram para coletar dados a fim de compreender a vida desses adolescentes quanto ao uso de substâncias psicoativas. No estudo pretendemos descrever alguns eventos e as manifestações que envolvem e acontecem na vida dos adolescentes pesquisados ao uso de substância psicoativa. A utilização do jogo veio ao encontro da modelação do conhecimento, que conforme Bandura (2008) nessa modelação o indivíduo aprende por meio de observação e por informações dadas. Procuramos levantar o que eles trouxeram de conceito sobre drogas e pudemos mostrar através do jogo, utilizamos sentidos figurados para que os adolescentes pudessem entender como é estar vivendo usando drogas e não estar usando drogas, para transformar os antigos conceitos em novos significados. Palavras-chave: Uso de drogas, Adolescentes, Jogo terapêutico, Dependência química. ABSTRACT In modern times the use of drugs is being considered as an epidemic. The use of psychoactive drugs (SPA) is more common among young people because it is a stage where they seek their own identity and live many conflicts. Thus we developed a game that aims to promote skills to face the drug supplies, as well as hypotheses to refuse drugs. The game, entitled Playing with Reality, was developed in an extension project in the year 2012 by two students and a teacher of the course in psychology, Faculty of Philosophy, Sciences and Letters Alegre (FAFIA). We had as a general objective to verify if the game functioned as a therapeutic tool to deal with the use of psychoactive substances by adolescents. The objective was to understand the level of interest of adolescents regarding the use of SPA; learn more about typical beliefs, the possible problems caused by the use of these substances through the game as well as the outlook in relation to the non-use; raise the possible entailed motivation to cease the use of SPA from the application of the game; and verify that the language used in the game is consistent with the age of the research participants. Thus, we sought to understand whether this technique works as a therapeutic game, with possibilities to act as an instrument to promote strategies to the problems posed by the use of SPA. This study did the participation of six (6) teens fifteen (15) to 22 (twenty-two) years, 8th graders from Public School Teaching Primary City Muniz Freire. We conducted semi-structured initial interviews; game application in group process; interview individual semi-structured devolutiva to assess if the game reached the proposed objectives. The interviews served to collect data in order to understand the lives of these adolescents on the use of psychoactive substances. In the study we intend to describe some events and demonstrations involving and happen in the lives of adolescents surveyed the use of psychoactive drugs. The use of the game coincided with the modeling of knowledge, which as Bandura (2008) that modeling the individual learns through observation and information given. We seek to raise what they brought concept of drugs and we showed through the game, we use figurative meanings for teenagers could understand what it's like living using and not using drugs, to transform the old concepts in new meanings. Keywords: Drug use, Adolescents, Game therapeutic, Chemical dependence. LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS ASSIST – Alcohol, Smoking and Substance Involvement Screening Test CAPS I – Centro de Atenção Psicossocial I CFP – Conselho Federal de Psicologia ECA – Estatuto da Criança e do Adolescente EJA – Ensino de Jovens e Adultos FAFIA – Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Alegre OMS – Organização Mundial de Saúde SENAD – Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas SNC – Sistema Nervoso Central SPA – Substância Psicoativa UFES – Universidade Federal do Espírito Santo UNIFESP – Universidade Federal de São Paulo LISTA DE FIGURAS Gráfico 1 – Consumo de SPA Durante A Vida ................................................ .36 Gráfico 2 – Consumo de SPA nos últimos 03 Meses ....................................... 37 Gráfico 3 – Vontade de consumo de alguma SPA..............................................38 SUMÁRIO INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 12 1. ADOLESCÊNCIA .................................................................................................. 16 2.DROGAS ................................................................................................................ 18 3.JOGOS ................................................................................................................... 22 4. PSICOLOGIA E COMPORTAMENTO .................................................................. 25 5. METODOLOGIA.................................................................................................... 27 5.1 LOCAL ............................................................................................................. 27 5.2 PARTICIPANTES ............................................................................................ 27 5.3 INSTRUMENTOS ............................................................................................ 28 5.4 PROCEDIMENTOS ......................................................................................... 30 5.5. TRATAMENTO DOS DADOS ......................................................................... 31 6. DISCUSSÃO E RESULTADOS ............................................................................. 33 6.1 CATEGORIZAÇÃO DOS SUJEITOS............................................................... 33 6.2 OS ADOLESCENTES E SUBSTÂNCIAS PSICOATIVAS ............................... 38 6.3 O JOGO ........................................................................................................... 45 CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................................... 49 REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 52 ANEXOS ................................................................................................................... 55 APÊNDICES.............................................................................................................. 61 12 INTRODUÇÃO No presente estudo tivemos como objetivo verificar se a técnica Jogando com a Realidade funciona como instrumento para lidar com o uso de Substância Psicoativa (SPA) por adolescentes. Confeccionamos este jogo nos baseando no Jogo da Escolha, que foi realizado como pesquisa para a dissertação de Williams (2006), para o curso de pós-graduação em psiquiatria do curso de medicina na Universidade Federal do Rio Grande do Sul. No Jogo da Escolha foram desenvolvidas 14 cartas vermelhas, representando o inferno, contendo informações sobre a crença e atitudes sobre o uso de drogas, e 14 cartas na cor azul, representando o céu, contendo alternativas para as cartas vermelhas. Por meio do jogo levantamos possibilidades dos adolescentes refletirem quando se está em uma situação que estimula o comportamento do possível uso de substâncias psicoativas, ou estratégias de prevenção de uso de alguma substância psicoativa. O interesse em pesquisar sobre a técnica intitulada Jogando com a Realidade surgiu por meio da participação no projeto de extensão Grupo de Orientação de Familiares e Adictos – GOFA – na área de dependência química nos anos de 2011 e 2012 no Centro de Atenção Psicossocial I (CAPS I) de Alegre. As atividades foram desenvolvidas enquanto graduando do curso de psicologia da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Alegre (FAFIA). Também foi realizado outro trabalho, mais uma vez um projeto de extensão intitulado Promoção à Saúde da Mulher em que atuamos como voluntários pela Universidade Federal do Espírito Santo (UFES) no Projeto Rede do Bem1. 1 A proposta desse trabalho é a utilização de uma nova tecnologia social, que propõe de uma ação integrada entre a Universidade Federal do Espírito Santo, órgãos governamentais e comunidades das cidades do Sul do Espírito Santo, região do Caparaó. A proposta do Projeto Rede do Bem é: a) a criação, em cada uma das 11 cidades do Caparaó, de uma rede social chamada Rede do Bem para a realização de ações de prevenção do álcool, tabaco e drogas, que serão realizadas pela própria comunidade e prefeitura municipal; b) a organização e realização de curso de capacitação em Ensino a Distância para educadores das escolas, igrejas e postos de saúde das 11 cidades envolvidas; c) a aplicação de material didático lúdico educativo, desenvolvido pela proposta, para as crianças das 11 cidades; d) a realização de curso semipresencial prático e teórico em tecnologias diagnósticas para adicção para jovens universitários da região. Esse programa já está em andamento e se aplicado em maior 13 Foi através do Projeto Rede do Bem juntamente com a estagiária, e hoje psicóloga, Keila Provete Esposti Paraizo, e a coordenadora do CAPS I e também psicóloga Rosane Maria de Souza Santos, que desenvolvemos o jogo intitulado Jogando com a Realidade2. Este consiste em um jogo de tabuleiro para ser usado em escolas como abordagem com adolescentes dependentes químicos ou não. Este estudo foi realizado com um grupo de adolescentes que tinham algum envolvimento direta ou indiretamente com substâncias psicoativas. Para conseguir levantar essas questões citadas acima, neste projeto, usamos como técnica o brincar, que conforme Brougère (1998), não se limita ao real. Partimos do pressuposto que o indivíduo expressa-se no jogo e essa expressão está inserida numa cultura que lhe dá sentido. No entanto, cada cultura estabelece como ocorre o ato de brincar. Na nossa pesquisa o interesse sobre o brincar recai sobre a projeção e expressão das fantasias, desejos, os conflitos e dificuldades em relação ao assunto abordado (MELLO, 201-). Durante a técnica Jogando com a Realidade, o pesquisador procurou levantar as percepções do mundo interno dos alunos participantes. Estas observações tiveram o intuito de evidenciar como é o mundo externo do indivíduo quanto ao que foi descoberto por meio das cartas positivas e negativas. Deste modo, conforme Freud (1990), apesar das percepções permanecerem como parte do mundo interno elas são projetadas para o mundo externo. Dessa forma, o paciente pode expor seu problema, receber estímulo e visualizar outras formas de estar no meio social de forma saudável. O jogo tratou sobre Substâncias Psicoativas (SPA). Para entendermos melhor sobre o tema, podemos considerar SPA qualquer substância que não é produzida pelo organismo e que atua em um ou mais de seus sistemas, e produz alterações em seu funcionamento (ESPÍRITO SANTO, 2013). escala, resultará em integração e participação das comunidades em gestão participativa, com impactos esperados que inclua a redução da violência, diminuição do uso de psicoativos lícitos e ilícitos, melhoria da qualidade de vida, economia ao Sistema Único de Saúde SUS e aumento do poder aquisitivo dado através da educação das escolhas de compras, além de capacitação de jovens universitários e docentes das escolas da rede pública. (Nota do site do Projeto Rede do Bem. Disponível em: http://www.capacitacaorededobem.com/#!oprojeto/cinv) 2 O livro foi publicado no ano de 2013 em versão em pdf e versão impressa. 14 Uma informação que colabora para conhecermos de maneira breve sobre o uso de SPA por adolescentes é o estudo realizado pelo Núcleo de Estudos e Pesquisas em Atenção ao Uso de Drogas da Universidade Estadual do Rio de Janeiro. Ao analisar Estudantes da quinta série do primeiro grau à terceira série do segundo grau de escolas públicas, [...]. O estudo encontrou um consumo ao longo da vida e nos últimos 30 dias, respectivamente, de 77,7% e 19,5% para álcool; 34,9% e 4,6% para tabaco; 9,2% e 2,8% para inalantes; 7,1% e 1,6% para tranquilizantes; 6,3% e 2,0% para maconha; e 1,9% e 0,6% para cocaína (MARQUES & CRUZ, 2000. p. 32). Os autores ainda levantam fatores como a depressão, a culpa, a ansiedade e a baixa autoestima como elementos que podem propiciar o uso de drogas entre os adolescentes (MARQUES & CRUZ, 2000). Os fatores de risco que levam Ao uso de SPA costumam ser os mesmos que levam a comportamentos de risco, como no exemplo observado pela Secretaria Nacional de Políticas sobre as Drogas (SENAD, 2013b), a evasão escolar. Através de apontamento pela SENAD (2013a) ainda destacamos que, estes fatores de risco para os adolescentes usarem SPA estão entre “a importância da opinião e aceitação pelo grupo de amigos, a facilidade de acessos a drogas e a vulnerabilidade às condições da moda e ao comportamento dos ídolos (p. 71)”. Dessa forma, ressaltamos no aspecto familiar a ausência dos pais e falta de limites na educação. Para tentar amenizar os problemas causados pelo uso de SPA, os órgãos governamentais têm criado ações isoladas traduzindo as propostas em ações pouco significativas. Entretanto, as intervenções de prevenção vêm crescendo. Desse modo, temos a Prevenção Primária que conta com ações baseadas em difundir informações que tendem a gerar amedrontamento no público alvo, mas esse tipo de ação não promove uma mudança de comportamento (NOTO & GALDUROZ, 1999). Por sua vez, a Prevenção Secundária tende a sensibilizar as pessoas sobre os riscos, de forma a possibilitar o fomento da mudança de comportamento. Já na Prevenção Terciária essas ações englobam não somente lidar com o usuário dependente, mas também com sua família. Neste sentido, a prevenção terciária mescla orientação, amparo na reabilitação social e tratamento dos que buscam auxílio para sua recuperação (NOTO & GALDUROZ, 1999). Uma dificuldade encontrada refere-se à descontinuidade dos programas e/ou políticas implantadas pelos governos no que diz respeito ao uso de substâncias 15 psicoativas (NOTO & GALDUROZ, 1999). Uma nova intervenção adotada é a Redução de Danos que tem como objetivo diminuir os prejuízos causados pela SPA. Ela pode ser entendida como uma melhora na qualidade de vida do indivíduo que usa drogas. A redução de danos mostra eficiência pelo fato de diminuir os danos causados pelo consumo de SPA (SENAD, 2013a). No entanto, se analisarmos as intervenções referidas acima, chegaremos à conclusão de que elas são voltadas ao público adulto. Por isso, é importante pesquisar uma nova abordagem para o público jovem. Diante de tal pensamento, a pesquisa objetivou levantar informações com estudantes do Ensino Fundamental da Rede Pública Municipal de Ensino. Como embasamento para esta pesquisa usamos Laranjeiras (2014). Em pesquisa do autor, ele nos fornece dados de 08% de entrevistados relatam ter tido “exposição ao consumo de drogas no ambiente familiar (p. 12)” e para o autor este “é um fator de risco para o consumo e desenvolvimento de dependência química na sua vida adulta (p. 11)”. Mediante toda essa abordagem, discutiremos no capítulo a seguir a caracterização da adolescência e os fatores relacionados a esta que possibilitam o desencadeamento do uso de SPA. No capítulo seguinte abordaremos as drogas, com breve histórico, definições e efeitos. No capítulo posterior discutiremos sobre jogos e suas aplicações terapêuticas, a criação e aplicação do jogo terapêutico Jogando com a Realidade. E em seguida faremos a discussão sobre os Métodos, discorreremos sobre os resultados obtidos por meio de nossa pesquisa, seguido das Considerações Finais. 16 1. ADOLESCÊNCIA A adolescência, conforme Williams (2006) pode ser descrita como um momento em que existe a possibilidade do indivíduo ser permeado de conflitos e divergências, em que o uso de drogas pode ser utilizado como meio para se igualar ou para se diferenciar de um grupo. O indivíduo tende a se afastar da família e tenta ter mais controle sobre si mesmo. No entanto, Melo (2009) nos diz que a adolescência é uma fase que é marcada pela descoberta. Em alguns casos pode haver conflitos, questionamentos e instabilidades caracterizando a busca pela própria identidade. Conforme Aberastury & Knobel (1986), podemos entender a adolescência como um fenômeno psicológico e social. Os autores caracterizam a adolescência em inicial, média e final, abrangendo a faixa etária dos 10 (dez) aos 20 (vinte) anos. Já o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) considera adolescente o indivíduo que está na faixa etária de 12 (doze) a 18 (dezoito) anos de idade (BRASIL, 1990). Contudo, para a Organização Mundial de Saúde (OMS) a adolescência é compreendida dos 10 (dez) aos 19 (dezenove) anos, marcada, inicialmente, pelas transformações corporais, que desencadeiam alterações psíquicas (ABERASTURY & KNOBEL, 1986). Embora haja essa discussão em torno da faixa etária limítrofe para a adolescência, o Conselho Federal de Psicologia (CFP, 2002) e Dayrell (2003) nos permitem abranger um pouco mais sobre essa questão. Para os autores a adolescência, apesar de ser um fato dado pelo desenvolvimento biológico, também é construído dentro da sociedade na qual está inserida. Compreendemos também através do CFP (2002, p. 21) que a adolescência é “criada historicamente pelo homem” e o CFP continua dizendo que É importante perceber que a totalidade social é constitutiva da adolescência, ou seja, sem as condições sociais, a adolescência não existiria ou não seria essa da qual falamos. [...] [...] Além disso, o desemprego crônico/estrutural da sociedade capitalista trouxe a exigência de retardar o ingresso dos jovens no mercado e aumentar os requisitos para esse ingresso. Estavam dadas as condições para que se mantivesse a criança mais tempo sob a tutela dos pais, sem ingressar no mercado de trabalho. Mantê-las na escola foi a solução. A extensão do período escolar, o distanciamento dos pais e da família, e a aproximação de um grupo de iguais foram as consequências dessas exigências sociais. A sociedade assiste, então, à 17 criação de um novo grupo social com padrão coletivo de comportamento – a juventude/a adolescência (CFP, 2002, P. 22). Entendemos assim que os indivíduos envolvidos na pesquisa estão vivendo a fase da adolescência, mesmo que um destes tenha 22 anos. Segundo Marques & Cruz (2000) é na passagem da infância para a adolescência que algumas pessoas começam fazer uso de drogas. A OMS assinala que a idade média para o uso inicial de álcool é aos 12,5 (doze e meio) anos, sendo predominante o consumo de cigarro e outras drogas nesta faixa etária (SENAD, 2011). Entretanto, este início varia de acordo com gênero, às vezes o uso das substâncias é associado à delinquência, “quando também podem surgir outros transtornos psicológicos, comportamentais e sociais (MARQUES & CRUZ, 2000. p. 33)”. É difícil levantar as causas que levam os adolescentes ao uso de drogas. Para Marques & Cruz (2000), os fatores como depressão, culpa, ansiedade e baixa autoestima podem desencadear tal uso. Contudo há grande indício de que os adolescentes absorvam os problemas que sua família vivencia, tomando para si os aspectos de doença. A sociedade, por sua vez, atribui à juventude seus defeitos e os responsabiliza pelas infrações ou dependência quanto ao uso de SPA (ABERASTURY& KNOBEL, 1986). Em estudos realizados por Jinez et al. (2009) ficou notório que os adolescentes que vivem com os pais e não usam drogas relataram ter uma boa relação familiar. Porém, 10,2% dos pesquisados que faziam uso de drogas, chegaram a repetir o ano escolar. Mas os prejuízos também ocorrem no organismo do usuário de SPA, podendo acarretar lesões em órgãos produzindo alterações, como hipertensão arterial ou até mesmo alucinações visuais ou auditivas, que podem ser duráveis ou até mesmo irreversíveis. Para Williams (2006), o uso de SPA pode ainda resultar um prejuízo na formação da personalidade, pois sabemos que a “cognição, a capacidade de julgamento, o humor e as relações interpessoais (p. 20)” são afetadas mediante o uso de SPA. Por último ressaltamos que discorreremos sobre as SPAs de forma mais detalhada no capítulo a seguir. 18 2.DROGAS O uso de SPA é um problema antigo na história da humanidade. Desde o início dos tempos os indivíduos usam SPA para distorcer as próprias percepções, seja usando como forma de transcender, como forma de purificação ou ainda como uso medicinal (ROSA, 2010). Provavelmente o uso de SPA acompanhará a história da humanidade. As SPA são classificadas de duas formas: como drogas lícitas, que são comercializadas formalmente, submetidas ou não a restrição, e como drogas ilícitas, que são as proibidas por lei (SENAD, 2013a). No que se refere às ações que as SPA provocam no organismo, no sentido de modificar o comportamento, o humor e a cognição da pessoa, podemos dividi-las em: a) drogas depressoras, que diminuem a atividade do sistema nervoso central (SNC), tais como álcool, morfina, solventes, inalantes, etc.; b) drogas estimulantes, que aceleram o SNC, e deixam o indivíduo com menos sono, como por exemplo, o crack, cocaína, anfetaminas, etc.; e c) drogas perturbadoras, que aumentam as sensações e alteram o funcionamento do SNC e podem causar alucinações, como a maconha, alucinógenos, LSD, etc. (ESPÍRITO SANTO, 2013). Considera-se uso de drogas quando o indivíduo autoadministra a SPA, deste modo torna-se importante definir, para esta pesquisa os diferentes graus de uso das SPA, quais sejam; o uso na vida, que pode ser qualquer uso por pelo menos alguma vez na vida; uso no ano, quando este ocorreu pelo menos uma vez nos últimos doze meses que antecedem a pesquisa; uso no mês quando se usa pelo menos uma vez nos últimos trinta dias que antecedem a pesquisa; já o uso frequente é considerado quando se faz o uso de seis ou mais vezes durante trinta dias que antecedem a pesquisa; uso pesado, quando se faz o uso de vinte ou mais vezes nos últimos trinta dias antes da pesquisa; uso abusivo, por sua vez, é quando já tem problemas físicos, mentais e sociais decorrentes ao uso de SPA, mesmo que consiga cumprir parcialmente suas obrigações; e na dependência “a pessoa passa quase a totalidade do seu tempo ou sob o efeito da droga ‘curando a ressaca’ ou na busca pela substância (SENAD, 2013a, p. 60)”. Temos duas vias apontadas pela Senad (2013b) como fatores que podem levar ao uso ou diminuir a incidência do uso de SPA. Essas vias são chamadas de fatores de 19 risco e fatores de proteção. Nos fatores de risco temos os contextos: a) pessoal: a envolver a baixa auto-estima, o isolamento social, não aceitação das regras sociais, pouca informação sobre drogas; comportamento agressivo ou impulsivo; predisposição genética, aumento ou redução da disposição para realização das atividades cotidianas; habito de usar álcool ou outras drogas para celebrar bons momentos e/ou atenuar sentimentos que geram sofrimento; pouca capacidade de lidar com as exigências interpessoais; dificuldade em expressar sentimentos; vivência de abusos na infância e transtornos de personalidade; b) familiar: temos a falta de envolvimento afetivo familiar; ambiente familiar conflituoso; educação familiar fragilizada; consumo de álcool e/ou outras drogas pelos pais ou outros familiares e modelos de comportamento negativos; e c) social: que diz respeito ao pouco envolvimento com os estudos e trabalho; envolvimento em atividades ilícitas; amigos usuários de drogas ou com comportamento inadequado; propagandas de incentivo ao consumo de álcool e outras drogas veiculadas nos meios de comunicação; pressão social para o consumo; poucas oportunidades de trabalho, lazer e esportes; pertencer a grupos que enfrentam situações de vulnerabilidade social, inserção em cultura que aceita/tolera o uso de álcool e outras drogas; baixo nível sócio-educacional. Em contrapartida, como outra via, temos os fatores de proteção nos contextos: a) pessoal que tem a boa autoestima, a religiosidade e a aceitação de regras sociais; b) familiar, diz respeito ao bom relacionamento familiar, pais e/ou familiares presentes e participativos, monitoramento das atividades dos jovens e adultos e pais e/ou familiares que transmitam regras claras de comportamento para os jovens; e c) social temos o bom envolvimento com as atividades escolares e/ou no ambiente de trabalho; amigos não usuários de drogas e não envolvidos em ações ilegais; frequência de locais com baixa disponibilidade ou oferta da droga; forte vinculo com instituições (escola, igreja etc.), inserção em iniciativas culturais; maneiras não estigmatizada de lidar com o consumo de drogas; oportunidades para trabalhar, atividades de lazer e esporte e bom nível socioeducacional (SENAD, 2013b). Dessa forma, apontamos que a dependência é um dos grandes prejuízos causados por drogas como o álcool, tabaco e alguns medicamentos psicotrópicos. E são apontados como os mais consumidos pelos brasileiros. Os inúmeros problemas sociais são mascarados pela sofisticação das campanhas publicitárias que desta 20 maneira promovem o consumo, já que a mídia é vista como portadora da verdade e a principal fonte de informação (NOTO & GALDUROZ, 1999). Para os autores um dos problemas sociais, como violência e propagação de DST’s no Brasil são acarretados principalmente pelo motivo de o país ser rota internacional de tráfico de cocaína. Isso facilita o acesso a droga, seja por meio de prostituição, furto ou roubo. Além disso, podemos citar a disseminação de doenças sexualmente transmissíveis (DST's), seja por contato sexual sem camisinha, ou por uso indevido de seringas contaminadas, e violências com o uso de SPA. Percebemos que o uso de SPA está aliado a normas, valores e práticas grupais, tanto do grupo familiar como de grupos extra familiares (DALGALARRONDO, et al. 2004). E conforme estudo realizado por Pinheiro, et al. (2011) com adolescentes de 14 (quatorze) a 18 (dezoito) anos, “a prevalência de consumo de droga entre os estudantes foi de 25,6%, 29,2% dos meninos e 22,1% das meninas (p.349-350)”, o que nos aponta a adolescência como um período emblemático para o uso de SPA. Para reverter ou pelo menos amenizar esses fatos, conforme Noto & Galduróz (1999) os governos têm criado ações que fazem com que o próprio governo atue isoladamente. O que traduz suas propostas em ações de resultados pouco consideráveis. Com isso o que é implantado fica fragilizado, pois quando muda o governo ou as ações são substituídas ou são esquecidas. Uma tentativa de mudar este quadro refere-se à recente criação da Secretaria Antidrogas que está integrando novas ações nessa área. Entretanto, para o Conselho Federal de Psicologia (CFP, 2002) “as medidas adotadas nos últimos anos não tiveram a eficácia esperada (p. 94)”. Em se tratando de intervenções repressivas e de controle ao tráfico ou ao uso de certas drogas, ao invés de solucionar o problema, pode acarretar em uma substituição por outra substância que esteja disponível. Destarte é importante o desenvolvimento de intervenções para a prevenção com o indivíduo e o meio social em que ele se encontra. Sejam intervenções por meio de encontros explicativos, palestras, grupos de apoio, podendo acontecer em vários níveis, "dependendo da população-alvo e do perfil da intervenção (NOTO & GALDUROZ, 1999)”. Na década de 1980 tomou-se uma iniciativa por conta de uso de SPA injetável. A intervenção que foi adotada é a redução de danos. Ela é entendida como medida com o objetivo de diminuir os prejuízos causados pela SPA, podendo envolver 21 individual ou coletivamente. Neste caso, a tendência não é ser a favor ou contra a SPA, mas diminuir os danos causados pelo consumo da SPA. Fato que vem mostrando-se eficiente, como em estudos, exemplificando um realizado na França onde na década de 1980, 50% (cinquenta por cento) de usuários trocavam seringas e hoje menos de 17% (dezessete por cento) o fazem (SENAD, 2013a). Para entendermos a redução de danos e para que esta se torne efetiva, pesquisadores por meio da Senad (2013a) apontam que o tratamento não deve ser imposto, e sim discutido com o paciente, pois tende a motivar e engajar o usuário no tratamento. Valoriza-se não somente a interrupção do uso da substância, mas também, melhorar o convívio familiar. Sendo assim, no processo de redução de danos deve-se buscar a compreensão e o respeito pela escolha de cada pessoa, focando o que pode ser feito para ocasionar a melhoria da sua saúde. Para Canavez et al. (2010), alguns dos fatores de risco como a falta de apoio familiar, familiares dependentes químicos, a violência doméstica, baixa autoestima, são fatores que podem desencadear o uso de SPA. Podem estar envolvidos também no aspecto da dependência química os fatores genéticos, onde pesquisas genômicas apontam que os indivíduos são predispostos para o uso de SPA. Contudo, encontram-se poucas abordagens terapêuticas para os jovens e uma forma de abordá-los em diversos assuntos tem sido através dos jogos. No capítulo que se segue passamos a discorrer sobre jogos sobre SPA e a relação com a adolescência. 22 3.JOGOS Tomando por pressuposto o fato de que a dependência química é apontada como um dos principais problemas de saúde pública em nosso país, tendo por base dados de pesquisas apresentadas anteriormente que nos revelam a adolescência um período suscetível para o início do consumo de SPA e a necessidade de se propor ações preventivas, pensamos em desenvolver uma técnica que fosse voltada para a população jovem inseridos nessa realidade do uso de SPA. Williams (2006) nos mostra que os jogos terapêuticos são atrativos e de grande utilidade, pois “a maioria das técnicas aplicadas aos jovens são simples transposições de técnicas aplicadas a amostras adultas” (p.33). O jogo, por sua vez, trabalharia a especificidade da adolescência, em um formato mais condizente com as necessidades e anseios dos jovens a quem se quer “atingir”. Nessa perspectiva, Williams (2006) propõe o uso de técnica ludoterápica como forma de treinar as habilidades para fazer enfrentamento do uso de drogas e discutir estratégias para recusar às drogas. Para a autora, “os jogos terapêuticos têm sido propostos recentemente como uma forma de tratar e de prevenir problemas psicológicos e sociais (WILLIAMS, 2006, p. 31)”. Neste estudo, a técnica Jogando com a Realidade é uma forma de interagir com a realidade do adolescente. A pessoa ao jogar e brincar pode recriar, interpretar e ainda estabelecer relações com o mundo em que vive, assim, deixa de ser uma simples diversão (BROUGÈRE, 1998). Com a intervenção, no jogar ou brincar, a criança se expressa, assume papéis, demonstra a sua identificação com pessoas (OLIVEIRA & VARGAS, 20--). No entanto, o jogo não é uma atividade exclusiva das crianças, conforme Morin (apud BORGES & SCHWARZ, 20--), os adultos também se interessam por jogos, já que esta é uma atividade, lúdica, comum na cultura humana. Podemos enquadrar aqui os adolescentes, já que estes compartilham de atividades lúdicas, tais como gincanas, torneios de futebol ou outros esportes. Podemos imputar que o lúdico possui três funções, quais sejam: aprender a desenvolver hábitos de convivência (função social), a controlar seus impulsos (função psicológica) e trabalhar a interdisciplinaridade, o erro de forma positiva, 23 tornando-se agente ativo em seu processo de desenvolvimento (função pedagógica). “Afinal, é brincando que o sujeito organiza o mundo, exercita sua criatividade e fantasia, domina papéis e situações e se prepara para o futuro (SILVA, 2007. s. p.)”. Portanto, o brincar é uma atividade cultural, sendo, portanto, munido de sentido social conciso que, como outras atividades, carecem de aprendizado. No entanto, cada cultura estabelece como ocorre o ato de brincar. Na nossa cultura o brincar é uma atividade que se contrasta ao ato de trabalhar. Exerce, então, um contexto no qual a atividade infantil pode ser instituída com um aspecto negativo, já que está em oposição às tarefas sérias. O modo como se brinca é o que vai caracterizar o jogo e não o que se busca. Pode interpretar o comportamento, permitindo dar sentido às atividades e “para que uma atividade seja um jogo é necessário então que seja tomada e interpretada como tal pelos atores sociais em função da imagem que têm dessa atividade (BROUGÈRE, 1998. p. 02)”. Para o autor o indivíduo expressa-se no jogo e essa expressão está inserida numa cultura que lhe dá sentido. Para Oliveira (2003) o adolescente tem uma relação entre brinquedos e companheiros. Logo no lúdico o adolescente aprende a conviver, a controlar os impulsos e possibilita que ele se torne um agente ativo no seu desenvolver. Então, ao utilizar os recursos necessários e previamente preparados, o pesquisador, durante a técnica Jogando com a Realidade procurou trazer à tona como é a vida do indivíduo. As questões foram levantadas e discutidas por meio da utilização das cartas positivas e das cartas negativas (ANEXO B e C). Destarte, passamos a conhecer as percepções dos adolescentes quando estes expuseram seus problemas, consequentemente ao visualizar outras possibilidades de estar no meio social de forma saudável. No entanto, uma intervenção lúdica que é capaz de promover o aumento do nível de conhecimento (a aprendizagem) se torna eficaz quando os resultados esperados são alcançados, dessa forma, indica uma melhora na qualidade de vida e uma mudança de comportamento considerável. Contudo, prevenimos que somente o trabalho com o lúdico, de forma educativa, não trará uma mudança de comportamento do indivíduo ou na sua qualidade de vida, já que os aspectos sócioculturais podem diferir do educador. Do mesmo modo, ele pode escolher outras formas para desenvolver as suas práticas do dia-a-dia (COSCRATO et al., 2010). 24 Frisamos aqui a importância de um trabalho em rede, que coadune vários atores e esferas de atuação: escolas, comunidades, Centro de Atenção Psicossocial de Álcool e outras Drogas (CAPSAd) , Unidade Básica de Saúde, família, entre outros. 25 4. PSICOLOGIA E COMPORTAMENTO Para Rosa (2003) o ato do ser humano ser bom ou ruim, de construir ou destruir, de plantar ou contaminar está intrinsecamente ligado a aprendizagem, logo esta não é só positiva. O autor faz três considerações quanto às causas do comportamento. Primeiro cita Freud dizendo que o comportamento é resultado da interação de forças internas provindas do inconsciente. A segunda, em contrapartida, tem Skinner, que responsabiliza o meio pela determinação do comportamento do indivíduo. No entanto, na terceira consideração, Rosa (2003, p. 72-73) se refere a Bandura (1987) ponderando que o comportamento depende do mundo simbólico interno, da capacidade de previsão das consequências do comportamento e de um sistema autoregulatórorio que abarca um sistema auto-recompensador e um sistema autopunitivo. Bandura (1987, p.68) afirma que ‘afortunadamente, a maior parte do comportamento humano é aprendido por observação, mediante modelação.’ A utilização do jogo vem ao encontro desta modelação do conhecimento, em que procuramos levantar o que eles trouxeram de conceito e transformar esses conceitos em novos significados. Foram oferecidos a eles os instrumentos e materiais, juntamente com um articulador do jogo que é capacitado para levantar questões, nesse caso foi o pesquisador. Chamamos de modelação social, já que pode haver uma modificação de comportamento junto ao meio. Em estudos Bandura et al. (2008) verificaram que a modelação social dá-se por meio dos processos de atenção, representação, tradução ativa e processos motivacionais. Nesse processo de modelação não há o reforçamento. Os autores destacam que esta teoria é indicada para ser aplicada socialmente, pois especifica determinantes modificáveis e a maneira como estes devem ser estruturados, com base nos mecanismos pelos quais operam. O conhecimento de processos de modelação oferece orientações informativas sobre como proporcionar que as pessoas efetuem mudanças pessoais, organizacionais e sociais. (p. 18) No jogo procuramos levantar estratégias de enfrentamento para reduzir os danos e instigamos os adolescentes a expressarem suas ideias. Bandura (2008) ainda relata que há críticos dizendo que nessa perspectiva as habilidades cognitivas não são construídas. No entanto, Meichenbaum (1984, apud BANDURA et al., 2008): 26 demonstrou que as habilidades cognitivas podem ser facilmente promovidas por modelação verbal, na qual os modelos verbalizam, em voz alta, suas estratégias de raciocínio à medida que executam atividades na resolução de problemas. Dessa forma, tornam-se observáveis os pensamentos que orientam suas decisões e ações. Durante a modelação verbal, os modelos verbalizam seus processos de pensamento e, à medida que avaliam o problema, procuram informações relevantes para ele, produzem soluções alternativas, pesam os resultados prováveis associados a cada alternativa e selecionam a melhor maneira de implementar a solução escolhida. (p. 20) Isso demonstra então que a teoria de Bandura pode trazer resultados. Resultados esses que foram levantados pelos adolescentes. Assim sendo, com a técnica Jogando com a Realidade os adolescentes puderam se tornar os protagonistas de suas escolhas, e que reflitisem sobre as mesmas. 27 5. METODOLOGIA 5.1 LOCAL A técnica Jogando com a Realidade foi criada com o intuito de compor o livro Brincar e Viver Feliz (2013), já publicado, para ser utilizado como atividade preventiva ao uso de drogas em escolas. Partindo deste ponto decidimos para o estudo ter como público alvo alunos de escola pública. Escolhemos a Escola de Ensino Fundamental Lia Therezinha Merçon Rocha, localizada no município de Muniz FreireEspírito Santo, por ter trabalhos como orientação de alunos na área da pesquisa. A escola compreende em Ensino Fundamental, além da Educação para Jovens e Adultos (EJA). Para a coleta de dados desta pesquisa entrevistamos alunos de idades variadas. A escolha por realizarmos a pesquisa apenas em uma escola foi devido ao tempo escasso para a verificação da pesquisa. Por se tratar de um trabalho de conclusão de curso, o levantamento de um número volumoso de dados impossibilitaria um trabalho de maior qualidade, uma vez que não dispúnhamos de tempo suficiente para o tratamento adequado de dados volumosos. Porém, reconhecemos a importância de pesquisas como essa e acreditamos que em estudos futuros podemos viabilizar uma aplicação em larga escala de nosso instrumento, de forma a investigar outras realidades. 5.2 PARTICIPANTES Participaram da pesquisa 06 (seis) alunos, com idade variando entre 15 (quinze) e 22 (vinte e dois) anos, sendo 05 (cinco) do sexo masculino e 01 (um) do sexo feminino, matriculados no 8º ano do ensino fundamental na modalidade Educação de Jovens e Adultos (EJA). Ressalta-se aqui a pretensão deste estudo como uma primeira aproximação dos determinantes para o uso e abstinência das SPA. Acreditamos que o pequeno número de participantes na pesquisa de forma alguma traz prejuízos à mesma, uma vez que a referida pesquisa foi realizada mediante 28 todos os cuidados éticos e de qualidade na coleta dos dados e tratamento dos mesmos, o que será apresentado no capítulo Discussões. Destaca-se que os alunos foram indicados pela pedagoga da escola. Optamos por fazer desta forma, visto que a mesma já desenvolve na escola um trabalho de aconselhamento com os alunos e, com isto, conhece a realidade de cada aluno que participou da pesquisa. Foi uma maneira encontrada de manter sigilo sobre a pesquisa e de não expor os alunos participantes frente aos colegas de sala. Inicialmente pretendíamos realizar a pesquisa com adolescentes de 13 (treze) a 18 (dezoito) anos. Portanto, decidimos pesquisar alunos da 8ª série do Ensino Fundamental de Educação de Jovens e Adultos (EJA), já que havia um participante de 22 (vinte e dois) anos que se enquadrava na pesquisa e decidimos que seria importante sua participação. Por ora, justificamos a inclusão de uma jovem de 22 (vinte e dois) anos entre os participantes de nossa pesquisa, já que podemos entender a adolescência como uma fase de desenvolvimento. Para Dayrell (2003), as influências culturais e biológicas possibilitam o ser humano se constituir como tal através do seu desenvolvimento e das interações sociais. Portanto a adolescência é uma fase que não se restringe a faixa etária dos indivíduos. 5.3 INSTRUMENTOS Os instrumentos utilizados foram uma entrevista inicial, o jogo e uma entrevista final. A entrevista inicial foi elaborada com base no questionário ASSIST (Alcohol, Smoking and Substance Involvement Screening Test) (ANEXO IV). Este é utilizado para detecção do envolvimento do indivíduo com álcool, tabaco e outras substâncias psicoativas, e em um roteiro de entrevista utilizado pela professora e orientadora Joelma Tose Oliosi para pesquisa em sua dissertação de mestrado. A entrevista final foi elaborada a partir dos objetivos levantados para este estudo. Escolhemos a entrevista semi-estruturada por ela ser flexível e de fácil adaptação, tendo um plano (com perguntas preparadas), logo a entrevista tem a vantagem de ser ajustada ou ao indivíduo ou a circunstância (BELEI, et. al, 2008). Assim, 29 pudemos intervir em algumas perguntas para melhor compreender as significações dos entrevistados. Pela entrevista inicial pudemos conhecer as realidades dos adolescentes participantes da pesquisa, ainda desconhecida pelo aplicador. Além disso, buscamos, com a entrevista, avaliar o possível uso de alguma SPA, como também o seu grau de comprometimento com tais substâncias e as consequências acarretadas na vida do adolescente. Ressaltamos desvantagens neste tipo de entrevista como uma boa preparação por parte do entrevistador, pois sem a preparação pode dificultar numa boa condução das entrevistas (ROQUE, 2010). Também tivemos como instrumento o jogo que desenvolvemos. O jogo Jogando com a Realidade é um jogo composto por um tabuleiro (ANEXO I), bem como peões para simular os jogadores e 100 (cem) cartas. Destas, 50 (cinquenta) cartas abordam temas sobre malefícios de usar drogas. Estas foram designadas como Cartas Negativas (ANEXO II) e fazem os jogadores retrocederem nas casas do tabuleiro. As outras 50 (cinquenta) cartas, designadas como Cartas Positivas (ANEXO III), abordam os benefícios de se praticar esportes, de estar com a família, entre outros, que fazem os jogadores avançarem pelas casas do tabuleiro. Para a criação do jogo Jogando com a Realidade nos baseamos no jogo que Williams (2006) criou intitulado O Jogo da Escolha. A autora afirma que O Jogo da Escolha, que é um jogo de cartas voltado para o público jovem usuário de drogas e que motiva os pacientes a parar com o uso de drogas. O jogo pode ser usado como motivador ou como um pré-tratamento a fim de cessar com o uso de drogas. Pretendemos com este estudo, mediante entrevista, levantar o conhecimento que os alunos têm sobre SPA e as consequências de seu uso, para saber se o jogo acrescentou conhecimento ou motivou estar em abstinência. Apesar de todas as vantagens encontradas no ato de jogar, Grando (2001, apud MORATORI, 2003) nos aponta algumas desvantagens como: quando os alunos são motivados a jogar sem mostrá-los o porquê estão jogando, sendo, desse jeito, mal utilizados; sacrifícios de outros conteúdos para utilizar o tempo com a atividade proposta; dificuldade em ter acesso aos materiais e recursos do jogo. Diante disso, fica perceptível a importância da contextualização do jogo, para que suas possibilidades sejam maximizadas e potencializadas, sem o que sua utilização perde o sentido. 30 5.4 PROCEDIMENTOS Entramos em contato com a direção da Escola de Ensino Fundamental para relatar o intuito da realização desta pesquisa. A Direção escolar demonstrou interesse pela pesquisa e a autorização foi dada pelos responsáveis legais da instituição, onde registramos a sua concordância com a assinatura em documento próprio, pela diretora da escola. Após a autorização da direção escolar, fomos apresentados à pedagoga da escola, que ao ser esclarecida sobre os objetivos de nossa pesquisa, nos relatou de forma sucinta a situação de alguns alunos da escola no que diz respeito ao envolvimento com SPA para sabermos se eles se enquadrariam na pesquisa. Após uma escolha preliminar de quem seriam os participantes, entramos em contato com os adolescentes para verificar seu consentimento para a participação na pesquisa. Sendo assim, tivemos a precaução de ler com cada um deles o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (APÊNDICE B), informando os objetivos e procedimentos da pesquisa e esclarecendo os cuidados éticos envolvidos. O referido Termo foi assinado pelos adolescentes antes da realização das entrevistas. Realizamos duas entrevistas iniciais por dia, com total de 03 (três) dias para estas. A pesquisa foi divida em quatro encontros. No primeiro encontro foi realizada uma entrevista semi-estruturada (APÊNDICE A) individual. No segundo e terceiro encontro foi empregada a técnica (o jogo) em processo grupal com 03 dos participantes. Um dos alunos havia mencionado que poderia se mudar para outra cidade, logo deduzo que isto ocorreu pela sua ausência. A pedagoga que nos ajudou na seleção dos participantes relatou que outros 02 (dois) indivíduos que participaram da primeira entrevista evadiram dos estudos. Mais adiante discutiremos se a evasão interferiu nos resultados da pesquisa. Na técnica ludoterápica proposta, o aplicador, ajudou a esclarecer dúvidas e fomentou os adolescentes a contribuírem com os conhecimentos que eles têm sobre os assuntos abordados nas cartas. E por último, no quarto encontro foi efetuada uma entrevista devolutiva com questões semi-estruturadas. Foi uma entrevista individual com dois dos estudantes que participaram da aplicação do jogo, já que houve outra desistência. Nesta 31 entrevista buscamos compreender se o jogo alcançou os objetivos propostos pelo projeto. Foram mais 02 (dois) dias para a aplicação do jogo e outro dia para a entrevista final. Assim, foram realizadas 06 (seis) visitas à escola para realização das tarefas e outras visitas para agendamento destas tarefas. Ressaltamos que todos os procedimentos (entrevistas e aplicação da técnica) foram realizados pelo autor da pesquisa. A escola nos propiciou um ambiente adequado: uma sala vazia e isolada, arejada, com mesas e cadeiras, com razoável silêncio. A pesquisa realizada não acarretou nenhum risco à saúde física ou emocional dos adolescentes envolvidos. A entrevista inicial foi gravada a fim de se preservar o conteúdo original e também “para que seja ampliado o poder de registro e captação de elementos de comunicação de extrema importância (BELEI, et al. 2008. p. 189)”. Os dois encontros seguintes foram filmados, logo, outros colaboradores da pesquisa poderão fazer uso do material. No entanto, a gravação e a filmagem só foram feitas mediante a autorização dos participantes. Sobre a filmagem, a autora esclarece que uma de suas vantagens refere-se ao fato de que ao se examinar e interpretar os dados repetidas vezes o pesquisador descobre novas interrogantes, novos caminhos a serem trilhados. Não é só ver os fatos e gestos da prática filmada, mas sublinhar a imagem, analisar com o cenário, com o ambiente de pesquisa e com o referencial teórico. (BELEI, et al. 2008. p.193). Assim, através da filmagem pudemos coletar e gerar dados através da vivência do pesquisador com os sujeitos da pesquisa, analisando as linguagens e os comportamentos para saber se houve alguma contradição ou afirmação. 5.5. TRATAMENTO DOS DADOS Para que conseguíssemos analisar os dados, primeiro transcrevemos literalmente todas as entrevistas, organizamos as respostas em blocos de assuntos, o que nos permitiu categorizar os dados. Foram 06 (seis) participantes na entrevista inicial e 02 (dois) na entrevista final, totalizando 08 (oito) transcrições. 32 Inicialmente lemos todas as entrevistas, e posteriormente separamos por trechos de assuntos abordados. Organizamos por categorias, visto que alguns temas se encontravam em respostas diferentes. A partir dos trechos organizados pudemos formular as categorias a partir dos trechos das entrevistas. A aplicação do jogo foi realizada em duas sessões e filmada com consentimento dos alunos. A análise dos dados do jogo foi obtida através da apreciação das imagens. Assim, ao categorizar os dados, aproveitamos os resultados de forma satisfatória para a análise de dados que serão apresentados adiante. 33 6. DISCUSSÃO E RESULTADOS No presente capítulo apresentaremos os resultados obtidos através das entrevistas iniciais, da aplicação da técnica Jogando com a Realidade, e das entrevistas finais realizadas com os alunos do 8º ano do EJA da Escola de Ensino Fundamental “Lia Therezinha Merçon Rocha” da cidade de Muniz Freire/ES. Para isso organizamos o capítulo em: Categorização dos Sujeitos, Os Adolescentes e Substâncias Psicoativas e O Jogo. Para descrevermos as entrevistas usamos a letra “E” para entrevistador e a letra “A” para alunos. As perguntas do entrevistador estão grafadas em itálico e as respostas dos alunos em negrito e itálico. Decidimos usar números para referirmos à quantidade de respostas, ao invés de porcentagem. Estes números são referentes, mais especificamente aos entrevistados, uma vez que, nas categorias levantadas, houve pouco número de respostas. Exemplo, na categoria RELACIONAMENTO FAMILIAR houve 04 (quatro) citações, sendo 04 entrevistados citando uma vez cada. Uma dificuldade encontrada através da realização das entrevistas semi-estruturadas foi a quantidade de respostas diferentes. No entanto essa diversidade possibilitou a descoberta de novas informações. Detivemo-nos, assim, a preservar as respostas dos entrevistados dando enfoque maior nas respostas que atendiam aos objetivos do nosso estudo. Detivemos-nos em discutir mais detalhadamente sobre as questões do uso e do envolvimento com SPA, já que este é um dos objetivos da nossa pesquisa. Mas discorreremos sobre questões familiares e os momentos de lazer levantados durante as entrevistas. Ponderamos também sobre a técnica abordada e os resultados levantados. 6.1 CATEGORIZAÇÃO DOS SUJEITOS Participaram da entrevista indivíduos com idades entre 15 (quinze) a 22 (vinte dois) anos, com média de idade aproximada em 17 (dezessete) anos. Evadiram os alunos 34 de 15 (quinze), 18 (dezoito) e 22 (vinte e dois) anos. Destes, 05 (cinco) são do sexo masculino e 01 (um) do sexo feminino. Os seis entrevistados, no período da pesquisa, relataram morar com algum parente. No período da entrevista 03 (três) deles moravam com os pais, 02 (dois) com a mãe e 01 (um) com a avó. Os Entrevistados 01 (um), 02 (dois), 03 (três) e 05 (cinco) trabalhavam e os entrevistados 04 (quatro) e 06 (seis) não trabalhavam. Percebemos nas suas respostas o Lazer, considerado como os momentos de brincadeiras e diversão. Dividimos em 03 (três) categorias: Lazer Família, Lazer Amigos e Lazer Jogos. Para 04 (quatro) deles o lazer compreende em se divertir nos finais de semana. Um deles considera os momentos de lazer, estar com a família. Na entrevista, um dos alunos relatou o seguinte: E: O que é que acontece nos seus momentos de lazer? [...] A: Ah, eu brinco com o meu filho. Brinco com meus irmãos converso com a minha família. Curto mais a minha família assim (Entrevistado 06). Percebe-se, pelo relato do entrevistado que a família ocupa um lugar de destaque em sua rotina. Pratta e Santos (2007b) nos aponta que os conflitos familiares fazem com que seus membros fiquem menos próximos. O que o relato nos indica que, ao contrario do que se supõe, os adolescentes podem construir com suas famílias uma relação nem sempre perpassada pelo conflito e por relações inflamadas, mas pelas boas relações familiares, como quando há brincadeiras, demonstração de afetos e conversas. Ao questionar os alunos sobre a sua infância, 02 (dois) relataram ter tido uma boa infância e um deles comenta sobre ter infância boa desta forma: “Tipo assim, tive uma infância muito boa. Brincava. Convivi com pessoas boas e pessoas ruins. E tipo assim, sempre me espelhava nas melhores pessoas, procurava o melhor caminho. Isso me ajudou bastante” (Entrevistado 01). Outros 02 (dois) disseram ter sido “normal” onde um deles descreveu normal como “Sendo uma criança mesmo, andando de bicicleta, correndo, brincando” (Entrevistado 05). Os outros 02 (dois) relataram que a “infância não foi aquela infância que todo mundo assim diz, né, que foi, assim, feliz” (Entrevistado 04) e “minha infância foi meio difícil” (Entrevistado 06). A violência familiar, conflitos, familiares usuários de SPA, entre outros, são fatores que podem influenciar desde a infância os indivíduos a se tornarem usuários de SPA (BERNARDY & OLIVEIRA, 2010). Quando tratamos de 35 infância, a brincadeira é outro aspecto que ganha relevância, principalmente no que se refere ao possível uso de SPA. Entendemos que as brincadeiras são importantes para o bom desenvolvimento infantil, já que é através da brincadeira que a criança expressa seus sentimentos, desenvolve o convívio com outra criança e com o mundo, assume papéis, entre outros (OLIVEIRA & VARGAS, 20--). No entanto, quando os pais se ausentam e não colocam limites para os filhos, estes podem se envolver em atividades ilícitas, podendo se tornar infratores, como foi averiguado no estudo dos autores. O Entrevistado 01 diz que na infância conviveu com “pessoas ruins”, e se entendermos o uso de drogas na família, conflitos familiares, vizinhança desorganizada, como sendo passíveis de pessoas ruins, estes serão fatores que podem levar o indivíduo ao uso de drogas (PRATTA & SANTOS, 2009). Na categoria RELACIONAMENTO FAMILIAR abordamos como eles consideram o relacionamentos com os pais e/ou com algum outro familiar. 01 (um) deles considera normal o convívio familiar, 04 (quatro) responderam que é “mais ou menos”. Eles assinalaram da seguinte forma: E: e se eu te perguntar sobre a sua família, como é seu relacionamento com ela? A: Eu tenho um relacionamento com a minha família, entendeu? [...] eu tenho mais intimidade de falar com a minha mãe. Conversar, tal. [...] (Entrevistado 01). E: E o seu relacionamento com a sua família? A: Rapaz... aí... tipo assim, num é aquela coisa não, mas também não é muito ruim não (Entrevistado 02). E: E como é o seu relacionamento com a família? A: Não muito boa, mas também não muito ruim. Fica dividido entre as duas partes. Mas a maioria, assim, são boas. A maioria são boas (Entrevistado 04). E: E o seu relacionamento com a família, como é? A: ah, é mais ou menos. Não sou muito de conversar com eles e eles não são muito de conversar comigo, então sou mais na minha (Entrevistado 05). E ao referir sobre conversas familiares, dispomos: E: A: Não. Minha mãe nunca conversou sobre isso. [uso de drogas] E: Alguma outra pessoa da família já conversou com você sobre isso? A: Não. Comigo diretamente não (Entrevistado 06). 36 E: e seus pais conversam com você sobre isso? A: É mais minha mãe, minha mãe que me dá conselho. E. E ela conversa com frequência com você? A: Ah, direto ela ta me, me alertando. E. E tipo o que é que ela fala? A: Ah, ela fala para mim tomar cuidado, entendeu? Para não me envolver, não andar com pessoas erradas (Entrevistado 01). Logo, o que os dados parecem nos indicar é que enquanto os pais estão envolvidos na vida dos filhos, com vínculos fortes, essas atitudes “funcionam como fatores que podem proteger o indivíduo em relação ao uso de drogas” (PRATTA & SANTOS, 2009, p. 34). Porém, como contraponto, um dos principais fatores de risco para o uso de SPA é o relacionamento deficitário dos adolescentes com os pais (SCIVOLETTO & ANDRADE, 2001, apud PRATTA & SANTOS, 2009). Isso nos leva a acreditar este fator como algo a levar estes adolescentes a usar drogas, já que alguns deles consideram o relacionamento com suas famílias “mais ou menos”. Podemos considerar a ausência familiar, a falta de atenção e de cuidados como um tipo de violência familiar, sendo que essa violência não implica só em agressões físicas, mas também em uma ação que prejudique o bem-estar e a integridade psicológica. Os cuidados iniciais são fundamentais para que os adolescentes não se tornem infratores (BERNARDY & OLIVEIRA, 2010). Apesar dos adolescentes considerarem o convívio com a família “mais ou menos”, eles encontram momentos de intimidade e de diversão. Dois dos adolescentes relataram ter INTIMIDADE com os pais, mas se diferem em um ponto. “Eu tenho mais intimidade de falar com a minha mãe” (Entrevistado 01). “Apesar de não morar com meu pai eu tenho mais intimidade de me abrir com ele” (Entrevistado 02). Sendo, para Bernardy & Oliveira (2010) o diálogo um importante fator para a prevenção ao uso de SPA. Na categoria RELACIONAMENTO BOM percebemos como eles veem o relacionamentos com os familiares. “Tenho dois (irmãos). [...] o relacionamento deles comigo são ótimos” (Entrevistado 04) “É um relacionamento ótimo” (Entrevistado 06). No entanto o Entrevistado 06 continua falando sobre o relacionamento com as irmãs: “é mais ou menos, porque é mais eu que converso com elas do que elas que conversam comigo. Elas são mais de curtir as amigas delas do que os familiares. Aí é mais eu que converso com elas do que elas comigo”. 37 É importante que hajam conversas entre pais e filhos para que os vínculos sejam fortalecidos. Assim, desenvolve-se a segurança e a intimidade nas relações familiares. E caso haja monitoramento, não deve ser baseado em amedrontar os filhos (TORRECILLA, 2011). Por conseguinte, o monitoramento é um fator que contribui para que os adolescentes não permaneçam com o uso de SPA, mesmo que venham usar algum tipo de droga. Também pode funcionar como um fator de proteção ao uso de SPA, o adolescente que costuma realizar atividades com a família e isto pode criar melhor vínculo e melhor interação entre pais e filhos (PRATTA & SANTOS, 2007a). Portanto, para Vakalahi (2001, apud PRATTA & SANTOS, 2009) o que pode levar ao uso ou ao não uso de SPA envolve tanto os fatores de risco quanto o de proteção. Estes envolvem o relacionamento entre pais e filhos, como abandono, negligência e agressão (fator de risco) e conversas, monitoramento, relacionamento de confiança (fator de proteção). Assim sendo, dois dos entrevistados comentam sobre violência durante a infância: E: Você falou que conviveu com pessoas ruins. O que elas faziam que você acha que é ruim? A: O que elas faziam de errado era isso, elas usavam drogas, coisas assim (Entrevistado 01). E: Me conta um pouco da sua história, assim, um pouco da sua infância. A: Minha infância? [...] É Uma história trágica, meu pai bebe é meio violento com minha mãe. Aí agora assim, ele está bem melhor assim. A gente sofria muito com meu pai, bebendo, com essas coisas. [...] E: E você chegou a ser agredido também? A: Não. (Entrevistado 03) Para entendermos um pouco melhor, em estudo realizado, nas 05 regiões do Brasil, por Laranjeira et. al. (2014) em 149 (cento e quarenta e nove) municípios, com 4607 (quatro mil, seiscentos e sete) adolescentes, de 14 (quatorze) anos ou mais, nos mostra que 8% destes dizem ter alguém próximo que consome alguma droga, sendo que 3,7% são parentes próximos. Em relação a agressão, 10% já presenciaram seus pais ou cuidadores agredindo um ao outro, sendo que 19,8% se concentram na Região Sudeste. Os prejuízos a quem sofre e presencia tais danos quase sempre é permanente. Das consequências acarretadas citadas no estudo temos: iniciação 38 sexual precoce, comportamento agressivo, uso de SPA, entre outros (LARANJEIRA et. al., 2014). Outro assunto que foi levantado durante a entrevista foi sobre o trabalho, onde percebemos a inserção precoce dos entrevistados no mercado de trabalho. Eles comentam que essas atividades são comuns entre eles. Assim eles relatam deste modo: “Eu trabalho de segunda a sábado e estudo a noite” (Entrevistado 01); “[...] para mim o lazer que eu tenho mesmo é sábado e domingo. [...] Tirando isso é trabalho” (Entrevistado 02); “Eu acordo assim, levanto vou trabalhar, e quando chego, normal no dia a dia assim.” (Entrevistado 03); “E: E a sua rotina durante a semana? A: ah, trabalho, escola, aí final de semana saio pra andar um pouquinho” (Entrevistado 05). Já para o Entrevistado 06 o trabalho “É arrumar casa”. Ainda nessa linha de raciocínio o dizer de Dayrell (2003) também nos embasa para pensarmos nessa questão do trabalho, visto que para os adolescentes o trabalho pode ser encarado como algo necessário, chega a ser uma situação de não ter escolha. Para o autor a juventude tem um processo que “é influenciado pelo meio social concreto no qual se desenvolve e pela qualidade das trocas que este proporciona” (p. 42), os jovens entram mais tarde no mercado de trabalho, no entanto, não é o caso da maioria dos participantes desta pesquisa. Os indivíduos da pesquisa são jovens que têm suas próprias vontades, suas formas de diversão, se preocupam em ajudar nas despesas de casa e em comprar as coisas deles com o próprio dinheiro. As influências culturais e sociais ajudam o ser humano a se constituir como ser não tendo um único jeito de ser adolescente (Dayrell, 2003). Portanto, nessa diversidade procuramos entender o que estes indivíduos trazem de conceito sobre as drogas e suas vivências com as mesmas. 6.2 OS ADOLESCENTES E SUBSTÂNCIAS PSICOATIVAS Nas entrevistas tentamos trazer a tona o conceito que os adolescentes têm sobre SPA, o que são, quais tipos, situações marcantes, entre outros. Das drogas lembradas foram citadas: cocaína (03 entrevistados), maconha e crack (02 entrevistados) e oxi (01 entrevistado). 39 Para entendermos quanto ao consumo de cada um dos entrevistados podemos analisar os gráficos. Dividimos em Consumo de SPA durante a vida, Consumo de SPA nos últimos 03 (três) meses e vontade de consumo de alguma SPA alguma vez na vida. Percebemos no GRÁFICO 01 que o maior grau de consumo girou em torno de substâncias lícitas e de fácil acesso. Assim, nota-se a facilidade dos adolescentes entrar em contato com SPA, sendo que as lícitas têm a venda proibida a menores. As mídias mostram imagens favoráveis, como por exemplo, a sexualidade e a socialização que vêm acompanhadas junto as drogas lícitas tornando assim, um atrativo para os jovens (SCHENKER & MINAYO, 2005). Abaixo apresentamos o Gráfico 1, que traz dados acerca do consumo de SPA pelos adolescentes entrevistados. Vejamos: Gráfico 1 – Consumo de SPA Durante A Vida Como podemos perceber no Gráfico 1 acima o maior índice de uso de SPA se concentra nas lícitas e de fácil acesso, o álcool e o tabaco que muitas vezes são mostrados em meios de comunicação como “mediadoras de fama e sucesso” (SCHENKER & MINAYO, 2005, p. 710). Isso também pode ser notado no gráfico seguinte. O Gráfico 2, traz os dados referentes ao uso de SPA pelos adolescentes entrevistados, nos últimos três meses. Vejamos: 40 Gráfico 2 – Consumo de SPA nos últimos 03 Meses Notamos o uso de álcool nos últimos 3 meses, por 04 (quatro) dos adolescentes entrevistados, o que pode ser verificado no GRÁFICO 02, acima apresentado. Sabemos que o álcool vem sendo “utilizado desde a Antiguidade, está sempre presente nos momentos de festa e comemoração, sendo considerado o símbolo farmacológico da mesma” (PRATTA & SANTOS, 2007a, p.49). Um exemplo de comemoração é o Carnaval, onde os adolescentes podem sofrer influência a usar álcool por outra pessoa usar. Outro fator que pode influenciar os adolescentes, conforme Nogueira (20--) é os adolescentes tenderem ao mesmo tempo querer pertencer a um grupo e competir com este grupo. Eles têm o desejo de se destacar e de se sentir inserido em um grupo social, o que pode tê-los influenciado para o uso de SPA. Apesar do autor se referir ao ambiente escolar, podemos enquadrar o contexto social aqui. Outro elemento que destacamos é que quando os indivíduos não são dependentes da SPA “muitas vezes não notam qualquer prejuízo imediato do uso da droga e ainda sentem imenso prazer em usá-las” (NOTO & GALDUROZ, 1999, p. 149). Para ilustrar isso, apresentamos abaixo o Gráfico 3, que evidencia os dados acerca da vontade dos adolescentes entrevistados de consumir SPA. Vejamos: 41 Gráfico 3 – Vontade de consumo de alguma SPA Através do Gráfico 3 vemos que há um equilíbrio entre as drogas veiculadas pelos meios de comunicação e os psicotrópicos. Os psicotrópicos mais usados pela população brasileira são os benzodizepínicos e babitúricos. Estes medicamentos agem de forma a deprimir o SNC (ESPÍRITO SANTO, 2013) causando tranquilidade, relaxamento, sonolência, entre outros sintomas (SENAD, 2013a). Percebemos nos Gráficos 1, 2 e 3 que as substâncias álcool e tabaco são as mais lembradas, seja para consumir ou apenas ter a vontade de consumir. Um dado que o CFP (2002) nos traz é que essas duas substâncias são as mais consumidas por estudantes, e igualmente, ao nosso estudo, mostra que os adolescentes também consumiram outros tipos de drogas. Ao associar as SPAs com os momentos marcantes na vida dos adolescentes pesquisados, somente um relatou uso de alguma substância, já outros foram marcados por vivenciar fatos com amigos ou parentes. Vejamos algumas citações: E: Uma situação marcante relacionada a droga que você tenha vivenciado? A: É igual eu te falei, foi a morte da minha prima. Ela morreu no lugar do marido... por causa de droga (Entrevistado 01). E: Uma situação marcante que tenha acontecido com você ou com algum amigo seu que a droga esteja relacionada? A: Rapaz... nossa, já aconteceu muita coisa já, entendeu. Tipo assim, já vi amigo meu ser preso. Entendeu? Fica marcado, 42 tipo assim, pessoa que você tava todo dia lado a lado ali. Entendeu? (Entrevistado 02). E: Conte uma situação marcante relacionada a drogas que você vivenciou ou um amigo seu tenha vivenciado? A: Bom, meu pai, né. Que quando eu era pequeno, ele bebia essas coisas, fuma até hoje, a gente fica com aquela consciência, né (Entrevistado 03). Através dos relatos e comparando os GRÁFICOS 1 e 2 percebemos que as situações que os marcaram também estavam envolvidas SPA ilícitas. Esses fatos podem ter levado a usar cada vez menos as SPA, mas não cessaram com o uso. O que percebemos pelos relatos dos adolescentes é que as situações marcantes podem causar esse amedrontamento, no entanto essas situações não justificam o não uso de SPA. E conforme Noto & Galduroz (1999) as ações da Prevenção Primária não promovem uma mudança comportamental. Uma das ações da Prevenção Primária são as divulgações de informações que tendem a gerar amedrontamento. Ainda vale ressaltar que o governo promove intervenções a fim de evitar a ocorrência de novos usos de SPA e também o primeiro uso (NOTO & GALDUROZ, 1999). O início do uso de SPA pelos adolescentes entrevistados pode ter sido desencadeado por fatores como influência de amigos, parentes dependentes químicos, entre outros. Williams (2006) entende que um dos desencadeadores do uso de SPA são os fatores de risco, “que elevam a probabilidade de ocorrência de problemas com drogas” (p. 24). Dentre alguns dos fatores de risco para o uso de SPA citados pela autora estão: a) Comunitários e Escolares, destacamos: a disponibilidade de droga, baixos resultados escolares e pouco compromisso com atividades na escola; b) Familiares e Amigos, vemos: conflitos familiares, história de uso de substância na família e uso de drogas por amigos; e c) Individuais, temos: pré-disposição genética e necessidade de busca de novas sensações. Logo, os programas de prevenção devem buscar um aumento dos fatores de proteção para o uso de SPA, já que estes reduzem a probabilidade de exposição às drogas (WILLIAMS, 2006). Assim poderemos entender um pouco nas categorias descritas abaixo. Percebemos alguns fatores que tornam as drogas acessíveis aos adolescentes. Na categoria INFLUÊNCIA, percebemos as ações de algo ou alguém sobre os 43 entrevistados. Para os adolescentes, as pessoas podem sofrer influência comportamental dos amigos. Essa questão apareceu em todas as entrevistas, deixando claro que os alunos acham que certos amigos podem influenciar pessoas no uso de SPA. Vejamos: E: Pedro é um rapaz de 17 anos, tem um emprego em uma loja de calçados, é estudante e nunca repetiu de ano. Ele mora com a Mãe que é separada de seu pai há 7 anos, ele não convive com o pai já que este o ignora. Ele gosta de ir para festas e costuma beber de vez em quando. Em uma festa os amigos de Pedro comentaram que fumaram maconha e disseram que é bom. O que você acha que pode acontecer nessa situação? “O que pode acontecer é de influenciar várias outras pessoas, né, de ter curiosidade de conhecer” (Entrevistado 01). “Ele vai acabar usando droga também, vai acabar fumando maconha” (Entrevistado 02). “Se ele tiver uma mente mais vazia, sem conselho de quando era pequeno ou alguma coisa, com certeza ele vai entrar na dos amigos dele né” (Entrevistado 03). “Que eles, igual você falou que eles experimentaram drogas e essa pessoa, ou seja, o Pedro pode também estar experimentando porque ele nunca teve contato, não sei se ele viu, então ele pode estar experimentando.” (Entrevistado 04). “O máximo que pode acontecer é ele ir e experimentar e quem sabe ele gostar e continuar fumando né” (Entrevistado 05). “Eu acho que pode ter experimentado” (Entrevistado 06). Assim, pensando na perspectiva de Freud (1990), quando os adolescentes falam da possibilidade dos amigos influenciarem algumas pessoas podemos acreditar que eles também podem ser influenciados, já que os indivíduos podem jogar para o outro a percepção que eles tem do mundo interno. Charlot (2000, apud DAYRELL, 2003) nos diz que “a essência originária do indivíduo humano não está dentro dele mesmo, mas sim fora, em uma posição excêntrica, no mundo das relações sociais” (p. 43). 44 Logo quando eles dizem que outro adolescente pode ser influenciado eles podem estar dizendo também de si mesmos. Outro fator determinante, relatado durante as entrevistas, para a experimentação do uso de SPA dos adolescentes foi a curiosidade. Vejamos alguns fragmentos de entrevistas: “É igual eu te falei, é uma influência para muitos outros... para despertar curiosidade das pessoas que tem mente fraca” (Entrevistado 01). “Com certeza né, porque se o cara falou que é bom ele vai querer também né. Vai fazer, vai fumar alguma coisa” (Entrevistado 03). Para o CFP (2002) a curiosidade é um fator de risco para o uso de SPA entre os adolescentes. Além do fato curiosidade, também encontramos fatores sociais e familiares nas narrações dos 06 (seis) entrevistados em que relataram ter algum tipo de convívio com algum usuário de SPA, seja familiar ou amigo. Assim, para estes adolescentes classificarem as drogas, eles usaram como exemplo situações do quotidiano com adictos com quem convivem e por informações de mídia. Desta forma, na categoria CLASSIFICAÇÃO DE SPA – OUTROS, um deles declarou que a classificação de SPA é “Pelo que a gente vê na televisão” (Entrevistado 05). Como vimos anteriormente as mídias dão certo prestígio para o álcool e para o tabaco. Assim, o mesmo meio que traz informação pode influenciar o indivíduo a usar SPA (SCHENKER & MINAYO, 2005). Ainda na categoria CLASSIFICAÇÃO DE SPA – USUÁRIOS, percebemos que alguns dos entrevistados consideram uma substância como droga pelos efeitos causados em algumas pessoas que usam. Um deles disse que quando as pessoas usam “Elas ficam ilúcidas, não sabem o que estão fazendo” (Entrevistado 01). Mas outros participantes relatam: “O cara fica dependente daquilo rapaz. Se não tiver a droga ele fica na maior depressão” (Entrevistado 02). “Ele não tem consciência que aquilo pode trazer risco para a vida dele no futuro” (Entrevistado 03). Destacamos que entre os usuários de SPA envolvidos nestas respostas estão alguns de seus familiares, baseando-se em seu convívio com os mesmos para elaborar as respostas emitidas. Ao serem indagados sobre conversas com os familiares sobre o uso de SPA percebemos a ausência de conversa com 02 (dois) dos pesquisados. Os demais 45 adolescentes, ao serem indagados sobre isso relatam que a família se detém em aconselhar, como podemos ver em um dos relatos: E: e seus pais conversam com você sobre isso? A: É mais minha mãe, minha mãe que me dá conselho. E. E ela conversa com frequência com você? A: Ah, direto ela ta me, me alertando. E. E tipo o que é que ela fala? A: Ah, ela fala para mim tomar cuidado, entendeu? Para não me envolver, não andar com pessoas erradas (Entrevistado 01). Percebemos através dos relatos que os pais que conversam, dão conselhos sobre com quem os filhos devam andar, bem como sobre se afastar das drogas. Contudo, os entrevistados demonstraram que os pais têm pouco conhecimento sobre o assunto “drogas”, assim as informações que os entrevistados tiveram não foi através de seus familiares, mas sim através de filmes, palestras, entre outros. Ainda no que diz respeito à informação que os adolescentes têm sobre as SPA, questionados na entrevista final se o jogo havia os ajudado há conhecer um pouco mais sobre as drogas, em comparação com as palestras e filmes que já tinham assistido, um deles relatou: Foi melhor do que palestras. E foi olhando e foi explicando ainda o que era cada coisa (Entrevistado 04). Percebemos que os adolescentes tiveram contato com drogas através de vários meios (meios de comunicação, familiares, palestras, grupo social, etc.), mas estes não foram o suficiente para que eles conhecessem sobre as SPA (tipo, efeitos, malefícios, etc.). Feita estas exposições, discorreremos no próximo subcapítulo sobre a técnica Jogando com a Realidade e a sua funcionalidade junto aos adolescentes. 6.3 O JOGO Neste tópico faremos uma análise sobre a utilização do jogo, as cartas Positivas, as cartas Negativas, a linguagem utilizada nas cartas do jogo e a percepção dos participantes quanto ao jogo. 46 A aplicação da técnica Jogando com a Realidade foi realizada com 03 (três) dos alunos participantes das entrevistas, em dois dias. O aplicador da técnica foi o entrevistador, aluno pesquisador e autor desse estudo. Este estava previamente norteado pela orientadora e co-orientadora, preparado através de cursos ofertados pela Senad e Rede do Bem, e com experiência de 02 (dois) anos de estágio em atendimento clínicos com dependentes químicos. Participaram da aplicação do jogo os Entrevistados 03, 04 e 05. Os alunos tomaram iniciativa para decidir a ordem dos jogadores, eles escolheram a ordem sem haver sorteio. Cada um dos entrevistados foi reconhecido por um pino durante um jogo. Para iniciar o jogo tiraram uma carta positiva para que cada um deles pudesse progredir no tabuleiro. A casa onde o entrevistado parasse correspondia ao tipo de carta que iria sortear na rodada seguinte. Analisando as imagens pudemos perceber que logo na primeira carta houve dificuldade em entender a frase que estava escrita. Na inscrição da carta positiva “A arte vicia. Quanto mais se pratica, mais tem vontade de praticar. Ande 05 (cinco) casas.” O entrevistador pergunta: E: E o que é que você entende por arte? A: Ah. (silêncio) E: O que é que você já fez ou que conhece de arte? A: (silêncio) Me pegou. (risada e silêncio). E: Teatro? A: Já. Já fiz teatro. Já teve um, também, é..., festival de música, festival que eu participei, participo até hoje [...] (Entrevistado 05). Comparando essa informação com a entrevista final, houve duas respostas diferentes ao perguntar E: Com relação às frases que estavam nas cartas você achou que todas elas estavam escritas de forma clara, você teve alguma dificuldade de entender? A: Estavam tudo certinho (Entrevistado 04) e A: É. Tinha algumas que eu não consegui entender muito bem não (Entrevistado 03). No entanto, nesta aplicação, não foi prejudicada, como podemos ver na fala do Entrevistado 03, onde este se refere à dificuldade de entendimento dos conteúdos das cartas da seguinte forma: A: Não atrapalhou porque depois que pegava (a carta) você explicou o que era cada um (dos itens referidos na carta). Continuando com o jogo fizemos o questionamento E: Então está falando ali que participar de danças, de música, de teatro, faz o que? A: Vicia. E: E esse vício é bom ou ruim? A: É bom (Entrevistado 05). Na jogada seguinte o Entrevistado 04 tirou a carta A: O conhecimento abre a mente, ande 06 (seis) casas. E seguimos 47 com o questionamento, E: Qual tipo de conhecimento, que você acha? A: Que Abre a mente? E: Isso. A: (silêncio) E: Você acha que uma leitura poderia ajudar nesse conhecimento? A: Sim. E: Uma leitura de jornal ou algum livro. [...] E: Você acha que isso tudo é um tipo de conhecimento? A: Uhum (sinal de sim). Continuando, o Entrevistado 03 retirou a carta A: Quanto mais praticar esportes mais tempo irá viver. Ande 07 (sete) casas. E: Por que você acha que praticar esporte ajuda a viver mais? A: Ah, faz bem para a saúde. E: E que tipo de esporte vocês praticam? A: Eu pratico vôlei e futsal (Entrevistado 05). A: Eu pratico futebol e vôlei (Entrevistado 04). A: Eu pratico futebol, futsal, downhill (Entrevistado 03). Assim, através das cartas positivas é possível levantar estratégias com os alunos de terem envolvimento com atividades escolares e que eles se insiram em atividades culturais, ações de lazer e esporte, e conforme Senad (2013b) estes são fatores de proteção de contexto social para a prevenção ao uso de SPA. A primeira carta negativa a ser retirada no jogo foi pelo Entrevistado 04 A: Você perdeu seus amigos. Volte 04 (quatro) casas. Seguimos assim, E: O que é que você acha que pode fazer você perder os amigos? A: Quando a pessoa fica andando com mau amigo. Quando o amigo bebe e faz coisas erradas, aí pode não gostar e pode largar o amigo. Já o Entrevistado 03 retirou A: Você não consegue pensar direito. Volte 04 (quatro) casas. E: Abordando todo o assunto que a gente já conversou o que vocês acham que pode levar a pessoa a não estar pensando direito? A: Problemas (Entrevistado 05). E: Mais o que? (silêncio) Vocês acham que quem está no mundo das drogas, se drogando todo dia consegue pensar direito? A: Não (dizem os três). Não tem aquele pensamento que podemos dizer, assim, normal (Entrevistado 05). Assim, as cartas negativas abordaram prejuízos individuais, “não consegue pensar direito” e sociais “perdeu seus amigos”. Para que os alunos entendessem os assuntos abordados nas cartas, o pesquisador fez intervenções explicativas, diminuindo assim as dificuldades de entendimento, já que a linguagem utilizada ficou um pouco confusa para os participantes da aplicação da técnica Jogando com a Realidade. No entanto, uma das dificuldades encontradas pelos adolescentes no jogo foi o grande número de retorno nas casas do tabuleiro. Porém, devemos deixar claro que 48 o número de cartas positivas e negativas são de 50 (cinquenta) para cada e no tabuleiro são 28 (vinte e oito) casas positivas e 27 (vinte e sete) casas negativas. Percebemos, através da filmagem que ao retornar no tabuleiro algumas vezes, um ou outro aluno começava esfregar as mãos, se mexiam mais nas cadeiras. Por isso, resolvemos investigar sobre algum sentimento que pudesse ter surgido durante o jogo. Ao serem perguntados sobre algum sentimento despertado durante o jogo eles disseram ter sentido “Emoção né. Porque queria ganhar, né. Mas só que não tinha fim” (Entrevistado 04) e “[...] que eu queria ganhar. Só que nunca andava, aí eu fiquei meio nervoso com isso. [...] Eu estava ansioso” (Entrevistado 03). Ambos relataram querer ganhar, mas o fato de retroceder as casas os impediram. O Entrevistado 04 disse que “Isso que é meio chato no jogo, que não chega ao fim” e o Entrevistado 03 disse que “Na hora que você estava lá quase terminando, você tinha que voltar” expressando que voltar as casas foi o que menos gostaram do jogo. Assim, questionados se mudariam alguma coisa no jogo, o Entrevistado 04 relatou que mudaria algumas casas de negativas para positivas para progredir mais no jogo, já o Entrevistado 03 achou não ser necessário mudar nada no jogo. Pudemos verificar com a entrevista final, sobre o conhecimento adquirido durante o jogo foi satisfatório. O Entrevistado 03 disse que o jogo “Ajuda bastante também, porque a gente vê quando faz alguma coisa errada a gente anda para trás e nunca anda para frente, e quando é coisa boa a gente anda para frente” e o Entrevistado 04 disse que “Foi melhor do que palestras. E (nós alunos) fomos olhando e (o aplicador) foi explicando ainda o que era cada coisa”. Por fim, esses dados são importantes para a compreensão do desenvolvimento do jogo e dos conceitos trazidos pelos adolescentes. No capítulo seguinte, teremos as considerações finais, onde serão abordados os objetivos alcançados e a limitação do estudo. 49 CONSIDERAÇÕES FINAIS Nesses tempos faz-se necessário conhecer a realidade dos nossos adolescentes de forma mais abrangente a fim de poder levantar novas estratégias de enfrentamento de suas problemáticas, já que as abordagens terapêuticas estão voltadas ou para o público infantil ou para o público adulto. No presente estudo trouxemos a tona essa realidade e testamos uma nova prática para um problema antigo que acabou por se tornar uma espécie de epidemia, a epidemia das drogas. E para intervir com adolescentes numa época em que se torna jovem cedo demais e adulto tarde demais, pensamos numa forma lúdica já que isso nos retoma a criança que pode estar adormecida. Esse jogo remonta o brincar com a realidade dos usuários de drogas, realidade essa que fere as famílias. As pessoas envolvidas com SPA e que não são dependentes não procuram ajuda de profissionais especialistas. Assim dentro da perspectiva da Prevenção Secundária, onde se leva em consideração os riscos do uso de SPA, favorece “a mudança de comportamento através do aprendizado de novas atitudes e escolhas mais responsáveis (NOTO & GALDUROZ, 1999, p. 149)”, é nesse sentido que apresentamos alguns aspectos dos resultados obtidos. No que diz respeito ao contado com SPA, 05 (cinco) participantes usaram alguma SPA durante sua vida, foram citadas como contato, por uso ou por informação (meios de comunicação, palestras, conversas com familiares, etc.) com: cocaína, crack, maconha, tabaco, álcool e psicotrópicos. Com relação aos fatores de risco ao uso de SPA percebemos que a curiosidade sobre o assunto de drogas, familiares e amigos adictos puderam ter levado esses indivíduos a usarem SPA. Em presença do revelado consideramos que através da entrevista inicial conseguimos alcançar os objetivos quanto as crenças prévias a respeito do uso de SPA. Já o jogo permitiu que os adolescentes envolvidos na pesquisa refletissem sobre as conseqüências do uso de SPA em suas vidas, foram feitas analogias entre o que acontecia no jogo e as experiências cotidianas. Compreendemos ainda que alguns dos adolescentes tinham interesse sob o olhar curioso, para aliviar alguma tensão ou para estar inserido nos grupos de pertença ou referência. Vimos isso 50 através dos relatos dos adolescentes e com a aplicação do jogo. Tivemos também a preocupação de verificar se a linguagem estava condizente com a faixa etária dos participantes. Entendemos que a partir desse pressuposto, possa se ter um ponto de partida para futuros estudos, para conferir a possibilidade de alteração do comportamento. Constatamos com os adolescentes, através de seus relatos, que a técnica em questão pode ser utilizada como Prevenção Secundária já que esta aborda a sensibilização das pessoas quanto ao risco que as drogas acarretam, e ainda possibilita o incentivo a mudar o comportamento (NOTO & GALDUROZ, 1999). Porém é devido que o estudo prossiga para que seja analisado a longo prazo se essa técnica pode ser usada como abordagem terapêutica com adolescentes e/ou crianças adictas em fase de reabilitação ou não. O jogo foi utilizado somente com adolescentes usuários de SPA em não reabilitação, logo pode servir de incentivo para a criação de novas técnicas terapêuticas para serem usadas como Prevenção Terciária (NOTO & GALDUROZ, 1999), já que ela promove orientação, amparo na reabilitação social e tratamento para os que buscam auxílio na recuperação. Não vemos a evasão dos alunos como uma limitação ou prejuízo para o estudo, em razão de termos conseguido alcançar alguns objetivos, já citados ao longo do texto, de forma satisfatória. A maior limitação deste estudo foi o tempo. Assim não alcançamos o objetivo de verificar se houve o cessar do uso de alguma SPA a partir da aplicação do jogo, ou se houve alguma mudança de comportamento ocorrida após a intervenção e se essa mudança poderia se manter por um tempo prolongado após a intervenção. Outra dificuldade encontrada está relacionada às cartas do jogo, já que estas no estudo piloto, antes de compor o livro Brincar e Viver Feliz, continham figuras relacionadas a cada frase. Após a elaboração do jogo, ele foi enviado a um design para finalizar, logo imagino que o profissional retirou as figuras. Por exemplo, na carta positiva “Você fez aulas e aprendeu a tocar uma música. Ande 03 casas” havia desenho de um violão; e na carta negativa “Você está ficando sem fôlego. Volte 02 casas” havia desenho de um cigarro. Esses desenhos, primeiramente, foram inseridos para que ajudasse os adolescentes a compreenderem as frases inseridas, os benefícios de estar longe das drogas e os malefícios de estar usando drogas, 51 como que um complemento às frases inseridas. As figuras poderiam ter ajudado os indivíduos a compreender melhor a linguagem das cartas. 52 REFERÊNCIAS ABERASTURY, A.; KNOBEL, M. Adolescência Normal. Um enfoque psicanalítico. 5ª Ed. Artes Médicas, Porto Alegre. 1986. BANDURA, A.; et al. Teoria Social Cognitiva: Conceitos Básicos. Artmed. Porto Alegre. 2008. BELEI, R. A.; et al. O uso de entrevista, observação e videogravação em pesquisa qualitativa. Cadernos de Educação. UFPEL. Pelotas, p. 187-199. 2008. BERNARDY, C. C. F.; OLIVEIRA, M. L. F. O papel das relações familiares na inicação ao uso de drogas de abuso por jovens institucionalizados. Rev. esc. enferm. USP [online]. vol.44, n.1 p 11-17. ISSN 0080-6234. 2010. BORGES, R. M. R.; SCHWARZ, V. O papel dos Jogos Educativos no Processo de Qualificação de Professores de Ciências. IV Encontro Ibero-americano de coletivo Escolares e Redes de Professores que Fazem Investigação na sua Escola. 20--. BRASIL. Estatuto da Criança e do Adolescente. Lei Federal nº 8069, de 13 de julho de 1990. Curitiba: Governo do Estado do Paraná. 1994. BROUGÈRE, G. A criança e a cultura lúdica. Revista da Faculdade de Educação. São Paulo, v. 24, n. 2, p. 103-116, jul./dez. 1998. CANAVEZ , Márcia Figueira; ALVES , Alisson Rubson; CANAVEZ, Luciano Simões. Fatores predisponentes para o uso precoce de drogas por adolescentes. Cadernos UniFOA. Volta Redonda, Ano V, n. 14, dezembro 2010. Disponível em: http://www.unifoa.edu.br/cadernos/edicao/14/57.pdf CFP, Conselho Federal de Psicologia. Adolescência e Psicologia. Concepções, práticas e reflexões críticas. Brasília. 2002. COSCRATO, G.; et al. Utilização de atividades lúdicas na educação em saúde: uma revisão integrativa da literatura. Acta Paul. Enferm. São Paulo. 2010 DALGALARRONDO, P. et al. Religião e uso de drogas por adolescentes. Revista Brasileira Psiquiatra. 2004 DAYRELL, Juarez, O jovem como sujeito social (?). Universidade Federal de Minas Gerais. Minas Gerais, Revista Brasileira de Educação, nº 24. 2003. ESPIRITO SANTO. Conversando sobre drogas – Famílias. Secretaria de Saúde, Governo do Estado do Espírito Santo, 2013. FREUD, S. (1913). Totem e Tabu. In: FREUD, S. Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud. v. 13. Rio de Janeiro: Imago. 1990. 53 JINEZ, M. L. J.; et al. Uso de drogas e fatores de risco entre estudantes do ensino médio. Revista Latino-americana Enfermagem. 2009. LARANJEIRA, R.; et. al. Violência contra Criança ou Adolescente e o Uso de Drogas – II Levantamento Nacional de Álcool e Drogas. UNIFESP. São Paulo, 2014. Disponível em: http://inpad.org.br/lenad/resultados/violencia-contra-crianca-ouadolescente/resultados-parciais-2/. Acessado em: 28/06/2014 MARQUES, A. C. P. R.; CRUZ, M. S. O adolescente e o uso de drogas. Revista Brasileira Psiquiátrica. 2000. MELO, M.A.S. Concepções de adolescência em Jean Piaget. Psicologado artigos. 2009. Disponível em: <http://artigos.psicologado.com/psicologiageral/desenvolvimento-humano/concepcoes-de-adolescencia-em-jean-piaget>. Data de acesso 24/08/2013. MELLO, I. S. P. B. O Brincar no Processo Psicanalítico Infantil. João Pessoa, 201-. Disponível em: http://www.escolafreudianajp.org/arquivos/trabalhos/O_Brincar_no_Processo_Psican alitico_Infantil.pdf. Acessado em 27/02/2014. MORATORI, P. B. Por que utilizar Jogos Educativos no processo de Ensino Aprendizagem. UFRJ, Rio de Janeiro. 2003. NOGUEIRA, P. H. de Q. Juventude: entre a indisciplina e a zoação. UFMG, 20--. Disponível em: http://www.anped.org.br/33encontro/app/webroot/files/file /Trabalhos%20em%20PDF/GT03-6467--Int.pdf . Acessado em: 02/10/2013. NOTO, A. R.; GALDURÓZ J. C. F. O uso de drogas psicotrópicas e a prevenção no Brasil. Ciência & Saúde Coletiva. 1999. OLIVEIRA, F. M.; VARGAS, L. C. Brincadeira é Jogo Sério. Unilasalle. 20--. OLIVEIRA, A. M. de. A importância do lúdico na adolescência. Psicopedagogia online. Disponível em: http://www.psicopedagogia.com.br/artigos/artigo.asp?entrID=447. Acessado em: 05 de setembro de 2014. Juiz de Fora, 2003. PINHEIRO, et al. A realidade do consumo de drogas nas populações escolares. Revista Portuguesa de Clínica Geral. V.27 n.4. Lisboa. 2011. PRATTA, E. M. M.; SANTOS, M. A. dos. Uso de drogas na família e avaliação do relacionamento com os pais segundo adolescentes do ensino médio. v. 40, n4, p. 32-41, jan./mar./ 2009. PUC RS, Porto Alegre, 2009. ______; ______. Lazer e Drogas na Adolescência. Psicologia: Teoria e Pesquisa. Vol. 23 n. 1, pp. 043-052, Jan-Mar 2007a. ______; ______. Família e desenvolvimento psicológico na adolescência. Psicologia em Estudo, Maringá, v. 12, n. 2, p. 247-256, maio/ago. 2007b. 54 ROQUE, S. O processo de recolha de dados – entrevista. Slideshare. Disponível em: http://pt.slideshare.net/mscabral/o-processo-de-recolha-de-dados-entrevista. Acessado em: 20/08/2014. 2010. ROSA, J. La. Psicologia e Educação – O significado do aprender. 7ª Edição. EDIPUCRS. Porto Alegre, 2003. ROSA, P. O. Uso abusivo de drogas: da subjetividade à legitimação através do poder psiquiátrico. Revista Pan-Amaz Saúde. pág. 27-32. 2010. SCHENKER, M.; MINAYO, M. C. S. Fatores de risco e de proteção para o uso de drogas na adolescência. Ciência e Saúde Coletiva, 10(3): p. 707 – 717, 2005. SENAD, Sistema para detecção do Uso abusivo e dependência de substâncias Psicoativas: Encaminhamento, intervenção breve, Reinserção social, e Acompanhamento. 4ª Edição. Brasília. 2011 ______, Prevenção do uso de drogas – Capacitação para Conselheiros e Lideranças Comunitárias. 5º Edição. Brasília. 2013a. ______, Capacitação Para Comunidades Terapêuticas. 1ª Edição. Brasília, 2013b. SILVA, J. S. A Importância Do Lúcido Na Adolescência. Disponível em: http://www.ciaap.org.br/artigos/headline.php?n_id=93&u=1%5C. Acesso em: 07/09/2013. Centro de Integração e apoio ao Adolescente de Patrocínio. MG. 2007. TORRECILHA, T. Boa relação familiar é a melhor prevenção contra as drogas. Delas – Ig. 2011. Disponível em: http://delas.ig.com.br/colunistas/palavrademae/boa+relacao+familiar+e+a+melhor+pr evencao+contra+as+drogas/c1597000732203.html.Acessado em: 29/06/2014. WILLIAMS, A. V. Desenvolvimento e avaliação do efeito de um jogo terapêutico para jovens usuários de drogas. Porto Alegre, UFRS. 2006. 55 ANEXOS 56 Anexo I 57 Anexo II 58 Anexo III 59 Anexo IV ASSIST 60 61 APÊNDICES 62 APÊNDICE A Roteiro de Entrevista Entrevistador:______________________________________ DATA:___/___/____ IDENTIFICAÇÃO 1. Qual o seu nome? Quantos anos você tem? 2. Conte-me um pouco sobre sua infância. 3. Fale-me um pouco da sua rotina durante a semana. O que você costuma fazer? E nos fins de semana? Como são seus momentos de lazer? 4. Como é o seu relacionamento familiar? Como é a sua família e como você se relaciona com cada membro familiar? CONHECIMENTO SOBRE SUBSTÂNCIAS PSICOATIVAS (DROGAS) 5. O que são as drogas para você? 6. Quando se fala em drogas que tipos de substâncias você pensa? Baseia-se em que para classificar tais substâncias como drogas? 7. Conte uma situação marcante relacionada a drogas que você vivenciou ou um amigo seu tenha vivenciado? 8. Seus pais conversam ou já conversaram com você sobre esse assunto drogas? Com que frequência eles fazem isso? 9. Como você considera os seus conhecimentos sobre drogas? 10. Quais foram os tipos de contato que você teve com as drogas (informação, pessoas que usam, uso próprio). 11. Quando você pensa em drogas quais palavras vêm a sua cabeça? 12. Família, amigos, drogas. Qual a relação dessas palavras para você? 13. Pedro é um rapaz de 17 anos, tem um emprego em uma loja de calçados, é estudante e nunca repetiu de ano. Ele mora com a Mãe que é separada de seu pai há 7 anos, ele não convive com o pai já que este o ignora. Ele gosta de ir para festas e costuma beber de vez em quando. Em uma festa os amigos de Pedro comentaram que fumaram maconha e disseram que é bom. O que você acha que pode acontecer nessa situação? Você acha que isso pode causar curiosidade em Pedro? 63 14. Você já consumiu alguma dessas substâncias alguma vez na vida? ( ) Maconha; ( ) Cocaína; ( ) Álcool; ( ) Cigarro; ( ) Crack; ( ) Medicamento para dormir; ( ) Medicamento para se concentrar; ( ) Medicamento para se acalmar 15. Você consumiu alguma dessas substâncias nos últimos três meses? ( ) Maconha; ( ) Cocaína; ( ) Álcool; ( ) Cigarro; ( ) Crack; ( ) Medicamento para dormir; ( ) Medicamento para se concentrar; ( ) Medicamento para se acalmar 16. Você já sentiu desejo ou vontade de consumir alguma dessas substâncias? ( ) Maconha; ( ) Cocaína; ( ) Álcool; ( ) Cigarro; ( ) Crack; ( ) Medicamento para dormir; ( ) Medicamento para se concentrar; ( ) Medicamento para se acalmar Se já, em que situações? 64 APÊNDICE B TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO TERMO DE ESCLARECIMENTO Seu filho está sendo convidado a participar do estudo O Jogo da Realidade – Uma proposta de intervenção ludo-terápica como instrumento para compreensão do uso de substâncias psicoativas por adolescentes. Os avanços nesta área ocorrem através de estudos como este, por isso a participação de seu filho é importante. O objetivo deste estudo é verificar se a técnica “Jogo da Realidade” funciona como um instrumento terapêutico para lidar com o uso de drogas, compreender o nível de interesse dos alunos quanto ao uso de drogas e conhecer as crenças prévias a respeito do uso de drogas por meio do jogo. Caso seu filho participe, será necessário comparecer, conforme sua disponibilidade, a quatro encontros, sendo um encontro individual (para entrevista) e outros três encontros grupais em que serão realizadas a dinâmica proposta. Os encontros acontecerão semanalmente e serão coordenados por mim (graduando do curso de psicologia), enfocando temas relacionados à amizade, às suas opiniões sobre o uso de drogas e suas relações com grupos de amigos, colegas, na escola e na família. Os encontros serão filmados, no entanto, as informações obtidas através dessa pesquisa serão confidenciais e asseguramos o sigilo sobre sua participação. Os dados não serão divulgados de forma a possibilitar sua identificação (a imagem será preservada através de recursos como tarjas para ocultar a face, desfocar a imagem e também distorcer a voz). Não há riscos ou desconfortos no estudo: está sendo informado de que não será adotado nenhum procedimento que lhe traga qualquer desconforto ou risco à sua vida. Você poderá ter todas as informações que quiser e poderá não permitir a participação de seu filho na pesquisa ou retirar seu consentimento a qualquer momento, sem prejuízo no atendimento. Pela participação de seu filho no estudo, você não receberá qualquer valor em dinheiro, mas terá a garantia de que todas as despesas necessárias para a realização da pesquisa não serão de sua responsabilidade. O nome de seu filho não aparecerá em qualquer momento do estudo, pois ele será identificado com um número. 65 TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE, ESCLARECIMENTO Eu, ____________________________________________________________, li e/ou ouvi o esclarecimento acima e compreendi para que serve o estudo e qual procedimento a que serei submetido. A explicação que recebi esclarece os riscos e benefícios do estudo. Eu entendi que sou livre para interromper minha participação a qualquer momento, sem justificar minha decisão e que isso não afetará meu tratamento. Sei que meu nome não será divulgado, que não terei despesas e não receberei dinheiro por participar do estudo. Eu concordo em participar do estudo. Muniz Freire/ES............./ ................../................ ___________________________________________________________ Assinatura do voluntário ou seu responsável legal ____________________________________ Documento de identidade _______________________________ Custodio Beate de Macedo Junior Graduando de Bacharel em Psicologia pela FAFIA Telefone de contato do pesquisador: (28) 9.9964-9904 Em caso de dúvida em relação a este documento, você pode entrar em contato com o Comissão Ética em Pesquisa Envolvendo Seres Humanos da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Alegre - FAFIA –. 66 APÊNDICE C EXEMPLO DE TRANSCRIÇÃO COMPLETA DE ENTREVISTA Aluno pesquisador: Custodio B. M. Jr. Participante 03 Identificação: Entrevistado 03 Sexo: Masculino Idade: 15 anos Data da Entrevista: 26/03/2014 Cidade: Muniz Freire, ES E: Qual a sua idade? A: Quinze anos. E: Me conta um pouco da sua história, assim, um pouco da sua infância. A: Minha infância? Foi boa, mas meu pai tipo assim, ele bebe. Entendeu? É Uma história trágica, meu pai bebe é meio violento com minha mãe. Aí agora assim, ele está bem melhor assim. A gente sofria muito com meu pai, bebendo, com essas coisas. Bebendo, e tinha dia que minha mãe apanhava do meu pai. Sofri um bocado quando era pequeno e cresci já com essa história na cabeça. E: E ele chegava a agredir sua mãe na sua frente? A: Chegava a agredir minha mãe. E: E você chegou a ser agredido também? A: Não. Eu sempre saí correndo quando meu pai ia me bater, eu saía correndo. Eu tenho um irmão mais velho que me protegia. Aí a gente cresceu com essa... (pausa) com isso na cabeça. E: E no caso da sua mãe, você e seus irmãos defendiam ela? A: Defendia, defendia, defendia. E: Mas tinha dia que não conseguia defender? 67 A: Isto. (pausa) Hoje em dia está mais em paz. Meu pai bebe menos. Aí não chega a agredir graças a deus, né. Hoje está tudo em paz. E: Hoje em dia está melhor então? A: Está melhor, graças a deus. E: Mas ele faz tratamento? A: Ele ia fazer, mas aí ele parou as coisas, ficou um bom tempo sem beber. Aí, aí, porque má companhia começou a beber de novo. Mas não bebe muito para derramar, para ficar mais violento não. Então, é isso aí. E: Hoje em dia está melhor, o que é que acontece nos seus dias que você acha que também está melhor? A: No serviço, no estudo, por que... (pausa) no serviço, no estudo, as minhas companhias eu ando agora. E: Você trabalha com o que? A: Num lava jato, lava carro. E: E as suas companhias? A: Minhas companhias são boas. Não tem menino que mexe com as coisas erradas. Só menino que é companheiro mesmo, que quando que precisar eles estarão prontos para me ajudar, né. Essas coisas assim. E: E o que você costuma fazer no dia a dia? A: Eu acordo assim, levanto vou trabalhar, e quando chego, normal no dia a dia assim. Quando chegar, almoço, desço para o serviço de novo e vou estudar. Depois no final de semana fico mais perto da minha mãe, da minha família assim, né. E: Costuma sair? A: Saio a noite, com minha mãe e com meu pai. E: Costuma ir para festa? A: Tipo de festa, tipo de festa assim que tem muita bagunça não costumo ir muito não. Gosto de festa normalzinha, assim. Entendeu? Em família, assim, eu curto muito. 68 E: Carretão (bailão)? A: Não. E: Tem vontade de ir? A: Ah, também não. Se tivesse vontade, todo sábado estava la. E: Mesmo tendo quinze anos? A: Mesmo tendo quinze anos. E: A sua mãe permite que você saia? A: É. Permite, deixa sair, mas... eu não curto muito esses troços. E: E momentos de lazer? Você tem? A: Tenho. E: O que você costuma fazer de lazer? A: Jogar bola com os amigos, sair assim pro campo. Brincar com o meu irmão, assim, em casa assim, jogar vídeo game com ele, assim. Normal. E: Mais alguma coisa de lazer A: Não. Só isso mesmo, só. E: Algum clube ou alguma coisa assim? A: Não, não. Tem não. E: Você falou dos seus irmãos, conta um pouco para mim como é o relacionamento com eles. A: Eu tenho só, eu tenho sete irmãos, comigo sete. Aí, uns moram fora, né. Que mais... (gagueja um pouco). Tenho outro irmão da minha idade, assim, mais ou menos de quatorze anos, assim, a gente brinca com o barro, mas quando a gente era mais pequeno assim, eu e ele, assim, ficamos bem tempão sem falar, sem falar um com o outro, por causa de briga dentro de casa. A gente ficou o maior tempão sem se falar um com o outro. Aí, um dia a gente se arrependeu de não falar com o outro, aí, agora estamos mais em paz. Eu e ele brincamos, porque antes a gente não tinha mais intimidade de irmãos, aí brigava muito, aí teve uma época que ficamos mais de dois anos sem falar um “a” com o outro. 69 E: O que é que aconteceu? A: Uma briga lá que deu com a minha mãe, lá, o L* (nome do irmão), num sei o que lá, chegou lá em casa bravo, aí eu fui, e também sou nervoso, aí eu fui, peguei e dei um empurrão no L* (nome do irmão), aí eu e ele acabamos brigando. Aí chegou um dia, que passou a falar um “a” com o outro, passamos a falar um “a” com o outro, aí ficou assim nessa de falar um “a” com o outro. Aí ficou mais de um ano, dois anos falar um “a” com um ao outro. Aí um dia... E: Quanto tempo? A: Um a dois anos. Irmãos dentro de casa ficar sem falar um “a” com o outro. Chegava e ficava emburrado, tomava banho e caía no quarto. Aí eu achei que isso é uma pouca vergonha, né, dois irmão dentro de casa sem se falar um com outro. Aí um dia pedimos desculpas um ao outro. E: Aí hoje em dia vocês brincam, conversam? A: Hoje em dia sim, brinca, conversa. E: E com os irmãos de fora, como é? A: É. Mais diferente né, que tem mais intimidade assim de... aí chega... normal, irmão normal mesmo. Intimidade mesmo normal. E: Conta um pouco para mim como é o relacionamento com a mãe. A: Bom né... minha mãe é meio enjoadinha assim, no fundo, fundo mesmo ela gosta da gente mesmo, de verdade. É assim mesmo, normal, chega em casa normal. E: O que é que você diz por ser normal? A: Normal é... não chega bater na gente assim, não chega a brigar com a gente muito. Entendeu? Educa, sempre educou. Assim! E: Ela briga muito ou conversa muito? A: Não, conversa muito, para falar a verdade. Conversa assim. E: Já apanhou da mãe? A: Nunca E: E do pai? 70 A: Do pai já apanhei já. E: E como é o seu convívio com o pai hoje? A: Normal. Antes era mais ele na dele, a gente na nossa, porque ele é muito bravo, a gente ficava com medo de chegar perto dele, assim, alguma coisa. Aí hoje dia ta tudo em paz. A gente chega assim, ele ta la na roça, chega perto dele e abraça ele, é outra coisa. Entendeu? Fala “benção”. Normal, agora é um convívio normal de família mesmo. E: O que são as drogas para você? A: Para mim drogas são coisas terríveis. Cada pessoa tem sua consciência de ficar, se quiser usar ele vai usar mesmo, não tem o que vai segurar, agora quem não tem uma cabeça mais firme, mais forte ele sabe que aquilo é errado e não pode tentar de curiosidade assim. Ele não pode tentar entendeu. Ficar, saber que é ruim, não pode ficar perto, tem que sair até de perto dos amigos que mechem, que fumam, sair de perto porque é roubada. E: Você acha que só tem droga ruim? A: Não. Tem droga boa também né, essas coisas. E: E se eu te perguntar um exemplo de droga boa e de droga ruim, o que você diria para mim? A: Droga ruim é aquela droga que faz os outros ficar mais sem noção, como a maconha, crack, essas coisas. E droga boa são as coisas que a gente fica em casa, come essas coisas, tem convivência. Assim... E: Quando se fala em drogas, o que é que você pensa, que tipos de substâncias você pensa? A: Penso em uma coisa ruim, má, né... que não pode consumir, que no futuro a gente pode se prejudicar com essa substância. E: Alguma substância específica quando eu falo sobre drogas? A: Igual, cigarro tem aquela nicotina que eles falam. Aí se consumir pode morrer tão cedo, que quando a pessoa, nada vai viver enquanto o tempo durar, aí quando as pessoas começam a consumir esse troço morrem cedo, não tem aquela convivência legal com a mãe e com o pai dentro de casa, acaba 71 roubando essas coisas. Briga fácil no meio da rua, brigando assim na rua. Essas coisas. E: Você falou do crack, da maconha, do cigarro. É, no que você se baseia para dizer que isso são drogas? A: É que traz... traz prejuízo nessa vida... a gente consome assim... prejuízo, que o cara que fuma assim, ele não tem consciência que aquilo pode trazer risco para vida dele no futuro. Aí é isso. E: E você falou da boa. Algumas coisas que a gente come, né, que pode trazer alguns benefícios para gente. E isso no que você se baseia para dizer que é droga? A: Droga assim, boa, pode ser a convivência com os pais que chega a, algum ponto, entendeu, porque é bom, algum ponto que é ruim, sei muito dizer assim não, porque drogas boas, ( não se entende o que ele diz). E: Conte uma situação marcante relacionada a drogas que você vivenciou ou um amigo seu tenha vivenciado? A: Bom, meu pai, né. Que quando eu era pequeno, ele bebia essas coisas, fuma até hoje, a gente fica com aquela consciência né. Agora se o cara tiver uma consciência pequena, como meu pai pode fumar eu posso fumar também. Aí começa fumar, entendeu? Sabe que aquilo ali é errado, que o pai está fazendo isso, porque o pai e a mãe não tem culpa da criança assim, quando nasceu assim. E: Seus pais conversam ou já conversaram com você sobre esse assunto drogas? A: Sempre conversa, porque eles sabem que isso é errado e minha mãe sabe que isso é errado, meu pai fuma assim, bebe. Porque ele falou que quando ele era pequeno não teve a educação que a gente tem hoje, aí ele falou que isso é errado, e quando vai para conhecer um amigo, sempre tem que conhecer a família, se é legal, se o menino também não faz coisa errada. Sempre que houver alguma roubada na rua, não entrar no meio, sair até de perto. Essas coisas sempre falam né. E: Então eles estão conversando com você sempre? Sempre estão te dando conselhos? A: Sempre... isto, sempre da, né. 72 E: Como você considera os seus conhecimentos sobre drogas? A: Eu, tipo assim, eu acho drogas errado. Quando eu vejo os meninos fumando eu saio de perto, com medo de (não se entende) alguma coisa. Entendeu? A curiosidade também, tenho muita curiosidade nisso não. Graças a deus né, porque para mim isso é praticamente errado. Porque para mim quem fuma alguma coisas é sem noção. Entendeu? Mas eu nunca tive curiosidade, nunca. E: Mas você conhece bem esse assunto? A: Conheço. Sempre na escola tinha palestra, essas coisas, os caras assim falando. Sempre prestei atenção, sempre fiquei em cima, assim, atento né sobre isso. nunca cheguei perto, nunca vi também não, nem quero ver também. E: Você está dizendo para mim que nunca teve o contato físico, mas você teve algum outro tipo de contato? No caso sem ser palestra, algum outro tipo de contato? A: Como assim? Conselho assim? E: É. Sem ser da mãe. Por que no caso você falou que teve contato através do conselho da mãe e do pai, através de palestra. Você teve algum outro tipo de contato? A: De amigos também. De amigos de quando eu saí, assim, com os amigos sim. Aí quando eu, as amizades dos amigos que mexiam, eles me davam conselho, não sai com esse menino não, porque esse menino mexe com coisa errada. Falando assim com a gente, comigo assim. Nunca cheguei assim não. Os caras falam assim que são amigos. Agora tem amigo que mesmo, tem amigo que fala, para de andar com esse cara, que pode fumar, que pode mexer, que não da nada não. Já tem amigo que é ao contrário, entendeu? Tem a mente mais forte também, fala para a gente não mexer, para não andar com aquele menino que mexe com coisa errada, que fuma e bebe. Meus amigos são mais ou menos assim. E: É um contato mais de amizade então né? A: De amizade. Isto! E: Quando você pensa em drogas quais palavras vêm a sua cabeça? 73 A: Tragédia, né. E violência, essas coisas. E: Família, amigos, drogas. Qual a relação dessas palavras para você? A: Que família assim... família é família, drogas são drogas. Drogas sempre destroem as famílias quando entra no meio, praticamente tudo errado, porque família que é unida mesmo não mexe com nada, é tudo em paz. Mas quando a droga entra na família, acabou tudo praticamente. E: Pedro é um rapaz de 17 anos, tem um emprego em uma loja de calçados, é estudante e nunca repetiu de ano. Ele mora com a Mãe que é separada de seu pai a 7 anos, ele não convive com o pai já que este o ignora. Ele gosta de ir para festas e costuma beber de vez em quando. Em uma festa os amigos de Pedro comentaram que fumaram maconha e disseram que é bom. O que você acha que pode acontecer nessa situação? A: Que se Pedro achar que... que se ele tiver uma mente mais vazia, sem conselho de quando era pequeno ou alguma coisa com certeza ele vai entrar na dos amigos dele né. Vai fumar, vai fazer alguma coisa, vai achar que é bom, vai fumar né. Vai começar viciar, viciar, até que vai estragar a família dele, alguma coisa, vai destruir a vida dele. E: você acha que uma situação igual a essa pode causar a curiosidade? Você acha que essa situação pode causar curiosidade em Pedro? A: Com certeza né, porque se o cara falou que é bom ele vai querer também né. Vai fazer, vai fumar alguma coisa. E: Você já consumiu alguma dessas substâncias alguma vez na vida? Maconha; A: não Cocaína; A: nunca Álcool; A: nunca Cigarro; A: nunca Crack; A: nunca Medicamento para dormir; A: também não 74 Medicamento para se concentrar; A: não Medicamento para se acalmar; A: não E: Você consumiu alguma dessas substâncias nos últimos três meses? Maconha; A: não Cocaína; A: não Álcool; A: não Cigarro; A: não Crack; A: não Medicamento para dormir; A: não Medicamento para se concentrar; A: não Medicamento para se acalmar A: não E: Você já sentiu desejo ou vontade de consumir alguma dessas substâncias? Maconha; A: não Cocaína; A: não Álcool; A: não Cigarro; A: não Crack; A: não Medicamento para dormir; A: não Medicamento para se concentrar; A: não