Edição n° 1271: Quanto vale um metalúrgico, um
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Edição n° 1271: Quanto vale um metalúrgico, um
Núcleo de Educação Popular 13 de Maio - São Paulo, SP . CRÍTICA SEMANAL DA ECONOMIA EDIÇÃO Nº1271 – Ano 29; 2ª Semanas Novembro 2015 Quanto vale um metalúrgico, um bancário e outras importantes profissões nas diversas nações do mundo?. JOSÉ MARTINS Os salários médios brutos anuais dos metalúrgicos especializados no Brasil e África do Sul, em torno de US$ 34,000 anuais, se aproximaram bastante dos salários da mesma categoria nos EUA e Alemanha, em torno de US$43,000 anuais. Mas nas demais profissões, da operária da tecelagem até o bancário, passando pelo professor primário, motorista de ônibus, etc., tanto Brasil quanto África do Sul fazem a mesma triste figura de China, Índia, Egito, México e outras excrecências do sistema. Continuamos nossas observações sobre salários mundiais, com a mesma fonte dos dados do relatório da UBS1. Para concluir, resta comparar os salários de importantes profissões nas principais cidades do mundo. Novos dados, um oceano de dados. Vamos em frente. Salários Brutos Anuais de Diversas Profissões no Mundo (em US$). BLOCOS/ PAÍSES Economias Dominantes EUA Alemanha Japão Economias Dominadas Engenheiro Eletricista Técnico Metalúrgico** Operária Tecelagem Operário Construção Motorista Ônibus Enfermeira Hospital 72,487 49,870 32,512 37,002 34,604 48,978 107,820 56,305 53,536 43,500 42,705 63,407 38,965 26,993 31,578 42,000 27,182 41,825 31,714 32,993 39,106 67,950 31,805 47,179 21,470 15,902 5,758 5,765 8,813 11,024 Professor Primário Bancário 61,363 49,270 69,074 52,100 62,917 47,040 48,490 52,281 8,695 11,861 Brasil* 33,800 33,600 4,964 6,944 8,300 19,100 8,350 13,150 Rússia 18,749 10,962 6,653 7,144 13,381 7,787 11,378 13,986 China 18,368 9,741 5,229 7,730 7,983 14,524 10,651 16,945 Índia 11,847 5,045 2,791 2,087 3,185 5,216 3,446 4,996 Africa Sul 58,426 34,799 9,453 5,420 10,339 14,664 13,173 12,773 Argentina 16,929 12,489 10,277 9,921 17,246 11,665 10,191 16,431 México 7,521 8,856 3,019 2,063 1,813 12,286 6,782 6,240 Polônia 16,275 19,021 7,444 8,695 10,372 9,781 12,887 11,393 Egito 11,318 8,609 1,993 1,888 2,202 4,195 1,398 10,838 *Brasil= Média São Paulo/Rio de Janeiro **Operário técnico qualificado com longa experiência em grande indústria metalúrgica ou de máquinas. Idade média 35 anos. 1 Union Bank of Switzerland (UBS) – “Prix et Salaires 2015. Est-ce que je gagne assez pour me permettre la vie que je veux?” Genebra, Setembro 2015. 1 São muitos números, muitas variáveis e infinitas relações que se pode fazer com tudo isso. Vejamos algumas mais diretamente ligadas ao desenvolvimento desigual e combinado do capital no mercado mundial. De maneira geral, verifica-se a mesma disparidade de salários entre economias dominantes e dominadas já verificada no boletim passado. Mas agora se trata de uma desagregação nas diversas profissões. Para maior precisão procuramos listar apenas oito profissões ou categorias de trabalhadores produtivos. Primeira constatação: em nenhuma das categorias profissionais ocorre um salário real maior nas dominadas do que nas dominantes. Em média, os salários nas economias dominantes são quase cinco vezes maiores que nas dominadas. Essa nítida disparidade entre salários de uma mesma categoria ocorre porque os salários reais são mais elevados em economias onde predomina a extração da mais-valia relativa como forma de valorização do capital. Para confirmar a regra, a única exceção é o salário do engenheiro eletricista na África do Sul ($58,426), maior que na Alemanha e Japão. Quanto aos salários relativos (valor da força de trabalho) – equivalentes ao tempo da jornada de trabalho necessária à produção dos meios necessários à reprodução da força de trabalho – são sempre maiores nas dominadas. Isso ocorre porque nestas últimas predomina a mais-valia absoluta (pagamento do salário abaixo do valor da força de trabalho e prolongamento da jornada) como forma de valorização do capital. Nas economias dominantes verifica-se uma variação menor entre as remunerações das diversas categorias. Na média, a amplitude entre o maior salário do engenheiro ($72,487) e o menor salário da operária da Tecelagem ($32,512) é pouco mais que 2,2 vezes. Enquanto isso, nas dominadas a diferença entre o maior salário do engenheiro ($21,470) e o menor da operária da Tecelagem ($5,758) é pouco menos que 3,8 vezes. Entre as três maiores economias do mundo, a Alemanha é a que apresenta os menores salários. Em todas as categorias listadas na tabela, os salários alemães estão abaixo da média do bloco das economias dominantes. Isso se explica pelo enorme aumento da exploração dos trabalhadores europeus depois da implantação da eurozona e da moeda única. O aprofundamento do neoliberalismo nos últimos quinze anos e a destruição do Estado Social do pós-guerra provocou um empobrecimento da população europeia mais rápido que o ocorrido nos EUA e Japão. Assim, na maior economia da eurozona verifica-se esse empobrecimento através de pesadíssima redução dos salários, onde mesmo o salário da enfermeira de hospital ($31,805) é menos que a metade da mesma trabalhadora nos EUA e 33% mais baixo que no Japão. Nas demais economias dominantes da eurozona (França e Itália) a pauperização social é ainda mais profunda. Mas se nas economias dominantes os trabalhadores sentem pela primeira vez no pós-guerra o mesmo arrocho salarial historicamente conhecido pelos trabalhadores nas economias dominadas, isso não quer dizer que esteja havendo uma confluência global de salários. Ao contrário, enquanto no centro os salários caem, na periferia caem mais rapidamente ainda. É claro que isso tem limites políticos e sociais. Mas é exatamente por isso que estamos tratando deste indigesto assunto. Só Brasil e África do Sul apresentam salários acima da média do bloco das economias dominadas. Mas apenas em duas categorias, dos engenheiros e dos trabalhadores metalúrgicos especializados. Os salários destas duas categorias se aproximam tendencialmente dos praticados no centro. Já vimos acima o caso dos 2 salários dos engenheiros na África do Sul. Mas verifica-se também que os salários médios dos metalúrgicos no Brasil e África do Sul (em torno de $ 34,000) se aproximaram bastante dos salários da mesma categoria nos EUA e Alemanha (em torno de $43,000). Mas nas demais profissões, da operária da tecelagem até o bancário, tanto Brasil quanto África do Sul fazem a mesma triste figura de China, Índia, Egito, México e outras excrecências do sistema. Continuaremos a análise desta realidade no próximo boletim. 3