O século da liberdade

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O século da liberdade
Correio Braziliense
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Brasília, terça-feira, 29 de dezembro de 2009
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LIVRO
O século da liberdade
Chega às livrarias uma coletânea de perfis de grandes artistas do
século 20 realizados por Calvin Tomkins para a prestigiosa revista The
New Yorker
Nahima Maciel
Capa
Índice
Política
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Divirta-se
Pensar
Super!
Revista do Correio
Trabalho
TV
Arne Dedert/AP Photo 18/3/92
Calvin Tomkins já havia ocupado o cargo de editor assistente da
revista Newsweek quando chegou à The New Yorker, em 1960. Entre
1980 e 1988 ficou responsável pela coluna The art world (“O mundo
da arte”). Hoje, aos 84 anos, escreve sobre arte com um olhar sempre
renovado. Tomkins é o tipo de repórter que não se limitava à crítica de
arte. Compreender a produção artística do século 20 passava também
por investigar um pouco a vida dos artistas. Foi o que Tomkins fez e
continua a fazer na revista de cultura de maior prestígio dos Estados
Unidos. Como a publicação nem sempre é acessível aos leitores
brasileiros, merece aplausos a iniciativa da Bei Editora de publicar As
vidas dos artistas, coletânea de perfis realizados por Tomkins entre
1999 e 2006.
A seleção reúne perfis de artistas que compartilham o fato de terem
feito carreira nas últimas três décadas e serem o que Tomkins chama
de geração obrigada a inventar uma “nova identidade”. Para essa
geração, habilidade e domínio formal saíram da prateleiras de
exigências do processo formativo do artista. São, no máximo,
opcionais. Para os dez artistas perfilados no livro, arte não é mais o
domínio da técnica mas, como explica Tomkins no prefácio, “uma
abordagem do problema de viver”.
A profundidade da reflexão é substituída pela pressão mercadológica,
exigência de sucesso e necessidade de se criar uma marca própria.
Mas Tomkins, autor também da biografia Duchamp e outros cinco
livros sobre arte, é generoso e procura sempre descrever a vida
pessoal de seus entrevistados antes de chegar a qualquer conclusão
360 graus
crítica sobre seus trabalhos. Assim, o leitor descobre o quanto Cindy
Ari Cunha
Sherman, aquela dos autorretratos perturbadores, é arredia, trabalha
Visto, Lido e Ouvido
sozinha e raramente frequenta festas do meio artístico, embora seja
Brasília-DF
bastante simpática. As brincadeiras pops com coelhos gigantes
Crônica da Cidade
Charge
prateados de Jeff Koons ganham um contorno dramático quando o
Desabafo
jornalista revela a batalha judicial travada pelo artista para conseguir
Grita Geral
a guarda do filho com Cicciolina, atriz pornô com quem foi casado e
Info Ajuda
com a qual realizou a série de fotografias pornográficas Made in
Nas Entrelinhas
heaven.
Sr. redator
Tantas palavras
Tome Nota
Focus Ghia
Sedan 2.0
16V 4p
Ano: 2001
R$ 21900.00
Jeff Koons, ao lado da atriz
Cicciolina: casal retratado em
tons dramáticos
EcoSport
XLS 1.6/ 1.6
Flex 8V 5p
Ano: 2004
R$ 27900.00
Tipo 1.6 i.e.
2p e 4p
BEI/Reprodução
Ano: 1995
R$ 6790.00
Corsa Sed
Class.Life
1.0/1.0
FlexPower
Ano: 2005
R$ 19880.00
Corolla GLi
1.8 Flex 16V
Mec.
Ano: 2010
As vidas dos artistas
De Calvin Tomkins. Tradução:
Denise Bottmann. Bei, 276
páginas. R$ 57
O perfil dedicado a Matthew Barney deveria servir de introdução à
obra do artista norte-americano. Pela mão de Tomkins é possível fazer
um tour pela série de filmes Cremaster, obra mais importante de
Barney, e ter uma compreensão geral de toda a sofisticada simbologia das imagens criadas pelo
artista. Em 2003, quando o perfil foi publicado, Barney vivia com a cantora Björg, mas, como
Tomkins observa, com elegância, que nem mesmo a equipe de trabalho do artista fala sobre a
ligação. E, para dar uma ideia do turbilhão que ocupa a cabeça do artista, o autor toma
emprestada uma frase de um amigo. “Muitas vezes Matthew parece o queridinho da mamãe, mas
traz uma informação absolutamente chocante.”
Entrevistas com conhecidos, familiares e integrantes das equipes de trabalho dos artistas são parte
robusta do trabalho de Tomkins, que não se limita ao encontro com os perfilados para traçar seus
perfis. Até o inglês Damien Hirst — autor de obras como uma ovelha mergulhada em formol —
ganha em credibilidade sob a pena de Tomkins. Hirst era um aluno medíocre na escola de artes e
https://www.correioweb.com.br/cbonline/cultura/cadc_mat_146.htm
16/03/2010
Correio Braziliense
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nunca teve muito destaque, mas decidiu cedo que seria um sucesso e construiu o caminho para
tal. A empreitada deu certo quando encontrou o publicitário milionário Charles Saatchi, que
apostou em um grupo de jovens artistas britânicos. Como tinha boas relações com a crítica e o
mercado, Saatchi conseguiu projetar nomes como Hirst, cujos trabalhos hoje ultrapassam a cifra
de cem milhões de dólares. Entre os escolhidos do autor estão ainda Julian Schanbel, Jasper Johns,
John Currin, Richard Serra, James Turrel e Maurizio Cattelan. Na primeira página do prefácio de
Tomkins está a senha para iniciar e encerrar As vidas dos artistas. “A liberdade ilimitada do artista
moderno vem se mostrando um fardo interminável. Se arte pode ser qualquer coisa, por onde
começar?”
“A liberdade ilimitada do artista moderno vem se mostrando um fardo
interminável. Se arte pode ser qualquer coisa, por onde começar?”
Calvin Tomkins, jornalista
https://www.correioweb.com.br/cbonline/cultura/cadc_mat_146.htm
16/03/2010

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