Texto integral em PDF - Juventude Adventista Portuguesa

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Texto integral em PDF - Juventude Adventista Portuguesa
SEMANA DE ORAÇÃO 2016
DIA 1: A Trindade
DIA 2: O Grande Conflito
DIA 3: A Lei de Deus
DIA 4: O Sábado
DIA 5: O Santuário
DIA 6: Morte e Inferno
DIA 7: O Tempo do Fim
DIA 8: A Segunda Vinda
DIA 1: A TRINDADE
Janelas: Uma Introdução à semana de oração
Nesta semana de oração vamos explorar oito doutrinas Bíblicas-chave da Igreja
Adventista do Sétimo Dia. Muitos do nosso povo - talvez tu estejas incluído - ficam
em ponto morto intelectual, respiram um suspiro de tédio, e esperam uma
repetição de factos teológicos secos que ouvimos uma e outra vez:
O sétimo dia é o Sábado, não o primeiro dia, e aqui estão um zilhão de
versículos da Bíblia para provar isso.
Os 10 Mandamentos não foram abolidos na cruz, pelo que tu ainda tens que
os guardar, e aqui estão os versículos para provar isso.
O Juízo Investigativo começou em 1844, e o teu nome poderia aparecer a
qualquer momento, e aqui estão os versos e um gráfico de tempo profético
para provar isso.
Quando morremos, nós estamos realmente mortos, completamente mortos,
mortos como um prego numa porta, por isso, se um membro da família morto
ou um amigo alguma vez te aparecer, não são eles, é um demónio, e aqui
estão os versículos para provar isso.
Jesus vai voltar em breve, e quando Ele fizer isso não será um arrebatamento
secreto com alguma segunda oportunidade de salvação depois de uma
tribulação de sete anos, então é melhor tu estares pronto agora, e aqui estão
os versículos para provar isso.
E além de tudo isto, tu devias-te tornar vegetariano, pagar o dízimo, parar de
ver televisão, e ser batizado por imersão.
Posso ter um amém?
Não?
Por que não?
Bem, porque todos sentimos que algo está a faltar quando a verdade é reduzida a
uma série de factos intelectuais e requisitos comportamentais.
Então aqui está um facto que temos de enfrentar: nenhuma dessas doutrinas
individualmente, nem todas elas em conjunto, constituem a verdade. Estás a
ouvir? Nenhuma delas constitui a verdade até que elas estejam centradas em
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Cristo, informadas por Cristo e cheias do amor de Cristo. É por isso que o apóstolo
Paulo fala da verdade "como a verdade está em Jesus" (Efésios 4:21).
Hmmmm.
O que significa isso exatamente?
Talvez te lembres que Jesus disse certa vez: "E conhecereis a verdade, e a
verdade vos libertará", e, em seguida, um pouco mais tarde Ele disse: "EU SOU ...
a verdade" (João 8:32; 14: 6).
Entendeste, certo?
A verdade não é apenas um monte de informações factuais abstratas para
memorizar, citar e discutir. A verdade é uma pessoa, e o seu nome é Jesus. Num
relacionamento com Jesus há libertação de tudo o que nos amarra, ou seja, de
toda a nossa fragilidade relacional e da vergonha que a acompanha.
Então, como é a "verdade" quando ela é pregada fora de Jesus?
Bem, para começar, a verdade separada de Jesus é apenas informação crua sem
personalidade e caráter. Ela não tem um rosto, um coração ou um desejo pessoal
por ti. Em segundo lugar, a verdade separada de Jesus é emocionalmente brutal
porque tudo o que ela pode fazer é impor culpa e despertar medo. Ela não pode
salvar, curar, ou transformar o coração humano.
Não seria um exagero dizer que é espiritualmente abusivo pregar uma lista de
verdades doutrinárias e padrões comportamentais e não pregar Jesus como a
Verdade, com “V” maiúsculo. Paulo diz: "A letra mata" (2 Coríntios 3:6), pelo qual
ele quer dizer que os fatos nus da verdade, pregados sem Jesus como o vivo,
amoroso e compassivo centro, só têm o efeito de matar as pessoas a um nível
espiritual, emocional e relacional. "Verdade" que não amplie Jesus só pode
conduzir as pessoas para longe de Deus em desespero ou produzir nelas um
espírito de farisaísmo condenatório. Por contraste, vemos Jesus num belo
equilíbrio entre dois fatores complementares cruciais: João diz que Jesus veio ao
nosso mundo "cheio de graça e de verdade" (João 1:14).
Viste isso?
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Graça e verdade!
Por que é essa combinação tão vital?
Verdade que é nula de graça só pode acumular vergonha sobre os pecadores, ao
passo que a graça combinada com a verdade traz a cura.
É claro, então, que não precisamos apenas de verdade - o esqueleto dos factos
doutrinários. Em vez disso, precisamos da verdade como ela é em Jesus, a
encarnação viva do amor de Deus.
Portanto, vamos então usar uma metáfora simples, mas poderosa, para nos guiar
na nossa série de mensagens para esta semana de oração.
As verdades doutrinais da Escritura podem ser consideradas como uma série de
janelas de perceção, através das quais o caráter de Deus pode ser visto de vários
ângulos diferentes. Para os nossos objetivos, vamos imaginar a estrutura da
verdade como um edifício em forma de octógono. Em cada um dos oito lados da
estrutura, existe uma janela. Cada janela representa uma das nossas crenças
doutrinárias:
1. A Trindade
2. O Grande Conflito
3. A Lei de Deus
4. O Sábado
5. 5. O Santuário
6. Morte e Inferno
7. O Tempo do Fim
8. A Segunda Vinda
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Ao olharmos para dentro do edifício através de cada janela, vemos Jesus, e Jesus,
e Jesus, e Jesus, como a verdadeira e precisa revelação do caráter de Deus.
Oito janelas para uma realidade!
As janelas são projetadas para se olhar através delas, e não para elas. Uma janela
serve o seu propósito quando atua como uma passagem visual. Nenhuma doutrina
bíblica é um fim em si: nem o sábado, nem o estado dos mortos, nem o
julgamento, nem a profecia do tempo do fim. Nenhuma dessas verdades existem
para apontar para si mesmas. Em vez disso, o sábado serve como uma passagem
visual para o coração de Deus. A doutrina do santuário serve de passagem visual
para uma outra dimensão da beleza de Deus e assim por diante com todas as
doutrinas bíblicas.
Pensa nisso desta maneira. Como Adventistas do Sétimo Dia, só temos realmente
uma crença, uma doutrina:
"Deus é amor" (1 João 4:16).
É isso.
Nós não acreditamos em muitas coisas, nós acreditamos numa coisa com muitas
dimensões. Podemos sempre expandir uma das coisas, mas estamos sempre a
olhar para a mesma coisa, a partir de vários ângulos. Como uma árvore com
muitos ramos. Um motor com muitas partes móveis. Um rio com muitos afluentes.
As diversas doutrinas que temos servem o seu propósito apenas na medida em
que nós as comunicamos de uma tal maneira que ampliem a beleza do amor de
Deus. Na verdade, Ellen White afirma explicitamente que este é o caso:
“A escuridão do falso conceito acerca de Deus é que está a envolver o
mundo. Os homens estão a perder o conhecimento de seu caráter. Este tem
sido mal compreendido e mal interpretado. Neste tempo deve ser proclamada
uma mensagem de Deus, uma mensagem de influência iluminante e
capacidade salvadora. O caráter de Deus deve tornar-se notório. Deve ser
difundida nas trevas do mundo a luz de Sua glória, a luz de Sua benignidade,
misericórdia e verdade. ... Os últimos raios da luz misericordiosa, a última
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mensagem de graça a ser dada ao mundo, é uma revelação do caráter do
amor divino.” (Ellen White, Parábolas de Jesus, p. 415).
Assombroso, não é?
Deus tem sido terrivelmente mal representado no nosso mundo, especialmente
pela religião que professa representá-Lo. E qual é a forma em que existe esta
deturpação do caráter de Deus? Doutrinas! Sistemas de crenças! Muitas pessoas
no nosso mundo têm medo de Deus, não porque o conhecem como Ele realmente
é, mas por causa dos falsos relatos que ouviram sobre Ele, na forma de
ensinamentos religiosos.
Deus chamou especificamente a Igreja Adventista do Sétimo Dia à existência
como um movimento profético, para proclamar uma mensagem ao mundo de que
vindica Deus como o Deus bom que Ele realmente é. Se bem entendido, o nosso
sistema teológico tem o potencial de oferecer ao nosso mundo uma imagem bonita
e convidativa de Deus diferente de tudo o que já conheceram antes. A teologia
adventista, quando vista em Cristo, é como uma série de janelas através das quais
o caráter de Deus é clarificado e exonerado.
Então, vamos começar por olhar através da primeira das nossas oito janelas.
Amor Antigo
Faz um exercício simples de pensamento. Tranca-te no teu quarto de banho para
o resto da tua vida - é uma experiência de pensamento, por isso, fica no teu lugar
e usa a tua imaginação - e faz a ti mesmo uma pergunta simples: Será que eu vou
experimentar o amor?
A resposta óbvia é não, mesmo que tenhas um espelho de corpo inteiro!
E por que é que a resposta é Não?
Pela simples razão de que o amor não pode ser experimentado em isolamento.
Amor, por definição, é estar centrado noutro, em vez de ser egocêntrico. Para que
possa realmente ser amor, este sentimento requer mais do que uma pessoa. Com
isto nós percebemos algo profundo e de vital importância para a nossa
compreensão de Deus. Vamos descompactá-lo.
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A primeira verdade que encontramos quando abrimos a Bíblia é que Deus é uma
unidade social em vez de um ser solitário. Observa a frase de abertura das
Escrituras:
"No princípio criou Deus os céus e a terra" (Gênesis 1:1).
A coisa mais óbvia que vemos aqui é que existem duas categorias básicas que
compõem a realidade:
1. Deus
2. E tudo o resto
Deus é o Criador e qualquer outra coisa que exista foi Ele que criou. Isto significa
que Deus antecede e transcende todas as coisas que se enquadram na categoria
"criado", e que só Deus ocupa a categoria "não criado". O apóstolo João, ao
apresentar Jesus, articulou essa visão sublime com estas palavras: "Todas as
coisas foram feitas por Ele, e sem Ele nada do que foi feito se fez" (João 1:3).
Bastante profundo, eu sei, mas espera porque está tudo prestes a tornar-se
maravilhosamente claro.
Na mesma passagem, João disse o seguinte: "No princípio era o Verbo, e o Verbo
estava com Deus, e o Verbo era Deus. Ele estava no princípio com Deus" (João
1:1 e 2).
No princípio, quem estava com quem?
"No princípio… Deus... estava com Deus."
Ok, isso é fixe, mas em que sentido estavam estas pessoas igualmente divinas
umas "com" as outras? João diz-nos no verso 18: "Deus nunca foi visto por
alguém. O Filho unigénito, que está no seio do Pai, esse O revelou."
Uau, eu gosto disso! Tão interpessoal!
João quer-nos fazer entender que Jesus, a quem anteriormente ele identificou
como o próprio Deus, veio ao nosso mundo a partir de um lugar relacional muito
específico e especial: do "seio do Pai". Seio é uma palavra poética que evoca a
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ideia de proximidade; a tradução Philips (no inglês) diz que Jesus vive na
"intimidade mais próxima com o Pai". Agora, com tudo isto em mente, volta a
Génesis 1:
"No princípio criou Deus os céus e a terra."
A palavra hebraica nesta frase que está traduzida para o Português como "Deus" é
um nome próprio na língua original. É um nome super importante, completamente
cheio de significado. Na verdade, ele é o mais bonito nome que alguma vez vai
sair dos teus lábios:
Elohim.
O que torna este nome tão significativo é que é um substantivo plural. Noutras
palavras, o Deus que encontramos no versículo de abertura da Bíblia é em certo
sentido um e contudo mais do que um. Mais tarde, no mesmo capítulo esta ideia
torna-se ainda mais explícita. Observa os versículos 26 e 27:
"E disse Deus [Elohim]: 'Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa
semelhança' ... E criou Deus o homem à sua imagem; à imagem de Deus o criou;
homem e mulher os criou."
Aqui vemos que Elohim é composto de um "Nós" e "Nossa". Não devemos pensar
em Deus como um mero "Eu", mas sim como uma unidade social que envolve
mais pessoas do que um único ser solitário. Lembra-te do nosso ponto de
abertura: o amor não pode ser experimentado em isolamento. Agora, no contexto
desta simples compreensão, podemos ler com entendimento a declaração mais
profunda e poderosa na Bíblia:
"Deus é amor" (1 João 4:8).
Deduzimos desta realidade básica que Deus nunca existiu isoladamente. Deus é,
e sempre foi, um "Nós" e um "Nosso" - noutras palavras, uma unidade social porque "Deus é amor." Sem fazer nenhuma injustiça ao texto, poderíamos
parafrasear a frase da Bíblia abertura assim:
"No princípio AMOR criou os céus e a terra."
Compara isto, mais uma vez, com João 1 e a imagem torna-se ainda mais bonita:
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"No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus. Ele
estava no princípio com Deus. Todas as coisas foram feitas por Ele, e sem Ele
nada do que foi feito se fez" (João 1:1-3).
A partir desta passagem, vemos que tanto Deus Pai como Deus Filho foram
agentes ativos juntos no trabalho de criação do nosso mundo. Agora volta para
Génesis 1 para uma pincelada adicional na imagem:
"E a terra era sem forma e vazia; e havia trevas sobre a face do abismo; e o
Espírito de Deus se movia sobre a face das águas" (Génesis 1:2).
Vemos aqui que o Espírito Santo também estava envolvido ativamente no evento
da criação, juntamente com o Pai e o Filho.
Incrível!
Então, o Deus que encontramos em Génesis 1, com o nome plural Elohim, é
composto por Deus Pai, Deus Filho e Deus Espírito Santo. Dentro dos parâmetros
da própria realidade divina de Deus, além de quaisquer seres criados, Deus é um
“companheirismo” centrado no outro, uma “amizade” desapegada. À medida que
avançamos do Génesis na narrativa bíblica, encontramos o que o povo judeu
chama "a shema", que eles consideram até este dia como a mais importante de
todas as declarações teológicas:
"Ouve, Israel, o Senhor nosso Deus é o único Senhor" (Deuteronómio 6:4).
Há uma beleza escondida aqui à vista de todos, que é trazida à luz ao fazer a
pergunta: em que sentido é o Senhor nosso Deus um? Encontramos a resposta
em Jesus, porque Ele intencionalmente utilizou a linguagem do Shema para
descrever a relação que existe entre Ele e o Pai: "Eu e o Pai somos um" (João
10:30).
Brilhante!
Mais uma vez, vemos que Deus não é um no sentido de ser um ser solitário, mas
Deus é um, no sentido de harmonia relacional. Mais tarde, em João 17, Jesus
novamente usou a linguagem da harmonia, e nesta ocasião Ele definiu-a como a
dinâmica relacional do amor. Ele orou ao Pai pelos seus discípulos:
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"… para que sejam um, como nós somos um; eu neles, e tu em mim, para
que eles sejam perfeitos em unidade, a fim de que o mundo conheça que tu
me enviaste, e que os amaste a eles, assim como me amaste a mim. Pai,
desejo que onde eu esteja, estejam comigo também aqueles que me tens
dado, para verem a minha glória, a qual me deste; pois que me amaste antes
da fundação do mundo" (versos 22-24).
Em seguida, ele encerrou a sua oração pedindo "que haja neles aquele amor com
que Me amaste, e também Eu neles esteja" (versículo 26).
Aqui está a imagem à nossa frente:
O Pai é Deus, mas não tudo o que há de Deus.
Jesus Cristo é Deus, mas não tudo o que há de Deus.
O Espírito Santo é Deus, mas não tudo o que há de Deus.
Todos os três, juntos, como uma comunhão social íntima, constituem uma
realidade divina. É por isso que usamos a palavra Trindade, ou Tri unidade, para
descrever Deus.
Não é um facto doutrinário seco.
Não é uma equação teórica fria.
Não é um conceito filosófico complexo.
Não. A doutrina da Trindade é uma janela de transparência cristalina para o
caráter extrovertido, centrado no outro, super social de Deus.
O que há para não gostar de um Deus como este?
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DIA 1

Questões para Discussão
Já ouviste falar da "verdade" retratada como uma série de factos, como descritos
no início desta lição? Como é que te fez sentir? Como reagiste?
Partilhem juntos alguns dos conceitos que te têm ajudado a tentar entender a
Trindade. (Aceita que é algo que os humanos não podem compreender
totalmente). Como descreverias ou explicarias a um amigo muçulmano ou judeu
que pensa que estás a adorar múltiplos deuses?
O que tem a frase "Deus é amor" que mais te atrai? Como é que este conceito
fundamental afetou a tua vida?
 Atividades de Grupo:
Material Necessário:
Várias cores de celofane, cola, tesouras, duas varas com 91 centímetros de
comprimento e 1,20 centímetros de diâmetro, cortado em oito pedaços que são de
22 centímetros cada, papel de alumínio forte, um pedaço de esferovite resistente
cortado num octógono com aproximadamente 30 centímetros de diâmetro
(simples) ou um pedaço de contraplacado cortado num octógono de 1,20
centímetros de espessura, com oito buracos de 1,20 centímetros furados nos
cantos (mais forte).
Em grupo, criem um modelo do edifício octogonal com oito janelas que estamos a
usar como uma imagem para esta semana de oração. Usem uma camada dupla
do papel de alumínio para criar um telhado. Como alternativa, podem trazer vários
materiais, cartolina, etc., e deixar que cada membro tente criar um desenho,
pintura ou colagem de um edifício octogonal com oito janelas. Podem adicionar ao
modelo cada noite enquanto nós olhamos para cada "janela".
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DIA 2: O Grande Conflito
Amor que Conquista
Bem, aqui estamos nós para a segunda parte da nossa série de oito partes.
Isto vai ser muito interessante, como fazeres uma caminhada num lugar
conhecido, onde já foste muitas vezes, e de repente dares por ti diante de uma
visão de tirar o fôlego ao descobrires uma bela cascata que não sabias que estava
ali.
Estamos a explorar o que para a maioria de nós é território conhecido: oito das
doutrinas centrais que formam o sistema de crenças Adventistas. Como dissemos
na nossa primeira mensagem, estas doutrinas conhecidas são tratadas com
frequência apenas como factos teológicos secos, aborrecidos, para serem
recitados de memória. Com certeza muitas vezes os transformamos nisso, mas só
porque os diminuímos e despojamos da sua beleza, não significa que não haja
beleza a ser descoberta.
Lembras-te da nossa metáfora orientadora?
As verdades doutrinais da Escritura são como janelas que olham para o caráter
atrativo do Deus revelado em Cristo. Nenhuma doutrina é um fim em si mesma. O
Sábado não é sobre o Sábado, por si só, é sobre Jesus. A doutrina do estado dos
mortos não é apenas para provar que as pessoas estão inconscientes quando
morrem, é sobre Jesus. A doutrina do santuário não é sobre uma tenda ou um
edifício ou uma cortina ou um procedimento ou uma cerimónia, é sobre Jesus. E
assim por diante. Cada doutrina bíblica, quando corretamente entendida, funciona
como um tipo de lente em direção ao coração de Deus, à bondade de Deus, e ao
amor de Deus.
Neste contexto, a doutrina a que de forma comum nos referimos como O Grande
Conflito não é exceção. Então, vamos olhar por esta janela e encontrar a beleza
que espera a nossa descoberta.
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Guerra no Céu
A primeira regra da lógica é que as coisas são geralmente o que parecem ser. O
nosso mundo parece uma zona de guerra, porque o nosso mundo é uma zona de
guerra. A segunda regra da lógica é que as coisas não são sempre exatamente o
que parecem ser. A guerra que acontece no nosso mundo tem características que
não são imediatamente evidentes para o observador casual. À primeira vista,
vemos apenas seres humanos envolvidos na batalha, mas há mais aqui do que
aquilo que os olhos conseguem ver. Segundo a Bíblia, nós homo sapiens não
estamos sozinhos no universo. Do Génesis ao Apocalipse encontramos uma
ordem de seres chamados anjos. Sabemos pelas Escrituras que esses seres são
anteriores à existência de seres humanos (Jó 38:4-7; Apocalipse 1:20), que eles
são numerosos (Hebreus 12:22), poderosos e inteligentes (Salmo 103:20; Daniel
4:17), que funcionam dentro de um sistema ordenado de governo (Efésios 3:10;
Daniel 7:9-10), que eles ativamente operam dentro do nosso mundo, na maior
parte das vezes invisíveis, mas às vezes em forma visível (Hebreus 1:14; 13:2), e
que o mal que aflige o nosso mundo se originou com alguns deles (Apocalipse
12:7,12).
Um dos anjos chamava-se "Lúcifer", que significa portador de luz. Este exaltado
ser foi criado para ser um revelador do caráter de Deus para seus companheiros
anjos, mas ele escolheu uma maneira de agir diferente. A Bíblia diz que Lúcifer era
"perfeito nos seus caminhos" (seus padrões de pensamento, sentimento e
comportamento), "até que se achou iniquidade" nele (Ezequiel 28:15). Nesse
momento, ele tornou-se "Satanás", que significa adversário. A Bíblia também nos
diz que a queda de Lúcifer ocorreu porque ele desenvolveu um desejo de
autoexaltação, levando à aspiração inebriante para tirar Deus do coração dos seus
companheiros anjos e usurpar a sua lealdade (Isaías 14:12-14). Conforme Lúcifer
alimentava egocentrismo dentro de si, ele deixou de refletir a luz do caráter de
Deus e começou a atribuir a Deus os seus próprios motivos egoístas. A aspiração,
"vou exaltar a mim mesmo”, seguida de "eu serei semelhante ao Altíssimo", indica
que Lúcifer começou a atribuir a autoexaltação ao caráter de Deus como
justificação para a sua própria autoexaltação. Ao negar a bondade fundamental do
caráter de Deus, o curso de ação de Satanás foi calculado para minar a confiança
para com Deus e incitar rebelião contra Ele.
É neste contexto narrativo que a Bíblia diz: "e houve batalha no céu" (Apocalipse
12:7), ou seja, entre os anjos! A palavra traduzida aqui como "batalha" é polemos
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no grego original, que está relacionada com palavras como polémica e política.
Isto dá-nos uma visão da natureza exata da "batalha". Não foi principalmente uma
batalha de envolvimento físico ou de uso da força de armas. Foi uma guerra
política, uma campanha de propaganda, um esquema de assassinato de caráter.
Satanás travou sua guerra mediante a divulgação de mentiras quanto ao caráter
de Deus. Assim, ele é descrito como aquele que "engana todo o mundo" e como
"mentiroso, e pai da mentira" (Apocalipse 12:9; João 8:44).
Segue esta lógica bíblica:
Ezequiel diz que Lúcifer foi expulso do Céu porque ele "pecou" (Ezequiel 28:16).
João define o pecado como "iniquidade" (1 João 3:4).
Paulo define a lei de Deus como "amor" (Romanos 13:10).
Vemos então que Lúcifer se rebelou contra a lei de Deus, o que realmente significa
que ele se rebelou contra o amor de Deus. Ele levantou acusações contra Deus e
contra a lei do amor com que Deus governa o universo. Considerando que a Bíblia
afirma que "Deus é amor" e que a Sua lei é, portanto, uma lei que governa apenas
pelos princípios inerentes no amor (1 João 4:8; Mateus 22:37-40), Satanás decidiu
viver sem amor e formar um reino que opera sem amor. Serve o seu propósito,
portanto, retratar Deus como egoísta e a Sua lei como uma lista de regras
arbitrárias impostas para fins egoístas.
Ellen White explica a questão central do grande conflito com uma clareza brilhante:
“A abnegação, que é o princípio do reino de Deus, é o princípio que Satanás
odeia; ele nega até a existência do mesmo. Desde o início do grande conflito
tem-se ele esforçado por provar que os princípios pelos quais Deus age são
egoístas, e da mesma maneira ele considera a todos os que servem a Deus.
A obra de Cristo e a de todos os que adotam o Seu nome, tem por fim
refutar esta pretensão de Satanás” (Educação, p. 154).
Agora que entendemos o problema fundamental envolvido na guerra entre o bem
e o mal, estamos preparados para permitir que a Escritura pinte um quadro mais
detalhado para nós em sete cenas progressivas.
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Cena Um: Domínio
Vamos começar por comparar duas afirmações bíblicas que juntas criam uma
estrutura conceptual para a compreensão do que está a acontecer no nosso
mundo:
"Deus criou a humanidade à Sua própria imagem" (Génesis 1:27).
"Deus é amor" (1 João 4:8).
Uma vez que o amor é a essência do caráter de Deus, resulta que a Sua
criação seria projetada para o amor. E uma vez que o amor, por definição,
é a doação voluntária de si mesmo aos outros, resulta que o livre arbítrio
teve que ser incorporado na criação de Deus. Por isso lemos no relato da
criação que Deus deu aos seres humanos o "domínio" sobre a terra
(Génesis 1:26). Domínio é um conceito bíblico crucial. Como agentes
morais livres feitos para o amor, a Adão e Eva foi dado o elevado privilégio
do autogoverno. A terra seria o ambiente, o espaço material, em que o seu
amor por Deus e um pelo outro poderia florescer. O planeta era deles por
delegação divina. Entendendo este acordo, David escreveu estas palavras
esclarecedoras: " Os céus são os céus do Senhor; mas a terra a deu aos
filhos dos homens." (Salmos 115:16).
Isso é linguagem de delegação, de liberdade, de autogoverno. Tendo-os
criado com livre arbítrio e dado a terra como seu lar, o palco estava
montado para uma eternidade de bem-aventurança relacional. No entanto,
a liberdade possui risco inerente. Com todas as suas gloriosas
possibilidades, o livre arbítrio também carrega um perigo potencial. O
"domínio" da humanidade estava carregado tanto com promessa como
com ameaça; cabia a eles decidir o que ia acontecer.
Cena Dois: Abdicação
Desde que Deus deu a terra a Adão e Eva, a mesma tornou-se deles para
fazerem o que quisessem. A intenção do Criador seria que eles usassem o
poder do seu livre-arbítrio para serem frutíferos, multiplicarem-se e
construírem uma sociedade global de amor abnegado. É aqui que a história
corre mal. Tragicamente, os nossos primeiros pais abdicaram da sua
posição de autoridade sobre a terra cedendo lealdade a um senhor
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estrangeiro, ao anjo caído uma vez chamado de Lúcifer, aquele que brilha,
que era agora conhecido como Satanás, o adversário. Sim, a queda da
humanidade foi uma queda moral e coletiva. Adão e Eva perderam o seu
domínio porque eles escolheram dá-lo. Através do exercício do livre-arbítrio
humano, Satanás tornou-se o "príncipe deste mundo" (João 12:31) e "o
deus deste século" (2 Coríntios 4:4).
Não obstante, o poder de Satanás sobre o nosso mundo não constitui uma
regra de direito. Ele não é o legítimo senhor da Terra. Seu triunfo sobre a
humanidade foi um ato de guerra baseado em enganos. Ele levou os
nossos primeiros pais à rebelião negando a existência de amor por eles no
coração de Deus, quebrando assim a sua capacidade de confiar em Deus.
Portanto, a esperança da humanidade, desde aquele dia até hoje reside na
revelação do verdadeiro caráter de amor altruísta de Deus.
Em resposta ao roubo de autoridade de Satanás, Deus imediatamente
começou a orquestrar um contra-ataque para recuperar o mundo para a
humanidade. Embora Deus e o Seu adversário sejam os dois lados de um
conflito, o contra-ataque de Deus não seria implementado pelos mesmos
princípios sobre os quais o reino de Satanás atua, não por engano e força,
mas sim através de verdade e amor.
Cena Três: O Guerreiro Prometido
Quando o conflito cósmico começou, ambos os lados começaram
imediatamente a organizar as suas forças e a colocar os seus princípios
em movimento. O Criador deu início ao seu plano de ataque ao declarar a
guerra e ao fazer uma promessa. Falando a Satanás na audiência de Adão
e Eva, Deus disse: " E porei inimizade entre ti e a mulher, e entre a tua
semente e a sua semente; esta te ferirá a cabeça, e tu lhe ferirás o
calcanhar " (Gênesis 3:15). Aqui, Deus anunciou que um Guerreiro viria à
Terra para esmagar a cabeça de Satanás, por assim dizer. O Guerreiro
também seria ferido pelo inimigo no processo de alcançar a vitória.
Aqui Deus também explicou que o Libertador prometido iria entrar na raça
humana através de uma linhagem estabelecida de "descendência". Noutras
palavras, um grupo específico de pessoas seria selecionado dentre as
nações para ser aquele através do qual o Salvador poderia entrar na
guerra como um ser humano. O ponto mais importante a entender é que
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esta promessa profética informou o mundo de antemão que Deus iria
conquistar o reino das trevas ao condescender em humildade e amor
abnegado.
Cena Quatro: Forças Organizadas
Em resposta tática à aquisição hostil de Satanás, Deus fez algo notável,
engenhoso e necessário. Moisés explica:
“Quando o Altíssimo distribuía as heranças às nações, quando dividia os filhos de
Adão uns dos outros, estabeleceu os termos dos povos conforme o número dos
filhos de Israel. Porque a porção do Senhor é o seu povo; Jacó é a parte da sua
herança. Achou-o numa terra deserta, e num ermo solitário cheio de uivos; cercouo, instruiu-o, e guardou-o como a menina do seu olho. Como a águia desperta a
sua ninhada, move-se sobre os seus filhos, estende as suas asas, toma-os, e os
leva sobre as suas asas, Assim só o Senhor o guiou; e não havia com ele deus
estranho” (Deuteronómio 32:8-12).
Os versículos 15 a 17 completam ainda mais a imagem:
"(Israel) deixou a Deus, que o fez, e desprezou a Rocha da sua salvação. Com
deuses estranhos o provocaram a zelos; com abominações o irritaram. Sacrifícios
ofereceram aos demónios, não a Deus; aos deuses que não conheceram, novos
deuses que vieram há pouco, aos quais não temeram vossos pais" (Deuteronómio
32:15-17).
Aqui vemos que Deus estabeleceu um povo escolhido entre as nações. Israel foi
chamado para ser "a porção do Senhor" na terra, e não haveria nenhum "deus
estranho" entre eles. É fundamental perceber que Moisés nos informa que os
"deuses" das nações pagãs eram apenas "demónios", ou anjos caídos disfarçados
de divindades. O Salmo 106, versículos 37 e 38, confirma que houve, de fato,
"demónios" por trás dos "ídolos" das tribos pagãs: "Demais disto, sacrificaram seus
filhos e suas filhas aos demónios, e derramaram sangue inocente, o sangue de
seus filhos e de suas filhas que sacrificaram aos ídolos de Canaã; e a terra foi
manchada com sangue" (Salmos 106:37, 38).
Com Israel Deus demarcou um território no nosso mundo dominado por demónios
e assim reivindicou a raça humana. Israel foi escolhido por Deus para ser a "linha"
17
através da qual o prometido Guerreiro-Salvador viria ao mundo para reclamar a
humanidade do controle satânico. Ao chamar Israel de entre as nações, Deus
manifestou a Sua intenção de tirar o mundo para fora do domínio demoníaco.
Cena Cinco: O Guerreiro Desarmado
O Guerreiro prometido desembarcou em solo terrestre como um bebé de colo,
dependente e desamparado. Educado até idade adulta por humildes camponeses
israelitas, Ele lançou o seu ataque contra o reino das trevas e começou a esmagar
sistematicamente a cabeça do usurpador sem nunca tomar uma arma de violência
na mão. Podíamos chamar a Jesus "O Guerreiro Desarmado" porque ele veio
para reconquistar o mundo pela verdade e o amor, e não por engano e violência.
Satanás reconheceu Jesus por quem Ele era. Eles têm história, afinal de contas.
Com uma arrogância autoconfiante desenvolvida por milhares de anos de
aparente vitória, Satanás corajosamente reivindicou a terra como seu domínio e
ofereceu-a a Jesus em troca de adoração:
“E o diabo, levando-o a um alto monte, mostrou-lhe num momento de
tempo todos os reinos do mundo. E disse-lhe o diabo: dar-te-ei a ti todo
este poder e a sua glória; porque a mim me foi entregue, e dou-o a quem
quero. Portanto, se tu me adorares, tudo será teu" (Lucas 4:5-7).
Jesus recusou, claro, sabendo que Satanás não podia ver o que vinha na sua
direção. Agora completamente cego para o caráter de Deus, Satanás
simplesmente foi incapaz de compreender que Jesus estava prestes a atacar o
seu império escuro com uma espécie de poder estranho ao seu entendimento, o
poder do amor abnegado. Ao anunciar a Sua identidade de guerreiro e a sua
missão, Jesus explicou ao povo o que estava a acontecer em frente aos seus
olhos: "Quando o valente guarda, armado, a sua casa, em segurança está tudo
quanto tem; mas, sobrevindo outro mais valente do que ele, e vencendo-o, tira-lhe
toda a sua armadura em que confiava e reparte os seus despojos" (Lucas
11:21,22).
Nesta pequena parábola, o "valente guarda" é Satanás. O "mais valente do que
ele" é Jesus. Claramente, está a decorrer uma batalha e um confronto final está
prestes a acontecer. E ninguém está à espera da jogada que o legítimo Rei do
céu e da terra está prestes a fazer.
18
Nenhuma arma carnal será usada.
Nenhum exército violento será comandado.
Um só ato vai ter poder suficiente para recuperar a humanidade perdida.
Apontando para o sacrifício que Ele está prestes a fazer no Calvário, Jesus
enuncia o triunfo que Ele está prestes a alcançar sobre o inimigo: "Agora é o juízo
deste mundo; agora será expulso o príncipe deste mundo. E eu, quando for
levantado da terra, todos atrairei a mim" (João 12:31,32). Pela Sua humilde
encarnação, pela Sua vida perfeita de amor, e pela Sua morte abnegada na cruz,
Jesus tomaria de Satanás "toda a sua armadura em que confiava." Todas as
mentiras de Satanás sobre Deus foram completamente destituídas do seu poder
pela revelação esclarecedora do amor de Deus em Cristo. Paulo explicou-o assim:
"e, tendo despojado os poderes e as autoridades, fez deles um espetáculo
público, triunfando sobre eles na cruz" (Colossenses 2:15 NVI).
O amor, e não a força, triunfou sobre o mal.
Em essência, a guerra entre o bem e o mal foi vencida em Cristo, no Seu único
ato supremo de amor abnegado. Agora essa vitória deve ser levada a "todas as
nações" (Mateus 28:19). A guerra tem de ser ganha dentro do domínio dos
corações humanos, pessoa a pessoa, casa a casa, aldeia a aldeia, território a
território em todo o mundo, o que nos leva à verdadeira missão da Igreja.
Cena Seis: A Igreja Militante / Triunfante
Não é apenas a terra debaixo dos nossos pés que está em disputa no grande
conflito entre o bem e o mal. A verdadeira guerra é num pedaço de terreno de
1300 gramas situado nos nossos crânios. Deus não faz segredo sobre o facto de
que Ele quer as nossas "frontes" (Apocalipse 14:1). Noutras palavras, Ele quer o
território mental, emocional e a vontade dentro de nós. O apóstolo João afirma
que é aí, na testa humana, que Deus quer escrever "Seu nome", indicando a Sua
presença permanente dentro do reino dos nossos carateres. Os seres humanos
são criaturas permeáveis. Influências externas influenciam-nos. Estamos, de
facto, projetados para ser habitados, como "morada de Deus em Espírito" (Efésios
2:22).
19
Cada mente humana é:
• uma cidadela de entronização real, e Jesus é o legítimo rei;
• um recinto da verdade eterna, e Jesus é a verdade;
• uma câmara de romance sagrado, e Jesus é o verdadeiro amante das nossas
almas.
O grande inimigo de Deus e do homem também está à procura de reinar no
coração humano. Ele dedica-se a ocupar território mental e emocional dentro das
nossas almas. Ele está numa missão louca para encher os nossos corações e
mentes com vergonha onde deveria haver inocência, contaminação moral onde
deveria haver pureza, hostilidade onde deveria haver amor, e demónios
disfarçados de deuses onde deveria haver a habitação do Espírito Santo.
A linguagem que Paulo usa para descrever a natureza da nossa guerra é
extremamente perspicaz:
“Porque, andando na carne, não militamos segundo a carne. Porque as
armas da nossa milícia não são carnais, mas sim poderosas em Deus
para destruição das fortalezas; destruindo os conselhos, e toda a altivez
que se levanta contra o conhecimento de Deus, e levando cativo todo o
entendimento à obediência de Cristo” (2 Coríntios 10:3-5).
A guerra que travamos ocorre dentro do reino da mente, onde os pensamentos e
sentimentos são formados, onde o conhecimento reside. O inimigo está travando
a sua batalha contra nós, formulando "argumentos" que são calculados para
bloquear o verdadeiro "conhecimento de Deus". Na medida em que as suas
mentiras teológicas ocupam as nossas mentes, ele possui "fortalezas" defensivas
dentro de nós. Por outro lado, há medida em que os seus argumentos são
efetivamente "destruídos" e substituídos pela verdade, ele é derrotado e a alma
humana é libertada.
A missão da Igreja é tornar conhecido o bonito caráter de amor abnegado de
Deus como revelado em Jesus Cristo. Nós somos chamados a mobilizar os
nossos talentos, as nossas energias e os nossos recursos para a tarefa de
recuperar o território de Cristo no íntimo dos corações e casas, dentro de cada
nação e aldeia na Terra. Dentro do reino mental, emocional e da vontade das
almas humanas, Jesus reivindicou o território roubado por Satanás. Nós, como
Sua igreja, estamos a fazer o mesmo. Estamos a avançar o reino de Deus.
20
Como? Perdoando, tendo compaixão, proclamando o evangelho, alimentando e
vestindo os pobres, libertando os escravos e, sobretudo, amando as pessoas tal
como Jesus as amou, somos participantes do avanço do reino de Deus.
Cena Sete: O Primeiro Domínio Restaurado
"Depois virá o fim, quando tiver entregado o reino a Deus, ao Pai, e quando
houver aniquilado todo o império, e toda a potestade e força" (1 Coríntios 15:24).
Paulo quer que entendamos que a história está em última análise, a precipitar-se
em direção ao desaparecimento de todos os sistemas de coerção, dominação,
opressão e guerra, e para o estabelecimento de um reino baseado em liberdade
para sempre, florescendo de amor eterno. O profeta Miqueias previu o futuro:
“Mas nos últimos dias acontecerá que o monte da casa do SENHOR será
estabelecido no cume dos montes, e se elevará sobre os outeiros, e a ele
afluirão os povos ... e converterão as suas espadas em pás, e as suas
lanças em foices; uma nação não levantará a espada contra outra nação,
nem aprenderão mais a guerra ... e o Senhor reinará sobre eles no monte
Sião, desde agora e para sempre ... a ti virá o primeiro domínio” (Miqueias
4:1-8).
Que extraordinária imagem!
Vemos aqui que Deus é contra a guerra e a favor da paz, contra a força e a favor
do amor. É Seu objetivo final trazer um fim completo a todos os regimes coercivos
e estabelecer um reino eterno de liberdade. "O primeiro domínio", o que Adão e
Eva perderam, será restabelecido. Quando for o tempo, Deus diz: "não se fará mal
nem dano algum em todo o meu santo monte, porque a terra se encherá do
conhecimento do Senhor, como as águas cobrem o mar" (Isaías 11:9). Em
primeiro lugar, o território interior que se encontra dentro dos nossos corações é
recuperado pela graça salvadora de Deus. Em seguida, o território da própria
Terra é recuperado e feito para sempre novo. "Eis", diz O que está sentado no
trono, "faço novas todas as coisas" (Apocalipse 21:5). Quando esse dia chegar, a
cidade de Deus, a Nova Jerusalém, será transferida do reino celestial para o
nosso próprio mundo. O planeta Terra vai tornar-se a nova capital do universo:
“E eu, João, vi a santa cidade, a nova Jerusalém, que de Deus descia
do céu, adereçada como uma esposa ataviada para o seu marido. E
21
ouvi uma grande voz do céu, que dizia: Eis aqui o tabernáculo de Deus
com os homens, pois com eles habitará, e eles serão o seu povo, e o
mesmo Deus estará com eles, e será o seu Deus. E Deus limpará de
seus olhos toda a lágrima; e não haverá mais morte, nem pranto, nem
clamor, nem dor; porque já as primeiras coisas são passadas”
(Apocalipse 21:2-4).
Ellen White descreve a cena bonita:
“Onde abundou o pecado, superabundou a graça de Deus. A Terra, o
próprio campo que Satanás reclama como seu, será não apenas
redimida, mas exaltada. Nosso pequenino mundo, sob a maldição do
pecado, a única mancha escura de Sua gloriosa criação, será honrado
acima de todos os outros mundos do Universo de Deus. Aqui, onde o
Filho de Deus habitou na humanidade; onde o Rei da Glória viveu e
sofreu e morreu - aqui, quando Ele houver feito novas todas as coisas,
será o tabernáculo de Deus com os homens” (O Desejado de Todas as
Nações, p. 26).
É para aí que a história está a caminhar.
Pela graça de Deus, eu pretendo ir com ela, entregue com segurança por
Jesus na nova Terra, como um cidadão eterno desse primeiro domínio
totalmente restaurado. E tu?
DIA 2:

Questões para Discussão
A lição diz: "Toda a doutrina bíblica, quando corretamente entendida,
funciona como uma lente percetiva para o coração de Deus, para a
bondade de Deus, o amor de Deus."
Discute as maneiras como isto tem sido verdadeiro ou falso na tua
educação religiosa e maneira de pensar até agora.
Como é que a rebelião de Lúcifer contra Deus mostra que ele não
acreditava que Deus estava a agir por amor? Como é que a sua linguagem,
22
como registada em Isaías 14, mostram que ele acreditava que Deus era
egoísta e arbitrário?
Qual é a diferença entre o domínio que Deus deu a Adão e Eva (e,
portanto, a nós) e o domínio que o diabo exercita? Achas que é possível
que, por vezes, pessoas boas, até mesmo os líderes da igreja ou
professores, ou mesmo tu, sem querer, tentem usar a força em vez do
autoridade para fazer avançar o reino de Deus? Discutam.
Várias vezes o autor usou a frase "território mental, emocional e da
vontade". Partilha algumas das maneiras como tu vês Deus e o diabo em
guerra ao longo destes componentes do teu eu interior. Como podes
perceber quem ganha domínio na tua alma? Sê específico.

Atividade de Grupo
Adicionar alguma coisa ou decorar o teu modelo octagonal se desejares.
Em grande grupo, ou divididos em equipas ou pares, encenem cada uma
das sete cenas nesta lição: Cena Um: Domínio, Cena Dois: Abdicação,
Cena Três: O Guerreiro Prometido, Cena Quatro: Forças Organizadas,
Cena Cinco: O Guerreiro Desarmado, Cena Seis: A Igreja militante /
Triunfante, Cena Sete: O Primeiro Domínio Restaurado.
Permitir apenas um minuto por cena. Estas podem ser dramatizações
rápidas (cada um deve usar a sua imaginação sobre o que dizer ou fazer),
ou a criação de “quadros” que representem cada fase do Grande Conflito.
Em vez de esperar até ao fim da mensagem, a apresentação destes
momentos podem acontecer no final de cada uma das 7 cenas.
23
DIA 3: A LEI DE DEUS
Amor Libertador
Como Adventistas do Sétimo Dia, os Dez Mandamentos têm uma posição de
destaque no nosso sistema doutrinal. Embora grande parte do mundo cristão
pregue o que é chamado "antinomianismo" (a ideia de que a lei de Deus foi
"abolida" quando Jesus morreu na cruz), nós acreditamos que a lei de Deus é
eterna e imutável.
Até aqui tudo bem, exceto quando somos confrontados com um problema sério.
Quando nos esforçamos para defender a lei de Deus, às vezes temos tendência a
reduzir o tema a um argumento contra o antinomianismo, uma formulação revista,
calculada para provar aos outros cristãos que eles devem manter a lei. E no
processo, criamos um enorme problema teológico e experiencial para nós
mesmos.
Permitam-me explicar.
A Redenção que Existe em Cristo Jesus
Ellen White tinha muito a dizer sobre a nossa mudança, enquanto grupo, em
direção a uma visão errada e ao uso errado da lei de Deus. Repara nesta
declaração muito perspicaz e incisiva:
“Por um lado, os religiosos em geral divorciam a lei do evangelho, ao
passo que nós, por outra parte, quase fizemos o mesmo de outro ponto de
vista. Não expusemos às pessoas a justiça de Cristo e a ampla
significação de Seu grande plano de redenção. Deixamos de lado a Cristo
e Seu incomparável amor, introduzimos teorias e raciocínios, e pregamos
sermões argumentativos” (Fé e Obras, pp. 15-16).
Isto devia-nos levar a fazer uma longa pausa.
Aparentemente, a nossa história com a lei não é toda positiva. Embora tenhamos
estado ocupados a defender a lei com sermões "argumentativos" contra aqueles
que a ignoram, corrigimos demais a sua, e criamos a nossa própria heresia no
processo. Diz ela que "não expusemos às pessoas a justiça de Cristo e a ampla
24
significação de Seu grande plano de redenção. Deixamos de lado a Cristo e Seu
incomparável amor."
Isto é, no mínimo, forte.
E isto não é uma afirmação isolada da parte dela. Uma e outra vez ela advertiu
que nós, como grupo, estávamos a manusear incorretamente a lei de Deus. A
certa altura ela estava tão cansada de ouvir os nossos pregadores martelar a
defesa da lei que ela disse o seguinte: "Deixem a lei cuidar de si mesma. Temos
estado a trabalhar sobre a lei até ficarmos tão secos como as colinas de Gilboa,
sem orvalho ou chuva. Confiemos nos méritos de Jesus Cristo de Nazaré"
(Sermons and Talks, Vol. 1, p. 137). Aqui vemos que ela não estava apenas
cansada de ouvir demasiados sermões a defender a lei. Não era uma questão de
falar sobre isso vezes demais, mas sim que estávamos a criar um problema
teológico sério para nós mesmos. Estávamos a pregar a lei de tal maneira que
estávamos a comprometer a nossa compreensão do evangelho ao perder de vista
os méritos de Jesus.
Indo mais ao centro da questão, ela explicou a sua preocupação desta maneira:
“Reiteradas vezes me tem sido apresentado o perigo de nutrir, como um
povo, falsas ideias da justificação pela fé. Durante anos tem-me sido
mostrado que Satanás trabalharia de maneira especial para confundir a
mente quanto a esse ponto. Tem-se alongado sobre a lei de Deus e ela tem
sido apresentada às congregações quase de modo tão destituído do
conhecimento de Jesus Cristo e de Sua relação para com a lei como a
oferta de Caim” (Fé e Obras, p. 18).
O quê?! Pregações de Adventistas comparadas à oferta de Caim?!?
Noutras palavras, no nosso zelo para defender a lei, corremos o risco de
apresentar uma perspetiva teológica legalista. Alarmada com a situação, ela
passou a explicar a direção para onde a nossa pregação precisava ir: "Não há um
ponto que necessite ser realçado com mais diligência, repetido com mais
frequência ou estabelecido com mais firmeza na mente de todos, do que a
impossibilidade de o homem caído merecer alguma coisa por suas próprias e
melhores boas obras. A salvação é unicamente pela fé em Jesus Cristo" (Fé e
Obras, p. 19) Uau!
25
Imagina uma série de sermões evangelísticos deste tipo.
Ela continua:
“Torne-se distinto e claro o assunto de que não é possível efetuar coisa
alguma em nossa posição diante de Deus ou no dom de Deus para nós,
por meio do mérito de seres criados. Se a fé e as obras adquirissem o dom
da salvação para alguém, o Criador estaria em obrigação para com a
criatura. Eis aqui uma oportunidade para a falsidade ser aceita como
verdade. Se alguém pode merecer a salvação por alguma coisa que faça,
encontra-se, então, na mesma posição que os católicos para fazer
penitência por seus pecados. A salvação, nesse caso, consiste em parte
numa dívida que pode ser quitada com o pagamento. Se o homem não
pode, por qualquer de suas boas obras, merecer a salvação, então ela tem
de ser inteiramente pela graça recebida pelo homem como pecador,
porque ele aceita a Jesus e crê nEle. A salvação é inteiramente um dom
gratuito. A justificação pela fé está fora de controvérsia” (Fé e Obras, pp.
19-20).
Mas a questão é esta: mesmo em face deste tipo de declarações de Ellen White,
temos tendido a evitar uma forte ênfase na justificação pela fé na nossa pregação
evangelística por medo de que isso enfraqueça o nosso argumento a favor da
obediência à lei de Deus. Quando pensamos num quadro legalista, o puro
evangelho da graça de Deus é visto como perigoso para a lei. A mente legalista
racionaliza, ou pelo menos sente, algo como isto:
Se a salvação é um dom gratuito da graça de Deus para ser recebido somente
pela fé, e se não há absolutamente nenhum mérito em cumprir a lei, então porque
o fazemos?
Temos medo de que se fizermos as boas novas boas demais, tornando a salvação
gratuita demais, as pessoas não vão sentir ou ver qualquer razão para obedecer à
lei de Deus. Na verdade, o oposto é o que acontece, mas até entendermos o
evangelho, quero dizer realmente entendê-lo, estamos muito mais confortáveis
mantendo-o na maior parte das vezes escondido e continuamos a martelar, prova
textual a prova textual, sobre a necessidade de guardar a lei. A verdade é que a
obediência rendida por um sentido de obrigação, com qualquer noção de que ela
contribui no menor grau para a nossa salvação, não é, na verdade, obediência. É
26
uma forma dissimulada de rebelião disfarçada de obediência. E não é só isso, é
um insulto a Deus, porque humilha a Sua graça por supor que qualquer coisa que
possamos fazer poderia ganhar o seu favor. Deus não é uma máquina de venda
automática celestial na qual colocamos a moeda certa, a fim de obter o que
queremos dEle. Nem Deus é uma divindade pagã cujo favor pode ser conquistado
por render-Lhe as nossas boas ações.
Longe disso!
O facto glorioso é que não há absolutamente nada que possamos fazer para
ganhar o favor de Deus, não porque o seu favor seja difícil de ganhar, mas porque
já o temos! Deus transborda de graça solícita, amor a todo vapor, e pródiga
misericórdia, e não há nada que tenhamos feito ou possamos fazer para merecêlo. É por isso que Paulo proclamou o que chamou de a "redenção que há em
Cristo Jesus" (Romanos 3:24). Deixa o significado desta linguagem registar
profundamente no teu coração. A salvação é uma realidade realizada na pessoa e
na obra de Cristo, e não há nada que possamos contribuir para isso. Está tudo lá
n’Ele.
Pacote total!
Negócio fechado!
Facto consumado!
Na Sua encarnação condescendente, na Sua vida perfeita, na Sua morte
abnegada na cruz, na Sua ressurreição e ascensão triunfante para a posição de
vitória à direita do Pai, nós contemplamos redenção na sua forma completa. Jesus
viveu uma vida de pura inocência e perfeita justiça na nossa humanidade, e
quando Ele conseguiu essa façanha espantosa, uma humanidade totalmente nova
foi forjada a partir da antiga, em nosso favor.
Salvação, plena e livre em Cristo!
Isso é o evangelho.
As boas notícias.
27
As boas novas.
A mensagem feliz.
E no momento em que tentamos adicionar qualquer coisa à "redenção que há em
Cristo Jesus" pela nossa observância da lei, as boas notícias evaporam.
Bem, então, e o que acontece com a lei?
Fico feliz por teres perguntado. Qualquer Adventista inteligente o faria.
A Letra Mata, Mas O Espírito Vivifica
Olha para 2 Coríntios 3. Se és Adventista, é provável que nunca tenhas dado
muita atenção a esta passagem, porque ela não se encaixa com a maneira como
nós geralmente moldamos a nossa visão da lei de Deus. É quase certo que tu
nunca ouviste esta passagem pregada numa série evangelística, exceto, talvez,
para "responder" com um argumento para explicar a nossa maneira de a
contornar. Acreditamos que a nossa igreja é chamada por Deus para pregar a Sua
lei. A imutabilidade da lei de Deus é uma das nossas crenças fundamentais. E, no
entanto, esta passagem é o magnum opus (trabalho mais importante) de Paulo
sobre a lei e praticamente nem sequer figura no ensino adventista sobre a lei. Aqui
temos Paulo a articular o seu melhor pensamento sobre a lei no evangelho e ainda
assim esta passagem raramente, ou nunca, aparece na pregação Adventista. Nós
simplesmente não sabemos o que fazer com ela porque nós estamos a tentar
dizer uma coisa sobre a lei e Paulo está a tentar dizer algo diferente. Eu
corajosamente insisto que o que o apóstolo dos Gentios ensina sobre a lei em 2
Coríntios 3 é uma necessidade vital entre nós, como um povo.
Vamos começar com o versículo seis. Com a luz do evangelho a resplandecer na
sua consciência, Paulo declarou claramente qual era a sua missão evangelística, a
qual devia ser a nossa. Ele diz que Deus "nos fez também capazes de ser
ministros de um novo testamento, não da letra, mas do espírito; porque a letra
mata e o espírito vivifica." Os ministros de Deus, o que nos inclui a todos como
crentes em Cristo, devem ser determinados sobre a comunicação do "novo
testamento". Essa é a mensagem que Deus nos chamou para proclamar. Noutras
palavras, devemos lidar com a lei de Deus com uma orientação de novo
testamento intencional.
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Por que é isto importante?
Porque, como Paulo diz, "a letra mata." Pregar a lei meramente como uma lista de
regras morais a ser obedecidas, deixando qualquer grau de impressão de que
guardar a lei concede acesso a Deus, ao Seu favor, ao Seu amor, à Sua
aceitação, é espiritualmente perigoso.
"A letra mata."
Além de uma proclamação amplamente divulgada, impossível de perder,
totalmente clara da graça de Deus, a letra da lei só tem poder para destruir.
"A letra mata."
A lei sem o evangelho perturba-nos porque distorce a nossa imagem de Deus.
Isso deixa-nos com uma pesada sensação emocional de obrigação de fazer coisas
para Deus, em vez de termos um sentimento de gratidão a Deus pelo que Ele tem
feito por nós.
"A letra mata."
Paulo passa a expor o seu significado no versículo 7, chamando à lei "o ministério
da morte" e no versículo 9, “o ministério da condenação". Claramente, então,
Paulo está a falar principalmente sobre a morte espiritual, e não a morte física. A
lei administra morte impondo um sentido de "condenação" na consciência. Em
Romanos 3:20, Paulo di-lo desta maneira:
"Pela lei vem o conhecimento do pecado."
A lei funciona como um espelho moral para nos mostrar o nosso pecado em
contraste com o seu padrão perfeito de amor altruísta. Nós olhamos para a lei, e
pensamos: "Oh não, estou afundado! Eu não sou nada assim. Estou
completamente confuso e desprovido de bondade moral, se esse é o padrão." E é
tudo verdade. Somos culpados, e a lei deixa isso claro. Mas não há vida na
revelação da nossa culpa por parte da lei, porque a culpa não é motivação
suficiente para uma verdadeira mudança de vida. Se permanecermos no aperto
psicológico da nossa culpa e se tentarmos contar com Deus para salvação na
29
premissa das exigências da lei, tudo o que vamos experimentar é a morte
espiritual.
"A letra mata."
Se a lei é pregada de tal forma que nos faz imaginar que podemos realmente
guardá-la se simplesmente tentarmos muito, vamos inevitavelmente mover-nos
numa de duas direções:
1. Ou nos tornamos “fariseus” hipócritas que policiam o comportamento uns dos
outros e vivem com atitudes de julgamento em relação aqueles que não estão à
altura.
2. Ou vamos tentar e tentar, e tentar obedecer, motivados por um sentimento de
medo e condenação, até que finalmente desistimos em desespero.
"A letra mata."
Por outro lado, Paulo, diz: "O Espírito dá vida". O Espírito Santo está
especificamente a trabalhar dentro do domínio da pregação da nova aliança,
porque é onde a verdadeira vida espiritual nasce e é nutrida. Isto torna-se claro
quando Paulo expõe o seu ponto de vista. Observa os versículos 7-11:
“E, se o ministério da morte, gravado com letras em pedras, veio em glória, de
maneira que os filhos de Israel não podiam fitar os olhos na face de Moisés, por
causa da glória do seu rosto, a qual era transitória, como não será de maior glória
o ministério do Espírito? Porque, se o ministério da condenação foi glorioso, muito
mais excederá em glória o ministério da justiça. Porque também o que foi
glorificado nesta parte não foi glorificado, por causa desta excelente glória.
Porque, se o que era transitório foi para glória, muito mais é em glória o que
permanece”.
Paulo vai fundo aqui, mas quando entendemos o que ele está a dizer é realmente
muito simples e extremamente libertador. Vamos decompor o texto.
Primeiro de tudo, sabemos que Paulo está a falar sobre a lei moral e não a lei
cerimonial porque ele especifica que a lei com que ele está a lidar foi "gravada em
pedras". Então, precisamos encarar o fato de que tudo o que Paulo está prestes a
dizer tem a ver com os Dez Mandamentos. Com discernimento brilhante, Paulo
continua a descrever a lei dada por Moisés no Monte Sinai, dizendo que ele tinha
30
um certo tipo de "glória". Foi revelador. Ele trouxe verdade vital à luz. Sim, a lei
tem um domínio de operação legítimo, mas a lei é limitada no que pode revelar e
no que ela pode alcançar. Assim, Paulo diz que a sua "glória" era necessariamente
"transitória". Teve que dar lugar a outra coisa.
Esta maneira de descrever os Dez Mandamentos não nos agrada muito. Achamos
estranho, até mesmo preocupante, encontrar linguagem como esta sobre a lei de
Deus ali mesmo na Bíblia. O que estamos inclinados a fazer como Adventistas é
manobrar à volta de declarações como esta ou evitá-las completamente. No
entanto Paulo é persistente e enfático, não só aqui, mas ao longo dos seus
escritos, na caracterização da lei como transição para algo superior. Em Romanos
7:4, Paulo diz: "Assim, meus irmãos, também vós estais mortos para a lei pelo
corpo de Cristo." No versículo 6, ele diz, "Mas agora temos sido libertados da lei,
tendo morrido para aquilo em que estávamos retidos; para que sirvamos em
novidade de espírito, e não na velhice da letra." Em Romanos 10:4 diz: "Porque o
fim da lei é Cristo para justiça de todo aquele que crê." Em Gálatas 3:24,25, ele
diz: "De maneira que a lei nos serviu de aio, para nos conduzir a Cristo, para que
pela fé fôssemos justificados. Mas, depois que veio a fé, já não estamos debaixo
de aio."
Há algum sentido muito importante no qual Cristo é o fim da lei para aqueles que
acreditam, um sentido vital em que a lei serve como um tutor para nos conduzir a
Cristo, algum sentido crucial no qual o crente se torna morto para a lei através da
morte de Cristo, algum sentido experiencial no qual o crente é libertado da lei.
Como Adventistas, precisamos processar o que Paulo ensina sobre a lei se
quisermos alguma vez realmente proclamar o evangelho com alto clamor, com o
poder da chuva serôdia. No geral, as denominações cristãs falharam em ver o que
Paulo está realmente a dizer em relação à lei, e como resultado eles têm ido na
direção do antinomianismo. Eles simplesmente negam a lei por completo.
Historicamente, o Adventismo apareceu e redescobriu a esquecida lei de Deus.
Como povo, temos justamente exaltado os Dez Mandamentos como imutáveis,
eternos e invariáveis. No entanto, enquanto nós evitamos o antinomianismo,
falhamos também, com frequência, em conseguir entender o que Paulo tem a
dizer sobre a lei. Como resultado, o nosso próprio profeta repreendeu-nos
repetidamente por pregarmos uma ideia errada sobre a lei de Deus. Mas se nos
esforçarmos para lidar com o que Paulo diz sobre os Dez Mandamentos, evitando
o fosso do antinomianismo à esquerda e afastando-nos da vala do legalismo à
31
direita, vamos descobrir perceções poderosas do evangelho que nunca
conhecemos antes. Desde a época de Cristo e os apóstolos, que o
antinomianismo de um lado e o legalismo do outro, têm sido as únicas opções que
foram articuladas de forma destacada para o mundo. Há uma profunda, bela e
poderosa genialidade no tratamento da lei por Paulo, que permanece em grande
parte desconhecido e sem pregação.
Então vamos voltar para 2 Coríntios 3, agora.
Depois de nos dizer que a lei tinha um certo tipo de glória, Paulo diz-nos que a
glória da lei deve dar lugar a uma glória maior: "Porque, se o ministério da
condenação foi glorioso, muito mais excederá em glória o ministério da justiça.
Porque também o que foi glorificado nesta parte não foi glorificado, por causa
desta excelente glória. Porque, se o que era transitório foi para glória, muito mais é
em glória o que permanece." Paulo é claro: há uma glória trazida ao mundo na
pessoa de Cristo, que “sobressai" tão além da lei gravada em tábuas de pedra que
a lei "não teve nenhuma glória" por comparação. Quando os anjos viram o recémnascido Messias, eles clamaram dos céus, "Glória a Deus nas alturas, Paz na
terra, boa vontade para com os homens" (Lucas 2:14). Aproximando-se da cruz,
Jesus disse: "É chegada a hora em que o Filho do homem há de ser glorificado"
(João 12:23).
Aqui está a glória que "se destaca": a glória do Monte Sinai é suplantada pela
glória do Monte Calvário.
Em Cristo algo é dado ao mundo que a lei não pode dar, e Paulo agora diz-nos o
que é. Observa as palavras do versículo 9: "Porque, se o ministério da
condenação foi glorioso, muito mais excederá em glória o ministério da justiça."
Deus salva pecadores ao ministrar "justiça" em vez de "condenação". O Espírito
Santo, operando dentro do quadro da nova aliança e reivindicando as realizações
de Cristo, comunica aos nossos corações a sensação de que somos justos aos
olhos de Deus. Aqui está a grande verdade da justificação pela fé, que é
equivalente ao que Paulo chama "nova aliança". Em Romanos 4:17 Paulo diz
assim: Deus "chama as coisas que não são como se já fossem." Deus chama-me
justo, embora Ele saiba que eu sou pecador. Ele chama-me inocente, embora ele
saiba que eu sou culpado. Isto não é ficção legal. É genialidade relacional! Deus
relaciona-se comigo como se eu nunca tivesse pecado, não para desculpar o meu
32
pecado ou para me deixar em cativeiro nele, mas para me libertar dele ao nível da
minha identidade mais profunda.
Em 2 Coríntios 5:19 Paulo comunica a mesma verdade com linguagem diferente:
"Deus estava em Cristo reconciliando consigo o mundo, não lhes imputando os
seus pecados." Ou, como traduzido na Nova Versão Internacional, Deus salva
pecadores "não lançando em conta os pecados dos homens". Ele revela-se em
Cristo, como já reconciliado a nós. No Seu coração está o perdão pleno e livre.
Nós não precisamos de fazer nada para conseguir que Deus esteja lá. Ele já lá
está. Ele ama todos os pecadores do mundo, com um amor perfeitamente
reconciliada que não pode ser comprado. Tudo o que falta fazer é que cada um de
nós o veja, acredite, e se reconcilie com Ele. Dito de outra forma, a realidade
objetiva da salvação é um facto já realizado na pessoa e obra de Cristo. Não há
nada que possamos fazer para contribuir para isso. A experiência subjetiva deste
facto objetivo ocorre quando a abraçamos pela fé, quando dizemos: Sim! Sim ao
amor de Deus, ao Seu perdão, à Sua aceitação, tal como é revelada na vida e na
morte e ressurreição de Jesus. A fé não cria novos factos, ela simplesmente
acredita nos factos como eles são, em Jesus.
Volta novamente a 2 Coríntios 3 e aprecia o grande final de Paulo na sua
explicação sobre as duas visões da lei. Versículos 12-18:
“Tendo, pois, tal esperança, usamos de muita ousadia no falar. E não
somos como Moisés, que punha um véu sobre a sua face, para que os
filhos de Israel não olhassem firmemente para o fim daquilo que era
transitório. Mas os seus sentidos foram endurecidos; porque até hoje o
mesmo véu está por levantar na lição do velho testamento, o qual foi por
Cristo abolido; E até hoje, quando é lido Moisés, o véu está posto sobre o
coração deles. Mas, quando se converterem ao Senhor, então o véu se
tirará. Ora, o Senhor é o Espírito; e onde está o Espírito do Senhor, aí há
liberdade. Mas todos nós, com rosto descoberto, refletindo como um
espelho a glória do Senhor, somos transformados de glória em glória na
mesma imagem, como pelo Espírito do Senhor.”
Aqui, Paulo descreve uma condição humana em que as pessoas sabem o que é a
Bíblia,
mas
não
a
conhecem.
Eles
são
textualmente
alfabetizados
e
espiritualmente ignorantes ao mesmo tempo. Eles sabem o que é a palavra, mas
eles não conhecem a Palavra. Eles sabem capítulos e versículos e fatos, mas eles
33
não conhecem as realidades relacionais mais profundas para que apontam.
"Quando é lido Moisés, o véu está posto sobre o coração deles.” Sim, Paulo
refere-se ao povo do antigo Israel. Mas, não, ele não se está a referir apenas a
Israel. Ele também se está a referir a quaisquer pessoas modernas que por acaso
sabem muita "verdade" e pregam a lei e, por causa de toda a verdade que eles
sabem, veem-se como "rico sou, e estou enriquecido (teologicamente), e de nada
tenho falta," quando na realidade cada um deles é "um desgraçado, e miserável, e
pobre, e cego, e nu" (Apocalipse 3:17).
Pregando a verdade sem pregar a verdade! Cegueira, realmente! Mas, querido
amigo Adventista, há esclarecimento claro para se ter.… em Cristo! "O véu é
retirado em Cristo", Paulo proclama. "Quando alguém se converte ao Senhor, o
véu é tirado." "Vendo, como num espelho, a glória do Senhor." Não é um olhar
casual, como se Jesus fosse uma doutrina numa série de sermões! Não é um
olhar de passagem, como se Jesus fosse mais um tópico entre muitos, digamos, a
sexta noite, numa série de 24!
Não!
"Contemplando" é a palavra que Paulo usou. Ele está a dizer-nos para olhar,
refletir, e contemplar Cristo como com o olhar paralisado! E dar a Jesus a nossa
atenção completa, focada, indivisível, emocional, intelectual e teológica. Ele diznos exatamente o que nos vai acontecer, em nós, por nós. Nós vamos ser
"transformados de glória em glória na mesma imagem." Ele já havia explicado que
há duas glórias à nossa frente, a glória do evento do Sinai e a glória do evento do
Calvário; a glória da carta a ministrar condenação e a glória do Espírito
ministrando o dom da justiça; a glória da lei que traz a morte e a glória da nova
aliança que traz vida. Agora, ele diz-nos que, ao contemplarmos Jesus vamos
passar por uma mudança fundamental, essencial, transformadora e final daquela
glória para a outra, de nos relacionarmos com Deus através da lei para a salvação
até nos relacionarmos com Deus por meio de Cristo para a salvação.
Paulo colocou diante de nós duas opções distintas:
1. A experiência da antiga aliança, que nunca foi intenção de Deus, é conduzida
por um sentido emocional de condenação como o motivador para a obediência.
A experiência da antiga aliança produz uma aparência exterior de obediência,
uma obediência fingida, superficial, hipócrita e julgadora. A experiência da
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antiga aliança é caracterizada por uma sensação de pressão imposta
externamente para obedecer à lei, a fim de obter a aceitação de Deus.
2. A experiência da nova aliança é impulsionada por um profundo sentimento do
amor de Deus como o motivador para a obediência. A experiência da nova
aliança produz um aumento interno autêntico de obediência à lei de Deus,
verdadeira, sincera, livre de toda a condenação. A experiência da nova aliança
é caracterizada por uma sensação libertadora de que eu já tenho a aceitação
de Deus, antes de eu render um único ato de obediência à lei, que, em seguida,
cria em mim um novo poder para obedecer que eu nunca tinha conhecido
antes.
Paulo não aboliu a lei. Ele definiu de forma simples e necessária os limites do
poder da lei e colocou-a dentro da sua legítima esfera de ação. Ele não negou a lei
completamente, mas ele negou enfaticamente a lei como meio de salvação. A lei
serve um propósito, e a Bíblia diz-nos claramente qual é esse propósito: "a lei nos
serviu de aio, para nos conduzir a Cristo, para que pela fé fôssemos justificados"
(Gálatas 3:24). Um fariseu dos fariseus, Paulo experimentou a epifania teológica
definitiva: A glória da lei é suplantada pela glória do Cristo vivo! Paulo fez a
mudança, e ele exorta a que cada um de nós o faça também "de glória em glória",
da glória da lei, para a glória do evangelho. Quando fizermos essa mudança, o
Adventismo vai finalmente tornar-se na poderosa revolução teológica que Deus
quer que ele seja. E nós vamos saber quando estiver a acontecer, porque quando
acontecer, "Um interesse vai prevalecer, um assunto vai engolir todos os outros:
Cristo nossa justiça" (Ellen White, Review and Herald, 23 de dezembro de 1890).
Dia 3
 Questões para discussão
A lição diz que há duas maneiras como os seres humanos se relacionam com a
ideias de que devemos obedecer para ganhar a salvação, ou o amor ou o favor de
Deus:
1. marchar em "obediência", o que leva ao farisaísmo e ao pensamento crítico, ou
2. tentar e tentar, falhar e desistir em desespero.
Na direção de qual destes extremos se tem inclinado a tua vida a maior parte das
vezes? Quando é que realmente chegaste a compreender o princípio ensinado
nesta lição, que a nossa salvação é encontrada somente em Cristo,
35
independentemente da lei, e que a nossa obediência alegre é possível por essa
aceitação milagrosa? Se foi no passado, partilha uma história específica de uma
mudança que aconteceu na tua vida como resultado. Se estás apenas agora a
começar a entender isto, louva a Deus e presta atenção a histórias para partilhar.
Isso irá mudar a tua vida!
Paulo diz que não havia glória na lei. Partilha duas maneiras em que os Dez
Mandamentos são gloriosos para ti. Ele, então, diz que há muito mais glória em
Cristo e no Seu dom de salvação perfeito e livre. Partilha duas maneiras em que a
glória deste dom gratuito excede a glória da lei para ti.
Qual achas que é o "véu" que impede os cristãos verdadeiramente bem
intencionados de ver esta verdade sobre a graça e a lei?
Partilha três maneiras através das quais podes consciente e continuamente
contemplar Cristo na tua vida diária. Compromete-te a praticar essas maneiras de
manter o Seu rosto amoroso à tua frente.
 Atividade de Grupo:
1. Adicionar alguma coisa ou decorar o teu modelo octagonal se
desejares.
2. Dependendo do tamanho do teu grupo, podes querer dividir em equipas ou
pares para esta atividade. Reescreve cada mandamento usando uma
linguagem positiva. Quando Deus diz "não", o que quer Ele que nós
façamos? Escreve-os como promessas.
36
DIA 4: O SÁBADO
Amor Reparador
Na nossa mensagem anterior, descobrimos ideias vitais sobre a lei de Deus,
deixando-nos ser instruídos pelo apóstolo Paulo. Em primeiro lugar, vimos que a
única forma legítima de pregar a lei está na forma de uma nova aliança. Qualquer
sermão sobre a lei que consista simplesmente em provar que a lei deve ser
obedecida, sem uma declaração clara do evangelho da graça, está a mover-nos
na direção errada. Em segundo lugar, observamos que a lei funciona como um
tutor para nos conduzir a Cristo, afim de sermos justificados pela fé e não pela
obediência à lei. Está no âmbito da função da lei o revelar o nosso pecado e,
portanto, a nossa necessidade de um Salvador, mas a lei não tem absolutamente
nenhum poder salvador. Por fim, aprendemos que a lei possui um certo tipo de
glória. Paulo descreve essa glória como o poder revelador para administrar a
condenação, ou consciência, do nosso pecado. Mas agora, diz Paulo, a glória da
lei é substituída pela maior glória da justiça de Cristo, que o Espírito Santo
administra.
Na etapa inicial da teologia e abordagem evangelística Adventista, nós, como um
povo, não percebemos isto. Estávamos muito envolvidos numa postura defensiva
de tentar provar ao restante mundo Cristão que a lei de Deus é eterna, e, portanto,
todos devem obedecer-lhe - toda ela - incluindo o mandamento do Sábado.
Tendíamos a ver os guardadores do Domingo como "adversários" teológicos que
precisavam ser argumentados à obediência da lei, e como resultado, a nossa
própria teologia da lei foi na direção errada. Por causa do nosso mau uso da lei,
Ellen White observou que nós, como Adventistas do Sétimo Dia, estávamos a
ganhar uma reputação infeliz aos olhos dos outros Cristãos. Foi assim que ela
articulou a impressão que tínhamos causado: "...os Adventistas do Sétimo Dia
falam na lei, na lei, mas não ensinam a Cristo nem nEle crêem" (Ellen White,
Testemunhos Para Ministros, pp. 91-92).
Vamos voltar a esta declaração daqui a pouco e considerar o seu contexto
histórico. Mas agora, vamos sentir o peso da sua avaliação. Se há alguma
reputação que a igreja não deve querer trazer sobre si mesma, é esta. Somos,
afinal, chamados a pregar o evangelho eterno ao mundo, que é a boa noticia
salvação somente pela graça, através da fé, somente em Cristo, e não pelas obras
37
da lei. E, no entanto, aqui estava a nossa própria profetisa, Ellen G. White,
dizendo-nos que tínhamos feito precisamente a coisa que não devíamos ter feito:
dado a impressão de que Jesus não estava em lugar nenhum no nosso radar.
E a censura continua até hoje.
Cada evangelista e pastor Adventista tem que lutar contra a acusação de que
somos legalistas. A nossa resposta comum à acusação tem sido negar a
acusação, fiéis à nossa profundamente enraizada visão Laodiceana de que somos
ricos e aumentados com bens doutrinários e não precisamos de nada. Mas Ellen
White não o negou. Na verdade, ela passou uma grande parte do seu ministério
profético, confrontando-nos com o facto de que tínhamos pregado a lei de uma
forma errada e não tínhamos conseguido pregar o evangelho com clareza. Ela foi
para a sepultura exortando-nos como igreja para mudarmos de rumo, dizendo
coisas como estas:
“Reiteradas vezes me tem sido apresentado o perigo de nutrir, como um
povo, falsas ideias da justificação pela fé. Durante anos tem-me sido
mostrado que Satanás trabalharia de maneira especial para confundir a
mente quanto a esse ponto. Tem-se alongado sobre a lei de Deus e ela
tem sido apresentada às congregações quase de modo tão destituído do
conhecimento de Jesus Cristo e de Sua relação para com a lei como a
oferta de Caim.” (Fé e Obras, p. 18).
“A pregação de Cristo crucificado tem sido estranhamente negligenciada
pelo nosso povo. Muitos dos que alegam crer na verdade não têm
conhecimento da fé em Cristo pela experiência... Deve haver um poder
vivificante no ministério. A vida deve ser infundida nos missionários em
todos os lugares, para que possam sair sem dar à trombeta nenhum som
incerto, mas com poder para o despertamento enviado dos céus, como só
pode ser encontrado na pregação de Jesus Cristo, o Seu amor, o Seu
perdão, a Sua graça.” (Materiais de 1888, pp. 842, 844-855).
Estas declarações, e muitas mais como estas, fluíram diretamente da Sessão da
Conferência Geral de 1888, em que Deus tentou trazer o evangelho para a
teologia Adventista através de dois jovens chamados Ellet Joseph "EJ" Waggoner
e Alonzo T. Jones. Numa das declarações mais abrangentes e ricas que Ellen
White alguma vez escreveu, ela avaliou assim o que estes homens pregavam:
38
“Em Sua grande misericórdia, enviou o Senhor preciosa mensagem a Seu
povo por intermédio dos Pastores Waggoner e Jones. Esta mensagem
devia pôr de maneira mais preeminente diante do mundo o Salvador
crucificado, o sacrifício pelos pecados de todo o mundo. Apresentava a
justificação pela fé no Fiador; convidava o povo para receber a justiça de
Cristo, que se manifesta na obediência a todos os mandamentos de Deus.
Muitos perderam Jesus de vista. Deviam ter tido o olhar fixo em Sua divina
pessoa, em Seus méritos e em Seu imutável amor pela família humana.
Todo o poder foi entregue em Suas mãos, para que Ele pudesse dar ricos
dons aos homens, transmitindo o inestimável dom de Sua justiça ao
impotente ser humano. Esta é a mensagem que Deus manda proclamar ao
mundo. É a terceira mensagem angélica que deve ser proclamada com
alto clamor e regada com o derramamento de Seu Espírito Santo em
grande medida” (Testemunhos Para Ministros, p. 91,92).
E foi neste contexto que ela disse:
"A mensagem do evangelho de Sua graça devia ser dada à igreja em
linhas claras e distintas, para que não mais o mundo dissesse que os
Adventistas do Sétimo Dia falam na lei, na lei, mas não ensinam a Cristo
nem nEle creem" (Testemunhos Para Ministros, p.92).
Que esboço surpreendente daquilo em que o Adventismo se podia ter tornado e
ainda se pode tornar! Imagina quão evangelisticamente poderoso seria, se a
primeira coisa que as pessoas pensassem quando ouvem falar de Adventistas do
Sétimo Dia fosse algo como: "Oh, sim, essa é a igreja que não consegue parar de
falar sobre o amor de Deus por todos."
Uau, isso seria incrível, não é?
As pessoas estariam a inundar as nossas igrejas. O alto clamor e chuva serôdia
aconteceriam dispensando os nossos incessantes e constantes esforços para que
isso aconteça, porque estaríamos a pregar a própria mensagem que o Espírito
Santo iria ansiosamente confirmar com o Seu poder. Na mensagem de hoje,
vamos descobrir como uma das nossas doutrinas tem o potencial de nos abrir os
olhos e inflamar verdadeiro reavivamento entre nós, com base na única verdade
em que o verdadeiro reavivamento pode estar baseado - a grande verdade da
justificação pela fé, também conhecida como o Evangelho.
39
A doutrina a que me estou a referir é a verdade bíblica a respeito do Sábado.
Como povo, temos tido a tendência de reduzir o Sábado a um argumento de “dia
certo” contra “dia errado”. Pergunta a uma congregação Adventista normal: "Será
que temos a verdade sobre o Sábado?" Vais ter um coro entusiasmado de
"Améns!"
Depois pergunta: "O que é a verdade do Sábado?" As pessoas vão dar respostas
como:
"O sétimo dia é o Sábado, não o primeiro dia!"
"É Sábado e não domingo!"
"A Igreja Católica mudou o Sábado para domingo!"
Tudo isso é verdade e importante, mas não é a verdade que reside dentro do
próprio Sábado. Quando nós limitamos o Sábado a um esforço para provar que as
pessoas devem obedecer ao quarto mandamento, perdemos o que realmente
significa o Sábado. Nesta mensagem vamos explorar o que está em causa sobre o
Sábado, e aquilo que estamos prestes a descobrir é realmente incrível. Então,
vamos reexaminar o Sábado e ver o maior tesouro de visão evangélica que temos.
Descanso incorporado Dentro da História
Vamos começar por olhar novamente para a origem do Sábado em Génesis. Mas
agora, em vez de apenas citar o capítulo 2:1-3 como uma testemunha isolada para
provar que o Sábado foi dado no Éden e, portanto, deve ser guardado por todos os
seres humanos e não apenas pelos judeus, vamos fazer uma pausa para ter em
conta o contexto narrativo em que o Sábado foi instituído. Ao olhar para a história
completa em que o Sábado surge, vamos descobrir a bela verdade que ele
exprime. Em Génesis 1 e 2, vemos que Deus prossegue com a Criação num
padrão artístico intencional: formação de espaços materiais e, em seguida,
preencher os espaços com vida. Nos três primeiros dias o Criador faz espaços
dividindo os elementos materiais da Criação. Nos três dias seguintes, Ele
preenche esses espaços com seres vivos.
No dia um Deus forma os céus e a terra e separa a luz das trevas, e, em seguida,
no dia quatro Ele preenche esse espaço com o Sol, a Lua e as estrelas. No
segundo dia Deus forma os espaços da água e do céu, e, em seguida, no quinto
40
dia Ele preenche esses espaços com peixes e aves. No terceiro dia Deus forma o
espaço de terra seca, e, em seguida, no sexto dia Deus enche a terra com animais
e humanidade. Em seguida, vem o clímax de todo o processo: Deus cria o Sábado
e preenche-o com Ele próprio. O Sétimo Dia é um espaço único, porque não é um
espaço material, mas sim um espaço relacional, e não é preenchido com coisas
materiais, mas sim com a bênção da presença do companheirismo de Deus.
“Assim os céus, a terra e todo o seu exército foram acabados. E havendo
Deus acabado no dia sétimo a obra que fizera, descansou no sétimo dia de
toda a sua obra, que tinha feito. E abençoou Deus o dia sétimo, e o
santificou; porque nele descansou de toda a sua obra que Deus criara e
fizera.” (Génesis 2:1-3).
O que está a ser descrito aqui não é o descansar de exaustão física, para a qual é
necessário dormir, mas descanso no sentido de satisfação, para o que é
necessário gozo. Deus não está cansado, Ele está feliz, contente, satisfeito. Ele
tem estado a dar, a dar, a dar, derramando a Sua energia para criar. Agora Ele
completou a tarefa e está a receber de volta para Si mesmo o prazer do amor
correspondido da Sua Criação. Esse é precisamente o Seu plano para nós, que
fôssemos "abençoados" em primeiro lugar, recebendo d'Ele uma posição de
descanso e, em seguida, sermos envolvidos para gastar a nossa energia com
Deus e com os outros. Então Deus "santificou" o sétimo dia. A palavra significa
literalmente único ou distinto. Deus deu-nos o Sábado como um espaço único no
tempo para o gozo da comunhão entre Ele e nós, como uma lembrança recorrente
e constante de que a natureza exata do nosso relacionamento com Ele é uma de
amor recíproco.
Mas isso não é tudo. A história é mais bonita ainda.
Nota que os seres humanos foram criados na segunda metade do sexto dia,
depois de todo o "trabalho" da Criação de Deus já estar "acabado". Portanto, eles
não participaram na obra da Criação, nem mesmo testemunharam Deus envolvido
no ato de criar. Imagina a cena. Adão acorda para a vida, o rosto do seu Criador a
poucos centímetros do seu. Eles olham-se. Que momento! Deus diz algo como:
«Olá! Bem-vindo à existência! Eu sou o teu Criador e eu fiz toda esta beleza para
ti.» Nesse momento, algo é necessário para a relação continuar: fé, convicção,
confiança de que o que Deus lhe está a dizer é verdade. Paulo chega a esta
conclusão em Hebreus 11:1: "Ora, a fé é o firme fundamento das coisas que se
41
esperam, e a prova das coisas que se não vêem." Depois o versículo 3: "Pela fé
entendemos que os mundos pela palavra de Deus foram criados; de maneira que
aquilo que se vê não foi feito do que é aparente."
Adão não viu Deus criar nada, mas ele encontra em si mesmo uma confiança, uma
dependência, um repouso agradável naquele que fala com ele. A fé faz parte da
sua natureza. Ele sente que é amado e o amor de Deus cria confiança no seu
coração. Depois Deus cria Eva. Mas ele não diz a Adão, «Olha para isto!», e “puff”
… ela é criada à vista de Adão. Não. Ele adormece Adão, e de seguida cria Eva.
Ela, como Adão, desperta para viver pela fé e Adão abre os olhos pela segunda
vez para confiar na palavra do seu Criador de que esta, a mais bela de todas as
criaturas que está diante dele, saiu do poder criador de Deus. Lá estavam eles, o
homem e a mulher, num belo jardim recebendo pela fé, como um dom gratuito,
tudo o que os rodeava. E vê isto: o Sábado foi o seu primeiro dia completo de vida.
Eles descansaram primeiro, contemplando a realidade da sua total dependência
do Seu Criador, e, em seguida, energizados pelo Seu amor, eles passaram a
trabalhar cuidando do jardim no primeiro dia da semana.
A história da Criação, posicionando Adão e Eva como beneficiários de uma obra
acabada, comunica uma mensagem poderosa: nós, seres humanos, somos
criaturas de descanso antes de sermos criaturas de trabalho. Estamos a nível
mental, emocional e relacionalmente projetados para receber de Deus antes de
sermos capazes de devolver a Ele e aos outros. "Nós o amamos a ele porque ele
nos amou primeiro" (1 João 4:19). Essa é a natureza da relação Criador-criatura.
A Continuidade Criação-Salvação
Ok, então, a nossa primeira descoberta sobre o Sábado é que ele é um memorial
da obra consumada da Criação de Deus, lembrando-nos da nossa posição na
Criação como confiantes destinatários do Seu amor. Agora vamos descobrir que o
Sábado é também um memorial da Redenção. Uma vez percebida, a conexão é
óbvia. Há uma razão super lógica pela qual o Sábado funciona como um memorial
tanto da Criação como da Salvação, e é esta: ambas são realizadas pelo poder
criativo de Deus. A Salvação é, de fato, um ato de re-Criação da parte de Deus.
Dentro do enredo da Escritura há o que poderia ser descrito como uma
continuidade
entre
Criação
e
Salvação.
Vê
como
ela
se
desenrola
maravilhosamente.
42
O Antigo Testamento começa com as palavras: "No princípio criou Deus o céu e a
terra" (Génesis 1:1), e, depois, a história da Criação continua, o "Haja luz", e assim
por diante. O Evangelho de João no Novo Testamento começa com: "No princípio
era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus" (João 1:1), e,
depois, a história da redenção continua. Em Génesis 1, a primeira declaração do
empreendimento criativo é, "Haja luz, e houve luz" (Génesis 1:3). Em João 1, a
primeira declaração do empreendimento da redenção é: "Nele estava a vida, e a
vida era a luz dos homens. E a luz resplandece nas trevas, e as trevas não a
compreenderam"(João 1:4,5).
Em Génesis 1, o primeiro homem foi criado com o propósito de carregar a imagem
de Deus: "Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança"
(Génesis 1:26). Em João 1, Jesus torna-se o novo homem para redimir o fracasso
de Adão, e revela a glória e imagem de Deus sem falhas: "E o Verbo se fez carne,
e habitou entre nós, e vimos a sua glória, como a glória do unigénito do Pai, cheio
de graça e de verdade" (João 1:14).
Em Génesis, lemos que Deus "terminou" o trabalho de Criação, "E havendo Deus
acabado no dia sétimo a obra que fizera, descansou no sétimo dia de toda a sua
obra, que tinha feito." (Génesis 2:2). Em João, enquanto Jesus chega ao fim de
seu ministério de Salvação, Ele emprega a linguagem do sétimo dia de Génesis 2
e diz ao Pai: "Eu glorifiquei-te na terra, tendo consumado a obra que me deste a
fazer" (João 17:4). E pendurado na cruz, Ele exclama: "Está consumado!" (João
19:30). O versículo seguinte informa-nos que Jesus declarou a Sua obra de
Salvação "consumada" no " dia da preparação", (sexta-feira), e em seguida,
descansou na tumba no dia de Sábado.
Vemos então que a Bíblia conta perfeitamente duas histórias indissociavelmente
entrelaçadas: a história da Criação e a história da Recreação; e o Sábado é o
ponto culminante de resolução em ambas as histórias. Isto é bastante
surpreendente e poderoso, na verdade, porque quando o Sábado é visto no seu
contexto narrativo natural, antecipa o legalismo. Significando não apenas a obra
consumada da Criação, mas também a obra concluída de Salvação, o Sábado
nega toda a empresa de salvação pelas obras e centra a nossa confiança total em
Cristo. É uma pena que tenhamos ignorado esta narração da verdade do Sábado
e ficado por meras abordagens de dia certo ou dia errado. Se tivéssemos mantido
o Sábado no alto, como o lembrete da graça salvadora de Deus que ele é, o
Sábado ter-nos-ia imunizado contra o legalismo e o nosso testemunho para o
mundo seria muito mais vencedor.
43
Os fariseus do tempo de Jesus transformaram o Sábado de Deus numa regra
legalista com a qual martelar, julgar e prender as pessoas. Em certo sentido temos
repetido a sua história à nossa própria maneira, do nosso próprio ângulo. Há uns
anos atrás, ouvi um pastor perguntar a um jovem Adventista, "O que é que o
Sábado significa para ti?" O menino pensou por um momento e respondeu:
"Senta-te, cala-te e pinta, ou vais ficar com a marca da besta." Enquanto alguns
podem achar esta resposta engraçada, para muitos Adventistas ela representa a
sua visão geral sobre o Sábado. Ellen White tentou levar-nos a ver a lei à luz do
evangelho. Numa ocasião, ela disse: "A lei dos Dez Mandamentos não deve ser
considerada tanto do lado proibitivo, como do lado da misericórdia." (Mensagens
Escolhidas, vol 1, p 235).
Noutra ocasião, ela escreveu: "Os Dez Mandamentos, 'Farás" e "Não farás", são
dez promessas." (Bible Echo, 17 de Junho, 1901). Isto é verdadeiro para o quarto
mandamento. O Sábado não é sobre o que não podemos fazer durante um
período de 24 horas cada semana. É sobre o que Deus tem feito e fará por nós por
Sua graça misericordiosa. Quando entendido dentro do contexto da história bíblica
em geral, o Sábado é uma lembrança constante da nossa total dependência de
Jesus para a Salvação e, portanto, a própria antítese do legalismo.
Os Ritmos Livres da Graça
Não é de todo surpreendente, então, que Jesus tenha definido a Salvação como
envolvendo descanso da ansiedade de trabalhar para merecer o favor de Deus:
"Vinde a mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei. Tomai
sobre vós o meu jugo, e aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração; e
encontrareis descanso para as vossas almas. Porque o meu jugo é suave e o meu
fardo é leve. (Mateus 11:28-30). O "trabalho" do qual Jesus oferece "descanso"
não é o trabalho físico, mas a ansiedade emocional de trabalhar sob uma falsa
imagem do caráter de Deus, o que nos leva a crer que a Sua aceitação deve ser
conquistada. Sabemos que este é o seu objetivo porque Ele oferece alívio para as
nossas "almas", que é psyche no texto original grego. Ele está literalmente a dizer,
"eu quero libertar a tua mente do seu fardo." Este é o descanso mais profundo que
nós realmente precisamos: o descanso de saber que Deus nos ama e nos salva
por Sua graça, não porque fizemos trabalho suficiente para sermos dignos do Seu
amor.
44
À medida que entramos no descanso que Ele oferece, descobrimos que Deus não
é um capataz duro e exigente. Longe disso. Quando chegamos ao interior do
coração de Deus, descobrimos que servi-Lo é "fácil" e "leve". Porquê? Porque é
assim que o amor funciona. Ele reorganiza completamente a perspetiva de uma
pessoa sobre o que é pesado e difícil. Para a pessoa que está no amor, pesado e
difícil são conceitos quase estranhos. Ellen White di-lo desta maneira:
“Não devemos absolutamente confiar em nós mesmos nem em nossas
boas obras; mas quando, como seres erradios e pecadores, nos chegamos
a Cristo, encontramos descanso em Seu amor. Deus aceitará a cada um
dos que se chegam a Ele, confiando inteiramente nos méritos de um
Salvador crucificado. Brota o amor no coração. Pode não haver êxtase de
sentimentos, mas haverá uma duradoura e pacífica confiança. Todo peso
se tornará leve; pois leve é o jugo imposto por Cristo. O dever torna-se um
deleite e um prazer o sacrifício.” (Fé e Obras, p. 38).
Uau! Isto é tão bom!
Podes imaginar alguma experiência melhor?
Claro que não podes!
Quando Jesus diz: "Venham a mim todos os que estão cansados e oprimidos e eu
vos aliviarei", Ele está a oferecer a vida mais livre que se possa imaginar. Outra
versão da Bíblia brilhantemente capta a ideia assim: "Aprendam os ritmos livres da
graça" (A Mensagem).
Livres...
Estou em repouso.
Ritmos ...
e, contudo, estou em movimento.
Da graça ...
porque o amor imerecido de Deus poderosamente me move de dentro para fora.
Amor não coercivo é o princípio fundamental que permeia o caráter de Deus e
sobre o qual o Seu reino opera. Por meio do profeta Jeremias, Deus declarou tanto
45
o Seu coração em relação a nós como o Seu método de salvar-nos: "Porquanto
com amor eterno te amei, por isso com benignidade te atraí." (Jeremias 31:3).
Isto é tão incrível. Observa a relação lógica entre como Deus se sente em relação
a nós e como Ele se aproxima de nós. Porque Deus nos ama, Ele procura atrairnos a Ele pela influência atraente da Sua bondade, em vez de nos forçar através
do Seu poder superior ou de nos manipular com a Sua sabedoria superior. O único
objetivo de Deus é atrair e capacitar-nos.
Isso é tudo.
E isso é muito.
Monumental, na verdade.
Nenhuma maior realização é concebível, mesmo para o Deus Todo-Poderoso,
porque, por mais surpreendente que possa parecer, tu e eu somos livres para
literalmente dizer não a Deus. Então, Ele embarcou na delicada tarefa de nos
salvar do pecado, sem prejuízo do nosso livre-arbítrio mas deixando-o intacto e
operacional.
Que Deus!
Ellen White engenhosamente observou: "O amor é o meio que Ele usa para expelir
o pecado do coração." (O Maior Discurso de Cristo, p. 77). Graça é a forma que o
amor de Deus toma ao se relacionar com os pecadores. O génio da graça é que
simultaneamente me liberta e me cativa. No momento em que eu perceber que
não há absolutamente nada que eu possa fazer para ganhar o favor de Deus, eu
sou livre para dizer não à Sua vontade e ainda assim eu digo ansiosamente sim.
Mas se eu acreditar, intelectual ou mesmo emocionalmente, em qualquer forma da
mentira que é a “salvação pelas obras”, torno-me moralmente aleijado, imobilizado
e derrotado. Eu esforço-me para andar em direção a Deus sob sentimentos de
culpa, e a culpa enfraquece em vez de fortalecer a minha vontade. Ellen White
emite este aviso e encorajamento:
“Não devemos fazer de nós mesmos o centro, nutrindo ansiedade e temor
quanto à nossa salvação. Tudo isto desvia a alma da Fonte de nosso
poder. Confiai a Deus a preservação de vossa alma, e nEle esperai. Falai e
pensai em Jesus. Que o próprio eu se perca nEle. Ponde de parte a
46
dúvida; despedi vossos temores. Dizei com o apóstolo Paulo: "Vivo, não
mais eu, mas Cristo vive em mim; e a vida que agora vivo na carne, vivo-a
na fé do Filho de Deus, o qual me amou e Se entregou a Si mesmo por
mim." (Gálatas 2:20). “Repousai em Deus” (Caminho a Cristo, pp. 71,72).
Há uma firme segurança em saber que minha salvação é Sua obra e não minha.
Isso é o descanso que Jesus oferece. Mas é mais do que apenas descanso o que
Ele oferece, porque com descanso vem energia! Descansando apenas em Cristo
para a minha salvação, Sua graça desperta-me, dá-me energia e motiva-me com a
motivação pura e poderosa do amor como a única verdadeira base para a
obediência. Sou impulsionado de dentro para fora pelos ritmos naturais da Sua
graça. De repente o Sábado faz mais sentido do que nunca antes.
Sentido teológico, com certeza.
Mas também sentido emocional.
E sentido relacional.
Encontro-me cara a cara, coração a coração, com um Deus que já me ama, já me
favorece, já me aceita, não porque eu tenha feito algo para merecê-lo, mas
simplesmente porque Ele é bom. E, aqui e agora, nesta compreensão, eu
descanso. A verdade do Sábado tem tudo a ver com isto.
DIA 4
 Questões para discussão
Infelizmente, todos nós conhecemos histórias de Adventistas do Sétimo Dia
que agiram sem amor colocando-se no lugar de juízes. Tira algum tempo
para partilhar histórias, que tu conheces pessoalmente, de Adventistas que
têm demonstrado a glória do amor incondicional de Deus nas suas ações.
A mensagem de hoje afirma que Deus criou o Sétimo Dia e encheu-o com
Ele. Mas Deus está em todos os dias, certo? De que maneira(s) é a
presença de Deus de alguma forma diferente no Sábado? Como a podes
perceber?
47
Pensas em ti mesmo como alguém que descansa primeiro para depois
trabalhar, ou que descansa para "superar" e recuperar dos dias de
trabalho? O que aconteceria na tua vida se te desses completamente ao
primeiro conceito, em vez do segundo?
Qual é a tua reação ao conceito de que a história da Criação e a história de
Redenção estão interligadas, e o Sábado é o coração de ambos? Como é
que isso te pode mudar?
Como podes começar a descansar nos "ritmos livres da graça"? Tenta ser
específico.
 Atividade de Grupo:
Adicionar alguma coisa ou decorar o teu modelo octagonal se desejares.
Divide o grande grupo em três grupos. Atribui ao primeiro grupo a função
de argumentar contra o Sábado, ao segundo grupo a função de argumentar
a favor do Sábado e ao terceiro grupo a função de descobrir maneiras de
usar os princípios desta lição para incentivar o primeiro grupo a
experimentar descanso e serenidade e a sentir os "ritmos livres" da graça e
do amor eternos de Deus.
Uma maneira de organizar isto, se tiveres tempo: Primeiro, coloca uma pessoa do
grupo 1 e uma pessoa do grupo 2 a argumentar entre 30 segundos a um minuto.
Pergunta à pessoa 1 se as suas opiniões mudaram. Em seguida, atribui uma
pessoa do grupo 3 para incentivar a pessoa do grupo 1 e pergunta novamente. Em
alternativa, podes permitir que os grupos trabalhem como um todo na mesma
ordem: os grupos 1 e 2 a argumentar, depois o grupo 3 tenta incentivar, a que se
dê o presente de um descanso necessário.
48
DIA 5: O SANTUÁRIO
Amor Misericordioso
Quando Ellen White era uma adolescente teve um sonho surpreendente sobre um
enorme templo. Ela escreveu: "Sonhei que via um templo em que muitas pessoas
se estavam reunindo. Apenas os que se refugiassem naquele templo seriam
salvos quando terminasse o tempo." No sonho, ela sentiu a urgência de se refugiar
no edifício, mas tinha medo de ser ridicularizada pela multidão em zombaria. Com
medo e constrangida, ela caminhou lentamente para o templo. Ao entrar, viu
imediatamente que o edifício foi projetado com uma característica arquitetónica
incomum e surpreendente: "Entrando no edifício, vi que o vasto templo era
apoiado por uma imensa coluna."
Interessante!
Ali estava um grande edifício, e a coisa toda estava a ser sustentada "por uma
imensa coluna." Enquanto ponderava o que isso poderia significar, ela notou algo
sobre a coluna: "... a esta [coluna] se achava amarrado um cordeiro todo ferido e
ensanguentado. Nós que nos achávamos presentes parecíamos saber que esse
cordeiro fora lacerado e ferido por nossa causa." (Primeiros Escritos, pp. 78-79).
Ah, agora vemos o objetivo da visão.
Aqui, Deus revelou à jovem Ellen White que todo o templo da verdade que Ele
estava a revelar ao povo do Advento iria encontrar a sua "imensa coluna" de apoio
na cruz de Cristo. Um ponto central cravado na cruz seria crucial para uma
compreensão adequada de toda a estrutura teológica. Jesus deve ser mantido
claramente à vista como a verdadeira questão, de cada questão da verdade.
Fazendo referência ao símbolo "coluna", Ellen White escreveu mais tarde que a
cruz “é a coluna central sobre a qual pende o mais excelente e eterno peso de
glória que é para aqueles que aceitam a cruz. Sob e em torno da cruz de Cristo,
essa coluna imortal, o pecado nunca vai reviver, nem o erro alcançar o controle."
(SDA Bible Commentary, Vol. 7A, p. 457).
Numa outra ocasião, com ainda maior clareza, ela escreveu estas palavras: "Há
uma grande verdade central a ser conservada sempre em mente ao
esquadrinharem-se as Escrituras — Cristo e Ele crucificado. Toda outra verdade é
49
investida de influência e poder correspondentes a suas relações para com esse
tema" (A Fé Pela Qual Eu Vivo, p. 45). Ellen White foi específica, clara, e
apaixonada sobre ver toda a verdade debaixo dos raios de luz que fluem do
Calvário. A cruz de Cristo, sobre a qual Jesus sofreu e morreu com amor perfeito
pela humanidade, é a coluna central que suporta toda a estrutura da verdade
doutrinária. No momento em que reduzimos a verdade a uma lista de factos a ser
discutidos e provados, retiramos da verdade o seu poder para salvar. Mas no
momento em que percebemos que toda a doutrina é uma janela para o amor de
Deus, é quando a sua verdadeira beleza brilha e o seu poder real é colocado em
ação.
Bem, então, com esta pequena introdução diante de nós, estamos agora
preparados para explorar a doutrina a que frequentemente nos referimos como O
Santuário.
Temos um caminho à nossa frente.
Quando o rei David olhou para o Santuário, ele viu um caminho. No Salmo 77,
versículo 13, ele disse, "O teu caminho, ó Deus, está no Santuário." Esta é uma
visão espetacular e poderosa, por isso acompanha com cuidado. A palavra
traduzida aqui é derek – que significa um caminho ou uma viagem. A palavra
transmite a ideia de viajar para um destino definido, passando de um lugar para
outro. A próxima pergunta óbvia é: de onde para onde? Bem, se nós olharmos
para a disposição básica do Santuário, claramente, um caminho é de imediato
evidente. Vamos dar um passeio rápido para ter uma ideia básica para a viagem, e
depois vamos olhar com mais atenção.
[NOTA: neste momento o pregador deve, tanto quanto possível, apresentar um slide ou desenhar
um esquema com a planta básica do Santuário. Os PowerPoints (em Inglês) dos temas desta
semana podem ser encontrados em http://www.gcyouthministries.org]
Em primeiro lugar, há o arraial de Israel. Este é o lugar onde as pessoas vivem em
tendas ao redor do Santuário, três tribos de Israel de cada lado, Norte, Sul, Este e
Oeste, com o Santuário no meio do acampamento. Deus disse a Moisés: "E me
farão um Santuário, e habitarei no meio deles" (Êxodo 25:8). Todos podem ver o
Santuário à distância, a partir de seu "quintal", por assim dizer. Está, literalmente,
"entre eles", no centro da sua cidade itinerante do deserto. Mas não é apenas o
edifício que está "entre eles". O Santuário abriga a própria presença de Deus na
50
forma da glória do Shekinah. Vamos voltar a isto já daqui a pouco, mas agora
queremos simplesmente observar que Deus quer estar com o Seu povo, e Ele
quer tornar possível que eles estejam com Ele, embora de momento, para a sua
segurança, Ele só pode habitar com eles por detrás de uma série de véus.
À medida que avançamos a partir do acampamento em direção ao edifício,
percebemos que o Santuário é cercado por um muro alto de linho branco. O
branco simboliza a pureza moral, retidão e inocência. A mensagem do alto muro
branco é clara: estamos do outro lado da inocência, do lado de fora da justiça.
Somos pecadores separados de Deus pela nossa diferença em relação ao Seu
caráter, ou seja, pela nossa falta de amor. Mas então percebemos que Deus
providenciou uma porta de esperança, um ponto de acesso, porque no lado Este
há uma entrada através do alto muro branco, sob a forma de uma bela cortina
tecida de azul, roxo e vermelho, além do branco. À medida que entramos através
da cortina, encontramo-nos diante de um grande altar de bronze. Um sacerdote
está lá a dirigir uma cerimónia. Vemos um homem de joelhos, com as mãos sobre
a cabeça de um cordeirinho, quase esmagando o animal submisso. O homem
confessa os seus pecados, transferindo simbolicamente a sua culpa à vítima
inocente. Em seguida, o sacerdote coloca uma faca na mão do homem. Com um
movimento rápido, a garganta é cortada e o sangue do cordeiro flui de seu corpo,
algum do qual é apanhado pelo sacerdote numa taça. O sacrifício sem vida é
então colocado sobre o altar e reduzido a cinzas.
Avançamos no caminho simbólico e vemos como o sacerdote, ainda no pátio, lava
as mãos e os pés na segunda peça de mobiliário de bronze chamada a pia de
lavar. O sacerdote, em seguida, prossegue com a taça de sangue para o primeiro
quarto do Santuário, chamado o Lugar Santo. De pé, no Lugar Santo, ao olharmos
para a direita, vemos uma mesa de ouro com duas pilhas de pão fresco sem
fermento ali colocadas. À medida que nos viramos e olhamos para a esquerda,
vemos um castiçal com sete braços, cada um com uma chama brilhante. À medida
que nos viramos e olhamos para a frente no caminho, vemos um altar dourado
com incenso a arder em cima dele, enchendo a sala com fragrância. Então
percebemos que o sacerdote está a fazer algo que parece muito planeado e
intencional: ele está a mergulhar os dedos na taça de sangue e a aspergir o líquido
vermelho sobre o véu que paira pouco além do altar do incenso. Ele conta
baixinho: um, dois, três... Ele mergulha e asperge exatamente sete vezes.
51
Curiosos para saber o que está além do véu, desviamo-nos para o lado e
entramos no segundo quarto do Santuário, chamado Lugar Santíssimo ou o Santo
dos Santos. Dentro desta sala, há uma impressionante peça de mobiliário. É uma
caixa retangular ornamentada, chamada Arca da Aliança. Dentro da caixa estão as
duas tábuas de pedra, sobre as quais o próprio dedo de Deus gravou os Dez
Mandamentos. No topo da caixa está uma tampa de ouro maciço, chamada
propiciatório. Em cada extremidade da arca há duas figuras angelicais de ouro
maciço. Estes são chamados os dois Querubins cobridores. Quando nos viramos e
olhamos ao redor, percebe-se que o véu e o teto estão bordados com anjos
dourados. O mais impressionante de tudo: acima da Arca, irradiando entre os dois
querubins cobridores está uma luz brilhante. Esta é a glória do Shekinah, a
presença visível de Deus.
Claramente, o caminho traçado no Santuário tem três etapas básicas, ou fases
experienciais (que se podem experimentar fisicamente):
1. O pátio;
2. O Lugar Santo;
3. O Lugar Santíssimo.
Podemos resumir o que aprendemos até agora desta maneira:
O Santuário oferece uma forma, um percurso, e uma viagem experiencial para o
povo recuperar uma comunhão imediata e sem véus com Deus. É o plano de Deus
para restaurar a intimidade entre Ele e nós!
Jesus é a Viagem.
Quando chegamos ao Novo Testamento, percebemos que cada símbolo do
Santuário apontava para Jesus, descrevendo os vários aspetos do seu ministério
para salvar os pecadores. Primeiro de tudo, quando abrimos o Evangelho de João,
vemos que Jesus é descrito com a linguagem do Santuário. Repara em João 1:14:
"E o Verbo se fez carne, e habitou entre nós, e vimos a sua glória, como a glória
do unigénito do Pai, cheio de graça e de verdade." A palavra traduzida aqui como
"habitou" significa literalmente tabernáculo ou Santuário. Então a Tradução Literal
de Young diz: "O Verbo se fez carne, e fez tabernáculo entre nós." Ficando ainda
mais pessoal, uma outra versão da Bíblia diz: "A Palavra tornou-se carne e
sangue, e veio viver perto de nós." (A Mensagem).
52
E João diz porque razão Jesus veio: para que possamos contemplar a "glória" de
Deus. Esta é uma referência óbvia à glória do Shekinah que residia no Lugar
Santíssimo do Santuário do Antigo Testamento. Os tradutores da Bíblia Judaica
Completa entenderam isso. Repara como eles traduziram o texto: "A Palavra se
tornou um ser humano e viveu connosco, e nós vimos a sua Sh'khinah, o
Sh'khinah do Filho único do Pai, cheio de graça e de verdade." A intenção de João
é clara. Jesus é a realidade para a qual o Santuário simbólico apontou. Como já
vimos, Deus disse a Moisés no Antigo Testamento: "E me farão um Santuário, e
habitarei no meio deles" (Êxodo 25:8). Agora, este mesmo Deus mostrou-se no
mundo, habitando entre nós num tabernáculo feito de carne e sangue. Através
dele, os seres humanos estão agora a ser levados para o Santo dos Santos, na
presença direta da glória do Shekinah.
Mas as coisas ficam ainda mais claras, e mais incríveis, enquanto avançamos
através do Evangelho de João. Em João 2:19-21 lemos: "Jesus respondeu, e
disse-lhes: Derribai este templo, e em três dias o levantarei. Disseram, pois, os
judeus: em quarenta e seis anos foi edificado este templo, e tu o levantarás em
três dias? Mas ele falava do templo do seu corpo." Aqui vemos que Jesus
explicitamente se identificou como O "templo" para que o antigo templo estava a
apontar. Ele veio ao mundo para tornar real tudo o que o Santuário apresentou em
símbolos.
Lembras-te do que lemos no Salmo 77:13? " O teu caminho, ó Deus, está no
Santuário."
Agora observa o que Jesus disse sobre Si mesmo em João 14:6: "Disse-lhe Jesus:
Eu sou o caminho, e a verdade e a vida; ninguém vem ao Pai, senão por mim."
Jesus afirma ser o "caminho" ou o percurso que o Santuário representou. A coisa
vital que nós percebemos aqui é que o destino para o qual o percurso do Santuário
apontou, e para a qual Jesus nos leva, não é apenas um lugar, mas sim uma
pessoa. Jesus diz que Ele é o caminho "ao Pai". O Santuário não transmite factos
teológicos secos. Ele apresenta diante de nós uma viagem real, que pode ser
experimentada, mais e mais profundamente até ao coração de Deus. E Jesus é
essa viagem. Literalmente cada símbolo do Santuário apontou para Ele e para a
grande obra de Salvação em que Ele iria embarcar para nos levar de volta à
intimidade com Deus do Lugar Santíssimo.
53
Presta atenção a isto enquanto fazemos as ligações.
Cada uma das três etapas do Santuário só podia ser acedida através de um véu.
Jesus disse de Si mesmo, “Eu sou a porta; se alguém entrar por mim, salvar-se-á"
(João 10:9). E o apóstolo Paulo disse que através de Jesus temos um "novo e vivo
caminho que ele nos consagrou, pelo véu, isto é, pela sua carne." (Hebreus
10:20).

A principal cerimónia do Santuário era o sacrifício do cordeiro no altar de
bronze. Apontando para Jesus como o sacrifício pelos nossos pecados,
João Batista proclamou: "Eis O Cordeiro de Deus que tira o pecado do
mundo" (João 1:29).

A pia que foi usada para a lavagem cerimonial apontava para Jesus como "a
água viva" (João 4:11) e ensina-nos sobre a "lavagem da regeneração e da
renovação do Espírito Santo" (Tito 3:5).

O pão sobre a mesa no Lugar Santo apontava para Jesus, que disse:
"Aquele que vem a mim não terá fome, e quem crê em mim nunca terá
sede" (João 6:35).

O candelabro de sete braços era mantido aceso para fornecer luz no
Santuário. Jesus disse de Si mesmo, o sacrifício pelo nosso pecado, "Eu
sou a luz do mundo; quem me segue não andará em trevas, mas terá a luz
da vida" (João 8:12).

O altar do incenso apontava para um aspeto específico da experiência
cristã: "foi-lhe dado muito incenso, para o pôr com as orações de todos os
santos" (Apocalipse 8:3). O incenso perfumado a arder no Santuário
simbolizava a nossa oração subindo até Deus através de Jesus.

Os Dez Mandamentos, as dez leis do amor de Deus, eram mantidas dentro
da Arca da Aliança, simbolizando o desejo de Deus de escrever os
princípios do Seu amor nos nossos corações e mentes: "Porei as minhas
leis em seus corações, e as escreverei em seus entendimentos" (Hebreus
10:16).
Descrevendo a viagem de ida e volta que Ele fez do Pai ao nosso mundo e depois
de volta, Jesus disse: "Saí do Pai, e vim ao mundo; outra vez deixo o mundo, e
vou para o Pai" (João 16:28). Jesus veio do Lugar Santíssimo para o nosso
pecaminoso e separado acampamento aqui na terra. Ele então pegou nos nossos
54
corações rebeldes e fez a viagem de volta para o Lugar Santíssimo, convidandonos a segui-Lo no caminho que ele traçou para nós.
Então, de que fala o Santuário?
É tudo sobre Jesus!
É tudo sobre Jesus cumprindo as muitas dimensões do Seu ministério salvador em
nosso favor!
É tudo sobre Jesus, que nos conduz a um relacionamento completamente
restaurado com o Pai!
História da Salvação
Bem, vamos recuar agora, respirar fundo, e olhar para o Santuário de outro
ângulo. O que vimos até agora é que o Santuário representa simbolicamente a
jornada pessoal do crente em Cristo. Mas o Santuário também representa a
história da salvação como um todo. O pátio, com o seu altar de sacrifício, dirige a
nossa atenção a 31 D.C., quando Jesus foi crucificado em nosso nome. Depois da
Sua ressurreição, Jesus subiu ao céu, onde assumiu o Seu papel como nosso
Sumo Sacerdote celestial no Lugar Santo do "verdadeiro tabernáculo" no céu. Esta
fase do Seu ministério começou no ano 31 e continuou até 1844, altura em que
Ele se mudou para o Lugar Santíssimo do Santuário celestial para participar na
fase final do seu ministério Sumo Sacerdotal.
No âmbito do ano judaico, havia dois serviços cerimoniais básicos que mostravam
toda a história da redenção: o serviço diário e o serviço anual. O Serviço Diário,
que está delineado para nós em Levítico 1-4, foi uma série muito simples, mas
significativa, de encenações cerimoniais. O processo estava centrado em torno do
sacerdote que fazia sacrifícios regulares pelos pecados do povo e transferia
simbolicamente os seus pecados para o Santuário aspergindo o sangue sobre o
véu antes do Lugar Santíssimo. Isto apontava para o sacrifício perfeito pelo
pecado que iria ser feito por Cristo, quando Ele morresse na cruz. Houve uma
genialidade esclarecedora neste serviço simbólico diário. Enquanto as nações
pagãs circunvizinhas estavam envolvidas na prática abominável do sacrifício
humano, motivada por demónios disfarçados de deuses (Deuteronómio 32:16-17;
55
Salmo 106:37), o povo Hebreu estava a aprender através do Santuário que Deus
iria dar-se a Si mesmo para sofrer e morrer pela humanidade.
Deus estava a comunicar a incrível verdade de que a nossa salvação não pode ser
conquistada por qualquer sacrifício que possamos fazer. Deus não pode ser
apaziguado, porque Ele já nos ama. Nós não precisamos de persuadi-lo com os
nossos atos para que nos salve, porque Ele já determinou salvar-nos a qualquer
custo para Si mesmo. Dia após dia, durante todo o ano, a cerimónia era repetida,
reforçando na mente das pessoas que Deus faria todo o sacrifício necessário para
a nossa salvação. A cerimónia foi uma declaração emotiva e constante de Deus a
dizer: Eu amo-te tanto que eu vou sofrer e morrer para te salvar do pecado e da
morte.
O Serviço Anual é esboçado em Levítico 16. No último dia do ciclo sacrificial anual,
o simbolismo do serviço do Santuário chegava à sua conclusão. O evento
chamava-se Yom Kippur, o Dia da Expiação. Neste dia de clímax, uma cerimónia
especial foi promulgada para simbolizar a resolução final do problema do pecado,
expiação completa e a total erradicação do mal. Enquanto todo o Israel se reunia
diante do Santuário, dois bodes eram trazidos ao sumo sacerdote. Um deles era
designado "pelo Senhor" e outro para "bode expiatório", Azazel em hebraico. O
bode do Senhor era morto, apontando novamente para o sacrifício de Cristo na
cruz como o único meio de salvação. Mais uma vez, Deus estava a dizer Eu, tu
não! Eu vou fazer o sacrifício pela tua salvação, tu não. Um pouco do sangue do
bode do Senhor era trazido para o Lugar Santíssimo e aspergido sete vezes no
propiciatório, sobre a lei quebrada de Deus, indicando, assim, que a expiação final
e completa foi feita por todos os pecados que Israel tinha confessado durante todo
o ano no serviço diário. Assim, o Dia da Expiação era equiparado a um julgamento
definitivo e irrevogável a favor do povo, a favor da sua salvação, a favor da sua
posição perfeita diante de Deus.
Então o sumo sacerdote colocava as duas mãos sobre a cabeça do bode
expiatório e confessava sobre ele os pecados do povo. No entanto, o bode de
Azazel não era morto. Em vez disso, ele era levado para "uma terra desabitada"
para perecer sozinho no "deserto". Se o bode expiatório explicitamente não era
"bode do Senhor", e uma vez que o seu sangue não era derramado como um
sacrifício, Azazel tem de simbolizar uma outra figura que é responsável pela
existência do mal e a queda da humanidade. O antigo povo Hebreu entendeu que
Azazel representava Satanás, o originador do mal e o tentador da humanidade, e
56
estudiosos judeus mantêm essa visão até aos dias de hoje. Assim, então, vemos
que o Dia da Expiação apontava para o dia do julgamento ou juízo final, durante o
qual o caso de cada pessoa será selado e Satanás irá assumir a responsabilidade
pelo mal como seu autor. A parte que dá a algumas pessoas pesadelos é a ideia
de que eles devem enfrentar o julgamento. E, no entanto, é precisamente aqui que
encontramos uma das mais belas imagens de Deus que se possa imaginar.
O Julgamento
João ajuda-nos a entender o julgamento com uma série de ideias poderosas.
Segue o seu excelente raciocínio calibrado pelo evangelho. Em 1 João 3:20, 21,
ele diz o seguinte: "Sabendo que, se o nosso coração nos condena, maior é Deus
do que o nosso coração, e conhece todas as coisas. Amados, se o nosso coração
não nos condena, temos confiança para com Deus." (1 João 3:20, 21). Primeiro,
João quer que saibamos que uma sensação interior de condenação é natural para
o problema do pecado. Sim, o nosso coração condena-nos, e com razão. Afinal
nós somos pecadores. Carregamos um sentimento de culpa nas nossas
consciências pelos erros que cometemos. Mas, a seguir, João diz: "maior é Deus
do que o nosso coração." Ou seja, o amor de Deus é mais poderoso do que a
condenação que sentimos pelos nossos pecados. Ele sabe tudo sobre mim e
sobre ti e Ele ainda nos ama. Quando acreditamos nisto, a condenação no nosso
coração afasta-se e nós “temos confiança para com Deus".
Então, no capítulo quatro, João desenvolve a ideia:
“Qualquer que confessar que Jesus é o Filho de Deus, Deus está nele, e ele
em Deus. E nós conhecemos, e cremos no amor que Deus nos tem. Deus é
amor; e quem está em amor está em Deus, e Deus nele. Nisto é perfeito o
amor para connosco, para que no dia do juízo tenhamos confiança; porque,
qual ele é, somos nós também neste mundo. No amor não há temor, antes o
perfeito amor lança fora o temor; porque o temor tem consigo a pena, e o que
teme não é perfeito em amor. Nós o amamos a ele porque ele nos amou
primeiro” (1 João 4:15-19).
Que imagem!
Ousadia no Dia do Juízo Final, e não medo! Nem mesmo timidez!
57
Mas ousadia!
Como pode ser isso?
O que João nos ensina aqui é absolutamente vital para um entendimento saudável
do julgamento. Ele quer fazer-nos entender que quando estamos baseados no
amor de Deus, quando nós "conhecemos, e cremos no amor que Deus nos tem"
vamos "no dia do juízo [ter] confiança." O amor de Deus "lança fora o medo" de
nossos corações e ocupa todo o espaço emocional dentro de nós. Eu não entro no
juízo com confiança na minha justiça, mas com total dependência na dEle. Este é
o glorioso segredo do Santo dos Santos, a verdade maravilhosa do Dia da
Expiação. À medida que entramos naquela sala mais interior para o julgamento,
vemos que a lei de Deus, que é o padrão de justiça do julgamento, está coberta
com o propiciatório, e o próprio propiciatório está coberto de sangue.
Aqui, no simbolismo, está a grande verdade de "Cristo Nossa Justiça". A lei que
aponta o nosso pecado e declara a nossa culpa, é respondida pela misericórdia de
Deus. Jesus viveu uma vida de perfeita justiça, e Deus olha para mim como justo
nEle. Jesus morreu por mim. O seu sangue foi derramado por mim, revelando que
o amor de Deus substitui o meu pecado e culpa. Paulo diz assim: "onde o pecado
abundou, superabundou a graça" (Romanos 5:20). Esta é a boa notícia de tirar o
fôlego!
Mas com toda esta luz brilhante sobre a misericórdia de Deus, há um perigo e um
aviso. Tiago informa-nos que há uma maneira de contrariar o poder da
misericórdia de Deus para connosco no julgamento, que é sermos impiedosos
para os outros: "Porque o juízo será sem misericórdia sobre aquele que não fez
misericórdia; e a misericórdia triunfa do juízo" (Tiago 2:13). Se eu me relaciono
com os outros com condenação pelos seus pecados, eu revelo que eu não abracei
realmente a misericórdia de Deus para mim, pelos meus pecados. A misericórdia
de Deus estará lá para mim no julgamento, mas eu não serei capaz de a ver se a
bloquear da minha visão por ser impiedoso com os outros. Por ser duro com as
pessoas, montei em mim mesmo paredes mentais e emocionais que fazem com
que seja impossível eu perceber o amor de Deus por mim. Condenar os outros por
seus erros cria parâmetros psicológicos limitadores na mente de modo que a
misericórdia de Deus não pode ser percebida ou recebida. É claro, então, que ter
uma atitude de julgamento em relação aos outros é literalmente a coisa mais
perigosa que um ser humano pode fazer.
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A verdade do julgamento é um chamado para receber e dar misericórdia. E isso
faz com que seja notícias extraordinariamente boas, a não ser é claro, que eu
escolha viver para condenar os outros. Mas porquê ir por esse caminho? Há um
belo e conciliador caminho estendido diante de cada um de nós em Cristo, através:

da porta do Seu convidativo amor;

do altar do sacrifício, para lá receber o perdão completo por todos os
nossos pecados;

do nosso caminho para a pia afim de sermos lavados de uma consciência
culpada;

do Lugar Santo para nos alimentarmos do pão da vida, para vivermos pela
resplandecente luz da bondade de Deus que emana de Jesus, e para
levantarmos orações de gratidão a Deus, misturadas com a fragrância da
justiça de Cristo;

e, finalmente, do Lugar Santíssimo para ser julgados por Deus com favor
eterno e ter a Sua lei de amor escrita nos nossos corações.
Vamos! Vamos dar o máximo de nós por amor misericordioso de Deus.
DIA 5
 Questões para discussão
A mensagem diz-nos que ser críticos e condenar os outros é "a coisa mais
perigosa que um ser humano pode fazer." E se tu não ages dessa maneira para
com os outros, e o fazes contigo mesmo? Será isso melhor? Por quê ou por que
não?
Partilha histórias da tua vida que exemplificam quando tu:
a) vieste ao Pátio do amor de Deus;
b) entraste no Lugar Santo de oração e comunhão com Ele;
c) entraste no Lugar Santíssimo para ter uma relação completa com o Deus do
Universo.
Se possível, separa seis lugares na sala, talvez com as coisas que simbolizam a
primeira cortina, depois o altar e pia, o segundo véu seguido pelo pão, castiçal, e
incenso, e o terceiro véu que leva à Arca da Aliança. Em silêncio e oração,
59
caminhem por este caminho juntos. Entrem pela porta do seu convidativo amor,
parando no altar do sacrifício, para receber o perdão completo de todos os teus
pecados. Façam o vosso caminho até a pia para serem lavados de uma
consciência culpada, depois, no Lugar Santo para se alimentarem do pão da vida,
para viverem pela resplandecente luz da bondade de Deus que emana de Jesus.
Ergam ao céu as vossas orações de gratidão a Deus, misturadas com a fragrância
da justiça de Cristo. Finalmente, sigam em frente para o Lugar Santíssimo para
serem julgados por Deus com favor eterno e terem a Sua lei de amor escrita em
vossos corações.
 Atividade de Grupo:
Adicionar alguma coisa ou decorar o teu modelo octagonal se desejares.
A atividade está integrada na mensagem. Criem um Santuário usando
papel ou blocos, ou façam um na sala, usando móveis, ou (em último
recurso) simplesmente desenhem um. Se escolherem este método, cada
pessoa deve desenhar um e levar para casa para usar nas suas
meditações pessoais; pede que partilhem as suas ideias mais tarde na
semana.
60
DIA 6: A Morte e o Inferno
Amor Altruísta
Nesta Semana de Oração temos andado a circundar o templo da verdade, olhando
através de algumas das janelas doutrinais que compõem o sistema de crenças
Adventistas do Sétimo Dia. O que descobrimos uma e outra vez é que cada
verdade individual da Bíblia aponta para a grande verdade do amor de Deus
encarnado em Jesus Cristo. Toda a verdadeira doutrina bíblica funciona como uma
lente através da qual o caráter de amor desinteressado e altruísta de Deus é mais
claramente revelado. Ellen White resumiu brilhantemente toda a Bíblia como "o
livro que revela o caráter de Deus" (Sinais dos Tempos, 3 de Março de 1898). De
acordo com esta visão das Escrituras, ela também resumiu a mensagem
Adventista como a "revelação do caráter do amor." (Parábolas de Jesus, p. 415).
O valor de uma determinada doutrina reside na sua capacidade de comunicar algo
sobre o tipo de pessoa que Deus é. Qualquer reivindicação de verdade que
contradiz a premissa fundamental de que "Deus é amor" (1 João 4:8) prova-se
falsa em virtude dessa contradição.
Repara como Ellen White descreve a razão central do estudo da Bíblia: "Deves
pesquisar a Bíblia; pois ela fala de Jesus. Enquanto lês a Bíblia, vais ver os
incomparáveis encantos de Jesus. Vais-te apaixonar pelo Homem do Calvário, e a
cada passo podes dizer ao mundo: 'Os seus caminhos são caminhos de delícias, e
todas as suas veredas de paz'." (Life Sketches, p. 293). Muito bom!
Estudar a Bíblia, diz ela.
Mas por quê?
Porque ela revela os encantos incomparáveis de Jesus!
E o que vai acontecer contigo enquanto encontras Jesus nas Escrituras?
Vais apaixonar-te por Ele!
O problema é que, muitas vezes, estudamos e pregamos a Bíblia sem Jesus à
vista, ou se Ele está à vista, é como se fosse uma nota de rodapé. Se existe
alguma coisa sobre a qual precisamos ser claros, é esta: Jesus não faz parte da
61
nossa mensagem. Jesus é toda a nossa mensagem. Na medida em que Ele não é,
não estamos a pregar "a verdade", não importa o quanto nós imaginamos que
estamos. A nossa doutrina do estado dos mortos é um exemplo de uma verdade
bíblica que tem um enorme potencial para revelar o amor maravilhoso de Deus em
Cristo. Infelizmente tem sido muitas vezes reduzida a um mero argumento de texto
a texto, com o único objetivo de provar que as pessoas estão inconscientes
quando morrem e vencer a argumentação de que ninguém vai direto para o céu ou
o inferno. Vamos ser claros: essa parte da “imagem” é fundamental, mas a
questão é porque razão é que ela é vital? Simplesmente para provar o facto de
que os mortos estão realmente mortos? Não! Pelo contrário, é vital porque a
verdade bíblica sobre a morte abre uma janela de compreensão sobre a
verdadeira natureza do sofrimento e morte de Cristo no Calvário, que por sua vez
revela a verdadeira natureza do amor de Deus com clareza impressionante.
Então, vamos mergulhar neste assunto notável e ver o que descobrimos.
Morte de acordo com a Bíblia
A primeira coisa que precisamos entender sobre a morte é que na Bíblia
aprendemos que existem dois tipos de morte. No livro do Apocalipse, somos
informados de que existe algo chamado, "a segunda morte" (Apocalipse 2:11;
20:6, 14; 21:8). Podemos deduzir logicamente a partir desta linguagem que, se
houver uma segunda morte então existe forçosamente uma primeira morte. Em
Mateus 10:28 Jesus explica a diferença básica entre as duas: "E não temais os
que matam o corpo e não podem matar a alma; temei antes aquele que pode fazer
perecer no inferno a alma e o corpo." A primeira morte é apenas a morte do corpo.
Esta é a morte comum que todos morrem, com que todos os seres humanos estão
familiarizados. Como Adventistas do Sétimo Dia, entendemos que a primeira morte
coloca um ser humano num estado inconsciente, como um sono. Quando uma
pessoa morre a primeira morte, ele ou ela não vai imediatamente para o céu ou
para o inferno.
No entanto, este não é o fim da história, porque quando uma pessoa morre a
primeira morte isso não é o seu fim. Da primeira morte, há uma ressurreição, tanto
dos salvos como dos perdidos. Jesus declarou isso explicitamente: "Não vos
maravilheis disto; porque vem a hora em que todos os que estão nos sepulcros
ouvirão a sua voz. E os que fizeram o bem sairão para a ressurreição da vida; e os
que fizeram o mal para a ressurreição da condenação" (João 5:28,29). Ok, então
62
as pessoas morrem a primeira morte e, em seguida, são ressuscitadas, mas há
uma razão pela qual elas podem ser ressuscitadas. A razão é que quando uma
pessoa morre a primeira morte, de alguma forma Deus preserva a personalidade
essencial e o caráter desse indivíduo, embora o corpo esteja num estado de
inconsciência, completamente sem vida. A Bíblia diz assim: "E o pó volte à terra,
como o era, e o espírito volte a Deus, que o deu" (Eclesiastes 12:7).
Claro que, o "pó" refere-se ao corpo, o qual retorna à terra como matéria orgânica
após a primeira morte. O "espírito" que retorna para Deus é o conteúdo total de
personalidade, pensamentos, sentimentos, motivos, ou seja, tudo o que define a
identidade única e o caráter moral da pessoa. Quando uma pessoa morre a
primeira morte, Deus simplesmente a preserva num estado inconsciente e
enquanto aguarda a ressurreição, Deus vai reconstituir o corpo físico com o
espírito, e nesse momento a vida consciente recomeça. Ellen White explicou
assim:
"Nossa identidade pessoal é preservada na ressurreição, embora não as mesmas
partículas de matéria ou substância material como entraram no túmulo. As obras
maravilhosas de Deus são um mistério para o homem. O espírito, o caráter do
homem, é devolvido a Deus, aí para ser preservado. Na ressurreição todo homem
terá seu próprio caráter. Deus, no Seu próprio tempo vai chamar os mortos, dando
novamente o fôlego da vida, e ordenando aos ossos secos que vivam" (Céu, p.
40).
É como tirar um disco rígido de um computador, que tem o registo de todas as
informações únicas que o proprietário do computador tinha colecionado e
configurado, e guardar na prateleira algum tempo, e depois, mais tarde, instalar
toda essa informação num computador novo. Quando uma pessoa morre a
primeira morte, o corpo decompõe-se na terra e Deus preserva a composição
específica do indivíduo para a ressurreição. Nesse momento, cada indivíduo
enfrenta um de dois destinos: receber o dom da imortalidade ou experimentar a
segunda morte.
Então, e a segunda morte? O que é isso? Como é que acontece?
Vamos voltar a Mateus 10:28, onde Jesus distingue a primeira e a segunda morte:
"E não temais os que matam o corpo e não podem matar a alma; temei antes
aquele que pode fazer perecer no inferno a alma e o corpo." A palavra que é aqui
63
traduzida como "alma" é psique no texto grego. Refere-se basicamente à mente
em todo o seu conteúdo, a que nós referimos anteriormente como o caráter de
uma pessoa, ou o conteúdo total da própria identidade individual. Considerando
que a primeira morte envolve meramente a morte do corpo, ou o aspeto biológico
de uma pessoa, a segunda morte envolve a erradicação completa do corpo do
indivíduo e da alma da existência. Constitui o aniquilamento final dos ímpios,
"como se nunca tivessem sido." (Obadias 16).
A parte crucial a entender é como a segunda morte acontece e o que a causa.
Jesus deu-nos uma indicação bastante clara em João 5:29. Os ímpios voltam à
vida da primeira morte a que Ele chamou "a ressurreição da condenação".
Condenação é um fenómeno psicológico. Acontece no processo mental e
emocional, quando uma pessoa enfrenta a realidade da sua culpa pelas violações
relacionais que ele ou ela tenha cometido. Quando os ímpios são ressuscitados,
eles não serão simplesmente destruídos fisicamente uma segunda vez. Eles terão
de enfrentar o registo da sua vida com total clareza, sem filtro, à luz contrastante
do abnegado amor de Deus por eles. Apocalipse 20 descreve vividamente a cena:
“E vi um grande trono branco, e o que estava assentado sobre ele, de cuja
presença fugiu a terra e o céu; e não se achou lugar para eles. E vi os
mortos, grandes e pequenos, que estavam diante de Deus, e abriram-se
os livros; e abriu-se outro livro, que é o da vida. E os mortos foram julgados
pelas coisas que estavam escritas nos livros, segundo as suas obras. E
deu o mar os mortos que nele havia; e a morte e o inferno deram os
mortos que neles havia; e foram julgados cada um segundo as suas obras.
E a morte e o inferno foram lançados no lago de fogo. Esta é a segunda
morte. E aquele que não foi achado escrito no livro da vida foi lançado no
lago de fogo” (Apocalipse 20:11-15).
Esta é uma passagem muito pesada e extremamente triste da Escritura, porque
descreve a destruição final dos ímpios, cada um deles um ser humano que Deus
amava muito; cada um deles um indivíduo a quem foi dado o dom da vida eterna
em Cristo; cada um deles uma pessoa que persistentemente rejeitou o amor de
Deus até à sua ruína interna. O que queremos notar nesta passagem é
precisamente como os ímpios experimentam a segunda. Existem quatro
características básicas exibidas:
64
Número um
A segunda morte é iniciada por uma revelação plena do Deus Todo Poderoso,
sentado sobre "um grande trono branco" com sua "face" totalmente exposta ao
olhar atónito de todos. Paulo chama este evento "dia da ira e da manifestação do
juízo de Deus" (Romanos 2:5). A ira ocorre à luz da revelação. A revelação
procede de Deus e assume a forma de autoconhecimento naqueles que a
contemplam.
Número dois
Enquanto os impios estão diante de Deus, não será encontrado "nenhum lugar
para eles". Estas são, sem dúvida, as palavras mais tristes de toda a literatura
humana. A segunda morte é a solidão total, um sentimento mais profundo de não
pertencer. Os ímpios, em pé diante do trono de Deus e contemplando o Seu rosto,
percebem com intensa nitidez que eles estão tão fora de harmonia com o reino de
Deus que não há absolutamente "lugar para eles". Aqueles que estão
irrevogavelmente inclinados para o egoísmo não se encaixam num universo
governado pela regra absoluta do amor altruísta. Eles não podem existir entre ou
interagir com uma sociedade de seres que vivem inteiramente uns para os outros.
Eles não podem sequer compreender tal sociedade. O belo movimento de dar e
receber está além da sua capacidade de se envolver ou mesmo apreciar. O
pecado esvaziou os seus corações da própria capacidade de amar. A rebelião
arrancou-lhes os impulsos gentis da alma. O egoísmo erradicou a sua humanidade
sensível.
A segunda morte confronta os ímpios com a triste realidade de uma completa falta
de sentido, pois não há sentido para a vida além do Autor da vida. Completa
solidão é tudo o que eles podem sentir, pois não há relação satisfatória para além
d’Aquele com quem estamos mais estreitamente relacionados. Um sentimento de
inutilidade total permeia suas vidas, porque nunca pode haver qualquer sentido
real de valor pessoal separado do Deus que criou o nosso valor à Sua imagem.
Viver para si acaba por conduzir a ódio de si. O egoísmo é, por sua própria
natureza, o isolamento de todos os outros, o roubar a alma das perceções e
emoções necessárias para dar e receber amor. Num universo onde o princípio
essencial de sustentação da vida é o amor altruísta, "não se encontra nenhum
lugar para eles". Afundam desiludidos consigo próprios e com a experiência de um
profundo sentimento de abandono.
65
Número três
Enquanto os ímpios estão diante de Deus, "os livros" são "abertos" e são "julgados
segundo as suas obras, pelas coisas que estavam escritas nos livros". Noutras
palavras, eles enfrentam a plena realidade do seu pecado e toda a culpa que ele
implica emerge às suas mentes em perfeita consciência. É a isto que Jesus se
estava a referir quando disse que eles são ressuscitados para a "condenação".
Todo o ato egoísta das suas vidas passa diante de suas mentes com grande
clareza. A segunda morte traz a alma cara a cara com a completa e feia realidade
do seu pecado, não temperada por qualquer sentido da misericórdia divina. O
pecado, uma vez cometido, é uma realidade existente na mente. Está no registo
da consciência e deve ser resolvido quer por perdão, quer pelo sofrimento. O
perdão só é possível quando se abraça o amor misericordioso de Deus. O
sofrimento é a única alternativa ao perdão, é por isso que Deus só pode perdoar
suportando em si mesmo o sofrimento inerente no pecado.
O peso da terrível condenação do pecado esmaga todas as forças vitais da alma.
Todos os seres humanos são pecadores. Portanto, todos estão sob condenação.
Esta condenação acabará, em última instância, por impor uma vergonha
insuportável sobre aqueles que se recusam a ver a realidade curadora do amor
redentor de Deus. Uma sensação consciente de amor e aceitação de Deus é o
único poder com capacidade de neutralizar o poder do pecado e impedi-lo de
destruir a alma. Para entenderes o que a Bíblia quer dizer quando afirma: "os
livros foram abertos... e os mortos foram julgados", tenta imaginar como seria se tu
fosses feito perfeitamente consciente de todos os pecados que já cometeste, todos
os pensamentos errados e sentimentos e ações. Consciência perfeita, tudo de
uma vez, com todos os detalhes feios a olhar para a tua alma interior sem
nenhuma maneira de escapar. Depois, junta a esse quadro horrendo uma
ausência absoluta de misericórdia. Nenhum conceito do perdão. Nenhum sentido
de aceitação. Nenhuma imagem de um Deus que perdoa livremente e
ansiosamente todo o pecado.
Como seria esse momento no tempo para ti? Eu sei como seria para mim. Não há
palavras suficientes para descrever o calvário que abalaria a mente. A única razão
pela qual nós nunca tivemos que enfrentar a plena potência da nossa culpa é
porque o plano de Salvação, colocado em movimento por um Criador amoroso,
ergueu um véu de piedade na consciência humana para atuar como um filtro que
nos pode preservar do pleno efeito do pecado.
66
Numero quatro
Então, enquanto os impios enfrentam os registos da sua vida e experimentam o
peso total da sua culpa, eles são destruídos pelo fogo. Ao longo da Bíblia, Deus é
associado com o fogo.

Moisés encontrou Deus numa sarça ardente (Êxodo 3:2).

A lei de Deus é chamada "fogo da lei" (Deuteronómio 33:2).

A "glória" de Deus é descrita como "fogo" (Êxodo 24:17).

O trono de Deus está em chamas com fogo e dele procede um rio de fogo
(Daniel 7: 9,10).

O amor de Deus é dito ser um fogo ardente (Cantares de Salomão 8:6, NVI).

E Paulo simplesmente afirma: "Porque o nosso Deus é um fogo consumidor "
(Hebreus 12:29).
O ser total de Deus é descrito como um fogo consumidor por uma razão simples:
porque a pura realidade do Seu amor altruísta está em claro contraste com tudo o
que é contrário ao amor. Sendo quem Deus é, seres egoístas não podem entrar na
Sua presença sem experimentar a total desintegração mental e emocional sob o
peso esmagador da sua vergonha.
Ellen White foi direta ao cerne desta realidade:
“As palavras do Senhor a Israel, eram: "E porei contra ti a Minha mão, e
purificarei inteiramente as tuas escórias; e tirar-te-ei toda a impureza" Isa.
1:25. Para o pecado, onde quer que se encontre, "nosso Deus é um fogo
consumidor" Heb. 12:29. O Espírito de Deus consumirá pecado em todos
quantos se submeterem a Seu poder. Se os homens, porém, se apegarem
ao pecado, ficarão com ele identificados. Então a glória de Deus, que
destrói o pecado, tem que os destruir.” (O Desejado de Todas as Nações,
p. 107).
Os seres humanos foram criados originalmente num estado de perfeita inocência,
capazes de viver na presença imediata de Deus com total paz e prazer (Génesis
67
1-2). Quando o pecado entrou na nossa constituição psicológica, tudo o que
podíamos experimentar na presença de Deus era o tormento da nossa vergonha
(Génesis 3: 7-10). Deus explicou a Moisés: "Não poderás ver a minha face,
porquanto homem nenhum verá a minha face, e viverá" (Êxodo 33:20). A dinâmica
aqui não é “se Me vires, Eu vou-te matar", mas sim, "se tu Me vires, vais morrer do
contraste entre a Minha santidade e a tua pecaminosidade." O pecado não pode
sobreviver na presença de Deus. No entanto, quando saltamos para o fim da
história, a Escritura diz dos redimidos: "E verão o seu rosto, e nas suas testas
estará o seu nome" (Apocalipse 22:4). Pelo poder da graça de Deus, ocorreu uma
restauração de inocência "nas suas testas", nas suas mentes. Desta forma, os
remidos vão viver na presença de Deus sem experimentar nenhuma vergonha.
Não é assim com os ímpios. A Bíblia informa-nos que todos os seres humanos,
tanto o justo como o ímpio, estão destinados à realidade ardente da presença de
Deus, mas os dois grupos não vão sentir o fogo da mesma maneira. Enquanto
aqueles que são restaurados para a inocência vão finalmente entrar na presença
de Deus e estar perfeitamente em casa, para os ímpios, a presença de Deus será
um "Fogo consumidor". Descrevendo a destruição final dos ímpios, Ellen White
diz o seguinte:
“Isso não é um ato de poder arbitrário da parte de Deus. Os que Lhe
rejeitavam a misericórdia ceifarão aquilo que semearam. Deus é a fonte da
vida; e quando alguém escolhe o serviço do pecado, separa-se de Deus,
desligando-se assim da vida. Ele está "separado da vida de Deus"
(Efésios. 4:18). Cristo diz: "Todos os que Me aborrecem amam a morte"
(Provérbios 8:36). Deus dá-lhes existência por algum tempo, a fim de
poderem desenvolver seu caráter e revelar seus princípios. Feito isso,
receberão os resultados de sua própria escolha. Por uma vida de rebelião,
Satanás e todos quantos a ele se unem colocam-se em tanta desarmonia
com Deus, que Sua própria presença lhes é um fogo consumidor. A glória
dAquele que é amor os destruirá.” (O Desejado de Todas as Nações, p.
764).
O que acabamos de descobrir é a verdadeira natureza do inferno. O inferno é
equivalente à segunda morte. Deus não sujeitará o ímpio à tortura eterna nas
chamas de algum submundo ou alguma região remota do Seu universo. Eles
serão ressuscitados para enfrentar o registo de suas vidas num acerto de contas
final, e em seguida serão eternamente aniquilados "como se nunca tivessem sido"
68
(Obadias 16). Aqui está a coisa mais notável de todas: ninguém precisa
experimentar a segunda morte, porque Jesus experimentou-a por todos nós, e
conquistou-a. Só Ele provou a segunda morte no lugar de cada pessoa e foi o
único que não poderia ser mantido nela, porque só Ele era sem pecado.
Oh, Que amor!
Agora, uma vez que entendemos a natureza da segunda morte em contraste com
a primeira morte, estamos preparados para compreender o que Jesus sofreu por
nós, como Ele agonizou no Getsémani e morreu na cruz. Tanto a primeira como a
segunda morte são o resultado do pecado, mas a primeira é temporária e ocorre
por meio de causas físicas, como doenças, tragédias ou velhice. A segunda morte,
no entanto, não ocorre apenas num nível físico, mas no nível psicológico, devido
ao poder letal da culpa individual. A primeira morte, em certo sentido, não é
realmente a morte. Jesus chamou-a sono. Considera, por exemplo, a menina que
Jesus ressuscitou. Quando ele se aproximou da casa da menina, depois de ter
sido convidado a vir e curá-la, Jesus disse aos enlutados: "Não choreis; não está
morta, mas dorme " (Lucas 8:52). Nota que Jesus não se limitou a dizer que a
menina estava a dormir, mas Ele deu um passo adiante. Ela "não está morta," Ele
afirmou claramente. Não entendendo o que Ele dizia, "riam-se dele, sabendo que
estava morta" (Lucas 08:53), mas Jesus não estava errado no seu diagnóstico. Ele
sabia que a menina estava morta no sentido da primeira morte, mas Ele também
sabia que ela não estava morta no sentido final da segunda morte. Para
demonstrar o que dizia, Jesus simplesmente despertou a menina do seu sono da
primeira morte.
Quando a Bíblia diz que "o salário do pecado é a morte" (Romanos 6:23), não
significa apenas a primeira morte. Quando a Bíblia diz a respeito de Jesus que
"Cristo morreu por nossos pecados" (1 Coríntios 15:3) e que Ele foi para a cruz
para que Ele "provasse a morte por todos" (Hebreus 2:9), não significa apenas a
primeira morte. O salário final do pecado é a segunda morte. Logicamente, Jesus
só pode salvar-nos da que Ele sofreu e conquistou para nós. Se Jesus só
experimentou a primeira morte, então ele só pode salvar-nos da primeira morte e
ainda temos que enfrentar nós mesmos, a segunda. No entanto, a gloriosa boa
notícia é que Jesus enfrentou a realidade completa, horrível, da segunda morte.
Presta atenção enquanto Jesus e seus discípulos entram no Jardim do Getsémani.
Algo surpreendente está prestes a acontecer.
69
Não, isso seria um eufemismo.
Algo muito mais do que surpreendente está prestes a acontecer. Toda a história
está prestes a convergir para um único ponto de destino, para o qual cada dia e
cada evento avançaram implacavelmente. Agora mesmo, no curto espaço de
tempo que se segue, a revelação auge do amor de Deus vai culminar no
sofrimento e morte de Jesus. E o mundo, na verdade o universo, nunca mais será
o mesmo.
Observa.
Jesus está a cambalear sob o peso de algum peso invisível. Os discípulos podem
ver que algo está errado. Jesus explica o que está a acontecer com ele: "A minha
alma está cheia de tristeza até a morte" (Mateus 26:38). Aqui Ele abre à nossa
compreensão a natureza do Seu sofrimento. Observa que Ele usou a mesma
palavra que tinha empregado anteriormente para descrever a segunda morte como
distinta da primeira morte: "E não temais os que matam o corpo e não podem
matar a alma. Temei antes aquele que é capaz de destruir a alma e o corpo no
inferno." Mais uma vez, a palavra aqui traduzida como "alma" é psique no texto
grego e é precisamente a palavra que Jesus usa agora para comunicar o que Ele
está a passar. No Getsémani, Jesus diz que Ele está a morrer ao nível psicológico
do Seu ser. Ele está a morrer de dentro para fora, sob o poder letal do nosso
pecado e culpa.
Ainda nenhum abuso físico foi infligido sobre Ele. No entanto, Jesus está a morrer!
Nenhum sangue foi ainda extraído da sua carne pela violência, e no entanto, Ele
está a sangrar! Lucas diz-nos: "E, posto em agonia, orava mais intensamente. E o
seu suor tornou-se como grandes gotas de sangue, que corriam até ao chão"
(Lucas 22:44). Ele está a sangrar pelos poros devido ao intenso stress interno que
a vergonha do nosso pecado lhe está a impor. Isaías 53 oferece uma visão
surpreendente sobre o que Jesus sofreu por nós. Observa o versículo 6: "Todos
nós andávamos desgarrados como ovelhas; cada um se desviava pelo seu
caminho; mas o Senhor fez cair sobre ele a iniquidade de nós todos." Então, o
versículo 10 diz que a “Sua alma" foi feita "uma expiação do pecado." E,
finalmente, olha para o versículo 12: "porquanto derramou a sua alma na morte, e
foi contado com os transgressores; mas Ele levou sobre si o pecado de muitos, e
intercedeu pelos transgressores."
70
Isto não é nada menos do que surpreendente, porque significa que Jesus entrou
no reino obscuro do nosso pecado e vergonha. Ele levou tudo para a Sua própria
consciência como se Ele fosse o culpado em vez de nós. A partir de Getsémani,
Jesus é levado para a cruz. Sim, pregos foram martelados através de Suas mãos
e pés. Sim, o Seu corpo foi torturado. E, no entanto, Ele nunca disse uma palavra
sobre a dor física, porque o Seu sofrimento mental era tão intenso que quase
eclipsou a Sua dor física. Absorve cada linha desta declaração surpreendente de
Ellen White:
“Muitos sofreram a morte por torturas lentas; outros a sofreram mediante
crucifixão. Em que difere destas, a morte do querido Filho de Deus? É
verdade que Ele morreu na cruz morte por demais cruel; todavia outros,
por amor dEle, sofreram igualmente no tocante à tortura física. Por que
então foi o sofrimento de Cristo mais terrível do que o de outras pessoas
que deram a vida por amor dEle? Consistissem os sofrimentos de Cristo
apenas em dores físicas e Sua morte não seria mais dolorosa do que a de
alguns dos mártires.
O sofrimento físico, porém, não foi senão pequena parte da agonia do
amado Filho de Deus. Os pecados do mundo achavam-se sobre Ele, bem
como o senso da ira de Seu Pai enquanto Ele padecia o castigo da lei
transgredida. Estas coisas é que Lhe esmagavam o coração divino. Foi o
ocultar-se o semblante do Pai — um senso de que o próprio e amado Pai
O havia abandonado — que Lhe trouxe desespero. A separação causada
pelo pecado entre Deus e o homem foi plenamente avaliada e vivamente
sentida pelo inocente e sofredor Homem do Calvário. Ele foi oprimido pelos
poderes das trevas. Não tinha um único raio de luz a aclarar-Lhe o futuro.”
(Testemunhos para a Igreja, Vol. 2, p. 214).
Uau!
A dor física era apenas uma pequena parte da agonia do amado Filho de Deus?
Ele não tinha um raio de luz para iluminar o futuro? O que significa isto? O que
sofreu na verdade Jesus por mim e por ti? Ellen White explode as nossas mentes
com esta visão mais profunda:
"O Salvador não podia ver para além dos portais do sepulcro. A esperança
não Lhe apresentava a Sua saída da sepultura como vencedor, nem Lhe
71
falava da aceitação do sacrifício por parte do Pai. Temia que o pecado fosse
tão ofensivo a Deus, que a Sua separação houvesse de ser eterna" (O
Desejado de Todas as Nações, p. 753).
Assombroso! Durante um longo período de tempo, uma vez que a nossa culpa
envolveu o Seu coração em escuridão emocional impenetrável, Jesus não poderia
ver a vida para si mesmo além do túmulo. Mas aqui está a coisa incrível: Ele não
estava preso. As Suas costas não estavam contra uma parede sem saída. Há
duas coisas que Jesus disse antes da cruz que indicam que Ele não estava preso:
“Por isto o Pai me ama, porque dou a minha vida para tornar a tomá-la.
Ninguém ma tira de mim, mas eu de mim mesmo a dou; tenho poder para
a dar, e poder para tornar a tomá-la. Este mandamento recebi de meu Pai"
(João 10:17,18).
E no Getsémani Ele disse a Pedro:
“Ou pensas tu que eu não poderia agora orar a meu Pai, e que ele não me
daria mais de doze legiões de anjos?” (Mateus 26:53).
Não percas o que tudo isto significa. Jesus enfrentou a perspetiva da morte eterna,
e mesmo assim, por amor da tua alma e da minha, Ele não recuou. Ele estava
literalmente disposto a morrer para sempre e não mais regressar ao convívio do
Seu Pai, para nos salvar. Não admira que Paulo chame ao que aconteceu no
Calvário, "o amor de Cristo, que excede todo o entendimento" (Efésios 3:19).
Quando Jesus deu a Sua vida na cruz, Ele demonstrou com clareza e beleza
surpreendentes que Deus literalmente ama todos os outros mais do que a Sua
própria existência. Esta é a verdade incrível que a compreensão Adventista do
Sétimo Dia da morte e do inferno abre à vista. Esta é a verdade que as falsas
doutrinas da imortalidade natural e do tormento eterno impedem que seja vista.
Alguém vai dizer: "Mas Jesus não poderia ter experimentado a segunda morte,
porque a segunda morte é a destruição eterna, da qual não há ressurreição." Ah,
mas aqui está a gloriosa boa notícia: Jesus não se limitou a experimentar a
segunda morte. Ele conquistou-a quando Ele a experimentou.
Pedro declarou: "Ao qual Deus ressuscitou, soltas as ânsias da morte, pois não
era possível que fosse retido por ela" (Atos 2:24). Observa a linguagem aqui: "não
era possível" para a morte reter Jesus. Mas porquê? Por uma razão simples e
72
profunda: " Ora, o aguilhão da morte é o pecado, e a força do pecado é a lei" (1
Coríntios 15:56). Mas Jesus nunca pecou. Debaixo das mais ferozes tentações
para se salvar a Si mesmo, Ele continuou a amar-nos a todos qualquer que fosse
o custo para Si mesmo. Esse amor altruísta, mantido com integridade intacta do
Getsémani ao Calvário, constituiu perfeita harmonia com a lei de Deus.
Unicamente por amor, Jesus triunfou sobre a segunda morte. Portanto, era
impossível que a segunda morte o fizesse cativo. A Sua ressurreição é a prova da
sua vitória sobre o pecado, a nossa culpa e a nossa morte.
Lágrimas vêm aos meus olhos e adoração brota no meu coração quando o
verdadeiro significado do sacrifício do Salvador desponta na minha mente.
Como pode Ele amar-me tão profundamente, tão apaixonadamente, tão
abnegadamente?
Deus é realmente assim?
Pode realmente ser que o Deus Todo-Poderoso do Universo seja assim tão
incrivelmente bonito?
O calvário responde com um sonoro sim!
DIA 6
 Questões para discussão
Qual é a tua reação interna a esta mensagem? É isto o mesmo ou diferente das
tuas ideias anteriores da morte e julgamento? Explica.
O autor fala de culpados que enfrentam "as violações relacionais que cometeram".
O que acha que ele quer dizer com isso? Poderiam esses ser os pecados mais
importantes? Por quê ou por que não?
Tu já confessaste realmente a Deus, de coração, os pecados que tu cometeste?
Se não, tu ainda podes fazê-lo. Se assim for, já aceitaste de todo o teu coração
que Jesus cobriu esses pecados completamente e que o teu perdão é tão
completo como se tu nunca tivesses pecado? O que te pode ajudar a aceitar isto
completamente?
73
Cita algumas maneiras específicas como podes transmitir a outros o dom glorioso
do perdão total.
 Atividade de Grupo:
Adicionar alguma coisa ou decorar o teu modelo octagonal se desejares.
Materiais necessários:
1. Várias pen drives, discos rígidos, DVD-ROMs, etc. Passa-os de mão
em mão e discute como eles são úteis. Será que eles "sabem" alguma
coisa? Eles podem fazer alguma coisa? O que seria necessário para
torná-los úteis novamente? São estes materiais, ou não, como a
morte?
2. Qualquer um dos filmes sobre a vida de Jesus na cena do Getsémani.
Vejam juntos e em seguida discutam a vossa resposta emocional (não
intelectual!).
74
DIA 7: O Tempo do Fim
Amor não coercivo
Como Adventistas do Sétimo Dia, somos um povo da profecia bíblica do tempo do
fim, ou o que os teólogos chamam de "escatologia". Primeiro, acreditamos que o
movimento de que fazemos parte foi predito na profecia bíblica. Em segundo lugar,
acreditamos que estamos a viver a fase final da história humana. Estas são
grandes reivindicações que têm o potencial tanto de iluminar como de escurecer a
mente das pessoas, dependendo de como as comunicamos. Ellen White discerniu
que há um perigo potencial que temos de evitar deliberadamente na nossa
pregação dos acontecimentos dos últimos dias:
“A falta de tempo é frequentemente instada como um incentivo para buscar
a justiça e fazer de Cristo o nosso amigo. Isso não devia ser o grande
motivo connosco porque sabe a egoísmo. É necessário que os terrores do
dia de Deus sejam mantidos perante nós, para que possamos ser
obrigados a ação correta através do medo? Não deveria ser assim. Jesus
é atraente. Ele está cheio de amor, misericórdia e compaixão. Ele propõese a ser nosso amigo” (Signs of the Times, março 17, 1887).
Que advertência perspicaz e necessária para um povo chamado a anunciar a
profecia do fim dos tempos!
Os pregadores não devem apresentar a profecia bíblica de uma forma que
desperte medo. O propósito de Deus em revelar os eventos do fim dos tempos não
é para nos assustar, mas para nos preparar; não para nos afastar, mas para nos
atrair; não para impor ansiedade em cima de nós, mas para gerar esperança e paz
dentro de nós. Se eu tentar acertar contas com Deus porque o tempo é curto, eu
realmente não conheço nem amo a Deus. Estou apenas numa viagem de autopreservação. Embora possa parecer que eu estou a servir a Deus, eu estou
realmente a servir a mim mesmo. Há apenas um motivo legítimo para servir ao
Senhor. Nas palavras de Ellen White: "Jesus é atraente." O Seu amor é o motivo
de ação que precisamos manter em foco enquanto pregamos a profecia do fim dos
tempos. A beleza atraente do Seu caráter, quando a vemos, move-nos de dentro
para fora! Ouve o Rei Davi sobre esta matéria:
75
“Uma coisa pedi ao Senhor, e a buscarei: que possa morar na casa do
Senhor, todos os dias da minha vida, para contemplar a formosura do
Senhor, e inquirir no seu templo. Porque no dia da adversidade me
esconderá no seu pavilhão; no oculto do seu tabernáculo me esconderá;
pôr-me-á sobre uma rocha.” (Salmo 27:4,5).
Observa que o foco de David não está no tempo de angústia, mas sim na beleza
do caráter de Deus. No contexto desse foco, ele tem um senso de confiança, e
não de medo, em relação ao tempo de angústia. Isso é que é uma perspetiva
saudável sobre o tempo de angústia, e todos os eventos do fim dos tempos! Cada
um de nós tem de se perguntar se consegue identificar-se com os sentimentos de
Davi para com Deus. Estamos cativados pela "beleza" do caráter de Deus? Se
não, precisamos fazer disso a nossa maior prioridade afim de obtermos uma visão
do amor de Deus tão verdadeira e clara ao ponto de sermos arrebatados pelo
amor do nosso incrível Criador. Fora deste contexto vivencial, os eventos dos
últimos dias só podem despertar medo nos nossos corações frágeis.
Ser-nos-á impossível interpretar corretamente os eventos do fim dos tempos, se
permitirmos que esses eventos eclipsem Jesus. Fazê-lo, distorce inevitavelmente
o quadro escatológico numa mescla desfigurada de especulações baseadas no
medo e em falsos alarmes, pensadas com o propósito de levar as pessoas a um
estado de euforia acerca de previsões sobre o futuro, em vez de se firmarem em
Cristo como a sua segurança.
Uma fixação nos eventos do fim dos tempos, acaba por desenvolver um apetite
doentio em expor os “maus da fita”, aumentando a ameaça de perigo, e
conduzindo as pessoas para sentimentos de incerteza sobre se vão ou não
conseguir sobreviver aos tempos de angústia. A escatologia é uma parte vital da
nossa mensagem - isso é uma certeza. Mas, como em todas as nossas doutrinas,
ela só serve o seu propósito - estabelecido por Deus - quando permitimos que
funcione como uma janela através da qual podemos discernir o amor de Deus.
Vamos então abordar os eventos do fim dos tempos a partir dessa perspetiva e ver
o que descobrimos.
A Dinâmica Central dos Eventos Finais
Vamos começar a nossa exploração da escatologia com uma pergunta simples:
76
Qual é a dinâmica central que podemos esperar que se revele nos eventos finais
da história humana?
Jesus dá-nos a resposta em João 16:1-4:
“Tenho-vos dito estas coisas para que vos não escandalizeis. Expulsarvos-ão das sinagogas; vem mesmo a hora em que qualquer que vos matar
cuidará fazer um serviço a Deus. E isto vos farão, porque não conheceram
ao Pai nem a mim. Mas tenho-vos dito isto, a fim de que, quando chegar
aquela hora, vos lembreis de que já vo-lo tinha dito”.
Uau!
Não percas o que Jesus nos está a dizer aqui, porque é extremamente
significativo. Essencialmente, Ele diz: "Isto é o que vai acontecer no fim do mundo:
haverá aqueles que possuem uma imagem de Deus que vai levá-los a matar em
nome de Deus. A sua construção teológica vai ditar ações violentas. Eles vão-se
envolver numa campanha de perseguição em massa, sempre imaginando que
estão a servir a Deus enquanto fazem isso." Mas se eles conhecessem a Deus
como Deus realmente é, nunca iriam exercer força em nome Dele. Consegues ver
as implicações? Isto significa que a questão mais importante que tu e eu
precisamos de abordar é a imagem do caráter de Deus que temos em nossos
corações. Isto também significa que uma revelação exata do caráter de Deus é a
mensagem que temos de ser apaixonados por dar ao mundo!
Porquê?
Porque, de acordo com Jesus, nós seres humanos estamos sujeitos a interpretar
mal o caráter de Deus de uma forma que nos permita justificar exercer coerção em
Seu nome. Na verdade, esta é a perspetiva teológica prevalecente que tem
dominado a história humana e que levou a muita da violência que tem
caracterizado a saga obscura do nosso mundo. Nas formas pagãs antigas, as
pessoas acreditavam que Deus exigia que sofressem para aplacar a Sua ira. Às
vezes, isso significava fazer certas ações para infligir danos a si mesmo. Outras
vezes, isso significava a realização de um conjunto de atos prescritos por líderes
religiosos. Podia também significar ir à guerra em nome de Deus e outras vezes
até mesmo oferecer um sacrifício humano. Isto é o que podemos chamar de
teologia do apaziguamento.
77
A ideia básica é muito simples e terrivelmente sombria: que a postura básica de
Deus para com os seres humanos é de condenação e ira, e que Ele nos aflige com
juízos destrutivos, a menos e até que ofereçamos algum tipo de sacrifício para
aplacar sua ira. A busca de apaziguamento pode assumir a forma de atos
individuais de penitência: humilhação emocional, automutilação física, pagar
dinheiro a uma igreja, ou realizar um conjunto de atos estabelecidos por um
sistema religioso.
Pode assumir a forma de uma cruzada contra uma qualquer organização que
ocupe o lugar de “bode expiatório”, na qual uma pessoa ou um grupo de pessoas
ser torna no “sacrifício” que se oferece a Deus. No entanto, o Deus da Bíblia - o
único e verdadeiro Deus - disse explicitamente ao antigo Israel que Ele não é um
Deus que pede apaziguamento:
“Porquanto me deixaram e alienaram este lugar, e nele queimaram incenso a
outros deuses, que nunca conheceram, nem eles nem seus pais, nem os reis de
Judá; e encheram este lugar de sangue de inocentes. Porque edificaram os altos
de Baal, para queimarem seus filhos no fogo em holocaustos a Baal; o que nunca
lhes ordenei, nem falei, nem me veio ao pensamento” (Jeremias 19:4,5).
Repara na última frase: "nem me veio ao pensamento." A teologia de
apaziguamento é completamente estranha à natureza de Deus, mas está
profundamente enraizada na psique humana, porque é o produto natural da nossa
culpa. O nosso sentimento de vergonha leva-nos a interpretar as coisas más que
nos acontecem como punições arbitrárias de Deus, que por sua vez nos leva a
buscar o favor de Deus por meio de sacrifício nas mais variadas formas. Agora
pensa nisto com muito cuidado, porque estamos prestes a ter como que uma
tremenda revelação sobre a questão mais profunda envolvida no desenrolar dos
acontecimentos finais. Na verdade, Jesus foi crucificado por pessoas religiosas
que tinham como premissa o conceito de salvação pelas obras e a visão de um
Deus que precisa de ser apaziguado. Os líderes religiosos perceberam que
estavam a perder o controle do povo para Jesus. Com base numa lógica de
apaziguamento, eles tomaram uma decisão calculista e pragmática que surgiu
naturalmente a partir da imagem distorcida que tinham de Deus: "Nem considerais
que nos convém que um homem morra pelo povo, e que não pereça toda a nação"
(João 11:50).
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Eles imaginavam que matar Jesus evitaria o desastre que anteviam vir em sua
direção. Da mesma forma, de acordo com Jesus, a campanha final de perseguição
da história humana será alimentada por uma imagem distorcida de Deus, que
permitirá que os perseguidores racionalizem que estão a servir a Deus por meio de
seu sistema político-religioso coercivo. Jesus disse claramente o que se passa
quando as pessoas procuram forçar os outros em nome de Deus: "E isto vos
farão, porque não conheceram ao Pai nem a mim." Noutras palavras, conhecer a
Deus como Deus realmente é, afasta o uso de coerção em Seu nome.
Incrível!
Agora entendemos a questão que vai desempenhar um papel central no
desenrolar nos eventos finais da história humana. Quando o mundo estiver
finalmente dividido entre perseguidores e perseguidos, cada pessoa vai agir de
acordo com a imagem que tem de Deus.
Agora vamos um pouco mais fundo.
Um tipo diferente de poder
Em Mateus 24 Jesus delineou uma lista do que chamamos "sinais" do fim dos
tempos. No versículo 14, Ele nomeou o derradeiro e mais importante de todos: "E
este evangelho do reino será pregado em todo o mundo, em testemunho a todas
as nações, e então virá o fim." Quando Jesus disse estas palavras, Ele estava a
usar uma linguagem muito específica e familiar para o povo do Seu tempo. Ao
usar a palavra traduzida como "evangelho", que é euaggelion no texto grego, Ele
estava a empregar o termo comum no contexto das vitórias militares. Quando um
antigo império vencia uma batalha pela força das armas, euaggelion era a palavra
usada para anunciar a "boa notícia" da vitória. Jesus decidiu então usar
deliberadamente a palavra comum para falar de vitória militar, mudando o seu
significado, a fim de sinalizar a chegada de um novo tipo de reino com base num
novo tipo de poder. O seu reino não pode ser comparado a nenhum outro. É, na
verdade, totalmente oposto às estruturas de poder do nosso mundo.
Jesus veio ao nosso mundo e fundou a Sua igreja com base no princípio do amor
não coercivo. Na linguagem popular do seu tempo, ele chamou à dinâmica
relacional do Seu reino, "ágape". Para descrever a forma mais radical de atuação
deste princípio, Jesus disse: "Porque Deus amou (ágape) o mundo de tal maneira
79
que deu o seu Filho unigénito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas
tenha a vida eterna" (João 3:16).
Dar, define totalmente o modo de existência de Deus.
Na cruz, Deus deu-se a Si mesmo até ao ponto do sofrimento e da morte, a fim de
demonstrar o Seu amor por nós, e que o amor é o poder, o verdadeiro e único
poder, que Ele exerce para a nossa salvação. A cruz revela que Deus está
interessado em atrair os seres humanos a Si unicamente através do poder atrativo
do Seu amor. Por outro lado, Ele não está interessado em mudanças exteriores
em resultado de qualquer pressão coerciva. Jesus também aplicou o princípio do
amor não coercivo nas relações humanas em geral e nas relações da igreja em
particular. Olha para Mateus 20:25-28:
“Então Jesus, chamando-os para junto de si, disse: Bem sabeis que pelos
príncipes dos gentios são estes dominados, e que os grandes exercem
autoridade sobre eles. Não será assim entre vós; mas todo aquele que
quiser entre vós fazer-se grande seja vosso serviçal; E, qualquer que entre
vós quiser ser o primeiro, seja vosso servo; Bem como o Filho do homem
não veio para ser servido, mas para servir, e para dar a sua vida em
resgate de muitos”.
Isto é o que Jesus pretendia que Sua igreja fosse, como Ele queria que ela
funcionasse. E através da Sua igreja, era assim que Ele queria que o mundo visse
o Seu caráter. Jesus é decididamente “pró-liberdade” e “anti-força”. A Sua vida,
morte e ensinamentos colocaram em cena um sistema relacional caracterizado por
uma dinâmica muito mais de “submissão” do que de “autoridade e domínio” na
maneira de nos relacionarmos. O Seu reino é diametralmente oposto à ideia de
imposição teológica, emocional ou de coerção sobre os seres humanos, em
assuntos relativos à sua relação individual com Deus. Depois de Jesus ter partido
deste mundo, tendo estabelecido a Sua Igreja na premissa do que poderíamos
chamar de dinâmica relacional “amor em liberdade”, os Seus discípulos fizeram o
Seu reino (tão distinto dos valores envolventes) avançar de duas maneiras: (a)
pela pregação do evangelho, ou as boas notícias do amor não-coercivo de Deus
como o único fundamento legítimo para o relacionamento humano com Deus e (b)
vivendo o seu amor dentro da igreja como uma comunidade da aliança, o que
significa que homens e mulheres só se juntavam à igreja na premissa de uma
resposta voluntária ao Amor de Deus.
80
Não era suposto a igreja ser um sistema civil, impondo as suas crenças por meio
de lei, mas sim um sistema com base numa aliança, estabelecendo a atraente
beleza do caráter de Deus como um convite ao qual todos eram livres de dizer sim
ou não. Assim que entendemos que o amor não-coercivo é o princípio fundamental
do evangelho, estamos preparados para discernir, por outro lado, que todo o
sistema político e religioso que tenta usar a força em nome de Cristo é, de facto,
anti-Cristo. E isto leva-nos até às profecias de Daniel e Apocalipse.
Daniel e Apocalipse
Daniel e Apocalipse contam a história de Jesus conquistando o engano e a força
com verdade e amor. Este é o conceito chave que atravessa a profecia bíblica. Se
não compreendemos isto, perdemos o sentido da sua existência.
Vamos por partes.
Daniel mostra-nos uma série de impérios mundiais. Cada um procura reforçar a
sua pretensão de superioridade por meio de força bruta, e cada um deles
inevitavelmente cai no domínio de outro. Daniel descreve o ciclo autodestrutivo da
violência em Daniel 8:4-9:
“Vi que o carneiro dava marradas para o ocidente, e para o norte e para o
sul; e nenhum dos animais lhe podia resistir; nem havia quem pudesse
livrar-se da sua mão; e ele fazia conforme a sua vontade, e se
engrandecia. E, estando eu considerando, eis que um bode vinha do
ocidente sobre toda a terra, mas sem tocar no chão; e aquele bode tinha
um chifre insigne entre os olhos. E dirigiu-se ao carneiro que tinha os dois
chifres, ao qual eu tinha visto em pé diante do rio, e correu contra ele no
ímpeto da sua força. E vi-o chegar perto do carneiro, enfurecido contra ele,
e ferindo-o quebrou-lhe os dois chifres, pois não havia força no carneiro
para lhe resistir, e o bode o lançou por terra, e o pisou aos pés; não houve
quem pudesse livrar o carneiro da sua mão. E o bode se engrandeceu
sobremaneira; mas, estando na sua maior força, aquele grande chifre foi
quebrado; e no seu lugar subiram outros quatro também insignes, para os
quatro ventos do céu. E de um deles saiu um chifre muito pequeno, o qual
cresceu muito para o sul, e para o oriente, e para a terra formosa.
Repara no padrão crescente de autoexaltação que Daniel descreve:
81
• "ótimo"
• "muito bom"
• "muito grande"
E repara também na linguagem de poder e de violência:
• "com poder furioso"
• "confrontar"
• "movido com raiva"
• "atacado"
• "lança-o ao chão"
• "pisou-o"
Cada reino avança sobre o outro por meio da força. Descrevendo o último reino na
linha profética, Daniel diz isto nos versículos 24-25:
“E se fortalecerá o seu poder, mas não pela sua própria força; e destruirá
maravilhosamente, e prosperará, e fará o que lhe aprouver; e destruirá os
poderosos e o povo santo. E pelo seu entendimento também fará
prosperar o engano na sua mão; e no seu coração se engrandecerá, e
destruirá a muitos que vivem em segurança; e se levantará contra o
Príncipe dos príncipes, mas sem mão será quebrado”.
Tal como acontece com os reinos que o precederam, destruição e engano são os
meios pelos quais este reino se exalta a si mesmo. Mas, em seguida, Daniel
mostra-nos algo novo, algo totalmente diferente. Este poderoso sistema conquista
tudo à sua passagem até que ele sobe "contra o príncipe dos príncipes", que é o
Messias. Em Jesus, a autoexaltação encontrou o seu correspondente, mas não da
forma como poderíamos pensar. Quando este reino vem de encontro a Jesus,
Daniel diz que ele será "quebrado sem mão humana". Noutras palavras, Jesus não
conquista na base dos mesmos princípios usados pelas estruturas de poder
82
humanos. Ele opera segundo princípios que são diametralmente opostos aos
princípios utilizados pelos reinos deste mundo. Eles usam engano e força. As Suas
armas são a verdade em amor.
No capítulo 9, Daniel dá-nos uma descrição mais detalhada do caminho do
Messias para a vitória, e é espantosa. Observa o versículo 26: "será cortado o
Messias, mas não para si mesmo". E o versículo 27: "E ele firmará aliança com
muitos por uma semana; e na metade da semana fará cessar o sacrifício e a
oblação". Esta é uma profecia que prediz a morte abnegada de Jesus. O único e
verdadeiro rei do mundo voluntariamente daria a sua vida no Calvário "mas não
para si mesmo".
Poderoso!
Daniel quer fazer-nos entender que o Rei Jesus opera através de um poder de
natureza distinta. Jesus foi à cruz em favor dos Seus inimigos, fê-lo por todos nós
enquanto seres humanos rebeldes e caídos. Permitiu que descarregássemos a
nossa raiva sobre Ele, mas continuou a amar-nos. Jesus cumpriu esta profecia
entregando-se a Si mesmo, sem resistência, ao poder combinado da igreja e do
estado. O sistema religioso judaico e o poder político de Roma, unidos para matar
Jesus. Surpreendentemente, Ele foi crucificado por uma aliança Igreja-Estado. O
mais surpreendente é que, sendo Deus, Ele tinha na verdade poder sobre eles,
mas submeteu-se livremente à sua violência. Em João 10:18, Jesus disse:
"Ninguém ma tira de mim, mas eu de mim mesmo a dou". Em Cristo, temos diante
de nós o rei do universo a conquistar os reinos do nosso mundo. Mas como é que
ele o faz? Sacrificando-se ao nosso ódio e raiva!
A natureza humana e todos os reinos do nosso mundo operam na premissa de
auto-preservação a todo custo.
Matar ou morrer.
Olho por olho.
Golpe por golpe.
Tu bateste-me, eu vou-te bater também.
83
E quem tem a força bruta superior, ganha.
Jesus vem a este sistema de violência cíclica e faz algo completamente oposto à
natureza humana: diante do mal, Ele ama. Pedro explica em 1 Pedro 2:23, 24: "O
qual, quando o injuriavam, não injuriava, e quando padecia não ameaçava, mas
entregava-se àquele que julga justamente; Levando ele mesmo em seu corpo os
nossos pecados sobre o madeiro, para que, mortos para os pecados, pudéssemos
viver para a justiça; e pelas suas feridas fostes sarados." Só o amor pelos inimigos
tem o poder de esmagar a inimizade e de fazer nascer uma nova dinâmica
relacional. E isso é precisamente o génio curador da cruz. O que vemos revelado
em Jesus é um amor que não pode ser superado pelo ódio e pela violência.
Todas as forças que se opõem ao amor são esmagadas pelo Seu amor!
Não importa o que lhe fizermos, Ele nunca vai parar de nos amar. Quando nos
confrontamos com o amor de Deus, estamos diante de uma força mais poderosa
do que a força bruta. Podemos descarregar a nossa raiva sobre Ele até que se
quebre, mas ela não vai quebrá-Lo. Ele tão simplesmente olha com perdão para
as nossas mãos ensanguentadas, para a nossa respiração exausta e para os
nossos olhos irritados, até que sejam dominados pelo Seu amor ou que fiquem
irremediavelmente em conflito com Ele. Esta é a mensagem central das profecias
de Daniel.
Quando chegamos ao livro do Apocalipse, vemos o desenlace da mesma história:
o amor a conquistar o mal. João abre o Apocalipse dizendo-nos que a Estrela do
livro salva e governa através do Seu amor abnegado:
“Graça e paz seja convosco da parte daquele que é, e que era, e que há
de vir, e da dos sete espíritos que estão diante do seu trono; E da parte de
Jesus Cristo, que é a fiel testemunha, o primogénito dentre os mortos e o
príncipe dos reis da terra. Àquele que nos amou, e em seu sangue nos
lavou dos nossos pecados, E nos fez reis e sacerdotes para Deus e seu
Pai; a ele glória e poder para todo o sempre. Amém” (Apocalipse 1:4-6).
João quer fazer-nos entender que Jesus é um Rei como nenhum outro. O Seu
domínio decorre do facto de que Ele deu a Sua vida por nós. Esta mensagem
torna-se mais clara quando João descreve o que está a acontecer na sala do trono
do universo. Vamos ler Apocalipse 5:6,7:
84
“E olhei, e eis que estava no meio do trono e dos quatro animais viventes e
entre os anciãos um Cordeiro, como havendo sido morto, e tinha sete
pontas e sete olhos, que são os sete espíritos de Deus enviados a toda a
terra. E veio, e tomou o livro da destra do que estava assentado no trono.”
Agora observa os versículos 11-13:
“E olhei, e ouvi a voz de muitos anjos ao redor do trono, e dos animais, e
dos anciãos; e era o número deles milhões de milhões, e milhares de
milhares, que com grande voz diziam: Digno é o Cordeiro, que foi morto,
de receber o poder, e riquezas, e sabedoria, e força, e honra, e glória, e
ações de graças. E ouvi a toda a criatura que está no céu, e na terra, e
debaixo da terra, e que estão no mar, e a todas as coisas que neles há,
dizer: ao que está assentado sobre o trono, e ao Cordeiro, sejam dadas
ações de graças, e honra, e glória, e poder para todo o sempre.”
Jesus é o centro da atenção e louvor precisamente porque Ele deu a Sua vida por
nós. É contra este pano de fundo de vitória através da abnegação, que o
Apocalipse traz à vista os eventos finais da história. Em contraste com o Único que
salva e governa pelo poder do amor não-coercivo, João adverte que "o grande
dragão", essa "antiga serpente, chamada o Diabo e Satanás", vai travar uma
guerra contra Jesus e Seus seguidores (Apocalipse 12:9). O ponto marcante da
história é posto em foco nítido em Apocalipse 12:11: "E eles o venceram pelo
sangue do Cordeiro e pela palavra do seu testemunho; e não amaram as suas
vidas até à morte." A mensagem é clara. O povo de Jesus vai superar a força do
sistema de perseguição de Satanás no tempo do fim, respondendo com o amor de
Cristo em vez de retaliação. Na história de Jesus, os verdadeiros vencedores
vencem ao perder, porque o amor não violento é o princípio “secreto” e profundo
da verdadeira conquista.
Amor que se recusa a responder ao mal com o mal!
Amor que se submete ao abuso em vez de recorrer ao abuso!
Amor que preferiria morrer a ter que odiar os inimigos!
85
Responder ao ódio e à violência com ódio e violência só serve para perpetuar o
ódio e a violência. Força gera força. Enquanto cada ato de violência for respondido
com mais violência, o ciclo, literalmente, nunca vai terminar, a não ser pela
destruição completa de ambos os lados. Em Apocalipse 13, encontramos a besta
que sobe do mar e a besta que sobe da terra, o Catolicismo Romano e a América
Protestante. A profecia adverte-nos que estes dois poderes acabarão por se unir
para impor ao mundo a "marca da besta".
 Leis de adoração serão promulgadas que tentarão coagir a consciência
em nome de Deus.
 A liberdade religiosa acabará por ser anulada e a besta como um cordeiro
"falará como um dragão."
 A América protestante vai tornar-se o “motor” político que vai trazer ao
mundo uma crise de consciência individual e de caráter.
 O sistema irá ditar que "ninguém possa comprar ou vender, senão aquele
que tiver o sinal, ou o nome da besta, ou o número do seu nome."
(versículo 17). Noutras palavras, o sistema irá alavancar o seu poder
económico contra todos os que resistirem à sua posição dominante.
Existem dois tipos de poder em exibição no Apocalipse: o Poder do Cordeiro
contra o Poder do Dragão. O poder aplicado por Satanás e os sistemas terrestres
que seguem a sua liderança é o da força. Em total contraste, o poder utilizado por
Jesus é o amor abnegado. Amor versus força! Esta é, em poucas palavras, a
história completa de Daniel e Apocalipse. E se esta é a história, então a questão
crucial que vem ao coração de cada um de nós, é simplesmente esta: Tu e eu
realmente conhecemos Jesus como a verdadeira revelação do caráter de Deus?
Quando os eventos finais da história se desenrolarem sobre o mundo, cada um de
nós irá revelar a imagem de Deus que construi. Cada um de nós vai ou não ficar
com aqueles que violam o princípio da liberdade religiosa, a fim de se preservarem
a si mesmos, ou vai ou não ficar fiel à liberdade de consciência em harmonia com
o amor não coercivo de Deus.
E é neste contexto que o mundo vai acabar.
86
DIA 7
 Questões para discussão
Partilha algumas histórias de situações em que tenhas sido tentado a usar a
coerção, ainda que chamando-lhe amor, ou que tenhas visto outros a fazê-lo. Qual
foi o resultado? Qual achas que é a solução?
É possível os Adventistas caírem na armadilha de tentar obrigar outros (dentro ou
fora da igreja) a acreditar ou agir de determinadas maneiras? Como podemos
enfrentar e mudar isso sem usarmos nós mesmos a força?
É possível ir longe demais na direção contrária e tornarmo-nos meros “capachos”,
ao nos tentarmos "submeter ao abuso” em vez de abusar? Quais poderão ser
algumas salvaguardas contra isso?
De que formas agiste de acordo com a "tua imagem de Deus" durante o último
mês?
 Atividade de Grupo
Adicionar alguma coisa ou decorar o teu modelo octagonal se desejares.
Em grupo, encontrem algum exemplo que tenham testemunhado por parte de um
grupo ou de um indivíduo, que sendo Adventista considerem ter agido numa lógica
de coerção para levar as pessoas a acreditar ou agir de alguma maneira. Percebam
que isto é quase sempre feito com a melhor das intenções: quais poderão ser essas
intenções?
Agora pensem em pelo menos duas maneiras que esse mesmo grupo ou pessoa
poderia ter usado para aplicar a lógica do amor não-coercivo, e qual pensam seria o
resultado dessa abordagem? Reflitam também sobre qual deveria ser a resposta
dessa pessoa ou grupo, se aquele(s) a que se dirige optar por não seguir o caminho
de Deus.
Agora ... como podem usar isto na vossa própria vida? Sejam específicos.
87
DIA 8: A SEGUNDA VINDA
Amor com saudade
Como Adventistas do Sétimo Dia, a verdade bíblica da segunda vinda de Jesus
está integrada no nosso nome, o que é muito bom, como estamos prestes a
descobrir. A palavra "advento" significa simplesmente "chegada". Quando dizemos
que somos Adventistas, estamos a identificarmo-nos como um povo que preza a
esperança mais brilhante que se possa imaginar. O nosso nome declara que o
mesmo Jesus que veio ao nosso mundo há 2000 anos, nascido de Maria em
Belém, crucificado numa cruz romana, que ressuscitou ao terceiro dia e ascendeu
ao céu, vai voltar novamente para acabar com todo o mal e dor e inaugurar um
novo mundo de harmonia relacional perfeita.
No entanto, se não formos cuidadosos, estamos sujeitos a perder o porquê da Sua
vinda enquanto estamos preocupados em provar como Ele virá. Tradicionalmente,
temos dedicado a maior parte do nosso foco evangelístico à maneira como será a
Sua vinda, em contraste com a doutrina do arrebatamento secreto*. Sim,
precisamos proclamar com clareza a verdadeira forma do retorno de nosso
Senhor, mas não em detrimento da razão por que Ele está a voltar. O objetivo da
pregação da segunda vinda não deve ser meramente provar o que ela não é, mas
sim pintar uma bela e convidativa imagem do que ela é de facto. Enganamo-nos a
nós mesmos e ao mundo quando reduzimos a nossa pregação sobre a segunda
vinda a uma mera tentativa de provar que o arrebatamento secreto é falso. Na
nossa doutrina da segunda vinda temos algumas notícias realmente, realmente,
mas realmente boas a proclamar. Como todas as verdades bíblicas, a segunda
vinda serve como uma janela para o amor de Deus. Então, vamos espreitar pela
janela.
Amante Celestial
Quando Jesus veio a primeira vez, Ele foi especificamente identificado por João
Batista como o amante Celestial em busca da Sua amada terrena. Quando os
seguidores de João manifestaram ciúmes das pessoas que mudaram a sua
atenção dele para Jesus, João teve isto a dizer:
* Isto é especialmente verdade nos países onde a tradição evangélica é muito forte, como os EUA,
em países de tradição católica a enfase não é tanto esta.
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"Aquele que tem a esposa é o esposo; mas o amigo do esposo, que lhe
assiste e o ouve, alegra-se muito com a voz do esposo. Assim, pois, já
este meu gozo está cumprido. É necessário que ele cresça e que eu
diminua." (João 3:29,30)
Entendeste isto?
João chamou Jesus "o esposo", e ele se identificou como "o amigo do esposo", ou
aquele que chamamos "o padrinho".
Estamos super familiarizados com a ideia de que Jesus veio ao mundo como
aquele que nos salva do pecado e da culpa, e louvamos a Deus por isso, mas aqui
é-nos dada uma visão adicional. Não só Ele veio para nos salvar do pecado, Ele
também veio para nos atrair para o seu amor. O plano de salvação não se limita a
tirar-nos de problemas, leva-nos para o coração de Deus. A nossa redenção tem
um objetivo, uma meta e um propósito. Somos libertos de uma situação muito má
e levados a uma outra realmente boa. Para fora do pecado e para o amor! Deus
não tem apenas piedade de nós, Ele quer-nos com a paixão de um amante que
anda atrás de nós. Este é o quadro completo.
Em Ezequiel 16 Deus conta-nos uma história muito emotiva. Observa os
versículos 4-8:
“E, quanto ao teu nascimento, no dia em que nasceste não te foi cortado o
umbigo, nem foste lavada com água para te limpar; nem tampouco foste
esfregada com sal, nem envolta em faixas. Não se apiedou de ti olho
algum, para te fazer alguma coisa disto, compadecendo-se de ti; antes
foste lançada em pleno campo, pelo nojo da tua pessoa, no dia em que
nasceste. E, passando eu junto de ti, vi-te a revolver-te no teu sangue, e
disse-te: Ainda que estejas no teu sangue, vive; sim, disse-te: Ainda que
estejas no teu sangue, vive. Eu te fiz multiplicar como o renovo do campo,
e cresceste, e te engrandeceste, e chegaste à grande formosura;
avultaram os seios, e cresceu o teu cabelo; mas estavas nua e descoberta.
E, passando eu junto de ti, vi-te, e eis que o teu tempo era tempo de
amores; e estendi sobre ti a aba do meu manto, e cobri a tua nudez; e deite juramento, e entrei em aliança contigo, diz o Senhor DEUS, e tu ficaste
sendo minha.”
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É simplesmente incrível que o Criador Onipotente do Universo seja o tipo de Deus
capaz de contar uma história como esta! Ele, obviamente, quer fazer-nos entender
e sentir alguma coisa. Vamos assimilar a imagem. Então, Deus encontra um bebé
abandonado num campo, nu, ensanguentado e sujo. O cordão umbilical está
pendurado no seu corpo, como se a criança tivesse sido arrancada do útero sem
qualquer compaixão. "Não se apiedou de ti olho algum", diz Deus. Outra versão
diz: "Ninguém te amou." Que gráfica e reveladora representação da nossa
situação terrível como seres humanos. Percebemos aqui que falta de amor é o que
define a nossa condição caída.
Nós... Precisamos... Amor!
Isto é o que Deus vê em nós.
O que Ele vê no nosso estado de perdição.
E Ele sabe que unicamente o Seu amor pode salvar-nos.
Então, Ele diz: "Ainda que estejas no teu sangue, vive; sim, disse-te: Ainda que
estejas no teu sangue, vive." Estávamos a morrer nos nossos pecados, mas Deus
veio e levou-nos nos seus braços, o bebé abandonado que ninguém amava, e Ele
comunicou-nos a palavra da vida. Ele diz-nos: "Vive." Então, sob a influência do
Seu cuidado carinhoso, o bebé desenvolve-se e cresce até ser uma linda mulher.
"Eis que o teu tempo era tempo de amores", diz Deus. Outra versão diz: "E vi que
já tinha idade suficiente para amar" (NVI).
Uau!
Não deixes de ver o coração de Deus aqui. Quando Ele olha para nós, Ele está à
procura de algo específico e especial. Ele anseia que possamos crescer
espiritualmente até ao ponto em que nos apaixonemos por Ele em resposta ao
Seu amor por nós. Ellen White percebeu isto. Segundo ela, apaixonar-se por
Jesus é o que nós devíamos entender da Bíblia. Vê isto:
“Deves pesquisar a Bíblia; porque ela fala-te de Jesus. Enquanto lês a
Bíblia, vais ver os incomparáveis encantos de Jesus. Vais-te apaixonar
pelo Homem do Calvário, e a cada passo tu podes dizer ao mundo: “Seus
caminhos são caminhos de delícias, e todas as suas veredas são paz."
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Tens que apresentar Cristo ao mundo. Podes mostrar ao mundo que tens
uma grande esperança de imortalidade.” (Life Sketches, p. 293)
Agora volta à história em Ezequiel 16. Quando Deus vê que estamos prontos para
o amor, Ele diz: "estendi sobre ti a aba do meu manto, e cobri a tua nudez; e dei-te
juramento, e entrei em aliança contigo, diz o Senhor DEUS, e tu ficaste sendo
minha."
Incrível!
O que vemos aqui é basicamente Deus a dizer: "Eu amo-te tanto que quero que
sejas a Minha esposa." Deus dá-nos a vida - ou a salvação - amando-nos até nos
conduzir à felicidade. Depois, Ele compromete-se com os Seus votos matrimoniais
na esperança de que digamos "Sim" e que O amemos também. Este é o objetivo
real do plano de salvação. O profeta Oséias abre ainda mais a nossa
compreensão sobre este ponto. Ele descreve a condição humana caída como
promiscuidade sexual em 2:13: "ela se enfeitou com anéis e jóias, e foi atrás dos
seus amantes, mas de mim, ela se esqueceu", declara o Senhor." Todo o pecado
é adultério espiritual, porque todo o pecado basicamente se resume a uma falta de
amor. Todo o pecador é uma prostituta, perseguindo casos de amor ilícitos com as
coisas que deslocam Deus do centro dos seus afetos e paixões. Então, o que vai
Deus fazer? Como é que Ele nos vai salvar? Vai forçar-nos? Vai manipular-nos?
Não.
Força e manipulação são contrárias aos caminhos do amor e, portanto, contrárias
ao caráter de Deus, já que "Deus é amor" (1 João 4:8). Então, Ele tem um plano
diferente. Através do profeta Oséias, Deus descreveu o Sua forma de atuar. Olha
para Oséias 2:14: "Portanto, agora vou atraí-la; vou levá-la para o deserto e vou
falar-lhe com carinho." Deus o sedutor! Não é a imagem que a maioria das
pessoas visualiza quando pensam em Deus! E mesmo assim ela aqui está, clara
como o dia. Deus tem a intenção de nos salvar seduzindo-nos. Esta é uma
profecia da vinda do Messias, Jesus Cristo, aquele que João Batista chamou o
noivo que tinha vindo para a Terra à procura de sua noiva. Não devemos por isso
ficar surpreendidos quando Jesus fala da Sua morte na cruz usando linguagem da
atração. Repara em João 12:32: "Mas eu, quando for levantado da terra, atrairei
todos a mim."
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Na cruz, ao dar a Sua vida em abnegação total, Jesus fez a revelação suprema do
Seu amor por nós. E esse amor, se lhe dermos atenção, vai exercer um poder de
atração sobre nós. Poder que vai gerar atração em nossos corações em relação a
Ele e seduzir-nos ao Seu coração. Agora volta a Oséias 2:16: "E naquele dia, diz o
SENHOR, tu me chamarás: Meu marido; e não mais me chamarás: Meu senhor."
Que Deus incrível! Este é o ser mais poderoso no universo e ainda assim recusase a dominar-nos. Ele não quer um relacionamento de mestre e servo connosco,
mas sim uma relação de marido e mulher. Noutras palavras, Ele quer que o amor
voluntário seja a força motivadora que define o nosso relacionamento com Ele.
Nos versos 19 e 20 Deus compromete-se a ser o nosso fiel marido espiritual: "E
desposar-te-ei comigo para sempre; desposar-te-ei comigo em justiça, e em juízo,
e em benignidade, e em misericórdias. E desposar-te-ei comigo em fidelidade, e
conhecerás ao Senhor." Jesus veio ao nosso mundo para o cumprimento dessa
profecia. De pé diante de nós com a promessa de fidelidade inabalável, Ele se
oferece a nós para uma união eterna que jamais será quebrada, o que é no final
de contas o verdadeiro propósito da Sua segunda vinda.
Para Estar Connosco
Vamos voltar agora a João 14:1-3, olha desta vez para esta famosa passagem
sobre a segunda vinda:
“Não se turbe o vosso coração; credes em Deus, crede também em mim.
Na casa de meu Pai há muitas moradas; se não fosse assim, eu vo-lo teria
dito. Vou preparar-vos lugar. E quando eu for, e vos preparar lugar, virei
outra vez, e vos levarei para mim mesmo, para que onde eu estiver
estejais vós também.”
Agora que vimos o contexto matrimonial no Evangelho de João, e em toda a
Escritura, o que Jesus disse aqui sobre a Sua segunda vinda faz todo o sentido. O
que podemos ver neste texto é que Jesus predisse a Sua segunda vinda
recorrendo a uma linguagem que invocava os costumes de casamento do Seu
tempo. Primeiro, havia a fase de cortejo. Se um homem amava uma mulher, ele
iria interagir com ela de tal forma a atraí-la para si mesmo. Uma vez atraída por
ele, o casal iria entrar na fase de namoro, conhecendo-se um ao outro e fazendo
crescer o amor. Então o homem pedia-a em casamento. Se a resposta dela fosse
sim, o homem então afastava-se da sua futura noiva com a promessa de voltar
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para ela. O motivo da sua partida era prático. Ele iria embora para que pudesse
preparar um lugar para ela na casa de seu pai.
Noutras palavras, Jesus não se limitou a prometer voltar, Ele prometeu voltar para
a Sua noiva. Ele vai voltar à Terra por uma razão: porque ele ama-nos
profundamente, apaixonadamente, com genuína saudade e quer passar a
eternidade em comunhão íntima connosco. Não deixes de ver o fato de que Ele
diz: "virei outra vez, e vos levarei para mim mesmo, para que onde eu estiver
estejais vós também." Mais tarde, pouco antes de morrer na cruz, Jesus voltou a
dar expressão ao Seu coração em João 17:24: "Pai, aqueles que me deste quero
que, onde eu estiver, também eles estejam comigo."
"Comigo"
Isso é o que Ele quer. O que Jesus deseja é que tu e eu possamos estar "com"
Ele. Pensa em alguém com quem gostas de estar, alguém cuja presença tu
desejas e aprecias, o teu marido ou esposa, mãe ou pai, o teu melhor amigo. A
questão é simples e bonita: nós gostamos de estar com aqueles que amamos. É
Isso que somos para Jesus. Ele anseia pela nossa presença, pela nossa amizade,
pelo gozo do nosso amor. Quando o apóstolo Paulo fala sobre o casamento, ele
usa-o como um trampolim simbólico para descrever o amor de Cristo pela sua
Igreja. Vamos ler Efésios 5:25-33:
“Vós, maridos, amai vossas mulheres, como também Cristo amou a igreja,
e a si mesmo se entregou por ela, Para a santificar, purificando-a com a
lavagem da água, pela palavra, Para a apresentar a si mesmo igreja
gloriosa, sem mácula, nem ruga, nem coisa semelhante, mas santa e
irrepreensível. Assim devem os maridos amar as suas próprias mulheres,
como a seus próprios corpos. Quem ama a sua mulher, ama-se a si
mesmo. Porque nunca ninguém odiou a sua própria carne; antes a
alimenta e sustenta, como também o Senhor à igreja; Porque somos
membros do seu corpo, da sua carne, e dos seus ossos. Por isso deixará
o homem seu pai e sua mãe, e se unirá a sua mulher; e serão dois numa
carne. Grande é este mistério; digo-o, porém, a respeito de Cristo e da
igreja. Assim também vós, cada um em particular, ame a sua própria
mulher como a si mesmo, e a mulher reverencie o marido.”
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A última frase é essencial: "Grande é este mistério; digo-o, porém, a respeito de
Cristo e da igreja."
Paulo está a dizer que o relacionamento conjugal coloca diante de nós uma
profunda e significativa verdade sobre o nosso relacionamento com Jesus, como
Sua noiva eterna. Deus tem algo reservado para nós que vai para além dos
nossos mais incríveis sonhos. Algumas coisas têm de ser experimentadas para
serem compreendidas. É o caso do nosso casamento com Cristo. Está muito para
lá de uma mera compreensão intelectual. É por isso que Paulo lhe chama um
"mistério", uma verdade profunda e cheia de significado. Ainda assim, quanto mais
completamente nós experimentarmos o amor de Jesus, mais chegaremos a
entender a incrível revelação de quem realmente somos no plano de Deus, quem
realmente somos para o coração de Deus. Neste momento, estamos na fase de
namoro deste relacionamento. Ele está a cortejar e a conquistar-nos, revelando à
nossa mente a beleza de Seu caráter para que possamos amadurecer em nosso
amor por Ele. A plena perceção da nossa identidade como a noiva de Cristo não
vai despontar em nós até ao casamento propriamente dito. Chegaremos a um
ponto na história da Salvação, em que a igreja estará espiritualmente "pronta" para
entrar no casamento com o seu Senhor. O universo inteiro testemunhará o
culminar da nossa preparação e fará o anúncio do casamento. Olha para
Apocalipse 19:6-8:
“E ouvi como que a voz de uma grande multidão, e como que a voz de
muitas águas, e como que a voz de grandes trovões, que dizia: Aleluia!
pois já o Senhor Deus Todo-Poderoso reina. Regozijemo-nos, e alegremonos, e demos-lhe glória; porque vindas são as bodas do Cordeiro, e já a
sua esposa se aprontou. E foi-lhe dado que se vestisse de linho fino, puro
e resplandecente; porque o linho fino são as justiças dos santos.”
Toda a história bíblica se dirige apressadamente para um derradeiro momento de
beleza triunfal: Jesus a voltar à Terra para receber a igreja como Sua noiva eterna.
Shalom Eterna
O Cântico dos Cânticos, de Salomão, é uma canção de amor profético que nos
coloca diante de uma “janela” ímpar de onde se pode ver o amor de Cristo pela
Sua Igreja. Nesta mais épica do que todas as canções de amor, temos um intenso
vislumbre do amor matrimonial de Deus pelo Seu povo e de até onde ele
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finalmente vai chegar. Capítulo a capítulo, versículo a versículo, expressões de
afeição são trocadas entre o homem e a mulher. Eles descrevem as virtudes um
do outro com destreza lírica. Eles elogiam-se um ao outro com exuberância. Eles
desejam com paixão estar um com o outro. E quando damos por nós a pensar que
esta parece ser apenas mais uma das canções de amor tolas do nosso mundo,
tentando perceber porque é que isto veio parar à Bíblia, o ponto culminante do
poema tem a mulher a dizer algo muito profundo ao seu homem:
“Põe-me como selo sobre o teu coração, como selo sobre o teu braço,
porque o amor é forte como a morte, e duro como a sepultura o ciúme; as
suas brasas são brasas de fogo, com veementes labaredas. As muitas
águas não podem apagar este amor, nem os rios afogá-lo; ainda que
alguém desse todos os bens de sua casa pelo amor, certamente o
desprezariam.” (Cântico dos Cânticos 8:6,7)
De repente, somos levados a perceber que o amor mais profundo conhecido pelos
seres humanos, o que existe entre a noiva e seu noivo, conta-nos a história de
amor de Deus por Sua igreja, e a Sua esperança de que nós O amemos também.
Ao morrer na cruz, Jesus revelou de facto um tipo de amor que é mais forte do que
a morte, um amor que não há força no mundo que possa extinguir. Ainda assim,
há algo mais a ter em conta. Há um padrão poético na canção. Sob a influência do
Espírito Santo, o Rei Salomão cria um quadro de dois amantes que têm - repara
nisto - o mesmo nome. O seu nome é Salomão, que é a forma masculina da
palavra shalom em hebraico. Ela é identificada como Sulamita, que é a versão
feminina de shalom. Agora nota o seguinte - o amor entre Salomão e a Sulamita
atinge o seu ponto culminante quando ela tem esta incrível compreensão em 8:10:
"então eu era aos seus olhos como aquela que acha paz." (Cântico dos Cânticos
8:10)
Com beleza poética e elevado significado espiritual, a canção revela Salomão
cortejando o coração da Sulamita até que shalom define a sua união.
Habitualmente traduzimos shalom como "paz". Mas em hebraico, a palavra
carrega a ideia de preenchimento completo ou satisfação plena, integralidade, uma
sensação de bem estar total a partir do qual nada falta. Na canção, a Sulamita
encontra um sentido de perfeita plenitude no amor de Salomão. Ele é o que ela
deseja e exatamente o que ela precisa. Envolvida pelo seu amor ela está
totalmente realizada. Salomão e a Sulamita são a combinação perfeita. Shalom, a
mulher, encontra shalom, a experiência, em Shalom, o homem. Nele ela sente-se
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em casa, pois ele é o companheiro perfeito para o desejo mais profundo do seu
coração. A Bíblia como um todo é a história da correspondência perfeita entre o
coração humano e o coração Divino, entre Aquele que é a fonte de todo o amor
verdadeiro e aqueles que precisam desesperadamente de Seu amor afim de
poderem gozar de plenitude e bem estar eternos.
Salomão é um “tipo messiânico” de Jesus.
A Sulamita é um “tipo” da igreja.
A Salvação é o plano através do qual Jesus atrai os nossos corações de volta para
Ele e estabelece shalom eterna entre Ele e nós. E a segunda vinda de Jesus é o
momento em que O amante das nossas almas volta para nós, para que possamos
estar com Ele para sempre. Isto sim, são boas notícias! Nós somos Adventistas do
Sétimo Dia e isso significa que aguardamos ansiosamente pelo regresso de Jesus
conscientes que Ele olha para nós com amor saudoso. Ele quer estar connosco. É
por isso que Ele vai voltar. A questão é... queremos nós estar com Ele?
DIA 8
 Questões para discussão
Será que João Batista realmente diminui, abdicando do seu ministério e “fama” em
favor de Jesus? Podemos crescer ou diminuir quando nos submetemos
inteiramente a Deus? Sê específico.
Os que se sentirem à vontade para o fazer, partilhem algumas histórias pessoais
de momentos e maneiras em que - como ilustra a história de Ezequiel 16 - Jesus
te viu "a revolver-te no teu sangue " e criou-te, alimentou-te, e ligou-te a Ele
mesmo.
Como é estar "comprometido" com Jesus e esperar que Ele prepare a sua casa e
volte para te buscar? Como vais manter e fazer crescer o relacionamento neste
tempo de espera?
Leiam Cantares de Salomão 8:6,7 em várias versões da Bíblia e discutam as
imagens sugeridas pelo poema. Sentes que estás ligado ao braço de Deus como
um selo? Consegues reconhecer esse amor e “ciúme” por ti, que são mais fortes
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do que a morte? Como se podem encorajar uns aos outros a crescer na
consciência desta verdade?
 Atividade de Grupo:
Faz as alterações finais que desejares no teu modelo da primeira noite. Vais
precisar dele para a atividade principal de hoje.
Material Necessário: pequenos pedaços de papel ou cartões de arquivo, lápis,
uma cesta ou caixa decorativa, velas e isqueiro, música (ao vivo ou gravada).
Coloca a caixa ou cesto e as velas na entrada da sala de culto ou mesmo na zona
do púlpito.
Usando o modelo que fizeste na primeira noite, tira um minuto para rever as oito
janelas para o amor de Deus: A Trindade, O Grande Conflito, A Lei de Deus, O
Sábado, O Santuário, A Morte e o Inferno, O Tempo do Fim, e A Segunda Vinda.
Distribui papel e lápis. Dá três a cinco minutos de silêncio para que cada pessoa
ore silenciosamente e procure identificar qual destas verdades precisam de
compromisso mais profundo na sua vida. Cada pessoa deve escrever na forma de
uma oração/promessa acerca da(s) área(s) em que se quer comprometer
a
buscar e aceitar mais profundamente as promessas de Deus
Podem prever uma iluminação especial, música, e preparar um momento em que
o pregador faça um apelo e convide cada pessoa a depositar o seu papel na caixa
preparada. Pode ser interessante fazer uma oração de consagração do grupo.
Seria útil, se possível, que os membros deste grupo se comprometessem a se
apoiar uns aos outros nestas decisões. Isso pode acontecer de várias formas: um
pequeno grupo ou Unidade de Ação da Escola Sabatina, um grupo de oração, pelo
telefone ou o que cada pessoa desejar.
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