M.F. Nardi
Transcrição
M.F. Nardi
M.F. Nardi Análise de diferentes modos de pesca no Brasil, perspectivas e preocupações Marcos Fernandez Nardi¹ ¹Mestrando Programa de Pós-Graduação em Sustentabilidade de Ecossistemas Costeiros e Marinhos – PPG-ECOMAR em Ecologia Resumo: O propósito deste trabalho é descrever analiticamente a atividade pesqueira nacional, diferenciando as diversas praticas aplicadas com base na literatura publicada sobre cada uma. Para efeito de analise escolheu-se as pescas de subsistência, esportiva, artesanal e industrial, não se optando abordar ramos mais específicos como à pesca de espécies ornamentais, mesmo essa representando grande fonte de recursos para determinadas regiões. Verificou-se no estudo que ainda existem diversas regiões onde a falta de recursos e a precariedade da qualidade de vida obriga a população a aventurar-se por rios, lagos e mangues para retirar sua subsistência, em contra partida em outras localidades, a própria presença do homem reduz a condição de atuação na pesca, forçando a atividade a se readequar e buscar áreas pesqueiras cada vez mais distantes do continente, inviabilizando por exemplo a pesca artesanal. Em contra partida a pesca industrial quando utilizada possui uma capacidade muito maior de captura, diminuindo assim algumas populações. No caso da pesca esportiva, existe ainda o advento econômico, pois além de incentivar a visitação de pessoas de todas as partes do mundo, ainda é fonte de criação e empregos, diretos e indiretos, e renda para as áreas de atuação da modalidade. Palavras chave: Pesca, artesanal, subsistência, esportiva, industrial ___________________________________________________________________ Analysis of different modes of fishing in Brazil, concerns and prospects. Abstract: The purpose of this paper is to analytically describe the national fishing activity, differentiating the various practices applied based on the published literature on each. To effect of analyze was chosen fisheries subsistence, sport, artisanal and industrial, not choosing to address more specific branches like fishing ornamental species, even this represents great resource for certain regions. Was found in the study that there are still several areas where the lack of resources and the precarious quality of life people to venture into rivers, lakes and swamp to remove their livelihoods, in counterpart, in the other places, the presence of man reduces the performance condition in fishing, forcing the readjust of activity and get fishing areas more distant from the mainland, making it impossible, for example, for small-scale fishing. By contrast, industrial fishing when used has a much greater ability to capture, thus reducing some populations. In the case of sport fishing, there is also the advent of economic, for as well as encouraging visits of people from all over the world, is still a source of creation and jobs, direct and indirect, and income for the areas when the sport exist. Keywords: Fishing, artisanal, subsistence, sport, industrial UNISANTA BioScience – p.135 - 143; Vol. 4 (2015) nº 3 Página 135 M.F. Nardi Introdução Conforme define a lei 11.959 de 29 de junho de 2009, capitulo II, 2º art., inciso III, do Código Civil Brasileiro: “pesca: toda operação, ação ou ato tendente a extrair, colher, apanhar, apreender ou capturar recursos pesqueiros”, mesmo a definição caracterizando uma atividade com inúmeras possibilidades de execução, para efeito desse estudo serão analisadas apenas as modalidades de pesca esportiva classificadas no 8º Art. Da citada lei: “amadora: quando praticada por brasileiro ou estrangeiro, com equipamentos ou petrechos previstos em legislação específica, tendo por finalidade o lazer ou o desporto”, ainda classifica o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA) em sua portaria nº 30 de 23 de maio de 2003, a pesca esportiva em três modalidades: “I - Pesca Desembarcada (Categoria A): realizada sem o auxílio de embarcação e com a utilização de linha de mão, puçá, caniço simples, anzóis simples ou múltiplos, vara com carretilha ou molinete, isca natural ou artificial; II - Pesca Embarcada (Categoria B): realizada com o auxílio de embarcações e com o emprego dos petrechos citados no Inciso anterior. III - Pesca Subaquática (Categoria C): realizada com ou sem o auxílio de embarcações e utilizando espingarda de mergulho ou arbalete, sendo vedado o emprego de aparelhos de respiração artificial”, nesse caso pesca amadora e desportiva possuem a mesma conotação. O 8° Art. Da lei 11.959/2009 define ainda pesca artesanal “artesanal: quando praticada diretamente por pescador profissional, de forma autônoma ou em regime de economia familiar, com meios de produção próprios ou mediante contrato de parceria, desembarcado, podendo utilizar embarcações de pequeno porte”. A pesca esportiva conforme Peixer e Petrere (2009) é uma atividade que mundialmente movimenta milhões de dólares sendo, por exemplo a segunda atividade ao ar livre na preferência dos australianos; e gerando gastos aos participantes superiores a 30 milhões de dólares ao ano apenas nos Estados Unidos, que obtém apenas a experiência vivida pois a atividade é definida pela não comercialização do produto. Porém a atividade não traz apenas benefícios aos países, chegando ao ponto de, em alguns casos comprometer as espécies da região, pois segundo demonstra Peixer e Petrere: “Segundo esses autores, os resultados de pesca desportiva em degradação do habitat, tanto quanto a pesca comercial. Em lagos da Polónia, o peixe desembarcado esporte ultrapassa a pesca comercial de algumas espécies (Bninska e Wolos, 2001). O mesmo acontece no Lago Toya, no Japão (Matsuishi et al., 2002). No Pantanal de Cáceres, no estado de Mato Grosso, pescadores esportivos captar 2,7 vezes mais do que os profissionais (Netto, 2006). Segundo Catella (2004), no Pantanal do Mato Grosso do Sul, a maioria dos peixes capturados vem dos pescadores esportivos. De 1994 a 1999, o desembarque total foi de 1.415 ton. / ano, e, desse total, 76% foram capturados por pescadores esportivos.” (2009, pag. 1082). Mesmo no caso onde são efetuadas as modalidades da modalidade “pesque e solte”, dependendo dos métodos utilizados podem ocorrer baixas nas populações, como cita Thomé-Souza et al. (2014), onde se percebeu que quando utilizados ganchos para a captura pode haver óbito do indivíduo devido aos ferimentos, em determinadas espécies, além do fato que cada vez mais os UNISANTA BioScience – p.135 - 143; Vol. 4 (2015) nº 3 Página 136 M.F. Nardi pescadores esportivos se utilizam de equipamentos da pesca industrial (sonares, câmeras, radares, entre outros) para a atividade. Para a pesca artesanal o processo é uma troca constante de seus praticantes com o meio ambiente, diversas são as técnicas utilizadas para suprir a atividade, desde a utilização de equipamentos rudimentares e com força de tração unicamente humana, até barcos com pequena potência de arrasto. O artigo tem por objetivo a elaboração de uma pesquisa exploratória, através de revisões bibliográficas, visando uma releitura das diferenças entre as várias modalidades pesqueiras, enfatizando as pescas esportiva e artesanal, onde a atividade muitas vezes se confunde, podendo apenas ser diferenciada pelos conceitos a elas auferidos e promover o entendimento sobre as atividades e suas características ao longo dos tempos. Pesca e subsistência uma história antiga Torna-se complexa a dissociação da subsistência humana e da pesca, haja vista que mesmo quando nômades os ancestrais do homem já se alimentavam também de animais aquáticos, atividade que atravessou o tempo passando por relatos em povos antigos e persistindo até a atualidade, sendo a única fonte de subsistência para muitas pessoas. Em países como o Brasil a pesca de subsistência é praticada pelas comunidades ribeirinhas conforme Freitas e Batista (1999), quando praticada em regiões internas (rios, lagos, lagoas, charcos, pântanos, etc.); ou vilas de pescadores quando se trata de trata da pesca praticada em ambientes externos (mares e oceanos) (Machado e Nunes, 2011). Conforme descrevem Freitas e Batista (1999) o ribeirinho conhecido na região amazônica, por exemplo que é conhecido como “pescador-lavrador” possui como atividade principal a agricultura de várzea como atividade central, porém utiliza-se da pesca para suprir o abastecimento alimentício familiar. Afirmam ainda Santos e Santos (2005) ser uma das atividades mais antigas da região amazônica, sendo a pesca praticada pelas populações indígenas por aproximadamente oito mil anos na região do Solimões/Amazonas, que se utilizavam basicamente de arcos e flechas, anzóis rudimentares e redes feitas de fibras naturais. Na atualidade produto extraído serve como principal fonte população ribeirinha na atualidade, tornando essa região uma das maiores consumidoras de pescado do mundo. Alguns autores ainda afirmam que essa modalidade é de suma importância para o desenvolvimento cultural dos locais onde são praticadas por não fazerem distinções entre seus atores no que tange a classes sociais, sexo, idade ou qualquer outra. Rebêlo (2005) cita que a legislação não proíbe a captura por essa modalidade de pesca, pois tradicionalmente não ocorrem para acumulação, mas apenas para o consumo, e afirma: “Não há lei que proíba ou permita a captura de subsistência, que deveria ser tolerada para populações tradicionais, se não comprometer as funções ecológicas da fauna, não levar espécies à extinção, nem promover a crueldade” (pag. 113). UNISANTA BioScience – p.135 - 143; Vol. 4 (2015) nº 3 Página 137 M.F. Nardi Pesca esportiva atividade de contato homem-natureza A pesca esportiva conforme definição legal, Lei 11.959 de 29 de junho de 2009, capitulo IV, 8º art. “amadora: quando praticada por brasileiro ou estrangeiro, com equipamentos ou petrechos previstos em legislação específica, tendo por finalidade o lazer ou o desporto”, onde os participantes, por definição, devem utilizar-se do meio extrativista apenas para lazer, ficando vetado o seu comercio. Kitamura (2013) descreve o crescimento dessa modalidade de pesca geralmente vinculado a atividades “eco rurais” praticadas em ambientes de chácaras, sítios, pesque-pague entre outras. Ainda segundo o autor esse crescimento deve ser observado com certo ceticismo visto que geralmente não existem estudos “bioeconomicos” ou ambientais relacionados a esse tipo de atividade. Para Catella (2004) a experiência da pesca esportiva está relacionada a diversos sistemas sensoriais do ser humano e não diretamente a captura dos peixes, onde seus praticantes buscam além da experiência da atividade pesqueira, a contemplação dos meios naturais, contato homemnatureza e a experiência de atividades ao ar livre. Nogueira e Ghedin (2010) ainda afirmam que os praticantes da pesca esportiva geralmente estarão inseridos em um ambiente de turismo principalmente nas regiões Norte e Centro-oeste do pais, onde o chamado “turismo de pesca” traz ao praticante uma experiência harmoniza entre esse o meio, e que gera uma movimentação de cerca de 1 bilhão de reais e cria cerca de 200mil empregos (diretos e indiretos). Os autores ainda afirmam que esse evento se dá devido ao Brasil ser um dos países mais ricos em espécies de interesse para pesca esportiva, inclusive detendo alguns dos recordes de pesca internacional. KaliKosKi, Seixas e Almudi (2009) alertam para o desenvolvimento exacerbado da pesca esportiva, onde os processos econômicos gerados sejam mais rentáveis, pois esse favorecimento “hipoteticamente” pode contribuir para uma discrepância entre a pesca esportiva face às modalidades artesanal e comercial, como ocorre por exemplo na região Centro-oeste do pais. O Ministério da Pesca do Brasil, através de seu site, classifica alguns dos chamados “peixes esportivos” denotando as espécies de maior interesse pelos praticantes da modalidade de pesca esportiva, na região amazônica estão os tucunarés (Cichla sp.), cachorra-larga ou pirandirá (Hydrolycus scomberoides), bicudas (Boulengerella sp.), matrinxãs (Brycon sp) entre outros, distribuídos principalmente nos rios Negro, Madeira, Xingu, Tocantins e outros tantos. Para o pantanal os representativos são: dourado (Salminus maxilosus), jaú (Zungaro sp), pintado (Pseudoplatystoma corrunscans), entre outros. E para os ambientes marinos destacam-se: Anchova Pomatotous saltator, atuns (Thunnus sp), badejo (Mycteroperca sp.), dourado-do-mar (Coryphaena hippurus), cavala (Scomberomorus cavalla), garoupa (Epinephelus marginatus), entre outros. Disponível em http://www.mpa.gov.br/index.php/pesca/amadora/peixes-esportivos. Acessado em 21/02/2015 as 12:52h UNISANTA BioScience – p.135 - 143; Vol. 4 (2015) nº 3 Página 138 M.F. Nardi A pesca esportiva ainda pode ter cunho cientifico onde alguns pesquisadores a utilizam para verificar a e comprovar fatos ou suspeitas acerca de alguns temas, como por exemplo cita ThoméSouza et al. (2014) sobre seu estudo efetuado sobre a mortalidade de espécies em sistemas de pesque e solte na região norte do pais ou como descrevem Braun e Fontoura (2004) sobre a reprodução biológica de espécies no sul do pais onde para ambos os experimentos a pesca esportiva foi crucial como forma de manejo. Pesca artesanal a vida das vilas de pescadores Santana et al (2014) descreve a pesca artesanal como sendo aquela atividade que ocorre utilizando-se de mão de obra obtida em pequenos grupos sociais, família ou amigos próximos, concentrados em uma mesma região e baseada na interação e cooperação de seus indivíduos, onde geralmente os próprios pescadores são os proprietários de todos os meios produtivos, desde equipamentos até as embarcações, que geralmente são de madeira, de porte pequeno, com baixa capacidade de armazenagem de produtos, esses geralmente destinados ao consumo e parte destinada ao comercio. Ramires e Barrella (2003) descrevem a importância da atividade onde essas pequenos grupos sociais que quando formadas em comunidades marítimas e litorâneas são chamadas de comunidades caiçaras, que geralmente vivem total ou parcialmente da atividade pesqueira e essa se tornou característica marcante dessa cultura. Santana et al (2014 apud Dias Neto e Dornelles 1996, p. 4) “a pesca artesanal caracteriza-se pelo seu objetivo, que pode ser comercial e/ou de subsistência”. Segundo Freitas e Rodrigues (2014) a pesca artesanal no Brasil, como atividade econômica surge como alternativa à falência dos setores cafeeiros e açucareiros e da necessidade de exploração de algo, que não extrativismo ou caça, ainda afirmam: “A pesca artesanal se caracterizou como economia fundamental na manutenção dos arranjos produtivos locais de modo extrativo, tanto nos ecossistemas litorâneos como nos fluviais do território brasileiro” (pag. 4004). Descrevem as características dos pescadores artesanais e em seu conhecimento empírico, Clauzet, Ramires e Barrella (2005): A captura da pesca artesanal é feita através de técnicas de reduzido rendimento relativo e sua produção é total ou parcialmente destinada ao mercado (4). Os pescadores artesanais mantêm contato direto com o ambiente natural e, assim, possuem um corpo de conhecimento acerca da classificação, história natural, comportamento, biologia e utilização dos recursos naturais da região onde vivem. (pag. 01) Corroboram sobre a importância desse ator do sistema Da Silva, Wanderley e Conserva (2014): A estreita relação existente entre as populações ribeirinhas que se ocupam da pesca artesanal e a natureza foi desprezada por um longo tempo. Mais recentemente, seus conhecimentos e sua forma de se relacionar com o meio ambiente (considerada tradicional) foram reconhecidos pelos organismos internacionais, tendo relevância na formulação de políticas públicas de UNISANTA BioScience – p.135 - 143; Vol. 4 (2015) nº 3 Página 139 M.F. Nardi controle do território urbano e rural para a conservação da biodiversidade (Diegues, 2004). (Pag. 177) Os autores ainda destacam que a pesca artesanal não se atem apenas a extração do pescado apenas, mas também a captura de moluscos e crustáceos geralmente em áreas formadas por manguezais, essa geralmente ocorrendo de maneira sazonal e em muitos casos como única fonte de recursos para sua subsistência. Oliveira e Silva (2012) descrevem preocupação em relação a essas comunidades face à preferência governamental pela pesca industrial, conforme citam: A abordagem da pesca artesanal pelo Estado brasileiro demonstra a continuidade nos intuitos de industrialização. Nesse sentido, o Estado, sob a égide de governos ditatoriais ou democráticos, continua, além de intervindo nos setores produtivos, estimulando um modo de produção e de vida específico e urbano. Ocorre o consequente desaparecimento de um modo de vida tradicional, fundado em bases produtivas comunitárias. (pag. 330) Rebouças, Filardi e Vieira (2006) demonstram que vários são os fatores que influenciam na dissolução das comunidades pesqueiras atuantes na pesca artesanal, que vão desde a invasão desordenada de áreas litorâneas, passando pela degradação que essas inferem ao meio ambiente e até a falta de um plano de fiscalização para coibir essas intervenções do homem ao meio. Pesca Industrial, a versão menos poética do extrativismo Enquanto a pesca artesanal é definida pela proximidade da costa, em caso de pesca marinha e realizada por embarcações menores e equipamentos mais rudimentares, a pesca Industrial se desenvolve em áreas mais afastadas e com equipamentos mais sofisticados e geralmente se faz com embarcações metálicas de portes maiores e geralmente por pescadores profissionais, a definição da Lei 11.959 de 29 de junho de 2009, capitulo IV, 8º art. para a atividade é: “industrial: quando praticada por pessoa física ou jurídica e envolver pescadores profissionais, empregados ou em regime de parceria por cotas-partes, utilizando embarcações de pequeno, médio ou grande porte, com finalidade comercial”. Nesse caso uma das premissas básicas para esse tipo de atividade é o cunho comercial. Descrevem Giulietti e Assumpção: A pesca industrial é a do tipo empresarial, com embarcações de grande tonelagem e motorizadas, cuja tecnologia de captura é desenvolvida, com alta capacidade produtiva e em áreas distantes da costa, com grande autonomia de navegação. Essa frota normalmente é direcionada à captura de determinadas espécies como camarão, de alto valor unitário; sardinha, que é capturada em grandes volumes, mas tem valor unitário baixo; pescada; corvina; merluza e outras. (pag. 99) A pesca industrial apresenta uma condição de maiores volumes de captura, apesar de respeitarem as premissas de conservação ambientais Andrade (2010) descreve que a pesca industrial se isolada no estado de Santa Catarina corresponderá a 94% de todo pescado capturado, em se tratando das embarcações afirma: UNISANTA BioScience – p.135 - 143; Vol. 4 (2015) nº 3 Página 140 M.F. Nardi No diversificado parque pesqueiro industrial catarinense, destacam-se as frotas de traineiras, camaroeiros, parelhas, atuneiros e caceio como as mais numerosas, compondo mais de 90% do total de embarcações sediadas no estado (Figura 3). (pag. 20) Já Schroeder, Schroeder e Costa (2004) complementam: A pesca industrial costeira tem finalidade comercial e é realizada por embarcações de maior autonomia, capaz de operar em áreas mais distantes da costa, com equipamentos mais especializados. A pesca industrial oceânica também tem finalidade comercial, e envolve embarcações aptas a operarem em toda a Zona Econômica Exclusiva (ZEE), incluindo áreas oceânicas mais distantes, mesmo em outros países. A indústria da pesca engloba as atividades de: corte, filetagem, salga, secagem, defumação, cozimento, congelamento e enlatamento da matéria-prima. O parque industrial brasileiro possui uma estrutura de beneficiamento com cerca de 20 anos de funcionamento e possui tecnologia comparável aos melhores parques industriais do mundo (FAO, 2004). (pag. 2132). Giulietti e Assumpção (1995) entretanto descreve preocupação em relação à baixa participação da aquicultura na produção de pescado no pais, conforme cita: A produção de pescado do País origina-se, principalmente, da pesca extrativa, sendo pequena a participação da aquicultura na composição dessa produção, dada a predominância da piscicultura extensiva, cujo maior volume está no Nordeste, praticada na rede de açudes do Departamento Nacional de Obras contra a Seca (DNOCS). Existe, também, a piscicultura extensiva nas áreas inundadas das usinas hidrelétricas, porém não se dispõe de estatísticas dessa produção. A piscicultura intensiva ainda é inexpressiva no Brasil, contribuindo pouco para a oferta de pescado. Entretanto, nos últimos anos, vem ganhando importância com muitos projetos de cultivo sendo implantados: de camarões no Nordeste e de peixes diversos na Região Sudeste, como de trutas, tilápias e carpas em São Paulo e de ostras, em Santa Catarina. O incremento da produção de pescado, no futuro, vai depender da aquicultura, sendo que a produtividade da pesca extrativa está condicionada à preservação e reprodução dos recursos naturais existentes, para manter ou aumentar sua produção. (pag. 99) Os autores definem tal preocupação devido a diversos intervenção como a chamada sobrepesca, ou predação, turismo exacerbado e a ocupação desordenada da indústria imobiliária, assim como a poluição das aguas, destruição dos meios de pesca artesanal, destruição as áreas de mangue o que fatalmente gera uma redução das ofertas de pescado para a atividade extrativista, afetando principalmente as zonas de pesca mais próximas à costa. Considerações finais Em relação à atividade pesqueira quando aplicada a um país de dimensões continentais como o Brasil, várias são as modalidade possíveis, não apenas pela extensão territorial, mas ainda há a separação das várias classes sociais onde em algumas situações a pesca garante não só o alimento, mas garante mínima qualidade de vida possível para essa população. Para esse estudo não foram consideradas modalidades como pesca de peixes ornamentais que em algumas regiões do país ainda possibilitam renda, subsistência e qualidade de vida para as populações envolvidas. UNISANTA BioScience – p.135 - 143; Vol. 4 (2015) nº 3 Página 141 M.F. Nardi A pesquisa percorreu desde as formas mais primitivas de pesca onde se utilizam canoas a remo, com equipamentos como covos e anzóis em linhadas, até as embarcações resistentes a longas trajetórias geralmente feitas de metal, com amplos porões frigoríficos para a acomodação dos pescados e verificaram-se ainda algumas das dificuldades encontradas nessas atividades e suas perspectivas futuras. Estudos analisados na pesquisa apontam a atividade pesqueira brasileira atrelada a atividades como o turismo, por exemplo, e mesmo com toda a amplitude demonstrada nas diversas modalidades de pesca, ainda existe pouca preocupação com os impactos por ela gerados e baixa fiscalização por órgãos competentes. Referências Andrade, H. A. "Estrutura do setor industrial pesqueiro no estado de Santa Catarina." Brazilian Journal of Aquatic Science and Technology 2.1 (2010): 17-27. BRASIL. Lei nº 11.959, de 29 de junho de 2009. Braun, Aloisio S. and FONTOURA, Nelson F. Reproductive biology of Menticirrhus littoralis in southern Brazil (Actinopterygii: Perciformes: Sciaenidae). Neotrop. ichthyol. [online]. 2004, vol.2, n.1, pp. 31-36. ISSN 1679-6225. http://dx.doi.org/10.1590/S1679-62252004000100005. Catella, Agostinho C. Reflexões sobre a pesca esportiva no Pantanal Sul: crise e perspectivas. Embrapa Pantanal, 2004. Clauzet, M., Ramires, M., & Barrella, W. (2005). Pesca artesanal e conhecimento local de duas populações caiçaras (Enseada do Mar Virado e Barra do Una) no litoral de São Paulo, Brasil. Multiciência, 4, 1-22. Da Silva, Emanuel Luiz P., Mariangela Belfiore Wanderley, and Marinalva de Sousa Conserva. "Proteção social e território na pesca artesanal do litoral paraibano." (2014). Freitas, C. E., & Batista, V. S. (1999). A pesca e as populações ribeirinhas da Amazônia Central. Brazilian Journal of Ecology, 3(2), 31-39. Freitas, Marcelo B. Rodrigues, Silvio C. A. - As consequências do processo de desterritorialização da pesca artesanal na Baía de Sepetiba (RJ, Brasil): um olhar sobre as questões de saúde do trabalhador e o ambiente - Ciência & Saúde Coletiva, 19(10):4001-4009, 2014 Giulietti, N., & de Assumpção, R. (1995). Indústria pesqueira no brasil1. Little, Paul E. "Os conflitos socioambientais: um campo de estudo e de ação política." A difícil sustentabilidade: política energética e conflitos ambientais. Rio de Janeiro: Garamond (2001): 107-122. KaliKosKi, D. C., Seixas, C. S., & Almudi, T. (2009). Gestão compartilhada e comunitária da pesca no Brasil: avanços e desafios. Ambiente & Sociedade,12(1), 151-172. Kitamura, Paulo Choji et al. Avaliação ambiental e econômica dos lagos de pesca esportiva na bacia do rio Piracicaba. Boletim de Indústria Animal, [S.l.], v. 56, n. 1, p. 95-107, Dec. 2013. UNISANTA BioScience – p.135 - 143; Vol. 4 (2015) nº 3 Página 142 M.F. Nardi ISSN 1981-4100. Disponível em: <http://revistas.bvs-vet.org.br/bia/article/view/8948/9541>. Acesso em: 21 Feb. 2015. Machado, M. R., & Nunes, J. (2011). Biodiversidade marinha e costeira da região de cabo frio/RJ: uma perspectiva interdisciplinar. Encontro Nacional dos Núcleos de Pesquisa Aplicada em Pesca e Aquicultura. Nogueira, E. M., & Ghedin, L. M. (2010). A pesca esportiva como suporte para o turismo de base local no baixo Rio Branco no Estado de Roraima. XI ENCONTRO NACIONAL DE TURISMO COM BASE LOCAL-Turismo e Transdisciplinaridade: Novos Conceitos. Niterói, RJ, 781-796. Oliveira, Olga Maria Boschi Aguiar de; Silva, Vera Lúcia da. O processo de industrialização do setor pesqueiro e a desestruturação da pesca artesanal no Brasil a partir do Código de Pesca de 1967. Sequência (Florianópolis), 2012, vol., n. 65, ISSN 2177-7055. Peixer, J.; Petrere Júnior, M Sport fishing in Cachoeira de Emas in Mogi-Guaçu River, State of São Paulo, Brazil. Brazilian Journal of Biology, 2009, vol.69, n. 4, ISSN 1519-6984. Ramires, M., & Barrella, W. (2003). Ecologia da pesca artesanal em populações caiçaras da Estação Ecológica de Juréia-Itatins, São Paulo, Brasil. Interciencia, 28(4), 208-213. Rebêlo, George H., et al. "Pesca Artesanal de Quelônios no Parque Nacional do Jaú (AM) arque Nacional do Jaú (AM)." Boletim do Museu Paraense Emilio Goeldi1.1 (2005): 109-125. Rebouças, G. N., Filardi, A. C. L., & Vieira, P. F. (2006). GESTÃO INTEGRADA E PARTICIPA GESTÃO INTEGRADA E PARTICIPATIVA DA PESCA ARTESANAL: potencialidades e obstáculos no litoral do Estado de Santa Catarina. Editores Executivos, 9(2), 83. Santana, Antônio C. et al. Influência da Barragem de Tucuruí no Desempenho da Pesca Artesanal, Estado do Pará. RESR, Piracicaba-SP, Vol. 52, Nº 02, p. 249-266, Abr/Jun 2014 – Impressa em Agosto de 2014 Santos, Geraldo Mendes dos and Santos, Ana Carolina Mendes dos. Sustentabilidade da pesca na Amazônia. Estud. av. [online]. 2005, vol.19, n.54, pp. 165-182. ISSN 0103-4014. http://dx.doi.org/10.1590/S0103-40142005000200010. SCHROEDER, J., JT SCHROEDER, and RP COSTA. "Gestão de custos e capacidade de produção na indústria pesqueira." (2004). Thomé-Souza, Mario J. F.; Maceina, Michael J.; Forsberg, Bruce R.; Marshall, Bruce G.; Carvalho, Álvaro L. Peacock bass mortality associated with catch-and-release sport fishing in the Negro River, Amazonas State, Brazil. Acta Amazônica, 2014, vol.44, n. 4, ISSN 0044-5967. http://www.mpa.gov.br/index.php/pesca/amadora/peixes-esportivos Acessado em 21/02/2015 às 12:52. UNISANTA BioScience – p.135 - 143; Vol. 4 (2015) nº 3 Página 143